gestao mediacao e uso da informacao

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  • GESTO, MEDIAO E USO DA INFORMAOMarta ValentiM(Org.)

  • GESTO,MEDIAO E USODA INFORMAO

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  • CONSELHO EDITORIAL ACADMICO

    Responsvel pela publicao desta obra

    Edberto Ferneda

    Helen de Castro Silva Casarin

    Joo Batista Ernesto de Moraes

    Jos Augusto Chaves Guimares

    Maringela Spotti Lopes Fujita

    Marta Ligia Pomim Valentim

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  • MARTA VALENTIM (ORG.)

    GESTO,MEDIAO E USODA INFORMAO

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  • Editora afiliada:

    CIP Brasil. Catalogao na fonteSindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

    G333

    Gesto, mediao e uso da informao / Marta Valentim (org.). - SoPaulo : Cultura Acadmica, 2010.

    Inclui bibliografiaISBN 978-85-7983-117-1

    1. Gesto do conhecimento. 2. Tecnologia da informao. 3.Gerenciamento de recursos da informao. I. Valentim, Marta Ligia Pomim.

    11-0140. CDD: 658.4038CDU: 005.94

    Este livro publicado pelo Programa de Publicaes Digitais da Pr-Reitoria de

    Ps-Graduao da Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (UNESP)

    2010 Editora UNESP

    Cultura Acadmica

    Praa da S, 10801001-900 So Paulo SPTel.: (0xx11) 3242-7171Fax: (0xx11) [email protected]

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  • SUMRIO

    Apresentao 9

    1 Gesto, mediao e uso da informao 13Brbara Fadel, Carlos Cndido de Almeida, Helen de Castro SilvaCasarin, Marta Lgia Pomim Valentim, Oswaldo Francisco deAlmeida Jnior, Regina Clia Baptista Belluzzo

    2 Gesto do conhecimento nas organizaes: perspectivas deuso da Metodologia Sistmica Soft (Soft SystemsMethodology) 33Cssia Regina Bassan de Moraes, Brbara Fadel

    3 Estratgias de preservao digital 59Jos Carlos Abbud Grcio, Brbara Fadel

    4 Mediao oral literria: algumas palavras 85Sueli Bortolin, Oswaldo Francisco de Almeida Jnior

    5 Contribuies tericas e metodolgicas da sociologia doconhecimento para estudos de produo de conhecimento emcontextos empresariais 105Luana Maia Woida

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  • 6 MARTA VALENTIM (ORG.)

    6 Modelo de comportamento informacional de usurios: umaabordagem terica 127Rodrigo Octvio Beton Matta

    7 Tecnologias de informao e comunicao para gesto dainformao e do conhecimento: proposta de uma estruturatecnolgica aplicada aos portais corporativos 143Letcia Gorri Molina

    8 A inter-relao entre o profissional da informao e oprofissional contabilista: necessidades informacionais 169Marins Santana Justo Smith, Brbara Fadel

    9 Leitura, informao e conhecimento: notas sobre a leitura dejornal 191Tamara de Souza Brando Guaraldo, Oswaldo Francisco de AlmeidaJnior

    10 Cultura organizacional e as interferncias nos fluxosinformacionais (IFI) 211Regis Garcia, Brbara Fadel

    11 Informao e conhecimento no contexto de ambientesorganizacionais 235Luciane de Ftima Beckman Cavalcante, Marta LgiaPomim Valentim

    12 Competncia em informao e sua avaliao 255Andr Lus Onrio Coneglian, Camila Arajo dos Santos,Helen de Castro Silva Casarin

    13 Gesto da informao e governana corporativa emempresas de capital aberto 277Elaine Cristina Lopes, Marta Lgia Pomim Valentim

    14 A formao do bibliotecrio e a competncia informacional:um olhar atravs das competncias 301Marta Leandro da Mata, Helen de Castro Silva Casarin

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  • GESTO, MEDIAO E USO DA INFORMAO 7

    15 Informao e conhecimento como alicerces para a gestoestratgica empresarial: um enfoque nos fluxos e fontes deinformao 319Cntia Gomes Pacheco, Marta Lgia Pomim Valentim

    16 O comportamento informacional de advogados: uma revisoda literatura 343Marli Vtor da Silva, Helen de Castro Silva Casarin

    17 A relao entre a informao orgnica e a gestodocumental 361Mariana Lousada, Marta Lgia Pomim Valentim

    Sobre os autores 385

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  • APRESENTAO

    O livro Gesto, mediao e uso da informao vai ao encontro dosestudos tericos e metodolgicos de objetos e fenmenos que envol-vem gesto, mediao, uso e apropriao da informao em distin-tos ambientes. Assim, o Captulo 1 discorre de forma sinttica so-bre esses elementos que aliceram a Linha de Pesquisa Gesto,mediao e uso da informao, no Programa de Ps-Graduao emCincia da Informao.

    O Captulo 2 apresenta algumas consideraes sobre a aplicaoda metodologia Soft Systems Methodology (SSM) para a articulaode problemas pouco estruturados, voltada gesto do conhecimen-to em ambientes organizacionais.

    Discutir sobre as estratgias de preservao da informao digi-tal o escopo do Captulo 3. Destaca a importncia de as institui-es pensarem a preservao digital de forma ampla, bem como danecessidade da formulao de polticas especficas para esse novocontexto social-tecnolgico.

    O Captulo 4 discute a mediao a partir da palavra e destaca aproposta da Mediao Oral Literria (MOL). Sustenta que o me-diador de leitura deve avaliar o local onde desenvolver a media-o, afirmando que a preocupao principal deve ser a construode uma ambincia para a narrativa, levando em conta que o imagi-

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  • 10 MARTA VALENTIM (ORG.)

    nrio e o prazer esttico so fundamentais aos indivduos em qual-quer faixa etria.

    Apresentando uma breve explanao sobre a origem e as ba-ses de constituio da sociologia do conhecimento, bem como umdos mtodos aplicados a essa rea, o Captulo 5 discute a contri-buio da sociologia do conhecimento como base terica orienta-dora para interpretar a realidade organizacional.

    O Captulo 6 trata do papel da cincia da informao e dos es-tudos desenvolvidos em relao aos usurios de informao, trazuma viso geral da importncia de se estudar os usurios e seuscomportamentos informacionais e a possibilidade de uso de co-nhecimentos sobre o comportamento humano no desenvolvimen-to de pesquisas sobre esse tema.

    Um problema enfrentado pelas organizaes atuais refere-se agerenciamento, organizao, tratamento, disseminao e uso dainformao organizacional. Os contedos informacionais produ-zidos pelas organizaes tm aumentado em quantidade e com-plexidade, alm das informaes produzidas no ambiente exter-no organizao, e que so disponibilizadas em maior quantidadee facilidade de acesso. O Captulo 7 discorre, assim, sobre a faltade estruturao e uso de sistemas informticos eficientes, queauxiliem no registro e acesso a essas informaes, bem comoapresenta um modelo de estrutura para sistemas de informao econhecimento.

    O Captulo 8 discute as contribuies do campo cientfico dacincia da informao no tocante aos usurios e suas necessida-des de informaes aplicadas rea contbil financeira. Apresen-ta discusses sobre habilidades e competncias do profissional dainformao no mbito da cincia da informao, discorre sobre opapel do contabilista como gestor da informao contbil e, porfim, apresenta reflexes da contribuio do profissional da infor-mao ao profissional contabilista.

    O Captulo 9 apresenta uma breve reflexo sobre a leituracomo uma experincia concreta, que comporta prticas, saberes,leitores, sujeitos na vida cotidiana, e tambm dados, informaes

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  • GESTO, MEDIAO E USO DA INFORMAO 11

    que descrevem essa experincia, escolhendo como tema dessa dis-cusso a leitura do jornal dirio.

    A partir do diagnstico da cultura, do planejamento e da implan-tao de aes de interferncias nos fluxos informacionais, o Cap-tulo 10 apresenta argumentos que enfatizam a importncia da cul-tura organizacional como elemento norteador do comportamento dosindivduos em espaos organizacionais.

    O Captulo 11 enfoca o ambiente organizacional explorando a re-levncia da informao e do conhecimento nesse contexto, discutin-do tambm as questes inerentes ao comportamento informacional.

    Discutindo o conceito e as diferentes tradues da expressoinformation literacy, o Captulo 12 resgata as diversas tradues ou ex-presses que representam o conceito de competncia em informao.

    O Captulo 13 aborda a temtica governana corporativaenfocando o conceito de transparncia na prestao de informaes.Destaca que as estruturas de gesto da informao interna e externaso fundamentais, porque as empresas geram grande quantidade deinformaes que, por sua vez, so utilizadas por um nmero signifi-cativo de usurios.

    Considerando a incluso da competncia informacional como umdos contedos programticos importantes para a formao do bibli-otecrio, o Captulo 14 apresenta a importncia dessa discusso juntos lideranas formadoras, visto que a formao bibliotecria deveriacertificar conhecimentos, habilidades, destrezas e atitudes relacio-nados a esses saberes e fazeres.

    O Captulo 15 apresenta algumas reflexes acerca do uso da in-formao e do conhecimento no mbito empresarial. Destaca os flu-xos internos e externos de informao presentes nesse ambiente, almdas fontes de informao existentes que podem ser consultadas pe-las pessoas atuantes nessas organizaes, de forma que desenvolvamsuas atividades de forma mais segura e tomem decises de maneiramais assertiva.

    Analisando alguns estudos desenvolvidos sobre o comportamen-to informacional de advogados, o Captulo 16 apresenta um pano-rama geral de investigao realizado nessa rea at o momento.

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    O Captulo 17 apresenta uma discusso referente ao conceito deinformao orgnica, bem como identifica as relaes desse tipo deinformao com a gesto documental, visto que se trata de um cam-po terico ainda em formao e propcio a intensas discusses e no-vas aproximaes.

    Os captulos do livro so relacionados aos diversos projetos depesquisa desenvolvidos tanto em mbito de doutorado quanto emde mestrado e refletem as competncias em pesquisa dos autoresenvolvidos.

