jornal martim-pescador 120

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Dezembro 2013 Número 120 Ano X Tiragem 3.000 exemplares www. jornalmartimpescador.com.br Sínha Maria (centro) aos 100 anos conta histórias da vida caiçara em Ilhabela com a irmã Benedita Cristina e a filha Nilce. Pág 8 Torneio de pesca do Yacht Club Ilhabela apoia projeto de pesquisa. Pág. 3 Lígia Mesquita, do Grupo Caruartes de artesanato, prepara uma guirlanda de Natal com elementos da pesca para decorar a ceia de fim de ano. Págs. 4 e 5 Tiago Rodrigues Mário Barila Sínha Maria Sínha Maria Capatazia do Perequê, Guarujá, não atenderá mais os pescadores na SAPE . O atendimento será em Vicente de Carvalho. Pág. 3 Cenas do cotidiano dos pescadores de Ilhabela são tema do fotógrafo Mario Barila. Pág. 6

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Dezembro 2013 - Número 120 - Ano X - Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo.

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Page 1: JORNAL MARTIM-PESCADOR 120

www.jornalmartimpescador.com.br

Dezembro 2013Número 120

Ano X

Tiragem 3.000exemplares

www. jornalmartimpescador.com.br

Sínha Maria (centro) aos 100anos conta histórias da vidacaiçara em Ilhabela com a irmã Benedita Cristina e a filha Nilce. Pág 8

Torneio de pesca do Yacht Club Ilhabela apoia projeto de pesquisa. Pág. 3

Lígia Mesquita, do Grupo

Caruartes de artesanato,

prepara uma guirlanda de

Natal com elementos da

pesca para decorar a ceia de

fim de ano. Págs. 4 e 5

Tiago Rodrigues

Mário Barila

Sínha MariaSínha Maria

Capatazia do Perequê, Guarujá, não atenderá mais os pescadores na SAPE . O atendimento

será em Vicente de Carvalho. Pág. 3

Cenas do cotidiano dos pescadores de Ilhabela são tema do

fotógrafo Mario Barila. Pág. 6

Page 2: JORNAL MARTIM-PESCADOR 120

Dezembro 20132

Av. Dino Bueno, 114 Santos - SP

CEP: 11030-350Fone: (013) 3261-2992www.jornalmartimpescador.com.br

Jornalista responsável: Christina Amorim MTb: 10.678/SP [email protected] e ilustração: Christina Amorim; Diagramação: cassiobueno.com.br; Projeto gráfico: Isabela Carrari - [email protected]

Impressão: Diário do Litoral Fone.: (013) 3226-2051Os artigos e reportagens assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal ou da colônia

EXPEDIENTE Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo

Presidente Tsuneo Okida

Av. Dino Bueno, 114 Santos - SP

CEP: 11030-350Fone: (013) 3261-2992www.jornalmartimpescador.com.br

Jornalista responsável: Christina Amorim MTb: 10.678/SP [email protected] e ilustração: Christina Amorim; Diagramação: cassiobueno.com.br; Projeto gráfico: Isabela Carrari - [email protected]

Impressão: Diário do Litoral: Fone.: (013) 3226-2051Os artigos e reportagens assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal ou da colônia

EXPEDIENTE Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo

Presidente Tsuneo Okida

APAS MARINHASTrês áreas de proteção ambiental (APAS) marinhas

foram criadas em outubro de 2008 a partir de decretos as-sinados pelo governador José Serra (PSDB). O objetivo é disciplinar o uso de recursos ambientais, ordenar a pesca, o turismo recreativo e as atividades de pesquisa. Cada uma das três unidades de conservação tem seu próprio conselho

gestor, composto por 12 representantes do governo e 12 da sociedade civil. Desde sua criação em março, as reuniões têm sido mensais para debater temas relacionados a or-denamento pesqueiro, programas de educação ambiental, pesquisa, proteção e fiscalização. Além dos conselhos foram criadas Câmaras Temáticas nas áreas de Pesca, Planeja-

mento & Pesquisa, e Educação & Comunicação.As APAS pertencem ao grupo de Unidades de Uso Susten-

tável do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza-SNUC. Além das três APAS Marinhas também foi criado o Mosaico das Ilhas e Áreas Protegidas que reúne as três novas unidades de conservação e outras já existentes.

DefesosCaranguejo-uçá (Ucides cordatus) 01/10 a 30/11 (machos e fêmeas) 01/12 a 31/12 (fêmeas)

Caranguejo guaiamum (Cardisoma guanhumi) 01/10 a 31/03Mexilhão (Perna perna) 01/09 a 31/12

Ostra- 18/12/2013 a 18/02/2014Sardinha (Sardinella brasiliensis)-15/06 a 31/07/12 - 01/11/12 a 15/02/13

Piracema na Bacia Hidrográfica do Rio Paraná (IN 25 do Ibama) de 1/11/2012 a 28/02/2013Proteção à reprodução natural dos peixes, nas áreas de abrangência das bacias hidrográficas do

Sudeste (IN 195) de 1/11/12 a 28/02/13

MoratóriasCherne-poveiro (Polyprion americanus) 06/10/2005 a 6/10/2015

Mero (Epinephelus itajara) 16/10/2012 a 16/10/2015

Troca da carteira de pescador artesanal:-A partir da data de seu aniversário você tem 30 (trinta) dias para solicitar a troca de sua carteira de pescador (RGP-Registro Geral de Pesca).

-Procure a Colônia de Pescadores mais próxima, ou o escritório do Ministério de Pesca Aquicultura-MPA para mais informações.-Se perder o prazo, deve comparecer ao escritório do MPA para fazer o registro.

Se até 60 (sessenta dias) após a data de seu aniversário a solicitação de troca de carteira não tiver sido feita, sua licença ficará suspensa por 2 (dois) anos. Mais informações no escritório do MPA em Santos: (13) 3261.3278/ ou em São Paulo: (011) 3541-1380 ou 3541-1383.

