jornal martim-pescador 135

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MAIO/JUNHO 2015 Número 135 Ano XI Tiragem 3.000 exemplares www. jornalmartimpescador.com.br Representantes da capatazia da Colônia de Pescadores Z-1 (acima) e da Associação de Pescadores José Tobias Barros na Vila dos Pescadores (à esquerda) em Cubatão se reúnem com representantes da Ultracargo para discutir danos causados pelo incêndio. Págs. 6 e 7 O cozinheiro Edson Batista Lopes da embarcação Marbella I dá sua receita especial de lula. Págs. 4 e 5 O biólogo Eduardo Malavasi fala sobre seu cruzeiro de pesquisa na embarcação Marbella I. Págs. 4 e 5 PESQUISA & AVENTURA

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Maio 2015 - Número 135 - Ano XI - Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo.

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Page 1: JORNAL MARTIM-PESCADOR 135

www.jornalmartimpescador.com.br

MAIO/JUNHO 2015Número 135

Ano XI

Tiragem 3.000exemplares

www. jornalmartimpescador.com.br

Representantes da capatazia da Colônia de Pescadores Z-1 (acima) e da Associação de Pescadores José Tobias Barros na Vila dos Pescadores (à esquerda) em Cubatão se reúnem com representantes da Ultracargo para discutir danos causados pelo incêndio. Págs. 6 e 7

O cozinheiro Edson Batista Lopes da embarcação Marbella I dá sua receita especial de lula. Págs. 4 e 5

O biólogo Eduardo Malavasi fala sobre seu cruzeiro de pesquisa na embarcação Marbella I. Págs. 4 e 5 PESQUISA &

AVENTURA

Page 2: JORNAL MARTIM-PESCADOR 135

Maio/Junho 20152

Av. Dino Bueno, 114 Santos - SP

CEP: 11030-350Fone: (013) 3261-2992www.jornalmartimpescador.com.br

Jornalista responsável: Christina Amorim MTb: 10.678/SP [email protected] e ilustração: Christina Amorim; Diagramação: cassiobueno.com.br; Projeto gráfico: Isabela Carrari - [email protected]

Impressão: Diário do Litoral Fone.: (013) 3226-2051Os artigos e reportagens assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal ou da colônia

EXPEDIENTE Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo

Presidente Tsuneo Okida

Av. Dino Bueno, 114 Santos - SP

CEP: 11030-350Fone: (013) 3261-2992www.jornalmartimpescador.com.br

Jornalista responsável: Christina Amorim MTb: 10.678/SP [email protected] e ilustração: Christina Amorim; Diagramação: cassiobueno.com.br; Projeto gráfico: Isabela Carrari - [email protected]

Impressão: Diário do Litoral: Fone.: (013) 3226-2051Os artigos e reportagens assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal ou da colônia

EXPEDIENTE Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo

Presidente Tsuneo Okida

DefesosCamarão-rosa (Farfantepenaeus paulensis), camarão-branco (Litopenaeus schmitti), camarão-sete-barbas (Xiphopenaeus Kroyeri), camarão-santana

ou vermelho (Pleoticus muelleri), camarão-barba-ruça (Artemesia longina-ris)- 01/03/15 a 31/05/15

Caranguejo-uçá (Ucides cordatus) proibição de pesca no Decreto SMA 60.133 de 07/02/2014- Exceções ao Decreto na resolução SMA 02/2015

(conheça as leis na íntegra em www.jornalmarttimpescador.com.br legislação)Lagosta vermelha (Panulirus argus) e lagosta verde (P. laevicauda)

01/12/14 a 31/05/15

Tainha (Mugil platanus e Mugil liza) 15/03/15 a 15/08/15 (proibida em todas as desembocaduras estuarino-lagunares do litoral das Regiões Su-deste e Sul) A partir de 15 de maio, a temporada anual da pesca da tainha

será aberta somente no litoral, permanecendo fechada até 15 de agosto nas desembocaduras estuarino-lagunares. A proibição não se aplica à pesca

com tarrafa. (veja Instrução Normativa 171 9/5/2008 em www.jornalmar-timpescador.com.br legislação)

Sardinha-verdadeira (Sardinella brasiliensis) (Traineiras) 01/11 a 15/02/2015 (desova)

15/06 a 31/07/2015 (recrutamento)Parada da frota de emalhe de fundo >20 AB Região SE/S 15/05 a 15/06

Moratórias Cherne-poveiro (Polyprion americanus) 06/10/2005 a 6/10/2015

Mero (Epinephelus itajara) 17/10/2012 a 17/10/2015Tubarão-raposa (Alopias superciliosus)- tempo indeterminado

Tubarão galha-branca (Carcharinus longimanus)-tempo indeterminadoRaia manta (família Mobulidae) - tempo indeterminado

Marlim-azul (agulhão-negro) – Makaira nigricans- comercialização proibidaMarlim-branco (agulhão-branco) - Tetrapturus albidus –

comercialização proibida

Concessão de licença temporária para captura de caranguejo é

discutida na Apa Marinha

Site traz informações da pesca

A atual situação dos tra-balhos referentes à solicitação de licenças temporárias de captura do caranguejo-uçá (Ucides cordatus) a caran-guejeiros do Litoral Centro, foi apresentada na reunião de 16 de abril do Conselho Gestor da Apa Marinha Li-toral Centro-APAMLC. A possibilidade da obtenção das licenças foi solicitada por pescadores artesanais diante da proibição da cap-tura do caranguejo-uçá pelo Decreto da Secretaria do Meio Ambiente no 60.133/2014. O pedido está baseado no precedente de uma liberação parcial de captura autorizada

no Litoral Sul.O deputado estadual Caio

França (PSB), presente na reunião, prestou solidariedade aos caranguejeiros da região. Citou a liberação parcial con-quistada pelo Litoral Sul e se comprometeu a emprestar o apoio político para que o mesmo êxito seja obtido no Litoral Centro. Afirmou, ain-da, que não há diferenciação de tratamento entre as regiões sul e centro do litoral de São Paulo, e que, com o material técnico-científico em mãos, ele terá poder de ação. Fran-ça teve ativa participação no movimento que os pescadores do litoral Sul empreenderam

para conquistar a referida liberação.

