história - ceesvo - apostila2

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Para facilitar seus estudos: Leia atentamente os módulos e se achar necessário responda NO CADERNO as atividades propostas. Elas não são obrigatórias. Consulte o dicionário sempre que não souber o significado das palavras. Se necessário, utilize o volume da biblioteca. Se você tiver dúvidas com a matéria, consulte uma das professoras na sala de História. IMPORTANTE: NÃO ESCREVA NA APOSTILA, POIS ELA SERÁ TROCADA POR OUTRA. A TROCA SÓ SERÁ FEITA SE A APOSTILA ESTIVER EM PERFEITO ESTADO .

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Para facilitar seus estudos: � Leia atentamente os módulos e se achar necessário responda

NO CADERNO as atividades propostas. Elas não são obrigatórias.

� Consulte o dicionário sempre que não souber o significado das

palavras. Se necessário, utilize o volume da biblioteca. � Se você tiver dúvidas com a matéria, consulte uma das

professoras na sala de História.

IMPORTANTE:

NÃO ESCREVA NA APOSTILA, POIS ELA SERÁ TROCADA POR OUTRA.

A TROCA SÓ SERÁ FEITA SE A APOSTILA ESTIVER EM PERFEITO ESTADO.

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Em meados do século XVIII, surgiram NOVAS IDÉIAS.

E essas novas idéias vão mudar a vida de muita gente...

...inclusive, as colônias vão dar um basta a toda exploração sofrida durante mais de três séculos.

A COLÔNIA EM CRISE - SÉCULO XVIII -

Caro aluno, neste módulo você estudará o processo que provocou o fim do sistema colonial aqui no Brasil e o que desencadeou à independência do Brasil.

Para isso, é

necessário estudar em linhas gerais, a situação

européia e a crise do Antigo Regime.

Ah! Você estudará também como foi o Primeiro Reinado, isto é, o governo

de D. Pedro I aqui no Brasil e os fatores que levaram a sua renúncia.

Então, para você entender o que provocou o fim do sistema colonial é necessário saber o que estava acontecendo na Europa nesse período...

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A SITUAÇÃO EUROPÉIA

• A CRISE DO ANTIGO REGIME A partir de meados do

século XVIII, com a evolução do capitalismo, que passou de comercial a industrial, e as chamadas revoluções burguesas (Revolução Industrial, Revolução Americana e Revolução Francesa) foram colocados em xeque o Antigo Regime, e o sistema colonial, abrindo caminho para a Independência das colônias latino-americanas, incluindo o Brasil.

Verificou-se nesta época, uma transformação importante na economia mundial. Ao mesmo tempo da Revolução Industrial, operou-se a substituição gradativa do capitalismo comercial pelo capitalismo industrial.

Veja bem, antes dessa época, quem possuía o capital (qualquer riqueza capaz

de dar renda e que se emprega para obter nova produção) eram os ricos comerciantes. A indústria estava na fase do artesanato: o pequeno produtor independente, o artesão, vendia seus produtos diretamente ao consumidor ou ao grande comerciante que lhe fornecia a matéria-prima.

Com a Revolução Industrial, estabeleceram-se as grandes fábricas, concentrando-se muitos trabalhadores, simples assalariados, dirigidos por um patrão, dono da fábrica e do dinheiro, isto é, do capital. Para o capitalismo industrial, que passou a dominar cada vez mais a economia, não interessava o monopólio comercial.

Os industriais queriam o comércio livre, para poderem comprar a matéria-prima de quem quisessem e venderem seus produtos nos mercados que possibilitassem maiores lucros.

Antigo Regime - era o:

• Absolutismo - poder absoluto dos reis; • Mercantilismo - economia dos reis e • Sociedade Estamental - onde o lugar da

pessoa na sociedade era determinado pelo nascimento.

• E também os privilégios da nobreza e do clero.

Mas como assim???

E O QUE ISSO SIGNIFICOU?

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Ao mercantilismo opunha-se, portanto, o LIBERALISMO, denominação dada ao conjunto de idéias contrárias à intervenção do Estado na economia e favorável à livre iniciativa. O capitalismo industrial voltou-se contra todos os monopólios. Espanha e Portugal resistiram o quanto puderam, já que, sem o monopólio comercial sobre suas colônias, seus impérios não teriam sustentação.

Portugal, em particular, vivia apenas como simples intermediário do comércio entre as suas colônias e os países europeus: levava os produtos do Brasil para os mercados consumidores e trazia para cá as mercadorias necessárias ao consumo da população.

Saiba que a manutenção desse monopólio só era possível mediante a imposição de sérias restrições às atividades econômicas da colônia, impedindo que fossem produzidas aqui as mercadorias vendidas pelos comerciantes portugueses.

Não é preciso dizer o quanto essas medidas restritivas dificultavam o desenvolvimento da colônia, além de criar inúmeros problemas.

Os fornecedores portugueses atendiam muito mal às necessidades da população, facilitando com isso a expansão do contrabando.

Seria preciso mudar esse estado de coisas, cortar as amarras que forçavam o Brasil a produzir para exportar, de acordo com os interesses da metrópole, em vez de procurar atender às próprias necessidades.

Agora, conheça os TRÊS FATORES importantíssimos, que provocaram a crise do sistema colonial na 2ª metade do século

XVIII e que marcaram a transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea.

1) Revolução Industrial

Por volta da metade do século XVIII, especialmente na Inglaterra, começaram a surgir as primeiras fábricas. A máquina a vapor tinha sido uma invenção sensacional: sozinha, ela fazia o trabalho de muitos homens, com a vantagem adicional de não raciocinar nem reivindicar...

A burguesia esfregava as mãos de contentamento por causa dos lucros. Enquanto isso, o proletariado (os trabalhadores assalariados) rebentava o corpo horas a fio na fábrica, em troca de míseros salários.

Por que a Inglaterra foi a pioneira (a primeira)

na Revolução Industrial?

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Em primeiro lugar, porque desde o século XVII, com a Revolução de 1640-1689, a burguesia ocupava o poder. Isso quer dizer que o governo britânico fazia de tudo para dar força aos negócios da burguesia.

A destruição do feudalismo tinha criado um enorme bando de pessoas famintas e sem terra. Totalmente “livres” para optar entre trabalhar como desgraçados numa indústria ou morrer de fome desempregados.

Os capitalistas chamam isso de “liberdade de escolha”.

Em segundo lugar, foi o enriquecimento de sua burguesia. Durante séculos ela veio investindo e aumentando seu poder econômico. Foi a fase da chamada acumulação primitiva de capital.

Como foi que a burguesia conseguiu crescer tanto a ponto de se lançar para a conquista do mundo?

Trabalho? Esperteza? Sorte?

Na verdade, a origem da riqueza burguesa está ligada ao tráfico de escravos, à exploração colonial, à pirataria, à expulsão dos camponeses de suas terras, ao roubo e assassinato de milhões de indígenas, à miséria das famílias endividadas, à ruína dos artesãos, às sangrentas guerras motivadas por ambições econômicas.

Muitos outros fatores facilitaram a Revolução Industrial inglesa.

O espírito científico e racional do Iluminismo, os investimentos em tecnologia, as reservas de carvão, a poderosa marinha mercante etc.

Disso tudo resultou uma enorme produção de mercadorias, com a consolidação do sistema capitalista. É evidente que a Inglaterra buscou vender seus produtos no mundo inteiro. Estava lançada a corrida pela disputa dos mercados mundiais.

Agora responda em seu caderno: 1) Como se deu a acumulação de riquezas pela burguesia?

Ainda bem que tudo isso é coisa do passado!

Você não acha?

O ILUMINISMO - propunha o fim do poder absoluto dos reis, o fim do privilégios da nobreza e do clero - que eram características do Antigo Regime, e defendia entre outras idéias, o liberalismo econômico (liberdade para os negócios) e a igualdade perante a lei.

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SER OU NÃO SER LIBERAL...

A Revolução Industrial e o triunfo do capitalismo contribuíram para mudar o que muitos homens europeus pensavam sobre a economia e a política. Os ideais do Liberalismo estavam vencendo.

O Liberalismo econômico foi brilhantemente defendido por Adam Smith (1723-1790). Antes dele, os fisiocratas, economistas do Iluminismo francês, já haviam defendido idéias semelhantes. Acontece que os fisiocratas achavam que só a agricultura seria uma atividade produtiva. Ora Adam Smith já vivia numa sociedade em que as fábricas nasciam uma atrás da outra. É claro que ele vai reconhecer o valor do trabalho e se apaixonar pela indústria.

O objetivo de Adam Smith era mostrar que o mercantilismo tinha deixado de favorecer os negócios. Ele dizia que a economia funciona muito melhor quando o Estado não se intromete nela. Os empresários deveriam ter liberdade total, assim a economia cresceria muito mais com o vale-tudo bem capitalista.

O liberalismo político já vinha sendo defendido pelos iluministas franceses e por ingleses, como o filósofo John Locke (1632-1704). Eles combatiam o absolutismo e pregavam uma sociedade em que estariam garantidos os direitos de propriedade privada (para quem a possuísse, é claro!), de liberdade individual e de igualdade jurídica (a mesma lei valeria para todos).

Para eles, o governo seria limitado pela Constituição e escolhido pelos

cidadãos, embora muitos liberais achassem que o direito de voto só deveria ser dado aos que tivessem certa quantidade mínima de bens...

Como se vê, os liberais defendiam os interesses da burguesia da época. Mas também é verdade que as liberdades democráticas eram uma importante conquista do povo em geral. É por isso que muitas revoluções populares, nos séculos XVIII e XIX, vão conter idéias liberais.

2) Revolução Americana

Em 1776, os Estados Unidos da América libertaram-se do domínio inglês. Na Declaração de Independência foram estabelecidos a igualdade perante a lei, a função dos governos de garantir os direitos dos governados e o princípio segundo o qual o poder dos governos depende do consentimento dos governados.

A forma de governo adotada foi a republicana do tipo presidencialista, com divisão e independência dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. A partir de então, outras colônias americanas começaram a lutar para libertar-se das metrópoles. A independência dos Estados Unidos, despertou os sentimentos emancipacionistas de todas as colônias americanas. Sua revolução vitoriosa diante da poderosa metrópole inglesa, seu regime republicano diante de um mundo ainda monárquico e sua constituição liberal, contrastando com o absolutismo europeu de “direito divino”, fascinaram os colonos da América Latina.

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3) Revolução Francesa

O Antigo Regime na França parecia uma panela de pressão pronta para explodir. Reis e nobres, morando em palácios luxuosíssimos, eram sustentados por milhões de camponeses famintos e esfarrapados. A burguesia, por sua vez, exigia ter voz no governo. Para piorar a situação, os cofres reais estavam vazios. Os gastos irresponsáveis tinham raspado todo o dinheiro do fundo.

O assunto nas festas da nobreza era como aumentar os impostos. O assunto no almoço do camponês, quando havia o que comer, era como triturar um nobre...

O rei Luís XVI ainda tentou contornar a situação. Mas, a partir de 1789, a rebelião estourava em todo o país e o rei foi para a guilhotina. Em Paris, os trabalhadores pegaram em armas e garantiram a segurança dos deputados que elaboraram a Constituição de 1791 e a célebre Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, inspirada nos iluministas.

Foram abolidos os privilégios feudais, e no lugar do absolutismo implantou-se uma monarquia constitucional.

A Revolução Francesa também influenciou movimentos contra o colonialismo e os privilégios dos nobres em várias partes do mundo, inclusive no Brasil.

Os iluministas acreditavam que só um tirano tentaria resolver problemas sociais através da violência. Por isso, eles defendiam a educação como o grande caminho da mudança.

Assim, as crianças deveriam aprender a amar a liberdade e a justiça, e teriam uma sólida formação científica.

A tortura e a pena de morte seriam abolidas. As prisões visariam a reeducação do criminoso.

A tolerância seria cultivada: não se perseguiria ninguém por suas próprias idéias religiosas ou políticas.

Agora, pense...

Será que essas idéias seriam válidas hoje? Será que o Brasil atual deixaria um iluminista satisfeito?

O ILUMINISMO - propunha o fim do poder absoluto dos reis, o fim dos privilégios da nobreza e do clero - que era características do Antigo Regime, e defendia entre outras idéias, o liberalismo econômico (liberdade para os negócios) e a igualdade perante a lei.

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• A CRISE DO SISTEMA COLONIAL No final do século XVIII e comecinho do XIX as contradições entre Colônia

e Metrópole tinham se tornado insuportáveis. Era a crise do antigo sistema colonial.

As colônias tinham seu próprio modo de ser, isto é, sua estrutura econômica e social possuía autonomia. Não eram meros suplementos das metrópoles. A Colônia “funcionava” do seu jeito, e o que aconteceu dentro dela, estruturalmente, explica a crise do sistema colonial.

É que as colônias tinham crescido. Sua produção econômica, sua população, as comunicações, tudo se desenvolvia.

Elas cresceram tanto que o sistema colonial estava se tornando uma barreira que impedia novos crescimentos. E tanto a elite colonial como as camadas médias e populares queriam crescer.

É como usar o nosso casaco de infância. Ele era bonito e esquentava. Mas a gente cresce e engorda. O casaco passa a apertar e até a sufocar. É preciso tirar o casaco.

Assim, é fácil perceber que o casaco era o sistema colonial e que o strip-tease seria a independência.

Para entender melhor a crise do sistema colonial, é necessário voltar sua atenção

para as colônias aqui da AMÉRICA.

Mas o que será que aconteceu na estrutura, dentro das colônias!?

E como as colônias da América receberam as mudanças ocorridas na Europa?

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Agora responda em seu caderno:

2) A crise do sistema colonial provocou à independência das colônias americanas? Elas ficaram realmente livres?

Bem, você não pode esquecer da Revolução Industrial, pois a Inglaterra lançava "olhos gulosos" para os mercados consumidores que a América poderia oferecer. Por outro lado, o pessoal das colônias também queriam comprar barato dos ingleses, sem a intermediação da Metrópole.

Então, está na cara que a Inglaterra daria a maior força para as independências, não é mesmo?

Assim, por um motivo ou outro, as colônias queriam a independência e o recheio intelectual viria do Iluminismo e do Liberalismo.

As elites liam tudo o que era novidade na Europa. Mandavam seus filhos para as universidades européias, e eles voltavam falando de liberdade.

Nas treze colônias inglesas (atual Estados Unidos), o movimento de independência teve características democráticas.

Mas, na América Latina, as elites eram muito poderosas e conseguiram evitar uma participação mais profunda do povo.

Isso significa dizer que, aqui, as idéias do Iluminismo e do Liberalismo foram filtradas pelas elites, ou seja, as elites só pegaram o que lhes interessava.

A parte democrática foi posta de lado, como idéia inventada por estrangeiros inimigos da pátria...

Saiba que no começo do século XIX, a maioria das colônias se tornaram independentes. Nesta época, um novo domínio, mais sutil e oculto, estava nascendo: o do capital inglês.

O ILUMINISMO - propunha o fim do poder absoluto dos reis, o fim do privilégios da nobreza e do clero - que eram características do Antigo Regime, e defendia entre outras idéias, o liberalismo econômico (liberdade para os negócios) e a igualdade perante a lei.

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Ao longo do tempo, o funcionamento do sistema colonial acabou gerando

uma contradição inevitável entre a metrópole e a colônia, que se expressava na rivalidade:

Em outras palavras: não era possível continuar explorando a colônia sem desenvolvê-la. Em contrapartida, ao se desenvolver a colônia poderia criar condições para lutar pelo fim da exploração da metrópole.

Assim, ao mesmo tempo em que incentivava o desenvolvimento da colônia, a metrópole tomava medidas para contê-lo, procurando para isso, controlar a elite colonial.

Para controlar o desenvolvimento do Brasil (colônia), Portugal (metrópole) adotou medidas como:

• Proibição, em 1751, do ofício de ourives (pessoa que dá forma ao ouro - faz anéis, colares etc.), na região de Minas Gerais, para evitar o extravio de ouro. Em 1766, a medida foi estendida para Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro.

• Proibição, em 1785, de todas as manufaturas têxteis (produção caseira de tecidos), com exceção daquelas que produziam panos grosseiros de algodão, destinados à vestimenta dos escravos ou à confecção de sacos. A medida tinha como objetivo concentrar a mão-de-obra disponível na colônia essencialmente em duas atividades: a agricultura exportadora e a extração de minérios. Os tecidos e outras manufaturas usados pelos colonos teriam de ser importados (comprados de outro país), através do comércio metropolitano.

• Proibição, até 1795, da instalação de indústria de ferro, obrigando os colonos a importar (comprar) da Europa as ferramentas de que necessitavam.

E como será que foi a crise do sistema colonial aqui

no Brasil??

desenvolver a colônia X explorar a colônia

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O conflito de interesses entre colônia e metrópole agravou-se com o tempo,

gerando tensões que acabaram em rebeliões.

Agora você estudará em linhas gerais, duas rebeliões ou revoltas ocorridas nesse período:

♦ A Conjuração ou Inconfidência Mineira; ♦ A Conjuração Baiana. ♦

A palavra “Inconfidência” significa, segundo o Dicionário Aurélio, falta de fidelidade, traição. No contexto do movimento ocorrido em Minas Gerais, podemos questionar: Traição contra quem?

Contra o governo opressor que impunha a cobrança forçada de impostos (“derrama”). Os que lutaram, principalmente Tiradentes, foram fiéis aos seus ideais de liberdade. Por isso, o mais correto é dizermos Conjuração (conspiração contra uma autoridade estabelecida). No caso os mineiros conspiraram contra o domínio português.

Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, tinha tudo para ser contestador: era pobre, oprimido, inteligente e esclarecido. Deu duro na vida para sobreviver: guiou mulas, procurou lugares de mineração, trabalhou com a enxada na terra.

Cheio de imaginação, projetou um sistema de canalização de água para o Rio de Janeiro. Mas não foi aprovado pelo governo. Era militar, mas nunca fora promovido porque não possuía padrinho. Aprendeu francês e leu os Enciclopedistas: tudo tinha a ver com ele.

Luta contra a tirania, liberdade e igualdade, esses sim eram os ideais de um homem digno! É isso aí: pobre, digno e revolucionário.

No final do século XVIII, a situação estava preta em Minas Gerais. A ameaça do governador, visconde de Barbacena, de cobrar à força os impostos atrasados, a famosa "derrama", apavorava todo mundo. Não se podia mais aceitar a exploração colonial. Era preciso lutar pela independência.

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Os "grandes" da região resolveram conspirar. Eram os latifundiários (grandes fazendeiros), padres, militares de alta patente e os homens enriquecidos com o ouro. Nomes famosos, como Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa e o cônego Luiz Vieira, ricos e intelectuais. Vários tinham estudado em Portugal (Coimbra) ou na França, onde absorveram idéias iluministas.

Os conjurados (conspiradores) mineiros tinham projetos para o novo país. A capital seria São João Del Rei, enquanto Vila Rica seria um centro universitário. Criariam manufaturas (fábricas que utilizavam o trabalho manual) de pólvora, ferro e tecidos.

Os nobres teriam de usar os tecidos nacionais. O governo, pela inspiração dos Estados Unidos, deveria ser republicano. Mas o problema da escravidão ficou em aberto.

Os conjurados eram donos de escravos e a maioria achava que “ainda não era o momento de acabar com a escravidão”. O problema é que essa elite (ricos) não tinham o menor contato com o povo.

O único vínculo era através de Tiradentes, este sim, agitador entusiasmado e idealista. Nas ruas, estradas, bordéis e tavernas, entre copos de cachaça e olhares sedutores das mineiras, lá estava ele, ardente, atrevido e falador.

Um traidor, o coronel Silvério dos Reis, e mais dois oficiais, para terem suas dívidas perdoadas, deduraram seus

companheiros de conspiração. As autoridades agiram rápido e foi todo mundo em cana.

Pela primeira vez, os riquinhos sentiram na pele as pancadas da vida. O mau caratismo proliferou: um acusava o outro, para se livrar da responsabilidade. Choravam, implorando perdão. Um dos poucos com atitude digna foi Tiradentes. Assumiu tudo de peito aberto, para alívio de seus acovardados cúmplices. O julgamento foi uma encenação.

Primeiro, anunciaram a execução de vários. Depois que eles esvaziaram os intestinos descontrolados e choramingaram feito crianças mimadas, as autoridades mostraram o perdão da Rainha D. Maria. Em vez de morte, o degredo (expulsão do Brasil) para a África.

Apenas Tiradentes seria executado. Por quê? O governo português sabia que ele não era o principal líder, pois não era rico nem tinha curso universitário.

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Claro que teve um papel importante, porque era o grande agitador junto ao povo comum. Mas, um homem comum como ele, jamais seria aceito como líder pelos ricos membros da elite colonial.

As autoridades portuguesas sabiam disso. Sabiam também que Tiradentes

estava querendo bancar o mártir, assumindo toda a culpa.

Porque Tiradentes era o único pobre do grupo. Enforcaram-no para dar

exemplo para o povão. “Que nunca mais ninguém se atreva a se rebelar!”

O corpo de Tiradentes foi cortado em vários pedaços. A cabeça, decepada, exibida em público, como exemplo da força do poder Real.

“Ninguém nunca mais ousará se revoltar no Brasil".

Porém, numa noite, apesar da vigilância dos soldados, a cabeça foi roubada e nunca mais apareceu! Através do gesto simples e abusado, o povo dava seu recado insubmisso às autoridades coloniais.

♦ Quase dez anos depois dos acontecimentos de Minas Gerais, surgiu um

movimento revolucionário na Bahia. Diferentemente da Conjuração Mineira, que foi organizada pela elite colonial, a Conjuração Baiana, também conhecida como Revolta dos Alfaiates, contou com a participação de pessoas das camadas sociais mais humildes. Eram alfaiates, soldados, mulatos, negros livres e escravos inconformados com a fome e a miséria.

− Agora responda em seu caderno:

3) Relendo o texto sobre a Conjuração Mineira, por que somente

Tiradentes foi executado?

Por que então ele foi o único executado?

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Todos são iguais e têm o mesmo direito à liberdade,

igualdade e fraternidade.

Os objetivos desse movimento estavam mais voltados às aspirações do povo, pois reivindicava reformas contra as injustiças sociais e raciais da época.

Alguns homens ricos e cultos que participavam da Conjuração Baiana recuaram quando perceberam seu alcance verdadeiramente popular.

Em Salvador na Bahia, na

manhã de 12 de agosto de 1798, há uma aglomeração em torno do pelourinho...

Ah! Era um cartaz que botaram

e, como quase ninguém sabia escrever, alguém o lê em voz alta.

Era uma chamada para os baianos repetirem o que os jacobinos (grupo formado por deputados, burgueses e intelectuais) estavam fazendo na França - uma revolução onde “cada um, soldado e cidadão, independente de serem negros, pardos, marginalizados e abandonados, todos seriam iguais, não haveria diferença, só haveria liberdade, igualdade e fraternidade”.

Não havia somente um folheto para ser arrancado por algum riquinho que passava por ali, havia muitos outros.

O projeto dos rebeldes baianos continha uma série de medidas importantes, tais como:

• Romper com a dominação portuguesa e proclamar uma república democrática.

• Abolir a escravidão do negro. • Aumentar a remuneração dos soldados. • Abrir os portos brasileiros aos navios de todas as nações. • Melhorar as condições gerais de vida do povo.

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A maçonaria era, na época, uma organização secreta de ajuda mútua. Cada maçom deveria dar uma força para um irmão maçom em dificuldades.

Geralmente os maçons eram comerciantes, donos de oficinas de artesanato, intelectuais e profissionais liberais.

Isso ajuda a explicar o empenho da maçonaria em divulgar os ideais iluministas (liberdade e autonomia).

Assim, os revolucionários desejavam não somente romper com a dominação colonial portuguesa, mas também modificar a ordem social interna do Brasil, que se baseava no trabalho escravo.

Os latifundiários exigiram providências. As autoridades começaram a agir contra o movimento e contra as idéias. Mas por onde começar?

Pela maçonaria: a loja Cavaleiros

da Luz difundia idéias iluministas. Mas era só ela? Não, era só uma ponta. Havia outra: Cipriano Barata, o médico dos pobres, o revolucionário de todas as revoluções.

Mais ainda? Sim, o núcleo de revolucionários era composto por negros e mulatos pobres, esses sim, os mais perigosos.

Começou a repressão. Mais de cem pessoas na cadeia, a tortura. Os trabalhadores portam-se com honra e altivez. Um deles, arrebentado pelas pancadas, declarou, diante do irritado governador, que repartiria as fortunas dos ricos entre os que nada tinham.

A resposta da Coroa: enforcamento de vários rebeldes.

Pedaços de corpos mutilados foram pendurados como carne de boi num açougue. A lição para que o povo nunca mais fosse insolente.

Será que conseguiriam calar a multidão?

O ILUMINISMO - propunha o fim do poder absoluto dos reis, o fim dos privilégios da nobreza e do clero - que eram características do Antigo Regime, e defendia entre outras idéias, o liberalismo econômico (liberdade para os negócios) e a igualdade perante a lei.

Bem, agora, antes de continuar estudando o que acontecia aqui no Brasil é necessário

você saber qual era a situação européia no início do século XIX, certo?

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Como você já estudou, a Revolução Francesa ocasionou à derrubada do governo absolutista de Luís XVI, sendo guilhotinado em 1793, na França. A vitória da França provocou a ira de vários países europeus, que também eram absolutistas e que tentavam combater o perigoso exemplo francês.

Em meio a essas guerras, surgiu um líder militar e político, que aproveitou das dificuldades internas e do ataque internacional, para assumir o governo francês com um golpe de Estado, em 1799.

Quem foi esse líder?

Ora, era o baixinho Napoleão Bonaparte. Após tomar o poder em seu país, Napoleão foi

vencendo a maioria dos inimigos e fazendo da França uma potência no continente europeu.

Esse crescimento do poder francês não agradou em nada a Inglaterra, maior centro capitalista e industrial do período, e para superá-la, Napoleão buscou o confronto direto, mas acabou derrotado pela superioridade naval dos ingleses.

Como a França não conseguiu vencer militarmente a Inglaterra, tentou usar uma outra estratégia. Napoleão resolveu isolar economicamente a Inglaterra. Como assim?

Caro aluno, para isolar a Inglaterra, que é uma ilha, Napoleão decretou o Bloqueio Continental em 1806, ou seja, os países do continente europeu não poderiam comprar nem vender seus pr odutos para a Inglaterra.

A finalidade era sufocar os ingleses, impedindo que comprassem ou vendessem para algum país europeu: “Quem comerciar com a Inglaterra, eu invado!” disse Napoleão, e ele não estava brincando.

Portugal estava numa enrascada. Se atendesse às

ordens de Bonaparte, os ingleses invadiriam o Brasil. Ficando com os ingleses, sofreria a vingança francesa.

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

Dom João, príncipe-regente (sua mãe, D.Maria, tinha ficado louca), bem que tentou enrolar os dois lados, fazendo promessas hora para um, hora para outro.

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Estrangeiros 24 % Viu!? Os ingleses pagavam

menos impostos que os portugueses!

Haveria alguma dúvida sobre quem estava começando a

mandar por aqui?

Fingia que dava uma dura nos ingleses, fechando os portos, mas por debaixo dos panos, negociava alternativas com seus aliados. Pouco adiantou. Napoleão pressionou e D.João, covarde, prendeu os ingleses residentes em Lisboa. Só que a invasão francesa já estava em curso.

O pavor tomou conta da nobreza. Os ingleses propuseram um acordo: escoltariam os navios portugueses levando o rei e os nobres em segurança até o Brasil, mas D. João teria de se comprometer a seguir as cláusulas de um pacto secreto que abriria os portos brasileiros.

Apesar da idéia de transferência não ser uma novidade, os portugueses foram pegos de surpresa pelo ataque francês. Então escoltados pelos ingleses, cerca de 15 mil nobres se acotovelaram nos navios. Não sem antes saquear o ouro das igrejas e do tesouro nacional. O povo que enfrentasse os invasores sozinhos!

Chegando ao Brasil, D. João tratou logo de agradar os ingleses: decretou a

Abertura do Portos (1808). Os ingleses e outros países amigos agora poderiam comerciar diretamente com o Brasil. Isto é muito importante, pois praticamente

significava O FIM DO PACTO COLONIAL. O Brasil só se separou politicamente de Portugal em 1822, mas a principal

característica da colonização, o monopólio, estava extinto desde 1808. Em 1810, D. João assinou os Tratados do Comércio, Navegação e Amizade

com a Inglaterra. Pois esses Tratados de 1810 eram escandalosamente a favor dos britânicos. Quando as mercadorias chegavam ao Brasil, tinham de pagar um imposto alfandegário de 15% sobre seu valor. Agora compare as taxas aduaneiras que os outros países pagavam (em porcentagem):

Agora responda em seu caderno:

4) Identifique o motivo da vinda da família real para o Brasil.

Portugueses

Ingleses

16%

15%

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Os livros escolares tradicionais falam que o “Brasil ficou independente em 1822”. Como se o país mudasse de repente, sem mais nem menos.

Imagine que você saiba tudo o que aconteceu no Brasil e no mundo no dia 7 de Setembro de 1822, quando D.Pedro deu o grito do Ipiranga. Você conseguiria explicar o por quê de o Brasil ter ficado independente? Claro que não! Porque a independência do Brasil não foi causada pelo que aconteceu naquele dia, mas pelo o que vinha mudando nas estruturas da sociedade brasileira colonial, mais ou menos do período que vai de 1808 a 1822 - que levou à Independência.

Quando chegou ao Brasil, D. João VI anulou o Alvará de 1785, de D. Maria,

que proibia manufaturas na Colônia. Ele tinha resolvido apoiar o desenvolvimento industrial no Brasil. Realmente, até que apareceram algumas pequenas metalúrgicas e manufaturas de tecidos nos estados de Minas Gerais e São Paulo. Porém, foram muito poucas.

Era difícil. Para começar, um país com tantos escravos e pobres não poderia ter um crescimento industrial espetacular. A grande barreira veio, porém, com a Abertura dos Portos e os Tratados de 1810. A partir daí, os produtos manufaturados ingleses entraram facilmente no Brasil e faziam uma concorrência devastadora.

