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Direitos exclusivos para língua portuguesa: Copyright © 2007 L P Baçan Pérola — PR — Brasil Edição do Autor. Autorizadas a reprodução e distribuição gratuita desde que sejam preservadas as características originais da obra.

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Direitos exclusivos para língua portuguesa:Copyright © 2007 L P Baçan

Pérola — PR — BrasilEdição do Autor. Autorizadas a reprodução e distribuição gratuita

desde que sejam preservadas as características originais da obra.

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SORTE E OUTROS TRUQUES DE PESCADOR

O PRINCIPIANTE

Este é um Manual de Pesca para quem absolutamente nada sabe de pesca, mas quer se beneficiar das vantagens terapêuticas da pescaria.

As mulheres normalmente não entendem como um homem pode se levantar de madrugada em pleno feriado, juntar toda a sua tralha e viajar um longo caminho para chegar a um rio, onde será picado por pernilongos, arriscará tomar uma insolação, espetará o corpo com anzóis, comerá comida fria e voltará para casa sem trazer nada, arrebentado, com o corpo dolorido, queimado, machucado, picado e espetado, mas com um sorriso de felicidade nos lábios.

Há um relaxamento total no corpo de uma pessoa estressada, já a partir do momento em que ela decide fazer uma pescaria. Ela já relaxa com a antevisão do rio e da água deslizando diante dele, sonhando com a fantástica briga que um dia travará com o "pai de todos", aquele peixão que vive na cabeça de todo pescador, que sonha um dia fisgá-lo na briga que para sempre será contada com orgulho, pois para esse peixe nem a história nem o tamanho do bicho precisarão ser aumentados.

Os preparativos, a revisão do equipamento, as providências, tudo isso já coloca o sujeito num outro mundo e todos os problemas até então existentes são deixados de lado com satisfação.

Uma impaciência vai tomando conta do indivíduo. As horas vão passando lenta mas inexoravelmente, até a chegada do grande dia, quando a aventura se inicia e, com certeza, deixará recordações inesquecíveis.

Há pessoas que não gostam disso, por isso não se beneficiam dessa maneira primitiva de enfrentar a natureza e reviver a luta ancestral do homem pela sobrevivência.

O instinto do caçador que existe em todos nós se manifesta nesse momento. A pesca é uma luta constante entre a sua inteligência e habilidade e a rapidez do peixe. Entre os dois, intermediando, mas pendendo ora para um lado, ora para outro, a Dona Sorte se diverte imensamente com tudo isso.

Pescar é uma arte e uma ciência que pode ser aprendida nos livros, mas a perfeição só virá

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com a prática. Apenas através dela você saberá escolher a melhor isca, fisgar na ora certa, sentir o melhor local ou adivinhar onde está o peixe.

O que pretendemos fazer aqui, portanto, é começar do zero, que foi onde começamos, há alguns anos atrás, quando, resolvemos fazer uma pescaria no Mato Grosso.

Nada sabíamos do assunto, exceto que tínhamos que ter vara, molinete, anzol, chumbada e uma caixa para guardar tudo isso. Disseram que no Mato Grosso encontraríamos peixes grandes. Quem disse isso nos vendeu três varas muito boas e caras, de 1,80 m cada, que usamos muito bem, não para pescar, mas para guinchar nossos primeiros peixes mato-grossenses, privando-nos das emoções da pesca com equipamento mais leve e, por isso, mais emocionante.

Este nosso Manual de Pesca Descomplicada pretende falar de pesca para quem quer praticá-la, mas hesita porque julga que não sabe o suficiente para isso.

AVISO AOS PRINCIPIANTES

O objetivo inicial de nosso trabalho foi o de apresentar instruções de utilidade para o principiante, cujo entusiasmo é muitas vezes maior que a experiência e, por isso, mais sujeito a algumas desilusões que, longe de ser um desestímulo, devem servir como experiência, pois a pesca é, acima de tudo, um estado de espírito que não pode ser prejudicado nem desacreditado por aproveitadores e espertalhões que ainda teimam em fazer da Lei de Gerson a grande regra nacional.

Como orientação, conto algo que aconteceu comigo e a história poderá ser deduzida de uma carta que mandei para uma importante empresa de turismo do país, tida como conceituada e responsável, onde narro minhas desventuras. Mais do que um desabafo, a carta serve como um alerta para os pescadores em geral, pois temos hoje um poderoso instrumento chamado Código de Defesa do Consumidor, que precisa ser acionado para a moralização das relações entre prestadores de serviço e o público em geral.

Os nomes foram omitidos e o texto foi editado em alguns trechos, para não permitir a identificação, por razões que os leitores entenderão no decorrer do assunto.

É revoltante perceber que um esporte divertido e saudável, que representa hoje uma grande fonte de rendas na área do turismo, ainda é explorado por pessoas tão inexperientes e insensíveis.

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"Senhores Diretores:

Marquei, para o período de 2 a 8 de Maio, a utilização do meu crédito junto a essa empresa, com uma pescaria no Pantanal, juntamente com meu filho, um projeto que já vínhamos adiando há alguns anos. O escolhido foi o Hotel X, pertencente a essa rede.

Antes de irmos, telefonamos duas vezes ao hotel, tirando nossas dúvidas, inclusive expondo a questão mais importante para nós, que era saber a respeito dos peixes. As informações foram de que estavam pescando pacus, pintados, piaus e outros, o que nos deixou ainda mais ansiosos para a pescaria.

Indagar se havia peixes no Pantanal pode parecer tolice, mas íamos viajar mais de 1.200 quilômetros de ônibus e seria decepcionante fazer essa viagem para nada.

Tudo preparado, rumamos para ..., onde chegamos após 20 horas de viagem, cansados, mas impacientes para iniciarmos a pescaria. Vale dizer que a recepção foi acima da média. O pessoal do hotel é de primeira linha, atencioso e preocupado com o atendimento aos hóspedes.

Quando fomos contratar a pescaria com o piloteiro, que é fornecido pelo hotel, juntamente com o barco, o motor e as iscas, fomos informados por ele que os peixes estavam sendo encontrados longe do hotel e que naquele dia haviam apanhado 4 (quatro) pintados de bom tamanho, que estavam, inclusive, guardados num dos freezers do hotel. Além deles, poderíamos também pescar pacus. A sugestão do piloteiro foi de que levássemos o seguinte:

80 litros de combustível80 iscas para pintados (truviras)50 iscas para pacus (caranquejos)

Isso nos parecia mais do que o suficiente para uma pescaria sensacional, pois não planejávamos trazer peixes. Apenas pescar, fotografar e soltar. Considerando, porém, que o hotel não aceita iscas vivas de volta, mesmo que estejam vivas, optamos por levar

50 iscas para pintados e20 iscas para pacus

das quais aproximadamente 20 iscas para pintados e 5 iscas para pacus foram

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trazidas de volta, ao final da pescaria e não reembolsadas, conforme política do hotel.

Começava aí uma brincadeira de mau gosto. Viajamos mais de 2 horas de barco para chegarmos ao local onde o piloteiro havia pescado os pintados no dia anterior. Foi um sobe e desce de barcos rio acima e rio abaixo, pois estava no hotel uma excursão com 26 pescadores que, como nós, estavam ansiosos para capturar alguns belos espécimes.

Chegamos a fisgar pacus, cachorras, um douradinho e piranhas, muitas piranhas, mas nosso barco fazia água, por isso não pudemos ficar ali, parados. Como os outros pescadores, fomos levados rio acima e rio abaixo, procurando os peixes, sem sucesso nenhum, só queimando combustível, o que, no nosso caso, era ainda agravado pelo furo que havia no barco, onde, aparentemente, havia se soltado um arrebite e a água entrava generosamente, mesmo com o tampão improvisado pelo piloteiro, com um talo de aguapé.

Havia piranhas, como já dissemos. Muitas piranhas que foram alimentadas com iscas vivas caríssimas, mas não havia pintados nem grandes pacus. Retornamos no fim do dia cansados, e, juntamente com todos os elementos dos outros barcos, decepcionados.

Então, no decorrer do jantar, ficamos sabendo de algo interessante: os pintados não haviam sido apanhados conforme o piloteiro havia afirmado. Eles haviam sido comprados e traziam no lombo ainda as marcas da rede com a qual haviam sido apanhados por um pescador profissional.

Isso nos deixou a todos indignados, muito embora o responsável pelas pescarias no hotel lamentasse o ocorrido. Só que pagamos, pasmem, senhores, R$ 197,80 para sermos enganados, gastando combustível e esperança, alimentando piranhas com iscas vivas de R$ 0,70 cada.

Isso não seria tão grave se há poucos minutos do hotel, num local conhecido, os pescadores da cidade e outros estavam pescando dourados com extrema facilidade. Só que nos foi informado que não havia peixes por perto.

Além disso, ocorria na região para onde fomos levados o fenômeno chamado "decoada" ou "água-podre", que espanta os peixes. I

Isso era de conhecimento dos piloteiros, que foram unânimes em recomendar o local onde sabiam que não haveria peixes, tudo isso em função de uma farsa

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montada no dia anterior, com a compra dos pintados.

E cá entre nós, entre pescar um pintado ou um dourado, reconhecemos que é muito mais emocionante o dourado, que estava, inclusive, muito mais próximo de nós.

E as decepções não param por aí, senhores. Antes da chegada da excursão com 26 pescadores, e da nossa chegada, o hotel havia reajustado o preço do combustível e das iscas, contrariando a informação que havíamos recebido por telefone anteriormente:

Combustível: de R$ 0,85 para R$ 1,13Iscas: de R$ 0,60 para R$ 0,70.

Nós nos sentimos numa verdadeira armadilha, sem ter como sair dela. Entender como um litro de combustível, que na bomba custa R$ 0,70, pode receber um sobrepreço de 61,43% é coisa que nem mesmo os técnicos do CNP conseguiriam. E não se pode alegar que nesse combustível está incluído o óleo lubrificante, pois o motor é alugado. Subentende-se que o preço do aluguel inclui todo o necessário para a manutenção do motor, incluindo, é claro, o imprescindível óleo combustível.

Acompanhem-me rapidamente, senhores, num cálculo grosseiro, mas significativo para que se entenda o que significa tudo isso:

BARCO:

Aluguel diário: R$ 25,00. Projeção de renda mensal possível: R$ 750,00Custo de um barco: R$ 750,00? R$ 1.000,00? Previsão de retorno do investimento: 1 mês? 2 meses no máximo?

MOTOR:

A mesma coisa.

COMBUSTÍVEL:

Lucro de R$ 0,43 por litro, ou 6l,43% de lucro imediato.

ISCAS:

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Em outros locais da cidade, as iscas vivas são vendidas a R$ 0,50 cada. O hotel possui tanques para criação, o que deve baratear o custo. Mesmo assim, cobram 40% a mais.