O gestor da APAMLC, Paulo Garreta Harkot, falou sobre o andamento do relató-rio técnico feito em associa-ção com Instituto de Pesca e a UNESP, para embasar e justificar a solicitação das licenças provisórias e temporárias para captura do caranguejo-uçá, tendo em conta o nível dos estoques desse crustáceo no Litoral Centro. O relatório depois de finalizado será repassado ao conselho para leitura. Paulo citou a discussão ocorrida na última reunião da CT Pesca, que resultou em uma ficha de

cadastro de caranguejeiros para mapeamento e caracte-rização da população caran-guejeira do Litoral Centro, assim como a solicitação de um parecer técnico do professor Marcelo Pinheiro, especialista em crustáceos, da UNESP, indicando que a densidade populacional de caranguejos-uçá nos man-guezais do Litoral Centro não condiz com a afirmação de que a espécie esteja ame-açada. Essas informações servirão para compor um documento solicitando a libe-ração de licenças temporárias e provisórias aos catadores que dependem desse recurso.

DefesosMoratórias

Informações pesquei-ras sobre o litoral paulista podem ser obtidas no site lançado em fevereiro pelo Instituto de Pesca de Santos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. O site do Programa de Monitoramen-to da Atividade Pesqueira Marinha e Estuarina do Es-tado de São Paulo - PMAP está indicado na página da Estatística Pesqueira no site do Instituto de Pesca (www.pesca.sp.gov.br ou www.pesca.sp.gov.br/estatistica.php e www.propesq.pesca.sp.gov.br) e disponibiliza ao público informações sobre o

Programa e todos os núme-ros do Informe Pesqueiro de São Paulo, publicação que traz a consolidação mensal da produção pesqueira des-carregada por município, aparelho de pesca e espécie, além de informações sobre as espécies capturadas e sobre a pesca de cada muni-cípio. As informações têm por objetivo dar visibilidade ao setor pesqueiro demons-trando sua importância e contribuem assim para o desenvolvimento sustentá-vel da atividade pesqueira.

O monitoramento da atividade pesqueira marinha é realizado pelo governo do

Estado de São Paulo desde 1944. Seu início foi o resul-tado os esforços empregados do Brasil após a publicação do Código de Pesca de 1938 (Decreto-Lei 794 de 19 de outubro de 1938), onde já se apontava para a necessi-dade da coleta sistemática de dados de produção e esforço pesqueiro. No início da dé-cada de 1940 foi elaborado o plano nacional de pesquisa ictiológica conduzido pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro sob a orientação do professor George Sprague Myers, da Universidade de Standford (EUA). Naquela época em São Paulo o mo-

nitoramento era realizado pela Divisão de Proteção e Produção de Peixes e Ani-mais Silvestres.

O Instituto de Pesca, criado em 1969, tem man-tido a coleta de dados de forma ininterrupta e é re-ferência em todo o Brasil. Tradicionalmente a coleta de dados era realizada em Ubatuba, Santos/Guarujá e Cananeia. Em 2008 a rede de coleta de dados foi expan-dida para todos municípios costeiros do Estado de São Paulo. São 215 locais de descarga em 16 municípios costeiros do Estado, de Uba-tuba a Cananeia.

Você que é ligado em Educação, conheça a Zuzo Bem Contação

de Histórias. A iniciativa tem o aval da Secretaria de Educação de

Santos para a realização do Projeto Santorias (histórias de Santos) e outras

Histórias nas escolas públicas da cidade. O objetivo é aproximar o

aluno do mundo literário e da história da cidade de Santos.

www.zuzobemhistorias.wordpress.comEstela e Raphael(013) 3284-1997

(011) 9 9216-9926(013) 9 8203-9452(011) 9 9216-9926

Comunicado

APA Marinha Litoral Sul

Novos Períodos de pesca da Tainha APA Marinha Litoral Sul COMUNICADO

(Mugil platanus e Mugil liza)

PERÍODO EM QUE A PESCA É PERMITIDA I- Cerco: entre 1º de junho e 31 de julho

II- Emalhe de Superfície e anilhado: entre 15 de maio e 31 de julho III- Desembarcado ou não motorizado: entre 1º de maio e 31 de julho

APA Marinha do Litoral Sul / ARIE do Guará Prof. Vladmir Besnard, s/n, Morro São João, Cananeia (SP) Tel.: (13) 3951-1163 ou 3851-1108 E-mail: [email protected]

Portaria Interministerial nº 4, de 14 de Maio de 2015

Esta norma não se aplica à captura da tainha com tarrafa,

nem à pesca em áreas estuarino-lagunares

* Define-se como desembocaduras estuarino-lagunares as áreas entre 1000 m da barra para fora (em direção ao oceano), 200 m da barra para dentro (sentido canal) e 1000 m nas margens laterais.

