jup outubro 2011

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Frequentar disciplinas ou cursos virtuais em várias universidades da U.E. é uma nova possibilidade que se abre a estudantes universitários ou pessoas já em exercício de profissão. O professor Alfredo Soeiro, um dos responsáveis pelo Virtual, esclarece como funciona o projecto. Jornal da Academia do Porto | Ano XXIII | Publicação mensal | Distribuição gratuita directora Dalila Teixeira | chefe de redação Pedro Ferreira| director criativo Sergio Alves A MARCHA DOS PINGUINS “Avante, Avante, Trabalhador e Estudante” são as palavras gritadas pela maior manifestação chilena pós-ditadura. No ar fica a promessa de novas mobilizações que querem fazer cair o ensino e a constituição de Augusto Pinochet. INTERNACIONAL / P 14 ERASMUS VIRTUAL O POVO SAIU À RUA A 1 de Outubro a CGTP organizou uma manifestação nacional contra as medidas de austeridade e pela defesa do emprego, salários e pensões. Dos Leões ao Saldanha, homens e mulheres saíram à rua em protesto à actual política de que resulta o empobrecimento da população, o ataque aos direitos laborais e sociais,o aumento das injustiças e das desigualdades e a destruição do tecido produtivo. O JUP esteve presente. PARÊNTESIS / P 06-07 EDUCAÇÃO / P 08 OUTUBRO 2011 Perante a actual conjuntura o JUP fez-se à vida e foi saber como é, para os estudantes universitários, sair da alçada dos pais em plena crise económico-financeira. Pelo caminho, aproveitou para recolher farpas da política de Nuno Crato: novo regulamento das bolsas de estudo, autonomia financeira às universidades e cortes na educação. DESTAQUE / P 04 - 07

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Jornal da Academia do Porto | Ano XXIII | Publicação mensal | Distribuição gratuita | directora Dalila Teixeira | director criativo Sergio Alves | chefe de redação Pedro Ferreira | directora de fotografia Daniela Tedim | directora de ilustração Mariana, a Miserável

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Page 1: Jup Outubro 2011

Frequentar disciplinas ou cursos virtuais em várias universidades da U.E. é uma nova possibilidade que se abre a estudantes universitários ou pessoas já em exercício de profissão. O professor Alfredo Soeiro, um dos responsáveis pelo Virtual, esclarece como funciona o projecto.

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A MARCHA DOS PINGUINS“Avante, Avante, Trabalhador e Estudante” são as palavras gritadas pela maior manifestação chilena pós-ditadura. No ar fica a promessa de novas mobilizações que querem fazer cair o ensino e a constituição de Augusto Pinochet.

INTERNACIONAL / P 14

ERASMUSVIRTUAL

O POVO SAIU À RUAA 1 de Outubro a CGTP organizou uma manifestação nacional contra as medidas de austeridade e pela defesa do emprego, salários e pensões. Dos Leões ao Saldanha, homens e mulheres saíram à rua em protesto à actual política de que resulta o empobrecimento da população, o ataque aos direitos laborais e sociais,o aumento das injustiças e das desigualdades e a destruição do tecido produtivo. O JUP esteve presente.

PARÊNTESIS / P 06-07

EDUCAÇÃO / P 08

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Perante a actual conjuntura o JUP fez-se à vida e foi saber como é, para os estudantes universitários, sair da alçada dos pais em plena crise económico-financeira. Pelo caminho, aproveitou para recolher farpas da política de Nuno Crato: novo regulamento das bolsas de estudo, autonomia financeira às universidades e cortes na educação.

DESTAQUE / P 04 - 07

Page 2: Jup Outubro 2011

EDITORIAL E OPINIÃO02 JUP — OUTUBRO 2011

EDITORIAL

-> Com origem na Grécia Antiga, em meados dos anos 600 a 520 a.C., o Carnaval era, para este povo, uma festa de grandes cultos aos seus deuses como forma de agradeci-mento da fertilidade do solo. Assim, na Antiguidade, o Carnaval era marcado por gran-des festas onde se comia, bebia e participava em alegres celebrações numa incessante busca de prazer. Por volta de 500 d.C. a comemoração passa a ser adoptada pela Igreja Católica fruto da implantação da Semana santa – período à qual antecediam quarenta dias de jejum, a Quaresma.

Da Antiguidade à Idade Contemporânea, pouca coisa mudou. Hoje, apenas o samba e o fogo-de-artifício são novos ingredientes na receita do Carnaval. Na Madeira é dife-rente: há pois todo um mundo de novos ingredientes.

Ora, sendo a ilha da Madeira conhecida internacionalmente pelo seu grandioso Carnaval, importa avisar estes senhores que, por tradição, o Carnaval tem duração de apenas três dias, mais exactamente os que antecedem a Quarta-feira de Cinzas. É que olhando para o ano de 2011 na Madeira fica a ideia de que Carnaval foi todos os dias.

Olhemos em retrospectiva: a 13 de Abril o Tribunal de Contas disponibiliza na sua página de internet um relatório da “Auditoria orientada para os encargos assumidos e não pagos da Administração Regional Directa da Madeira – 2009” no qual detectava um avultado volume de dívidas da Administração Regional. De forma mais objectiva, o que aconteceu é que o Governo regional da Madeira contraiu uma dívida junto da banca para fazer obras públicas e não a pagou. Mais tarde, assinou Acordos de Regu-larização da Dívida a partir dos quais o “calote” tinha de ser declarado para efeito dos procedimentos dos défices excessivos mas, à boa maneira da desorganização carnava-lesca, o Governo da Madeira não o declarou.

Na altura, só a autoridade estatística desenvolve esforços para averiguar a situ-ação e, é apenas a 16 de Setembro que o relatório da inspecção do Tribunal de Contas chega ao conhecimento da opinião pública através de uma nota conjunta INE-Banco de Portugal.

A 31 de Agosto, na apresentação do documento de Estratégia Orçamental, o minis-tro das Finanças, Vitor Gaspar, diz que a situação da Madeira é insustentável e que é importante que se actue rapidamente declarando que tem “indicações seguras que a Região Autónoma da Madeira está disponível para entrar neste esforço” sugerindo que a solução para a Madeira poderia passar por um programa do género ao que Portugal negociou com a Troika.

As notícias de um buraco nas finanças da Região Autónoma começam a circular pelos vários órgãos de comunicação social. Alberto João Jardim nega.

A 2 de Setembro, Vitor Gaspar confirmou que o Governo Regional da Madeira tinha enviado um pedido formal ao primeiro-ministro a requerer um programa de ajustamento para a região. Um dia depois sai à rua uma notícia dizendo que Passos Coelho tinha acei-tado negociar o apoio financeiro à Madeira.

A 6 de Setembro, em entrevista à SIC, Vitor Gaspar revelou que já estava a ser de-sencadeado um processo de auditoria às contas da Madeira que, segundo ele, estaria concluído antes das eleições regionais em Outubro. Dias mais tarde, a 14 de Setem-bro, também Passos Coelho prometeu aos deputados que apresentaria o plano de austeridade para a Madeira antes das eleições regionais. Certo é que, nem auditoria nem plano de austeridade. Passos chega mesmo a dizer num debate quinzenal na AR “falei demais”.

Ora, falando demais ou de menos, a questão é que também daqui do continente se foram dando “empurrõezinhos” para a grande festa do Carnaval da Madeira, este ano, a 9 de Outubro, dia de eleições regionais!

Mas não é apenas de Lisboa que são dados “empurrõezinhos”. Só para termos uma pequena ideia, a 7 de Outubro, a dois dias de eleições regionais, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) já registava 25 queixas de irregularidades com as eleições legislativas da Madeira, 20 das quais relacionadas directamente com os órgãos de co-municação social versando, sobretudo, a violação do tratamento não discriminatório dos media e do dever da neutralidade por entidades públicas. Ora, aqui as queixas são em grande parte contra o Jornal da Madeira – não esqueçamos, detido maiorita-riamente pelo Governo regional.

Já em dia de eleições, Paulo Barreto, delegado da CNE, disse ter recebido cerca de 30 queixas relacionadas com situações ilegais nas eleições. Recordemos que, ao longo do dia, viaturas da Empresa de Electricidade da Madeira andaram a transportar ilegalmente eleitores para as mesas de voto acompanhados por autarcas. Ao trans-porte ilegal somou-se a presença em mesas de voto de membros de juntas de fregue-sia que lá não podiam estar podendo, de alguma forma, condicionar o voto.

Alberto João Jardim diz “aqui sempre foi assim”. E se por Lisboa se dão “empurrõezi-nhos”, na região autónoma dão-se grandes facadas na justiça.

Todavia, ilegalidades à parte, a festa continua e, enquanto o povinho vive tem-pos de Quaresma, Alberto João festeja, mais uma vez, o Carnaval na Madeira com maioria absoluta! •

O Carnaval madeirense!

Verdades sobre um ano a Começar!

L embro-me do dia em que ouvi duas raparigas falarem da vida, daquela que está para chegar.

Melhor, daquela em que tanto anseiam em estar.

Falavam da vida universitária – mais não poderia ser.

Mas será que por aquelas cabeças, pas-sava a verdadeira ideia do que é ser um estudante universitário? Do quão duro é?

Daquelas bocas ouviam-se os ter-mos festas, festarolas, festões, festonas.

Em tanto parlapier não ouvi uma única vez as expressões trabalho, empenho, dedicação ou até ambição. Na altura não liguei muito ao que diziam mas, desde que aqui cheguei, tenho a cer-teza que mais enganadas não podiam estar e que era deprimente a limitação delas no que toca à nossa vida como alunos do superior.

Se algum dia este meu pensamento for lido, que abra as portas para a realida-de dos estudantes, meus companheiros.

Parece já longe o dia em que pus os pés na minha faculdade para ingressar final-mente no curso a que concorri e pelo qual estudei e me esforcei. Dois semestres passaram e o meu primeiro ano termi-nou, mas não a minha vida académica.

A água, o som das ondas, escaldar da areia, o descanso e as risadas com os amigos não podiam ter sido melhores – como foi um bom Verão! Isto está para mudar… A água deu lugar aos prédios, o som das ondas transformou-se no rugir dos motores e a areia materializou-se em cimento, alcatrão e paralelo. Resta a companhia dos amigos, onde aque-les com quem estivemos na época do Sol parecerão mais difíceis de encon-

trar e os restantes, que não encontráva-mos desde o final das aulas, serão mais assíduos na “nova” rotina.

Vejo caras novas… Faces desconhe-cidas para os meus olhos... Tantas dú-vidas vêm espalhadas no seu rosto!

Ai nostalgia, não perdes uma oportu-nidade, pois não? Trazes memórias de quando aqui cheguei… Eu estou pronto para retomar o trabalho árduo, mas será que eles sabem o que lhes espera? Sim, lembranças, tendes razão… Eles vão conseguir. Irão crescer e inteirar-se da realidade, como há um ano eu a desco-bri: que toda a universidade é um mun-do bipolar! Por um lado, aquela pressão dos trabalhos, dos exames, onde o tem-po parece curto e o cansaço teima em nos tentar ao fracasso. Por outro, a con-vivência, as gargalhadas, os fortes laços que se estabelecem! E, no último ano, melhores laços não podia ter criado. Que boas memórias me trazem…

Tenho a certeza que estes novos alu-nos conseguirão ser felizes. Vir para cá fez-me crescer e tornou-me numa par-te de um todo. Com certeza que fará o mesmo com eles…• Fábio A. Silva

É início do mês de outubro. A notí-cia é fresca: “ cortes para a edu-cação já saõ o triplo do que foi

recomendado pela troika”. Segundo o ministério serão à volta de 600 mi-lhões. A troika apontava para uma re-dução de 195 milhões.

É início do mês de Outubro e por aqui todos conhecemos a Maria Manoel (nome ficcionado). Maria é uma miúda a quem a vida não se cansou de dar pau-ladas mas que, ainda assim, prossegue os seus estudos com a ânsia de um dia poder exercer a profissão para a qual ca-naliza quase todos os seus esforços. Sim, leste bem: “quase todos os seus esfor-ços”! Não são todos porque a outra parte que o “quase” exclui tem de ser canali-zada para o full-time que a sustenta.

É início do mês de Outubro e foi há apenas cerca de três semanas que Ma-ria Manoel iniciou a última jornada do seu curso. Está no último ano e conta que está cansada. Na verdade, as ho-ras de sono perdidas já são visíveis nos seus olhos. Trabalha cerca de oito ho-ras diárias, em horário nocturno, e dor-me apenas outras quatro ou cinco. De manhã, bem perto do sol nascer, é hora de acordar para mais um dia de aulas.

Hoje, Maria Manoel conta que foi fazer umas fotocópias de alguns apontamen-tos na pequena reprografia, quase es-condida, lá perto da rua onde mora. Diz

que tem de começar a pôr as matérias em dia. Para além disso, ali as fotocópias ficam-lhe bastante em conta. Confessa que na faculdade onde estuda são caras.

Maria já conhece a proprietária do espaço desde o primeiro ano de fa-culdade havendo, portanto, à vontade para outras conversas. Assim, enquan-to os seus apontamentos vão sendo impressos, a senhora comenta com ela que este ano a rua está diferente, que quase não vê estudantes e que clientela é praticamente um mito. Maria Manoel tenta desculpar a situação com o facto de ser ainda início de ano lectivo ou até com uma possível ressaca do feriado 5 de Outubro. Mas a dona da reprogra-fia responde que isso não é argumen-to uma vez que no ano passado, pela mesma altura, já tinha casa cheia e, vai mais longe, contando que os pou-cos estudantes que ali têm entrado vão apenas saber preços para depois pode-rem falar com os pais.

É início do mês de Outubro, Setem-bro já lá vai, e Maria Manoel chega--me ao café com o drama da senhora das fotocópias da reprografia lá da rua. A verdade é que, se por um lado há o “drama” da senhora que não vende; por outro há o “drama” dos estudantes que nem para fotocópias têm dinhei-ro. Ter de questionar os pais se três cêntimos por cópia são possíveis no

orçamento familiar lá de casa é coisa que não passa pela cabeça de muitos. É mais que motivo para nos indignar-mos. É mais um motivo para todos jun-tos dizermos: BASTA!

Como diz o velho Hessel aos 93 anos: “Desejo a todos, a cada um de vós, que tenham o vosso motivo de in-dignação. É precioso. Quando algo nos indigna (…) tornamo-nos militantes, fortes e empenhados.”

É início do mês de Outubro e a notí-cia é fresca: menos 600 milhões para a educação. Relembrando que, não vai há muito tempo, Crato atribui autono-mia financeira às universidades e ins-titutos politécnicos, não posso deixar de alinhar – diriam eles – na “teoria da conspiração” que corrobora a ideia de que Crato sabe bem como “sacudir a água do capote”. Dito de uma outra forma: não interessa a Nuno Crato fi-car rotulado com o “desbaste” que as bolsas de estudo levarão este ano (novo regulamento) portanto, fez-se à vidinha, entregou a gestão dos dinhei-ros às universidades e, dessa forma, não terá de levar com: “Crato quanto pagavas por fotocópia?”. O que não quer dizer que não seja apanhado por uma qualquer Maria Manoel que lhe grite bem alto: “Crato tu és mazé um rato”. • Dalila Teixeira

DIRECÇÃO NJAP/JUP

presidente Ricardo Sá Ferreiravice-presidente Catarina Cruzvogal JUP Nuno Monizvogal galerias Hugo Sousapublicidade Sara Carreira

DIRECÇÃO JUP

directora Dalila Teixeiradirector criativo Sergio Alveschefe de redacção Pedro Ferreiradirector de fotografia Daniela Tedindirectora de ilustração Mariana, a Miserável

EDITORES

educação Maria Eduarda Moreirasociedade José Soeirodesporto Pedro Oliveiracultura Liliana Pinhointernacional e economia Irina Castroopinião Nuno Moniz

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO

Alexandra Marques, Ana Almeida, Ana Leitão, Angélica Prieto, A. Pedro Ribeiro, Dalila Teixeira, Daniela Neto, Diana Ferrão, Diana Martins, Diogo Dias, Eurico Sá Fernandes, Fábio A. Silva, Filipa Guimarães, Filipa Sousa, Gonçalo Marques, Hernâni Zão, Inês Ramos, Ieva Balode, Irina Castro, Ivone Barreira, Joana Domingues, Joana Quaresma, Júlia Rocha, João Cruz, José Soeiro, Juliana Carvalho, Juliana Diógenes, Lúcia Sousa, Luísa Gomes, Luís Mendes, Maria Inês Rocha, Liliana Pinho, Maria Eduarda Moreira, Marta Pimenta , Melina Aguiar, Paulo Alcino, Pedro Bártolo, Pedro Ferreira, Raquel Teixeira, Rebeca Bonjour, Sandra Mesquita, Soraia Barros, Tiago Reis (UP) e Vera Quintas

ilustradores — André da Loba, Ângela Santos, Daniela Penela, David Penela, Genebra, Lidia Pereira, Maria Helena, Mariana a Miserável, Rui Sousa e Tiago Vaz

imagem de capa Mariana, a Miseráveldepósito legal nº 23502/88ti, ragem 10.000 exemplaresdesign sergio-alves.comtipografia Trump Gothic by Canada Type e Mafra by DSType

pré-impressão Jornal de Notícias, S.A.impressão Nave-printer - Indústria Gráfica, S.A.propriedade Núcledo de Jornalismo Académico do Porto/ Jornal Universitárioredacção e administração Rua Miguel Bombarda, nº 187 - R/C e Cave | 4050-381 Porto, Portugaltlf 222 039 041e-mail [email protected]

APOIOS

Reitoria da Universidade do Porto, Serviços da Acção Social da Universidade do Porto, Universidade Lusófona do Porto, Instituto Português da Juventude

“Desejo a todos, a cada um de vós, que tenham o vosso motivo de indignação”

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JUP — OUTUBRO 2011 03OPINIÃO

Verdades sobre um ano a Começar!

Fábio Brito | 21 anosEstudante de Design de Comunicaçãoem Barcelona (ERASMUS)

Opá, sinceramente já tinha pensado que isso era um assunto bastante pertinente. Mas por coincidência ou não, aqui em Barcelona conseguesse distinguir os turistas e os não-turistas através disso. Se é uma forma de se distinguirem ou não, não sei....! É que não ha um dia que não vejas isso! Acabou por se tornar uma coisas normal para minha visão diária!•

Sofia Duarte | 25 anos

Meias com sandálias.E não tens vergonha de sair assim à rua?Enfim, se em pleno verão estivessem com dor de garganta não perguntavam isso.Eu sou a favor e não acho piroso... As meias com dedinhos por exemplo, são bastante uteis para utilizar com chinelos.Há pessoas que só usam chinelos todo o ano, umas meias dão bastante jeito. Agora, falo em chinelos sem salto que tenho medo de alturas. Meias em chinelos com salto, isso não é piroso, é aterrador!

Adriana Lemos | 19 anosEstudante de jornalismo e ciencias da comunicação na UP

Na minha opinião, usar meias com sandálias não é uma opção viável. Usar sandálias, pressupõe um dia de sol e de calor e, por isso, não vejo a utilidade das meias como adereço. A imagem que me ocorre de pessoas que usam simultaneamente meias e sandálias remete para as peregrinações a Fátima, no mês de Maio. Aí a combinação é compreensível a fim de evitar bolhas nos pés. Peregrinações à parte, a tendência não transmite pragmatismo ou bom senso. Mas ainda assim, é só uma opinião. Gostos não se discutem. •

Henrique Guedes | 21 anosEstudante de Design de Produto

Acho que é do senso comum ao pensarmos nas pessoas que usam sandálias que são vistas como antiquadas e fora do tempo em que vivemos, mas uma observação mais atenta prova-nos que não é assim tão linear. Já na antiguidade povos como os sumérios ou até os famosos samurais japoneses usavam um tecido com as sandálias, uma espécie de meia contemporânea. Compreendemos agora que a moda já vem de longe, e que este revivalismo que nos persegue desde o séc. XX, não é mais do que uma forma actual das pessoas mostrarem que não têm medo da opinião dos outros, são assim guerreiros do séc. XXI contra a moda. •

O que achas das pessoas que usam meias com sandálias?

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04 JUP — OUTUBRO 2011DESTAQUE

EM 2010 COMEÇARAM A SER IMPLEMENTADAS EM PORTUGAL MEDIDAS DE AUSTERIDADE PARA REVERTER A SITUAÇÃO FINANCEIRA A NÍVEL NACIONAL. POR NÃO CONSEGUIR CUMPRIR AS SUAS OBRIGAÇÕES, PORTUGAL PEDIU, EM 2011, UMA ASSISTÊNCIA FINANCEIRA INTERNACIONAL. POUCO DEPOIS PASSOS CHEGOU A ACORDO COM A TROIKA; O ABC DA AUSTERIDADE FOI FICANDO CADA VEZ MAIS CLARO NO BOLSO DOS PORTUGUESES. NA ACTUAL CONJUNTURA O JUP FEZ-SE À VIDA E FOI SABER COMO É, PARA OS ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS, SAIR DA ALÇADA DOS PAIS EM PLENA CRISE ECONÓMICO-FINANCEIRA. PELO CAMINHO, APROVEITOU PARA RECOLHER FARPAS DA POLÍTICA DE NUNO CRATO: NOVO REGULAMENTO DAS BOLSAS DE ESTUDO; AUTONOMIA FINANCEIRA ÀS UNIVERSIDADES E CORTES NA EDUCAÇÃO.

por Alexandra Marques, Angélica Prieto, Dalila Teixeira, Daniela Neto, Luís Mendes, Marta Pimenta e Raquel Teixeira

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JUP — OUTUBRO 2011 05DESTAQUE

A Universidade do Porto é a universidade portuguesa mais procura-da pelos candidatos ao Ensino Superior. A UP é a maior institui-ção de ensino e investigação científica de Portugal e conta com 31 mil estudantes. São milhares aqueles que vêm de cidades distan-tes. Viver fora da alçada da família é uma realidade para muitos jovens universitários.

Para além dos estudantes que estão longe da sua cidade, existem ainda os que optam por sair de casa e procurar independência. Sejam economicamente de-pendentes e financiados pelos pais ou trabalhadores-estudantes, os jovens que vivem sozinhos desenvolvem uma relação próxima com a situação económica do país. A gestão do dinheiro passa a ser uma responsabilidade individual que exige que se façam planos e opções que eram, para muitos, decisões distantes.

O JUP foi descobrir tudo aquilo que afecta um estudante universitário no re-gresso às aulas.

A entrada no ensino superior significa, para muitos alunos, mudar de cidade durante a semana de trabalho. Com a saída das colocações, dá-se início à corrida aos quartos. Al-guns alugam apartamentos independentes e outros partilham-nos, mas a maioria aluga quartos individuais com serventia da casa. No Porto, o preço aproximado do aluguer de um quarto individual fica, por norma, entre os 150 e os 200 euros. Já em outras partes do país, como Braga e Vila Real, este valor fica entre os 120 e 150 euros. A procura recai sobre as três grandes zonas universitárias – o Pólo da Asprela, o Pólo do Campo Alegre e o Pólo de Cedofeita.

Ricardo Bastos é de Viana do Castelo e, depois de ingressar na Faculdade de Econo-mia da Universidade do Porto, optou por alugar um quarto individual. Descreve que, no início, a experiência é complicada mas que “as pessoas se vão habituando umas às outras e acabam por se moldar à maneira de ser dos restantes”. Apesar de viver com pessoas que já conhecia previamente, Ricardo afirma que a adaptação nem sempre é fácil, mas que “as vantagens são claras em termos financeiros e em termos de expe-riência académica”. Mariana Dinis é aluna da Faculdade de Engenharia do Porto, é de Famalicão e vive no Porto há dois anos. A futura engenheira acha que “os preços das casas no Porto são um absurdo”, mas em relação à sua casa acha que o preço é mais ou menos proporcional às condições. No que diz respeito aos recibos de renda, não os recebe. Afirma que este período de mudança é “uma altura em que se cresce muito e amadurece, ganhando responsabilidades”. Apesar das tarefas domésticas, Mariana acha que “tudo é compensado pela liberdade que se ganha e pelos momentos que se passam”. Uma alternativa mais em conta do que o aluguer partilhado de apartamentos são as residências universitárias, mas nem sempre os estudantes conseguem uma vaga. Setembro é, sem dúvida, o virar de uma página para muitos estudantes que, ao mudar de cidade para estudar, entram numa nova fase das suas vidas – a vida académica.

