mÓdulo 3 1. doenÇas transmissÍveis: classificaÇÃo e

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MÓDULO 3 1. DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS: CLASSIFICAÇÃO E CONCEITOS. 2. EPIDEMIOLOGIA E PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS. 3. SISTEMA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA. 4. EPIDEMIOLOGIA HOSPITALAR. _______________________________________________________________ 1. DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS: CLASSIFICAÇÃO E CONCEITOS. Este módulo pretende transmitir conhecimentos sobre o comportamento das doenças transmissíveis, esclarecer alguns conceitos que são fundamentais para a compreensão da matéria e as consequências quando do acometimento do ser vivo. A doença transmissível é causada por um agente infeccioso ou seus produtos tóxicos, que se manifesta pela transmissão desse agente, de uma pessoa ou animal infectado ou de um reservatório, para um hospedeiro susceptível. (OPAS, 1992). Isto é, aquela cujo agente biológico é vivo e é transmissível. Por reservatório entende-se ser um lugar que serve de fonte contínua onde o agente infeccioso vive e se multiplica, por exemplo, homem, animal, vegetal, solo, matéria inanimada, ou mesmo a combinação destes. Por hospedeiro entende-se ser o homem ou animal vivo que oferece condições para o agente se alojar, por exemplo, aves, artrópodes... A doença infecciosa é a manifestação resultante de uma infecção, isto é, é uma doença clinicamente manifesta do homem ou do animal, resultante de uma infecção. A doença não infecciosa são todas aquelas que não resultam de infecção e são chamadas de doenças crônicas não transmissíveis DCNT, como, por exemplo, as doenças coronarianas

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MÓDULO 3

1. DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS: CLASSIFICAÇÃO E CONCEITOS.

2. EPIDEMIOLOGIA E PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS.

3. SISTEMA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA.

4. EPIDEMIOLOGIA HOSPITALAR.

_______________________________________________________________

1. DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS: CLASSIFICAÇÃO E CONCEITOS.

Este módulo pretende transmitir conhecimentos sobre o comportamento

das doenças transmissíveis, esclarecer alguns conceitos que são fundamentais

para a compreensão da matéria e as consequências quando do acometimento

do ser vivo.

A doença transmissível é causada por um agente infeccioso ou seus

produtos tóxicos, que se manifesta pela transmissão desse agente, de uma

pessoa ou animal infectado ou de um reservatório, para um hospedeiro

susceptível. (OPAS, 1992). Isto é, aquela cujo agente biológico é vivo e é

transmissível.

Por reservatório entende-se ser um lugar que serve de fonte contínua

onde o agente infeccioso vive e se multiplica, por exemplo, homem, animal,

vegetal, solo, matéria inanimada, ou mesmo a combinação destes.

Por hospedeiro entende-se ser o homem ou animal vivo que oferece

condições para o agente se alojar, por exemplo, aves, artrópodes...

A doença infecciosa é a manifestação resultante de uma infecção, isto é,

é uma doença clinicamente manifesta do homem ou do animal, resultante de

uma infecção.

A doença não infecciosa são todas aquelas que não resultam de

infecção e são chamadas de doenças crônicas não transmissíveis – DCNT,

como, por exemplo, as doenças coronarianas

De maneira geral as doenças podem ser classificadas pelo seu tempo

de duração como:

Doenças crônicas: são aquelas doença que evoluem em longo prazo,

isto é, doenças que têm história natural prolongada, longo período de

latência, sendo lenta e prolongada.

Doenças agudas: são aquelas de curta duração, isto é, aquelas que têm

modo de ocorrência grave com coeficiente de letalidade elevado. Ex.

septicemias.

Etiologia Duração

Doenças Agudas Crônicas

Infecciosas Doenças infecciosas

agudas: tétano,

meningite

meningocócica, difteria,

sarampo, gripe.

Doenças infecciosas

crônicas: tuberculoses,

hanseníase, doença de

chagas.

Não infecciosas Doenças não

infecciosas agudas:

envenenamento por

picada de cobra.

Doenças não

infecciosas: diabetes,

cirrose alcoólica,

doenças coronarianas.

