estudo da governanÇa na unidade de...

77
ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS DO MÉDIO PARANAPANEMA EDUARDO MARTINS VALLIM OURINHOS-SP MARÇO, 2016. UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” CAMPUS DE OURINHOS

Upload: vankhue

Post on 12-Dec-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE

GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS DO MÉDIO

PARANAPANEMA

EDUARDO MARTINS VALLIM

OURINHOS-SP

MARÇO, 2016.

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”

CAMPUS DE OURINHOS

Page 2: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE

GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS DO MÉDIO

PARANAPANEMA

EDUARDO MARTINS VALLIM

Orientador: Lucas Labigalini Fuini

OURINHOS-SP

MARÇO, 2016.

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”

CAMPUS DE OURINHOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Comissão de Avaliação do Programa de Pós Graduação Lato Sensu em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias hidrográficas da Universidade Estadual Paulista, Câmpus de Ourinhos no 1º semestre letivo de 2016.

Page 3: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

Banca Examinadora

Ourinhos, 31 de Março de 2016.

Prof. Dr. Lucas Labigalini Fuini (Orientador)

Page 4: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

Dedicatória

Dedico este trabalho aos meus pais, Sérgio Sabino Vallim e Maria

Helena Martins Vallim que através de muito esforço e paciência,

abriram mão de seus sonhos para que eu concretizasse o meu.

A minha namorada Fátima por ser uma verdadeira companheira

durante toda minha graduação, ajudando nos estudos, dando

conselhos, criticas construtivas e um carinho mais do que

especial, foi fundamental durante a elaboração deste trabalho.

Page 5: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

AGRADECIMENTOS

Meus Familiares, em especial meus pais Sérgio e Maria e meu irmão César.

Minha namorada Fátima, pessoa íntegra, esforçada e de valor inestimado, com quem

dividi momentos muito felizes e jamais esquecerei sua contribuição neste trabalho e seu

apoio durante todos esses anos de convivência. Ao Colega Felipe Firmiano Aleixo (MR.

M) que com sua calma mineira me ajudou muito em momentos difíceis. Vocês são e

serão sempre minha segunda família.

Agradeço ao Professor e Dr. Lucas Labigalini Fuini pela confiança, amizade, dedicação e

paciência no decorrer desta pesquisa. Agradeço pelas horas dedicadas à orientação,

conselhos e pelo tratamento respeitoso e íntegro durante o decorrer deste trabalho.

Agradeço a todos que de alguma forma contribuíram com esta pesquisa através de

entrevistas e questionários. Agradeço o professor Dr. Rodrigo Lilla Manzione, os

membros do Comitê do Médio Paranapanema: Odair Francisco (Faculdades Integradas

Ourinhos), Marcos Roberto Ramos Pereira (SINTAEMA), Luis Carlos Cavalchuki (ONG

Rio Pardo Vivo), Luis Marques da Silva Ayroza (APTA) e Paulo Henrique Interliche (CATI-

Ourinhos).

O técnico de Laboratório e grande amigo Jakson José Ferreira, o qual pude aprender e

compartilhar grandes histórias.

A técnica do laboratório de Geografia Humana e amiga Angela Crespo Peres que me

ajudou sempre que precisei e me atendeu sempre de prontidão, sendo fundamental no

decorrer dos trabalhos de pesquisa.

A Professora Maria Cristina Perusi que foi fundamental no meu processo de maturidade

acadêmica, orientando, e sempre me incentivando a produzir pesquisa científica.

A Professora Dra. Márcia Cristina de Oliveira Mello pelo apoio, confiança, orientações e

pelos dois anos de parceria no projeto Grupo de Estudos. Obrigado pela oportunidade de

aprendizagem que levarei por toda minha vida.

Deixo um agradecimento especial a todos os professores de graduação e demais

professores que contribuíram para minha formação escolar e acadêmica e que fazem

parte desta conquista.

Aos Funcionários da UNESP, Câmpus de Ourinhos, em especial aos colegas Marcos

Aparecido Rodrigues Prado, Larissa Bitencourt e Rafael Costa Crepaldi, Rodrigo

Page 6: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

Fantinatti Carvalho, Márcio Lopes, Durval de Lara Fernandes, Fábio Domingues e

Alexandre Rogério Trindade.

Deixo meu agradecimento e respeito aos colegas, companheiros de luta e futuros

professores que vivem incessantemente na busca por uma Universidade gratuita,

democrática e que seja capaz de garantir o respeito pelo “diferente” e a pluralidade de

pensamentos no ambiente acadêmico.

Por fim, deixo meu agradecimento aos amigos, colegas e companheiros de Ourinhos, da

República Nova Tangamandápio: o camarada Carlos Henrique da Silva, o paizão

Wellington Leandro do Nascimento (Chassi), Lucas Vituri Santarosa (Lombriga), Rafael

Vituri Santarosa (Frei), Mario Sérgio Longo Junior, Philip Kerlakian, Joelson de Souza

(Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues, Thiago

Zanforlin, Oswaldo Rodrigues, Camilla Soares Martins, Mário Sérgio Oliveira, Liatar

Corsato, Rodrigo Mazzetti, Pedro Henrique, o grande amigo Sílvio Ienaga e os demais

colegas da 7ª, 8ª e 9ª Turma da UNESP de Ourinhos.

A todos vocês meu muito obrigado!

Page 7: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

“Somente após a última árvore ser cortada.

Somente após o último rio ser envenenado.

Somente após o último peixe ser pescado.

Somente então o homem descobrirá

que dinheiro não pode ser comido.”

Provérbio Cree

Page 8: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

Lista de Figuras

Figura 1: Sistema Francês de Gerenciamento de Recursos Hídricos p.21

Figura 2: Modalidades de Governança p. 32

Figura 3: Avanço das Políticas Estaduais de Recursos Hídricos. p.37

Figura 4: Efetivação das leis Estaduais de Recursos Hídricos p.39

Figura 5: Manchetes do Jornal Estado de São Paulo sobre a falta de água

na cidade de São Paulo.

p.40

Figura 6: Mapa de Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos do

Estado de São Paulo.

p.44

Figura 7: Bacia Hidrográfica do rio Paranapanema p.47

Figura 8: Região Hidrográfica do Paraná p.48

Figura 9: Usinas Hidrelétricas Instaladas no rio Paranapanema p.49

Figura 10: Principais Eixos Rodoviários dos Estados de São Paulo e

Paraná

p.50

Figura 11: Municípios que compõe a UGRHI-17 p.52

Figura 12: População Total da UGRHI-17 p.56

Figura 13: Produto Interno Bruto dos municípios que compõem a UGRHI-

17

p.57

Figura 14: Índice de Tratamento do esgoto coletado nos municípios que

compõem a UGRHI-17.

p.59

Figura 15: Situação da Destinação Final dos Resíduos Sólidos dos

municípios que compõem a UGRHI-17.

p.60

Figura 16: Mapa de Susceptibilidade a Erosão nos municípios que

compõem a UGRHI-17.

p.61

Figura 17: Resíduos Sólidos depositados em uma área degradada no

município de Ourinhos

p.68

Figura 18: Caminhão e caçambas de entulho na área degradada

p.69

Page 9: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

Lista de Gráficos

Gráfico 1: Uso e Ocupação do Solo na UGRHI-17 p.55

Gráfico 2: Setores que compõe o segmento da Sociedade Civil no CBH-MP p.64

Gráfico 3: Processo de Tomada de Decisão no Comitê do Médio

Paranapanema

p.65

Gráfico 4: Quantidade de Votos para as classes e categorias da Sociedade

Civil no Comitê do Médio Paranapanema

p.57

Page 10: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

Lista de Quadros

Quadro 1: Instrumentos do Modelo Sistêmico de Integração – Participativa p.20

Quadro 2: Níveis de Participação nos Comitês de Bacia na França p.22

Quadro 3: Vantagens da adoção da Bacia Hidrográfica como Unidade de

Gestão Territorial.

p.24

Quadro 4: Aspectos Participativos dos vários segmentos que compõe o

gerenciamento dos Recursos Hídricos.

p.25

Quadro 5: Criação dos Comitês de Bacia Hidrográfica no

Estado de São Paulo

p.45

Quadro 6: Utilização da Água Subterrânea para abastecimento (%) p.53

Quadro 7: PIB per capta dos municípios que compõem a UGRHI-17 p.58

Quadro 8: Órgãos Colegiados que representam o segmento estado no Comitê

do Médio Paranapanema

p.63

Quadro 9: Entidades e Classes da Sociedade Civil que compõe o Comitê do

Médio Paranapanema

p.64

Page 11: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

Lista de Tabelas

Tabela 1: Principais cidades que compõem a bacia do rio

Paranapanema.

p.49

Page 12: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

Sumário

1. Introdução e Justificativa p.15

2. Objetivos p.16

Objetivo geral p. 16

Objetivos Específicos p. 16

3. Metodologia p.17

Capítulo 1: Gestão de Recursos Hídricos no Brasil p.17

1.1 Recursos Hídricos no Brasil p.17

1.2 Gestão de Recursos Hídricos: Princípios Fundamentais p.18

1.3 Bacia Hidrográfica como Unidade de Gestão e Planejamento p.22

Capítulo 2: Território, Gestão das Águas e Democracia. p.25

2.1 Território e Poder p.26

2.2 Democracia, Participação Social e Participação Popular p.27

Capítulo 3: Governança das Águas p.30

4. 3.1 Origem do termo Governança p.30

3.2 Governança das Águas: Princípios Fundamentais p.33

Capítulo 4: Política Estadual de Recursos Hídricos - PERH p.40

Capítulo 5: O rio Paranapanema e a formação dos Comitês de Bacia. p.45

5.1 Comitê do Médio Paranapanema p.51

Resultados e Discussão p.62

Considerações Finais p.70

Referências Bibliográficas p.71

Anexos: Questionário aplicado aos membros do Comitê

Page 13: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

RESUMO

A água é um recurso natural finito e dotado de valor econômico extremamente fundamental para satisfazer as necessidades humanas seja para consumo, para a produção de bens e alimentos ou até mesmo para a recreação e manutenção da vida aquática. Todavia dado o estágio de desenvolvimento avançado baseado na superexploração dos recursos naturais em especial a água, tem chamado a atenção de várias entidades e organismos internacionais sobre a preocupação de manter uma reserva de água para as gerações futuras. Nesse sentido, várias foram as tentativas de se promover o debate acerca do uso sustentável dos recursos naturais durante os anos de 1970, 1980 e 1990, tais como o Clube de Roma, a Conferência de Estocolmo, Rio-92 e Conferência de Dublin. Todos estes eventos contestaram a forma predatória como estamos lidando com o meio ambiente e ainda apontaram a necessidade de se promover espaços democráticos onde se promova a participação social em torno de interesse comum, nesse sentido, observa-se na literatura cientifica e até mesmo em documentos de organismos internacionais a utilização do termo governança que remete ao estabelecimento de meios onde se promova o diálogo entre diversos setores da sociedade, a inserção da população ao debate, assim como o predomínio da transparência nas resoluções e procedimentos realizados. Atrelados a necessidade se criar mecanismos de participação social voltados a questão dos recursos hídricos, a Lei nº. 9.433/97 tem atribuído um processo de descentralização política, através da participação entre poder público, usuários e sociedade civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas, tornando, portanto o comitê o Lócus do debate sobre a água a nível local. Dentro desta perspectiva o presente trabalho tem por finalidade avaliar os níveis de participação dos usuários no Comitê da Bacia do Médio Paranapanema (CBH-MP), buscando demonstrar como se dá a representação dos usuários e setores que compõe o Comitê, através de entrevistas e confecção de questionário qualitativo. Destaca-se como principais resultados deste trabalho a participação de setores da sociedade civil ligados ao Agronegócio, associações de classe, e setor energético. No que se diz respeito ao processo de tomada de decisão, o levantamento indicou que há um processo democrático na estância do comitê possibilitando o amplo debate. Contudo ressalta-se a importância de estabelecer um canal de diálogo com a comunidade local, que até o momento ocorre de forma precária e insuficiente.

Palavras – Chaves: Recursos Hídricos, Comitês de Bacia, Governança das Águas.

Abstract

Water is a finite natural resource and endowed with extremely important economic value to satisfy human needs is for consumption, for the production of goods and food or even for recreation and maintenance of aquatic life. However given the advanced stage of development based on the exploitation of natural resources especially water, has attracted the attention of several international organizations and agencies on the concern to maintain a water reserve for future generations. In this sense, there have been various attempts to promote debate about the sustainable use of natural resources during the years 1970, 1980 and 1990, such as the Club of Rome, the Stockholm Conference, Rio-92 and Dublin Conference. All these events challenged the predatory way we are dealing with the environment and also indicated the need to promote democratic spaces where it promotes social participation around the common interest, in this sense, it is observed in the scientific literature and even documents international organizations to use the term governance which refers to the establishment of means where it promotes dialogue between various sectors of society, the inclusion of the population to the debate, as well as the predominance of transparency in the resolutions made and procedures. Trailers the need to create mechanisms for social participation aimed the issue of water resources, Law no. 9.433 / 97 has given a political decentralization process through the participation

Page 14: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

of public authorities, users and civil society in the Watershed Committees, making therefore the committee the locus of debate on water at the local level. From this perspective the present study aims to assess the level of user participation in the Committee of the Middle Paranapanema Basin (CBH-MP) to demonstrate how it gives the representation of users and sectors that make up the Committee, through interviews and making qualitative questionnaire. It stands out as the main results of this work the participation of civil society sectors related to agribusiness, trade associations, and the energy sector. As regards the decision-making process, the survey indicated that there is a democratic process in committee office enabling the broad debate. However it emphasizes the importance of establishing a dialogue channel with the local community, which until now is precarious and insufficient.

Key words: Water Resources , Water Boards , the Water Governance

Page 15: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

15

INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

A água é um bem de uso comum, indispensável à vida humana, seja para o seu

consumo, para a produção de bens, alimentos, lazer e recreação, além de ser

fundamental para a manutenção dos ecossistemas aquáticos. Contudo deve-se destacar

que o ano de 2015 que encerra a década Internacional da Água, na qual se iniciou no dia

22 de março de 2005, traz também à tona a questão da escassez deste recurso

vivenciado principalmente no estado de São Paulo, fato este que demanda atenção

especial das diversas esferas governamentais e segmentos da sociedade.

Assim como os demais recursos naturais, a água é protegida pela Constituição

Federal e por lei específica visando assim garantir uma reserva potencial para as

gerações futuras. Nesse sentido, destaca-se que a lei nº 9.433 de 8 de janeiro de 1997

denominada como lei das águas, estabelece normas e diretrizes atinentes a Política

Nacional de Recursos Hídricos. Os principais fundamentos desta lei são a

descentralização da política, contando com a participação do poder público, usuários e

comunidades, além de inferir que a bacia hidrográfica deverá se constituir a unidade

territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos. Nesse sentido a

gestão dos recursos hídricos tem como finalidade equacionar a relação entre oferta e

demanda, através de políticas, instrumentos, mecanismos que possibilitem o seu

planejamento e administração.

O modelo de gestão de recursos hídricos efetivado no Brasil tem como base o

modelo de gerenciamento de águas francês, pautado na instauração dos comitês de

bacias. A discussão sobre esse novo modelo no caso brasileiro, teve sua gênese entre os

anos de 1970 e 1980 atrelados a mudança de paradigma relacionado ao controle dos

recursos, que estavam pautados na centralização das políticas, e uma necessidade de

estabelecer um canal de participação popular. Esta ideia que engloba a participação de

diversos setores da sociedade ganhava espaço no cenário mundial, sobretudo em

relação à crise ambiental, amplamente debatida nos anos 1970, 1980 e 1990 no Clube de

Roma, Conferência de Estocolmo, Rio-92 e Conferência de Dublin.