Rafaela Souto está no 3º ano de Química na Faculdade de Ciências e mora no Porto durante a semana de aulas. Quando veio estudar para o Porto, juntamente com a irmã, o pai decidiu comprar uma pequena casa, tendo em vista alugar a casa a outros estudantes no futuro e repor o valor gasto

na compra. Sem direito a bolsa de estudo, Rafa-ela refere que já sentiu o aumento dos preços de serviços como os transportes desde que veio viver para o Porto.

Já Inês Sampaio e Nuno Pereira têm uma experiência diferen-te. A primeira vez que Nuno se inscreveu na Universidade foi no ano lectivo de 2008/2009. Entretanto, esteve em 3 cursos diferentes que abandonou por incom-patibilidade com o tra-balho. Alugou casa no centro do Porto há cer-ca de ano e meio para viver com a Inês, tam-bém ela trabalhadora estudante. Este ano vai tentar aliar a licencia-

tura em Línguas Aplicadas na FLUP com o trabalho. Divide casa e despesas com a na-morada, Inês Sampaio, estudante do 2º ano do curso Estudos Portugueses e Lusófonos na FLUP. Apesar de serem os respectivos pais que lhes pagam as propinas, Nuno e Inês são ambos trabalhadores estudantes que vêem agora a vida dificultada pelas sucessivas subidas dos preços dos trans-portes e de necessidades básicas como a alimentação.

No campo das Universidades privadas, o cenário é bastante diferente. Rita Faria é estudante do 2º ano de Direito na Uni-versidade Lusófona e tem gastos muito superiores aos estudantes da Universida-de do Porto com quem o JUP falou. Natu-ral de Braga, Rita divide casa com a irmã, nos arredores da Universidade. Apesar das despesas e de não usufruir de bolsa, a es-tudante considera que os valores pagos nas Universidades privadas não são exagerados no panorama económico actual.

Anaísa Rodrigues é finalista no curso de Ciências da Nutrição. Morou no Porto du-rante os três primeiros anos da licenciatu-ra. Neste último ano decidiu ir a casa todos os dias para poupar nas despesas uma vez que o passe de autocarro fica muito mais barato quando comparado com o somató-rio dos gastos em renda e alimentação que tinha quando vivia no Porto.

Mesmo nos meses em que só tinha exa-mes e não residia na casa do Porto, Anaísa tinha que pagar a renda, o que somava um valor perfeitamente dispensável. À espera do resultado da atribuição das bolsas de estudo, Anaísa confessa que os pais têm sentido uma gradual necessidade de pou-par devido ao aumento das despesas.

Já Joana Gonçalves, estudante da Faculdade de Direito, faz o caminho en-tre Paços de Ferreira e Porto todos os dias desde há três anos atrás. Até à data, teve bolsa todos os anos apesar de o valor se ter alterado. A decisão de fazer duas horas diárias de autocarro surgiu com o intuito de poupar, uma vez que o valor do passe é bastante menor que o preço de uma ren-da. Joana considera que os transportes são sempre uma boa opção para os estudantes, pois o aumento dos preços da maioria dos serviços, como os transportes, gera uma maior dificuldade no que se refere ao pa-gamento das mesmas. Cada vez mais, a op-ção de viver na cidade do Porto é posta de lado, já que se mostra como menos apta ao aumento da poupança dos estudantes, que se mostra tão essencial hoje em dia.

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06 JUP — OUTUBRO 2011DESTAQUE

O valor da bolsa máxima atribuída é igual ao do ano anterior. O novo regulamento “pretende evitar atrasos na análise e atribuição” de bolsas de estudo para 2011/2012.

A partir da nota de imprensa emitida pelo MEC, as bolsas de estudo facultadas a estudantes do Ensino Superior não vão ser contabilizadas “no cálculo do rendimento do agregado familiar”. Cada membro passa a contar agora “como uma unidade” na contabilização per capita, sendo que o montante mínimo da bolsa atribuída é equivalente à “propina paga pelo estudante”.

O Ministério de Nuno Crato anuncia também que o valor mínimo de ECTS para a atribuição de bolsa é de 36, o que resulta num aumento de 6 ECTS em relação ao regulamento anterior.

As alterações do documento têm, segundo fonte próxima do Ministério da Educação e Ci-ência, a intenção de proteger os agregados familiares, de forma “mais justa” e com o intuito de “promover a emancipação do jovem”.

Porém, os atrasos na análise das candidaturas em anos anteriores são um dos principais pro-blemas para a estudante deslocada Laura Pestana, da Universidade do Porto. No 3º ano de li-cenciatura, a finalista, que já recebe o apoio dos Serviços Sociais da universidade há dois anos, aguarda a aceitação da candidatura à bolsa de estudos e alojamento. Segundo Cristina Sampaio, directora do Departamento Social dos SASUP, os atrasos surgem da “necessidade de avaliar as declarações prestadas pelos candidatos” de acordo com o regulamento, para assim “garantir o princípio da complementaridade de recursos face aos custos de frequência universitária”.

O novo regulamento de bolsas de estudo do Ensino Superior pode ser consultado através do site do Ministério da Educação e Ciência. •

A realidade portuguesa atravessa uma crise eco-nómica que afecta todas as faixas etárias. Con-sequentemente, é cada vez maior o número de trabalhadores-estudantes.

São muitos os estudantes universitários que se vêem obrigados a procurar um emprego para pagarem os encargos associados a uma formação académica.

Leandro Silva, estudante da UP, vive sozinho e trabalha há cinco anos para suportar os custos de uma casa, de uma vida independente e propinas.

A dispensar cerca de vinte horas semanais num emprego na área da contabilidade, o estu-dante considera o seu rendimento mensal “sufi-ciente, desde que haja um planeamento do orça-mento doméstico”.

Inês Sampaio, estudante da UP, começou a tra-balhar quando ingressou no ensino superior. Par-tilha casa e mantém emprego na área de apoio pedagógico a crianças, para suportar as despesas.

Inês já trabalhou na área da Restauração, em mais do que um local. Actualmente, trabalha cerca de vinte horas semanais e o salário que au-fere destina-se apenas a gastos com a habitação e dia-a-dia.

O estatuto de trabalhador-estudante possibi-lita a conciliação entre estas duas ocupações. A conjugação do estudo com trabalho passa por uma gestão eficaz do tempo, aliada à hipótese de concluir as disciplinas sem um regime de pre-senças obrigatório.

Leandro remata: “Apesar da crise, em Portugal ainda existem boas condições para conciliar um curso e um emprego. Exige um esforço adicional mas é uma questão de sacrifício”. •

Nuno Crato, novo ministro da Educação aten-deu ao pedido dos reitores das Universidades e dos directores dos Politécnicos de Portugal e vai dar-lhes autonomia financeira. Pela primeira vez em trinta anos, a responsabilidade de distribuir o orçamento recai nos dirigentes das Universida-des e Politécnicos portugueses. Termina assim a divisão do dinheiro dado pelo Estado entre ges-tão das universidades e acção social, o que signi-fica que as instituições receberão as verbas todas juntas e de uma só vez. Luísa Cerdeira, pró-rei-tora da Universidade de Lisboa e especialista em financiamento de ensino superior, disse em de-clarações ao Diário Económico que “os reitores já apresentaram uma proposta de distribuição por todas as unidades pertencentes à Universidade: faculdades e Serviços de Acção Social aos Conse-lhos Gerais”. Esta medida surge juntamente com os cortes ao ensino superior. •

> ENSINO SUPERIOR: NOVO REGULAMENTO DE BOLSAS QUER “PROMOVER A EMANCIPAÇÃO DO JOVEM”

> TRABALHAR PARA ESTUDAR

> AUTONOMIA FINANCEIRA DAS UNIVERSIDADES

PERFIL NUNO CRATO

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— Perante o descalabro das contas públicas escolhem-se matemáticos

Chama-se Nuno Crato, tem 59 anos, e foi o escolhido para assumir a pasta da Edu-cação do XIX Governo Constitucional. Nome indissociável da matemática, Crato é professor catedrático no ISEG, em Lis-boa, onde se licenciou, e é pró-reitor para a Cultura Científica da Universidade Téc-nica de Lisboa.

Estudou na Faculdade de Ciências de Lisboa. Licenciou-se em Economia no ISEG onde depois obteve o grau de mestre em Métodos Matemáticos para Gestão de Empresas, e doutorou-se em Matemática Aplicada nos Estados Unidos, tendo por lá trabalhado durante alguns anos como in-vestigador e professor universitário.

Crato é também, desde há algum tempo, um interessado nas questões da Educação, tendo publicado e coordenado algumas obras sobre o tema como "O Eduquês em Discurso Directo: Uma Crítica da Pedago-gia Romântica e Construtivista" (Gradiva, 2006), "Desastre no Ensino da Matemática: Como Recuperar o Tempo Perdido" (SPM/Gradiva, 2006) e "Ser Professor, de textos de Rómulo de Carvalho" (Gradiva, 2006). O actual responsável da pasta da Educação coordenou ainda a conferência internacio-nal Gulbenkian de educação de 2008, Ma-temática e Ensino: Questões e Soluções.

Paralelamente ao trabalho seu académi-co tem-se empenhado na divulgação cien-tífica. Colabora regularmente na imprensa, nomeadamente no semanário "Expresso" onde mantém desde 1996 uma coluna se-manal de divulgação científica, e tem cola-borado com vários programas de televisão, designadamente o 4xCiência, o 2010 e oA-BCiência, e de rádio, especificamente o 3 minutos de ciência na Rádio Europa.

Em 2003, a Sociedade Europeia de Mate-mática congratulou-o com o Primeiro Pré-mio do concurso Public Awareness of Mathe-matics fruto do seu trabalho de divulgação.

O actual ministro da Educação é ainda membro de várias sociedades científicas internacionais, nomeadamente da Ameri-can Statistical Association e do International Institute of Forecasters. •

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JUP — OUTUBRO 2011 07

Os cortes orçamentais vão dificultar o financiamento da Educação em Portugal. A redução do nú-mero de docentes, o encerramento de escolas e a diminuição de cursos no Ensino Superior são alguns dos reflexos provocados pelas novas medidas do Ministério da Educação.

Para António Marques, vice-reitor da Universidade do Porto, os cortes que podem chegar aos 11% no orçamento das Universidades e Politécnicos somados às reduções de anos anteriores, têm “um impacto importante” na vida das instituições de ensino. António Marques alega que o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas compreende as reduções assumidas pelo Estado, no entanto, tem “vindo a persuadir o ministro da Educação e Ciência”, Nuno Crato, “de que as universidades portuguesas fizeram o seu trabalho e, portanto, não são responsabilizáveis pela dívida portuguesa”.

A falta de recursos para manter professores, segundo Mário Nogueira, secretário-geral da FENPROF, leva as instituições de ensino a reduzir o número de cursos, e consequentemente, à perda de qualida-de e “ao aumento dos níveis de precariedade no Ensino Superior”.

Apesar das restrições anunciadas, António Marques, apela para a “capacidade que as universidades têm de encontrar receitas para além do orçamento do Estado”. Já a FENPROF declara que “Portugal não pode continuar a alimentar as gorduras do país”, e defende que as acções de austeridade sobre a Educação “são evitáveis”. •

Catarina Machado acredita que Nuno Crato deve melhorar vários aspectos nas diversas faculdades do país. Na Faculdade de Arquitec-tura da Universidade do Porto, onde estuda, diz ser “necessário acabar com as privatiza-ções: segurança, papelaria, bar e reprografia, porque assim sai mais caro para nós, alunos”. A amiga Catarina Carvalho pensa que o novo ministro deveria ter em mais atenção as bol-sas para os estudantes universitários: “fui bol-seira em 6ª fase e recebia 90 euros por mês, que tinha que me dar para pagar a renda, as deslocações e os materiais que são muito ca-ros, enquanto só me dava para pagar as pro-pinas”. As duas estudantes de Arquitectura julgam que a FAUP deveria criar mais bolsas de bom desempenho, já que “só existe uma por ano em 160 alunos”. Catarina Carvalho vê como “ridículo” o facto de abrirem mais vagas, porque “no ano passado havia gen-te sentada no chão dos auditórios para fazer testes” e questiona: “dez alunos são dez mil euros em propinas. O que é que é feito com esse dinheiro? Deveria ser dado mais apoio aos alunos”. •

Pedro Cunha é ex-aluno de Relações Interna-cionais na Faculdade de Letras da Universida-de do Porto. O estudante considera que ainda é cedo para avaliar o novo ministro Nuno Cra-to. Quanto às medidas que devem ser toma-das neste mandato, Pedro acha ser necessária a avaliação dos professores e crê no rigor apli-cado ao novo sistema de atribuição de bolsas. O aluno ressalva ainda a internacionalização da Universidade do Porto: “somos os que re-cebemos mais estudantes Erasmus em Portu-gal. A nossa internacionalização é muito boa e é para continuar”. •

A vida universitária implica uma mudança de rotina para qualquer estudante. Para além do plano curricular, a UP oferece um leque de iniciativas e actividades que os jovens podem abraçar.

As faculdades têm grupos em diversas áreas, como música, teatro e política. Na Faculdade de Le-tras, por exemplo, os estudantes podem juntar-se ao grupo de teatro “Máscara Solta” e a Tunas Universitárias. Bruno Varandas é o Magister Tunae, isto é, res-ponsável pelo Cancioneiro Universitário do Campo Alegre. A CUCA, como é conhecida, é, segundo Bruno Varandas " um grupo musical académico que tem como objectivo levar a conhecer o nome da FLUP por todo o país e mesmo no estrangeiro”. Bruno acrescenta ainda que a tuna é sempre uma boa experiên-cia para os membros, que aprendem a tocar vários instrumentos, assim como usufruem de “um bom ambiente entre os membros pretendendo assumir-se como uma segunda ‘família’".

A Faculdade de Direito e a Faculdade de Economia, por sua vez, oferecem a possibilidade de aplicar os conhecimentos adquiridos no curso num meio empresarial, através das empresas IURIS FDUP Junior e FEP Junior Consulting.

Na área do desporto, os SASUP promovem a prática de várias modalidades a preço simbólico, como o Basquetebol, Judo e Ténis.

A Universidade do Porto fomenta ainda a inclusão dos jovens numa série de grupos associativos e culturais, como é o caso do Orfeão Universitário do Porto, o Jornal Universitário do Porto e a Sociedade de Debates. Estas iniciativas in-centivam o espírito criativo, interventivo e crítico.

O OUP, que completa cem anos em 2012, é composto por vários grupos artís-ticos como o coro, as danças, tunas e grupo de fados. O JUP apela à actividade de todos os estudantes da UP, na área da informação e investigação jornalística.

A Sociedade de Debates impulsiona a participação e reflexão activa dos jovens acerca dos assuntos que marcam a política.

As opções são variadas e estão ao alcance de todos. •

> CORTES ORÇAMENTAIS COMPROMETEM EDUCAÇÃO

> ACTIVIDADE NA UP

O QUE ESPERAS E PENSAS DA POLÍTICA DE NUNO CRATO?

DESTAQUE

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VOX-POP

Rafael Souto(adquiriu casa do Porto)

Joana Gonçalves(vai e vem para casa todos os dias)

Rita Faria (tem casa alugada no Porto)

Inês Sampaio e Nuno Pereira (São independentes e moram

sozinhos como casal no Porto)

Anaísa Rodrigues (morava no Porto e deixou de morar)

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08 JUP — OUTUBRO 2011EDUCAÇÃO

por Ana Almeida, Joana Domingues e Maria Inês Rochafotografia Ana Almeida

É quase um Erasmus aplicado a cursos virtuais. O projecto Virqual (Virtual Mobility and European Qualification Framework) é uma rede que promove a democrati-zação do e-learning e o reconhe-

cimento das competências adquiridas pelos alu-nos que se dedicam a este tipo de aprendizagem.

Depois da implementação do Processo de Bolonha, a Europa dá um novo passo no senti-do da criação de um Espaço Europeu do Ensino Superior. A publicação do Quadro Europeu de Qualificações (QEQ), que regulamenta os níveis das classificações na União Europeia, é sinal de uma crescente preocupação com a mobilidade na Educação.

O Virqual surge na sequência desta inovação. Alfredo Soeiro, coordenador do projecto na Uni-versidade do Porto, explicou ao JUP que o progra-ma “não é nada de novo. Trata-se simplesmente de usar ferramentas que já existem noutros con-textos”. Para o professor da Faculdade de Enge-nharia da Universidade do Porto, o Virqual, mais do que uma política, é uma utilidade para todos aqueles que queiram utilizar o e-learning na sua formação académica.

“O projecto destina-se a arranjar um processo em que as classificações obtidas num determina-do curso virtual (aplica-se sobretudo a este tipo de cursos) sejam depois reconhecidas ou incorpora-das no QEQ”, afirma. Para Soeiro, “este quadro permite de algum modo o reconhecimento auto-mático das profissões e determina as competên-cias necessárias a quem tem uma licenciatura ou mestrado em determinada área e quer exercer a profissão noutro país da União Europeia”.

Alfredo Soeiro exemplifica: “Se um aluno tiver, por exemplo, competências suficientes para se tornar arquitecto, engenheiro, enfer-meiro, etc., pode, através deste projecto, obter a qualificação pretendida.”

Para isso, o Virqual contará em breve no seu portal com “uma ferramenta interactiva que per-mite a cada um dos utilizadores fazer a transpo-sição entre os cursos que frequentou e as qualifi-cações que eventualmente pode ter”.

O coordenador do projecto faz um paralelismo com o programa Erasmus, que estabelece um sistema de equivalências baseadas em créditos (ECTS - European Credit Transfer and Accumu-lation System). Este método, que é do conheci-mento da generalidade dos estudantes, mede as horas que o aluno tem que trabalhar para alcançar os objectivos do programa de estudos. Assim, as disciplinas que, à partida, requerem mais tempo e trabalho por parte do aluno têm um maior número de créditos e, por isso, as suas notas terão um peso maior na média.

“O que nós estamos a fazer neste momento é uma adaptação do ECTS a cursos à distância. É

portanto, uma mobilidade que não é física, mas virtual” – conclui o professor da FEUP. Uma mo-bilidade que abre um grande leque de possibili-

dades a todos os estudantes mas também a pro-fissionais que queiram enri-quecer a sua for-mação académi-ca. Poderá passar a existir, eventu-almente, a hipó-tese de o aluno se inscrever na Universidade do

Porto e frequentar algumas unidades curricula-res noutra instituição.

O projecto conta com o apoio de várias insti-tuições, como a Universidade do Porto, a Uni-versidade Aberta e a Universidade do Minho em Portugal; na Áustria, a Universidade Técnica de Viena; na Estónia, a Fundação para o Ensino à Distância; na Turquia, a Universidade Técnica do Médio e, por fim, a Universidade Europeia de Educação Contínua (EUCEN). Para Alfredo Soei-ro, não há necessidade de alargar este leque de parceiros, dado que este projecto conta com uma rede de duas classes de membros: os activos e os passivos. Os membros activos colaboram na apli-cação e desenvolvimento do projecto enquanto os membros passivos simplesmente recebem a informação fornecida. Segundo o professor da FEUP “em termos de activos, temos cerca de 30 membros. E depois, nos passivos, temos acima de 500, são pessoas e organizações”. O Europe-en Distance Education Network (EDEN), é uma das organizações activas mais importantes que

vai realizar aqui no Porto em Junho de 2012, um congresso Europeu.

O Virqual é financiado pela União Europeia, pelo que cerca de ¾ dos financiamentos públicos são pagos pelos impostos europeus. O restante fica por conta de cada parceiro, que contribuí com ¼ equivalente ao tempo despendido no projecto.

Apesar de recente, o projecto já recebeu dois prémios. O primeiro, dado pelo EDEN, como sendo o melhor workshop no seu seminário em Valência. Já o segundo foi recebido nos Estados Unidos, pela inovação da iniciativa. “Acidentes de percurso” é como Alfredo Soeiro descreve a atribuição dos prémios, pois não foram os prin-cipais objectivos.

O programa fez já várias conferências e irá brevemente realizar mais duas: uma para e orga-nizada pelos estudantes, intitulada “Mobilidade Virtual”, realizar-se-á em Viena nos dias 3 e 4 de Novembro com o objectivo de disseminar o pro-duto. “Temos uma outra que é uma conferência do EUCEN onde vamos apresentar já às univer-sidades e àqueles que se dedicam à formação contínua também os resultados do projecto” – acrescenta Alfredo Soeiro. O professor informa que ambas as conferências serão gravadas para, mais tarde, ficarem acessíveis online (em www.virqual.up.pt).

Na maior parte das conferências as inscrições são pagas, mas as chamadas webinars, com gra-vações disponibilizadas no site, são de entrada livre. Alfredo Soeiro faz saber que “a próxima é sobre o reconhecimento da aprendizagem não formal, com um dos maiores especialistas, Mi-chel Feutrie, que fez essa lei em França”.

A Comissão Europeia já mostrou grande inte-resse neste projecto. Como explica Soeiro, “já ti-vemos o Project Office a vir cá inspeccionar, têm

participado nas nossas conferências e nos nos-sos seminários e também os convidamos para ir às duas conferências que se aproximam. Espera-mos por eles. É preciso que a Comissão fomente os eventuais maus resultados que este projecto

possa ter.”O Projecto

Virqual é assim uma ferramenta útil que pode-rá abrir novos horizontes aos jovens e enri-quecer o ensino na Europa, uma vez que, segun-do o docente, “permite uma diversificação da oferta.” Al-fredo Soeiro explica que o programa é van-tajoso para toda a gente, na me-

dida em que “se for aceite e for usado, vocês po-dem frequentar aqui uma disciplina ou um curso e frequentarem disciplinas noutros sítios. Em relação aos profissionais que queiram melhorar

a sua formação profissional, é a mesma situação. Sem saírem do seu país, podem ter formação noutro e eventualmente ser conhecida até num terceiro porque o Quadro Europeu de Qualifica-ções é geral para todos”. No entanto, não só os alunos saem a ganhar com o projecto. O docente da FEUP acredita que também os professores e instituições podem tirar vantagens deste progra-ma, uma vez que receber estudantes de diferen-tes países nos seus cursos é uma forma de enri-quecimento profissonal e académico.

No fundo, o projecto Virqual torna-se uma experiência diferente ao dispôr dos europeus. “São ferramentas, não são políticas e, portanto, se as instituições, os governos, as pessoas deci-direm usar as ferramentas, elas existem”, rema-ta o responsável por este programa na Universi-dade do Porto.•

Europa quebra fronteiras na Educação VirtualFREQUENTAR DISCIPLINAS OU CURSOS VIRTUAIS EM VÁRIAS UNIVERSIDADES DA UNIÃO EUROPEIA É UMA NOVA POSSIBILIDADE QUE SE ABRE A ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS OU JÁ EM EXERCÍCIO DA PROFISSÃO. O PROFESSOR ALFREDO SOEIRO, UM DOS RESPONSÁVEIS PELO VIRQUAL, ESCLARECE COMO FUNCIONA ESTE PROJECTO.

> Com o Projecto Virqual surge a oportunidade de frequentar cursos virtuais noutras universidades da Europa.

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JUP — OUTUBRO 2011 09EDUCAÇÃO

Um pedacinho de Polónia

São três da tarde, mas lá fora, o sol, preguiçoso, já se prepara para ir dormir. A cama está feita de lavado - uma camada de massa branca acabada de cair do céu. Não é, no entanto, pela escuridão ou os vin-te graus negativos que as ruas se encontram desertas – é que hoje é Natal. Do lado de dentro, as rabanadas são a única marca natalícia. O bacalhau foi substituído por pimentos recheados, prato típico cro-ata, e uma salada romena. A garrafa de vodka, típica das festivida-des polacas, está à janela, onde sempre fica mais fresquinha que no frigorífico. Aqui não há presentes, árvores enfeitadas ou até mesmo família. No entanto, o ambiente não podia ser mais alegre e fami-liar, não vivêssemos juntos, dia após dia, durante os últimos meses.