A entrada de agente, um microorganismo capaz de produzir infecção ou

doença infecciosa, num novo hospedeiro, isto é, transferência de um agente

etiológico animado, de uma fonte primária de infecção para um novo

hospedeiro, pode ser feita da seguinte forma:

Transmissão direta:

De outro indivíduo da mesma espécie infectado. Ex: espirro, beijo...

Da mãe para o feto por via placentária. Ex. AIDS

De outra espécie igualmente suscetível.

Transmissão indireta:

Necessita de um suporte mediatizador, isto é, da ação/contribuição de

um vetor biológico infectado.

Veiculado por algum elemento não vivo, seja físico ou biológico.

Por vetor biológico entende-se ser aquele que além de funcionar como

veiculador do agente infeccioso tem, também, a função de abrigo biológico, no

qual o agente cumpre parte de seu ciclo vital. Ex: esquistossomose.

Seguem alguns conceitos necessários para a compreensão do conteúdo

sobre doenças transmissíveis.

Infecção: penetração e desenvolvimento/multiplicação de um agente

infeccioso no organismo de uma pessoa ou animal. É resultante de

associação de múltiplos fatores, mais a presença de um agente vivo;

Infectividade: capacidade que têm certos organismos de penetrarem e

de se desenvolverem/multiplicarem no hospedeiro, ocasionando

infecção. Ex: o vírus da gripe que com, o passar de longo tempo, o

micróbio muda gradualmente de parasita a comensal. Há uma

adaptação mútua e necessária para a sobrevivência do parasita;

Patogenicidade: é a qualidade que tem o agente infeccioso de produzir

sintomas (doença) nos hospedeiros infectados. Ex: O sarampo tem alta

patogenicidade e a poliomielite baixa patogenicidade, isto é, 1% dos

infectados desenvolvem a paralisia;

Virulência: é a capacidade de um agente produzir casos graves ou

fatais. Ex: a raiva que é 100% fatal.

Dose infectante: é a quantidade do agente etiológico necessária para

iniciar uma infecção. Varia com a virulência do bioagente e a resistência

do acometido, quanto maior o número de parasitas inoculados no

suscetível, maior a probabilidade de infectá-lo. Ex: a malária acontece

com apenas uma picada;

Poder invasivo: é a capacidade que tem o agente de se difundir, através

de tecidos, órgãos e sistemas do hospedeiro. Ex: a tuberculose.

Imunogenicidade: é a capacidade que tem o agente para induzir

imunidade no hospedeiro. Uma vez infectado a pessoa fica imune o

resto da vida. Ex: sarampo, rubéola têm alto poder imunológico, já, a

salmonela tem baixo poder imunológico, pois produz uma imunidade

temporária.

Indivíduo suscetível: é a pessoa ou animal sujeito a adquirir uma

infecção. Permite o desenvolvimento do bioagente patogênico.

Indivíduo resistente: é aquele que, por via de algum mecanismo natural

ou por meio de imunização artificial, tornou-se capaz de impedir o

desenvolvimento de agentes infecciosos. Ex: o homem é refratário ao

bacilo da cólera aviária.

Num dado momento o conjunto de todos os indivíduos de uma espécie

hospedeira suscetível será formado por:

Indivíduo infectado: é a pessoa ou animal que aloja um agente

infeccioso, com ou sem manifestações da doença. Pode ser doente ou

portador. Trata-se daquele indivíduo ou animal infectado que não

apresenta sintomas, sendo, portanto, fonte potencial de infecção. Ex:

HIV. Pode ser portador temporário ou portador crônico.

Indivíduo infectante: é a pessoa ou animal do qual o agente infeccioso

possa ser adquirido em condições naturais.

Mais alguns conceitos:

Veículo – objeto inanimado que serve para transmitir a doença. Ex:

alimento são veículos de agentes infecciosos e também de suas toxinas,

assim como, água, leite, corpo, roupa de cama, brinquedos,

instrumentos cirúrgicos...

Vetor – organismo vivo que serve para transmitir a doença. Ex: insetos,

suas patas, asas...

Reservatório – um lugar que serve como fonte contínua da doença onde

o agente infeccioso vive e se multiplica. Ex: homem, animal, vegetal,

solo, matéria inanimada ou combinação destes.