Discute nestes fóruns, principalmente no ocorrido em Dublin a ideia de

Governança atrelada à participação em conjunto entre poder público e sociedade civil, a

gestão integrada dos recursos hídricos, transparência, participação (ROGERS E HALL,

2003, apud SOARES E THEODORO, 2008).

A governança das águas tem ganhado notoriedade no meio acadêmico,

relacionado basicamente a questão da resolução de conflitos e a participação da

sociedade civil, isto pode ser explicitados nos trabalhos de Jacobi (2008, 2009); Dos

Santos (2009); Campos e Fracalanza (2010). Nesse sentido a governança é entendia

Page 16: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

16

como a forma de participação e diálogo visando equacionar a exploração de recursos

com a sustentabilidade ambiental.

No que se refere à governança dos recursos hídricos, destaca-se que os Comitês

de bacias são o lócus onde se é experimentado e analisado a governança das águas,

através da participação social, exploração dos recursos e resolução de conflitos. Nesse

sentido, este trabalho tem como tema central a governança das águas, através de um

estudo sobre a articulação de diferentes atores no Comitê de Bacia Hidrográfica do Médio

Paranapanema, que compõem uma das Unidades de Gerenciamento de Recursos

Hídricos do estado de São Paulo.

A Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Médio Paranapanema

(UGRHI-17) foi implementada em 20/12/1994. O referido Comitê compreende a Unidade

de Gerenciamento de Recursos Hídricos nº17, englobando o trecho médio do rio

Paranapanema.

A UGRHI-17 ocupa uma área de 16.749 km² e agrega os tributários da margem

direita do rio Paranapanema. Dentre seus principais afluentes, destacam-se: o rio Pardo,

rio Turvo, rio Capivara, rio Novo e rio Pari. O comitê do médio Paranapanema é

constituído por 42 municípios, o órgão colegiado foi fundado no ano de 1996 e conta com

membros do Estado, municípios e Sociedade Civil. Dentre as principais atribuições do

Comitê, destacam-se as o a discussão e aprovação de projetos relacionados a gestão

dos recursos, visando a proteção dos corpos d’ água, garantir o uso múltiplo das águas,

assim como resolver os conflitos decorrentes do uso da água no âmbito da bacia.

OBJETIVOS

Objetivo Geral

Entendendo o Termo Governança da água como um processo na qual os usuários

da bacia se reúnem em grupos ou associações para discutir, planejar e promover ações

em prol dos recursos hídricos, este trabalho tem como objetivo geral avaliar os níveis de

participação dos usuários no Comitê da Bacia do Médio Paranapanema (UGRHI-17).

Objetivos Específicos

Identificar quais grupos e Instituições compõe o Comitê do Médio Paranapanema;

Analisar como se dá o processo de tomada de decisão no âmbito do Comitê do

Médio Paranapanema;

Verificar quais ações estão sendo tomadas em prol da preservação dos recursos

hídricos nesta Unidade de Gerenciamento.

Page 17: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

17

METODOLOGIA

Para a elaboração do presente trabalho foram realizados levantamentos

bibliográficos sobre o histórico da Gestão das Águas no Brasil, os modelos de

Gerenciamentos e de Recursos Hídricos no Brasil e no Mundo, assim como a legislação

pertinente. Buscou-se também trazer um referencial teórico acerca dos modelos de

gestão participativa e da Governança das Águas. Para caracterizar o Comitê do Médio

Paranapanema, foram utilizados dados do portal do Comitê na internet. Foram analisados

também dados secundários obtidos no portal do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) e Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados de São Paulo

(SEADE), como: População residente, Produto Interno Bruto. Estes dados foram

sistematizados e transformados em material cartográfico.

Além do exposto acima foram analisados os principais documentos do Comitê do

Médio Paranapanema, tais como Atas de Reuniões, o Plano da Bacia, assim como o

Relatório Zero. Os dados obtidos foram sistematizados e transformados em gráficos,

quadros e tabelas.

Destaca-se também a aplicação de um questionário qualitativo para os membros

do Comitê, com questões voltadas para a rotina e participação dos seus pares assim

como o processo decisório. Além disso, destaca-se a realização de uma entrevista com

um professor do curso de Geografia da UNESP, campus de Ourinhos e membro da

Câmara Técnica do referido Comitê.

Após a realização destas etapas, foi possível traçar um panorama sobre a

Constituição do Comitê, bem como a atuação dos diversos segmentos, seus níveis de

organização, e principais pautas, temas e discussões levantadas, em prol da preservação

do meio ambiente e dos recursos hídricos no âmbito do Comitê.

CAPITULO 1: GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

Neste capítulo será abordado o histórico da utilização dos recursos hídricos no

Brasil, os princípios fundamentais, além de debater a adoção da bacia hidrográfica como

unidade de Gestão Territorial, seu corpo teórico e a base legal atrelada a este conceito.

1.1 Recursos Hídricos no Brasil

Yassuda (1993) aponta que desde a chegada dos portugueses os recursos

hídricos tiveram no Brasil cinco usos fundamentais, sendo eles: abastecimento; pesca;

fonte de riqueza, através dos metais preciosos extraídos nos depósitos aluvionares;

transporte hidroviário; beleza cênica constituída ao redor das vilas implantadas próximos

dos estuários, praias e margens dos rios; acrescenta-se ainda, o valor sentimental para

as diversas comunidades indígenas que habitavam o país à época da colonização.

Page 18: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

18

Destaca-se ainda a utilização para geração de eletricidade que se iniciou no final do

século XIX.

Contudo, dado o estágio de desenvolvimento econômico ocorridos principalmente

na segunda metade do século XX, pautado na superexploração dos recursos naturais,

com destaque especial para a água, seja para atender a demanda da indústria nos

processos produtivos que consome cerca de 22%; da agricultura e pecuária através da

irrigação e dessedentação animal (47%); do abastecimento público nos centros urbanos

(30%); ou até mesmo para geração de energia, que atualmente representa cerca de

76,9% da matriz energética brasileira, estes diversos tipos de uso demandam uma certa

qualidade da água e nesse sentido, deve-se buscar modelos de gestão que privilegiem o

planejamento de modo assegurar água em quantidade e qualidade para a atual e futura

geração.

1.2 Gestão dos Recursos Hídricos: Princípios fundamentais

Setti (2001, p.45) define a gestão dos recursos hídricos como: “a forma pela qual

se pretende equacionar e resolver as questões de escassez relativa dos recursos

hídricos, bem como fazer o uso adequado, visando a otimização dos recursos em

benefício da sociedade”.

A gestão dos recursos hídricos deve englobar por natureza, a política e um

sistema de gestão. Nesse sentido, Castro (2005, p.6) aponta que:

A política baseia-se no conjunto de princípios que conformam as aspirações sociais e/ou governamentais no que concerne à regulamentação ou modificação nos usos, controle e proteção dos recursos hídricos. Já o sistema de gestão corresponde ao conjunto de organismos, agências e instalações governamentais e privadas, estabelecidos com o objetivo de executar a política de recursos hídricos adotada.

Além disso, a gestão compreende o planejamento e administração, estes

procedimentos atuam de forma integrada, sendo que o primeiro está voltado para

otimizar a relação entre disponibilidade hídrica e demanda. Já o segundo refere-se à

parte jurídica, englobando normas, leis e decretos.

Quando nos referimos à gestão dos recursos hídricos, é muito comum

encontrarmos na literatura especializada os termos gestão e gerenciamento de recursos

hídricos. Estes termos são muito utilizados em vários trabalhos acadêmicos, sendo

usados como termos distintos, ou como sinônimos.

Leal (2000) aponta que gerir ou gerenciar estão ligados a ação de controlar e

administrar, sendo frutos da ação humana, que tem como princípio de se utilizar de algo

visando obter um benefício social por um determinado período. Contudo, o autor ressalta

que é necessário ter cuidado com a utilização destes termos quando relacionados à

gestão, pois pode ocasionar em distorções no que se diz respeito a atribuições e

Page 19: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

19

responsabilidades. Nesse sentido, cabe destacar que o termo gerenciamento está ligado

a níveis específicos de organização, tais como departamentos ou divisões, ele está

atrelado aos processos de organizar, planejar e executar atividades. Já o termo gestão

refere-se ao nível especializado de organização, voltados para administração. Sendo

assim, Castro (2005, p.6) acrescenta que:

O conceito de gestão difere do conceito de gerenciamento. A gestão é considerada de forma ampla, abrigando todas as atividades, incluindo o gerenciamento. É constituída por uma política, que estabelece as diretrizes gerais, um modelo de gerenciamento, que estabelece a organização legal e institucional e um sistema de gerenciamento que reúne os instrumentos para o preparo e execução do planejamento do uso, controle e proteção das águas. Já o gerenciamento é a configuração administrativa adotada na organização do governo para gerir as águas (CASTRO, 2005, p.6).

Dado o exposto acima, os comitês de Bacias Hidrográficas são considerados

como Unidades de Gerenciamento responsáveis por elaborar os planos de bacia,

projetos, dentre outras atribuições.

Neste ponto, Lanna (1995) aponta que na evolução do gerenciamento existem

três modelos de gerenciamento de bacia hidrográfica, que adotam modelos gerenciais

cada vez mais complexos, mas que, apesar disso, possibilitam uma abordagem mais

eficiente do problema: o modelo burocrático, o modelo econômico-financeiro e o modelo

sistêmico de integração participativa.

a. Modelo Burocrático: foi implantado no final do século XIX, tendo seu marco

regulatório o decreto nº. 24.643 de 10 de julho de 1934. Conhecido como Código de

Águas de 1934. Neste período, o governo federal era o único responsável por legislar

sobre as águas. Suas principais características são a racionalidade e a hierarquização.

Este modelo limitava-se a controlar os usos, dando pouca importância ao planejamento.

b. Modelo Econômico – financeiro: Tem como característica o predomínio do

emprego das negociações político-representativo e econômica, através da adoção de

instrumentos econômicos e financeiros, aplicados pelo poder púbico visando promover o

desenvolvimento econômico nacional ou regional. Este modelo foi um desdobramento do

pensamento keynesiano que destacava o poder do estado como agente regulador e

empreendedor. Este modelo busca o desenvolvimento integral e multi-setorial da bacia

hidrográfica. É baseado na aplicação de programas de investimentos principalmente nas

áreas de irrigação, saneamento, eletrificação, mineração dentre outros. Sua principal

falha consiste no fato de que adota uma concepção relativamente abstrata para servir de

suporte para a solução de problemas contingenciais.

c. Modelo Sistêmico de integração-participativa: Refere-se ao modelo moderno

de Gerenciamento de Recursos Hídricos. É caracterizado pela criação de uma estrutura

sistêmica, com uma matriz institucional de gerenciamento e pela adoção de três

Page 20: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

20

instrumentos: Planejamento estratégico por bacia hidrográfica; Tomada de decisão

através de deliberações multilaterais e descentralizadas e Estabelecimento de

instrumentos legais e financeiros (Quadro 1).

Quadro 1: Instrumentos do Modelo Sistêmico de Integração – Participativa

Planejamento estratégico por bacia hidrográfica: Está pautado no estudo e

utilização de cenários alternativos; estabelece metas alternativas de desenvolvimento

e a partir daí se traçam as metas, prazos, instrumentos e meios financeiros.

Tomada de decisão através de deliberações multilaterais e descentralizadas: É

baseado na constituição de um colegiado através do qual se tem a participação de

diversos setores: instituições públicas, privadas, usuários, comunidades, empresários

dentre outros. Cabe a este colegiado propor, analisar e aprovar os planos e

programas de investimentos voltados para a bacia.

Estabelecimento de instrumentos legais e financeiros: De acordo com o

planejamento estratégico e nas decisões do colegiado, são traçados os instrumentos

e as formas de captação dos recursos financeiros para a implementação dos planos e

programas de investimentos.

Fonte: Lanna, 1995, adaptado por Vallim, 2015.

Este modelo de gestão foi implantado em alguns países da Europa, com destaque

para França, Inglaterra e País de Gales.

O sistema inglês foi implantando em 1973, contendo 10 regiões hidrográficas. O

Gerenciamento dos recursos hídricos foi atribuído ao Conselho Nacional de Águas onde

este órgão era incumbido de elaborar estratégias voltadas aos usos dos recursos

hídricos. Este conselho era composto pela secretária de Meio Ambiente, Ministério da

Agricultura, Pesca e Abastecimento, além de conter representantes de Superintendências

das 10 regiões hidrográficas. Estas Superintendências Regionais, tinham como

responsabilidade, controlar o gerenciamento da oferta dos recursos hídricos ao que se

refere a quantidade e qualidade; realizar o gerenciamento dos usos setoriais dos

recursos hídricos com prevalência para o abastecimento de água e o esgotamento

sanitário.

Foi criado também um conselho Administrativo composto por membros dos

diversos segmentos que integram a bacia. Este Conselho possuía autonomia técnico-

administrativa, através de fonte de receita própria (cobrança pelo uso da água) e de um

corpo técnico- gerencial próprio.

Em 1983, o Conselho Nacional de Águas foi suprimido, cabendo as

Superintendências promover o gerenciamento interinstitucional, dessa forma, as

superintendências passaram a ter um elo direto com as secretárias. Contudo em 1989,

Page 21: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

21

estas 10 Superintendências foram vendidas, tornando-se empresas privadas de capital

aberto, ficando o estado somente de posse das ações e com poder de veto nas

assembleias.

Já o sistema francês por sua vez é considerado como um dos pioneiros e modelo

na gestão dos recursos hídricos, sendo implantado a partir da promulgação da lei nº 64-

1245 de 16 de Dezembro de 1964, cohecida como lei de águas. A princípio esta lei tinha

como grande foco, o combate a poluição, mas traz em seu repretório, importantes noções

sobre o gerenciamento e funcionamento dos comitês, conforme o disposto no seu 13º

artigo:

Em cada bacia ou grupo de bacias é criado um comitê de bacia composto: 1º de representantes das regiões e das comunidades localizadas em toda ou parte da bacia; 2º representantes dos usuários e pessoas qualificadas; 3º Os representantes designados pelo Estado, particularmente entre os sócios – profissionais. Os representantes das duas primeiras categorias têm, pelo menos, dois terços do número total de assentos. Este órgão é consultado sobre a adequação do trabalho e desenvolvimento comum prevista na área de jurisdição sobre disputas entre comunidades ou grupos em causa e, mais genericamente sobre assuntos que são objeto da presente lei. Um decreto do Conselho de Estado irá definir modalidades de aplicação a partir deste artigo.

Para que seja efetivada o gerenciamento dos recursos hídricos, o território francês

foi dividido em 6 bacias ou regiões hidrográficas, sendo que em cada uma delas existem

três níveis de atuação: as comunas e os departamentos; a Agência de Água; e o Comitê

de Bacia (Figura 1).

Figura 1: Sistema Francês de Gerenciamento de Recursos Hídricos

Fonte: Lanna, 1995.

Page 22: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

22

A lei citada acima define três categorias de representações, sendo elas:

representantes das regiões e das autoridades locais que estejam situadas dentro ou em

parte da bacia; usuários e representantes do governo central e sociedade civil, sendo que

os dois primeiros possuem dois terços da quantidade total de assentos (Quadro 2).

