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VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br MARCO REGULATÓRIO SANITÁRIO PARA A AGROINDÚSTRIA RURAL DE PEQUENO PORTE: O CASO DO QUEIJO MINAS ARTESANAL GILSON DE ASSIS SALES 1 MELISSA WATANABE, Dra. 2 RESUMO A modernização do meio rural ocorreu a partir da década de 60 e foi baseada na mudança da base técnica, aumentando a utilização de máquinas, equipamentos, fertilizantes e defensivos agrícolas. Nesse ambiente altamente competitivo que se insere a Agricultura Familiar. Em Minas Gerais, ela assume papel de destaque na produção de alimentos e na prestação de serviços no meio rural. O grande limitante de acesso ao mercado formal é a falta de empreendimentos habilitados no órgão de fiscalização sanitária. Diversos programas voltados para a agroindústria rural de pequeno porte foram desenvolvidos nos últimos anos para alterar as dificuldades encontradas pelos produtores. Neste trabalho, pretende-se avaliar o ambiente institucional em que se insere o agricultor familiar, o impacto de uma legislação específica para o setor, as políticas públicas direcionadas para este público e propor estratégias de agregação de valor aos produtos familiares. Os resultados mostraram que muito ainda tem para ser feito no setor, tanto no que tange o capital social, como na utilização da assistência técnica. Cerca de 73% dos entrevistados apresentam uma característica de produção tipicamente familiar e com produção média abaixo dos 300 litros por dia. Outro fato relevante é a pouca infra-estrutura e baixo nível de higiene tanto na produção do leite como do próprio queijo artesanal. Palavras-Chave: Marco regulatório, Queijo de Minas Artesanal, Agricultura Familiar. ABSTRACT The modernization of rural areas occurred from the 60's and was based on a change of the technical base, increasing the use of machinery, equipment, fertilizers and pesticides. It is in this highly competitive which includes the Family Farm. In the State of Minas Gerais, it plays an important role in food production and delivery of services in rural areas. The major limiting access to the formal market is the lack of qualified enterprises in the supervisory body health. Several programs for small rural agro-industry have been developed in recent years to alter the difficulties encountered by producers. In this work, we intend to evaluate the institutional environment in which it operates the family farmer, the impact of specific legislation for the sector, public policies targeted to this audience and to propose strategies for adding value to products seeking the sustainability of family activity. The results showed that much needs to be done, both in terms social capital, and the use of technical assistance. About 73% respondents have typically a feature of family production and average yield below 300 liters per day. Another relevant factor is the poor infrastructure and low standard of hygiene in the production of milk and the artisanal cheese. Keywords: Regulatory rules, Artisanal Cheese, family farming 1 Funcionário do Instituto Mineiro Agropecuário, especialista em Agronegócios pela UFPR, 2 Professora Orientadora do Curso de Agronegócios da UFPR e Professora-Pesquisadora da UNESC

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VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br

MARCO REGULATÓRIO SANITÁRIO PARA A AGROINDÚSTRIA RURAL DE PEQUENO PORTE: O CASO DO QUEIJO MINAS ARTESANAL

GILSON DE ASSIS SALES1

MELISSA WATANABE, Dra.2 RESUMO A modernização do meio rural ocorreu a partir da década de 60 e foi baseada na mudança da base técnica, aumentando a utilização de máquinas, equipamentos, fertilizantes e defensivos agrícolas. Nesse ambiente altamente competitivo que se insere a Agricultura Familiar. Em Minas Gerais, ela assume papel de destaque na produção de alimentos e na prestação de serviços no meio rural. O grande limitante de acesso ao mercado formal é a falta de empreendimentos habilitados no órgão de fiscalização sanitária. Diversos programas voltados para a agroindústria rural de pequeno porte foram desenvolvidos nos últimos anos para alterar as dificuldades encontradas pelos produtores. Neste trabalho, pretende-se avaliar o ambiente institucional em que se insere o agricultor familiar, o impacto de uma legislação específica para o setor, as políticas públicas direcionadas para este público e propor estratégias de agregação de valor aos produtos familiares. Os resultados mostraram que muito ainda tem para ser feito no setor, tanto no que tange o capital social, como na utilização da assistência técnica. Cerca de 73% dos entrevistados apresentam uma característica de produção tipicamente familiar e com produção média abaixo dos 300 litros por dia. Outro fato relevante é a pouca infra-estrutura e baixo nível de higiene tanto na produção do leite como do próprio queijo artesanal. Palavras-Chave: Marco regulatório, Queijo de Minas Artesanal, Agricultura Familiar. ABSTRACT The modernization of rural areas occurred from the 60's and was based on a change of the technical base, increasing the use of machinery, equipment, fertilizers and pesticides. It is in this highly competitive which includes the Family Farm. In the State of Minas Gerais, it plays an important role in food production and delivery of services in rural areas. The major limiting access to the formal market is the lack of qualified enterprises in the supervisory body health. Several programs for small rural agro-industry have been developed in recent years to alter the difficulties encountered by producers. In this work, we intend to evaluate the institutional environment in which it operates the family farmer, the impact of specific legislation for the sector, public policies targeted to this audience and to propose strategies for adding value to products seeking the sustainability of family activity. The results showed that much needs to be done, both in terms social capital, and the use of technical assistance. About 73% respondents have typically a feature of family production and average yield below 300 liters per day. Another relevant factor is the poor infrastructure and low standard of hygiene in the production of milk and the artisanal cheese. Keywords: Regulatory rules, Artisanal Cheese, family farming

