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Revista Laboratório do Curso de Comunicação da Universidade Federal do Espírito Santo

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revistalaboratório

Comunicação-UFESdezembro2011

Vida DE BOTECO E ASSIM...PAG 16

quem somos

nos? pag 6

Desenhando a

crise pag 22

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3Sumário

Expediente

Primeira Mão é uma revista laboratório, produzida pelos alunos do 6º período do curso de Comunicaçao Social /Jornalismo, da Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras | Vitória - ES CEP 29075-910 [email protected] XXI, número 126 . Semestre 2011/2Profa. Orientadora: Ruth ReisReportagem, Ediçao, diagramaçao, imagens: Barbara Tavares, Brunella Brunello, Cíntia Casati, Diovana Renoldi, Felipe de Aquino, Gabriela Mignoni, Honório Filho, Igor Van Der Put, Jheniffer Sodré, Laila Martins, Larissa Fafá, Leandro Nossa, Luana Esteves, Mariana Spelta, Murilo Gomes, Natália Devens, Paula Tessarolo, Priscilla Calmon, Ricardo AiolfiFoto da capa - Yuri BarichivichRevisao - Irislane FigueiredoImpressao: Gráfica Universitária . Ufes

First hands 4Quem somos nós? 6Tech News 9Caça aos tesouros da ilha 10Traição virtual é real? 12Livro, disco, filme 13Movimento antimanicomial 14Vida de boteco é assim... 16Sucatas nas estradas 20Desenhando a crise 22Se não pagar que mal há? 26Cheiro de Patchouli 28Papa Doc 30

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Longe de ter uma identidade própria, as produções audiovisuais capixabas tentam fugir das limitações que as caricaturas culturais do Estado impregnam. A moqueca, a panela de barro, o congo e a cultura indígena, que fazem parte da nossa história, não são nem 10% da “biblioteca imagética” guardada na memória de quem vive no Espírito Santo. Por conta disso, o atual cenário marca um ponto de virada que passa da comédia nonsense ao terror trash e deste até um ambicioso cinema de arte.

Dono de produtos que não se limitam a

circular em solo capixaba, o Projeto Quase realiza vídeos para a internet, programas para televisão fechada e curta-metragens que rodam festivais mundo afora. “Quando deixarmos de ser tão bairristas e tão capixabas, começaremos a atingir outros públicos e a conseguir retorno financeiro”, disse Raul Chequer, que junto com Daniel Furlan, Juliano Enrico, Klaus Berg e Gabriel Labanca idealizaram a Revista Quase, em 2002. Eles já criaram uma série para a MTV, a “Loja de Inconveniências”, e estão levando a animação “Contos Horríveis” para Cannes.

Atualmente, um dos planos do grupo é

exibir os curtas “Locus” e “Raquetadas para a Glória” em o maior número de festivais possível. O humor que passa principalmente

pela ironia, como nos vídeos da “Lei Velho Cagado”, que estão no portal da Quase no Youtube satirizando as leis de incentivo à cultura, fazem parte de uma nova identidade que busca atingir outros territórios, caminhos e empresas que financiem as produções. “Esse é o caminho normal. A gente não pode depender só de lei de incentivo à cultura para produzir as coisas. É importante tentar criar algo como uma indústria cultural aqui em Vitória”, afirmou Raul.

No entanto, alguns realizadores ainda

separam as motivações para realizar os próprios projetos da carreira a fim de obterem o retorno financeiro. Para o cineasta Gui Castor, que sempre busca rodar projetos pessoais, o “mercado não gosta de cinema e o cinema não gosta do mercado”. Por outro lado, a preocupação em sustentar realizadores que vivam da sétima arte é fundamental para criar um mercado audiovisual capixaba. “Basicamente, as formas de difusão para os curta-metragens e para os documentários são os festivais e os cineclubes, além da distribuição dos trabalhos pela internet. Mas quem remunera?”, questiona Carla Osório, diretora de comunicação da Associação Brasileira de Documentarista e Curta-Metragistas do Espírito Santo (ABD ES).

E é essa necessidade de um mercado mais

first handsComo anda a produção audiovisual no

Espírito Santo?

Honório Filho e Larissa Fafá

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sólido que vem crescendo cada dia mais no Estado. A criação da habilitação de Audiovisual no Curso de Comunicação da Ufes é reflexo dessa procura por profissionais do audiovisual e contribui com um desenvolvimento da área, que não se limita só à produção de filmes e curtas para festivais e premiações, mas entram para atuar também em campos mais diversificados do audiovisual. Para o professor da Ufes Erly Vieira Jr. as possibilidades são muitas e as novas formas de produção e de distribuição mais acessíveis contribuem com uma pluralidade desse mercado. “Em um mundo onde a imagem se torna uma das mais fortes moedas de troca, inúmeras são as possibilidades de se trabalhar no campo audiovisual, inclusive alimentado pela acessibilidade, até em termos orçamentários”,

completa o professor. Mas é claro que com esse crescimento do

mercado audiovisual - e de gente pensando e produzindo -, a consequência é uma rotatividade maior de novos “produtos”. Seja um simples videoclipe para subir na internet e compartilhar com os amigos, seja uma ficção curta-metragem feita em película para festivais, essa produção em crescente aumento com selo da terrinha capixaba, além de dar mais visibilidade, instiga um maior consumo do audiovisual. Ou seria a demanda que tem levado à produção? Sem ficar nesse papo do ovo ou a galinha, é certo que as experimentações no mundo do audiovisual tem crescido no Espírito Santo, mostrando ao mundo as possíveis e potenciais linguagens criativas (ou não) que as pessoas daqui têm a oferecer.

A iniciação, de Gui Castor

Loja de Inconveniências, do Projeto Quase

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Qual é a primeira imagem que vem à cabeça quando lhe pergun-tam qual é a cara do estudante da Ufes? A maioria dos universitários é branca ou negra? Mulheres ou homens? Casados ou solteiros? Qual é a renda mensal deles? Clas-se A, B, C ou D? Para responder a essas perguntas e encontrar o perfil dos estudantes e o seu com-portamento, o Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comuni-tários e Estudantis (Fonapre), com apoio da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de En-sino Superior (Andifes), realizou uma pesquisa nacional sobre o “Perfil Socioeconômico e Cultu-ral dos Estudantes de Graduação das Universidades Brasileiras”.

Ao todo, 19.633 alunos de gra-duação responderam às 19 pergun-tas da pesquisa, que foi feita onli-ne com estudantes matriculados no segundo semestre de 2009. O resultado foi divulgado em agosto

deste ano e traz novas informa-ções sobre quem são as diversas pessoas que você vê circular to-dos os dias pelos espaços da Ufes.

De acordo com a pesquisa, as mulheres são maioria. Elas repre-sentam 57% dos universitários de todo o Brasil. Segundo a assisten-te social e aplicadora da pesquisa no campus de São Mateus, Vânia Seidler, essa proporção pode ser explicada devido ao maior nú-mero de mulheres da população brasileira. “Ao observarmos os dados do IBGE, podemos notar isso também”, afirma Vânia. Para ela, há ainda uma questão cultural envolvida: geralmente os homens precisam sair mais cedo para o mercado de trabalho, o que aca-ba provocando a entrada dessas mulheres no mundo acadêmico.

O estudo também revela que 54% dos estudantes fazem parte da classe C. Dentre eles, 70% têm de 18 a 24 anos. Além disso, 50 % dos universitários da classe C tra-

balham. Diferente das classes B e D, que, em sua maioria (57% e 60%, respectivamente) não tra-balham. Para a assistente social, esse grande número de alunos pertencentes à classe C pode ser explicado devido a maior exi-gência que o mercado tem feito aos trabalhadores. “Hoje, quem não tem curso superior não con-segue se inserir no mercado de trabalho. Essas pessoas passa-ram a enxergar a graduação com outros olhos, como uma forma de conseguir um bom empre-go e aumentar a renda”, analisa.

Em relação à renda mensal do grupo familiar, a maioria dos alu-nos vive com 2 a 4 salários míni-mos, o que totaliza cerca de 62% dos estudantes. Entre eles, 28,7% vivem com até 2 salários míni-mos, 23,6% com até 3 salários e 9,6% vivem com até 4 salários mínimos. Nacionalmente, essa concentração se repete, apresen-

tando uma média de 43% de uni-versitários nessa faixa de renda.

A pesquisa mostrou, ainda, que 29.95% dos estudantes da Ufes vieram de outras cidades do Es-pírito Santo, enquanto cerca de 28% deixaram suas casas em ou-tros estados do Brasil. A opção por estudar fora de seu Estado de origem muitas vezes não está nos planos desses alunos. Raissa Andrade, por exemplo, que veio de Minas Gerais para cursar Pu-blicidade e Progaganda, lembra que a Ufes foi sua última escolha e que só foi feita por insistência de uma amiga. “Como não passei em outras universidades de Mi-nas ou fiquei como suplente para cursos que eu não queria, acabei optando por vir para cá”, conta.

A vinda de estudantes de fora pode explicar o grande número de universitários vivendo em repúbli-cas, situação de aproximadamen-te 22% do total. Raissa também se encaixa nesse perfil. Ela afirma

QUEM SOMOS NÓS?

PESquiSa rEalizada Em todo o PaíS rEvEla o PErfil SoCioEConômiCo doS EStudantES uni-vErSitárioS.Saiba quEm SãoE o quE quErEmoS alunoS daufES.

Por Gabriela Mignonie Priscilla Calmon

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que dividir apartamento com outras pessoas foi uma maneira de reduzir o gasto mensal de sua família para man-tê-la fora de casa, mas reconhece que há muitas vantagens nessa convivên-cia. Entre elas, o amadurecimento ad-quirido por precisar tomar atitudes e resolver seus próprios problemas.

E para sair de casa e chegar até a Ufes, cada estudante dá o seu jei-to. Alguns usam o próprio carro ou moto (9%), outros vão de bici-cleta, a pé ou de carona (22%), mas a maioria dos jovens universitá-rios ainda usa o transporte público como meio de locomoção (68%).