Quadro 2: Níveis de Participação nos Comitês de Bacia na França

Categorias Assentos

Autoridades locais

(Comunas e Departamentos)

38

Usuários 38

Representantes do governo central 20

Sociedade Civil 7

Fonte: Lanna, 1995. Adaptado por Vallim, 2015.

As agências de água possuem um Conselho Administrativo representado por 25

membros sendo eles: autoridades locais (8 representantes); usuários (8 representantes);

estado (8 representantes) e funcionários (1 representante).

A lei de 1964 permitia uma visão global do sistema, bem como da sua

problemática, sendo complementada com a lei nº. 92-3 de 3 de janeiro de 1992. Com o

advento da lei de 1992, foram criados mais quatro comitês em territórios franceses:

Guadalupe, Guiana, Martinica e Reunião. A lei de1992 não alterou a lei de 1964, contudo,

trouxe importantes complementos como: o Plano diretor de aproveitamento e de Gestão

das Águas e Plano de Aproveitamento e de Gestão das Águas (art. 3º), sendo que o

primeiro é elaborado pelo Comitê de Bacia e o segundo Comissões Locais da Água (art.

5º), sendo um subconjunto do primeiro (Machado, 2003). Além disso, o artigo nº 5

permite ainda a criação de uma Comunidade Local para acompanhamento da execução

e ordenamento do território, bem como a gestão da água.

O modelo de gestão integrado francês garante a participação de diversos atores

não somente no acompanhamento dos planos e ordenamentos, mas também garante a

possibilidade de participar dos processos políticos de tomada de decisão dando, portanto

voz ativa aos usuários da bacia. Este modelo influenciou diretamente a Política de

Recursos Hídricos brasileira, assim como a criação dos Comitês de Bacia no país.

1.3 Bacia Hidrográfica como Unidade de Gestão e Planejamento

De acordo com Cunha e Guerra (1999) citados por Leal (2003), as bacias

hidrográficas possibilitam uma visão conjunta dos aspectos naturais e das ações

humanas desenvolvidas neste ambiente. Neste sentido, sua adoção como unidade de

gestão implica estudar todos os elementos físicos, bióticos e socioeconômicos que

compõe este sistema.

Page 23: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

23

Magalhães Junior (2007) ressalta que a importância da gestão sistêmica da bacia

está atrelado ao fato de que há uma complexa interação entre as partes e o todo. Neste

sentido, o impacto ocasionado sobre um dado elemento do sistema, poderá afetar os

demais. Sendo assim qualquer impacto decorrente sobre um determinado rio, terá

impacto direto nos demais rios que compõem a bacia, bem como na qualidade da água,

afetando diretamente os usuários da bacia.

Muitos especialistas em recursos hídricos adotam a bacia hidrográfica como

unidade de gestão e planejamento (LANNA, 1995; SANTOS, 2004; e TUNDISI, 2011)

Este fato se deve, sobretudo, devido à amplitude de alcance da bacia sobre o território,

ultrapassando muitas vezes os limites municipais, estaduais e até mesmo federais fato

que garante a ela uma característica peculiar, Nesse sentido, Santos (2004, p.40) aponta

que:

O critério de bacia hidrográfica é comumente usado porque constitui um sistema natural bem delimitado no espaço, composto por um conjunto de terras topograficamente drenadas por um curso d’ água e seus afluentes, onde as interações, pelo menos físicas, são integradas e, assim, mais facilmente interpretadas. Esta unidade territorial é entendida como uma caixa preta, onde os fenômenos e interações podem ser interpretados, a priori, pelo input e output. Neste sentido são tratadas como unidades geográficas, onde os recursos naturais se integram. Além disso, constitui-se numa unidade espacial de fácil reconhecimento e caracterização.

A adoção da bacia hidrográfica como unidade de gestão territorial está amparada

juridicamente, disposta na Política Estadual de Recursos Hídricos do Estado de São

Paulo, presente no 2º parágrafo do artigo 3º da lei nº 7.663 de 1991: “adoção da bacia

hidrográfica como unidade físico-territorial de planejamento e gerenciamento”, assim

como na Política Nacional de Recursos Hídricos, disposto no parágrafo V do art. 1º. da lei

nº. 9.433 de 1997: “A bacia é a unidade territorial para a implementação da Política

Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hídricos”.

Tundisi (2011) aponta que a adoção da bacia hidrográfica como unidade de

gestão territorial representa um avanço conceitual importante. O referido autor lista ainda

uma série de vantagens acerca desta abordagem, conforme o disposto no quadro abaixo:

Page 24: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

24

Quadro 3: Vantagens da adoção da Bacia Hidrográfica como Unidade de Gestão

Territorial.

A bacia hidrográfica é uma unidade física com fronteiras delimitadas, podendo estender-se por várias escalas espaciais, desde pequenas bacias de 100 a 200 km² até grandes bacias hidrográficas como a bacia do Prata (3 milhões de km²) (Tundisi; Matsumura Tundisi, 1995)

É um ecossistema hidrologicamente integrado, com componentes e subssistemas interativos;

Oferece oportunidade para o desenvolvimento de parcerias e a resolução de conflitos (Tundisi; Straskraba, 1995);

Permite que a população local participe do processo de decisão (Nakamura; Nakajima, 2000);

Estimula a participação da população e a educação ambiental e sanitária (Tundisi et; al.,1997);

Garante visão sistêmica adequada para o treinamento em gerenciamento de recursos hídricos e para o controle da eutrofização (gerentes, tomadores de decisão e técnicos) (Tundisi, 1994ª);

É uma forma racional de organização do banco de dados;

Garante alternativas para o uso dos mananciais e de seus recursos;

É uma abordagem adequada para proporcionar a elaboração de um banco de dados sobre componentes biogeofísicos, econômicos e sociais.

Sendo uma unidade física, com limites bem definidos, o manancial garante uma base de integração institucional ( Hufschimidt; McCauley, 1986)

A abordagem de manancial promove a integração de cientistas, gerentes e tomadores de decisão com o público em geral, permitindo que eles trabalhem juntos em uma unidade física com limites definidos;

Promove a integração institucional necessária para o gerenciamento do desenvolvimento sustentável (Unesco, 2003).

Fonte: Tundisi, 2011. Adaptado por Vallim, 2015.

O autor atenta ainda para o fato de promover uma integração entre os diversos

usuários da bacia, com destaque para o setor público, Universidade e setor privado

conforme o disposto no Quadro 4.

Page 25: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

25

Quadro 4: Aspectos Participativos dos vários segmentos que compõe o

gerenciamento dos Recursos Hídricos.

Universidade Setor Público Setor Privado Usuários e

público em geral

Diagnóstico qualitativo e quantitativo dos

problemas

Implantação de políticas públicas nos

comitês de bacia;

Apoio na implementação de políticas públicas;

Participação na mobilização, para

conservação e recuperação;

Elaboração dos bancos de dados e sistemas

de informação

Implantação de projetos para conservação,

proteção e recuperação;

Desenvolvimento tecnológico e

implantação de novos projetos;

Informações ao Ministério Público e

setor público;

Apoio na implementação de políticas públicas;

Informação ao público e educação sanitária

e ambiental;

Financiamento de tecnologias em

parceira;

Participação no processo de

educação sanitária. Apoio no

desenvolvimento metodológico e na

introdução de novas tecnologias;

Fonte: Tundisi, 2011. Adaptado por Vallim, 2015.

Nas palavras do autor, o planejamento integrado tem como meta desenvolver uma

visão abrangente de planejamento, políticas públicas, tecnológicas e de educação. A

integração destes diversos segmentos possibilita agir de forma conjunta para delinear as

ações voltadas para: promover a otimização dos usos múltiplos, fortalecer as bases

científicas, além de traçar objetivos de médio a longo prazos no âmbito da bacia.

Contudo há de se ressaltar que a consolidação da bacia hidrográfica como

unidade de gestão territorial, não ocorre de forma harmoniosa, devido a uma série de

atores que exercem poder sobre o território, o que muitas vezes leva ao conflito devido,

sobretudo, ao grau de influência e atuação desses agentes.

CAPÍTULO 2: TERRITÓRIO, GESTÃO DAS ÁGUAS E DEMOCRACIA.

A bacia hidrográfica é o lócus central da discussão sobre recursos hídricos no

Brasil. Conhecida como unidade de gestão territorial, esta unidade incorpora da

Geografia o conceito de território, atreladas, sobretudo, relações de poder, as regras e

estratégias dos atores para se consolidar nestes territórios. Nesse sentido, este capítulo

tem por finalidade elucidar estes conceitos, além de fazer um paralelo com o processo de

gestão democrática e participação social e popular que ocorre sobre dado território.

Page 26: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

26

2.1 Território e Poder

Tido como um dos conceitos chave da Geografia, o território foi abordado no

século XIX por Frederic Ratzel como um espaço vital, uma fonte recursos, ligado ao

expansionismo e ao controle estatal, fundamental para o desenvolvimento de uma nação.

Andrade (2004) ressalta que não devemos confundir o conceito de território com

espaço, neste ponto Raffestin (1993, p.143) afirma que:

O território se forma a partir do espaço, é resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator “territorializa” o espaço.

Contudo Haesbart e Limonad (2007 p. 42) atestam que o território não deva ser

reduzido e confundido com a “simples materialidade do espaço socialmente construído,

nem com um conjunto de forças mediadas por esta materialidade”. Nesta perspectiva,

deve-se compreender que o território não é imutável no tempo e espaço, é fruto das

relações econômicas, políticas e culturais que ocorrem neste espaço (SAQUET, 2011).

Santos (2008) acrescenta ainda que os territórios na atualidade são constituídos

por lugares contíguos e por lugares em rede, apresentando portanto funcionalidades

diferentes e muitas vezes divergentes.

Além do descrito acima, deve-se salientar que o conceito de território está

intrinsecamente ligado à noção de poder e controle, sendo que “poder e controle são

coisas invisíveis e de certa maneira silenciosas, pois quando são percebidos, já se foi

envolto por ambos no espaço e no território, no processo de produção deles” (FRAGA,

2011, p.73).

O autor citado acima ressalta que o controle é efetivado através da instituição de

regras e normas que recaem sobre a circulação sobre o território. O poder por sua vez

está vinculado a ação aos valores sociais. Nesse sentido, Arendt (1969, p.24) salienta

que:

O ‘Poder’ corresponde à habilidade humana de não apenas agir, mas de agir em uníssono, em comum acordo. O poder jamais é propriedade de um indivíduo; pertence ele a um grupo e existe apenas enquanto o grupo se mantiver unido. Quando dizemos que alguém ‘no poder’ estamos na realidade nos referindo ao fato de encontrar-se esta pessoa investida de poder, por um certo número de pessoas, para atuar em seu nome. No momento em que o grupo, de onde originaram-se o poder (potestas in populo, sem um povo ou grupo não há poder), desaparece, ‘o seu poder’ também desaparece.

Raffestin aponta é estabelecido através de um jogo de forças criados em virtude

da relação entre os membros, que via de regra ocorre de forma desigual.

Page 27: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

27

É um processo de troca ou de comunicação quando, na relação que se estabelece, os dois pólos fazem face um ao outro ou se confrontam. As forças de que dispõem os dois parceiros (caso mais simples) criam um campo: o campo do poder. Para compreender isso, pode-se recorrer à imagem do ímã e dos fragmentos de limalha que se orientam e assinalam linhas de força. O campo da relação é um campo de poder que organiza os elementos e as configurações (RAFFESTIN,1993,p.53).

As relações de poder são exercidas por meio de estratégias na qual o território é

“tanto um meio como uma condição de possibilidade de algumas dessas estratégias”

(CASTRO, 2005, p.95).

Para Raffestin (1993) o poder se manifesta através de uma junção entre energia e

informação, tem como finalidade exercer o controle e a dominação sobre os homens e as

coisas. O autor aponta ainda que o poder é determinado pelos trunfos obtidos por

determinados grupos. Estes trunfos são definidos pela Geografia Política como: os

recursos, a população e o território, sendo que para o referido autor, a população exerce

papel preponderante devido ao fato de estar ligada a gênese do poder. O território por

sua vez, expressa o lócus onde se dá a reprodução do poder e os recursos estão

alinhados as ações exercidas assim como o seu raio de alcance.

Qualquer organização é caracterizada por seres e coisas, seja porque os possui, os controla ou os domina. Em consequência, em toda relação à organização os coloca total ou parcialmente em jogo. Se é evidente que assim é para o Estado de uma forma indiscutível, também o é para as outras organizações. A empresa controla não somente todo aparelho de sua produção, que compreende seres e coisas, mas também controla de uma forma mais indireta, os seres e as coisas por intermédio de seu ou e seus mercados. Quando entra em concorrência com outras empresas, coloca na balança tudo ou parte de seus trunfos (RAFFESTIN, 1993, p.59).

Dado o exposto acima destaca-se que cada organização visa sobressair com

relação as demais de acordo com seus trunfos. Neste ponto o poder político surge como

fruto da competição e até mesmo como uma forma de contê-la (RAFFESTIN, 1993).

2.2 Democracia Participativa, Participação Social e Participação Popular

A democracia participativa emerge no Brasil em decorrência do processo de

abertura política promovida entre o final dos anos 70 e início dos anos 80, com grande

atuação de movimentos sociais, associações de classe, acadêmicos, dentre outros e que

teve como desfecho a Constituição de 1988.

Tais ações populares tinham como bandeira, a descentralização política,

participação popular, descentralização dos recursos orçamentários, arranjos políticos/

federativos a nível local, dentre outros (FONSECA, 2007). Além do destacado,

acrescenta-se que a Constituição de 1988 estabelece ainda mecanismos de participação

popular como: Plebiscito, Referendo e a Iniciativa Popular.

Page 28: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

28

A constituição de 1988 dentre outros preceitos traz a tona a questão da gestão

democrática, ao deixar explícito no parágrafo único do artigo 1º: “todo o poder emana do

povo, que exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”. Nesse sentido,

Gadotti (2014) aponta que a referida Constituição cria uma nova ordem jurídica no país

baseada na democracia representativa (de modo indireto) e a democracia participativa

(de modo direto) entendendo a participação social e popular como um principio atrelado à

democracia.

Contudo, deve-se aqui fazer uma ressalva aos termos participação social e

participação popular, pois muito embora os dois termos reconheçam a participação da

sociedade, o primeiro termo refere-se de a atuação de forma organizada através da sua

inserção nas conferências, conselhos, comitês, ouvidorias, audiências públicas e tem

como fim o controle, a fiscalização, o acompanhamento, assim como a implementação de

políticas públicas, através do diálogo entre o governo e a sociedade civil (GADOTTI,

2014). O segundo termo está ligado à organização e atuação independente e autônoma

de grupos, movimentos sociais e classe trabalhadora, se constitui uma forma mais direta

de participação, através de manifestações, ocupações, muito embora haja espaço para o

diálogo com o governo (GADOTTI, 2014).

No que se diz respeito à participação social, deve-se ainda ressaltar ainda que a

Constituição de 1988 prevê ainda o livre acesso a informação conforme o exposto no

inciso XXXIIII do artigo 5º:

“todos têm o direito de receber dos órgãos públicos informações de

interesse pessoal ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestados

no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo

sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”

(BRASIL, 1988).

