jornaleco - 5ª edição / novembro de 2007

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Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra 5ª edição - novembro/2007 saneamento básico saneamento básico preservação de praças e jardins preservação de praças e jardins educação ambiental educação ambiental abandono do fumo abandono do fumo separação do lixo separação do lixo reciclagem de papel reciclagem de papel reaproveitamento de materiais reaproveitamento de materiais mudanças de atitudes mudanças de atitudes Laura Fabrício ruas limpas ruas limpas ar puro ar puro Qualidade de vida Qualidade de vida

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Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra

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Page 1: JornalEco - 5ª edição / novembro de 2007

Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra 5ª edição - novembro/2007

saneamento básico

saneamento básico

preservação de praças e jardinspreservação de praças e jardins

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Qualidade de vidaQualidade de vida

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Usa, rasga, joga na lixeira. Junta tudo, amarra e leva para fora. Lá fora, vem seu José. Ele abre seu lixo, escolhe o

que o interessa e separa. Entre os selecionados estão os papéis que você rasgou e misturou com as outras coisas que estavam na lixeira. Para seu José, o papel que você não quis mais vai virar papel machê e ser vendido na feirinha de artesanato do bairro dele.

Aquele papel que qualquer pessoa pode fazer em casa, usando água, cola e um liquidifi cador é também uma fonte de renda. A fabricação de produtos a partir da reciclagem, como blocos de anotações, envelopes, cadernos e caixinhas está em alta no mercado graças à consciência de preservação do meio ambiente. O negócio tem um investimento inicial muito baixo e gera renda imediata. É bom para quem faz, é bom para quem compra e ambos contribuem para o meio ambiente.

Mesmo com suas qualidades, o papel machê apresenta fragilidades: não pode ser produzido em grande escala e nem aceita impressões em off-set. A consciência ecológica chega

então às grandes indústrias de papel. Por isso, empresas no mundo todo têm reaproveitado os restos de suas demandas e produzido um papel reciclado que aceita impressão e pode ser feito em maior quantidade. O papel reciclato, produzido pela empresa brasileira Suzano é o mais usado

Reciclando

Palavras

Em tempos de aquecimento global e do Nobel da Paz ter sido conquistado por um grupo que busca a conscientização das pessoas acerca do meio ambiente, mais um JornalEco chega às ruas.

Durante o segundo semestre deste ano, os alunos da disciplina de Jornalismo Especializado I do curso de Jornalismo da Unifra passaram por um processo de aprendizagem, cujo resultado o leitor pode avaliar a partir de agora.

Tentou-se simular, em um ambiente de sala de aula, a prática do mercado, refl etindo sobre as problemáticas ambientais e sua decodifi cação para todos aqueles que têm interesse nesta temática.

Nesta edição do jornal-laboratório, o leitor encontrará matérias que versam sobre a situação do saneamento básico em Santa Maria, os problemas acarretados pelo fumo e alternativas para quem quer deixar de fumar, as sacolas retornáveis e seus benefícios para o meio ambiente, entre outras. Desse modo, trazemos para as páginas do jornal conteúdo que poderá nos ajudar a ter uma maior Qualidade de Vida, em uma época onde cresce a necessidade de fazermos com que nossa vida seja sustentável.

Acreditamos que ter uma vida com qualidade, sem destruirmos lentamente o meio em que vivemos é um desafi o possível.

A equipe do JornalEco deseja a você uma boa leitura! Alice Bollick e

Bianca Zasso

Textos: Adriana Garcia, Alice Bollick, Ana Paula Badke da Silva, Bianca Zasso, Camila Ferrari de Azevedo, Carla Campos Martins, Clarissa Pippi, Fabiane Berlese, Fernanda Fernandes, Franciane Meleu Ferreira, Gilson Pinto Alves, Graziele Freitas, Julio Cesar Marin, Julio Castagna Mota, Marcelo Silva Barcelos, Matheus Rivé Menezes, Nicholas Fonseca, Norton Avila, Regina Ines Vogt, Roberta Friedrich Medeiros.

Pré-diagramação: Anderson Puiatti, Fabiane Berlese, Guilherme Saidelles Bicca, Julio Castagna Mota, Julio Cesar Marin.

Diagramação: Izaur MonteiroIlustrações e infográfi co: Nícholas Fonseca, Orlando Fonseca Jr.

Impressão: Gráfi ca e Editora Pale Ltda.Tiragem: 1.000 exemplares Distribuição gratuitaNovembro 2007

Expediente JornalEco - 5ª ediçãoJornal experimental desenvolvido na disciplina de

Jornalismo Especializado I do curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano

Reitora: Irani RupoloDiretora de Área: Célia Helena de Pelegrini Della MéaCoordenação de Comunicação Social - Jornalismo: Rosana Zucolo

Professoras orientadoras: Jorn. Aurea Evelise Fonseca, Mtb 5048 Jorn. Glaíse Bohrer Palma, Mtb 8531

Edição de Fotografi a: Profª Laura Elise Fabrício, Douglas Menezes, Rodrigo Simões

Editorial

pelas gráfi cas santa-marienses. Conforme José Luis Estivalet,

administrador de uma gráfi ca da cidade, a procura por impressão no reciclato é de apenas 0,5% em relação às impressões em outro tipo de papel. “Acredito que não existe um incentivo de consumo de produtos ecologicamente corretos, e por isso não há uma maior procura”, explica. Outro fator que afasta os consumidores do papel reciclado é o preço. “Nem sempre conseguimos esse papel por preço acessível ao consumidor, então se a pessoa que encomenda a impressão não aceita pagar mais caro ela acaba optando pelo papel branco, o mais barato. O benefício ambiental do papel reciclato é que não é necessário o corte de novas árvores. Porém, a utilização de química nas aparas, para refazer a pasta de celulose, é muito maior”, afi rma Estivalet.

A gráfi ca também investe na produção artesanal de papel reciclado. Toda semana, um veículo de Caçapava do Sul vem buscar as aparas (sobras de papel) da empresa e transformá-las em novas folhas. Tão boas e utilitárias quanto as que o seu José vende em sua feirinha.

Saiba mais Produzir papel a partir de

papel velho consome cerca de 50% menos energia e 50 vezes menos água do que fabricá-lo a partir de árvores; e reduz a poluição do ar em 95%. Cada tonelada de papel

reciclado representa 3 metros cúbicos de espaço disponível nos aterros sanitários. O Brasil produz cerca de 4.700

toneladas de papel e apenas 30% são recicladas.- A leitura em papel reciclado é menos cansativa, pois não força tanto o olho com o contraste preto e branco, já que as folhas têm um tom amarelado. A textura da folha favorece

os livros, pois as cópias não fi cam tão boas. Nas fotocópias aparecem as fi bras e as partes mais escuras do reciclato.

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Rede de mercados de Santa Maria disponibiliza sacolas retornáveis para os clientes

Douglas Menezes

Em Santa Maria, o uso de sacolas biodegradáveis já é realidade, assim como em diversas cidades

do país.

Agora, só sacolas retornáveis

Graziele Freitas e Norton Avila

O uso de sacolas plásticas vem aumen-tando em diversos estabelecimentos comerciais de San-ta Maria, o que fez

com que empresários e políticos buscassem novas alternativas para diminuir o uso deste material. No momento em que a preservação da natureza está cada vez mais em evidência e a busca por novas alternativas de bens de consumo não renováveis está preocupando a população, devemos buscar outras formas de diminuir o impacto ambiental. O uso de materiais oxi-biodegradáveis é uma delas.

Usado pela maioria das pessoas para facilitar o transporte das mercadorias e muitas vezes para embalar o lixo das residências, a sacola plástica de polietileno vem se tornando cada vez mais o vilão do meio ambiente. Uma sacolinha leva em média 400 anos para se decompor na natureza, o que é um dado assustador, visto que apenas 5% deste material é reaproveitado em todo o Brasil.

Na Câmara dos Deputados já tramita o Projeto de Lei n° 612 de 2007, do deputado Flávio Bezerra, que obriga os estabelecimentos comerciais a fornecerem aos consumidores sacolas plásticas

oxibiodegradáveis para o acon-dicionamento dos produtos, já que estas levam apenas 18 meses para se decompor. Com o projeto, o deputado pretende acabar com o uso de sacolas de polietileno.

Em Santa Maria, o uso de sacolas biodegradáveis já é realidade, as-sim como em diversas cidades do país. A Rede Vivo de supermercados disponibiliza sacolas retornáveis para seus clientes. “Usávamos cerca de 2 milhões de sacolas plásticas por mês em todos os supermercados da rede. Agora, com as sacolas retornáveis, nossa meta fi nal é diminuir em 80% o uso de sacolas plásticas”, explica Mar-co Antônio Ferigolo, gerente de marketing do supermercado.

Além de ajudar o meio ambiente, o uso das sacolas retornáveis da rede de supermercados tem um cunho social. As embalagens são confeccionadas por detentos do Presídio Regional de Santa Maria, que ganham R$ 0,20 por peça confeccionada. Em média, são feitas 800 sacolas por dia. “Disponibilizamos, no início, 50 mil sacolas retornáveis que já se esgotaram. Isso é sinal

que a população está aderindo à campanha”, ressalta Marco Antônio. No futuro, a rede pretende ampliar o projeto para os porta-dores de necessidades especiais.

Para quem freqüenta o supermercado todos os dias, as sacolas retornáveis facilitam bastante. “Todos os dias vou ao mercado e chegava em casa com várias sacolas que iam para o lixo. Hoje carrego uma só que me acompanha nas compras”, explica

a dona de casa Maria Cecília Vargas.

A Câmara de Vereadores de Santa Maria aprovou, no dia 30 de outubro, o projeto de lei do vereador Tubias Calil, que dis-põe sobre as sacolas plásticas utilizadas pelos estabelecimentos comerciais da cidade.

O projeto prevê que todas as empresas devem utilizar para o acondicionamento de seus produtos sacolas retornáveis, sacos de papel ou embalagens plásticas oxibiodegradáveis. O prazo para substituir as embalagens comuns pelas específi cas da lei será de quatro anos, a contar do dia de sua publicação.

O plástico oxibiodegradável

está chegando ao mercado e representará, em médio prazo, um enorme ganho ecológico. Rejeitar o uso de sacolas plásticas no comércio vai pressionar as empresas e elas, pressionadas pela população a serem amigas da natureza, vão começar a se comprometer com o meio ambiente e a fazer a substituição. Mas, para a química Marta Tocchetto, o processo não é tão simples assim e também pode causar danos para o meio ambiente. “O plástico oxibiodegradável, que é derivado do petróleo, recebe aditivos que aceleram a sua degradação. Porém, esses aditivos possuem metais pesados que podem ser prejudiciais a saúde”, explica Marta.

Ao contrário das sacolas biodegradáveis que levam cerca de 400 anos para se decompor, as sacolas oxibiodegradáveis, ou seja, com a presença dos aditivos, levam cerca de 180 dias. “O manuseio destas sacolas ao transportar alimentos pode, a longo prazo, ser perigoso à saúde humana quando ingerirmos estes alimentos. Assim como ao meio ambiente, quando depositado direto no solo”, fi naliza Marta.

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Rodrigo Simões

Repensando as atitudes

O estudo dos problemas ambientais tão discutidos atual- mente não se restringe apenas aos especialistas. Três

alunas do 2º ano do Ensino Médio do Colégio Adventista de Santa Maria, orientadas pelo professor de Física, pesquisaram e criaram o projeto “Aquecimento Global: uma oportunidade para repensar nossas atitudes”.

Com este trabalho, Camilla de Oliveira, 17 anos, Rittieli D’Ávila Quaiatto, 16, Sabrina Nascimento Borba, 15, e o professor Bruno Carlson Writzl, receberam o primeiro lugar na sétima edição da Feira de Tecnologia, Ciências e Artes do Peies, realizada no mês de agosto de 2007 na Universidade Federal de Santa Maria.

A idéia surgiu com incentivo do professor e da preocupação das garotas com o meio ambiente. As alunas, então, pesquisaram como a cidade é afetada com as mudanças climáticas. “Não adianta querermos mudar longe, temos que iniciar a conscientização por aqui. Começamos pelo nosso colégio,

conversando com as turmas”, comenta Camilla. Os dados foram levantados a partir de notícias dos jornais locais dos últimos três anos. Elas constataram que algumas das conseqüências da mudança no clima, entre 2005 e 2007, foram grandes secas e temporais que causaram enchentes e vendavais na região.