Como você poderia, por exemplo, abrir uma fábrica de chapéus, se os ingleses na frente de todo mundo na Revolução Industrial, tinham condições de

vendê-los aqui com melhor qualidade e mais baratos?

Quem passasse no porto do Rio de Janeiro iria ver uma enorme confusão.

Vinham para o Brasil, importados, coisas como pianos austríacos, cerveja holandesa, licores e medicamentos franceses, bonecas alemãs, azeite, bacalhau e vinho portugueses, chá da Índia, pimenta, enxofre e azeite de dendê africanos, queijos suíços e, principalmente, mercadorias inglesas: tecidos de algodão, lã e linho, porcelanas, objetos de

metal e ferramentas, armas, sapatos, chumbo, cobre e etc. etc.

Para entendermos a independência do Brasil temos de olhar para a história do Brasil, para o longo processo de sua formação. Temos de entender o que era a estrutura colonial, como ela foi se tornando contraditória e o que

vinha acontecendo no Brasil e no mundo, especialmente na Europa dos tempos napoleônicos e no Brasil com D. João.

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É óbvio que o Brasil estava sendo amarrado à economia inglesa. Através do Rio de Janeiro, inclusive, os ingleses exportavam boa parte de seus produtos para o resto do Brasil e para a América do Sul.

Com a balança comercial desfavorável, o Brasil pagava seus déficits com dinheiro emprestado dos banqueiros europeus.

Agora responda em seu caderno:

5) O que provocou a balança desfavorável no comércio entre Inglaterra e Brasil? Como saldávamos as dívidas?

Marajá é aquele funcionário público que, ao contrário dos outros, não

trabalha e recebe uma grana alta todo mês. No Brasil, o número deles cresceu muito no regime militar após 1964. Entretanto já existiam há muito tempo.

Quando os 15 mil nobres portugueses desembarcaram no Brasil, havia um problema: o que fazer com eles? Eram um bando de parasitas ociosos. O jeito foi arrumar-lhes empregos públicos. Para isso, foram criados cargos de vários tipos, onde os “dito-cujos” não serviam para absolutamente nada.

Muitas coisas irritavam os brasileiros Com a chegada da nobreza, as autoridades colocavam uma placa escrita P.R. (Príncipe Regente) nas ruas das melhores casas. Isso queria dizer que o dono tinha de abandoná-la, porque agora iria ser residência de um nobre português.

Os cariocas, como sempre ironizaram: P.R. queria dizer “Prédio Roubado” ou, então, “Ponha-se na Rua”!

Os mais altos cargos da burocracia foram reservados para os nobres portugueses. Os latifundiários brasileiros, que esperavam regalias, começaram a se irritar.

CURIOSIDADE O Brasil ficou entulhado de mercadorias britânicas de todos os tipos. Tinha até coisas incríveis, tais como 'carteiras de dinheiro porta-notas' (quando aqui só tinha moedas...), patins para esquiar na neve de nosso inverno (?!) e talvez, quem sabe, até penicos de luxo, que tocavam música quando o sujeito sentava...

Perceba que, desde aquela época, os capitalistas internacionais ganham à custa de nossa dívida externa!

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Com a fuga da corte para o Brasil, Portugal ficou sob o domínio francês. Durante 7 anos, o povo português lutou contra a ocupação. Em 1814, com a expulsão dos franceses, Portugal passou a ser governado por um inglês. Por que será?

Em 1815, as potências européias se reuniram no Congresso de Viena, que visava colocar alguns soberanos (reis) no trono de seus países e restaurar o absolutismo. Em Portugal isso não aconteceu, pois a família real estava aqui no Brasil. Os reis europeus pressionaram D. João para que voltasse para a Europa.

Não querendo ceder a essas pressões, D. João transformou o Brasil em Reino Unido de Brasil, Portugal e Algarves. Teoricamente essa lei favoreceu o Brasil, pois como Reino Unido, subiu de uma condição de inferioridade (colônia) e ficou unido a Portugal. Na prática, contudo, os portugueses continuaram dominando o Brasil. D. Maria I (“a louca”) faleceu em 1816. O príncipe-regente tornou-se rei, com o título de D. João VI.

O Rio de Janeiro cresceu bastante depois da vinda da Corte. Esse crescimento não foi apenas por causa do número de indivíduos desembarcados, mas também por causa da nova função da cidade.

Era um ponto de encontro de militares, de negociantes, de nobres e de todos os tipos de poderosos.

Um papel destacado teve o Banco do Brasil, criado por D. João, em 1808. Sua principal função não era promover o desenvolvimento econômico, mas captar recursos para pagar as despesas do Estado. Mesmo assim, ele permitiu a ampliação dos créditos (empréstimos) para fazendeiros e comerciantes.

Temos de ver a presença da Corte no Rio de Janeiro com posição crítica. Sem dúvida a cidade cresceu, foi reformada, passou a ter o aspecto de uma cidade européia.

D. João criou:

• A Biblioteca Real (hoje é a Biblioteca Nacional, uma das maiores do mundo; fica no centro do Rio de Janeiro;

• O Museu Nacional, lá na Quinta da Boa Vista; • O “belíssimo” Jardim Botânico; • A Academia Militar; • A Escola de Medicina.

Mas será que o povo trabalhador foi beneficiado?

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Por que, além de biblioteca e museus, não se procurou alfabetizar a população?

Daí, dá para pensar na minoria privilegiada que os freqüentava. O Jardim Botânico procurou selecionar espécies vegetais que poderiam ser aproveitadas nas fazendas escravistas, além de servir de bucólico passeio para a aristocracia. Os médicos seriam para atender os pobres? Fábrica de pólvora para usar as balas contra o povo?

A cultura popular era perseguida. Os batuques dos negros, por exemplo, podiam ser proibidos porque, diziam que incitavam à revolta.

E os índios? No início do século XIX, a maioria deles estava exterminada. Porém, havia tribos no Interior.

O que fez D. João? Autorizou o retorno das guerras justas, ou seja, permitiu a escravização dos índios.

Em 1817, o rei enviou suas tropas para a colônia espanhola, vizinha do Rio

Grande do Sul e atual território do Uruguai, que estava lutando para conseguir sua independência. As ordens eram de invadir e dominar essas terras, com o objetivo de ampliar o território brasileiro e garantir acesso ao rio da Prata.

Depois de muita luta, a região foi anexada ao Brasil com o nome de Província Cisplatina, isto é, província que está antes do rio da Prata.

A chegada da Corte Real provocou excitação na aristocracia rural brasileira. Nossas classes dominantes sempre foram “bajuladoras” dos valores estrangeiros.

Conta-se que naquela viagem da Corte para o Brasil, os piolhos, bichos democráticos por não distinguirem cabeças, infestaram os nobres. No desembarque, estavam ali nossos aristocratas, vestidos à européia, com paletós, luvas e casacos debaixo do sol tropical. Foi quando desceram as damas portuguesas de crânio pelado. As brasileiras ricas tiveram desmaios e gritos histéricos. “Vejam: é a última moda na Europa!” E correram para se raspar também...

Será que hoje é tão diferente? É só verificar o pessoal usando roupas com mensagens do tipo “I am an idiot” ou I♥♥♥♥NY...

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Os moradores de Pernambuco conspiravam para conseguir a

independência do Brasil. Os participantes dessa rebelião eram padres, militares e civis, como juizes, comerciantes e proprietários de terras.

Os grandes proprietários rurais pernambucanos queriam resolver seus problemas econômicos, decorrentes da diminuição das exportações de açúcar e algodão.

Queriam também assumir o poder político, se não de todo o país, pelo menos de sua região. As pessoas das camadas sociais populares queriam melhorar sua condição de vida e desejavam igualdade de direitos. Havia até mesmo os que defendiam o fim da escravidão.

Os participantes do movimento foram denunciados e o governador da capitania mandou prendê-los antes dos planos estarem prontos. Os conspiradores militares resistiram à prisão, provocando tumultos que deram início à revolta popular conhecida como Revolução Pernambucana, em 1817.

O governador da Capitania fugiu para o Rio de Janeiro e uma junta revolucionária tomou o poder, organizando o governo provisório, que proclamou a República.

Os revoltosos conseguiram o apoio de várias capitanias do Nordeste. D. João VI enviou tropas, que logo conseguiram recuperar o controle sobre todas as capitanias participantes do movimento. A repressão foi violenta e a maioria dos revoltosos, executada.

Em 1820, a população da cidade portuguesa do Porto, influenciada por idéias liberais, fez uma revolução com o objetivo

de estabelecer um governo constitucional. O rei, ao perceber que havia perdido o poder absoluto, ficou com medo de perder também o trono.

Em abril de 1821, atendendo às exigências dos revolucionários portugueses, voltou com sua corte para Portugal, deixando no Brasil, como

príncipe regente, seu filho D. Pedro. A própria revolução do Porto tinha uma contradição: ela era

liberal para os portugueses e conservadora para o Brasil. Liberal, porque buscava o fim do absolutismo português, conservadora, porque tentou recolonizar o Brasil. Mas os brasileiros já tinham provado o gostinho da liberdade e não iam perdê-la. A independência era questão de tempo.

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Dizem que, pouco antes da partida, pai e filho, rei e príncipe, tiveram uma conversa de homem para homem.

Pedrinho imaginou que seria sobre mulheres e algumas verdades da vida, mas seu pai logo o interrompeu, mostrando que o assunto era outro. O velho D. João estava sacando que o Brasil iria acabar se separando e por isso, preocupado, falou para o filho algo do tipo: “Pedrinho, fique esperto e segura essa bocada!”

Bem, talvez não tenha sido bem assim. A História oficial conta que D. João VI teria falado um tanto diferente, algo como: “Pedro, se o Brasil se separar de Portugal, que antes seja para ti, que és meu filho e hás de me respeitar, do que para qualquer um desses aventureiros.”

De qualquer forma o que vale é o núcleo da idéia. D. João estava percebendo que o medo dos latifundiários (grandes fazendeiros) de um movimento popular pela independência (que o preconceito real denominava “aventureiros”) poderia dar oportunidade para D. Pedro se conservar no poder.

Era isso mesmo. A presença da Corte no Rio de Janeiro tinha criado uma máquina de administração e domínio, de que as classes dominantes queriam se aproveitar. Não precisava mudar muita coisa. Bastava um ajuste aqui, outro lá, e arrumar a pecinha: D. Pedro.

O príncipe D. Pedrinho gostou da idéia. Ele era um típico filhinho-de-papai, reacionário (conservador) até a medula. Não via com bons olhos o governo liberal em Lisboa. Formado na ideologia absolutista, pensou que aqui governaria sozinho.

A gente pega os livros tradicionais e lê que D. Pedro foi o “herói da Independência”. É como se, de repente, ele tivesse feito o caridoso favor de nos emancipar, é como se não fosse pela vontade dele não teria havido Independência.

Bolas, aconteceu o contrário! As classes dominantes na Colônia tinham um medo danado da revolta popular. Então, a saída era a separação, mas tranqüila, sem alterar muito. Daí os latifundiários terem escolhido o príncipe português para ficar na frente da emancipação em relação a Portugal.

O príncipe D. Pedro foi, então, simplesmente um instrumento usado pelas classes dominantes. Ele foi manobrado pelos brasileiros, sem sentir que estava sendo empurrado.

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Naquela época, não existiam partidos políticos como hoje, isto é, com sede,

direção escolhida, programa, concorrendo às eleições, etc. Os partidos eram grupos de pessoas com interesses e idéias mais ou menos

parecidos.

• O Partido Português não tinha só portugueses. O que acontecia é que havia os comerciantes interessados no retorno do Pacto Colonial. Junto deles estavam os militares portugueses e alguns funcionários da Coroa. Para eles, a independência nunca poderia ocorrer.

• O Partido Brasileiro tinha brasileiros e até portugueses. A diferença não estava no local de nascimento, mas sim na situação social. Ali estavam os homens mais ricos da Colônia: latifundiários, altos funcionários da burocracia estatal e comerciantes ligados ao comércio inglês ou francês e traficantes de escravos. Evidentemente, queriam o fim das restrições coloniais, mas democracia não constava no seu dicionário. Seu líder era José Bonifácio de Andrada e Silva.

• Os radicais eram um pequeno grupo com influência nos setores médios urbanos: pequenos comerciantes, advogados, padres, professores, farmacêuticos, funcionários públicos do baixo escalão, alfaiates, estudantes, ourives etc. Eles vinham da longa tradição de revoltas anticoloniais e republicanas. Para eles, a independência do Brasil deveria ter algo parecido com a Independência dos EUA ou a Revolução Francesa, com garantia de liberdades individuais.

Agora responda em seu caderno:

6) Releia o texto: “A família real foi embora” e destaque o trecho que você achou mais interessante.

...e como eram os PARTIDOS POLÍTICOS

nessa época?

A grande maioria do povo brasileiro não participava diretamente dessas movimentações políticas.

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Escravos ou lavradores pobres, submetidos aos latifundiários, morando no campo e sem qualquer informação sobre o que acontecia na cidade, permaneciam passivos diante dessas movimentações.

D. Pedro tinha apoio dos brasileiros (o Partido Brasileiro) e, naquele

momento, de alguns dos radicais de Gonçalves Lêdo, que procuravam atrair o príncipe para suas posições. Com esse apoio, sentia-se capaz de peitar as instituições arrogantes e recolonizadoras das Cortes.

O governo português deu ordens para que D. Pedro retornasse a Lisboa. Uma multidão foi para as ruas do Rio de Janeiro e pediu para ele desafiar a ordem recebida. Ouvindo os conselhos de seus poderosos assessores, respondeu que aceitava a “solicitação” do Senado e da Câmara do Rio de Janeiro. No dia 9 de janeiro de 1822 disse:

“...se é para o bem de todos e a felicidade geral da nação, diga ao povo que fico.”

Você já ouviu esta frase antes, não é mesmo? Esse é o famoso Dia do Fico.

Uma semana depois, D. Pedro nomeou um ministério que tinha à frente um brasileiro: José Bonifácio de Andrada e Silva. Em fevereiro, D. Pedro convocava o Conselho de Procuradores Gerais das Províncias do Brasil. A idéia era preparar a união de todas as províncias (Estados), para impedir a fragmentação política (separação).

Perceba uma sutileza: D. Pedro estava claramente armando a independência, devagar e sem alarde, com um detalhezinho à toa, que era a total ausência de participação popular.

Os radicais queriam que a união viesse através de uma Assembléia eleita pelo povo, mas José Bonifácio, D. Pedro e os brasileiros manobraram contra isso.

Os livros escolares apresentam a independência como uma simples luta entre Colônia e Metrópole. Porém, atrás disso estava o combate entre o autoritário e elitista Partido Brasileiro e o democrático grupo radical, que, na verdade, representavam distintas classes sociais.

Em maio de 1822, decretou-se o Cumpra-se. Os decretos das Cortes portuguesas só valeriam se tivessem autorização do príncipe. Mais um passo no caminho da Independência.

Em junho, D. Pedro convocou eleições para uma Assembléia Constituinte. Os radicais queriam eleições diretas e direito de voto para todos.

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E os conservadores (brasileiros), liderados por José Bonifácio que, inicialmente, era contra a Constituinte (houve até quem contasse que ele teria dito: “Hei de enforcar esses constitucionais na Praça da Constituição”), fizeram seus pontos de vista prevalecerem: voto indireto e proibido aos que recebessem salário (com algumas exceções, como os administradores de fazenda).

Em setembro de 1822 as Cortes Portuguesas enviaram, então, um ultimato: “Voltai imediatamente!”

Não havia outra saída, D. Pedro estava viajando para São Paulo, quando fez a pose para a foto. Era o dia 7 de setembro do ano de 1822. Deu o famoso berro: Independência ou Morte! De preferência, independência para as elites, morte só para o povo.

Em outubro seria aclamado e, em dezembro coroado imperador.

O Brasil estava politicamente independente.

Mas essa independência tinha sido uma mudança conservadora, OU SEJA, o Brasil permanecia dominado pelos grandes proprietários escravistas e pelos grandes comerciantes.

Certamente não éramos mais uma colônia. Portugal estava fora e comercializávamos com quem queríamos. Só que, agora, quem exercia muita pressão sobre a gente (sem nos colonizar) era a Inglaterra.

Nos invadia com suas mercadorias industrializadas e, assim, praticamente impedia nosso desenvolvimento fabril, ou seja, a abertura de manufaturas ( fábricas).

Emprestava dinheiro a juros altos e nos explorava com a dívida externa. (Parece que já vimos esse filme, não é mesmo?) Em relação à Europa que se industrializava, o Brasil se reduzia a um mero exportador agrícola.

MAS, PORQUE SERÁ QUE O POVO NÃO FOI CONSULTADO!?

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Essa relação com a Inglaterra capitalista e industrial, note bem, certamente era diferente da antiga relação com Portugal feudal e mercantilista.

Todavia, é preciso que você perceba um ponto que os livros escolares omitem (escondem) com freqüência: ela não era resultado exclusivo do poder da Inglaterra.

A situação do Brasil atendia diretamente às elites nacionais, ou seja, os poderosos daquela época.

� O Vulcão e o Trono

Pense um pouco: não é meio esquisito que o primeiro governante do Brasil independente tenha sido D. Pedro I ?

Puxa, ele era português. Mais ainda, era um príncipe português.

Mais e mais ainda, era um príncipe português, filho do rei da Portugal e herdeiro direto do trono em Lisboa!

O que acontecia é que as elites brasileiras tinham pavor de uma revolta popular.

O fantasma da Revolução Francesa, com o povão pegando em armas e exigindo direitos democráticos, rondava todo o mundo ocidental, incluindo as colônias na América. Para se livrar da Metrópole seria preciso derrubar o governo colonial. Mas haveria o risco da instabilidade, do esvaziamento do poder, da agitação das ruas.

Como evitar? Era preciso resolver a equação política: como romper com Lisboa sem derrubar o governo na Colônia, evitando o descontrole da multidão? Resposta: mantendo o príncipe português.

O Dr. Raymundo Faro, em sua obra "Os Donos do Poder", disse que no Brasil as elites enxergavam o povo como um vulcão prestes a explodir.

A política, para as classes superiores, consistir-se-ia em evitar a erupção desse vulcão popular.

Foi o que levou D. Pedro a sentar-se no trono verde-amarelo.

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� Quem realmente faz a História?

Os livros tradicionais de História estão sempre falando de nomes de reis,

generais, milionários e outros figurões. Ficamos com uma impressão de que, para poder participar das mudanças na sociedade, é preciso ser alguém muito especial. Por essa visão, as pessoas comuns (e somos a maioria!) devem se resignar a ficar quietas e caladas.

Nas escolas perguntam assim: “Quem fez a independência do Brasil?” Resposta: D. Pedro I. “Quem libertou os escravos?” Resposta: Princesa Isabel. “Quem descobriu o Brasil?” Resposta: Pedro Alvares Cabral. É como se alguns poucos heróis, sozinhos e por vontade própria, pudessem mudar o curso da História.

Uma andorinha só não faz verão. Um sujeito só não faz a História. Quem

faz a História são as classes sociais em luta por seus interesses econômicos, ideológicos e políticos.

Leia o poema do dramaturgo (autor de teatro) alemão do século XX, chamado Bertold Brecht, na página seguinte.

Dá para você perceber como ele critica a História Tradicional, a que só fala dos reis, dos césares, dos generais, dos ricos?

Com ironia, Brecht pergunta pelo povo trabalhador, pelos pedreiros da muralha da China, pelos escravos de Atlântida, pelo cozinheiro de Júlio César, o general de Roma.

A maioria das pessoas não percebe o quanto a escola dá uma educação política.

Se o homem comum do povo, como eu e você, achar que a História é feita somente pelos grandes homens, acaba convencido de que ele e o povo, gente simples e comum, que tem conta a pagar, dor-de-barriga e calças velhas, são incapazes de mudar a sociedade.

Vão abaixar a cabeça e aceitar qualquer exploração, como cordeirinhos.

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Imagine operários trabalhando numa fábrica. Um calor infernal, o encarregado exigindo mais eficiência e produção, um barulho ensurdecedor, a ameaça de serem despedidos, a cansaço, o salário miserável, a fome. Como se livrar da opressão?

Se acreditam na lição que aprenderam na escola, que a Princesa Isabel libertou os escravos, então nunca irão lutar pelos seus direitos.

Aprenderam a não acreditar nas suas forças, na capacidade de união de seus companheiros. Supõem que suas vidas só irão melhorar quando aparecer algum figurão para socorrê-los, quem sabe um novo patrão bem bonzinho!

Minha gente, direitos nunca são doados. Ninguém dá direitos a outros de mão beijada. Direitos não vem através da caridade.

Os poderosos só abrem mão de seus privilégios, depois de terem sido derrotados. O direito é sempre conquistado. E conquista envolve luta.

O povo trabalhador conquista seus direitos quando, unido e organizado, luta para arrancá-los das classes dominantes.

Essa conversa de que quem faz a História são os heróis não é encontrada só na escola. Na televisão, nas histórias em quadrinhos, vemos aos montes os “salvadores dos oprimidos-coitadinhos”.

Sempre a mesma idéia: “o povo é fraco, é incapaz, é ignorante...”.

D. Pedro não foi o autor da Independência do Brasil. Ele era apenas a pecinha de uma grande máquina, controlada pelos grandes latifundiários (fazendeiros) e apoiada pela Inglaterra.

Se, em alguns momentos, ele assumiu um papel importante, e até de liderança, foi porque tinha o apoio de poderosos grupos.

Ah! ...o povo não aparece nos livros didáticos tradicionais...

...e o povo?!

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PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ

Quem construiu a Tebas das sete portas? Nos livros constam nomes de reis.

Arrastaram eles os blocos de pedra? E a Babilônia várias vezes destruída?

Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas da Lima dourada moravam os operários?

Para onde foram os pedreiros, na noite em que a muralha da China ficou pronta?

A grande Roma está cheia de Arcos do Triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram os Césares?

A decantada Bizâncio Tinha somente palácios para seus habitantes?

Mesmo na lendária Atlântida Os que se afogaram gritaram por seus escravos

Na noite em que o mar os tragou.

O jovem Alexandre conquistou a Índia. Sozinho?

César derrubou os gauleses. Não levava sequer um cozinheiro?

Felipe da Espanha chorou, quando sua Armada Naufragou. Ninguém mais chorou?

Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos. Quem venceu além dele?

Cada página uma vitória.

Quem cozinhava o banquete? A cada dez anos um grande homem.

Quem pagava a conta?

Tantas histórias. Tantas questões.

Bertold Brecht

Agora responda em seu caderno:

7) Refletindo sobre o texto acima, quem são os verdadeiros heróis na História do Brasil?

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Com a independência o Brasil acabava de se tornar um Estado, isto é, país

livre e com organização própria. O Estado Brasileiro nascia com um governo monárquico. Seu nome passou a ser Império do Brasil.

Quando surge um novo Estado, junto com ele surgem também algumas necessidades. É preciso organizar a coleta de impostos para o Estado ter dinheiro para pagar, por exemplo, os funcionários públicos. Até 1822, os funcionários públicos, trabalhavam em instituições organizadas pelo governo português. Para garantir nossa independência, o Estado Brasileiro precisava organizar as forças armadas, pois nas províncias da Bahia, Maranhão, Piauí, Pará e Cisplatina havia tropas portuguesas dispostas a lutar contra a separação de Portugal.

D. Pedro I recorreu a estrangeiros para organizar as forçar armadas brasileiras. Contratou alguns militares europeus que já tinham colaborado nas lutas de independência das colônias espanholas. O almirante escocês lorde Cochrane, foi o primeiro chefe da Marinha brasileira. Sob o seu comando, a Marinha brasileira conseguiu dominar as tropas portuguesas que ainda resistiam à independência na Bahia, Maranhão, Piauí e Pará.

As tropas brasileiras que dominavam a Província Cisplatina renderam-se ao cerco que lorde Cochrane fez a Montevidéu. A situação dessa província, no entanto não foi resolvida definitivamente. Colonizada pelos espanhóis e dominadas por tropas portuguesas enviadas por D. João em 1817, como você já viu. A província Cisplatina tinha pouca coisa em comum com o Brasil. Seus habitantes desejavam se tornar livres e logo em seguida começaram uma guerra de independência.

É importante, para um país, estar bem relacionado com os outros. Isso traz segurança política e possibilidades comerciais.

Logo que proclamou a Independência, o novo governo brasileiro buscou o reconhecimento oficial de diversos países. O primeiro deles foram os Estados Unidos (1824). Eles tinham medo que uma intervenção européia no continente ameaçasse sua própria integridade nacional. Quanto mais independências houvesse na América, mais seguros os Estados Unidos se sentiriam. Por isso formularam a Doutrina Monroe: “América para os Americanos”, ou seja: “europeus, não se metam!” O chato é que no século XX a doutrina Monroe passou a significar “América para os norte-americanos”.

Os ingleses estavam numa posição parecida com a do sujeito que tem vontade de continuar com a amante, mas não quer se separar da esposa: desejava comercializar com o Brasil, sem perder a aliança com Portugal. Bem, em muitas ocasiões, o dinheiro resolve boa parte dos problemas, não é mesmo?

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O Brasil, além de outras exigências cumpridas, pagou a Portugal uma indenização de dois milhões de libras esterlinas.

...E como é que arrumamos dinheiro para pagar a conta?

Pedindo emprestado aos banqueiros ingleses. E será que Portugal ficou com essa grana toda? Claro que não! Portugal devia aos ingleses e teve de pagar. Adivinha quanto? Isso mesmo: cerca de dois milhões de libras esterlinas... Conclusão: os ingleses acabaram emprestando para eles mesmos e nós é que pagamos os juros! É algo parecido com o marido que paga o motel do amante de sua esposa... Uma vez que Portugal, depois que o Brasil cumpriu suas exigências, tinha aceitado a Independência brasileira (em 1825), os outros países passaram a nos reconhecer diplomaticamente. Os ingleses como sempre, fizeram exigências. Uma delas, bem pesada, era a renovação dos ultrafavoráveis tratados de 1810. Foi então, assinado o Tratado de 1827 (que durou até 1844), que cobrava uma tarifa alfandegária de apenas 15% para seus produtos (tal como nos tratados de 1810, no tempo de D. João, lembra-se?).

Enquanto os ingleses nos entulhavam de manufaturados, nem sempre importavam muita coisa do Brasil, já que boa parte dos tipos de nossos produtos exportados eram encontrados nas colônias britânicas. Veio um trem de concessões favoráveis às potências estrangeiras, quando em 1828, o governo brasileiro estabeleceu tarifas de 15% para todo mundo. O Brasil estava se tornando um esposo que sustentava todos os amantes de sua mulher.

Um governo antidemocrático

O Brasil é um país que na sua história tem mais eleições pra “Rainha da Primavera” e “Gata Verão” do que para escolha de governo. Nenhum trabalhador votou em D. Pedro. Ele foi selecionado pelos homens mais ricos do país e deveria governar em favor deles. O Estado tinha como principais tarefas garantir a propriedade e os privilégios e reprimir revoltas populares.

Portanto, o governo de D. Pedro nada teve de democrático. Pelo contrário, foi um período em que cresceram as oposições e ele respondeu com repressão. O psiu de silêncio foi feito com a espada e o canhão. É assim que o ex-professor da Universidade de Brasília, Hamilton M. Monteiro o caracteriza:

“A História do Brasil, de 1821 a 1831, é a história da violência das forças conservadoras, prendendo, banindo do país e condenando à morte os líderes populares e democráticos: é a história das devassas por delito de opinião, da censura à imprensa, da suspensão das garantias individuais e da instalação das tais odiosas comissões militares.”

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Assim que foi proclamada a Independência, parecia uma lua-de-mel do Imperador com quase todo o Brasil: + + +

Podemos perguntar o porquê de o Partido Português, composto por comerciantes, burocratas e militares que se beneficiavam com o Pacto Colonial, ter apoiado D. Pedro. É que eles raciocinavam mais ou menos assim: “Se a derrota foi inevitável, relaxe e aproveite”. Sua esperança estava em poder influenciar o imperador (que era herdeiro do trono português!) e apoiar um reforço de seus poderes, para, em troca serem beneficiados. É quando se chocam com o Partido Brasileiro.

Os brasileiros desejavam um poder executivo forte nas mãos do imperador, mas queriam exercer uma vigilância direta por meio do poder legislativo: pelo sim pelo não, atacaram os portugueses, pois temiam sua aproximação com o imperador.

Temos, então, uma briga que apareceu na Assembléia Constituinte de 1823 e seguiu cada vez mais aguda:

X

Os latifundiários não estavam unidos. Um setor apoiava a centralização da

administração e do poder político em torno do imperador: eram os beneficiados por estar na região onde se colocava o poder, ou seja, os latifundiários do Sudeste, particularmente ligados ao porto do Rio de Janeiro, os comerciantes e os burocratas.

Esse ponto é importante frisar: a vinda da família real para o Brasil significara o fim do monopólio colonial dos portugueses. Mas havia uma nova forma de monopólio, através do papel de controle econômico-administrativo do Rio de Janeiro.

É como se o Rio e o Sudeste fossem a nova metrópole. Esses novos interesses do grupo de latifundiários-burocratas-comerciantes do Rio de Janeiro constituíram o Partido Brasileiro. Com isso, os latifundiários das províncias distantes, no Nordeste e Sul, protestaram. Temos aí o conflito.

O liberalismo político brasileiro era peculiar. Para os latifundiários, ser liberal era querer a liberdade econômica e a soberania nacional. Nada a ver com democracia, nem com direitos para o povo.

D. Pedro I Portugueses Brasileiros Radicais

Brasileiros Portugueses

Certos limites ao Imperador

Poderes totais ao Imperador

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Os autores de livros didáticos, e até mesmo alguns historiadores respeitáveis, costumam se “embananar” com o tal “liberalismo brasileiro” da época.

Fica difícil dizer quem era liberal e quem era conservador. É que liberal não era sinônimo de democrata. Além disso, nós não podemos cair na armadilha do vocabulário da época, que fazia com que a palavra liberal fosse usada sem precisão.

