londrina · janeiro 2013 · ano xiv ·...

16
londrina · janeiro 2013 · ano xiv · n°162

Upload: phamquynh

Post on 03-Dec-2018

221 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: londrina · janeiro 2013 · ano xiv · n°162saovicentedepaulolondrina.com.br/download/informativos/2013/PSVP... · para nossa Igreja, ... Fundou a Radio Alvorada de Londrina um veículo

londrina · janeiro 2013 · ano xiv · n°162†

Page 2: londrina · janeiro 2013 · ano xiv · n°162saovicentedepaulolondrina.com.br/download/informativos/2013/PSVP... · para nossa Igreja, ... Fundou a Radio Alvorada de Londrina um veículo

VIDA EM AÇÃO N°1622

Caro leitor (a), você, que lê o jornal Vida em Ação, tem em mãos uma edição especial sobre o primeiro bispo e arcebispo de Londrina Dom Geraldo Fernandes. Estamos celebrando o centenário de seu nascimento. Você irá não só conhecer melhor nosso primeiro arcebispo, mas também inspirar-se no seu testemunho de vida.

Agradeçamos a Deus pela pessoa e pelo ministério episcopal de Dom Geraldo, um grande teólogo, doutor em Direito Civil e Direito Canônico. Foi vice-presidente da cnbb e presidente da crb – Conferência Nacional dos Religiosos no Brasil.

Seu episcopado em Londrina marcou profundamente nosso povo. Muito contribuiu para o crescimento cultural e religioso da nossa arquidiocese. Tudo fez para que Londrina se tornasse um polo de atração.

Dom Geraldo juntamente com Madre Leônia são os fundadores da Congregação das nossas Irmãs Claretianas, que são missionárias e marcam presença em 17 países do mundo – De Londrina para o mundo.

Em 2013, nossa arquidiocese celebrará festivamente o Ano do Centenário de nascimento de Dom Geraldo. Desde já você, leitor, é nosso convidado para celebrarmos juntos e de coração agradecido o grande dom de Deus para Londrina, para o Brasil e para tantas dioceses do mundo, que foi Dom Geraldo Fernandes. Peçamos a Deus que todas essas comemorações atraiam vocações para nossa Igreja, especialmente vocações femininas e vocações claretianas femininas.

Vivamos nós também o lema de Dom Geraldo: “A misericórdia me acompanhará”. Ele foi muito misericordioso com os pobres, com as Irmãs da Congregação por ele fundada e pedia a Deus três coisas: primeiro, bondade, segundo, bondade, terceiro, bondade. O mundo precisa de bondade e alegria. Ambas são fruto da misericórdia.

Como seria bom se toda gente do Paraná e do Brasil pudesse captar, entender, avaliar e recordar, neste ano do centenário de nascimento de D. Geraldo Fernandes, toda a importância humana, social, cultural, pastoral e espiritual que se esconde debaixo deste

nome tão caro para a Igreja de Londrina: Dom Geraldo Fernandes.

Sim, para qualificarmos este nome devemos escolher uma rica adjetivação a fim de bem descrevermos essa marcante personalidade de nossa história.

D. Geraldo Fernandes é... O zeloso bispo fundador da Igreja de Londrina.

O inspirapor, junto com Madre Leônia Milito, de uma nova Congregação das Irmãs Claretianas. A voz evangelizadora da Radio Alvorada, a nossa Catedral do Ar. O alicerce sólido da nova Catedral de Londrina, na forma de mãos postas a interceder pela cidade. O pastor previdente que semeou paróquias e obras assistenciais em todo norte do Paraná. O companheiro compassivo dos Vicentinos, sanando sofrimentos e dores de tantos pobres. O pastor caridoso que rezava ecumenicamente com os dirigentes de outras Igrejas. O bispo universalista que abrigou a pastoral nipo-brasileira e sustentou a fé de tantos imigrantes. O bispo cidadão que se antecipou aos novos programas habitacionais, lançando o projeto de Igrejas Irmãs. O bispo teólogo que representou a Igreja do Paraná no Concílio Vaticano ii. O bispo missionário que levou o evangelho com suas missionárias Claretianas, aos cinco continentes. O Bispo corajoso que defendeu os agricultores na chamada Marcha da Produção à Brasília.

Mas, sobretudo, o bispo orante e pobre que nos ensinou a amar Cristo e a Igreja. Sim, D. Geraldo Fernandes é um nome que honra a Igreja de Londrina nas páginas de nossa história.

EDITO

RIAL

dom orlando brandes - arcebispo de londrina dom albano cavalin - arcebispo emérito de londrina

A voz do Pastor

O valor deste nome: Dom Geraldo Fernandes

design e diagramaçãowww.sommastudio.com 41 . 30925120 / 98048588

diretor: Pe. Joel Ribeiro Medeirosjornalista resp.: Carolina Thomazequipe pastoral da comunicação

EXPEDIENTE43 . [email protected]

impressão midiografTiragem: 5.000

Page 3: londrina · janeiro 2013 · ano xiv · n°162saovicentedepaulolondrina.com.br/download/informativos/2013/PSVP... · para nossa Igreja, ... Fundou a Radio Alvorada de Londrina um veículo

JANEIRO | 20133

Conheci Dom Geraldo Fernandes na sua ordenação episcopal, na Paróquia Coração de Maria em São Paulo, quando fui o segundo cerimoniário. Um episódio que ficou na lembrança: o Sr. núncio Dom Armando Lombardi, arcebispo ordenante, levou uma queda na pequena escadaria do trono e ficou alguns dias de cama.

Mais tarde fui nomeado bispo de Toledo. Visitei algumas vezes Dom Geraldo e sempre fui muito bem acolhido por ele, tornamo-nos amigos, nos encontrávamos nas assembléias gerais da cnbb, da qual por um quadriênio, foi vice-presidente, e ainda nas reuniões do Regional.

Quando Dom Geraldo sofreu a intervenção cardíaca, acompanhei e senti muito pelo tempo que passou em coma de 33 dias. Toda a Igreja rezava e pedia pelo seu restabelecimento. Infelizmente veio a falecer prematuramente. Certamente ainda tinha muito para dar à Igreja com sua sabedoria e prudência, própria de bom mineiro. Era bravíssimo em Direito Canônico. Serviu à Igreja no Brasil e à cnbb com muita dedicação e fidelidade. Era muito respeitado pelo clero e seu povo.

Fez grandes coisas por Londrina. Foi um desbravador, muito respeitado pelas autoridades de Londrina bem como pelas de todo o estado do Paraná. Organizou a Diocese, como primeiro bispo e primeiro arcebispo, acompanhando com grande zelo o seu rápido desenvolvimento e criou muitas paróquias. Trouxe muitos sacerdotes Fidei Donum da Eu-ropa, em particular de Malta-Gozo e Crema. Fundou, junta-mente com Madre Leônia Milito, a Congregação das Irmãs Missionárias de Santo Antonio Maria Claret, as conhecidas Irmãs Claretianas, hoje presentes em várias partes do mundo, onde desenvolvem trabalho missionário e promoção humana em especial com os mais empobrecidos. Dom Geraldo rece-beu várias congregações femininas e masculinas com seus vari-ados Carismas para atender às necessidades da jovem diocese.

