jornal da abi 389

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ABRIL 2013 389 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA ÓRGÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA PÁGINA 3 MUNIR AHMED A ABI DERROTA SUA QUINTA-COLUNA COM VOTO MACIÇO PÁGINA 18 DESDE 2012 MORTOS NO BRASIL 14 JORNALISTAS PÁGINA 20 NELSON BREVE: “A SOCIEDADE TEM DIREITO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO" PÁGINA 31 AS CÂMERAS DE VLADIMIR NA BRASÍLIA NASCENTE PÁGINA 26 Divulgados milhares de documentos que comprovam a promíscua relação entre a diplomacia norte-americana e a ditadura militar no Brasil.

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abril 2013

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ABRIL2013

389

ÓRGÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSAÓRGÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA

PÁGINA 3

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AH

MED

A ABI DERROTASUA QUINTA-COLUNACOM VOTO MACIÇO

PÁGINA 18

DESDE 2012MORTOS NO BRASIL

14 JORNALISTASPÁGINA 20

NELSON BREVE:“A SOCIEDADE TEM

DIREITO À LIBERDADEDE EXPRESSÃO"

PÁGINA 31

AS CÂMERAS DEVLADIMIR NA

BRASÍLIA NASCENTEPÁGINA 26

Divulgados milharesde documentos quecomprovam a promíscuarelação entre a diplomacianorte-americana e aditadura militar no Brasil.

2 JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013

DESTAQUES

AMBIÇÃO QUE CEGA

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

03 DENÚNCIA - Dossiê 1º de abril

19 REFLEXÕES - O Poder e a liberdade,

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

por Rodolfo Konder

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

21 ELEIÇÃO - Rosiska, mais uma mulher na Academia

22 ANIVERSÁRIO - O rádio no Brasil hoje,

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

90 anos após a sua criação

25 CENTENÁRIO - O casamento de Rubem Braga

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

com a sua cidade e o seu rio

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

26 CINEMA - Brasília por trás das câmeras

27 INFORMAÇÃO - Jornalismo na internet,

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

alternativa ao monopólio?

28 PERFIL - Antônio Leão, o solitário

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

escritor de dicionários

29 LIVROS - O potencial da crônica,

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

segundo Paulo Mendes Campos

30 LIVROS - A atualidade de Marx,

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

até para não marxistas

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

31 DEPOIMENTO - Nelson Breve

SEÇÕES

0 ACONTECEU NA ABI16 Nosso presente nos 105 anos: um show da

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Velha Guarda da Portela

17 A Operação Condor matou mais de 100 mil

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

em seis países, diz Almada, que a denunciou

18 Com votação maciça, a ABI derrota

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

a sua quinta-coluna

20 LIBERDADE DE IMPRENSA

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Mortos 14 jornalistas no Brasil desde 2012

EDITORIAL

MAURÍCIO AZÊDO

A ABI FOI VÍTIMA DURANTE boa parte do mêsde março e durante todo o mês de abril de umacampanha difamatória promovida por um gru-po de associados chefiados por Domingos Mei-relles, atual Diretor Econômico-Financeiro daCasa, que aspirava a concorrer ao cargo de Pre-sidente e não teve competência nem credibili-dade para montar uma chapa que concorressecom a corrente majoritária, representada pelaChapa Prudente de Moras Neto. Frustrado emsua ambição, Meirelles e seus prepostos passa-ram a difundir um noticiário inçado de menti-ras, distorções e imprecisões, acolhidas de for-ma acrítica por jornalões como a Folha de S. Paulo,veículo que não respeita o direito de resposta,e O Globo, que “requenta” notícias, como se dizna gíria jornalística, e as apresenta como novas,enganando seus leitores.

ENTRE AS MENTIRAS ESPALHADAS por Mei-relles e seus bad boys figura a de que a ABI es-taria vivendo uma “crise financeira”, afirmaçãoque militaria em seu desfavor, como Diretor Eco-nômico-Financeiro que é, quando na verdade aCasa jamais teve um período tão prolongado deestabilidade financeira, expressa em valoresinvejáveis mencionados no Relatório da Dire-toria que o Jornal da ABI publica nesta edição.

ALÉM DE ESTAR RELIGIOSAMENTE em dia como pagamento de suas obrigações, a Casa desen-volve um programa de obras com recursos pró-prios, constituídos graças a uma gestão eficien-te, para a qual Meirelles nada contribuiu, poiscomo Diretor se limitava a assinar cheques quefuncionários da ABI levavam à sua casa, em Ja-

carepaguá, ou a uma clínica onde ele faz fisiote-rapia, em Vila Isabel. No dia 6 de abril, ele assinouos cheques sentado no seu carro estacionado noparqueamento de veículos da ABI, sem se dar aotrabalho de subir ao sétimo andar, onde fica aTesouraria, para cumprir sua obrigação.

COM DOIS OUTROS DIRETORES que com elese acumpliciaram na busca da realização de seuprojeto de poder (Orpheu Sales, Diretor Ad-ministrativo, e Jesus Chediak, Diretor de Cul-tura e Lazer) e, tal como ele, não tiveram oprévio escrúpulo ético de renunciar à Direto-ria antes da tentativa que empreenderam deformar uma chapa de oposição, Meirelles in-tentou adiar a eleição do dia 26 de abril, previs-ta estatutariamente, para assim prolongar aduração de sua campanha de difamação. Comesse fim, ele e o associado Paulo Jerônimo deSouza, o Pagê, entraram com um processo oraem tramitação na 8ª Vara Cível da Comarca daCapital, cuja titular, Juíza Doutora Maria daGlória de Oliveira Bandeira de Melo, negou apretensão que apresentaram.

SAUDOSO DAS CÂMERAS E DOS HOLOFOTESda TV Globo, que, estranhamente, lhe paga régiosalário sem exigir a contrapartida da prestaçãode trabalho, Meirelles foi levado à cegueira e àinsanidade por sua ambição e cometeu e esti-mulou agressões a uma instituição que, comoa ABI, tem mantido forte atuação em defesa daliberdade de expressão, da liberdade de impren-sa e dos direitos humanos, sem que nestas cau-sas contasse com sua presença e participação,ainda que palidamente.

Um time de associados e eleitores da pesada: José Louzeiro, conduzido por Solange Rodrigues; Fernando Foch, hoje desembargador;Sérgio Cabral, João Máximo e Teixeira Heizer. Foi com sócios dessa envergadura que a Chapa Prudente venceu.

O DIA QUE DUROU 21 ANOS

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ELEIÇÕES NA ABI

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3JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013

DENÚNCIA

1º DE ABRILCoincidência ou não, neste mês em que

se relembram os 49 anos do golpe militarde 1º de abril de 1964 – que manchou aHistória do Brasil de maneira brutal –, trêsimportantes fatos trouxeram à tona osbastidores e os primeiros anos domovimento que implantou a mais longa etenebrosa ditadura no País.

Para começar, a estréia nos cinemas dodocumentário O Dia Que Durou 21 Anos,que revelou provas irrefutáveis sobre aparticipação norte-americana no golpe, aoapresentar documentos inéditosdenunciando o complô para desestabilizar oGoverno João Goulart (como visto na ediçãoanterior do Jornal da ABI, em matéria escritapelo jornalista Celso Sabadin). O assuntonão se esgota. Nesta edição, a repórterCláudia Souza apresenta uma entrevistacom o diretor do filme, Camilo Tavares, quecontou à jornalista como, ao longo de cincoanos de pesquisa, foram recuperadosrelatórios secretos da Cia, telegramas egravações telefônicas entre o Embaixador

DOSSIÊtambém colocou no link Memória Política eResistência de seu site na internet(www.arquivoestado.sp.gov.br) quase ummilhão de imagens de fichas, prontuários edossiês do acervo do DepartamentoEstadual de Ordem Política e Social de SãoPaulo, órgão de repressão que monitorou avida de milhares de brasileiros por mais deseis décadas, com destaque para o períodopós-1964. Escrita pelo jornalista GonçaloJúnior, a matéria mostra a intimidade demilitares de altas patentes, diplomatasnorte-americanos, políticos e empresáriosbrasileiros com os porões da ditadura e atortura indiscriminada, além de colocar luzsobre o modus operandi da repressão apartir de seus bastidores.

Essas histórias estarrecedoras sempreforam denunciadas por quem lutou contraa ditadura de todas as formas, masfaltavam documentos que não deixassemdúvidas sobre o assunto. Hoje, os fatosestão amplamente documentados, comoveremos nas páginas seguintes.

norte-americano no Brasil e os Presidentesdos Estados Unidos John Kennedy e LyndonJohnson. Conversas que revelaram aconstrução histórica do golpe.

Ainda no início de abril, o site WikiLeaks,de Julian Assange, lançou o projeto PlusD,que tornou disponíveis na internet doismilhões de documentos sobre a geopolíticaglobal dos Estados Unidos, incluindo aparticipação norte-americana namanutenção da ditadura no Brasil. Sobre oassunto, a Agência Pública, especializadaem reportagens e jornalismo investigativo(apublica.org), publicou uma série dematérias em seu site que revelamestarrecedora e promíscua relação entrea diplomacia brasileira e a dos EstadosUnidos. Escritas pelas jornalistas NataliaViana e Marina Amaral, o Jornal da ABIrepublica nesta edição algumas dessasmatérias devido à grande importância dasdenúncias ali contidas.

Finalizando, no dia 1º de abril, oArquivo Público do Estado de São Paulo

4 JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013

DENÚNCIA DOSSIÊ 1º DE ABRIL

“Espero não ler essa conversa daqui a25 anos na mídia”, disse o ex-Secretário-Geral do Itamaraty Jorge de Carvalho eSilva a um diplomata americano no co-meço de 1973, em plena ditadura militar.Carvalho e Silva estava reclamando dapolítica americana de liberação de docu-mentos oficiais, quase 40 anos antes de aLei de Acesso à Informação brasileira seraprovada. O tema da desclassificação dedocumentos era “muito sensível” para aditadura brasileira, relatou o então Embai-xador americano John Crimmins em umdespacho diplomático no qual comentavao diálogo. Segundo Crimmins, o Itamara-ty e o Conselho de Segurança Nacionalhaviam decidido que documentos secre-tos do Brasil só deveriam ser liberadosapós 50 anos, e ainda assim os pedidosseriam analisados “caso a caso”.

Carvalho e Silva não podia imaginarque quatro décadas depois não apenas suaconversa poderia ser publicada pela mí-dia, mas estaria disponível para 2 bilhõesde usuários da internet pelo mundo. Orelato em questão pode ser facilmenteacessado através do projeto PlusD, Bibli-oteca de Documentos Diplomáticos dosEUA (www.wikileaks.org/plusd), lança-do pelo WikiLeaks em parceria com 18veículos internacionais, incluindo asagências de notícias AP e AFP e os jornaisLa Repubblica, da Itália, La Jornada, doMéxico, Página 12, da Argentina – e aAgência Pública, no Brasil.

Pela primeira vez a organização de Ju-lian Assange traz não um vazamento, masuma nova maneira de buscar documentosque já estavam em domínio público. OPlusD agrega 1,7 milhão de documentosdiplomáticos de 1973 a 1976 – quandoHenry Kissinger dirigia a política externaamericana – e 250 mil de 2003 a 2010,constantes no vazamento mais famoso daorganização, o Cablegate. “Não se podeconfiar no Governo americano para regis-trar a história das suas interações no mun-do. Ainda bem que uma organização comtradição de resistir à censura agora tem umacópia dos arquivos”, diz Julian Assange,fundador do WikiLeaks.

Os documentos da Era Kissinger cons-tantes no PlusD foram desclassificados ecolocados online pelo National Archivesand Records Administration (NARA), oarquivo nacional americano, a partir de2006, após passarem por uma detalhadarevisão do Departamento de Estado e dopróprio National Archives. Cerca de 320

mil são documentos originalmente clas-sificados – cerca de 250 mil confidenci-ais e 70 mil, secretos.

Dentre 1,7 milhão de documentos,mais de 300 mil estão em formato micro-filme na sede do National Archives emWashington (não disponíveis no site); ehá entre eles 250 mil “cartões de reten-ção”, indicando os documentos que nãoforam liberados para desclassificação porserem, ainda hoje, considerados sensíveispara os Estados Unidos. Para o Brasil, onovo projeto do WikiLeaks tem especialimportância. Embora parte dos documen-tos já tenha sido publicada pela imprensabrasileira, o arquivo completo expõe emdetalhe as ações de Kissinger em relação àditadura brasileira entre 1973 e 1976 – emespecial durante o Governo do GeneralErnesto Geisel. Até agora não se sabia a realdimensão deste arquivo. São mais de 8.500documentos enviados pelo Departamen-to de Estado dos EUA para o Brasil e maisde 13.200 documentos enviados da Embai-xada americana em Brasília e consuladosa Washington – mais de 1.400 são confi-denciais, e mais de 115 secretos.

Dezenas de despachos mostram que amissão americana acompanhava de per-to os relatos de tortura e de censura àimprensa. Também há dezenas de regis-tros de treinamentos de policiais e mili-tares, sempre encorajados pelo próprioCrimmins e por Henry Kissinger, queprimava por ter uma relação próxima como Brasil – em especial nos temas hemisfé-ricos, como o embargo a Cuba. Tambémhá detalhes sobre como a Embaixada lidoucom a prisão e tortura de dois cidadãosamericanos, o ex-deputado estadual Pau-lo Stuart Wright, que tinha dupla cidada-nia, e o missionário Frederick Morris.

Cortina de segredo“Esses documentos são difíceis de

acessar, então, na verdade, ainda estãoenvoltos em uma cortina de segredo”,explica o porta-voz do WikiLeaks Kris-tinn Hrafnsson. “Eles também dão umavisão geral do que ainda está escondido”.O PlusD traduz na prática premissasdefendidas pelos ativistas de dados go-vernamentais abertos – em suma, que asinformações devem ser disponibilizadasa todos, de maneira aberta, não proprie-tária e em formato facilmente pesquisá-vel e manuseável na web. “Isso deveria sertrabalho dos governos, mas eles têm ten-dência de fazer o oposto”, diz Kristinn.

Segundo a equipe do WikiLeaks, alémde os documentos do National Archivesestarem disponíveis em arquivos de PDFsisolados – de difícil busca e manuseio –havia imperfeições técnicas que dificul-tavam a busca por um público amplo. Nosite do NARA, grafias diferentes para asmesmas palavras levavam a erros na bus-ca. Kissinger, por exemplo, estava escri-to de 10 formas diferentes. A equipe doWikiLeaks realizou uma “engenhariareversa” de todos os PDFs, além de umaanálise de campos individuais, através deprogramas desenvolvidos para lidar como grande volume de dados e corrigir oserros. “É uma expansão do Cablegate. Oprojeto mostra que o WikiLeaks aprimo-rou sua capacidade técnica para processare apresentar ao público grandes bases dedados”, explica o porta-voz.

O PlusD permite busca em formato detexto e uma maior variedade de campos depesquisa, como por tipo de documento(despachos diplomáticos, memorandos,relatórios de inteligência), agência que oproduziu, classificação original e tamanhodo texto. Os telegramas contêm links paratodas as outras comunicações que fazemparte da correspondência. O PlusD tam-bém está aberto para pessoas que possu-em documentos diplomáticos dos EUA equeiram incorporá-los a essa biblioteca,através do email [email protected].

“Esses documentos cobrem um perío-do muito turbulento da História contem-porânea – em especial em países que sofre-ram com ditaduras diretamente apoiadasou endossadas pelos EUA, como na Amé-rica Latina. É importante que esses paísestenham um acesso rápido e fácil para to-das as informações relevantes na busca deentender o que aconteceu”, diz Kristinn.“O WikiLeaks quer ver isso acontecer noBrasil e em outros países.”

Walters no BrasilUm dos principais objetivos do PlusD

é facilitar os pedidos pela Lei de Acesso àInformação americana para liberar docu-mentos que ainda são mantidos em segre-

do, o que pode ser feito atravésdas informações nos milhares de“cartões de retenção” constan-tes no site.

Entre os documentos da Em-baixada no Brasil ainda não libe-rados – o total é de 2.108 – quepodem ser úteis à Comissão daVerdade estão, por exemplo, umtelegrama secreto de Brasília, em26 de abril de 1973, intitulado“Aumento em prisões relaciona-das a subversão e alegações de tor-tura”; outro, do Consulado do Riode Janeiro, de 15 de dezembro de1976, intitulado “Terrorismo dadireita: acontecimentos relativosà aliança anti-comunista no Bra-sil”, de 15 de dezembro de 1976;e outro, do Consulado de São Pau-lo, de 6 de agosto de 1975, chama-do “Mortes e desaparecimentosde extremistas chilenos”.

Os documentos já liberadossobre o Brasil traçam uma deta-lhada narrativa histórica das re-lações bilaterais. Há por exem-plo dezenas de trocas de corres-

pondência entre Henry Kissinger e o Mi-nistro do Exterior Azeredo da Silveira,além de relatos de conversas com altosmembros do Governo militar, como o Mi-nistro da Justiça Armando Falcão, jorna-listas e religiosos como o Cardeal de SãoPaulo, Dom Paulo Evaristo Arns.

O público pode ver na íntegra o docu-mento que relata as ameaças recebidaspelo adido político do Consulado dosEUA em São Paulo Claris Halliwell, quecostumava freqüentar a sede do Departa-mento de Ordem Política e Social entre1971 e 1973. Halliwell era identificadocomo “Cônsul”, segundo o registro de vi-sitas do Dops e chegou a ir ao prédio no Lar-go General Osório – onde ocorriam tortu-ras – duas vezes por mês. A ligação foi fei-ta por um anônimo com sotaque paulista,segundo um telegrama de 26 de outubro de1973, que disse: “se você não parar de nosatacar, nós vamos tomar medidas contravocê”. A Comissão Estadual da Verdade deSão Paulo pediu ao Itamaraty que intercedajunto aos EUA para pedir mais informa-ções sobre Halliwell.

Outros documentos são particular-mente instigantes, como um breve e rís-pido despacho confidencial enviado peloEmbaixador americano durante o perío-do, John Crimmins, ao Departamento deEstado, em 22 de dezembro de 1976, como aviso “não distribuir”, no qual ele afir-ma que “um oficial da Embaixada viuVernon Walters no estacionamento doMinistério do Exterior ontem”. SegundoCrimmins, “o oficial conhece Walters beme não há absolutamente nenhuma dúvi-da da sua cabeça de que a pessoa que eleviu foi Walters”. Indignado, o ex-Embai-xador pergunta a Kissinger: “Walters nãodeu a conhecer sua presença à Embaixa-da. Qual é o propósito da sua visita?”.

Vernon Walters, que foi adido militarda Embaixada brasileira entre 1962 e 1967– em pleno golpe militar – acabava dedeixar o cargo de Vice-Diretor da Cia, queocupou de maio de 1972 a julho de 1976.Não há nenhum registro oficial de suavisita ao Brasil em dezembro daquele ano.

POR NATALIA VIANA

A HISTÓRIADOCUMENTADA

WikiLeaks divulga correspondência entreEstados Unidos e Brasil durante a ditadura.

Vernon Walters: visita secreta ao Brasil em 1976.

PAULO

WH

ITAKER/FOLH

APRESS

5JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013

“Como a tortura é vista como uma prá-tica de uma pequena minoria e não dasforças militares brasileiras como um todo,a assistência militar americana não é tidacomo fomentadora de práticas repressi-vas”. Foi com essa frase que o então Em-baixador dos Estados Unidos em Brasília,John Crimmins, encerrou o despacho di-plomático enviado a Washington em 12de março de 1976. Tratava-se de uma ava-liação oficial sobre a situação dos direi-tos humanos no País, para que o Brasil pu-desse continuar recebendo assistência fi-nanceira do Governo americano.

O relatório enviado por Crimmins e suaesdrúxula conclusão são desmentidos pe-los próprios documentos da Embaixada en-contrados na Biblioteca Pública de Docu-mentos Diplomáticos dos EUA (PlusD), doWikiLeaks. Em diversos despachos, os re-presentantes americanos mostram estarplenamente cientes das torturas pratica-das pelos agentes da repressão. Mesmo as-sim, os EUA investiam pesado em armare treinar os militares brasileiros e consi-deravam essa assistência estratégica paramanter a proximidade com os militaresno poder.

Em muitos despachos Crimmins elogiao Governo de Ernesto Geisel (1974-1979),afirmando que embora as “prisões arbitrá-rias, tortura e prisões por crimes políticosde opinião ou livre associação” continuas-sem sendo preocupação mundial, “os esfor-ços da administração Geisel para subme-ter o aparato de segurança ao seu contro-le e acabar com abusos notórios têm gera-do ganhos e perdas para os dois lados. Nomomento presente, a administração temvantagem”.

O Embaixador também negava a torturano Governo Geisel: “Relatos indicam quenão há pessoas sendo torturadas agora e oclamor público em casos de prisão está sen-do respondido prontamente”, escreveu emmarço de 1976, embora admitisse que “aprática” era “nova” e que “a guerra contra asubversão” continuava. E concluiu: “En-quanto houver prisões, permanece o poten-cial para abusos”. Segundo ele, diplomatase militares americanos haviam manifestado“preocupações” em relação a maus-tratos acongressistas, advogados, policiais e religi-osos, sem no entanto recusar carta-brancapara que os EUA mantivessem assistênciamilitar para o País.

No mesmo relatório o Embaixadorainda elogiava o único relatório público

Os tempos eram outros, e o Governomilitar nem sonhava com a possibilidadede o Brasil adotar uma Lei de Acesso à In-formação. Mas a lei americana já estava empleno vigor. Através dela, em dezembro de1976 o jornalista Marcos Sá Corrêa, entãocorrespondente do Jornal do Brasil, obteveacesso a documentos desclassificados so-bre a participação dos Estados Unidos nogolpe de 1964, que estavam na BibliotecaLyndon Johnson, no Texas.

A série de reportagens revelava as arti-culações dos americanos antes do golpe,mostrando que eles sabiam nos mínimosdetalhes o que iria acontecer. Além degravações de reuniões e despachos diplo-máticos, havia documentos da Cia e diver-sos perfis de altos funcionários do Gover-no militar. Os documentos também reve-lavam pela primeira vez detalhes sobre aOperação Brother Sam, um plano de con-tingência do Governo dos Estados Unidosque enviou parte da frota naval america-na no Caribe em direção ao porto de San-tos com 100 toneladas de armas leves,munições, carregamentos de petróleo eaviões de caça para apoiar militarmente ogolpe, caso houvesse resistência.

No dia anterior à publicação, a bombaestourou na Embaixada. O EmbaixadorJohn Crimmins recebeu uma ligação deum nervoso José Luiz de Magalhães Lins,sobrinho do então Presidente do Senado,Magalhães Pinto, relatando a publicação.“Magalhães Lins diz que ele recebeu essainformação do Vice-Presidente Executi-vo do Jornal do Brasil, Nascimento Brito,um amigo pessoal. Nascimento Brito lhecontou sobre a obtenção dos documentosporque o nome de Magalhães Lins, ao ladode outros brasileiros proeminentes, apare-ce em muitos deles como fonte de infor-mação (da Embaixada)”, escreveu Crim-mins em um despacho diplomático em 16de dezembro. O diretor do jornal prome-teu que o nome do amigo seria poupado.Mas o mesmo não poderia ser garantido seO Estado de S.Paulo e a revista Veja obtives-

Quando a lei de acesso dos EUAbateu às portas da ditadura

sem os mesmos documentos – eles nãoteriam tanta “consideração” (documentoacima à esquerda).

Consternado, Crimmins pediu a Kis-singer orientações sobre como lidar coma imprensa. “Magalhães Lins está tentan-do através de contatos de alto nível comos serviços de segurança impedir a publi-cação pelo menos dos documentos maissensíveis”, escreve o Embaixador, acrescen-tando que “a Embaixada, claro, não estátendo nenhum papel nesse esforço. Maga-lhães Lins tem consciência da nossa pos-tura de não pôr as mãos nisso, e concordatotalmente” (documento à direita).

Mas em resposta Kissinger limitou-sea dizer que os documentos haviam sido“desclassificados ou ‘higienizados’ comoresultado do processo mandatório derevisão sob ordem executiva” e que esta-vam todos disponíveis ao público. “Noscasos em que há nomes, nem o contextonem a substância do evento foi conside-rado de natureza sensível”.

Para irritação dos militares, a reporta-gem especial do Jornal do Brasil, publica-da ao longo de três dias, explicava que osdocumentos podiam ser obtidos na Bibli-oteca por apenas 15 centavos.

Antes disso, a Embaixada tentara en-trar em contato com a alta cúpula do Ita-maraty para avisá-los de antemão, mas sóconseguiu contatar o Embaixador JoãoHermes Pereira de Araújo, Chefe do De-partamento das Américas do Itamaraty,quando a reportagem já estava na rua.

Dias depois, em 23 de dezembro, Crim-mins relataria em outro despacho que tan-to Hermes Pereira de Araújo quanto oChefe de Gabinete do Itamaraty, Luiz Pe-reira Souto Maior, o haviam procurado, de-mandando explicações. “Enquanto o ocor-rido não nos ajudou muito, já que envolvepessoas ainda ativas e joga dúvidas sobreelas, também implica certos contatos porobter informação. A coisa toda é um pou-co desconfortável”, lamentara, ao telefone,o Chefe de Gabinete Souto Maior.

“TORTURA ERAEXCEÇÃO”

POR NATALIA VIANA

Em 1976 e 1977, o Departamento de Estado dos Estados Unidosliberou mais de US$ 600 milhões para compras de armas pelos militares brasileiros. O Embaixador John Crimmins considerava

que dinheiro não fomentava “práticas repressivas”.

sobre a tortura, o “Relatório Sobre as Acu-sações de Tortura no Brasil”, publicadopela Anistia Internacional. “Achamos orelatório altamente relevante e preciso”,escreve, muito embora a conclusão daAnistia fosse diametralmente oposta àdele. “A tortura, no Brasil, não é nem podeser o resultado de excessos individuais;nem é, nem pode ser considerada uma re-ação exagerada a atos terroristas paraderrubar um regime em dificuldade que,por seu lado, provoca o famoso ‘ciclo daviolência’. Isso não sucede, porque já nãoexiste luta armada no Brasil. A tortura émanifestação e necessidade de um mode-lo político num contexto jurídico e soci-oeconômico”, concluiu o advogado fran-cês Georges Pinet no relatório.

No final daquele ano, o Exército Brasi-leiro cometeria a sangrenta chacina daLapa, em São Paulo, numa operação defla-grada a partir da tortura do preso João Bap-tista Franco Drummond, dirigente doPCdoB. Os militares invadiram a sedeclandestina do PCdoB – o partido era proi-bido de existir legalmente – e executaramÂngelo Arroyo e Pedro Pomar, membros doComitê Central. Em seguida, foram presose torturados os dirigentes Elza Monnerat,Haroldo Lima, Aldo Arantes, Joaquim deLima e Maria Trindade. Nos anos Geisel,pelo menos 45 militantes da esquerda fo-ram considerados desaparecidos, segundoo livro Habeas Corpus, da Secretaria Espe-cial de Direitos Humanos.