Outra etapa da pesquisa foi conhecer a Associação de Selecionadores de Materiais Recicláveis (ASMAR) e também o lixão da cidade. “O lixo (no aterro) polui a terra, solta gases no ar e ajuda a aumentar a camada de poluição em volta do planeta, colaborando com o aumento da temperatura”, explica Sabrina.

As alunas e o professor também aplicaram um questionário às turmas do colégio para saber quanto era o gasto de água e de energia nas famílias dos alunos. O resultado, que o professor Bruno comenta, preocupa: “no Rio Grande do Sul, o consumo diário de água é, em média, de 125 litros por pessoa. E a pesquisa no colégio concluiu que são gastos, por pessoa, quase 200 litros. E também a maioria das casas não tem lâmpadas econômicas.”

Em busca de opções criativas que busquem a qualidade de vida sem agredir o meio ambiente, grupo de alunas eprofessor cria um sistema de captação de calor a partir do uso de materiais recicláveis, valendo-se do aquecimento solar.

Projeto venceu mais de duzentos concorrentes na Feira de Tecnologia, Ciências e Artes do Peies.

Quem se preocupa com omeio ambiente ganha prêmio

O chuveiro elétrico representa aproximadamente 40% do valor da conta de energia elétrica da residência popular. Segundo o Programa de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL), entre 17 e 20 horas, as concessionárias mantêm uma oferta de potência elétrica superior ao valor médio diário devido, principalmente, ao uso do chuveiro.

Normalmente, esse acréscimo de oferta é feito por meio de sobrecarga das hidroelétricas ou acionamento temporário das usinas termoelétricas, que além de fornecerem energia emitem gás carbônico - o gás do efeito estufa.

Após as pesquisas, o professor e as alunas construíram um protótipo de aquecedor doméstico de água utilizando o

calor solar e material reciclável. Seu uso pode colaborar para diminuir a liberação de gases danosos à atmosfera, além de reutilizar o “lixo”.

“A idéia é dar um fi m prático ao lixo reciclável que temos em casa. Então, montamos o aquecedor solar com garrafas pet e caixas de leite”, comenta Sabrina. Rittieli completa: “a caixinha de leite, por exemplo, é complicado de reciclar, porque é difícil separar o papelão (parte externa) do alumínio (parte interna).” No protótipo que ganhou a 1ª colocação geral da Feira do Peies deste ano, fi cou comprovada a utilização deste material.

Nícholas FonsecaRegina Vogt

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Vários copos de plástico, misturados a bitucas de cigarro, papel de bala, entre outras porcarias. Pegue todos esses

ingredientes e misture bem até fi car uma massa quase homogênea. Depois disso, basta espalhar essa combinação pelas ruas da cidade e está pronta a receita de uma ressaca.

Na manhã seguinte a uma noite de bebedeira, não é apenas o baladeiro de plantão que sente cansaço, vertigem e fraqueza. Santa Maria também o acompanha nesse mal estar, que atende pelo nome técnico de veisalgia. Depois de uma noite de muita festa os locais próximos às boates e bares da cidade fi cam cheios de lixo. Segundo o chefe da Varrição da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Urbanos, Antônio Fonseca, alguns pontos se destacam pela concentração de sujeira. Ele cita como exemplo a praça Saturnino de Brito, a esquina entre a rua dos Andradas e Floriano Peixoto, além da avenida Presidente Vargas, no trecho entre as vias Serafi m Valandro e Barão do Triunfo.

O artigo 261 do Código de Posturas do Município prevê que cabe ao responsável pelo estabelecimento comercial o recolhimento do lixo espalhado em suas áreas adjacentes. Mesmo assim, nem todos os bares e casas noturnas respeitam a lei, diz o chefe da Varrição. “Para reverter esse quadro a Secretaria Municipal de Turismo e Eventos notifi ca os estabelecimentos que não cumprem a legislação”, informa Fonseca. O coordenador da Fiscalização de Postura, Costumes e Uso do Espaço Público, Julian Lameira, explica que, após a notifi cação, os locais que continuarem desrespeitando as normas podem receber multa de até R$ 3.500,00. Segundo Lameira, esta ação já surtiu efeito e alguns estabelecimentos limpam suas calçadas assim que a badalação chega ao fi m.

Mas por que será que as pessoas jogam sujeira nos passeios públicos? O estudante Daniel Petry, de 21 anos, admite que joga o copo descartável ao chão depois que a cerveja termina. Ele explica que toma essa medida porque Santa Maria tem poucas lixeiras em suas vias. A arquiteta Sara Tibola, de 25 anos, também sente falta de lixeiras pela cidade, contudo, ela acredita que isso não serve como desculpa para atirar copos descartáveis nem bitucas de cigarro pelas ruas da cidade. “Mesmo que a cidade não tenha muitas lixeiras, acho uma falta de respeito as pessoas jogarem a sua sujeira nos passeios públicos”, avalia a arquiteta. Para a cientista social Francine Nunes, essa falta de consciência com relação ao lixo é uma questão cultural. “Tudo isso está relacionado com a educação. Quem aprende em casa, quando criança, que é errado jogar sujeira ao chão certamente será um adulto responsável”, pondera Francine.

Se a consciência em relação ao lixo não vem do berço, há quem esteja disposto a ensinar quem não tem essa educação. Com a intenção de diminuir a sujeira da rua em frente ao seu bar, o empresário Daniel Collusi e seus sócios decidiram adotar o uso de copos retornáveis em seu estabelecimento. “Optamos por distribuir copos retornáveis porque são práticos e não prejudicam o meio ambiente e também por uma questão de economia, já que não precisamos comprar mais copos”, explica o empresário.

Outra medida, que denota a preocupação com a qualidade de vida da vizinhança do estabelecimento, é a limpeza que seus funcionários fazem nas proximidades da casa noturna. “No início da manhã nossos vizinhos já podem desfrutar de uma rua limpa. Acreditamos que isso é o mínimo que podemos fazer para colaborar com uma sociedade mais consciente”, ressalta Collusi.

Noite, baladas, festas. As alegrias da noitada anteriorviram a sujeira que disputa lugar nas ruas da cidade.

Depois da balada, a ressaca

Fabiane BerleseMatheus Rivé Menezes

Aquecimento Global: o que é? Aquecimento global é o fenômeno decorrente do aumento de poluentes,

principalmente de gases derivados da queima de combustíveis fósseis (gasolina, diesel etc.) e da queima de fl orestas lançados na atmosfera. Estes gases (ozônio, gás carbônico e monóxido de carbono) formam uma camada de difícil dispersão, causando o efeito estufa.

Conseqüências Irregularidades climáticas; Derretimento das geleiras; Catástrofes como furacões,

tornados, ciclones, desertifi cação; Variação da temperatura dos

oceanos; Difusão de doenças tropicais

como a malária; Aumento do nível dos mares; Disseminação de outras

doenças transmitidas por vírus e bactérias, que se reproduzem mais facilmente em temperaturas elevadas; Aumento da incidência de

doenças de pele, em especial

do câncer, em conseqüência da diminuição da camada de ozônio e aumento da exposição à radiação ionizante; Aumento de problemas

respiratórios e alérgicos em conseqüência da contaminação do ar pela emissão de gases tóxicos. Modelos climáticos referenciados

pelo Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC) projetam aumento das temperaturas globais de superfície entre 1,1 e 6,4 °C entre 1990 e 2100.

Os raios de sol atingem o solo e irradiam calor que aquece a atmosfera. Parte da radiação infravermelha (calor) é refl etida pela superfície da terra, mas não

volta ao espaço, pois é absorvida pela camada de gases que envolve o planeta, gerando o efeito estufa. O que tem como resultado o aquecimento da terra.

Fatos marcantes Painel Intergovernamental

para as Mudanças Climáticas (IPCC), estabelecido pela ONU e Organização Meteorológica Mundial, diz que grande parte do aquecimento se deve ao aumento do efeito estufa, causado pelas concentrações de gases provocados pelo homem. Produz informações científi cas em relatórios divulgados periodicamente, baseados nas pesquisas de cientistas de todo o mundo. O Painel diz que, para salvar o clima do planeta, a humanidade terá de diminuir de 50% a 85% as emissões de CO2 até a metade deste século.

O Protocolo de Kioto é um tratado internacional para reduzir a emissão dos gases que provocam o efeito estufa, considerados como causa do aquecimento global. Propõe um calendário para os países desenvolvidos reduzirem a emissão de gases. A redução das emissões deve acontecer em várias atividades econômicas. O protocolo estimula os países signatários a cooperarem entre si, através de ações básicas nas áreas de energia e transportes, fontes energéticas

renováveis, gerenciamento de resíduos e proteção de fl orestas e outros sumidouros de carbono.

Derretimento de geleiras no Alasca, nos Andes, Himalaia, montanhas da África e Antártica. A Antártica tem um dos maiores índices de aquecimento do planeta. No último século, a temperatura no local chegou a subir de 5 a 6° C, causando derretimento das geleiras, fragmentação e destruição das placas e mantos de gelo.

março/2007: o documentário An Inconvenient Truth (Uma Verdade Inconveniente) sobre mudanças climáticas / aquecimento global, estrelado pelo ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, ganha o Oscar de Melhor Documentário da Academy Awards.

outubro/2007: Al Gore e o Comitê de Clima da Organização das Nações Unidas vencem o Prêmio Nobel da Paz de 2007 pelo trabalho de conscientização sobre a ameaça do aquecimento global.

Entenda o aquecimento global

Douglas Menezes

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Óleo e água: mistura perigosaAutoridades começam a discutir destino do óleo usado. Lei que fi scaliza o descarte do produtopode entrar em vigor no início de 2008 e prevê multa de R$ 500,00 para quem não se adequar

Atitudes isoladas, mas relevantes, estão trazendo à tona uma pergunta que muita dona-de-casa se fez por anos: afi nal, o que fazer com o óleo de cozinha que não serve mais para nada? Despejá-lo no ralo da pia ou até no vaso sanitário? Lançá-lo na terra, no esgoto a céu aberto, no córrego perto de casa? Encaminhá-lo ao lixo comum? Se você dirigir essas perguntas a um ambientalista

ou a um químico, a resposta será: “não, isso é um crime contra a natureza!”

Apesar do apelo, na prática, o descarte de óleo no meio ambiente ainda é visto como uma atitude normal. Mas a coisa pode mudar. O tema já vem ganhando destaque e até já mereceu uma proposta de lei, conhecida durante uma audiência pública, realizada na Câmara Municipal

de Vereadores. Foi um primeiro passo para avançar no

assunto. A intenção é simples: regular e fi scalizar o destino fi nal do óleo de cozinha e, assim, evitar que ele seja despejado na natureza e contamine o lençol freático – fi nas lâminas de água pura que correm abaixo de nossos pés, entre as rochas subterrâneas.

O projeto e seus ajustes

Precursora na lei que quer proibir os estabelecimentos comerciais, industriais e prestadores de serviços de jogarem óleos e gorduras na rede coletora de esgoto e águas pluviais, a vereadora Magali Adriano propõe um sistema no qual a Prefeitura cadastre empresas especializadas para fazerem o recolhimento e armazenamento do óleo.

“Precisamos de uma lei que tenha todas as condições de ser cumprida, seja na hora de ir à empresa receber o óleo, ao momento em que ele será depositado adequadamente. A lei também deverá ser estendida às donas-de-casa, ao consumidor doméstico”, explica a vereadora, que está confi ante na aprovação do projeto de lei. “Tenho tido o respaldo total dos vereadores. Faremos ajustes fi nais e, em janeiro de 2008, o recolhimento será lei. Nossa preocupação maior é quanto ao alcance da fi scalização. Não é segredo para ninguém que o número de fi scais da Prefeitura é pequeno para a demanda dos serviços”, alerta.

Para a autora do projeto de lei, o sucesso da iniciativa depende de uma campanha consistente junto às empresas e cidadãos, que os estimule a recolher o óleo usado para entregá-lo em postos de coleta. Mas o trabalho não pára por aí. A idéia é de que escolas e entidades passem a usar o produto descartado como matéria-prima em ofi cinas caseiras para a fabricação de sabão ecológico, detergente, cola, resina e até biodiesel. “É uma cadeia com início, meio e fi m. O Centro Pastoral da igreja de Fátima já fabrica sabão com óleo e o resultado é muito positivo. O lucro obtido com a venda é usado para comprar farinha que vai produzir pão. Um exemplo e tanto”, elogia a legisladora.