Perfil psicológico

Uma vez dentro da sala de aula, os estudantes têm tido dificulda-des para desenvolver plenamente suas atividades curriculares. Duran-te a pesquisa, os alunos analisaram quais estresses ou dificuldades mais interferiam em sua vida ou no con-texto acadêmico. E a maioria deles, cerca de 3,07%, diz que a dificuldade financeira é o fator que mais preju-dica o desempenho escolar. Logo em seguida vem a carga excessiva de trabalho acadêmico, com 3,02%. Nacionalmente, a média se repete.

Para a assistente social, esses da-dos apenas refletem as característi-cas dos alunos. “Ao chegar à univer-sidade, eles não estão preparados para enfrentar algumas disciplinas, a carga de leitura e, sobretudo, a dedicação quase exclusiva aos es-tudos. Quando se entra no ensino superior é uma nova realidade e o aluno deve se adaptar a ela. É uma rotina de provas e trabalhos muito diferente do ensino médio”, ressalta.

Outro ponto da pesquisa chama a atenção. Cerca de 59% dos estu-dantes da Ufes já sofreram alguma dificuldade ou crise emocional nos últimos 12 meses. Na média nacio-nal, o resultado é menor e equivale a 47%. Os dados traçam o perfil psi-cológico dos estudantes de hoje e os fatores que mais interferem em seu

desempenho acadêmico. Entre eles estão a ansiedade (77%), a insônia (53%) e a falta de esperança (52%).

Tais fatores geram grandes pre-juízos à vida acadêmica dos jovens. Para 53% deles, os fatores emocionais interferem diretamente no baixo de-sempenho estudantil, assim como nas reprovações - consideradas por 35% dos estudantes como produto de fatores psicológicos. A falta de motivação para estudar e a dificul-dade de concentração são aponta-das por 69% desses alunos como a principal consequência dos prejuízos causados por aspectos emocionais.

Thaísa Cortês, como a maioria dos universitários, acredita que suas res-ponsabilidades acadêmicas influen-ciam em suas qualidades psicológicas e vice-versa. “Quando há problemas que você não é capaz de resolver, só o fato de ter certas tarefas, acadê-micas ou não, já é um peso. Conse-quentemente, seu rendimento cai e as aulas tornam-se desinteressantes. Você se sente tão cansado psicologi-camente que não tem a menor von-tade de fazer nada.”, analisa Thaísa.

Na tentativa de entender e lidar melhor com seus problemas, a es-tudante buscou apoio psicológico na universidade. Diferente dela, a maior parte dos alunos da Ufes, mesmo reconhecendo a influência de questões emocionais em suas atividades curriculares, disse nunca ter procurado atendimento psicoló-gico (67%) ou psiquiátrico (88%). No Brasil, as médias são praticamente as mesmas, chegando a 91% no caso da psiquiatria e 70% na psicologia.

Para lidar com as dificuldades psicológicas desses alunos, a Se-cretaria de Assuntos Comunitários da Ufes propõe que o trabalho se inicie no momento da entrada dos estudantes à Universidade, com um programa de acolhida. Além disso, o acompanhamento psicológico - que já é oferecido pelo Núcleo de Psicologia Aplicada - deve ser refor-çado e servir como suporte para o amadurecimento dos estudantes.

fatores que mais interferem no desempenho acadêmico

Ansiedade

77,3%

Insônia

52,9%

Falta de Esperança

51,4%

Desorientação

43,7%

Fonte: Sipe - Brasil

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Tech NewsIphone 4S VS Galaxy S2

Começa mais uma briga entre as gigantes Apple e Samsung. As duas lançaram esse ano seus novos smartphones. A Samsung trouxe a nova versão do já querido Galaxy S. A segunda versão do celular vem com processador dual core mais po-tente, 1 giga de memória ram, 8 megapixels na câmera traseira e 2 na frontal, além de filmar em full hd. A diferença do Galaxy S2 é bem mais consistente em relação ao modelo anterior, do que o novo Iphone 4s se comparado a sua última versão. Apesar de ser um sucesso de vendas absoluto, alavancado também pela morte do fundador Stevie Jobs, a melhora comparada a versão anterior não foi assustadora. Quem esperava a versão 5 do Iphone teve que se contentar com o modelo 4s. A melhora do aparelho foi toda interna. Novo processador, câmera de 8 megapixels e filmagem full hd foram basicamente as suas mudanças. Mas a novidade mesmo foi o SIri, programa que faz ligações e manda mensagens pela voz. Ele também responde suas perguntas baseado em banco de dados de informações, como por exemplo, se hoje você deve carregar um guarda chuva ou não. O preço pode ser o diferencial nessa briga. Muitas operadoras fazem preços es-peciais, inclusive que podem até levar o aparelho a sair de graça. No resto, os dois são bem equivalentes. Rápidos, com excelente display e câmeras potentes, ambos são os mais queridos smartphones do mercado. Nessa disputa não tem vencedor. Você que decide o que melhor se adequa as suas necessidades.

Iphone 4S Galaxy S2

Kindle FireChega em novembro o tablet que promete revolucionar o mercado. Mesmo não sendo o mais potente, sua praticidade, qualidade e preço são quase imbat-íveis. O Kindle Fire, da marca americana Amazon, ainda não está nas lojas, mas as expectativas em torno do tablet são enormes. Alguns acreditam que mes-mo não sendo superior ao Ipad, o Fire vai incomodar principalmente a Apple. Com o display de 7 polegadas e 414 gramas, sua resolução é superior a do Ipad, equivalente a 169 pixels por polegada contra 132 do tablet da Apple. Porém, ele não segue os mesmo padrões de tablets convencionais. Sua memória de apenas 8 gigas não são suficientes pra armazenar muita coisa. E essa escolha se explica pelo serviço nuvem da Amazon, onde você não precisa baixar nada, já que tudo fica na rede e disponível a qualquer hora. Outra desvantagem do Kindle é que ele não tem microfone, nem câmera embutida. Todas essas limi-tações de Hardware são esquecidas com o preço acessível de 250 dólares, que custa metade do preço do modelo mais simples do Ipad. E se fizer a metade do que o tablet da Apple faz, já vai garantir sucesso e longa vida no mercado.

Sony Xperia Play

Celular ou videogame? Playstation ou smartphone? Os dois! Essa foi a com-

binação da Sony quando lançou o Xperia Play, um smartphone com controles de playstation adaptado. Com tela de 4 polega-das e resolução de 480x854, o Xperia oferece a experiência de se divertir em qualquer lugar. Mesmo não sendo o melhor vide-ogame portátil, nem o melhor smartphone, ele é o que melhor une os dois. Mas o que impede ele de se popularizar no Brasil é o preço de aproximadamente 1.900 reais. Se tiver na dúvida entre ter um celular ou um videogame portátil, vale mais a pena levar o Xperia

Canon EOS C300

A Canon lançou recentemente a nova câmera para cinema EOS C300. Com lentes intercambiáveis e sen-sor CMOS de 8,29 megapixels, a super camêra vem pra atender um mercado de cinema que já usa câmeras DSLR como a canon 5d Mark 2 . A pequena diferença é o preço. Com lançamento para 2012, o preço indicado é de modestos 20.000 dólares. Nada que assuste tanto os cineastas que já convivem com preços parecidos.

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PRAÇA COSTA PEREIRAEm pleno centro da cidade, a

Praça é deliciosamente nostálgi-

ca. Foi restaurada entre 2009 e

2010, quando recebeu de volta o

piso original de paralelepípedo,

sua primeira urbanização, que

estava encoberto por asfalto.

TEATRO CARLOS GOMESCenário de grandes espetáculos,

o Teatro Carlos Gomes também

guarda muito da história capixa-

ba. Um indício disso é a antiga

bilheteria do Teatro, disponível

para visualização dos visitantes.

Cintia Casati e Irislane Figueiredo

IGREJA DO ROSÁRIO Também conhecida como a igreja dos casamentos duradouros, é um lugar apa-rentemente simples, mas abriga grandes riquezas. A começar pela construção colonial barroca, iniciada em 1765.

Caça aos tesouros da ilha

Mais informações sobre o Projeto Visitar no Centro histórico de Vitória pelos telefones 3235-7078 e 3235-2002, de segunda a sexta--feira, das 9h às 13h e das 14h às 18h, ou pelo e-mail [email protected]: Visitação: terça a sexta-feira: das 10h às 18h; sábados, domingos e feriados: das 12h às 18h; quarta-feira: das 10h às 21h.

Que Vitória é muito mais do que portos e mar não é nenhum segredo. Mas a

cidade tem vários tesouros desconhecidos por muitos moradores da região

metropolitana do E.S. e não é tão difícil encontrá-los.

Num dia ensolarado, acorda mos dispostas a passear e, ao invés de irmos à praia,

como é mais comum para grande parte dos moradores de regiões praieiras,

resolvemos andar em busca dos tesouros guardados da Ilha - os pontos turísticos

do Centro Histórico. Foi um passeio sem excursão ou guia turístico, mas no fim

deu tudo certo e ficamos muito satisfeitas com o trajeto.

O ponto de partida do passeio foi a Praça Costa Pereira, mais precisamente o

Teatro Carlos Gomes, onde pegamos um mapa com a rota do Centro Histórico. A

partir dali, bastou disposição! Todo o percurso foi feito a pé. Vamos dar uma carona

a vocês e mostrar todas as preciosidades encontradas no passeio. Acompanhe-

nos nesta caça ao tesouro!

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ACADEMIA ESPIRITOSSANTENSE DE LETRAS

Bem ao lado do Palácio Anchieta, é lugar de arte,

de literatura e de história, integrando as antigas

residências do início do séc. XX, juntamente com a

Galeria de Arte Virgínia Famanini.

CAPELA DE SANTA LUZIAEdificação mais antiga de Vitória, construída por volta de 1537, a Capela Sta. Luzia funciona hoje especialmen-te para visitação turística. É um pe-queno espaço colonial barroco regado de expressões de fé e de simplicidade.

