jornaleco - 8ª edição / junho de 2009

16
Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra 8ª edição - junho/2009 Qual o impacto da produção dos alimentos na natureza? Respeitar o meio ambiente foi a lógica por milhões de anos para a produção de ali- mentos. O homem sabia que dependia da natureza para continuar produzindo. Hoje, o modelo de produção causa danos ambientais sem prece- dentes. A agricultura deve con- viver com o ciclo ecológico da natureza para preservá-la. Descubra aqui porque as florestas brasileiras estão virando pasto e soja. E ainda: prestar atenção no que con- sumimos é uma lição básica da sustentabilidade. É preciso que os consumidores pres- tem atenção no que levam pra casa. O custo de sua alimen- tação pode ser a destruição do sistema em que vivemos. Saiba a diferença entre os alimentos orgânicos dos ecológicos e faça a escolha certa Páginas 8, 9 e 10 Através do estoque da água da chuva (acima na caixa d’água), a escola Providência economiza, cuida do meio ambiente e ainda dá lições de educação ambiental. Página 12 Como reaproveitar a água da chuva No curso de Engenharia Ambiental, alunos transformam garrafas pet em captor solar. Outro projeto substitui até 25% da areia ou brita por garrafas long neck. Página 14 Que destino dar às garrafas? E-lixo: veja o que fazer com ele Com a popularização dos computadores, a quantidade de lixo eletrônico já chegou à casa de 50 milhões de toneladas no mundo, representando 5% de todo o lixo produzido pela humanidade. Página 5 GABRIELA PERUFO

Upload: agencia-centralsul-unifra

Post on 11-Mar-2016

253 views

Category:

Documents


36 download

DESCRIPTION

Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra

TRANSCRIPT

Page 1: JornalEco - 8ª edição / junho de 2009

Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra 8ª edição - junho/2009

Qual o impacto da produção dos alimentos na natureza?

Respeitar o meio ambiente foi a lógica por milhões de anos para a produção de ali-mentos. O homem sabia que dependia da natureza para continuar produzindo. Hoje, o modelo de produção causa danos ambientais sem prece-dentes. A agricultura deve con-viver com o ciclo ecológico da natureza para preservá-la.

Descubra aqui porque as florestas brasileiras estão virando pasto e soja. E ainda: prestar atenção no que con-sumimos é uma lição básica da sustentabilidade. É preciso que os consumidores pres-tem atenção no que levam pra casa. O custo de sua alimen-tação pode ser a destruição do sistema em que vivemos.

Saiba a diferença entre os alimentos orgânicos dos ecológicos e faça a escolha certa Páginas 8, 9 e 10

Através do estoque da água da chuva (acima na caixa d’água), a escola Providência economiza, cuida do meio ambiente e ainda dá lições de educação ambiental.

Página 12

Como reaproveitar a água da chuva

No curso de Engenharia Ambiental, alunos transformam garrafas pet em captor solar. Outro projeto substitui até 25% da areia ou brita por garrafas long neck.

Página 14

Que destino daràs garrafas? E-lixo: veja o que fazer com ele

Com a popularização dos computadores, a quantidade de lixo eletrônico já chegou à casa de 50 milhões de toneladas no mundo, representando 5% de todo o lixo produzido pela humanidade.

Página 5

Gabriela Perufo

Page 2: JornalEco - 8ª edição / junho de 2009

2

Faz cinco anos que moro em Santa Maria e sempre tive vontade de conhecer

a estrada do Perau, ligação entre Santa Maria e Itaara. Ouvia muito dizer que era um lugar bastante bonito, tranqüilo e com paisagens maravilhosas. Meu pai sempre dizia que ocorriam muitos assaltos e que o local era perigoso. Um dia resolvi afron-tar o “perigo”. Subi a serra e me deparei com uma vista sur-preendente, um lugar calmo e com uma rica biodiversidade da fauna e da flora. A partir daí, comecei a freqüentar o local sempre que podia. Para surpresa do meu pai, nunca aconteceu nenhum contratempo comigo.

No ano passado, a estrada do Perau foi revitalizada. A obra, patrocinada pelo governo fede-ral, deixou o local apto para ser um ponto turístico. Foram cons-truídos mirantes, calçada para pedestres com várias lixeiras distribuídas nos quase sete qui-lômetros de estrada, estaciona-mentos e áreas de convivência. O Perau ficou maravilhoso, um lugar para ir passear com a famí-lia e para os turistas visitarem.

Hoje, fico triste ao falar no Perau. Cinco meses após a revitalização, o local não é o mesmo. Claro, os mirantes, a calçada, algumas lixeiras, ainda estão por lá (até quando não sei), mas marcados pela passa-gem do vandalismo. No início, até pensei que a má conserva-ção fosse de total culpa das pre-feituras das duas cidades (minha professora Glaíse que conte minha indignação), mas acabei mudando de opinião, ao entre-vistar as pessoas que moram e que passeiam por lá nos finais de semana. O que era para ser um ponto turístico, virou um local de baderna.

Ao visitar a estrada do Perau neste domingo, cheguei à con-clusão que o povo realmente é mal-educado. Até quando conviveremos com a estupidez humana? O vandalismo é uma realidade de cidades de qualquer porte, inclusive Santa Maria. Na estrada do Perau vai desde jogar o lixo no chão e depredar as lixeiras, até pichar os locais que os próprios “manifestan-tes” frequentam em suas horas de lazer. O que eles pensam é

que estão deixando sua marca na sociedade. Ouvi muito, durante minha vida, dizer que as pichações são formas de protestar. Mas porque as pes-soas não protestam na parede de suas casas? A meu ver, é porque as pichações são formas de afrontar às ordens e o patri-mônio coletivo e, por isso, são feitas em lugares públicos. O problema não é só carência de educação, mas também, penso eu, por problemas psicológicos e afobação de manifestarem-se diante da sociedade.

O que nos deixa mais tristes é a desanimante constatação de que ainda existem pessoas sem consciência ambiental. Assim, fico me perguntando como fun-ciona a cabeça de uma pessoa que come um salgadinho e joga o pacote pela janela do carro. A falta de conservação não depende só das prefeituras, mas da popu-lação e de todas as classes!

Tudo tem sua razão. E a des-truição do patrimônio público? Ainda não descobri seu total motivo. Se é que o tem!

Ana Gabriela Vaz

Povo instruído faz, sim, a diferença!

Enquete: O que você acha que deve ser feito para melhorar a conservação do meio ambiente na Estrada do Perau?

“Eu acho que tudo depende da educação do povo. A parte de Itaara é mais conser-vada que a de Santa Maria.”

Georgina da Silva França, moradora e dona de

estabelecimento do local.

“Não jogar lixo no chão. Acho que só colocando um guarda 24 horas para conservar o local limpo.”

Cristiane Ramos, freqüentadora do local.

“A conscientização da população, não jogar lixo e nem quebrar o que foi cons-truído. O Perau tem tudo para ser atração turística.”

Maria França, dona de estabelecimento do local.

“A comunidade mais os dois municípios devem se unir e entrar em comum acordo. Colocar alguém para fisca-lizar. Cada município deve fazer sua parte, pois é a história de Santa Maria que aqui está e deve ser conser-

vada. O que precisa é boa vontade e atitude.” Valmor Bona, freqüentador do local.

“Educar o povo é o mais importante. Não jogar copos plásticos ou garra-fas no chão como a gente vê aqui.”

Jairo Medeiros, freqüentador do local.

“Eu acredito que falta comunicação. Devem-se fazer projetos para lem-brar da conservação e não bagunçar.” Elisabeth da Silva Pereira,

freqüentadora do local.

“Esse é um problema cultural de todo país. Não é só aqui que existem esses problemas.”

Rodrigo Vieira e Cláucia Honnef,primeira vez que visitam o local.

fotos ana gabriela vaz

Produzir um jornal centrado em soluções para o meio ambiente. Este foi o foco desde o começo, ao se pensar na oitava edição do JornalEco. Mudar a perspectiva, perpe-tuando formas inteligentes e sensatas para lidar com ques-tões ambientais que se fazem urgentes, frente aos desgastes que a natureza tem sofrido ao longo do tempo.

Nesta direção, você encontra neste JornalEco atitudes que fazem diferença, soluções para o esgoto das empresas, exemplos de reaproveitamento de água, soluções casei-ras que servem de incentivo para que cada um faça a sua parte, além do alerta: é preciso mais educação. Muitos problemas relativos ao meio ambiente devem-se a falta de consciência ambiental de cada um de nós.

Saiba ainda que escolher bem os alimentos que você consome é importante não só para sua saúde, mas também para o planeta. Na reportagem “Você tem fome de quê?” são encontradas informações sobre as conse-quências da monocultura, a importância de valorizar a biodiversidade e o quanto a produção dos alimentos pode degradar o meio ambiente.

Mas, nesta tarefa de encontrar e divulgar soluções e exemplos de cuidados com a natureza, os acadêmicos do 5o semestre de Jornalismo da Unifra depararam-se com muitas situações ainda desafiadoras. É o caso do lixo eletrônico que, na maior parte dos casos, não tem destino correto. Isso também acontece com os pneus, que entu-lham espaços nas revendedoras e oficinas até seguir um longo percurso para Curitiba onde são reaproveitados.

Entre boas notícias e questões ainda a serem resolvidas, o que o leitor vai encontrar nestas páginas é uma proposta de tratar o meio ambiente com a atualidade que o tema merece, traçando perspectivas positivas para que todos possamos ter clareza dos problemas, lembrando sempre das soluções possíveis. Boa leitura!

Jornalismo Especializado I, 1º semestre de 2009, do curso de Comunicação Social - Jornalismo,

do Centro Universitário Franciscano

Reitora: Iraní RupoloDiretora de área: Sibila RochaCoordenadora do Jornalismo: Rosana ZucoloProfessora orientadora: Glaíse Bohrer Palma (Mtb 8531)Reportagem e textos: acadêmicos Alice Balbé, Ana Gabriela Vaz, Ananda Delevati, Andrez Granez, Bárbara Weise, Camila Gonçalves, Camilla Lopes, Caroline Cechin, Cassiano Cavalheiro, Dinis Cortes, Elenice Ballejos, Evandro Sturm, Flavia Alli, Francine Boijink, Gilberto Rezer, Gilkiane de Mello, Joyce Noronha, Juliane de Souza, Letícia Sarturi Isaia, Luísa Schneiders da Silva, Maitê Vallejos, Marcia Marinho, Marta Kochann, Mateus Godinho, Nathiele dos Santos, Nicole Tirloni, Potira Souto, Rafael Krambeck, Thaís Bueno, Tiane Canabarro, Vanessa Moro, Vinicius Ferreira.

Edição de fotografia: profª Laura Fabrício e acadêmicos / Laboratório de Fotografia e MemóriaDiagramação: Iuri Lammel MarquesImpressão: Gráfica Gazeta do SulTiragem: 1 mil exemplares - distribuição gratuita

Editorial

Expediente

Page 3: JornalEco - 8ª edição / junho de 2009

3

O que era para ser uma solu-ção, para alguns acabou virando um problema: a instalação dos contêineres como nova forma de coleta de lixo.

O sistema moderno de coleta foi instalado em novembro de 2008 pela prefeitura de Santa Maria. Na coleta conteinerizada ou tradicio-nal o lixo é coletado sem separa-ção e então passa por uma triagem na empresa de Tecnoresíduos (no novo aterro sanitário), onde os recicláveis são então compacta-dos para posterior reciclagem e os orgânicos são devidamente dis-postos no aterro sanitário (disposi-ção final). Um dos maiores alvos de reclamações da população é a superlotação nas lixeiras, afinal, são poucas lixeiras distribuídas, havendo cerca de 400 contêineres para toda a cidade. A estimativa do projeto era que as lixeiras esti-vessem a uma distância de 50m uma da outra, porém com a falta de contêineres, em alguns lugares a distância é um pouco maior.

Para o secretário de Proteção Ambiental, Laurindo Lorenzi Filho: “Não é possível que a coleta seletiva não seja implan-tada na cidade. O projeto foi mal elaborado, mas o sistema é bom”.

Para conseguir extrair o lixo reciclável de dentro dos contêi-neres, os catadores usam varas, ou mesmo as próprias crianças entram para tentar separá-lo, correndo inúmeros riscos de saúde. Para o clínico-geral César Augusto Morejón: “Em todo o lixo existem elementos da con-taminação. As pessoas largam todo o tipo de material, inclu-sive restos de medicamentos, alimentos, podendo causar feri-mentos, tétano, principalmente doenças infecto-contagiosas. As crianças, que normalmente já possuem uma imunidade baixa, correm ainda riscos maiores”.

Muita polêmica surgiu após a instalação das lixeiras, tanto contra como a favor do novo sis-tema de coleta. Para a agente de trânsito da Zona Azul, Vanessa Machado, 28 anos: “acho que

não mudou muito, ainda tem muito lixo no chão. Falta a cons-cientização do povo em colocar o lixo dentro da lixeira”. De acordo com o autônomo Dari Pedro, 51 anos: “A ideia é boa, o uso é que está errado. É neces-sário educar o povo para a coleta do lixo, os catadores deixam o lixo todo no chão”.

Segundo alguns catadores, agora a coleta está mais difícil para eles, que antes conseguiam visualizar o que era reciclável. Agora, com as lixeiras altas e fundas, é necessário a entrada dentro delas para recolher o mate-rial reciclável. Geralmente, quem sofre com isso são as crianças que, por serem menores, se obrigam a mergulhar no meio do lixo.

O adolescente R.B, catador de apenas 15 anos, já tem uma obrigação nas costas; ajudar sua família com a renda do material que recolhe das ruas. Depois da instalação do novo modo de coleta, o jovem começou a sentir muitas dificuldades no trabalho. “Agora tenho que ficar entrando dentro das lixeiras. Antes sepa-ravam, mas agora colocam tudo junto. Já encontrei até cachorro e gato morto. Além disso, antes rendia bem mais material, e ainda estão pagando menos pelo lixo. Cada dia tá mais difícil”, diz ele. O adolescente, que sonha em ser bombeiro, costumava fazer sempre o mesmo roteiro, mas depois das instalações teve que aumentar algumas quadras, para recolher mais material.

De acordo com o secretário Lorenzi Filho, houve um impacto social muito grande com as novas lixeiras: “Estamos trabalhando para uma coleta modernizada, repensando paradigmas desse modelo de acordo com os recur-sos da prefeitura”.

Se cada um fizer sua parte, colocando o lixo dentro dos con-têineres e não nas ruas, já é um começo. Colabore, o futuro é de todos nós.

Nicole Piera Tirloni

Contêineres: solução ou problema?

Finanças, clientes e colabo-radores não são mais as únicas preocupações de uma

grande empresa. Em pleno século XXI, quando o aquecimento global atinge pessoas de todas as classes sociais, responsabilidade ambiental entra no hall dessas inquietações. Pensando nisso, a Cooperativa Tritícola Sepeense (Cotrisel), de São Sepé, aprovei-tou a inauguração do prédio onde funciona seu hipermercado para instalar um sistema de tratamento de esgoto do empreendimento. O terreno fica próximo ao lajeado do moinho e, desde que foi com-prado, despertou questões sobre como o projeto poderia evitar a degradação do manancial.

A Cotrisel tem como carro chefe o recebimento, benefi-ciamento e comercialização do arroz. Ela também recebe outros grãos, possui fábrica de rações, assistência técnica agrícola e veterinária, posto de combustí-veis, financiamentos a coopera-dos e uma rádio AM.

