mapa da cachaça no diário do comércio do rio de janeiro

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Artes :: Sexta-feira e fim de semana, 27, 28 e 29 de julho de 2012 C-6 TÍFANI ALBUQUERQUE HISTORIADORA DO JORNAL DO COMMERCIO No começo da colonização do Brasil, a partir de 1530, a produção açucareira apareceu como primeiro grande empreendimento de explo- ração. Afinal, os portugueses já do- minavam o processo de plantio e processamento da cana – já realiza- do nas ilhas atlânticas – e ainda contavam com as condições climá- ticas que favoreciam a instalação de grandes unidades produtoras pelas regiões litorâneas no território. A ca- chaça é genuinamente nacional. No processo de fabricação do açúcar, os escravos realizavam a co- lheita da cana e, após ser feito o es- magamento dos caules, cozinha- vam o caldo em enormes tachos até se transformarem em melado. Nesse processo de cozimento, era fabrica- do um caldo mais grosso, chamado de cagaça, que era comumente ser- vido junto com as sobras da cana para os animais. Tal hábito fazia com que a caga- ça fermentasse com a ação do tem- po e do clima, produzindo um lí- quido de alto teor alcoólico. Desse modo, podemos muito bem acredi- tar que foram os animais de carga e pasto a experimentarem primeiro da nossa cachaça. Certo dia, muito provavelmente, um escravo fez a descoberta experimentando aquele líquido que se acumulava no coxo dos animais. Outra hipótese sugere que, certa vez, os escravos misturaram um me- laço velho e fermentado com um me- laço fabricado no dia seguinte. Nessa mistura, acabaram fazendo com que o álcool presente no melaço velho evaporasse e formasse gotículas no teto do engenho. Na medida em que o líquido pingava em suas cabeças e iam até a direção da boca, os escravos experimentavam a bebida que teria o nome de “pinga”. Nessa mesma si- tuação, a cachaça que pingava do te- to atingia em cheio os ferimentos que os escravos tinham nas costas, por conta das punições físicas que so- friam. O ardor causado pelo contato dos ferimentos com a cachaça teria dado o nome de “água ardente”. Com o tempo, a bebida foi aper- feiçoada, passando a ser filtrada e depois destilada, sendo muito apre- ciada em épocas de frio. O processo de fermentação com fubá de milho remonta aos primórdios do nasci- mento da cachaça e permanece até hoje com a maior parte dos produ- tores artesanais. A cachaça sempre viveu na clan- destinidade, sendo consumida principalmente por pessoas de bai- xa renda e, por isto, sua imagem fi- cou associada a produto de má qualidade. Atualmente, porém, ela ascendeu a níveis nunca antes so- nhados e hoje é uma bebida respei- tada e apreciada mundialmente, já tendo conquistado a preferência de pessoas de alta classe e sendo servi- da em encontros políticos interna- cionais e eventos de toda espécie pelo mundo afora. NAIRA SALES O Rio de Janeiro tem um circuito completo para os apreciadores. Para quem fre- quenta a Rua do Lavradio, no Centro, uma boa pedida é o Bar e Restaurante Mangue Seco. Situado num ca- sarão do final do séc. 19, a casa abri- ga, além do restaurante, uma com- pleta cachaçaria, com mais de 100 rótulos, inclusive uma marca pró- pria, produzida com muito requinte e todo cuidado pela Agroindustrial da Província Serrana, na Fazenda Piedade, interior do estado. Na carta de cachaças, feita pelo especialista Paulo Magoulas na Carta do Mangue Seco, há opções para todos os gostos e bolsos. A produção tem origens diversifica- das, vindas de Paraty, municípios do interior do Rio, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Paraíba, Paraná, São Paulo. A mais nobre é a coleção Sa- linas, originária de um município mineiro com o mesmo nome, com o maior índice por metro quadrado de produtores de cachaça, sendo considerada a capital mundial da bebida. Da Salinas, uma das mais refinadas opções é a Anísio Santia- go. É o nome atual da cachaça Ha- vana que foi, sem dúvida, a mais cara do Brasil, em sua época. No dia 13 de agosto, às 19 horas, em comemoração