REFEIÇÕES:

R$ 3,00 por um sanduíche de pão de forma, uma fatia de mussarela e um hambúrguer de frango. R$ 7,00 o almoço ou o jantar. Numa excelente churrascaria no centro da cidade, come-se um rodízio das melhores carnes, com um bufê de alimentos quentes, frios e sobremesa, por R$ 6,50 por pessoa. R$ 5,00 um marmitex que pode ser comprado na cidade por até R$ 2,50, muito mais substancial e variado, inclusive.

Dois dias depois dessa malfadada pescaria, com orientação do proprietário dessa churrascaria, fizemos uma pescaria contratada com um autônomo.

Vejam a comparação das duas despesas:

HOTEL AUTÔNOMO

Combustível.............................. R$ 1,13 R$ 1,00 Barco, Motor e Piloteiro.... R$ 75,00 R$ 60,00Iscas.......................................... R$ 0,70 R$ 0,50Total da pescaria.................. R$ 197,80 R$ 110,00

Como se percebe, senhores, fomos enganados de tantas maneiras que simplesmente desistimos da pescaria e antes de completar nosso período de permanência, deixamos o hotel.

Não se viaja 1.200 quilômetros para que nos tratem como tolos, ingênuos e idiotas, por um esquema que não tem pejo em lançar mão de todos os artifícios a sua disposição para explorar o turista e sugá-lo uma única vez. Talvez isso seja feita porque há muitos pescadores pelo Brasil. São tantos que mesmo cada um indo apenas uma vez na vida, o hotel sempre terá novos clientes.

Consultem os outros associados que estiveram no Hotel no mesmo período. Indaguem a eles se gostaram de passear de barco, queimar combustível e

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alimentar piranhas com iscas caras, percorrendo as águas podres para nada.

Indaguem a esses associados se vão recomendar o Hotel a seus amigos. Indaguem se vão voltar. Indaguem se, como nós, eles não se sentiram lesados, enganados e tratados como idiotas por piloteiros espertos, a mando de alguém mais esperto ainda.

Foi com uma ironia muito grande que li a ADVERTÊNCIA contida no impresso que estava no balcão do hotel, bem à vista dos hóspedes. Advertência que diz que serão penalizados por danos materiais aos bens da empresa, por faltas disciplinares, por desrespeito a funcionários, por atentados contra a moral e os bons costumes e por agressões físicas ou morais contra outrém.

Havia também uma cópia do Regulamento Geral de Reservas, onde se fala Dos Compromissos dos usuários, mas não se fala de seus direitos, exceto o Art. 23, que diz que os casos omissos serão solucionados pela Diretoria.

A minha pergunta é essa, Senhores Diretores:

E os nossos direitos? E a expectativa de um período tranqüilo e divertido que tivemos e que foi destruída pela ganância do responsável pelo Hotel? E o tempo que perdemos andando de barco, quando pagamos para pescar? E os sobrepreços que pagamos para não receber os serviços correspondentes? E a decepção que nos atormentou pelos 1.200 quilômetros da volta e que até agora nos revolta e contra a qual temos que lutar para que nunca mais alguém passe pelo mesmo que passamos?

Senhores, a diária do Hotel, com o atendimento e o pessoal que tem, é baratíssima. Barata demais. Tão barata que não dava para entender como podia ser tão barata. Na verdade, é só uma isca para atrair os pobres pescadores, invertendo ironicamente as posições. O lucro do hotel não está no setor hoteleiro, mas na exploração dos pescadores, gente cheia de esperanças por uma boa aventura que é capaz de viajar 2.400 quilômetros de ônibus, passar quase dois dias em viagem, apenas pela emoção de fisgar bons peixes.

Desrespeitar isso, utilizando-o como pretexto para justificar a ganância, é, no mínimo, um ato de covardia, antes de ser um CASO DE DESRESPEITO À LEI DO CONSUMIDOR, porque lança mão de propaganda enganosa. Enganosa ao afirmar por telefone, para o pescador distante, que o período está bom para a pesca, quando se sabe que está ocorrendo o fenômeno das cheias e da decoada. Enganosa quando um piloteiro a serviço do hotel se dispõe e afirmar que peixes comprados foram pegos em determinado local, longe, muito longe, lá nas águas

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podres, onde se gastará muito tempo para chegar e nada se encontrará. Enganosa porque não vende qualidade, mas explora no preço. Enganosa porque não leva em conta as expectativas do cliente, mentindo vergonhosamente.

O peixe, que estava a duas horas e meia de barco, também estava a cinco minutos do hotel. A emoção que buscávamos era a da pesca e não a do passeio de barco pelas águas podres.

Infelizmente nada podemos fazer a respeito do assunto, senão protestar e pagar o nosso prejuízo.

Nada nos impede, porém, que alertemos os outros pescadores e que alertemos essa Diretoria, como responsável pelo Hotel e pela excelência dos serviços por ele prestados. Anexamos comprovantes dessa aventura."

O justo e veemente alerta deste pobre pescador enganado, à luz do que existe de mais coerente empresarialmente falando, deveria ter encontrado junto à empresa prestadora de serviços as mais urgentes e honestas providências, uma vez que não se tratava de uma acusação gratuita, mas comprovada.

Ao invés disso, para minha surpresa, a resposta da empresa foi agressiva, ameaçando-o, entre outras coisas, de um sério processo por calúnia e difamação. A sutileza de certas afirmações são dignas de nota e de repúdio. Por exemplo:

"Referente aos ganhos, que em sua correspondência afirma serem abusivos, temos a salientar que um barco, um motor, a licença para navegar, não aparecem gratuitamente, no Hotel..."

"... pois nenhum negócio ou serviço é fornecido gratuitamente, ao menos que estivessemos tratando de benemerência..."

"... o hotel não pode ser responsabilizado pelo sucesso ou insucesso da pescaria. Todo pescador, sabe que nem todos os dias em que se obtém bons resultados na pescaria..."

"... ninguém pode responder pela satisfação numa pescaria..."

"Colhemos o ensejo que informar que as alegações expostas em sua carta não correspondem à verdade, o que facilmente se comprova, podendo assim ensejar, tais aleivosidades, a responsabilidade de reparar os danos morais causados ao (nome da empresa)."

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Numa demonstração de que poderia ser um principiante na pesca, mas não na defesa dos meus direitos, não deixei por menos, encaminhando a seguinte resposta.

"Prezados Senhores:

Antes de mais nada, as minhas mais humildes desculpas e minha total retratação pela correspondência remetida em 13 de maio, onde, possivelmente por falha de redação ou por confusão mental da minha parte, não consegui externar exatamente o que ocorreu com nossa pescaria no Hotel X.

Primeiramente, em momento algum afirmei que essa empresa não é uma empresa séria e honesta. Se ficou subentendido isso, foi por falha minha.

O objetivo de minha carta foi ALERTAR a Diretoria da empresa que, com toda certeza, não é onipresente nem onisciente, conforme ela própria reconhece, pois precisou de 30 dias para apurar os fatos. Com certeza, a minha intenção de alertar a empresa, de que sou sócio há quase 30 anos, que já me privilegiou com momentos de lazer inesquecíveis, não tenha ficado bem clara, por absoluta falha minha ao redigir minha correspondência.

Só que daí a afirmar que minhas afirmações foram aleivosidades [sic] vai uma distância muito grande, tão grande quanto o anacronismo da mentalidade dessa empresa, com uma folha de 30 anos de bons serviços à comunidade, que não dispõe ainda de um Atendimento ao Consumidor, no mínimo decente. Anacronismo que se evidencia no uso de métodos intimidatórios, próprio de 30 anos atrás, para responder uma reclamação, assinando-a com um impessoal Diretoria e uma pomposa, mas prolixa, Consultoria Jurídica, como se esses títulos tivessem o condão de anular consciências e calar vozes, que desejam participar de um processo de mudança para melhor, exigível em todos os setores que optarem por se manter no mercado, não pela imposição da sua marca (que pode se desgastar ou até já estar desgastada), mas pela qualidade de seus serviços.

Se o objetivo foi amedrontar, confesso que fiquei realmente apavorado com a repercussão de meus atos impensados e de minhas aleivosias, razão pela qual eu me retrato de todas as afirmações feitas anteriormente e nem a Diretoria nem a Consultoria Jurídica precisam me responder algumas questões que ficaram pendentes e que não me atrevo mais questionar, mas que gostaria de deixar registradas, apenas para constar:

1)- Em relação às iscas, peço desculpas por ter lido uma placa que estava no local, onde mencionava claramente que não seriam aceitas devoluções de

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iscas e, na minha ignorância, não ter traduzido por "as iscas que porventura não forem utilizadas, poderão ser guardadas no Hotel (Onde?) para aproveitamento no outro dia."

2)- Quanto ao preço delas, também não precisa explicar por que alguns podem vender mais barato, já que há os que vendem mais caro, para equilibrar a situação.

3)- Quando ao preço do combustível cobrado pelo hotel e ao preço cobrado pela bomba, ficou bem claro que o custo do transporte é que provoca a diferença. Nem precisa explicar como é transportado, pois acredito que, por ser um material inflamável, o combustível tem que ser transportado com todo o conforto. Acho que isso também justifica as diferenças de preço da refeição e do marmitex.

4)- Achei muito boa a colocação sobre serviço fornecido gratuitamente e sobre benemerência. Foi de um humor finíssimo e de uma ironia sutil muito bem aplicados. Para ter sido perfeito, só faltou encontrar uma explicação do mesmo nível para a falta de manutenção do barco, que fazia água por um furo no casco.

5)- Não vou ter a leviandade de cometer outra aleivosidade e afirmar que, conforme informações da portaria do Hotel, os preços do combustível haviam sido reajustados no início daquele mês (maio). Afinal, eles podem ter dito que o combustível não aumentara no dia primeiro de maio, porque ele vinha se mantendo igual desde fevereiro de 1995 e eu tivesse entendido errado. Nem precisa olhar nas notas de fevereiro de 1995 e nas de maio de 1996 para verificar isso. Acredito!

6)- Agradeço de todo coração e com todo o entusiasmo de pescador amador o precioso parágrafo que filosofa magistralmente sobre sucessos e insucessos numa pescaria. Adorei particularmente o trecho que fala da paciência que se deve ter numa pescaria. Tem que ter calma e sangue frio. Continuar firme, enquanto o bote faz água. Afundar se for preciso, mas não desistir nunca. Excelente! Uma lição de vida para o pescador amador.