A trajetória das doenças infecciosas acontece durante os seguintes

períodos:

Período de incubação - inicia-se com a infecção e dura até o início do

horizonte clínico. É variável, pois a infecção da cólera se dá em algumas

horas, já a da hanseníase em alguns anos.

Período prodrômico – manifestação de sinais e sintomas inespecíficos.

Não é possível ainda definir a doenças. É o lapso de tempo entre os

primeiros sintomas da doença e o início dos sinais e sintomas com os

quais o diagnóstico pode ser estabelecido.

Período de estado - manifestações clínicas características da doença.

Passou do horizonte clínico.

Período de convalescença - remissão das manifestações clínicas

Período de transmissão - agente infeccioso pode ser transferido de uma

pessoa infectada para outra, direta ou indiretamente, ou de um animal

ao homem, ou ainda do homem para o animal.

Exercício:

A capacidade de um agente infeccioso causar doença em um

hospedeiro suscetível é o conceito de:

a) Infectividade

b) Imunogenicidade

c) Patogenicidade

d) Virulência

e) Imunidade

Resposta

c) Patogenicidade

2. EPIDEMIOLOGIA E PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

As doenças transmissíveis eram a principal causa de morte nas capitais

brasileiras na década de 1930, perfazendo um terço dos óbitos da área urbana.

A partir da década de 1960, as doenças do aparelho circulatório

passaram a compor a principal causa de morte no país

Dentre os motivos da redução podem-se destacar as melhorias

sanitárias, o desenvolvimento de novas tecnologias, como vacinas e

antibióticos, a ampliação do acesso aos serviços de saúde e as medidas de

controle adotadas.

Apesar da redução na mortalidade, ainda há um impacto importante

sobre a morbidade, pois ainda há doenças para as quais não se dispõe de

mecanismos eficazes de prevenção, além das doenças que apresentam uma

estreita associação com causas ambientais, sociais e econômicas.

A situação atual das doenças transmissíveis, no Brasil, aponta para a

ocorrência de:

Doenças transmissíveis com tendência descendente ou declinante como

a poliomielite (erradicada), raiva humana, rubéola congênita, tétano,

varíola (erradicada), coqueluche, entre outras;

Doenças transmissíveis com quadro de persistência: tuberculose,

meningites, hanseníase, malária (Amazônia), Leishmaniose visceral,

entre outras;

Doenças transmissíveis emergentes e reemergentes: Aids, cólera,

dengue, entre outras.

Segue abaixo gráfico demonstrando a Taxa de incidência de Cólera no

Brasil e Regiões, 1991-2005.

Fonte: http://crv.educacao.mg.gov.br/

Taxa de incidência de Tuberculose no Brasil, 2007.

Taxa de incidência de AIDS (por 100.000 hab.) em jovens de 15 a 24

anos por sexo e ano de diagnóstico. Brasil, 1985 a 2010. Disponível no Boletim

Epidemiológico AIDS DST

Mapa da epidemia de AIDS no Brasil, 1980-2010.

Prevenção e controle de doenças transmissíveis

Seguem alguns conceitos:

Controle – redução de casos da doença a um patamar aceitável

(medidas de controle continuadas para evitar a recrudescência). Os

programas são desenvolvidos com o objetivo de reduzir sua incidência

ou prevalência até constituir um nível que não seja mais problema de

saúde pública;

Erradicação – eliminação total da circulação do agente infeccioso

(podendo suspender medidas de prevenção/controle). Cessação de toda

transmissão da infecção pela extinção artificial da espécie do agente.

Erradicação regional ou eliminação é a cessação da transmissão de

determinada infecção em ampla região geográfica ou jurisdição política;

Eliminação ou erradicação regional - erradicação circunscrita a

determinada região (país ou continente);

Doenças imunopreveníveis são aquelas preveníveis por vacinas,

visando imunizar, proteger, tornar o indivíduo livre de contrair a doença.

Porém, um indivíduo pode ter sido vacinado e não se tornar imune, pela

utilização de uma técnica inadequada, vacina vencida ou mal

transportada e armazenada inadequadamente.

