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Destaque 2 || Educação 10 || Sociedade 14 || JUPBOX 17 || U.Porto 20 || Cultura 22 || Críticas 28 || Cardápio 29 || Opinião 30 || Devaneios 31 JUNHO’10 Jornal da Academia do Porto || Ano XXIII || Publicação Mensal || Distribuição Gratuita Directora Tatiana Henriques || Director de Fotografia José Ferreira || Directora de paginação Mariana Teixeira Chefe de Redacção Mariana Jacob Queima das Fitas 2010 Semana única

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Capa: Queima das Fitas 2010 Semana Única Ficha Técnica: Jornal da Academia do Porto || Ano XXIII || Publicação Mensal || Distribuição Gratuita Directora: Tatiana Henriques ||Director de Fotografia: José Ferreira || Directora de paginação: Mariana Teixeira || Chefe de Redacção: Mariana Jacob

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Destaque 2 || Educação 10 || Sociedade 14 || JUPBOX 17 || U.Porto 20 || Cultura 22 || Críticas 28 || Cardápio 29 || Opinião 30 || Devaneios 31

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Queima 2010olhar para o futuro sem esquecer a tradiçãoAcabou no passado dia 8 de Maio mais uma Queima das Fitas. Deixou pelo caminho muita saudade, horas de diversão, mais histórias para contar e outros tantos excessos. A edição 2010 da Queima do Porto trouxe novi-dades e não desiludiu os estudantes da Academia.

Balanço Queima das Fitas 2010

Segundo Ricardo Morgado, actu-al presidente da Federação Aca-démica do Porto (FAP), o balanço foi “extremamente positivo” e houve claramente “mais pessoas do que no ano passado”. A Quei-ma foi “um sucesso” e tentou “ser diferente dos anos anteriores”. Ricardo Morgado acrescenta que “o cartaz já vinha sendo muito repetitivo. Os estudantes esta-vam cansados e já mereciam esta grande evolução”.Carla Garcia, finalista de Letras, é que parece não ter gostado muito da mudança: “não tinha grandes expectativas porque o cartaz não me agradava especialmente. Não conhecia quase bandas nenhu-mas, mas claro, esperava divertir--me”. No final, parece ter mudado de ideias. “Sem dúvida, superou as minhas expectativas”, afirmou.“A Academia do Porto é recente mas com muito futuro. As outras

vivem do passado. Nós apostamos em inovar com cartazes fortes e um recinto agradável”, deixou claro Ricardo Morgado. E a ver-dade é que a Queima das Fitas 2010 surge, de facto, inovadora em diversos aspectos. Para além da aposta no novo palco “Mun-dos”, nas novas actividades aca-démicas e na alteração da dispo-sição do recinto, o cartaz foi mais internacional que nunca. Franz Ferdinand foi o nome mais entusiástico, Crystal Castles e Bu-raka Som Sistema os mais aguar-dados. Mas, inevitavelmente, per-maneceu a velha guarda. Mais uma vez, marcaram presença os míticos Xutos e Pontapés, GNR e Quim Barreiros. Entre as maiores novidades destacaram-se Nneka, Linda Martini, Legendary Tiger-man, Azeitonas e Slimmy. No espaço “Mundos”, o sucesso da estreia foi inegável. Numa ten-

da apinhada em diversas noites, reinaram nomes como Virgem Suta, Olive Tree Dance, Marceli-nho da Lua ou The Dixie Boys. “A aposta residiu em grandes no-mes e depois, em bandas nacio-nais de grande qualidade”, e o cartaz “bastante eclético” é pro-va disso mesmo, afirma Ricardo Morgado. “O que se pretendeu foi ir ao encontro dos diferentes gostos dos estudantes, que se re-viram naquele cartaz”. Ainda que admita que o mesmo foi, de certa maneira, “construído à imagem de Franz Ferdinand”. Mas a apos-ta em grandes nomes não parece ter afectado gravemente o orça-mento. Ricardo Morgado garante que “nenhuma ultrapassou os 5000 €”.Mas nem só de concertos se faz a Queima.Sábado, 1 de Maio, foi o dia da Monumental Serenata que abriu

as hostes à semana da Queima das Fitas do Porto. A Serenata en-che a Cadeia da Relação e é um dos momentos mais aguardados por todos. Marca o traçar de capa dos caloiros acabados de chegar à Academia e a despedida dos finalistas que agora terminam o seu percurso. Mas se a melancolia invadiu o coração daqueles que partem, o orgulho e o espírito da Academia invadiram os recém--chegados, confrontados com a nova realidade. Mas a noite con-tinua no Queimódromo, onde os Phama, a banda vencedora do Concurso de Bandas de Garagem promovido pela FAP, aqueceram o palco com rock nacional. A ban-da apresentou o seu primeiro EP para uma plateia rarefeita, mas dedicada. Seguiu-se o concerto de Tiago Bettencourt & Mantha, que trouxe ao palco académico suaves melodias e grandes êxitos,

como “Carta”. Bastante diferente foi o ritmo dos originais Crystal Castles. Os canadianos trouxeram força, energia e novas sonoridades ao Porto. A vocalista, Alice Glass, presenteou todos com os diversos saltos para o público que levaram ao rubro a plateia estudantil.Domingo, 2 de Maio, não ficou atrás do dia de estreia. A celebra-ção da Missa de Bênção das Pastas, pelo Bispo do Porto, D. Manuel Clemente, atraiu os estudantes e os seus familiares, que foram sur-preendidos pelo coro estudantil e a actuação da banda de renome Gen Verde. Numa comemoração que Ricardo Morgado descreveu como “incrível”, os milhares de finalistas da Academia do Porto pintaram a Avenida dos Aliados com cartolas e bengalas de todas as cores e abana-ram pela última vez as suas fitas. A XII edição do ECAP, Encontro de Coros da Academia do Porto, iniciou-se ao

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fim da noite e deu lugar à voz coral da Academia, abrilhantando um api-nhado Ateneu. Mais tarde, os Flow 212 confessaram nunca ter actuado num palco como o da Queima das Fitas. Mas o empenho deu frutos e a banda fez mover as ancas mais tímidas com “Ao ritmo do meu Flow” e “És o meu sonho”. Ain-da assim, em conferência de im-prensa, Jey-Vi revelou que este foi um dos últimos concertos da banda. O artista, um dos criadores dos Flow 212, vai agora lançar-se numa carreira a solo e promete um single para breve. O grupo Buraka Som Sistema fechou a noite com muito kuduro, alegria e boa-disposição. Como seria de esperar, “Sound of Kuduro” e a lendária “Wegue Wegue” fizeram os estudantes vibrar e cantar em uníssono.

Franz Ferdinand fazem uma pausa na carreira

Os Franz Ferdinand também apro-veitaram para fazer um anúncio, na noite de segunda, 3 de Maio. O grupo afirmou interromper agora o seu percurso para “uma pausa, por causa do cansaço”. Mas no último concerto da tour, a banda britânica caprichou. “Jacqueline” deu início a um espectáculo que durou mais de duas horas – cerca de 45 minutos a mais do que es-tava previsto. A energia do grupo escocês e os grandes êxitos em jeito de best of, como “This Fire”, fizeram os estudantes entrar em delírio, num recinto a rebentar pelas costuras.Mas ainda antes do furacão esco-cês, Slimmy – nome artístico de Paulo Fernandes - sentiu-se em casa. O antigo estudante da Esco-la Superior de Educação do Porto cantou para “familiares e amigos”. Com uma banda totalmente reno-vada, onde só se manteve o bai-xista Garim, e um estilo sempre irreverente, Slimmy apresentou temas do seu último álbum, como “Beatsound Loverboy”, “Bloodshot star” – parte da banda sonora da série CSI: Miami – e “Set me on fire”. Não esqueceu ainda o hit “You should never leave me (until i die)”, cantado a plenos pulmões pela plateia presente.(ver caixa de Mário Reis)Segunda-feira foi ainda o Dia da

Beneficência, que mais uma vez envolveu os estudantes na reco-lha de fundos para instituições de solidariedade social da cidade. Com uma história de já 50 anos, a iniciativa baseou-se na venda de pequenas miniaturas de pastas académicas de cartão com fitas alusivas às diferentes faculdades e constitui um importante factor de formação entre os jovens.Mas para além de solidariedade, é dia de (mais) musicalidade. Em alternativa ao frenesim do Par-que da Cidade, surgiu mais uma edição do Concerto Promenade. Este ano, o espectáculo foi inspi-rado nos 100 anos da República e foi dirigido pelo Maestro António Ferreira Lobo. O festival de músi-ca erudita denominou-se de “100 anos de Passeio” e contou com a performance da Orquestra do Norte. Com 800 bilhetes dispo-níveis, o Coliseu estava repleto. Repleto de sons, descoberta e ori-ginalidade. Como referiu mesmo Ricardo Morgado, presidente da FAP, “foi muito bom. As activida-des pararelas, como o Promenade, o FITA e o ECAP estavam cheios”.Mas ainda que o Promenade te-nha sido um sucesso, a mente da maior parte dos estudantes cen-trava-se já em Terça-feira. Outro dos pontos altos da Quei-ma é o Cortejo. E na edição 2010 não foi diferente. A euforia des-ceu pelas ruas do Porto vestidas a rigor, num evento organizado para todos aqueles que se consi-derem estudantes da Academia. O acontecimento é todos os anos o culminar do curso para os finalis-tas – que desfilam sobre os carros – e o fim da fase de caloiros para os novos alunos. O Cortejo trou-xe, como habitualmente, cerca de 100 000 pessoas à rua, possibili-tando o contacto próximo com a população e a apresentação da Academia à cidade.No entanto, nem sempre a com-petição é saudável e a “rivalidade entre casas”, como descreve Ri-cardo Morgado, provoca alguns “incidentes praxísticos”. Depois de histórias de discórdia e carros incendiados, a segurança foi re-forçada e segundo o presidente da Federação Académica do Porto, “não houve incidente de maior”.Este ano parece ter sido mais “pací-

fico, com tranquilidade e é isso mes-

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Relativamente a alguns inciden-tes que envolvem barramentos à participação de estudantes, Ricar-do Morgado afirma que “da parte da FAP isso não acontece e não é algo que possa ser a FAP a con-trolar”. Mas assume que existem algumas coisas que é necessário mudar. Refere nomeadamente a falta de solidariedade das casas que criam situações que atrasam o cortejo e não pensam nos es-tudantes das instituições que pas-sam no fim, já de madrugada, e nos familiares que lá estão para os ver. Ainda assim, este ano, esta situação parece já não se ter fei-to sentir de forma tão acentuada, principalmente por causa das gra-des, que “foram postas mais lon-ge da Tribuna para permitir uma passagem mais pacífica”, afirmou o presidente da FAP. Segundo uma caloira do Instituto de Ciências da Saúde, “o cortejo deste ano repre-sentou a força da Universidade do Porto”. Já para Carla Garcia, finalista de Letras, “o cortejo foi o ponto alto da queima”.Depois da tarde agitada do corte-jo, a festa continuou no Queimó-dromo, com a tão esperada “noite pimba”. Mais uma vez, Quim Bar-reiros marcou presença com as habituais letras apimentadas e foi recebido com grande entusiasmo por parte dos estudantes. Como disse Ricardo Morgado, “Quim é o dia do estudante”. Mas antes do famoso acordeão e do bigode via-nense, os Hi-fi tocaram e encan-taram quem os ouviu. Mistura-ram música pimba com grandes clássicos dos anos 80, que todos sabiam de cor. Provenientes de Vi-seu, deram um espectáculo de ver e chorar por mais.E depois da famosa noite do es-tudante seguiu-se quarta-feira, que trouxe consigo a XXIII edição do FITA (Festival Ibérico de Tunas Académicas). E o Coliseu do Porto encheu para ver as tunas passar, numa noite especialmente dedi-cada aos Finalistas da Academia.A Tuna Feminina do Orfeão Uni-versitário do Porto (OUP) abriu o espectáculo, que foi apresentado, como habitualmente, pelos Jo-grais do OUP. Depois de 5 horas cheias de música, chegou final-mente o resultado final e a Tuna da Universidade Católica do Porto sagrou-se a vencedora deste ano.

Mas foi a Tuna de Medicina que arrecadou o maior número de prémios: melhor instrumental, melhor solista, melhor porta-es-tandarte, melhor pandeireta e ain-da segunda melhor tuna. O prémio Tuna mais Tuna (atribuído pelo Magnum Consilium Veteranorum) foi ganho pela Tuna de Engenharia da Universidade do Porto.Mas apesar de ser um festival ibérico, as sete tunas a concurso eram portuguesas. Questionado sobre esta situação, o presidente da FAP ficou com algumas dúvi-das. Depois de esclarecido, expli-cou que “era suposto ter existi-do uma tuna espanhola mas por questões de trabalho, visto ser uma quarta-feira, não foi possível”. Entretanto, o palco do Queimó-dromo recebia os Souls of Fire, que actuaram pela primeira vez na Queima. A banda passou várias mensagens durante a sua actua-ção, em críticas que não deixaram os estudantes indiferentes. Mas o protagonista da noite era mesmo o brasileiro Marcelo D2, que fez vibrar o público com o ritmo do Hip-Hop. O cantor relembrou an-tigos êxitos como “Mantenha o Respeito” e “À Procura da Batida Perfeita” e mostrou outros singles do seu último trabalho, “A Arte do Barulho”, de 2009.

Já no dia 7, os estudantes foram presenteados com o crazy pop dos Azeitonas e gritaram ao som de “Café Hollywood” e da tão fa-mosa “Quem és tu miúda”, entre tantos outros êxitos que já con-quistaram o público académico. O grupo trouxe ainda uma fanfar-ra carinhosamente denominada “Fanfarra Cáustica” pelo vocalista Mário Brandão, artisticamente conhecido por Marlon. Mas o es-pectáculo não se ficou pelo fim do concerto. Depois da grande actuação, desceram para o meio dos estudantes e fizeram a festa. Em Xutos e Pontapés, tornaram-se plateia. Cantaram numa só voz lendas musicais como “Homem do Leme”, “A minha Casinha”, “(Para ti) Maria”, “Contentores” e tantas ou-tras. O concerto levou o frio da noite e deixou sede de mais.Sexta-feira foi noite de Baile de Gala na Quinta da Camarinha, em Vila Nova de Gaia. Os cerca de 200 fi-nalistas vestiram-se a preceito para uma noite única. O Baile de Gala é uma das mais tradicionais festas da Queima das Fitas. Realizou-se pela primeira vez em Coimbra, em 1933, quando ainda se chamava Baile da Queima ou das Faculdades. Repre-senta o final da vida académica dos estudantes e contou com a presença de alunos de diferentes faculdades.

E enquanto os Finalistas se di-vertiam no Baile, os estudantes ouviam os primeiros acordes de Linda Martini, num concerto já atrasado mas ainda com pouca gente.Mas não só de grandes mul-tidões se fazem os grandes con-certos e a banda portuguesa de rock alternativo não ficou aquém das expectativas. Linda Martini, que recusa rótulos de pós-rock ou rock experimental, conquistou o público juvenil com músicas já bem conhecidas de álbuns como “Olhos de Mongol”, “Marsupial” e o mais recente “Intervalo”. Numa conferência de imprensa animada e bem-disposta, prome-tem ainda a chegada de um novo álbum “sem querer adiantar da-tas, lá para Outubro”.Mas o chamariz da noite estava para chegar. Nneka, que já con-quistou Portugal e o Mundo, fez afluir ao palco do Queimódro-mo uma multidão que encheu o recinto.As batidas de hip hop e soul da cantora nigeriana inundaram os presentes de ritmo e dinamismo.“Heartbeat” foi o ponto alto do espectáculo, mas as emoções aflo-raram à pele quando Nneka di-fundiu mensagens sociopolíticas que foram clamadas em uníssono pelo público.

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A cantora confessou aos jornalis-tas que deve falar destas coisas porque tem essa oportunidade. Acha ainda os portugueses muito simpáticos, mas quando interroga-da sobre aquilo que mais gosta em Portugal, é assertiva: a gastronomia.E finalmente chegou o último dia da Queima das Fitas 2010. Mais uma vez, o rock dominou o palco da Queima com Legendary Tiger Man, nome artístico de Paulo Fur-tado, que apresentou o seu mais recente álbum “Femina” e temas como “Big Black Boat” e “Route 66”, que desde logo marcaram o seu percurso artístico.Distinguiu-se pela originalidade e pelo espectáculo lendário, rode-ado de grandes telas que trans-mitiram em imagens as emoções do som. Seguiu-se os GNR, que deram o espectáculo mítico de sempre. Era uma plateia compos-ta por pessoas de todas as idades, fiéis à banda nortenha. Nem o cansaço de oito dias, o frio e chu-va que se fez sentir foram capa-zes de mover a multidão, que es-queceu tudo para gritar a plenos pulmões temas como “Mais vale nunca” e “Dunas”. Uma queima “muito mais segura que o habitual”

Mas a Queima das Fitas 2010 pa-rece ter feito a diferença também noutros aspectos. O presidente da Federação Académica do Porto contou ao JUP que a edição des-te ano foi extremamente calma, mesmo em termos de queixas. E nem elementos exteriores à co-munidade académica parecem ter alterado isso. “Comparado com o ano passado, foi um sossego. Se houveram incidentes, foram mui-to residuais, além de que a quei-ma foi muito mais segura que o habitual. Houve até o medo do jogo Porto – Benfica mas foi pacífi-co”, disse. Destacou ainda outra si-tuação que mostra a preocupação deste ano: “decidimos colocar lona transparente na tenda electrónica para ver o que se passava lá den-tro. Evitou muitas coisas e permitiu um maior controlo”, destacou.Relativamente a rumores de violên-cia nos autocarros gratuitos Especial Queima da STCP, Ricardo Morgado ainda não tinha grandes conclusões.

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“O ano passado houve muitos as-saltos, este ano pareceu-me que não. Havia reforço de segurança nos autocarros. Mas não sei, ain-da não falei com a STCP.”O Comissário Silva, responsável pelo controlo policial no recin-to da Queima parece concordar. “Este ano foi tranquilo”, declara. Segundo o Comissário, os casos mais graves foram “duas deten-ções por posse de estupefacientes e uma por resistência e coacção”. O que destaca este ano é a “in-crível quantidade de objectos per-didos, que já foram reencaminha-dos para os perdidos e achados”.De qualquer forma, não deixou de haver excessos. Ainda assim, o bombeiro Paulo Ribeiro garan-te que “não foi nada de especial, passou-se o normal numa festa de estudantes”. Acrescenta ainda que “o maior problema é sempre a ingestão de bebidas alcoólicas. O caso mais grave foi mesmo o de um finalista de Medicina que caiu abaixo de uma barraca. Teve de ser imobilizado e quei-xava-se muito da coluna. Tinha um ombro partido mas suspei-támos de mais alguma coisa”. A última noite também não foi pacífica. Com o mau tempo, o vento fez soltar-se a “portada

de uma barraca que acertou em dois jovens”. O que deixa sempre muito a desejar é a limpeza do recinto. O Presidente da FAP garante que este “é limpo todos os dias e as casas de banho recebem uma mangueirada”. Con-tudo, admite que “não se vê gran-des soluções”. Mas, para além do festejo, do ambiente e da euforia, tomaram-se decisões importantes.

O Parque da Cidade vai continu-ar a alojar o Queimódromo por mais 4 anos

Na quarta-feira, Rui Rio deslo-cou-se em pessoa ao Queimó-dromo para assinar um contrato com a Federação Académica do Porto e renovar a cedência gra-tuita do espaço por mais quatro anos. Como disse o presidente da Federação, “é uma segurança, já que é definitivamente o espaço mais apropriado”. “Não pensámos sequer em alter-nativas” porque segundo Ricardo Morgado, já estava garantido.“Já tínhamos falado com o Dr. Rui Rio durante a campanha e ga-rantimos desde logo o espaço, caso ganhasse. Foi o cumprir de uma promessa que já nos tinha feito”, disse.