O meio encontrado para solu-cionar o problema, foi contratar uma empresa, de Frederico Wes-tfallen, que fornece os sistemas de tratamento. De acordo com o engenheiro da empresa, Genésio Rigo, os sistemas são fabricados em material resistente, leve, anti-corrosivo e de fácil instalação. Todos os modelos geram efluen-tes que retornam à natureza de duas formas: esgoto final tratado e lodo decomposto, o último formado pela decomposição da matéria orgânica, com a vantagem de não afetar o meio ambiente. Eles recebem todo o volume de esgoto sanitário, proveniente dos vasos, pias, lavanderia, cozinha, exceto água da chuva e fazem o tratamento de qualquer tipo de estabelecimento.

Segundo ele, o sistema fun-ciona sem necessidade de manutenção. Apenas a assis-tência técnica é dada, incluindo orientação para instalação, rea-lização da limpeza periódica da fossa e do filtro, sendo que a freqüência varia para cada modelo e tamanho.

A responsável pelos projetos de Meio Ambiente na Cotrisel, Helda Gressler, disse que a prin-cipal preocupação da empresa quando construiu o prédio era o Lajeado. A fonte atinge três bairros da cidade.

De acordo com o chefe do setor de Meio Ambiente da prefeitura de São Sepé, Pedro Renato Silveira, nesses bairros acontecem freqüentes inunda-

ções por causa da retirada da cobertura vegetal original e também em função da poluição. Tudo isso em função da ocupa-ção urbana. Para ele, a contribui-ção da Cotrisel foi fundamental para a preservação do Lajeado.

(Outro) Bom exemplo

Responsabilidade ambiental

também é compromisso de uma empresa de abate de animais de Santa Maria. O frigorífico Silva atua no mercado do estado desde a década de 70. Para preservar a natureza e manter o ambiente de trabalho saudável, a empresa implantou, desde sua fundação, o sistema primário que separa os resíduos sólidos. Posteriormente, houve a necessidade de um sistema secundário, onde o efluente passa por vários processos de filtragem. Tudo começa pela peneira, onde o material coletado é enviado para dois tanques de decantação: o verde com estercos, detritos esto-macais e ruminais e o vermelho com os restos da produção. Então o flocodecantador remove o lodo, os aeradores agitam a água para facilitar a oxigenação, as lagoas aeróbias decompõem a matéria orgânica com a presença de oxi-gênio e as anaeróbias decompõem sem a presença de oxigênio.

O frigorífico investe constan-temente na estação de tratamento de efluentes. O monitoramento, responsabilidade e assessoria ambiental é prestada por uma empresa de consultoria ambiental de Pelotas. Segundo o tecnólogo em saneamento ambiental da empresa, Leandro Gomes, esse acompanhamento é vital para pre-

servar o meio ambiente e manter o frigorífico cumprindo as normas pré-estabelecidas pelos órgãos fiscalizadores. Todos os meses são enviados a instituições como a FEPAM (Fundação Estadual de Proteção Ambiental) dados da vazão e volume dos efluentes tra-tados e informações dos resíduos sólidos e seus destinos.

Para o veterinário do frigorí-fico, Tiago Pretto, o tratamento dos efluentes é vantajoso, pois diminui odores do ambiente, reduz a carga biológica em torno da empresa, evita a proliferação de pragas e, naturalmente, pre-serva o meio ambiente tornando o clima mais ameno.

Mensalmente são abatidos de 5 a 10 mil rezes (gados), gerando um acúmulo de água e lixos sujos. Os resíduos sólidos são doados a pequenos agricultores que uti-lizam como adubo, os ossos e restos das carnes são vendidos para a fabricação de ração e os resíduos líquidos, depois de tra-tados, são devolvidos à natureza que termina o processo com sua filtragem biológica.

O compromisso do frigorífico não é somente com a água e o lixo. Há ainda o recolhimento de pilhas e lâmpadas fluorescentes e envio para reciclagem, a doação de papelão e plásticos a uma instituição carente e a plantação de mudas de árvores nativas no parque industrial do frigorífico. Um ótimo exemplo de responsa-bilidade ambiental, em um tempo onde a atitude de cada um faz toda a diferença.

Bárbara Weise e Camila Gonçalves

Iniciativasempreendedoras

Sistema de tratamento foi instalado na inauguração do mercado, em novembro de 2008

Lixo fora dos contêineres continua sendo problema

Giu

lia

nn

o o

liva

r

ZiZi Machado

Page 4: JornalEco - 8ª edição / junho de 2009

4

Aprendemos mais com os exemplos do que com o diálogo. É assim que

o Grupo Bandeirantes da Serra (GBS) age em todas as suas atividades. As ações desenvol-vidas pelo grupo são cheias de emoção, adrenalina e aventura, tudo isso aliado à prática da conscientização ambiental. Em cada caminhada, escalada, pales-tra e atendimento desenvolvido, o alerta é sobre os cuidados que se deve ter com a natureza. Pro-mover ações locais e colocar em exercício a consciência ambien-tal, além de divulgar os impac-tos que nossas ações causam ao meio ambiente, são as preocupa-ções do GBS.

Algumas pessoas pensam que, para fazer uma atividade ao ar livre, basta combinar com os amigos, arrumar a mochila e sair sem preocupação. Numa palestra sobre montanhismo o fotógrafo Lauro Alves e o geó-logo Guilherme Rocha alerta-ram para o perigo que existe nesta prática. Os equipamentos usados são feitos com mate-rial próprio para a segurança, alguns deles suportam o peso de até seis toneladas. Lauro afirma que tudo é testado e cada corda é específica para a atividade a ser desenvolvido. Desse modo, a segurança é máxima.

Esporte e o meio ambiente

Escaladas, caminhadas, ciclismo, rapel, treinamentos, resgates, cursos, montanhismo são algumas atividades promo-vidas dentro do grupo Bandei-rantes da Serra. Porém, os jovens esportistas fazem programações especiais abertas ao público. Eventualmente, essas campa-nhas ocorrem para “lembrar” as preocupações com as questões ambientais. Essas atividades são divididas em público externo e interno, havendo ações em eventos e datas festivas, como nos 150 anos de Santa Maria. Na ocasião, o GBS promoveu uma caminhada pelo Morro do Carmo com plantio de mudas e orientações sobre como fun-ciona o IBAMA (Instituto Bra-sileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis)

Dores nas pernas, corpo dolorido, mas com um tremendo bem estar interior e a alma rea-lizada. Essas são as lembranças da caminhada que a estudante de Jornalismo da Unifra, Vanessa Barbieri Moro, 21, recorda. “Esta atitude demons-

tra a preocupação ambiental, além de provocar o lado crítico e reflexivo”, revela a estudante que participou da caminhada em comemoração aos 150 anos de Santa Maria.

Incentivo a educação ambiental

Um exemplo de atuação do GBS na preservação do meio ambiente é a participação no Programa Pega Leve. Uma maneira divertida e cheia de conhecimento sobre educação e consciência ecológica. Mostrar para as pessoas a noção de que elas precisam rever suas atitudes e repensar que a cada dia per-de-se parte das belezas naturais das nossas paisagens. Introduzir novos conceitos e formas de se relacionar com o meio ambiente é uma missão a longo prazo.

Os montanhistas aderiram a conservação e ao desenvolvi-mento humano nas suas práticas

através de um sistema de dicas e orientações simples que ajudam a proteger o meio ambiente e a reverter os danos. A educação e consciência ambiental através de práticas esportivas contribuem para o comportamento ético.

Em Silveira Martins, uma parte da propriedade da Quinta Dom Inácio está sendo transfor-mada pelos integrantes do grupo em Patrimônio Cultural de Con-servação de Uso Sustentável. Após ser reconhecida, a área só poderá ser explorada pelo ecotu-rismo e turismo de aventura.

Aprender para cuidar

Trilhas, cascatas, animais sil-vestres e aventuras. Em maio, o grupo iniciou o curso básico de montanhismo no Colégio Téc-nico Industrial de Santa Maria na UFSM. Os interessados em aprender o histórico, os tipos de escalada, os equipamentos e a questão ambiental como

abordagem na ética do esporte tiveram uma demonstração de como funcionam as atividades dos Bandeirantes. Seis pessoas foram instigadas a participar da seleção para experimentar na teoria e na prática o esporte.

O contato com a natureza e a atenção para não poluir os luga-res são os princípios adotados pela amadora Gláucia Xavier Josende, 47 anos. “ Há dez anos atrás, as trilhas por onde passá-vamos eram muito mais limpas”, relembra Gláucia. A exploração dos picos foi um fator abordado nos diversos temas incluídos no plano de ensino. O curso acon-tece nos finais de semana e dura dois meses.

O geógrafo Guilherme Rocha, coordenador técnico e secretário do grupo, relata que há um futuro projeto que envolve as crianças. “Já que tudo provem da educa-ção, nada melhor do que come-çar por eles”, diz Rocha. Este projeto é o Montanhista Mirim,

um curso voltado às práticas e a teoria da conscientização ambiental para crianças de 07 a 14 anos, já que acreditar na recu-peração do meio ambiente inde-pende de idade.

A estudante Simone da Silveira, 22, gosta da sensação de liberdade que as atividades proporcionam. “Esse contato ajuda a entender melhor o cuidado que devemos ter com o meio ambiente, nossas atitudes se modificam”, argu-menta a estudante.

A preocupação ambiental traz questionamentos sobre nossas atitudes e, muitas vezes, chegamos à conclusão de que precisamos revê-las. Não basta saber que devemos ter cuidados como separar o lixo, mas fazer esta separação. Passar a agir com consciência é a melhor forma de se relacionar com o meio ambiente.

Marta Kochann e Potira Souto

Natureza: atitudes que fazem a diferença

Com participarQuem quiser participar do GBS deve fazer uma solicitação. O

candidato entra como associado em experiência e permanecerá nesta situação durante o período de seis meses, pelo qual será avaliado. Passados esses seis meses, ele será efetivado (asso-ciado efetivo).

É preferível que o candidato faça um dos cursos ofertados pela entidade, até mesmo para melhor se situar durante ativida-des mais técnicas.

Mais informações● www.bandeirantesdaserra.org.br/ingresso.asp● (55)9927 6162 - Guilherme Rocha● (55) 9927 6167 - Rafael Ribeiro

Uma montanha de lixo foi o resultado do mutirão realizado na barragem Vacacaí-Mirim,

com a participação de diversas instituições

Com belos cenários são passadas dicas e orientações em todas as atividades do GBS (Pedra da Fêmea – Morro do Carmo)

Gláucia Josende participou da palestra do curso de Montanhismo

Fotos Arquivo gbs

Page 5: JornalEco - 8ª edição / junho de 2009

5

O computador surgiu para facilitar a vida das pessoas, mas a cres-

cente inovação da tecnologia está diminuindo sua vida útil. Cria-se assim um novo tipo de lixo eletrônico, o e-lixo. Ao se tornarem obsoletos, esses equi-pamentos estão sendo jogados em lixões comuns e acumulam 20 milhões de toneladas por ano em todo mundo.

Isso começou a gerar proble-mas ambientais, pois os metais pesados dos componentes ele-trônicos têm um alto índice de contaminação. Isso ocorre pela falta de consciência das pessoas ao fazerem o desuso. Na maioria das vezes, esse lixo fica no fundo de casa ou é jogado nos córre-gos, onde fica em contato direto com o solo e exposto à chuva.

No Brasil, o equipamento de informática segue a lei 1991/07 onde foi reinstituída a política nacional de resíduos sólidos. Nela o fabricante é responsá-vel pela destinação desses pro-dutos. Mas entre a fábrica, o comércio e o consumidor final, existem atravessadores. Isso dificulta o controle dos órgãos competentes. Para evitar a mis-tura desse tipo de equipamento com lixo doméstico, além de uma rígida fiscalização con-junta da esfera federal, esta-dual e municipal, a consciência do consumidor é fundamental.

Segundo o fiscal da Secre-

taria de Município de Proteção Ambiental, Rubson Lavratti, o destino do lixo de informática cria um impasse entre a fiscaliza-ção e os fabricantes, porque em um único computador existem milhares de componentes fabri-cados por empresas diferentes. Lavratti orienta os consumido-res a levarem os equipamentos de informática antigos, não mais usados, aos locais onde foram comprados. No entanto, trata-se de um ramo onde atuam muitas empresas e os estabelecimen-tos só são obrigados a receber a mercadoria mediante o com-provante de compra. Então a loja dará o destino apropriado ao produto. A Secretaria pode ser acionada para intermediar as ocasiões onde o consumidor não for atendido pela loja. Caso

não resolva o problema, o local é passível de multa.

A prefeitura estuda maneiras de fazer parcerias com empresas locais e criar centros de recebi-mento para o lixo tecnológico. Segundo o fiscal, a comunidade cobra e o poder público dará uma resposta. Lavratti afirma ter no país apenas dois locais

para a recepção desses apare-lhos. “Os empresários ainda não despertaram o interesse em transformar esse material em fonte de renda”, finaliza.

Além do lixo interno, o Brasil recebe o entulho tecnológico de países desenvolvidos em forma de doações. É uma forma legal de descarte de computadores já sem proveito. Os aparelhos em sua maioria vêm estragados, enquanto poucos ainda podem ser reutilizados.

O dono de uma assistência técnica de computadores, Cláu-dio Sebalestti, diz que faltam informações por parte dos usu-ários. “As pessoas preferem jogar no lixo comum os apare-lhos à encaminhar para o local adequado”, acredita. Para ele, os consumidores não recebem orientações na hora da compra. “Alguns clientes trazem os equipamentos de informática para manutenção, mas quando não tem conserto ou o custo é alto, nem voltam para buscar”, lembra. Ele ainda ressalta a falta de preocupação das pes-soas com o meio ambiente.

Sebalestti tem um depó-sito de aparelhos estragados. “Guardo os equipamentos, pois tem algumas peças que podem ser reutilizadas”, comenta. Por enquanto, ele consegue guar-dar, mas quando não tiver mais espaço irá procurar um lugar adequado para destinar o lixo.

Em seu trabalho, o empresário Geovani da Silva ocupa com fre-qüência o computador para as ati-vidades profissionais. Ele conta que está no seu terceiro compu-tador em dois anos. Agora, ele aderiu ao notebook, por ser prá-tico e ocupar menos espaço. Ele afirma que quando comprou seu último aparelho a loja aceitou seu computador usado na troca.

Com o barateamento dos computadores e o crescimento das vendas, a quantidade de lixo eletrônico já chegou à casa de 50 milhões de tonela-das no mundo, representando 5% de todo o lixo produzido pela humanidade.

Evandro Sturm e Vinícius Ferreira

E-lixo: o que fazer com ele?

Os vilões doseletrônicos

●Mercúrio: Danos no cérebro e fígado●Cádmio: Envenenamento, problemas nos ossos, rins e pulmões●Berílio: Causa câncer no pulmão●Chumbo: Causa danos ao sistema nervoso e repro-dutivo●Arsênio: Pode causar câncer no pulmão, doenças de pele e prejudicar o sis-tema nervoso●Bário: Edema cerebral, fraqueza muscular, danos ao coração, fígado e baço

Do que é feito um desktop (computador de mesa)

●25% de Sílica●23% de Plástico●20% de Ferro●14%de Alumínio●7% de Cobre●6% de Chumbo

Fonte: UOL Tecnologia

Telefones úteisA quem recorrer em caso

de informações e reclama-ções sobre lojas que não aceitaram receber o apare-lho de volta para o envio ao fabricante:

●Fundação Municipal do Meio Ambiente de Santa Maria: 3921-7150●BABM (Batalhão Ambiental da Brigada Militar): 3220-6485●IBAMA: 3221-6843

Sebalestti tem um depósito de aparelhos estragados, mas algumas peças podem ser reutilizadas

Existem no país apenas dois locais

para receber e-lixo

Curiosidade

De acordo com um estudo divulgado pela Universidade das Nações Unidas, para a montagem de um desktop com monitor de 17 polegadas é consu-mido cerca de 1,8 tonelada de materiais. Só de combus-tíveis fósseis são gastos 239 quilos, além dos 21 quilos de produtos químicos e 1.360 quilos de água.

