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Jornal Laboratório do 6º Período do Curso de Comunicacação Social-Jornalismo, Ufes

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Primeira mão Maio 20112

Convite a saborosas sensações

Experimentando

Entre todos os passeios das minhas últimas viagens, um despertou em mim sentimentos que outros lugares não conseguiram. É sobre a Confei-taria Colombo, no Rio de Janeiro, que quero te contar. Pastéis, pãezi-nhos, tortas e trufas são encontra-dos em muitos estabelecimentos, eu sei. Mas lá, tudo é diferente.

Os confeitos podem não ser tão saboro-sos quanto se espera, ou até muito pare-cidos com os que são vendidos por aqui. Mas na Colombo você não vai só para comer, você vai para ter sensações. Sen-sações? Explico. Na porta da confeitaria já dá pra ver que o clima de Belle Époque lembra muito os países europeus.

Espelhos de cristais enormes, mesas e cadeiras no mais puro jacarandá, ban-cadas de mármore italiano, magníficos vitrais nas paredes, cristaleiras clássicas, cardápios com design antigo e louças fi-nas nos grandiosos armários. Tudo isso num ambiente com toque de Art Nouve-au que encanta.

Ainda antes da popularização da Internet, nosso jornal laboratório ousou ser o primeiro do Estado a ser todo diagramado em compu-tador. Enquanto a grande imprensa ainda usava cola e tesoura, o Primeira Mão já desbravava o remoto programa Ventura.

Aqui estamos nós agora, 14 anos depois, para ousar uma vez mais. Junto com este número impresso, lançamos a primeira versão do Primeira Mão para tablet. E foi por isso que escolhe-mos este assunto para nossa matéria de capa.

Outra novidade está no formato. Este tamanho reduzido prova-velmente surpreendeu quem estava acostumado com aquelas

enormes páginas. A intenção é que nosso jornal seja agora mais “portátil” e mais próximo a uma revista, uma vez que as maté-rias já seguiam essa linha.

Tantas mudanças deram trabalho. Foram muitas “horas ex-tras” em laboratório, fazendo e refazendo cada matéria, cada página. Mas é assim que se faz jornal, quando se quer fazer bem feito. Além disso, sabemos que somos estreantes e que estamos apenas iniciando uma nova etapa. Afinal, é também papel de um jornal laboratório estar sempre experi-mentando e inovando.

Expe

dien

te Ana Elisa Bassi, Angeli dos Anjos, Carlos Oliveira, Cássia

Ramos, Cintia Casati, Drieli Volponi, Fernanda Batista,

Fernanda Marchesine, Francine Leite, Laio Medeiros, Luana

Dalla Bernardina, Lucas Schuina, Luiza Boulanger, Marcelle

Desteffani, Maria Luiza Damiani, Mariana Gomes, Máyra

Novais, Naiara Gomes, Rochana Canal, Sabrina dos Santos,

Sérgio Rangel, Tamiris Vieira, Victorhugo Amorim.

Gráfica Universitária

O Primeira Mão é um jornal laboratório, produzido em

caráter experimental pelos alunos do 6º período do curso de

Comunicação Social – Jornalismo, da Universidade Federal do

Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari, 514,

Goiabeiras | Vitória - ES CEP 29075-910email: [email protected]

1.000 exemplares

Cintia Casati, Francine Leite, Marcelle Desteffani, Rochana

Canal, Sabrina dos Santos, Sérgio Rangel, Victorhugo Amorim.

Edição e Diagramação

Professora OrientadoraDaniela Caniçali

Orientador da diagramaçãoLuciano Frizzera

Reportagem

Gráfica

Primeira Mão

Tiragem

Na minha breve passagem pela Colom-bo fiquei pensando em quem levaria lá comigo para saborear as tradicionais de-lícias. O Gegê seria meu primeiro convi-dado. Pode ser que você não se lembre desse apelido. É de Getúlio Vargas. Sim, nosso ex-presidente, por quem tenho certo apreço. Os garçons da confeitaria sabiam bem o que ele comia. Mas eu também sei o que pediria para nossa re-feição: um Petit Four. É o único biscoito que não usa farinha em sua massa. Sem-pre achei Gegê um tanto gordinho. En-tão, para ele, um quitute mais leve, por favor.

Outro que gostaria de ter em minha companhia é Olavo Bilac. Como o poeta viajava muito pelo mundo, dizem que só se sentia mesmo no Brasil quando pisa-va na Colombo. Mas nosso pedido não seria o Peru a Bilac, que apesar de mui-to saboroso, não combinaria nada com a ocasião. Para Olavinho a pedida seria a Rivadávia, o doce mais sofisticado da Colombo. Você não sabe o que é? Discos de pão de ló recheados ao doce de leite e com cobertura de fondant (aquele gla-cê mais durinho que você comeu no bolo do último aniversário da sua prima).

A rainha da Inglaterra, Elizabeth II, tam-bém já visitou a Colombo. Eu a convi-daria para uma degustação não porque se apaixonou pelo sorvete de bacuri lá servido, iguaria que já recebeu de pre-sente da direção da confeitaria. Para a majestade, o pedido seria compotas de pêssegos em calda com Fios de Ouro. E aproveitaria para bater um papo com a rainha que não incluísse o casamento de seu neto William. O assunto já foi esgota-do pela mídia nos últimos dias.

Você também deveria viver essa expe-riência e se deixar encantar pelo que a Confeitaria Colombo pode proporcionar de melhor à imaginação.

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“Rinaldo, eu fico feliz quando você senta nessa cadeira!”, declarou o barbeiro Leônidas de Souza Campos, logo depois de ter cortado o cabelo de um homem que é seu cliente há 30 anos. Momentos antes, ele havia contado a história das duas filhas que morreram de Alzheimer no ano passado, uma após a outra, com um intervalo de meses. “Mas eu não fico chorando, não, mesmo morando sozi-

nho. Chorar não adianta”, acrescentou. O advogado Rinaldo Luiz Cezar Mozzer, 50 anos e careca na parte de cima da ca-beça, acompanhou as histórias de Leônidas com comentários animadores, do tipo “isso mesmo, chorar não adianta”.

Rinaldo levantou-se da cadeira com gestos rápidos, mas sem afobação. “Pena que eu to sempre com pressa”, lamenta-se. Como eu lhe dirigi algumas perguntas, ele ainda encontrou tempo para me passar o seu cartão profissional e tecer alguns elogios ao jornalismo. À noite, quando atendeu a uma ligação minha, Rinaldo afirmou gostar muito do Leônidas, e ressaltou que “ele é um homem temente a Deus. Eu sou católico e ele é maranata, mas nos damos muito bem”.

Depois de o advogado ter cruzado a porta de saída, eu e o bar-beiro retomamos a conversa interrompida. Descalço, ele se mo-via calmamente pelo pequeno recinto chamado por ele mesmo de “Salão do Leônidas”, que fica na Rua Comissário Queiroz, em Jardim da Penha, Vitória. Falava de si mesmo. De quando em quando, assoava o nariz na mesma torneira que é utilizada para lavar o cabelo dos clientes.

Leônidas me foi apresentado por um companheiro da univer-sidade em março de 2010. Para uma tarefa acadêmica, esco-lhemos o barbeiro como personagem a ser retratado em um blog. Desde então, encontrei-me com ele várias vezes. Sempre se mostrou disposto a falar, dizendo frases como “se alguém pegar a minha história pra escrever, eu tenho muita coisa pra contar”, ou “eu sou um dos melhores barbeiros da Grande Vi-tória”. Sempre o vi com a mesma blusa verde com listras pretas e a calça também preta, mas desbotada. Seus cabelos, pretíssimos, ficam penteados para trás, e uma grande mecha branca se destaca. As marcas do tempo e os olhos claros contribuíram para que uma pátina de se-renidade se abatesse sobre seu semblante.

“Tem gente por aí que corta um cabelo em três minu-tos. Eu gasto 18 minutos pra cortar o cabelo. Barba também. Só fui rápido com o Nivaldo porque ele pediu”, diz o barbeiro, cioso de seu ofício e arte. Naquela manhã de abril, eu tentava or-ganizar a trajetória de Leônidas de maneira coerente, juntando as pontas soltas dos ou-tros encontros que tive com ele. Mas a ta-refa era menos simples do que parecia de início. As datas dos acontecimentos são pouco precisas. Se fosse para confiar em todos os números fornecidos pelo barbei-ro, ele já teria uns 86 anos, e não os 78 que de fato tem.

Foi mais ou menos assim. Nas-cido no distrito de Roseira, em

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fotografia Drieli Volponi

Voz entre as tesouras

Alegre, Leônidas iniciou-se como barbeiro aos 19 anos. Antes disso, trabalhara na fazenda do seu avô desde os sete anos de idade. Também foi ajudante de pedreiro por um breve período, mas considerou o encargo pesado demais. Ele diz que apren-deu seu ofício sozinho, apenas olhando a mãe cabeleireira e experimentando cortes nos outros. Tinha seu próprio salão em Alegre, mas depois foi morar por três anos em Colatina na época em que a cidade passava por um grande progresso eco-nômico, e veio para Vitória no final da década de 60. De início, a vida na capital não foi fácil. Já casado e com filhos, Leônidas afirma que sua família teve de morar em palafitas. Mas depois ele passou a ganhar bastante dinheiro e as coisas melhoraram.

