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M. C. Escher, Délivrance 1 , 1955. 1 Délivrance (fr.): Libertação. UniFIAMFAAM Centro Universitário das Faculdades Integradas Alcântara Machado LABORATÓRIO DE REDAÇÃO JORNALISMO Profa. Ma. Ana Tereza Pinto de Oliveira Agosto/2015

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M. C. Escher, Délivrance1, 1955.

1 Délivrance (fr.): Libertação.

UniFIAMFAAM Centro Universitário das Faculdades Integradas

Alcântara Machado

LABORATÓRIO DE REDAÇÃO

JORNALISMO

Profa. Ma. Ana Tereza Pinto

de Oliveira

Agosto/2015

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Curso: Comunicação Social

Habilitação: Jornalismo

Disciplina: Laboratório de Redação

Código:

Carga Horária: 80h

Período: 2º

Ano: 2015

Semestre: 2

EMENTA

Análise crítica de textos voltados à Comunicação Social: reconhecimento das

informações explícitas e implícitas e o jogo da linguagem verbal (oral e escrita). Ênfase

na decodificação textual nas várias mídias e na produção textual harmoniosa, coerente e

gramaticalmente correta.

OBJETIVOS Gerais:

1. entender e valorizar a linguagem verbal, tanto na instância da produção quanto na da recepção, como meio de organização do pensamento e instrumento indispensável da comunicação humana;

2. iniciar a compreensão de textos da área de Comunicação Social por meio de suporte teórico e suas aplicações.

Específicos:

1. conhecer os conceitos e a linguagem da redação em Comunicação Social; 2. analisar e produzir discursos argumentativos/persuasivos, tendo em vista os meios de

comunicação;  3. desenvolver o senso crítico perante textos da área.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1 O texto da comunicação: elementos conceituais e fatores de textualidade 1.1 Fatores de textualidade 1.2 Linguagem: Multimodalidade

2 Leitura e análise de texto teórico de comunicação específico à área 3 Preparação de texto técnico: pauta e briefing

4 Linguagem e mídias: mídia impressa 1 – recepção e análise de texto 4.1 Apoio funcional: Vícios de linguagem – clareza, concisão, objetividade, correção

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5 Linguagem e mídias: mídia impressa 2 – recepção e produção de texto

5.1 Apoio funcional: Concordância verbal e nominal 6 - Linguagem e mídias: mídia impressa 3 – recepção e produção de texto

6.1 Apoio funcional: Concordância verbal e nominal 7 - Linguagem e mídias: mídia eletrônica (rádio) 1 – recepção e análise de texto

7.1 Apoio funcional: Regência verbal e nominal 8 Linguagem e mídias: mídia eletrônica (rádio) 2 – recepção e produção de texto

8.1 Apoio funcional: Regência verbal e nominal 9 Linguagem e mídias: mídia eletrônica (TV) 1 – recepção e análise de texto

9.1 Apoio funcional: Crase 10 Linguagem e mídias: mídia eletrônica (TV) 2 – recepção e produção de texto

10.1 Apoio funcional: Crase 11 Linguagem e Mídias: mídia eletrônica (internet) 1 – recepção e análise de texto

12 Linguagem e Mídias: mídia eletrônica (internet) 2 – recepção e produção de texto 13 Aferição de leitura: CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. São Paulo: Ática, 2004.// ABREU, Antônio Suárez . A arte de argumentar. São Paulo: Atelier Editorial, 2008.

14 Evento acadêmico 15 Avaliação regimental

16 Segunda chamada e vista de provas 17 Reavaliação

18 Encerramento do semestre

METODOLOGIA

Aulas teóricas e práticas, envolvendo:

- leitura e discussão de textos selecionados;

- exercícios orais e escritos;

- oficina de criação de textos.

AVALIAÇÃO

I - Continuada (com valor de 3,0 pontos): atividades em aula, produto midiático e

aferição de leitura.

II - Regimental (com valor de 7,0 pontos): conteúdo programático.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

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ASSUMPÇÃO, Maria Elena; BOCCHINI, Maria Otilia. Para escrever bem. 2. ed. São Paulo: Manole, 2006. FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, F. Platão. Para entender o texto. São Paulo: Ática, 2011.

GARCIA, Othon. Comunicação em prosa moderna. 26. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. 8. ed. São Paulo: Ática, 2004.

GOLDSTEIN, Norma; LOUZADA, Maria Sílvia; IVAMOTO, Regina. O texto sem

mistérios. São Paulo: Ática, 2009.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; ELIAS, Vanda. Ler e escrever: estratégias de

produção textual. São Paulo: Contexto, 2011.

LAGE, Nilson. Linguagem jornalística. São Paulo: Ática, 2006.

MARTINS, Eduardo. Manual de redação e Estilo OESP. São Paulo: O Estado de S.

Paulo, 1997.

OLIVEIRA, Ana Tereza Pinto de; BARROS, Edgard de Oliveira. Quem? Quando?

Como? Onde? O quê? Por quê?. São Paulo: Plêiade, 2010.

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SUMÁRIO

1 O Texto da Comunicação 6 1.1 Fatores de textualidade 9 1.2 Linguagem: Multimodalidade 13

2 Leitura e Análise de Texto Teórico Acadêmico 21 3 Preparação de Texto Técnico: Pauta 29 4 Linguagem e mídias: Mídia impressa 1 31

4.1 Apoio funcional: Vícios de linguagem 39 5 Linguagem e mídias: Mídia impressa 2 44

5.1 Apoio funcional: Concordância nominal 45 6 Linguagem e mídias: Mídia impressa 3 51

6.1 Apoio funcional: Concordância verbal 54 7 Linguagem e mídias: Mídia eletrônica (rádio) 1 63

7.1 Apoio funcional: Regência verbal e nominal 67 8 Linguagem e mídias: Mídia eletrônica (rádio) 2 74 9 Linguagem e mídias: Mídia eletrônica (TV) 1 79

9.1 Apoio funcional: Crase 82 10 Linguagem e mídias: Mídia eletrônica (TV) 2 85

10.1 Apoio funcional: Crase 86 11 Linguagem e mídias: Mídia eletrônica (internet) 1 89 12 Linguagem e mídias: Mídia eletrônica (internet) 2 91 Bibliografia 93 Anexos 94 Anexo 1 94 Anexo 2 97 Anexo 3 100 Anexo 4 101 Anexo 5 105

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1 O TEXTO DA COMUNICAÇÃO O homem utiliza a linguagem para comunicar-se. Ela, além de propiciar o progresso (já que o ser humano, através da linguagem, pode codificar e armazenar suas experiências e descobertas para transmiti-las a outras gerações), é um fator de interação e coesão social. A linguagem pode ser verbal (o código linguístico) e não verbal (todos os outros códigos: icônico, gestual, cromático, etc.). As características inerentes à linguagem verbal são: • o dialogismo: a linguagem sempre remete a algo já dito e dirige-se a alguém, ela só

é viva porque é orientada para o outro com o qual entra em interação; • a argumentatividade: através da linguagem, o enunciador (emissor) imprime, por

meio de palavras, uma direção argumentativa a seu texto, indicando como o enunciatário (receptor) deve/pode entendê-lo.

A comunicação é um processo que exige determinados fatores, elementos mínimos para poder realizar-se. No quadro a seguir, você verá o esquema clássico da comunicação proposto pelo linguista Roman Jakobson:

Referente Emissor Mensagem Receptor

Código Canal

Analisemos esses fatores: • emissor: você. A partir de uma situação de comunicação, caberá a você escolher,

entre as possibilidades que os códigos colocam à sua disposição, os enunciados que melhor se ajustem aos seus propósitos interacionais;

• receptor: seu leitor. O destinatário vê, ouve, lê etc., traduz os códigos (decodifica), entende e interpreta. É importante enfatizar que é o leitor quem vai determinar a escolha de palavras e todos os outros recursos de organização da mensagem que você vai utilizar, pois uma das características fundamentais da linguagem é o dialogismo, a interação;

• referente: assunto sobre o qual você vai falar/escrever; • mensagem: ou texto é uma manifestação comunicativa, concretizada por alguma

materialidade (grafia, som, imagem, gestos...). Ela é produzida por alguém, em uma situação concreta (contexto), com alguma finalidade;

• código: é uma convenção, um contrato, que controla a relação entre aquilo que se pode perceber através dos sentidos (significante) e seu significado. Essa relação entre o plano da expressão (significante) e o plano do conteúdo (significado) constitui uma unidade abstrata, a que se dá o nome de signo (no ato de linguagem, será concretizado por alguma materialidade visual, sonora, tátil...). É a partir do

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código que um estímulo físico qualquer pode virar signo. É importante enfatizar que o código que o comunicador social vai usar é a Língua Portuguesa, a qual deve dominar em todas as suas variantes;

• canal (meio, veículo ou mídia): é o meio físico que transporta a mensagem e possibilita o contato entre o emissor e o destinatário da mensagem. Há dois tipos de canal – natural e tecnológico –, que, quando necessário, complementam-se (isso ocorre sobretudo na publicidade e em textos de RTV). Assim, podemos aumentar a abrangência do canal natural, com o auxílio de um canal tecnológico. A televisão, por exemplo, é um meio, canal ou veículo tecnológico, pelo qual podemos ver e ouvir o mundo todo, o que a nossa visão e audição (canais naturais) não permitem. Os canais tecnológicos (telefone, internet, rádio, impressos etc.) são chamados pelos especialistas em comunicação de mídias. Quando a comunicação é realizada somente com o canal natural (ar), ela é denominada comunicação direta. A comunicação realizada com o auxílio da mídia (canal tecnológico) é denominada comunicação indireta.

1.1 Fatores de textualidade

O texto é uma manifestação linguística produzida por alguém, em alguma situação concreta (contexto), com alguma intenção. Independentemente de sua extensão, o texto deve dar a sensação de completude2, do contrário não será um texto.

Por exemplo, alguém sai correndo de um edifício e grita: “Fogo!” Percebe-se que nessa circunstância a palavra “fogo” adquire um significado diferente de uma mera referência a um processo de combustão. A interpretação será de que há um incêndio naquele prédio e a pessoa está querendo alertar outras e, se possível, conseguir ajuda. Logo, nessa situação específica, a palavra “fogo” é um texto.

Além da noção de completude, sete fatores são responsáveis pela textualidade (conjunto de características que fazem de um texto um texto e não um amontoado de frases): • fatores pragmáticos3 – intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade,

informatividade e intertextualidade – dizem respeito aos fatores contextuais que determinam os usos linguísticos nas situações de comunicação e contribuem para a construção do sentido do texto: • intencionalidade: é a manifestação da intenção, do objetivo do emissor numa

determinada situação sociocomunicativa; • aceitabilidade: é a expectativa que o leitor manifesta de que o texto com que se

defronta seja coerente, coeso, útil, relevante; • situacionalidade: pertinência e relevância do texto quanto ao contexto em que

ocorre. Ela orienta tanto a produção quanto a recepção de textos; • informatividade: diz respeito à taxa de informação do texto. Ela depende da

situação, do público, das intenções; • intertextualidade: refere-se ao diálogo entre textos. A produção e compreensão de

textos dependem do conhecimento de outros textos.

Exemplificando:

2 Caráter do que é, ou está completo. 3 Pragmático: Suscetível de aplicações práticas; voltado para a ação; relativo à pragmática (estudo dos fatores contextuais que determinam os usos linguísticos nas situações de comunicação).

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Canção do exílio facilitada lá? ah!

sabiá... papá... maná... sofá... sinhá...

cá?

bah! (José Paulo Paes)

Esse texto pode parecer um amontoado de palavras sem sentido se o leitor não perceber as intenções do autor, se não aceitá-lo como um texto coerente. Mas, para isso, ele deve ter em seu repertório a informação de que este texto refere-se a outro (dialoga com outro) do Romantismo brasileiro – Canção do exílio, de Gonçalves Dias – e dirige-se a leitores de um tempo moderno, caracterizado pela pressa, daí seu título.

• fator semântico conceitual – dele depende a coerência do texto; • fator formal – diz respeito à coesão textual (corresponde à superfície linguística do

texto). Como você viu, um texto vai além de sua superfície linguística e pressupõe um

comunicador atento a todas as suas dimensões. Veja como seria se a história da Chapeuzinho Vermelho fosse contada por alguns

dos vários órgãos da nossa imprensa JORNAL NACIONAL: (William Bonner): - Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem... (Fátima Bernardes): ... Mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia. PROGRAMA DA HEBE: - Que gracinha, gente. Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo? SUPERPOP: (Luciana Gimenez): - Gente, incrível! - Vocês viram a história da menina que foi retirada da barriga de um pombo? Incrível, eu não consigo acreditar... BRASIL URGENTE: (Datena): - Onde é que a gente vai parar? - Cadê as autoridades? Cadê as autoridades? A menina ia para a casa da avozinha a pé! Ou seja, não tem transporte público! - Não tem transporte público! E foi devorada viva... Um lobo, um lobo safado. Põe na tela! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não. GLOBO REPÓRTER: (Na primeira sexta-feira logo após o acontecido)

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(Sérgio Chapelin): - A natureza feroz. Uma batalha selvagem. Os animais que atacam pessoas. Será possível domar estas criaturas? Nesta edição do Globo Repórter você vai conhecer os animais que se alimentam de carne humana. E mais: como evitar os seus ataques; que atitude tomar se você estiver cercado por feras; e a incrível história da garota salva da barriga de um lobo por um lenhador... REVISTA VEJA: Lula sabia das intenções do lobo. REVISTA CLÁUDIA: Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho. REVISTA MEN´S HEALTH: Vinte exercícios para ter um bíceps de lenhador! 10 dias para perder a barriga! REVISTA NOVA: Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama. FOLHA DE S.PAULO: Legenda da foto: Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador. Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos alimentares dos lobos e um imenso infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador. O ESTADO DE S.PAULO: Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT O GLOBO: Petrobras apoia ONG do lenhador ligado ao PT que matou um lobo pra salvar menor de idade carente. ZERO HORA: Avó de Chapeuzinho nasceu no RS... AQUI AGORA: Sangue e tragédia na casa da vovó. REVISTA CARAS: (Ensaio fotográfico com Chapeuzinho na semana seguinte) Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: - Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa. PLAYBOY: (Ensaio fotográfico no mês seguinte) Veja o que só o lobo viu. REVISTA ISTO É: Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente. REVISTA ÉPOCA: Herói nacional – a história do lenhador que salvou uma menina da barriga de um lobo raivoso. REVISTA CAROS AMIGOS: Entrevista "bombástica": Lobos estão sendo vítimas de preconceito em todo o país. REVISTA CONTIGO: Chapeuzinho pode ser estrela da Globo em próxima novela das 6. G MAGAZINE: (Ensaio fotográfico com lenhador) Lenhador mostra o machado. SUPERINTERESSANTE: Lobo mau! Mito ou verdade? DISCOVERY CHANNEL: Vamos determinar se é possível uma pessoa ser engolida viva e sobreviver.

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ROLLING STONE: Lobo Mau – A ascensão e a queda do cão pop.

Conselhos para a redação de um texto legível ● Escreva sempre frases curtas. A frase curta tem várias vantagens. A primeira é diminuir o número de erros, principalmente em pontuação. A segunda é tornar o texto mais claro. A terceira é apresentar a ideia de forma mais objetiva. Vinícius de Moraes afirmava que "uma frase longa não é mais que duas curtas".

Reformule o texto a seguir:

Mesmo fervidas diariamente, as lentes de contato gelatinosas ficam impregnadas de sujeira, o que pode até causar conjuntivite, mas, desde o começo do ano, os míopes da Califórnia podem resolver o problema jogando as lentes no lixo, pois lá acabam de ser lançadas lentes descartáveis que custam apenas 2,5 dólares cada, que só em julho estarão disponíveis no Brasil.

Observe o texto a seguir presente no Manual de Estilo Editora Abril (São

Paulo: Nova Fronteira, 1991. p. 28). Enfim, toda vez que você sentar-se à máquina, postar-se diante do terminal ou

pegar a caneta com o propósito de escrever, lembre-se de que sentenças de breve extensão, amiúde logradas por intermédio da busca incessante da simplicidade no ato de redigir, da utilização frequente do ponto, do corte de palavras inúteis, que não servem mesmo para nada, e da eliminação sem dó nem piedade dos clichês, dos jargões tão presentes nas laudas das matérias dos setoristas, da retórica discursiva e da redundância repetitiva – sem aquelas intermináveis orações intercaladas e sem o abuso das partículas de subordinação, como, por exemplo, “que”, “embora”, “onde”, “quando”, capazes de encompridá-las desnecessariamente, tirando em consequência o fôlego do pobre leitor –, isso para não falar que não custa refazê-las, providência que pode aproximar o verbo e o complemento do sujeito, tais sentenças de breve extensão, insistimos antes que comecemos a chateá-lo, são melhores e mais claras. Ou seja, use frases curtas. Clareza, ordem direta, frases curtas.

Dad Squarisi, autora de diversos artigos sobre o uso de nosso idioma, descreve

algumas técnicas para evitar frases longas. a) substituir gerúndio por ponto: Alunos recém-aprovados no vestibular chegarão à universidade no segundo

semestre podendo, se forem estudiosos, concluir o curso em quatro anos, fazendo em seguida um curso de pós-graduação.

b) transformar a oração coordenada em novo período: Pensei em construir uma rodoviária maior e mais moderna, pois a que temos

dentro em pouco será insuficiente, mas os trabalhos a que me aventurei, necessários ao conforto dos viajantes, não me permitiram a execução de uma obra, embora útil, prorrogável.

c) livrar-se do "já que": Os líderes europeus tiveram de falar em Ronald Reagan, já que a morte do

cowboy presidente os surpreendeu reunidos em Paris na comemoração da

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passagem dos 60 anos do Dia D. d) trocar a oração adjetiva por adjetivo: Animal que se alimenta de carne – animal carnívoro. Pessoa que planta café – cafeicultor. Criança que não tem educação – criança mal-educada.

1.2 Linguagem: Multimodalidade

A linguagem do mundo atual privilegia modalidades diferentes da escrita, que se torna-se, cada vez mais, apenas um dos modos de representação cultural e que não basta mais para revelar a totalidade dos usos da língua e de seus fenômenos. Mudanças culturais significativas trazem à tona um novo tipo de texto, bastante recorrente nas práticas sociais pós-modernas: o texto multimodal, aquele cujo significado se realiza por mais de um código semiótico4.

A linguagem não é somente um conjunto de palavras faladas ou escritas (linguagem verbal), mas também de gestos, movimentos faciais e corporais, olhares, entoação, cores, imagens e simbologia (linguagem não verbal). Enquanto a linguagem verbal é plenamente voluntária, a não verbal pode ser uma reação involuntária, provinda do inconsciente de quem se comunica, completando, contradizendo ou substituindo a comunicação verbal (por isso é extremamente importante o jornalista estar atento às reações não verbais de seu entrevistado).

Impacto da linguagem não verbal quando falamos

4 Semiótica: teoria geral das representações, que leva em conta os signos sob todas as formas e manifestações que assumem (linguísticas ou não), enfatizando especialmente a propriedade de convertibilidade recíproca entre os sistemas significantes que integram.

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Cada vez mais a linguagem não verbal vem sendo valorizada para complementar/substituir/interagir (com) a verbal, criando uma linguagem mista. A linguagem verbal é digital, composta por dígitos – letras, palavras, frases – e sua percepção não é imediata; a linguagem não verbal é analógica, de percepção imediata, até por analfabetos. É por isso que se diz que uma imagem vale por mil palavras. Mas essa multimodalidade não se restringe ao aspecto visual, a ênfase, a modulação da voz, as pausas e a velocidade de fala, no rádio, e também a gestualidade, na televisão, são fundamentais para o sentido do texto.

Observe os dois textos a seguir:

1)

Caco Galhardo, 2001. 2)

Os programas sensacionalistas do rádio e os programas policiais de final da tarde em televisão saciam curiosidades perversas e até mórbidas tirando sua matéria-prima do drama de cidadãos humildes que aparecem nas delegacias como suspeitos de pequenos crimes. Ali, são entrevistados por intimidação. As câmeras invadem barracos e cortiços, e gravam sem pedir licença a estupefação de famílias de baixíssima renda que não sabem direito o que se passa: um parente é suspeito de estupro, ou o vizinho acaba de ser preso por tráfico, ou o primo morreu no massacre de fim de semana no bar da esquina. A polícia chega atirando; a mídia chega filmando.

Eugênio Bucci. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. Exercícios

1) (ENADE, 2008)

A foto a seguir, da americana Margaret Bourke-White (1904-71), apresenta desempregados na fila de alimentos durante a Grande Depressão, que se iniciou em 1929.

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STRICKLAND, Carol; BOSWELL, John. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. Rio de

Janeiro: Ediouro [s.d.]. Além da preocupação com a perfeita composição, a artista, nessa foto, revela A) a capacidade de organização do operariado. B) a esperança de um futuro melhor para negros. C) a possibilidade de ascensão social universal. D) as contradições da sociedade capitalista. E) o consumismo de determinadas classes sociais. 2) (ENADE, 2009) A urbanização no Brasil registrou marco histórico na década de 1970, quando o número de pessoas que viviam nas cidades ultrapassou o número daquelas que viviam no campo. No início deste século, em 2000, segundo dados do IBGE, mais de 80% da população brasileira já era urbana. Considerando essas informações, estabeleça a relação entre as charges:

PORQUE

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BARALDI, Márcio.

http://www.marciobaraldi.com.br/baraldi2/component/joomgallery/?func=detail&id=178. (Acessado em 5 out. 2009)

Com base nas informações dadas e na relação proposta entre essas charges, é CORRETO afirmar que A) a primeira charge é falsa, e a segunda é verdadeira. B) a primeira charge é verdadeira, e a segunda é falsa. C) as duas charges são falsas. D) as duas charges são verdadeiras, e a segunda explica a primeira. E) as duas charges são verdadeiras, mas a segunda não explica a primeira. 3) (ENADE, 2009) Leia o gráfico, em que é mostrada a evolução do número de trabalhadores de 10 a 14 anos, em algumas regiões metropolitanas brasileiras, em dado período:

http://www1.folha/uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u85799.shtml, acessado em 2 out. 2009.

(Adaptado) Leia a charge:

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www.charges.com.br, acessado em 15 set. 2009.

Há relação entre o que é mostrado no gráfico e na charge? A) Não, pois a faixa etária acima dos 18 anos é aquela responsável pela disseminação da violência urbana nas grandes cidades brasileiras. B) Não, pois o crescimento do número de crianças e adolescentes que trabalham diminui o risco de sua exposição aos perigos da rua. C) Sim, pois ambos se associam ao mesmo contexto de problemas socioeconômicos e culturais vigentes no país. D) Sim, pois o crescimento do trabalho infantil no Brasil faz crescer o número de crianças envolvidas com o crime organizado. E) Ambos abordam temas diferentes e não é possível se estabelecer relação mesmo que indireta entre eles. 4) (ENADE, 2009) O Ministério do Meio Ambiente, em junho de 2009, lançou campanha para o consumo consciente de sacolas plásticas, que já atingem, aproximadamente, o número alarmante de 12 bilhões por ano no Brasil. Veja o slogan dessa campanha:

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O possível êxito dessa campanha ocorrerá porque I. se cumpriu a meta de emissão zero de gás carbônico estabelecida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, revertendo o atual quadro de elevação das médias térmicas globais. II. deixaram de ser empregados, na confecção de sacolas plásticas, materiais oxibiodegradáveis e os chamados bioplásticos que, sob certas condições de luz e de calor, se fragmentam. III. foram adotadas, por parcela da sociedade brasileira, ações comprometidas com mudanças em seu modo de produção e de consumo, atendendo aos objetivos preconizados pela sustentabilidade. IV. houve redução tanto no quantitativo de sacolas plásticas descartadas indiscriminadamente no ambiente, como também no tempo de decomposição de resíduos acumulados em lixões e aterros sanitários. Estão CORRETAS somente as afirmativas A) I e II. B) I e III. C) II e III. D) II e IV. E) III e IV. 5) (ENADE, 2009) Leia os gráficos: Gráfico I: Domínio da leitura e escrita pelos brasileiros (em %) Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional

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Gráfico II: Municípios brasileiros que possuem livrarias (em %)

INAF, 2005.

Relacione esses gráficos às seguintes informações:

O Ministério da Cultura divulgou, em 2008, que o Brasil não só produz mais da metade dos livros do continente americano, como também tem parque gráfico atualizado, excelente nível de produção editorial e grande quantidade de papel. Estima-se que 73% dos livros do país estejam nas mãos de 16% da população. Para melhorar essa situação, é necessário que o Brasil adote políticas públicas capazes de conduzir o país à formação de uma sociedade leitora.

Qual das seguintes ações NÃO contribui para a formação de uma sociedade leitora? A) Desaceleração da distribuição de livros didáticos para os estudantes das escolas públicas, pelo MEC, porque isso enriquece editoras e livreiros. B) Exigência de acervo mínimo de livros, impressos e eletrônicos, com gêneros diversificados, para as bibliotecas escolares e comunitárias. C) Programas de formação continuada de professores, capacitando-os para criar um vínculo significativo entre o estudante e o texto. D) Programas, de iniciativa pública e privada, garantindo que os livros migrem das estantes para as mãos dos leitores. E) Uso da literatura como estratégia de motivação dos estudantes, contribuindo para uma leitura mais prazerosa. 6 (ENADE, 2008) A legislação de trânsito brasileira considera que o condutor de um veículo está dirigindo alcoolizado quando o teor alcoólico de seu sangue excede 0,6 gramas de álcool por litro

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de sangue. O gráfico abaixo mostra o processo de absorção e eliminação do álcool quando um indivíduo bebe, em um curto espaço de tempo, de 1 a 4 latas de cerveja.

(Fonte: National Health Institute, Estados Unidos)

Considere as afirmativas a seguir. I - O álcool é absorvido pelo organismo muito mais lentamente do que é eliminado. II - Uma pessoa que vá dirigir imediatamente após a ingestão da bebida pode consumir, no máximo, duas latas de cerveja. III - Se uma pessoa toma rapidamente quatro latas de cerveja, o álcool contido na bebida só é completamente eliminado após se passarem cerca de 7 horas da ingestão. Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s) (A) II, apenas. (B) I e II, apenas. (C) I e III, apenas. (D) II e III, apenas. (E) I, II e III. 7) (ENADE, 2007) Leia o esquema abaixo. 1 - Coleta de plantas nativas, animais silvestres, micro-organismos e fungos da floresta Amazônica. 2 - Saída da mercadoria do país, por portos e aeroportos, camuflada na bagagem de pessoas que se disfarçam de turistas, pesquisadores ou religiosos. 3 - Venda dos produtos para laboratórios ou colecionadores que patenteiam as substâncias provenientes das plantas e dos animais. 4 - Ausência de patente sobre esses recursos, o que deixa as comunidades indígenas e as populações tradicionais sem os benefícios dos royalties. 5 - Prejuízo para o Brasil! Com base na análise das informações acima, uma campanha publicitária contra a prática do conjunto de ações apresentadas no esquema poderia utilizar a seguinte chamada:

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(A) Indústria farmacêutica internacional, fora! (B) Mais respeito às comunidades indígenas! (C) Pagamento de royalties é suficiente! (D) Diga não à biopirataria, já! (E) Biodiversidade, um mau negócio? 8) (ENADE, 2006) Observe as composições a seguir.

(CAULOS. Só dói quando eu respiro. Porto Alegre: L & PM, 2001)

(MELO NETO, João Cabral de. Museu de eiro: Nova Fronteira, 1988)

Os dois textos acima relacionam a vida a sinais de pontuação, utilizando estes como metáforas do comportamento do ser humano e das suas atitudes. A exata correspondência entre a estrofe da poesia e o quadro do texto “Uma Biografia” é (A) a primeira estrofe e o quarto quadro. (B) a segunda estrofe e o terceiro quadro. (C) a segunda estrofe e o quarto quadro. (D) a segunda estrofe e o quinto quadro. (E) a terceira estrofe e o quinto quadro. 9) (ENADE, 2009) O rádio utiliza imagem. Uma fotografia pode ser lida como um texto. A linguagem e expressão em som e imagem têm paralelos com outras formas de comunicação.

PORQUE O rádio obriga o ouvinte do noticiário a imaginar cenas que passam pela nossa cabeça como um filme ou uma cena de televisão. A fotografia, em jornal ou revista, é lida de

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diversas formas, dependendo da profissão, do nível de cultura e do próprio tempo e ambiente em que vive o leitor daquelas publicações. Considerando essas assertivas, é CORRETO afirmar que

A) a primeira é falsa, e a segunda verdadeira. B) a primeira é verdadeira, e a segunda falsa. C) as duas são falsas. D) as duas são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira. E) as duas são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira

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2 LEITURA E ANÁLISE DE TEXTO TEÓRICO DE COMUNICAÇÃO

Existem diversos gêneros produzidos com a finalidade de divulgar

conhecimento, entre eles um dos mais breves é o artigo científico. Os artigos são textos curtos (entre 10 e 20 páginas, aproximadamente) completos, que tratam de uma questão científica. Apresentam o resultado de um estudo ou de uma pesquisa. Pesquisas bibliográficas, a primeira etapa de qualquer tipo de pesquisa, envolvem a busca por publicações sobre determinado tema que se está pesquisando. Os artigos científicos são mais comuns na rotina de estudantes universitários e daqueles que participam de pesquisas de iniciação científica, primeiro passo para a formação do pesquisador.

Sobre as partes do artigo, considera-se a clássica divisão em introdução, desenvolvimento e conclusão, comum a todos os gêneros textuais de natureza técnica, científica e acadêmica.

Na introdução, encontra-se o resumo de todas as ideias que orientaram o pensamento do autor. A introdução funciona, portanto, como uma espécie de apresentação geral do texto para que o leitor se situe. Assim, na introdução, deve-se definir o tema, mostrar o problema, despertar o interesse e decompor os elementos gerais do texto.

O desenvolvimento apresenta o corpo da pesquisa. Ou seja, após a introdução, em que se apresentou o tema de estudo, justificou-se sua importância e descreveu-se como a pesquisa será desenvolvida, é nessa etapa que se vai demonstrar a reflexão sobre o tema: definição dos conceitos que serão utilizados, demonstração dos conhecimentos teóricos que adquiridos (caso de uma pesquisa bibliográfica), apresentação dos documentos utilizados (no caso de uma pesquisa documental) e demonstração dos resultados alcançados.

A conclusão é uma retomada de todos os assuntos desenvolvidos ao longo do artigo, de forma a interligá-los e ainda apontar para as possibilidades de desenvolvimento daquela pesquisa. Como todo artigo apoia-se em pesquisa bibliográfica, não podem faltar as referências bibliográficas: referenciação, segundo as normas da ABNT5 (Associação Brasileira de Normas Técnicas), das fontes consultadas. O ensaio é um texto breve em que se expõem críticas, ideias e reflexões a respeito de um tema. A linguagem utilizada no artigo deve ser objetiva, impessoal, simples, clara, concisa e correta (padrão culto).

1) A qualidade essencial de um trabalho científico é a objetividade, que afasta pontos de vista pessoais que deixem transparecer impressões subjetivas, não fundadas sobre dados concretos. A linguagem científica deve ser objetiva, precisa, isenta de qualquer ambiguidade.

2) A impessoalidade contribui grandemente para a objetividade da redação dos trabalhos científicos. • EVITAR: “o meu trabalho”, “eu penso”, “na minha opinião”, etc.

PREFERIR: “o presente trabalho”, “neste trabalho”, etc. • O emprego do pronome impessoal “se” é o mais adequado para os trabalhos

acadêmicos: “procedeu-se ao levantamento”, “procurou-se obter tal informação”, “fez-se tal coisa”, ou “realizou-se”, etc.

5 ABNT, dentre outros sites, http://viacarreira.com/regras-da-abnt-para-tcc-conheca-principais-normas/

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• O uso de verbos nas formas que tendem à impessoalidade também contribuem para a objetividade: “tal informação foi obtida”, “ a busca empreendida”, “o procedimento adotado”.

Tais procedimentos criam certo distanciamento da pessoa do autor, razão pela qual a impessoalidade favorece a objetividade.

3) Nos trabalhos científicos emprega-se de preferência um estilo simples, evitando-se o excesso de retórica e de adjetivação, os preciosismos vocabulares, os termos muito eruditos ou em desuso, expressões vocabulares que tornam a sintaxe complexa.