                                                                                                                         1  Funcionário do Instituto Mineiro Agropecuário, especialista em Agronegócios pela UFPR, 2  Professora Orientadora do Curso de Agronegócios da UFPR e Professora-Pesquisadora da UNESC

 

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1. INTRODUÇÃO

O agronegócio é responsável por 33% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e tem participação significativa na pauta de exportações com aproximadamente 42% (MINAS GERAIS, 2009). O pequeno agricultor apresenta características específicas de produção, tendo uma capacidade produtiva muito diferenciada dos produtores patronais, com dificuldades de dispor de mecanismos de gerenciamento eficaz e possuem maior dificuldade de comercialização de seus produtos. Assim como apontado nacionalmente, o desempenho do agronegócio em Minas Gerais também é muito significativo. Ocupa cerca de 1,2 milhões de pessoas e possui 551,6 mil estabelecimentos rurais. Desse volume de propriedades apontado, 79% pertencem a Agricultura Familiar e são gerados postos de trabalho para milhares de famílias (MINAS GERAIS, 2009).

De acordo com o último Censo Agropecuário realizado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o PIB da Agricultura Familiar mineira atingiu R$5,7 bilhões, ou seja, cerca de 10% da receita total obtida pelo agricultor familiar no Brasil. Em Minas Gerais, a produção agrícola de pequena escala representa 44% do arroz, 32% do feijão e café, 44% do milho e 83% da mandioca. Na pecuária, são responsáveis por 48% do leite captado, 34% do rebanho bovino, 30% do rebanho suíno e 28% do volume da avicultura (BRASIL, 2009). Entre as dificuldades encontradas pelos produtores, senão a maior, é a inserção dos produtos alimentícios da agricultura familiar no mercado formal, pela ausência de um selo de inspeção, e quando tem, é municipal, ficando os produtos restritos ao comércio apenas no município (Pinto et al, 2010, p. 27). Diante da temática abordada e do desafio para o pequeno produtor no cenário nacional, surge o seguinte problema de pesquisa: Qual o impacto de um marco regulatório sanitário para o Empreendimento Agroindustrial Rural de Pequeno Porte?

O presente trabalho justifica-se por estudar a inserção da agricultura familiar no agronegócio brasileiro e propor soluções para a manutenção dos produtores no campo produzindo alimentos de qualidade com acesso ao mercado formal e obtendo lucros, buscando assim, uma agricultura com sustentabilidade e respeito ao meio ambiente.

1.1. Objetivo Geral

O objetivo geral deste trabalho é verificar o impacto de uma legislação específica para a Agroindústria Rural de Pequeno Porte frente aos diversos desafios que este segmento enfrenta para regularizar sua produção, avaliar e compreender o ambiente institucional em que ela está inserida.

1.2. Objetivos Específicos

1. Caracterizar a Agricultura Familiar e a Agroindústria Rural de Pequeno Porte. 2. Contextualizar a situação atual da Indústria de Pequeno porte e os desafios em

relação à ordem sanitária com vistas à produção alimentar de origem animal. 3. Avaliar e analisar o ambiente institucional que a Agroindústria Rural de

Pequeno Porte está inserida.

 

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4. Propor estratégias para regularização das questões de ordem sanitária e agronegócios alternativos para a Agricultura Familiar.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A partir da década de 60 houve uma profunda transformação na estrutura

fundiária do Brasil, baseada na modernização da agricultura brasileira e no aumento da produtividade. Essa mudança foi marcada basicamente pela transformação da base técnica, notadamente de equipamentos e práticas através da inclusão de maquinários de alta tecnologia, insumos, adubos, fertilizantes e agrotóxicos com o objetivo de aumentar a produção de alimentos (PREZOTTO, 2005).

Esse modelo de desenvolvimento levou a uma grande mudança no meio rural que se caracterizou por um movimento maciço de pessoas para as cidades. De acordo com Prezotto (2005), esse processo trouxe diversas implicações como: problemas ambientais, diminuição do número de pessoas envolvidas na produção, concentração de renda e aumento da pobreza, crescimento da violência e a diminuição da qualidade de vida da população rural.

