jornal opinião 01 de fevereiro de 2013

24
LEIA TAMBÉM Rocassalense escapa com vida da boate Enfermeiro de Encantado trabalha como voluntário Donos de boates da região garan- tem segurança Ex-funcionária do Fórum de Encantado en- tre as vítimas REFLEXOS DE SANTA MARIA NÃO SÓ AS BOATES SERÃO FISCALIZADAS Rejane Bicca VOLTA ÀS AULAS As mudanças no ano letivo Páginas 14, 15 e 16 Após o incêndio na Boate Kiss, que vitimou mais de 230 pessoas, Corpo de Bombeiros de Encantado quer ampliar fiscalização para estabelecimentos comerciais e prédios residenciais PÁGINAS 9, 10, 11, 12 e 13 André Sangalli no gol do Juventude Página 22 Mais uma aventura de Silvio Zonatto na Patagônia. Página 21 Westphalen assume a Assembleia Página 17 Divulgação Acervo pessoal Marcos Efler/Ag.AL

Upload: diogo-fedrizzi

Post on 23-Mar-2016

215 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Veículo do Grupo Encantado de Comunicação da cidade de Encantado RS

TRANSCRIPT

Page 1: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013

LEIA TAMBÉM

Rocassalense escapa com vida da boate

Enfermeiro de Encantado trabalha como voluntário

Donos de boates da região garan-tem segurança

Ex-funcionária do Fórum de Encantado en-tre as vítimas

REFLEXOS DE SANTA MARIA

não só as boatesserão fiscalizadas

Reja

ne B

icca

VOLTA ÀS AULASAs mudanças no ano letivo

Páginas 14, 15 e 16

Após o incêndio na Boate Kiss, que vitimou mais de 230 pessoas, Corpo de Bombeiros de

Encantado quer ampliar fiscalização para estabelecimentos comerciais e prédios residenciais

PÁGINAS 9, 10, 11, 12 e 13

André Sangalli no gol do JuventudePágina 22

Mais uma aventura de Silvio Zonatto na Patagônia. Página 21

Westphalen assume a AssembleiaPágina 17

Divulgação Acervo pessoal Marcos Efler/Ag.AL

Page 2: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013
Page 3: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013
Page 4: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013
Page 5: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013

[email protected]

COLUNA 5JORNAL OPINIÃO n 1º de fevereiro de 2013

Eu poderia estar aqui:

1. Falando dos seguranças que impe-diram, num primeiro momento, as pessoas de saírem da Boate Kiss em Santa Maria, sem apresentar o pagamento da comanda, minuto, minutos ou segundos que podem ter sido fatal para alguns;

2. Falar da ganân-cia dos proprietários, que teriam realizado uma festa para, mais ou menos, 1.500 frequenta-dores e o espaço com-portava, se muito, 700 pessoas;

3. Dizer que os mú-sicos da Banda Gurizada Fandangueira foram totalmente irresponsá-veis e fizeram um show pirotécnico que utilizava fogos de artifício, que podem ser os causadores do incêndio que vitimou mais de duas dezenas de pessoas;

4. Que os órgãos competentes foram relapsos com a fiscalização do estabelecimento;

5. Que os proprietários foram irresponsáveis ao isolar acusticamente o local com um material altamente inflamável;

6. E muitos outros fatos que podem ter contribuído para interromper o sonho de muitos jovens;

Mas isto é uma situação que acredito, e acredito mes-mo nas autoridades consti-tuídas, como Mistério Públi-co, Delegados e Servidores Estaduais, e tenho a certeza que tudo será esclarecido, investigado dentro da lei, para que a Justiça possa dar uma sentença justa a quem real-mente tiver contribuído para essa tragédia.

Mas quero aproveitar e falar de algumas histórias que fazem a gente refletir sobre a tragédia da Boate Kiss em Santa Maria:

1. De inúmeros voluntá-

rios que, ao saberem da tragé-dia, imediatamente correram para Santa Maria para ajudar a quem precisava, e isto não tem preço, e estes têm muito para contar aos outros sobre a expe-riência que viveu. É o caso de um enfermeiro de Encantado (Rodrigo Maccari), que viu uma mãe que perdeu dois filhos, a nora e um sobrinho, e não tinha nem força para desmaiar olhava para o nada, e esse era o seu futuro imediato, o nada;

2. Do irmão que na escuridão da fumaça entrou na boate e resgatou aquele que viveu ao seu lado a vida intei-ra, se isto não tiver uma mão superior, é de algo que a nós mortais é difícil de entender;

3. De como a vida pode ser cruel com um pai que compra um apartamento para um filho e, na quinta-feira, faz a sua mudança para Santa Maria, e no sábado o pai o leva até a porta da Boate Kiss, onde iria comemorar com os amigos. O que era para ser um

futuro de alegria tornou-se uma grande decepção, já que o filho único que iria cursar uma universidade federal e iniciar a vida em busca de sua futura profissão, sobra o vazio, a tristeza e a pergunta, como tocar a vida agora?

4. O que dizer do soldado bombeiro, que se atreveu a olhar um celular que não para-va de tocar, com 104 ligações perdidas, e todas no visor do aparelho tinha a mesma pro-cedência, ou seja, o telefone de alguém que atendia pelo nome de mãe. O que a progenitora queria ouvir era o seguinte, ‘alô mãe, estou viva’, frase que nunca mais vai ouvir, e até a confirmação, ela tinha esta esperança.

5. A história do soldado bombeiro que estava no quar-tel e recebeu da corporação a ligação de um incêndio, local Boate Kiss em Santa Maria, e desde o início do deslocamento até o local do sinistro, um único pensamento, meu filho está

neste local, e lá um bem maior (uma enormidade de vidas a serem salvas), se existe algo superior a um filho, e realizar a sua missão, salvar vidas, salvar vidas, salvar vidas, e o filho, olhar os corpos no chão, querendo ter a certeza de que o seu sucessor ali não estivesse, e o final neste caso foi feliz;

6. A moça que sofria de bronquite asmática encontra o seu anjo ao gritar por socorro, alguém que tem a sensibilida-de de levantar o seu vestido, colocá-lo na altura do nariz, para evitar a inalação da fuma-ça altamente tóxica, segurá-la e ir levando-a em direção à porta, e a cada vez que não su-portava dizia, ´calma, estamos chegando’. Alcançando o lado de fora, pediu o seu nome, e se virou para entrar nova-mente na busca de salvar mais vidas, ouviu o apelo da jovem salva para não entrar mais, e respondeu que precisava buscar mais pessoas, não mais voltou, morreu, um verdadei-

ro herói, que teria ajudado no mínimo mais dez pessoas. Para o pai, que ao conceder entrevista disse que o seu filho era assim mesmo, de ajudar e se preocupar com os outros, fica a dúvida, quero ter um filho herói no cemitério, ou um covarde dentro de casa? Quem irá responder esta dúvida?