Fica Proibida: - A pesca fora dos períodos estabelecidos acima;

- Pesca em *Desembocaduras estuarino-lagunares entre 15 de março e 15 de setembro;

- Pesca de Cerco a menos de 5 milhas náuticas da costa; - Pesca desembarcada à 150 metros de costões, ilhas, lajes e

praias utilizando calões e estacas; - Pesca embarcada de emalhe na 1ª milha náutica.

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Maio/Junho 2015 3

“O caiçara às vezes faz do café um almoço”, afirma Ismael Teixeira da Silva, nascido em 1947 na Barra do Sahy em São Sebastião. Filho de pescador, Ismael foi criado segundo a tradição caiçara. Assim, lembra-se que o café da manhã que seu pai tomava antes de sair para a pesca era reforçado: café preto, farinha de mandioca e muitas vezes beiju ou mes-mo peixe. Essas lembranças de infância e muitas outras ele tem vívidas na memória de uma vida muito boa à beira-mar. Embora tenha se mudado para São Paulo para aprender mecânica e náutica, Ismael voltou para seu lugar de nascimento onde hoje tem uma oficina mecânica. Os hábitos alimentares dos pescadores da praia onde nasceu ele se lembra muito bem. “Meu pai pouco al-moçava, à noite gostava de jantar aipim”, afirma. O pai, Sedião Teixeira da Silva, também nascido na Barra do Sahy, além de pescador era carpinteiro artesanal, fazia canoas. A mãe, Rita Maria da Conceição, nascida na praia da Baleia, preparava os pratos caiçaras tradicionais no fogão a lenha. Além do

pescado, a roça complemen-tava o cardápio do dia a dia. “Minha mãe ia todo dia para a roça carpir”, lembra-se. O pai também ajudava. “Eles trabalhavam em igualdade”, explica. “Ali se plantava mandioca, café, cará, bana-na branca, ouro e maçã, e na parte mais encharcada, arroz”, complementa. A fa-rinha de mandioca era pro-duzida de maneira artesanal na casa de farinha.

O pai, Sedião, trazia va-riados peixes em sua canoa a vela. Com ela chegava até a Ilha do Montão de Trigo, onde fazia muita pesca de linha de fundo, pegando garoupa e sargo. No corri-co pescava ainda anchova, xarelete, bicuda e cavala. “Meu pai salgava o peixe e pendurava no varal quase todo o dia para secar ao sol”, afirma, explicando que essa era a única maneira que os antigos tinham de conservar o pescado. “Naquela época, não existia estrada, condu-ção era o barco que fazia trajeto de Ubatuba a Santos”, recorda. A embarcação ia passando perto praia, o mo-rador levantava um bambu com pano branco para avisar que queria embarcar. “Ia na

canoa de madeira e ia tam-bém em traineira grande que levava pessoa, passarinho, banana”, lembra-se Ismael, dizendo que até traziam muito passarinho bonito, como saíra-7-cores, tié--sangue, tucano, já que na época não havia proibição. O barco entrava pelo Canal de Bertioga para chegar à bacia do mercado de Santos, onde descarregava as merca-dorias. Muitas das tradições caiçaras se perderam, mas a esposa Danielza, com quem se casou aos 21 anos e teve três filhos, ainda prepara tradicio-nal azul-marinho, prato que reúne o peixe à banana nanica verde. Os filhos, Ismael, 43, Clayton 42, Silvia Karla, 39, mudaram-se para São Paulo, mas Ismael não quer abando-nar a praia onde nasceu. Voltar a morar na Barra do Sahy é uma prova de sua ligação com o mar e o local onde passou sua infância. Tempo ainda do fogão a lenha, da roça, e outras tantas coisas simples como surfar em minúsculas canoas, brincadeira da crian-çada da época. Essas boas recordações e a qualidade de vida na Barrar do Sahy tra-zem um bom filho de volta à terra onde nasceu.

O bom filho à terra volta

Carência para recebimento de seguro-defeso vai mudar

Com a aprovação no Senado da Medida Provisória 665 proposta pela presidente Dilma Rouseff, a regra para recebimento do seguro-defeso será alterada. O texto agora segue para a sanção da presidente. O seguro--defeso é o salário que o pescador recebe durante a parada da pesca para a proteção de determinadas espécies, como camarão e marisco. Segundo a medida será necessário que o registro de pescador profissional--RGP tenha antecedência mínima de três anos, contados da data do requerimento do benefício. Anteriormente o prazo era de um ano. A medida diz também que o pescador

profissional artesanal não fará jus a mais de um benefício de seguro-desemprego no mesmo ano decorrente de defesos re-lativos a espécies distintas. Para fazer jus ao benefício, o pescador não poderá estar em gozo de nenhum benefício decorrente de programa de transferência de renda com condicionalidades (bolsa família, por exemplo) ou de benefício previdenciário ou assistencial de natureza continuada, exceto pensão por morte e auxílio-acidente.

O texto-base da medida provisória res-tringe o acesso a direitos trabalhistas como o seguro-desemprego, o abono salarial e o

seguro-defeso. O seguro-desemprego era concedido após seis meses de trabalho inin-terrupto antes da demissão. Com a Medida Provisória 665 o período de trabalho passa a ser de um ano na primeira solicitação, nove meses na segunda e seis meses na terceira. O governo pretende reduzir gastos em R$ 5 bilhões este ano com as medidas trabalhista e previdenciária. Apesar de um bloqueio de R$69,9 bilhões no orçamento, o governo federal prevê gastar neste ano mais do que gastou em 2014. Estão programados gastos de R$1,1 trilhão, cerca de R$100 bilhões acima dos gastos do ano passado.

