jornal martim-pescador 116

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Agosto 2013 Número 116 Ano IX Tiragem 3.000 exemplares www. jornalmartimpescador.com.br Cananeia Wagner Robinson Klimke, presidente da Colônia de Pescadores Z-9 de Cananeia, fala sobre a pesca artesanal local.Pg. 8 Jairo, o Raul Seixas de Cananeia, e a esposa Miriam são especializados em frutos do mar. Pg. 7 Nelson Dreux fala sua carreira como taxidermista, profissão que recebeu homenagem do Museu de Pesca de Santos. Pg. 6 Ilha Diana comemorou em agosto a festa de seu padroeiro Bom Jesus. Pgs. 4 e 5

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Agosto 2013 - Número 116 - Ano VIII - Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo.

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Page 1: JORNAL MARTIM-PESCADOR 116

www.jornalmartimpescador.com.br

Agosto 2013Número 116Ano IX

Tiragem 3.000exemplares

www. jornalmartimpescador.com.br

CananeiaWagner Robinson Klimke, presidente da Colônia de Pescadores Z-9 de Cananeia, fala sobre a pesca artesanal local.Pg. 8

Jairo, o Raul Seixas de Cananeia, e a esposa Miriam são especializados em frutos do mar. Pg. 7

Nelson Dreux fala sua carreira como taxidermista, profissão que recebeu homenagem do Museu de Pesca de Santos. Pg. 6

Ilha Diana comemorou em agosto a festa de seu padroeiro Bom Jesus. Pgs. 4 e 5

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Agosto 20132

Av. Dino Bueno, 114 Santos - SP

CEP: 11030-350Fone: (013) 3261-2992www.jornalmartimpescador.com.br

Jornalista responsável: Christina Amorim MTb: 10.678/SP [email protected] e ilustração: Christina Amorim; Diagramação: cassiobueno.com.br; Projeto gráfico: Isabela Carrari - [email protected]

Impressão: Diário do Litoral Fone.: (013) 3226-2051Os artigos e reportagens assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal ou da colônia

EXPEDIENTE Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo

Presidente Tsuneo Okida

Av. Dino Bueno, 114 Santos - SP

CEP: 11030-350Fone: (013) 3261-2992www.jornalmartimpescador.com.br

Jornalista responsável: Christina Amorim MTb: 10.678/SP [email protected] e ilustração: Christina Amorim; Diagramação: cassiobueno.com.br; Projeto gráfico: Isabela Carrari - [email protected]

Impressão: Diário do Litoral: Fone.: (013) 3226-2051Os artigos e reportagens assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal ou da colônia

EXPEDIENTE Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo

Presidente Tsuneo Okida

APAS MARINHASTrês áreas de proteção ambiental (APAS) marinhas

foram criadas em outubro de 2008 a partir de decretos as-sinados pelo governador José Serra (PSDB). O objetivo é disciplinar o uso de recursos ambientais, ordenar a pesca, o turismo recreativo e as atividades de pesquisa. Cada uma das três unidades de conservação tem seu próprio conselho

gestor, composto por 12 representantes do governo e 12 da sociedade civil. Desde sua criação em março, as reuniões têm sido mensais para debater temas relacionados a or-denamento pesqueiro, programas de educação ambiental, pesquisa, proteção e fiscalização. Além dos conselhos foram criadas Câmaras Temáticas nas áreas de Pesca, Planeja-

mento & Pesquisa, e Educação & Comunicação.As APAS pertencem ao grupo de Unidades de Uso Susten-

tável do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza-SNUC. Além das três APAS Marinhas também foi criado o Mosaico das Ilhas e Áreas Protegidas que reúne as três novas unidades de conservação e outras já existentes.

DefesosMexilhão (Perna perna) 01/09 a 31/12

MoratóriasCherne-poveiro (Polyprion americanus) 06/10/2005 a 6/10/2015

Mero (Epinephelus itajara) 17/10/2012 a 17/10/2015

Troca da carteira de pescador artesanal:-A partir da data de seu aniversário você tem 30 (trinta) dias para solicitar a troca de sua carteira de pescador (RGP-Registro Geral de Pesca).

-Procure a Colônia de Pescadores mais próxima, ou o escritório do Ministério de Pesca Aquicultura-MPA para mais informações.-Se perder o prazo, deve comparecer ao escritório do MPA para fazer o registro. Se até 60 (sessenta dias) após a data de seu aniversário a solicitação

de troca de carteira não tiver sido feita, sua licença ficará suspensa por 2 (dois) anos. Mais informações no escritório do MPA em Santos: (13) 3261.3278/ ou em São Paulo: (011) 3541-1380 ou 3541-1383.

Biodiversidade: da teoria à prática

Nova Portaria de Mergulho

Plano de Manejo é apresentado em agosto

Dia 5 de setembro acontece a 31ª reunião ordinária do Conselho Ges-tor da APA Marinha Litoral Centro com início às 9hs, no auditório do Instituto de Pesca, em Santos. Na ocasião será apresentado o novo gestor da APAMLC, André Alvino Guimarães Caetano, em substituição ao oceanógrafo Marcos Campolim, que coordenou a unidade desde 27 de março de 2009 até início de agosto de 2013. Na ocasião ainda serão feitos informes sobre as reuniões de apresentação do Plano de Manejo, e os conselheiros serão consultados sobre o interesse em integrar o GTC. Outros assuntos incluem Capacitação no Projeto Manchas Órfãs, e informes sobre reunião com pescadores de Peruíbe e sobre o Grupo de Trabalho sobre Pesca Responsável.