Dom Geraldo Fernandes preocupou-se, como bom DO

M G

ERAL

DO, O

BISP

Ocardeal dom geraldo majella agneloarcebispo emérito de salvador

pastor, com a formação doutrinal do povo, mas também com a formação espiritual de leigos e de religiosos. Para isso construiu o Centro de Formação Emaús que até hoje serve à arquidiocese. Acolheu vários Movimentos como: Cursilhos de Cristandade, Movimento Familiar Cristão, Movimentos de Juventude, criou o Movimento do paf (Paz, Amor e Fraternidade) e outros.

Fundou a Radio Alvorada de Londrina um veículo de evangelização e divulgação das atividades da arquidiocese e um jornal mensal.

Deu particular atenção à formação do clero criando a obra das vocações sacerdotais e os seminários, onde se fazia presente com frequência preocupando-se com a reta formação dos futuros pastores. Incentivou a criação de faculdades de nível superior para Londrina abrindo espaço físico da diocese para a primeira Faculdade de Odontologia, onde foi também professor. Londrina é hoje, sem dúvida é uma cidade universitária que oferece inúmeras possibilidades não só para os londrinenses, mas também para muitas outras cidades e estados vizinhos que ali vão para se preparar como profissionais nas diversas áreas. Para isso concorreu pessoalmente Dom Geraldo Fernandes.

Nunca pensei em ser sucessor de Dom Geraldo. Eu era novo, com pouco tempo de bispo, quando veio a falecer Dom Geraldo. Não estava no Brasil no dia de seu sepultamento. Minha nomeação me pegou de surpresa; muitos outros nomes eram lembrados, menos o meu. De passagem por Roma recebi a comunicação por Dom Lucas Moreira Neves, na época secretário da Congregação para os bispos.

Dom Geraldo Fernandes foi exemplar para os Bispos do Brasil. Deus o recebeu junto de si e lhe deu a recom-pensa eterna.

Dom Geraldo Fernandes e a Igreja

Page 4: londrina · janeiro 2013 · ano xiv · n°162saovicentedepaulolondrina.com.br/download/informativos/2013/PSVP... · para nossa Igreja, ... Fundou a Radio Alvorada de Londrina um veículo

VIDA EM AÇÃO N°1624

CENT

ENÁR

IO

Já se passaram 31 anos desde que D. Geraldo foi sepultado nesta terra santa de Londrina, e sua história, a sua missão, o seu trabalho e sua vida dedicada à Igreja universal e a à Igreja particular de Londrina quase que desconhecida das novas gerações de fiéis. Quase que inesperadamente, ouvimos novamente falar de D. Geraldo do Fernandes e hoje somos convidados a celebrar seus 100 anos de nascimento. A Igreja sempre deu ênfase a vida dos santos e seu fiéis quando é o seu nascimento (morte) para a casa do Pai e inesperadamente ouvimos falar de centenário de nascimento, como podemos celebrar? Que sentido tem reavivar este fato (o dia em que Geraldo veio à luz? a este mundo) na nossa Igreja ? e que sentido tem para o Evangelho celebrar esta memória?

Estamos em pleno ano da fé, onde somos convidados a renovar e a testemunhar nossa fé neste nosso tempo, por isso vale voltar à Palavra de Deus e observar que D. Geraldo era um homem que tinha seu olhar e vida fixa nas realidades futuras, pois “A fé é uma posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não se vêem”. (Hb 11,1)

Não há como fugir do fato de que nossa Arquidiocese tem como raiz a vida e o trabalho deste homem, por isso tal celebração de 100 anos provoca vários questionamentos em

Celebrar o Centenário de Dom Geraldo Fernandes

pe. joel ribeiro medeiros

nossa vida e ao mesmo tempo certamente pode nos levar a ter um grande ânimo para participar desta importante festa, diria um acontecimento na Igreja particular de Londrina e também na sociedade civil, pois D. Geraldo deixou um grande legado para as nossas cidades (os municípios que pertencem a nossa Arquidiocese), pois ele não só trabalhou na questão religiosa, mas civil e intelectual de muitas pessoas. Comemorar o centenário de nascimento de D Geraldo Fernandes tem um por que para a Igreja e sociedade de Londrina. O seu primeiro arcebispo viveu intensamente para o Evangelho e para o povo de Londrina, não tem como negar que D. Geraldo Fernandes foi o homem certo no tempo e no lugar certo; e ao mesmo tempo olhando para o passado vemos que a história do primeiro arcebispo de Londrina se confunde com a história do município de Londrina, na cnbb e diria até do estado do Paraná.

Olhando para carta de São Paulo aos Hebreus podemos dizer que assim como os heróis da fé, no texto de Hebreus, que ficaram marcados nas páginas sagradas como exemplos e testemunho de uma genuína vida espiritual, tendo seus nomes registrados na galeria da fé, temos na história de nossa Igreja particular a memória deste bispo que nos incentiva a celebrar o seu centenário. Não devemos apenas celebrar e lembrar sua vida doada ao Evangelho na Igreja, mas deve ser para nós um grande impulso para a nova evangelização e a convocação de muitas pessoas para também sem medo entregar suas vidas a Deus, pois quem a entrega de fato nunca se sente infeliz, até diante da morte sente fortalecido no encontro com aquele que é a razão de nossa fé. D. Geraldo diante dos fatos difíceis da sua vida sempre os transformava em oblação a algumas causas nobres, como para os padres, para os seminaristas e a suas filhas.

Um homem que de fato entregou sua vida a Deus pela fé, tanto que no seu testamento ele diz: “professo, hoje, minha fé em Deus e em tudo o que é de Deus! Professo a minha confiança em Deus através de Cristo, meu salvador, e de Nossa Senhora, Mãe e refúgio dos pecadores”.

Creio que este centenário nem é tanto para exaltar D. Geraldo, pois o centro de nossa vida è Jesus Cristo, mas poderíamos dizer que D. Geraldo foi um farol para nossa Igreja, tanto particular quando nacional e universal, um farol não gera luz por si mesmo e nem aponta para si mesmo, mas indica o caminho por onde devemos andar e ao mesmo tempo nos indica a quem devemos seguir, por isso pela fé neste centenário de D. Geraldo somos chamados a seguir pela fé o ressuscitado e ser neste nosso tempo pessoas seguidoras de daquele que é e que será.

Page 5: londrina · janeiro 2013 · ano xiv · n°162saovicentedepaulolondrina.com.br/download/informativos/2013/PSVP... · para nossa Igreja, ... Fundou a Radio Alvorada de Londrina um veículo

JANEIRO | 20135

DOM

GER

ALDO

E AS

IRM

ÃS CL

ARET

IANA

S

O centenário de nascimento de Dom Geraldo Fernandes é uma convocação de louvor e agradeci- mento a Deus pelo dom de sua vida, mas também uma ocasião propícia para resgatar a memória daquele que foi uma pessoa muito significativa para a Igreja, especialmente para a Arquidiocese de Londrina; para a Congregação das Missionárias de Santo Antonio Maria Claret, que fundou juntamente com Madre Leônia Milito, e para a sociedade do seu tempo, que influenciou positivamente com a sua sabedoria de cidadão e pastor.

A celebração da sua vida, mais que a data histórica do seu nascimento, suscita o encontro pessoal com Dom Geraldo, descobrindo nele um homem simples e humilde, pobre e caridoso, alegre e humorista, justo e sábio. Ele foi um religioso missionário claretiano autêntico, um sacerdote fiel e um pastor bondoso e cheio de zelo pelo seu povo. Os seus ensinamentos, como professor, orador, escritor, comunicador, fundador, bispo e arcebispo, eram de uma sabedoria profunda mas simples e acessível a todos, reflexo da sabedoria de Deus que se revela aos simples e humildes de coração (cf. Mt 11,25).