O entusiasmo de Crimmins com a as-sistência militar dos Estados Unidos aoBrasil, apesar dos relatos de tortura, jáhavia sido revelado pelo repórter RubensValente na Folha de S. Paulo, com a divul-gação de documentos de 1973 e 1974 as-sinados pelo Embaixador. Nesses docu-mentos, Crimmins chegou a afirmar maisde uma vez que a manutenção desseapoio poderia ser uma maneira de os EUAinfluenciarem o Governo brasileiro acoibir abusos.

A estratégia não surtiu efeito, e Crim-mins mudou o argumento. Foi em 1975que o Embaixador alegou pela primeiravez que a tortura era “prática de uma mi-noria” para defender a manutenção doapoio militar.

Se quisesse, o Governo americano po-deria ter se valido do artigo 32 da Lei deAssistência ao Estrangeiro, que previa ocorte de assistência financeira a países quecometiam violações de direitos humanos.

6 JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013

“Aumento evidenteem casos de tortura”

Nos despachos diplomáticos fica claroque a diplomacia americana recebia diver-sos relatos de tortura – em especial nos Con-sulados, onde mantinham contato diretocom advogados, políticos e religiosos. Em3 de setembro de 1975 – poucos mesesantes do relatório sobre direitos humanos– o Embaixador narrava: “o aumento evi-dente em casos de tortura pode logica-mente (dada a disposição em usá-la) ser in-terpretado como uma conseqüência do au-mento das prisões de Segurança Nacional,resultante da descoberta da gráfica (clan-destina do PCB, em São Paulo) e das inves-tigações subseqüentes. Da mesma forma,presumindo que a linha de investigação ter-mine afinal, pode-se prever uma futuraqueda nas prisões e casos de tortura, semsignificar que a prática fora abandonadasubstancialmente” (documento abaixo).

Os relatos mais detalhados vinham dosCônsules no Rio de Janeiro, John B. Dex-ter (1975-1978), e de São Paulo, FredericLincoln Chapin (1972-1980), ao Embaixa-dor: “Com respeito a prisões em geral emcasos de segurança nacional, o Cônsul deSão Paulo relatou que advogados atuantesparecem considerar a ‘vasta maioria’ delasarbitrárias ou ilegais. As razões citadas in-cluem a maneira como as prisões são feitas,nas quais os agentes não se identificam e osprisioneiros são imediatamente encapuza-dos; a característica de ‘caçada’ da maioriadas prisões; a manutenção de prisioneirosincomunicáveis; e a falha em respeitar osrequisitos da Lei de Segurança Nacional emrelação à notificação e limites de tempo dadetenção”, dizia Chapin.

Já o Cônsul do Rio afirmava que “o‘clima de urgência’ ao redor da investiga-ção do PCB levou à prisão de inocentes,resultando não só em vexame para mem-bros do Governo, “mas em danos substan-ciais às situações profissionais e financei-ras dos prisioneiros”.

No geral, embora muitos dos presosacabassem tendo suas prisões “regulariza-das” sob a Lei de Segurança Nacional,“nós ouvimos repetidamente que emoutros casos aqueles que são pegos sãotorturados e subseqüentemente mortos”,escreveu Crimmins ao Secretário HenriKissinger, no mesmo despacho. “Até ago-ra, soubemos apenas de dois novos casosneste ano em que o sujeito (preso) ‘desa-pareceu’. Mas se os relatos anteriores sãobem fundamentados, podemos preverque a ‘lista de desaparecidos’ vai crescer”.

Ele prossegue: “Deve-se notar quemesmo nos casos de prisões regularizadasalgumas vezes surgem acusações de tor-

tura. O Cônsul de São Paulo relata que‘até agora, neste ano, a Comissão de Jus-tiça e Paz da Arquidiocese de São Paulorecebeu denúncias de 171 casos de torturaem São Paulo’”.

Duas semanas depois, a Embaixadaenviou outro documento discutindodenúncias de tortura levantadas pelaagência de notícias United Press Interna-tional e analisando as subseqüentes in-vestigações sobre o assunto. O documen-to, confidencial, cita o caso de 12 presosacusados de pertencer à OrganizaçãoRevolucionária Marxista-Política Operá-ria (ORM-Polop), em Goiás e o estrangu-lamento do preso Pedro Jerônimo deSousa, militante do PCB, em Fortaleza.“Se o tempo passado desde o mau-trato égrande, como costuma ser o caso, ou ostorturadores não deixaram marcas físicas,as acusações são extremamente difíceisde se sustentar”. Também comenta a pri-são de 30 pessoas ligadas ao MDB noParaná – “um evento ameaçador” – masencerra com uma nota positiva em rela-ção à “tendência do último ano” dos tri-bunais militares e civis de ordenareminvestigações de denúncias de tortura,“sugerindo pelo menos alguma apreciaçãoda sensibilidade destes temas e algumaaceitação da legitimidade da imprensa edo interesse público neste assunto”.

Meio bilhão de dólares parafortalecer os militares no poderEmbora a missão americana soubesse

bem o que se passava nos porões da dita-dura – e a falta de investigação efetiva –,diversos despachos diplomáticos da épo-ca mostram o grande volume de recursosque os EUA proviam aos militares brasi-leiros. Os EUA ofereciam centenas demilhões de dólares em créditos, atravésdo programa Foreign Military Sales (Ven-das Militares Estrangeiras), do Departa-mento de Defesa, para a modernizaçãodas Forças Armadas brasileiras.

Segundo os mesmos despachos, os EUAeram os principais financiadores e vende-dores de equipamentos militares para aditadura. Apenas nos anos de 1976 e 1977o Governo americano planejava destinarcerca de US$ 160 milhões em créditos paracompra de equipamentos militares pelasForças Armadas brasileiras. Em valoresatuais – contando apenas a inflação nosEUA – isso significa cerca de US$ 661milhões em créditos para a compra de ar-mas, fortalecendo um Governo militarditatorial e sabidamente torturador.

Em um despacho de 24 de dezembro de1975, Crimmins relata que as restrições deimportações, determinadas por Geisel de-vido a problemas na balança de pagamen-tos, teriam impacto nas compras de armase equipamentos militares. Para o ano fiscalde 1976, em valores da época, seriam des-tinados US$ 19 milhões para a Marinha eUS$ 32 milhões para a Aeronáutica, tota-lizando US$ 51 milhões. No ano seguinte,seriam destinados US$ 15 a 20 milhões àMarinha e US$ 10 milhões à Força Aérea.

O crédito do Governo americano servi-ria para a compra de um caça F-5, além detorpedos MK-37 e radares de controle, se-gundo outro comunicado, de 19 de novem-bro de 1975. “As compras de equipamentosmilitares são para a modernização da for-

ça”, escreve Crimmins. “O programa de cré-dito de vendas militares a estrangeiros(FMS) influencia favoravelmente a aqui-sição de equipamentos americanos e tecno-logias relacionadas e assim ajuda a manteros EUA como a influência militar estran-geira predominante no Brasil em termos deequipamentos militares, tecnologia e dou-trina”. O Embaixador declarava: “É a mai-or ferramenta para garantir nosso acesso einfluência com os militares, o predominan-temente grupo de liderança nacional”.

Crimmins voltaria a defender a relaçãomilitar com unhas e dentes em meados doano seguinte, quando o Governo america-no, pressionado pelo Congresso, começoua reduzir as verbas para o programa Edu-cação e Treinamento Militar Internacio-nal (IMET, em inglês), uma espécie deintercâmbio que levava militares brasilei-ros para treinamento nos EUA. O Embai-xador criticava a possível descontinuaçãode cursos já agendados: “O corte súbito deverba para treinamento militar (IMET)para o Brasil seria altamente ofensivo,eliminaria um canal muito importante decomunicação com os militares brasileirose iria levantar suspeitas entre os militaresbrasileiros de que o interesse dos EUA noBrasil está diminuindo”, escreveu em 12 dejulho de 1976 (documento acima).

Entre os cursos a serem cortados esta-vam um mestrado em engenharia navalem Monteren, na Califórnia, para um ofi-cial da Marinha brasileira; curso de assaltoaéreo no Rio de Janeiro ministrado pela

82ª Divisão Aérea do Exército americanopara a Brigada Aérea do Exército brasilei-ro; outro de pára-quedismo de combateem Fort Lee, na Califórnia; e um curso deformação de forças especiais em FortBragg, na Carolina do Norte.

Este último treinamento, dado a umcapitão do Exército Brasileiro a partir dedezembro de 1976, causou desavençaentre o Departamento de Estado e Crim-mins. Um assessor de Kissinger explica-va que o tema era espinhoso: “Diante dapossibilidade que o Departamento sejaforçado a dar explicações caso a caso edefender as atividades no ano fiscal de1977, esse curso pode se provar sensívele provocar críticas”, explica o documen-to, sugerindo que o Governo brasileirofinanciasse o curso usando a verba decrédito de vendas militares.

“O quociente de irritação e desilusão éobviamente alto”, respondeu a Embaixa-da em Brasília em 5 de outubro de 1976,mencionando que os militares haviamrecebido permissão do próprio Geisel,através de decretos presidenciais, para aviagem ao exterior. “Neste país em que hápanelinhas ao redor de cada um dos mem-bros de alto escalão do Governo, o candi-dato selecionado é assessor de um generalsênior e politicamente poderoso”, argu-menta. “É claro que se cancelarmos [a idadele] vamos perder parte da boa vontadeque esperávamos ter” (documento abaixo).

Diante do poderoso argumento, o pró-prio Kissinger deu sua aprovação pessoal.

O Governo do General Ernesto Geisel é elogiado por John Crimmins,Embaixador dos Estados Unidos em Brasília em 1976, em diversos despachos.

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DENÚNCIA DOSSIÊ 1º DE ABRIL

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No dia 17 de outubro de 1973, o Embai-xador John Crimmins escreveu um telegra-ma confidencial urgente (documento aolado) ao Departamento de Estado, chefia-do por Henry Kissinger. A aflição do Embai-xador é evidente ao se referir à inesperadachegada ao Brasil de uma equipe de inspe-ção do GAO (US Government Accounta-bility Office) – agência ligada ao Congres-so americano, criada em 1921 e ainda em ati-vidade – com a missão de investigar a ade-quação e legalidade das atividades das agên-cias federais financiadas pelo contribuin-te americano. Inicialmente marcada parao dia 3 de novembro, a antecipação da vi-sita – que se daria na noite do mesmo dia 17– deixou o Embaixador em polvorosa. Oobjetivo da missão era auditar o programaantidrogas desenvolvido pela DEA – DrugEnforcement Administration – no Brasil.

Criada pelo Presidente Richard Nixonem julho de 1973, com 1.470 agentes eorçamento de 75 milhões de dólares, paraunificar o combate internacional anti-drogas, a DEA conta agora com 5 milagentes e um orçamento anual de 2 bi-lhões de dólares. Embora mantivesse es-critórios em nove países e representantesnas missões diplomáticas americanas aoredor do mundo (ainda hoje a DEA temescritórios na Embaixada em Brasília e noConsulado de São Paulo), desde 1969,quando ainda atendia pelo nome deBNDD (Bureau of Narcotics and Dange-rous Drugs), a missão da DEA sempre foi“lidar com o problema das drogas, emascensão, nos Estados Unidos”. Sua rela-ção com os outros países, ao menos ofici-almente, não previa o combate às drogasem cada um deles; o objetivo era impedi-las de chegar à população americana.

Por que então Crimmins estava tão pre-ocupado com a chegada inesperada da equi-pe de auditoria ao Brasil? Ele explica nomesmo telegrama a Henry Kissinger: “Osoficiais da Embaixada pedem instruçõessobre quais os documentos dos arquivos da

A discrepância entre as informaçõessobre tortura recolhidas pelo Consuladode São Paulo e os informes otimistas en-viados pela Embaixada de Brasília paraKissinger – que depois seriam transfor-mados em relatórios oficiais a serem apre-sentados ao Congresso Americano – che-ga a ser gritante.

Em março de 1975, o Embaixador JohnCrimmins elogiava a reação do GovernoGeisel à denúncia do ex-Deputado fede-ral Marco Antônio Tavares Coelho, diri-gente do PCB, eleito pela Frente Populardo Estado da Guanabara em 1962 e cassa-do pelo golpe militar.

Marco Antônio foi preso no começo de1975 no Rio de Janeiro e transferido para SãoPaulo, onde permaneceu encarcerado até ofinal de 1978. Do chamado “cadeião da Moo-ca” descrevia à esposa Teresa as torturas so-fridas nas dependências do Departamentode Operações Internas (Doi) do II Exército.“Nem água, nem pão. Nem um urinol. É umacâmara de execução em que só se pensa namorte. Dentro dela o preso só lastima umacoisa: o ‘diabo’ do corpo continua agüentan-do”, escreveu em uma das 11 cartas que en-viou à esposa. “As torturas na cela foram vá-rias. Cinco vezes colocaram-me no ‘pau-de-arara’, horas longas de ‘choques’ cauterizado-res queimando partes sensíveis do corpo”.

Teresa denunciou as torturas em umacarta ao então Presidente Ernesto Geisel,que prontamente negou. “Diante de rela-tos de tortura, autoridades competentesordenaram que ele fosse examinado peloInstituto de Medicina Legal de São Pau-lo; os médicos não encontraram nenhumsinal de trauma”, escreveu Crimmins naocasião (documento à direita). “Assim, foiconcluído que os relatos de tortura erammeramente ‘mais um capítulo na insidi-osa campanha promovida fora e dentrodo País contra as autoridades brasileiras’.No mesmo dia a televisão nacional mos-trou vídeos de Coelho no pátio da prisão,tanto vestido como usando apenas shorts”.

Crimmins comenta que “é claro que asboas condições aparentes de Coelho nomomento não significam conclusivamenteque ele não foi maltratado e depois restau-rado, mas pelo menos a publicidade deveservir como garantia para sua saúde futura”.Para Crimmins, a conduta do Governo so-bre o caso “é mais uma evidência da adoçãoe execução de uma política de maior aber-tura e pronta resposta nesses temas”.

O despacho, enviado em 3 de março de1975, foi escrito apenas três dias antes demais uma reunião entre o Cônsul de SãoPaulo e o Cardeal Arcebispo Dom PauloEvaristo Arns. Durante meia hora de con-versa, Arns contou que tentara visitarMarco Antônio Coelho no Doi/Codi porcausa das denúncias. Não conseguiu. “OCardeal disse que tinha informação defi-nitiva que o ex-Deputado fora de fato ter-rivelmente torturado”, descreve outro do-cumento, de 10 de março.

Se havia ainda alguma dúvida, Arnsinformou na conversa que, embora anteri-

Marco Antônio Coelho:A Embaixada elogiava Geisel,

mas o Consulado sabia da torturaormente ele tivesse ouvido que os aparatosde tortura em São Paulo estavam sendo des-mantelados, “a informação mais recente erade que a câmara de interrogatório tinha re-cebido isolamento acústico e sido total-mente equipada com novos instrumentosde tortura importados do exterior”. A in-formação vinha de um funcionário doCebrap que havia sido torturado duas vezesna mesma cela no Dops – antes e depois dareforma. “O Cardeal disse que até agora aComissão de Justiça e Paz recebeu testemu-nhos jurados de dez a doze indivíduos ale-gando tortura, e mais testemunhos orais su-gerindo que ‘dezenas de outros’ passarampor variadas formas de tortura em semanasrecentes em São Paulo”.

Pelo relato de Crimmins, o Cônsul e oAssessor Político do Consulado, ambos pre-sentes na conversa, sugeriram que havia di-ferentes definições de tortura. “As defini-ções de tortura variam, concordou o carde-al”, relata Crimmins. “Ele disse que incluina sua ampla definição até mesmo privaçãode sono em celas pequenas com chão bati-do e sem móveis, já que isso é usado inten-cionalmente pela polícia para fatigar o pri-sioneiro. Esse tratamento é acompanhadopela falta de comida e água ou equipamen-tos sanitários e é tão comum nos procedi-mentos policiais que a Polícia se recusa areconhecer essas medidas como tortura”.

Apesar de manter conversas telefôni-cas com Golbery, nas quais protestavacontra as torturas, Arns lamentava o “pro-fundo contraste” entre as detenções e odiscurso oficial do Governo Geisel. “Ojulgamento do Cardeal é que Geisel nãotinha suficiente controle para neutrali-zar o poder do aparato de segurança”.

Um dos diretores do DPF nos anos 1970, o General Nilo Caneppa fez prisões e extradições ilegais. Uma de suas vítimas foi o CoronelJefferson Cardim de Alencar Osório, cassado pelo golpe militar e

seqüestrado no exílio quando viajava para o Chile.

LIGAÇÕESPERIGOSAS: A DEAE AS OPERAÇÕESILEGAIS DA PFBRASILEIRA

POR MARINA AMARAL

DEA e do Departamento do Estado, rela-tivos a drogas, devem ser liberados para aequipe do GAO”, escreveu. “Especifica-mente pedimos orientação sobre os seguin-tes assuntos: a) os planos de ação antidro-gas, levando em conta que nem toda a es-tratégia sugerida nesses documentos foiaprovada pelo Comitê Interagências (In-teragency Commitee) em Washington; b)tortura e abuso durante o interrogatóriode prisioneiros; c) o centro de inteligên-cia da Polícia Federal; d) os arquivos de in-formantes, incluindo os registros de paga-mentos; e) operações confidenciais e te-legramas de inteligência; f) operações clan-destinas, incluindo a transferência deToscanino do Uruguai ao Brasil; g) docu-mentos de planejamento das alfândegasbrasileiras e do departamento de políciafederal”, detalha.

A resposta de Kissinger não consta dabase de dados do National Archives

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(NARA) reunidos na Biblioteca de Docu-mentos Diplomáticos do WikiLeaks, masa julgar por outros documentos havia, sim,motivos para Crimmins se preocupar. Pelomenos em relação ao único caso específi-co ali referido: a transferência de Toscani-no do Uruguai para o Brasil.

Quatro meses antes da chegada dos au-ditores do GAO ao Brasil, Francisco Tos-canino, cidadão italiano, foi condenadojunto com mais cinco réus pelo tribunalde júri de Nova York, em junho de 1973,por “conspiração para tráfico de drogas”.De acordo com uma testemunha presa,que estava colaborando com a Polícia emsistema de delação premiada, Toscanino,que morava no Uruguai, estava indicandocompradores, em solo americano, parauma carga de heroína enviada de navio eparcialmente flagrada por agentes infiltra-dos da DEA nos Estados Unidos.

Prisão ilegalEm maio de 1974, porém, Toscanino

entrou com recurso na segunda instânciada Corte de Apelação dos Estados Unidos,alegando que sua prisão havia sido ilegal,de acordo com a legislação americana, porter se baseado em monitoramento eletrô-nico irregular no Uruguai. Mais do queisso: ele foi seqüestrado no Uruguai etorturado no Brasil antes de ser extradi-tado para os Estados Unidos sem comu-nicação prévia a autoridades italianas.

Os detalhes estarrecedores dessa his-tória, reproduzidos no documento daCorte (que pode ser lido nesta url: goo.gl/cBGA8), parecerão estranhamente fami-liares aos que conhecem as ações da Ope-ração Condor – a articulação da repressãopolítica nesse mesmo período entre dita-duras militares na América Latina. Comexceção, talvez, da preocupação em nãodeixar marcas de tortura.

“No dia 6 de janeiro de 1973, Toscani-no foi tirado de sua casa em Montevidéupor um telefonema, que partiu dos arre-dores ou do endereço de Hugo CamposHermedia [na verdade, Hugo CamposHermida]. Hermedia era – e ainda é –membro da polícia em Montevidéu. Mas,segundo a alegação de Toscanino, Herme-dia estava atuando ultra vires [encober-to] como agente pago do Governo ame-ricano. A chamada telefônica levou Tos-canino e sua mulher, grávida de setemeses, a uma área próxima de um bolicheabandonado em Montevidéu. Quandochegaram lá, Hermedia e seis assistentesseqüestraram Toscanino na frente damulher aterrorizada, deixando-o incons-ciente com uma coronhada e jogando-ona traseira do carro. Depois, Toscanino –vendado e amarrado – foi levado à fron-teira do Brasil por uma rota tortuosa”.

Segue o documento: “Em um certomomento durante a longa viagem até afronteira brasileira houve uma discussãoentre os captores de Toscanino sobre anecessidade de trocar as placas do carropara evitar sua descoberta pelas autorida-des uruguaias. Em outro ponto, o carroestancou subitamente e ordenaram queToscanino saísse. Ele foi levado para umlugar isolado, onde o mandaram deitar semse mexer ou atirariam nele. Embora a ven-da o impedisse de ver, Toscanino conse-guia sentir a pressão do revólver em sua

cabeça e ouvir os ruídos do que parecia serum comboio militar uruguaio. Quando obarulho se afastou, Toscanino foi coloca-do em outro carro e levado à fronteira.Houve combinações e, mais uma vez, coma conivência dos Estados Unidos, o carrofoi tomado por um grupo de brasileiros quelevaram Francisco Toscanino (…).”

“Sob custódia dos brasileiros, Toscani-no foi conduzido a Porto Alegre, ondepermaneceu incomunicável por 11 horas.Seus pedidos de comunicação com o Con-sulado italiano e com a família foramnegados. Também não lhe deram comidanem água. Mais tarde, no mesmo dia, Tos-canino foi levado a Brasília, onde por 17dias foi incessantemente torturado e in-terrogado. Durante todo esse tempo, oGoverno dos Estados Unidos e a Promoto-ria de Nova York, responsável pelo proces-so, tinham ciência – e inclusive recebiamrelatórios – do desenrolar da investigação.Além disso, durante o período de torturae interrogatório um membro do Bureau ofNarcotics and Dangerous Drugs, do Depar-tamento de Justiça dos Estados Unidos,estava presente em um ou mais intervalose, na verdade, chegou a participar de par-tes do interrogatório. Os captores de Tos-canino o privaram de sono e de qualquerforma de alimentação durante dias. Anutrição se dava por via intravenosa ape-nas para mantê-lo vivo. Assim como rela-tam nossos soldados que voltaram daCoréia e da China, Toscanino era forçadoa andar para baixo e para cima por sete ouoito horas ininterruptas. Quando ele nãoconseguia mais ficar em pé, era chutado eespancado de forma a não deixar marcas.Se não respondia às perguntas, seus dedos

eram esmagados com grampos de metal.Jogavam álcool em seus olhos e nariz, e ou-tros fluidos eram introduzidos em seuânus. Inacreditavelmente, os agentes doGoverno americano prenderam eletro-dos nos lóbulos de suas orelhas, dedos e ge-nitais e deram choques elétricos o dei-xando inconsciente por períodos quenão consegue precisar mas, novamente,sem deixar marcas.”

“Finalmente, no dia 25 de janeiro de1973, Toscanino foi levado ao Rio deJaneiro, onde foi drogado por agentesbrasileiros e americanos e colocado novôo 202 da Pan American Airways (…).Acordou nos Estados Unidos no dia 26 dejaneiro, quando foi oficialmente presodentro do avião e levado imediatamentea Thomas Puccio, assistente do Procura-dor-Geral dos Estados Unidos. Em ne-nhum momento durante a captura deToscanino o Governo americano sequertentou a via legal. Agiu do início ao fimde maneira ilegal, embarcando delibera-damente em um esquema criminoso deviolação de leis de três países diferentes”.

Hermida, o Fleury do UruguaiHugo Campos Hermida era uma espé-

cie de Fleury uruguaio. Embora a ditadu-ra naquele país só tenha se instalado emjunho de 1973, portanto quando Tosca-nino já havia sido condenado nos EstadosUnidos, Hermida era o chefe da chama-da Brigada Gamma, um esquadrão damorte uruguaio que matava desde trafi-cantes até tupamaros – os guerrilheirosde esquerda que atuavam antes do golpefinal. Hermida também foi treinado nosEstados Unidos – inclusive pela DEA,como mostram outros documentos doprojeto PlusD. Oficialmente, era chefe daBrigada de Narcóticos da Dirección Na-cional de Información e Inteligencia(DNII), organismo criado em colabora-ção com os Estados Unidos no Uruguai.O jornal La República, do Uruguai, levan-tou documentos no Arquivo do Terror, noParaguai, que comprovaram a participa-ção de Hermida no “ninho da Condor”, aAutomotores Orletti, em Buenos Aires,um centro de tortura que tinha comofachada uma oficina mecânica.

Do lado brasileiro, o Diretor do Depar-tamento de Polícia Federal – tambémmontada e armada pelos americanos des-de os primórdios – era o General NiloCaneppa Silva, mais conhecido por suasassinaturas na censura de jornais, peçasde teatro e filmes – já que essa tambémera uma atribuição oficial do órgão naditadura, assim como o combate ao tráfi-co de drogas nas fronteiras. O General

Caneppa foi promovido a coronel assimque a ditadura militar se instalou, e ageneral-de-brigada em 1971, no GovernoMédici, mesmo ano em que passou a che-fiar a Polícia Federal em Brasília.

A operação de seqüestro no Uruguai etortura no Brasil do traficante Toscani-no não aparece nos telegramas diplomá-ticos até maio de 1974, quando o italia-no entrou com recurso na Corte de Ape-lações americana. A partir daí, há umatroca frenética de telegramas entre asEmbaixadas do Brasil e de Buenos Airescom o Departamento do Estado porque aJustiça americana havia requisitado todaa documentação envolvendo o caso Tos-canino em virtude da apelação – emboraboa parte dela tenha continuado escondi-da, como comprovam os telegramas des-se período constantes no PlusD. O Gene-ral Nilo Caneppa, porém, era consideradopeça-chave pelos Estados Unidos, comomostra um telegrama de 25 de abril de1973 (documento acima).

“O tempo do general Caneppa comoDiretor do Departamento de Polícia Fe-deral encerra-se no meio de maio. Paraassegurar a conclusão dos ótimos resulta-dos obtidos pela equipe americana deanalistas designados para trabalhar coma Polícia Federal brasileira no desenho doCentro de Inteligência de Narcóticos,pedimos que essa equipe venha ao Brasilantes de maio”, diz o relato assinado peloantecessor de Crimmins, William Roun-tree. Este Embaixador já havia demons-trado seu apreço por Caneppa que dele “seaproximou pessoalmente para requisitarmaterial audiovisual em português paraos cursos de treinamento permanentesdo BNDD (antecessor da DEA) em SãoPaulo”, segundo outro telegrama do PlusD,este de 8 de maio de 1973, que recomen-dou: “Tendo em vista a cooperação do DPFem expulsar traficantes internacionaispara os Estados Unidos em casos passados,e o mandato constitucional da DPF paradirigir os esforços para suprimir os trafi-cantes de drogas, e as necessidades de trei-namento dos brasileiros, a Embaixadarecomenda que o BNDD envie os filmes eslides para uso do escritório do BNDD emBrasília, que vai distribuir para as agênci-as brasileiras. Esse gesto, além de ser uminvestimento útil de dinheiro e material,vai ajudar a estreitar ainda mais os laçosentre o DPF e o BNDD”.