O vínculo com o social

Presente na audiência chamada pela Câmara de Vereadores, a professora doutora Marta Tocchetto, do departamento de Química da UFSM, diz aprovar a intenção do projeto, embora não tenha percebido uma estrutura logística que o torne viável. Para ela, o problema tem que ser estudado integralmente, para que o processo não seja interrompido. “Um projeto de lei que não contemple todas as fases, desde o gerador até o destino correto dos resíduos, tende a se tornar uma lei de gaveta”, declara. Ela se refere à falta de perspectivas do projeto quanto ao destino do óleo e sua prática de armazenamento.

O fato do projeto ser destinado aos estabelecimentos comerciais, num primeiro momento, é outro ponto ressaltado como falho pela professora. “As ações acabam sendo apenas pontuais e punitivas. Este é um caso que exige alcance geral através de planos de conscientização

popular. E como é que pensam em punir os infratores?... Ainda não foi oferecida uma alternativa de fi scalização”, lamenta. Marta trabalha com a questão ambiental já há alguns anos. Quando possível, participa de assembléias que tratam do assunto e o fi nal da história, diz, é sempre o mesmo. As leis acabam tropeçando

nelas mesmas. Ela relaciona esse assunto com o caso do recolhimento seletivo do lixo. Plano que, segundo

ela, não atingiu as suas metas. “Falta gerenciamento. As pessoas não têm para onde enviar o seu lixo. Com o óleo vai acabar acontecendo a mesma coisa”, complementa.

Marta ressalta o fato de que ações ligadas ao meio ambiente focam o problema apenas na sua relação com a natureza: “quando se fala em meio ambiente não se pode desconectar do social. Com a degradação da natureza ocorre uma alta diminuição da qualidade de vida das pessoas”. Ela levanta a falta de visão do poder público frente à possibilidade de resolver problemas através desta conexão. Uma alternativa que assistiria às comunidades em situação de risco social seria a criação de cooperativas de bairro, onde o óleo seria transformado em produtos de baixo custo, como o sabão. Desta forma, a venda do produto serviria como fonte de renda para as pessoas excluídas do mercado de trabalho.

No ano passado, o acadêmico do curso de Engenharia Química da UFSM, Luiz Carlos Maciel dos Santos Filho, orientado pelo professor Edson Luiz Foletto, trabalhou em um projeto que consistiu em transformar o óleo de fritura usado do Restaurante Universitário (RU) em sabão. Nos seis meses em que o projeto foi desenvolvido, produziu cerca de 60 kg de sabão. O produto foi distribuído entre os moradores das vilas Lídia e Arco-íris. “Não houve nenhum vínculo com as comunidades durante o processo de produção, mas quando entregamos os sabões todos queriam a receita”, conta Maciel. Ele ressalta o fato do sabão ser de boa qualidade e ter um baixo custo. E conclui: “É possível minimizar o impacto ambiental pela busca de alternativas tecnológicas a fi m de melhorar a qualidade de vida da sociedade”.

“Um projeto de lei que não

contemple todas as fases, desde o gerador até o destino correto dos resíduos, tende a se

tornar uma lei de gaveta”

Rodrigo Simões

Page 7: JornalEco - 5ª edição / novembro de 2007

7O papel da Secretaria

de ProteçãoAmbiental hoje

O tema “Consciência Ambiental” é tão repetido dentro da Escola Municipal Adelmo Simas Genro, na Nova Santa Marta, quanto o nome das disciplinas como Matemática, Física e Português. Literalmente, esse assunto faz parte do aprendizado da gurizada que, dentro de sala de aula, recebe dicas e receitas para preservar o meio ambiente. A prova disso pode ser conferida na prática, graças à iniciativa de uma professora que estimula alunos e pais a não jogarem fora, no lixo, o óleo que usam para cozinhar.

Concluindo Especialização em Educação Ambiental, Rosi Brandão Costa não descansou enquanto não aprendeu a fórmula para fabricar o sabão ecológico usando o óleo que iria parar em ralos e canos de esgoto. Por necessitar de produtos químicos muito fortes, como a

soda cáustica, só a professora, protegida por luvas, é quem se habilita a produzir os sabões, que ainda levam amaciante e água fervente em sua receita.

“Estou produzindo pela segunda vez. Os alunos, é claro, se envolvem, trazem de casa o óleo, mas não fi cam expostos na execução, por segurança. O resultado é fantástico e já temos até um parceiro, que é a Expresso Medianeira, empresa que nos fornece óleo com regularidade. A meta agora é

aumentar a produção e fazer a venda do produto para benefi ciar os alunos, a maioria fi lhos de catadores. É uma idéia que a sociedade deve tomar para si, deve incorporar com vontade, pois faz bem ao planeta e às pessoas”, defende a professora Rosi.

Funcionária da escola, Elisabete Viero, 53 anos, é fã da idéia. Tanto é que ela aprendeu uma receita em que, além do óleo, pode aplicar até a graxa de cozinha. A cozinheira e lavadeira garante: a qualidade na limpeza não deixa nada a desejar em relação a outros produtos.

“Esse aqui é melhor do que desses que vendem no mercado. Limpa que é uma beleza. Eu faço questão de usar. A gente evita até de entupir um cano de casa, despejando o óleo sem responsabilidade”, ensina Elisabete.

A escola que se adiantou

Quem procura a Secretaria de Município de Proteção Ambiental querendo fazer o descarte de óleo é encaminhado para a Associação dos Selecionadores de Material Reciclável de Santa Maria (Asmar), que recebe os restos do produto.

O órgão recebe denúncias no setor de Protocolo, no 1o andar do prédio do Centro Administrativo Municipal. Após avaliação, os casos são encaminhados aos fi scais do meio ambiente. Eles fi scalizam, notifi cam e, dependendo do caso, aplicam um auto de infração.

Outra providência ocorre junto às empresas que produzem restos de óleo em grande quantidade. Elas são obrigadas a apresentar uma Declaração de Destino do Óleo, em que esclarecem para que entidade, ou qual fi m está dando ao resíduo.

A Secretaria de Proteção Ambiental funciona na rua Venâncio Aires, 2035, 9º andar, em Santa Maria. Telefone: (55) 3222-5068. E-mail: [email protected]

Júlio Mota e Marcelo Barcelos

A estratégia de recolhimento é um dos principais aspectos que devem ser trabalhados para que o projeto engrene. Uma possibilidade é a colocação de pontos de entrega do óleo em locais como igrejas, escolas, bancos, supermercados e restaurantes. Desta forma a ação teria um alcance maior, atingindo também residências e condomínios.

Luis Alberto Brutti, síndico do edifício Dinamarca, na rua dos Andradas, tenta, há cerca de seis meses, conscientizar os condôminos acerca do assunto. Depois de ver matérias sobre os perigos do despejo direto de óleo no meio ambiente, Brutti resolveu iniciar uma campanha de recolhimento. “O prédio tem 48 famílias. Se cada um jogar o seu óleo fora, no fi nal será uma quantidade enorme”, justifi ca. Foram colocados cartazes nos corredores do prédio, sugerindo que os moradores juntassem o seu óleo em garrafas pet e as entregassem ao zelador, responsável pelo armazenamento,

É preciso olhar mais longe

até que se encontrasse um destino para o resíduo. Em seis meses não foi entregue uma garrafa sequer. O síndico lamenta a falta de compromisso dos moradores, mas continua com a campanha. “Só nos falta saber para onde mandar o óleo à medida que ele for recolhido. Acredito que a tendência é que o pessoal abrace a causa”.

Para a professora Marta, o descaso das pessoas para com as conseqüências de agressões ao meio ambiente é cultural. Ela diz que somos acostumados a cuidar do que nos pertence. E o que nos pertence é o que está em nossas

mãos. Portanto, a partir do momento em que a pessoa despeja seu óleo fora, ele deixa de ser um problema dela. Engano. Segundo o técnico químico da Corsan, Moacir Deves, o óleo é um dos maiores poluidores dos cursos d’água.

O contato com água é extremamente nocivo. Como não se misturam, o óleo forma uma película que interfere no processo de oxigenação

da água, diminui a incidência de luz solar sobre ela, baixando a temperatura. Isto desestrutura toda a biodiversidade”, complementa Deves. Conseqüentemente, a poluição das águas acarreta a diminuição da qualidade de vida de forma global. “No fi m, todos acabam recebendo a mesma parcela”, conclui a professora Marta.

Mas nem por isso devemos ser pessimistas. Alternativas estão sendo criadas para acabar com os resíduos, transformando-os em novos produtos para consumo.

Fotos Rodrigo Simões

Moradores do edifício Dinamarca podem fazer sua parte

Fotos Rodrigo Simões

Professora Rosi ensina alunos a produzirem sabãoDona Elizabete aprova osabão feito na escola

Page 8: JornalEco - 5ª edição / novembro de 2007

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Fumar não é legalFumar não é legal769.660 toneladas de fumo na safra 2006-

2007. 417.420 hectares plantados. Renda total de R$ 3.194.089.000,00. Cerca de 193 mil famílias têm no fumo sua principal atividade. O Brasil é exportador e segundo maior produtor de tabaco do mundo. Os números são expressivos e os males causados pela fumicultura ganham a mesma proporção alarmante.

O Rio Grande do Sul abriga as cidades que mais produzem fumo no Brasil. Um exemplo é Venâncio Aires que, segundo estimativas da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), produziu 24.615 toneladas de fumo na última safra.

Só em Venâncio Aires, 25 mil pessoas estão envolvidas com a fumicultura, responsável por 70% da economia local. São 15 indústrias fumageiras na cidade que absorvem o trabalho de 10 mil pessoas durante a safra. Diante da inegável importância econômica dessa cultura, as iniciativas de combate ao tabagismo e produção de fumo parecem não ter resultados. Para o engenheiro agrônomo da EMATER, Francisco Palermo, “nem tudo é matemática na agricultura”. Segundo ele, as iniciativas “abrem espaço para uma discussão e propõem novos valores”, que podem mudar a realidade da indústria fumageira.

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o tabagismo mata anualmente quase 5 milhões de pessoas em todo mundo, sendo 200 mil dessas mortes no Brasil. Hoje, 18,8% da população brasileira com mais de 15 anos é fumante.

Os problemas causados pelo tabaco vão desde a poluição do meio ambiente com as cargas de agrotóxicos que a lavoura de fumo exige até as doenças causadas pelo cigarro.

Para a mudança: açãoO bispo Dom Ivo Lorscheiter foi o pioneiro no

Rio Grande do Sul a modifi car os paradigmas da cultura do tabaco, disseminando aos trabalhadores

rurais e seus familiares informações sobre os efeitos nocivos da fumicultura e a importância de estabelecer culturas alternativas a este plantio. Há 17 anos, o bispo idealizou os Seminários de Culturas Alternativas à Cultura do Tabaco. Dom Ivo foi o precursor do Projeto Esperança-Cooesperança, voltado para as alternativas de cultura do fumo, quando ainda não existia a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT).

Esta convenção é um compromisso inter-nacional pela adoção de medidas de restrição ao consumo de cigarros e outros derivados do tabaco. O governo brasileiro ratifi cou a CQCT

em outubro de 2006, tornando-se ofi cialmente o 100º país a confi rmar participação no acordo. Nas discussões da Convenção-Quadro está a busca de opções que gerem, para o agricultor, uma renda similar àquela gerada pelo cultivo do fumo.

Mas não basta informação e conscientização para que os agricultores consigam investir em outras culturas, é preciso apoio fi nanceiro. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) é um tipo de fi nanciamento do Ministério do

Desenvolvimento Agrário que pode ser utilizado para o plantio de culturas alternativas ao fumo. Este ano, liberou R$ 10 bilhões em fi nanciamento rural.

“Uma outraEconomia Acontece”

O projeto Esperança-Cooesperança responde por 230 empreendimentos solidários e atua na área rural e urbana. Abrange 30 municípios da região centro do Estado, 4.500 famílias, benefi ciando 20 mil pessoas. Hoje, o projeto tem cerca de 40 pontos de comercialização direta.

A coordenadora do Esperança-Cooesperança, irmã Lourdes Dill, relata que a luta contra o tabaco sempre foi um dos princípios do projeto e que hoje um número signifi cativo de produtores rurais já abriram mão da fumicultura. Um exemplo é a Agroindústria de Faxinal do Soturno - Agrofelin - formada por produtores rurais que trocaram o cultivo do tabaco pela agroindustrialização.