Em complementaridade ao exposto acima, a lei nº. 12.527 de 18 de novembro de

2011, conhecida como lei de acesso a informação, traz as disposições sobre os

procedimentos realizados pela União a fim de garantir o livre acesso das informações

assim como os órgãos e organismos submetidos a esta lei, como descrito no parágrafo

único do artigo 1º:

Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei: I- os órgãos públicos integrantes da administração direta dos Poderes Executivo, Legislativo, incluindo as Cortes de Contas, e Judiciário e do Ministério Público; II- as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

Contudo, quando nos referimos à participação social e democracia deve-se ter em

mente que:

Page 29: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

29

A existência de diversos canais e mecanismos que permitem a participação social, embora seja um requisito fundamental para uma governança democrática, não necessariamente induz uma maior qualidade na participação. Um ponto fundamental destacado no estudo desenvolvido por Mark Evans (2012) é identificar com mais precisão os resultados pretendidos com determinado processo de participação, ou seja, qual instrumento ou metodologia participativa é mais adequada a um determinado processo decisório ou processo político (BRASIL, p.18, 2013).

Este fato fica evidenciado porque nem todos os atores sociais dispõe de meios

para se obter tais informações, em muitos dos casos há um grande desconhecimento a

respeito desta temática. Tal apontamento afeta diretamente o processo de participação

social.

Outro problema que merece consideração refere-se ao apontado por Fonseca

(2007) diz respeito à participação social e popular a níveis locais, em virtude das raízes

oligárquicas e patrimonialistas que vigoraram no país:

Quanto ao pensamento social brasileiro, é notável sua desconfiança em relação ao poder local. A sociologia e a historiografia desenvolvidas por intelectuais como Oliveira Viana (1938), Victor Nunes Leal (1975) e Maria Isaura Pereira de Queiroz (1967, 1978), apenas para citar alguns, comprovaram essa visão extremamente negativa quanto ao localismo e consequentemente, à democracia e à participação popular. A base do argumento destes autores tem os seguintes componentes: no Brasil o universo local foi essencialmente dominado pelas oligarquias, pela escravidão e pelo latifúndio. Este teria essencialmente “simplificado as relações sociais” (LEAL, 1975) na medida em que a própria conformação de classes não expressava nem os interesses conflitantes – dado o ethos da “ família ampliada”, tema clássico de Gilberto Freyre (2003), cujos desdobramentos seriam justamente o patrimonialismo e a não constituição de uma esfera pública -, nem havia um Estado central interessado e capaz de combater as injustiças e os mandões locais, expressões do grande latifúndio (FONSECA, 2007, p.246).

Além do fato mencionado acima, deve-se destacar também o papel das alianças

regionais de classe e sua articulação sobre um dado território, conforme aponta Harvey

(2005, p.151):

O que tentarei mostrar é que as alianças regionais de classes, vinculadas vagamente num território e organizadas habitualmente (ainda não exclusiva ou unicamente) pelo Estado, são uma resposta necessária e inevitável à necessidade de defender valores já materializados e a coerência regional estruturada já alcançada. A aliança também pode promover condições favoráveis à acumulação adicional nessa região. No entanto, também mostrarei que tais alianças se destinam a ser instáveis. Elas não são capazes de conter a criação das forças fundamentais desencadeadoras de crises, pois internalizam divisões de classe e faccionárias potencialmente explosivas. Seus limites são muito porosos e sujeitos à alteração.

Ressalta-se ainda de acordo com o referido autor que alguns segmentos do

capital a partir dos ativos controlados e dos privilégios dispostos, tendem a possuir uma

vantagem maior sobre os demais grupos nas alianças regionais, como por exemplo, os

proprietários de terra, os incorporadores, os empreiteiros, etc. Já os setores que não

Page 30: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

30

dispõem de capital móvel ou devido a outras restrições, tenderão a apoiar alguma aliança

já consolidada.

Contudo, nota-se não obstante, que no período atual dado o processo de abertura

econômica e internacionalização da economia, que as grandes corporações visando

obter vantagens competitivas, têm pautado sua estratégia de ação em torno dos

governos locais, sejam através de Parcerias Público Privadas, ou até mesmo pela

formação de alianças nas quais muitas vezes o governo local tenha apenas um papel de

propulsor de políticas públicas destinadas ao capital, agindo como um mediador,

conforme descrito por Harvey (2005, p.171).

Também é importante especificar quem está sendo empreendedor e a respeito de que?. Desejo insistir aqui que “governança urbana” significa muito mais do que “governo” urbano. É desastroso que grande parte da literatura (na Grã –Bretanha, especialmente) se concentre tanto na questão do “governo” urbano, quando um poder real de organização da vida urbana muitas vezes está em outra parte, ou pelo menos, numa coalizão de forças mais ampla, em que o governo e a administração urbana desempenham apenas papel facilitador e coordenador. O poder de organizar o espaço se origina em um conjunto de forças mobilizado por diversos agentes sociais. É um processo conflituoso, ainda mais nos espaços ecológicos de densidade social muito diversificada.

Dado os fatos explicitados acima, destaca-se que o processo de participação

social ou popular deve-se estar resguardado e bem consolidado por uma grande massa

de atores sociais (movimentos sociais, sindicatos, ONGs, etc.), visando obter uma

unidade, de modo a superar os valores arcaicos da sociedade brasileira, assim como

contrabalancear as regras impostas pelos grandes agentes econômicos em conluio com

os órgãos e organismos públicos.

CAPÍTULO 3: GOVERNANÇA DAS ÁGUAS

3.1 Origem do termo Governança

O termo governança é muito utilizado por entidades do setor público e privado,

voltados para a administração e relacionamento, seja com clientes, usuários e até mesmo

cidadãos. Este termo foi utilizado em vários momentos da história tais como os regimes

especiais de governo em províncias anexadas que ocorreu na França e Inglaterra no

século XIV. Já no século XX foi utilizado associado a gestão empresarial baseada nas

relações de poder entre os acionistas. Na década de 1970 este termo foi disseminado na

Europa ocidental e Estados Unidos atreladas a governabilidade visando à capacidade de

gestão do Estado em relação aos cidadãos. (PIRES, 2011) O termo governança aparece

também em documentos de entidades e organismos internacionais tais como, a

Organização das Nações Unidas, com o Programa das Nações Unidas para o

Page 31: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

31

Desenvolvimento (PNUMA), Banco Mundial na década de 1980 e 1990 relacionado à

capacidade administrativa e financeira do estado.

O Banco Mundial, em seu documento denominado Governance and Development

de 1992 define a governança como: “como a maneira pela qual o poder é exercido na

administração dos recursos econômicos e sociais de um país para o desenvolvimento”

(BANCO MUNDIAL, 1992, p.1). Nesse sentido ela é entendida como a forma através da

qual o poder é exercido na administração dos recursos econômicos e sociais de um dado

país.

Gonçalves (s/d) ressalta que é preciso tomar cuidado ao se utilizar este termo, de

modo a não ocasionar um erro conceitual. Dessa maneira o autor aponta que a

governabilidade está relacionada à dimensão estatal do exercício do poder, refere-se ao

sistema político, a forma de governo e as relações de poder e a intermediação de

interesses. Já a governança diz respeito aos padrões de articulação e cooperação entre

os atores sociais e políticos, além dos arranjos institucionais que coordenam as

transações dentro do sistema político.

A Governança possui várias escalas e níveis de atuação, podendo ser local,

regional e global. Ela também pode possuir várias esferas de atuação podendo ser

denominada de Governança Corporativa, Governança Política e Governança Territorial

(Figura 2).

Page 32: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

32

Figura 2: Modalidades de Governança

Fonte: Pires 2011. Adaptado por Vallim, 2015.

Dado o exposto na figura acima e de acordo com os objetivos e orientações deste

trabalho, entende-se aqui que a modalidade de governança que mais se relaciona com a

gestão dos recursos hídricos trata-se da governança territorial. A governança territorial

nada mais é que uma modalidade da governança política, pois ela considera as

articulações e interdependências entre atores sociais na definição de formas de

coordenação horizontal e vertical da ação pública que se passam sobre um determinado

território. Esta modalidade de governança surgiu na França em meados da década de

1990 (PIRES, 2011).

A governança das águas no Brasil é institucionalizada através da criação dos

Comitês de Bacias Hidrográficas e a Agência Nacional de Águas, através da lei nº 9.433

de 08 de janeiro de 1997.

Page 33: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

33

Os Comitês de bacias hidrográficas constituem uma forma de gestão integrada e

descentralizada que englobam diversos atores e setores que compõe ou estão inseridos

na bacia.

3.2 Governança das Águas: Princípios Fundamentais

A gestão das águas efetivada no Brasil até final do século XX era feita de forma

centralizada e setorial. A principal preocupação da época era o abastecimento público, a

qualidade da água para o suprimento, a população humana, a pesca e a navegação.

Nesse sentido, cada uso da água tinha uma determinada administração gerida por um

Ministério ou Secretaria (TUNDISI, 2013).

Até a formulação da Constituição de 1824, a água e demais recursos naturais

situados no território brasileiro eram regidos através das ordenações portuguesas, como

as Ordenações Afonsinas, Ordenações Manuelinas e Ordenações Filipinas (MELO et. al,

2012). De fato a única ordenação que traz alguma menção sobre a água trata-se da

ordenação Filipina de 1603, que no parágrafo 7º do título LXXXVIII, regida durante o

domínio espanhol, tratava exclusivamente da preocupação com a poluição das águas,

voltadas para a produção de alimentos (DARONCO, 2013).

Com a Independência da colônia em 1822 e a promulgação da Constituição de

1824, a água passa a ser de domínio nacional, contudo não havia neste período grandes

menções a esfera ambiental, dando foco somente a pesca, navegação, e o título de

propriedade das águas subterrâneas, vinculados ao proprietário do solo (DARONCO,

2013).

O código de águas de 1934 foi à primeira lei que fazia menção a utilização das

águas no Brasil, sendo considerado, o marco no gerenciamento de recursos hídricos no

Brasil. Nesse sentido (BARTH; POMPEU, 1987, p.56 apud TOTTI, 2008, p.32) apontam

que:

“[...] é considerado, mundialmente, como uma das mais completas entre as leis de águas já produzidas. [...], por exemplo, o princípio do “poluidor pagador”, introduzido na Europa como novidade está previsto nos arts. 111 e 112 do Código. Entretanto, [...] nesse meio século e vigência do Código das Águas muitas de suas disposições que deveriam ter sido tratadas por leis especiais ou regulamentos não o foram e, consequentemente deixariam de ser aplicadas”.

O referido código possui 205 artigos, que de maneira inovadora, trazia menções

importantes sobre a questão dos usos da água. Todavia como aponta Totti (2008) o

código tinha suas preocupações voltadas para os usos industriais e para a produção de

energia, deixando de lado as questões atinentes à preservação e conservação.

Acrescenta-se ainda que o código de 1934 não tratava a água como bem de domínio

público, conforme no disposto nos artigos 1º, 2º, 6º e 8º do referido Código, fazendo

distinções entre águas públicas e particulares. As águas públicas poderiam ser

Page 34: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

34

subdividas em dominicais, comuns e de uso comum, sendo que a primeira refere-se às

áreas integrantes do patrimônio do poder público; as comuns seriam as das correntes

não navegáveis ou flutuáveis. Já as de uso comum seriam as que possuíam um trecho

que fosse flutuável ou navegável. As águas particulares, por sua vez, estavam

localizadas em terrenos particulares, desde que não fossem consideradas águas de

domínio público, comum ou de uso comum (DARONCO, 2013).

Ao que se referem às águas públicas, estas poderiam ser de posse da União,

estados ou municípios, de acordo com seus limites territoriais, conforme o disposto no

artigo 29.

Art. 29. As águas públicas de uso comum, bem como o seu álveo, pertencem: I-A União: a)Quando marítimas; b)Quando situadas no Território do Acre, ou em qualquer outro território, que a União venha a adquirir, enquanto o mesmo não se constituir em Estado, ou for incorporado a algum Estado. c)Quando servem de limites da República com as nações vizinhas ou se estendam a território estrangeiro; d)Quando situadas na zona de 100 quilômetros contigua aos limites da República com estas nações; e)Quando sirvam de limites entre dois ou mais Estados; f)Quando percorram parte dos territórios de dois ou mais Estados. II-Aos Estados: a)Quando sirvam de limites a dois ou mais municípios; b)Quando percorram parte dos territórios de dois ou mais municípios. III-Aos municípios: a)Quando exclusivamente, situados em seus territórios, respeitadas as restrições que possam ser impostas pela legislação dos Estados.

Contudo há de se ressaltar que o código de Águas de 1934, emerge durante o

primeiro governo de Getúlio Vargas, onde tinha como principais metas criar estruturas e

entidades voltadas para modernização da administração federal, assim como as bases

para o processo de industrialização que até então era incipiente (TOTTI, 2008). Dentro

deste contexto surgem algumas Instituições voltadas para organizar o serviço e

racionalizar o serviço público como o Departamento Administrativo de Serviço Público

(DASP), órgão criado em 1938 e o Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica

(CNAEE), entidade vinculada a Presidência da República, criado em 1939, que tinha uma

importância estratégica, dado o contexto da época.

Na década de 1940 foi elaborada uma nova Constituição onde manteve-se o

domínio da União sobre os recursos hídricos, permitindo aos estados legislar sobre as

águas em caráter supletivo (DARONCO, 2013).

A partir de meados da década de 1960 e 1970, os recursos hídricos voltam a cena

no debate em torno da questão ambiental, devido aos avanços do processo de

industrialização e urbanização ocorridos na segunda metade do século XX. Dentro desta

Page 35: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

35

perspectiva o debate em torno da preservação ambiental entra em cena com a efetivação

de várias conferências e documentos sobre o meio ambiente.

Em 1968, foi fundado o Clube de Roma, organização que reunia cientistas,

economistas, políticos e chefes de estados. O principal objetivo do grupo era analisar o

cenário mundial em torno do processo de desenvolvimento e a exploração dos recursos

naturais, permitindo assim traçar cenários e soluções para as décadas seguintes. Como

desfecho deste processo foi apresentado na Conferência Mundial sobre o Meio

Ambiente, realizado pela Organização das Nações Unidas na cidade sueca de Estocolmo

em 1972, um documento denominado Limites do Crescimento. Este documento tratava-

se de um relatório que chamava a atenção para alguns fatores que poderiam culminar em

uma crise mundial, dentre estes fatores merecem destaque, o crescimento populacional

acelerado, a crise energética, a crescente demanda por alimentos, a poluição e o

esgotamento dos recursos naturais (OLIVEIRA, 2012).

Ao que se refere aos recursos hídricos destaca-se a realização da Conferência

das Nações Unidas sobre a água na cidade de Mar Del Plata em 1977. Esta conferência

foi de fato o primeiro evento global a tratar da água, tendo como principais preocupações

as questões químicas, biológicas, sanitárias que culminaram no ano de 1980 na

declaração da Década Internacional do Fornecimento da Água Potável e do Saneamento

(VARGAS, 2000). Estas questões voltaram à cena durante a realização da Conferência

das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cnumad), realizada na

cidade do Rio de Janeiro no ano de 1992. Dentre os principais desdobramentos da

referida conferencia destaca-se a elaboração da Agenda 21, que no seu capítulo 18

aborda questões sobre a proteção da qualidade e abastecimento, através da utilização de

critérios integrados no desenvolvimento, uso e manejo (BOSCARDIN E GARCIAS, 2007).

Estes acontecimentos citados acima influenciaram diretamente a política

ambiental brasileira que ganhou capítulo especial na constituição de 1988 (Capítulo VI).

