marandino - educação em museu - mediacao em foco

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  • 8/11/2019 MARANDINO - Educao Em Museu - Mediacao Em Foco

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    Martha Marandino (org)

    Educao em museus:a mediao em foco

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    Educao em museus:a mediao em focoMartha Marandino (org)

    Realizao

    Alessandra Fernandes Bizerra

    Ana Maria Navas

    Djana Contier Fares

    Lilia Standerski

    Luciana Magalhes Monaco

    Luciana Conrado Martins

    Maria Paula Correia de Souza

    Viviane Aparecida Rachid Garca

    Universidade de So Paulo

    Faculdade de Educao

    So Paulo 2008

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    2008

    Universidade de So Paulo

    Faculdade de Educao

    Geenf Grupo de Estudo e Pesquisa em Educao No-formal e Divulgao em Cincia

    Organizao: Martha Marandino

    Financiamento: Pr-Reitoria de Cultura e Extenso Universitria

    Apoio: FEUSP, FAPESP e CNPq

    Livro elaborado com apoio dos participantes do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educao No-formal e Divulgao em

    Cincia da Faculdade de Educao da Universidade de So Paulo durante o 1 semestre de 2007: Adriano Dias Oliveira,

    Carla Wanessa A. Caffagni, Cynthia Iszlaji, Elizngela Florentino, Fabola A. C. Meireles, Mrcia Fernandes Loureno,

    Maurcio Salgado, Tnia Cerati.

    Edio: Geenf Grupo de Estudos e Pesquisa em Educao No-formal e Divulgao em Cincia/FEUSP

    Projeto grfico e diagramao de capa e miolo: Celso Longo | Imageria Estdio

    Preparao e reviso de texto: Jorge de Lima | joralimaTEXTO

    FEUSP Cidade Universitria, Butantan. Avenida da Universidade, 308. So Paulo / SP Brasil. CEP 05508-040. Telefone (55 11) 3091 2404

    Geenf [email protected] | www.geenf.fe.usp.br

    E24 Educao em museus: a mediao em foco/

    Organizao Martha Marandino So Paulo, SP:

    Geenf / FEUSP, 2008.

    48 p.; 21 x 28 cm.

    Texto em portugus.

    ISBN: 978-85-60944-04-0

    1. Educao em museus 2. Educao no formal

    3. Cincia Educao I. Marandino, Martha, org.

    CDD 21ed. 371.3

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    ndice

    Apresentao 5

    Captulo 1.

    Educao, comunicao e museus 7

    1.1. Aspectos histricos da educao em museus at os dias atuais 8

    1.2. Os museus como espaos de educao no-formal 12

    1.3. A dimenso educativa dos museus 15

    1.4. A dimenso comunicativa dos museus 16

    Capitulo 2.

    A mediao em foco 192.1. Aspectos da pedagogia museal 20

    2.2. Aprendizagem em museus e processos de mediao 21

    2.3. Pblico em museus 24

    2.4. Relao museu-escola 24

    2.5. A importncia da avaliao em museus 26

    2.6. O papel do mediador nos museus 28

    Atividades 31

    Atividade 1. Explorando o setor educativo dos museus 32Atividade 2. Planejando a monitoria de um museu 32

    Atividade 3. Estudo de caso: visitas guiadas 32

    Atividade 4. Oficina de comunicao 33

    Referncias bibliogrficas 34

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    Educao em Museus: a mediao em foco surge a

    partir da percepo, por um lado, da crescente impor-

    tncia dada ao trabalho dos mediadores nos museuse, por outro, da certeza de que necessrio investir

    cada vez mais na sua formao. A experincia vem de-

    monstrando que esse profissional figura chave nos

    processos de educao e de comunicao com o p-

    blico. Especialmente no Brasil, a mediao humana

    amplamente utilizada. por meio dos mediadores que

    os visitantes conhecem os museus nos seus aspectos

    de contedo, mas tambm a sua organizao, a sua

    arquitetura e a sua funo social. No nos parece forte

    demais afirmar que o mediador a voz da institui-

    o, mesmo que nem sempre se tenha plena conscin-cia do que isso representa.

    O livro tem origem em um curso de extenso com

    o mesmo nome, oferecido pelo Grupo de Estudo e

    Pesquisa em Educao No-formal e Divulgao em

    Cincia (GEENF), da Faculdade de Educao da Univer-

    sidade de So Paulo. A proposta do curso surgiu da

    inquietao de seus membros muitos deles com ex-

    perincia passada ou atual na funo de mediadores e

    educadores de museus com relao atuao e for-

    mao desse profissional. Tal inquietao tem levadoao aprofundamento terico e formulao de projetos

    de pesquisa que buscam entender como tem sido feita

    a formao dos mediadores e como vem sendo reali-

    zada as aes de mediao em diferentes instituies

    museais. Dessas reflexes surgiu a necessidade de

    propor um curso de formao que tivesse caracters-

    ticas prprias, diferentes daqueles que em geral so

    oferecidos pelos museus.

    Mas quais seriam essas diferenas e como isso de-

    termina os contedos desse livro? Em primeiro lugar,

    o GEENF no um museu, mas um grupo de estudoe pesquisa, localizado na Faculdade de Educao da

    USP. Esse contexto fornece uma viso particular sobre

    os processos de mediao dos museus com o pblico: a

    perspectiva da pesquisa e da educao. Nos propomos

    aqui a fornecer material que possa contribuir na forma-

    o dos mediadores em seus aspectos pedaggicos, es-

    pecialmente conectados com a educao em museus.

    E quem so os mediadores dos museus? So aque-

    les que atuam nos setores educativos e/ou culturais

    dessas instituies, educadores e monitores, mas tam-

    bm os professores, agentes de turismo, ou qualquer

    outro profissional que trabalhe mediando os conheci-

    mentos apresentados nas aes educacionais dos mu-

    seus com o pblico. Esses profissionais, em geral, pos-

    suem formao diversificada, seja nas reas especficasdas cincias ou das humanidades, seja em reas mais

    tcnicas. Contudo, ao exercer a funo de mediadores,

    todos assumem a tarefa de tornar o conhecimento pro-

    duzido acessvel aos mais variados pblicos, desper-

    tando curiosidades, aguando interesses, promovendo

    o contato com o patrimnio. Nessa unidade de ao

    encontra-se a especificidade do trabalho do mediador

    e sobre ela que esse livro pretende tratar.

    Educao em Museus: a mediao em focoest

    dividido em trs captulos, elaborados a partir de ei-

    xos temticos considerados fundamentais na formaode mediadores. O primeiro captulo, Educao, comu-

    nicao e museus, mais conceitual e busca discutir

    elementos tericos da dimenso educativa e comuni-

    cacional desses espaos, no que se refere aos aspec-

    tos histricos, polticos e sociais. O segundo captulo

    fornece elementos diretamente ligados atuao do

    mediador. A partir da discusso sobre a pedagogia

    museal, os pblicos dos museus, a aprendizagem, a

    relao com a escola e a avaliao, o captulo, intitu-

    ladoA mediao em foco, busca refletir sobre o papeldo mediador desses espaos de educao no-formal.

    Por fim, o terceiro captulo prope atividades a serem

    desenvolvidas pelos mediadores no seu processo de

    formao que auxiliam no s a concretizar os temas

    abordados no livro, como tambm a refletir sobre a

    prtica desse profissional.

    O GEENF, desde sua origem, desenvolve atividades

    de estudo e pesquisa voltadas mais especificamente

    aos museus de cincias. Esse vis, oriundo da forma-

    o de grande parte dos profissionais do grupo, est

    impresso nesse livro. No poderia ser de outra forma,j que as idias que aqui trazemos tm por base os es-

    tudos realizados nesse universo especfico de museus.

    Contudo, a dimenso educativa e, em especial, a for-

    mao e atuao dos monitores extrapolam qualquer

    tipologia de museus. Nesse sentido, consideramos que

    o livro possa ser utilizado para auxiliar a reflexo sobre

    o tema em diferentes tipos de museus e em variados

    contextos nos quais a mediao humana entre conhe-

    cimento e pblico acontea.

    Apresentao

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    Este captulo se prope a apresentar aspectos conceituaisda educao em museus especialmente voltados para apercepo histrica, poltica e social dessas instituies.Aborda, de forma sucinta, aspectos histricos dos mu-seus em geral e fornece informaes particulares sobreos museus de cincias nos contextos internacionais e na-cionais. Faz referncia especial ao momento atual das

    polticas nacionais voltadas a essas instituies e buscadesenvolver aspectos relativos s dimenses educativase comunicativas desses locais.

    Captulo 1.

    Educao, comunicaoe museus

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    Educao em museus: a mediao em foco8

    desse momento, os museus passaram a desempenhar

    um papel mais relevante na sociedade, em estreita co-

    laborao com os governos nacionais de cada pas. O

    sculo XIX, chamado de sculo de ouro dos museus,

    testemunha o crescimento e a ampliao dessas insti-

    tuies em todo o mundo.

    Foi tambm no sculo XIX que comearam a surgir

    os primeiros museus no Brasil. Criadas dentro dos mol-des dos grandes museus europeus e norte-americanos,

    as instituies brasileiras tambm se preocupavam em

    coletar, catalogar e estudar os vrios elementos do

    mundo natural e cultural do pas. O primeiro museu

    a surgir no Brasil foi o Museu Real (Rio de Janeiro),

    criado em 6 de julho de 1808. Com uma coleo ba-

    seada nas cincias naturais, posteriormente tornou-se

    Museu Nacional. Foi esse o modelo que inspirou mais

    tarde a criao do Museu Paraense Emlio Goeldi (Be-

    lm, 1866), do Museu Paranaense (Curitiba, 1883) e do

    Museu Paulista (So Paulo, 1895).

    Perseguindo o ideal democrtico do sculo anterior,

    o museu do sculo XIX pretendia ser um espao pe-

    daggico de vulgarizao, de difuso e de acultu-

    rao, inserido num esforo geral de modernizao

    da sociedade (KPTKE, 2001, 2002: p. 21).

    Esses ideais democratizantes, inspirados na Revoluo

    Francesa, fomentaram, por um lado, a abertura de mais

    1.1. Aspectos da histria da educaoem museus at os dias atuais

    O entendimento dos museus como espaos de educa-

    o uma percepo relativamente recente na histria

    dessas instituies. Para os autores Allard e Boucher

    (1991), o desenvolvimento da funo educativa dos mu-seus est dividido em trs etapas sucessivas. A primeira

    delas marcada pela criao e insero de museus em

    instituies de ensino formais, no caso, as universida-

    des. o caso doAshmolean Museumda Universidade

    de Oxford, fundado em 1683, com amplas colees de

    histria natural e geologia. Seu acesso era restrito a es-

    tudiosos possuidores dos conhecimentos de referncia

    necessrios para a compreenso das exposies.

