mario quintana: pÉ de pilÃo -...

1
CIRCUITOMATOGROSSO CUIABÁ, 12 A 18 DE ABRIL DE 2012 CULTURA EM CIRCUITO PG 5 www.circuitomt.com.br MARIO QUINTANA: PÉ DE PILÃO Rosemar Coenga é doutor em Teoria Literária e apaixonado pela literatura de Monteiro Lobato [email protected] ALA JOVEM Por Rosemar Coenga ABCDEF ....GLS Por Menotti Griggi GOVERNO AUTORIZA VISTO PARA ESTRANGEIROS EM RELAÇÃO HOMOAFETIVA Menotti Griggi é geminiano, produtor cultural e militante incansável da comunidade LGBTT [email protected] A obra Pé de pilão, publicada originalmente em 1968, insere-se no terceiro período de obras infanto-juvenis publicadas no Rio Grande do Sul, iniciado em 1959 e finalizado em 1990 . Mario Quintana foi o único poeta gaúcho do período a dedicar uma publicação em versos para o público infantil. Utilizando, com liberdade, o ritmo, a rima externa e interna, a associação de ideias e sons, a poesia de Quintana proporcionou à criança uma nova forma de literatura. Pé de pilão não se constitui em um texto de formato tradicional dentro de um esquema configurado em início, meio e fim. O texto apresenta inicialmente os acontecimentos que correspondem ao meio da história para, em um segundo momento, retomar àquilo que corresponde ao seu início. Essa subversão às normas, sobretudo no período de sua escritura, demonstra a importância de Pé de pilão como obra literária. Mario Quintana, além de ser um dos precursores da narrativa poética destinada à criança, também inovou na forma narrativa. O poeta também cita que no período em que escreveu a obra — 1948, mesma época da escritura de O batalhão das letras — a Editora Globo teria deixado o texto guardado na gaveta por não ter compreendido suas inovações textuais. Pé de pilão só teria sido lançado vinte anos depois, por se tratar de uma obra incompreendida em seu tempo. Pé de pilão narra a história de Matias, um menino transformado em pato por uma bruxa malvada, que inicia uma odisseia: a tentativa de retorno ao lar e o reconhecimento da avó. Para que isso ocorra, deve transitar entre espaços, vencer adversidades, até encontrar seu lugar no mundo, reinstaurando, desse modo, a harmonia inicial rompida. A leitura de Pé de pilão em suas diferentes versões ilustradas proporciona não somente o contato com a poesia e o fantástico, mas também o diálogo com diferentes representações imagéticas, ampliando o universo do leitor que se constitui dessa constante renovação. O governo brasileiro passará a conceder visto de permanência no país a todos os estrangeiros em união homoafetiva com brasileiros, informou o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, e a primeira oficialização foi o visto para um cubano que vive em união estável com um brasileiro em Araçatuba (SP). Para receber o visto, porém, o estrangeiro precisa se enquadrar nos critérios estabelecidos pelo governo, como intenção de se fixar no país e ter bons antecedentes criminais. Conforme Abrão, o governo não fará distinção entre casais do mesmo sexo formalizados em casamento civil ou união estável para conceder visto permanente. Em geral, esse tipo de visto só é concedido para fins de reunião familiar (como no caso de união homoafetiva), trabalho por mais de 4 anos no país, para quem recebeu refúgio ou asilo político ou quando atende a interesse nacional (caso de investidores, empresários, pesquisadores). A lei brasileira permite a concessão de visto a “cônjuge” de brasileiro, sem restrição ao tipo de vínculo. Há um ano no cargo, Abrão não sabe dizer quantos vistos já foram negados a LGBTs em união estável, mas disse que, com a decisão desta segunda, o governo “está alterando um paradigma”. Com o visto permanente, a pessoa pode viver no Brasil por tempo indeterminado. Tem direito de trabalhar e receber benefícios previdenciários. Depois de 15 anos no Brasil, pode pedir a naturalização, que lhe dá o direito de votar, prestar concurso público e obter um passaporte brasileiro. “Os direitos dos homossexuais têm sido progressivamente reconhecidos no Brasil. Claro que ainda existe muito preconceito. Mas o ente público não pode externalizar esse preconceito em suas decisões”, diz Paulo Abrão. Ele considera que a lei ainda deve avançar para transformar em crime atos homofóbicos. Em relação ao estrangeiro LGBT, Abrão diz que existe um “duplo preconceito”. “O que nos exige uma postura mais incisiva de proteção jurídica”, afirmou.