ao título de Patri- mônio Histórico da Cachaça, o Gru- po Rio Scenarium decidiu comemo- rar a indicação oferecendo a amigos e clientes uma palestra gratuita so- bre degustação de cachaça. A pales- tra irá acontecer na Cachaçaria Man- gue Seco. As vagas são limitadas e, para se inscrever, basta ir ao próprio Mangue Seco ou enviar um e-mail para o endereço promocaomangue- [email protected]. A aula será dada pelo pesquisador e presidente da Academia Brasileira da Cachaça, o consultor Paulo Magoulas. No even- to serão focados aspectos históricos e folclóricos da cachaça, com análise da situação atual da bebida no Rio de Janeiro e no Brasil. Na opinião do especialista, o momento atual da cachaça no co- tidiano brasileiro é bom, e os turis- tas têm a oportunidade de conhe- cer o melhor das cachaças nativas. “A boa cachaça não dá dor de cabe- ça, nem ressaca. O turista valoriza a cachaça porque é um produto tí- pico. Um bom limão para caipiri- nha, por exemplo, só existe no Bra- sil. O próprio açúcar lá fora não tem o mesmo gosto, mesmo se fos- se a mesma fórmula, o limão tem outro gosto, o açúcar também. Tu- do muda. Por exemplo, no interior da Inglaterra existe uma rede, a Ca- chaçaria Iguana, que utiliza cacha- ças feitas em Miguel Pereira e Vas- souras”, diz Magoulas. Localizado em um dos pontos mais altos do Rio Janeiro, em Santa Tereza, o restaurante Aprazível também serve a bebida. Depois da Santa Cana, o Aprazível lança a Ca- chaça São Pedro, o segundo rótulo de produção própria. A cachaça foi produzida em Paraty e envelhecida por dois anos e meio em barris de carvalho da família, os mesmos dos quais saiu a consagrada Santa Cana em que o pai de Ana Castilho, dona do Aprazível, produzia ca- chaça artesanal em sua fazenda em Santa Luzia (MG). A São Pedro tem 44% de teor alcoólico, e da produção ao engarrafamento todo o processo é artesanal. Já o restaurante Otto, na Tijuca e na Barra oferece 96 rótulos da bebi- da, todos escolhidos e provados um a um pelo cachacier Paulo Braga. O estabelecimento conta, inclusive, com um Clube de Cachaça, funda- do na abertura da casa, em 30 de ju- lho de 2004, que vai completar oito anos esse mês. Encontros são realizados a cada lançamento, e hoje a casa reúne mais de 170 associados com direito a carteirinha. Um dado curioso, a as- sociada número um é de uma mu- lher, Angélica Braga. Outro sócio fa- moso é o músico Moacyr Luz. O clu- be funciona do seguinte modo: o cliente que deseja se associar faz sua inscrição e adquire sua garrafa de ca- chaça. O sócio ganha uma carteiri- nha do clube com sua identificação e sempre que vai à casa, ele pode so- licitar a garrafa e tomar a bebida à vontade. Os sócios do clube podem adquirir para sua prateleira garrafas de cachaça diferenciadas e da mais pura qualidade. A Academia da Cachaça foi aberta em 1985 com o objetivo de ser uma casa onde fosse possível conhecer as diferentes variações de cachaça pro- duzidas no Brasil. A casa possui uma NAIRA SALES Antigamente, a cachaça era vista como bebida de baixa qualidade, mas atualmente tem se tornado íco- ne de pureza e status, além de ter seu valor histórico. Pensando nisso, Gabriela Barreto e Felipe Jannuzzi fi- zeram juntos dois anos de viagens pelo Brasil, bus- cando a história, as peculiaridades e características da branquinha. A descoberta fez com que a dupla criasse o site Mapa da Cachaça. Eles descobriram di- versos bares e restaurantes que servem cachaças que custam o preço de um scotch 12 anos. O site estará no ar no dia 20 de agosto. A idealizadora do projeto Mapa da Cachaça diz que a história da cachaça é marcada por preconcei- tos ligados a conflitos políticos entre metrópole e co- lônia. “Foi essa relação forte da cachaça com a Histó- ria do Brasil que despertou o nosso interesse em rea- lizar o projeto Mapa da Cachaça. O que a gente des- cobre quando começa a estudar esse assunto é que, quando a cachaça começou a fazer concorrência com o vinho e grapia vindos da Europa, Portugal proibiu sua produção no Brasil