    A abertura doAshmolean Museum, na Universidade

    de Oxford, tambm marca o incio da era dos museus

    pblicos. nesse perodo que muitos colecionadoresparticulares comeam a doar suas colees para o es-

    tado. A partir desse momento, imbudos do esprito do

    estudo e difuso do saber por meio da observao, so

    abertos em diversos pases europeus museus e cole-

    es pblicas estatais.

    Utilizando a exposio exaustiva de suas colees

    em grandes edifcios, esses museus tinham como

    objetivo principal a instruo do pblico por meio da

    observao dos objetos. Em um primeiro momento,

    eram colees misturadas de curiosidades, artes e ob-jetos culturais e naturais que, paulatinamente, foram

    se transformando e se especializando, traduzindo uma

    organizao baseada na nascente delimitao das re-

    as de pesquisa e conhecimento. Muitos museus desse

    perodo, que na Europa vai at o final do sculo XVIII,

    traziam embutidas as configuraes prprias uma

    instituio de pesquisa e foram os responsveis pela

    estruturao de disciplinas cientficas como a Histria,

    a Geologia, a Paleontologia, a Biologia e a Antropolo-

    gia, entre outras.

    A segunda etapa do desenvolvimento da funoeducativa dos museus foi marcada pela progressiva

    entrada de um pblico mais amplo, e de classes sociais

    diferenciadas, nos recintos museolgicos. Foi como

    parte de um projeto de nao, em um esforo de mo-

    dernizao da sociedade, que em fins do sculo XVIII

    o museu passou a ser considerado como um lugar do

    saber e da inveno artstica, de progresso do conheci-

    mento e das artes, onde o pblico poderia formar seu

    gosto por meio da admirao das exposies. A partir

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    museus pela Europa e pela Amrica e, por outro, a pre-

    ocupao com o vis educativo das instituies.

    Tais preocupaes desembocaram, na Europa, em

    projetos governamentais nos quais a instruo formal

    obrigatria tinha como complemento natural as visi-

    tas a museus. Era o ideal da lio das coisas, no qual

    o aluno visitava o museu para observar ao vivo o que

    havia sido ensinado em teoria nos bancos escolares.Foi nesse contexto de exaltao das vantagens pe-

    daggicas das visitas de escolares a museus que fo-

    ram criados, dentro dessas instituies, os chamados

    servios educativos. Mas nem tudo era to simples.

    Voltados para o atendimento desse novo pblico, esses

    primeiros servios educativos contavam com profissio-

    nais pouco especializados na funo pedaggica. Na

    maior parte dos casos, as visitas eram guiadas pelos

    prprios curadores das exposies, que tambm eram

    os responsveis pela sua manuteno diria e estudo.

    Sendo especialistas no assunto, os curadores enfrenta-vam desafios para transmitir seu conhecimento a uma

    platia. J os professores das escolas, por desconhece-

    rem as especificidades desses locais, no detinham as

    ferramentas pedaggicas necessrias para utilizar as

    colees dos museus.

    Nesse perodo foi determinante a influncia dos

    museus ingleses. Responsveis pelo desenvolvimento

    de diversas aes voltadas para o pblico escolar, eles

    contribuiram para o fomento das primeiras reflexes

    Captulo 1.Educao, comunicao e museus

    sobre o papel educacional dessas instituies frente

    educao escolar, alm das melhores maneiras de se

    trabalhar com esse pblico dentro da instituio museal

    (GARCA BLANCO, 1999).

    A terceira e ltima etapa da consolidao do pa-

    pel educativo dos museus, segundo Allard e Boucher

    (1991), aconteceu ao longo do sculo XX. Levados pelo

    aumento e diversificao do pblico, os museus nopoderiam mais se contentar em apenas expor suas

    obras. Era necessrio encontrar os meios para assegu-

    rar que os visitantes as entendessem e apreciassem. A

    preocupao com a utilizao educacional dos acervos

    expostos levou cada vez mais os museus a introduzi-

    rem estratgias que facilitassem a comunicao com o

    pblico dentro de suas exposies. Durante a primeira

    metade do sculo XX, iniciaram-se em vrios pases

    pesquisas com os visitantes (GARCA BLANCO, 1999)

    que indicavam a necessidade de montar exposies a

    partir de selees do acervo especficas que respeitas-sem as caractersticas e os interesses de cada tipo de

    pblico especialista ou leigo. Dessa forma, as antigas

    exposies nas quais todo o acervo era exibido foram

    aos poucos sendo substitudas por selees represen-

    tativas de cada temtica abordada. Nesse momento,

    foi importante para os museus europeus a influncia

    dos museus norte-americanos. Os museus dos Estados

    Unidos eram famosos por usarem aparatos miditicos

    e reconstituies de ambientes (dioramas) que facilita-

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    Educao em museus: a mediao em foco10

    vam a compreenso das temticas, tornando as expo-

    sies mais inteligveis e educativas.

    Apesar dessas vrias modificaes na forma de

    expor os objetos e de estabelecer um relacionamento

    com o pblico, foi s a partir da segunda metade do

    sculo XX que os museus passaram a ser reconhecidos

    formalmente como instituies intrinsecamente edu-cativas. Essa faceta dos museus surgiu quando os servi-

    os educativos iniciaram o atendimento especfico para

    os diversos pblicos a partir da definio de objetivos

    pedaggicos precisos (KPTKE, 2003).

    Em 1948 foi fundado na Frana o International

    Council of Museums (ICOM), primeira associao in-

    ternacional de profissionais de museus. Para sua pre-

    sidncia foi eleito Georges-Henri Rivire, fundador do

    Muse des Arts et Traditions Populaires (Frana) e

    criador do conceito de ecomuseu. Esse conceito tinha

    como eixo principal o fomento da relao da socieda-de com seu patrimnio em um determinado territrio.

    Sua inspirao vinha dos museus nrdicos ao ar livre,

    cujas preocupaes educativas ajudaram a fomentar

    uma nova maneira de contextualizar os objetos e de

    preservar as tradies culturais passadas e presentes

    de uma determinada sociedade.

    Os debates em torno da idia de ecomuseu inspira-

    ram o surgimento da Nova Museologia, cujo eixo nor-

    teador baseado na ampliao da idia de museu e do

    conceito de patrimnio. Na Nova Museologia as aeseducativo-culturais ganharam uma dimenso ampliada,

    na busca por novos mtodos e estratgias de engajar

    os diversos grupos sociais de forma a torn-los co-res-

    ponsveis pela preservao de seu prprio patrimnio.

    Essa nova forma de pensar o papel dos museus in-

    fluenciou os profissionais dessas instituies ao redor

    do mundo. Especialmente na Amrica Latina esse tipo

    de reflexo encontrou um campo frtil de desenvolvi-

    mento e, nesse contexto, nas dcadas posteriores, se

    fortaleceu a viso dos museus enquanto instrumento

    de ao social transformadora e se fortaleceu, tam-bm, a importncia das exposies e das aes educa-

    cionais como veculos dessa transformao.

    No que se refere especialmente aos museus de ci-

    ncias, um outro movimento, advindo do campo espe-

    cfico da cincia e da divulgao cientfica, influenciou

    fortemente a ampliao dessas instituies no mundo

    todo. Se estabelecem, assim, no sculo XX, uma ver-

    dadeira indstria cultural voltada para a divulgao da

    cincia, formada por financiadores, animadores cultu-

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    Captulo 1.Educao, comunicao e museus 11

    rais, instituies etc. (FAYARD, 1999). Nos anos 1960 foicriado, nos Estados Unidos, o Exploratorium, centro de

    cincias interativo cuja exposio apoiava-se nos fun-

    damentos das teorias cognitivistas de aprendizagem

    e na perspectiva do aprender fazendo. Esse tipo de

    museu ganhou fora e foi reproduzido em vrios luga-

    res do mundo.

    Dentro desse contexto, tambm importante res-

    saltar o crescimento do nmero de museus e centros

    de cincia que ocorreu no Brasil a partir da dcada de

    1980. So exemplos dessa fase o Museu de Astronomiae Cincias Afins (MAST), criado em 1985, no Rio de Ja-

    neiro; a Estao Cincias, criada em 1987, em So Pau-

    lo, e o Museu Dinmico de Cincias, criado tambm em

    1987, em Campinas. Tais instituies desempenharam

    papel inovador ao apresentarem exposies interativas

    e ao adotarem princpios pedaggicos construtivistas

    no desenvolvimento das atividades propostas. Essa

    nova forma de se relacionar com o pblico teve como

    conseqncia o aumento da importncia das aes de

    divulgao cientfica no pas.

    Como visto no breve histrico apresentado, os mu-seus contam com mais de dois sculos de histria no

    Brasil e, ao longo desse perodo, o seu papel educativo

    vem-se consolidando e fortalecendo. Mas, que mecanis-

    mos possibilitam o desenvolvimento e a continuidade

    das iniciativas que vm sendo realizadas? Que recursos

    financeiros estveis suportam hoje as suas aes?

    No Brasil, os recursos financeiros destinados para

    museus foram sempre escassos (CAZELLI, 2005). No en-

    tanto, algumas iniciativas recentes devem ser conside-

    radas, entre as quais a gesto do Ministrio de Culturae, de forma especfica, do Departamento de Museus e

    Centros Culturais, o qual criou, a partir de 2003, as ba-

    ses para discutir a formulao de uma poltica pblica

    voltada para os museus brasileiros. Esta ao encontrou

    suporte em um dilogo estabelecido entre diferentes

    pessoas e entidades vinculadas museologia, acade-

    mia e s secretarias estaduais e municipais de cultura.

    Como fruto da Poltica Nacional de Museus foi cria-

    do, em 2004, o Sistema Brasileiro de Museus (SBM),

    cujas funes se centram no apoio e fortalecimento desistemas regionais, estaduais e municipais de museus.

    O SBM possibilitou o desenvolvimento de instrumentos

    dirigidos para estes espaos, como o Cadastro Nacional

    de Museus (2006) e o Observatrio Nacional de Mu-

    seus e Centros Culturais (2006).

    Alm dessas iniciativas, a referida poltica possi-

    bilitou a consolidao de um programa nacional de

    formao e capacitao em museologia e a criao

    de um fundo de amparo ao patrimnio cultural e aos

    museus brasileiros.

    No caso dos museus de cincias, cabe destacar agesto do Ministrio de Cincia e Tecnologia (MCT), no

    perodo 2003-2006, durante a qual diversas iniciativas

    de financiamento foram promovidas, dentro da grande

    rea da popularizao da C&T.

    O Departamento de Popularizao e Difuso da C&T

    do MCT considerou, como parte das suas funes, o apoio

    a museus e centros de cincias no pas. Por conta disso,

    alguns editais de apoio a museus e centros de cincias

    foram propostos, financiando diversas atividades, como

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    Educao em museus: a mediao em foco12

    No por outra razo, a preocupao com a qualida-

    de da mediao vem se refletindo em investimentos

    cada vez maiores na formao dos profissionais dos

    setores educativos dos museus.

