leptospirose maio 2012 profa. dra. ana saldanha. leptospirose conceito É doença infecciosa, não...
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Leptospirose
Maio2012
Profa. Dra. Ana Saldanha
Leptospirose
ConceitoÉ doença infecciosa, não contagiosa, febril, aguda, causada por leptospiras patogênicas, transmitidas pelo contato com urina de animais infectados ou água e lama contaminadas pela bactéria.
O homem é um hospedeiro acidental e a bactéria penetra pela ou mucosas. A transmissão humana é muito rara e de pouca
importância epidemiológica.
• Zoonose de maior distribuição mundial
• Transmissão: contato comReservatórioAmbiente contaminado
com sua urina
• Padrão tradicional:Doença ruralFatores de risco ocupacionais
Veronese R, DoençasInfecciosas e Parasitárias
Leptospirose
A Leptospira é sensível à luz solar direta, aos desinfetantes comuns, à dessecação, às variações de pH e a temperaturas superiores a 40ºC.
Pode sobreviver por vários dias em água (comprovadamente por até 180 dias) com pH neutro (7,2 a 7,4) e em solos com alta saturação de água, demonstrando sua preferência por locais úmidos.
Sobrevivem também ao frio e mesmo ao congelamento - 100 dias a 20ºC negativos.
Veronese R, DoençasInfecciosas e Parasitárias
Leptospirose
Leptospirose
EtiologiaEtiologia::Leptospiras:Leptospiras:
- - Espécie patogênica para o ser humano:- Leptospira interrogans, - 23 sorogrupos e 205 sorotipos
(“sorovares”);- sorogrupos mais comuns:
- Leptospira icterohaemorrhagiae dos ratos (casos mais severos), - Leptospira canicola dos cães, e Leptospira pomona do gado e suínos.- Outras: Leptospira biflexa, Leptospira parva e Leptonema illini.
TransmissãoOs humanos se contaminam através da urina do animal infectado, de solos ou águas contaminadas que entram
em contato com pequenos cortes, arranhões, ou até mesmo mucosas e conjuntivas.
É uma doença que raramente se transmite pela ingestão de alimentos contaminados ou pela inalação de
aerossóis. A prática de esportes aquáticos em águas frescas pode levar a surtos de leptospirose.
Leptospirose
Leptospirose
Comunidade de Pau da Lima, Salvador
Um bilhão de indivíduos, representando 32% da população urbana do mundo, vive em favelas.
A UN Millennium Declaration prometeu alcançar “melhorias significativas nas vidas de pelo menos 100 milhões de favelados até o ano 2020.”
A população em favelas urbanas no mundo dobrará para 2 bilhões nos próximos 25 anos.
Impacto da Leptospirose Grave em Salvador-Bahia, 1996-2005 (N=2699)
Incidência 7,8 por 100.000 pop Média de idade 34,3 +/-15,7 anos Taxa de letalidade 15% Admissão na UTI 30% Dialise 21%
Recursos anuais do SUS por capita: R$42,50
Síndrome de HemorragiaPulmonar Grave
Doença de Weil
• Formas clínicas:– Assintomáticos– Oligossintomáticos– Graves
Leptospirose
• Período de incubação:– 5 a 14 dias (1 a 30 dias)
• Fases Clínicas:– Precoce
(leptospirêmica)– Tardia (Imune)
Evolução bifásica
1. Fase leptospirêmica – dura 4-7d, seguindo-se período defervescência em lise por 1-2d
2. Fase imune – dura 4-30 d, recrudescência da febre e dos sintomas
Leptospirose
FisiopatogêneseFisiopatogênese
- Penetração pela pele , mucosas, conjuntivas → leptospiras na corrente sanguínea alcançam todos os orgãos e tecidos (LCR, olhos, fígado, rins, coração, músculo esquelético) ↓- Capilarite ou vasculite generalizada extravazamento de líquido para o 3° espaço e fenômenos hemorrágicos (S. Weil):
- Fígado: colestase, disfunção na excreção biliar, com grandes elevações da bilirrubina
- Rins: nefrite intersticial e necrose tubular, isquemia renal decorrente da hipovolemia relativa, disfunção tubular
predomina no túbulo proximal (eleva a fração excretora de Na e K)
- Pulmão: principal causa de óbito, após correção da alteração renal pela diálise, causa capilarite difusa, extravazamento de líquidos e sangue para os alvéolos