Por tudo isso, nestas breves histórias, e muitas outras poderiam fazer parte desta nossa coluna, resta às autori-dades, uma punição severa a quem realmente é culpado, de roubar histórias de vida, não só o corpo, mas principalmen-te a alma, uma dor que deve ser inesgotável, imensurável e principalmente infindável, que fica até o final da vida. Como a da mãe que era lavadora de copos da boate e não pode ir trabalhar. No seu lugar, a filha pediu para ir, não voltou mais, não sei se teria suporte para aguentar esta última dor, e ela faz apenas parte de um contexto. JUSTIÇA JÁ.

As mais de 200 mortes e suas históriasWilson Dias/ABr

Page 6: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013
Page 7: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013
Page 8: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013
Page 9: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013

REPORTAGEM ESPECIAL 9JORNAL OPINIÃO n 1º de fevereiro de 2012

alerta Na regiãoO incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, que vitimou mais de 230 pessoas, a maioria jovens, acendeu o sinal amarelo no

país sobre as condições das casas noturnas. Tão logo começaram a ser levantadas as possíveis causas da tragédia, a preocupação também recaiu para a realidade de nossa região. O Jornal Opinião conversou com os proprietários das principais boates de Encantado e cidades vizinhas. Os empresários lamentam a situação ocorrida em Santa Maria e

garantem que os estabelecimentos locais atendem às exigências da legislação quanto à segurança.

Alex Buzoli, 37 anos, trabalha com organização de festas há 20 anos. Proprietário das casas Buzoli, de Doutor Ricardo, e Arena, de Anta Gorda, garante que as duas danceterias seguem as normas do Corpo de Bombeiros.

No Buzoli, por exemplo, são quatro saídas de emergência. Em breve, uma quinta será instalada. Na Arena, também são quatro. Os dois locais não possuem forro com espuma inflamável e o uso de sinalizadores é proibido.

Nesta semana, os bombeiros fizeram nova vistoria nas duas danceterias e foram sugeridas algumas adequações. “Vamos deixar tudo em ordem para a próxima festa, dia 23 de fevereiro, com animação do Tchê Chaleira”, comenta Alex.

O empresário Arthur Cipriani, do Usinas, de Muçum, contratou a as-sessoria de uma empresa especializada na prevenção de incêndios, que, além de orientar, analisa mensal-mente os equipamentos de segurança, como extintores, lâmpadas e travas antipâni-co das portas de emergên-cia. “A fiscalização do Corpo de Bombeiros de Encantado é muito boa, recebo a visita deles direto, a cada dois três meses”, afirma.

Recentemente, Arthur e mais dois funcionários participaram de um treina-mento que ensina os parti-cipantes a agirem quando acontecem sinistros. “Já fizemos uma simulação de evacuação no Usina´s. Em cinco minutos, retiramos todas as pessoas, sendo que o tempo máximo é oito minutos”, comenta. Os segu-ranças contratados também precisam ter ‘carteirinha’ com capacitação para atuarem numa situação de incêndio, por exemplo.

Arthur, que está há seis anos no ramo de festas, salienta que é importante o proprietário da casa ter conhecimento daquilo que está promovendo. “Eu sei tudo o que vai se passar no palco, a hora que vai acender a luz, a hora que vai terminar. E tenho uma norma: a festa não pode passa das 5h”, con-ta. “Já tivemos dois casos de bandas que queriam acender sinalizador, e eu provei para eles que não teria condições”.

Ele garante que a estrutura da casa atende às normas exigidas. O forro do teto do Usina´s é feito com isopor, separado por barras de metal. Lâmpadas de emergência foram instaladas em vários pontos, no banhei-ro e nos corredores. Uma das portas de saída que liga a pista principal ao ambiente ao ar livre tem 2m50cm. “A porta principal possui barra antipânico e fica aberta o tempo todo. Outra saída de emergência dá direto na rua. E temos possibilidade de construir mais uma”. Os disjuntores elétricos são individualizados e estão ins-talados em diversos locais, como palco, camarote e copa. As janelas superiores sempre estão abertas, que facilitam a passagem de ar.

No Usina´s, não existe comanda. Os clientes pagam antes de consumir. “Prefiro

assim, evita fila na saída e as pessoas podem deixar a casa a hora que quiserem”. O proprietário acredita que a partir da tragédia de Santa Maria, os clientes vão começar a prestar atenção na segurança dos locais. “A casa que mostrar seguran-ça, o público vai continuar frequentando. Todo mundo quer se divertir, mas com segurança”, diz.

Uma das providências que Arthur pretende adotar nos próximos eventos é orientar os clientes pelo sistema de som sobre como proceder em caso de acidentes. “Será uma orien-tação breve, no começo do evento. Mas importante para todos. A tragédia de Santa Maria foi um desas-tre, mas serviu de exem-plo para que outros fatos parecidos não aconteçam”, entende.

Alceu Gerhardt, 25 anos, é um dos sócios da Secret, instalada no centro de Encantado. A casa tem capacidade para receber até 500 clientes. Ele explica que quando construiu a boate, há um ano, houve o máximo de cuidado com a segu-rança, desde o acesso para cadeirantes até possíveis situações de emergência.

O isolamento acústico, por exemplo, veio de São Paulo. “É antichamas, para não ter risco”, revela. “Os bombeiros pediram dois extintores, eu coloquei três. Temos várias luzes de emergência, no banheiro, nos cômodos. Escada com corrimão. O in-vestimento foi grande, fizemos tudo para mais, pensando na segurança”, garante.

Alceu conta que existem duas saídas de emergência, a da porta principal e uma nos fundos do prédio, com fechadu-ra antipânico. “Tu só bate e a porta abre inteira”, conta. A estrutura do telhado

também foi reforçada. 16 exaustores foram instalados para renovar o ar do ambiente.

O empresário cuida até da passagem de som dos músicos para evitar surpre-sas na hora da apresentação. O uso de artefatos e fumaça em shows de bandas e DJs não é permitido. Alceu destaca ainda o sistema de comanda eletrônica, que facilita o controle de acesso e consu-mo. Na chegada, os clientes da Secret recebem um cartão eletrônico e são cadastrados com nome e CPF. “Se alguém sai sem pagar, eu sei quem foi, tudo fica registrado”, alerta Alceu, em referência à preocupação dos seguranças da boate de Santa Maria, que teriam barrado a saída das pessoas com medo de que não pagariam o que haviam consumido. “Não fico preocupado. Estamos com tudo em dia”, conta.

secret

O músico e empresário Roni Dalpizzol, um dos sócios-proprietários da Lost Pub, de Encantado, revela que o Corpo de Bom-beiros fez nova vistoria na terça-feira (29). “A Lost está dentro dos padrões exigidos. Faltam algumas adequações, como placas indicativas das duas saídas, a principal e a de emergência, e na escada”, comenta. Recentemente, os extintores de incêndio foram renovados.