É o caso dos radicais. Assim como, ainda hoje, basta uma pessoa não admitir certas injustiças para que lhe acusem de ser comunista (o que acaba sendo um elogio aos comunistas), na época eram chamadas de radicais pessoas dos mais diferentes tipos.

Ora, como é possível que um radical como José Clemente Pereira tinha se tornado ministro de Pedro I?

Esses radicais representavam os setores médios urbanos e, evidentemente, queriam ampliação dos direitos políticos. Mas não pensavam igual, Gonçalves Ledo, por exemplo, que era filho de comerciante abastado, aceitava a monarquia constitucional, o que é bem diferente de democratas realmente radicais, republicanos e a favor do voto popular, como o grande baiano Cipriano Barata.

José Bonifácio de Andrada e Silva, um dos líderes do Partido Brasileiro, tinha posições contraditórias. De um lado, combatia a extrema direita, os corcundas (“portugueses”), pois estes queriam poderes quase ilimitados para o imperador. Contra os liberais, entretanto, mostrou toda a sua face repressora e reacionária. Desde que se tornou ministro de D. Pedro, criou cargos de polícia com finalidade exclusiva de mandar violar correspondência; autorizou a expulsão, do Rio de Janeiro, de cidadãos acusados de “tramar contra a ordem pública”; estabeleceu rígida censura sobre a imprensa; deu ordem para prender os radicais.

A grande maioria do povo brasileiro da época vivia na zona rural. Escravos ou livres, eram trabalhadores pobres, analfabetos, distantes das informações e desorganizados. Desconheciam a vida política das cidades, a agitação dos radicais, os ataques dos jornais de oposição, as conversas inflamadas nas esquinas e nas mercearias. Com a sabedoria do caboclo, desconfiavam de que as mudanças na Corte sempre acabavam em prejuízo dos pobres.

Eram a favor da centralização do poder (beneficiados com o controle do Rio sobre as demais províncias).

Queriam maior autonomia para as

Províncias.

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O povo não era apático ou desinteressado. Os brasileiros pobres sempre lutaram contra as classes opressoras.

Ao contrário do que dizem, não somos de “índole pacífica”. Nossa história está cheia de rebeliões populares, guerrilhas, motins, protestos,

saques e outras táticas de defesa. O que não havia era a forma usual de fazer política. Existia uma participação

política popular importante, embora subterrânea e algo inconsciente. Os movimentos quilombolas eram altamente políticos, pois contestavam a

ordem social baseada no trabalho escravo e no domínio de classe dos proprietários das terras. O que acontece é que, obviamente, não havia um Partido dos Quilombos concorrendo às eleições ou a candidatura de Ganga-Zumba à presidência da República.

D. Pedro I, ao ouvir falar do povo, sentia vontade de pôr a mão no seu

chicote. Só que se mostrou uma peça incapaz de fazer funcionar bem uma máquina atormentada por tantas contradições: conservadores X liberais, “portugueses” X “brasileiros”, Sudeste X Províncias distantes do Rio, anti-democratas X radicais, senhores X escravos, classes ricas X camadas populares.

Autoritário, aproximou-se cada vez mais do grupo “português”, assustando os que temiam a recolonização:

A partir daí, ele perdeu o apoio do principal grupo que o sustentava, os latifundiários e os grandes comerciantes do Rio de Janeiro. Sem força, caiu em 1831.

D. Pedro I “Portugueses”

“Absolutistas”

Brasileiros Radicais

“Liberais”

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A primeira Constituição que o Brasil teve era

muito antidemocrática. E foi a que mais tempo durou... A Assembléia Constituinte tinha sido convocada

por D. Pedro, e se reuniu em 1823. Na abertura dos trabalhos, o imperador fez um longo discurso, dizendo que defenderia a Constituição caso “ela fosse digna do Brasil e de mim”.

Sentiu a cara-de-pau do moço? Ele se julgava no mesmo nível de importância do Brasil inteiro. Mais

ainda, pois completou: “...espero que a Constituição que façais mereça minha imperial aceitação...”

Esse “Brasil” de que ele falava era apenas a minoria dos ricos e abastados que ali estavam representados na Assembléia. Como eles tinham interesses divergentes, logo surgiram conflitos.

Primeiro, porque hostilizavam-se os portugueses residentes no Brasil. Nos discursos da Assembléia Constituinte, eram comuns palavras como estas: “Falemos claro; é quase impossível que um português possa amar de coração uma situação que implica a ruína de sua pátria de origem.”

O Partido Português se defendia, aproximando-se do Imperador e apoiava suas pretensões autoritárias.

Temos aí um segundo motivo para o conflito. O deputado Antonio Carlos de Andrada e Silva (irmão de José Bonifácio) tinha elaborado um projeto de Constituição em que se propunha a limitação dos poderes do imperador.

Não que fosse uma proposta democrática (voltada para o povo), pois queria um poder executivo forte e direito de voto limitado aos cidadãos com renda superior ao equivalente a 150 alqueires de mandioca. Daí, o povo, sem direitos eleitorais, apelidou-a de Constituição da Mandioca.

Acontecia que D. Pedro I não estava disposto a aceitar limitações ao seu poder. Ele era muito autoritário. E como tinha o apoio dos portugueses e de alguns setores latifundiários, não teve conversa: mandou as tropas fecharem a Constituinte.

D. Pedro fez como tantas vezes aqui e em outros lugares: acabou com a liberdade, sob o pretexto de preservá-la. Prometendo uma nova Constituição, “duplamente liberal”.

Em alguns dias, um Conselho de Estado, um bando de figurões reacionários nomeados por ele, preparou o texto, que foi outorgado, isto é, imposto sem discussão. Sua cara-de-pau chegou ao ponto de ele jurar obedecer a essa Constituição (“Eu juro que me obedeço! Eu me amo! Eu me adoro!”).

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A Constituição de 1824 tinha uma casquinha que seguia alguns princípios

liberais. Entretanto, o miolo era basicamente autoritário. Mas não chegava a ser absolutista, como dizem alguns livros, pois em monarquias absolutista não existiam Constituições.

Para começar, o voto era censitário, isso quer dizer que só podia votar quem tivesse uma renda, de no mínimo 100 mil réis anuais e fosse maior de 25 anos. Para piorar, o voto era indireto. Isso quer dizer que o eleitor não votava diretamente nos deputados e senadores: ele apenas escolhia os votantes.

Só podia ser votante quem tivesse uma renda mínima de 200 mil réis anuais. Esses votantes é que podiam escolher quem seria deputado e senador. Estava claro que o povo trabalhador ficava fora das eleições.

O Poder Legislativo (faz as leis) era formado pela Assembléia Geral do Império, composta pela Câmara dos Deputados e pelo Senado. Num flagrante desrespeito à lei, o imperador só permitiu que a Assembléia funcionasse partir de 1826.

O Poder Judiciário tinha os juizes dos tribunais nomeados pelo imperador.

O Poder Executivo tinha como chefe o imperador e era exercido pelos ministros, que ele nomeava sem dar satisfações ao povo nem à Assembléia.

Era a moda trazida de Paris, era um quarto poder inventado por um pensador

reacionário (contrário à liberdade), chamado Benjamim Constant. O Poder Moderador dava poderes discricionários, (quase ilimitados) ao imperador, que, assim, tinha uma autoridade indiscutível sobre os outros poderes: podia nomear e demitir ministros, fechar a Assembléia Geral, demitir juizes do Supremo Tribunal e convocar tropas a hora que quisesse sem prestar contas a ninguém.

O poder estava totalmente centralizado. Isso quer dizer que os governadores das Províncias eram nomeados pelo imperador e todas as decisões importantes sobre as Províncias do Norte, do Nordeste ou do Sul não eram tomadas pelos de lá, mas pelos do Rio de Janeiro. Os impostos pagos pelas províncias ficavam na capital. Assim, o Rio de Janeiro e as províncias próximas eram as principais beneficiadas. Foi uma verdadeira ditadura do Sudeste sobre o resto do Brasil.

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A Igreja Católica foi oficializada. Através do padroado, os bispos passaram a ser pagos pelo governo, que também os nomeava.

As instruções do papa só valeriam no Brasil caso contassem com a autorização do imperador.

Como se vê, a Igreja era aliada do poder estabelecido, “desobedecer às autoridades era contrariar a vontade de Deus”.

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A Constituição foi mal recebida em quase todo o Brasil. No Nordeste,

organizou-se uma revolta, que recebeu o nome de Confederação do Equador.

Saiba que teve esse nome devido à proximidade à linha imaginária do Equador, que divide o globo terrestre nos hemisférios norte e sul.

A Confederação seria um país republicano, com as províncias integrantes relativamente autônomas, e em comum teriam a mesma Constituição e a política externa.

Esse movimento teve início em Pernambuco, em junho de 1824, com a participação dos atuais estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, que se aliaram aos pernambucanos.

Muitas das idéias e dos participantes desse movimento eram os mesmos da Insurreição Pernambucana de 1817 (que já estudamos!).

A Confederação do Equador contou com grande participação popular e das camadas médias.

Os grandes proprietários, que inicialmente participaram desse movimento, saíram dele quando se colocou a proposta de libertação dos escravos.

O governo central reagiu rápida e violentamente: dominou a revolta e mandou prender muitos de seus participantes. Vários foram enforcados. O líder intelectual da revolta, frei Caneca, foi fuzilado.

Agora responda em seu caderno:

8) O maior sinal da anti-democracia foi o poder Moderador. Explique o por quê?

Agora responda em seu caderno:

9) O povo recebeu pacificamente a nova Constituição? Cite um exemplo de seu descontentamento.

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Depois das guerras napoleônicas na Europa, a situação econômica do Brasil ficou feia. Os baixos preços internacionais e a concorrência externa abalaram nossas principais exportações ( açúcar, algodão, etc.)

O único produto em ascensão era o café. A partir da década seguinte, foi o mais importante do país, reforçando o domínio do Sudeste, que naquela época era seu maior produtor.

Nossa balança comercial era negativa (importações maiores do que exportações). Os ingleses nos empanturravam de produtos manufaturados, aproveitando-se que os tratados de 1810 foram renovados em 1827.

Sem dinheiro, o governo apelou para os empréstimos dos banqueiros ingleses, que nos sugavam através dos juros. Em Londres (capital da Inglaterra), os capitalistas sambavam de felicidade.

A inflação cresceu e o Branco do Brasil simplesmente faliu, em 1829. É verdade que antes de se mandar para Portugal, D. João VI fez uma limpeza em seus cofres. Mas o governo de D. Pedro I continuara gastando sem controle, até quebrar. E no controle do Banco estavam justamente elementos portugueses, a se enriquecer de forma safada com negociatas ( armações com o governo).

Se a situação econômica já estava enrolada para quem era rico, imagine para quem era pobre. A raiva contra a incompetência de D. Pedro crescia. Aí ele apareceu dizendo que iria tomar uma medida drástica contra a falta de dinheiro público: iria gastar mais dinheiro ainda. Numa guerra.

D. João VI, no Brasil, dera ordem para invadir o Uruguai, chamado então de Província Cisplatina.

Os uruguaios nada tinham a ver com os brasileiros. Afinal, eram uma ex-colônia da Espanha. A partir de 1825, liderados por Lavalleja, os patriotas uruguaios iniciaram sua guerra pela libertação nacional. D. Pedro gostava de tirar uma onda de “libertador”, lá para a turma dele, pois, na verdade quis manter o Uruguai submetido e para isso enviou tropas brasileiras para lá.

A Argentina também se intrometia. O país de Maradona sonhava em se unir ao Uruguai.

Os ingleses completavam a festa. Não queriam que os dois maiores países da América do Sul controlassem a entrada do rio da Prata. Preferiam que por ali houvesse um “miniestado”, mais fácil de vigiar. Era o caso do Uruguai, que, com o apoio inglês, obteve a independência, em 1828.

Nessa guerra contra Argentina-Uruguai, o Brasil perdeu muitas vidas. A dívida pública aumentou enormemente. O prestígio de D. Pedro caia a olhos vistos. A única desculpa que ele poderia dar seria: “Calma pessoal, que em 1950 a Copa do Mundo vai ser no Maracanã e aí a gente vai à forra contra o Uruguai.”

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D. Pedro foi posto no trono pelos latifundiários, que tinham nele uma pecinha conveniente para a máquina estatal funcionar. Mas a pecinha começou a dar defeito e provocar insatisfação.

Estouraram revoltas e fortaleceu-se a oposição liberal. Quando os latifundiários do Sudeste tiraram seu apoio, ele não tinha mais como se manter.

É importante notar que os problemas do Primeiro Reinado não estavam nas trapalhadas do imperador. Eles se localizavam na incapacidade daquele tipo de Estado em superar as graves contradições sociais. Os latifundiários precisavam de tranqüilidade para dominar. Não se tratava simplesmente de colocar um novo homem no trono (embora a incompetência de D. Pedro I, por si só, justificasse), mas de construir uma nova ordem política.

Vamos, então, fazer uma listinha das coisas que desagradavam:

• O autoritarismo do Governo contra as aspirações liberais. É bom saber que o banho de sangue que D. Pedro I promoveu na repressão à Confederação do Equador e o fechamento da Constituinte pegaram muito mal para a sua imagem.

• A crise econômica não só não foi resolvida, como piorou com empréstimos externos e uma guerra estúpida na Cisplatina.

• A aproximação constante de D. Pedro com os portugueses levantava a suspeita de que o Brasil poderia ser recolonizado.

Você se lembra de D. João VI? Pois é, o gordo reinava em

Portugal. Comia sem parar. Comeu tanto que um dia ...Bum!! Explodiu. E morreu.

O herdeiro do trono seria seu filho, D. Pedro, mas pegaria mal se ele assumisse, pois já tinha a bocada do Brasil. Então, abriu mão em favor

de sua filha, Maria da Glória.

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A menina ainda era criança. Queria mesmo era brincar de boneca. Enquanto não era adulta, quem governaria Portugal seria o regente D. Miguel, irmão de D. Pedro.

Quando Maria da Glória tivesse mais idade, ela se casaria com o tio D. Miguel. (Não se espante, essa embrulhada de casamento entre parentes era comum na nobreza européia.)

D. Miguel não estava a fim de ser papagaio de pirata, nem marido de rainha. Apoiado pela Áustria absolutista, usurpou o trono, em 1828. A Inglaterra, que apoiava o outro lado, foi ao Brasil reclamar.

D. Pedro I vivia dando voltinhas na sala e roendo unhas. Preocupava-se mais com a sucessão portuguesa do que com o Brasil. Como se fosse dono de tudo.

Por causa disso, os latifundiários preocupavam-se com D. Pedro, cada vez mais perto de Portugal. Não dava mais para conciliar o irreconciliável. A batalha entre brasileiros e portugueses deveria ser decidida puxando-se o tapete dos pés do imperador.

Para isso, os latifundiários não hesitariam em sacudir as massas urbanas e deixar certo espaço para os radicais. Os jornais da oposição castigavam o imperador. Os radicais promoviam minicomícios e agitações.

Um jornalista, muito bom de ataque, sarcástico, popular entre os estudantes, chamado Líbero Badaró, foi assassinado por gente ligada a D. Pedro. Nenhuma punição aos criminosos. O ódio popular crescia.

O imperador resolveu visitar cidades mineiras, para ver se melhorava sua popularidade. Comeu queijos, beijou crianças e prometeu melhorias. Não adiantou. Nenhum “uai” de apoio.

Na volta para o Rio de Janeiro as ruas estavam cheias de gente. A maioria do povo vaiava D. Pedro. Os portugueses ricos, apelidados de pés-de-chumbo, puxa-sacos, começaram a agredir violentamente os manifestantes. Teve início a famosa pancadaria da noite das garrafadas.

No dia seguinte, noticiaram que a culpa era do povo. A multidão, os soldados, os ricos e os políticos, todos exigiam a queda de D. Pedro I. Arrogante como sempre, ele dizia que só estava indo embora porque queria. Mas que foi, foi. Em 7 de Abril de 1831, ele abdicava (renunciava ao poder) e partia para Lisboa.

Lá em Portugal, acredite se quiser, foi coroado rei D. Pedro IV. No fundo era o que ele queria.

Agora responda em seu caderno:

10) Identifique os fatores que geraram descontentamento entre os latifundiários e que levaram à abdicação de D. Pedro I.

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OOOO PERÍODO PERÍODO PERÍODO PERÍODO REGENCIAL REGENCIAL REGENCIAL REGENCIAL ---- (1831 a 1840) (1831 a 1840) (1831 a 1840) (1831 a 1840)

Você já estudou que quando D. Pedro I abdicou (renunciou), em 7 de abril de 1831, o herdeiro, seu filho D. Pedro de Alcântara, tinha apenas cinco anos.

De acordo com a Constituição de 1824, ele só poderia assumir o trono quando atingisse a maioridade, aos 18 anos.

A Constituição também determinava que, no caso de o monarca não poder assumir o governo, este deveria ser exercido por uma Regência Trina, isto é, o governo deveria ser exercido por de três pessoas, eleitas pelo poder Legislativo.

O período da Regência no Brasil começou em abril de 1831 e terminou em julho de 1840.

Antes de começarmos a estudar esse período da História do Brasil, precisamos entender o que é regência e por que aconteceu.

Regência é um governo provisório, estabelecido quando o chefe de Estado está, por algum motivo, impossibilitado de governar.

A Regência acontece principalmente quando o governante é um monarca (rei).

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Agora responda em seu caderno: 11) Atualmente, na sua opinião, qual é o motivo para tanta violência?

Enquanto Pedrinho não tinha tamanho para receber a coroa, o Brasil foi governado pelos regentes. Eles eram os chefes do poder executivo. Nessa época o Brasil viveu uma espécie de minirepública espremida entre os reinados de Pedro I e Pedro II (coroado em 1840).

Inicialmente, os regentes eram escolhidos pela Assembléia Geral do Império. Depois, pelo voto direto e censitário (só votava quem tinha muito dinheiro!).

Esse foi um período muito turbulento. Estouraram várias revoltas contra o governo central. Motins, rebeliões e guerra civil como Cabanagem, a Balaiada e a Revolução Farroupilha.

Brasileiros enfrentaram brasileiros com espadas e pistolas. Como você vê, é uma grande mentira essa conversa de que no Brasil as coisas sempre foram ajeitadas pacificamente. Na verdade, nossa história é cheia de violências.

Por que os brasileiros se sentem brasileiros? Em outras palavras, por que o Brasil, desse tamanho todo, com tanta gente, é um país único?

Por que não se dividiu em uma porção de países de língua portuguesa, tal como ocorreu na América espanhola?

Não sei se você já pensou nisso. O fato de nós brasileiros falarmos o mesmo idioma e de termos ligações culturais, ajuda a nos unir.

Mas isso não obriga ninguém de Santa Catarina, de Minas Gerais, de Goiás e do Ceará a pertencer ao mesmo país, não é mesmo? O que fez então o Brasil ser o Brasil?

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Hoje, é fácil responder. Todos nós nos sentimos brasileiros. Compartilhamos dos mesmos ideais, acreditamos numa porção de coisas em comum, e só um boboca não percebe que unidos somos muito mais poderosos. Em um mundo que busca a unificação econômica, é uma maravilha que o Rio Grande do Sul tenha a ver com Pernambuco, que o Espírito Santo esteja ligado ao Pará, que o Mato Grosso do Sul se relacione com a Bahia, não é mesmo? Mas, e no passado? Como foi montada essa união?

Quando falamos de Brasil esquecemos que os brasileiros são muito diferentes uns dos outros e que nem sempre têm a mesma situação e as mesmas necessidades.

É que o tal de Brasil está dividido em classes sociais. O conceito de classe existe justamente para entendermos os conflitos entre os diversos grupos da sociedade.

Na época da independência, os brasileiros se uniram contra um

inimigo comum a todas as classes: a exploração colonial. E depois, como manter unido um país dividido em ricos proprietários de terras e homens livres e escravos?

Um jeito de preservar a união é através da democracia, que dá oportunidade para os desfavorecidos transformarem a sociedade em proveito de todos. O outro, é

mantendo os privilégios da minoria. Neste caso, muitas vezes a união só pode ser garantida através da violência.

A Independência do Brasil era vista pelos latifundiários e grandes comerciantes como o caminho para manter seus privilégios. Isso

significa que os escravos, os trabalhadores livres e as camadas médias urbanas continuariam submetidos.

Todavia, para esses desfavorecidos a Independência teria de ser outra coisa. E foram à luta por seus direitos.

A visão tradicional separa rigidamente os períodos históricos. É como se cada um ficasse numa gaveta isolada da outra, e você aluno, fica com a falsa impressão de que o Período Regencial não tem nada a ver com a Independência. Engano!

Assim, saiba que todas as contradições que estremeceram o Primeiro Reinado explodiram na Regência.

Será que o Brasil dos ricos é o mesmo dos pobres?

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Agora responda em seu caderno:

12) Explique o que era o federalismo e o unitarismo.

O que estava em jogo era se as camadas oprimidas conquistariam direitos ou se as classes proprietárias assegurariam sua hegemonia (supremacia), se o Sudeste mandaria sobre o resto do Brasil ou não, se o país seria democrático ou autoritário.

Esses conflitos foram abertos, diretos, crus e brutais. A classe dominante não hesitou em lançar mão das maiores atrocidades e infâmias para sustentar e perpetuar seus privilégios.

Se nossa história é violenta, é porque os privilégios muitas vezes são mantidos pela violência. E aí o povo responde com violência à violência...

� Em primeiro lugar, havia os grandes proprietários (latifundiários e grandes comerciantes) do nordeste e do sul. Eles eram federalistas, ou seja, eram contra o unitarismo, contra o poder central forte que subordinava as Províncias ao Sudeste - federalismo significava: maior autonomia provincial, descentralização do poder, direito das províncias de fazer leis para elas mesmas, de mandar menos dinheiro de impostos para o Rio de Janeiro.

� Em segundo lugar, as camadas médias urbanas não podiam votar, porque não eram ricas. (O voto era censitário, lembra-se?). Por isso, muitos dos pequenos comerciantes, professores, jornalistas, sapateiros, estudantes, padeiros, advogados, alfaiates e até soldados, tornaram-se democratas radicais. Acreditavam que o federalismo garantiria maior liberdade para todos. Queriam modificar a Constituição, ampliando o direito de voto.

� Em terceiro lugar, estava a massa do povo miserável, faminto e sofrido. Escravos, camponeses pobres, vaqueiros, biscateiros uma enorme massa de deserdados que não queria saber de blá-blá-blá parlamentar: queria um governo direto a favor deles. Não sabiam direito o que queriam, a não ser a idéia básica de obter pedaços de terra para trabalhar e viver por conta própria. Mas sabiam perfeitamente o que não queriam: o domínio dos latifundiários, o desprezo pelo povo humilde. Por isso no Período Regencial, houve diversas revoltas populares, como a Balaiada, a Sabinada e a Cabanagem.

Perceba que, ao longo de nossa história, as classes dominantes têm respondido

com a Enrolada, Marmelada e a Sacanagem, não é mesmo?

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Cada um desses grupos sociais, insatisfeitos ou não, se associava a um partido político. Não eram exatamente partidos como nós entendemos hoje. Afinal, esses partidos não levavam muito a sério a idéia de chegar ao poder por meio de eleições. O país nem tinha democracia para tanto.

Os restauradores (caramurus) ligavam-se à Sociedade Conservadora da Constituição Brasileira. Eram os antigos portugueses (embora a maioria tenha partido com D. Pedro I) e o pessoal ligado aos irmãos Andrada e Silva.

Eram os mais retrógrados (contrários ao progresso). Contrários a qualquer reforma, exigiam um governo autoritário, para dar fim ao que eles chamavam de "anarquia". Diziam que não, mas sonhavam com o retorno de D. Pedro I. (Daí o nome de restauradores). Todavia, o imperador faleceu em 1834. Os caramurus aderiram então ao lado dos moderados.

Os liberais moderados (chimangos) eram formados por representantes dos grandes proprietários, principalmente os do Sudeste. Controlavam o governo e defendiam que o poder central mantivesse alguma força.

Tinham o apelido bem apropriado de chimangos, que no Sul é o nome de certas aves de rapina. Esses abutres formavam a Sociedade Defensora da Liberdade e da Independência Nacional e, no princípio, não tinham idéia precisa acerca das reformas e divergiam entre si quanto ao alcance delas e o meio de fazê-las.

Afinal, se consideravam liberais, mas tinham um medo danado quando essas liberdades atingiam as camadas profundas do povo trabalhador. No Brasil, tal como na Europa, liberal e democrata eram coisas diferentes.

Politicamente à esquerda, estavam os liberais exaltados, exatamente os que promoviam revoltas contra o governo. Eram, antes de tudo, federalistas, isto é, a favor da descentralização do poder, da autonomia provincial. Entretanto, embora com ideal comum de oposição federalista, havia desde liberais ortodoxos (os farroupilhas) até os exaltadíssimos jurujubas.

Ou seja, um pedaço estava ligado ao latifundiários do Norte, Nordeste e do Sul, que eram federalistas para lhes reforçar o poder local, o qual exerciam diretamente.

Esses membros da elite geralmente tinham horror à democracia. Para conseguir seus objetivos, tiveram que se ligar aos grupos médios urbanos, esses, sim, muitos deles democratas e até republicanos.

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DIVISÃO POLÍTICA DA REGÊNCIA Partidos Principais apoios Objetivos

Restaurador Irmãos Andrada,

portugueses Retorno de D. Pedro I ao

trono do Brasil.

Liberal Moderado Grandes proprietários

ligados ao Sudeste

Aceitavam apenas uma pequena centralização.

Controlavam o governo.

Liberal Exaltado Grandes proprietários

desvinculados do Sudeste, camadas médias

Federalismo. Alguns radicais queriam também sufrágio universal e até

mesmo a República. Quando D. Pedro foi embora, em 1831, era preciso eleger logo os regentes. Mas a Assembléia Geral do império estava de férias... Agora adivinha: o que é que aconteceu!?

Os deputados e senadores pararam o descanso e arrumaram logo as malas para o Rio de Janeiro, ou acharam melhor ficar curtindo a vida mansa? Não fique achando que todos os políticos são iguais.

Quem, hoje em dia, pensa que o ideal é

fechar o Congresso e botar deputados e senadores na cadeia é a extrema direita, os fascistas e nazistas, os reacionários empedernidos. Gente safada que despreza os direitos do povo.

É claro que grande parte dos políticos atuais não faz nada pela população trabalhadora, pois eles são representantes das classes dominantes.

São ricaços ou patrocinados por ricaços. O que não quer dizer que não haja políticos progressistas, realmente sérios e empenhados em fazer algo para melhorar a vida da gente. Por enquanto, são poucos, mas existem.

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O que não pode acontecer é fechar o Congresso, pois aí nem esses poucos políticos ao lado do povo poderiam atuar. Não haveria essa importante oposição aos desmandos dos poderosos.

Esse negócio de que "eleição não serve para nada" e "político é tudo igual" é coisa de fascistão. Não embarque nessa! A história do Brasil mostra que todas as ditaduras só favoreceram às classes privilegiadas. Bem, os políticos do Império, quase todos, representavam os interesses dos grandes proprietários. Assim guiaram a Regência.

Primeiro, elegeram uma Regência Trina Provisória. Algumas semanas depois, com a rapaziada de volta ao Rio de Janeiro, foi

eleita a Regência Trina Permanente, cuja escalação era: Costa Carvalho (baiano, mas com carreira política em São Paulo), o maranhense Bráulio Muniz e o brigadeiro Francisco Lima e Silva, militar durão que tinha reprimido a Confederação do Equador. Esse trio governou de 1831 a 1835. Depois disso, a Regência passou a ser una, ou seja, só uma pessoa governaria.

Os liberais moderados e os exaltados fizeram um acordo para anular politicamente os restauradores, que desejavam a volta de D. Pedro I.

Desse acordo, surgiu a idéia de promover uma pequena descentralização do poder. Era uma forma de diminuir a indignação dos exaltados e das províncias distantes do Sudeste com o centralismo exagerado da Constituição de 1824.

Essa descentralização aconteceu após três medidas importantes: a criação da Guarda Nacional, o Código de Processo Criminal, o Ato Adicional de 1834.

A gente só entende uma delas quando relaciona com as outras.

� GUARDA NACIONAL

Foram os moderados, que se organizavam na Sociedade Defensora da Liberdade e da Independência - espécie de clube de cavalheiros reacionários (contrários à liberdade) onde bebiam, jogavam cartas, falavam de mulheres e planejavam ações contra o povo, que sugeriram a criação de uma guarda nacional.

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As modernas técnicas de disciplina militar ainda não estavam desenvolvidas no Brasil. Por causa disso, muitos soldados, sargentos e até oficiais conseguiam raciocinar por conta própria, mesmo que não tivessem autorização de um superior para isso.

Daí as agitações dos exaltados fazerem muitos adeptos no Exército, que começou a achar que, sendo também parte do povo, deveria defendê-lo em vez de atacá-lo em favor dos ricos.

Além disso, grande parte dos oficiais do exército era formada por estrangeiros (mercenários) e portugueses. Eles tinham sido fiéis cumpridores das ordens autoritárias de D. Pedro I. Isso assustava as elites dominantes.

O principal era que os latifundiários não podiam aceitar os quartéis aderindo às manifestações populares.

Assim, trataram de diminuir a força do Exército, cortando os gastos, mandando embora praças e oficiais, em suma, enfraquecendo-o e humilhando-o.

Esse esvaziamento teve exatamente a ver com a primeira das medidas que nós citamos: a criação, em 1831, pelo ministro da Justiça, Feijó, da Guarda Nacional.

Ela tornou-se quase tão importante quanto o Exército. Mas não era qualquer pé rapado que poderia fazer parte dela. O direito de andar armado e fazer injustiça com as próprias mãos seria para uns poucos.

Só entrava na Guarda Nacional quem tivesse um bom nível de renda. Trocando em miúdos: era o povo desarmado que teria de agüentar os bem-de-vida da Guarda Nacional. Ela se revelou um eficaz instrumento repressor. Já em 1831 e no ano seguinte, no Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia, acabava com motins exaltados. No comando dos destacamentos da Guarda Nacional estavam os fazendeiros, com o posto de Coronel.