Irmã Lourdes ressalta que, nesses anos de trabalho, foram fi rmadas parcerias com várias entidades. Em 2004, o projeto recebeu um prêmio da Organização Mundial da Saúde e da Organização Pan-americana de Saúde, pelo trabalho que realizam nas alternativas à cultura do fumo. Já foram realizados 17 seminários regionais direcionados a agricultores, técnicos e profi ssionais da área de agricultura e saúde. A agricultura familiar, as agroindústrias familiares,

as redes de economia popular solidária e outras formas de cooperação fortalecem as alternativas de substituição do fumo por alimentos sadios.

Sabor da TerraÉ um selo comum dos empreendimentos

associados ao Projeto Esperança/Cooesperança. Para poder usá-lo, é preciso estar integrado nesta proposta associativa, solidária e cooperativada de agricultura familiar e autogestão. O grupo deve produzir os produtos que comercializa de forma ecológica, preservando o meio ambiente.

Sabor GaúchoÉ um selo que certifi ca os produtos do Programa

da Agroindústria Familiar da Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento. Permite a identifi cação e a certeza de estar adquirindo produtos de qualidade. O projeto Esperança-Cooesperança participa deste e de outros programas do governo do Estado do RS e do governo federal na elaboração de políticas públicas.

O manganês e o suicídio“Pode-se aceitar como verdadeira a hipótese

de que os agrotóxicos utilizados indiscri-minadamente no cultivo do tabaco causam intoxi-cações e distúrbios neurocomportamentais”. Esta é a conclusão do estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), da Unicamp e da UFRJ sobre o aumento de casos de suicídio em áreas de cultivo de fumo.

As pesquisas foram desenvolvidas a partir do aumento alarmante no número de suicídios na região fumageira do Rio Grande do Sul. Em 2001, suicidaram-se 21 pessoas em Santa Cruz do Sul, cidade gaúcha com cerca de 100 mil habitantes, conhecida como capital do fumo. A média brasileira é de 3,8 suicídios por 100 mil pessoas. Em 96, aconteceram 37,22 casos de suicídio por 100 mil habitantes em Venâncio Aires.

Integrantes do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa e Ação em Agricultura e Saúde (Gipas), entidade autônoma gaúcha, lançaram a suspeita de que intoxicações com os organofosforados - substâncias presentes em vários agro-tóxicos - causassem depressão, levando aos suicídios. Recentemente, pesquisadores encontraram novos indícios que reforçam a tese, mas o suposto causador da depressão é o manganês, elemento presente em fungicidas e que pode provocar danos graves.

Fumicultura: grandes números, prejuízos ainda maioresEm 1986, o governo federal

instituiu 29 de agosto como Dia Nacional de Combate ao Fumo. Em Santa Maria, um grupo já trabalhava com pessoas que queriam largar o vício do cigarro. A atividade, pioneira para a época, consistia em cursos para deixar de fumar em cinco dias. Aproveitando-se do trabalho já realizado pelos adventistas, a Secretaria Municipal de Saúde fez o convite para começarem uma grande campanha.

A cidade, então, formou um grupo de combate ao fumo que promove outras atividades, como caminhadas de conscientização. A campanha ‘Troque seu cigarro por uma fl or’ é um exemplo de atividade em que estudantes e Desbravadores (grupos de adolescentes estruturados nos moldes dos escoteiros) demonstram para os fumantes o quanto o cigarro prejudica a saúde.

A médica Jocimara da Silveira Fernandes trabalha há mais de 20 anos no combate ao fumo e fez parte do primeiro grupo de profi ssionais que defenderam a proposta na cidade. Ela lembra que uma das atividades marcantes foi o Simpósio de Doenças Relacionadas ao Tabaco, que envolveu os cursos de Medicina e Fisioterapia da Universidade Federal de Santa Maria, em 1996.

Os cursos Como Deixar de Fumar são organizados pela comunidade

Adventista de Santa Maria e, segundo a coordenadora, Dra Jocimara, trabalha de to-das as formas para atingir os fumantes. O p r i m e i r o passo é fornecer ao fumante a r g u m e n t o s sufi cientes para largar do vício. Outro passo é a instrução alimentar. A médica afi rma que os fumantes possuem uma

defi ciência de vitaminas e, para deixar o cigarro, precisam repô-las. Os participantes recebem dicas de alimentos que ajudam o organismo ou substituem a vontade de fumar. Durante a semana do curso, outros profi ssionais – fi sioterapeutas e de educação física - ensinam exercícios de respiração que ajudam na desintoxicação de fumaça e a amenizar a necessidade de nicotina do organismo. “O diferencial é que não utilizamos nenhuma medicação”, destaca a médica. Em média, 60% a 70% dos participantes deixam de fumar. A recaída dos outros 40% é considerada normal no combate de qualquer vício, segundo a coordenadora. O resultado melhora à medida que a pessoa refi zer o curso.

Problemas ocasionadospelo fumo

A Organização Mundial de Saúde afi rma que o tabaco pode ocasionar problemas à saúde humana e ao meio ambiente.

Os riscos mais conhecidos pela população, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) são: a redução da capacidade respiratória, infecções respiratórias em crianças, aumento do risco de aterosclerose, infarto do miocárdio e câncer. A médica diz que as mulheres que fumam não deveriam fazer uso de anticoncepcionais. “A prática do fumo aliada ao uso dos anticontraceptivos aumenta o risco de trombose, infarto e acidente vascular cerebral”, explica. Isso é ocasionado porque o cigarro diminui o fl uxo sangüíneo (vasoconstrição). Uma mulher fumante tem duas vezes mais risco de ter enfarte em comparação a uma não fumante. O problema se intensifi ca, ainda, quando aliado ao anticoncepcional - o risco sobe para seis vezes. Outro problema é o da úlcera gástrica. Jocimara afi rma que a maioria dos pacientes e até alguns profi ssionais fazem essa relação. “O cigarro é um dos maiores responsáveis pela não cicatrização da úlcera, pois causa a falta de circulação adequada do sangue e faz reincidir o problema. A maioria dos pacientes chega tarde demais, com problemas difíceis de

resolver”, esclarece. “Na verdade, as pessoas não têm noção do que o cigarro faz”, destaca a militante dessa causa.

O fumo é, ainda, o maior poluidor de ambientes fechados, principalmente dos que utilizam ar-condicionado. A fumaça causa danos enormes para a saúde dos não fumantes, destaca. “Se a pessoa fi ca com um fumante no mesmo ambiente, por 8 horas, é como se ela tivesse fumado três cigarros”. Segundo ela, já há comprovações científi cas de que o fumante passivo pode ter as mesmas doenças do fumante. A tendência dos não fumantes é exigirem o direito de respirar ar puro. Em grandes centros, restaurantes e shoppings adotaram esse conceito e utilizam um símbolo para identifi car o ‘ambiente livre de cigarro’. Em Santa Maria, a única atitude dos estabelecimentos é dividir o ambiente de fumantes e não fumantes. A médica Jocimara Fernandes explica que isso apenas diminui a concentração da fumaça, mas não totalmente.

Ela conta que muitos fumantes deixam o vício pelo desconforto social de amigos e familiares: “o constrangimento provoca nas pessoas a necessidade de parar de fumar”.

Há mais de 20 anos, cursos ensinam como deixar de fumar

O radialista Cleber Newton da Costa começou a fumar aos 14 anos, seguindo a atitude de amigos. Aos 30, percebeu a necessidade de parar, pois o cigarro já interferia no convívio social: deixava de fi car com as pessoas para fumar. “Sempre tive muitos amigos, mas como não fumava em lugares fechados e na presença das outras pessoas, comecei a me distanciar delas”, lembra. Querer largar o cigarro é o passo mais importante, segundo o ex-fumante, que largou o vício em 2002. Para isso, fez duas tentativas. Na primeira, sem ajuda de ninguém, conseguiu se manter apenas três meses sem fumar. Na segunda vez, por indicação de uma colega de trabalho, procurou o curso Como Deixar de Fumar. “Desde o primeiro dia deixei de fumar”, salienta. O curso “é essencial, mas a pessoa precisa querer parar de fumar. Saber que o cigarro faz mal, todos sabem, mas saber a maneira

como ele faz, nem todo mundo sabe. O curso mostra muito bem isso”, destaca Cléber Costa. Depois que parou de fumar, ele notou o quanto o cigarro fazia mal à saúde, diminuindo a qualidade de vida. “Enquanto fumante, você nem nota que o cigarro está lhe prejudicando, só depois de parar é que começa a perceber”, ressalta. Para os que desejam parar de fumar, ele diz que é bom procurar uma ajuda, como o curso da Escola Adventista. Mas adverte que o fumante precisa ser persistente e não desistir durante o processo. O resultado, diz Cleber, é uma vida mais saudável, pois melhora a saúde e o convívio com os amigos e colegas: “é uma vitória”..

“É um crime contra o meio ambiente

causar poluição de qualquer natureza

que resulte em danos à saúde humana” (Art.

54, Lei de Crimes Ambientais – nº 9.605, de 1998)

Bibiane Moreira

Douglas Menezes

Arquivo UFSM

A experiência dequem abandonou o cigarro

Irmã Lurdes coordena ProjetoEsperança-Cooesperança

Aliança por ummundo sem tabaco

A Aliança por um Mundo sem Tabaco, formada em setembro de 2002, com o apoio do INCA, dissemina informações sobre os malefícios do tabaco. A associação tem mais de 500 associados, que incluem associações médicas, autoridades governamentais e órgãos nacionais e internacionais.

Objetivos acompanhar e participar do processo de

controle do tabagismo no Brasil e no mundo, abordando e discutindo o tema nas mais diversas áreas.

pressionar os legisladores a tomarem as providências para um mundo sem tabaco. Para associar-se à Aliança e receber regularmente informações sobre o que está acontecendo no Brasil e no mundo, acesse www.inca.gov.br/tabagismo

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Fumar não é legalFumar não é legal769.660 toneladas de fumo na safra 2006-

2007. 417.420 hectares plantados. Renda total de R$ 3.194.089.000,00. Cerca de 193 mil famílias têm no fumo sua principal atividade. O Brasil é exportador e segundo maior produtor de tabaco do mundo. Os números são expressivos e os males causados pela fumicultura ganham a mesma proporção alarmante.

O Rio Grande do Sul abriga as cidades que mais produzem fumo no Brasil. Um exemplo é Venâncio Aires que, segundo estimativas da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), produziu 24.615 toneladas de fumo na última safra.

Só em Venâncio Aires, 25 mil pessoas estão envolvidas com a fumicultura, responsável por 70% da economia local. São 15 indústrias fumageiras na cidade que absorvem o trabalho de 10 mil pessoas durante a safra. Diante da inegável importância econômica dessa cultura, as iniciativas de combate ao tabagismo e produção de fumo parecem não ter resultados. Para o engenheiro agrônomo da EMATER, Francisco Palermo, “nem tudo é matemática na agricultura”. Segundo ele, as iniciativas “abrem espaço para uma discussão e propõem novos valores”, que podem mudar a realidade da indústria fumageira.

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o tabagismo mata anualmente quase 5 milhões de pessoas em todo mundo, sendo 200 mil dessas mortes no Brasil. Hoje, 18,8% da população brasileira com mais de 15 anos é fumante.

Os problemas causados pelo tabaco vão desde a poluição do meio ambiente com as cargas de agrotóxicos que a lavoura de fumo exige até as doenças causadas pelo cigarro.

Para a mudança: açãoO bispo Dom Ivo Lorscheiter foi o pioneiro no

Rio Grande do Sul a modifi car os paradigmas da cultura do tabaco, disseminando aos trabalhadores

rurais e seus familiares informações sobre os efeitos nocivos da fumicultura e a importância de estabelecer culturas alternativas a este plantio. Há 17 anos, o bispo idealizou os Seminários de Culturas Alternativas à Cultura do Tabaco. Dom Ivo foi o precursor do Projeto Esperança-Cooesperança, voltado para as alternativas de cultura do fumo, quando ainda não existia a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT).