Os relatos mais interessantes vêm de quando ele trabalhou no Salão Garcia e no Salão Galante, ambos no centro da cidade. O Centro, naquela época, ainda representava o coração de Vi-tória. Ele conta que, uma vez, foi chamado para cortar o cabe-lo do governador Eurico Rezende, o último do regime militar, no palácio Anchieta. Não gostou da experiência. Perdeu muito tempo esperando o governador atender a um monte de telefo-nemas, e no final das contas só lhe foi pago o valor normal de um corte. Nunca mais voltou lá.

Foi nessa época, também, que Leônidas: 1) passou um dia intei-ro cortando os cabelos da tripulação de um navio; 2) cortava a peruca de um argentino; 3) inventou uma massagem curadora que fez o cabelo de um cliente voltar a crescer.

No início da década de 80, Leônidas decidiu montar um salão em Jardim da Penha, juntamente com uma de suas irmãs. Ele diz ter previsto que o centro da cidade iria entrar em declínio. “A prefeitura saiu de lá, a Vale saiu de lá...”, enumera. Quando ele chegou, Jardim da Penha era apenas o Clube 106. O negócio ia bem, mas a irmã enviuvou, o ponto ficou caro e ele decidiu mudar suas coisas para a salinha da Rua Comissário Octávio Queiroz, onde está, segundo diz, há 11 anos. Tem uma casa em Vila Velha, mas anuncia que voltará a morar em Vitória.

A maior parte dos clientes de Leônidas é constituída por ho-mens acima dos 50 anos, alguns com pouco cabelo, como Rinaldo. Eles acompanham o barbeiro há vários anos, são seus amigos. Eventualmente, os mais próximos aparecem no salão apenas para ler jornal e conversar.

O barbeiro Leônidas tem oito irmãos, dois deles já falecidos. Ele foi casado duas

vezes e se divorciou das duas mulheres. Os filhos são três: um que mora em Cariacica e as duas que morreram de

Alzheimer. Esses dias, po-rém, ele também me contou

de outras três filhas com as quais não mantém contato, frutos de um

relacionamento com uma terceira mu-lher. Não entendi bem essa história. Ao

falar sobre isso, Leônidas apertou-se cons-trangido contra o sofá de couro da barbe-aria. Foi a única vez em que ele não quis se estender sobre um determinado assunto.

Histórias do barbeiro Leônidas

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Primeira mão Maio 20114 FotograFia Drieli Volponi e Marcelle DesteFFani

Produtos orgânicos: moda ou estilo de vida?

O consumo no Estado é recente e movido sobretudo por curiosidade, segundo especialistas

Em países da Europa, nos Estados Unidos e em algumas capitais brasileiras, os produtos orgânicos já se tornaram comuns e são consumidos por pessoas que assumiram um novo estilo de vida, com uma alimentação saudável e menos agressiva ao meio ambiente. Segundo especialistas do setor em Vitó-ria, a maioria dos consumidores procura os produtos não em busca de uma melhor qualidade de vida, mas sim por curiosidade e moda.

Fabiana Alves, 23 anos, é maître do restaurante D’Bem, na Praia do Canto, especializado em pratos or-gânicos. Ela conta que os clientes compram um produto orgânico apenas para experimentar e dizer que consomem, mas não cuidam de fato da alimentação. “Algumas pessoas chegam aqui e pedem um prato super saudável e uma Coca--Cola. Vai contra a nossa filosofia, mas se não vendermos, perdemos o cliente”, conta.

Segundo Fabiana, muitas pessoas pas-sam em frente ao local e não sabem do que se trata. Alguns confundem orgâni-cos com vegetarianos ou até com light e diet. “Acham que são só folhas e que eles emagrecem, mas estar de dieta não é comer orgânico”. Ela explica que apesar de os alimentos serem livres de agrotóxicos, engordam tanto quanto o alimento “comum”.

Variedade › Marcus Teixeira, 49 anos, é distribuidor de produtos orgânicos há dez anos. Proprietário da loja Só Orgâ-nicos, que funciona desde setembro de 2010 no Hortomercado, oferece cerca de 290 produtos diferentes, como chocola-te, papinhas de bebê, ketchup, molho de tomate, barrinhas de cereal, sucos, balas, macarrão, antepastos (porções servidas como aperitivos antes da refei-

ção principal), achocolatado, linhaça e até ovos de páscoa. Já no restaurante D’Bem, mesmo as bebidas alcoólicas servidas são orgânicas. Espumantes e vinhos são importados da Euro-pa, a cachaça é baiana e a cer-veja é produzida em Santa Catarina.

Entre os produtos mais vendidos pela loja Só Orgânicos estão arroz, açúcar, azeite e sucos. No D´Bem os sucos também são carro-chefe das vendas. Robéria Me-negassi, 23 anos, gerente administra-tivo-financeira do restaurante e con-sumidora de orgânicos, garante que o sabor é melhor quando compara-do aos não orgânicos. “É muito mais saboroso porque não tem remédio. Quando eu tomei o suco de tangerina pela primeira vez levei um choque, dá para sentir realmente o gosto da fru-ta”, garante.

Apesar da variedade de produtos, a maior dificuldade dos dois estabelecimentos é encontrar fornecedores. “Quase nenhum fornecedor é do Estado. A maioria dos produtos vem do sul do Brasil ou de ou-tros países. Além disso, a logística é com-plicada. O transporte dos alimentos custa caro aos produtores e muitos só o fazem se o pedido for grande”, disse Lucas Vilas

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Boas, 24 anos, assistente administrativo da loja Só Orgânicos.

Nos Estados Unidos, a cultura orgânica já faz parte da vida de muitas pesso-as. A cadeia de supermercados Who-le Foods conta com mais de 300 lojas espalhadas por todo o país, onde são vendidos somente produtos orgânicos e naturais. Até fraldas descartáveis orgânicas podem ser encontradas. Na Europa, a rede de lojas sueca H&M lan-çou em abril, uma coleção de roupas feitas a partir de tecidos orgânicos e reciclados, com o slogan: “Ser susten-tável está na moda”.

Saúde em primeiro lugar › Segundo a coach de saúde integrativa Melis-sa Setubal, 32 anos, frutas e vegetais orgânicos contêm até 40% mais antio-xidantes, 63% mais cálcio e 73% mais ferro que os alimentos de produção tradicional, além de uma quantidade

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maior de todas as vitaminas essenciais para o desenvolvi-mento e a manutenção da saúde. Isso significa que o corpo tem aumentada sua capacidade de se regenerar. Ou seja, o organismo tende a ficar menos doente, e menos propenso a desenvolver câncer e outras doenças graves. “Além disso, ovos e carnes de frango e boi orgânicos tendem a ter gran-des concentrações de ômega-3 e diminuídas as de gordura saturada, pois os animais são alimentados com capim e estão em constante movimento”, conta.

Melissa explica que passou a consumir produtos orgânicos pen-sando primeiramente na saúde, mas a questão sócio-ambiental também lhe chamou atenção. Ela faz questão de consumir pro-dutos locais, para incentivar a produção familiar e minimizar o impacto do solo e da água. Hoje ela faz desse estilo de vida sua profissão: orienta pessoas a mudarem seus hábitos e conquis-tarem suas metas pessoais com alimentação saudável e exercí-cios físicos.

Foi também pensando na sua saúde que o professor de inglês Rogério Passos, 37 anos, começou a consumir produtos orgâni-cos. “Faço o possível para que a minha alimentação e da minha família seja 100% orgânica, mas infelizmente ainda não consigo encontrar alguns produtos. Carnes, por exemplo, é dificílimo achar aqui em Vitória”. Para Rogério, os produtos orgânicos são mais saborosos, além de muito mais nutritivos. Sua mulher, Luciana Passos, 35 anos, conta que substituiu os alimentos tra-dicionais pelos orgânicos há três anos, quando estava grávida de seu primeiro filho. “Quando comecei a comer os orgânicos me senti outra. Fiquei mais ativa e meu fígado passou a funcio-nar muito melhor”. Grávida pela segunda vez, ela diz que agora só come orgânicos. “Se não for orgânico, não entra na minha alimentação. Tenho deixado de comer muita coisa, mas me sin-to muito mais saudável”.

Preço › O preço dos alimentos orgânicos pode ser considerado como um dos entraves para o crescimento do consumo no Brasil. Segundo Lucas, os orgânicos industrializados custam cerca de 70% a mais do que os não orgânicos. Já as frutas e verduras orgânicas chegam a custar 50% a mais do que os produtos convencionais. Um pé de alface em uma barraca de produtos orgânicos na feira de Jardim da Penha custa R$ 0,75 centavos, enquanto em um su-permercado pode ser encontrada por R$ 0,50.

Dos dias 29 de Maio a 4 de Junho acontece a Semana Nacional de Orgânicos. No Espírito Santo a programação contará com teatro de bone-cos, exposição de produtos, palestras técnicas, apresentação de grupos culturais, mesa redonda, café da manhã com produtos orgânicos, além da inauguração da nova feira de orgânicos de Vitória, no Hortomercado. A programação acontecerá na Praça dos Namorados, nas feiras do Barro Verme-lho, Jardim da Penha e Praia da Costa, na faculda-de Salesiana, na Ufes e no Hortomercado.