4) Gírias ou expressões deselegantes jamais poderão fazer parte do vocabulário de um escrito científico. A opção do estilo deve ser pelo nível culto de linguagem ou o coloquial cuidado, que é simples, usual, mas obedece às regras gramaticais.

5) A linguagem científica é acadêmica e didática: visa transmitir conhecimentos e informações com precisão e objetividade. • Frases demasiadamente longas tendem a comprometer a clareza, dificultando

a concordância gramatical e a pontuação. O melhor é subdividir as frases longas em duas ou mais, de menor extensão.

• De maneira geral, deve-se buscar também a simplicidade na sintaxe, preferindo as frases curtas, na ordem direta (sujeito + verbo e complemento verbal + adjunto adverbial, ou seja, Quem? + Oquê? + Onde?/Como?/ Quando?/ Por quê?

• É imprescindível concatenar as ideias ou informações de maneira lógica, e precisa, estabelecendo uma linha clara e coerente de raciocínio.

• Um parágrafo deve apresentar apenas uma ideia principal, em torno da qual giram as ideias secundárias e os detalhes importantes.

• A clareza deve ser acompanhada da concisão. Um texto repetitivo, que apresenta a mesma ideia em mais de um parágrafo, torna-se cansativo.

6) Correção gramatical é requisito indispensável da redação científica. Exemplo de texto acadêmico

O PAPEL SOCIAL DA LÍNGUA: O PODER DAS VARIEDADES LINGUÍSTICAS

Carmen Elena das Chagas (UFF/UNESA) [email protected]

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A língua, na concepção da sociolinguística, é intrinsecamente heterogênea, múltipla, variável, mutante, instável e está sempre em desconstrução e reconstrução. Ao contrário de um produto pronto e acabado, a língua é um processo, um fazer-se permanente e nunca concluído. É uma atividade social, um trabalho coletivo, produzido por todos os seus falantes, cada vez que eles interagem por meio da fala ou da escrita.

A língua, “sistema de sons vocais por que se processa numa comunidade humana o uso da linguagem” (CÂMARA JR., 1968, p. 223), é renovação, pois expressa a vida. Se ela para, pode-se dizer que ela está morta, porque a história de uma língua é a história de um povo.

Nenhuma língua permanece uniforme em todo o seu domínio e ainda num só local apresenta um sem-número de diferenciações de maior ou menor amplitude. Porém

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estas variedades não prejudicam a unidade da língua ou a consciência daqueles que a utilizam como instrumento de comunicação ou emoção.

Existem tantas variedades linguísticas quantos grupos sociais que compõem uma comunidade de fala. Essa variação pode acontecer de formas diferentes, até mesmo dentro de um único grupo social. Porém, ela não é aleatória6, fortuita ou caótica7, pelo contrário, apresenta-se organizada e condicionada por diferentes fatores. Essa heterogeneidade ordenada tem a ver com a característica própria da língua: o fato de ela ser altamente estruturada e, sobretudo, um sistema que possibilita a expressão de um mesmo conteúdo informacional por meio de regras diversas, todas, igualmente, lógicas e com coerência funcional. É um sistema que proporciona aos falantes todos os elementos necessários para a sua plena interação sociocultural.

A variedade de uma língua que um indivíduo usa é determinada por quem ele é. Todo falante aprendeu, tanto a sua língua materna como uma particular variedade da língua de sua comunidade linguística e essa variedade pode ser diferente em algum ou em todos os níveis de outras variedades da mesma língua, aprendidas por outro falante dessa mesma língua. Tal variedade, identificada segundo essa dimensão, chama-se dialeto.

Nenhuma língua permanece estática. Ela apresenta variedades geográficas, sociais e individuais, já que o falante procura utilizar o sistema idiomático da melhor forma que convém. Com essas diferenciações não há prejuízo na unidade da língua, o que existe é a comunicação.

Na comunicação existe algo comum para o emissor e o receptor que lhes facilita a compreensão. Esse elemento é a norma linguística que ambos os interlocutores adquirem da comunidade. A norma é instável, pois está presa à estrutura político-social e pode mudar no curso do tempo se o indivíduo mudar de um grupo social. A fala é a imagem de uma norma e varia de usuário para usuário. Dessa forma, é uma ilusão acreditar que a língua possa um dia parar, pois ela é a imagem e a voz de um povo.

VARIEDADES LINGUÍSTICAS

A história da língua portuguesa mostra muitas variedades linguísticas dentro do

grande território brasileiro. Do norte ao sul se fazem presentes o falar amazônico, o nordestino, o baiano, o mineiro, o fluminense, o sulista entre outros que se subdividem, formando uma vasta diversidade.

Há duas línguas no Brasil: uma que se escreve (e que recebe o nome de “português”); e outra que se fala (e que é tão desprezada que nem tem nome). E é esta última que é a língua materna dos brasileiros; a outra (“o português”) tem de ser aprendida na escola, e a maior parte da população nunca chega a dominá-la adequadamente (PERINI, 2001).

Na realidade não existe sistema escrito capaz de reproduzir fielmente a riqueza da língua falada. O que acontece é que existem graus de diferença nesta distância entre as duas formas da língua. As diferenças entre essas formas se acentuam dentro de um continuum tipológico (BIBER, 1988), que vai do nível mais informal ao mais formal, passando por graus intermediários. A informalidade consiste em apenas uma das possibilidades de realização, não só da língua falada, como também da língua escrita.

A civilização tem dado uma importância extraordinária à escrita e, muitas vezes, quando nos referimos à linguagem, só pensamos nesse seu aspecto. É preciso não perder de vista, porém, que lhe há ao lado, mais básica, uma expressão oral, porque “o homem 6 Aleatório: Que depende das circunstâncias, do acaso, de fatores incertos, ou que ocorre por acaso ou por acidente; fortuito; casual. 7 Caótico: Em estado ou situação de caos; totalmente confuso e desordenado (trânsito caótico).

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é apenas metade de si mesmo; a outra metade é a sua expressão” (CÂMARA JR., 2001, p. 164).

O nacionalismo busca as origens sem perder a visão crítica da realidade brasileira. É uma forma de repensar a literatura, a valorização do falar cotidiano, numa busca do que seria a língua brasileira “como falamos e como somos”. É uma análise crítica da sociedade burguesa capitalista, consciente e de denúncia, porque, na realidade, não é a elite que muda a linguagem e, sim, o povo, pois necessita da mudança, a elite apenas a aceita.

A linguagem é uma atividade de interação social, ou seja, é uma manifestação de competência comunicativa, definida como capacidade de manter a interação social mediante a produção e o entendimento de textos que funcionam comunicativamente.

Essa linguagem possibilita ao homem representar a realidade física e social e, desde o momento em que é aprendida, conserva um vínculo muito estreito com o pensamento. Possibilita não só a representação e a regulação do pensamento e da ação, próprios e alheios, mas também a comunicação de ideias, pensamentos e intenções de diversas naturezas e, desse modo, influenciar o outro e estabelecer relações interpessoais, anteriormente, inexistentes.

Essas diversas dimensões da linguagem não se excluem. Não é possível dizer algo a alguém sem ter o que dizer. E ter o que dizer, por sua vez, só é possível a partir das representações construídas sobre o mundo.

A comunicação com as pessoas permite, consequentemente, a construção de novos modos de compreender o mundo e de novas representações sobre ele. Mas se um dos interlocutores ouve a fala do outro e não a compreende inteiramente, isto é, não percebe suas “intenções”, a comunicação não se dá de forma plena. Para uma pessoa se comunicar por meio da língua, além de conhecer seu vocabulário e suas leis combinatórias, ela necessita, também, perceber a situação em que se dá a comunicação, isto é, ter consciência do seu “contexto”.

O contexto é parte da representação mental que envolve uma gama muito grande de conhecimentos e informações. São a nossa visão de mundo e a organização mental como situações estereotipadas e sem ordenação que decidem se as condições necessárias à adequação dos atos de fala foram, realmente, preenchidas ou não. Esses atos de fala referem-se a atitudes passadas ou futuras do falante/ouvinte, pois funcionam como princípios através dos quais as atitudes são controladas e comentadas ou podem até ser usados com o objetivo de fornecer informações sobre essas atitudes.

Fica óbvio que quando o indivíduo passa a ter contato com outras pessoas, percebe que nem todos falam como eles ou como seus parentes mais diretos. Existem pessoas que falam diferente por serem de outras famílias, de outras cidades ou de outras regiões do país. Essas modalidades de nossa língua são chamadas de variantes linguísticas que apresentam mudanças em razão das condições etárias, sociais, culturais e regionais dos indivíduos que a compõem.

Todas as variedades linguísticas são eficazes na comunicação verbal e possuem valor nas comunidades em que são faladas. Por isso, não existe um jeito certo de falar, nem um dialeto superior a outro. “Quando se fala do exemplar correto, fala-se de uma forma eleita entre as várias formas de falar que constituem a língua histórica, razão por que o eleito não é nem correto nem incorreto” (BECHARA, 1991, p. 51).

Assim sendo, a linguagem é um fator de discriminação social, pois as diversidades linguísticas provocam preconceitos dos falantes de uma variante mais elitizada aos falantes de uma variante menos favorecida, ocasionando dificuldades para estes últimos.

Bernstein reafirma: numa sociedade dividida em classes, pode-se identificar a existência de duas variedades linguísticas, dois “códigos”, determinados pela forma

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social: o “código elaborado” e o “código restrito”. Esses diferentes códigos resultariam da diferença entre os processos de socialização que ocorrem nas várias classes sociais (BERNSTEIN, 1971, p. 83). Segundo o autor, há a existência de diferentes tipos de linguagem, determinados pela origem social, assim o uso da linguagem é função do sistema de relações sociais. A consequência é que diferentes “códigos” linguísticos criam para o falante, diferentes ordens de relevância e de organização da realidade, isto é, a estrutura social determina o comportamento linguístico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como a língua é considerada reflexo da cultura e determinante de formas de

pensamento, o código linguístico não apenas reflete a estrutura de relações sociais, mas também a regula. O homem aprende a ver o mundo pelos discursos que assimila e, na maior parte das vezes, reproduz esses discursos em sua fala. Se a consciência é constituída a partir dos discursos assimilados por cada membro de um grupo social e se o homem é limitado por relações sociais, não há uma individualidade de espírito nem uma individualidade discursiva absoluta. A organização que os interlocutores associam a um determinado discurso é um reflexo da forma pela qual o conteúdo é visto como coeso pelo ouvinte, ficando, assim, armazenado em sua mente.

Outros fatores que contribuem para a representação mental que os ouvintes têm do discurso são os conhecimentos prévios de como as coisas acontecem no mundo real, juntamente, com as suas expectativas sobre o que o falante pretende dizer. As representações mentais não ficam limitadas apenas à compreensão do discurso, mas são instrumentos mais gerais e fundamentais à cognição8 humana.

Discurso, aqui, é o modo de “criar representações comparáveis àquelas que derivamos da nossa percepção direta do mundo” (JOHNSON-LAIRD, 1983, p. 397). O enunciador é o suporte dessas relações, vale dizer, de discursos que constituem a matéria-prima com que elabora a sua fala. Seu dizer é a reprodução inconsciente do dizer de seu grupo social. Não é livre para dizer, mas coagido, dessa forma, a dizer o que seu grupo diz. “O discurso é, pois, o lugar das coerções sociais” (FIORIN, 1988, p. 42). O indivíduo não pensa e não fala o que quer, mas o que a realidade impõe que ele fale. Assim a posição do falante no mercado linguístico só modifica quando o seu discurso lhe conferir autoridade, poder e dominação.

O sujeito não é livre para dizer o que quer, mas é levado, sem que tenha consciência disso a ocupar seu lugar em determinada formação social e enunciar o que lhe é possível a partir do lugar que ocupa. A sua fala revela mais do que o pensamento do falante, revela, também, o seu nível cultural, a sua posição social, a sua capacidade de adaptação a certas situações, sua timidez, enfim, a sua forma de ser e ver o mundo.

Dessa forma, falar mesmo, dizer o mundo, suas vidas, seus desejos e prazeres, dizer coisas para transformar, dizer o seu sofrimento e suas lutas para fazer, mudar e vencer, é tarefa, ou melhor, é pré-requisito para uma sociedade mais justa e igualitária.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BECHARA, Evanildo. Ensino da gramática. Opressão? Liberdade? São Paulo: Ática, 1991. BERNSTEIN, Basil. Comunicação verbal e socialização. In. COHN, Gabriel (Org.). Comunicação e indústria cultural. São Paulo: Nacional, 1971. 8 Cognição: 1. Ação ou resultado de ter ou adquirir conhecimento. 2. Capacidade ou processo de adquirir e assimilar percepções, conhecimentos etc.

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BIBBER, D. Variation across speech and writing. Cambridge: Cambridge University Press, 1988. CÂMARA JR., J. Mattoso. Manual de expressão oral e escrita. Petrópolis: Vozes, 2001. PERINI, Mario A. Sofrendo a gramática. São Paulo: Ática, 2001.

FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. São Paulo: Ática, 1988. JOHNSON-LAIRD, P. N. Mental model. Cambridge: Harvard University Press, 1983.

Exercícios

1) (ENADE, 2006)

(Jornal do Brasil, 3 ago. 2005).

Tendo em vista a construção da ideia de nação no Brasil, o argumento da personagem expressa A) a afirmação da identidade regional. B) a fragilização do multiculturalismo global. C) o ressurgimento do fundamentalismo local. D) o esfacelamento da unidade do território nacional. E) o fortalecimento do separatismo estadual. 2) a) Leia o artigo do Apêndice 5 e identifique as partes, suprimidas, que o compõem: Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. b) Elabore um esquema desse artigo, como se estivesse organizando um sumário, mas sem a necessidade de informar o número das páginas de cada tópico. 3)

Em grupo, produza um artigo sobre o tema que escolherem. A obra de referência

será: CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. 8. ed. São Paulo: Ática, 2004.

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3 PREPARAÇÃO DE TEXTO TÉCNICO: PAUTA

A pauta: o roteiro da reportagem9 Enio Moraes Júnior

Pensar e elaborar uma boa pauta é o começo de qualquer boa reportagem jornalística. Ela é o guia, o roteiro, o briefing que vai orientar o repórter em seu trabalho. A pauta é a solicitação, por parte do pauteiro, do trabalho que ele deseja que o repórter execute.

Costumo dizer aos meus alunos que, quando o trabalho de apuração da informação é feito por apenas uma pessoa, e não há as figuras do pauteiro, do repórter, do editor etc., mas todo trabalho é feito por apenas uma pessoa, em vez de pauta, podemos falar em um roteiro pessoal para o trabalho de reportagem.

Ao contrário do que se pensa, deve haver um cuidado muito grande na hora de preparar a pauta ou o roteiro de reportagem. Além de pensar bem o que se quer dizer no texto e a maneira como se quer falar, é preciso criatividade e estar bem informado sobre o assunto.

Além disso, vale lembrar que a pauta ou o roteiro não devem ser uma camisa de força. Se, por um lado, o repórter deve segui-los com precisão, por outro, em alguns momentos, deve abandonar sua rigidez e apostar na sua sensibilidade, no seu ‘faro’.

Enfim, na hora de elaborar a pauta ou o roteiro da reportagem: 1. Deixe claro, no início da pauta, a retranca, ou seja, o assunto de que deverá tratar a reportagem. 2. Pesquise sobre o assunto: anote dados que você acha relevantes e que já estão disponíveis em algum lugar. Hoje em dia, além dos jornais, a internet e sites de busca como o Google e o Yahoo são boas fontes para essa primeira etapa do trabalho; 3. Em seguida, aponte os elementos a serem problematizados. Esclareça para o repórter – no caso de estar elaborando uma pauta – ou para você mesmo – em se tratando de um roteiro –, o que a matéria vai acrescentar às informações já disponíveis; 4. A seguir, indique fontes a serem ouvidas, ou seja; as pessoas que podem ser entrevistadas sobre o assunto. Sugira as possíveis perguntas a serem feitas pelo repórter e, por fim, anote nomes e, na medida do possível, e-mails e telefones das fontes. Neste ponto, lembre-se de que nem sempre apenas as autoridades são ouvidas. Sugira também entrevistas com pessoas do povo, e aí nem sempre você precisa citar nomes; 5. Se você dispuser de equipamento fotográfico, não deixe de sugerir ou roteirizar fotos e imagens que devem, junto com o texto, ilustrar o trabalho; 6. No final, indique o número de laudas que o repórter tem para escrever. Isso é importante, pois é uma forma de garantir que não vai faltar nem sobrar texto. Uma lauda, para quem ainda não tem familiaridade com a linguagem jornalística, corresponde a um conjunto de 1400 (mil e quatrocentos) caracteres contados os espaços. Uma matéria jornalística de um tamanho razoável tem, em média, duas laudas.

9 Disponível em: http://www.jornaljovem.com.br/edicao6/editorial_dicas01.php

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Com as dicas acima, a sua pauta ou roteiro estão prontos e o seu repórter ou você estará mais habilitado a fazer o trabalho de campo: a reportagem. Veja no exemplo de pauta a seguir como podem ficar os seis tópicos de que falamos acima e depois tente elaborar a sua pauta. Sucesso! Retranca (assunto): O voto do jovem Corrupção, CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) quase que intermináveis, alguns deputados com mandatos cassados e muitos outros absolvidos contando, muitos vezes, com as benesses e os privilégios das amizades do meio político nacional. Este é mais ou menos o desolador quadro da política brasileira e, em meio a isso tudo, a população parece cada vez mais distante da vida e das decisões políticas. Os jovens, muitos dos quais votam pela primeira vez em outubro deste ano, têm pouco interesse pela política e não sabem que critérios estabelecer para escolher seus candidatos. A ideia é fazer uma matéria sobre o assunto e discutir a questão do primeiro voto do jovem, um tema que interessa a muita gente em ano eleitoral. É importante conversar com conhecedores da política nacional. Vamos conversar com o cientista político Bruno Konder Comparato, professor da Universidade de São Paulo, e saber dele:

• Por que a política brasileira passa por essa crise de credibilidade e interesse? O quadro sempre foi este ou agravou-se nos últimos anos?

• É importante o voto do jovem? Quais os critérios que ele deve estabelecer para escolher seus representantes nos espaços políticos nacionais?

• Como o jovem pode acompanhar mais de perto as decisões e cobrar mais dos políticos? É válido conversar também com jovens, especialmente com aqueles que votam este ano pela primeira vez. Procurar saber:

• Eles acham que participam da vida e das decisões políticas do País? Por quê? Se participam, de que forma eles fazem isso?

• Quais os critérios que pretendem adotar para escolher seus representantes?

Temos no mínimo duas e no máximo três laudas para contar essa história. Vamos também fazer fotos de todos os entrevistados e também da fachada da sede do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TER / SP) para ilustrar a matéria.

Contato: Prof. Bruno Konder Comparato Telefones: (11) AAAA-BBBB/ CCCC-DDDD

E-mail: [email protected] TSE: Rua Francisca Miquelina, 123 – Bela Vista

Exercícios 1) Recupere a pauta da seguinte reportagem

Pais adotam cartão pré-pago para vetar "porcarias" no lanche escolar em SP

Jairo Marques folhauol.com.br

Colégios particulares de São Paulo, como o Dante Alighieri e o Porto Seguro, passaram a adotar em suas cantinas cartões eletrônicos que permitem aos pais o controle

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dos gastos diários dos filhos e das guloseimas proibidas para o consumo – tudo pela internet.

Ao menos dez empresas já administram esses cartões de consumo. O esquema é simples: no início de cada mês, dependendo do modelo do cartão, o pai determina quanto o filho poderá gastar com o lanche todos os dias, semanalmente ou mensalmente.

"O cartão é pré-pago e não há como a criança gastar mais do que o estabelecido. Quando ele pede um produto que o pai havia bloqueado pelo site, o sistema não aceita e ele não poderá levar", afirma Julio Cesar Salles, o tio Julio, dono de uma rede que mantém, só em São Paulo, 45 cantinas.

A dona de casa Alejandra Guerrero de Berios é mãe de duas meninas, Gabriella, 13, e Daniella, 9, que têm problemas de níveis elevados de colesterol. Ela acredita que, com o cartão, consegue controlar melhor a alimentação das duas e, ao mesmo tempo, ensiná-las a administrar despesas.

"É duro fazer uma criança de nove anos entender que não pode comer certas coisas, que precisa fazer dieta", diz. Toda a vida

Para a nutricionista Josiane Carvalho Cardillo, o controle por parte dos pais é positivo do ponto de vista nutricional.

"A criança que aprende ou é disciplinada a ter bons hábitos alimentares desde cedo leva isso para o resto da vida. Se é possível determinar as boas escolhas, por que não fazê-lo?"

Algumas cantinas vão além do cartão. Elas colocam nas redes sociais, todos os dias, fotos dos cardápios disponíveis e não permitem que a criança coma o que bem entender.

"Não vendemos só balas, só chocolates ou só coxinhas para crianças pequenas de jeito nenhum", afirma Rodrigo Naldoni, da Cantina da Escola, no Objetivo do Ipiranga. Diálogo

Na avaliação da pedagoga Ângela Soligo, doutora pela Unicamp, a sociedade está substituindo a educação das crianças pelo controle.

"O pai quer controlar o que filho come pelo cartão, onde o filho está pelo celular. É muito mais interessante abrir um diálogo sobre alimentação em casa e educar para uma alimentação saudável", diz.

Segundo a especialista, o mecanismo é ilusório. "Alunos trocam de lanche o tempo todo. O pai vai saber o que ele comprou, mas não o que ele comeu. A marca do controle é superficial, a marca da educação é profunda e levada para a vida toda."

2) Desenvolva a seguinte pauta Pauteiro: Rosana Valdez Retranca: Inauguração de ambulatório Data: 21/05/2010

TEMA: Prefeitura inaugura primeiro ambulatório para atendimento especializado de crianças. SINOPSE: Depois de muitas reivindicações de toda a comunidade de Pirituba, a Prefeitura finalmente vai inaugurar no próximo dia 20, às 10 horas, o primeiro ambulatório para atendimento infantil. Ele terá o nome de Ambulatório Miguel da Silva Rossi, em homenagem ao garoto de 7 anos que morreu no mês passado, na recepção do Pronto-socorro Geral enquanto esperava atendimento médico. A obra custou 890 mil

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reais, e parte foi financiada pelo Governo Federal. ENCAMINHAMENTO: Verificar junto à direção do ambulatório (ou com o secretário de Saúde) qual a capacidade de atendimento; quais as especialidades que serão atendidas; se isso soluciona ou minimiza os problemas de saúde relacionados à criança na região; qual será o horário de funcionamento; se há médicos para atender à população e qual a opinião da comunidade sobre essa obra. FONTES:

• Dr. Waldemar de Souza (diretor-geral do ambulatório) Rua Ambrósio Couto, 86 Tel. 875-2233 (falar com Vera – secretária da diretoria)

• Emerson Vasconcelos (secretário de Saúde do município) Av. Primeiro de Maio, 445 Tel. 864-1000 (falar com Sandra – secretária)

SUGESTÕES DE PERGUNTAS (para o médico ou o secretário)

- Qual a capacidade de atendimento do novo ambulatório? - Que especialidades médicas estão sendo oferecidas para a população? - Essa obra pode solucionar os problemas de saúde infantil da região? - Por que a Prefeitura demorou tanto tempo para inaugurar esse ambulatório?

(para a população) - O Sr. acha que essa nova obra da Prefeitura é importante para a cidade? - Como tem sido o serviço de saúde prestado pela Prefeitura? - O Sr. acha que essa obra vai melhorar o atendimento para as crianças?

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4 LINGUAGEM E MÍDIAS: MÍDIA IMPRESSA 1

Toda produção de texto, oral ou escrito, deve levar em conta os componentes básicos das situações discursivas em geral: quem fala, para quem fala, com que intenção e, mediante esses elementos, como fala. De acordo com a nossa intenção, toda a estrutura do texto se modifica: seleção do vocabulário, extensão da sentença, organização dos parágrafos etc., pois a cada intenção corresponde certo gênero discursivo.

No jornalismo distinguem-se, dois grandes gêneros: o jornalismo informativo e o jornalismo opinativo. O fundamento dessa separação está no efeito de produção de sentido, assim os dois grandes efeitos ideológico-discursivos em relação ao destinatário são fazer saber e fazer crer. Ao jornalismo opinativo10, que trata da valoração explícita quanto aos acontecimentos, pertencem os gêneros editorial, comentário, artigo, resenha, coluna, crônica e carta do leitor; ao informativo11, os gêneros nota, notícia, reportagem, entrevista, serviço, entrevista. Em linhas gerais, ao gênero opinativo pertencem a contestação, a crítica e o questionamento; ao informativo, os relatos de experiências e fatos.

Texto informativo

ULSAN – Quando menos esperava, o meia Ricardinho, do Corinthians, realizou seu sonho profissional. Tornou-se o 24º jogador convocado pelo técnico Luiz Felipe Scolari para a Copa do Mundo da Coréia do Sul e do Japão. O corintiano substituiu o volante, e até então capitão, Emerson, cortado por causa de uma luxação no ombro direito. Deve chegar a Ulsan na madrugada de terça-feira, horário do Brasil. Embora não tivesse a mesma promoção e repercussão de Romário, a ausência de Ricardinho da lista dos atletas que estariam no Mundial foi bastante questionada. A boa fase no Corinthians, coroada com duas importantes conquistas – o Torneio Rio-São Paulo e a Copa do Brasil

10 Editorial – Texto jornalístico opinativo, publicado sem assinatura e referente a assuntos ou acontecimentos locais, nacionais ou internacionais de maior relevância. É a “opinião” do jornal ou da revista, representa seu ponto de vista, sua ideologia e o próprio modo de fazer jornalismo. Artigo – Texto interpretativo e opinativo, mais ou menos extenso, que desenvolve uma ideia ou comenta um assunto a partir de determinada fundamentação. Geralmente é assinado por algum articulista, ou jornalista do veículo de comunicação. Resenha – Gênero textual em que se propõe a construção de relações entre as propriedades de um objeto analisado, descrevendo-o e enumerando aspectos considerados relevantes sobre ele. No jornalismo, é utilizado como forma de prestação de serviço. Caricatura (charge) – Comentário visual dos fatos, caricatura política ou de personagens do noticiário. Crônica – Texto jornalístico de forma livre e pessoal e que tem como tema fatos ou ideias da atualidade; esses fatos podem ser de teor artístico, político, esportivo, etc.; ou simplesmente relativos à vida cotidiana. Carta do leitor – Texto produzido pelo leitor, inteiramente independente da linha editorial do jornal. Normalmente corresponde a comentários sobre edições anteriores do veículo, embora não se limite a esse fim. 11 Nota – Breve notícia, que se destina à informação rápida. Notícia – Relato de fatos ou acontecimentos atuais, de interesse e importância para a comunidade e de fácil compreensão pelo público. Reportagem – Texto que informa, contextualizando e de modo mais aprofundado, fatos de interesse público. Situa-se no questionamento de causa e efeito, na interpretação e no impacto, somando as diferentes versões de um mesmo acontecimento. Entrevista – A entrevista é um dos instrumentos de pesquisa do repórter. Com os dados nela obtidos, ele pode montar uma reportagem de texto corrido em que as declarações são citadas entre aspas ou pode montar um texto tipo perguntas e respostas, também chamado "pingue-pongue". Existem dois tipos de entrevista: a de informação ou opinião (quando se entrevista uma autoridade, um líder ou um especialista) e a de perfil (quando se entrevista uma personalidade para mostrar como ela vive e não apenas para revelar opiniões ou para dar informações). Serviço – Texto que fornece informações de utilidade imediata ao leitor, principalmente no que diz respeito a empregos, concursos públicos, imóveis e mercado imobiliário, exercício da cidadania, serviços públicos, etc.

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–, o colocavam como um dos nomes mais cogitados para estar na Ásia. Pelo time do Parque São Jorge já jogou 252 vezes e marcou 63 gols. (O Estado de S.Paulo, 3/6/2002) Texto opinativo

A face da medicina brasileira que temos hoje é tão monstruosa que já provoca o sentimento de que as doenças seriam menos perniciosas se ela não existisse. Esse sentimento não tem base científica, mas o fato é que ele existe. Fala-se no mundo todo em sistemas de saúde e política de saúde, que pressupõem, por definição, complexidade organizacional, objetivos sociais, estratégias de execução e análise evolutiva para eventuais correções do curso. Tudo isso sem esquecer o objetivo a ser atingido. No Brasil, não temos sistema nem política de saúde. Não há objetivo definido, por isso é fácil esquecê-los. Há uma complexidade desorganizacional que atende a outros interesses. Centenas de estratégias de execução são realizadas em microuniversos isolados, mas por não formar um todo coerente acabam antagonizando-se e anulando-se. (...). No Brasil, opera-se menos da metade dos pacientes que se pode operar, e opera-se mal. Enquanto isso, há gente que poderia ser salva, mas morre sem conseguir sequer um diagnóstico. Não interessam ao doente que vai morrer por falta de socorro médico as razões dessa falta. (Francisco J. de Moura Theóphilo. Veja, ed. 1346)

A estrutura do texto jornalístico12

Alfredina Nery Se a narração é o gênero de redação em que uma história é contada (seja uma

fábula ou uma crônica), com o uso de recursos como flashbacks, suspense, narrador em primeira ou terceira pessoa, etc., a notícia é o relato do fato, com texto, geralmente, mais simples, seco. Você vai entender como funciona.

Você acredita que a notícia que ouvimos no rádio, assistimos na TV, lemos no jornal impresso ou na Internet é um fato em si ou é uma interpretação de um fato? Antes de responder, observe por alguns segundos a figura reproduzida ao lado. O que você vê? Uma vaca? Se você respondeu que sim, a sua resposta estava quase certa. Não se trata de uma vaca, mas de uma representação de uma vaca, não é? Com a linguagem escrita acontece a mesma coisa: ela representa algo, como objetos, valores, ideias. Logo, a notícia não é o fato em si, mas sim uma interpretação desse fato, certo?

Analise a breve notícia a seguir. Escorpiões assustam Vila São José

Os moradores da Vila São José, no Ipiranga, estão assustados com o grande número de escorpiões que têm sido encontrados na região. Eles também se indignaram com a sugestão de um técnico da Vigilância de Saúde da Subprefeitura do Ipiranga que aconselhou a população a espalhar galinhas pelas ruas para resolver o problema. Os moradores acreditam que a proliferação tenha começado em um terreno onde havia uma casa abandonada.

(Ipiranga News, 28/10 a 3/11/2004) 12 Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1693u19.jhtm>

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Assunto Pelo assunto e pelo nome do veículo de imprensa, percebe-se que se trata de um

jornal de bairro, destinado a uma comunidade particular de leitores – os moradores do Ipiranga, bairro da cidade de São Paulo. A estrutura da notícia

Veja que a notícia se estruturou em apenas dois parágrafos. O primeiro – chamado de "lide" – sintetiza os dados principais: quem, onde, o quê. Se o leitor ler apenas esse parágrafo, já fica sabendo se quer ou se precisa continuar a ler a notícia. A leitura de um jornal é seletiva, isto é, o leitor escolhe o que quer ler, por isso não precisa ler tudo que está escrito no jornal para se informar. É bem diferente da leitura de outros gêneros, como um conto, um romance, cuja leitura integral é obrigatória para sua compreensão.

Na notícia do jornal Ipiranga News, os dados do lide são: √ quem?: os moradores da Vila São José; √ onde?: na Vila São José, bairro do Ipiranga, na cidade de São Paulo; √ o quê?: moradores assustados com a quantidade de escorpiões na região.

O segundo parágrafo "expande a notícia", isto é, dá mais detalhes a respeito do fato: √ os moradores estão indignados com a Vigilância Sanitária da Subprefeitura, que sugere que eles criem galinhas, como forma de resolver o problema da proliferação dos escorpiões; √ os moradores têm uma explicação para o aumento dos escorpiões: uma casa abandonada. Linguagem coloquial

A linguagem do jornal é, preferencialmente, coloquial (próxima à maneira como falamos). Isso acontece intencionalmente, como forma de se aproximar e se adequar ao leitor, ao buscar uma comunicação mais eficiente.