Tipos de Imunidade

Imunidade é o estado de resistência, geralmente associado à presença

de anticorpos ou células que possuem ação específica sobre o micro-

organismo responsável por determinada doença infecciosa ou sobre suas

toxinas. Os tipos de imunidade podem ser:

Imunidade Passiva Natural: adquirida por via transplacentária. De curta

duração dias ou meses, que pode ser obtida naturalmente pela

transmissão placentária;

Imunidade Passiva Artificial: pode ser obtida artificialmente pela

inoculação de anticorpos protetores;

Imunidade Ativa Natural: pode durar até anos e ser adquirida

naturalmente em consequência de uma infecção com ou sem

manifestações clínicas.

Imunidade Artificial: pode se adquirida mediante a inoculação de frações

ou produtos do agente infeccioso, do próprio agente morto ou atenuado

ou, ainda, de suas variantes, induzida pela aplicação de vacina.

Imunidade: Vacina x Soro

São produtos de origem biológica (imunobiológicos) usados na

prevenção e tratamento de doenças.

Soro: contém anticorpos necessários para combater uma determinada

doença ou intoxicação. Ex: tétano. O soro é curativo, por exemplo, o soro

antiofídico, feito a partir do veneno da cobra

Vacina: são produtos de origem biológica que contém microorganismos

vivos ou mortos, ou frações destes, possuidoras de propriedades antigênicas,

ou suas toxinas, capazes de induzirem a uma resposta imunológica sem

produzirem a doença. Induz a imunidade ativa e específica contra um

determinado microorganismo. A vacina é preventiva.

A vacina é essencialmente preventiva e o soro é usado para tratamento.

Exercício

Qual o significado de portador assintomático no controle de doenças

transmissíveis?

A) é um indivíduo ainda não identificado como doente em exame clínico,

porém está infectado e pode transmitir a doença.

B) é um indivíduo que ainda não está infectado e não precisa ser

observado.

C) é um indivíduo mais resistente às medidas de controle.

D) é um indivíduo que já foi imunizado e não desenvolveu anticorpos

para doença.

E) é um indivíduo que não necessita de medidas de controle.

Resposta

A) é um indivíduo ainda não identificado como doente em exame clínico,

porém está infectado e pode transmitir a doença.

3. SISTEMA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA.

O sistema de vigilância epidemiológica tem como objetivo a busca ativa

de casos, visando à detecção precoce de surtos epidemiológicos, por meio do

bloqueio imediato da transmissão da doença.

Originalmente, no Brasil, a vigilância epidemiológica era feita por meio

da observação sistemática e ativa dos casos suspeitos de doenças

transmissíveis e seus contatos, aplicando o isolamento e a quarentena, durante

a década de 1950. Já, na década de 1960 aconteceu a vacinação em massa

contra a varíola, configurando um sistema nacional de vigilância

epidemiológica. O Ministério da Saúde instituiu o Sistema Nacional de

Vigilância Epidemiológica (SNVE), por meio da Lei 6.259/75 e Decreto

78.231/76.

A Lei 8080/90, ampliou o conceito de vigilância sanitária e reorganizou

as ações do sistema de saúde brasileiro, por meio da descentralização de

responsabilidades e da integralidade dos serviços.

O Sistema único de Saúde-SUS incorporou o Sistema Nacional de

Vigilância Epidemiológica, que é o “Conjunto de ações que proporcionam o

conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores

determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a

finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das

doenças ou agravos" (Lei 8.080/90).

O SNVE é alimentado pelos seguintes dados:

Demográficos, ambientais e sócio-econômicos;

Dados de morbidade;

Dados de mortalidade;

Notificação de surtos e epidemias.

As funções de um Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica

(SNVE) assentam-se em seus propósitos e operacionalização.

Os propósitos visam fornecer orientação técnica permanente para os

profissionais de saúde que têm a responsabilidade de decidir sobre a execução

de ações de controle a partir da obtenção das informações sobre a ocorrência

da doença e de seus fatores condicionantes, numa área geográfica ou numa

população definida.

A operacionalização é feita a partir da:

Coleta, processamento, análise e interpretação dos dados, que devem

ter qualidade, obedecerem aos pré-requisitos e terem disponibilidade,

para poderem ter representatividade, regularidade e periodicidade. Os

dados são: demográficos, ambientais e socioeconômicos propiciando

conhecimento sobre a morbidade e a mortalidade, bem como sobre os

surtos epidêmicos. As fontes de dados são obtidas por meio de

notificações emitidas por meios de laboratórios, investigações, imprensa,

população, inquéritos e levantamentos;

Recomendação das medidas de controle apropriadas e promoção das

ações de controle indicadas;

Avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas;

Divulgação de informações pertinentes.