Ao que se refere às águas, com o advento da Constituição de 1988, traz uma inovação

em relação aos documentos anteriores ao extinguir as águas particulares, tornando as

água um bem de domínio público, neste sentido, são incorporadas as águas

subterrâneas que para serem exploradas necessitariam de outorga. Todavia, a principal

inovação desta constituição refere-se à repartição sobre a legislação das águas, além de

prever a criação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos

(SINGREH), disposto no parágrafo XIX do artigo 21 da referida constituição.

Com o processo descentralizador ao que se refere à legislação verifica-se que

após a constituição, vários estados efetivaram sua política de recursos hídricos (Figura

3), com destaque para os estados de São Paulo (lei 7.663 de 30/12/1991); Ceará (lei

11.996 de 24/07/1992); Distrito Federal (lei 512 de 28/07/1993); Santa Catarina (lei 9.748

Page 36: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

36

de 30/11/1994); Rio Grande do Sul (lei 10.350 de 30/12/1994); Bahia (lei 6.855 de

12/05/1995); Rio Grande do Norte (lei 6.908 de 01/07/1996) e Paraíba (lei 6.038 de

31/07/1996) (ASSUNÇÂO E BURSZTYN, s/d).

Page 37: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

37

Figura 3: Avanço das Políticas Estaduais de Recursos Hídricos.

Fonte: Melo et. al (2012)

Adaptado por: Vallim (2015).

Page 38: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

38

As leis estaduais citadas acima serviram de base para a promulgação da lei

federal nº. 9.433 de 8 janeiro de 1997, conhecida como lei das águas. Esta lei além de

criar a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos (art. 21 da Constituição de 1988) e deu as bases

para a criação da Agência Nacional de Águas – ANA (lei nº. 9.984 de 17 de julho de

2000).

Ademais, de acordo com o artigo 1º da lei 9.433/97 a bacia hidrográfica é a

unidade territorial para a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos,

assim como o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. A lei ainda

tem como fundamento a gestão descentralizada e participação do poder público,

usuários e comunidade em geral.

No capítulo 3 da referida lei, traz noções importantes sobre a regulação e

funcionamento dos comitês de bacias hidrográficas conforme o disposto no artigo 37º.

Art.37. Os Comitês de Bacia Hidrográfica terão como área de atuação:

I- A totalidade de uma bacia hidrográfica; II- Sub-bacia hidrográfica de tributário do curso e água principal da

bacia, ou de tributário desse tributário; ou III- Grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas;

Parágrafo único. A instituição de Comitês de Bacia Hidrográfica em rios de domínio da União será efetivada por ato do Presidente da República (BRASIL, 1997).

Dentre as principais competências dos comitês, destacam-se:

Promover o debate relacionado às questões sobre os recursos hídricos;

Julgar em primeira instância administrativa os conflitos relacionados às

recursos hídricos;

Aprovar e acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da Bacia,

assim como sugerir providências para o comprimento de suas metas;

Estabelecer mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e sugerir

os valores a serem cobrados;

Estabelecer critérios e promover o rateio de custos das obras e de uso múltiplo

de interesse comum ou coletivo.

A lei 9.433/97 ainda traz importantes noções sobre a representatividade dos Comitês:

Art. 39. Os Comitês de Bacia Hidrográfica são compostos por representantes: I- Da União; II-Dos Estados e do Distrito Federal cujos territórios se situem, ainda que parcialmente, em suas respectivas áreas de atuação; III-Dos Municípios situados, no todo ou em parte, em sua área de atuação; IV-Dos usuários das águas de sua área de atuação; V- Das entidades civis de recursos hídricos com atuação comprovada na bacia.

Page 39: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

39

§1º O número de representantes de cada setor mencionado neste artigo, bem como os critérios para sua indicação, serão estabelecidos nos regimentos dos comitês, limitada a representação dos poderes executivos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios à metade do total de membros [...]. [...] §4º A participação da União nos Comitês de Bacia Hidrográfica com área de atuação restrita a bacia de rios sob domínio estadual, dar-se á na forma estabelecida nos respectivos regimentos (BRASIL, 1997).

A lei estabelece ainda que os comitês de Bacia Hidrográfica serão dirigidos por

um presidente e um secretário, eleitos dentre seus membros.

Com o advento da lei 9.433/97 os estados que já possuem seus respectivos

comitês de bacia hidrográfica devem seguir as regulamentações descritas acima.

Nota-se não obstante que antes da promulgação da referida lei, apenas 30% dos

estados possuíam legislação e plano de recursos hídricos, os demais estados (70%)

só efetivaram a legislação e o plano de recursos hídricos após a promulgação da lei

federal (Figura 4).

Figura 4: Efetivação das leis Estaduais de Recursos Hídricos

Fonte: Assunção e Bursztyn (s/d). Adaptado por Vallim 2015.

Muito embora, o período compreendido entre a efetivação do primeiro plano

estadual de recursos hídricos (1991) até a promulgação da lei 9.433/97 tenha

abarcado apenas 30% dos estados brasileiros, os documentos legais implementados

neste período deram as bases para a formulação da Política Nacional de Recursos

Hídricos. Neste sentido, destaca-se o pioneirismo do estado de São Paulo na

efetivação de sua política estadual.

0

1

2

3

4

5

6

7

1990 1995 2000 2005 2010

Qu

an

tid

ad

e d

e P

lan

os

Ano:

Estados

Page 40: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

40

CAPÍTULO 4: POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS

A Política Estadual de Recursos Hídricos, promulgada através da lei nº 7663/91

é sem dúvida um dos mais importantes documentos sobre o gerenciamento de

recursos hídricos, servindo de base para a efetivação de políticas públicas de outros

estados.

A sua implantação, estrutura e gerenciamento seguiram os modelos

internacionais, com destaque para o modelo francês muito difundido

internacionalmente (MAGYAR E MACHADO, 1993).

A Política estadual de recursos hídricos foi elaborada visando, sobretudo

enfrentar os problemas de escassez de água vivenciados na década de 1980 na

cidade de São Paulo que à época já figura nas manchetes de jornais (Figura 5).

Figura 5: Manchetes do Jornal Estado de São Paulo sobre a falta de água na

cidade de São Paulo. A esquerda matéria veiculada no dia 31/08/1969 e a direita

matéria veiculada no dia 21/11/1985.

Fonte: Acervo Estadão s/d.

Na década de 1980, a região metropolitana de São Paulo possuía uma

população de 12.549.856 de habitantes (SEADE 2015), o que gerava muita pressão

em torno dos recursos hídricos, principalmente para atender a demanda da indústria e

Page 41: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

41

residencial. Dentro deste contexto, no ano de 1987, o governo de estado de São Paulo

cria o Conselho Estadual de Recursos Hídricos e o Comitê Organizador do Plano

Estadual de Recursos Hídricos, entidades ligadas ao governo do estado. Todavia

estas entidades estavam diretamente ligadas ao governo, possuindo um caráter

centralizador e sem nenhum tipo de participação popular (BORBA E PORTO, 2010).

No ano de 1989, durante a efetivação da Constituição Paulista, a seção II do IV

capítulo sobre o Meio ambiente trazia uma menção sobre a criação de um sistema

integrado de gerenciamento de recursos hídricos (BORBA; PORTO, 2010) disposta no

artigo 205 da referida constituição.

Art. 205. O Estado instituirá, por lei, sistema integrado de gerenciamento dos recursos hídricos, congregando órgãos estaduais e municipais e a sociedade civil, e assegurará meios financeiros e institucionais para: a utilização racional das água superficiais e subterrâneas e sua prioridade para abastecimento às populações; o aproveitamento múltiplo dos recursos hídricos e o rateio dos custos das respectivas obras, na forma da lei; a proteção das água contra ações que possam comprometer o seu uso atual e futuro; a defesa contra eventos críticos, que ofereçam riscos à saúde e segurança públicas e prejuízos econômicos ou sociais; a celebração de convênios com os Municípios, para a gestão, por estes, das águas de interesse exclusivamente local; a gestão descentralizada, participativa e integrada em relação aos demais recursos naturais e às peculiaridades da respectiva bacia hidrográfica; o desenvolvimento do transporte hidroviário e seu aproveitamento econômico. (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1989)

Nota-se principalmente no disposto no parágrafo VII do referido artigo a gestão

integrada e participativa, englobando assim diversos atores no processo de tomada de

decisão. Este processo é fruto dos desdobramentos da Constituição Federal de 1988

(BORBA E PORTO, 2010) que contribuiu de maneira significativa para o processo

descentralização de diversas entidades governamentais.

Dessa forma, no ano de 1991, o governo do estado de São Paulo, através da

lei estadual nº. 7.663 de 30 de dezembro de 1991, estabelece as normas e diretrizes

para a implementação do Plano Estadual de Recursos Hídricos, assim como o

Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Esta lei traz no seu artigo

n. 3 os seguintes princípios sobre o gerenciamento de recursos hídricos.

Art. 3º. A Política Estadual de Recursos Hídricos atenderá aos seguintes princípios: Gerenciamento descentralizado, participativo e integrado, sem dissociação dos aspectos quantitativos e das fases meteórica, superficial e subterrânea do ciclo hidrológico; Adoção da bacia hidrográfica como unidade físico-territorial de planejamento e gerenciamento; Reconhecimento do recurso hídrico como um bem público, de valor econômico, cuja utilização deve ser cobrada, observados os aspectos

Page 42: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

42

de quantidade, qualidade e as peculiaridades das bacias hidrográficas;

Rateio do custo das obras de aproveitamento múltiplo de interesse comum ou coletivo; Combate e prevenção das causas e dos efeitos adversos da poluição, das inundações, das estiagens, da erosão do solo e do assoreamento dos corpos d’ água. Compensação aos municípios afetados por áreas inundadas resultantes da implantação de reservatório e por restrições impostas pelas leis de proteção de recursos hídricos; Compatibilização do gerenciamento os recursos hídricos com o desenvolvimento regional e com a proteção do meio ambiente. (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1991).

Ao que se refere à Gestão dos recursos hídricos no estado de São Paulo, a lei

7.663/91 estabelece que o Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado é o

órgão responsável por efetivar a gestão destes recursos.

A referida lei estabelece ainda, a divisão hidrográfica do estado como parte

integrante do Plano Estadual de Recursos Hídricos (artigo 20) de modo a garantir o

gerenciamento descentralizado. Além disso, há de se ressaltar a criação de dois

órgãos colegiados, consultivos e deliberativos a saber: Conselho Estadual de

Recursos Hídricos – CRH e Comitês de Bacias Hidrográficas (artigo 22) e o Fundo

Estadual de Recursos Hídricos (artigo 35) de modo a assegurar o aporte financeiro

para promover a Política Estadual e Recursos Hídricos.

Ao que se refere aos Comitês de Bacias Hidrográficas, o artigo 26, define suas

competências, entre as quais destacam-se:

Aprovar a proposta da bacia hidrográfica, para integrar o Plano Estadual de Recursos Hídricos e suas atualizações; Aprovar a proposta de programas anuais e plurianuais de aplicação de recursos financeiros em serviços e obras de interesse para o gerenciamento dos recursos hídricos em particular os referidos no Artigo 4º desta lei, quando relacionado com recursos hídricos; Aprovar a proposta do plano de utilização, conservação, proteção e recuperação dos recursos hídricos da bacia hidrográfica, em especial o enquadramento dos corpos d’ água em classes de uso preponderantes, com apoio de audiências públicas; Promover entendimento, cooperação e eventual conciliação entre os usuários dos recursos hídricos; Promover estudos, divulgação e debates, dos programas prioritários de serviços e obras a serem realizados no interesse da coletividade; Apreciar, até 31 de março de cada ano, relatório sobre “A Situação dos Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica”.

No artigo 24 da referida lei, estão dispostas as regras sobre o funcionamento dos

Comitês, assim como a participação de seus representantes:

Artigo 24. Os Comitês de Bacias Hidrográficas assegurada a participação paritária dos Municípios em relação ao Estado serão compostos por: Representantes de Estado ou de órgãos e entidades da administração direta e indireta cujas atividades se relacionem com o gerenciamento ou uso de recursos hídricos, proteção ao meio

Page 43: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

43

ambiente, planejamento estratégico e gestão financeira do Estado, com atuação na bacia hidrográfica correspondente;

Representantes dos municípios contidos na bacia hidrográfica correspondente; Representantes de entidades da sociedade civil, sediadas na bacia hidrográfica, respeitado o limite máximo de um terço do número total de votos, por: a)universidades, institutos de ensino superior e entidades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico; b) usuários das águas, respeitados por entidades associativas; c) associações especializadas em recursos hídricos, entidades de classe e associações comunitárias, e outras associações não governamentais. §1º. -Os Comitês de Bacias Hidrográficas serão presididos por um de seus membros, eleitos por seus pares. §2º. -As reuniões dos Comitês de Bacias Hidrográficas serão públicas. §3º. -Os representantes dos municípios serão escolhidos em reunião plenária de prefeitos ou de seus representantes. §4º. - Terão direito à voz nas reuniões dos Comitês de Bacias Hidrográficas representantes credenciados pelos Poderes Executivo e Legislativo dos Municípios que compõem a respectiva bacia hidrográfica. §5º. - Os Comitês de Bacias Hidrográficas poderão criar Câmaras Técnicas, de caráter consultivo, para o tratamento de questões específicas de interesse para o gerenciamento dos recursos hídricos.

A divisão hidrográfica do estado de São Paulo (Figura 6) conforme mencionado

acima, está disposta no artigo 4º da lei nº. 9.034 de 27 de dezembro de 1994, que

além de dividir o estado em 22 Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos

(UGRHI), aprova o Plano Estadual de Recursos Hídricos para o período compreendido

entre 1994 a 1995.

Page 44: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

44

Figura 6: Mapa de Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo.

Fonte: Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, Relatório de Síntese.

Page 45: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

45

A divisão hidrográfica do estado elaborada a partir da promulgação da lei nº.

9.034/94 é responsável por dar o suporte para a efetivação de políticas públicas,

assim como a efetivação dos referidos Comitês de Bacia (Quadro 5).

O primeiro Comitê de bacia implantado foi o dos rios Piracicaba, Capivari e

Jundiaí (UGRHI-5) sendo institucionalizado pela lei nº. 7.663/91, sendo implementado

no ano de 1993, um ano antes da elaboração da divisão hidrográfica do estado.

Quadro 5: Criação dos Comitês de Bacia Hidrográfica no

Estado de São Paulo

COMITÊ UGRHI ANO DE CRIAÇÃO

INSTRUMENTO DE CRIAÇÃO

Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) 5 1991 7.663/91 Mogi-Guaçu 9 1991 7.663/91 Litoral Norte 3 1991 7.663/91

Baixo Pardo/Grande 12 1991 7.663/91 Pardo 4 1991 7.663/91

Sapucaí-Mirim/Grande 8 1991 7.663/91 Aguapeí 20 1991 7.663/91

Peixe 21 7.663/91 São José dos Dourados 18 1991 7.663/91

Alto Tietê 6 1991 7.663/91 Tietê/ Jacaré 13 1991 7.663/91

Ribeira de Iguape/Litoral Sul 11 1991 7.663/91 Alto Paranapanema 14 1991 7.663/91

Pontal do Paranapanema 22 1991 7.663/91 Baixada Santista 7 1994 9.034/94

Baixo Tietê 19 1994 7.663/91 Paraíba do Sul 2 1994 9.034/94

Médio Paranapanema 17 1994 7.663/91 Sorocaba/ Médio Tietê 10 1996 7.663/91

Tietê/ Batalha 16 1996 7.663/91 Turvo/ Grande 15 1997 7.663/91

Serra da Mantiqueira 1 2001 7.663/91

Fonte: CBH, s/d.