    Marta L. P. ValentimOrganizadora

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  • 1GESTO, MEDIAO E USO DA INFORMAO

    Brbara FadelCarlos Cndido de Almeida

    Helen de Castro Silva CasarinMarta Lgia Pomim Valentim

    Oswaldo Francisco de Almeida JniorRegina Clia Baptista Belluzzo

    Introduo

    A linha de pesquisa Gesto, Mediao e Uso da Informao seconstituiu a partir de temticas imbricadas e sustentada por abor-dagens tericas e metodolgicas que consolidam o saber/conhecer eo saber/fazer nesse mbito.

    Os estudos sobre a informao, o conhecimento e a intelign-cia em contextos organizacionais so alicerados na gesto da in-formao e do conhecimento e so essenciais para a constituioda memria organizacional, de polticas de informao, de am-bientes e fluxos informacionais compreendidos de forma ampla.

    As pesquisas voltadas para a aprendizagem informacional con-templam as questes culturais, comportamentais e as competn-cias que envolvem produtores, intermedirios e usurios de infor-mao, e, por isso mesmo, proporcionam linha a possibilidadede discutir a dinmica informacional e os processos cognitivossubjacentes envolvidos desde as necessidades, buscas e usos deinformao.

    Nesse mbito, os estudos relacionados s competncias em in-formao preocupam-se fundamentalmente com o desenvolvi-mento do usurio, no que tange tanto a interao com diferentes

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    recursos informacionais quanto a aprendizagem e autonomia paraapropriar-se da informao para gerar conhecimento.

    A mediao da informao se constitui em uma das problemti-cas investigadas na linha de pesquisa, enfocando as formas de me-diao, a recepo e a apropriao da informao em diferentes con-textos, de forma a refletir o papel do profissional da informao ecompreender o usurio em sua complexidade. No mbito da apro-priao da informao os estudos pretendem tambm aprofundaros conhecimentos acerca da ao interpretativa do usurio, pois ainformao pode ser determinada pelas relaes sgnicas constru-das a partir da experincia anterior do usurio.

    O objeto da linha de pesquisa refere-se aos processos de anlise edesenvolvimento de estruturas e modelos de gesto, mediao, usoe apropriao da informao em ambientes informacionais de dife-rentes contextos, como elementos inseridos no escopo do campo cien-tfico da cincia da informao.

    Gesto da informao e do conhecimento

    As organizaes so ncleos sociais, uma vez que elas congre-gam pessoas de uma determinada comunidade, por isso o desenvol-vimento de uma sociedade recebe grande influncia das organiza-es. Assim, as organizaes so ncleos sociais que tantoinfluenciam o meio em que esto inseridas quando recebem influn-cia do meio influenciado. As organizaes so uma forma de socia-bilidade produzida, transmitida, partilhada e renovada (Sainsaulieu& Kirschner, 2006).

    A informao insumo para qualquer fazer, seja no mbito aca-dmico, seja no mbito empresarial. A gerao de novo conheci-mento somente possvel quando a informao apropriada peloindivduo, por meio do estabelecimento de relaes cognitivas. Com-preender que esses elementos constituem a base para diferentesaes , tomada de deciso, planejamento, estratgias de ao etc. que resultaro no desenvolvimento de uma organizao, o primei-

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    ro passo para desenvolver a percepo correta da relao e interde-pendncia existente.

    Os ambientes organizacionais complexos so apoiados por in-formao e conhecimento, por isso mesmo destacamos o papel des-ses insumos para amenizar ou reduzir a incerteza ou, ao contrrio,alterar a estabilidade do conhecer e provocar mais dvida e insegu-rana no indivduo, cujos processos cognitivos so realizados na ten-tativa de responder s necessidades informacionais.

    Defendemos que somente podemos nome-la informao se acompreendemos, ou seja, se existe por parte do sujeito cognoscenteconsenso em relao ao seu significado, caso contrrio no infor-mao. Assim, o sujeito cognoscente ressignifica a informao, umavez que infere sntese e contexto a ela.

    Partimos do pressuposto de que a busca, o uso e a apropriao dainformao esto relacionados a uma ao, mesmo que inconscien-temente. Tal condio qualifica a informao com um insumo ex-tremamente relevante para distintos contextos (Valentim, 2008).

    As organizaes se desenvolvem a partir da aprendizagem or-ganizacional, cujo alicerce est relacionado informao e ao co-nhecimento, visto que a aprendizagem se d a partir da experin-cia e reconstruo de uma ao (Choo, 2003). A aprendizagemorganizacional se vale de um processo dual, pois ao mesmo temporelaciona e isola, associa e dissocia, analisa e sintetiza. Esses movi-mentos dialgicos esto alicerados em informao e conhecimen-to e essa dinmica que proporciona a ao (Morin, 1999).

    A gesto da informao e a gesto do conhecimento so modelosde gesto complementares, pois, enquanto a gesto da informaoatua diretamente junto aos fluxos formais, isto , o que est explici-tado, a gesto do conhecimento atua diretamente junto aos fluxosinformais, isto , o que no est explicitado (Valentim, 2007).

    O universo informacional extremamente complexo e, por isso,atende de forma distinta s necessidades informacionais dos indiv-duos. Nesse sentido, a cultura informacional precisa ser trabalhadaem relao produo, ao compartilhamento, ao uso e apropriaoda informao. Assim, essencial conhecer o comportamento e as

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    competncias essenciais para a ao do indivduo reconhecer as pr-prias necessidades informacionais, primeiro passo do processoinformacional.

    A comunicao informacional necessita de uma mediao eficien-te, assim os indivduos envolvidos no processo devem propiciar umadinmica de retroalimentao constante. Portanto, o conhecimentocoletivo e o conhecimento individual so frutos das interaes entreos indivduos e tambm das interaes entre os indivduos e os sis-temas de informao.

    Alguns pesquisadores da rea de cincia da informao defen-dem que o objeto da rea a informao registrada e consideram oconhecimento ou o usurio elementos perifricos aos estudos da rea.Contudo, se as aes para organizar, tratar e recuperar a informaotm um propsito, um contexto, um pblico, e s faz sentido rela-cionadas a essas variveis, impossvel no estudar os fenmenosrelacionados compreenso, apropriao e ao uso da informaopor parte dos indivduos. A gesto da informao e a gesto do co-nhecimento se preocupam com isso e desenvolvem metodologias queabrangem todos esses aspectos.

    Mediao da informao

    A mediao da informao se constitui em um segmento da cin-cia da informao e se articula com os outros segmentos que delafazem parte. No entanto, propomos a mediao da informao comoobjeto ou ncleo epistemolgico da cincia da informao.

    O conceito de mediao resultado de estudos e reflexes de-senvolvidos a partir de 2001:

    Mediao da informao toda ao de interferncia realizada peloprofissional da informao , direta ou indireta, consciente ou incons-ciente, singular ou plural, individual ou coletiva, que propicia a apro-priao de informao que satisfaa, plena ou parcialmente, uma neces-sidade informacional. (Almeida Jr., 2008)

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    No conceito, duas concepes devem ser destacadas: a interfern-cia e a apropriao. A interferncia ope-se a uma forma de pensarconstantemente veiculada e defendida na rea: a de que o profissio-nal da informao, os espaos em que atua e as tcnicas, ferramentase instrumentos que utiliza so neutros. Com base nessa neutralidade possvel tambm afirmar que todo o fazer desse profissional im-parcial e apoltico. Afirmando como determinante e inquestionvel ainterferncia nesse fazer, advogamos outro carter e outra postura doprofissional da informao.

    A neutralidade se fosse possvel eliminaria ou tornaria qua-se improvvel a manipulao. Essa ideia permeia muitos textos darea e fundamenta a concepo da imparcialidade. Sendo neutrasou imparciais, a influncia e ao do profissional da informaona sociedade so nulas. Assim, poderia ser considerado um pro-fissional passivo, mero objeto, no sujeito da histria. Seria tam-bm um reprodutor de formas de entender e explicar o mundo,quase sempre presentes nos discursos das classes dominantes, poisso elas as que, dentro da constituio atual da sociedade deter-minada por elas , inserem seus interesses, pontos de vista e a pr-pria histria como os nicos possveis e verdadeiros. A histria quese mantm, e entendida como oficial, a dos vencedores.

    Como reprodutor, o profissional da informao refora e sus-tenta os interesses e a ideologia de determinadas classes, permitin-do a manuteno de uma situao favorvel a uma minoria. A in-formao trabalhada nesse contexto torna-se instrumento deexcluso.

    Convm lembrar que historicamente o bibliotecrio, profissio-nal da informao que atua dentro de parmetros especficos dainformao, sempre esteve ao lado dos excludentes, defendendoseus interesses e preservando os documentos e suportes emprega-dos como instrumentos de manuteno do poder exercido por eles.

    A apropriao, por sua vez, ope-se ideia de uso, j que essecarrega em seu bojo, quando entendido no mbito da informao,uma concepo funcionalista. Em verdade, no fazemos uso da in-formao, mas, por meio dela, alteramos, modificamos, transfor-

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    mamos nosso conhecimento. com esse conhecimento transfor-mado que nos relacionamos com o mundo.

    A ideia de apropriao pressupe entendimento. O acesso fsicoaos suportes apenas inicia o processo de apropriao, no sendo denenhuma maneira sua concluso.

    Nossas reflexes, hoje, apontam para uma apropriao volunt-ria e involuntria, consciente e inconsciente. Se sempre voluntria econsciente, a apropriao, assim entendida, implicaria a concepode um pleno e total controle das informaes no mbito da recepo.No haveria, assim, manipulaes, informaes sub-reptcias,subliminares etc.

    Alm disso, nossas reflexes tambm se dirigem e se preocupamcom a desinformao, com a contrainformao.

    Entre os autores que embasam nossas posies, vale destacar:Paulo Freire, Vigotsky, Robert Kurz, Newton Duarte, IgncioRamonet, Emir Sader, Philippe Breton, Marilena Chau, entreoutros.

    Entendemos que a construo do conhecimento d-se individual-mente, embora, necessariamente, na relao com o mundo. Dessaforma, o conhecimento individual e coletivo; o ser humano umindivduo, mas dependente dos outros e do mundo.

    Com base nessa ideia, a informao no existe antecipadamente,no se materializa como mercadoria, ao contrrio, subjetiva, propi-cia a transformao do conhecimento quando apropriada.

    De maneira diferente do entendimento mais disseminado e acei-to na rea, compreendemos a informao como causa de conflitos,criadora de indagaes, dvidas, curiosidades, e no comoeliminadora de incertezas. Efmera, existe apenas no intervalo entrea relao do sujeito com o suporte e a apropriao. Essa, como jdito anteriormente, pode ser voluntria ou involuntria, conscienteou inconsciente.