Segundo ele, a estrutura da casa é de concreto, mas revestido de madeira. Roni destaca a disponibilidade de uma área ex-clusiva para fumantes. “Temos climatiza-ção nos dois ambientes, por isso precisa-mos criar um local só para os fumantes”.

Ele conta que quando adquiriram a Lost, há quase dois anos, uma ampla reforma foi feita no prédio, sobretudo, na parte elétrica. “Investimos bastante para melhorar”, salienta. “Estamos sempre pro-

curando fazer melhorias para que nossos clientes se sintam bem e seguros”.

Com a experiência de 15 anos como músico, Roni diz que conhece bem a reali-dade das casas noturnas do Rio Grande do Sul. “Já vi bares top e outros quem nem dá para chamar de boate. Aprendi muita coisa importante e tento trazer para a Lost”.

No ano passado, ele fez o curso de pre-venção contra incêndios por orientação dos bombeiros. “Eles são nossos parceiros. Nos avisam antes do vencimento do alvará e tudo o que precisamos fazer”. Outro fator importante é a contratação de seguranças

capacitados para agir em caso de incên-dios. “Não são apenas disciplinadores, a equipe de segurança precisa ter algo a mais, é quase como um braço da casa”. Roni reconhece que muitas pessoas, principal-mente, os pais, agora, ficam com medo de verem os filhos freqüentando boates. “Mas também não podemos generalizar. Temos muito cuidado com a segurança. Nosso alvará está em ordem”.

A Lost não trabalha com comanda, mas com fichas pré-pagas, modelo que Roni viu em um estabelecimento na cidade de Gua-poré. “O cliente compra a ficha, que varia de R$ 20,00 a R$ 50,00, antes de consumir. Conforme ele vai gastando, vai marcando na ficha. Não tem formação de fila na saída. Se não consumir todo o valor, devolvemos o restante do dinheiro na saída”, explica.

LOST pubusina´s

BUZOLI E ARENA

Roni fez curso de prevenção de incêndios

Arthur contratou uma empresa especializada

Reportagem: DIOGO DAROIT FEDRIZZI

Page 10: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013

JORNAL OPINIÃO n 1º de fevereiro de 201310 REPORTAGEM ESPECIAL

Uma das vítimas da tragédia de Santa Maria era conhecida dos encantadenses. Rosane Fernandes Rehermann, 46 anos, trabalhou na Segunda Vara de Encanta-do e atualmente estava lotada em Santa Maria. Ela estava na boate Kiss acompa-nhada do marido Luis Antonio Xisto, que era estudante do Curso de Veterinária. Diversos amigos da cidade deixaram mensagens na página de Rosane na rede social Facebook. Recentemente, ela via-jou com amigas de Encantado para Natal, no Rio Grande do Norte.

Na quarta-feira (30), os filhos de Rosane, Marília e Pedro Rafael participa-ram do Mais Você, da Rede Globo. O site do programa, apresentado por Ana Maria Braga, fez referência à triste história.

O texto aponta que Rosane acompa-nhava o marido, aluno da faculdade, e que era considerado pelos colegas de estudo como o ´tiozinho´ da turma. “Ela gostava muito da juventude, como ela era servidora do judiciário, ela era conhecida como a defensora dos estagiários. E vivia saindo com eles”, descreveu Marília, com lágrimas nos olhos. O irmão contou que soube da tragédia pelo pai. “Me preo-cupei primeiro com a minha irmã, mas nunca iria imaginar que minha mãe estaria lá”, admitiu o rapaz.

Marília relembrou como recebeu a notícia da morte da mãe. “Eu só me atinei quando uma amiga dela me mandou uma mensagem: ‘Ma-rília, tua mãe me disse que iria em uma festa da veterinária ontem. Acha ela pelo amor de Deus, porque estou ligando para ela a manhã inteira’. Eu comecei a ligar e ela não atendia”, explicou a menina. Emocionado, Pedro Rafael contou: “Eu

levantei e parecia que eu já estava saben-do, levantei correndo, chorando. Eu não tinha como ir, estava impotente aqui. Não tive como ajudar”.

Mesmo diante de tanta dor, a filha ainda precisou fazer o reconhecimento da mãe. “Como ela estava sem documen-to, pois devia estar na bolsa, eu tive que olhar corpo por corpo para reconhecê-la. Eu reconheci a minha mãe, porque ela tinha uma tatuagem na perna com as nossas inicias. Então, não tinha como não ser ela. Era ela”, emocionou-se a jovem.

Colegas lamentamA escrivã do Fórum de Encantado,

Carine Zeni, trabalhou com Rosane e, mesmo após a saída dela da cidade, continuou mantendo contado sistemá-tico. “Conversávamos pelo MSN interno. A Rosane sempre foi uma líder sindical, estava antenada às questões dos nossos direitos, organizava as mobilizações, nos representava nas Assembleias em Porto Alegre. Seguidamente, ela concedia en-trevistas para a rádio”, relata. “Estamos todos abalados. Na segunda-feira (28), pouco se conseguiu trabalhar. É uma tragédia inaceitável”.

EX-FUNCIONÁRIA DO FÓRUM DE ENCANTADO ENTRE AS VÍTIMAS

Rosane era considerada uma líder pelos colegas

Marília e Pedro Rafael durante entrevista para a Rede Globo

Facebook

Reprodução Site TV Globo

O rocassalen-se Marcos Ra-baioli, 21 anos, estudante do terceiro semes-tre de Engenha-ria de Controle e Automação da Universidade Federal de Santa Maria, estava na Boate Kiss e conseguiu deixar o local com vida. Ele chegou a ficar internado no hospital da Universidade devido à inalação da fumaça tóxica.

No domingo (27), Marcos deixou uma men-sagem na rede social Facebook. “Muito obriga-do a todos que me mandaram mensagens de apoio, nessas horas a gente vê o quanto somos queridos. Estou bem fisicamente, emocionalmente não pos-so dizer o mesmo, vi coisas que serão difíceis de esquecer. Só posso deixar meu apoio às vítimas dessa tragédia”, escreveu o jovem, que reside há um ano e meio em Santa Maria.

Desde que receberam a ligação do filho, por volta das 5h de domingo, os pais Jalmir e Lenir custaram para acreditar no que havia acontecido. Assim que Marcos baixou na Casa de Saúde, eles se deslocaram até San-ta Maria. O jovem recupera-se bem e deve retornar a Roca Sales nesta sexta-feira. Por telefone, o Jornal Opi-nião conversou com a mãe de Marcos, Lenir, que trabalha como secretária na Escola Estadual Padre Fernando e que acompanhou a recuperação do filho em Santa Maria.

