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Texto e Textualidade Maria da Graça Costa Val Português Instrumental Prof.ª: Ana Germana Rodrigues

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Page 1: Texto e Textualidade 2014.1

Texto e Textualidade Maria da Graça Costa Val

Português Instrumental

Prof.ª: Ana Germana Rodrigues

Page 2: Texto e Textualidade 2014.1

• Elementos do ato comunicativo:

– Intenções do produtor;

– Jogo de imagens mentais que cada um dos interlocutores faz de si, do outro e do outro com relação a si mesmo e ao tema do discurso;

– Espaço de perceptibilidade visual e acústica comum na comunicação face a face;

– O que é pertinente em uma situação pode não o ser em outra.

– Para ser texto, uma ocorrência linguística precisa ser percebida pelo recebedor como um todo significativo.

• Aspectos a serem avaliados em um texto:

a) Pragmático: funcionamento informacional e comunicativo;

b) Semântico-conceitual: coerência;

c) Formal: coesão.

Page 3: Texto e Textualidade 2014.1

• Textualidade:

Conjunto de características básicas de um texto.

• Beaugrande e Dressler (1983) – 7 fatores responsáveis:

Dois relacionam-se ao material conceitual e linguístico do texto:

Coerência;

Coesão.

Relacionam-se com os fatores pragmáticos envolvidos no processo sociocomunicativo:

Intencionalidade;

Aceitabilidade;

Situacionalidade;

Informatividade;

Intertextualidade.

Page 4: Texto e Textualidade 2014.1

2.1 Coerência e coesão

• Coerência: sentido do texto. Partilha de conhecimentos entre os interlocutores: aspectos

lógicos, semânticos e cognitivos. É resultante dos significados que sua rede de conceitos e

relações põe em jogo, mas também da compatibilidade entre essa rede conceitual – o mundo textual – e o conhecimento de mundo de quem processa o discurso.

• Coesão: manifestação linguística da coerência. Constrói-se através de mecanismos gramaticais e lexicais (p. 6

e 7). Ex1: João bateu em Antônio e este ficou ferido. Ex2: Ao pé dela, a moça loura viu o homem que a perseguia.

• Coerência e coesão: conectividade textual.

• Coerência: nexo entre os conceitos.

• Coesão: expressão desse nexo no plano linguístico, mas nem sempre explícito. Ex1: p. 7 (1).

Page 5: Texto e Textualidade 2014.1

Ex2:

A: É telefone.

B: Estou no banho.

A: Tudo bem.

• Mas nem sempre os recursos coesivos explícitos são suficientes para garantir a textualidade. Ex1: p. 8 (2).

Ex2: Maria tinha lavado a roupa quando chegamos, mas ainda estava lavando a roupa.

• Nexo não manifesto, mas facilmente recobrável:

Ex.: (3) e (4), p. 9.

• Há ainda a necessidade de explicitar a relação pretendida pelo produtor, suas intenções. Ex.: (5a) – (5f), p. 9.

• Portanto, o fundamental para a textualidade:

Relação coerente entre as ideias.

Page 6: Texto e Textualidade 2014.1

2.2 Fatores pragmáticos

• Intencionalidade:

Empenho do produtor em construir um discurso coerente,

coeso e capaz de satisfazer os objetivos que tem em

mente numa determinada situação comunicativa.

Ex1: Fiz um curso de informática e aprendi algumas

coisas interessantes. (intenção explícita)

Ex2: Fiz um curso de informática, mas aprendi algumas

coisas interessantes. (intenção implícita)

Page 7: Texto e Textualidade 2014.1

• Aceitabilidade:

Expectativa do recebedor de que o conjunto de

ocorrências com que se defronta seja um texto coerente,

coeso, útil e relevante.

Contrato de cooperação entre os interlocutores. A

margem de tolerância é tanto maior quanto mais

conhecido é o assunto e mais informal é a situação.

Ex.: Fiz um curso de informática, mas aprendi algumas

coisas interessantes. – Direcionada ao responsável pelo

curso...

Page 8: Texto e Textualidade 2014.1

• Situacionalidade:

Pertinência e relevância do texto quanto ao contexto em que

ocorre. Adequação do texto à situação sociocomunicativa.

Ex.: placas de trânsito.

• Coerência pragmática: necessidade de o texto ser

reconhecido pelo recebedor como um emprego normal da

linguagem num determinado contexto. Ex.: p. 13 (6).