Bandeira, um general mais “tático”No relatório confidencial sobre a te-

mida visita dos auditores do GAO, porém,enviado pelo Embaixador Crimmins aoDepartamento de Estado em 13 de de-

Tanto o GeneralBandeira (acima àesquerda) quanto oGeneral Caneppa(abaixo), consideradopeça-chave peladiplomacia dos EstadosUnidos, aparecem naslistas de torturadores daditadura. Ao lado, otelegrama doEmbaixador americanoWilliam Rountree.

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zembro de 1973, o entusiasmo dos ame-ricanos havia arrefecido com a substitui-ção de Caneppa por um general conside-rado mais “tático” (“operations-minded”)– o General Antônio Bandeira, triste-mente famoso pelas primeiras operaçõesde repressão da Guerrilha do Araguaiatanto pelo lado dos guerrilheiros – quepassaram a ser torturados também emBrasília depois que ele assumiu a PolíciaFederal – como dos militares, pelo fra-casso em vencer os 70 jovens do PCdoBnas matas do Pará.

Ainda assim, os americanos ressaltamsua gratidão por operações realizadas pelaDPF chefiada por Caneppa nesse mesmotelegrama, que também relembra a temi-da visita do GAO dois meses antes. Se-gundo o telegrama, os auditores haviamfeito apenas uma “investigação difusa”sobre as atividades da DEA no Brasil:“Embora GAO não tenha problemas coma premissa do programa antidrogas dedesenvolver a competência brasileira nocombate aos narcóticos, a curto prazo elesestão mais interessados em impedir ofluxo de drogas para os Estados Unidos.O coordenador do programa de narcóti-cos ressaltou, então, o sucesso da coope-ração EUA-Brasil na Operação Spring-board [nos portos, em conjunto com aMarinha Americana] e na apreensão noMormac-Altair”.

Como relatam os jornais da época, oMormac-Altair era um navio americanono qual, em operação conjunta dos ame-ricanos e brasileiros, foi capturada umacarga de 60 quilos de heroína em outubrode 1972. Traficantes franceses que mora-vam no Paraguai e no Brasil foram entãoextraditados para os Estados Unidos pelaPolícia Federal brasileira, sem avisar àsautoridades francesas, como aconteceuno caso Toscanino, sempre com o Gene-ral Caneppa à frente das operações.

Segue o telegrama de Crimmins a Kis-singer: “A GAO estava interessado napossibilidade do Brasil assumir a lideran-ça entre as nações latino-americanas nohemisfério Sul. O coordenador explicouque o Brasil se esforçava para melhorar acooperação e a coordenação entre os ór-gãos policiais em outras nações latino-americanas. No entanto, as diferençasentre os sistemas hispânicos e lusitano, ea intensa rivalidade com a Argentinatornavam difícil essa liderança”.

“A GAO também levantou a questão –baseada na investigação dos arquivossobre as trocas de informação entre asagências de Washington durante a Ope-ração Springboard, quando a Embaixadarelatava preocupações e queixas sobre oantigo chefe da Polícia Federal, GeneralCaneppa [não se sabe a que se referemessas queixas, que teriam sido feitas porRountree, uma vez que a atuação da PFsob Caneppa foi elogiada no parágrafoanterior e no telegrama enviado porRountree transcrito acima, mas os mili-tares brasileiros consideravam Caneppa“mole”, enquanto Bandeira era da “linha-dura”]. O coordenador explicou que nãohá mais problemas similares com o atualchefe, o General Bandeira.”

“Bandeira é mais operations-mindede parece satisfeito com o nível de troca deinformações embora, sem dúvida, um

aprimoramento possa ser feito nesse cam-po. A equipe do GAO fez diversas pergun-tas sobre extradição e expulsão de trafi-cantes e pareceu satisfeita com nossasexplicações de que não há problemas dogênero no Brasil”.

O coordenador teve a impressão de queessa era a mais alta prioridade daequipe do GAO. “A idéia do Cen-tro de Inteligência de Drogas veioà tona também nessa visita, base-ada no material que eles já tinhamrecebido. O conteúdo politica-mente sensível desse assunto foientão explicado à equipe do GAO(…).” Quando o telegrama foi en-viado, Juan Perón havia reassumi-do o poder na Argentina depois deum período de 18 anos de exílio;interrompeu-se então a colabora-ção entre as Polícias do Cone Sul.Os americanos – assim como a di-tadura brasileira – nunca confia-ram em Perón; depois que ele mor-reu, em 1974, e foi substituído pelamulher, Isabelita, os militares ins-tituíram a “guerra suja” que matoumais de 30 mil pessoas, incluindoperonistas.

No final do telegrama, Crim-mins revela que, embora não cons-te da documentação do NARA,havia recebido – e cumprido – asinstruções de Kissinger depois dotelegrama enviado na chegadainesperada da missão da GAO:“Nenhuma cópia de outros docu-mentos além dos definidos porWashington foram disponibiliza-dos (sic) para a equipe do GAO”.

Os generais e a Operação CondorTanto Bandeira como Caneppa apare-

cem nas listas de torturadores da ditadura,feitas a partir de documentos e denúnciasde presos políticos, como “coniventes”,pelo fato de terem comandado operaçõesque resultaram em tortura e desapareci-mento de presos sem, no entanto, teremsido flagrados com “a mão na massa”, parausar uma expressão suave.

Suas ligações com as operações do DEAno Cone Sul, como demonstra o telegra-ma acima, porém, podem implicá-los – eaos Estados Unidos – em crimes interna-cionais em investigações posteriores,como já aconteceu no caso do GeneralCaneppa, e não apenas nos casos Mor-mac-Altair e Toscanino.

No final do ano passado, o repórterWagner William publicou na revista Bra-sileiros a reportagem, relatando aquelaque seria a primeira ação da operaçãoclandestina que uniu as ditaduras milita-res do Cone Sul: o seqüestro do coronelJefferson Cardim de Alencar Osório,opositor da ditadura, em Buenos Aires, esua extradição para um centro de tortu-ras no Rio de Janeiro, descrita no Infor-me 338, de 19 de dezembro de 1970, peloadido militar na Embaixada do Brasil: oentão Coronel Nilo Caneppa.

O documento, obtido pelo jornal Pági-na 12 de Buenos Aires, , é considerado pelopresidente do Movimento de Justiça eDireitos Humanos, o gaúcho Jair Krischke,um dos maiores investigadores da Opera-ção Condor, como o primeiro documento

da articulação clandestina e a prova de quefoi o Brasil que liderou ao menos a suaformação. O repórter Wagner Williamteve acesso aos diários do Coronel Jeffer-son e contou em detalhes como ele, seufilho e um sobrinho foram interceptadosem dezembro de 1970 quando viajavam

do Uruguai, onde se exilaram depois dogolpe, ao Chile, onde Jefferson assumiriao cargo de assessor militar para a Associ-ação Latino-Americana de Livre Comér-cio-Alalc a convite do então Presidente doChile, Salvador Allende. Allende se suici-daria depois do golpe liderado pelo Gene-ral Pinochet e articulado pelos EstadosUnidos em 1973.

Para evitar a perseguição policial – oshomens de Hermida o seguiam todo otempo no exílio, como faziam com todosos brasileiros inimigos da ditadura, comorelatou em 2003, depois de ser preso noRio Grande do Sul por assalto a banco etráfico de armas, o ex-policial MárioNeira Barreto, codinome Tenente Ta-muz, que também pertencia à BrigadaGamma –, Jefferson planejara ir de Mon-tevidéu a Colônia do Sacramento de car-ro, atravessar o Rio da Prata pela balsa atéBuenos Aires, de onde seguiria para Men-doza e cruzaria os Alpes para o Chile.

Avisado pelos uruguaios, porém, o adi-do militar brasileiro na Argentina – Ca-neppa – pediu a cooperação da Direção daCoordenação Federal, o órgão de inteli-gência da Polícia Federal da Argentina,para prender os três brasileiros, descre-vendo sua aparência em detalhes. Escon-dido no porto, Caneppa assistiu quandoo carro de Jefferson foi interceptado pordois agentes armados que saltaram de umcarro preto com chapa do Governo argen-tino anunciando: “É uma operação de ro-tina. Houve uma denúncia de transpor-te de drogas”.

Embora não houvesse nada no carro

além de uma arma do Coronel Jefferson,que apresentou seus documentos de iden-tificação militar, os três foram levadospara a coordenação da Polícia Federalargentina, encapuzados, algemados e pre-sos no porão enquanto o subcomissárioanunciava ao adido militar brasileiro o

sucesso da operação. Caneppa foipessoalmente ao prédio, acompa-nhado de outro militar brasileiro,adido da Aeronáutica na Embai-xada, onde Jefferson, seu filho eo sobrinho foram interrogadossobre o seqüestro do Cônsul bra-sileiro Aloysio Gomide pelos tu-pamaros uruguaios e sobre sualigação com líderes peronistasargentinos.

Os três foram torturados – oCoronel Jefferson com choques elé-tricos nos pés, nas pernas e nos ge-nitais e cera de vela quente no ânus.Caneppa e o outro militar brasileiro,na sala ao lado, examinavam omaterial apreendido no carro deJefferson – livros, cartas e documen-tos de identidade – quando um te-nente-coronel do Exército argenti-no se apresentou e pediu desculpaspela ausência do Coronel Cáceres,diretor da PF argentina, perguntan-do em seguida o que deveria fazercom os detidos. Caneppa queria quefossem enviados ao Brasil, e em 26horas o Presidente argentino, fan-toche dos militares, assinou umdecreto de extradição. De lá foramtransportados discretamente poruma aeronave militar para o Cen-tro de Informação e Segurança-Cisa

no Rio de Janeiro.O Coronel Jefferson foi torturado dias

a fio e ficou preso por seis anos. Ao sair dacadeia, em 1977, continuou a ser persegui-do até 1979 quando foi beneficiado pelaLei da Anistia. Os militares, porém, emum ato excepcional, anularam sua anis-tia e ele teve que partir para o exílio, pri-meiro na Venezuela, depois na França, deonde só retornou em 1985, com o fim daditadura militar.

Vítima da primeira ação da famigera-da Operação Condor, Jefferson foi presosob a acusação de tráfico de drogas pelaPolícia Federal argentina sob as ordens doGeneral Caneppa, o mesmo que dirigia aPolícia Federal brasileira quando o trafi-cante Toscanino foi seqüestrado porHermida no Uruguai e entregue para sertorturado em Brasília, de onde foi extra-ditado, em uma operação inteiramentecoordenada pela DEA.

O Coronel Caneppa foi promovidoa general e assumiu a direção da PolíciaFederal meses depois. Em 1972, recebeua Medalha do Pacificador – a maior hon-raria do Exército, destinada aos “revo-lucionários” de 1964. O General Ban-deira mereceu a mesma honraria. Atéhoje a DEA mantém escritórios no Bra-sil, dentro da Embaixada brasileira e dosConsulados. Procurada pela Pública parasaber sobre suas atividades atuais nopaís, a DEA encaminhou a reportagemà assessoria de imprensa da Embaixadaamericana, que não respondeu aos pe-didos de informação até a publicaçãodesta reportagem.

Henry Kissinger: intensa troca de telegramas com seusembaixadores no Brasil durante a ditadura militar.

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ALVES/FOLH

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Em 1973 o Governo do General Emí-lio Garrastazu Médici entrava em seuquarto ano, consolidando a presença dachamada “linha dura” militar no poder. Acensura à imprensa se estruturou e seoficializou, abarcando todos os princi-pais veículos de imprensa do País. SobMédici, a maioria das Redações recebiambilhetinhos apócrifos ou ligações quasediárias de membros da Polícia Federal – aforça encarregada de controlar a censu-ra – com a relação de temas que não po-deriam ser abordados: desde relatos detortura e prisões políticas até reportagenssobre a precária situação dos trens, apobreza no País, a epidemia de meningi-te ou escandalosos casos de corrupção.Outras, como Veja e o Pasquim, tinhamque enviar seu conteúdo para a censuraprévia. O Estado de S. Paulo convivia comum censor plantado dentro da Redação,lendo todos os textos para decidir o quepodia e o que não podia ser publicado.

Para os Estados Unidos, porém, paísque propagandeava a democracia comoresposta à “ameaça comunista”, nada dis-so importava. Pelo contrário: documen-tos constantes no PlusD, do WikiLeaks,mostram que a diplomacia americanachegou a defender a censura do regimemilitar brasileiro perante um jornalistada poderosa rede de tv americana CBS.

“O cônsul-geral de São Paulo relata queo correspondente da CBS na América Lati-na, George Nathanson, está em São Paulo,fazendo um vídeo sobre a censura à im-prensa brasileira. A idéia de realizar essahistória foi incitada pelo artigo do New YorkTimes de 21 de fevereiro sobre esse assun-to”, escreveu o então Embaixador dos Esta-dos Unidos no Brasil, William Rountree,que ficou no posto entre 1970 e 1973. Ocorrespondente estava filmando na Reda-ção de O Estado de São Paulo e, segundo ele,a reportagem corria muito bem.

Mas a Embaixada tinha outra idéia decomo a censura deveria ser retratada. “Du-rante um almoço com Nathanson na sema-na passada, o Oficial para Relações Públi-cas [da embaixada] sugeriu que Nathansontentasse obter todos os lados da história dacensura no Brasil”, descreve o documen-to de 9 de março de 1973 (acima), marca-

do “para uso oficial limitado”. “Além deapenas falar com fontes da mídia veemen-temente opostas e afetadas pela censurapresente, o oficial de relações públicasmencionou que seria útil a Nathansonfalar com figuras como o conselheiro pre-sidencial Coronel Otávio Costa, [chefe daassessoria de Relações Públicas da Presi-dência] e outros oficiais do Governo, bemcomo representantes da mídia, comoRoberto Marinho, do Globo, e Nascimen-to Brito, do Jornal do Brasil, que vêem aquestão da censura de maneira diferenteda família Mesquita, do Estado”. Em segui-da o Embaixador, satisfeito, afirma que ojornalista acatou a sugestão e “expressouinteresse nesta abordagem para fazer umacobertura balanceada”.

Cobertura balanceadasobre censura?

O aparato censório do regime militarfoi construído sob as asas do Ato Institu-cional nº 5. Logo após sua decretação, em13 de dezembro de 1969, o General SilvioCorreia de Andrade, delegado da PolíciaFederal em São Paulo, declarou em entre-vista coletiva: “Podem dizer que foi instau-rado o arrocho à imprensa escrita, faladae televisada por parte do Contel, sob mi-nha fiscalização direta. Os jornais estão

sob censura no que diz respeito a greves,passeatas, comícios, agitação estudantil equalquer tipo de ataque às autoridades”.

A PF seria responsável por calar a im-prensa; no ano seguinte, dezenas de dele-gados destacados para esse fim receberamuma extensa lista de normas. Eles deviamvetar notícias “falsas” ou sensacionalistas,testemunhos em off (com fontes anôni-mas), comentários de pessoas atingidaspelos atos institucionais ou ligadas a en-tidades estudantis dissolvidas. Tambémeram proibidas notícias sobre todo tipo derepressão: cassações de mandatos, suspen-são de direitos políticos, prisões, tortura.

Em 1971 o Ministro da Justiça Alfre-do Buzaid aumentou a lista, proibindotambém notícias “sensacionalistas” queprejudicassem a imagem do Brasil no ex-terior, notícias que colocassem em peri-go a política econômica do Governo, e atémesmo a “divulgação alarmista” de “mo-vimentos subversivos” em países estran-geiros. Segundo levantamento do jorna-

lista Élio Gaspari, entre1972 e 1975 o Jornal doBrasil recebeu 270 or-dens enviadas por tele-fone ou por escrito pelospoliciais da PF. Apenasem 1973 – ano em que osdiplomatas americanosqueriam suavizar a co-bertura da CBS sobre acensura brasileira – opesquisador Paolo Mar-coni – consultando di-versos veículos comoFolha de S.Paulo, Rádio eTV Bandeirantes, emSão Paulo, e Rádio e TV,em Salvador – contabi-lizou um total de 143ordens enviadas pela PF.A maioria dos veículospraticava, então, a auto-censura, descartando os

temas proibidos. É o caso da Globo de Ro-berto Marinho e do Jornal do Brasil de Nas-cimento Brito, apontados pelo embaixadorcomo menos críticos à censura oficial.

Os veículos que mostravam alguma re-sistência tinham edições inteiras apreen-didas ou eram submetidos à censura prévia– caso do Jornal da Tarde e da revista Veja,então comandada por Mino Carta, queeram visitados por censores ou obrigadosa mandar as edições antes de publicadaspara a sede da PF em Brasília. Convivendodiariamente com um censor da PF, o Esta-do de S.Paulo teve 1.136 reportagens censu-radas entre março de 1973 e janeiro de1975. Foram vetadas matérias sobre a Pe-trobrás, a questão indígena, a política desaúde pública, a corrupção no ensino e atémesmo racismo no futebol.

Por sua vez, semanários pequenos e maisindependentes como Opinião, baseado noRio de Janeiro, e Movimento, de São Paulo,tiveram jornalistas presos, edições apreen-didas e seus diretores interrogados inúme-ras vezes. Daí o caráter “econômico” dacensura, que foi responsável pelo desman-telamento, por asfixia financeira, de jor-nais de extrema qualidade e linhas editori-ais progressistas – provocando um impac-to que até hoje influencia o cenário da im-prensa brasileira. Publicações independen-

ESTADOS UNIDOSFIZERAM LOBBYPRÓ-CENSURA

Documentos revelam como os diplomatas norte-americanos,no nível até de embaixador, acompanhavam o dia-a-dia da

censura à imprensa no Brasil durante o regime militar.

POR NATALIA VIANAtes como Opinião, Ex, Movimento e Pasquimtiveram edições inteiras apreendidas, e ti-veram que fechar as portas sob o peso da cen-sura. Só o jornal Movimento teve 40% detodo o seu conteúdo censurado – mais de 3mil artigos, mais de 4,5 milhões de palavras.

Os americanos sabiam, claroNada disso era novidade para o De-

partamento de Estado, chefiado porHenry Kissinger – o mesmo que criticoua lei de acesso à informação americanaafirmando “antes da lei eu costumavadizer em reuniões, ‘o que é ilegal nósfazemos imediatamente; o que é incons-titucional leva mais tempo’, mas desdea lei eu tenho medo de dizer coisas as-sim”. Na verdade, os diplomatas ameri-canos mantinham contato próximo comjornalistas brasileiros, acompanhandode perto as conseqüências da censura.

Assim, em 23 de março de 1973 – mes-mo mês em que a Embaixada defendia acensura junto ao correspondente da CBS– o cônsul de São Paulo, Frederick Chapin,relatou uma longa conversa com o donodo Estadão, Júlio Mesquita Neto, sobre acensura ao jornal. Embora o General Er-nesto Geisel tivesse assumido com o com-promisso de promover a “distensão polí-tica”, com a restauração dos direitos civis,nas duas semanas anteriores a tesoura dacensura havia cortado seis matérias do Es-tadão, que as substituíra por cartas e recei-tas culinárias. Ao mesmo tempo, relataChapin, Júlio Mesquita enviara telegra-mas a todos os congressistas, e o Estadãopublicou uma nota avisando que quemquisesse saber por que conteúdos desim-portantes estavam aparecendo no jornalpoderia ligar para a Redação – recebeu 167ligações. “Júlio Mesquita disse que a for-te pressão que ele estava exercendo noGoverno para relaxar a censura estava fa-zendo efeito”, relatou Chapin, já que oEstadão chegara a publicar histórias –incluindo uma sobre censura – que nãoteriam passado. “Júlio disse que pretendiacontinuar a pressionar o Governo naquestão da censura”.

Ainda assim, os censores só sairiam doEstadão dois anos depois.

Sob o Embaixador John Crimmins,que assumiu o posto após Rountree, aEmbaixada dos Estados Unidos manteveuma “postura de não pôr as mãos” no tema

Nascimento Brito, do JB: segundo o EmbaixadorRountree, ele era “menos crítico à censura oficial”.

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UÇÃO

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da censura, segundo palavras do próprio.Mas continuava acompanhando de per-to o despropósito da censura, conversan-do diretamente com editores e publi-shers. É o que mostra um documento doRio de Janeiro, datado de 13 de maio de1974, detalhando a situação do jornalOpinião. Em conversa com o então côn-sul-geral Clarence Boonstra, o empresá-rio Fernando Gasparian, dono de Opinião,contava sobre os cortes mais recentes:uma entrevista com o então candidato àPresidência da França, François Mitte-rand, e com o Cardeal Dom Paulo EvaristoArns. Nesse momento, a censura exigianovamente que o jornal fosse enviado aBrasília, antes de ser publicado, até quar-ta-feira de cada semana.

“Gasparian estava ‘chocado e desanima-do’ com os últimos acontecimentos”, rela-ta Chapin, e decidiu ir a Brasília para inves-tigar o motivo dos últimos cortes com oDiretor-Geral da PF, o Coronel MoacyrCoelho. O Coronel, que Gasparian descre-via como “deprimido e vacilante”, lhe dis-se que a censura havia sido decidida “emaltas instâncias do Ministério da Justiça”e que havia outros jornais sob maior pres-são, escreve Boonstra. “Ele voltou achan-do que ‘alguma coisa aconteceu dentro doalto escalão do Governo para forçá-los avoltar às antigas restrições’. Gaspariandisse que ouviu rumores em Brasília de queos militares linha-dura não estavam felizescom os passos do regime em direção à libe-ralização e haviam demandado ‘apertar’ ocontrole da imprensa e de outras áreas”, dizo despacho diplomático.

A partir de 1975, a censura se tornoumais seletiva e a censura prévia foi sen-do retirada aos poucos. Não foi um pro-cesso decisivo, tendo idas e vindas deacordo com as pressões do momento,como mostram as conversas constante-mente relatadas pelos diplomatas ameri-canos. Em 4 de abril daquele ano, a Embai-xada em Brasília enviou a Washington umrelato sobre a apreensão do jornal Pas-quim, do Rio de Janeiro, pela PF, ocorridalogo depois de o veículo ter tido a censu-ra prévia encerrada, e a uma edição come-

morativa especialmente robusta. Cha-mando-o de “tablóide satírico semanal decentro-esquerda”, Crimmins relata quedurante cinco anos o semanário foraobrigado a enviar para Brasília duas a trêsvezes mais material do que necessário –texto, charges e fotos – para ser cortado.

“De acordo com [Millôr] Fernandes eoutras fontes bem informadas da impren-sa, o alvo real da apreensão do Pasquim eraum editorial forte de Fernandes detalhan-do os problemas do jornal com a censura.Esses problemas incluíam: uma quedabrusca de leitores (Fernandes afirma quehouve uma queda de 200 mil para 100 milem circulação nos seis primeiros meses decensura; alguns observadores acreditamque o cálculo atual seja de 50 mil) e assé-dio da equipe do Pasquim quando a censurateve início (exemplos: interrogatório po-licial da maioria deles e prisão de dezeditores por dois meses, seguida da sualibertação e o arquivamento subseqüentedo inquérito). Fernandes também argu-mentava [no editorial] que o fim da cen-sura prévia não significa que a imprensalivre brasileira possa imprimir o que quere lembrava aos leitores que muitos dosjornais brasileiros ainda estavam sujeitosà censura”. O comunicado encerrava di-zendo que a apreensão “foi um enormegolpe em termos financeiros”, já que oPasquim dependia de vendas em banca.

A Veja de Mino CartaA diplomacia americana também

acompanhou de perto o périplo da revis-ta Veja, fundada e editada por Mino Car-ta durante a ditadura militar e submetidaa dois tipos de censura prévia ao longo dosanos: no geral, o censor da PF ia até àRedação, na sede da Editora Abril; mas emalgumas ocasiões o material tinha que serenviado a Brasília dias antes da publicação.

Em maio de 1974, foi a vez de o consu-lado de São Paulo informar sobre a censu-ra a Veja. O primeiro despacho, do dia 10,é assinado pelo cônsul-geral FrederickChapin. “Uma empreitada de censuraameaça a continuação de Veja, respeitadarevista semanal”, descreve o cônsul. A

nova ordem exigia que todo conteúdo darevista fosse enviado a Brasília na quarta-feira, inviabilizando a cobertura de fatos“quentes”. Mino Carta – a quem Chapinchama de “um dos jornalistas mais hábeise mais conhecidos” do País – contava quea nova ordem era uma represália, em espe-cial, por uma charge de Millôr Fernandesmostrando um homem sendo torturado,sobre a legenda “nada consta”.

“Essa semana, quando Mino soube doendurecimento, ele ligou para o GeneralGolbery, que foi ‘evasivo e hipócrita’. OGeneral Golbery mencionou especifica-mente alguma insatisfação sobre a char-ge de Millôr Fernandes”. Decepcionado,já que tanto Golbery quanto o Ministroda Justiça de Geisel, Armando Falcão,haviam se manifestado contra a censu-ra, mas estariam cedendo aos militareslinha-dura, Mino Carta ameaçava deixara Veja. “Carta disse que não quer termais nada a ver com Golbery e Falcãoporque ‘seria como lidar com officeboys’”, relata Chapin. “Essas ordens, eleadicionou, vieram do Ministro do Exér-cito Dale Coutinho, um representantedo ‘sistema’, ou como ele chama, ‘o capomáfia’ que ele [Mino Carta] acreditaque controla o País’”, relata o despachoenviado a Washington.

“O cumprimento das novas regras vaiefetivamente matar a Veja, segundo Car-ta”, escreve o cônsul, que finaliza o docu-mento narrando que para o jornalista “opropósito do endurecimento não é des-truir Veja, mas colocar a revista e a EditoraAbril ‘de joelhos’”.

Roberto Civita, Vice-Presidente e filhodo dono da Editora Abril, viajaria paraBrasília em busca de um acordo – que tam-bém foi acompanhado de perto pelosamericanos. Em 28 de maio, outro despa-cho do consulado de São Paulo relata quea ordem fora revertida. Como narrou Vic-tor Civita ao americano, “[Dale] Coutinhose recusou a ver Roberto, que então ligoupara Golbery e para o Ministro Falcão”. ARedação, portanto, voltaria a receber avisita de censores. O próprio Golbery eFalcão haviam servido como “fiadores” doacordo entre os censores e Veja. “Victorestava otimista sobre as relações futurascom a administração Geisel”, relatouChapin. O dono da Abril afirmou: “Eu sótenho três ou quatro amigos no Governoagora, mas em um ano ou mais eu vouconhecer bem dez ou doze deles”.