- Coração: miocardite mononuclear - Músculos: miosite
Fase leptospirêmicaFase leptospirêmica
Leptospirose
Surgem anticorpos IgM anti leptospira, com eliminação das leptospiras , menos das meninges, olhos , rins;
Ocorre fenômenos de hipersensibilidade decorrente da resposta imune, pode acarretar meningite asséptica, uveíte recorrente e febre prolongada
Leptospiruria de 6 sem a 3 meses
Leptospirose
Fase imuneFase imune
Leptospirose
• Fases Precoce (leptospirêmica)
FebreCefaléiaMialgiaAnorexiaNáuseaVômitos
DiarréiaArtralgiaHiperemia ou hemorragia conjuntivalFotofobiaDor ocularTosse
ExantemaHepatomegaliaEsplenomegaliaLinfoadenopatia
Leptospirose
• Fases Tardia (imune) – Sindrome de Weil
IcteríciaInsuficiência renalHemorragias
Síndrome de hemorragia pulmonar
Letalidade 50%
ExantemaHepatomegaliaEsplenomegaliaLinfoadenopatia
Insuf. Renal- Não oligúrica- Hipocalêmica
Leptospirose
• Fases Tardia (imune) – Outras manifestações
Miocardite
Pancreatite
Anemia
Distúrbios neurológicos
Leptospirose
Principais manifestações clínicasPrincipais manifestações clínicas
• Febre 93%• Icterícia 82.6%• Mialgia 80.8%• Vômitos 77.3%• Cefaléia 74.7%• Anorexia 70.4%• Hepatomegalia 70.4%• Oligúria 36.5%• Diarréia 27.8%• Sangramento mucosas 22.6%• Esplenomegalia17.4%• Petéquias 16.5%
• Constipação intest. 13%• Sangramento pulm.13%• Alt.consciência 7.8%• Adenopatia 7.8%• Dispnéia 7.8%• Calafrios 7.8%• Urina escura 6.9%• Hematêmese 6.0%• Sinais meningeos 5.2%• Equimoses 3.5%• Prurido 3.5%• Convulsões 1.7%
Leptospirose
Leptospirose
Leptospirose
SINAIS DE ALERTA, deverá ser encaminhado imediatamente para hospital de referência:
1. Tosse, dispnéia, taquipnéia;2. Alterações urinárias, geralmente oligúria;3. Fenômenos hemorrágicos incluindo escarros hemoptóicos;4. Hipotensão, alterações do nível de consciência, vômitos, arritmias e icterícia.
Identificação – J.J.S., masculino, 48 anos, caminhoneiro, negro, residente em Campo Grande, MS.
História da doença atual – Em 5/2/2005 procurou a UBS com quadro de febre não aferida, cefaléia, mialgia e artralgia há 48 horas. Foi prescrito dipirona, com melhora parcial dos sintomas.
No 5º dia de doença, procurou o pronto-socorro, por persistirem os sintomas e pelo aparecimento depequenas manchas no corpo. Referia viagem à Rondônia em 6/12/2004. Antecedentes: Diabetes MelitusII, tratado irregularmente.
Exame Físico Geral - Regular estado geral, corado, hidratado, anictérico. Temperatura axilar de 38ºC,PA: 160x110mmHg; Freqüência cardíaca: 94bpm; Peso: 105kg; Estatura: 1,70m. Pele: exantemamaculopapular difuso (?). Segmento cefálico: sem alterações. Tórax: pulmões livres. Coração: bulhasrítmicas normofonéticas, sopro sistólico de ++/6 em foco mitral. Abdome: globoso, normotenso, indolor,sem visceromegalias. Neurológico: sem alterações. Prova do laço: positiva.
Exames complementares – Hemograma: Hb: 16g/dL; Ht: 48%; Plaquetas: 87.000/ mm3; Leucócitostotais: 5.200/mm3.1.
CASO CLÍNICO 1
Hipóteses Hipóteses diagnósticas:diagnósticas:
CASO CLÍNICO 1
( ) Dengue( ) Febre tifóide( ) Apendicite( ) Gastroenterite infecciosa( ) Aids( ) Leptospirose( ) Outras
CASO CLÍNICO 1
Conduta – Prescrito soro caseiro para reidratação em casa, paracetamol 750mg de 6/6 horas e retorno em 48 horas para reavaliação. Como não houve melhora da mioartralgia, fez uso de diclofenaco, 100mg de 6/6 h, por conta própria. No 6º dia de doença, o paciente retornou sem melhora dos sintomas, referindo vômitos persistentes e inapetência. Referiu vacina contra febre amarela há dois anos.
Exame Físico Geral - Regular estado geral, desidratado +/4, anictérico, acianótico. Temperatura axilar de 37,5ºC, PA deitado: 150x110mmHg; Pulso: 100 ppm. Segmento cefálico, tórax e abdome: inalterado em relação ao anterior. Neurológico: sem alterações.