...e então, qual foi o jeito que deram?

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Agora responda em seu caderno:

13) A criação da Guarda Nacional garantiu a segurança do povo ou favoreceu apenas os ricos? Justifique.

E Então! Reparou por que era uma medida descentralizadora?

É por isso que ainda hoje no interior, chamam os fazendeiros de coronéis. Porque no passado eles realmente foram coronéis, da Guarda Nacional. Assim, os grandes proprietários passaram a comandar diretamente seu bando de homens armados. As ordens vinham diretamente das fazendas, dos locais, e não do poder central (regente).

Bem, saiba que a Guarda Nacional era nacionalmente subordinada ao Ministro da Justiça, mas localmente ela obedecia ao juiz de paz. Aí é que entra a segunda medida: � O CÓDIGO DE PROCESSO CRIMINAL DE 1832

O código de Processo Criminal de 1832, que criava esse cargo de juiz de paz. Ele era eleito por voto censitário, o que praticamente significava sua nomeação pelos latifundiários do distrito.

Tinha um poder enorme, podendo prender qualquer um que achasse "suspeito". Mistura de juiz e delegado, ao mesmo tempo. Sob suas ordens, estavam os inspetores de quarteirão, que vigiavam e espionavam todo mundo. Em 1834, depois do acordo entre moderados e exaltados, votou-se o: � ATO ADICIONAL À CONSTITUIÇÃO.

Era a terceira medida de que falamos. Os livros didáticos tradicionais não costumam colocar que a força do Ato Adicional só fica bem percebida quando combinada às duas outras medidas.

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Com ele, criavam-se as Assembléias Provinciais, espécie de Câmara de Deputados estaduais com direito de votar leis sobre assuntos diversos a respeito de administração, receita e despesas, cargos públicos, questões jurídicas etc.

Era mais um passo na descentralização, embora não total, porque o presidente da Província continuava sendo nomeado pelo poder central. Tavares Bastos o chamava de pequena centralização, pois o local ficava submetido ao provincial.

Além disso, o Ato Adicional de 1834 transformou a Regência Trina em Una, reforçando o Poder Executivo sobre o Legislativo. Isso em contradição com a autonomia provincial.

Uma novidade muito importante: o regente passou a ser eleito com voto direto e secreto, embora censitário, é claro.

Também foi extinto o Conselho de Estado, formado por um grupo de pessoas nomeadas pelo imperador para lhe dar palpites quando solicitado. Geralmente, o palpite era sobre política e bem distante dos gemidos do povo sem sorte. Mas foi mantido o senado vitalício, um reduto conservador (os senadores tinham sido escolhidos por D. Pedro, lembra?)

Boa parte dos historiadores ressalta que tais mudanças deram considerável autonomia administrativa às Províncias, numa espécie de concessão aos federalistas e de tentativa de esvaziar as reivindicações dos exaltados.

Isso irritou políticos mais reacionários, como o ex-liberal e agora regressista Bernardo Pereira de Vasconcellos, que teria chamado o Ato Adicional de código da "anarquia". Todavia, as concessões à autonomia provincial eram limitadas.

Não se deve se misturar bebida alcoólica porque isso faz passar mais mal ainda. Pois o Ato Adicional de 1834 misturava unitarismo com federalismo.

Confusão danada, dor de cabeça, estômago embrulhado. Na verdade, o que se instalava era um aprofundamento da divisão Centro X Províncias.

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A contradição tornou-se mais aguda, e o resultado foi a instabilidade política:

o país balançava mais do que um bêbado.

Irritados, os prejudicados foram à luta. Rebeliões atrás de rebeliões. Para reprimi-las, em nome da unidade nacional, o sangue brasileiro irrigaria a terra pátria. Os liberais moderados tinham usado os exaltados para pressionar D. Pedro I. Depois da abdicação, jogaram os jurujubas para escanteio. Em Niterói, Jurujuba é nome de praia. Pois é, os jurujubas (exaltados) morreram na praia: botaram o povo na rua para escorraçar D. Pedro I mas não ficaram com o poder.

O problema é que para derrubar o imperador, os liberais tinham estimulado as massas a ir para rua. E essas massas não queriam que as coisas terminassem em pizza. Para os liberais conservadores, elas tinham se tornado um monstro incontrolável. Nas províncias distantes do Sudeste, os liberais exaltados empurravam o povo contra o poder central. E o resultado foi um período intenso de revoltas sociais.

Em 1823, apenas 1 ano após a independência, a economia já apresentava sinais da crise que se estenderia até cerca de 1850. As raízes já vinham desde o período da vinda da família real em 1808. A abertura dos portos, se por um lado favoreceu o progresso econômico, por outro abalou nossas finanças. A liberdade de importação, o contato com o estrangeiro e a presença da Corte ( o rei, a sua família e os seus "conselheiros"), criaram novos hábitos, fazendo crescer as despesas da colônia.

Para agravar a situação, somou-se a grande concorrência internacional aos novos produtos tropicais (cana-de-açúcar, arroz, algodão, fumo etc.).

Para agravar ainda mais, D. João VI limpou os cofres públicos e o Banco do Brasil, levando para Portugal até os diamantes ali depositados. Iniciávamos nossa vida independente sem reservas monetárias e enfrentando forte concorrência internacional às nossas exportações. Além disso, iam para o exterior nossas poucas moedas de ouro e prata para o pagamento das importações.

Só esses fatores seriam suficientes para explicar a crise financeira. No entanto, outros elementos foram adicionados: as despesas com a indenização a Portugal, o preço do reconhecimento de nossa independência pelos países europeus e a desastrosa política de D. Pedro I, levando o país a dispendiosas (caras) questões externas (Guerra da Cisplatina e o envolvimento na sucessão do trono português), além de seus exagerados gastos pessoais.

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Para cobrir tantos gastos, os impostos eram insuficientes, pois, além de nosso mercado interno ser pequeno e pobre, o sistema de arrecadação de impostos era deficiente para um território tão grande e pouco habitado como o Brasil.

As necessidades sempre urgentes de dinheiro tornaram constantes os empréstimos externos, feitos principalmente, junto à Inglaterra. Desta forma, o Brasil aumentava ainda mais a sua dependência em relação aos poderosos ingleses.

Os empréstimos eram obtidos em condições vantajosas apenas para a Inglaterra, e representavam alívio apenas momentâneo, pois eram utilizados, em sua maior parte, para pagar despesas internas e não para incentivar qualquer atividade produtiva.

Tudo o que era arrecadado em impostos estava comprometido com a dívida externa. Pouco restava para as despesas gerais do governo e para investimentos públicos; e se o dinheiro era insuficiente... faziam-se novos empréstimos.

Será que você já viu este filme!?

Sem capacidade de investir, o governo não tinha como promover o desenvolvimento de nossas lavouras ou estimular nossas debilitadas indústrias.

Para solucionar essa grave situação econômica, o governo tinha poucas alternativas: não podia aumentar as tarifas aduaneiras (impostos sobre os produtos vindos de outros países), pois essas estavam fixadas por tratados internacionais; taxar as exportações era impraticável, pois significaria diminuir os lucros dos grandes latifundiários e comerciantes, além de encarecer os nossos produtos no mercado externo; aumentar os impostos internos afetaria a já empobrecida população urbana.

Restava uma única saída: encontrar novos produtos de exportação em cuja produção entrasse como fator básico a terra. A terra era o único fator básico de produção abundante no país. Em meio a essa crise econômica, o café foi-se afirmando e se constituindo na nova fonte de riqueza do Brasil.

No campo social, o povo das cidades e do campo levava uma vida miserável. Os alimentos eram caros. A riqueza e o poder estavam nas mãos dos grandes fazendeiros e comerciantes. Muitas pessoas achavam que os portugueses que dominavam o comércio eram os grandes culpados pelos problemas do país.

Esse foi um dos fatores que levaram às revoltas neste período.

Os poderosos acusavam os revoltosos de separar as províncias do Brasil...

Mas o que os revoltosos queriam era separar as províncias da opressão dos poderosos.

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Agora você estudará as principais revoltas do período: Cabanagem, Balaiada, Sabinada e Revolução Farroupilha.

Observe no mapa abaixo a localização das principais revoltas do período regencial.

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A CABANAGEM (1834-1840)

A Cabanagem foi uma grande revolta popular, que explodiu na província do Pará. Dela participaram pessoas vindas da camadas mais pobres da sociedade.

Os cabanos, assim chamados por morarem em cabanas à beira dos rios, eram negros, índios e mestiços, que trabalhavam

na extração de produtos da floresta. Trabalhavam muito, e viviam na miséria. Porque os frutos do seu trabalho iam quase todos para os latifundiários e para os grandes comerciantes que dominavam a província. Em todos os cantos, os pobres sussurravam entre os dentes: "terra para o povo, liberdade e igualdade".

Analfabetos, não tinham a revolução francesa na cabeça. Mas certamente a tinham no coração. A revolta dos cabanos representava uma tentativa de modificar a situação de injustiça social do qual eram vítimas. Para isso, era necessário tomar o poder da província.

A princípio, os cabanos foram apoiados por fazendeiros do Pará descontentes com a política do governo imperial e com a falta de autonomia da província. Os fazendeiros desejavam mandar livremente no Pará e exportar, sem barreiras, os produtos da região (cacau, madeira, ervas aromáticas, peles, etc.).

Entretanto, não demorou muito para que se afastassem do movimento, pois não concordavam com os objetivos da rebelião.

Os cabanos pretendiam acabar com a escravidão, distribuir terras para o povo e matar os exploradores.

No início do século XXI ainda há fazendeiro que manda assassinar trabalhadores rurais desobedientes. Tal como na cabanagem, há

mais de um século.

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Um dos líderes do movimento foi o padre Batista Campos, que costumava benzer os pedaços de pau utilizados como armas pelos pobres. A Cabanagem teve muitos outros líderes populares, conhecidos apenas pelos seus apelidos: Domingos Onça, Negro Patriota, Mãe da Chuva, João do Mato, entre outros. Para eles, não houve estátuas, nem praças ou nomes de escolas. Muitos não tiveram sequer direito a uma sepultura. Porque sua luta apavorava os ricos.

Em janeiro de 1835, as tropas dos cabanos conquistaram a cidade de Belém (capital da província) e mataram várias autoridades do governo, inclusive o presidente da província. Os cabanos tomaram o poder, mas tiveram grande dificuldade em governar. Faltava-lhes organização, havia muita briga entre os líderes do movimento e a rebelião foi traída várias vezes. Tudo isso facilitou a violenta repressão comandada pelas tropas enviadas pelo governo central do Rio de Janeiro. Segundo o historiador Caio Prado Jr., a Cabanagem foi o único movimento regencial "em que as camadas mais inferiores da população conseguiram ocupar o poder de toda uma Província com certa estabilidade".

Os cabanos só foram completamente liquidados em 1840, após muitos combates. Calcula-se que mais de 30 mil cabanos morreram, e os sobreviventes foram presos e escravizados.

A BALAIADA (1838-1841)

A Balaiada foi uma revolta popular que explodiu na província do Maranhão. Nessa época, o Maranhão atravessava grave crise econômica.

Sua principal riqueza, o algodão, vinha perdendo preço e mercados no exterior, devido à forte concorrência do algodão produzido nos Estados Unidos,

mais barato e de melhor qualidade. As conseqüências dos problemas econômicos do Maranhão recaíam sobre a população pobre, uma multidão formada por vaqueiros, sertanejos e escravos.

Cansada de tantos sofrimentos, essa multidão queria lutar contra as injustiças sociais, a miséria, a fome, a escravidão e os maus-tratos. Além disso, a insatisfação política reinava entre a classe média maranhense da cidade, representada pelo grupo dos bem-te-vis. Esse grupo iniciou a revolta contra os grandes fazendeiros conservadores do Maranhão, contando com a participação explosiva dos sertanejos.

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Os principais líderes populares da Balaiada foram: Manuel Francisco dos Anjos, fazedor de balaios - daí o nome da revolta; Cosme Bento das Chagas, ex-escravo que liderava um quilombo e Raimundo Gomes, um vaqueiro.

Apesar de desorganizados, os rebeldes balaios conseguiram conquistar a cidade de Caxias, uma das mais importantes do Maranhão. Mas os objetivos dos líderes populares não eram muito claros.

O poder foi entregue aos bem-te-vis, que então já passavam a se preocupar em conter a rebelião dos sertanejos. Para combater a revolta dos balaios, o governo enviou tropas comandadas pelo coronel Luís Alves de Lima e Silva, mais tarde conhecido como Duque de Caxias. Nessa altura dos acontecimentos, os bem-te-vis já haviam definitivamente abandonado os sertanejos e passado a apoiar as tropas governamentais. O combate aos balaios foi duro e violento. A perseguição só terminou em 1841, quando já haviam morrido cerca de 12 mil sertanejos e escravos.

A SABINADA

(1837-1838)

Em 1837, estourou na Bahia

uma rebelião liderada pelo médico Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, por isso conhecida como Sabinada.

Seu objetivo principal era formar uma república baiana, enquanto o príncipe Pedro de

Alcântara fosse menor de idade e não pudesse assumir o poder. Com o apoio de parte do exército baiano, os sabinos conseguiram tomar o

poder em Salvador, no dia 7 de novembro de 1837. Mas o movimento não empolgou a população, e as tropas imperiais, ajudadas pelos fazendeiros, logo começaram a combater a rebelião com fúria e violência.

A Balaiada não tinha uma organização consistente nem um projeto político definido. Não foi um movimento único, mas um conjunto de ações que receberam o mesmo nome.

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Agora responda em seu caderno:

14) Por que será que é só o povo que é violentamente reprimido e morto nestas revoltas?

Inúmeras casas de Salvador foram incendiadas, e muitos revoltosos foram

queimados vivos. Mais de mil pessoas morreram na luta. Em março de 1838, a rebelião estava totalmente esmagada. Apesar da violenta repressão, os principais líderes do movimento não foram mortos. O médico Francisco Sabino, por exemplo, foi preso e degredado para o Mato Grosso.

A REVOLUÇÃO FARROUPILHA

(1835-1845)

A Revolução Farroupilha, também chamada de Guerra dos Farrapos, explodiu em 1835 no Rio Grande do Sul e foi a mais longa revolta brasileira. Entre suas causas estavam os problemas

econômicos das classes dominantes gaúchas. No século XIX, aqueles vastos pampas verdejantes (planícies do sul) eram

importantes fornecedores de charque (carne seca salgada), couro e sebo.

Boa parte da produção era voltada para o mercado interno brasileiro, especialmente o Sudeste. Comida de gente pobre, de escravos e até de quem estava

A SABINADA foi uma rebelião comandada por homens cultos da classe média da cidade de Salvador. Não teve a participação dos pobres nem obteve o apoio dos ricos fazendeiros. Não havia entre os líderes do movimento a vontade efetiva de mudar a situação social dos baianos. Ou seja, mesmo se a revolução vingasse, os ricos continuariam na abundância, e os pobres na miséria.

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A pecuária do Sul produzia para o mercado interno. Isso ia contra a tendência geral da economia do país,

voltada para o mercado externo.

por cima da carne-seca. Nas estâncias (fazendas), trabalhavam homens livres (os peões) e escravos.

Apesar de muito bem de vida, os estancieiros gaúchos não estavam satisfeitos com o governo da Regência. Porque o charque argentino e uruguaio entrava no Brasil sem pagar nenhuma tarifa alfandegária especial, fazendo uma concorrência danosa aos interesses dos latifundiários riograndenses.

E, ao contrário, a importação de sal, tão necessário para salgar a carne na fabricação do charque, pagava altas taxas alfandegárias.

Os latifundiários queriam protecionismo alfandegário, pagar menos impostos

ao governo central (uma gorda fatia do Rio Grande do Sul tinha de ir para o Rio de Janeiro) e maior autonomia para a Província.

O governo não quis ceder e o conflito foi inevitável. Em 1835, as tropas

rebeldes ocuparam Porto Alegre.

Esse movimento nada teve de popular. Se as camadas oprimidas, peões ou escravos, participaram, foi para servir “de massa de manobra” em mais uma prolongada campanha militar, lutando por interesses que não eram seus e em nome de idéias e princípios cujo significado não podiam alcançar.

Em 1835, Bento Gonçalves comandou as tropas farroupilhas que dominaram Porto Alegre, capital da província. O governo central reagiu com firmeza, mas não teve forças suficientes para derrubar os farroupilhas. A rebelião expandiu-se e, em 1836, foi fundada a República Rio-Grandense, também chamada de República de Piratini, e em 1839, a República Juliana, em Santa Catarina.

A Revolução Farroupilha começou a ser contida a partir de 1842, através da ação militar de Luís Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias). Além da ação militar, Caxias procurou fazer acordos com os líderes farroupilhas.

No dia 1º de março de 1845, já durante o Segundo Reinado, foi feito um acordo de paz entre as tropas imperiais, comandadas por Caxias, e as forças farroupilhas. Os rebeldes assinaram a paz, mas em troca, exigiram que:

♦ os revoltosos não fossem punidos, mas recebessem a anistia do governo;

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♦ os soldados e oficiais do exército farroupilha passassem a fazer parte do exército imperial, com os mesmos postos militares;

♦ os escravos fugitivos que haviam lutado ao lado dos farroupilhas tivessem garantido o seu direito à liberdade.

Tantas revoltas sufocadas em sangue, leva cada um de nós a se questionar...

A Revolução Farroupilha não foi uma revolta das populações pobres. Foram os ricos estancieiros (fazendeiros) que lutaram por seus interesses econômicos e políticos.

O povo só participou do movimento como massa de manobra, sob o controle dos grandes fazendeiros. Não existia entre os líderes farroupilhas o desejo de acabar com as injustiças sociais e a miséria da maioria da população.

Queriam apenas garantir o lucro das grandes fazendas pecuárias, além de aumentar a liberdade administrativa e o poder político que possuíam na região.

Especialmente no Rio Grande do Sul, há um endeusamento da Revolução Farroupilha. Os historiadores tradicionais e oficiais a vêem como "uma luta de grandes heróis desinteressados, que buscavam a liberdade".

Vimos que não foi bem assim. Não se trata de dizer que os gaúchos são mentirosos ou covardes (suas classes dominantes podem sê-lo, mas certamente não o povo trabalhador), mas de resgatar a verdade.

Ora, para que serve esta lenda de que a Revolução Farroupilha foi um maravilhoso movimento democrático? Só serve para que as classes dominantes convençam as pessoas de que seu poder é "legítimo", porque teria origem nas "tradições democráticas gaúchas desde o tempo farroupilha".

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Apesar dos protestos, a verdade é que o governo central ia ficando cada vez mais forte. É fácil explicar: desde 1827, o café já era o segundo produto de exploração do Brasil e por volta de 1835 alcançou o primeiro lugar, botando o açúcar na vice-liderança.

Ora, as províncias cafeeiras ficavam no Sudeste, exatamente onde estava o poder central e a cidade do Rio de Janeiro, capital do Império e senhora controladora dos monopólios econômicos no Reino. Para conter as revoltas, você já viu: usaram a violência. Aldeias incendiadas, pelotões de fuzilamentos, camponeses assassinados em massa.

Estudando as revoltas regenciais, muita gente pode cair no pessimismo e pensar: "Não adianta lutar, porque sempre seremos derrotados!" Aí desiste e aceita tudo passivamente.

Será, então, que o povo nunca vence? Vamos sempre apanhar, como na Balaiada e na Cabanagem?

Calma. Na verdade, muitas das lutas do passado foram vitoriosas. Pelo menos em parte. Um de seus grandes momentos foi, por exemplo, a vitória do movimento pelo fim da escravidão. Os trabalhadores brasileiros de hoje podem não ter muitos direitos, mas certamente já ganharam alguns. Porque lutaram e tem lutado para conquistá-los.

A liberdade e a democracia não são coisas ocas. Na prática, são elas que dão mais condições ao povo de lutar e se organizar.

Estudando História nós podemos aprender com os movimentos passados, mesmo os que não tiveram sucesso. Aprendemos que o passado poderia ter sido diferente e o presente sempre nos oferece uma escolha.

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Os liberais exaltados foram sendo suprimidos pela maneira habitual que as classes dominantes empregam para esmagar a oposição: perseguições, encarceramento, execuções, banimento.

Triste ironia da história: a maior parte dos jornalistas, padres e artesãos presos ou enforcados tinham sido ativos militantes da independência.

Com violência, as classes dominantes asseguravam a unidade do Brasil e a obediência ao governo do Rio de Janeiro.

No fim só sobrou mesmo o grupo moderado, que se dividiu em dois partidos: o Progressista e o Regressista.

As medidas descentralizadoras tinham gerado graves problemas políticos: elas não ameaçavam despedaçar o Brasil em vários países diferentes? Como enfrentar as revoltas federalistas?

Como é que um regente único e, portanto, vindo de uma única região, poderia ser aceito por todas as províncias e regiões?

Os progressistas achavam que a descentralização concedida era uma boa. descentralização controlada, já que eles estavam longe do federalismo exaltado, sem falar que nem queriam ouvir conversa sobre democracia. Já os regressistas achavam que era preciso trazer de volta a supercentralização.

Como diziam na época, era preciso "parar o carro da revolução". As

manifestações liberais eram chamadas de "anarquia".

Nessa altura do campeonato... ...e a POLÍTICA,

como vai ????

Recentralizar o poder era a garantia contra as revoltas.

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O regente Antônio Diogo Feijó governou de 1835 a 1837. Pertencia ao grupo progressista, mas na verdade era bem reacionário. Tinha sido o criador da Guarda Nacional (1831) e era um padre que apoiava, o casamento do clero, e por isso não era bem visto pelo Papa.

Além dos problemas com a Igreja, com os ministros, que ele trocava mais do que mudava de batina, Feijó foi perdendo o apoio dos latifundiários do Sudeste, que cada vez mais exigiam o refortalecimento do poder central para combater as revoltas provinciais.

Achavam que o regente não estava controlando as rebeliões com a devida energia (a maioria delas só seriam esmagadas pouco depois, no final da Regência). Diante da oposição, teve de renunciar.

Quem assumiu a Regência foi o regressista Pedro de Araújo Lima. Criou um ministério de incompetentes, que davam a si mesmos o apelido de ministérios das capacidades.

As providências recentralizadoras foram sendo tomadas. A Assembléia Geral, seguindo a orientação conservadora, aprovou a Lei Interpretativa de

1840, tirando muito da autonomia das Assembléias Provinciais.

Por exemplo, certas leis provinciais poderiam ser anuladas pela Assembléia Geral do Império.

No ano seguinte, restabeleceu-se o odiado Conselho de Estado, com os figurões tomando chá, batendo papo sobre corrida de

cavalos e mulheres interessantes e dando palpites para o imperador a respeito de como desgraçar a vida da população.

Com a Reforma do Código Criminal de 1841 os juizes de paz perderam seus amplos poderes. Quem mandava mesmo passava a ser o chefe de polícia, nomeado pelo ministro da justiça, um para cada capital de província.

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Nos municípios, delegados e subdelegados, tinham até alguns poderes de juizes.

Em 1850, a Guarda Nacional também seria subordinada totalmente ao Ministério da Justiça. Era a reação agindo. O Sudeste enriquecido pelo café reassumia o comando.

Todas as providências para esmagar as revoltas e fortalecer o poder central foram tomadas.

Na verdade, os políticos progressistas achavam que só havia uma maneira de acabar com a falta de autoridade do governo central e preservar a unidade territorial do império.

É o que você estudará agora, vamos lá?

Era só transferir o poder para D. Pedro de Alcântara e acabar com o período regencial. Mas o jovem príncipe tinha só 14 anos. Era menor de idade. A Assembléia Nacional, entretanto, tinha poderes para antecipar a maioridade de D. Pedro. Foi, então, fundado o Clube da Maioridade, organização política cujo objetivo era lutar pela antecipação da maioridade do príncipe.

A tese do Clube da Maioridade teve o apoio das classes dominantes e uniu políticos progressistas e parte dos regressistas.

A elite política acreditava que a figura de um imperador com fortes poderes seria essencial para liquidar as revoltas provinciais e, desse modo, restabelecer a ordem social que interessava aos grandes proprietários de terra e senhores de escravos.

Em 1840, a Assembléia Nacional aprovou a antecipação da idade do príncipe Pedro de Alcântara. Era a vitória do Clube da Maioridade.

Assim, o jovem Pedro foi aclamado imperador, com o título de D. Pedro II, em 23 de julho de 1840. Iniciava-se o Segundo Reinado, período que durou quase meio século (1840 a 1889).

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Agora responda em seu caderno:

15) Para esmagar as revoltas e fortalecer o poder central, qual foi a solução encontrada por progressistas e regressistas?

A maioridade nas ruas

O Golpe da Maioridade não foi apenas uma campanha restrita aos círculos políticos convencionais. Ela ganhou as ruas e empolgou a população, grande parte da qual via na figura do jovem príncipe a possibilidade de restabelecer a paz e manter a unidade nacional. Pelas cidades, grupos de populares entoavam cantigas em apoio ao novo imperador:

"Queremos Pedro II. Embora não tenha idade, A nação dispensa a lei, E viva a maioridade."

Mas nem todos eram otimistas em relação ao jovem governante. Na boca dos opositores, as cantigas ganhavam ares poucos lisonjeiros:

"Quem põe governança Na mão de criança, Põe geringonça No papo da onça."

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Com apenas 14 anos, D. Pedro II tornou-se imperador do Brasil.

O SEGUNDO REINADO

Bem, você acabou de estudar o Período Regencial. Aprendeu que as revoltas, os conflitos políticos e sociais botavam fogo no país.

Aprendeu também que o menino Pedro de Alcântara, filho de D. Pedro I, só poderia assumir o governo ao atingir a maioridade, ou seja, 18 anos.

Mas, os representantes do Partido Liberal resolveram antecipá-la e deram o “golpe da maioridade”, isto é, articularam-se para modificar a Constituição, declarando Pedro de Alcântara maior de idade no dia 23 de julho de 1840. No ano seguinte, com 14 anos, foi coroado imperador, recebendo o título de D. Pedro II.

Com a coroação de D. Pedro II em 1840, iniciou no Brasil o SEGUNDO

REINADO - que se estendeu até 1.889 com a Proclamação da República.

O governo de D. Pedro II durou 50 anos, sendo o mais extenso de toda a história do Brasil independente. Nesse período o país passou por profundas transformações, com a consolidação do café como principal riqueza nacional e um primeiro surto industrial.

Apesar de todo o progresso econômico, o Segundo Reinado seria marcado por vários conflitos com países vizinhos no sul do continente. O maior deles, a Guerra do Paraguai, entre 1865 e 1870.

Bem, antes de continuar este assunto, você dará um rolêzinho

pelo mundo da época, para saber o que estava acontecendo.

Vamos nessa?

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CAPITALISMO - Regime econômico baseado na:

� propriedade privada dos meios de produção e distribuição;

� na livre concorrência entre as empresas;

� na procura do lucro pelo empresário; � no trabalho livre; � na existência de um mercado

consumidor e na exploração dos trabalhadores pelos capitalistas.

Portanto, para que exista capitalismo é necessário que exista capital, mercado consumidor e trabalho livre.

Por volta de 1760 Final do século XIX

Máquina a vapor

Motor diesel, à gasolina e elétrico

Tecido, objetos de ferro

Petroquímica, siderurgia (aço) e máquinas pesadas

(motores, navios, locomotivas)

Começo

Principais Indústrias

Tecnologia

Primeira Revolução Industrial

Segunda Revolução Industrial

A SITUAÇÃO MUNDIAL

No final do século XIX, a indústria conheceu importantes mudanças

tecnológicas, que alguns historiadores chamam de Segunda Revolução Industrial.

Observe algumas mudanças tecnológicas desse período.

Saiba que nessa fase, a economia capitalista entrou num período de grande crescimento, tanto na Europa como nos Estados Unidos.

Esse crescimento refletiu-se na

ampliação do comércio mundial e no enorme acúmulo de capitais

entre os empresários das grandes potências. Para você ter uma idéia, aproximadamente 80% do capital mundial

concentrou-se em POUCAS NAÇÕES RICAS como:

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Monopólio Industrial: privilégio

exclusivo de um grupo de empresas.

CARTEL – GRUPO DE GRANDES EMPRESAS QUE ESTABELECEM ENTRE SI UM ACORDO COM O OBJETIVO DE CONTROLAR OS PREÇOS OU O MERCADO DE UM DETERMINADO SETOR.

HOLDING – NASCE DA ASSOCIAÇÃO DE DIVERSAS EMPRESAS SOB A DIREÇÃO DE UMA EMPRESA

CENTRAL, QUE DETÉM O CONTROLE E A MAIORIA DAS AÇÕES DE SUAS ASSOCIADAS.

TRUSTE – FUSÃO DE DIVERSAS EMPRESAS DO MESMO RAMO NUMA ÚNICA, QUE PASSA A DOMINAR TODAS AS FASES DA PRODUÇÃO: DA OBTENÇÃO DA

MATÉRIA-PRIMA ATÉ A COMERCIALIZAÇÃO DO PRODUTO.

Caricatura da época satirizando os trustes.

Como ocorreu a concentração econômica nesses países? A concorrência entre empresas capitalistas transformou-se numa verdadeira

batalha de preços. Nessa batalha, as empresas mais poderosas foram vencendo as mais fracas.

Nessa “luta” de negócios, as empresas vencedoras foram concentrando

capitais e dominando a produção de alguns setores.

Surgiram, então, os monopólios industriais, que eliminavam a concorrência e podiam fixar preços em busca de maiores lucros. Esses monopólios industriais eram representados pelo cartel, pela holding e pelo truste, novas

formas de organização das empresas que perduram até os dias de hoje.

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O processo de concentração econômica também se desenvolveu no setor financeiro. Os grandes bancos associaram-se às grandes indústrias para financiar seus inventos e participar dos lucros de seus projetos.

Assim, temos a fusão (união) do...

...marcando essa nova fase do capitalismo, conhecido como CAPITALISMO FINANCEIRO E MONOPOLISTA

e caracterizado por: � Grande aumento da produção industrial, que acabou gerando

a necessidade de ampliação dos mercados consumidores;

� Enorme acúmulo de capitais, que acabou gerando a busca de novos projetos para investimentos lucrativos.