No entanto, a paz não duraria muito,reflexo da queda de braço interna à admi-nistração Geisel. Em agosto de 1975, aordem de enviar o material para Brasíliavoltou – e foi prontamente relatada aoDepartamento de Estado dos EstadosUnidos. O estopim fora uma edição recen-te de um discurso de Geisel, que Veja viacomo um sinal de que a distensão estavamorta. Hernani Donato, relações-públicasda revista, conversou com os diplomatas.“Donato disse que a linha-dura ficou irri-tada pelos elogios de Veja ao General Gol-bery (….) Golbery ligou pessoalmente paraMino Carta e pediu que ele parasse com ashistórias: ‘toda palavra boa que você falasobre mim é uma palavra ruim sobre osoponentes da distensão’”. Segundo o Em-baixador Crimmins, Hernani Donato tam-bém acreditava que censores de Brasília“não confiavam totalmente” nos seus su-bordinados de São Paulo, e sentiam “queeles podem ter se tornado muito próximosde jornalistas locais”. Em 27 de agosto, di-plomatas da Embaixada voltaram a almo-çar com Victor Civita para discutir o assun-to. “Ele contou que lhe foi dito para sermuito cuidadoso porque o Governo tinhao poder de ‘colocá-lo de joelhos’ quandoquisesse”.

O cônsul dos Estados Unidos em São Paulo, Frederick Chapin, relatou a pressão de Júlio Mesquita (à direita) para que o Governo relaxasse a censura.Afirmou também que Mino Carta (no centro, junto com a equipe de jornalistas da revista Veja na época de seu lançamento) estava decepcionado com oGeneral Golbery (abaixo) e a contínua pressão da censura e ameaçava deixar a revista: “o cumprimento das novas regras vai efetivamente matar a Veja”.

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Um simples “livro de presença”, da-queles usados para controlar a entrada ea saída de funcionários e visitantes emórgãos públicos, pode trazer informaçõesdesconhecidas e reveladoras não apenassobre pessoas como a respeito de fatosrelevantes para a História de um país. Umconjunto desses volumes encontrado nacoleção de documentos do extinto Depar-tamento Estadual de Ordem Política eSocial-Deops de São Paulo – que funcio-nava no Largo General Osório, regiãocentral de São Paulo (hoje, Estação Pina-coteca) e um dos centros de repressão noEstado – revela a estreita relação quehavia nos cinco primeiros anos da déca-da de 1970 entre empresários e a Embai-xada americana com a ditadura militarbrasileira (1964-1985).

Foi o que descobriram os membros daComissão Estadual da Verdade da Assem-bléia Legislativa de São Paulo, criada parainvestigar os crimes cometidos na dita-dura militar (1964-1985), apartir dos documentos cedi-dos digitalmente pelo ArquivoPúblico do Estado de São Pau-lo, no começo de março. Os vo-lumes fazem parte da coleçãoque compõe o acervo online,lançado oficialmente no dia 1ºde abril pelo Governador deSão Paulo, Geraldo Alkmin. Apartir do endereço virtualwww.arquivoestado.sp.gov.br,de qualquer computador, épossível ver, salvar ou impri-mir o amplo material com maisde um milhão de imagens, queinclui, entre tantos itens,274.105 fichas digitalizadas e12.874 prontuários, todos pro-duzidos pelo Deops da capitalpaulista entre os anos de 1923e 1983, e pelo Departamentode Comunicação Social (52mil fichas), de 1983 a1999,também na cidade de São Pau-lo, além do acervo do Deops dacidade de Santos.

Muito há para ser descober-to nesse tesouro da memóriabrasileira por jornalistas, pes-quisadores, curiosos ou mesmoparentes de vítimas da repres-são. Conhecer em detalhes doque tratam os livros de visitado Deops é um bom exemplo

de que a História política nacional podeser reescrita com a ajuda da internet, peloportal do Arquivo do Estado. Anotadas àmão por funcionários que controlavama entrada e saída na portaria da institui-ção, as informações mostram, por exem-plo, que o empresário Geraldo Rezendede Matos, o famoso “Dr. Geraldo”, que seidentificava como representante da Fe-deração das Indústrias do Estado de SãoPaulo-Fiesp, e o ex-Cônsul dos EstadosUnidos na capital paulista, Claris Row-ley Halliwell, participavam assiduamen-te de reuniões com agentes mais gradua-dos da repressão – principalmente com oDelegado Sérgio Paranhos Fleury, o mai-or nome da repressão em São Paulo du-rante a ditadura militar. Os dois, como ou-tros notáveis nomes do empresariado,podem ter assistido a sessões de tortura eaté de assassinatos de presos políticos.

Pelo menos oito livros – o restante, de-zenas ou centenas, desapareceu – com

anotações a caneta listam personagens quese reuniram no local quando o País enfren-tava o momento mais crítico da ditaduramilitar, com torturas e mortes de presospolíticos. Foram registrados os nomes dedezenas de empresários que iam à sede doDeops para participar de encontros secre-tos – e, provavelmente, rituais de tortura emorte de prisioneiros. Tanto Rezende deMatos quanto o cônsul americano, emmuitas ocasiões, entravam no prédio noinício da noite e só saiam na manhã do diaseguinte. Para o presidente da ComissãoEstadual da Verdade, Deputado AdrianoDiogo (PT), a descoberta deve ser conside-rada a ponta do iceberg para se conseguir o

que sempre se soube: provar quericos empresários e corporaçõesnacionais e estrangeiras finan-ciavam a tortura e a morte depessoas que lutavam contra aditadura. Em sua opinião, os li-vros de registros provam a pro-miscuidade e o envolvimentodireto de grandes empresáriosno financiamento do golpe ci-vil-militar e na manutenção doesquema repressivo durante osanos de chumbo, especialmenteno período de repressão maisdura em São Paulo, entre os anosde 1971 e 1973, no Governo doPresidente Garrastazu Médici.

De acordo com as anota-ções, apenas entre os meses deabril a setembro de 1971 – oslivros com os outros meses des-te ano desapareceram –, Rezen-de de Matos esteve no Deopsnada menos que 40 vezes.Numa das visitas, sua entradaocorreu às 17h30min, mas nãoconsta horário de saída. Comoos funcionários da portaria tra-balhavam apenas até 22h, con-clui-se que ele saiu depois des-se horário, uma vez que não eraanotado mais ninguém até o diaseguinte. Em outro registro, de24 de abril de 1972, o represen-tante da Fiesp entrou no prédio

às 18h20min e saiu às12h35min do dia seguin-te, 25 de abril. Foram cer-ca de 18 horas no local.

“O que o cara da Fiespia fazer lá? Essa é a per-gunta que fazemos”, ob-servou o Coordenador da

Comissão Estadual daVerdade, Ivan Seixas,ao anunciar as revela-ções da coleção de li-vros. Ex-preso políticoe membro da Comissãode Familiares dos Mor-tos e Desaparecidos Po-líticos, Seixas lembrouque a Comissão já pe-diu esclarecimentos àFiesp sobre o assunto.Esta alegou não ter re-gistros de Geraldo Re-zende de Matos emseu acervo. A Comissãodescobriu que Matosera empresário ligadoaos ramos de metalur-

gia, além de possuir uma empresa de segu-ros e reparação que atendia militares.

A relação dos nomes importantes quevisitavam o Deops inclui também milita-res que atuavam em outra frente da re-pressão, a clandestina Operação Bandei-rantes-Oban, que funcionava num casa-rão da Rua Tutóia, Zona Sul da capitalpaulista. Ao contrário do que a própriaesquerda avaliou ao longo da História dosanos de chumbo, diz o Deputado Adria-no Diogo, civis e militares formavam umgrupo coeso de luta contra a chamada sub-versão – organizações de esquerda quepregavam a luta armada contra a ditadu-ra. Sempre se pensou que havia um rachana repressão e, agora, essa versão acaba.Aparece nos livros entre os visitantes omais conhecido entre os operadores fi-nanceiros da Oban e do Deops, o entãoDiretor do Grupo Ultragás Henning Al-bert Boilensen, que, sabia-se, gostava deassistir a sessões de tortura e até execuçãode presos. A esquerda sabia disso. Tantoque Boilensen foi executado por um gru-po guerrilheiro em 1971, como represália.

Além das descobertas bombásticascomo essas, a utilidade social e históricado acervo do site do Arquivo Público temsido notada no dia-a-dia por quem entrano banco de dados. Quem acessar o ma-terial notará que o acervo digital foi pen-sado para facilitar ao máximo o acesso docidadão à documentação do Estado quelhe diz respeito – das fichas publicadas,boa parte é nominal, ou seja, fichas pes-soais –, e ao mesmo tempo abre uma fon-te de pesquisa a estudiosos, jornalistas epúblico em geral. “Trata-se de resgataruma importante parte da História do Paísque aconteceu nos bastidores”, explica oCoordenador do Arquivo Público, CarlosBacelar. A digitalização e publicação des-te material foram possíveis graças a ver-bas provenientes de editais da Fapesp(Fundação de Amparo à Pesquisa do Esta-do de São Paulo), do Projeto Marcas daMemória da Comissão de Anistia do Mi-nistério da Justiça e da Casa Civil da Pre-sidência da República (Projeto MemóriasReveladas).

POR GONÇALO JÚNIOR

A REPRESSÃOESCANCARADAArquivo Público do Estado de São Paulo expõe na internet

quase um milhão de imagens de fichas, prontuários e dossiêsdo acervo do Deops, órgão de repressão que monitorou

a vida de milhares de brasileiros por mais de seis décadas.

Nos livros de visita do Deops, o registro das visitas do Cônsul dosEstados Unidos em São Paulo, Claris Rowley Halliwell, e do

representante da Fiesp, Geraldo Rezende de Matos, o “Dr. Geraldo”.

Dom Paulo Evaristo Arns foi uma das pessoas maisvigiadas pelo Deops de São Paulo e Santos.

DENÚNCIA DOSSIÊ 1º DE ABRIL

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Bacelar explica que a publicação des-sa parcela do acervo na internet sinalizaa ampliação do acesso à informação, noespírito da Lei federal nº 12.527, e doDecreto Estadual nº 58.052, que a regula-menta e removeu alguns dos principaisobstáculos à consulta livre do FundoDeops pela internet. No capítulo que tratadas restrições do acesso, a lei estabeleceque “as informações ou documentos queversem sobre condutas que impliquemviolação dos direitos humanos praticadapor agentes públicos ou a mando de auto-ridades públicas não poderão ser objetode restrição de acesso”. “O esforço dedigitalização e publicação dos documen-tos do Deops vem neste sentido, assimcomo nosso trabalho de gestão documen-tal, que garante o acesso da população àsinformações que lhe dizem respeito. Eeste trabalho não vem de hoje: garanti-mos o acesso à documentação do Deopsdesde 1994”, justificou Bacelar.

Mesmo assim, há muito ainda a ser fei-to. Cerca de 1,1 milhão de documentosainda serão digitalizados. Mas os pesqui-sadores não terão de esperar muito, segun-do Lauro Ávila Pereira, Diretor do Depar-tamento de Preservação e Difusão doAcervo. Cerca de 30 pessoas trabalham nadigitalização dos papéis. Nos próximosdez meses, em intervalos de três meses,cerca de 250 mil novos arquivos entrarãono portal da instituição. Ele ressalta quea prioridade na digitalização dos docu-mentos, no primeiro momento, foi parao arquivo da cidade de Santos, por causade seu quase ineditismo, já que não havia

O filme O Dia Que Durou 21 Anos, deCamilo Tavares, estreou em nove capitaisbrasileiras no dia 29 de março. O docu-mentário, lançado na última edição doFestival do Rio, detalha o apoio dos Esta-dos Unidos à ditadura militar de 1964 noBrasil e a conspiração para derrubar o Pre-sidente João Goulart, através de imagens,documentos sigilosos e registros sonorosinéditos da Casa Branca, além de depoi-mentos de militares, historiadores, jorna-listas e militantes políticos.

O roteiro é assinado por Camilo Tava-res e por seu pai, o jornalista Flávio Tava-res, um dos 15 presos políticos exilados emtroca da libertação do Embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, em 1969,e autor dos livros Memórias do Esquecimento(Globo), vencedor do Prêmio Jabuti em2000, na categoria Reportagem; 1961: OGolpe Derrotado (L&PM); O Dia em QueGetúlio Matou Allende e Outras Novelas doPoder (Record), vencedor do Prêmio daAssociação Paulista de Críticos de Arte em2004, e do Jabuti em 2005.

A narrativa de O Dia Que Durou 21 Anosse desenvolve a partir do ponto de vista deLincoln Gordon, Embaixador dos EstadosUnidos no Brasil na época do golpe mili-tar. O filme mostra ainda como os órgãosde propaganda personificaram a ameaçacomunista na figura do Presidente João

Goulart. O contexto documental abrangeo Governo João Goulart e os esforços paraa implementação das Reformas de Base eaponta os interesses econômicos dos Esta-dos Unidos no Brasil e a estrutura de finan-ciamento da ditadura.

Ao longo de cinco anos de pesquisa paraa realização do filme foram recuperadosrelatórios secretos da Cia, telegramas egravações telefônicas entre o Embaixadornorte-americano no Brasil e os Presiden-tes dos Estados Unidos John Kennedy eLyndon Johnson. As conversas revelam aconstrução histórica do golpe.

Na entrevista a seguir Camilo Tavaresfala sobre as diversas etapas da produção dodocumentário, a relevância histórica dodebate em torno da ditadura militar noPaís e os interesses internacionais em ani-quilar os avanços democráticos e o direi-to às liberdades no Brasil.

Jornal da ABI – Como surgiu a idéiade fazer o documentário?

Camilo Tavares – O projeto inicial era to-talmente diferente do filme final. A princípiotínhamos a idéia de compilar as crônicas davida de meu pai seguindo sua carreira estudantile depois como jornalista com foco em fatosque marcaram a política do Brasil. Após umareunião de roteiro onde meu pai trouxe umaantiga pasta que o José Silveira, do Jornal do Bra-

NA TELA, TODA ACONSPIRAÇÃO

NORTE-AMERICANACONTRA JANGOFilme de Camilo Tavares mostra como John Kennedy,

Lyndon Johnson, Lincoln Gordon e Vernon Walters tramarame montaram o golpe militar que depôs o Presidente.

POR CLÁUDIA SOUZA

sido aberto ao público e poucas pessoastiveram acesso. Exatos 11.666 prontuári-os e mais de 40 mil fichas de pessoas dacidade litorânea tinham sido entregues aoArquivo Público em 2010. Ávila Pereiradestaca ainda entre o acervo disponívelno site a importância dos mais de 200boletins internos do Deops, que revelama rotina da repressão, com escalas de tra-balho, aniversários dos funcionários eoutras curiosidades, publicados entre1952 e 1977. “Esse material ajuda a en-tender a lógica da repressão, os atos legais;pelos cruzamentos, pode-se saber quemestava de plantão quando algum preso foimorto sob tortura”, diz o Diretor.

A democratização dos documentosnão pára por aí. Até meados de 2014,devem estar prontas para serem publica-das na internet 154.000 fichas nominaise 2.331 dossiês temáticos do Deops. Deacordo com o Diretor, todas as imagenspodem ser copiadas e impressas sem difi-culdade. E não é possível falsificar qual-quer documento porque estão certifica-das eletronicamente. Ele lembra outroaspecto importante da publicação onlinedesses documentos: “Esta iniciativa podeajudar a identificação daqueles agentespúblicos que durante a época da ditadu-ra cometeram violações dos direitos hu-manos. Temos que lembrar que o Brasil éum dos poucos países da América do Sulonde esse tipo de crime jamais foi puni-do”. Ávila Pereira ressalta ainda a impor-tância didática do acervo online, quepode ser utilizado pelos professores emsala de aula com mais facilidade.

Desde dezembro de 2008 o Arquivo Públicodo Estado de São Paulo tem se empenhado emquebrar a tradição de que não é fácil consultararquivos públicos, tanto pela falta de tempode ir ao local como de procurar documentos ede seguir os horários pré-estabelecidos. Pelo sis-tema de “pesquisa remota”, a instituição co-locou em seu site de uma só vez mais de 360mil imagens de documentos e fotos que podi-am ser baixados com alta resolução. A inicia-tiva pretendia ampliar consideravelmente nãoapenas o número de pesquisadores que consul-tariam o arquivo, mas a qualidade, completudee diversidade dos estudos.

“Não podemos ainda fazer uma estima-tiva, mas tudo será redimensionado em gran-de escala”, observou na época o entusiasma-do Carlos de Almeida Prado Bacelar.

O novo site reuniu, entre outros tesouros,a coleção completa do jornal Última Hora eoutra da revista feminina A Cigarra, edita-da entre 1914 e 1956, além de documentosdos Núcleos Coloniais, fazendas coletivasque recebiam os imigrantes chegados aoBrasil no começo do século.

O usuário podia também ter acesso àpublicação eletrônica Revista Histórica e aoportal Memórias Reveladas, com um riquís-simo banco de dados sobre a luta contra aditadura. Havia também notícias sempreatualizadas sobre sistema de arquivos públi-cos, oficinas pedagógicas e cursos de preser-vação. A página de Memória da Imprensaapresentava coleções de diversos tipos de pu-

Tesouros no novo site

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Camilo Tavares, diretorde O Dia Que Durou 21

Anos: o processo depesquisa durou 5 anos.

blicações, como o jornal anarquista A Lanter-na, editado por Edgard Leuenroth, no come-ço do século passado. Algumas dessas publi-cações, inclusive, têm coleções completas nosite. Outro destaque é o Memória Pública,programa de ação permanente cujo objeti-vo é promover o acesso aos documentos queconstituem uma parte da memória da so-ciedade sob responsabilidade do Estado.

O portal surgiu como algo grandioso paraos padrões brasileiros que prometia iniciaruma nova era na pesquisa histórica no País,que se refletiria inclusive no uso da internet emsala de aula. Embora pesquisadores de pós-gra-duação fossem os principais interessados, umdos focos foi estender e estimular a consultaem salas de aula por estudantes de todos osníveis de graduação. Para isso, uma equipe deeducadores da instituição criou uma série deatividades dirigidas a professores para ampliaras possibilidades de aprendizado de seus alu-nos com tudo que o arquivo oferece. São exer-cícios que podem ser aplicados diretamentepelo computador, que inclui busca ou impres-são de documentos, fotos e testes ou temaspara debate. A idéia era criar algo interativo,informar o que há dentro do arquivo, pro-por um módulo com roteiro, porque mui-tas vezes o professor fica perdido quanto aencontrar meios que fixem mais informa-ções junto aos alunos. No caso de históriaem sala de aula, documentos deveriam serpouco usados, uma vez que os educadoresse orientam por livros.

Jornal da ABI

O JORNAL DA ABI NÃO ADOTA AS REGRAS DO ACORDO ORTOGRÁFICO DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA, COMO ADMITE O DECRETO Nº 6.586, DE 29 DE SETEMBRO DE 2008.

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Jornal da ABIDIRETORIA – MANDATO 2010-2013Presidente: Maurício AzêdoVice-Presidente: Tarcísio HolandaDiretor Administrativo: Orpheu Santos SallesDiretor Econômico-Financeiro: Domingos MeirellesDiretor de Cultura e Lazer: Jesus ChediakDiretora de Assistência Social: Ilma Martins da SilvaDiretora de Jornalismo: Sylvia Moretzsohn

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CONSELHO FISCAL 2011-2012Adail José de Paula, Geraldo Pereira dos Santos, Jarbas Domingos Vaz, JorgeSaldanha de Araújo, Lóris Baena Cunha, Luiz Carlos Chesther de Oliveira e ManoloEpelbaum.

MESA DO CONSELHO DELIBERATIVO 2011-2012Presidente: Pery CottaPrimeiro Secretário: Sérgio CaldieriSegundo Secretário: José Pereira da Silva (Pereirinha)

Conselheiros Efetivos 2012-2015Adolfo Martins, Afonso Faria, Aziz Ahmed, Cecília Costa, Domingos Meirelles, FichelDavit Chargel, Glória Suely Alvarez Campos, Henrique Miranda Sá Neto, Jorge MirandaJordão, Lênin Novaes de Araújo, Luís Erlanger, Márcia Guimarães, Nacif Elias HiddSobrinho, Pery de Araújo Cotta e Vítor Iório.

Conselheiros Efetivos 2011-2014Alberto Dines, Antônio Carlos Austregésilo de Athayde, Arthur José Poerner, DácioMalta, Ely Moreira, Hélio Alonso, Leda Acquarone, Maurício Azêdo, Milton Coelho daGraça, Modesto da Silveira, Pinheiro Júnior, Rodolfo Konder, Sylvia Moretzsohn,Tarcísio Holanda e Villas-Bôas Corrêa.

Conselheiros Efetivos 2010-2013André Moreau Louzeiro, Benício Medeiros, Bernardo Cabral, Carlos Alberto MarquesRodrigues, Fernando Foch, Flávio Tavares, Fritz Utzeri (in memoriam), Jesus Chediak, JoséGomes Talarico (in memoriam), Marcelo Tognozzi, Maria Ignez Duque Estrada Bastos, MárioAugusto Jakobskind, Orpheu Santos Salles, Paulo Jerônimo de Sousa e Sérgio Cabral.

Conselheiros Suplentes 2012-2015Antônio Calegari, Antônio Henrique Lago, Argemiro Lopes do Nascimento (Miro

Lopes), Arnaldo César Ricci Jacob, Continentino Porto, Ernesto Vianna, HildebertoLopes Aleluia, Irene Cristina Gurgel do Amaral, Jordan Amora, Luiz Carlos Bittencourt,Marcus Antônio Mendes de Miranda, Mário Jorge Guimarães, Múcio Aguiar Neto,Rogério Marques Gomes e e Wilson Fadul Filho.

Conselheiros Suplentes 2011-2014Alcyr Cavalcânti, Carlos Felippe Meiga Santiago (in memoriam), Edgar Catoira, FranciscoPaula Freitas, Francisco Pedro do Coutto, Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz,José Pereira da Silva (Pereirinha), Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Ponce deLeon, Salete Lisboa, Sidney Rezende, Sílvio Paixão (in memoriam) e Wilson S. J. Magalhães.

Conselheiros Suplentes 2010-2013Adalberto Diniz, Alfredo Ênio Duarte, Aluízio Maranhão, Arcírio Gouvêa Neto, DanielMazola Froes de Castro, Germando de Oliveira Gonçalves, Ilma Martins da Silva, JoséSilvestre Gorgulho, Luarlindo Ernesto, Marceu Vieira, Maurílio Cândido Ferreira, SérgioCaldieri, Wilson de Carvalho, Yacy Nunes e Zilmar Borges Basílio.

COMISSÃO DE SINDICÂNCIACarlos Felipe Meiga Santiago, Carlos João Di Paola, José Pereira da Silva (Pereirinha),Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Marcus Antônio Mendes de Miranda.

COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃOAlberto Dines, Arthur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti.

COMISSÃO DE DEFESA DA LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOSPresidente, Mário Augusto Jakobskind; Secretário, Arcírio Gouvêa Neto; AlcyrCavalcânti, Antônio Carlos Rumba Gabriel, Arcírio Gouvêa Neto, Daniel de Castro,Ernesto Vianna, Geraldo Pereira dos Santos,Germando de Oliveira Gonçalves, GilbertoMagalhães, José Ângelo da Silva Fernandes, Lênin Novaes de Araújo, Lucy MaryCarneiro, Luiz Carlos Azêdo, Maria Cecília Ribas Carneiro, Martha Arruda de Paiva,Miro Lopes, Orpheu Santos Salles, Sérgio Caldieri, Vitor Iório e Yacy Nunes.

COMISSÃO DIRETORA DA DIRETORIA DE ASSISTÊNCIA SOCIALIlma Martins da Silva, Presidente; Manoel Pacheco dos Santos, Maria do PerpétuoSocorro Vitarelli, Mirson Murad e Moacyr Lacerda.

REPRESENTAÇÃO DE SÃO PAULOConselho Consultivo: Rodolfo Konder (Diretor), Fausto Camunha, George BenignoJatahy Duque Estrada, James Akel, Luthero Maynard e Reginaldo Dutra.

REPRESENTAÇÃO DE MINAS GERAISJosé Mendonça (Presidente de Honra), José Eustáquio de Oliveira (Diretor),CarlaKreefft, Dídimo Paiva, Durval Guimarães, Eduardo Kattah, Gustavo Abreu, José BentoTeixeira de Salles, Lauro Diniz, Leida Reis, Luiz Carlos Bernardes, Márcia Cruz eRogério Faria Tavares.

sil, tinha lhe dado, com fac-símiles de telegra-mas do Embaixador Gordon, datados de1961, percebi que tínhamos nas mãos algoinédito e, até então, confidencial.

Jornal da ABI – Como foi desenvolvi-do o roteiro?

Camilo Tavares – Após muitas discussõesdemos um novo enfoque ao filme. A câme-ra estaria na Casa Branca, e os documentosoriginais, quase todos desconhecidos dogrande público, seriam o roteiro do filme.

Jornal da ABI – Em que acervos vocêencontrou as imagens, gravações e do-cumentos sigilosos?

Camilo Tavares – Os textos originais foramgarimpados nos arquivos de Washington,Estados Unidos, com a ajuda de uma equipeincansável. Além dos telegramas entre a Cia,o Embaixador, as Forças Armadas e a CasaBranca, a pesquisa encontrou jóias como osáudios originais do Presidente Kennedy eLyndon Johnson. Parte deste material foi li-berado em 2004 e 2005 através da Freedom ofInformation Act (FOIA), a Lei de Livre Acessoa Informação, pela qual o National Archivesand Records Administration (NARA), emWashington, coordenado por Peter Kornbluh,se destaca com grande mérito. Além disso,com o apoio de Carlos Fico, da UFRJ, garim-pamos a mídia dos Estados Unidos buscandoprogramas exibidos em 1962 e 1963 na tele-visão americana, nas redes CBS e NBC.

Jornal da ABI– Como a ameaça comu-nista foi construída a partir da figurade Jango?

Camilo Tavares – Esses programas de te-levisão aos quais me referi foram peças fun-damentais durante a Guerra Fria para con-vencer e preparar o público e a mídia inter-na dos Estados Unidos para a ameaça comu-nista que o Brasil representava com Jangono poder. Muito parecido com o que vive-mos hoje se pensarmos no poder da mídia.

Jornal da ABI – Em quanto tempo foi re-alizada a pesquisa? Que dificuldades vocêenfrentou para realizar a produção?

Camilo Tavares – O processo de pesquisadurou cinco anos. Foram necessários inves-timentos pessoais, recursos da produtoraPequi Filmes, e o árduo trabalho a seis mãos,de meu pai, eu e minha mulher, Karla Ladeia,que assina a produção executiva do filme.

Jornal da ABI – Em relação ao materialpesquisado que peças você julga maisimportantes em termos históricos?