Feiras de rua Jardim da Penha, às quartas-feiras

Praia da Costa, aos sábados Barro Vermelho, aos sábados

Restaurante Cio da Terra Jardim da Penha

Restaurante D’ Bem Praia do Canto

Loja Só Orgânicos Hortomercado

Loja Mundo Verde Shoppings Vitória e Praia da Costa

Loja Domaine Pedra Azul

A Semana Nacional de Orgânicos

Lorival Haese, agrônomo e produtor de verduras e hortali-ças orgânicas há 10 anos, em Santa Matia de Jetibá, enfatiza que não é possível comparar o orgânico com o não orgânico. “A comparação de preços dos orgânicos com outros produtos não pode ser feita. Ele precisa de mais mão-de--obra e de mais tempo para a produção”. Segundo seu filho Ini-mah Haese, que produz e vende com o pai, é um caro que vale a pena. “É uma diferença mínima para quem busca qualidade de paladar e de vida”, diz.

Lucas Vilas Boas, que também é estudante de Engenharia Am-biental, acredita no potencial do país para a produção dos orgâ-nicos. Para ele, falta incentivo ao produtor e mais divulgação e informação para a população, o que aumentaria a distribuição e a variedade dos produtos orgânicos, gerando queda nos preço e aumento do consumo. “Nós temos terras ricas e muita água, o que falta é mão-de-obra especializada e incentivo fiscal do go-verno para dar certo”, analisa.

Onde comprar

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Convidamos a adolescente Camila Correia, com seus 12 anos de ida-de e toda a sua inexperiência, para conhecer uma casa de repouso em Vila Velha. A princípio a resposta não foi positiva. Ela não demons-trou nenhum interesse em conhe-cer tal lugar e disse que não queria ver “velhinhos tristes”. Com um pouco de insistência conseguimos levá-la conosco à visita. Resultado: a menina se deixou conquistar pe-los moradores da casa e saiu de lá sorrindo, levando na mente todas as histórias que ouviu deles.

O muro coberto por trepadeiras esconde o lindo jardim da casa -

jardim com direito a chafariz e bancos. Logo na entrada, discretamente à di-reita, temos a sala da administração. Seguindo em frente temos a sala de televisão, com um aparelho de plas-ma de 42 polegadas que fica rodeado por sofás e cadeiras. Logo depois, nos deparamos com umas 20 “cadeiras do papai”, revestidas com lençóis. No dia de nossa visita quase todas elas esta-vam ocupadas pelos idosos que des-cansavam depois do jantar. Ao lado da sala há o refeitório e mais à frente a piscina - que está sendo reformada. Quanto aos quartos, estão em todos os lugares: próximos ao refeitório, do ou-tro lado da sala, em outra ala que fica depois da piscina. Todos os quartos são para mais de um idoso e divididos por gênero.

As casas de repouso surgiram há 15 anos como uma opção para pessoas da terceira idade que precisam de cui-

Cuidado ou abandono?Visto por muitos como “depósito de velhos”, os asilos começam a mudar

dados especiais ou não possuem nin-guém para acompanhá-los o tempo todo. Assim como os asilos, as casas também amparam pessoas que neces-sitam de tratamento que não possam receber em casa, seja por falta de pes-soas treinadas, seja por falta de estru-tura. A diferença é que as casas são ex-clusivamente para idosos acima dos 60 anos e são instituições privadas.

A casa de repouso é pensada para ser como o lar do residente, conforme nos conta Célia Cristina Henriques Viana Pinto, proprietária de um estabeleci-mento em Vila Velha, desde 2006. Se-gundo ela, todos os idosos têm liber-dade para entrar e sair da casa na hora que quiserem, desde que seja analisa-da a situação de saúde de cada um e respeitada as suas limitações. Não há horários determinados para as visitas de familiares e amigos, é como se fos-se a própria casa dos idosos não sendo necessário marcar horário para ver os moradores.

No entanto, aqui no Espírito Santo não há muita divulgação das casas de re-pouso e algumas pessoas continuam com o preconceito: consideram levar um parente idoso para uma dessas ins-tituições apenas como última opção. É o caso de Anadir Batista, 65 anos, que cuidou de sua mãe Alzira até que ela morresse. Para isso, deixou de tra-balhar e sempre tinha que contar com os outros três irmãos para ajudar com despesas médicas e cuidar de Alzira quando ela precisava sair. “Eu não tive coragem de deixar minha mãe abando-nada numa casa de repouso ou asilo”. Célia Cristina lamenta: “pena que ainda a visão [das pessoas] é de que muitos dos idosos que vêm pras casas de re-

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pouso já estão num momento em que não conseguem sair na rua sozinhos”.

Em outros estados, como Minas Gerais e São Paulo, as ca-sas de repouso estão ganhando espaço. Em São Paulo, por exemplo, há instituições que investem em propaganda e assessoria de imprensa e fazem anúncios que muitas vezes lembram os de hotéis cinco estrelas. Algumas até possuem nos sites acesso às câmeras da casa, que funcionam 24 horas para que o parente possa acompanhar o dia-a-dia do idoso pela internet. É o caso da Residence Care Hotelaria Ocupa-cional Assistida e a Casa de Repouso Viva Bem.

Em Minas Gerais, segundo Valério Dias Camilo, dono de uma casa de repouso há seis anos, o pensamento das pes-soas está mudando, mas o preconceito ainda existe. “An-tes, a maioria dos idosos da casa tinha doenças como Mal de Alzheimer ou alguma necessidade especial. Hoje, temos boa parte dos idosos saudáveis. As famílias vão ganhando confiança e às vezes idosos amigos ou parentes dos asilados acabam vindo morar conosco porque gostam daqui”. Valério diz que as pessoas começam a pensar nos institutos de longa permanência como uma opção de moradia.

Melhor opção? › Nem todos os idosos conseguem se adaptar facilmente ao modo de vida dentro de uma casa de repouso. Célia Cristina comenta que alguns deles gos-tam do convívio com os outros moradores, mas há tam-bém alguns que preferem se isolar e passam a maior parte do tempo no quarto.

A diferença real entre um termo e outro é basicamente histórica. Isso porque tende-se a associar a palavra asilo com um lugar que representa abandono, depósito ou até mesmo um lugar para pessoas com problemas psiquiátricos. Já o termo lar ou casa de repouso, tem sido amplamente utilizado por empresas privadas que investem nesse setor.

Segundo a Lei RDC 283, de 26 de setembro de 2005, independentemente da nomenclatura e se é particular ou privada, as instituições que abrigam idosos acima de 60 anos, e que proporcionam todos os cuidados na área médica, social e psicológica, são consideradas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), e devem estar adaptadas e regulamentadas de acordo com a lei. Essas instituições não podem deixar de lado o convívio familiar e devem promover sempre o contato entre o idoso e seus parentes.

Asilo x Casa de Repouso

É o caso das idosas Francisca e Zenaide. A primeira, já fa-lecida, não gostava de sair do quarto, apenas quando ha-via transmissão dos jogos do seu time do coração e dos programas de auditório. Apesar de ter criado um mundo imaginário para si, ela interagia com os outros internos sem problemas. Ao contrário da outra idosa, Zenaide, de 91 anos, que desde que colocou uma televisão e um frigo-bar dentro do quarto evita o contato com os outros mo-radores. Segundo Cristina, ela não pode impedir os inter-nos de adquirirem e colocarem objetos que lhe deem mais conforto, mas o principal problema, no caso do frigobar, por exemplo, é que a idosa já não tem mais condição de observar comidas vencidas e estragadas.

A psicóloga Ana Sayuri R. Waricoda recomenda que, ao pen-sar em levar um idoso a uma casa de repouso, é necessário considerar algumas questões: “que tipos de cuidados ele ne-cessita? Há condições de permanecer na casa de familiares? Como ele se sente vivendo com a família? Como a família se sente com ele em casa ou na casa de repouso?”

Ela ressalta ainda que é sempre ideal que o idoso possa re-ceber cuidados onde houver mais recursos para isso. “Caso a família não esteja em condições adequadas, uma casa de repouso pode ser a única alternativa viável, desde que esta conte com os recursos necessários”.

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O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) reacendeu no Brasil as dis-cussões sobre o preconceito. Em entrevista ao programa CQC, da TV Bandeirantes, no dia 28 de março, o parlamentar considerou “promis-cuidade” a possibilidade de seu fi-lho ter relação com uma mulher ne-gra e fez ataques a homossexuais. Os filhos de Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro (PP-RJ) e o depu-tado estadual Flávio Bolsonaro (PP--RJ), declararam que as opiniões do pai representam o pensamento da

maioria da população.

Daí surge a pergunta: todos somos precon-ceituosos? O psicanalista José Aledi acredita que sim. “Se considerarmos que preconceito é uma ideia pré-concebida do que não conhe-cemos, todas as pessoas são preconceituo-sas. Uns mais, outros menos", explica.

O preconceito pode estar disfarçado em ações cotidianas. Para o brasileiro, uma coi-sa mal feita é baianada, as piadas sobre nor-destino são muito comuns, comentários impensados sobre homossexuais, nem se fala. Expressões como: “mulher no volan-te, perigo constante” ou “índio é preguiço-so” e “todo português é burro” estão tão rotineiramente no discurso dos indivíduos que eles nem se dão conta.

A socióloga e professora doutora Adélia Miglievich explica que todas as pessoas ouvem, algum dia, “histórias únicas” sobre como fazer para serem estimadas social-mente. Apavoradas com a possibilidade de serem rejeitadas, abominam o que o senso comum diz que é ruim. “A crítica à socieda-de e ao nosso papel em sua reprodução ou transformação é o único modo de nos liber-tarmos de nossos próprios preconceitos. É uma longa e ininterrupta caminhada de auto-conhecimento”, afirma.