Dia 1 de julho foi editada a Portaria 187/13 que dispõe sobre atividade de mergulho autônomo nas Unidades de Conservação de Proteção Integral ad-ministradas pela Fundação Florestal. A Portaria estabelece a regulamentação da atividade de mergulho autônomo

para visitantes em embarcações das operadoras deste serviço, praticantes independentes e os demais visitantes, de acordo com as normas interna-cionais de segurança no mergulho. Conheça na íntegra acessando o site: www.fflorestal.sp.gov.br.

Dia 6 de agosto aconteceu a reunião de apresentação do Plano de Manejo da APA Marinha Li-toral Centro (APAMLC). Criada pelo decreto estadual 53.526 de 8/10/2008, abrange a maior parte da zona litorânea dos municípios de Bertioga, Guarujá, Santos, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe, com exceção da Baía de Santos.

A reunião teve início com uma explanação sobre os aspectos am-bientais da unidade de conservação, e realizações feitas desde sua criação em 2008. Algumas importantes ações desenvolvidas sob a gestão de Marcos Campolim nesse perío-do, incluem a criação do Grupo de Trabalho sobre Pesca Responsável, com plano piloto desenvolvido em Itanhaém, litoral sul de SP, 17 cam-panhas de orientação, criação do Setor Itaguaçu (área de preservação marinha contígua ao Parque Estadu-al Marinho da Laje de Santos), entre outras. Em seguida, foi apresentado o cronograma de elaboração do Plano de Manejo desenvolvido pelo Consórcio Idom/Geotec, que tem previsão de duração de 16 meses. A

programação inclui caracterizações técnicas ambientais e socioeconô-micas, diagnóstico participativo e avaliação estratégica, zoneamento e programas de gestão. De 7 a 16 de agosto, ocorrem reuniões específicas com os pescadores artesanais e suas famílias, sendo uma em cada muni-cípio da APAMLC, com exceção de Itanhaém e Guarujá onde ocorrerão duas reuniões. Representantes da pesca industrial de Santa Catarina e Paraná estiveram presentes ao en-contro, mostrando sua preocupação em relação a possíveis proibições de pesca no litoral de São Paulo, onde exercem a pesca. Como o processo é participativo, os presentes foram convidados a comparecer às pri-meiras oficinas que se seguem, que serão abertas a diferentes segmentos da pesca. Nas oficinas subsequentes participarão apenas representantes escolhidos para cada setor. Outras pessoas presentes à apresentação ressaltaram a importância da divul-gação do material obtido nas ofici-nas. Na ocasião foi esclarecido que serão feitos informes nas reuniões do conselho gestor sobre o resultados obtidos nas oficinas.

Apesar de conhecermos cerca de 1,4 milhão de espécies vivas de todos os tipos de organismos em nos-so planeta, acredita-se que mais de 90% ainda sejam desconhecidas. Se-guindo o preceito de conhecer para conservar, o oceanógrafo Edison Barbieri, lançou o livro Biodiver-sidade: da teoria à prática. O tema, apesar de complexo, é desenvolvido em linguagem de fácil entendimento pelo autor, doutor em Oceanografia Biológica pela Universidade de São Paulo e pesquisador científico do Instituto de Pesca da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do ESP. “Cada vez mais a biodiversi-dade ocupa um lugar preponderante no cenário das grandes questões humanas”, afirma Barbieri. Ressalta também que sua preservação não diz respeito apenas à manutenção de um meio ambiente íntegro, mas também relaciona-se ao modelo de desenvolvimento econômico, às re-lações políticas e às opções de vida e de consumo de toda a comunidade humana. “Apesar dos crescentes esforços realizados nos últimos 20 anos, o mundo continuou a perder sua diversidade biológica, princi-palmente pela destruição do hábitat, o excesso de colheitas, a poluição e a introdução inadequada de plantas e animais estrangeiros”, comple-menta. No livro estão expressos os conceitos da biodiversidade e sua importância para a biotecnologia, e os princípios que inspiram a preser-

Temos que somar esforços no res-peito aos pedestres, ciclistas, pessoas idosas, crianças, deficientes físicos, etc. Infelizmente, em Santos, a lei de trânsito não está sendo cumprida adequadamente como nas demais cidades no respeito a faixa de segu-rança. Motoristas quase atropelam e matam as pessoas não respeitando as faixas vivas, poucos atendem a esta lei federal de trânsito, necessitando as multas aos infratores para que a lei seja cumprida.

Temos que voltar as campa-nhas para que pedestres e motoris-tas se conscientizem de que todos devem estender sua mão para que os veículos parem nas faixas de segurança, evitando acidentes e mortes no trânsito em Santos.

