apostila - mediacao conflitos 1

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Curso Mediação de Conflitos 1 Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 06/03/2009 Página 1 Curso Mediação de Conflitos 1 Créditos O conteúdo deste curso, na versão para modalidade a distância, foi organizado por Bernadete Cordeiro, consultora pedagógica da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), a partir das seguintes fontes: ISA-ADRS: Instituto de Negociação, Mediação, Conciliação e Arbitragem Ltda, também denominado Instituto de Soluções Avançadas. Instituição privada, com foco em gestão de conflitos. (http://www.isaconsultoria.com.br/ ) MEDIARE:Empresa especializada na prevenção, avaliação, administração e resolução de conflitos. (http://www.mediare.com.br/) VIDA e JUVENTUDE: Centro Popular de Formação da Juventude, por meio da seguinte obra: SEIDEL, Daniel [org.]. Mediação de conflitos: a solução de muitos problemas pode estar em suas mãos. Brasília: Vida e Juventude, 2007. (http://www.vidaejuventude.org.br/) Na elaboração deste curso foram aplicadas as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

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  • Curso Mediao de Conflitos 1 Mdulo 1 SENASP/MJ - ltima atualizao em 06/03/2009

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    Curso Mediao de Conflitos 1 Crditos

    O contedo deste curso, na verso para modalidade a distncia, foi organizado por Bernadete Cordeiro, consultora pedaggica da Secretaria Nacional de Segurana Pblica (SENASP), a partir das seguintes fontes:

    ISA-ADRS: Instituto de Negociao, Mediao, Conciliao e Arbitragem Ltda, tambm denominado Instituto de Solues Avanadas. Instituio privada, com foco em gesto de conflitos. (http://www.isaconsultoria.com.br/)

    MEDIARE:Empresa especializada na preveno, avaliao, administrao e resoluo de conflitos. (http://www.mediare.com.br/)

    VIDA e JUVENTUDE: Centro Popular de Formao da Juventude, por meio da seguinte obra:

    SEIDEL, Daniel [org.]. Mediao de conflitos: a soluo de muitos problemas pode estar em

    suas mos. Braslia: Vida e Juventude, 2007. (http://www.vidaejuventude.org.br/)

    Na elaborao deste curso foram aplicadas as regras do novo Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa.

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    Apresentao Este curso foi elaborado a partir do material didtico do curso de Mediao e Resoluo

    Pacfica de Conflitos em Segurana Cidad, desenvolvido pelas instituies ISA-ADRS e MEDIARE, no mbito do Projeto de Cooperao Tcnica Internacional Segurana Cidad, executado pela SENASP, em parceria com o PNUD.

    Com o intuito de possibilitar o aprofundamento dos temas tratados na modalidade presencial,

    foi inserido na modalidade a distncia trechos do livro Mediao de conflitos: a soluo de

    muitos problemas pode estar em suas mos, organizado por Daniel Seidel, produzido pelo

    Centro Popular de Formao da Juventude (Vida e Juventude).

    importante ressaltar que dentre os instrumentos metodolgicos desenvolvidos para a

    preveno da violncia e a construo de uma cultura de paz, destaca-se a mediao de

    conflitos, que deve ser entendida como um mecanismo mais amplo de desconstruo de

    conflitos, destinado a transformar padres de comportamento e a estimular o convvio em

    ambiente cooperativo, no qual os conflitos possam ser tratados sem confrontos e de modo no

    adversial.

    O curso est organizado em duas unidades: Mediao de conflitos I e II. A unidade I est

    dividida nos seguintes mdulos:

    Mdulo 1 Conflitos e violncia Mdulo 2 Meios de resoluo pacfica de conflitos Mdulo 3 Mediao de conflitos Mdulo 4 O mediador Mdulo 5 tica e confidencialidade do mediador

    Este curso tem por objetivo criar condies para que voc possa: Ampliar conhecimentos para: Distinguir conflito de violncia; e

    Identificar os meios de resoluo pacfica de conflitos.

    Desenvolver habilidades para: Detalhar o processo de mediao de conflito; e

    Descrever a funo do mediador como agente transformador nas situaes de crise e em

    contextos de violncia, atuando de forma interdisciplinar.

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    Fortalecer atitudes para: Construir uma viso crtica sobre a resoluo pacfica de conflitos; e

    Reconhecer a importncia da mediao como poltica pblica de promoo dos direitos

    humanos e da segurana cidad.

    Mdulo 1 Conflitos e violncias

    comum as pessoas confundirem conflito com discusses, brigas e violncia, pois muitas

    situaes conflituosas tm seu fim com um ato violento.

    Mas, ento cabe perguntar: voc sabe o que conflito?

    Este mdulo criar condies para que voc possa refletir sobre o tema.

    O contedo deste mdulo est dividido em 2 aulas: Aula 1 Entendendo os conflitos: conceitos e reflexes

    Aula 2 Estilo de manejo de conflitos Ao final deste mdulo, voc dever ser capaz de:

    Definir conflito; Identificar os estilos de conflitos;

    Analisar aspectos que possibilitem a reflexo sobre o tema; e

    Compreender os pontos principais da resoluo no-violenta de conflitos.

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    Aula 1 Entendendo os conflitos: conceitos e reflexes

    O que conflito?

    Conflito pode ser definido como: Desentendimento entre duas ou mais pessoas sobre um tema de interesse comum.

    Conflitos representam a dificuldade de lidar com as diferenas nas relaes e dilogos, associada a um sentimento de impossibilidade de coexistncia de interesses, necessidades e pontos de vista.

    Reflexes

    SEIDEL (2007) apresenta quatro pontos de vista sobre conflitos que possibilitaro voc refletir

    sobre o tema:

    1. Conflitos no so problemas

    possvel perceber uma tendncia geral de se ter uma viso negativa do conflito. Os conflitos,

    porm, so normais e no so em si positivos ou negativos, maus ou ruins. a resposta que se d aos conflitos que os torna negativos ou positivos, construtivos ou destrutivos. A questo central como se resolvem os conflitos: se por meios violentos ou atravs do dilogo.

    Os conflitos devem ser compreendidos como parte da vida humana, sendo seu problema transferido para a forma com que sero enfrentados e resolvidos.

    2. Diferena entre conflito e briga

    Conflitos no so sinnimos de intolerncia ou desentendimento, nem se confundem com

    briga. A briga j uma resposta ao conflito. Um conflito pode ser definido como a diferena entre duas metas sustentadas por agentes de um sistema social. Podem ser organizados em trs nveis: pessoais, grupais ou entre naes. 3. Frente ao conflito, podem ser assumidas trs atitudes bsicas: Ignorar os conflitos da vida;

    Responder de forma violenta aos conflitos; e

    Lidar com os conflitos de forma no-violenta, por meio do dilogo.

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    4. Os benefcios dos conflitos

    justamente a no aceitao dos conflitos que provocam a violncia. Busca resolver o conflito, negando o outro. Todavia, quando se aprende a lidar com o conflito de forma no-

    violenta, ele deixa de ser encarado como o oposto da paz e passa a ser visto como um dos

    modos de existir em sociedade. Os conflitos podem trazer os seguintes benefcios:

    Estimular o pensamento crtico e criativo; Melhorar a capacidade de tomar decises;

    Reforar a conscincia da possibilidade de opo;

    Incentivar diferentes formas de encarar problemas e situaes;

    Melhorar relacionamentos e a apreciao das diferenas; e

    Promover a autocompreenso.

    Paz e conflitos

    O conflito no um obstculo paz. Pelo contrrio, para construir uma cultura de paz preciso mudar atitudes, crenas e comportamentos. A paz um conceito dinmico que leva as pessoas a provocar, enfrentar e resolver os conflitos de uma forma no-violenta. Uma educao para a paz reconhece o conflito como um trampolim para o desenvolvimento: que no busque a eliminao do conflito, mas sim, modos criativos e no-violentos de resolv-los. H trs caminhos fundamentais:

    A preveno do conflito, desenvolvendo a sensibilidade presena ou potencial de violncia e injustia (sistemas de alerta prvio) e a capacidade de anlise do conflito;

    A resoluo, ou seja, o enfrentamento do problema e a busca de mecanismos institucionais; e

    A transformao, em vista de estratgias para mudana, reconciliao e construo de relaes positivas. (SEIDEL, 2007, p. 11)

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    Aula 2 Estilo de manejo de conflitos

    Evoluo dos norteadores para resoluo de conflitos De acordo com os consultores da ISA-ADRS e do MEDIARE, possvel observar quatro

    geraes na evoluo dos norteadores para resoluo de conflitos, o que no significa dizer

    que as primeiras formas de resoluo tenham sido abandonadas, apenas demonstram que

    medida que a humanidade desenvolve seus sistemas de cdigos e escritas, bem como

    tratados, convenes, leis... necessidade da construo da paz, aprimoram-se tambm as

    formas de resoluo de conflitos.

    1 gerao Resoluo baseada na imposio, pela fora e pelo poder; 2 gerao Baseado no direito; 3 gerao Baseado nos interesses; e 4 gerao Identificao dos interesses de todas as pessoas envolvidas e a possibilidade de atend-los.

    Importante Um olhar mais atento possibilitar que voc perceba que essa evoluo nas formas de

    resoluo tambm representa uma mudana de foco: da preocupao com o resultado do

    problema (objeto do conflito) para a preocupao com as pessoas (relaes interpessoais).

    Manejando conflitos interpessoais A mudana de foco na evoluo da resoluo de conflitos refora que no h uma receita nica

    para resolv-los, contudo, os autores que estudam o tema destacam aspectos importantes que

    devem ser observados no manejo de conflitos, ou seja, na forma de abord-los.

    Segundo Moscovici (1997, p. 146), antes de pensar numa forma de lidar com o conflito,

    importante e conveniente procurar compreender a dinmica do conflito e suas variveis.

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    Schimidt e Tannenbaum (1992 apud MOSCOVICI, 1997, p. 146) chamam a ateno para trs

    variveis que devem ser observadas ao se fazer um diagnstico de uma situao de conflito.

    So elas:

    A natureza das diferenas (ponto de vistas e interesses divergentes);

    Os fatores subjacentes (informaes, percepes e papel que ocupam na sociedade); e

    O estgio de evoluo do conflito (momento em que o conflito se encontra).