O conhecimento sobre as doenças e agravos de notificação compulsória

é possível a partir dos dados o SVS.

Existem doenças e agravos para os quais há obrigatoriedade de

emissão de notificação, isto é as notificações compulsórias. Explicando:

Notificação é a comunicação da ocorrência de determinada doença ou

agravo à saúde, feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde

ou qualquer cidadão, para fins de adoção de medidas de intervenção

pertinentes.

lista nacional de doenças de notificação compulsória;

facultado a estados e municípios incluir outros problemas de saúde

importantes em sua região;

Como fonte de dados, as notificações são a principal fonte de vigilância

epidemiológica e dão base para o processo de controle de determinadas

doenças, ao gerar informações que podem ser responsáveis pelas decisões

sobre quais ações, a serem tomadas, são as mais adequadas.

A notificação é a comunicação da ocorrência de determinada doença ou

agravo à saúde, feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou

qualquer cidadão, para fins de adoção de medidas de intervenção pertinentes.

Dependendo da doença a notificação dos casos suspeitos deve ser feita.

Para orientação, o Ministério da Saúde elaborou a lista nacional de

doenças de notificação compulsória, por meio da Portaria 2.325, de

08/12/2003, como segue:

Botulismo

Antraz

Cólera Coqueluche

Leishmaniose visceral

Leishmaniose tegumentar americana

Leptospirose

Malária

Dengue

Difteria

Doenças de chagas

Doenças meningocócicas e outras meningites

Meningite por Haemophilus influenza

Peste

Poliomielite

Paralisia flácida aguda

Esquistossomose

Febre amarela

Febre do Nilo

Febre maculosa

Raiva humana

Rubéola

Síndrome de rubéola congênita

Sarampo

Febre tifóide

Hanseníase

Hantavirus

Hepatites virais

Sífilis congênita

Síndrome da imunodeficiência adquirida- AIDS

Síndromes respiratórias agudas graves

Tétano

Infecções pelo vírus HIV em gestantes e crianças expostas ao risco de

transmissão vertical

Tuberculose

Varíola

Porém, é facultado aos estados e municípios incluirem outros problemas

de saúde importantes em sua região, desde que seja justificada a sua

necessidade e definidos os mecanismos operacionais.

As normas de notificação precisam estar adequadas temporal e

espacialmente às características de distribuição das doenças em foco. Alguns

critérios são necessários, como seguem:

Magnitude: relativa à frequência elevada;

Disseminação: potencial de disseminação que se refere ao elevado

poder de transmissão da doença;

Transcendência: refere-se às características subsidiárias;

Vulnerabilidade

Compromissos internacionais;

Ocorrência de epidemias, surtos e agravos inusitados

O Sistema de Informação Nacional de Agravos de Notificação-SINAN é o

órgão responsável pelo processo. O sistema funciona da seguinte maneira:

É alimentado pela notificação e investigação de casos de doenças e

agravos, da lista nacional de doenças de notificação compulsória;

Permite a realização do diagnóstico dinâmico da ocorrência de um

evento na população;

Fornece a subsídios para explicações causais dos agravos de

notificação compulsória;

Indica risco e o perfil epidemiológico por área geográfica.

Relativamente à avaliação, alguns aspectos devem ser observados, tais

como:

Atualidade da lista de doenças;

Pertinência das normas e instrumentos utilizados;

Cobertura;

Funcionamento do fluxo de informações

Abrangência;

Organização;

Investigações e sua qualidade;

Informes analíticos;

Retroalimentação;

Qualificação da equipe técnica;

Interação com as instâncias responsáveis;

Interação com a comunidade;

Condições administrativas de gestão do sistema;

Custos.

Para ilustração e orientação segue a tela principal do SINAN

Para melhor compreensão do conteúdo seguem mais alguns conceitos

muito utilizados em epidemiologia

Conceito de CASO

Caso da doença: é a pessoa ou animal infectado que aloja um agente

infeccioso e que apresenta manifestações da doença.