O centenário nos evoca a sua memória como fundador da nossa Congregação e, portanto, queremos expressar a ele a nossa filial gratidão. Recordamo-nos dele como um pai bondoso e atento às filhas, um intercessor e mediador no processo da fundação e reconhecimento da Congregação por parte da Igreja. Em 1958 ele foi pessoalmente a Roma para pedir o decreto de fundação da nova Congregação e no ano de 1965, por ocasião da conclusão do Concílio Vaticano ii, ele levou a Roma a documentação e o pedido da apro- vação pontifícia.

Nossa fundadora, Madre Leônia Milito, foi sempre muito reconhecida a Dom Geraldo pela sua dedicação de pai, pastor e mestre, zeloso pelo bem de cada filha e de toda a Congregação que ele chamava “a minha querida Congregação das Irmãs Claretianas”. Ele nos amou profundamente e nos orientou com sabedoria de pai e uma metodologia inspirada no amor. Deixou-nos como

ir. dulcinéa r. de almeida, mc - superiora geral

Celebrar a vidade Dom Geraldo

com gratidão

herança carismática o seu exemplo de busca constante da vontade do Pai e confiança total na divina misericórdia, amor à Eucaristia, devoção filial ao Coração Imaculado de Maria, disponibilidade incondicional à Igreja e vivência da caridade que o impulsionou no anúncio do evangelho por todos os meios possíveis e na dedicação incansável aos pobres mais pobres.

Agradecendo a Deus por nos ter dado este pai como fundador, renovamos o nosso compromisso de fidelidade criativa à herança carismática que ele, juntamente com Madre Leônia Milito, deixou à Congregação e a todos, leigos e religiosos, chamados na Igreja com uma vocação universal à santidade e à missão.

Deus quis que Dom Geraldo e Madre Leônia, unidos em vida pela partilha do mesmo ideal missionário, dos sofrimentos, alegrias e esperanças, fossem unidos também no céu, partilhando a celebração do seu centenário de nascimento de ambos no ano 2013. Celebrar este dúplice evento é, para nós, um olhar com coração agradecido para eles e contemplar sua vida apaixonada por Cristo e pelos pobres, deixando-nos motivar pelos seus exemplos que inspiraram muitas jovens e continuam inspirando homens e mulheres que, impulsionados pelo mandato de Jesus “Ide e ensinai a todos os povos” (Mt 28,19), abraçam a causa do Reino.

Page 6: londrina · janeiro 2013 · ano xiv · n°162saovicentedepaulolondrina.com.br/download/informativos/2013/PSVP... · para nossa Igreja, ... Fundou a Radio Alvorada de Londrina um veículo

VIDA EM AÇÃO N°1626

DOM

GER

ALDO

E A

VIDA

REL

IGIO

SA

Dom Geraldo Fernandes, cmf nasceu no dia 1º de fevereiro de 1913, em Contagem, grande Belo Horizonte. Pais humildes e profundamente religiosos. Com 11 anos entrou para o seminário claretiano de São Paulo. Foi ordenado sacerdote no dia 25 de outubro de 1936. Seu primeiro destino foi o Centro de Estudos Teológicos, em Curitiba, onde lecionou por muitos anos. Com o auxílio dos seminaristas teólogos, fundou diversas igrejas, hoje paróquias, onde os futuros missionários iniciavam sua vida apostólica. Muito severo como superior e professor.

Foi nomeado pela Santa Sé assessor das congregações religiosas femininas no Brasil. Mesmo antes de ser eleito bispo, deu apoio àquelas que seriam fundadora e cofundadoras da Congregação das Missionárias de Santo Antonio Maria Claret. Ao tomar posse em Londrina, trouxe as irmãs para a Diocese, onde, com

A Caridade foi o fundamento de seu amor ao pobres

pe. irio rissi – missionário claretiano

Madre Leônia, deu origem à Congregação.Bispo, viveu sempre o zelo apostólico de Santo

Antonio Maria Claret. Como claretiano, filho do Imaculado Coração de Maria, erigiu na Diocese 34 paróquias com algum nome de Nossa Senhora. Doou aos Claretianos o terreno para a construção da Igreja Coração de Maria. Segundo Claret, seus missionários são homens que ardem em caridade. Esta caridade foi o fundamento de seu amor aos pobres, apoiando sempre os vicentinos e instituições caridosas. Convivi um tempo com Dom Geraldo e até fui coroinha na sua sagração episcopal. De professor e superior austero, com a força do Espírito Santo, tornou-se o pai dos pobres, carinhoso com seus sacerdotes, ainda hoje lembrado pelos que conviveram com ele. Sempre prudente como bom mineiro, mas capaz de solucionar saídas para as situações mais intrincadas. Fica nossa gratidão.

Page 7: londrina · janeiro 2013 · ano xiv · n°162saovicentedepaulolondrina.com.br/download/informativos/2013/PSVP... · para nossa Igreja, ... Fundou a Radio Alvorada de Londrina um veículo

JANEIRO | 20137

Neste ano celebraremos o centenário do nascimento dos dois fundadores das Irmãs Missionárias de Sto. Antônio Maria Claret. A diocese de Londrina e a congregação por eles iniciada estão se organizando para dar justo destaque à comemoração. Para as irmãs Claretianas há uma coincidência que não pode andar despercebida, não só porque os dois nasceram no mesmo ano de 1913, sobretudo porque os dois foram os instrumentos carismáticos usados pela Providência divina para dar vida a uma ordem missionária que obedeceu ao mandato missionário de Jesus, evangelizando povos de 17 Países e atendendo pobres e doentes em cada um deles.

A origem da nova congregação surpreendeu os dois fundadores, pois eles foram empurrados pela Providência divina a assumir um papel determinante na criação da nova congregação religiosa. Com certeza, nenhum dos dois, ao ingressar pessoalmente na vida religiosa, nunca imaginou que um dia se tornaria bispo e a outra viria ao Brasil para cuidar de Irmãs missionárias da congregação de origem, fazendo com que os dois se conhecessem e colaborassem na fundação da uma nova congregação. Só Deus sabe fazer de dois povos um só (Ef 2,14) e de duas pessoas uma única intensão missionária.

Esta não foi a única surpresa divina na vida dos dois. D. Geraldo tinha tudo para continuar sendo um estudioso especializado em Direito Canônico durante a vida toda, e Madre Leônia não teria ido pessoalmente além de querer realizar sua aspiração missionária. Mas Deus costura relações espirituais entre pessoas de que ele deseja servir-se para o seu plano de amor. Este estilo de Deus se manifesta freqüentemente na vida de outras almas privilegiadas, como Francisco e Clara de Assis, são Vicente de Paula e santa Luisa, são João da Cruz e santa Teresa D’Ávila etc.

pe. vitor groppelli

Celebrando o Centenário

DOM

GER

ALDO

, LEM

BRAD

O PE

LOS R

ELIG

IOSO

S

Em D. Geraldo e Madre Leônia podemos, porém encontrar outras coincidências que documentam a criatividade de Deus. Cada um dos dois percorreu um itinerário espiritual em paralelo com outro desde que a Santa Sé os colocou juntos no esforço de acender um novo carisma na vida da Igreja, sem desperdiçar os membros da congregação anterior, que já atuavam no Brasil. Graças à sinergia entre os dois, a Congregação se estruturou rapidamente, conseguindo enviar jovens vocacionadas para 17 países do mundo inteiro.