Quem não concordava com o as-sunto era Elisa Ferreira, candidata concorrente, que sugeriu, na altura, o Palácio de Cristal como o novo espaço. O presidente académico não aceita. O baptismo de “Quei-módromo” surge por alguma razão. “O nosso recinto é muito superior a qualquer outro do País. Há muitas actividades a decorrer ali, como o Red Bull Air Race e o Porto precisa de um espaço assim. Neste momen-to é o único que tem e não pode prescindir dele”.Foi, portanto, um protocolo impor-tante, mas não foi único. Ricardo Morgado destacou ainda o que foi assinado com o Governo Civil, que “permitiu reforçar a componente social e veio dar um carácter de res-ponsabilização cívica e social que a FAP tem de ter”. O protocolo com o Governo Civil, segundo comuni-cado da FAP, teve como objectivo a colaboração de várias entidades para “sensibilizar os jovens para a prevenção rodoviária durante a se-mana da Queima das Fitas”. No âmbito deste protocolo, este-ve presente durante a Queima das Fitas “uma campanha de preven-ção rodoviária que envolve PSP, Instituto da Droga e da Toxicode-pendência, Associação Nacional de Empresas de Bebidas Espirituosas

(ANEBE), Associação de Discotecas Nacional e STCP”.Outra questão que se levantou ain-da antes do início das festividades académicas foi o polémico regu-lamento de imprensa. Perante as restrições que a FAP apresentava, tais como a entrega dos trabalhos fotográficos por parte dos fotógra-fos, houve diversas queixas – prin-cipalmente de uma jornalista do “Jornal de Notícias” – e mesmo uma ameaça de queixa por parte do Sin-dicato dos Jornalistas. Ricardo Mor-gado responde que, na altura, “não percebemos que íamos violar de alguma forma o estatuto do jorna-lista ou estávamos a atentar contra a liberdade de expressão. A nossa intenção era proteger os direitos do estudante, nomeadamente a ima-gem”. Afirma mesmo que “nem sa-bíamos da queixa que pretendiam fazer. Quando tive conhecimento, contactei-os de imediato.” Acredi-ta que depois da revisão de alguns pontos, “tudo se resolveu a bem e até serviu de exemplo à boa comu-nicação entre instituições”. Para Ri-cardo Morgado, “pôs-se uma pedra sobre o assunto”. Liliana Pinho Tatiana Henriques

Uma das noites mais esperadas

Na terceira noite de Queima das Fitas, o vento frio punha à prova os milhares de pessoas que se deslocaram ao Queimódromo para assistir a um cartaz que prometia Festa e Rock. A abertura das hostilidades ficou a cargo de Slimmy e a sua banda renovada; à excepção do baixista Garim, todos os outros elementos dão os primeiros passos nesta banda, depois da experiên-cia acumulada em bandas como Funk Yard, Varuna ou Teia. Com um concerto competente e que remete para o imaginário “Glam Rock” asseguraram as primeiras ovações da noite com músicas como “Beat Sound Loverboy” e “Showgirl”.A segunda actuação da noite trouxe de volta a Portugal os esco-ceses Franz Ferdinand. Perante um público entusiasta que os recebeu de braços abertos, a banda banqueteou os seus fans com um concerto enérgico, baseado em harmonias simples, melodias cantáveis, refrões radiofónicos qb e as virtudes do vinho do porto que o vocalista Alex Kapranos não se cansou de elogiar. Apresentando um repertório dos seus três discos, foram as músicas do primeiro registo que provocaram as maiores explosões no público. Temas como “Take me out” ou “This Fire” foram cantados e dançados com a exuberância própria dos festejos académicos. Depois de um final de concerto em que todos os mem-bros tocam percussão na bateria entretanto desmembrada, a banda regressou ao palco para um longo encore que terá saciado o mais exigente dos fans.Longe da ribalta e da magnitude do palco principal, os OliveTreeD-ance provocaram uma descarga de adrenalina num Palco Mundos a rebentar pelas costuras. Ingredi-entes: um didgeridoo, uma bateria e um kit de multi percussão, tudo isto tocado nunca abaixo dos 190 bpms. Pelo observado na tenda, não podemos deixar de questionar o impacto que poderiam causar no palco principal. Mário Reis

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A praxe é algo de que toda a gente fala, mas que poucas pessoas conhe-cem. Quem vive e sente percebe que a praxe vai muito mais além de qual-quer história ou tradição. Tem um significado, para quem a vive, que transcende todas as definições que podemos pesquisar nos milhares de sites, fóruns e blogues que a debatem no mundo global que é a internet.Ainda assim, a praxe académica é frequentemente descrita como “um conjunto de usos, costumes e tradi-ções praticados dentro das acade-

mias universitárias portuguesas e que visam a integração de novos es-tudantes dentro da instituição”. Esta rege-se pelo mote Dura Praxis Sed Praxis (A praxe é dura, mas é praxe).Esta tradição teve origem na Univer-sidade de Coimbra e retoma ao sé-culo XIV, quando era praticado pelo clero. Na altura, tinha como base uma espécie de lei: o “foro académi-co”, aplicada pelos “Archeiros” cuja função era zelar pela ordem no campus e inserir os novos alunos na vida académica. A essência

ram apologistas da sua prática.Muitos estudantes sofrem represá-lias, o que culmina no Luto Acadé-mico, em 1969. O reaparecimento da praxe acontece no final da déca-da de 70 e rapidamente se alastra, ainda que com maior intensidade em Coimbra, ao resto do paísA praxe sempre teve e continuará a ter altos e baixos e quase sempre pelas mesmas razões: a forte con-testação estudantil e as reacções que suscita.No Porto, individualmente, não foi diferente. No caso da cidade invic-ta, os costumes praxísticos estão relacionados com o uso de um dos maiores símbolos dos estu-dantes: o traje.Em 1858, os estudantes da Acade-mia Politécnica (actual Faculdade de Engenharia) fazem uma requisi-ção ao governo, pedindo autoriza-ção para o uso deste, tal como os estudantes de Coimbra. Qualquer que tenha sido razão, o traje come-ça a aparecer no Porto aos poucos.O traje sempre foi composto por capa e batina, e surge com base nas vestes eclesiásticas, uma vez que foi introduzido pela Igreja, que administrava o ensino Univer-sitário.Com o uso da Capa e da Batina, co-meçaram a surgir na academia do Porto uma série de “instituições”, como a Tuna e o Orfeão que usa-vam o traje académico.Ainda que desde sempre tenham existido alguns opositores à prá-tica da praxe em todo o País, um dos primeiros contestadores que se conhece é Teófilo Braga, que vi-ria a ser Presidente da República. O estudante refere, em relatos pesso-ais, que os alunos faltavam às aulas para escaparem à praxe.Esta objecção materializa-se ainda em movimentos anti-praxe que surgem na década de 90, nomea-damente o MATA (Movimento Anti – Tradição Académica) e o Antípo-das, que consideram que a praxe é um atentado à integridade física e psicológica e à dignidade humana. Estes movimentos evocam várias actividades praxísticas que já cor-reram mal, nomeadamente casos em Elvas e Coimbra. Estudantes que ficaram com danos físicos per-manentes e uma aluna que foi co-berta de excrementos depois de se declarar anti-praxe (em Santarém), receberam indemnizações dos pra-xistas. Este caso foi o primeiro que foi resolvido na justiça.

A praxe é uma tradição indissociável do Ensino Superior. Mas será que é ne-cessário seguir à risca as regras para se sentir um verdadeiro aluno universitário?

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manteve-se até aos dias de hoje.Assim como a contestação. No sécu-lo XVIII surgem as trupes e a praxe vivesse sob o nome de «investidas», levadas a cabo pelos veteranos da Universidadede Coimbra. Foi proi-bida pelo Rei D. João V, depois da morte de um alunoNo século XIX ressurge e o termo é substituído por «caçoada» e «tro-ça». Mas novamente a sua prática é várias vezes obstruída devido a condições políticas, económicas e sociais – como a proclamação da

República e a I Guerra Mundial.Durante a implantação da Repú-blica as actividades praxísticas são abolidas por causa da oposição dos estudantes revolucionários, voltando a ser instaurada em 1919. Durante o Estado Novo, é também posta de parte. Os alunos concen-tram, a sua atenção na contesta-ção ao regime salazarista. Durante a luta revolucionária, os estudan-tes de esquerda consideravam que a praxe distraía os estudantes da luta política, e portanto nunca fo-

Tradições Académicas:Desmistificar a praxe

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VISAO ESTUDANTES/DOCENTES EOUTRAS MANIFESTAÇÕES

Desde cedo que diversos manifes-tos anti-praxe foram já assinados, inclusivamente por personalida-des. O mais recente data de 2003 e foi assinado por personalidades como Pacman, Manuel Cruz, Edu-ardo Prado Coelho, Rosa Mota e Pedro Abrunhosa.A praxe é então uma tradição já inerente ao ensino Universitário do nosso País. Ainda assim, os alu-nos podem optar por fazer ou não parte desta tradição. As concep-ções sobre este assunto são diver-sas e envolvem todos os membros da comunidade académica. Mesmo os professores, que parecem por vezes distantes deste tipo de ac-ções, têm uma palavra a dizer.Uma das posições mais demarca-das é a da Faculdades de Belas-Artes (FBAUP) da Universidade do Porto. Não é anti-praxe, apenas não a pratica. Após o Luto Acadé-mico de 1969, Belas Artes nunca retomou as praxes, sendo, na sua generalidade, anti-praxista.Arquitectura integrada na data na FBAUP, levou consigo, para o Cam-po Alegre, esse legado. Mas neste caso foi diferente. A Faculdade de Medicina, em parceria com Letras e Ciências, inicia na praxe cerca de 60 pessoas de Arquitectura, do 1º ao 5º ano. Neste momento, na Fa-culdade de Arquitectura já há um grupo de alunos que pratica a pra-xe, tal como nas outras instituições.Cristina Ferreira, docente na Facul-dade de Belas Artes, refere que já nos seus anos de estudante nesta faculdade a praxe não existia. Sim-plesmente “não é uma opção”. Apesar de participar nas restantes actividades académicas, a praxe não chega a ser considerada. Cris-tina Ferreira atribui este factor ao facto de, no meio artístico, a pra-xe não ser vista com bons olhos. Há ideias pré-concebidas acerca da praxe na Faculdade.Em Belas-Artes, os alunos são “de-sencorajados” a participar em pra-xe e a não usar o traje académico, primando pela sua individualidade e singularidade, curiosamente o con-trário do que acontece nas restantes instituições. Os alunos também não estão muito interessados nisso.Cristina Ferreira diz que “a praxe é importante desde que não ul-trapasse os limites. É um rito de iniciação que devia ser opção para

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todos.” A professora conta o caso de uma aluna de Belas-Artes que pediu autorização à direcção da faculdade para trajar, o que nem seria necessário. A aluna é que sen-tiu necessidade de o fazer tendo em conta a política da faculdade em relação à praxe”.Em outras Instituições da Acade-mia do Porto, onde a praxe é pra-ticada e aceite, a opinião dos pro-fessores não diverge muito da de Cristina Ferreira.Helena Lima, docente na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, participou na praxe enquanto alu-na, mas considera que “a praxe da altura era muito diferente da que se pratica agora, (…) não tinha esta conotação de regime militar”. Mas acredita que a praxe pode consis-tir num elemento de integração, mas dependendo muito da forma como é praticada. Não deixa de re-parar que a praxe pode prejudicar o percurso académico dos alunos. “Eles querem cumprir os próprios horários. Estão nas aulas e a pensar que o professor nunca mais se cala para irem para a praxe. É claro que não estão com atenção”.Tal como as docentes Helena Lima e Cristina Ferreira, Luís Mira Vieira, docente no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), frequentou a praxe enquanto ca-loiro da Faculdade de Farmácia. Achou a “experiência muito in-teressante”, ainda que não tenha continuado como doutor de praxe. “Eram brincadeiras muito engraça-das. Na altura ficava mesmo chate-ado, mas agora conto-as a toda a gente. (…). Uma vez obrigaram-me a medir a fachada toda do edifício com um palito”. Admite que actu-almente já não está muito a par das tradições, mas considera que “a praxe pode ser uma óptima for-ma de integração, uma vez que é complicado para alunos que vêm de fora e não conhecem ninguém”.Na opinião de Luís Vieira, a praxe pode mesmo ser uma boa forma de incentivar os alunos a estudar, uma vez que influencia o ambien-te entre os alunos. “Se os alunos se sentirem bem e integrados, sentem-se incentivados. Se não, podem nem sequer ter vontade de estar ali”.Mas o docente refere que a praxe também constitui um foco de dis-tracção. “Noto que às quintas-fei-ras, [dia de praxe de alguns cursos no ICBAS], os alunos estão na aula

mas estão sempre muito agitados. Fisicamente estão lá, mas a cabeça já está na praxe”. Para contornar isto, sugere que “os alunos come-cem a aprender a gerir os seus horários. Se amanhã têm um re-latório importante para entregar, claro que hoje não vão à praxe”. Até porque “no final do curso não é a praxe que lhes vai arranjar em-prego”, sublinha.Mas a praxe, para os estudantes, tem um carácter muito mais complexo do que parece e que exige uma gran-de disponibilidade e dedicação.Assim, existem alunos que fazem da praxe uma das ocupações mais importantes da sua vida académica e outros preferem simplesmente dar prioridade a outras actividades por eles mais valorizadas.Joana Borges chegou ao Curso deCiências da Informação com a ideia de que a praxe “iria valer a pena”, o irmão sempre lhe tinha dito que “era uma óptima maneira de integração e que assim poderia conhecer muitas pessoas do seu curso”. E a verdade é que a praxe não a desiludiu.Neste momento, Joana Borges fre-quenta o primeiro ano de Ciências da Comunicação porque entretan-to mudou de curso. Mas continua a frequentar a praxe de Ciências da Informação, onde já é semi-puto [doutor de praxe com duas matrí-culas]. È difícil conciliar, são ambos em pólos diferentes da faculdade, mas Joana é resoluta. “Tenho de fa-zer imensas viagens. Mas eu acho que vale a pena. (…) Foi com aque-las pessoas que passei os meus momentos de caloira, por isso não fazia sentido mudar.”Para Joana, a praxe é muito impor-tante e, enquanto semi-puto sabe que tem muito a aprender mas está disposta a fazê-lo. “A praxe é para os caloiros, logo há uma gran-de organização por trás.Nós, semi-putos, temos a função de levar o maior número de caloiros e assistir à praxe, para que para o ano possamos ser bons praxistas.”Para a aluna, a praxe pode ser muito marcante. “Eu sou muito extrovertida e se calhar não tinha problema em falar com as pessoas, mas a verdade é que existem pes-soas muito caladas e tímidas que, com a praxe, se integram mais fa-cilmente num grupo”.Sublinha ainda que considera não existir qualquer tipo de humilha-ções em praxe. “Nós fazemos com

que as pessoas se sintam no má-ximo à vontade e as pessoas de fora, que não têm conhecimento, dizem muitas vezes que na praxe se passam vergonhas e que as pes-soas fazem coisas que jamais fa-riam noutro sítio, mas não é bem assim”. A sua função enquanto doutora de 2º ano, “é fazer com que ninguém do exterior veja a praxe. Os próprios caloiros estão impossibilitados de ver quando um está a ser praxado individual-mente. Isso é mesmo opinião de quem não está presente”.“A praxe serviu mesmo para eu me sentir muito à vontade. Dia após dia sentes-te cada vez me-lhor de lá estar”, conclui.Margarida Pinto é aluna do 1º ano da Faculdade de Direito e no se-cundário, não sabia o que era a praxe e chegou ao Porto sem ex-pectativas. Lembrava-se da irmã chegar a casa cheia de ovos na ca-beça, mas como a própria refere, “agora sei que é muito mais que isso”. Para além de lhe proporcio-nar momentos muito bons, acre-dita que a praxe lhe é útil na vida e no percurso académico, enquan-to aluna de Direito.“Mantenho-me na praxe porque já tive momentos muito bons e mes-mo com os menos bons, aprendi muito com eles. Daqui para a fren-te, as coisas não vão correr sempre bem, muito pelo contrário. E acho que a praxe acaba por me prepa-rar muito para isso.

E se calhar hoje quando alguém esti-ver a gritar comigo ou estiver numa oral de direito, terei uma postura completamente diferente da que te-ria há um tempo atrás”, afirma.A aluna de Direito acredita ainda que a praxe foi muito importan-te no processo de integração. “Eu não conhecia ninguém e foi na praxe que conheci. A verdade é que o meu grupo de amigos e as pessoas com quem partilho mais coisas são da praxe, não porque eu seja anti-social com as pessoas que não são da praxe ou queria se-leccionar, porque não selecciono”, sublinha.Para Margarida, a praxe tem agora “muita importância”. “Se for preciso todos os dias tenho coisas da praxe”.Ainda que reconheça que por ve-zes o facto de ter estas actividades de praxe façam com que vá menos às aulas, a praxe tornou-se mesmo uma parte vital da vida académica que a aluna não dispensaria. “Se estamos na universidade, devemos aproveitar tudo aquilo que ela nos pode dar e nesse caso, acho que devo aproveitar a praxe”, refere.Relativamente à sua faculdade em particular, explica que se acredi-ta que “a praxe em Direito é mais dura, há mais rigidez, mas a verda-de é que praxar um médico não é a mesma coisa que pra-xar um juiz.

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Acredito que muitas das coisas que acontecem na praxe têm um por-quê. Não sabemos é esses porquês logo no primeiro ano.”“Lembro-me que no primeiro dia éramos imensa gente nos degraus da faculdade à espera da primeira sessão de praxe e no final desse dia só restavam muito poucos”. Assim, acredita que “se a praxe fosse mais suave nos primeiros dias se calhar tinha ficado mais gente, mas não sei até que ponto é que isso era bom, porque é importante ver até onde as pessoas podem ir”.E Margarida não duvida de que um dos objectivos da praxe “é conse-guir pessoas que realmente consi-gam aguentar” e por isso, “há uma selecção de forma natural na pri-meira semana. As pessoas mais frá-geis não conseguem mas a partir do momento em que aguentas as pri-meiras semanas, ficas até ao fim”.Assim, no próximo ano, quer pra-xar os novos caloiros e partilhar com eles aquilo que este ano par-tilharam com ela. “Para mim seria estúpido não praxar porque acho que estaria a ser egoísta. Se eu tive a oportunidade de viver coisas, que-ro proporcioná-lo a outras pessoas”. Considera ainda que “é importante praxar. Mas é importante praxar tendo sido um bom caloiro, porque depois há os maus praxistas que se calhar praxam com um intuito muito diferente do que aqueles que já passaram por isto”.E na opinião da caloira, um bom praxista “é aquele que tem os ho-rizontes suficientemente abertos para aceitar as pessoas que não são de praxe e que (…) consegue fazer com que no dia anterior ao dia de praxe apeteça aos caloiros ir. É aquele que vem ter connosco e nos diz uma palavrinha ou faz um gesto de apoio que pode marcar os caloiros para o resto do percurso académico, e que faz pensar que os doutores até se preocupam con-nosco”, finaliza.Pedro Costa, aluno do 1º ano de Bioengenharia da Faculdade de Engenharia. Experimentou a pra-xe durante dois meses, e ainda que tenha saído, não foi por não ter gostado. Aliás, ainda que viesse do secundário com “expectativas diferentes” e esperasse algo mais “dinâmico”, vê a praxe como “uma experiência diferente” da qual “gostou imenso”.Tal como Margarida, Pedro acredi-

ta que a praxe “era uma maneira de me integrar no espírito univer-sitário, era uma maneira de co-nhecer as pessoas do meu curso”, ainda assim, “não era uma priori-dade”. Como o próprio justificou, “a partir do momento em que não me deixaram conciliar a praxe com os estudos e o desporto (Pedro pratica natação de competição) à minha maneira, optei por não continuar. Conta ainda que eles [os doutores de praxe] “não eram más pessoas mas não nos deixavam fa-zer o que nós queríamos. Quando saíamos das aulas íamos logo ser praxados, nem nos deixavam co-nhecer a faculdade e estar com os nossos amigos (…) porque dizem que é para conhecer os outros e às vezes nem podemos falar com eles. Mas sei de algumas pessoas do meu curso que vão à praxe até se tornaram grandes amigas”, assegura.Pedro acredita ainda que a praxe é importante na ajuda à integração, na interacção com alunos mais velhos do mesmo curso e como ele próprio refere, “para perceber como tudo funciona”. Mas na sua opinião, “os alunos não podem fa-zer da praxe o expoente máximo da sua vida universitária”. Ele acredita que “uma praxe mais liberal” até o motivaria mais, porque o que me-nos apreciou foi “que o pusessem entre a espada e a parede”, porque “desta maneira, quem quer ter boas notas, acaba sempre por deixar de ir. A praxe exige muito tempo”.Em relação às polémicas de violên-cia e abusos em praxe, Pedro não concorda. “Nunca sofri violência nenhuma. Somos um bocadinho gozados, mas basta entrarmos no jogo e pode ser muito engraçado”.Ainda assim, sente a discriminação na pele, por parte de alguns cole-gas. “Houve pessoas que deixaram de falar para mim quando deixei a praxe, mas isso não são os alunos mais velhos, são mesmo colegas meus que não entendem o porquê de não termos a mesma visão que eles [da praxe] ”.Ainda que a praxe seja evocada como ritual de integração, Pedro sente-se “totalmente integrado (…), e nunca me senti excluído de nada por não ir [à praxe].”O aluno universitário não deixa de referir que considera “as tradições académicas mesmo importantes”, e ainda que tenha pena de não ter

conseguido conciliar, afirma: “não vou deixar de viver a vida acadé-mica por causa disso. Aliás, espero participar no cortejo, vou trajar e vou continuar a sentir-me um alu-no da Universidade do Porto, tanto ou mais que os meus colegas que andam na praxe”.Dinis Oliveira, colega de Pedro Cos-ta enquanto aluno do 1º ano de Bioengenharia, foi mais radical.Nunca experimentou a praxe, e continua a não ter curiosidade em fazê-lo.No secundário, tinha a ideia de que “a praxe era uma perda de tempo e que existiam outras formas de conhecer pessoas sem perder ho-ras naquelas actividades [de praxe] menos interessantes”. Agora, afir-ma que a ideia se mantém, embora tenha ficado mais elaborada. Não aprecia as hierarquias e a rigidez de toda a actividade praxista.Quanto à praxe enquanto integra-ção, Dinis reconhece que poderia ser diferente.“Parece-me que poderia estar mais bem integrado nalguns grupos de alunos se tivesse ido, mas por outro, estou satisfeito por não ter ido por-que compensou a nível académico. Seguir matérias e assim…”, declara.“Não conheço os nomes de tantas pessoas como poderia conhecer(…) mas também estamos muito no início”, e acredita que isso tam-bém se pode dever ao facto de não ser muito extrovertido. “Como não fui, dou-me com pessoas que tam-bém não são da praxe”, reconhece. Ainda assim, e ao contrário de Pe-dro, afirma que não se sente dis-criminado, “de maneira nenhuma”.Apesar das boas experiências vi-vidas pelos alunos ou da simples opção de se manter aparte do mo-vimento, nem tudo parece ser fa-vorável e simples.Uma estudante da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto descreve a sua experiência como “inútil” e “uma perda de tempo”.A aluna frequentou a praxe du-rante quase quatro meses. Afirma que não é propriamente anti-praxe mas é contra a maneira como ela é encarada.“Se é suposto a praxe servir para integrar um estudante na vida aca-démica e incutir espírito de grupo, não foi esse o meu caso. Penso que devia haver uma mudança relati-vamente ao conceito de praxe”.Sublinha ainda que “não era contra

a praxe se isso não prejudicasse o horário de estudo, se não obrigasse a estar tantas horas sem fazer nada e a ouvir pessoas a dizerem-me coisas sem sentido. (…) Ninguém me ajudou em nada nessa altura, e não me diverti minimamente com o que fazíamos”.Refere mesmo que, visto não ser do Porto, a mudança foi muito complicada e a praxe nem a conhe-cer a cidade ajudou. “Obrigavam-me a estar cedo na faculdade e a ir muito tarde para casa sozinha, não tendo tempo para mais nada”.Faz questão de referir que “No caso da minha faculdade, a praxe não é muito agressiva em termos de humilhações”, ainda assim, a es-tudante de Farmácia acredita que “Era perder tempo gratuitamente. Tempo importante para outras coisas, até porque os caloiros não podiam falar entre si. Só fiz amigos na faculdade durante as aulas, de-pois de sair da praxe”.Na sua opinião, “a praxe podia ser um espaço em que os estu-

dantes partilhassem experiên-cias e debatessem assuntos ou uma forma de se divertirem to-dos juntos sem hierarquias e re-gras. O mote da praxe devia ser incluir ao máximo as pessoas e tratá-las com respeito e igualdade e não excluir quem não faz parte”.A estudante vai mais longe e diz que “Se os estudantes se juntas-sem para defender causas justas com o empenho com que se jun-tam para participar na praxe, o ensino superior e muita coisa no nosso país podia ser diferente. Só assim haveria uma verdadei-ra união de estudantes dentro da Universidade do Porto”.Mas não se fica por aqui. “Penso que este é um problema que os estudantes vão ter de resolver futuramente entre si, pois es-tarmos a perder o nosso espírito crítico e o poder que tínhamos para mudar e para revolucio-nar”, conclui.