Concordando com a socióloga, o psica-nalista José Aledir afirma que a procura por padrões e referências é a principal responsável pela discriminação no Brasil.

O preconceito que ninguém vê

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Presente na sociedade brasileira desde seus primórdios, ninguém está isento do preconceito

Luta negraA frente de conscientização dos negros conseguiu há cinco anos

uma importante vitória, com a aprovação da Lei 10.639 de 2003.

A nova legislação tornou obrigató-rio o ensino de História da Cultura

Africana no nível fundamental e médio das escolas brasileiras. Para

o coordenador do Fórum de Enti-dades Negras do Espírito Santo,

Luís Carlos Oliveira, a medida é um ponto positivo para o combate ao

racismo. No entanto, ele ressalta que a lei é apenas um começo da

luta contra o preconceito racial.

“A Lei 10.639 é muito importante para os negros, como um instrumen-to de desconstrução do preconceito, que está enraizado na nossa socieda-

de. Mas ainda é muito pouco, perto do que tem que ser feito para mudar a realidade. As pessoas preconceitu-osas veem as outras como inferiores e isso não se muda de uma hora para

outra”, opina.

Dos 67 anos de vida de Luís, 30 foram à frente de movimentos de

resistência negra. Segundo o ativis-ta, no Espírito Santo, o trabalho de

conscientização está a cargo desses movimentos sociais. Contudo, ele

considera que o principal passo para o combate ao preconceito deve

partir do governo. “A nível gover-namental, o trabalho feito ainda é

embrionário. Precisamos de políticas públicas, tanto na educação, quanto

nos outros campos, para que seja reparado tudo o que o Estado nos

faltou na época da escravidão”.

Questionado sobre até que ponto piadas e brincadeiras com conotação preconcei-tuosa não são prejudiciais, Aledi explica: “O preconceito desvaloriza e desqualifi-ca. Ele é autoritário e tira das pessoas a chance de se defenderem, uma vez que o preconceituoso parte do princípio de que o que se pensa é uma verdade, sem ques-tionar e conhecer o outro”.

Origens › Para explicar as raízes do precon-ceito na sociedade, Adélia Miglievich cita a escritora nigeriana Chimamanda Adichi, defensora de que a raiz do preconceito está na versão única com a qual as pessoas querem explicar o mundo, desde a infância. “Em todo o planeta se acreditava e ainda se acredita, o que é lamentável, no fato de que povos, coletividades e pessoas podem ser reduzidas a uma ‘história única’ e de que nada há além do que lhes é ensinado”, explica Adélia.

As origens do preconceito vêm desde o iní-cio da colonização brasileira. O negro, por exemplo, trazido para o país como mão--de-obra escrava foi destituído de alma por algumas religiões, e até da condição huma-na. Ele era tratado como mercadoria pelos colonizadores, que nem conheciam sua his-tória. De acordo com Adélia, com o tempo, esse primeiro preconceito só foi se modifi-cando. “De ‘escravo-mercadoria’, passou--se a conhecer o negro, pós-abolição, como pobre e analfabeto. Claro que há brancos nessa categoria, mas o estigma recai mais fortemente sobre o negro”, destaca.

Misoginia (homens que maltratam mulhe-res), homofobia, preconceitos religiosos e bullying são os exemplos dos preconcei-tos mais comuns. A socióloga ressalta que todas as manifestações preconceituosas traduzem modos exaltados de dominação, com uso de violência, gerada pelo medo da existência do diferente. “O preconceito nasce da incompreensão do ‘outro’ e da frustração em não controlá-lo. Quer-se con-trolar o outro, de todos os modos, a ponto de matá-lo. Isso explica, por exemplo, os crimes homofóbicos”.

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Homossexualidade na escola Para mudar o quadro de preconceito enraizado na sociedade brasileira, crianças e adolescentes foram escolhidos como pú-blico-alvo de campanhas educativas. O projeto do programa do Governo Federal, chamado Brasil sem Homofobia, tem causado polêmica entre os especialistas. Um material, que será distribuí-do nas escolas estaduais de todo o país, possui três vídeos abor-dando temas como transexualidade, bissexualidade e a relação entre duas alunas lésbicas, que se beijam no filme.

L.O. – estudante (20 anos) - homossexual

Opiniões

Você já sofreu preconceito?

Sim, quando eu era mais nova. Na oportunidade, as pessoas me xin-garam e jogaram objetos em mim.

Como você reagiu?

Nas vezes em que aconteceu, eu apenas saí de perto e deixei de lado.

Você acha que a distribuição de ví-deos com conteúdo homossexual em escolas pode ajudar no comba-te à homofobia?

Uma vez que o público escolhido são os alunos do Ensino Fundamen-tal, pode ser que a aceitação seja melhor do que para uma turma do Ensino Médio.

Então, qual a contribuição que os vídeos podem dar ao combate?

Os vídeos podem ajudar a mostrar para as pessoas que o homossexu-al é uma pessoa normal, como qual-quer outra.

Você se considera preconceituoso?

Não! Convivo, respeito e aceito pessoas com pensamentos, atos e jeitos diferentes dos meus. Mas existe preconceito em tudo, contra marcas de carros e roupas, contra bairros pobres. Preconceito abran-ge tudo.

Você acha que não tem preconceito contra nenhuma dessas coisas?

Bom, ter certo medo ou receio é preconceito? Não sei, acho que é.

Medo de que?

Por exemplo, muito se fala do peri-go de passar pela linha amarela no Rio de Janeiro. Isso dá medo. O lo-cal é famoso por isso.

Se um gay assumido se candidatas-se a morar na sua república, caso existisse vaga, você aceitaria?

De minha parte, sim. Mas somente depois de haver uma conversa e chegar a um consenso de que ele deveria respeitar a todos. Não acei-taria ver ele e outro gay cheio de in-timidade em minha casa.

Mas você aceitaria um casal hete-rossexual demonstrar intimidade em sua casa?

Demonstrando intimidade na fren-te dos outros não. É uma coisa pra ser feita longe das outras pessoas, na presença delas tem que acon-tecer de forma contida.

O que são atitudes preconceituo-sas?

Não querer conviver com as dife-renças e não aceitá-las. Zombar das diferenças.

E quando você ri de piadas que contêm humor negro? Não é pre-conceituoso?

É sim. Mas quando essa piada se faz presente o tempo todo em sua vida, aí sim é um preconcei-to, de fato.

Então, você é preconceituoso?

Pensando bem, todos temos pre-conceito propriamente dito. To-dos temos receio, medo, limites para aceitar as diferenças. Todos somos preconceituosos, mas agir com preconceito é diferente de pensar. Tudo que vemos julga-mos, nada passa em branco.

Murilo Toneto – estudante (21 anos) - heterossexual

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Primeira mão Maio 201110 Primeira mão Maio 201110

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O jornal Primeira Mão foi, em 1997, o primeiro do Espírito Santo todo redigido e diagramado no com-putador. Agora, em 2011, a redação do nosso jornal laboratório inova e produz uma versão para tablets, sendo mais uma vez o pioneiro entre a imprensa capixaba. O crescimento constante das publicações na Internet estão mexendo nas estruturas do jorna-lismo e fazendo com que os profissionais do impres-so invistam em outras possibilidades na produção de notícias.

A professora Ruth Reis orientou a dupla pioneira na diagramação do Primeira Mão em computador, Daniela Abreu e Emerson Cabral, na época estu-dantes da Ufes e hoje jornalistas da Rede Gazeta. Eles realizaram o projeto como trabalho de conclu-são de curso. “A Daniela fez um curso de diagra-mação e nos ensinou. Depois fui ensinando para os outros alunos. O laboratório possuía um único computador compatível com o programa Ventura, que era muito disputado”, lembra Ruth.

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Primeira mão Maio 201112

Antes desse período, a diagramação do jornal era realizada manualmente. As matérias, produzidas na máquina de escrever, eram recortadas e coladas com cola de sapateiro. “O novo supor-te (computador) trouxe formação mais adequada para os alunos. Eles já saíam da universidade preparados para o mer-cado, mesmo que o jornal lá fora esti-vesse ainda atrasado. Os alunos foram ocupando, assim, pontos de liderança no mercado”, lembra.

Como o Primeira Mão é o espaço para a experimentação, junto com a primeira edição deste ano estamos lançando uma versão do jornal para tablet. Segundo Luciano Frizzera, jorna-lista especialista em Tecnologia da Comunicação e orientador da diagramação, o jornal está se preparando para essa nova fase do jornalismo, na qual a in-formação estática do papel se conecta com a interatividade e o dinamismo da Internet.

Impresso versus online, uma batalha? De acordo com Tom Dias, em entrevista ao blog de Gilberto Medeiros, o primeiro jornal do país a ascender seu con-teúdo para a internet foi o Jornal do Brasil, em 28 de maio de 1995, seguido pelo capixaba A Tribuna, em 22 de novembro do mesmo ano. Em 1996, o Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo, A Gazeta e O Globo se renderam à versão online. No ano passa-do, o Jornal do Brasil aposen-tou sua versão impressa e se tornou totalmente digital.

A interatividade é a principal ca-racterística dos sites de notícias. “O consumidor mudou. Ele não é mais passivo. Lê uma notícia e intera-ge com ela, dá o feedback e faz a no-tícia. Com o avanço da tecnologia, con-sumir o jornal impresso se tornou menos atrativo”, opina Fernando Mendes

des, jornalista, professor e analista de re-des sociais da Rede Tribuna.