O Comitê do Médio Paranapanema, coforme descrito o quadro 3, foi

implementado no ano de 1994, tendo como instrumento de criação a lei nº.7.663/91

compreendendo a UGRHI-17..

CAPÍTULO 5: O RIO PARANAPANEMA E A FORMAÇÃO DOS COMITÊS DE

BACIA.

O rio Paranapanema é principal rio da UGRHI-17. Ele é o limite natural entre os

estados de São Paulo e Paraná, englobando as áreas do sudoeste do estado de São

Paulo e Norte do estado do Paraná.

Page 46: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

46

Suas nascentes estão situadas na serra Agudos Grande no um município de

Capão Bonito-SP. O rio Paranapanema corre no sentido leste-oeste e possui uma

extensão de 929 km até desaguar suas águas no rio Paraná.

O rio Paranapanema é subdividido em sete unidades hidrográficas compostas

por Comitês de Bacias (Figura 7), sendo 3 no estado de São Paulo (Alto

Paranapanema, Médio Paranapanema e Pontal do Paranapanema) e 4 no estado do

Paraná (Alto Tibagi, Baixo Tibagi, Piraponema e Norte Pioneiro). O rio é integrante da

bacia do Paraná (Figura 8). Os principais rios que compõe a bacia do rio

Paranapanema são: Pardo, Turvo, Capivara e Novo, do lado paulista e Cinzas, Pirapó,

Tibagi e Itararé do lado paranaense.

Page 47: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

47

Figura 7: Bacia Hidrográfica do rio Paranapanema

Fonte: ANA, s/d.

Page 48: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

48

Figura 8: Região Hidrográfica do Paraná

Fonte: http://menrvatemplodosaber.blogspot.com.br

No que se referem às atividades econômicas, cabe aqui mencionar que o rio

desempenhou papel importante, sendo via das entradas dos bandeirantes no século

XVI e até mesmo de expedições desenvolvidas pela Comissão Geográfica e

Geológica do Estado de São Paulo ocorridas no século XIX visando expandir as áreas

destinadas a prática da cafeicultura, além da expansão das ferrovias pelo estado. As

atividades econômicas mais importantes são, a agropecuária, a indústria sucro-

alcooleira e produção de eletricidade. Ao que se refere à produção de eletricidade

destaca-se que o rio Paranapanema possui ao longo de seu curso oito Usinas

Hidrelétricas (Figura 9) com uma potência estimada 2.308 MW (SOARES et. al. s/d).

Page 49: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

49

Figura 9: Usinas Hidrelétricas Instaladas no rio Paranapanema

Fonte: Soares et. al. s/d.

As principais cidades que compõe a bacia do rio Paranapanema são: Assis,

Botucatu, Marília e Ourinhos, no estado de São Paulo e Londrina, Maringá e Ponta

Grossa no estado do Paraná (Tabela 1).

Tabela 1: Principais cidades que compõem a bacia do rio Paranapanema.

Município Estado Unidade Hidrográfica

População Censo IBGE 2010

Assis SP Médio Paranapanema

95.144

Botucatu SP Médio Paranapanema

127.28

Marília SP Médio Paranapanema

216.745

Ourinhos SP Médio Paranapanema

103.035

Londrina PR Tibagi 506.701

Maringá PR Pirapó 357.077

Ponta Grossa PR Tibagi 311.611

Fonte: IBGE Cidades. Organizado por Vallim, 2016.

O referido rio engloba ainda importantes eixos rodoviários compostos por

rodovias estaduais e federais: SP-270 (Raposo Tavares), BR-153, BR- 369 e BR-376

(Figura 10), além de uma malha ferroviária que corta importantes cidades da região

como Ourinhos, Londrina, Maringá, Ponta Grossa e são responsáveis por escoar a

produção até o porto de Paranaguá no estado do Paraná. Ao que se refere os

principais ramais rodoviários, destacam-se: Itararé – Senges (Ligação entre

Itapetininga e Ponta Grossa); Ourinhos – Jacarezinho (Ligação com o norte do

Paraná); Pedrinhas Paulista – Sertanópolis (Ligação entre Assis e Londrina) e

Pirapozinho – Santo Anastácio (Ligação entre Presidente Prudente a Maringá).

Page 50: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

50

Figura 10: Principais Eixos Rodoviários dos Estados de São Paulo e Paraná

Fonte: Vallim, 2016.

Pelo fato do rio compor a fronteira natural entre os estados de São Paulo e

Paraná, seu domínio pertence à União. Deste modo, o governo federal é responsável

por gerir os aspectos quantitativos e qualitativos. Sendo assim em 2010 o Conselho

Nacional de Recursos Hídricos (CRNH) aprovou a criação do Comitê Interestadual do

rio.

No que se diz respeito ao percurso sobre o território paulista, o rio está dividido

em três frações: Alto Paranapanema, Médio Paranapanema e Baixo ou Pontal do

Paranapanema. O Alto Paranapanema compreende o trecho desde a sua nascente

até a confluência com o rio Apiaí - Guaçu, cuja extensão é de 180 km. O Médio

Paranapanema possui 328 km de extensão desde a confluência com o rio Apiaí –

Guaçu até o reservatório de Salto Grande e por fim o Baixo Paranapanema que

corresponde ao trecho desde Salto Grande até sua foz no rio Paraná, cuja extensão é

de 421 km.

Page 51: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

51

5.1 Comitê do Médio Paranapanema

O comitê do Médio Paranapanema, foi fundado no ano de 1996. De acordo

com o Plano Estadual de Recursos Hídricos, a UGRHI-17 é composta por 42

municípios (Figura 11), a saber: Águas de Santa Bárbara, Alvinlândia, Assis, Avaré,

Cabrália Paulista, Campos Novos Paulista, Cândido Mota, Canitar, Cerqueira César,

Chavantes, Cruzália, Duartina, Echaporã, Espírito Santo do Turvo, Fernão, Florínea,

Gália, Iaras, Ibirarema, Itatinga, João Ramalho, Lucianópolis, Lupércio, Maracaí,

Ocauçu, Óleo, Ourinhos, Palmital, Paraguaçu Paulista, Pardinho, Paulistânia,

Pedrinhas Paulista, Platina, Pratânia, Quatá, Rancharia, Ribeirão do Sul, Salto

Grande, Santa Cruz do Rio Pardo, São Pedro do Turvo, Tarumã e Ubirajara.

Page 52: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

52

Figura 11: Municípios que compõe a UGRHI-17

Fonte: CBH-MP, 2011.

Page 53: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

53

Além dos municípios listados acima, outros 13 municípios possuem parte de

seu território localizado na UGRHI-17, a saber: Agudos, Bernardino de Campos,

Borebi, Botucatu, Garça, Iepê, Ipaussu, Lençóis Paulista, Lutécia, Manduri, Marília,

Piratininga e São Manuel.

Localizada na porção centro- oeste do estado, a Unidade de Gerenciamento de

Recursos Hídricos do Médio Paranapanema limita-se com a UGRHI-21 (Aguapeí),

UGRHI-20 (Peixe), UGRHI-16 (Tietê - Batalha), a UGRHI-13 (Tietê-Jacaré) ao norte; a

UGRHI-22 (Pontal do Paranapanema) ao Oeste; a UGRHI-10 (Tietê-Sorocaba) a leste;

e com a UGRHI-14 (Alto Paranapanema) e o Estado do Paraná ao Sul (Plano da

Bacia, 2007).

No que se diz respeito ao Potencial hídrico da UGRHI-17, o Plano da Bacia

destaca o potencial das águas subterrâneas, sendo da ordem de 20,7 m³/s. Nesse

sentido, ao que se refere ao abastecimento público, destaca-se que 57% dos

municípios da unidade de gerenciamento utilizam 100% das águas subterrâneas para

abastecimento (Quadro 6).

Quadro 6: Utilização da Água Subterrânea para abastecimento (%)

Fonte: Plano da Bacia (MP), Org. Vallim, 2015.

Município da UGRHI-17 % de uso das águas

subterrâneas

Município da UGRHI-17 % de uso das águas

subterrâneas

Águas de Santa Bárbara 100 Lucianópolis 100

Alvinlândia 100 Lupércio 0

Assis 0,1 a 25 Maracaí 100

Avaré 25,1 a 50 Ocauçu 100

Cabrália Paulista 0 Óleo 100

Campos Novos Paulista 100 Ourinhos 0,1 a 25

Cândido Mota 100 Palmital 25,1 a 50

Canitar 25,1 a 50 Paraguaçu Paulista 0,1 a 25

Cerqueira César 100 Pardinho 0

Chavantes 75 a 100 Paulistania 100

Cruzália 100 Pedrinhas Paulista 100

Duartina 0 Platina 100

Echaporã 0 Pratânia 75,1 a 99

Espírito Santo do Turvo 100 Quatá 100

Fernão 100 Rancharia 100

Florínea 100 Ribeirão do Sul 100

Gália 100 Salto Grande 75,1 a 99,9

Iaras 100 Santa Cruz do Rio Pardo 0

Ibirarema 75,1 a 99,9 São Pedro do Turvo 50,1 a 75

Itatinga 0 a 25 Tarumã 100

João Ramalho 100 Ubirajara 100

Page 54: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

54

Ao que se referem às águas subterrâneas, estas se situam sob unidades

geológicas compostas por rochas sedimentares do grupo Bauru (60%) e rochas

ígneas basálticas da Formação Serra Geral (40%).

No que se diz respeito as água superficiais, destaca-se que a UGRHI-17

exporta cerca de 0,32 m³/s de água do rio Pardo para o abastecimento público do

município de Botucatu.

As principais demandas de águas (subterrâneas e superficiais) são: irrigação,

industrial e uso urbano.

Ao que se refere à geração de energia, a URGHI-17 como já foi mencionado

neste trabalho o rio Paranapanema possui oito Usinas Hidrelétricas. No Médio

Paranapanema, destaca-se atualmente os projetos de criação de pequenas centrais

hidrelétricas (PCHs), uma vez que o potencial do rio Pardo é de 61.850 kW (CBH-MP),

sendo que três estão em fase de licenciamento ambiental (PCH Figueira Branca, PCH

Santana e PCH Niágara).

Há de se ressaltar ainda que dos 42 municípios da Unidade de Gerenciamento,

8 deles possuem Unidades de Conservação e áreas correlatas, denominadas: APA

Corumbataí, Botucatu e Tejupá; Floresta Estadual de Assis; Estação Experimental de

Assis; Estação Ecológica de Caetetus; Estação Ecológica de Santa Bárbara; Floresta

Estadual de Manduri; Floresta Estadual de Santa Bárbara; Floresta Estadual de Avaré;

APA Rio Batalha (Porção Sul); Horto Florestal Andrada e Silva; Horto Florestal Oliveira

Coutinho;Horto Florestal Palmital e Horto Florestal Sussí (CBH-MP).

Ao que se refere ao Uso e Ocupação do Solo (Gráfico 1), na URGHI-17, há o

predomínio de pastagem (54,9%) e culturas temporárias (soja, milho e cana de

açúcar). Sua cobertura vegetal natural é de apenas 6,2%. Este fato pode ter sido

ocorrido pelas práticas agrícolas, sobretudo o cultivo do café que se desenvolveu na

região entre o final do século XIX e início do século XX, assim como do avanço do

cultivo da cana de açúcar pela UGRHI e a pecuária na atualidade.

Page 55: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

55

Gráfico 1: Uso e Ocupação do Solo na UGRHI-17

Fonte: CBH-MP, 2011. Organização VALLIM, 2015.

No que se refere aos dados socioeconômicos, a população total da UGRHI-17

(Figura 12) é de 664.977 (SEADE). A UGRHI-17 possui uma área territorial de

16.749km² e uma densidade demográfica de 39,70 há/km². Nesta unidade de

Gerenciamento há o predomínio de municípios com população de até 5.000 habitantes

(42,9%). O município menos populoso é Paulistânia com 1.179 habitantes. Em

contrapartida três municípios, Assis, Avaré e Ourinhos possuem 42,6% da população

(PLANO DA BACIA, 2007), sendo que Ourinhos é o município mais populoso

(102.955). A sede do Comitê está situada em Marília, cidade que conta com uma

população de 232.006 habitantes, contudo, o município tem seu território parcialmente

inserido na bacia.

Page 56: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

56

Figura 12: População Total da UGRHI-17

Fonte: SEADE, Org. Vallim, 2015.

De acordo com o relatório do Plano de Bacia, as principais indústrias que

compõem a UGRHI são: sucro-alcooleira, curtumes e alimentícias. O Produto Interno

Bruto-PIB (Figura 13) da Unidade de Gerenciamento é de 12.734,90. A participação do

Page 57: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

57

PIB da URGHI em relação ao Estado de São Paulo é de 1,025%. Já o PIB per capta

(Quadro 7) da Unidade é de 20.064,53 (SEADE).

Figura 13: Produto Interno Bruto dos municípios que compõem a UGRHI-17

Fonte: SEADE, org. Vallim, 2015.

Page 58: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

58

Quadro 7: PIB per capta dos municípios que compõem a UGRHI-17

Fonte: SEADE, Org. Vallim, 2015.

De acordo com o Relatório do Plano de Bacia (MP) os principais problemas

encontrados na UGRHI-17 são: Coleta e Tratamento de esgoto (Figura 14); Resíduos

Sólidos (Figura 15); Erosão e Assoreamento (Figura 16); necessidade de se efetivar

estudos, aquisição e divulgação de dados sobre as águas superficiais e subterrâneas;

Gerenciamento de Reservatórios, Uso múltiplos da água; Educação Ambiental e

Unidades de Conservação Ambiental e por fim a capacitação e gestão participativa.

Município da UGRHI-17 PIB per capta Município da UGRHI-17 PIB per capta

Águas de Santa Bárbara 31.571,70 Lucianópolis 14.439,51

Alvinlândia 12.667,10 Lupércio 13.622,8

Assis 14.280,89 Maracaí 32.201,9

Avaré 15.435,74 Ocauçu 16.192,2

Cabrália Paulista 38.614,43 Óleo 15.745,88

Campos Novos Paulista 18.316,61 Ourinhos 17.293,53

Cândido Mota 16.716,16 Palmital 22.126,32

Canitar 8.607,78 Paraguaçu Paulista 21.869,59

Cerqueira César 23.524,06 Pardinho 23.003,95

Chavantes 21.081,79 Paulistania 16.674,45

Cruzália 29.140,02 Pedrinhas Paulista 28.133,17

Duartina 11.442,82 Platina 19.842,93

Echaporã 14.462,24 Pratânia 13.375,31

Espírito Santo do Turvo 25.399,39 Quatá 40.890,24

Fernão 14.877,55 Rancharia 29.377

Florínea 43.179,77 Ribeirão do Sul 13.823,04

Gália 15.850,51 Salto Grande 14.880,81

Iaras 20.483,46 Santa Cruz do Rio Pardo 22.182,14

Ibirarema 16.884,26 São Pedro do Turvo 14.829,76

Itatinga 14.488,85 Tarumã 30.126,58

João Ramalho 15.054,27 Ubirajara 12.729,23

PIB per capta da UGRHI-17 20.064,53

PIB per capta do Estado de São Paulo 30.264,06

Page 59: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

59

Figura 14: Índice de Tratamento do esgoto coletado nos municípios que

compõem a UGRHI-17.

Fonte: Plano da Bacia (MP), 2011.