Essas políticas pró-modernização perduraram até o início da década de 90, quando novos fatos incidiram no espaço rural, desafiando à agricultura familiar. Neste sentido, destaca-se ainda a reorganização da economia mundial, expressa pela onda neoliberal, associada à crise fiscal do estado, enquanto agente viabilizador das políticas públicas para a agricultura (CORRÊA e GERALDI, 2002).

As discussões sobre esta temática pautam que o desenvolvimento deve ser sustentável, porém, para que este conceito seja fundamentado e melhor compreendido, é necessário observar o meio rural sob um novo prisma. Esse, pode ser chamado de “novo rural”, onde o campo não é mais visto somente como produtor de matérias-primas, mas com um leque muito extenso de atividades não agrícolas, como o turismo rural, lazer, preservação do meio ambiente e conservação dos mananciais de água (SPIES, 2009).

O desenvolvimento sustentável, de acordo com Prezotto (2002), deve permear uma condição de equilíbrio entre os aspectos social, cultural, ambiental e econômico. A sustentabilidade está, ainda, associada à viabilidade e longevidade destes espaços. Então, conclui-se que, desenvolvimento sustentável é a capacidade de utilizar os recursos naturais para suprir as necessidades humanas, sem, contudo, exaurir o meio ambiente e comprometer o fornecimento de alimentos para as gerações futuras. É nesse contexto que também vale conceituar o termo pluriatividade. Nascimento (2004) o define como:

 “O conceito de pluriatividade adota a família como unidade de análise introduzindo no centro das atenções as atividades não-agrícolas exercidas pelos membros da família – independente de serem desempenhadas dentro ou fora da exploração agrícola. O termo pluriatividade se refere à análise das atividades realizadas, em adição à atividade agrícola strictu sensu, tais como o assalariamento em outras propriedades, o processamento de alimentos, outras atividades não-agrícolas realizadas na propriedade, como o turismo rural e as atividades fora da fazenda, referentes ao mercado de trabalho urbano, formal ou informal. Enfim, trata-se, grosso modo, da combinação de atividades agrícolas e não-agrícolas no interior da unidade familiar – dentro ou fora do estabelecimento.”

 

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2.1. Agricultura Familiar

A delimitação do universo familiar é uma tarefa complexa. O estudo INCRA/FAO (2000) define o universo familiar basicamente como o estabelecimento em que a direção dos trabalhos é exercida pelo produtor e tem em maior volume o trabalho familiar em comparação ao trabalho contratado. Já o Cepa/SC (2004), considera agricultura familiar como um sistema constituído por agentes, produtores rurais e os pescadores artesanais e seus familiares, que estabelecem entre si e com o meio que os cerca relações com vistas a produzir alimentos, serviços, lazer, obter renda, melhorar a qualidade de vida. A Lei nº 11.326 de 24 de julho de 2006 (BRASIL, 2006), conceitua e Estabelece a Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais e segundo o que está disposto, o Agricultor Familiar ou Empreendedor Familiar Rural é caracterizado como aquele que pratica atividades no meio rural e atende simultaneamente aos seguintes requisitos:

I- Não detenha área maior que 4 módulos fiscais; II- Utilize predominantemente mão-de-obra familiar;

III- Renda familiar predominantemente originada de atividades vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento;

IV- Dirija seu estabelecimento com sua Família. Pode-se concluir então, que o agricultor familiar é acima de tudo um indivíduo

que utiliza a propriedade rural para tirar o seu sustento e que mantém entre as pessoas envolvidas na produção laços de sangue ou casamento.

2.2. Agroindústria Familiar ou Agroindústria Rural de Pequeno Porte

A Agroindústria Rural de Pequeno Porte se insere como uma alternativa para reversão das condições sociais desfavoráveis no meio rural através da agregação de valor. A pequena indústria traz a possibilidade de gerar renda e ocupação. Moreira Júnior (1999) citado por Bortoli Neto e Moreira Júnior (2001) apresenta a empresa familiar como uma organização em que tanto a gestão administrativa quanto a propriedade são controladas, na sua maior parte, por uma ou mais famílias, e dois ou mais membros participam da força de trabalho, principalmente os integrantes da diretoria.

A Agroindústria Familiar, enquanto estratégia de agregação de valor é uma forma de organização em que os produtores processam as matérias-primas produzidas na própria propriedade ou em vizinhos. Assim, a agroindustrialização trata do beneficiamento dos produtos agropecuários (secagem, classificação, limpeza) e/ou transformação de matérias-primas gerando novos produtos, de origem animal ou vegetal, como por exemplo, leite em queijo e frutas e doces em bebidas, dentre outros (PREZOTTO, 2002).