O jornalismo precisou, assim, se adap-tar para não perder leitores. Muitas re-dações têm migrado seu conteúdo para a internet, e, nos últimos anos, com o acesso a esses sites no celular e o lança-mento dos tablets, a comodidade travou uma batalha com a venda de jornais im-pressos. No dia 23 de março deste ano foi lançado no Brasil o primeiro jornal concebido especialmente para o iPad (tablet da Apple): o Brasil 247, com con-teúdo aberto e gratuito.

Entre o boom de novidades tecnológicas e digitais, há uma dúvida frequente: o conteúdo digital vai aposentar de vez o jornal impresso?

Os jornais digitais são mais interativos; os custos de produção e distribuição reduzidos; as notícias complementadas com informações adicionais que não te-riam espaço nas edições em papel, além de poderem ser atualizadas durante todo o dia e acessadas instantaneamen-

te por leitores em qualquer lugar do mundo.

Por outro lado, o jornal impresso possibilita o que o digital ainda não conse-guiu de fato: financiamen-to. Segundo Fernando Mendes, a preferência dos anunciantes ainda é o papel. “Enquanto os jornais não desco-brirem uma forma de ganhar dinheiro na In-ternet a transição do

impresso para o online não vai acontecer tão

rapidamente. As empre-sas que investem no online

precisam de um modelo de negócio para se sustentar.

Se o leitor não gosta de ler no computador, não adianta migrar

todo o conteúdo para a rede”, co-menta.

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Primeira mão Maio 2011 13

Dados apontam que a venda de jornais no Brasil está caindo, acompanhada do aumento das assinaturas de conteúdo online. Em 2009, uma pesquisa do Instituto Verificador de Circulação (IVC) indicou uma queda de 4,8% na circulação de jornais no Brasil em relação ao ano anterior. Em contrapartida, o número de assinaturas de jornais online cresceu 12,5% em um ano. Nos Estados Unidos, o New York Times percebeu essa tendência e lançou, no último dia 28 de março, sua edição digital paga para leitores do mundo inteiro.

Realidade capixaba Para atender a demanda crescente pelo online, os dois principais jornais do Espírito Santo trabalham de formas distintas. A Rede Gazeta possui um site aberto, subindo conteúdo durante todo o dia e suas redes sociais são frequen-temente atualizadas. “A gente procura trabalhar com a infor-mação em qualquer plataforma, dando a notícia em primeira mão”, conta o chefe de reportagem da Redação Multimídia da Gazeta, Geraldo Nascimento.

Quando questionado sobre como vender jornal no dia seguin-te, quando todas as notícias já foram para a rede, através do perfil no Twitter, Geraldo ressalta que o trabalho lá é só de in-serção da manchete das matérias. “Ele não cumpre o papel do impresso, que se aprofunda no assunto”, explica.

Já a Rede Tribuna possui um portal institucional, postando dia-riamente a versão do jornal do dia anterior. Ao contrário da A Gazeta, a empresa investe de modo estratégico nas mídias so-ciais, como conta Fernando Mendes. No Twitter, por exem plo,

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ele aposta no humor e em textos que convençam o leitor a comprar o jornal no dia seguinte. O portal está passan-do por uma reformulação, mas ainda não terá o conteúdo aberto. “Não vamos abandonar o papel e ficar somente no online se não tivermos um modelo de negócio. Isso só vai acontecer quando investir na internet for realmente rentável.”, finaliza.

Crises vêm de longe Momentos como o enfrentado hoje com a transição do jornal impresso para o digital e o sur-gimento das novas tecnologias não são novidades na his-tória do jornalismo. Com a chegada da TV, por exemplo, muito se falava que os jornais impressos desapareceriam. Mas não foi o que vimos. Eles se adaptaram, criaram novas linguagens e formatos e continuaram atraindo leitores.

No final de 1973, com a crise do petróleo, as preocupações da imprensa com o futuro do jornal impresso foram inten-sificadas. Os abalos econômicos afetaram diversos países. No Brasil o “milagre econômico” foi abaixo, gerando a ra-cionalização de produtos, entre eles o papel, nessa época quase todo importado.

O preço do papel subiu vertiginosamente e os jornais pre-cisaram ter seu número de páginas reduzido. As portas do mercado de trabalho na área se fechavam cada vez mais. Alberto Dines, que escreveu o livro “O papel do jornal”, fala sobre as transformações que o jornalismo precisou

sofrer ao longo dos anos para sobreviver às crises. Na in-trodução da obra, o autor destaca a origem da queda do jornal impresso:

“A fragilização de jornais e semanários começou quando a imprensa – instituição necessariamente plural e diver-sificada – acomodou-se à unanimidade e à unissonância. Desfibrada, deixou-se fascinar e suplantar pela internet. Só começou a reagir quando a varinha mágica da virtuali-dade mostrou sua insuficiência como promotora de recei-tas e lucros. Quando os produtores de conteúdo da Inter-net anunciaram o fim da gratuidade e do acesso universal, deu-se o milagre: a mídia impressa de repente anunciou sua cura. O problema não era dos jornais, mas da mídia digital. Na pressa, os médicos não perceberam quem era o doente”.

No Espírito Santo, os dois jornais de maior circulação não passaram ilesos de crises. Na década de 1980, o país vivia um momento de instabilidade econômica, com a inflação em alta. A gerente de imprensa da Secretaria de Comuni-cação do Estado, Tanit Figueiredo, foi repórter do jornal A Tribuna durante a crise e conta que houve demissão em massa. O jornalista Chico Flores, por exemplo, entrou em greve de fome. “No período, os jornais tinham poucos re-cursos e como o papel era importado se tornava um insu-mo muito caro. A solução prática encontrada foi demitir os funcionários”, afirma.

fotografia Francine Leite e Marcelle Desteffani

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O problema foi agravado com a morte de um dos herdei-ros da Rede Tribuna, João Santos Filho, grande investidor da empresa. Por causa da soma de todos esses problemas, o jornal fechou as portas em março de 1983 e só reabriu após três anos.

Nesse período, a crise econômica brasileira afetou tam-bém o jornal A Gazeta. Cerca de 30% dos jornalistas da re-dação foram demitidos. O atual editor de fotografia, Chico Guedes, trabalhava como repórter fotográfico na época. “Muitos amigos foram demitidos na crise e depois recon-tratados. A Rede Gazeta investiu em uma impressora colo-rida, o que era novidade para o Espírito Santo. Assim, ela conseguiu passar pela crise sem ter que fechar as portas”, conta.

A crise econômica internacional do último trimestre de 2008 também gerou consequências negativas para as em-presas jornalísticas. A Gazeta, por exemplo, teve que op-tar por reduzir papel e demitiu alguns dos seus jornalistas para cortar gastos.

Novidades no mercado e no jornalismo Com o avanço das novas tecnologias, o papel está perdendo cada vez mais espaço na divulgação de notícias. Os portais ganha-ram força, dando conta de todas as informações factuais do impresso. Para Luciano Frizzera, a internet e as novas tecnologias mudaram a forma de fazer jornalismo.

“A portabilidade e a conectividade são as característi-cas que mais chamam atenção. Voltamos a ler as notí-cias como líamos no papel, segurando com a mão e le-vando para qualquer lugar. E isso aconteceu sem perder toda a velocidade de atualização adquirida na internet. Para cada suporte, tablet, celular, computador ou im-presso, há uma forma diferente de contar histórias, de divulgar os fatos. E isso muda também o modo de pro-dução”, enfatiza.

Questionamos então quais adaptações o jornalismo preci-sa sofrer para se adequar ao novo universo comunicativo. Luciano explica que acompanhar essa revolução tecno-lógica não é fácil. “A lógica de lançamentos de produtos novos a cada ano deixa o jornalismo sempre no campo do experimentalismo. Temos que estar atentos a essas mu-danças e refletir constantemente sobre como usufruir das novas tecnologias para fazer as notícias chegarem com qualidade para os leitores”, aponta.

Ruth Reis complementa que uma revolução no conteúdo é o primeiro passo para as redações se adaptarem ao rit-mo e à formatação do online. “Com a mudança de suporte tem que acontecer uma revolução do conteúdo. Os jorna-listas precisam explorar todos os potenciais. O desafio é construir novas narrativas, captar a atenção das pessoas, que estão cada vez mais atarefadas”.

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Ao circular pelas ruas das cidades percebemos muros, paredes e gra-des que delimitam seus cenários. Esses espaços “vazios” chamam a atenção de um grupo de artistas, que utilizam esses locais para ex-pressar seus pensamentos, senti-mentos e realidades, fugindo do convencional das galerias, e par-tindo para ambientes externos e urbanos. Estamos falando dos gra-fiteiros.

O graffiti no Brasil foi introduzido em São Paulo em 1978. No Espírito Santo, o graffiti surge no final da década de 80, a partir dos grupos

que dançavam o break dance. Com isso, a cultura do Hip Hop foi crescendo no Esta-

do. O Hip Hop é um movimento que tem como pilares principais o break dance, o DJing, o graffiti e o rap.

Segundo o grafiteiro Frederico Oliveria, 30 anos, conhecido por Fredone Fone, essa cultura era pouco conhecida no Estado naquela época. “Eles eram chamados de funkeiros, pois ainda não se tinha ideia do que era esse estilo”, explica. Apenas no fi-nal dos anos 90, o graffiti conquistou o seu espaço na cena capixaba, junto com os ou-tros elementos da cultura do Hip Hop.