    1.2. Os museus como espaos deeducao no-formal

    Como vimos, ao longo de sua existncia, os museusforam assumindo cada vez mais (e de formas diferen-

    ciadas) seu papel educativo. Nesse aspecto, os museus

    vm sendo caracterizados como locais que possuem

    uma forma prpria de desenvolver sua dimenso

    educativa. Identificados como espaos de educao

    no-formal, essa caracterizao busca diferenci-los

    das experincias formais de educao, como aquelas

    desenvolvidas na escola, e das experincias informais,

    geralmente associadas ao mbito da famlia.

    Contudo, a caracterizao e a diferenciao dos es-paos de educao no-formal no se constituem tare-

    fa simples. Apesar de se reconhecer as especificidades

    educativas que os museus possuem, muitas vezes, os

    termos formal, no-formal e informal so utilizados

    de modo controverso: o que considerado por alguns

    como educao no-formal, outros denominam de in-

    formal; isso faz com que suas definies estejam ainda

    longe de serem consensuais.

    Podemos perceber, por exemplo, diferenas de defi-

    nies nas literaturas anglofnica e lusofnica (CAZELLI,

    2000). Os autores de lngua inglesa usam os termosinformal science education(educao informal em ci-

    ncias) e informal science learning(aprendizagem in-

    formal em cincias) para todo o tipo de educao que

    pode acontecer em lugares como museus de cincias e

    tecnologia,science centers, zoolgicos, jardins botni-

    cos, no trabalho, em casa, entre outros locais voltados

    para as cincias. J os de lngua portuguesa subdivi-

    dem a educao em cincias que ocorre fora da escola

    em dois subgrupos: educao no-formal e educao

    a revitalizao e o aprimoramento de espaos existen-

    tes, a formao de clubes e outros locais de divulgao

    cientfica, de equipamento cientfico, a implantao de

    salas de informtica e de laboratrios e o desenvolvi-

    mento de tecnologias da informao, entre outros.

    Vale destacar que o impacto e a forma como as

    mudanas propostas em mbito nacional e internacio-

    nal atingem os museus so diferentes. Entretanto,

    possvel afirmar que alguns novos caminhos passaram

    a ser trilhados pela instituio museal, principalmentena relao com seus pblicos.

    Uma das mudanas mais notveis foi o crescimento

    do seu papel educacional. Muitas instituies comea-

    ram a contar com profissionais especficos para os cha-

    mados servios educativos. Com importncia sempre

    crescente, esses profissionais passam a reivindicar um

    papel mais efetivo na montagem das exposies, como

    forma de evitar problemas de comunicao que pos-

    sam ser contornados antes das montagens (HOOPER-

    GREENHILL, 1999b). Nossa aposta aqui que quantomais os profissionais dos setores educativos puderem

    se envolver com as diferentes dimenses do museu,

    melhor podero exercer a funo de tornar esta insti-

    tuio conhecida pela populao.

    Atualmente, cada vez maior a importncia dada

    mediao nesses locais. Se, por um lado, sabemos

    que uma exposio no deve ser entendida somente

    se mediada por uma pessoa, por outro, parece que a

    mediao humana a melhor forma de garantir que a

    mensagem proposta pelos idealizadores seja compre-

    endida (CAZELLI, 2003; MARANDINO, 2001; GRINDER eMCCOY, 1998). No entanto, no qualquer mediao

    que garante uma compreenso efetiva e uma experi-

    ncia prazerosa em uma visita ao museu. Aqueles que

    costumam visitar exposies certamente j vivencia-

    ram experincias positivas e negativas de mediao,

    ambas fornecendo material para reflexo sobre essa

    ao. Alm disso, cada vez maior a conscincia de

    que o mediador , de certa forma, a voz da institui-

    o, o elemento de ligao entre o museu e o pblico.

  • 8/11/2019 MARANDINO - Educao Em Museu - Mediacao Em Foco

    14/38

    Captulo 1.Educao, comunicao e museus 13

    informal, associando esse ltimo aos ambientes coti-

    dianos familiares, de trabalho, do clube etc.

    Mas por que os museus tm sido considerados lo-

    cais de educao no-formal, especialmente no Brasil?

    Para compreender melhor essa percepo, impor-

    tante salientarmos em qual contexto os termos aqui

    tratados emergiram. A educao no-formal tornou-separte do discurso internacional em polticas educacio-

    nais no final dos anos 1960 (SMITH, 1996). Naquela

    poca, esse tipo de educao focava as necessidades

    de grupos em desvantagens, tendo propsitos clara-

    mente definidos e flexibilidade de organizao e de

    mtodos. J o sistema de educao formal, principal-

    mente dos pases em desenvolvimento, apresentava

    lenta adaptao s mudanas socioeconmicas em

    curso, exigindo que diferentes setores da sociedade se

    articulassem para enfrentar as novas demandas sociais.

    Marco desse movimento o documento da UNESCO, de1972, Learning to be The Faure Report, que firmou

    metas quanto educao ao longo da vida (lifelong

    education) e sociedade de aprendizagem (learning

    society). Esse documento influenciou uma diviso j

    visvel do sistema educacional em trs categorias, des-

    critas por Combs, Prosser e Ahmed, em 1973 (apud

    SMITH, 1996), como:

    educao formal:sistema de educao hierarqui-

    camente estruturado e cronologicamente gradua-

    do, da escola primria universidade, incluindo osestudos acadmicos e as variedades de programas

    especializados e de instituies de treinamento tc-

    nico e profissional.

    educao no-formal: qualquer atividade organi-

    zada fora do sistema formal de educao, operando

    separadamente ou como parte de uma atividade

    mais ampla, que pretende servir a clientes previa-

    mente identificados como aprendizes e que possui

    objetivos de aprendizagem.

    educao informal:verdadeiro processo realizado

    ao longo da vida em que cada indivduo adquire ati-tudes, valores, procedimentos e conhecimentos da

    experincia cotidiana e das influncias educativas de

    seu meio na famlia, no trabalho, no lazer e nas

    diversas mdias de massa.

    Essa categorizao do sistema educacional bastante

    aceita tambm pelos pesquisadores e educadores bra-

    sileiros. Embora alguns autores, como Gaspar (1993),

    defendam o uso da distino educao formal/infor-

  • 8/11/2019 MARANDINO - Educao Em Museu - Mediacao Em Foco

    15/38

    Educao em museus: a mediao em foco14

    mal, muitos consideram tambm os ambientes cha-

    mados de no-formais. Chagas (1993), por exemplo,

    entende que a educao no-formal veiculada pelos

    museus, meios de comunicao e outras instituies

    com o propsito de ensinar cincia a um pblico hete-

    rogneo. Por outro lado, a educao informal ocorre

    de forma espontnea na vida cotidiana por meio deconversas e vivncias com familiares, amigos, colegas

    e interlocutores ocasionais.

    Gohn (1999) nos d uma outra perspectiva para

    essa discusso. Para ela, a concepo de educao

    mais ampla do que a de aprendizagem e se associa ao

    conceito de cultura. Desse modo, educao no-formal

    trata de um processo com vrias dimenses, relativas

    aprendizagem poltica dos direitos dos indivduos

    enquanto cidados; capacitao dos indivduos para o

    trabalho, por meio de aprendizagem de habilidades;

    aprendizagem e exerccio de prticas que habilitam osindivduos a se organizarem com objetivos voltados

    para a soluo de problemas coletivos; aprendizagem

    dos contedos da escolarizao formal, em formas e

    espaos diferenciados; e educao desenvolvida na e

    pela mdia, em especial a eletrnica.

    Essa autora destaca os vrios espaos nos quais se

    desenvolvem as atividades de educao no-formal,

    como as associaes de bairro, os sindicatos, as organi-

    zaes no-governamentais, os espaos culturais e as

    prprias escolas; ou seja, nos espaos interativos des-sas com a comunidade educativa. Para ela, entretanto,

    a educao no-formal no contempla experincias

    vivenciadas na famlia, no convvio com amigos, nos

    clubes, nos teatros, na leitura de jornais, nos livros etc,

    sendo estas categorizadas como educao informal, j

    que possuem carter espontneo e permanente.

    Enquanto concepes como essa contemplam o

    processo educativo, outras focam-se no processo de

    aprendizagem. Falk e Dierking (2002) cunharam a ex-

    presso free-choice learning (aprendizagem por li-

    vre escolha) como forma de enfrentar a confuso entreos termos formal, no-formal e informal. Para eles, a

    aprendizagem por livre escolha todo tipo de apren-

    dizagem que pode ocorrer fora da escola, especial-

    mente em museus, centros de cincias, organizaes

    comunitrias e nas mdias impressa e eletrnica (in-

    cluindo a internet). Na aprendizagem por livre escolha,

    o interesse e a inteno do aprendizado tm origem no

    indivduo, logo, no so impostas por elementos exter-

    nos, como ocorre na escola.

    Mas, independentemente dessas definies focarem

    na instituio ou no aprendiz, no processo de ensino

    ou no processo de aprendizagem, acabam tendo como

    parmetro de comparao a educao formal. Nesseaspecto, interessante a proposta de Rogers (2004),

    de que a educao no-formal e a informal, em conjun-

    to com a educao formal, devem ser vistas como um

    continuume no como categorias estanques.

    Se considerarmos os critrios que diferentes pes-

    quisadores e educadores utilizam para definir esses

    contextos (MARANDINO et al., 2004) e tendo em men-

    te a idia de continuum, de Rogers (2004), podera-

    mos imaginar a seguinte representao:

  • 8/11/2019 MARANDINO - Educao Em Museu - Mediacao Em Foco

    16/38

    Captulo 1.Educao, comunicao e museus 15

    Por meio desse continuum, podemos analisar nos-sas instituies, e as atividades que nela desenvolve-

    mos, de forma integrada ou separadamente. Podemos

    ainda realizar essa anlise pelo ponto de vista do apren-

    diz. Dessa forma, um museu, por exemplo, poderia ser

    nomeado como um espao de educao no-formal

    quando o pensamos como instituio, com um projeto

    de alguma forma estruturado e com um determinado

    contedo programtico. Mas, ao pensarmos sob o olhar

    do pblico, poderamos consider-lo como educao

    formal, quando alunos o visitam com uma atividade to-talmente estruturada por sua escola, buscando aprofun-

    damento em um determinado contedo conceitual (ou,

    como muitos professores dizem, tentando ver na pr-

    tica o que tm em teoria na sala de aula). E podemos,

    ainda sob o olhar do pblico, imagin-lo como educao

    informal, ao pensarmos em um visitante que procura

    um museu para se divertir em um final de semana com

    seus amigos ou familiares.

    Entender as caractersticas dos diversos contextos

    educativos e refletir sobre aproximaes e diferenas

    entre eles nos ajuda a aprimorar a nossa ao educa-tiva em museus.