    Para que voc possa compreender as possibilidades de manejo de conflitos interpessoais,

    observe a figura a seguir, proposta de Kilmann-Thomas (1975) adaptada por ISA-ADRS e

    MEDIARE (2007).

    Fonte: Adaptao de Kilmann, R. e Thomas, 1975 Interpersonal conflict-handling behavior as reflections of Jungian personality dimensions, Psychological Reposrt 37, pg. 971-980. Assertividade Grau em que o indivduo procura defender seus interesses e necessidades com coerncia de sentimento, pensamento e ao.

    Cooperao Grau em que o indivduo procura satisfazer o interesse de outras pessoas.

    Competio O indivduo busca seus interesses s custas dos interesses de outras pessoas.

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    Evitao Representa a supresso ou negao do conflito.

    Colaborao O indivduo se esfora para trabalhar com o outro na busca de uma soluo que atenda, plenamente, o interesse de ambos.

    Concesso As partes buscam o consenso ou uma soluo mtua, que atenda parcialmente seus interesses.

    Para Kilmann, R. e Thomas (1975), o manejo de conflito envolve os processos de:

    Comunicao; Percepo; Atitudes para com o outro; e Orientao para o resultado do problema.

    Esses processos determinam dois importantes campos de fora que dividem as possibilidades de manejo apresentadas: competio e colaborao. Veja como os processos se apresentam para cada um dos campos de fora.

    Processos envolvidos

    Abordagem da competio Abordagem da colaborao

    Comunicao Comunicao truncada, com informaes escassas. Os participantes negam a fala um do outro, s esto

    interessados em mostrar que o outro est errado.

    H monlogo.

    Comunicao clara, aberta com informaes

    relevantes.

    Os participantes se empenham para trocar

    informaes.

    H dilogo.

    Percepo Fazem questo de mostrar as diferenas e fazem pouco caso da percepo do outro.

    Estimulam o sentimento de oposio: Eu estou certo e

    voc errado.

    Preocupam-se em verificar quais so os interesses

    comuns

    Estimulam a convergncia. Deixam claros as suas

    crenas e valores.

    Atitudes para com o outro

    Atitude hostil, podendo ser agressiva. Responde

    negativamente as solicitaes do outro.

    Atitude amistosa. H preocupao em responder as

    dvidas do outro de forma amigvel.

    Orientao para o resultado do problema

    S aceita os resultados se favorecer a ele.

    Utilizam a coero e a fora para influenciar o outro.

    Os resultados so analisados mutuamente.

    Utilizam a colaborao para auxiliar diante de

    percepes divergentes.

    As outras duas formas de manejo apresentam a negao do conflito ou a anulao de uma das

    partes envolvidas. Seidel (2007, p. 19) defende a resoluo no-violenta de conflitos.

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    Para que possa compreender o que e o que no resoluo no-violenta de conflitos, as dificuldades para a sua utilizao e as caractersticas que envolvem essa forma de resoluo,

    leia o texto do autor em anexo.

    Concluso Conflito pode ser definido como desentendimento entre duas ou mais pessoas sobre um tema de interesse comum.

    Uma educao para a paz reconhece o conflito como um trampolim para o desenvolvimento:

    que no busque a eliminao do conflito, mas sim, modos criativos e no-violentos de resolv-

    los. H trs caminhos fundamentais: a preveno do conflito, a resoluo e a transformao.

    A mudana de foco na evoluo da resoluo de conflitos refora que no h uma receita nica

    para resolv-los, contudo, os autores que estudam o tema destacam aspectos importantes que

    devem ser observados no manejo de conflitos, ou seja, na forma de abord-los.

    Neste mdulo so apresentados exerccios de fixao para auxiliar a compreenso do contedo. O objetivo destes exerccios complementar as informaes apresentadas nas pginas anteriores.

    1. Defina conflito.

    2. No que confere definio de conflito, pode-se dizer que: ( ) sinnimo de intolerncia ou desentendimento;

    ( ) um obstculo paz;

    ( ) Desentendimento entre duas pessoas sobre um mesmo tema;

    ( ) a forma violenta de resolver um mesmo assunto;

    ( ) Desentendimento entre duas pessoas sobre temas diferentes.

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    3. Numere a segunda coluna de acordo com a primeira.

    (1) Concesso ( ) Grau em que o indivduo procura satisfazer o interesse de

    outras pessoas;

    (2) Colaborao ( ) Grau em que o indivduo procura defender seus interesses e

    necessidades com coerncia de sentimento, pensamento e ao.

    (3) Evitao ( ) O indivduo busca seus interesses s custas dos interesses de

    outras pessoas.

    (4) Competio ( ) As partes buscam o consenso ou, uma soluo mtua, que

    atenda parcialmente seus interesses.

    (5) Cooperao ( ) Representa a supresso ou negao do conflito.

    (6) Assertividade ( ) O indivduo se esfora para trabalhar com o outro na busca de

    uma soluo que atenda, plenamente, o interesse de ambos.

    4. Relacione os autores com suas respectivas teorias. (1) Kilmann, R e Thomas (1975)

    (2) Seidel (2007)

    (3) Schimidt e Tannenbaum (1992 apud MOSCOVICI, 1997, p. 146)

    ( ) O manejo de conflito envolve os processos de comunicao, percepo, atitudes para com o

    outro e orientao para o resultado do problema.

    ( ) Apresenta quatro pontos de vista que possibilita a reflexo sobre o tema. So eles: conflito

    no so problemas, diferena entre conflito e briga, os benefcios do conflito e paz e conflito.

    ( ) Trs variveis devem ser observadas ao se fazer um diagnstico de uma situao de

    conflito. So elas: a natureza das diferenas; os fatores subjacentes e o estgio de evoluo do

    conflito.

    5. De acordo com os consultores da ISA-ADRS e do MEDIARE, possvel observar quatro geraes na evoluo dos norteadores para resoluo de conflitos. Quais so elas?

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    Este o final do mdulo 1 Conflitos e violncias Respostas: 1. Desentendimento entre duas ou mais pessoas sobre um tema de interesse comum. 2. Desentendimento entre duas pessoas sobre um mesmo tema. 3. 5 6 4 1 3 2 4. 1 - 2 - 3

    5. 1 gerao Resoluo baseada na imposio, pela forma e pelo poder; 2 gerao Baseada no Direito;

    3 gerao Baseada nos interesses; e

    4 gerao Identificao dos interesses de todas as pessoas envolvidas, e a possibilidade de

    atend-los.

    Anexo Entendendo a resoluo no-violenta de conflitos Para que serve a resoluo no-violenta? O objetivo bsico da resoluo no-violenta de conflitos a transformao das pessoas de

    peas de um conflito em sujeitos no conflito. Os conflitos tm uma lgica e as formas de

    resoluo no-violenta trazem a possibilidade de tratar com racionalidade os conflitos. O que a

    resoluo consensual proporciona o resgate de cada envolvido, como algum capaz de obter

    acordos, de estabelecer pontes, enfim, de compreender. Portanto, trata-se de construir um

    acordo onde as partes envolvidas sejam beneficiadas: esquema vitria-vitria ou ganha-ganha.

    Dificuldades para a resoluo no-violenta Vivemos numa sociedade que deseja que de um conflito saia uma ganhador e um perdedor. A

    meta vencer o adversrio, ou det-lo: esquema vitria-derrota ou ganha-perde. H uma

    tendncia muito forte a escamotear o conflito ou passar por cima dele. As figuras do pai, do

    lder, do mestre, so daqueles que protegem seus filhos, liderados e alunos das dificuldades do

    conflito. uma perigosa tradio que deixa as pessoas totalmente despreparadas para lidar

    com as dificuldades que os conflitos trazem.

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    O que no a resoluo no-violenta de conflitos? A resoluo no-violenta de conflitos no o escamoteamento ou fuga do conflito. No

    buscar a resignao ou submisso da parte mais fraca, impedindo que esta expresse seus

    verdadeiros sentimentos, opinies e emoes. diferente tambm da gesto de conflitos ou

    arbitragem, que feita de cima para baixo por uma autoridade para impor uma soluo ou

    manter a situao vigente. A resoluo do conflito visa uma compreenso e uma aplicao

    correta dos meios democrticos que estimulam a responsabilidade social e a resposta criativa

    mudana.

    O que caracteriza a resoluo no-violenta de conflitos? A caracterstica fundamental a participao das partes envolvidas, como sujeitos

    competentes, mediante o uso do dilogo, na busca de um consenso ou de uma soluo vitria-

    vitria (ou ganha-ganha). Todo o processo de resoluo no-violenta de conflitos supe, ao

    menos, os seguintes elementos:

    a) a possibilidade de cada parte expor seus sentimentos atravs de frases tipo: eu sinto isso;

    b) uma avaliao racional do processo atravs de frases tipo: eu penso que isso a melhor

    opo por causa daquilo ou eu penso que isso no melhor a melhor opo por causa

    daquilo;

    c) o empenho na busca de solues para o conflito.

    SEIDEL. Daniel [org.]. Mediao de Conflitos: a soluo de muitos problemas pode estar em suas mos. Braslia: Vida e Juventude, 2007.

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    Mdulo 2 Meios de resoluo pacfica de conflitos

    No mdulo anterior, voc terminou seus estudos lendo o texto de SEIDEL (2007) sobre

    resoluo no-violenta de conflitos, lembra?

    Neste mdulo, voc estudar os meios que favorecem a uma resoluo pacfica de conflitos,

    tambm traduzida pelos consultores da ISA-ADRS e MEDIARE (2007) de resoluo pacfica de

    disputas.

    O contedo deste mdulo est dividido em 3 aulas: Aula 1 Mtodos de resoluo alternativa de disputas (RAD) ou ADRs (Alternative dispute resolution)

    Aula 2 Diferenas entre a conciliao e a arbitragem em relao mediao

    Aula 3 O sistema multiportas

    Ao final deste curso voc dever ser capaz de: Identificar os mtodos utilizados para a resoluo alternativa de disputas;

    Reconhecer as vantagens da utilizao de mtodos de resoluo alternativas de disputas;

    Compreender o sistema multiportas; e

    Enumerar os princpios que diferenciam a conciliao da mediao.

    Aula 1 Mtodos de resoluo alternativa de disputas (RAD) ou ADRs (Alternative dispute resolution)

    Aspectos gerais sobre os mtodos de RAD

    No atribuio exclusiva do Estado a administrao de conflitos interpessoais que podero

    ser tratados com auxlio da lgica, da histria, da psicologia, da sociologia e do direito.