    Outra defesa que fazemos que a cincia da informao deve sepreocupar no apenas com a informao cientfica e tecnolgica, mastambm, e em igual medida, com a informao pblica, com a in-formao social; deve interessar-se pelas tecnologias, embora no as

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    tendo como imprescindveis, ou seja, seu campo abarca aes, prti-cas, fazeres, pesquisas, estudos e reflexes em que elas estejam ouno presentes.

    No mbito de suas preocupaes, a cincia da informao deveter presente a informao no registrada. Alguns segmentos darea lidam, necessariamente, com a informao registrada. No o caso, por exemplo, da disseminao e, de maneira mais abran-gente, da mediao da informao que estuda e pesquisa, entreoutros, a oralidade; que volta seus olhos para as atividades cultu-rais, a ao cultural, a leitura, a mediao da leitura, a animaoda leitura. Preocupa-se, alm disso, com a recepo da informa-o, com as influncias, manipulaes, ideologias que ela carregaem seu bojo. Direciona suas anlises para os interesses, os emba-tes, as lutas de ideias e concepes que esto presentes na cons-truo do conhecimento.

    Existindo apenas num timo de tempo, o profissional da infor-mao atua com uma informao que ainda no se fez, que est empotncia, uma quase-informao, uma possvel-informao, umaprovvel-informao. Ns a denominamos protoinformao.

    O estudo da mediao levou-nos a dividi-la em dois grandessegmentos no mbito do fazer do profissional da informao: a me-diao implcita e a mediao explcita. Esta ltima ocorre nos es-paos em que h, claramente, uma relao formal entre o usurio eo equipamento informacional. A mediao, nesse caso, explcitae facilmente reconhecida em seus aspectos materiais, concretos.Quanto mediao implcita, ela ocorre em cada ao do profis-sional da informao, tanto no armazenamento como no processa-mento e em outros trabalhos por ele desenvolvidos. Ela implci-ta, pois est por trs dos objetivos desses setores. Qualquer ao,dentro do fazer do profissional da informao, deve ter a apropria-o da informao por parte do usurio, como seu objetivo princi-pal. Sem isso, a ao justifica-se por si mesma e se consome em seuprprio espao, em seu prprio fazer.

    De forma sucinta e resumida, procuramos apresentar as ideias,os conceitos e as concepes que norteiam nossos estudos, pesqui-

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    sas e reflexes sobre a mediao da informao, bem como aspectose segmentos a ela vinculados.

    Elementos semiticos da mediaoe apropriao da informao

    A construo do conhecimento no contexto dos espaos de in-formao depende de condies simblicas na produo da lingua-gem. A mudana da informao para o conhecimento supe umatraduo sgnica para efetivar a comunicao, especialmente a inter-pessoal. Nesse contexto que se notam os pontos de encontro entrea semitica e as teorias ligadas gesto, mediao e apropriao dainformao, fundamentais ao campo da cincia da informao.Objetivamos nesta seo elencar algumas iniciativas de dilogo damediao e apropriao da informao com a semitica de extraopeirciana, ou mais especificamente os conceitos aplicados a esse con-texto em especial.

    Por semitica consideramos o estudo dos signos naturais e arti-ficiais, em suas vrias perspectivas tericas. Entre essas, destaca-mos, por um lado, a leitura semiolgica dos sistemas sgnicos queretoma a tradio saussuriana e estruturalista, e, por outro, a inter-pretao dos fenmenos sgnicos sugerida pela semitica de CharlesPeirce (1839-1914). Sob essa ltima abordagem, refletiremos sobreas possibilidades de contribuio ao campo da mediao e apropria-o da informao, na medida em que essa rea destaca as interfacestericas e aplicadas para a compreenso dos processos de gerao doconhecimento.

    Assumimos como premissa inicial que, alm das configuraessociais, culturais e comportamentais da mediao e da apropriaoda informao, deve-se refletir sobre os dispositivos semiticos queamparam a transformao de dados em informao, e esses em co-nhecimento caso essa frmula seja vlida para compreender a di-nmica da construo do conhecimento em vrios ambientes in-formacionais , compreendendo no apenas unidades de

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    informao tradicionais como bibliotecas, mas empresas, espaospblicos etc.

    A semitica, fundada pelo filsofo estadunidense Charles Peirce,sugere que todo o processo de criao de conhecimento est condi-cionado interpretao sgnica, que pode ser compreendida pelastradues de cdigos levadas a cabo pelos sujeitos envolvidos. Evi-dentemente, Peirce no investigou apenas os signos provindos dasistematizao da linguagem humana, contudo alguns parmetrosda semitica geral podem ser teis discusso.

    Sendo a teoria dos signos de Peirce tambm uma teoria da comu-nicao, ela poderia projetar-se como um substrato terico da me-diao da informao. Semelhante interesse pela semitica alcan-ado no estudo dos processos cognitivos da apropriao dainformao, os quais so reconhecidamente atividades semiticas,regidas por precondies lgicas atribuio de significados.

    A aplicao da semitica no campo da mediao da informaodeve levar em conta ainda a malha conceitual da teoria de Peirce. Semediao um processo semitico que ocorre na interao dos agen-tes informadores, localizados social e culturalmente, no intuito decomunicar informao e com ela transformar o conhecimento, eladeve resgatar da teoria semitica, sobretudo, os conceitos de hbitomental e semiose. O mesmo grau de contribuio pode ser obtido pelaconsulta ao conceito de iconicidade, a respaldar a leitura dos proces-sos de apropriao da informao, assumindo esse como processode atribuio de significado pelo sujeito, o qual decorre de umaempatia entre cones e signos convencionais.

    Para efeito de reviso conceitual, a contribuio primeira dasemitica para a cincia da informao foi sentida nos processos deorganizao da informao, em especial, na anlise documentalde contedo. Por anlise compreende-se o processo que visa resga-tar os elementos de contedos de discursos e transp-los, por meioda traduo dos cdigos em outra forma, com a finalidade de facili-tar a recuperao da informao. Peirce foi um dos filsofos maispreocupados com a linguagem, tanto que a terminologia cientficaera considerada um instrumento fundamental para a elaborao do

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    pensamento eficiente. Sem os atributos simblicos, os conceitos e aprpria comunicao cientfica seriam irrealizveis. Toda termino-logia deve seguir uma tica de conduta para o uso dos conceitos, eesses tm uma natureza que no se distingue das caractersticassgnicas, isto , a de fazer avanar o pensamento.

    Ademais, um fato que o pragmatismo de Peirce um mto-do de admisso de hipteses razoveis. Considerado em si mes-mo, o prprio mtodo da cincia em que se procuram fixar no-vas crenas. Peirce erigiu uma teoria lgica de grande utilidade anlise da informao processo anterior e estratgico s ativida-des de gesto e mediao , pois esses processos so naturalmen-te regulados pelos trs tipos de inferncia (abduo, deduo einduo) propostos pelo autor. Contudo, os estudos sobre a inter-seco entre semitica e organizao da informao de Mai (1997a,1997b, 2000, 2001) e Thellefsen (2002, 2003, 2004) ainda norefletem, de forma sistemtica, nos cursos de graduao e ps-graduao em cincia da informao, muito menos no mbito docampo profissional.

    Os fluxos informacionais proporcionados pela mediao eapropriao da informao correspondem outra ponta da cadeiasgnica, a qual deve ser objeto de anlise da semitica. As aesde mediao da informao que visam continuidade da relaoentre informao e sujeito, mediante dispositivos simblicos, e aatividade pessoal de apropriao da informao, o que provisori-amente podemos designar como a interpretao e a atribuio designificado ao contedo informacional, sugerem que outros ele-mentos da semitica precisam ser relacionados.

    Em primeiro lugar, mediao e apropriao da informao noso fenmenos destitudos de interao social, constituda e con-solidada pelo uso da linguagem. Em segundo, todo processolingustico, com a finalidade de aproximar esferas diferentes douniverso da informao, depende de traduo sgnica. Presume-se que a traduo semitica seja mesmo uma das principais carac-tersticas do trabalho do profissional da informao. Em terceiro,ambos os processos mencionados ocorrem em um contnuo

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  • GESTO, MEDIAO E USO DA INFORMAO 23

    fenomnico, em que a interrupo do fluxo informacional ape-nas uma etapa do processo que procura criar ininterruptamente oconhecimento.

    Alm disso, nenhum conhecimento, tratado do ponto de vista dacincia da informao, poderia ser construdo sem a presena de es-tratgias institucionais de traduo semitica. Nesses termos, a me-diao da informao antecipa o processo de traduo originando, emcerta medida, a apropriao da informao, talvez at defina as cate-gorias em que se operar a aquisio de novos conhecimentos.

    Em ambientes informacionais, o conhecimento construdo porum grupo de pessoas depende das interpretaes anteriores consoli-dadas em hbitos mentais. A descoberta desses hbitos, tal comosugere a tese pragmatista, conduz antecipao das relaes de sig-nificados que os sujeitos esto predispostos a estabelecer. A despei-to da possvel interpretao comportamentalista dessa tese, a ques-to do hbito mental como mecanismo semitico, que restringe asopes de conhecimento na fixao das crenas, um pressupostolgico e no psicolgico.

    A crena deve ser, em primeiro lugar, algo de que estamos cien-tes; segundo, aplaca a irritao da dvida; e, terceiro, envolve o sur-gimento, em nossa natureza, de uma regra de ao ou, digamos combrevidade, o surgimento de um hbito (Peirce, 1972, p.56). Aopasso que a crena interrompe as sensaes provocadas pela dvida,o sujeito entra em um estgio de harmonizao com a crena obtida,esperando um futuro momento em que possa ser incomodado pelasnecessidades de investigao provocadas pelo incmodo da dvida.

    No caso especfico do conhecimento tcnico-cientfico e espe-cializado, o sujeito inicia seu processo de atualizao quando recebenovamente a sensao desagradvel da dvida. A verdade, paraPeirce, essa novidade que, acalmada, faz iniciar o processo de crena mente com o objetivo de transform-la em um novo hbito.