Fonte: Info ONLINE

fotos evandro sturm

Page 6: JornalEco - 8ª edição / junho de 2009

6

Circulares, pretos, de borracha grossa, são os pneus que movem os veí-

culos pelas estradas do planeta. Mas qual é o destino final deles? Onde vão parar as pilhas e pilhas de pneus descartados por ano?

Os pneus usados passam por uma avaliação técnica antes de serem recapados, isso garante a segurança no seu retorno para as estradas. Essa avaliação consiste em medir o desgaste mínimo do pneu que deve ser de até dois milímetros e meio.

Um pneu leva cerca de 600 anos para se decompor de forma natural. Denominados como inservíveis, os pneus que já não podem mais ser reaproveitados são desmanchados e o mate-rial resultante é aproveitado em indústrias específicas. Porém, de acordo com o empresário Avelino Baldez, que trabalha há 32 anos no ramo de câmaras e pneus em Santa Maria, não existe esse tipo de serviço no Rio Grande do Sul. Segundo ele, os inservíveis passam por Porto Alegre, de onde seguem ao Paraná e, em Curitiba, são utilizados pelas fábricas de asfalto e cimento.

De acordo com um freteiro, que não quis se identificar, para que os pneus sejam leva-dos daqui até o seu destino final, a empresa que fornece os pneus paga o frete por unidade (cerca de R$ 0,25 por pneu) e os impostos, que são diferentes de um estado para outro. Só na empresa de Baldez são descar-tadas 100 unidades de pneus, em média, por mês. Para redu-zir esses custos, 15 empresas

distribuídas em todo o Estado, sendo 3 em Santa Maria, cria-ram a Rede Central de Pneus.

Segundo o diretor geral da Secretaria Municipal de Proteção Ambiental, Laurindo Lorenzi Filho, há vários projetos a serem executados visando o melhora-mento das condições ambientais do município, entre eles está o Centro de Triagem, que fará o recolhimento de pilhas, lâmpa-das e pneus e outros objetos de risco ambiental. As empresas deverão ser cadastradas no pro-grama para que descartem seus materiais obrigatoriamente no ponto de coleta, ficando sujeitos

a multa no caso do descumpri-mento. Após a separação do material coletado, a Associação Nacional de Indústrias de Pneus recolherá a cada 15 dias os inser-víveis coletados, e encaminhará para recapagem ou reaprovei-tamento industrial. Lorenzi garante a execução do Projeto mediante recursos próprios da Secretaria.

Se quiser saber mais acesse: http://www.reciclanip.com.br, e veja algumas alternativas para reciclagem dos pneus.

Márcia Marinho e Gilberto Rezer

Pneus na rota do ambientalismo

Um pneu leva cerca de 600 anos para se decompor de forma natural

ariéli zigler

Empresa de comunicação visual desenvolve projeto para dar destino certo aos resíduos de produção

Com o surgimento de novas agências de comunicação, publi-cidade e marketing, a produção de materiais usados em propa-ganda está avançando progres-sivamente. A consciência dos profissionais e dos colaborado-res dessa área com o futuro do planeta gera soluções que bene-ficiam o meio ambiente.

A preocupação em avaliar o impacto ambiental na produ-ção e criação da Publicidade, fez com que a Jungton Comu-nicação Visual desenvolvesse o projeto “Todos Jungton pelo Meio Ambiente” para dar des-tino correto aos resíduos de pro-dução utilizados por eles e seus clientes. Com a intenção de diminuir os impactos causados no meio ambiente, esses mate-riais são recolhidos e encami-nhados para um aterro sanitário localizado na cidade de Gra-vataí. Este material é enviado através da empresa Procampo Ambiental (empresa licenciada pela Fepam para fazer trans-porte de resíduos tóxicos). Segundo uma das idealizadoras do projeto, Zélia Jungton,“os efeitos negativos produzidos pelo homem no meio ambiente são graves e exigem não apenas reparos aos danos, mas mudan-ças dos hábitos e atitudes”.

A empresa responsável pelo projeto também orienta as agên-cias de publicidade, clientes e par-ceiros a fazer a melhor escolha no aproveitamento de lonas, chapas e adesivos utilizados nas agências, reutilizando estruturas já existen-tes para evitar desperdícios.

Segundo o publicitário George de Salles Canfield, sócio da agência de publicidade 4SC, os materiais utilizados em campanhas serão entregues à empresa para terem o destino certo. “A idéia da Jungton é ótima, assim que uma campa-nha sair de linha vamos entrar em contato com a Jungton para fazer o recolhimento dos mate-riais e, assim, a reciclagem dos resíduos”, declara Canfield.

Juliane de Souza e Nathiele dos Santos

Todos “Jungton” pelo meio ambiente

Conheça o trabalho da Fepam

A Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental) é a instituição responsável pelo licencia-mento ambiental no Rio Grande do Sul, e desde 1999 está vinculada a SEMA (Secretaria Estadual do Meio Ambiente). Insti-tuída pela Lei 9.077 de 4 de junho de 1990 e implantada em 4 de dezembro de 1991, a Fepam tem suas origens na Coordenadoria do Con-trole do Equilíbrio Ecoló-gico do Rio Grande do Sul, criada na década de 70; e no antigo DMA (Departa-mento de Meio Ambiente) - da Secretaria de Saúde e Meio Ambiente, hoje conhecida como Secretaria Estadual da Saúde.

Vários clientes já adotaram essa idéia

Curiosidade:O transporte dos pneus inservíveis percorre aproximada-

mente 848 Km, cerca de 10 horas e meia de viagem.

Fonte: Google Maps

divulgação

Page 7: JornalEco - 8ª edição / junho de 2009

7

A folha da árvore, tom-bada na floresta por empresas de celulose,

vai para a fábrica, passa por diversos processos industriais até ser transformada em papel ofício. Empacotadas e postas nas lojas à venda, elas chegam aos gabinetes dos parlamenta-res do Brasil, onde são rabisca-das as leis, medidas provisórias e emendas na constituição que alteram o meio ambiente.

No início do século XX, em Santa Maria, não havia compro-misso com o meio ambiente e poucos projetos de lei era apre-sentados. Entre as primeiras preo-cupações levantadas, o ato n° 109, aprovado em 1939, previa “insta-lações sanitárias nos prédios situ-ados na rede de esgotos e ainda não saneados”. As idéias surgi-ram devido ao volume de resi-dências locali-zadas dentro da rede de esgoto sem tratamento sanitário ade-quado. Após 1957, a demanda de projetos de lei aumentou, e até hoje mais de 30 delas foram apro-vadas, modificando a vida dos habitantes da cidade.

Pioneirismo Ecológico

Antes mesmo de toda a pre-ocupação com o futuro do pla-neta e suas riquezas naturais suscitarem questionamentos e se transformarem em questões abordadas de forma constante nos noticiários, ele já falava sobre a necessidade de cuidar do meio ambiente. Sem receio de brigar por seu ideal, discutiu, foi ameaçado, fez inimizades, mas se transformou em um pioneiro dos assuntos ecológicos em Santa Maria. Enquanto esteve na Câmara Municipal de Vere-adores, James Pizarro propôs projetos que tentaram resolver antigos problemas ambientais.

A paixão pela fauna e a flora norteou a candidatura para vereador. Com um programa ecológico, foi intitulado de “O Guerreiro da Natureza”. Durante a legislatura, de 1988 a 1992, Pizarro tentou propagar a sua luta e repreender os agres-sores ambientais. “Entrei na política temporariamente para poder implementar na prática minhas idéias, minha teoria”, explica o professor aposentado.

Mas o caminho até a legislatura foi longo e caracterizado por cam-

panhas e manifestações. Há mais de três décadas, Pizarro come-çou a falar aos santa-marienses sobre a importância da adoção de energias renováveis. Outros temas tentavam chamar a atenção pública como a situação da coleta e depósito de lixo, o impacto causado pela construção civil e a comercialização de madeira de espécies da mata nativa.

De acordo com o ecologista, a comunidade reagia de forma negativa às ações. “A sociedade via como uma coisa estapafúrdia, excêntrica, catastrófica, coisa de louco”, diz. O movimento ambiental também não agradava o governo vigente na época. Para Pizarro, os manifestantes

eram conside-rados comunis-tas e agitadores perigosos. “Era um movimento ecopolítico, pois pregava uma nova ótica de vida. Algo exa-tamente contrá-rio à sociedade de consumo de mundo capita-

lista”, completa. Os quatro anos de mandato

causaram polêmicas. As princi-pais envolveram projetos ava-liados por Pizarro como os mais importantes durante sua passa-gem pela Câmara. Entre eles está a Lei Municipal 3269, referente ao manejo de recuperação das áreas degradadas nas encostas dos morros do município. Con-forme registros do ex-vereador, as pedreiras instaladas dentro do perímetro urbano destruíam áreas de preservação permanente.

Uma das maiores vitórias con-sideradas pelo ambientalista foi o fechamento da pedreira do Morro do Cerrito. A principal explo-radora do local era a prefeitura municipal, sob o governo Evan-dro Behr. “Os morros de Santa Maria ainda estão de pé por minha causa. Porque consegui embargar na justiça, com o auxílio da pro-motoria e do setor jurídico do IBDF (atual Ibama), as maiores pedreiras da cidade”, garante.

Outra norma que envolve problemas citados pelo “Guer-reiro” ainda nos primeiros anos de 1980, refere-se aos danos causados pela construção civil. A sanção dessa obriga o poder público e a iniciativa privada a apresentar relatórios de impacto ambiental, o RIMA, como pré-requisito para a instalação de uma obra ou atividade que polua ou prejudique o meio.

James Pizarro lembra uma lei, a 3237/90, considerada pioneira no país, a qual resultou em uma entrevista para um conceituado jornal de São Paulo. “Ela estabe-lece normas para a manutenção e venda de animais nas agrope-cuárias”, explica. Entre as diver-sas propostas aprovadas estão leis que obrigam proprietários rurais com atividades agrícolas agressivas ao meio ambiente a apresentarem projetos compen-satórios para o impacto causado e dispõem sobre a arborização nas faixas de domínio das rodo-vias municipais.

Após desenvolver um intenso trabalho de conscientização no Legislativo, Pizarro acredita que a batalha valeu à pena, pois aumentou a conscientização para os temas ecológicos. Para ele a causa é também política trans-partidária. “A preocupação eco-lógica deve permear o programa de todos os partidos. Isolar a defesa do meio ambiente dentro de apenas uma sigla é apequenar o movimento”, critica.

Aumenta a preocupaçãocom o meio ambiente

A apreensão com a fauna e a flora está presente de forma intrínseca na sociedade. Para isso, os parlamentares que repre-sentam o povo utilizam das leis para a manutenção da vida coti-diana. Segundo o deputado fede-ral Paulo Pimenta (PT-RS), eleito duas vezes vereador de Santa Maria e autor da lei municipal que autoriza a participação de entidades dedicadas à defesa do meio ambiente na fiscalização da legislação municipal de proteção ambiental, o cenário ecológico

mudou muito depois de 1990. “A preocupação está acima de uma lei, o assunto é discutido em seminários no mundo inteiro, e os tratados são assinados em conjunto por diversos países. O fato a ser destacado é que o meio ambiente é um tema que é pauta nos nossos meios hoje, o que demonstra a preocupação da maioria das pessoas com o futuro do planeta”, salienta o petista.

Lixo e educação ambiental

O último projeto ambiental aprovado em 2008 faz referência a ações preventivas e educativas quanto à coleta de lixo reciclá-vel, onde os resíduos produzidos podem ser reutilizados por associações e coo-perativas de reci-clagem. Segundo o autor da norma, vere-ador Manoel Badke (DEM-RS), essa ati-tude pode trazer novas formas de renda para a população, e também diminuir o volume de lixo nos aterros: “A importância da coleta de resíduos é que gera emprego e renda, pois numa população de 30 a 40 mil pessoas, tu podes implementar uma usina de reciclagem, e do lixo que nós produzimos é aproveitado quase 90% dele, e somente 10% iria para os aterros sanitários”.

Mudanças a vista

Um dos últimos projetos apro-vados pela Câmara de Vereado-res em 2009, que diz respeito às questões ambientais foi o Plano de Reestruturação Administra-tiva para o município. Elaborado pela atual gestão do prefeito Cezar Schirmer (PMDB-RS), ele prevê mudanças burocráti-cas nos setores fiscalizadores do meio ambiente. Com ele a Secretaria de Município de Pro-teção Ambiental foi extinta e deu lugar a Fundação do Meio Ambiente. As ações desenvolvi-

das pela Secretaria não foram perdidas, porém ampliadas e qualifica-das.

Segundo o respon-sável pela secretaria, Laurindo Lorenzi Filho, a transforma-ção da Secretaria em Fundação é uma tentativa de agilizar o poder público na gestão ambiental. “Os

recursos não entrarão no caixa único da prefeitura, serão geri-dos pela Fundação, que não será um órgão da administração direta, embora ligado ao gabi-nete do prefeito, será um órgão com autonomia administrativa”, alega o diretor.

Flavia Alli e Letícia Sarturi Isaia

O lado verde da leiAs leis ambientais tentam sanar ou amenizar os problemas ecológicos

Do rádio para a internet

Durante 26 anos o pro-grama “Antes que a natureza morra” esteve no ar com um conteúdo ecológico. À frente do radiofônico, trans-mitido pela Universidade Federal de Santa Maria, estava James Pizarro, que além de apresentador era produtor. Depois de anos, um blog, criado pelo ex-professor universitário, segue discutindo sobre as questões ambientais. O nome relembra a antiga ati-vidade. Quem quiser conhe-cer esse ‘caso de amor com o planeta azul’, basta aces-sar: www.antesqueanature-zamorra.blogspot.com.

“A importância da coleta de

resíduos é que gera emprego

e renda” Plantio de árvores por empresas tem ajudado a melhorar o meio ambiente

Pizarro é exemplo na luta em defesa do meio ambiente

Page 8: JornalEco - 8ª edição / junho de 2009

98

Supermercados cada vez maiores. Alimentos cada vez mais coloridos. Surgi-

mento de mais e mais produtos intitulados “saudáveis” vendidos por preços fora do alcance da maioria da população. Por outro lado, a fome aumenta todos os dias ao redor do mundo, e cada vez menos se sabe de onde vem o alimento que consumimos. Tão pouco podemos imaginar o quão insustentável se configura a pro-dução de alimentos.

Muito se falou em crise de alimentos nos últimos tempos e alguns culpam o excesso de população. Na verdade, nunca se produziu tanto. O desperdício de alimentos é enorme e o pro-blema da fome se relaciona mais com questões sociais e políticas do que com escassez de produtos. Além da má distribuição, o atual modelo de produção causa danos ambientais sem precedentes na história da agricultura.

Imagine um solo e um orga-nismo humano, ambos sistemas vivos. Da mesma maneira, os dois devem conservar o equilíbrio para se manterem saudáveis. Quando o equilíbrio é quebrado, existem sérias conseqüências negativas: as células cancerígenas no corpo ou as pragas nos campos cultivados. A nossa ligação com o solo é muito próxima, afinal é ele que dá as condições para a nossa vida. Para nos mantermos sau-dáveis, é preciso que ele também esteja saudável.

A produção ecológica vem ao encontro desta idéia: sustentar o nosso corpo e o meio ambiente saudáveis. Ela não trata apena da produção de produtos orgânicos (sem químicos), mas de todo um sistema de produção e distribui-ção. A idéia surgiu como uma pers-pectiva a partir dos anos 80. Seus princípios são sustentabilidade, estabilidade, produtividade e adap-tação à situação, observando-se os critérios de justiça e igualdade nos processos produtivos.