Caso suspeito: é aquele cuja história clínica e sintomatologia indicam

estar acometido por alguma doença. Possível exposição a uma fonte de

infecção que sugere que a mesma pode vir desenvolver alguma doença

infecciosa.

Caso confirmado: é aquele cuja doença foi confirmada por meio de

exames clínico e/ou recursos complementares. Refere-se à pessoa que

foi isolada e identificado o agente etiológico, ou de quem foi obtida

outras evidências em laboratórios. Para a confirmação do caso existem

critérios que estão relacionados ao objetivo do programa de controle de

doença ou do SVE.

Contactante: é aquele que teve contato com a pessoa ou animal

infectado, ou com o ambiente contaminado. Isto é, aquele que teve

oportunidade de adquirir o agente etiológico.

A investigação epidemiológica refere-se ao estudo das doenças

transmissíveis, realizado a partir dos casos clinicamente declarados ou mesmo

de portadores, cuja finalidade é a de detectar fontes de infecção para que

medidas profiláticas possam ser adotadas. Por não ser um estudo amostral,

investiga óbitos ou surtos de doenças.

A investigação epidemiológica tem papel importante no processo saúde-

doença uma vez que pode:

Esclarecer ocorrência de doenças;

Investigar os casos isolados ou relacionados entre si;

Utilizar a ficha de investigação epidemiológica;

Implementar busca ativa de casos, estudo de campo de casos e de seus

contactantes; e

Elaborar análise das informações, formulação de hipóteses e

estabelecimento do nexo causal;

As medidas de controle dão importante contribuição ao orientar o

tratamento e isolamento de casos, vacinação, quimioprofilaxia, exames de

contactantes, controle de vetores, veículos e reservatórios, etc.

Contribuindo para esse processo, os Sistemas Sentinelas também têm

importância significativa ao monitorar indicadores na população ou em grupos

especiais que sirvam de alerta precoce para o sistema de vigilância, sendo

que:

Evento sentinela: refere-se à doença/óbito inesperado. Refere-se à

detecção de doença prevenível, incapacidade ou morte inesperada e

tem também a função de alertar se a qualidade, terapêutica e a

prevenção estão adequadas;

Fonte sentinela – refere-se a notificações especializadas (ex. câncer).

Para tanto, há uma organização de redes constituídas de fontes

sentinelas de notificação especializada;

Unidade de saúde sentinela: refere-se a doenças infecciosas e

parasitárias. Estas são doenças que necessitam de internação

hospitalar. A monitoração de grupos alvos requer exames periódicos e

tem muito importância na área de doenças ocupacionais;

Áreas sentinelas: referem-se a espaços geográficos delimitados. Ex:

áreas em centros urbanos que sofrem com enchentes, cujo

monitoramente ajuda a evitar a ocorrência de certas doenças.

Os SSs vinculam-se à apresentação clínica e epidemiológica das

doenças e agravos, bem como aos instrumentos de controle que estão

disponíveis e que são indicados para situações específicas.

Os dados são coletados por inquéritos, investigações ou levantamentos

epidemiológicos. São necessários para que se decida sobre as ações a serem

tomadas, isto é, servem de informação para ação. Estão na base das relações

entre os responsáveis pela vigilância e demais fontes de dados.

As fontes de dados que alimentam os Sistemas de Vigilância

Epidemiológica, são:

Vigilância com Base em Sistemas de Notificações de Doenças, que é

feita pela comunicação da ocorrência da doença ou agravo às

autoridades sanitárias, por profissionais da área da saúde ou por

qualquer cidadão, visando à tomada de medidas intervencionistas;

Vigilância com Base em Sistemas Articulados de Laboratórios. Têm a

função de complementar o diagnóstico de confirmação de casos, além

de contribuir para o conhecimento dos casos que não foram notificados,

sendo que seu uso é restrito à algumas doenças e em situação

específicas;

Vigilância com Base em Dados Hospitalares;

Vigilância com Base na Análise de Certificados de Óbitos.

Vigilância com Base em Informações Obtidas de "Médicos Sentinelas”;

Vigilância com Base em Informações Obtidas em UBS.