BRASIL (1998, p. 15) estabelece o conceito de Agroindústria Familiar, como sendo:

“Entende-se como agroindústria qualquer atividade econômica que agregue valor a produtos provenientes de explorações agrícolas, pecuárias, pesqueiras, aquícolas, extrativistas e florestais, compreendendo desde os processos simples,

 

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tais como limpeza e classificação, até processos mais complexos que incluem operações de transformação, física, química ou biológica.” Este tipo de indústria, por ser de pequeno porte não tem no ganho de escala seu

foco. Nesse caso, a concepção é trazer uma alternativa de valorização e agregação de valor a produtos que eram vendidos essencialmente primários. Conforme Wesz Júnior (2009), as Agroindústrias Familiares podem ser divididas em dois estratos: uma em que as atividades desenvolvidas ocupam função complementar, a adaptação das instalações provenientes de outros trabalhos é uma prática recorrente e a comercialização é local. Já o segundo grupo, tem na agroindústria rural de pequeno porte atividade principal para o fornecimento de renda, os equipamentos e as instalações são específicos, e, apesar de existir um mercado regional, os produtos são comercializados em circuitos mais distantes.

2.3. Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF Agroindústria

O PRONAF – Agroindústria foi instituído em 1998 pelo Presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Este programa apresentou um caráter inovador e foi a primeira política pública nacional voltada para a Agricultura Familiar. O público beneficiário é delimitado pelo programa como: produtores que mantém contratados até dois empregados, não disponham de propriedade com área superior a 4 módulos fiscais, tenham no mínimo 80% da renda bruta anual proveniente da exploração agropecuária e residam na propriedade ou em aglomerado próximo (BRASIL, 1998).

No entanto, em função de alguns problemas operacionais o programa não chegou a ser efetivamente implementado. Nesse sentido, Buainain (1997), ressalta a necessidade dos programas institucionais da Agricultura Familiar atingir diversos elos da cadeia, como produção, captação, assistência técnica e comercialização. Os principais problemas foram: impossibilidade de enviar projetos individuais de agricultores, beneficiando somente os coletivos; burocracia nas linhas de financiamento e crédito e descaracterização dos objetivos do projeto (WESZ JÚNIOR, 2009).

Em 2003, o Governo Lula lançou outra ferramenta de política pública, o Programa de Agroindustrialização da Agricultura Familiar. Este programa inovou em alguns aspectos como o caso da agroindústria familiar, biodiesel, compra direta e desenvolvimento territorial, mas também reformulou e manteve políticas já implementadas como o Pronaf.

2.4. Os Programas Estaduais de apoio à agricultura familiar

De 1995 a 2008, foram criados oito programas estaduais de apoio a agricultura familiar. O Programa de Verticalização da Pequena Produção Agrícola (Prove/DF) foi a primeira iniciativa governamental direcionada especificamente às agroindústrias familiares. Foi implementado no Distrito Federal entre 1995 e 1998 durante o Governo Cristovam Buarque. O objetivo visava atingir uma parcela significativa dos agricultores que eram

 

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excluídos de qualquer política pública de foco econômico e produtivo (BRANDÃO, 2001). As estratégias de implementação do Prove/DF estavam amparadas em cinco grandes eixos: oferta de crédito rural, adaptação das legislações, capacitação dos agricultores, acesso ao mercado e disponibilização de tecnologias apropriadas (WESZ JÚNIOR, 2009). Motivado pela experiência do Prove/DF, em seguida, diversos programas estaduais foram criados e também tinham o objetivo de inserir o pequeno produtor rural no processo produtivo: PAF/RS, Prove/MS, Desenvolver/SC, Fábrica do Agricultor/PR, Prosperar/RJ, Provemais/MT e o Minas Artesanal/MG.

As áreas de menor investimento nestes projetos foram a de tecnologia e estrutura dos estabelecimentos. Como a pequena agroindústria deve buscar a eficiência e aumento de produtividade, o pacote tecnológico é de grande importância na competitividade com as grandes indústrias. Outra área que deveria ter sido investida é a legislação, onde três dos oito programas não tiveram ações. Esse pode ser um dos motivos do fracasso ou do programa não ter atingido o universo de produtores que pretendia. Esse ponto é fundamental, pois sem legislação própria para a pequena agroindústria os recursos financeiros de investimento e apoio à comercialização ficam penalizados, já que o produtor continua na informalidade. Esse foi o caso do Programa Minas Artesanal que entre os objetivos do programa estava presente atender às agroindústrias já regularizadas. O Desenvolver/SC e do ProveMais/MT também surgem como exemplos.

 QUADRO 1 – SÍNTESE DOS INSTRUMENTOS DE AÇÃO DOS PROGRAMAS ESTADUAIS

DE AGROINDUSTRIALIZAÇÃO NA AGRICULTURA FAMILIAR BRASILEIRA

PROGRAMAS ESTADUAIS

Crédito

(Pronaf)

Crédito

(Linhas próprias)

Legisla-ções

Capaci-tação

Tecno-logia

Infra-estrutura

Merca-dos

PROVE/DF X X X X X X X

PROVE/MS X X X X X X

PAF/RS X X X X X

DESENVOLVER/SC X X X

FÁBRICA DO AGRICULTOR/PR

X X X X

PROSPERAR/RJ X X X X X

MINAS ARTESANAL/MG

X X X

PROVEMAIS/MT X

FONTE: WESZ JÚNIOR (2009, p. 49)

 

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De acordo com EMATER-MG (2008) apenas 6% dos 15.423 agroindústrias

familiares levantadas, possuíam algum tipo de alvará sanitário. Diante dessa informação pode-se perceber que a limitação do alcance deste programa no Estado refere-se à legislação sanitária.