Esta convenção é um compromisso inter-nacional pela adoção de medidas de restrição ao consumo de cigarros e outros derivados do tabaco. O governo brasileiro ratifi cou a CQCT

em outubro de 2006, tornando-se ofi cialmente o 100º país a confi rmar participação no acordo. Nas discussões da Convenção-Quadro está a busca de opções que gerem, para o agricultor, uma renda similar àquela gerada pelo cultivo do fumo.

Mas não basta informação e conscientização para que os agricultores consigam investir em outras culturas, é preciso apoio fi nanceiro. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) é um tipo de fi nanciamento do Ministério do

Desenvolvimento Agrário que pode ser utilizado para o plantio de culturas alternativas ao fumo. Este ano, liberou R$ 10 bilhões em fi nanciamento rural.

“Uma outraEconomia Acontece”

O projeto Esperança-Cooesperança responde por 230 empreendimentos solidários e atua na área rural e urbana. Abrange 30 municípios da região centro do Estado, 4.500 famílias, benefi ciando 20 mil pessoas. Hoje, o projeto tem cerca de 40 pontos de comercialização direta.

A coordenadora do Esperança-Cooesperança, irmã Lourdes Dill, relata que a luta contra o tabaco sempre foi um dos princípios do projeto e que hoje um número signifi cativo de produtores rurais já abriram mão da fumicultura. Um exemplo é a Agroindústria de Faxinal do Soturno - Agrofelin - formada por produtores rurais que trocaram o cultivo do tabaco pela agroindustrialização.

Irmã Lourdes ressalta que, nesses anos de trabalho, foram fi rmadas parcerias com várias entidades. Em 2004, o projeto recebeu um prêmio da Organização Mundial da Saúde e da Organização Pan-americana de Saúde, pelo trabalho que realizam nas alternativas à cultura do fumo. Já foram realizados 17 seminários regionais direcionados a agricultores, técnicos e profi ssionais da área de agricultura e saúde. A agricultura familiar, as agroindústrias familiares,

as redes de economia popular solidária e outras formas de cooperação fortalecem as alternativas de substituição do fumo por alimentos sadios.

Sabor da TerraÉ um selo comum dos empreendimentos

associados ao Projeto Esperança/Cooesperança. Para poder usá-lo, é preciso estar integrado nesta proposta associativa, solidária e cooperativada de agricultura familiar e autogestão. O grupo deve produzir os produtos que comercializa de forma ecológica, preservando o meio ambiente.

Sabor GaúchoÉ um selo que certifi ca os produtos do Programa

da Agroindústria Familiar da Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento. Permite a identifi cação e a certeza de estar adquirindo produtos de qualidade. O projeto Esperança-Cooesperança participa deste e de outros programas do governo do Estado do RS e do governo federal na elaboração de políticas públicas.

O manganês e o suicídio“Pode-se aceitar como verdadeira a hipótese

de que os agrotóxicos utilizados indiscri-minadamente no cultivo do tabaco causam intoxi-cações e distúrbios neurocomportamentais”. Esta é a conclusão do estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), da Unicamp e da UFRJ sobre o aumento de casos de suicídio em áreas de cultivo de fumo.

As pesquisas foram desenvolvidas a partir do aumento alarmante no número de suicídios na região fumageira do Rio Grande do Sul. Em 2001, suicidaram-se 21 pessoas em Santa Cruz do Sul, cidade gaúcha com cerca de 100 mil habitantes, conhecida como capital do fumo. A média brasileira é de 3,8 suicídios por 100 mil pessoas. Em 96, aconteceram 37,22 casos de suicídio por 100 mil habitantes em Venâncio Aires.

Integrantes do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa e Ação em Agricultura e Saúde (Gipas), entidade autônoma gaúcha, lançaram a suspeita de que intoxicações com os organofosforados - substâncias presentes em vários agro-tóxicos - causassem depressão, levando aos suicídios. Recentemente, pesquisadores encontraram novos indícios que reforçam a tese, mas o suposto causador da depressão é o manganês, elemento presente em fungicidas e que pode provocar danos graves.

Fumicultura: grandes números, prejuízos ainda maioresEm 1986, o governo federal

instituiu 29 de agosto como Dia Nacional de Combate ao Fumo. Em Santa Maria, um grupo já trabalhava com pessoas que queriam largar o vício do cigarro. A atividade, pioneira para a época, consistia em cursos para deixar de fumar em cinco dias. Aproveitando-se do trabalho já realizado pelos adventistas, a Secretaria Municipal de Saúde fez o convite para começarem uma grande campanha.

A cidade, então, formou um grupo de combate ao fumo que promove outras atividades, como caminhadas de conscientização. A campanha ‘Troque seu cigarro por uma fl or’ é um exemplo de atividade em que estudantes e Desbravadores (grupos de adolescentes estruturados nos moldes dos escoteiros) demonstram para os fumantes o quanto o cigarro prejudica a saúde.

A médica Jocimara da Silveira Fernandes trabalha há mais de 20 anos no combate ao fumo e fez parte do primeiro grupo de profi ssionais que defenderam a proposta na cidade. Ela lembra que uma das atividades marcantes foi o Simpósio de Doenças Relacionadas ao Tabaco, que envolveu os cursos de Medicina e Fisioterapia da Universidade Federal de Santa Maria, em 1996.

Os cursos Como Deixar de Fumar são organizados pela comunidade

Adventista de Santa Maria e, segundo a coordenadora, Dra Jocimara, trabalha de to-das as formas para atingir os fumantes. O p r i m e i r o passo é fornecer ao fumante a r g u m e n t o s sufi cientes para largar do vício. Outro passo é a instrução alimentar. A médica afi rma que os fumantes possuem uma

defi ciência de vitaminas e, para deixar o cigarro, precisam repô-las. Os participantes recebem dicas de alimentos que ajudam o organismo ou substituem a vontade de fumar. Durante a semana do curso, outros profi ssionais – fi sioterapeutas e de educação física - ensinam exercícios de respiração que ajudam na desintoxicação de fumaça e a amenizar a necessidade de nicotina do organismo. “O diferencial é que não utilizamos nenhuma medicação”, destaca a médica. Em média, 60% a 70% dos participantes deixam de fumar. A recaída dos outros 40% é considerada normal no combate de qualquer vício, segundo a coordenadora. O resultado melhora à medida que a pessoa refi zer o curso.

Problemas ocasionadospelo fumo

A Organização Mundial de Saúde afi rma que o tabaco pode ocasionar problemas à saúde humana e ao meio ambiente.

Os riscos mais conhecidos pela população, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) são: a redução da capacidade respiratória, infecções respiratórias em crianças, aumento do risco de aterosclerose, infarto do miocárdio e câncer. A médica diz que as mulheres que fumam não deveriam fazer uso de anticoncepcionais. “A prática do fumo aliada ao uso dos anticontraceptivos aumenta o risco de trombose, infarto e acidente vascular cerebral”, explica. Isso é ocasionado porque o cigarro diminui o fl uxo sangüíneo (vasoconstrição). Uma mulher fumante tem duas vezes mais risco de ter enfarte em comparação a uma não fumante. O problema se intensifi ca, ainda, quando aliado ao anticoncepcional - o risco sobe para seis vezes. Outro problema é o da úlcera gástrica. Jocimara afi rma que a maioria dos pacientes e até alguns profi ssionais fazem essa relação. “O cigarro é um dos maiores responsáveis pela não cicatrização da úlcera, pois causa a falta de circulação adequada do sangue e faz reincidir o problema. A maioria dos pacientes chega tarde demais, com problemas difíceis de

resolver”, esclarece. “Na verdade, as pessoas não têm noção do que o cigarro faz”, destaca a militante dessa causa.

O fumo é, ainda, o maior poluidor de ambientes fechados, principalmente dos que utilizam ar-condicionado. A fumaça causa danos enormes para a saúde dos não fumantes, destaca. “Se a pessoa fi ca com um fumante no mesmo ambiente, por 8 horas, é como se ela tivesse fumado três cigarros”. Segundo ela, já há comprovações científi cas de que o fumante passivo pode ter as mesmas doenças do fumante. A tendência dos não fumantes é exigirem o direito de respirar ar puro. Em grandes centros, restaurantes e shoppings adotaram esse conceito e utilizam um símbolo para identifi car o ‘ambiente livre de cigarro’. Em Santa Maria, a única atitude dos estabelecimentos é dividir o ambiente de fumantes e não fumantes. A médica Jocimara Fernandes explica que isso apenas diminui a concentração da fumaça, mas não totalmente.

Ela conta que muitos fumantes deixam o vício pelo desconforto social de amigos e familiares: “o constrangimento provoca nas pessoas a necessidade de parar de fumar”.

Há mais de 20 anos, cursos ensinam como deixar de fumar

O radialista Cleber Newton da Costa começou a fumar aos 14 anos, seguindo a atitude de amigos. Aos 30, percebeu a necessidade de parar, pois o cigarro já interferia no convívio social: deixava de fi car com as pessoas para fumar. “Sempre tive muitos amigos, mas como não fumava em lugares fechados e na presença das outras pessoas, comecei a me distanciar delas”, lembra. Querer largar o cigarro é o passo mais importante, segundo o ex-fumante, que largou o vício em 2002. Para isso, fez duas tentativas. Na primeira, sem ajuda de ninguém, conseguiu se manter apenas três meses sem fumar. Na segunda vez, por indicação de uma colega de trabalho, procurou o curso Como Deixar de Fumar. “Desde o primeiro dia deixei de fumar”, salienta. O curso “é essencial, mas a pessoa precisa querer parar de fumar. Saber que o cigarro faz mal, todos sabem, mas saber a maneira

como ele faz, nem todo mundo sabe. O curso mostra muito bem isso”, destaca Cléber Costa. Depois que parou de fumar, ele notou o quanto o cigarro fazia mal à saúde, diminuindo a qualidade de vida. “Enquanto fumante, você nem nota que o cigarro está lhe prejudicando, só depois de parar é que começa a perceber”, ressalta. Para os que desejam parar de fumar, ele diz que é bom procurar uma ajuda, como o curso da Escola Adventista. Mas adverte que o fumante precisa ser persistente e não desistir durante o processo. O resultado, diz Cleber, é uma vida mais saudável, pois melhora a saúde e o convívio com os amigos e colegas: “é uma vitória”..

“É um crime contra o meio ambiente

causar poluição de qualquer natureza

que resulte em danos à saúde humana” (Art.

54, Lei de Crimes Ambientais – nº 9.605, de 1998)

Bibiane Moreira

Douglas Menezes

Arquivo UFSM

A experiência dequem abandonou o cigarro

Irmã Lurdes coordena ProjetoEsperança-Cooesperança

Aliança por ummundo sem tabaco

A Aliança por um Mundo sem Tabaco, formada em setembro de 2002, com o apoio do INCA, dissemina informações sobre os malefícios do tabaco. A associação tem mais de 500 associados, que incluem associações médicas, autoridades governamentais e órgãos nacionais e internacionais.

Objetivos acompanhar e participar do processo de

controle do tabagismo no Brasil e no mundo, abordando e discutindo o tema nas mais diversas áreas.

pressionar os legisladores a tomarem as providências para um mundo sem tabaco. Para associar-se à Aliança e receber regularmente informações sobre o que está acontecendo no Brasil e no mundo, acesse www.inca.gov.br/tabagismo

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O fumo é o produto legalmente comercializado que mais traz males aos consumidores. Difícil enxergar atitudes que demonstrem preocupação das indústrias fumageiras em relação à poluição do meio ambiente.

O cigarro, por si só, já é associado a causa de doenças, poluição do ar e sensações de mal estar e os fabricantes fumageiros reconhecem que colocam no mercado produtos que envolvem riscos à saúde. Porém, existe hoje uma preocupação na hora do plantio. “Em uma comparação com a produção de tomate, maçãs e até a soja, o fumo utiliza bem menos agrotóxicos na lavoura. Tudo é usado dentro do canteiro, na água que não tem contato direto com a terra, não poluindo o solo. Cada canteiro é aberto periodicamente para que a água não absorvida seja evaporada”, explica um orientador agrícola de uma multinacional fumageira. É o chamado uso racional de agrotóxicos, contestado por profi ssionais da área da saúde.

“Além da mais avançada tecnologia, a companhia desenvolve programas de orientação técnica através de um sistema integrado com o agricultor. Um dos exemplos é a consolidação do sistema de produção de mudas em bandejas sobre água, conhecido como fl oat, que elimina o uso de brometo de metila, que afeta a camada de ozônio”, complementa o orientador, que prefere não se identifi car.

