“júlio de mesquita...
TRANSCRIPT
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Júlio de Mesquita Filho”
Campus de Ourinhos
AVALIAÇÃO DO CONCEITO DE MEIO AMBIENTE NAS ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL DE OURINHOS-SP
Natália Camila Minucci Bonatto
Orientadora: Profª. Drª. Luciene Cristina Risso
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca examinadora para obtenção do título de Especialista em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas pela UNESP – Campus de Ourinhos.
Ourinhos – SP Novembro/2012
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Júlio de Mesquita Filho”
Campus de Ourinhos
AVALIAÇÃO DO CONCEITO DE MEIO AMBIENTE NAS ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL DE OURINHOS-SP
Natália Camila Minucci Bonatto
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca examinadora para obtenção do título de Especialista em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas pela UNESP – Campus de Ourinhos.
Ourinhos – SP Novembro/2012
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Banca examinadora
Profª. Drª. Luciene Cristina Risso (orientadora)
___________________________________________________
Ourinhos, 19 de novembro de 2012.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
DEDICATÓRIA
“Dedico este trabalho a Deus, por abrir todas
as janelas quando as portas se fecham”
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
AGRADECIMENTOS
“O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria,
se aprende com a vida e com os humildes”.
Cora Coralina
Portanto, à vida e aos humildes é para quem dirijo meus agradecimentos:
Ao meu companheiro, amigo, parceiro e agora marido Vitor, por todo apoio, dedicação,
paciência e carinho.
A minha colega Thiara Breda, por me incentivar a fazer este curso de especialização.
Aos meus colegas de curso, por terem ajudado a concluir todas as disciplinas e terem
compartilhado um pouco dos seus conhecimentos.
A minha orientadora, Professora Dra. Luciene Cristina Risso, por toda paciência e
orientação dedicada.
A minha família.
A todos os professores do curso de especialização da UNESP de Ourinhos, por
emprestarem um pouco do seu conhecimento e muita da sua paciência para que este curso
desse certo.
Aos meus alunos que contribuíram gentilmente para a pesquisa.
A equipe pedagógica da EMEF “Profª Amélia Abujamra Maron” e do Colégio Drummond, por
permitir que este trabalho fosse aplicado em seus alunos.
Obrigado!
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
SUMÁRIO
RESUMO.................................................. .................................................. .............................. ........... 1
ABSTRACT.................................................. .................................................. .......................... .............2
INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA.................................................. ........................... ........... ...............3
OBJETIVOS.................................................. .................................................. ......................... .............7
OBJETIVO GERAL.................................................. ................................................................ ..............7
OBJETIVOS ESPECÍFICOS....................................... .............................................................. ............7
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................... ......................................... ....................... .............8
1. DEFINIÇÃO DO PENSAR......................... ...................................................................... .........8
2. DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE NATUREZA E MEIO AMBIENTE... ........................... .........9
2.1 O CONCEITO DE NATUREZA............. .................................................................... ..........9
2.2 A RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA: PONTO DE VISTA HISTÓRICO........................ ......10
2.3 O CONCEITO DE MEIO AMBIENTE.................................................................................14
3. SUSTENTABILIDADE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL............................. ......................................16
3.1. LEGISLAÇÃO PERTINENTE A SUSTENTABILIDADE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO
BRASIL... .................................................. ............................... ..............................................16
3.2. CONCEITO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUA IMPORTÂNCIA PARA A
SOCIEDADE............................ ......................................... ............................................ .........18
3.3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUA IMPORTÂNCIA PARA A SOCIEDADE.................... 19
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..................................... .............................................. .........22
RESULTADOS E DISCUSSÃO............................ ..................................................................... ..........27
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................. ...................................................................... ..........79
REFERÊNCIAS................................. ........................................................................................ ..........83
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
ÍNDICES
FIGURAS
Figura 1. Dinâmica para análise do conceito de MA – formação do círculo (8º ano) ................25
Figura 2. Representação naturalista da aluna Ana carolina (9 anos) – 3º ano (Fundamental
I)................................................................................................................................................. 28
Figura 3. Representação naturalista da aluna Manuella (9 anos) (Fundamental I) ..................28
Figura 4. Representação naturalista do aluno Gabriel (10 anos) – 4º ano (Fundamental
I)................................................................................................................................................. 29
Figura 5. Representação antropológica do aluno Yan (10 anos) – 4º ano (Fundamental I) .....30
Figura 6. Representação antropológica da aluna Mariana (11 anos) – 5º ano (Fundamental I)
............ ........................................................................................................................................31
Figura 7. Representação antropológica da aluna Ísis (11 anos) – 5º ano (Fundamental I)
............ ........................................................................................................................................32
Figura 8. Representação naturalista do aluno Felipe (11 anos) – 5º ano (Fundamental I)
............... ................ ....................................................................................................................32
Figura 9. Representação naturalista da aluna Haíssa - 6º ano (Fundamental II) ..................... 39
Figura 10. Representação naturalista do aluno Leonardo – 6º ano (Fundamental II) ...............40
Figura 11. Representação naturalista do aluno Matheus – 6º ano (Fundamental II) ............... 41
Figura 12. Representação generalista da aluna Maria Eduarda – 6º ano (Fundamental II)
........... .......... .... .........................................................................................................................42
Figura 13. Representação generalista do aluno Luan Neves – 6º ano (Fundamental II) ..........42
Figura 14. Representação globalizante da aluna Camila – 6º ano (Fundamental II) ................43
Figura 15. Representação globalizante da aluna Evillyn – 6º ano (Fundamental II) .................44
Figura 16. Representação globalizante da aluna Karla – 6º ano (Fundamental II) ...................44
Figura 17. Representação antropológica do aluno Marcos – 6º ano (Fundamental II) ............ 45
Figura 18. Representação antropológica do aluno Maxuel – 6º ano (Fundamental II) ....... .....46
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 19. Representação antropológica da aluna Beatriz Tavares – 6º ano (Fundamental II)
....... .............................................................................................................................................46
Figura 20. Representação antropológica do aluno Vinicius – 6º ano (Fundamental II) ....... .... 47
Figura 21. Representação conservacionista da aluna Vitória – 6º ano (Fundamental II) .. ......47
Figura 22. Representação conservacionista da aluna Beatriz Felizardo – 6º ano (Fundamental
II) .. .............................................................................................................................................48
Figura 23. Representação conservacionista do aluno Gabriel – 6º ano (Fundamental II) .. ... 48
Figura 24. Representação do meio ambiente – 1ª fase.. ..................... .. ....... .........................50
Figura 25. Representação do meio ambiente – 2ª fase.. ..................... .. ....... .........................51
Figura 26. Representação do meio ambiente – 3ª fase.. ..................... .. ....... ........................ 51
Figura 27. Representação do meio ambiente – 4ª fase.. ..................... .. ....... ........................ 52
Figura 28. Grupo de alunos do 7º confeccionando cartazes com sua “denúncia
ambiental”....................................................................................................................................53
Figura 29. Grupo de alunos do 7º confeccionando cartazes com sua “denúncia
ambiental”....................................................................................................................................53
Figura 30. As alunas (Queren e Paula Fabiana) do 7º apresentando seu cartaz. ................... 54
Figura 31. Cartaz confeccionado por alunas do 7º ano. ................. ................. ........................54
Figura 32. Os alunos (Tiago, Marcelo, Vitor e Deymon) com seu cartaz. ............. ...................55
Figura 33. Colocação dos cartazes no bairro – mercearia... ............. .......................................55
Figura 34. Colocação dos cartazes no bairro – ponto de ônibus....... .......................................56
Figura 35. Alunos conversando com a proprietária do mercado. ....... ......................................56
Figura 36. Colocação dos cartazes no bairro – sorveteria....... .................................................57
Figura 37. Representação naturalista do aluno Leandro – 7º ano (Fundamental II) ................58
Figura 38. Representação naturalista da aluna Katilley – 7º ano (Fundamental II) ................. 58
Figura 39. Representação globalizante do aluno Marcelo – 7º ano (Fundamental II) .............. 59
Figura 40. Representação globalizante e conservacionista da aluna Milene – 7º ano
(Fundamental II)................................. ....... ................................................................................60
Figura 41. Representação conservacionista da aluna Juliana– 7º ano (Fundamental II) .........61
Figura 42. Representação antropológica do MA – 7º ano (Fundamental II) .............................61
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 43. Representação naturalista do aluno Kaique – 8º ano (Fundamental II) ...................65
Figura 44. Representação naturalista do aluno Renan – 8º ano (Fundamental II) .................. 66
Figura 45. Representação naturalista do aluno Layson– 8º ano (Fundamental II) .................. 66
Figura 46. Representação conservacionista da aluna Ana Beatriz – 8º ano (Fundamental
II).................................................................................................................................................67
Figura 47. Representação conservacionista do aluno Antônio – 8º ano (Fundamental II)
......................... ...........................................................................................................................68
Figura 48. Representação conservacionista da aluna Vanessa – 8º ano (Fundamental II)
...................... ..............................................................................................................................69
Figura 49. Representação globalizante da aluna Inaê – 8º ano (Fundamental II) ....................70
Figura 50. Representação globalizante da aluna Evylla– 8º ano (Fundamental II) ..................70
Figura 51. Representação globalizante do aluno Elias – 8º ano (Fundamental II) ....................73
Figura 52. Representação globalizante do aluno Yael – 8º ano (Fundamental II) ................... 72
Figura 53. Representação globalizante da aluna Adriane – 8º ano (Fundamental II) ...............72
Figura 54. Representação antropológica do aluno Higor – 8º ano (Fundamental II).................75
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
GRÁFICOS
Gráfico 1. Perpepções ambientais detectadas no 3º ano do Fundamental I ............................29
Gráfico 2. Perpepções ambientais detectadas no 4º ano do Fundamental I.............................30
Gráfico 3. Perpepções ambientais detectadas no 5º ano do Fundamental I.............................33
Grafíco 4. Percepção do elementos integrantes do MA na visão do alunos do 3º, 4º e 5º
ano................... ............................................ ..................... ....................... ............ ...................35
Gráfico 5. Relação do conceito de Meio Ambiente e Natureza ....................... .........................36
Gráfico 6. Percepção ambiental do 6º ano a partir das representações....................................38
Gráfico 7. Percepção ambiental do 7º ano a partir das representações. ......... ........................62
Gráfico 8. Representações do 8º de acordo com o parâmetro de classificação........................64
Grafíco 9. Percepção do elementos integrantes do MA na visão do alunos do 6º, 7º e 8º
ano............................ ............................. ..................... ....................... ......................................76
Grafíco 10. Percepção Relação do conceito de Meio Ambiente e Natureza.............................77
Gráfico 11. Principais problemas identificados na cidade/bairro – Ensino Fundamental II........78
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
TABELAS
Tabela 1 Principais problemas identificados na cidade/bairro – Ensino Fundamental I.............36
Tabela 2. Representações do 6º de acordo com o parâmetro de classificação.........................38
Tabela 3. Palavras que representam o MA no 6º ano..................................... ..........................49
Tabela 4. Palavras que representam o MA no 7º ano..................................... ..........................64
Tabela 5. Palavras que representam o MA no 8º ano ..................................... .........................74
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
QUADRO
Quadro 1. Questionário: Investigação do aluno.........................................................................23
Quadro 2. Definições conceituais do Meio Ambiente.................................................................26
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
SIGLAS
MA – Meio Ambiente
EA – Educação Ambiental
EMEF – Escola Municipal de Ensino Fundamental
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
1
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
RESUMO
O presente trabalho visou à observação e a análise da percepção do conceito de meio ambiente que alunos de escolas de Ensino Fundamental localizadas no município de Ourinhos-SP possuem sobre o tema. Foi possível verificar através deste estudo, as diferentes percepções que crianças do 3º ao 5º ano das séries primárias e adolescentes de 6º ao 8º ano de séries secundárias possuem sobre o mesmo conceito, e também as diferentes construções estabelecidas que surgiram em todas as séries/anos abordadas. Através da análise das representações gráficas produzidas pelos alunos sobre o que acreditam ser o meio ambiente somado a um questionário investigativo de suas percepções sobre o tema, foi possível agrupar os resultados em cinco construções conceituais distintas, algumas já anteriormente identificadas por Reigota (1995) e Tamaio (2002) em seus estudos sobre a percepção ambiental em crianças. Os resultados obtidos indicaram que a cada série/ano abordado há um progresso na construção do conceito, relacionado a diferentes idades e experiências que cada criança possui. Contudo, os resultados poderão servir de base para a construção de novos estudos relacionados à construção do conceito de meio ambiente e a interpretação que o individuo possui a cada fase do seu desenvolvimento cognitivo.
Palavras-chaves: Meio ambiente; percepção conceitual; natureza; pensamento.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
2
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
ABSTRACT
This study aimed to observe and analyze the perception of the concept of environment that
students of primary schools located in Ourinhos-SP have on the subject. It was verified
through this study, the different perceptions that children from 3rd to 5th grade primary series
and adolescents aged 6 to 8th year series secondary feature on the same concept, and also
the different constructs established that emerged in all grades / years addressed. Through
the analysis of graphical representations produced by the students on what they believe is
the environment plus an investigative questionnaire on their perceptions on the subject, it
was possible to group the results into five distinct conceptual constructs, some previously
identified by Reigota (1995) and Tamaio (2002) in their study of environmental perception in
children. The results indicated that each grade / year approached there is progress in the
construction of the concept, related to different ages and experiences that each child
possesses. However, the results may serve as a basis for the construction of new studies
related to the construction of the concept of the environment and the interpretation that the
individual has every stage of cognitive development.
Keywords: Environment; conceptual perception; nature; thought.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
3
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
A expressão meio ambiente é considerada pelo costume geral como algo que se
refere a um local que requer apreciação, respeito e preservação pela sociedade.
Geralmente o termo acaba vinculado à ideia de natureza e ambiente natural. Para tanto, é
necessário compreender como ocorre a formação do pensamento na construção do
conceito de meio ambiente nas pessoas e como elas compreendem os vínculos entre o
ambiente e a sociedade.