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ORFEÃO UNIVERSITÁRIO Também no Orfeão Universitário do Porto (OUP) a praxe é símbolo de integração. Surgiu da necessida-de de uma hierarquia mas é uma praxe diferente da habitual, mais centrada na vertente logística. “ (Os caloiros) têm que aprender a montar um espectáculo, a organi-zar, a saber que instrumentos são precisos para cada grupo”, refere Eva Mesquita Cordeiro, presidente do grupo académico. E “é aque-la cordialidade – os mais velhos já carregaram, logo, carregam os mais novos”, afirma.Relativamente ao traje, o Orfeão persiste na conservação do uso da capa e da batina. No entanto, distingue-se do traje tradicional da Academia. Segundo Eva Cordeiro “O traje académico feminino nas-ceu em 1944 no Orfeão Universi-tário do Porto. (Elas) usavam um vestido com a faixa preta, da cor do Orfeão. Só depois é que se sen-tiu a necessidade de criar um uni-

forme para a mulher, daí usarmos meia branca. Depois a praxe é que adoptou o nosso traje, mudan-do, individualizando-o, usando a meia preta”.

OUTRAS FORMAS DE INTEGRAÇÃOACADÉMICA A Real Tertúlia dos Bastardos é uma das alternativas à praxe habitual e apenas existe na Secção Autónoma de Ciências da Comunicação da UP.Existe há cerca de cinco anos e tem cada vez mais participantes, que pretendem a integração no mundo académico, mas sem as regras mais rígidas da praxe. “O grande objectivo é integrar as pessoas que entram no curso”, conta Bárbara Pinho, a actu-al responsável pela RealTertúlia dos Bastardos. Na sua Carta de Prin-cípios, a Tertúlia assume-se como um “grupo académico vedado a praxistas”, descartando qualquer associação a alguma actividade pra-xística, seja física ou psicológica.

“Nós não fazemos praxe. Só nos reunimos e estamos juntos. Além das reuniões marcamos jantares para convivermos uns com os ou-tros”, assegura Bárbara. A respon-sável afirma ainda que na Tertúlia “ se pretende que os mais novos tenham sempre alguém a quem pedir apontamentos e que lhes conte o que se passa no curso. O ambiente é informal”.As tradições académicas são segui-das da mesma forma, podendo os “tertulianos” usar traje (já que este é académico), terem direito a Bap-tismo e participarem na Serenata. Mas, durante o cortejo, os partici-pantes na Tertúlia não passam na tribuna, como os restantes colegas que pertencem à praxe. Não obs-tante, as insígnias, como a semen-te, nabo ou grelo, não são permi-tidas, pois são de cariz praxístico.Também existe uma hierarquia dentro da Real Tertúlia dos Bas-tardos, mas que serve como “uma mera formalidade”. Bárbara Pinho salienta que ninguém se trata por “doutor” e nem se fazem sauda-ções, “podem olhar-nos nos olhos e sentar-se ao mesmo nível que nós”.A responsável lembra ainda que sentiu alguma picardia entre aTertúlia e a Praxe: “já sentimos bastante discriminação, apesar de agora ter diminuído um pouco. Mas chegaram a perseguir-nos e boicotar as nossas reuniões”. Além disso, Bárbara refere que os carta-zes que anunciavam os encontros da Tertúlia foram arrancados. A res-ponsável acrescenta que “os cartazes são colocados em finais de Outubro para que os caloiros experimentem a Praxe, e só depois decidam se que-rem ou não, ir à Tertúlia”. Bárbara Pinho esclarece que a Ter-túlia é anti-praxe, mas que há res-peito pelas actividades praxísticas,

“não somos contra a praxe e nem competimos com ela”. A Real Ter-túlia dos Bastardos é organizada por uma comissão de cinco pes-soas, que existe para alterar algo na Carta de Princípios, quando ne-cessário. O objectivo passa agora pela passagem da Tertúlia a uma instituição, “para que qualquer pessoa da Universidade do Porto pudesse entrar”.

FAP – FEDERAÇÃO ACADÉMICA DO PORTO A Academia do Porto é formada por todos os estudantes de ensino superior da área metropolitana, seja Universidade Pública, Privada, Politécnicos ou outros.Segundo o site da própria institui-ção, a Federação Académica do Por-to (FAP) surge “como interlocutor representativo da maior Academia do país (…). Assume-se como orga-nismo coordenador do movimento estudantil, criando os meios para a união das diversas associações.” Segundo a mesma fonte, a FAP “é constituída por 26 Associações, fi-éis depositárias dos interesses dos seus estudantes, que são mais de 70 000”. Isto é, a FAP é constituída pelas associações de estudantes da Academia do Porto.Quer sejam praxistas quer sejam anti-praxe. Porque o conceito é ‘académico’ e não praxista. Qual-quer aluno, independentemente das suas crenças, é aluno da Aca-demia do Porto e portanto usu-frui das actividades da FAP e tem os mesmo direitos e deveres que qualquer outro. Senão, que legiti-midade teria a FAP de representar associações como a de Belas-Artes?Os dirigentes da FAP devem ainda ser isentos de opções e partidos.Enquanto representantes da Acade-mia, deverão representar a Acade-mia, composta por todos os alunos e não tomar grupos isolados, quer sejam praxistas ou não. Deverão representar, sim, uma mediação entre eles.Aliás, a FAP descreve-se como sendo um “espelho de um mo-vimento associativo que se quer dinâmico e interactivo. É um es-paço de trabalho, convívio e de aproximação aos estudantes.”Como tal, todas as actividades rea-lizadas pela FAP - como a Queima das fitas (que envolve o Cortejo, a

Monumental Serenata, a Bênção das Pastas, etc. …) – são dirigidas a todos os estudantes da Acade-mia do Porto, ainda que esta seja realizada com a colaboração do Magnum Concilium Veteranorum, instituição da Academia.Segundo a FAP, a história da Quei-ma das Fitas no Porto surge em 1920, quando os finalistas de Me-dicina da Universidade do Porto faziam a chamada “Festa da Pasta”, considerada a origem da Queima das Fitas do Porto. “Desde então, este evento tem sofrido uma pro-gressiva mutação: deixou de ser exclusivamente uma festa restrita aos estudantes para passar a ser a segunda maior festa da cidade do Porto e a maior festa académica do país.” Precisamente. A Queima das Fitas é uma festa académica.Para além disto, em todos os locais referentes ao Cortejo pela FAP, este está sempre identificado como sendo o Cortejo Académico do Porto, não tendo qualquer relação com a actividade praxista. Deste modo, não se entende o porquê de, todos os anos, vários alunos anti-praxe da Academia não terem o mesmo direito de desfilar com o seu curso no Cortejo.Se consideram legítimo ser vedado aos alunos que não se encontram em praxe, visto ser representado pelo Magnum Concilium Veterano-rum, então a FAP não tem o direito de lhe chamar académico.O JUP tentou entrevistar o actual presidente Ricardo Morgado que, por indisponibilidade, não conse-guiu aceder ao pedido antes do fecho desta edição. Tentou igual-mente contactar Américo Martins, DUX VETERANORUM da Academia do Porto. Tais tentativas revela-ram-se infrutíferas.

LILIANA PINHO, JÚLIA ROCHA, TATIANA HENRIQUES E TERESA CASTRO VIANA

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São muitos e milenares os laços que nos ligam ao Conti-nente Africano.

Em 25 de Maio de 1963, reuni-ram-se em Adis Abeba 32 chefes de estado africanos numa luta contra a subordinação que o seu continente sofrera há sé-culos. Ao longo dos tempos, o

povo africano foi alvo das mais duras injustiças. Viram as suas ri-quezas roubadas por aqueles que se consideravam superiores e, du-rante muito tempo, nada foi feito para contrariar esta tendência. A reunião em Adis Abeba foi o pon-to de partida para uma mudança de tradições. Nesse dia, os chefes

de estado reunidos criaram a OUA (Organização da Unidade Africana), hoje denominada União Africana.

Dada a importância deste encon-tro, a ONU estabeleceu, em 1972, o dia 25 de Maio como o Dia da Liber-tação de África. Um dia que simboli-za a independência do povo africa-no, a sua memória e a vontade

comum da sua unidade. Um dia para glorificar o passado, incidir sobre o presente e traçar o futuro da (nossa) África.

Assim, e no seguimento da im-portância do Dia de África, reali-zou-se no passado dia 29 de Maio, na sede da Associação de Estudan-tes de S. Tomé e Príncipe (também

sede do JUP), na Rua de Miguel Bombarda, uma festa de come-moração deste acontecimento.

Ao fim da manhã, o ambiente era tranquilo, marcado pela des-contracção. Jogava-se à bisca 61, um jogo de cartas típico de S. Tomé e Príncipe. Posik do Espírito Santo, Presidente da Associação de Estudantes de S. Tomé e Prín-cipe, explicou ao JUP a diferença entre a bisca 61 e a bisca tradicio-nal: “na nossa, o 5 vale 10 valores e o 7 não vale nada, só serve para trocar as cartas”. Carlos Santo, Vi-ce-Presidente do Conselho Fiscal, referiu ainda que este é um jogo em que o valor total das cartas é 120 e só pode ser jogado a 2 ou entre 2 pares de 2 jogadores. Ga-nha a bisca 61 quem fizer de 61 pontos para cima.Enquanto o jogo decorria, os rit-mos envolventes eram o pano de fundo. Também a gastronomia marcou presença neste festejo. Pairava no ar o cheiro do que melhor se faz em África. Pascoal Sangonga, um associado angola-no, revelou ao JUP os ingredien-tes do “Calulu”, um dos pratos santomenses que estava a ser confeccionado: “leva olho de pal-ma, espinafres, frango ou peixe e farinha de mandioca” Carlos Santo contou ao JUP um pouco do que ainda se ia passar ao longo do dia

“vamos ter a apresen-tação de poemas da nossa querida Santo-mense Alda do Espíri-to Santo. Mais tarde temos uma exposição e depois, a partir das 16h, temos o convívio com música e dança”.

Carlos Santo

DIA DE ÁFRICA COMEMORADO NA SEDE DO JUPMarcado pela gastronomia, música e danças tradicionais santomenses, o Dia de África foi comemorado no passado dia 29 de Maio na sede da Associação de Estudantes de S. Tomé e Príncipe.

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Durante a tarde, a festa decor-reu na sede no JUP com músi-ca e dança. Simultaneamente, a Associação de Estudantes de S. Tomé e Príncipe, convidada pela Associação da Comunida-de Angolana no Porto, reuniu-se em Paranhos até ao fim da noite para comemorar o Dia de África. O evento contou com gastronomia, música, dança e desfile de trajes tipicamen-te santomenses.Carlos Santo refere que as inicia-tivas da AESTP, alusivas às come-morações do Dia de África “têm como objectivo a confraterniza-ção entre os associados”. Teresa Castro Viana

Alda do Espírito Santo

Alda do Espírito Santo nasceu em S. Tomé e Prín-cipe em 1926 e morreu em Março deste ano em An-gola. Estudou em Portugal e foi uma das poetizas africanas mais conheci-das. Ocupou cargos impor-tantes nos governos de S. Tomé, tendo sido Ministra da Educação e Cultura, Ministra da Informação e Cultura e Deputada.

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“Mas nós queremos ainda uma coisa mais bela. Queremos unir as nossas mãos milenárias, das docas dos guindastes, das roças, das praias, numa liga grande, comprida dum pólo a outro da terra, p’los sonhos dos nossos filhos, para nos situarmos todos do mesmo lado da canoa”Excerto de ‘No mesmo lado da Canoa’, de Alda Espírito Santo

FOTO DE: MANUEL RIBEIROFOTO DE: MANUEL RIBEIRO

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JUP || JUNHO 1012 || EDUCAÇÃO

Novo reitor anunciado a 15 de Junho A UP é a primeira universidade portu-guesa com um candidato estrangeiro. O resultado será conhecido este mês.

Perto do fim do mandato do ac-tual Reitor, é necessário o início de um novo processo de can-didatura para o representante máximo da Universidade do Porto. Os candidatos ao cargo são Prabir K. Bagchi, professor da Universidade de George Wa-shington em Washington D.C. (EUA) e o actual Reitor da Uni-versidade do Porto, José Car-los Marques dos Santos. Com a chegada ao fim de um ciclo, outro rapidamente começa. No passado dia 19 de Maio, o Con-selho Geral da Universidade do Porto organizou uma audição pública que teve lugar no Salão Nobre da Reitoria. Neste espa-ço os dois candidatos a reitor puderam apresentar o progra-ma de acção que se compro-metem a cumprir caso sejam eleitos. Deste programa consta uma proposta orçamental para o desempenho do cargo, bem como os objectivos concretos que lhe estão associados. Con-forme planeado, à apresentação de cada um seguiu-se uma ses-são de questões colocadas pelo Conselho Geral. Das oito can-didaturas originalmente apre-sentadas só Prabir K. Bagchi e José Carlos Marques dos Santos satisfizeram todas as condições exigidas num processo como este. O reitor deve ser profes-sor ou investigador da UP ou de outras instituições de ensi-no universitário ou de investi-

gação, nacionais ou estrangei-ras. Além disso, deve promover valores, quer eles sejam científi-cos, humanísticos ou culturais e ter capacidade de estratégia que faça elevar cada vez mais a Uni-versidade. Além disso, o reitor terá de cumprir um mandato de quatro anos e esta é a única função que pode ter. O processo de nomeação do representante da UP começa com a apresentação da candidatura, que deve conter o curriculum vitae e o programa de acção do respec-tivo candidato, nos prazos estipula-dos. Esta é entregue em português ou inglês ao Presidente do Conselho Geral, representante da organização que vai fazer a escolha. Depois de o Conselho Geral decidir quem considera a melhor opção para o cargo, a proposta segue para o Conselho de Curadores.

Este ano, o Conselho vai reunir-se no dia 15 de Junho para homologar a decisão. José Manuel Marques dos Santos, de 63 anos, licenciado em engenharia electrotécnica pela FEUP e professor nesta mesma faculdade, justificou a sua recandidatura ao JUP falando das recentes mudanças no ensino superior em Portugal: “(…) a decisão de me candidatar a um novo mandato reitoral surge como um imperativo de consciên-cia, um dever a que não me podia furtar. Penso ser minha obrigação disponibilizar-me para prosseguir o processo de reformas na U.Porto e consolidar os resultados já alcan-çados (…)”. Acrescenta ainda que o

o primeiro mandato lhe permitiu conhecer o potencial humano e os recursos da nossa comunidade académica. Marques dos Santos su-blinha a importância das reformas em curso e determina que os ob-jectivos principais são “a afirmação da U.Porto como uma universidade de investigação; a excelência na for-mação, segundo os mais exigentes padrões internacionais de aferição; e a participação activa no desenvol-vimento socioeconómico da cidade do Porto, da região Norte e do país”. Questionado sobre o estado do en-sino superior em Portugal, o Reitor destaca as complexas reformas efec-tuadas nos últimos anos, “cujos re-sultados não são ainda totalmente visíveis” e acredita na consolidação da reforma que permitirá a evolu-ção do sistema. Destaca ainda que há coisas a melhorar, como o finan-ciamento da investigação e a capa-cidade de atrair e reter os melhores investigadores. Para José Manuel Marques dos Santos, é necessária uma “urgente reorganização do sis-tema de ensino superior português”.

O outro candidato, Prabir K. Bagchi é ainda relativamente desconhecido pela maioria da comunidade acadé-mica. Indiano de 61 anos e engenhei-ro mecânico (licenciado pelo Insti-tuto Indiano de Engenharia, Ciência e Tecnologia), traz o espírito da mu-dança e evolução à Universidade do Porto. Bagchi é professor na Univer-sidade de George Washington onde já exerceu funções ligadas à reitoria da instituição.

Irina Ribeiro e Júlia Rocha

“a decisão de me candi-datar a um novo man-dato reitoral surge como um imperativo de con-sciência, um dever a que não me podia furtar” Marques dos Santos

DIREITOS RESERVADOS

JUP || JUNHO 10 EDUCAÇÃO || 13

Voluntariado no currículo académico

Ser voluntário na Universidade do Porto

Sérgio Guedes Silva, 28 anos, é pre-sidente da ONG Grupo de Acção So-cial do Porto (G.A.S. Porto), consultor das Nações Unidas pela World Food Programme, doutorando da FEUP e voluntário. Integra ainda a Comissão de Voluntariado da UP. Tendo já pas-sado como voluntário por Cabo Ver-de, Timor-Leste, Quénia, Etiópia, entre outros, Sérgio conhece o seu próximo destino: “Onde for preciso. Mas, nos próximos anos, provavelmente estarei mais ligado a Moçambique, Timor e talvez Guiné-Bissau”.

E como surge o envolvimento com o voluntariado? Sérgio explica que “se acreditamos num mundo tPedro Har-rier, estudante na FEUP, é também vo-luntário do GIPSE e costuma dedicar uma ou duas tardes por sema-na a auxiliar o estudo de alu-

nos da Escola EB2,3 de Miragaia. “Alguns têm grandes problemas de indisciplina e de insucesso escolar, ou-tros apenas precisam de uma pequena ajuda para terem bons resultados”, diz Pedro. “A experiência está a ser fantás-tica. Apesar de ninguém fazer mila-gres, é bom ver que em muitos casos a nossa ajuda, minha e dos outros vo-luntários, fez uma grande diferença”, ressalta o voluntário.

Mas os grupos e projectos relaciona-dos com o voluntariado não se ficam por aqui. Existem muitos mais, como o G.A.S. – Grupo de Acção Social do Porto. O presidente da organização destaca a história deste grupo, “que de um so-nho, de uma visão, se tornou algo mui-to real. No início, nós, no G.A.S.Porto, estudantes, sonhávamos em criar um maior dinamismo na ajuda aos mais

pobres. Agora temos um grupo com mais de cem pessoas que acredita que juntos conseguimos chegar mais longe, que conseguimos com a nossa criatividade, inovação e conhecimen-to, ajudar em Portugal e nos países mais pobres do mundo”. E Sérgio alia a experiência do voluntariado à teo-ria e conhecimentos universitários. Desenvolvendo a tese intitulada “Um novo modelo para a Ajuda Humanitá-ria”, o doutorando da FEUP explica os objectivos: “Juntamente com algumas pessoas que trabalham comigo e com a experiência do G.A.S.Porto e nas Nações Unidas, espero definir um modelo que possa introduzir boas referências em como conseguir realizar um apoio ao desenvolvimento mais eficaz e eficiente”.

Entre os projectos voluntários, destacam-se ainda o”Projecto FEUP Social”; a VO.U: Voluntários universi-tários; o EpDAH – Engenharia para o Desenvolvimento e Assistência Huma-nitária da FEUP; o NEV-FEP – Núcleo de Estudantes Voluntários da FEP; o FEP Solidária; o Projecto de Tutoria Estu-dantes Erasmus da FEP, o Programa de Voluntariado da FMDUP; o GIVE Gru-po de Intervenção, Voluntariado e Envolvimento da FPCEUP; o SAED UP – Serviço de Apoio ao Estudan-te com Deficiência.

Os programas de voluntariado da UP podem abranger actividades de curta duração associadas a objectivos específicos ou actividades mais pro-longadas e regulares. Tudo depende das necessidades dos grupos sociais ou das áreas de intervenção dos voluntá-rios e das entidades a que se associam. Para além dos momentos gratifican-tes, as dificuldades são diárias. Sérgio Guedes Silva explica que os momentos mais difíceis do voluntariado “são aqueles em que somos ineficien-tes! Há momentos em que que-remos ajudar e não conseguimos ou, simplesmente, falhamos”.