Sueli dos Santos (Santos-SP)Diretora da ONG do Grupo de Proteção à Família e a Cidadania de Santos.

vação e a utilização da biodiversida-de de maneira sustentável.

Biodiversidade: da teoria à prá-tica. Editora Livre Expressão. 172 pgs. Preço R$39,00. Disponível na Livraria Cultura e no site www.livreexpressao.com.br (ou com o autor e-mail [email protected] por R$ 30,00).

Biodiversidade (do grego bios=vida) é a diversidade da na-tureza viva. É formada por todas as espécies de seres vivos exis-tentes no planeta: desde a baleia azul- a maior espécie animal do mundo- até as microscópicas bac-térias, e mesmo o próprio homem. Refere-se, portanto, à variedade de vida no planeta Terra.

Conselho Gestor se reúne em

setembro

Faixa Viva em Santos

O oceanógrafo Edison Barbieri

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Agosto 2013 3

A casa número 18 não existe mais na rua Itapema, em Vicente de Carvalho, Guarujá. Mas permanece vívida na memória das irmãs Ednea e Edília, que ali nasceram nas mãos da parteira Ana na década de 40. “O chalé era de madeira, gemi-nado e tinha o porão aberto sobre pilares”, lembra-se Ednea, caçula de nove filhos, quatro mulheres e cinco homens. O espaço formado embaixo da casa, além do lugar de brincar das crianças, era a oficina do pai, Eduardo dos Santos Claudio, professor de carpintaria naval na Escola Escolástica Rosa, em Santos. Com sua arte, o pai homenageou Ednea e Edília dando o nome a duas embarcações que construíra. “Papai trabalhava num estaleiro em Pae-Cará, trazia muitos barcos em casa para calafetar e reformar”, conta Edília. “Aquela lá fui eu que fiz, papai dizia muitas vezes ao ver uma lancha passando no estuário”, completa a filha com orgulho. Seu irmão, Edson, lembra-se que o pai foi o construtor que mais embarca-ções fez para navegar no estuário de Santos. Eduardo, nascido em 1902, faleceu em 1984, mas até hoje é lem-brado pelos barcos que construiu e pelos ensinamentos passados a seus alunos. Como reconhecimento por seu trabalho, tem uma praça com seu nome em frente ao Clube do Curió, no bairro de Monteiro da Cruz, em Vicente de Carvalho.

A família Santos Claudio saiu de Itapema para morar em Santos há 57 anos. “Só nosso irmão Edson permaneceu aqui”, afirma Edília. Hoje, Edson dos Santos Claudio, é o presidente da Colônia de Pescadores Z-3, de Vicente de Carvalho, que fica, por coincidência, na mesma rua Itapema onde foi criado. Casadas, com filhos e netos, Ednea Santos Claudio Collaço Braga e Edília dos Santos Claudio Francisco Moreira visitam a rua Itapema durante os festejos de São Pedro na Colônia de Pescadores Z-3, em junho, e abrem o baú de lembranças. “Quando éramos crianças havia poucas casas, todas de madeira, a numeração ia até o número 52. O chão era de terra, com

A rua Itapema na década de 40

era um sossego só, e dava

nome também ao distrito hoje

chamado de Vicente de

Carvalho em Guarujá

Saudades de Itapema

Ingredientes:1 tainha de cerca de 1 kg corta-

da em postas (com a cabeça)1 cebola e 4 dentes de alho

picados2 tomates Coentro picado a gostoÓleo e salPreparo:Refogar alho e cebola no óleo.

Depois de dourar ligeiramente, acrescentar os tomates. Deixar os tomates amolecer e acrescentar a cabeça e as postas da tainha. Colo-car água e deixar cozinhar por 10 minutos. Acrescentar o coentro e deixar mais um pouquinho. Servir com arroz branco e farinha de mandioca.

valas. Quando a maré enchia, a gente nadava na rua”, diz Ednea. Nadar e pescar na maré era a diversão na época. “Meus irmãos pegavam pescada, parati, sardinha na rede, e camarão no arrasto”, lembra Edília, explicando que as meninas pegavam siri de puçá. Também se regalavam comendo jambolão, jambo, caram-bola, goiaba, pitanga, cuca (fruto do chapéu-de-sol) e muita banana cultivada pelo avô paterno, portu-guês vindo do Algarve.

“Minha mãe, Judith, foi heroína, não tinha água encanada e usava água tirada do poço Alfândega, no forte do Itapema, colocada em barril de madeira, que a gente trazia rolando até em casa, com uma corda na cintura”, dizem com admiração. Além de buscar água no forte, os moradores iam lá para telefonar, pois ali ficava o único aparelho do bairro, usado para ligações de emergência. Cozinhar no fogão a lenha era o hábito da época. O básico estava sempre presente na despensa, um saco de feijão, um saco de arroz, um saco de farinha de mandioca, lingüiça, uma manta de carne seca e uma caixa de bacalhau, peixe tradicional que era barato na época. “Carne seca e bacalhau era comida de pobre naquela época”, brinca Edson. As réstias de cebola e de alho ficavam penduradas ao lado do fogão. As cascas de laranja ficavam em cima do fogão para secar e depois serviam para por fogo na lenha. A banha de porco era a gordura dispo-nível, usada até para fritar o pescado. O peixe estava sempre presente à mesa, quase sempre ensopado. A

mãe, Judith, usava muito tainha, corvina ou bagre-cabeçudo, e não deixava faltar coentro da horta. Hoje, Ednea e Edília repetem a receita, e dizem que fica “quase igualzinha à da mãe”, que era feita no fogão a lenha. Aí vai o modo de preparo,

para quem quiser sentir um pouco do sabor do peixe à moda antiga, com a característica que os pescadores têm em sua tradição culinária de cozinhar a cabeça junto com as postas. Eles garantem que dá um sabor especial, experimente!