7)- Sou obrigado aqui a exigir que Diretoria e a Consultoria se decidam, pois uma hora não são oniscientes nem onipresentes e na outra o são. Reprovam-me por usar um argumento inverídico ( isso quer dizer mentira ou aleivosidade?) ao dizer que todos os pescadores estavam pescando exatamente no local onde lhe foi indicado. Todos? Todos quem? E quem estava conseguindo pescar alguma coisa? Os que estavam lá, direcionados pela falsa informação de um piloteiro do hotel (lembram-se?), estavam passeando de barco numa região de água podre, onde um processo cientificamente comprovado (e não fortuito)

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provoca a falta de oxigênio na água, expulsando os peixes. Outros barcos foram para outras regiões, longe do fenômeno da decoada,com melhores resultados. Seria a decoada um fenômeno novo? Os piloteiros não sabiam que isso ocorria? Não trocam informações entre si? São novos na região e desconhecem seus fenômenos mais comuns?

8)- Não precisam me explicar também a brincadeira feita pelo piloteiro do hotel. Afinal, foi apenas uma pegadinha e nós todos ainda daremos muitas risadas desse fato. Comprar peixe e dizer que pescou é uma atitude muito comum dos pescadores. Por que não de um piloteiro do hotel, afirmando que a região estava ótima, exibindo os peixes para comprovar. Peixes que haviam sido comprados. E todo mundo foi para lá, é claro. Só depois descobriram que ele havia feito uma brincadeira. Resta saber se esse tipo de comportamento é natural nas pessoas que prestam serviço a essa empresa e aos estabelecimentos a ela subordinados. Sim, porque era um piloteiro do hotel. E que nome a Diretoria e a Consultoria Jurídica dão a uma aleivosidade cometida por alguém que trabalha sob sua supervisão, num hotel que hospeda pescadores, que vão ali para pescar e não para serem vítimas de brincadeiras de mau gosto

9)- Finalmente, retiro tudo que disse em minha correspondência anterior e que possa levar alguém menos avisado a interpretar como um ataque à seriedade desta empresa, que em nenhum momento, pretendeu de modo ardil, ludibriar seus sócios, pois esta é uma atitude totalmente desnecessária, quando se oferece um bom serviço, reconhecido pela sociedade há 30 (trinta) anos, e da qual sou sócio há quase 30 (trinta) anos.

Não posso deixar, porém, de mais uma vez ALERTAR a empresa para o fato de, com 30 anos de mercado e uma imagem sólida e séria a preservar, atender um consumidor de forma tão lamentável, usando o ataque como forma de defesa, a intimidação como resposta e a ironia como argumento, apropriados numa disputa judicial contra marginais menores e não contra o quadro associativo.

Ao longo de toda a sua correspondência, a Diretoria e a Consultoria Jurídica atacaram gratuitamente a inteligência, a honra e o bom nome deste sócio há quase trinta anos..."

* * *

Gostaríamos de poder afirmar que essa ocorrência foi isolada e somente aconteceu, por um motivo ainda não explicado, apenas comigo principiante. Se algo parecido já aconteceu a você, escreva-me contando a sua história. Na medida em que certos nomes forem se repetindo

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como useiros e vezeiros na arte de ludibriar pescadores, não hesitaremos em divulgá-los.

Esse relato é de extrema utilidade para os iniciantes, que devem estar atentos a todos os detalhes de uma pescaria, principalmente quando organizada por terceiros, analisando questionando e discutindo cuidadosamente itens da máxima importância numa pescaria, como:

a)- Consultar fontes sérias e honestas para saber se a época é adequada para pescaria, naquele local.

b)- Discutir e relacionar custos e serviços a serem prestados. Formalizar um contrato.

c)- Dimensionar a quantidade de iscas necessárias, evitando a empurroterapia. Analisar os preços cobrados em outros locais e discutir a destinação das sobras de iscas vivas.

d)- Verificar as condições do barco, do motor e do equipamento fornecido. Exigir cláusula de reembolso ou de isenção de pagamento, em caso de motores quebrados, barcos furados ou outros problemas decorrentes da manutenção e da qualidade vendida pelo prestador de serviços.

e)- Verificar com os outros pescadores sobre os melhores locais para a pescaria, não deixando isso a critério dos piloteiros contratados pela empresa prestadora de serviços.

f)- Fiscalizar o combustível utilizado.

g)- Pedir a orientação de pescadores mais experientes, que conheçam a região, a respeito dos pesqueiros e dos melhores locais.

h)- Deixar claro quais são as atribuições do piloteiro. Uma boa política é você não pedir para pilotar o barco, nem ele pedir para pescar. A tarefa dele é manter o bote em posição ou se movimentar, conforme as ordens que você lhe der. Da mesma forma, certifique-se de que a empresa prestadora de serviços fornece alimentação para o piloteiro, evitando despesas extras para você. E, acima de tudo, nada de brindar o primeiro peixe pescado com uma cervejinha. O bom pescador deve evitar beber durante a pescaria. O piloteiro principalmente.

I)- Usar um mapa da região para definir o local onde pretende pescar e deixe essa informação na portaria do hotel, por uma questão de segurança. Não vá para um local não indicado previamente, pois em caso de um acidente, as buscas se concentrarão nos locais já conhecidos.

Com providências simples como essas, muita dor-de-cabeça poderá ser evitada, pois tudo deve acontecer conforme aquele velho ditado: "o que é combinado, não é caro!" Fazendo isso, suas pescarias somente lhe trarão alegrias e boas recordações.

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É o mínimo que se pode esperar delas.

A PESCA DE BARRANCO

Não há demérito algum para um principiante praticar a pesca de barranco, já que o objetivo dela também é buscar emoções e, o que é muito importante, desenvolver a sensibilidade e a prática no uso do equipamento.

Desde pescar simples lambaris, que não são tão fáceis de serem apanhados, como tentar peixes maiores, tudo é válido e soma conhecimentos e experiência para o pescador.

Dos peixes hoje disponíveis para a pesca de barranco em qualquer região, acreditamos que a tilápia é um dos mais esportivos e que se presta a dar aulas importantes para o pescador iniciante, já que pode ser pescado com uma variedade de iscas, inclusive a isca artificial, o que abre a possibilidade de se familiarizar com esse tipo de equipamento.

A tilápia rendali pode chegar a 2 kg, é muito ardilosa e arisca, exigindo paciência e técnica do pescador para que possa se divertir e emocionar com a experiência de fisgar uma delas.

Para esse tipo de pesca usa-se varas leves, de 3 a 4 metros, com linha 0,25 e anzóis número 12 a 14. Como isca você pode usar desde capim até milho cozido ou a clássica minhoca. É o momento ideal para você observar os outros pescadores, a maneira como eles preparam o anzol, o tipo de isca que usam e a forma como dispõem as varas à beira do rio, da represa ou do lago, pois alguns chegam a requintes de usar três anzóis numa mesma linha, por exemplo. Um empate feito com uma linha mais grossa que a usada na linha principal pode ser usado, preso a um girador. Quando for prender a chumbada, coloque antes uma conta ou miçanga para que a chumbada não fique presa ao nó do empate. No momento de puxar a isca, sentindo o peso da chumbada a tilápia vai se retrair, por isso a linha deve estar sempre livre. Para unir as duas linhas de espessuras diferentes, use o nó apresentado no início.

O melhor momento para a pescaria da tilápia é à noite e isso exige algumas providências por parte do pescador, pois a iluminação direta na água, a movimentação e as sombras as assustam. É preciso quebrar a luminosidade com uma proteção, de forma que apenas as pontas das varas fiquem iluminadas, permitindo, assim, observar quando a tilápia toca a isca.

Se você vai a um pesquepague, possivelmente não terá maiores preocupações que preparar o cenário, acomodar-se e ir jogando as iscas na água. Se for num rio ou numa represa

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particular, possivelmente você terá que cevar o local para aumentar suas chances de encontrar o peixe.

Para isso, pegue uma embalagem com uns 5 a 10 kg de milho, complete com água limpa e deixe assim por umas duas semanas. Após isso o milho terá azedado e estará pronto para atrair as tilápias. Retire a água e coloque o milho dentro de dois sacos plásticos desses usados para transportar batatas e cebolas. Amarre uma pedra e uma corda nesse saco e jogue-o na água, a 3 m da margem. A pedra o levará ao fundo e a corda será usada para prendê-lo à margem, evitando que seja carregado pela correnteza.

Se você observar, verá outros pescadores se utilizando de outros tipos de ceva, como simplesmente atirar bolas de fubá molhado na água, enquanto pescam.

Segundo os entendidos, os melhores meses do ano para se pescar tilápias são os de janeiro e fevereiro, muito embora de outubro a março elas possam ser apanhadas, mas não com tanta facilidade.

É importante ter em mente que a tilápia é muito arisca, por isso o silêncio e a tranqüilidade são fundamentais para sua pesca. Se vai levar os peixes, use um samburá com uma corda comprida para guardá-las no fundo do rio, onde não se debatam. Ou então, colocá-las diretamente no gelo.

ISCA ARTIFICIAL

O uso de isca artificial para a pesca da tilápia acrescenta um grau de emoção muito grande à pescaria, pois esse peixinho, quando fisgado, dá longas e deliciosas corridas para tentar fugir da linha que o prende.

Também nesse caso o equipamento deve ser leve, só que a vara já não precisa ser tão longa. Uma vara leve de l,50 a l,70 m é o ideal, uma vez que as iscas utilizadas são pequenas e leves. Os molinetes deverão ser os recomendados para a linha, que poderá ser a mais fina possível, aumentando sua emoção. Recomenda-se o uso de um girador se for usar spinners ou só um snap (alfinete) caso opte por iscas do tipo chamado plug, facilitando a troca nos dois casos.

Isso é de suma importância porque a tilápia é realmente um peixe manhoso e você terá de experimentar alguns tipos de isca artificial, até descobrir a que mais atrai os peixes naquele momento.

DICAS

A) procurar localizar um cardume, já que elas costumam se mover em bando, e arremessar

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a isca além dele. Recolher num movimento contínuo e esperar pelo bote de uma delas.

B) se isso não funcionar, recolha a isca numa ação contínua, dê uma paradinha, depois continue recolhendo.

Há diversas iscas que se prestam à pescaria da tilápia, mas as menores são sempre as mais recomendadas, inclusive aquelas que imitam insetos, como um grilo ou um vermezinho.

Para explorar ao máximo o potencial desse tipo de pesca, troque informações com outros pescadores, observe-os, leia livros e revistas especializadas e converse com os vendedores de lojas especializadas. Em pouco tempo você será um especialista no assunto e estará desenvolvendo sua própria técnica e, o que é importante, desejando ampliá-la em relação aos outros peixes maiores e mais difíceis, mas não menos emocionantes.

CADÊ O PEIXE?