A VO.U (Voluntários Universitários) é uma das associações de voluntariado na UP que pretende promover acções de carácter filantrópico, científico, educativo, cultural, ambientalista e de defesa dos Direitos Humanos. Pedro Vide, presidente da VO.U e estudante de Medicina no ICBAS, explica que as actividades da VO.U se encontram di-vididas em três planos: “O Plano Vida, para a promoção da saúde, o Plano Ponte, que visa o acompanhamento social e o Plano Mundo, que está voca-cionado para o auxílio internacional”.

A VO.U tem inúmeros projectos: o “VO.U socorrer” (que se destina a di-vulgar as técnicas básicas de socorris-mo); o projecto “Geração Objectivos do Milénio” que visa informar, numa primeira fase, a comunidade académi-ca para os objectivos de desenvolvi-mento da ONU para o milénio; o VO.U acompanhar que se destina ao acom-panhamento de idosos em situações de solidão, entre tantos outros.

Para a promoção do voluntariado junto da comunidade académica, foi criada a Comissão de Voluntariado da UP. Os seus objectivos são estabelecer protocolos e acordos de cooperação com entidades especialmente vocacio-nadas para a ajuda humanitária; apoiar grupos sociais mais carenciados; pro-mover o sucesso escolar, a cultura e o desporto. No fundo, enquadrar e arti-cular as acções de voluntariado. Desta

estrutura que reúne os 17 projectos de voluntariado da Universidade, já resultaram eventos como o I Encon-tro do Voluntariado na U.Porto.Sérgio Guedes Silva explica que a Comissão tem conseguido uma maior dinamização, mas, acima de tudo, tem introduzido uma melhor organização nas várias actividades de voluntariado: “É muito importante que haja coor-denação entre as várias iniciativas para que se desenvolvam sinergias e que se possa garantir um bom nível de qualidade no que se faz”. A Universidade do Porto estabele-ceu também o Dia do Voluntário, que se realiza na última quarta-feira do mês de Abril. Este dia é assinala-do com um conjunto de acções de divulgação das actividades de volun-tariado realizadas na Universidade.

Solidariedade, entrega e partilha, participa-ção cívica individual e comunitária exercida de forma livre, responsável e organizada. São estes os valores defendidos por um número cada vez maior de estudantes da Universi-dade do Porto. São voluntários e têm uma certeza: nunca é de mais ajudar.U.Porto

“Ajudar os outros faz-nos mais Homens, mais completos e equilibrados” Sérgio Guedes da Silva

Para além da experiência pessoal e profissional que se adquire, a partici-pação dos estudantes da Universidade do Porto em acções de voluntariado já faz parte do respectivo currículo académico, passando a ser mencio-nada num suplemento ao diploma. A medida abrange os estudantes da Universidade que participem em pelo menos 20 horas de actividades relacio-nadas com o voluntariado. O objectivo é reconhecer a participação dos estu-dantes em iniciativas que manifestem responsabilidade social.

Os voluntários concordam com esta medida: “Acho que é positivo sentir-mos que alguém reconhece esse tra-balho, o tempo que dedicamos a uma causa”, diz Diana Pinto.

Pedro Harrier defende que apesar do voluntariado deve ser feito gratui-tamente, sem estar à espera de qual-quer recompensa, “não há problema no reconhecimento do trabalho de-senvolvido como voluntário. Acho que deveria entrar para o currículo mas, se fosse feito durante um ano lectivo in-teiro, porque se alguém estiver lá com algum interesse, desiste rápido”, diz.

Susana Ribeiro, estudante de mes-

tra Já Sérgio Guedes Silva acredi-ta que esta medida “trata-se mais de justiça do que incentivo”, não devendo ser vista como um com-pensação extra, algo contrário ao espírito voluntário. E continua: “En-tre outros, um agente associativo tem direitos porque dedica o seu tempo a uma associação estudan-til. É uma forma justa de dar nome a algo que todos respeitam e va-lorizam. Não penso que altere a dinâmica de voluntariado”.

Para os estudantes, Sérgio deixa a mensagem de vivência e convicção.

“Ser voluntário não é nada comple-xo nem requer muito tempo. Ajudar os outros faz-nos mais Homens, mais completos e equilibrados. Todos nós, quando somos estudantes, queremos ser inteligentes. Queremos ser alguém, queremos ser felizes. E ser feliz e in-teligente passa por ser-se mais pessoa, passa por sermos úteis”.

As portas do voluntariado na U.P. es-tão abertas a quem pretende contribuir para a ajuda do próximo, vivendo uma experiência de ajuda humanitária que tem marcado todos os voluntários.

Daniela Teixeira, Diana Ferreira e

Marta Oliveira

Como ser voluntário na U.P

Para seres voluntário na Universidade do Porto, basta ires ao site (http://sigarra.up.pt/up/web_base.gera_

pagina?p_pagina=1004175), escolheres a instituição ou organismo ao qual queres pertencer e depois no

site específico desse organismo seguires as instruções necessárias para te tornares voluntário

FOTO DE: SERGIO SILVA

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e

Quando se fala de repúblicas de estudantes, todos associam este ter-mo às conhecidas, e de longa idade, habitações de estudantes de Coim-bra. Porém esta tradição acabou por se estender à Invicta.

Saber viver

O objectivo das repúblicas é, além do percurso académico, ensinar a “saber viver”, “saber fazer” e “saber dizer”. A vida boémia alia-se, des-

Viver (num)a RepúblicaAs Repúblicas de estudantes são originárias da antiga cidade de Coimbra. Foi quando a cidade do Porto acolheu estudantes vindos de Coimbra que este tipo de vivência no mundo universitário surgiu na Invicta. Mais do que uma casa, as Repúblicas são “comunidades onde se partilha o bom e o mau”.

te modo, a um ensinamento mais complexo, que pode e deve ser uma mais-valia no futuro. Há a tradição de todas as repúblicas terem uma bandeira negra com um símbolo hu-morístico, alusivo à praxe, à bebida e às mulheres. O hino e grito são tam-bém uma prática, mas é escolhido individualmente por cada república.

Os residentes são distintos por uma hierarquia, definida pelo núme-ro de anos de vivência na república. Os mais velhos têm uma maior au-toridade sobre a república e sobre

os mais novos. As hierarquias das repúblicas variam de casa para casa, sendo esta definida com o tempo e com as vivências da república.

Vítor Monteiro, actual repúblico da República dos Lysos, perto do Campo 24 de Agosto, explica que existem quatro graus hierárquicos dentro da república. O grau mais elevado é o de Repúblico Mor, este é o representante de toda a república, tendo poder de tomar decisões em caso de empate. A exigência para chegar ao grau de repúblico é a de

permanência por mais de um ano dentro da República dos Lysos. Após um ano de permanência, os mem-bros podem atingir o estatuto de re-públicos e apoiar na gestão da repú-blica. Abaixo dos repúblicos estão os candidatos. Trata-se dos novos mem-bros que estão à espera de chegar a repúblicos. Por último, existem os penduras, membros que procuram a República apenas pela experiência de lá viveram num espaço de tempo, que nunca é superior a um ano.

O critério principal é a antigui-

dade que, por sua vez, pressupõe conhecimento dentro da república. José Borges, antigo membro da Re-pública do Bint’oito, à rua da Boa Hora, afirma que na sua antiga Re-pública “não existe uma hierarquia definida. Os mais velhos têm sem-pre um maior poder na tomada de decisões, mas na generalidade so-mos todos iguais”.

Já José Balau, primeiro Dux Vete-ranorum da Academia do Porto após a revolução de Abril, explica que, quando viveu na República “O Rei-no das Águias Carecas”, existia uma hierarquia com apenas dois graus. Caloiro era o grau hierárquico mais baixo, sendo estes os mais recentes membros da república que tinham menos poder e importância dentro da habitação. Depois, seguiam-se os veteranos, que eram todos os mem-bros da República com mais de um ano de residência. Os veteranos ti-nham poder para tomar decisões e definir o rumo da República, devido às vivências que lá passaram e ao conhecimento do funcionamento da república.

“Praxe” na república

Aqui entra o fenómeno da praxe, que faz também parte da vida numa república, como forma de integra-ção e divertimento. José Balau viveu todo seu percurso académico em repúblicas e acredita que estas ac-tividades são “apenas brincadeiras inofensivas, mas é necessário aceitar e entrar no espírito”. A desistência de novos residentes não é habitual, mas já aconteceu. Ficar sem sapatos, dormir sem colchão algumas noites ou ser mudada a mobília para outro quarto sem aviso prévio eram práti-cas dos veteranos, às quais teve de habituar-se, mas que não deixou de realizar no seu tempo.

Balau conta um episódio que o marcou bastante enquanto viveu no Reino das Águias Carecas: “Lem-bro-me de um amigo que o pai era da Serra. Então, foi até lá e quando voltou para o Porto trouxe alguns queijos da Serra para um amigo do pai. Mas, no espaço de tempo dele pousar as coisas, tomar banho e vestir-se para levar os queijos, estes foram comidos. Quando o meu ami-go chegou ao quarto só lá estavam as cascas. Eram episódios desagra-dáveis, mas nós tínhamos formas de nos vingar”.

Segundo Balau, “os caloiros se vin-

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gavam à maneira deles”. Sozinhos na república poderiam

planear partidas, sobre as quais os veteranos nunca descobririam a autoria. Conta que, era prática re-corrente na República colocarem-se baldes de água em cima das portas “as pessoas iam a passar e levavam com aquilo em cima. Como é nor-mal, depois ninguém sabia quem tinha sido a fazer aquilo, podiam ter sido caloiros ou ate veteranos”.

A República dos Lysos nunca con-tou com nenhuma desistência, pois, como explica Vítor Monteiro, “os es-tudantes que vêm para cá já sabem como é uma república. Normal-mente vêm com uma ideia exage-rada acerca das partidas praticadas a novos membros.” No final, como explica Vítor, os estudantes acabam por esquecer os maus momentos e “deixam-se levar pelo sentimento”.

Repúblicas “centenárias”

Cada ano numa República equi-vale a 100 anos para cada um dos seus membros. Serão cem anos demasiado tempo? Vítor Monteiro diz que não. “Vivemos tudo de uma forma apressada, tudo muda de um momento para o outro. A vivência de um adolescente, por norma, já é apressada. A de um grupo de jovens adultos ainda é mais apressada. São muitos momentos e uma grande partilha de experiências”.

O centenário, comemoração de mais um ano da República, coincide com o baptismo dos novos repúbli-cos, explica o Vítor. Quando questio-nado acerca do momento que mais o marcou dentro da República dos Lysos, Vítor Monteiro refere o seu baptismo de repúblico. Diz que “são sempre experiências incríveis”. A ce-rimónia é realizada após um ano de estadia dos novos membros, quando estes passam a repúblicos. Vítor ex-plica as brincadeiras que são feitas na cerimónia: “os repúblicos são ex-postos em fraldas e vamos para den-tro de bacias. Temos que beber um néctar feito pelos repúblicos e de-pois somos apresentados aos antigos membros”. O aniversário da repúbli-ca é sempre importante. A República dos Lysos reúne cerca de 200 antigos membros todos os anos nesta data.

Solidariedade acima da hierarquia

A intensidade da praxe depende

das repúblicas ou mesmo das Insti-tuições que as suportam. Na repú-blica do Bint’oito, no Porto, apenas se realizam sessões de praxe duas ou três vezes por ano, uma vez que os Serviços de Acção Social da Universidade do Porto (SASUP) pro-íbem a ocorrência de actividades de praxe. Esta tradição é opcional e as regras são definidas pelas diversas repúblicas individualmente.

Durante a sua longa história, as repúblicas opuseram-se diversas ve-zes à praxe universitária e, “nos dias de hoje e de um modo geral” po-dem mostrar-se “criticas em relação à praxe”, como afirmou Aníbal Frias, em 2003, no artigo sobre “praxe aca-démica e culturas universitárias”. Contudo, o luto académico de 1969 juntou praxe e repúblicas numa luta comum, contra o regime governa-mental. Mário Soares, por exemplo, em 1969, promoveu uma conferên-cia da República dos Kágados.

A convivência entre os residen-tes mantém-se, porém, tranquila e amigável e alheia-se a qualquer ac-tividade de praxe. A solidariedade sobrepõe-se à hierarquia e todos se sentem apoiados em situações mais complicadas. Jorge Borges afirma que a entre-ajuda existente numa república ainda é visível, mas em menor escala do que antigamente. O apoio entre os membros é visível tanto a nível curricular, como pes-

soal. “Se algum de nós estiver com dificuldades económicas ou com outro tipo qualquer de dificuldades, nós ajudamos. Afinal a vida é assim”, afirma o antigo membro da Repú-blica do Bint’oito.

Este é um valor característico das repúblicas e tornou-se, desde cedo, fundamental à sobrevivência dos estudantes. Balau relembra as difi-culdades económicas sentidas na altura e demonstra a importância da solidariedade dentro da Repúbli-ca. “As repúblicas são comunidades onde se partilham o bom e o mau, o que há e o que não há. Ajudávamo-nos em tudo. Até 1992, as bolsas de estudo eram pagas apenas em Maio. A maior parte dos alunos era bol-seiro, então passava o período de Setembro a Maio sem receber nada. Havia dificuldade, mas nós ajudá-vamo-nos. Dividíamos comida e, muitas vezes, com o dinheiro para o almoço de 7 pessoas, comíamos 14.”

A vida depois da república

José Balau gosta de relembrar os seus tempos no Reino das Águias Ca-recas. Fez “amigos para a vida”.

Foi no ano de 1996 que a sua repú-blica deixou de existir. Actualmente, o edifício deu lugar ao conhecido Contagiarte. Balau ainda se lembra do seu quarto: “a minha cama estava

Repúblicas à moda antiga

As repúblicas universitárias são uma tradição desde o séc. XIV e agregam estudantes de todo o país. São uma possibilidade de estudar numa outra cidade e tornam-se uma experiência in-tensa e inesquecível. Caracter-izam-se pela vida comunitária e de entre-ajuda, sem esquecer o lado boémio e festivo da uni-versidade.Nasceram em Coimbra, em 1309, quando D. Dinis pro-moveu a construção de casas na zona de Almedina, com o objectivo de diminuir as despe-sas dos estudantes. Estas casas deram lugar às repúblicas, que ainda hoje são muito usuais na cidade.José Balau explica que as actuais repúblicas eram, na sua maioria, “lares da Mocidade Portuguesa”. Depois do 25 de Abril, ficaram praticamente abandonadas e “en-traram em auto-gestão pelos alu-nos que viviam nessas casas.” As repúblicas podem ser mascu-linas ou femininas. No caso das femininas, estas tiveram uma dificuldade acrescida na sua ex-istência, uma vez que nem sempre foram reconhecidas ou legítimas, principalmente nas escritas dos antigos.As repúblicas dividem-se em três categorias: Solar, República ou Real República, sendo a mais im-portante a Real República devido à sua antiguidade e relevância dentro da cidade. É o Conselho de Repúblicas, o órgão superior das repúblicas, criado em 1948, que se encarrega da tarefa de classificar as diferentes casas.

onde está hoje o balcão para servir as bebidas no Contagiarte.”

“Foram bons tempos”, afirma Ba-lau. No entanto, estes bons tempos não são esquecidos pelos antigos membros das Repúblicas. Todos os anos, os antigos membros do Reino das Águias Carecas promovem um encontro para conviver e relembrar o passado. Continuam amigos e a re-lação entre todos é de uma grande intimidade. Os encontros começa-ram no Porto, no próprio Reino das Águias Carecas, explica Balau. “Dor-míamos todos cá, uns até no chão, outros iam para casa de amigos ou família que vivia cá perto”, explica.

Contam já com 35 encontros de antigos residentes do Reino das Águias Carecas, sendo o deste ano no Funchal. O destino fica decidi-do de um ano para o outro, assim como a data e a pessoa que fica res-ponsável por organizar tudo.

Anos depois, os ex-repúblicos ain-da possuem a intimidade e amizade contraída na juventude. Balau diz que “somos uma grande família. Ainda hoje nos damos todos muito bem. As nossas mulheres e os nos-sos filhos divertem-se muito uns com os outros. Aliás, na nossa gran-de família já contamos com 4 ou 5 netos”. Este é o efeito de ter vivido numa república, “vivemos todos na mesma casa, fomos todos praxistas, passamos muitos momentos jun-

tos e arreliamo-nos uns aos outros imensas vezes”.

Os encontros vão se diversifi-cando de local para local, a cada ano. Porém, uma tradição perdura. Balau continua a contar o encon-tro em 69 quadras. Esta é já uma tradição antiga e muito apreciada dentro desta “família”.

Mariana Catarino e Rita Duarte

DIREITO RESERVADO

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JUP || JUNHO 1016 || SOCIEDADE

O que o PEC traz (ou leva) de novo Portugal está no centro das atenções da economia internacional, e muito se fala sobre planos de para a recuperação económica no nosso país. Afinal, o que muda na vida dos portugueses com as novas medidas?

O Plano de Estabilidade e Cres-cimento (PEC) português para os anos de 2010 a 2013, aprovado a 25 de Março, prevê a diminuição nos gastos públicos e medidas para au-mentar as receitas do Estado, de for-ma a repor a economia nos valores definidos pela União Europeia.

Na diminuição das despesas do Estado estão incluídos cortes nos

subsídios de desemprego, congela-mento de salários na função públi-ca (significa que a subida dos salá-rios não acompanha a inflação) e privatizações. Os subsídios de con-tratação de jovens, aprovados nos planos anti-crise, vão ser retirados já em 2011.

O PEC pretende o aumento de receitas através dos impostos: uma

Política à portuguesa Poderemos pensar que o cenário político português está longe do ideal. As gaffes por aqui abundam e estão de boa saúde, obrigado. São elas que dão cor e alegria a um assunto por vezes demasiado cinzento, a política.

Ainda não chegamos ao patamar ucraniano – cujo Parlamento pro-tagonizou recentemente cenas de pancadaria com direito a lançamen-to de granadas de fumo – mas não tem sido por falta de tentativas.

No mundo político, a pressão por resultados é constante e a atenção mediática, intensa. Em raras ocasi-ões, os nossos políticos perdem a concentração, e com isso, surgem momentos que ficam na memória: na deles e na nossa.

Quem não se lembra de José Só-crates, que num momento de ho-nestidade espontânea, disse que todas as famílias portuguesas deve-

riam esforçar-se para fazer Portugal um país mais pobre?

Cavaco Silva, preocupado com a taxa de natalidade em Portugal, perguntou ao país: “O que era pre-ciso fazer para nascer mais crianças em Portugal?”

Para Santana Lopes o tempo não se aplica. O político vive numa ri-balta inconstante, algo que deverá certamente confundir o seu fuso horário. Em 2003, a assessoria do en-tão Presidente da Câmara de Lisboa enviou uma carta ao escritor brasi-leiro, Machado de Assis, agradecen-do um livro da autoria de Assis que tinha recebido. Não se conhece a re-

taxa mais alta para os que recebem salários mais elevados, introdução de portagens em auto-estradas SCUT (Sem Custo para o Utilizador) e, ainda em discussão nas últimas semanas, uma subida do IVA, além da polémica proposta de corte nos subsídios de Natal.

As medidas mais duras pouparam o Ensino Superior. Não estão previstas

alterações significativas nas propinas ou no regime de atribuição de bolsas de estudo. Os estudantes sofrem, sim, com o aumento do custo de vida e com as crescentes dificuldades em encontrar emprego, que afecta os recém-licenciados.

O economista Miguel Duarte expli-cou ao JUP que Portugal está numa situação delicada, por estar no cen-tro das atenções da economia inter-

nacional. “Os holofotes das finanças internacionais significam apenas que se vai prejudicar grandemente o bem-estar de todos os portugueses, pagan-do taxas de juro mais elevadas, tendo mais dificuldades no crédito, havendo mais desemprego. Esta é a visão do nosso futuro de curto prazo.”

Aline Flor e Marília Freitas

acção do escritor, falecido em 1908.De volta ao actual chefe do go-

verno, José Sócrates também so-freu com a traiçoeira matemática. Numa conferência de imprensa, o Primeiro-Ministro esclareceu que a nova bolsa de estudo atribuída pelo Estado a estudantes, seria igual ao dobro, não, duplicaria, não, triplica-ria, não, seria igual ao valor do abo-no de família mais o dobro. Mais do que dúvidas sobre as contas públi-cas, ficou a desconfiança, não sobre a licenciatura, mas sobre a conclu-são do ensino básico.

Leandro Silva e Paulo Camões

JUP || JUNHO 10 || 17 JUPB

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Onde esteve durante a visita do Papa ao Porto? Bento XVI esteve em Portugal e o JUP foi saber onde estavam as pessoas durante a visita do Papa à nossa cidade.

01 | João Carvalho, 43 anosEstava a trabalhar, não me deram

folga. Mas acho que não teria ido.

02 | Joaquim Pinto, 64 anosEstava em casa, com a minha

mãe, que está doente. Mas fiquei a ver na televisão.

03 | Marília Sousa, 55 anosEstava em casa, a trabalhar, mas te-ria ido se pudesse. Não acerto muito com a figura dele, mas é uma pes-soa de boas intenções.

04 | Ricardo Caldas, 20 anosEstava lá, tinha alguma curiosidade e acho que era um evento importante para um futuro jornalista assistir.JU

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JUP || JUNHO 1018 || SOCIEDADE

Onde estudar na Invicta?Chegada a época de exames, é preciso encontrar o lugar certo para a maratona de estudo. Para os que sufocam em bibliotecas ou preferem o burburinho da cidade, o JUP foi à procura de bons lugares para estudar, relaxar… e petiscar pelo meio.