Unifesp discute pesca artesanalConselho Gestor da APA

se reúne em dezembro

Gerenciamento de resíduos da construção terá piloto em Santos

A 8ª reunião extraordinária do conselho gestor da Apa Marinha Litoral Centro-APAMLC aconteceu dia 13 de dezembro no auditório da UNIFESP, em Santos. Após a aprovação da ata da reunião de 5 de setembro, o médico veterinário Roberto da Graça Lopes, membro do Conselho, leu para aprovação uma moção do Conselho Gestor da APAMLC à Fundação Florestal em razão das mudanças do gestor da unidade e da responsável pela equipe de coordenação do processo de construção dos planos de manejo das três Apas Marinhas. Uma das reivindicações expressas na moção é de que o conselho participe da dis-cussão em casos de mudanças futu-ras de cargos. Mauro Haddad Nieri, secretário adjunto da Prefeitura de Santos, contestou afirmando não ser necessário, pois o cargo de gestor da APAMLC é de livre provimento. Na votação ficou decidido que a moção seria enviada à Fundação Florestal.

João Thiago Wohnrath Mele apresentou o SIMMar-Sistema Inte-grado de Monitoramento Marítimo da Coordenadoria de Fiscalização Ambiental, Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Com sua criação em 2012 pela resolução SMA 101, é possível sistematizar a autuação integrada entre a Coordenadoria de Fiscalização Ambiental (CFA), da Secretaria do Meio Ambiente (SMA), a Polícia Militar Ambiental e a Fundação Florestal (FF) para a

O secretário Bruno Covas, o prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), o presidente do SindusCon-SP Sergio Watanabe e o vice-presidente da Cetesb Nelson Roberto Bugalho assinaram dia 9 de dezembro, um Protocolo de Intenção para participação da cidade na implementação de um projeto piloto do Sigor – Sistema de Gerenciamento Online de Resíduos. O Sigor é uma ferramenta pioneira que tem o objetivo de auxiliar o gerenciamento de resíduos no estado de São Paulo. “O sistema envolve órgãos estaduais, municípios, geradores, transportadores e as áreas de destino. Em fevereiro de 2014, será disponibilizado para uso em todo o estado o primeiro módulo do sistema, voltado ao gerencia-mento dos resíduos da construção civil”, explicou o gerente da Cetesb, João Potenza. Para o secretário Bruno Covas, o sistema é uma grande prestação de serviço à sociedade. “A cidade de Santos foi escolhida para o teste piloto por estar empenhada na implantação da gestão de resíduos da construção, seguindo a legislação específica aprovada, ações de conscientização e fiscalização dos agentes envolvidos”, afirmou. De acordo com o prefeito de Santos, o sistema servirá de exemplo para todo o estado de São Paulo e também para o Brasil.

Alunos do departamento de Ciência do Mar (DCMAR/Unifesp) se reuniram dia 28 de setembro numa roda de conversa sobre o histórico e a situação atual da pesca artesanal na região. O presidente da Federação dos Pescadores do Estado de São Paulo, Tsuneo Okida, esteve presente para dar seu depoimento. A roda de conversa foi criada pelos professores Gislene Vilara e Fernando Mendonça que organizam o módulo Ictiologia e Biodiversidade Costeira. Segundo Gislene a reunião gerou discussões e contribuições para diversos módulos do curso. Os professores pretendem repetir o evento no próximo ano. Estudam também a possibilidade de rea-lizar um encontro anual com representantes da pesca artesanal para discutir problemas e pensar soluções.

O DCMAR (www.imar.unifesp.br/v2/) foi idealizado há cerca de oito anos por um grupo da Unifesp que desejava expandir a área de atuação da Universidade para um ramo da ciência relacionado a grandes questões brasi-leiras como a Amazônia Azul. O curso teve início em fevereiro de 2012, mas o DCMAR foi instituído em 2013. Hoje o departamento tem 400 alunos.

proteção da biodiversidade marinha. Também foi lançado o mapa da pes-ca sustentável, disponível no site da Secretaria Meio Ambiente (www.ambiente. SP.gov.br/mapadapesca), possibilita saber quais as áreas de restrição de pesca.

Fernando de Almeida, da Pe-trobras, reportou planos de ação realizados pela empresa através TAC (Termo de Ajuste de Conduta) relativos à instalação da platafor-ma de Merluza, frente à costa da Praia Grande, litoral sul do ESP. Entre eles está o Plano Executivo do Projeto de Avaliação Ecológica Rápida da Ilha da Moela e Laje da Conceição, Programa de Educação Ambiental da Câmara Temática de Educação Ambiental, e estudos rea-

lizados para possível transformação da Prainha Branca, em Guarujá, em RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável).

O oceanógrafo Carlos Belruss falou sobre a realização diagnóstico da pesca amadora pela Fundepag-Fundação de Desenvolvimento de Pesquisa do Agronegócio a pedido da APAMLC. Está prevista a realiza-ção de três oficinas na Apa Marinha Litoral Centro, Litoral Sul e Litoral Norte.

A próxima reunião do conselho gestor está prevista para fevereiro. As oficinas de zoneamento do Plano de Manejo da APAMLC acontecem a partir de março, e as oficinas de gestão compartilhada a partir de abril.