Exercício

Qual das informações abaixo é a mais útil, sob o aspecto da vigilância

epidemiológica, para a tentativa de identificar possíveis fontes de infecção?

a) Data do diagnóstico

b) Data do início dos sintomas

c) Data da notificação do caso

d) Data do exame médico

e) Data da confirmação do caso

Resposta

b) Data do início dos sintomas

4. EPIDEMIOLOGIA HOSPITALAR.

A definição do que é a epidemiologia hospitalar permite o

reconhecimento do nível de comprometimento ou não quanto às possibilidades

que os hospitais têm de ter focos de infecção. A infecção não deve estar

presente ou em incubação quando o paciente é admitido. Caso esteja em

incubação no ato de admissão do paciente, precisa estar relacionada a alguma

hospitalização anterior na mesma instituição que o acolheu. Caso esteja

presente quando o paciente for admitido, precisa ser temporariamente

associada a uma internação anterior ou a algum procedimento realizado em

alguma instituição de saúde.

Infecção Hospitalar é considerada aquela adquirida após a admissão do

paciente, que se manifesta durante a internação ou após a alta e que pode ser

relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares, cujos critérios

podem variar em conformidade com a doença, seu estágio e características do

doente, sendo que os dados precisam constar de planilhas próprias e devem

ser informados aos setores afins para elaboração dos índices correspondentes.

Os critérios são:

>72h após a internação, quando não houver sinais clínicos na

internação;

<72h outro microrganismo na mesma topografia da infecção

comunitária, quando no mesmo local em que foi diagnosticada infecção

comunitária, isola-se um micro-organismo diferente, com agravamento

das condições clínicas do paciente;

<72h associada a procedimentos diagnósticos e/ou terapêuticos.

Para que não haja confusão no diagnóstico da infecção hospitalar

distingue-se desta a Infecção Comunitária, que é:

Diagnosticada ou em incubação na admissão do paciente, desde que

não relacionada com internação hospitalar anterior.

Associada com complicação da infecção já presente na admissão, a

menos que haja troca de microrganismo, com sinais e sintomas

sugestivos da aquisição de nova infecção

Infecção do RN (Recém Nascido) cuja aquisição por via placentária é

conhecida e tornou-se evidente logo após o nascimento. Ex. Herpes

simples.

Infecção do RN associada à bolsa rota há mais de 24h.

As infecções têm a seguinte classificação:

Infecção endógena - Microbiota do paciente, que por alguma razão

torna-se patogênico.

Infecção exógena - Fontes externas ao paciente, como ingestão,

inalação, picada de inseto, coito, contato, etc.

Infecção metastática - Expansão do microrganismo para novos sítios de

infecção, como o streptococcus responsável pela cárie e que causa

endocardite.

Seguem mais alguns conceitos:

Contaminação: presença transitória de microorganismos em superfície

sem invasão tecidual ou relação de parasitismo;

Colonização: crescimento e multiplicação de um microorganismo em

superfícies epiteliais do hospedeiro, sem expressão clínica ou

imunológica;

Infecção: invasão, multiplicação e ação de agentes infecciosos no

hospedeiro.

São veiculadas por portador que é o Indivíduo que aloja um

microrganismo específico, sem apresentar quadro clínico atribuído ao agente e

que serve como fonte potencial de infecção;

São disseminadas por Indivíduo que elimina o microrganismo para o

meio ambiente.

Contaminam na presença transitória de microrganismos em superfície

sem invasão tecidual ou relação de parasitismo;

A colonização por micro-organismos se dá pelo crescimento e

multiplicação de um microrganismo em superfícies epiteliais do hospedeiro,

sem expressão clínica ou imunológica;

A infecção se dá pela invasão, multiplicação e ação de agentes infecciosos

no hospedeiro. O portador pode ser breve ou temporário, ou, ainda, crônico,

então pode ser:

Portador - Indivíduo que aloja um microrganismo específico, sem

apresentar quadro clínico atribuído ao agente e que serve como fonte

potencial de infecção; o portador poder ser:

Ativo: é aquele que elimina o agente, porém não aparecem

sintomas clínicos;

Ativo crônico: é aquele que mantém o agente etiológico, mesmo

muito tempo após ter tido a doença

Eficiente: é aquele que elimina o agente no meio ambiente

exterior ou, ainda, para o organismo de algum vetor hematófago

possibilitando a infecção de um novo hospedeiro;

Ineficiente: é aquele que não elimina o agente para o meio

exterior e, portanto, não coloca a comunidade em perigo.