O desfecho da vida dos dois - esta é outra coincidência - foi dramático e imprevisível. Madre Leônia morreu num desastre de carro em 1980, e D. Geraldo foi vítima de um acidente cirúrgico que o deixou em coma durante 33 dias em 1982, antes de falecer. Foram experiências traumáticas que a diocese de Londrina e as Irmãs Missionárias claretianas enfrentaram com fé e coragem. Seus dois fundadores são como que asas divinas que sustentam o avião da Providência na construção do Reino de Deus na diocese e no mundo inteiro.

Page 8: londrina · janeiro 2013 · ano xiv · n°162saovicentedepaulolondrina.com.br/download/informativos/2013/PSVP... · para nossa Igreja, ... Fundou a Radio Alvorada de Londrina um veículo

VIDA EM AÇÃO N°162

Quem foiDom Geraldo Fernandes

8

A pessoa de dom Geraldo Fernandes, primeiro bispo e primeiro arcebispo de Londrina, merece uma justa análise por parte da ciência histórica. Com efeito, a sua atividade, como religioso claretiano e, principalmente como bispo da segunda cidade do estado do Paraná, foi intensa e variada. Assumindo uma diocese recém-criada, Dom Geraldo teve a rara oportunidade de imprimir na Igreja londrinense as marcas essenciais do seu carisma, a saber: “O anúncio da palavra e o serviço da caridade”. Assim, durante os vinte e cinco anos em que presidiu a Igreja de Londrina, desenvolveu plenamente uma atividade pastoral voltada para a concretização do carisma que lhe motivou a existência. Desse modo, conhecer um pouco a vida e as atividades de Dom Geraldo Fernandes, é mergulhar numa fase importante da realidade norte-paranaense e brasileira, um tempo de grandes desafios e mudanças.

Dom Geraldo Fernandes Bijos, nasceu em Contagem, Minas Gerais, Brasil, em 1º de fevereiro de 1913. Filho de Virgilato Fernandes Bijos e Maria José Moreira recebeu no lar as sementes da fé, que produziram abundantes frutos. Órfão de pai aos nove anos teve de ajudar na manutenção da família. Sentindo fortemente o chamado divino, foi coroinha no Santuário de Lourdes em Belo Horizonte e ingressou na Escola Apostólica dos Padres Claretianos.

Em Guarulhos – sp fez seus estudos secundários e sua primeira profissão religiosa no dia 10 de fevereiro de 1929.

Depois de estudar filosofia em Rio Claro – sp, começou a cursar teologia em Curitiba. Antes de terminar teologia foi enviado a Roma, para concluir o curso na faculdade Angelicum. Foi ordenado sacerdote em 25 de outubro de 1936 em Roma e celebrou sua primeira missa nas catacumbas.

Já sacerdote, matriculou-se na Universidade Lateranense onde cursou direito romano e canônico. Fez também um curso de arquivista na Biblioteca do Vaticano. Em Roma, conviveu na casa claretiana da via Giulia com três eminentes canonistas, entre os quais Arcádio Larraona, mais tarde cardeal e prefeito da Congregação dos Religiosos.

De volta ao Brasil, Dom Geraldo foi professor de teologia moral e direito canônico em Curitiba; diretor da revista Ave Maria, reitor do StudiumTheologicum de Curitiba e vice-provincial dos Padres Claretianos. Foi pregador sempre solicitado de retiros para o clero e comunidades religiosas.

Organizou o primeiro congresso de religiosos do Brasil, em 1954, do qual nasceu a Conferência dos Religiosos do Brasil, de cuja diretoria tomou parte. Foi também fundador e assistente da juc em Curitiba e participou do grupo fundador do celam. Em 1956, foi nomeado pelo papa Pio xii, primeiro bispo de Londrina. Sagrado em São Paulo em 13 de janeiro de 1957, assumiu a diocese em 17 de fevereiro do mesmo ano.

Sua formação tridentina influenciou-o nos primórdios do seu episcopado, refletindo o modo de pensar e agir do contexto da sua época. Com o papa João xxiii, no ano de 1962, começa um novo período eclesial marcado fortemente em seu início pelo Concilio Vaticano ii. Assim, gradualmente, Dom Geraldo foi evoluindo dentro das novas posturas eclesiais e práticas pastorais, chegando a assumir posições de vanguarda, como foi a implantação de escolas radiofônicas para a educação do homem do campo e a organização sindical do trabalhador rural através da Frente Agrária Paranaense (fap).

Essas duas iniciativas foram abortadas pelo regime militar a partir de 1964. Também teve uma atuação enérgica e decisiva em prol da justiça, em defesa dos trabalhadores da usina de álcool de Porecatu. Dom Geraldo nunca deixou de ter uma atitude conservadora própria de sua época e de sua formação, mas soube evoluir e avançar em suas posturas, quando entendia serem elas plena correspondência da vontade de Deus.

Como bispo de Londrina, teve Dom Geraldo a oportunidade de organizar, pela base, a nova diocese. Um problema premente era a falta de clero. Para remediá-la de imediato, atraiu para Londrina sacerdotes de várias congregações religiosas e padres seculares da diocese de Malta. Para conhecer a realidade, no início de seu episcopado, visitou todas as paróquias existentes, criou e estruturou muitas outras paróquias, segundo as necessidades e sempre que surgia um novo bairro, sua preocupação era construir não só a igreja material, mas também a comunidade viva dos fiéis. Durante o seu episcopado criou nada menos do que quarenta e duas paróquias.

Page 9: londrina · janeiro 2013 · ano xiv · n°162saovicentedepaulolondrina.com.br/download/informativos/2013/PSVP... · para nossa Igreja, ... Fundou a Radio Alvorada de Londrina um veículo

JANEIRO | 20139

A VI

DA D

E DOM

GER

ALDO

prof. josé garcia gonzáles neto - historiador

Incentivou e atraiu também várias congregações religiosas femininas para atuar na área assistencial e educacional.

Em 1965 inaugurou o prédio do Seminário Diocesano Paulo vi às margens do lago Igapó, hoje Instituto Teológico, para formar o clero diocesano. Também construiu a Casa de Encontros e Retiros chamada Emaús.

Fiel ao carisma do anúncio da palavra e ao serviço da caridade, fundou a Rádio Alvorada de Londrina, “a emissora da família paranaense” onde falava três vezes por semana. Na Televisão Coroados, sustentou por 12 anos o programa semanal “A voz do Pastor”. Em Curitiba, foi também o cofundador do Semanário Católico “A voz do Paraná”, de âmbito estadual.

Seu lema episcopal “Misericórdia subsequetur” a misericórdia me seguirá, foi tirado do Salmo 22, verso 6, pelo qual se coloca como instrumento de Deus no mundo. Daí a sua intensa atividade na área social, criando e apoiando as obras caritativas e incentivando a formação de novas conferências vicentinas, graças ao que conseguia aumentar consideravelmente o número delas na Diocese.

Ele mesmo, juntamente com Madre Leônia Milito, fundou uma nova família religiosa, a Congregação das Missionárias de Santo Antônio Maria Claret, sempre tendo em vista a evangelização e a atenção aos pobres e necessitados. A ela dedicou todo seu empenho em formar religiosas missionárias e enviá-las em missão não só a outros estados do Brasil, mas para além fronteiras constituindo dezenas de comunidades em vários países. Também incentivou a fundação da Associação das Damas de Caridade.