ANTIGO CONVENTO SÃO FRANCISCO

Primeiro convento franciscano do

Sul do Brasil Colônia, essa edificação

data do século XVI e hoje funciona

como sede administrativa católica

CATEDRAL DE VITÓRIASimilar a grandes templos europeus, a catedral de Vitória tem muitos detalhes em estilo gótico, especialmente os belíssimos vitrais. Tam-bém abriga uma placa da visitação do papa João Pedro I, em 14-11-1975, há exatamente 36 anos. O monumento faz jus à sua posição – bem no centro da Cidade Alta.

PALÁCIO ANCHIETAAntigo Complexo Jesuítico, o Palácio Anchieta preserva

muitos objetos e características do início de Vitória. Além

de visitar o prédio e poder conhecer mais das belezas e

curiosidades do local. Lá também é cenário de grandes

exposições, como, atualmente, a de Modigliani, artista

italiano, que ficará aberta até dia 18 de dezembro.

MUSEU DE ARTE DO ESPÍRITO SANTO

Apesar de ter apenas 13 anos de

existência, o prédio que o abriga tem

mais de 86 anos. Fica na entre a rua

Barão de Itapemirim e a Av. Jerôni-mo Monteiro

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Tr@ição virtu@l é real?

Por outro lado, existem pessoas que acre-ditam na inocência e não-realidade desse tipo de relação. “Eu namorava há bastante tempo. Um dia, meu namorado chegou pra mim e disse que tinha conhecido uma menina num site de relacionamento. Acabei ficando curiosa e entrando na caixa de emails dele. Mas aquilo não me afetou. Pen-sei bem e vi que não era real, era distante”, conta M. Soares, vendedora, de 25 anos. M. acredita, ainda, que trair virtualmente pode trazer a um casal consequências positivas. “No meu caso, por exemplo, foi até bom. Aquilo dava uma movimentada no nosso relacionamento, não deixava cair na rotina. Eu sei que ele me ama e conversar com uma pessoa assim, de longe, não vai mudar isso.”A psicóloga Luciane Machado explica a

nova forma de relação como algo conse-quente do tempo em que vivemos. “Toda a nossa sociedade, hoje em dia, vive esse momento virtual. Nada mais normal que haver mudança no comportamento das pessoas. Ele se torna tão digital quanto todos os outros aspectos da vida. O que di-fere uma pessoa da outra é a forma como isso é encarado”, explica. Luciane diz também que todo relacionamento deve se basear na verdade e na conversa. “Se um dos dois procura um companheiro virtual, tem algum motivo. O correto seria que haja diálogo entre ambos para que seja esclare-cida a situação e possam descobrir até que ponto o virtual é real”, aconselha.De fato, isso varia de acordo com cada indivíduo, com seus princípios morais e reli-giosos. Uma questão de ponto de vista.

Século XXI. Era digital. Não somente tempo das mudanças tecnológicas e eletrônicas, mas também uma nova forma de encarar o

mundo. As fronteiras se estrei-tam, tudo se torna mais veloz, e, claro, a forma com que as pessoas se veem também se mo-difica. As relações interpessoais passam a ser virtuais e voláteis. O tempo das cartas e dos amores platônicos se torna o tempo dos namoros a distância e dos relacio-

namentos sem contato.E é a partir daí, desse novo contexto de relações sociais, que surgem os paradig-mas dos relacionamentos. Até que ponto um namoro pela internet é, de fato, real? Estendendo-se nesse mesmo assunto, apa-rece uma problemática ainda mais intrigan-te: trair virtualmente é realmente traição? O quanto isso afeta um relacionamento sólido e tradicional? É aceitável?Esse novo formato de socialização aproxi-ma pessoas de todos os tipos e de todos os lugares do mundo, mas, em contrapartida, pode também ocasionar o rompimento de relações sólidas e duradouras. Foi o caso de F. Monteiro, estudante, de 19 anos. Ela namorava há três anos e descobriu que seu namorado trocava mensagens com outra menina, o que resultou no rompimento da relação. “O nosso namoro era bem tran-quilo, mas eu sempre fui muito insegura. Resolvi mexer no computador do meu namorado e ver o histórico de mensagens de uma rede social. Acabei descobrin-do que ele trocava recados há bastante tempo com uma menina de outro Estado”, relembra F.. Em alguns pontos de vista, por mais que não haja contato, há uma traição de sentimento, o que interfere no namoro. “Nós ainda tentamos ficar juntos depois de longas discussões sobre o assunto, mas eu não conseguia pensar nele conversando com outras meninas de forma mais íntima. Não deu mais certo. Nem eu nem ele abri-mos mão”, completa.

Second love - o site para amantes

Com a garantia do sigilo absoluto, o site dá ao usuário a oportunidade de viver suas aven-turas sem ser descoberto. A plataforma permite que pessoas comprometidas possam encontrar outras na mesma situação, que pensem igual a ela e queiram ter um caso. Nesse site de relacionamentos, o usuário pode criar o seu perfil com fotos gratuitamente e bus-car pessoas que se adequem a si. Também pode enviar mensagens para encontros on-line e chats através do site. Endereço: www.secondlove.com.br

Barbara Tavares e Paula Tessarolo

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21 - AdeleNão há dúvidas de que a cantora britânica Adele é a artista do momento. Suas canções com letras que falam de desilusões amorosas, podem até ser um pouco depressivas mas sua voz potente e expressiva faz valer a pena sofrer um pouco ao ouvi-las. O disco “21” lançado no começo de 2011, emplacou sucessos como “Rolling in the deep” e “Someone like you” além de ser aclamado pela crítica. Seu álbum de lançamento

“19”, 2008, já tinha garantido a Adele dois Grammys Awards, o de Melhor Artista Revelação e de Melhor Vocal Pop Feminino. Para a tristeza dos fãs, a gravadora Columbia Records anunciou que todos os compromissos profissionais da cantora estavam cancelados pois ela passará por uma cirurgia nas cordas vocais. Infelizmente, Adele agora só em 2012.

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O caso dos dez negrinhos

Quando pensamos em filmes ingleses logo imaginamos algo com castelos, reis, rainhas e muita intriga. Mas em “Morte no Funeral” nós temos uma surpresa. O filme apresenta uma comédia inglesa e, por incrível que pareça, é engraçado. É claro que não podemos nos iludir, o humor é seco e frio, mas as bi-zarrices que estão presentes no longa caem na aceitação de um público, mesmo que limitado. A história começa quando uma família desajustada se une para o velório do patriarca. Depois

de muitas confusões, um homem misterioso ameaça chantagear a família alegando que ele guardava um grande segredo. Com isso cabe ao filho mais velho Daniel (Matthew MacFadyen) tentar salvar o velório do pai que já se transformou em uma “guerra” familiar.

Morte no Funeral

Por que escolher “O Caso dos Dez Negrinhos” entre os mais de oitenta livros de Aghata Christie? Porque ele é o único que une uma ilha deserta, assassinatos em série, uma cantiga infantil tradicional da Inglaterra e muita polêmica em uma mesma obra. “O Caso dos Dez Negrinhos” (no original em inglês, Ten Little Niggers) foi baseado numa música infantil inglesa e causou muita polêmica na época de seu lançamento nos Estados Unidos devi-do a acusações de racismo. Assim, também podemos encontrar

algumas edições do livro com o título And Then There Were none (E Não Sobrou Nunhum). A história começa quando 10 pessoas, que não se conheciam até então, desembarcam na Ilha do Negro. Logo eles descobrem que foram convidados pelo mesmo homem: U. N. Owen, mas esse não se encontra na ilha. As coisas começam a ficar estranhas quando um deles morre e, como não há sinal de vizinhança por perto, eles concluem que o assassino só pode ser um deles.

(2007, Comédia)

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Leandro Nossa e

Natalia Devens

Doido, louco, maluco... Expressões que usamos comumente no nosso cotidiano para definir pessoas que se comportam de forma inesperada, não usual. Expressões que já incor-poraram traços de brincadeira, mas que, em muitos casos, são utilizados de forma pejorativa para conceituar aqueles que se comportam de ma-neira diferente devido a distúrbios mentais. Esquizofrenia, demência, transtorno bipolar e paranoia são algumas das doenças mentais mais comuns. O senso comum nos leva a pensar que o local de quem possui algum desses transtornos é um ma-nicômio. Entretanto, há uma série de fatores que provam que essas pesso-as devem ser tratadas fora dos hos-pícios.

O movimento antimanicomial é mundial e, no Brasil, há até um dia simbólico em alusão à luta, o dia 18 de maio. Muitos psicólogos e demais profissionais da área da saúde men-tal defendem a garantia dos direitos humanos e o resgate da cidadania das pessoas com distúrbios mentais, para que sejam tratadas com a digni-dade de uma pessoa comum, pois re-almente são. A luta também mostra que a lógica prisional de um manicô-mio piora os sintomas dos distúrbios mentais.

“Historicamente, as pessoas com transtornos mentais sempre foram excluídas e marginalizadas. Até a segunda metade do século XX, pra-ticamente não havia medicamentos

para controlar os distúrbios mentais e, por isso, a própria família não sa-bia o que fazer com o ‘louco’. A única solução encontrada era deixá-lo em hospícios, que eram verdadeiros de-pósitos de gente. Nesses locais, ha-via condições precárias de higiene. Os internos não eram alimentados corretamente, costumavam sofrer maus-tratos, chegando até a ser acorrentados durante os surtos”, conta o psiquiatra Rogério Valadão.

A psicóloga e professora de Psico-logia da Ufes, Cristina Lavrador, lembra, ainda, que muitas pesso-as são encaminhadas aos hospitais psiquiátricos desnecessariamente. “Em alguns casos, as pessoas não possuem qualquer tipo de distúrbio. Antigamente, até quem lutava con-tra a ditadura era encaminhado para hospícios. Quem não tem nenhuma doença, acaba ficando louco pelo tipo de tratamento que recebe e por causa da clausura. Na psicologia, nós chamamos isso de Iatrogenia, em que a ‘loucura’ é induzida. O lugar que era para curar acabava cronifi-cando a doença”, explica.

Com esse quadro, começaram a sur-gir denúncias desses maus tratos. Outro fato foi a constatação da pou-ca melhora dos pacientes interna-dos, além do alto grau de mortalida-de nos manicômios. Nasceu, então, no Brasil, o movimento da Reforma Psiquiátrica, que defende o convívio com a família e com a comunidade em vez do isolamento.