Outra característica da linguagem jornalística é sua tentativa de mostrar imparcialidade, neutralidade sobre aquilo que relata. Veja que o jornalista do Ipiranga News pretende se mostrar imparcial, apresentando distanciamento do fato. Essa aparência de imparcialidade é conseguida por: √ ausência de enunciados de opinião. Há fatos, acontecidos com outros e que não têm

nada a ver com o jornal, como em "Os moradores também se indignaram..."; √ privilégio do uso de terceira pessoa ("os moradores", "eles"); √ não uso de adjetivos que possam dar impressão de subjetividade, de interferência da

opinião do jornalista. Não se admite, por exemplo, uma notícia que fale em um homem velho, em prédio alto, bairro distante. Para dar impressão de que os fatos são relatados com a maior precisão possível uma notícia informa, por exemplo: homem branco, 85 anos; prédio de doze andares; bairro da periferia da cidade de São Paulo etc.;

√ a busca de exatidão faz com que se privilegiem os verbos no modo indicativo: "estão assustados", "têm sido encontrados", "se indignaram", "aconselham", "acreditam", "tenha começado", "havia".

O que é notícia?

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Poema tirado de uma notícia de jornal João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.

Pode-se perceber que o poema dialoga com a notícia e que o fato – a morte de uma pessoa – poderia mesmo ser uma notícia de jornal. Mas o que Manuel Bandeira escreve não é uma notícia, mas um poema em que mostra uma contradição da vida brasileira: ficar famoso, para alguns, acontece somente quando isso é tragédia... Agora, voltemos à história do escorpião.

Perigo à vista Na bonita manhã de sol da segunda-feira, seu Joaquim, morador mais antigo da rua Jurupá, foi comprar pão na padaria. Encontrou-se com Dona Maria que também estava saindo para o trabalho e foram conversando sobre os preços absurdos de tudo, nos dias atuais. No caminho encontraram dois escorpiões, perto da casa abandonada, cujo dono havia morrido há muito tempo e, porque o inventário nunca acabava, ninguém conseguia vender ou alugar o imóvel. Esse fato foi motivo para mais conversa sobre ‘o fim dos tempos’ da vida moderna. Dona Nenê, vizinha de seu Joaquim, quando lavava roupa, num certo dia, também encontrou escorpiões em seu quintal. Foi um alvoroço só… Mas o problema maior foi quando um escorpião picou uma das filhas do seu Agenor. Ele, indignado, na volta do hospital, chamou a Vigilância Sanitária. Os técnicos sugeriram que uma boa forma de acabar com os escorpiões era criar galinhas. Que fazer?

Veja que, embora o assunto seja o mesmo da notícia extraída do Ipiranga News, não se pode considerar o texto acima uma notícia. A organização textual, por exemplo, é muito diferente de uma notícia. Vejamos algumas diferenças.

Sequência do texto Linguagem Escorpiões assustam Vila São José

Do fato mais importante para os detalhes

Objetiva Procurando ser neutra

Perigo à vista

Sequência temporal da narrativa, cujo acontecimento principal está diluído no texto

Detalhada na construção das personagens e do cenário. Cada elemento ajuda a compor o enredo.

Em uma notícia, em geral, os eventos não são ordenados por sua sequência temporal como em uma história, ou seja, o jornalista não tem a pretensão de relatar os

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fatos na ordem em que, supõe-se, ocorreram. Os eventos são apresentados pelo interesse, na perspectiva de quem conta e, principalmente, pelo que o leitor/ouvinte/telespectador/internauta pode considerar mais importante. É evidente que quem informa faz uma seleção prévia dos eventos a serem destacados, relatando-os em função do evento principal e da ideologia do jornal. Conceito de notícia Leia o que diz um especialista no assunto: Notícia: relato de uma série de fatos a partir do fato mais importante. A estrutura da notícia é lógica; o critério de importância e interesse envolvido em sua produção é ideológico: atende a fatores psicológicos, comportamentos de mercado, oportunidades, etc.

LAGE, Nilson. A estrutura da notícia. São Paulo: Ática, 1993. Por mais que informe ser imparcial, ou que afirme traduzir com exatidão a

veracidade dos fatos, a imparcialidade absoluta numa notícia é impossível, pois o redator tem que escolher o que vai contar – que acontecimentos, dentre outros, podem se transformar em uma notícia que venda mais. Determinado "o quê", ainda há o "como", isto é, como atingir o leitor de maneira mais direta, o que implica determinada seleção de vocabulário, destaque para o tipo de letra, tamanho da notícia, lugar em que a notícia vai aparecer no jornal, abordagem etc.

É necessário compreender que o jornalismo não retrata nem cria fatos, e sim constrói visões dos fatos. O jornal legitima uma opinião sobre os fatos, a depender de sua linha editorial, dos leitores que quer atingir. Nesse quadro, a notícia é uma construção de visões e não os fatos em si. A linguagem jornalística

O texto jornalístico informativo visa narrar de maneira objetiva os acontecimentos que devem ser compartilhados. São textos de caráter informativo, que buscam informar os leitores sem deixar transparecer a opinião do autor. Apresentam somente os fatos de maneira impessoal. Mas a famosa “isenção de opinião” para melhor informar o leitor/ espectador/ ouvinte muitas vezes é driblada pelo próprio autor do texto, que usa técnicas que em jornalismo são chamadas de “notícia dirigida” ou “tendenciosa”. O lead

O lead (na forma aportuguesada, lide) é, em jornalismo, a primeira parte de uma notícia, geralmente posta em destaque relativo, que fornece ao leitor a informação básica sobre o tema e pretende prender-lhe o interesse. Trata-se de uma expressão inglesa que significa "guia" ou "o que vem à frente".

As seis perguntas básicas do lead devem ser respondidas na elaboração de uma matéria: "o quê?", "quem?", "quando?", "onde?", "como?" e "por quê?" (3Q+O+P+C). O lead, portanto, deve informar qual é o fato jornalístico noticiado e as principais circunstâncias em que ele ocorre.

Já o lead do texto de reportagem, ou de revista, não tem a necessidade de responder imediatamente às seis perguntas. Sua principal função é oferecer uma prévia, como a descrição de uma imagem, do assunto a ser abordado.

O lead deve ser objetivo e pautar-se pela exatidão, linguagem clara e simples. Isso não significa, porém, que o lead deva ser burocrático. O leitor ganha interesse pela notícia quando o lead é bem elaborado e coerente. Em resumo: quando bem elaborado, ele incita o leitor a ir até o final da notícia. A técnica da pirâmide invertida

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Numa notícia, depois do lead, todas as informações restantes são dadas por ordem decrescente de importância, de forma que, à medida que se vai descendo no corpo da notícia, os fatos relatados vão se tornando cada vez menos essenciais. Pirâmide invertida, porque, em sua base, aquilo que é noticiosamente mais importante encontra-se no topo – em ordem muito distinta à que seguem, por exemplo, os estilos literários como a novela, o drama ou o conto, que geralmente usam uma linguagem de desenvolvimento do enredo com começo, meio e fim, em que o final é o ápice da narrativa.

Como se estrutura a notícia?

A notícia inicia-se com o título, a seguir, se houver necessidade, vem o subtítulo, também chamado de linha fina. O corpo da notícia, normalmente, inicia-se com o lead, ao qual se seguem as demais informações em ordem decrescente de importância. Exercício (ENADE, 2009) “No princípio, Deus criou o céu e a terra.” Essa frase bíblica é encontrada no Manual de Estilo da Editora Abril (Nova Fronteira, 1991) como exemplo de clareza e impacto, destacando que “se a primeira frase não levar à segunda, seu texto está morto”.

PORQUE O Lide/ Abertura da matéria deve trazer a informação mais importante. Considerando essas assertivas, é CORRETO afirmar que

A) a primeira é falsa, e a segunda verdadeira. B) a primeira é verdadeira, e a segunda falsa. C) as duas são falsas. D) as duas são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira. E) as duas são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira.

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4.1 APOIO FUNCIONAL DEFEITOS DO TEXTO (VÍCIOS DE LINGUAGEM)

Contra as qualidades do texto (clareza, concisão, correção, elegância) operam os

defeitos, também catalogados como vícios de linguagem. São eles:

• Barbarismo: consiste em grafar ou pronunciar uma palavra em desacordo com a norma culta. Eles ocorrem na: √ grafia: analizar por analisar. √ pronúncia: rúbrica por rubrica. √ morfologia: deteu por deteve. √ semântica: O iminente jurista presidiu a seção. (por eminente e sessão) √ estrangeirismo: utilização desnecessária de termos em outras línguas: delivery,

sale/off, mise-en-scène em lugar de entrega em domicílio, liquidação, encenação.

• Solecismo: é representado por qualquer erro de sintaxe: √ de concordância: Fazem anos que não o vejo. (por faz) √ de regência: Esqueceram de mim. (por esqueceram-se de mim ou esqueceram-me) √ de colocação: Não coloque-a aqui. (por não a coloque)

• Arcaísmo: consiste no emprego de palavras ou construções antigas, que já caíram em desuso. √ antanho (por passado)

• Preciosismo: é o exagero na linguagem, em prejuízo da naturalidade e clareza da frase.

Isso é colóquio flácido para acalentar bovino. (por Isso é conversa mole para boi dormir.)

• Cacofonia: é representada por qualquer sequência silábica que provoque som desagradável: A boca dela é enorme.

A cacofonia compreende: √ cacófato: o encontro de sílabas forma palavra obscena ou escatológica . Foi

eleita miss Java.// Nunca gaste todo seu dinheiro. √ eco: repetição de terminações iguais, sobretudo na língua oral. Frequentemente o

presidente sente dor de dente, quando viaja ao Oriente.// O hospital municipal de Jaboticabal vai mal.

√ colisão: repetição de consoantes iguais ou semelhantes. O monstro medonho mede mais ou menos um metro e meio.

√ hiato: sequência ininterrupta de vogais. Ou eu o ouço, ou eu o ignoro.

• Ambiguidade: é o duplo sentido decorrente da construção defeituosa da frase.

O cachorro do meu vizinho morreu. O guarda deteve o suspeito em sua casa.

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• Redundância, pleonasmo vicioso ou tautologia: consiste na

repetição desnecessária de informação. O cantor usava brinco nas duas orelhas. Há muitos anos atrás... Não quero que isto se repita outras vezes.

• Obscuridade: falta de clareza devido, por exemplo, a períodos excessivamente longos, linguagem rebuscada, má pontuação, desconhecimento da crase.

Uma construção defeituosa muito corrente é a que usa verbos no gerúndio, particípio e infinitivo. Como essas formas nominais frequentemente omitem o sujeito, o sujeito da oração seguinte serve para as duas, o que pode provocar a obscuridade, como nesta frase: Passeando pela rua, o caminhão atropelou o menino. Como o gerúndio passeando não tem sujeito, automaticamente, acredita-se que o sujeito da oração seguinte (caminhão) funcione como seu também. Para “consertar” a frase, bastaria mudar o sujeito da oração principal: Passeando pela rua, o menino foi atropelado pelo caminhão. Ou desdobrar a oração reduzida de gerúndio: Quando o menino passeava pela rua, o caminhão o atropelou.

Exercícios I) Identifique os vícios de linguagem e corrija-os: 1) Amanhã irão fazer vinte anos que me formei.// Fazem duas horas que espero pelo resultado.// Neste mês farão dois anos que ela morreu./// Neste mês farão dois anos que ela morreu./// Houveram desistências./// Talvez hajam vagas./// Não haverão feriados prolongados neste semestre./// Vai chover multas./// Vai acabar nossos estoques de fraldas. 2) Meu week end foi maravilhoso. 3) As empresas sofreram prejuízos vultuosos.// Os policiais só entrarão aqui com um mandato de prisão.// Fomos taxados de vagabundos pelos assessores do prefeito.// Produtos perecíveis. Tráfico permitido. (cartaz no vidro traseiro de uma kombi, que lhe permitiria circular durante o rodízio) 4) Meu pai sofre de alopecia androgênica. 6) Meu irmão deu um tropeção, caiu no chão e machucou a mão. 7) Compre um refrigerante e ganhe grátis um copo. 9) Eu vi o desmoronamento do barracão. 10) Envie-me já o catálogo de vendas. 11) A oncocercose é uma doença típica de comunidades primitivas. Não foi

desenvolvido ainda nenhum medicamento ou tratamento que possibilite o restabelecimento da visão. Após ser picado pelo mosquito, o parasita (agente da doença) cai na circulação sanguínea e passa a provocar irritações oculares até a perda total da visão. (Folha de S.Paulo, 02/11/90)

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12) O presidente americano (...) produziu um espetáculo cinematográfico em novembro passado na Arábia Saudita, onde comeu peru fantasiado de marine no mesmo bandejão em que era servido aos soldados americanos. (Veja, 09/01/91)

13) As videolocadoras de São Carlos estão escondendo suas fitas de sexo explícito. A decisão atende a uma portaria de dezembro de 91, do Juizado de Menores, que proíbe que as casas de vídeo aluguem, exponham e vendam fitas pornográficas a menores de 18 anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a motéis e rodeios sem a companhia ou autorização dos pais. (Folha Sudoeste, 06/06/92)

14) Os estudantes que pretendem ingressar na Unicamp, no próximo vestibular, concordam com o decreto do governo. Estão reclamando, apenas, que a Universidade de Campinas está exigindo a leitura de um livro que entrará no exame inexistente no Brasil: A confissão de Lúcio, de Mário de Sá-Carneiro. (Istoé Senhor, 14/09/88)

15) “Meu filho mais moço é o João Manoel Joinville de Carvalho Machado, do meu casamento com a Eliane, que é uma mulher doce e encantadora, que mora em Los Angeles, tem 20 anos e que faz curso superior de cinema.”(trecho de entrevista com Juarez Machado em A Notícia, Joinville, 27/02/98)

16) Mando-lhe um cão pelo meu motorista que tem as orelhas cortadas e marcas nas patas.

17) Mulher atacada por cão vai processar seu dono. 18) O ministro da Fazenda qualificou os compradores de motos que pagavam ágio aos

revendedores de ignorantes. 19) Crianças que recebem leite materno frequentemente são mais sadias. II) Desfaça a ambiguidade ou duplo sentido: 1) Família quer proteger os filhos dos criminosos. 2) O mutirão contra a violência da polícia não produziu o feito esperado. 3) Antes de mudar-se para o Rio, o trabalho do meu pai obrigava-o a constantes viagens

pelo Brasil. 4) Saindo de casa, o fogão ficou aceso. 5) O telefone tocou ao entrar no quarto para apanhar a chave. 6) Comparadas com suas primas europeias, os enxames de abelhas africanas têm dez

vezes mais indivíduos. 7) Olhando do alto do Corcovado, a Baía de Guanabara é um espetáculo deslumbrante. 8) Além de machucado, o contrato do jogador termina no próximo dia 8. 9) Osama bin Laden foi encontrado enforcado por dois jornalistas da CNN na noite de quarta-feira. 10) Na pressa para fugir com uma pedra quebrou a vidraça. 11) Farrah Fawcett, 60 anos, teria deixado os Estados Unidos e viajado para a Europa para fazer um tratamento contra o câncer que é ilegal em seu país, segundo o site Hollywood.com. 12) Vi o sol surgir da janela do meu quarto no horizonte. 13) Durante o namoro, Carlos pediu que Maria se casasse com ele várias vezes. 14) Dividido em 75 crônicas bem-humoradas, o autor relata as gafes dos veículos de comunicação. 14) (Unicamp-SP) Observe que nos trechos abaixo, a ordem que foi dada às palavras, nos enunciados, provoca efeitos semânticos (de significado) “estranhos”.

• Fazendo sucesso com a sua nova clínica, a psicóloga Iracema Leite Ferreira Duarte, localizada na Rua Campo Grande, 159.

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• Embarcou para São Paulo Maria Helena Arruda, onde ficará hospedada no luxuoso hotel Maksoud Plaza.

(Notícias da coluna social do Correio do Mato Grosso) Escolha um dos trechos, diga qual é a interpretação “estranha” que ele pode ter, e reescreva-o de forma a evitar o problema.

15) (ENADE, 2006)

Samba do Approach Venha provar meu brunch Depois do décimo drink Saiba que eu tenho approach Só um bom e velho engov Na hora do lunch Eu tirei o meu green card Eu ando de ferryboat E fui pra Miami Beach Eu tenho savoir-faire Posso não ser pop star Meu temperamento é light Mas já sou um nouveau riche Minha casa é hi-tech Eu tenho sex-appeal Toda hora rola um insight Saca só meu background Já fui fã do Jethro Tull Veloz como Damon Hill Hoje me amarro no Slash Tenaz como Fittipaldi Minha vida agora é cool Não dispenso um happy end Meu passado é que foi trash Quero jogar no dream team Fica ligada no link De dia um macho man Que eu vou confessar, my Love E de noite uma drag queen.

(Zeca Baleiro)

I - “(...) Assim, nenhum verbo importado é defectivo ou simplesmente irregular, e todos são da primeira conjugação e se conjugam como os verbos regulares da classe.”

(POSSENTI, Sírio. Revista Língua. Ano I, n.3, 2006.) II - “O estrangeirismo lexical é válido quando há incorporação de informação nova, que não existia em português.”

(SECCHIN, Antonio Carlos. Revista Língua, Ano I, n.3, 2006.) III - “O problema do empréstimo linguístico não se resolve com atitudes reacionárias, com estabelecer barreiras ou cordões de isolamento à entrada de palavras e expressões de outros idiomas. Resolve-se com o dinamismo cultural, com o gênio inventivo do povo. Povo que não forja cultura dispensa-se de criar palavras com energia irradiadora e tem de conformar-se, queiram ou não queiram os seus gramáticos, à condição de mero usuário de criações alheias.”

(CUNHA, Celso. A língua portuguesa e a realidade brasileira. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1972.)

IV - “Para cada palavra estrangeira que adotamos, deixa-se de criar ou desaparece uma já existente.”

(PILLA, Éda Heloisa. Os neologismos do português e a face social da língua. Porto Alegre: AGE, 2002.)

O Samba do Approach, de autoria do maranhense Zeca Baleiro, ironiza a mania brasileira de ter especial apego a palavras e a modismos estrangeiros. As assertivas que se confirmam na letra da música são, apenas, A) I e II. D) II e IV. B) I e III. E) III e IV. C) II e III.

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16) (ENADE, 2014) Os casos de interpretação ambígua em textos jornalísticos ocorrem muitas vezes porque o leitor só lê a manchete, não o texto total. Considerando o exposto, avalie as manchetes transcritas a seguir.

I) Jovem tenta assaltar PM com arma de brinquedo e é baleado na zona sul de SP. (http://noticias.r7.com)

II) A ONU está à procura de um técnico para ocupar o cargo de diretor daquele centro de estudos sobre a pobreza que vai instalar no Rio. (http://pagina20.uol.com.br)

III) Macarrão levou Eliza Samudio para ser morta por amar Bruno, diz advogado do goleiro. (http://noticias.uol.com.br)

IV) Governo inclui vacina contra hepatite A no calendário de vacinação do SUS. (http://g1.globo.com)

É correto afirmar que há ambiguidade apenas em A) I e IV. B) II e III. C) III e IV. D) I, II e III. E) I, II e IV.

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5 LINGUAGEM E MÍDIAS: MÍDIA IMPRESSA 2

Do que depende o bom texto jornalístico? Carlos Maranhão mostra seis elementos necessários para escrever boas matérias

Marina Piedade

"O jornalista é um ser humano mais ou menos parecido com os outros. Ele é

movido por uma vontade grande de mudar o mundo e atingir a maior quantidade de pessoas possível." Esse é o perfil que Carlos Maranhão, diretor de redação de Veja São Paulo, apresentou aos alunos do Curso Abril na noite do dia 11/2/2008.

Ele lembrou que o profissional deve ter sensibilidade para apurar os fatos e capacidade de escrever bem. Comentou que "grandes jornalistas são repórteres por formação" e apontou seis itens indispensáveis para o desenvolvimento da boa escrita jornalística: 1. Talento

Para Carlos Maranhão, é fundamental ter aptidão para a profissão. "É como desenhar, tocar um instrumento, jogar futebol... Tem que ter jeito". Ele acredita que a prática pode aprimorar o talento, mas não desenvolvê-lo. 2. Leitura

"Só lendo se consegue escrever bem", mencionou Maranhão. Jornais, revistas da mesma área em que se trabalha, livros de ficção e não ficção de bons autores de língua portuguesa são opções válidas nessa tarefa.

Ele recomendou obras de Eça de Queirós, Machado de Assis e Graciliano Ramos. "Ensinam a estrutura do texto e ajudam a desenvolver a criatividade".

O diretor de redação acrescentou que essa tem de ser uma tarefa básica para o jornalista. "Tem que arranjar tempo. Do mesmo jeito que se tem tempo para dormir, tomar banho, namorar..." 3. Pesquisa

"Não se pode tratar de um assunto sem ter familiaridade com ele", pontuou Maranhão. Além disso, uma pesquisa prévia sobre a pauta evita que se publique algo já tenha saído na imprensa, comentou o jornalista. 4. Apuração

Dados, estudos, depoimentos... Quanto mais informações houver, melhor ficará a matéria, de acordo com o diretor de redação.

Ele observou que a intenção não é colocar tudo no texto (muitas vezes não há espaço para tanto), mas selecionar os aspectos mais interessantes do assunto. "Você vê onde está a notícia na apuração, não na escrita." 5. Disposição para trabalhar

"A vida inteira escrever será um trabalho penoso. Não se escreve um texto simples facilmente."

Para expressar a aridez dessa tarefa, Carlos Maranhão recorreu a pensamentos de alguns autores: "Quem escreve fácil é o orador, que recorre a chavões" (Fernando Sabino, cronista brasileiro). "Escrever é um trabalho duro. Poucas palavras certas saem na primeira, segunda, terceira tentativas" (William Zinsser, escritor norte-americano). "Tem de escrever, reescrever, reescrever de novo... até o relógio apitar" (Graciliano Ramos, romancista brasileiro, sobre o tempo de fechamento que orienta o jornalista). 6. Clareza

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Segundo Carlos Maranhão, texto bom é texto claro – "não importa se é reportagem, e-mail, trabalho escolar, placa de trânsito...".

As frases curtas, a ordem direta, o uso de palavras simples e a checagem de informações ajudam a alcançar esse atributo.

Citando o jornalista norte-americano E. B. White (autor de The elements of style), o diretor de redação de Veja São Paulo disse que a confusão de ideias não é apenas um distúrbio da prosa – é um distúrbio da vida.

A NOTÍCIA = 3Q + O + P + C

Grevistas bloqueiam porta da USP e param Marginal

Cerca de 300 alunos e funcionários em greve bloquearam a portaria principal da USP ontem. Os manifestantes fecharam a entrada às 6h30 e mantiveram o bloqueio por quatro horas. Depois, se dirigiram em passeata até o prédio da reitoria, que está ocupado desde 8 de junho.

Às 9h, a Marginal Pinheiros parou completamente, entre a ponte da Cidade Universitária e a Avenida Afrânio Peixoto. Por volta das 10h30, a CET registrava 32 km de lentidão na zona oeste.

O motivo do protesto de alunos e funcionários é o corte no pagamento de mais de mil funcionários de São Paulo e Ribeirão Preto por causa da greve que começou no dia 5 de maio. Em assembleia realizada na tarde de ontem, os grevistas decidiram aceitar um reajuste de 5%.

Em geral, o esquema da pirâmide invertida é usado para a redação de notícias.

Há, no entanto, algumas, como a do jornal Notícias Populares, transcrita a seguir, que, além de escritas em linguagem coloquial, muito próxima da modalidade oral da linguagem, não utilizam a estrutura da pirâmide invertida. Tudo vai depender do público a que se destina a publicação.

INGLESA IMITA DONA FLOR

Como Dona Flor, heroína do romance de Jorge Amado, a inglesa Sarah Pilch morava com o marido e o amante. Traçava um no quarto e outro na sala. A brincadeira acabou em morte. O fogo de Sarah, 27, já era conhecido da cidadezinha de Elsing, na Inglaterra. Segundo o jornal “The Sun”, ela adorava exibir os seios para os operários que faziam a reforma de sua casa. Um deles, Kevin Hearle, 23, recebia atenção especial. Terminada a obra, Sarah alugou um quarto para o rapaz. A baixaria terminou quando Kevin, num ataque de ciúmes, matou o marido de Sarah. Andrew Pilch, o marido, trabalhava numa firma de contabilidade. O emprego o obrigava a viajar muito. Com a casa vazia, Sarah e Kevin faziam a festa. Com o tempo, porém, as relações entre Sarah e Andrew melhoraram. O amante ficou fulo da vida. Um dia, Kevin estava na cozinha e ouviu o “fuck-fuck” no quarto do casal. Ele esperou Sarah descer e disparou: “Como você tem coragem de transar com ele e me largar aqui, descascando batatas?” Ela respondeu que era hora de Kevin ir embora. “Eu vou, mas volto pra apagar seu marido”, gritou o amante. Não deu outra. Uma noite, Kevin esperou Sarah sair pra trabalhar, entrou na casa e estrangulou Andrew. O caso está sendo julgado no tribunal de Norfolk, Inglaterra.

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(Notícias Populares, 07.07.91, p.5. Apud DIAS, Ana Rosa Ferreira. O discurso da violência: as marcas da oralidade no jornalismo popular. São Paulo: Cortez, 1996. p.56/57) Exercícios 1) Transforme a notícia do Notícias Populares de modo a que possa ser publicada

num jornal como a Folha de S.Paulo ou O Estado de S.Paulo. 2) Informações para montar notícias (nota de 1500 caracteres). Não se esqueça do

título.

A – Cinco cachorros que pertencem ao Canil Central da Polícia Militar de São Paulo são especializados em rastrear explosivos no Brasil. Este é o único grupo no país. – Após oito anos de trabalho, o cachorro é doado para qualquer pessoa que tenha condições de cuidar do cachorro. – “É um trabalho em equipe” – aspas do capitão Daniel Ignácio, comandante do canil da PM – Os nomes dos cachorros: Tarzan, Éden, Greta, Iceman e Iceberg. – O trabalho é diferente daquele feito pelos cachorros que farejam drogas. Eles não podem enfiar o focinho em qualquer buraco. Há o risco de fazer isso e acontecer uma explosão. – A técnica utilizada é a seguinte: o animal fica imóvel e aponta o focinho para o lugar onde estaria a bomba. Daí os policiais vão até lá fazer a verificação e desmontam a bomba. – “Com explosivos, só se erra uma vez” – aspas do capitão Daniel Ignácio, comandante do canil da PM. B – O Metrô vai dobrar sua rede de estacionamentos próximos às estações até o fim de 2010. Setecentos e vinte mil carros por ano poderão deixar de circular pela cidade a partir de 2011. – O sistema E-Fácil cobra a partir de R$ 7,10 por dois bilhetes do metrô, CPTM ou ônibus e pelo estacionamento por até 12 horas, com manobrista. Cada hora adicional custa R$ 1. – A zona leste vai ganhar cinco das seis novas garagens. – Hoje há vagas em quatro estações. Até o fim de 2010, haverá em mais seis locais. Essas garagens oferecerão 1,5 mil vagas, que serão usadas por 60 mil carros por mês. – A forma de circulação das pessoas vai mudar na cidade e os estacionamentos ajudam quem precisa fazer uma parte do trajeto de carro – aspas de Cristina Bastos, chefe do departamento de negócios do Metrô. – O cartão é recarregável e funciona como o Bilhete Único, ou seja, o usuário pode fazer integração entre os transportes em até quatro horas. 5.1 APOIO FUNCIONAL CONCORDÂNCIA NOMINAL

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A ausência de concordância – grande marca da linguagem popular – é considerada o pecado mortal linguístico. Mas, de acordo com a sociolinguística, esse traço gramatical da fala popular e coloquial brasileira, expresso, por exemplo, nas seguintes frases Minhas amiga já chegou // Aqui nós trabalha muito em lugar de Minhas amigas já chegaram // Aqui nós trabalhamos muito, são formas diferentes de dizer a mesma coisa (variações linguísticas), que se diferenciam mais pelo seu valor social do que linguístico. Assim o primeiro grupo é avaliado de forma negativa nos setores mais escolarizados, mas é perfeitamente adequado nos contextos de seu uso. Lembre-se, porém, de que o discurso jornalístico deve pautar-se pelo nível culto da linguagem, padronizado pela gramática.

Essa marca da linguagem coloquial apareceu, em 2008, em uma propaganda de um carro francês e quase ninguém percebeu o desvio do padrão culto. Vai chover elogios, dizia o texto, quando o correto seria Vão chover elogios... • CONCORDÂNCIA NOMINAL

√ Adjetivo depois do substantivo: duas concordâncias possíveis:

• masculino plural: Casaco e bolsa vermelhos • com o mais próximo: Casaco e bolsa vermelha (neste caso, corre-se o risco de entender que só a bolsa é vermelha).

√ Adjetivo antes dos substantivos: concorda com o mais próximo: Má hora e lugar

√ Substantivo modificado por mais de um adjetivo:

• substantivo no plural: Os setores público e privado atenderam à solicitação do governo. • substantivo no singular, é necessária a repetição do artigo: O setor público e o privado atenderam à solicitação do governo.

√ É necessário/ é permitido/ é proibido/ é bom:

• sem artigo, não há flexão: Maça é bom para as gengivas.// É proibido entrada de menores.

• com artigo, há concordância com o substantivo: A maça é boa para as gengivas.// É proibida a entrada de menores.

√ Meio:

• numeral (=1/2): variável (meio/meia/meios/meias). Comeu meia melancia e bebeu meio litro de água.// É meio-dia e meia (e meia hora). • advérbio (=um pouco): invariável (só há a forma meio). Elaine estava meio bêbada. / Estavam meio bravos.

√ Bastante:

• pronome adjetivo (quantidade): variável (bastante/bastantes). Temos bastantes agasalhos. (embora seja forma correta, evite no texto jornalístico) • advérbio (intensidade): invariável (só há a forma bastante). Estávamos bastante tristes.

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√ Variáveis: anexo, incluso, mesmo, próprio, quite, leso, obrigado

As fotos anexas comprovam o delito. / Vão inclusos os recibos de compra de material. / Elas mesmas (próprias) denunciaram o colega. / Estamos quites com o serviço militar./ Estou quite contigo. / Foi um crime de lesa-pátria. / “Muito obrigada”, disse a garota.

√ Invariáveis: menos, pseudo, alerta (só têm essa forma)

Use menos força. / A deputada é uma pseudodemocrata. / Eu estou alerta. / Nós estamos alerta.

√ Adjetivos compostos fazem o plural com variação apenas do último elemento: acordos sino-japoneses; cabelos castanho-escuros; políticos democrata-cristãos.

• nos compostos indicadores de cor, nenhum elemento vai para o plural se houver substantivo como um de seus elementos: camisas vermelho-vinho; vestidos cor-de-rosa; carros azul-bebê; • não há variação quando, na indicação de cor, aparece apenas o substantivo: camisas vinho; vestidos rosa; sapatos gelo; • surdo-mudo tem o plural surdos-mudos; • azul-marinho e azul-celeste não variam; • infravermelho tem plural infravermelhos, mas ultravioleta não tem plural (raios ultravioleta)

Exercícios: I) Preencha os espaços com a palavra indicada: 1) Comi maçã. (meio) 2) Estava narcotizada. (meio) 3) Acolheu-o com palavras tortas. (meio) 4) Suas opiniões são discutíveis. (bastante) 5) Havia razões para confiarmos. (bastante) 6) Seguem as listas de preço. (anexo) 7) Vão os prontuários. (anexo) 8) As provas seguem no processo. (incluso) 9) Tratava-se de orgulho e vaidade .(excessivo) 10) Ventos e nuvens afugentaram a torcida. (ameaçador) 11) É venda de bebidas a menores. / É a

venda de bebidas a menores. (proibido) 12) A água é para a saúde. /Água é para a saúde (bom) 13) É coesão partidária para vencer a oposição. / É

a coesão dos partidos aliados para vencer a oposição. (necessário) 14) Chuva é nesta época do ano./ Aquela chuva da semana

passada foi para despoluir o ar. (bom) 15) Pera é para quê?/ A pera é para a pele.