Jornal Opinião – Como vocês ficaram sabendo da tragédia?

Lenir – O Marcos nos ligou às 5h30min lá em casa, e ele falava assim: “Mãe, eu tô vivo, eu tô vivo. Tem muita gente morta. Eu tava numa boate e pegou fogo, mãe, morreu muita gente, mas eu tô vivo. E perdi meu amigo”. Até ele saiu e queria voltar para buscar o amigo, mas os bombeiros não deixaram ele voltar.

JO - Vocês nem entendiam direi-to o que estava acontecendo?

Lenir – Não. Eu imaginei que ele estava apavorado, que não fosse tudo isso. Até pedi para ele se queria que a gente fosse para Santa Maria. Ele disse

que estava tudo bem. Aí comecei a assistir à televisão e me apavorei. À tarde, ele me ligou de novo dizendo que não estava se sen-tindo bem. Pedi para ele ir para o Hospital que nós iríamos para Santa Maria. Os colegas levaram o Marcos para o Hos-pital, o coordenador do curso ficou com ele no hospital.

JO – Ele inalou muita fumaça?

Lenir – Sim, bastante tóxica.

JO – E o que ele falou pra vocês, ele conseguiu sair logo da boate?

Lenir – O Marcos e os amigos esta-vam perto do palco. A colega dele me contou, porque ele

não se lembra direito. A colega do Marcos estava com calor e pediu para ir mais em direção à saída. Eles foram. Ele resolveu comprar uma bebida no bar, que fica próximo à saída. E aí ele olhou para o palco e viu que começou o incêndio. E como ele já está assusta-do, porque no ano passado explodiu o Posto em Roca Sales – ele viu tudo, a gente mora próximo - saiu correndo. Só que chegou perto da saída e os se-guranças não deixaram sair por causa da comanda. Por isso que ele inalou fumaça, senão teria saído mais rápido.

JO – E essa de ele querer voltar para salvar o amigo...

Lenir – Isso, quando ele chegou na rua, viu que o amigo não tinha saído. Tentou voltar, mas os bombeiros não deixaram ele voltar.

JO - E como o Marcos está?Lenir - Até terça-feira, ele estava

meio ruim. Agora está estável. Até esta sexta-feira, deve sair do Hospital.

JO – Já caiu a ficha para vocês?Lenir – Tá dificil. Estamos bastante

abalados, em choque. O que vimos aqui foi uma loucura. Muita gente, de tudo que é lugar. Dar apoio, ONGs ajudando. Muita gente. O Ministro da Saúde veio visitá-lo.

JO – O amigo que ele perdeu era colega de aula?

Lenir – Sim, era o melhor amigo dele. Estavam sempre juntos. É Juliano Farias, de Dom Pedrito.

“Mãe, tô vivo”, marcos rabaiolli, Rocassalense que escapou com vida

Marcos recupera-se bem

Arquivo pessoal

Page 11: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013

11JORNAL OPINIÃO n 1º de fevereiro de 2013REPORTAGEM ESPECIAL

No lugar dos paisQuando a

palavra tragédia surge no nosso cenário, ela já diz tudo sobre triste-za, saudades, luto, distâncias eter-nas e assim vai... Podemos fechar os olhos e carinhosa-mente nos tele-transportar para o lugar desses pais que hoje estão de luto e reconhe-cer, considerar e respeitá-los, porque eles estão mergulhados em sua dor. Uma dor tão imensurá-vel, tão indescritível que chega a se materializar. O corpo dói. Os olhos não veem. O coração dispara. É como voltar de marcha ré por todo o caminho já percorrido. É procurar respostas mesmo sabendo que não dá para encontrá-las.

É preciso ter paciência com as emoções que vi-rão morar no coração desses pais que nunca mais serão os mesmos. Eles necessitam se isolar para vivenciar esse momento. Eles precisam das lem-branças do seu filho para amenizar suas saudades e cabe aos amigos oferecer o abraço verdadeiro.

Angela Realeradialista e mãe

Novas leisInfelizmen-

te é preciso acontecer uma tragédia como a de Santa Maria para serem to-madas decisões. Casas noturnas precisam ser vistoriadas com mais frequên-cia, precisam ter saídas de emergência. Eu estou na noite há 16 anos. Além de radialista, atuo como DJ de eventos e sou testemu-nha de que muitos lugares não oferecem segurança nesta situação. O artefato que causou a tragédia se chama “Sputnik”, é muito usado principalmente em festas de 15 anos, destacando a entrada da aniver-sariante.

Esperamos por novas leis e melhores vistorias nas casas noturnas. Se não houver nova lei, que haja bom senso de proprietários, que se preocu-pem com a vida das pessoas e não somente com o dinheiro no fim da noite. Sinalização e saídas de emergência em primeiro lugar. Depois, a proibi-ção de qualquer artefato que produza faíscas ou labaredas, serve especialmente para animadores e barmans que trabalham muito com isso em even-tos, o seu trabalho não vai perder o brilho por isso e não vai colocar a vida de ninguém em risco.

Cristiano Costa,Radialista e DJ

SANTA MARIA

Não sei se reparaste ou se acaso olhastePra um lado do meu rostoJá cansado dos anos e desgostos,Bem no cantinho dos meus olhos?!...

Olha bem...por ventura não visteQue meus olhos estavam tristesE deles brotava uma gotinhaBem lá no fundo, prontinha prá correr...

Ah !...viste, enfim, uma lágrimaNaquela manhã de domingo,Um domingo lindo que raiavaE que era para ser lindo e radioso....

E então veio a notícia tristeQue fez brotar aquela lágrima,Que fez apagar aquela alegriaDa minha querida Santa Mãe Maria...

E o domingo seguia o diaNa minha Santa Cidade Medianeirada querida Mãe MariaQue naquela noite não acordouE somente chorou... chorou....

E não podia acordar, pois, enquanto dormiaA lágrima corria...corriaDos meus olhos até o chão...Santa Maria.... antes alegria...Juventude.... esperança.... beleza,Agora tristeza,Santa Maria da Paixão....

Jorge Moreira, poetaEncantado, 29/01/2013

COMENTÁRIOS

A Tragédia na Santa Maria e a Ausência de Fiscalização EstatalO drama existente em Santa

Maria é (in)explicável. De igual for-ma, é comovente e tenciona nossos pensamentos. Em cadeia, ficamos em estado de choque. Posterior-mente, preocupados e sensibiliza-dos com os familiares. Logo após, em momentos de “racionalidade”, os peitos se estufam em revolta.