Exames Complementares – Hemograma: Hb: 16,5g/dL; Ht: 50%; Plaquetas: 72.000/ mm3; Leucócitos totais: 5.500/mm3 . Função hepática: ALT: 95 UI/L, AST: 86 UI/L. Glicose: 200mg/dl.
CASO CLÍNICO 1
Conduta – Internado para reidratação parenteral. Prescrito soro fisiológico 1.000ml em 2 horas, metoclopramida e dipirona, além de oferta de líquidos via oral e dos medicamentos para hipertensão arterial sistêmica e Diabetes melittus II. Mantido soro fisiológico nas próximas 24h, perfazendo um total de 5.000ml. No 2º dia de internação referia melhora dos sintomas.
Exames Complementares – Hemograma: Hb: 14,5g/dL; Ht: 44%; Plaq: 85.000/mm3. No terceiro dia de internação, recebeu alta e foi orientado a manter reidratação em casa e a retornar em 24 horas, para nova coleta de hematócrito e plaquetas. No retorno referia melhora dos sintomas.
Exames Complementares - Hemograma: Hb: 14,0g/dL; Ht: 42%; Plaquetas: 100.000/mm3.
Conduta – Colhida sorologia para dengue e alta. Resultado da sorologia para dengue IgM positivo.
Caso provávelQuadro clínico-epidemiológico sugestivo + título> 1:100 no exame microaglutinação
Caso confirmado1- Isolamento de L.interrogans em qualquer espécime clínico (urina, liquor, sangue)
2- Quadro clínico- epidemiológico sugestivo + viragem sorológica (> 4x) microaglutinação
3- Detecção Elisa IgM específica
Leptospirose
LeptospiroseDiagnósticoDiagnóstico
1. Cultura, nos primeiros 7-10d doença Coleta de sangue ou liquor, sensibilidade 50%, meio Fletchner ou
Stuart (1-2 gotas/5ml do meio de cultura); Realizar 3 coletas em tubos separados em temperatura de 30°C,
no caso de não haver o meio de cultura apropriado, colher sangue com anticoagulante oxalato de Na
Cultura de urina, a partir da 2°semana (7a 10d de doença), sensibilidade baixa
2- Sorologia – macroaglutinação, microaglutinação, hemaglutinação indireta, Elisa
Após 7-10 dias doença Microaglutinação (padrão ouro), sensibilidade 75%, especificidade
>97%, Elisa IgM, sensibilidade 93%, especificidade >94% Macroaglutinação: exame de triagem
Leptospirose
Paciente de 46 anos, feminina, obesa, branca, mãe de dois filhos, moradora da zona rural da cidade de Gravataí, região metropolitana da grande Porto Alegre, RS.
CASO CLÍNICO 2
Paciente previamente hígida, iniciou há 4 dias com diarréia, vômitos, dor abdominal, mialgias, febre e cefaléia.
Devido a piora da dor abdominal procurou um atendimento médico ambulatorial, sendo medicada com escopolamina + dipirona e metoclopramida, recebendo alta após alívio dos sintomas.
CASO CLÍNICO 2
( ) Dengue( ) Febre tifóide( ) Apendicite( ) Gastroenterite infecciosa( ) Aids( ) Leptospirose( ) Outras
Hipóteses Hipóteses diagnósticas:diagnósticas:
CASO CLÍNICO 2
Doze horas mais tarde a paciente retornou ao ambulatório com intensa dor abdominal e náuseas. Na chegada apresentava-se estável hemodinamicamente, afebril.
Ao ser examinada, foi observada uma importante dor abdominal, com sinal de Murphy positivo. Foi solicitada uma ecografia abdominal total e exames laboratoriais. A paciente ficou em observação durante a noite até que seus exames ficassem prontos.
Hipóteses Hipóteses diagnósticas:diagnósticas:
CASO CLÍNICO 2
( ) Dengue( ) Febre tifóide( ) Apendicite( ) Gastroenterite infecciosa( ) Aids( ) Leptospirose( ) Outras
Os exames laboratoriais mostraram:
Leucócitos: 14.300 (41% de bastões)
Hemoglobina: 14,1
Creatinina sérica: 5,31
Sódio: 132
TGO: 68 / TGP: 52
Bilirrubina total: 2,4 (BD: 2,35)
Amilase: 122.
CASO CLÍNICO 2
Na manhã seguinte, foi solicitado transporte para um hospital de maior complexidade, para avaliação cirúrgica.
A ecografia abdominal total não havia sido realizada.
CASO CLÍNICO 2
Logo após a solicitação do transporte, a paciente iniciou com hipotensão, PA: 70/40.