(bom) 16) Elas costuram suas roupas. (mesmo) 17) Ela procurou o professor. (mesmo) 18) Ele estava com o patrão. (quite)

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19) – Muito , disse ela. (obrigado) 20) Há provas do que o previsto. (menos) 21) Era uma representação. (pseudo) 22) O aluno destacava-se pelo raciocínio e objetividade . (aguçado) II) Corrija as frases cuja concordância esteja errada: 1) Temos motivos bastantes para não aceitar o trabalho. 2) A funcionária estava meia preocupada com a situação do escritório. 3) Não acredito que seja permitido sua permanência na seção. 4) É necessário dedicação para chegarmos ao cargo desejado. 5) Fiquem alertas e não deixem qualquer informação passar. 6) A moça mesmo me disse que andava meia aborrecida com a vida. 7)A declaração de bens foi mandada anexo ao processo. 8) Sabemos que é necessário a paciência para suportar a manha dessa criança. 9) Não temos razões bastantes para impugnar sua candidatura. 10) Todos os policiais estavam alertas: as torcidas estavam bastantes revoltadas com o

juiz. 11) A velhinha sorriu e disse: “Muito obrigada a todos”. 12) Os viajantes estavam meios cansados. III) Assinale as alternativas corretas: ♦ (Unimes) a) Eles se moviam meios cautelosos. b) O relógio da igreja bateu meio-dia e meio. c) Seus apartes eram sempre o mais pertinentes possíveis. d) Os resultados falam por si só. e) Chegada a sua hora e a sua vez, intimidou-se. ♦ (Inatel) Fazia elogios, embora as saudações fossem agora enfáticas para uns e talvez evasivas para outros. a) bastante/ menos/ meio b) bastantes/ menas/ meia c) bastante/ menos/ meia d) bastantes/ menas/ meio e) bastantes/ menos/ meio ♦ (Acafe) Vocês estão com a tesouraria. As janelas abertas deixavam entrar uma leve brisa. Vai à presente a relação dos livros solicitados. As matas foram danificadas pelo fogo. É a entrada de animais. a) quite/meia/ anexa/ bastantes/ proibida b)quites/ meia/ anexa/ bastantes/ proibida c) quite/ meio/ anexo/ bastante/ proibido d) quites/ meio/ anexa/ bastante/ proibida e) quites/ meio/ anexo/ bastante/ proibido ♦ (Vunesp) a) Nos treinos, os jogadores usam calções e camisetas coloridos. b) Os juízes estão alertas durante toda a partida de futebol. c) Os regulamentos da Fifa estão anexo no contrato dos jogadores. d) A cor do uniforme da seleção brasileira é verde e amarelos. e) As chuteiras e o apito dos juízes são importadas.

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IV) Assinale a alternativa errada a) O escritor e o mestre alemães admiravam o belo quadro. b) Estudaram o idioma francês e o espanhol. c) O ministro e os deputados alagoanos votaram contra o projeto. d) As opiniões e os argumentos expostos não agradaram à plateia. e) Considero fácil as questões e testes propostos V) (CBMERJ-NCE) “Mulheres e homens bonitos”. A única forma errada entre as que estão abaixo, mantendo-se o sentido original é: a) bonitas mulheres e homens; b) bonitos homens e mulheres; c) homens e mulheres bonitas; d) homens e mulheres bonitos; e) bonitos mulheres e homens. VI) Passe para o plural: 1) acordo ítalo-brasileiro = 2) nação hispano-americana = 3) sapato marrom-claro = 4) tinta verde-escura = 5) fita cereja= 6) bolsa verde-abacate= 7) radiação ultravioleta= 8) casaco amarelo-ouro= 9) time rubro-negro=

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6 LINGUAGEM E MÍDIAS: MÍDIA IMPRESSA 3

DISCURSO DIRETO E INDIRETO Discurso direto: reprodução literal das palavras do entrevistado. É o caso da entrevista pingue-pongue e da inserção (entre aspas) de declaração de alguém. Discurso indireto: em vez de reproduzir a fala do entrevistado, o jornalista conta o que ele disse (sem aspas), usando para isso verbos dicendi, que se distribuem em oito áreas de significação: 1) de dizer: afirmar, declarar; 2) de perguntar: indagar, interrogar; 3) de responder: retrucar, replicar; 4) de contestar: negar, objetar; 5) de exclamar: gritar, bradar; 6) de pedir: solicitar, rogar; 7) de exortar: animar, aconselhar; 8) de ordenar: mandar, determinar. Variar os verbos dicendi impede que o texto se torne repetitivo. Cuidado, no entanto, com modismos. Leia uma lista de verbos dicendi sugerida por Eduardo Martins no Manual de redação e estilo OESP, verbete DIZER. Substitua, oralmente, os verbos dicendi nesta notícia.

McCain admite derrota eleitoral e parabeniza Obama

O senador John McCain admitiu nesta madrugada sua derrota eleitoral e parabenizou o rival Barack Obama pela vitória na corrida pela presidência dos EUA.

Durante o discurso em Fênix, no estado do Arizona, McCain disse que o povo americano "falou claramente", sobre a vitória de Obama. O candidato derrotado à presidência americana disse que ligou para Obama para parabenizá-lo pela vitória.

McCain disse que Obama inspirou as pessoas, que tiveram pouca esperança sobre seu papel nas eleições para votar, "em especial para os afro-americanos". "A américa é uma terra que oferece oportunidade para aqueles que procuram (...) Não há razão para os cidadãos americanos deixarem de cumprir seu papel", disse.

McCain citou a avó de Obama, que morreu na última segunda-feira: "Ela deve estar muito orgulhosa do que o homem que ajudou a criar alcançou".

"Esses são tempos difíceis para o país, espero que todos os americanos que me apoiaram ofereçam apoio para unir as diferenças e restaurar o nosso país, para deixá-lo melhor do que como o herdamos", disse McCain enquanto era vaiado pela multidão.

Ele disse que o sentimento de desapontamento é "natural", e assumiu a culpa pela derrota. "Lutamos o máximo que pudemos, a falha foi minha e não de vocês", disse o senador.

McCain agradeceu a família, os filhos e os amigos pelo apoio. "As campanhas são mais difíceis para a família, do que para o candidato", disse ao afirmar que esperava dias de paz.

No fim do discurso, McCain agradeceu ainda a vice Sarah Palin pela participação na campanha. "Uma voz expressiva dentro do partido, no Estado do Alasca [onde Palin é governadora] e pela incansável dedicação à causa", disse.

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TEXTO I: “O verbo dicendi é tão importante que, ao trocá-lo, você pode virar uma declaração pelo avesso. Por exemplo: “Sou inocente”, disse. “Sou inocente”, esclareceu. “Sou inocente”, insistiu. “Sou inocente”, alegou. “Sou inocente”, mentiu. Neutro, simples e direto, o verbo dizer costuma ser o melhor na maioria dos casos. Seu emprego constante, entretanto, deixa certos textos frios e monótonos. Para fugir da mesmice, socorra-se na riqueza vocabular da língua portuguesa. Mas consulte o dicionário quando tiver dúvidas sobre o sentido preciso do termo. Escolhido o verbo, veja se ficou claro quem disse o quê. Esse cuidado elementar é muitas vezes negligenciado. Numa declaração mais longa, facilite a vida do leitor. Identifique o autor antes de abrir aspas ou logo depois da primeira frase — não ao final da última. Escreveu o jornalista Lago Burnett: “Bom jornalista é aquele que, além da informação, possui condições de transmitir essa informação em linguagem acessível ao mercado comprador. Para isso, ele deve ter tido no passado e precisa manter no presente um contato íntimo com os bons autores”. ou “Bom jornalista é aquele que, além da informação, possui condições de transmitir essa informação em linguagem acessível ao mercado comprador”, escreveu o jornalista Lago Burnett. “Para isso, ele deve ter tido no passado e precisa manter no presente um contato íntimo com os chamados bons autores.” Nas declarações com duas ou três frases, dispense o segundo verbo dicendi. O último é quase sempre redundante. (Manual de estilo Editora Abril. São Paulo: Nova Fronteira, 1991. p. 32 e 33) TEXTO II:

Ao reproduzir uma declaração textual, o jornalista não deve alterar a literalidade do que foi dito, a não ser para eliminar repetições ou palavras próprias da linguagem oral, desde que jornalisticamente irrelevantes, ou para ordenar ideias com o objetivo de facilitar a leitura. Em textos noticiosos, o objetivo de reproduzir declarações é garantir o acesso do leitor ao discurso concreto de quem declarou. Devem ser reproduzidas apenas as frases mais importantes, expressivas e espontâneas do personagem da notícia. Não devem ser reproduzidas ideias que possam ser melhor expostas através do discurso indireto do jornalista*. As declarações textuais devem ser valorizadas pela sua raridade. Quanto menos forem usadas, mais valor terão perante o leitor. Sua importância é medida pelo inusitado que determinada opinião possa ter na boca de uma personalidade ou pelo impacto que possa causar junto ao público. Recomenda-se não abrir textos com declarações textuais. Deve-

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se evitar reproduzir declarações textuais com mais de três linhas. (...) Quando houver necessidade de chamar a atenção do leitor para algo errado ou estranho no texto original, admite-se o uso da palavra latina sic13 entre parênteses. (Manual Geral da Redação – Folha de S.Paulo) Ex.: “O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornou pública ontem uma posição que havia meses manifestava apenas nos bastidores em relação às eleições municipais de São Paulo em 2012: seu apoio à candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad, para a sucessão de Gilberto Kassab. Os sinais de que Lula já iniciou a campanha de Haddad incomodam setores do PT, que temem pelo "tratoraço" na escolha do candidato. "Acho que o companheiro Haddad é adequado", afirmou após ser questionado sobre seu apoio ao ministro, para em seguida minimizar e não ferir suscetibilidades. "Foi (sic) ministro da Educação e acho que ele está na disputa. Agora, quem vai decidir são os delegados do PT." (Jornal da Tarde, 16 de julho de 2011) TEXTO III: Em princípio, os verbos mais recomendáveis para textos que envolvam declarações são os insubstituíveis dizer, afirmar, declarar, garantir, prometer e poucos mais. No seu lugar, podem ser usados outros, desde que com muito critério, entre os quais acreditar, achar, julgar, admitir, esclarecer, explicar, concluir, prosseguir, etc.* (Manual de redação e estilo – OESP) Obs.: Veja relação dos possíveis substitutos no verbete dizer desse manual. Observe nesta matéria a alternância dos discursos e dos verbos dicendi, o que evita a redundância e a monotonia:

PRESIDENTE DA FUNAI CHEGA APÓS FUNERAL

Júlio Gaiger prometeu acelerar processo

de demarcação das terras dos índios pataxós

Pau Brasil — O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Júlio Gaiger, chegou à aldeia dos pataxós hã-hã-hães por volta das 19 horas, uma hora depois de o corpo do índio Galdino Jesus dos Santos ter sido enterrado. “Vim com o objetivo de acompanhar o enterro, mas houve problemas técnicos com o voo”, disse Gaiger, que chegou a Ilhéus a bordo de um bimotor da Funai. Ele afirmou que uma das formas de homenagear Galdino seria “enfrentar o problema de demarcação das terras dos índios pataxós”. Gaiger adiantou que poderá começar acelerando o processo de demarcação de

13 Sic: palavra latina que significa assim, desta maneira. Palavra que se pospõe a uma citação, ou que nesta se intercala, entre parênteses ou entre colchetes, para indicar que o texto original é bem assim, por errado ou estranho que pareça.

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788 hectares, determinado pela Justiça desde dezembro do ano passado. “Mas o processo não é automático nem há certeza de que a decisão do juiz já tenha sido publicada; só tomei ciência pelos próprios índios.” Entretanto, Gaiger prometeu analisar os aspectos jurídicos. Críticas — O presidente da Funai criticou as ações governamentais nas áreas de saúde e agricultura realizadas nas terras dos pataxós e admitiu que “é preciso rediscutir a parceria intragovernamental”. Ele contou que a Fundação Nacional de Saúde furou poços na aldeia dos pataxós, mas não trouxe tratamento de água, que hoje é imprópria para consumo. Júlio Gaiger disse que vai negociar com os Ministérios da Saúde e da Agricultura “para que haja participação mais intensa das outras pastas”. O presidente da Funai retornou ontem mesmo a Brasília, onde terá uma reunião ministerial hoje.

(OESP, 23/04/97) Observe o erro do jornalista do site da Aol:

Morre escritor Fernando Sabino aos 80 anos no Rio RIO DE JANEIRO (Reuters) – O escritor Fernando Sabino, autor de O encontro marcado e O grande mentecapto, morreu nesta segunda-feira em sua casa, no Rio de Janeiro, um dia antes de completar 81 anos. O velório deve ser realizado no Cemitério São João Batista, nesta segunda-feira, e o enterro está previsto para as 11h de terça.

Sabino esteve internado na Casa de Saúde Pinheiro Machado, no bairro de Laranjeiras, zona sul da cidade, entre os dias 24 e 27 de setembro para realizar exames de rotina, segundo a diretora da clínica, Cláudia Azevedo. Segundo a diretora, o escritor vinha há cerca de dois anos lutando contra um câncer de esôfago.

"Ele esteve internado na clínica por 72 horas realizando exames de rotina, mas vinha lutando há mais de dois anos contra um câncer de esôfago", disse ela à Reuters por telefone. Cláudia recebeu a notícia da morte do escritor por meio de uma filha dele. Mineiro de Belo Horizonte, Sabino nasceu no dia 12 de outubro de 1923. Em 1956, publicou o romance Encontro marcado, grande sucesso de venda que também foi adaptado para o teatro. O escritor também teve passagens pelo jornalismo, trabalhando no Jornal do Brasil, na rede britânica BBC e nas revistas Manchete e Cláudia.

Outra obra de repercussão do escritor foi Zélia, uma paixão, biografia publicada em 1992 de Zélia Cardoso de Mello, ministra da Fazenda no governo de Fernando Collor de Mello. 6.1 APOIO FUNCIONAL CONCORDÂNCIA VERBAL

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1) Regra geral: o verbo concorda com o sujeito (mesmo que este venha depois do verbo. Índices da inflação assustam consumidor. Sobraram poucos lugares nas arquibancadas. Aceitam-se sugestões.

Obs.: Se o sujeito é composto e vier resumido pelos pronomes indefinidos tudo, nada, ninguém, cada um, o verbo fica no singular:

Fome, cansaço, doença, nada os deteria. Pai, filho e avô, cada um saudou a seu modo o visitante.

2) Verbos impessoais HAVER e FAZER: sempre na 3ª pessoa do singular

• Haver14: no sentido de existir, é impessoal (a impessoalidade é transmitida ao verbo auxiliar):

Haverá festas na Bahia neste mês. Talvez haja reclamações sobre nosso trabalho. Poderá| Deverá| haver festas na Bahia neste mês. Vai| • Fazer: na indicação de tempo transcorrido ou a transcorrer ou na indicação de

fenômenos da natureza (a impessoalidade também é transmitida ao verbo auxiliar)

Já faz 20 anos que me formei. Em agosto vai fazer três anos que ele se casou. Em setembro faz dias claros e frios.

3) Pronome pessoal SE1516

• partícula apassivadora: verbo concorda com o sujeito (o verbo é sempre transitivo direto (sem preposição))

Vende-se casa. / Vendem-se casas. (Casa é vendida. / Casas são vendidas.) Aceita-se encomenda. / Aceitam-se encomendas. (Encomenda é aceita./ Encomendas são aceitas.) Expediu-se o documento requerido./ Expediram-se os documentos requeridos. (O documento foi expedido./ Os documentos foram expedidos.)

Obs.: para que não haja dúvida quanto ao uso do singular ou do plural, passe a frase para a voz passiva analítica: Alugam-se apartamentos. = Apartamentos são alugados.

• índice de indeterminação do sujeito: verbo fica sempre na 3ª pessoa do singular 14 É comum, na linguagem coloquial, usar-se o verbo ter com o sentido de haver. Dizia um outdoor: Onde tem festa, tem Antarctica. 15 Esse ponto da concordância não é pacífico. Inúmeros linguistas contestam essa dupla classificação do pronome se e consideram ambos como índice de indeterminação do sujeito e, portanto, não haveria verbos no plural. 16 Esteja atento ao uso indiscriminado da partícula se.

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Trata-se de problema urgente. Trata-se de problemas urgentes.

Obs.: é impossível a transformação para a voz passiva porque os verbos são ou intransitivos ou transitivos indiretos (estes sempre acompanhados de preposição): Bebe-se bem aqui. / Pensa-se em reformas. / Cuida-se de idosos.

4) A maior parte, grande número de, a maioria O verbo normal e preferentemente vai para o singular; há, no entanto, gramáticos que aceitam o plural caso se queira destacar a ideia de conjunto.

A maior parte dos eleitores estava abismada com o resultado das urnas. A maioria das mulheres mantém-se submissa aos maridos. Grande número de foliões amanheceu dançando.

5) Porcentagem

• O verbo concorda com o que for expresso pela porcentagem Um por cento dos candidatos sofriam de cirrose. Noventa por cento da população perdeu seus bens.

• Se só números representarem a porcentagem, o verbo concordará com o numeral Naquele ano, 30% da colheita perdeu-se e 70% foram exportados.

• Se a porcentagem estiver particularizada, o verbo concorda com o numeral Os últimos 30% do empréstimo chegarão em maio. Esse 1% dos gastos fará diferença no final. • Se o verbo vier antes da porcentagem, concordará com o numeral Está perdido 1% da colheita. Estão perdidos 30% da colheita.

6) Sujeito formado por nomes próprios que só têm plural • se não houver artigo, o verbo fica no singular: Batatais fica no interior do estado.

• com artigo, o verbo vai para o plural: Os Estados Unidos pretendem invadir o Iraque.

Obs.: Com nomes de títulos de obras, usa-se, indiferentemente, o singular ou o plural: Os Lusíadas é/ são a maior epopeia dos portugueses.

7) Sujeito formado por palavras no plural, mas com ideia de singular: verbo no singular

Pelos ainda tem acento. Nós é um pronome pessoal.

8) Fração: verbo concorda com o numerador da fração

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Um terço dos trabalhadores não recebeu o salário de janeiro. Dois terços da herança couberam à viúva. 9) Pronomes relativos que e quem

• Que: verbo concorda com o antecedente: Fui eu que descobri a fórmula. São eles que fazem a coleta do lixo. Seremos nós que o escolheremos. • Quem: verbo concorda na 3ª pessoa do singular (alguns gramáticos aceitam a

concordância com o antecedente): Fui eu quem descobriu a fórmula. (Fui eu quem descobri a fórmula.) Somos nós quem faz a nação. (Somos nós quem fazemos a nação.)

10) Pronome de tratamento: verbo sempre na 3ª pessoa do singular ou plural (assim como o pronome possessivo)

Vossa Majestade tem o apoio do seu povo. Vossas Majestades têm o apoio do seu povo. Vossa Senhoria cometeu um grave erro. Vossas Senhorias cometeram um grave erro. 11) Mais de ... / menos de ... / perto de ...: verbo concorda com o numeral Perto de 25 famílias receberam auxílio do governo. Mais de um homem morreu. 12) Um (uma) dos (das) que...: verbo sempre no plural

Ele é um dos que mais reclamam da inflação.

13) Núcleos do sujeito composto ligados por ou

• se o ou indica exclusão, o verbo fica no singular: Pedro ou Paulo se casará com Marta. • se a ideia expressa pelo verbo referir-se aos dois núcleos, o verbo vai para o

plural (na realidade o ou equivale a um e): O ônibus ou o trem passam por lá.

14) Núcleos do sujeito composto ligados por nem

• se o nem indica exclusão, o verbo fica no singular: Nem Pedro nem Paulo se casará com Marta. • se a ideia expressa pelo verbo referir-se aos dois núcleos, o verbo vai para o

plural: Nem Pedro nem Paulo conformaram-se com os resultados. 15) Um ou outro, nem um nem outro

• Um ou outro: verbo no singular:

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Um ou outro transeunte notava a presença do cão sarnento. • Nem um nem outro: verbo no singular ou plural: Nem um nem outro diz / dizem a verdade.

16) Haja vista: sempre invariável e sem a preposição a Haja vista o decreto de 13 de outubro.// Haja vista os fatos. 17) Sujeito constituído de orações ou infinitivos: verbo no singular Andar e nadar faz bem à saúde. Que ela despreze e ridicularize essas virtudes já não me causa espanto. Obs.: verbo no plural só se houver contraste entre os sujeitos ou se os sujeitos estiverem substantivados: Nascer e morrer fazem parte da vida. (antônimos) O comer e o dormir em demasia alienam uma pessoa. (verbos substantivados o

comer/ o dormir) CONCORDÂNCIA COM O VERBO SER 1) Sujeito ou predicativo são nomes de coisas: verbo concorda com o que está no

plural. Tua vida são mentiras. 2) Sujeito ou predicativo são nomes de pessoa: verbo concorda com a pessoa. O homem é cinzas. Seu orgulho eram os filhos. 3) Sujeito ou predicativo é pronome pessoal: verbo concorda com pronome. O professor sou eu. Nós somos os culpados. 4) Indicações de hora, dia e distância: verbo concorda com predicativo. É uma hora. São duas horas. É uma légua. Até a estação de tratamento de água são 15 quilômetros. Obs.: Hoje é 15 de novembro. ou Hoje são 15 de novembro. 5) Verbo SER fica invariável nas expressões indicativas de quantidade (é muito, é

bastante, é pouco, é suficiente, é demais): Quinze quilos é pouco. Três metros é suficiente. Dois reais é bastante. Um é pouco, dois é bom, três é demais. Exercícios I) Complete as frases com os verbos indicados:

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1) muitas pessoas na rua quando saímos. (haver) 2) haver alguns lápis sobre a mesa. (dever) 3) haver problemas insolúveis. (poder) 4) dois anos que não nos vemos. (fazer) 5) fazer semanas que ele não aparece. (poder) 6) dois meses que não chove. (fazer) 7) Ontem 38º à sombra. (fazer) 8) Talvez ainda ingressos à venda. (haver) 9) haver candidatos honestos. (dever) 10) fazer três anos que não o vejo. (dever) II) Complete as frases com os verbos indicados:

1) -se as decisões. (comentar) 2) Não se respostas para tantos problemas. (encontrar) 3) -se vozes no corredor. (ouvir) 4) -se caixas de cerveja. (beber) 5) -se notícias falsas. (publicar) 6) -se das propostas iniciais. (desconfiar) 7) Às vezes -se de coisas estranhas. (gostar) 8) -se de animais abandonados. (cuidar) 9) -se em revoluções. (falar) 10) -se de comércio espúrio. (tratar) III) Complete as frases com os verbos entre parênteses, efetuando a necessária concordância:

1) Fugir foi o que Jair e eu . (fazer) 2) Nem um nem outro se a concluir o projeto. (dispor) 3) Jogos, viagens, mulheres, nada o . (satisfazer) 4) A maioria dos brasileiros a pena de morte. (rejeitar) 5) Mais de 100 grevistas a fábrica. (invadir) 6) Oitenta por cento da plateia o espetáculo. (vaiar) 7) Oitenta por cento dos espectadores o espetáculo. (vaiar) 8) Jairo é um dos que mais carne neste restaurante. (consumir) 9) Vossa Senhoria agir com moderação. (dever) 10) Fui eu quem o a desenhar. (ensinar) 11) Foi você quem e sou eu que ter de rezar. (pecar - ir) 12) Montes Claros sua salvação. (representar) 13) Os Alpes turistas de todo o mundo. (atrair) 14) Os Estados Unidos a mídia. (dominar) 15) A criançada uma algazarra na porta da escola. (fazer) 16) À nossa casa, frequentemente, pessoas amigas. (chegar) 17) alguns minutos para estancar suas lágrimas. (bastar) 18) Rui Reis ou Mário Pontes a cidade. (governar) 19) Este remédio ou aquele efeito. (fazer) 20) Setenta por cento da população pela democracia, 20% na revolução armada e 1% a volta da ditadura. (lutar - insistir - querer) 21) Um quarto da produção de soja com a seca. (perder-se)

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22) Amar e odiar o ser humano. (caracterizar) 23) Flores ainda acento circunflexo? (ter) 24) Você sabe onde os Bálcãs? (ficar) 25) Um terço do nosso planeta constituído por terra firme; dois terços representados por água. (ser) IV) Se existir erro de concordância, corrija:

1) A letra das composições musicais contemporâneas refletem, com nitidez, os problemas sociais que o Brasil está enfrentando. 2) Dentro de alguns instantes será divulgado novos resultados. 3) Falta aos países subdesenvolvidos uma legislação mais rigorosa sobre os agrotóxicos. 4) Persiste por muito tempo no ambiente os efeitos nocivos dos inseticidas. 5) Conserta-se aparelhos de som. 6) Precisam-se de pedreiros. 7) Obedeceram-se aos severos regulamentos. 8) Promove-se festas beneficentes na minha igreja. 9) Da cidade à praia é dois quilômetros. 10) Dois metros de tecido são pouco. 11) Eram previsíveis os percalços que enfrentariam qualquer programa de estabilização. 12) Calor intenso ou frio excessivo me fazem mal. 13) Fernando Henrique ou Lula seria eleito presidente. 14) Renato ou Fernanda preencherão a vaga existente. 15) Um grito ou um tiro assustariam o animal. 16) Podiam haver bois no curral. 17) Deveriam haver muitas assombrações na vila. 18) Fazem meses que não ocorre no país fatos como aquele que até hoje nos perturbam. 19) Garotinho foi um dos governadores que queria uma reunião com o presidente. 20) O netinho eram suas maiores alegrias. 21) Os projetos apresentados pela assessoria da presidência são excelentes, hajam vista os elogios recebidos. 22) Um quarto dos bens couberam ao menor. 23) O leite PAULISTA é processado pelo sistema UHT, que aquece o leite a uma temperatura entre 130°C e 150°C, durante 2 a 4 segundos. Em seguida é imediatamente resfriado a uma temperatura inferior a 32°C e depois envasado sob condições assépticas em embalagens estéreis e hermeticamente fechadas, que o protege do ar e da luz, garantindo uma perfeita e longa conservação de suas qualidades nutritivas e naturais. (Texto constante da embalagem do leite Paulista semidesnatado) 24) Na região de Ribeirão Preto (319 km de São Paulo), onde atua quatro das nove concessionárias de rodovias, o número de praças de cobrança municipais vai chegar a 15 no final do ano – são 18 os autorizados pelo Estado. (Folha de S.Paulo, 24/3/2000) 25) As denúncias não suficientemente esclarecidas quanto ao comportamento ético do ministro da Fazenda nos deixou ainda mais constrangidos, não só a mim, mas a companheiros do governo. (apud Vestibular FGV-SP) V) Complete as frases com o verbo SER:

1) A surpresa as flores. 2) Isso as trevas da noite. 3) Duzentos gramas suficiente. 4) Dois anos pouco para nos prepararmos. 5) Cinco milhões suficiente para a campanha.

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6) Esaú as delícias da velhice de Isaac, seu pai. 7) Isso aberrações da natureza. 8) Sua cama umas folhas de jornal. 9) Minha vida farrapos de pano que vou remendando dia a dia. 10) Ainda meio-dia e meia. 11) Sua vida só espinhos. 12) Os interessados nós. 13) Isto intrigas da oposição. 14) Quando seis horas, partiremos. VI) Assinale a alternativa correta: 1) (PUC) A crise no emprego da língua materna insere-se no contexto mais amplo das circunstâncias culturais em que as civilizações modernas. Numa época em que se todas as restrições e em que se a todas as normas estabelecidas, não há, seguramente, maior zelo pela linguagem. a) vivem - cancelaram – desobedece b) vive - cancelaram – desobedece c) vive - cancelou – desobedece d) vive - cancelaram – desobedecem e) vivem - cancelaram - desobedecem 2) (PUC) Convém que se levantem os problemas, que se reflita sobre os assuntos e não se tomem medidas apressadas. Substituindo-se os verbos sublinhados respectivamente por falar, avaliar e pensar, obtém-se a construção correta a) Convém que se fale dos problemas, que se avaliem os assuntos e não se pense em

medidas apressadas. b) Convém que se falem dos problemas, que se avaliem os assuntos e não se pensem

em medidas apressadas. c) Convém que se fale dos problemas, que se avalie os assuntos e não se pense em

medidas apressadas d) Convém que se falem dos problemas, que se avalie os assuntos e não se pensem em

medidas apressadas. e) Convém que se fale dos problemas, que se avalie os assuntos e não se pensem em

medidas apressadas. 3) (UFRGS) Não dúvidas de que de razão as críticas que se ao projeto. a) resta - carecem - fez b) resta - carece – fizeram c) resta - carece - fez d) restam - carecem - fizeram e) restam - carecem - fez

4) (PUC) Urge que se todas as recomendações, pois já meses que se os mesmos erros. a) façam - fazem - cometem b) façam - faz - comete c) faça - fazem - comete d) façam - faz – cometem e) faça - faz – comete

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5) (Univ. Fed. BA) Toda a verdade dos fatos , ainda que as revelações. a) será apurado - doa. b) serão apurados - doa. c) será apurada - doam. d) será apurado - doa. e) serão apurada - doam. 6) (Univ. Fed. BA) O meio passa a ter sentido graças às necessidades e aspirações do homem. Que valor os bens materiais se não as necessidades do homem e se não aspirações? a) teria - fosse - existisse b) teriam - fossem - existisse c) teriam - fossem - existissem d) teria - fossem - existissem e) teriam - fosse - existissem 7) (UB-MG) Nas duas margens, relva abundante; contudo, lá onde ervas perigosas, no matagal, é que os bois e os cavalos. a) crescem - existem - pastavam b) cresce - existem - pastavam c) cresce - existe - pastava d) cresce - existe - pastavam e) crescem - existe – pastava VI) Assinale a alternativa errada: 1) (Cesgranrio-RJ) Tendo em vista as regras de concordância, assinale a opção em que a forma verbal está errada: a) Existem na atualidade diferentes tipos de inseticidas prejudiciais à saúde do homem. b) Podem provocar sérias lesões hepáticas, os defensivos agrícolas à base de DDT. c) Faltam aos países subdesenvolvidos uma legislação mais rigorosa sobre os agrotóxicos. d) Persistem por muito tempo no meio ambiente os efeitos nocivos dos inseticidas clorados. e) Possuem elevado grau de toxidade os defensivos do tipo fosforado. 2) (UB-MG) - Assinale a alternativa em que a concordância do verbo está errada: a) Acho que devem bastar duas colheres de açúcar. b) Vão terminar acontecendo coisas desagradáveis. c) Eles acham que pode ficar faltando uma dúzia de ingressos. d) De fatos como esses decorre uma grande sensação de impunidade. e) Deve ter sobrado uns cinco reais.

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7 LINGUAGEM E MÍDIAS: MÍDIA ELETRÔNICA (RÁDIO) 1

As normas do texto jornalístico – clareza, concisão, objetividade, precisão,

simplicidade e correção – são as mesmas em qualquer veículo. Cada meio de comunicação, no entanto, tem sua especificidade.

O rádio informa o ouvinte através de notícias, reportagens, entrevistas e contribui para formar sua opinião através dos comentários de jornalistas abalizados. Cada vez mais surgem rádios all news, ampliando as possibilidades de atuação de jornalistas.

Veículo ágil que se dirige exclusivamente ao indivíduo e não à multidão, é uma fonte também de cultura, diversão e entretenimento. Canal de forte apelo popular, é o melhor para atingir rapidamente grandes massas.

Sua linguagem, apesar de planejada e estruturada, deve dar a impressão de naturalidade, de coloquialidade. Assim suas frases devem ser curtas e organizadas na ordem direta, com verbos na voz ativa.

A falta de imagens neste veículo obriga a mais explicações para que o ouvinte possa imaginar o que se conta.

Como este veículo não absorve a atenção total do ouvinte (que só tem uma chance para entender o que está sendo dito), a redundância é muito importante.

“O texto jornalístico segue normas universais. Em qualquer veículo, impresso

ou eletrônico o redator deve ser claro, conciso, direto, preciso, simples e objetivo. O que diferencia o texto do rádio em relação aos veículos da imprensa escrita é a instantaneidade. O ouvinte só tem uma chance para entender o que está sendo dito.

Lembre-se de que a mensagem no rádio se “dissolve” no momento em que é levada ao ar. Para que a missão de conquistar o ouvinte seja alcançada, o texto deve ser coloquial. O jornalista precisa ter em mente que está contando uma história para alguém, mas sem apelos à linguagem vulgar e, acima de tudo, respeitar as regras do idioma.

Veja algumas recomendações para a redação do texto no rádio. O aprimoramento vem com a prática, a consulta dos livros de gramática e muita leitura para enriquecer o vocabulário. 1) O texto no rádio pode ser corrido, quando lido por um único locutor, ou manchetado,

quando lido por dois locutores. No texto corrido, um período segue-se ao outro na página do computador; no estilo manchetado, os períodos são divididos geralmente em duas linhas cada. A decisão pelo uso do texto corrido ou manchetado cabe à direção da emissora e ao departamento de jornalismo.