Bar dos Artistas (CdM) Av. da Boavista, 4149

O Bar dos Artistas fica no piso 0 da Casa da Música.

Funciona de Segunda a Domingo entre as dez da manhã e as oito da noite. Nos dias de espectáculos, fe-cha às onze da noite.

Dispõe de um serviço de refeições rápidas (self-service). No período de almoço e jantar não são permitidas sessões de trabalho/estudo.

O Bar dos Artistas está aberto ao público em geral e não exige con-sumo obrigatório.

É frequentado tanto por aqueles que trabalham na CdM, como por jovens em busca de um local sos-segado para trabalhar ou estudar. Graças ao patrocínio da Câmara Municipal do Porto, o Bar dos Artis-tas oferece wireless grátis.

Inserido dentro de uma das maio-res estruturas culturais do Porto, é uma das opções possíveis para umas horas de estudo.

Teresa Castro Viana

O Centro Comercial Bombarda fica na Rua de Miguel Bombarda, em ple-na baixa portuense.

Prima pela tranquilidade e pelo fácil acesso.

Tem mesas dispostas ao longo do espaço e, em época de Verão, dis-põe de uma esplanada onde tam-bém é agradável estudar.

Está aberto de Segunda a Sábado entre o meio-dia e as oito da noite.

Não é um Centro Comercial igual a tantos outros. O CCB é um lugar onde a arte é a palavra de ordem.

As lojas que o integram primam pela criatividade e pela diferença. O CCB tem também um restauran-te: alternativo, agradável e acessí-vel. Deste modo, devido à enorme afluência em horário de almoço, não é permitido estudar no Centro Comercial Bombarda neste perío-

Centro Comercial Bombarda Rua de Miguel Bombarda, 285

Com uma pluralidade de espaços diferentes, o E-learning Café da UP é sempre um bom sítio para estudar.

Para estudar a sério, sozinho ou em grupo, o melhor é ir para a sala de trabalho. Este espaço está dividido em duas partes: uma destinada ao estudo em grupo e outra para estu-do individual. As mesas para estudar em conjunto têm uma concha acús-tica que impede o som de se difun-dir, assegurando o silêncio da sala.

A sala de chill-out é um espaço mais

E-Learning Café Pólo Universitário

do temporal.No entanto, esta é uma ópti-

ma escolha em época de exames. Talvez para fugir um pouco aos

lugares habituais...Teresa Castro Viana

informal para apenas ler um livro, uma revista, ou navegar na Internet.

A grande vantagem deste espaço é o horário: o E-Learning Café está aberto todos os dias das 8 às 4 da manhã. O espaço está equipado com uma cafetaria, para refeições ligeiras, que abre às 8 e fecha às 24h.

Todo o espaço está coberto por uma rede wireless à qual é possível aceder de forma gratuita.

Daniela Teixeira

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MIGUEL LOPES RODRIGUES

MIGUEL LOPES RODRIGUES

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O Palácio de Cristal pode-se reve-lar um bom local para estudar.

O Café do Palácio tem boas condi-ções para uma tarde de estudo: há si-lêncio e tranquilidade. O espaço tem um lado com paredes de vidro que traz uma vista para os jardins e pro-porciona uma luz muito agradável.

O sítio é indicado para traba-lhos de grupo porque o ambiente informal permite a troca de ideias em voz alta. Na esplanada tam-bém há muitas mesas redondas e durante a semana não costuma haver muita afluência.

O café do Palácio está aberto de

Segunda a Domingo das 9.30 às 18.30. Ao Domingo, se o objectivo for a concentração, talvez este não seja o sítio mais indicado porque há sempre muita gente a passar.

Neste espaço existe rede de in-ternet wireless, mas é paga. A inter-net gratuita existe só na Biblioteca Almeida Garrett, dentro também do espaço do Palácio de Cristal.

Para uma pausa no estudo para relaxar, os Jardins do Palácio e uma bela vista para o rio estão mesmo ali à beira.

Daniela Teixeira

Café do Palácio de Cristal Rua de Dom Manuel II

O Centro Comercial Península fica perto da Rotunda da Boavista. É um local apetecível para muitos jovens em época de exames.

As mesas dispostas pelo Shopping e a tranquilidade que este garante, fazem do Península um magnífico lugar de estudo.

Silencioso e bem localizado, é o ponto de encontro daqueles que pro-curam o sossego e a concentração necessária para o estudo.

Como em qualquer Centro Comer-cial, existem lojas e restaurantes que podem servir como distracção num momento de pausa.

É, de um modo geral, uma opção atractiva para os estudantes. Tan-to que, por vezes, a sua lotação fica completa.

Funciona todos os dias desde as dez da manhã.

Teresa Castro Viana

Centro Comercial Península Praça do Bom Sucesso, 159

Situado na Foz, como o próprio nome indica, o Foz Café é o ponto de encontro de muitos estudantes, seja para o convívio ou para o trabalho.

Com uma decoração retro e um ambiente descontraído, é um local excelente para navegar na Internet, uma vez que o dispõe de Internet gratuita para os seus clientes.

Está aberto todos os dias até às duas da manhã. Aos Domingos e fe-riados abre às 14h00 e nos restantes dias às nove da manhã.

É um café de fumadores, conheci-

do pelos seus croissants e pelo ópti-mo serviço prestado.

Por vezes, quando está cheio, não é fácil estudar devido ao ruído que se cria. No entanto, é o local ideal para fazer trabalhos.

Foz Café Rua Fonte da Luz, 217

Está bem localizado e é de fácil acesso.

Em suma, o local certo para fazer trabalhos e estudar quando o am-biente o permite.

Teresa Castro Viana

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MIGUEL LOPES RODRIGUES

MIGUEL LOPES RODRIGUES

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rto

No passado mês de Maio, as 32 selecções (20 masculinas, 12 femininas) ficaram a conhecer os seus adversários no IV Campeonato Mundial Universitário de Rugby Sevens. Segundo Tomaz Morais, director técnico nacional, Portugal vai ter pela frente grupos complicados.

Portugal já conhece adversários para o Mundial de Rugby Sevens

JC/R

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Já andaram à roda as bolas do sorteio do Campeonato Mun-dial Universitário de Rugby Sevens numa cerimónia que contou com a presença do se-cretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias, e do director técnico da selecção nacional, Tomaz Morais.

Quénia, Canadá e Hungria são os primeiros adversários de Portugal na Pool D Masculino. Brasil, Itália e Rússia são as se-lecções rivais para a equipa fe-minina na Pool A. Nos restan-tes grupos destaque para os embates entre França e África do Sul na Pool E e Espanha vs Itália na Pool G.

No final do sorteio, Tomaz Morais mostrou-se convicto que a selecção nacional pode lutar pelos três primeiros lu-gares apesar de reconhecer que Portugal não teve muita sorte no sorteio.

Laurentino Dias, secretário de Estado do Desporto, fez ques-tão de reconhecer que o Cam-peonato Mundial Universitário de Rugby Sevens vai prestigiar não só o desporto universitá-rio como o nosso país. Para além disso, Laurentino espera que este campeonato traga ao Porto gran-des figuras do râguebi mundial.

Sublinhe-se que o Campeonato Mundial Universitário de Ru-gby Sevens é organizado pela Universidade do Porto e vai contar com cerca de 600 atle-

tas vindos dos cinco continen-tes. Durante quatro dias, de 21 a 24 de Julho, vários estudantes universitários vão invadir a ci-dade do Porto e o Estádio do Bessa, local onde vão decorrer todos os jogos.Com 32 equipas (20 masculinas e 12 femininas), a organização supera largamente os números do último Mundial disputado em Córdoba (19 selecções). Entre as selecções inscritas, destaque para a presença das potências mundiais como a Austrália, a Grã-Bretanha, a Itá-

lia e a França, sem esquecer os três primeiros classificados no último campeonato universi-tário disputado em Córdoba (África do Sul, Espanha e Rús-sia). Liderada por Tomaz Mo-rais, a selecção nacional por-tuguesa promete tentar chegar ao pódio.

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AGENDA

AGENDA JUP - JUNHO

DE 8 DE JUNHO A 2 DE JULHO 2010

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA:

DIAGRAMAS

Átrio de Química da Reitoria da

Universidade do Porto

HORÁRIO DA EXPOSIÇÃO: TERÇA

A SEXTA / 11H00 ÀS 17H00

Entrada livre

Projecto da autoria de André

Alves, Filipe dos Santos Barrocas,

Isabel Correia e Maria João Soares

Partindo do arquétipo do corpo humano, foram fotografadas 45 pessoas, individualmente, de pé, sem roupa e de costas para a câmara, contra um fundo regrado de azulejos. Dos retratos efectu-ados foi escolhido um conjunto final de 30 imagens impressas em tamanho real: diferentes corpos contra o mesmo fundo, com o mesmo enquadramento e à mes-ma distância da câmara. Este conjunto de imagens per-mite-nos escalar e percepcionar as diferenças e semelhanças, oferecendo-nos também uma nova possibilidade de olhar a continuidade dos corpos adjacentes. Algo que nos é tão próximo e comum, porém tão estranho e surpreendente. Como nos colocamos perante a imagem? Como percepcionamos o outro, o distante ou o indivíduo. Nós próprios?

DE 14 A 18 DE JUNHOWORKSHOP DE FILOSOFIA COM CRIANÇAS E JOVENS: EXERCÍCIOS E TÉCNICAS DE DEBATE EM SALA DE AULAHorário: 19h - 21h PREÇO: 90€ UP/ 100€ NÃO UP Infromações e Inscrições:a n a m a r t i n s @ r e i t .up.pt;[email protected]

6 DE JUNHO

“BOM AMBIENTE ÀS QUARTAS” Sala G424 - FEUP18H00Entrada Livre.

Prossegue na Faculdade de Engenharia esta iniciativa, através da qual se pretende criar um espaço de debate aberto e reflexão sobre ambi-ente urbano. Pretende-se que os temas em discussão tenham um enquadramento institucionalizado e, ao mesmo tempo, o carácter de “conversa de café”. Organização - Centro de Inves-tigação Território, Trans-portes, e Ambiente (CITTA)

TODAS AS QUARTAS-FEIRASSOCIEDADE DE FICÇÃO CIENTÍFICA E FANTASIASala 308 - FLUP

Todas as quartas-feiras, entre as 19h30 e as 21h30, a sala 308 da Faculdade de Letras é ponto de encontro para troca de ideias e conversas. Neste espaço de convívio semanal é possível ver filmes, séries, discutir assuntos relacionados com ficção científica e fantasia, jogar jogos de tabuleiro ou de cartas coleccionáveis. O espaço resulta de uma ideia de Ana Machado e André dos Santo e conta com a colaboração da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da U.Porto (AEFLUP).

DURANTE O MÊS DE JUNHO

Abertas as candidaturas à Univer-sidade Itinerante do Mar.As Universidades do Porto e Ovi-edo estão a promover a edição da Universidade Itinerante do Mar de 2010 (UIM 2010), subordinada ao tema: “As cidades da porta Atlântica da Europa”. Esta edição decorrerá entre 10 de Julho e 6 de Agosto de 2010 e será organizada em torno de 2 cursos, cada um com um máximo de 42 estudantes que, embarcando no navio de treino de mar CREOULA, operado pela Armada Portuguesa, beneficiarão de um programa es-pecífico de formação a bordo e em terra:

CURSO I - 10 A 23 DE JULHO:

Lisboa - Aveiro - La Coruña - Avilés

- MARÍN - PORTO

CURSO II - 23 DE JULHO A 6 DE

AGOSTO:

PORTO - PORTIMÃO - CEUTA -

CÁDIZ - LAGOS - LISBOA

PARA MAIS INFORMAÇÕES -

HTTP://WWW.CIMAR.ORG/UIM/

DE 28 DE JUNHO A 9 DE JULHO

ARQUITECTURA E CINEMA –

CURSO LIVRE

FAUP

Docente: Prof. Dietrich Neumann,

Universidade de Brown, EUA

Pagamento: Membros da Universi-

dade do Porto e Estudantes: 100€.

Outros: 150€

JC/REIT

Universidade Júnior volta a abrir as portas

BREVES

Está de volta o projecto da Univer-sidade do Porto que todos os anos proporciona aos mais jovens a expe-riência única de conhecer por den-tro a maior universidade do país, a Universidade Júnior.

Com apenas 300 vagas por preen-cher, a Universidade Júnior volta a apostar nas escolas de investiga-ção, exclusivas para estudantes do ensino secundário interessados em vivenciar in-loco o dia-a-dia dos la-boratórios de investigação da Uni-versidade do Porto. Ciências da Vida e da Saúde, Huma-nidades, Física, Química e Matemá-tica são as opções a que cada estu-dante se pode candidatar, sendo que as classificações obtidas ao longo do ano lectivo é um dos critérios a ter em conta na escolha dos candidatos. As candidaturas às Escolas da Uni-versidade Júnior estão abertas até 4 de Junho.

ESCOLA DE LÍNGUASAlemão, Espanhol, Francês e Inglês são as línguas que, durante a primei-ra ou a segunda quinzena de Julho, ainda estão disponíveis para todos os jovens do 5.º ao 11.º ano. Aprender uma língua num ambiente descon-traído, através de jogos didácticos e debates interessantes é o principal objectivo da Escola de Línguas da Universidade Júnior. Para além das sete línguas apresentadas, a Univer-sidade Júnior oferece também a pos-sibilidade aos alunos estrangeiros de aprenderem português.

No ano em que comemora o sexto aniversário, a “Universidade Júnior” atinge um novo recorde no número de actividades disponíveis: são mais de 132 actividades diferentes, que prometem deliciar os pré-universi-tários. Para procurar mais informa-ções sobre a Universidade Júnior, os interessados podem visitar o site: http://universidadejunior.up.pt.

Marques dos Santos: reitor em segundo mandatoJosé Carlos Marques dos Santos foi eleito Reitor, por maioria, na sessão do Conselho Geral da Universidade do Porto do passado dia 28 de Maio. O Professor Catedrático da Faculdade de Engenharia é o primeiro Reitor da U.Porto eleito de acordo com o novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (que criou o Conselho Geral) e iniciará a 29 de Junho o segun-do mandato, após o primeiro período de 4 anos que começou em 2006. Maques dos Santos nasceu em Bola-ma, Guiné-Bissau, a 31 de Janeiro de 1947. É professor catedrático da Facul-dade de Engenharia desde 1989, tendo assumido a direcção da Faculdade duran-te 11 anos consecutivos, entre 1990 e 2001. No ano seguinte assumiu uma das vice-reitorias da Universidade do Porto. Na sessão do Conselho Geral da Uni-versidade, no passado dia 19 de Maio, apresentaram-se dois candidatos: o Professor Catedrático agora reeleito e Prabir K. Bagchi, professor da George

Washington University, de Washing-ton D.C. (Estados Unidos da América). O candidato mais votado apresentou ao órgão máximo da Universidade um programa que é, de acordo com as suas próprias palavras, “uma visão para a U.Porto que a coloca num lu-gar entre as melhores a nível mun-dial”, constituído por 12 objectivos essenciais, entre os quais se destaca: “Garantir excelência na formação”, “Reforçar o apoio social e à integra-ção académica dos estudantes”, “Afir-mar a Universidade do Porto como uma Universidade de Investigação”, “Participar no desenvolvimento eco-nómico e social da região e do país”, “Reforçar a internacionalização da Universidade do Porto”, “Agilizar a governação e a gestão da U.Porto” e “Reforçar a cultura da qualidade”. A tomada de posse do Reitor reeleito decorrerá a 29 de Junho, às 11h, no Sa-lão Nobre do edifício central da Praça Gomes Teixeira. JC/REIT

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tura

FESTIVAIS DE VERÃO 2010

UMA TRADIÇÃO, UM MODO DE VIDA, UMA DISTRACÇÃO

IAR

O festival nasce no Brasil, Rio de Ja-neiro. Idealizado por Roberto Medi-na, surge pela primeira vez em 1985. Em Portugal, teve a sua primeira edição em Lisboa, no ano de 2004. Pelos palcos do Rock in Rio já pas-saram nomes como Queen, Whi-tesnake, AC/DC, Scorpions, Guns and Roses, Santana, Foo Fighters, Queens of the Stone Age, Metalli-ca, Da Weasel, Kasabian, entre tan-tos outros grandes nomes do pa-norama musical mundial.Este ano, continua a ter rock no nome mas pouco nos palcos. No dia 21, Mariza abre a noite com legítimo fado português. Ivete Sangalo, rasga a melancolia com o ritmo brasileiro para depois dar lugar ao pop acústico e à boa onda de John Mayer. A noite promete acabar com os hits do último álbum She Wolf e a loucura daquela que foi eleita a latina mais sexy do Mundo em 2003, Shakira. No dia 22, a música portuguesa de João Pedro Pais abre o R&B de Leona Lewis, que traz na bagagem o recen-te Echo e temas como “A Moment Like This”, “Bleeding Love” e “Run”.De seguida, o monstro do piano Elton John, que dispensa apresentações.A música cantada em português volta com Trovante, ainda antes da noite terminar com 2 Many Djs, que prometem um serão animado.27 de Maio traz sonoridades dife-rentes. Sum 41 é energia e algum punk rock, que já serviu de banda sonora a filmes como Spider-Man e American Pie. Xutos & Pontapés são letras e te-mas que saem por instinto e um espectáculo que o público de por-tuguês já sabe de cor.Os britânicos Snow Patrol trazem com eles sucessos como “Signal Fire” e “Chasing Cars”. A Hundred Million Suns foi o último álbum, em 2008.De Muse espera-se, mais uma vez, um espectáculo místico e envol-vente que vai “cair que nem gin-gas” depois de um dia que se espe-ra no mínimo, esgotante.

Segue-se o Sábado em Família: Miley Cyrus, de 17 anos e muito glam pop, promete no mínimo muita criançada excitada. Dzr’t re-força o estatuto familiar e infantilMcFly, recente banda de 2003, sur-ge com um pop rock muito teen e adequado. Não fosse a escocesa Amy Ma-cdonald, que se distancia mais do conceito e apresenta o seu último trabalho A Curious Thing com muito indie e soft rock à mistura, dir-se-ia que este é o dia com mais concordância do festival.O último dia também parece não ter muito que se lhe diga. É metal do início ao fim, agradando aos fãs do som mais pesado. Soulfly, formado por Max Cavalera depois de este abandonar os Sepultura, surge em 1997. Estável desde 2004, apresenta o seu mais recente ál-

bum Omen. Motorhead é mais rock que metal mas o seu peso e velocidade nada deixam a desejar. Megadeth vêm a Portugal depois da tour Rust in Peace, comemora-tiva do seu vigésimo aniversário.O dia e o festival fecham em ale-mão com Rammstein, que têm tanto de sucessos como de polé-micas. Depois do concerto a solo no Pavilhão Atlântico em 2009, pleno de poder, novas canções e efeitos pirotécnicos, o concerto no Rock in Rio promete não desiludir.

Com cerca de 20 bandas só para

traz-nos, uma vez mais, qualidade, variedade e inovação.Com um conceito e uma organi-

zação completamente diferentes do dos festivais portugueses, o Alive (nome inspirado na música “Alive”, dos Pearl Jam), prima pela apresentação de grandes nomes.Surgiu em 2007 e já trouxe de tudo. Rage Against the Machine, White Stripes, Smashing Pum-pkins, Beastie Boys e Linkin Park.Este ano não deixa por menos e traz de volta Pearl Jam e Gogol Bordello, bem acompanhados por lendas como Deftones, Alice in Chains, LCD Soundsystem, Skunk Anansie, entre outros que nada deixam a desejar.Quem faz as honras da casa são os escoceses Biffy Clyro que abrem o festival com a promessa de um grande concerto de puro rock e muita energia. Apresentam o recente Only Revo-lutions, um dos melhores álbuns

Com o Verão a chegar e o calor a apertar, os jovens portugueses esquecem os exames e a chatice das aulas e focam-se apenas numa coisa: Férias. Mas, sendo jovens, as férias não são passadas de papo para o ar (pelo menos o tempo todo) e a adrenalina e as grandes noitadas já abrasam, de tão perto. A correria aos Festivais de Verão começou já em Maio.

de 2009 na Grã-Bretanha, onde disputam o protagonismo do top com os Arctic Monkeys.Moonspell são bem conhecidos entre o público português, já bem habituado à potência do metal da banda de Fernando Ribeiro.8 de Julho continua em alta com o rock inglês de Kasabian e o grunge rock de Alice in Chains que deixaram saudades desde as ultima actuações no território nacional em 2006. Finaliza com o metal alternativo dos americanos Faith No More que voltaram fresquíssimos aos palcos em 2009, depois de uma pausa de cerca de 10 anos.Sexta-feira traz JET e uma grande expectativa. Manic Street Peachers não são novatos no assunto e espera-se um rock alternativo de deixar água na boca.Os inclassificáveis Mão Morta

MARIA

NA TEIXEIR

A

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marcam presença portuguesa, até à entrada de Skunk Anansie com a poderosa voz de Skin que esgotou em Novembro o Coliseu de Lisboa e assegura não decepcionar.10 de Julho tem nomes poderosos. Começando pelo indie de Gomez e o punk céltico de Dropkick Murphys, que prometem levan-tar os pés do chão.Voltam ainda os já experientes Gogol Bordello, os multiétnicos de gypsy punk com sonorida-des surpreendentes e um gran-de espectáculo.Mas nada melhor que Pearl Jam e o recente “Backspacer” que foi directamente da discográfica para os tops mundiais. Acompanhados de temas como “Alive”, “Even Flow”, “Better Man” ou “World Wide Suicide”, a receita promete ser explosiva. LCD Soundsytem assegura o rema-te, não muito cedo, com moderni-dade e exuberância, bem à altura do festival urbano.Mas se no Palco Optimus boa mú-sica e muito espectáculo são as palavras de ordem, no palco Super Bock não é muito diferente.Bandas como The XX, La Roux, The Gossip, Peaches, New Young Pony Club ou tantos outros, parecem dividir a atenção dos festivaleiros.