    Entretanto, num primeiro momento, a deciso de se delegar a um terceiro a soluo de um

    conflito aparenta ser a maneira mais tranquila e eficaz de soluo dos problemas. Tal qual as

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    crianas fazem com os pais na disputa por uma bola, delineia-se o Estado, nas figuras do

    Judicirio e da polcia, os grandes pais que solucionaro disputas que versam sobre grandes

    brinquedos. Mas, com o passar do tempo, a aparente facilidade na delegao de problemas a

    terceiros, passa a ser um incmodo, pois, a viso de mundo desses terceiros no

    necessariamente a das partes e o tempo dos processos e inquritos no o da vida real.

    Sensao de impunidade, reincidncias, sentimento de ineficcia dos servios pblicos,

    sobrecarga de seus prestadores. Como romper esse ciclo?

    Novos instrumentos destinados administrao de conflitos foram construdos pela

    necessidade humana, diante de uma realidade.

    Os meios de resoluo pacfica de conflitos so, muitas vezes, denominados meios de resoluo alternativa de disputas (RADs) ou alternative dispute resolution (ADRs). Alternativos por no se reduzirem aos tradicionais ou jurisdicionais instrumentos de soluo de

    controvrsias em que, um terceiro, em nome do Estado, profere uma deciso.

    Por que utilizar as RADs?

    Como voc estudou, no atribuio exclusiva do Estado a administrao de conflitos. O

    Estado nem sempre existiu, surgiu a partir da Idade Moderna. Contudo, sempre que se fala em

    sociedade organizada, considera-se a existncia de uma autoridade acima das partes, com

    poder de estabelecer limites de comportamento humano. Portanto, o Estado imprescindvel

    pacificao do convvio social. Em contraponto, a expanso do capitalismo deveu-se

    ferramenta da vinculao e exigibilidade dos negcios aos contratos, cuja validade depende da

    autonomia da vontade.

    A notcia da interveno de terceiros pessoas estranhas s relaes negociais entre dois

    ou mais sujeitos, para facilitar o entendimento, bem como a otimizao das negociaes, NO

    NOVA. Sempre ocorreu como prtica muito consolidada nas relaes internacionais e nas

    sociais, desde os tempos de Salomo.

    Importante As RADs no devem ser encaradas numa dimenso privatista, substitutiva do Judicirio, nem

    tampouco como terapia ou poltica pblica devotada a resolver o dficit de justia judiciria pelo

    lado da demanda, ou seja, as ADRs no devem ter por finalidade diminuir o nmero de

    processos. Isso at pode acontecer, entretanto, o seu alcance muito mais relevante.

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    Os mtodos de RAD so de amplo alcance social porque propem a desconstruo dos

    conflitos (atuais e potenciais) e a restaurao da relao entre as pessoas e a co-construo

    de uma soluo.

    Segundo Slandale (2007 apud, ISA-ADRS e MEDIARE, 2007, anexo), os mtodos alternativos

    de resoluo de conflitos ocupam um lugar especial no processo de modernizao de justia,

    permitem a desjudicializao da soluo de alguns conflitos e a descentralizao dos servios

    oferecidos.

    Alm dos aspectos ressaltados, ISA-ADRS e MEDIARE (2007) ressaltam que os mtodos de

    RAD apresentam as seguintes vantagens:

    Permitem avaliar e adequar os mtodos aos temas que motivam a sua procura;

    Ampliam a atuao preventiva no que se refere a litgios futuros e relao interpessoal;

    Viabilizam o aumento do leque de ofertas de mtodos cooperativos/no adversiais; e

    Possibilitam a resoluo de conflitos em tempo real.

    De acordo com o curso de Polcia Comunitria, as RADs propiciam tambm a cidadania ativa para a transformao e a conteno da escalada de conflitos interpessoais em sua origem (a comunidade) evitando a sua ecloso de episdios de violncia e de crime.

    Importante A criao e a promoo de mecanismos alternativos de tratamento de conflitos so fortemente

    recomendadas pelas Naes Unidas. Por meio da Resoluo n 26, de 28 de julho de 1999, o Conselho Econmico e Social das Naes Unidas foi expresso em preconizar que os Estados

    desenvolvam, ao lado dos respectivos sistemas judiciais, a promoo dos chamados ADRs

    Alternative dispute resolution.

    Os mtodos de RAD ISA-ADRS e MEDIARE (2007) apresentam quatro mtodos utilizados na resoluo,

    classificados pela ordem de maior influncia de terceiros. So eles: http://www.stj.pt/nsrepo/geral/cptlp/Brasil/LeiArbitragem.pdf

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    Veja nas em que consiste cada um dos mtodos de RAD. Arbitragem Arbitragem uma forma de resoluo de disputas, cuja deciso no produzida pelo Poder Judicirio. As partes litigantes, de comum acordo e no pleno e livre exerccio da vontade, escolhem uma ou mais pessoas, denominadas rbitros ou juzes arbitrais, estranhas

    disputa, para resolverem a sua questo. As partes se submetero deciso final proferida pelo

    rbitro ou rbitros.

    A arbitragem est regulamentada pela Lei n 9.307, de 23.09.96 , composta por sete captulos e 44 artigos. Muitas outras normas legais sobrevieram, agora possibilitando a arbitragem

    tambm no mbito do Direito Pblico.

    A funo do rbitro, pessoa nomeada para conduzir um processo denominado arbitral, semelhante ao processo judicial, ser a de falar uma deciso, a qual se vincularo as partes. O rbitro normalmente um especialista na matria objeto da controvrsia, diferentemente do que ocorre no Poder Judicirio, onde os juzes para prolatarem uma deciso

    final, tratando-se a demanda de questo tcnica, necessitaro do auxlio de peritos. Na

    arbitragem, escolhe-se diretamente um ou mais especialistas que tero a funo de julgadores

    Maior influncia do terceiro

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    de maneira muito mais rpida, informal e com baixo custo. Na arbitragem tambm possvel s

    partes a escolha da norma a ser aplicada ao caso. Exemplo: Tratando-se de uma arbitragem em que so partes pessoas jurdicas de direito privado de duas diferentes naes, elas podero escolher qual o direito ser aplicado, o de um pas ou o de outro,

    ou ainda, se a questo ser decidida por equidade.

    A arbitragem pode ser utilizada em disputas de locao, comerciais, de compra e venda de

    bens, de contratos de servios, de relaes coletivas do trabalho, de seguros, inventrios, de

    contratos pblicos, dentre outros.

    Como j visto, a sentena arbitral equiparada sentena judicial, produzindo os mesmos

    efeitos, e, portanto, no ficando sujeita homologao, recurso ou reviso pelo Poder

    Judicirio, mas hiptese de nulidade.

    A lei de arbitragem brasileira estabelece que podem ser submetidos ao processo arbitral, os

    denominados direitos patrimoniais e disponveis, ou seja, aqueles que recaiam sobre bens ou

    valores, suscetveis de transao ou renncia, atribuveis a pessoas fsicas ou jurdicas.

    O rbitro dever:

    Ter formao especfica para atuar como rbitro;

    Ser um especialista na questo tcnica que vai decidir

    Atuar em juzo monocrtico ou coletivo, ou seja, sozinho ou com outros rbitros, conforme

    escolham as partes;

    Ser imparcial/Eqidistante;

    Decidir, emitindo sentena arbitral, que irrecorrvel. A sentena arbitral equiparada

    sentena judicial, produzindo os mesmos efeitos, e, portanto, no ficando sujeita

    homologao, recurso ou reviso pelo Poder Judicirio;

    Ser indicado ou escolhido pelas partes; e

    Estar limitado disputa e no soluo de conflitos. Portanto, dever focalizar as questes

    tcnicas e no se preocupar com aspectos que envolvam o relacionamento das partes.

    Conciliao

    No se deve confundir conciliao com acordo entre duas partes nem com o seu sentido literal

    de harmonizao de litigantes ou pessoas desavindas a fazerem as pazes, tampouco com a

    negociao.

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    A conciliao uma forma de resoluo pacfica de disputas, administrada por um terceiro, investido de autoridade decisria ou delegado por quem a tenha, judicial ou extrajudicialmente,

    a quem compete aproximar as partes, gerenciando e controlando as negociaes, aparando

    arestas, sugerindo e formulando propostas, no sentido de apontar vantagens e desvantagens;

    sempre visando a um acordo para a soluo de uma controvrsia entre as partes. Caso as partes no cheguem a um acordo, o conciliador ou quem esse represente decidir a disputa.

    A conciliao pontual e trabalha na superfcie do problema. No objetiva uma melhora na

    qualidade da relao das partes e tem suas prprias caractersticas. Cuida de um meio de

    administrao pacfica da disputa por um terceiro, o conciliador, que tem a prerrogativa tcnica

    de intervir e sugerir um possvel acordo, aps uma criteriosa avaliao das vantagens e

    desvantagens que sua proposio traria s partes.

    Esse instrumento pode ser indicado nos casos em que os envolvidos no se conheam ou no

    tenham relaes continuadas ou se as tm, no h possibilidade de uma interveno mais

    aprofundada para administrao dos conflitos. Exemplo tpico so as conciliaes judiciais nos

    juzos trabalhistas, nos juizados especiais cveis e penais Lei n 9099/95.

    Esse exemplo baseado na conhecida narrativa que reproduz a situao no judicial do slice

    and choice (corta e escolhe). Um pai, diante de duas crianas que brigam pela ltima fatia de

    um bolo de chocolate, lhes prope que decidam amigavelmente entre duas possibilidades: uma

    criana corta o pedao em duas partes e a outra escolhe primeiro uma das partes.

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    O conciliador dever:

    Ser imparcial/Eqidistante;

    Estar preparado para decidir caso as partes no cheguem a um acordo (apesar de ter o poder

    decisrio, no dever decidir durante a conciliao);

    Administrar disputas e no conflitos;

    Trabalhar para que as partes cheguem a um acordo;

    Enfatizar critrios objetivos;

    Interferir formulando propostas, para que as partes ponderem vantagens e desvantagens para

    chegarem a uma soluo amigvel;

    Estimular as partes a concesses mtuas;

    Controlar o tempo, que deve ser curto; e

    O conciliador no tem por objetivo a necessria melhora ou transformao da inter-relao.