2) O texto começa com o lead (o quê, quem, quando, onde, como e por quê). Procure a novidade, o fato que atualiza a notícia e a torna mais atraente possível. A missão do redator é conquistar o ouvinte na primeira frase. Se a primeira frase não levar á segunda, a comunicação está morta.

3) O texto deve ter uma sequência lógica, na ordem direta. A regra é simples: sujeito + verbo + predicado.

4) A pontuação merece atenção especial. O uso dos sinais ortográficos facilita a entonação da voz e a respiração do apresentador/locutor. Por exemplo, em frases interrogativas faça uso da técnica espanhola de pontuação. Colocando um sinal de interrogação no início da frase o apresentador/locutor não será pego de surpresa.

(¿) Quem será o campeão brasileiro? (¡) Atenção para esta informação!

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5) A adjetivação excessiva ou inadequada enfraquece a qualidade e o impacto na informação. Substantivos fortes e verbos na voz ativa reforçam a densidade indispensável ao texto jornalístico.

6) Evite frases longas: elas dificultam a respiração do apresentador/locutor e são mais difíceis de ser entendidas pelo ouvinte. Cada frase deve expressar uma ideia.

7) O texto precisa ter ritmo. Use frase curtas, mas que não sejam telegráficas. Evite frases intercaladas entre vírgulas.

8) Fique atento ao efeito sonoro das rimas e palavras com a mesma terminação. Não é agradável ouvir “o temporal na capital alagou a marginal”, ou “a organização da programação da televisão”.

9) Cuidado com os cacófatos. O encontro de sílabas de palavras diferentes pode formar som desagradável ou palavras obscenas: Boca dela, confisca gado, de então, ela tinha, marca gol, nunca gostou, nunca ganhou, por cada, por colocar, por razões, por rádio, toma linha, etc. Existem cacófatos que podem ser evitados substituindo-se a palavra por um sinônimo ou mudando-se a estrutura da frase: O prêmio por cada vitória O prêmio para cada vitória Nunca ganhou uma eleição Jamais gamou uma eleição

10) Não se usam artigos com nomes próprios, pois pressupõem intimidade incompatível com a linguagem jornalística. Assim, não use “o José Dirceu”, “o Ciro Gomes” ou “a Dilma”.

11) Os pronomes cujo, cuja não têm som agradável no rádio. 12) Avalie os verbos usados na declaração. Os mais usados são dizer e afirmar, cuidado

com o verbo falar, no rádio ele pode parecer óbvio se não for utilizado com bom senso. Informar significa relatar um fato. Garantir é assegurar, dar certeza absoluta. Declarar significa dizer. Admitir tem sentido de confessar. O verbo advertir é ambíguo, tem sentido de censurar, chamar atenção, etc.

13) O rádio é um veículo que exige agilidade dos jornalistas, mas a pressa não é desculpa para textos mal redigidos. A atenção é fundamental para se redigir um texto em tempo hábil e sem erros. Detalhes que parecem insignificantes comprometem a informação. Um exemplo: o ator fulano de tal, considerado o homem mais belo do Brasil, disse... (considerado o mais belo homem por quem?).

14) A revisão do texto em voz alta é a melhor maneira de evitar erros que “derrubam” o apresentador/locutor. Com a leitura em voz alta é possível descobrir problemas com sonoridade de palavras, concordância, cacófatos, frases sem sentido, enfim uma série de “defeitos” que podem comprometer a qualidade da informação.”

(Reproduzido, com supressões, de BARBEIRO, Heródoto; LIMA, Paulo Rodolfo de. Manual de radiojornalismo. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2003. Cap. 13)

O texto jornalístico para rádio17 pode apresentar-se sob duas modalidades: texto

corrido e texto manchetado: • texto corrido: Texto mais comum nas rádios, é interpretado por um só locutor; • texto manchetado: estrutura diferenciada para apresentação de programas noticiosos, muito utilizada por emissoras de SP e RJ. Dois ou três apresentadores apresentam notícias sob a forma de manchetes. Cada uma das apresentações não

17 É aconse lhável co locar um s ina l (pode ser “+” ou “ * “ ) no in íc io de cada l inha do tex to rad iofônico .

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deve ter mais de cem (100) toques. Isto é, trata-se de uma notícia escrita em takes ou manchetes. Cada manchete deve conter uma informação, eliminando-se os supérfluos. Cada take ou manchete possui no máximo duas linhas e meia.

 

Exemplos

A) Texto corrido

RETRANCA: UNITAU RECEBE VEREADORES

DATA: 05 DE SETEMBRO DE 2001 HORÁRIO: 8H30

LAUDA: 01X

LOC + A ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ RECEBEU A VISITA DE UMA COMITIVA DE VEREADORES DA CIDADE PARA A APRESENTAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS QUE SÃO DESENVOLVIDOS PELA UNITAU./ A APRESENTAÇÃO ACONTECEU NA TERÇA-FEIRA E FOI FEITA PELO ASSESSOR DE RELAÇÕES PÚBLICAS, PROF. JOSÉ FELÍCIO GOUSSAIN.

B) Texto manchetado

1)

LOC 01 + RECENTES ESTUDOS REALIZADOS POR PESQUISADORES JAPONESES ASSOCIAM O CONSUMO DO CHÁ VERDE AO MENOR RISCO DE DESENVOLVIMENTO DE ALGUMAS DOENÇAS. LOC 02 + COMO NO CASO DE CÂNCER DE PELE, PULMÃO, OVÁRIO E PRÓSTATA. LOC 01 + AS SUBSTÂNCIAS DE AÇÃO ANTIINFLAMATÓRIA E ANTIOXIDANTE BLOQUEIAM AS ALTERAÇÕES CELULARES QUE DÃO ORIGEM AOS TUMORES. LOC 02 + A BEBIDA DE ORIGEM ORIENTAL TAMBÉM AJUDA NO PROCESSO DE EMAGRECIMENTO, POR CAUSA DA SUA AÇÃO DESINTOXICANTE, DIGESTIVA E DIURÉTICA. LOC 01 + O IDEAL É FAZER O USO DO CHÁ EM CONJUNTO COM UMA DIETA SAUDÁVEL. LOC 02 + JÁ QUE O SEU USO EM EXCESSO PODE LEVAR A UMA GASTRITE DEVIDO À CAFEÍNA. LOC 01 + ELE TAMBÉM AJUDA A CONTROLAR A PRESSÃO ARTERIAL, ATIVA O SISTEMA IMUNOLÓGICO E DIMINUI O RISCO DE ARTROSE E OUTRAS DOENÇAS DEGENERATIVAS. LOC 02 + APESAR DO SEU SABOR AMARGO, O CHÁ AUXILIA AINDA NA PREVENÇÃO DE CÁRIES E COMBATE INFECÇÕES NA GARGANTA, QUANDO UTILIZADO EM GARGAREJOS. 2) Texto Manchetado (Helder BuchivieserChizoti)

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LOC 01 + O REMO E A CANOAGEM INVADIRAM SÃO PAULO E ESCOLAS DA PERIFERIA AGORA TÊM AULAS GRATUITAS DESSES ESPORTES. LOC 02 + A REPRESAGUARAPIRANGA, SITUADA NA ZONA SUL DE SÃO PAULO, ABRIU VAGAS PARA ALUNOS DE TODAS AS IDADES PARA A PRÁTICA DO REMO E DA CANOAGEM. LOC 01 + A CONSTRUÇÃO DA REPRESA DATA DE 1906, MAS A PARTIR DOS ANOS 30, COM A CHEGADA DA POPULAÇÃO LOCAL TORNA-SE MAIS UM ATRATIVO NÁUTICO DE SÃO PAULO. LOC 02 + CONVERSAMOS COM ALGUNS ALUNOS PARA SABER MAIS SOBRE ESSES ESPORTES QUE ESTÃO SE TORNANDO POPULARES ENTRE ADULTOS E CRIANÇAS TAMBÉM. LOC 01 + A REMADORA THAIS CRISTINA PEDRELLA,QUE JÁ TRAZ NA BAGAGEM ALGUMAS MEDALHAS, ENUMEROU DIVERSOS BENEFÍCIOS CONSEGUIDOS COM A PRÁTICA DO REMO. LOC 02 + THAIS DISSE QUE NOS DIAS MAIS ESTRESSANTES CRAVA O REMO COM TODA A FORÇA NAS ÁGUAS TRANQUILAS DA REPRESA E VOLTA PARA CASA ALIVIADA. LOC 01 + SEM FALAR O ENTROSAMENTO COM O MEIO AMBIENTE, QUE NEUTRALIZA QUALQUER PENSAMENTO NEGATIVO E ACALMA A ALMA. LOC 02 + JÁ O CANOÍSTA-MIRIM RENAM CARLOS, DE 9 ANOS, PREFERE OS DIAS QUENTES, POIS O PROFESSOR AO FINAL DA AULA LIBERA PARA UM DELICIOSO BANHO DE REPRESA. LOC 01 + MÁRCIO PAULO, QUE JÁ DISPUTOU PROVAS FORA DO PAÍS, TEM A MAIOR BOA VONTADE DE ENSINAR OS ALUNOS NOVATOS QUE FAZEM INSCRIÇÃO A TODA SEMANA E REVELA QUE FAZ ISSO COM MUITO PRAZER”. LOC 02 + MUITAS PESSOAS ACHAM QUE TÊM DE FREQUENTAR ACADEMIAS PARA PRATICAR ALGUM ESPORTE, MAS SÃO PAULO TEM DIVERSOS ATRATIVOS ESPORTIVOS PARA QUEM NÃO QUER FICAR PARADO. LOC 01 + REMO E CANOAGEM SÃO ALGUMAS DESSAS OPÇÕES. AGUARDEM PARA A SEMANA QUE VEM MAIS DICAS SOBRE O QUE FAZER EM SÃO PAULO. 3) Texto manchetado

RETRANCA: PRISÃO DE SUSPEITOS COM DROGAS/CAMPOS DO JORDÃO DATA: 29 JULHO 2002 - LAUDA: 01X LOC 1 + A POLÍCIA DE CAMPOS DO JORDÃO PRENDEU NO SÁBADO,

DOIS TURISTAS QUE PORTAVAM UMA GRANDE QUANTIDADE DE DROGA./

LOC 2 + GUILHERME DE FREITAS E MARCOS CÉSAR KAUPERT SÃO

ACUSADOS DE PORTAR 59 TUBOS DE LANÇA-PERFUME E 25 PÍLULAS DE ECSTASY./

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LOC 1 + ELES FORAM DETIDOS NA RODOVIÁRIA DE CAMPOS DO JORDÃO QUANDO DESCIAM DE UM ÔNIBUS QUE VINHA DE SÃO PAULO./

LOC 2 + A POLÍCIA MILITAR INFORMOU QUE ELES ESTAVAM EM

ATITUDE SUSPEITA QUANDO FORAM REVISTADOS E PRESOS EM FLAGRANTE./

LOC 1 + ALÉM DE LANÇA-PERFUME E ECSTASY, A POLÍCIA

TAMBÉM ENCONTROU MACONHA E HAXIXE COM OS DOIS SUSPEITOS./

LOC 2 + GUILHERME E MARCOS CÉSAR ESTÃO DETIDOS NA CADEIA

PÚBLICA DE CAMPOS DO JORDÃO, ONDE VÃO AGUARDAR JULGAMENTO./

7.1 APOIO FUNCIONAL REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL Regência é o mecanismo que regula as ligações entre verbo ou nome (termos regentes) e seus complementos (termos regidos). Como a linguagem oral é sempre mais distendida, mais coloquial, existem (e muitas!) regências defendidas pela norma culta às quais a oralidade (pelo menos no Brasil) não obedece. Esteja atento a elas e saiba em que situação deverá optar por uma ou por outra.

Em questão de regência, as preposições desempenham papel importantíssimo, por isso um dicionário de regência verbal e nominal resolve todas as dúvidas. – Ele referiu-se ao artista plástico. → regência verbal – Ele fez referência ao artista plástico. → regência nominal – Fez comentários referentes ao artista plástico. → regência nominal – Falou referentemente ao artista plástico. → regência nominal Atenção à regência de alguns verbos18.

1 – Agradar • transitivo direto (sem preposição) = contentar, fazer carinhos.

Agradou o patrão com flores.// Agradou o cachorro. • transitivo indireto (rege preposição a) = satisfazer.

As medidas não agradaram ao povo (à população). 2 – Aspirar • transitivo direto (sem preposição) = sentir o cheiro, respirar.

Eu aspiro o ar poluído. • transitivo indireto (rege preposição a) = desejar, pretender.

Aspiramos aos mais altos postos (às mais altas honrarias). 3 – Assistir • transitivo direto (sem preposição) = socorrer, ajudar.

18 Um bom dicionário de regência verbal e nominal resolve qualquer problema. Duas sugestões: LUFT, Celso Pedro. Dicionário prático de regência verbal. São Paulo: Ática, 2003; embora não seja um dicionário específico de regência, o Caldas Aulete (cujo download é gratuito) resolve a maioria dos problemas.

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O médico assiste o doente (a doente).// Dois padres assistem o moço (a moça). • transitivo indireto (rege preposição a) = ver, presenciar.

Assisti ao debate (à novela). 4 – Atender • complemento pessoa = transitivo direto (sem preposição) ou transitivo

indireto (rege preposição a). Atendeu o cliente (a cliente) ou Atendeu ao cliente (à cliente).

• complemento coisa = transitivo indireto (rege preposição a). Atendeu ao telefone e à porta ao mesmo tempo.

5 – Chegar/Ir Regem a preposição a antes do adjunto adverbial. Chegamos ao local. Irão à escola. Chegamos a Campinas. Foram ao jogo.

6 – Custar No sentido de ser difícil, deve ser empregado na 3ª pessoa do singular e ter por sujeito uma oração reduzida de infinitivo. Custou-me conseguir passagem. // Custa a ele permanecer quieto. Assim, não se diz: Custei a achar um táxi. Mas, Custou-me achar um táxi.

7 – Esquecer/Lembrar • não pronominal = transitivo direto (sem preposição).

Esqueci a carteira. Lembro os fatos. • pronominal (lembrar-se, esquecer-se) = transitivo indireto (regem preposição de).

Esqueci-me da carteira. Lembro-me dos fatos.// Esqueceram-se de mim 8 – Implicar • transitivo direto (sem preposição) = acarretar.

O atraso implicará perda dos direitos. (Como se vê, não se usa a preposição em)

• transitivo indireto (rege a preposição com) = ter implicância. O velho implica com os netos.

• pronominal (implicar-se) = envolver-se em situações. João implicou-se em negócios escusos.

9 – Obedecer/Desobedecer Sempre transitivos indiretos, regendo a preposição a. Ela obedece sempre aos seus instintos (às suas paixões). João desobedece ao farol (à ordem).

10–Pagar/Perdoar • quando o objeto refere-se a coisa = transitivo direto.

Não pagamos a conta de luz. (= objeto – coisa) Perdoaram o seu erro. (= objeto – coisa)

• quando o objeto refere-se a pessoa = transitivo indireto (rege preposição a). Já pagamos à empregada. (= objeto – pessoa) Perdoamos sempre aos entes queridos. (= objeto – pessoa)

11–Preferir Transitivo direto e indireto (rege preposição a). Prefiro doces a salgados. Todos preferiam o elogio à censura.

Atenção: não se usa do que, nem muito mais, mil vezes etc. Em preferir já existe o prefixo com tais ideias. Assim, é errado dizer: Prefiro o cinema do que o teatro. / Prefiro muito mais o cravo que a rosa. Diga: Prefiro o cinema ao teatro. /Prefiro o cravo à rosa.

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12–Proceder • intransitivo = ter procedência, ter fundamento.

Sua reclamação não procede. • intransitivo = provir (rege preposição de).

O avião procede de Roma. • transitivo indireto (rege preposição a) = dar início.

O professor procedeu à chamada. 13–Querer • transitivo direto = desejar.

Não quero este livro. • transitivo indireto (rege preposição a) = estimar, gostar.

Quero (bem) a meu sobrinho. 14–Responder

Transitivo indireto (rege preposição a) = dar resposta. Responda ao questionário. Não respondi à carta de Paulo.

15–Simpatizar Transitivo indireto (rege preposição com). Simpatizo com suas ideias liberais. Jamais se deve usá-lo pronominalmente. Assim, não se deve dizer: Simpatizo-me com ela. Mas Simpatizo com ela.

16–Visar • transitivo direto = mirar, apontar a arma.

Ele visou o animal. • transitivo direto = passar visto, assinar.

O diretor visou os requerimentos. • transitivo indireto (rege preposição a) = objetivar, ter em vista.

Não visamos a lucros excessivos (a nenhuma condecoração).// Visavam ao bem-estar da população (à felicidade da população). Carlos só visava ao poder.

17–Pronome relativo: que, quem, o/a qual, os/as quais, onde, cujo/a, cujos/as Quando o pronome relativo funciona como complemento de um verbo, deve-se respeitar-lhe a regência. Gostei do filme que vi. (quem vê, vê alguma coisa (sem preposição)

a que assisti. (quem assiste, assiste a alguma coisa) de que o crítico falara. (quem fala, fala de alguma coisa) a que ele se opôs. (quem se opõe, opõe-se a alguma coisa)

18–Verbos com regências diferentes: é erro comum colocar-se um só complemento para verbos com regências diferentes. Ex.: Ele entra e sai da sala a todo momento.

Há dois verbos – entrar e sair – cada qual com sua regência: entrar em // sair de. Assim a frase correta é: Ele entrava na sala e dela saía a todo momento.

Regência Nominal Aqui está uma pequena relação de substantivos e adjetivos acompanhados de suas preposições mais usuais: acessível a

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acostumado a, com afável com, para com agradável a alheio a, de insensível a análogo a liberal com ansioso de, para, por medo a, de apto a, para natural de aversão a, por necessário a ávido de nocivo a benéfico a obediência a capacidade de, para ojeriza a, por capaz de, para paralelo a compatível com parco em, de contemporâneo a, de passível de contíguo a possível de contrário a preferível a curioso de, por prejudicial a descontente com prestes a desejoso de propício a diferente de próximo a, de entendido em relacionado com equivalente a respeito a, com, para com escasso de satisfeito com, de, em, por essencial para semelhante a fácil de sensível a fanático por sito a favorável a suspeito de generoso com união a, com, de, entre grato a útil a, para hábil em vazio de habituado a horror a versado em idêntico a impróprio para indeciso em Exercícios I - Corrija as frases que apresentem problemas quanto à regência (lembre-se de que o que estamos pedindo é a norma culta): 1) Assistimos um belo espetáculo. 2) O médico assistiu ao doente. 3) Preferia viajar do que trabalhar. 4) Custei a entender o sentido da frase. 5) Obedeça a sinalização 6) O juiz procedeu o julgamento. 7) Esta alternativa obedece o padrão da gramática normativa. 8) Em Cubatão, aspira-se a um ar poluído. 9) Perdoei Antônio.

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10) Informei-lhe de que os documentos haviam chegado. 11) Chegando em Cuiabá, procedeu o julgamento do jogador. 12) Não esqueci os compromissos. 13) Lembrei de alguns pormenores. 14) Esqueci de seu nome. 15) Esqueceu do guarda-chuva. 16) Prefiro ser sincero do que mentir aos meus amigos. 17) Preferimos mil vezes ficar em casa do que ir no teatro. 18) O desrespeito ao regulamento implica em multa pesada. 19) Os motoristas irresponsáveis não obedecem os sinais de trânsito. 20) Há um grande número de pessoas que não entende e não se interessa por política. II- Complete as frases com as preposições exigidas pelos verbos: 1. São filmes que assisto com frequência. / São filmes quais assisto com frequência. 2. Não vamos tocar em fatos que já nos esquecemos. / Não vamos tocar em fatos quais já nos esquecemos. 3. São filmes que as crianças gostam. / São filmes quais as crianças gostam. 4. Este é o cobiçado prêmio que aspiro. / Este é o cobiçado prêmio qual aspiro. 5. O escritor cuja obra falei morreu ontem. 6. É este o livro cujas personagens me referi. 7. Acataremos ordens do presidente cuja probidade não temos o direito de duvidar. 8. As opiniões que me oponho são inconsistentes. / As opiniões quais me oponho são inconsistentes. 9. Os fatos. que me lembro ocorreram no ano passado. / Os fatos quais me lembro ocorreram no ano passado. 10. São pessoas quem dedico profunda estima. / São pessoas quais dedico profunda estima. 11. O vizinho quem desconfio usa roupas escuras./ O vizinho qual desconfio usa roupas escuras. 12. Ele é um professor cujas palavras confio. 13. Esta é a marca que os esportistas confiam. III- Junte as duas orações num só período, fazendo uso de um pronome relativo. Se necessário, use preposições antes dos pronomes: 1. Comi uma fruta. Não lembro o nome dessa fruta. 2. Todos estão pleiteando o cargo. Nós aspiramos a ele. 3. O Brasil tem muitos eleitores semi-alfabetizados. Alguns políticos tentam agradar a esses eleitores. IV- Substitua os verbos grifados pelos indicados: 1) Eles queriam a segurança de suas famílias. (visar)

Eles segurança de suas famílias. 2) Com essas medidas, ela tem por objetivo a manutenção da disciplina. (visar)

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Com essas medidas, ela manutenção da disciplina. 3) As novas medidas não satisfizeram a população. (agradar)

As novas medidas não população. 4) Todos acataram as normas da casa. (obedecer)

Todos normas da casa. 5) Esses patrões nunca remuneraram decentemente aqueles funcionários. ( pagar)

Esses patrões nunca decentemente funcionários. 6) Esta atitude resultará em prejuízo à sociedade. (implicar)

Esta atitude prejuízo à sociedade. 7) Os que viram o debate, gostaram mais do Maluf que da Erundina. (assistir e preferir)

Os que debate, Maluf Erundina. Os que debate, o Maluf Erundina.

8) A mulher tinha afeição pelo garoto. (querer) A mulher garoto.

9) O jogador não se esqueceu de sua origem humilde. (esquecer) O jogador não sua origem humilde.

10) As empresas que conheci são parceiras do governo. (simpatizar)

11) Desperdício de água resultará em desertificação do planeta. (implicar) Desperdício de água desertificação do planeta.

12) Gosto mil vezes mais de doce do que de salgado. (preferir)

13) A atitude do modelo não satisfez o empresário. (agradar) A atitude da modelo não empresário.

14) A propaganda a seguir mostra uma inadequação sintática.

a) Qual a inadequação aí presente? b) Reescreva a frase de forma a eliminar a inadequação.

VI- Utilize a preposição adequada:

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1) Manteve-se alheio comentários ferinos dos adversários. 2) Ler é sempre preferível .assistir a certos programas humorísticos. 3) Ela era devota . Santa Rita. 4) Nutria um ódio figadal tudo que era estrangeiro. 5) Não se tem mais respeito . idosos. 6) Em seu romance, o escritor fez uma alusão elogiosa sertanista. 7) Eu já me havia acostumado calor de 40 graus. 8) O edifício, localizado Rua das Palmeiras, será implodido. 9) Fulano de Tal, residente Rua Tal, deve comparecer à delegacia do bairro. VII – Com verbos transitivos indiretos não é possível haver voz passiva. Corrija as frases abaixo: 1) O jogo foi assistido por uma plateia agitada. 2) As placas de sinalização não costumam ser obedecidas pelos motoristas. 3) Cargos de diretoria às vezes são aspirados por pessoas pouco competentes.

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8 LINGUAGEM E MÍDIAS: MÍDIA ELETRÔNICA (RÁDIO) 2

REPORTAGEM

A reportagem é o tipo de produção radiojornalística que mais privilegia a participação do repórter. Assim, o locutor apenas abre a matéria (apresenta o lide) e a divulgação do restante do material fica a cargo do repórter. A reportagem finalizada terá três partes fundamentais:

• cabeça: início da reportagem onde o repórter vai situar o assunto antes de entrar com o entrevistado; • entrevista: trechos principais da fala do entrevistado, entremeados por ganchos apresentados pelo repórter; • pé: finalização da matéria em que o repórter dá uma última informação e assina a reportagem.

Na reportagem, o jornalista deve elaborar a “cabeça da matéria”, que vem sempre antes da entrevista. O objetivo é situar o assunto para o ouvinte antes de começar a repercuti-lo com o entrevistado. Depois de concluída a entrevista, também deve ser elaborado o “pé da matéria”, uma última informação sobre o assunto da reportagem. Modelo de Reportagem O COMÉRCIO NO RECIFE LOC: O COMÉRCIO DO CENTRO DO RECIFE, ATRAIU AO LONGO DO TEMPO, UMA COMPLEXA REDE DE NEGÓCIOS FORMAIS E INFORMAIS. O PORTO DO RECIFE, RESPONSÁVEL PELO ESCOAMENTO DA PRODUÇÃO LOCAL, PRINCIPALMENTE DA CANA DE AÇÚCAR, FOI O MAIOR ATRATIVO PARA OS COMERCIANTES. O PROFESSOR DE HISTÓRIA ERNANI SOUTO ANDRADE, DESTACA ESSE MOMENTO: TEC: RODA ENTREVISTA COM ERNANI SOUTO D.I – "O PORTO PELO MENOS..." D.F – "...COMÉRCIO INFORMAL." EMENDA COM D. I- "COM A PRESENÇA HOLANDESA..." D.. F – "...PEQUENO PORTE."

LOC: UM MARCO REPRESENTATIVO DO COMÉRCIO DO RECIFE, É O MERCADO DE SÃO JOSÉ, QUE FOI INAUGURADO NO SÉCULO DEZENOVE. COM ESTRUTURA EM FERRO E MAIS DE QUINHENTOS BOXES, É UM DOS MERCADOS PÚBLICOS MAIS ANTIGOS DO PAÍS, CONHECIDO POR PRODUTOS DIVERSIFICADOS E TRADIÇÃO FAMILIAR. JOSÉ RUBENS DE ARAÚJO É UM EXEMPLO, SEU COMERCIO JÁ PASSOU DE PAI PARA FILHO: TEC: RODA ENTREVISTA COM JOSE RUBENS DE ARAÚJO

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D. I – "EU TO AQUI HÁ..." D.F – "...VINHA E SE ABASTECIA AQUI." EMENDA COM: D.I – "HOJE TEM AÍ GRANDES REDES..."DF – "...TODO EM ARTESANATO." LOC: NA DÉCADA DE OITENTA, O COMÉRCIO DO CENTRO DO RECIFE, SOFREU VÁRIAS MUDANÇAS. ALÉM DAS ATIVIDADES PORTUÁRIAS, TRANSFERIDAS PARA O COMPLEXO DE SUAPE, A CONSTRUÇÃO DO SHOPPING CENTER RECIFE, E OUTROS CENTROS DE COMPRAS, TIVERAM REPERCUSSÕES DIRETAS SOBRE A DIMINUIÇÃO DO MOVIMENTO DO COMÉRCIO NOS BAIRROS CENTRAIS. MUITOS MORADORES COMO A JORNALISTA MARCELA WANDERLEY ADERIRAM A ESSA NOVA FORMA DE FAZER COMPRAS: TEC: RODA ENTREVISTA D.I – "EU PREFIRO FAZER..." D.F – "...DE SUAS LOJAS." LOC - APESAR DAS VANTAGENS DOS MODERNOS SHOPPINGS, MUITOS PERNAMBUCANOS PERMANECEM FIÉIS AO COMÉRCIO DO CENTRO DO RECIFE: TEC: RODA ENTREVISTA COM: D.I - "O CENTRO DA CIDADE..." D.F – "...DE COMÉRCIO MAIS POPULAR." LOC – UMA PREOCUPAÇÃO CONSTANTE DE QUEM FREQUENTA O CENTRO DA CIDADE É A FALTA DE SEGURANÇA: TEC: RODA ENTREVISTA D.I – "VOCÊ ANDA ASSUSTADA..."D.F – "...VOCÊ TÁ SOFRENDO."

LOC – COM O OBJETIVO DE MELHORAR O COMÉRCIO NO CENTRO DO RECIFE, NO INÍCIO DA DÉCADA DE NOVENTA, A PREFEITURA DA CIDADE REVITALIZOU O CENTRO. ALÉM DA REFORMA DE ANTIGOS CASARÕES E URBANIZAÇÃO DAS RUAS, O GOVERNO MUNICIPAL CONSTRUIU O CALÇADÃO DOS MASCATES, MAIS CONHECIDO COMO CAMELÓDROMO. HOJE A REALIDADE É OUTRA, O LOCAL FUNCIONA EM CONDIÇÕES PRECÁRIAS, DENUNCIA A COMERCIANTE CARMEM SILVA: TEC: RODA ENTREVISTA COM CARMEM SILVA D I– "O MINHA FILHA..". D F – "...DIFICULDADE MUITO GRANDE." LOC - APESAR DE SER UMA CIDADE HISTORICAMENTE LIGADA AO COMÉRCIO, A TAXA DE DESEMPREGO NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE, ATINGIU MAIS DE VINTE POR CENTO EM FEVEREIRO DESTE ANO, COM TREZENTOS E TRINTA E DUAS MIL PESSOAS DESEMPREGADAS. É O SEGUNDO MAIOR ÍNDICE DE DESEMPREGO ENTRE AS SEIS REGIÕES

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PESQUISADAS PELO DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS (DIEESE), PERDENDO APENAS PARA SALVADOR, COM VINTE E DOIS VÍRGULA TRÊS POR CENTO. A FALTA DE EMPREGO É REFLETIDA NO GRANDE NÚMERO DE COMÉRCIO INFORMAL NO CENTRO DA CIDADE, UM EXEMPLO É JOSÉ MORAIS QUE VENDE APARELHOS ELETRÔNICOS NA RUA NOVA: TEC: RODA ENTREVISTA COM JOSÉ MORAIS D.I – "HÁ UM ANO QUE..." D.F – "...FICANDO MAIS COMPLICADAS." LOC – MESMO NÃO VIVENDO SEU MELHOR MOMENTO, O COMÉRCIO DO RECIFE AINDA É FORTE. SEGUNDO O PRESIDENTE DA FECOMÉRCIO, JOSIAS ALBUQUERQUE, O SETOR É RESPONSÁVEL POR GRANDE ARRECADAÇÃO DE IMPOSTOS E GERAÇÃO DE EMPREGOS. TEC: RODA ENTREVISTA COM JOSIAS ALBUQUERQUE D. I – "O COMÉRCIO DO RECIFE.."D.F – "...O COMÉRCIO DE PERNAMBUCO."

BANCO DE PRONÚNCIAS

Diga e não ABSSOLVER ABISSOLVER ABSORVER ABISORVER ABSURDO ABISURDO ADMINISTRAR ADIMINISTRAR ADVOGADO (AD’VOGADO) ADIVOGADO/ADEVOGADO AFTA ÁFITA ALGARAVÍA19 ALGARÁVIA ALGÔZ OU ALGÔZES ALGÓZ OU ALGÓZES ÁLIBI ALIBÍ ou ALÍBI ALÍQUOTA (ALÍCOTA) ALICÓTA ALMÍSCAR ALMISCÁR ALVEDRÍO20 ALVÉDRIO AMBIDÊSTRU AMBIDÉSTRO AMIÚDE21 AMIUDE No caso de AMNÉSIA, pode ser dito tanto AMNÉZIA quanto Amnezía AMÓRFO AMÔRFO ANTIOQUIA ANTIÓQUIA APAZIGÚE APAZIGÜE APTIDÃO APITIDÃO ÁPTO ÁPITO AQUEDUTO (AKEDÚTU) ACUEDÚTU ARGÚIR (Sempre com o U sonoro) ARGÜIR ATMOSFERA (AT’MOSFÉRA) ATIMOSFÉRA Entre dizer AUTÓPSIA ou AUTOPSIA, diga NECROPSIA AVÁRO ÁVARO AZIAGO22 (AZIÁGU) AZÍAGO

19 Algaravia: linguagem muito confusa, incompreensível. 20 Alvedrio: livre vontade; arbítrio, moto-próprio. 21 Amiúde: frequentemente.