Vindos de todas as partes do mundo, todos viemos para estudar, e acabamos por aprender muito mais que qualquer universidade poderia ensinar – línguas, culturas, aceitação, partilha, e, sobretu-do, espírito de sobrevivência. Não podia ser de outra maneira, num país onde a história passou com toda a violência, e cuja presença não deixa de se fazer sentir. É engraçado, como na escola a Segun-da Guerra Mundial nos parece tão longe no passado, e de repente somos arrastados para um sítio onde as suas marcas ainda nos ro-deiam! Seja pelos espaços ainda vazios de prédios destruídos por bombas, ou os cemitérios onde dezenas de lápides apresentam a mesma data, até ao local onde vivemos, um típico bloco de apar-tamentos comunistas, cinzentos, quadrados, todos iguais. Mas as marcas estão gravadas nas próprias pessoas, a quem é muito fácil de chegar, sempre simpáticas e espontâneas, mas mais difícil de criar uma amizade, por manterem sempre uma postura de desconfiança e reserva. Há também um desconhecimento mais ao menos unâ-nime da língua Inglesa, já que no antigo Bloco de Leste o que se aprendia era o Russo. Vemo-nos portanto obrigados a enfrentar a língua dos “kxes”, e as suas sete variações para cada palavra. O tru-que? Encher o quarto com post-its de cores com os nomes de todos os objectos por ali espalhados. E sabe tão bem quando finalmente conseguimos ir na rua e pedir direcções, ou ser capaz de pedir algu-ma coisa para comer no bar da faculdade!

Juntos, enfrentámos uma Polónia assustadoramente desconheci-da, que aos poucos se foi tornando parte de nós. E é com terror e baixinho que falamos do momento em que isso se desvanecerá e teremos de “regressar à realidade”, cada um de nós no seu canto do mundo. Mas hoje não pensamos nisso, hoje é Natal. •

texto e fotografia Rebeca Bonjour

Novas dinâmicas do empreendorismo europeu

Cortes no Ensino Superior: Cerca de metade dos professores em risco de serem dispensados

Erroneamente interpretado por muitos, o empreende-dorismo consiste não só na

concretização de projectos, mas em todo o processo dinâmico que conduz ao produto final desejado. E é numa tentativa de alargar o seu con-ceito, que têm sido criadas múltiplas iniciativas que visam a introdução dos jovens no enorme mundo empresarial. Uma das mais importantes a este nível é a AIESEC (Associação Internacional de Estudantes de Ciências Económi-cas e Comerciais), fundada em 1948 por um jovem estudante sueco, com aquele que parecia um utópico propó-sito de construir uma Europa melhor. Mais de seis décadas depois, a AIESEC está presente em mais de 1600 univer-sidades por todo o mundo e constitui uma plataforma internacional que proporciona aos seus membros o de-senvolvimento das suas capacidades de liderança e cooperação. Promove mais de 10 mil estágios e 470 confe-rências internacionais anualmente, espicaçando a atitude crítica e activa dos estudantes, perante a sociedade. Em Portugal, existe em várias institui-ções de ensino superior e marca pre-

sença forte na UP, estando sediada na FEP desde o ano de 1960. O JUP con-versou com a Directora de Marketing da AIESECinFEP, Isabel Barbosa, que realçou a importância das activida-des desenvolvidas pela organização, nomeadamente os estágios interna-cionais: “Num curso aprende-se tudo de maneira muito teórica e os estágios são importantes para pôr em prática o que aprendemos, é trabalho de cam-po. Além disso, é uma oportunidade de emprego alternativa ao que temos e, ainda para mais numa altura como esta, penso que é uma opção impor-tante”. Isabel destacou, além dos está-gios e conferências, um sem-número de actividades desenvolvidas pelo co-mité, incluindo o IRW (Internacional Reception Weekend) e o We can solve it!, uma iniciativa na qual são enuncia-dos casos práticos reais desenvolvidos por empresas participantes, que os estudantes têm de solucionar. Quanto à entrada na organização, Isabel es-clareceu: “Temos recrutamento duas vezes por ano, para membros e para estagiários. As pessoas podem fazer as duas coisas, primeiro são membros e trabalham na organização enquanto

não encontram o estágio mais adequa-do para si. Depois, escolhem a área em que querem ficar – Marketing, Finan-ças, Sistemas de Informação, Relações Internacionais ou Relações Externas – e podem vir até a assumir o cargo de coordenador”. E, para estagiários recém-chegados a Portugal, a associa-ção torna tudo mais fácil, recebendo--os e tratando de toda a burocracia.

Em adição à AIESEC, existem de-zenas de outras iniciativas empreen-dedoras em Portugal, destacando-se mais a norte a Spie UP – Semana de Promoção da Inovação e do Empreen-dedorismo da Universidade do Porto – e o So you think you can Pitch, um projecto que consiste na construção de uma pequena apresentação, o pitch, que relata experiências, objectivos e ambições do estudante, sendo as me-lhores apresentações exibidas às em-presas envolvidas no projecto.

Pode afirmar-se que todos estes projectos se desdobram num único vector comum: o do enaltecimento de jovens, capazes de transformar todo um universo económico para melhor e de revolucionar o mundo empresa-rial.• Diana Ferrão

A s medidas de austeridade na Educação não estão a dar mar-gem de manobra às univer-

sidades e politécnicos. O número de docentes tem vindo a ser reduzido e os cortes nas bolsas fazem com que a percentagem de candidatos ao ensino superior tenha caído 11%. A manuten-ção de cursos com poucos alunos é, por isso, mais difícil, podendo levar ao seu encerramento.

Os docentes mais vulneráveis ao despedimento são os auxiliares e convidados. Isabel Horta, professora convidada e investigadora da Facul-dade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), é um exemplo entre muitos. A docente admite que não tem um vínculo estável com a entidade pa-tronal mas encara a situação com po-sitivismo e aceita, de braços abertos, “oportunidades e desafios quer ao ní-

vel académico quer da investigação”. Apesar de um orçamento adequado ser essencial para manter os níveis de exigência no ensino, Isabel Horta acredita que a diminuição de verbas disponíveis para a Educação não con-tribui para uma redução da qualidade do ensino; pelo contrário, dará origem a uma reforma do mesmo, “no sen-tido de se adaptar às exigências do mundo actual”. A professora defende, ainda que o trabalho dos bons profis-sionais não será afectado por motivos orçamentais. No entanto, as medidas poderão contribuir para “um esforço adicional, nunca pondo em causa o seu desempenho”.

Para a professora, uma das conse-quências mais graves dos cortes é a re-dução do número de bolsas a atribuir a alunos com carências financeiras porque vários estudantes motivados

são impedidos de frequentar o ensino superior, o que “trava carreiras profis-sionais de elevado potencial”.

De acordo com a docente da FEUP, a posição que a UP ocupa no ranking internacional das instituições de en-sino superior não é posta em causa, visto que “emprega e é gerida por pro-fissionais de excelência conscientes que não podem colocar em questão o [seu] mérito”.

Apesar do panorama negativo, Isa-bel Horta frisa o papel da motivação e do optimismo, defendendo que “é essencial aprendermos a olhar o fu-turo, de facto instável, com muita mo-tivação no intuito de traçarmos um caminho de elevada competência e excelência”. • Filipa Guimarães, Inês Ramos

e Luísa Gomes

EXEMPLOS DE EMPREENDEDORISMO JOVEM NÃO TÊM FALTADO. NASCIDA DE UMA EUROPA A REERGUER-SE DAS CINZAS DA GRANDE GUERRA, A AIESEC É HOJE A MAIOR ORGANIZAÇÃO MUNDIAL REGIDA EXCLUSIVAMENTE POR ESTUDANTES E CONSTITUI UM DOS MAIS CLAROS EXEMPLOS DESTA REALIDADE.

52% DOS PROFESSORES DO ENSINO SUPERIOR PODEM NÃO TER O SEU CONTRATO RENOVADO DURANTE O PRESENTE ANO LECTIVO. NO ÂMBITO DA REDUÇÃO DA DESPESA DO ESTADO, AS NOVAS MEDIDAS ORÇAMENTAIS PRETENDEM ATENUAR AS DESPESAS COM A EDUCAÇÃO E PODEM LEVAR A UMA DIMINUIÇÃO DA QUALIDADE DE ENSINO A LONGO PRAZO.

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JUP — OUTUBRO 2011EDUCAÇÃO10

Universidade do Porto entre as melhores do mundo

Estudantes impedidos de assistir ao ENDA

“Aqui é lidar com barro humano, e de alguma forma moldá-lo segundo uma determinada perspectiva” A UNIVERSIDADE DO PORTO SOBE 100 LUGARES NO RANKING ELABORADO PELA “SHANGAI

JIAO TONG UNIVERSITY” E PASSAR A ESTAR ENTRE AS 400 MELHORES DO MUNDO.

NO DIA 3 DE OUTUBRO DOIS ESTUDANTES DA FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO FORAM IMPEDIDOS DE ASSISTIR AO DEBATE DO ENCONTRO NACIONAL DE DIRECÇÕES ASSOCIATIVAS (ENDA) POR NÃO ESTAREM CREDENCIADOS PARA O EFEITO.

O factor decisivo para esta subida, segundo o vice-reitor da uni-versidade, António Marques, foi

o desenvolvimento da actividade cien-tífica. Neste ranking, o trabalho de in-vestigação tem um peso muito impor-tante na qualificação das instituições.

A subida no ranking traz aspectos muito positivos para a Universidade do Porto. Segundo António Marques, a ní-vel externo aumenta a “reputação inter-nacional da UP, e torna-a mais aberta ao mundo, aberta a estudantes, investiga-dores ou docentes, que a procuram para trabalhar ou estabelecer parcerias”. Em relação aos efeitos internos, estar en-tre as 400 melhores universidades do mundo “é um estímulo para melhorar a auto-estima, e é um sinal muito objec-tivo, porque este ranking baseia-se em indicadores consagrados internacio-nalmente. Isto permite à comunidade científica perceber que o seu trabalho está a ser reconhecido”.

A aposta no futuro tem sido uma prioridade do reitor: em 2005, a uni-versidade definiu como objectivo estar entre as 100 melhores da Europa em 2011, o que é uma realidade em vários rankings internacionais. Agora, o desa-fio da instituição é posicionar-se entre as 100 melhores do mundo, nos pró-

ximos 10 anos. “A UP quer afirmar-se como universidade muito prestigiada do ponto de vista científico e quer ser reco-nhecida por um ensino de excelência”.

As conquistas internacionais são im-portantes, mas não são o único factor para a universidade definir o seu per-curso. A estratégia do reitor passa pelo desenvolvimento de muitos outros as-pectos que não constam nos rankings: indicadores de ciência, de ensino e de desenvolvimento económico e social.

“Nós estamos satisfeitos com os rankings, eles traduzem uma posição que nos projecta externamente, e que melhora a forma como nós interna-mente nos sentimos. Mas o trabalho a fazer não está a ser directamente con-dicionado por aquilo que os rankings avaliam, mas por uma estratégia que o reitor definiu”.

A maior instituição em ensino de Portugal destaca-se, mais uma vez, pela qualidade. O desenvolvimento da investigação científica e o rigor na educação são agora reconhecidos a um nível internacional. A entrada no ranking das 400 melhores universida-des do mundo é um motivo de orgu-lho para os estudantes universitários e para todo o país. • Mariana Sousa

M iriam Sousa foi uma dos estudantes “convidados a sair” do debate dos diri-

gentes associativos sobre o novo re-gulamento de bolsas académicas. A estudante de mestrado em Estudos Culturais, Literários e Interartes na Faculdade de Letras da Universidade do Porto afirma que foi uma situação “estranha” e que o que foi alegado para que tivessem que abandonar a sala foi o facto de não estarem credenciados. Após o pedido dos dois estudantes em verificarem o que estaria definido no re-gulamento quanto à proibição de mem-bros credenciados não poderem assistir, Miriam afirma que os argumentos que lhes foram dados “não fizeram sentido”. Sendo que este evento promove a parti-cipação dos membros das associações académicas e é do interesse de todos os estudantes do ensino superior, o regula-mento é ainda pouco explícito quanto ao facto de definir quem pode assistir a estas reuniões.

Entre alguns representantes da as-sociação de estudantes do ISCTE esta-va João Mineiro. O estudante alega que o presidente da mesa do plenário lhe deu a informação de que o regulamen-

to do ENDA “não era claro nessa ma-téria”, mas que a apresentação de um requerimento, para que a discussão pudesse ter a assistência de qualquer pessoa, poderia alterar essa situação. “Fizemos um requerimento para a mesa, foi lido e a mesa deliberou, por unanimidade, que os estudantes não poderiam assistir”, afirma João Minei-ro. O estudante manifesta ainda que “num órgão que tem como finalidade representar os estudantes e as asso-ciações eleitas é grave que estudantes sejam expulsos e excluídos”.

Enquanto dirigente da Associação de estudantes da Faculdade de Ciên-cias da Universidade do Porto, Cláudio Carvalho afirma que “a mesa delibe-rou e há que respeitar essa decisão da maioria. Mas respeito quem está pre-sente, tal como respeito a decisão do próprio plenário”. Realça ainda que o que considera mais relevante “é que o movimento associativo teve inicia-tivas muito mais importantes do que esse caso e isso é que é de valorizar. O ENDA foi extremamente produtivo”.

O JUP tentou contactar com entida-des do ENDA, mas não obteve qualquer resposta. • Maria Eduarda Moreira

Helena Lima é Professora da Faculda-de de Letras da Universidade do Por-to. O JUP esteve à conversa com a do-cente e descobriu que atrás da mestre de História se esconde uma mulher cheia de histórias.

Como foi a sua Infância? De que mais sente falta?Do meu avô. Eu era a neta favorita do meu avô. Era maria-rapaz e por isso ia com ele a todos os sítios! Ao futebol, à pesca. Andava sempre com ele. A mi-nha figura de pai é o meu avô, pai da minha mãe. Sinto muito a falta dele.

Como é que surgiu o gosto pela História?É curioso que me perguntem isso, por-que às vezes, eu também me pergunto. Quando entrei no ciclo preparatório, tive um professor que foi um choque. Além de fisicamente estranho, era muito agressivo, e nós tínhamos ape-nas 10 anos! Mas esse professor acabou por me “adoptar”… Tudo porque eu não tinha uma maneira muito normal de estudar, não precisava de recorrer à memória. E então, tirei a melhor nota de História - eu tirei sempre boas notas (risos) - e esse professor praticamente me adoptou porque eu não era muito ortodoxa na minha maneira de racio-cinar. E lembro-me que fiz um exame excelente sobre as Revoluções France-sas. Adorei essas aulas. A professora de História seguinte era também uma ex-celente profissional.

O gosto pela História provavelmente surgiu porque tive bons professores. No entanto, o facto de desde criança ler muito e ler muitos Romances His-tóricos, algo que é uma tradição na mi-nha família, contribui igualmente para aumentar o meu gosto. Em minha casa sempre houve muitos.

Qual o papel que a sua família teve no seu percurso académico e na sua vida profissional?De um incentivo e de uma certa ironia. A minha mãe perguntava-me sempre “então como te correu o exame?”, isto já na Faculdade, e eu respondia sem-pre a mesma coisa “mãe, mãe correu mais ou menos…” E ela ria-se porque normalmente “mais ou menos” era sempre uma nota acima de 15 ou 16. E portanto não me dava assim muita importância (risos). Era uma coisa es-perada! Nunca houve oposição, a mi-nha mãe foi sempre apologista de que as pessoas devem ser responsáveis pelos seus próprios actos. E dizia-me isso desde o liceu, “ Se continuares a estudar e a tirar boas notas, continuas

na escola, se não estudares vais tra-balhar.” Quando decidi entrar na fa-culdade, decidi logo ir para História. Coloquei Direito e Relações Interna-cionais como segunda opção, embora as minhas melhores notas não fossem a História, eram sempre a línguas. O facto é que a minha mãe nunca me pôs nenhum tipo de entrave. Era uma coisa que era eu que tinha de resolver.

Quais as situações que mais a marca-ram no seu percurso académico?Não é muito fácil responder a esta per-gunta… Mas nestes anos mais recentes, acho que há uma grande falsidade no sistema de ensino. Desde o processo Bolonha, foi retirado tempo a toda a gente, a nós professores, a vocês, alu-nos. Muitas componentes de formação que estavam na licenciatura passaram para o mestrado. Do meu ponto de vis-ta, acho que os objectivos e a filosofia do Processo Bolonha eram justos mas não são concretizados. Do ponto de vista académico é muito negativo.

Dos momentos positivos são mui-tos. Primeiro porque dou aulas naquilo que gosto. Não é novidade para nin-guém que eu gosto de dar aulas, gosto dos estudantes, gosto do jornalismo, parece-me que ninguém tem dúvidas à cerca disso. Os meus níveis de satis-fação atingem níveis muito altos, por-que todos os anos há sempre duas ou três pessoas que contribuem para eu bater nas minhas próprias costas e di-zer “ sim senhora estás a fazer um bom trabalho!”

Qual a maior dificuldade porque já passou na vida?Já passei por várias. A minha primeira dificuldade aconteceu quando estava na faculdade e a minha mãe morreu. Esta-va a terminar o curso no ano em que ela faleceu. Foi a principal dificuldade…

Há uma grande diferença entre os alunos actuais e os anteriores?Uma das coisas que me ajuda na minha profissão é não dar aulas a crianças. O que eu gosto, naquilo que faço, é a capacidade que tenho de falar com os meus alunos e poder discutir determi-nados conceitos. Quanto menor é a for-mação dos alunos, mais dificuldade, eu tenho em fazer com que eles racionem em determinados aspectos da vida. An-teriormente, há 20 anos atrás, as pesso-as que seguiam jornalismo eram pesso-as que já sabiam o que se passava nos jornais. Hoje eu não posso dizer isso. Os alunos sabem muito pouco daquilo que é produzido na comunicação. O meu

objectivo não é ensinar meia dúzia de coisas que os alunos esquecem no final do semestre.

Quais os valores que tenta transmitir aos seus alunos?Quando eu digo aos meus alunos que nada é fácil, não tento ser moralista no sentido de “vou dizer aqui meia dúzia de coisas, eu aqui velhinha do alto da minha sabedoria”. É que acho que, se até agora tiveram a vida razoavelmente facilitada, quando entram na faculda-de, as notas não são a dificuldade, a dificuldade é o mercado de trabalho. Penso que quando falo nas aulas, não quero desincentivar ninguém. Muito pelo contrário. Eu quero que os alu-nos optem na sua formação. Para que quando chegarem ao mercado de tra-balho poderem mostrar alguma coisa. O meu objectivo é esse.

Fernando Pessoa dizia para por quanto somos no mínimo que faze-mos. Sente que coloca quanto é nas suas acções diárias?Se eu fosse um político perguntava--lhe o “que acha?”. Mas como não sou (risos)…

Toda a gente sabe que o meu prin-cipal defeito e a minha principal qua-lidade é a frontalidade. Eu acho que isso, só isso, diz que eu ponho aquilo que sou no mínimo que faço. Não sei ser de outra maneira.

É Feliz em tudo o que faz?Ninguém é feliz em tudo o que faz. A felicidade é um conceito muito epi-sódico, mas ao contrário, eu não sou infeliz naquilo que faço. Gosto muito daquilo que faço profissionalmente, não me esgoto nisso. Mas profissional-mente já tive muitos dissabores. Uns dias temos mais coragem para lidar com isso, outros dias menos, como toda a gente. Agora, é claro, se eu tra-balhasse numa repartição de finanças, entrasse às 8h e saísse às 17h ia ser muito infeliz. Aqui é lidar com barro humano e de alguma forma molda-lo segundo uma determinada perspecti-va, que depois é aceite ou não é aceite. Não posso dizer que o ensino é uma missão. Isto é uma profissão. E para mim não é uma profissão sem valores nem sem metas…• Soraia Barros e Ana Leitão

NOME HELENA LIMAPROFISSÃO PROFESSORA UNIVERSITÁRIAO QUE MAIS GOSTA COISAS BOAS E SIMULTANEAMENTE CORRECTASO QUE ODEIA FALSIDADE

Page 11: Jup Outubro 2011

Filó

destaque p/02.03

Festivaisde VerãoA faculdade já começou mas os festivaleiros ainda não tiraram o Verão da cabeça. Mantém-se a recordação de grandes momentos que só quem lá esteve sabe do que se fala. Este ano, grandes artistas passaram pelos principais palcos do país. O JUP esteve por Paredes e pelo Super Bock para te contar como foi. }

nº04outubro 2011

caderno cultural integrante do Jornal Universitário do Porto

flash p/06.07

O povo saiu à rua!

Maria Filomena, angolana que mora em Portugal desde os 12 anos, conta a história da sua vida: porque considera a Igreja uma farsa, como foi lidar com o preconceito racial, fugir do marido autoritário e trilhar uma vida plena. Actualmente, cozinha comidas africanas por encomenda. }

ilust

raçã

o Ti

ago

Vaz

A 1 de Outubro a CGTP organizou uma manifestação nacional contra as medidas de austeridade e pela defesa do emprego, salários e pensões. Dos Leões ao Saldanha, homens e mulheres saíram à rua em protesto à actual política de que resulta o empobrecimento da população, o ataque aos direitos laborais e sociais, o aumento das injustiças e das desigualdades e a destruição do tecido produtivo. O JUP esteve presente. }

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{ parêntesis jup outubro 201102/destaque

A FACULDADE JÁ COMEÇOU, MAS OS FESTIVALEIROS AINDA NÃO TIRARAM O VERÃO DA CABEÇA. COM O CALOR, MANTÉM-SE A RECORDAÇÃO DE GRANDES MOMENTOS QUE SÓ QUEM LÁ ESTEVE SABE DO QUE SE FALA. ESTE ANO, GRANDES ARTISTAS PASSARAM PELOS PRINCIPAIS PALCOS DO PAÍS E O JUP ESTEVE PELA PAREDES E PELO SUPER BOCK PARA TE CONTAR COMO FOI.

O paraíso na Terra

A norte quem reinou foi o Pare-des de Coura. Com nomes como Pulp, Mogway, Kings of Conve-nience, Death From Above 1979, Marina & The Diamonds e até os portugueses Linda Martini, o

Ritek Paredes de Coura afirmou-se mais uma vez como um dos grandes.

A 17 de Agosto os festivaleiros chegaram cedo e em massa, mas muitos já tinham montado ten-da desde o fim-de-semana. Os mais precoces, e portanto com os melhores lugares, navegavam já em pequenos botes pelo rio ou dormitavam à sombra. Já os que chegavam, carregados por malas, mochilas e sacos, montavam tenda onde houvesse um buraquinho e voltavam a subir a colina, suados e exaustos para abastecer as arcas de mantimentos… e álcool.

por Liliana Pinhofotografia Liliana Pinho e Diogo Dias

Mas a tarde passou rápido e pouco depois de anoitecer começaram os primeiros acordes de Quarteto de Bolso, que estrearam o palco secun-dário de Paredes de Coura e abriram as hostes. Seguiu-se Omar Souleyman, o sírio que não fala inglês, canta numa língua imperceptível mas que cativa pela figura exótica e gritava “PORTUGAA-AL” a plenos pulmões.

Seguiram-se os Wild Beasts, com uma plateia simpática e empenhada, que apresentaram o recente Smother e deixaram a memória de um grande concerto, cheio de energia.

Mas Crystal Castles foram os reis da noite. A dupla, que já conquistou Portugal, levou energia ao festival nortenho e deu origem ao primeiro moche do Paredes de Coura, incentivado pela agressividade e pelos gritos de Alice Glass. Quer se goste ou não desta forma estranha de fazer electrónica, há que se admitir que Crystal Castles tem alguma coisa de especial.

Festivais de Norte a Sul: o verdejante Paredes de Coura e o escaldante Super Bock

Paredes de Coura mais vivo de ano para ano

Apesar do primeiro dia de recepção ao campista, foi a 18 de Agosto que o festival arrancou a sério. Crystal Stilts abriram o primeiro dia oficial, pre-cedidos pelos Twin Shadow e pelas Wairpaint, duas boas revelações que se vieram a confirmar entre os melhores concertos do festival. O mes-mo não se pode dizer de Blonde Redhead. Fal-tou-lhes alma e emoção para cativar o público quente e efusivo de Paredes de Coura.