e isso marginalizou sua produção e seu consumo. Para alguém beber cachaça naquela época, teria que ser escondido. O resgate da cachaça como elemento da cultura brasi- leira e bebida de qualidade começou em 1920 e des- de então vem evoluindo”, conta a Grabriela. Para Felipe Jannuzzi, também idealizador do projeto, a cachaça é a bebida do brasileiro. Ela re- presenta muito na nossa cultura, gastronomia, mú- sica e história. “A nossa motivação para criar o Mapa da Cachaça veio por saber que esse projeto dialoga com muitos elementos brasileiros que nós gosta- mos e queríamos muito estudar e divulgar. Quere- mos falar com um público muito maior, já que a maioria dos brasileiros ainda não conhece o que é cachaça – sua história e seus sabores. Ano após ano, a cachaça vem conquistando mais espaço dentro dos lares e dos corações dos brasileiros, porém ainda temos muita resistência das pessoas que ainda consi- deram a cachaça uma bebida inferior. O mundo já se rendeu a cachaça, mas o brasileiro ainda não. Pelo menos não completamente”, afirma Januzzi. Segundo ele, a cachaça também é 100% brasileira, e isso é muito valorizado lá fora, principalmente na Europa. “Apesar de ser um destilado de 1532, a cacha- ça representa o novo, o exótico, um produto ainda pouco explorado na coquetelaria e na gastronomia. Por exemplo, os principais destilados no mercado, uísque, tequila e rum, são envelhecidos em barris carvalho. Já a cachaça tem diversas madeiras, muitas nativas, para o envelhecimento como bálsamo, am- burana, jequitibá, ipê, grápia, entre outras. A cachaça tem a oferecer esse mundo novo de aromas e sabo- res”, explica. No Mapa da Cachaça haverá uma sessão de receitas de coquetéis com o mixologista junior WM que é uma espécie de cientista dos coquetéis. “O junior estuda drink a drink qual a melhor combinação, que tipo de cachaça deve ser usada com o melhor ingrediente e estuda os efeitos que as diferentes madeiras dão à ca- chaça, e como esses efeitos podem ser combinados e balanceados com outros ingredientes. Atualmente es- tamos com uma série de releituras de drinks clássicos e um exemplo é o Cachaça Tônica, no qual o Junior en- controu uma cachaça que pudesse substituir o gin nesse famoso coquetel”, conta Grabriela. Mais informações: www.mapadacachaca.com.br www.academiadacachaca.com.br >> www.aprazivel.com.br >> www.otto.com.br/ >> www.manguesecocachacaria.com.br Uma história saborosa Um mapa da produção no Brasil coleção de mais de duas mil cacha- ças nacionais produzidas a partir de 1870, que são agrupadas por temas e exibidas em prateleiras de vidro para que se possa visualizar os rótulos e entender as diferenças de cada uma. Com endereços no Leblon e na Barra da Tijuca, na Academia a tradição convive em paz com a renovação constante, seja no cardápio ou na carta de drinques. Helcio Santos, um dos sócios da Academia, conta que o perfil do cliente que consome cachaça é mui- to variado. “Há cachaça para todos os gostos, podendo ser consumida pura, misturada com mel e limão, em caipirinhas, geladinhos e coque- téis. Temos um grupo formado em 1986 que conta hoje com 600 ‘Notó- rios Cachaceiros’, apreciadores de cachaça que frequentam a Acade- mia com assiduidade. O acordo fir- mado entre Brasil e EUA fixando o nome ‘cachaça’ como produto brasi- leiro nos EUA (e não Brazilian Rum) e a aprovação do projeto de lei que considera a cachaça Patrimônio His- tórico Cultural do estado do Rio de Janeiro mostram a importância que a cachaça vem tendo no mundo. Es- tas medidas certamente trarão um impacto positivo na produção, na comercialização no mercado inter- no e na exportação da bebida”, diz um dos sócios da Academia. FOTOS GABRIELA BARRETO E FELIPE JANNUZZI/DIVULGAÇÃO Com receitas simples ou sofisticadas, a cachaça brasileira vem ampliando presença em vários países. Qualidade dos tonéis hoje é ponto de destaque Gabriela Barreto e Felipe Jannuzzi: produtores do site Mapa da Cachaça Gabriela Barreto e Felipe Jannuzzi: produtores do site Mapa da Cachaça