    1.3. A dimenso educativa dos museus

    Os museus sofreram forte influncia das teorias edu-

    cacionais no mundo todo. Ao longo de sua existncia,

    a perspectiva educativa dos museus de cincias foi se

    modificando, sendo possvel identificar tendncias pe-

    daggicas prprias da educao nas aes desenvolvi-das por essas instituies. O trabalho de Cazelli et al.

    (2003) ajuda a compreender como essas tendncias

    foram sendo assumidas por esses museus ao longo de

    sua existncia. Para apresentar tais idias, os autores

    tomam por referncia o artigo de McManus (1992), o

    qual aborda historicamente as geraes de museus.

    Na primeira gerao dos museus (MCMANUS,1992),

    que teve incio no sculo XVII com os Gabinetes de

    Curiosidades, apresentava-se os objetos e as colees

    particulares de reis, de forma inicialmente desorgani-zada, sem critrios cientficos delimitados. No sculo

    XVIII, incio dos museus de histria natural, as colees

    comearam a se organizar e a serem utilizadas para

    estudos e pesquisas, apesar de seu objetivo ainda no

    ser o de educar o pblico em geral.

    O foco da segunda gerao dos museus (MCMANUS,

    1992), que surgiu nos sculos XIX e XX, esteve na cin-

    cia e na indstria. Nesse momento, nem a escola nem o

    museu enfatizavam a participao do pblico a partir da

    interatividade e da comunicao. Por isso, essas duas

    geraes de museus se aproximam do que foi chamadode pedagogia tradicional (CAZELLI et al., 2003).

    Ainda na segunda gerao de museus, iniciou-se

    uma tentativa de dilogo com o pblico. Para tornar

    mais claro o entendimento da cincia, surgem apara-

    tos interativos nos museus como proposta de serem

    uma nova maneira de comunicao com os visitantes,

    procurando, assim, manter o interesse do pblico. Este

    movimento deu origem, nos museus, aos aparatos inte-

    rativos com respostas programadas e interao limitada,

    Contextos Educacionais

    Formal No-formal Informal

    Propsitos:

    Organizao do conhecimento:

    Tempo:

    Estrutura:

    Controle:

    Intencionalidade:

    Geral, com certificao

    Padronizada, acadmica

    Longo prazo, contnuo, sequencial

    Altamente estruturada, currculodefinido, atividade determina

    perfil do aprendiz, baseada nainstituio, avaliativa

    Externo, hierrquico

    Centrada no educador

    Especfico, sem necessidadede certificao

    Individualizada, prtica

    Curto prazo, tempo parcial

    Flexvel, ausncia de currculo,aprendiz determina perfil daatividade, relacionada comunidade,no avaliativa

    Interno, democrtico

    Centrada no aprendiz

  • 8/11/2019 MARANDINO - Educao Em Museu - Mediacao Em Foco

    17/38

    Educao em museus: a mediao em foco16

    caractersticas do tecnicismo educacional, que surgiu nos

    anos 1960, dentro da pedagogia nova (Ibid.).

    A terceira gerao de museus de cincias (MCMANUS,

    1992), caracterstica da segunda metade do sculo XX,

    teve como tema os fenmenos e os conceitos cient-

    ficos, sendo marcada pela interatividade com os apa-

    ratos. A importncia dos museus de cincias passou aser informar a sociedade (CAZELLI et al., 2003). O foco

    desta terceira gerao foi o sujeito ativo no processo

    educativo no museu e a aposta no seu engajamento

    intelectual atravs de sua interao. De forma mais

    intensa, a partir da dcada de 1980, a concepo edu-

    cativa das exposies em museus de cincia recebeu

    aportes das teorias construtivistas, que enfatizavam o

    papel ativo do indivduo na construo de seu prprio

    aprendizado e afirmavam que a aprendizagem um

    processo dinmico que requer uma interao constante

    entre o indivduo e o ambiente (STUDART, 2000).Atualmente, a preocupao em tornar a exposio

    acessvel ao pblico enfatizada, de maneira que este

    pblico a compreenda, tornando-a significativa. preciso

    que o visitante seja ativo e engajado intelectualmente

    nas aes que realiza no museu e que as visitas promo-

    vam situaes de dilogo entre o pblico e deste com

    os mediadores. Para isso, os setores educativos dos mu-

    seus devem no s planejar bem suas atividades como

    conceb-las a partir de opes educacionais claras.

    Que tipo de concepo ou tendncia pedaggicaorienta as aes dos museus onde atuamos?

    A resposta a essa pergunta no simples e certa-

    mente a riqueza das atividades educativas desenvol-

    vidas pelos museus poderia ser entendida em vrias

    perspectivas pedaggicas, sejam elas liberais ou pro-

    gressistas (LIBNEO, 1994). Por outro lado, ter clareza

    sobre quais concepes embasam nossas prticas torna

    nosso trabalho mais relevante e aumenta as chances

    de sua eficcia. Algumas pesquisas j vm identifican-

    do essas concepes e vale a pena consult-las para

    melhor fundamentar a prtica pedaggica museal1.Ao definir os objetivos educativos da atividade, ao

    selecionar os contedos que sero enfatizados, ao pla-

    nejar as formas e estratgias usadas na visita e durante

    a mediao, ao definir os papis do mediador, do pblico,

    do professor ou dos demais participantes da ao e como

    se relacionam, estaremos fazendo opes que remetem

    a determinadas concepes pedaggicas. Do ponto de

    vista do planejamento das aes educativas nos museus,

    importante que os educadores, incluindo nesse grupo

    os mediadores, identifiquem os aspectos mencionados e

    faam opes conscientes sobre os modelos pedaggi-

    cos preponderantes em suas prticas.

    1.4. A dimenso comunicativados museus

    Durante as ltimas dcadas, as abordagens comuni-

    cacionais em museus vivenciaram uma mudana de

    paradigma, que teve por premissa assumir o pblico

    como ator central no processo de comunicao.

    Considera-se, hoje, que seria responsabilidade des-

    ses espaos produzir exposies e atividades que re-

    sultem de pesquisas sobre as suas audincias. Apesar

    destas reflexes no serem atuais (HOOPER-GREENHILL,1999a), em alguns museus as exposies so ainda

    planejadas e produzidas sem considerar o pblico que

    ir freqent-las.

    Essa viso est apoiada em um modelo tradicional

    de comunicao que, historicamente, dominou as pr-

    ticas de museus e cujo foco a transmisso de mensa-

    gens desde os profissionais at o pblico. Nessa pers-

    pectiva, os profissionais so responsveis pela seleo

    e recortes da informao a ser apresentada, enquanto

    que os visitantes so caracterizados como leigos, comoaqueles que no sabem (BETANCOURT, 2001).

    No mbito dos museus de cincias, essa aborda-

    gem poderia estar associada ao modelo de dficitde

    divulgao cientfica, utilizado durante muito tempo

    para explicar e promover relaes entre a cincia e a

    sociedade. O foco desse modelo, vigente ainda hoje,

    suprir (por meio de informaes) um dficitou va-

    zio de conhecimentos cientficos do pblico (LEWEINS-

    TEIN, 2003).

    Atividades como leituras de textos e cartazes que

    dem grande peso aos contedos ou visitas guiadasque privilegiem a apresentao extensiva de conceitos

    poderiam exemplificar esse processo passivo de trans-

    misso de informao.

    As crticas aos modelos de dficit e unidirecionais

    de comunicao criaram condies propcias para que

    outras abordagens fossem concebidas. Nesse proces-

    so, as experincias e informaes prvias do pblico

    comearam a ser consideradas como elementos chave

    para favorecer a compreenso de assuntos especficos.1. Ver, por exemplo, Ianelli (2007), Fahl (2003) e Cazelli et al. (2002).

  • 8/11/2019 MARANDINO - Educao Em Museu - Mediacao Em Foco

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    Captulo 1.Educao, comunicao e museus 17

    As tendncias atuais entendem a comunicao em

    museus como um processo cultural (HOOPER-GREE-

    NHILL, 1999a) que acontece no em uma nica via,

    mas em via dupla, dos especialistas at o pblico e do

    pblico at os especialistas. Nessa abordagem, o signi-

    ficado construdo por meio de um processo ativo de

    negociao de saberes e experincias, no qual todas aspartes trabalham em conjunto para produzir interpre-

    taes compartilhadas.

    Partindo de pressupostos dialgicos, esse modelo

    impe desafios ao ser levado prtica. possvel con-

    ceber uma exposio que contemple os saberes dos

    visitantes? vivel pensar em um trabalho conjunto

    entre profissionais, tcnicos, monitores e visitantes

    para o desenvolvimento de uma exposio ou de outro

    tipo de atividade proposta no museu?

    Para ser levada prtica, essa abordagem de co-

    municao prope a incorporao de estratgias departicipao e envolvimento do pblico que valorizem,

    justamente, o que o pblico sabe e que coloquem es-

    ses saberes no mesmo nvel que os dos especialistas,

    na perspectiva de possibilitar um dilogo entre eles.

    Alguns exemplos de iniciativas empreendidas com

    esta viso podem ser mencionados. Entre eles, exposi-

    es que contem com espaos para debates, conduzi-

    dos por monitores; exposies que apresentem diversas

    posturas sobre uma mesma temtica, com o intuito de

    que o visitante se posicione; oficinas que propiciem re-flexo e posturas crticas sobre um determinado assun-

    to apresentado na exposio etc.

    Tomando conscincia do desafio que implica aban-

    donar os predominantes modelos passivos de comuni-

    cao, seria possvel pensar na convivncia de aborda-

    gens passivas e participativas nos museus?

    Os pesquisadores Einsiedel & Einsiedel (2004)

    sugerem, para pensar os modelos de comunicao

    nos museus, a existncia de um continuum, uma

    linha imaginria com dois extremos, um passivo e

    um participativo. Ao longo dessa linha possvel lo-calizar diferentes tipos de prticas, no excludentes,

    que podem tender mais para um extremo que para o

    outro. As leituras, por exemplo, se encontrariam no

    extremo mais passivo desse continuum; atividades

    como expedies, viagens e fruns incluiriam maior

    envolvimento do pblico. Por fim, atividades como as

    conferncias de consenso2, desenvolvidas hoje em al-

    guns museus de cincia, se encontrariam no extremo

    mais participativo.

    A convivncia entre atividades passivas e participa-

    tivas remete necessidade de disponibilizar, para o p-

    blico, informaes e contedos e tambm espaos de

    encontro e dilogo, de forma que diferentes posturas e

    vises de mundo tenham voz e possam ser legitimadas. imprescindvel que os educadores dos museus

    tenham clareza sobre quais modelos de comunicao

    utilizam em suas aes e em quais desejam pautar

    seu trabalho.