Dentre os municípios listados no mapa, nota-se que 48% tratam menos de 50%

dos esgotos coletados. Sendo que 16 deles não efetuam nenhum tratamento.

Destaca-se ainda que este problema está localizado na cabeceira da bacia e na região

onde esta situada as principais nascentes do rio Pardo, no município de Botucatu que

muito embora não pertença a UGRHI-17, despeja seus efluentes nos rios que

pertence a Unidade de Gerenciamento, fato este que pode comprometer a qualidade

das águas.

Page 60: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

60

Figura 15: Situação da Destinação Final dos Resíduos Sólidos dos municípios

que compõem a UGRHI-17.

Fonte: Plano da Bacia (MP), 2011.

Observando o Mapa, nota-se que em 1997, 33 municípios (78%) apresentavam

condições inadequadas de destinação dos resíduos, 8 municípios (19%)

apresentavam situação controlada e somente o município de Cândido Mota

apresentava situação adequada para a destinação dos resíduos. Contudo no ano de

2005 nota-se melhoria no tratamento dos resíduos com apenas 3 municípios (7%) em

condições inadequadas no tratamento dos resíduos, 14 municípios (33%) em

condições controladas e 25 (60%) em condições adequadas de tratamento.

Já no que se diz respeito à erosão e assoreamento (Figura 17), no plano da

bacia, consta 993 ocorrências de erosão, das quais 975 estão situadas em áreas

rurais e 18 em áreas urbanas. Além disso, o relatório aponta ainda 274 casos de

assoreamento de corpos d’ água o que acaba por comprometer a quantidade e

qualidade dos recursos hídricos da UGRHI-17. Os principais municípios susceptíveis

a erosão são: Ocauçu, Lupércio, Lucianópolis, Paraguaçu Paulista, João Ramalho,

Quatá e Rancharia.

Page 61: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

61

Figura 16: Mapa de Susceptibilidade a Erosão nos municípios que compõem a UGRHI-17.

Fonte: Plano da Bacia (MP), 2011.

Page 62: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

62

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os dados obtidos através para esta pesquisa se pautaram com base na leitura

dos documentos oficiais do Comitê de Bacia do Médio Paranapanema, como: O

Estatuto do Comitê, Plano de Bacia e Relatório Zero. Foi efetivado também entrevista

com um docente1 da UNESP, campus de Ourinhos, membro do Comitê, a entrevista

foi realizada no dia 11 de dezembro de 2015. Destaca-se ainda a aplicação de

questionários junto aos membros do Comitê. Contudo ressalta-se que o questionário

fora enviado para todos os membros do comitê, porém, destaca-se que apenas 5

membros responderam o questionário, sendo 3 do segmento da Sociedade Civil:

SINTAEMA (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do

Estado de São Paulo); ONG Rio Pardo Vivo e Faculdades Integradas Ourinhos (FIO) e

2 do segmento Estado: Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA-

Polo Regional Médio Paranapanema) e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral

(CATI- Ourinhos).

O Comitê do Médio Paranapanema trata-se de um órgão colegiado de caráter

consultivo e deliberativo. O CBH-MP tem como principais objetivos, promover o

gerenciamento descentralizado, participativo e integrado, combater e prevenir as

causas e efeitos da poluição, das inundações e estiagens, compatibilizar o

gerenciamento dos recursos hídricos com o desenvolvimento local e regional

vinculados com a proteção do meio ambiente. Tem ainda como competência, aprovar

o Plano da Bacia, propor valores e critérios acerca da utilização dos recursos hídricos

no âmbito da Bacia, além de aprovar planos e programas para serem efetivados com a

verba oriunda da cobrança pela utilização da água, dentre outros.

De acordo com o levantamento realizado no estatuto do CBH-MP, destaca-se

que o Comitê é composto por órgãos e entidades do Estado, Municípios e Sociedade

Civil. A composição do Comitê é definida pelo seu artigo 6º da seguinte maneira:

Plenário do CBH-MP: É o órgão supremo do comitê, é a estância onde são

realizadas as discussões, votações e as suas deliberações;

Presidência: É o responsável por presidir as reuniões plenárias, determinar a

execução das deliberações do Plenário, tomar medidas de caráter urgente,

submetidas em reunião imediata, além de credenciar a participação de

pessoas ou entidades na reunião;

Vice-Presidência: É responsável por substituir o presidente em caso de

impedimento;

1 Entrevista realizada com MANZIONE, R. L no dia 11/12/2015.

Page 63: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

63

Secretaria Executiva: Tem como função, auxiliar na organização do Comitê,

convocar e assessorar os membros para reuniões, além do encaminhamento

de deliberações e propostas;

Diretoria: É composta por membros dos três segmentos

Além do exposto acima destaca-se ainda, a atuação das Câmaras Técnicas

que tem como função avaliar e aprovar projetos e promover a capacitação e Educação

Ambiental. Os membros que compõe as Câmaras Técnicas são: SABESP, Instituto

Florestal, APTA e CETESB.

No que se referem à representatividade dos órgãos e autarquias públicas,

destaca-se que de acordo com o referido Estatuto, os municípios serão representados

pelos respectivos prefeitos, sendo que estes terão cargo com duração equivalente ao

mandato de governo. Já os órgãos colegiados que representam o estado são os

dispostos no quadro abaixo:

Quadro 8: Órgãos Colegiados que representam o segmento estado no Comitê do

Médio Paranapanema

Órgãos Colegiados

Secretaria Estadual de Saneamento e Recursos Hídricos

Secretaria Estadual de Logística e Transportes

Fundação Florestal

Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB

Secretaria Estadual da Fazenda

Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio – APTA

Coordenadoria de Assistência Técnica Integral – CATI

Departamento de Águas e Energia Elétrica – DAEE

Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”– UNESP

Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP

Polícia Militar Ambiental

Secretaria Estadual da Educação

Secretaria Estadual de Saúde

Fonte: CBH-MP, 2000. Organizado por Vallim, 2015.

Com relação aos membros da Sociedade Civil, o colegiado abarca uma série

de entidades, ONGs e associações de classe e conforme no gráfico 2 e quadro 9.

Page 64: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

64

Gráfico 2: Setores que compõe o segmento da Sociedade Civil no CBH-MP

Fonte: CBH-MP, 2000. Organizado por Vallim, 2015.

Quadro 9: Entidades e Classes da Sociedade Civil que compõe o Comitê do

Médio Paranapanema

Associação Brasileira de Recursos Hídricos – ABRH

Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica – ABRAGE

Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica – ABCE

Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Santa Cruz do Rio Pardo.

Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Garça.

Associação para Preservação, Recuperação e Manejo dos Recursos Hídricos e Florestais

Associação Rio Pardo Vivo

Centro de Desenvolvimento do Vale do Paranapanema – CDVALE

Centro das Indústrias do Estado de São Paulo – CIESP

Faculdades Gammon

Faculdades Integradas de Ourinhos – FIO

Fundação Educacional do Município de Assis – FEMA

Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP

Ordem dos Advogados do Brasil – OAB

ONG A Salvação de um Rio” - ONG SALVAR

Sindicato da Indústria da Fabricação do Açúcar no Estado de São Paulo – SIAESP

Sindicato Rural de Palmital

Sindicato Rural Patronal da Estância Turística de Paraguaçu Paulista

Sindicato dos Trabalhadores e Empregados Rurais de Paraguaçu Paulista

UNICA - União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo

Fonte: CBH-MP, s/d. Organizado por Vallim, 2015.

A composição das classes pertencentes ao segmento Sociedade Civil é

bastante heterogênea, contudo nota-se uma predominância de Sindicatos e

33%

14% 10%

24%

19% Associações

Faculdades

ONGs

Sindicatos

Entidade e Organizações

Page 65: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

65

Associações de Classes, que juntos possuem 7 votos deste segmento. Destaca-se

ainda a participação de entidades ligadas a Indústria como a CIESP e a FIESP e

apenas duas ONGs neste segmento.

No que se diz respeito à tomada de decisão, de acordo com o levantamento

feio no estatuto do Comitê nota-se que a estância onde são tomadas as decisões

atinentes aos recursos hídricos são realizadas no Plenário, onde são regidas pelo

presidente do Comitê, ou em caso de sua ausência pelo vice-presidente ou pelo

secretario executivo.

Conforme dados obtidos nos questionários e entrevista foi possível observar

que os temas debatidos na plenária são previamente discutidos entre os membros e

as Câmaras Técnicas antes das reuniões.

Destaca-se que somente os membros do comitê têm direito a voto nas

reuniões, porém de acordo com seu artigo nº 22, participantes credenciados pelos

chefes dos poderes executivos e presidentes do poder legislativo do município que

compõem a Bacia Hidrográfica, terão ainda direito a voz, ficando vedado o direito a

voto destes participantes.

Os dados obtidos no questionário indicam que os temas e o processo de

tomada de decisão no Comitê são democráticos, porém são orientados por alguns

membros do Comitê. Este fato fica evidenciado no gráfico abaixo:

Gráfico 3: Processo de Tomada de Decisão no Comitê do Médio Paranapanema

Fonte: Vallim, 2015.

Page 66: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

66

Outro ponto levantado refere-se a grande extensão do Comitê que abriga 42

municípios e muitos deles não estão inseridos totalmente na área da bacia, como por

exemplo, o município de Marília, sede do Comitê, e de Botucatu, este último apesar de

não ter seu território totalmente inserido na bacia, possui importância estratégica

devido à presença das nascentes do rio Pardo estarem situadas dentro de seus limites

municipais.

O fato citado acima é um grande empecilho para o processo de tomada de

decisão uma vez que exige em muitos casos grandes deslocamentos para participar

das reuniões. Outro fator destacado trata-se da rotatividade nas reuniões de modo a

contemplar todos os municípios, não havendo, portanto, um único local para as

reuniões. Somado-se a isto destaca-se o corte nas verbas para deslocamentos que

pertencem a Instituições e Públicas, o que também acaba por ser um impeditivo para a

participação nas plenárias.

No que se diz respeito aos níveis de participação dos usuários, estes são

definidos pelo Estatuto, constituindo, portanto o principal documento normativo, sendo

revisto e aprovado em 15/12/2000. Nele constam 32 artigos, divididos em cinco

capítulos que orientam as ações do CBH-MP.

O Capítulo I do seu Estatuto traz as normas, constituição e objetivos do Comitê

do Médio Paranapanema. No seu artigo 1º, tem-se o estabelecimento das normas de

orientação à Política Estadual de Recursos Hídricos, assim como o Sistema Integrado

de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

De acordo com as informações obtidas no Estatuto do Comitê e nos

questionários, destaca-se que do segmento da Sociedade Civil, os atores que

possuem maior representatividade, são: o agronegócio (19%), Indústria (14%),

Instituições de Ensino (14%), entidades ligadas ao setor energético (9%).

No que se diz respeito ao voto, o artigo 8º do Estatuto define a divisão paritária

entre os segmentos: Estado (13 votos); Municípios (13 votos) e Sociedade Civil (13

Votos), sendo que para a sociedade civil é respeitado às classes e categorias de cada

entidade, conforme disposto no gráfico abaixo:

Page 67: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

67

Gráfico 4: Quantidade de Votos para as classes e categorias da Sociedade Civil no

Comitê do Médio Paranapanema

Fonte: CBH-MP, 2000. Organizado por Vallim, 2015.

Embora a divisão paritária definida no Estatuto tenha o objetivo de tornar

democrática a participação dos membros no Comitê, percebe-se conforme exposto

acima a atuação se alguns atores, como por exemplo, o setor do agronegócio que

possui membros nos segmentos: Estado e Sociedade Civil, o que pode vir a reforçar o

setor no processo de tomada de decisão.

Outro ponto destacado refere-se à participação dos municípios no Comitê,

dando grande destaque para a participação de municípios de pequeno porte cujo

objetivo é angariar recursos para projetos e obras públicas, geralmente sem grande

preocupação com o meio ambiente. Desse modo, o Comitê se transforma é um

mantenedor de recursos para estes municípios.

Um ponto negativo destacado no questionário refere-se à eleição a presidência

do Comitê, que de acordo com o seu Estatuto prevê apenas a candidatura dos

prefeitos, privando assim setores vinculados a Sociedade Civil de chefiar o Comitê2.

Já no que se diz respeito à temática relacionada a proteção do Meio Ambiente,

o levantamento realizado com base nos dados obtidos do Relatório do Plano da Bacia

do Médio Paranapanema, destacou que os principais problemas da URGHI estão

relacionados à: Coleta e Tratamento de esgoto, resíduos sólidos, erosão e

assoreamento, realização de estudos, aquisição e divulgação de dados atinentes aos

recursos hídricos superficiais e subterrâneos, capacitação e o fortalecimento da gestão

participativa.

2 Trecho extraído do questionário respondido por FRANCISCO, O. 2015.

Usuários da Bacia

Universidade e Institutos de Pesquisas

Associações de classe e associações técnicas

Associações Comunitárias, Ambientalistas, Clubes de Serviços e Sindicatos

15%

31%

15%

39%

Page 68: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

68

O tratamento de esgoto coletado é um grande problema encontrado no comitê

uma vez que 16 municípios desta UGRHI não tratam o esgoto coletado e apenas 25

municípios tratam 100% do esgoto coletado, necessitando portando de investimentos

e projetos para sanar este problema.

Com relação aos resíduos sólidos destaca-se ainda que 7% dos municípios

apresentam ainda condições inadequadas no tratamento destes resíduos, como por

exemplo, o município de Ourinhos (Figuras 17 e 18). Este fato foi evidenciado em

estudos de Zanata (2011), Vallim (2015) e noticiado no site da TV TEM no dia 26 de

novembro de 2011.

Figura 17: Resíduos Sólidos depositados em uma área degradada no município de

Ourinhos

Foto: Vallim, 2014.

Page 69: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

69

Figura 18: Caminhão e caçambas de entulho na área degradada

Foto: Vallim, 2014.

A erosão também é um dos principais problemas encontrados na UGRHI,

contando com cerca e 993 ocorrências, principalmente na sub-bacia do rio Turvo,

onde há uma alta susceptibilidade, conforme está exposto na figura 13 deste trabalho.

No que se diz respeito às ações realizadas em prol da proteção dos recursos

hídricos, nota-se que a maior preocupação está relacionada à produção de água, com

a elaboração de projetos para a cotenção de águas, aterros, canalizações de águas

pluviais, nas quais o município acaba sendo o maior tomador de recursos. Destaca-se

também o controle a erosão principalmente em áreas rurais, com a construção de

terraços agrícolas e desassoreamento de rios.

Outro ponto que merece destaque na esfera ambiental trata-se do projeto de

construção das Pequenas Centrais Hidrelétricas no Rio Pardo, que causou muita

polêmica e debates nos municípios em que estes projetos estão situados.

O projeto prevê a implantação de três PCHs denominadas como: Figueira

Branca, Santana e Niágara, com uma potência de 35,4 MW, afetando diretamente, os

municípios de Ourinhos, Santa Cruz do Rio Pardo, Óleo, Bernardino de Campos,

Canitar, Chavantes e Águas de Santa Bárbara.