Ensopado de Itapema

O distrito de Itapema é hoje chamado de Vicente de Carvalho

Edília, Edson e Ednea, sempre unidosEdília e Ednea visitam a rua Itapema de sua infância

Na década de 40 os moradores buscavam água no Forte de Itapema

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Agosto 20134

Bom Jesus de Ilha Diana

Nas comemorações ao padroeiro,

moradores percebem a vocação

turística da ilha

Coluna

OuvIDOrIa EmBraPOrT: 0800 362-7276

[email protected] www.terminalembraport.com.br

A Embraport apoiou a 59ª Festa do Bom Jesus na Ilha Diana, comemora-da entre os dias 10 e 11 de agosto. O evento, em louvor ao santo padroeiro da comunidade, é bastante tradicional e atrai anualmente cerca de 2 mil pessoas ao local. O deslocamento de ida e volta até a Ilha, por Santos e Vicente de Car-valho, foi realizado com embarcações cedidas pela empresa.

No sábado, a programação teve início às 10h00, com atrações musicais, culturais, exposição de artesanato, do-ces caseiros e variedade gastronômica-nas barracas montadas para atender os visitantes e no domingo foi celebrada uma missa na capela local às 11h00. O prato mais procurado nos dois dias de festa foi a tradicional tainha assada, apreciada por diversas famílias pre-sentes no local, bem como os frutos do mar, salgados e porções.

Na ocasião, o prefeito Paulo Ale-xandre Barbosa, acompanhado de sua comitiva, e o presidente da Embraport,

EMBRAPORT APOIA 59ª FESTA DO BOM JESUS

Ernst Schulze, anunciaram uma parceria para reurbanização da Ilha Diana. O projeto, que tem previsão de início até o final do segundo semestre deste ano, prevê a construção de um novo posto básico de saúde, uma nova escola, a re-forma da capela, dois novos atracadou-ros, um novo centro comunitário, campo de futebol e demais ações sociais, de educação e saúde.

O prefeito citou a importância do apoio da Embraport neste projeto, que contribuirá com a melhoria na qualidade de vida dos moradores. Ernst relembrou que a empresa é bastante interessada nos interesses da comunidade vizinha ao Terminal desde o início das obras. “A Embraport e a Ilha Diana estão muito próximas e eu tenho confiança de que vamos ficar cada vez mais perto”.

Fotos/Andre Monteiro

A tradição de Bom Jesus teve início em Ilha Diana com a chegada de moradores de Iguape ao local. Na ilha, bairro da área continental de Santos, se tornou o padroeiro e ganhou capela com seu nome. Como consequência natural, a devoção trouxe a festividade que se realiza todo ano no dia 6 de agosto com missa e procissão ape-nas para a comunidade, e no fim de semana subsequente aberta aos turistas. Pois a maioria dos moradores segue a religião católica e não hesita em pedir graças ao santo, e os visitantes acabam também arriscando algum pedido. Ivonete Marcolino, pertence a uma família que já está há três gerações na Ilha. Devota de Bom Jesus, diz que pedindo, sempre alcança graças. Adria-no da Silva Alves, 67 anos, morador na Ilha há 50 anos, participou da construção da capela, do Centro Comunitá-rio e da colocação dos postes

de luz, na década de 80. Ainda em Iguape, sua cidade natal, já ouvia a frase, “Meu Bom Jesus me valei”, dos fieis invocando o padroeiro.

As festas em louvor ao Bom Jesus de Ilha Diana acon-tecem há 59 anos. Sofreram al-guns anos de interrupção, mas foram retomadas na década de 80. Antes, apenas a Sociedade de Melhoramentos local mon-tava as barracas com pratos da culinária caiçara. Hoje muitos moradores participam e servem o prato principal, a tainha, à sua maneira, e ainda outras especialidades, como iscas de peixe, mariscos, frango e uma variedade de doces. A experiência da festa revelou a habilidade dos moradores em recepcionar turistas. Quem che-ga ao local, logo sente o clima de tranquilidade que convida ao descanso. Ao longo da rua principal, calçada de pedras, vai encontrar alguns bares e restaurantes, bons lugares para apreciar a paisagem e

Célia Faustino e Márcio Barreto querem voltar à ilha para entrar em contato com a cultura caiçara

Adriano da Silva Alves mora na Ilha há 50 anos

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Bom Jesus de Ilha Diana

esquecer a correria do dia a dia. O presidente da So-ciedade de Melhoramentos, Alexandre Lima, afirma que a Ilha chegou a receber 4 mil visitantes na penúltima festa, e convida as pessoas a fre-quentar o local durante o ano inteiro. Além dos bares que ficam abertos o ano todo, 20 moradores estão sendo capa-citados para realizar turismo receptivo para grupos (mais

informações em (13)7815.5957/9203.5637/9741.8690). A bailarina Célia Faustino e o músico Márcio Barreto vieram para a festa e gosta-riam de voltar mais vezes. “É maravilhoso saber que ainda existe um lugar que se pode viver tão próximo a valores como a família, tradição dos costumes e da culinária”, complementa Barreto, que é estudioso da cultura caiçara.