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Page 1: Mapa da Cachaça no Diário do Comércio do Rio de Janeiro

Artes :: Sexta-feira e fim de semana, 27, 28 e 29 de julho de 2012C-6

TÍFANI ALBUQUERQUEHISTORIADORA DO

JORNAL DO COMMERCIO

No começo da colonização doBrasil, a partir de 1530, a produçãoaçucareira apareceu como primeirogrande empreendimento de explo-ração. Afinal, os portugueses já do-minavam o processo de plantio eprocessamento da cana – já realiza-do nas ilhas atlânticas – e aindacontavam com as condições climá-ticas que favoreciam a instalação degrandes unidades produtoras pelasregiões litorâneas no território. A ca-chaça é genuinamente nacional.

No processo de fabricação doaçúcar, os escravos realizavam a co-lheita da cana e, após ser feito o es-magamento dos caules, cozinha-vam o caldo em enormes tachos atése transformarem em melado. Nesseprocesso de cozimento, era fabrica-do um caldo mais grosso, chamadode cagaça, que era comumente ser-vido junto com as sobras da canapara os animais.

Tal hábito fazia com que a caga-ça fermentasse com a ação do tem-po e do clima, produzindo um lí-quido de alto teor alcoólico. Dessemodo, podemos muito bem acredi-tar que foram os animais de carga epasto a experimentarem primeiroda nossa cachaça. Certo dia, muitoprovavelmente, um escravo fez adescoberta experimentando aquelelíquido que se acumulava no coxodos animais.

Outra hipótese sugere que, certavez, os escravos misturaram um me-laço velho e fermentado com um me-laço fabricado no dia seguinte. Nessamistura, acabaram fazendo com queo álcool presente no melaço velhoevaporasse e formasse gotículas noteto do engenho. Na medida em queo líquido pingava em suas cabeças eiam até a direção da boca,os escravosexperimentavam a bebida que teriao nome de “pinga”. Nessa mesma si-tuação, a cachaça que pingava do te-to atingia em cheio os ferimentos queos escravos tinham nas costas, porconta das punições físicas que so-friam. O ardor causado pelo contatodos ferimentos com a cachaça teriadado o nome de “água ardente”.

Com o tempo, a bebida foi aper-feiçoada, passando a ser filtrada edepois destilada, sendo muito apre-ciada em épocas de frio. O processode fermentação com fubá de milhoremonta aos primórdios do nasci-mento da cachaça e permanece atéhoje com a maior parte dos produ-tores artesanais.

A cachaça sempre viveu na clan-destinidade, sendo consumidaprincipalmente por pessoas de bai-xa renda e, por isto, sua imagem fi-cou associada a produto de máqualidade. Atualmente, porém, elaascendeu a níveis nunca antes so-nhados e hoje é uma bebida respei-tada e apreciada mundialmente, játendo conquistado a preferência depessoas de alta classe e sendo servi-da em encontros políticos interna-cionais e eventos de toda espéciepelo mundo afora.

NAIRA SALES

ORio de Janeirotem um circuitocompleto paraos apreciadores.Para quem fre-quenta a Rua doLavradio, noCentro, uma boapedida é o Bar eR e s t a u r a n t eMangue Seco.Situado num ca-

sarão do final do séc. 19, a casa abri-ga, além do restaurante, uma com-pleta cachaçaria, com mais de 100rótulos, inclusive uma marca pró-pria, produzida com muito requintee todo cuidado pela Agroindustrialda Província Serrana, na FazendaPiedade, interior do estado.

Na carta de cachaças, feita peloespecialista Paulo Magoulas naCarta do Mangue Seco, há opçõespara todos os gostos e bolsos. Aprodução tem origens diversifica-das, vindas de Paraty, municípiosdo interior do Rio, Bahia, EspíritoSanto, Goiás, Paraíba, Paraná, SãoPaulo. A mais nobre é a coleção Sa-linas, originária de um municípiomineiro com o mesmo nome, como maior índice por metro quadradode produtores de cachaça, sendoconsiderada a capital mundial dabebida. Da Salinas, uma das maisrefinadas opções é a Anísio Santia-go. É o nome atual da cachaça Ha-vana que foi, sem dúvida, a maiscara do Brasil, em sua época.