Mas antes de analisarmos novas propostas, devemos identificar os problemas de nosso atual sistema.

Anos 50 : O início de tudo

A natureza básica do solo requer uma agricultura que, em primeiro lugar e acima de tudo, preserve a integridade dos grandes ciclos ecológicos. Fritjof Capra, Ph.D. em física quântica e diretor-fun-dador do Centro de Eco-alfabeti-zação de Berkeley( EUA), expõe em seu livro O Ponto de Mutação que esse era o princípio dos méto-dos tradicionais de lavoura, que se baseavam no respeito pela vida.

Os agricultores desenvolviam diferentes culturas a cada ano, alternando-as de maneira que o equilíbrio do solo fosse preser-vado. Não utilizavam pesticidas e nem inseticidas, assim como não existiam transgênicos. Os insetos que apareciam em uma cultura acabavam indo embora quando outra era implantada. Os fertilizantes químicos não eram utilizados e os campos eram enri-quecidos com estrume.

Pelos anos 50 essa prática de lavoura, que sempre existiu, foi deixada para trás e trocada pelo uso de elementos químicos na agricultura. Capra liga isto à influ-ência da indústria farmacêutica e petroquímica. A nova lavoura foi chamada de “Revolução Verde”. A partir desta “revolução” as grandes companhias farmacêuti-cas e petroquímicas passaram a render bilhões. Em contrapartida, houve prejuízo para os peque-nos agricultores, para a produção mundial de alimentos, para o solo e para natureza em geral.

Degradação doMeio Ambiente

A preservação do meio ambiente fez parte da lógica de produção de alimentos por milhares de anos. O

homem sabia que dependia da meio ambiente para con-tinuar produzindo. Para o engenheiro agrônomo Luiz Rogério Boemeke, que trabalha no Centro de Apoio ao Pequeno Agri-cultor (CAPA) em Santa Cruz do Sul, a agricul-

tura moderna foge deste princípio, sendo nociva e agredindo o meio ambiente. O que hoje é chamado de agrobussines ou agronegócio exaure cada vez mais as terras, a água e os recursos naturais sobre os quais se instala.

A Agricultura que dependeda Energia

Boemeke explica que é preciso entender que a alimentação de cada povo sempre teve ligação com a cultura local. Ou seja, o que é pro-duzido na região em que se habita. O alimento mais saudável para uma pessoa pode ser então o que foi consumido por seus antepassa-dos e com o qual seu organismo já está acostumado. É possível montar uma alimentação somente com produtos da sua região e ter uma dieta saudável e equilibrada. Assim, a noção do que é um ali-mento saudável é muito relativa.

Com os alimentos vindos cada vez mais de longe, há uma mudança nos hábitos históricos. No Brasil, o trigo, por exemplo, é uma cultura européia. O amido de

milho é muito mais sul americano, mas foi deixado de lado. A questão da exportação e importação dos alimentos também permeia muito a questão social. São as classes mais altas que podem consumir produtos de outros países, muitas vezes com preços mais elevados.

O problema, como explica o engenheiro, é que atos como con-sumir uma garrafa de água da França, por exemplo, são total-mente insustentáveis. Há um gasto muito grande de energia para que este produto chegue até aqui. Há um déficit nesse sistema, porque é utilizada mais energia do que se produz e esse alimento não con-segue gerar essa energia de volta. Esse gasto energético também envolve um uso volumoso de água. Neste caso, o melhor é pro-curar consumir produtos de loca-lidades próximas, de preferência que foram produzidos respeitando o meio ambiente.

A mecanização e os percursos

mais extensos de transporte de pro-dutos agrícolas contribuem também para a dependência da agricultura da energia. A matriz energética é baseada em energias fósseis. Cerca de 60% do custo dos alimentos são oriundos do petróleo e seus derivados. Estes componentes são encontrados também nos fertilizan-tes. Quando estes recursos finitos acabarem, certamente teremos um colapso no nosso sistema.

A agricultura que depende de químicos

O engenheiro explica que as pessoas precisam saber que não é possível ter determinados ali-mentos disponíveis durante todo o ano. Isso não pode ocorrer, pois cada alimento tem sua safra espe-cífica. Certas regiões também não têm solo adequado para produ-ção de certos tipos de plantações. Além de utilizar muita energia, a vinda de alimentos de outros

lugares também incentiva a pro-dução de apenas uma cultura, onde normalmente são utilizadas substâncias químicas.

Os produtos mais naturais não seguem uma tendência uniforme quanto a maioria encontrada nos supermercados pois, afinal, a natureza não produz de maneira igual. Mas a tendência nos super-mercados é que as pessoas pro-curem produtos padronizados, como, por exemplo, tomates do mesmo tamanho e cenouras sem nenhuma deformação.

Em longa escala há uma altera-ção do meio ambiente para possa existir a padronização. Segundo Boemeke, a busca de padronização é feita através de seleção genética, são procuradas as plantas com mais produtividade e maior tama-nho de grãos ou frutos. A resistên-cia a pragas e doenças é buscada através do uso de mais agrotóxicos e a maior produtividade através do uso de fertilizantes. Nem todos os produtos químicos são absorvidos na plantação, mas escorrem junto com a água ou são drenados nos campos em direção a rios e lagos podendo assim contaminar a nossa água e solo.

Nos dias de hoje já é reconhe-cido o valor de uma alimentação saudável para a saúde, com muitas frutas e verduras. Mas é impor-tante questionar o preço alto que é pago por isso, se essas frutas e ver-duras estiverem com resíduos de produtos químicos. É preciso uma qualidade biológica nos alimentos, assim como diferenciar orgâni-cos de ecológicos. Os ecológicos levam em conta o uso de insumos que são renováveis.

A monocultura e osprejuízos para o solo

Entre outros problemas cau-sados pela atual produção estão a erosão e o empobrecimento do solo. Boemeke explica que quando a mesma cultura é plan-tada diversas vezes, são utilizados fertilizantes sintéticos que pertur-bam o equilíbrio do solo. A quanti-dade de matéria orgânica diminui e a capacidade do solo de reter umidade também. A exaustão de matéria orgânica torna o solo estéril e seco. A água não o pene-tra e assim não o umedece. A terra fica dura e compacta, o que obriga os agricultores a usar máquinas mais poderosas. O solo estéril é mais suscetível de erosão eólica e hídrica. Isto acaba deixando o solo seco e sem utilidade.

O uso de fertilizantes químicos também faz com que as culturas percam a sua capacidade de absor-ver os nutrientes da terra e fiquem cada vez mais “viciadas” em pro-dutos químicos sintéticos. Isso significa que o solo fica tão depen-dente dos produtos químicos que perde suas capacidades naturais.

O desequilíbrio ecológico cau-sado pela monocultura e pelo uso excessivo de fertilizantes químicos resulta inevitavelmente em enorme recrudescimento de pragas e doen-ças. Os agricultores a contra-ata-cam pulverizando áreas plantadas com doses cada vez maiores de pesticidas. Combatem os produtos químicos, com mais produtos quí-micos. Os pesticidas normalmente não destroem as pragas, porque elas tendem a se tornar imunes a esses produtos. Atualmente,

muitas culturas são atacadas por insetos que não eram considerados pragas, mas que vão ficando cada vez mais resistentes aos inseticida-des. E será que nós, que recebemos este alimento, também estaremos ilesos a esses inseticidas?

Valorizando a biodiversidade e a qualidade biológica

O engenheiro agrônomo argu-menta que é preciso valorizar a rede de produção e a biodiversi-dade de alimentos, assim como sua qualidade biológica . Para ele, o que temos hoje é uma ilusão de ter uma grande quantidade de alimen-tos, graças às prateleiras coloridas no supermercado. Mas, na verdade, temos uma grande quantidade de produtos com milho e trigo na base, faltando assim certos nutrientes para o nosso corpo. O agronegó-cio simplifica a base dos alimentos, com a produção em grande escala de só um tipo de alimento

Além da perda de biodiver-sidade, há uma desvalorização de produtos locais. O Brasil, por exemplo, tem um grande poten-cial na área de pescado, hortaliça e grãos. Cada região tem seus produ-tos típicos. Contudo, a padroniza-ção que não respeita culturas está se tornando cada vez mais comum, representada por redes como as de fast food (comidas prontas) e refrigerantes, que comercializam o mesmo tipo de produtos em diver-sos locais do mundo.

Prestar atenção no que con-sumimos é uma lição básica da sustentabilidade. É preciso que os consumidores prestem atenção no que colocam nos seus carrinhos. É direito deles também poder esco-lher, ou seja, que estas informa-ções estejam nos rótulos. E que empresas ou supermercados não usem deste artifício para elevarem o preço de produtos.

É preciso uma cobrança e fiscalização mais dura sobre os resíduos que ficam nos alimen-tos. Embora muitos acreditem em uma possível crise mundial de alimentos ou em um problema causado pela superpopulação, é preciso lembrar que são as gran-des companhias distribuidoras

de alimentos que definem os seus preços e que uma produção regional seria mais viável para alimentar diversos países. Exis-tem sim, muitas possibilidades na manutenção de uma agricul-tura sustentável de alimentos.

Para Boemeke está claro que esses os padrões nos quais estamos inseridos são insustentáveis. O planeta não tem como manter esse estilo de vida. A humanidade está tentando simplificar o ambiente, que é complexo por natureza.

A perda na Lavoura

O uso de fertilizantes e pes-ticidades mudou a estrutura da lavoura. Fritjof Capra alerta que a indústria persuadiu os produto-res a produzirem uma única cul-tura e investir na exportação, para assim ter mais lucros. As pragas de uma mesma cultura seriam combatidas com produtos quí-micos. O resultado disto foi uma grande perda da biodiversidade e grandes propriedades destruídas por uma única praga.

Além disso, sofrem os mora-dores das localidades de produ-ção que não podem obter diversos produtos e terem uma alimentação balanceada. Em Santa Maria, por exemplo, com a grande quantidade de produção de soja e gado, há pouca produção de pequenos pro-prietários rurais. Muito dos locais que comercializam alimentos na cidade são abastecidas por vende-dores que disponibilizam produtos do CEASA RS (Centro de Abaste-cimento do Rio Grande do Sul).

Segundo a própria associação, cerca de 35% dos hortigranjeiros consumidos no estado são comer-cializado pelo CEASA. Ricardo Goya, da área técnica do Centro, explica que não há nenhum pro-dutor de Santa Maria ou região cadastrados no CEASA, mas que há muitos compradores da cidade. O centro abastece mercados, mini-mercados e feiras de Santa Maria.

Prejuízo para a saúde

Hipócrates, pai da Medicina e autor do juramento médico, pres-creveu: faça do alimento o seu

remédio. Da mesma forma que os médicos, os fazendeiros lidam com organismos vivos. Com a degrada-ção do meio-ambiente, nossa saúde também se fragiliza. Segundo George Ohsawa, criador da macro-biótica (sistema alimentar que retira a química e os carboidratos refina-dos da alimentação e acrescenta cereais integrais orgânicos) esta-mos provocando o lento desapa-recimento das nossas forças vitais e abalando a saúde pela maneira como nos nutrimos.

Atualmente, há uma crença que a saúde resulta de três aspectos: comportamento, meio ambiente e alimentação. Fritjof Capra argumenta que a indústria far-macêutica condiciona médicos e pacientes a acreditar que o corpo precisa de supervisão constante e tratamento com drogas para per-manecer sadio. Enquanto isso, a indústria petroquímica faz com que os fazendeiros acreditem que o solo precisa de produtos quí-micos para se manter fértil. Com esse tipo de abordagem quem perde é a saúde. Com uma ali-mentação saudável e consumindo produtos como verduras e legu-mes sem químicos o nosso corpo ficaria mais protegido de doen-ças. Hoje, ao invés de o alimento ser nosso remédio, é o nosso veneno e, também, o veneno do meio ambiente.

Ainda segundo Capra, a Mon-santo - pioneira na produção e atual maior produtora de alimen-tos geneticamente modificados (transgênicos) - apostou que os transgênicos dominariam a agri-cultura do mundo até 2009. Na realidade isso não aconteceu, mas existe hoje outro problema, o consumidor muitas vezes não sabe o que está levando para casa. Não há nos rótulos informa-ções quanto ao produto ter alte-rações genéticas ou não. Outro problema são os agrotóxicos que se infiltram no solo, penetrando

o lençol freático e os alimentos, eles são derivados da destruição do petróleo e podem abalar o sis-tema imunológico do corpo, ou ter substâncias que estão relacio-nadas ao câncer.

Até agora não são conhecidos os possíveis prejuízos dessa cul-tura de alimentos para a saúde a longo prazo. Mas já se sabe que os transgênicos podem ter genes resistentes ao antibiótico Ampi-cilina, como no caso do milho. Capra questiona como alguém que ingere este alimento poderá então controlar doenças se está resistente ao antibiótico? É pre-ciso pensar se nós também sere-mos resistentes aos transgênicos.

Desenvolvimento rural e responsabilidade Social

Atualmente, 80% da popu-lação mundial mora em cen-tros urbanos. A agricultura, a mineração e o desenvolvimento da infra-estrutura (como trans-porte) poderiam fixar pessoas longe dos grandes centros urba-nos. Porém, depois da mecani-zação da agricultura, ficou cada vez mais difícil para os peque-nos produtores continuarem no campo e o uso da mão de obra nas grandes propriedades também diminuiu. A noção de eficiência acabou escondendo a grande necessidade de capi-tal necessário para se manter dentro do novo sistema.

Os agricultores também foram seduzidos pelas facilidades da alta tecnologia. O uso da energia quadriplicou. O preço a ser pago pela nova produção fortaleceu as grandes empresas agrícolas e forçou agricultores tracionais a abandonarem suas terras. Para Rogério Boemeke o fato de as tecnologias estarem sempre mudando acaba excluindo o pequeno produtor, que não con-segue capital para se adequar.

Você tem fome de quê?Se somos o que comemos, a humanidade hoje enfrenta um grande problema:

a qualidade de nosso alimento e o custo que o meio ambiente paga para que ele seja produzido

Prestar atenção no que consumimos é uma lição básica de sustentabilidade

A agroecologia se baseia no desenvolvimento sustentável É um direito do consumidor saber o que está levando para casa

Com a exportação e os fertilizantes, a agricultura atual se tornou depente do petróleo

O atual modelo de produção

causa danos ambientais

an

an

da

de

leva

ti

an

an

da

de

leva

ti

Carolina Pagliariniananda delevati

SEGUE

Page 9: JornalEco - 8ª edição / junho de 2009

98

Supermercados cada vez maiores. Alimentos cada vez mais coloridos. Surgi-

mento de mais e mais produtos intitulados “saudáveis” vendidos por preços fora do alcance da maioria da população. Por outro lado, a fome aumenta todos os dias ao redor do mundo, e cada vez menos se sabe de onde vem o alimento que consumimos. Tão pouco podemos imaginar o quão insustentável se configura a pro-dução de alimentos.

Muito se falou em crise de alimentos nos últimos tempos e alguns culpam o excesso de população. Na verdade, nunca se produziu tanto. O desperdício de alimentos é enorme e o pro-blema da fome se relaciona mais com questões sociais e políticas do que com escassez de produtos. Além da má distribuição, o atual modelo de produção causa danos ambientais sem precedentes na história da agricultura.

Imagine um solo e um orga-nismo humano, ambos sistemas vivos. Da mesma maneira, os dois devem conservar o equilíbrio para se manterem saudáveis. Quando o equilíbrio é quebrado, existem sérias conseqüências negativas: as células cancerígenas no corpo ou as pragas nos campos cultivados. A nossa ligação com o solo é muito próxima, afinal é ele que dá as condições para a nossa vida. Para nos mantermos sau-dáveis, é preciso que ele também esteja saudável.