• O tipo particular de discurso a ser escolhido deve ser

adequado a cada ato comunicativo,

• A textualidade de cada tipo de discurso envolve elementos

diferentes:

Ex.: o que é qualidade num texto argumentativo formal poderá

ser defeito num poema.

Page 9: Texto e Textualidade 2014.1

• Informatividade:

Medida na qual as ocorrências de um texto são

esperadas ou não, conhecidas ou não, no plano

conceitual e no formal.

Discurso menos previsível mais informativo,

Mas não pode ser inteiramente inusitado.

Page 10: Texto e Textualidade 2014.1

• Intertextualidade:

Fatores que fazem a utilização de um texto dependente

do conhecimento de outros textos.

Discurso anônimo do senso comum: analisar a presença

dessa fala subliminar, de todos e de ninguém, nos textos

estudados.

• Intertextualidade de forma e de conteúdo:

Forma: o produtor de um texto repete expressões,

enunciados ou trechos de outros textos, ou o estilo de

determinado autor ou de determinados tipos de discurso.

Ex.:

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“[...]

Do que a terra mais garrida

Teus risonhos lindos campos têm mais flores

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida em teu seio mais amores.”

(Hino Nacional – Osório D. Estrada)

“Nosso céu tem mais estrelas

Nossas várzeas têm mais flores

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.”

(Canção do Exílio – Gonçalves Dias)

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Conteúdo: relações determinadas, por exemplo, por fatores

culturais, de época, de área de conhecimento etc.

Page 13: Texto e Textualidade 2014.1

Como avaliar a

textualidade?

Page 14: Texto e Textualidade 2014.1

• Que propriedade distingue textos de não-textos?

Coerência.

Que característica apresentam os textos coerentes?

Continuidade, progressão, não-contradição e articulação.

Page 15: Texto e Textualidade 2014.1

• Continuidade / repetição

Retomada de elementos no decorrer do discurso

Permanência de elementos constantes

Coerência: retomada de conceitos, de ideias

Coesão: emprego de recursos linguísticos específicos:

Repetição de palavras;

Uso de artigos definidos;

Uso de pronomes demonstrativos;

Uso de pronomes anafóricos;

Elipse de termos.

Exs.: p. 22 (7), (8) e (9).

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Avaliar a continuidade:

No plano conceitual: se há elementos que percorrem

todo o seu desenvolvimento, conferindo-lhe unidade.

No plano linguístico: se esses elementos são retomados

convenientemente pelos recursos adequados.

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• Progressão

Apresentar novas informações a propósito dos elementos retomados: fazem o sentido do texto progredir e o justificam.

Coerência: soma de ideias novas às que já vinham sendo tratadas.

Coesão: mecanismos especiais para manifestar as relações entre o dado e o novo:

Dado: retomado anaforicamente e aparece no início de frases ou mesmo parágrafos ou sequências de frases.

Novo: expressa-se pelo comentário e figura no final das frases.

Novos comentários sobre um mesmo tópico, ou transformação dos comentários em novos tópicos.

Destacam o tópico, colocando-o em posição de foco: “quanto a”, “a respeito de”, “no que se refere a”, “é que”, “até”, “mesmo”, “o próprio”, etc.

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• Não-contradição

Âmbito interno e âmbito externo.

• Articulação

Maneira como os fatos e conceitos apresentados no texto se encadeiam, como se organizam, que papeis exercem uns com relação aos outros, que valores assumem uns em relação aos outros.

Verificar se as ideias têm a ver umas com as outras e que tipo específico de relação se estabelece entre elas.

Presença e pertinência das relações entre os fatos e conceitos apresentados:

O texto pode apresentar fatos e conceitos relacionáveis sem estabelecer ligações entre eles, ou

Pode estabelecer relações não pertinentes entre os fatos e os conceitos que denota.

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Recursos para expressão formal da articulação:

Mecanismos de junção (conjunção);

Articuladores lógicos do discurso (“por exemplo”, “dessa

forma”, “por outro lado”, etc.)

Recursos linguísticos que permitem estabelecer relações

temporais entre os elementos do texto (a ordem linear de

apresentação desses elementos, as conjunções temporais,

alguns advérbios e expressões de valor adverbial, os

numerais ordinais e alguns adjetivos, como “anterior”,

“posterior”, “subsequente”).

• Análise do texto: “Trapalhadas do fisco”.