A Igreja da época tinha grande preocupação em agir no sentido de remediar os desajustes sociais com obras caritativas e assistenciais. Hoje, a preocupação é mais no sentido de favorecer reformas estruturais que diminuam as injustiças da sociedade. Constatamos que Dom Geraldo agiu sempre com um genuíno espírito cristão, de pastor atento às necessidades do seu rebanho. No aspecto material

e administrativo, Dom Geraldo modificou a planta da nova catedral, parcialmente construída e levantou uma estrutura em forma de tenda, “a tenda de Deus entre os homens”, um projeto simples, bonito e prático.

No âmbito da Igreja no Brasil e no mundo, Dom Geraldo foi assessor e visitador apostólico de religiosos e religiosas, vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, membro da comissão preparatória para o Concílio Ecumênico Vaticano ii, membro da Congregação do Clero e assessor jurídico, por muitos anos, da Conferência dos Religiosos. Participou das assembleias do episcopado latino-americano em Medellim e Puebla.

Dom Geraldo foi também escritor. Escreveu artigos para várias revistas e publicou os seguintes livros: Direito das Religiosas; Santo Antonio Maria Claret; Santo Antonio Maria Claret, primeiro santo do Concílio Vaticano I e O Imaculado Coração de Maria e as Revelações de Fátima.

Todo esse seu dinamismo apostólico, provinha da sua consciência de ser discípulo e missionário de Jesus, do seu grande amor à Eucaristia, na qual buscava forças, e ao Coração de Maria, de quem se considerava filho muito amado.

No início de 1982, depois de intensas atividades, Dom Geraldo teve sua saúde abalada. Em 17 de fevereiro comemorou as bodas de prata de sua posse na Diocese e em 23 do mesmo mês, internou-se no Hospital do Coração, em São Paulo, onde foi operado no dia seguinte, na tentativa de sanar o problema da válvula mitral. Mas não recuperou mais a consciência, vindo a falecer no dia 29 de março.

A presença maciça do povo na recepção do seu corpo no aeroporto confirmou a grande estima que lhe dedicava a população católica de Londrina. Dom Geraldo foi sepultado no lado direito do presbitério da catedral e seu túmulo é objeto contínuo de visitação pública, visto que o povo lhe atribui diversas graças alcançadas de Deus.

Page 10: londrina · janeiro 2013 · ano xiv · n°162saovicentedepaulolondrina.com.br/download/informativos/2013/PSVP... · para nossa Igreja, ... Fundou a Radio Alvorada de Londrina um veículo

VIDA EM AÇÃO N°16210

DOM

GER

ALDO

E OS

LEIG

OS

"Fica sempre um pouco de perfume, nas mãos que oferecem rosas, nas mãos que sabem ser generosas".Com essas palavras, que se encontram na melodia de uma música muito expressiva, posso definir quem foi Dom Geraldo Fernandes na vida de minha família. Meu pai, Waldemar Bertolin, conheceu-o quando ele ainda era padre claretiano na Igreja do Imaculado Coração de Maria, na Avenida Getúlio Vargas em Curitiba. Ali nasceu uma grande amizade, da qual apesar de passados tantos anos, não foi esquecida por toda nossa família. Meu pai Waldemar, minha mãe Víolanda, eu e meu irmão Luis Fernando.

Meu pai era congregado mariano e Dom Geraldo (na época padre Geraldo) era diretor espiritual do Movimento. Mesmo antes de eu ter nascido, frequentou nossa casa, por muitos anos. Aconteceu que minha mãe ficou muito doente e não lhe apetecia qualquer alimento. Dom Geraldo, segundo meu pai, a visitava diariamente, sentava a beira da cama e com a colher lhe levava o alimento à boca. Dizia que se ela não comesse, ele tomaria toda a sopa com o garfo. E assim ele o fez por muito tempo com orações e sacrifícios. Minha mãe foi-se restabelecendo e em pouco tempo ficou totalmente curada. Depois de alguns anos eu nasci.

Daqui para frente, posso contar melhor esta história. Desde então, Dom Geraldo já era bispo em Londrina. Aliás,

Homenagem àquele que tanto significou para a própria família

ana maria bertolin sauer

o primeiro bispo de Londrina. Como não poderia deixar de ser, meu pai o convidou para realizar o meu batizado. Tendo outros compromissos, não pode vir e mandou por um padre um bilhete todo amassado, o qual guardo até hoje, justificando sua ausência.

Os anos se passaram e esta amizade nunca esfriou. Pelo contrário, meus pais nunca tomavam decisões sem a opinião de Dom Geraldo. Ele, por sua vez, vinha muito a Curitiba e a minha casa. Chegava e ia direto para a cozinha, abria as tampas das panelas e dizia para a minha avó, que morava conosco: "Dona Itália, se não tiver polenta com “radicchio” eu vou embora, não fico para almoçar". Minha avó corria a providenciar tudo de que ele gostava. E lá ficava horas a conversar com meus pais, meus avós, eu e meu irmão.

Dom Geraldo não realizou meu batizado, porém ministrou a crisma. Esta foi realizada na igreja do Imaculado Coração de Maria. Fomos crismados eu e meu irmão; Dom Geraldo foi o padrinho dele. O tempo passou e tudo continuou como antes. Por ocasião de meu casamento, com a saúde já bastante debilitada, não pôde fazê-lo.

Quando chegava a Semana Santa, meus pais e eu íamos a Londrina... Visitávamos o Colégio das Irmãs, as paróquias, as fazendas de café... Assim também ficamos conhecendo as Irmãs Claretianas. Lembro muito da inesquecível Madre Leônia... Elas também vinham a Curitiba e frequentavam a minha casa, pois meu pai foi procurador de Dom Geraldo por ocasião da reforma da casa de Campina do Siqueira.

A tristeza foi muito grande para toda minha família quando soubemos da morte de Dom Geraldo em São Paulo. Meus pais, meu irmão e meu marido foram com muito pesar a Londrina para se despedirem do grande amigo. Na ocasião não pude ir pois estava com um filho recém-nascido.

Mais tarde, meu pai queria muito prestar uma homenagem àquele que tanto significou para Curitiba e Londrina. Batalhou junto à Câmara dos Deputados e conseguiu uma praça na Vila Hauer, perto da passarela, com o nome de "Praça Dom Geraldo Fernandes". Justa homenagem. As Irmãs e os Padres Claretianos estavam presentes na inauguração...

Page 11: londrina · janeiro 2013 · ano xiv · n°162saovicentedepaulolondrina.com.br/download/informativos/2013/PSVP... · para nossa Igreja, ... Fundou a Radio Alvorada de Londrina um veículo

JANEIRO | 201311

DOM

GER

ALDO

LEM

BRAD

O PE

LAS F

ILHAS

Eu conheci Dom Geraldo em São Paulo na sede pro- vincial dos Padres Claretianos. Com a Madre Leônia Milito fomos pedir a Dom Geraldo orientações e conselhos, diante da situação difícil causada pela eleição do novo governo geral da Congregação das Irmãs Filhas Pobres de Santo Antônio, com sede residente em Nápoles - Itália. Com a eleição do novo governo, nossa missão no Brasil estava ameaçada de extinção, porque esse governo não apoiava a missão do Brasil, onde floresciam novas vocações. As orientações de Dom Geraldo foram muito eficientes e nos ajudaram na continuação da missão. O testemunho dele edificou-me muito e guardei-o com carinho.