Upload: phungtuong

Post on 09-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: MARIO QUINTANA: PÉ DE PILÃO - circuitomt.com.brcircuitomt.com.br/flip/385/files/assets/downloads/page0012.pdf · O texto apresenta inicialmente os ... Mario Quintana, além de ser

CIRCUITOMATOGROSSO

CUIABÁ, 12 A 18 DE ABRIL DE 2012CULTURA EM CIRCUITO PG 5www.circuitomt.com.br

MARIO QUINTANA: PÉ DE PILÃO

Rosemar Coenga édoutor em Teoria Literária e

apaixonado pela literatura deMonteiro Lobato

[email protected]

ALA

JOVEM

Por R

ose

mar C

oenga

ABC

DEF....G

LSPo

r Meno

tti Grig

gi

GOVERNO AUTORIZA VISTO PARA ESTRANGEIROS EM RELAÇÃO HOMOAFETIVA

Menotti Griggi égeminiano, produtor

cultural e militante incansável dacomunidade LGBTT

[email protected]

A obra Pé de pilão, publicadaoriginalmente em 1968, insere-se no terceiroperíodo de obras infanto-juvenis publicadasno Rio Grande do Sul, iniciado em 1959 efinalizado em 1990 . Mario Quintana foi oúnico poeta gaúcho do período a dedicaruma publicação em versos para o públicoinfantil. Utilizando, com liberdade, o ritmo, arima externa e interna, a associação deideias e sons, a poesia de Quintanaproporcionou à criança uma nova forma deliteratura.

Pé de pilão não se constitui em um textode formato tradicional dentro de umesquema configurado em início, meio e fim.O texto apresenta inicialmente osacontecimentos que correspondem ao meioda história para, em um segundo momento,retomar àquilo que corresponde ao seuinício. Essa subversão às normas, sobretudono período de sua escritura, demonstra aimportância de Pé de pilão como obraliterária. Mario Quintana, além de ser umdos precursores da narrativa poética

destinada à criança, também inovou naforma narrativa.

O poeta também cita que no períodoem que escreveu a obra — 1948, mesmaépoca da escritura de O batalhão das letras— a Editora Globo teria deixado o textoguardado na gaveta por não tercompreendido suas inovações textuais. Pé depilão só teria sido lançado vinte anosdepois, por se tratar de uma obraincompreendida em seu tempo.

Pé de pilão narra a história de Matias,um menino transformado em pato por umabruxa malvada, que inicia uma odisseia: atentativa de retorno ao lar e oreconhecimento da avó. Para que issoocorra, deve transitar entre espaços, venceradversidades, até encontrar seu lugar nomundo, reinstaurando, desse modo, aharmonia inicial rompida.

A leitura de Pé de pilão em suasdiferentes versões ilustradas proporciona nãosomente o contato com a poesia e ofantástico, mas também o diálogo com

diferentes representações imagéticas,ampliando o universo do leitor que seconstitui dessa constante renovação.

O governo brasileiro passará aconceder visto de permanência no paísa todos os estrangeiros em uniãohomoafetiva com brasileiros, informou osecretário nacional de Justiça, PauloAbrão, e a primeira oficialização foi ovisto para um cubano que vive emunião estável com um brasileiro emAraçatuba (SP).

Para receber o visto, porém, oestrangeiro precisa se enquadrar noscritérios estabelecidos pelo governo,como intenção de se fixar no país e terbons antecedentes criminais. ConformeAbrão, o governo não fará distinçãoentre casais do mesmo sexoformalizados em casamento civil ouunião estável para conceder vistopermanente.

Em geral, esse tipo de visto só éconcedido para fins de reunião familiar(como no caso de união homoafetiva),trabalho por mais de 4 anos no país,para quem recebeu refúgio ou asilopolítico ou quando atende a interessenacional (caso de investidores,

empresários, pesquisadores).A lei brasileira permite a concessão

de visto a “cônjuge” de brasileiro, semrestrição ao tipo de vínculo. Há um anono cargo, Abrão não sabe dizer quantosvistos já foram negados a LGBTs em

união estável, mas disse que, com adecisão desta segunda, o governo “estáalterando um paradigma”.

Com o visto permanente, a pessoapode viver no Brasil por tempoindeterminado. Tem direito de trabalhar

e receber benefíciosprevidenciários. Depois de 15anos no Brasil, pode pedir anaturalização, que lhe dá odireito de votar, prestarconcurso público e obter umpassaporte brasileiro.

“Os direitos doshomossexuais têm sidoprogressivamente reconhecidosno Brasil. Claro que aindaexiste muito preconceito. Maso ente público não podeexternalizar esse preconceitoem suas decisões”, diz PauloAbrão. Ele considera que a leiainda deve avançar paratransformar em crime atoshomofóbicos.

Em relação ao estrangeiro

LGBT, Abrão diz que existe um “duplopreconceito”. “O que nos exige umapostura mais incisiva de proteçãojurídica”, afirmou.