Fumo ecológico: é possível?

A escala de prejuízos causados pela fumicultura vai além da lavoura. Ela acaba nas vidas dos consumidores de cigarros que mantém viva a indústria fumageira. Se o cultivo do fumo não prejudicasse a saúde do agricultor, mesmo assim permaneceriam as doenças adquiridas pelo uso do tabaco. Para amenizar a situação, desde a década de 90, o Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA), de Santa Cruz do Sul, busca reduzir a quantidade de insumos químicos utilizados nas lavouras de fumo.

O CAPA orienta os agricultores a empregarem a adubação verde, utilizando fosfato de rochas, calcário, cinzas e esterco. Um veneno ainda não eliminado é o supressor de brotos, que não tem substituto natural. As famílias que plantam o “fumo ecológico” obtiveram índices de produção e qualidade semelhantes

Plantação de fumo: preocupação com o meio-ambiente?

Opinião do pneumologista

Franciane Ferreira, Gilson Pinto e Julio Marin

aos da lavoura convencional. A proposta do CAPA sempre foi trabalhar com a produção de alimentos como alternativa ao cultivo do fumo. Para aqueles agricultores que continuam plantando fumo, o Centro de Apoio oferece o desafi o de produzir fumo sem agrotóxicos.

Problemasambientais

A maior área fumajeira do estado, localizada na região de Santa Cruz do Sul, é conhecida pelo devastamento de fl orestas para o plantio do fumo. Atualmente, as empresas começaram a ser cobradas pelo governo, que passou a exigir dos produtores uma área preservada dentro de suas propriedades, o que não resolve o problema, que já vem de muitos anos.

O refl exo da cultura do fumo e do consumo é de enorme impacto. Além do desmatamento para o plantio, na produção de 200 cigarros (10 carteiras) é queimada, em média, uma árvore, em

estufas de secagem. Esse dado não conta o papel da embalagem e do próprio cigarro. Outra questão é a expressiva quantidade de produtos agrotóxicos utilizados no cultivo. O fumo é considerado pelos órgãos ambientais um dos cultivos que mais interferem na biodiversidade, principalmente porque a

área onde é plantado fi ca infértil por muito tempo.

Contraditoriamente à intenção consumista e ao produto fi nal (fabricação do cigarro), a maior indústria fumageira do Rio Grande do Sul construiu dois parques ecológicos – um em Santa Cruz do Sul, que ocupa uma área de aproximadamente cem hectares e é considerado um dos espaços de preservação ambiental com a maior diversidade de espécies do Estado. O outro, na cidade de Cachoeirinha, que tem como objetivo principal a preservação e recuperação da biodiversidade do local, resgatando espécies botânicas e animais em extinção.

Aparentemente, existe uma preocupação, positiva, com o meio ambiente: investimento na construção de parques ecológicos, preservação de espécies e replantio de árvores. Sabendo-se dos lucros obtidos pela indústria do cigarro, por que parte desta verba não é usada para erguer hospitais especializados no tratamento de câncer e outras doenças provocadas pelo fumo? Por que o dinheiro também não é investido na Saúde? As perguntas são muitas e a dúvida permanece.

Na produção de 10 carteiras de cigarros, é queimada, em

média, uma árvore em estufa de

secagem

O Jornaleco entrevistou o cirurgião torácico e pneumologista Dr. Alberto dos Santos Riesgo.

Quais os males ocasionados pela fumaça do cigarro?“A fumaça do cigarro contém mais de duas mil substâncias nocivas ao corpo,

como o alcatrão, que agridem a mucosa das vias respiratórias desde o nariz, passando pela traquéia e brônquios, até chegar ao pulmão. É uma substância estranha ao corpo e causa uma lesão ao epitélio dos órgãos e a cicatrização dessa lesão é que provoca as doenças.”

Como é o ambiente em que há muita fumaça de cigarro no ar? Como fi cam o fumante e o não fumante nesse ambiente?

“Nos ambientes fechados, sejam eles de restaurantes, bares ou até mesmo ofi cinas e fábricas, o fumante recebe a maior quantidade de gases tóxicos e tem maior probabilidade de ter lesões nas vias respiratórias, mas aqueles que estão ao redor da pessoa que fuma, são os ditos fumantes passivos e têm realmente chances, tanto quanto um fumante ativo, de ter os efeitos maléfi cos do cigarro.”

O que sr. acha das campanhas de combate ao fumo? Elas funcionam ou não?

“As campanhas que visam parar de fumar defi nitivamente funcionam, está comprovado, já que hoje em todo mundo existe um número menor de fumantes do que nas década de 80 e 90. Na minha opinião, estas campanhas têm que persistir. O fumo é uma conquista da modernidade, pois até século XVI ele só existia na América Central e depois que foi descoberta a América, foi levado até a Europa e, então, difundido ao mundo todo. É uma história pequena, mas que está demonstrando pelas doenças todas que provoca, não só as das vias respiratórias, mas também as cardiovasculares, que realmente tem muito efeito nocivo. Agora nós estamos dando a marcha contrária e, quem sabe, em cinco ou seis séculos, a gente não vai ter mais fumante na Terra.

Quais as principais doenças causadas pelo cigarro?“As doenças causadas pelo cigarro são muitas, as principais são tumor de

laringe, tumor de língua, tomar de pulmão. O cigarro é metabolizado pelo rim e sai na urina, podendo ocasionar tumor de bexiga, tumor de ureter, tumor de uretra. O cigarro afeta também as artérias, ocasiona arterosclerose, doenças coronarianas, hipertensão arterial. Várias doenças cardiovasculares são agravadas pelo fumo.”

Lei anti-fumoA Lei Federal nº 9294/96 constituiu um avanço no controle do tabagismo no

Brasil, proibindo o uso de produtos fumígeros derivados do tabaco em recintos coletivos, privados ou públicos, salvo em área destinada exclusivamente a esse fi m, devidamente isolada e com arejamento conveniente (art. 2º). Isso inclui repartições públicas, hospitais e postos de saúde, salas de aula, bibliotecas, re-cintos de trabalho coletivo e salas de teatro e cinema.

A Lei Anti-fumo, como é conhecida, prevê normas para a propaganda comer-cial dos produtos do tabaco. Vários artigos desta lei foram regulamentados.

PAC da Saúde proíbe fumo em lugares fechadosO Ministério da Saúde deve incluir no Programa de Aceleração do Cresci-

mento (PAC) para a área da Saúde a proibição total do fumo em ambientes fe-chados. Para isso será necessário criar um projeto a ser discutido no Congresso Nacional. Dados do Ministério mostram que o Brasil é um dos países que mais reduziu o número de fumantes, mas é preciso rever a legislação referente ao fumo em ambientes fechados. Hoje, a lei prevê apenas a separação em áreas de fumantes e não-fumantes.

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Crianças aprendem de forma prática a contribuir com a qualidade de vida da sua comunidade. Um dos destaques do CIPAM é a atuação nos Clubes de Ecologia, que são complementações práticas dos programas de Educação Ambiental Técnica, desenvolvidas com o patrocínio da Petrobras, através do programa Petrobras Ambiental, dentro do projeto Manejo Integrado de Bacias Hidrográfi cas. Esses clubes atuam em algumas escolas de Santa Maria e região. Existem cinco Clubes de Ecologia: Ecodiácono, Amigos da Natureza, Movimento Ecológico, Esperança Verde e CEDEDICA à Natureza. São quatro clubes de ecologia em escolas e um que age como ONG (Organização Não Governamental). Os clubes têm por objetivo levar conhecimentos aos professores e alunos e contribuir no fortalecimento da formação sócio-ambiental e na construção de valores como direitos humanos, saúde e convivência sustentável.

Segundo o pesquisador do CIPAM e doutor em Engenharia de Água e Solo, Paulo Dill, “os clubes desenvolvem várias atividades nas escolas: palestras, caminhadas ecológicas, coleta seletiva de lixo, trilha (onde são observados recursos naturais), jardinagem, reutilização de materiais (banco com pneus, pufs de garrafas pet), hortas ecológicas”.

Além da educação ambiental inserida pelo CIPAM nos colégios, Dill

conta que o trabalho de conscientização é também muito forte. Ele explica que “são discutidas soluções ambientais em sala de aula, os alunos chegam em casa e mostram para os pais o que aprenderam.” Mas o acréscimo na qualidade de vida não fi ca restrita apenas ao lar. Dill relata que, certa vez, no clube de ecologia de Itaara, “foram mostrados aos alunos os prejuízos do esgoto a céu aberto e a indignação das crianças foi tão grande que elas questionaram ao prefeito o por quê de sua rua estar assim”, e logo os resultados chegaram. “O prefeito, em seguida, foi até a escola conversar com o pessoal e solucionou aquele problema”.

De acordo com o engenheiro agrônomo e também cooperador do CIPAM, Victor Lutz, os clubes de ecologia têm uma grande colaboração na qualidade de vida da comunidade, pois “uma cidade grande tem difi culdade de montar um encanamento de esgoto que recolha os dejetos das pessoas, então desenvolvemos idéias de como o proprietário reutilizar o seu esgoto, fazendo uma fossa subterrânea em sua propriedade”. Ele ressalta, também, que é importante montar mecanismos que reciclem estes componentes, transformando-os em adubo para o solo, uma vez que os poluentes são evaporados pelas árvores e gramados.

Das bacias hidrográfi cas às salas de aulaPrograma do Centro Internacional de Projetos Ambientais busca conscientizar alunos de escolas da região.

Foi através do projeto Manejo Integrado de Bacias Hidrográfi cas, com o patrocínio da Petrobras Ambiental, que nasceu o CIPAM. A iniciativa apóia a conscientização sobre o uso responsável da água, a gestão dos recursos hídricos e a recuperação e

conservação de nascentes e matas de preservação e conservação ambientais.

O Centro Internacional de Projetos Ambientais (CIPAM), órgão da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), desenvolve projetos ambientais que atuam no melhoramento da qualidade de vida. Realiza cursos de aperfeiçoamento em projetos ambientais e outros: o Zoneamento Ambiental, os Dossiês de Ambiência dos Municípios participantes do Programa, as Avaliações dos Impactos Ambientais existentes na Microbacia e o Planejamento Físico Rural das propriedades mapeadas na Microbacia Hidrográfi ca das nascentes do rio Ibicuí Mirim, em Santa Maria.

O CIPAM possui duas sedes: uma no campus da UFSM, junto ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); e a de campo, localizada no município de Itaara, às margens da barragem Rodolfo Costa e Silva.

Educação Ambiental nos clubes de ecologia

Carla Martins eRoberta Friedrich

Conheça a localização dos clubes Clube de Ecologia Ecodiácono: faz parceria com a Escola

Municipal de Ensino Fundamental Diácono João Luiz Pozzobon, da Vila Maringá, em Santa Maria.

Clube de Ecologia Amigos da Natureza: na Escola Municipal Euclides Pinto Ribas, no Município de Itaara.

Clube de Ecologia Movimento Ecológico: localizado na Escola Municipal de Ensino Fundamental Júlio de Castilhos.

Clube de Ecologia Esperança Verde: na Escola Municipal de Ensino Fundamental Visconde de Mauá, em Júlio de Castilhos.

Clube de Ecologia CEDEDICA à Natureza: funciona no Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDEDICA) ‒ Organização Não Governamental, em Santa Maria.

Clube de Ecologia em visita à sede do CIPAM

Arquivo CIPAM

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De acordo com pesquisa da Fundação Getulio Vargas, baseada em dados do IBGE e divulgada

no mês de setembro deste ano, mais da metade - 51,5% - dos domicílios brasileiros não possuem tratamento e coleta de esgoto. Santa Maria diferencia-se desta média por possuir mais redes de tratamento. No entanto, aproximadamente 45% da população ainda não possui o serviço.

Desfrutar de saneamento básico é um direito assegurado pela Constituição Federal. No Brasil, o lançamento indiscriminado de esgotos costuma ser um dos maiores problemas ambientais e de saúde pública.

Realidade local

Em Santa Maria, existem dois tipos de esgotos: a drenagem pluvial, que escoa as águas da chuva através de tubulações chamadas caixas de inspeção ou bocas-de-lobo e é responsabilidade da Prefeitura; e o esgoto cloacal, que escoa os materiais sólidos e é responsabilidade da Corsan.