Segundo a Política Nacional do Meio Ambiente, regulada pela Lei nº 6.938 de
1981, define em seu artigo 3º:
Meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.
O conceito de meio ambiente é muito abrangente, pois engloba tudo que há na
superfície terrestre, inclusive suas inter-relações com os fatores bióticos e abióticos.
Avaliando o conceito acima, entendemos que o meio ambiente é visto pelo legislador
brasileiro como uma entidade natural e viva, com características próprias e particulares, mas
não fica claro o seu aspecto social, mesmo tratando-se das “leis, influências e interações”
relacionadas à vida, pois se trata de uma definição habitual da área jurídica, que explicita
uma falta de contornos precisos ao referido conceito.
Para Medina o meio ambiente compreende:
[...] um conjunto de componentes naturais e sociais e suas interações em um espaço e em um tempo determinados, associados à dinâmica das interações sociedade-natureza e suas consequências no espaço em que habita o homem, e do qual o mesmo também é parte integrante (1994, p. 19).
Compreender o meio ambiente como um espaço entre o natural e o social é o
intuito deste trabalho, que tem por intenção verificar o distanciamento entre os dois
elementos no conceito que as pessoas possuem sobre o meio ambiente.
De acordo com Tamaio (2002), fundamentado na visão de Gutman, o conceito
de meio ambiente passou da visão que considerava apenas seus aspectos biológicos e
físicos, para uma definição mais ampla que engloba e preocupa-se com os aspectos
econômicos e socioculturais que nele ocorre.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
4
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Ele se apresenta como o espaço onde ocorrem as interações entre o meio
biótico e o físico, englobando as relações tróficas, econômicas e sociais, onde cada
organismo mantém certo nível de interdependência em relação aos outros e retira deste
espaço os recursos naturais, a fim de manter seu desenvolvimento.
Deste modo, o conceito de meio ambiente deve considerar o meio social,
cultural, econômico, político e não só o meio físico. Os seres humanos se distinguem dos
outros seres vivos devido a sua capacidade de agir sobre o seu nicho, para criar suas
próprias condições de existência. Essa capacidade de manipular a natureza é um dos
principais fatores de modificação do meio ambiente e está diretamente relacionado ao
desenvolvimento das habilidades e funções desta espécie. Tamaio (2002, p. 22) observa a
natureza como mediadora entre o homem e o ambiente ao dissertar sobre as relações de
dependência desta espécie e seu habitat:
[...] os homens, ao se organizarem socialmente, transformam a natureza; e ao mesmo tempo, a natureza se apresenta como mediadora das relações sociais entre os homens”.
Os seres humanos estão inseridos no ambiente com seus valores científicos,
sociais, econômicos, filosóficos, políticos, morais, artísticos, religiosos e culturais
relacionando-se de forma direta ou indireta aos fatores abióticos e bióticos que compõe o
meio, formando uma grande rede de interação. Portanto, o meio ambiente é o mediador das
relações não só humanas, mas se todos os organismos que aqui vivem, não é o lugar que
apenas nos cerca, mas o local onde estamos inseridos e somos parte integrante.
O meio ambiente deve ser tratado como algo que faz parte do cotidiano, para
que o sujeito sinta-se inserido e responsável pela sua conservação e busque mudanças de
atitude que se revertam em benefício da sociedade e do ambiente que ele ocupa. Cabe, no
entanto, refletir sobre a maneira ecológica como vem sendo transmitida a Educação
Ambiental no Brasil.
A atual abordagem da Educação Ambiental nas escolas e na mídia promove a
ideia de distinção entre a sociedade e o meio ambiente, como se este estivesse
desconectado do cotidiano, relacionado principalmente aos elementos da flora e da fauna.
Todos os dias, vemos nos meios de comunicação o apelo da mídia e da
sociedade para a manutenção do equilíbrio ambiental. Desde muito tempo, a tal crise é
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
5
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
divulgada como uma catástrofe desenfreada provocada pela ação humana sobre o meio. Ao
ver essas notícias, temos a sensação de que o fim está próximo e que nós seres humanos,
somos os grandes responsáveis pela degradação do planeta Terra, ainda nos incide à
incumbência da reconstrução do ambiente e de sua consecutiva economia.
Esse cenário descrito mostra-nos o apelo midiático e o mal uso da informação
para promover situações que acabam por responsabilizar a parte da sociedade que menos
tem influência sobre as transformações esperadas por todos.
Mediante essa situação caótica, muitos autores veem nas escolas o local
propício para a formação de sujeitos capazes de transformar o mundo e torná-lo mais
sustentável. Para isso, a educação é considerada um agente eficaz de mudanças e um
espaço favorável para a prática de condutas ecologicamente corretas. A mistificação do
processo educativo como formador de sujeitos responsáveis é citado por Carvalho (1996, p.
78).
[...] muitas vezes a contribuição do processo educativo para as mudanças almejadas é tão supervalorizada que leva facilmente à idealização ou à mistificação. Apesar deste risco, entende-se, no entanto, que o desenvolvimento de atividades desta natureza é hoje uma exigência no sentido de que o processo educativo cumpra sua função social.
Frente a todo esse conjunto de problemas e preocupações, podemos observar
que vários setores sociais possuem o anseio de que o processo educativo seja uma
possibilidade de provocar mudanças e alterar a situação crítica de degradação do meio
ambiente com o qual nos deparamos (TAMAIO, 2002).
A educação ambiental surge nesse ponto, como um processo educativo que
rege um saber ambiental materializado em valores éticos e políticos de convívio social e
comercial, que implica indiretamente na apropriação e no uso dos recursos naturais. Logo,
ela deve ser direcionada para o sentido de pertencimento e corresponsabilidade, em busca
da compreensão e a superação dos problemas ambientais (CARVALHO, 2004).
Dessa forma, a Educação Ambiental começa a ser reconhecida como prática
pedagógica capaz de favorecer o desenvolvimento de novas condutas individuais e
coletivas, formando sujeitos responsáveis, sustentáveis, críticos e ativos.
O Ministério da Educação e do Desporto (MEC, 1996), ressalta a importância de
identificar a representação do conceito de meio ambiente que cada parcela da sociedade
possui, para que assim, seja possível abranger não só os alunos, mas toda a comunidade
escolar.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
6
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Para que crianças e jovens se tornem disseminadores de ações e práticas
sustentáveis e se considerem como parte integrante deste ambiente natural e modificado, a
educação deve promover o conhecimento da natureza humana e sua relação com o meio
ambiente, sem desvincular a consciência ecológica da consciência social, que engloba o
exercício da cidadania, no exercício dos direitos e deveres dos cidadãos, assim como suas
relações sociais e políticas.
Os alunos devem compreender que os problemas ambientais começam em suas
casas, na escola, no bairro, na cidade, no estado e assim sucessivamente até atingir todas
as esferas sociais e para resolver este problema é necessária à participação de todos.
Soares et. al (2004, p.14), estabelece a metodologia participativa como um dos fatores de
integração e resolução dos problemas ambientais
[...] pressupõe que os conteúdos das diferentes áreas de conhecimento são o ponto de partida para a re-elaboração dos conceitos, de forma que o conhecimento re-laborado seja aplicado à realidade com o intuito de transformá-la. Essa transformação se dá na medida em que o equilíbrio local seja atingido a partir da modificação na relação homem-natureza, permitindo uma relação mais integrada e uma abertura de consciência por parte dos sujeitos.
Neste ponto, a escola deve promover o desenvolvimento de competências
científicas e técnicas que torne eficiente a habilidade dos seres humanos de transformar o
ambiente de forma equilibrada, levando em consideração os impactos causados pela
exploração dos recursos ambientais, possibilitando a compreensão da realidade social e
ecológica, assim como a aquisição de valores que permitam o desenvolvimento, sem agredir
o meio natural.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
7
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
O objetivo deste trabalho é avaliar o pensamento na construção do conceito de
meio ambiente, a partir de uma investigação minuciosa sobre sua abordagem no âmbito
escolar. Dessa forma, o intuito deste trabalho é verificar o possível distanciamento que
ocorre entre o espaço natural e o social no conceito construído por discentes.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Estudar a construção do pensamento “Meio Ambiente” e as diferentes
percepções que crianças do 3º ao 5º ano série primária, e adolescentes de 6º ao
8º ano de séries secundárias, ambas pertencentes a Ensino Fundamental,
respectivamente I e II.
Comparar as diferentes construções do conceito de “Meio Ambiente” que
ocorrem em cada série estudada.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
8
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
DEFINIÇÃO DO PENSAR
“Penso, logo existo” (DESCARTES, 1996).
A frase acima foi extraída de uma das mais apreciadas obras de René
Descartes, o livro “Discurso do Método” publicado pela primeira vez no século XVII, é um
dos textos mais conhecidos da filosofia moderna e se baseia na busca pelo conhecimento
verdadeiro.
A palavra pensar vem do latim pensare, que significa originalmente “pensar,
refletir”. Segundo Japiassú (1996, p. 209), o pensamento significa:
[...] atividade da mente através da qual tematiza objetos ou toma decisões
sobre a realização de uma ação. Atividade intelectual, raciocínio.
Consciência. [...] diferentemente do conhecimento, que visa apropriar-se
dos dados empíricos ou conceituais, o pensamento constitui uma atividade
intelectual, visando a produção de um saber novo pela mediação da
reflexão. Em outras palavras, o pensamento é o trabalho efetuado pela
reflexão do sujeito sobre um objeto, num movimento pelo qual a matéria-
prima que é a experiência é transformada, de algo não-sabido, num saber
produzido e compreendido.
O pensamento de fato, é fruto da atividade mental que pode surgir a partir de
atividades racionais ou por abstrações do imaginário.
Para tanto, ele requer muitas operações mentais que utiliza os materiais
coletados do ambiente através dos órgãos do sentido responsáveis pelo tato, olfato, visão,
audição e paladar para transcender essas informações ao encéfalo na região da memória e
da consciência, organizando-as através de sinapses, influenciado pelos fatores cognitivos, a
fim de ajustá-las à realidade (LADEIRA, 2009).
Segundo Jorge (2010), a construção do pensamento passa por três fases
consecutivas, que são o conceito, o juízo e o raciocínio. O conceito é o componente
estrutural do pensamento, sendo formado a partir das representações sem a necessidade
de sentir ou visualizar o objeto, constituindo-se, então, em um elemento puramente
descritivo, livre das alterações sensoriais. O juízo é formado a partir da relação entre dois ou
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
9
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
mais conceitos. Por fim, o raciocínio serve para fazer a junção entre os juízos, conduzindo a
formação do pensamento através das várias ligações estabelecidas entre eles.
O processo do pensar possui três elementos. O primeiro, de faceta dinâmica, é
chamado de curso, pois se refere ao modo como o pensamento se movimenta, inclusive sua
relação rítmica ao longo do tempo. O segundo processo é a forma, podendo ser
caracterizada como o esqueleto do pensamento, sendo preenchida pelos conteúdos. Por
conseguinte, o terceiro processo é o conteúdo, que nada mais é do que o assunto que está
sendo veiculado (LADEIRA, 2009).
O pensar é um processo complexo que surge a partir do acúmulo de
experiências vividas que são trazidas ao campo da razão para a constituição do raciocínio.
O acúmulo de juízos ao longo do tempo forma aquilo que conhecemos como cultura, que é
o conjunto de conhecimentos, valores e saberes que são transmitidos a cada geração.
Contudo, o ser humano diferente dos outros animais é capaz de estabelecer
processos complexos do pensamento, transformá-lo em conhecimento e transmiti-lo as
gerações seguintes, a fim de garantir sua sobrevivência a partir dos conhecimentos
somados por gerações anteriores, constituindo aquilo que chamamos de cultura, o que nada
mais é, do que a soma de todos os raciocínios estabelecidos pela espécie.
1. DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE NATUREZA E MEIO AMBIENTE
Primeiramente, devemos entender o que é um conceito. A palavra “conceito” tem
sua origem no latim “conceptus” (do verbo "concipere") que significa "coisa concebida" ou
"formada na mente".
O conceito, portanto, é a definição da essência do objeto, desvinculado de suas
percepções sensoriais. Podendo ser compreendido como a construção de uma ideia através
das palavras.
1.1 . O conceito de natureza
Para compreender a formação do pensamento infantil sobre o julgamento que
acreditam ser o meio ambiente, é necessário inicialmente, verificar o principal conceito no
qual o meio ambiente é comumente relacionado: a natureza.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
10
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
A palavra natureza vem do latim natura e significa tudo aquilo que não sofreu
intervenção humana, ou seja, aquilo que não é artificial. Porém, não podemos dizer que
natural seja o completo avesso do artificial.
Uma árvore, por exemplo, será sempre um objeto natural, mesmo que tenha sido plantada por um jardineiro no pátio de uma escola. Embora tenha sofrido intervenção humana (afinal, árvores não crescem sozinhas em pátios de escola), a árvore não deixa de ser um objeto natural. (ALBUQUERQUE, 2007).
Albuquerque (2007) usa um exemplo muito claro para explicar a diferença que
conceitua o natural do artificial. Denota que certos “materiais” podem ser naturais, assim
foram criados sem a ação humana e seu desenvolvimento não depende de sua intervenção,
como as rochas por exemplo. Todavia, quando passam a ser manipulados e modificados
pelo homem e sua tecnologia, ele deixa de ser considerado natural e passa a ser visto como
fruto da atividade humana.
Dulley (2004), ao refletir sobre a noção de natureza cita o pensamento de
Lenoble (1969) explicando o referido conceito:
[...] ao mesmo tempo que se aplica ao conjunto das coisas ...designa também. ... um princípio considerado produtor do desenvolvimento de um ser e que realiza nela um certo tipo de ação” e que na origem do termo natureza “...está a palavra latina natura que liga-se a raiz nasci (nascer) e significa em primeiro lugar: a ação de fazer nascer” (LENOBLE, 1969 apud em DULLEY, 2004).
Nesse caso o termo natural é visto como um acontecimento da natureza e o
artificial trata-se especificamente daquilo feito pelo homem. Normalmente a natureza é
associada à paisagem natural: flora e fauna num ambiente livre da interferência humana.