Não há festival mais indeciso que o Super Bock. Depois de salas fechadas, recintos abertos, palcos diferentes em ter-ras diferentes, do carácter nacio-nal e depois internacional, e nova-mente nacional, o Super Bock Super Rock assenta este ano no Meco com três palcos e boa música.Destacamos a ousada dupla Pet Shop Boys, nascidos em 1980, de quem se espera os grandes êxitos “West End Girls”, “Always on My Mind” (da versão original de Elvis Presley) ou “It’s a Sin”, assim como músicas do último álbum “Yes”.

inglesa de pop-rock que marcou presença no Marés Vivas do ano passado. Antecipa-se um grande espectáculo, com temas como “Crystal Ball”, “Everybody’s Chan-ging”, “This is the Last Time” e o novo “Stop for a Minute”, can-tados em uníssono. Os australianos The Temper Trap também marcaram presença o ano passado e vêm de novo a Por-tugal, desta vez com “Fader” e “Love Lost” na bagagem. Do mes-mo continente vêm Empire of the Sun, uma dupla que perpe-tua a onda electrónica do Super Bock deste ano.Mais uma vez, a Austrália está bem representada, com John But-

-ado de diversidade.Os recentes Vampire Weekend,

Gun” são uma banda de indie rock americana que promete sur-

preender com o seu estilo ino-vador e insdescritível, definido

West Side Soweto”.Hot Chip e o seu electropop ante-cipam uma boa noite de espectá-culo com o fresquíssimo “One Life Stand”, com um público europeu já aprenderam a cativar. Mas, para além da electrónica, o indie marca presença. Wild Be-asts, ainda que com apenas dois álbuns, são já uns grandes repre-sentantes deste género.

-

O Marés Vivas é um dos festivais mais baratos em Portugal. Até há bem pouco tempo, apenas o pes-soal de Gaia e arredores sabia da sua existência, mas a projecção deste festival tem crescido de vento em popa.À beira rio plantado, faz do Cani-delo o seu palco e tem surpreendi-do pelos nomes que tem reunido:

-fs, Jason Mraz, Prodigy e Lamb são apenas alguns exemplos.A edição de 2010 ainda não tem o cartaz fechado, mas já atrai com bandas como Ben Harper and Relen-tless 7, Placebo, Editors, Morcheeba, Goldfrapp e o mais internacional mú-sico português, David Fonseca.Após Innocent Criminals Ben Har-per apresenta a nova banda, Relen-tless 7. Depois de ter aprendido a tocar guitarra na loja de música da mãe, vem embalar o público português com os seus acordes rítmicos e descontraídos. Espera-se um concerto, acima de tudo, envolvente com êxitos como “In Your Eyes”, “She’s Only Happy in the Sun” ou “Amen Omen”.Os teatrais Goldfrapp apresen-tam o recente “Head First” e pre-nunciam um grande espectáculo de electrónica.Quem também surge com um reportório de electrónica envol-vente de pop, blues e trip hop num estilo muito alternativo, são os Morcheeba que andam por cá desde 1995.Placebo, do latim “placere”, ou seja, “agradarei”, prometem fazer juz ao nome. Formada em Londres mas constituída por membros de várias nacionalidades, mostram, mais uma vez a Portugal, o seu rock alternativo com influências de post-punk, para deleite da plateia potuguesa.

rock belga à população nortenha depois de, em 2007, terem anima-do as gentes em Paredes de Coura.David Fonseca enveredou pelo es-tudo do cinema mas dá cartas na música. Depois do sucesso de “A Cry 4 Love”, surge este ano “Stop 4 a Minute” que promete mais pop rock alternativo português… ainda que cantado em inglês.Para fãs de Gorillaz, Gorillaz Sound

-certo de esperar para ver. A Silent Film, por sua vez, são uma

-po de jovens de Oxford que se juntou num barracão e agora edita The City that Sleeps. Vêm a Portugal mostrar a genuinidade do seu rock alternati-

grandes lendas, a não perder.

MÍTICO INDIE

Já com 17 anos, o Festival Paredes de Coura continua a ter o mes-mo ideal, a mesma humildade e igual paixão que tinha quando foi criado, em 1993. Tornou-se mais que um festival, tornou-se um hábito, uma tradi-ção. Tornou-se um vício, abenço-ado pela característica chuva que marca sempre presença. Mas se, em alguns anos, o “Pa-redes” chamava por apresentar

Pixies, Papa Roach, 3 Doors Down, The Arcade Fire ou tantos outros, neste momento não se pode dizer o mesmo. O Festival continua com o mesmo espírito, o mesmo palco verdejante e as mesmas experiên-cias únicas, mas já não é a música a principal atracção. Ainda assim, para quem vai, o “Paredes” é mágico.Os lendários The Specials chegam para apresentar o seu 2 tone, com-posto por misturas de mod e ska. Originais e bem sucedidos, pareceu não ser suficiente. Depois de suces-sivas paragens, voltaram a juntar-se em 2008 e espera-se agora que to-quem os seus grandes sucessos e deixem a plateia de Paredes de Cou-ra sedentos de mais e mais.Este ano, apresenta os norte-ame-ricanos Best Coast, com o dife-rente surf pop.Os novatos Enter Shikari voltam a Portugal com Tribalism e acreditamos ser um espectáculo a não perder.Bem a modo de Paredes de Coura,

-gerem um autêntico espectáculo de indie rock. Dandy Warhols trazem consigo o seu potente rock psicadélico. Depois do Sudoeste em 2004, espera-se um autêntico e ousado concerto, à altura da banda americana. A edição 2010 conta ainda com as ac-tuações de Gallows, Vivian Girls, os novatos White Lies e The Tallest Man

que apresenta The Wild Hunt.O cartaz ainda não está fechado, mas surge já uma banda para o Af-ter Hours que antecipa uma gran-de noite: We Have a Band, com WHB e muito boa disposição.

-TRAÍDO

“Oh Elsaaaaaaaa!”: é apenas uma das tradições que se criaram no Sudoeste TMN.O sol e o pó já são companheiros e

a Herdade da Casa Branca é o local fundamental das férias de muitos jovens (cada vez mais jovens). Para quem gosta de praia, calor e não se importa que o cartaz seja quase sempre repetitivo, o Sudo-este é a perfeição.Para o pessoal descontraído, há o palco do reggae, principalmente quando combinado com dias de relax e banhos de mar em plena Zambujeira.Este ano o cartaz apresentado até à data apresenta M.I.A, Flaming Lips, Maria Gadú, Jamiroquai, a doce (até de mais) Colbie Caillat, o levezinho James Morrisson, Bom-ba Estéreo, o excêntrico Mika, as populares Sugababes, Bajofondo, a potência de David Guetta, o pop-rock de Massive Attack, Air, Mikes Patton’s e Mondo Cane.M.I.A é uma cantora britânica que combina rap com funk e vem apresentar Maya, com o seu estilo sempre único. Espera-se um con-certo no mínimo, vigoroso.Os bizarros Flaming Lips são uma banda americana de rock alterna-tivo e, segundo a Q Magazine, uma das 50 bandas para se ver antes de morrer. Tendo em conta a pro-dução e a elaboração de cada espectáculo, corrobora- se. A não perder.Jamiroquai é bem conhecido do público português, habituados a grandes concertos com muito rit-mo e grande paixão pela música. Colbie Caillat e James Morrisson trazem o romance ao palco do Sudoeste. Com um percurso idênti-co – ela começa a carreira aos 11 e ele aos 12 – são ambos apaixonados

numa tarde que se espera quente.A excentricidade de Mika faz prever isso mesmo: um concerto excêntri-co, caloroso. Num palco que já lhe é bem conhecido, depois de em 2008 ter estado no Super Bock, em Lisboa.Bajofondo é um grupo constituí-

Aregntina. Apresentam uma espé-cie de tango argentino, bem dife-rente do que se costuma esperar.David Guetta, o Dj francês, tam-

seus últimos trabalhos foi a pro-dução de “I Gotta Feeling”, o hino da selecção, para Black Eyed Peas.Heligoland é o novo álbum de Massive Attack, o duo inglês de trip hop. A banda de “Teardrop”, faixa que integrou a banda so-nora da série House M.D., já não é novata nestas andanças e fa-zem jus às boas críticas que têm, desde sempre, recebido.

LILIANA PINHO

Datas

ROCK IN RIO21, 22, 27, 29 e 30 de MaioParque da Bela Vista, Lisboa58€ (dia)Sem Campismo

OPTIMUS ALIVE!8, 9 e 10 de JulhoPasseio Marítimo de Algés, Oei-ras50€ (dia)90€ (passe três dias)Sem Campismo.Parceria com Parque de Campis-mo de Monsanto e Lisboa Camp-ing: 15€

SUPER BOCK SUPER ROCK16, 17 e 18 de JulhoHerdade do Cabeço da Flauta, Meco40€ (dia)70€ (passe 3 dias)Com Campismo.

MARÉS VIVAS15, 16 e 17 de JulhoCanidelo, Gaia25€ (dia)40€ (passe 3 dias)Sem Campismo.

PAREDES DE COURA28, 29, 30 e 31 de AgostoPraia Fluvial do Tabuão, Paredes de Coura40€ (dia)72€ (passe 4 dias)Com Campismo Gratuito.

SUDOESTE TMN2, 3 e 4 de JulhoHerdade da Casa Branca, Zam-bujeira do Mar40€ (dia)80€ (passe 3 dias)Com Campismo.

SUMOL SUMMER FEST25 e 26 de JunhoEriceira Camping, Ericeira30€ (dia)40€ (passe 2 dias)Com Campismo

DELTA TEJO2, 3 e 4 de JulhoAlto da Ajuda, Lisboa25€ (dia)40€ (passe 3 dias)Sem Campismo.

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JUP || JUNHO 1024 || CULTURA

LITERATURA LOW COST

Catarina Oliveira, aluna de Far-mácia na ESTESP, diz que os li-vros em Portugal são muito caros. “Um livro que na versão original, em inglês ou francês, custe cerca de 10 ou 12 euros, em português chega a custar 20 euros que é um valor que nem todos podem pagar”, afirma.

LIVROS EM SEGUNDA MÃO

Existem muitas outras formas de adquirir bons livros que vão para além da compra nas lojas conven-cionais e que, muitas vezes, passam a lado da maior parte das pessoas. Comprar livros usados é uma boa

opção para quem quer ler e tem pouco dinheiro no bolso. O JUP foi até à Livraria Académica, na Rua dos Mártires da Liberdade, e falou com o seu mentor, Nuno Canavez que nos diz que “cada vez vêm menos jovens” à sua livraria e que “o cenário não é maravilha nenhuma”. No entanto, Nuno Ca-navez afirma que com pouco di-nheiro se podem comprar bons livros na sua livraria: “há montes deles e de autores consagrados, por exemplo, por menos de 5€, podem comprar os livros da Agatha Cristie, os livros do Érico Verissímo, muitos de Jorge Amado… de imensos auto-res portugueses: como Camilo, Eça, Ramalho… e mais modernamente

José Régio, tudo por preços entre os 2,5€ e os 5€!”.

Na Travessa de Cedofeita fica a Li-vraria Lumiére. Cláudia Ribeiro, dona da Livraria, diz que os estu-dantes que frequentam a sua livra-ria normalmente “compram livros baratos e geralmente não levam mais porque não têm muito di-nheiro…”. Sobre o preço dos livros da Livraria Lumiére Cláudia diz-nos que “Aqui a 2€-3€ compram-se bons livros de literatura estrangei-ra e portuguesa a bons preços, por exemplo, tenho aqui esta edição de livros de Eça de Queirós, que até são para bibliófilos, que estão a 5€, ou este de Antero de Quental,

o Sonetos Completos a 2€ e há muitos mais”.

Na Livraria Paraíso, criada em 2009, na Rua José Falcão, Amélia Coelho diz que há muitos jovens a fre-quentar a sua livraria: “os estudan-tes compram muito, mas tem de ser livros baratos, é por isso que te-nho sempre aqui este balcãozinho com livros a 1€” . Seguem-se exem-plos de livros que encontramos na banca dos livros a 1euro: Os Meus Amores, de Trindade Coelho, O ves-tido cor de fogo, de José Régio, O Jogador, de Dostoiévski, A morte de Ivan Ilitch, de Tolstoi, O potro ver-melho, de Steinbeck, entre muitos, muitos, outros.Na Rua das Oliveiras, junto ao Teatro Carlos Alberto, situa-se a Livraria Vieira, fundada em 1984. Fernanda Vieira diz que “os jovens quando cá vêm procuram os livros mais baratos: 50 cêntimos, 1 euro, dois… não passa muito disso. Às vezes acontece que gostam mesmo muito de ler mas não têm dinheiro para pagar”. “Tenho histórias mui-to curiosas com jovens”, prossegue, “uma vez veio cá um jovem que queria um livro do Camilo que o pai adorava, e que custava 20€ por ser uma primeira edição… e ele só tinha dez. Eu disse-lhe para ele o levar por 10euros e que quando pu-desse me trazia os outros 10. E o ra-paz foi embora encantado. Depois, passado algum tempo, ele veio trazer-me o dinheiro que faltava. Porque dez euros para um jovem é muito dinheiro.”.Questionada sobre bons livros a baixo custo na Livraria Vieira, Fer-nanda diz “ praça Carlos Alberto, que é um livro magnífico ou O riso das esquinas, de Júlio Couto… esta-mos agora até com uma baixa de preços em livros óptimos, que dan-tes custavam 20€”.Os livros que se encontram nestas lojas nem sempre são da edição mais recente. Às vezes têm a sua existência marcada pelo desfolhar de outras mãos. Às vezes têm pó e as páginas amarelas do passar do tempo. Mas deverá isto ser um im-pedimento para ler com a mesma paixão e voracidade com que se lê quando se trata de um livro novo? Pelo contrário. Afinal, a poeira de uma vida deve ter algum sentido.

BOOKCROSSING: UM CLUBE PARA APAIXONADOS POR LIVROS

O Bookcrossing é um clube para pessoas que “gostam tanto de li-vros que não se importam de se separar deles, libertando-os, para que outras pessoas os possam ler”, como podemos ler no site da ini-ciativa em bookcrossing-portugal.com. O Bookcrossing é, então, um clube destinado a leitores de todo o mundo que pretendem trocar li-vros entre si. O objectivo do Book-crossing é transformar o mundo inteiro numa biblioteca. Para Lígia Teixeira, membro do clube desde 2006, “é um óptimo ponto de en-contro para leitores ávidos que não gostam de ver os livros nas estan-tes a apanhar pó e que pretendem

Ler muito e bem pode ficar caro. Os preços dos livros nas livrarias convencionais podem atingir preços que nem todos os estudantes podem pagar. Mas há muitos livros à espera de um leitor fora dos espaços mais banais de compra de livros.

partilhá-los com outros leitores”. Este clube, fundado em 2001, conta já com cerca de 900 mil pessoas de 130 países diferentes. Em Portugal, são mais de 8 mil inscritos. No en-tanto, o número de pessoas que faz Bookcrossing no activo é bastante inferior. Segundo Lígia Teixeira, “a comunidade tem vindo a crescer cada vez mais e nos últimos dois anos já foi possível realizar duas convenções nacionais”.O Bookcrossing oferece aos seus membros a possibilidade de ler mais e ter acesso a literatura bas-tante diversificada. Para além disso, a troca de informações sobre livros entre os bookcrossers dá também a conhecer muitos autores novos, quem o afirma é Lígia Teixeira. No conceito do Bookcrossing, ler também implica alguma aventura. Os bookcrossers anunciam no site da iniciativa que vão “largar” um livro em tal sítio e depois cabe aos interessados fazerem por o encon-trarem se o quiserem ler. Qualquer membro registado pode libertar ou “caçar” livros. No momento da es-crita deste texto existiam 470 livros libertados em Portugal à espera de um leitor.

COMO LER MUITO COM POUCO DINHEIRO: OUTRAS ALTERNATIVAS

Mas há muitas formas de ler livros a um preço mais baixo. Os livros de bolso são uma boa alternativa e representam uma grande dife-rença de preço comparativamente à edição normal. Para ilustrar a situação, usamos o livro Memória das minhas putas tristes, de Gabriel García Márquez cujo preço da edi-ção normal num site de venda de livros online ronda os 15€ e o da edição de bolsa não chega aos 5€. A aquisição de livros que saem como suplemento de revistas e jornais é outra das formas de ler bons livros a um preço mais eco-nómico. Alguns jornais e revistas aproveitam para divulgar boa lite-ratura, oferecendo aos seus leitores a possibilidade de adquirirem livros de poesia, romances e policiais de grandes escritores. Os preços des-tes livros varia geralmente entre 1€ e 5€. Marília Freitas, estudante de Ciências da Comunicação na FLUP, diz que esta “é uma boa oportu-nidade para aquelas pessoas que gostam de ler, mas não têm muitos recursos económicos para o fazer, adquirirem bons livros a preços mais baixos”. As feiras do livro, as promoções e as compras online são também boas formas para comprar livros a preços mais reduzidos, segundo Catarina Oliveira. “O que eu faço muitas vezes é aproveitar aquelas promoções, como “leve 3 pague 2”, ou bons descontos que há muitas vezes nas feiras do livro, ou então encomendo os livros online, que, muitas vezes, assim, ficam mais baratos”, diz.Para ler muitos e bons livros não é preciso muito dinheiro, é só pre-ciso vontade, amor pela leitura e alguma imaginação.

DIANA FERREIRA E DANIELA TEIXEIRA

DANIELA TEIXEIRA

JUP || JUNHO 10 CULTURA || 25

A festa começa dia 3 de Junho no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, com o projecto Tout va Bien e continua no dia 4 na baixa portuen-se (Metro da Trindade, Rua de Santa Catarina, Café Piolho, entre outros).Das 8h da manhã de Sábado, 5 de Junho, até às 24h de Domingo, 6 de Junho, Serralves vai receber mais de 90 eventos e mais de 600 artis-tas das mais diversas áreas, desde a música improvisada ao teatro de rua, passando pela acrobacia e pelo circo contemporâneo.À semelhança do que aconteceu nos anos anteriores, também este ano a Fundação de Serralves pro-move o Concurso de Projectos Ar-tísticos para o Serralves em Festa. Esta competição tem como objecti-vo promover as jovens criações de arte, procurando o seu reconheci-mento junto de diferentes públicos. Os dez finalistas, já revelados, vão ter as suas obras introduzidas no programa do festival.Na área musical, a organização do Serralves em Festa 2010 destaca as

actuações dos norte-americanos Burnt Sugar the Arkestra Chamber, que prestam homenagem a James Brown, da banda indie-punk Bona-parte, da banda parisiense dOP e do colectivo de DJs Kolombo & Loulou Players. No Jazz, o destaque vai para a Big Band do Hot Club de Portugal.Na Dança Contemporânea, os des-taques vão para Vale de Madalena Victorino, um espectáculo com dança e música ao vivo e Íman da performer Filipa Francisco, que apresenta uma coreografia dinâmi-ca e colorida desenvolvida por um grupo de dança da Cova da Moura.Como já é habitual neste evento, o Circo Contemporâneo ocupa um lugar de especial relevo. Este ano, a companhia francesa Le Nadir apre-senta Shoot the Girl First, um projec-to da responsabilidade de Isabel Alves Costa. Este é um filme-espectáculo com uma intriga misteriosa e como-vente, construída em avanços e recu-os temporais. A prática circense utili-zada é a acrobacia aérea.Relativamente ao Teatro de Rua, o pro-

JOSÉ FERREIRA

(Festa em) Serralves (em Festa)A sétima edição do Serralves em Festa realiza-se a 5 e 6 de Junho durante 40 horas Non-Stop. Este é um dos maiores festivais de expressão artística contemporânea da Europa e o maior do país.

ENTRADA GRATUITAParque de estacionamento grátis no Queimódromo

Use transportes públicos para chegar ao Serralves em Festa - Linha 201 (das 6H às 21H) Sá da Bandeira > Viso; Linha 203 (das 6H às 21H) Mar-quês > Castelo do Queijo; Linha 502 (das 6H à 01H) Bol-hão > Matosinhos Mercado; Linha 504 (das 6H10 às 00H45) Boavista > Norteshopping

Serralves em FestaJOSÉ FERREIRA

- A CONVERSA? (Vídeo e Cinema)- COLOMBINA’S (Música Pop Rock)- MAL-AMAR-TE (Teatro)-MONUMENTO AO DESEM-PREGADO DO ANO (Performance)- PIRILAMPOS (Performance)- O FASCÍNIO DO PEQUENO LAGO (Performance)- QUADRIVIUM (Música Impro-visada e Jazz)- SOLITUDE (Performance)- THIS PLANET SUCKS! (Música Pop Rock)

Finalistas do Concurso de Projectos Artísticos 2010

jecto Tout Va Bien, representado pela companhia Kumulus, sugere a habita-ção dos equipamentos citadinos desti-nados à publicidade. Por outro lado, o espectáculo A-TA-KA!, da Companhia Cal Y Canto, consiste numa animação de artefactos e animais voadores que povoam os céus, animados e guiados pela luminosidade.Por fim, na área do Teatro para a Infância e Juventude o destaque vai para a apresentação de Pig, da com-panhia britânica Whalley Range All Stars. Este espectáculo realiza-se dentro do ventre de uma porca e os espectadores são desafiados a agir como pequenos leitões.