Podemos definir a arte da pesca esportiva como o esforço dedicado a localizar e capturar um peixe. Se pudermos ampliar o sentido dessa arte, vamos incluir como um segmento da arte moderna da pesca o ato de soltar o peixe também, contribuindo para a preservação natural e ao mesmo tempo proporcionando aos outros pescadores o prazer de passar pela mesma emoção na captura de um exemplar memorável.

Para capturar um peixe há uma série de equipamentos, dos quais os principais nós vimos no decorrer deste livro. Desde os equipamentos mais simples até os mais sofisticados, todos englobam alta tecnologia para que possam cumprir adequadamente sua função.

As iscas artificiais e naturais estão a nossa disposição, principalmente as naturais que indicam logo qual é a preferência dos peixes daquela região, como o tucum ou coquinho, a laranjinha de pacu, a goiaba ou o ingá, cujos troncos pendem para dentro do rio e onde deixam cair seus frutos, para alimentação dos peixes da área. Usar esses alimentos naturais já aumenta consideravelmente a chance de sucesso.

Iscas inertes como tripa de galinha, miolo de pão, milho cozido, queijo, carne, pedaços de peixes, mandioca, fígado e coração de boi e outros podem funcionar e é bom estar atento ao cardápio dos peixes de cada região.

Usar iscas vivas como caranguejos, minhocas, minhocuçu, tuviras, lambaris e peixes pequenos também representam sempre uma chance de sucesso, mas aí é necessário saber

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fixar essas iscas ao anzol para que não morram imediatamente.

Peixes, por exemplo, devem ser iscados pelas costas. Caranguejos se iscam fazendo o anzol descrever um arco no interior do corpo, deixando a ponta da farpa ficar à vista. Pequenos peixes devem ser fisgados também pelas costas, de forma que fiquem presos pela coluna vertebral, mas sem afetar seus órgãos vitais, permitindo que se movimentem.

É bom estar atento ao cardápio dos peixes de cada região e ir gravando. Para isso, perguntar será sempre a melhor pedida.

Outra coisa importante a ser descoberta são os hábitos alimentares dos peixes, se saem para se alimentar durante a manhã, à tarde, exclusivamente à noite.

Para isso, basta uma pequena investigação ao chegar ao pesqueiro, indagando aos moradores quais os peixes que se pega ali, o que se usa de isca e quais os melhores horários. Com um pouco de jeito e conversa eles entregam o ouro sem maiores problemas.

A experiência e a observação irão dando as indicações seguintes e ensinando os sinais a serem seguidos para a localização dos peixes. Um deles é a presença de aves em quantidade num determinado ponto do rio ou do mar. Sempre indicam a presença de cardumes que são a base de sua alimentação.

Nos rios, os poços profundos, principalmente se próximos de uma correnteza, os chamados remansos, onde também se localizam pequenos peixes e onde os grandes, que vivem nos poções, vão se alimentar principalmente à noite. É normalmente onde as plantas aquáticas, os aguapés, se acumulam, imóveis, formando um tapete verde.

Na beira do mar, observar as pedras, quando as ondas recuam. A presença de organismos vivos ali indicam que o local certamente atrai peixes que vão buscar alimentação nessas colônias.

Nessas observações, note que os peixes menores vão à procura de alimento e atrás deles vêm os peixes maiores, que nos interessam mais de perto, como pescadores. Assim, a presença de cardumes de pequenos lambaris seguramente vai atrair peixes de maior porte.

Para a pesca de praia, como já foi dito, procure pelo terceiro canal, o mais distante, mas normalmente o mais profundo e onde se concentram os melhores espécimes.

Nos locais onde pequenos riachos ou braços de rio se encontram com o curso principal, observe a existência de um canal mais profundo, por onde a correnteza passa. Ali é o caminho trilhado pelos cardumes em seus movimentos pelo rio.

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Algumas espécies como o robalo, o black bass e o tucunaré, ambos esportivos e vorazes ao extremo, preferem circular por entre galhadas submersas, principalmente nas represas ou mesmo em troncos tombados sobre o rio.

Para a pesca desses exemplares você terá que ser muito rápido, não permitindo que ele vá se esconder. Se um deles entrar na galharia, dificilmente você conseguirá tirá-lo de lá. Um piloteiro experiente e hábil pode ajudá-lo, mas com certeza você perderá algumas boas iscas artificiais, antes de dominar a técnica.

Nas margens dos rios e riachos, a presença de capim no barranco indica a existência de insetos que, por sua vez, são alimentos para os peixes pequenos que, em sua esteira, trazem os grandes. Para as tilápias, por exemplo, o capim serve de alimento.

Se o capim cresce dentro da água, possivelmente abriga alevinos e peixinhos que vão ali em busca de proteção. Uma concentração deles indica a presença dos grandes que estarão sempre rondando, esperando o momento de dar o bote num incauto.

As chamadas curvas de rio, onde se acumula a tranqueira e os galhos levados pela correnteza com freqüência indicam poços profundos, onde peixes de couro como o jaú e o pintado costumam habitar.

Peixes predadores como o dourado gostam de correntezas, onde devem ser caçados com iscas que imitem o movimento dos peixes menores.

Outro dado importante que deve ser observado pelo pescador é a profundidade em que se encontra o peixe, que varia em função da temperatura da água. Como isso nem sempre pode ser medido, se estiver usando isca artificial inicie a pescaria com aquelas de superfície, depois vá mudando para as de meia água e, finalmente, para as de profundidade, até encontrar os cardumes.

Com isca viva, a melhor maneira de se descobrir isso é usando a pesca de batida, conforme já foi descrita, mas aumentando o tamanho da linha até conseguir encontrar o peixe.

Outro fator importante, segundo os entendidos, é observar a pressão atmosférica. Com a aproximação de uma frente fria, a tendência da pressão é abaixar. Nesse momento, se você estiver pescando vai perceber que cessa toda a atividade dos peixes e enquanto a pressão se mantiver assim, não haverá puxadas na sua linha.

Quando passa a chuva, no entanto, e a pressão volta a subir, os peixes retornam com voracidade à procura de alimento. É quando você deve estar pronto para ele.

Como você viu, não é tão difícil assim se tornar um bom pescador. Na realidade, a

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experiência e a prática, aliadas aos conhecimentos do equipamento, das iscas, dos hábitos dos peixes, dos pesqueiros e das cevas, juntos, é que lhe darão o suporte necessário para seguir em frente.

Quando se fala em experiência e prática, significa que jamais você deve aceitar como verdade absoluta o que um pescador mais experiente disser, pois muitas vezes aquela técnica funciona para ele, embora os princípios gerais da pescaria não possam ser mudados. O peixe está ali e você precisa de uma isca para atraí-lo, um anzol para fisgá-lo e uma linha para trazê-lo até você.

Tudo o que ocorre entre o momento em que você se dispõe a pescar e o primeiro peixe fisgado é algo de mágico e prazeroso que não poderá jamais ser traduzido em palavras.

O importante é começar. Como todos nós começamos um dia, sem conhecimento, sem experiência, com a cara e a coragem, aventurando-nos numa experiência inesquecível que nos cativou e prendeu para sempre nas malhas dessa arte como querem uns, dessa ciência, como querem outros.

ATENÇÃO! CUIDADO!

Uma pescaria tem que ser, antes de tudo, um divertimento cheio de prazer e de emoções, por isso todo e qualquer situação de risco deve ser evitada ao máximo.

Muita gente confunde pescaria como desculpa para encher a cara e aprontar mil e uma trapalhadas, pondo em risco não apenas a sua vida, mas a de seus companheiros de pesca.

Que uma cervejinha gelada na hora certa, depois de uma pescaria emocionante, por exemplo, faz muito bem ao corpo, ninguém nega. O que não pode acontecer é exagerar nisso durante a pescaria. Se o mais importante é a bebida, o melhor é ficar em terra ou no bar, pronto!

Acidentes podem acontecer. Andar de madrugada pelo barranco de um rio pode ser perigoso, por isso nem é preciso que se recomende que cada caixa de pesca tenha uma boa lanterna, com pilhas e lâmpadas de reserva.

Durante o dia, ao sol, proteja o corpo e os olhos, usando chapéu, óculos escuros, roupa clara e folgada. Não se exponha em demasia ao sol nem deixe a pele avermelhar, antes de começar a se preocupar.

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Um bom bronzeador também pode ser acrescentado a sua tralha, se for o caso.

ACIDENTES COM ANZÓIS

Mesmo o mais experiente pescador pode, num descuido, machucar-se com um anzol ou com a garatéia de uma isca artificial. A distração é a principal causa desse tipo de acidente, bem como a inexperiência de quem tenta desenroscar uma linha presa, puxando-a. A linha se distende e, soltando-se, virá na direção do pescador como um projétil, podendo cravar-se dolorosamente em alguma parte de seu corpo.

Por isso muitas vezes o melhor a fazer é cortar a linha e perder uma chumbada e um anzol do que se arriscar a um problema maior que seguramente poderá acontecer com você ou com alguém por perto.

Se acontecer, a primeira coisa a fazer é não perder a calma. Apanhar rapidamente o alicate de ponta fina e cortar a linha ou o encastoamento, de forma a liberar a parte ferida, impedindo que o anzol seja puxado, provocando danos mais sérios.

Apanhe a caixa de primeiros socorros, lave e desinfete o local, procurando estancar o sangue para poder avaliar o que ocorreu. Se houver hemorragia, comprima um pouco antes do ferimento. Se preciso, passe um esparadrapo apertando com força.

Observe com atenção o ferimento. Se a ponta está visível, empurre um pouco mais o anzol e corte-a, depois é só puxá-lo para trás, retirando-o. Se a ponta não é visível, verifique se é possível retornar com o anzol, mas de uma forma que a farpa não agrave ainda mais o ferimento. Se for possível, faça isso com calma e devagar. Com um pouco de paciência e resistência do ferido, isso pode ser feito.

Se conseguir remover o anzol, lave e desinfete o local novamente. Envolva com gaze e tão logo quanto possível consulte um médico para uma avaliação, inclusive quanto à necessidade de uma prevenção contra o tétano. Se não conseguir remover o anzol, lave e desinfete o local, procurando ajuda médica o mais depressa possível.

Se a ponta do anzol não estiver visível, não tente empurrar o anzol para frente até que isso ocorra, pois com isso você pode atingir uma artéria, uma veia ou um nervo, agravando o quadro.

Garatéias de iscas artificiais são muito perigosas, quando se tenta retirá-las sem que a cabeça do peixe esteja imobilizada, por isso recomenda-se o uso do alicate, que deverá ser usado com firmeza. Um acidente nesse momento, com o peixe vivo e se debatendo, poderá ser particularmente doloroso e provocar um estrago irreparável.