É importante discutir como nossa sociedade define aquilo que conhece por
natureza, e também saber quais fatores históricos estão embutidos em seu entendimento,
pois quando nos referimos a “matéria natural” estamos falando não apenas do objeto
intocável pelo homem, mas também sobre a forma como o vemos (CARVALHO, 1994 p.14
apud em TAMAIO, 2002). Portanto, é possível fazer uma distinção prática entre a noção da
natureza e do meio ambiente.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
11
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
2.2. A relação homem-natureza: ponto de vista histórico
Ao longo da história a relação entre o homem e o seu meio, foi artefato de
extrema importância na luta pela sobrevivência. Durante a Antiguidade, essa relação de
dependência do homem com a natureza deu origem a crenças religiosas, nas quais os
povos antigos adotavam diversos elementos naturais como divindade. Desde a pré-história
até os dias atuais, a capacidade do homem de modificar e operar na natureza tem se
tornado mais intensa.
O homem (Homo sapiens sapiens) atual espécie da gênero Homo, faz parte da
natureza, assim como qualquer outra espécie de ser vivo. Seu organismo é multicelular
formado por milhares de células eucariontes, que se especializaram em tecidos, que juntos
e com a mesma função, constituem órgãos que atuam em semelhança, formando um
sistema especializado em realizar uma função específica. Nossas células são feitas por
moléculas que se ligam em cadeias, transformando-se em pequenas estruturas chamadas
organelas. Nossa constituição biológica é parte da energia e da matéria natural existente no
ambiente tanto da Terra, como do Universo. Habitamos um meio ao mesmo tempo em que
somos o hábitat de outros organismos e ao completarmos o ciclo da vida, os seres
decompositores reaproveitarão a matéria orgânica que constitui nossos corpos,
transformando-a novamente em energia para dar continuidade ao ciclo da vida e da
natureza. Assim, podemos compreender toda a relação e a significação do homem e sua
relação intrínseca com o meio. Essa energia que nos forma é a mesma que constitui a
matéria-prima de todos os elementos físicos que existem.
Segundo Lenoble (1969):
[...] a natureza não tem preferência e o homem, apesar de todo o seu gênio, não vale mais para ela do que qualquer um dos milhões de outras espécies que a vida terrestre produziu.
O homem, do ponto de vista apenas biológico, reflete sua insignificância
mediante todos os fenômenos naturais do meio no qual vive. Porém, diferente dos seres que
aqui habitam, a espécie humana é capaz de modificar o meio, como nenhuma outra espécie
já o tinha feito, e essa habilidade não é devido ao seu porte, mas a sua capacidade de
pensar, modificar e agir.
Quando o homem começa a observar no ambiente, os recursos possíveis para o
seu desenvolvimento e geração de renda, ele deixa de se considerar parte do natural e se
coloca em plano superior e dominador do meio, provocando a dicotomia, o rompimento da
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
12
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
ideia de preservação e pertencimento. A intervenção humana sobre o meio natural passa a
ser chamada de cultura, do latim colere, que significa cultivar, o que parte do conceito
básico de ser tudo aquilo que não é próprio da natureza, mas aquilo que é produzido pelo
homem.
Nesse período, surge o pensamento de natureza selvagem, referindo-se a algo
ruim, incômodo a vida humana, e que sua ausência não acarreta danos à vida, pelo
contrário, afasta os possíveis perigos que ali vivem. Esse pensamento, introduzido pelo
homem, no intuito de permitir a exploração dos recursos naturais sem acarretar-lhe
problemas de ordem moral, foi o principal motivo para a devastação de várias áreas de
cobertura vegetal com a finalidade de captação de matéria-prima e apropriação de
terras.
Nos meados do século XIX, surge à preocupação com as áreas naturais, a
partir de ideias preservacionistas que surgiram no inicio deste século nos Estados
Unidos, o que resultou na construção do Parque Nacional de Yellowstone.
Porém segundo Keith Thomas (1983) apud em Diegues (2000) essas ideias
preservacionistas surgiram na Inglaterra no século XVIII, num conjunto de concepções
que valorizavam o mundo natural domesticado, principalmente os campos de cultivo.
“O homem era considerado o rei da criação e os animais, destituídos de direitos e de sentidos e, portanto, insensíveis à dor. Quando nesse século começaram a chegar na Europa notícias que os povos orientais veneravam a natureza e não maltratavam os animais, a reação geral foi de desaprovação. Na Europa Ocidental a domesticação de animais era tida como o ponto mais alto da humanização; entregar gado aos indígenas do Novo Mundo era introduzi-los na civilização” (DIEGUES, 2000).
O sentimento de posse e superioridade do homem como dominador em relação
à natureza foi o principal fenômeno que caracterizou a ideologia do mundo selvagem e
promoveu o sentimento de exclusão dos mais fracos, inclusive de pessoas que não eram
consideradas úteis para a sociedade da época (pobres, mulheres, jovens, doentes
mentais, aleijados), os quais acabavam marginalizados. (THOMAS, 1993 apud em
DIEGUES, 2000).
A mudança ideológica se inicia a partir do momento que o homem vê no meio
natural a possibilidade de lazer, então se rompe o sentimento de natureza selvagem, para
uma concepção de natureza bela. Parte desta nova ideologia surge a partir do pensamento
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
13
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
romântico, produzido por escritores que viam na natureza selvagem um refúgio do
imaginário, do belo, da alma e da inocência.
Estes fizeram da procura do que restava de "natureza selvagem", na Europa, o lugar da descoberta da alma humana, do imaginário do paraíso perdido, da inocência infantil, do refúgio e da intimidade, da beleza e do sublime. Nessa procura, as ilhas marítimas e oceânicas desempenharam papel essencial nessa representação do mundo selvagem. Não é por acaso que a ilha de Robinson Crusoe, descrita por Daniel Defoe, no século XVIII representa a síntese da simbologia do paraíso perdido após a expulsão do homem. (CORBIN, 1989 apud em DIEGUES, 2000).
A simbologia do paraíso promovida pelos romancistas da época somadas ao
descontentamento da vida urbana e da industrialização, com a consequente volta para o
campo, influenciaram diretamente na criação de áreas naturais protegidas, principalmente
aquelas destinadas à recreação.
Cabe, no entanto, verificar a seguinte citação:
“Segundo Kemf (1993), no entanto, o primeiro parque nacional do mundo, Yellowstone, não foi criado em uma região vazia, em 1872, mas em território dos índios Crow, Blackfeet e Shoshone-Bannock. Uma subtribo dos Shoshone vivia durante todo o ano dentro dos limites atuais do parque. Ainda segundo a autora, esses índios, descritos como "selvagens, demônios vermelhos, comedores de búfalos, de salmão e de tubérculos", não deixaram a área do parque espontaneamente” (KEMF, 1993 apud em DIEGUES, 2000).
Nesta fala é relembrado o comportamento dominador e excludente típico do ser
humano, demonstrando claramente que os interesses da classe dominante sempre
prevalecerão sobre seu sentimento de preservação.
O pensamento preservacionista então é importado, inclusive para os países do
Terceiro Mundo, como foi o caso do Brasil, que se adequou a essa nova tendência. Em
1896, na fase republicana, cria-se o primeiro parque estadual em São Paulo, denominado
"Parque da Cidade". Após isso, teríamos a criação do Parque Nacional de Itatiaia localizado
no Rio de Janeiro (RJ), fundado em 1937 e preservado até hoje (DIEGUES, 2000).
A Primeira Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra, no século XVIII, mudou o
modelo do processo produtivo. Contudo, o objetivo maior das indústrias passou a ser a
produção em larga escala e a Inglaterra, potência na época, buscou o quanto pode estender
seus domínios para expandir seus mercados. O que afetou drasticamente as reservas de
recursos naturais do planeta, uma vez que a demanda por matérias-primas e fontes de
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
14
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
energia se tornaram mais intensas, assim como também aumentou junto a quantidade de
resíduos produzidos.
A concentração populacional urbana unida ao total desconhecimento sobre
práticas de saneamento básico diminui a qualidade de vida, tornando o ambiente urbano um
foco de epidemias, doenças e poluição. Então:
A natureza idealizada tornou-se opaca em meio às práticas modernas. De
uma natureza objeto de temor – porque não conseguíamos compreendê-la
e dominá-la em sua complexidade e imprevisibilidade – passamos a uma
“segunda natureza” que põe em risco a existência da vida na Terra.
(ROCHA & MOTA, 2011)
Somente da década de 60 que a preocupação com o ambiente começa se
intensificar e surgir nas pautas mundiais. Nesse ponto, o homem percebe que sua ação
predatória ao ambiente excede os limites das reservas naturais, então se passa a pensar
em uma forma de exploração sustentável e na possível recuperação das áreas degradadas.
Nesse momento, surge a Educação Ambiental e a valorização do ambiente.
2.3. O conceito de meio ambiente
Para Art, meio ambiente é:
A soma total das condições externas circundantes no interior das quais um
organismo, uma condição, uma comunidade ou um objeto existe. O meio
ambiente não é um termo exclusivo; os organismos podem ser parte do
ambiente de outro organismo.(ART,1998 apud DULLEY, 2004)
Para Humphrey e Buttel, o conceito de meio ambiente envolve:
a biosfera ou a fina camada de vida que recobre a superfície da terra, localizada entre a crosta terrestre e a atmosfera, constituindo as condições externas e influências afetando a vida ou a totalidade do organismo das sociedades, ou a infraestrutura biótica que sustenta populações de todos os tipos. (HUMPHREY e BUTTEL apud SANTOS, 1996)
Dulley (2004), citando os conceitos de Galopin contidos em Santos (1996)
aponta o meio ambiente como uma construção intelectual, não podendo apenas ser
relacionado a fatores naturais.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
15
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
De acordo com Gliessman
[...] o ambiente de um organismo pode ser definido como a soma de todas as forças e fatores externo, tanto bióticos quanto abióticos, que afetam seu crescimento, sua estrutura e reprodução (...) o ambiente no qual o organismo ocorre precisa ser compreendido como um conjunto dinâmico, em constante mudança, de todos os fatores ambientais em interação ou
seja, como um complexo ambiental. (GLIESSMAN, 2000 apud DULLEY, 2004),
Tostes apud em Dulley (2004), em seu trabalho apresenta uma visão própria
daquilo que compreende ser o meio ambiente
Meio ambiente é toda relação, é multiplicidade de relações. É relação entre coisas, como a que se verifica nas reações químicas e físico-químicas dos elementos presentes na Terra e entre esses elementos e as espécies vegetais e animais; é a relação de relação, como a que se dá nas manifestações do mundo inanimado com a do mundo animado (...) ...é especialmente, a relação entre os homens e os elementos naturais (o ar, a água, o solo, a flora e a fauna); entre homens e as relações que se dão entre as coisas; entre os homens e as relações de relações, pois é essa multiplicidade de relações que permite,abriga e rege a vida, em todas as suas formas. Os seres e as coisas, isoladas, não formariam meio ambiente, porque não se relacionariam” (TOSTES, 1994 apud DULLEY, 2004).
A fala de Tostes representa a definição do meio ambiente como o local onde
ocorrem as relações do homem com a natureza, e ao afirmar “os seres e as coisas,
isoladas, não formariam meio ambiente, porque não se relacionariam” demonstra a
dependência existente entre a espécie e o ambiente.
Pela Constituição Federal de 1988, o Meio Ambiente engloba além dos recursos
naturais, os elementos que contribuem para o bem-estar da humanidade. A lei classifica o
meio ambiente através dos bens ambientais que são diferenciados pelos seguintes
aspectos:
a) Meio ambiente natural (os bens naturais, como o solo, a atmosfera, a
água, qualquer forma de vida); b) Meio ambiente artificial (o espaço urbano construído); c) Meio ambiente cultural (a interação do homem com o ambiente, o que
compreende não só o urbanismo, o zoneamento, o paisagismo e os monumentos históricos, mas também os demais bens e valores artísticos, estéticos, turísticos, paisagísticos, históricos, arqueológicos etc.). Neste ultimo incluído o próprio meio ambiente do trabalho. (BRASIL, 1988 apud em MAZZILLI, 2012)
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
16
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
A lei compreende que tudo aquilo diz respeito ao equilíbrio ecológico e induza a
uma sadia qualidade de vida é, portanto, uma questão que afeta o meio ambiente
(MAZZILLI, 2012).
Sendo assim, meio ambiente é o espaço que abriga as interações entre o meio
físico e o biótico, englobando as relações tróficas e sociais, onde cada organismo mantém
certo nível de interdependência em relação aos outros. Fazem parte do meio ambiente
todos os espaços onde ocorre a convivência e a relação entre as espécies e a exploração
dos recursos naturais por elas, a fim de manter seu desenvolvimento.
3. Sustentabilidade e Educação Ambiental
3.1. Legislação pertinente a Sustentabilidade e Educação Ambiental no
Brasil
As manifestações da degradação dos recursos naturais e sua gradual destruição
são fenômenos antigos, sentidos desde o século XVIII. Os problemas ambientais atuais são
resultado do modelo de desenvolvimento global adotado, que envolve condições sociais,
econômicas, culturais e ecológicas, aumentando o problema da crise ambiental no planeta.
Nesse aspecto, o meio ambiente deixa de ser um sinônimo de natureza e passa a ser
pensado como a base das interações entre o meio físico e o biológico somado a cultura que
a sociedade humana produziu ao longo do tempo.
O meio ambiente surge como política pública no Brasil, após a Conferência de
Estocolmo em 1972, na tentativa das Nações Unidas em implantar o tema nas agendas
governamentais. Nesse momento no Brasil, surge a SEMA (Secretaria Especial de Meio
Ambiente) a partir do decreto nº 73.030, de 30 de outubro de 1973. Somente após a I
Conferência de Tbilisi (EUA) em 1977, é que a Educação Ambiental passa a ser concebida
como uma estratégia para administrar a sustentabilidade em seu aspecto ambiental e social.