O peixe não é bom só para adultos, mas também para as crianças, por ser um alimento que oferece muitos benefícios à saúde. Neste alimento são encontrados muitos nutrientes como proteínas, ferro, minerais e ácidos graxos do tipo ômega-3. Este último, nos adultos está relacionado à redução de riscos cardiovascu-lares, e nas crianças atua no desenvolvimento do sistema nervoso central e da retina.

Alguns nutricionistas recomendam que o pescado seja oferecido às crianças a partir dos sete meses, outros especialistas, no entanto, aconselham ministrar a partir do primeiro ano de vida, dando preferência à carne de cor branca, como linguado, pescada por serem considerados peixes magros, de sabor e odor agradáveis e possuírem pouco espinho. Para as crianças adquirirem este hábito de forma natural é importante que no cardápio da família o peixe faça parte do comer bem. Geralmente, os pais quando não gostam de um determinado alimento colocam resistência para oferecer ao filho e esta forma de restrição é transmitida aos filhos sem querer. Para que as crianças pequenas comam peixe desde cedo é necessário apresentá-lo em forma de "papinha salgada" e aos poucos podem se incluir pequenos peda-ços, pois nessa idade geralmente os bebês já conseguem mastigar. A quantidade deve ser pequena até alcançar 50g, porém é aconselhá-vel a procura de um pediatra para uma melhor orientação.

O pescado fresco deve ser adquirido de local limpo e higiênico para evitar con-taminação. Caso esteja congelado deve ser descongelado dentro da geladeira e o prato deve ser preparado para consumo imediato. Outro cuidado é com os espinhos e para que sua presença seja evitada, deve-se vasculhar a porção servida. Apesar de se tratar de um rico alimento, pode causar reações alérgicas, por-tanto é sempre recomendado ter precauções ao alimentar as crianças. Deve-se dar preferência à forma assada, grelhada ou cozida. As frituras devem ser evitadas e a carne crua ou mal cozida nunca deve ser oferecidas às crianças.

Augusto Pérez Montano - Médico Veterinário, membro da Comissão de Aquicultura do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo

Peixe, alimento ideal para crianças

Ismael Teixeira da Silveira conta de sua infância na Barra do Sahy e as boas lembranças que o trouxeram de volta ao seu local de nascença

Ismael fala da cultura caiçara

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Coluna

OUVIDORIA EMBRAPORT: 0800 779-1000

[email protected] www.terminalembraport.com.br

Pelotão da Embraport nos 10 KM Tribuna coleta latas de

leite em pó para APAE de Santos

Com o objetivo de conciliar a prática esportiva com ações de voluntariado, a Embraport, maior e mais moderno terminal portuário privado do país, instalado na margem esquerda do Porto de Santos, reuniu os inscritos para a prova dos 10 KM Tri-buna para uma ação social chamada “Pelotão da Solidariedade”.

Ao longo dos meses de março e abril, os participantes arrecadaram mais de 340 latas de leite em pó, que somam mais de 200 quilos do alimento, os quais foram doados para a APAE de Santos.

A iniciativa faz parte do Programa de Voluntariado criado pela empresa no ano passado e que estimula que os integrantes dediquem parte de suas horas de trabalho para participar de ações voluntárias em prol de causas sociais e ambientais junto à comunidade da região.

Esta será a quarta participação da Embraport na prova de pedestrianismo mais famosa da região e a segunda vez que a empresa une o evento ao seu Programa de Voluntariado.

Edson e a culinária de

alto-mar

Apesar de ter nascido longe do mar, em Ituiutaba, Minas Gerais, Edson Batista Lopes logo se adaptou aos pratos com frutos do mar. Trabalhando como cozinheiro há 19 anos em barcos de pesca e navios cargueiros, aprendeu a criar suas próprias receitas. Como cozinheiro do Mar-bella I prepara alguns pescados que são capturados no barco, como meca, dourado, lula e peixe-lua. Aí vão duas receitas de simples preparo que são apreciadas a bordo do Marbella I. A receita da lula foi feita com um exemplar pescado no barco, com 1,30 metro de comprimento e 5 quilos de peso, muito difícil de ser encontrada no mercado. Assim o prato pode ser feito com lulas de tamanho médio ou mesmo pequeno.

Lula Pescada no Marbella IIngredientes:1 lata de polpa de tomate5 lulas médias limpas, cortadas em rodelas1 pitada de pimenta-do-reino 50 ml de leite de coco3 colheres (sopa) de óleo2 cebolas e 2 tomates picados cheiro-verde picadosal a gosto

Preparo: Refogar a cebola e acrescentar os tomates. De-pois que os tomates desmancharem, acrescentar a lula e o sal. Colocar a polpa de tomate. Depois de 5 minutos, acrescentar o leite de coco, deixar por alguns minutos. Misturar o cheiro--verde e levar ao forno por 10 minutos. Servir com arroz.

Estrogonofe de mecaIngredientes:1 kg de meca cortada em cubosóleo de sojacheiro-verde e coentro picados a gosto1 cebola picada1 vidro de leite de coco1 lata de creme de leite (sem o soro)Sal a gosto

Preparo: Refogar a cebola e acrescentar a meca. Adicio-nar coentro e cheiro-verde e leite de coco, salgar e deixar por 10 minutos. Tirar todo o excesso de água do creme de leite e adicionar. Já está pronto para servir.