Com a grande produção os mercados europeus não conseguiam consumir

tudo o que os monopólios produziam.

Como sair da crise? A solução do capitalismo para expandir a produção industrial e investir os capitais acumulados foi conquistar novos mercados.

...PROBLEMAS! ESSA NÃO...

Vieram as crises...

Mercadorias encalhadas... Diminuição da produção...

Desemprego...

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...mas, como será que os europeus justificaram essa dominação?

Surgia assim o... ...Imperialismo no século XIX

O alvo dessa expansão foi as nações pobres, que ainda não tinham atingido o desenvolvimento industrial. O objetivo do neocolonialismo (novo colonialismo) era a repartição econômica e política do mundo.

As potências européias adotaram essa política principalmente na África, mas estenderam-na também à Ásia e à América Latina.

O neocolonialismo era diferente do velho colonialismo mercantilista do séc. XVI ocorrido na América e Ásia - voltado aos interesses do capital comercial que era obter especiarias, metais preciosos e produtos caros que pudessem ser vendidos no mercado europeu.

O neocolonialismo (séc. XIX e início do XX) foi fruto do capitalismo industrial, ou seja, nessa época, os países industrializados procuravam encontrar territórios ricos em matérias-primas para abastecer sua economia e novas regiões para investir o capital excedente, além da busca pela expansão do mercado consumidor para produtos industrializados. E mais, as colônias tinham que atender aos problemas de crescimento populacional da Europa, e o fornecimento de mão-de-obra numerosa e barata.

� Do ponto de vista ideológico, justificava-se a expansão em razão da obrigação moral que os homens brancos tinham de levar a civilização a todo o mundo. Este seria o “fardo do homem branco”, uma verdadeira missão civilizadora: tinham por obrigação difundir o progresso pelo mundo, ou seja, caberia às nações da Europa difundir seus hábitos, costumes e tradições entre povos “atrasados e primitivos”.

Obviamente, não se perguntavam aos habitantes da África e Ásia se eles aceitavam tal “civilização”. Crentes em sua superioridade moral, os europeus impunham seus valores pela força das armas: era a “diplomacia do canhão”.

O IMPERIALISMO consiste na dominação econômica (com reflexos políticos e culturais) de um país sobre outro.

Durante o séc. XIX, por exemplo, empresas inglesas investiram grandes somas de capital destinadas à construção de ferrovias e ao aperfeiçoamento de serviços públicos, como transporte urbano e iluminação a gás, em países como o Brasil.

Já o NEOCOLONIALISMO significa a dominação total de um país sobre outro. A maioria dos países africanos e asiáticos foram vítimas do neocolonialismo, pois seus territórios foram conquistados e submetidos no plano econômico, político, administrativo, militar e cultural.

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Utilizando a violência, os países imperialistas impuseram seu domínio

econômico sobre o mundo. Assassinaram..., pilharam... e

exploraram...

Os capitalistas europeus enriqueceram

a custa da miséria e do sofrimento de milhões de africanos, asiáticos

e latino-americanos.

� Do ponto de vista prático, as potências imperialistas exerciam o domínio político sobre os territórios conquistados por meio da administração direta ou por acordo com as elites locais. Dos dois modos obtinha-se a exploração econômica que era o objetivo final da colonização.

Assim, criou-se o “mito da superioridade da civilização industrial européia”, tendo por base elementos como:

� O europeu estava destinado a levar o progresso técnico-científico (Revolução Industrial) e os “bons costumes” aos povos não europeus.

� A “raça branca” é superior às outras (esse argumento está contido em teorias raciais da época).

� As nações cristãs tinham o dever de levar o cristianismo a todos os povos que viviam mergulhados na “superstição” e na “barbárie”.

Valendo-se desses argumentos elitistas e racistas, as grandes potências industriais exploraram, violentaram e mataram milhões de nativos da África a da Ásia, enquanto dividiam entre si as riquezas desses vastos continentes.

Em uma improvisada escola da Argélia, dois professores franceses ditam lições a

crianças e adultos árabes, em 1860. Na foto, a frase escrita

na lousa aconselha em língua francesa:

"Meus filhos, amai a FRANÇA, vossa nova pátria".

Na verdade esse “conselho”

era uma imposição, já que a população nativa

não tinha escolha.

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...e como ficou o Continente Africano após a repartição entre

as potências européias?

Entre o século XV e início do XIX, a África foi vista pelos europeus somente como um grande empório, isto é, um grande centro de comércio de escravos e especiarias (pimenta, plantas, animais raros e marfim), mas, com o extraordinário avanço do capitalismo, os magnatas europeus passaram a encarar a África como um vastíssimo mercado consumidor de produtos industrializados e fornecedor de matéria-prima.

Nessa mesma época descobriu-se que as terras africanas eram ricas em pedras preciosas, principalmente diamantes. A divulgação dessa notícia fez com que essas terras passassem a ser vista como uma área onde investimentos em mineração, portos e estradas dessem lucros extraordinários.

O Continente Africano começou a ser explorado pelos europeus no século

XV, quando os portugueses alcançaram e dominaram vários pontos do seu litoral. De lá arrancaram ouro, marfim e principalmente escravos para as colônias americanas.

Durante os séculos XVI, XVII e XVIII, os europeus conheceram e exploraram o litoral e as desembocaduras dos rios, mas o interior do Continente continuou inacessível e inexplorado até o século XIX.

Foi então que a África se tornou alvo de disputas entre a Inglaterra, a França, a Bélgica, a Alemanha e a Itália.

Acordos e conferências internacionais evitaram um confronto direto entre os vários países envolvidos na Partilha da África. Em compensação, a ocupação dos territórios africanos se fez sempre com extrema violência e resultou numa exploração sem limites. Praticamente todo o Continente foi dominado pelos países europeus.

A Ásia foi disputada pelas potências européias,

Japão e Estados Unidos.

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Ocupação britânica

é a mesma coisa que Império da

Inglaterra.

A fome, o principal problema de muitos

países africanos, é uma das heranças do

imperialismo europeu.

A partilha da África ocorre a partir de 1870, quando a Alemanha e a Itália entraram em disputa com a Inglaterra e a França pela conquista de territórios.

Em 1885, quando a

ocupação já se achava num estágio avançado, as potências européias se reuniram na Conferência de Berlim, convocada pelo primeiro-ministro alemão Bismarck, a fim de oficializar a partilha da África. Essa conferência determinou que, para tornar-se dono de um território

africano tinha que ocupá-lo efetivamente.

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PARA REFLETIR Talvez, as teorias racistas já existiam antes da colonização, antes do imperialismo,

mas tinham pouca repercussão. Na região africana, o imperialismo deu-lhes substância e vida, e propagou-as em

definitivo pelo mundo.

IMPORTANTE

Os conflitos gerados pelos interesses colonialistas do século XIX e início do XX

levaram a I Guerra Mundial.

Assim, as nações se armaram para conquistar novos territórios e enfrentar ameaças das potências concorrentes. Após a partilha ocorreram movimentos de resistência. Muitas manifestações foram reprimidas com violência pelos colonizadores. A partilha foi feita de maneira arbitrária, não respeitando as características étnicas e culturais de cada povo, o que provocou e ainda provoca muitos dos conflitos atuais no continente africano. A colonização suprimiu as estruturas tradicionais locais e deixou um vazio cultural de difícil reversão.

. Também foram exploradas as rivalidades entre os próprios grupos

africanos para facilitar a dominação.

Em longo prazo, essa “missão civilizadora” deixou uma herança de fome, destruição, miséria, divisões e guerras tribais e estagnação econômica entre os povos africanos, que até hoje sofrem as conseqüências daquela dominação. A maioria esmagadora dos países pobres da atualidade foi ex-colônia e, com certeza, estiveram submetidos à expansão imperialista do século XIX, e quase todos os países capitalistas desenvolvidos da atualidade foram nações imperialistas no passado.

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Em 1933, HITLER foi eleito primeiro-ministro na Alemanha. Através de um "golpe" tornou-se ditador e segundo suas idéias, o povo alemão era "superior aos demais" e tinha por isso, o direito de predominar sobre o resto da humanidade. Para isso, era necessário manter a pureza da raça ariana (alemã) e combater a influência dos judeus que eram vistos como um fator de corrupção do povo alemão. E mais, reunir todos os alemães espalhados pela Europa num só "Reich" (Império) e construir a GRANDE ALEMANHA, ocupando assim, outros países.

Proclamando o poder total de uma de uma raça superior, sobre outros europeus...

...em 1935 iniciou-se a perseguição aos judeus que foram considerados como "raça inferior", perderam o direito ao voto, perderam os empregos públicos e tiveram suas propriedades destruídas.

Perseguidos por Hitler foram expulsos da comunidade alemã e mandados para os "campos de concentração", onde morreram cerca de 5 a 6 milhões de judeus.

Sobre este assunto, você estudará mais a frente.

Você sabia que as teorias racistas e imperialistas foram aplicadas até na

própria Europa?

Não? Então fique por dentro!

...e como se deu o Imperialismo na América Latina?

Bem, como você já estudou, a dominação imperialista na África e Ásia se deu por meio da ocupação dos territórios, certo? O mesmo não ocorreu na América Latina.

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Não se esqueça que esse tipo de relação só foi possível manter, devido à aprovação ou até o apoio

e a colaboração explícita de algumas elites latino-americanas.

Ao longo de todo o séc. XIX,

França, Inglaterra e Estados Unidos disputaram entre si a dominação econômica e política sobre a América Latina, que representava fonte de matérias-primas e mercado para seus produtos industriais. E mais, interferiram nas disputas políticas internas dos países

vizinhos ao Brasil (ex-colônias espanholas), nas quais se revezavam ditaduras de caudilhos (caudilhos eram chefes locais que impunham a ordem através da força). No Brasil ainda era a Monarquia, certo?

Para as elites coloniais, era cômodo e interessante ceder à dominação econômica dos países capitalistas industrializados, sobretudo da Inglaterra, que fornecia artigos de alta qualidade em troca dos produtos primários vendidos. Nessas, condições, os países latino-americanos não se lançaram ao desenvolvimento econômico, autônomo e auto-sustentado, como aconteceu nos Estados Unidos. Ao contrário, para consolidar os novos governos após a independência no início do séc. XIX, viram-se obrigados a recorrer ao capital estrangeiro.

Nessa época, a penetração do capital imperialista se dava por duas vias: empréstimos aos governos e os investimentos diretos de capital, principalmente em mineração, operações financeiras, comércio de exportação e importação, transporte (ferrovias), companhias de navegação e serviços públicos urbanos. Assim, a invasão de novos produtos, a modernização urbana e a mudança nos hábitos e costumes caracterizaram a entrada da América Latina na esfera do capitalismo internacional.

Fica fácil você imaginar então que a iluminação a gás, as ruas pavimentadas, a arquitetura, os teatros, as ferrovias, os bondes e as vestimentas européias, deram um “ar de progresso” às nações latino-americanas, não é mesmo?

No entanto, conservavam sua velha estrutura econômica, isto é, enquanto os países industrializados se firmavam como potências européias, os países da América Latina, incluindo o Brasil, continuavam agrícolas, com mão-de-obra escrava, exportadores de alimentos e de matérias-primas.

Para entender esse processo, vale recordar que, nos termos do pacto colonial, estabelecido na época da colonização no século XVI, a economia das colônias foi definida como complementar à das metrópoles. Assim, cabia às colônias cultivar produtos tropicais de larga aceitação no mercado europeu ou oferecer metais preciosos que promovessem o rápido enriquecimento da metrópole.

Dessa forma, mesmo sendo politicamente

independentes, os países da América Latina

passaram a manter com as nações industrializadas

uma relação de dependência econômica.

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Na verdade, a expansão imperialista dos Estados Unidos, tinha começado a muitos anos antes - na Ásia. Em 1844, os Estados Unidos conseguiram assinar um tratado comercial com a China; dez anos depois, forçaram o Japão a abrir seus portos ao comércio americano. Nessa mesma época, conquistaram inúmeras ilhas do Pacífico.

Como ocorreu na Índia e na China, a entrada de produtos americanos arruinou a nascente manufatura e o antigo artesanato japonês. Os samurais (guerreiros de origem nobre, possuidores de pequenos feudos) lideraram a reação contra os estrangeiros e com o apoio dos camponeses e da população das cidades, restauraram o poder do Imperador Mitsuhito - conhecida como era Meiji (mei, em japonês, quer dizer "luz").

Em pouco tempo o Japão se tornou uma nova potência capitalista. E, como os países do Ocidente, empenhou-se em ampliar sua dominação imperialista sobre a Ásia.

A partir de 1870, os Estados Unidos começaram a se impor por aqui, tendo por base a Doutrina Monroe “a América para os americanos”.

...mas, e os ESTADOS UNIDOS?

Quando começaram a se impor por aqui?

O capitalismo transforma tudo em mercadoria, inclusive os seres

humanos, suas emoções e fantasias.

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Mas, como assim?

É que na Ásia, os Estados Unidos implantou a política de “portas abertas”, isto é, todas as potências deveriam ter os mesmos direitos de exploração comercial e financeira naquela região. Já para a América Latina, seguiram a política “a América para os americanos”, isto é, de “portas fechadas” para qualquer potência, exceto para os Estados Unidos – era o...

...IMPERIALISMO NORTE – AMERICANO AQUI Essa era na verdade uma advertência aos países europeus

para que não interferissem nos assuntos do continente americano. Saiba que na América Central (grande produtora de

banana), a hegemonia (poder) dos Estados Unidos ocorre desde o início do séc. XIX. Este intervém na região, para garantir concessões territoriais a monopólios agrícolas norte-americanos.

Em 1846, como resultado da guerra contra os Estados Unidos, o México perde quase metade do seu território (Califórnia, Arizona, Novo México, Utah, Nevada e parte do Colorado passam ao domínio norte-americano).

A guerra pela independência de Cuba (América Central), iniciada em 1895, serve de pretexto para a intervenção norte-americana e para o desencadeamento da guerra entre os Estados Unidos e a Espanha. Cuba conquista a independência em 1902, sob a tutela dos Estados Unidos. Como resultado da derrota espanhola, em 1898, Porto Rico passa ao domínio norte-americano. Em 1903, por imposição da frota naval norte-americana, o Panamá separa-se da Colômbia e concede aos

Estados Unidos a soberania sobre a Zona do Canal do Panamá.

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Após 1909, o imperialismo americano foi substituindo a força militar pela força do dinheiro.

Em vez do “porrete”, utilizou a “diplomacia do dólar” para comprar os favores dos políticos latino-americanos.

Foi assim que as elites financeiras e industriais norte-americanas

alcançaram as facilidades econômicas que desejavam nos países da América Latina, em prejuízo de suas populações.

1 – Explique porque o neocolonialismo foi fruto do capitalismo industrial. 2 – Identifique conseqüências atuais da missão civilizadora sobre os povos

africanos. 3 – Qual o significado da política "a América para os americanos" do

século XIX?

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Bem, até aqui, você estudou em linhas gerais a

situação mundial da época, certo?

Como você já estudou, nosso país passava por um quadro de instabilidade

social, política e econômica. A posse de D. Pedro II como imperador do Brasil representava para grande parte da população e dos políticos uma esperança de estabilidade. Afinal, estabelecia-se o princípio pelo qual tinha se organizado o Estado Brasileiro: o da centralização do poder na figura do imperador.

Os grupos dominantes puderam, então, construir uma ordem política e social estável, baseada na supremacia do imperador sobre todos os outros poderes do Estado, na grande propriedade rural monocultura e no trabalho escravo.

A principal garantia material dessa estabilidade era a prosperidade econômica, assegurada pela expansão de um novo produto de exportação: O CAFÉ.

1 – O CAFÉ É O NOVO REI

� A supremacia do café

O café foi introduzido no Brasil por volta de 1727. A princípio, era um produto sem valor comercial, uma bebida destinada apenas ao consumo local. Entretanto, a partir do início do século XIX, o hábito de beber café tornou-se popular na Europa e nos Estados Unidos. O número de consumidores internacionais de café crescia rapidamente.

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Os grandes lucros gerados pela exportação do café permitiram a recuperação econômica do Brasil, cujas finanças estavam abaladas desde a época da independência, devido a empréstimos externos e à queda nas exportações agrícolas.

Plantar café não exigia investimentos tão grandes quanto os exigidos num

engenho (que precisava de um equipamento caro). Geralmente, bastava derrubar a mata, aproveitar a madeira e tocar fogo no resto.

Em seguida plantavam as mudas. Ninguém usava ferramentas sofisticadas. Depois de plantado, o cuidado não era muito. Capinava para tirar as ervas daninhas e entre as fileiras de pés plantavam milhos e feijão.

O Sudeste tinha o clima (chuvas regulares) e o solo ideais e, mais ainda, as condições econômicas ideais para a cafeicultura.

Lembre-se que desde o século XVII, São Paulo expandia a produção açucareira e isso fez surgir uma importante base econômica: capital para investir, estradas, mercados. O Porto de Santos, antes de ser do café, foi do açúcar, portanto, o dinamismo econômico da região favoreceu a expansão do café.

Com todos esses recursos, o Brasil se tornou em pouco tempo o principal produtor mundial de café.

E foi pelo fato de poder investir, que os latifundiários da região aplicaram no café. A partir de 1837, o café já era o principal produto de exportação do Brasil. Graças ao café, o saldo da balança comercial brasileira passou a ser positivo a partir de 1861. Isso quer dizer que se exportava (vendia) mais do que se importava (comprava). Era dinheiro de fora (libras esterlinas, a moeda

inglesa) entrando aqui (para o bolso dos latifundiários, é claro!). Exportava-se café principalmente para os EUA, Inglaterra, França e

Alemanha.

As primeiras fazendas de café apareceram no fim do século XVIII, em São Gonçalo no Estado do Rio de Janeiro. Em 1889 (ano da proclamação da República) São Paulo já ultrapassava a produção do Rio de Janeiro.

Em São Paulo, o café foi plantado inicialmente no litoral norte – VALE DO PARAÍBA – e sem nenhuma preocupação ecológica. Os solos foram se desgastando e a produtividade caiu.

Embarque do café no Porto de Santos.

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Os cafeicultores tornaram-se a classe social mais influente da sociedade brasileira, passando a interferir na vida econômica e política do país.

Na segunda metade de século XIX, o café expandiu-se em direção ao oeste

paulista, encontrando um tipo de solo extremamente favorável ao seu desenvolvimento: a terra roxa.

Nessa marcha para o oeste, o café destacou-se em várias cidades paulistas, como: Campinas, Sorocaba, Ribeirão Preto, Araraquara e São José do Rio Preto.

Observe no mapa abaixo a expansão do café.

� A questão do tráfico negreiro

O Brasil, desde 1810, sofria pressões inglesas para extinguir o tráfico negreiro, mas este continuava a acontecer. Proclamada a independência do Brasil, a Inglaterra fez nova investida.

Em 1826, D. Pedro I comprometeu-se a eliminar inteiramente o tráfico de escravos em 3 anos, mas o acordo não foi cumprido, e com a sua abdicação, os latifundiários (grandes proprietários de terras e de escravos) subiram ao poder –

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Os latifundiários queriam resolver o problema de mão-de-obra sem mexer na estrutura fundiária brasileira.

A extinção do tráfico negreiro era questão internacional desde o início do século XIX. Para as indústrias inglesas interessava o fim da escravidão, pois ampliaria o mercado consumidor, elevando, portanto seus lucros.

A abolição do tráfico de escravos exigia, portanto, uma solução para o problema da

falta de mão-de-obra.

eram os regentes – mas a lei não foi respeitada. A importação de negros continuou, sob proteção das próprias autoridades, pois o café estava se expandindo pelo Vale do Paraíba, utilizando mão-de-obra escrava.

A Marinha Inglesa tudo fez para pressionar os traficantes e assim, cresceram as tensões entre o Brasil e a Inglaterra.

A Inglaterra decidiu então agir por conta própria e em 8 de agosto de 1845, o Parlamento Inglês aprovou a Lei Bill Aberdeen, segundo o qual, dava direito à Inglaterra de apreender qualquer embarcação usada no tráfico de negros e fazer julgar os infratores pela justiça inglesa.

O “Bill Aberdeen” constituía inclusive, um desrespeito à soberania brasileira, pois os ingleses não hesitavam em operar em águas territoriais do Império, e os protestos do Brasil não foram levados em consideração. Para o governo brasileiro, o problema do tráfico tornou-se uma questão de honra.

Após 5 anos de tensões, foi promulgada em 4 de setembro de 1850, a Lei Euzébio de Queirós, que extinguia definitivamente o tráfico negreiro. Mas ainda registraram-se entradas de negros no Brasil até 1856.

O que permitiu o cumprimento da Lei Euzébio de Queirós?

As condições internas do comércio negreiro se modificaram muito – pois os preços dos escravos subiram a níveis tão altos que o traficante os vendia a crédito, cobrando juros altíssimos. Com isso, muitos proprietários acabavam entregando suas terras ao traficante para saldar suas dívidas. Por isso, o governo não teve grandes dificuldades em fazer executar a Lei Euzébio de Queirós.

� Mão-de-obra escrava e livre

De início os latifundiários (grandes proprietários de terras) apelaram para o tráfico interno. As lavouras nordestinas, que apresentavam sinais de decadência, começaram a vender seus escravos para o Sul cafeeiro. Somente na década de 1850, a Bahia, por exemplo, enviou mais de 12 mil escravos para os cafezais do Vale do Paraíba.

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Perceba a contradição... é até irônica, não é mesmo?

Além disso, o Brasil precisava torna-se um país de brancos, como as nações européias: a França, a Inglaterra, a Alemanha, a Itália. Por isso o governo incentivou a vinda de imigrantes europeus. Esse decreto dizia que o Brasil estava aberto para a livre entrada de pessoas que tivessem saúde e fossem capazes de trabalhar, “com exceção dos nativos da Ásia e da África”. O governo brasileiro não queria saber de orientais e de negros.

Essa solução era deficiente e temporária, pois, além do seu enorme preço, os escravos não sobreviviam por muito tempo, obrigando à constante reposição.

A solução encontrada foi incentivar a vinda de imigrantes estrangeiros

para cá, sendo o maior atrativo a doação de terras aos mesmos, pois permitiria a formação de núcleos coloniais de pequenos proprietários (foi o que ocorreu no Rio Grande de Sul e, mais tarde, em Santa Catarina).

Assim, em novembro de 1808, o príncipe regente promulgou o decreto de “doação de terras” aos estrangeiros, assegurando a propriedade territorial e isso continuou no governo imperial brasileiro.

Mas essas medidas do governo brasileiro não eram bem vistas pelos latifundiários. Estes afirmavam que o Brasil precisava de braços para a grande lavoura e não de povoadores, não sendo justo conceder terras a estrangeiros e dificultar sua aquisição pelos brasileiros. Todavia, esses grandes proprietários recusavam-se a admitir uma divisão de terras entre os brasileiros.

Em 1840, em sua fazenda de Ibicaba (Limeira/SP), o senador Nicolau de

Campos Vergueiro teve uma iniciativa pioneira. Inaugurou no Brasil o “regime de parceria”.

Pelo “regime de parceria”, os imigrantes tinham a viagem paga até a fazenda; lhes era dado algum dinheiro e mantimentos até que eles pudessem sustentar-se pelo próprio trabalho, comprometendo-se a cultivar, colher e beneficiar o produto (café) e, após a venda, metade do lucro seria do colono. Só que, a metade do lucro do café, quase nunca lhe chegava as mãos, pois eram descontadas todas as despesas que o fazendeiro assumiu com sua contratação (viagem, transporte, sustento e mantimentos etc.). Por essas e outras razões o regime de parceria fracassou.

Em 1808, o decreto de doação de terras não estava mais em vigor e em 1850, os barões-do-café haviam conseguido a aprovação da Lei de Terras que permitia a aquisição de terras devolutas (desocupadas) somente através da compra e que o imigrante deveria permanecer por 3 anos na fazenda de café, só então poderia deixá-la e comprar sua própria terra, portanto, o imigrante teria que vir como trabalhador assalariado e, de certa forma, ficaria preso à fazenda de café.

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CURIOSIDADE:

Popularmente, os trabalhadores que varrem as ruas são chamados de garys,

certo?

Você sabe porquê?

É que nessa época, no Rio de Janeiro, a limpeza urbana passou a ser feita pela

firma Aleixo Gary, que tinha empregados – os lixeiros, logo apelidados de garys –

aí a moda pegou...

O trabalhador assalariado consolidou-se no país a partir

de 1870, concentrando-se, inicialmente, nos cafezais

do Oeste Paulista.

Nas demais regiões, o trabalho escravo continuou a

ser amplamente utilizado.

Veja que essa lei permitia aos latifundiários monopolizar o trabalhador imigrante, uma vez que o mesmo precisaria trabalhar muito e acumular muito dinheiro para ter condições de adquirir suas próprias terras.

Saiba que foi no Oeste Paulista que se operaram as primeiras e decisivas mudanças na estrutura de produção da economia brasileira.

Enquanto o Vale do Paraíba, apesar de sua preponderância, permanecia preso ao escravismo e às técnicas rudimentares, o Oeste Paulista iniciava a utilização da mão-de-obra livre, introduzia a mecanização no beneficiamento do café.

O centro do poder político e econômico (antes no Nordeste), transferiu-se para o Centro-Sul, pois o café ultrapassou o açúcar nas exportações brasileiras e os cafeicultores passaram a desempenhar um papel de destaque na administração dos negócios públicos, assim, definiu-se uma nova aristocracia rural: a dos fazendeiros de café, conhecidos também como Barões do café em substituição à dos antigos senhores de engenho.

O café também foi o principal responsável pelo crescimento do nosso mercado interno, principalmente com a introdução do trabalho assalariado. As atividades ligadas direta ou indiretamente a esse produto acabaram contribuindo para a expansão dos serviços urbanos e, por conseguinte, para o crescimento das cidades, dinamizando o processo de urbanização - o “café trouxe riquezas e cidades”.

� O alvorecer da indústria: a era Mauá

Um viajante que visitasse o Rio de

Janeiro, no início do século XIX, e depois retornasse na metade do mesmo século, ficaria surpreso com as novidades. A cidade crescia, as ruas passaram a ter luz de lampião a gás em vez do velho lampião fedorento a óleo de baleia, apareceram os bondes puxados por burros, lojas e mais lojas.

Foram bastante significativas as muitas inovações no sistema de

trabalho e na sociedade brasileira na área cafeeira do Oeste Paulista, mas,

em grande parte do Brasil ainda permanecia o uso da

mão-de-obra escrava.

Até quase o final do século XIX, ESCRAVO e TRABALHADOR LIVRE

ASSALARIADO coexistiram de forma CONTRADITÓRIA e DESARMÔNICA.

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Em quase todos os anos, o Brasil teve déficit na Balança Comercial, ou seja, o país importava (comprava) mais do que exportava (vendia). Para cobrir os saldos negativos, o governo imperial resolveu cobrar mais impostos sobre importação de mercadorias - era a Tarifa Alves Branco - de 1823 a 1844. O fato é que a tarifa encareceu os produtos importados (comprados) da Inglaterra. Estava aí a chance para se desenvolver uma indústria nacional e vender produtos nacionais com preços menores que os importados.

Havia menos “tigres”, que eram os escravos que pegavam os dejetos (lixo e “tudo aquilo que se jogava dos penicos”) e jogavam na praia.

Firmas inglesas instalavam tubos de esgoto e encanamentos: maravilhas das maravilhas iriam surgir nas casas ricas, a privada e o chuveiro! Nasceram fábricas, bancos, companhias de seguro e ferrovias, empresas capitalistas.

Desde 1850, uma linha regular de navios a vapor ligava a capital do Império: Rio de Janeiro a Londres (capital da Inglaterra), trazendo notícias quentinhas da Europa: a elite brasileira conseguia se sentir mais europeizada, mais civilizada.

Era a modernidade chegando de mansinho na capital do Império. Esse quadro de mudanças no Rio de Janeiro, lá pela metade do século XIX, caracterizou a chamada Era Mauá - refere ao mais importante empresário capitalista da época, o BARÃO DE MAUÁ – que dedicou-se com firme propósito, a criar no Brasil a infra-estrutura que faltava à produção nacional.

Como foi possível essa gestação da

industrialização brasileira? As possibilidades que o país oferecia

haviam aumentado depois da decretação da Tarifa Alves Branco em 1844 e da Lei Euzébio de Queirós em 1850, que liberara capital, pois, com essa lei, os brasileiros responsáveis pelo tráfico, não podiam mais lucrar no comércio de seres humanos.

Você retomará este assunto no módulo 8, por enquanto, basta você perceber que o fim do tráfico de escravos fez “sobrar” capital.

Assim, por que não investir parte desse capital em negócios como bancos, fábricas ou estradas de ferro? E mais, o desenvolvimento do café também provocou o aumento da circulação de capitais e alguns fazendeiros investiram em outros setores como bancos, estradas de ferro, comércio etc.

Mas, apesar dos esforços de Mauá, suas iniciativas não chegaram a implantar uma industrialização efetiva, devido à insuficiência de nosso mercado interno, à dependência econômica do Brasil e aos interesses imediatistas dos latifundiários, que não hesitavam em aprovar leis e decretos prejudiciais ao desenvolvimento industrial. A economia brasileira tomava rumos cada vez mais favoráveis aos cafeicultores e a política do governo imperial variava conforme as pressões. Assim, em 1860, as tarifas Alves Branco foram alteradas para satisfazer às exigências da aristocracia agrária e as exigências dos grandes comerciantes ingleses.

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O Barão de Mauá Nascido no Rio Grande do Sul em 1813, perdeu o pai aos 5 anos de idade.