Preconceito enraizado

Se os portadores de debilidades mentais, em boa parte, são excluídos e ‘jogados’ para manicômios, muito se deve à pouca circulação de infor-mação sobre a situação na socieda-de. Historicamente, o preconceito contra essa parcela da população é muito grande e já está enraizado em cada um.

“Se nós lutamos contra o manicômio é porque lá não é bacana. Mas é di-fícil superar a lógica manicomial. O preconceito e o aprisionamento vão além dos muros de um hospício, es-tão em cada um”, alerta a psicóloga e mestranda Fernanda Tassis.

Entao, qual e a solucao?

A Luta Antimanicomial consiste em acabar com os tratamentos para transtornos mentais em hospitais psiquiátricos, substituindo-os pro-gressivamente por locais que fun-cionam de portas abertas, com a livre circulação das pessoas. De acordo com a Política Nacional de

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Saúde Mental, apoiada na lei 10.216, de 2002, o atendimento passa a ser feito em Centros de Atenção Psicos-social (CAPS), Residências Terapêu-ticas, Centros de Convivência, leitos terapêuticos em hospitais gerais e economia solidária.

Os CAPS são os locais de tratamen-to mais comuns. Neles são ofereci-das diversas atividades terapêuticas, como psicoterapia individual ou gru-pal, oficinas terapêuticas, acompa-nhamento psiquiátrico, visitas do-miciliares, atividades de orientação e inclusão das famílias e atividades comunitárias. De acordo com o pro-jeto terapêutico de cada paciente, estes podem passar o dia todo na Unidade, parte do dia ou ir apenas para alguma consulta. Hoje existem 12 centros no Espírito Santo.

As residências terapêuticas são ca-sas, onde as pessoas moram efeti-vamente, que funcionam no mode-lo de uma república estudantil. São direcionadas para essas residências apenas pessoas egressas de hospí-cios, que foram internadas durante muitos anos e não têm mais contato com a família. Os moradores podem sair para fazer compras, passear, e levam uma vida normal. Eles rece-bem do governo uma quantia mensal para os gastos com a casa e um salário mínimo para gastos pessoais. Não há nada que lembre os hospitais, pois há apenas a figura de um cuidador para manter a ordem da casa.

A coordenadora de saúde mental de

Cariacica, Meyrielle Belotti, lembra que os tratamentos substitutivos só funcionam se as pessoas souberem realizá-los. Após décadas de confina-mento em um manicômio, o proces-so de reintegração à sociedade deve ser feito com cautela com cada pa-ciente. “Eles ficam sem saber o que fazer ao ver as portas abertas, cus-tam a acreditar que realmente po-dem sair e voltar. Em alguns casos, os levamos para passear e muitos não sabem como usar dinheiro, não reconhecem mais a cidade, não sabem quem é o presidente do país, entre ou-tras coisas banais. Com o tempo eles vão se acostumando e começam a cir-cular pela sociedade”, conta.

O psiquiatra Rogério Valadão escla-rece que todos os tipos transtornos mentais podem ser tratados fora do hospital, até os mais graves. “Os leitos nos hospitais gerais precisam existir somente para os casos de in-ternação de curta permanência em saúde mental e de urgência psiquiá-trica, como surtos psicóticos ou sur-tos com risco de suicídio e agressão. Mesmo assim, as internações são de curta duração”.

Contudo, há outros problemas a se-rem enfrentados nos hospitais ge-rais. Muitos não possuem quadro de Psiquiatria. Segundo a professora Cristina Lavrador, alguns funcioná-rios e pacientes não gostam e não querem que tenham pessoas com distúrbios mentais sendo tratados lá. “O medo da loucura é louco”, afir-ma Cristina.

Adauto Botelho, hospital modelo de tortura

A partir de 1954, o destino das pessoas com transtornos mentais do Espírito Santo foi o Hospital Adauto Bote-lho, em Cariacica. O hospital psiquiátrico chegou a ser classificado como modelo para o Ministério da Saúde na época, por se tratar de uma instituição moderna e apare-lhada, com todos os recursos técnicos para tratamento de doentes mentais. Em anos seguintes, contudo, o local viveu momentos de grandes dificuldades, em que os doen-tes mentais dividiam o espa-ço com os doentes de hanse-níase e tuberculose, além das péssimas instalações físicas, superlotação, falta de medi-camento, de roupa de cama e até de alimentos. Em 2010 foi inaugurado o Hospital Estadual de Atenção Clínica, construído a partir da estrutura do antigo Adauto Botelho, que possui leitos para internação de curta per-manência em saúde mental, de urgência psiquiátrica e um centro clínico geral. Os 64 pacientes que ainda viviam nas enfermarias do hospital psiquiátrico foram trans-feridos para 10 residências terapêuticas.

Movimento antimanicomial,

pelo direito a dignidade

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Por Diovana Renoldi e Laila Martins

Copo americano, estufa engordurada, grades de cerveja, imagem do santo protetor, propagandas de bebida e escudo do time do coração. O que para muitos é apenas um boteco, para outros já se tornou um estilo de vida. Ninguém repara na infra-estrutura do local (ou na falta dela). O charme está na simplicidade e no que o boteco oferece. O jornalista Alexandre Mignoni (50), frequentador assíduo desse tipo de estabelecimento, destaca alguns itens que não podem existir em um verdadeiro boteco:

“Placa, os mais autênticos não podem ter identificação; cardápio, não pode ter e, se tiver, não deve informar o preço das coisas; banheiro masculino limpo também desqualifica o estabelecimento”, afirmou com bom humor. Ele destacou ainda a diferença entre bar e boteco. “Acho que o boteco tem mais a cara do dono. Já o bar é mais impessoal. Não conheço ‘boteco de grife’, mas ‘bar de grife’ tem aos montes”, completou.

Andando pelos botecos “copo-sujo” do Centro de Vitória pudemos observar e confirmar tudo isso, e ainda acrescentamos: o que não faltam nos botecos são histórias, animação, samba e muita amizade. Em apenas uma noite de apuração conhecemos vários personagens interessantes. Encontramos com figuras marcantes do samba capixaba; batemos papo com donos, garçons e clientes. Todos amantes do estilo de vida dos botecos, que sem cardápio ou banheiro limpo, oferecem aconchego e diversão.

Notamos, de perto, a simplicidade e a irreverência desses lugares, onde são discutidos os mais diversos assuntos, de igual pra igual, e sem formalidades. Nossa vontade era continuar andando de boteco a boteco, mas as páginas e o deadline não nos per-mitiram. Registramos, aqui, um pouco dessa experiência, ainda mais rica por se passar em um bairro que é um registro histórico e cultural, o Centro de Vitória, onde o clássico e o moderno convivem em uma miscelânea de ritmos e estilos.

Visitando alguns botecos do Centro de Vitória, encontramos diferentes estilos

de ambientes e pessoas, mas todos com a mesma finalidade: comer, beber e se

divertir sem cerimônia

Vida DE BOTECO E ASSIM...,

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Por Diovana Renoldi e Laila Martins

''Adoro cozinhar tira-gosto.

faco com prazer...'',

''O que nao pode faltar num

boteco e a minha presenca!'',

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Se tem roda de samba e cerveja gelada no centro de Vitória, ele está lá. O mais conhecido intérprete do samba capixaba, Edson Papo Furado (72), que costuma passear pelos vários botecos da cidade, marcou presença no Bar do Rominho. Com toda a sua animação, lá estava Papo Furado cantando e tocando na roda de samba.

Ele que já declarou que “só não bebe acetona pra não tirar o esmalte do dente”, manteve a mesma irreverência de sempre durante a entrev-ista. Perguntado sobre o que não pode faltar num boteco, sem pensar duas vezes, ele respondeu: “Eu!”.

Passando por um dos botecos, no recém-inaugurado ‘Nome do Boteco’ conhecemos, conhecemos uma cozinheira de mão cheia que já preparou tira-gostos para vários botecos do Centro. Famosa por suas “paneladas”, Adriana Paula, que mora no bairro há 20 anos, acredita que em um boteco de ver-dade não pode faltar um bom tira-gosto e “samba na madeira” (sem microfone). “Este aqui é o Bar do Rominho. Ele foi aberto na semana passada e eu vou dar uma mãozinha na cozinha até engrenar. Adoro cozinhar, não cobro nada, faço com prazer”, ressaltou. Algumas de suas especialidades são mocotó no feijão, galinhada, caldo verde e rabada: “O povo gosta de comida com sustância!”, completou.

O proprietário do boteco e músico, Edinho Daniel Barcelos, conhecido por Cabeça de Alho, é mora-dor do Centro há 40 anos e acha que não pode fal-tar uma boa cachaça em um boteco. Ele quer que o seu estabelecimento seja “a casa do samba”. Mas, para isso, conta com a ajuda de frequentadores e cantores, como o ícone do samba que encontra-mos nesse dia no boteco, Edson Papo Furado.

Acima, roda de samba no Bar do Rominho. Abaixo, Adriana e Edinho.

Vida DE BOTECO E ASSIM...

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''A primeira vez que tocamos no Bar

da Zilda foi incrvel, nos sentimos em

casa...'' ''

''Cerveja tem em qualquer lugar, meu

diferencial sao os petiscos''

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Nei já trabalhou em botecos do Centro por mais de 30 anos, sendo que o primeiro foi no Mercado Capixaba. Hoje ele tem o seu próprio estabelecimento, que com apenas dois anos de funcionamento, reuniu muitos clientes, movimentando a calçada da Rua Sete de Setembro todos os dias. O Bar do Nei se destaca pela variedade de tira-gostos. Fazem parte do cardápio: costela com legumes, pé de porco no feijão, costelinha frita e, é claro, torresmo. Ele capricha no tempero e afirma: “cerveja tem em qualquer lugar, um boteco de verdade tem que ter um diferencial, e o meu são os petiscos”.