A produção ecológica vem ao encontro desta idéia: sustentar o nosso corpo e o meio ambiente saudáveis. Ela não trata apena da produção de produtos orgânicos (sem químicos), mas de todo um sistema de produção e distribui-ção. A idéia surgiu como uma pers-pectiva a partir dos anos 80. Seus princípios são sustentabilidade, estabilidade, produtividade e adap-tação à situação, observando-se os critérios de justiça e igualdade nos processos produtivos.

Mas antes de analisarmos novas propostas, devemos identificar os problemas de nosso atual sistema.

Anos 50 : O início de tudo

A natureza básica do solo requer uma agricultura que, em primeiro lugar e acima de tudo, preserve a integridade dos grandes ciclos ecológicos. Fritjof Capra, Ph.D. em física quântica e diretor-fun-dador do Centro de Eco-alfabeti-zação de Berkeley( EUA), expõe em seu livro O Ponto de Mutação que esse era o princípio dos méto-dos tradicionais de lavoura, que se baseavam no respeito pela vida.

Os agricultores desenvolviam diferentes culturas a cada ano, alternando-as de maneira que o equilíbrio do solo fosse preser-vado. Não utilizavam pesticidas e nem inseticidas, assim como não existiam transgênicos. Os insetos que apareciam em uma cultura acabavam indo embora quando outra era implantada. Os fertilizantes químicos não eram utilizados e os campos eram enri-quecidos com estrume.

Pelos anos 50 essa prática de lavoura, que sempre existiu, foi deixada para trás e trocada pelo uso de elementos químicos na agricultura. Capra liga isto à influ-ência da indústria farmacêutica e petroquímica. A nova lavoura foi chamada de “Revolução Verde”. A partir desta “revolução” as grandes companhias farmacêuti-cas e petroquímicas passaram a render bilhões. Em contrapartida, houve prejuízo para os peque-nos agricultores, para a produção mundial de alimentos, para o solo e para natureza em geral.

Degradação doMeio Ambiente

A preservação do meio ambiente fez parte da lógica de produção de alimentos por milhares de anos. O

homem sabia que dependia da meio ambiente para con-tinuar produzindo. Para o engenheiro agrônomo Luiz Rogério Boemeke, que trabalha no Centro de Apoio ao Pequeno Agri-cultor (CAPA) em Santa Cruz do Sul, a agricul-

tura moderna foge deste princípio, sendo nociva e agredindo o meio ambiente. O que hoje é chamado de agrobussines ou agronegócio exaure cada vez mais as terras, a água e os recursos naturais sobre os quais se instala.

A Agricultura que dependeda Energia

Boemeke explica que é preciso entender que a alimentação de cada povo sempre teve ligação com a cultura local. Ou seja, o que é pro-duzido na região em que se habita. O alimento mais saudável para uma pessoa pode ser então o que foi consumido por seus antepassa-dos e com o qual seu organismo já está acostumado. É possível montar uma alimentação somente com produtos da sua região e ter uma dieta saudável e equilibrada. Assim, a noção do que é um ali-mento saudável é muito relativa.

Com os alimentos vindos cada vez mais de longe, há uma mudança nos hábitos históricos. No Brasil, o trigo, por exemplo, é uma cultura européia. O amido de

milho é muito mais sul americano, mas foi deixado de lado. A questão da exportação e importação dos alimentos também permeia muito a questão social. São as classes mais altas que podem consumir produtos de outros países, muitas vezes com preços mais elevados.

O problema, como explica o engenheiro, é que atos como con-sumir uma garrafa de água da França, por exemplo, são total-mente insustentáveis. Há um gasto muito grande de energia para que este produto chegue até aqui. Há um déficit nesse sistema, porque é utilizada mais energia do que se produz e esse alimento não con-segue gerar essa energia de volta. Esse gasto energético também envolve um uso volumoso de água. Neste caso, o melhor é pro-curar consumir produtos de loca-lidades próximas, de preferência que foram produzidos respeitando o meio ambiente.

A mecanização e os percursos

mais extensos de transporte de pro-dutos agrícolas contribuem também para a dependência da agricultura da energia. A matriz energética é baseada em energias fósseis. Cerca de 60% do custo dos alimentos são oriundos do petróleo e seus derivados. Estes componentes são encontrados também nos fertilizan-tes. Quando estes recursos finitos acabarem, certamente teremos um colapso no nosso sistema.

A agricultura que depende de químicos

O engenheiro explica que as pessoas precisam saber que não é possível ter determinados ali-mentos disponíveis durante todo o ano. Isso não pode ocorrer, pois cada alimento tem sua safra espe-cífica. Certas regiões também não têm solo adequado para produ-ção de certos tipos de plantações. Além de utilizar muita energia, a vinda de alimentos de outros

lugares também incentiva a pro-dução de apenas uma cultura, onde normalmente são utilizadas substâncias químicas.

Os produtos mais naturais não seguem uma tendência uniforme quanto a maioria encontrada nos supermercados pois, afinal, a natureza não produz de maneira igual. Mas a tendência nos super-mercados é que as pessoas pro-curem produtos padronizados, como, por exemplo, tomates do mesmo tamanho e cenouras sem nenhuma deformação.

Em longa escala há uma altera-ção do meio ambiente para possa existir a padronização. Segundo Boemeke, a busca de padronização é feita através de seleção genética, são procuradas as plantas com mais produtividade e maior tama-nho de grãos ou frutos. A resistên-cia a pragas e doenças é buscada através do uso de mais agrotóxicos e a maior produtividade através do uso de fertilizantes. Nem todos os produtos químicos são absorvidos na plantação, mas escorrem junto com a água ou são drenados nos campos em direção a rios e lagos podendo assim contaminar a nossa água e solo.

Nos dias de hoje já é reconhe-cido o valor de uma alimentação saudável para a saúde, com muitas frutas e verduras. Mas é impor-tante questionar o preço alto que é pago por isso, se essas frutas e ver-duras estiverem com resíduos de produtos químicos. É preciso uma qualidade biológica nos alimentos, assim como diferenciar orgâni-cos de ecológicos. Os ecológicos levam em conta o uso de insumos que são renováveis.

A monocultura e osprejuízos para o solo

Entre outros problemas cau-sados pela atual produção estão a erosão e o empobrecimento do solo. Boemeke explica que quando a mesma cultura é plan-tada diversas vezes, são utilizados fertilizantes sintéticos que pertur-bam o equilíbrio do solo. A quanti-dade de matéria orgânica diminui e a capacidade do solo de reter umidade também. A exaustão de matéria orgânica torna o solo estéril e seco. A água não o pene-tra e assim não o umedece. A terra fica dura e compacta, o que obriga os agricultores a usar máquinas mais poderosas. O solo estéril é mais suscetível de erosão eólica e hídrica. Isto acaba deixando o solo seco e sem utilidade.

O uso de fertilizantes químicos também faz com que as culturas percam a sua capacidade de absor-ver os nutrientes da terra e fiquem cada vez mais “viciadas” em pro-dutos químicos sintéticos. Isso significa que o solo fica tão depen-dente dos produtos químicos que perde suas capacidades naturais.

O desequilíbrio ecológico cau-sado pela monocultura e pelo uso excessivo de fertilizantes químicos resulta inevitavelmente em enorme recrudescimento de pragas e doen-ças. Os agricultores a contra-ata-cam pulverizando áreas plantadas com doses cada vez maiores de pesticidas. Combatem os produtos químicos, com mais produtos quí-micos. Os pesticidas normalmente não destroem as pragas, porque elas tendem a se tornar imunes a esses produtos. Atualmente,

muitas culturas são atacadas por insetos que não eram considerados pragas, mas que vão ficando cada vez mais resistentes aos inseticida-des. E será que nós, que recebemos este alimento, também estaremos ilesos a esses inseticidas?

Valorizando a biodiversidade e a qualidade biológica

O engenheiro agrônomo argu-menta que é preciso valorizar a rede de produção e a biodiversi-dade de alimentos, assim como sua qualidade biológica . Para ele, o que temos hoje é uma ilusão de ter uma grande quantidade de alimen-tos, graças às prateleiras coloridas no supermercado. Mas, na verdade, temos uma grande quantidade de produtos com milho e trigo na base, faltando assim certos nutrientes para o nosso corpo. O agronegó-cio simplifica a base dos alimentos, com a produção em grande escala de só um tipo de alimento

Além da perda de biodiver-sidade, há uma desvalorização de produtos locais. O Brasil, por exemplo, tem um grande poten-cial na área de pescado, hortaliça e grãos. Cada região tem seus produ-tos típicos. Contudo, a padroniza-ção que não respeita culturas está se tornando cada vez mais comum, representada por redes como as de fast food (comidas prontas) e refrigerantes, que comercializam o mesmo tipo de produtos em diver-sos locais do mundo.

Prestar atenção no que con-sumimos é uma lição básica da sustentabilidade. É preciso que os consumidores prestem atenção no que colocam nos seus carrinhos. É direito deles também poder esco-lher, ou seja, que estas informa-ções estejam nos rótulos. E que empresas ou supermercados não usem deste artifício para elevarem o preço de produtos.

É preciso uma cobrança e fiscalização mais dura sobre os resíduos que ficam nos alimen-tos. Embora muitos acreditem em uma possível crise mundial de alimentos ou em um problema causado pela superpopulação, é preciso lembrar que são as gran-des companhias distribuidoras

de alimentos que definem os seus preços e que uma produção regional seria mais viável para alimentar diversos países. Exis-tem sim, muitas possibilidades na manutenção de uma agricul-tura sustentável de alimentos.

Para Boemeke está claro que esses os padrões nos quais estamos inseridos são insustentáveis. O planeta não tem como manter esse estilo de vida. A humanidade está tentando simplificar o ambiente, que é complexo por natureza.

A perda na Lavoura

O uso de fertilizantes e pes-ticidades mudou a estrutura da lavoura. Fritjof Capra alerta que a indústria persuadiu os produto-res a produzirem uma única cul-tura e investir na exportação, para assim ter mais lucros. As pragas de uma mesma cultura seriam combatidas com produtos quí-micos. O resultado disto foi uma grande perda da biodiversidade e grandes propriedades destruídas por uma única praga.

Além disso, sofrem os mora-dores das localidades de produ-ção que não podem obter diversos produtos e terem uma alimentação balanceada. Em Santa Maria, por exemplo, com a grande quantidade de produção de soja e gado, há pouca produção de pequenos pro-prietários rurais. Muito dos locais que comercializam alimentos na cidade são abastecidas por vende-dores que disponibilizam produtos do CEASA RS (Centro de Abaste-cimento do Rio Grande do Sul).

Segundo a própria associação, cerca de 35% dos hortigranjeiros consumidos no estado são comer-cializado pelo CEASA. Ricardo Goya, da área técnica do Centro, explica que não há nenhum pro-dutor de Santa Maria ou região cadastrados no CEASA, mas que há muitos compradores da cidade. O centro abastece mercados, mini-mercados e feiras de Santa Maria.

Prejuízo para a saúde

Hipócrates, pai da Medicina e autor do juramento médico, pres-creveu: faça do alimento o seu

remédio. Da mesma forma que os médicos, os fazendeiros lidam com organismos vivos. Com a degrada-ção do meio-ambiente, nossa saúde também se fragiliza. Segundo George Ohsawa, criador da macro-biótica (sistema alimentar que retira a química e os carboidratos refina-dos da alimentação e acrescenta cereais integrais orgânicos) esta-mos provocando o lento desapa-recimento das nossas forças vitais e abalando a saúde pela maneira como nos nutrimos.

Atualmente, há uma crença que a saúde resulta de três aspectos: comportamento, meio ambiente e alimentação. Fritjof Capra argumenta que a indústria far-macêutica condiciona médicos e pacientes a acreditar que o corpo precisa de supervisão constante e tratamento com drogas para per-manecer sadio. Enquanto isso, a indústria petroquímica faz com que os fazendeiros acreditem que o solo precisa de produtos quí-micos para se manter fértil. Com esse tipo de abordagem quem perde é a saúde. Com uma ali-mentação saudável e consumindo produtos como verduras e legu-mes sem químicos o nosso corpo ficaria mais protegido de doen-ças. Hoje, ao invés de o alimento ser nosso remédio, é o nosso veneno e, também, o veneno do meio ambiente.

Ainda segundo Capra, a Mon-santo - pioneira na produção e atual maior produtora de alimen-tos geneticamente modificados (transgênicos) - apostou que os transgênicos dominariam a agri-cultura do mundo até 2009. Na realidade isso não aconteceu, mas existe hoje outro problema, o consumidor muitas vezes não sabe o que está levando para casa. Não há nos rótulos informa-ções quanto ao produto ter alte-rações genéticas ou não. Outro problema são os agrotóxicos que se infiltram no solo, penetrando

o lençol freático e os alimentos, eles são derivados da destruição do petróleo e podem abalar o sis-tema imunológico do corpo, ou ter substâncias que estão relacio-nadas ao câncer.

Até agora não são conhecidos os possíveis prejuízos dessa cul-tura de alimentos para a saúde a longo prazo. Mas já se sabe que os transgênicos podem ter genes resistentes ao antibiótico Ampi-cilina, como no caso do milho. Capra questiona como alguém que ingere este alimento poderá então controlar doenças se está resistente ao antibiótico? É pre-ciso pensar se nós também sere-mos resistentes aos transgênicos.

Desenvolvimento rural e responsabilidade Social

Atualmente, 80% da popu-lação mundial mora em cen-tros urbanos. A agricultura, a mineração e o desenvolvimento da infra-estrutura (como trans-porte) poderiam fixar pessoas longe dos grandes centros urba-nos. Porém, depois da mecani-zação da agricultura, ficou cada vez mais difícil para os peque-nos produtores continuarem no campo e o uso da mão de obra nas grandes propriedades também diminuiu. A noção de eficiência acabou escondendo a grande necessidade de capi-tal necessário para se manter dentro do novo sistema.

Os agricultores também foram seduzidos pelas facilidades da alta tecnologia. O uso da energia quadriplicou. O preço a ser pago pela nova produção fortaleceu as grandes empresas agrícolas e forçou agricultores tracionais a abandonarem suas terras. Para Rogério Boemeke o fato de as tecnologias estarem sempre mudando acaba excluindo o pequeno produtor, que não con-segue capital para se adequar.

Você tem fome de quê?Se somos o que comemos, a humanidade hoje enfrenta um grande problema:

a qualidade de nosso alimento e o custo que o meio ambiente paga para que ele seja produzido

Prestar atenção no que consumimos é uma lição básica de sustentabilidade

A agroecologia se baseia no desenvolvimento sustentável É um direito do consumidor saber o que está levando para casa

Com a exportação e os fertilizantes, a agricultura atual se tornou depente do petróleo

O atual modelo de produção

causa danos ambientais

an

an

da

de

leva

ti

an

an

da

de

leva

ti

Carolina Pagliariniananda delevati

SEGUE

Page 10: JornalEco - 8ª edição / junho de 2009

Em O Ponto de Mutação, Capra expõe que pelo menos três milhões de fazendeiros america-nos saíram da área rural desde 1945, juntando-se a massa de desempregados urbanos. Muito dos que ficam na terra acabam endividados por causa do custo da energia. O produto é com-prado por um valor muito baixo dos pequenos agricultores e quem acaba ganhando é quem revende o produto, assim como quem o transforma em outros alimentos. A modernização da terra é lucra-tiva para os grandes fazendeiros e também para os empresários.

Com a monocultura, de cultivadores de alimentos os agricultores acabaram virando produtores de matérias primas para indústrias destinadas, que as transformam em mercadorias de comercialização em massa: o milho vira amido ou xarope, a soja vira óleo, a farinha de trigo vira massa e misturas. Pode-se pensar, assim, que os alimen-tos são tão caros hoje devido ao alto preço que se paga para produzi-los. Mas, na verdade, os preços hoje são caros porque são globais e determinados por um pequeno grupo.