Em 1987, a Comissão Mundial do Ambiente e Desenvolvimento definiu o
desenvolvimento sustentável como uma forma de desenvolvimento que atende às
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras
atenderem às suas próprias necessidades. A ONU associou o conceito de sustentabilidade
às noções de cooperação, participação, justiça e respeito aos interesses coletivos.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
17
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Com forte influência destas ideias, a Constituição Federal de 1988, que foi a
primeira lei brasileira a estabelecer a sustentabilidade como direito e dever de todos
brasileiros, em seu artigo 225, expõe o direito a um meio ambiente saudável da seguinte
maneira:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”; cabendo ao Poder Público “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente (BRASIL, 1988).
Com o advento da atual Carta Magna, o direito a um meio ambiente equilibrado
e sadio foi erigido a uma categoria denominada de direitos da 3ª dimensão, que são “direitos
transindividuais que transcendem os interesses do indivíduo e passam a se preocupar com
a proteção do gênero humano, com altíssimo teor de humanismo e universalidade” (LENZA,
2012). Com isso, a tutela do meio ambiente passa a ser considerada como uma das
prioridades do Poder Público, sendo que a educação ambiental se torna o instrumento pelo
qual essa importante prerrogativa se difunde na sociedade.
Tal esmero com a tutela ambiental traz à tona a Lei nº. 9795/99, que
regulamenta Política Nacional de Educação Ambiental em nível federal, sendo considerado
esse, um ato inédito para os países da América Latina e da América do Sul, que até então
praticavam a EA de forma independente através do trabalho de educadores e
ambientalistas. Com base na norma constitucional citada acima, o artigo 4º, inciso II da
referida Lei, afirma que “a concepção do meio ambiente, o socioeconômico e o cultural, sob
o enfoque da sustentabilidade” é uma das bases da educação ambiental, corroborando o
que está descrito no artigo 225 da CF/88. Esses princípios fundamentam os Parâmetros
Curriculares Nacionais, que são no tocante à questão ambiental:
Os instrumentos naturais de orientação da EA nas escolas, ressaltando a necessidade da abordagem interdisciplinar do Tema Transversal Meio Ambiente. Além disso, recomenda uma ampliação do significado do que se chama natureza e as relações estabelecidas entre a sociedade humana e seu ambiente de vida, o documento reafirma que mais do que informações e conceitos, a escola deve trabalhar com atitudes, formação de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos (BRASIL, 1998).
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
18
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Esses Parâmetros foram criados pelo Ministério da Educação e da Cultura, com
o intuito de servir como base curricular aos educadores, ressaltando a interdisciplinaridade e
o desenvolvimento da cidadania através de temas transversais.
3.2. Conceito de Educação Ambiental e sua importância para a sociedade
Quando a escassez dos recursos foi sentida pelas indústrias é que houve a
preocupação com a formulação de um currículo para a educação voltado para o
conhecimento e minimização dos problemas. Segundo Trajber e Sato (2010):
Numa sociedade que se caracteriza pela circulação de tantas identidades e diversidades e, especialmente, no cenário dos espaços educadores sustentáveis, pensar a educação é pensá-la diferente. Hoje, o processo pedagógico requer uma reflexão ambiental para que a distância entre o pensar e o fazer também possa acolher o sentir no processo de criação. Uma educação integral deve incitar não apenas responsabilidades ecológicas, mas convidar para repensarmos nossas próprias vidas e o modelo de sociedade, cuidando do mundo por opção de quem acredita que a chamada educação ambiental não é mero pretexto à coleta seletiva de lixo, mas um convite à ressignificação de nossos modos de vida.
O que Trajber e Sato (2010) na citação acima querem dizer é que a forma como
os indivíduos compreendem o ambiente e se enxergam como parte deste, influencia em seu
comportamento em relação ao convívio e ao respeito à sociedade e ao lugar a qual
pertence.
Essa crise ambiental é fruto da degradação dos valores culturais, somados a
presteza e a intensidade da exploração dos recursos do ambiente para saciar as
necessidades de consumo da sociedade. Mediante os grandes problemas ambientais da
atualidade, a Educação Ambiental apresenta ferramentas para a implementação de uma
gestão racional e equilibrada dos recursos do ambiente.
A Educação Ambiental tem por objetivo priorizar a construção de uma
personalidade capaz de transformar os hábitos e a relações que os sujeitos têm com os
recursos existentes no meio em que vivem, e a escola é um lugar privilegiado para que a
necessidade desses cuidados seja percebida e resultem em ações positivas para o planeta.
Segundo Pádua e Tabanez (1998), a educação ambiental proporciona a ampliação dos
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
19
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
conhecimentos, dos valores e o aperfeiçoamento das habilidades, sendo uma forma de
educação eficaz para uniformidade e consonância dos indivíduos com o meio ambiente.
Nossa sociedade vivencia hoje um período de expressivas inquietações
ambientais, exigindo neste caso, sua interferência frente aos fatos, por intermédio de ações
rápidas e profundas. As escolas ingressam como importantes disseminadores da
consciência de preservação do ambiente, e para isso, elas devem assumir o papel na
construção de um modelo de desenvolvimento sustentável para a sociedade, dando a
oportunidade de seus alunos praticarem hábitos saudáveis e preservacionistas dentro de
seus muros, para que a partir daí, possam atuar como disseminadores de atitudes
ambientalmente corretas.
A crescente necessidade de transformações que resgatem o respeito pela vida,
com justiça, equidade e diversidade se constitui o grande desafio do Ministério da Educação
no Brasil, que objetiva a promoção do cuidado com a diversidade e com os valores éticos e
políticos de sua nação, esquivando-se dessa forma, da concepção simplista ambiente-
natureza imposta pela sociedade do consumo (UNESCO, 2007).
Para Quintas (1995), o verdadeiro desafio da EA é favorecer a participação das
diferentes esferas sociais na elaboração de políticas públicas que intervenham na gestão
ambiental, afetando diretamente a qualidade do ambiente natural e cultural. Para isso,
Quintas afirma que a prática educativa deve ser motivada pela ideia de que a “sociedade
não é o lugar da harmonia, mas, sobretudo, o lugar dos conflitos e dos confrontos que
ocorrem em suas diferentes esferas”.
3.3. Educação Ambiental na escola e sua aplicabilidade
Os sistemas educacionais são importantes aliados na promoção da
sustentabilidade. O artigo 3º, inciso II, da Lei nº 9.795/99, atribui as escolas a promoção da
educação ambiental integrada ao seu currículo (UNESCO, 2007).
Isso ocorre, devido à função social que a própria escola exerce na formação de
indivíduos, sendo ela, a grande promovedora de condutas pré-estilizadas pelas classes
dominantes e pelo Estado, oportunizando a escola a aptidão de promover subsídios para
criar cidadãos críticos e preocupados com o tema.
A EA brota como um processo educativo que dirige a uma ciência ambiental
consolidada em valores éticos e políticos do convívio social e econômico, acarretado pelos
resultados do uso irresponsável dos recursos naturais. A EA tem por intuito despertar o
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
20
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
sentimento de pertencimento e corresponsabilidade do meio ambiente, para sobrepujar os
problemas ambientais a partir das ações coletivas da sociedade. Assim, seu foco é idealizar
uma cultura (pensamento coletivo) onde a natureza e a sociedade estão intimamente
relacionadas tanto nas esferas governamentais ou sociais (Carvalho, 2004).
A Lei 9.795/99, que institui a Política Nacional da Educação Ambiental em seu
art. 10 prevê a Educação Ambiental obrigatória em todos os níveis de ensino, sendo
abordada de forma integrada, contínua e permanente em todas as modalidades do ensino
formal, atuando como um processo para estabelecer valores sociais, conhecimentos,
atitudes e competências propendendo à preservação ambiental (BRASIL, 1999).
Mas a educação ambiental não deve estar atida apenas em sala de aula, é
preciso que professores, gestores, alunos, funcionários e inclusive a comunidade esteja
engajada a mudança de hábitos. A adoção de procedimentos administrativos alinhados ao
pensamento preservacionista estimula a minimização dos impactos ambientais, a partir de
pequenas atitudes, como desligar as lâmpadas dos ambientes sem uso, manter o ambiente
limpo e organizado, utilizar somente o necessário, substituir documentos físicos por digitais,
e outras atitudes simples que colaborem com a redução dos impactos na natureza.
A escola como um todo, deve assumir uma mudança radical tanto no
comportamento de seus funcionários e alunos, como também alterações simples e viáveis
em sua estrutura. A maioria das escolas prega a educação ambiental e as estratégias para
atingir a formação de uma sociedade sustentável, mas ela própria não aplica a seu cotidiano
os ensinamentos passados aos seus alunos. É no âmbito escolar que a criança entra em
contato com a educação ambiental, adquirindo involuntariamente hábitos preservacionistas,
como a utilização com responsabilidade dos recursos da escola, separação do lixo,
preservação do ambiente escolar. No entanto, é junto à família que esse aprendizado é
concretizado e praticado.
A escola não pode ser apenas uma simples reprodutora dos discursos
ambientais, ela precisa incorporar a sustentabilidade ao seu funcionamento, para que os
alunos possam vivenciar essa realidade e assim se apoderar delas para sua vida social.
Medidas simples como a modificação das fontes de iluminação, o
aproveitamento da água das chuvas, a separação dos resíduos, uso de materiais
ecologicamente corretos, investimento e valorização da área verde da escola, produção de
hortas comunitárias e até mesmo, instalação de placas de energia solar e a mudança
gradual dos hábitos alimentares dos alunos são práticas que farão que o ensino seja mais
significativo para os alunos. Muitas destas práticas podem ser concretizadas principalmente
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
21
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
quando a escola estabelece parceria com empresas e instituições de ensino superior. E a
partir dessa concepção de sustentabilidade, a escola encontra meios para modificar os
hábitos de crianças e jovens e torná-los disseminadores de ações e práticas sustentáveis.
O processo de educação formal deve abordar corretamente o tema, a fim de
desmistificar a questão do meio ambiente “ecológico e preservado” e promover a inclusão e
a conscientização do indivíduo como parte integrante deste meio e, neste ponto, o papel da
escola se torna imprescindível. Para isso, a Educação Ambiental torna-se uma ferramenta
na busca por uma conscientização de que os problemas ambientais decorrem do conjunto
de cada ato individual, e por isso, é responsabilidade de cada indivíduo e que sua execução
deve ser contínua para ser eficaz.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
22
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para atingir os objetivos propostos, foi realizado um diagnóstico com 50 alunos
de 6º, 7º e 8º ano, da EMEF “Professora Amélia Aburjamra Maron” de Ensino Fundamental
ciclo II e com 35 alunos do Ensino Fundamental ciclo I do 3º, 4º e 5º ano do Colégio
Drummond, ambas situadas no município de Ourinhos-SP.
Esse diagnóstico buscou conhecer as principais ideias dos alunos em relação
aos conceitos de meio ambiente. Primeiramente, essa pesquisa será divida em duas partes
distintas, já que estamos lidando com ciclos diferentes de ensino (Fundamental I e II). Dessa
forma, a investigação da percepção do meio ambiente foi adaptada à realidade social dos
alunos e ao nível de escolarização que possuem.
A escolha dos alunos foi feita aleatoriamente, houve apenas o cuidado de
selecionar uma turma completa ao invés de alguns alunos. Dessa forma, não haveria
interferência das atividades escolares, nem prejuízo com as demais disciplinas. Portanto,
todas as atividades investigativas foram realizadas durante as aulas de ciências.
Metodologia aplicada no Ensino Fundamental
Para o Ensino Fundamental ciclo I, foi realizado uma investigação quantitativa e
qualitativa das principais concepções e percepções em relação ao Meio Ambiente. O
primeiro momento da investigação foi direcionado ao levantamento de conhecimentos
prévios, a partir da elaboração de uma representação da ideia pessoal do conceito de
Meio Ambiente.
Para não haver interferência do conceito próprio de cada aluno, a atividade
foi direcionada como tarefa de casa. Uma vez que, o aluno pode se ver confuso com o
objetivo do trabalho e ao observar o colega de turma ao lado fazendo determinados
desenhos, pode entrar em contradição com sua concepção própria daquilo que foi
pedido e representar o que o colega fez, acreditando que sua concepção esteja errada.
Em vista disso, essa atividade foi realizada em casa, para que a concepção da criança
não viesse sofrer distorção ou influência durante a elaboração do trabalho.
O segundo momento desta investigação, baseou-se na exposição dos desenhos
que as crianças do ciclo I realizaram. Neste momento, foram analisadas suas colocações e
suas percepções sobre o tema, também foi considerada a capacidade do aluno de
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
23
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
expressar seu pensamento, para que assim, ele pudesse justificar seu conhecimento e a
origem de suas concepções.
Por fim, o último momento investigativo, baseou-se no levantamento quantitativo
da percepção do Meio Ambiente, através de um questionário com uma pergunta discursiva e
três perguntas de múltipla escolha.
As perguntas utilizadas para a análise quantitativa do conceito estudado estão
expostas no quadro 1.
Questionário: Investigação do aluno
1) Na sua opinião, o que é o meio ambiente? (Discursiva)
2) Assinale os elementos abaixo que considera como parte do meio ambiente:
( ) Plantas (vegetais) ( ) Dinheiro
( ) Trabalho ( ) Animais (seres vivos)
( ) Problemas sociais ( ) Elementos Naturais (água, terra, ar)
( ) Florestas ( ) Política
( ) Saúde ( ) Seres humanos
( ) Escola ( ) Cultura
( ) Sociedade ( )Agricultura
( ) Natureza ( ) Vizinhos
( ) Lixo e outras formas de poluição ( )Família
3) Para você meio ambiente e natureza são:
(A) a mesma coisa (sinônimos)
(B) são coisas diferentes
(C) vivem juntos (se relacionam)
(D) Não sei
4) Quais são os principais problemas de sua cidade/bairro?
( ) Barulho excessivo (poluição sonora) ( ) Buracos nas ruas
( ) Desmatamento ( ) Falta de arborização
( ) Queimadas ( ) Outros
( ) Lixo na rua ( ) Vizinhos
( ) Poluição ( ) Não sei
Quadro 1. Questionário: Investigação do aluno
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
24
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Metodologia aplicada no Ensino Fundamental II
No Ensino Fundamental ciclo II assim como ocorreu no ciclo I, também foi
realizada a investigação quantitativa e qualitativa das principais concepções e percepções
em relação ao Meio Ambiente.