2.5. Legislação Federal

A legislação federal compõe-se de muitos atos normativos e é considerada como

um grande empecilho para regularização da pequena agroindústria (MDA, 2010). A necessidade de inspeção federal para a comercialização dos produtos no âmbito nacional, exigência de grandes instalações não adequadas à produção em pequena escala, burocracia e lentidão na avaliação dos processos e não reconhecimento das especificidades regionais (MDA, 2010). Em março de 2006, foi publicado o Decreto nº 5.741/2006 (BRASIL, 2006), que regulamenta o SUASA (novo Sistema de Inspeção criado pela Lei nº 9.712/1998). O objetivo é a unificação dos serviços de inspeção sanitária do País e superação dos estrangulamentos identificados para os pequenos estabelecimentos. Entretanto, mesmo com os avanços alcançados nessa regulamentação, poucos entes federados aderiram ao sistema. Até o momento somente o município de Uberlândia em Minas Gerais, bem como o próprio estado de Minas Gerais, Paraná e Bahia conseguiram a adesão.

Em função da pouca adesão dos Estados, Distrito Federal e municípios ao SUASA, foi elaborado o Decreto nº 7.216 de 17 de junho de 2010 (BRASIL, 2010), que traz inovações no sentido de respeitar as especificidades regionais dos produtos e das diferentes escalas de produção incluindo a agroindústria rural de pequeno porte, possibilitando que os Estados, Distrito Federal e municípios editem normas específicas relativas às condições gerais das instalações, equipamentos de estabelecimentos da agricultura familiar. Esse novo Decreto está estreitamente ligado à lógica de unificação dos serviços de inspeção definido pelo SUASA e, ao mesmo tempo, de descentralização da execução de inspeção sanitária. Isso poderá impulsionar a criação de novos serviços de inspeção municipais, contribuindo com a segurança dos alimentos, aproximando esses serviços do público demandante, especialmente os pequenos estabelecimentos da agricultura familiar. Outra alteração efetivada diz respeito aos produtos de origem animal, que passam a ter livre comercialização em todo o território nacional, desde que inspecionados pelos serviços de inspeção dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios que tenham adesão ao Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária.

2.6. Legislação Mineira e o Programa Minas Artesanal

Em 2002 criou-se a Lei do Queijo Minas Artesanal – Lei nº 14.185/02 (Minas Gerais, 2002) que dispõe sobre o processo de produção do Queijo Minas Artesanal. O objetivo era regularizar a produção de um produto típico do estado de Minas Gerais e que representa a cultura do povo mineiro. Conforme a lei, é considerado Queijo Minas Artesanal,

 

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o queijo confeccionado segundo à tradição histórica e cultural da região do Estado onde for produzido, a partir do leite integral de vaca fresco e cru, retirado e beneficiado na propriedade de origem, que apresente consistência firme, cor e sabor próprios, massa uniforme, isenta de corantes e conservantes, com ou sem olhaduras mecânicas. Os ingredientes são as culturas lácteas naturais, como o pingo, soro fermentado ou soro-fermento, coalho e sal, além da maturação.

A partir de estudos edafo-climáticos, de tradição e do modo de fabricação, reconheceu-se inicialmente 4 regiões tradicionais de produção do Queijo Minas Artesanal, Canastra, Araxá, Serro e Cerrado e mais recentemente a região de Campos das Vertentes, totalizando 63 municípios e aproximadamente 9.000 produtores.

O Estado de Minas Gerais fez um grande investimento do Estado em treinamento de técnicos, capacitação dos produtores, parceria firmada com a França, acesso a mercados, participação em feiras, marketing e o próprio Programa Minas Artesanal, porém o alcance da lei não foi como o esperado, pois apenas 175 cadastraram-se no Instituto Mineiro de Agropecuária - IMA até o momento. Um dos principais problemas encontrados para essa situação é o grande mercado informal que ainda existe e consequentemente a pouca agregação de valor.

A lei 14.185/02 (Minas Gerais, 2002), constitucionalmente, manteve o mesmo grau de exigência dos níveis microbiológicos para o queijo artesanal exigidos pela legislação federal, no entanto, trouxe inovações ao reduzir o período de maturação de 60 dias, conforme norma federal, para 21 dias ( queijo da Canastra, Araxá e Cerrado) e 14 dias (queijo do Serro) baseado em pesquisas científicas com os referidos queijos. Importante mencionar, que o processo de maturação, é responsável pela redução da carga microbiana ao diminuir o índice de água do queijo, conservando a segurança alimentar do consumidor.