Camilo Tavares – Aqui no Brasil quasetodo o material é inédito. Os mais impac-tantes, em minha opinião, são os áudios dasconversas entre o Presidente Kennedy e oEmbaixador Gordon, em abril de 1962, játramando toda a conspiração civil e mili-tar. Outra jóia rara é a correspondência doadido militar Vernon Walters que assina-va como “ARMA”. Esses documentos com-provam seu papel protagonista em aproxi-mar Kruel dos golpistas liderados por Cas-telo Branco. Além disso, o detalhamentoem imagens e telegramas da Cia que acom-panha passo a passo todas as ações de per-sonalidades como Brizola, Bocayuva Cu-nha e o monitoramento dos militares queapoiavam João Goulart. O golpe foi ven-dido como uma ação passageira em que opoder seria logo devolvido ao povo, atra-vés de eleições diretas. Mas foi um dia quedurou 21 anos. Os Estados Unidos apoia-ram a ação enviando uma esquadra navalao Brasil e seguiram dando ajuda financeira

aos militares contra a resistência. Foi umaatuação que fez a diferença.

Jornal da ABI – Qual o papel de Lin-coln Gordon na estrutura do filme?

Camilo Tavares – Trouxemos Lincoln Gor-don para reviver suas memórias. Ele esteve nocentro das operações norte-americanas queapoiaram os militares. Suas declarações com-provam a conspiração dos governantes do seupaís que sabiam do golpe anos antes de esteacontecer. Ele é o grande destaque do docu-mentário e a figura central desta conspiraçãoque teve início em 1961, quando chegou noBrasil com a missão de montar seu qg no Riode Janeiro para comandar o golpe que ocorreriaem 1964. A pesquisa de áudio e telegramas doEmbaixador Lincoln Gordon trouxe muitosdetalhes curiosos que vão render próximasséries para televisão e novos filmes. Nós con-vidamos o assessor dele, Bob Bentley, seu braçodireito, para vir ao Rio participar do filme. Gra-vamos com ele no Consulado dos EstadosUnidos e foi muito interessante. Em 1964Bob Bentley estava dentro do Congresso Na-cional e conhecia meu pai, que na época erajornalista político do jornal Última Hora.

Jornal da ABI – Que critérios você uti-lizou para selecionar os entrevistados,inclusive os militares?

Camilo Tavares – Tive muito cuidadoem ser imparcial desde o início. Quería-

mos dar voz aos entrevistados para quedefendessem seu ponto de vista da Histó-ria. Meu pai fez questão de entrevistar osmilitares que apoiaram Castelo Branco nogolpe de 1964. Em muitas situações meupai esteve com eles na condição de presopolítico, como foi o caso de Jarbas Passari-nho, que após a entrevista lembrou quehavia assinado a extradição de meu pai.Neste sentido acho que o filme alcançauma maturidade que é importante paraconstruir um rico diálogo de nossa Histó-ria, sem revanchismos.

Jornal da ABI – A trajetória política deseu pai, Flávio Tavares, foi determinan-te para a construção da narrativa?

Camilo Tavares – Sim. Mas acima detudo “O Dia Que Durou 21 Anos é uma in-vestigação, quase judicial, sobre a partici-pação dos Estados Unidos no golpe militarde 1964. Alguns espectadores consideramo filme um instrumento até mesmo paraum pedido formal de desculpas dos EstadosUnidos pelo apoio à ditadura e à derruba-da de um presidente eleito democratica-mente. Localizamos telegramas do ano de1968 que comprovam que a Câmara deComércio dos Estados Unidos, em SãoPaulo dava apoio ao AI-5. Nos textos vemosque a ditadura estava fora de controle nosentido da tortura e da violação aos direi-tos humanos, mas os Estados Unidos man-tinham o “silêncio dourado”, expressãooriginal do telegrama. A violência era vis-ta como um mal necessário para manter osistema econômico com base no capitalprivado dos Estados Unidos aqui no Brasil.

Jornal da ABI – Qual a importância destedocumentário para a História do País?

Camilo Tavares – Essencial. Nosso obje-tivo é que jovens, adultos e idosos vejam ofilme. Estaremos nos cinemas em novecapitais a partir do dia 29 de março. Depoisdeverá ser distribuído em universidadesfederais e estaduais. Quem sabe o Ministé-rio da Educação, na figura do Aloízio Mer-cadante ou a Secretaria dos Direitos Huma-nos, Maria do Rosário, não se interessam?

O porta-aviõesUSS Forrestal foienviado à costa

brasileira no finalde março de 1964.

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DENÚNCIA DOSSIÊ 1º DE ABRIL

16 JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013

ACONTECEU NA ABI

A ABI comemorou na noite de 8 deabril seu 105º aniversário de fundaçãocom um show do cantor e compositorMonarco e a Velha Guarda da Portela, numespetáculo que lotou o Auditório OscarGuanabarino e que teve também comoatração o jornalista, escritor e pesquisadorSérgio Cabral, Conselheiro da Associação,que, como apresentador do grupo, delicioua platéia e o próprio Monarco e a VelhaGuarda com histórias da música popular,numa aula da matéria em que é mestre.

“Estamos dedicando esta homenagem àABI, ao nosso querido Monarco e à VelhaGuarda da Portela. Vamos ouvir o Rio de Ja-neiro em sua faceta musical mais criativa.Posso dizer com absoluta isenção que a Por-tela é a fonte mais generosa de composiçõesentre as escolas de samba. Nenhuma outraagremiação reúne repertório semelhanteao desta mina de talento de compositores,como Monarco, que, além de compor belossambas, apresenta composições maravilho-sas de outros grandes poetas, ajudando acontar a história da Portela”, disse SérgioCabral na abertura do evento.

À frente dos sambistas Marquinhos doPandeiro, David do Pandeiro, Guaracy 7 Cor-das, Sérgio Procópio, Dinho e Timbira e daspastoras Áurea Maria, Jane, Neide Santanae Surica, Monarco relembrou momentos desua carreira e de sua vida, como o período emque trabalhou na ABI, entre 1947 e 1950:

“O primeiro emprego da minha vida foinesta Casa, na gestão do Presidente HerbertMoses. Tive orgulho em conhecer aqui des-tacados nomes da cultura e do jornalismobrasileiro. Eu e o Tupi, que era engraxate dabarbearia do 11º andar, passávamos o tem-po inteiro sambando e batucando. Certodia, Herbert Moses me flagrou dançandocom a vassoura na mão ao som do batuquedo Tupi. Já tinham feito várias reclamaçõescontra mim, que só queria saber de samba.Fui mandado embora, mas por in dicação dePaulo Magalhães, jornalista e teatrólogo,Herbert Moses me encaminhou para outroemprego no Sesi, pertinho da ABI. Tenhomuito a agradecer à Associação Brasileira deImprensa e ao Presidente Maurício Azêdopor esta homenagem bonita.”

Na primeira parte do show a Velha Guar-da da Portela cantou Hino Portelense, de Fran-cisco Felisberto de SantAnna, o Chico San-tana, um dos maiores nomes da Portela;Tudo Menos Amor, composição de Monarco,e Quantas Lágrimas, de Manacéa, irmão doscompositores Mijinha e Aniceto, famíliaque deu origem a uma nobre linhagem deportelenses, como a pastora Áurea Maria.

Em seguida, Monarco fez um breve in-tervalo para destacar o papel de SérgioCabral na história da mpb como grandeincentivador de músicos e compositoresde diversas vertentes:

“Eu pegava recados de ligações paramim em uma loja de móveis no Jacaré, efiquei sabendo que Sérgio Cabral tinha metelefonado. Era um convite para ir à casadele, em Copacabana. Chegando lá, paraminha surpresa, fui apresentado a ElisRegina e também a Zezé Motta. Freqüen-tei muito a casa de Sérgio Cabral, junta-mente com outros amigos, como WilsonMoreira. Sérgio Cabral tem o nome inscri-to na história do nosso samba.”

Antes de prosseguir com a apresentação,os artistas convidaram a platéia a respeitarum minuto de silêncio pelo falecimento,no domingo anterior, dia 7, de Dona Con-ceição, mulher do compositor Noca daPortela, autor de outros grandes sucessos,como Vendaval da Vida, Caciqueando e Vi-rada, composta em 1982, em parceria comSérgio Fonseca, em apoio à campanha deLeonel Brizola ao Governo do Estado doRio de Janeiro, e Um Samba para Oscar, emhomenagem ao arquiteto Oscar Niemeyer,antigo companheiro de Noca na militânciado Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Introduzindo a segunda parte do show,Monarco e a Velha Guarda da Portela apre-sentaram os sambas Chegou a Hora de Cami-nhar – Academia do Samba, de Chico Santa-na, Portela Querida, de Noca e Picolino, Co-ração em Desalinho, de Monarco e Ratinho,e Cidade Mulher, de Paulo da Portela.

“Vou cantar Cidade Mulher em homena-gem ao Paulo da Portela e ao Prefeito PedroErnesto, que ajudou a impulsionar as esco-las de samba, muito marginalizadas no pas-sado. Antes de começar este show, visiteiuma exposição de fotografias antigas daABI, no hall deste Auditório. Na mostra háuma foto do Prefeito Pedro Ernesto duran-te a cerimônia de assinatura da cessão doterreno para a construção do prédio daABI, em 1932, na presença de HerbertMoses e de vários jornalistas. É a força danossa história”, ressaltou Monarco.

Cachaça e CartolaApós a homenagem a Paulo da Portela,

a Velha Guarda enalteceu a poesia de Car-tola e de Carlos Cachaça, fundadores daMangueira.

“Vamos relembrar o samba Não QueroMais Amar a Ninguém, de Carlos Cachaçae do nosso saudoso Cartola, que, apesar deser mangueirense, tinha uma amizademuito grande com Paulo da Portela. Carto-la reverenciou Oswaldo Cruz e a nossa es-cola através dos seus belos sambas”.

Sérgio Cabral contou então ao públi-co que Não Quero Mais Amar a Ninguémfoi o samba-enredo cantado pela Man-gueira em 1936, ano em que o critério dejulgamento do desfile das escolas de sam-ba foi modificado. “Venceria a escola commaior nota no quesito Harmonia, que foia Unidos da Tijuca. A Mangueira ficou emsegundo lugar com o prêmio de Melhor

Samba por Não Quero Mais Amar a Nin-guém. Uma ocasião eu citei versos destesamba que dizem ‘Semente de amor seique sou desde nascença/Mas sem ter bri-lho e fulgor, eis minha sentença’, pensan-do que tinha sido escrito por Carlos Ca-chaça, mas, sob protestos, Cartola reivin-dicou a autoria da segunda parte” (risos).

O pioneiro PauloO público vibrou com a interpretação

dos sambas Vivo Isolado no Mundo, de Can-deia, Alcides Lopes e Manacéia; Vai Vadi-ar, de Monarco; O Mundo é Assim, de Alvai-ade; Quitandeiro, de Monarco, e Teste aoSamba, de Paulo da Portela, enredo vence-dor do Carnaval de 1939.

“O ano de 1939 foi muito importanteporque pela primeira vez se cantou umsamba relacionado com o enredo apresen-tado pela escola. A idéia foi de Paulo daPortela, um pioneiro. No ano seguinte,venceu a Mangueira, mas a Portela venceusete vezes consecutivas a partir de 1941.Eu sou de Cavalcânti, bairro onde tambémnasceu Monarco. Nos anos 1940, quandoa Portela começou a ganhar vários campe-onatos, surgiu um boato no bairro que di-zia que a Portela não queria mais vencer odesfile de Carnaval com receio de ser pro-movida a rancho, já que não tinha rivais àsua altura”, recordou Sérgio Cabral.

Na última parte do show, antes de can-tar Nega Danada, Monarco aplaudiu atrajetória de Tompson José Ramos, maisconhecido como Chatim, autor do sam-ba. Um dos maiores símbolos da primei-ra geração de compositores da Portela,Chatim deu a Madureira o campeonatoem 1941, com o samba enredo Dez Anosde Glória, em parceria com Bibi, seu irmãomais velho, e em 1951, com A Volta do Fi-lho Pródigo, em parceria com Josias.

A poesia de outro ilustre portelense,Paulinho da Viola, foi lembrada, em segui-da, com o sucesso De Paulo a Paulinho, deMonarco e Chico Santana.

“Paulinho da Viola era um dos violonis-tas que acompanhava as rodas de samba doZicartola. Zé Ketti me buscava na Reda-ção da sucursal da Folha de S. Paulo parairmos juntos ao Zicartola. No caminho elepegava o Paulinho, que trabalhava em umaagência do Banco Nacional. Certa vez, ZéKetti comentou que Paulo César não eranome de sambista. Sugeri Paulinho da Violaporque eu gostava muito do nome ManoDécio da Viola”, contou Sérgio Cabral.

Monarco lembrou que Paulinho da Vi-ola chegou à Portela por intermédio de Os-car Bigode e foi recebido com muito cari-nho: “Ele fez vários sambas conosco, masum tempo depois, em parceria com Hermí-nio Bello de Carvalho, compôs Sei lá, Man-gueira. Natal, que tinha muito ciúme daPortela, ficou puto com ele: ‘ Recebemos essemenino aqui com todo o amor e ele vaifazer samba na Mangueira!’ Eu tambémsofri um pouco com quando fiz um sambapara a Unidos do Jacarezinho. O Natal medisse o seguinte: ‘Já escutei o samba boni-to que você fez para o Jacarezinho. Achoisso muito engraçado... Quando é para osoutros vocês sabem fazer samba bonito,mas quando é prá gente vocês só fazemessas merdas’ (risos). Depois deste episódioda Mangueira, para limpar a barra Paulinhoda Viola compôs Foi um Rio Que Passou emMinha Vida, samba com o qual a VelhaGuarda da Portela se despede e agradece àABI e ao público que nos prestigiou”.

Antes do encerramento, em meio aoentusiasmo da platéia, que, de pé, aplau-dia e cantava, o grupo cantou ainda Vocême Abandonou, de Alberto Lonato, e MeuLugar, de Mauro Diniz e Arlindo Cruz.

Nosso presente nos 105 anos: umshow da Velha Guarda da Portela

Casa cheia aplaudiu Monarco, que foi funcionário da ABI, e seus companheiros da mais antiga das escolas de samba.

POR CLÁUDIA SOUZA

Ao se encerrar o espetáculo, o público aplaudiu de pé Monarco e a Velha Guarda da Portela.

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17JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013

Em prosseguimento às comemoraçõesdos seus 105 anos, a ABI promoveu no dia9 de abril o seminário Direitos Humanos –Ontem e Hoje, que contou com a presençado advogado paraguaio Martín Almada,pesquisador dos arquivos da OperaçãoCondor e vencedor do Prêmio Nobel daPaz Alternativo de 2002. Durante o en-contro, Almada apresentou documentosque comprovam a existência de coopera-ção entre os regimes militares do Brasil,Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Bo-lívia e a Agência Central de Inteligênciados Estados Unidos (CIA, na sigla eminglês). De acordo com ele, os arquivosforam encontrados em 1992, durante abusca de provas de sua detenção e tortu-ra ilegais na cidade de Lambaré, Paraguai.

“Quando me perguntam o que foi aOperação Condor, eu digo que foi umabomba atômica que caiu sobre a AméricaLatina. Foram mais de 100 mil vítimas fa-tais, sendo metade delas dirigentes sindi-cais que criticavam seus governos. Alémdisso, foram perseguidos e mortos profes-sores, estudantes, advogados, jornalistas,médicos, defensores da Teologia da Liber-tação, artistas, intelectuais. Em suma, aclasse pensante da América Latina.”

Almada debruçou-se durante mais de15 anos na investigação desses documen-tos, trabalho pelo qual ganhou outros prê-mios, como a Medalha de Gratidão, doMovimento das Avós da Praça de Maio,em 1997, e a Medalha Chico Mendes deResistência, em 1999. Ele conta que hádocumentos que provam que fundamen-tos da Operação continuaram vigentesmesmo após o período democrático.

“Encontramos um documento militarparaguaio de 1997, no qual um oficial doExército paraguaio diz a um coronel equa-toriano que estava remetendo a lista dossubversivos paraguaios como contribui-ção do Exército do país para a elaboraçãode uma lista dos subversivos da AméricaLatina. Isso mostra que tais militares con-tinuaram agindo à sombra décadas depoisdo fim das ditaduras.”

Damous ameaçadoA mesa que debateu as violações dos

direitos humanos na História recente doPaís contou também com a participaçãode Nadine Borges, assessora da ComissãoEstadual da Verdade do Rio de Janeiro; deVictoria Grabois, Presidente do GrupoTortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, edo jornalista e advogado Modesto da Sil-veira, sob a mediação do jornalista MarioAugusto Jakobskind.

Nadine Borges salientou a importân-cia de uma Comissão da Verdade especí-fica para o Estado do Rio, onde ocorreram

o golpe militar e outros episódios, comoa carta-bomba na Ordem dos Advogadosdo Brasil-OAB; o atentado do Riocentro;e o funcionamento da Casa da Morte, cen-tro clandestino de tortura localizado nomunicípio de Petrópolis.

“Está aqui no Rio a maioria dos arqui-vos que dizem respeito a esse período. Umgrande número de desaparecidos era da-qui ou desapareceu aqui. Agora precisa-mos lutar para estabelecer a autoria des-ses crimes, dar nomes, mostrar a sociedadequem orquestrou o golpe, quem matou,quem deu ordens, quem executou essasordens. Alguns familiares já sabem essaverdade, mas é preciso que o Estado atorne oficial. Verdade, memória e justiçasão indissociáveis. Trabalha-se como sejustiça fosse algo afastado de memória everdade, mas na verdade trata-se de umtripé. Mais do que a verdade e a memória,a justiça é a filha predileta da democracia”.

Disse Nadine Borges que o Presidenteda Comissão da Verdade do Rio, WadihDamous, já sofreu ameaças de morte porconta do trabalho que começa agora a serrealizado.

“Isso é uma prova de que estamos inco-modando. Isso aponta para o fato de quea tortura não acabou, que ela continua sen-do aplicada contra aqueles que não têmcondições econômicas, que são persegui-dos por sua cor, orientação sexual. Muitossão os mesmo torturadores de antes. Esta-mos trabalhando no mesmo prédio, nomesmo andar onde explodiu a bomba. Es-colhemos trabalhar no local para mostrarque não tememos nenhuma ameaça, nãovamos desistir depois de tanta luta”.

A Presidente do Grupo Tortura NuncaMais fez um relato sobre a história dosmovimentos por liberdades políticas. Vic-tória afirmou que mesmo os governos doperíodo democrático fizeram muito poucopelos familiares de perseguidos políticos.

“Em 1986, com a fundação do PT e doPDT, muitos comitês pela anistia desapa-receram. Muitos companheiros se candi-dataram a cargos eletivos. Os presos saí-ram da cadeia, os clandestinos voltaramao convívio social, os exilados voltaramao País, mas os mortos e desaparecidosainda não foram anistiados. E com issoseus familiares também não. Ficamosalguns anos sem organização até a criaçãodo Grupo Tortura Nunca Mais no Rio,que mais tarde foi seguido por iniciativasde outros Estados. Esse movimento temconseguido vitórias a conta-gotas, poismuito pouco foi feito na Era FHC e mes-mo na Era Lula, que era nossa grande es-perança. Queremos uma Comissão daVerdade e da Justiça. Precisamos ter jus-tiça. O GTMN tem uma postura críticaem relação às Comissões da Verdade. Sa-bemos que a Comissão não vai resolver

todos os problemas com um número re-duzido de comissionados.

O advogado Modesto da Silveira lem-brou as perseguições realizadas dentrodas instituições militares contra aquelesque se opunham a um regime ditatorial.

“Mais de 5 mil militares foram vítimasde seus colegas golpistas. E nós só levanta-mos centenas de militares torturadores e

Na segunda mesa do seminário, que de-bateu violações aos direitos humanos nosdias atuais, o Vereador Renato Cinco (Psol)discutiu medidas adotadas pela Prefeitura daCidade do Rio de Janeiro contra populaçõesde rua. Segundo ele, sob o pretexto de dar tra-tamento a dependentes de crack, morado-res de rua estão sendo internados à força.

“A internação compulsória de dependen-tes químicos passa a impressão de que a Pre-feitura está fazendo alguma coisa. Só queexiste uma série de regulamentações, a par-tir da reforma psiquiátrica, que estabelececomo as Prefeituras devem enfrentar o pro-blema do abuso de drogas. Profissionais desaúde mental defendem que o ideal no Rioseria a criação de um Centro de AtençãoPsicossocial, Álcool e Drogas (CapSad) paracada 200 mil habitantes, ou seja, 33 CapSad.Até o ano passado eram três, sendo que maisdois foram inaugurados, mas sob o regimedas organizações sociais, ou seja, não são umaextensão do sistema público.

Em seminário promovido pela ABI, jornalista paraguaio revela as ligações da repressão na América do Sul com a Cia.

POR IGOR WALTZ

“Prefeitura do Rio internadrogados sem diagnóstico”

Vereador classifica de ilegal a política do Município nessa área.

Para o Vereador, a própria internaçãoé uma medida extrema, com baixo índi-ce de sucesso no tratamento. “Na verda-de o que a Prefeitura vem fazendo é umapolítica de higiene social, uma estratégiapara voltar a encarcerar a população derua. A principal prova desse objetivo é ofato de que a internação compulsória decrianças e adolescentes é realizada semdiagnóstico. Nas rondas que fizemos, osúnicos diagnósticos que encontramos in-dicando internação eram assinados porenfermeiros, e não por psiquiatras. Alémdisso, em janeiro, quando começou a inter-nação involuntária de adultos, equipes domeu gabinete, do Deputado estadual Mar-celo Freixo (Psol) e do Conselho Regionalde Serviço Social foram aos locais onde aPrefeitura informou que seriam encami-nhados os pacientes, entre hospitais e co-munidades terapêuticas, e não encontra-mos nenhum, seja porque já haviam idoembora, ou sequer haviam passado por ali.

assassinos. A instituição militar é, portan-to, daqueles que foram perseguidos e tor-turados. A instituição é das vítimas, e nãodos vitimadores, que continuam ameaçan-do o País. Os torturadores do passado e dopresente ameaçam nosso futuro. Precisa-mos lutar para que os Condores que estãovoando não pousem em algum lugar. Quemorram no céu e caiam no inferno”.

Martín Almada: Operação Condor foi uma bomba atômica que caiu sobre a América Latina.

ALCYR C

AVALCAN

TI

A Operação Condor matou mais de 100 milem seis países, diz Almada, que a denunciou

18 JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013

ACONTECEU NA ABI

Para onde foram? Será que precisaremos deuma nova lista de desaparecidos no País?

Renato Cinco acusou a atual gestão deretomar velhas práticas de exclusão na ci-dade, como remoções de favelas que nãorespeitam as leis. De acordo com ele, tan-to o Estatuto das Cidades quanto a Lei Or-gânica do Município estabelecem que osprojetos de remoção devem ser debatidoscom a comunidade e as remoções devemocorrer para um local próximo, ao contrá-rio do que vem ocorrendo atualmente,com a transferência forçada de moradorespara mais de 40 quilômetros de distânciade sua habitação original.

“Controle social” nas favelasO jornalista André Fernandes, que

fundou em 2001 a Agência de Notíciasdas Favelas-ANF, também afirma que ocombate às drogas está sendo usado comopretexto para o combate aos mais pobres.

“A Polícia está ocupando as comunidadescom o intuito de reprimir o tráfico, mas o quepercebemos é também uma ação de controlesocial. Fora isso, há relatos de que milicianosvêm circulando em comunidades ocupadaspelas UPPs. Há o temor de que essas áreasacabem se transformando em territórios demilícias num período pós-grandes eventos”.

O documentarista Silvio Tendler apon-tou ainda a carência de uma política culturalvoltada para os jovens carentes. “Não existeuma política pública cultural que dê alter-nativa ao jovem do Brasil inteiro. O jovemde hoje tem a televisão e o crack, mais nada.Ele se entrega às drogas e passa a ser crimi-nalizado, culpabilizado. Está na hora de umapolítica pública que discuta questões soci-ais, e não apenas aspectos políticos. Nãooferecemos lazer de qualidade, as informa-ções que circulam estão retidas. A políticacultural do Rio de Janeiro é a mais medío-cre que já houve na história da cidade. E nãotemos nada a oferecer porque se confundepolítica cultural com entretenimento, commídia. Está na hora de voltar a discutir o Paísno qual queremos viver”.

Misse: A tortura continuaO professor de Sociologia da Univer-

sidade Federal do Rio de Janeiro MichelMisse apontou também o tratamentoagressivo dispensado aos membros dascamadas populares. Ele afirma que, aocontrário do que muitos pensam, a tortu-ra não acabou com a ditadura militar, maspermanece ainda nas carceragens brasi-leiras, graças à impunidade.

“A tortura continua sendo aplicada, soboutras formas. Continua sendo uma práticageneralizada, não apenas como mecanismopara arrancar confissão do preso, mas tam-bém como efeitos torturantes produzidospelo modo como a Polícia age em relaçãoaos suspeitos, principalmente das camadaspopulares. No Rio de Janeiro, houve maisde 10 mil pessoas entre 2003 e 2010 come-tidas por policiais. Não discuto aqui condi-ções em que ocorreram esses assassinatos,se ocorreram em confronto, em reação àvoz de prisão, em condições legais. O fatoé que essas mortes não foram apuradas. Nãose sabe se esses assassinatos foram realiza-dos em condições de legítima defesa dospoliciais. Apenas 0,01% foram efetivamen-te processados pela polícia e pelo Judiciário,mesmo transcorridos mais de cinco anos”.

Com um comparecimento maciço –50% mais de associados do que na eleiçãode 2012–, o corpo social da ABI deu umademonstração vigorosa de repúdio à cam-panha de denegrição e difamação de suaimagem liderada pelo associado DomingosMeirelles, que, na ambição de conquistara presidência da Casa, promoveu duranteparte do mês de março e por todo o mês deabril a disseminação de informações fal-sas sobre a entidade, com a cumplicidadede repórteres e editores canhestros de ve-ículos como a Folha de S.Paulo e O Globo, queespalharam informações mentirosas, in-fundadas ou imprecisas sobre a Casa.

Meirelles e seus paus-mandados nãovacilaram em recorrer ao jornalismo mar-rom para agredir a ABI, como fez Andreide Sampaio Bastos,um de seus pupilos,que fotografou o cenário do show de Mo-narco e da Velha Guarda da Portela come-morativo dos 105 anos da ABI quandohavia apenas três pessoas na platéia, poiso espetáculo não começara, para dar idéiade fracasso do show, que na verdade lo-tou o Auditório Oscar Guanabarino e ter-minou com o público de pé a cantar eaplaudir os artistas.

Em resposta ao baixo nível da campa-nha, 188 associados, de um total de 201 quevieram votar, sufragaram a Chapa Pruden-te de Morais Neto e seus candidatos à Di-retoria, ao Conselho Consultivo, ao Con-selho Fiscal e ao Conselho Deliberativo.Foi esse o mais alto quórum registrado em

Foram eleitos para os diferentes cargos efunções da ABI estes associados:

PARA A DIRETORIAPresidente, Maurício Azêdo; Vice-Presidente, Tarcísio Holanda; DiretorAdministrativo, Fichel Davit Chargel; DiretorEconômico-Financeiro, Luiz Sérgio Caldieri;Diretor de Assistência Social, Ilma Martinsda Silva; Diretor de Arte e Cultura,Henrique Miranda Sá Neto; Diretor deJornalismo, Alcyr Cavalcanti.