TERESA CASTRO VIANA

Page 14: JUP JUNHO 2010

JUP || JUNHO 1026 || CULTURA

Feira mais feira não háNa altura em que este jornal estiver nas vossas mãos, já está na rua – na Avenida dos Aliados, para ser exacto – a 80ª edição da Feira do Livro do Porto. Quem a vir assim tão bonita, em filas de barracas quase novas a brilhar ao sol, não imagina as dificuldades que a feira trouxe este ano. A sua localização só foi conheci-da uma semana – uma sema-na – antes da data de início prevista, e o espectáculo que antecedeu o anúncio oficial não deixa ninguém apresen-tável na fotografia: a primeira localização seria a mesma do ano anterior, isto é, a Avenida dos Aliados; depois, falava-se na Rotunda da Boavista; mais tarde, de novo o local propos-to era a Avenida, mas a Câma-ra Municipal do Porto, diziam os responsáveis da APEL na al-tura, não respondia às diligên-cias da associação que procu-

rava assegurar a localização. Como há anos vem sendo habitual nestas situações, a Câmara Municipal de Gaia vo-luntariou-se de imediato para acolher a feira sem-abrigo e agora apontava-se o Cais de Gaia como o sítio mais prová-vel. Eis senão quando, uma se-mana antes do início previsto da feira – repito, uma semana – entra o comunicado oficial, assinado tanto pelo presiden-te da CMP, Rui Rio, como pelo da APEL, Paulo Teixeira Pinto, declarando que, no final de contas, é mesmo nos Aliados que a feira fica.

Sobram as perguntas do cos-tume. Quando é que CMP volta a prestar um ínfimo de atenção às actividades cultu-rais que precisam da cidade (e de que a cidade tanto preci-sa)? Sim, é certo, o Porto tem o Teatro Nacional de São João, tem a Casa da Música, tem Serralves. Contudo, o Porto não poder ser apenas TNSJ Ca-sadaMúsica Serralves. Se a ci-dade continuar a ser tnsjcasa-damusicaserralves, arrisca-se a que tnsjcdmserralves se torne num mero slogan cultural que se esvazia de toda a substância até ao vazio do significante.Podia atacar, como tantos têm feito, o gosto duvidoso que a cidade tem vindo a de-senvolver por grandes even-tos motorizados – Circuito da Boavista, Red Bull Air Race, Porto Roadshow – mas não o farei. Reconheço o valor de tais eventos e não escondo a minha costela de fã do auto-mobilismo. Todavia, também reconheço que o orçamento não pode esgotar-se nunca naquilo que serve apenas a alguns. Não falo daquilo que, arrogantemente, é apelidado de subsídiodependência da cultura, não: neste caso, falo apenas de espaço. Que se crie espaço na cidade para os li-vros, ainda que apenas a uma semana do início da feira. Já dizia o grande poeta povo: mais vale tarde que nunca.

Tiago Sousa Garcia

“Que se crie espaço na cidade para os livros”

Food for Life em Portugal

Uma das iniciativas do Movimento Hare

Krishna é o programa “Food for Life”

que promove a distribuição gratuita

de comida lacto-vegetariana entre as

populações que vivem abaixo do limiar

de pobreza. No Oriente do Porto, to-

das as quartas-feiras por volta das 18h,

reúnem-se voluntários que executam

todo o processo desde a confecção dos

alimentos à sua distribuição pelas zonas

mais carenciadas da cidade.

GOURMET DAS TASCAS

O Restaurante Oriente no Por-to situa-se próximo da Torre dos Clérigos, por detrás da antiga Cadeia da Relação e na proximidade da igreja de São Bento da Vitória.Este espaço existe desde 1990 e assume-se como um espaço alternativo na cidade do Porto. A equipa que gere o restauran-te é seguidora do movimento Hare Krishna (Sociedade Inter-nacional para a Consciência de Krishna) e, naturalmente, a sua orientação lacto-vege-tariana reflecte-se nos pratos que confeccionam: a cebola e o alho são substituídos por as-sa-foetida; usam leite de vaca mas normalmente apenas nas sobremesas; evitam a man-teiga e os ovos; excluem to-dos os tipos de carne optando pela soja, o seitan e o tofu; nos pratos salgados utilizam es-sencialmente leite de soja ou coco. Relativamente a esta op-ção Rui Silva acrescenta «De-fendemos uma alimentação sem crueldade. Isto significa que não utilizamos qualquer ingrediente que tenha sido tes-tado num animal, ou que seja de origem animal.».Diariamente, este restaurante disponibiliza uma opção de re-feição que inclui sopa, o prato, a sobremesa e a bebida. As dos-es individuais são servidas pela equipa do restaurante em tab-

uleiros individuais e é sempre possível repetir. Esta refeição, servida diariamente no período do almoço, tem um custo fixo de 4,00 euros para estudantes. Às sextas e sábados, no período do jantar, o serviço é à mesa sendo possível escolher diferen-tes pratos. Nas palavras de Rui Silva «O prato que tem mais saída é a nossa francesinha veg-etariana. Todos aqueles que a comem ficam muito satisfeitos e consideram uma alternativa bem conseguida à francesinha tradicional, tão típica desta ci-dade». Questionamos sobre a receita deste prato típico, Rui Silva revela «A Francesinha é constituída por fatias de pão, seitan grelhado, salsicha de soja, tofu com especiarias e queijo/queijo vegano. O Molho é feito com cenoura, tomate, pimento, aipo, especiarias, leite de coco, piri-piri, orégão, assa-foetida e o resto é segredo..».

Oriente no Porto

Oriente no Porto

RUA DE S. MIGUEL, 19

Contacto: 222 007 223

Horário de funcionamento:

Segunda a Sábado das 13h00 às 15h00.

Sexta e Sábado servem jantares das

20h00 às 22h30

O espaço Oriente no Porto, para além do restaurante, inclui zona de habitação reservada aos monges, templo e ainda uma pequena loja com artigos indianos (literatura sobre o movimento Hare Krishna, ves-tuário, acessórios, objectos rit-uais e decorativos, cosméticos sem ingredientes testados em animais e produtos alimen-tares). A Loja e o restaurante funcionam como uma forma de subsistência e um canal de di-vulgação do vegetarianismo.

MARIANA JACOB

MIGUEL LOPES RODRIGUES

JUP || JUNHO 10 CULTURA || 27

PEDRO ALMEIDA(FLUP)

Arroz-doce: rizomas, rupturas e retórica

Não é certo que, falando hoje de Uni-

versidade, evoquemos a casa à qual se

dirigia André de Resende quando, em

1534, na sua Oratio Pro Rostris, louva o

renascimento de um espaço de saberes

que são “mais obra que ostentação”.

A crise das Humanidades, mantendo

uma relação difusa com a desagragação

das filologias, assume entre nós con-

tornos bastante específicos. Aderindo

à pulverização disciplinar de inspiração

anglo-saxónica, o discurso académico

não se emancipou, contudo, da gramá-

tica conceptual estruturalista, dando

origem a uma curiosa anatomia dis-

ciplinar, balcanizada, mas altivamente

empírica. Em lugar de uma insurreição

dos saberes subjugados (na expressão

de Foucault), assistimos ao entrinchei-

ramento dos efeitos de poder do dis-

curso científico em redutos ínfimos. Se,

por um lado, não conseguiu encarar de

frente as consequências do pragmatis-

mo e do desconstrucionismo, por outro,

não resistiu o suficiente ao aliciamento

da migração para novas zonas de estu-

do atravessadas pelo positivismo cultu-

ral. Suspenso por fios invisíveis, o texto

acomoda-se a uma rede de conceitos

previamente aquecida, que basta levar

ao microondas para fazer saltar pipocas

rizomáticas: fragmentariedade, descen-

tramento, deslocações, indecidibilidade,

diferendo, fulgurações, sedimentações.

O texto não tem nada a ensinar, pouco

tem a ver com a vida ou as convicções,

ele está simplesmente aí, pronto a rece-

ber no seu corpo acutilantes investidas

que outros pré-confeccionaram para

nós, mais ou menos mecanicamente,

aplicarmos.

Desta miríade de pequenas narrativas

que tudo explicam, parece decorrer

um novo estilo na fala dos académi-

cos. “Nas nossas universidades, insistir

nas rupturas, fragmentos e desconti-

nuidades continua a ser o cúmulo do

chique”, observa René Girard (2002:229).

É a ruptura que outorga direito de cida-

dania às personagens do pensamento,

exercendo um fascínio encantatório,

magnetizante, hipnótico sobre o texto

literário, qual novo Midas. Simultanea-

mente, renasce um apego a uma certa

rigidez conceptual esquematizante (vd.

power-point learning), sintomática da

necessidade de fixação destas (peque-

nas) crenças através de um materia-

lismo que se firma próximo da orla do

dogmático, como que um empertigar-

se, um pôr-se em bicos-de-pés que não

disfarça a falência de um discurso que

é, ele mesmo, uma performance em

falha, uma performance da falha, ou

a esforçada tentativa de fazer aderir à

realidade textual um pensamento apo-

rético. Porque o rizoma é hoje, afinal de

contas, o lugar do pensamento huma-

nista na sociedade. A verdadeira ruptu-

ra é bem mais real do que se faz crer: é

o hiato entre o pensar e o ser em que

se acham os saberes, para lá das portas

do novo milénio.

E é neste contexto que emergem novas

(?) propostas para uma retoricização do

conhecimento. Workshops de redacção

de artigos científicos destinados a “au-

mentar o impacto das conclusões junto

da comunidade científica”; indústrias

criativas e a esteticização das relações

comerciais; dispositivos de “cientifici-

zação de ideias”; conferências com in-

vestigadores internacionais centradas

sobre técnicas para “obter sucesso na

ciência”, ou o desdobramento de áreas

de estudo aplicado de ferramentas re-

tóricas são apenas algumas das faces

deste cerco ao pensamento.

Talvez essa seja a desajeitada resposta

que encontrámos para contrabalançar

o imperialismo das ciências biológicas

e a sua hegemonia no panorama acadé-

mico. Talvez a inconsciente colonização

por essas mesmas ciências.

Não creio que alguém traga no bolso

a chave para o presente e abra novos

horizontes ao trabalho crítico e teórico.

Não duvido, porém, de que cabe a uma

nova geração procurar trilhos mais ará-

veis. É provável que esse esforço passe

pela revalorização da compreensão em

face da explicação, pela prova da inteli-

gibilidade enquanto compromisso com

uma verdade mais ampla. Há algo que

aguarda para ser nomeado, anunciado

nos silêncios que nos pontuam, não

como ausência, porque sempre esteve

aqui, mas talvez de Rilke aquela “alta

árvore no ouvido”. ...ser escuteiro

CONTA-ME COMO É...

Entrou aos 15 anos; obviamente não fez o

percurso habitual. Já tinha tentado antes,

durante a primária, mas a experiência de

um mês não lhe disse nada. Já no Secun-

dário, uns amigos desafiaram-no a tentar

de novo e, desta vez, foi mesmo para fi-

car. “O primeiro ano foi de aproximação”,

diz, “mas no segundo já era tudo meu!”.

Hoje, Hugo Carneiro é caminheiro e, aos

22 anos, tomou a decisão de não abando-

nar os escuteiros e passar para o lado dos

que ensinam.

“O Corpo Nacional de Escutas”, come-

ça o Hugo, com uma expressão con-

centrada e um discurso convicto, “é

uma instituiçao católica” que se baseia

nos ensinamentos de Baden Powell.

Há escuteiros em todos os países do

mundo, a fraternidade que nos une é

a mesma, a única especificidade está

apenas em cada um transmitir os va-

lores da religiao que escolhe”. Actual-

mente, reconhecidas pelo escutismo

mundial existem as Guias de Portugal,

o Corpo Nacional de Escutas e a Asso-

ciação dos Escoteiros Portugueses, que

formam a FEP, a Federação Escutista

Portuguesa. Hoje em dia conta com 13

mil jovens, mas mais de 300 mil pessoas

já foram escuteiras em Portugal. Neste

momento, são 25 milhões os escuteiros

espalhados pelo mundo. Algo que só pro-

va que ainda há espaço para o escutismo,

entre ballets, piscinas e playstations.

O número de associados tem vindo a

aumentar nas últimas décadas, “mas a

participação já não é tão intensa! Eu

andava lá sempre metido! Mas nem

sempre os miúdos têm tempo e dis-

ponibilidade!”. O escutismo baseia-se

muito no convivio prolongado, não

é uma actividade de fim-de-semana:

há que manter as crianças numa ac-

tividade constante, espicaçar-lhes a

curiosidade sobre o outro e as suas di-

ferenças, ensinar-lhes o respeito. É um

programa educativo completo e, como

tal, há também que “educar” os pais a

apoiar e valorizar o que lhes é ensina-

do: “às vezes os pais é que acham que

os filhos não tem disponibilidade…”. O

que é certo é que os resultados ficam

para sempre: “Vais para o liceu, para a

faculdade… mas os amigos com quem

ainda vais acampar, todos os anos des-

de a tua infância, e com quem convives

24 sobre 24 horas, são esses que ficam!”.

Por vezes lá apanha alguns miúdos

mais complicados, sobretudo mais ve-

lhos. “Esses sim, temos de os ter sem-

pre entretidos. A fase mais difícil é a

dos 12, 13 anos, depois disso, quem fica

sabe que é disto que gosta”. E afinal,

o que é exactamente ser escuteiro?

“Cada um tem a sua função no grupo

e é isso que te ensina a ganhar respon-

sabilidades”. Para passar para o próxi-

mo nível, é necessário interiorizar e

adquirir algumas competências relati-

vas ao convívio, asseio, e crescimento

interior: no escalão inferior de lobitos,

por exemplo, as crianças aprendem a

respeitar as diferenças entre meninos

e meninas, a saber as horas de des-

cansar e de comer, a ser autónomas e

participativas. “É pedagogia por com-

petências, ou seja, aprender fazendo. A

partir daí, vêm outros valores como o

companheirismo, e a amizade.”

E todos ajudam: o CNE é uma orga-

nização reconhecida pela disponibili-

dade e altruísmo dos seus membros:

“Participamos nas recolhas do Banco

Alimentar, temos um protocolo com

a Quercus e pedimos aos miudos que

recolham rolhas de cortiça para con-

tribuir para a plantaçao de árvores,

ajudamos as pessoas que estão no

Hospital S. João a ir à capelania aos

Domingos, pequenas coisas. O nosso

lema, a partir dos caminheiros, é estar

sempre alerta para servir”. A própria

filosofia aplica-se também dentro do

grupo: “Não é por dinheiro que não se

entra para os escuteiros. Temos alguns

miúdos que não têm dinheiro para

comprar a farda e nesse caso nós ar-

ranjamos. Ou então um pai chega e diz

que a camisa já não serve ao filho, nós

guardamos e depois pode passar para

outro miúdo mais novo.”

Um bom escuteiro também deve saber

encarar outro tipo de desafios, bem

mais caricatos: “No dia de S.Jorge, (que

também é patrono dos escuteiros!)

mascarei-me de Merlin… e tive de levar

um fato com estrelas, luas e trovões,

chapéu pontiagudo e barba. A ideia foi

minha… O mais complicado foi pôr as

estrelas a brilhar, por ser de dia! Mas

à noite, os miúdos ficaram todos con-

tentes”. A felicidade e o orgulho de

guiar estas crianças é nítida, partilha

com elas todos os momentos. É mais

fácil inspirar os escuteiros mais novos

a serem mais uns pelos outros, apesar

dos medos e inseguranças, recorrendo

a esses Cavaleiros da Távola Redonda,

corajosos paladinos do cavalheirismo;

e Hugo encarna bem o papel de conse-

lheiro do mago de fantasia.

Mais descontraído, quando questiona-

do sobre o que era preciso para ser um

homem em calções, já brincava com

a situação: “Há que ter resistencia ao

frio… mas também ao calor! É que o

chapeu é feito de pele de coelho… e

ah! Há que ser inteligente, para saber

apertar as meias na medida certa.” E

da palavra de escuteiro não se duvida.

ANA PELAEZ E MARIA INÊS ANTUNESPAULO PEYROTEO

Page 15: JUP JUNHO 2010

JUP || JUNHO 10

Um filme de Super-Heróis mas sem a parte do “Super”. Kick-Ass é o novo filme de Matthew Vaughn, produtor de Snatch, e conta-nos a história de um rapaz amante da 9ª arte que não compreende como nunca houve ninguém que tentas-se ser um Super-Herói e sente-se, então, compelido a tentar, dando uma volta enorme à sua vida.O filme é baseado na banda dese-nhada com o mesmo nome escrita pelo guru do século XXI dos comics, Mark Millar, e desenhada pelo vete-rano John Romita Jr.O filme conta com os talentos de Aaron Johnson, Christopher Mintz-Plasse, Chloe Grace Moretz, Mark Strong e Nicholas Cage.Embora não tendo uma carga tão dramática como Dark Knight de Christopher Nolan ou Watchmen de Zack Snyder, Kick-Ass possui toda a mística da B.D. e toda a ma-gia de Mark Millar, que nos põe no mundo real mostrando que, de certa forma, uma história destas poderia ser possível, dando ao es-pectador comum uma ligação ao mundo dos Super-Heróis.Ao início, parece mais um filme de adolescentes mas, na verdade, é um dos melhores filmes de Heróis desde o boom deste tipo de filmes no início do novo milénio.Acção digna de um filme de Luc Besson, banda sonora adequada a cada cena, um humor leve e um re-alismo quase gutural fazem deste um filme com capacidade para se tornar um sucesso de Verão apesar de não ser suficientemente publi-citado para tal. Mesmo assim, um filme imperdível.MIGUEL LOPES RODRIGUES

9/10 KICK-ASSMATTHEW VAUGHN

Na noite de 18 de Maio, os dois-mileoito, formação da Maia cons-tituída por Pedro Pode (vocalista/guitarra), André Aires (Bateria/Teclado/voz) e Nicolau Fernandes (Baixo/voz) deram um concerto in-serido nos festejos dos 10 anos do Fórum Cultural de Ermesinde.A banda que lançou o álbum ho-mónimo em Fevereiro do ano passado chegou ao palco depois da hora prevista e antes até de se apresentar, começou a tocar ‘Acordes com Arroz’ uma das suas músicas mais conhecidas que foi tema de uma campanha de Verão da TMN, mas que foi aqui apresen-tada com um novo arranjo.A plateia embora escurecida por uma iluminação que se pretendia intimista estava animada e envol-veu-se com os elementos da ban-da, estabelecendo-se um ambiente familiar e divertido, existindo uma troca de piadas constante.O grupo tocou êxitos da rádio como ‘Bem Melhor 12200074’ e a preferida do sexo feminino ‘Caba-nas’ que contou com grande par-ticipação do público. Apresentou também novos temas como ‘Carta aos mortos’ e ‘Atrás de Mim’ que vão fazer parte do próximo álbum que vai começar a ser gravado brevemente.Juntos há mais de 3 anos a banda tem agora um novo elemento nos concertos, o guitarrista Bruno Al-meida, cuja permanência na ban-da ainda não está definida. Para quem conhece a banda, o concerto foi mais uma vez um momento pautado pela familiari-dade. Para quem vê pela primei-ra vez, os doismileoito são uma agradável surpresa pois nunca se espera que apenas quatro pessoas tenham toda aquela força sonora. MARTA GOMES

8/10 DOISMILEOITO Fórum Cultural de Ermesinde

Into the Wild – O Lado Selvagem conta a história do jovem Chris Mc-Candless que, depois de terminar o curso, deixa, literalmente, tudo e parte à aventura pelos EUA com o objectivo de chegar ao Alasca e lá viver, usando, como único recurso, a terra. Chris doa os 25 mil dólares que tinha na conta, abandona o seu adorado carro Datsun e troca de identidade passando a responder pelo nome de Alexander Supertramp. Esta história é verídica. Podemos considerar este livro uma espécie do documentário escrito. O jor-nalista Jon Krakauer, que decidiu investigar o caso de Chris, leva os leitores a compreender as verdadei-ras motivações do jovem. O próprio Krakauer chega mesmo a relatar parte das suas aventuras pelo Alas-ca, o que, de certa forma, justifica o porquê deste livro: o autor iden-tifica-se com o personagem. Duran-te a sua viagem, Chris McCandless conhece pessoas únicas, espera e desespera, vai lendo (era um grande admirador de Tólstoi), e tenta con-cretizar o grande objectivo que é a comunhão perfeita com a Natureza que encontrará vivendo no Alasca. Infelizmente a história de Chris não teve um final feliz. Cabe a cada leitor fazer a sua interpretação da importância e significado desta “viagem”. Esta obra já foi transposta para o cinema por Sean Penn, com Emile Hirsch a encarnar Chris Mc-Candless e banda sonora de Eddie Vedder. É, sem dúvida, algo a ler e a interiorizar.JÚLIA ROCHA