Um grupo que tem marcado presença no Bar da Zilda com um samba muito animado é o Regional da Nair. Juntos desde 2008, o grupo, composto por mais de 15 amigos e amantes da música, começou a se reunir para tocar por lazer, sem preocupação em fazer um som profissional. A primeira vez que tocaram no Bar da Zilda foi em dezembro de 2010. Depois, no carnaval deste ano, eles lançaram o Bloco Regional da Nair, que levou mais de 600 pessoas às ruas do Centro para curtir os batuques ao som de marchinhas de car-naval e de outros estilos musicais. O bloco percorreu toda a Rua Sete de Setembro, finali-zando no Bar da Zilda. Prezando sempre pela coletividade, eles optam por não usar microfones para as vozes.

Um dos integran-tes, o publicitário Caetano Monteiro (26), que também é morador do bairro e frequen-

tador dos botecos locais, compartilha o seu entusiasmo: “Todos cantam juntos e o coro fica alto, o que deixa tudo mais bonito. A primeira vez que tocamos no Bar da Zilda foi incrível. Nos sentimos em casa e nos encontramos ali”, disse. Como muitos integrantes moram no Centro, eles têm um carinho muito grande pelo bairro. Para Caetano, o envolvimento com o bairro é também devido à beleza, ao charme bucólico e à grande bagagem histórica da região.

Regional da Nair tocando no Bar da Zilda, em julho de 2011. Por Gustavo Chagas Lopes.

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''Temos 35 anos de casados e

de boteco''

''Trabalhei quatro anos com maquinas

e percebi que e muito melhor lidar com

seres humanos...''

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Entrando em mais um boteco, fomos muito bem recebidas, tanto pela clientela quanto pelos do-nos. Geraldo Uliana (64) é proprietário do estabe-lecimento, que é um dos botecos mais tradicionais do Centro. Sem letreiro ou indicação, todos sabem qual é o nome do local, é o Bar do Gegê. Sem-pre lotado, ele mantém uma clientela assídua. O segredo desse sucesso, segundo o próprio dono Gegê, é cerveja gelada e variedade de cachaças. “Tenho cipó cravo, craqueja, boldo, cerejeira, a “purinha” tradicional, além de batidas variadas”, disse. E, para acompanhar, muito tira-gosto. É só chegar na estufa e escolher. As comidas são pre-paradas por Geraldo e por sua esposa, dona He-leonora. Para o frequentador assíduo do boteco, José Carlos, conhecido como Cacá (53): “o bar do Gegê é o melhor, não existe outro igual”.

Entre uma mesa e outra, o garçom Wagner de Oliveira Souza (39), mais conhecido como Waguinho, respondia as nossas perguntas sem tirar o olho das garrafas de cer-veja que esvaziavam. Waguinho uniu o útil ao agradável quando decidiu trabalhar como garçom. Hoje, funcionário

do Bar Buery, que fica na Rua Sete de Setembro do centro de Vitória, ao mesmo tempo em que atende os clientes, se diverte e faz novas amizades.

Waguinho é bacharel em sistema de informação, mas trabalha há dez anos como garçom e não se arre-pende de ter largado a an-tiga profissão. “Trabalhei quatro anos com máqui-nas e percebi que é muito melhor lidar com seres humanos, mesmo gan-hando um salário menor”, afirmou. De acordo com Waguinho, o segredo da profissão é não tornar o trabalho mecânico. “É preciso interagir com as pessoas, saber o nome do freguês, ser solidário e atencioso”, comentou.

Waguinho com sua amiga Maria Cristina Souza Barbosa (à esquerda) , acompanhada pela filha e pelo neto.

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SUCATAS NAS ESTRADAS

Irislane Figueiredo

Viajar nem sempre é sinônimo de diversão. E para os passageiros de muitas linhas intermunicipais capixabas, é uma necessidade sem conforto

Quem utiliza os ônibus intermunicipais com frequên-cia, certamente não terá dificuldade em relacionar esta matéria às suas viagens rotineiras. E desconforto é uma definição simplória pra quem tem que enfrentar itinerá-rios em veículos antigos, sujos, sem cinto de segurança, com janelas emperradas e até sem banheiro. A revista Primeira Mão experimentou o sucateamento em alguns trajetos.

Em uma viagem pela Viação Real, de Venda Nova do Imigrante a Cachoeiro de Itapemirim, em um ônibus dito “parador”, o passageiro tem que viajar por 3 ho-ras sem o direito de ir ao banheiro dentro do veículo. Como se não bastasse isso, o ônibus, visivelmente suca-teado, estava sujo, desprovido de cinto de segurança, com algumas poltronas sem o encosto para o braço e com janelas imundas. Ao ser indagado se o ônibus não tinha cintos de segurança logo no início do trajeto, o co-brador, surpreso com a pergunta e depois de procurar rapidamente, respondeu que tinha, mas que haviam re-tirado...

Outra viagem foi pela Viação Planeta, de Cachoeiro a Vi-tória, em um ônibus considerado executivo. Deste para o “parador” citado acima, foram basicamente três di-ferenças: o preço (quase o dobro); o tempo de viagem (aproximadamente 1 hora a menos); e o ar-condiciona-do. Este, no entanto, não agregava nenhum valor. Pelo contrário. O que deveria ser um filtro estava mais para um transmissor de fungos e bactérias e ativador de aler-gias. Mas o mau cheiro não era a único incômodo desse diferencial: os controladores individuais simplesmente não funcionavam e, obrigatoriamente, o passageiro ti-nha que aguentar o odor e o vento.

Já de Venda Nova à Vitória, pela Viação Águia Branca,

a experiência foi um pouquinho diferente. O “parador” demora em torno de 2h40 a 3h horas em condições normais de trânsito. Nesse meio tempo, o passageiro corre o sério risco de fazer todo o percurso em pé. Isso porque, de posse de uma passagem sem numeração de poltrona, o cliente tem que se contentar com a escas-sez de horários de alguns itinerários e se juntar aos que ultrapassam o percentual de 30% em pé, porcentagem citada no Regulamento do Sistema de Transporte de Passageiros (Sitrip), estabelecido pelo DER-ES.

De acordo com o parágrafo 1º do Artigo 60 desse regula-mento, “serão admitidos passageiros em pé, até o limi-te de 1/3 do número de [poltronas] numeradas quando: I- em viagem de até 70 (setenta) quilômetros, confor-me a característica da linha e da região; II- em época ou dia de excessiva demanda de transporte ou em casos de prestação de socorro; III- em horário ou trecho de linha, cuja finalidade principal seja atender o mercado intermediário.” No segundo parágrafo do mesmo arti-go, lemos: “A viagem com excesso de lotação deverá ser realizada de conformidade com as normas estabe-lecidas pelo DER-ES para resguardo da segurança do passageiro.”

Em relação à lotação além do permitido, em outra via-gem no trecho Venda Nova-Vitória, com partida às 9h40 e previsão de chegada às 11h45 à rodoviária da capital (se-gundo site da empresa), a falta de fiscalização foi bem evi-dente. Vários passageiros, sentados e em pé, indignados e sem muitas alternativas, reclamaram muito da superlo-tação. Uma professora que atua no Ifes de Venda Nova presente na viagem disse que já fez esse percurso algu-mas vezes e que nesse horário a lotação é comum. Outra passageira afirmou que a única fiscalização que acontece normalmente é a conferência de bilhetes.

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SUCATAS NAS ESTRADAS

Viajar nem sempre é sinônimo de diversão. E para os passageiros de muitas linhas intermunicipais capixabas, é uma necessidade sem conforto

Para informações e reclamações:DER-ES: (27) 3332-2012 / fiscalizaçã[email protected] (Agência Nacional de Transporte Terrestre): 0800 610300 / [email protected]

Em referência ao inciso I do §1 do Artigo 60 do Sitrip, pelo próprio site do DER-ES consta-tamos que, nos trechos citados nesta matéria, todas as viagens estão em desacordo com o regulamento. De Venda Nova a Cachoeiro são 78km; de Cachoeiro à Vitória, 138km; e de Venda Nova à Vitória, 109km.

Em contato com a Viação Planeta, o funcionário Ismael Batista, do setor de disciplina, informou que os ônibus passam por manutenção mensalmente, o que inclui a troca do filtro do ar, e que verificará quanto aos controladores individuais para resolver o proble-ma. Ao ser indagado sobre a diferença entre o ônibus convencional e o executivo, ele confirmou o fato de que este serviço inclui água gelada e café, e que não sabe o porquê da ausência desses elementos no veículo. Informou ainda que tudo será verificado para correção o quanto antes.

Em relação às constatações nas viagens feitas pela Águia Branca, a assessora de comuni-cação externa, Letícia Vanzo, que a venda de bilhetes sem número de poltrona ocorre em agências intermediárias para linhas que têm cobrador e que “não há como a agência inter-mediária saber quais poltronas foram vendidas pelo cobrador para passageiros que embar-caram ao longo do trajeto.” Sobre o transporte de passageiros em pé, Letícia Vanzo afirma: “Essa não é uma prática da empresa. Há periodicamente pesquisas para identificar quais linhas estão demandando mais horários e carros extras. Por exemplo, na linha de Venda Nova do Imigrante x Vitória, já foi solicitado ao órgão regulador e será disponibilizado um horário para atender a demanda de final de semana. [...]. A empresa continuará acompa-nhando a demanda e se houver necessidade ampliará o serviço.” Afirmou também que os tempos de viagem informados no site serão reavaliados. Nada foi dito a respeito do des-cumprimento do inciso I do primeiro parágrafo do artigo 60 da Regulamentação do DER-ES.

Em contato com a empresa Real (depois de muitas tentativas), fomos informados pela fun-cionária Cíntia, do RH, que não há assessoria de comunicação/imprensa e que os diretores/gerentes, ausentes durante a ligação, seriam informados para posterior retorno, o que não aconteceu até o dead line desta matéria.

Com esta breve amostra, podemos confirmar que se a fiscalização for mais presente no sistema de transporte terrestre espiritossantense, provavelmente teremos menos sucatas na estrada e mais respeito àqueles que precisam dos serviços rodoviários intermunicipais. Fiscalização é um processo contínuo e, neste caso, indica preservação da vida daqueles que precisam viajar.