PARA O CONSELHO CONSULTIVOAncelmo Gois, Aziz Ahmed, Chico Caruso,Miro Teixeira, Nilson Lage, Teixeira Heizer eVillas-Bôas Corrêa.

PARA O CONSELHO FISCALAdail José de Paula, Dulce Tupy Caldas,Geraldo Pereira dos Santos, JarbasDomingos Vaz, Jorge Saldanha de Araújo,Loris Baena Cunha e Manolo Epelbaum.

PARA O CONSELHO DELIBERATIVOEFETIVOS – André Moreau Louzeiro,Benício Medeiros, Bernardo Cabral, CarlosAlberto Marques Rodrigues, Dulce TupyCaldas, Fernando Foch, Germando deOliveira Gonçalves, João Máximo, MarceloTognozzi, Milton Temer, Maria IgnezDuque Estrada Bastos, Mário AugustoJakobskind, Sérgio Cabral, Sérgio Caldierie Zilmar Borges Basílio.

SUPLENTES – Antônio Calegari, AluízioMaranhão, Carlos de Sá Bezerra, DanielMazola, Gilson Monteiro, Ilma Martins daSilva, José Cristino Costa, Luiz CarlosAzêdo, Manoel Pacheco, Marceu Vieira,Miro Lopes, Moacir Lacerda, Paulo GomesNetto, Vilson Romero e Yacy Nunes.

COM VOTAÇÃOMACIÇA, A ABIDERROTA A SUAQUINTA-COLUNA

ELEIÇÂO

Com um comparecimento 50% superior ao da eleiçãode 2012, o corpo social da ABI repudia a campanha difamatória

contra a Casa e sufraga a Chapa Prudente de Morais Neto.OS ELEITOS

eleições da ABI desde a primeira vitória daChapa Prudente, em abril de 2004.

A eleição foi realizada a despeito detentativa de Domingos e seus quinta-co-lunas de adiá-la, como ele e o associadoPaulo Jerônimo de Souza, vulgo Pagê, pos-tularam em ação judicial em tramitaçãona 8ª. Vara Cível da Comarca da Capital,na esperança de ter mais tempo para suacampanha difamatória. A pretensão foinegada pela Juíza Maria da Glória Olivei-ra Bandeira de Melo, que entendeu que aparte questionada – a ABI – deveria tertempo de se manifestar sobre o pleiteado.Determinou a Juíza que a eleição se rea-lizasse, sob a condição de seu resultadodepender da decisão final do processo e osassociados serem informados previamen-te dessa condicionante, o que a ABI fezem edital publicado na imprensa e emcomunicação direta aos sócios.

A eleição, como programado, foi o se-gundo e último dia da Assembléia-GeralOrdinária Anual de 2013, que aprovou oRelatório da Diretoria relativo ao exercíciosocial 2012-2013 e as Contas de Gestão doano civil de 2012. Nessa sessão, presididapelo associado Marcus Miranda, que con-vidou para secretariar os trabalhos os asso-ciados Carlos Alberto Marques Rodriguese Luiz Carlos de Oliveira Chesther, Domin-gos e seus quinta-colunas sofreram a pri-meira derrota, pois obtiveram apenas seisvotos pela rejeição do Relatório e dasContas, aprovados por 22 votos.

Com 91 anos, Baleixe Filho (à esquerda) não arredou pé durante horas da sessão de votação,sob a vigilância da esposa (à direita). Aqui confraterniza com vários sócios.

Miro Teixeira (acima) anunciou que vaiconcorrer ao Governo do Estado. Temer está

sem planos na política institucional.

FOTOS FRANCISCO UCHA

1JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013 • RELATÓRIO DA DIRETORIA

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSARua Araújo Porto Alegre, 71 - Castelo - Rio de Janeiro - RJ Cep 20030-010

Telefone (21) 2282-1292 Fax (21) 2262-3893www.abi.org.br • e-mail [email protected]

RELATÓRIO DA DIRETORIAEXERCÍCIO SOCIAL 2012-2013

CONTAS DE GESTÃO DO ANO CIVIL DE 2012

A ABI empenhada nos 105 anosna apuração e punição dos crimes

da ditadura militar • 1964-1985Caros companheiros do Conselho Deliberati-vo da ABI,Dignos membros do corpo social da Casa,

1. INTRODUÇÃO

1.1. Em cumprimento ao disposto nos artigos19 e 21 do Estatuto Social, submeto a esse dignocolegiado o presente Relatório da Diretoria da ABIrelativo ao exercício social 2012-2013 e as Contasde Gestão do ano civil de 2012, em comparativocom o ano civil 2011, para o fim de emissão doParecer sobre ambos a ser encaminhado à Assem-bléia-Geral Ordinária de 2013, em obediência àconvocação promovida por esse Conselho.

1.2. Informo que as citadas Contas de Gestãoforam aprovadas por unanimidade pelo Conse-lho Fiscal da Casa em sessão especial realizadaem 9 de abril corrente sob a presidência do asso-ciado Jarbas Domingos Vaz, seu Presidente, eparticipação dos Conselheiros Adail José dePaula, Lóris Baena Cunha, Luiz Carlos de Oli-veira Cheste e Manolo Epelbaum, ausentes, pormotivos justificados, os Conselheiros GeraldoPereira dos Santos e Jorge Saldanha de Araújo.

Rio de Janeiro, 19 de abril de 2013Maurício AzêdoPresidente

2. HONRANDO OS 105 ANOS DE DEFESADA LIBERDADE

2.1. Neste 2013 a ABI está a comemorar seus 105anos de luta em defesa da liberdade de expressão,bem democrático a que se dedica desde que, soba liderança de Gustavo de Lacerda, um grupo denove sonhadores fundou em 7 de abril de 1908uma entidade devotada à defesa da atividade dosjornalistas, então exposta a tropelias de autori-dades e dos poderosos da época. O papel desas-sombrado da ABI nesse campo estimulou a cri-ação de entidades de jornalistas pelo País afora e,posteriormente, de sindicatos de profissionais.

2.2. A partir de 1975, com o vigoroso repúdio dePrudente de Morais Neto, então Presidente da

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1. Introdução

2. Honrando os 105 anos de defesa

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da liberdade

3. Um intenso programa de obras,

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executado com recursos próprios

4. Passivos antigos em via de

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solução judicial ou política

5. O caso Vladimir Herzog, uma lutaincansável da ABI e da

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sociedade civil

6. Presença da casa em questões

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relevantes da vida social

7. O Jornal da ABI , uma publicação

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excelente como a casa jamais teve

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RELATÓRIOS SETORIAIS

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Diretoria Administrativa

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Diretoria Econômico-Financeira

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Diretoria de Cultura e Lazer

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Diretoria de Assistência Social

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Diretoria de Jornalismo

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Comissão de Sindicância

Comissão de Defesa da Liberdade

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de Imprensa e Direitos Humanos

Coordenação de Publicidade

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e Marketing

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Administração dos Auditórios

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Salão de Estar do Onze

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Representação de São Paulo

Representação de Minas Gerais

Casa, ao assassinato do jornalista VladimirHerzog nas masmorras do Doi-Codi de São Pauloem 25 de outubro daquele ano, a ABI passou aatuar com firmeza e coragem na defesa dos direi-tos humanos, sem se deter nem se intimidardiante de ameaças e violências, como a explosãode uma bomba de alto teor explosivo em sua sede,em 19 de agosto de 1976.

2.3. Na declaração que emitiu por motivo deseu 105º aniversário, transcorrido em 7 de abrilcorrente, a ABI destacou esses fatos e, igualmen-te, a contribuição que desde a sua criação temprestado à elevação dos padrões técnicos, cul-turais e éticos do jornalismo brasileiro, como so-nhavam os seus fundadores, que defendiam hámais de um século a formação do jornalista emnível superior. Nesse campo foi notável a atu-ação da ABI para a criação, nos anos 1950, doprimeiro curso de Jornalismo numa universi-dade pública, o da antiga Faculdade Nacionalde Filosofia-FNFi, da Universidade do Brasil,hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro, etambém para a instituição, no começo dos anos1940, do piso salarial profissional.

2.4. Foi essa fecunda atuação que assegurouà ABI o alto prestígio de que goza como umadas mais respeitáveis instituições da socieda-de civil, como demonstrou, no presente exercí-cio social, o convite da Ministra da SecretariaEspecial de Direitos Humanos da Presidênciada República, Deputada Maria do RosárioNunes, para que o representante da ABI pre-sidisse, em seu Gabinete, a reunião por elaconvocada para discutir medidas de proteçãoaos jornalistas em sua atividade profissional.2.4.1. Desse apreço que lhe é tributado ex-ternamente são provas também, neste exer-cício social, os convites para integrar o Con-selho de Transparência do Senado Federal, aolado da Transparência Brasil e do InstitutoEthos de São Paulo, encargo honroso para oqual a ABI designou seu Vice-Presidente Tar-císio Holanda, e para participar do Movimen-to Contra a Impunidade, cujo manifesto aCasa firmou, juntando-se a dezenas de repre-sentações da sociedade civil.

denso relato, incluído entre os Relatórios Seto-riais que integram este Relatório.2.5.1. Nesse documento, informa Mário Augustoque as investigações reclamadas pela ABI e poroutras entidades, como a Federação Nacional dosJornalistas-Fenaj, não conduziram à identificaçãoe responsabilização penal dos criminosos.2.5.2. Levantamento de um dos repórteres daDiretoria de Jornalismo da ABI, o jovem IgorWaltz, em pesquisa na campanha Emblema daImprensa (PEC, na sigla em inglês) e em ediçõesdo jornal O Estado de S. Paulo, dá conta de queentre janeiro de 2012 e 14 de abril deste ano foramassassinados no Brasil 14 jornalistas, sem que ne-nhum dos matadores tenha sido levado ao ban-co dos réus. Em ordem cronológica, foram estesos companheiros vítimas da violência homicida:

Em 201230 de janeiro – Laécio de Souza, 40 anos, repór-ter e radialista da Rádio Sucesso FM, de Cama-çari (BA). Morto na cidade de Simões Filho (BA).9 de fevereiro – Paulo Roberto Cardoso Ro-drigues (Paulo Rocaro), 51 anos, editor-chefe doJornal da Praça e do site Mercosul News (MT).12 de fevereiro – Mário Randolfo MarquesLopes, 50 anos, editor-chefe do jornal eletrôni-co Vassouras na Net, de Vassouras (RJ).24 de março – Onei de Moura, 41 anos, dire-tor e sócio proprietário do jornal Costa Oeste (PR).26 de março – Divino Aparecido Carvalho, 45anos, apresentador da Rádio Cultura AM (PR).23 de abril – Aldenísio Décio Leite de Sá (Dé-cio de Sá), 42 anos, repórter do jornal O Estadodo Maranhão.5 de julho – Valério Luiz de Oliveira, 49 anos,comentarista esportivo da Rádio Jornal, deGoiânia (GO).4 de outubro – Luis Henrique Georges, 44anos, dono do Jornal da Praça (MT), assassina-do em Ponta Porã (MT).15 de outubro – Anderson Leandro da Silva,38 anos, jornalista da Quem TV (PR).28 de outubro – Edmilson de Souza, 40 anos,jornalista e apresentador da Rádio Princesa daSerra FM (SE).21 de novembro – Eduardo Carvalho, 51 anos,diretor do jornal Última Hora (MS).

ÍNDICE

2.5. Na defesa da liberdade de expressão e dosdireitos humanos contou a ABI com a diligenteatuação da sua Comissão dedicada a essestemas, presidida pelo Conselheiro Mário Au-gusto Jakobskind, que a respeito apresentou

2 JORNAL DA ABI • ABRIL DE 2013 • RELATÓRIO DA DIRETORIA

Em 2013:8 de janeiro – Renato Machado Gonçalves,41 anos, Rádio Barra FM, morto em São Joãoda Barra (RJ).8 de março – Rodrigo Neto, 38 anos, jornalis-ta do jornal Vale do Aço e locutor da Rádio Van-guarda AM 1170, morto em Ipatinga (MG).14 de abril – Walgney Assis Carvalho, de 43anos, fotógrafo freelancer do jornal Vale do Aço,morto em Coronel Fabriciano (MG).

2.5.3. Como a ABI tem assinalado em mais deuma oportunidade, contribui para a impunidadedos assassinos e para a repetição de violênciascontra jornalistas no exercício da profissão ainexistência de lei que assegure que a investiga-ção de delitos dessa natureza se faça através daPolícia Federal, e não por autoridades policiaislocais, com freqüência sujeitas a todo tipo depressão. A ABI manifestou e reitera seu apoio aoprojeto de lei do Deputado Protógenes Queiroz(PCdoB-SP), que institui essa providência. Aconvite da Comissão de Defesa da Liberdade deImprensa e Direitos Humanos, o DeputadoProtógenes fez uma conferência sobre sua pro-posta no Conselho Deliberativo da ABI.

2.6. Na declaração comemorativa dos seus 105anos, cuja íntegra foi publicada no ABI Onli-ne (www.abi.org.br) no próprio dia 7, a Casareafirmou seu compromisso com a defesa daliberdade de expressão, da liberdade de imprensae dos direitos humanos, bens essenciais numasociedade verdadeiramente democrática, comoaquela que o Brasil está penosamente a cons-truir. Dessa rota a ABI não se afastará.2.6.1. Os 105 anos da Casa foram festejadoscom as devidas galas: um show do composi-tor Monarco e da Velha Guarda da Portela, quena segunda-feira, 8 de abril, primeiro dia útilapós o aniversário, apresentaram para o públicoque lotava o Auditório Oscar Guanabarino ascriações mais importantes dos compositoresda escola de samba de Madureira, a primeiracriada no País. O espetáculo foi apresentado pelojornalista, escritor e historiador Sérgio Cabral,que deliciou o público, o próprio Monarco e aVelha Guarda contando histórias de um temaque ele conhece como ninguém.2.6.2. A programação comemorativa do ani-versário teve seqüência no dia seguinte, 9 de abril,com a realização do seminário Direitos Huma-nos Ontem e Hoje, organizado pela Comissãode Defesa da Liberdade de Imprensa e DireitosHumanos e que contou com a participação,entre outros, do jornalista paraguaio Martin Al-mada, que veio de seu país especialmente paraesse evento. Além dele, participaram das duasmesas de debates a Professora Nadine Borges, in-tegrante da recém-criada Comissão da Verdadedo Estado do Rio de Janeiro, a Presidente do GrupoTortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, VictóriaGrabois, e o advogado Modesto da Silveira, quecompuseram a primeira mesa; o cineasta SílvioTendler, o Professor Michel Misse, do Institutode Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Fe-deral do Rio de Janeiro, o jornalista André Fernan-des, Diretor da Agência de Notícias das Favelas,e o Vereador Renato Cinco, da Câmara Muni-cipal do Rio de Janeiro, na mesa seguinte.

3. UM INTENSO PROGRAMA DE OBRAS,EXECUTADO COM RECURSOS PRÓPRIOS

3.1. A par dessa atuação no campo dos direi-tos da cidadania, a ABI desenvolveu no exercí-cio social um intenso programa de obras, exe-cutado com recursos próprios, constituídos

graças à competente gestão financeira da Pre-sidência, que contou com a inestimável e efi-caz colaboração da Professora Marilka Lannes,que não é jornalista nem sócia da ABI, mas sedispôs a participar, com orientação e sugestões,do esforço empreendido pelo Presidente parapromover uma administração eficiente. Essacolaboração foi objeto de elogios do Conselheiroe Diretor Orpheu Santos Salles em sessão doConselho Deliberativo.3.1.1. Entre as obras executadas no exercíciosocial figuram:3.1.1.1. a reparação dos 13 andares da facha-da posterior do Edifício Herbert Moses, a qualexigiu um ano de trabalho;3.1.1.2. a recuperação física do segundo pa-vimento do prédio, devastado pela ocupaçãopor um inquilino (Curso Fraga) que deu um ca-lote na ABI durante anos, até que a Casa, final-mente, conseguiu despejá-lo;3.1.1.3. a reforma dos banheiros do sexto, dosétimo e do nono andar do Edifício HerbertMoses, num total de oito sanitários;3.1.1.4. a recuperação e reprogramação dosespaços do 13º andar, ainda em curso, após outradevastação promovida por antigo inquilino.3.1.1.5. a renovação do sinteko do assoalhodo sétimo andar, incluindo as áreas administra-tivas e as Salas Belisário de Souza e Heitor Bel-trão (Sala do Conselho), que agora têm aparên-cia e cheiro de novas.

3.2. As obras de reforma dos banheiros do sextoandar, onde funciona o Posto Paulo Roberto deatendimento dos associados, têm merecido elo-gios de seus usuários, entre os quais o médicoDr. Nabil Massad, o mais antigo profissional comconsultório nesse pavimento.

3.3. A Presidência programou para as próximassemanas o início das obras de recuperação dafachada principal do Edifício Herbert Moses,visando à recomposição de parte dos brise-so-leils que a revestem nas faces das Ruas AraújoPorto Alegre e México. Como passo inicial paraa realização das obras e proteção dos transeun-tes, foi instalado, por determinação da DefesaCivil da Prefeitura do Município, um apara-lixoem toda a fachada.

3.4. Os desembolsos com a programação deobras, feitas por administração direta, comaquisição de materiais de construção, bens eequipamentos após meticulosas tomadas depreços, não afetaram o cumprimento rigorosodos encargos rotineiros da ABI, como o pagamen-to em dia das folhas de salários, pagos até oúltimo dia útil do mês vincendo, do 13º salário,das férias e dos reajustes fixados em convêniossalariais como nos anos precedentes, a ABI doouaos seus funcionários uma cesta de Natal.3.4.1. Em julho deste exercício social a ABIpagou a 80ª e última prestação do acordo quecelebrou com a Cedae para liquidar dívida dei-xada por administração anterior, a qual mon-tava inicialmente em R$232.148,00. Com aprestação fixada em Unidade Fiscal de Referên-cia, reajustável todo santo mês, a ABI pagoupor essa derradeira parcela R$ 4.113,83.3.4.2. No exercício social precedente, a ABI jáhavia feito com a Secretaria da Receita Federal,nos termos da Lei nº 11.941/2009, acordo deparcelamento do montante de R$ 375.785.61relativo à apropriação indébita, cometida porgestões anteriores, do valor da contribuiçãoprevidenciária descontada dos empregados. Peloacordo, a liquidação desse passivo se dará em120 meses.

3.5. Ao contrário do que propalam o associadoDomingos Meirelles e seus acólitos, a ABI des-fruta de situação financeira sólida e estável, comsignificativos saldos bancários permanentes nosbancos com que opera: Itaú, Santander e Ban-co do Brasil. Em 16 de abril deste ano, data daapresentação deste Relatório ao Conselho De-liberativo, a ABI tinha estes saldos bancários: noBanco Santander, R$ 285.950,90; no Banco Itaú,R$ 20.466,53; no Banco do Brasil, R$ 8.911,81. Aotodo, seus saldos alcançavam o apreciável mon-tante de R$ 315.309,29. Contando-se os valoresdo cheque especial (R$ 100.000,00 no Santandere R$ 60.000,00 do Banco Itaú), as disponibilida-des da Casa situam-se em R$ 485.309,29; valorcom que a ABI jamais contou em qualquer tem-po. Onde está a “crise financeira” de que falamDomingos Meirelles, Perereca e demais detratoresda ABI?

4. PASSIVOS ANTIGOS EM VIA DESOLUÇÃO JUDICIAL OU POLÍTICA

4. Desde que assumiu a administração da ABI,em maio de 2004, a Chapa Prudente de Moraisdefronta-se com passivos deixados por gestõesanteriores. O principal deles é constituído peladecisão do Governo Fernando Henrique Cardo-so, no rastro da demagógica campanha decombate àquilo que o então Ministro da SaúdeJosé Serra chamou de “entidades pilantrópicas”,de cassar o registro de entidade beneficente deassistência social de que a ABI usufruiu duran-te décadas, com base num decreto-lei aprovadopelo Congresso Nacional e sancionado em 1917pelo então Presidente Venceslau Brás.

4.1. Após a posse da Chapa Prudente de Mo-rais, a ABI ingressou com recurso no ConselhoNacional de Assistência Social, que indeferiusua postulação, sob o fundamento de que a

RELATÓRIO DA DIRETORIA • EXERCÍCIO SOCIAL 2012-2013

Casa não atendia em seus serviços pessoas em“situação de vulnerabilidade” – o que, aliás, oGoverno Federal não fazia e continua a nãofazer. A ABI formalizou então um pedido dereconsideração dessa resolução do CNAS, mastambém esse pedido foi indeferido.

4.2. Com base nessa recusa do CNAS, o INSSlançou a débito da ABI a cobrança retroativa decinco anos de contribuição previdenciária pa-tronal, a quota da Previdência cabível ao empre-gador. Para haver o valor cobrado, o INSS ingres-sou na 5ª. Vara de Execução Fiscal do Rio de Ja-neiro com ação de execução fiscal (Processo nº2006.51.01.526098-1), que a ABI está contes-tando.

4.3. Além de contestar a pretensão do INSS,através do escritório Sergio Bermudes Advoga-dos e de uma de suas competentes colaborado-ras, a advogada Dra. Rafaela Fucci, a ABI em-preende desde 2006 gestões políticas paraaprovação do projeto de lei do Senado Federal(PLS nº 191/2005) que concede isenção fiscal etributária e cancela débitos dessa natureza àABI, à Academia Brasileira de Letras e ao Ins-tituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Apro-vado em caráter terminativo pelo Senado, oprojeto foi encaminhado à Câmara dos Depu-tados, onde tomou o nº 2.713/2001, recebeuparecer favorável da Comissão de Finanças e Tri-butação e se encontra agora na Comissão deConstituição, Justiça e Cidadania, na qual terácomo relator o Deputado Alessandro Molon (PT-RJ), com o qual a ABI vem mantendo contatosvisando à aprovação da proposição.

4.4. É esse passivo que vem sendo utilizadopor Domingos Meirelles e seus acólitos parapromover uma campanha de descrédito e de-negrição da ABI, apontando-a como centro de

A ABI desenvolveu umintenso programa de

obras, executado comrecursos próprios,

como a reforma dosbanheiros do sexto,

do sétimo e do nonoandar. O início das

obras de recuperaçãoda fachada principal

do Edifício HerbertMoses já está

previsto para breve.

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3JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013 • RELATÓRIO DA DIRETORIA

uma crise financeira, com base em informaçõesmentirosas, distorcidas e inexatas acolhidas deforma acrítica por jornalistas desinformados,como o repórter Lucas Vettorazzo, da Folha deS. Paulo, jornal que não respeita o direito deresposta. A Folha e Vettorazzzo ignoram oufingem ignorar que na contestação de umaação de cobrança judicial por ente do PoderPúblico a parte contestante tem de apresentarbens à penhora para garantia do pagamentoda dívida, caso seja derrotada, como prescritono Código de Processo Civil.4.4.1. A Folha e Vettorazzo demonstrarammá-fé ao dizer no título de matéria publicadana edição de domingo 7 de abril que ABI vive crisepolítica e financeira, e parte da sede é penhorada,empregando o verbo ser no presente do indica-tivo para se referir a um ato ocorrido cinco anosantes e com isso querendo fazer crer que a in-formação era recente, atual.

4.5. Outro passivo encontrado pela ChapaPrudente de Morais foi o relativo à tentativa daPrefeitura do Município do Rio de Janeiro de lhecobrar tributos indevidos, no caso as Taxas deColeta de Lixo e Limpeza Pública e Taxa deServiços Diversos, esta última posteriormen-te suprimida da legislação municipal, as quaisforam declaradas inconstitucionais pelo Supre-mo Tribunal Federal, por terem como base deincidência a mesma do Imposto Sobre a Propri-edade Predial e Territorial Urbana-IPTU. Nes-se litígio, expresso em ações de execução fiscalajuizadas pela Procuradoria-Geral do Municí-pio há mais de dez anos (uma em 1994, qua-tro em 1996, seis em 1999 e uma em 2002), aABI foi defendida pelo Escritório de AdvocaciaRômulo Cavalcânti Mota, que ingressou com23 ações de pré-executividade em nome da Casa,ganhou 11 e provavelmente ganharia as res-tantes, todas distribuídas à 12ª Vara da FazendaPública e que seriam julgadas pelo mesmo juiz.4.5.1. Em audiência que concedeu em janei-ro passado ao Presidente da ABI, o Procurador-Geral do Município Fernando dos Santos Di-onísio acolheu os argumentos que a Casa lheexpôs em expediente formal e determinou àProcuradoria da Dívida Pública do Municípioque promovesse a extinção dos respectivosprocessos, encerrando esse litígio.4.5.2. Na matéria em que agrediram a ABI, aFolha e o repórter cometeram erros grosseiros,inadmissíveis num jornal dessa expressão. Vet-torazzo disse que a ABI estaria devendo IPTU,por ignorar que por disposição constitucional asentidades gremiais, esportivas, culturais e deutilidade pública são imunes a tributos – nãotêm de pagar qualquer imposto à União, aoDistrito Federal, aos Estados e aos Municípios.Vettorazzo ignora também que no Municípiodo Rio de Janeiro a Taxa de Coleta de Lixo e Lim-peza Pública é cobrada no carnê do IPTU.4.5.3. Como todo jornalão que se considera donodo mundo e da enchente, a Folha ataca ou distorceem matéria de página inteira; diante de contes-tação, publica no Painel do Leitor retificações edesmentidos em texto de no máximo 650 dígitos,impondo ao contestante, por falta de redatoresno jornal, o ônus de redigir essa versão.