Esteve em cena no TeCA, até ao dia 16 de Maio, O Príncipe de Hombur-go, do escritor romântico alemão Heinrich von Kleist, também conhe-cido por outros textos dramáticos como A Família Schroffenstein e Ro-bert Guiskard e do ensaio “Sobre o teatro e marionetas”. Este “drama patriótico”, segundo a designação do próprio von Kleist, apresenta-nos Frederico Artur de Homburgo, a perfeita encarnação do herói romântico – contraditório, impetuoso e sonhador – que entra em confronto com o rigor e a disci-plina claramente clássicos do Grão-Eleitor e do seu exército. Um texto ao gosto burguês, que explora dico-tomias convencionais, mas que não deixa de surpreender pela forma como trata o tópico sonho/verdade e como desenvolve a personagem de Natália d’Orange, muito mais do que uma mulher-anjo. A encenação, que ficou a cargo de António Pires e Luísa Costa Gomes, é intencionalmente minimalista, sem ilusões (são os próprios actores que trazem os adereços para palco). No entanto, faltou dinâmica, faltou rasgo no guarda-roupa; faltou, se ca-lhar, espírito romântico. Mesmo no que toca a interpretações, destaca-mos apenas o seguro João Ricardo no papel do Grão-Eleitor e Marcello Urgeghe, cuja teatralidade exage-rada, resultou bem na construção da personagem do Conde Hohen-zollern. Por outro lado, faltou ener-gia a Graciano Dias, o Príncipe de Homburgo, e Margarida Vila-Nova trouxe-nos uma Natália d’Orange um pouco bland de mais. INÊS EVANGELISTA MARQUES

10/10 INTO THE WILD – O LADO SELVAGEM JON KRAKAUER

6/10 O PRÍNCIPE DE HOMBURGO, DE HEINRICH VON KLEIST

Crít

icas

28 || JUP || JUNHO 10

18 A 30 DE JUNHONUNO CALVET - PORTO-GRAFIASExposição de Fotografias - Casa do Infante

9 A 30 DE JUNHODIAGRAMAS (EXPOSIÇÃO)Reitoria da Univerisade do Porto - Átrio de Química

19 DE JUNHOFESTIVAL DE FOLCLORE - CENTE-NÁRIO DO ORFEÃO DO PORTOPraça da Batalha

ATÉ 30 DE JUNHOOFICINAS GUTEMBERGMuseu Nacional da imprensa

Entrada 3€

5 A 26 DE JUNHOEDUARDO TEIXEIRA PINTO - O PRAZER DEFOTOGRAFARBibliioteca Municipal Doutor José Vieira de Carvalho - Maia

Car

dápi

o

5 DE JUNHOHEALTH Casa da Música, Sala Suggia

15€ por pessoa

7 DE JUNHODEOLINDACasa da Música, Sala Suggia

20€ por pessoa

8 JUNHOJORGE MAYANO – PIANO, COMEMORAÇÕES DO BICEN-TENÁRIO DO NASCIMENTO DE CHOPIN E SCHUMANNMatosinhos - Salão Nobre dos Paços do Conselho21,30h

Entrada Livre

9 DE JUNHOVIENNA ART ORCHESTRA - CI-CLO JAZZ GALPCasa da Música, Sala Suggia22H15€ por pessoa

12 E 13 DE JUNHOCLASSE DE PERCURSÃO DA ESMAETeatro Helena Sá e CostaSÁBADO - 21,30H DOMINGO - 18H

15 DE JUNHORODRIGO LEÃO E CINEMA ENSEMBLE Casa da Música, Sala Suggia

30€ por pessoa

23 DE JUNHOORQUESTRA NACIONAL DO PORTO - CONCERTO DE S.JOÃOCasa da Música

22h

9 A 13 DE JUNHODIAGRAMAS (EXPOSIÇÃO)Reitoria da Univerisade do Porto

- Átrio de Química

Terça a Sexta-feira das 10h às 17h; Sábado 11h às 18h

5 E 6 DE JUNHOFESTIVAL SERRALVES EM FESTA!

Fundação Serralves

Das 8h de sábado às 24h de domingo

19 DE JUNHOWORKSHOP ANÁLISE E IDEIAS DE INVESTIGAÇÃOReitoria da Universidade do Porto

ATÉ 30 DE JUNHOJAMES LEE BYARSMuseu de Arte Contemporânea de Serralves

21 A 24 DE JULHORUGBY SEVENS NA UNIVERSI-DADE DO PORTO

MÚSICA VÁRIOSEVENTOSDE 20 A 30 DE MAIONEM O PAI MORRE NEM A GEN-TE ALMOÇATeatro Universitário do PortoSEDE DO TUP, TRAVESSA DE CEDOFEITA2,5€ por pessoa

30 DE JUNHOA EUROPEIA, DE DAVID LESCOTEspectáculo do 3ano do curso de teatro do ESMAETEATRO HELENA SÁ E COSTA22horas

DE 15 A 31 DE JULHOO DIA DE TODOS OS PESCADO-RES, DE FRANCISCO LUÍS PAR-REIRATeatro Carlos Alberto

Entre 10€ e 15€

9 DE JULHOCASIMIR ET CAROLINETeatro Nacional de S.João

Entre 7,50€ e 16€

DE 23 A 27 DE JUNHONÃO, DE HÉLDER GUIMARÃESTeatro Sá da Bandeira - sala Estúdiio

Latino

21,45h

TEATRO

|| 29

Page 16: JUP JUNHO 2010

JUP || JUNHO 1030 ||

FICHA TÉCNICA

DIRECÇÃODIRECÇÃO DO NJAP/JUP - PRESIDENTE Sara Moreira VICE-PRESIDENTE Rita Falcão TESOURARIA Rita Bastos VOGAIS Pedro Ferreira (JUP) || Filipa Mora (aguasfurtadas) || Bárbara Rêgo (espaçosJUP) || Manaíra Athayde (galerias)

DIRECÇÃO DO JUP Tatiana Henriques DIRECTORA DE PAGINAÇÃO Mariana Teixeira DIRECTOR DE FOTOGRA-FIA José Ferreira CHEFE DE REDACÇÃO Mariana Jacob EDITORES E SUB-EDITORESEDUCAÇÃO Tatiana Henriques SOCIEDADE Aline Flor CULTURA Tiago Sousa Garcia OPINIÃO Pedro Ferreira

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Aline Flor || Ana Pelaez || Daniela Teixeira || Diana

Ferreira || Frederico Carpinteiro || Inês Evangelista Marques || Irina Ribeiro || Júlia Rocha || Leandro Silva || Liliana Pinho || Manuel Ribeiro || Maria Lemos || Mariana Catarina || Mariana Jacob || Marília Freitas || Mário Reis || Marta Gomes || Marta Oliveira || Miguel Rodrigues || Paulo Camões || Pedro Lopes Almeida || Ri-cardo Noronha || Sérgio Guedes da Silva || Rita Duarte || Tatiana Henriques || Teresa Castro Viana COLABORADORES DE PAGINAÇÃO Bruno Gomes || Cláudia Castro || Sara Figueiredo || Mariana Teixeira

IMAGEM DA CAPA Mariana Teixeira DEPÓSITO LEGAL nº23502/88 TIRAGEM 10.000 exemplares DESIGN LOGO JUP Bolos Quentes Design EDITORIAL/GRAFISMO Joana Koch Ferreira PAGINAÇÃO Joana Koch Ferreira

PRÉ-IMPRESSÃO Jornal de Notícias, S.A IMPRESSÃO Nave-Printer - Indústria Gráfica do Norte, S.A. Propriedade Núcleo de Jornalismo Académico do Porto/Jornal Universitário REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO Rua Miguel Bombarda, 187 - R/C e Cave 4050-381 Por-to, Portugal || Telefone 222039041 || Fax 222082375 || E-mail [email protected]

APOIOSReitoria da Universidade do Porto, Serviços da Acção So-cial da Universidade do Porto, Universidade Lusófona do Porto, Instituto Português da Juventude.

À volta da Beleza

O conceito de viagem, segundo a poesia

pessoa, traduz um sentimento de ‘ser outro

a cada dia’. A viagem ao Canadá seria um

bom paradigma para reflectir o estado da

investigação e o surgimento de oportunida-

des para jovens investigadores que levam o

conhecimento, produzido na Universidade

do Porto, para além das exíguas e limitati-

vas fronteiras de Portugal.

A ideia original do projecto “Second Life for

Erasmus Students” (SLES), que nos trilhou o

caminho até Toronto*, foi criar uma simbiose

entre os cada vez mais presentes mundos vir-

tuais e a necessidade profícua que os alunos

Erasmus, a estudar nas diversas faculdades da

Universidade do Porto, têm em aprender por-

tuguês de uma forma interactiva, contextua-

lizada, imersiva e que rompesse com alguns

dos paradigmas contraproducentes da tradi-

cional sala de aula. Posto isto, o culminar des-

ta possibilidade de aprendizagem ‘in-world’,

em Second Life, seria o ensino de português

com os alunos ainda no seu país de origem.

Esta foi a nossa proposta, em forma de artigo,

enviada para a organização da Canada Inter-

national Conference on Education (CICE 2010).

O meio incubador deste projecto foi o Mestra-

do de Ciências da Comunicação, mais precisa-

mente a cadeira de Novos Media, leccionada

pelo Prof. Paulo Frias, devido ao enfoque no

crescimento nas plataformas de mundos vir-

tuais, particularmente o Second Life.

Com esta ambiciosa proposta, a Reitoria da

Universidade do Porto assumiu um papel

crucial ao proporcionar-nos a ida ao Cana-

dá e, consequentemente, a representação

Opi

nião

Uma “conversa com pessoas sentadas em círculo”

Second Language for Erasmus StudentsDo Porto até Toronto

da própria universidade e do país na CICE

2010, um evento onde a ‘nata’ dos investiga-

dores e académicos de craveira internacio-

nal se juntam para debater as grandes pro-

blemáticas e novos paradigmas da educação.

A palavra-chave para conferências deste

género é networking. A rede de contactos

tangíveis neste tipo de eventos é elevada

e essencial na formação de parcerias que

trarão dividendos aos investigadores e às

instituições que estes representam. Neste

papel que nos auto-incumbimos, a priori,

de visão estratégica de futuro, ficou ga-

rantida. O investimento na formação e,

sobretudo, na divulgação das boas ideias

que nascem em Portugal são o caminho

indicado para a afirmação intelectual da

Universidade e de colocar, ainda mais,

esta academia no mapa internacional

dos epicentros de conhecimento.

Uma palavra para Toronto, na limitação

tão óbvia de uma cidade infinita. Toronto

apresenta-se como uma personificação do

capitalismo de uma sociedade consumista

e agitada, mas com nuances de um tempe-

ramento tolerante e uma atitude pacífica de

um melting pot cultural que ultrapassa os

valores de tão superficiais desejos. Diversity

is our strength, dizem (e bem) os canadianos.

* Ricardo Cruz, colega de Mestrado em Ciências da Comuni-

cação, foi outro dos mentores do projecto SLES e o Prof. Paulo

Frias o seu orientador.

Ricardo N. Fernandes

Licenciado em Sociologia e mestrando em Ciências da

Comunicação

A beleza, enquanto conceito e experiência

humana, foi amplamente explorada nos

domínios da arte, da filosofia, da literatu-

ra, etc. Ao longo da história ela foi sendo

procurada e definida de acordo com os

parâmetros de observação de cada época e

de cada lugar. Mas se virmos a beleza não

apenas como uma qualidade intrínseca a

um objecto com determinadas caracterís-

ticas, mas como uma experiência que po-

demos ter perante algo, podemos reparar

que a beleza possui infinitas formas de se

manifestar e que enriquece o quotidiano

de cada um com os momentos em que é

percepcionada. Experiências que podem ser

de prazer, de contemplação, de deslumbre,

de “ficar arrepiado”, de uma relação mui-

to especial que se estabelece com alguém,

com algo, ou consigo próprio...

Será que ela se manifesta quando estamos

predispostos para que tal aconteça? Será

que a beleza existe, acima de tudo no olhar

de quem a vê? Se a existência da beleza é

tão vasta ao ponto de todos os povos pos-

suírem essa capacidade de a reconhecer

(independentemente dos valores que a ela

estão associados), onde reside a sua impor-

tância? Qual o seu valor nos dias de hoje?

De onde vem este impulso tão humano de

procurar e criar beleza?

Todas estas questões foram motivo de uma

conversa organizada pela coreógrafa Tere-

sa Prima, que contou com a presença dos

convidados Rui Penha (compositor, músico

e professor) e Manuel de Souza Falcão (his-

toriador de arte, professor e artista visual),

moderada por Paulo Duarte, sj.

O JUP foi assistir a esta conversa, que não ten-

tou alcançar uma nova definição de beleza,

mas que se revelou de uma enorme partilha

e acessibilidade. Não se trata portanto de uma

“opinião”, como se refere esta parte do jornal,

mas de colocar em mesa diferentes “opiniões”,

dar espaço e voz a várias pessoas sobre o mes-

mo assunto, para que ideias e experiências se

contaminem, se entrelacem. São excertos de

“uma conversa com pessoas sentadas em cír-

culo” à volta da beleza...

Paulo Duarte (PD): Há espaço para o belo

nos dias de hoje? Ou o belo é algo elitista?

Só para os eruditos, ou os artistas, ou os que

visitam os museus?

Manuel de Souza Falcão (MSF): No meu ponto

de vista, há espaço para o belo, sempre. Con-

tudo, actualmente, na vida nas sociedades

predominantemente económicas e técnicas

observa-se uma pressa na actividade quotidia-

na que é uma agressão ao Homem e à sua

dignidade e que por isso e por mais alguma

coisa condiciona a contemplação ou a simples

fruição (no sentido de gozo e posse) do belo...

Participante: Eu acho que é tudo uma questão

de disponibilidade. Se estamos dispostos ou

não a ver beleza. Se calhar ela está em toda a

parte, em todo o lado ou em parte nenhuma.

Estamos dispostos ou não a vê-la.

Rui Penha (RP): Penso que a beleza se pode

definir por uma sensibilidade perante a be-

leza. Ela existe quando alguém a identifica.

Portanto torna-se importante desenvolver

essa capacidade de identificar a beleza...

Pessoalmente, eu associo a beleza a uma ideia

de serenidade, não necessariamente do ob-

jecto que é apresentado, mas serenidade na

contemplação, na relação com esse objecto.

Ou seja, não é só necessário desenvolver essa

capacidade de identificar a beleza, mas tam-

bém a tranquilidade para gostar de o fazer e o

ter tempo para a identificar.

PD: Então parece-me que hoje em dia, para

encontrarmos esse espaço de beleza é pre-

ciso educarmo-nos para tal... Como profes-

sores, qual é a vossa experiência

MSF: Penso que o mais importante é prepa-

rar as pessoas como pessoas. Criando uma

relação com os alunos que permita que eles

se abram, podemos depois ir falando de ou-

tras coisas. É muito importante estar aces-

sível para que as pessoas possam dialogar.

RP: Na educação para a sensibilidade, e no

ensino de música em particular, eu acho

que nós devemos mostrar as obras em

que realmente acreditamos, conhecemos e

perante as quais somos sensíveis. Porque o

entusiasmo também se transmite.

Penso que a identificação da beleza é algo

que está directamente relacionado com as

referências que temos... E se somos facil-

mente capazes de identificar a beleza em

obras de períodos históricos do passado,

em relação à sensibilidade perante a cria-

ção contemporânea penso que ela depende

ainda mais de quem somos, da nossa edu-

cação, dessas mesmas referencias. Por isso, o

homem verdadeiramente rico é o homem

verdadeiramente culto. Um homem verdadei-

ramente culto é um “self-made man”. A cultu-

ra é das poucas coisas que tu não herdas dos

teus progenitores ou família, como os genes,

o dinheiro, etc.

PD: E como se relacionam com o mo-

mento da experiência da beleza? Será

ele uma epifania?

RP: Estaria a mentir se dissesse que não adoro

sentir o belo. É uma experiência excepcional...

Mas se calhar o anseio em encontrar essa

beleza pode fazer com que ela fuja mais de-

pressa. A beleza acontece quando uma série

de coisas se conjugam, é um feliz acaso! [risos]

Eu se calhar tenho uma forma um bocado

naif de ver as coisas, mas acho que quando

a beleza acontece, por exemplo ao interpretar

uma obra musical, toda a gente que está pre-

sente vai sentir... Portanto eu acho que o que

nós temos de fazer é deixar de nos preocupar,

gozar a viagem quer ela chegue ao fim quer

não chegue...

MSF: No trabalho que faço, o que eu procuro

é trabalhar bem e daí sai a possibilidade da

beleza. Eu não trabalho à procura da beleza.

Mas há a possibilidade de, depois de ter tra-

balhado concentrado, tentando fazê-lo com

qualidade, depois disso, de surgir a beleza...

PD: A possibilidade abre espaço para o ou-

tro, então.

MSF: Sim, o trabalho, uma vez produzido, re-

sultado de uma tensão, pertence a quem o

observa, a quem o frui, a quem encontra nele

a hipótese de contemplação. Por isso é que eu

digo que passo o trabalho para o outro.

RP: [voltando um pouco atrás] Eu gosto

muito dessa ideia do potencial de beleza.

Vou roubá-la. [risos] Quando uma pessoa

se senta numa sala de espectáculos, por

exemplo, senta-se com uma predisposição

a estabelecer uma conexão. Penso que pode

ser importante termos consciência de que

vamos assistir a um processo, e que se essa

beleza acontecer é a cereja no cimo do bolo.

PD: De facto, fascina-me imenso a experi-

ência do impacto que a obra tem em mim,

quando vou disponível para receber o que

ela tem para me dar. Pode provocar-me,

pode agitar-me... Considero que nós hoje

somos extremamente racionais, não esta-

mos educados para o sensível (o sensível

no sentido da coisa ressoar em mim, de ser

tocado), para o impacto que o sensível pode

causar. Por isso sinto que a importância da

beleza também reside aqui. Porque a beleza

impacta. A beleza obriga a quem a perce-

pciona, a uma fluidez de si próprio...

Maria Lemos

JOSÉ FER

REIR

A

JUP || JUNHO 10 OPINIÃO || 31

Devaneios

Vivemos dentro deste pequeno rectângulo, cujos limites são cada vez mais intransmissíveis. Fazemos parte de uma sociedade que gosta de se manter inalterada, somos avessos ao crescimento e à mudança.Assim, é fácil constatar que nada evolui. Assim, faz sentido quando os sábios referem que não saímos da cepa torta.Somos demasiado racionais, demasiado ponderados, demasiado iguais a todos os outros. A diferença assusta-nos e tentamos afastá-la a todo o custo. Procuramos a felicidade e o bem-estar na igualdade.Deixemo-nos disto! Sejamos diferentes. Sejamos originais. Sejamos nós próprios e não imagens repetidas de tantos outros.Sejamos impulsivos, instintivos, irracionais e instantâneos.Sejamos inovadores nos pensamentos, nas palavras e nas atitudes.Sejamos sinceros e transparentes ao pôr as cartas na mesa e a abrir o jogo. Deixemo-nos de preconceitos e discriminações.Deixemo-nos de falsos moralismos, de frases feitas e de clichés. Deixemo-nos de prender quem se quer libertar e deixemos ficar quem não quer ir.Não nos deixemos absorver. Sejamos individuais, pessoais, exclusivos e particulares. Sejamos irracionais.Deixemos de ter medo de admitir quem somos, deixemos de recear o pensamento alheio, deixemo-nos de máscaras e armaduras.Alteremos mentalidades. Tiremos as palas dos olhos e alarguemos os nossos horizontes. Deixemos de ver apenas o óbvio e procuremos algo mais além do que está ao nosso alcance.Lutemos pela diferença, sejamos autênticos.Se o que está à nossa volta não muda, que mudemos nós para que tudo mude!

Teresa Castro Viana

FOTO

: JOSÉ FER

REIR

A

EDITORIAL

“Mudam-se os tempos, mudam-se

as vontades”, já dizia o nosso poeta

renascentista Luís de Camões. De ano

para ano, são muitas as mudanças.

Mas nem tudo muda quando fala-

mos na Queima das Fitas do Porto.

Os rostos são diferentes, os desafios

também. Mas o espírito académico

continua a ser o mesmo.

Esta é a semana por excelência dos

estudantes. Alguns apresentam-se à

cidade, enquanto outros despedem-se.

As ruas voltam a encher-se de muitas

cores, símbolo de tradição com incon-

táveis anos. O Queimódromo fica mais

uma vez repleto, cheio de música,

diversão e momentos irrepetíveis.

Os que partem passam o testemunho

aos que ficam e que não querem

desiludir. As capas negras passam a

fazer parte apenas da memória e dão

lugar à cartola e à bengala. Quem é

finalista vive um misto de emoções:

alegria por terminar aquilo a que

se comprometeram e tristeza por

abandonar a família que entretan-

to abraçaram. A partir de agora, o

passado fica mais longe e a saudade

mais perto.

A Balada de Despedida do 5º Ano

Jurídico fala que “segredos desta

cidade, levo comigo para a vida”. E

que segredos esconderão os tantos

estudantes da Academia? Concretiza-

ções ou frustrações, risos ou lágrimas,

esperança ou receio. E tantas outras

coisas que as palavras não conse-

guem expressar. Não obstante, mui-

tos dos mistérios foram denunciados

ao longo da Queima... Nos sorrisos

cúmplices, nos cânticos entoados

em perfeito uníssono, nas inevitáveis

lágrimas que não param de cair no

rosto dos mais emocionados. Tanto

recém-chegados como os que estão

de partida partilham as memórias

de um tempo ímpar. Um tempo

que acaba e que não mais volta, que

dá lugar a outro, aquele que todos

procuraram quando iniciaram a sua

caminhada no ensino superior.

Sim, são muitas as mudanças e

diferentes vontades. Mas há algo que

nunca muda. O espírito académico

que só quem é estudante percebe.

Mas que emoções são estas? Bem,

essas já não se conseguem definir, é

preciso vivê-las e senti-las. E além do

mais, são segredo...

Page 17: JUP JUNHO 2010

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