Passivo: é aquele que nunca apresentou e, também, nunca

apresentará sintomas, portanto difunde o agente etiológico sem

ser percebido;

Passivo crônico: é aquele que alberga um agente etiológico por

muito tempo;

Passivo temporário: é aquele que alberga um agente etiológico

por pouco tempo.

Disseminador - Indivíduo que elimina o microrganismo para o meio

ambiente.

Para melhor controle das infecções hospitalares existe a Comissão de

Controle de Infecção Hospitalar-CCIH, órgão de assessoria da direção

hospitalar, composta por Membros Consultores que são os representantes dos

serviços médico, de enfermagem, farmácia hospitalar, laboratório de

microbiologia e administração hospitalar. Membros Executores, que, pelo

Regimento Interno da CCIH, devem implantar SVE, e aplicar medidas que

visem controlar a IH. Tudo sob coordenação nacional da ANVISA/MS. São

indicadores de infecção hospitalar:

Taxa de infecção hospitalar (%):

Nº. IH no período________ x100

Número de altas no período

Taxa de doentes com IH (%):

Nº. de pacientes com IH no período x100

Número de altas no período

Taxa de IH por procedimento de risco (%0):

Nº. pac.submetidos ao procedimento com IH x 1000

Nº. pacientes submetidos ao procedimento

Taxa de densidade de IH (%0):

Nº. de pacientes com IH x 1000

Nº. de pacientes-dia

Os Indicadores de infecção hospitalar, permitem:

Acompanhamento longitudinal – monitoramento - vigilância

Perfil endêmico da instituição;

Identificação de eventos inesperados - surtos;

Comparações entre procedimentos, clínica de internação, medicamentos

utilizados, idade, gênero, doença de base, tempo de internação etc;

Segurança para o paciente internado;

Os fatores que influenciam as IH são:

Agente etiológico: resistência antimicrobiana, virulência do agente;

Fatores Ambientais: fontes de infecção – pacientes

infectados/portadores, superlotação de pacientes, objetos e superfícies

contaminadas;

Suscetibilidade do paciente: fatores que predispõem os pacientes às

infecções por microrganismos oportunistas - extremos de idade,

doenças crônicas, imunossupressão, desnutrição;

Resistência microbiana: uso de antimicrobianos

Exercício

O que é infecção comunitária? Assinale a alternativa correta:

a) Infecção manifestada após 72h de internação e relacionada com os

procedimentos hospitalares.

b) Adquirida pelo paciente no momento da admissão hospitalar.

c) Constatada ou em incubação no ato da admissão do paciente,

desde que não relacionada com a internação anterior no mesmo

hospital.

d) Infecção do recém-nascido adquirida logo após o nascimento.

e) Adquirida após a admissão do paciente, que se manifesta durante

a internação ou após a alta.

Resposta

C) Constatada ou em incubação no ato da admissão do paciente, desde que

não relacionada com a internação anterior no mesmo hospital.

REFERÊNCIAS

© 2012. Ministério da Saúde Boletim Epidemiológico AIDS DST. ano VIII nº

01 27ª a 52ª semanas epidemiológicas - julho a dezembro de 2010. 01ª a 26ª

semanas epidemiológicas - janeiro a junho de 2011 Disponível em:

http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2011/50652/boletim

_aids_2011_final_m_pdf_26659.pdf. Acesso em: 14/05/2014.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 2325, de 08/12/2003. Disponível em:

http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2003/GM/GM-2325.htm.

Acesso em 25/05/2014.

_______________________. Lei 8080/90. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de

1990. Disponível em: http://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/109386/lei-

8080-90. Acesso em 25/05/2014.

BRASIL. Mg.gov.br. Centro de Referência Virtual do Professor. Módulo Didático

de Educação Ambiental, 2010. Disponível em: http://crv.educacao.mg.gov.br/.

Acesso em 14/05/2014.

OPAS/OMS-Brasil. Disponível em: http://www.paho.org/bra/. Acesso em:

19/05/2014