5. O CASO VLADIMIR HERZOG:UMA LUTA INCANSÁVELDA ABI E DA SOCIEDADE CIVIL

5.1 A exemplo de outras instituições da socieda-de civil, entre as quais o Instituto VladimirHerzog, dirigido pelo filho de Vlado, Ivo Herzog,a ABI manteve ao longo do exercício social uma

militância intensa na luta pelo esclarecimen-to dos assassinatos do ex-Deputado RubensPaiva e do jornalista Vladimir Herzog nas de-pendências do Doi-Codi de São Paulo.5.1.1. Em três das edições que lançou em 2012de sua publicação oficial, a ABI reclamou comveemência a apuração das circunstâncias damorte de Herzog e a alteração do atestado deóbito forjado pelas autoridades da repressãocom a colaboração do médico legista HarryShibata. Encimando a manchete Justiça paraHerzog de sua edição 375, com data de capafevereiro de 2012, o Jornal da ABI relatava que,“quase 40 anos depois, o fotógrafo que mos-trou Vladimir Herzog sem vida no Doi-Codirevela a farsa então armada”. Nas páginas 29a 31, na matéria Enfim, a foto de Vlado reveladapor inteiro, o repórter Paulo Chico historiava ocaso da foto e entrevistava seu autor, SilvaldoLeung, que tinha 22 anos na época da fotogra-fia e foi morar depois em Los Angeles, nos EstadosUnidos. Essa edição dedicava seu editorial, inti-tulado A verdade, afinal, à localização de Leungnos Estados Unidos pela Folha de S. Paulo.5.1.2. Na edição 379, com data de capa junhode 2012, o Jornal da ABI denunciava, em cha-mada da primeira página: Direitos humanos –Caso Herzog: o Governo mente em resposta à OEA.No editorial dessa edição, sob o título CasoHerzog: gol contra do Governo e do Itamaraty, diziao Jornal da ABI que “os setores democráticos doPaís receberam com indignação a decisão doMinistério das Relações Exteriores de comuni-car à Comissão Interamericana de DireitosHumanos, da Organização dos Estados Ame-ricanos-OEA, que o Governo do Brasil nãoprocederá a qualquer investigação sobre a mortedo jornalista Vladimir Herzog, assassinado nosporões do Doi-Codi de São Paulo em 25 deoutubro, como determinara esse organismo”.Encerrando, dizia com firmeza o editorial:“Com tal resposta à Comissão da OEA, o Ita-maraty e o Governo repetem e sacramentama impostura da ditadura militar”.5.1.3. Na edição 380, com data de capa julhode 2012, o Jornal da ABI publicou como chama-da principal da primeira página, sob o títuloHerzog: farsa impune, que, “por temer os rema-nescentes da ditadura militar, o Governo coones-ta a farsa do laudo da morte do jornalista”. Naspáginas 3 a 7, em matéria sob o título Medo daverdade, o repórter Marcos Stefano lembrava queos 75 anos de Vlado seriam comemorados demaio a julho e historiava a sua morte no Doi-Codi. O editorial, na página 2, sob o título Asurpresa do capitulacionismo, voltava a reclamarda passividade do Governo diante da determina-ção da OEA de apuração da morte de Vlado esustentava: “O Governo Federal tem a indecli-nável obrigação política e ética de determinar aapuração da causa real da morte de Herzog, sobpena de acumpliciar-se com a farsa que há 37anos, a se completarem em 25 de outubro pró-ximo, constitui uma nódoa na nossa Históriae pode marcar para a posteridade a imagem dosatuais dirigentes do País”.

5.2. A luta travada pelo Instituto VladimirHerzog, pela ABI e outras instituições culminoucom a decisão da Comissão Nacional da Verdade,instalada em maio de 2012, de, acolhendo peti-ção de Clarice Herzog, viúva de Vlado, encami-nhar ao Juízo de Registros Públicos de São Pau-lo recomendação para que fosse alterado o ates-tado de óbito de Herzog, a fim de que nele cons-tasse que sua morte decorreu de “lesões e maus-tratos sofridos durante o interrogatório nasdependências do Segundo Exército Doi Codi”, e

não de “enforcamento por asfixia mecânica”,como constava do atestado forjado pela repres-são. Em 24 de setembro, o Juiz Mário MartinsBonilha, da 2ª. Vara de Registros Públicos de SãoPaulo, determinou a retificação do laudo, subs-tituído por outro, emitido pelo Instituto deGeociências da Universidade de São Paulo e en-tregue a Clarice Herzog em 15 de março passa-do, numa cerimônia de que participaram aMinistra dos Direitos Humanos, DeputadaMaria do Rosário Nunes, e o Secretário Nacio-nal de Justiça, Paulo Abrão.

5.3. Essa importante vitória não significa quese encerrou o Caso Vladimir Herzog, porquan-to até agora não foram reveladas as torturasque lhe foram impostas no Doi-Codi e queagentes as cometeram. Os documentos mili-tares, que não podem mais ser sonegados,conterão necessariamente informações sobreos agentes que estavam de serviço naquelefatídico 25 de outubro de 1975.

6. PRESENÇA DA CASA EM QUESTÕESRELEVANTES DA VIDA SOCIAL

6.1 Através de organismos da Casa, como aComissão de Defesa da Liberdade de Impren-sa e Direitos Humanos, dinamizada pela lide-rança de seu Presidente Mário Augusto Jako-bskind, ou de associados a ela vinculados, comoo companheiro Daniel Mazola Fróes de Castro,a ABI teve participação intensa em questõesrelevantes da vida social do Rio de Janeiro e doPaís, como a próxima realização da Copa doMundo 2014 e dos Jogos Olímpicos 2016, even-tos apresentados de forma acrítica pela gran-de mídia em geral e pela cobertura esportiva emparticular. A ABI destoou e destoa desse oba-oba, desse vamos-que-vamos.6.1.1. Foi por ter visão diferente e oposta à quetem predominado em relação a esses certamesque a Casa sediou destacados eventos de resis-tência e denúncia desse processo alienado ealienante, em que se faz silêncio sobre gastosperdulários de dinheiros públicos e sobre pos-sível favorecimento de grupos empresariais,como o do bilionário Eike Batista, que está a setornar o dono da cidade do Rio de Janeiro. De-pois de comprar o Hotel Glória, ele assumiu ocontrole da Marina da Glória, privilegiado pordiscutível decisão do Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional-Iphan, que opremiou com a autorização para construçãode um complexo de edificações num bem tom-bado, o Parque do Flamengo, e parece a caminhode se apossar de espaços nas cercanias do novoEstádio do Maracanã para construir e explorarum estacionamento e um shopping center.6.1.2. A ABI tomou o partido das vítimas desseprocesso impiedoso e irracional. A Cidade vaisediar o jogo de decisão da Copa do Mundo –o único, aliás, a que ricos cariocas poderão as-sistir, dado o alto preço dos ingressos – e paraisso destruiu o estádio que era um orgulho daCidade e do País, despendendo centenas demilhões de reais em uma obra questionável;para isso, mesmo a poucos anos da grandecompetição olímpica, destrói o principal cen-tro de treinamento esportivo do Rio, o Estádiode Atletismo Célio de Barros; despeja umacomunidade indígena há anos abrigada naantiga sede do Museu do Índio; de cambulha-da, despeja também uma unidade de ensinopúblico, a Escola Municipal Friedenreich, reco-nhecida como uma das dez melhores do País.6.1.3. A ABI acolheu esses órfãos da área espor-tiva, representados por entidades constituídas

para essa resistência, como o Comitê Popular RioCopa e Olimpíadas, a Federação de Atletismo doRio de Janeiro e a Associação dos Veteranos deAtletismo do Rio de Janeiro, que no dia 3l dejaneiro lotaram o Auditório Oscar Guanabari-no com cerca de 600 pessoas, entre atletas, pro-fessores de atletismo e antigos atletas. Menosde um mês depois, a 28 de fevereiro, outro eventocom a participação de 500 pessoas deu continui-dade ao movimento, que não teve o condão dedespertar o interesse da Presidente Dilma Rous-seff, do Ministro do Esporte Aldo Rebelo e doPresidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Car-los Artur Nuzman, aos quais foi enviado memo-rial subscrito desde a reunião de 3l de janeiro, atéagora não respondido.

6.2. Igualmente através da Comissão de De-fesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Hu-manos a ABI fez-se presente na mobilização dasociedade civil contra a permanência do Depu-tado Marco Feliciano (PSC-SP) na presidênciada Comissão de Direitos Humanos e Minori-as da Câmara dos Deputados, a qual tevecomo ponto alto, com a presença de 600 pes-soas, o ato realizado no dia 25 de março noAuditório Oscar Guanabarino.6.2.1. O evento, que alcançou grande reper-cussão na mídia, contou com a participação dedestacados artistas, como Caetano Veloso,Wagner Moura, Dira Paes, Leandra Leal e Pre-ta Gil, e de parlamentares, entre os quais oDeputado estadual Marcelo Freixo (Psol), queliderou a mesa diretora dos trabalhos, e osDeputados federais Chico Alencar (Psol-RJ),Alessandro Molon (PT-RJ), Jean Wyllys (Psol-RJ) e Érika Kokay (PT-RJ).6.2.2. Um dos oradores mais aplaudidos, ocompositor Caetano Veloso disse que se sen-tia muito honrado em participar do ato: “Gos-taria de dizer que é muito óbvio o motivo quenos reúne. Não é possível que esta Comissãode Direitos Humanos do Congresso estejasendo dirigida por um pastor que expressounitidamente a intolerância, tanto de ordemsexual quanto de ordem racial. Precisamosestar unidos para defender o que significa ter-mos um Congresso. O maior perigo que issotraz é levar o povo brasileiro a desprezar o Le-gislativo, criando uma má interpretação doque seja a democracia. Nós estamos reunidospara dizer que no Congresso não se pode fazercoisas absurdas e que nós não queremos viversem um Congresso”.6.2.3. O ator Wagner Moura elogiou a mobi-lização pelos direitos humanos e ressaltou opapel das várias instâncias do poder: “Este en-contro é absolutamente democrático. Ele écontra a homofobia, contra a discriminaçãoracial, contra a intolerância religiosa, mas tam-bém a favor do Congresso, como ressaltouCaetano Veloso em seu discurso”.6.2.4. Dias antes dessa manifestação, em 8 demarço, a Comissão de Direitos Humanos da ABIdivulgou declaração em que apontava a eleiçãode Feliciano para a presidência da Comissão comouma afronta aos direitos humanos. “A sua elei-ção é na prática um desrespeito evidente aos di-reitos humanos, porque, embora diga demago-gicamente o contrário, sua presença na Comis-são será para defender valores conservadores edesrespeito aos valores democráticos que a soci-edade brasileira está a exigir”, afirma a declaração.

6.3. Com a preocupação da defesa da ética noexercício dos cargos eletivos e na gestão daadministração pública, que o levou a assinar oManifesto Contra a Impunidade, a ABI pro-

4 JORNAL DA ABI • ABRIL DE 2013 • RELATÓRIO DA DIRETORIA

moveu o seminário Voto Legal, que teve comoprincipal expositor o Procurador-Geral da Jus-tiça Eleitoral do Estado do Rio de Janeiro, Pro-curador Maurício Ribeiro.

7. O JORNAL DA ABI, UMA PUBLICAÇÃOEXCELENTE COMO A CASA JAMAIS TEVE

7.1. Entre janeiro de 2012 e março de 2013 aCasa promoveu a edição de 15 números doJornal da ABI, que premia seus milhares de lei-tores não apenas com a regularidade, sem pre-cedentes na ABI em qualquer tempo,mas es-pecialmente pela qualidade editorial e gráfica,pela sensibilidade e atualidade de suas pautase pelo alto nível de seus colaboradores perma-nentes ou eventuais. A ABI tem resistido à idéiade comercialização do jornal em bancas, comosugerem muitos leitores que elogiam a quali-dade da publicação, que muitos deles referemcomo “revista da ABI”, e não como jornal, numevidente reconhecimento da sua excelência. AABI não cogita dessa hipótese, pelo alto inves-timento que isto exigiria, sobretudo para au-mentar a tiragem em quantidade significati-va, que lhe permita alcançar número expressivoe necessário de bancas.

7.2. O Jornal da ABI tem como editores o Presi-dente da ABI,que é também o orientador polí-tico e cultural e também o diretor responsávelpela publicação, e o associado Francisco Ucha,que concebe a pauta e faz a programação visu-al, a diagramação e a editoração eletrônica.7.2.1. Formado profissionalmente no Rio e háanos radicado em São Paulo, Ucha também fazfotografia e desenhos para as edições, das quaisparticipa também com entrevistas de fôlego,como as que produziu, individualmente ou coma colaboração de outros profissionais, como PauloChico, Verônica Couto e Sandro Fortunato, comAlberto Dines, Ziraldo Alves Pinto, AudálioDantas e Ana Arruda Callado, esta publicada naedição de março de 2013, para mencionar algu-

mas das que ele produziu para os números lan-çados neste exercício social.7.2.2. A pauta do Jornal da ABI inclui neces-sariamente seções permanentes, como Aconte-ceu na ABI, destinada à divulgação de informa-ções sobre as atividades realizadas na Casa; Li-berdade de Imprensa, preocupação central e prin-cipal objeto da atuação da ABI desde a suafundação; Direitos Humanos, outra área de des-tacada atuação da ABI, e Vidas, dedicada aoregistro do passamento de jornalistas no Bra-sil e no Mundo e de quantos, nos diversos cam-pos, merecem ser lembrados pelo que fizeramem favor da Humanidade.7.2.3. Na captação de apoio publicitário àpublicação atua o associado Francisco PaulaFreitas, profissional experimentado, Coordena-dor de Publicidade e Marketing da ABI, que fezsobre o setor minucioso relato publicado adi-ante na seção Relatórios Setoriais.7.2.4. Além dos associados, recebem o Jornalda ABI as principais autoridades dos três Po-deres da República; os Governadores dos Es-tados e Presidentes das Assembléias Legisla-

tivas; os Presidentes dos Tribunais de Justiça;os Prefeitos e os Presidentes das CâmarasMunicipais das capitais; os Prefeitos e os Pre-sidentes das Câmaras Municipais do Estadodo Rio de Janeiro; os Deputados à AssembléiaLegislativa do Estado do Rio de Janeiro; osVereadores à Câmara Municipal da Cidade doRio de Janeiro; líderes políticos e miltantessociais e comunitários, associações de traba-lhadores da imprensa, empresas jornalísticas,instituições culturais, escritores, artistas, edu-cadores e personalidades com interesse pelavida política e social, bem como pessoas co-muns que se dirigem à ABI solicitando a pu-blicação.7.2.5. Para o prestígio da publicação da ABIconcorrem os seus colaboradores habituais, entreos quais Rodolfo Konder e Paulo Ramos Deren-goski, ou eventuais, como a escritora e acadêmi-ca Lygia Fagundes Telles e o escritor e crítico li-terário Fábio Lucas, que nos honraram com oenvio de textos para mais de uma edição, e aescritora e poeta Olga Savary. Também expres-sivo é o número de desenhistas e ilustradores que

colaboram com o Jornal da ABI, que assimmantém uma frente de trabalho para esses pro-fissionais e artistas. Entre estes se encontramDuayer, Eliane Soares, Francisco Ucha, Luiz Car-los Fernandes, Marco Jacobsen, Munir Ahmed,Nássara (acervo de Adail) e Nei Lima.7.2.6. Já os colaboradores com textos forammais numerosos: Agassiz de Almeida, Celso Sa-badin, Cesar Silva, Francisco Ucha, Gonçalo Ju-nior, Josélia Aguiar, José Reinaldo Marques,Murilo Melo Filho, Otacílio D’Assunção, PauloChico, Pinheiro Júnior, Sérgio Luccas, VerônicaCouto.

7.3. A ABI mantém igualmente, com produ-ção diária, um site jornalístico, o ABI Online(www.abi.org.br), que no exercício social março2012-fevereiro 2013 produziu um total de 1.005textos de conteúdo institucional e jornalístico,entre notícias, reportagens, entrevistas e notasdas seções Concursos, Cursos, Destaques,Estágios e Eventos. Seus dois repórteres e edi-tores, Claudia Souza e Igor Waltz, este admi-tido na Diretoria de Jornalismo da ABI em 2012,produziram também reportagens e entrevis-tas para o Jornal da ABI. No conteúdo domaterial destinado ao ABI Online destacaram-se as coberturas do noticiário nacional e inter-nacional e eventos promovidos pela ABI coma programação de sua iniciativa ou em colabo-ração com outras instituições.

7.4. No final do exercício social e em comemo-ração aos seus 105 anos, a ABI contratou areforma do seu site, para o fim de aperfeiçoá-lo do ponto de vista jornalístico e modernizá-lo tecnologicamente. O novo site ampliará oacervo de assuntos e registros de realizações daABI que ficarão ao alcance dos associados, lei-tores e pesquisadores. Entre essas peças pode-rá ser encontrada emocionante documentaçãoem imagens e sons de momentos memoráveisda História da ABI, como as comemorações docentenário, em 7 de abril de 2008.

RELATÓRIO DA DIRETORIA • EXERCÍCIO SOCIAL 2012-2013

Grandes artistas gráficos, como Munir Ahmed, Orlandeli, Fernandes, Eliane Soares, e fotógrafos, como Martin Carone dos Santos e José Duayer, foram os responsáveis pela beleza das capas das edições do Jornal da ABI de 2012/2013.

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5JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013 • RELATÓRIO DA DIRETORIA

DIRETORIA ADMINISTRATIVATITULAR: ORPHEU SANTOS SALLES

DIRETOR ADMINISTRATIVO

Não apresentou Relatório.

DIRETORIAECONÔMICO-FINANCEIRA

TITULAR: DOMINGOS MEIRELLESDIRETOR ECONÔMICO-FINANCEIRO

Não apresentou Relatório.

DIRETORIA DE ARTE E CULTURATITULAR: JESUS CHEDIAK

DIRETOR DE ARTE E CULTURA

Não apresentou Relatório.

Como os demais Diretores e responsáveispor unidades da ABI, os Diretores acima no-minados receberam tempestivamente me-morando da Presidência solicitando que apre-sentassem o Relatório das atividades desen-volvidas no exercício social por suas respectivasDiretorias, o que não foi feito no prazo fixa-do no edital do Conselho Deliberativo que con-vocou a Assembléia-Geral Ordinária de 2013.O expediente que lhes foi encaminhado, comredação idêntica à dos demais enviados aosoutros Diretores e responsáveis por serviçosda ABI, tinha o seguinte teor:“Memorando ABI.PRES. nº 022/2013Em 18 de fevereiro de 2013De: Maurício Azêdo/PresidentePara: Orpheu Santos Salles/Diretor Administra-tivo; Domingos Meirelles/Diretor Econômico

DIRETORIA DEASSISTÊNCIA SOCIAL

TITULAR: ILMA MARTINS DA SILVADIRETORA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

PARTE 1. APRESENTAÇÃO

1.1. A Diretoria de Assistência Social (Das)apresenta o Relatório Anual das atividades quedesenvolveu entre março de 2012 e fevereiro de2013, de acordo com os artigos 54, 55 e 56 doEstatuto da ABI. Durante esse período, a Di-retoria de Assistência Social esforçou-se paraampliar suas atividades em todas as áreas, vi-sando a contemplar as reivindicações dos nos-sos associados, funcionários e suas famílias. AABI, desse modo, continua a prestar ao qua-dro associativo e demais pessoas benefícios nasáreas de saúde e educação, entre outras. A par-ceria com o Sesi/Senai continua em vigor. In-clusive durante o exercício 2012-2013, o Sesienviou à DAS o Relatório de Preço Aplicadoatualizado, indicando os preços especiais paraos associados da ABI. Forneceu também atabela dos Serviços de Apoio a Diagnóstico e Te-rapia / Laboratório de Análises Clínicas. Acres-cido a isso, o Setor de Relações com o Merca-do encaminhou à nossa Diretoria uma Lista doSistema de Cadastro de Benefícios, com a re-lação dos nomes dos nossos associados e fun-cionários, solicitando que os mesmos renovas-sem seu cartão de matrícula junto ao Sesi/Senai, no seu endereço da Avenida Calógeras,15 – 5º andar – Centro.

1.2. A Das prossegue na tarefa de apoiar de-cisivamente as diretrizes da Presidência. Cabe

Financeiro; Ilma Martins da Silva/Diretora deAssistência Social; Sylvia Moretzsohn/Direto-ra de Jornalismo; Jesus Chediak/Diretor de Cul-tura e Lazer; Mário Augusto Jakobskind/Comis-são de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direi-tos Humanos; Renata Natal/Assistente da Te-souraria; Paulo Dayub/Responsável por RH;Francisco Paula Freitas/Coordenação de Publi-cidade e Marketing ; Vilma Oliveira/Chefe da Bi-blioteca; José Pereira da Silva/Presidente da Co-missão de Sindicância; Claudia Souza/ABIOnline ; Robson de Almeida Ramos/Adminis-trador dos Auditórios; Antônio Figueira da Silva/Encarregado do Salão de Estar; Guilherme PovillVianna e Mario Luiz de Freitas Borges/AssessorII e Assessor III da Presidência.Prezado colaborador,Com vista à elaboração e apresentação aoConselho Deliberativo do Relatório da Dire-toria relativo ao exercício social 2012-2013,peço-lhe a gentileza de preparar e encaminhara esta Presidência o relatório das atividades deseu setor no período de março de 2012 a feve-reiro de 2013, com relato descritivo e dados nu-méricos das ocorrências, realizações e inicia-tivas no período relatado.O relatório deve ser digitado em Times Ro-man, corpo 12, com entrelinha de um espa-ço e meio, e vir acompanhado de cd com o seutexto.Em face da obrigação estatutária a ser aten-dida pela Diretoria, o prazo improrrogável deentrega do relatório é 15 de março próximo.Peço-lhe dar prioridade absoluta ao atendi-mento do solicitado.Atenciosamente (a) Maurício Azêdo, Presi-dente.”

relatar aqui que a Das a partir de abril de 2012ficou sem a parceria de muitos anos que ti-nha com a ong Médicos Solidários, presidi-da pelo Dr. Hélio Holperin e secretariada peloDr. Henrique Peixoto Netto. Em carta dirigidaà Presidência da Casa, o Dr. Henrique comu-nicou o fim da prestação de seus serviços mé-dicos às comunidades carentes e creches aque dava assistência. Segundo suas palavras,o motivo da desistência do seu trabalho foio desprovimento de verbas por parte dasvariadas autarquias e patrocinadores. Assimsendo, a entrega das chaves das salas 603 foirealizada em 5 de abril de 2012, inclusive coma retirada dos seus bens móveis. Cabe regis-trar também que, infelizmente, a Das já nãoconta mais em seu quadro médico com asespecialidades de Geriatria e Clínica Médica,sob os cuidados da Dra. Maria Vitarelli. Adoutora e conselheira Maria Vitarelli clinica-va na sala 605-A, no 6º andar. Durante mui-tos anos ela prestou com abnegação e ines-timável presteza seus serviços médicos aosnossos associados, funcionários e seus de-pendentes, tendo sempre merecido a estimae a consideração de todos. A causa do seu afas-tamento do quadro médico da ABI, segundocomunicado em sua carta, foi por “motivosde força maior”.

1.3. A Das está empenhada na execução doPlano de Atividades programado para o exercí-cio, contando com a rede do sexto andar da sedee o apoio dos segmentos privado e público deassistência médico-hospitalar. Sobressaíram-se, mais uma vez, neste apoiamento, o Hos-pital Geral da Santa Casa da Misericórdia do

RELATÓRIOS SETORIAIS

7.5. O traço mais marcante do Jornal da ABI,seja em seus editoriais e artigos, seja em repor-tagens e entrevistas, seja nas capas e em suaschamadas da primeira página, é a sua atençãopermanente para as questões relacionadas coma defesa da liberdade de expressão e dos direitoshumanos, que, como assinalado anteriormen-te, constituem a principal destinação institu-cional da Casa. As denúncias e relatos publica-dos em nossas páginas com a dolorida emoçãodas vítimas da ditadura e das famílias de mortose desaparecidos, como a Senhora Elzita Santos deSanta Cruz de Oliveira, que há 38 anos esperanotícias sobre seu filho Fernando, de 26 anos,engolido pela voragem da repressão da ditaduramilitar 1964-1985 em 2 de março de l974.

7.5.1. Paralelamente às audiências, inves-tigações e tomadas de depoimentos que pro-move em Brasília e em outros Estados do País,nestes, agora, com a diligente colaboração dasComissões Estaduais da Verdade, a ComissãoNacional da Verdade poderá recolher amplas,minudentes e estarrecedoras informações so-bre esta quadra dramática da nossa História sedebruçar sobre as coleções do Jornal da ABI, queficam desde já à disposição dos seus membrose dos seus pesquisadores para a realização destetrabalho tão essencial.

7.6. Assim como a ABI, que desde os anos1940, quando inaugurou a sua sede própria,este imponente Edifício Herbert Moses, ofere-ceu inestimável colaboração à vida cultural daCidade do Rio de Janeiro e do País, o Jornal da

ABI persiste nesta trilha, através da ênfase queempresta a eventos de importância cultural,como a celebração, neste exercício social, emsuas dependências, de atos que festejaram ocentenário de nascimento de Osny DuartePereira e os 90 anos do teatrólogo Dias Gomes.As páginas da publicação da Casa foram pró-digas e generosas também com acontecimen-tos marcantes da comunidade jornalística,como os 80 anos de Alberto Dines e Ziraldo AlvesPinto, homenageados com entrevistas tãoextensas e detalhadas que tiveram de ser pu-blicadas em mais de uma edição; e também os80 anos de outro mestre do jornalismo, Teixei-ra Heizer. Nesse elenco de temas destacou-sea ampla entrevista, que ocupou dez páginasalém da capa da Edição 388, de março passa-do, com outra personalidade notável do nossojornalismo: Ana Arruda Callado, primeiramulher a chefiar a reportagem de um jornaldiário no Rio de Janeiro.

7.7. Com essa programação, o Jornal da ABIcumpriu também importante função peda-gógica, através do oferecimento de perfis e in-formações sobre veículos, profissionais e prá-ticas jornalísticas que não constam dos com-pêndios das escolas de Comunicação. atémesmo porque nos currículos destas não fi-guram matérias como História da Imprensa noBrasil, obra básica e essencial do Mestre Nel-son Werneck Sodré. Num evento realizadopela ABI em 2011, em homenagem aos 60anos de fundação do diário Última Hora, um

neto de Samuel Wainer fez um desabafo emtom de lamento: “Infelizmente na minhafaculdade ninguém sabe quem foi SamuelWainer” – o criador de Diretrizes, Flan, DomingoIlustrado, além de Última Hora.7.7.1 Para preencher esse vácuo, o Jornal da ABIpublica matérias e reportagens como as quededicou neste exercício social às duas revistasO Cruzeiro, a de Assis Chteaubriand e a fundadano Paraná, antes, com o mesmo título; a his-tória da revista Senhor, mostrando a importân-

cia do livro a respeito dessa histórica publica-ção, de autoria de Maria Amélia Mello e RuyCastro; a trajetória da emissora FM Maldita,que fez uma revolução sonora e de costumesna antiga capital fluminense nos primeirosanos de sua criação.

7.8. O papel pedagógico do Jornal da ABI éexercido também no noticiário acerca de acon-tecimentos da área cultural, como o passa-mento de personalidades que se destacaramno pensamento contemporâneo, tanto noPaís como no exterior, independentemente daatividade ou especialização a que estavam vin-culados. Daí a importância dos registros quea publicação fez acerca das mortes do filóso-fo Carlos Nelson Coutinho e do historiadorEric Hobsbawm, dentre outros ilustres mor-tos de 2012.

7.9. Esse 2012 foi marcado pelo passamentode personalidades que tiveram fecunda presen-ça na vida nacional, como o arquiteto OscarNiemeyer, o humorista, ator e escritor ChicoAnísio e o múltiplo Millôr Fernandes, aos quaiso Jornal da ABI prestou as largas homenagensdevidas. A seção Vidas da publicação registrouainda o falecimento dos jornalistas Carlos Fe-lippe Meiga Santiago, Eduardo Santamaria, Er-nâni Pires Ferreira, José Ângelo da Silva Fernan-des, Luiz Mário Gazzaneo, Theodoro de Barrose Vera Sastre, além de importantes criadores docinema brasileiro, como Carlos Reichenbach eLinduarte Noronha.