    No campo da apropriao da informao encontra-se no concei-to de hbito um dispositivo que leva a ao interpretativa a agir emum futuro da mesma forma que no passado. Tal como se as condi-es de interpretao de uma informao fossem determinadas pe-

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    las relaes sgnicas solidificadas por experincias anteriores. O quetorna uma informao familiar, do ponto de vista do usurio, a suacapacidade de se fazer semelhante experincia passada.

    O processo de interpretao ininterrupta e atualizao do signo,tambm conhecida na semitica peirciana como semiose (ao dosigno), objetiva representar o interpretante (efeito de significado)de um signo anterior, e distancia-se cada vez mais do objeto comoele . Como o processo de interpretao no tem um fim preestabe-lecido, o produto dele ser, mais cedo ou mais tarde, substitudo.Portanto, a representao falvel ontologicamente medida quedepende de experimentaes futuras para gerar uma interpretaosempre mais exata.

    Entre os marcos conceituais da semitica de fundamental im-portncia para entender os fenmenos informativos examinar aocorrncia da semiose em ambientes informacionais. Em qualquerespao de informao, no se pode esquecer da linguagem. A me-diao da informao tambm viabiliza a traduo sgnica e o dom-nio das vrias linguagens, verbal, visual e sonora, e acelera o proces-so de disponibilizao da informao. Um usurio precisa ter suanecessidade interpretada e ter condies semiticas para se apropriarda informao. A mediao preside a fluidez da semiose em ambien-tes informativos.

    , entretanto, pela familiaridade, ou melhor, pela iconicidade queo reconhecimento de qualquer informao se torna possvel. Nenhu-ma tomada de deciso ou apropriao da informao pode ser reali-zada sem o fator iconicidade. Por cone, entende-se o signo de seme-lhana. o mais elementar signo que se pode produzir sobre umobjeto qualquer. Pode-se afirmar que o estado elementar do signi-ficado, isto , o primeiro estgio da significao supor relaes desemelhana. Esse conceito se refere mais propriamente s aes daapropriao.

    Todo signo que enseja representar seu objeto necessariamenteum cone, pois deve referenciar o objeto por alguma semelhana ques pode ser uma qualidade apresentada tanto no signo quanto noobjeto. Um cone um signo que se refere ao objeto que denota

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    simplesmente por fora de caracteres prprios e que ele possuiria,da mesma forma, existisse ou no existisse efetivamente um objetodaquele tipo (Peirce, 1972, p.101). O cone refere-se ao objeto poralguma semelhana ou similaridade. A simples semelhana umadas formas de ser da primeiridade uma das trs categorias fenome-nolgicas propostas por Peirce , pois a identidade estabelecidaentre qualidades.

    Em qualquer estratgia de apropriao da informao, o primei-ro elemento que aproxima as expectativas do usurio e o liga po-tencial informao e aqui assumimos as possibilidades de infor-mao o cone na forma de uma produo de ligaes desemelhana entre dois polos: objeto e signo.

    Conceitos como os de hbito mental, semiose e iconicidade, en-contrados na filosofia e semitica peirciana, so fundamentais paraa compreenso dos processos disseminativos tal como a mediaoda informao e dos elementos semitico-cognitivos. Pesquisas nocampo da gesto, mediao e uso da informao devem considerartal arcabouo terico para entender a dinmica da produo dos sig-nificados em espaos informacionais.

    Busca, uso e apropriao da informao

    Um dos principais focos da cincia da informao, conformeHjrland (2003, p.88), refere-se interao entre produtores de co-nhecimento, usurios, intermedirios e os sistemas informacionais:

    Cada um desses atores possui certos pr-entendimentos, vises,conceitos e linguagens adquiridas durante a sua socializao na socie-dade. O sucesso da interao (entre produtores de conhecimento, usu-rios, intermedirios e os sistemas de registro bibliogrfico) dependedesses pr-entendimentos, conceitos e linguagens. (traduo nossa)

    Albrechttsen & Hjrland (1997) consideram que a teoria for-mulada a partir do estudo do comportamento do usurio pode

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    contribuir para fundamentar a base da cincia da informao, umavez que vrias questes fundantes da rea so subordinadas a ela.Conhecer as necessidades dos usurios fundamental para quepossamos planejar, construir, gerir e avaliar servios e produtosinformacionais. A prpria formao do bibliotecrio deve salien-tar a necessidade de se conhecer as caractersticas do grupo deusurios que se pretende atender. De outra forma, o usurio quepossui distintas opes de acesso informao dar prefernciaquela que for mais acessvel ou com a qual mais se identifica,mesmo que essa no seja necessariamente a melhor. Esse fatorpode acarretar a um distanciamento cada vez maior do usurio dasunidades de informao.

    Vrios fatores contriburam para que o estudo das caractersti-cas e comportamento dos usurios adquirisse o status de um dos te-mas mais recorrentes na literatura produzida na rea (Ondrusek,2004). Os estudos sobre comportamento de usurios vm da tradi-o dos estudos de usurios, sendo que os primeiros remontam aosculo XIX (Calva Gonzlez, 1999). Conforme Case (2007), os es-tudos sobre comportamento de usurios tiveram incio nos anos1960. Porm, at esse perodo, as pesquisas enfocavam as fontes uti-lizadas pelos usurios para obterem a informao desejada, como ouso de peridicos, de servios ou produtos de informao. O objeti-vo maior dessas pesquisas era avaliar os sistemas de informao(Choo & Auster, 1993; Vakkari, 1999 apud Case, 2007).

    A partir dos anos 1970, os estudos ampliam seu escopo e passama considerar o indivduo como produtor e usurio de informao,no mais restritos a um sistema de informao especfico.

    Outro fator que contribuiu para a valorizao dos estudos sobreo comportamento dos usurios refere-se ao desenvolvimento dasTecnologias de Informao e Comunicao (TIC), ocorrido na d-cada de 1980. As TIC possibilitaram o acesso dos usurios a diver-sos sistemas de informao sem necessariamente depender de umintermedirio, um mediador, como o bibliotecrio Debowski (2001)e Rowley (2002), tendncia potencializada com a disseminao darede internet.

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  • GESTO, MEDIAO E USO DA INFORMAO 27

    A constatao da importncia desse tipo de estudo pode ser obser-vada pela quantidade de publicaes sobre o tema na literatura darea. O levantamento realizado por Ondrusek (2004) na base de da-dos Library and Information Science Abstracts (Lisa) entre os anos1980 e 2000, por exemplo, revelou a existncia de 270 artigos publi-cados apenas em lngua inglesa. Em busca recente (outubro de 2009)nessa mesma base de dados referente aos ltimos dez anos (2001 a2010) foram encontrados 260 artigos em lngua inglesa. Assim, naltima dcada, a quantidade de artigos produzidos foi o equivalente dos vinte anos anteriores.

    O comportamento informacional abrange todas as aes passi-vas ou no intencionais em que h o contato com a informao per-tinente, at as aes intencionais de busca e uso da informao Case(2007) e Wilson (2000, p.49), conforme segue:

    Comportamento informacional a totalidade do comportamentohumano em relao s fontes e aos canais de informao, incluindo abusca de informao ativa e passiva, alm do uso da informao. Ouseja, inclui a comunicao face to face com outras fontes e canais de in-formao, e tambm a recepo passiva de informao, como, por exem-plo, assistindo a anncios de televiso, sem nenhuma inteno para agirna informao dada.

    Esse comportamento influenciado por diversos fatores, taiscomo a disponibilidade de suportes de informao, normas de com-portamento apropriado e crenas individuais. Portadores de infor-mao incluem distintos canais, variadas fontes desses canais e asmensagens contidas nessas fontes (Johnson et al., 2006).

    Todos esses elementos compem o contexto em que ocorrem asbuscas informacionais e no podem ser ignorados. Conforme Cool& Spink (2002) h diversas acepes para o termo contexto, que va-riam conforme o enfoque do pesquisador sobre o usurio e suas aes.Porm, de uma forma geral, podemos defini-lo como o conjunto defatores cognitivos, sociais, culturais e outros relacionados tarefa,ao objetivo e s intenes de uma pessoa quando inicia a atividadede busca por informao.

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    Case (2007) faz uma extensa reviso da literatura (1990-2001) eaponta que possvel verificar trs principais focos das pesquisassobre comportamento informacional:

    1. Categorias profissionais: mdicos, engenheiros etc.;2. Papis desempenhados pelos indivduos: consumidores, donas de

    casa etc.;3. Grupos demogrficos: idosos, jovens, crianas etc.

    Os estudos sobre indivduos de determinadas categorias profis-sionais so os que concentram a maior parte das pesquisas. Os cien-tistas e os engenheiros so as duas categorias profissionais mais co-mumente estudadas.

    Nas pesquisas desenvolvidas pelos pesquisadores dos grupos depesquisa da Unesp, cmpus de Marlia, notam-se dois enfoques quese complementam: o primeiro voltado ao estudo do comportamentode usurios atuantes em espaos empresariais de distintos segmen-tos econmicos e o segundo dedica-se ao estudo do comportamentode usurios em ambientes educacionais, tais como universidades,programas de ps-graduao e Ensino Fundamental, bem comodeterminadas categorias profissionais, tais como advogados, porexemplo.

    Os estudos voltados para o usurio, conforme mencionado ante-riormente, tm crescido sensivelmente no pas, fato que demonstraque a rea est preocupada com a mediao, a recepo e a apropria-o dos contedos informacionais.

    Consideraes finais

    Os estudos tericos e metodolgicos de processos que envolvama gesto, a mediao, o uso e a apropriao da informao em distin-tos ambientes so importantes no contexto das cincias ps-moder-nas, visto que interage e dialoga com outras reas do conhecimento.Destacamos as principais interfaces: cincias cognitivas, comunica-

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  • GESTO, MEDIAO E USO DA INFORMAO 29

    o, administrao, sociologia, lingustica, educao, alm de inte-ragir com reas constitutivas da prpria cincia da informao comoa biblioteconomia, a documentao e a arquivologia.

    O ncleo de interesse da linha de pesquisa volta-se aos estudostericos e metodolgicos de temticas relacionadas cultura, com-portamento e competncia em informao; aos fluxos, processos,usos e usurios da informao; aos processos de comunicao, me-diao e de apropriao da informao; gesto da informao, ges-to do conhecimento e aprendizagem informacional; intelignciaempresarial, prospeco e monitoramento informacional; s redessociais; s polticas e prticas de informao e leitura.