Este tema gerou muito debate no Comitê e algumas divergências haja visto a

grande heterogeneidade dos membros do comitê. Contudo, destaca-se nesse sentido

a atuação das comunidades locais e ONGS, como a ONG Rio Pardo Vivo que

culminou em uma série de leis e decretos municipais proibindo a sua construção,

conforme descrito no portal do site Santa Cruz News no dia 09 de julho de 2013 e na

rádio difusora de Santa Cruz do Rio Pardo em Março de 2015. Atualmente, depois de

Page 70: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

70

amplos debates promovidos por ONGs e professores da UNESP, Campus de

Ourinhos, o Comitê do Médio Paranapanema tem posição contrária a implantação das

PCHs no rio Pardo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A criação dos Comitês de Bacias Hidrográficas representa um grande avanço

na gestão de recursos hídricos no Brasil, fomentando assim a gestão descentralizada

e tornando a bacia uma unidade de gestão territorial. Destaca-se nesse sentido o

pioneirismo do estado de São Paulo neste processo com a criação do Comitê PCJ no

ano de 1991. Além disso, destaca-se a lei nº 7.663/91 conhecida como a Le das

águas paulista que cria o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos,

visando uma integração e gestão participativa, contando com os diversos segmentos

que compõe o Comitê. Destaca-se também como ponto positivo a criação da Lei nº

9.433/97 que também trouxe importantes avanços nos instrumentos de gestão e

políticas relacionados à gestão dos recursos hídricos com a criação da Agência

Nacional de Águas.

No que se diz respeito à atuação dos segmentos no Comitê, destaca-se uma

grande heterogeneidade no que se refere aos grupos e classes representadas, tendo

um grande destaque para o setor ligado ao agronegócio e associações de classe.

Destaca-se que o processo de tomada de decisão é tido como democrático, porém

orientado por membros do Comitê. Há de salientar ainda para a pouca participação de

ONGs e associações voltadas à preservação ambiental. Destaca-se também a falta de

um canal com as comunidades locais que dificulta assim um diálogo continuo entre o

Comitê e os atores locais assim como a sua participação.

O jogo de forças entre as entidades envolvidas fica evidente quando se está

em pauta o interesse representado pelo grande capital, que gera uma assimetria neste

campo de forças, impondo suas necessidades no espaço geográfico, transformando-o

para garantir a sua reprodução. Destaca-se também neste ponto a atuação do estado

como agente regulador desta lógica capitalista, seja através de suas Instituições, ou

através de políticas e instrumentos de gestão.

Page 71: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

71

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUIRRE, S. M. V; PRADO, R. B; MILÁN, P. M. RIBBE, L. Avaliação da Governança

da Água em Bacias Hidrográficas do Rio de Janeiro como Suporte ao Gerenciamento

dos Recursos Hídricos. Anais... XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos. Bento

Gonçalves, 2013.

ANDRADE, M. C. DE. A Questão do Território no Brasil. São Paulo: Hucitec. 2ª

Edição, 2004.

ASSUNÇÂO, F. N.A; BURSZTYN, M. A. As políticas das águas no Brasil.

Disponível em:<http://www.bvsde.paho.org/bvsacd/encuen/neta.pdf >acessado em

1/1/09/2015.

BANCO MUNDIAL. Governance and Developement. Washington, D. C.: World Bank, 1992. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. BRASIL. Lei Federal nº. 9.433 de 08 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº. 8.001 de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990 de 28 de dezembro de 1989. Brasília, 1997. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Gestão Pública. Participação e Controle social Instrumentos Jurídicos e Mecanismos Institucionais. Brasília: 2013. BORBA, M. L; PORTO, M. F. A. A Política Estadual de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo: condições para seu surgimento e a sua implementação. Revista Brasileira. Revista de Gestão da Água na América Latina. Vol.7 n.2, p.27-36, jul/dez/2010. BOSCARDIN, C. R; GARCIAS, C. M. Gestão das Águas sob a Ótica da Agenda 21 e do Estatuto da Cidade. XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos. São Paulo, 2007. Disponível em: <https://www.abrh.org.br/sgcv3/UserFiles/Sumarios/44d6c3ee3eaaf2e18ba9a662d634

71de_01d4966af072f862eee0f2811682ef17.pdf> acessado em 10/09/2015. CAMPOS, V. N. DE O; FRACALANZA, A. P. Governança das Águas no Brasil: Conflitos pela apropriação da água e a busca da integração como consenso. Revista Ambiente & Sociedade, Campinas v. XIII, n.2 p.365-382. Jul-dez.2010.

CASTRO, I. E. DE. Geografia e Política: território, escalas de ação e instituições. Rio

de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

CASTRO, L. C. Gestão dos Recursos Hídricos na Bacia do Alto Iguaçu – PR. UFPR, Curitiba, 2005. Dissertação de Mestrado para obtenção do título de Mestre em Geografia. COMITÊ DE BACIAS HIDROGRÁFICAS - CBH São Paulo. Disponível em: <https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=5&cad=rja&u

Page 72: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

72

act=8&ved=0CDkQFjAEahUKEwi7-qDy_fjHAhVJph4KHfBPBtY&url=http%3A%2F%2Fwww.cbh.gov.br%2FDataGrid%2FGridSaoPaulo.aspx&usg=AFQjCNEin5cFK8skKQEWmdRF8a92wEFLoA&bvm=bv.102537793,d.dmo> acessado em: 16/09/2015. COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA MÉDIO PARANAPANEMA (CBH-MP).

Disponível em: <http://cbhmp.org/ugrhi-17/>acessado em 16/09/2015.

DARONCO, G. C. Evolução Histórica da Legislação Brasileira no Tratamento dos Recursos Hídricos: das primeiras legislações até a Constituição Federal de 1988. XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, Bento Gonçalves, 2013. Disponível em: <https://www.abrh.org.br/sgcv3/UserFiles/Sumarios/2138e9424748a787dc20c5aec625a25c_49028a51492e0183072f8d38ac42dbc6.pdf> acessado em: 09/09/2015. DOS SANTOS, R. A. N. Governança da água e aprendizagem social no subcomitê

da bacia hidrográfica cotia-guarapiranga – região metropolitana de São Paulo.

USP. Dissertação de mestrado para a obtenção do título de mestre em ciência

ambiental

GONÇALVES, A. O conceito de governança. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/conceito_de_governanca.pdf>acessa

do em: 02/09/2015. FONSECA, F. Democracia e participação no Brasil: descentralização e cidadania face ao capitalismo contemporâneo. Revista Katál. Florianópolis v. 10 n.2 p.245-255 jul/dez. 2007.

FRAGA, N. C. Território e silêncio Contributos reflexivos e o teórico. IN______ . Territórios e fronteiras (re) arranjos e perspectivas. Florianópolis: Insular, 2011. 400 p. FRANÇA (1964) Lei nº 64-1245 de 16 de Dezembro de 1964, relativa ao plano e a distribuição de água e da luta contra a poluição. FUNDAÇÃO SISTEMA ESTADUAL DE ANÁLISE DE DADOS - SEADE. Informação dos Municípios Paulistas. [online] Disponível em: <http://www.seade.gov.br> acessado em 14/09/2015. FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL - Governance Structure. Disponível em: <https://www.imf.org/external/about/govstruct.htm> acessado em: 02/09/2015. GADOTTI, M. Gestão democrática com participação popular no planejamento e na organização da educação nacional. Disponível em: <http://conae2014.mec.gov.br/images/pdf/artigogadotti_final.pdf > Acessado em: 10/11/2015.

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. 1989. Constituição do Estado. GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Lei Estadual nº. 7.663 de 30 de dezembro de 1991. Estabelece normas de orientação à Política de Recursos Hídricos bem como ao Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos. GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Lei Estadual nº. 9.034 de 27 de dezembro de 1994. Dispõe sobre o Plano Estadual de Recursos Hídricos- PERH, a

Page 73: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

73

ser implantado no período 1994 a 1995, em conformidade com a Lei 7.663, de 30/12/91, que institui normas de orientação à Política Estadual de Recursos Hídricos. HAESBART, R; LIMONAD, E. O território em tempos de globalização. Revista

etc..., espaço, tempo e crítica. n° 2(4), v. 1, 15 de agosto de 2007. Disponível em

<http://www.uff.br/etc/UPLOADs/etc%202007_2_4.pdf> acessado em 04/02/2016.

HARVEY, D. A Produção Capitalista do Espaço. São Paulo. Annablume, 2005.

252p.

Integrantes da Ong "Rio Pardo Vivo" participam de eventos na região. Portal

Santa Cruz News. Disponível em:

<http://www.santacruznews.com.br/noticia_ler.php?s=4&conteudo_id=7871> acessado

em 04/01/2016.

JACOBI, P. Governança Institucional de Problemas Ambientais. Revista Política e

Sociedade, Florianópolis v.4, n.7.p.119-137, outubro 2005.

JACOBI, P. Governança da água no Brasil. In RIBEIRO, W. C. (Org.) Governança da

água no Brasil: Uma visão Interdisciplinar. São Paulo: Annablume; Fapesp; CNPq.

2009. p. 380.

JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO. Acervo Estadão [online]. Disponível em:

<http://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,sao-paulo-ja-teve-agua-racionada-por-

tres-meses,9812,0.htm> acessado em 14/09/2015.

LANNA, A. E. L. Gerenciamento de Bacia Hidrográfica: aspectos conceituais e metodológicos. Brasília: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, 1995. 171 p. LEAL, A. C. Gestão das Águas no Pontal do Paranapanema. Unicamp, Campinas, 2000. Tese para obtenção do título de Doutor em Geociências. LEAL, A. C. Gestão Urbana e Regional em Bacias Hidrográficas: interfaces com o gerenciamento de recursos hídricos. In: Braga, R. Recursos Hídricos e Planejamento Urbano e Regional. Rio Claro: Laboratório de Planejamento Municipal – Deplan- UNESP - IGCE, 2003. 131 p. MACHADO, C. J. S A Gestão Francesa dos Recursos Hídricos: Descrição e Análise dos Princípios Jurídicos. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, volume 8, n.4, out-dez. 2003, 31-47. MAGALHÃES JUNIOR, A. P. Indicadores ambientais e recursos hídricos: realidade e perspectivas para o Brasil a partir da experiência francesa. Rio de Janeiro: Betrand Brasil, 2007. 686p. MAGYAR, A. L; MACHADO, R. M. DE O. A Regulamentação da Lei de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo: Desafios e Perspectivas. Revista de Administração de Empresas. São Paulo 33(6)42-49. nov-dez. 1993.

Page 74: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

74

MANZIONE, R. L. Arranjos Institucionais e participação da Universidade junto ao corpo técnico do Comitê do Médio Paranapanema. Ourinhos, 11 de Dezembro de 2015. Entrevista concedida a Eduardo Martins Vallim. MELO. G. K.R, M. M. DE; MARACAJ, K. F; DANTAS NETO, J. Histórico evolutivo legal dos recursos hídricos no Brasil: uma análise da legislação sobre a gestão dos recursos hídricos a partir da história ambiental. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XV, n.100, maio de 2012. Disponível em: <http://www.ambito-

juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11606> acessado em: 09/09/2015. OLIVEIRA, L. D. DE. Os “limites do crescimento” 40 anos Depois: Das “profecias do apocalipse ambiental” ao “futuro comum ecologicamente sustentável” Revista continentes (UFRRJ), ano 1, n. 1, 2012. <Disponível em: http://r1.ufrrj.br/revistaconti/pdfs/1/ART4.pdf> acessado em 10/09/2015.

ONG promove debate sobre PCHs. Rádio Difusora Santa Cruz 1180. Disponível em: <http://difusorasantacruz1180.com.br/inicia.asp?pagina=noticias_ver&id=2111&categoria=1 >acessado em: 04/01/2016. ONG Rio Pardo Vivo. Projetos de Implantação de Pequenas Centrais Hidrelétricas. Disponível em: <http://riopardovivo.org/pequenas-centrais-hidreletricas/> acessado em 16/09/2015. Organização das Nações Unidas. Governança. Disponível em: <http://nacoesunidas.org/acao/governanca/> acessado em: 02/09/2015. Plano de Bacia da Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Médio Paranapanema (UGRHI17). Disponível em: <http://www.sigrh.sp.gov.br/public/uploads/documents/7037/planobacia-mp-caderno.pdf> acessado em: 16/09/2015. Prefeitura de Ourinhos é multada por jogar entulho para aterrar erosão. G1.com, 2011, Nov, 26. < Disponível em:< http://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2014/11/prefeitura-de-ourinhos-e-multada-por-jogar-entulho-para-aterrar-erosao.html> acessado em 05/08/2015.

RAFFESTIN, C. Por uma geografia do Poder. Tradução de Maria Cecília França. São Paulo: Ática, 1993.

SANTOS, M. Da totalidade ao lugar. 1. ed., 1.reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. 176 p.

SANTOS SILVA, T. A Governança das Águas no Brasil e os Desafios para a sua

Democratização. Revista UFMG, Belo Horizonte, v.20, n.2. p.236-253, jul/dez.2013.

SAQUET, M. A. Abordagens e concepções de território 1.ed. São Paulo: Expressão

Popular, 2007. 200 p.

SETTI, A. A. et. al. Introdução ao gerenciamento de recursos hídricos. 3ª ed. Brasília: Agência Nacional de Energia Elétrica; Agência Nacional de Águas, 2001. SISTEMA INTEGRADO DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS DO

ESTADO DE SÃO PAULO - SIRGH. Disponível em:

Page 75: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

75

http://www.sirgh.sp.gov.br/public/uploads/documents/6962/cap_04_04.pdf acessado

em: 16/09/2015.

SISTEMA INTEGRADO DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS DO

ESTADO DE SÃO PAULO. Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado de São

Paulo, Relatório de Síntese. Disponível em:

<http://www.sigrh.sp.gov.br/public/uploads/documents/6962/cap_04_04.pdf>acessado

em 16/09/2015.

SOARES, S. I. DE O; THEODORO, H. D. Governança e Política Nacional de

Recursos Hídricos: Qual a posição da Gestão das Águas no Brasil? IV Encontro

Nacional da Anppas. Brasília: 2008

TOTTI, M. E. F. Gestão das Águas na Bacia Hidrográfica do rio Paraíba do Sul:

Governança, instituição e atores. UENF. Campos dos Goytacazes, 2008. Tese para

obtenção do título de doutora em Ecologia e Recursos Naturais.

TUNDISI, J.G; TUNDISI, T. M. Recursos Hídricos no século XXI. São Paulo: Oficina de Textos, 2011. TUNDISI, J. G. Governança da Água. Revista UFMG. Belo Horizonte, v. 20, n.2, p.222-235, jul./dez.2013.

VALLIM, E. M. Estudo do processo de urbanização na bacia do córrego Água da Veada em Ourinhos-SP: Avaliação das áreas impermeáveis e instrumentos de políticas públicas. 108. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Geografia) –UNESP/Campus Experimental de Ourinhos, UNESP, Ourinhos, 2015.

VARGAS, E. V. Água e relações internacionais. Revista Brasileira de Política Internacional. Vol. 42, nº. 1, Brasília jan./jun 2000. YASSUDA, E. R. Gestão de Recursos Hídricos: Fundamentos e Aspectos Institucionais. Rio de Janeiro: Revista Administração Pública, p.5-18, abr-jun.1993

ZANATA, J. M. Alterações físicas e químicas de solos degradados por erosão

hídrica em áreas urbana e rural no município de Ourinhos – SP. 75 f. Trabalho de

Conclusão de Curso (Bacharel em Geografia) – UNESP/Campus Experimental de

Ourinhos, UNESP, Ourinhos, 2011

Page 76: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,

ANEXOS

Page 77: ESTUDO DA GOVERNANÇA NA UNIDADE DE …vampira.ourinhos.unesp.br/bou/tcc/Pós_graduação_2ª_edição... · (Feijão), Cristiano Aves, Marcel Ferreira Domingos (Boi), Lauriane Rodrigues,