Mas os Pulp eram o nome mais aguardado da noite e esses não desiludiram. Um concerto fa-buloso com um vocalista divertido, histérico e francamente feliz por estar no palco Ritek.

No segundo dia, o recinto de Paredes de Cou-ra deu as boas-vindas a The Joy Formidable, Bat-tles, a alternativa Marina & The Diamonds (um dos nomes mais aguardados do festival), os indie Deerhunter e os cabeças de cartaz Kings of Con-venience, uma aposta perigosa mas 100% ganha.

A dupla norueguesa poderia até ter posto a dormir meio recinto, com as canções acústicas, a timidez e a discrição com que se apresentam em palco, mas este é o Paredes de Coura e os fes-tivaleiros sabem valorizar mais do que espectá-culos de luzes e cargas decibélicas. Foi o “mais próximo do paraíso”, como descreveu Oye, que aproveitou para dar uns mergulhos no Tabuão durante os 4 dias de festival.

Ó Slash no SBSR

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2011 outubro jup parêntesis } destaque/03

Bandas portuguesas também reinam nos grandes palcos

Mas se as bandas internacionais não desiludi-ram, o produto nacional não ficou aquém.

No último dia de festival os Linda Martini es-trearam o palco principal com um espectáculo irrepreensível ao qual o público se entregou sem reservas. Foi um show de guitarras e energia que não poderia ter corrido de melhor maneira. Com a ausência de Foster the People, seguiu-se a es-panhola Maíka Makovski que conseguiu cativar a inicialmente indiferente plateia. Seguiram-se Two Door Cinema Club com um indie rock refrescante que preparou os fãs, deliciados, para a onda mais introspectiva mas igualmente intensa de Mogway. Foi um concerto poderoso, quase orquestral, com temas perfeitamente arquitectados.

Mas foram os Death From Above 1979 os que mais fizeram esperar os fãs. Pela segunda vez em Paredes de Coura, após seis anos, proporcionaram um espectáculo grandioso à moda escocesa, com moshe, crowd surfing e toda uma onda de loucura.

No Paredes só custa subir as colinas, familia-res de quem já lá vai há vários anos e lidar com as temperaturas altas quando é altura de mexer o rabo. O resto do dia faz-se das margens do Ta-buão a segunda casa, e pensa-se que não se po-dia pedir mais nada, com Jazz de fundo e os pés na água.

Nem o pó fez arredar pé do Super Bock Super Rock

Mas a loucura também reinou no Super Bock Su-per Rock, que levou a música ao Meco. Nem o calor, a poeira e as filas tiraram o ânimo aos fes-tivaleiros.

Foram os portugueses Sean Riley & The Slowri-ders que estrearam o palco principal do festival, com um espectáculo morno mas competente. No entanto foi The Walkman, de fato e gravata, que levantou a primeira onda de pó. Mas os The

Kooks foram os primeiros a surpreender com um show enérgico e cantado em uníssono pela pla-teia. Os britânicos parecem ter conquistado os portugueses.

Beirut deram um concerto enérgico e convien-cente, perdido entre o folk e o alternativo, mas deixaram impacientes os amantes do indie rock que esperavam pelos reis da noite, os britânicos Arctic Monkeys. A jovem banda esqueceu a inse-gurança dos primeiros anos e deu um autêntico espectáculo de rock, cheio de vigor.

15 de Julho foi o dia mais nacional. The Gift abriram as hostes com um espectáculo de som e cor, Rodrigo Leão & The Cinema Ensemble aqueceram as gargantas e descontraíram ao som do músico português, que provou que nem só de potência se fazem os festivais.

Já Portishead e Arcade Fire partilharam o pro-tagonismo. Portishead deram um show negro e possante que envolveu todos numa áurea místi-ca e incrível. Arcade Fire acabaram a noite com uma multiplicidade de sons gigantesca e um à--vontade que levou ao rubro todos os presentes.

Festival faz juz ao nome, com o rock a reinar no palco principal

O último dia foi de puro rock. Os portugueses X--Wife deram música a uma plateia a meio-gás mas dignificaram, mais uma vez, a música que se faz em Portugal. Brandon Flowers fez as delícias do público feminino e deu voz a vários singles dos The Killers que o público esperava ouvir. Já Elbow aqueceu para Slash com um espectáculo de puro rock britânico.

Seguiu-se Slash com o mítico show de solos a que já habituou o público português. O carismá-tico guitarrista pôs os festivaleiros a saltar frene-ticamente e a entoar a plenos pulmões grandes clássicos de Guns n’ Roses. The Strokes encerraram o festival como nin-

guém. A banda nova-iorquina deu um concer-to absolutamente explosivo e derreteram-se de amor pelo público português, que correspondeu em dose dobrada. Mas foi sol de pouca dura. Com pouco mais de uma hora, a banda abandonou o palco sem encore ou despedida. Ouviram-se os queixumes e houve expressões de descontenta-mento, mas ficou na memória um dos melhores concertos de sempre.

O Super Bock Super Rock ficou marcado por grandes actuações mas também pelas falhas logís-ticas que afectaram muitos dos festivaleiros. Para além das filas intermináveis e da pouca luz e se-gurança no recinto, o pior foi mesmo a poeira que invadiu tendas, secou gargantas, entupiu narizes e deixou muitos jovens mais aflitos. No entanto, está assegurado, o SBSR continua por cá durante os próximos dez anos, assegurou a organização.}

Ó Artic Monkeys no SBSRØ Publico do Paredes de Coura

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MARIA FILOMENA, ANGOLANA QUE MORA EM PORTUGAL DESDE OS 12 ANOS, CONTA A HISTÓRIA DA SUA VIDA: POR QUE CONSIDERA A IGREJA UMA FARSA, COMO FOI LIDAR COM O PRECONCEITO RACIAL, FUGIR DO MARIDO AUTORITÁRIO E TRILHAR

UMA VIDA PLENA. ATUALMENTE, COZINHA COMIDAS AFRICANAS SOB ENCOMENDA. AOS INTERESSADOS, HÁ O NÚMERO PARA CONTATO AO FIM DA ENTREVISTA.

texto Juliana Diógenesfotografia Melina Aguiar

“Eu era aquele estilo de se tu me chamasses de preta,

eu sorria para ti”

Page 15: Jup Outubro 2011

2011 outubro jup parêntesis } entrevista/04.05

Se fosse para definir a angolana Maria Filomena em uma pa-lavra, seria “libertária”. Em 50 anos de vida, foi expulsa da catequese ainda criança por questionar o professor, escapou do país em guerra pela independência, da família portugue-sa a quem serviu durante seis anos, da dislexia que lhe impe-diu de ser educada, do marido que a escravizava explorando seus serviços até, por fim, encontrar um abrigo.

Foi na cozinha, e no seio dos amigos a quem cozinha até hoje, onde Filó encontrou conforto para o espírito. Com olhos vivos de quem guarda a força de ser mãe de quatro e avó de dois, acumula experiência culinária em café, clube (do time de futebol Sporting), churrasqueira, construção civil e, atualmente, na própria casa.

Filó abriu as portas no dia 24 de abril de 2009 para uma família diferente, a dos amigos; mas abriu as portas, sobre-tudo, para arejar um espírito sedento por ser protagonista da própria história. "Eu soube aproveitar a cultura boa dos portugueses, mas plenamente consciente dos princípios que me ensinaram, que são aqueles que passo para os meus filhos", conta ela, angolana de origem mamuila que ganha voz nas próximas linhas.

(P) De onde você é, Filó?(R)Da Angola. Uns dizem que sou de Cabo Verde por causa da ca-chupa (prato tipico cabo-verdiano, feito basicamente com milho pilado, feijão, carnes ou peixe. Filó cozinha a cachupa para amigos).

(P) Segue alguma religião?(R)Tenho a religião católica, porque foi essa que ensinaram, mas sei que é um sacanice. Pronto, o Xavier (filho de 5 anos) nasceu e fui batizar. Tenho plenamente consciência de que isso é tudo uma ficção, mas pronto, fica bem. Fica bonito para a sociedade, e a so-ciedade quem é? É a minha família. Mas é o que estou a dizer, é um sacanice. Eu em pequenina fui pra catequese. O catequista, numa das palestras dele, deve ter dito que o Cristo tinha nascido. Depois, em outra palestra, deve ter dito que ele morreu. Então perguntei: “Ele morreu e depois ressuscitou?” E fui expulsa da catequese. Nunca completei. Sempre digo que os conventos foram feitos para as meninas que praticavam adultério e para as meninas lésbicas. E os colégios para padres foram feitos para meninos que se declara-vam gays ou para aqueles que não aceitavam a educação que lhe davam. São os malfeitores. E se tu vires o que se está a descobrir... É que a igreja foi uma grande farsa.

(P) Foi expulsa da catequese com que idade?(R) Era bem pequenina, devia ter 5 ou 6. Fui sempre muito para frente. Andei nas carmelitas, mas nunca estudei. A minha mãe viu que não conseguia nada comigo e me meteu a trabalhar.

(P) Mas sabe ler?(R) Assino meu nome, sei as iniciais, mas não passo disso. Nun-ca quis saber. Aqui tentei estudar, depois fui fazer um exame que dizia que eu tinha um princípio de... como é que se diz? Dislexia. É, “estou muito bem, mas não me interessa nada”. Fui fazer exa-me porque estava estudando para tirar o curso de culinária, queria muito fazer, mas não consegui. Achavam muito estranho por que eu sabia de tudo e por que que não conseguia estudar. Fiz aquele curso porque tinha meus filhos para criar e porque queria traba-lhar, mas não quis saber disso para nada. A vida é que me ensinou a viver.

(P) Como veio parar aqui em Portugal?(R) Vim para cá com 12 anos. A minha mãe veio de Sá da Ban-deira, na Angola, fugida da guerra com seis filhos e aqui ficamos. Nós chegamos aqui no ano de 70 e qualquer coisa. Era a guerra da independência da Angola e nós viemos na época do massacre, daquelas revoltas todas. Então nós fugimos de Sá da Bandeira e viemos de caravana. Quem nos salvou da guerra foram os militares da África do Sul. Eles foram quem tirou o povo de lá. Quem estava lá na época era a UNITA, MPLA E FNLA eram os três partidos (No início dos anos 1960, esses três movimentos de libertação desen-cadearam uma luta armada contra a colonização portuguesa). Os militares portuguese saíram da Angola e deixaram o poder com os MPLA, que era o partido comunista. O MPLA então toma o poder da Angola e passa a governar o país. Depois fazem tipo “o povo vai votar e eleger o seu partido”, mas isso nunca aconteceu. A UNI-TA esmaga a FNLA. Depois a MPLA toma o poder todo e esmaga a UNITA. Então empurra. E fica aquela guerra estúpida de ataque entre os partidos. África do Sul estava ligada a UNITA. Então o que é que fazem? Tipo uma limpeza ao país, tiram os portugueses lá pra fora. Foi o que aconteceu com a minha mãe, que naquela al-tura estava a viver com um português, que é pai dos meus irmãos. Então viemos todos.

(P) E como chegou no Porto?(R) Meu padrasto era de Sangalhos, freguesia que pertence a Ana-dia. A minha irmã foi servir numa casa de gente que morava no Porto e vim com ela. Mas antes disso, comecei a servir com 13 anos e saí de lá, da casa em que trabalhava em Sangalhos, com 20. Paga-vam-me 500 escudos, que são 2 euros e 50. Por mês. Naquela al-tura, era dinheiro. Nós ficávamos lá porque a minha mãe obrigava, queria que nós fôssemos raparigas direitas. E na casa dessas pesso-as nós éramos raparigas direitas, estávamos a trabalhar, estávamos bem, bem comportadas. A família foi que me acolheu ali: estava a trabalhar, mas estava bem. Estavam tipo a cuidar de mim. Mas era uma criada. Para a senhora era um alívio, porque ela tinha seis filhos e colocou uma pessoa para cuidar de cada um. Ainda tenta-ram me por a estudar, mas eu... (Risos) não queria. Fazia limpeza, cozinhava, ia trabalhar no campo. Mas fui crescendo e fui vendo que aquilo que me estavam a pagar não era dinheiro. A minha irmã veio para o Porto e pagavam mais dinheiro a ela. Para mim, era muito difícil porque já eram uma família... Mas fui crescendo e evoluindo e vendo que aquilo eu não queria e aí saí mesmo. E vim para o Porto. Saí bem, mas nunca quis saber deles para nada. Até me mandavam cartas, mas eu não queria saber deles.

(P) Como foi a vivência no início?(R) Vim trabalhar para o Porto, não é, fiz a minha vida. Conheci o pai das minhas filhas, Ernesto, cabo verdiano. No fundo até foi bom, porque ia ter a minha casa, o meu marido. E só tive relações aos 23 anos com ele. (Risos). Então conhecer aquela carne foi maravilhoso. (Risos) Hoje as minhas filhas cresceram e me perguntam: “Como é que tu gostaste do meu pai?”. Porque ele não tem nada a ver comi-go. Nada. E fiquei 15 anos com ele. Fui obrigada pela minha mãe a ficar com aquele homem. Porque nasceu a mais velha, depois nas-ceram as outras duas, e a minha mãe disse: “Elas têm que ter pai”. Quando estava grávida da mais nova, perdi o controle total. Fui à médica e disse que não queria ter a bebé. Não queria, já não era feliz. E a médica diz: “Vai ter que ter o bebé, nem que seja para dar para adoção”. E eu disse que não. Então nasceu a bebé, mas debaixo de muita revolta e pancadaria e de problemas e de mau estar. Foi uma coisa horrível.

(P) E depois?(R) Fui para um lar, onde ficam as mulheres solteiras. Levei a mais velha e ficaram as duas mais novas, que era para ver se ele saía de casa. Eu era tratada como escrava. As assistentes sociais não me ajudaram em nada, nada, nada, nada. Detesto assistentes sociais. Elas diziam: “Você fica num quarto, ele fica em outro”. E eu dizia: “Para quê vou morar com uma pessoa para ficar em outro quarto?” E elas: “Mas tente ver as coisas...”. (Pausa, suspiro) Passei muito mal com assistentes sociais. Quando as minhas filhas têm proble-mas, eu digo: “Não procurem assistentes sociais, lutem pela vida porque elas não valem nada, elas são uma criminosas”. Um dia saí do lar e fui para a casa da minha mãe. Ele foi me buscar e minha mãe disse: “Ah, você tem que ir”. E fui para casa. Naquela noite, ele quis ter relações comigo.

O grande projecto é então sem dúvida o humor, agora de que forma é que eu ainda não sei bem!.

(P) Chegou a sofrer racismo em Portugal?(R) Sim. Sim. Era daquele estilo de tu te sentavas no autocarro e a pessoa abria as pernas para tu não sentar ao lado. Nós quando chegamos cá, fomos para Santiago do Cacém, para a lagoa da Costa do Santo André. Nós íamos para a praia, com outras pessoas pre-tas, e se tivesse assim muita gente com seus filhos, mandavam sair os filhos todos e a praia ficava nossa. Entrávamos a uma loja e as pessoas ficavam todas afastadas. Nós nos servíamos e toda gente a tomar conta de nós. Em Sangalhos, nós saíamos para ir buscar água e as pessoas diziam que não saíssemos porque aquilo não era África, porque a água vai acabar. Mas nós tínhamos uma mãe forte. A minha mãe era uma mulher muito forte. E a minha mãe sempre conviveu com brancos, portanto, tínhamos uma senhora que sempre nos dizia como eram as coisas. Portanto, nunca nos doeu nada. Eu era aquele estilo de se tu me chamasses de preta, eu sorria para ti.

(P)Hoje ainda sofre preconceito?(R) Sim. Mas como ignorância, pessoas que não sabem viver numa civilização. Aliás, o racismo tem de diferentes estilos dentro das próprias raças. Aprendi que o racismo somos nós próprios que construímos quando queremos poder.}

Quem quiser encomendar os serviços de Maria Filomena, a dona da melhor cachupa da cidade do Porto, ligar para 918 197 817.

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A 1 de Outubro a CGTP organizou uma manifestação nacional contra as medidas de austeridade e pela defesa do emprego, salários e pensões. Dos Leões ao Saldanha, homens e mulheres saíram à rua em protesto à actual política de que resulta o empobrecimento da população, o ataque aos direitos laborais e sociais, o aumento das injustiças e das desigualdades e a destruição do tecido produtivo.

As acções do protesto visaram, sobretudo, repudiar "o empobrecimento e as injustiças" bem como "o programa de agressão" que consideram ser o memorando estabelecido entre Portugal e a 'troika' internacional.

A manifestação saiu à rua a 1 de Outubro nas duas maiores cidades do país - Lisboa e Porto - e foi o primeiro protesto da central sindical desde a entrada do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Portugal.

De acordo com a CGTP, o protesto representou “uma vibrante resposta dos trabalhadores, das trabalhadoras e do povo à política desastrosa que estamos a viver” e exprimiu “ o compromisso com a defesa dos valores e direitos conquistados com a Revolução de Abril, bem como uma enorme vontade e determinação em prosseguir e intensificar a luta por uma alternativa política para um Portugal Desenvolvido, Solidário e Soberano”. }texto Dalila Teixeirafotografia Pedro Ferreira

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2011 outubro jup parêntesis } flash/06.07

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{ parêntesis jup outubro 201108/breves

A ntes da tomada de posse do Governo, Pedro Passos Coelho admitia a extinção do Ministério da Cultura. Dezasseis anos

depois da sua criação, o Ministério foi transfor-mado numa secretaria de Estado directamente dependente do primeiro-ministro. Qual será o impacto desta medida? Luís Humberto Marcos, director do Museu Nacional da Imprensa, jorna-lista e professor universitário, responde a esta e outras questões.

«O parente pobre das políticas governamentais»Luís Humberto não concorda com esta medida, e diz mesmo que teria sido preferível uma articu-lação entre os sectores da Cultura e do Turismo. “Estes dois campos deveriam fazer parte de uma estratégia política convergente, no sentido de potenciar economicamente um largo conjunto de singularidades que Portugal possui”, justifica. Para o director do Museu Nacional da Imprensa, esta decisão do Governo desvaloriza a Cultura, que perde assim o seu estatuto, meios e poder na estrutura governamental. No entanto, o pro-fessor acredita que “cabe ao secretário de estado provar o contrário, com políticas e acções con-cretas. Seria uma excelente notícia obterem-se, em breve, dados concretos que negassem aquilo que seria, afinal, uma aparente evidência. (…) A Cultura não deve ser sempre o parente pobre das políticas governamentais”, sublinha.

País de «contrastes e contradições»O director considera que, no que toca a cultura, Portugal é um país de “contrastes e contradi-ções”. “Em termos gerais, o país está polvilhado de infra-estruturas culturais, mas não há uma política que promova e incentive a itinerância de produções”, afirma.

O professor critica ainda a centralização cultu-ral em Lisboa e no Porto, revelando que existem menos apoios para a criação de cultura noutros locais. “No caso do Museu Nacional da Impren-sa, que aposta numa política de descentralização cultural, encontramos muitas dificuldades de acolhimento às nossas propostas. Faltam meios e condições humanas para vitalizar muitos dos espaços criados nas duas últimas décadas”, refe-re Luís Humberto.

Acredita ainda que o sector cultural enfrenta o problema da falta de orientação para os con-teúdos criativos e para os públicos. “Em muitas situações não é de dinheiro que se precisa para dar a volta às coisas”, garante.

«As crises dão gás à criatividade»Para Luís Humberto Marcos, “as crises têm sem-pre um lado positivo: obrigam a interromper rotinas e a criar alternativas. Ou seja, dão gás à criatividade”. No entanto, não acredita que a Cultura seja a solução para a situação económica que o país atravessa. Para Luís, a crise não é ape-nas económica mas também social. “Escrever-se «A cultura salvou a crise» poderia ser uma grande manchete, mas poderia não ser uma grande no-tícia. Porque esta crise de matriz financeira não precisa de ser salva. O que é preciso é salvar a humanidade dela. Por isso, se fosse «Cultura sal-va humanidade da crise», seria bem diferente. Teríamos a melhor notícia-manchete da histó-ria do jornalismo. Quando a puderem dar, esta-rei dentro dela. Porque o Museu sempre viveu com crises, não conhecemos outra realidade”. } Sandra Mesquita

Arte Autocolante

MoveOporto: o mundo nas tuas

mãos

“José e Pilar” nos Óscares

A sticker art é uma das vertentes da street art, que utiliza autocolantes como forma de expressão artística. João Castro aka

Tae é um artista portuense e um amante da sti-cker art.

Tae acredita que “se alcançaram novas eta-pas no Porto, tanto a nível da aceitação como da imergência de trabalhos de novos artistas em in-tervenções independentes”, sendo que “se pode falar de um núcleo artístico cujas motivações ultrapassam largamente o expoente máximo do graffiti, rooftops e wholetrains, com trabalhos que realmente o comprovam”. Talvez esta arte seja de facto associada à proliferação de mensa-gens de carácter social, mas Tae acredita na street art que apela ao individualismo do artista.

O trabalho profissional de Tae, ligado ao de-sign de comunicação e à própria street art, pode ser visitado em cargocollective.com/styleselecta. Aconselham-se ainda stick2target.com e woos-tercollective.com.} Ana Manuel

E ste projecto surgiu da necessidade de co-nhecer intimamente a cidade. Ao invés das normais atracções divulgadas já em

todos os guias de turismo, a MoveOporto dá a conhecer o lado acolhedor, o típico, o “café bo-nitinho”, o “melhor bolo de chocolate”, “a loja daquelas roupas”.

Junta-se assim uma equipa, auto-apelidada de “insiders”, que se infiltra num Porto não tão conhecido mas mais “ caseiro”, o tão agora fala-do “alternativo”, e forma uma aplicação.

Sérgio Oliveira, o programador, e três amigas - Marlene Vinha (professora de artes visuais), Dia-na Vinha (consultora de imagem) e Rita Roque (crítica de arte) - são quem escolhe criteriosa-mente os lugares, através de uma ficha de infor-mações que deve ser preenchida para que o local fique totalmente referenciado.

A app está então dividida em 3 partes: Noite, Alojamento e Café &Co., sendo possível encon-trar as notificações dos novos spots através do sistema Buzz ou saber a que distância se encon-tra de determinado local.

Podendo ser usada também em inglês, a apli-cação para Iphone e Ipod Touch, actual top do gadget, tem ainda versões previstas para o Ipad e o Android.} Diana Martins

O filme “José e Pilar” do realizador Miguel Gonçalves Mendes é o candidato portu-guês aos Óscares na categoria de Melhor

Filme Estrangeiro.O documentário, co-produzido por Pedro Al-

modóvar e Fernando Meireles, revela uma faceta nova de alguém tão mediático como Saramago.

“Eu tenho ideia para romances, ela tem ideias para a vida e eu não sei o que é mais importan-te”, diz o escritor acerca da sua relação com Pilar. Esta é a base do filme.

No entanto, o fio condutor é “A Viagem do Ele-fante”: através da escrita, finalização e divulga-ção do livro acompanha-mos Saramago por mo-mentos de doença, digressões por vários países numa corrida contra o tempo e até no regresso à sua aldeia.

O filme já estreou em Espanha, Itália e Brasil mas nos EUA a data prevista é para Abril. Isto pode constituir um problema, uma vez que os nomea-dos devem estrear até 31 de Dezembro, antes da cerimónia de atribuição dos Óscares em Fevereiro.

Em Portugal decorreu uma petição para que o documentário fosse o candidato e agora, o Instituto do Cinema e Audiovisual comunica que “a esco-lha deste filme foi feita por uma comissão, com-posta por representantes de associações do sector, previamente submetida à aprovação da Academia Americana das Artes e Ciências cinematográficas”.

Resta esperar que no dia 24 de Janeiro, pela primeira vez, um filme português seja nomeado para os Óscares. } Ivone Barreira

TAE É UM ARTISTA DE STICKER ART DO PORTO, UM CONCEITO DESCONHECIDO POR MUITOS. A ARTE DE COLAR AUTOCOLANTES

PRIMA PELA INTERVENÇÃO SOCIAL.

MOVEOPORTO FAZ QUASE COMO UMA REABILITAÇÃO DO PORTO, DE MANEIRA

MODERNA. A APLICAÇÃO PARA IPHONE E IPOD SURGIU HÁ CERCA DE UM MÊS E AO FIM DA PRIMEIRA SEMANA, JÁ CONTAVA COM CERCA

DE 3 MIL DOWNLOADS.