    2. As conferncias de consenso so realizadas hoje em museus de ci-ncias em pases como Inglaterra, Canad, Estados Unidos, Alemanhae Holanda. Nessas prticas, o museu se transforma em um espao deencontro e discusso entre especialistas e no-especialistas ao redorde temas controversos e atuais de cincia e tecnologia.

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    Nesse captulo sero aprofundados aspectos da educaoem museus, destacando o papel do mediador nas diferen-tes aes desenvolvidas e nas possveis reflexes e ava-liaes nas quais esse profissional deve estar envolvido.

    Captulo 2.

    A mediao em foco

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    Educao em museus: a mediao em foco20

    2.1. Aspectos da pedagogia museal

    Como referido no captulo anterior, a educao em mu-

    seus implica processos especficos. Tais particularida-

    des se referem a elementos como o lugar, o tempoe a

    importncia dos objetos(VAN-PRAET e POUCET, 1992).

    Outro elemento tambm importante diz respeito lin-guagem, forma com que textos, imagens e objetos

    so apresentados nas exposies.

    O tempo, no museu, breve. Ele essencial para

    as estratgias de comunicao, j que devemos levar

    em conta que a visita poder ser a nica na vida do

    indivduo ou do grupo. Dessa forma, o tempo gasto

    frente a um aparato, painel ou objeto numa exposio

    determinado tanto pela concepo da mesma como

    pelo trabalho do mediador.

    O espao fsico em um museu tambm determina

    a forma com que a visita realizada. Como trata-se,em geral, de um trajeto aberto, o visitante deve ser

    cativado pela exposio durante seu percurso. Nesse

    sentido, importante haver preparao dos media-

    dores, dos dispositivos de recepo e de organizao

    do tempo no museu para evitar o possvel cansao

    comum nessas experincias. Uma exposio no deve

    ser compreendida como uma sucesso de temas inde-

    pendentes e sua apropriao implica diretamente na

    forma com que pensado seu percurso.

    Os objetos so elementos centrais e a alma dosmuseus, sendo tambm fonte de contemplao e in-

    teratividade. Assim, nas aes educativas dos museus

    essencial favorecer o acesso aos seus objetos, dan-

    do-lhes sentido e promovendo leituras sobre eles. Por

    meio dos objetos o visitante pode se sensibilizar e se

    apropriar dos conhecimentos expostos, assim como

    compreender os aspectos sociais, histricos, tcnicos,

    artsticos e cientficos envolvidos. Tais conhecimentos

    podem ser usados tanto para uma anlise pessoal,

    quanto para discutir com os outros visitantes, com os

    animadores, com os professores, etc.Em uma exposio de museu, as informaes que

    aparecem na forma de textos, imagens, aparatos in-

    terativos, objetos contemplativos, entre outros, tm a

    funo de cativar o pblico, ensinar e divulgar conhe-

    cimentos. Estas informaes recebem um tratamento

    especfico para torn-las acessveis e fazerem sentido

    para os variados pblicos que visitam os museus. pos-

    svel perceber que o conhecimento cientfico passa por

    vrias transformaes (transposio museogrfica) para

    se tornar o conhecimento exposto. O discurso expositivo

    fruto de adaptaes e transformaes de vrios outros

    discursos cientfico, educacional, comunicacional, mu-

    seolgico, entre outros determinadas pelas finalidades

    e objetivos da exposio e tambm pelas especificida-

    des de tempo, espao e objetos nos museus, que, por

    sua vez, configuram certa linguagem especfica de co-municao com o pblico (SIMMONEUX, JACOBI, 1997).

    Durante as aes de mediao fundamental a

    ateno aos aspectos mencionados sobre as caracte-

    rsticas da pedagogia museal. O mediador deve, ao

    planejar suas aes e ao realizar a mediao com o

    pblico, considerar que este no deve ser exposto a

    longos perodos de exposio oral, no deve ser sub-

    metido leitura de textos imensos, mas deve, sim,

    saber se localizar, se sentir vontade para interagir,

    podendo dialogar com seus pares e com o mediador.

    Estes e outros elementos so decorrentes da especifici-dade que esses locais imprimem para aes educativas

    neles realizadas.

    Uma forma de compreender o papel da media-

    o na abordagem aqui apresentada o mediador se

    perceber enquanto um decodificadordas informaes

    contidas na exposio. Na mediao entre o conheci-

    mento exposto e o pblico, o saber apresentado sofre

    transformaes com objetivo de se tornar compreens-

    vel ao pblico (ALLARD et al.,1996). Para isso, o media-

    dor deve obter informaes sobre o visitante, buscandoestabelecer pontes entre os conhecimentos que trazem

    conceitos, vivncias, idias e aqueles apresentados

    nesses locais. Elaborar estratgias eficazes e estimulan-

    tes, que articulem processos educativos e comunicati-

    vos adequados e os objetivos esperados nas aes que

    participam, um momento de criao e de produo

    de conhecimento prprio dos mediadores.

  • 8/11/2019 MARANDINO - Educao Em Museu - Mediacao Em Foco

    22/38

    21Captulo 2.A mediao em foco

    Esse processo deve acontecer com base nas concep-

    es e orientaes do setor educativo da instituio.

    Com a responsabilidade de formar os mediadores, esse

    setor deve coloc-los em contato no s com os concei-

    tos cientficos presentes na exposio, como tambm

    com os aspectos gerais da educao e da comunica-

    o em museus, para que estes possam ser elementosorientadores da sua prtica profissional.

    2.2. A aprendizagem em museus e osprocessos de mediao

    O que se espera ao final de uma visita a um museu?

    Quando formulamos essa questo, tomando como

    referncia os temas at aqui discutidos, surgem vrias

    reflexes. Qual a satisfao do pblico em relao ao

    entretenimento, s interaes estabelecidas entre osvisitantes, aos elementos envolvidos na exposio (o

    tempo disponvel para desfrut-la, os objetos expostos,

    o espao fsico, os mediadores e o seu discurso)? Tais

    reflexes encontram-se imersas na visita ao museu e

    esto associadas heterogeneidade de seus pblicos.

    Uma visita a um museu pode ser mais do que diver-

    timento, no s por estimular o aprendizado e a obser-

    vao, mas por promover o exerccio da cidadania indis-

    tintamente, tanto atravs de suas atividades educativas,

    como por estimular a participao dos mais diversosgrupos de pessoas dos vrios nveis socioeconmicos.

    Existem pesquisas que se preocupam com a in-

    fluncia da visita e o modo como ela conduzida e

    como ocorre a apreenso de conhecimento de seus

    visitantes, assim como existem alguns trabalhos que

    sintetizam os resultados destas pesquisas (MARANDI-

    NO, 2006; CAZELLI et al., 2003; STUDART et al., 2003).

    Alguns desses trabalhos tm mostrado como a orga-

    nizao da visita e o tipo de informao comunicada

    ao pblico podem determinar maior ganho cognitivo,

    levando as pessoas a desfrutarem e aprenderem maisfacilmente. Como, por exemplo, numa visita predomi-

    nantemente de pblico infantil, as informaes centra-

    das nos interesses da criana(como alguns aspectos

    prticos da visita: o que ser mostrado, o que e onde

    comer, localizao dos sanitrios e bebedouros, etc.)

    podem deix-las muito mais relaxadas para voltarem

    sua ateno exposio e aos seus mediadores (FALK

    e BALLING, 1982).

    O entendimento do que aprendizagem tem se

    apoiado em diferentes reas do conhecimento, pas-

    sando por referenciais educacionais ou oriundos dapsicologia. Entre os principais fatores apontados como

    facilitadores deste processo esto as relaes pesso-

    ais estabelecidas na famlia, na escola e nos diferentes

    grupos nos quais os sujeitos esto inseridos (FALK e

    DIERKING, 2000; FALK e STORKSDIECK, 2005). Somado

    a estes, tambm observamos que os diferentes tipos

    de mediao (comunicao via mediadores ou placas)

    e contexto (social, histrico e cultural) presentes no co-

    tidiano do visitante tm grande influncia nas escolhas

    pessoais e, conseqentemente, no sucesso do processode ensino-aprendizagem em museus.

    Nessa perspectiva, a aprendizagem pode ocorrer

    num dilogo constante entre o indivduo e o ambiente

    e, para compreend-la, necessrio considerar o con-

  • 8/11/2019 MARANDINO - Educao Em Museu - Mediacao Em Foco

    23/38

    Educao em museus: a mediao em foco22

    texto no qual transcorre uma visita. Devemos conside-

    rar o contexto fsico, o qual envolve a exposio e seus

    elementos, incluindo os objetos da exibio, o prdio

    da exposio, e todo o ambiente onde h interao;

    o contexto pessoal, abrangendo todas as motivaes,

    expectativas, experincias, conhecimento e interesses

    prvios, valores dos visitantes e o controle e a escolhado caminho da sua aprendizagem; e tambm o con-

    texto sociocultural, que envolve todas as formas de

    mediao que o indivduo estabelece durante a visita

    (FALK e DIERKING, 1992; FALK e STORSDIEK, 2005).

    As especificidades que cada pblico visitante apre-

    senta podem nortear a compreenso de como os in-

    divduos aprendem nos museus e levar a aes mais

    ou menos direcionadas a contedos especficos, in-

    terveno de mediadores e a uma poltica associada

    educao nos espaos museais.

    No intuito de atingir a diversidade de pblicos, semperder a qualidade da informao, os museus tm inves-

    tido cada vez mais na formao de mediadores capazes

    de explorar no s o contedo especfico, mas a forma

    como eles so trabalhados: via boa comunicao visual,

    seja interativa ou apenas contemplativa, ou por meio da

    medio humana, descontrada e democrtica.

    Deste modo, os diferentes conceitos circulantes nos

    museus, trabalhados tanto pelos seus visitantes como

    por seus mediadores, so relevantes. O que se almeja ao

    final da visita no especialmente a quantidade do quefoi aprendido sobre a exposio, mas sim a qualidade

    das interaes humanas estabelecidas. Essas interaes

    so expressas por meio das falas dos sujeitos envolvidos

    e podem evidenciar como o aprendizado se processou

    durante a atividade (ALLEN, 2002; GARCIA, 2006).

    Para nos lanarmos frente das relaes entre me-

    diao e aprendizagem necessrio abrirmos um espa-

    o para esclarecer e problematizar o que comumente

    chamado de interatividadenos museus (CAZELLI et al.,

    2003; FALCO et al., 2003). Em se tratando especifica-mente de museus de cincias, houve um movimento

    histrico muito forte que se contraps forma contem-

    plativa de participao do pblico, na qual os objetos

    no podiam ser manipulados pelos visitantes. A partir

    de ento, exposies e centros de cincias foram cria-

    dos com a ntida vocao de serem espaos nos quais

    as pessoas pudessem aprender fazendo, explorando

    objetos e aparatos que tratavam de conceitos cientfi-

    cos e que pudessem ser manipulados.