    Finalmente, ressaltamos a importncia de uma articulaoconstante entre a ps-graduao e a iniciao cientfica, forman-do pessoas que sejam crticas e construtoras de conhecimento cien-tfico vlido. Nesse contexto, defendemos que a responsabilidadesocial da linha de pesquisa refere-se formao acadmico-cien-tfica ampla e interao com a sociedade, portanto, tem papelprimordial para as cincias ps-modernas e, nesse caso, para a cin-cia da informao.

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  • 2GESTO DO CONHECIMENTO NASORGANIZAES: PERSPECTIVAS DE

    USO DA METODOLOGIA SISTMICA SOFT(SOFT SYSTEMS METHODOLOGY)1

    Cssia Regina Bassan de MoraesBrbara Fadel

    Introduo

    A aplicao e o uso do conhecimento nas organizaes so umaquesto complexa, com diversas dimenses diferentes. Uma dessasdimenses a cultural. Dessa forma, pode-se questionar se culturade uma organizao recompensa decises e aes de acordo com amaneira como as pessoas utilizam e compartilham o seu conheci-mento, ou se apenas est satisfeita com o uso disseminado da intui-o e da adivinhao custa de organizar pessoas e processos paraaplicao dos melhores conhecimentos, experincias e competnciasa projetos e tarefas.

    Para tanto, as organizaes necessitam tratar seus colaboradorescomo sujeitos na sua totalidade e complexidade, ou seja, como par-ceiros cujas potencialidades precisam ser incentivadas e valorizadas,uma vez que todos os integrantes da organizao participam da ca-deia informacional e de criao do conhecimento, j que so as pes-

    1 Este captulo inclui partes do levantamento terico sobre a Metodologia Sist-mica Soft da tese de doutoramento Gesto do conhecimento nas organizaes:modelo conceitual centrado na cultura organizacional e nas pessoas.

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    soas que se vinculam com os usurios e com os fornecedores, e soelas que tomam decises; tambm so elas que concebem os produ-tos e servios, buscando atender s necessidades dos clientes(Ponjun Dante, 2007, p.91).

    Alm disso, deve-se levar em conta que o conhecimento criadoapenas pelos indivduos, ou seja, uma organizao no pode criarconhecimento por si mesma, sem os indivduos. Dessa forma, muitoimportante que a organizao apoie e estimule as atividades criado-ras de conhecimento dos indivduos ou que proporcione os contex-tos apropriados para elas (Takeuchi & Nonaka, 2008, p.25).

    A interao com a informao para a gerao de conhecimentonas organizaes , porm, uma questo complexa com diversas di-menses diferentes, sendo uma dessas a cultural, que se constituinum tipo de conhecimento organizacional, segundo Choo (2003,p.188). A partir da classificao de Boisot, o autor prope a classifi-cao do conhecimento nas organizaes como tcito, explcito e cul-tural, sendo este ltimo caracterizado na seguinte conformidade:

    O conhecimento cultural consiste em estruturas cognitivas e emocio-nais que habitualmente so usadas pelos membros da organizao paraperceber, explicar, avaliar e construir a realidade. O conhecimento cul-tural inclui as suposies e crenas usadas para descrever e explicar arealidade, assim como as convenes e expectativas usadas para agregarvalor e significado a uma informao nova. Essas crenas e valores com-partilhados formam a estrutura na qual os membros da organizaoconstroem a realidade, reconhecem a importncia de novas informa-es e avaliam aes e interpretaes alternativas. Como no conheci-mento de senso comum de Boisot, o conhecimento cultural no codi-f icado, mas amplamente divulgado ao longo de vnculos erelacionamentos que ligam o grupo. (Choo, 2003, p.190)

    Dessa forma, pode-se afirmar que, para a criao de conhecimen-to em uma organizao, a cultura organizacional2 deve estar voltada

    2 Segundo Schein (1992), cultura organizacional um conjunto de pressupos-tos bsicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como

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    para recompensar decises e aes de acordo com a maneira como aspessoas utilizam e, especialmente, compartilham o seu conhecimen-to, uma vez que o conhecimento criado por meio das interaesentre os seres humanos e seu ambiente, e que as pessoas so parte doambiente e o ambiente faz parte das pessoas (Nonaka & Toyama,2008, p.96).

    Assim, lana-se a hiptese de se trabalhar com a MetodologiaSistmica Soft (Soft Systems Methodology SSM) para a gesto doconhecimento nas organizaes, levando-se em considerao a cul-tura organizacional e a gesto de pessoas. A Metodologia SistmicaSoft foi criada na dcada de 1980 por Peter Checkland, procurandodar conta de situaes problemticas nas quais a abordagem quanti-tativa no pode ser aplicada, no apenas graas complexidade ouincerteza existente, mas tambm por haver a necessidade de se enfa-tizar os aspectos subjetivos envolvidos em tais situaes, como servisto a seguir.

    Gesto do conhecimento

    Quando se pretende fazer a gesto de algo, de qualquer coisa, de-para-se com o problema importante de se saber em que consiste essealgo para poder identific-lo e realizar, num segundo momento, a suagesto. Porm, uma vez solucionado esse problema, automaticamen-te aparece uma segunda dificuldade, e no de menor intensidade: essagesto deve tentar ajustar-se natureza e caractersticas daquilo quese quer gerir (Prez-Montoro Gutirrez, 2008, p.53).

    Ainda segundo Prez-Montoro Gutirrez (2008, p.53), esse novoproblema se repete quando se pretende implantar um processo degesto do conhecimento em uma organizao. Partindo-se do pres-

    lidar com os problemas de adaptao externa e de integrao interna, pressu-postos estes que funcionam bem o suficiente para serem considerados vlidos eensinados aos novos membros como forma correta de perceber, pensar e sentir,em relao a esses problemas.

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    suposto de que h distintos tipos de conhecimento em uma organi-zao, h que ter em conta a natureza especial de cada um deles parapoder-se optar pela gesto mais adequada.

    Segundo Davenport (2004), a maioria dos administradores noentende a natureza da relao entre as pessoas e a informao e des-conhece qual o tipo de informao necessrio s vrias pessoas den-tro de uma organizao, no consegue definir como diferentes cola-boradores chegam a um consenso quanto ao significado de umainformao nem determinar o que motiva os indivduos a comparti-lhar ou a estocar informaes.

    Segundo o autor, um dos motivos pelos quais as organizaesefetivamente no administram a informao a falta de percepode como seria se elas o fizessem. Os gestores no sabem quais abor-dagens adotar ou quais benefcios poderiam ser obtidos. Eles sim-plesmente nunca viram exemplos de enfoques na informao e nona tecnologia. Entretanto, se tivessem escolha, bem possvel queoptassem pela via da informao.

    Davenport (2004, p.16) chega concluso de que os progres-sos efetuados nessa rea so resultado, em grande parte, do surgi-mento da gesto do conhecimento. Na prtica, muitas empresasdispem de ambos, conhecimento e informaes, nas suas inicia-tivas em gesto do conhecimento e reconhecem a importncia dofator humano no conhecimento, mesmo que suas organizaes te-nham se concentrado na tecnologia. Sendo assim, existe a necessi-dade de a informao e o conhecimento serem gerenciados da mes-ma forma que os recursos financeiros, materiais e humanos.

    Essa crescente necessidade de se gerenciar a informao, levan-do-se em conta tambm os aspectos humanos e as tecnologias deinformao e comunicao, resultou na formao de uma rea pro-f issional, originalmente chamada de Information resourcesmanagement. Essa expresso foi traduzida, no Brasil, como Geren-ciamento de recursos informacionais, e atualmente mais conhecidacomo Gesto da informao (Moraes & Fadel, 2006, p.107).

    Ainda segundo as autoras, essa rea se configura como um cam-po de estudo j consolidado nos Estados Unidos e na Europa cujos

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  • GESTO, MEDIAO E USO DA INFORMAO 37

    contedos tericos e operacionais tm se transformado em ferramen-ta imprescindvel para qualquer organizao que necessite produ-zir, localizar, coletar, tratar, armazenar, distribuir e estimular a ge-rao e o uso da informao.

    A gesto da informao o processo mediante o qual se obtm,se desenvolvem ou se utilizam recursos bsicos (econmicos, fsi-cos, humanos, materiais) para o manejo da informao no mbito epara a sociedade qual serve. Tem como elemento bsico a gestodo ciclo de vida desse recurso, e ocorre em qualquer organizao. prpria tambm de unidades especializadas que manejam esse re-curso de forma intensiva, chamadas de unidades de informao. Esseprocesso de gesto da informao deve ser valorado sistematicamenteem diferentes dimenses, e o domnio de suas essncias permite suaaplicao em qualquer organizao (Ponjun Dante, 2007, p.19).

    Ainda segundo a autora, os fluxos de informao que ocorremem todos os sistemas devem ser objeto da gesto da informao. Es-ses processos respondem a cada organizao, porque tem caracte-rsticas particulares. No geral podem ser associados a segmentos t-picos da organizao ou a uma dimenso. Podem ser identificadasas seguintes dimenses: o ambiente, os processos, as pessoas, a tec-nologia, a infraestrutura e os produtos e servios.

    Para Prez-Montoro Gutirrez (2008, p.63-4), a gesto do co-nhecimento pode ser definida na seguinte conformidade:

    A gesto do conhecimento pode ser entendida como a disciplina quese encarrega de estudar o projeto e a implementao de sistemas cujoprincipal objetivo que todo conhecimento tcito, explcito, individual,interno e externo envolvido na organizao possa transformar-se e con-verter-se, sistematicamente, em conhecimento organizacional ou corpo-rativo de forma que esse conhecimento corporativo, ao tornar-se acess-vel e poder ser compartilhado, permita que aumente o conhecimentoindividual de todos os seus membros e que isso redunde diretamenteem uma melhora da contribuio desses sujeitos no alcance dos objeti-vos que busca a prpria organizao.

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  • 38 MARTA VALENTIM (ORG.)

    Ainda segundo o autor, a gesto do conhecimento pode tambmser entendida como a disciplina que se encarrega do planejamento eda implementao de sistemas cujo principal objetivo convertertodo o conhecimento em valor para a empresa, como pode ser vistona Figura 1:

    Figura 1 Gesto do conhecimento nas organizaes.Fonte: Prez-Montoro Gutirrez (2008, p.64).