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Pode-se dizer Biópsia (Bióp’ssia) ou Biopsia (Biop’ssía) BODAS (Bôdas) BÓDAS BOÊMIA BOEMÍA CACAREJAR CACARÉJAR CANHESTRU (CANHÊSTRU) CANHÉSTRU CAPCIOSO (CAP’CIÔZU) CAPICIÔZU CAPTAR (CAP’TAR) CAPITAR CAPTURA (CAP’TÚRA) CAPITÚRA CARACTERES (Caraktéris) CARÁTERIS CARÓÇUS, CARÓCINHOS CARÔÇOS CASSETETE (Cacetéti) Cacetêti CATETER (Catetér) CATÉTER CEREBELO (Cerebêlu) CEREBÉLO CIRCUITO (Circúitu) CIRCUÍTO CLITÓRIS CLÍTORIS CÓCCIX (Cóksis) CÓCIS ou CÓKIS CONDOR (Condôr) CÔNDOR CRISÂNTEMO (Crizântemu) Crizantêmu DECANO (Decânu) DÉCANO DECEPÇÃO (Dcep’çáu) DECEPIÇÃO DESIGNAR (Desig’nar) DESIGUINAR DÊSTRA DÉSTRA DIAFRAGMA DIAFRAGUIMA DIAGNÓSTICO DIAGUINÓSTICO DISPÓSTOS DISPÔSTOS DISTINGUIR (Distinghir) DISTINGÜIR DOGMA (Dóg’ma) DÓGUIMA DÓLO23 DÔLO ENIGMA (Eníg’ma) ENÍGUIMA EXTINGUIR (Extinghir) EXTINGÜIR EXTRA (Êstra) Éxtra GRATUITO (Gratúito) GRATUÍTU IBERO (ibéru) ÍBERO IGNÓBIL24 (ig’nóbil) IGUINÓBIL INCESTO (incéstu) INCÊSTO ÍNTERIM (ínterim) I NTERÍM IRASCÍVEL25 (iracível) IRRACÍVEL JOANETE (joanêti) JOANÉTI JUNIORES (juniôris) JUNIORS LÁTEX (láteks) LATÉKS MANEJA (manêja) MANÉJA MOOCA (Mo-óca) MÓCA MURCHAR MUCHAR NOBEL (Nobél) NÓBEL OCCIPITAL (Okcipital) OCIPITAL

22 Aziago: nefasto, que traz má sorte. 23 Dolo: em direito penal, a deliberação de violar a lei, por ação ou omissão, com pleno conhecimento da criminalidade do que se está fazendo. 24 Ignóbil: que não é nobre, que inspira horror do ponto de vista moral, de caráter vil, baixo. 25 Irascível: que ou quem tem gênio exaltado, que ou aquele que é dado a irritar-se, a encolerizar-se com facilidade.

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PIGMEU (pig’mêu) PIGUIMÊU PNEU (p’neu) PINEU/PENEU POÇA (pôça) PÓÇA PROGNÓSTICO (Prog’nósticu) PROGUINÓSTICU PSEUDO (P’sêudu) PISSÊUDU PSIQUE (P’síki) PISSÍKI / PISSIKÊ PUDICO26 (Pudícu) PÚDICO PUGNA (Púg’na) PÚGUINA RECORDE (Recórdi) RÉCORDE RUBRICA (Rubríca) RÚBRICA RUIM (RU-IM) RÚIM SUBSÍDIO (SUBSSÍDIO) SUBIZÍDIO XÉROX (Xéroks) XERÓX

26 Pudico: que tem pudor; recatado, casto; que se mostra ou é tímido, acanhado, envergonhado.

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9 LINGUAGEM E MÍDIAS: MÍDIA ELETRÔNICA (TV) 1

A imagem em movimento é o grande trunfo da televisão em relação ao rádio e

ao jornalismo impresso. O papel da palavra neste veículo, cujos atributos são o imediatismo, a agilidade e a instantaneidade, é dar apoio ao visual e criar um amálgama tal que transmita a mensagem de maneira clara, sem redundâncias texto/imagem.

Assim como no rádio, as frases devem ser curtas, organizadas na ordem direta, sem intercalações, claras, objetivas e diretas. Atenção redobrada à cacofonia evita frases como A seleção já está na concentração em preparação para o jogo contra o Japão (escreva: A seleção já está concentrada e prepara-se para o jogo contra o Japão). Elementos de programas jornalísticos na TV • ESCALADA: São as manchetes de um telejornal, lidas pelos apresentadores

sempre no início de cada edição. Normalmente a escalada inicia-se com assuntos mais fortes e importantes até chegar a temas mais leves como esporte ou vida animal. Serve para aprender a atenção do telespectador no início do jornal e informar quais serão as principais notícias daquela edição. A narração pode ou não ser coberta por imagens.

Exemplo de escalada do Jornal Nacional, da Rede Globo, em 8 de setembro de 2009: QUATRO MORTOS EM SANTA CATARINA// MAIS DE CEM FERIDOS EM TRÊS ESTADOS// A REGIÃO SUL SOFRE COM TEMPESTADES E VENTOS DE MAIS DE CEM QUILÔMETROS POR HORA// NO SUDESTE O DIA VIRA NOITE NA MAIOR CIDADE DO PAÍS// VENDAVAL TAMBÉM ATINGE A ARGENTINA// E DEIXA DEZ MORTOS// SEGUNDO DIA DE VIOLÊNCIA EM SALVADOR// BANDIDOS INCENDEIAM ÔNIBUS E VOLTAM A ATACAR A POLÍCIA// A FIFA CRITICA O PROJETO DO MORUMBI PARA A COPA DE 2014 NO BRASIL// NA VÉSPERA DO JOGO CONTRA O CHILE, QUEM SÃO OS JOGADORES QUE AINDA NÃO PERDERAM NA SELEÇÃO DE DUNGA// NA SÉRIE SOBRE OS NOSSOS QUARENTA ANOS, A REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA E AS CONQUISTAS DA CIÊNCIA// AGORA, NO JORNAL NACIONAL.//

• CABEÇA: quem lê é sempre o apresentador que introduz o assunto da matéria feita pelo repórter. Cabeça da matéria ou cabeça do VT é o lide da matéria.

• OFF: Texto narrado sobre o qual são editadas as imagens das reportagens.

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• SONORA: Entrevista gravada, aproveitada ou não na edição.

• POVO-FALA: Sequência de sonoras curtas sobre um mesmo assunto. Muito utilizada para inserir a opinião de populares.

• PASSAGEM: É o momento em que o repórter aparece na matéria. É utilizada para passar informações importantes e/ou informações das quais não se possa ter imagens. A passagem pode ser utilizada ainda como plot (ponto de virada) na narrativa da reportagem. Trata-se da gravação feita pelo repórter no local do acontecimento, com informações a serem usadas no meio da matéria.

• ENCERRAMENTO: Repórter em quadro ao final da matéria, com informações que “amarrem” o texto. Pode ou não trazer a assinatura do repórter ou da equipe.

• ASSINATURA: Última frase ou texto em off ou do encerramento da reportagem. Na maioria dos casos, o repórter diz seu nome, o local onde está e o jornal em que está sendo veiculada a reportagem.

• SOBE SOM: Som ambiente aproveitado na estrutura da reportagem ou trilha musical colocada de fundo para as imagens. Não há narração em off nesse caso.

• ARTES: Ilustração visual computadorizada, utilizada para facilitar a compreensão do telespectador. Costuma-se usar em matérias que têm gráficos, tabelas e/ou números.

• NOTA-PÉ: Texto curto, lido pelo apresentador em estúdio e que traz informações complementares à matéria.

O relatório de reportagem é o texto em que o repórter prevê a cabeça da matéria,

os offs, as passagens, as sonoras. É um roteiro para o editor de texto montar a matéria. Veja o exemplo a seguir, disponível em: http://jornal.metodista.br/tele/manual/reportagem.htm

Relatório de Reportagem Retranca: Nepotismo/ABC

Pauteiro: Silvia Luisa Melo Repórter: Silvia Luisa Melo

Equipe: André Cezarino Thiago Padovanni

SUGESTÃO DE CABEÇA: A REGIÃO DO ABC SOMA QUARENTA E DOIS CASOS DE NEPOTISMO NAS CÂMARAS DOS VEREADORES DAS CIDADES. ENTIDADES DA REGIÃO ESTUDAM MANEIRAS DE COMBATE À PRÁTICA.

OFF1: A DISCUSSÃO SOBRE A CONTRATAÇÃO DE PARENTES EM CARGOS PÚBLICOS VOLTOU À DISCUSSÃO DEPOIS DAS DECLARAÇÕES DO PRESIDENTE DA CÂMARA FEDERAL, SEVERINO CAVALCANTI, QUE DISSE ACHAR NORMAL A NOMEAÇÃO DE PARENTES SEM CONCURSO. A PRÁTICA É ANTIGA NO BRASIL E AS CÂMARAS MUNICIPAIS DO ABC NÃO SÃO EXCEÇÕES.

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OFF2: EM RIBEIRÃO PIRES, DOS QUARENTA E SETE FUNCIONÁRIOS DA CÂMARA, ONZE SÃO PARENTES DE VEREADORES. DEPOIS DE RIBEIRÃO, MAUÁ É QUE TEM O MAIOR ÍNDICE DE NEPOTISMO. SÃO DOZE PARENTES DE VEREADORES CONTRATADOS ENTRE OS CENTO E QUINZE FUNCIONÁRIOS. A CÂMARA DE DIADEMA TEM APENAS DOIS CASOS. EM SANTO ANDRÉ DOS CENTO E DEZOITO ASSESSORES NOMEADOS, ONZE TÊM ALGUM GRAU DE PARENTESCO COM OS PARLAMENTARES. OS SALÁRIOS SÃO EM MÉDIA DE R$ 2,5 MIL.

SONORA: VEREADOR DE STO ANDRÉ/ DR. AIDAN RAVIN: “EU CONTRATEI ALGUMAS PESSOAS, PARENTES. POR QUÊ? POR CONFIANÇA, QUALIDADE. MEU IRMÃO É ADVOGADO E SEMPRE TRABALHOU COMIGO. (...) ENTÃO O PROBLEMA DE SER PARENTE OU NÃO, EU ACHO QUE ELE TEM QUE TER COMPETÊNCIA E TEM REALMENTE QUE TRABALHAR. O GRANDE PROBLEMA QUANDO SE FALA EM NEPOTISMO É QUANDO VOCÊ COLOCA UMA PESSOA E ESSA PESSOA NÃO TRABALHA.”

OFF3: O QUE PARECE CONTRADITÓRIO É QUE, EMBORA TRABALHEM NO GABINETE O IRMÃO E A ESPOSA, O VEREADOR É AUTOR DE UM PROJETO CONTRA O NEPOTISMO. AO SER QUESTIONADO SOBRE A SITUAÇÃO FUTURA DOS PARENTES, CASO O PROJETO SE TORNE LEI, ELE É INCISIVO.

SONORA: VEREADOR DE STO ANDRÉ/ DR. AIDAN RAVIN: “AUTOMATICAMENTE ESTÃO DISPENSADOS DO GABINETE.”

PASSAGEM: ATUALMENTE NA REGIÃO EXISTEM CERCA DE QUARENTA PARENTES DE VEREADORES EMPREGADOS NO PODER PÚBLICO. AS SUBSEÇÕES DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL NO ABC ESTUDAM CRIAR UMA COMISSÃO REGIONAL DE COMBATE AO NEPOTISMO.

SONORA: PRESIDENTE DA OAB DE STO ANDRÉ / DR. SINÉSIO CORREA: “A ENTIDADE TEM POR OBRIGATORIEDADE (...) COMBATER TODO ESSE TIPO DE MANIFESTAÇÃO QUE A POPULAÇÃO VETA. (...) O QUE QUEREMOS FAZER É DIVULGAR À POPULAÇÃO A EXISTÊNCIA DESSE TIPO DE... POLÍTICOS QUE NÓS TEMOS E QUE NÃO RESPEITAM SEUS PRÓPRIOS ELEITORES. AGORA, NÓS NÃO TEMOS FORÇA PARA TIRAR E MANDAR NINGUÉM EMBORA.”

OFF4: O QUE DIFICULTA O CONTROLE DO NEPOTISMO É O CHAMADO NEPOTISMO CRUZADO.

SONORA: PRESIDENTE DA OAB DE STO ANDRÉ / DR. SINÉSIO CORREA: “QUE EU COMBATO MAIS QUE O NEPOTISMO DIRETO É O NEPOTISMO CRUZADO. POR EXEMPLO, UM VEREADOR DA MINHA CIDADE, DIADEMA, SÃO CAETANO, MAUÁ. EU INDICO UMA PESSOA, PARENTE, PESSOA DO MEU RELACIONAMENTO, ELE CONTRATA LÁ E EM CONTRAPRESTAÇÃO EU CONTRATO UM DELE AQUI PARA NÃO CARACTERIZAR PARENTE. ISSO FORMA UM NEPOTISMO DESONESTO INCLUSIVE.”

OFF5: APESAR DE TODA A POLÊMICA AO LONGO DOS ANOS, O NEPOTISMO AINDA NÃO É PROIBIDO POR LEI. ALGUNS VEREADORES, QUE SÃO CONTRA A PRÁTICA, NÃO ACREDITAM QUE A PROIBIÇÃO DA

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CONTRATAÇÃO DE PARENTES NO PODER PÚBLICO SEJA A MELHOR SAÍDA.

SONORA: VEREADOR/PT/ ANTONIO LEITE: “AS PESSOA INDICAREM OS SEUS PARENTES SEM NENHUM CRITÉRIO, ISSO COM CERTEZA PREJUDICA A POPULAÇÃO (...) SEM DEFINIR CRITÉRIOS, VOCÊ PODE PREJUDICAR A POPULAÇÃO DE TER PESSOAS BOAS NA ADMINISTRAÇÃO. (...) NÃO PODEMOS SAIR DE UMA SITUAÇÃO ONDE TUDO É PERMITIDO PARA ONDE TUDO É PROIBIDO. NÓS TEMOS QUE ENCONTRAR A LUZ DO BOM SENSO.”

NOTA-PÉ: NAS CÂMARAS DE SÃO BERNARDO E SÃO CAETANO, TIVEMOS DIFICULDADES PARA CONSEGUIR DADOS SOBRE NOMEADOS EM CARGOS DE CONFIANÇA. O CASO DE RIO GRANDE DA SERRA É ESPECIAL, PORQUE OS PARLAMENTARES NÃO TÊM DIREITO A ASSESSORES. A PROIBIÇÃO DO NEPOTISMO NO PODER PÚBLICO PODE SE TORNAR REALIDADE SE O CONGRESSO NACIONAL APROVAR A PEC, PROPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONAL, QUE TRATA SOBRE O ASSUNTO. ENQUANTO ISSO NÃO ACONTECE, AS SUBSEÇÕES DA OAB DA REGIÃO MARCAM REUNIÃO PARA TAL DIA DISCUTIR O QUE SERÁ FEITO PARA CONTROLAR O NEPOTISMO NO ABC.

9.1 APOIO FUNCIONAL

CRASE

A crase, fenômeno diretamente ligado à regência, é a fusão de duas vogais idênticas, normalmente o artigo feminino a/as ou pronome demonstrativo a/ as com a preposição a. • REGRAS PRÁTICAS: √ Substituir o nome feminino pelo nome masculino:

Ex.: Sentou-se à mesa (ao piano).// Pagou a dívida à funcionária. (o salário, ao funcionário). // Refiro-me a ela (a ele). Possibilidades masculino feminino AO (prep. + artigo) = À (prep.+ artigo) ⇒ CRASE! A (preposição) = A (preposição) ⇒ SEM CRASE!! O (artigo) = A (artigo) ⇒ SEM CRASE! √ Substituir “à” por “para a”, “na”, “com a”, “pela”, “da”: Ex.: Trazia os sacos às costas (nas costas). / À entrada (na entrada) via-se uma tabuleta. / Foi à Lapa. (para a) √ Se vou à e venho da, crase há. (Vou à França, venho da França.) Se vou a e venho de, crase pra quê? (Vou a Portugal , venho de Portugal.)

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Experimente: 1) Nunca assisti a tanta miséria. 2) Deu a cada esposa uma parte da herança. 3) Falou a todas as emissoras do país. 4) Concedeu a todos os canais a mesma entrevista. 5) Fomos a uma exposição de quadros a óleo. 6) Sou sensível a tais ofensas. 7) Retornou a Brasília. 8) Retornou a seca Brasília. 9) Dois a dois foi a contagem. 10) Sentou-se a máquina e reescreveu uma a uma as páginas. 11) Foi a Escócia assim que chegou a Europa. 12) Chegamos a Fortaleza hoje cedo. 13) Chegamos a fortaleza hoje cedo. 14) Recorreu a irmã e a ela se apegou como a uma tábua de salvação. 15) Subiu a tribuna e falou as massas, incitando a população a greve, as desordens, a desobediência a ordem federal. • NUNCA há crase: √ antes de palavras masculinas: a pé, a cavalo, a álcool (porque o artigo usado seria O/OS); √ antes de verbo: a partir de hoje, contas a pagar (porque o verbo não admite artigo); √ antes de pronomes de tratamento: a você, a V.S. Exceções: dona, senhora, senhorita (porque antes dos pronomes de tratamento não há artigo); √ antes de pronomes em geral: a ela, a essa, a cada uma (porque antes de pronomes, em geral, não há artigo); √ nas expressões formadas por palavras repetidas: cara a cara, face a face, frente a frente (porque inexiste o artigo); √ com “a” + substantivo feminino plural: Dirigiu-se a pessoas estranhas. Vamos a regiões pobres (porque esse a é uma preposição; se houvesse artigo, seria as, para acompanhar o substantivo feminino plural = Dirigiu-se às pessoas estranhas. Vamos às regiões pobres); √ antes de nomes de cidades sem determinação: Vou a Roma. / Voltou a São Paulo. / Chegamos a Taubaté. (porque esses nomes não aceitam artigo).

♦ Haverá crase se o nome da cidade vier determinado: Vou à Roma dos Césares. / Voltou à poluída São Paulo. / Chegamos à Taubaté de Monteiro Lobato.

Exercício Use o acento indicativo da crase onde julgar conveniente: 1) Prefiro cinema a teatro. 2) Certas estrelas não são visíveis a olho nu.

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3) Fomos a Embu a pé e voltamos a cavalo. 4) Fui a Bolonha, depois a Veneza dos belos canais. 5) Estou mais inclinado a falar do que a ouvir. 6) Tornava-se a cada hora mais afeito a essas perigosas divagações que levam um

homem a viver num mundo imaginário. 7) Ficaram frente a frente, a se olharem pensando no que dizer uma a outra. 8) Requeiro a V. Exa. a extensão dos benefícios a meus descendentes. 9) Vivemos para servir a Deus. 10) Tomou o remédio gota a gota. 11) Os bandeirantes andaram rumo a (as) regiões desconhecidas. / Os bandeirantes

andaram rumo as regiões desconhecidas 12) Entrada proibida a (as) mulheres em traje de banho. / Entrada proibida as mulheres

em traje de banho. 13) Falavam a multidões enfurecidas. / Falavam as multidões enfurecidas. 14) Refiro-me a mulheres do século XIX. / Refiro-me as mulheres do século XIX. 15) Falei a pessoas interessadas. / Falei as pessoas interessadas. 16) Refiro-me a importações, não a exportações. / Refiro-me as importações, não as

exportações. 17) Comprei a vista, não a prazo. • SEMPRE há crase: √ na indicação do número de horas: Às duas horas, à zero hora, à uma hora, das treze às dezesseis horas; √ na expressão à moda de (mesmo que a expressão moda de esteja oculta): Salto à Luís XV. / Bife à milanesa. / Gol à Pelé; √ nas expressões adverbiais femininas (menos nas de instrumento): Saí à noite. Ficou à espreita. Saiu às pressas. (mas Escreveu a caneta, carro a gasolina, barco a vela); √ nas locuções prepositivas e conjuntivas: à força de, à roda de, à frente de // à medida que, à proporção que. Exercício: 1) Usava uma cabeleira a Alceu Valença. 2) Usava um bigode a Hitler. 3) A casa era toda decorada a colonial. 4) Gosto de macarrão a bolonhesa. 5) Fez um gol a Ronaldinho. 6) Retirou-se as escondidas. 7) Vivemos a custa de seu tio. 8) A hora do almoço, Luís come a beça. 9) As sacudidelas partiu o velho carro que fora o primeiro a chegar a cidade. 10) As vezes passamos alguns dias a beira-mar. 11) Estou a disposição de vocês. 12) Retirou-se as pressas do local a fim de não ser identificado. 13) Sentaram-se a sombra das mangueiras. 14) Barco a vela / forno a lenha/ carro a gasolina / ferido a bala / escrever a tinta, a gilete 15) A proporção que subimos, o ar se rarefaz. 16) Seu desespero aumenta a medida que o tempo passa. 17) A força de muito observar, percebemos a avaria da máquina. 18) Cheguei a fazenda a zero hora e não a uma. 19) As nove horas as tropas estendiam-se de ponta a ponta da avenida.

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10 LINGUAGEM E MÍDIAS: MÍDIA ELETRÔNICA (TV) 2

Relatório de Reportagem RETRANCA: ASSALTO / BANCO DATA: 04/02/2013 REPÓRTER: THIAGO MORAES IMAGENS: JOÃO DA SILVA PAUTEIRA: JOANA SANTOS SUGESTÃO DE CABEÇA: UMA QUADRILHA EXPLODE UM CAIXA ELETRÔNICO NO CENTRO DE SÃO PAULO, NA MADRUGADA DE HOJE.// OS LADRÕES FUGIRAM EM UMA VAN, MAS BATERAM DURANTE A FUGA.// OFF1: A AÇÃO DOS BANDIDOS FOI GRAVADA PELAS CÂMERAS DE SEGURANÇA DO BANCO.// QUATRO HOMENS ENCAPUZADOS CHEGAM AO LOCAL POR VOLTA DAS DUAS DA MANHÃ.// ELES COLOCAM OS EXPLOSIVOS E SAEM.// SEGUNDOS DEPOIS, ACONTECE A EXPLOSÃO.// O BANDO VOLTA, ABRE OS CAIXAS ELETRÔNICOS DANIFICADOS E FOGE COM O DINHEIRO.// HOJE PELA MANHÃ, O CENÁRIO ERA DE DESTRUIÇÃO.// PASSAGEM: THIAGO MORAES - SÃO PAULO A EXPLOSÃO DESTRUIU PARTE DA ENTRADA DA AGÊNCIA, QUE FICA NO BAIRRO SANTA CECÍLIA, NO CENTRO DE SÃO PAULO.// UMA DAS PAREDES RACHOU COM O IMPACTO.// PELO CHÃO, ESTÃO OS VIDROS DAS PORTAS E PEDAÇOS DOS CAIXAS.// LÁ DENTRO, A POLÍCIA ENCONTROU ESTE MAÇARICO USADO PELOS BANDIDOS PARA IMPLANTAR OS EXPLOSIVOS NOS EQUIPAMENTOS.// OFF2: ESSE MORADOR PRÓXIMO DA AGÊNCIA DISSE QUE OUVIU A EXPLOSÃO.// ELE NÃO QUER APARECER PORQUE TEM MEDO.// SONORA: SEM IDENTIFICAÇÃO - FAVOR DISTORCER A VOZ (2'35" eu estava vendo TV quando... até ... já não vi mais nada" 2'43") OFF3: ESTA OUTRA CÂMERA DE UMA LOJA MOSTRA A VAN DA QUADRILHA PASSANDO EM ALTA VELOCIDADE.// A CERCA DE TRÊS QUILÔMETROS DA AGÊNCIA, O MOTORISTA PERDEU O CONTROLE E BATEU EM UMA ÁRVORE.// OS BANDIDOS FUGIRAM COM O DINHEIRO DO FURTO.// SONORA: SGTO. LUCIANO CARDOSO - POLICIAL MILITAR (5'15" esse veículo foi roubado na semana passada... até... até encontrar os suspeitos 5'27") SUGESTÃO DE NOTA-PÉ: TRÊS DOS QUATRO BANDIDOS JÁ FORAM PRESOS PELA POLÍCIA.// PARTE DO DINHEIRO, CERCA DE 20 MIL REAIS, FOI RECUPERADA.// A QUANTIA TOTAL ROUBADA NÃO FOI INFORMADA PELO BANCO.// Disponível em: http://teleblognews.blogspot.com.br/2013/02/off-modo-de-fazer.html

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JORNAL DA JUSTIÇA

Lauda: 01 Repórter: Ana Cristina Cruz – STF OFF 127:

HOJE, OS JOVENS ADQUIREM MAIS DIREITOS, TÊM MAIS CONSCIÊNCIA DE SEUS ATOS E MAIS DEVERES./ A PROVA DISSO ESTÁ NO NOVO CÓDIGO CIVIL./ A MAIORIDADE DO BRASILEIRO VAI DIMINUIR DE VINTE E UM PARA DEZOITO ANOS./

PASSAGEM28: NO DIA ONZE DE JANEIRO, QUANDO O NOVO CÓDIGO CIVIL ENTRA EM VIGOR, O JOVEM DE DEZOITO ANOS VAI PODER, POR EXEMPLO, CASAR E ABRIR UM NEGÓCIO SEM A NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL OU DOS PAIS./ ISSO SIGNIFICA MAIS DIREITOS E TAMBÉM MAIS RESPONSABILIDADE./ MUDANÇA QUE GERA POLÊMICA ENTRE OS PRÓPRIOS JOVENS./ POVO-FALA29:

VÁRIAS SONORAS CURTAS COM ESTUDANTES OFF 2:

FLÁVIO CALMOM TEM 18 ANOS./ ELE ACHA QUE OS JOVENS QUE SÃO INSTRUÍDOS JÁ TÊM CONDIÇÕES DE RESPONDER PELOS SEUS PRÓPRIOS ATOS./ PARA ELE A EDUCAÇÃO É UM FATOR QUE CONTRIBUI PARA A FORMAÇÃO DE RESPONSABILIDADE DOS JOVENS./

SONORA30: FLÁVIO CALMON – ESTUDANTE – 18 ANOS

OFF 3: COM ESTUDO OU NÃO, ESSA MUDANÇA SIGNIFICA QUE A PARTIR DO MOMENTO EM QUE O JOVEM COMPLETAR 18 ANOS, ELE VAI PASSA A SER RESPONSÁVEL POR TODOS OS ATOS PRATICADOS NA VIDA CIVIL.

SONORA: DOURIMAR NENES DE MOURA – PROFESSOR DE DIREITO DA UnB

Exercício Dê a notícia do Chapeuzinho Vermelho com CABEÇA, OFF, PASSAGEM, SONORA, POVO FALA e NOTA-PÉ.

27 OFF: Texto feito pelo repórter com base nas imagens oferecidas pela equipe de reportagem. 28 PASSAGEM: É o momento em que o repórter aparece na matéria. É ela que dá credibilidade ao que está sendo veiculado. A passagem pode ser usada para descrever algo de que não temos imagem, destacar uma informação dentre outras, unir duas situações, destacar um entrevistado ou criar uma passagem participativa. 29 POVO FALA: é a entrevista feita com várias pessoas – uma de cada vez –, que repercutem determinado assunto. 30 SONORA: São as entrevistas gravadas e para fazê-las é preciso, antes de mais nada, tirar todas as dúvidas com o entrevistado. Fique alerta, pois neste momento o repórter cinematográfico irá gravar as imagens da entrevista e logo após o contraplano (imagem do repórter fazendo perguntas para o entrevistado).

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10.1 APOIO FUNCIONAL CRASE

• Casos facultativos √ Antes de nomes próprios femininos31. Ex.: Dei o livro à Rita. ou Dei o livro a Rita. √ Antes de pronomes possessivos femininos32. Ex.: O professor referiu-se a sua reportagem. ou O professor referiu-se à sua reportagem. √ Depois da preposição até. Ex.: Fui até a estação. ou Fui até à estação. Exercício Use o acento indicativo da crase: 1) As crianças contaram a cena a Elvira. 2) Retornou a nossa casa depois de algum tempo. 3) Fomos até a chácara supervisionar o plantio das mudas de manga. 4) Enderecei a Maria do Carmo toda a correspondência. • Casos especiais 1 √ casa ( no sentido de lar): → sem determinação, não há crase. Ex.: Voltou a casa./ Chegamos a casa cedo. → se houver determinação, haverá crase:Ex.: Chegamos à casa do reitor./ Fui à casa de Irene. √ terra:

→ há crase se o sentido for de pátria, planeta. Ex.: Voltaram à terra prometida./ A nave voltou à Terra. →Não há crase, quando terra se opuser a mar ou ar (isto é, quando se opuser a a bordo). Ex.: Os tripulantes desceram a terra. √ distância:

→ se a distância não estiver determinada, não haverá crase. Ex.: A distância, não se enxergava o avião./ Ensino a distância → só há crase se a distância vier determinada. Ex.: No zoológico os animais são mantidos à distância de cem metros. Exercícios 31 Na verdade, o uso da crase não é optativo, mas obedece à presença ou não de artigo diante do nome feminino. Assim, no Nordeste, costuma-se dizer “Maria não veio” (sem o artigo). Nesse caso, não se pode usar o acento indicativo da crase em “Dei o livro a Maria”. Mas, em São Paulo, diz-se: “A Maria não veio” (com o artigo). Nesse caso, deve-se usar o acento indicativo da crase em “Dei o livro à Maria”. 32 O mesmo ocorre com o pronome possessivo, que pode ser empregado com ou sem artigo (mas neste caso não existem diferenças regionais).

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1) Os animais pastavam a distância. 2) Voltou a casa do amigo tarde da noite. 3) Os animais pastavam a distância de trinta metros. 4) Era doloroso voltar a terra dos meus avós. 5) Depois do cruzeiro, os turistas desceram a terra. 6) A noite estava clara por isso os namorados foram aquela praia distante ver a chegada dos pescadores, que voltavam a terra. • Casos especiais 2 √ aquele (s), aquela (s), aquilo: Sempre que o termo regente exigir preposição, haverá crase. Ex.: Refiro-me àqueles livros. Prefiro isto àquilo. √ a que / à que – regra prática: se com o antecedente masculino ocorrer ao, haverá crase no feminino; se com o antecedente masculino ocorrer a, não haverá crase no feminino. O mesmo acontece com a qual e as quais. Ex.:

Não gostei da garota a que você se referiu.// Não gostei da garota à qual você se referiu. (do garoto) a que (do garoto) ao qual Houve uma sugestão anterior à que você deu. (um palpite) ao que

Exercícios Coloque o acento indicativo da crase onde julgar conveniente: 1) As crianças contaram a mãe a cena a que assistiram. 2) As crianças contaram a Elvira a cena a qual assistiram. 3) Os congressistas comemoraram a decisão a que a haviam chegado. 4) Os congressistas comemoraram a decisão a qual haviam chegado. 5) Esta entrevista é igual a que li ontem. 6) A cidade a que iremos possui praias a que só poderemos chegar a pé. 7) A cidade a qual iremos possui praias as quais só poderemos chegar a pé. 8) A faculdade a que aspirava era uma utopia. 9) A faculdade a qual aspirava era uma utopia. 10) Esta é a casa a que me referi. 11) Esta é a casa a qual me referi. 12) Esta roupa é semelhante a que comprei ontem. 13) A circunstância a que nos referimos é estranha. 14) A circunstância a qual nos referimos é estranha. 15) São normas a que todos devem obedecer. 16) São normas as quais todos devem obedecer. 17) A excursão a que iremos custará caro. 18) A excursão a qual iremos custará caro. 19) Esta é a pesquisa a que dedico mais tempo. 20) A caneta que comprei é idêntica a que você tem. 21) São penas semelhantes as que se aplicavam na Idade Média. 22) As prendas são semelhantes as que foram sorteadas ontem. 23) Estavam a poucos metros da clareira a que foram ter por um atalho aberto a foice. 24) Estavam a poucos metros da clareira a qual foram ter por um atalho aberto a foice. 25) Aqui estão duas opções. Escolha a que mais lhe agradar. 26) Eram duas moças, a que mais me agradava era a morena. 27) Hoje muitas pessoas sofrem de doenças graves; o médico referiu-se as que são acometidas de câncer.

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11 LINGUAGEM E MÍDIAS: MÍDIA ELETRÔNICA (INTERNET) 1

Em internet, o menos é mais.

A característica revolucionária deste meio é a interatividade, a capacidade de o usuário interagir não só com o texto que lê, mas também com pessoas dos mais diferentes pontos do planeta. O texto da internet permite novos tipos de leitura, pois conecta-se a outros pelo hipertexto, o que possibilita uma leitura não linear, com conexões múltiplas em termos de palavras, imagens e sons.