João Thiago Mele apresentou o SIMMar

Carlos Belruss falou sobre diagnóstico de pesca amadora

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Dezembro 2013 3

Torneio de Marque e Solte/SEDNA no Yacht Club Ilhabela devolve peixes ao mar com pequena

marca para estudos de migração e crescimento

A pesca que semeia

Colônia de Pescadores Z-3 “Floriano Peixoto”Filiada à Federação e Confederação Nacional dos Pescadores

CNPJ 55.684.872/0001-08 email:[email protected] Itapema, 15 –Jardim Enguaguassu-Vicente de Carvalho-Guarujá-SP-Te: (13)3352.6820

PORTARIANo dia 12/02/2004 em reunião da diretoria ficou aprovada a instalação de uma CAPATAZIA DA CO-LÔNIA Z-3 FLORIANO PEIXOTO NA PRAIA DO PEREQUÊ e ficou nomeada como capataz a Sra. IRISMAR RAMOS PEDROSA e funcionou até o dia 31 de maio de 2007 onde por motivos pessoais a Sra. Irismar renunciou ao cargo de capataz, foi convidado para exercer o cargo o Sr. FÁBIO LUIZ LAURINDO e comandou com dignidade a função de CAPATAZ e dia 27/02/2009 tivemos eleição e o Sr. FÁBIO continuou como CAPATAZ e Secretário Geral da Colônia até o dia 27/02/2013 onde teve nova eleição da Diretoria e o Sr. FÁBIO não quis fazer parte de nossa CHAPA, que foi vitoriosa, convidamos a Sra. TELMA DO SOCORRO DE OLIVEIRA SATIRO para Secretaria e assim fazendo parte de nossa diretoria ficou responsável pela nossa Capatazia, sendo que em estado de gravidez requereu auxílio maternidade e não tendo pessoa responsável pela nossa Capatazia no PEREQUÊ segue Portaria abaixo.

PORTARIA Nº 08EDSON DOS SANTOS CLÁUDIO, Presidente da Colônia de Pescadores Z-3 Floriano Peixoto, usando das atribuições que lhe conferem os Estatutos Sociais resolve:Parar com as atividades de CAPATAZIA no prédio da Sociedade Amigos do Perequê, comunicando aos Pescadores que quiserem continuar na Colônia Z-3 estaremos atendendo a todos em nossa sede social à rua Itapema no 75, em Vicente de Carvalho.Esta Portaria entrará em vigor no Dia 02/01/2014.

Guarujá, 20 de dezembro de 2013.EDSON DOS SANTOS CLÁUDIO

PRESIDENTE

Um peixe solto hoje serão muitos amanhã. Devolver o peixe ao mar é garantir gerações futuras da espécie. Os torneios de pesca oceânica do Yacht Club Ilhabela que desde 1993 adota-ram o pesque e solte e o marque e solte para os peixes-de-bico, marlim-azul, marlim-branco e sailfish, neste ano tiveram uma grata surpresa. Na terceira e quarta etapas do XXVI Torneio de Pesca Oceânica do Yacht Club Ilhabela (YCI)/SEDNA, a grande quantidade de peixes sur-preendeu mesmo os pescadores mais antigos. Emílio Massoni, que pesca na Ilhabela desde 1968, e Caio Alfaya, desde 1974, afirmam que as quantidades são as maiores já vistas. No dia 30 de novembro, 13 marlins-azuis, 10 sailfishes e um marlim-branco foram devolvidos ao mar, por 17 barcos. A equipe Perversa do comandante Caetano Fabrini foi a que melhor pontuou nesta terceira etapa com dois marlins-azuis e dois sail-fishes. Em seguida veio a equipe Buena Onda, de Roger Blaha, que, com avarias mecânicas, foi representada pela embarcação Barracuda do comandante Paulo Magalhães, com dois marlins-azuis. A equipe Maracangalha, do comandante Gustavo Oliva, pontuou bem com um marlim-azul e um sailfish.

Na etapa de 14 de dezembro, a surpresa foi maior. Foram devolvidos ao mar 34 peixes-de-bico, sendo 18 marlins-azuis e 16 sailfishes. A lancha que melhor pontuou foi a Strike, de Andres Morales, com três marlins-azuis e dois sailfishes. As lanchas Energy, de Roberto Mangabeira, e a Bateau, de Paulo Mangabeira, empataram com três marlins e dois sailfishes.

O melhor resultado que se tem registro nos torneios passados do clube foi o desafio Rio-São

Paulo em 14 de novembro de 1994. Na época foram capturados oito marlins-azuis com a participação de 35 embarcações de São Paulo e do Rio de Ja-neiro, e a equipe Perversa de Caetano Fabrini foi a vencedora do torneio. Segundo o diretor de Pesca, Laurent Blaha, os pescadores também colaboram levando pesquisadores para realizar coleta de água do mar, onde são encontradas larvas de peixes-de-bico. Após a comprovação visual, as espécies das pequenas larvas com apenas poucos dias, são confirmadas por exame de DNA no laboratório da Universidade de Mogi das Cruzes e no Guy Harvey Research Institute, nos Estados Unidos. Os estudos fazem parte do Projeto Marlim, coordenado pelo professor Alberto Amorim, do Instituto de Pesca de Santos, Secretaria da Agricultura e Abastecimento e Eduardo Pimenta da Universidade Veiga Almeida-UVA, campus Cabo Frio-RJ.

Há uma grande expectativa para o resultado das duas próximas etapas, dia 21 de dezembro e no encerramento dia 11 de janeiro de 2014. No final da temporada haverá comemoração na sede do YCI, com a paella preparada pelo Chef Ar-thur Macedo da Pesca Pinheiros, acompanhada música banda de rock Tom Cats.

O XXVI Torneio de Pesca Oceânica do Yacht Club Ilhabela (YCI)/SEDNA,tem o patro-cínio principal da SEDNA Sport Fishing Boats, Pesca Pinheiros, Transbrasa, Santa Constância, Scala, Mazzaferro (Linhas Tournament IGFA Class), Toledo, Person Hélices Náuticas, Marina Igararecê, Art Vip Brasil, além do apoio da Pre-feitura Municipal de Ilhabela, ANEPE, IGFA, Ministério da Pesca e Agricultura, Instituto de Pesca e Antena 1.

Marlim-azul liberado pela Perversa

Equipe da Perversa

Equipe da Strike

O pescador Laurent Blaha coleta amostras

de larvas no mar durante o torneio

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Dezembro 20134

Coluna

OuvIDOrIa EmbraPOrT: 0800 362-7276

[email protected] www.terminalembraport.com.br

Mulheres conquistam espaço na operação da Embraport

Uma atividade historica-mente masculina, a operação portuária tem demonstrado avanços no que se refere à crescente participação de mulheres que acompanha a modernização do setor e novas oportunidades de desenvolvi-mento profissional.