Alguns já condenaram o músico que acendeu o sinalizador. Outros desaprovaram a conduta dos insensí-veis seguranças que, acatando ordens superiores, impediram a imediata evacuação do ambiente. Têm-se, ainda, pessoas que responsabilizam o proprietário da Casa, pois agiu de forma irresponsável. Eis que a velha anedota “a corda sempre arrebenta do lado mais fraco” volta a imperar. As ordens de prisão já foram expedidas, e metralhadas de informações moralistas estão sendo vinculadas na mídia.

Sem demagogias e hipocrisias, necessário sensatez para assumirmos que todos possuem uma parcela de culpa ou dolo, como queiram. Até mesmo nós, os frequentadores. Mas o que efetivamente causa espanto – talvez pelos des-dobres políticos – são os escassos comentários da omissão estatal na fiscalização das casas noturnas. Ambientes inse-guros são frequentados por adolescentes, jovens e adultos que buscam, em “boa-fé”, usufruir de momentos agradá-veis na presença de amigos, comemorando a juventude tão viva que existe dentro de cada um.

A omissão estatal – inclusive do município de Santa Maria, mas não só - é cristalina. Notícias que ambientes co-merciais foram fechados por ausência dos requisitos mínimos ligados a (in)segurança extraordinariamente são visualiza-das. Fiscalizar e controlar, obrigações básicas do Estado, são fundamentais para uma vida mais digna e segura.

Que políticas públicas administrativas, com objetivos preventivos, sejam constantemente criadas e executas. Basta de paliativos punitivos. É urgente.

Thiago Vian, advogado

Mesmo à distância, os jovens de Encantado e região reagiram com preocupação frente às causas da tragédia de Santa Maria. Jéssica Zortéa, 22 anos, de Muçum, afir-ma que vai cobrar dos donos de boates mais segurança, além de saídas de emergência desbloqueadas e bem sinalizadas. “É o que eu posso e tenho o direito de saber e cobrar das autoridades competentes também”, diz. Ela garante que não vai deixar de frequentar os locais. “Tudo bem foi uma tragédia, algo que ninguém espe-rava, pode acontecer em qualquer lugar e a qualquer hora. Ninguém está livre de uma fatalidade dessas. Quanto a ir ou não ir depende de cada um. No meu caso não vou deixar de ir às danceterias, até porque a vida não para. Bola para frente”.

Charlaine Moura Vidal, 19 anos, de Encantado, conta que sempre se preocupa com a segurança dos lugares os quais frequenta. “Acredito que esse ocorrido sirva para os donos de algumas casas ficarem de olho aberto e cuidar mais da segurança do ambiente”, comenta. Ela

diz que prefere se divertir nas boates da cidade mesmo. “Conheço bem esses lugares e sei como funcionam”.

Débora Scartezini, 17 anos, de Encantado, destaca que não só ela como os pais também demonstraram preocu-pação com a condição das casas noturnas de Encantado. “Certamente gostaríamos que fossem tomadas providên-cias para que tudo estivesse dentro da lei, no caso, saídas de emergência, sinalização dessas saídas, que não fossem feitos shows desse tipo (com artefatos de fogo), ou qual-quer outro que possa oferecer perigo”, argumenta. Débora diz que vai continuar frequentando as danceterias. “É uma forma de diversão que todo jovem gosta”.

Lucas Moura, 17 anos, de Encantado, admite que o receio é maior após o episódio. “Vou procurar conhe-cer bem o ambiente e ficar mais perto das portas de saída. É uma situação que mexe com a gente, porque aconteceu em um lugar que se frequenta quase todo fim de semana. E as vítimas também são de nossa faixa de idade”, diz.

Jovens pedem atenção quanto à segurança das boates

Jéssica, Charlaine, Débora e Lucas

Fotos: arquivo pessoalFotos: arquivo pessoal

Vale do TaquariA estudante de Medicina Veterinária da Universida-

de Federal de Santa Maria, Fernanda Tischer, 21 anos, natural de Paverama, também está entre as vítimas do incêndio. Ela foi sepultada na tarde de segunda-feira (21) no Cemitério Evangélico de Santana, em Fazenda Vilanova. Joel Berwanger, 18 anos, de Arroio do Meio estudante de Agronomia, conseguiu sair da boate. Ele sofreu queimaduras nas costas e nos braços.

Page 12: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013

JORNAL OPINIÃO n 1º de fevereiro de 201312 REPORTAGEM ESPECIAL

O bombeiro aposenta-do Gilmar Donida, 51 anos, tem quase 30 de experiên-cia na área de segurança, sobretudo na prevenção de incêndios e na fiscalização de estabelecimentos. Es-pecialista na área, quando na ativa, formou-se em diversos cursos. Hoje, ele é proprietário da Control Fire, de Encantado, empre-sa que presta consultoria e instala equipamentos de proteção, prevenção e combate a incêndios.

Donida é conhecedor das diferentes leis que regulamentam os procedimentos para estar em dia com as normas. Ele cita a 420, a 37.380, a 38.273 e a 10.987. “Santa Ma-ria foi o município pioneiro em estabelecer uma legislação municipal contra incêndios. E agora, por coincidência, é cenário desta tragédia”, constata.

Destaca ainda a criação do Sistema Integrado de Gestão da Prevenção de Incêndio (SIGPI), implantado pelo Corpo de Bombeiros de Caxias do Sul, em 2006. Trata-se de um programa de computador online que reúne todas as informações para a prevenção de incêndios. De posse de informações do prédio, o sistema indica o número de extintores e escadas e a necessidade de para-raios e equipamentos hidráulicos. “É uma receita que vai dizer o que tem que ser feito. Por ter conhecimen-to da legislação, eu faço o cadastro real. Se você cadastrar errado, pode te prejudicar no futuro”.

Confira alguns trechos da entrevista:

Quantidade de pessoas“Na área de danceteria da casa noturna,

é calculado um metro quadrado para duas pessoas. No estabelecimento comercial é uma pessoa para cada três metros quadra-dos. Então, se você cadastrou o ambiente para comércio e depois usa como casa noturna, a capacidade de população será diferente e o dimensionamento de saídas muda. A saída é calculada pelo número de pessoas. Por exemplo, se você está num pavimento térreo, a cada 100 pessoas, é necessário uma unidade de passagem”.

Situação de Encantado“Encantado é novo em prevenção, está

iniciando. A gente constata nas visitas aos estabelecimentos que o amadurecimento está acontecendo de forma lenta. Os acon-tecimentos de Santa Maria aumentaram a preocupação. A procura por informações

nesta semana na empresa foi maior, pode multiplicar por 10. Muita gente querendo se adequar à legislação”.

Extintor de água“Às vezes, existem coisas erradas. As

pessoas têm a falsa sensação de segurança. Já vi locais em que, próximo do palco, tem extintor de água. Se acontecer um curto cir-cuito, você está colocando os frequentado-res em risco. Não basta enxergar o extintor e achar que ele está te dando segurança”.