    Prez-Montoro Gutirrez (2008, p.63-4), entretanto, chama aateno para trs consequncias que podem ser extradas da defini-o por ele proposta de gesto do conhecimento:

    o fato de o conhecimento ser compartilhado e acessvel aos mem-bros da organizao produz um aumento de seu valor dentro daorganizao;

    todo programa de gesto do conhecimento inclui uma importantee substancial dimenso documental que no pode ser esquecidaou colocada em segundo plano;

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  • GESTO, MEDIAO E USO DA INFORMAO 39

    importante ressaltar que existe uma parte do conhecimento tci-to envolvido nas organizaes que no pode ser convertida em co-nhecimento corporativo.

    Assim, o autor destaca que certas habilidades, como saber coor-denar uma equipe de pessoas ou possuir alta e valiosa capacidade denegociao, poderiam ser identificadas como dois claros exemplosdo tipo de conhecimento que no pode ser convertido em conheci-mento corporativo. Dessa forma, a natureza especial desse tipo deconhecimento tcito o faz totalmente incompatvel com as opera-es que formam a gesto do conhecimento, ou seja, esse tipo deconhecimento no pode ser diretamente gerenciado no sentido es-trito. A nica opo para aproveitar esse conhecimento e revert-loem benefcio do restante da organizao passa por criar as condiesapropriadas para que esse possa ser gerenciado, e o contexto ade-quado para que, mediante processos de socializao, possa fazer-seacessvel e compartilhado por toda a organizao (ibidem, p.66).

    Prusak (2004, p.208) afirma que o conhecimento algo difcilpara se gerenciar, porque invisvel e intangvel e, assim, imensur-vel, e que no se sabe qual conhecimento existe no crebro de umapessoa, e compartilh-lo uma questo de escolha. Tal situao apre-senta problemas para aqueles que envolvem com programas de ges-to do conhecimento nas organizaes, uma vez que, por sua natu-reza, esses programas implicam certa tangibilidade de que algumbenefcio demonstrvel ser alcanado, melhorando o desempenhodas organizaes.

    Identificar esse tal benefcio leva os gestores a um conjunto deescolhas difceis. Eles podem admitir que o conhecimento seja defato invisvel e prosseguir apenas pela f; ou podem focar programasde gesto para o apoio a que as pessoas adquiram conhecimento,compartilhem-no com as outras em conversas e interaes diretas eutilizem-no efetivamente em decises e aes.

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  • 40 MARTA VALENTIM (ORG.)

    Metodologia Sistmica Soft (SSM)

    Abordagem sistmica

    Um dos precursores da teoria geral dos sistemas foi o bilogoalemo Ludwig von Bertalanffy. Em obra intitulada Teoria dos siste-mas, publicada no Brasil em 1976, o autor expe a definio da teo-ria na seguinte conformidade:

    A teoria geral dos sistemas tem por fim identificar as propriedades,princpios e leis caractersticos dos sistemas em geral, independente-mente do tipo de cada um, da natureza e seus elementos componentes edas relaes ou foras entre eles. (Bertalanffy, 1976, p.1)

    Ainda segundo o autor, sistema pode ser definido como um com-plexo de elementos em interao, interao essa de natureza ordena-da (no fortuita) (ibidem, p.1).

    Segundo Arajo (1995, p.7), a noo de sistema engloba uma sriede abordagens, tais como filosofia de sistemas (voltada para a tica,a histria, a ontologia, a epistemologia e a metodologia de sistemas),engenharia de sistemas (sistemas artificiais, como robs, processa-mento eletrnico de dados etc.), anlise de sistemas (desenvolvimen-to e planejamento de modelos de sistemas, incluindo matemticos)e a pesquisa emprica sobre sistemas (abrangendo a descoberta deleis, adequao e estudos de simulao de sistemas).

    O grande sucesso da abordagem sistmica pode ser atribudo,segundo Rapoport (1976, p.21), insatisfao crescente da comuni-dade cientfica com a viso mecanicista, ou com o mecanismo comomodelo universal, e necessidade de essa mesma comunidade con-trabalanar a fragmentao da cincia em especialidades quase iso-ladas umas das outras.

    Ao abordar a questo da aplicabilidade da teoria dos sistemas,Bertalanffy (1976, p.1) a considera aberta s possibilidades dos v-rios campos da pesquisa cientfica:

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  • GESTO, MEDIAO E USO DA INFORMAO 41

    Tratando das caractersticas formais das entidades denominadas sis-temas, a teoria geral dos sistemas interdisciplinar, isto , pode ser usa-da para fenmenos investigados nos diversos ramos tradicionais da pes-quisa cientfica. Ela no se limita aos sistemas materiais, mas aplica-se aqualquer todo constitudo por componentes em interao. A teoria ge-ral dos sistemas pode ser desenvolvida em vrias linguagens matemti-cas, em linguagem verncula, ou ser computadorizada.

    Pode-se perceber que a definio de sistema, bem como as con-sequentes possibilidades de pesquisa, abrangente o suficiente paraque possa abarcar um nmero quase infinito de estruturas perten-centes ao mundo real, desde que estejam dispostas em partes e con-tem com uma coordenao, visando a uma organizao. Entretanto,segundo Cavalcanti & Paula (2006, p.3), essa organizao nem sem-pre assegura o funcionamento contnuo do sistema, culminando,muitas vezes, em rupturas ou problemas que impedem a interaodo todo, surgindo assim a necessidade da abordagem sistmica, umavez que essa permite a resoluo de problemas a partir de um exten-so olhar para o todo, em vez de se observar apenas as partes.

    Schoderbek et al. (1990, p.8) sistematizam as diferenas en-tre a abordagem analtica e a abordagem sistmica na seguinteconformidade:

    Quadro 1 Comparao entre abordagem analtica e abordagemsistmica.

    Caractersticas Abordagem analtica Abordagem sistmica

    nfase Nas partes No todo

    Tipo Relativamente fechado Aberto

    Ambiente No definido Um ou mais

    Entropia Tende para a entropia No aplicvel o sistema interage como ambiente

    Metas Manuteno Mudana e aprendizado

    Hierarquia Poucas Possivelmente muitas

    Estado Estvel Adaptativo, busca novo equilbrio

    Fonte: Schoderbek et al. (1990, p.8).

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    Uma anlise do Quadro 1 permite observar que a anlise sist-mica privilegia a nfase no todo, ao contrrio da abordagem analti-ca, que privilegia a abordagem das partes. Alm disso, deve-se no-tar que o tipo de sistema proveniente da abordagem analtica relativamente fechado, tendendo entropia, enquanto na aborda-gem sistmica h uma tipologia sistmica aberta, sem entropia, umavez que o sistema encontra-se em interao com o ambiente. Comrelao s metas, pode-se afirmar que, como consequncia do foconas partes, a abordagem analtica tende manuteno, enquanto aabordagem sistmica tende mudana e ao aprendizado por ser umsistema adaptativo, sempre em busca de um novo equilbrio. Comoconsequncia, a abordagem analtica tende a ser menos hierrquica,em contraponto com a abordagem sistmica, que tende a ser maishierrquica.

    Em suma, a abordagem sistmica , no dizer de Churchman(1968, p.15), um continuum de percepo e iluso; uma contnua re-viso do mundo, do sistema total e de seus componentes; a essnciada abordagem sistmica tanto confuso quanto esclarecimento ambos, aspectos inseparveis da vida humana. Com base nessecontinuum percepo-iluso, Churchman (1968, p.27) sumariza aabordagem sistmica nos quatro pontos a seguir:

    a) a abordagem sistmica comea quando, pela primeira vez, v-seo mundo por meio dos olhos de outrem;

    b) a abordagem sistmica apercebe-se continuamente de que todaviso de mundo terrivelmente restrita. Em outras palavras, cadaviso de mundo enxerga apenas uma parte de um sistema maior;

    c) no existe ningum que seja perito na abordagem sistmica, isto, o problema da abordagem sistmica captar o que todos sa-bem, algo fora do alcance da viso de qualquer especialista;

    d) a abordagem sistmica no , de todo, uma m ideia.

    Cavalcanti e Paula (2006) diferenciam os sistemas na seguinteconformidade:

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    Os sistemas podem ser naturais, como os organismos vivos, ou ela-borados, como as organizaes sociais; podem ser sistemas pblicos,como a administrao pblica, ou privados, como a maioria das empre-sas; tambm so encontrados como sistemas isolados, como uma classeescolar, ou abrangentes, como os sistemas que integram e transcendemdiversos domnios (sistema de transporte, de gua, de educao, econ-mico, judicirio, poltico, entre outras inmeras classificaes).(Cavalcanti & Paula, 2006, p.3)

    Para Lieber (2001, p.2), alm da condio decorrente da formade acoplamento, os sistemas classificam-se tambm conforme g-neros. Podem-se pressupor duas condies extremas, os sistemasnaturais (relativos natureza) e os sistemas sintticos (relativos aohomem). Para os primeiros poder-se-ia perguntar se a natureza real-mente constitui um sistema. Enquanto para os segundos a dvida se existe realmente um sistema absolutamente sinttico, j que ohomem natural e faz uso da natureza. A resposta a essas questesdeve levar em conta que a teoria dos sistemas no compreende obje-tivo mimtico na representao, mas assume-se que o tratamento arbitrrio, como interpretar a natureza como um sistema. Podem-sepresumir sistemas sintticos absolutos quando se consideram a geo-metria, as equaes matemticas ou um software. Os sistemas sint-ticos so plenos de finalidade, ao contrrio dos sistemas naturais,pois, a rigor, no real no falta nada. A natureza o que . Masquando o homem interage com a natureza, ele impe a esta uma fi-nalidade antes no presente. Coerentemente com uma condio deum ser de necessidades, faltas ou excessos vo sendo estabe-lecidos por ele em pertinncia ao um fim presumido. Mas, como ohomem tambm um ser de ao, ele se v coagido a lidar com anatureza nessa pertinncia, ou seja, o homem trabalha.