Na Embraport, atuam hoje cerca de 30 mulheres, que exercem funções operacionais estratégicas, desde o planeja-mento e monitoramento das operações, controle de gates, vistoria e conferência de car-gas, até a operação de equi-pamentos de grande, médio e pequeno porte, atividades antes consideradas exclusiva-mente masculinas.

Fabiana do Nascimento Almeida, a primeira mulher contratada pela Embraport para operação de equipamen-tos pesados, é um exemplo desta transformação no mer-cado de trabalho de Santos. Atualmente, ela é operado-ra de RTG ou transtainer, equipamento utilizado para movimentar contêineres de até 41 toneladas no pátio de

estocagem. Sua função envol-ve a organização das cargas no pátio.

A operadora está no ter-minal desde abril deste ano e fez parte do Programa Novos Operadores, treinamento que preparou profissionais para o início das operações no Terminal da DP World em Callao, no Peru. Divididos em três turmas, 50 profis-sionais passaram 15 dias no Peru, observando de perto os operadores daquele terminal em ação.

O desempenho de Fabiana abriu ainda mais as portas do terminal para outras mulheres. Ana Paula da Silva e Laudi-céia do Nascimento, respecti-vamente operadoras de empi-lhadeira pequena e grande, são exemplos disso. Ana Paula foi a segunda mulher a ingressar a operação da Embraport, e conta que já havia tentado uma oportunidade em outras empresas da área portuária, mas sem resultados, pois a preferência era sempre mascu-lina. “Na Embraport, vivenciei a preocupação da empresa em

investir na capacitação das pessoas, pois recebi diversos treinamentos no terminal. Com pouco mais de seis meses de trabalho, já consegui mais de três certificados”.

Laudicéia destaca que sempre teve interesse em tra-balhar na área portuária e, por isso, fez cursos de Vistoria de Contêiner e empilhadeiras de pequeno e grande porte. “A Embraport foi a primeira empresa a me dar uma opor-tunidade e, assim que pude, fiz um curso para operar RTG e portêiner. No futuro, pretendo

operar qualquer tipo de equi-pamento”, explica.

Para Lenilton Jordão, ge-rente de Pessoas e Organiza-ção da Embraport, o cresci-mento da presença feminina no terminal traz benefícios tanto à empresa como para toda a Baixada Santista. “Além de maior harmonia no ambiente de trabalho, percebemos ca-racterísticas como paciência, disciplina e segurança entre as profissionais, itens fundamen-tais para uma atividade de alto risco como a operação portuá-ria”, finaliza o executivo.

Quando falamos do peixe assado na folha da bananeira, logo lem-bramos da culinária indígena e caiçara. Mas, Neide Encarnação, casada com o pescador Beto Camarão, aprendeu a receita com sua avó no sítio em Mogi das Cruzes, no interior paulista, onde nasceu em janeiro de 1947. Ali, os peixes de rio também eram enrolados na folha de bananeira e assados no fogão a lenha. Hoje, Neide mora na casa onde seu marido nasceu na rua Japão, em São Vicente, tradicional reduto de pescadores artesanais. Excelente cozinheira, conta como o peixe de rio era assado na folha de bananeira no interior. Outra semelhança da culinária caipira com a caiçara é o preparo do café com garapa e o doce de laranja-da-terra, também chamada de laranja-azeda, amarga ou casca-de-cavalo. O doce é descrito também nas comunidades caiçaras. Outro produto de uso comum na culinária dos antigos moradores do litoral e do interior era o palmito. No sítio em que Neide morou na infância era hábito pegar o palmito em ocasiões especiais, como o Natal. “Há 60 anos atrás, havia palmeiras de palmito juçara, mas era preciso uma viagem no lombo de burro e mais meia hora de caminhada para chegar lá”, lembra-se Neide. O palmito era feito misturado ao arroz, frango ou peixe.

Ingredientes:500 g de camarão-rosa limpo2 tomates picadosAzeiteCebolinha e salsinha picada½ cebola picada

Preparo:Colocar os camarões num escorre-dor de macarrão ou uma cuscuzei-ra de cerâmica. Ajeitar em cima de uma panela com água, sem deixar que o líquido toque os camarões. Levar ao fogo e deixar no vapor por cinco minutos com panela

aberta. Faça apenas uma camada de camarões por vez e não deixe que se amontoem. Se necessário divida em duas porções, para que melhor recebam o vapor. Salgar e reservar. Misturar cebola, ceboli-nha, salsinha picados com o azeite. Forrar uma travessa e colocar os camarões por cima. Regar com mais um pouco de azeite.

Caiçara, quilombola, caipira ou catarinense?

Neide e as duas tradições

Marione e o sabor da tradição catarinense

Marione Maria da Silva, proprietária do camaroneiro Jambo, sediado no Terminal Pesqueiro Público de Santos, conserva os costumes de família. Seu pai, Alberto José da Silva, nasceu em Bombinhas–SC e chegou com 16 anos em Santos em 1960. Filho de pescador artesanal, praticante do arrastão de praia, continuou na pesca industrial e se transformou em armador de barco de pesca camaroneira. Quando o assunto é culinária, Marione gosta de preparar o camarão à moda catarinense mais tradicional. O camarão no bafo é muito simples e rápido de fazer e conserva o sabor natural do pescado.

Camarão no bafo

Peça de cerâmica própria para fazer o camarão no bafo

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Dezembro 2013 55

Colhemos depoimentos de pescadores para criarmos uma ceia para as festas de fim de ano, acima de tudo, muito brasileira. A simplicidade do preparo, valorizando o sabor natural dos produtos definem a “cozinha ingênua” de raiz

Na reserva Extrativista do Mandira, em Ca-naneia, a tradição quilombola permanece viva na manutenção de sua cultura. As famílias de Mandira vivem em grande parte do manejo da ostra. Mesmo nos meses de janeiro e fevereiro, período de defeso da ostra (quando a extração e a pesca são proibidas) a produção dos viveiros é suficiente para atender a grande demanda de ostras durante o verão.A produção é coordenada pela Cooperativa dos Produtores de Ostras de Cananeia – Cooperostra, criada em 1998.