O cozinheiro Edson preparou as lulas no capricho

O pescador Tenório com as lulas pegas com garateia no Marbella I

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VIAGEM INCRÍVEL

Christina Amorim

Vinte dias em alto-mar sem avistar um pedacinho de terra pode ser uma excepcional experiência profissional e de vida para um biólogo. Carlos Eduardo Malavasi Bruno, 35 anos, viveu essa aventura ao embarcar no dia 26 de março no barco comercial atuneiro Marbella I em Itajaí, Santa Catarina. Ao chegar de volta ao píer dia 16 de abril, trazia consigo mais do que as amostras coletadas para sua tese de doutora-do. “O aprendizado feito através da convivência com os pescadores foi muito importante”, afirma o biólogo. “Aprendi muito com eles, a vida deles é o mar”, explica referindo-se a uma modalidade de pesca comercial em que o pescador fica 20 dias no mar e cerca de cinco em terra. “A viagem inteira foi incrível, conheci

pessoas que possuem um conheci-mento que não se aprende em lugar nenhum”, conclui. “Os pescadores observaram que as aves marinhas só aparecem próximas ao barco quando vai esfriar e quanto mais frio, mais aves marinhas aparecem”, exempli-fica. A previsão do tempo também faz parte do conhecimento destes profissionais. “Um dia o pescador Massa Bruta me disse que o mar estava subindo e que no dia seguinte ninguém ia ficar em pé no convés”, relata Eduardo. “No outro dia não coloquei o pé no convés, pois não dava para se equilibrar”, lembra-se.

Eduardo, mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina Vete-rinária e Zootecnia da USP, coleta material para sua tese de doutorado sob a orientação do professor José Roberto Kfoury Junior e co-orientação de Alberto Ferreira de Amorim. O

objetivo é estudar o desenvolvimento dos órgãos linfoides nos embriões do tubarão-azul, Prionace glauca. Como esses órgãos pertencem ao sistema imunológico é importante descobrir em que estágio este sistema está pronto. “Um desenvolvimento mais rápido pode indicar uma necessidade de proteção mais urgente de defesa diante de um meio ambiente que apre-senta algum tipo de poluição”, explica Eduardo, que pretende finalizar seus estudos no final de 2016.

Além dos estudos da biologia, Eduardo se interessou em conhecer a rotina de pesca da embarcação Marbella I. O barco que pertence à Kowalsky Com. e Ind. de Pescado, tem 23 metros e leva nove tripulan-tes, capitão, contra-mestre, cozinhei-ro, maquinista, gelador e pescadores. A arte de pesca é o espinhel de meia água (longline), e captura tubarão-azul,

tubarão-anequim, meca (espadarte), atum e às vezes dourado. “A rotina de toda a tripulação começava cedo, o cozinheiro normalmente acordava as 3h para já deixar preparado o café da manhã”, conta Eduardo. “A minha rotina no barco era acordar as 5h30, junto com a tripulação, tomar café rá-pido, separar todo o material de coleta, como bisturi, pinças, lâminas, e ob-servar o recolhimento dos anzóis que começava nessa hora”, diz. “Quando o peixe era eviscerado eu aproveitava para fazer a coleta”, explica. O traba-lho muitas vezes ia até às 16h, seguido de um período de descanso.

Eduardo, que sempre teve fasci-nação pela vida marinha, encontrou na pesquisa sua realização completa. Hoje já se prepara para uma nova viagem, para mais coletas, procuran-do assim trazer mais conhecimentos sobre a biologia do tubarão-azul.

As funções dentro do barco atuneiro Marbella I são:- Capitão (Heriberto Solino)

- responsável por todos os tripulan-tes, determina o tempo de viagem, a quantidade de arremessos e o local da pesca.

- Contra-mestre (Seu Severo) - responsável pelos pescadores, o capitão passa as ordens para o contra-mestre executar junto aos demais tripulantes. Também é responsável pelo convés.

- Cozinheiro (Edson) - res-ponsável pela alimentação de toda a tripulação, tarefa muito importante principalmente quando depois do recolhimento colocava uma "delicia" (sobremesa) para a tripulação.

- Motorista – cuida da praça de máquina, esta função é dividida entre duas pessoas, o primeiro moto-rista (Fábio), era responsável pelos consertos no barco. O segundo ma-quinista (Tenório), era responsável por cuidar da praça de máquinas e eventuais consertos.

- Gelador – cuida do congela-mento do pescado, função também dividida entre o primeiro gelador e segundo; o primeiro gelador (Ramos), era responsável pelo armazenamento do peixe no porão (geladeira) e organização do pei-xe, o segundo gelador (Ricardo), também exercia a mesma função.

- Pescadores - (Massa Bruta, Ninho, Artur, Ricardo, Ramos e Tenório) - Essa função é exercida por todos os tripulantes, menos pelo mestre, contra-mestre, e pri-meiro maquinista. O pescador tem a função de trazer o peixe do mar e de evisceração.

Pescadores Tenório, Ninho, Edson, Ricardo, Massa e RamosRamos e o peixe prego, que pode ser usado no preparo do sashimi Pescadores Ninho, Ramos, Ricardo e Arthur

Trazendo a meca ... ... a bordo

Pescadores Massa Bruta (acima) e Tenório

Cozinha a bordo

Jogando a isca no mar Peixe Lua Hora do rango

O contra-mestre Seu SeveroMassa iscando com cavalinhaTrabalho em dia de mar bravo

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Maio/Junho 20156

Pescador, saiba quem tem direito à aposentadoria e amparo assistencial

Os “sem-peixe”

Aposentadoria do pescador artesanal – ter idade mínima de 60 anos para homem e 55 para a mulher, além da comprovação do efetivo trabalho como pescador(a) artesanal em regime de economia familiar por mais de 15 anos.

Aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença – estar pagando

o INSS há 12 meses ininterruptos (carência) ou ter registro em carteira de trabalho (contribuição pelo em-pregador) há 12 meses ininterruptos (carência), além de estar acometido por doença que incapacita para o tra-balho, com afastamento médico su-perior a 30 dias. No caso do segurado necessitar requerer auxílio-doença

atualmente (alteração a partir de 1º de março de 2015), o cálculo do benefício não poderá exceder a mé-dia das últimas 12 contribuições. E a empresa terá de pagar até 30 dias de afastamento. Pela nova regra (MP 664), o trabalhador só necessitará ser atendido pela perícia médica do INSS a partir do 31º dia.

Amparo assistencial ao porta-dor de deficiência física ou men-tal – estar acometido por doença/deficiência física ou metal que causa a incapacidade para o trabalho. Não há necessidade de estar pagando o INSS, mas não pode estar recebendo outro benefício do INSS (pensão por morte, por exemplo)

Amparo assistencial ao Idoso – ter idade mínima de 65 anos e não estar recebendo outro benefício do INSS (pensão por morte, por exemplo)

Fonte: Dr. Luiz Henrique da Cunha Jorge - advogado especia-lizado em Direito Previdenciário.

Órfãos dos peixes, pescadores do estuário de Santos lutam pela sobrevivênciaApós o impacto ambiental cau-

sado pelo incêndio nos tanques de combustível da Ultracargo, no bairro de Alemoa em Santos, pescadores tentam se adaptar à escassez de peixe no estuário. A coordenadora da Capatazia da Colônia Z-1 na Vila dos Pescadores em Cubatão, Santina Barros, explica que mes-mo conseguindo pegar um pouco de peixe o pescador não consegue vender, por ser de Cubatão. Marli Vicente, presidente da Associação de Pescadores José Tobias Barros afirma que os pescadores estão se sentindo muito órfãos. “O maior prejudicado do incêndio foi o pescador”, acredita Marli. Se o pescador de Cubatão que está

acostumado a trabalhar no estuário vai a um lugar mais distante para capturar o pescado, como Bertio-ga, o comprador não vai acreditar que é de lá. “As contas do mês que vencem, como vão pagar?”, questiona Marli.

O problema foi discutido em maio por uma Comissão Especial de Vereadores (CEV) de Cubatão com a presença de representantes da Ultracargo, Ministério da Pesca e Aquicultura, pescadores, entre outros. Como compensar os pes-cadores pelo prejuízo?

Diana Gurgel, do Ministério da Pesca e Aquicultura-MPA, explicou que não está no rol de competências da entidade este tipo de ação de

indenização, como por exemplo distribuição de cestas básicas. Para isso o MPA teria que acionar outros ministérios, como o de Desenvol-vimento Social e Combate a Fome (MDS). Isso seria uma possibilidade a ser estudada. “A indenização tem que ser feita pela empresa que cau-sou o acidente”, explica. “Para saber se o pescador tem direito a qualquer tipo de indenização é necessário ve-rificar se possui o Registro Geral de Atividade de Pesca-RGP, documento que dá direito de exercer a profis-são”, acrescenta. Como é sabido que muitas pessoas exercem a pesca de maneira informal, sem a devida docu-mentação, Diana explicou que o MPA se propôs em realizar uma ação dentro

das comunidades afetadas pelo acidente para emitir o documento de maneira emergencial àqueles que ainda não estão documentados. A ação foi proposta em resposta ao pedido da prefeita de Cubatão Marcia e Rosa e do Secretario do Meio Ambiente, Rafael de Abreu. Hoje, na Vila dos Pescadores há somente 37 pescadores artesanais documentados.

As pessoas afetadas pelo aci-dente aguardam uma definição de como será feita a compensa-ção pelo prejuízo causado pelo acidente. Enquanto isso, muitos pescadores já procuraram ad-vogados para entrar com ações na justiça. O advogado Roberto

Pugliese, do escritório Pugliese e Gomes Advocacia, fala sobre o andamento das causas. “Estamos ainda elaborando as demandas em favor dos pescadores da Baixada Santista contra a Ultracargo para buscar alimentos provisionais e indenizações decorrentes da ação poluidora”, explica. “Já tivemos experiências e êxitos no litoral de Santa Catarina, no litoral de São Paulo em algumas demandas que enfrentamos”, explica detalhando que o escritório atende há muitos anos a Colônia de Pescadores de Cananeia, a Cooperostra, a Coo-perbarcos, a Colônia de Pescadores de Anchieta e outras do Estado do Espírito Santo.

A coordenadora da capatazia da Colônia de Pescadores Z-1, Santina Barros, mostra o freezer vazio de peixes Cerca de 10 toneladas de peixes morreram após o incêndio da Ultracargo Cerca de 10 toneladas de peixes morreram