Com as melhorias anunciadas pelo prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), durante o evento, Ilha Diana deverá estar mais preparada para receber visitantes o ano inteiro. O ponto de embarque em Santos se localiza atrás da Alfândega (Praça da Repúbli-ca-Centro) e a travessia leva cerca de 30 minutos. Confira os horários em www.cetsan-tos.com.br/transportes.

Madalena Panhoci e Beth, da Prefeitura de Santos, e moradores de Caruara deram apoio à festa

As barcas atracam no pier da ilha

Padre Mialyl realizou a missa comemorativa

A capela de Bom Jesus

O prefeito Paulo Barbosa anunciou projeto de reurbanização na ilha dentro do programa Viva O Bairro

ISABELA

CA

RRARI

Os bares de Terezinha e Hélio e Patrícia e Chilico estão abertos o ano inteiro

Alexandre Lima afirma que a ilha deve ser visitada o ano inteiro

Célia Faustino e Márcio Barreto querem voltar à ilha para entrar em contato com a cultura caiçara

Adriano da Silva Alves mora na Ilha há 50 anos

A tainha é o prato principal da festa

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Agosto 20136

Nelson Dreux, um taxidermista em busca do movimento

Um navio japonês utilizando petrechos de pesca que não atendem a legislação brasileira foi apreendido com 200 toneladas de atum em Rio Grande-RS dia 30 de julho. A ação foi realizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pela Polícia Federal do Rio Grande no

porto da cidade. Todos os barcos de pesca que utilizam espinhel pelágico e operam no Sudeste e no Sul do Brasil são obrigados a usar medidas que reduzam a captura de aves marinhas, entre elas albatrozes e petreis. Essas medidas consistem no uso associado do toriline (fitas coloridas que espan-tam as aves) e do peso de 60g que

afunda as linhas de pesca secundárias colocado cerca de dois metros do anzol. A elaboração da Instrução Nor-mativa Interministerial foi subsidiada por pesquisas do Projeto Albatroz realizadas em 2010, provando que o uso associado de duas medidas reduz significativamente a interação das aves marinhas com o equipamento

de pesca. A obrigatoriedade está expressa na Instrução Normativa Interministerial (INI) n° 4 de 2011, assinada pelos Ministérios do Meio Ambiente e da Pesca e Aquicultura. A embarcação, denominada Kinei Maru nº 108, arrendada por uma empresa brasileira de Natal (RN), estava atu-ando no mar na região Sul do Brasil e

vinha sendo monitorada pelo Ibama, com apoio da PF através do PREPS (Programa Nacional de Rastreamento de Embarcações Pesqueiras por Saté-lite). O comandante do navio foi preso e liberado após pagamento de fiança no valor de R$ 18 mil. A companhia brasileira arrendatária também foi multada.

A primeira vez que Nelson Dreux, 59 anos, entrou em contato com a ta-xidermia foi ao auxiliar o especialista Sebastião Medeiros na finalização do tubarão-branco capturado em Ca-naneia, litoral sul de São Paulo, em 1992. O animal de 5,3 metros e 2,5 toneladas, hoje no museu da cidade, perdeu vários dentes e precisava repor 22 peças da arcada superior e inferior. “Fui o protético do peixe”, diz em tom bem-humorado. A experiência do trabalho com resina ganhara fazendo pranchas de surfe, esporte que era adepto na década de 70. Funcionário do Instituto de Pesca de Santos, anexo ao Museu, desde 1986, teve sempre a curiosidade de observar o trabalho dos taxidermistas. Daí veio o interesse em se dedicar a essa arte, e abandonar sua função de cunho burocrático. Seu dom artístico era expresso em desenhos e criação de peças em resina, e nessa época nasceu a vontade de tentar novos caminhos na taxidermia, para obter um tom mais próximo à realidade nas cores dos animais e uma maior flexibilidade ao corpo, dando ideia de movimento.