PARA A CULTURA HÁ SEMPRE ESPAÇO, E ENTÃO SE SE TRATAR DE MÚSICA O PORTO TEM MAIS OFERTA DO QUE POSSAS IMAGINAR. O JUP DEIXA-TE

ALGUMAS SUGESTÕES.

A Cultura no Porto sem o Ministério

Q uem gosta de head-banging é favor dirigir--se ao Hard Club. Os Holocausto Canibal são cabeça de cartaz do Metal XXL Fest,

onde as honras são do metal made in Porto. No mesmo sítio, à mesma hora, e com sonoridade interventiva temos Nneka. A nigeriana não é no-vata nos palcos portugueses, tendo até já passado pela Queima das Fitas. Traz consigo o mais recen-te álbum "Soul is Heavy", lançado em Setembro. Mais a norte os Dead Combo & Royal Orquestra das Caveiras levam ao Theatro Circo de Braga o sabor a fado misturado com western spaghetti misturado com jazz. A Guimarães chega Bonnie "Prince" Billy, que é tão bom que até Johnny Cash gravou uma versão dele. Não menos populares por terras lusas são os Guano Apes, que prome-tem levar muitos saudosistas ao Coliseu, a contar com o carinho que têm recebido por cá. Na onda do saudosismo está The Original Glenn Miller Or-chestra que vai levar o Coliseu à época de ouro do swing. Quem preferir Música Popular Brasileira pode encontrar uma dupla, também ela, de ouro: Caetano Veloso & Maria Gadú. O primeiro dis-pensa apresentações, a segunda é nova cara da MPB. Com apenas um álbum de originais lança-do em 2009 conquistou o Brasil. E não esquecer os GNR, com álbum novo e discografia reeditada para (re)descobrir no Coliseu. } Vera Quintas

Música que o Outono traz

Page 19: Jup Outubro 2011

2011 outubro jup parêntesis } roteiro/09

Salão Veneza

Barbearia Garrett

Barbearia Invicta

-> Rua Elísio de Melo 37

Desde 1953 que o Salão Veneza está aberto na Rua de Ceuta. Localizada no centro da cidade, sem-pre foi um local bastante frequentado. Pedro de Almeida é um dos sócios que ainda se mantêm empregado.

Não foi há muito que o Salão Veneza contava ainda com José Rodrigues, um dos fundadores do Salão, ao qual se dedicou durante grande parte da sua vida. José faleceu há pouco tempo mas a sua memória prevalece no Salão, perpetuada por um recorte de um jornal de um país de Leste que o re-fere, pendurado numa das paredes. No entanto os clientes habituais não deixam de vir cortar o cabe-lo, “este, já lhe corto o cabelo desde os 2 anos de idade”, dizia o Senhor Pedro de Almeida enquanto cortava o cabelo a um rapaz na casa dos 20.

O Salão orgulha-se em manter os hábitos an-tigos assim como os instrumentos e as cadeiras continuando a ser um local de paragem obrigatória para muitos turistas. Até o Padre Américo e a Praça da Alegria visitaram o Veneza.

O Salão Veneza continuará a ser um local de referência no que diz respeito às barbearias mais emblemáticas do Porto.}

-> Rua de Ramalho Ortigão 18

Aberta desde 1957, a Barbearia Garrett é uma das mais antigas e históricas barbearias da cidade do Porto. Actualmente, o único trabalhador é o Senhor Acácio Branco, empregado na Garrett desde 58.

Acácio recorda os tempos em que “dia sim, dia não”, os clientes entravam para fazer a barba. Hoje, embora a clientela seja cada vez mais escas-sa, os clientes habituais, frequentadores da barbe-aria desde crianças, continuam fiéis.

Na Barbearia Garrett continua-se a fazer o corte “clássico” de antigamente e já não se faz a barba. Cadeiras antigas, espelhos a cobrir paredes intei-ras e os instrumentos antigos ainda usados, assim como a relação de confiança com o cliente, são o que caracterizam esta barbearia. Pouco mudou desde que abriu em 57.

O Senhor Acácio não esconde o orgulho quan-do fala sobre quem passou pela sua barbearia e de quantos a admiram. Desde advogados e políticos até turistas mais interessados, foram muitos os que passaram pela Garrett e se apaixonaram pelo espaço e pela sua tipicidade, preservada até hoje.}

-> Praça de Carlos Alberto, 123

A Barbearia Invicta orgulha-se de ser uma das mais antigas e prestigiadas barbearias da cidade do Porto. Aberta desde 1 de Abril de 1968, conta ainda dois dos sócios fundadores originais.

A história da Invicta confunde-se com a de José Aventino Silva, um dos fundadores ainda presente. Foi devido ao seu esforço que a Bar-bearia Invicta sobreviveu todas as décadas sem nunca perder o seu carácter original e ao mesmo tempo sem se desactualizar.

Situada perto do ponto de encontro de muitos estudantes, a Barbearia inicialmente acolhia bas-tantes jovens. Mais tarde, transformou-se num local preferido por várias personalidades tais como Rui Rio, Marques dos Santos, reitor da Uni-versidade do Porto, e Narciso Miranda.

Porque os tempos mudam e as modas tam-bém, o Senhor Silva sublinha a capacidade da Invicta se modernizar. Dá como exemplo de que tanto fez recentemente a um jovem um corte tipo “crista”, como também faz habitualmente o corte clássico de antigamente, mas com “novos melhoramentos”.}

Hábitos antigos não se perdem e há clientes que continuam a ser fiéis a Barbearias do Porto que estão abertas há meio século. Preservam o estilo antigo mas não deixam de acompanhar as tendências e responder a cortes modernos. As barbearias mais antigas do Porto são uma boa opção para quem procura uma boa conversa e um bom corte de cabelo.

texto João Cruz

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{ parêntesis jup outubro 201110/gadgets

Aquecedor de caneca USB

Mini-geleira retro

É uma regra da termodinâmica muito conhecida que qualquer caneca de chá, café ou outra bebi-da quente quando em repouso em frente a um computador arrefece exponencialmente mais de-pressa do que em qualquer outro lugar, particular-mente quando se está a navegar na Internet. Para combater tal disparidade, a iWoot lançou agora um aquecedor de caneca alimentado por USB. Apesar de estarmos a caminhar a passos largos para o Verão, nunca é demais prevenir o arrefeci-mento das fontes de cafeína, tão importantes para o universitário. E lembrem-se que ao levantarem--se menos vezes para irem à cozinha aquecer no microondas estão a ser mais produtivos!

É uma simples placa térmica, que se liga ao computador pela porta USB, sem serem necessá-rios drivers, com um botão de on e off. Pousando a caneca com a bebida já quente em cima e ligando o dispositivo, consegue-se assim manter a tem-peratura da bebida a uns agradáveis 40ºC durante algum tempo (sensivelmente uma hora). No en-tanto, não estando a placa efectivamente a esta temperatura não é o método mais viável de aque-cer o que quer que seja (ainda não inventaram máquinas de café USB, para nosso grande pesar).

Para quem quer desfrutar do seu chocolate quente na cama,no sofá ou em viagem, tambem é incluído um cabo de alimentação para ligar à tomada.

Dado o formato do local onde se pousa a ca-neca, é provável que as de formato mais excên-trico não caibam. Realça-se também que não se deve usar com copos de plástico. E é possível que gatos domésticos queiram dormir em cima dele.

www.euqueroumdestes.com

03

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01O calor está a chegar e os exames também. Pre-vêm-se longas horas em frente ao ecrã do compu-tador a mastigar a matéria, e um refrigerante (de preferência cafeínado) é sempre bem vindo. O problema é que depois se fica tão imerso nos es-tudos e a lata de refrigerante fresquinha ... aquece.

A Mini-Geleira Retro da euqueroumdestes.com vem solucionar este problema. Com o as-pecto de um bonito frigorífico americano típico dos anos 50 mas com a capacidade para apenas uma lata comum de 330mL, liga-se a uma porta USB e em cinco rápidos minutos arrefece a bebi-da até aos 8,5ºC, temperatura a que os fabrican-tes consideram ideal para este tipo de bebidas. E um pormenor importante: tal como num frigorí-fico normal, uma luz (neste caso LED) acende-se quando se abre a porta!

Algumas das limitações deste gadget são que apenas arrefece o fundo da lata – e tendo em conta que são bebidas com gás, não convem agi-tar para homogeneizar a temperatura - e como as bases deste tipo de latas não costumam ser pla-nas, a superfície de contacto não é muito grande com o fundo do frigorífico, levando a que talvez não seja exactamente 5 minutos que demore a arrefecer a lata, conforme o fabricante afirma.

Para concluir: é giro, é vermelho, é retro. Fica bem em qualquer secretária e aumenta em mui-to o potencial geek do utilizador. Mas para quem de facto quer o Red Bull sempre gelado e à mão para noitadas de estudo, fica muito melhor servi-do com um mini-frigorífico ligado à rede eléctri-ca disponível em qualquer loja de electrodomés-ticos. Pena não ser tão chic.

www.euqueroumdestes.com

Este gadget é para todos os fãs de James Bond (e também para a redacção do JUP). É uma caneta que grava vídeo, áudio, fotografa, armazena fi-cheiros... e escreve!

Por fora é uma caneta simples mas elegan-te, mas esconde em si tudo o que um detective poderia querer. Grava vídeo em formato AVI na qualidade de uma webcam de computador por-tátil, fotografa em 640 por 480 pixéis (formato VGA), tem um microfone que capta sons até 15 metros de distância com elevada fidelidade.

Apesar de ser do tamanho de uma esferográ-fica normal, consegue gravar até uma hora de vídeo. Para descarregar os vídeos, fotografias ou ficheiros áudio para o computador, a caneta pro-priamente dita transforma-se numa caneta USB, pronta a ligar. Para carregar, o processo é o mes-mo, e a bateria de iões de Lítio tem uma autono-mia de duas horas.

Consegue-se ver logo à partida inúmeras utili-zações para este gadget, desde inocentes partidas e gravações áudio de aulas, conferências e reu-niões; usá-la como pen USB e para os mais des-confiados até descobrir a empregada doméstica ou criada de hotel em flagrante delito.

È certo que as especificações multimédia desta caneta não são nada de especial, tendo em conta que muitos telemóveis hoje em dia fazem mais e melhor, mas onde reside o valor neste objecto não é nas suas funcionalidades, mas sim na sua simplicidade – ninguem espera que uma caneta comum o possa tramar.

O fabricante recomenda que não se grave nada que “não seja legal e permitido pela lei.”

www.euqueroumdestes.com

Quem era um ávido frequentador de salões de jo-gos lembra-se certamente do jogo em que muni-dos de uma espécie de marreta se tinha que bater em “toupeiras”que rapidamente saíam das suas tocas. Tanto stress libertado!

Pois bem, agora pode-se libertar o stress a toda a hora, sem gastar moedinhas, com o Whack-it. Viciante, é um pequeno dispositivo USB que em vez de toupeiras tem coloridos bicharocos com adoráveis carinhas risonhas, confusas ou zanga-das, para se furiosamente carregar neles quando se iluminam (é pena, mas aqui não há uma mar-reta). Tem aproxidamente as dimensões de 10 por 10 cm e se não se tiver um computador por perto, pode-se sempre usá-lo com três pilhas LR44, que já vêm incluídas.

Como somos todos pessoas muitíssimo ocu-padas, os jogos duram ou 30 segundos ou um minuto, conforme a escolha e à medida que o tempo avança, o jogo vai ficando cada vez mais rápido. Há também um pequeno ecrã LCD que indica quantos pontos se ganhou e o recorde (para se competir com os amigos, claro) e isto tudo é acompanhado por uma cacofonia de es-tridentes sons de jogos de arcada. Vem numa embalagem cúbica de plástico transparente, que faz lembrar os tampos dos jogos de pinball.

Que mais se pode dizer àcerca do Whack-it? É simplesmente um excelente gastador de tempo útil e os seus sons retro monofónicos farão as de-lícias a todos no emprego, na universidade e em casa. É óptimo como prenda para quem já tem tudo e para aliviar a frustração de fim de semes-tre. Ah, e segundo o fabricante, não é aconselha-do a pessoas com epilepsia.

www.find-me-a-gift.co.uk

Paul

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aced

o

Caneta espiãoWhack-it

Page 21: Jup Outubro 2011

2011 outubro jup parêntesis } crítica/11

Assim Falava Zaratustra

cin

ema

sica

livro

sLet The Right One In

Wasting Light

Longe do Abrigo

Micmacs

Angles

Depois de quarto anos de pausa, os Foo Fighters voltam ao activo com Wasting Light. Uma espera que compen-sou a demora.

Além de manter o espírito rock e arrebatador a que a banda já nos habituou, a sonoridade parece estar mais intensa e agressiva que nunca. O trabalho e a cumpli-cidade estão bem presentes entre os riffs de guitarra e a batida da bateria de Taylor Hawkins.

Wasting Light é um voltar às raízes, com novas e cla-ras influências do stoner rock de, por exemplo, Queens of The stone Age em “White Limo” ou “Bridge Burning”. A gritaria desenfreada é alternada com ritmos mais se-renos, como “I should have known”, sem assassinar a energia contagiante que se sente do início ao fim.

Este novo trabalho traz certamente novas pérolas para o show ao vivo e justifica o porquê de Foo Fighters ainda serem um marco no rock da actualidade. Arris-co mesmo dizer que o sétimo álbum da banda de Se-attle é, provavelmente, um dos melhores lançamentos deste ano - saído directamente da garagem de Grohl. } Liliana Pinho

Um clássico do britânico David Lodge que se torna numa deliciosa leitura de Verão. As descobertas próprias da juventude transformam o Verão de Timothy, um jovem inglês que vai até à Alemanha visitar a irmã, no depois da II Guerra Mundial. Apesar de o protagonista ser ado-lescente, este livro adequa-se a todas as idades e fases de mudança. Uma escrita composta e cativante num livro que muitos dizem ser a autobiografia do próprio David Lodge. Timothy visita a irmã numa base americana, onde fica maravilhado com os costumes dos amigos “ianques”. Mas o abatimento alemão, da desgraça da grande guerra também não o deixa indiferente, à medida que recorda-mos as suas próprias memórias de guerra em Londres. O que lemos e visualizamos é uma verdadeira passagem de criança a homem, uma mudança na vida deste jovem que se vê livre do jugo paterno. Atrevo-me a dizer que devia haver uma sequela. Os jogos de sedução, o tabu da homossexualidade e um estilo de vida extravagante são alguns dos temas desta obra, que chegou a Portugal traduzida quase 30 anos depois de a original ser lançada. } Júlia Rocha

Jean-Pierre Jeunet regressou com Micmacs em 2009, presente na última edição do Fantasporto. A aparente trivialização de temas tão importantes como a venda de armas não é alarmante. Este filme surge, pelo con-trário, como uma forma de combater a alienação e o distanciamento a essa realidade. Assistimos a um filme onde o mote é a vingança, doce e inofensiva. As perso-nagens surgem como arquétipos e, talvez por isso, não serão levadas tão a sério, mas será esse o objectivo de Jeunet? São do domínio da fantasia, bem como todo o habitual tratamento do visual, e isso é inconfundível no seu trabalho. Em Micmacs há o prazer e maravilha cons-tantes, há a triunfante essência da representação da era do cinema mudo. Como pano de fundo um Paris frio e abandonado, que poucos terão tido a oportunidade de ver, sem que por isso o filme se torne igualmente mecâ-nico e desprovido de alegria. E é toda esta falta do que será real que torna o filme algo romântico no seu enredo pouco usual. Enfim, um encanto.} Ana Manuel

Já o filme vai a meio quando nos apercebemos, com espanto, que a história que nos está a ser contada, é sobre vampiros. Distraímo-nos ou fomos hipnotizados durante algum tempo por paisagens de neve e momen-tos cúmplices.

A ternura e a inocência envolvem as personagens principais, mas por outro lado existe sempre um lado sombrio presente que não deixa de se fazer notar. É im-portante referir a complexidade das personagens, que são confrontadas com momentos de grande violência seguidos de ternuras no silêncio.

A fotografia deste filme deve-se em parte ao reali-zador Tomas Alfredson, que iluminou de forma exímia todos os ambientes, incutindo-lhes uma atmosfera mística e fria, numa cidade descaracterizada dum país tipicamente nórdico.

Além de ser um filme extremamente belo, “Let The Right One In” prima ainda pela forma como foi reali-zado e pela forma como os actores foram dirigidos para interpretarem personagens tão distantes das suas reali-dades. } João Cruz

Depois de uma breve separação os The Strokes estão de volta. “Angles” é o nome do novo álbum e contraria o algo sombrio “First Impressions of Earth”, de 2006.

Apesar das raízes ainda presentes, principalmente com “Undercover of Darkness”, sente-se uma música mais leve e animada.

Angles é uma obra fresquinha, composta por dez no-vas músicas, mas que mantém a irreverência que carac-teriza a banda.

Os The Strokes parecem querer adaptar-se às novas influências do rock. Os ritmos são cativantes, com chei-rinhos de reggae e electrónica, interferências de synth--music dos anos 80, bossa nova e uns acordes havaia-nos aqui e ali, numa experiência clara de introdução de novos sons.

Sente-se acima de tudo a maturidade e a autocon-fiança da jovem banda, com a beleza das transições de Valensi e a ousadia de arriscar, patentes do início ao fim.

Este não foi o álbum de Top que se esperava, mas traz boas experiências sonoras. A banda vai agora marcar pre-sença no palco do Super Bock Super Rock, a 16 de Julho. } Liliana Pinho

Longo poema profético, anti-Bíblia, assim se pode ca-racterizar "Assim Falava Zaratustra", a obra imortal de F. Nietzsche. É uma crítica mordaz ao cristianismo e às sociedades do rebanho. Não faz a apologia dos pobres, dos humildes, dos doentes, dos fracos nem promete o Reino dos Céus como os cristãos, embora Nietzsche re-conheça que Jesus foi o único verdadeiro cristão. O pro-feta Zaratustra proclama a morte de Deus, ou seja, o fim e o declínio da ideia de Deus construída pela metafísica clássica ocidental. Para o filósofo do "Anticristo" os valo-res do orgulho, do egoísmo, da sensualidade, da vontade de potência, da nobreza de espírito devem substituir as ideias de resignação, de niilismo, do queixume, de doci-lidade, de servilismo que o cristianismo preconiza e que o capitalismo dos mercados continua a espetar na cabeça e no coração dos homens.

Em "Zaratustra", Nietzsche é o poeta, o filósofo e o profeta da carnalidade, da sensualidade, da criação, do gozo de existir, da liberdade livre, da vida vivida. Assim falava Zaratustra.} A. Pedro Ribeiro

Foo Fighters

de Tomas Alfredson de Jean-Pierre Jeunet

de David Lodge de Friedrich Nietzsche

The Strokes

Page 22: Jup Outubro 2011

{ parêntesis jup outubro 2011

11 TERÇA-FEIRACOLISEU DO PORTOWithin Temptation21H — €26 A €30

15 SÁBADOCASA DA MÚSICAVozes da Rádio22H — €12

16 DOMINGOCASA DA MÚSICAArcadi Volodos18H — €25

18 SEXTA-FEIRACOLISEU DO PORTOMachine Head19H — €29 A €35

21 SEXTA-FEIRAHARD CLUBNneka22H — €22

30 DOMINGOCOLISEU DO PORTOGuano Apes22H — A PARTIR DE €25

CASA DA MÚSICAGirls22H — €20

12/cardápio

em OutubroMÚSICA TEATRO VÁRIOSEXPOSIÇÕES

20 A 23RIVOLI TEATRO MUNICIPALCrónica dos Bons MalandrosQUINTA-FEIRA A SÁBADO 21:30H; DOMINGO 16H

25 A 29TEATRO NACIONAL SÃO JOÃOJojo, o ReincidenteQUARTA-FEIRA A SEXTA-FEIRA 10:30H E 15H; TERÇA-FEIRA 15H; SÁBADO 16H

27 A 30TEATRO HELENA SÁ E COSTAReconstruir – Ou o dilema da cidade perfeitaQUINTA-FEIRA A SÁBADO 21:30H; DOMINGO 17H

28 OUT. A 30 NOV.TEATRO CAMPO ALEGREFaláciaTERÇA-FEIRA A SÁBADO 21:45H; DOMINGO 16H

ATÉ DIA 27BIBLIOTECA MUNICIPAL ALMEIDA GARRETT - AUDITÓRIOLauro António apresenta: Invicta Filmes 2011ENTRADA GRATUITA

27 E 28TEATRO DO CAMPO ALEGREQuintas de Leitura22H — M/16

ATÉ DIA 31ÁREA METROPOLITANA DO PORTOARQ OUT | Mês da Arquitectura no Porto

ATÉ DIA 22GALERIA DAMA AFLITAPlaneta TangerinaSEGUNDA-FEIRA A SÁBADO DAS 15H ÀS 19H

ATÉ DIA 23CASA DO INFANTEMarcas do Vinho no Porto: homenagem à Ferreirinha nos 200 anos do seu nascimentoTERÇA-FEIRA A SÁBADO DAS 10H ÀS 12:30H E DAS 14H ÀS 17:30H DOMINGO DAS 14H ÀS 17:30H2,50€ (COM DESCONTOS)

ATÉ DIA 23MUSEU DE SERRALVESRobert Morris: Filmes, Vídeos e BodyspacemotionthingsTERÇA-FEIRA A SEXTA DAS 10H ÀS 17H; SÁBADO, DOMINGO E FERIADOS DAS 10H ÀS 19H5€ (COM DESCONTOS)

ATÉ DIA 30MUSEU NACIONAL DE SOARES DOS REISDois Séculos - Instrumentos Científicos na História da Universidade do PortoQUARTA-FEIRA A DOMINGO DAS 10H ÀS 18H; TERÇA-FEIRA DAS 14H ÀS 18H5€ (COM DESCONTOS)

ATÉ DIA 31MUSEU NACIONAL DA IMPRENSA11 de Setembro / 10 anosSEGUNDA-FEIRA A DOMINGO DAS 15H ÀS 20H1€ TODOS, 0,50€ PARA MENORES DE 18 ANOS

Guano Apes

Page 23: Jup Outubro 2011

JUP — OUTUBRO 2011

AGENDA

14 e 15 DE OUTUBRO XXV FITU - FESTIVAL DE TUNAS UNIVERSITÁRIAS DO PORTOColiseu do PortoNo ano em que celebra as bodas de prata, aquele que é um dos mais antigos festivais de tunas do país traz ao Porto o melhor da música académica nacional e internacionalOrganização: Orfeão Universitário do Porto (OUP)

20 DE OUTUBRO a 31 DE DEZEMBROEXPOSIÇÃO ARMANDA PASSOS: OBRA GRÁFICAEdifício da Reitoria da U.Porto18h30Horário: 2ª feira a 6ª feira, das 10h às 18h — Entrada livre

29 DE OUTUBROVISITAS GUIADAS PELA HISTÓRIA DO PORTO“Descida ao Porto Subterrâneo”, Praça Gomes Teixeira (ponto de encontro), 18h30Programa de visitas guiadas pelo historiador Joel Cleto a locais históricos da cidade, a ter lugar até Março de 2012. Inscrições e mais informações através do e-mail [email protected] ou do telefone 220408195

ATÉ 30 DE OUTUBROEXPOSIÇÃO: “DOIS SÉCULOS: INSTRUMENTOS CIENTÍFICOS NA HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO”Museu Nacional Soares dos ReisEntrada livre

12 DE OUTUBRO a 8 de JANEIRO DE 2012EXPOSIÇÃO: “HAROLD EDGERTON, FRAGMENTOS DE TEMPO”Casa Andresen / Jardim Botânico do PortoEntrada livre

ATÉ 6 DE NOVEMBROEXPOSIÇÃO ARMANDA PASSOS: RESERVASCasa Andresen / Jardim Botânico do PortoHorário: 4ª feira a domingo, das 14h30 às 18h30Entrada livre

Mais informações sobre todos os eventos em http://centenario.up.pt

U.PORTO 11

A festa do Centenário está de volta

Chegou o P3

C onfirmando a tendência repetida nos úl-timos anos, a Universidade do Porto foi a universidade portuguesa mais procurada

pelos candidatos ao Ensino Superior em 2011, tendo preenchido 99% das suas vagas no Con-curso Nacional de Acesso ao Ensino Superior, de acordo com os dados revelados pelo Ministério da Educação e Ciência. Num ano marcado pela quebra do número de estudantes colocados no Ensino Superior, a U.Porto é a única universidade que conseguiu preencher praticamente todas as suas vagas (4130 de 4160) logo na primeira fase do concurso nacional, apesar de ser a instituição com o maior número de vagas disponibilizadas.