Diferente da metodologia aplicada aos alunos do ciclo I, a abordagem e
aplicação das atividades investigativas foram direcionadas a 63 adolescentes com faixa
etária de 11 a 16 anos de idade.
Inicialmente, a investigação foi direcionada ao levantamento de
conhecimentos prévios com a elaboração da representação da ideia pessoal de cada
aluno sobre sua percepção do Meio Ambiente.
A coleta de dados foi realizada através das representações, chamadas de
mapas mentais de acordo com os estudos de Archela, Gratão e Trostdorf (2004). Os
autores compreendem os mapas mentais como desenhos que são reproduzidos a partir
de vivencias realizadas direta ou indiretamente pelo individuo.
Este exercício novamente foi realizado como tarefa de casa para que não
houvesse distorção ou influência da ideia inicial do indivíduo. A segunda fase
caracterizou-se pela aplicação do questionário que abordou o nível de percepção do
conhecimento do aluno.
No terceiro momento foi elaborada uma dinâmica. Em cada turma, foi
requerida a formação de um círculo (figura 1) para que todos os alunos pudessem ter
contato visual. Os alunos receberam um pedaço de papel em branco e foram orientados
para que em silêncio escrevessem em uma única palavra “o que é Meio Ambiente”.
Essa atividade, apesar de simples, demandou uma preparação mais elaborada do
pensamento, pois solicitou uma síntese de todo o conhecimento adquirido sobre o tema
e sua expressão em uma palavra descritora que fosse capaz de exprimir todos os juízos
formados durante sua vida acadêmica e social.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
25
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 1. Dinâmica para análise do conceito de MA – formação do círculo (8º ano)
Em seguida, os alunos apresentaram suas “palavras”. Então, foram formados
grupos por semelhança de ideias. Os grupos foram convidados a pensar quais foram os
juízos que os fizeram chegar à mesma concepção. Os resultados foram apresentados
ao professor e anotados para analise futura.
Para fins de análise das representações formadas, será atribuído um
parâmetro classificatório, inspirado a partir dos estudos publicados por Reigota
(1995).Este autor classificou as representações sociais mais comuns de meio ambiente
em três parâmetros:
Naturalista – meio ambiente voltado apenas a natureza, evidencia aspectos naturais, confundindo-se com conceitos ecológicos como de ecossistema. Inclui aspectos físicoquímicos, a fauna e a flora, mas exclui o ser humano deste contexto. O ser humano é um observador externo; Globalizante – o meio ambiente é caracterizado como as relações entre a natureza e a sociedade. Engloba aspectos naturais políticos, sociais, econômicos, filosóficos e culturais. O ser humano é compreendido como ser social que vive em comunidade; Antropocêntrica – o meio ambiente é reconhecido pelos seus recursos naturais, mas são de utilidade para a sobrevivência do homem. (REIGOTA, 1995).
Além dos parâmetros criados por Reigota (1995) para a análise e
interpretação da representação social do Meio Ambiente, incluo neste estudo a
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
26
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
classificação “conservacionista” elaborada a partir da observação dos resultados obtidos
por meio das percepções e conceitos apresentados pelos alunos entrevistados durante
este trabalho e “generalista” inspirada na classificação de Tamaio (2002), que define o
conceito como uma forma ampla, vaga e abstrata de afirmar o conceito e a percepção
que a criança possui da natureza.
Na concepção conservacionista o meio ambiente é visto em seu aspecto
natural (fauna/flora e recursos naturais), mas está somada a ideia de preservação e
organização do meio com o ser humano em 1ª pessoa (observador) ou em 3ª pessoa,
presente e atuante sobre ele.
Já na percepção generalista o meio ambiente é compreendido como um
todo, representado comumente pelo planeta Terra suspenso no Universo. Essa forma
de representação indica a generalização do conceito, relacionando-o a presença de
todas as formas de vida no planeta e a falta de conhecimentos prévios sobre o assunto,
o suficiente para elaborar alguma definição específica. Portanto, a análise da percepção
do MA a partir dos desenhos elaborados pelos alunos, seguirá a seguinte classificação
demonstrada no quadro 2.
Quadro 2. Definições conceituais do conceito de Meio Ambiente.
Naturalista O meio ambiente é visto como sinônimo de natureza, este apresenta
somente elementos geofísicos com plantas (flora) e animais (fauna), sem a
presença humana (REIGOTA, 1995).
Generalista O meio ambiente é visto como um todo, e retrata-se como a visão global do
planeta Terra, indicando a generalização do conceito, relacionando-o a
todas as formas de vida sobre a Terra, ou então, a falta de conhecimentos
prévios sobre o assunto, impedindo uma especificação maior do conceito.
Globalizante (social) O meio ambiente é o espaço entre as relações da sociedade humana e a
natureza. Segundo Reigota (1995) “engloba aspectos naturais políticos,
sociais, econômicos, filosóficos e culturais. O ser humano é compreendido
como ser social que vive em comunidade”.
Antropocêntrico O meio ambiente é visto como fonte de matéria-prima para a subsistência
humana (REIGOTA, 1995). Como também, para fins de lazer.
Conservacionista O meio ambiente é visto em seu aspecto natural, com a presença de
elementos que indicam a necessidade de preservação. Nessa concepção, o
meio é visto como um lugar a ser preservado.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
27
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Análise dos resultados do Ensino Fundamental I – (3º ao 5º ano)
Para atingir os objetivos propostos, foi feito um diagnóstico com 35 alunos do
Ensino Fundamental I do 3º, 4º e 5º ano de uma escola particular no município de Ourinhos-
SP. Esse diagnóstico foi feito a partir da análise de desenhos produzidos pelos alunos a fim
de abstrair quais eram suas principais concepções em relação ao Meio Ambiente.
Segundo Piaget (1973), os desenhos são manifestações do pensamento e nele
estão atribuídos significados construídos através das transformações e adaptações do
individuo em busca do equilíbrio de suas ideias.
Para Vygotsky (1988) o desenho é uma antecipação da escrita, já que precede a
linguagem verbal, deste modo afirma: “[...] os esquemas que caracterizam os primeiros
desenhos infantis lembram conceitos verbais que comunicam somente os aspectos
essenciais dos objetos”. (VYGOTSKY, 1988, p.127).
Nesse sentido, o papel do desenho no desenvolvimento do individuo assume um
grau particular de importância, já que possui características particulares o diferenciando de
outras formas de expressão.
Os alunos do 3º ano em sua totalidade representaram o Meio Ambiente como
uma paisagem natural, com a presença e predominância de elementos da flora (figuras 2 e
3). Incluindo elementos físicos como o solo, a atmosfera e a hidrosfera, sem a presença
humana ou de edificações. A percepção predominante na turma do 3º ano foi, portanto, a
naturalista.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
28
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 2. Representação naturalista da aluna Ana Carolina (9 anos) – 3º ano
(Fundamental I)
Figura 3. Representação naturalista da aluna Manuella (9 anos)– 3º ano (Fundamental I)
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
29
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
O gráfico 1 elucida a porcentagem de concepções presentes no grupo de alunos
matriculados no 3º ano.
Gráfico 1. Perpepções ambientais detectadas no 3º ano do Fundamental I
Alguns alunos do 4º ano apresentaram uma leve percepção do homem como
parte do ambiente ao adicionar no desenho a presença de casas. Porém a maioria da turma
ainda mantém a percepção do Meio Ambiente relacionado à Natureza, com predominância
de elementos naturais e interação da fauna e flora (figura 4).
Figura 4. Representação naturalista do aluno Gabriel (10 anos) – 4º ano (Fundamental I)
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
30
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Alguns alunos representaram a presença humana no ambiente, porém como
local para o lazer (figura 5). Esta representação, apesar de possuir elementos
predominantemente naturais (plantas, animais e elementos como o ar, nuvens e Sol), pode
estar referenciando algo do cotidiano do aluno, podendo demonstrar uma abertura para a
percepção antropológica.
Figura 5. Representação antropológica do aluno Yan (9 anos)– 4º ano (Fundamental I)
O gráfico 2 evidencia a percepção naturalista predominante na série.
Gráfico 2. Perpepções ambientais detectadas no 4º ano do Fundamental I
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
31
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
No 5º ano, verificaram-se ilustrações que representam a interação dos seres
vivos no ambiente, com a predominância de elementos da fauna e da flora, com edificações
(casas), com a presença do homem e da sua interferência no ambiente (poluição dos
recursos naturais). Estas representações foram classificadas como globalizantes, por
conterem elementos sociais e humanos (figura 6 e 7).
Figura 6. Representação antropológica da aluna Mariana (11 anos)– 5º ano
(Fundamental I)
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
32
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 7. Representação antropológica da aluna Ísis (11 anos)– 5º ano (Fundamental I)
Alguns alunos ainda ostentam a concepção de um ambiente natural com
presença de elementos exclusivos da fauna e da flora, representando um local intocável
pela ação humana (figura 8).
Figura 8. Representação naturalista do aluno Felipe (11 anos)– 5º ano (Fundamental I)
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
33
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Através do gráfico 3, é possível verificar que a percepção dominante no
grupo do 5º ano é a naturalista, porém ocorre um desdobramento do conceito, onde a
inserção da figura humana, representa uma aproximação do MA com o cotidiano.
Gráfico 3. Perpepções ambientais detectadas no 5º ano do Fundamental I
Observando as representações dos alunos, pode-se verificar a presença de
três concepções distintas: a representação naturalista, a globalizante e a
antropocêntrica.
No 3º ano, predomina a concepção naturalista, na qual o meio ambiente está
intimamente relacionado às suas características físico-químicas e aos elementos da
flora. O 4º ano apresenta ainda a concepção naturalista progredindo para a
compreensão da concepção antropológica, na qual o homem faz parte do ambiente,
mas não precisa deste para sobreviver. O 5º ano, ao representar a interferência do
homem sobre o ambiente, parte para a concepção globalizante, onde se enquadram
características culturais e sociais aos aspectos naturais do ambiente.
Como parte da analise qualitativa, os alunos das séries estudadas
responderam o questionário para verbalizar suas percepções individuais sobre o tema
abordado. Ao questionar a turma do 3º ano sobre o que é o Meio Ambiente, surgiram as
seguintes colocações:
- “O Meio Ambiente é a natureza, onde vivem os animais, as formigas, as
plantas (...)” - (Caroline, 9 anos).
- “É a floresta, têm macaco, têm coelho, têm árvore” – (Leonardo, 8 anos).
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
34
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
- “O meio ambiente é a fazenda do meu pai, com cavalo, coelho e cachorro,
“a gente” sempre vai lá.” – (Enrico, 9 anos).
- “O meio ambiente é a natureza, com flores cheirosas e frutas gostosas” –
(Manuella, 9 anos).
As falas em destaque demonstram a concepção naturalista predominante nas
crianças. Elas em sua totalidade compreendem o meio ambiente como o lugar onde vivem
os animais e as plantas. O aluno Enrico ao comparar o meio ambiente com a propriedade
rural de sua família demonstra uma breve percepção antropológica do ambiente, pois cita “a
gente sempre vai lá”. Essa preposição demonstra que mesmo esporadicamente o homem
tem marca sua presença no meio.
O mesmo questionário foi aplicado no 4º ano. Nesta turma surgiram outras
concepções além da naturalista, como por exemplo, citada na fala da aluna Françoise, 10
anos:
- “O meio ambiente é o lugar que moramos, com os animais e as
plantas”
Esta frase demonstra uma percepção globalizante e antropocêntrica daquilo
que é compreendido como o meio. Neste aspecto, ela percebe o ambiente como o
entorno das relações humanas, porém ainda relaciona esse juízo os ambientes naturais.
Esta frase demonstra um avanço cognitivo, demonstrando a formação de um juízo
diferente do estabelecido pelo senso comum. Este raciocínio está vinculado ao processo
de ensino e a própria cultura que é transmitida à criança durante seu desenvolvimento
cognitivo e social.
No 5º ano, foi possível averiguar um avanço no desenvolvimento do conceito
trabalhado. Cerca de 30% das crianças demonstraram uma concepção globalizante,
pois percebem os elementos sociais como parte integrante do MA. Como é possível
verificar na fala de Filipe, 11 anos:
“O meio ambiente é onde vivemos, moramos e passeamos. (...)
As ruas, as casas e as pessoas estão no meio ambiente”.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
35
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Entretanto, a visão naturalista ainda predomina o conceito inicial de uma
parcela considerável da turma com nove alunos.
Através do questionário aberto, fez-se uma avaliação do grau de percepção dos
participantes sobre o que conheciam sobre o tema Meio Ambiente e seu entendimento
sobre os problemas ambientais locais. Com esse levantamento sobre a reflexão dos
conhecimentos prévios dos alunos, fez-se uma listagem e o agrupamento das ideias dos
problemas identificados.
O gráfico 4 possibilita verificar as diferenças na percepção dos elementos que
fazem parte do MA do 3º, 4º e 5º anos do Ensino Fundamental I.
Grafíco 4. Percepção do elementos integrantes do MA na visão do alunos do 3º, 4º e 5º ano.
Os alunos do Ensino Fundamental I em sua maioria percebem o meio ambiente
como parte da natureza, ou então a própria natureza. Esta constante é confirmada com a
análise do resultado da próxima pergunta: – “Para você meio ambiente e natureza são:”
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
36
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Gráfico 5. Relação do conceito de Meio Ambiente e Natureza
Os resultados permitem comprovar a relação entre o MA e a natureza como uma
percepção indissociável. O raciocínio apresentado não está totalmente errado, pois o meio
ambiente e a natureza são assuntos abordados como sinônimos nos livros didáticos, logo, a
intervenção pedagógica tem o intuito de ampliar esta percepção a fim de promover a
superação do senso comum construído ao longo do tempo, sem promover a correção das
concepções de meio ambiente e natureza anteriormente estabelecidas, já que estão
corretas e fazem parte da construção do pensamento e do desenvolvimento do individuo
(CHAUÍ, 2002).
Na tabela 1, verificam-se quais problemas ambientais os alunos identificam em
sua cidade ou bairro. É possível observar que os alunos apontaram os problemas que são
relacionados ao seu cotidiano, ou seja, se revelaram mais próximos.