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ÁGUA-VIVA

A água-viva tem diversos nomes e pode ter diversas formas e tamanho. Costumam aparecer nas praias após uma ressaca ou quando venta muito na direção da terra. É quase transparente e nisso reside o risco de pisá-la com pés descalços ou, dentro da água, acontecer dela resvalar no corpo.

Isso provoca uma espécie de queimadura ou uma urticária muito desconfortável, que arde em demasia. Isso, no entanto, não deve alarmar o pescador inexperiente, pois não se tem notícia de alguém que tenha tido maiores problemas, além do ardor e dos vergões na pele.

Se acontecer isso com você, lave o local com água do mar e se tocar o local ferido evite passar a mão na boca e nos olhos. Após algumas horas a reação cessa e o desconforto passa. Caso uma área muita extensa do corpo for afetada, procure ajuda médica para aliviar os efeitos.

FERRÕES

Os ferrões são mecanismos de defesa dos peixes e exigem dos pescadores muito cuidado no manuseio das espécies que os possuem. Por isso o uso do alicate é sempre recomendado, pois com ele você não precisa tocar o peixe para imobilizá-lo.

Segundo a medicina, não existe antídoto para a dor que advém de uma ferroada dessas. No caso da arraia, por exemplo, são trinta e seis horas de dor constante e terrível, latejando e provocando até cãibra. No caso dos outros peixes, essa dor pode durar alguns dias, como o bagre, o cascudo, o pintado, o jaú, a jurupoca, os mandis, principalmente o mandi-chorão.

Para evitar as ferroadas de uma arraia, o segredo é caminhar arrastando os pés no fundo da água, pois se tocada ela simplesmente vai se afastar do seu caminho. Se pisar nela ela reagirá imediatamente, ferroando. Outro conselho e caminhar com uma vara raspando o fundo a sua frente, espantando-a.

Um perigo inesperado é oferecido pelo ferrão do robalo, que fica na ponta de sua nadadeira anal. Normalmente a pessoa que vai limpar ou escamar o peixe acaba se ferindo. Por isso, a primeira providência ao limpar um robalo é cortar junto à base do ferrão e com o alicate torcer e puxar, removendo-o.

Em sua maioria, esses ferrões estão localizados nas pontas das nadadeiras laterais e na nadadeira dorsal, três pontos que podem ser evitados se o peixe for seguro da forma correta, na falta de um alicate.

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DENTES

Tão ou mais perigosos que os ferrões são os dentes de algumas espécies pois num descuido eles simplesmente podem decepar um dedo com a maior facilidade.

Só para se ter uma idéia, em alguns locais se pesca o pacu usando um coquinho como isca. Uma frutinha que, para ser quebrada, necessitará de uma boa martelada. Com seus dentes o pacu faz isso, quebrando-a com a mesma facilidade com que quebra a casca de um caranguejo.

E o que dizer dos dentes da piranha? Basta examinar uma para se ter uma idéia do perigo que eles representam, tão perigosos como os dentes proeminentes da cachorra.

Qualquer um desses peixes têm força suficiente na mandíbula para provocar um grande estrago, principalmente o dourado, que consegue cortar o aço de um encastoamento mais fino.

Assim, com esses peixes nunca brinque de pôr o dedo na boca de um deles, pois isso pode ser desastroso. O instrumento indicado para imobilizá-los e lidar com eles é o alicate apropriado, que afastará a possibilidade de qualquer acidente.

Não brinque jamais com a sua segurança, pois a pescaria é um lazer e uma diversão, antes de mais nada. Equipamentos como o salva-vidas, a caixinha de primeiros socorros, os alicates, o chapéu e outros mais devem ser levados em conta por todos que querem emoção e prazer, não dor e atribulações.

No barco, use sempre colete salva-vidas!Em sua tralha, tenha sempre um kit de primeiros socorros!

PESCADOR ECOLÓGICO

Omitimos deliberadamente a menção ao isopor ou a qualquer outro apetrecho para guarda e conservação do peixe, considerando que a última das preocupações do pescador é a de trazer peixes para casa para mostrar aos familiares e aos vizinhos que ele é um bom pescador.

Se for a um pesquepague, ótimo! Os peixes estão ali para isso mesmo. Se for num rio, é preciso considerar que cada espécime que ali se encontra é uma obra demorada da natureza. Simplesmente tirá-lo de lá para transformá-lo num troféu ou numa refeição é coisa que deve

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ser muito bem refletida.

Libertar o peixe pode ser um ato de amor à natureza e de louvor à coragem do animal, proporcionando a outros aficionados o mesmo prazer que ele lhe provocou.

Só que, para soltar esse peixe, é necessário que ele tenha condições de sobrevivência. Às vezes o anzol atravessa o olho do peixe, fere suas guelras ou as garatéias da isca artificial provocam danos no corpo do bichinho. Devolvê-lo à água nessas condições pode ser condená-lo à morte na certa. Nesse caso, convém levá-lo e transformá-lo numa boa refeição.

Muitos pescadores que o fazem por esporte removem as garatéias e fixam, no lugar delas, anzóis comuns que comprem da mesma forma seu papel, sem causar tanto estrago como os ganchos originais das iscas artificiais, sem prejuízo, no entanto, da emoção e da eficiência do equipamento.

No momento de devolver o peixe à água é importante dar-lhe tempo para que volte a se reanimar, após todo o esforço feito para fugir ao anzol. Quem assiste aos programas de pesca na televisão já observou os movimentos que o pescador faz, empurrando o peixe contra a água para que esta passe por suas guelras, oxigenando-as. É o procedimento correto.

Um outro fator deve ser observado. O IBAMA - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis determina o tamanho mínimo de peixes que podem ser levados, após pescados. É interessante procurar conhecer essa lista, no momento em que você for tirar sua licença anual de pescador.

Resumidamente e abordando apenas os peixes mais comuns, estes são os tamanhos mínimos exigidos pelo IBAMA:

ESPÉCIE_________________TAMANHO

Curimbatá............................................. 30 cm

Dourado................................................ 55 cm

Jaú........................................................ 80 cm

Piau e piapara..................................... 30 cm

Pacu...................................................... 40 cm

Surubim e pintado............................. 80 cm

É importante ressaltar que não existe tamanho mínimo para a pesca oceânica, mas a licença

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anual é exigida da mesma forma.

Na época da chamada piracema, período de procriação dos peixes na maioria dos rios do país, a pesca fica proibida. Isso ocorre normalmente nos meses de novembro a fevereiro, mas antes de partir para qualquer pescaria mais distante, é bom se informar a respeito desse período ou de qualquer outra proibição.

Há algum tempo, visando a preservação, num ato coragem e nobre, o governador do Mato Grosso do Sul proibiu a pesca comercial em todo o Estado o que, diga-se de passagem, significa um avanço enorme nas políticas de conservação e preservação da natureza e, ao mesmo tempo, aumenta as chances de nós, pescadores ocasionais, nos depararmos com um belo exemplar.

A pesca predatória, feita com redes, sem respeitar tamanho mínimo em pouco tempo acabou com os peixes em muitas regiões do país. A proscrição desse tipo de pesca deveria se estender a todos os Estados brasileiros.

Quem já pescou na região do Mato Grosso deve ter visto passar aquelas barcaças, tão abarrotadas de peixes que parecia que afundariam a qualquer momento. Ou então deve ter visto pescadores em suas toscas canoas, recolhendo aquelas redes imensas, puxando para bordo peixes de todos os tamanhos.

O argumento de que fazem aquilo por necessidade ou por profissão não se justifica, pois ao contribuir para com a devastação, não percebem, por acaso, que estão contribuindo para exterminar não apenas os peixes, mas sua própria profissão?

Portanto, faça das suas pescarias momentos de prazer e emoção, sem se preocupar em matar. Fotografe os peixes pescados. Com certeza serão troféus muito mais interessantes do que a carcaça ou o esqueleto do peixe.

A PESCA DE BARCO

Antes de vermos algumas situações práticas da pescaria mais indicada para o iniciante, a pesca desembarcada, vamos a algumas noções sobre a pesca embarcada.

Possivelmente o pescador principiante, quando for pescar embarcado, irá com alguém mais experiente, que lhe dará as dicas e informações necessárias sobre o tipo de pesca e de peixe esperado. Numa situação normal, num rio de grande porte ou no Pantanal, por exemplo, é

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aconselhável levar o seguinte equipamento:

a) Varas de 1,6 m, para a pesca de corrico, até varas de 2,5 m, para a pesca de rodada ou apoitada.

b) Molinetes de médio porte.

c) Linha entre 0,50 e 0,80 mm, anzóis encastoados e chumbadas.

d) Colete salva-vidas preso ao corpo.

PESCA APOITADA

Nesse tipo de pescaria o barco ficará apoitado ou ancorado na margem do rio ou no meio de um canal, chamado de corixos ou mesmo numa correnteza. Nesse tipo de pesca pode-se tentar fisgar o pacu ou peixes de couro como o pintado e o jaú.

O equipamento ideal poderá ser uma vara de 2,5 m, com linha 0,50 mm e anzol 7/0 ou 8/0 para o pacu e linhas de 0,80 mm e anzol 9/0 para peixes de couro.

A isca a ser utilizada será de acordo com o peixe e, como você estará pescando com algum mais experiente, observe-o e imite-o, aprendendo na prática tudo que puder.

PESCA DE BATIDA

Esse tipo de pesca é indicado para se pegar o pacu e, para o sucesso dela, é preciso que o piloteiro seja experiente e mantenha o barco sempre paralelo à margem do rio e próximo dos aguapés, mas ao sabor da correnteza.

A pescaria exige uma certa habilidade do pescador, mas é muito emocionante, pois se utiliza de um equipamento bem rústico, que poderá até ser uma vara de bambu de uns 3,0 a 3,5 m. Corte um pedaço de linha de meio metro maior do que o tamanho da vara que estiver usando, coloque uma chumbada pequena, de no máximo 10 gramas e um anzol 7/0 com encastoamento.

Possivelmente o pescador que o acompanha estará usando um coquinho, uma laranjinha, goiaba ou outra isca desse tipo. Após firmá-la no anzol, faça a seguinte experiência. Atire para o alto uma isca e observe como ela cai na água. Com essa mesma intensidade arremesse a sua isca, deixando-a se afundar um pouco e retirando rapidamente. Repita duas ou três vezes isso e, por fim, deixe a isca se afundar totalmente, até que a vara fique a meio metro da água. Se nada acontecer, retire a isca e repita o movimento.

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É importante ficar atento nesse tipo de pesca pois o pacu, quando avança para a isca, faz isso vorazmente, por isso é bom manter a vara bem firme na mão. Uma vez fisgado, aproveite a briga que ele vai lhe proporcionar.

PESCA DE CORRICO

Este tipo de pesca consiste em deixar a isca ficar para trás e arrastá-la com o movimento do barco. É preciso sensibilidade e experiência do pescador para encontrar a velocidade certa e manter-se atento para se certificar de que a isca está se comportando como deve, movendo-se tanto para um lado como para outro.