Não existe nenhum bairro da cidade com drenagem pluvial completa, com exceção das Cohabs Santa Marta e Tancredo Neves. Uma das grandes difi culdades é a topografi a e o tipo de solo da cidade, o que pode tornar o projeto caro. A Cohab Tancredo Neves tem um impedimento técnico - a altura

do terreno. Como o escoamento do esgoto é por gravidade, foi necessário construir uma estação de bombeamento para que ele chegasse ao seu destino fi nal, afi rma Luana Bortoluzzi, técnica em edifi cação do departamento de Planejamento e Fiscalização de Obras da Corsan. Essas estações possuem custo muito alto, pois, além de precisarem de bombas e motores, necessitam de mão-de-obra e energia elétrica, já que ela funciona de forma ininterrupta.

Camobi é o único bairro da cidade que não possui esgoto cloacal. Lá, as exceções são a Cohab Fernando Ferrari e o Loteamento da Sociedade de Medicina, que possuem fossa fi ltro, cuja água desemboca na drenagem pluvial ou em sangas, com autorização de responsáveis. Mas isso normalmente não ocorre, explica a técnica da Corsan, porque a prática mais comum é que as pessoas façam ligações irregulares. Nos demais locais do bairro Camobi são usadas as fossas sumidouros, que escoam parte da água das fossas para absorção no próprio terreno. É necessário que as fossas sejam limpas pelo menos uma vez ao ano, caso contrário podem entupir e causar mau cheiro. “Em certos lugares do bairro é comum sentir o mau cheiro,

especialmente logo após os prédios da Base Aérea”, diz Michele Pivetta, 19 anos, acadêmica de Psicologia e moradora do bairro.

Para evitar as ligações clandestinas, a Prefeitura adota algumas estratégias, como a legalização de casas e terrenos. Constrói estruturas necessárias como drenagem pluvial, terraplanagem, pavimentação,

meio-fi o, iluminação e esgoto cloacal. Como obrigação dos moradores, fi ca o pagamento do IPTU. “No Código de Posturas da cidade de Santa Maria existe um artigo que estabelece proibição de ligações em esgoto pluvial”, diz Luana Bortoluzzi. Segundo o engenheiro civil da Prefeitura, Elmo Roque Bortolotto, “esse método serve para criar uma estrutura adequada para uma vida mais

digna”.

PAC traz os recursos

Existem projetos para a construção de novas redes, mas faltavam verbas. Com a aprovação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a Prefeitura de Santa Maria vai enviar recursos à CORSAN. “Tem uma verba do PAC do governo federal para Santa Maria com o fi m de fazer redes de esgoto em várias

partes da cidade que ainda não possuem esse serviço”, completa Luana. O Programa é o principal instrumento de desenvolvimento do atual governo. Em Santa Maria, ele intervém em áreas como habitação, infra-estrutura, saneamento e meio ambiente. Suas principais obras são: a recuperação do Arroio Cadena e seus afl uentes, totalizando 10 km e, principalmente, a construção de 66 km de esgoto cloacal na cidade.

Saneamento e saúde

O não tratamento dos esgotos pode prejudicar o meio ambiente e a saúde das pessoas. Tifo, hepatite, cólera e difteria são algumas das doenças causadas. A devolução de esgotos ao meio ambiente deve prever o tratamento de água e o lançamento em curso de água.

Na nossa cidade, temos um exemplo de poluição decorrente do lançamento indevido de esgotos nos rios, que é o caso do arroio Cadena. Além de causar mau cheiro, a poluição do arroio causa muitos transtornos à população, com a presença de insetos e doenças. Caso estivesse limpo, ele seria um local de lazer na cidade.

A criação de novas redes de esgoto vai implicar na melhoria da qualidade de vida da população, em questões como saúde, meio ambiente e lazer. Saneamento básico é um direito de todos.

Santa Maria acimada média, mas...

Ana Paula Badke eCamila Ferrari

Pesquisa do IBGE e FGV

mostra quadro preocupante

do saneamento básico no país. Em Santa Maria as obras do PAC

devem trazer melhoria para a qualidade de vida da população.

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Cada vez é mais difícil encontrar jardins bem cuidados nos centros urbanos, onde se possa desfrutar as sombras de árvores,

frutas e dos sons de pássaros. A sensação de morar num bosque não é para todos e requer um cuidado especial. Não é apenas regar as plantas ou protegê-las das geadas, é preciso dedicar um bom tempo para estar nesse ambiente arborizado que não depende só da infl uência da temperatura.

Para desfrutar dos benefícios de um ambiente fl orido e perfumado não é necessário ter um grande pátio em casa. Devido à falta de espaço, muitas pessoas adaptam um jardim em seus apartamentos, em suas varandas, sacadas ou até em janelas, onde é possível cultivar plantas de pequeno porte, e assim, exercitar o ato de mexer na terra e ver fl orir espécies diversas.

Pessoas que têm o hábito de lidar com plantas muitas vezes falam com elas, enquanto regam. Agem como se elas pudessem escutar e assim melhorar seu aspecto. Isto para quem não tem o costume, parece não ter sentido, mas os especialistas dizem que esse mimo ajuda não só as plantas como é uma boa terapia para os cultivadores. Essa relação com a natureza faz com que exista uma maior consciência da importância de ver crescer um broto novo que se transforma a cada dia mais verde e brilhante diante de cuidados especiais.

Segundo a vendedora Viviane Pessoa, a preservação e cuidado com uma área verde em sua residência gera uma melhor qualidade de vida para sua família, em especial para as crianças que convivem diariamente com a natureza e com os animais que ali circulam. “Eu possuo cinco árvores nativas em minha casa, três são frutíferas, e ali observamos que elas servem como habitat para um casal de coruja, tucanos, cocotas, saracuras entre

outros pássaros que encontram abrigo durante as noites em meio às árvores”, diz Viviane.

Falar sobre árvores, suas formas e suas características é um grande aprendizado para as crianças. Suas funções vão além de produzir sombras e frutas. Proporcionam proteção ao meio ambiente, evitando erosões do solo, enchentes, e servindo como uma fonte de vida.

O aposentado Jorge Barreto, 72 anos, começou a criar mudas de árvores depois que parou de trabalhar. O prazer em ver germinar as sementes não tem comparação. “Não tenho muito espaço no meu pátio para criar plantas, então tive a idéia de plantar sementes de árvores para depois doá-las”.

Sem visar lucro, ele entrou em contato, pela internet, com o Clube das Sementes do Brasil, com sede em Brasília e obteve um número muito grande de sementes por um valor acessível, o que o motivou a cultivar até 80 mudas de árvores em sua casa.

Entre as mudas que foram cultivadas pelo aposentado, estão o pau-brasil, copaíba, pau-de-formigas e algumas árvores frutíferas. “As pessoas evitam criar árvores porque pensam que é necessário uma grande estrutura para isto, eu plantei as sementes em potes improvisados e obtive um grande resultado”, explica Jorge.

Cultivar faz a diferença

Fernanda Fernandes e Clarissa Pippi

Fernanda Fernandes

Algumas plantas escondem um grande perigo por trás da sua beleza. São denominadas plan-tas tóxicas e, quando ingeridas ou em contato acidental na hora de manuseá-las, provocam rea-ção. Segundo dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), apro-ximadamente 60% dos casos por inticação atingem as crianças menores de 9 anos, em geral por acidente. As plantas consideradas mais perigosas são: tinhorão, co-migo-ninguém-pode, copo-de-leite, taioba-brava, avelós, bico-de-papagaio, mamona e pinhão roxo. No caso de contato aciden-tal com essas plantas é impres-cindível procurar ajuda médica.

O risco dasplantas tóxicas

Empresas, instituições públicas ou privadas e associações comunitárias podem fazer parceria com a Prefeitura Municipal, através do Programa de Adoção, Manutenção e Proteção dos canteiros centrais, áreas verdes, praças e parques infantis. O programa permite a preservação do espaço público, o embelezamento da cidade e sua organização paisagística e visual, envolvendo neste processo diversos segmentos da comunidade.

Informações: Secretaria de Turismo e Eventos, fone 3217-9415 ou e-mail [email protected]

Prefeitura implanta nova lei de adoção

de canteiros

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Pedalaré uma saída

O uso da bicicleta como alternativa a veículos motorizados, emissores de gases tóxicos, pode ser um atenuanteda poluição do ar. Para que isso seja possível é preciso construir vias próprias no trânsito de Santa Maria.

Em vista do que acontece hoje no nosso planeta, uma coisa é certa: mais cedo ou mais tarde, a maioria das pessoas vai ser obrigada a usar a

bicicleta. Esse é o alerta do vereador Luiz Carlos Ávila da Silva, mais conhecido como Fort, autor de vários projetos que visam a utilização da bicicleta como alternativa de preservação do meio ambiente. Usar o veículo de duas rodas para se locomover ao trabalho, à escola, ao supermercado, ou até para passear, contribui para diminuir a emissão de gases tóxicos, nocivos ao meio ambiente e à saúde. Além disso, essa atitude torna menos intenso o tráfego no trânsito, servindo de instrumento de mobilidade urbana. Para que o uso da bicicleta seja uma alternativa de preservação do meio ambiente e se torne um hábito dos santa-marienses, há muitos empecilhos. Na cidade não existem vias próprias para o trânsito de bicicletas, mas esse obstáculo pode deixar de existir em breve. Na Câmara de Vereadores tramitam projetos de leis e, no Executivo Municipal, algumas medidas foram instauradas, recentemente, para que seja possível a implantação de um sistema cicloviário em Santa Maria.

O projeto de lei que “dispõe sobre a criação do Sistema Cicloviário no Município de Santa Maria e dá outras providências”, contempla 22 km de ciclovia na cidade. De acordo com o autor, o governo municipal está

encaminhando os procedimentos. No entanto, o projeto precisa de

alguns ajustes para se concretizar, pois gera custos ao Executivo. “Mas já estamos adiantados no processo”, garante Fort. As ciclovias são de 1 metro e 80 centímetros de largura, exclusivamente para a passagem de bicicletas.

O itinerário do projeto tem início na av. Walter Jobim, passando pelas avenidas Maurício Sirotsky Sobrinho, Dois de Novembro e Borges de Medeiros; após, entra na rua Cel. Niederauer e acaba no Terminal de Comercialização de Hortifrutigranjeiros na praça Saturnino de Brito, onde será construído um bicicletário, para o estacionamento dos veículos.

Bicicletários

Um segundo projeto que “institui a obrigatoriedade da instalação de estacionamento de bicicletas em locais de grande afl uxo de público” complementa o primeiro. Esse também está sendo alterado, pois prevê a instalação em órgãos públicos municipais, o que gera custo para o Executivo. Entretanto, fi cará obrigatório o estacionamento dos veículos somente no setor privado.

Algumas universidades, assim como clubes, farmácias, escolas e supermercados já se deram conta da situação. “O empresário com visão de futuro tem o seu bicicletário no estabelecimento”, afi rma o vereador. Ter um local para deixar a bicicleta chaveada proporciona maior

segurança para o cliente. Na área de instituições de ensino, segundo Fort, Santa Maria tem mais de 50 mil acadêmicos de curso superior e, se apenas 1% utilizarem a bicicleta como transporte, a cidade terá mais de 500 ciclistas, diariamente. “São pessoas que deixarão de poluir o meio ambiente e terão uma saúde melhor”, pondera.

Além do que está proposto pelo projeto das Ciclovias, mais 12 km já estão garantidos pela verba federal do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC). O trajeto deve iniciar na nova Perimetral Dom Ivo Loscheiter, seguir a av. Borges e chegar à av. Walter Jobim, ligando uma ciclovia à outra.

Ainda deve ser organizada uma ciclo-faixa na av. Medianeira. Nesse caso, a via tem o trânsito de carros durante a semana e, apenas às sextas, sábados e domingos, será reservada uma área lateral de 1 metro e 80 centímetros para o cruzamento de bicicletas através de toda a extensão da avenida. “São conquistas importantes, alcançadas junto à iniciativa privada e pública”, comemora Fort.

Conscientização

O sistema cicloviário em Santa Maria surge para atender a demanda de ciclistas. Mais do que isso, de acordo com Fort, são dois fatores que se pretende atingir com a implementação das leis: o sócio-econômico e sócio-ecológico.

“Na medida em que houver mais

usuários de bicicletas, irá diminuir a poluição do ar e as pessoas se tornarão mais saudáveis”. Na questão econômica, o vereador destaca que “de ônibus, a pessoa gasta quatro passagens por dia, já com a bicicleta se tem uma manutenção barata e não precisa de nenhum tipo de combustível, a não ser o corpo humano”.