Tabela 1. Principais problemas identificados na cidade/bairro – Ensino Fundamental I
Quais são os principais problemas de sua
cidade/bairro?
Re
spostas
Barulho excessivo (poluição sonora) 3
Buracos nas ruas 5
Desmatamento 6
Falta de arborização 4
Lixo na rua 7
Poluição 8
Queimadas 2
Total de Respostas 35
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
37
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Quando indagados sobre seu bairro ou cidade, a variedade de problemas foi
grande e aqui pode-se perceber um sentido maior de pertencimento. Apesar de não
incluírem seus bairros ou cidades no conceito de MA, a percepção dos problemas revelou-
se mais íntima, ou seja, os alunos mostraram-se ligados a tais problemas, pois convivem
com eles diariamente e se incomodam com isso. Neste ponto, é necessário repensar a
maneira como a EA é abordada para aproveitar a percepção dos problemas e trabalhar
formas de agir sobre eles. Para Quintas (1995), o principal desafio da EA enquanto
ferramenta de transformação está na provocação de práticas e atitudes que afetem a
qualidade do ambiente em seus aspectos naturais e culturais.
5.2. Análise dos resultados do Ensino Fundamental II – (6º ao 8º ano)
Os alunos que fazem parte da amostra do estudo do Ensino Fundamental II, são
adolescentes com faixa etária de 10 a 15 anos matriculados no ensino regular do 6º ao 8º
ano. A unidade escolar em questão está localizada em uma área de risco e vulnerabilidade
social. Sendo inúmeras vezes, foco de notícias nos tabloides municipais. Porém, em
controvérsia de sua localização, a equipe escolar atua com diferentes projetos sociais, no
sentido de contribuir para a melhoria da qualidade de vida de muitos jovens e adolescentes
em situação de risco.
Em vista disso, devemos considerar as experiências dos alunos, diferente da
amostra do Ensino Fundamental I, estes adolescentes fazem parte da região periférica da
cidade de Ourinhos e convivem diariamente com problemas sociais e ambientais, podendo
apresentar visões diferentes.
No 6º ano, 25 alunos foram analisados quanto à forma como representam o MA.
Das representações obtidas podemos classificá-las de acordo com os parâmetros deste
trabalho como mostra a tabela 2:
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
38
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Tabela 2. Representações do 6º de acordo com o parâmetro de classificação
Percepções
Nº de represen
tações Porcentagem
Naturalista 9 36%
Generalista 3 12%
Globalizante 3 12%
Antropológica 4 16%
Conservacionista 6 24%
TOTAL 25 100%
Observa-se nesta série múltiplas visões de meio ambiente mesmo que uma
parcela significativa da turma o represente principalmente em sua forma naturalista, aqui
encontramos uma porcentagem maior de percepções onde a figura do homem está presente
em 52% dos desenhos, o que corresponde a uma parte das percepções antropológica,
conservacionista e globalizante. Essa diferença de percepção do natural para o social
demonstra o sentimento de pertencimento do ambiente, perdendo, portanto, o
distanciamento que a amostra anterior apresentou até o 5º ano. O gráfico 6 permite a melhor
visualização deste fato.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
39
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Gráfico 6. Percepção ambiental do 6º ano a partir das representações
As representações naturalistas (figuras 9, 10 e 11) elaboradas nesta série
apresentam os seguintes elementos figurativos:
Árvores
Flores
Sol
Nuvens
Solo
Rio/Oceano
Atmosfera (céu e vento)
Animais (borboletas, peixes, sapos, aves, cães)
Relevo (montanhas)
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
40
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 9. Representação naturalista Haíssa – 6º ano (Fundamental II)
Figura 10. Representação naturalista do aluno Leonardo – 6º ano (Fundamental II)
Quando indagadas sobre o que entendem por MA, responderam:
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
41
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
-“Meio Ambiente é natureza, plantas, animais” (Leonardo, 11 anos);
-“Meio Ambiente é floresta, plantas e vegetais, animais e rios vivos,
elementos naturais (água, terra, ar)” (Ailton, 11 anos);
-“São florestas, matas, flores, árvores, bichos, etc” (Haíssa, 11 anos);
-“Meio Ambiente “é” árvores saudáveis, flores bonitas, é o mundo das
plantas e das árvores” (Matheus, 11 anos)
Através da verbalização do elemento figurativo e sua transposição para a escrita,
podemos constatar que os alunos relacionam o MA com um lugar natural, livre da ação
humana, com elementos faunísticos e florísticos.
Figura 11. Representação naturalista do aluno Matheus – 6º ano (Fundamental II)
Esse pensamento demonstra a falta de conhecimento do assunto e a
imaturidade do aluno ao relacionar o MA apenas com elementos paisagísticos. Essa
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
42
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
concepção romântica do MA tem suas bases contidas no imaginário infantil, onde elementos
naturais (florestas e animais) estão distantes da sua realidade ou muitas vezes, passam
despercebidos pelo olhar do observador.
Nas representações do tipo generalista (figura 12), encontramos apenas o
esboço do planeta Terra com oceanos e crosta terrestre.
Figura 12. Representação generalista da aluna Maria Eduarda – 6º ano (Fundamental II)
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
43
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 13 - Desenho do aluno Luan Neves – 6º ano (Fundamental II)
Quando questionados, responderam:
-“Meio Ambiente é qualquer lugar” (Maria Eduarda, 11 anos);
-“O Meio Ambiente é a Terra” (Luan Neves, 11 anos).
Três alunas representaram o MA como o espaço entre as relações da sociedade
humana e a natureza (figuras 14, 15 e 16), constituindo a percepção globalizante de acordo
com Reigota (1995). Os desenhos apresentaram:
Ruas;
Casas;
Carros;
Indústrias;
Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) (figura 16);
Vegetação (gramado, árvores, flores);
Seres humanos;
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
44
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 14. Representação globalizante da aluna Camila – 6º ano (Fundamental II)
Figura 15. Representação da aluna Evellyn – 6º ano (Fundamental II)
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
45
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 16. Representação da aluna Karla – 6º ano (Fundamental II)
Quando indagadas sobre o que entendiam pelo conceito, responderam:
-“É a convivência comum entre todos os seres, sendo eles humanos,
animais, plantas e etc” (Camila, 11 anos);
-“O Meio Ambiente é onde a gente vive” (Karla, 11 anos);
-“O Meio Ambiente é a cidade na minha opinião” (Evellyn, 11 anos).
Aqui, constatamos a percepção social do ambiente. As alunas compreenderam-
no como o lugar onde vivem, representando-o como a cidade ou lugares que frequentam.
Cabe ressaltar a fala da aluna Camila que compreende o MA não apenas como um espaço,
mas como as relações de convivência entre humanos.
Três meninos e uma menina representaram o MA como um lugar natural com
árvores, rio, gramado, flores e animais somados a presença humana (figuras 17, 18, 19 e
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
46
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
20). Porém todos os desenhos demonstraram o homem em seu momento de lazer no
ambiente. Portanto, constitui uma visão antropológica, percepção da qual o homem extraí
do ambiente seus recursos (REIGOTA, 1995) e utiliza-o como local exclusivo para o lazer.
Figura 17. Representação do aluno Marcos – 6º ano (Fundamental II)
Figura 18. Representação do aluno Maxuel – 6º ano (Fundamental II)
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
47
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 19. Representação da aluna Beatriz Tavares – 6º ano (Fundamental II)
Figura 20. Representação do aluno Vinicius – 6º ano (Fundamental II)
Por fim, seis alunos (três meninas e três meninos) compreendem o MA como um
lugar natural que precisa ser preservado (figuras 21, 22 e 23).
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
48
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 21. Representação conservacionista da aluna Vitória – 6º ano (Fundamental II)
Em cinco desenhos foi detectado o símbolo dos latões da coleta seletiva e a
presença do homem cuidando do ambiente (plantando mudas de árvore e/ou coletando
resíduos sólidos). Esta interpretação pode ser fruto da consciência ambiental, pois a própria
escola está ensinando estes novos hábitos, o que demonstra a assimilação e absorção da
ideia.
Figura 22. Representação conservacionista da aluna Beatriz – 6º ano (Fundamental II)
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
49
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 23. Representação conservacionista do aluno Gabriel– 6º ano (Fundamental II)
Foi requerida a sala que escrevesse em uma única palavra o que é Meio
Ambiente, os resultados estão na tabela 3.
Tabela 3. Palavras que representam o MA no 6º ano
Palavras Frequência
Cidade 1
Vida 2
Cultura 1
Natureza 7
Poluição 3
Ar 2
Plantas 4
Planeta 3
Lugar 1
Sustentabilidade 1
TOTAL 25
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
50
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Os alunos sentiram dificuldade na hora de sintetizar tudo o que sabiam sobre o
MA, porém os resultados foram satisfatórios. Todas as palavras utilizadas resumiram as
principais percepções ambientais presentes na análise da turma. As palavras “cidade, vida,
cultura”, representaram a concepção globalizante. A percepção naturalista foi identificada
nas palavras “natureza, plantas, ar”. A visão preservacionista foi representada pelas
palavras “poluição e sustentabilidade” e a percepção generalista pelas palavras “planeta e
lugar”.
Para o 7º ano, foi abordada uma atividade de análise diferenciada, pois o
tema MA é parte da grade curricular na disciplina de Ciências. Em vista disso, foi
possível realizar um processo investigativo em dois momentos diferentes. O primeiro
momento ocorreu nos meses de fevereiro a março de 2012, junto com o
desenvolvimento e introdução ao estudo da ecologia, modo pelo qual, o tema MA é
transmitido de maneira formal na escola.
Neste grupo de alunos o inicio da investigação começa com o debate em
sala de aula para o levantamento dos conhecimentos prévios da turma. Os alunos
foram indagados sobre: “o que é o meio ambiente?”.
Após ouvir e listar na lousa as ideias formuladas pela turma foi realizado a
leitura em voz alta. Em seguida, foi feita uma dinâmica da seguinte forma.
Primeiramente foi desenhada uma paisagem divida em 4 fases:
1ª fase: Representação de um ambiente natural sem a presença humana,
somente com plantas, sem animais (figura 24).
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
51
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 24. Representação do meio ambiente – 1ª fase
2ª fase: Acrescentam-se animais (fauna) e vegetais (flora) -
figura 25.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
52
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 25. Representação do meio ambiente – 2ª fase
3ª fase: Acrescenta-se seres humanos e elementos urbanos (casas, prédios,
estradas, indústrias com presença de fumaça (poluição do ar), resíduos sólidos) – figura
26.
Figura 26. Representação do meio ambiente – 3ª fase
4ª fase: Acrescentam-se indústrias com presença de fumaça (poluição do
ar), resíduos sólidos (figura 27).
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
53
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 27. Representação do meio ambiente – 4ª fase
O intuito desta dinâmica é constatar o grau de percepção do conceito “Meio
Ambiente” e conferir a capacidade de perceber as relações sociais como elementos
constitutivos desse conceito e sua interelação com o ser humano.
Esta atividade, além dos objetivos apresentados, trabalha principalmente o
conceito de localização física e espacial do individuo no ambiente e a sua consequente
diferenciação entre o meio natural e o artificial.
As principais concepções de Dulley (2004), Medina (1994), Leff (2007), Art
(1998), Gleissman (1997) e outros são apresentados como diferentes formas de explicar
o mesmo conceito. Aqui os alunos visualizam os aspectos naturais e sociais que
constituem as principais ideias sobre o MA ao mesmo tempo em que são convidados a
comparar as ideias apresentadas com a abordagem feita pelo livro didático.
Após compreenderem o aspecto social do conceito de meio ambiente, até
então desconhecido por suas concepções, os alunos foram convidados a listarem quais
são os principais problemas do bairro em que moram. A lista de problemas no bairro foi
denominada “denuncia ambiental”. Após a listagem, a turma foi divida em seis grupos de
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
54
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
cinco alunos para realizar o processo investigativo. Os grupos foram orientados a
fotografar no bairro os problemas denunciados para a elaboração de cartazes
explicativos (figuras 28, 29, 30 31 e 32).
Figura 28. Grupo de alunos do 7º confeccionando cartazes com sua “denúncia
ambiental”.
Figura 29. Grupo de alunos do 7º confeccionando cartazes com sua “denúncia
ambiental”.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
55
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 30. As alunas (Queren e Paula Fabiana) do 7º apresentando seu cartaz.
Figura 31. Cartaz confeccionado por alunas do 7º ano.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
56
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 32. Os alunos (Tiago, Marcelo, Vitor e Deymon) com seu cartaz.
O último momento da primeira fase do processo investigativo da construção
do conceito de MA encerra com a saída dos alunos no bairro para a colocação dos
cartazes em pontos públicos (padaria, farmácia, ponto de ônibus, praça, etc.) e a
abordagem dos alunos com os moradores sobre o problema ambiental identificado
(figuras 33, 34, 35 e 36).
Figura 33. Colocação dos cartazes no bairro – mercearia
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
57
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 34. Colocação dos cartazes no bairro – ponto de ônibus
Figura 35. Alunos conversando com a proprietária do mercado.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
58
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 36. Colocação dos cartazes no bairro – sorveteria
A segunda fase ocorreu em outubro de 2012, após sete meses da
abordagem inicial do tema. Os alunos foram novamente analisados através do
questionário quantitativo e da representação qualitativa do conceito de MA aplicado às
outras séries, a fim de averiguar possíveis avanços na construção lógica do tema
trabalhado.
Na análise das representações figurativas do MA, os alunos apresentam uma
concepção fora do esperado. Cerca de 70% da turma representou o MA a partir da
concepção naturalista: um lugar natural, sem a presença humana, apenas com plantas e
animais selvagens (figuras 37 e 38).
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
59
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 37. Representação naturalista do aluno Leandro – 7º ano (Fundamental II)
Figura 38. Representação naturalista da aluna Katielly – 7º ano (Fundamental II)
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
60
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Apenas dois alunos, que correspondem a 10% da amostra, conseguiram
estabelecer o juízo de que o MA é o lugar onde vivemos e convivemos com outros seres
vivos e os elementos naturais (figura 39). Os desenhos apresentaram representações
sociais e ambientais (edificações, seres vivos, homens, elementos naturais, fatores
atmosféricos, relações humanas).