Recebeu 2 litros de Ringer Lactato, sem mudança na PA.
Logo após a administração do volume a paciente iniciou com dispnéia intensa, sendo então, necessárias medicações para tratamento do edema pulmonar agudo.
Novos exames laboratoriais foram solicitados, um acesso venoso central foi passado e um RX de tórax realizado.
Devido a manutenção da hipotensão, foi iniciada a administração de vasopressor (noradrenalina, 2 ampolas a 15ml/h) e com isso a pressão arterial manteve-se em torno de 90/60.
CASO CLÍNICO 2
Leptospirose
Hipóteses Hipóteses diagnósticas:diagnósticas:
CASO CLÍNICO 2
( ) Dengue( ) Febre tifóide( ) Apendicite( ) Gastroenterite infecciosa( ) Aids( ) Leptospirose( ) Outras
O resultado dos novos exames chegaram juntamente com a equipe do SAMU para a realização do transporte:
Hemoglobina: 10,4/ Leucocitos: 12.200 (36% bastões)
Creatinina: 5,21 / Sódio: 129 / Potássio: 3,3/ TGO: 193 / TGP: 80 /
Amilase: 549 / Bilirrubina total: 3,9 (BD: 3,87)
RX tórax: infiltrado intersticial bilateral, acesso venoso central bem posicionado.
A duração do transporte seria de 15 min.
CASO CLÍNICO 2
No exame clínico pela equipe do SAMU a paciente apresentava-se lúcida, orientada, coerente, afebril, dispneica, saturação de O2: 85% com Venturi, solicitada colocação de máscara de Hudson com oxigênio a 15L/min; aumento da saturação para 92%;
FC:130, FR: 28, PA: 90/40 (recebendo vasopressor).
AP: crepitantes bilaterias bibasais;
ACV: RR 2T BNF s/s;
ABD: depressível, com dor a palpação difusa;
Após avaliação do caso, como o deslocamento não seria muito longo, optou-se em realizar a remoção.
CASO CLÍNICO 2
Na chegada ao hospital a paciente apresentou um episódio de hematêmese de grande intensidade.
Dentro do hospital, já recebendo atendimento da nova equipe, a paciente evoluiu com piora da dispnéia , crise convulsiva focal e PCR.
Foram iniciadas as monobras de reanimação, com retorno a ritmo sinusal.
CASO CLÍNICO 2
Durante a intubação observou-se hemoptise volumosa.
Paciente após 3 horas teve outra PCR, indo a óbito.
CASO CLÍNICO 2
Hipóteses Hipóteses diagnósticas:diagnósticas:
CASO CLÍNICO 2
( ) Dengue( ) Febre tifóide( ) Apendicite( ) Gastroenterite infecciosa( ) Aids( ) Leptospirose( ) Outras
ANTIBIÓTICO: FASE PRECOCE
Amoxacilina: Adultos 500mg VO 8/8h por 5 a 7 diasCrianças: 50mg/kg/dia VO 6/ ou 8/8h por 5 a 7 dias
ou
Doxiciclina: 100 mg VO 12/12h 5 a 7 dias(a doxiciclina não deve ser usada < 9 anos, mulheres grávidas, nefropatas e
hepatopatas)
•AZITROMICINA ou CLARITROMICINA - ALTERNATIVAS
TratamentoTratamento
Leptospirose
ANTIBIÓTICO: FASE TARDIA
Adultos: Penicilina G cristalina (1.5 milhões UI, IV, de 6/6 horas) ou ampicilina (1g, IV, 6/6 horas), ceftriaxona (1 a 2 g EV 24/24h), cefotaxima (1 g EV 6/6h)
Medidas de suporte:Hidratação parenteral vigorosa, associada ao uso de diuréticos,
diálise peritoneal, hemodiálise
Oxigênio para suporte às alterações pulmonares, ventilação mecânica assistida ou controlada, monitorização hemodinâmica com reposição controlada de volume
Nutrição parenteral ou enteral, transfusões sanguíneas, antiácidos, bloqueadores H2
TratamentoTratamento
Leptospirose
• Campanhas educacionais, uso de roupas especiais, lavagem e desinfecção de ferimentos, evitar lazer em locais com provável contaminação
• Programas de controle de roedores• Medidas de saneamento: purificação de água e destino esgoto• Medidas de controle enchentes• Medicação profilática: doxiciclina 200mg/d 2-5d, pontual, grupo de
pessoas exposto a risco de contaminação• Imunização de cães, não previne infecção renal• Imunização humanos: certos grupos de risco, pouco disponível
Leptospirose
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