O Programa Minas Artesanal foi instituído pelo Decreto 44.545 (MINAS GERAIS, 2007) e a coordenação ficou a cargo da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento – SEAPA. O objetivo é gerar renda para a agricultura familiar, por intermédio de incentivo à industrialização de alimentos e de artefatos rurais com característica artesanal. Os principais pontos a serem abordados são a capacitação de produtores e técnicos em tecnologia de processamento e gestão, construção e reforma das unidades de processamento, incentivo a comercialização e marketing. O público beneficiário são os produtores enquadrados na Lei nº 11.326 (BRASIL, 2006) e que possuem os estabelecimentos agroindustriais registrados no órgão de fiscalização sanitária, no entanto, este enquadramento foi o principal limitante do número de produtores atingido pelo programa. Outro empecilho foi a legislação tributária. Os produtores perderam a possibilidade da tributação diferenciada do estado com o Simples Minas (Minas Gerais, 2008), quando foi implementado o Simples Nacional, que não possuía essa prerrogativa.

Embora não tenha alcançado tudo o que o programa se propôs a realizar, o Minas Artesanal, trouxe um ponto muito positivo, que foi a criação de um ambiente favorável às diversas instituições envolvidas, IMA, EMATER, EPAMIG, UEMG, AMIS, para discutir todos os aspectos relacionados a agricultura familiar.

 

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Outro grande passo dado foi a Lei nº 19.492 (Minas Gerais, 2011) sancionada em Janeiro de 2011 que aumenta a abrangência de produção do Queijo Minas Artesanal para todo o território estadual. Em síntese, o instrumento beneficiou aproximadamente 30.000 produtores, aumentando para 600 municípios produtores de queijo.

Em Janeiro de 2011 também foi sancionada pelo Governador Antônio Anastasia a Lei nº 19.476 (Minas Gerais, 2011), que dispõe sobre a habilitação sanitária de estabelecimento agroindustrial de pequeno porte no estado. O regulamento estabelecerá os critérios higiênico-sanitários a serem cumpridos pelas agroindústrias de agricultores familiares produtores de produtos de origem animal e vegetal. Recentemente, o modo artesanal de fazer Queijo de Minas, nas regiões do Serro e das Serras da Canastra e do Salitre foi reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

2.7. Caracterização e delimitação do agricultor familiar em Minas Gerais

A EMATER – MG realizou um diagnóstico em 1153 estabelecimentos rurais pertencentes a agricultores familiares envolvidos com a atividade de processamento de alimentos no período de junho a setembro de 2008. Os critérios utilizados são os estabelecidos pelo Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) e abrangeu os aspectos relacionados à produção, processamento, organização, gestão e comercialização (EMATER, 2008). De acordo com este diagnóstico, a maioria dos estabelecimentos rurais (54, 7%) tem tamanho inferior a 25 hectares e 76% estão organizados na forma familiar. A agroindústria mineira que ocupa o maior número de pessoas é a de processamento da mandioca. Em contrapartida, a pequena indústria de carne é a que menos ocupa. Apenas 6% dos estabelecimentos rurais da agricultura familiar possuem algum tipo de alvará sanitário: 10,4% - SIF, 47,8% - SIM ou Visa, 34,3% - IMA e 7,5% - alvará sem especificação. A questão ambiental também foi abordada e detectou que 47% dos resíduos originados do processamento da matéria-prima são despejados em nascentes e 18,9% em poço e apenas 14% destinam na rede pública de abastecimento.

Com relação a principal matéria-prima utilizada, o leite ficou em primeiro lugar com 32,4%, açúcar com 23,5%, mandioca com 18% seguida pelas frutas com 14,3%. Por último ficou a carne com 1,6%, como o produto menos processado. Dados desta pesquisa realizada pela EMATER-MG ainda demonstraram que a maioria dos produtos da agroindústria mineira são comercializados em sacolões, feiras e no próprio estabelecimento (75%) e dos estabelecimentos que comercializam dentro e fora do estado, apenas 9,8% e 4,5% emitem nota fiscal, respectivamente.

3. METODOLOGIA DE PESQUISA

Foi realizada durante o ano de 2010 um levantamento da situação dos produtores

de queijo à base de leite cru em diversas regiões do estado de Minas Gerais por meio de aplicação de uma Entrevista Estruturada e da técnica de Observação Direta. O resultado desse trabalho gerou um Diagnóstico Educativo das propriedades produtoras de queijo no Estado.

 

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Os produtores de queijo entrevistados participam de um Termo de Ajustamento de Conduta firmado com o Ministério Público e o Instituto Mineiro de Agropecuária – IMA no ano de 2009, para adequar a produção, o transporte e a comercialização do queijo nos Mercados Livres do Produtor – MLP’s dos entrepostos da CeasaMinas no estado de Minas Gerais. Estes agricultores fazem parte do escopo do trabalho em questão, pois estão enquadrados no conceito de Agroindústria Familiar de Pequeno Porte e Agricultura Familiar.