Figura 39. Representação globalizante do aluno Marcelo– 7º ano (Fundamental II)
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
61
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 40. Representação globalizante e preservacionista da aluna Milene– 7º ano
(Fundamental II)
As cerâmicas, como ilustrado na figura 40, são vistas como incomodo
ambiental pelos moradores do município de Ourinhos, devido a fuligem liberada pelas
chaminés junto com a fumaça, causando problemas de saúde e também transtorno as
donas de casa. A presença desse elemento na representação da aluna pode levar a
dupla percepção: globalizante (espaço onde ocorre a interação do homem com a
natureza) e preservacionista (lugar que necessita da preservação humana).
Apenas um aluno, possui uma visão puramente preservacionista e três
apresentam a concepção antropológica.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
62
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 41. Representação preservacionista da aluna Juliana – 7º ano (Fundamental II)
Figura 42. Representação antropológica do aluno Juan – 7º ano (Fundamental II)
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
63
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
O gráfico 7 evidencia as nuances perceptivas encontradas no 7º ano:
Gráfico 7. Percepção ambiental do 7º ano a partir das representações.
Já na análise qualitativa, em controvérsia a representação figurativa, as frases
elaboradas por esses alunos para explicarem o que era o MA surpreende novamente, pois
ao contrário da predominância do pensamento naturalista na representação figurativa, agora
se verifica um possível equilíbrio entre as concepções naturalista (7 frases), preservacionista
(6 frases) e globalizante (6 frases). Constatadas nas seguintes colocações:
Concepções naturalistas:
-“É um lugar com muitas árvores e ambientes naturais” (Ruan, 12
anos);
-“É um lugar que tem árvores, sol, mato, animais, uma paisagem
como um sítio e como as árvores” (Leandro, 13 anos);
-“São animais e plantas juntos” (Lucas, 12 anos);
-“Meio Ambiente é um lugar onde possui elementos da natureza”
(Raíssa, 12 anos)
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
64
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Concepções preservacionistas:
-“Meio Ambiente para mim é não poluir a cidade, se nós poluirmos a
cidade, nós não estamos cuidando dela então, sempre nós temos
que cuidar dela, não jogar lixo na rua” (Juliana, 13 anos)
-“Meio Ambiente é floresta, árvores, plantas, animais, água e o meio
ambiente pode estar limpo ou poluído” (Paula Fabiana, 12 anos);
-“Um ambiente limpo ou poluído” (Gustavo, 12 anos);
-“Meio Ambiente para mim é um ambiente que não tem poluição e
desmatamento” (Milene, 12 anos).
Concepções globalizantes:
-“O meio ambiente é onde vivemos” (Thiago, 12 anos);
-“Meio Ambiente é o lugar onde a gente ou outro ser vivo vive” (Enzo,
12 anos);
-“É um tipo de sítio na cidade que tem carro e motos e tem muitos
prédios” (Heitor, 12 anos);
-“O Meio Ambiente é onde há vida e onde moramos” (Tânia, 12
anos);
-“Um lugar onde vivemos e ele é muito importante para nós”
(Marcelo, 12 anos).
Na análise da capacidade de sintetizar o conhecimento em uma palavra
novamente a turma surpreende. As palavras que utilizaram foram (tabela 4):
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
65
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Tabela 4. Palavras que representam o MA no 7º ano
Palavras Frequência
Natureza 16
Hábitat 1
Ambiente 2
Vida 2
TOTAL 21
A turma em questão demonstrou um resultado inesperado, já que de todas as
amostras, esta foi à única que recebeu preparação teórica e prática sobre o conceito do MA.
A maior parte da sala encontra-se na fase naturalista, compreendem o MA como parte da
natureza, mas na análise do conceito de natureza e meio ambiente cerca de 90% da turma
compreende a interação do MA e da natureza como uma relação mútua.
Portanto, verifico que a sala recebeu os conceitos no inicio do ano, e estes
conceitos estão em desenvolvimento cognitivo em seus pensamentos. A demanda de
informações provocou o desordenamento das ideias, o que resultou na formação de
diferentes percepções em diferentes análises. Alguns já compreendem o MA em seu
aspecto social e preservacionista, porém é preciso repensar em outras formas de
abordagem para finalizar a construção do conceito abordado.
Na análise da representação figurativa do MA no 8º ano surgem diferentes
percepções, mas o que difere essa amostra das demais é a diminuição da percepção
naturalista em comparação com as demais formas de percepções estabelecidas (gráfico 8).
Gráfico 8. Representações do 8º de acordo com o parâmetro de classificação
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
66
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
A percepção naturalista dos alunos deste grupo (figuras 43, 44 e 45)
representaram os mesmos elementos figurativos das outras turmas (elementos naturais,
flora e fauna). Ao verificar as justificativas do questionário pude constatar que o MA é algo
que se encontra distante fisicamente deles, materializado em suas concepções como
florestas e campos, onde vivem vários animais e dali retiram recursos para se manterem
vivos. Fato que podemos contatar nas seguintes frases e desenhos produzidos:
Figura 43. Representação naturalista do aluno Kaique – 8º ano (Fundamental II)
-“É um lugar livre em total silêncio, muita árvore” (NI, 13 anos)
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
67
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 44. Representação naturalista do Renan – 8º ano (Fundamental II)
-“Florestas árvores, animais, enfim, tudo o que faz parte da natureza”
(NI, 13 anos);
Figura 45. Representação naturalista do Layson – 8º ano (Fundamental II)
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
68
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
-“O meio ambiente é um lugar onde tem muitas árvores” (NI, 14
anos);
-“Meio ambiente é o relacionamento de plantas, animais, etc. Tudo
aquilo que tem vida” (NI, 13 anos).
Essas falas demonstram um tipo de percepção muito específica do MA. Esses
alunos não conseguem percebê-lo como algo que faz parte de suas vidas. Nesse caso, é
preciso trabalhar a EA de forma diferente da utilizada até então, já que, este tipo de
representação pode indicar uma postura excludente mediante os problemas ambientais, o
que pode conduzir esses alunos a posições pouco participativa e descompromissada com o
seu entorno.
Em contrapartida, 26% das representações (desenho/escrita) apresentou uma
percepção preservacionista do ambiente, como demonstra as figuras 46, 47.e 48.
Figura 46. Representação conservacionista da aluna Ana Beatriz – 8º ano (Fundamental II)
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
69
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 47. Representação conservacionista do aluno Antônio– 8º ano (Fundamental II)
O que considero uma forma de progresso do pensamento naturalista, já que
ambos possuem os elementos naturais como base de suas representações, mas a visão
conservacionista inclui elementos que representam o cuidado e a manutenção do ambiente.
As frases classificadas com teor conservacionista apresentam palavras-chaves como: lugar,
vida, conservação, valorização, poluição, desmatamento, limpeza, cuidado e problemas.
Os meios de comunicação são também responsáveis pela propagação de
informações sobre a problemática ambiental e consequentemente tornam-se um fator
limitante para uma visão global do meio ambiente. Entretanto, a mídia não é a única
influenciadora da opinião popular, principalmente quando nos referimos a uma sociedade
desigual e com difícil acesso a educação, saúde e moradia.
Diferente da percepção apresentada no 7º ano, o aluno possui o sentimento de
responsabilidade, o que promove a conscientização para a construção do sujeito social e
ecológico assim como citado por Carvalho (2004) em sua obra que fala sobre a “invenção
do sujeito ecológico”, terminologia oferecida para designar a formação e a preparação do
educador ambiental a partir dos princípios e objetivos almejados pela EA no Brasil. Definido
como:
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
70
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
(...) pode-se definir o sujeito ecológico como um projeto identitário, apoiado em uma matriz de traços e tendências supostamente capazes de traduzir os ideais do campo. Neste sentido, enquanto uma identidade narrativa ambientalmente orientada, o sujeito ecológico seria aquele tipo ideal capaz de encarnar os dilemas societários, éticos e estéticos configurados pela crise societária em sua tradução contracultural; tributário de um projeto de sociedade socialmente emancipada e ambientalmente sustentável (CARVALHO, 2004).
Apesar da colocação acima, a intenção ao citar o “sujeito ecológico” de Carvalho
(2004), assemelha-se apenas na identidade societária do sujeito, que é capaz de se
posicionar mediante problemas ambientais e agir em busca do equilíbrio social e ambiental.
Figura 48. Representação preservacionista da aluna Vanessa – 8º ano (Fundamental II)
Os alunos que demonstraram o MA como um espaço entre as relações da
sociedade humana e da natureza, distinguiram a pesquisa com a predominância das falas
globalizantes. Cerca de 50% da turma compreende o MA como o lugar das relações sociais,
e o representaram com elementos artificiais e naturais (figuras 49 e 50). Essa forma de
percepção é extremamente importante na construção do sujeito ecológico e social.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
71
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 49. Representação globalizante da aluna Inaê – 8º ano (Fundamental II)
Figura 50. Representação globalizante da aluna Evilla– 8º ano (Fundamental II)
Aqui o grupo tem o completo pertencimento do MA, perdendo totalmente a
distanciamento físico que existe nas outras concepções e demonstra definitivamente a
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
72
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
superação de suas ideias e percepções, conforme é explicitado nas figuras 51, 52 e 53 e
nas falas abaixo:
- “Meio ambiente é onde vivemos (...) é o espaço de convivência com
outros seres” (NI, 13 anos);
- “Que é um lugar onde não há diferença entre árvores, pássaros,
pessoas, todas são tratadas com igualdade” (NI, 13 anos);
- “É o meio em que vivemos (...) é tudo que está ao nosso redor,
árvores, casas, etc” (NI, 13 anos)
- “Um meio onde raças e tipos diferentes de pessoas vivem, dividindo
o mesmo espaço como num formigueiro”. (NI, 13 anos).
Figura 51. Representação globalizante do Elias – 8º ano (Fundamental II)
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
73
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Figura 52. Representação globalizante do aluno Yael – 8º ano (Fundamental II)
Figura 53. Representação globalizante da aluna Adriane – 8º ano (Fundamental II)
De acordo com Sorrentino (1998), um dos objetivos da EA nas escolas é
construir saberes que promovam o desenvolvimento de sujeitos críticos às questões
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
74
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
ambientais, ao mesmo tempo em que busque o resgate de valores e comportamentos
humanos, que prezem o bem-estar social e consequentemente o bem-estar ambiental.
Essas percepções nos levam a perceber que o pensamento globalizante parte
do ponto de vista social, a partir das vivências ambientais destes alunos. O modo como
compreendem e interpretam o MA. Apenas um aluno possui uma percepção generalista
Houve apenas uma representação antropológica. No desenho ele apresenta os
elementos essenciais para ser classificado desta forma. Todas as figuras representam o MA
como um local preservado, limpo e principalmente, para o lazer. Nota-se a presença de
humanos se divertindo, cesta de piquenique, árvores e campo de futebol (figura 54).
Figura 54. Representação antropológica do aluno Higor – 8º ano (Fundamental II)
Na atividade de síntese do conhecimento do MA, os alunos utilizaram as
seguintes palavras (tabela 5):
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
75
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Tabela 5. Palavras que representam o MA no 8º ano
Palavras Frequência
Convivência 1
Bem-estar 1
Cultura 1
Preservação 2
Sustentabilidade 1
Reciclagem 3
Tudo 2
Vida 1
Mundo 1
Natureza 5
Ecossistema 1
Floresta 2
TOTAL 21
Através das palavras-chaves, os alunos foram agrupados de acordo com a
classificação das percepções que foram estabelecidas. Assim, surgiram quatro grupos, um
com ideias preservacionistas, formado a partir das palavras – preservação, sustentabilidade
e reciclagem – totalizando seis alunos. Um grupo com percepção naturalista formado com
oito alunos que apresentaram as palavras: natureza, ecossistema e floresta. O terceiro
grupo foi agregado a partir das palavras convivência, bem-estar e cultura, constituindo a
visão globalizante, com apenas três alunos. E por fim, um grupo com percepções
generalistas, formado por quatro alunos, a partir das palavras “tudo, vida e mundo”.
Esses alunos tiveram um tempo para discutir o que os levava a considerar o MA
a partir da palavra que utilizaram para sintetizar seu conhecimento, em vista dessa
discussão, no final cada grupo expôs sua conclusão para os demais alunos. Resultando nas
seguintes colocações:
Grupo conservacionista:
“Preservação significa preservar a natureza, ou seja, transformando
todo o lixo humano em materiais recicláveis, e com isso, diminuindo
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
76
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
a poluição para ajudar a tornar o mundo e o ambiente um lugar ainda
melhor”.
Essa percepção conservacionista seria promovida pelo próprio sistema
educacional. Já que a proteção ambiental, a preservação e a conservação do ambiente são
parâmetros que fazem parte da cartilha educacional do Ministério da Educação e Cultura
(MEC, 1996). Ver o ambiente como um lugar a ser preservado é parte das intenções do
sistema de ensino, que objetiva promover indivíduos participativos e preocupados com o
patrimônio natural e cultural existente.
Grupo naturalista:
“A natureza é um meio ambiente, porque nela contém as árvores, as
plantas, os animais, etc. (...) é um meio onde a gente depende dele
para sobreviver. Sem a natureza nada iria ser como é, pois o
oxigênio vem das árvores, flores e se destruirmos, destruiremos
nossas próprias vidas.”
A conclusão do grupo está entre a percepção naturalista e a preservacionista,
porém, deve-se perceber que apesar de fazerem menção da importância dos ciclos naturais
de alguns elementos químicos, como o caso do gás oxigênio para a sobrevivência de sua
espécie, não deixam clara a participação humana na preservação deste recurso. A visão do
grupo, apesar de variável, nos mostra sua essência naturalista ao argumentar elementos
“naturais” da flora e da fauna como principais constituintes deste sistema.
Grupo globalizante:
“O meio ambiente é um lugar onde as pessoas que tem a mesma
cultura vivem em boa convivência e acreditam em um bem estar
comum”.