Um público bastante focado para a conscientização do uso da bicicleta, segundo o autor do projeto, é o de crianças. “Mas isso causa certas preocupações, pois não existem espaços reservados ainda”. Por esse motivo, no projeto também consta a promoção de atividades educativas visando à formação de comportamento seguro e responsável, assim como o uso do espaço compartilhado, além da conscientização ecológica e do lazer ciclístico. “Hoje nós fazemos parte do Movimento Gaúcho pelo Trânsito Seguro”, conta o vereador. Esse órgão realiza passeios ciclísticos para o público em geral, blitz e palestras especialmente dirigidas às crianças.

O fato de não ter a via apropriada é um agravante, confi rma Fort. Porém, o aspecto geográfi co é o maior intensifi cador da resistência cultural dos santa-marienses. “Isso é fator fundamental para que as pessoas não utilizem a bicicleta”. Algumas regiões mais planas, como a leste, norte e oeste possuem um maior número de ciclistas. Já no centro da cidade, o número é bem reduzido, associado ao fator sócio-econômico.

Douglas Menezes

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15Como está o ar em Santa Maria

O relatório do Painel Intergovernamental de Mudança Climática da ONU (IPCC em inglês), revela que o maior agravante do aumento dos gases de efeito estufa (GEEs) é a emissão de dióxido de carbono liberado através de atividades, principalmente de in-dústrias e dos transportes, pela queima de derivados do petróleo.

Mas os santa-marienses podem fi car tranqüilos, porque Santa Maria não é considerada uma cidade poluída. O estudo, ainda em andamento, da equipe do professor do curso de Engenharia Ambiental, Sérgio Mortari, revela que o nível de poluição está dentro da normalidade, comparado à tabela estabelecida pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). A pesquisa sobre os níveis de poluentes no ar emitidos no trânsito urbano de Santa Maria é feita em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o curso de Química da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Mortari destaca a importância desse estudo tanto para a prática dos alunos quanto para a formação de recursos humanos, assim como para a produção de conhecimento e estatísticas para a

cidade e população. Os veículos moto-

rizados desregulados são os grandes vilões do meio ambiente urbano.Segundo Mortari, esses automóveis emitem um alto grau de material particulado, entre eles monóxido de carbono, enxofre e metais. “O ideal seria fazer a manutenção

do automóvel a cada ano”, alerta o professor. Em contrapartida, existem três tipos de poluição: a rural, a urbana e a industrial. “A associação dessas categorias agrava mais a situação”, explica. Um modo de preservação nesse sentido, pode ser a criação de leis, a exemplo do Rio de Janeiro, que incluam a vistoria de regularização dos automóveis, informa.

O vento característico da região é um agente importante para a normalidade dos níveis de poluição do ar em Santa Maria. O professor diz que a concentração de gases nocivos emitidos pelos veículos fi ca mais dispersa. Entretanto, o fato de não apresentar riscos, não signifi ca que não devemos prestar atenção nas nossas atitudes de preservação, porque impactos ambientais causados pelo descuido interferem na nossa vida, em escala global.

Existem campanhas, em todo o Brasil, de ‘neutralização do carbono’ nas indústrias e empresas. Em 56 cidades há o dia em que não se usa o automóvel. Santa Maria tem o “Dia municipal sem meu carro”, iniciativa que busca incentivar o uso da bicicleta em alternativa ao uso de automóveis, que vai ocorrer a partir de março de 2008.

Outra iniciativa é a criação da Semana do Ciclista, que ocorre de 22 a 28 de outubro. É uma proposta difícil de obter resultados pois, no Brasil, de acordo com o Ministério das Cidades, há 60 milhões de bicicletas, mais que o dobro de carros, mas só 2.500 km de ciclovias. O exemplo é dado pelo próprio vereador e ciclista, que se locomove de bicicleta até a Câmara de Vereadores, três vezes

por semana, para estimular e fazer a sua parte no que se propõe. “Temos o bicicletário aqui na casa e alguns funcionários que vinham de veículo, hoje já aderiram”, conta.

Outro agravante do insucesso das campanhas é que a população não tem a consciência da importância dessa modifi cação de hábitos. Até agora, as campanhas não conseguiram adesão sufi ciente de pessoas, pois o trânsito não diminuiu. “O usuário da bicicleta como transporte hoje, é o de baixa renda”, afi rma Fort. Isso se comprova pela sobreposição do fator sócio-econômico na cultura das pessoas. Segundo o vereador, no momento em que se adquire uma condição melhor, com a compra de um automóvel ou motocicleta, se deixa a bicicleta de lado.

Resistência cultural

“Os riscos para a saúde ao andar de bicicleta, tanto como meio de transporte, quanto como lazer são pequenos”, afi rma o pesquisador Felipe Pivetta Carpes, do Grupo de Estudo e Pesquisa em Ciclismo (GEPEC), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “O condicionamento cardio-respiratório é um dos benefícios adquiridos com a prática do ci-clismo ”, recomenda o pesquisador.

Segundo Felipe Carpes, a intensidade do exercício e a distância percorrida são fatores que irão determinar o esforço do metabolismo humano na prática. Portanto, inicialmente não é recomendada a prática de longas distâncias. Mais de 80% dos

praticantes recreacionais andam em bicicletas desajustadas. Um dos cuidados importantes é o conforto que a bicicleta oferece. “O bom ajuste de peças móveis, como guidão, selim e pedais, de acordo com as suas dimensões corporais”, esclarece.

Outra problemática encontra-da em relação à saúde, é a suscetibilidade da pessoa aos poluentes encontrados no ar das margens das rodovias, avenidas e ruas com grande fl uxo de carros. Formas de atenuar essa inalação, na prática, podem não ser tão efi cientes. “Infelizmente, não se pode usando uma máscara de oxigênio para se proteger ”, lamenta Felipe Carpes.

Riscos e benefícios de pedalar

Bioindicadores: líquens coletados no morro do Cechela, instalados em quatros pontos com grande fl uxo de veículos: av. Presidente Vargas, Nossa Senhora das Dores e rua Silva Jardim.

Química: um frasco com uma bomba que puxa o ar e retém os poluentes, instalado na rua dos Andradas, esquina com a Floriano Peixoto. Das 11h às 13h30min.

Nos dois processos, os indicadores são dispostos na altura de 1 metro e 50 centímetros, em média, área de alcance da respiração das pessoas. Após as coletas, são utilizadas diversas técnicas de examinação para cada conjunto de poluentes existentes nas amostras.

Tipos de análises

Sidnei Rocha da Rosa, 42, pintor, percorre quase 6 km diários até o trabalho. Usa bicicleta há dez anos para tudo e nunca teve um automóvel. Para Sidnei, andar de bicicleta é uma atitude saudável que ajuda para uma preparação física mais resistente. Ele conta que se fi ca alguns dias sem fazer esse exercício, já se sente mais pesado. O maior perigo encontrado é ter que dividir o espaço do acostamento da BR 362 com os pedestres.

Pedro Barroso, 64, serviços gerais, acha que se o projeto da ciclovia sair do papel vai ajudá-lo muito no deslocamento da sua casa no Alto da Boa Vista até os locais onde consegue para “fazer uns bicos”. Ele conta que perde muito tempo no trânsito esperando para cruzar vias de grande fl uxo, como a Walter Jobim e Maurício Sirotsky Sobrinho. Para Pedro, a grande vantagem de usar a bicicleta é poder pouparno gasto com transporte coletivo. “Se eufor de ônibus não sobra nada para mim”, explica.

Fotos Adriana Garcia

Adriana Garcia

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Acho que a gente herda de alguém esse dom para arte. Não sei explicar. A pessoa já vem com a habilidade

natural para fazer isso”, afi rma o militar aposentado José Nunes de Oliveira, de 79 anos. É assim que ele tenta explicar de onde vinha tanta criatividade para transformar os restos de lixo naquilo que, agora, lota as prateleiras da garagem, ou melhor, “ofi cina” como ele mesmo defi ne.

Garrafas plásticas, restos de materiais do ferro velho ou da marcenaria do vizinho. Coisas aparentemente sem utilidade, apenas restos. Porém, nas mãos do seu Oliveira ganham formas, funções e objetivos. Das garrafas plásticas surgem carrinhos, bolsas e bonecos para as crianças brincarem. Para as donas de casa, portas-utensílios e para os amantes do chimarrão, porta-cuias.

Se cortadas em tamanhos iguais, com a ajuda dos ganchos comprados “bem baratinho no ferro velho” as garrafas também se transformam na bela cortina da porta que dá acesso à área de serviço. Para montá-la, seu Oliveira dá a dica: “é só cortar a parte lisa da garrafa em vários pedacinhos do mesmo tamanho e passar na água quente para fazer um detalhe, assim viradinha. Depois fura nos cantos e intercala o gancho e a peça de plástico. Até completar a altura da porta”, ensina.

Engana-se quem pensa que as utilidades de uma garrafa plástica terminam aí. O militar aposentado ainda conta que, há alguns anos atrás, descobriu em um programa de televisão uma máquina que produzia fi tas de plástico, retiradas da parte lisa da garrafa. “Ele viu uma vez só. Ninguém o ensinou a fazer, só mostraram na tv o que era. Daí em diante ele tentava copiar só pelo que tinha na memória, até que conseguiu montar a geringonça”, orgulha-se a fi lha Janiéri Nunes Moreira, 41 anos. Hoje, a “geringonça” é uma das ferramentas da ofi cina de Oliveira. Com a matéria-prima produzida por ela, faz-se forro para cadeiras que, conforme o artesão, “fi cam bem mais resistentes do que os outros forros”.

Toda essa aptidão para a arte não é de hoje. Desde os tempos da infância, seu Oliveira corria para a casa do vizinho em busca dos pedaços de madeira que não serviam mais para o marceneiro. “Enquanto os outros moleques iam matar passarinhos eu brincava de

A arte está nos olhos de quem vê

‘Separe, recicle, faça sua

coleta seletiva’ Não são lixos recicláveis:

pilhas, baterias, lâmpadas, cigarros, papel higiênico, papéis (plastifi cados, de fax e de carbono) fraldas, absorventes e preservativos.

Já os restos de alimentos, assim como borra de café e erva-mate, são lixos orgânicos. Podem ser reaproveitados como adubo, até mesmo para o jardim da sua casa.

Papéis (brancos e mistos), jornais, papelão, plásticos, metais, alumínio, isopor, embalagens longa vida, madeira, tecidos, pneus, fi ltro de café e outros, são lixo seco e podem ser reutilizados.

www.recicloteca.org.brwww.akatu.net

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Alguns sites trazem esclarecimentos e sugestões de como reciclar e reutilizar esses materiais. Pegue as dicas. Use e abuse de sua criatividade. O mundo em que você vive também é de sua responsabilidade.

Rodrigos Simões

construir uma locomotiva com os restos da madeira” lembra.

Na época um menino com cerca de 8 anos, Oliveira dividia seu tempo entre construir locomotivas e outros brinquedos com os pedaços da madeira, ir à escola e ajudar sua mãe a vender os quitutes que ela fazia. O aposentado menciona que “como ia às casas dos vizinhos vender os quitutes, aproveitava para vender minha rifa”. Sim, sua rifa. Ele não só construía as locomotivas de madeira como as rifava para os garotos da vizinhança. “Tirava cerca de 100 réis por rifa”, recorda aos risos.

Arte e meio ambiente, porém, só foram encontrar-se após uma viagem que fez a São Paulo, durante o período em que servia no quartel. Em um dos passeios turísticos, o então militar avistou o rio Tietê, já naquela época escondido embaixo de um “amontoado de lixo e garrafas plásticas”, como ele defi ne. “A partir daí senti necessidade de realmente fazer algo para diminuir toda aquela poluição” confessa. Assim, quando retornou, montou sua ofi cina e começou a trabalhar com as garrafas de plástico.

Suas primeiras obras de arte: os carrinhos de brinquedo. Os benefi ciados: as crianças de entidades carentes. “Levei muitos carrinhos para as crianças carentes. Coisa mais linda vê-las sorrir. Acho importante fazermos algo que faça bem para todas as pessoas, né?!”. É sim, seu Oliveira. Sorriem as crianças, os adultos e o meio-ambiente. Nós agradecemos o exemplo.

Fabiane Berlese