A oportunidade surgiu em 1998, quando Medeiros o convidou para auxiliar na finalização do restauro de algumas peças na reabertura do Museu, que ficara fechado por 11 anos. Com a aposentadoria de Medeiros em 2000 assumiu a função de taxidermista,. “Ainda era aprendiz de feiticeiro”, brin-ca. Mas daí por diante pôs em prática várias inovações na técnica milenar. Afinal, a arte de mumificar corpos já estava presente nas civilizações inca e egípcia, no intuito de garantir o corpo para uma outra vida. A primeira modificação que o técnico introduziu em seu trabalho, foi a troca da base de madeira por um suporte mais leve

apenas de metal. Em 2002 concretizou a ideia de trocar a serragem e a palha de enchimento por outro material. A experiência foi feita com um pirarucu, que foi preenchido com plástico-bolha (usado para proteger mercadorias du-rante seu transporte). Além da leveza, o novo material diminuía os riscos do ataque de cupins e brocas. Mais tarde, descobriu a serragem sintética feita em usinas de reciclagem com aparas obtidas na fábrica de fraldas des-cartáveis. Nos tu-b a r õ e s que le-vavam uma tora de madeira por dentro para dar firmeza, passou a usar estruturas de alumínio, que permitiam dar curvatura e uma maior flexibilidade ao corpo. A fidelidade das cores, hoje é obtida com muita pesquisa em animais vivos e uso de aerógrafo que substituiu o pincel. Para conseguir barbatanas mais leves, fez uma experiência com o sailfish, ou agulhão-vela, que possui a barbatana dorsal semelhante a uma vela. Com o sucesso, aplicou a técnica numa carpa e ficou satisfeito com a leveza obtida nas nadadeiras.

O reconhecimento dos anos de dedicação veio dia 31 de julho de 2013, com a inauguração de um painel e uma vitrine em homenagem a uma série de taxidermistas que trabalharam no museu. Nelson Dreux Costa, Sebastião Medeiros, Durvalino Antonio dos Santos, Cassia de Freitas, Waldeney Gonçalves marcam seu pa-pel na história da instituição. O painel fala sobre a arte milenar e na vitrine

Navio japonês é apreendido em Rio Grande

PassO a PassO Da TaXIDErmIaMedir o animal para não perder parâmetros e identificação.

Abrir a barriga e eviscerar.Retirar o couro desde a cabeça até o rabo.

Retirar todo material orgânico de dentro do couro.Deixar o couro em solução de formalina por 10 dias.

Colocar coluna vertebral de alumínio ou cobre.Fazer costura e enchimento e deixar secar.

Esconder costura com massa plástica.Pintar e colocar olhos de resina.

O artista está entre os profissionais homenageados com um painel no

Museu de Pesca de Santos

estão expostos os instrumentos e os materiais usados pelos especialistas. “Assim, uma profissão quase extinta é reconhecida”, conclui Dreux, que considera a técnica uma maneira de fazer um animal se transformar numa peça didática. Mas suas inovações não param, e ficarão também registradas no livro que o taxidermista já começou a escrever. Quem quiser conhecer as peças, visite o local.

Museu de Pesca de Santos (Secre-taria de Agricultura e Abastecimento do ESP), av. Bartolomeu de Gusmão, 192. Telefone 3261.5995. Aberto de quarta a domingo das 10h às 18h.

Dreux introduziu muitas inovações

em 13 anos de trabalho

Réplicas de dentes de tubarão feitas em resina

O mero, que tem hoje sua pesca proibida, pode ser visto no Museu de Pesca de Santos

A postura da carpa reproduz o peixe em movimento

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Pescado cru no sushi: história, riscos, mitos e fatos

Augusto Pérez Montano - Médico Veterinário, membro da Comissão de Aquicultura do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo

Festa do Camarão na Moranga

Frutos do mar é no Gaivota

A tradicional Festa do Camarão na Moranga teve início em Bertioga dia 9 de agosto e vai até dia 8 de setembro. Além do prato principal, são servidas porções de frutos do mar, guloseimas e doces caseiros, com música ao vivo. O atendimento é feito nas sextas-feiras a partir das 19h, aos sábados, almoço a partir das 12h e jantar a partir das 19h, aos domingos, almoço a partir das 12h. A moranga especial (acompanha arroz à vontade, guarnecida com 8 camarões-rosa) custa R$ 130,00, a simples (sem a guarnição de camarão-rosa) R$ 100,00. Ambas servem 4 pessoas. Outra opção é o prato individual (acompanha arroz, molho de camarão e um pedaço de moranga) R$ 30,00.

A realização é da Colônia de Pescadores Z-23, sob a coordenação do presidente João do Espírito Santo. Como entidade de classe, sem fins lucrativos, a Colônia Z-23 tem por

finalidade, dar apoio aos pescadores artesanais, procurando dentre de outras coisas a regularização de situação legal, amparo jurídico e aperfeiçoa-mento profissional, através de cursos, as-sistência odontológica com consultório pró-prio, e a obtenção de salário desemprego nos períodos de de-feso. Para obtenção de recursos para os serviços prestados que foi criada a Festa do Camarão na Moranga há 20 anos.

Desde o sucesso da primeira festa, esta tem crescido ano a ano, trazendo mais de mil pessoas por final de semana desde a população local até turistas vizinhos e de locais distantes, que vem para Bertioga especialmente para este aconteci-mento. A festa conta com o patro-

Hoje em dia, é costume nos grandes centros urbanos, restauran-tes, especializados ou não na culiná-ria japonesa, servirem pescado cru em suas refeições. Esse hábito de origem oriental gerou em muitos consumidores brasileiros de diferen-tes idades, um prazer incondicional em saborear o sushi ou sashimi, as-sim genericamente conhecidos entre nós, que se tornaram um verdadeiro modismo alimentar. Situação que condiz com a origem japonesa da palavra sushi que significa “comer pescado feliz”.