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3. Critérios para análise da Informatividade

• Capacidade que um texto tem de efetivamente informar seu

recebedor.

• Necessidade de imprevisibilidade e de intertextualidade:

tomou-se como informação conhecida e previsível a voz do

senso comum, da ideologia dominante.

• Exigência da suficiência de dados:

Para o texto ser informativo, ele precisa apresentar todos

os elementos necessários à sua compreensão, explícitos

ou inferíveis das informações explícitas.

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• Para avaliar a imprevisibilidade: escala de 3 ordens:

1ª: ocorrências de elevada previsibilidade e, consequente-mente, baixa informatividade, como clichês e estereótipos, frases feitas, afirmações sobre o óbvio. Os textos que não passam disso resultam pragmaticamente

ineficientes, porque são desprovidos de interesse.

2ª: ocorrências em que o original e o previsível se equilibram, conquistando boa aceitabilidade, visto que apresentam novidade sem provocar estranheza.

3ª: ocorrências que, aparentemente, não figuram no leque de alternativas possíveis e que, por isso mesmo, desorientam, ainda que temporariamente, o recebedor.

Numa comunicação efetiva, há uma busca pela 2ª ordem: No todo textual, o óbvio ganhará razão de ser, e o inusitado

se explicará, passando a ter, um e outro, rendimento eficaz dentro do texto.

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• Para avaliar a suficiência de dados:

Examinar se o texto fornece ao recebedor os elementos

indispensáveis a uma interpretação que corresponda às

intenções do produtor, sem se mostrar, por isso,

redundante ou estranho.

Faz-se necessário explicitar os dados que:

não podem ser tomados como de domínio prévio do

recebedor,

nem podem ser deduzidos a partir dos conhecimentos

que o texto ativa.

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• Para avaliar a informatividade:

Medir o sucesso do texto em levar conhecimento ao

recebedor, configurando-se como ato de comunicação

efetivo.

Depende da capacidade do discurso de acrescentar alguma

coisa à experiência do recebedor, no plano conceitual ou no

plano da expressão (imprevisibilidade);

Depende ainda do equilíbrio entre o que o texto oferece e o

que confia à participação de quem o interpreta (suficiência

de dados).

Mesmo para textos coerentes e coesos, um baixo poder

informativo tem como resultado uma baixa eficiência

pragmática.

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4. A subjetividade da avaliação

• A natureza do texto é melhor compreendida se se abre mão

do rigor e da exatidão tecnicista e se dá espaço para a

intuição e o bom senso.

Critérios adotados são subjetivos, pois a coerência, a

coesão e a informatividade estão em estreita

dependência dos conhecimentos partilhados pelos

interlocutores.

• A textualidade de uma produção linguística qualquer

depende, em grande parte:

Do recebedor: seus conhecimentos prévios, sua

capacidade de pressuposição e inferência, sua adesão

ao discurso;

Do contexto: o que é texto em uma situação pode não o

ser em outra e vice-versa.

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• Para avaliação técnica, critérios qualitativos que busquem captar e sistematizar as condições naturais de aceitabilidade dos discursos: Dada a situação comunicativa, as características e as

disposições dos interlocutores e o tipo textual efetivo, essa produção linguística se mostra aceitável?

Tem continuidade? Apresenta progressão? Mostra-se contraditória e bem articulada? Faz uso adequado dos recursos coesivos que servem à

expressão dessas qualidades? É suficientemente clara e explícita na apresentação das

informações? Comporta um mínimo de novidade que possibilite

reconhecê-la como manifestação personalizada e capaz de atrair a atenção de um recebedor médio?

Page 26: Texto e Textualidade 2014.1

• Competência textual: determina a capacidade das pessoas

de produzir e interpretar textos.

• A interação comunicativa de verdade é um processo

essencialmente intersubjetivo: são pessoas que

produzem/interpretam textos e entram nesse jogo com toda

a sua individualidade.

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5. A necessidade de uma avaliação global

• As ocorrências de um texto não devem ser consideradas

per si, mas o texto deve ser percebido e interpretado

integralmente, cada elemento sendo avaliado em função do

todo.

No plano da coerência: ordem macroestrutural.

No plano da coesão, microestrutural.

• Perceber cada texto como um todo e chegar a um

julgamento mais legítimo, mais próximo do que se passa de

fato no processo comunicativo, porém com inevitável

margem de subjetividade.