Usa-se a isca tipo colher, com um encastoamento de aço de até meio metro, com um cuidado adicional. Adaptar um girador junto à colher, de preferência do tipo alfinete, que permite a rápida mudança da isca. Um outro girador deverá ser adaptado no fim do encastoamento, unido à linha principal.

Iscas artificiais também podem ser usadas nesse tipo de pesca e com calma, observação e paciência você começará a descobrir qual a melhor em cada situação, já que o barco tanto vai se movimentar a favor como contra a correnteza.

A vara a ser usada deverá ser curta, de até 1,60 m. Como na pesca de batida, é preciso se manter atento, segurando firmemente a vara da mão, pois o ataque de um dourado, por exemplo, vai provocar uma emoção que você jamais esquecerá, principalmente quando o vir saltando e se debatendo, com o corpo dourado refletindo a luz do sol.

PESCA DE RODADA

Aqui também a perícia do piloto do barco é importante, pois ao remo ele manterá o barco no rumo, enquanto desce ao sabor da correnteza, possivelmente num lugar fundo e pedregoso, onde se escondem os grandes peixes de couro. Quando o barco chega ao fim do poço, o piloteiro retorna com ele até o ponto inicial, onde tudo recomeça.

Como não há necessidade de arremessos, pois é só soltar a linha e deixar que ela se arraste pelo fundo do rio, usa-se uma vara de até 2,10 m, linha de 0,60 a 0,80 mm, anzol encastoado de 7/0 a 10/0, chumbada redonda (formato oliva) e uma isca viva.

Não se esqueça que o peixe visado nesse tipo de pescaria pode chegar aos 100 kg de peso, ficando a média em torno de 50 kg. Será uma emoção brutal, mas, ao mesmo tempo, uma experiência fantástica conseguir trazer esse peixe para cima. Seja humilde, observando e aceitando conselhos dos pescadores mais experientes, não se esquecendo que, um dia, eles foram principiantes como você. Se eles conseguiram se tornar bons pescadores, você também pode.

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Na pesca de batida, você pode usar também seu molinete e fazer da mesma forma que faria com uma vara de bambu. Com a prática, você conseguirá pôr a isca no ponto exato do rio que desejar, assim que pegar o jeito.

Lembre-se que, para os arremessos, as linhas mais finas são mais indicadas, enquanto que as mais grossas ficam para a pescaria de rodada. As varas mais longas se prestam melhor aos arremessos e as curtas, à rodada.

Não se esqueça de praticar os nós que for aprendendo, pois no momento de fisgar um peixe grande um nó fraco pode pôr a perder toda a oportunidade de experimentar uma emoção indescritível.

NÓS

Uma das grandes dificuldades do principiante na pesca é como conseguir prender com segurança a linha ao anzol ou aos outros apetrechos usados.

A linha de nylon desliza com facilidade e os nós comuns não são suficientes nem adequados. Perder um peixe porque anzol se soltou é terrivelmente frustrante, muito embora possa acontecer uma hora ou outra.

Existem alguns nós básicos, que todo principiante deve conhecer, pois são a base de uma pescaria segura, sem preocupações com a perda do anzol e da isca, principalmente quando se trata de ma isca artificial razoavelmente cara.

Em todos os casos, é importante que o principiante pratique esses nós, repetindo-os até conseguir fazê-los de olho fechado, automaticamente.

O empate fixa o anzol à linha, evitando que ele fique oscilando. Facilita colocar a isca e dá mais sensibilidade quando o peixe belisca. Não pode ser usado, no entanto, se você estiver pescando peixe com dentes, pois facilmente ele cortará a linha.

Basicamente você não terá necessidade de aprender muitos nós, muito embora haja diversos deles, todos com o mesmo objetivo. É importante lembrar que, no momento em que a linha é dobrada e amassada em um nó, sua resistência diminui um pouco. Assim, é bom a cada vez que retirar um peixe da água, principalmente se ele foi um bom brigador, verificar os nós e a resistência da linha. A cada grupo e fisgadas, dependendo da qualidade de sua linha, é

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aconselhável refazer os nós, coisa que, para quem praticou, tomará alguns segundos e evitará qualquer possível frustração na seqüência da pescaria.

Como os encastoamentos já tem uma presilha que se abre para receber o anzol, muitas vezes o trabalho será apenas o de ligar a linha ao encastoamento. Se precisar de um girador, por exemplo, terá de atá-lo ao encastoamento e, aí, serão necessários dois nós bem firmes.

Por outro lado, há um sistema de encastoamento que consiste num rolinho de fio de aço, encapado com plástico transparente, vendido juntamente com as presilhas para unir as partes. Com esse material, você corta o encastoamento no tamanho que desejar, fixa o anzol numa das pontas e o girador na outra. Na seqüência bastará um nó da linha no girador para seu conjunto estar pronto para a pescaria.

A PESCA NA PRAIA

A pescaria oceânica, sonho de todo pescador, não é coisa em que se deva pensar logo no início da carreira. Não só pelos custos do equipamento e da pescaria em si, a pesca oceânica exige muita segurança e muita habilidade, já que, de uma hora para outra, você pode estar às voltas com um peixe de mais de 500 kg, o que, convenhamos, é muita areia para o nosso caminhãozinho.

Por outro lado, a modalidade de pesca de praia pode oferecer emoções iniciais satisfatórias, já que há peixes interessantes, de bom peso e brigadores à disposição dos interessados.

Basicamente você poderá optar por dois tipos de pesca de praia, uma efetuando lançamentos curtos, usando linha e chumbada leve, em locais onde não haja grandes peixes. Uma linha de 0,15 a 0,25 mm com um rabicho de dois ou três anzóis serão suficientes e você não terá maiores preocupações.

No segundo tipo, que exige lançamentos longos e chumbadas pesadas, buscando peixes de 5 kg ou mais, você terá que se especializar um pouco mais, pois algumas providências serão necessárias e você terá que aprender a conviver com arranques e chicotes, exigíveis nessa modalidade.

Nada que possa confundí-lo, no entanto. Basta um pouco de paciência e prática e você poderá, com um pouco de sorte, se deliciar com momentos de pura emoção.

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O equipamento exigido para esse tipo de pesca deve ser especial, resistente à maresia. Uma vara de 3,50 m, com um suporte para mantê-la em pé, molinete adequado, com 150 a 200 m de linha 0,30 mm com um chicote de 80 cm, pernadas de 30 cm e um arranque de 7 m e chumbada tipo pirâmide de até 120 gramas. As iscas podem ser o camarão fresco descascado, o corrupto, que pode ser apanhado na praia com uma bomba de sucção apropriada e a sempre útil e conhecida minhoca. As condições do mar ditarão a necessidade de aumentar ou diminuir o peso da chumbada, por isso é preciso estar atento a isso e contar, sempre, com a experiência dos outros pescadores.

Na pesca de praia, é preciso localizar os canais onde os peixes se movimentam e se alimentam. Numa praia normalmente são encontrados três deles e podem ser localizados observando-se as ondas que se aproximam, quebrando-se continuamente. Os canais ficam justamente no intervalo entre esses locais onde elas se quebram. Assim, observando o local onde as ondas se quebram, basta arremessar a isca um pouco adiante desse ponto.

Ocorre que isso pode ficar a até 150 m do local onde está o pescador e isso vai exigir dele alguma técnica para fazer o lançamento correto. Em alguns pontos, ele precisará mesmo avançar mar adentro para isso, coisa que não aconselhamos a ninguém, principalmente para aqueles que não conhecem o local, pois a qualquer momento pode ser puxado para o mar e ter de abrir mão do seu equipamento para conseguir nadar de volta.

Em tese, uma vez definida a localização do canal, basta preparar seu arremesso e jogar a chumbada, juntamente com os anzóis e as iscas, até aquele ponto. A ilustração a seguir demonstra como isso pode ser feito com facilidade e sem maiores problemas, já que o pescador experiente consegue realmente jogar a isca onde desejar, principalmente em um local aberto como a praia.

Isso, no entanto, pode não ser tão fácil assim. Você precisará praticar um pouco, caso contrário seus arremessos poderão ser desastrosos. Você poderá usar um lançamento alto, para chegar ao ponto desejado, um lançamento direto ou normal e, finalmente, um lançamento curto, dependendo do ângulo com que é feito o lançamento.

Para a pescaria no mar, os melhores dias são quando não há ressaca e o mar está calmo.

O ARRANQUE

Já foi possível observar que o equipamento para conseguir realizar o arremesso tem que ser pesado. A chumbada, principalmente, tem que ter peso para impulsionar o conjunto até o ponto desejado, na hora do arremesso.

Para suportar esse peso, é preciso que a linha seja grossa e aí surge o problema: com uma linha grossa dificilmente você conseguirá fazer um arremesso tão longe assim.

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Se ela não for o suficiente, pode se romper no momento do arremesso. Por isso é que se usa o arranque que nada mais é que uma linha numa bitola um pouco maior, normalmente 1,5 mm mais grossa que a usada. Se sua linha principal for de 0,30 mm, usar para o arranque uma de 0,45 mm, num tamanho igual a duas vezes o comprimento da vara.

No momento em que você estiver recolhendo o peixe, quando ele se aproximar já haverá parte da linha mais grossa enrolada no carretel do molinete, segurando-o se ele tentar uma última e desesperada corrida.

Esse arranque será unido à linha principal usando-se o nó ensinado no início deste livro ou usando-se o sistema de colagem, já à venda no mercado e de resistência garantida.

RABICHO OU CHICOTE

O rabicho ou chicote é a parte que levará os anzóis e a chumbada, unida ao arranque por um girador, pois os movimentos da linha sob os efeitos das ondas pode resultar numa confusão terrível.

A confecção do rabicho também deve ser praticada com afinco, observando-se os outros pescadores e desenvolvendo sua própria técnica.

Inicialmente, a linha a ser usada no rabicho deverá ser ligeiramente mais resistente que a linha mestre. A medida mais adequada é a de 80 cm para isso. Na ponta deverá ser presa a chumbada, na forma de uma pirâmide, que é a que melhor se adapta a esse tipo de pesca.

Entre o arranque e a chumbada, serão feitas as pernadas, nas pontas das quais serão aplicados novos giradores e os anzóis, no máximo de três. Uma vez montados os seus rabichos, acondicione-os numa cartela plástica ou outro tipo de embalagem, de forma que se torne fácil manuseá-los, quando estiver usando-o.

Com esses elementos em mãos você já pode iniciar a pesca de praia, não se esquecendo dos procedimentos de segurança e de ficar atento nos outros pescadores para descobrir os truques e segredos que usam para pescar.