No final do século 20 aumenta a preocupação da população por uma melhor qualidade de vida envolvendo práticas alimentares mais saudáveis. Estimulado por esse preceito, na década de 1980 difunde-se a partir dos Estados Unidos o uso da comida japonesa, que se baseava numa dieta natural, à base de pescado fresco e cru, rico em Ômega 3, proteína animal de excelência, alto nível de vitaminas "A" e "D" e minerais como cálcio, fósforo, magnésio, entre outros, de importância vital para a saúde humana. De fato, até mesmo a Comissão Europeia pela Direção Geral da Pesca, em 2002, afirma cientificamente que, "o peixe faz bem a saúde", pois os benefícios que o pescado traz ao consumidor estão amplamente comprovados pelos constituintes.

Apesar dos benefícios, o pes-cado é um alimento altamente perecível e de fácil contaminação exigindo muitos cuidados para que a sua ingestão seja segura. Não se pode descuidar da origem, das boas práticas de fabricação, tais como: conservação, manipulação, trans-porte e armazenamento que ocorrem desde o local de pesca até a mesa do consumidor, para que os diferentes perigos ao longo da cadeia produti-va, não sejam causadores de doen-ças no ser humano, principalmente em se tratando de um alimento in natura, como veremos nesta edição. Deve-se levar em conta, que quando ocorrem surtos de doenças, a con-fiança do consumidor fica afetada, gerando desconfiança no produto. Porém o risco só é minimizado ou eliminado quando o pescado fresco apresentando boas condições é cozido, assado em temperatura sufi-ciente, ao redor de 65 graus Celsius para inativar bactérias e parasitos. Por outro lado, a contaminação quí-mica seja qual for o tipo jamais será inativada, permanecendo o nível de contaminação no pescado tal qual se iniciou o processo de preparo.

No Brasil e no mundo o prato

Moqueca de peixe e de lula são apenas algumas das delícias servidas no Restaurante Gaivota em Cananeia, no litoral sul de São Paulo. No sossego da pracinha da cidade que preserva seus casarões coloniais, além da gastronomia é

possível apreciar o som das músicas de Raul Seixas na voz do cover do canto. Jairo, que chegou da Bahia em 1985, se encantou com a cidade, que define como muito tranquila e de muita paz. Depois montou o restaurante, onde se apresenta à

noite cantando as músicas de seu ídolo. Além da música, o tempero da esposa Miriam, que comanda a cozinha, dão um sabor especial ao local. O Restaurante Gaivota fica na praça Martim Afonso de Souza no 5, Centro. Fone: (13) 3851.1550.

mais conhecido elaborado a partir de pescado cru é o sushi, que apesar de ser conhecido tradicionalmente como culinária japonesa, teve sua origem na China, e a finalidade primordial era conservar o pescado fresco por um período maior, visto que não havia à época como refrige-rar o pescado. Assim, o peixe fresco era colocado em um recipiente de madeira, onde era salgado e con-servado prensado em meio ao arroz, que ao fermentar proporcionava uma sobrevida maior ao pescado. Há registro que no século 5 A.C., os países do Sudoeste da Ásia já utilizavam esta técnica para a con-servação do pescado, para depois consumi-los em forma de tirinhas de peixe. Esta técnica de conser-vação foi introduzida no Japão, no Século 8 D.C., onde o peixe e o arroz eram prensados entre pedras, o que dava ao produto final sabor e odor muito fortes, chamado Nare-sushi. No século 15, esta técnica de conservação passou a ser de período menor, cerca de 30 dias e o peixe preparado podia ser consumido simultaneamente com o arroz, e foi considerado a primeira forma de sushi semelhante à encontrada nos dias de hoje. No século 18, ainda no Japão, com a finalidade de acelerar o processo de preparo foi adicionado vinagre ao arroz, que proporcionou melhor sabor e um tempo menor de preparo, em 24 horas estava pronto o sushi. Este processo foi revolucio-nário, e ainda mais que na Baia de Tóquio o pescado e frutos do mar eram abundantes, onde passou-se a ingerir este pescado cru e fresco. A este produto foi dado o nome de Hayasushi. Naquele século ainda foi criado o Oshisushi, que era ob-tido a partir do acondicionamento do arroz de sushi e o peixe cru no interior de uma caixa de madeira, que era comprimida com um peso. O sushi, uma vez pronto era servido em pedaços retangulares. (A maté-ria continua na próxima edição do jornal Martim-Pescador).

cínio do Arroz Tio João, Brahma e apoio da Prefeitura de Bertioga. Local: Praça de Eventos com vista excepcional para a praia da Enseada e Forte São João. Mais informações: (13) 3317.7836.