    Os sistemas, em relao sua interao com o meio ambiente,tm sido classificados como fechados ou abertos, embora na realida-de nenhum deles se apresente sob essas formas extremas. A viabili-zao do sistema em cada condio distinta de fronteira decorre daspossibilidades dadas pelo processo. Nos sistemas fechados (ou est-

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  • 44 MARTA VALENTIM (ORG.)

    veis, ou mecnicos) h pouca ou quase nenhuma interao com omeio, ao contrrio dos sistemas abertos (ou adaptativos, ou orgni-cos). Os sistemas compreendidos como mecnicos buscam mini-mizar a organizao (equilbrio), enquanto os sistemas orgnicosbuscam a preservao de uma estrutura geneticamente dada dentrode certos limites (homeostase). O sistema ciberntico um tipo parti-cular de sistema aberto. Sua principal caracterstica a complexidadee a morfognese (recriao de estruturas). Ou seja, ao contrrio dosdemais, os sistemas cibernticos tm caractersticas adaptativas, emque a criao, a elaborao e a modificao das estruturas so tidascomo pr-requisito para permanecerem viveis como sistemasoperantes (Lieber, 2001, p.3).

    Segundo Arajo (1995, p.9), uma das classificaes mais empre-gadas na cincia da informao diz respeito diviso em sistemasnaturais os existentes na natureza e sistemas artificiais ou sociais os criados pelo homem para aperfeioar os sistemas naturais , e aautora ressalta que a conotao de sistema social o de sistema cria-do pelo homem, e no a de sistema social tal como adotada nas cin-cias sociais de uma maneira geral, que diz respeito a agrupamentosespecficos de indivduos, conotando sociedades.

    Considerando-se ainda a abordagem sistmica, h que visuali-zar as possibilidades metodolgicas oferecidas a partir dos referen-ciais tericos, uma vez que cada referencial determina a abrangnciadas propriedades sistmicas, que podem ser explicadas por meio deseus instrumentos, gerando uma taxonomia dos sistemas.

    Segundo Martinelli & Ventura (2006, p.58), entre as metodolo-gias sistmicas, existem as metodologias hard e as metodologias soft.Para os autores, as metodologias hard representam a continuidadeda influncia na teoria dos sistemas das cincias exatas, como a fsi-ca e a matemtica, demandando grande rigor e quantificao, umavez que se baseiam no paradigma dedutivo e em regras exatas deprocedimentos e provas. Normalmente, resultam em modelos des-critivos satisfatrios, mas com poucas diretrizes normativas.

    J as metodologias soft consideram o sistema como uma parte per-cebida ou uma unidade que est apta a manter sua identidade, apesar

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  • GESTO, MEDIAO E USO DA INFORMAO 45

    das mudanas ocorridas. Os sistemas soft apresentam estrutura, rea-gem ao ambiente, alterando as suas funes de curto prazo, e passampor mudanas lentas de longo prazo, mantendo a sua identidade.

    Van Gigch (1974, p.38) sistematizou as abrangncias de cadametodologia, como pode ser visto no Quadro 2:

    Quadro 2 Taxonomia das cincias e sistemas.

    Fonte: Van Gigch (1974, p.38).

    A dcada de 1980 marca o surgimento na literatura (Checkland,1981) do que se convencionou denominar metodologias da aborda-gem soft ou, ainda, metodologias para a estruturao de problemas.No entanto, esses mtodos, na verdade, passam a ser desenvolvidosa partir da dcada de 1960 procurando dar conta de situaes pro-blemticas, nas quais a abordagem quantitativa no pode ser aplica-da no apenas graas complexidade ou incerteza existente, mas tam-bm por haver a necessidade de se enfatizar os aspectos subjetivosenvolvidos em tais situaes.

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  • 46 MARTA VALENTIM (ORG.)

    A Metodologia Sistmica Soft (SSM):aplicaes, benefcios e limitaes

    Em uma reviso na literatura, no foram encontrados trabalhosque indiquem quais os casos em que a SSM de aplicao mais re-comendada. Em geral, os estudos apenas enfatizam a conveninciada SSM para situaes sociais complexas, nas quais a mensurao eo controle so impraticveis ou ineficientes.

    Para Bellini et al.(2004, p.5), o pouco debate em torno das pos-sveis aplicaes da SSM deve-se ao entendimento de que ela podeservir a qualquer situao problemtica, ao contexto organizacio-nal ou pesquisa social aplicada, e que sua eficcia raramente afe-tada por culturas internas ou estilos gerenciais. Entre os usos po-tenciais, esto a indstria, o setor pblico e as instituies defilantropia. Tambm no h estimativas sobre a durao mdia deuma aplicao da SSM.

    Tambm h poucos registros sobre quais situaes a SSM no semostra eficaz. Alm da concluso imediata de que ela no se presta operacionalizao de solues, so imprprios ao mbito da SSMalguns ambientes intransigentes e autocrticos, e sociedades queevitam o confronto de ideias (obstruindo a discusso em grupo) ouem que h alta rotatividade no emprego (prejudicando a implemen-tao, pelos participantes do projeto, das propostas de soluo oriun-das da SSM). Indica-se ainda que, na tomada de deciso gerencial, aSSM no pode ser usada para a previso de efeitos de opes estrat-gicas (ibidem, p.6).

    Segundo Checkland (1985), independentemente da aplicaoespecfica da metodologia, seu principal resultado o aprendizado.Em essncia, a SSM favorece o pensamento sistmico e organiza umaagenda para se discutirem problemas e solues, mas no produzrespostas finais ou resultados fixos. Os benefcios da sua aplicaoadvm do processo como um todo, destacando-se os seguintes:

    encoraja-se o analista a considerar questes e temas problemti-cos (em vez de problemas especficos);

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  • GESTO, MEDIAO E USO DA INFORMAO 47

    promove-se um melhor entendimento acerca de fraquezas orga-nizacionais e, s vezes, revela-se o porqu de problemas;

    no se impem solues tecnolgicas ou modismos; e exige-se a participao de envolvidos na situao problemtica,

    evitando-se a formulao de polticas alheias realidade orga-nizacional.

    Adicionalmente, h que citar que o debate aberto entre os prin-cipais atores de uma situao problemtica estimula uma posseconjunta das solues elaboradas, e estas pertencem s pessoas daprpria organizao.

    Os sete estgios de aplicao da SSM

    Nas cincias sociais, a SSM uma metodologia de gesto essen-cial para qualquer planejamento, focando os seguintes aspectos:

    exame das percepes do mundo real; definio de aes para se atuar no mundo real; reflexes sobre os efeitos resultantes das aes tomadas.

    Como metodologia soft, a SSM no produz respostas finais aquestionamentos (Checkland, 1985) nem acompanha o pesquisa-dor durante as implementaes, mas o remete, muitas vezes, a abor-dagens hard3 para esses fins. Isso est de acordo com o entendimen-to de que a SSM no prescritiva e prope questes a serem tratadaspor outros meios. O questionamento, ento, na SSM algo que nuncatermina (ibidem).

    3 Os Hard Systems Thinking ignoram a dinmica dos sistemas ao longo do tem-po e cuja sequncia de eventos : reconhecer o problema, definir o problema,identificar as aes para resolv-lo e o problema resolvido (Checkland, 1981,p.154).

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  • 48 MARTA VALENTIM (ORG.)

    Checkland (1981) indica sete estgios para a aplicao da SSM,enfatizando suas caractersticas de apoio aprendizagem e refor-mulao de hipteses. Nesse sentido, os aplicadores da SSM devem:

    (1) explorar uma situao problemtica no estruturada;(2) express-la;(3) construir definies sucintas de sistemas relevantes;(4) elaborar modelos conceituais desses sistemas;(5) comparar os modelos com a situao problemtica expressada;(6) reunir mudanas culturalmente possveis e sistemicamente de-

    sejveis;(7) sugerir aes para transformao da situao problemtica.

    A Figura 2 ilustra os estgios da SSM:

    Figura 2 Estgios da SSM.Fonte: Checkland (1985).

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  • GESTO, MEDIAO E USO DA INFORMAO 49

    Estgios 1 e 2: situao problemtica no estruturada e expressa

    Nos dois primeiros estgios, realiza-se um mapeamento da situa-o problemtica, da maneira mais neutra possvel. Para tanto, suge-re-se que todas as pessoas envolvidas na modelagem (pesquisadorese envolvidos diretos com a situao problemtica) elaborem figurasricas (a nomenclatura prpria da SSM), que so representaes gr-ficas livres com o objetivo de serem evidenciados os entendimentosindividuais a respeito de problemas. O uso de grficos encoraja a for-mao de ideias e facilita a observao de relaes e conflitos, masno h figuras ricas ou convenes grficas tpicas ou ideais.

    Segundo Checkland (1981), os aspectos principais a serem con-siderados na construo dessas figuras so:

    a estrutura da situao: itens estticos (como layout fsico), hierar-quias formais e informais e sistemas de comunicao;

    processo da situao: entendimento de como as coisas funcioname de quem faz o qu;

    a relao entre estrutura e processo (o clima da situao): cultu-ra organizacional.

    Checkland (1981) indica que cada ponto de vista d origem a umsistema relevante (ou assim espera-se que acontea), constituindo pro-cesso que estimula uma busca criativa por opes desejveis. Tais sis-temas servem para entenderem-se os principais aspectos contextuais.

    Estgio 3: definies sucintas de sistemas relevantes

    Aps o desenho das figuras ricas, discusso a seu respeito e iden-tificao de possveis sistemas relevantes, aspectos da situao es-truturada so colocados em termos sistmicos: uma descrio bsi-ca das atividades, sobre como elas deveriam ser, a partir de umdeterminado ponto de vista.

    Entre os sistemas relevantes identificados, escolhe-se um quetenha maior importncia segundo critrios preestabelecidos pelas

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  • 50 MARTA VALENTIM (ORG.)

    pessoas envolvidas no estudo (pesquisadores e participantes da si-tuao em anlise). Desse particular sistema tenta-se extrair umaestrutura fundamental, a definio sucinta, que servir de base parao seu entendimento sistmico e para possveis solues aceitveis edesejveis para a situao problemtica (Checkland, 1981).

    Checkland (1981) alerta que a elaborao dessa definio sucin-ta pode no ser trivial para muitas pessoas. O recurso que auxilia asua construo conhecido pelo mnemnico CATWOE, o qualidentifica os elementos bsicos que nela devem estar presentes:

    Quadro 3 Elementos da CATWOE para definies sucintasde sistemas relevantes.