Com o tempo, você começará também a dar essas informações aos novos que procurarem por você, quando estiver pescando...

A TRALHA DE PESCA

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Este é um dos itens mais importantes de uma pescaria, pois a escolha do material correto vai lhe proporcionar momentos de lazer e diversão, sem preocupações adicionais.

Muitos acham um exagero levar uma porção de coisas para uma pescaria, mas o importante é que todas as preocupações menores fiquem de lado e você possa se concentrar apenas no seu peixe e no paciente trabalho de localizá-lo, atraí-lo, fisgá-lo, retirá-lo da água e dar-lhe um dos seguintes destinos: comê-lo ou soltá-lo.

Para isso vamos por partes.

A CAIXA DE PESCA

Antes de mais nada, compre uma boa embalagem para acondicionar e transportar o material miúdo. Há, no mercado, inúmeras marcas e modelos, todas indicadas para isso e disponíveis para todos os gostos e bolsos.

Alguns cuidados são importantes, como o material, que precisa ser resistente para suportar as viagens e os prováveis tombos a que todo pescador está sujeito.

O sistema de dobradiça e a fechadura devem ser observados com cuidado para se assegurar de que vão agüentar o abre-e-fecha constante. Uma tranca é aconselhável, para evitar que crianças mexam inadvertidamente e acabem se espetando com um anzol. As alças devem ser adequadas para suportar o peso de seu conteúdo.

Fora disso, é cuidar dela, não a expondo por muito tempo ao sol direto, evitando trancos e tombos, se possível e o que é mais importante: mantendo-a sempre muito bem limpa e organizada para que a possa utilizar a qualquer momento. Afinal, ninguém sabe quando vai surgir a oportunidade de uma nova pescaria, principalmente agora, com a proliferação dos pesquepagues, que permite a qualquer um treinar adequadamente para as aventuras mais emocionantes.

AS LINHAS

Tecnicamente conhecidas como monofilamento de nylon, muita gente costuma dizer que as linhas são todas iguais e há um engano nisso tudo. Se acreditar nisso poderá ter os mesmos problemas que qualquer principiante que se deixa levar por essa conversa.

Há linhas e linhas. Há linhas que esticam demais e atrapalham a fisgada. Há linhas que têm excelente memória e quando você as desenrolam elas mantém aquele formato anelado que fica lindo nas cabeleiras que se formam nos molinetes ou carretilhas. São baratas, mas só dão

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dor-de-cabeça.

Habitue-se, portanto, a pedir pela marca, elegendo uma linha preferido. E não pense que nisso as importadas são melhores que as nacionais, porque temos excelentes marcas por aqui. O melhor conselho e olhar a caixa de pesca de um pescador veterano ou simplesmente perguntar a quem tem experiência. Não acredite no vendedor de uma loja de artigos para pesca que nunca pescou ou que tem muito dó dos coitadinhos dos bichinhos.

A espessura da linha determina o peso que ela suporta e nisso está envolvida uma tecnologia muito grande. Não duvide, portanto, se a embalagem afirmar que aquela linha fininha suporta um peso de cinco quilos, porque, seguramente, ela deve suportar um pouquinho mais.

Uma vara grossa com uma linha proporcional, servirá como excelente reboque para tirar os peixes do rio, mas pouco ou nenhum prazer ou emoção lhe proporcionarão. Uma linha fina, por outro lado, exigirá de você perícia e tempo para tirar o peixe com segurança, principalmente quando ele está no peso limite de sua linha. Aí é que surge o pescador que faz da pesca uma ciência e uma arte.

Assim sendo, habitue-se a observar a resistência das linhas, antes de se definir pelo tipo de peixe que pretende pescar. Uma linha de 0,20 mm resistirá a um peixe de 2 kg tranqüilamente e possivelmente só se romperá entre 2,5 e 3,0 kg. Um peixe de 2,0 kg, fisgado numa linha de 0,20 mm, se for um brigador, dará uma boa emoção por algum tempo, até que se canse. E com essa mesma linha, uma vara adequada e muita habilidade você poderá fisgar e trazer peixes de peso superior ao recomendado, o que aumenta ainda mais a emoção e torna a luta muito mais justa para o peixe.

Como todos os outros materiais, uma linha também se gasta pela fricção com os passadores da vara, nas pedras, nos galhos, no bote e pela própria tensão a que é submetida, quando se tem uma briga boa. Por esse motivo, é conveniente revisar sempre a linha que estiver usando, principalmente nas proximidades do anzol. Além disso, após algum uso, substitua-a. Ela não é tão cara e isso o livrará do desprazer de tê-la partida, justo no momento em que fisgava o maior de todos.

A VARA DE PESCA

Você pode pescar sem usar uma vara, apenas segurando a linha com a mão. Em alguns casos isso é até divertido, quando se trata de peixes pequenos, já que um deles um pouco maior poderia não apenas tomar-lhe a linha como também deixar como lembrança um belo corte.

A vara correta para o tamanho de peixe que pretende pescar é de suma importância,

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principalmente porque o que vale não é rebocar o peixe, mas trazê-lo até você numa luta que emociona e dá prazer.

Você pode usar uma comum e sempre útil vara de bambu e com ela encontrar muitas emoções, numa pesca de barranco ou mesmo embarcado. Para aventuras maiores, no entanto, você precisará de uma vara de fibra de vidro ou de nylon, com boa ação e muita resistência para não se quebrar na hora inadequada.

No princípio, não se acanhe de comprar uma vara um pouco mais forte, talvez um pouco demais até, pois o aprendizado trará a sensibilidade e, com o tempo, buscará o equilíbrio ideal do equipamento. Nesse momento, a linha adequada, um pouco mais forte que o necessário, completará o equipamento inicial do aprendiz.

Sabendo que esse equipamento lhe permitirá, sem qualquer problema, trazer o peixe até você, aproveite a oportunidade para sentir o peixe, perceber como cada espécie reage de modo diferente depois de fisgado.

Veja como alguns se deixam tracionar até se aproximar da flor da água e da luz, reagindo em seguida. São conhecimentos que nenhum outro poderá lhe passar, porque você vai ter que sentí-los ali, na sua mão, no seu braço e no seu corpo.

Alguns peixes se cansam rapidamente. Outros são matreiros, se deixam puxar e, inesperadamente, reagem, fugindo. Alguns saltam, outros vão para o fundo. Muitos procuram as tocas para se esconder depois de fisgados e você não conseguirá tirá-los de lá. Vários correm na direção das galhadas, onde a linha vai se enrolar e se arrebentar.

Com o tempo e a experiência você irá reduzindo o porte do seu equipamento e, em tese, aumentando as chances do peixe de conseguir fugir.

O ideal em relação às varas é ter duas ou três, em tamanhos diferentes, uma mais fina e sensível, outra um pouco mais pesada, outra mais longa. Nesse aspecto, muitas delas, assim como as embalagens das linhas, trazem a informação do peso que suportam, o que facilita em muito a escolha e o uso da linha.

Esses dados são sempre os mínimos, deixando uma boa margem de segurança, razão pela qual a sua habilidade será sempre posta à prova quando fisgar um peixe acima do peso recomendado.

Também aqui não vale a pena economizar, mas adquirir um produto de qualidade testada e aprovada. Observe os pescadores mais experientes, converse com eles, anote as marcas, discuta com os vendedores, seja chato e peça todas as explicações a que tem direito. As nacionais se rivalizam com as importadas, por isso não deixe que ninguém o deslumbre com

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esse tipo de argumento.

Tomando alguns cuidados você terá muitas alegrias e muito prazer com ela. Guarde-a sempre numa posição em que não fique forçada. Transporte-a com cuidado, se possível dentro de uma embalagem apropriada, que evite choques e danos, principalmente com a ponta que, numa batida inadvertida, pode se partir.

Uma forma de transportar suas varas sem maiores problemas é só mandar cortar um tubo de plástico PVC num tamanho um pouquinho maior que a vara. Use dois terminais de plástico um para ser soldado numa extremidade e outro para ser rosqueado na outra, permitindo abrí-la e tirá-la com facilidade. No meio dela, prenda um girador e com um cordão amarre essa tampa ao corpo do tubo, para não perdê-la com facilidade. Se quiser, instale um prendedor em cada extremidade e prenda neles uma correia para levar o tubo às costas ou como uma mala, pela alça.

Forre com espuma o fundo para que as varas não fiquem batendo. Quando for transportá-las, faça uma almofada de espuma para introduzir no tubo e imobilizar as varas para evitar a fricção de uma contra a outra.

A organização e os cuidados em uma pescaria se justificam pelo tempo que você deixa de perder com detalhes insignificantes, para poder se concentrar no que realmente interessa: a pescaria.

MOLINETE E CARRETILHA

Sempre que se pergunta qual dos dois é o melhor para um pescador aprendiz, a resposta pode variar de um para outro pescador, dependendo de sua experiência.

Por experiência própria, afirmo sem medo de errar que o molinete é mais adequado, dá menos problema e com poucos arremessos você já consegue colocar a isca onde deseja, seja lançando com a vara em pé, seja com ela inclinada. Para evitar polêmicas, lembrem-se sempre que estamos fazendo um manual para o pescador principiante.

Um molinete dificilmente provoca o efeito cabeleira, se você usar uma linha de qualidade. A carretilha exigirá muita prática e muita habilidade o que pode fazer com que o pescador iniciante desista logo cedo, julgando-se incapaz de manusear esse tipo de equipamento.

Ao escolher o seu ou os seus, já que são feitos em diversos tamanhos, cada um deles adequado para peixes até um determinado peso, verifique se ele têm a manivela intercambiável, podendo ser usada na direita ou na esquerda, o que facilita o trabalho dos canhotos que querem aprender a pescar.

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Os molinetes vão indicar a sua resistência e a linha ideal. Com isso você não terá problemas de preparar seu equipamento para a sua primeira pescaria ou para voltar a pescar, após ter desistido prematuramente.

Um bom investimento nesse momento se justifica, pois você terá em suas mãos um equipamento confiável e de qualidade, principalmente no que se refere à quantidade de rolamentos utilizados, que dão durabilidade ao conjunto.

A limpeza deve ser sempre muito cuidadosa, procurando remover areia e terra que por ventura possam ter entrado nas engrenagens. Lubrifique sempre com a graxa indicada pelo revendedor ou por uma de sua confiança, evitando encharcar seu molinete de óleo, pois ele pode passar para a linha e daí para a isca. Peixe não tem nariz para sentir o cheiro, pode dizer alguém. É verdade! Mas ele tem gosto. Se ao pôr a isca na boca ele sentir um gosto estranho, com certeza vai cuspí-la e se afastar. Se gostar, vai puxar e detonar todo o processo da fisgada e da briga que se seguirá com certeza.