Irene Candida Mandira Coutinho, 56 anos, explica que sua família está há sete gerações no local. O marido, Chico Mandira, vive do manejo de ostra, mas pesca peixes para consumo pró-prio. Dos sete filhos, seis homens e uma mulher, na faixa dos 19 aos 36 anos, cinco se dedicam à pesca, mantendo uma tradição centenária. “Meus pais e avós trabalhavam na roça”, conta. Os antigos plantavam arroz, feijão, mandioca. O palmito juçara era misturado ao arroz, como substituto da “mistura” na dieta da comunidade, diante da dificuldade em se obter carne. “A ostra sempre fez parte da nossa alimentação”, acrescenta. Desses dois elementos que ficaram na história da tradição culinária de Mandira, Irene nos dá duas receitas especiais, o arroz com palmito e o molho de ostra, que pode ser servido como acompanhamento ou ser misturado ao arroz branco ou ao macarrão.

Vejam as dicas do médico veterinário Augusto Perez para escolher frutos do mar saudáveis para as festas de fim de anoO uso do pescado na ceia de Natal e Ano Novo é uma ótima opção para estas comemorações que vão reunir as pessoas amigas.

1Para montar um cardápio, elabore uma lista de compras, com o peixe como

prato principal e alimentos e utensílios necessários.

2As recomendações começam servindo um pescado como tainha, badejo,

namorado, cação, pescada branca, bacalhau, peixes sem muitos espinhos. Camarões também são boas opções.

3Para evitar a preocupação com a qualidade de pescado, a dica é que a

inspeção e a higiene devam estar presen-tes na comercialização do produto.

4A pele do peixe fresco deve apresentar-se firme e úmida, sem manchas.

5Os olhos devem estar salientes e brilhantes.

6As brânquias devem apresentar-se úmidas e brilhantes e a cor entre rosa

e vermelho.

7O bacalhau deve ser mantido refrige-rado no estabelecimento de venda.

Quando exposto em temperatura ambien-te, deve ser em pequenas quantidades previstas para serem vendidas no mesmo dia, para não formar manchas avermelha-das e pontos negros, que caracterizam deterioração do produto. Em casa, o consumidor deve mantê-lo na geladeira, inclusive quando fizer a dessalga. O bacalhau não deve apresentar manchas avermelhadas, limo superficial, amoleci-mento da carne.

8Os crustáceos devem apresentar cor própria da espécie, e não devem portar

cor alaranjada. Os mariscos e as ostras só podem ser vendidos vivos (conchas fecha-das), as lulas e os polvos, a carne deve ter consistência elástica, com coloração característica da espécie.

9Para colaborar com a segurança, adquira o pescado em supermercado,

peixaria, mercado que tenham a supervi-são de serviços de inspeção que garantem a qualidade do produto.

10O pescado deve ser escolhido no final das compras, seja congelado,

refrigerado ou fresco, para evitar que o alimento permaneça muito tempo sem refrigeração.

11Todo produto congelado deve ter rótulo do serviço de inspeção. A au-

sência caracteriza produto clandestino.

Caiçara, quilombola, caipira ou catarinense?

Como escolher o pescado para o Natal e o Ano Novo

Ingredientes:1 tainha limpa de cerca de 2 kg1 folha de bananeiraSal, limão, azeite ou palmito

Preparo: Lavar bem os dois lados da folha de bananeira

em água corrente. Jogar água fervente para deixá-la mais flexível. Cortar com uma faca afiada o talo central da folha no sentido horizontal retirando assim um fio que será usado para embrulhar o

peixe. Ajeitar a tainha em cima do lado brilhan-te da folha. Enrolar a folha e dobrar as pontas. Amarrar o pacote em dois pontos. Colocar numa assadeira grande e levá-lo ao forno préaquecido em 260 graus por cerca de uma hora. Depois de assado, cortar a folha e abrir o peixe ao meio, ou puxar toda a pele com uma faca. Depois, temperar apenas com sal e limão, ou azeite. Se quiser usar outro elemento da culinária caiçara, é só fazer um molho com o palmito picado e colocado dentro do azeite.

Ingredientes:1/2 dúzia de laranjas-da-terra-1/2 litro de

água- 2 xícaras (chá) bem cheias de açúcar cristal-cravo e canela.

Preparo:Tirar com uma faca afiada a pelinha colorida

externa da casca da laranja, cortá-la em quatro, deixando as pontas ligadas embaixo. Tirar o miolo. Como os quatro pedaços da casca estão presos numa ponta, ficam no formato de uma flor. O melhor é deixar as cascas três dias de molho na geladeira, trocando a água todo o dia, para tirar o amargo. Outra opção é fazer apenas em um dia, colocando as cascas numa panela com água e deixar ferver por um minuto, repe-tindo o procedimento por três vezes ou até sair o amargo. Levar o açúcar e a água ao fogo com as cascas de laranja, cravo e canela e deixar em fogo baixo por cerca de meia hora até engrossar (não precisa dourar).

Marione e o sabor da tradição catarinense

Irene, tradição de sete gerações

Peixe na bananeira

Doce de laranja-da-terra

Arroz com palmitoIngredientes: 500 g de palmito - 2 xícaras (chá) arroz-1/2 cebola picada-3 dentes de alho-cebolinha verde picada-4 xícaras (chá) de água-óleo de soja-sal Preparo: Refogar cebola e alho no óleo de soja, acrescentar pal-mito picado, arroz, sal e cebolinha picada. Completar com água e deixa ferver. Quando estiver quase pronto jogar mais um pouco de cebolinha fresca.