Começou a trabalhar como engraxador de botas e depois, como modesto guarda-livros na loja de um comerciante escocês no Rio de Janeiro. Anos depois, aos 27 anos, ficou sócio do patrão e viajou para a Inglaterra. Voltou de lá encantado com o que viu: as máquinas as fábricas, as fundições. Afastou-se do antigo patrão e, em 1848, comprou uma pequena

fundição em Niterói. Os anos passaram e, em 1854, inaugurou na capital do Império – Rio de Janeiro, a primeira ferrovia brasileira – seus trilhos foram percorridos pela primeira locomotiva brasileira, apelidada “Baronesa” em homenagem à sua esposa. Esse feito levou o imperador D. Pedro II a conceder-lhe o título de barão de Mauá, pelo qual ficaria conhecido.

O fato é que os negócios de Mauá não puderam de desenvolver com as mudanças, ficou endividado por sucessivos empréstimos. E, não podendo pagar suas dívidas, foi vendendo seus bens ou os entregou aos credores. Assim, numerosas empresas suas passaram para as mãos de ingleses e norte-americanos. Além disso, algumas empresas sofreram sabotagem, tais como “misteriosos” incêndios.

A concorrência inglesa, novamente forte por causa da renovação das facilidades alfandegárias, fez o serviço principal. Mauá faliu.

Irineu Evangelista de Souza, o engraxador de botas que, depois de ser o homem mais rico do Brasil, morreu pobre como tinha nascido. Faleceu em 21 de outubro de 1889, em Petrópolis.

A contribuição desse pioneiro residiu no fato de ter possibilitado a modernização do país.

Os portos reabriram a penetração de manufaturas e alimentos estrangeiros. Com a concorrência dos produtos ingleses, baixou o custo de vida, favorecendo os cafeicultores, mas prejudicando nossa frágil estrutura industrial.

Somente no final do ano de 1870 o processo industrial tomou rumo definitivo

e seguro, configurando o que se convencionou chamar de...

Os fatores que estimularam as atividades industriais no final do Império foram:

� A produção algodoeira dos Estados Unidos entrou em colapso, devido a Guerra de Secessão (1861-1865), estimulando o plantio e as exportações de algodão no Brasil. Como efeito colateral do conflito, houve um surto de crescimento da indústria têxtil brasileira.

� A Guerra do Paraguai (1864 a 1870), que reanimou a fabricação de produtos químicos, de instrumentos náuticos etc.

� A queda dos preços de certos gêneros agrícolas (açúcar, por exemplo),

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A Guerra do Paraguai levou o Exército e a

Marinha brasileira a comprar mais das nossas indústrias, que a essa altura começava a diversificar sua produção.

Só para se ter idéia, muitos dos navios utilizados por nossa Marinha de guerra nos conflitos, foram adquiridos no estaleiro do barão de Mauá.

Foi iniciativa de Mauá, a instalação do telégrafo submarino em 1872, ligando o Brasil à Europa, o que permitiria acompanhar diariamente as oscilações dos preços nos mercados internacionais.

� desviando para a indústria os capitais antes empregados nesses setores.

� A união dos industriais para defender seus interesses e impor seus objetivos.

Note que o primeiro surto industrial brasileiro deveu-se, portanto, muito mais a fatores externos e à iniciativa particular do que ao incentivo governamental.

Conheça os outros produtos agrícolas exportados (vendidos) pelo Brasil que

também foram importantes na época: � Borracha – extraída na Amazônia no final do século XIX.. � Fumo (tabaco) – produzido na Bahia. � Cacau – também produzido na Bahia. � Erva-mate – produzida no Sul.

4 – Como a Lei de Terras de 1850 beneficiou os grandes fazendeiros do

café? 5 – De que maneira a economia cafeeira contribuiu para o desenvolvimento

urbano?

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A capacidade do imperador de entregar – ou não – o poder a um dos partidos é perfeitamente

percebida nesta charge da época.

...e como era a política interna no Segundo Reinado? 2 – A POLÍTICA INTERNA DO SEGUNDO REINADO

Para fazendeiros e comerciantes, a

subida de D. Pedro II ao trono representava a manutenção de seus privilégios políticos e econômicos, num ambiente de tranqüilidade social. Acreditavam que o imperador com sua autoridade liquidaria as rebeliões provinciais, submetendo os revoltosos e descontentes.

O imperador exercia o poder apoiado pela mesma minoria de ricos, aqueles que possuíam 95% das propriedades do país. Por isso, diziam os versos de uma trova popular: ao lado...

• Os primeiros anos Os partidos políticos que

dominaram a vida política do Segundo Reinado foram o Partido Liberal e o Partido Conservador.

Esses partidos não tinham grandes divergências ideológicas. Era freqüente a passagem de políticos de um partido para o outro, ambos representando os interesses dos grandes proprietários de terra e escravos. Em questões importantes, capazes de alterar a estrutura social e econômica do país, estavam sempre de acordo.

Concordavam por exemplo, em manter quase a totalidade da população afastada das decisões políticas. Devido à exigência de renda, apenas 1% da população brasileira tinha direito de votar e receber voto.

Embora não tivessem grandes divergências, disputavam com unhas e dentes as eleições para a Câmara dos Deputados. Eram movidos por disputa pessoal e ambição de poder, para poderem usufruir as vantagens que o cargo lhes proporcionava.

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A Violência e a fraude não

aconteceram somente nas eleições de 13 de

outubro de 1840. Quase todas as

eleições posteriores foram marcadas pela fraude e por muitas outras “cacetadas”.

A troca de favores e a compra de cargos públicos e as honrarias

foram algumas das manifestações de corrupção características do

período imperial.

Na charge, D. Pedro II assiste, de braços cruzados, à venda de títulos

de nobreza, enquanto o BRASIL, simbolizado por um índio de

joelhos, esconde o rosto, envergonhado.

MINISTÉRIO DO IMPÉRIO VENDAS A DINHEIRO

A Constituição de 1824 estabelecia que para ser votante era

necessário ser homem, brasileiro, maior de 25 anos e possuir uma renda

anual de pelo menos 100 mil réis. Mesmo

permitindo o voto dos analfabetos, apenas 13% dos brasileiros livres podiam votar (não contavam os escravos ou ex-

escravos).

• Violência e fraudes nas eleições

Após assumir o poder, D. Pedro II escolheu para o seu primeiro ministério políticos do Partido Liberal, que tinham lutado pela antecipação de sua maioridade. Como participavam do ministério os irmãos Andrada e os irmãos Cavalcanti, ele ficou conhecido como Ministério dos Irmãos.

Marcadas as eleições para a nova Câmara dos Deputados, a disputa política entre

candidatos liberais e

conservadores tomou conta do país.

No dia da eleição (13 de outubro de 1840), bandos de capangas contratados pelos liberais invadiram os locais de votação, distribuindo cacetadas e ameaçando de morte os adversários políticos.

Além disso, houve fraudes na contagem dos votos, com a substituição de urnas verdadeiras por outras contendo votos falsos. Os liberais venceram na base da fraude e da violência. Por isso, essas eleições ficaram conhecidas como eleições do cacete.

Os membros do Partido Conservador reagiram, exigindo que o imperador anulasse o resultado das eleições. D. Pedro II, influenciado pelos conservadores, resolveu dissolver a Câmara e convocar novas eleições. Realizaram-se eleições, e os conservadores, usando os mesmos métodos dos liberais (fraudes e violências), conseguiram formar a maioria na Câmara, afastando seus adversários – os liberais.

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Em São Paulo e Minas Gerais políticos do Partido Liberal revoltaram-se contra a anulação das eleições e com suas saídas do poder – são as Revoltas Liberais de 1842. Os líderes dos liberais eram o Brigadeiro Tobias de Aguiar e Diogo Antonio Feijó (em São Paulo) e Teófilo Otoni (em Minas Gerais).

O governo imperial, por meio das tropas comandadas por Luís Alves de Lima e Silva, sufocou essa revolta liberal e prendeu os líderes do movimento. Só em 1844 esses líderes foram anistiados (perdoados).

• Parlamentarismo no Brasil

Em 1847, foi criado o cargo de presidente do Conselho de Ministros. Esse presidente (primeiro-ministro) seria o chefe do ministério e encarregado se organizar o Gabinete de governo.

A criação do cargo de presidente do Conselho de Ministros assinala a introdução do Parlamentarismo no império. Realizada a eleição, D. Pedro II nomeava um líder político do partido vencedor para o cargo de primeiro-ministro.

Esse líder formava o Gabinete ministerial que, em seguida, era apresentado à Câmara dos Deputados em busca de um voto de confiança, que deveria ser dado pela maioria parlamentar. Obtida a aprovação da Câmara, o Gabinete assumia suas funções de governo.

Caso não fosse aprovado, cabia a D. Pedro II, titular do poder moderador, demitir o Gabinete ou dissolver a Câmara para convocar novas eleições.

Parlamentarismo às avessas

Nos sistemas parlamentaristas europeus, o poder legislativo tem força efetiva no comando da nação. Mas no Brasil isso não ocorreu. D. Pedro II, devido ao poder moderador, subordinava todos os demais poderes do Estado. Por isso, o parlamentarismo brasileiro foi chamado de “parlamentarismo às avessas”. Na Inglaterra, que adotava o parlamentarismo, dizia-se entre os ingleses que: o rei reina, mas não governa.

No Brasil, o centro de poder político continuava sendo

o imperador. Entre os brasileiros, dizia-se que...

...o rei reina, ri e rói.

Reina sobre o Estado, ri do parlamento e rói o povo.

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Em geral, liberais e conservadores intercalaram-se no poder. Mas houve um período em que decidiram governar juntos, através de acordos políticos.

Foi a chamada era da conciliação (1853 – 1868), concretizada a partir da não existência de diferenças ideológicas fundamentais entre esses dois partidos.

• Revolução Praieira – a revolta liberal em Pernambuco

A Revolução Praieira foi à última grande revolta interna ocorrida no império, em 1848. A economia de Pernambuco baseava-se na produção de cana-de-açúcar para o mercado externo, e quase todos os engenhos da região pertenciam a algumas poucas famílias ricas, que, pelo poder econômico, dominavam a política de Pernambuco. O comércio, a segunda fonte de riqueza de Pernambuco, estava concentrado nas mãos de portugueses. Assim, o poder político e econômico de Pernambuco eram controlados pela aristocracia rural e pelos comerciantes portugueses.

A população das cidades, que representava a camada média da sociedade, e o povo em geral viviam em permanentes dificuldades econômicas.

O Partido da Praia, constituído por liberais pernambucanos, combatia essa desigualdade da sociedade. Os praieiros apoiavam o presidente de Pernambuco, Antonio P. Chichorro da Gama, homem não comprometido com os donos de engenho e comerciantes, mas foi nomeado um conservador, representante da elite dominante, para substituí-lo no governo. Os praieiros recusaram-se a aceitar a nova autoridade e organizaram uma revolta, que eclodiu no dia 7 de novembro de 1848 – era a Revolução Praieira. Os praieiros divulgaram seus planos num documento chamado “manifesto ao mundo”.

O programa político dos praieiros era liberal e democrático, mas não tocava na questão da escravidão. Com a derrota dos praieiros, chegava ao fim o ciclo de revoltas populares que acompanharam e sucederam o movimento de independência do Brasil.

Parlamentarismo & Presidencialismo

O Parlamento é a câmara que reúne os representantes eleitos pelos cidadãos.

Nosso sistema atual de governo é o PRESIDENCIALISMO – o chefe de governo é o presidente da república, eleito diretamente pela população. Ele é o chefe do poder executivo e divide os poderes com o Legislativo (Congresso Nacional) e o Judiciário (Tribunais e Juízes).

No PARLAMENTARISMO, o chefe de governo é o primeiro-ministro. Neste caso o povo não o elege diretamente. As pessoas votam é para escolher os membros do parlamento.

A partir de 1848, a aristocracia rural

passava a ser “senhora absoluta”

dos destinos políticos do país.

Obteve-se a pacificação que

tanto se desejava, e a maioria

da população estava definitivamente

afastada da disputa pelo poder.

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3 – A POLÍTICA EXTERNA DO SEGUNDO REINADO

Importantes acontecimentos marcaram as relações externas do Brasil durante

o Segundo Reinado. Com a Questão Christie brigamos com a Inglaterra e, assim, rompemos

relações diplomáticas com a mais poderosa nação da época. Já, para preservar interesses econômicos e políticos na região platina –

Questão Platina, o império marchou contra o Uruguai e a Argentina. Por fim, o Brasil envolveu-se no mais longo e sangrento conflito já ocorrido

na América do Sul: a Guerra do Paraguai.

� A QUESTÃO CHRISTIE Com o desenvolvimento do capitalismo industrial, a Inglaterra tinha

interesses em acabar com a escravidão negra no Brasil. Esse seu interesse justificava-se porque:

� os escravos não recebiam salários e, portanto, não participavam do mercado consumidor;

� o dinheiro gasto na compra de escravos pelos fazendeiros poderia ser empregado na compra de produtos industrializados.

Para reconhecer a independência do Brasil, os ingleses pressionaram o governo e conseguiram que fosse aprovada, em 1831, uma lei que declarava livres todos os escravos importados pelo Brasil a partir daquela data. Mas essa lei não foi cumprida, pois contrariava os interesses dos fazendeiros, donos de escravos. A lei foi criada “para inglês ver”.

Em 1845, para agir contra os traficantes de escravos, a Inglaterra aprovou uma lei – lei Bill Aberdeen, que autorizava sua marinha a atacar navios negreiros. Cumprindo essa lei, a marinha inglesa invadiu portos brasileiros para caçar navios negreiros e prender traficantes de escravos, sob protesto do governo brasileiro.

As pressões inglesas contribuíram para que o governo brasileiro promulgasse, em 1850, a lei Euzébio de Queirós, proibindo o tráfico negreiro a partir daquela data e autorizando a expulsão dos traficantes de escravos do país, mas, aqueles escravos que já estavam aqui, permaneciam escravos.

Veja então que, com a Lei Euzébio de Queirós, “não chegavam” novos escravos em navios,

mas a escravidão interna continuava.

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Charge da época, representando a marinha

inglesa no aprisionamento dos navios mercantes brasileiros.

Após a extinção do tráfico negreiro, a Inglaterra continuou suas pressões e passaram a exigir o cumprimento da lei de 1831, isto é, que todos os escravos importados ilegalmente desde aquela data fossem libertados. O embaixador inglês no Brasil, William Christie denunciava com insistência o descumprimento dessa lei.

Como se não bastasse esse impasse, dois acidentes geraram a Questão Christie:

� O furto, por ladrões desconhecidos, da carga do navio inglês “Príncipe de Gales”, que havia naufragado próximo às costas de Rio Grande do Sul em 1861.

� A prisão de 3 oficiais da Marinha inglesa, que estavam andando com trajes civis pelas ruas do Rio de Janeiro, embriagados, provocando desordem. Isso se deu em 1862.

Indignado com os acontecimentos, William Christie exigiu do governo brasileiro uma elevada indenização (3.200 libras) pela carga do navio e a punição dos policiais brasileiros que prenderam os oficiais ingleses. Não sendo atendido, ordenou à marinha inglesa que aprisionasse os navios mercantes brasileiros.

Em face do agravamento dos problemas, essas questões foram submetidas ao arbitramento internacional do rei da Bélgica. Antecipadamente, D. Pedro II resolveu pagar a indenização referente à carga do navio, restando ao arbitramento internacional, apenas a violência da Inglaterra ao aprisionar navios brasileiros e as demais exigências de Christie.

O rei da Bélgica pronunciou-se favorável ao Brasil, restando à Inglaterra desculpar-se por violar o território brasileiro, mas esta recusou-se em pedir desculpas oficiais, levando D. Pedro II a romper relações diplomáticas com a Inglaterra. Somente em 1865 o governo inglês apresentou desculpas oficiais a D. Pedro II.

O desfecho da Questão Christie afirmou a soberania nacional brasileira e essa foi reconhecida formalmente por uma grande potência, a Inglaterra.

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� A QUESTÃO PLATINA

Durante muitos anos, o estudo da política externa brasileira no Segundo Reinado resumiu-se unicamente a dois aspectos: o militar e o diplomático. No primeiro, descreviam-se minuciosamente as guerras de que o país participava. No segundo, apresentavam-se as negociações realizadas pela nossa diplomacia, principalmente aquelas ligadas às guerras externas e ao estabelecimento das fronteiras com os países vizinhos.

Em ambos os casos a conclusão era a mesma: O Brasil, uma nação pacífica, não tinha quaisquer ambições territoriais em relação a seus vizinhos, contra os quais, aliás, jamais praticara qualquer tipo de agressão; pelo contrário, a agressão partia dos países vizinhos, que só então recebiam a resposta de nossas tropas, restabelecendo-se, assim, a ordem, a paz, e a justiça!

É claro que essa é uma visão distorcida da realidade, apresentando o Brasil sempre como país bom, o mocinho dos filmes de bang-bang, enquanto os outros, principalmente a Argentina, o Uruguai e o Paraguai – são os maus, os “bandidos”.

Assim, podemos afirmar que os fundamentos principais de nossa política externa foram:

a) A manutenção de uma política de acomodação aos interesses da Inglaterra.

b) Constantes choques políticos e militares com os países platinos (Argentina, Uruguai e Paraguai).

a) A acomodação aos interesses ingleses Durante todo o século XIX, a política externa brasileira teve de se acomodar aos interesses da Inglaterra. Tal acomodação, que variava conforme as circunstâncias, resultava de nossa dependência econômica em relação aos ingleses, na época os únicos fornecedores de empréstimos ao Brasil, os principais fornecedores de produtos importados e os maiores compradores de nossas exportações.

Nesse contexto, a maioria das medidas adotadas pelo governo brasileiro no campo da política externa – e às vezes também na política interna – devia-se submeter aos interesses da Inglaterra, evitando desagradar ao nosso poderoso, exigente e geralmente incômodo aliado.

Fica clara, portanto, uma situação que muitas pessoas se recusam a enxergar: A DEPENDÊNCIA

ECONÔMICA CAUSA FATALMENTE A DEPENDÊNCIA POLÍTICA, impedindo

uma nação de ser senhora de seus próprios destinos.

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b) Choques políticos e militares com os países platinos

Durante o século XIX, todas as operações militares e guerras externas realizadas pelo Brasil, se concentraram, sem exceção, na área platina, envolvendo a Argentina, o Uruguai e o Paraguai. Uma série de fatores justifica tal concentração, de modo algum casual.

Entre eles podemos destacar, em ordem crescente de importância os seguintes: 1 - As demais fronteiras do Brasil eram praticamente desabitadas, separadas do resto do país por extensas florestas quase impenetráveis, sem qualquer importância econômica.

♦ 2 - Na região platina, durante o período colonial, ocorreu uma longa disputa territorial entre Portugal e Espanha, ainda

não resolvida quando as colônias da região tornaram-se independentes. Por isso o Brasil herdou as ambições e interesses de Portugal naquela área, enquanto a Argentina herdou as ambições espanholas.

3 - Os rios da Bacia Platina (rios Paraná, Paraguai e Uruguai e a junção de todos eles, o rio da Prata) eram bastante importantes econômica e militarmente, pois por eles escoava quase toda a produção da Argentina, do Uruguai, do Paraguai e das províncias brasileiras de Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Pelos motivos que você já viu, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai tinham o máximo interesse em controlar a rede fluvial platina, interesse esse compartilhado pelas principais potências estrangeiras: Estados Unidos, França e, principalmente, Inglaterra. O governo inglês visando proteger seu imenso interesse econômico na região do rio da Prata, procurou sempre atingir dois objetivos fundamentais:

� Total liberdade de comércio e navegação nos rios da bacia platina.

� Tentativa de evitar que o Brasil ou a Argentina se fortalecesse o suficiente para controlar política ou economicamente o rio da Prata.

Desse modo, o mercado interno dos países da região foi sempre abastecido

com produtos da indústria inglesa e todas as guerras ocorridas entre os países latinos, a influência inglesa foi sempre importante e, às vezes, decisiva.

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O Brasil, que na década de 1840 foi o principal aliado do Paraguai, acabou por destruí-lo 20 anos mais tarde. O Uruguai foi sucessivamente inimigo e aliado de cada um dos outros países da área. Os mais constantes inimigos dos brasileiros no Prata foram os argentinos; apesar disso, Brasil e Argentina aliaram-se para destruir o Paraguai.

Tais mudanças confirmam o que você aprendeu acima: para enfraquecer um vizinho perigoso, qualquer arma é válida, inclusive a aliança com antigos inimigos. E qual é o vizinho perigoso?

É aquele que em qualquer momento esteja se fortalecendo...

Finalmente, é importante você ainda lembrar que as ex-colônias espanholas, assim como o Brasil, eram países recém-independentes, com Estados Nacionais ainda em formação e cuja unidade territorial (particularmente nos casos do Brasil e da Argentina) via-se constantemente ameaçada por Províncias que pretendiam se separar do país a que pertenciam, quer seja para se unirem a um outro país, quer seja para se transformarem em nações independentes.

Por esse motivo, um dos aspectos mais importantes dos conflitos platinos era este: para que um país da região de fortalecesse, era preciso enfraquecer ou mesmo destruir o vizinho. Portanto, o fortalecimento econômico ou político de

qualquer país da região passava a ameaçar a segurança dos demais.

Agora você estudará a maior guerra em que o Brasil se envolveu até hoje...

� A GUERRA DO PARAGUAI (1864 – 1870) Entre novembro de 1864 e março de 1870, o Paraguai enfrentou a Tríplice

Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai), na mais longa e sangrenta guerra na América do Sul, com conseqüências que influenciaram decisivamente a história dos países envolvidos.

� As origens da Guerra do Paraguai

A maior das guerras que a América Latina conheceu no século XIX foi a Guerra do Paraguai (1864-1870). E uma das mais vergonhosas. Hoje em dia, quando alguém fala do Paraguai, geralmente lembra do que? Provavelmente do contrabando, a miséria e do atraso. E só. Essa é a visão que se tem. Enxergamos os paraguaios com o preconceito parecido com que os EUA nos encaram.

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Se um viajante estrangeiro percorresse a América do Sul no século XIX, perceberia que todos os países eram muito parecidos. A economia, agrária, dominada pelo latifúndio exportador; mercados nacionais inundados pela Inglaterra, governos nas mãos de uma elite de fazendeiros egoístas e corruptos.

Toda a América Latina...?

Não! Existia uma única e honrosa exceção. Isso mesmo era o Paraguai. O Paraguai era um país bem diferente dos seus irmãos vizinhos. Lá não havia aquele domínio absoluto do latifúndio. Em 1823 foi realizado o primeiro esboço de reforma agrária da América do Sul. Muitas famílias camponesas foram autorizadas a utilizar as terras do Estado, pagando aluguel. As técnicas agrícolas eram primitivas, mas o acesso camponês a terra diminuiu a quantidade de pobres no país. Governado desde 1862, por Francisco Solano López, o Paraguai conheceu um grande apoio do Estado à

educação – na charge se lê: erradicamos o analfabetismo em 1840. Quase todas as crianças iam

à escola e o Estado pagava os melhores alunos para estudar nas universidades européias. Voltavam de lá engenheiros, químicos, geólogos, agrônomos e professores. Engenheiros e professores estrangeiros foram pagos a peso de ouro para trabalhar e ensinar em Assunção.

Havia uma grande virtude no Paraguai, que acabou sendo também sua desgraça: era o único país da América Latina que não estava completamente penetrado pelo capital inglês.

Vinha daí uma parte de sua força econômica. Tarifas alfandegárias altas protegiam o

país da concorrência externa. Com isso, estavam dando os primeiros passos para a industrialização. Isso mesmo, o Paraguai começou a desenvolver suas próprias fábricas, metalúrgicas, fundições e ferrovias.

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O grande Paraguai sonhado por

Solano.

Os vizinhos do Paraguai, Brasil e Argentina não olhavam com bons olhos aquele país abusado que ousava representar um papel que não lhe tinha sido oferecido.

É claro que o Paraguai não era nenhum paraíso na Terra. Solano López fortalecia a economia do seu país, mas também armou um exército poderoso e encomendou um moderno navio encouraçado – repare só – nos estaleiros ingleses!

Sonhava com um grande país, com território tão grande que talvez alcançasse o mar, assim a saída para o oceano tornaria livre o comércio paraguaio.

Acompanhe pelo

mapa: as exportações (vendas) e as importações (compras) paraguaias eram bloqueadas em Buenos Aires (Argentina) e em Montevidéu (Uruguai).

As taxas pagas pelos comerciantes do Paraguai em Buenos Aires e em Montevidéu, representavam grave bloqueio à economia Paraguaia.

As ambições de Solano López se chocariam com os interesses da Inglaterra, pois, com o desenvolvimento econômico do Paraguai, a economia inglesa corria o risco de diminuir o comércio na América do Sul, que era abastecida, cada vez mais, pelos produtos do Paraguai.

toda a população brasileira que vivia em Mato Grosso, no séc. XIX dependia muito do Rio Paraguai, porque não havia

estradas ligando as Províncias ao resto do Brasil. O Rio Paraguai era, pois, um importante caminho para abastecer de

mercadorias a população brasileira que vivia em Mato Grosso. Procurando um pretexto para a guerra, o Brasil enviou, para Mato Grosso, o

navio Marquês de Olinda, cheio de armas e de munições. Considerando tal fato um ato de agressão ao Paraguai, Solano prendeu o navio e proibiu a navegação de navios brasileiros no Rio Paraguai.

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Na charge, D. Pedro II justifica a declaração de guerra ao Paraguai, manipulado pela Inglaterra.

A Inglaterra e representada pela rainha Victória que ocupava o trono na época.

Como disse o jornal argentino La América em 1866:

“O tratado é secreto, só a vergonha é pública!”

Diante do ato de Solano, considerado uma agressão ao Brasil, D. Pedro II declarou guerra ao Paraguai.

A Inglaterra então apóia seus aliados Argentina, Brasil e Uruguai para realizar a guerra. López sabia que a coisa iria esquentar na região. Por isso agiu com rapidez. Em 1864, ocupou o Mato Grosso com milhares de soldados. O Brasil foi apanhado de surpresa e pouco pôde fazer para defender a região distante da capital.

López imaginava o seguinte: que o Uruguai e a Argentina não iriam se aliar ao Brasil, pois tinha feito alianças com o Paraguai. O resultado que esperava era de que a Guerra com o Brasil não fosse tão longe e que D. que Pedro II teria que negociar as fronteiras numa situação de inferioridade e assim, o Paraguai sairia como uma potência reconhecida na região platina.

Mas López estava errado. Uruguai e Argentina se aliaram ao Brasil e mais, a Inglaterra apóia seus aliados para realizar a guerra.

Diante disso, López

resolveu jogar todas as cartas numa decisão arriscada. Atacou também a Argentina e o Rio Grande do Sul. A reação foi imediata.

Em 1865 foi constituída a Tríplice Aliança, que reunia as forças militares do Brasil, da Argentina e do Uruguai - no início, as cláusulas do acordo eram secretas, mas incluíam pontos como a tomada de extensos territórios do Paraguai.

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� O genocídio latino – americano

Foi uma guerra difícil, durante os 6 anos de guerra. Os soldados paraguaios estavam muito bem treinados e armados – no início da guerra eram 64 mil soldados. Nós tínhamos muito mais um “bando armado” do que um verdadeiro exército – a maioria deles eram os “voluntários da pátria”.

Para as forças aliadas, foi um verdadeiro inferno de fogo, sangue e mortes. A resistência guarani (paraguaios) era terrível, e cada vitória custaria muito caro. Com o apoio da Inglaterra, a marinha brasileira muito mais bem equipada, impediu que os paraguaios avançassem.

O grande general foi Luís Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias. Ele reorganizou o exército, deu-lhe disciplina, combateu a corrupção, conseguiu armas e equipamentos e traçou inteligentes estratégias. Caxias, comandando a Tríplice Aliança, liderou vitória atrás de vitória.

Os brasileiros vingavam-se brutalmente das derrotas sofridas no começo. Quase não se faziam prisioneiros: o paraguaio que se rendia era imediatamente degolado. Poços de água foram envenenados, um verdadeiro crime de guerra. Os brasileiros incendiavam aldeias, demoliam escolas, fuzilavam em massa.

O fato é que em 1869 as tropas da Aliança eram vitoriosas em Assunção, capital paraguaia. Solano López tinha fugido com os poucos soldados que restavam. O velho Caxias mandou então uma carta para o Imperador D. Pedro II dizendo que não tinha cabimento permanecer naquela guerra.

O Paraguai já estava derrotado. Continuar as batalhas seria cometer um massacre. “É preciso acabar com esta guerra maldita na qual o inimigo já está vencido e não faz sentido humilhá-lo”, disse Caxias. Previa o pior e caiu fora.

Mas a guerra continuou. Agora, o comando das tropas brasileiras (no final, quase não havia mais argentinos) estava nas mãos dos detestado Conde D’Eu. A selvageria não teria limites. Esse francês metido a esperto era o marido da princesa Isabel.

Não precisava entender nada de batalhas: tinha a assessoria dos generais brasileiros. Todo mundo sabia do desprezo que ele tinha pelos brasileiros. Você pode imaginar então as atrocidades que organizou contra os soldados paraguaios.

O povo paraguaio lutou com todas as suas forças. O nosso lado, colega, é que não foi muito legal. Pois os exércitos aliados,

comandados pelo Conde D’Eu, fizeram o diabo. Foi a fase mais selvagem da guerra.

OS VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA...

...estavam longe de ser patriotas apresentando-se espontaneamente para “defender a Pátria”. A maioria absoluta dos soldados eram escravos negros e brancos pobres, recrutados à força para o conflito. Os negros vestiam a farda com a promessa de se libertar depois do conflito.

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Família paraguaia após a guerra. Além dos fortes traços indígenas – grande parte do povo paraguaio era de origem guarani. Esta velha foto mostra o aspecto miserável das pessoas e a ausência de homens adultos: a grande maioria morrera durante a guerra.

As tropas brasileiras torturaram prisioneiros e violaram mocinhas. Vilas inteiras foram executadas. Doentes eram perfurados a baioneta no leito dos hospitais. Meninas paraguaias de 12 ou 14 anos eram presas e enviadas como prostitutas aos bordéis do Rio de Janeiro. Sua virgindade era comprada a ouro pelos barões de império! O próprio Conde D’Eu tinha ligações com o meretrício do Rio - Gigolô imperial.