Gislene Rezende Burais

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A história se repete

Ultracargo se reúne com pescadores

No ano 2000, a Petrobras/Transpetro en-frentou dificuldades na hora de compensar os prejudicados com o vazamento ocorrido na Baía de Guanabara. A lição que ficou é que as empre-sas suscetíveis de causar danos ambientais de-vem ter um cadastro das pessoas que podem ser afetadas por suas ações, facilitando e agilizando esse pagamento. Em 2002 o Terminal Aquaviá-rio da Petrobras/Transpetro em Alemoa iniciou um cadastramento dos pescadores artesanais do Estuário de Santos (Santos/São Vicente, Cuba-tão, Guarujá e Bertioga). Na época a empresa viu a necessidade de ter um cadastro dos pes-cadores artesanais em atividade que poderiam ser afetados com possíveis acidentes, para poder indenizá-los. Como consequência, foi desenvol-vido um cadastramento na referida região com o apoio do Instituto de Pesca-IP de Santos, da Secretaria de Aquicultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, coordenado pelo professor Alberto Amorim do IP e o biólogo Wanderley Gefe da Petrobras/Transpetro. Esse cadastro foi baseado na indicação dos lideres de pesca e se encontra atualizado até 2010. Em 2003 e 2004 foram publicados dois artigos científicos descrevendo a situação socioeconômica dos pescadores artesanais desse estuário. Hoje, com o incêndio da Ultracargo em Alemoa o problema se repete. Na Vila dos Pescadores em Cubatão, uma das comunidades mais prejudicadas com o acidente, há apenas 37 pescadores artesanais ca-dastrado no Ministério da Pesca e Aquicultura. Há muitos profissionais praticando a profissão na informalidade e sem a carteira de pescador ficam sujeitos à apreensão de seus petrechos de pesca profissional pela Polícia Ambiental Polícia Ambiental, perdem o direito à aposen-tadoria, e benefícios sociais como aposentadoria rural, seguro-defeso, auxílio-natalidade, auxílio--enfermidade e auxílio-reclusão.

Os acidentes com impacto ambiental vem agravar uma situação de declínio da pesca que o Estado de São Paulo vem enfrentando desde a década de 90. Até os anos 80 a situação era de abundância. De meados da década de 1970 a 1984 foi observado um aumento das capturas. O fato era em decorrente das políticas públicas de estímulo ao setor pesqueiro, segundo dados do Instituto de Pesca de Santos, Instituto de Pesca de Santos. Nessa época a produção pes-queira paulista atingiu 131 mil toneladas, o que ocasionou a sobrepesca dos principais estoques pesqueiros e consequente queda da produção. Na segunda metade da década de 1980 e ao longo da década de 1990 foi observada uma queda abrupta das descargas em São Paulo, que chegaram a 25 mil toneladas em 1999. A pesca marinha do Estado de São Paulo manteve des-cargas anuais de 20 a 30 mil toneladas de 2009 a 2013, segundo dados do Instituto de Pesca de Santos. Diante do quadro atual de declínio, o pescador artesanal enfrenta dificuldades e os acidentes agravam a situação de sobrevivência destes trabalhadores.

Pescadores artesanais da Vila dos Pes-cadores em Cubatão estiveram presentes à primeira reunião de representantes da Ultra-cargo na comunidade dia 26 de maio, após cerca de dois meses do acidente ocorrido de 2 a 11 de abril. Ocorreram dois encon-tros, na parte da manhã com a Associação de Pescadores Tobias Barros e à tarde na capatazia da Colônia de Pescadores Z-1. A antropóloga Deborah Goldenberg consultora especializada da Ultracargo, lidera a Frente Comunitária para estabelecer diálogo com as comunidades do entorno do local do incêndio. O primeiro bairro a ser visitado foi a Vila dos Pescadores. As próximas visitas serão feitas no Jardim São Manoel e Criadouros. “Esta-remos bem presentes aqui nos próximos dois meses”, garantiu Deborah aos moradores. “Indenização e compensação será possível só a partir dos laudos técnicos”, explicou. Num primeiro momento será feito um diagnóstico da situação e em seguida uma oficina, com a presença de um técnico da empresa para prestar mais esclarecimentos. Deborah ainda explicou que a Ultracargo quer saber se há

pessoas em situação de vulnerabilidade para a realização de ações emergenciais.

O vereador Doda, presidente da Comis-são Especial de Vereadores, presente à reu-nião, disse que está acompanhando a tragédia desde o início e falou de duas necessidades. A emissão de um laudo da Cetesb falando se os peixes do estuário estão próprios para o consumo e uma ação para que os pescadores que trabalham na informalidade obtenham sua carteira de pescador (RGP-Registro de Atividade Pesqueira) emitida pelo Ministé-rio da Pesca e Aquicultura. A presidente da capatazia da Colônia de Pescadores da Z-1, Santina Barros, concordou com ambas medi-das. “Pedimos que nos ajudem a arrumar os documentos dos pescadores, mesmo aqueles que estão com carteiras antigas”, disse. Enfa-tizou que para a venda do pescado voltar ao normal será importante um laudo da Cetesb garantindo a qualidade do pescado para o consumo. Santina mostrou seu freezer vazio, e explicou que o marido, Chico Tobias, não tem saído para pescar diante das dificuldades encontradas.

A gente está sentindo na pele e no bolso o prejuízo”, desabafou Marli Vicente, presiden-te da Associação de Pescadores José Tobias Barros. Marli considerou a reunião com a Ultracargo satisfatória e se mostrou otimista e esperançosa com as negociações. “O gerente cumpriu com sua palavra de mandar uma equipe da empresa aqui na Vila fazer um contato”, afirmou. Ainda assim confessa que a preocupação continua, para saber como as conversações vão terminar. “O pescador quer sua vida de volta”, concluiu a coordenadora da Colônia Z-1, Santina Barros.

O Registro Geral de Atividade Pesqueira-RGP dá direitos e benefícios sociais aos seus portadores.