    Mediao

    Por ser objeto do curso, essa alternativa ser estudada mais a fundo na prxima aula. importante que voc compreenda a mediao como instrumento para tratamento de conflitos interpessoais e no em situaes de crise. Isso faz com que difira da arbitragem e do provimento jurisdicional, porque o mediador no decide pelas partes, e tambm que se

    distancie da conciliao porque trabalha mais profundamente os conflitos interpessoais e no

    as disputas; no direcionando, no aconselhando, nem sugerindo sadas.

    O objetivo da mediao no necessariamente a obteno de um acordo, mas a transformao do padro de comunicao e relacionamento dos envolvidos, visando entendimento. Isso porque acordos em si nem sempre significam a transformao do padro de relacionamento. Em muitas oportunidades, h a conciliao, o acordo, a renncia

    representao. O processo acaba e o conflito permanece e, logo em seguida, retomado.

    Na mediao um mau acordo no acordo, pois um mau acordo, mais cedo ou mais tarde, gerar a retomada do conflito. Na mediao um acordo no impe necessariamente perdas, mas o gerenciamento de opes.

    Negociao

    Negociar faz parte das relaes humanas. Negociar, ainda que sem o rigor e a sofisticao de

    tcnicas destinadas a otimizar os seus resultados, constitui expresso cotidiana das relaes

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    interpessoais que, de modo pacfico, busca a composio das pretenses e expectativas de

    todos ns.

    A negociao pode ser conceituada como A ARTE DA PERSUASO, segundo Roger Fisher e Scott Brown do projeto de negociao de Harvard, trazido no livro Como chegar a um

    acordo A construo de um relacionamento que leva ao sim. E, para o sucesso numa negociao contribui, na conduta das partes, o equilbrio entre emoo e razo, a viso do problema pela tica do oponente ou da outra parte, a obteno do mximo de informaes sobre o tema e o contexto do conflito, a confiabilidade e a sagacidade.

    A negociao pode acorrer isolada, anterior ou durante os demais meios de resoluo pacfica

    de conflitos. Os agentes ativos ou negociadores podem ser as prprias partes, algum em seu

    nome, com ou sem um terceiro facilitador.

    Na negociao existem algumas etapas que podem ser seguidas, mas que no necessitam ser encaradas de forma rgida, apenas um norte para sistematizao do processo. So elas:

    Preparao/abertura;

    Explorao;

    Clarificao;

    Ao final; e

    Avaliao.

    Como estratgia considera-se desejvel que o negociador identifique o objetivo da negociao,

    separe as pessoas do problema, busque e concentre-se nos interesses das partes, explore

    alternativas de ganhos mtuos, fixando previamente prazos e critrios para avaliao.

    O negociador dever:

    Ter foco na disputa; e

    Operar por critrios de resultado objetivo.

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    Aula 2 Diferena entre conciliao e a arbitragem em relao mediao

    Voc deve ter observado que a diferena existente entre conciliao e mediao, arbitragem e

    mediao so bastante leves, pois h um objetivo comum entre elas, quer seja a resoluo do

    conflito por meios pacficos.

    importante que voc compreenda os princpios que diferenciam a conciliao e a arbitragem da mediao para que fique mais fcil identificar que mtodo utilizar ou, at mesmo, quais so possveis combinar, caso seja possvel utilizar um sistema multiportas, como

    estudar na prxima aula.

    Nas prximas pginas voc ver os princpios que diferenciam a conciliao da mediao e os princpios que diferenciam a arbitragem da mediao.

    Conciliao X Mediao

    Conciliao Mediao

    Objetivo Construo de um acordo: Oferece o enquadramento legal.

    Esclarece sobre o direito.

    Prope possibilidades de acordo permitindo ao

    conciliador: opinar, sugerir, apontar vantagens e

    desvantagens.

    O acordo construdo para o tempo presente,

    baseado em acontecimento passado.

    O objetivo da mediao no necessariamente a

    obteno de um acordo, mas a transformao do

    padro de comunicao e relacionamento dos

    envolvidos, visando entendimento.

    Fatos Busca conhecimento prvio dos fatos. A troca de informaes e esclarecimentos sobre o processo e a matria a ser mediada acontece num

    processo denominado pr-mediao.

    Partes Confere voz s partes e aos seus representantes. Aceitam o mediador. O mediador no decide pelas partes. Ele neutro.

    O interesse comum das partes e a satisfao mtua

    so objetos da mediao.

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    Arbitragem X Mediao

    Arbitragem Mediao

    Objetivo Proferio de uma sentena arbitral. Lei n 9307/96.

    O objetivo da mediao no necessariamente a

    obteno de um acordo, mas a transformao do padro

    de comunicao e relacionamento dos envolvidos,

    visando entendimento.

    Fatos Conhecimento dos critrios legais. A troca de informaes e esclarecimentos sobre o processo e a matria a ser mediada acontece num

    processo denominado pr-mediao.

    Partes Na arbitragem escolhe-se diretamente um ou mais especialistas que tero a funo de

    julgadores de maneira muito mais rpida,

    informal e com baixo custo. Na arbitragem

    tambm possvel s partes a escolha da norma

    a ser aplicada ao caso. As partes se submetero

    deciso final proferida pelo rbitro ou rbitros.

    Aceitam o mediador.

    O mediador no decide pelas partes. Ele neutro.

    O interesse comum das partes e a satisfao mtua so

    objetos da mediao.

    Aula 3 O sistema multiportas

    De acordo com Slandale (apud ISA -ADRS e MEDIARE, 2007, anexo), multiportas um conceito baseado na oferta de mtodos de resoluo de conflitos complementares aos servios habitualmente oferecidos pelo judicirio.

    Importante O sistema multiportas de resoluo de conflitos Multi doors system adotado j por alguns

    estados americanos, integra o painel de opes da American Arbitrarion Association e da

    Cmara de Comrcio Internacional (CCI), entidades renomadas no campo da resoluo

    extrajudicial de controvrsias. Esse sistema oferece recursos customizados, tendo sido alguns

    deles formatados para atuar preventivamente, resolvendo o conflito, durante a sua construo

    ou antes dela resoluo em tempo real (Just in time resolution)

    ALMEIDA (apud ISA -ADRS e MEDIARE, 2007, anexo)

    O sistema multiportas possui inmeras aplicabilidades, principalmente, em relao aos conflitos

    oriundos de questes ambientais, pois seu processo exige a combinao de diferentes

    mtodos de resoluo de conflitos.

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    Os convnios e parcerias com o poder pblico revelam que a promoo das RADs pode e deve

    ser vista como poltica pblica de justia no judiciria, mas o fato de no ser judiciria no

    quer dizer que no possua com o Judicirio nenhuma forma de relacionamento

    institucionalizado.

    Cabe destacar que a exemplo da experincia de outros pases, tambm o Brasil vive o que os

    autores denominam de surto de juridificao (ver anexo), que consiste na expanso, na diversificao e sofisticao dos mecanismos jurdicos pelos quais o poder pblico passou a

    interferir em relaes sociais, histrica e originariamente concebidas como pertencentes ao

    domnio do mercado ou da tradio, e est presente em toda a experincia jurdica

    contempornea.

    Andriagni e Foley (2008) destacaram no artigo publicado na Folha de So Paulo, em 24 de junho de 2008.

    Artigo publicado na Folha de So Paulo

    Com raras excees, no h, no Brasil, servios pblicos que ofeream oportunidades e

    tcnicas apropriadas para o dilogo entre partes em litgio.

    Diante de tal carncia, as pessoas utilizam os meios de resoluo de conflito disponveis: a

    aplicao da "lei do mais forte", seja do ponto de vista fsico, seja do armado, do econmico, do

    social ou do poltico o que gera violncia e opresso; a resignao - o que provoca descrdito

    e desiluso; o acionamento do Poder Judicirio, cuja universalidade de acesso ainda uma

    utopia.

    (...) ainda que o sistema de justia se esforce em modernizar os seus recursos humanos,

    materiais, normativos e tecnolgicos , a dinmica da exploso de litigiosidade ocorrida nas

    ltimas dcadas no Brasil continuar apresentando uma curva ascendente em muito superior

    relativa aos avanos obtidos. Para o sistema operar com eficincia, preciso que as instncias

    judicirias, em complementaridade prestao jurisdicional, implementem um sistema de

    mltiplas portas, apto a oferecer meios de resoluo de conflitos voltados construo do

    consenso, dentre eles, a mediao. (ANDRIAGNI e FOLEY, 2008)

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    Concluso Novos instrumentos destinados administrao de conflitos foram progressivamente

    construdos pela necessidade humana, diante de uma realidade.

    Os meios de resoluo pacfica de conflitos so, muitas vezes, denominados meios de

    resoluo alternativa de disputas (RADs) ou alternative dispute resolution (ADRs). Alternativos

    por no se reduzirem aos tradicionais ou jurisdicionais instrumentos de soluo de

    controvrsias em que, um terceiro, em nome do Estado, profere uma deciso.

    ISA-ADRS e MEDIARE (2007) apresentam quatro mtodos utilizados na resoluo,

    classificados pela ordem de maior influncia de terceiros. So eles: arbitragem, conciliao,

    mediao e negociao.

    importante que voc compreenda os princpios que diferenciam a conciliao e a arbitragem

    da mediao para que fique mais fcil identificar que mtodo utilizar ou, at mesmo, quais so

    possveis combinar, caso seja aceitvel utilizar um sistema multiportas.

    De acordo com Slandale (apud ISA-ADRS e MEDIARE, 2007, anexo), multiportas um

    conceito baseado na oferta de mtodos de resoluo de conflitos complementares aos servios

    habitualmente oferecidos pelo Judicirio.

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    Neste mdulo so apresentados exerccios de fixao para auxiliar a compreenso do contedo. O objetivo destes exerccios complementar as informaes apresentadas nas pginas anteriores.

    1. Sobre mtodos de resoluo alternativas de disputas (RAD) ou ADRs (alternative dispute resolution), pode-se afirmar que:

    ( ) atribuio do Estado a administrao de conflitos interpessoais.

    ( ) Os meios de Resoluo Pacfica de Conflitos so, muitas vezes, denominados meios de

    resoluo alternativa de disputas.

    ( ) O Estado no imprescindvel pacificao do convvio social.

    ( ) As RADs devem ser encaradas numa dimenso privatista.

    ( ) As ADRs no devem ter por finalidade diminuir o nmero de processos.