Molho de ostraIngredientes: 5 dúzias de ostras sem casca-1/2 cebola picada-3 dentes de alho-1 tomate picado (sem sementes)-1/2 pimentão verde picadinho (quanto mais miudinho melhor)-salsinha e alfavaca picadas. Preparo: Tirar a ostra da casca, lavar e reservar. Refogar a cebola, acrescentar pimentão e tomate. Acrescentar a ostra, salsinha e alfava-ca e deixar por mais cinco minutos. O molho pode ser servido como acompanhamento ou misturado no arroz branco ou macarrão.

Camarão no tempero de tomate

Marione mantém as receitas antigas de família

Neide embrulha com perfeição o peixe na folha de bananeiraPeixe assado na folha

de bananeira é tradição indígena passada para

culinária caiçara e caipira

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Dezembro 20136

Encontro reúne Apostolado do Mar

Arte do bem

De 27 de novembro a 1 de dezembro aconteceu em Santos o Encontro Internacional da Rede Scalabriniana do Apostolado do Mar. A reunião é feita a cada dois anos e reuniu 28 pessoas da Filipinas, Brasil, Estados Unidos, Equador e Chile. Os principais assuntos discutidos foram presença da igreja na área portuária e comunidade de pes-cadores, trabalho com sindicatos ITF, manual do capelão do Apostolado do Mar, cultura filipina, cultura indiana, serviço ecumênico, serviço social e trabalho psicológico junto à

gente do mar. A abertura do encontro foi feita pelo padre Samuel Fonseca, coordenador regional do Apostolado do Mar para a América Latina e Caribe e capelão diretor da Obra Stella Maris em Santos. Estiveram presentes ao encon-tro o vice-prefeito de Santos, Eustázio Alves Pereira Filho, Tsuneo Okida, presidente da Federação do Estado de São Paulo, pároco Rovílio Guizzardi, da Paróquia Pessoal do Apostolado do Mar, Matriz Nossa Senhora dos Navegantes e responsável pela Pastoral dos Pescadores.

As belezas naturais e a vida das comunidades tradicionais de Ilhabela, no litoral norte, são um tema constante para Mario Barila. O paulistano, que é economista, mas velejador e fotógrafo nos momentos de lazer, se encantou com as localidades em suas incursões pela ilha. Com isso aprendeu muito sobre os hábitos e modo de vida que registrou com suas lentes nos anos de 2012 e 2013. Ao chegar à Ilha de Búzios, no Arquipélago de Ilhabela, a cerca de 20 milhas da ilha principal, pode conhecer a escola municipal ali instalada. Ficou surpreso ao ver que a professora Carla usava computador nas aulas, num lugar tão distante dos centros urbanos. Logo Carla explicou que o equipamento não era da escola, mas dela. Mario concluiu que os alunos não poderiam depender da boa vontade da ação isolada de uma professora. Soube ainda que numa reda-ção em que os alunos foram perguntados sobre qual a diferença entre viver na Ilha de Búzios ou em outro lugar, a maior desvantagem que apontaram em viver num lugar isolado seria não ter acesso às redes sociais, como facebook, entre outros. Barila empreendeu visitas a ou-tras comunidades tradicionais, que tem comunicação precária com os centros urbanos, e organizou uma coleção de fotos. Em 2012 e 2013, realizou duas exposições na pousada Armação dos Ventos, na praia da Armação, e com a renda da venda das fotos comprou lap-

tops que foram doados para as escolas municipais das praias do Bonete, Cas-telhanos, Praia Mansa, Praia da Fome, Serraria, e Ilhas de Búzios e Vitória. As fotos de Barila na Ilha de Vitória, a cerca de 30 milhas da vila do município de Ilhabela, mostram que os jovens entram cedo na pesca, e dão assim continuidade à atividade de seus pais. Fazem pesca de linhada e emalhe, e ainda com garateia (artefato com várias pontas de anzol) pegam muitas lulas ao redor da ilha. A arte de Barila deixa um registro do dia a dia das comunidades de pescadores para as gerações futuras. No mês de dezembro as fotos estão em exposição no Espaço Cultural da Prefeitura na Praia Grande, Ilhabela.

Fotógrafo paulistano utiliza renda da venda de exposição de fotos para doar computadores a escolas das comunidades isoladas de ilhabela

O vice-prefeito de Santos, Eustázio Alves Pereira esteve presente ao encontro

Padre Samuel Fonseca abre o encontro

Tsuneo Okida e padre Rovílio GuizzardiParticiparam representantes de cinco países

Mário Barila

Mário Barila

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O pescado é comprovadamente um alimento de elevado valor nutri-cional. Isto faz dele um produto muito importante para o ser humano, tanto de forma fresca ou congelada. Existe um descrédito do consumidor quanto ao pescado congelado, por considerar que este produto é menos nutritivo, por apresentar muita água ao descongelar tornando a porção adquirida muito menor e com rendimento muito baixo, além de ser um produto muito caro. Mas, quando o pescado congelado é processado de forma adequada todos estes inconvenientes podem ser relega-dos a um segundo plano e sobressaem as vantagens, tais como:

- O pescado fresco muitas vezes é comercializado de forma clandestina, por não ter sido inspecionado, consti-tuindo um alimento de origem duvidosa, trazendo risco ao consumidor, portanto impróprio, enquanto o congelado é pro-cessado na indústria sob a supervisão de um serviço de inspeção, dando qualidade ao produto.

- O pescado fresco tem um tempo de vida muito curto, e este diminui ainda mais quando a conservação em gelo é inadequada, acelerando o processo de deterioração, entretanto, o congelado pode durar meses.

- O pescado congelado representa uma alternativa para o preparo das refeições, pois trata-se de um produto semipronto e substitui o pescado fres-co. Isso é importante nos dias de hoje, quando o tempo das pessoas é cada vez mais é escasso, para ser despen-dido no preparo do peixe inteiro, que necessita de lavagem, descamação e evisceração.