Com a mais alta taxa de preenchimento de va-gas (99%), a U.Porto só é aproximada neste capí-tulo pela Universidade de Coimbra, pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (ambos com 97% das vagas preenchidas) e pela Universidade Nova de Lisboa (96%). De facto, apenas quatro dos 53 cursos de licenciatura e mestrado integrado da U.Porto não preencheram por completo as vagas disponíveis para a primeira fase do concurso.

Igualmente significativo é o facto de três dos cinco cursos com as mais altas notas de entrada do país pertencerem à U.Porto. O mestrado inte-grado de Medicina da Faculdade de Medicina é o que regista a nota mais alta com 186.3 valores,

Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) surge na segunda posição nacional com 185.5 valores e Bioengenharia da Faculdade de Engenharia e ICBAS encontra-se no quinto lugar nacional com 182.4 valores de nota de entrada.

Alargando a análise aos 25 cursos com as mais altas notas de entrada, verifica-se que oito per-tencem à Universidade do Porto, o que significa que estão na maior universidade portuguesa 32% dos cursos com os estudantes com melhores no-tas de acesso ao Ensino Superior no país.

No ano em que celebra o seu 100º aniversário, a U.Porto confirma assim a posição de liderança que tem assumido no panorama do Ensino Superior português. Um facto que se estende além-frontei-ras. Só no ano letivo 2011/2012, mais de 1000 estu-dantes de mais de 60 nacionalidades vão chegar às faculdades da U.Porto ao abrigo de programas de mobilidade de internacional de estudantes univer-sitários. Um outro indicador importante chega da EGP - University of Porto Business School (EGP--UPB), onde o The Magellan MBA recebe este ano uma percentagem recorde de alunos estrangeiros (60%), a mais elevada de qualquer programa de MBA acreditado em Portugal.

Olhas para os media tradicionais e não encontras o que pretendes? Interessas-te pelos planos de Governo mas queres sa-ber tudo sobre jogos, viagens e bares? Tens fotografias que achas que o mundo deve conhecer, mas não sabes como… Desde o passado dia 22 de setembro é tudo isso que podes esperar do P3 (www.p3.publico.pt), um projeto jornalístico online pioneiro em Portugal, resultado da parceria entre o jornal Público, a Universidade do Porto e o INESC Porto.

Falar do P3 significar falar de inovação, ou não estivéssemos a falar da primeira vez que um jornal profissional funciona no in-terior de uma universidade. Dirigido a um público jovem (universitários e pós-univer-sitários), o site inova ao nível do sistema de navegação, do grafismo e da aposta em conteúdos multimédia. Ainda nos conteú-dos, destaca-se a inclusão de trabalhos do JornalismoPortoNet (JPN) e da Jornalismo-PortoRádio (JPR), dois projetos desenvolvi-dos por estudantes do curso de Ciências da Comunicação da U.Porto.

A proximidade entre a redação e o meio académico é, de resto, uma das mais-valias que o P3 pretende potenciar. O objetivo passa por envolver jornalistas, estudantes e profissionais de diferentes disciplinas numa rede de investigação que em ambien-te editorial. Por outro lado, “qualquer es-tudante universitário pode publicar textos, fotos e vídeos”, desafia Amílcar Correia, diretor do projeto.

Partilha, Interatividade e Personalização são assim palavras-chave no caminho que o P3 quer trilhar para “mudar o mundo”. Ao registar-se no site, o utilizador tem ain-da acesso a uma área reservada onde pode seguir e ser seguido por outros utilizadores, ou escolher os conteúdos que pretende vi-sualizar.

Podes acompanhar as últimas novidades do P3 no Facebook (http://www.facebook.com/PublicoP3) e no Twitter (http://www.twitter.com/PublicoP3).

Viajar ao Antigo Egito, dar de caras com imagens “impos-síveis” e conhecer a obra de uma das mais importantes figuras da arte portuguesa contemporânea. Ao longo

das próximas semanas, estas são apenas algumas das propostas originais que esta-rão "em cartaz" na cidade do Porto. Basta para isso seguir uma das muitas sugestões de exposições que a Universidade do Porto promove no último trimestre de 2011, in-tegradas nas comemorações do Centenário da instituição.

Neste regresso das celebrações após as férias de Verão, todos os caminhos come-çam por dar ao edifício da Reitoria, local onde habitam, desde o passado dia 23 de setembro, as múmias, amuletos, másca-ras funerárias, entre outros tesouros que compõem a "Coleção Egípcia do Museu de História Natural da Universidade do Porto". Naquele que promete ser um dos pontos alto do cartaz cultural da cidade em 2011, poderás usufruir de uma verdadeira aula de História em três dimensões, proporcio-nada pelas 103 peças que integram o nú-cleo egiptológico da U.Porto. Trata-se, na verdade de uma oportunidade rara para conhecer aquela que se configura como a segunda maior coleção de antiguidades fa-raónicas conservadas em Portugal.

A exposição está patente – em perma-nência – numa sala preparada para o efeito no 3º piso do edifício da Reitoria e pode ser visitada de segunda a sexta-feira, entre as 10 e as 17 horas.

Entretanto, também a 23 de Setembro abriu ao público na Casa Andresen (Jardim Botânico do Porto), a primeira de duas ex-posições que a Universidade dedica, em 2011, a Armanda Passos. Neste primei-ro momento, intitulado "Reservas", tens a oportunidade de percorrer um espaço his-tórica da Universidade enquanto conhe-ces – até 6 de Novembro, de quarta-feira a domingo, das 14h às 18h30 - parte da obra a óleo sobre tela assinada pela artista plástica portuense. Já a partir do dia 20 de Outubro, cabe à "Obra Gráfica" de Armanda Passos inspirar a exposição que estará pa-tente no edifício da Reitoria (com abertura ao público no dia 21). Em ambos os casos, apreciadores ou meros curiosos vão po-

der observar o traço singular daquela que é uma figura maior da arte contemporânea portuguesa, ligada à U.Porto enquanto an-tiga estudante da Escola Superior de Belas Artes (antecessora das atuais faculdades de Arquitetura e de Belas Artes).

As duas exposições sobre Armanda Pas-sos serão complementadas com um pro-grama de atividades pedagógicas que per-mitirão a qualquer visitante (crianças, jovens,famílias, etc) contextualizar-se dentro do universo artístico e pessoal da artista.

“Imagens impossíveis” em Outubro Já em Outubro, o Centenário volta com no-vas e originais propostas. É nessa data que a Casa Andresen promete surpreender com uma exposição única centrada na obra de Harold Edgerton, o homem que, nos anos 30, espantou o mundo com um conjunto de técnicas inovadoras de fotografia capazes de revelar vários fenómenos que o olho hu-mano jamais conseguira captar. Quase 80 anos depois, “o homem que se atreveu a parar o tempo” revela-se em "Harold Ed-gerton, Fragmentos de Tempo", exposição com inauguração marcada para o dia 12.

Mas nem só de novidades se faz a agenda do centésimo aniversário da U.Porto. Até 30 de Outubro (de terça-feira a domingo), a história do ensino e da investigação cien-tífica na cidade do Porto está à distância de uma passagem pela sala de exposições temporárias do Museu Nacional Soares dos Reis. É ali que encontramos "Dois Sécu-los: Instrumentos Científicos na História da Universidade do Porto", exposição que reúne dezenas de objetos ligados às mais variadas áreas do saber científico e que passaram pelas mãos de alguns dos mais importantes nomes da Ciência nacional dos últimos 200 anos.

Todos os eventos referidos são de entrada livre e gratuita. Para mais informações so-bre o programa de comemorações dos 100 anos da Universidade do Porto, consulta o portal do Centenário em http://centenario.up.pt.

U.Porto volta a ser a mais procurada

textos Tiago Reis/ Gabinete de Comunicação da Reitoria da U.P.

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JUP — OUTUBRO 2011SOCIEDADE12

Imagens com históriaESTAMOS EM OUTUBRO E AOS POUCOS O VERÃO VAI-SE DESPEDINDO. ABRIMOS A PORTA, PENDURAMO-NOS NO PARAPEITO DA JANELA E DEIXAMOS O OUTONO CHEGAR. COM ELE VEM O CHEIRO DA TERRA HÚMIDA E A NOSTALGIA DE UM TEMPO PASSADO. AS ÁRVORES VÃO-SE DESPINDO. A ALQUIMIA DAS CORES É PROTAGONISTA. OS JARDINS O PALCO.

A Inês Brito (FLUP), o João Pereira (FEP) e o Samuel Correia (FCUP) aceitaram o meu desafio: pegaram num conjunto de fotografias tiradas a quatro jardins do centro do

Porto e… observaram-nas. Primeiro, mostrei-lhes as fotografias sem eles saberem a qual jardim correspondia, e eles tentaram identificá-los. Depois, dei-lhes liberdade de comentarem o que bem entendessem sobre as fotografias, dando asas aos seus pensamentos. O resultado destas conversas está nos parágrafos seguintes.

Jardim do CarregalO primeiro conjunto de fotografias mostrava o jardim do Carregal, perto do Hospital Santo António. Recentemente requalificado, é um dos últimos jardins românticos do Porto com características oitocentistas. Os nossos três voluntários pontuaram, ao acertarem na localização do espaço, embora apenas a Inês o tenha referido pelo nome. Ela afirma que não tem uma boa imagem deste espaço, talvez por se situar junto a um hospital. Olha para ele como um “corredor no meio da cidade, em que os únicos que tomam consciência dele são os pobres sem abrigo que se hospedam nas arcadas no hospital Santo António”. Já o Samuel olha para este espaço e caracteriza-o de sujo e abandonado, embora com uma relva bem

tratada. Vê-o ainda como um bom local para descansar e para o lazer. Já o João descreve este espaço como sub-aproveitado, “já que está com lixo e mal tratado”. “É um espaço que passa um bocadinho despercebido apesar da localização”, refere Inês. Samuel não poupa nas críticas e caracteriza-o com palavras como sujidade, falta de civismo ou desrespeito. O que fazer com estes espaços? O João acha que deveria haver um maior aproveitamento das potencialidades destes espaços, “seja para fazer desporto, almoçar ou ir para lá com os amigos conversar”.

Jardim da CordoariaSegue-se o jardim da Cordoaria, localizado junto ao Centro Português de Fotografia. Com uma alma romântica, resiste, mesmo depois de um ciclone ter feito uma visita em 1941 que alterou bastante o seu aspecto. Em 2001, com o Porto como capital da cultura, sofreu novas e muito contestadas modificações no espaço. Novamente pontos para os três. O Samuel olhou para as fotografias deste espaço e sentiu vontade de correr e atravessar o túnel de árvores, voltando aos tempos de criança. Também lhe vêm à memória lembranças académicas do cortejo. A Inês também pensa na academia quando olha para o jardim da Cordoaria: lembra-se das serenatas. Parecendo combinado, também a Inês recua para a infância, conta que “em pequenina, ao vir da praia, acordava sempre estremunhada

quando estava a chegar ao jardim”, tal era o seu tamanho e a sua imponência aos olhos da ali então pequena Inês. Já o João olha para estas fotografias como uma harmoniosa ligação entre o património e a natureza, algo que, na perspectiva dele, é central para potenciar o turismo.

Jardins do Palácio de CristalMais um espaço: Jardins do Palácio de Cristal. Com uma invejável vista para o Douro, estes jardins localizam-se em Massarelos. Foram projectados no século XIX pelo arquitecto Émile David, tendo sofrido vários melhoramentos com o tempo. Uma vez mais, os nossos três voluntários souberam identificar este jardim. A Inês adjectiva o espaço como lindíssimo e conta que “há uns tempos fui

perseguida por um dos majestosos pavões que se ostentam no jardim”. Refere ainda que descobre sempre algo novo quando revisita o espaço, sejam cursos de água, animais, recantos, com uma vista que muda constantemente. “Cada visita permite-nos experiências novas”. O João diz que o espaço continua a ser o lugar de destaque para “passear, ler e aproveitar as paisagens enquanto se respira a tranquilidade do ar”, mesmo depois do verdadeiro Palácio de Cristal ter ido abaixo para dar lugar ao Pavilhão Rosa Mota. O Samuel vê o Palácio de Cristal como o segundo pulmão da cidade, logo a seguir ao Parque da Cidade. O espaço transmite uma ideia de antiguidade e de arte conservada para a população. Considera este jardim “um dos melhores locais do Porto, sem dúvida”.

Jardim das VirtudesTerminamos com o Jardim das Virtudes, localizado nas traseiras do Palácio da Justiça, em pleno centro histórico do Porto. Apenas a Inês soube identifica-lo pelo nome, enquanto os rapazes apenas o enquadraram junto ao Palácio da Justiça. O João olha para este espaço como descuidado e subaproveitado e acredita que deveria haver uma maior preocupação com os espaços verdes, e entristece-se por estar “numa cidade em que se transformam jardins soleiros em praças negras”. O Samuel vê este espaço como um bom sítio para conviver, e que lhe trás recordações de encontros que teve por aqueles lados. A Inês confessou que nunca esteve neste espaço mas que, ao ver as fotografias, sentiu vontade de ir lá conhece-lo. Se, por um lado, lhe transmite conforto por estar num local mais reservado, por outro lado sente insegurança por estar escondido.

Dirigia-me agora a ti, leitor do JUP. Convido-te a também olhares para estas fotografias, ires conhecer ou visitar novamente estes espaços verdes, bem como outros jardins da cidade. Observa o ambiente, maravilha-te com as paisagens, mas indigna-te também com a degradação e abandono que estes espaços muitas vezes também trazem nas costas, luta por uma cidade melhor. •

por Gonçalo Marquesfotografia Pedro Ferreira

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JUP — OUTUBRO 2011SOCIEDADE 13

Agramonte: um cemitério histórico

A gramonte é um verdadeiro labi-rinto de campas, cruzes, cape-las e jazigos: um dos cemitérios

mais famosos do Porto, não fosse este o cemitério municipal da cidade Invic-ta. Segundo o site da Câmara Municipal do Porto, só em 1855 é que a situação dos cemitérios no Porto se alterou “um pouco”, uma vez que se deu uma se-gunda grande epidemia de cólera. “As autoridades civis conseguiram fechar os cemitérios privativos que não tinham condições e, paralelamente, mandaram construir, de forma apressada, um novo cemitério municipal: Agramonte”.

O local sagrado está divido em sec-ções municipais, cemitério privativo da Ordem da Trindade, cemitério privativo da Ordem do Carmo e cemitério priva-tivo da Ordem de S. Francisco. Este ce-mitério prima pela imensa quantidade e variedade de túmulos . As grutas, que são os Montes de Gólgota, onde Cristo foi crucificado e alguns anjos em mármore que cortam a respirção. A arte sepulcral no Norte é assim mesmo: monumental.

É Sábado e percebe-se bem que assim é pela quantidade de gente que entra pe-los portões altos e ferrugentos com flores nas mãos. Estranha-se: há vida a mais para um cemitério. Mas afinal é fim-de-

-semana. Entra-se na calçada branca, mais que branca e polida, e estão logo os porteiros numa conversa concentrada com pessoas que pedem informações. Há gente que espera à sombra e ao sol, sentados em bancos (que bem podiam ser de jardim) paralelos, ou em pé va-gueando de um lado para o outro em cima da calçada polida, mais que polida

Estão lá desde famílias inteiras, de mais miúdos a mais graúdos, a pesso-as sozinhas que aguardam por outras. Ao fundo é a secretaria, os wc’s e local de arrumos. Há placas a avisar para ter cuidado, e deixar tudo limpo, ou não deixar os baldes com água. “Acho que devia estar mas limpo e cuidado”. Maria Cândida visita a mãe e a irmã uma vez por semana. “Há muito espaço, mas a terra está cansada e não come os cor-pos, custam a desfazerem-se”, explica. “É um cemitério muito antigo e muni-cipal. Tem direito a todas as freguesias, a tudo que for da cidade do Porto”. Maria Cândida diz que exige ser enterrada em Agramonte, junto da sua família.

O calor é muito, mas passa uma bri-sa fresca que faz abanar as folhas das árvores. Os corredores de campas e túmulos são acompanhados de con-tentores do lixo da Câmara Municipal.

O cemitério é asseado. A maioria dos bancos à sombra, estão vazios, bem vazios. “Tenho o meu marido aqui. Ve-nho sempre pôr a luzinha acesa.” Maria de Lurdes vai duas vezes por semana a Agramonte. “Se pensarmos bem, isto é um cemitério de História”, afirma a idosa. Há secções do cemitério que se encontram exactamente como esses bancos, e outras onde o barulho denun-cia gente viva, a lavar, limpar, arrumar, pôr flores e velas… Entende-se que seja um dos mais conhecidos do Porto. Exis-tem campas com datas como 1800 . Mas o que predomina são os 1900 e muitos (ou poucos, também).

Há qualquer coisa de especial neste cemitério. Sente-se tranquilidade. Um pai entra com o filho pela mão e diz-lhe: “gostava era de te ver aqui à noite”. O fi-lho já se vinha a rir e continua a galhofar com o pai. A mãe seguia à frente com as flores na mão com um ar de responsabi-lidade e de dever. Um carro funerário da Funerária de Matosinhos entra no cemi-tério, carregadinho de ramos, coroas e ajuntamentos de flores. Segue a seta que diz “enterramentos”, em letras graves e garrafais. É assim a vida em Agramonte: a morte não pára nem pode esperar. • Luís Mendes

O Governo apresentou, logo a se-guir ao verão, o Programa de Emergência Social (PES), através

do qual se propõe a “dar resposta e au-xílio a flagelos e carências sociais graves, como é o caso da fome”. O plano, que deverá vigorar até ao final de 2014, pre-tende minimizar as consequências mais severas da pobreza.

O Programa de Emergência Social tem sido criticado por alguns especialistas por ter uma lógica caritativa, nomeadamente em relação às propostas de distribuição dos restos de medicamentos em final de prazo ou do arrendamento excepcio-nal de habitações revertidas para a ban-ca. Tem sido também assinalado que o programa vem a par com um conjunto de políticas económicas cujo efeito pre-visível é o aumento da pobreza. Os 400 milhões previstos para o PES são uma pequena parte do corte feito em servi-ços públicos e nas áreas sociais que têm como função combater desigualdades. No Documento de Estratégia Orçamen-tal, o governo anuncia uma redução de 1521,9 milhões de euros, o equivalente a 0,9 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), só nas áreas da Saúde, Educação e Segurança Social. Na área da Segurança Social são 200 milhões que serão poupa-dos, prevendo-se, entre outras, medidas como a diminuição da verba destinada às prestações sociais e alterações às regras do subsídio de desemprego.

O JUP fez três perguntas a Eduardo Vítor Rodrigues, sociólogo, investigador especialista em políticas sociais e pro-fessor na FLUP.

Simultaneamente, as políticas econó-micas do Governo parecem agravar os problemas sociais. O plano de emer-gência poderá inverter este cenário?EVR: É certo que não. O Plano de Emer-gência Social consiste num pacote de medidas de cariz assistencialista e de compensação das mais fortes formas de vulnerabilidade social. Não tem associa-do nenhum conjunto de instrumentos de inclusão e de capacitação das popula-ções mais desfavorecidas. O PES assenta numa forma de compensar os mais bai-xos rendimentos, ainda por cima assente numa lógica de "means testing", ou seja, partindo dos rendimentos formalizados perante a estrutura fiscal. Ora, isso pode ser ainda mais problemático num país com elevados níveis de economia infor-mal e, por isso, excluídos da lógica de tributação fiscal, gerando efeitos de in-justiça social que beneficia os rendimen-tos informais e exclui vastas camadas a população mais desfavorecida. Mas as questões centrais dos processos de in-clusão - a capacitação, o empowerment, a ultrapassagem dos handicaps sociais, o reforço da empregabilidade, etc. - estão excluídas dos principais objectivos do programa.Uma das críticas feitas ao plano é a substituição das funções do Estado por parcerias com organizações não esta-tais, sobretudo ligadas à Igreja Católi-ca. Quais as vantagens e desvantagens desta opção?EVR: O modelo de parceria entre o Es-tado e as Instituições Particulares de Solidariedade Social tributárias de vá-

rias organizações sociais, em particular da Igreja, num lógica de welfare mix, é evidenciador de uma opção menos inci-dente nas responsabilidades do Estado e mais contratualizada com as instituições locais. A vantagem da proximidade e da complementaridade com as estruturas de base local é evidente. No entanto, o fundamental princípio da universalidade pode ser claramente prejudicado, com a introdução de critérios e de modelos de alguma selectividade.

Para além disso, há outro elemento a considerar: este modelo de relativa des-responsabilização do Estado repercute--se em IPSS com enormes dificuldades financeiras e pressões locais, o que não permite ter grandes expectativas quanto ao carácter estrutural e multidimensio-nal da intervenção.Há escolas do ensino superior que viram o número de matrículas re-duzidas neste ano lectivo. É possível deduzir uma relação entre este facto e o agravamento da pobreza?EVR : Não tenho a certeza que essa as-sociação seja actualmente tão directa; a meu ver, a questão é menos de taxa de pobreza e mais de processos de vulnera-bilização socioeconómica que dificultam a opção pelo reforço das qualificações, dado o pagamento de propinas cada vez mais elevadas. Isso é particularmente vi-sível nos alunos dos mestrados e de dou-toramentos (cuja redução foi generaliza-da) e nas licenciaturas onde houve perda de bolsas de estudo. • José Soeiro

Com certeza que a cidade do Porto não te é indiferen-te: desde a sua beleza que

se deslumbranas margens de um rio d’ouro, até à passividade de uma po-breza cada vez mais preocupante so-bre a forma de monumentos e casas em ruínas. Tudo isto é Porto, e falar de um qualquer Parque de Serralves ou de uma Casa da Música, sem falar de um descuido cada vez mais notó-rio de algumas zonas da cidade, é es-tarmos alheios a algo que podemos, decididamente,mudar.

O Alto da Fontinha, situado entre a Rua do Bonjardim e a Rua da Fábrica Social, é, há vários anos, alvo de uma desertificação populacional activa evi-dente: o convívio social urbano deu lu-gar à frequência cada vez mais assídua de toxicodependentes e sem-abrigo.Estes factores foram decisivos para o medo crescente dos seus habitantes.

E como é, muitas vezes, da necessi-dade que nascem as melhores ideias, o Alto da Fontinha tornou-se um dos exemplos mais mediáticos que prova que o empreendedorismo e a vontade individuais podem ser decisivos.

A escola primária abandonada há 5 anos foi usada como palco para actos constantes de integração social feitos por voluntários, que viram uma opor-tunidade de, aliando as suas vocações artísticas, criar laços com os habitantes locais: estava formada a Es.Col.A do Alto da Fontinha - Espaço Colectivo Autogestionado.

“A ocupação da Escola e toda a dinâ-mica que estavam a ter com os miúdos fez com que a vizinhança ficasse muito contente”, diz José Maria Oliveira, um dos moradores da rua do Bonjardim. Salientam-se as actividades direccio-nadas para os mais jovens (como as oficinas de bicicleta, espectáculos de malabarismo, ateliês de desenho e de leitura, entre outras actividades que promovem o sucesso escolar) e para os mais idosos que “não saíam de casa para conviver há mais de 10 anos, e que

agora se sentem mais seguros”, diz Va-nessa Correia, uma das voluntárias do projecto.

Apesar do sucesso evidente, a de-socupação da Escola aconteceu por ordem da Câmara Municipal do Por-to, resultando na detenção de alguns voluntários que avançavam com estas acções.