    2. Sobre as vantagens dos mtodos de RAD, marque (C) para certo e (E) para errado.

    ( ) Permitem avaliar e adequar os mtodos aos temas que motivam a sua procura.

    ( ) Diminuem a atuao preventiva no que se refere a lides futuras e relao interpessoal.

    ( ) Viabilizam aumentar o leque de ofertas de mtodos cooperativos/no adversais.

    ( ) No possibilitam a resoluo de conflitos em tempo real.

    ( ) Ampliam a atuao preventiva no que se refere a lides futuras e relao interpessoal.

    3. Arbitragem : ( ) A criao e promoo de mecanismos alternativos de tratamento de conflitos.

    ( ) Forma de resoluo pacfica de disputas, administrada por um terceiro.

    ( ) Forma de resoluo pacfica de disputas, administrada por um rbitro.

    ( ) Forma de resoluo de disputas, cuja deciso no produzida pelo poder judicirio.

    ( ) Forma de resoluo de disputas, cuja deciso produzida pelo poder judicirio.

    4. Marque (V) para verdadeiro e (F) para falso, no que se refere s atribuies do rbitro ( ) Ensino superior.

    ( ) Ser especialista na questo tcnica que ir decidir.

    ( ) No ser indicado pelas partes.

    ( ) Estar limitado soluo de conflitos e no disputa.

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    ( ) Ser imparcial/eqidistante.

    5. O conciliador dever: ( ) Administrar conflitos.

    ( ) Administrar disputas.

    ( ) Tem por objetivo a necessria melhora ou transformao da inter-relao.

    ( ) Controlar o tempo, que deve ser longo.

    6. Negociao pode ser conceituada como: ( ) Sofisticadas tcnicas destinadas a aperfeioar resultados.

    ( ) A composio das pretenses e expectativas de todos ns.

    ( ) Equilbrio entre emoo e razo.

    ( ) Confiabilidade e sagacidade.

    ( ) Arte da persuaso.

    7. De acordo com Slandale, o que multiportas?

    Este o final do mdulo 2 Meios de resoluo pacfica de conflitos

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    Respostas: 1. Os meios de Resoluo Pacfica de Conflitos so, muitas vezes, denominados meios de resoluo alternativa de disputas.

    As ADRs no devem ter por finalidade diminuir o nmero de processos. 2. C E C E C 3. Forma de resoluo de disputas, cuja deciso no produzida pelo poder judicirio. 4. F V F F V 5. Administrar disputas. 6. Arte da persuaso. 7. Multiportas um conceito baseado na oferta de mtodos de resoluo de conflitos complementares aos servios habitualmente oferecidos pelo judicirio.

    Anexo

    A Juridificao Texto retirado do curso de Polcia Comunitria/REDE EAD

    Denominada colonizao, pelo direito das relaes sociais, a juridificao restaura as

    relaes sociais anteriormente no sujeitas regulao jurdica, trazendo-lhe incontveis e

    imprevisveis efeitos colaterais indesejados.

    A juridificao retira dos respectivos atores significativa parcela de responsabilidade. Em outras

    palavras, pela fixao jurdica da responsabilidade, produz-se em grande medida a

    irresponsabilizao dos atores sociais.

    A juridificao, tambm, no configura um fenmeno recente, nem tampouco, como j se

    afirmou, peculiar a certo modelo de ordenao jurdico-poltica da sociedade.

    Em diversos aspectos, o agigantamento do aparelho e das polticas estatais destinados

    proteo, mais alm da promoo do bem-estar, passou a constituir, ele prprio, fator indutor

    de crescentes demandas protecionistas, num mecanismo a um s tempo perverso e

    retroalimentador. E isso facilmente constatado nas relaes familiares, em que processos

    geram processos e as relaes deterioram-se mais e mais e os filhos distanciam-se de seus

    pais, passando a ter no Estado, pais com feies concretas, distantes e no eficiente.

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    Nessa medida, vnculos afetivos projetam-se como vnculos jurdico-institucionais,

    convertendo, sujeitos ligados por compromissos morais recprocos, em atores ligados pela

    titularidade de direitos, deveres e de obrigaes.

    Cuida-se de realar um olhar pelo qual todas as partes possuem desejos e expectativas

    potencialmente legtimas, ainda que no juridicamente exigveis. E mais alm, que a

    construo e a manuteno de relaes interpessoais, no se contm, nem se resolvem, pela

    lgica binria do jurdico-no jurdico, do ganhador-perdedor, do vencedor-vencido.

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    Mdulo 3 Mediao de conflitos Este mdulo criar condies para que voc possa aprofundar seus estudos sobre mediao

    de conflitos, por isso, antes de iniciar, leia o texto Mediao, de Tnia Almeida (ver anexo).

    O contedo deste mdulo est dividido em 3 aulas: Aula 1 Aspectos gerais

    Aula 2 reas de aplicao da mediao

    Aula 3 Os benefcios primrios e secundrios Ao final deste mdulo, voc dever ser capaz de:

    Conceituar mediao de conflitos;

    Compreender o princpio fundamental;

    Enumerar as caractersticas;

    Exemplificar destacando as reas de aplicao; e

    Citar benefcios primrios e secundrios da mediao.

    Aula 1 Aspectos gerais

    O conceito e o princpio fundamental Voc estudou no mdulo anterior que a mediao dever ser entendida como instrumento para

    tratamento de conflitos interpessoais e no em situaes de crise, lembra?

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    E que a mediao diferencia da arbitragem, do provimento jurisdicional e que se distancia da

    conciliao, lembra tambm? Ento, se tivesse que conceituar mediao, como o faria?

    Confira o conceito apresentado:

    Processo de natureza no adversarial, confidencial e voluntrio, no qual um terceiro imparcial

    (mediador) facilita o dilogo e a negociao entre duas ou mais partes e as auxilia na

    identificao de interesses comuns, complementares e divergentes, com o objetivo de mant-

    las autoras das solues construdas baseadas no consenso, no atendimento de interesses e

    necessidades e na satisfao mtua. (ISA -ADRS e MEDIARE, 2007, anexo)

    (...) A mediao no nos acena com a possibilidade de satisfao parcial nem satisfao

    total, nem perda total dos objetivos pouco afinados com as resolues de cunho adversarial.

    Ela nos confere a possibilidade de autoria em todas as solues propostas e demanda a

    identificao de nossas possibilidades no atendimento s necessidades do outro, na

    expectativa de que ele far o mesmo. (ALMEIDA & NETO, apud ISA-ADRS e MEDIARE, 2007,

    anexo)

    Observe que o conceito apresentado deixa claro que a mediao mantm as partes autoras das solues construdas com base no consenso. Essa sentena traduz o princpio fundamental da mediao que a: Autonomia da vontade

    Importante Segundo Seidel (2007), as partes devem ser entendidas como sujeitos do processo. So elas

    que devem controlar o contedo da negociao e definir a natureza do acordo.

    Por isso, cabe ressaltar que mediao no : Reconciliao;

    Conciliao;

    Arbitragem;

    Jurisdio;

    Enquadramento do fato ao tipo penal;

    Excludente de antijuridicidade ou de punibilidade (Ex: crime de bagatela ou furto

    famlico); e

    Prevaricao.

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    A mediao aqui tratada no deve ser confundida com interveno em situaes de crise (Ex:

    sequestro). Ela um instrumento para o trabalho de:

    Conflitos interpessoais;

    Conflitos interpessoais em contextos de violncia; e

    Conflitos interpessoais em contextos de crime (Ex: Lei 9099/95 (http://pt.shvoong.com/law-and-politics/1749157-lei-9099-95/) e 11.340/06 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm) Circunstncias favorveis mediao

    De acordo com ISA -ADRS e MEDIARE ( 2007) concorrem positivamente para que a mediao

    acontea as seguintes circunstncias:

    O desejo de manter controle/autoria sobre a deciso;

    A necessidade de celeridade e/ou sigilo; e

    A disponibilidade para rever a posio adversarial e a postura irredutvel que a caracterizava,

    assim como trabalhar em prol de atender interesses mtuos.

    Caractersticas da mediao Como voc j estudou no mdulo anterior, a mediao tem como objetivo a transformao do padro de comunicao e relacionamento dos envolvidos, com vias a um entendimento, por isso tem as seguintes caractersticas:

    Quanto ao processo um processo participativo e flexvel; e

    confidencial.

    Quanto metodologia Trabalha, parte a parte, o problema a ser resolvido pelos prprios envolvidos (protagonismo); e

    No existe julgamento ou oferta de solues. As sadas so encontradas em conjunto pelas

    partes.

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    Quanto aos aspectos comunicacionais Devolver s pessoas o controle sobre o conflito; e

    Trabalhar a comunicao e o relacionamento das partes.

    A mediao constitui instrumento formado por tcnicas que independem da formao universitria do mediador, mas que impe capacitao especfica.

    Aula 2 reas de aplicao da mediao

    A mediao apresenta amplas possibilidades de aplicao nas mais diversas reas. Dentre

    elas possvel destacar:

    Familiar: conjugais, parentais, acessrios e gnero; Comercial: fornecedores, empresas e clientes; Trabalhista: empregados e/ou empregados e empregador; Empresarial: societrios e sucessrios; Institucional: educao, sade e previdencirios; Internacional: de cunho pblico ou privado; e Comunitria: meio ambiente, interesse comunitrio e, principalmente, Segurana Pblica.

    Aula 3 Os benefcios primrios e secundrios

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    De acordo com ISA -ADRS e MEDIARE (2007) comparados a outras RADs a mediao

    apresenta os seguintes benefcios:

    Benefcios primrios Celeridade;

    Efetividade de resultados;

    Preservao da autoria;

    Alinhamento do interesse mtuo;

    Reduo do custo emocional;

    Reduo dos custos financeiros; e

    Sigilo e privacidade.

    Benefcios secundrios Preveno na formao de conflitos;

    Preveno na reincidncia de conflitos;

    Fluidez na comunicao;

    Melhoria no relacionamento inter/intragrupal; e

    Melhoria no relacionamento interpessoal.