    Esse movimento, forte nos anos de 1980 a 1990 e

    presente at os dias atuais, fez surgir inmeros locaisque tratavam essa prerrogativa como principal foco. A

    interatividadefoi um vis assumidamente influencia-

    do pelos movimentos pedaggicos que apostavam nas

    teorias construtivistas, tanto nas escolas como nos mu-

    seus de cincias. Contudo, com a ampliao das inves-

    tigaes no campo da aprendizagem, a interatividade

    fsica isolada de outros tipos de vivncia comeou a

    ser questionada. A idia de que modelos interativos

    nas exposies no garantem necessariamente uma

    compreenso dos conceitos cientficos se fortaleceu,ou seja, a manipulao de aparatos ou objetos no

    garantia de envolvimento intelectual.

    Pensando nos museus e suas exposies, quais as

    interaes possveis de ocorrer em uma visita, conside-

    rando todos os elementos que a compe?

    Uma resposta possvel pauta-se na categorizao

    dos tipos de interatividade: 1) hands-on: que considera

    o toque e a manipulao fsica como a principal forma

    de interao; 2) minds-on: quando h engajamento in-

    telectual e quando idias e pensamentos do visitante

    podem se modificar durante ou depois da visita, sus-citando questionamentos e dvidas e 3) hearts-on:

    quando h estmulo emocional, j que a idia atingir

    a sensibilidade do visitante (WAGENSBERG, 1998). As

    exposies podem privilegiar apenas um desses aspec-

    tos, mas desejvel a presena das trs possibilidades,

    mesmo que trabalhadas em intensidades diferentes.

    As estratgias de relacionamento dos mediadores

    com o grupo devem incentivar a participao ativa. De

    maneira geral, existem trs tipos de visitao possvel:

  • 8/11/2019 MARANDINO - Educao Em Museu - Mediacao Em Foco

    24/38

    23Captulo 2.A mediao em foco

    a visita-palestra, a discusso dirigidae a visita-desco-

    berta(GRINDER e MCCOY, 1998). Na primeira delas, a

    visita-palestra, ocorre o aprofundamento de um tema

    da exposio por um especialista ou educador. Esse tipo

    de visita tem baixo nvel interacional, atraindo o pblico

    adulto especificamente interessado no tema abordado.

    Na discusso dirigida, a mediao se faz por meiode questionamentos, de forma a proporcionar o en-

    tendimento de aspectos comunicacionais pertinentes

    quela exposio. Para elaborar esses questionamentos

    e fomentar o debate, o educador estrutura um roteiro

    lgico, cujos objetivos educacionais foram previamente

    definidos e que deve ser adaptado para cada grupo re-

    cebido. O nvel de interao bastante alto nesse tipo

    de mediao, j que, para funcionar, pressupe-se in-

    tensa participao do pblico.

    Na visita-descoberta, atividades ou jogos so pro-

    postos dentro do espao expositivo. Ela possibilita adescoberta de novos elementos e olhares para um de-

    terminado contedo exposto. o tipo de visita mais

    interativa, pois depende quase que exclusivamente do

    visitante para ser realizada.

    Na maior parte das vezes, as visitas guiadas utili-

    zam a estratgia de exposio: o pblico escuta o que o

    mediador expe. Esse tipo de visita faz com que os vi-

    sitantes situados mais prximos ao mediador consigam

    ver o objeto e escut-lo, enquanto os mais distantes

    pouco enxergam ou escutam. Esse tipo de organizaono estimula a participao e o questionamento por

    parte dos visitantes. Restringir os momentos de expo-

    sio , portanto, uma necessidade nas visitas guiadas.

    interessante, por exemplo, fazer o pblico sentar-se

    em frente ao local no qual se quer trabalhar, se isso for

    vivel. Assim, todos podero ver os objetos expostos

    e o mediador poder propor questionamentos diretos

    sobre o que est sendo observado. Essa estratgia es-

    timula a fala do visitante ao mesmo tempo em que

    confere importncia a ela.

    interessante que as modalidades de visita indica-das sejam trabalhadas de forma combinada, conseguin-

    do, assim, mltiplos nveis de interao. Na verdade, o

    mais interessante valorizar, nas exposies e na me-

    diao, aquele tipo de interao que promove o dilogo

    e a fala dos visitantes. As investigaes no campo da

    aprendizagem indicam o quanto importante nesse

    processo a verbalizao de idias, conceitos, dvidas e

    inquietaes. exatamente no processo de troca entre

    os visitantes e entre eles e os mediadores que a com-

    preenso dos contedos e dos objetos expostos pode

    acontecer (ALLEN, 2002; GARCIA, 2006; SPIRAS, 2006).

    Nessa perspectiva, o papel dos mediadores no

    pode se restringir apenas em apresentar o que est

    exposto, o que visto e compartilhado. Considerando a

    extenso da instituio museal por meio de seu discur-

    so, esse profissional deve se valer da sua abordagempessoal para reformular contedos acessveis a todos

    os freqentadores de museus (GARCIA, 2006). Esse

    processo deve ser feito de modo a garantir a correo

    conceitual, mas, ao mesmo tempo, promover a apro-

    ximao das idias expostas pelo pblico, levando-o a

    refletir, a perguntar, a duvidar e a querer buscar mais e

    novas informaes sobre o tema abordado.

    Contudo, nem s de falas se faz uma mediao; h

    que se prestar ateno no outro, se instigar a curiosi-

    dade, se estabelecer o contato e facilitar a democra-

    tizao do conhecimento produzido nos museus, sejapor meio de conversas, seja atravs de atividades utili-

    zadas para atingir o corao e a mente de quem entra

    em um museu por um dia.

  • 8/11/2019 MARANDINO - Educao Em Museu - Mediacao Em Foco

    25/38

    Educao em museus: a mediao em foco24

    2.3. Pblico em museus

    Como destacado nas sees anteriores, um dos princi-

    pais papis do mediador dentro do museu a aproxi-

    mao entre o conhecimento exposto e o pblico. Da

    mesma forma que importante que o mediador conhe-

    a a fundo seu objeto de mediao ou seja, a exposi-o e suas potencialidades , importante que conhea

    tambm o pblico, ou melhor, os pblicos do museu.

    Cabe, aqui, se fazer a diferenciao dos pblicos fre-

    qentadores dos museus e espaos culturais. Ao utili-

    zarmos a palavrapblicono singular como se estivs-

    semos homogeneizando um grupo de indivduos que

    no necessariamente pertencem a um mesmo grupo

    (STUDART et al., 2003). Neste caso, seria mais adequado

    falarmos em termos depblicos, ou seja, consideramos

    que existem diferentes tipos de pblico que se tornam

    um grupo apenas se possurem caractersticas que osagrupem de alguma maneira, como, por exemplo, p-

    blico familiar, pblico escolar, entre tantos outros.

    Neste contexto, vale caracterizar brevemente o que

    seriam alguns tipos de pblico e, com isso, trazer as

    reflexes para diferentes abordagens de mediao, es-

    tratgias de discurso, etc.

    Pblicos escolares: estudantes e professores

    Os servios educativos das instituies culturais brasi-

    leiras e estrangeiras tm como um de seus principaispblicos habituais as escolas. Essa instituio, por suas

    caractersticas estruturais, tem nas atividades culturais

    extra-classe uma demanda constante. As aes deli-

    neadas para essa tipologia de pblico pressupem o

    trabalho em parceria, respeitando as especificidades

    educacionais de ambas instituies o museu e as es-

    colas. Esse pblico ser tratado em maior profundidade

    no item 2.4. Relao museu-escola.

    Famlias

    Os grupos familiares tm composio variada e freqn-cia ainda pouco constante nos ambientes culturais. Con-

    tudo, em vrios pases as famlias vm se constituindo

    como um grupo homogneo de freqentadores de mu-

    seus. Vrias pesquisas esto sendo feitas especialmen-

    te com esse pblico a ponto de caracterizar uma matriz

    de estudos de pblico em museus (ELLENBOGEN et al.,

    2004). Essas pesquisas traam um interessante perfil

    desses visitantes, com relao ao que esperam, ao que

    fazem e ao que aprendem nesses espaos. Alm disso,

    importante prever o potencial multiplicador das ou-

    tras categorias de pblico, como os grupos organizados

    (escolares e terceira idade) em trazer seus familiares

    ao espao j visitado.

    Pblico especializado

    Formado por artistas, crticos, cientistas, acadmicos eestudantes de graduao, esse pblico compe grande

    parte dos visitantes de espaos culturais e museus por

    todo pas. As aes para esse pblico podem incluir

    seminrios, oficinas e debates com organizadores e

    curadores das exposies.

    Grupos organizados de terceira idade

    Os grupos de terceira idade so, cada vez mais, freqen-

    tadores de espaos culturais. Seus objetivos vo do lazer

    e convivncia social ao aprendizado de novos conceitos e

    prticas. Acredita-se que as exposies podem recepcio-nar esse pblico por meio de uma ao educacional es-

    pecfica, que leve em considerao suas necessidades.

    Portadores de necessidades especiais

    A incluso desse pblico um dos novos desafios que se

    colocam para as instituies culturais. Suas necessidades

    exigem a confeco de estruturas expositivas adapta-

    das e materiais de apoio especficos para cada tipologia.

    Alm disso, os mediadores devem receber formao

    que os capacite para o atendimento desse pblico.

    Grupos oriundos de ONG, associaes, sindicatos

    e clubes diversos

    Esses grupos podem ter composies e caractersticas

    singulares. Muitas instituies culturais tm, portanto,

    buscado atender essa demanda, por meio de aes

    conjuntas que equalizem os objetivos de ambas orga-

    nizaes. Com a estruturao de seu programa de aes

    educacionais, as instituies podem empreender aes

    especficas para essa tipologia de visitante.

    2.4. Relao museu-escola

    Um dos pblicos mais significativos nas visitas aos mu-

    seus, em todo o mundo, o escolar, seja pela quanti-

    dade, seja pelas aes organizadas para atend-lo. No

    Brasil, pesquisas mostram que, na maioria das vezes,

    somente por meio da escola que crianas e jovens das

    classes em desvantagens econmicas visitam as ins-

  • 8/11/2019 MARANDINO - Educao Em Museu - Mediacao Em Foco

    26/38

    25

    tituies culturais (CAZELLI, 2005). Essas so algumas

    das razes pelas quais estamos dando destaque a esse

    pblico nesse material.

    Entre museus e escolas existem mltiplas formas de

    cooperao e de interao. Para compreend-las neces-

    sria uma anlise mais aprofundada acerca dos objetivos

    das instituies envolvidas. Estabelecer uma parceriaentre museus e escolas, portanto, passa pela sistema-

    tizao dos objetivos e pela explicitao das bases que

    determinam as aes especficas de cada uma dessas

    instituies (JACOBI e COPPEY, 1996; MARTINS, 2006).