Esses alunos tem uma percepção social bem elaborada do MA. Acreditam que a
harmonia entre os seres humanos é um requisito para o equilíbrio ambiental. Apesar de não
saberem expressar corretamente seus conceitos, conseguiram transmitir a ideia de
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
77
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
pertencimento e inclusão do ser humano no ambiente e este como agente de transformação
do mundo que vive.
Grupo generalista:
“Todos os lugares existem seres vivos, cada um desses seres vivos
é específico para o lugar que ele habita”.
O grupo demonstra a partir da conclusão elaborada que o MA é algo global, está
em todos os lugares e se caracteriza como o hábitat dos seres vivos.
A partir do levantamento sobre a reflexão da percepção dos alunos, sobre quais
elementos fazem parte do MA, fez-se uma listagem e o agrupamento das ideias dos
problemas identificados entre as três turmas analisadas, assim como demonstra no gráfico
9.
Grafíco 9. Percepção do elementos integrantes do MA na visão do alunos do 6º, 7º e 8º ano.
A partir destes resultados podemos verificar que mesmo no ciclo II do
Fundamental as crianças e adolescentes ainda compreendem o MA e a natureza como o
mesmo elemento. Entretanto, podemos verificar a presença de outros elementos que no
ciclo I não foram identificados, como mostra o gráfico 4. Apesar da predominância dos
elementos naturais nas respostas, a frequência da percepção de outros elementos
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
78
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
relacionados a sociedade humana como representado pelas palavras “trabalho, saúde,
escola, sociedade, família, vizinhos, seres humanos e cultura” aumentam, dando a entender
que o adolescente percebe o ambiente em seu aspecto social, mesmo que ainda esteja
vinculado a percepção naturalista.
O gráfico 10 demonstra a percepção dos alunos em relação aos conceitos
“natureza” e “meio ambiente”.
Grafíco 10. Percepção Relação do conceito de Meio Ambiente e Natureza
Em comparação ao gráfico 5 resultado do ciclo I, verificamos uma inversão da
percepção entre as amostras analisadas. O gráfico 10, evidencia a compreensão do MA e
da natureza como elementos que dependem um do outro para a sua existência, ou seja,
sem a natureza não há MA e sem o MA não haverá natureza. Apesar de ser um pouco
confuso este raciocínio, o aluno comprende a relação existente entre o lugar onde vivemos e
nos relacionamos com fatores abióticos e bióticos. Já no ciclo I, o maior indice de respostas
foi a interpretação dos dois conceitos como o mesmo elemento, o que demonstra um
percepção apenas naturalista. Nesse caso, o aluno não foi capaz de dissociar seu conceito
estabelecido como natureza daquilo que compreende como o MA, portanto o vê como uma
paisagem selvagem, natural ou até mesmo preservada e com a presença humana.
Na análise da percepção dos problemas existentes no bairro ou na cidade, a
variedade de respostas foi semelhante ao do Ensino Fundamental I, já que os problemas
fazem parte do cotidiano desses adolescentes, portanto, souberam responder com mais
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
79
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
propriedade, devido ao sentido de pertencimento que possuem com o lugar onde vivem,
pois convivem diariamente e se incomodam com isso. Os resultados no gráfico 11
demonstram a coleta de dados sobre os “problemas na cidade ou no bairro” detectado pelos
alunos das três séries analisadas.
Gráfico 11. Principais problemas identificados na cidade/bairro – Ensino Fundamental II
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
80
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da análise dos resultados obtidos em cada série/ano estudada, foi
possível verificar diferenças na percepção que alunos do ensino regular possuem sobre o
MA. Essas diferenças foram facilmente constatadas a cada ano do desenvolvimento
cognitivo e biológico do indivíduo.
Analisando os resultados provenientes de cada série/ano abordada foi possível
constatar uma forma de progresso na percepção que os alunos possuem do MA, o que não
significa o aperfeiçoamento de suas ideias, mas sim, uma maior abrangência dos juízos
estabelecidos ao longo da maturidade e da apropriação do conhecimento.
Os resultados encontrados através da interpretação e classificação dos
desenhos permitiu verificar que nas primeiras séries/anos analisadas reinou estritamente a
percepção naturalista das crianças. Estas crianças encontram-se na faixa etária de 9 a 11
anos, idade esta, onde a criança está intimamente vinculada a brincadeiras, a imaginação e
a compreensão romântica do lugar onde vive, fator que pode ter influenciado a percepção
destes alunos, uma vez que o imaginário e o real estão intimamente relacionados no
pensamento infantil.
Nas demais séries analisadas notou-se um progresso gradual da percepção do
conceito do MA. Sendo possível constatar que a visão globalizante tomou lentamente o
espaço da percepção naturalista. Mesmo que a porcentagem de alunos desta percepção
ainda seja maior, percebe-se a introdução do homem na paisagem e o pertencimento do
meio onde vive, fato que não pode ser identificado efetivamente nos resultados do ciclo I (3º
ao 5º ano). Deve-se levar em consideração que ambos os ciclos analisados, pertencem a
classes sociais distintas, o que pode ter relevância na percepção destes alunos, uma vez
que, os lugares onde vivem e frequentam influencia diretamente na opinião e na formação
dos conceitos.
Através dos questionários respondidos pelos alunos para analisar quais
elementos figurativos eles consideram parte do MA, verificou-se uma constante básica em
todas as fichas. Todos os alunos, independente do tipo de classificação perceptiva,
assinalaram os itens: plantas, natureza, animais e elementos naturais. Isso indica que a
percepção dos alunos, por mais que ocorram avanços ao longo do seu desenvolvimento e
amadurecimento cognitivo, este utiliza o meio natural como base para as demais formas de
percepção. Esse fator sugere que as demais percepções se constroem a partir da visão
naturalista.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
81
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
Portanto, quando foram questionados se o meio ambiente e a natureza eram o
mesmo elemento, o ciclo I, fase inicial do aprendizado básico, respondeu que ambos os
conceitos eram a mesma “coisa”, ou seja, possui o mesmo valor conceitual. Já os alunos do
ciclo II, fase mais avançada em comparação ao ciclo anterior, percebem a distinção entre os
dois conceitos abordados, compreendendo dessa forma a existência de dois juízos distintos,
porém, em suas percepções, os dois conceitos possuem uma relação intrínseca e
indissociável. Portanto, independente do tipo de percepção que o aluno possui, todos os
juízos estabelecidos estarão vinculadas ao meio natural, mesmo que este seja apenas o
plano de fundo para a confirmação de suas hipóteses conceituais. Contudo, pode-se
constatar que a forma como o indivíduo percebe o meio ambiente está vinculada ao meio
onde vive, a disponibilidade de recursos que possui, a forma como a educação abrange
esse conceito e também, ao seu nível de desenvolvimento cognitivo, social, ambiental e
biológico.
Constata-se também, que o conhecimento que os alunos possuem do meio
ambiente varia de acordo com o grau de instrução cognitiva e a maturidade biológica, o que
Piaget (1978: 1990) considera como fases do desenvolvimento cognitivo, relacionado ao seu
aspecto psicossocial, e este, é oriundo das práticas cotidianas e da própria relação que o
indivíduo possui com o seu meio. Entretanto, percebe-se que a prática educativa têm
instaurado novos conceitos durante o aprendizado destes alunos, e isso têm emergido de
forma positiva no progresso da percepção do meio ambiente.
As escolas nesta perspectiva atuam como importantes disseminadores da
consciência de preservação do ambiente, e para tanto, devem assumir o papel na
construção de um modelo de desenvolvimento sustentável para a sociedade, dando a
oportunidade de seus alunos praticarem hábitos saudáveis e conservacionistas dentro de
suas estruturas, para que a partir daí, possam atuar como sujeitos responsáveis e
disseminadores de atitudes ambientalmente corretas, sem desvincular o meio ambiente do
seu aspecto social e cultural.
Portanto, perceber o meio ambiente é uma tarefa indispensável para a
construção de sujeitos críticos e preocupados com as questões que envolvem seu cotidiano.
Por isso, verificar a forma como crianças e adolescentes compreendem o meio ambiente
pode indicar onde ocorrem as falhas e os acertos na formulação da personalidade do
indivíduo. Compreender como os seres humanos intuem o meio onde vivem é uma tarefa
bastante complicada, em vista da própria complexidade humana, porém, sua pesquisa é
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
82
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
indispensável para a compreensão do próprio ser e da relação que este possui com o
ambiente.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
83
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, B. P. (2007). As relações entre o homem e a natureza e a crise sócio-
ambiental. Rio de Janeiro, RJ: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz).
ARCHELA, R. S.; GRATÃO, L. H; TROSTDORF, M. A. S. O Lugar dos mapas mentais na representação do lugar. Revista Geografia, vol 13, n° 1, jan-jun 2004. Londrina: UEL. Disponível em <http://www.uel.br/revistas/geografia/v13n1eletronica/7.pdf>. Acesso em 02 jun. 2006
BERNA, V. Como fazer educação ambiental. 2ª Ed. São Paulo: Paulus, 2004.p.17-35.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. BRASIL. Lei federal nº. 6938/81. Política nacional do meio ambiente - PNMA. 1981. Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em12/10/2009. BRASIL. Lei nº. 9.795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/L9795.htm. Acesso em 26/09/2012. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Lei N 9.985, de 18 de julho de 2000. Estabelece o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Brasília: MMA, p. 32, 2000. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais meio ambiente, saúde. – Brasília: MEC/SEF, 1997 Brasília: MEC, 1993.
CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação ambiental: a formação do sujeito
ecológico. São Paulo: Cortez, 2004.
CARVALHO, I. C. M. A invenção do sujeito ecológico: narrativas e trajetórias da educação
ambiental no Brasil. Porto Alegre: Ed. Universidade/ UFRGS, 2001.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2002.
DESCARTES, R. Discurso do método. (M. E. Galvão, Trad.) São Paulo: Martins Fontes,
1996.
DIEGUES, A. C. O mito moderno da natureza intocada (3ª Edição ed.). São Paulo: USP,
2000.
DUARTE, M. C. de S. Meio ambiente sadio: direito fundamental em crise. Curitiba: Juruá,
2003.p.15.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
84
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
DULLEY, R. D. A noção de natureza, ambiente, meio ambiente, recursos ambientais e
recursos naturais. Agric. São Paulo, , 51 (2), 15-26, 2004.
JAPIASSÚ,H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. 3ª ed., Jorge Zahar Ed., Rio
de Janeiro, 1996, p – 209 – 210.
JORGE, M. A. (2010). Alterações do pensamento. Acesso em 6 de outubro de 2012,
disponível em Site MAC Jorge:
http://www.macjorge.pro.br/pdfs/aulas/psicopatologia_geral/Alteracoes_do_pensamento.pdf
LADEIRA, R. B. (2009). Psiquiatria geral. Acesso em 7 de Outubro de 2012, disponível em
http://psiquiatriageral.files.wordpress.com/2009/06/aula-pensamento.pdf
LEFF, E. Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis:
Vozes, 2001.
LENOBLE, R. História da idéia de natureza. Lisboa: Edições 70, 1969.
LENZA, P. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2012.
LIMA E SILVA, P. P., GUERRA, A. J. T., & MOUSINHO, P. Dicionário brasileiro de ciências
ambientais. Rio de Janeiro: Thex, 1999.
LOUREIRO, C. F., TAMAIO, I., QUINTAS, J. S., TREIN, E., & TOZONI-REIS, M. F. (março
de 2008). Educação Ambiental no Brasil. Salto para o futuro , p. 21-29.
MAZZILLI, H. N. A defesa dos intereses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor,
patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses (25 ed.). São Paulo: Saraiva,
2012.
MINISTÉRIO da Educação e da Cultura. Plano Decenal de Educação Para Todos.
PÁDUA, S.; TABANEZ, M. (orgs.). Educação ambiental: caminhos trilhados no Brasil. São
Paulo: Ipê, 1998.
PIAGET. J. Problemas de Psicologia Genética. ln: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural.
São Paulo. 1978.
PIAGET, J. Epistemologia Genética. São Paulo: Martins Fontes. 1990.
QUINTAS, J. S. Seminário sobre a Formação do Educador para Atuar no Processo de Gestão Ambiental. Brasília: Série Meio Ambiente em Debate, IBAMA, 1995. REIGOTA, M. Desafios à educação ambiental escolar. In: JACOBI, P. et al. (orgs.).
Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA, 1998,
p.43-50.
REIGOTA, M. Meio ambiente e representação social. São Paulo: Cortez, 1995.
Curso de Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas
85
Av. Vitalina Marcusso, 1500 CEP 19910-206 Ourinhos SP
Tel 14 3302-5700 fax 14 3302-5702 [email protected]
ROCHA, A. M., & MOTA, J. E. Cultura e natureza nas sociedades modernas: ensaio sobre
as relações entre homem e natureza nas sociedades produtoras de mercadorias. GEOUSP -
Espaço e Tempo (30), 2011, p. 150 – 158.
SANTOS, M. E. P. dos. Algumas considerações acerca do conceito de sustentabilidade:
suas dimensões política, teórica e ontológica. In: RODRIGUES, A. M. Desenvolvimento
sustentável, teorias, debates e aplicabilidades. Campinas: UNICAMP/IFCH, 1996.
SOARES, A, M, D. et. al. Educação ambiental: construindo metodologias e práticas
participativas. II Encontro da ANPPAS 26 a 29 de maio, 2004, Indaiatuba-SP.
SORRENTINO, M. De Tbilisi a Tessaloniki, A educação ambiental no Brasil. In: JACOBI, P.
et al. (orgs.). Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo:
SMA, 1998, p. 27-32.
SORRENTINO, M., TRAJBER, R., MENDONÇA, P., & FERRARO JÚNIOR, L. A. Educação
ambiental como política pública. Educação e Pesquisa , 31 (2), 2005, p. 285-299.
TAMAIO, Irineu. O professor na construção do conceito de natureza: uma experiência de
educação ambiental. Annablume: WWF, São Paulo, 2002.
TRAJBER, Rachel; SATO, Michèle. Escolas sustentáveis: incubadoras de transformações
nas comunidades. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. especial,
2010, p. 70-78.