No dia 13 de agosto, às 19 horas,em comemoração ao título de Patri-mônio Histórico da Cachaça, o Gru-po Rio Scenarium decidiu comemo-rar a indicação oferecendo a amigose clientes uma palestra gratuita so-bre degustação de cachaça. A pales-tra irá acontecer na Cachaçaria Man-gue Seco. As vagas são limitadas e,para se inscrever, basta ir ao próprioMangue Seco ou enviar um e-mailpara o endereço [email protected]. A aula será dadapelo pesquisador e presidente daAcademia Brasileira da Cachaça, oconsultor Paulo Magoulas. No even-to serão focados aspectos históricose folclóricos da cachaça, com análiseda situação atual da bebida no Riode Janeiro e no Brasil.

Na opinião do especialista, omomento atual da cachaça no co-tidiano brasileiro é bom, e os turis-tas têm a oportunidade de conhe-cer o melhor das cachaças nativas.“A boa cachaça não dá dor de cabe-ça, nem ressaca. O turista valorizaa cachaça porque é um produto tí-pico. Um bom limão para caipiri-nha, por exemplo, só existe no Bra-sil. O próprio açúcar lá fora nãotem o mesmo gosto, mesmo se fos-se a mesma fórmula, o limão temoutro gosto, o açúcar também. Tu-do muda. Por exemplo, no interiorda Inglaterra existe uma rede, a Ca-chaçaria Iguana, que utiliza cacha-ças feitas em Miguel Pereira e Vas-souras”, diz Magoulas.

Localizado em um dos pontosmais altos do Rio Janeiro, em SantaTereza, o restaurante Aprazíveltambém serve a bebida. Depois daSanta Cana, o Aprazível lança a Ca-chaça São Pedro, o segundo rótulode produção própria. A cachaça foiproduzida em Paraty e envelhecidapor dois anos e meio em barris decarvalho da família, os mesmosdos quais saiu a consagrada SantaCana em que o pai de Ana Castilho,dona do Aprazível, produzia ca-chaça artesanal em sua fazendaem Santa Luzia (MG). A São Pedrotem 44% de teor alcoólico, e daprodução ao engarrafamento todoo processo é artesanal.

Já o restaurante Otto, na Tijuca ena Barra oferece 96 rótulos da bebi-da, todos escolhidos e provados uma um pelo cachacier Paulo Braga. Oestabelecimento conta, inclusive,com um Clube de Cachaça, funda-do na abertura da casa, em 30 de ju-lho de 2004, que vai completar oitoanos esse mês.

Encontros são realizados a cadalançamento, e hoje a casa reúnemais de 170 associados com direito acarteirinha. Um dado curioso, a as-sociada número um é de uma mu-lher, Angélica Braga. Outro sócio fa-moso é o músico Moacyr Luz. O clu-be funciona do seguinte modo: ocliente que deseja se associar faz suainscrição e adquire sua garrafa de ca-chaça. O sócio ganha uma carteiri-nha do clube com sua identificaçãoe sempre que vai à casa, ele pode so-licitar a garrafa e tomar a bebida àvontade. Os sócios do clube podemadquirir para sua prateleira garrafasde cachaça diferenciadas e da maispura qualidade.

A Academia da Cachaça foi abertaem 1985 com o objetivo de ser umacasa onde fosse possível conhecer asdiferentes variações de cachaça pro-duzidas no Brasil. A casa possui uma

NAIRA SALES

Antigamente, a cachaça era vista como bebida debaixa qualidade, mas atualmente tem se tornado íco-ne de pureza e status, além de ter seu valor histórico.Pensando nisso, Gabriela Barreto e Felipe Jannuzzi fi-zeram juntos dois anos de viagens pelo Brasil, bus-cando a história, as peculiaridades e característicasda branquinha. A descoberta fez com que a duplacriasse o site Mapa da Cachaça. Eles descobriram di-versos bares e restaurantes que servem cachaças quecustam o preço de um scotch 12 anos. O site estaráno ar no dia 20 de agosto.

A idealizadora do projeto Mapa da Cachaça dizque a história da cachaça é marcada por preconcei-tos ligados a conflitos políticos entre metrópole e co-lônia. “Foi essa relação forte da cachaça com a Histó-ria do Brasil que despertou o nosso interesse em rea-lizar o projeto Mapa da Cachaça. O que a gente des-cobre quando começa a estudar esse assunto é que,quando a cachaça começou a fazer concorrênciacom o vinho e grapia vindos da Europa, Portugalproibiu sua produção no Brasil e isso marginalizousua produção e seu consumo. Para alguém bebercachaça naquela época, teria que ser escondido. Oresgate da cachaça como elemento da cultura brasi-leira e bebida de qualidade começou em 1920 e des-de então vem evoluindo”, conta a Grabriela.