A floresta está virandopasto e soja

A soja produzida no Brasil costuma ser exportada para a Europa, onde vira alimento para o gado criado em confinamento. Este é um exemplo de outro gasto energético muito grande pois, se falando em carne, o melhor é que ela seja produzida o mais perto da localidade em que esta-mos. No caso do Rio Grande do Sul isso é favorável, pois o pasto natural contribui para isso. Mas se falando em carne produzida na Amazônia, a história muda...

No livro do jornalista André Trigueiro, “Mundo Sustentável“, ele chama de “conexão hambúr-guer” o fato de a pecuária ser responsável por 80% de todo desmatamento da Amazônia. A carne do brasileiro é muito valo-rizada pois, ao contrário do boi confinado da Europa, o nosso se alimenta de pasto. Ainda segundo o autor, o gado brasileiro é conhecido como “boi verde”. Este “ boi verde” se valorizou ainda mais com o surgimento da vaca louca (causada pela ração produzida com partes do boi que desorganizam o metabo-lismo). Apesar de a exportação ser boa economicante, o brasi-leiro acaba perdendo a floresta e a biodiversidade.

Ainda segundo Trigueiro, a plantação de soja também está destruindo nossas florestas. No Mato Grosso já se estimava, em 2004, que havia 43,8% de mata devastada. O governador da época e também atual governa-

dor de MT, Blairo Maggi (PR), é considerado o maior produtor individual do mundo.

Uma alternativa viável: Agroecologia

A Agroecologia surge como uma alternativa à todo este sistema já explicado. Ela apa-rece como perspectiva teórica a partir dos anos 80, apoiando uma modernidade alternativa, que seja boa para o produtor. Também se baseia no desenvol-vimento sustentável e na não agressão ao meio ambiente.

De forma solidária, os agri-cultores trabalham em famí-lia, cooperativas e por meio de associações de base que faci-litam o comércio. A produção ecológica é mais barata do que

a convencional, pois não precisa de tantas energias e dos compo-nentes químicos, que são muito caros. A maior parte do lucro da comercialização de alimentos fica com as empresas que repas-sam os mesmos, muitas vezes transformados em outros produ-tos (trigo em massa, por exem-plo). Os produtores acabam ficando com a menor parte do valor de um produto.

Além de poder viabilizar preços mais baixos vendendo direta-mente para o consumidor em feira ecológicas, os produtores também podem buscar mais uma opção de renda com produtos como leite, queijo, iogurte,panificíos, conser-vas, geléias e etc.. Esse modelo é um estímulo para que os jovens se identifiquem com a sua comu-nidade e não queiram ir para a

cidade. Produzir alimentos é um desafio, mas as lições passadas de geração a geração ajudam a superar os problemas que sempre surgem. O esterco de galinha como adubo e receitas ecoló-gicas para espantar pragas são exemplos disto.

O sucesso econômico é a garantia e o que viabiliza o desenvolvimento. Também é preciso levar em conta o valor biológico do alimento produzido dessa maneira, o preço mais em conta e o fato de ele poder atender às demandas regionais e locais. Tudo isso, com a quali-dade de produtos regionais, que muitas vezes grandes agroin-dústrias não conseguem, como queijo colonial, coalhada, lin-güiça e compotas de frutas.

Uma alternativa viável: O CAPA

O Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA) segue o modelo da Agroeco-logia. Criado em 1978, é uma organização não governamental que busca contribuir de forma decisiva para a prática social junto a agricultores familiares e outros públicos ligados à área rural. A luta é pela afirmação da agricultura familiar como parte de uma estratégia de desenvol-vimento rural sustentável.

O programa, apoiado pela Fundação Luterana de Diaconia(FLD), está em dife-rentes regiões dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, por meio de cinco núcleos ligados em rede. Um desses núcleos funciona na cidade de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul. Na cidade ocorrem três feiras ecológicas por semana e existe uma loja de venda direta ao consumidor: a Ecovale. A Ecovale comercia-liza produtos ecológicos como sucos, sabões, conservas, ger-gelim, biscoitos, erva-mate, café, massas, entre outros.

Para produtores como Marta Maria Reis, é uma oportunidade de oferecer o seu produto direta-mente para o público. Atualmente trabalhando sozinha, ela recebe o apoio da sua produção do CAPA. Ela argumenta que passou para a produção alternativa por causa da saúde, para poder se separar do veneno. Além de plantar de tudo, ela vende também geléias e outros tipos de panifícios. “Nor-malmente, o movimento da feira é muito bom”, considera a produ-tora. Ela atende pessoas preocu-padas com uma alimentação mais natural, como o casal Flávio Luz Sehmen, 54 anos, e sua mulher Claudete Shimidt Sehmen, 54. Os dois compram na feira há 12 anos, levam todos os tipos de produto e apóiam a ideia. Além do preço, eles acreditam que o sabor do ali-

mento também é diferente.“Venho mais por causa das verduras, porque não têm agrotóxicos. Os alimentos têm outro gosto, são mais saborosos. Depois que você se acostuma com estes, não tem como comer de outro tipo”, argu-menta Claudete.

Seguindo o modelo do coope-rativismo entre famílias, Laércio André Frantz, 28 anos, também estava na feira, representando a sua família e mais cinco outras. “É complicado ter uma produção alternativa por causa dos inse-tos e por não ter a utilização de produtos convencionais. Mesmo assim, vale à pena”, analisa ele. A advogada Maria Fernanda da Silva Bueno apóia o incentivo aos produtos produzidos na região, um dos motivos de ela procurar a feira. Também argumenta que os produtos são mais acessíveis que no mercado. “ Compro há mais ou menos um ano, pelo fato de não ter agrotóxico. Levo tudo: frutas, legumes e verduras”, explica ela.

A equipe do Centro conta com nutricionista, jornalista, agrô-nomo, veterinário, técnico agrí-cola, enfermeira e psicóloga que dão apoio aos grupos de produ-ção. Os produtores não fazem sua produção baseados em meios que gerem dependência. Os agricul-tores apropriam os processos e tentam entrar em um circuito de produção e venda cooperativista.

Há uma preocupação em apro-veitar as culturas já existentes nas regiões onde os centros estão inseridos. Também de preservar a biodiversidade de alimentos. Na área da saúde, além do uso de plantas medicinais, há um trabalho muito forte também de conscientização de nutrien-tes importantes. O trabalho é feito com as mulheres, pois são elas que levam os alimentos à mesa. Também é preciso mudar a cabeça dos agricultores, fazer com que eles queiram produzir de modo diferente. E é preciso que a sociedade cobre o direito de consumir um alimento saudável.

É tempo de pensar

É tempo de pensar sobre o que queremos para nós e para o pla-neta. Para Boemeke é questão de tempo para que o sistema mostre sua insustentabilidade. A recente crise mundial também levanta muitas questões. Devemos nos questionar sobre o que queremos e quais os sacrifícios que estamos dispostos a fazer. Quais hábitos estaríamos dispostos a deixar de lado? Estamos dispostos a trocar nossos hábitos de consumo? Devemos pensar neste momento sobre o que queremos deixar de herança da nossa passagem pela terra e o que deixaremos para as próximas gerações.

Ananda Delevati

10

Produtos coloniais (acima)

são uma alternativa de renda a mais

para produtores nas feiras ecológicas.

A loja Ecovale, ao lado, comercializa

produtos ecológicos do CAPA. Segundo o produtor Laércio

Frantz (abaixo), vale à pena ter uma produção

alternativa

an

an

da

de

leva

ti

gabriela perufo

ananda delevati

Page 11: JornalEco - 8ª edição / junho de 2009

11

Quando o assunto é o pro-blema do lixo, muito se comenta sobre recicla-

gem de lixo seco, composto por plásticos, papéis, metais, etc.. No entanto, o que pouco se sabe é que o descarte indis-criminado de materiais orgâ-nicos, como cascas de frutas e restos de comida, também traz transtornos ao meio ambiente. Por isso, o aproveitamento inte-gral dos alimentos surge como uma alterna-tiva para dimi-nuir a emissão destes dejetos, além de redu-zir a destruição de habitats para o aumento do cultivo agrícola, pois, ao con-sumir menos, necessita-se pro-duzir menos.

O desconhe-cimento e o não aproveitamento dos nutrientes dos alimentos causam grandes desperdícios. Segundo o IBGE, no consumo doméstico, o Brasil despreza aproximadamente 20% daquilo que é comercializado. Este dado confere ao Brasil o desonroso título de “país do desperdício”.

Alguns programas sociais, como o Mesa Brasil do Serviço Social do Comércio (SESC) e o “Alimente-se Bem com R$ 1,00” do Serviço Social da Indústria (SESI), utilizaram-se da prática do aproveitamento integral para combater a fome.

Em Santa Maria, a professora do curso de Nutrição do Centro Universitário Franciscano, Cristiana Basso, desenvolve um projeto de criação de receitas para o aproveitamento dos ali-mentos em sua integridade. O combate ao desperdício começa de forma simples, com o plane-jamento da ida ao supermercado e do que será consumido.

Resíduos orgânicos e seus riscos tóxicos

Os resíduos orgânicos se decompõe e originam, através de seus processos biológicos, químicos e físicos, a formação do chorume. O líquido constitu-ído de uma mistura de diversas substâncias e espécies de micro-organismos pode causar consi-deráveis problemas ambientais. Somado a ação da água das chuvas, o fluido origina um processo de extração de micro-nutrientes e minerais do solo,

através das suas dissoluções. No entanto, o químico Vini-

cius Giglio comenta que “o mais preocupante é o fato de que chorume possui alta taxa de demanda biológica de oxigê-nio (DBO), que corresponde à quantidade de oxigênio neces-sário na deterioração da matéria orgânica por certos processos.” Tal taxa torna-se preocupante devido ao fato de ela ser o “medidor” da dificuldade do

tratamento de resíduos, como o esgoto ou lixo.

Devido às suas caracterís-ticas peculia-res, o chorume deve ser tratado antes de seu descarte, evi-tando-se maio-res riscos de contaminação,

tanto do solo como das águas, resultando em sérias conseqü-ências à saúde pública.

Os prejuízos ambientais da agricultura intensiva A relação entre agricultura

e conservação ambiental no Brasil, nunca foi muito “pací-fica”, pois há uma preocupa-ção com a produção, que deve aumentar cada vez mais de forma a suprir as necessidades da população mundial.

Segundo o engenheiro agrô-nomo Maximiliano Guandalin, “as grandes produções agríco-las brasileiras vem da agricul-tura intensiva que, apesar de, normalmente ter uma maior produção por área cultivada, faz uso indiscri-minado de pro-dutos químicos e máquinas, o que pode causar grandes preju-ízos ambien-tais.”

Entre os danos ambien-tais associados a agricultura intensiva, estão a contaminação da água, do ar, do solo e do homem; a destrui-ção de ambientes frágeis e a perda da biodiversidade. Esses dois últimos, muitas vezes, são conseqüências das queimadas.

Segundo o IBAMA, durante o ano de 2007, os parques nacionais de Grande Sertão Veredas e Brasília foram víti-

mas de queimadas tendo como causa provável a limpeza de área para cultivo, totalizando 38.700 hectares de área incen-diada. Isso corresponde a uma área maior que o dobro daquela atingida no mesmo período, por incêndios causados por raios.

O uso constante de tratores e máquinas na agricultura acar-reta a degradação das condições naturais do solo. As cama-das compactadas que surgem, aumentam a erosão durante as chuvas, o que leva a uma contí-nua perda da capacidade de pro-dução. No estado de São Paulo, onde a agricultura provavel-mente apresenta o maior índice de mecanização, a perda de solo pela erosão chega a 25 tonela-das por hectare a cada ano.

Acadêmicos desenvolvem projeto na área

Diferente de programas

que expandem suas atuações ao reaproveitamento, o pro-jeto desenvolvido na Unifra detém-se no aproveitamento integral dos alimentos.

Os acadêmicos do 2° semestre do curso de Nutrição produzem, ao longo do semes-tre, receitas onde utilizam as partes consideradas “menos nobres” dos alimentos, como folhas, cascas, entrecascas, talos e sementes.

A professora orientadora da pesquisa, Cristiana Basso, afirma que ao consumir essas partes que se tornariam resí-duos, há o consumo de uma maior quantidade de vita-minas e sais minerais. Da mesma forma, a farmacêutica tecnóloga de alimentos, Clau-

dia Sautter, comenta que “a casca contém minerais, vita-minas e outros c o m p o s t o s , os quais se destacam os polifenóis que atuam como reguladores do m e t a b o l i s m o de gorduras,

protetores contra problemas do sistema cardiovascular, inflamações e câncer e blo-queadores do efeito danoso dos radicais livres”. Tendo, ainda, uma vantagem econô-mica, pois há receitas, como “fritar batatas com casca”, que dobram o rendimento.

Como forma de estender o

Aproveitamento integral de alimentos como recurso

O que pode ser utilizado

● Folhas de cenoura, beterraba, batata doce, nabo, couve-flor, abóbora, mostarda, hortelã e rabanete.● Cascas de batata inglesa, beterraba, berinjela, abóbora, pepino, banana, laranja, limão, lima, bergamota, goiaba, mamão, maçã, abacaxi, melão, melancia e maracujá.● Entrecascas de melancia e maracujá.● Sementes de abóbora, melão e jaca.● Talos de couve-flor, brócolis e beterraba.

Arroz colorido● 6 xícaras de arroz● 1 xícara de folhas verdes

cozidas e batidas no liqui-dificador (almeirão, agrião, espinafre, folhas de cenoura, folha de brócolis, folha de couve-flor, mostarda, etc..)

● 1 beterraba pequena cozida e batida no liquidificador● 1 cenoura cozida e batida no liquidificador● Sal a gosto

Modo de preparo:Dividir o arroz em 4 partes. Uma ficará branca. Em outra

parte, colocar a beterraba, na terceira, a cenoura e na última, o purê de folhas. Colocar em uma forma o arroz branco e depois fazer camadas de arroz colorido até terminar. Apertar bem para poder tirar da forma.

Bolinho de casca de banana● 2 xíc. de farinha de trigo (aproximadamente)● 2 xíc. de casca de banana bem picadinha● 1 xíc. de leite● 1 colher (sopa) de fermento em pó● 1 colher (sobremesa) de sal● óleo para fritar● 1 ovo inteiro

Modo de preparo:Colocar em uma tigela os ingredientes pela ordem, até

formar uma massa mole. Levar ao fogo o óleo para aquecer e depois ir fazendo os bolinhos com o auxilio de uma colher. Deixar fritar dos dois lados, retirar do óleo e colocar sobre um papel absorvente. Servir quente.

O Brasil despreza

cerca de 20% do que é

comercializado

Em SP, a perda do solo pela

erosão chega a 25 ton. por hectare/ano conhecimento à comunidade,

o curso realiza oficinas semes-trais, onde são ensinadas recei-tas desenvolvidas. Já foram realizados cursos com grupos de merendeiras escolares, agen-tes de saúde e acadêmicos. Também é editado, durante o semestre, o livro “Aproveita-mento Integral de Alimentos: Livro de Receitas”, que além de conter receitas, também traz

dicas sobre como ter uma ali-mentação saudável.

Os livros são vendidos pelos próprios alunos. Os interessa-dos em participar do curso ou adquirir o livro podem entrar em contato com a secretaria do curso de Nutrição da Unifra, no telefone 3025 1202.