    C (customers) cliente Vtima ou beneficirio do sistemaA (actors) ator Protagonista das atividadesT (transformation process) transformao Transformao de entradas em sadasW (Weltanschauung) viso de mundo ContextoO (owner) proprietrio Quem tem poder para modificar ou pa-

    rar o sistemaE (environmental constraints) restries Restries do ambiente externoambientais

    Fonte adaptada: Checkland (1981, p.290).

    A correta identificao do sistema de atividades requer atenopara definio dos elementos acima. Checkland (1981, p.292) afir-ma que muito comum, por exemplo, fazer-se uma definio err-nea para customers. Deve-se ter o cuidado de no identificar comoclientes do sistema as pessoas que usualmente consumiriam osprodutos resultantes de um processo industrial, por exemplo. O cor-reto definir quais seriam as pessoas responsveis por levar adianteesse processo. Outro cuidado relevante seria no levantar um n-mero excessivo de aspectos para o que se chama de Weltanschauunge para as transformaes (T). Torna-se impossvel conceber ummodelo com um nmero excessivo de percepes e/ou transforma-es, pois o modelo perderia a riqueza adquirida pela possibilidadede, nas definies sucintas de sistemas relevantes, definir o que o

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    sistema, e na construo do modelo conceitual (estgio 4) definir oque precisa ser feito para transform-lo na situao desejada.

    Estgio 4: modelos conceituais

    Os modelos conceituais representam o terceiro dispositivo demodelagem da SSM (os outros dois so as figuras ricas e as defini-es sucintas), incorporando o que um sistema deve contemplar paraestar de acordo com as definies sucintas. Como essa uma fase dopensamento sistmico, devem ser considerados processos de moni-toramento e controle, alm de se prever que o sistema se comuniquecom o mundo exterior por meio das suas fronteiras. H que ressal-tar, ainda, que os modelos conceituais no so normativos e repre-sentam estados desejveis, no reais.

    Checkland (1981), no entanto, alerta para alguns cuidados quese deve ter na formulao de um modelo conceitual. Um dos aspec-tos mais importantes a levar em considerao, para o qual existe umagrande tendncia, que no se deve conceber o sistema como umadescrio dos sistemas de atividades da realidade presente no mun-do real. Isso foge da proposta da abordagem que de fazer-se umaextrema reflexo selecionando alguns pontos de vista para a situa-o problemtica, os quais seriam possivelmente relevantes paramelhor-la, testando as implicaes desses pontos de vista nos mo-delos conceituais e comparando (no estgio 5) esses modelos com oque existe no mundo real.

    Em outras palavras, no se deve procurar descrever uma realida-de preexistente quando da construo do modelo conceitual. O quese busca formular um modelo que, testado sob alguns aspectos jul-gados relevantes, deve ser um meio para alcanar a realidade deseja-da. Deve-se buscar construir um sistema de atividades que a tornevivel.

    Segundo Checkland (1981, p.286), o modelo ir conter um n-mero mnimo de aes necessrias para que o sistema se torne o quefoi concisamente descrito na definio de razes. Essas aes devemser conectadas de acordo com necessidades lgicas e indicando flu-

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  • 52 MARTA VALENTIM (ORG.)

    xos essenciais para o primeiro nvel de resoluo, ou seja, as interco-nexes entre os subsistemas definidos como razes.

    A seguir sero citadas algumas recomendaes bsicas queCheckland (1981, p.290) descreve com uma tcnica para a constru-o de um modelo conceitual em seu primeiro nvel.

    1. A definio da raiz e dos elementos CATWOE forma a impres-so do sistema como uma entidade independente que conduz umprocesso de transformao fsica e abstrata.

    2. Agrupar um pequeno nmero de aes (verbos) que descrevemas atividades mais fundamentais para o sistema descrito. Deve-se tentar manter apenas um nvel de resoluo, evitando a mistu-ra de atividades definidas em diferentes nveis de detalhe.

    3. Estruturar as atividades em grupos que tragam consigo ativida-des semelhantes (grupos que juntos produzem algumas sadasgeradas pelo sistema).

    4. Conectar as atividades e os grupos de atividades por setas as quaisindicam dependncias lgicas.

    5. Indicar alguns fluxos (concretos ou abstratos) que so essenciaispara a expresso do que o sistema faz. importante distinguiresses fluxos das dependncias lgicas feitas no item anterior e ten-tar indicar um nmero mnimo de fluxos neste estgio.

    6. Verificar se as definies sucintas de sistemas relevantes e o mo-delo conceitual constituem mutuamente em um par de declara-es que definem o que o sistema e o que o sistema faz.

    Se o modelo for elaborado de acordo com essa sequncia, ele po-der ser usado como uma fonte para outras verses para modelos domesmo nvel de detalhe como para modelos dos sistemas constituin-tes. Cada modelo conceitual pode ser expandido em um grupo demodelos que expressam possveis maneiras de transformao. Avalidao das modelagens procedidas aps a estruturao do mode-lo bsico (no primeiro nvel de detalhe) depender de como elas es-to inseridas no contexto do problema como um todo, no baseadounicamente nas razes definidas (Checkland, 1981, p.290).

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  • GESTO, MEDIAO E USO DA INFORMAO 53

    Logo, deve-se ter uma preocupao em formar grupos de ativi-dades e interconexes lgicas que possibilitem um detalhamento queconduza a um maior conhecimento sobre a situao problemtica eao mesmo tempo facilitem os processos de transformaes requeri-dos para a realidade desejada. Ao passo que se esse procedimentofor voltado para o que foi definido nas razes, o modelo perder suafuno bsica que descrever os meios de transformao.

    Estgio 5: modelos conceituais e situao problemtica expressa

    Nesse estgio comparam-se os modelos conceituais com o mun-do real (Checkland, 1981). importante serem consideradas, nomomento da comparao, as aes e mudanas necessrias para atransformao da situao problemtica. Conforme Checkland(1981), quatro so as formas de se efetuar a comparao:

    usando-se o modelo conceitual para apoio investigao requerida o modelo conceitual no mostrado s pessoas envolvidas nasituao que est sendo modelada, e o analista o utiliza como for-ma de facilitar o debate sobre a mudana;

    trilhando-se o modelo conceitual com sequncias de eventos pas-sados investigao de como os eventos teriam ocorrido se o mo-delo conceitual tivesse existido anteriormente, e comparao coma prtica (um problema associado a seletividade da memria daspessoas envolvidas);

    discutindo-se o modelo conceitual com os atores principais da si-tuao (o analista necessita de tempo para explicar as caractersti-cas do modelo conceitual aos envolvidos);

    sobrepondo-se modelos comparao do modelo conceitual coma realidade, quando se identifica a presena, ou no, das ativida-des do modelo conceitual no mundo real.

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  • 54 MARTA VALENTIM (ORG.)

    Estgios 6 e 7: mudanas possveis e desejadase aes para transformao

    Nos dois ltimos estgios, elaboram-se recomendaes de mu-dana, mas a soluo para uma situao problemtica nem semprepode ser obtida com metodologia soft; de fato, pode-se requerer ouso de alguma abordagem hard para isso. O principal resultado ob-tido pela perspectiva soft , j dito, a aprendizagem.

    De modo geral, alternativas de ao so recomendadas ao finaldo estudo. Tambm podem ser esperadas mudanas nos aspectostratados pelas duas primeiras fases: a estrutura (forma como as pes-soas so organizadas e controladas), o processo (modo como as pes-soas trabalham e suas interaes neste particular) e o clima (atitudesdas pessoas com relao ao trabalho, clientes etc.).

    Consideraes finais

    A SSM foi selecionada como metodologia de trabalho por suacapacidade de lidar com situaes bastante complexas, nas quaisno exista consenso acerca do problema; ou seja, so conhecidas asconsequncias, mas no se sabe exatamente o que fazer para que osistema em foco atinja seus objetivos. Alm disso, a SSM est con-solidada em crculos acadmicos como a mais desenvolvida abor-dagem soft e um importante veculo para pesquisa qualitativa.

    A SSM uma metodologia, e no tcnica, para a articulaode problemas pouco estruturados. Entre os motivos para essa es-colha, destaca-se a sua proeminncia na literatura acadmica so-bre realidades complexas (Ranyard, 2000; Rose, 1997). A suaaplicao se fundamenta em uma ampla interao entre facilita-dores e pessoas envolvidas nas situaes em estudo, pois o que sebusca o aprendizado, a acomodao de mltiplos interesses evises, no presente caso, voltadas gerao do conhecimento. Defato, ela objetiva o consenso a partir da participao de pessoas detodos os nveis organizacionais.

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  • GESTO, MEDIAO E USO DA INFORMAO 55

    Utiliza-se a SSM por permitir a adoo de uma abordagem glo-bal do problema a ser abordada, sendo aplicvel com elevado nvelde abstrao e de resoluo aos complexos estudos no campo social.

    Segundo Bellini et al. (2004, p.4), a sua aplicao se fundamentaem uma ampla interao entre facilitadores e pessoas envolvidas nassituaes em estudo, pois o que se busca o aprendizado, a acomo-dao de mltiplos interesses e vises, no presente caso, voltadas gerao do conhecimento. De fato, ela objetiva o consenso a partirda participao de pessoas de todos os nveis organizacionais.

    Dessa forma, pode-se afirmar que a SSM contempla os objeti-vos dos estudos da gesto do conhecimento nas organizaes, umavez que essa lida com situaes subjetivas e complexas, e apenas umaabordagem quantitativa no parece ser capaz de apresentar resulta-dos em sua totalidade.

    Como visto anteriormente, os modelos conceituais extrados daSSM no so normativos e representam estados desejveis, no reais,podendo, dessa forma, ser aplicados a uma gama variada de organi-zaes nas quais se pretende centrar a gesto do conhecimento naspessoas e na cultura organizacional.

    Referncias

    ARAUJO, V. M. R. H. Sistemas de informao: nova abordagem teri-co-conceitual. Cincia da Informao, Braslia, v.24, n.1, 1995.

    BELLINI, C. G. P. et al. Soft systems methodology: uma aplicao noPo dos Pobres de Porto Alegre. RAE-Eletrnica, So Paulo, v.3,n.1, Art.3, jan./jun. 2004.

    BERTALANFFY, L. von et al. Teoria dos sistemas. Rio de Janeiro:Editora FGV, 1976.

    CAVALCANTI, M. F.; PAULA, V. A. F. Teoria