    A formao dos educadores envolvidos nesse pro-

    cesso passo fundamental para o estabelecimento

    dessa parceria, tanto no que se refere s suas prticas

    especficas, como tambm ao balizamento das expec-

    tativas desses parceiros. Desse modo, necessria a

    formao dos professores, oriundos das escolas, nas

    linguagens e prticas especficas do espao museal,tanto quanto dos educadores de museus acerca dos

    objetivos e necessidades das escolas ao visitarem o

    espao museal. No se trata de subordinao de um

    ao outro, mas da possibilidade da interao pedaggi-

    ca entre ambas instituies que respeite as misses e

    exigncias particulares de cada uma.

    Espera-se, do desenvolvimento da parceria entre

    museus e escolas, a possibilidade dos alunos estabele-

    cerem atitude positiva e prtica autnoma de visita a

    museus. Para isso, os professores devem ter participa-o efetiva na estruturao do processo pedaggico da

    visita, que parta de uma negociao com a equipe de

    educadores do museu e que passe pela explicitao e

    concordncia a partir de objetivos mtuos. Nesse pro-

    cesso, importante a percepo das caractersticas di-

    ferenciadas entre as duas instituies (KPTKE, 2003).

    Conhecer o outro e aprender a dialogar, mediando as

    diferenas, so alguns dos caminhos pelos quais pas-

    sam o sucesso dessa parceria educativa.

    Para a construo dessa parceria existem alguns

    modelos didticos que trabalham as diferenas entremuseus e escolas, possibilitando ambas instituies

    dotarem de uma base cientfica para suas aes. Esse

    o caso do modelo proposto por Allard e Boucher

    (1991), que explica as diferenas e negocia os confli-

    tos a partir da estruturao de um mtodo de trabalho

    comum. Esse modelo dividido em trs fases: diag-

    nstico, execuo e avaliao. Em todas essas fases, as

    equipes pedaggicas do museu e da escola trabalham

    em conjunto na construo de objetivos e estratgias

    Captulo 2.A mediao em foco

    de interao que permitam a elaborao de um plano

    de trabalho comum.

    Nos deteremos aqui na fase da execuo, que tambm a da realizao do programa educacional pro-

    priamente dito, a qual dividida em trs momentos:

    antes, durante e depois da visita ao museu.

    Antes da visita so feitas as atividades de prepara-

    o. Elas serviro para motivar o aluno visita, favo-

    recendo o domnio dos conhecimentos escolares sobre

    o tema que ser abordado, e para desenvolver as fer-

    ramentas necessrias interpretao e compreenso

    do museu. Dessa forma, na atividade de preparao os

    alunos investigaro o tema da visita. A partir de ques-tionamentos dirigidos, eles devero coletar o maior

    nmero de dados possvel sobre o assunto escolhido.

    O objetivo da proposta despertar sua curiosidade e

    interesse sobre o assunto da visita, motivando-os a se

    engajarem em uma investigao cuja resposta s se

    completar no prprio museu.

    No momento da preparao tambm importante

    trabalhar aspectos tcnicos, como a definio de mu-

    seu, para que serve essa instituio e quais as carac-

    tersticas da instituio a ser visitada. Os professores

    devem, nessa etapa, deterem informaes organiza-cionais, como: a descrio, o horrio das atividades e a

    organizao material do museu, de forma a responder

    a questionamentos e dvidas dos alunos.

    Depois dessa preparao, realiza-se a visita pro-

    priamente dita. Esse o pice de todo o processo. Para

    sua boa organizao e aproveitamento pedaggico,

    alguns princpios gerais devem ser considerados. A vi-

    sita inicia-se com a acolhida do grupo. A forma como

    organizado e realizado esse momento ter impacto so-

  • 8/11/2019 MARANDINO - Educao Em Museu - Mediacao Em Foco

    27/38

    Educao em museus: a mediao em foco26

    bre o comportamento dos alunos durante toda a visita.Esse o momento das boas-vindas e da apresentao

    do educador e/ou mediador do museu, que fornecer

    uma srie de informaes: o que ir acontecer durante

    as visitas, como sero feitos os deslocamentos, quais

    as regras de comportamento esperadas, qual o papel

    que ele e os alunos desempenharo durante as ativi-

    dades e quais contedos sero abordados.

    Dando continuidade atividade de investigao

    proposta em sala de aula, deve-se entender a visita

    como um momento de coleta de informaes. Dessa

    forma, ela no deve ser sobrecarregada de contedos.Pelo contrrio, necessrio selecionar o que deve ser

    visto, tendo em vista o programa escolar estabelecido,

    por um lado, e as colees do museu, por outro.

    As atividades propostas devem ter aspecto ldi-

    co e divertido. Os jogos educativos so importantes,

    por fazerem parte do universo infantil e, ao mesmo

    tempo, conseguirem desenvolver diversos aspectos

    da personalidade das crianas. Dessa forma, im-

    portante ter em conta a diverso dos alunos durante

    a visita. Tambm necessrio prever momentos derelaxamento durante as visitas guiadas, nos quais os

    alunos possam circular livremente pela exposio, se

    apropriando eles mesmos dos contedos expressos, e

    do museu como um todo, ou para que possam des-

    cansar ou se descontrair.

    Um aspecto crucial da visita que todas as ativi-

    dades previstas devem ser especficas de museus. A

    observao de objetos, o estmulo curiosidade sob

    ngulos diversos e o toque nos objetos, quando poss-

    vel, devem ser estratgias recorrentes dentro de uma

    prtica pedaggica no museu. sempre importanteconsiderar que no existe necessidade de sair da es-

    cola para fazer uma atividade que poderia ser melhor

    desenvolvida dentro de sala de aula. Nas visitas aos

    museus podem ser visados objetivos pedaggicos

    diversificados, com o estmulo aos aspectos afetivos

    e psico-motores, relacionados ao aprendizado de ati-

    tudes, conceitos ou habilidades. Mais do que a me-

    morizao de fatos, a visita ao museu deve ser um

    momento de aprendizagens diferenciadas.

    Aps a realizao da visita os alunos devero proce-der anlise a sntese dos dados coletados. Na an-

    lise, eles devero organizar os dados, comparando os

    anteriormente obtidos com aqueles adquiridos durante

    a visita, no intuito de responder aos questionamentos

    propostos. Na sntese, os dados sero integrados em

    um todo coerente que apresentar as respostas aos

    questionamentos prvios. Inserindo os dados coletados

    no museu dentro do processo de formao dos alunos,

    a visita perde seu carter isolado e episdico, passando

    a integrar as atividades escolares em um todo contnuoe permanente de aprendizagem.

    A busca de um denominador comum entre museus

    e escolas o objetivo da parceria entre essas institui-

    es (MARTINS, 2006). Essa relao, entretanto, no

    imune aos conflitos e diferenas. Tanto escolas como

    museus partem de concepes e mtodos de trabalho

    fundados sob perspectivas distintas e justamente o

    dilogo entre essas duas partes que promover uma

    relao de parceria entre elas.

    2.5. A importncia da avaliaoem museus

    A avaliao, prtica j consolidada nos grandes mu-

    seus do mundo, fundamental para o aprimoramento

    permanente, tanto dos produtos desenvolvidos quanto

    dos processos de comunicao e educao. Como le-

    vantamento sistemtico de informaes teis toma-

    da de deciso, os processos de avaliao permitem no

  • 8/11/2019 MARANDINO - Educao Em Museu - Mediacao Em Foco

    28/38

    27

    apenas medir a adequao das aes da instituio aos

    objetivos, como tambm conhecer qual a leitura e ex-

    perincia do pblico.

    Essas prticas podem ser classificadas conforme seus

    objetivos, seus paradigmas de referncia ou seu foco de

    interesse. Existem inmeras classificaes. Apresenta-

    remos algumas referentes avaliao de exposies,para propiciarmos uma viso panormica do assunto.

    OAudience Research Center, doAustralian Museum,

    disponibiliza em seusite3um material bem sucinto no

    qual apresenta o que entendem por um processo com-

    pleto de avaliao de exposio. Esse processo prev

    quatro fases: Avaliao Preliminar (Front-End Evalu-

    ation), Avaliao Formativa (Formative Evaluation),

    Avaliao Corretiva (Remedial Evaluation) e Avaliao

    Somativa (Summative Evaluation).

    De acordo com essa categorizao, a Avaliao Pre-

    liminar desenvolvida durante a concepo de umaexposio, para identificar o interesse e os conheci-

    mentos prvios do pblico-alvo sobre o assunto. Esse

    tipo de avaliao costuma ser usado para determinar

    os temas, os pblicos, os objetivos, as mensagens e

    as estratgias interpretativas e tambm os melhores

    recursos expogrficos. A Avaliao Formativa acontece

    durante o desenvolvimento e a produo da exposi-

    o para testar componentes, como legendas, textos e

    aparatos interativos. A Avaliao Formativa importan-

    te pois possibilita que alguns acertos sejam feitos antesda elaborao do produto final. A Avaliao Corretiva

    conduzida logo aps a inaugurao da exposio para

    verificar como o conjunto dos elementos se integra,

    para propor melhorias e sugestes prticas. Costuma

    ser mais focada para elementos arquitetnicos como

    iluminao, circulao de pessoas, entradas e sadas,

    mas pode englobar outros elementos de carter prti-

    co. A Avaliao Somativa acontece quando a exposio

    j est montada e funcionando e utilizada para avaliar

    seus resultados. Podemos chamar esses resultados de

    impactos: se a exposio transmitiu a mensagem pre-tendida; se ocorreu aprendizado; a satisfao do pbli-

    co; a eficincia das estratgias de marketing, etc.

    Embora a nomenclatura destas diferentes fases seja

    recorrente nesse meio, podemos encontrar variaes

    em suas definies. Cury (2005) apresenta algumas va-

    riaes, propostas por diferentes autores, e acaba por

    Captulo 2.A mediao em foco

    3. acessado em outubro de 2007.

    definir uma categorizao-sntese. As primeiras quatro

    fases so bem similares s propostas pelo Audience

    Research Center, mas a autora acrescenta outras duas

    que valem ser descritas aqui. A quinta fase seria a da

    Avaliao Tcnica ou Apreciao Crtica, que seria reali-

    zada pela equipe responsvel pelo designda exposio.

    Nela, levanta-se questes tcnicas no satisfatrias, soavaliados o projeto e o desenho do espao expositivo.

    A avaliao tcnica ou apreciao crtica colabora para o

    aprimoramento da equipe e pode ser entendida como

    exerccio de autocrtica. A sexta fase seria a Avaliao do

    Processo, tambm promovida pela equipe, mas, nesse

    caso, pela equipe de concepo e/ou execuo, e visa

    o refinamento das metodologias e tcnicas de trabalho

    e de planejamento.