ANZÓIS

Existe uma série de cuidados técnicos num anzol, mas em resumo o que se espera dele é que:

a)- seja afiado para fisgar;

b)- seja resistente para manter o peixe fisgado até ser retirado.

Tudo o mais a respeito do assunto, que daria para encher um tratado, é apenas conhecimento inútil para quem deseja ter a pescaria como um lazer e um relax.

Você vai encontrá-los numerados em diversos tamanhos e qualidade, mas aqui também o investimento compensa. Um anzol que se abre ou que se quebra ou perde a ponta com facilidade é a última preocupação que um pescador deve ter.

A experiência vai ser sempre a melhor conselheira, mas como as medidas são padronizadas, percebeu-se que algumas espécies de peixe são fisgados com mais freqüência dentro dessa ou daquela medida.

Os padrões mais comuns recomendam as seguintes numerações de anzóis para as seguintes espécies:

PEIXE ANZOL

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Tilápia e piau 4 a 10

Mandi, sargo, corvina 1/0 a 3/0 (*)

Bagre e traíra 1/0 a 4/0

Black Bass 2/0 e 3/0

Pacu, garoupa e badejo 5/0 e 6/0

Pintado 5/0

Dourado, enchova 6/0 a 8/0

. Cação 7/0

(*) Quando pedir esse tamanho de anzol diga três barra zero, ou cinco barra zero, por exemplo.

Para entender essa numeração, a numeração 10/0 corresponde a um anzol com um comprimento de 8,25 cm e uma abertura de 3,17. A partir daí os anzóis vão diminuindo de tamanho e de numeração até o 1/0, depois a numeração passa a ser com um número simples, aumentando de dois em dois, à medida que diminui o tamanho do anzol. Assim, o número 2 tem um tamanho de 3,17 cm e o número 16, por exemplo, de 0,71 cm.

No desenho e no formato há muitas variações também mas o objetivo de todos eles é fisgar o peixe. Assim, o tamanho adequado é muito mais importante do que o desenho ou a configuração geral do anzol. Qualquer decisão por este ou por aquele modelo deverá ser fruto da experiência e da prática de cada um, pois cada pescador tem uma preferência em função de sua experiência e jamais se chegaria a um consenso sobre o assunto.

Como o nosso objetivo é simplificar a pesca e não complicar, escolha seus anzóis pelo tamanho a que ele se destina e pela qualidade. Há anzóis nacionais de excelente qualidade, mas algumas marcas internacionais, já fabricadas aqui, incorporam o que existe de mais moderno e avançado para produzir esse simples, mas importante objeto.

Alguns pescadores esportivos costumam limar a farpa do anzol para que o peixe seja fisgado com mais facilidade, já que o objetivo deles é a emoção da pesca, pois costumam soltar os exemplares capturados. Com isso precisam usar de toda a sua habilidade, pois se torna mais fácil para o peixe se libertar, principalmente para aqueles que costumam saltar e se debater no ar.

ISCAS ARTIFICIAIS

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As iscas artificiais revolucionaram a pescaria pela sua praticidade e por eliminar uma série de inconvenientes que se tem quando se utiliza isca viva. Por outro lado, exige muita habilidade e experiência, coisa que confunde no início um principiante, para quem o ideal é a sempre velha e eficiente minhoca.

No entanto, a utilização das iscas artificiais tem de ser considerada e o ideal é ir comprando e testando aos poucos. Segundo os que se utilizam de iscas artificiais, basta aprender a usar para nunca mais abandoná-las.

A dificuldade maior está no fato de que uma isca viva tem movimentos próprios e naturais, enquanto que a isca artificial precisa ser trabalhada para imitar esses movimentos.

Possuem ainda algumas características que as fazem agir à flor da água, a meia água e em mergulho profundo, indo buscar, dessa forma, as diferentes espécies de peixe em cada uma das linhas de água onde preferem se movimentar.

Futuramente voltaremos ao assunto, mas é interessante, mesmo para o principiante, ter em sua tralha de pesca um ou dois spinners que podem ser utilizados para a pesca da tilápia, por exemplo, desenvolvendo, assim, a sensibilidade para esse tipo de equipamento.

ALICATES

São instrumentos indispensáveis para a tranqüilidade de uma pescaria, pois auxiliam na remoção do peixe para fora da água e do anzol com que ele foi fisgado. Servem para quebrar ferrões, para cortar rapidamente uma linha e até para um conserto inesperado.

Dois modelos são básicos. Um para retirar o peixe da água e manter a sua cabeça imóvel, enquanto se remove o anzol e outro para se remover o anzol e quebrar ferrões. Deve servir também para cortar linhas e apertar uma chumbada numa linhada simples.

Os peixes com ferrão oferecem um perigo constante ao pescador inexperiente, que pode se ferir dolorosamente. O alicate permite que ele se debata, mas não consiga atingir a mão do pescador, quando este vai lhe remover o anzol.

Da mesma forma, um peixe pego com uma isca artificial pode se debater e fazer com que uma garatéia provoque um estrago irremediável na mão ou no corpo do pescador. Por isso recomendamos isso da mesma forma que recomendamos o uso de um bom óculos de sol, não apenas para proteger a visão do sol, mas de eventuais acidentes com chumbadas e anzóis.

A remoção de anzóis com o alicate de ponta fina se torna muito fácil, principalmente quando se trata de um pacu ou de um outro peixe com dentes afiados. Pôr os dedos ali dentro para se retirar um anzol é coisa que não recomendamos para ninguém.

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Além de extremamente práticos, permitem que você libere logo o anzol e o peixe para voltar ao que realmente interessa em tudo isso: a emoção da pesca.

Como são razoavelmente baratos, nem se discute a sua compra. Só fazemos uma recomendação, movidos também pela experiência própria: quando comprar seus alicates, não se acanhe em comprar aqueles com as cores mais berrantes, que jamais possam ser confundidos com a terra ou com a vegetação. Isto porque são fáceis de serem esquecidos ou perdidos, principalmente quando não são postos de volta na caixa imediatamente após o uso.

A FACA

Em toda caixa de pesca necessariamente tem que ter uma faca, mas uma boa faca, balanceada, isto é, com o peso maior na lâmina e não no cabo, como algumas que existem por aí.

Com um bom fio, que permita um corte delicado o suficiente para se retirar o filé de um peixe, mas com peso e resistência para cortar um osso ou um galho.

Há, no mercado, facas de todos os tipos e de todas as marcas. Algumas muito bonitas, outras sofisticadas, muitas com uma infinidade de itens de sobrevivência que podem, uma hora ou outra, serem úteis.

O que importa e o que se deve ter em mente é que uma boa faca tem que fazer o que se propõe fazer: cortar. Para isso, um investimento bem feito vai lhe dar satisfação a todo momento em que dela precisar. Além disso, uma faca é uma arma primitiva e existe muito de instintivo na compra de uma. Empunhe-a, sinta seu peso, examine a lâmina, pergunte sobre a qualidade e a garantia, depois faça a sua escolha.

Os cuidados com ela devem ser constantes, se quiser tê-la por muito tempo. Ao amolar, faça com cuidado, para não riscar ou não danificar a lâmina. Jamais guarde uma faca suja em sua bainha. Limpe-a primeiro. Prenda-a ao cinto enquanto pesca ou deixe-a na caixa de pescaria para quando precisar usá-la.

CANTIL

Sobre esse importante componente de toda tralha de pesca não há muito o que se falar, principalmente quando se faz uma pescaria num local ermo. A água do rio pode não ser muito saudável para ser bebida, por isso o cantil tem que ser levado.

Há dos mais simples aos mais sofisticados, com isolamento térmico que conservará a água sempre fresca. Um de alumínio fará a mesma coisa, desde que você tome o cuidado de deixá-

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lo dentro da água ou à sombra. Seja ele como for, o importante é estar sempre limpo e sempre cheio de água.

OUTROS MATERIAIS

Nenhuma caixa de pesca estará completa se não contiver um pequeno estojo de primeiros socorros, incluindo-se ali repetente contra insetos e o chamado after bite, um sedativo que alivia a dor e a reação de uma picada que eventualmente ocorra.

Quanto ao repelente, prefira aqueles cuja aplicação possa ser feita por spray. Caso contrário, se tiver de espalhá-lo na pele com as mãos, lave-as muito bem depois para não transmitir gosto às iscas, o que poderá fazer parar, de uma hora para outra, as puxadas em sua isca.

Outro acessório importante, principalmente quando se pesca de barranco, é um fincador, ou suporte para a vara. Feitos de metal, em diversos modelos, permitem que você deixe a vara num ângulo adequado, possibilitando que se pesque com duas ou mais varas ao mesmo tempo.

MIUDEZAS

Sempre muito bem organizadas na caixa devem ir, finalmente, os acessórios miúdos, mas igualmente importantes numa pescaria: bóias, chumbadas, giradores e encastoamentos de diversos tamanhos, adequados para os tipos de anzol, linha e vara que pretende usar.

Para ganhar tempo, você pode deixar os anzóis prontos, presos ao encastoamento e esse, por sua vez, preso aos giradores, estes muito úteis quando se pega um peixe como o pacu, por exemplo, que se debate e gira o corpo na água. Sem o girador, sua linha fica imprestável logo no primeiro peixe.

A vantagem do encastoamento é evitar que o peixe corte a linha logo acima do anzol, após ser fisgado. Como são fáceis de serem colocados e tirados, permitem que, no meio de uma pescaria, você troque rapidamente um anzol, aumentando ou diminuindo o tamanho.

As chumbadas devem ter o peso adequado para levar a isca até o fundo, mas não tão pesadas que tornem impossível sentir uma puxada ou dificultem a retirada da isca da água para uma verificação ou para troca.

LOURIVALDO PEREZ BAÇANO MAGO DAS LETRAS

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Atividades:

Professor de primeiro, segundo e terceiro grausBancário aposentadoInstrutor de Treinamento ProfissionalEscritor: poeta, contista e novelistaCompositor letristaTradutorPalestrante: Redação Criativa e O Processo Criativo

Publicações:

Publicou em 1996 a novela rural Sassarico, sobre o fim do ciclo do café, início da rotação de culturas (soja e trigo) e surgimento dos bóias-frias

Publicou em 1998 o livro de poemas Alchimia e em 1999 o livro Redação Passo a Passo.

Escreveu mais de 800 textos, publicados em sua maioria, sobre os mais diferentes assuntos, como: romances, erotismo, palavras cruzadas, charadas, passatempos, literatura infantil, passatempos infantis, horóscopos, esoterismo, simpatias populares, rezas, orações, intenções, anjos, fadas, gnomos, elementais, amuletos, talismãs, estresse, manuais práticos, religião e livros de bolso com os mais diversos temas, letras para músicas.