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récia sem rumo, Europa sem saída”. “OIT alerta para recessão global de em-pregos e risco de revolta social”. “EUA

devem ser rebaixados por outra agência de crise”. “Voluntários se mobilizam para com-bater onda de suicídios na Grécia”.

Quem ousa estar conectado ao mundo das informações não pode ter deixado passar despercebidas enxurradas de manchetes in-dicando quase que apocalipticamente uma crise econômica mundial. De fato, ela exis-te. Mas como percebê-la?

O aumento do preço dos produtos, a falta de investimentos em políticas públicas como saúde, educação e segurança; o desemprego em alta ou o salário sumido por muito tempo são sinais de que as coisas estão no vermelho. Pois se os governos devem e não conseguem pagar, eles recorrem às políticas de ajuste in-terno que acabam afetando diretamente a so-ciedade. Esses são os exemplos mais visíveis que o cidadão comum pode ter para enxergar uma crise econômica.

É o que está acontecendo nos Estados Uni-dos e em alguns países da Europa. A crise fez explodir manifestações sociais que cla-mam pela atenção dos governantes para suas estratégias políticas e econômicas.

E o Brasil nessa história, onde fica?

A crise atingiu diretamente as regiões mais ricas e, consequentemente, as que mais mantêm vínculos com o resto do mundo. Considerando que os sistemas econômicos são muito interligados, os países que não têm estrutura interna independente dos mais desenvolvidos acabam sendo levados pela correnteza. Esse não é o nosso caso.

Brunella Brunello e Luanna EstevesIlustrações: Fernanda Barata

e Brasília, os consultores legislativos da Câmara dos Deputados, economistas César Mattos e Osmar Lannes Junior, em entrevis-ta exclusiva à Primeira Mão, dão suas opini-ões e esclarecimentos sobre a crise mundial, a posição do Brasil e as possíveis consequ-ências.

Em que aspectos o Brasil tem maior vulne-rabilidade a uma crise vinda do exterior?CÉSAR: A despeito dos avanços, a gestão fiscal do país nos últimos anos ainda foi mui-to frouxa, gerando desequilíbrio de longo prazo. A inflação constitui um dos reflexos importantes desse descontrole, requerendo a manutenção de uma taxa de juros muito elevada, o que tem como efeito colateral a atração de capitais que valorizam a taxa de câmbio, deteriorando nossa balança comer-cial. A crise torna as dificuldades relaciona-das à balança comercial ainda mais dramáti-cas, exigindo um ajuste. OSMAR: O Brasil está em situação confortável no que se refere a contas externas. Temos um nível espetacular de reservas internacionais, acho que na casa dos US$ 320 bilhões, fruto de grandes superávits comerciais nos últimos 10 anos, mais ou menos. Isso significa que o governo brasileiro não precisa pedir dólares

emprestados no exterior, pelo menos no cur-to e no médio prazos. Isso significa que não deveremos ser afetados pela desconfiança dos mercados e investidores internacionais em relação a papéis emitidos por países do Terceiro Mundo. Isso já nos tira do olho do furacão. Mas não significa que estejamos imu-nes às turbulências lá de fora. A crise do euro poderá levar à queda da ati-vidade econômica, ao aumento do desem-prego e à queda do consumo nos países da Europa. Os europeus comprarão menos daquilo que exportamos para eles - produ-tos agrícolas e minerais. Também poderão comprar menos produtos industrializados da China - e, aí, a coisa fica mais feia para nós, porque a China é a grande responsável por nossos imensos superávits comerciais dos últimos 10 anos. A demanda do mundo por produtos chineses tem se traduzido em demanda dos chineses por nosso minério de ferro e outras matérias-primas, provo-cando saltos dos preços desses produtos, o que se traduziu em acumulação de dólares pelo Brasil. Hoje somos China-dependentes, pelo menos no comércio externo. Se cair a demanda chinesa pelos produtos em cuja produção somos competitivos (minério de ferro, soja, etc.), cai nosso saldo comercial, cai nossa acumulação de dólares, caem nossas

reservas internacionais e aumenta nossa vul-nerabilidade externa. Uma crise, é claro, provoca diversas conse-quências. Em que aspectos da vida do cida-dão ela se reflete?CÉSAR: Tendo em vista a falta de ajuste fis-cal prévio, a escolha (ou o chamado “trade--off”) entre inflação e desemprego se torna mais onerosa: para garantir uma mesma taxa de inflação, o desemprego será maior e; para atingir uma determinada taxa de desemprego a inflação será maior que de outra forma. Menos emprego e/ou mais in-flação resulta em menos renda e, portanto, deterioração da qualidade de vida do cida-dão.Uma recessão sempre terá reflexos sobre o mercado de trabalho. Quando ela se origina no mercado externo deve ter um impacto di-ferente de uma recessão vinda do mercado interno. Qual é o caminho da recessão em

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cada um dos casos? Que setores serão afeta-dos primeiro?CÉSAR: Na crise importada, o reflexo mais direto é nos chamados setores de produtos exportáveis ou importáveis. Em um prazo mais longo, os impactos entre esses setores e os dos produtos negociados internamente tendem a ficar mais homogêneos, dadas as relações de interdependência da economia.OSMAR: Os setores mais afetados, são aqueles cuja pujança está mais correlaciona-da com o nível de renda das pessoas, como serviços em geral. Em caso de retração do crédito, sofrem os setores que dependem dele, como o de bens de consumo duráveis. Não é o que parece estar acontecendo aqui. A renda está estável, o sistema financeiro nacional está, aparentemente, sólido, o de-semprego está baixo e o crédito ainda está em expansão. Não se afigura, até o momen-to, uma contaminação da economia brasilei-ra pelos problemas na Europa.Cada vez mais, o crescimento da economia brasileira dependerá de novos investimen-tos e do aumento da produtividade dos trabalhadores. Novos investimentos depen dem, para sua realização, de um clima pro-pício, o que significa estabilidade macroeco-nômica, inflação baixa, contas públicas sob

controle, estabilidade institucional, entre outros fatores. Aumento de produtividade decorre de avanços em educação e saúde, algo que só se logra no longo prazo. Em suma, o desafio agora será manter um am-biente favorável à continuidade dos investi-mentos, de maneira a se aproveitar o merca-do interno. Quanto aos mercados externos, temos pouca margem de manobra. Somos dependentes dos preços de poucos produ-tos e da demanda de poucos países. O que o Brasil já devia ter feito para ame-nizar os efeitos de crises como esta? O que ainda há por fazer para se proteger de cri-ses futuras? CÉSAR: O principal problema brasileiro é fiscal: a drenagem de recursos pelo setor público que implica elevados custos para o setor privado. Sem um ajuste de despesas, o governo não tem como realizar a urgente reforma tributária, racionalizando e dimi-nuindo impostos. De qualquer forma, mui-ta coisa pode ser feita para a redução de custos burocráticos, o que deveria ensejar agressivo programa de desregulamentação e incremento das parcerias com setor priva-do para investimento em infraestrutura (ae-roportos, portos, rodovias, etc.).OSMAR: O quadro internacional seria menos

ameaçador se, ao longo dos últimos 10 anos, tivéssemos aproveitado para melhorar as con-dições de competitividade de nossa economia em outros setores, além dos commodities - de maneira mais específica, se tivéssemos inves-tido em estradas, portos, energia, em mais facilidade para abrir e funcionar empresas, em educação básica, no aperfeiçoado nossas instituições, na criação de um ambiente propí-cio ao investimento produtivo, se tivéssemos consolidado as grandes reformas macroeco-nômicas dos anos 90, enfim, se tivéssemos agido como formigas trabalhadoras e não como cigarras carnavalescas. Não dá para se prever, a esta altura, como reagirá a economia brasileira em caso de uma forte recessão em escala global.

a luz de alerta deve sempre estar acesa. O consultor em recrutamento e seleção de executivos Luis Henrique Hartmann afirma que “ainda não é possível prever o desdo-bramento da crise no mercado de traba-lho brasileiro, mas não se pode descartar a possibilidade de, em algum momento, as empresas multinacionais reduzirem os in-vestimentos no Brasil. Isso significa redução de novas oportunidades de trabalho, dimi-nuição de salários e demissões em massa”.

Dentre todas as hipóteses, o cenário que se firma hoje é de um relativo otimismo no Bra-sil. Mas quem previne, melhor administra. Portanto, entender a situação da crise mun-dial pode ser uma saída inteligente antes de efetuar compras de importados, planejar viagens ao exterior ou antes de apostar no mercado de ações. É o que você confere nas próximas páginas.

No Brasil, o mercado interno é mais forte que o mercado externo, logo, as crises que abalam a economia mundial não destroem o país com tanta facilidade, pois ele não de-pende do consumo externo para se manter. É o que ressaltou a Presidente Dilma Rous-seff, no pronunciamento feito no dia 7 de Setembro, “(...) no caso da atual crise in-ternacional, nossa principal arma é ampliar e defender nosso mercado interno, que já é um dos mais vigorosos do mundo”. A Pre-sidente garantiu ainda que não irá permitir ataques às industrias nacionais e aos empre-gos por elas gerados.

O professor de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e especialis-ta em Economia Brasileira, Sebastião Balarini, tem uma visão bastante otimista sobre como o Brasil pode encarar a crise. “Para se ter uma ideia de como a situação do Brasil é mais con-fortável se comparada a países do estrangei-ro, a nossa dívida líquida hoje chega a uns 50% do PIB, enquanto que países europeus devem mais de 100% do PIB”, analisa o professor. “A dívida do Brasil é administrável. Além do mais, o Brasil tem reservas. Uma média de 350 bi-lhões de dólares”, reitera.

Trazendo a crise para um contexto ainda mais local, a possibilidade de um grande co-lapso econômico diminui ainda mais, pois se estreitam os vínculos diretos com o merca-do internacional. Sebastião Balarini ressalta que grande parte da produção do Espírito Santo é comprada pelo mercado interno. “O aço, por exemplo, é destinado quase que in-teiramente ao mercado nacional”.

Para quem trabalha nos setores de Recur-sos Humanos de empresas multinacionais,

César Mattos é Doutor em economia, ex--membro do Conselho Administrativo de De-fesa Econômica (CADE) e Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados.