Permite a realização da pesca profissional utilizando materiais de pesca pro-fissional tanto na pesca artesanal como na industrial. Os benefícios sociais que o pescador tem direito são: seguro-defeso (só para artesanais), aposentadoria rural, auxílio-natalidade, auxílio-enfermidade e auxílio-reclusão.

Como obter sua carteira de pescador (RGP)Procure sua colônia mais próxima ou o escritório do Ministério da Pesca (MPA)Documentos necessários:Xerox autenticada do RG e CPFXerox do cartão do PIS ou do cartão-cidadãoComprovante de residência recente em nome do interessado (ou declaração

em separado).

O incêndio nos tanques de combustível da Ultracargo, em Alemoa, Santos, teve início dia 2 de abril e terminou após nove dias,

totalizando 192 horas de incêndio. A empresa foi multada em R$ 22,5 milhões pela Cetesb – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo por danos ambien-tais, riscos à população, entre outras consequências. Cerca de 10 toneladas de peixes foram mortos. Ain-da foram atingidos organismos como caranguejos, camarões e outros que afundam e não podem ser visibilizados, e ainda plâncton e alevinos, muito pequenos para serem observados, não entraram na contagem. O tráfego de caminhões e a atracação de navios no Porto de Santos também foram afetados. Os pescadores do entorno ainda aguardam ações efetivas de indenização pelo impacto causado na pesca.

Pescador, conheça seus direitos

Pescadores Zé Titia, Ivan Raimundo da Silva e Chico Barros

Reunião com a Associação de Pescadores José Tobias

Reunião com a capatazia da Colônia Z-1

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Lena e a cozinha da maré

Ingredientes:1 peixe em postas de cerca de 1 ½ kg

(tainha, garoupa, robalo)1 cebola e 2 dentes de alho picados5 tomates (sem sementes) picados1 pimentão picado1 vidro de leite de coco1 xícara (chá) de coentroTempero baiano (ou pimenta-do-reino,

pimenta-branca em pó, coentro seco moído, orégano, louro moído)

Suco de duas rodelas de gengibre batido com um pouquinho de água no liquidificador

Sal

Preparo:Salgar as postas e deixar por meia hora

curtindo. Lavar e deixar escorrer. Colocar o tempero baiano com suco de limão no peixe e reservar. Refogar cebola e alho, acrescentar 3

tomates, meio pimentão picado e meia xícara de coentro. Deixar desmanchar um pouco o tomate e acrescentar as postas de peixe e um pouquinho de água. Retificar o sal. Colocar o leite de coco, dar uma fervidinha, e no final jogar dois tomates picados, meio pimentão, meia xícara de coentro, suco do gengibre, tampar e deixar por três minutos no fogo.

Outra opção, ao invés de usar o peixe cru, é fritar, grelhar ou assar e depois colocar dentro do molho.

Na próxima edição Lena vai dar a receita de seu pirão maravilha. Uma receita criativa, deliciosa, imperdível!

Helena da Silva Barros, a Lena, nasceu em Mucurici, no Espirito Santo, mas foi na Vila dos Pescadores em Cubatão que aprendeu a pescar. “Na minha terra meus pais se ocupavam mais da roça”, explica. Ao se casar em 1975 com José To-bias Barros, o Inácio, aprendeu direitinho como catar um caran-guejo, como fazer a isca para pegar o siri na tarrafa, trabalho que exige muita habilidade e paciência.

Colocar a isca no chumbo preso a uma corda, fincar uma vara de bambu no fundo do estuário, e fazer um tipo de varal que vai do barco à vara. Depois, com um puçá, reco-lher os siris que caíram na isca. “A pesca dá trabalho”, diz Lena. “Por isso a gente olha para o pescador e vê ele desgastado, bem sofrido, é sol é chuva...”, conclui.

Com o marido, falecido em janeiro de 2015, também saía para pescar peixes na rede. Inácio veio jovem da Paraíba e herdou de seu pai o conhecimento de todas as artes de pescar, fazer redes e construir

barcos. Por isso os jovens o chamavam de professor Pardal, sabia de tudo. No início da vida trabalhou em outras profissões como pedreiro e encanador. Mas depois que entrou na pesca a vida dele era pescar, e Lena sempre acompanhando. “Estas pistas da Baixada todas elas eu co-nheço, em tudo isso aqui eu já vendi”, conta Lena, lem-brando do passado quando levava o siri e o caranguejo para vender à beira das ro-dovias Anchieta, Imigrantes, entrada da Praia Grande, até perto de Peruíbe. “Vida mui-to sofrida a gente termina se acostumando, mas isso eu não queria para meus filhos”, con-fessa. “Vocês vão estudar, eu disse para eles”. E Simone, 39 anos, hoje é médica veterinária, Osmar, 33, caldeireiro.

Os filhos costumavam saiam pescar juntos até a ado-lescência, gostavam de sair na maré. Osmar, quando pode, nos fins de semana sai de bar-co ou caminha nas trilhas de Cubatão. “Ele gosta de pegar a energia positiva da natureza”,

Moqueca da Lena

explica Lena. Embora hoje não saia mais para pescar, Lena curte os frutos do mar em suas fantásticas experiências culi-nárias. Hoje, a Vila passa por dificuldades com a escassez do peixe, mas Lena nos conta das receitas criadas num tempo de mais fartura, e esperamos que a pesca logo volte ao normal! Hoje Lena vai nos ensinar sua tradicional receita de moqueca de peixe. Na próxima edição, a pescadora vai dar todos os detalhes de seu especial pirão de peixe.

José Tobias Barros (quarto à direita) entre amigos

Moqueca é um prato com muitos segredos

Helena da Silva Barros, a Lena