O Estado conta, atualmente, com cerca de dez grupos, ou crew, como são cha-mados pelos grafiteiros. O movimento não tem uma associação organizada. Ain-da assim, eles se reúnem em festivais pro-

movidos pelos próprios grafiteiros. Entre os principais eventos, está a “Semana do Graffiti”, que esse ano aconteceu entre os dias 27 de março e 02 de abril, em Vi-tória, em comemoração ao Dia Nacional do Graffiti.

O Dia Nacional do Graffiti - 27 de março - foi criado para homenagear Alex Vallauri, con-siderado o precursor da linguagem do gra-ffiti no país. A data faz referência ao graffiti realizado no túnel da Avenida Paulista pe-los amigos do artista no dia seguinte à sua morte, em 26 de março de 1987.

Acompanhamos a “Semana do Graffiti” e conhecemos alguns dos nomes dos artis-tas que movimentam a cena do graffiti no Estado.

Conheça o perfil de alguns grafiteiros que movimentam essa arte no Espírito Santo

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abrin

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Vict

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mor

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Cores na cidade

nome: Breno KaliC

idade: 26 anos

DesDe 1997 na pichação e DesDe 2002 no graffiti

BcL crew

“Seja para o traBalho e por diverSão, a minha vida é o graffiti.”

fiCore

nome: aLecsanDro LacerDa Da siLva

idade: 35 anos

começou DançanDo Break e grafita DesDe 1992.LDm crew – Luz Do munDo

“o graffiti é a liBerdade de uma identidade.”

aleCS

nome: freDerico oLiveira

idade: 30 anos

DesDe 1997 no graffiti

LDm crew - Luz Do munDo

“eu faço graffiti tradiCional, uma arte Como qualquer outra.”

fredone fone

fotografia Victorhugo amorim

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Primeira mão Maio 2011 17

nome: JorDão JuDha

idade: 25 anos

DesDe 2001 no graffiti

BcL crew

“graffiti é uma arte que repreSenta tudo pra mim”

Somal

nome: giurley diaS netto filho

idade: 24 anos

DesDe 2008 no graffiti

Lc crew – Levi casaDo

“o grafiteiro tem que ter muita diSpoSição para moStrar a Sua arte.”

giu

nome: Jonathan emanueL De aLmeiDa santana

idade: 18 anos

DesDe 2009 no graffiti

fg crew - força gravitacionaL

“larguei aS drogaS para fazer a ofiCina de graffitti e hoje o graffiti é minha vida. foi uma tranSformação.”

dentin

nome: peterson vaLeriano Da siLva

idade: 16 anos

DesDe 2009 no graffiti

sem grupo

“é a forma de expreSSar meu Sentimento atravéS da arte.”

gangSt

nome: natanaeL De souza

idade: 26 anos

DesDe 2008 no graffiti

Lc crew – Levi casaDo

“o graffiti repreSenta atitude e ouSadia do artiSta.”

natan

nome: feLipe BorBa

idade: 26 anos

DesDe 2006 no graffiti

coLetivo BoLor

“o graffiti é uma arte. é a maneira maiS noBre da manifeStação da arte púBliCa.”

felipe

nome: marceLo De oLiveira

idade: 25 anos

DesDe 2008 no graffiti

coLetivo BoLor

“o graffiti é a SignifiCação viSual para a Cidade. aS empreSaS têm maiS poder que aS peSSoaS e o graffiti é uma forma de ComuniCação do povo.”

voodoo

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Primeira mão Maio 201118

Abandonado. Encontramos o quios--que número 25 abandonado. Fe-chado desde janeiro, o único espa-ço conhecidamente destinado a freqüentadores LGBT no Calçadão de Camburi deixou um vazio e um públi-co agora órfão, rendido à pasmaceira das noites de domingo.

A proposta dos donos Júnior e Ariel Sessa para o Quiosque Luí fazia su-cesso desde 2008, e com o passar do tempo chegou a reunir mais de 200 pessoas ao ritmo da música ele-trônica.

Leandro Pessoa, 26, confirma que o local era um excelente ponto de encontro para o público gay. Leandro era conhecido como Marisa, e se apresentava como Drag Queen nos encontros semanais. Ele conta que animava as pessoas com as suas per-formances, sendo a única Drag de Vitória a se apresentar sem se produzir.

A atração, no entanto, gerou conseqüên-cias que os donos do estabelecimento não esperavam, tais como a presença de ambulantes, que vendiam produtos mais baratos; e assaltos, devido à falta de se-gurança para uma festa que atraía tantas pessoas e durava até uma da manhã. Ou-tro problema era a quantidade de lixo que o evento gerava. Toda segunda-feira, a em-presa responsável pela limpeza das praias de Vitória tinha que deixar uma equipe no Quiosque Luí, enquanto outra fazia a lim-peza de todo o resto da praia.

Por conta disso, os proprietários não con-seguiram controlar a situação, criando dívi-das e problemas administrativos. O Quios-que Luí ganhou nova administração no ano passado, na tentativa de tocar a idéia para frente, mas fechou definitivamente suas portas em janeiro de 2011.

arco-íris

Camburiperdeu seu

Desde janeiro, parte da Praia de Camburi está mais silenciosa. O Quiosque Luí, frequentado pelo público LGBT, fechou suas portas.

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fotografia ana Elisa Bassi

Olhos desconfiados ››› Todos esses fato-res ofuscam a idéia de que o fechamento do local pudesse ser devido a uma ques-tão preconceituosa. No entanto, há quem acredite nisso.

Nunes Felix, proprietário do Quiosque Al-mirante, que fica ao lado do Lui, disse que fechava o seu estabelecimento às cinco horas da tarde, pois era quando a fregue-sia do Luí aumentava. Por conta disso, ele “não tinha respostas” a dar aos seus clien-tes sobre o comportamento dos frequen-tadores do Luí. “Já aconteceu dos clientes reclamarem comigo sobre os casais ho-mossexuais e eu não poder fazer nada”, acrescenta Nunes.

Rafael Quadros Amaral,18 anos, secretá-rio executivo do fórum LGBT de Vitória e participante do Coletivo Caus@ção, disse que nunca presenciou uma demonstração explícita de preconceito, apesar de acre-ditar que era frequente entre as pessoas que passavam por ali. “O lugar é um local elitizado, pois é perto dos bairros Mata da Praia e Jardim Camburi. A gente via alguns casais que aceleravam o passo ao chegar perto do quiosque e, até mesmo, pegavam seus filhos no colo para passar pelo quios-que mais rápido”.

Conversamos com uma família que pas-sava a manhã de sábado no quiosque ao lado do antigo Luí. Para eles não seria um problema estar ali com a filha de 13 anos e os frequentadores do Luí por perto. “O que incomoda são os exageros, talvez isso fosse o problema. O comportamento dos frequentadores, independentemente da orientação sexual, deve respeitar as regras que todos respeitam no dia a dia”, opina Alessandra Larciprete, 40, comerciante.

Já o seu marido, Gilberto Larciprete, 53, tem uma opinião diferente. “Eu tenho cer-teza de que alguém que não admite esse

‘novo’ modelo de família, um dia cami-nhando pela praia viu uma dessas cenas e resolveu acabar com isso. E, infelizmente, sabemos que às vezes as coisas funcionam rápido, com um simples telefonema de al-guns que se acham os donos do mundo”.

O limite de cada um ››› Em nossas entrevis-tas, uma palavra muito ouvida foi o verbo “extrapolar”. Muitos disseram não sentir preconceito em relação aos homossexuais desde que haja um limite para o seu com-portamento. Mas, afinal, que limite invisí-vel é esse que as pessoas enxergam para o comportamento social?

Segundo a psicóloga Lívia de Souza, houve uma época quando eram delimitados, na vida de cada um, limites e regras do com-portamento social, seja pela família, pelo governo ou pela religião, fazendo com que não existisse espaço para a reflexão ou para a escolha. Esse condicionamento criou pessoas limitadas e estressadas, pre-sas a um padrão de vida que era o único a se seguir.

“Hoje, existem resquícios dessa época. Apoiamos um pensamento mais liberal, porém com o inconsciente procurando a todo tempo o padrão a seguir. É por isso que delimitamos certos comporta-mentos, como a exposição do público LGBT. Algo novo nos pede para aceitar, enquanto as raízes nos prendem um pas-so atrás”, diz Lívia.

A verdade é que é muito difícil hoje en-contrar um real sentido para o enquadra-mento de comportamentos sociais numa sociedade tão ampla e diversificada. So-mos muito mais do que simples divisões. Somos um país plural, perdoem o clichê. O público do Luí está agora difundido em outros espaços, outros endereços. Que os nossos olhos fiquem menos desconfiados.

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Muita beleza mas pouca informaçãoVitória é uma cidade com muitos pontos turísticos e belezas naturais. Mas será que quem chega aqui encontra todos eles?

Cada vez mais turistas chegam à ilha de Vitória. De acordo com dados da Secreta-ria de Turismo do Estado (Setur), o fluxo de visitantes no aeroporto Eurico Salles na alta temporada (dezembro, janeiro e fevereiro) cresceu em 357% de 2008 para 2010. O número de turistas na região metropolitana de Vitória subiu em 47% nes-se mesmo período. Mas será que toda essa gente que chega à capital capixaba encontra os hotéis, praias, museus e outros pontos turísticos com facilidade?