Desde o início da fundação da nossa Congregação das “Missionárias de Santo Antonio Maria Claret” o Pai Fundador transmitiu, pelo seu testemunho, a vivência da vida religiosa e do nosso Carisma, fundamentado na Eucaristia e no amor filial ao Imaculado Coração de Maria. As suas palestras e homilias, os seus escritos e mensagens são de um valor inestimável para a nossa família religiosa e a mim tem feito muito bem, ajudando-me a crescer espiritualmente e guiando-me à santidade.

Fiz o primeiro retiro que Dom Geraldo pregou, logo no início da Congregação, e que foi realizado na atual Casa da Memória. Ele falou da fé e para mim foi de grande proveito. Tive, também, a oportunidade de participar de vários cursos dados por ele e os seus escritos continuam alimentando a minha vida religiosa missionária claretiana. Os encontros pessoais que tive com ele foram experiências que considero de imenso valor e uma grande riqueza nas

Uma vida humana, religiosa,

missionária e episcopal em

plenitude

madre tarcisa gravina mc - cofundadora

tarefas da Congregação, a mim confiadas. As suas palavras são por mim lembradas e procuro aproveitá-las na vivência da minha missão junto às minhas irmãs, imitando o exemplo de nosso Pai no amor.

De sua espiritualidade tenho viva em mim a sua simplicidade no convívio com Jesus missionário como discípulo. Sua busca para imitar a humildade do Imaculado Coração de Maria é algo que me encanta e motiva para chegar às criaturas mais pobres, conforme o nosso Carisma. Firmemente acredito na sua santidade. A simplicidade de sua vida, o seu exemplo de fé e o seu testemunho de esperança e de total disponibilidade à vontade do Pai são a herança mais preciosa que ele nos deixou como testemunho de santidade de vida.

Gostaria de dizer às gerações futuras sobre Dom Geraldo, que ele viveu a sua vida humana, religiosa e episcopal em plenitude. O seu amor foi verdadeiramente universal, pois amou as famílias, as crianças, os jovens, os operários e os intelectuais. Em cada categoria detectava os mais necessitados, os pobres mais pobres. Como Jesus amou a todos, mas teve uma predileção para quem necessitasse de ser atendido, acolhido, escutado e por isso escolheu como seu lema episcopal “A Misericórdia”.

Ele convoca os jovens a preparar-se e formar-se para entregar a própria vida à vivência do maior ideal, seguindo Jesus, vivendo a sua doutrina e transmitindo aos outros o que Jesus ensinou, para que o nosso mundo seja “mais feliz”. O legado que o Pai Fundador nos deixa é defender a verdade, propagar a paz, amar a unidade na universalidade e dar testemunho de alegria e bondade.

(43) 3348-0700

BICICLETA ELÉTRICA

É AQUI!

Page 12: londrina · janeiro 2013 · ano xiv · n°162saovicentedepaulolondrina.com.br/download/informativos/2013/PSVP... · para nossa Igreja, ... Fundou a Radio Alvorada de Londrina um veículo

VIDA EM AÇÃO N°16212

DOM

GER

ALDO

E A

VIDA

REL

IGIO

SA

Antes mesmo da minha adolescência eu já era uma vocacionada firme e decidida. Meus sonhos eram apenas ser missionária. Sendo assim o meu lugar diário era a igreja e ali eu podia acompanhar muitos detalhes da caminhada paroquial. Diversas vezes me deparei com a presença das irmãs que vinham de Londrina a Rolândia para distribuir remédios aos pobres e desempenhar outros serviços caritativos nos albores da Congregação fundada por Dom Geraldo. Tais gestos já definiam a identidade e a espiritualidade que movia a vida de suas filhas: simplicidade, caridade e missionariedade. Prova de que a Congregação das Claretianas era obra de Deus, podemos dizer que muito significou e colaborou o instrumento eleito como Pai Fundador. Dom Geraldo juntamente com Madre Leônia Milito, foi este instrumento benéfico, organizador e incentivador incansável. Sua dedicação à Vida Religiosa era rara e total. Sua convicção de que a missão e a presença das religiosas na Igreja e na sociedade são indispensáveis fazendo toda diferença no âmbito da educação, da saúde, das obras sociais e na evangelização foi sempre muito evidente.

Como Pastor da Igreja Particular de Londrina, Dom Geraldo, ao longo do seu pastoreio, foi o primeiro ‘promotor vocacional’ que muito incentivou as Congregações Religiosas e o povo em geral a rezar e a trabalhar em prol das vocações. Lemos nas nossas Crônicas que no dia 28 de junho de 1965, Dom Geraldo convocou as Superioras das Congregações atuantes na diocese de Londrina, para abraçarem com ele a promoção e organização de uma semana vocacional na Catedral onde foram expostos quadros, fotos e outros explicativos dos diferentes Carismas. Implantou nas casas religiosas um dia de oração pelas vocações

Dom Geraldo e a vida Religiosa

ir. madalena cheron - franciscana do coração de jesus

e nós o fazíamos todo dia 22 do mês concluindo à tarde com uma hora de adoração a Jesus Eucaristia.

A presença deste pai dedicado e amante da Vida Consagrada tecia mensagens que despertavam os corações de muitas jovens as quais deixavam tudo e abraçavam o seguimento de Jesus na radicalidade evangélica.

Mensalmente convocava as superioras para um encontro fraterno no qual seu coração de pastor incentivava a todas, ajudando-as nas mais impensáveis necessidades e dificuldades além de passar-lhes o precioso alimento espiritual que fortificava a caminhada e a identidade da própria consagração. Nas visitas pastorais às paróquias dedicava um dia para uma visita paterna às casas religiosas. Sentava com os membros da comunidade e lhes falava de coração a coração sobre a beleza da consagração e da nossa missão. Encontrando-se em Londrina, não deixava de se apresentar às reuniões da crb para dar seu recado de Pai, Pastor, sacerdote e consagrado. Incentivava sempre à fidelidade, ao amor fraterno, à dedicação na missão.

Nós Franciscanas do Coração de Jesus gozamos muito da sua presença em diversas ocasiões e eventos. Lembro-me que Dom Geraldo foi o padrinho de turma da minha formatura ginasial, os primeiros formandos do Colégio Santo Antonio de Rolândia (03/12/64). Ele se fez presente e discursou dando sua mensagem para nós alunos, aos pais e professores. No dia 16 de janeiro de 1967, a pedido do bispo, nossas irmãs iniciaram um trabalho de missões na paróquia São José de Rolândia, o que causou muita alegria e satisfação em todas elas, pois tinham acolhido o apelo do Pastor: “Ide e ensinai a todas as criaturas” ( Mc 16,15).

Sua sensibilidade de Pai e Pastor o levava aos mais necessitados encontrando tempo para se debruçar ao leito de muitos sofredores. No dia 16 de agosto de 1981, Dom Geraldo bate à nossa porta para visitar à co-irmã Angélica Verlingue já prestes a passar à casa do Pai. Saindo do seu quarto, ele se apresentou com os olhos cheios de lágrimas. Vendo a mãe da irmã, lhe dirigiu palavras de força e coragem. Disse-lhe: “Entrega sua filha a Deus. Ela é uma santa”. E para as irmãs, disse: “A morte de uma religiosa é um dia de Páscoa! Não precisa chorar”. Exemplo de fé, confiança e abandono às disposições do Criador!

Na verdade Deus realiza maravilhas em seus servos/as! Celebrando o primeiro centenário de nascimento deste insigne pastor, para quem o conheceu, volta à mente e no coração a imagem e figura de um grande homem, sacerdote, pastor e irmão. E se pensa na sua humildade, no seu espírito de fé, de oração, de confiança, de luta e perseverança. Apaziguador inato. Um religioso autêntico e fiel. Sua vida era expressão de sua fala. Testemunhou a coerência e a solidariedade. Estendia sua mão aos sábios e humildes, aos pobres e pecadores e não temia o incerto, pois Deus era sua segurança e paz.