    Concluso Segundo ISA -ADRS e MEDIARE (2007), mediao de conflito pode ser conceituado como um

    processo de natureza no adversarial, confidencial e voluntrio, no qual um terceiro imparcial

    (mediador) facilita o dilogo e a negociao entre duas ou mais partes e as auxilia na

    identificao de interesses comuns, complementares e divergentes com o objetivo de mant-

    las autoras das solues construdas baseadas no consenso, no atendimento de interesses e

    necessidades e na satisfao mtua. Esse conceito deixa claro que a mediao tem como

    princpio fundamental a autonomia da vontade. A mediao apresenta amplas possibilidades de aplicao nas mais diversas reas, como por

    exemplo: familiar, comercial, trabalhista, comunitria e Segurana Pblica.

    Dentre os benefcios da mediao possvel destacar como benefcios primrios a celeridade,

    a efetividade de resultados e o alinhamento do interesse mtuo. J como benefcio secundrio

    destacam-se a preveno na formao de conflitos e a melhoria no relacionamento

    inter/intragrupal.

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    Neste mdulo so apresentados exerccios de fixao para auxiliar a compreenso do contedo. O objetivo destes exerccios complementar as informaes apresentadas nas pginas anteriores.

    1. Quanto ao processo, a mediao : ( ) Reconciliao.

    ( ) Arbitragem.

    ( ) Prevaricao.

    ( ) Enquadramento do fato ao tipo penal.

    ( ) Um processo participativo e flexvel.

    2. A mediao apresenta amplas possibilidades de aplicao nas mais diversas reas. Dentre elas destaque trs: ____________________________________________________________________________

    ____________________________________________________________________________

    ____________________________________________________________________________

    _____________________

    3. Relacione a segunda coluna de acordo com a primeira. (1) Benefcios primrios. ( ) Celeridade;

    ( ) Preveno na formao de conflitos;

    ( ) Fluidez na comunicao;

    (2) Benefcios secundrios. ( ) Sigilo e privacidade;

    ( ) Reduo de custos financeiros;

    ( ) Efetividade de resultados.

    4. A mediao um instrumental para o trabalho de: ( ) Conflitos interpessoais.

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    ( ) Conflitos pessoais.

    ( ) Conflitos interpessoais em contextos de violncia.

    ( ) Conflitos interpessoais em contextos de crime.

    ( ) Conflitos interpessoais em contextos de drogas.

    5. De acordo com ISA ADRS e MEDIARE (2007) concorrem positivamente para que a mediao acontea as seguintes circunstncias: ( ) A necessidade de celeridade e/ou sigilo.

    ( ) A necessidade de reduo do custo emocional.

    ( ) A necessidade de preveno na reincidncia de conflito.

    ( ) A necessidade de alinhamento do interesse mtuo.

    ( ) A necessidade de preservao da autoria.

    Este o final do mdulo 3 Mediao de conflitos Respostas 1. Um processo participativo e flexvel. 2. Familiar, comercial, trabalhista, comunitria e Segurana Pblica. 3. 1- 2- 2-1-1-1 4. Conflitos interpessoais. Conflitos interpessoais em contextos de crime.

    Conflitos interpessoais em contextos de violncia.

    5. A necessidade de celeridade e/ou sigilo E A necessidade de alinhamento do interesse mtuo.

    Anexo MEDIAO

    A Mediao vem constituindo-se em importante recurso de Resoluo Alternativa de Disputas (Alternative Dispute Resolutions-ADRs) nas situaes que envolvem conflitos de interesses

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    aliados necessidade de negocia-los. um processo orientado a possibilitar que as pessoas nele envolvidas sejam co-autoras da negociao e da resoluo dos seus conflitos. Possui, portanto, amplo campo de atuao nas organizaes sociais, desde as empresariais s familiares. Compondo o quadro das ADRs, a Mediao sobressai aos seus pares, pela busca da genuidade da autoria na autocomposio. Idealizada como um processo estruturado em etapas, ela visa a estabelecer ou restabelecer o dilogo entre as partes, para que delas surjam alternativas e a escolha de solues. Proposta para dar voz e vez queles que dela participam, prev a negociao dos seus procedimentos com as partes. Assentada na autonomia da vontade das partes tem seu incio, curso e trmino a ela sujeitos, pressupondo com isso, a disponibilidade dos envolvidos, para rever a posio em que se encontram. Instrumento de negociao de interesses articula durante todo o seu percurso a necessidade de cada um com a possibilidade do outro, desde que, dentro dos limites da tica e do Direito. Prevista para ser clere, informal e sigilosa, atua proporcionando reduo de custos financeiros, emocionais e de tempo em funo de, em curto espao de tempo, promover a instalao de um contexto colaborativo em lugar de um adversarial, fazendo ver s pessoas, ser esta a nica possibilidade para autocomposio. Possibilitadora de negociaes em qualquer contexto capaz de produzir conflitos tem viabilizado negociaes internacionais, em questes comerciais, trabalhistas, comunitrias, de meio ambiente, da sade e familiares. Especialmente presente em negociaes empresariais e em organizaes, desempenha ainda funes em restritos temas penais. Passvel de anteceder ou suceder a resoluo judicial, a Mediao pode tambm instalar-se no seu curso, atuando como instrumento complementar, possibilitador de mudanas relacionais e conseqente dissoluo da lide. Com seu trmino ritualizado pela redao de um acordo que inclua uma linguagem positiva e a aquiescncia das partes com seus termos e redao, ela viabiliza que uma pauta emocional que contemple o reconhecimento do erro ou de pedido de desculpas tenha tambm lugar. Por seu carter informal, aos acordos construdos na Mediao devem ganhar linguagem jurdica e ser encaminhados para homologao do que necessrio for. O acordo de manter-se em desacordo e o de eleger a Resoluo Judicial para os itens no acordados fazem-se viveis na Mediao, preservando a positividade do frum de negociaes e a da autoria. Texto revisado em 2006, extrado de Almeida, T. Mediao: um instrumento contemporneo na preveno, negociao e resoluo de controvrsias. Tema Livre apresentado na XVII Conferncia Nacional dos Advogados. OAB: Federal. Rio de Janeiro, agosto de 1999.

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    Mdulo 4 O mediador

    Alm das partes, ele uma das figuras importantes para a conduo do processo de

    mediao. Segundo Seidel (2007), a ao do mediador tem em vista capacitar os disputantes

    a controlar seus futuros, ajudando-os a assumir responsabilidade de suas prprias aes e

    tomar decises.

    Neste mdulo, voc estudar mais sobre ele.

    O contedo deste mdulo est dividido em 2 aulas: Aula 1 A neutralidade do mediador Aula 2 Lidando com a parcialidade inerente ao ser humano: conhecimentos, habilidades e atitudes necessrias ao mediador

    Ao final deste mdulo voc dever ser capaz de: Definir o papel do mediador no processo de mediao; e

    Identificar os conhecimentos, habilidades e atitudes necessrias ao mediador.

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    Aula 1 A neutralidade do mediador

    De acordo com ISA-ADRS e MEDIARE (2007, anexo), o mediador pode ser definido como

    uma pessoa escolhida pelas partes para atuar como terceiro imparcial na facilitao do dilogo entre elas. Essa definio deixa clara a principal caracterstica do mediador: a neutralidade. Ainda segundo ISA-ADRS e MEDIARE (2007, anexo), por meio de uma srie de procedimentos prprios, o mediador auxilia as partes a identificarem interesses comuns,

    complementares ou divergentes e a construrem em conjunto, alternativas de soluo visando

    ao consenso e satisfao mtua.

    Antes de terminar o estudo desta aula, leia o texto Mediador(ver anexo 1).

    Aula 2 Lidando com a parcialidade inerente ao ser humano: conhecimentos,

    habilidades e atitudes necessrias ao mediador

    importante que o mediador compreenda que o processo de mediao envolve conflitos

    interpessoais e que, por isso, ele lidar com vises diferenciadas sobre o mesmo conflito. O

    papel do mediador envolve como competncia bsica a capacidade de criar condies para

    que as partes possam obter uma soluo e, principalmente, estabelecer o dilogo. O

    desenvolvimento dessa competncia requer, ao mediador, dentre outros aspectos, o seguinte

    conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes:

    Conhecimentos sobre: Conflito e gerenciamento de conflitos;

    Relaes interpessoais;

    Processo comunicacional;

    Tcnicas de resoluo pacfica de conflitos;

    Metodologia do processo de mediao; e

    Legislao pertinente mediao.

    Habilidades de: Promover a reflexo e o dilogo;

    Escutar e refletir;

    Gerenciar conflitos;

    Identificar impasses; e

    Identificar interesses comuns.

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    Seidel (2007, p. 22) ressalta que uma das habilidades que o mediador precisa utilizar o uso de parfrase, isto , a habilidade de reproduzir fielmente a mensagem emitida pela pessoa que est dando sua verso dos fatos. Atitudes para agir de forma: Imparcial;

    Competente;

    tica; e

    Sigilosa.

    De acordo com o cdigo de tica dos mediadores (apud ISA-ADRS e MEDIARE, 2007), a

    prtica da mediao ir requerer do mediador conhecimento e treinamento especfico sobre as

    tcnicas de mediao, exigindo qualificao e aperfeioamento contnuo para a melhoria das

    suas atitudes e habilidades profissionais.

    Antes de terminar o estudo desta aula, leia o texto Como mediadores e advogados podem atuar, colaborativamente, na mediao baseada nos interesses e nas necessidades das partes.(ver anexo 2) Concluso

    De acordo com ISA-ADRS e MEDIARE (2007, anexo), o mediador pode ser definido como

    uma pessoa escolhida pelas partes para atuar como terceiro imparcial na facilitao do dilogo entre elas.

    O papel do mediador envolve como competncia bsica a capacidade de criar condies para

    que as partes possam obter uma soluo e, principalmente, estabelecer o dilogo.

    O desenvolvimento dessa competncia requer, ao mediador, dentre outros aspectos, um

    conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes.

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    Neste mdulo so apresentados exerccios de fixao para auxiliar a compreenso do contedo. O objetivo destes exerccios complementar as informaes apresentadas nas pginas anteriores. 1. A principal caracterstica do mediador :

    ( ) Pacincia

    ( ) Prudncia

    ( ) Cautela

    ( ) Neutralidade

    ( ) Persuasivo

    2. Ao mediador requeridos conhecimentos sobre: ( ) Relaes humanas.

    ( ) Legislao trabalhista.

    ( ) Conflito e gerenciamento de conflitos.

    ( ) Processo jurdico.

    ( ) Metodologia do processo de mediao.