Ao chegar em Assunção (capital do Paraguai), os exércitos aliados tinham quebrado as fábricas e jogaram as máquinas nos rios. Eis o crime do país: quis ter uma economia independente dos interesses poderosos. Pagou caro pela ousadia.

López foi perseguido até os confins do Paraguai. Não teve direito à clemência que os chefes de Estado costumam receber: foi morto com golpes de lança e um tiro de fuzil nas costas. Suas últimas palavras foram: “Muero por mi pátria” - morro por minha pátria.

� As conseqüências da Guerra do Paraguai

Não foi uma guerra. Foi um genocídio. Mais da metade dos homens adultos do Paraguai foram mortos na guerra. Não se faziam prisioneiros: a ordem era matar todos os paraguaios, sem dó nem piedade. Uma quantidade enorme de mulheres perdeu a vida no conflito. Mas como, se elas não participaram do teatro de operações bélicas? Você pode imaginar então: os soldados brasileiros e argentinos entrando na cidade, agarrando as mulheres jovens, estuprando seguidas vezes, espancando, se divertindo com a dor delas, e, no fim, dando um tiro de misericórdia.

O Paraguai foi arrasado.

A economia estava totalmente quebrada. Não é exagero dizer que até hoje a situação difícil do Paraguai tem muito a ver com as desgraças daquela “guerra maldita”, como dizia Caxias.

Mas a dizimação da população paraguaia foi à conseqüência mais trágica da guerra. Quando esta começou, havia no Paraguai aproximadamente 800 mil habitantes; quando terminou, restavam 200 mil. Morreram 75% da população total e 90% da população masculina.

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Além de tudo isso, os paraguaios tiveram de pagar uma enorme dívida de guerra, que só foi perdoada pelo Brasil no governo de Getúlio Vargas em 1942, quando houve empenho de reaproximar os dois países.

As conseqüências da guerra não foram boas também para o Brasil, que, com 50 mil mortos e um gasto de milhões de libras, viu-se obrigado a aumentar sua dívida externa. Obteve, é claro, parte do território paraguaio, que sempre ambicionou, mas isso não compensou o custo da guerra.

A conseqüência mais importante da guerra foi, para nós, o fortalecimento do exército, agora transformado numa verdadeira instituição com espírito de corporação e ideologia definida. A partir daí, os militares adquiriram condições de participar da política nacional. Além disso, os militares voltaram com duas idéias revolucionárias na cabeça: o abolicionismo e o republicanismo e, por isso, rapidamente entraram em choque com a monarquia, que representava apenas os interesses da aristocracia rural e da alta burocracia.

A Inglaterra foi a verdadeira vencedora da guerra. Emprestou milhões de libras ao Brasil e à Argentina, assumindo o completo controle financeiro dos dois países. Apoderou-se das melhores riquezas do Paraguai e destruiu, para sempre, o “exemplo maligno” que o mesmo dava a seus vizinhos, como o único país verdadeiramente independente da América Latina.

6 – Identifique o interesse da Inglaterra em apoiar a guerra contra o Paraguai.

Explique.

Logo após a Guerra do Paraguai, fundou-se em 1870 o Partido Republicano e que tendo à frente o exército, 18 anos mais tarde derrubou a

Monarquia. Assim, em 1889, foi Proclamada a República no Brasil, mas esse é assunto para logo mais...

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Nesta parte, você estudará os acontecimentos que levaram ao golpe

republicano em 1889.

Bem, no módulo anterior você aprendeu que a guerra do Paraguai fortaleceu o exército brasileiro e o transformou numa verdadeira instituição militar. Isso fez com que os militares adquirissem condições de participar da política nacional.

Além disso, os militares voltaram da guerra, com duas idéias revolucionárias na cabeça: o abolicionismo e o republicanismo (assuntos que você verá neste módulo) e, por isso, rapidamente entraram em choque com a monarquia, que representava apenas os interesses da aristocracia rural e da alta burguesia.

Muitas mudanças econômicas e até sociais aconteceram no Brasil durante todo o século XIX, mas, politicamente, nada mudou.

O Brasil permaneceu dominado pelos velhos proprietários rurais, permaneceu a centralização política e as eleições continuaram censitárias.

Isso fez com que parte da população brasileira ficasse descontente com D. Pedro II, gerando conflitos contra o governo. Esse período que você vai estudar, que vai desde a Proclamação da República em 1889 até 1930, ficou conhecido como

REPÚBLICA VELHA.

Mas, antes de continuar

este assunto, é necessário que você dê uma “olhadinha” no que

estava acontecendo no mundo da época.

Vamos lá?

Você sabe o que é República? República é a forma de governo em que o supremo poder é exercido temporariamente, por um ou mais cidadãos eleitos pelo povo.

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Charge mostrando a concorrência capitalista.

Você aprendeu no que na segunda metade do século XIX, o capitalismo industrial ganhou forças, surgiram os monopólios internacionais e formaram-se os grandes impérios coloniais na Ásia e África – era a expansão do capitalismo.

Então, a economia passou a

ser dominada por empresas gigantescas que não só tinham exterminado a maioria dos concorrentes como passaram a controlar junto com outras companhias do mesmo porte, setores inteiros do mercado - eram os monopólios.

A fase de desenvolvimento que o capitalismo entrou permanece até os dias de hoje.

A burguesia ligada às indústrias e aos bancos foi a grande beneficiária do desenvolvimento industrial.

Enquanto isso, os milhares de trabalhadores viviam em condições miseráveis. A jornada de trabalho estendia-se até por 14 horas, com rápidos intervalos para refeições. As moradias dos trabalhadores eram cortiços imundos, sem água, luz ou esgotos. Fome, doença, alcoolismo, prostituição e mendicância eram normais entre os trabalhadores.

Nos países industrializados formou-se uma camada média entre a burguesia e a classe trabalhadora, formada por lojistas, donos de hospedarias, pequenos empregadores, funcionários comerciais e bancários.

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Agora responda em seu caderno:

7) O atual sistema econômico do Brasil é o capitalismo. Nesse sistema, qual é classe social mais favorecida: a burguesia ou a classe trabalhadora? Justifique a sua resposta.

Não é difícil imaginar que não existia leis que protegessem esses operários. Para tentar contornar a difícil situação, os próprios trabalhadores se uniram fundando associações para atender seus interesses.

Na Inglaterra, por volta de 1824, os operários conquistaram o direito de livre associação. Formaram-se os “trade unions”, que representavam a primeira tentativa de organização dos trabalhadores.

Diante dessa situação de exploração, numerosos pensadores passaram a propor tentativas de solucionar os problemas da classe operária. Uma dessas idéias ficou conhecida como SOCIALISMO.

As Idéias socialistas espalharam-se por toda a Europa e defendiam a igualdade social.

Como exemplo

de pensadores da época, temos Karl Marx e Friedrich Engels.

Suas idéias deram início ao chamado socialismo científico ou marxismo.

As idéias marxistas surgiram com a publicação do “Manifesto Comunista” (1848) e de “O Capital” (publicado a partir de 1867).

Socialismo Comunismo

No século XIX, o termo socialismo, passou a indicar um conjunto de doutrinas e teorias políticas e econômicas que tinha por objetivo transformar a sociedade.

O comunismo seria o estágio final do socialismo. Aconteceria quando a sociedade tivesse alcançado uma maturidade social. Tanto o socialismo como o comunismo, defende a idéia de uma igualdade social, na qual a propriedade é coletiva, tudo é de todos: todos trabalham e repartem POR IGUAL o que foi produzido.

No comunismo não existe Estado. O comunismo só seria alcançado quando não existisse mais qualquer forma de repressão, todos seriam livres e iguais.

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Para Marx, a questão social de exploração dos trabalhadores só seria solucionada através de uma ação revolucionária e da instauração de uma sociedade comunista.

Você estudou o IMPERIALISMO NORTE-AMERICANO, certo!

Aprendeu que os Estados Unidos, através da política "a América para os americanos", impôs seu domínio no Continente Americano.

Agora você relembrará uma medida imposta pelos Estados Unidos: a política do “BIG STICK”.

A política do “Big Stick” (grande porrete) do presidente Theodore Roosevelt (1901 – 1908), estabelecia que os Estados Unidos deveria exercer “um poder de polícia internacional”, especialmente nos países onde houvesse investimentos norte-americanos. Com isso, a missão de seu país era “americanizar o mundo”. Na verdade era uma justificativa para a expansão comercial e a penetração financeira dos grandes grupos capitalistas norte-americanos na América do Sul e América Central.

...política do “BIG STICK”! O que é isso mesmo??

Assim, toda vez que um governo da América Central prejudicava os interesses de grandes empresas

norte-americanas, as tropas dos Estados Unidos não queriam conversa, invadiam o pobre país,

derrubavam o governo e colocavam um pessoal de confiança no lugar.

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Você sabe o que é a ALCA? É mais um exemplo de domínio dos Estados Unidos sobre outros países. ALCA

- Área de Livre Comércio das Américas – é um acordo que os Estados Unidos está querendo fazer com o Brasil até 2005.

Esse acordo, caso seja feito, trará graves conseqüências para o povo brasileiro. Conforme as normas desse acordo, os serviços públicos como telefone, luz e água, passam a ser controlados pela ALCA, que poderá abrir “concorrência pública” para as empresas estrangeiras no fornecimento desses serviços à revelia dos próprios governos, que não poderão dar preferência a empresas fornecedoras locais.

Como conseqüência desse acordo, também haverá um aumento do desemprego e o fim dos direitos trabalhistas como: 13º salário, licença maternidade, aposentadoria e outros direitos conquistados.

A biodiversidade da Amazônia será controlada pelas empresas americanas, esses são alguns, entre outros prejuízos para o povo brasileiro(...)

Jornal da APEOESP, nº 259, p.4 , julho/agosto - 2002.

A História se repete... ... o tempo passou e essa história não mudou!

Ainda hoje, os Estados Unidos controlam os países pobres e aqueles

que não se enquadram aos interesses norte-americanos.

LIBERALISMO ECONÔMICO?

NACIONALISMO?

O QUE É ISSO?

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O liberalismo é um sistema que defende a idéia de liberdade econômica, política e religiosa.

♦ No plano político, o liberalismo combatia o poder absoluto, isto é, o poder

centralizado nas mãos dos reis, defendendo a idéia da livre escolha do governo através de eleições e o fim de todos os privilégios sociais e políticos.

♦ No plano econômico, os liberais exigiam a liberdade dos empresários e dos contratos de trabalho. Adam Smith, foi considerado o fundador da ciência econômica, para ele, o homem é sempre impulsionado por um interesse pessoal, egoísta, sequer pensando na sociedade.

♦ Quanto à questão religiosa, o Estado estava completamente separado da Igreja (em outros tempos, a Igreja e o Estado, andavam de “mãos dadas”), assim, cada cidadão poderia praticar livremente sua crença religiosa.

É importante que você saiba que grande parte da burguesia era de liberais que não aceitavam a plena democracia. Para eles, o voto deveria ser censitário, isto é, só poderia votar quem tivesse certa renda em dinheiro, ou seja: a classe pobre não participaria da vida política do país.

Já os liberais democratas, principalmente os intelectuais e os profissionais liberais (médicos, jornalistas, professores, etc.), defendiam o voto universal masculino, somente os homens poderiam votar.

Então, os LIBERAIS defendiam a liberdade econômica, política e

religiosa, portanto, seus interesse pessoais. Ao mesmo tempo, um outro grupo, os NACIONALISTAS pretendiam

agrupar sob um mesmo Estado os povos de raízes culturais semelhantes.

Esses liberais estavam preocupados com a liberdade do povo ou com seus próprios

interesses?

É claro que é com seus interesses, principalmente econômicos.

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Isso provoca, no início do século XX, um clima de enorme tensão e rivalidade entre as grandes potências européias, como por exemplo,

Alemanha e França.

Muitos fatores contribuíram para essa situação conflituosa, destacando-se

entre eles:

� Disputa colonial – buscando novos mercados para a venda de seus produtos, os países industrializados entravam em choque na disputa por colônias na África e Ásia.

� Concorrência econômica – cada um dos grandes países industrializados dificultava a expansão econômica do país concorrente. Essa briga econômica foi especialmente intensa entre Inglaterra e Alemanha.

� Disputa nacionalista – em diversas regiões da Europa surgiram movimentos nacionalistas que pretendiam, como você leu acima, agrupar sob um mesmo Estado os povos de raízes culturais semelhantes. Assim, o nacionalismo provoca um desejo de expansão territorial.

MOVIMENTOS NACIONALISTAS

Os interesses da Alemanha, Rússia e França. Entre os principais movimentos nacionalistas que se desenvolveram na

Europa no início do século XX, destacam-se: � Pan-eslavismo – buscava a união de todos os povos eslavos da Europa

oriental, era liderado pela Rússia. � Pangermanismo – buscava anexar à Alemanha os territórios ocupados por

povos germânicos da Europa central, era liderado pela Alemanha. � Revanchismo francês – visava vingar a derrota francesa para a Alemanha em

1870 e recuperar os territórios da Alsácia-Lorena (região rica em minério de ferro e carvão, que a França foi obrigada a ceder aos Alemães pela derrota na guerra Franco-Prussiana).

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Você verá que esses movimentos nacionalistas contribuíram

também para o início da Primeira Guerra Mundial. O princípio das nacionalidades transformou o mapa político

europeu, envolvendo cerca de 60 milhões de indivíduos: thecos, italianos, alemães, poloneses, sérvios, búlgaros, gregos, romenos, finlandeses, dinamarqueses e outros.

Por que será que acontecem as guerras? Você já parou para pensar nisso? Parece difícil explicar uma irracionalidade

tão estúpida, não é mesmo?

No entanto, um dos mais sangrentos conflitos militares de toda a história, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), teve uma causa básica simples:

A burguesia tinha como grande objetivo dominar territórios e mercados cada vez maiores.

O clima de rivalidade entre os países

deu origem à chamada PAZ ARMADA.

Como o risco de guerra era bastante grande, as principais potências iniciaram uma corrida armamentista, isto é, trataram de aperfeiçoar/estimular a produção de armas e de fortalecer/aumentar o contingente militar.

Assim, de 1871 à 1914, a Europa viveu em estado de vigilância permanente.

Em tempo... Na Inglaterra, na França e

nos Estados Unidos, surgiram Associações pacifistas, apoiadas por homens de negócios como Carnegie e Nobel, que criaram o Prêmio da Paz.

Mas os sentimentos humanitários desses grupos não mudaram a situação do conflito mundial.

Que situação complicada!

Será que essa história vai acabar em guerra???

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A França não confiava na Alemanha, pois perdera para ela a Alsácia-Lorena em 1870; a Austrália e a Rússia disputavam interesses nos países balcânicos; Inglaterra e Alemanha competiam economicamente.

Durante a paz armada, o clima de tensão levou as grandes potências a firmar tratados de aliança. O objetivo desses tratados era somar forças para enfrentar a potência rival.

Depois de muitas negociações e tratados, passaram a existir na Europa, em 1907, dois blocos distintos:

� TRÍPLICE ALIANÇA – formada pela Alemanha, Áustria e Itália.

� TRÍPLICE ENTENTE – formada pela Inglaterra, França e Rússia.

A aliança original entre os países de cada bloco sofreu alterações. Conforme seus interesses imediatos, alguns países mudaram de lado. Exemplo disso foi a Itália, que, em 1915 (após o início da guerra), passou para o Lado da Entente por ter recebido a promessa de compensações territoriais.

As tensões entre os dois blocos foram ficando insuportáveis. Qualquer incidente serviria de estopim para deflagrar a guerra.

Veja então que só faltava riscar o fósforo para acender o barril de pólvora. E foi isso que aconteceu quando o herdeiro do trono austríaco o arquiduque

Francisco Ferdinando resolveu visitar a cidade de Saravejo, capital da Bósnia, em carro aberto no meio da multidão, em 28 de junho de 1914.

A visita do herdeiro tinha objetivos políticos: pretendia mostrar o domínio austríaco nessa região. Não deu “outra”, o arquiduque e sua esposa foram assassinados a tiros por um estudante sérvio, pertencente à organização secreta nacionalista Unidade ou Morte, que tinha apoio do governo sérvio, ligado por sua vez, à Rússia.

Nas circunstâncias históricas da época, o assassinato serviu para uma reação militar da Áustria contra a Sérvia. Então, devido a política de alianças, outros países envolveram-se no conflito, numa verdadeira reação em cadeia.

A partir daí, foi como um dominó, durante quatro anos, a Europa foi envolvida pelo maior conflito da História, que atingiu direta ou indiretamente a economia de muitos países e o equilíbrio mundial.

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Veja os acontecimentos que se seguiram à invasão da Sérvia pelo exército austríaco:

• 28 de julho – a Áustria declara guerra à Sérvia;

• 29 de julho – em apoio à Sérvia, a Rússia mobiliza seus exércitos contra a Áustria e a Alemanha;

• 1º de agosto – a Alemanha declara guerra à Rússia e, posteriormente, à França;

• 4 de agosto – para a França, os exércitos alemão e austríaco invadem a Bélgica (neutra);

• 5 de agosto – a Inglaterra declara guerra à Alemanha.

Soldados em trincheiras na Primeira Guerra Mundial - 1916

Deflagrada a guerra, os blocos rivais ficaram assim constituídos:

� Alemanha, Império Austro-Húngaro, Turquia e Bulgária;

� França, Inglaterra, Rússia, Bélgica, Sérvia, Japão, Itália, Portugal, Romênia, Estados Unidos, Brasil e Grécia.

"(...) Quando veio a I GUERRA MUNDIAL, deflagrada pelas ambições e contradições da Europa (...), sofremos as conseqüências (...).”

“Nem todas as conseqüências a rigor foram más. As nossas exportações subiram e houve aqui um surto de expansão industrial, decorrente da impossibilidade de importarmos artigos da Europa incendiada, cuja indústria estava concentrada na produção bélica.

Um mal terrível como a guerra, resultou para nós, ainda que temporariamente, um bem à nossa prosperidade comercial e industrial. Só que, com a volta da paz, perdemos as condições de competir com produtos estrangeiros aqui vendidos e, na ausência de uma política nacional de firme proteção à nossa indústria, voltamos a retroceder.

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SAIBA MAIS

Enquanto as potências européias concentravam seus esforços na guerra...

...os Estados Unidos aproveitava para ocupar e suprir outros mercados mundiais,

na Ásia e na América Latina.

Arrasada pela guerra, a Europa, no final do conflito, era um grande mercado

dependente das exportações norte-americanas.

Mas houve também conseqüências más da guerra. A pior delas foi a epidemia da chamada 'gripe espanhola', que matou mais gente, no mundo inteiro, do que os próprios combates, e que, no Brasil, ceifou 15.000 vidas.

A gripe era provocada e propagada como tradicionalmente acontecia durante ou depois das guerras, pelas más condições de higiene nos países em guerra e pelo natural enfraquecimento da população, civil e militar, em regime de esforço excessivo e alimentação deficiente.(...)

A guerra de 1914-1918 não atingiu o Brasil somente nos planos econômicos e da saúde pública: acabamos envolvidos nela pelo torpedeamento de navios nossos, no Atlântico por submarinos alemães, tendo sido afundados os navios brasileiros Paraná, Tijuca, Lapa, Macau e Ácari. Assim, o presidente Venceslau Brás declarou guerra à Alemanha em 26 de outubro de 1917.

Não mandamos tropas para a Europa. Enviamos um corpo de voluntários aviadores, uma missão médica e uma esquadra de seis navios a fim de cooperar com os aliados”.

Extraído: “O Brasil na Primeira Guerra”, Editora Abril, São Paulo – 1971, p. 28. Até janeiro de 1917, os Estados

Unidos haviam se mantido numa posição de neutralidade.

Mas muito lhe interessava que os Aliados vencessem a guerra, pois desde o início do conflito, tinha fornecido armas e outras mercadorias, além de vultosos empréstimos à Inglaterra e à França.

A derrota desses países colocaria em risco o pagamento das dívidas. Essa atitude mudou em 6 de abril de 1917, quando a marinha alemã, utilizando seus submarinos, afundou navios de países tidos como neutros, alegando que transportavam alimentos para os inimigos.

Foi o caso, por exemplo, do afundamento dos navios americanos Lusitânia e Arábia e também do navio brasileiro Paraná.

A entrada dos Estados Unidos na guerra foi um fator decisivo para o fortalecimento dos Aliados e levou, finalmente, os países que apoiavam a Alemanha a se renderem.

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O TRATADO DE VERSALHES Após a rendição alemã, no período de 1919 a 1920, realizou-se no palácio de

Versalhes, na França, uma série de conferências com a participação de 27 nações vencedoras da guerra.

Lideradas pelos representantes dos Estados Unidos, da Inglaterra e da França, essas nações estabeleceram um conjunto de decisões conhecido como Tratado de Versalhes, impondo duras penalidades à Alemanha, dentre elas:

� restituir a região da Alsácia-Lorena à França; � ceder outras regiões à Bélgica, à Dinamarca e à Polônia; � entregar quase todos os seus navios mercantes à França, à Inglaterra e à

Bélgica; � pagar uma enorme indenização em dinheiro aos países vencedores: � reduzir o poderio militar de seus exércitos, sendo proibida de possuir aviação

militar.

Agora responda em seu caderno:

8) Com a guerra, as exportações no Brasil aumentaram e houve um surto de expansão comercial. E quando terminou a guerra, a prosperidade comercial e industrial continuou? Justifique a sua resposta.

9) Quais foram as más conseqüências da guerra para o nosso país?

A partir de 1918, a Alemanha foi perdendo fôlego, ficando isolada e sem condições de sustentar a guerra. Em 11 de novembro de 1918, acabou assinando um acordo de paz em situação bastante desvantajosa.

A guerra entre esses blocos durou cerca de quatro anos. Os combates terrestres deixaram grande número de mortos em função das novas armas

utilizadas: metralhadoras, lança-chamas, projéteis explosivos. Além disso, pela primeira vez, o avião e o submarino foram empregados como recursos militares.

O conjunto de decisões impostas à Alemanha provocou, em pouco tempo, uma intensa reação das forças políticas que se organizavam no país.

Os alemães consideravam injustas, vingativas e humilhantes as condições do Tratado de Versalhes. O desejo de mudar essas condições desempenhou importante papel entre as causas da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

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Bem, em linhas gerais, você estudou a situação mundial até o fim da Primeira Guerra Mundial em 1918, já no século XX.

Agora, para continuar, é necessário você voltar um pouquinho na História - na segunda metade do século XIX,

para saber o que acontecia aqui.

Bem, relembrando! Enquanto as principais potências européias

disputavam acirradamente territórios na África e Ásia, o Brasil vivia o período do SEGUNDO REINADO, sob o governo de D. Pedro II.

Você já estudou que após a Guerra do Paraguai, os militares voltaram com

duas idéias revolucionárias - a abolição e a República, certo! E são essas novas idéias que, somadas aos descontentamentos de vários setores da sociedade da época, dará início ao sistema de governo Republicano no Brasil.

Saiba também que durante todo o século XIX, muitas mudanças econômicas e até sociais aconteceram no Brasil, mas, POLITICAMENTE, nada mudou. Permanecia a dominação dos velhos proprietários rurais, a centralização política e as eleições censitárias, ou seja, as eleições pouco tinham a ver com a vontade do povo. Na realidade a opinião era do partido que estivesse no poder.

Isso provoca descontentamento da população com o governo de D. Pedro II, gerando conflitos conhecidos como:

• a questão religiosa;

• a questão militar;

• a questão abolicionista (idéias da abolição dos escravos).

Esses conflitos vão dar início a um movimento contra a monarquia: o movimento republicano.

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A Convenção Republicana de Itu em 1873, deu origem ao Partido Republicano Paulista.

O PARTIDO REPUBLICANO Em 1869, o Partido Liberal Radical lançou um manifesto no qual

propunha: descentralização política, extinção do Poder Moderador, da Guarda Nacional e do Conselho de Estado, o ensino livre, Senado temporário e eletivo, a eleição dos presidentes de províncias, a extensão do voto a todos os cidadãos e a abolição da escravidão.

O programa dos radicais apresentava teses tão arrojadas para a época que, em breve, o grupo evoluiu para o republicanismo.

Os clubes republicanos ganharam adeptos nas cidades como: profissionais liberais, comerciantes e lavradores empobrecidos que haviam se deslocado para as cidades e os grandes proprietários de café, das regiões de maior produtividade como o Oeste Paulista.

As teses defendidas pelo Manifesto Republicano de 1870 eram as mesmas do programa liberal radical, incluindo, logicamente, o fim do regime monárquico e a implantação da República. Havia uma única exceção: a abolição da escravidão. Os republicanos nem pensaram nessa questão. Assim não corriam riscos de serem mal vistos pelos latifundiários escravistas - e essa posição acabaria por favorecê-los.

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É importante observar que os cafeicultores do vale do Paraíba, possuíam um comportamento muito ligado às antigas tradições coloniais, ao esquema patriarcal e escravista.

Agora, os grandes fazendeiros paulistas, ao contrário, possuíam seus próprios esquemas de comercialização do café. Não viviam nas fazendas; tinham suas residências em mansões de várias cidades, principalmente de São Paulo, possuindo valores muito mais urbanos que rurais.

Saiba que a crise do império brasileiro resultou de fatores econômicos, sociais e políticos que, juntos, levaram diversos setores da sociedade (parte do exército, fazendeiros do oeste paulista, representantes das classes médias urbanas) a uma mesma conclusão: a monarquia estava superada.

A crise do império foi marcada por uma série de questões que favoreceram a proclamação da república.

ABOLICIONISMO OU ESCRAVISMO?

No período de 1871 a

1888, não faltaram leis para mudar a situação de escravidão no Brasil, uma delas é a Lei Eusébio de Queirós – 1850, que acabava com a entrada de escravos no Brasil. Contribuiu para a diminuição da mão-de-obra nas lavouras.

Afinal, em razão das precárias condições de vida do negro, a sua mortalidade superava, em muito, o

índice de natalidade. Praticamente, não havia aumento da população escrava no país.

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Ao iniciar a década de 1860, diante da crescente redução do número de escravos e da conseqüente elevação de seu preço, muitos latifundiários já optavam pela utilização de mão-de-obra livre. Outros desfaziam de seus escravos, vendendo-os para as produtivas lavouras do Sul cafeeiro.

Além disso, observavam-se cada vez mais vantagens econômicas do trabalho livre, em virtude de sua maior produtividade e dos menores riscos de investimento.

Durante a Guerra do Paraguai, como você estudou no módulo 7, em troca da liberdade, muitos negros lutaram ao lado dos brancos, mostrando grande bravura. Internacionalmente, a imagem do Brasil era bastante negativa, pois, em 1870, era o único país independente da América a manter a escravidão.

Por um motivo muito simples, a maioria dos homens que compunha nosso governo (gabinete, Senado e Câmara), era latifundiários escravistas, proprietários dos lucrativos cafezais do vale do Paraíba, onde utilizavam mão-de-obra escrava.

Não lhes interessava, portanto, acabar com o regime de trabalho que eles exploravam.

Para complicar ainda a situação, os anos 1870 se iniciavam sob um panorama político crítico: os liberais estavam divididos sobre a abolição e o Partido Republicano se organizava.

Era necessário, portanto, adotar uma medida urgente que apaziguasse os ânimos oposicionistas.

Nesse contexto, foi promulgada em 28 de setembro de 1871, pelo Gabinete conservador do visconde do Rio Branco, a Lei do Ventre Livre.

Saiba que no fim da Guerra do Paraguai (1870), nossos soldados e oficiais

regressaram ao país com uma nova mentalidade.

Afinal, haviam passado seis anos lutando

ao lado de nações republicanas e não-escravistas (Uruguai e Argentina). Muitos

militares brasileiros começaram a se mostrar simpáticos ao ideal abolicionista

e republicano.

Por que o governo não aboliu a escravidão já na década de 1870?

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Era na verdade, uma lei conciliatória e paliativa, ou seja, uma lei para “tapar o sol com a peneira”. Foi uma maneira de acalmar os ânimos dos oposicionistas.

Segundo essa lei, todos os escravos nascidos a partir daquela data seriam considerados livres. Até 8 anos ficaria sob a autoridade do proprietário da mãe e, a partir dessa idade, o senhor poderia libertá-lo (recebendo do governo uma indenização em dinheiro) ou utilizar-se de seus serviços até 21 anos.

Note que a condição do negro não melhorou em nada. Se fosse libertado, para onde iria uma criança de apenas 8 anos de idade, sem ter onde morar?

E se ficasse, continuaria escravo, pois seria o período em que o ser humano é bastante produtivo, beneficiando apenas o senhor de escravos. É importante você saber que a campanha abolicionista crescia em todas as províncias. Muitos militantes promoviam fugas de escravos ou recolhiam em esconderijos os negros fugitivos. Organizavam-se comissões a fim de recolher fundos para comprar a liberdade dos cativos.

A oposição ao governo escravista aumentava e ganhava adeptos junto ao clero, aos estudantes, aos militares, aos fazendeiros emancipacionistas e à imprensa. O governo se encontrava mais uma vez diante da necessidade de promover nova “concessão” aos oposicionistas.

Em 1884, o primeiro ministro Manuel Dantas apresentou um projeto de emancipação (Projeto Dantas) ao Parlamento.

As discussões que se seguiram foram as mais violentas que ocorreram e provocaram a queda do Ministério. O projeto foi criticado e recebeu modificações no Gabinete seguinte, sendo finalmente sancionado (aprovado) no governo do barão de Cotegipe, em 1885.

Era a Lei do Sexagenário. A lei ainda previa o pagamento de uma indenização aos proprietários de escravos sexagenários pela sua libertação.

Na verdade, a Lei do Sexagenário, também era para “tapar o sol com a peneira”.

O governo só estava interessado em protelar por mais tempo o problema do escravismo.

Lei do Sexagenário, artigo 10º, parágrafos 10 e 11. §10. São libertos os escravos de 60

anos de idade, completos antes e depois da data em entrar em execução esta Lei. Ficando, porém, obrigados, a título de indenização pela sua alforria, a prestar serviço aos seus ex-senhores pelo espaço de três anos.