Sua passagem à casa do Pai atraiu muita gente, muitos fiéis. Cinco bispos se fizeram presentes, cinquenta e quatro padres, autoridades de Londrina e de Curitiba. Muitos discursos bem dirigidos revelavam sua vida cheia de boas obras e de amor a Deus e aos irmãos.

“Felizes os convidados à Ceia do Senhor!”

Page 13: londrina · janeiro 2013 · ano xiv · n°162saovicentedepaulolondrina.com.br/download/informativos/2013/PSVP... · para nossa Igreja, ... Fundou a Radio Alvorada de Londrina um veículo

JANEIRO | 201313

DOM

GER

ALDO

E A

VIDA

REL

IGIO

SAEm minhas orações pessoais, tornou-se que quase

rotina rememorar os momentos mais significativos da minha vida com o salmo 136. Melhor dito: dou continuidade ao salmo recordando fatos acontecidos não somente na caminhada do povo de Deus, mas também em minha vida: pois eterno é seu amor! É uma ladainha maravilhosa que inicia com o casamento de meus pais, continua com a vida que por eles Deus me deu, até a vocação sacerdotal, o meu apostolado no Brasil... Pois eterno é seu amor.

Nesta sequência, nunca falta uma memória: chegando ao Brasil em 1965 fui enviado para Londrina, pois eterno é seu amor; em Londrina encontrei um bispo paterno e acolhedor, pois eterno é seu amor; dom Geraldo guiou os primeiros passos da minha aventura apostólica, pois eterno é seu amor...

pe. alfiero ceresoli – sacerdote xaveriano

Dom Geraldo: pastor e pai,

amigo e mestre

Assim, eu recordo o meu pastor e pai, amigo e mestre, ainda presente porque algumas orientações suas continuam até hoje guiando minha atividade pastoral, minhas escolhas, minha vida. Mestre que não fazia pesar sua superioridade, conquanto superior em sabedoria; pastor que não deixava de guiar com visão clara e com determinação a comunidade diocesana em seu conjunto e nela as pessoas, sem por isso tirar a liberdade e a espontaneidade de quem quer que fosse.

Certa vez eu estava em Lupionópolis substituindo o pároco que demorava a retornar em sua sede. Passaram-se meses. Improvisamente, sem aviso algum, uma tarde chegou o bispo, andou pelas ruas, visitou a igreja, cumprimentou quem encontrava com alguns conversava... por fim a conversa foi comigo. Na despedida,

depois de agradecer por eu estar substituindo o pároco, ficou mais sério e disse: “Tudo bem, mas num ponto não estou satisfeito, preciso chamar a tua atenção! Você está ficando magro e pálido, talvez não esteja comendo direito”. Era verdade, não tinha cozinheira e eu não queria assumir uma, o pároco deveria voltar em poucos dias.

“É uma ordem – continuou – a noite fecha a porta vá à cozinha e prepara uma janta boa, como se o bispo estivesse chegando para jantar. Você sabe que dom Geraldo pode chegar de verdade, quero uma janta gostosa”. Sabia, ele poderia chegar. Não lembro se alguma vez tenha chegado de surpresa, sei que obedeci aprendendo a cozinhar coisas boas, aos poucos, ajudado também, por receitas encontradas em revistas. Aprendi a cuidar da minha saúde, além do atendimento pastora assim como o meu bispo tinha sido atento não só às atividades pastorais ou litúrgicas, mas também ao bem-estar físico do seu sacerdote. Como aqui não pensar em Maria, atenta ao vinho que faltava nas bodas de Caná?

Com pequenos fatos como este e muitos outros mais eu recordo dom Geraldo Fernandes primeiro bispo de Londrina, meu primeiro bispo aqui no Brasil, cuja presença continua viva em minha vida e pela qual agradeço a Trindade santíssima, Pai, Filho, Espírito Santo, pois eterna é sua misericórdia.

Page 14: londrina · janeiro 2013 · ano xiv · n°162saovicentedepaulolondrina.com.br/download/informativos/2013/PSVP... · para nossa Igreja, ... Fundou a Radio Alvorada de Londrina um veículo

VIDA EM AÇÃO N°16214

DOM

GER

ALDO

E OS

LEIG

OS

Conheci Dom Geraldo em fevereiro de 1957 quando tomou posse da Diocese de Londrina. Com alegria e ansiedade preparamos esse acontecimento junto com os professores e alunas do Colégio Mãe de Deus e da comunidade da Matriz Sagrado Coração de Jesus de Londrina. Seu lema “precedido pela misericórdia” concretizou sua linha de conduta permanente. Sua voz, seu olhar, suas homilias e toda a sua atitude foram de um pai misericordioso. Por isso, para mim, ele sempre foi e será “misericordioso como o Pai do céu é misericordioso”.

Conheci D. Geraldo Fernandes na época em que ele era arcebispo de Londrina e eu então diretor da Faculdade de Medicina. Esta foi, ao lado da Faculdade de Odontologia, de Filosofia e de Direito, a origem da Universidade Estadual de Londrina, da qual participou D. Geraldo como professor de Direito Romano.

Ele era um homem sensível e muito inteligente. Tivemos um convívio interessante e ele falava bastante nas casas da África. Foi nesse período que eu soube que D. Geraldo estava doente do coração. Tinha uma doença intracardíaca e os médicos haviam dito que a única solução viável seria uma cirurgia de grande porte e risco.. Sem isso estaria impossibilitado de viajar, seria mesmo vetado. Como gostasse muito das casas da África, optou por fazer a cirurgia mesmo correndo risco, porque pretendia ir em seguida fazer as visitas que tanto queria.

D. Geraldo foi operado pelo Dr. Adib Jatene, no Hospital do Coração, em S.Paulo, considerado na época como um dos melhores centros de cirurgia cardíaca.Por casualidade eu estava lá nessa época, acompanhando um familiar operado. Soube que D. Geraldo seria submetido ao ato cirúrgico e o Dr. Adib Jatene convidou-me para assistir a cirurgia. Ocorreu tudo bem e esperava-se um resultado ideal. Como de hábito, foi depois para a u.t.i. e lá constatou-se que ele havia tido um acidente vascular cerebral (a.v.c.); não voltou a recuperar a consciência. Acompanhei-o até ir a óbito .

D. Geraldo foi trazido para Londrina e a Prefeitura lhe fez, então, as homenagens devidas.

Pai Misericordioso

Um homem sensível e inteligente

dr. ascêncio garcia lopes

marina zuleika scalassaraliga apostólica feminina de shoensttat

Page 15: londrina · janeiro 2013 · ano xiv · n°162saovicentedepaulolondrina.com.br/download/informativos/2013/PSVP... · para nossa Igreja, ... Fundou a Radio Alvorada de Londrina um veículo

JANEIRO | 201315

DOM

GER

ALDO

E OS

LEIG

OS

Que grande honra para nós narrarmos algumas passagens da vida desse homem extraordinário que foi Dom Geraldo Fernandes. Eu o conheci antes mesmo de ser bispo, porém me lembro apenas de alguns fatos dessa época. Recordo-me que ele veio de Curitiba a fim de pregar um retiro para as Filhas de Maria nos dias de carnaval, no Colégio Mãe de Deus. Gostei muito, mas não me lembro de detalhes, sei apenas que aquele retiro me fez muito bem. Eu era muito jovem, devia ter uns 18 anos, porém os feriados de carnaval eram, para mim, oportunidades de crescer espiritualmente.