    3. Marque a alternativa em que no corresponda habilidade do mediador. ( ) Promover a reflexo e o dilogo.

    ( ) Utilizar de antteses.

    ( ) Escutar e refletir.

    ( ) Gerenciar conflitos.

    ( ) Identificar impasses.

    4. Julgue os itens em (V) para verdadeiro e (F) para falso. ( ) O papel do mediador envolve como competncia bsica a capacidade de criar condies

    para que as partes possam obter uma soluo e, principalmente, estabelecer o dilogo.

    ( ) De acordo com ISA ADRS e MEDIARE, o mediador pode ser definido como uma pessoa

    escolhida pelas partes para atuar como terceiro imparcial na facilitao do dilogo entre elas.

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    ( ) O papel do mediador envolve como competncia bsica a capacidade de criar temas para

    que as partes possam divergir a fim de conhec-las.

    ( ) De acordo com o cdigo de tica dos mediadores, a prtica da mediao ir requerer do

    mediador conhecimento e treinamento especfico sobre as tcnicas de persuaso, exigindo

    qualificao e aperfeioamento contnuo para a melhoria das suas atitudes e habilidades

    profissionais.

    Este o final do mdulo 4 O mediador Respostas 1. Neutralidade 2. Conflito e gerenciamento de conflitos. Metodologia do processo de mediao.

    3. Utilizar de antteses. 4. V V F - F

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    Anexos

    Anexo 1

    O MEDIADOR

    O MEDIADOR um terceiro imparcial que, por meio de uma srie de procedimentos prprios, auxilia as partes a identificar os seus conflitos e interesses, e a construir, em conjunto, alternativas de soluo, visando o consenso e a realizao do acordo. O Mediador deve proceder, no desempenho de suas funes, preservando os princpios ticos.

    Cdigo de tica dos Mediadores estabelecido pelo Conselho Nacional de Instituies de Mediao e Arbitragem CONIMA, 1997

    Viabilizador desta qualidade de negociao, um Mediador amplia habilidades e adquire os conhecimentos necessrios para sua prtica, por meio de uma capacitao especfica. Experto em viso sistmica, comunicao e negociao, um Mediador atua como facilitador do dilogo entre partes, identificando e descontruindo impasses de diferentes naturezas. Cuidando de um tratamento e participao balanceados, auxiliando na identificao de interesses comuns, complementares e divergentes, e na articulao do trip necessidade, possibilidade e Direito. Possibilitando voz e vez aos envolvidos, construindo agendas de negociao com termos positivamente redefinidos, convidando as partes para reflexo e negociao de alternativas.

    Seu principal instrumento de interveno so as perguntas. A possibilidade de entrevistas privadas, o manejo de ferramentas de negociao e comunicao, alm de conhecimentos adicionais sobre peculiaridades do relacionamento humano e da influncia das redes de pertinncia e das histrias das lides na negociao, compem tambm seu exerccio.

    Regido por princpios ticos, ele tem na imparcialidade, na competncia, na confidencialidade e na diligncia, seu assentamento. Impedido eticamente de revelar o contedo da Mediao, no pode prestar testemunho ou atuar profissionalmente no caso fora do mbito da Mediao, ou ainda ter com o tema ou com as partes, qualquer conflito de interesses.

    Impedido de prestar consultoria ou servios profissionais s partes, os conhecimentos advindos de sua profisso de origem somente podem se fazer presentes por meio de perguntas que visem a identificar a suficincia da bagagem de informaes dos participantes, propiciadora de um poder decisrio de qualidade.

    Este impedimento reduz a atuao de um Mediador a esta funo e torna necessria e imprescindvel o desempenho complementar de outros profissionais que possam auxiliar as partes com seus pareceres, especialmente, os advogados. Cabe ao Mediador receb-los, inform-los sobre a natureza do processo e recomendar s partes que os mantenham como consultores e possveis futuros redatores formais do acordo informal produzido na Mediao, no caso de homologao.

    atribuio do Mediador a competncia em identificar a necessidade de consulta a outros profissionais / especialistas que possam contribuir com seus conhecimentos e prtica na ampliao de informao ou desconstruo de impasses, sem, no entanto, indic-los nominalmente.

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    ISA-ADRS e MEDIARE . Curso de Mediao e Resoluo Pacfica de Conflitos em segurana pblica. Braslia: Ministrio da Justia,2007. Anexo 2 Como mediadores e advogados podem atuar colaborativamente na mediao baseada nos interesses e nas necessidades das partes. http://www.mediare.com.br/08artigos_03med_adv.htm

    Tania Almeida Consultora, Docente e Supervisora em Mediao de Conflitos. Scia Fundadora e Diretora-Presidente do MEDIARE Dilogos e Processos Decisrios . Integrante do Comit de tica e da Vice-Presidncia do CONIMA Conselho Nacional das Instituies de Mediao e Arbitragem.

    Adolfo Braga Neto Advogado, Mediador, Supervisor em Mediao do Setor de Mediao do Frum de Guarulhos, Assessor Tcnico do Setor de Conciliao do Tribunal de Justia de So Paulo, Consultor da ONU, Presidente do Conselho de Administrao do IMAB -Instituto de Mediao e Arbitragem do Brasil ePresidente do CONIMA - Conselho Nacional das Instituies de Mediao e Arbitragem

    Sumrio

    O fato da Mediao de Conflitos estar em seus momentos iniciais na cultura brasileira requer, por parte dos mediadores, criteriosa ateno com o aporte de informaes para as partes e para os especialistas que dela participam, em especial, os advogados.

    Como o auxlio para a autocomposio entre as partes vem integrando cada dia mais o exerccio da advocacia em nosso pas, faz-se necessrio distinguir esta prtica daquela levada a termo pelo mediador, especialmente quando ambos os profissionais atuarem no mesmo caso.

    Este artigo tem a inteno de destacar relevantes aspectos do trabalho de equipe a ser realizado entre mediadores, mediados e advogados, por intermdio da cooperao entre eles, nas situaes de Mediaes Facilitativas baseadas nos interesses e nas necessidades de todos aqueles envolvidos no conflito.

    A Mediao Facilitativa

    A eficcia da utilizao da Mediao em diferentes cenrios de convivncia possibilitou, tambm, a diversificao de modelos de trabalho que pudessem atender s demandas mais especficas das partes ou at mesmo de tericos dedicados ao tema. Oferecer um parecer no-vinculante (atributo da Mediao Avaliativa), privilegiar a transformao da relao e da comunicao entre as partes (objetivo da Mediao Transformativa), e auxiliar as partes a galgarem acordos com base em seus interesses e necessidades (carter da Mediao Facilitativa) so possibilidades que demandam distintas posturas de atuao do mediador, dos mediados e de seus advogados.

    A Mediao pautada nos interesses visa a satisfaz-los e ocupa-se de identific-los, assim como busca evidenciar a possibilidade de serem atendidos pela(s) outra(s) parte(s) integrante(s) do processo de negociao. Mtuos, complementares ou divergentes, o

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    atendimento dos interesses e necessidades das partes fica maximizado quando se vislumbram objetivos comuns como: a responsabilidade pelo bem estar dos filhos nas separaes e divrcios, a dissoluo societria de maneira harmoniosa ou a identificao do interesse pela permanncia da parceria de negcio nas situaes empresariais, a manuteno, o resgate ou a criao da convivncia pacfica nas questes de poltica internacional, ou a preservao de um bem comum nas controvrsias scio-ambientais.

    Como o ser humano desatendido em seus sentimentos e necessidades negocia seus afetos atravs de questes objetivas como ganhos pecunirios ou patrimoniais, ou at mesmo atravs da perda desses bens pelo outro, tarefa do mediador ajud-lo a identificar o seu interesse/necessidade maior em uma negociao, ou seja, no que ele fundamentalmente precisa ser atendido. Esse interesse ou necessidade primaz, na maioria das vezes, no faz parte do que est sendo objetivamente negociado posto que tambm se encontra subjacente, como exemplificado acima, no mbito dos sentimentos e dos desejos subjetivos.

    Na Mediao voltada para os interesses e necessidades, tanto os mediados quanto os mediadores e os advogados precisam conhecer o que foi identificado pelos primeiros como seu principal interesse ou necessidade para que possam estar unssonos na ajuda e no cuidado desses mediados.

    As mltiplas vozes presentes nos dilogos ocorridos em um Processo de Mediao No curso de um processo de Mediao entre duas ou mais partes, existem pelo menos seis nveis de dilogo, expressos ou no, ocorrendo simultaneamente:

    entre as partes em negociao, no s negociando a questo presente, mas, em especial, as questes e sentimentos passados;

    entre os mediadores que coordenam o trabalho, identificando a melhor forma de conduzi-lo a cada momento;

    entre as partes e seus advogados, buscando redefinir a qualidade habitual de sua relao - da posio passiva de serem defendidas posio ativa de serem autoras; de defensores do direito do cliente a assessores jurdicos, respectivamente;

    entre os advogados das partes e a sua prtica profissional, identificando a orientao jurdica mais adequada;

    entre os mediados e suas redes de pertinncia (amigos e familiares), com as quais estabelecem tcitos pactos de lealdade que precisaro ser renegociados ao longo da Mediao;

    entre os mediados e os terceiros envolvidos, no presentes mesa de negociao, mas que sofrero as conseqncias, ou recebero os benefcios tanto do que for acordado quanto da qualidade de relao que os mediados conseguirem estabelecer no futuro.

    Podendo tornar ainda mais complexo cada um dos nveis de dilogo acima identificados, assim como ampli-los em nmero, acreditamos ser de grande contribuio para a eficcia do processo de Mediao a disposio para visualizar o lugar e a narrativa de cada um dos atores mencionados e para cuidar da prpria participao em cada um dos nveis citados.

    Colocando-se no lugar das partes e de seus advogados

    Mesmo quando iniciada antes que processos judiciais tenham inaugurado o dilogo entre as partes, a Mediao cumpre a difcil tarefa de propor redefinies para alguns de nossos paradigmas, preconceitos e crenas culturais.