Com a internet e a proliferação de blogs, houve maior democratização do saber com a descentralização da informação e do poder de comunicar e produzir conteúdo. A linguagem da internet está muito mais próxima daquela do rádio e da televisão do que a da mídia impressa. Algumas de suas características são:

Ø título em texto da internet só é bom se ajudar a recuperá-lo no futuro, por isso deve ser independente o contexto em que está inserido e utilizar palavras-chave (tags ou metadados), que permitem que tanto criadores de conteúdo quanto usuários possam relacionar diferentes temas, criando teias de conhecimento. Ø frases curtas e na ordem direta – sujeito (quem?) + verbo e complemento verbal (o quê?) + adjunto adverbial (onde? Quando? Como? Por quê?); Ø parágrafos curtos, de no máximo 75 caracteres; Ø linguagem objetiva, coloquial e concisa; Ø texto curto (não deve ser maior do que a tela do monitor) Ø uso de hipertexto, que representa uma opção de aprofundamento infinita; Ø imagens e possibilidade de ouvir o texto.

Seattle bate San Francisco e vai disputar o Super Bowl contra Denver

O Seattle Seahawks derrotou o San Francisco 49ers na noite de domingo, por 23 a 17, em casa, pela final da Conferência Nacional da NFL (a liga de futebol americano dos Estados Unidos), e vai disputar o Super Bowl (a final da competição) no dia 2 de fevereiro, em Nova Jersey.

O Seattle terá pela frente o Denver Broncos, do quarterback (lançador) Peyton Manning, que também no domingo bateu o New England Patriots, de Tom Brady, por 26 a 16, no Colorado.

Este será o segundo Super Bowl da franquia de Seattle. O primeiro foi no campeonato de 2005, quando perdeu para o Pittsburgh Steelers por 21 a 10, em jogo disputado em Detroit, Michigan.

O quarterback dos Seahawks, Russell Wilson, acertou 16 dos 25 passes, sendo um para touchdown, e conquistou 215 jardas. Do outro lado, Colin Kaepernick lançou 24 passes, completou 14, e terminou a partida com 153 jardas e um touchdown.

Kaepernick, porém, foi interceptado por duas vezes. O lance decisivo da partida ocorreu quando restavam apenas 25 segundos para o fim do confronto. O quarterback dos 49ers tentou um passe em profundidade para tentar o touchdown da vitória, mas Sherman desviou e Smith ficou com a bola para a garantir o triunfo da equipe da casa.

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Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2014/01/1400094-seattle-bate-san-francisco-e-vai-disputar-o-super-bowl-contra-denver.shtml. Acesso em 20 jan. 2014. Observe nesse texto as características elencadas acima (o Denver Broncos, destacado em azul é o hiperlink). Acesse o texto para conferir o imbricamento de linguagens. Exercícios 1) Que outros links e/ou recursos você acrescentaria ao texto do Super Bowl?

2) Dentre as características do webjornalismo, os pesquisadores destacam a

sua capacidade de multimidialidade, isto é, ele A) consegue transmitir o fato em tempo real. B) tem a capacidade de fazer a convergência dos formatos das mídias tradicionais na veiculação do fato jornalístico. C) possibilita o feedback instantâneo entre fonte e receptor por meio do mesmo canal de comunicação. D) é capaz de armazenar e recuperar a informação, possibilitando maior condição de pesquisa. E) consegue sistematizar a relação entre os vários documentos que se cruzam para construir a matéria.

Para saber mais sobre Webjornalismo

ØAcesse: http://www.bocc.ubi.pt/pag/_texto.php?html2=canavilhas-joao-webjornal.html.

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12 LINGUAGEM E MÍDIAS: MÍDIA ELETRÔNICA (INTERNET) 2

Recapitulando as principais características da internet:

● interatividade, ou seja, a possibilidade de o receptor participar e interagir com o jornal e até de noticiar e funcionar como fonte de informação; desse modo, assiste-se a um nivelamento do jornalista com o leitor;

● hipertexto, ou seja, a possibilidade de se estabelecerem sucessivamente ligações entre textos e outros registros – sonoros e audiovisuais –, o que torna o consumo informativo individualizado;

● hipermídia, ou seja, a união num único suporte de conteúdos escritos, sonoros e imagéticos, sejam as imagens fixas ou animadas;

● glocalidade, ou seja, fabrico local, mas alcance mundial;

● personalização, ou seja, a possibilidade de o leitor interagir sobre a forma e o conteúdo do jornal, para consumir unicamente o que quer e como quer, dentro dos condicionalismos do software; os alertas noticiosos, o recebimento de um jornal à la carte, o recebimento de newsletters, etc. podem incluir-se na personalização;

● instantaneidade, ou seja, a possibilidade de as notícias serem transmitidas no momento em que são finalizadas ou ao vivo;

● profundidade através da navegabilidade, ou seja, a possibilidade de o utilizador aprofundar a informação consumida navegando pela internet de site em site e de página em página, usando hiperligações.

Introduza na reportagem a seguir recursos característicos da internet.

Cidade bi(ke)polar

Quando o assunto é ciclistas, São Paulo tem duas caras. Nos dias úteis, quem pedala tem 60 km de ciclovias (faixas exclusivas para bicicletas) ou deve disputar território com carros, motos e ônibus. Aos domingos, a capital ganha 120 km de ciclofaixas de lazer, projeto criado em 2009 pela prefeitura.

“São Paulo é agressiva para ciclistas durante a semana e acolhedora aos domingos. Por isso, prefiro sair em grupo e só à noite”, diz o holandês Fernando Schulman, 41 anos.

Esta São Paulo “bipolar” surpreende Schulman, que cresceu em um dos países que é modelo no uso das bikes como meio de transporte. “Já a mobilização para ciclistas aos domingos é algo que nunca vi em outro lugar do mundo”, diz Schulman.

Mas, a cada segunda-feira, a cidade volta a ser um terreno hostil para bikes, como quem não anda só por lazer sabe. “Para pedalar em São Paulo tem que ter sangue frio e se impor. A cidade não foi projetada para isso e a maioria dos motoristas não nos

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respeita”, diz Victor Garofano, 23, que trabalha na Giro Courier, empresa de entregas com bikes.

Segundo a CET (Companhia de Engenharia e Tráfego), 52 ciclistas morreram na cidade em 2012. Até maio deste ano, outros 15 entraram para esta estatística.

Há quem não se intimide. “Há um ano, troquei o carro pela bike. Não é seguro, mas temos conquistado espaço”, diz Daniel Moral, 38, organizador do Bike Tour SP, que promove passeios aos domingos.

Ainda de acordo com a CET, e de acordo com o plano de metas da prefeitura, a distância entre estas “duas cidades” deve diminuir em 2016. “Hoje, o foco é estruturar ciclovias em bairros com mais demanda, como o Grajaú. A partir de 2014, começam as obras de 150 km de novos corredores de ônibus, que vão incluir ciclovias”, disse Ronaldo Tonobohn, superintendente de Planejamento da CET.

A CET oferece desde 2000 um curso gratuito voltado para ciclistas, ministrado na Barra Funda, zona oeste. Chamado de “Pedalar com Segurança”, o curso tem carga horária de 8 horas e cada turma é formada por 12 participantes. Os interessados devem ter mais 18 anos ou mais e saber andar de bicicleta.

Há aulas teóricas, com informações sobre equipamentos de segurança, manutenção da bicicleta, Código de Trânsito Brasileiro. Para a parte prática, os alunos pedalam numa ciclovia e conhecem todos os procedimentos que os ciclistas devem adotar ao se deslocar pela cidade.

As aulas também incluem lições com estratégias para ampliar a segurança em situações de risco no trânsito, técnicas e exercícios de frenagem, equilíbrio, mudanças de marchas e orientações de como manter a bicicleta.

As inscrições para o curso podem ser feitas pelo e-mail: [email protected]. As aulas são divididas em dois períodos, manhã (aula teórica) e tarde (prática), das 8h30 às 17h30.

Segundo a CET, o curso já formou 31 turmas e capacitou 355 ciclistas desde que foi lançado. Disponível em: http://jornalmetro.com.br/nacional/foco/cidade-bikepolar-20791. Acesso em: 21 out. 2013.

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ANEXOS Anexo 1

O contexto do erro33 Usar variedade linguística inadequada numa frase confusa pode ser um tropeço

de português mais impróprio do que problemas de grafia, regência ou concordância José Luiz Fiorin

A revista Veja publicou o seguinte texto: "Depois de assinar laudos de reconhecimento de voz dos escândalos provocados por grampos telefônicos, o foneticista Ricardo Molina ganhou alguma notoriedade e uma série de novos clientes. Da relação de suas tarefas recentes, incluem-se análises de fitas enviadas por empresas que investigam a conduta de funcionários e de maridos desconfiados de traição" (28/8/2001, p. 30).

Da forma como está redigido esse texto, o sentido é que as empresas investigam tanto a conduta de funcionários quanto a de maridos desconfiados de traição. Na verdade, porém, o que se quer dizer é que "empresas que investigam a conduta de funcionários, bem como maridos desconfiados de traição, enviam fitas para serem analisadas". Observe que o texto está escrito de maneira inadequada, provocando uma ambiguidade.

O erro linguístico não se esgota, como pretendem alguns, na adequação ou inadequação da variedade utilizada à situação de comunicação ou ao gênero que está sendo empregado: por exemplo, o uso de uma variedade popular num gênero em que se exige a norma culta, como o texto acadêmico, ou o uso de termos chulos numa situação de comunicação em que sua utilização causa estranheza e constrangimento. É preciso considerar que há realizações linguísticas que, por descuido ou por falsa análise realizada pelo falante, contrariam as regras de organização do sistema linguístico ou não cumprem adequadamente a função de comunicar. Esses fatos são sentidos principalmente na escrita. Com base em sugestões de Francisco Platão Savioli, vejamos quais são esses tipos de "erros".

1 – Frases ou períodos truncados

É a produção de frases em que faltam termos essenciais (como o predicado) ou períodos compostos por subordinação em que não aparece a oração principal. Esses erros prejudicam a comunicação, pois o leitor fica sem saber o que quis dizer quem escreveu a frase.

a) Já houve o tempo da moreninha, da loirinha e agora chegou a vez da ruivinha. A cor do cabelo, no entanto, faz pouca diferença, pois a fórmula para conquistar jovens plateias com um interesse maior em sexo do que em música. O segredo do sucesso na música pop é um rostinho – e corpinho – feminino bonito e bem sensual (Folha de S.Paulo, 17/9/1989, apud Unicamp 89).

b) Embora as enchentes, todos os anos, continuem a destruir cidades inteiras em regiões do Nordeste, provocando prejuízos que chegam a milhões de reais.

No segundo parágrafo do primeiro exemplo, a oração iniciada por pois não tem predicado. Por isso, não se sabe o que se quer dizer sobre a "fórmula para conquistar jovens plateias". No segundo caso, não há oração principal: a primeira, iniciada por embora, é subordinada adverbial concessiva; a segunda é subordinada adverbial 33 Disponível em: http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11199

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temporal reduzida de gerúndio; por essa razão, não se sabe exatamente o que o falante queria dizer.

2 – Violações de relações discursivas

Ou seja, de relações entre partes ou segmentos do texto, como o uso de conectores argumentativos inadequados, de enunciados ambíguos etc.

a) Proteja a entrada dos intrusos (Texto publicitário). b) Diafragma

Como funciona: insere-se um anel de borracha na vagina para cobrir a entrada do colo do útero, que deve ser retirado cerca de dez horas após o contacto sexual (Folheto informativo).

c) Há milhões de pessoas que passam fome no país. Por isso, o governo restringirá as verbas para programas sociais.

No primeiro caso, temos um enunciado ambíguo. Ele anuncia um dispositivo de segurança para portões. Mas pode dar a entender que, com ele, tanto se pode impedir a entrada de intrusos quanto proteger os intrusos, enquanto entram. No segundo, o pronome relativo que tanto pode referir-se à expressão anel de borracha quanto a útero, o que significa que não se sabe o que deve ser retirado dez horas após o contacto sexual. No terceiro, o uso da conjunção conclusiva não cabe no contexto. Deveria ser usada uma adversativa, como mas, ou uma concessiva, como embora.

3 – Erros de ortografia A ortografia é o conjunto de convenções que rege a grafia das palavras. Essas

convenções, no caso brasileiro, resultam de normas oficiais, que são coercitivas para todos os falantes.

Gosta de fama de "bad boy" (garoto mal) e faz tudo o que pode para mantê-la (Folha de S.Paulo, 11/6/1995, 4-5).

O adjetivo é grafado com u (mau) e o advérbio com l (mal); na frase mau é adjetivo.

A questão da correção não se reduz, como se vê, ao problema da adequação ou inadequação dos usos à situação de comunicação ou ao gênero que está sendo empregado. Há outras impropriedades: frases ou períodos truncados, violações de relações discursivas e erros de ortografia. Analisemos agora outros tipos de incorreções que se cometem ao produzir um texto: a hipercorreção, a falsa análise do enunciado, a falsa analogia, a impropriedade lexical.

4 – Falsa análise do enunciado É aquele erro cometido por uma análise inadequada da frase, quando se atribui a

uma palavra ou expressão uma função sintática que ela não exerce, quando se estabelecem relações sintáticas inexistentes, quando se realizam analogias improcedentes dentro do período. Vejamos alguns exemplos:

a) Vai chover multas na volta do feriado (Folha da Tarde, 31/12/1992, 1).

b) Pode-se argumentar, é certo, que eram previsíveis os percalços que enfrentariam qualquer programa de estabilização (...) necessário no Brasil (Folha de S.Paulo, 7/10/1990, apud Unicamp 91).

No primeiro caso, atribui-se à palavra multas, que é o sujeito, a função de objeto direto e, por conseguinte, não se realiza a concordância. A frase correta seria Vão

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chover multas na volta do feriado. No segundo, considera-se que o pronome relativo que, que retoma o substantivo percalços, tem a função de sujeito e não de objeto direto e faz-se a concordância do verbo com o antecedente (percalços) e não com o verdadeiro sujeito qualquer programa de estabilização.

Muitas vezes, também a hipercorreção resulta de uma falsa análise do enunciado. A diferença, no entanto, é que aquela acaba resultando, para quem a pratica, numa regra de uso: por exemplo, o verbo fazer indicando tempo passado nunca é usado impessoalmente. Diz-se sempre fazem muitos dias.

5 – Falsas analogias

São as formas criadas por analogia com as regularidades da língua ou pelo estabelecimento de correspondências não existentes entre certas formas da língua. Diferentemente do caso anterior, não se trata aqui de relações indevidas estabelecidas entre termos no interior de um período, mas da falsa pressuposição de simetrias na língua.

a) [Os astecas] não só conheciam o banho de vapor, tão prezado na Europa, como mantiam o hábito de banhar-se diariamente (Superinteressante, out. 92, apud Unicamp 93).

b) O governo interviu muito na economia nestes últimos anos. Usa-se mantiam no lugar de mantinham, porque se faz a seguinte analogia: se

comer faz a 3ª pessoa do pretérito imperfeito do indicativo comiam, prender faz prendiam, então manter faz mantiam. Utiliza-se interviu por interveio, porque se realiza a seguinte correlação: se partir tem, para a 3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo, a forma partiu, dormir tem dormiu, então intervir tem interviu.

6 – Impropriedades lexicais É o uso de palavra com significado que ela não tem, mas se atribui a ela

indevidamente, em geral por uma semelhança fônica muito acentuada com o termo que seria adequado.

"A luxúria de Moscou tem seu contraponto no silêncio do mosteiro Donskoi, criado no fim do século 16. É um conjunto arquitetônico elegante e modesto" (O Estado de S.Paulo, 30/5/1995, G 10)

Luxúria não significa "luxo", mas "sensualidade".

Os erros ou inadequações de linguagem não têm todos o mesmo efeito: uns prejudicam a compreensão do texto, como em casos de ambiguidade; outros comprometem a imagem do enunciador; outros, principalmente, os que denominamos erros por imposição da tradição de ensino (violação de normas que a escola ensina), nem sequer são percebidos, pois já fazem parte da norma culta real. É o caso, por exemplo, de dizer Maria namora com Pedro em lugar de Maria namora Pedro.

No caso abaixo, veja-se como o erro linguístico compromete o enunciador, criando dele uma imagem desfavorável:

"Legenda estampada na tela da TV Gazeta anteontem, na abertura do horário locado pela Igreja Universal do Reino de Deus, às 20 horas: 'Ex-mãe de encosto desvenda mistério no semitério'. Sim! Cemitério com "S" só pode ser um mistério. E se nem as certezas do plano terreno, como a gramática, a Igreja Universal consegue acertar, como desvendar tais mistérios espirituais?" (O Estado de S.Paulo, 11/03/2004, p. D6)

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oooooooooooo

Anexo 2 Você é legível?

(Roberto Raposo)

“Sempre que podemos usar vinte e cinco palavras em vez de cinquenta para dizer a mesma coisa, reduzimos à metade o trabalho do leitor e conferimos maior força ao que dizemos.”

Como você redige os seus textos? Para descrever um incêndio, diz que “numa

voragem irresistível, as labaredas tudo destruíram” ou prefere dizer simplesmente que o “o fogo destruiu tudo”? É claro que ambas as formas são corretas, mas a primeira é muito menos legível que a segunda. E, para todo redator, é importante ser o mais legível possível. O que exatamente torna um texto mais legível que outro? Muitos são os professores de redação que aconselham aos seus alunos: construam suas frases na ordem direta (sujeito-verbo-objeto). Evitem a voz passiva. Usem palavras curtas e frases curtas. Imprimam interesse humano àquilo que escrevem. Excelentes recomendações, mas quantas sílabas deve ter uma palavra “curta”? A palavra “irresistível” é curta ou longa? Quantas palavras deve ter uma frase “curta”? O que constituiu “interesse humano”? Há algum meio de medir a legibilidade à base desses critérios? Em 1951, surgiu nos Estados Unidos um livro curioso que procurava responder essas perguntas: The art of plain talk (A arte de falar claro). O autor era Rudolf Flesch, austríaco que emigrou para a América um ano antes do início da Segunda Guerra Mundial e doutorou-se pela Universidade de Columbia. Ao longo de 20 anos de pesquisas na área de problemas de redação, Flesch contribui, entre outras coisas, para tornar mais claros e legíveis os despachos noticiosos da Associated Press. Flesch partiu do princípio, já muito conhecido, de que há três fatores que tornam um texto legível e interessante: períodos curtos, palavras simples (com um mínimo de prefixos e sufixos) e um máximo de referências pessoais. Dita assim, a coisa parece óbvia: períodos curtos tornam o texto ágil, ventilado, gostoso de ler. Palavras complicadas e longas, como as que encontramos com frequência em textos técnicos, dificultam a leitura. E todo mundo gosta de ler a respeito de pessoas, especialmente quando a narrativa vem na primeira pessoa. A novidade introduzida por Flesch é que ele sistematizou esses dados, organizou-os e quantificou-os em tabelas destinadas a medir o grau de legibilidade de um texto. Por adotar critérios universais, o trabalho de Flesch é válido para qualquer língua ocidental. Os valores produzidos pelas tabelas, porém, podem variar entre uma língua e outra e, para melhor adaptá-las ao português, língua menos sintética que o inglês, tivemos de fazer certas modificações. O emprego das mesmas pode levar a uma medida bastante aproximada da simplicidade ou prolixidade de qualquer texto. O vício da prolixidade se deve, em grande parte, à desorganização mental. O redator começa a escrever sem ter organizado de antemão as suas ideias. E, o que é pior, não revisa adequadamente o que escreveu. O resultado é a anticomunicação: um texto em desordem, ideias embaralhadas em um único período, complementos fora do lugar,

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palavras supérfluas, frases inteiras que poderiam ser cortadas – tudo o que faz o mais paciente dos leitores desistir da leitura. Tenho em mãos um manual de redação técnica que me diz, logo no prefácio: “É papel do educador (...) analisar o sistema educacional e, consequentemente, interpretando o produto daí obtido, não só detectar suas falhas, mas igualmente estabelecer linhas gerais de ação que, através de planejamento sistemático, contínuo e realimentável, possam minimizar as entropias sistêmicas”. Trata-se de um bom exemplo de como não escrever. Há muitas maneiras de evitar a prolixidade, mas eu gostaria de aconselhar o leitor a fugir dos seguintes vícios: g MUTILAÇÃO DO VERBO O verbo é o elemento mais importante da oração. Retornando ao exemplo do incêndio que citei na abertura deste artigo, vale a pena ver com um “repórter” chamado Monteiro Lobato descreveu uma velha praga, a queimada do mato. Diz ele: “[A labareda] oscila incerta; ondeia ao vento, mas logo encorpa, cresce, avulta, tumultua e, senhora do campo, estruge34 com infernal violência...” Imaginemos que Lobato tivesse escrito: “De início, observam-se oscilações na labareda, ondulações provocadas pelo vento; mas logo ela ganha corpo, vai ficando maior, sobe num tumulto”, etc., etc. Os verbos são substituídos por substantivos; a força das frases diminui e o texto definha. No entanto, há quem faça isso constantemente. Quem diz “o transporte desta máquina é fácil”, em vez de “esta máquina é fácil, de transportar”, está incidindo no vício da mutilação do verbo. Note-se que, sempre que substituo um verbo por um substantivo, tenho de acrescentar outros elementos à frase e usar outro verbo (pois não há oração sem verbo) para substituir o que mutilei. O resultado é a prolixidade que vemos diariamente: “fazer uma recomendação” em vez de “recomendar”, “tomar uma decisão” em vez de “decidir”, etc. g MUTILAÇÃO DE OUTROS ELEMENTOS DA FRASE Outras vezes, é o adjetivo que sofre. Em vez de dizer que “o tempo foi muito instável este mês”, o redator prolixo diz que “a instabilidade do tempo foi muito grande este mês”. Nove palavras em vez de sete. Ou sacrifica o substantivo: em vez de “o total recolhido para depósito”, fala do “total recolhido para ser depositado”. E suas frases vão ficando cada mais compridas. g COMPLEMENTOS FORA DO LUGAR Li recentemente no jornal: “Firmas particulares adquiriram helicópteros que haviam sido desativados pela polícia por 50 mil dólares”. A pergunta que logo me veio à cabeça foi: quem pagou 50 mil dólares à polícia para desativar esses helicópteros? É claro que o redator queria dizer que as firmas tinham adquirido por 50 mil dólares certos helicópteros desativados pela polícia. E poderia ter feito pior, escrevendo algo como “firmas particulares adquiriram da polícia, por 50 mil dólares, helicópteros”. Quando você escrever, procure pôr os elementos da frase no lugar certo. g PALAVRAS INÚTEIS Evite o uso de expressões que podem ser substituídas por outras mais curtas ou simplesmente eliminadas, como “no sentido de”, “com efeito”, “para fins de”, “por sinal”, “não obstante”. Ou de palavras desnecessárias: não diga “ela é uma mulher extremamente bonita”, e sim “ela é extremamente bonita”. Não inclua em seu texto informações desnecessárias ou que possam ser induzidas do que você já disse. Evite a 34 Estrugir: Fazer estremecer com estrondo; atroar; estrondear.

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negativa prolixa: há quem diga “todos eles não sabem”, em vez de “nenhum deles sabe”. Não diga “os mapas que acompanham este relatório”, e sim “os mapas anexos”. Não diga “há a possibilidade de que”, e sim “pode ser que”. E assim por diante. g REFERÊNCIA ERRADA Muito mais comum do que pode parecer é o período em que o autor começa com um sujeito e termina com outro. Exemplo: “Achando que essa situação era intolerável, ficou decidido que...” ou então: “Correndo pela praia de manhã, os meus pulmões respiram melhor” (e o leitor fica imaginando o belo quadro que serão os pulmões do autor, fazendo cooper na orla da praia em uma manhã de sol). E há também o famigerado erro do tipo “um daqueles que é”, tão fácil de perceber, e, no entanto, cometido tantas vezes. Quem diz “ele é um dos autores que merece meu respeito”, em vez de “ele é um dos autores que merecem meu respeito”, não sabe distinguir onde termina a proposição no singular e onde começa a proposição plural. Se o pronome relativo “que” se referisse a “ele”, a frase poderia ser escrita: “ele, que merece meu respeito, é um dos autores”, o que não tem sentido ou não é a mesma coisa. Mas, se se refere a “autores”, como de fato se refere, o verbo tem de vir no plural. A justificativa para tal erro – que, de repente, parece ter entrado em moda – é um falso raciocínio. A construção “ele é um dos profetas que proclama” é supostamente justificada pela outra: “dos profetas, ele é um que proclama”. Mas temos aqui duas construções distintas: na primeira, o pronome relativo “que” se refere a “profetas”, na segunda refere-se a “ele”. Ou você usa uma ou outra. Confundir entre as duas leva o redator a confundir entre o singular e plural e escrever coisas como “uma das mais lindas casa”, “um dos melhores aluno”, e absurdos semelhantes. g VOZ PASSIVA Sempre que possível, evite a voz passiva. Não só a voz passiva é mais prolixa (“o leite foi bebido pelo gato”, em vez de “o gato bebeu o leite”), mas, na maioria dos casos, é simplesmente injustificada, como em “será criado pelo Departamento”, em vez de o “Departamento criará”. Além disso, frequentemente contribui para a indefinição do texto (como em “várias hipóteses foram aventadas35”, oração que não revela quem aventou as hipóteses). Neste segundo caso, aliás, a voz passiva virou norma em círculos burocráticos e técnicos, em cuja literatura, aparentemente, ninguém faz nada. As coisas simplesmente acontecem – contatos são “feitos”, fenômenos são “observados”, conclusões são “apresentadas”, sem que o leitor fique sabendo quem foi o responsável por essas ações. A voz passiva pode tornar-se uma espécie de esconderijo, às vezes muito conveniente para o autor, mas reduz o interesse humano do texto: torna-o chato e monótono e contribui para a prolixidade. Em abril de 1964, a revista Materials Research and Standards, da ASTM (órgão oficial norte-americano para testes de materiais), advertiu em editorial: “A partir deste número, a ASTM resolveu suspender a publicação de histórias de mistério. De agora em diante, os estudos publicados nesta revista serão redigidos de tal modo que os nossos leitores fiquem sabendo quem pesquisou, de quem são as opiniões ventiladas, e quem apresenta as conclusões finais”. E recomenda aos autores dos estudos: “1) Escrevam na primeira pessoa. Se o autor for um só, use “eu”; se não, use “nós”. 2) Usem verbos na voz ativa. Não digam “os espécimes foram examinados”, e sim “examinei (ou examinamos) os espécimes”. Excelentes e sábios conselhos. 35 Aventar: apresentar (ideia, hipótese, possibilidade, etc.), como algo que pode vir a ser cogitado.

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ooooooooooooooo Anexo 3

Teste a legibilidade do texto36 Se lemos algo com dificuldade, o autor fracassou.

Jorge Luís Borges

Em grego, hedone. Em português, hedonismo. Numa e noutra língua, o

significado se mantém. É prazer. A sensação gostosa virou doutrina da filosofia. Segundo ela, o prazer deve ser considerado o objetivo principal dos atos humanos.

Alguns concordam. Outros não. Mas uma coisa é certa. Ninguém gosta de sofrer. A regra vale para a leitura. Texto difícil não tem vez. E não é de hoje. Montaigne, no século XVI, disse com todas as letras: “Ao encontrar um trecho difícil, deixo o livro de lado”. Por quê? “A leitura é forma de felicidade”, respondeu ele.

A observação não se restringe a livros. Engloba jornais, revistas, cartas comerciais, redações escolares, receitas de comidas gostosas. Sem fisgar o leitor, adeus, emprego! Adeus, nota boa! Adeus, sobremesa dos deuses! Por isso, roguemos ao Senhor. Que Ele ilumine mentes, penas e teclados. E cada um faça a sua parte.

Como avaliar o índice de dificuldade do escrito? O assunto começou a preocupar os americanos há uns sessenta anos. Pesquisas sobre a leitura do texto jornalístico despertaram o interesse de professores e alunos de várias universidades. Um dos resultados dos estudos foi o teste de legibilidade. Alberto Dines, então do Jornal do Brasil, adaptou-o para o português.

Eis a receita: 1. Conte as palavras do parágrafo.

2. Conte as frases (cada frase termina por ponto). 3. Divida o número de palavras pelo número de frases. Assim, você terá a

média da palavra/frase do texto. 4. Some a média da palavra/frase do texto com o número de polissílabos. 5. Multiplique o resultado por 0,4 (média de letras da palavra na frase de

língua portuguesa) 6. O produto da multiplicação é o índice de legibilidade.

Possíveis resultados: 1 a 7: história em quadrinhos 8 a 10: excepcional 11 a 15: ótimo 16 a 19: pequena dificuldade 20 a 30: muito difícil 31 a 40: linguagem técnica acima de 41: nebulosidade

Testemos o parágrafo abaixo:

“Em boca fechada não entra mosca”, diz a vovó repressora. “Quem não erra perde a chance de acertar”, responde o neto sabido. Ele aprendeu que, nas organizações modernas, a competição é o primeiro mandamento.

36 SQUARISI, Dad; SALVADOR, Arlete. A arte de escrever bem. São Paulo: Contexto, 2005.

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E, cada vez mais, impõe-se a necessidade de falar em público. Muitos servidores, porém, concordam com a vovó. Estremecem só de imaginar a hipótese de abrir a boca diante de uma plateia. Dizem que não nasceram para os refletores. Falta-lhes vocação. A ciência prova o contrário. Falar bem não é dom divino. Falar bem – como nadar bem, escrever bem, saltar bem – é habilidade. Exige treino.

Confira:

1. Palavras do parágrafo: 101 2. Número de frases: 12 3. Média da palavra/frase (101 dividido por 12): 8,41 4. 8, 41 + 12 (número de polissílabos) = 20,41 5. 20,41 x 0,4 = 8,16 Resultado: legibilidade excepcional

Agora, avalie um texto seu. Pode ser uma carta, um artigo, uma reportagem. Antes de começar, lembre-se: aplique a receita de parágrafo em parágrafo. Se o resultado ficou acima de 15, abra o olho. Facilite a vida do leitor. Você tem dois caminhos. Um: diminua o tamanho das frases. O outro: mande algumas proparoxítonas dar umas voltinhas por aí. O melhor: abuse de ambos.” (SQUARISI, Dad; SALVADOR, Arlete. A arte de escrever bem. São Paulo: Contexto, 2005.)

ooooooooooooooo Anexo 4 As máximas de Grice Segundo o filósofo americano da linguagem Paul Grice, o princípio básico que rege a comunicação humana é o Princípio da Cooperação, isto é, quando duas pessoas se propõem a interagir verbalmente, normalmente irão cooperar para que a interlocução transcorra de maneira adequada. Para isso ele postula quatro máximas: 1) máxima da quantidade: não diga nem mais nem menos do que o necessário; 2) máxima da qualidade: só diga coisas para as quais tem evidência adequada;

não diga o que sabe não ser verdadeiro; 3) máxima de relação ou relevância: diga somente o que é relevante, pertinente; 4) máxima do modo: seja claro e conciso, evitando a obscuridade e a

prolixidade. É possível, porém, que intencionalmente quem produz a mensagem queira infringir alguma dessas máximas, cabe então ao ouvinte/leitor tentar descobrir o motivo da desobediência. Um exemplo dado por Grice é o seguinte: um professor universitário escreve a um colega pedindo referência sobre a capacidade intelectual de um ex-aluno do primeiro, pois o rapaz é candidato a uma vaga de assistente. A resposta foi: “Tem boa letra e não costuma chegar atrasado.” O professor consultado infringiu a máxima da relevância, pois omitiu o que era mais importante. Mas, de acordo com a máxima da quantidade, disse o suficiente para que o colega entendesse que o candidato era fraco. I - Escrever é a arte de cortar palavras (Armando Nogueira)

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Escrever é cortar palavras. Passei alguns anos certo de que o autor dessa preciosa máxima era Carlos Drummond de Andrade. Até que um dia perguntei ao poeta. Ele conhecia, mas negou que fosse dele. Confesso que fiquei desapontado. A sentença tinha a cara do mestre Drummond cuja prosa é um exemplo de concisão. Otto Lara Resende desconfiava que pudesse ser de um escritor mexicano a ideia da dica preciosa. Eu, por mim, seria capaz de atribuí-la a John Ruskin, notável escritor e crítico inglês do século passado. Se não o disse, com todas as letras, certamente foi Ruskin quem melhor ilustrou o adágio, num conto antológico. É o caso de um feirante de peixes num porto britânico. O homem chega à feira e lá encontra seu compadre, arrumando os peixes num imenso tabuleiro de madeira. Cumprimentam-se. O feirante está contente com o sucesso do seu modesto comércio. Entrou no negócio há poucos meses e já pôde até comprar um quadro-negro pra badalar seu produto. Atrás do balcão, num quadro-negro, está a mensagem, escrita a giz, em letras caprichadas: HOJE VENDO PEIXE FRESCO. Pergunta, então, ao amigo e compadre: – Você acrescentaria mais alguma coisa? O compadre releu o anúncio. Discreto, elogiou a caligrafia. Como o outro insistisse, resolveu questionar. Perguntou ao feirante: – Você já notou que todo dia é sempre hoje? – E acrescentou: – Acho dispensável. Esta palavra está sobrando... O feirante aceitou a ponderação: apagou o advérbio. O anúncio ficou mais enxuto. VENDO PEIXE FRESCO.