    Inmeros recursos podem ser utilizados para a co-

    leta de dados em um processo de avaliao: filmagens

    de grupos, entrevistas individuais com o pblico ao finalda visita, questionrios annimos, grupos focais, entre-

    vistas com membros da prpria equipe, observao da

    exposio e de grupos, entre outros. As tcnicas de co-

    leta vo ser escolhidas, principalmente, de acordo com

    os objetivos da avaliao. Por exemplo, para avaliaes

    de carter mais tcnico, talvez a melhor maneira de

    acessar as informaes seja realizando entrevistas com

    membros da prpria equipe. Para avaliar a capacidade

    comunicativa de determinado objeto expositivo, gra-

    var conversas entre os visitantes perto do elemento uma maneira adequada de obter informaes. Alm

    dos objetivos, os recursos disponveis tambm inter-

    ferem na determinao da tcnica de coleta. Existem

    avaliaes desenvolvidas com oramentos altssimos,

    utilizando tcnicas e equipamentos sofisticados, mas

    tambm possvel realizar avaliaes com poucos re-

    cursos, restringindo-se, por exemplo, ao preenchimen-

    to de questionrios.

    As avaliaes podem ser terceirizadas e desen-

    volvidas por consultores externos, sejam empresas

    ou pesquisadores, ou podem ser desenvolvidas pelaprpria equipe da instituio. Assim como as tcnicas

    de coleta, essa escolha vai depender tanto dos ob-

    jetivos da avaliao quanto dos recursos disponveis

    na instituio.

    Os mediadores, como membros da equipe edu-

    cativa dos museus, podem fazer parte dos processos

    avaliativos que ocorrem na instituio. O envolvimento

    desses profissionais nesses processos pode se dar de

    pelo menos duas maneiras: como pesquisadores-edu-

  • 8/11/2019 MARANDINO - Educao Em Museu - Mediacao Em Foco

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    Educao em museus: a mediao em foco28

    Nesse sentido, o questionamento constante deve

    fazer parte do dia-a-dia do mediador. De perguntas

    mais gerais, tais como: Por que eu trabalho como me-

    diador? Qual a minha funo neste museu? Qual a fun-

    o do lugar no qual trabalho? Qual foi o meu percurso

    at aqui? At questes que remetem diretamente

    prtica: Por que eu escolhi essa atividade? Por que eutomei essa deciso e no outra? Por que essa visita

    no foi boa? Por que essa visita foi boa? O que posso

    melhorar na prxima visita? Por que ser que eles no

    responderam s minhas perguntas? Essas questes so

    exemplos de inquietaes que colocam este profissio-

    nal numa posio de busca constante.

    comum ouvirmos falar que um profissional tem

    o dom para fazer algo, ou at mesmo que faz algo to

    bem que nasceu para aquilo. O uso da palavra dom

    nos induz a pensar que determinada habilidade uma

    caracterstica inata e que, portanto, no pode ser apren-dida, muito menos ensinada. O mesmo acontece, inva-

    riavelmente, quando se fala de mediadores de museus:

    alguns tm o dom para a monitoria e outros no. Essa

    avaliao, se levada ao extremo, torna invivel a me-

    lhoria dos servios de monitoria nos museus, dado que

    se teria que procurar todas as pessoas com o dom e,

    no havendo um nmero suficiente destas, os setores

    educativos de museus teriam que trabalhar com profis-

    sionais no qualificados (STANDERSKI, 2007).

    possvel, no entanto, entender o trabalho domediador de outra forma. Se as habilidades de um

    profissional como este forem consideradas como um

    talento artstico (SCHN, 2000), este pode ser apren-

    dido. Alguns trabalhos, no mbito da formao de me-

    diadores de museus, vm assumindo essa perspectiva

    terica (QUEIROZ et al., 2003). Tal talento em geral

    acionado quando temos que lidar com situaes inde-

    terminadas e de difcil previso. Quando se realiza uma

    mediao, h diversos aspectos que podem ser plane-

    jados, como o percurso pelo museu, os temas relevan-

    tes, as questes a serem colocadas em determinadoslocais do trajeto, o tempo da visita, entre tantos outros.

    No entanto, h uma gama de fatores que no so pla-

    nejveis, mesmo sendo a equipe da monitoria a mais

    qualificada para o trabalho. Estes seriam os elementos

    surpresas da prtica. nesse momento que se confun-

    de o dom com o talento artstico. Assim, observar ou-

    tros profissionais atuando, analisando como lidam com

    as situaes no previstas, o que d certo, os desafios,

    uma excelente estratgia de formao.

    cadores ou como sujeitos de uma pesquisa. No primeiro

    caso, seriam pesquisadores de um projeto de avaliao

    dentro da instituio ou poderiam tambm desenvolver

    projetos de carter avaliativo vinculados mediao.

    Nesta funo, participariam, junto com a equipe edu-

    cativa, do planejamento da avaliao, do desenvolvi-

    mento dos instrumentos de coleta e tambm da coletaem si, como realizao de entrevistas ou conduo de

    uma filmagem, por exemplo. No segundo caso, os me-

    diadores poderiam ser sujeitos de uma pesquisa, sendo

    eles prprios entrevistados, ou fazer parte de um grupo

    focal num processo de avaliao externa.

    Os mediadores so, muitas vezes, os sujeitos mais

    prximos do pblico nos museus, por isso, podem con-

    tribuir de forma significativa nesses processos avaliati-

    vos. Instrumentos como livro de ocorrncia, reunies

    de equipe semanais, etc. podem ser entendidos como

    prticas de coleta de informao para alguns tipos deavaliao; por exemplo, aquelas avaliaes que tm

    como objetivo avaliar o prprio cotidiano da instituio

    e que tm como meta a melhoria da prtica.

    2.6. O papel do mediador nos museus

    O papel social dos museus , sem dvida, o de forma-

    o do indivduo. Sob a ptica educativa, o museu deve,

    como uma de suas principais funes, permitir a esseindivduo tornar-se sujeito de sua aprendizagem. Nesse

    contexto, as aes realizadas pelas instituies, no sen-

    tido da comunicao museolgica, adquiriram carter

    de educao no-formal, pois tratam da apropriao de

    conhecimento cientfico pela sociedade fora do espa-

    o escolar. Essa apropriao , muitas vezes, facilitada

    por um servio educativo, o qual dispe de mediadores

    adequadamente formados para tal atividade.

    Os mediadores ocupam papel central, dado que

    so eles que concretizam a comunicao da instituio

    com o pblico e propiciam o dilogo com os visitantesacerca das questes presentes no museu, dando-lhes

    novos significados.

    Porm, preciso tomar o cuidado de delimitar o

    papel desse mediador, pois, se, por um lado, as exposi-

    es no podem depender de mediadores para serem

    compreendidas, por outro, talvez seja a mediao hu-

    mana a melhor forma de obter um aprendizado mais

    prximo do saber cientfico apresentado e do ideal dos

    elaboradores (CAZELLI et al., 2003).

  • 8/11/2019 MARANDINO - Educao Em Museu - Mediacao Em Foco

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    29

    O mediador de museus convive com as imprevisi-

    bilidades da prtica e deve lidar com elas atravs da

    inteligncia; do exerccio da sistematizao de pro-

    blemas, da implementao e da improvisao. Nesse

    caso, estamos falando de um processo que implica

    em uma reflexo-na-ao. No cotidiano das aes

    educativas no museu, so incontveis os momentosem que deparamo-nos com situaes de imprevisto,

    que podemos aqui chamar de problemas. O que fa-

    zer? Uma das opes ignor-las, para que possa-

    mos manter o padro de conhecimento que sempre

    executamos. Segunda opo: refletir sobre a situao

    durante sua execuo e procurar uma maneira de so-

    lucionar o conflito, reelaborando sua maneira de agir.

    Isto no implica parar o que se est fazendo, mas sim

    refletir-na-ao(SCHN, 2000).

    H tambm a dimenso da reflexo sobre a refle-

    xo-na-ao. Argumenta-se que essa reflexo permiteao profissional atingir algum nvel de conscientizao

    do processo prtico, essencial para a melhora de futu-

    ras aes. Durante a ao, o mediador passa por di-

    ferentes situaes-problema, como conflitos, dvidas,

    desinteresse do grupo ou de algum visitante espec-

    fico, entre outras. Para solucion-las ele reflete sobre

    as vivncias e experincias adquiridas e, na prpria

    ao, toma uma deciso (nem precisando verbaliz-

    la). Assim, uma visita monitorada, considerada como

    processo de formao, constitui-se essencialmente detomadas de deciso, mesmo que para esse mediador

    essas no sejam to claras e conscientes.

    A reflexo-na-aotambm pressupe uma pre-

    disposio por parte do mediador para experimentar.

    A experimentao justifica-se pela necessidade de

    buscarmos continuamente melhorar, de forma que

    uma monitoria ou uma aula possam ser mais bem

    elaboradas e aproveitadas. E, nesse sentido, o agir

    para ver as conseqncias destaca-se como uma for-

    ma produtiva de proporcionar essa melhoria. Na me-

    dida em que o mediador se pergunta O que eu fiz dediferente na turma da manh visita excelente que

    eu no fiz na da tarde visitantes desmotivados?,

    ele traz grande parte da responsabilidade pela apren-

    dizagem dos visitantes do museu para si e analisa

    sua atuao com o intuito de melhor aproveitar as

    prximas visitas.

    Ao observar e analisar a sua prpria vivncia e a

    de outros profissionais que atuam com ele, o mediador

    pode criar um repertrio de prticas que funcionem e

    que no funcionem. Quanto mais coletivamente essas

    reflexes so feitas, incluindo os vrios membros das

    equipes de educadores, maiores as chances de mudan-

    a na direo de prticas mais consistentes e eficazes.

    Outro momento importante de reflexo pode ocor-

    rer nas avaliaes contnuas da equipe de educao,

    por meio de reunies e aes de capacitao dos me-diadores. Estes momentos promovem o olhar crtico

    sobre a ao e auxiliam, por meio da troca de experi-

    ncia, a avaliar a sua prpria ao, a da equipe e at

    mesmo os objetivos propostos pela instituio.

    So diversas as possibilidades de ao dos me-

    diadores no museu. Dependendo da instituio, ativi-

    dades como exposies permanentes, temporrias e

    itinerantes, kitsde emprstimo, produo de material

    impresso/jogos, planejamento e realizao de ofici-

    nas, palestras, animaes em vdeo, circo, teatro, con-

    tao de histrias, trilhas educativas esitesenvolvema participao desses profissionais. Se no na escolha

    e planejamento dessas aes, a atuao desses profis-

    sionais ocorre com certeza na sua execuo junto ao

    pblico. A situao ideal aquela na qual o mediador

    parte de uma equipe que envolve os demais edu-

    cadores, que planejam as aes em conjunto com os

    demais setores do museu. Nesse sentido, a instituio

    deve investir na qualidade desse profissional.

    A formao do