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    Processo no-adversarial (ganha-ganha) voltado para a satisfao mtua, a Mediao nos acena com a possibilidade de satisfao parcial - nem satisfao total, nem perda total, objetivo pouco afinado com as resolues de cunho adversarial. Ela nos confere a possibilidade de autoria em todas as solues propostas e demanda a identificao de nossas possibilidades no atendimento s necessidades do outro, na expectativa de que ele far o mesmo. Confere-nos total controle sobre o processo, pois que nos permite eleg-lo e finaliz-lo a qualquer tempo, assim como nos permite negociar seus procedimentos. Demanda que nos coloquemos no lugar dos terceiros implicados na negociao, cuja voz ausente precisa ter suas necessidades igualmente atendidas. Solicita-nos boa f e transparncia de propsitos, ao mesmo tempo em que exige sigilo e confidencialidade no relativo matria nela tratada. Acolhe nossa histria passada com esse outro com quem agora nos indispomos, e nos convida, a todo tempo, a tomar decises que visem ao futuro. Alarga a nossa margem de negociao para alternativas antes no pensadas, mas no permite que elas ultrapassem a margem da tica ou do Direito.

    Na vigncia de processos judiciais, a tarefa de redefinir os aspectos acima citados precisa ter a colaborao dos mediados e de seus advogados que, na universalidade dos casos, so procurados para defender os direitos de seus clientes. preciso que mediados e advogados redefinam a demanda e a oferta de uma posio de guia na defesa contra algum que pode me prejudicar para uma posio de assessoria e suporte legal para o que est sendo negociado em colaborao com a outra parte. to necessria uma retroalimentao positiva entre cliente e advogado para a obteno e a manuteno de uma postura de defesa, como para a obteno e a manuteno de uma postura de assessoria e suporte legal, segundo demanda a mediao. Clientes no conseguiro abandonar a postura de defesa contra o inimigo se no tiverem a permisso de seus advogados e vice-versa. Da mesma forma, no conseguiro se distanciar da posio passiva de serem defendidos para ingressar na posio ativa de serem autores, se ambos no autorizarem essa mudana.

    Colocando-se no lugar dos mediadores

    Treinados para possibilitar escuta, fala e questionamento, assim como para provocar reflexo e estimular uma postura ativa e autora nos mediados, os mediadores precisam, tambm, manter-se imparciais mesmo em situaes que mobilizam muita emoo ou provocam identificao com as partes.

    Em funo de nossa natureza humana, no acreditamos que a neutralidade seja passvel de realizao uma vez que o questionamento do mediador feito a partir do repertrio que sua viso de mundo e paradigmas possibilitam. Este questionamento no deve, no entanto, expressar valores ou leituras que possam direcionar as partes para determinadas solues. Para que isso ocorra necessrio cuidar ativa e continuamente da manuteno de um estado de imparcialidade, quer dizer, cuidar da eqidade de participao dos mediados, manter eqidistncia objetiva e subjetiva e no tomar partido com relao aos temas e s partes com os quais estamos trabalhando.

    Com especial conhecimento em comunicao humana, tcnicas de negociao e viso sistmica da controvrsia, os mediadores tm como expertise facilitar dilogos em situaes adversariais. nesses aspectos, e no conhecimento sobre como conduzir o processo de Mediao, que reside sua competncia. Sigilo, imparcialidade, competncia e diligncia so quesitos ticos. preciso estar atento ao que h de comunicao verbal e no-verbal entre os mediados, aos discursos que auxiliam a identificar interesses comuns, divergentes e convergentes, ao desbalance de qualquer natureza entre os dialogantes financeiro, cognitivo, informativo, emocional - para bem conduzir esse processo. mister no guardar conflito de interesses com as partes ou com o tema mediado, no oferecer os conhecimentos de profisso de origem para assessorar as partes em suas decises, e no sugerir ou aconselhar quanto a

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    decises a serem tomadas. Articulando todos esses ingredientes, tarefa exclusiva do mediador, em uma Mediao Facilitativa, facilitar o dilogo entre partes para que delas surjam as solues para o que as traz Mediao. essa sua estrita e delicada rea de atuao.

    A no oferta de conhecimentos profissionais para assessorar as solues vislumbradas pelos mediados torna indispensvel a sua consultoria a outros profissionais em busca de embasamento legal e tcnico para as decises a serem tomadas. A indispensvel assessoria legal, pois que nenhuma soluo pode ferir o Direito, torna imprescindvel a participao dos advogados. Os advogados devero no s estar cientes das intenes de seus clientes em participar de um processo de Mediao, mas tambm conhecer o Cdigo de tica e o Regulamento Institucional que regem a prtica do mediador eleito para que possam orientar adequadamente seus clientes.

    salutar que o mediador se apresente, oferea as informaes necessrias, esclarea sobre os limites e os alcances do seu trabalho e, de acordo com a vontade dos mediados, mantenha abertas as portas para a participao dos advogados nas reunies de Mediao. fundamental que os advogados sejam informados sobre os interesses dos mediados, identificados na Mediao, e acompanhem o progresso de sua postura no sentido de atender aos interesses de cada um dos mediados, podendo, assim, atuar sinergicamente com suas eventuais mudanas.

    Ao mediador cabe a redao, na linguagem das partes, do acordo total ou parcial construdo por elas. So os advogados das partes aqueles que devero dar linguagem jurdica ao acordo, caso a matria exija homologao, ou assim o desejem os mediados.

    Concluso

    Para que haja uma ao sinrgica entre mediador, mediados e seus advogados, preciso que todos eles tomem conhecimento das informaes acima mencionadas para que reconheam os inmeros atores da questo em tela, sua complexidade e alcance social, de maneira a atuarem em conformidade com sua funo, o momento da Mediao e seus propsitos.

    A necessidade de redefinir algumas de nossas crenas culturais assim como redefinir a qualidade habitual de relao de trabalho entre parte e advogado indispensvel para viabilizar a participao genuna de todos os atores identificados em um processo de Mediao, contribuio indispensvel para a sua eficcia.

    essencial que mediadores, mediados e advogados se reconheam como elementos de uma equipe em colaborao, em busca de auxiliar os mediados a focarem nos seus interesses, a articularem sua possibilidade de atender o outro nas necessidades dele, e vice-versa, e a legitimarem sua capacidade de solucionar pacificamente as prprias questes, beneficiando-se mutuamente desta autoria.

  • Curso Mediao de Conflitos 1 Mdulo 5 SENASP/MJ - ltima atualizao em 28/03/2009

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    Mdulo 5 tica e confidencialidade do mediador

    A tica do mediador est centrada no sigilo. Neste mdulo, voc estudar os principais aspectos que envolvem essa questo.

    O contedo deste mdulo est dividido em 2 aulas: Aula 1 tica do mediador Aula 2 O cdigo de tica e o regulamento modelo

    Ao final deste mdulo voc dever ser capaz de:

    Compreender as obrigaes ticas do mediador; e

    Reconhecer a importncia do estudo do cdigo de tica do mediador e do regulamento modelo

    da mediao.

    Aula 1 tica do mediador

    Obrigaes ticas do mediador

    obrigao do mediador zelar pelo sigilo de todos os procedimentos em mediao. De acordo com ISA -ADRS e MEDIARE (2007), o sigilo envolve:

    Informaes e dados manuseados por toda a equipe tcnica; e

    Informaes das reunies privadas.

    Importante O sigilo reestabelece o ambiente de segurana e confiana. Nenhum dos envolvidos em

    mediao pode revelar a terceiros, informaes adquiridas no processo. No podem depor em

    processos judiciais ou arbitrais, salvo acordo das partes no contrato. (ISA-ADRS e MEDIARE,

    2007)

  • Curso Mediao de Conflitos 1 Mdulo 5 SENASP/MJ - ltima atualizao em 28/03/2009

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    O mediador tem a obrigao de zelar pelo equilbrio entre as partes. Esse equilbrio envolve: Equilbrio de poder Tom de voz, questes de encaminhamento e legitimidade; e Equilbrio de informaes O mediador deve orientar as partes a buscarem todas as informaes necessrias tomada de deciso.

    Importante O equilbrio fundamental para a livre e genuna AUTONOMIA DE VONTADES. (ISA-ADRS e

    MEDIARE, 2007)

    Impedimentos ticos Segundo ISA-ADRS e MEDIARE (2007) havendo impedimentos ticos (interesse ou

    relacionamento que possa afetar a imparcialidade, suscitar aparncia de parcialidade ou

    quebra de independncia), o mediador dever revel-los s partes ou recusar a indicao.

    Aps uma mediao, mediadores e equipe tcnica ficam impedidas de atuar em processo

    judicial ou arbitral correlato, a menos que ambas as partes concordem.

    Aula 2 O cdigo de tica e o regulamento modelo

    Cdigo de tica dos mediadores

    O cdigo de tica dos mediadores (http://www.conima.org.br/etica_mediadores.html) um documento que norteia a conduta tica dos mediadores. Alm da introduo, o cdigo est

    dividido em seis partes assim representadas:

    Parte I Autonomia da vontade das partes http://www.conima.org.br/etica_2/mediadores/autonomia.html

    Parte II Princpios fundamentais http://www.conima.org.br/etica_2/mediadores/principios.html

    Parte III Do mediador frente sua nomeao http://www.conima.org.br/etica_2/mediadores/nomeacao.html

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    Parte IV Do mediador frente s partes http://www.conima.org.br/etica_2/mediadores/partes.html

    Parte V Do mediador frente ao processo http://www.conima.org.br/etica_2/mediadores/processo.html

    Parte VI Do mediador frente instituio ou entidade especializada http://www.conima.org.br/etica_2/mediadores/instituicao.html

    Regulamento modelo da mediao

    Enquanto o cdigo de tica dos mediadores (http://www.conima.org.br/etica_mediadores.html) norteia a conduta do mediador, o regulamento modelo da mediao (http://www.conima.org.br/regula_mediacao.html): um documento que norteia a conduta tica dos mediadores. Alm da introduo o cdigo est dividido em seis partes assim representadas:

    .

    Captulo I Incio do processo http://www.conima.org.br/regulamentos_2/mediacao/inicio_processo.html

    Captulo II Representao e assessoramento http://www.conima.org.br/regulamentos_2/mediacao/representacao.html Captulo III Preparao (Pr-mediao) http://www.conima.org.br/regulamentos_2/mediacao/preparacao.html

    Captulo IV Escolha do mediador http://www.conima.org.br/regulamentos_2/mediacao/escolha_mediador.html Captulo V Atuao do mediador http://www.conima.org.br/regulamentos_2/mediacao/atuacao_mediador.html Captulo VI Impedimento e sigilo http://www.conima.org.br/regulamentos_2/mediacao/impedimentos_sigilo.html

    Captulo VII Do