A coleta de dados foi realizada em 80 propriedades produtoras de queijo de dezenove (19) municípios do estado de Minas Gerais, sendo eles: Taquaraçú de Minas, Nova União, Jaboticatubas, João Pinheiro, Vazante, Carmo do Paranaíba, Rio Paranaíba, Medeiros, São Jose da Varginha, Lagoa Formosa, São Geraldo da Piedade, Uberlândia, Araguari, Serra do Salitre, Monte Carmelo, Abadia dos Dourados, Patrocínio, Guimarânea e Itaguara. 4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

A localização geográfica das propriedades visitadas representa uma realidade característica das regiões produtoras de queijos artesanais em Minas Gerais. Relevo acidentado, distância da cidade às fazendas e má qualidade das estradas. A localização distante das áreas urbanas dessas propriedades e a necessidade de gerencimento do estabelecimento, dificulta consideravelmente que os produtores possam comercializar seus próprios produtos na cidade. A situação apresentada dá oportunidade aos intermediários que compram os queijos e revendem por valores mais altos.

Quanto a vegetação, observa-se que os produtores menores possuem a pastagem mais rústica baseada em capim nativo e meloso. Já as propriedades mais estruturadas e com maior grau tecnológico possuem a vegetação bastante variada, com a presença de andropogon, capim elefante e milho para silagem. A braquiaria é abundante nos dois estratos .

As áreas de produção em sua maioria são simples e com poucos equipamentos, no entanto, aquelas propriedades que já estão cadastradas no Instituto Mineiro de Agropecuária – IMA, possuem as estruturas de produção mais equipadas e condizentes com a produção de alimentos, refletindo a evolução dos aspectos higiênicos-sanitários.

A utilização de uniformes, gorros, máscaras e luvas não é comum na maioria das propriedades. Esse realidade reflete a importância dos programas de capacitação dos produtores em Boas Práticas Agropecuárias e de Fabricação.

Durante as visitas nas propriedades, foram observados, além da produção de vegetais para subsistência, a criação de outros animais como equídeos, aves, ovinos, caprinos e suínos. Estes últimos são alimentados com o soro da produção do queijo. Essa característica apresentada é típica da agricultura familiar e demonstra uma estratégia adotada de aproveitamento e exploração das potencialidades do espaço rural. Outra característica encontrada, foi a pluriatividade, ou seja, o exercício de atividade agrícolas e não-agrícolas, tanto que foi constatado que alguns agricultores exerciam outros trabalhos fora do seu estabelecimento rural e nas áreas urbanas próximas.

Quanto às raças bovinas criadas, predominou o gado mestiço e de dupla aptidão, demonstrando a faceta de não especialização do produtor familiar.

 

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4.1. Estrevista Estruturada

O gráfico 1 mostra a grande maioria dos entrevistados não pertence a nenhuma entidade de classe, fato que representa a falta de associativismo e cooperativismo dos produtores de queijo e como consequência traz um isolamento muito característico da categoria e preponderante para a manutenção da dependência por transportadores ou comerciantes de queijo, que são responsáveis pela precificação dos produtos. Além disso, contribui para a deficiência tecnológica da maioria das propriedades. GRÁFICO 1: COMPORTAMETO DOS ENTREVISTADOS QUANTO À PARTICIPAÇÃO

EM ENTIDADES DE CLASSE

É necessário, portanto, que os produtores se organizem, seja em grupos de

produção, seja em associações, cooperativas e sindicatos para fazer valer suas reivindicações e se fortalecerem. GRÁFICO 2: DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS QUANTO À ASSISTÊNCIA

TÉCNICA NA PROPRIEDADE

Pouco mais de 20% dos entrevistados relataram possuir assistência técnica. Este

valor é muito pequeno e demonstra uma necessidade dos agricultores familiares produtores de queijo por orientação técnica de qualidade e constante, segundo o gráfico 2.

 

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GRÁFICO 3: DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS QUANTO AO NÚMERO DE

INTEGRANTES DA FAMÍLIA ENVOLVIDOS NA PRODUÇÃO DE QUEIJO

.

Cerca de 73% dos entrevistados relataram que dois ou mais integrantes da família

estão envolvidos na produção de queijo, revelando que a mão-de-obra é tipicamente familiar, empregando o chefe de família, esposa e na maioria das vezes os filhos, segundo gráfico 3.

Vale aqui destacar dois pontos: o primeiro é que de acordo com o conceito de Agricultor Familiar apresentado neste estudo, os produtores de queijo se enquadram perfeitamente, segundo que é essencial a criação de políticas públicas de apoio a esse segmento como mais financiamentos, assistência técnica especializada e apoio na comercialização. GRÁFICO 4: DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS QUANTO AO VOLUME DE PRODUÇÃO DE LEITE

No gráfico 4, observa-se o volume de produção e pode-se constatar que são

pequenos produtores, 85% produz abaixo de 300 litros de leite.