- O congelado é totalmente apro-veitável, pois a comercialização é con-trolada, diferentemente do que ocorre com o fresco que é desperdiçado quan-

do não é comercializado, a exemplo das sobras das feiras, mercados, etc.

- O congelamento tem a finalida-de de manter o frescor, evitando que ele se estrague e perca proteínas, já o pescado fresco tem características que propiciam o desenvolvimento e multiplicação bacteriana, que podem causar infecção ou intoxicação. O pescado congelado é um produto mi-crobiologicamente mais seguro, porque o congelamento paralisa o processo bacteriano como a ação bioquímica, mantendo assim o valor nutricional.

- Para obtenção de um produto de boa qualidade é importante que o congelamento tenha sido feito de forma adequada, para evitar a formação de cristais de gelo de tamanho grande na carne, que ao descongelar fazem o pescado perder o aspecto de peixe fresco, quanto à consistência, coloração e odor da carne. Este procedimento é feito exclusivamente em indústria por dispor de equipamentos apropriados para este fim.

O artigo terá continuidade na próxima edição do jornal Martim-Pescador, com mais informações sobre o pescado congelado.

Vantagens do pescado congelado sobre o pescado fresco – I

Festa de Nossa Senhora dos Navegantes

Eternizando o rei das águas doces

Augusto Pérez Montano - Médico Veterinário, membro da Comissão de Aquicultura do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo

Mais um desafio na vida do taxidermista Nelson Dreux, do Mu-seu de Pesca de Santos. Taxidermizar um pirarucu de 2,30 metros e 140 quilos, originário do Acqua Mundo, em Guarujá. O peixe foi trazido ao laboratório congelado, e Dreux contou com a ajuda de seis pessoas para colocar o animal em sua bancada de trabalho. O pirarucu chegou com dois anos ao Aquário do Guarujá no ano 2000 e ali morreu em setembro de 2013. Depois de taxidermizado, o peixe ficará exposto no mesmo local onde passou 13 anos de sua vida, o Acqua Mundo, considerado o maior aquário da América do Sul. Para garantir que o animal tivesse a aparência bastante natural, Dreux trabalhou por dois meses, finalizando a peça no final de novembro. Para o processo de taxidermização, depois de retirada a carne, a pele do animal ficou imersa por 10 dias no formol. Em seguida foi feita a limpeza final dos resquícios de carne ainda aderi-dos à pele e a remoção da guelra, para depois preencher a pele com plástico bolha e pintar. A retirada da guelra foi uma das etapas mais difíceis. “Nessa fase contei com a ajuda do médico veterinário Theo Miranda dos Reis”, conta Dreux. “Durante dois dias trabalhamos até de madrugada para finalizar essa etapa”, complementa. Também ajudaram em outras etapas os biólogos William Ribeiro e Julia Domingos. Um dos maiores desafios foi obter a cor o mais real possível, o que envolve muito trabalho de pes-quisa. “Aqui é uma usina de criação de ideias”, define Dreux. As escamas que estragaram foram substituídas por novas moldadas em borracha e feitas em silicone. Para os olhos, bolas de ping-pong cobertas com resina deram a dimensão ideal. “O mais difícil foi fazer a costura, devido à dureza das escamas, que entortavam as agulhas de aço especiais para uso veterinário”, conta. Dreux usou a experiência obtida em 2002, quando taxidermizou o primeiro pirarucu com 1,62 metro e cerca de 30 quilos. “Foi o primeiro peixe em que utilizei plástico-bolha, abandonando naquele

A Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, na Ponta da Praia, em Santos, começa a preparar os festejos de sua padroeira. O evento acontecem de 31 de janeiro a 2 de fevereiro (dia da santa). No dia 31 de janeiro, o pároco Rovílio Guizzardi fará visitação com bênçãos ao Museu de Pesca, Píer dos Pescadores, terminal Pesqueiro Público de Santos, Mercado de Peixes, Museu do Mar, Rua do Peixe e Federação dos Pescadores. No mesmo dia às 19h30 acontece missa. No sábado, dia 1 de fevereiro às 9h, haverá bênção dos carros, e barraquinhas com alimentos a partir das 15h. Às 16h haverá missa festiva com participação da Capela Santa Edwiges. No domingo é a festa da padroeira com missa solene às 9h e 18h. Haverá procissão às 19h15 e às 20h30 bênção do santíssimo e Consagração à Nossa Senhora. As barraquinhas estarão funcionando a partir das 17h.

O taxidermista Nelson Dreux taxidermiza um pirarucu de 140 quilos

O pirarucu, Arapaima gigas, é um peixe encontrado na Bacia Amazônica, podendo chegar a cerca de 3 metros e 200 quilos. A palavra tem origem em dois nomes da língua tupi: pirá (peixe) urucum (verme-lho), já que o animal tem coloração acinzentada com toques de vermelho especialmente em sua cauda. Suas fortes escamas formam uma espécie de blindagem natural, que o protege de peixes agressivos como piranhas. Sua língua óssea e áspera é usada pelos índios para ralar bastões de guaraná. Consumido fresco e salga-do, ganhou o nome de bacalhau da Amazônia. Hoje se encontra na lista de peixes ameaçados de extinção e tem programa de manejo para defen-der a espécie. Com a escassez, sua criação em cativeiro se expandiu.

ano a serragem e a palha de madeira”, explica. Embora o peixe atual tenha sido um grande desafio, Dreux ainda considera a lula-gigante Architeuthis sp, com 5 metros de comprimento e 91 quilos a mais difícil de ser tra-balhada. A peça é o único exemplar em exposição no mundo e está no Museu de Pesca de Santos. “Tenho o defeito de ser perfeccionista”, confessa Dreux. Além da dificuldade de trabalhar com a pele muito fina da lula, o taxidermista usou 560 peda-ços cortados de uma mangueira de plástico para substituir as ventosas que o animal apresenta em seus oito braços. Terminada a taxidermização do pirarucu, Dreux ainda tem um grande desafio pela frente. Restaurar várias peças do Museu de Pesca, que se encontra no momento fechado para reforma.