Os acontecimentos não agradaram aos mentores do projecto, nem à popu-lação que vivenciou as melhorias signi-ficativas. Mesmo sem terem acesso à es-cola, continuaram as reuniões semanais e as preocupações com os habitantes mais idosos. “Vamos de porta em porta saber o que necessitam”, disse Vanessa. “Acreditamos que a auto-sustentação pode ser uma mais-valia para o Alto da Fontinha”, remata a voluntária.

Numa altura em que parecemos vi-ver cada vez mais sobre nós mesmos, a este movimento restava-lhes a espe-rança de um diálogo positivo com os líderes municipais, para que a vontade de se viver em comunidade seja uma realidade. Depois de algumas dificul-dades em tentar encontrar uma dis-ponibilidade entre as partes, eis que dia 6 de Junho, oito dos responsáveis deste projecto, dirigiram-se à Câmara Municipal do Porto para uma reunião com a vereadora Guilhermina Rego. Por poder haver necessidade de algu-mas tomadas de decisão, mais de duas dezenas de pessoas e que dão forma à Es.Col.A, aguardaram na Praça da Trindade. Como gostam de afirmar: “O projecto é de todos e para todos”.

No final da reunião, que teve a du-ração de uma hora e meia, não houve o tão esperado “sim”, mas por parte da Vereadora, “há uma pertinência em resolver esta questão. O “sim” chegou, embora apenas para uma ocupação temporária. É a prova de que marcar a diferença pode ser difícil, mas, passo e passo, podemos ser uma voz activa na nossa cidade, no nosso país. Olha se a moda pega…• Hernâni Zã

“Olha se a moda pega”

Programa de Emergência Social:Justiça ou caridade?

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JUP — OUTUBRO 2011INTERNACIONAL E ECONOMIA14 11

A Marcha dos Pinguins

texto Irina Castro

Em 2006, a revolta estudantil dos alunos do ensino secundá-rio, foi apelidada de Revolução dos Pinguins. Uma referência aos uniformes azuis e brancos impostos nas escolas públicas.

Actualmente as mesmas reivindicações estu-dantis saem à rua; “mudar o sistema de educação chileno que se mantém desde a ditadura militar de Pinochet”, só que desta vez a união de estu-dantes é geral englobando todos os estudantes do Ensino Secundário e Superior.

A universalidade e gratuitidade do sistema de ensino público chileno deixou de o ser a quando a instalação da ditadura militar em 1973. Augusto Pinochet, general e presidente-ditador chileno relegou o papel do Estado nas questões de ensino a um nível meramente subsidiário, deixando a educação para o sector privado. Esta foi uma das muitas medidas de liberalização da economia chilena, executada num plano económico neo--liberal que ficou para história como “O Tijolo”.

Hoje, o baixo financiamento directo do En-sino, cerca de 30% do orçamento global das instituições, obriga as unidades de ensino ao auto-financiamento, ou seja, elas financiam-se perante os estudantes. Isto tem afastado, segundo a Federação de Estudantes Chilenos (FECH) um grande número de estudantes das Universidades e endividando uma outra grande parte, tendo em conta que somente uma pequena percentagem da sociedade chilena tem capacidade de pagar os custos Universitários. Actualmente um estudante chileno paga mensalmente entre 250 e 600 euros, sendo o salário mínimo nacional menor de 300 euros e o salário médio em torno dos 800 euros.

Parte das reivindicações do actual movimento estudantil que têm ocupado as ruas chilenas, exi-ge uma duplicação do investimento público no ensino superior nos próximos quatro anos, o que significaria que o governo chileno passaria a gas-tar 1,2% do seu PIB com o Ensino Superior Públi-co. Ligeiramente acima da média dos 27 Estados Membros da União Europeia, que ronda os 1,14% de PIB. Um outra reivindicação do movimento refere-se ao financiamento Indirecto, isto é, um sistema de financiamento estatal para as univer-sidades públicas e privadas, que parte de critérios do mérito de estudantes. Segundo a FECH, 200 mil estudantes realizam uma prova nacional de onde 13% receberão financiamento que é entre-

gue à universidade, e não directamente ao estu-dante. A proposta apresentada pelo movimento é a eliminação deste tipo de financiamento, que permeia instituições de ensino superior que re-cebem estudantes com classificações elevadas, na sua maioria provenientes de famílias com rendimentos elevados, ao invés de ser procurar

uma forma de financiamento que não se ba-seie no mérito.

As reivindica-ções estudantis da FECH pode-rão generica-mente resumir--se à exigência de que um en-sino gratuito, de qualidade e universal seja previsto pela C o n s t i t u i ç ã o . Mas na verdade a sua dimensão politica é muito maior que uma c o n c o rd â n c i a da Constitui-

ção Política do Estado Chileno com a Declara-ção Universal dos Direitos Humanos. Ela é um questionar de uma Constituição escrita durante a ditadura, e que em certos pontos se mantêm inalterada pela democracia dos últimos 20 anos.

No Chile, existe um sistema de municipaliza-ção do ensino básico desde 1981. A municipali-dade significa que cada unidade orçamentada, definida como bairro, financia a educação do mesmo. Isto resulta numa distribuição injusta dos recursos para a educação, tendo em conta que bairros de classe alta possuem mais e melhores recursos comparativamente com os bairros pe-riféricos de classe baixa. Há uma desigualdade social e educacional latente na sociedade chilena.E são essas desigualdades educacionais que têm levado desde há três meses à mobilização cres-cente de estudantes e da comunidade de ensino, mas também transcendendo as barreiras estu-dantis e avançando rapidamente para a socieda-de civil.

A 24 e 25 de Agosto, estudantes universitários e do ensino secundário, trabalhadores do sector público, sindicatos, precários - mais de 600 mil pessoas nas ruas – juntaram-se numa jornada de 48 horas de protestos, paralisação e mobilização, organizados pela Central Unitária de Trabalha-

dores (CUT). A maior mobilização social chilena desde a ditadura do general Augusto Pinochet. Mesmo assim, o governo tem se mostrado in-

transigente na hora de negociar o modelo edu-cativo da ditadu-ra militar. O pre-sidente Piñera, de origem ideo-lógica comum a Pinochet, recusa uma resposta e tem mesmo d e m o n s t r a d o uma face mais repressiva ao ignorar ouvir as demandas dos movimentos. Os confrontos com a polícia chile-na têm sido fre-quentes durante os protestos,

tendo já levado à detenção de mais de um milhar de pessoas e à morte de um adolescente de 16 anos, Manuel Gutiérrez, atingido por um tiro da polícia. Proibições de manifestações estão tam-bém a tornar-se uma forma recorrente de acção do Governo.

“AVANTE, AVANTE, TRABALHADOR E ESTUDANTE” SÃO AS PALAVRAS GRITADAS PELA MAIOR MANIFESTAÇÃO CHILENA PÓS-DITADURA. NO AR FICA A PROMESSA DE NOVAS MOBILIZAÇÕES QUE QUEREM FAZER CAIR O ENSINO E A CONSTITUIÇÃO DE AUGUSTO PINOCHET.

O novo cenário de contestações que se vive no Chile, parece favorecer a continuação de novos protestos alargados a todos os sectores da socie-dade. As vozes de um movimento que jurou fazer cair o sistema de ensino de Pinochet estão lon-ge de se calarem. A FECH promete continuar, e dia 1 de Outubro irão se juntar à XIII Marcha pela Diversidade Sexual, que este ano sai à rua com reivindicações por uma educação gratuita, laica, de qualidade e não discriminatória. •

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JUP — OUTUBRO 2011 15INTERNACIONAL E ECONOMIA

Aliança transfere “Strike Force” para Portugal

Darwin não previu a globalização

A s margens do Lago Vitória, o maior lago tropical do mundo, e considerado o berço de toda

a Humanidade, são hoje o palco do pior pesadelo social, económico e ambiental do mundo globalizado.

Partilhado por três países, Tanzânia, Uganda e Quénia, o Lago Vitória é o apoio vital de milhões de pessoas. Durante a década de 50, a Perca do Nilo (Lates niloticus) foi introduzida com o objectivo de melhorar os rendimentos da pesca, mas acabou por dizimar a diversidade de espécies autóctones tornando-se hoje uma das espécies invasoras mais nocivas do mundo. A perda de diversidade da ictiofauna não é o único problema ambiental causado pela Perca. Da perda de diversidade resulta a proliferação do jacinto-de-água (Eichhornia crassipes), uma planta aquática que forma enormes camadas espessas, causando dificuldades na pesca e falta de oxigénio.

A está catástrofe ambiental associam-se os problemas sociais decorrentes dela. A enorme proliferação da Perca do Nilo abriu portas para à exportação massiva da sua carne para todo o hemisfério Norte. Uma forte indústria montou-se nas margens do lago e com ela uma rede de aviões de carga da ex-União Soviética, e comércio de armas. Hoje em dia, na mesma pista de aterragem de Tanzânia, de manhã aterram aviões de carga Russos com ajuda humanitária dos países desenvolvidos – e com uma outra especial de armas – enquanto que ao fim da tarde abandonam o país carregados com toneladas de Percas do Nilo, numa zona onde população local morre à fome. Estes aviões de ajuda humanitária alimentam milhares de famílias e de guerras nos países vizinhos de Tanzânia, trazem a

comida que os alimenta durante o dia e as armas que os matam à noite.

O berço da vida é também o coração das trevas de guerras civis, com conflitos diários mais mortíferos que o 11 de Setembro. O mundo fecha os olhos a estes “conflitos tribais” e o interesse imperialista pelos recursos naturais vai ganhando terreno. A maioria destes países contraiu empréstimos nas moedas fortes durante os anos 70, e desde então estão condicionados a reembolsar aos seus credores, custe o que custar, tendo como único recurso, aumentar a produção com a intenção de assim aumentar também a exportação. Colocam no mercado cada vez mais matéria-prima, no entanto, a procura pelo Norte não aumentou, que significa uma queda severa das cotações. Os juros dos empréstimos aumentam e os países do Sul ficam presos na forca da dívida, incapazes de respeitar os prazos de reembolso. São obrigados a seguir as exigências do FMI, do Banco Mundial e dos outros credores, numa política macroeconómica de austeridade orçamental rigorosa que implica reduzir ao “nada”, a educação, a saúde, e todos os outros investimentos sociais e públicos. Em Tanzânia entre 1992 e 1997, 15% do orçamento do país era destinado a serviços sociais, enquanto 46% para serviços à divida. A desregulamentação e a abertura total dos mercados agravaram os problemas destes países, e deram início a uma re-colonização económica.

A experiência científica da Perca do Nilo, não é apenas uma experiência ambiental fracassada, mas também uma experiência económica que revela o lado mais obscuro da economia globalizada, do neo-liberalismo, da guerra e do imperialismo. • Irina Castro

D esde a Cimeira da NATO, em Junho, que era conhecida a pretensão de transferir para

Portugal uma parte da Sexta Esquadra da Marinha dos EUA. Depois da visita do secretário-geral da Aliança Atlântica a Lisboa, a 8 de Setembro, foi anunciada a decisão de instalar em Oeiras o comando operacional da Strike Force da NATO.

Enquanto o Governo prevê o au-mento do prestígio e da importância do país nesta decisão, outras vozes se insurgem contra as forças da Aliança em território nacional.

Depois do encontro com o secretá-rio-geral da NATO, Anders Fogh Ras-mussen, o ministro dos Negócios Es-trangeiros declarou que a Strike Force reafirma a importância geoestratégica do território nacional. “É uma força de primeiro plano, com elevado grau de prontidão e que contribui para a estabilidade, para a segurança exter-

na e para a defesa coletiva dos países aliados”, diz Paulo Portas à comunica-ção social. Para além disso, na reunião com Rasmussen, Aguiar Branco, mi-nistro da Defesa Nacional, referiu que a participação portuguesa no Afega-nistão é uma prioridade, pelo que não irá sofrer nenhuma diminuição.

Nesse mesmo dia, clamores con-tra a presença da NATO em Portugal fizeram-se ouvir em frente à residên-cia oficial do Primeiro-Ministro, numa manifestação impulsionada pelo Con-selho Português para a Paz e Coope-ração (CPPC), pela Plataforma Anti--Guerra, Anti-NATO (PAGAN) e pela CGTP – Intersindical Nacional. Apesar do JUP não ter obtido uma resposta em tempo útil das referidas entidades, as suas posições estão clarificadas em notas publicadas nas redes sociais e na blogosfera.

Rui Rosa, presidente do CPPC, con-sidera que a transferência do comando

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FORÇA DE ATAQUE EM OPERAÇÕES DE COMBATE DE ALTA INTENSIDADE FORA DA EUROPA PASSA A TER BASE EM PORTUGAL.

O BERÇO DA VIDA DEBATE-SE COM UM PROBLEMA AMBIENTAL SEVERO, DERIVADO DE UMA EXPERIÊNCIA CIENTIFICA, E ECONÓMICA, MAL SUCEDIDA.

operacional da Strike Force é um “si-nal de servil alinhamento com o im-perialismo”, que “ofende a consciên-cia e a segurança do povo português” e que viola a Constituição da Repúbli-ca Portuguesa. O professor questiona ainda quais são “as condições e as consequências diretas” que a anun-ciada instalação implica, assunto que “os distraídos analistas silenciam”, defende Rui Rosa.

A PAGAN condena a “cooperação estratégica” de Portugal nas “guerras da NATO” e, por isso, defende a saída de Portugal da organização. Por sua vez, a sindicalista Célia Portela, da CGTP-IN, explica que, por um lado, os trabalhadores não querem que Portu-gal seja um “trampolim para agressão a outros povos” e, por outro, exigem que os “recursos gastos na Guerra se-jam aplicados na resolução dos graves problemas sociais” com que o país se defronta.

Sob a campanha “Paz sim! NATO não!”, dezenas de pessoas recordaram as ações bélicas que a Sexta Esquadra dos EUA desenvolve sobre a Europa e a África, sendo a mais recente a in-tervenção no confronto na Líbia. Da manifestação de 8 de Setembro contra a NATO, ficaram as dúvidas sobre as consequências que Portugal vai en-frentar com a transferência da Strike Force para território nacional. Dúvidas essas que, tal como referem as orga-nizações contra a Aliança Atlântica, ainda não foram esclarecidas pelo Go-verno. • Joana Quaresma

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JUP — OUTUBRO 201116 DESPORTO

– o desporto dos deuses

Os primórdios do surf remetem para os tempos em que o rei polinésio Tahito reinava no pa-raíso Havaiano, não obstante, o desporto foi revelado ao mun-do através de James Cook que

aquando de uma das suas travessias descobriu o arquipélago do Havai e as maravilhas que os seus habitantes praticavam em cima das ondas.

Considerado o desporto dos deuses naqueles tempos, pela capacidade de “dominar” o mar, hoje em dia o Surf é um dos desportos mais pra-ticados em todo o mundo. O JUP decidiu dar um salto à praia e descobrir o que o Surf tem de tão especial para quem pratica.

Encontramo-nos com o surfista Rodrigo Lacer-da, mais conhecido como Godzilla; pratica a mo-dalidade há mais de 26 anos e em 2003 fundou a escola Surf’s Cool em Matosinhos.

Questionado sobre o fascínio pelo Surf, Godzilla respondeu que a seu ver “o surf é um desporto individual, onde se conhece milhões de pessoas diferentes, ou seja, torna-se individual, mas em grupo. Não precisamos dos amigos para o vir fa-zer, podemos vir fazer sozinhos e acabamos por conhecer imensa gente. Faz-nos conhecer sítios lindos no mundo, porque sempre que andamos à procura da onda perfeita, normalmente é sempre em sítios paradisíacos. Portanto, gerimos a vida um bocadinho à volta do surf e isso é diferente dos ou-tros. É um desporto de natureza com a água.”

A busca pela onda perfeita torna-se incessante e os apaixonados pela modalidade, transformam--se em autênticos “caça ondas” por esse mundo fora. Austrália, Brasil, Indonésia, Espanha e Mal-divas são alguns dos paraísos onde o nosso entre-vistado já teve o deleite de surfar e afirma que a melhor onda da sua vida foi nas Maldivas.

Para Godzilla, praticar Surf é uma constante evolução. “Mesmo a fazer isto há já 26 anos, to-dos os dias faço coisas diferentes e não há uma onda igual.”

O contacto com a água salgada todos os dias é uma das coisas que mais fascina Godzilla, que as-sume não ter receio da força do mar, mas afirma que é necessário ter cautelas. “Quando vejo que não tenho capacidades para enfrentar aquele mar, não entro, por isso não terei receio, mas sim respeito.”

Segundo o nosso entrevistado, “saber nadar” pa-rece ser uma das poucas qualificações necessárias para a prática do desporto, no entanto, o aprendiz (e mesmo aqueles que já praticam surf há algum tempo), deve seguir um conjunto determinado de regras para uma prática segura da modalidade.

Trata-se de “uma força da Natureza que leva e

texto e fotografia Lúcia Sousa empurra” e merece conhecimentos específicos. Para o instrutor Godzilla, segurança é muito

importante e quem quer que seja que vá praticar a modalidade, deve seguir um conjunto de regras que são leccionadas nas suas aulas.

No site da Surf’s Cool pode ler-se um conjun-to de normas que visa a segurança máxima dos praticantes de surf. Conhecimentos do mar, tais como saber identificar as correntes, os agueiros, tipos de onda, fundos da praia, ventos e marés são alguns dos princípios básicos para apanhar ondas em segurança. A par disto, advertências como não entrar no mar sozinho e nunca após uma refei-ção, são exemplos de outras regras máximas de segurança.

Tendo em conta todas as advertências, a prática de surf pode ser um dos métodos mais eficazes na luta e fuga contra o stress diário. Uma espécie de comprimido anestesiante que afugenta quaisquer problemas existentes. “Quando estamos lá den-tro (no mar), esquecemo-nos de tudo. Tudo, tudo! Não nos lembramos de nada do que se passa cá fora!”, refere o surfista.

Sobre quem mais procura a sua escola de surf, ficamos a saber que “no Verão, os pais procuram as escolas de surf para manter os miúdos ocupa-dos.”, mas durante o resto do ano, miúdos e graú-dos procuram aulas da modalidade, sendo que “quem faz só no Verão, é por experiência, depois ou continua ou não, mas quem vem no Inverno, sim, é paixão.”

Portugal e o SurfTal como não é possível decifrar o início exacto da prática de surf em todo o mundo, Portugal não se torna excepção, contudo é possível identificar al-

gumas datas que trilharam o surgi-mento do despor-to no país.

Em 1946, foi criado em Car-cavelos e Parede o primeiro clube de Bodysurf de Portugal, sendo que nesta altura só se surfava com o peito ou com a

prancha de cortiça e deitado sobre a mesma.No fim dos anos 50, começaram a surgir no país,

aquando da explosão do surf na Europa, as primei-ras pranchas adquiridas em Biarritz, França.

Pedro Lima, nome incontornável do surf por-tuguês foi um dos primeiros a trazer a modalida-de para cá. Sem conhecimentos nenhuns e sem conhecer nenhum surfista com quem pudesse aprender, Lima viu-se obrigado a ser um autodi-

dacta. Numa recente entrevista afirmou que o surf pode ser um tubo de ensaio da própria vida.

No pós 25 de Abril e de uma forma muito tími-da, o desporto viu a sua evolução a dar pequenos passos, até que nos anos 80, por moda ou não, o surf deu um salto enorme no número de pratican-tes e instalou-se definitivamente por todo o país. Em 1988, é criada a Federação Portuguesa de Surf e em 1989 surge o 1º Circuito Nacional de Surf.

Um ano depois verifica-se o reconhecimen-to mundial da qualidade das ondas portuguesas, através da exposição mediática do campeonato

mundial de surf da Ericeira – Buondi – Pro.Desde então, em Portugal e não só, o surf é um

dos desportos que mais adeptos ganha por ano.Hoje em dia, com 70 clubes federados e 136 es-

colas federadas também, a modalidade ainda tem muito para crescer no nosso país.Falta de apoios por parte do meio é uma das lacunas principais que constitui entrave à evolução do desporto em Portugal, mas, a contrariar factos, tem cada vez mais pessoas a procurar a prancha de surf para a prática de uma modalidade.

“Há poucos (apoios)! Principalmente do meio, também há pouco dinheiro é como eu digo - não há muita gente a fazer surf-, eles também não vendem muito, logo também não têm muito di-nheiro para poder apoiar. Muitos dos apoios são às vezes, marcas de fora do meio.”, afirma o nosso entrevistado à questão sobre os apoios financeiros.

“Em Portugal ainda está em fase de crescimen-to, mas a nível mundial, dependendo dos sítios, Austrália e Estados Unidos por exemplo são pa-íses muito fortes, onde (a modalidade) já gera muitos milhões de euros e dólares. Em Portugal, somos muito poucos.”, lamenta. “Está a crescer bastante, mas ainda precisamos de muito apoio, precisamos de apoio das câmaras e do Governo para poder ajudar a promover a modalidade de maneira a trazer para cá estrangeiros, uma vez que isto é uma atracção para se fazer turismo, não é?”, remata o surfista.

Banhada por mar de Norte a Sul, Portugal conta com uma enorme lista de Hot Spots para a prática de Surf.

As potencialidades da costa recortada portu-

Criada em 2003, a escola Surf’s Cool Godzilla tem como objectivo principal divulgar o Surf como mo-dalidade desportiva que é por excelência.

Sedeada em Matosinhos, na Avenida Gene-ral Norton de Matos, a escola segue a filosofia de proporcionar ajuda profissional com padrões alta-mente qualificados, induzidos por uma equipa ex-periente, credenciada e altamente motivada.

Gerida por Rodrigo Lacerda, Godzilla, a escola pretende a captação e formação de novas gerações de surfistas, contando para isso com uma série de infra- estruturas de apoio, bem como equipamen-tos de qualidade e planos de actividades de acordo com as experiências e vontades dos alunos.

Além de aulas de surf, a escola fornece a quem estiver interessado aluguer de material, aulas de skate, bicicletas, aulas de yoga, bem como outras experiências únicas. É possível proporcionar surf--trips, campos de férias e festas de aniversários a quem procurar animação, diversão e momentos únicos.

A Surf’s Cool pretende, no fundo, incitar o de-senvolvimento de um estilo de vida saudável, onde a prática de desporto possa elevar o estado de es-pírito e manter uma vida plena de boas vibrações, uma vida ‘cool’.

ESCOLA DE SURF SURF’S COOL GODZILLA

guesa são imensas, sendo que a praia da Ericei-ra, foi considerada em 2010, pelo jornal britânico The Times, como um dos dez melhores locais do mundo para a prática de surf.

Tal facto também induz os apoios do meio a in-cidir sobre os praticantes da zona Sul. “Claro que em Lisboa o desporto é muito mais apoiado pelas marcas do meio a esses surfistas. Tendo melho-res ondas também - eles têm uma costa recortada onde podem ter ondas com várias condições e vários tipos de vento e ondulações.”

Para Godzilla, cujo nome Kelly Slater é o expo-ente de idolatração do surf, Portugal encontra-se bem representado com as prestações de “Tiago Pires e com muitos outros surfistas. Mesmo com o Vasco Ribeiro.”

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JUP — OUTUBRO 2011

– o desporto dos deuses

DESPORTO 17

Modalidade: Hóquei no gelo UP lança programa de desporto adaptado

Estudante e atleta de alta competição? Yes, you can!

D idzis Podnieks, soon 25 years old, works for Latvian Natio-nal Armed Forces and twice a

week plays ice-hockey for his own ple-asure, which “began with a frozen pond near my home, where all kids, wearing their skates and helmets, played. And then… aw, then my father took me to a game where Latvian National Ice-hokey Team played.”

In Latvia winter is cold and not many activities can be done outdoors, but skating and hockey are the most popular ones. Ice-hockey is a sport that takes not only a lot of time and devotion in practice, but is also highly expensive, especially if parents roll in their child at an early age. “From one side it is good and recommended, be-cause then the child grows up with ho-ckey and can get really good, but for a child it is even more expensive, becau-se he grows and needs new equipment every year”. The whole form – knee, shoulder and teeth protectors, a helmet and skates altogether cost around 800 euros and that is if you know where to find good stuff for less money. Add the payment for a coach and rent of ice, and you easily get around 2000 euros, if not more.