Casas noturnas“Em casas noturnas, um dos problemas

é que, às vezes, os frequentadores, em meio à euforia, rompem os lacres de extintores. A sinalização é coberta por enfeites, somem placas de saída. A manutenção do sistema de iluminação não é feita, há baterias vicia-das. A comanda é um problema, as saídas são fechadas para que ninguém saia sem pagar. Eu sempre sugiro o sistema pré-pago, você paga um valor e vai descontando à medida que for consumindo. A obstrução nas saídas é muito comum. Os bombeiros fiscalizam com elas abertas e, no dia de funcionamento, estão fechadas”.

Seguranças qualificados“Os seguranças precisam ter treinamen-

to para saber verificar os equipamentos, ver se as saídas de emergência estão de-sobstruídas e sinalizadas, se a iluminação funciona. Porém, o segurança geralmente é contratado para que, se alguém perturbar, seja retirado do ambiente. Mas não é só para isso, tem que saber usar o extintor de incêndio, por exemplo. A formação dele tem que ser plena”.

Orientação “Uma das primeiras coisas que ensinei

para meus filhos foi que quando entrarem em qualquer ambiente verifiquem onde está a saída, a altura das janelas, se tem grades. E para que fique próximos às por-tas de saída e emergência”.

Algumas dicas daquilo que as pessoas devem prestar atenção numa boate, segundo Gilmar Do-nida

- Sinalizações de saída, as rotas de saída;

- Iluminação de emergência;- Extintor portátil dentro da valida-

de, com pressão (ponteiro no verde);- Verificar se nas rotas de saídas não

estão obstruídas;- Sempre que o número de pessoas

estiver ultrapassando o limite, aban-done o local ou fique próximo à saída;

- Qualquer princípio de incêndio deve ser informado ao segurança e se dirigir em direção à saída;

- Se algum dia você se deparar com princípio de incêndio que inale uma grande quantidade de fumaça, fique próximo ao chão, onde tem ar mais puro;

- Umedecer um pano com água e levar ao nariz, facilita e ajuda a filtrar o ar até chegar à saída;

FIQUE ATENTO

AUMENTA A PROCURA POR ORIENTAÇÃO SOBRE PREVENÇÃO DE INCÊNDIOS

Tão logo tomou conhecimento das primeiras informações sobre a tragé-dia em Santa Maria, ainda na manhã de domingo, o encantadense Rodrigo Macari, 29 anos, não pensou duas vezes e se deslocou para lá. Enfermei-ro formado e estudante de Medicina da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), ele chegou às 22h30min para atuar como voluntário. “Era um clima tão pesado, tinha tanta gente, parecia que tinha dado uma guerra. Uma imagem que me marcou foi ver o caminhão frigorífico do Exército parado. Os corpos estavam todos em-pilhados dentro do caminhão. Chegou um ponto que não tinha mais caixão na cidade, nem nas cidades vizinhas. Então tiveram que deixá-los dentro do caminhão até chegar novos caixões para fazer o reconhecimento”, conta.

Outro momento impactante foi entrar no ginásio e ver 30 caixões perfilados. “Era muito desespero, muito choro, histeria. Uma cena de filme de terror. Fiquei muito choca-

do”.Maccari trabalhou no atendi-

mento dos familiares até as 8h de segunda-feira (28). Ele prestou aten-dimento a umas 20 pessoas, entre elas, uma senhora que perdeu dois filhos, a nora e o sobrinho. “Ela estava num estado de choque tão marcante que ela olhava para o além como se não visse nada, totalmente desnorte-ada. Fazia menção de desmaiar e se entregar”.

O estudante viu de perto o estado dos corpos. “Muitos morreram pisoteados, não tinham queimadu-ra. Outros com a ponta dos dedos lesionada. Tentaram cavar a parede com os dedos para fugir. Foi muito chocante”.

Ele revela que jamais imaginava passar por uma experiência como a de Santa Maria. “Não dá para definir o que é. É muito mais que tristeza, dor. Mas tentei me colocar no lugar das famílias, dos amigos, por isso fui até lá para ajudar”.

Donida tem quase 30 anos de experiência no ramo

UM ENCANTADENSE ENTRE OS VOLUNTÁRIOS

Rodrigo Maccari

Rodrigo fez a foto da boate Kiss após a tragédia

“Ela estava num estado de choque tão marcante que ela olhava para o além como se não visse nada, totalmente

desnorteada. Fazia menção de desmaiar e se entregar”,

Rodrigo atendeu uma senhora que perdeu dois filhos, a nora e o sobrinho

O enfermeiro Rodrigo Maccari (2º da esquerda para a direita) se deslocou no domingo para Santa Maria. Na foto, com os colegas voluntários

Page 13: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013

13JORNAL OPINIÃO n 1º de fevereiro de 2013REPORTAGEM ESPECIAL/GERAL

Na terça-feira, o prefeito em exercício José Calvi, o secretário de Administração, Fredi Camargo, e o presidente da Câmara de Vereadores, Jonas Calvi, reuniram-se com os sargentos Claiton Ritt e Vanderlei Rodri-gues, responsáveis pela fiscalização em Encan-tado.

Segundo José Calvi, os bombeiros prometeram fazer um pente-fino em todos estabelecimentos. “Como gestor público, precisamos nos preo-cupar com a população. Queremos proporcionar lugares de lazer para nossa juventude para que não precisem se deslocar para outras cidades. Mas precisamos deixar esses ambientes seguros para todos”, comentou o prefeito. Uma reunião com o comandante regional dos bombei-ros também será agendada. “Não estamos interessados na busca de pessoas ou entidades/órgãos culpados, mas sim, se temos a possibilidade de contribuir na pre-venção, vamos fazer”, comentou Jonas.

Vistoria geralO Sargento Ritt comentou que, num primeiro mo-

mento, a vistoria está sendo feita nas casas noturnas. Porém, depois, a ideia é estender para todos estabele-cimentos. “Precisamos ampliar o debate. Não só casas noturnas, mas salões comunitários, prédios comerciais, residenciais”, alertou.

VISTORIA GERAL EM TODOS ESTABELECIMENTOS, NÃO SÓ NAS BOATES

Primeira conversa aconteceu nesta semana

Um incêndio de grandes propor-ções deixou mais de 230 mortos na madrugada do domingo, em Santa Maria. O incidente, que começou por volta das 2h30, ocorreu na Boate Kiss, na rua dos Andradas, no centro da cidade. O Corpo de Bombeiros acredita que o fogo tenha iniciado com um artefato pirotécnico lançado por um integrante da banda que fazia show na festa universitária.

Segundo um segurança que trabalhava no local, muitas pesso-as foram pisoteadas. “Na hora que o fogo começou, foi um desespero para tentar sair pela única porta de entrada e saída da boate, e muita gente foi pisoteada. Todos quiseram sair ao mesmo tempo e muita gente morreu tentando sair”, contou. O local foi interdita-do e os corpos foram levados ao Centro Desportivo Municipal, onde centenas de pessoas se reuniam em busca de informações.

A prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias e anunciou a contratação imediata de psicólogos e psiquiatras para acompanhar as famílias das vítimas. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde se reuniu com o governador Tarso Genro e paren-tes dos mortos. A tragédia gerou

uma onda de solidariedade tanto no Brasil quanto no exterior.

Os feridos graves foram dividi-dos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas. Na segunda-feira (28), quatro pessoas foram presas tem-porariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Sphor, conhe-cido como Kiko, e Mauro Hoffman, e

dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investigava documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergiam sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem var-reduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabeleci-mentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio

COMO FOI A TRAGÉDIA em santa maria

RECUPERAÇÃODos 87 pacientes feridos em Santa Maria que permanecem internados em UTIs em diversas cidades, 11 já respi-

ram sem a necessidade de ventilação mecânica. A informação foi divulgada durante entrevista na manhã de ontem (30), pelo secretário estadual da Saúde, Ciro Simoni.

Deivid Dutra / Jornal A Razão

Diogo Daroit Fedrizzi

Encantado - O ad-vogado Luciano Sandri tomou posse na segunda-feira (28) na presidência da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), subseção de Encantado. A entidade conta com 134 advogados inscritos.

Com 17 anos de profissão, Sandri pre-tende dar sequência aos trabalhos iniciados nas gestões de Celso Herold e Sebastião Silveira. Ele in-tegrou as duas diretorias e salienta que elas sempre estiveram em sintonia com questões relativas aos interesses dos filiados e também da comunidade.

“Nessa nova gestão verificamos a necessi-dade de incorporar uma programação um pouco mais intensa com os nos-sos colegas advogados, seja no aspecto de dis-cussão sobre o futuro de nossas atividades, seja na oportunização de pales-tras e cursos de aperfei-çoamento em matérias de interesse da classe, onde todos terão a oportuni-dade de opinar e sugerir previamente sobre estes rumos”, projeta.

Sandri entende que a OAB não deve se ater somente em atender os anseios dos filiados, mas ampliar a sua atuação. “A entidade tem sim um compromisso com a sociedade em se fazer presente em todas as questões que invoquem o interesse do cidadão de bem, garantindo-lhe a todos a manutenção do estado de direito demo-crático”, aponta.

Segundo ele, algumas

ações de interação com o interesse coletivo já estão sendo praticadas. Uma delas é a luta pela im-plantação da 3ª Vara para a Comarca de Encantado. “Atualmente possuímos um número exorbitante de aproximadamente 25 mil processos, que são administrados por duas juízas. Se compa-rarmos com o Foro da Comarca de Lajeado, que conta com cerca de 30 mil processos, são seis juízes atuando”, salien-ta. “Também buscamos que esta Comarca tenha qualificação de entrância intermediária (atualmen-te entrância inicial), fato que valorizará profissio-nal e financeiramente todo o quadro funcio-nal do judiciário local, fazendo com que estes servidores se fixem mais nesta cidade. Tenho que reconhecer e enaltecer publicamente que esta luta possui a parceria do Judiciário local e do Ministério Publico”.

O presidente da OAB destaca ainda reuniões e visitas ao Chefe de Polícia do RS, delegado Ranolfo Vieira Júnior, e a conquis-ta de dois policiais civis para a DP local. “Para que o delegado João Peixoto possa exercer um atendi-mento digno, necessitaria no mínimo uns 15 poli-ciais e, atualmente, pos-sui uns cinco servidores, sendo que destes, dois estarão se aposentando no decorrer do ano, ou seja, retornaremos ao número de três policiais”, comenta. “Vamos con-versar novamente com o delegado Ranolfo a fim de pleitear a vinda de mais efetivo”.

Presidente: Luciano SandriVice-Presidente: Nei Antônio Di DomenicoSecretário-Geral: Raquel CadoreSecretário-Geral Adjunto: João Fernando VidalTesoureiro: Darjela CalviConselheiros Titulares: Clarice Bos Conzatti, Alvoir Le-andro Araújo, Rafaela Calvi Echer, Alex Sandro Herold, Sebastião Lopes Rosa da Silveira e Guntavo Hentges Re-decker.Conselheiros Suplentes: Fabiane Giongo Conzatti, Va-nessa Zanini, Everaldo Cardoso da Silva, Frank Andrea Lang, Reinaldo José Cornelli e Felipe Bergamaschi.

DIRETORIA

Luciano Sandri assume presidência da OAB

Juremir Versetti

Luciano Sandri (centro) com integrantes da diretoria

Page 14: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013
Page 15: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013
Page 16: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013
Page 17: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013

17JORNAL OPINIÃO n 1º de fevereiro de 2013GERAL

Porto Alegre - Na quarta-feira aconteceu o ato de inaugu-ração do escritório regional da União dos Vereadores do Brasil (UVB), em Porto Alegre. A ceri-mônia reuniu autoridades mu-nicipais e estaduais, entre eles vereadores e deputados.

Entre os presentes na sole-nidade, o presidente da Assem-bleia Legislativa, Alexandre Pos-tal, parabenizou o presidente da UVB pelo ato. “Nada se constrói sem seu endereço”, disse.

O presidente da entidade e vereador de Iraí, Gilson Conzat-ti, lembrou que a União dos Ve-readores chega aos 48 anos de trabalho representando mais de 56 mil legisladores municipais do país. “O Rio Grande do Sul por ter o presidente da UVB se credencia a sediar este espaço”, afirmou destacando que o papel da entidade é qualificar e capacitar o vereador. “O vereador não serve só para aprovar ou rejeitar projetos, nós po-demos mais”.

O escritório regional na capital gaúcha fica na rua Jerônimo Coelho, nº 22, perto da praça da Matriz e da Assembleia Legislativa.

Debates Pelo BrasilNeste ano, a UVB promoverá um ciclo de debates

pelo brasil. As discussões têm como objetivo reunir vere-adores, gestores, assessores e servidores das câmaras do país, representantes dos poderes executivos, além de es-pecialistas em gestão pública, estudantes e personalida-

des políticas e administrativas, de amplo conhecimento dos temas debatidos, para fortalecer o poder legislativo e pensar o Brasil com uma visão municipalista.

O primeiro encontro ocorrerá em Porto Alegre nos dias 13,14 e 15 de março, na rua dos Andradas, nº 1234, no 8º andar.

PresençasParticiparam da cerimônia o presidente da Uvergs,

Antônio Baccarin; os deputados Zilá Breitenbach (PSDB), Pedro Westphalen (PP), Edson Brum (PMDB) e Giovani Feltes (PMDB); o presidente da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, Thiago Duarte; o presidente da UCM-MAT (Mato Grosso), Unírio Schirmer; o presidente da AVEVI (SC), Walmor Pianezzer, o superintendente-geral da Assembleia Legislativa RS, Fabiano Geremia, o coor-denador do Espaço do Vereador na ALRS, Noé Angelo de Mello, entre outras autoridades.