 

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GRÁFICO 5: DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS QUANTO À INFRA-

ESTRUTURA NA SALA DE ORDENHA

Já no gráfico 5, a infraestrutura de produção das propriedades é preocupante, uma

vez que apenas a metade possui sala de ordenha cimentada e coberta, aspectos básicos para a obtenção de um leite de qualidade e isento de contaminantes. GRÁFICO 6: DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE ENTREVISTADOS QUANTO AO TIPO

DE ORDENHA

A forma de ordenha manual visto no gráfico 6, é a mais comum na grande maioria

das propriedades e a maior parte não realiza nenhum procedimento para monitoramento e controle de mamite, bem como a utilização de caneca de fundo telado e sanitizantes (Gráfico 7). Isto mostra que a assistência técnica ainda precisa abordar as boas práticas de produção do leite.

 

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GRÁFICO 7: COMPORTAMENTO DOS ENTREVISTADOS QUANTO A UTILIZAÇÃO

DE PROCEDIMENTOS PARA EVITAR MAMITE

Como pode ser observado no gráfico 8, a minoria das propriedades visitadas não

possuem a queijaria dentro dos padrões higienico sanitários. GRÁFICO 8: DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE ENTREVISTADOS QUANTO À

INFRAESTRUTURA DE FABRICAÇÃO DE QUEIJO

Observa-se pelos resultados que a higiene não é satisfatória nos dois ambientes de

produção, tanto na sala de ordenha para obtenção do leite quanto na queijaria (Gráfico 9).

GRÁFICO 9: DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS QUANTO A HIGIENE NA QUEIJARIA

 

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A totalidade da água de abastecimento provem de cisternas, nascentes e córregos, mas apenas uma pequena parte realiza o tratamento da água (Gráfico 11), motivo suficiente para trazer contaminações de coliformes ambientais e fecais.

GRÁFICO 10: COMPORTAMENTO DOS ENTREVISTADOS QUANTO AO TRATAMENTO DA ÁGUA

Para a segurança alimentar dos consumidores, faz-se necessário que o produtor se

adeque a todas as exigências sanitárias, destacando-se a qualidade da água a ser utilizada, a infra-estrutura da queijaria, dos currais e salas de ordenha, higienização, saúde do rebanho e das pessoas envolvidas na produção do queijo.

Até o momento, os resultados alcançados pelo IMA com este grupo de produtores, por meio do trabalho de acompanhamento técnico e de educação sanitária, tem sido satisfatórios, pois já apresentam alguns avanços, como o rebanho sanificado contra as doenças Brucelose e Tuberculose e estrutura de produção condizente com as boas práticas de fabricação.

5. CONCLUSÃO

De acordo com as respostas obtidas dos entrevistados e os dados observados, conclui-se que é necessário um planejamento de ações específico para a agricultura familiar mineira e nacional, abordando principalmente financiamentos, assistência técnica, apoio a comercialização e legislação sanitária, fiscal, tributária, trabalhista e ambiental adequada ao produtor de pequena escala.

Algumas alternativas para a melhoria dos sistemas produtivos da agricutura familiar são sugeridas como: • Insvestir em atividades com alta densidade econômica como: plantas medicinais, flores, hortaliças e fruticultura; • Atividades que permitem áreas menores: avicultura, suinocultura, bovinocultura de leite, apicultura e aquicultura; • Produção de alimentos orgânicos; • Produtos com identidade territorial e cultural; • Pluriatividade: desenvolver atividades agrícolas e não-agrícolas fora do estabelecimento rural uma parte do tempo;

 

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• Industrialização e processamento de alimentos em pequenas e médias indústrias rurais; • Indicação Geográfica: proteção e promoção de produtos com características diferencadas que podem ser atribuídas à sua origem geográfica; • Formação de clusters, nichos de produção ou Arranjos Produtivos Locais • Planejamento e gerenciamento da atividade.

Outro aspecto que deve ser levado em conta é que entre todos os programas de apoio à agricultura familiar, nenhum aborda a Educação Sanitária como ferramenta sensibilização e para a mudança de comportamento do produtor. A Instrução Normativa nº 28, de 15 de maio de 2008, do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, institui o Programa Nacional de Educação Sanitária em Defesa Agropecuária e determina que o Estado, o Distrito Federal e Municípios, criem instrumentos programáticos para a criação de atividades de educação sanitária em defesa agropecuária (MAPA, 2008).

A mudança da legislação atual torna-se fundamental para a inserção do agricultor familiar no processo produtivo legalizado, sobretudo na participação ao mercado formal, entretanto, mais do que a regulamentação por atos normativos é fundamental modificar a estruturação da rede serviços à disposição do produtor. Políticas públicas acessíveis e que contemplem a realidade do campo são essenciais para o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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