Osmar Lannes Júnior é Doutor em economia pela FGV, foi pesquisador visitante da Univer-sity of California Berkeley Law School e traba-lha como Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados desde 1991.

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24 país complicado em termos de contas governamentais. Os dois itens causadores do rombo or-çamentário americano são: as despesas altíssimas com defesa e o sistema de saúde.

O governo americano gasta mais do que arrecada, o que configura um desequilíbrio fiscal. Uma das solu-ções para esse problema seria o aumento de impostos, tática, aliás, muito comum no Brasil. Nos EUA, isso é muito mais difícil de ocorrer. O país só tem dois grandes partidos políticos, cujas bancadas na Câmara e no Sena-do quase se igualam. Dessa forma, é sempre algo muito sério e difícil para qualquer governo norte-americano aprovar novos impostos ou elevar os existentes.

Uma alternativa seria a redução das despesas públicas. Essa, entretanto, é outra tarefa difícil de executar, pois, as duas principais despesas - saúde e defesa - contam com ardentes defensores.

Outro problema grave é o balanço de pagamentos (sal-do das transações de importação e exportação de um país). Para essa política ser saudável, contudo, o ideal é que o volume comercializado ser o maior possível e o sal-do entre importações e exportações seja próximo a zero. Ou seja: o país deve procurar vender o mesmo tanto que comprar. Há muitos anos, todavia, os americanos com-pram muito mais do que vendem e financiam o enorme déficit comercial com a venda de títulos do Tesouro, ou seja: com – mais um – aumento da dívida pública.

Quando do estouro da bolha imobiliária, o Tesouro ameri-cano injetou dinheiro nos bancos e na economia em geral para estimular os investimentos, baixando ainda as taxas de juros. Não adiantou. Os EUA caíram na “armadilha da liquidez”: Os agentes econômicos perderam a confian-ça no futuro da economia. Há dinheiro disponível para investir, a custos baixíssimos, mas ninguém acredita na recuperação do fôlego do país e, por isso, nada de novo é criado.

Recentemente, Barack Obama se viu impedido de pagar despesas corriqueiras como o salário do funcionalismo porque o orçamento previamente aprovado havia aca-bado. Para obter créditos adicionais teve que ceder às pressões do Partido Republicano (hoje na oposição) e comprometer-se a reduzir os gastos públicos - se possí-vel, sem tirar dinheiro da área da saúde, carro-chefe do assistencialismo social do seu governo. Talvez não o con-siga. Obama já anunciou que irá concorrer à reeleição e, por isso, terá dificuldade em reduzir gastos sociais, pois se tornaria impopular. Por seu lado, os republicanos, da oposição, tentarão pressionar por tal redução.

Para entender a crise atual, é necessário conhecer a anterior, de 2008. Você deve se

lembra de manchetes anunciando a quebra de importantes bancos, a falência de grandes empresas

e problemas no mercado imobiliário nos Estados Uni-dos. Aquela foi uma crise de crédito.

O mercado abriu crédito imobiliário farto a juros baixos. Famílias que não podiam comprar imóveis o fizeram atra-vés de financiamentos bancários. A garantia do paga-mento era o próprio imóvel, dado em hipoteca. Os títulos representativos dessas hipotecas eram repassados pelos bancos a investidores. Uma vez lançados no mercado fi-nanceiro, os títulos hipotecários iam trocando de dono e acabaram perdendo o vínculo com os imóveis que os garantiam.

Estavam criadas as condições para o surgimento da “bo-lha imobiliária”. Chegou um momento em que alguns in-vestidores começaram a perceber que deixara de existir uma relação saudável entre o valor de mercado dos títu-los e seu valor real. Nesse momento, os títulos começa-ram a não ser mais aceitos e a “corrente da felicidade” se quebrou. Daí para frente, o mecanismo se inverteu: todos queriam se livrar dos títulos a qualquer custo. Es-tavam criadas as condições para o surgimento da crise.

Como consequência do estouro da “bolha”, os EUA en-traram em recessão. Compra-se menos, vende-se menos,

produz-se menos, trabalha-se menos, recolhe-se me-nos impostos. Mas os gastos do governo con-

tinuam os mesmos – e até aumentam com despesas consequentes da

recessão, como o seguro--desemprego.

Os EUA, antes de 2008, já eram um

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Os países da União Europeia (UE), embora unidos por moeda e política aduaneira, continuam inde-pendentes. O colapso do comunismo nos anos 90 gerou uma expansão da UE, que abriu concessões

para a entrada de países ainda sem plena capacidade de par-ticipar, elevando o risco de descompasso.

Para que o bloco funcione, todos os países devem atuar de maneira coordenada, principalmente no que se refere à polí-tica fiscal. Isso significa manter as contas públicas ajustadas, não gastando mais do que se arrecada com impostos. Nem todos os membros, entretanto, desejavam alterar suas políti-cas sociais para atingir tal objetivo.

Países com enormes superávits, como a China e os exporta-dores de petróleo do Oriente Médio, acumularam reservas em dólares e euros investindo em títulos emitidos por go-vernos de países do primeiro mundo (Estados Unidos, Reino Unido e países da zona do Euro), porque acreditava-se que fossem seguros. O aumento da procura por esses títulos fez

com que as taxas de juros caíssem, tornando barato o fi-nanciamento das enormes despesas provocadas pela

manutenção de programas sociais.

Grécia, Portugal, Espanha e Itália captavam dinheiro dos investidores internacionais e gastavam sem con-trole. O buraco nas contas públicas ficou cada vez maior.

Da mesma forma que no caso da bolha imobiliá-ria americana, o mercado financeiro começou a desconfiar que os países emissores não tinham mais condições de honrar os títulos emitidos e

deixaram de adquiri-los. Os governos desses países ficaram então incapazes de honrar suas despesas com a manutenção da máquina pública e suas dívidas.

Os Bancos Centrais dos países mais fortes do Euro (França e Alemanha, chamados de “núcleo do euro”) ofereceram aju-da para recuperar os países em crise. Os países em crise estão quebrados de duas maneiras: seus tesouros nacionais não têm dinheiro para honrar os próprios títulos e seus bancos privados também, porque compraram títulos desses tesou-ros e fizeram maus empréstimos aos seus clientes.

A ajuda que está sendo oferecida aos países em crise ocorrerá através de empréstimos do FMI e do Mecanismo de Estabilida-de Financeira Europeu (que é um fundo alimentado pelo núcleo do Euro). Além disso, estuda-se o perdão de parte das dívidas contraídas pelo governo e o setor bancário dessas nações.

O plano prevê, como contrapartida dos países objeto da ajuda, o compro-misso de equilibrar suas contas públicas através do ajuste de suas políticas fiscais, o que significará impactos sobre as políticas sociais e sobre o nível de emprego desses países. Não é por outro motivo que tais medidas vêm enfrentando gran-de oposição da p o p u l a ç ã o em geral.

O Brasil se saiu bem na crise de 2008, principalmente porque o sistema ban-

cário nacional é muito mais organizado e seguro do que os de outros países. Isso se deve

a uma política de fortalecimento e fiscalização que vem sendo aplicada desde os anos 90.

Sob o aspecto fiscal, no entanto, o Brasil preocupa. Nos últimos cinco anos, entretanto, observa-se uma

tendência ao afrouxamento do controle inflacionário. A ampliação das políticas de combate à pobreza, o aumen-

to dos gastos com o funcionalismo público e a previdência social e a execução de grandes obras de infraestrutura eleva-

ram significativamente os gastos públicos sem que houvesse crescimento equivalente nas receitas do governo. Para fechar suas

contas o governo precisa recorrer a empréstimos tomados junto aos bancos e aos poupadores em geral, aumentando a dívida pública e as despesas com o pagamento dos juros desses empréstimos. Apesar de a “saúde” das contas públicas não ser a ideal, o Brasil vem crescendo muito nas últimas décadas. As politicas sociais e o crescimento das oportunidades de emprego fizeram com que um contingente enorme de brasileiros, antes marginalizados, se tornas-sem consumidores. Com isso o mercado interno aumentou muito e hoje o Brasil se tornou um país menos dependente das exportações, ou seja, menos sujeito aos terremotos econômi cos internacionais. Isso não significa que estejamos imunes à atual crise. No que se refe-re ao “contágio” dos títulos emitidos pelos países europeus, o risco

é pequeno, pois nem os bancos nacionais nem o governo brasileiro possuem grandes quantidades desses papéis sem valor. No entanto, no que se refere ao setor externo, as possibilidades de um impacto negativo aumentam muito.Com efeito, o Brasil, hoje, tem um volume respeitável de comércio internacional, exportando os manufaturados e as chamadas “com-modities”, aí incluídas matérias-primas como o ferro e a celulose e produtos agrícolas como soja, café e açúcar. Uma retração interna-cional fará com que, forçosamente, se reduza a procura por esses produtos, com reflexos não só sobre a quantidade vendida, mas também sobre seu preço, que se reduzirá. Isso deixará o Brasil com menos recursos para manter a importação de artigos que lhe são indispensáveis, como certos tipos de petróleo, carvão, máquinas e tecnologia.Os empregos também podem ser afetados, pois se há uma redução nas exportações, certamente as empresas exportadoras dispensa-rão parte de seus empregados. A falta de recursos para importar novas máquinas e tecnologias poderá prejudicar novos investimen-tos em fábricas e lojas, impedindo, assim, a criação de novas vagas.O Governo se declara ciente desses riscos e aposta que o crescimen-to interno compensará eventuais perdas no comércio internacional. Para isso, está reduzindo as taxas de juros e incentivando a criação de novas fábricas. O risco dessa política é o afrouxamento do con-trole sobre a inflação, mas a Presidente Dilma Rousseff e os minis-tros da área econômica garantem que não deixarão que isso ocorra. É esperar para conferir.

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Embora, muitas vezes, os jovens sejam acusados de egoístas, a participação deles em trabalhos voluntários tem aumentado. Para algumas pessoas, os jovens do século XXI continuam tão engajados e dispostos a mudar o mundo quanto os que viveram no período da ditadura militar. A diferença básica é que, hoje, a maioria deles opta pelo caminho do trabalho voluntário, e não pelo da militância política.