Moqueca de lula está no cardápioO restaurante Gaivota fica no centro de Cananeia

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Agosto 20138

Wagner Robinson Klimke tem seu dia tomado pela pesca. Quan-do não está na sede da Colônia de Pescadores Z-9 “Apolinário de Araújo”, está logo na rua de baixo, no Terminal Pesqueiro Público de Cananeia-TPPC. Lá, trava uma de suas mais difíceis batalhas, não deixar esse importante entreposto fechar. “Estou lutando, não quero que feche de jeito nenhum”, afir-ma com determinação. A seu lado está Creante Pires, que também dá seu apoio para que as operações continuem, mantendo conversa-ções com o Ministério da Pesca e Aquicultura-MPA em busca de uma solução. Inaugurado em 1976 pelo governo do Estado, o TPPC passou para Secretaria Especial da Pesca-Seap (transformado em Ministério da Pesca e Aquicultura em 2009), que em 2005 através de licitação pública concedeu a gestão para a empresa TWB por um perí-odo de 20 anos, com renovação a cada cinco anos. Com a falência da empresa em 2012, a situação ficou crítica, e no aguardo de uma decisão do MPA para a definição de uma nova parceria de gestão. Apesar das

dificuldades o Terminal continua operando, pois muitas famílias dependem dele. Afinal são cerca de 50 barcos de pesca industrial, com tripulação média de cinco pessoas em cada. Na pesca artesanal operam 150 embarcações, que operam com cerca de duas a quatro pessoas, pai, filho, esposa, em regime de econo-mia familiar e parceiros.

As principais formas de pesca em Cananeia são realizadas com rede-de-emalhe, que pega tainha, pescada, corvina, cação, betara, bagre, robalo, entre outros, rede de arrasto para o camarão, cerco-fixo que captura tainha, corvina, e jerivá para o camarão-branco e ferrinho. A comercialização da ostra é coordena-da pela Cooperostra, dos produtores tradicionais de ostra de Cananeia da Reserva Extrativista.

Klimke também faz parte do Conselho Fiscal da Rede de Ca-naneia, fundada em 2004, que tem como objetivo fortalecer associados do terceiro setor. Para manter os cerca de 700 associados informados, a Colônia edita uma cartilha do pes-cador artesanal, um jornal trimestral e mantém o blog: colôniaz9depesca-

doresblogspot.com. Divulga a data dos defesos e tamanhos mínimos de peixe, e acredita que o ordenamento pesqueiro é essencial para uma pesca sustentável. A Colônia, nascida em 1926, e formalizada em abril de 1985, é uma sociedade civil sem fins lucrativos, que representa os pesca-dores associados na defesa de seus direitos e deveres junto aos órgãos públicos nas esferas municipal, esta-dual e federal. Klimke ainda encon-tra um pouco tempo para pescar em seu barco de madeira de 9 metros, usando a arte da rede-de-emalhe, e gosta de preparar os pratos típicos da culinária local, como o peixe azul-marinho, ou o peixe cozido na água à moda antiga. Assim ele dá continuidade à tradição caiçara da pesca e da gastronomia, que leva em sua descendência de portugueses e índios. Ainda assim não abandona a influência do lado paterno, descen-dente de imigrantes alemães, que foi também um fator importante em sua formação. Com a determinação e criatividade de seus antepassados, Klimke luta em Cananeia para manter uma pesca sustentável para as próximas gerações.

Wagner Robinson Klimke, 49 anos, carrega duas influências culturais em sua vida. O lado caiçara, herdado da avó paterna, Maria Marques, caiçara com mistura de português e índio, e do avô, Arnoldo Klimke, alemão que chegou em Cananeia após a II Guerra Mundial. Nascido em Ilha Comprida, antes de sua eman-cipação de Iguape e Cananeia em 1991, foi criado à beira-mar, em casa de madeira nobre, comendo os pratos típicos da culinária caiçara e alemã. Da gastronomia da terra gosta especialmente da coruja, massa feita com fubá, água e sal enrolada na folha da bananeira e levada ao fogão a lenha, e da maneira simples do preparo do pescado. Ainda assim, aprecia chucrute, pepino azedo, lingüiça de porco feita em casa, queijo caseiro, miúdos de porco, geleias e outras especialidades alemãs. O avô alemão, muito empreendedor, foi colono de gado, plantou cana, fazia cachaça de alta qualidade em alambique e trouxe a arte da olaria que fazia blocos e telhas com o sobrenome Klimke impresso. Os avós maternos se dedicavam à lavoura, e na roça tinham quase tudo, aipim, mandioca brava para farinha, milho, cheiro-verde, boldo, cebolinha, salsinha, banana.”Fui criado com banana, desde o décimo dia de nascimento. Chorava de fome, minha mãe me dava papinha com a fruta amassada”, conta. Sua ligação com a pesca nasceu com o pai, Oscar, desde nove anos de idade, já com o uso da rede-de-emalhe. Tem dois filhos, Aldrin, 20 anos e Tainá, 12 anos, que não seguem a atividade da pesca.

WAGNER, Presidente da Colônia de Pescadores de Cananeia concentra

seus esforços em prol da pesca e dos pescadores locais

um lutador

Wagner e a vida caiçara

As secretárias Soraia Aparício (esquerda) e Simony Rio atendem associados na sede da Colônia Z-9

O armador Rogério Manoel e pescador no TPPC

Apesar das dificuldades, o Terminal Pesqueiro de Cananeia está em funcionamento

Creante Pires e Wagner Klimke