Didzis plays in an amateur team, but is rethinking to either move to another team with a higher game level or play for two teams. His professional career was stopped at the expensiveness of the activity when he was a child, but grown up and saved money to finally do what he loves. “I am a center player and as one I try very hard not to allow the opponent start an attack, but when I am at the defense zone I help not to let anyone score a goal. In a perfect situation of our team’s attack I might even score a goal or two as my main ob-jective is to cover the sight of a goalie”.

Ice-hockey as any sports takes a lot of enthusiasm and devotion. That is proven by the way Didzi’s team was created – “10 guys who wanted to play badly enough to find a coach that would work with them. Then we wan-ted to play in the league, which we have done and at the end of our first year we stood as third best team. Not bad, I would say.”

“Training and games happen twice a week. On Saturdays we get up at 6.30, because two hours later we all need to be on the ice, ready to skate and play the game.” When asked about the advanta-ge of playing ice-hockey, Didzis replies:

“Physical part is very important and hard. You need to be fast and strong to overplay your opponent. As I want to be the best player of my team, I work twice as hard. The specification of my work gives me some extra credit, because I am always in a good shape, I am fast and with great endurance. But then again – ice-hockey isn’t meant for people who are afraid of pain and can’t keep their moral and physical stability.” During the years Didzis has played he has broken his shoulder and also broken his forehe-ad. “That needed 12 stitches, if I remem-ber correctly,” he smiles.

Didzi’s family is supportive, but afraid of injuries as ice-hockey is se-cond most traumatic team-sport after American football, but as Didzis puts it: “They need to accept it. It is my ho-bby and I am not going to stop it anyti-me soon. I just have started to improve myself - my girlfriend comes to some practices and films them. Later I watch the video and find my mistakes. At first I didn’t think it works, but then at one game before scoring a goal I remem-bered that the previous time it didn’t work out as I wanted, so I changed my position and hit a goal. We won that game!”• Ieva Balode

D idzis Podnieks, de quase 25 anos, trabalha nas forças ar-madas letãs e pratica, duas

vezes por semana, hóquei no gelo como entretenimento, algo que “co-meçou num lago congelado perto de minha casa, onde todas as crianças usavam os seus patins e capacetes e jogavam. E depois... aw, depois o meu pai levou-me a um jogo da Se-lecção Nacional Letã de Hóquei no Gelo.”, conta Didzis.

Na Letónia, o Inverno é frio e não podem haver muitas actividades ao ar livre, mas a patinagem e o hóquei são as mais populares. O Hóquei no Gelo é um desporto que não só exige muito tempo e devoção, como é altamente dispendioso, especialmente se os pais inserem as crianças na modalidade desde cedo. “Por um lado é bom e re-comendável, porque depois as crian-ças crescem com o hóquei e podem ter sucesso, mas para uma criança é ainda mais dispendioso, pois cresce e precisa equipamentos novos todos os anos”. Todo o conjunto - protectores de joelho, ombro e dentes, um capacete e patins, tudo junto custa cerca de 800 euros e isso se se souber onde encontrar bom material por pouco dinheiro. Acrescen-te-se o pagamento a um treinador e o aluguer do gelo, e facilmente se atinge os 2000 euros, se não mais.

Didzis joga numa equipa amadora, mas está a pensar em mudar-se para outra equipa de maior nivel compe-titivo ou jogar em duas equipas. A sua carreira profissional parou devi-do aos elevados custos da actividade quando era criança, mas cresceu e poupou para finalmente fazer o que ama. “Sou um jogador centro e como tal esforço-me muito para não per-mitir que o adversário comece um ataque, mas quando estou na zona de defesa ajudo a que ninguém marque golo. Numa situação perfeita de um ataque da nossa equipa, talvez mar-que um ou dois golos já que o meu objectivo principal é cobrir a visão do guarda-redes.”

O Hóquei no Gelo como qualquer desporto implica muito entusiasmo e devoção. Isso é provado pela forma como a equipa de Didzi foi criada – “10 rapazes que queriam jogar, mal o su-ficiente, para encontrar um treinador que quisesse trabalhar com eles. Depois queríamos jogar na liga, o que fizemos e, no final do primeiro ano, fomos a ter-ceira melhor equipa. Nada mau diria.”

“Os treinos e os jogos são duas vezes por semana. Aos sábados levantamo--nos às 6 e 30, porque duas horas mais tarde temos de estar no campo, prepa-rados para patinar e jogar.” Quando questionado sobre o factor-chave ne-

cessário para jogar Hóquei no Gelo, Didzi responde: “A parte física é muito importante e difícil. É preciso ser rápi-do e forte para ultrapassar o adversá-rio. Como quero ser o melhor da mi-nha equipa, trabalho duas vezes mais. A especificidade do meu trabalho dá--me alguma ajuda extra, porque estou sempre em boa forma, sou rápido e tenho grande resistência. Mas, mais uma vez: o Hóquei no Gelo não é para pessoas com medo da dor e que não conseguem manter a sua estabilidade moral e física.” Durante os anos que jogou, Didzis fracturou o ombro e um osso na testa. “Precisei de 12 pontos, se me lembro bem”, sorri.

A família de Didzis apoia-o, mas receia as lesões pois o hóquei no gelo é o segundo desporto colectivo mais traumático a seguir ao futebol ame-ricano, contudo como Didzis explica: “Eles têm de aceitar. É o meu pas-satempo e não vou parar tão cedo. Ainda agora comecei a melhorar – a minha namorada vai a alguns treinos e filma-os. Depois vejo os videos e procuro os meus erros. Ao início, não pensei que resultasse, mas num jogo, antes de marcar um golo, lembrei-me que numa ocasião anterior não resul-tou como eu queria, então mudei de posição e marquei golo. Ganhámos o jogo!” • tradução Pedro Bártolo

N um país onde o futebol des-fruta de uma posição de hege-monia e os restantes desportos

convencionais vivem da atenção que resta, a actividade física adaptada fica em segunda linha. A Universidade do Porto promete contrariar essa tendên-cia ao abrir o desporto universitário aos alunos com deficiência.

Em parceria com o Gabinete de Educação Física Especial da Faculdade de Desporto da U. Porto, o Gabinete de Apoio ao Desporto da UP (GADUP) desenvolveu um projecto a ter início no próximo ano lectivo que disponibi-lizará aos estudantes com deficiência a possibilidade de praticarem Boccia, Natação e Tiro com Arco com técnicos especializados.

A colaboração da Faculdade de Des-porto da UP (FADEUP) com o desporto

adaptado não é novidade, já que a equi-pa de basquetebol em cadeira de rodas da Associação Portuguesa de Deficien-tes do Porto usufrui das instalações da faculdade. Além disso, os alunos que seguem o ramo de “Desporto e Popula-ções Especiais” têm a oportunidade de pôr em prática os seus conhecimentos da área nos treinos da equipa.

No entanto, esta é a primeira activi-dade que se dirige a toda a comunida-de académica. A iniciativa encontra-se ainda na fase de inscrições e mediante o sucesso que venha a alcançar, o GA-DUP prevê que a oferta de modalidades seja cada vez mais vasta. Os elevados custos materiais terão concorrido para que desportos como o basquetebol em cadeira de rodas, o atletismo ou o ténis não sejam incluídos, no imediato, no programa.• Pedro Bártolo

N o ensino superior a formação do estudante pode também englobar a vertente desporti-

va a que se pretende associar valores como a resistência e a liderança. Actu-almente, o modelo norte-americano é o melhor exemplo de sucesso.

Coordenado pela National Collegiate Athletic Association (NCAA) e compos-to por 800 universidades existe uma promoção da competição académica em 23 modalidades, divididas por 3 divisões. Aqui, o futebol americano e o basquetebol são as principais mo-dalidades. Juntas arrecadam cerca de 5 mil milhões de dólares por ano, com dois canais de cabo a transmitir exclu-sivamente os jogos das várias ligas. Este modelo atinge uma dimensão estratos-férica com o investimento das universi-dades a ser superior a 5 mil milhões de dólares por ano em centros de treino, alimentação, residência para os estu-dantes-atletas e a atribuição de salários. No entanto, o desempenho académico dos estudantes continua a ser mais im-portante do que a prestação desportiva.

Em Portugal a realidade é outra. O investimento das universidades é es-casso e para obterem algum benefício devido à sua prática desportiva, os es-tudantes necessitam de obter o estatuto de atleta ou de alta competição. En-quanto o primeiro é conseguido atra-vés da representação da universidade em campeonatos, provas ou torneios universitários, para um estudante ter estatuto de alta competição tem que, por exemplo, representar uma equipa ou a sua selecção a nível internacional.

Uma recente reformulação do es-tatuto que vigora desde o ano lectivo 2007/2008 veio introduzir outras al-terações. “Nesta versão os estudantes que representam as suas Associações de Estudantes (AAEE) também têm di-reito ao estatuto e beneficiam de uma época especial de exames e de justi-ficação de faltas enquanto estiverem a representar a U.Porto ou a sua AE”, afirma Bruno Almeida, director do Ga-binete de Apoio ao Desporto da Uni-versidade do Porto (GADUP). O apoio do estado ao desporto no ensino supe-

rior tem sido inexistente, como refere o responsável, “O estado nos últimos anos não tem dado a devida atenção a este assunto passando a responsabili-dade “desta pasta” por inteiro para as Instituições de Ensino Superior (IES) ou mesmo para as AAEE”.

Ricardo Pesqueira, jogador de ande-bol do FCPorto e da selecção nacional, frequenta a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e tem o estatuto de alta competição. Com 7 a 9 treinos de segunda a sexta, considera ser importante para os estudantes en-contrarem o seu próprio ritmo e con-trariarem a ideia de que é impossível ser bom em ambas as coisas. “Tenho de ser mais autónomo do que qual-quer outro aluno quando entra para a universidade” afirma.

Por sua vez, Edgar Baptista, estu-dante na FADEUP, obteve o estatuto de estudante atleta através da representa-ção da UP em diversos campeonatos de atletismo, onde conseguiu vários títulos nacionais. A possibilidade de realizar exames na época especial de Setembro é um dos principais bene-fícios para o estudante que considera “excelente ser recompensado pelo es-forço e dedicação”.

Ambos acreditam que uma refor-mulação dos horários dos atletas es-tudantes, a existência de alguém no gabinete de apoio ao estudante que conhecesse o percurso e situação de cada atleta e pudesse ajudar a fazer as melhores opções e a possibilidade de realizar a avaliação através de outras formas seriam medidas que facilita-riam a conciliação do desporto com o estudo.

O investimento no desporto univer-sitário tem como retorno a comple-mentação educacional do aluno e a promoção da marca das instituições, mas a existência de um modelo pre-cário tem condicionado a actividade dos estudantes que vêm no seu próprio esforço e dedicação a única forma de conciliar ambas as actividades.

Yes, you can. But it’s not that easy... • Filipa Sousa e Pedro Ferreira

EM PORTUGAL, QUASE TODOS ADORAM FUTEBOL E NÃO CONSEGUEM IMAGINAR A VIDA SEM OS JOGOS DA SUA EQUIPA. SE ÉS PORTUGUÊS, ENTÃO IMAGINA A PAIXÃO E INTERESSE QUE TENS POR FUTEBOL, ENQUANTO LÊS ESTA ENTREVISTA. DESTA FORMA, VAIS CONSEGUIR PERCEBER O QUE O HÓQUEI NO GELO SIGNIFICA PARA OS LETÃOS – MARCA O CORAÇÃO E A VIDA DOS LETÃOS COMO O FUTEBOL A TUA. OS JOGADORES SÃO IDOLATRADOS, OS JOGOS ESTÃO LOTADOS, OS FÃS SÃO RUIDOSOS E TODAS AS CRIANÇAS SONHAM EM TORNAR-SE JOGADORES.

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JUP — OUTUBRO 2011CRÓNICAS18

Ana Areias

… ser um okupa na Fontinha

COLHER.NET

CONTA-ME COMO É…

Colher é uma plataforma de divulgação do Design Gráfico Português que pode ser acompanhada on-line em www.colher.net. Ao longo de cada número do JUP vamos dar a conhecer um estudante universitário do Porto a frequentar a área do design gráfico. Já está á venda em shop.colher.net a primeira publicação do Colher dedicada á ilustração nacional. Neste quarto round convidamos Ana Areias, natural do Porto, estudante finalista da FBAUP. Recentemente esteve em Barcelona, cidade á qual dedicou uma serie de postais em linocut. O seu trabalho é bastante focado na sua paixão: a tipografia.

Quem é Ana Areias?Ana Areias nasceu em 89 no Porto. Desde aí tem se tornado uma coleccio-nadora compulsiva de pancas, desde o Hip Hop aos Blues, das tipografias de rua a publicações antigas, dos padrões aos azulejos, dos ornamentos ao mini-malismo, da street art à caligrafia, dos postais aos posters de rua, dos toys às "matrioskas", da canela à baunilha, do minimalismo ao "kitsh", do analogico ao digital.

De onde advém a tua paixão pela tipografia?É uma das coisas que já me perguntei, mas sinto como se esta paixão fosse inata em mim, quando dei por mim, sentia-me pequenina face a alguns letreiros na rua que queria trazer para casa, a pasta tipografia nos "bookma-

rks" implicava uns bons minutos em scroll e cresciam nas prateleiras de cá de casa livros e livros e livros.

Quais as para ti são as diferenças mais vincadas entre Porto e Barcelona?Sinto que em Portugal as pessoas ain-da estão muito presas à rotina casa--trabalho-casa; os catalães são muito activos na vida política, dão valor ao descanso, às festas com os amigos, às jantaradas, aos copos e aos petiscos. A quantidade de pessoas que anda na rua à noite e que "habita" no pleno sentido da palavra a cidade é estupen-da! A cidade em si é formidável, a cada esquina uma surpresa, a cada recan-to um encanto, e até nos sítios mais comuns há sempre alguma coisa que não estava lá no dia anterior.

Normalmente fazes trabalho para papel, vês-te alguma vez a fazer algo mais digital como um website?Não nego que sou uma apaixonada por trabalhos impressos, gosto do cheiro das folhas novas, do toque, do peso, da materialidade de cada objecto e da re-lação do objecto com as mãos.

No entanto estou ansiosa por traba-lhar com outro tipo de propostas, não quero de todo ficar rotulada a um estilo ou a uma técnica porque vibro igual-mente com ambos os suportes.

Como vês o design gráfico hoje em dia na sociedade portuguesa?A sociedade em geral ainda não está muito bem familiarizada com a a pa-lavra, não sabe o que é, nem como se pronuncia;

Mas gosto sempre de ver o lado po-sitivo das coisas: temos ateliers e tra-balhos notáveis, muito bons cartazes a colorir as paredes da cidade, muito boas iniciativas como "Chapéus há muitos" e principalmente uma por-rada de gente com vontade de fazer coisas e catalisar a mudança. Acredito que as pessoas a pouco e pouco estão a ficar mais sensibilizadas e cabe-nos a nós esse trabalho.

O que fazes quando não tens ideias?Não ter ideias é frustrante; até porque maior parte das vezes que as tens, não tens o tempo necessário para as pôr em prática; por isso normalmen-te quando bloqueio vou ao "deliciou", ao separador "inspiration", bebo mais uma caneca de chá, ponho uma mú-sica que me motive e volto ao trabalho muito mais inspirada.

Diz-nos algo que ninguém saiba.Desmaio se vir o meu próprio sangue.

Respostas flash: Grelhas ou sem grelha?Grelha.

Designer / Ilustrador favorito?As minhas constantes obsessões não deixam espaço para favoritismos mas ainda assim deixam-me nomear como intemporal o trabalho de Herb Lubalin, como apaixonantes as pa-ginações do Atelier Martino&Jana e como inspiradoras as ilustrações tipo-gráficas de Jessica Hisch.

Sites e revistas preferidas?Sou mais uma rapariga de sites e livros mas não dispenso de consultar a IDN, a Etapes, a EyeMagazine, a Juztapoz, e mais recentemente a Elephant. Quanto a sites são imensos os rss en-tre os quais: Behance, Daily Drop Cap, Design Work Life, Share Some Candy, I Love Typography, Stick2target entre tantos e muitos outros.

Tens algum trabalho que te tenha dado um gozo especial?Os postais sem dúvida, por ter gasto imensas horas a escavar linóleos, por me ter cortado várias vezes e quase des-

A ntónio esteve um mês na Es-cola da Fontinha e ajudou em tudo o que foi preciso. Por or-

dem da Câmara e amor ao projecto, foi expulso de lá pela força da polícia, com shotguns e violência. São experiências normais na vida de um “okupa”.

Mas António diz não se identificar exactamente com o termo, porque não esteve na Fontinha propriamen-te para estabelecer, uma vez que há muito seguiu outros ideias. No entan-to, acha o movimento “fundamental, para pôr em causa tanto a questão sagrada da propriedade privada como a da impossibilidade de serem feitas coisas sem ter dinheiro envolvido mas pessoalmente”.

O projecto Es.Col.A, pioneiro na Ci-dade do Porto, nasceu na Casa Viva, e António, enquanto “membro” acom-panhou-o desde o início. O bichinho da transformação da sociedade e da busca por um mundo melhor fê-lo envolver-se nas ideias e no trabalho no terreno. “Esta ideia de pegar num espaço público e não o privatizar outra vez, ou seja torná-lo realmente públi-co e abri-lo à comunidade, foi a ideia base que me fez participar nisso”.

A ideia inicial era “abrir a escola,

voltar a pô-la funcional e depois, com um processo lento, começar a desen-volver actividade e a envolver a vizi-nhança, não só como consumidoras de actividades mas também gestoras do espaço”. Era a Fontinha, enquanto comunidade, que ficaria encarregue de a gerir depois.

E como é que se reformula uma es-cola sem dinheiro envolvido? “Ofere-ceram-nos cem litros de tinta e rolos e cabos eléctricos, candeeiros, lâmpa-das… há sempre um investimento ini-cial, para os flyers, por exemplo. Mas é tão poucos que os membros do co-lectivo que recebem um ordenado ao final do mês conseguem pagar isso. O resto é tudo voluntário”.

E que tipo de pessoa é que abdica do pouco tempo que tem em prol de ajudar os outros, numa actividade que ainda por cima tem implicações legais?

“Eu acho que o tempo que eu perco é a trabalhar, no emprego que eu te-nho. Tudo o resto que eu faço, como brincar com a minha filha ou partici-par na construção de projectos destes, emancipadores e que me parece que fazem com que a sociedade vá para ca-minhos melhores, são sempre ganhos de tempo. A grande motivação é polí-

tica, no sentido em que eu não o faço por caridade, mas no sentido de que as pessoas se emancipem e que perce-bam que não é preciso uma organiza-ção de cima para baixo ou que alguém mande para que as coisas funcionem”.

E parece que António não é o único a pensar assim. A força voluntária foi suficiente para avançar com o projec-to. Uma vizinha ficou encarregue das oficinas de escrita e leitura, e a oficina de informática tinha computadores feitos de lixo informático.

As actividades organizadas eram do mais variado possível mas numa zona pobre com elevados níveis de iliteracia, era o apoio escolar que fazia mais sucesso. “Os jantares populares eram vegetarianos e por isso não eram atractivos para 90% das pessoas da Fontinha, o cinema não era propria-mente popular e por isso também não era chamativo mas o apoio escolar era fantástico e estava a ter um impacto bastante grande”.

Desde o início que António e os seus companheiros foram bem rece-bidos e tiveram o cuidado de informar bem a população sobre quais eram os seus objectivos. “A primeira reacção que tivemos foi a de três moradores

da própria rua que no dia da ocupação foram lá apoiar a iniciativa da própria rua. Nesse sentido, a reacção foi ópti-ma. Depois de estarmos lá dentro, um grupo de pessoas ficou encarregue de bater às portas da vizinha a explicar o que é que se passava e tal e mesmo aí a reacção foi positiva ou sem reacção”.

Quem não parece ter percebido bem qual era o propósito de aquele

grupo de pessoas estar ali foi a Câmara do Porto. “Eles não tentaram chegar a conversa connosco nem quiseram sa-ber de leis, razões para lá estarmos, e havia várias possibilidades de nos te-rem abordado”. • Liliana Pinho

maiado, mas principalmente por este projecto ter um "quê" de imprevisibili-dade quanto ao resultado final; e claro pelo feedback que teve, que é sempre uma motivação também.

Qual a tua personagem de desenhos animados preferida?Pepperann marcou as minhas manhãs de sábado em pijama no sofá!

Como te vês daqui a uns anos?Daqui a uns vejo-me sobretudo com a mesma vontade e paixão que nutro agora para abraçar grandes projectos.

Sou da opinião que devemos sem-pre começar por sonhar alto e não nos limitar-mos a partida. Sendo assim, imagino-me num estúdio partilhado com alguns amigos, cheio de espaços oficinas de impressão, cheiro a spray no ar, imensas pessoas a trabalhar à minha volta, umas boas mãos cheias de pro-jectos em cima da mesa e umas quantas horas de sono a menos.

Recta final: Qual é a tua opinião acerca do Colher?Penso que o colher é uma espécie de força omnipresente que veio divulgar o que de bom se faz em Portugal e impul-sionar novos projectos e novos nomes.

Obrigado pela entrevista. Ultimas palavras?Ana Types Type já tem uma mão cheia de projectos para 2011.

entrevista Eurico Sá Fernandes (via e-mail)imagens Ana Areias

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JUP — OUTUBRO 2011 DEVANEIOS 19

ilust

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Lob

a

De que serve o pensamento!

Que adianta pensar em alguém, de forma tentadora, apaixonada ou romântica, tu vais ser sempre tu. Assim dessa maneira sem qualquer alteração.

Só o pensamento consegue libertar tudo que sentimos, todo o amor por alguém.

As fantasias não passam de realidade pintada com outros tons. Toda a claridade do pensamento se transforma em tons cinzentos e escuros.

O preto persiste em entrar no coração, a entrar na alma aparentemente vazia.

Todo o sofrimento se junta irritando o pensamento e olhar.

Aquilo que vemos como perfeição não passa de uma realidade crua e suja, aquilo que vemos de um verdadeiro amor não passa de uma autêntica ilusão e todo o que sempre pensamos de um verdadeiro homem apaixonado não passa meramente de uma visão turva.

Será que um dia saberei o verdadeiro sentido, o verdadeiro sentimento do que é ser verdadeiramente amada.

Tudo o que sempre acreditamos e que defendemos por vezes e irresistível, nada é real, nada e autentico, nada e verdadeiro. Tudo se resume a egoísmo e individualismo.

Amar verdadeiramente é querer essa pessoa tão especial, tão importante, tão autêntica.

E saudável amar, é importante saber-mos mostrar a alguém o quanto é importante para nos e o quanto a desejamos. Olhar para alguém desta forma é o mesmo que olhar para o horizonte num dia lindo em que o sol esta escondido, mas radioso.

Tudo que sentimos não existe, são sentimentos impróprios, impuros, são apenas sentimentos.

Tudo que desejamos seja homem ou mulher é ter alguém que nos ouça sem criticar, magoando por vezes dizendo o que não queremos ouvir.

Querer estar presente no pensamento de alguém, querer mostrar o quanto somos importantes.

O amor e ridículo, por vezes.

É querer algo que raramente conseguimos ter, porque não existe esforço mutou.

Querer sempre mais faz parte da nossa existência. Por vezes não reparamos que exigimos demais, mais ao ponto de perder quem mais se ama na vida. Amar é assim mesmo, existe limites, existe regras. O pensamento é incontrolável, é único e inexplicável. O pensamento limita todas as nossas acções, sejam elas boas ou más. Não compreendo a relação existente do amor e do pensamento.

Por vezes são iguais, mas da mesma maneira que afirmo isto, também digo que são completamente diferentes.

Toda a cor do amor pode ser perdida com apenas uma enorme paleta de cores frias cheias de pensamentos. Todos os pincéis que mergulham na água limpa para colorir de uma outra cor levam sempre uma mancha da cor antiga.

É assim que comparo o pensamento, podes controlar os tons, podes controlar a água, já no amor a cor é pura, simplesmente pinta e só depois vês o resultado. O que significa que temos sempre uma ilusão de que pode ficar bem, mas o resultado pode ser inverso a todo este pensamento.

O amor é importante assim como o pensamento.

Simplesmente temos que saber lidar com os dois ao mesmo tempo, porque eles podem estar juntos, e em sintonia.

Juliana Carvalho

Page 32: Jup Outubro 2011

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