Rafael Krambeck e Gilkiane de Mello

fotos Rafael KRambecK

Page 12: JornalEco - 8ª edição / junho de 2009

12

A água da chuva pode ser mais útil do que você imagina. Com um sistema

apropriado, é possível arma-zená-la e utilizá-la para tarefas domésticas. Algumas empresas da cidade notaram este benefício e estão favorecendo este pro-cesso. Na Associação das Filhas de Santa Maria da Providência, conhecida por escola Providên-cia, a ideia de juntar “água que cai do céu” foi para ajudar o meio ambiente. Com o passar do tempo, as irmãs perceberam que, além da melhoria para a natureza, reduziram a conta da água. “São cobrados cerca de 20% a menos”, esclarece Irmã Sônia Maria Southier, 49 anos, diretora administrativa. O sis-tema de armazenamento foi pen-sado para ficar no ginásio, antes mesmo das obras começarem.

As calhas são direcionadas para dentro de duas caixas de água de 10 mil litros cada. Há mais de 12 anos que a escola faz aproveitamento de água, e garantem que as caixas estão sempre cheias. “Em chuvas boas enche. Às vezes até se desperdiça. Transborda!”, relata Irmã Sônia. Esta água é uti-lizada para regar a horta da escola, uma área de 16 x 40 m, de onde são colhidos legumes e vegetais para as refeições dos alunos. São os próprios alunos que trabalham em parte do processo, ficando no estabe-lecimento no horário inverso às aulas. Para isso, recebem auxílio financeiro, através de bolsas, e aprendem tarefas com material reciclado.

Motoristas conscientes

Assim como a escola Provi-dência, a rede de postos Santa Lúcia da cidade também reci-cla água da chuva há mais de 10 anos. O posto Santa Lúcia da BR 287 é conhecido como posto São Pedro, por locali-zar-se na rodovia que conecta Santa Maria a São Pedro. Desde que foi inaugurado, em 1995,

usa o sistema de recolhimento. A cobertura do posto leva a água das calhas para o reserva-tório com capacidade de 75 mil litros. Para não ocorrer desper-dícios é usado um controle de bóia, como uma caixa de des-carga de vasos sanitários. Esta água é usada na lavagem de veí-culos, de oito a dez caminhões e de 40 a 50 carros por dia. A rede faz lavagens durante a semana das 8h ao meio-dia e das 14h às 18h, só não oferece o serviço em domingos e feriados. Os clientes precisam abastecer na quantia mínima de R$50,00 e ganham uma lavagem. Caso queiram utilizar apenas o ser-viço de limpeza para veículo, uma taxa de R$5,00 é cobrada.

Segundo Leandro Machado de Vargas, gerente do posto São Pedro, é muito difícil o reservató-rio esvaziar. “Quando está cheio fechamos o registro do poço artesiano e vamos utilizando a água dali. Se chover, completa a caixa, por isso o poço é pouco usado”, explica o gerente. O posto da rede em Camobi, por

sua vez, não possui um poço arte-siano. Para a limpeza de transpor-tes utiliza-se apenas o que é recolhido com as chuvas. Como está em funcio-namento há pouco tempo,

cerca de um mês, algumas vezes foi necessário pedir aos cami-nhoneiros para dirigirem-se ao posto São Pedro. “O reservatório ainda não está cheio lá e alguns caminhões vêm pra cá, mas por pouco tempo”, relata Vargas.

Retorno para a natureza

Outra empresa da cidade, ao invés de armazenar água da chuva, utiliza um sistema para reaproveitar água. Com a reforma de ampliação, a fábrica da CVI Refrigerantes Ltda., representante da Coca-Cola com sede em Santa Maria, foi modernizada em muitos proces-sos durante a produção das bebi-das. O xarope com a fórmula do refrigerante vem pronto dos

Estados Unidos, porém precisa passar por um processo de lim-peza do açúcar, que agora acon-tece com a troca iônica.

O xarope vai para um tonel junto com uma resina de carga iônica x. A sujidade do açúcar possui carga iônica y e funciona então como atração de imãs com polos opostos. O processo causa um resíduo líquido, que é tratado na ETE – estação de tratamento de efluentes – dentro da própria fábrica. O líquido passa então por vários proces-sos de limpeza e, ao final, por um aquário, para verificar se os peixes se mantêm vivos, e é despejado no Arroio do Passo da Ferreira. O procedimento anterior era feito com terra dia-tomácea e carvão, que causava um resíduo sólido, precisando ser levado para um aterro espe-cial. O novo processo é mais benéfico à natureza, pois 50% do líquido tratado é água que retorna ao meio ambiente.

Joyce Noronha

Pelo futuro da água

A água é um bem vital, mas um recurso em escassez. O momento é de zelar por um amanhã

melhor para todos

“Juntamos, no total, 75 mil

litros de água

da chuva”

Água da chuva é reaproveitada para lavagem dos veículos

Caixas d´água garantem a rega diária da horta

foto

s d

ou

gla

s m

en

eze

s

Page 13: JornalEco - 8ª edição / junho de 2009

Hábitos simples podem salvar o planeta. A sus-tentabilidade começa

dentro de casa, com a adoção do consumo consciente que traz soluções para o equilíbrio entre a satisfação do consumidor e o meio ambiente. Ser sustentável em um mundo de alto consumo pode ser difícil. Mas seria uma das soluções para começar a diminuir os problemas ambien-tais que tanto trazem preocu-pações. A educação ambiental, que parte de pessoas comuns, se torna uma grande ajuda para salvar o planeta.

Eliminar o grande número de garrafas pets utilizadas pelas pessoas é uma tarefa conside-rada difícil por muitos. Esse tipo de plástico já causa graves danos ambientais. Ocupa espaço em terrenos, entope bueiros, agrava o problema das enchentes e há ainda a demora da composição do material. O aposentado Renato Silveira Soares está colaborando para um meio ambiente mais saudável. Há 5 anos ele reforma cadeiras de abrir e balanço, reti-rando o material antigo que está danificado e substituindo por tiras feitas com garrafas pets. Soares conta que aprendeu a téc-nica com seu filho, que comprou uma cadeira de outro senhor que realizava o mesmo trabalho. Ele desmontou até aprender como fazia. “É um passatempo e ajuda a dar um fim para as garrafas que prejudicam o meio ambiente”, revela Soares.

Ele junta as garrafas que uti-liza em casa com as que ganha de amigos e vizinhos e realiza o trabalho. Quando tem em torno de 150 a 200 garrafas começa a tarefa, que não é nada fácil. Pri-meiro retira os rótulos e elimina a cola que fica no recipiente. O próximo passo é lavá-las e

partir para o corte. Os fios são preparados através de uma espé-cie de máquina criada pelo seu filho. Ele leva em torno de dois dias para cortar as tiras. Depois desta tarefa, começa a produ-ção que dura em torno de duas horas. Outra atitude do aposen-tado é a compra, em sucatas, de armações de cadeiras que as pessoas põem fora. Ele as reforma e vende. Com esta ati-tude também ajuda a eliminar o grande número de ferros e plás-ticos que existem em sucatas.

Economia de água e dinheiro

Pensar em sustentabilidade é garantir vida para as gerações futuras. É importante criar uma rotina e principalmente uma consciência. Armazenar a água da chuva é uma ação simples e fundamental. O aposentado Marino Fogliarini reconhece que a água é um recurso vital. Na sua casa possui três bombonas que armazenam o total de 1.200 litros através de um sistema de calhas. Há mais de 20 anos Fogliarini usa o líquido para lavar o pátio, aguar as flores e a horta. “A água da Corsan possui produtos químicos e prejudica a raiz”, afirma o aposentado.

O objetivo vai além da eco-nomia e é uma iniciativa para poupar o planeta. A preserva-ção do recurso não para por ai. O aposentado não desperdiça água ao escovar os dentes, fazer a barba e na hora do banho. A esposa também colabora para evitar o desperdício, já os netos não reconhecem a importân-cia dessas atitudes. Fogliarini revela que em sua casa ele con-trola o consumo dos netos. “Não é pelo dinheiro, é pela realidade, vai faltar água no mundo”, diz. Na horta, nos fundos da casa, é

depositado todo o lixo orgânico que serve de adubo e garante a boa qualidade das verduras.

O militar reformado Milton Scalabrin aprendeu com o vizi-nho e já incentivou amigos a fazer o mesmo sistema de cap-tação da água pelas calhas. A quantidade armazenada é apro-veitada para lavar o carro, dar banho no cachorro e colocar na máquina de lavar que, depois de usada, também é reutili-zada para limpar a casa e lavar o pátio. “Eu uso quatro baldes de água para lavar a roupa e mais quatro para enxaguar”, afirma. Scalabrin diz usar só a água da chuva nas folhagens e comenta que o consumo fica em torno de 30 reais no mês. “Dá para fazer todos os meses um churrasco com a economia de água”, conclui.

Ações individuais, quando somadas, provocam maiores resultados e, gradativamente, é

possível retardar os problemas ambientais. A nossa sobrevivên-cia e qualidade de vida depende da sustentabilidade do planeta. Em cada atitude teremos um retorno e o importante é incenti-

var cada vez mais iniciativas que partam de dentro de casa e ajude a preservar o meio ambiente.

Caroline Cechin e Tiane Dias

Soluções simples para ajudar o planeta

Sistema é utilizado para armazenamento e reaproveitamento da água

Soares (acima) tem orgulho de preservar o meio ambiente com

o seu trabalho. Ao lado, as bombonas armazenam a água que é utilizada nas tarefas domésticas.

13

fotos carolina moro

Page 14: JornalEco - 8ª edição / junho de 2009

14

Cento e cinqüenta tonela-das por dia. Esta é a esti-mativa da quantidade de

lixo que é produzido em Santa Maria, segundo a prestadora de serviços PRT, que faz o serviço de coleta. Todo este lixo vai parar no aterro sanitário, que com-porta, além da matéria orgânica, todo aquele resíduo sólido, que demora até milhões de anos para se decompor. Entre eles, estão o plástico e o vidro, materiais de demorada degradação.

Pensando nisso, o curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Franciscano (Unifra), em parceria com outros cursos da instituição, elabora diversos projetos que vem numa tentativa de amenizar a poluição e a quantidade de lixo que vai para o aterro, atualmente com especial enfoque aos resíduos sólidos. Um destes projetos chega a utilizar até centenas de garrafas pet, depen-dendo do tamanho da estrutura.

O piloto, montado no ano pas-sado, trata de um captor solar, que aproveita a energia solar e a con-verte nas formas de aquecimento e eletricidade. O professor da Engenharia Ambiental, Galileu Adeli Buriol, conta que o objeto está em fase de testes e é voltado, no caso da Unifra, somente para o aquecimento da água, de maneira ainda artesanal, sem a utilização de materiais sofisticados.

O captor funciona quando o calor do sol ativa os elétrons e cria uma corrente elétrica, mas, para isso, as garrafas pet devem ter um corpo negro, que absorva a energia. No projeto implan-tado na Unifra o revestimento foi feito com caixinhas de leite pintadas de tinta preta. “As pes-soas tendem a pensar que as garrafas podem não suportar o calor.”, explica o professor.

Buriol esclarece ainda que, para que o processo ocorra com sucesso, a inclinação do captor deve ser em torno de 30° ao norte, pois quanto mais perpen-dicular chegarem os raios sola-res, mais energia chegará por unidade de área do instrumento. Nos dias de muito calor, no verão, às vezes nem é preciso ligar o chuveiro elétrico.

Long Neck: do vidro à areia

Outro projeto em fase de expe-rimentação, que começou no ano passado, utiliza resíduos de gar-rafas long neck. O trabalho é dos cursos da Engenharia Ambiental e Arquitetura e Urbanismo da Unifra. O objetivo é descobrir se é

possível substituir, parcialmente, a brita ou a areia na argamassa ou em blocos de concreto por vidro triturado, para a construção civil.

O primeiro passo foi recolher as garrafas descartáveis em casas noturnas da cidade, onde o con-sumo era grande e sem custo para a pesquisa. A arrecadação chegou a mais de 50 sacos de garrafa por noite. Depois, as garrafas eram lavadas e quebradas em um deter-minado tamanho, para serem tri-turadas no moinho, onde então era obtido o resultado previsto para que passasse em uma peneira.

Segundo a professora da Enge-nharia Florestal da Unipampa, Lidiane Barroso, 29 anos, que participou como coordenadora do projeto, as garrafas de cor verde eram mais complicadas de serem retiradas. Um dos bolsistas do projeto, acadêmico da Arqui-tetura, Daniel Bohrer Maciel, 24 anos, conta que, apesar dos resul-tados serem bastante positivos, o trabalho é árduo: “O projeto é um pouco desgastante, porque o exer-cício de moer é totalmente braçal, mas o interessante é acompanhar passo a passo o processo de trans-formação do vidro”.

No final de 2008, a equipe envolvida na pesquisa chegou à conclusão que as garrafas podem substituir até 25% da areia ou brita nas argamassas ou blocos de concreto. Este ano, o obje-tivo é tentar aumentar essa por-centagem e constatar até onde o material pode ser alterado. Os professores e alunos estão espe-rançosos e acreditam na redução de gastos, pois a areia e a brita possuem um valor alto, sendo que as garrafas são materiais pra-ticamente gratuitos e com poucos recursos para reciclagem.

Maitê Vallejos e Thaís Bueno

O provável futuro das garrafas descartáveis

Piloto do captor solar, capaz de transformar energia solar em elétrica

Com apenas um clique, você planta uma árvore por dia

Aluno e professoras com as amostradas dos resíduos sólidos

Você gostaria de ajudar o planeta, mas não tem ideia de como começar? Quer participar de campanhas em prol do meio ambiente, mas não sabe como? Gostaria de prejudicar menos o mundo, mas acha que isso é muito complicado? Deseja plan-tar árvores para ajudar no reflo-restamento, mas não tem tempo e nem conhecimento? A resposta para todas essas perguntas está ao alcance dos seus dedos: basta navegar na internet.

Se você nunca pensou nisso, saiba que é possível encontrar na rede vários portais com dicas de como ajudar o meio ambiente. O território virtual oferece os mais variados conteúdos a seus usuá-rios. Entre novidades e notícias, vídeos e downloads, sites de relacionamento e exposição da vida pessoal, há quem encontre na internet espaço para ajudar o planeta, de uma forma prática, rápida e sem sair de casa.

Um destes sites a favor do meio ambiente é o Clickarvore, que foi criado a partir de uma par-ceria entre a fundação SOS Mata Atlântica, o Instituto Ambiental Vidágua e o Grupo Abril, com apoio de empresas patrocina-doras. Ele consiste em um pro-grama de reflorestamento com espécies nativas da Mata Atlân-tica pela internet. Através de cada click dado no site pelos usuários, uma árvore é plantada em algum lugar do Brasil, e você ainda con-fere por meio de uma mapa de rastreamento, o local exato onde sua árvore foi plantada.

Segundo a assessoria de imprensa do site, um dos objeti-vos é mobilizar a sociedade civil para participar dos projetos de reflorestamento, promovendo assim a educação ambiental. Além de ajudar a natureza, o Clickarvore gera empregos em viveiros florestais e proprieda-des rurais durante os plantios.

No Rio Grande do Sul, o Clickarvore já tem adeptos. O santa-mariense Matheus Caste-lan Pereira, 20 anos, estudante de Direito, ocupa um posto no

ranking regional, com mais de 200 árvores plantadas. Ele conhe-ceu o site através de um amigo. No primeiro momento, viu o site como um meio de “compensar” a natureza pelos danos causa-dos por ele e pelos homens em geral. “Além de plantar árvo-res, o site serve também para reciclar os pensamentos de seus usuários”, comenta Pereira. Ele ainda acredita que as pessoas passam naturalmente a pensar em outras formas de, ao longo do dia a dia, contribuir para a conservação do planeta.