– Se o amigo me permite – tornou o visitante –, gostaria de saber se aqui nesta feira existe alguém dando peixe de graça. Que eu saiba, estamos numa feira. E feira é sinônimo de venda. Acho desnecessário o verbo. Se a banca fosse minha, sinceramente, eu apagaria o verbo. O anúncio encurtou mais ainda: PEIXE FRESCO.

– Me diga uma coisa: por que apregoar que o peixe é fresco? O que traz o freguês a uma feira, no cais do porto, é a certeza de que todo peixe, aqui, é fresco. Não há no mundo uma feira livre que venda peixe congelado... E lá se foi também o adjetivo. Ficou o anúncio reduzido a uma singela palavra: PEIXE. Mas, por pouco tempo. O compadre pondera que não deixa de ser menosprezo à inteligência da clientela anunciar, em letras garrafais, que o produto aí exposto é peixe. Afinal, está na cara. Até mesmo um cego percebe, pelo cheiro, que o assunto, aqui, é pescado... O substantivo foi apagado. O anúncio sumiu. O quadro-negro também. O feirante vendeu tudo. Não sobrou nem a sardinha do gato. E ainda aprendeu uma preciosa lição: escrever é cortar palavras. (Revista Imprensa, abril 1995) “O estilo é a arte de dizer o máximo com o mínimo de palavras.” (Jean Cocteau37) “Você deve escrever como se estivesse mandando um telegrama internacional pago do seu próprio bolso.” (Ernest Hemingway38)

37 Jean Cocteau: foi um poeta, romancista, cineasta, designer, dramaturgo, ator e encenador de teatro francês. Em conjunto com outros surrealistas da sua, conseguiu conjugar com maestria os novos e velhos códigos verbais, linguagem de encenação e tecnologias do modernismo. 38 Ernest Hemingway: fazia parte da comunidade de escritores norte-americanos expatriados em Paris, conhecida como "geração perdida", nome inventado e popularizado por Gertrude Stein. Levando uma

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Nada mais penoso para mim que a busca da expressão adequada, da propriedade vocabular. Há mil maneiras de dizer uma coisa e só uma é perfeita. Para descobri-la, a gente pode levar a vida inteira. Levei exatamente trinta anos para encontrar o final certo da novela O bom ladrão. Acredito que escrever seja, basicamente, cortar. Cortar o supérfluo. Eliminar repetições, ecos, rimas, cacófatos, redundância, lugares-comuns. Escrever, bem ou mal, é para mim cada vez mais difícil. Tenho dificuldade para escrever até um cartão de agradecimento ou um telegrama de pêsames. Certa vez Otto Lara Resende39 estava na redação escrevendo um artigo, quando entrou um contínuo e viu que ele batia à máquina sem copiar nada. Então se espantou: — Uê, doutor Otto, o senhor tem redação própria? — É que eu sei tudo de cor — ele respondeu. Otto é um privilegiado: além do talento literário que Deus lhe deu, tem redação própria. Nem por isso deixa de ser um torturado para escrever.

(Fernando Sabino) A observação é do poeta Carlos Drummond de Andrade: “Escrever é a arte de cortar palavras”. Esta proposta de concisão tornou-se famosa, tanto entre literatos como entre jornalistas. Muitas vezes, porém, ela serve de consolo aos ignorantes ou de estímulo à preguiça. Os conceitos de concisão e objetividade não devem ser confundidos com os de insipidez e pobreza. A frase do poeta leva-nos à meditação sobre um dos maiores problemas enfrentados por quem escreve, seja por dever do ofício, seja por amor da literatura: conciliar concisão com elegância, fluência com clareza, despojamento40 da frase com riqueza de conteúdo.

(MELLO E SOUZA, Cláudio. 15 anos de história. Rio de Janeiro: TV Globo, 1984.) EXERCÍCIOS 1) Reduza estas frases ao mínimo possível: 1) Saí em companhia de uma garota que era bonita e que era simpática. 2) O cavalo que comprei e pelo qual paguei muito dinheiro, dali uns tempos, depois que se passaram uns dias, começou a mancar da perna esquerda. 3) As pessoas que estavam presentes na sala houveram por bem dirigir-se para a cozinha, com a intenção de tomar o seu café; e, depois que tomaram o café, voltaram para a sala onde estavam antes. 2) Este anúncio foi publicado na Veja - São Paulo em 17/02/93 O insuperável e insuspeito jornal Folha de S.Paulo, através de sua edição de domingo, Folhão, em mais um dos seus grandiosos gestos, dignos dos maiores encômios, lança mais um benefício para você, ilustríssimo aficionado do fabuloso anúncio classificado. Trata-se de uma ideia clara, objetiva, desprovida de retórica, onde, por apenas Cr$ 25.000,00, esta quantia ínfima, irrisória, de somenos importância, sim, por tão-somente 25.000 cruzeiros por palavra, você anuncia confortavelmente pelo telefone de número 222-4000, aproveitando a eficiência deste órgão da nossa imprensa, que tanto orgulho tem dado a nós, homens que tanto procuramos fazer deste país o lugar onde ...(...)

vida turbulenta, Hemingway casou-se quatro vezes, além de vários relacionamentos românticos. Em 1952 publica O velho e o mar, com o qual ganhou o prêmio Pulitzer (1953), considerada a sua obra-prima. Hemingway recebeu o Nobel de Literatura de 1954. 39 Otto Lara Resende: jornalista e escritor brasileiro. 40 Despojamento: qualidade de quem é despojado, que não apresenta ornamentos ou enfeites vistosos.

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O próprio redator da W/Brasil encarregou-se de reduzir o anúncio a sete palavras mais o número do telefone, tente fazer o mesmo, cortando tudo o que for supérfluo. 3) Em seguida, reescreva o seguinte texto, eliminando o supérfluo e acrescentando os dados que forem necessários (lembre-se da fórmula do lead: 3Q+O+P+C): Vinte pessoas morreram ontem às 20.30 hs., tragicamente, em um sensacional, espetacular e belíssimo desastre, ocorrido nos limites dentro da cidade de São Paulo, quando dois trens se chocaram fantasmagoricamente, na estação ferroviária local, em virtude de lamentável falha do descuidado guarda-chaves. Um dos passageiros foi completamente decapitado e sua cabeça, ao separar-se do corpo, provocou-lhe morte instantânea. Várias das infelizes vítimas foram transportadas para nosocômios. A primeira de todas a ser submetida a uma melindrosa intervenção cirúrgica foi a Exma. Sra. D. Felisberta Silva, digníssima e virtuosa dama da nossa sociedade, a quem, nesta hora das mais trágicas e horripilantes, rendemos os tributos de nosso maior respeito. O distintíssimo e dedicado, além de eficiente diretor da Fepasa, o Exmo. Sr. Dr. Engenheiro M. A. Pedroso, disse que nos planos da eficiente empresa está a adoção de equipamento automático, para que desastres assim não se repitam outras vezes. (In ERBOLATTO, Mário. Técnicas de Codificação em Jornalismo. Rio de Janeiro: Vozes, 1981. p. 98.)

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Anexo 5

Redes sociais e práticas que se impõem ao jornalismo41 Catarina Rodrigues

Universidade da Beira Interior – LabCom Covilhã, Portugal RESUMO As novas formas de relacionamento com as fontes, a distribuição de conteúdos, a captação/fidelização de leitores e a velocidade informativa são alguns elementos que podem caracterizar a actividade dos media no actual modelo comunicacional em rede. A relação entre emissores e receptores tem vindo a ser alterada e para isso tem contribuído a utilização das redes sociais. Os media traçam novos caminhos para ir ao encontro do público e os jornalistas ganham uma nova exposição onde o domínio profissional, por vezes, se dilui com o pessoal. Este trabalho procura fazer uma análise comparativa entre as regras de conduta para a utilização das redes sociais já avançadas por vários meios de comunicação, na tentativa de perceber quais as principais preocupações enunciadas e se as mesmas interferem ou não com a liberdade do jornalista. Palavras-chave: Redes sociais, jornalismo, Web, fontes, regulação.

O Twitter “é uma fonte muito rica para informação em tempo real. A nossa ideia é que essa informação chegue a todos a quem possa interessar; é nisso que estamos a focar-nos”142. As palavras são de Bizz Stone, cofundador desta rede. O responsável não considera o Twitter uma rede social, mas sim uma rede de informação. Esta ideia reporta-nos para o uso deste tipo de ferramentas na actividade jornalística. O número de utilizadores de redes como o Twitter e o Facebook permite equacionar questões fundamentais no jornalismo como o relacionamento com as fontes, a ampliação, valorização e distribuição de conteúdos, a fidelização dos leitores e a velocidade informativa. São colocados novos desafios à actividade jornalística, nomeadamente no que diz respeito à monitorização da informação. Podemos lembrar aqui o conceito mass self communication, de Manuel Castells (2009) para explicar uma comunicação que pode ser centrada numa só pessoa, mas que também é de massas.

Considerando que os jornalistas representam empresas, foram já várias as organizações dos media que elaboraram recomendações a seguir no que se relaciona com a utilização da ‘mediasfera’ (redes sociais, blogs, etc.). Referências no jornalismo a nível internacional como The New York Times, The Washington Post e BBC, são alguns desses exemplos. Em Portugal é de referir o caso da RTP, cujo director de informação elaborou um conjunto de regras constituídas por nove elementos que fez chegar aos jornalistas da redacção. Estas decisões ganham especial relevância se pensarmos em problemas concretos como o caso de uma jornalista da CNN que foi despedida por causa de uma opinião difundida no Twitter. Como interpretar os direitos individuais e a liberdade de expressão dos jornalistas no actual ecossistema mediático? A resposta a esta questão deve ser pensada à luz das regras deontológicas [relativo à deontologia: conjunto de deveres que norteiam a profissão minuciados em códigos específicos], que por sua vez tem vindo a enfrentar algum descrédito, não só pelo trabalho desenvolvido, mas também pela importância que outros actores têm ganho no processo noticioso, incrementando a fragmentação do espaço público. Para além disso, no contexto dos 140 caracteres que caracterizam o Twitter, e considerando a importância da sua utilização, é pertinente repensar a profundidade dos temas e o esforço que implica contar uma boa história. Conjuntamente com a bibliografia, este trabalho terá em conta a análise de 41 Disponível em: http://campus.usal.es/~comunicacion3punto0/comunicaciones/035.pdf 42 Cofundador do Twitter em entrevista ao jornal La Nación, 25 de Abril de 2010, disponível em: http://www.lanacion.com.ar/nota.asp?nota_id=1257552

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exemplos concretos de regras orientadoras da utilização das redes sociais nos media que têm vindo a ser promovidas.

Comunicar em rede

A ideia de mass self communication introduzida por Castells explica uma comunicação que pode ser centrada numa só pessoa, mas que também é de massas, pois pode chegar a uma audiência global, e que “está presente na internet e também no desenvolvimento dos telemóveis” (Castells, 2006). O autor dá o exemplo da colocação de um vídeo no Youtube ou a publicação num blog. Castells lembra que “esta forma de comunicação surgiu com o desenvolvimento das chamadas Web 2.0 e Web 3.0, ou o grupo de tecnologias, dispositivos e aplicações que sustentam a proliferação de espaços sociais na Internet” (Castells, 2009: 101). “A mass self communication constitui certamente uma nova forma de comunicação em massa – porém, produzida, recebida e experienciada individualmente” (Castells, 2006). Scolari (2009) discorda da utilização do conceito “mass self communication ” neste contexto, pois identifica esta ideia com a comunicação de um indivíduo consigo próprio, “uma reflexão silenciosa que fazemos internamente, dentro de nossa mente”. Uma ideia que efectivamente parece contrariar os fundamentos da comunicação de massas, merecendo por isso ser repensada considerando a ausência de intermediários que caracteriza muita da informação que é publicada na web, e a consequente fragmentação do espaço público (Rodrigues, 2006). Gustavo Cardoso defende que passámos do modelo de comunicação de massa, para o modelo de comunicação em rede (Cardoso, 2009). “O modelo comunicacional da nossa sociedade é moldado pela capacidade dos processos de globalização comunicacional mundiais, juntamente com a articulação em rede massificada e a difusão de media pessoais, e, em consequência, o aparecimento da mediação em rede. A organização de usos e ligação em rede dos media dentro deste modelo comunicacional parece estar directamente ligado aos diferentes graus de uso de interactividade que os nossos media actuais permitem” (Cardoso, 2009:56). Desenvolvem-se novos paradigmas da comunicação que vão muito além do jornalismo, mas que o atravessam e obrigam a actividade a repensar-se e reencontrar o seu caminho. “Nas sociedades informacionais, onde a rede é a característica organizacional central, um novo modelo comunicacional tem vindo a tomar forma. Um modelo comunicacional caracterizado pela fusão da comunicação interpessoal e em massa, ligando audiências, emissores e editores sob uma matriz de media em rede, que vai do jornal aos jogos de vídeo, oferecendo aos seus utilizadores novas mediações e novos papéis” (Cardoso, 2009:56).

Face à valorização crescente da instantaneidade da informação e à pluralidade de opiniões e informações, a mediação, fundamental ao exercício do jornalismo, é colocada em causa, e os jornalistas, tradicionais mediadores na produção de conteúdos, têm visto o seu papel delido pela facilidade de qualquer pessoa publicar e difundir informação. “A actividade de informação sobre a actualidade, no âmbito da esfera pública, já não é uma actividade exclusiva dos jornalistas e das empresas mediáticas nas quais a maior parte deles trabalha” (Fidalgo, 2008:2).

Gatewatching foi um conceito cunhado por Axel Bruns (2005) para se referir à participação do público na produção de informação, e à consequente necessidade de redefinir o conceito de gatekeeping, que no fundo enfatiza também a ideia de prosumer (consumidor-produtor). Por considerar que o conceito de gatekeeping deixou de fazer sentido perante a facilidade de publicação na Web e o contexto em que esta se desenvolve, Bruns (2005) introduz o conceito de gatewatching que associa ao jornalismo participativo e à possibilidade de qualquer cidadão poder colaborar no processo noticioso. “Na Web, as práticas de gatewatching são omnipresentes, assim como são comuns as práticas de gatekeeping noutros meios” (Bruns, 2005: 11). O autor

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aborda a ideia de colaboração nas notícias tendo em especial atenção alguns exemplos concretos como são os sites Indymedia, o Slashdot, a própria Wikipédia, os blogues, entre outros. Neste sentido, muitos dos elementos que caracterizavam as funções inerentes ao gatekeeping deixaram de fazer sentido. Por um lado, a selecção imposta pelo simples limite de espaço nos jornais, ou de tempo, na televisão e na rádio, e, por outro lado, a própria enumeração de critérios de noticiabilidade parece ser alargada porque, hipoteticamente, tudo pode ser publicado. Bruns considera o modelo de gatekeeper utilizado pelos media tradicionais ultrapassado pela abertura à colaboração e pela ausência de mediação e intervenção editorial. O tradicional guardião de portões ou o porteiro passa assim a vigia. Gatewatching é a “observação dos portões de saída da informação noticiosa e outras fontes, no sentido de identificar material importante assim que ele esteja disponível” (Bruns, 2005:17). O autor vê assim a necessidade de algumas alterações no próprio papel do webjornalista a quem passará a caber a função de direccionar os leitores para as informações do seu interesse. Bruns compara estas funções às de um bibliotecário, alguém que “observa o material disponível e interessante e identifica informação relevante, com vista a canalizar este material em notícias estruturadas e actualizadas que podem incluir guias de conteúdo relevante e excertos de material seleccionado” (Bruns, 2005:18). “O gatewatcher combinaria funções de bibliotecário e repórter” (Primo e Träsel, 2006: 8).

Ao utilizar a metáfora do bibliotecário, Bruns adianta ainda que os “bibliotecários” on-line, ao contrário dos tradicionais, estão necessariamente envolvidos na publicação. Em muitas circunstâncias, qualquer utilizador tem possibilidade de aceder a documentos e fontes de informação, acrescentando ainda os seus próprios comentários e “a própria estrutura hipertextual favorece a referência às fontes primárias da notícia, de modo que o repórter se vê livre da necessidade de condensar todos os dados em sua própria matéria” (Primo e Träsel, 2006: 8).

Elementos que, por algum motivo não são publicados num jornal, podem ser dados a conhecer num qualquer outro espaço da Web. Aqui voltamos a uma questão base que consiste em constatar que, se por um lado, tudo pode ser publicado, a verdade é que nem tudo pode ser lido. Bruns fala de um outro conceito, publicizing, que contrapõe a publishing, no sentido de evidenciar a necessidade de dar relevo a determinado tipo de informações para que elas se destaquem, através de links, (Bruns, 2005: 19), etc. Na sua argumentação, Bruns define a relação entre produtores e consumidores numa nova realidade em que estes dois polos se confundem como “produsers” (Bruns, 2005:23). Os consumidores são simultaneamente produtores. O papel actual do jornalismo passa também por fomentar a participação, sendo que o jornalista não é um simples mediador.

É exagerado falar do fim do gatekeeping, mas efectivamente ele ganhou novos contornos. Contudo, o mais importante é evitar as confusões na definição de jornalismo. Muitos dos exemplos referidos por Bruns tentaram sempre distanciar-se desta actividade profissional, apesar de serem inevitáveis várias semelhanças. Face à crescente fragmentação do espaço público, importa repensar a profundidade dos temas e o esforço que implica contar uma boa história. Todas as possibilidades de publicação e difusão da informação, bem como a importância crescente das redes sociais, lançam desafios ao jornalista e a necessidade de algumas cautelas que permitam salvaguardar critérios como a imparcialidade e credibilidade. Por isso, muitos órgãos de comunicação social avançaram com a enunciação de algumas regras de conduta a serem seguidas pelos seus profissionais relativamente a esta matéria. Estas medidas permitem questionar até que ponto não estará em causa a liberdade dos jornalistas, ou se pelo contrário, apenas devemos interpretar aqui uma espécie de extensão das regras éticas e deontológicas que regulam a profissão.

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Por que regular?

Para melhor compreendermos como se tem desenvolvido esta realidade procedemos a uma análise comparativa das regras que têm vindo a ser promovidas por alguns meios de comunicação social. Um caso português é o da RTP. José Alberto Carvalho, Director de Informação da estação pública, justificou a criação de um conjunto de medidas desta natureza com o facto de terem sido identificadas situações em que alguns jornalistas utilizavam a mediasfera de uma forma que colidia com o seu desempenho profissional e com os deveres públicos da RTP"43. O responsável reconheceu ter ido buscar inspiração a outros meios de comunicação que, também em 2009, adoptaram normas relativamente a estas práticas, como é o caso do The New York Times44, The Washington Post, a Agência Reuters e a BBC45, entre outros. Num conjunto de nove regras, estão elencadas questões relacionadas com a imparcialidade dos jornalistas e com a credibilidade profissional. Vejamos:

1) Nada do que fazemos no Twitter, Facebook ou Blogues (seja em posts originais ou em comentários a posts de outrem) deve colocar em causa a imparcialidade que nos é devida e reconhecida enquanto jornalista. 2) Os jornalistas da RTP devem abster-se de escrever, "twitar" ou "postar" qualquer elemento - incluindo vídeos, fotos ou som - que possa ser entendido como demonstrando preconceito político, racista, sexual, religioso ou outro. Essa percepção pode diminuir a nossa credibilidade jornalística. Devem igualmente abster-se de qualquer comportamento que possa ser entendido como antiético, não profissional ou que, por alguma razão, levante interrogações sobre a credibilidade e seriedade do seu trabalho. 3) Ter em conta que aquilo que cada jornalista escreve, ou os grupos e "amigos" a que se associa, podem ser utilizados para beliscar a sua credibilidade profissional. Seguindo a recomendação do "NY Times", por exemplo, os jornalistas - deverão deixar em branco a secção de perfil de Facebook ou outros equivalentes, sobre as preferências políticas dos utilizadores. 4) Uma regra base deve ser "Nunca escrever nada online que não possa dizer numa peça da RTP". 5) Ter particular atenção aos "amigos" friends do Facebook e ponderar que também através deste dado, se pode inferir sobre a imparcialidade ou não de um jornalista sobre determinadas áreas. 6) Enunciar, de forma clara, no Facebook e/ou nos blogues pessoais que as opiniões expressas são de natureza estritamente pessoal e não representam nem comprometem a RTP. 7) Meditar sobre o facto 140 caracteres de um twit poderem ser entendidos de forma mais deficiente (e geralmente é isso que acontece!) do que um texto de várias páginas, o que dificulta a exacta explicação daquilo que cada um pretende verdadeiramente dizer. 8) Não publicar no Twitter ou em qualquer plataforma electrónica documentos ou factos que possam indicar tratamento preferencial por parte de alguma fonte ou indiciem posição discriminatória sobre alguém ou alguma entidade. 9) Ter presente que todos os dados eventualmente relevantes para fins jornalísticos devem ser colocados à consideração da estrutura editorial da RTP, empresa de media para a qual trabalham.

O Sindicato dos Jornalistas, em Portugal, lembrou que o poder dos directores de Informação “jamais pode invadir a esfera privada dos jornalistas ao seu serviço nem 43 Entrevista ao Diário de Notícias, 27 de Novembro de 2009, disponível em: http://dn.sapo.pt/inicio/tv/interior.aspx?content_id=1431795&seccao=Televis%E3o 44 http://www.poynter.org/content/content_view.asp?id=157136 45 http://www.bbc.co.uk/guidelines/editorialguidelines/assets/advice/personalweb.pdf

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questionar a plena fruição da liberdade de expressão das pessoas enquanto cidadãos”46. Mas, José Alberto Carvalho considera que, pela responsabilidade que tem em sociedade “um jornalista nunca é um mero cidadão”47. Esta questão está relacionada com a autorregulação, mas não só. “O problema aqui é de cariz [aparência] tecnológico: é a falsa sensação de liberdade absoluta que estes novos meios proporcionam. Pode parecer que não se está tão exposto, mas isso é ilusório, pois quem escreve num blogue está a divulgar a sua opinião a um público indistinto e que não controla. Tal como num jornal. Mas, então, por que não observar as mesmas regras de conduta?48”

No âmbito da campanha eleitoral que está a decorrer no Brasil, o jornal O Globo divulgou o “Estatuto das Eleições 201049” onde estão patentes regras editoriais e profissionais a ser seguidas pelos jornalistas. Um dos pontos diz respeito a normas relativas à utilização de blogues e redes sociais: “Deve-se evitar a publicação de textos, fotos ou vídeos que possam ser entendidos como favoráveis a determinada campanha ou indiquem posicionamentos partidários. As recomendações aplicam-se tanto aos produtos do jornal O Globo quanto a contas individuais de jornalistas, já que, na prática, qualquer conteúdo publicado nas redes sociais poderá ser associado à linha editorial do jornal”. No estatuto está presente o caso específico do Twitter no sentido em que “fica vedado ao funcionário do GLOBO a prática de reenvio (“retweets”) de conteúdos publicados por partidos políticos ou candidatos. Também não será permitido usar o serviço para propagar links para sites (pessoais ou institucionais) que contenham propaganda político-partidária, ou que sejam tanto ofensivos quanto elogiosos a determinado candidato”. Regras básicas do jornalismo como incluir todas as partes parecem assim alargar-se às redes sociais: “Se, por necessidade profissional, jornalistas precisarem adicionar candidatos ou partidos políticos como “amigos” em páginas do Facebook, Orkut e demais sites de relacionamento, devem fazê-lo de forma equilibrada, evitando restringir a prática a apenas um determinado candidato ou partido. As inclinações políticas de jornalistas do GLOBO não devem aparecer também em seus perfis pessoais nesses e em outros sites de relacionamento”. Está presente a ideia de não dar preferência a partidos políticos, em blogues, redes sociais, etc. Esta questão relacionada com a política é também uma preocupação da BBC e da maioria dos exemplos observados.

A National Public Radio (NPR), onde se incluem as estações de rádio públicas dos Estados Unidos, enumera uma série de princípios50 com ideias como “os profissionais não se devem comportar de forma diferente nas redes sociais de como fariam em qualquer sítio público”. Para além disso e de chamadas de atenção para as regras éticas que norteiam a NPR e que se estendem à Internet, “os jornalistas têm que confirmar toda a informação encontrada nos meios sociais através dos métodos tradicionais de trabalho” ou seja, insiste-se aqui na clássica regra de verificação de fontes.

A agência Reuters51 também fixou algumas regras aos seus jornalistas onde constam aspectos como não dar notícias em primeira mão através do Twitter, não usar a Wikipédia como fonte, não revelar filiações políticas nas redes sociais ou nos blogues pessoais, entre outras. A própria utilização do Twitter para funções profissionais só deve existir depois de uma autorização superior. 46 http://www.publico.pt/Media/sindicato-dos-jornalistas-regras-da-rtp-para-o-uso-de-redes-sociais-nao-podem-serordens_1411760 47 Entrevista concedida à revista Jornalismo e Jornalistas, nº 41, Janeiro/Março de 2010, pp. 16-19. 48 Entrevista concedida à revista Jornalismo e Jornalistas, nº 41, Janeiro/Março de 2010, pp. 16-19. 49 http://oglobo.globo.com/pais/mat/2010/06/10/o-globo-divulga-estatuto-das-eleicoes-2010-916832793.asp 50 http://www.npr.org/blogs/inside/2009/10/beats_and_tweets_journalistic.html 51 http://handbook.reuters.com/index.php/Reporting_from_the_internet#Social_media_guidelines

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As normas para o uso de redes sociais do jornal The Washington Post52, um dos pioneiros nesta matéria, mereceram a atenção do provedor do leitor Andrew Alexander, pelo facto de terem sido alvo de algumas críticas por parte dos leitores. Por exemplo, estão proibidos os tweets assim como a publicação de fotos ou vídeos onde possam ser observadas tendências políticas, religiosas, racistas, ou outras que de algum modo possam colocar em causa a independência e a credibilidade jornalística.

Os jornalistas do The Wall Street Journal receberam várias recomendações, entre as quais, a necessidade de precaução ao publicarem informação no Twitter, aconselhando em determinadas circunstâncias uma conversa sobre o assunto com os respectivos editores. Não menosprezar o trabalho dos colegas nem promover o próprio trabalho foram outras das ideias defendidas. A propósito destas regras do The Wall Street Journal, Jeff Jarvis tece algumas críticas, nomeadamente a que consiste em perder a oportunidade de fazer um trabalho colaborativo. Para Jarvis “o Twitter, os blogs, o Facebook, etc., também oferecem a oportunidade para os repórteres e editores saírem de trás da voz institucional do papel – uma voz que tem cada vez menos confiança – e tornarem-se humanos. Claro, eles devem misturar negócios e lazer53”.

Alguns jornais parecem, apesar das normas impostas, incentivar a utilização das redes sociais e a interacção com os leitores. A negação da importância destes espaços pode mesmo ser prejudicial. Em todas as regras o que pode não ficar claro é o limite que separa a vida pessoal da vida profissional, ou se quisermos, a dificuldade crescente em separar esfera pública de esfera privada.

A utilização do Facebook pelos media é um dado adquirido, nomeadamente como agregador de notícias, como plataforma de difusão de informação e até como uma forma de captar leitores. Neste sentido, reconhece-se a existência de vantagens para os media. A utilização do Twitter, por exemplo, permite ir ao encontro de fontes e concretizar uma maior ligação aos utilizadores, nomeadamente no que diz respeito à interacção e às reacções que caracterizam esta forma de relacionamento. Quanto às regras promovidas pelos vários meios de comunicação podemos constatar que umas são mais restritivas que outras. A restrição pode significar a perda de muitas oportunidades, como alertou Jarvis, nomeadamente no que se refere à possibilidade de colaboração. Em situações de catástrofes ou conflito a participação dos cidadãos é determinante. Os acontecimentos que se seguiram às eleições presidenciais iranianas, realizadas a 12 de Junho de 2009, são um bom exemplo disso. Foi nos blogs, no Youtube, no Twitter e em redes sociais como o Facebook que foi possível encontrar informação que de outro modo dificilmente seria conhecida. Contudo, podemos reconhecer a importância de indicações que lembram questões como a verificação, rigor, exactidão, imparcialidade e credibilidade. Alguns casos recentes têm, até certo ponto, justificado a difusão destas regras de conduta. Em Julho de 2010, Octavia Nasr, jornalista que trabalhava há duas décadas na CNN, foi demitida por escrever uma mensagem no Twitter a lamentar a morte de Hussein Fadlallah, “guia espiritual” do Hezbollah, uma mensagem que teve reacções dos apoiantes de Israel. A associação entre o conteúdo publicado nas redes sociais e a linha editorial de um meio de comunicação social pode implicar a extensão das regras éticas e deontológicas à Internet.

Alguns meios já integraram na sua equipa um gestor de comunidades a quem cabe a tarefa de coordenar a informação que circula nas redes sociais, blogues, comentários, etc. O The New York Times, o ABC.es e o jornal Público, têm já um

52 http://paidcontent.org/article/419-wapos-social-media-guidelines-paint-staff-into-virtual-corner/ 53 http://www.buzzmachine.com/2009/05/13/missing-the-point-2/

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community manager a quem cabe trabalhar com editores e repórteres, bloggers e potenciar o uso de ferramentas sociais.

O jornalista tem responsabilidade sobre o trabalho que desenvolve, tendo em consideração as regras éticas e deontológicas que norteiam a profissão. Isso não deve significar a ausência de uma interacção com os leitores, hoje possível através das mais diversas formas neste novo modelo comunicacional em rede. Bibliografia BRUNS, Axel (2005), Gatewatching: Collaborative Online News Production, New York: Peter Lang. CARDOSO, Gustavo, ESPANHA, Rita, ARAÚJO, Vera (Org.) (2009), Da Comunicação de Massa à Comunicação em Rede, Porto: Porto Editora. CASTELLS, Manuel (2009), Comunicación y Poder, Madrid: Alianza. DOWNIE Jr., Leonard, SCHUDSON, Michael, (2010) The Reconstruction of American Journalism, in: http://www.cjr.org/reconstruction/the_reconstruction_of_american.php EDO, Concha (2009), La noticia en internet: cibermedios, blogs y entornos comunicativos emergentes, dispononível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/edo-conchainternet- como-soporte-informativo.pdf FIDALGO, Joaquim (2008), “Realidades e aparências do jornalismo actual – Um estudo de caso” in LEMOS MARTINS, Moisés & Pinto Manuel (eds.), Comunicação e Cidadania – Actas do 5º Congresso da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, Braga: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade. RHEINGOLD, Howard (2008), “Using Participatory Media and Public Voice to Encourage Civic Engagement” in Civic Life Online: Learning HowDigital Media Can Engage Youth. Edited by W. Lance Bennett. The John D. and Catherine T. MacArthur Foundation Series on Digital Media and Learning, Cambridge, MA: The MIT Press. PISCITELLI, Alejandro (2009), “Facebook. Esa reiterada tensión entre la sobrepromesa y la invención de nuevos mundos”, in RUSC. Revista de Universidad y Sociedad del Conocimiento, Vol. 6, Núm. 1, disponível em: http://rusc.uoc.edu/ojs/index.php/rusc/article/view/28/23 PRIMO, A. e TRÄSEL, M. (2006). Webjornalismo participativo e a produção aberta de notícias. Disponível em: http://www6.ufrgs.br/limc/participativo/interna_links.htm