José das Graças Nascimento e sua esposa, Maria Inês das Graças, vie-ram de São José do Rio Preto, inte-rior de São Paulo, para o casamen-to de um sobrinho e aproveitaram

para visitar algumas praias da região me-tropolitana de Vitória. De acordo com o casal, eles não tiveram dificuldade para encontrar os lugares que queriam visitar, pois foram guiados pelos parentes que moram na cidade.

Mas quanto a informações turísticas, o casal diz que não recebeu nenhuma. No aeroporto, por exemplo, eles não re-ceberam dicas sobre pontos turísticos, nem folders ou mapas. Eles já visitaram várias capitais do Brasil, como Recife, Rio de Janeiro, Salvador, e também cidades fora do país, e acreditam que a estrutu-ra do turismo de Vitória está muito atra-sada em relação a esses outros lugares. “Quem visita qualquer grande cidade da Europa acha todo tipo de informações até no quarto do hotel. Aqui também deveriam distribuir mais materiais sobre restaurantes, pontos turísticos, museus e teatros. Se o turista não vier com a as-sessoria de agência de viagem vai encon-trar dificuldade”, critica José.

Se para quem fala português pode ser difícil se localizar em Vitória, para aque-les que vêm de fora do país é pior ainda. Esse é o caso de Chris Baxten, turista norte-americano que veio dos Estados Unidos em busca das praias brasileiras. Ele e mais dois amigos escolheram Vitó-ria pelas opções de praias na cidade e nas proximidades. Quando a reportagem do Primeira Mão os abordou, eles iam para a Praia d’Ulé, em Guarapari, para surfar.

“Eu e meus amigos viemos do Rio de Ja-neiro para cá de carro. A cidade não pos-sui sinalização em inglês. Nós só encon-tramos as coisas porque viemos com um GPS”, relata Chris.

Casos como o de Chris e seus amigos, vi-sitantes vindos de outro país, são raros em Vitória e em todo o estado. Dados da Setur mostram que apenas 1% dos tu-ristas que chegam ao Espírito Santo são estrangeiros.

Ações MunicipAis › Uma das ações da prefeitura de Vitória para melhorar a recepção aos turistas da cidade é o curso de excelência na receptividade ao turista dado aos taxistas da ilha. O curso ocor-re no Serviço Nacional de Aprendizagem

Museus – Maes, Museu Solar Monjardim, Museu do Rosário e Casa Porto das Artes Plásticas.

Praias – Camburi, Curva da Jurema, Ilha do Boi, Ilha do Frade.

Monumentos - Capela Santa Luzia, Catedral Metropolitana, Escadaria Maria Ortiz, Palácio Anchieta, Teatro Carlos Gomes, Viaduto Caramuru.

Gastronomia – Torta Capixaba e Moqueca Capixaba, servidas nas famo-sas panelas de barro das paneleiras de Goiabeiras.

O que VitóriA teM de bOM?

Comercial (Senac) da capital e tem aulas sobre a qualidade no atendimento ao tu-rista, informações turísticas municipais, ética, postura e boas maneiras para aten-der ao cliente no trânsito, entre outras.

Outro instrumento de auxílio aos visi-tantes são os Pontos de Informações Turísticas (PIT’s). Vitória possui hoje cinco PIT’s. Eles estão localizados no aeroporto e nas praias de Camburi e da Curva da Jurema. De acordo com a policial civil Nádia Leitão, que trabalha no PIT da Praia de Camburi, em frente ao hotel Canto do Sol, os turistas que chegam ao local recebem mapas de Vi-tória e do Estado, além de folders com informações sobre as principais rotas de turismo e os pontos mais visitados de outros municípios: “Todo visitante que chega aqui recebe este material. Nós também damos toda a orientação que podemos para auxiliá-los.”

Porém, esses materiais informativos não são distribuídos pela cidade, nos pontos turísticos e nos hotéis. Somente se o visi-tante for a um dos PIT’s ele vai encontrar essas informações. “A prefeitura tem pe-cado muito em relação a materiais infor-mativos para os turistas. Há alguns anos ela distribuía mapas e outros informati-vos gráficos para darmos aos hóspedes. Hoje, não recebemos nada”, destaca a chefe de recepção Ana Paula Leite, do hotel Quartier Latin, localizado na Praia do Canto.

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Há oito anos, quando as pessoas ainda usavam ICQ, a novidade em termos de redes sociais era Orkut e MSN. Graças à popula-rização do acesso à internet, hoje fica até difícil contar quantas redes sociais existem em todo o mundo.

Mais do que um grande emaranhado de pessoas, as redes so-ciais agora se dividem por assuntos ou grupos exclusivos. O excesso de pessoas ou de conteúdos indesejáveis nas grandes redes como Orkut, Facebook, Twitter e MySpace tem feito com que alguns usuários migrem para redes mais restritas.

O leque de opções é enorme. Existem redes sociais com dicas de crochê e tricô, outras em que compartilham informações

sobre turismo, concursos e livros ou até mesmo treinam outros idio-mas. Além disso, é possível encontrar comunidades específicas para pessoas de determinadas religiões, casados, divorciados, fazendei-ros, góticos, skatistas e até hamsters!

HAMSTERstersSeguindo a moda de perfis de animais domésticos, o nome dessa rede social já diz tudo: nela, quem interage são os hamsters. Com apenas uma conta, a rede permite que o usuário crie vários perfis de hamsters diferentes, formando sua “família hamster”. Mas a capacidade é limi-tada - apenas uma foto pode ser postada em cada perfil.

››› www.hamsterster.com

RespectanceEsta é uma das redes que mais comovem seus visitantes. Na Respectance, os usuários fazem homenagens a seus entes queridos que já faleceram, criando memoriais online com textos, fotos e vídeos. O site conta com memoriais de pessoas famosas, como Michael Jackson, Elizabeth Taylor, Ayrton Senna, Jean Charles, e de vítimas de desastres como as do voo Air France 447 e do atentado terrorista de 11 de setembro de 2001.

››› www.respectance.com

Ebah!O ebaH! foi feito para auxiliar os que estão na área acadêmi-ca, universitários e professo-res de uma mesma área profis-sional, de forma a facilitar as pesquisas e trocas de conheci-mentos. Nessa rede, os usuá-rios podem formar grupos de estudos e debater assuntos e dúvidas nos fóruns, além de compartilhar arquivos e traba-lhos acadêmicos.

››› www.ebah.com.br

Qual é a sua rede?

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StachePassionQuem tem algum fetiche por bigode vai se encontrar nessa rede social. Nela é possível compartilhar seu lin-do bigode, caso tenha um, ou descobrir uma infinida-de deles, de todas as cores, formas e estilos. Ah, o site também funciona como um serviço de namoro. Perfei-to, não acham?

››› www.stachepassions.com

MyFreeImplantsNa My Free Implants, as garotas que sonham em colocar silicone fa-zem o cadastro e podem receber doações em dinheiro de homens “caridosos”. Mas calma meninas, não é tão fácil assim. Cada benfei-tor do site espera seu devido retorno em fotos e vídeos sensuais.

››› www.myfreeimplants.com

Line for HeavenEsse é o lugar certo para os que que-rem ir ao paraíso. Para isso, seus usu-ários coletam pontos "abençoando" pessoas, o que seria "suficiente" para salvar a alma. E aos domingos, o Judgment Day (“O dia do julgamen-to final”) transforma os participantes em anjos, de acordo com um ranking. Quem quiser também pode fazer con-fissões e pagar pelos seus pecados.

››› www.lineforheaven.com

Lost ZombiesRede social criada para montar um fil-me sobre zumbis. Os membros podem enviar fotos e vídeos macabros e san-guinolentos para serem utilizados no filme. Além disso, nessa rede social, é proibido divulgar qualquer informação sobre a vida real dos usuários.

››› www.lostzombies.com

Date my single kidOs pais que sofrem ao pensar que seus filhos estão encalhados e sozinhos no mundo encontraram o lugar certo para amenizar suas preocupações. Nessa rede, os papais e mamães corujas trocam ideias e buscam o namoro “ideal” para os seus filhos.

››› http://www.faboverfifty.com/content/date-my-single-kid-2

REMcloudO REMcloud é uma rede social que lembra o twitter. Em 140 caracteres, os usuários descrevem seus sonhos e comentam os sonhos uns dos outros. A rede possui até “Trending Dreams”, uma lista de assuntos mais sonhados e comentados. A proposta do REMcloud é fazer com que os sonhos sejam compartilhados por pessoas de todo o mundo. Você pode aderir à rede através de seu facebook ou twitter.

››› www.remcloud.com

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Primeira mão Maio 201122

Criado em 1998, pelos irmãos Ricardo e Rodrigo Piologo, e pelo diretor da empresa Fábrica de Quadrinhos, Rogério Vilela, o site Mundo Canibal tinha o objetivo de ser diferente de tudo que já havia sido feito para a internet. Foi assim que os três criadores optaram por fazer um portal de animação com um humor que eles consideram atual. Em abril, Ricardo Piologo esteve no Espírito Santo para palestrar no Congresso Nacional de Estudantes de Co-municação, Ciências Contábeis, Administração, Direito, Economia e Serviço Social (Conecades), e falar sobre o site Mundo Canibal, que alcança a marca cerca de 15 milhões de acessos por mês.

O Mundo Canibal é um site de entretenimento voltado para jovens e adultos. Nele, os internautas podem acessar vídeos e jogos, deixar co-mentários, fazer downloads, entre outras coisas. Em entrevista, Ricardo nos contou como começou sua trajetória e como conseguem, mesmo depois de 13 anos, manter as milhares de visitas do site.