Também na luta pela preser-vação do meio ambiente, estão os sites Iniciativa Verde e WWF, que desenvolvem diversos proje-tos com a finalidade de preservar o planeta. O primeiro conta com o projeto Amigo da Floresta, que consiste em pesquisas na área florestal, na capacitação e na restauração florestal, através de recursos doados pelos internau-tas. Também através de doações, o WWF desenvolve um programa para frear o desmatamento da Amazônia, proteger as nascentes de água doce e evitar a extinção de espécies como a onça-pintada, por exemplo. Além disso, é pos-sível filiar-se ao site e participar ativamente através de diversos tipos de contribuição.

De acordo com o biólogo Cláudio Luiz Ribeiro, 55 anos, o trabalho desenvolvido pelo WWF é muito sério e visa ajudar o pla-neta em vários seguimentos. “As pessoas deveriam se conscienti-zar mais, não dá nenhum trabalho sentar em frente ao computador e contribuir com o planeta de uma forma séria e rápida”, afirma Ribeiro que é filiado ao site desde abril de 2008.

Opções para ajudar o planeta através da internet não faltam. Basta o internauta se conscientizar que ele tem poderosas ferramen-tas para lutar pela preservação do meio ambiente. O planeta e as gerações futuras agradecem.

Cassiano Cavalheiro e Luisa Schneiders

Um click pelo planeta

eva

nd

ro

stu

rm

do

ug

las

me

ne

zes

Page 15: JornalEco - 8ª edição / junho de 2009

15

Quem não gosta de ficar na sombra no verão? Com as temperaturas cada

vez mais elevadas e raios sola-res mais intensos, evitar a expo-sição solar e proteger a pele é o indicado pelos médicos. São as árvores que proporcionam sombra, embelezam a cidade e melhoram o ar. Mesmo assim, em cidades como Santa Maria, são encontrados longos espaços urbanos sem arborização.

Segundo o engenheiro flores-tal Alexandre Barnewits, o prin-cipal benefício das árvores é o serviço ambiental: “As árvores diminuem a poluição, protegem contra o vento e chuva, regulam a temperatura e a umidade”. Ele compara que uma única árvore pode substituir quatro aparelhos de ar-condicionado, através de sua sombra natural.

Em Santa Maria, as árvores são encontradas em praças, par-ques, canteiros das avenidas e em frente a edifícios. Poucas resis-tem ao longo das ruas. Muitas foram retiradas, com autoriza-ção, pelo plantio inadequado.

Plantio consciente

Qualquer pessoa pode plan-tar uma árvore. Mas para evitar problemas, profissionais devem ser consultados antes do plantio e da escolha da espécie. Bar-newits recomenda que deve ser feita uma análise do local para definir a melhor árvore e obter informações sobre a forma correta de plantio. “Acontece com freqüência de as pessoas terem pro-blemas nas calçadas e culparem as árvo-res. O problema não é da raiz e sim da cal-çada”, complementa. O espaço destinado à árvore tem que ser compatível com o tamanho que ela vai atingir quando adulta.

Frente aos proble-mas enfrentados pela falta de informação sobre as árvores, foi elaborado pela Secre-taria Municipal de Proteção Ambiental, o Plano Municipal de Arborização (PMAU) para orientar a popu-lação. No Plano há as infor-mações sobre as características da arborização da cidade, a relação das árvores protegidas pelas Leis Municipais nº 2437 e nº 2506, além de informações sobre o porte de cada espécie, e como deve ser feita a manuten-ção das mesmas.

O corte de árvores é regu-lamentado por lei, só pode ser feito com autorização da prefei-tura. O engenheiro explica que para cada árvore cortada, devem ser plantadas 15 árvores: “Mas não é obrigatório colocar uma, no local de onde foi retirada. Mesmo que apenas a espécie de árvore é que estivesse inade-

quada para o espaço”. O plantio das mudas substitutas pode ser feito por terceiros, ou seja, as mudas podem ser compradas e encaminhadas até mesmo à prefeitura, mediante acordo.

Por que deve havermais árvores?

Os benefícios das árvores são pouco reconhecidos pela população. O analista ambiental do Ibama, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente, lamenta que as pes-soas caracterizem a árvore como um problema: “A maio-ria alega que entope

calha, faz sujeira, podem ser escaladas por ladrões, para os empresários, encobre fachada da empresa com logotipo, entre outros motivos”.

A influência das árvores no clima pode ser percebida com um exemplo. Barnewits cita um dos municípios mais quentes

do país, Belém, no Pará. Após a arborização da cidade foi constatada a diferença de 11º C a menos, sob a copa das árvo-res, com relação ao sol. “Aqui as proporções seriam menores. Mas já se sabe que Camobi tem 2º C a menos que no centro”, compara o engenheiro.

Não há um número exato de árvores necessá-rias, existe uma média por área: “Para ter uma cidade saudá-vel o indicado é que existam 12 metros qua-drados de árvores por habitante, seria em torno de três árvores por pessoa”, calcula o profissional. O parque Itaimbé é um exem-plo de arborização na cidade, que mesmo assim não supre as necessidades do município.

Uma árvore demora de quatro

a cinco anos, em média, para ficar jovem estabelecida, o que varia conforme a espécie. Como ela demora a crescer, exige pro-teção. De acordo com Barnewits é possível arborizar a cidade: “Só exige esforço. Depende de vontade e do investimento

desejado, pois tem que haver manutenção. E também esbarra nas prioridades”.

Na ornamenta-ção das cidades as árvores também são utilizadas. Algumas pre-feituras mantém regras quanto ao

plantio, conforme a coloração das flores, altura ou tamanho da copa, em avenidas ou praças. O engenheiro afirma que só não é recomendada a utilização de árvores frutíferas no passeio público: “Os frutos, quando caem, podem causar estragos.

Mas também falta educação, as pessoas não respeitam os frutos das árvores”.

Os moradores de Santa Maria também sentem a necessidade de ter mais árvores ao longo das ruas, como é o caso da aposen-tada, Zena Dotto. Ela conta que sente falta das árvores porque fornecem ar puro: “Árvore é vida, brinco que vim do mato, mas que o mato não veio atrás”. Já o aposentado Eldio Zimmer-mann, reclama que falta sombra de árvore: “O verde dá alegria, poderia ter mais árvores na cidade. Só tem nas praças”.

A arborização urbana é toda cobertura vegetal existente na cidade, seja em áreas públicas, como praças, parques ou espaços particulares como os jardins das residências. Para o engenheiro agrônomo Galileo Buriol, a vege-tação favorece a termo regulação e evita a amplitude térmica. Quanto maior área florestada, melhor será a condição térmica: “Mas não basta só plantar árvores, a vegeta-ção aumenta a absorção de água e diminui as enxurradas”, afirma.

A melhoria das condições cli-máticas nas cidades, segundo Buriol, seria obtida com a dimi-nuição das áreas pavimentadas e substituição por vegetação. O engenheiro comenta que há anos atrás os cursos de engenharia pro-curavam soluções para que a água escorresse rápido: “Hoje é ao contrário, o planejamento é para absorver água, como nos grandes pátios com pavimentação perme-ável que já existem na Holanda”.

No Rio Grande do Sul, a carac-terística recomendada para melhor adaptação é que a árvore seja caduca, ou seja, que perde folhas no inverno, por termos um clima rigoroso. Segundo o Plano Muni-cipal de Arborização em Santa Maria é recomendado o plantio de espécies nativas da região. Se você ficou com vontade de plan-tar uma árvore procure informa-ção nos órgãos responsáveis ou profissionais da área.

Alice Balbé e Camilla Lopes

Santa Maria pode ser mais verde

Antes de plantar,

especialistas indicam

orientação

Como funciona a reposição florestal obrigatória

●Art.29 - A reposição florestal obrigató-ria deverá ser feita na base de 15 (quinze) mudas de espécies nativas para cada árvore cortada, preferencialmente da mesma espé-cie, com o plantio no prazo máximo de um ano, a partir da data do licenciamento. ●Parágrafoúnico - No cumprimento do prazo de um ano, para a reposição florestal obrigatória, deverá ser considerada a época adequada, as condições do sítio e espécies previstas ao plantio.

O que fazer antes de realizar a poda das árvores

Procure a Secretaria de Proteção Ambiental, localizada no prédio da Prefeitura, na rua Venâncio Aires, 2277, das 8h às 13h. No local é feito um pro-jeto para que a licença de poda seja concedida. Deve ser paga a taxa de R$ 15,82. Os custos com a equipe que realizará a poda são particulares.

Se a árvore estiver em local público e causando algum tipo de transtorno, basta ligar para a Secretaria de Proteção Ambiental, 3921-7151, das 8h às 12h e solicitar o pedido. O caso é estudado por profissionais da secretaria e a poda é feita sem custos.

A travessa Lucas Barbosa, no centro, é um exemplo da falta de arborização da cidade

Para Barnewits, é possível arborizar

a cidade mas exige esforço

Para Buriol, diminuir as áreas

pavimentadas poderia melhorar o ambiente climático

fotos maiara bersch

Page 16: JornalEco - 8ª edição / junho de 2009

“Preserve os nossos rios, nosso verde, nosso ar. E também tudo aquilo que tiver que preser-var. Preserve o que é mato nesse mundo grandioso. Pois tudo em breve, eu acho, poderá ser valioso”. Esses versos da Banda Ultramen precisam, mais do que nunca, serem colocados em prá-tica. Já podem ser percebidas as conseqüências geradas pela falta de cuidado com o meio ambiente. O homem transforma o espaço na busca de suprir suas neces-sidades e desejos. Essas modi-ficações interferem na relação harmônica e natural que deveria existir entre todos os componen-tes. Porém, muitas vezes, o ser humano não pensa nas conse-quências de suas ações.

Com toda a urbanização é difícil encontrarmos lugares arborizados. Em Santa Maria, o parque Itaimbé é reconhe-cido por sua extensão em áreas verdes. O lugar atrai olhares e faz as pessoas refletirem sobre o que realmente significa o termo meio ambiente. A palavra refe-re-se a um local de interação das pessoas entre si e com o espaço em que vivem. Neste contexto, a convivência em sociedade e os espaços em comum exigem das pessoas respeito a certos limi-tes, como a preservação desses bens públicos e naturais.

O final de semana tão espe-rado chega. Com o fim do tra-balho e da rotina acelerada as pessoas buscam lazer e descanso. Algumas optam por lugares ao ar livre. Nesse cenário, crian-ças andam de bicicleta, jogam bola e brincam nas pracinhas. Em grupos, jovens se integram para namorar, conversar e ouvir música. Quem gosta de uma boa leitura aproveita a sombra do parque, nos dias quentes, para essa prática. O ambiente arbori-zado, as pistas de caminhada e o espaço para desenvolvimento de atividades culturais caracterizam o parque Itaimbé.

A sombra e o canto dos pás-saros seduzem os moradores que vivem na volta do local. É o caso da pensionista Alany Culau, de 80 anos. Sentada na sombra, a mora-dora da avenida Itaimbé comenta da alegria que sente ao abrir a janela do apartamento e ver a área verde do parque. Durante o verão recorre ao ar fresco pro-porcionado pelas árvores, já no inverno busca o refúgio do sol nos dias frios. A vizinha Ruth Rempel, 76, aproveita a tempera-tura agradável para fazer tricô e diz gostar do lugar, mas ressalta

o lixo espalhado nos gramados como um ponto negativo.

A melhoria do parque e a prefeitura

A preservação das áreas verdes e o investimento em locais de lazer em Santa Maria, a exemplo do parque Itaimbé, é um dos objetivos da Secretaria de Município de Proteção Ambien-tal. Segundo o secretário, Lau-rindo Lorenzi Filho, investir não é sinônimo de despesas, pois visa a inserção do município no eco turismo. Lorenzi esclarece que, através da fundação, será possível captar recursos nacio-nais e internacionais oriundos da iniciativa privada. Outra ideia é realizar um inventário ambiental das áreas arborizadas na cidade. Dessa maneira, será obtido um levantamento do patrimônio municipal a fim de desenvolver políticas públicas de longo prazo. É objetivo também sensibilizar e conscientizar as pessoas sobre a educação ambiental, abrangendo escolas e a comunidade. Além disso, segundo Lorenzi, existe a intenção de estabelecer parcerias com cursos de ensino superior, ligados a área ambiental.

Em toda a extensão do parque é normal observar bichinhos de estimação e de rua. Isso causa preocupação aos frequentadores, pois crianças e animais dividem os mesmos espaços. A comer-ciante Fátima Rosane Rodrigues da Costa, 50 anos, sugere que sejam colocadas telas ao redor das pracinhas infantis. Segundo o secretário, há o projeto de

criar um “Centro de Bem-Estar Animal”, uma sugestão do vere-ador Manoel Badke ao poder executivo municipal. A ideia é que o centro trabalhe na busca pela educação das pessoas em relação a estas questões. O pro-jeto seria divulgado por meio de campanhas midiáticas, palestras e a realização de cadastros.

Quanto ao depósito do lixo em locais incorretos citado por Ruth, como no gramado do parque, Lorenzi diz que a cidade

precisa avançar na coleta atra-vés de uma maior regularidade no recolhimento, seja ela de forma convencional ou por con-têineres. Ele cita a recente cria-ção da “Equipe de Controle de Qualidade da Coleta de Lixo”, que realiza vistoria do sistema de coleta em três turnos. Res-salta que o sucesso desse traba-lho depende da participação da população através do telefone da “Linha Verde Municipal”. Quem também comentou esse

problema foi a estudante Cibele Ximendes, 14 anos. Segundo ela, um agravante da situação é o mato e a grama alta. Isso seria uma forma de atrair mais sujeira. “Como o ambiente já está sujo, as pessoas pensam que não vai fazer mal atirar mais um papel”, comenta. Os passeios diários com seu cachorro fazem a estu-dante perceber também que a falta de lixeiras contribui para piorar a situação.

Meio ambiente e exercícios físicos

Além das caminhadas e dos

passeios com os animais de esti-mação, há aqueles que vão para o Itaimbé praticar o Parkour. Um grupo de cerca de 20 pessoas se reúne em locais como o parque para se exercitar através dessa atividade física que não é con-siderada um esporte, por não ter diretrizes e regras estabelecidas e não visar a competição. O meio ambiente é um aliado deles, a medida que utilizam as árvores para a prática. É uma disciplina para exercitar o corpo, a mente e possibilita conhecer melhor as habilidades físicas ao se mover de um ponto a outro. Segundo o acadêmico de engenharia elétrica e praticante do Parkour, Ricardo Cézar do Amaral, 19, a prática não prejudica o meio ambiente. Ao contrário, os praticantes buscam esses locais naturais para terem seus momentos de conver-sas e treinos. Já o estudante de Letras Gabriel Pacheco Cuneto, 21, salienta que o parque Itaimbé possui um grande número de obs-táculos concentrados o que favo-rece os treinamentos e a busca pela própria superação. Essa prática é um exemplo de como a preservação desse espaço natural é importante para o lazer e para a melhoria na qualidade de vida.

Dessa forma, percebe-se a importância da palavra preserva-ção para que as novas gerações possam chegar à idade das vizi-nhas Ruth e Alany e usufruirem de espaços arborizados e naturais como o parque Itaimbé. Como diz a letra da música do Ultra-men, hoje o homem pode não dar muita importância e não cuidar do meio ambiente, mas no futuro o seu valor será incalculável.

Para sugestões e reclamações ligue para a Linha Verde da Pre-feitura Municipal pelo 3921-7151 das 8 às 12 horas.

Francine Boijink e Vanessa Barbieri Moro

Parque Itaimbé: preservar é a solução

Lixo é jogado no chão próximo a lixeira

Crianças e adultos convivem com o depósito incorreto de lixo

Fátima sugere que as pracinhas sejam cercadas

Para Cibele sujeira atrai mais lixo

fotos francine Boijink

Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra 8ª edição - junho/2009