O primeiro fato que muito me marcou foi ouvir do meu pai, na época presidente do Conselho Central da Sociedade de São Vicente de Paulo, o comentário sobre a primeira visita feita ao novo bispo por um grupo representativo dos vicentinos. Ele exigiu dos mesmos que o número de conferências dobrasse num curto espaço de tempo e isto aconteceu. Meu pai voltou impressionado com a visita que fizeram e, não demorou muito, tornaram-se íntimos e até confidentes. Dom Geraldo estava sempre presente nas nossas quatro assembleias anuais. Quando tomava a palavra dizia: “eu sou o vicentino número um”. Diversas vezes fez visitas às famílias assistidas com os vicentinos. Amava a todos, mas tinha uma preferência e preocupação muito grande com as pessoas que estavam à margem da sociedade. Também acompanhava de perto e ajudava sempre as pessoas que o serviam.

Dom Geraldo foi um verdadeiro pastor para as famílias. Nos primeiros anos de episcopado Dom Geraldo tinha como hábito visitar algumas famílias e nós tivemos essa honra. Chegava muitas vezes na hora do jantar, ia para a cozinha, não alterava o ritmo da família. Não jantava com a gente, respondia sempre em tom de brincadeira: “não como em casa de pobre”. Sabíamos também que visitava diversas famílias amigas para bater aquele papinho, pegava as crianças no colo, divertia-se quando ainda falavam errado. Na casa do meu pai, como eram dois mineiros, piadas de mineiro não faltavam. Sempre sentado na cadeira de balanço. É com muita saudade que recordo desses fatos.

Também com as famílias daqueles que faziam o cursilho ele tinha um carinho de pai. E naqueles encontros, quando o encerramento dos cursilhos ia até a uma da manhã, lá estava Dom Geraldo, cumprimentando todos e perguntando a cada um se valeu a pena fazer aquele encontro.

maria ignez faria fidelisinstituto claretiano de leigos missionários (iclem)

“Vicentino número um” e

verdadeiro pastor para as famílias

Quanto à sua família, tivemos a alegria de conhecer através do meu irmão José Luiz que mora em Belo Horizonte e sempre a visitava. Num bairro distante do centro, uma casinha simples, lá estava dona Maria José e suas duas filhas: Inácia e Isadora fazendo bala para ajudar no sustento da casa. Sua mãe, quando a visitamos estava com oitenta anos e a frase dita por ela que muito me marcou foi: “quando o bispo está aqui tenho vontade de pedir a ele para ficar mais um pouquinho, porém não faço porque eu o entreguei todinho para Deus”. Que palavras cheias de sabedoria! As filhas disseram que ela não gostava de ser fotografada, mas conseguimos algumas fotos, enquanto ela estava distraída com meus filhos e minha sobrinha.

Londrina cresceu, vieram os grandes edifícios de apartamentos, Dom Geraldo mudou sua residência para o fundo da Catedral, deixando de residir pertinho de nós. O trabalho dele aumentou e as visitas diminuíram, não saía mais a pé, à noite. Não deixamos de ter contato em reuniões, assembleias, encerramento de encontros, celebrações, etc.

Sabemos que lá no céu ele intercede pelas nossas famílias, principalmente por aquelas que passam por maiores dificuldades, pois sempre se preocupou com os pobres mais pobres e com os sofredores. Foi o anjo que passou por nós, deixando recordações maravilhosas. Agradecemos a Deus por nos presentear com pessoas tão especiais como Dom Geraldo Fernandes, que marcaram profundamente a nossa vida e a família de Londrina que ele tanto amou.

Page 16: londrina · janeiro 2013 · ano xiv · n°162saovicentedepaulolondrina.com.br/download/informativos/2013/PSVP... · para nossa Igreja, ... Fundou a Radio Alvorada de Londrina um veículo

VIDA EM AÇÃO N°16216

DOM

GER

ALDO

E SE

U TES

TAM

ENTO

Londrina, 25 de novembro de 1978.

Muitas vezes tenho feito declarações de última vontade e depois as rasgo por terem perdido a atualidade.

Professo, hoje, minha fé em Deus e em tudo que é de Deus! Professo a minha confiança em Deus através de Cristo, meu Salvador, e de Nossa Senhora, Mãe e refúgio dos pecadores!

Amo a Igreja na pessoa de todos os meus irmãos, principalmente os mais pobres pelos quais eu sempre trabalhei nos arrabaldes de Curitiba e Londrina, de um modo especial. Amo a Igreja na pessoa dos sacerdotes, das religiosas, dos membros da hierarquia, principalmente daqueles que formam a cnbb pela qual sempre trabalhei com amor e muitos sofrimentos. Amo o papa como a Cristo de que ele é vigário!

Hoje, como no dia em que tomei posse da arquidiocese de Londrina (então diocese que naquele dia se erigia), só quero viver e morrer pelo meu povo. Quero morrer sem dívidas, sem dinheiro e sem pecado! Se Deus me chamar neste momento, creio que morreria sem pecado grave. Morreria certamente sem nenhum dinheiro e nenhuma propriedade terrena de qualquer espécie. Não tenho nada, não deixo nada! Se algumas pequenas importâncias

forem encontradas em meu nome, por implicações jurídicas, saibam todos que não me pertencem, mas à Mitra Arquidiocesana de Londrina. Tudo quanto, durante estes 22 anos de permanência, recebi como ordenado ou donativo, eu doei e repito a doação à Mitra Arquidiocesana de Londrina.

A todos aqueles que eu magoei injustamente e a todos aos quais eu não servi como devia, peço perdão. A todos aos quais dei mau exemplo, peço igualmente perdão.

Sempre procurei unir Londrina, nunca dividir ou partir; peço a Deus pela união de todos!

Aos queridos sacerdotes, ao caro bispo auxiliar, a todos os colaboradores, principalmente às religiosas e a todo o povo santo de Deus eu prometo passar o meu céu, rezando por eles.

A minha querida Congregação das Irmãs Claretianas eu quero dizer que a morte nos aproxima mais ainda. Desde o céu eu contemplarei o seu trabalho e oração e dedicação aos pobres. Que todas sejam uma!

Não faço testamento porque nunca tive nada, não tenho nada e nada quero, para mim. Para pagar débitos em banco que sempre tive, deve estar chegando uma ajuda de "Adveniat" que eu consegui em recente viagem à Alemanha. Essa importância, a receber brevemente, será suficiente para pagar outros pequenos compromissos.

Às pessoas que sempre me serviram com dedicação, a minha ação de graças perene.

À querida Congregação Claretiana que eu sempre amei e procurei prestigiar, as minhas despedidas. Faço este agradecimento pelo padre geral, quando estou para completar os 50 anos de vida religiosa, daqui a pouco mais de dois meses.

Se Deus, na sua infinita misericórdia, me der vida e saúde por mais tempo, espero poder ir trabalhar na África, no começo do ano próximo, como missionário. Penso até em ser coadjutor do padre claretiano que reside solitário, na Ilha do Príncipe, em São Tomé. Espero, para isso, só a última palavra dos meus superiores.

Eu acredito que este mundo pode ser e ainda será muito feliz. Isso depende só de nós!

Adeus! Até o céu!

ass. dom geraldo fernandesarcebispo de londrina

Testamento espiritual de Dom Geraldo Fernandes