...arregaça as mangas para um trabalho árduo de dois meses...

Dreux encara o

desafio....

...e ao final de novembro a missão estava cumprida

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Dos tempos em que a praia do Curral, em Ilhabela, tinha dois engenhos de aguardente, sínha Maria Leandro do Valle Salinas tem a lembrança viva. Os cem anos que completou em 29 de setembro de 2013 não afetaram sua memória. Ela conta como se fosse ontem, histórias do tempo em que comprou sua casa ali naquela praia. “A Albina, filha de escrava, queria vender para acompanhar a filha que ia se mudar para São Paulo”, conta. “Ninguém queria comprar, diziam que era mal-assombrada”, acrescenta. Nascida na praia da Feiticeira, mudou-se para a praia do Curral um ano após seu casamento aos 16 anos com Benedito Salinas, pescador. Decidiu ficar com a casa de Albina, que chamavam de convento, pois as moradoras ali rezavam terço todo dia. “Que assombrada, nada”, afirma depois de viver mais de 80 anos no local. A casa de taipa e telhas de canal, construída no final do século 19, conserva algumas de suas características originais, como as janelas altas de madeira e o estilo do telhado. Tempo bom, vizinhança unida, todo mundo se conhecia, o turismo entrou e agora a gente não conhece mais ninguém, diz Benedita Cristina, sua irmã de 85 anos. A filha de sínha Maria, Nilce, 66, concorda. As pessoas se uniam em mutirão para construir casas e até para pescar. “Papai tinha rede de arrasto de tainha”, lembra-se. O peixe chegava entre maio e junho. Benedito, marido da Maria, plantou um chapéu de sol no meio da praia para subir e espiar melhor a entrada dos cardumes. Com um berrante feito de chifre de boi avisava os pescadores da praia que corriam para puxar a rede.

A vida na praia do Curral era dividida entre a pescaria e o trabalho na roça próxima ao pé do morro. Ali se plantava cana que no engenho se transformava em garapa e melado para con-sumo próprio, e aguardente para vender. A mandioca processada nas casas de farinha era convertida em farinha e tapioca para fazer o beiju. Plantavam ainda café, milho, mandioca, feijão, batata-doce, inhame, e no pomar do quintal, laranja-da-terra, limão-cravo, abacate, banana. A comida era feita no fogão a lenha e durante muitos anos a água era trazida da cachoeira, e a roupa era lavada na água do ribeirão mais próximo. Uma vida de muito trabalho e comida saudável. Ali Maria criou 10 filhos com o marido Benedito que faleceu com 50 anos em 1950. Maria completou 100 anos em 29 de setembro, data co-memorada com 15 netos, 12 bisnetos, e uma tataraneta. Muitos ainda moram em Ilhabela. As netas Rachel e Érica montaram na frente da casa da família o bar Balacobaco, que reúne mui-tos turistas o ano inteiro. A agitação de hoje é diferente das festas do passado, que Benedita e Nilce trazem na lembrança. Na época do Natal, os bailes se prolongavam até o ano novo. “Tinham início à noite e eram chamados de alvorada”, conta Benedita. O costume era comemorar o Natal com um almoço para a família, com peixe ou um frango criado no quintal. Não havia costume de dar presentes, hábito introduzido com maior contato com a cultura de centros urbanos, e a chegada do radio e TV. Durante a Folia de Reis, que se estendia do Natal até 6 de janeiro, um grupo ia de casa em casa, tocando e cantando. Vinha o versista, dois violeiros, o tocador de rabeca e de tambor. Benedita sabe de cor os versos cantados pelos festeiros, que agradeciam o acolhimento do anfitrião: “Graças a Deus que já vi luz acesa a reluzir, o senhor dono da casa sua porta vem abrir”. E assim iam de casa em casa, varando a noite. Essas brinca-deiras inocentes faziam a alegria do povo e estão na memória de quem viveu e atravessou um século de transformações. O nome, sínha Maria, assim mesmo, com o acento na primeira sílaba, já é uma recordação das falas antigas, que chegam até nós na memória prodigiosa de tão gentil senhora.

Sínha Maria

Ao completar 100 anos, Maria Leandro do Valle Salinas conta sua vida na praia do Curral em Ilhabela

Bolos, mingaus e biscoitos de araruta que eram comuns até a década de 60 hoje quase desapareceram. A planta, da família das marantáceas, hoje é muito rara. As receitas originais foram substituídas por ingredientes à base de mandioca, milho e trigo. Com alguns estímulos, a fécula da araruta começa a reaparecer no mercado. Índios pataxós, que tradicionalmente cultivavam a planta, voltam a produzi-la com apoio da Embrapa. Outra plantação em São Felipe, no Recôncavo Baiano fornece pelo correio o produto para todo o Brasil site através do site site www.ararutadabahia.loja2.com.br. Tel: (75) 3629.2932. O produto é obtido com a raiz da araruta, que tem o formato semelhante da mandioquinha. Segundo Edvandro França, da empresa Araruta da Bahia, o produto não possue glúten. Para

fazer 12 kg de fécula são necessários 100 kg de batata. É preciso estar atento para comprar a verdadeira araruta, que muitas vezes é confundida com o polvilho feito da mandioca. O polvilho da mandioca é fácil de distinguir, pois é muito leve, como um talco. Aí vai uma receita de biscoitinhos leves e crocantes.

Araruta renasce

Preparo:Misturar as gemas ao açúcar e à manteiga. Colocar a clara em neve. Dar formato com a mão e levar ao forno preaquecido por cerca de 20 minutos.

Biscoitinhos de areiaIngredientes:2 gemas e uma clara/ 1 xícara (chá) de açúcar/2 colheres (sopa) de manteiga

Biscoitinhos de areia

A planta e rizoma da

araruta

Praia do Curral

As primas Rachel e Érica dirigem o Balacobaco Bar A filha Nilce na casa centenária da família