Para Felipe Jannuzzi, também idealizador doprojeto, a cachaça é a bebida do brasileiro. Ela re-presenta muito na nossa cultura, gastronomia, mú-sica e história. “A nossa motivação para criar o Mapada Cachaça veio por saber que esse projeto dialogacom muitos elementos brasileiros que nós gosta-mos e queríamos muito estudar e divulgar. Quere-mos falar com um público muito maior, já que amaioria dos brasileiros ainda não conhece o que écachaça – sua história e seus sabores. Ano após ano,a cachaça vem conquistando mais espaço dentro

dos lares e dos corações dos brasileiros, porém aindatemos muita resistência das pessoas que ainda consi-deram a cachaça uma bebida inferior. O mundo já serendeu a cachaça, mas o brasileiro ainda não. Pelomenos não completamente”, afirma Januzzi.

Segundo ele, a cachaça também é 100% brasileira,e isso é muito valorizado lá fora, principalmente naEuropa. “Apesar de ser um destilado de 1532, a cacha-ça representa o novo, o exótico, um produto aindapouco explorado na coquetelaria e na gastronomia.Por exemplo, os principais destilados no mercado,uísque, tequila e rum, são envelhecidos em barriscarvalho. Já a cachaça tem diversas madeiras, muitasnativas, para o envelhecimento como bálsamo, am-burana, jequitibá, ipê, grápia, entre outras. A cachaçatem a oferecer esse mundo novo de aromas e sabo-res”, explica.

No Mapa da Cachaça haverá uma sessão de receitasde coquetéis com o mixologista junior WM que é umaespécie de cientista dos coquetéis. “O junior estudadrink a drink qual a melhor combinação, que tipo decachaça deve ser usada com o melhor ingrediente eestuda os efeitos que as diferentes madeiras dão à ca-chaça, e como esses efeitos podem ser combinados ebalanceados com outros ingredientes. Atualmente es-tamos com uma série de releituras de drinks clássicose um exemplo é o Cachaça Tônica, no qual o Junior en-controu uma cachaça que pudesse substituir o ginnesse famoso coquetel”, conta Grabriela.

M a i s i n f o r m a ç õ e s : w w w . m a p a d a c a c h a c a . c o m . b r

w w w . a c a d e m i a d a c a c h a c a . c o m . b r > > w w w . a p r a z i v e l . c o m . b r > > w w w . o t t o . c o m . b r / > > w w w . m a n g u e s e c o c a c h a c a r i a . c o m . b r

Uma históriasaborosa

Um mapa daprodução no Brasil

coleção de mais de duas mil cacha-ças nacionais produzidas a partir de1870, que são agrupadas por temas eexibidas em prateleiras de vidro paraque se possa visualizar os rótulos eentender as diferenças de cada uma.Com endereços no Leblon e na Barrada Tijuca, na Academia a tradiçãoconvive em paz com a renovaçãoconstante, seja no cardápio ou nacarta de drinques.

Helcio Santos, um dos sócios da

Academia, conta que o perfil docliente que consome cachaça é mui-to variado. “Há cachaça para todosos gostos, podendo ser consumidapura, misturada com mel e limão,em caipirinhas, geladinhos e coque-téis. Temos um grupo formado em1986 que conta hoje com 600 ‘Notó-rios Cachaceiros’, apreciadores decachaça que frequentam a Acade-mia com assiduidade. O acordo fir-mado entre Brasil e EUA fixando o

nome ‘cachaça’ como produto brasi-leiro nos EUA (e não Brazilian Rum)e a aprovação do projeto de lei queconsidera a cachaça Patrimônio His-tórico Cultural do estado do Rio deJaneiro mostram a importância quea cachaça vem tendo no mundo. Es-tas medidas certamente trarão umimpacto positivo na produção, nacomercialização no mercado inter-no e na exportação da bebida”, dizum dos sócios da Academia.

FOTOS GABRIELA BARRETO E FELIPE JANNUZZI/DIVULGAÇÃO

Com receitas simples ou sofisticadas, a cachaçabrasileira vem ampliandopresença em vários países.Qualidade dos tonéis hoje é ponto de destaque

Gabriela Barreto e Felipe Jannuzzi: produtores do site Mapa da Cachaça

Gabriela Barreto e Felipe Jannuzzi: produtores do site Mapa da Cachaça