A nova Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul tomou posse ontem (31), em sessão solene, no Plenário 20 de Setembro do Palácio Farroupilha. O deputado Pedro Westphalen (PP) assumiu a presidência para a gestão 2013-2014 (período entre 31/01/2013 e 31/01/2014).

Minuto de silêncioO deputado Alexandre

Postal (PMDB), presidente do Parlamento gaúcho na gestão 2012-2013, fez a abertura da sessão sole-ne e, após a execução do hino nacional, anunciou a realização de um minuto de silêncio em memória das vítimas do incêndio ocorrido no final de semana em Santa Maria.

Chapa únicaEm seguida, por apro-

vação unânime, com 43 votos favoráveis, foi eleita a

chapa única inscrita para a condução da Mesa Direto-ra no terceiro ano da 53ª Legislatura.

Postal destacou que, apesar de curto o período de um ano para a gestão na área pública, 2012 foi um ano em que houve avanços e realização de obras. Men-cionou que, no ano ante-rior, uma das marcas foi a transparência. Fez questão de destacar, ainda, que no período prevaleceu uma re-lação fraternal, pelo bem do Estado, entre os Poderes e instituições rio-grandenses.

Westphalen assegurou que pretende manter uma relação positiva com os po-deres Executivo e Judiciário e que não será um presiden-te partidário, de oposição ou situação. “Quero ser o elemento de ligação entre os poderes, respeitando as suas prerrogativas, para fazermos um trabalho profícuo para o Estado”, declarou.

Pedro Westphalen assume a Assembleia LegislativaUnião dos Vereadores do brasil

inaugura escritório em Porto alegreCaroline Rodrigues

Autoridades prestigiaram a solenidade na capital gaúcha

Tarso Genro, Westphalen e Postal

Page 18: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013
Page 19: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013
Page 20: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013

20 JORNAL OPINIÃO n 1º de fevereiro de 2013

Page 21: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013

21JORNAL OPINIÃO n 1º de fevereiro de 2013

Page 22: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013

22 JORNAL OPINIÃO n 1º de fevereiro de 2013

Page 23: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013

23JORNAL OPINIÃO n 1º de fevereiro de 2013

Page 24: Jornal Opinião 01 de fevereiro de 2013

Encantado, 1º de fevereiro de 2013

Lixão no navegantes pega fogoDurante a tarde de ontem (31), ocorreu incêndio

no bairro Navegantes, no local onde funciona um li-xão. O lugar é chamado por moradores das proximida-des como “buracão”. O fogo iniciou por volta das 14h.

O Sargento Jadir, do Corpo de Bombeiros de Encan-tado, comentou que a ocorrência é comum na região. “É um serviço que acontece com bastante frequência, às vezes temos dificuldade na chegada ao local para identificar o que ou quem provocou o fogo. Nosso trabalho é fazer a prevenção, fizemos valas para que o fogo não se alastre e atinja residências próximas”, explica. O local tem uma área considerável e continha muito lixo, fator que resultou na demora para ser apa-

gado, mesmo com o trabalho incessante dos bombei-ros. Uma retroescavadeira da Prefeitura de Encantado colaborou no isolamento do fogo.

O lixo estava misturado à vegetação. Com a seca, o risco de incêndio é bem maior.

O que teria motivado o incêndio seriam crianças que estavam brincando no local e teriam colocado fogo. Rapidamente o sinistro se espalhou resultando em uma enorme nuvem de fumaça que só se dissipou horas depois. O Corpo de Bombeiros contou com a ajuda da Brigada Militar de Encantado. De acordo com informações, essa não é a primeira vez que o lixão é local de sinistro.

Hen

rique

Ped

ersi

ni

Diogo Daroit Fedrizzi

Encantado - Valores utilizados pela Secretaria da Saúde de Encantado pautaram o discurso do líder da oposição, Cláudio Roberto da Silva (PMDB), na sessão de segunda-feira (28). Cláudio divulgou nú-meros que, segundo ele, estão publicados no site do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS) e refe-rem-se a 2012.

O peemedebista afir-mou que em maio foram repassados, em auxílios para a população, R$ 40 mil, em junho R$ 41 mil, em julho R$ 52 mil, em agosto R$ 58 mil, em setembro R$ 54 mil, em outubro R$ 39 mil, em novembro, R$ 400,00 e, em dezembro, nenhuma quantia. “Isso é uma afronta à inteligência. Em dezembro de 2010, por exemplo, foi R$ 10 mil, de-

zembro de 2011, R$ 32 mil, e em dezembro de 2012 nada. A população de En-cantado que julgue. Essa administração não tem moral nenhuma para falar em transparência. Trata-se de uma descarada compra de votos com dinheiro pú-blico, depois que passou a eleição, ninguém mais fi-cou doente”, atacou.

A situação contrapôs. Para Sander Bertozzi (PP), jamais houve desvio de dinheiro público. Segun-do ele, a administração de Paulo Costi fez muito para o município e citou, entre as conquistas, a construção de novos postos de saúde e o calçamento de várias ruas.

O líder do governo, Lu-ciano Moresco (PT), disse ao colega Cláudio que no mesmo site do TCE há um registro de um presidente do Poder Legislativo de En-cantado que teve as contas julgadas irregulares.

CÂMARA DE VEREADORESoposição estranha valores da secretaria de saúde

Rápidas da Câmara

- O presidente Jonas Calvi (PTB) disse que vai brigar para que a audiência pública da EGR para tratar dos pedágios seja realizada em En-cantado, e não em Lajeado.

- Gustavo Scatolla (PMDB) cobrou melhorias na rede de esgoto e citou o exemplo de descaso com o sistema localizado atrás da Rodoviária.

- Valdecir Gonzatti (PMDB) mostrou fo-tos em que aparecem moradores da Barra do Guaporé fazendo um mutirão de limpeza e tapa buracos nas estradas da localidade.

- Waldir Grooders (PTB) pediu que os redu-tores de velocidade na RS 129 sejam colocados numa distância maior em relação ao trevo de acesso do Bairro Santa Clara.

- Adroaldo Conzatti (PSDB) disse que em dois mandatos fez 600 quadras de calçamento e construiu 600 casas populares.

- Celso Cauduro (PMDB) pediu melhorias nas estradas de Linha Argola.

- Marcelo Deves (PT) disse que o TCE é que vai julgar se existe déficit real nas contas da prefeitura relativas ao ano passado.

Cláudio Roberto da Silva

Marcelo Deves

Fotos: Diogo Daroit Fedrizzi