Os jovens voluntários são movidos por três motivos essenciais: a vontade

de ajudar a resolver os problemas das desigualdades no país; o sentimento de ser útil e ter seu esforço valorizado; e o desejo de fazer coisas diferentes de sua rotina. É difícil listar os trabalhos que eles mais realizam, até porque isso depende muito da personalidade de cada um, mas os projetos que envolvem o meio ambiente e as crianças carentes estão entre os mais procurados.

Ser voluntário não é apenas uma maneira de praticar o bem para o outro e exercer sua responsabilidade social.

O voluntariado contribuiu tanto para o crescimento pessoal quanto para o profissional, além de aumentar o círculo de amigos e proporcionar o fortalecimento de potencialidades como o trabalho em equipe, a habilidade de conviver com pessoas com pensamentos diferentes e a facilidade para discutir e resolver problemas. E é por meio do trabalho voluntário que muitos jovens descobrem uma grande fonte de conhecimentos que podem ser utilizados em sua vida profissional.

Conheça a história de dois jovens, que em comum só têm uma coisa: são voluntários e amam o que fazem

Felipe Puziol, Jheniffer Sodré, Murilo Gomes

Se fosse para eu citar alguns dos benefícios que essa experiência me trouxe, falaria do crescimento profissional, já que pude transmitir os conhecimentos que adquiri na faculdade para outras pessoas e isso me fez aprender muito mais do que se eu estivesse só frequentando as aulas. Além disso, há um grande crescimento pessoal em conviver com uma cultura diferente e ajudar uma comunidade a crescer, levando informação e desenvolvimento.Tem uma frase que aprendi e que me marcou muito: ‘não basta conhecer o mapa do Brasil, temos que caminhar sobre ele’. Se eu pudesse, eu repetiria essa experiência todos os anos.”

O fato de ir pra outra região do país, levar informações para uma comunidade carente e ajudá-las a se desenvolverem é maravilhoso. Convivi com outra cultura, outros alunos, e o mais gratificante de tudo foi ver a comunidade participando das programações e nos agradecendo no final das atividades.É nessas horas que a gente percebe que o pouco que fazemos significa muito para pessoas mais carentes. No final da operação, o sentimento de dever cumprido era grande e a vontade de fazer aquilo em todas as férias era enorme. Até hoje eu mantenho contato com os rondonistas (os voluntários) e também com o pessoal da comunidade de Arapoema.

A enfermeira Helena Vasconcelos Schitine, de 22 anos, é voluntária no Movimento Escoteiro e já fez parte de uma operação do Projeto Rondon, que é uma Oscip – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – focada na mobilização de jovens universitários para promoção do desenvolvimento local sustentável das comunidades carentes. “Participei da Operação Centro-Nordeste do Projeto Rondon em janeiro de 2010 e tive a oportunidade de ser voluntária durante 15 dias em Arapoema, no Tocantins. Na época eu ainda era estudante de Enfermagem no Unesc – Centro Universitário do Espírito Santo – e juntamente com outros alunos da faculdade decidimos mandar o nosso projeto.Durante os 15 dias em Tocantins, eu e mais alguns alunos da área de saúde, direito, pedagogia e educação física desenvolvemos palestras, oficinas e dinâmicas sobre os mais variados assuntos. Abordamos temas como higiene, cuidados com o meio ambiente, sexualidade, exercício físicos, primeiros socorros, cidadania e drogas. Eram muitos assuntos e um público bem diversificado também, desde crianças até pessoas idosas. Helena e outros rondonistas apresentando um jogral para a comunidade

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26Se não pagar. . . que mal há?!Se não pagar. . .

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O marketeiro Pedro Oliveira, de 25 anos, há seis meses é voluntário da ONG “Um Teto Para Meu País” e conta um pouco como está sendo sua experiência na organização, que ele chama carinhosamente de “Teto”.

“Sou voluntário, porque sempre tive um sentimento de querer ‘mudar o mundo’ e ajudar as pessoas, mas nunca soube muito bem como agir. O trabalho do ‘Teto’ me agradou muito porque é literalmente ir e colocar a mão na massa.

Essa ONG nasceu no Chile, em 1997, e hoje atua em 19 países da América Latina. O objetivo do nosso trabalho é acabar com a extrema pobreza que existe em todo o continente americano. Quem é voluntário exerce cargos que variam de acordo com cada construção. Atualmente sou um ‘chefe de escola’, responsável pela construção em uma determinada comunidade, pelo conhecimento da região e das famílias, pela estruturação de todo projeto e da construção e pela escolha de quem vai ganhar a casa.

Para mim, essa experiência é maravilhosa, pois mudou minha concepção em vários aspectos e hoje eu me sinto com uma cabeça bem melhor. Percebi que em pequenos momentos do nosso dia a dia existem aprendizados gigantes que às vezes passam despercebidos. Eu gosto muito de ser voluntário e sinto realmente prazer em realizar esse trabalho. Costumo dizer que fico tão feliz quanto as famílias que ganham a casa que construímos, e não é exagero, realmente acredito nisso.

Até porque aprendemos muitas lições durante a construção e isso me faz sempre querer voltar e construir mais e mais.

E o que me faz continuar nessa luta é poder ver o sorriso das famílias que recebem as casas, é saber que estou fazendo algo por um Brasil, por uma América Latina e por um mundo melhor. Quando ‘gastamos’ um final de semana todo construindo uma casa para uma família, estamos dando uma

injeção de ânimo para eles, contribuindo com a melhoria da segurança, do conforto e da qualidade de vida das pessoas de uma determinada comunidade”.

Quando perguntado sobre o que ele acha da participação dos jovens em trabalhos voluntários, Pedro ainda acha que é pequena, embora haja muitas pessoas engajadas em movimentos sociais.

Vejo que a movimentação do jovem no Brasil hoje, em relação a projetos como esse, é baixa, mas vem aumentando muito. Acredito que a conscientização dos jovens ainda seja algo muito importante já que, por mais que seja clichê, nós somos o futuro do país: futuros diretores de empresas, políticos, empresários, formadores de opinião, artistas...

Os jovens precisam perceber que eles vão precisam disponibilizar um pouco do tempo deles para ajudar outras pessoas; e depois vão perceber que deveriam ter feito isso antes. Para aqueles que têm vontade de entrar nessa, o importante é querer realmente ajudar e entender que sentado numa cadeira ninguém ajuda de verdade. É bom também pesquisar e ler bastante para conhecer os problemas do mundo e saber como ajudar, ir atrás de ONG’s e procurar saber o trabalho que elas realizam. Assim você consegue encontrar uma que mais se encaixa com seu perfil, já que fazendo o que gosta a gente sente mais prazer e ajuda de verdade”.

Pedro e seus amigos do “Teto” se preparando para mais uma construção

Colocando a mão na massa para fazer mais uma famíla sorrir

Pedro, voluntários do “Teto” e moradores da comunidade

Já pensou em ser voluntário? Conheça um pouco mais sobre as ONG’s citadas aqui:

- Um Teto Para Meu País: www.umtetoparameu-pais.org.br

- Projeto Rondon: www.projetorondon.org.br

- Movimento Escoteiro: www.escoteiros.org

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Serenidade, diversão, romantismo... A tendência Liberty quebra a monotonia do cotidiano trazendo a lembrança dos momentos de folga ao dia-a-dia. Abuse do conforto das roupas largas, bermudas

e vestidos longos. Rendas e estampas florais completam o look, dando um ar romântico às

produções.

Fotógrafo: Yuri Barichivich Produção: Cintia Casati Colaboração: Thalita Cautela Modelos: Sophia Cho, Gabryelle Eutrópio, Elton Miertschink e Vinícius Gonzalez Roupas femininas: Serena Modas – Av. Jerônimo Monteiro nº 801 - Centro - Vitória

Essência dePatchouli...P R IMEIR A

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Fotógrafo: Yuri Barichivich Produção: Cintia Casati Colaboração: Thalita Cautela Modelos: Sophia Cho, Gabryelle Eutrópio, Elton Miertschink e Vinícius Gonzalez Roupas femininas: Serena Modas – Av. Jerônimo Monteiro nº 801 - Centro - Vitória

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papa doc

“All men have the stars, but they are not the same things for different pe-ople. For some, who are travelers, the stars are guides. For others they are no more than little lights in the sky. For others, who are scholars, they are problems. For my businessman they were wealth. But all these stars are silent. You - you alone - will have the stars as no one else has them.” The Little Prince

“Um beijo pra você que é travestshee!”

Homem. Brasileiro. Filho de uma artista plástica com um músico. Sangue latino e judeu. Terno e sapatos brancos. Disposição de bom malandro. Valoriza os animais, gosta de uns “bons drink” e vive em busca dos anos dourados. Esse é o Papa Doc, um personagem real-ficcional interpre-tado por um boneco playmobil. Papa Doc não nasceu, foi chocado e eclodiu (Born this way) em foto a 01 de agosto de 2011. Vindo de uma época indeterminada, o rapaz está à procura das referências de um mundo pessoal. Referên-cias pinçadas desse grande antiquário que é nosso tempo. A seqüência de fotos Papa Doc, que começou a ser pensada no início deste ano, traz recortes do cotidia-no do personagem, com uma foto disponibilizada por dia

no facebook. A série integra uma narrativa sem compro-misso com linearidade. São memórias de ações vividas pelo personagem em um tempo subjetivo, que flui em consonância com o seu humor. As fotos, inspiradas em te-mas relacionados com a estética retrô e aos nomes da lite-ratura, arquitetura, música, moda, artes plásticas, cinema e psicologia, sublinham o modo como o gosto de nossa época reverencia o passado. Com um humor sutil e um sorriso incorruptível estampado no plástico, nosso playmobil mostra tudo o que encontra em seu passeio sem fim nem direção. Aqui o relógio é a lente, que junta todos os ponteiros, presente e passado, e faz o tempo de Papa Doc aparecer num click.

“Shame on you!”

Ensaio - Flávia Arruda

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