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Canibal

Ricardo Piologo conta como surgiu um dos maiores sites de

entretenimento do país

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RicaRdo Piologo um dos cRiadoRes do mundo canibal

www.mundocanibal.uol.com.bR

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Primeira mão Maio 2011 23

Primeira Mão › Como surgiu a ideia de fazer o Mundo Canibal?

Ricardo Piologo › Eu e meu irmão, o Ro-drigo Piologo, sempre quisemos traba-lhar com desenhos animados. Porém, imaginar isso, há cerca de 20 anos, era praticamente impossível.

Com os computadores cada vez mais acessíveis, conseguimos ter uma fer-ramenta para criar as animações, só que não tínhamos onde divulgá-las. Foi nesta fase que a internet surgiu, e vimos que ela seria o caminho para finalmente colocarmos em prática nossas ideias.

PM › E por que o nome Mundo Canibal?

RP › Nem sempre foi esse o nome, na verdade tudo começou com nosso pri-meiro personagem, o Carlinhos. Como não éramos patrocinados por nin-guém, tínhamos que criar algo que cha-masse a atenção. Mesmo se a pessoa não gostasse, ela iria se lembrar de ter visto. Foi aí que achamos que um garo-to preto e branco e que comesse seus próprios excrementos resolveria nosso problema. Logo criamos nosso primei-ro site, chamado www.carlinhos.hpg.com.br, em que a cada clique um pop--up surgia.

Após o site entrar no ar, Rodrigo co-meçou a fazer um curso na Fábrica de Quadrinhos, em que conheceu Rogé-rio Vilela, que também tinha alguns personagens seguindo a mesma linha que a nossa e o mesmo objetivo de criar algo diferente, com um humor moderno, longe do “pastelão” ou do infantil, que os jovens estavam cansa-dos de ver.

Como a ideia do site era - e ainda é - mostrar de tudo ao extremo, e como achamos que não existe nada mais ex-tremo que um comer o outro, nos dois sentidos (risos), daí o nome, Mundo Canibal.

PM › Sabemos que o portal tem cerca de 5 milhões de visitantes únicos, ou seja, cerca de 15 milhões de acessos por mês. Foi sempre assim? Como con-seguiram divulgar tanto o site?

RP › Começamos no boca a boca mes-mo. Quando conhecemos o Vilela, ele lançava o portal da Fábrica de Quadri-nhos e nós aproveitamos isso. Porém, acho que o que fez o site crescer muito foi o humor diferente, algo que o pu-blico mais jovem e adulto tinha dificul-dade em encontrar. Nossos visitantes são o principal meio de divulgação e só temos que agradecer a eles.

PM › Qual foi o primeiro sucesso de acessos?

RP › Percebemos que estávamos com um ótimo publico quando lançamos a “Bonequicha – A Boneca Bicha”, que rapidamente atingiu a marca de 300 mil visualizações. Na sequência lança-mos a “Avaiana de Pau” e, aí sim, essa se tornou um marco e ícone do site até hoje.

PM › Os vídeos do mundo Canibal são bem peculiares. Como fazem para manter o estilo?

RP › Aqui temos o objetivo de sempre fazer algo diferente e não ficar marte-lando em algo que já deu certo. Quan-do lançamos a “Avaiana de Pau”, nos-so maior sucesso, todo mundo pedia Avaiana de Pedra, de Metal, de Prego e etc.

Mas não queríamos fazer mais isso. A “Avaiana de Pau” funcionou, mas tudo o que se repete demais acaba ficando chato. Também tínhamos (e ainda te-mos) um monte de outras ideias que queremos por em prática e talvez seja justamente por nunca ficarmos na “mes-mice” que temos sucesso até hoje.

Nosso principal objetivo é fazer algo que nos agrade em primeiro lugar, pois sabe-mos que isso agradará a nossos fãs.

PM › Como vocês produzem os vídeos? Quem faz os desenhos, cria os textos e falas?

RP › No caso de animações, tudo come-ça com uma boa ideia que é discutida entre nós três. A ideia é o principal, não importando se você tem uma boa téc-nica ou não, é ela quem vai determinar o sucesso que seu vídeo fará.

Com a ideia inicial em mente, seguimos o método tradicional para criações de desenhos animados: fazemos o roteiro e storyboard juntos. Este último, assim como todos os desenhos do Mundo Ca-nibal, são feitos pelo Rodrigo Piologo.

Estando o storyboard finalizado, inicia-mos a parte de desenhar tudo à mão, usando lápis e papel, e não o computa-dor como muitos pensam.

Com tudo pronto, nós digitalizamos os desenhos e os importamos para o pro-grama Flash, onde eles são “vetoriza-dos” automaticamente estando pron-tos para serem pintados, agora sim, no computador. Após a pintura, eu assu-mo fazendo a edição (ainda no Flash), que basicamente se trata de colocar um desenho atrás do outro e com isso criar a ilusão do movimento. Paralelo a

isso, gravamos as vozes que são feitas por nós mesmos, e alteramos algumas digitalmente.

Após a edição no Flash, eu exporto tudo em alta resolução e importo no programa Sony Vegas para edição de efeitos sonoros e de músicas. Pronto, a animação está feita.

PM › Há muitos anúncios no site, é uma fonte rentável?

RP › Tem que ser (risos). Hoje o site é rentável sim, mas nem sempre foi as-sim. Tivemos que trabalhar de graça por anos para chegar ao ponto de viver do site. Não foi fácil e sabíamos que não seria, mas tínhamos um objetivo e trabalhos focados nisso. Quando se faz isso, no final sempre dá certo e é muito recompensador.

PM › O Mundo Canibal começou em 1998, ou seja, são cerca de 13 anos no ar. Vocês imaginaram que ele iria du-rar tanto e com tantas visualizações ainda hoje?

RP › Sim. Pode parecer até arrogância, mas não é. Todo mundo acha que o site surgiu de uma brincadeira, mas não. Desde o começo nós sabíamos que daria certo, mesmo com todo mundo dizendo que não. Tínhamos outros em-pregos e fazíamos o site à noite. Nos-sa certeza era pelo fato de estarmos fazendo algo diferente. Como o dife-rente é sempre visto com estranheza, nós tínhamos que insistir e mostrar o potencial.

Hoje podemos ver que este humor “sem noção” está presente, cada vez mais, em todas as mídias e programas de humor na TV. Estamos no começo e temos muitas coisas ainda para fazer.

PM › E como você avalia o trabalho de manter o site. É estressante?

RP › Vixe, nem um pouco! Nosso maior estresse é não ter tempo de fazer tudo o que queremos de uma só vez (risos). Apesar de todo mundo também achar que trabalhamos como e quando que-remos, não é assim. Aqui seguimos uma rotina normal de trabalho, come-çamos todos os dias exatamente às 8h30 e seguimos até 17h30.

Fazemos dessa forma porque, apesar de parecer brincadeira, levamos a sé-rio e adoramos o que fazemos, sendo talvez esse o motivo de conseguir o sucesso que temos hoje. Nós só não fi-camos mais tempo no trabalho porque colocamos um limite próprio, pela nos-sa saúde. Afinal já trabalhamos demais “varando” noites em nossa vida.

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The Fragile “Eu não vou deixar você se destruir”, berra Trent Reznor na canção-título do álbum duplo The Fragile, de 1999. Estra-nho, já que Reznor e a banda que lidera, o Nine Inch Nails, ganharam fama a partir do início dos anos 90 por canções soturnas centradas em temas relacionados a auto-destrui-ção e embaladas por sons eletrônicos, guitarras absurda-

mente distorcidas e bateria pesada.

Mas não é bem assim. As características que deram celebrida-de ao Nine Inch Nails estão presentes em The Fragile. A grande diferença é que neste álbum foi adiconado um toque de espe-rança que antes estava quase ausente. Detalhadamente elabo-rado, The Fragile segue um ritmo ciclotímico, numa espécie de batalha entre luminosidade e escuridão. Ouça e curta a viagem. D

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Festa de FamíliaCriado pelos diretores dinamarqueses Thomas Vintenberg e Lars Von Trier, o Dogma 95 pregava, através do “voto de cas-tidade”, que os filmes deveriam ser mais realistas, negando os recursos técnicos comuns nos filmes hollywoodianos.

Primeiro filme deste movimento, “Festa de Família” tem como cenário um hotel de luxo, onde a família comemora os 60

anos do patriarca. Família reunida e feliz, como Hollywood exibe em seus filmes. Entretanto, no longa de Vintemberg vemos que as relações familiares podem ser duras e complicadas devido a fatos do passado e que influenciam até hoje o convívio entre pais e filhos. Um ótimo filme para quem acha que uma boa história é que faz um bom filme.

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HiroshimaO livro relata a história de seis sobreviventes da bomba atômica lançada no Japão no dia 06 de agosto de 1945. John Hersey esteve na cidade durante o ano logo após a tragédia e narra detalhes preciosos, como as casas e prédios caindo e o desespero de quem percebia que tinha perdido tudo.

O autor voltou a Hiroshima 40 anos depois para mostrar como foi a vida desses seis sobreviventes e como a radiação manifestou-se de diferentes formas na população. Ele tenta

se aproximar ao máximo das sensações vividas pelos persona-gens, em alguns momentos a história se mostra tão fantástica que parece que a realidade virou ficção. “Hiroshima” nos mostra como a bomba mudou não só a vida dos japoneses e a história do país, mas também a história da humanidade.

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