§11. Os que forem maiores de 60 anos

e menores de 65, não estarão sujeitos aos serviços de indenização, qualquer que seja o tempo que tenham prestado com relação ao prazo acima declarado.

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Afinal, o número de escravos que conseguia atingir 60 anos era insignificante (os escravos, devido aos maus tratos, morriam antes de atingir essa idade) e a sua libertação não prejudicaria a “vida nacional”.

No final de 1886, os abolicionistas conseguiram uma vitória significativa: foi revogado dos estatutos brasileiros o uso do açoite como castigo para os escravos. Sem a ameaça do castigo, o escravo sentia-se encorajado a lutar por sua liberdade através de fugas e revoltas.

A partir de 1887, cresceu o número de escravos fugitivos, e muitas fazendas viram-se, de repente, desprovidas de mão-de-obra. A polícia não conseguia atender a todos os pedidos de busca feitos pelos fazendeiros.

O governo convocou o Exército para caçar os negros fugitivos; este por sua vez manifestou-se contra essa determinação recusando a condição de “capitães-do-mato”, pois eram favoráveis a abolição.

No dia 11 de maio de 1888, chegou ao Senado o projeto do primeiro-ministro João Alfredo, em que se propunha a abolição total e incondicional da escravidão sem indenização.

Apesar das violentas discussões, o projeto acabou sendo aprovado. No dia 13 de maio ele foi assinado pela princesa Isabel - era a Lei Áurea, 1888.

A situação do negro

Com a Abolição, a alegria tomou conta dos negros e dos abolicionistas. A festa prolongou-se por vários dias. Mas rapidamente os negros tiveram de enfrentar a dura realidade: tinham a liberdade, mas não tinham terra, nem profissão, nem ajuda do governo.

O governo era dos brancos, dos ricos fazendeiros que queriam um novo Brasil em que os negros fossem coisa do passado. Tinham dado a sua contribuição como escravos. Agora deviam ser esquecidos.

O Brasil precisava torna-se um país de brancos, como as nações européias: a França, a Inglaterra, a Alemanha, a Itália. Por isso o governo incentivou a vinda de imigrantes europeus.

Esse decreto de 1890, dizia que o Brasil estava aberto para a livre entrada de pessoas que tivessem saúde e fossem capazes de trabalhar, “com exceção dos nativos da Ásia e da África”. O governo brasileiro não queria saber de orientais e de negros.

AINDA HOJE, UM SÉCULO APÓS A ABOLIÇÃO, A MARGINALIDADE DOS NEGROS É UM FATO: SÃO POUCOS OS QUE CHEGAM À UNIVERSIDADE.

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Pelo Regime de Padroado, a Igreja subordinava-se ao Estado. Nenhuma ordem do papa poderia vigorar no Brasil, sem que fosse aprovada pelo imperador.

Cabia ao Estado Português nomear

bispos, remunerar o clero e recolher os tributos (dízimos) dos fiéis da Igreja. Por outro lado, o Estado se comprometia a assegurar e preservar a presença da Igreja nas terras descobertas.

Simplesmente porque a escravatura já estava desmoronando; o número de

escravos diminuíra tanto, que já não se justificava a permanência da escravidão. Mesmo aqueles que eram contra a libertação dos escravos viam a abolição como única saída para um problema que se arrastava desde 1810.

� A Questão Abolicionista Você já sabe, que vários fatores contribuíram para a queda da Monarquia.

Certo? Pois bem, o abolicionismo foi um desses fatores.

Os senhores de escravos, principalmente do Vale do Paraíba e da baixada Fluminense, não se conformavam com a abolição da escravidão e com o fato de não terem sido indenizados pelo governo. Sentiram-se abandonados pela monarquia e acabaram também por abandoná-la. Passaram a apoiar a causa republicana.

� A Questão Religiosa: Igreja Católica contra o governo

É outra questão que contribuiu para o fim da Monarquia.

Pois é, desde o período colonial a Igreja Católica era uma instituição subordinada ao Estado, isto é, funcionava de acordo com os interesses do governo imperial. A esse sistema denominamos de regime de padroado.

Mas o que será que aconteceu a esses homens do

governo? Se eram favoráveis a

escravidão, porque aprovaram o projeto?

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Em 1872, porém, D. Vidal (bispo de Olinda) e D. Macedo (bispo de Belém), resolveram seguir as ordens do papa Pio IX, punindo irmandades religiosas que apoiavam os maçons. D. Pedro II, influenciado pela maçonaria interviu na questão, solicitando aos bispos que suspendessem as punições. Como estes se recusaram a obedecer ao imperador, foram condicionados a quatro anos de prisão.

Em 1875, os bispos receberam o perdão imperial e foram colocados em liberdade. Contudo, o império foi perdendo a simpatia da Igreja Católica.

� A Questão Militar: O fim da tirania imperial

A chamada Questão Militar esteve, de início, vinculada ao problema da escravidão. Conforme você já estudou, a Guerra do Paraguai, colocando lado a lado soldados brancos e negros, contribuiu para difundir o ideal abolicionista no Exército.

Além disso, vitoriosos na guerra, os militares brasileiros foram recebidos como heróis e logo se mostraram dispostos a participar, de forma ativa, da vida política nacional. Mas as velhas instituições monárquicas não estavam preparadas para enfrentar o novo comportamento do Exército nacional.

Os ideais republicanos, divulgados por homens como coronel Benjamim Constant, professor da Escola Militar do Rio de Janeiro, contagiaram os militares.

Foi em meio a essa situação que surgiu em 1884 a questão militar, provocada pela revolta dos oficiais de alta patente (como o marechal Deodoro da Fonseca) contra as punições ao tenente-coronel Antônio Sena Madureira, favorável à abolição dos escravos e ao coronel Ernesto Augusto da Cunha Matos, que denunciou a corrupção política de sua época.

Tentando melhorar a situação, o imperador nomeou, em junho de 1889, um

novo Gabinete. Chefiado pelo liberal visconde de Ouro Preto, para organizar uma série de reformas políticas. Os planos de Ouro Preto, porém ficaram no papel, pois quase ninguém acreditava na possibilidade de reformular a Monarquia.

A oposição de tantos setores da sociedade à Monarquia, tornou possível o tranqüilo golpe político que

implantou a República no Brasil.

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O governo imperial, percebendo, embora tardiamente, a difícil situação em que se encontrava com o isolamento da monarquia, apresentou à Câmara dos Deputados um programa de reformas políticas, contendo itens como:

• Liberdade de fé religiosa;

• Liberdade de ensino e seu aperfeiçoamento;

• Autonomia para as províncias;

• Mandato temporário para os Senadores.

Entretanto as reformas chegaram tarde demais. Em 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca assumiu o comando das tropas revoltadas, ocupando o quartel-general do Rio de Janeiro.

O gabinete imperial foi deposto. O Visconde de Ouro Preto (chefe do gabinete) e Candido de Oliveira (ministro da justiça), foram presos. Na noite do dia 15, formou-se o Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil.

D. Pedro II, que estava em Petrópolis durante esses acontecimentos, recebeu, no dia seguinte, um respeitoso documento do novo governo, solicitando que se retirasse do país juntamente com a sua família.

É importante você saber que a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, foi preparada lentamente, através de mudanças sociais e econômicas verificadas no Brasil desde 1850 como: instalação de ferrovias, modernização na fabricação do açúcar, aumento de indústrias, expansão da cafeicultura, adoção da mão-de-obra assalariada, imigração européia, formação do mercado interno e surgimento de novos grupos sociais.

No entanto, essas transformações não haviam sido acompanhadas de mudanças na estrutura política. Esta continuava excessivamente centralizada nas mãos de um pequeno grupo.

Eram necessárias medidas que favorecessem os novos interesses: descentralização político-administrativa, estímulo à imigração, incentivo à produção industrial e melhora da estrutura urbana etc.

A Questão Social, Religiosa e Militar deixou claro os desajustes entre as instituições políticas e os novos interesses emergentes. Assim, é através do Exército, dos cafeicultores paulistas e das camadas médias urbanas que se tornou possível a República. A grande maioria da população brasileira, entretanto, ficou alheia ao movimento, que se limitou no início, a um golpe militar (tomada do poder por militares).

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Bem, você já estudou que a Monarquia chegou ao fim, certo?

Agora estudará como nasceu a República aqui no Brasil. Vamos lá?

Agora responda em seu caderno:

10) Os negros se tornaram realmente livres depois da Lei Áurea, 1888? Justifique sua resposta.

O Brasil mudou a forma de governo sem revolucionar a sociedade.

Trocamos de bandeira, separamos a Igreja do Estado, fizemos uma nova Constituição.

Tudo isso caro aluno, foi feito no clima de ordem que interessava à classe dominante.

Desse modo mantinha-se o povo em sua pobreza e a elite (os ricos) em sua exploração.

Proclamada a República, os cinco primeiros anos que se seguiram

(1889 a 1894) ficaram conhecidos tradicionalmente como “A República da Espada” por terem assumido dois militares do Exército no poder presidencial (marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto).

Mas a presença de militares não excluiu os civis. Os cafeicultores paulistas também participaram desse período inicial da República brasileira. A união de civis e militares era, contudo, frágil e temporária.

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Esses dois segmentos da sociedade representaram interesses diversos e possuíam opiniões divergentes quanto aos objetivos do regime recém-instalado. Isso explica a instabilidade política que marcou esse período, no qual foram constantes os confrontos entre forças tão diferentes. Por outro lado, foi liquidada qualquer ameaça da restauração da ordem monárquica.

A República da Espada, representou uma fase de transição entre o centralismo do Império e o federalismo, que inspirou o movimento de 1889. Aos poucos, e em meio a choques políticos e sociais, o novo regime foi se adaptando às necessidades prementes (urgentes) do Brasil provocadas pelas transformações sociais e econômicas ocorridas a partir de 1850.

Na noite de 15 de novembro de 1889, veja bem, formou-se o governo

provisório da República, chefiado pelo marechal Deodoro da Fonseca, que deixara de ser monarquista somente nas vésperas do golpe republicano. Logo no começo, esse novo governo revelou seu caráter conservador.

Saiba que entre as primeiras providências tomadas pelo governo provisório, destacaram-se:

� Federalismo – as províncias brasileiras foram transformadas em Estados membros da Federação, obtendo maior autonomia administrativa em relação ao governo federal, cuja sede recebeu o nome de Distrito Federal;

� Distrito Federal – Situado no Rio de Janeiro, o Distrito Federal era a capital da República;

� Separação entre a Igreja e o Estado – Era o fim do padroado (consulte a caixa de texto da página 21). A Igreja passa a ser independente. O catolicismo deixou de ser a religião oficial do Estado. Curioso é saber que, em função disso, foram criados o registro civil de nascimento e o casamento civil. Antes só havia certidão de batismo e os noivos casavam-se só na Igreja;

� Grande naturalização - Todos os estrangeiros residentes no Brasil seriam legalmente considerados cidadãos brasileiros;

� Bandeira da República - Uma nova bandeira nacional foi criada para substituir a antiga bandeira do Império. O “Ordem e Progresso”, foi sugerido pelo Ministro da Guerra, Benjamin Constant. O lema tem sua origem no positivismo do filósofo francês Augusto Comte (1798 - 1857), que pregava o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim.

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� Assembléia Constituinte - Convocação de uma Assembléia Nacional

Constituinte para elaborar a primeira Constituição da República.

O brasileiro ORDEM E PROGRESSO da bandeira nacional foi escrito por um francês, August Comte.

Este Lema positivista combina autoritarismo com modernidade e quer dizer, mais ou menos, que o Brasil só melhora se não houver “desordens” provocadas pela democracia ou pelas revoluções populares.

As idéias positivistas de Augusto Comte tiveram grande influência sobre os militares do Brasil, Comte tinha entusiasmo pelo desenvolvimento das máquinas, da tecnologia, da industrialização. Para ele tudo representava o progresso da humanidade.

O positivismo confiava no capitalismo industrial. E tinha grande fé na evolução das ciências. Nossos militares positivistas queriam ser soldados cidadãos, ditando o rumo para um novo desenvolvimento do país. Defendiam "a modernização da sociedade através da ampliação dos conhecimentos técnicos, do crescimento da indústria, da expansão das comunicações”.

Fausto Boris, História do Brasil, SP., EDUSP, 1994, p. 246.

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INFLAÇÃO: Um dos fatores mais

importantes para a estabilidade econômica de um país é o equilíbrio entre a quantidade de moeda circulante e o que é produzido no país.

Quando o governo emite muito dinheiro, sem que a produção interna aumente, ocorre um desequilíbrio.

As pessoas têm mais dinheiro para gastar, mas a quantidade de produtos existentes é menor. Resultado: com muito dinheiro e pequena produção, os preços sobem gerando a INFLAÇÃO.

Houve uma medida de grande impacto na economia brasileira, que na verdade, era uma reforma financeira executada pelo Ministro da Fazenda, Rui Barbosa, a partir de janeiro de 1890.

O objetivo de Rui Barbosa era incentivar o crescimento econômico nacional, principalmente o desenvolvimento da indústria. Para isso, permitiu grande emissão de dinheiro por bancos espalhados pelo país (Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul).

Saiba que essas emissões tinham como finalidade aumentar a moeda em circulação para, por exemplo, facilitar o crédito na implantação nas novas indústrias.

Se você está pensando que essa história não iria acabar bem, acertou, o dinheiro emitido foi além das necessidades e imagine só qual foi a conseqüência de

tudo isso!? Foi uma grande inflação com o aumento generalizado dos preços.

O dinheiro fácil gerado pelas emissões bancárias incentivou a criação de "empresas fantasmas", que surgiam apenas para obter crédito dos bancos.

A Bolsa de Valores do Rio de Janeiro foi tomada por grande agitação e especulação financeira – foi o encilhamento - primeira crise

financeira na república. A desorganização econômica atingiu um ponto insuportável.

ENCILHAMENTO – colocação dos arreios em cavalos. A reforma de Rui Barbosa foi assim chamada porque a agitação econômica da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, nesse período, lembrava o barulho do Jóquei Clube, onde se encilhavam os cavalos.

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Sufrágio universal - é o direito de votar concedido aos

cidadãos, salvo exceções específicas.

Distingue-se do "voto censitário" porque neste somente votam cidadãos com o mínimo de renda estipulado pela lei.

Além disso, no próprio ministério, muitos colegas também criticavam a reforma. Pressionado, Rui Barbosa demitiu-se do cargo em janeiro de 1891.

A Constituição promulgada em 24 de fevereiro de 1891 foi inspirada

no modelo liberal americano. Após a revisão do projeto de Rui Barbosa, ele foi encaminhado ao Congresso que introduziu poucas modificações no texto, uma delas foi a redução do mandato presidencial de 6 anos para 4 anos. Por ser inspirada no modelo americano, denominava nosso país de: Estados Unidos do Brasil. Assim, os Estados Unidos do Brasil era constituído de vinte estados autônomos do ponto de vista econômico e administrativo. O regime era republicano e presidencialista. O presidente, o vice-presidente, os deputados e senadores eram eleitos diretamente por sufrágio (voto) universal masculino.

O presidente seria eleito para um mandato de 4 anos, não podendo ser reeleito para os quatro anos seguinte. Podia nomear ou exonerar seu Ministério, sancionar leis e deliberações do Senado e da Câmara.

Quanto a formação dos três poderes:

O presidente, o vice-presidente e os ministros compunham o Poder Executivo.

O Poder Legislativo, era exercido pelo Congresso Nacional - era composto pelo Senado e pela Câmara dos Deputados.

O Poder Judiciário tinha como órgão máximo o Supremo Tribunal Federal e era composto pelos juízes federais.

Os cafeicultores protestavam contra a reforma financeira de Rui Barbosa, pois não lhes interessava uma política que desse mais

importância à indústria do que ao café.

E como era a nossa

Primeira Constituição da República?

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Você sabe a diferença entre uma Constituição Promulgada e uma Outorgada? A Constituição Promulgada é elaborada pela Assembléia Constituinte e aprovada pelo Congresso Nacional. É o caso da Constituição de 1988 – que é a nossa atual Constituição. Ela é discutida, debatida e não é imposta.

A Constituição Outorgada é aprovada somente pelo Poder Executivo. Como exemplo podemos citar a Constituição de 1824, que foi aprovada somente pelo imperador (poder executivo). Dessa forma é uma constituição imposta.

Quanto aos deveres dos ESTADOS:

� eleger seu governante chamado na época de "Presidente do Estado"; � eleger uma Assembléia Legislativa, que faria a Constituição Estadual; � organizar-se administrativamente, provendo as necessidades públicas; � aprovar seu Código Eleitoral e Judiciário; � organizar um corpo policial-militar e manter escolas.

O Estado também possuía liberdade para contrair empréstimos no Exterior, decretar impostos sobre exportações, imóveis, indústrias, profissões e a transmissão de propriedade. No entanto, essa autonomia não superava a força do governo federal, que recebia as melhores fontes de renda pública, tinha o direito de mobilizar os corpos policiais dos estados, controlar os selos e correios, taxar as importações, manter e estabelecer a ordem interna e garantir a execução das leis federais.

Quanto aos direitos dos cidadãos:

A Constituição de 1891 era liberal. Eram considerados aptos para votar todos os brasileiros do sexo masculino, maiores de 21 anos (tanto natos como naturalizados), com exceção dos mendigos, analfabetos, religiosos e soldados. O voto era aberto, o que permitiu inúmeras fraudes eleitorais no decorrer da República Velha.

A Constituição garantia aos cidadãos os direitos da liberdade individual, pensamento, locomoção, imprensa, culto, associações etc. O casamento civil era o único reconhecido legalmente.

A cidade do Rio de Janeiro, que no império constituía o Município Neutro, passou a ser o Distrito Federal.

Depois de promulgada a Constituição, o Congresso Constituinte foi

transformado em Congresso Nacional.

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Oligarquia - "Poder de alguns", ou seja, é o governo centralizado nas mãos de algumas poucas pessoas pertencentes à mesma classe social ou mesmo grupo político.

É o que você verá a seguir. Vamos lá???

Bem, após elaborar a Constituição de 1891, a Assembléia Constituinte foi transformada em Congresso Nacional. Pois é, e nessa condição deveria eleger os primeiro presidente e vice-presidente da República.

O marechal Deodoro da Fonseca era candidato à presidência e tinha apoio de muitos militares. Porém, os poderosos fazendeiros de café, representantes da elite econômica do país, receavam o autoritarismo de Deodoro, e muitos o responsabilizavam pela crise econômica do encilhamento.

Nessas primeiras eleições, a oligarquia cafeeira de São Paulo, apresentou seus candidatos. Prudente de Morais para presidente e o marechal Floriano Peixoto para vice-presidente. Os setores militares insistiram na candidatura de Deodoro da Fonseca para presidente e do almirante Eduardo Wandenkolk para vice-presidente.

Deodoro perdia apoio político entre os civis. Restava-lhe contudo, o importante apoio de seus colegas de farda (militares). Dos 63 senadores presentes à Constituinte, dez eram militares. O Exército estaria ao lado de Deodoro e ele pretendia ser eleito e continuar na presidência da República. Ele venceu as eleições para presidente, em 1891 com pequena vantagem de 32 votos sobre Prudente de Morais. Os congressistas, buscando uma medida conciliatória, fundaram duas chapas, elegendo Deodoro presidente e Floriano vice.

Saiba que, embora tivesse vencido a eleição, Deodoro não contava com suficiente apoio político para governar com tranqüilidade.

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ESTADO DE SÍTIO - Em estado de sítio, o presidente adquiria, temporariamente, amplos poderes, podendo governar através de decretos-leis, suspender as liberdades individuais, intervir nos Estados e fechar o Congresso e as Assembléias Estaduais.

Sofria oposição da oligarquia cafeeira, que dispunha de diversos representantes no Congresso Nacional.

Por não conseguir conviver politicamente com o Congresso nem com o Senado e a Câmara Federal, estes procuraram restringir seus poderes presidenciais, através de um projeto de lei, mas este foi vetado por Deodoro.

Porém, o Senado, ignorando a proibição de Deodoro, rediscutiu o projeto, visando aprová-lo à revelia (sem conhecimento) do presidente.

Irritado, o marechal ordenou o fechamento do Congresso e decretou o estado de sítio na Capital e em Niterói, a 3 de novembro de 1891. Com pouco mais de oito meses de governo constitucional, a República chegara a um impasse. Além da crise política, o país ainda sofria uma profunda degeneração econômica. O golpe de 3 de novembro de Deodoro desgastou sua imagem de chefe político, afastando-o dos grupos militares que o apoiavam.

Vários militares, desiludidos com o autoritarismo do presidente, aprovavam a idéia de derrubá-lo e substituí-lo por seu vice-presidente. O marechal Floriano Peixoto, não se posicionava nem a favor nem contra Deodoro, mas também não desestimulava a oposição.

Deodoro precisou ausentar-se do poder por motivo de saúde, e os seus ministros expediram ordem de prisão contra militares e civis. Com isso, os militares do Rio de Janeiro se rebelaram contra o governo, além disso, no Sul, aconteciam vários conflitos locais, contribuindo para diminuir a autoridade de Deodoro.

Desgastado politicamente, Deodoro decidiu renunciar, passando o cargo para o vice-presidente, Floriano Peixoto - em 20 de novembro de 1891.

Inicialmente parecendo ser liberal, Floriano Peixoto reabriu o Congresso Nacional e suspendeu as medidas repressoras de Deodoro. Mas esse liberalismo chegaria ao fim "rapidinho"... O "Marechal de Ferro" (esse era o apelido de Floriano), logo mostraria o motivo de tal apelido. Apoiado por boa parte dos militares e pelos cafeicultores que viam nele um instrumento capaz de consolidar o novo regime, enfrentou as revoltas

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oposicionistas com energia. Floriano, não foi nada democrático: prendia quem fosse contra seu sistema de governo, podia ser político, militar ou jornalista.

Quando o Congresso começou a questionar a legalidade da repressão, ele respondeu: "vão discutindo, que eu vou prendendo".

Agora você estudará as revoltas ocorridas no governo de Floriano Peixoto.

� A revolta da Armada (1893-1894) Saiba que no dia 31 de março de 1892, treze generais enviaram ao presidente uma carta manifesto, exigindo a convocação de novas eleições presidenciais.

A carta dizia que essa era a única maneira de restabelecer a tranqüilidade interna da nação e o prestígio internacional do país já que o país estava passando por uma crise, onde não faltavam descontentes.

Ao receber o documento, Floriano reagiu energicamente: puniu os militares afastando-os das Forças Armadas. Mesmo assim, as reações contra o seu governo continuaram. Pessoas ligadas ao movimento rebelde, agiram em terra cortando fios telegráficos e articulando uma greve na Estrada de Ferro Central do Brasil.

Diante desses acontecimentos, o presidente Floriano agiu com rapidez: destacou corpos policiais para defender pontos estratégicos do litoral e cortar a ligação entre os revoltosos do mar e os da terra.

Foi decretado estado de sítio para a Capital Federal e Niterói (10 de setembro de 1893). Toda essa mobilização permitiu ao presidente o controle da situação em terra. Os navios rebeldes, na baía de Guanabara, bombardearam a Capital e Niterói, apavorando a população e alarmando o governo e as embaixadas sediadas no Rio de Janeiro.

Em fins de setembro de 1893, o ministro do Exterior da Inglaterra conseguia adesão de Portugal, França, Itália, Holanda e Estados Unidos e a concordância do governo brasileiro e dos rebeldes para assinatura do "acordo de 5 de outubro".

Saiba que não bastaram a mudança do regime político e a promulgação da Constituição para resolver os problemas

acumulados desde o tempo da colônia e do Império.

Havia muitas diferenças entre as várias regiões, agora divididos em estados.

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Segundo este, os adversários só poderiam bombardear-se sob as vistas da esquadra estrangeira, a quem competia observar as provocações e as agressões, evitando que a cidade fosse atingida.

� Revolução Federalista (1893)

Ainda em 1893, no Rio Grande do Sul, aconteceu um violento conflito entre dois partidos políticos:

• Partido Republicano Rio Grandense (PRR) - defendia a forma de governo republicana e o sistema presidencialista e tinha o apoio político de Floriano Peixoto. Mantinha aliança com o chefe do governo gaúcho Júlio de Castilhos. O apelido dos republicanos era pica-paus.

• Partido Federalista - esse partido apoiava a forma de governo republicana, mas defendia o parlamentarismo ( lembre-se que no sistema parlamentarista, o chefe de governo é o Primeiro Ministro). Os federalistas eram liderados por Silveira Martins e contavam com muitos

Você quer saber o fim dessa história? Pois bem, em novembro de 1893, um almirante chamado Saldanha da

Gama aderiu a Revolta da Armada lançando um manifesto em que deixou transparecer sua tendência monarquista.

Isso serviu de argumento para Floriano declarar que a revolta tinha por objetivo a volta da Monarquia. O governo brasileiro comprou alguns navios dos Estados Unidos e contratou mercenários.

Os navios estavam em situação precária e por causa disso a força naval legalista foi apelidada pelos rebeldes de "Esquadra de papelão". Em março de 1894, os navios comprados chegaram ao Rio de Janeiro, e o governo, a fim de prevenir a população para que tivesse tempo de sair da cidade, espalhou cartazes informando que em 48 horas atacaria os revoltosos.

Mas o duelo não chegou a ocorrer, pois Saldanha da Gama, pediu asilo político a dois navios de guerra portugueses e foi isso concedido a todos os rebeldes. O presidente Floriano exigiu que o governo português entregasse os refugiados. Durante uma semana, os dois governos discutiram o caso, sem chegar a nenhuma solução. No dia 18 de março, uma corveta portuguesa levantou âncora levando os asilados para o rio da Prata. Quando a embarcação chegou a Montevidéu, os exilados fugiram para se unir aos revoltosos da Revolução Federalista, no Rio Grande do Sul.

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partidários entre os tradicionais estancieiros gaúchos. Os federalistas eram apelidados de maragatos.

Como você leu na página anterior os federalistas uniram-se aos rebeldes da Armada, no Rio de Janeiro, e ameaçavam atacar o Estado de São Paulo.

A Revolução Federalista transformou-se numa luta sangrenta, provocando a morte de aproximadamente 10 mil pessoas.

Teve fim somente em 1895, já no governo de Prudente de Morais, sucessor de Floriano Peixoto.

O Presidente Prudente de Morais foi o primeiro

presidente civil da História do Brasil. Prudente de Morais, o candidato civil da

burguesia cafeeira paulista, venceu as eleições. Ele era um republicano, mas a classe social que ele representava e que o sustentava no poder era dos cafeicultores.

As oligarquias, formadas pelos grandes proprietários rurais assumiam o controle completo da nação.

Será que para o povo mudou muita coisa a saída de um presidente militar

e a entrada de um presidente civil republicano?

Você sabia? O presidente Prudente

de Morais é nosso conterrâneo. Pois é,

ele era paulista de Itu!

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Agora responda em seu caderno:

11) Explique o motivo do descontentamento dos cafeicultores frente a reforma econômica de Rui Barbosa.

Você verá que não. Foram muitos os problemas enfrentados durante o seu governo, entre eles a Revolta de Canudos.

Com a burguesia cafeeira paulista no poder, terminava o período da República da Espada e iniciava-se a República Oligárquica...

...mas esse é assunto para a apostila 5.

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BIBLIOGRAFIA

♦ Proposta Curricular para o Ensino de História - Ensino Médio – Secretaria

de Estado da Educação – Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – São Paulo – 2ª Ed. – 1992.

♦ Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio. Apresentação dos Temas Transversais – Ministério da Educação e do Desporto – Secretaria da Educação – Brasília – 1997.

. SCHMIDT, Mário. Nova História Crítica da América. São Paulo, Editora Nova Geração, 1998.

. SCHMIDT, Mário. Nova História Crítica: Moderna e Contemporânea. Ensino Médio. São Paulo, Editora Nova Geração, 1998.

. SCHMIDT, Mário. Nova História Crítica do Brasil. Ensino Médio. São Paulo,

Editora Nova Geração, 1998.

. COTRIM, Gilberto. História Global – Brasil e Geral – vol. Único. São Paulo, Editora Saraiva, 1999.

. BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História Geral: Antiga e Medieval – vol. 1. São Paulo, FTD, 1997.

. ARRUDA, José Jobson e PILLETTI, Nelson. Toda a História, Ensino Médio. São Paulo, Editora Ática, 1999.

. VESENTINI, J. William. Sociedade e Espaço - Geografia Geral e do Brasil, Ensino Médio. São Paulo, Editora Ática, 1997.

. PILETTI, Nelson. História do Brasil. Ensino Médio. São Paulo, Editora Ática, 2001.

. PEDRO, Antonio e LIMA, Lizânias de S. História Geral – Compacto para o Vestibular. Editora FTD, 1999.

. CD-Rom ALMANAQUE ABRIL 2001 – BRASIL e MUNDO, Editora Abril,

multimídia.

. ORDOÑEZ, Marlene e QUEVEDO, Júlio. História, Editora IBEP, 1998.

. CD-ROM CLIPART, Brasil 500 anos, Editora Ondas, 2000.

. JOBSON, José Arruda. História Total. Vol.3 e 4. São Paulo, Editora Ática, 2001.

. DIVALTE, Garcia Figueira. Novo Ensino Médio, volume único – com questões do ENEM. Editora Ática, 2002.

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ESTA APOSTILA FOI ELABORADA PELA

EQUIPE DE HISTÓRIA DO CEESVO

CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO SUPLETIVA DE VOTORANTIM

PROFESSORAS: DENICE NUNES DE SOUZA

MEIRE DA SILVA OMENA DE SOUZA ZILPA LAURIANO DE CAMPOS

COORDENAÇÃO: NEIVA APARECIDA FERRAZ NUNES

DIREÇÃO:

ELISABETE MARINONI GOMES MARIA ISABEL R. DE C. KUPPER

VOTORANTIM, 2003.

(Revisão 2007)

OBSERVAÇÃO

MATERIAL ELABORADO PARA USO EXCLUSIVO DO CEESVO,

SENDO PROIBIDA A SUA COMERCIALIZAÇÃO.

APOIO

PREFEITURA MUNICIPAL DE VOTORANTIM