Ziraldo, no traçode Fernandes.

6 JORNAL DA ABI • ABRIL DE 2013 • RELATÓRIO DA DIRETORIA

RELATÓRIO DA DIRETORIA • EXERCÍCIO SOCIAL 2012-2013

Rio de Janeiro, o Instituto Nacional de Cardi-ologia de Laranjeiras, o Instituto Nacional doCâncer -Inca e, também, com o nosso maisnovo conveniado, Hospital de Clínicas Dr.Aloan, situado em São Cristóvão-RJ.

1.4. Foram realizados durante este exercício,447 procedimentos gerais, incluindo expedi-ção de guias para consultas médico-odonto-lógicas, exames de laboratórios e atendimen-tos de enfermagem na sede e em convenia-dos.

1.5. Além deste resultado, a Das tambémprestou atendimento aos procedimentosmédico-cirúrgicos e hospitalares das redes pri-vada e pública, que realizaram exames e diag-nósticos mais elaborados.

1.6. Com base em comunicações de famili-ares e pessoas próximas sobre ocorrências defalecimentos, missas, internações hospita-lares de associados durante o exercício, regis-tramos e afixamos nos quadros correspon-dentes, por exemplo, a hospitalização e fa-lecimento da nossa prezada consócia e remi-da Leonor Guedes Barros, do nosso compa-nheiro e Conselheiro Carlos Felippe MeigaSantiago, do conselheiro Fritz Utzeri e deoutros colegas de profissão. Os diretores daDas se fizeram presentes nos hospitais, se-pultamentos e missas de sétimo dia. O to-tal de comunicados no período 2012 e 2013foi de 23 associados.Inúmeras ações foram desenvolvidas em su-porte às outras Diretorias e à AdministraçãoCentral no atendimento a associados, fami-liares, candidatos a filiação, estudantes deComunicação Social (em razão da criação dolink Associe-se à ABI online), profissionais eempreendedores do setor em busca de infor-mações sobre legislação de imprensa, procurade exemplares atrasados do Jornal da ABI,propostas de associados e cursos referentesà sua área profissional e mecanismos e mei-os de obtenção do registro profissional e or-ganização/legalização de empresas.

PARTE 2. SOLUÇÕES

2.1. Assistência Médico-Odontológica2.1.1. No período março/2012-fevereiro/2013,as atividades de assistência médico-odonto-lógica da Das foram distribuídas em três fren-tes de atuação, através da expedição de 447guias para atendimentos pelos profissionaisdo sexto andar e conveniados de fora da sede.A segunda frente envolveu as ações de aten-dimento apoiado e mais os encaminhamen-tos para exames laboratoriais, clínicos e exa-mes dirigidos à Policlínica Geral do Rio de Ja-neiro e ao Hospital de Clínicas Dr. Aloan.Outra frente auxiliar de assistência foi cobertapelo Posto de Enfermagem Dr. Paulo Roberto,no sexto andar, que realizou 128 atendimen-tos, incluída a distribuição gratuita de medi-camentos, mediante apresentação de receitu-ário médico.2.1.2. É a seguinte a relação, mês a mês, dasatividades de assistência médica/odontológicada Das: (vide tabela na página 7).

2.2. Convênios e Parcerias2.2.1. De acordo com a parceria feita coma Legião da Boa Vontade (LBV) encaminha-mos, regularmente, associados aposentadoscom renda modesta e pessoas carentes, efuncionários da Casa, segundo nosso Esta-

tuto, para recebimento de cestas básicas eatendimento odontológico pelo Centro Edu-cacional e Comunitário José de Paiva Net-to, localizado na Avenida Dom Hélder Câ-mara, 3.059, Del Castilho. O encaminha-mento dos candidatos para o tratamentodentário, após avaliação social, é feito pormeio de guias de atendimento expedidaspela Diretoria de Assistência Social. No de-correr de 2012, através do convênio ABI/LBV,381 (trezentas e oitenta e uma) cestas-bá-sicas foram fornecidas a jornalistas, funci-onários e outras pessoas em estado de ne-cessidade.2.2.2. Como foi registrado anteriormente, oconvênio firmado pela ABI com o Sesi-Senaido Rio de Janeiro, foi automaticamente reno-vado, beneficiando os associados, dependen-tes e funcionários com a prestação de nume-rosos serviços nas áreas médico-odontológi-ca, educacional, cultural e artística, esporte elazer. Durante o exercício, o Sesi-Senai pres-tou 15 atendimentos médicos aos nossos fun-cionários e associados. Para utilizar os servi-ços do Sesi/Senai, basta a pessoa ter o cartãode matrícula atualizado , que poderá ser ob-tido gratuitamente na Unidade da AvenidaCalógeras nº 15, 5º andar, no Centro. Alémdos serviços acima mencionados pelo Sesi/Senai, as entidades oferecem também a pos-sibilidade do uso de casas de veraneio das ci-tadas instituições por preços módicos e comdesconto de até 30%. Para reforçar a área deEducação da ABI, firmamos novos contratoscom estabelecimentos de ensino superior, taiscomo a Universidade Veiga de Almeida–Uvae com a Universidade Candido Mendes. Estaúltima, a seu pedido, está usando o logotipoda ABI na divulgação de seu material namídia. Cabe registrar, que a nossa parceriacom a Universidade Santa Úrsula continuaem vigor. Aliás, neste exercício a direção daUniversidade nos enviou novo texto do con-vênio com alterações em algumas de suas clá-usulas referentes às tabelas de desconto ofe-recido por ela. Em seguida, aproveitando o en-sejo, a Diretoria resolveu distribuir nesses es-tabelecimentos de ensino, a título de experi-ência, vários exemplares do Jornal da ABI, ob-jetivando despertar algum interesse da par-te dos jovens estudantes pelo nosso periódi-co. Além disso, a Das continua fazendo ges-tões junto à Administração da FaculdadeHélio Alonso-Facha, por intermediação do Pro-fessor Luciano Zarur, que é coordenador de jor-nalismo da Facha. Nosso objetivo é conseguirmais uma parceria com essa instituição de ga-barito para atender às exigências dos nossosassociados e funcionários.2.2.3. A Das comunica que nesse exercício de2012/2013 os diretores Moacyr Lacerda, IlmaMartins da Silva e a Dra. Maria do SocorroVitarelli, atendendo ao convite do Provedor daSanta Casa da Misericórdia, Dr. Dahas Zarur,reuniram-se em seu gabinete, em 8 de novem-bro de 2012, para ultimar os detalhes da doa-ção do terreno localizado no Memorial doCarmo, no Caju, com a finalidade de se cons-truir ali o Mausoléu do Jornalista. No decor-rer da reunião, o Dr. Dahas Zarur reafirmouo seu compromisso de concretizar a doação doterreno. Como prova disso, o Provedor reco-mendou aos representantes da Das que con-tratassem um arquiteto para elaborar o pro-jeto do futuro monumento. A nossa Direto-ria entrou em contato com o arquiteto Dr. JairValera, membro da equipe do saudoso consó-cio Oscar Niemeyer, que prometeu estudar a

nossa solicitação. Estamos aguardando aresposta do arquiteto para podermos marcarnova entrevista com o Provedor da Santa Casada Misericórdia.

2.3. Procedimentos de Enfermagem2.3.1. O Posto de Enfermagem Dr. PauloRoberto realizou 128 atendimentos geraisem sua área de atuação, além da rotina deavaliação dos níveis tensionais, curativos,emergências e outros procedimentos, comoacompanhamento de pacientes a hospitaise pronto socorro. Como por exemplo, pro-cedeu-se ao encaminhamento do nosso co-lega Antonio Paz de Menezes Guerra, emnovembro de 2012, para o Hospital NossaSenhora do Socorro, no Caju. Outro exem-plo foi o encaminhamento para a SantaCasa da Misericórdia, por recomendação daDra. Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, donosso colega João Duque Estrada Meyer. NoPosto de Enfermagem, como de costume,houve a distribuição gratuita de medica-mentos aos associados e funcionários daCasa, mediante a apresentação de receitamédica atualizada. Demos continuidade aosistema de listagem de remédios e pesquisade preços para baixar o custo de aquisiçãodesses produtos

2.4. Assistência Social e Filantropia2.4.1. A Das continua empenhada na execu-ção do Plano de Atividades na área de assistên-cia social. Foram expedidas correspondênciasaos familiares. Os membros da Comissão Di-retora não se descuidaram de fazer visitas aosdoentes nas residências e nos locais de inter-nações. Na atual gestão do Governo, as Secre-tarias Estadual e Municipal de Ação Social doIdoso e da Terceira Idade, que anteriormenteprestavam apoio à ABI, através da nossa re-presentante Dra. Maria do Perpétuo Socor-ro Vitarelli, há muito deixaram de convocarnossa Diretoria para reuniões e a devida pres-tação de contas.2.4.2. Enviamos para o contador da ABI asplanilhas mensais geradoras de dados sobrenossa ação assistencial, que permitem esti-mar valores da cessão de uso do imóvel – sex-to andar – e das consultas médico-odontoló-gicas gratuitas, a fim de atender aos requisi-tos da filantropia, com apuração de valoresgastos com a gratuidade nas atividades desaúde. Este procedimento foi buscado paracompatibilizar exigências da fiscalização doINSS e do Conselho Nacional de AssistênciaSocial-CNAS. Mantivemos contato com oConselho Municipal de Assistência Social, afim de iniciar entendimentos para inscrição daABI naquela entidade. O objetivo é criar con-dições para, entre outras providências, solici-tar a volta do instituto da filantropia junto aoConselho Nacional.2.4.3. Em termos de manutenção, continu-amos prestando assistência médico-odonto-lógica aos associados de entidades co-irmãsconveniadas. São mais freqüentes as consul-tas solicitadas pelos Sindicatos dos Publicitá-rios, dos Jornalistas Profissionais do Municí-pio do Rio de Janeiro, dos Jornalistas Liberais,da Associação dos Cronistas Esportivos doEstado do Rio de Janeiro-Acerj, e da Associa-ção Profissional de Repórteres Fotográficos doRio de Janeiro-Arfoc.

2.5. Apoio Jurídico e Informações2.5.1. A Consultoria Jurídica, conveniadacom a ABI, vem dando atendimento aos pe-

didos de informação de associados, depen-dentes, profissionais de imprensa não asso-ciados, empreendedores e outras pessoas fí-sicas e jurídicas da área de comunicação so-cial interessadas na legislação do setor.Exemplo disso foi o encaminhamento, atra-vés do nosso consócio e conselheiro Dr. Mo-desto da Silveira e da Dra. Maria Carmem daSilveira para o Serviço Social da Justiça do Mi-nistério Público, órgão ligado ao Serviço So-cial da Defensoria Pública que se dedica aoscasos de pendências jurídicas. As solicitaçõessão feitas pessoalmente, por telefone e pore-mails. As consultas e pedidos de apoio sãode vários Estados, da capital e de Municípi-os do Estado do Rio de Janeiro.2.5.2. Coube-nos, como sempre, a missãode dar suporte às necessidades da Presidên-cia e das Diretorias, em especial a Financei-ra e a Administração, além do Conselho De-liberativo. Casos fora da área de comunica-ção social, com associados ou não, foram en-caminhados aos escritórios dos advogadosconveniados, inclusive com a cooperação donosso saudoso consócio Dr. Araquém deMoura Roulien.2.5.3. O engenheiro Roberto A. Motta, con-forme carta-pessoal em nosso poder, que fazum trabalho voluntário junto ao Setor de As-sistência Social da Santa Casa da Misericór-dia, continua sendo uma nova frente de apoioaos pedidos de informações da Das, sobrebusca e localização de documentação perdi-das pelos associados mais carentes. Alémdisso, ele se dispõe a dar orientação e tirardúvidas em casos relacionados à PrevidênciaSocial, incluídas as questões de aposentado-rias e pensões do INSS.

PARTE 3. (FINAL) CONCLUSÕES

Em razão do que realizamos e relatamos, con-cluímos que:

3.1. Cumprimos, na medida do possível, aexecução do Plano de Atividades;

3.2. Entregamos, no prazo legal, o Plano deatividades previstas para 2012, cumprindoexigência do Conselho Nacional de Assistên-cia; e

3.3. Reiteramos mais uma vez que, as ati-vidades da Das publicadas no Site da ABIestão carecendo de uma nova, moderna e des-tacada configuração, a fim de oferecer maisfacilidade e clareza para os associados nasconsultas de informações sobre o serviçomédico, convênios e parcerias na área daeducação;

3.4. Damos prosseguimento ao levanta-mento e atualização de todo o cadastro dosconvênios firmados com a Das, para poste-rior divulgação pelo nosso site e pelo Jornalda ABI.

3.5. Com certa regularidade, representantesdas mais diversas empresas ligadas a planosde saúde nas diversas especialidades nos pro-curam, oferecendo à Diretoria novos convêni-os médicos e também planos de saúde. Entre-tanto, suas tabelas de preços não são compa-tíveis com a renda média e faixa etária dosnossos associados, já que a maioria é de apo-sentados. No momento, estamos estudandoa mais recente proposta da empresa Odon-toPrev, especializada em odontologia.

7JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013 • RELATÓRIO DA DIRETORIA

Os assassinatos ocorreram quando Tolu seguiapela Avenida Brasil, no centro da cidade de PontaPorã, dirigindo uma caminhonete.O terceiro ocupante do veículo, Ananias Du-arte, foi socorrido com vida e internado noHospital Municipal de Ponta Porã. Os tirosforam disparados pelos ocupantes de outracaminhonete, que não foram identificados. Asuspeita é que tenham fugido para Pedro JuanCaballero, no Paraguai, cidade que faz frontei-ra com Ponta Porã.O crime aconteceu a 100 metros do local em quefoi morto, no dia 12 de fevereiro de 2012, o editordo mesmo Jornal da Praça, Paulo Roberto Car-doso Rodrigues, de 51 anos, conhecido comoPaulo Rocaro.Tolu era sobrinho de Fahd George, que já foi co-nhecido como o “rei da fronteira”. Fahd ou Faua,como também é chamado, foi condenado pelaJustiça Federal por lavagem de dinheiro, tráfi-co internacional de drogas e sonegação fiscal.Em maio de 2012, o Superior Tribunal de Jus-tiça extinguiu os processos contra Fahd porfalta de provas.O duplo homicídio e a tentativa de morte con-tra Ananias Duarte foram investigados no 1ºDistrito Policial pelo Delegado titular ClemirVieira Junior e também pelo Delegado planto-nista Odorico de Mendonça Mesquita, o mes-mo que é responsável pelo inquérito que apu-ra a morte do jornalista Paulo Rocaro.A Comissão não recebeu maiores informaçõessobre as conclusões das investigações.

5. SOLIDARIEDADE AOEDITOR DO SITE WIKILEAKS

A Comissão congratulou-se com o Governo doEquador pela concessão de asilo político a Juli-an Assange, editor responsável do site Wikileaks.A Comissão manifestou também repúdio àsameaças feitas pelo Governo britânico de nãorespeitar o direito de asilo político e até mesmode utilizar o uso de violência para prender As-sange no interior da representação diplomáti-ca do Equador em Londres.A Comissão entendeu que ao se posicionar emfavor de Julian Assange seguiu o importantepreceito de defesa das liberdades de expressãoe de imprensa.

6. OPERAÇÃO CONDOR VITIMOUJORNALISTA ARGENTINO NO GALEÃO

A Comissão acompanhou e seguiu acompa-nhando ao longo do segundo semestre de 2012o caso do desaparecimento no aeroporto do Ga-leão, em agosto de 1978, do jornalista argenti-no Norberto Habegger. O caso ocorreu no con-texto da Operação Condor e comprova os vín-culos entre as ditaduras brasileira e argentina.A Comissão sugeriu que a Diretoria da ABI vol-te a pedir esclarecimentos à Polícia Federal, comoocorreu na ocasião do desaparecimento do jor-nalista, quando não obteve resposta.

7. AGRESSÃO A JORNALISTANO RIO GRANDE DO NORTE

O jornalista Rosinaldo Vieira foi agredido no dia7 de outubro quando realizava a entrega de exem-plares de um jornal comunitário da cidade Saté-lite, do Estado do Rio Grande do Norte. O peri-ódico, mensal, tinha em uma das reportagens decapa uma abordagem sobre os vereadores candi-datos a reeleição envolvidos na Operação Impacto.O jornalista estava acompanhado do pai, umidoso de 81 anos, quando foi abordado e insul-tado por parentes e correligionários do Verea-dor Aquino Neto (PV), na cidade Satélite. Ro-sinaldo foi agredido com socos e pontapés, alémde sofrer ameaças.A Comissão sugeriu que fosse encaminhadanota de protesto à Secretaria de Segurança doRio Grande do Norte.

8. COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE

Os integrantes da Comissão se posicionaramem favor dos trabalhos da Comissão Nacionalda Verdade, anunciada pela Presidente DilmaRousseff, esperando que seja verdadeira, atu-ante e pressionada pela sociedade brasileira.Foi elogiada também a atuação da Comissãoda Verdade da Câmara dos Deputados, presi-dida pela Deputada Luiza Erundina (PSB-SP).A Comissão lamentou o procedimento doDeputado estadual Flávio Bolsonaro, que ten-tou de todas as formas boicotar a criação pelaAssembléia Legislativa do Estado do Rio deJaneiro da Comissão Estadual da Verdade, queacabou sendo criada depois de muita pressão.A Comissão exigiu rigor na apuração das de-núncias sobre presos políticos que teriam sidoincinerados em uma usina de açúcar do Vice-Governador Hélio Ribeiro Gomes, conformedenúncia do Delegado Cláudio Guerra.

9. VIOLÊNCIA CONTRA INDÍGENAS

Foi denunciado o massacre praticado contra atribo dos Guarani-Kaiowás, em Mato Grossodo Sul, que vem sendo dizimada por fazendei-ros assassinos com o intuito de tomar suasterras para transformá-las em pasto para ogado, plantação e toda sorte de atividade indus-trial. O problema é grave e não se pode restrin-gir apenas a Mato Grosso do Sul: em quasetodas as reservas indígenas brasileiras o proble-ma é o mesmo e cada vez cresce o número desuicídios, doenças, fome e abandono geral des-sas populações marginalizadas, à mercê daganância dos latifundiários que veiculam namídia notícias mentirosas a respeito dos índi-os para jogar contra eles a opinião pública. E,como se não bastasse, os indígenas ainda sãoassediados pelas dezenas de entidades evangé-licas que, estranhamente, proliferam na região,e os fazem negar sua milenar cultura, afirman-do que são fruto do demônio. Segundo maté-ria divulgada pelo site G1, “missionários” che-

6º andarPoliclínica do RJLaboratório MaolinoLaboratório Manoel BronsteinRichet LaboratórioClínicas IntegradasDr José Alves Patrício Jr.Hospítal de Clínicas Dr. AloanÓticas Ver MaisDra. Áurea L. Carlos F. de Brito

MARÇO701–1–1–1––

ABRIL46–1111–––1

MAIO2921–5–––––

JUNHO28–33––––––

JULHO4331–3–––––

AGOSTO463––2–––1–

SETEMBRO221––1–1–––

OUTUBRO224––3–––––

NOVEMBRO20–––11––––

DEZEMBRO13–––––––––

JANEIRO324––4––1––

FEVEREIRO18––––1––––

COMISSÃO DE SINDICÂNCIATITULAR: JOSÉ PEREIRA DA SILVA

(PEREIRINHA)PRESIDENTE DA COMISSÃO

1. No decorrer do período março de 2012-feve-reiro de 2013 a Comissão de Sindicância, incum-bida de apreciar as propostas de filiação deassociados, discutiu, analisou e aprovou 49pedidos de ingresso no quadro social da ABI,sendo 26 para a categoria Efetivo, dez para acategoria Colaborador e sete transferências dacategoria Colaborador para a categoria Efeti-vo. Presidida pelo associado José Pereira da Sil-va (Pereirinha) e integrada pelos sócios CarlosJoão Di Paola, Maria Ignez Duque EstradaBastos e Marcus Miranda, a Comissão reali-zou 12 sessões, que registraram estes números:

COMISSÃO DE DEFESA DALIBERDADE DE IMPRENSA

E DIREITOS HUMANOSTITULAR: MÁRIO AUGUSTO JAKOBSKIND

PRESIDENTE DA COMISSÃO

A Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensae Direitos Humanos teve atuação destacada noano de 2012. Os integrantes acompanharamcom muita atenção o noticiário em torno devárias questões relacionadas com violênciacontra jornalistas, não apenas no Brasil, comono exterior, além de questões relacionadas comdireitos humanos.A Comissão, integrada por Mário AugustoJakobskind, Presidente, Arcírio Gouvêa Neto, 1ºSecretário, e Daniel Mazola, 2º Secretário, ostrês escolhidos em maio de 2012, HenriqueMiranda Sá Neto, Victor Iorio, Alcyr Cavalcanti,Modesto da Silveira, Miro Lopes, Ernesto Vi-anna, Gilberto Magalhães e Germano Gonçal-ves, apresenta em resumo o trabalho realiza-do no civil de 2012.

1. RELATÓRIO À COMISSÃONACIONAL DA VERDADE

No segundo semestre, a Comissão apresentouextenso e aprofundado relatório sobre o aten-tado a bomba, em 19 de agosto de 1976, nasdependências da ABI, o qual foi encaminhadoà Comissão Nacional da Verdade, que confir-mou oficialmente o recebimento.A íntegra do relatório, elaborado pelo Presidenteda Comissão, Mário Augusto Jakobskind, epelo 1º Secretário Arcírio Gouvêa, foi reprodu-zida na Edição nº 383, de outubro de 2012, doJornal da ABI.

2. REPÚDIO À “IRONIA” DE ADVOGADO

A Comissão fez duras críticas ao Senhor Sebas-tião Juruna, advogado do ex-Tesoureiro do PT

PE - Para Efetivo; PC - Para Colaborador; T - Transferência

20122012201220122012

Março 4 3 – 7Abril – – – –Maio 6 2 3 11Junho 2 – – 2Julho 1 3 1 5Agosto – – – –Setembro 3 2 – 5Outubro – – – –Novembro 4 – – 4Dezembro – – – –

20132013201320132013

Janeiro 4 5 1 10Fevereiro 2 1 2 5TOTAIS 26 16 7 49

MÊS PE PC TR TOTAL

PROPOSTAS APROVADAS

Delúbio Soares, que em tom irônico disse que“jornalista bom é jornalista morto”.De acordo com o portal Terra, o caso ocorreu nomomento em que Delúbio chegou para votar,em Goiânia, GO, em novembro. Após a frase,o advogado tratou de esclarecer que tudo nãopassava de uma brincadeira (“tem de ter espí-rito humorístico”, alegou).A Comissão protestou contra o “espírito hu-morístico” do advogado, por entender que nãose pode brincar com uma questão tão séria,relacionada com a vida de pessoas.

3. DESAPARECIMENTO DE JORNALISTA

A Comissão acompanhou informe da organi-zação Repórteres Sem Fronteiras, que emitiuuma nota sobre o desaparecimento do jornalistaAnderson Leandro da Silva, dono de uma produ-tora de tv, em Curitiba. No dia 10, Anderson saiudo prédio da produtora para ir a Quatro Barras,na Região Metropolitana da capital e desde entãonão se soube mais onde estava.Anderson era ligado a vários movimentos sin-dicais e à Igreja Católica e em 2008 filmou omomento em que um policial militar atiroucontra um grupo de repórteres que cobriamuma reintegração de posse. Ele estava marca-do para morrer.

4. ASSASSINATO EM PONTA PORÃ

A Comissão manifestou-se, pedindo providên-cias das autoridades para investigar as circuns-tâncias em que foi assassinado o empresário ediretor do Jornal da Praça Luiz Henrique Geor-ges, conhecido como Tolu. Ele foi executadocom vários tiros de fuzil nas imediações dacidade de Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul.Também foi assassinado Neri Vera, segurançado jornalista. Tolu havia comprado o jornalrecentemente e ocupava o cargo de diretor dapublicação.

8 JORNAL DA ABI • ABRIL DE 2013 • RELATÓRIO DA DIRETORIA

garam ao absurdo de atear fogo em várias chou-panas para obrigar os indígenas a aceitar a im-posição dos pastores.Foi lembrado que a Comissão Nacional daVerdade está investigando as denúncias que dãoconta do assassinato de cerca de 2 mil índiosdurante a construção da estrada Manaus –Porto Velho, nos anos 70. A denúncia foi feitapelo ex-conselheiro geral do Conselho Indige-nista, missionário Egydio Swade.

10. LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE

A Comissão deu todo apoio à indicação do Le-vante Popular da Juventude para receber o Prê-mio Nacional de Direitos Humanos, da Secre-taria Especial dos Direitos Humanos da Presi-dência da República, na categoria Direito àMemória e à Verdade. O Levante, integrado porjovens, tem atuado em várias cidades brasilei-ras denunciando nos locais de moradia tortu-radores do regime militar.

11. MUDANÇA DE NOMESDE LOGRADOUROS PÚBLICOS

Por unanimidade, os integrantes da Comissãodefenderam a necessidade de se mudar os no-mes dos logradouros públicos, centros culturaise outras entidades que homenageiam algozesdo povo brasileiro durante o regime militar, paranomes de cidadãos que realmente participarame lutaram pelo estabelecimento das liberdadesdemocráticas no País.Foi também exortado que é preciso continuarcom a divulgação na mídia dos locais que repre-sentaram o período da tortura da ditaduramilitar, como a Casa da Morte, em Petrópolis,a Usina da Fazenda Cambayba, de propriedadedo ex-Deputado federal e Vice-Governador doEstado do Rio de Janeiro, Hélio Ribeiro Gomes,onde foram incinerados oito corpos, e aindaoutros locais.

12. PROCESSO CONTRAMILITAR TORTURADOR

A Comissão congratulou-se com o MinistérioPúblico Federal por ter denunciado o CoronelBrilhante Ustra por seqüestro qualificado de EdgarAquino Duarte, que dividia o apartamento ondemorava com o marinheiro José Anselmo dosSantos, conhecido como cabo Anselmo.Além de Ustra foram denunciados os DelegadosAlcides Singlilo e Carlos Alberto Augusto na épocado Deops-Departamento de Ordem Política eSocial de São Paulo. Carlos Augusto era conheci-do entre seus pares como “Carlinhos Metralha”.Quando era adido militar no Uruguai Ustra foi

reconhecido pela atriz Bete Mendes como tor-turador. A Comissão pediu que se cobre do Su-premo Tribunal Federal o motivo pelo qual li-bertou o fazendeiro Regivaldo Galvão, assassi-no da missionária americana Dorothy Stange.Para a Comissão, decisões como essa depõemcontra o Judiciário.

13. DECISÃO INÉDITA CONTRA CURIÓ

Foi elogiada a decisão inédita e histórica da Juízada 2ª Vara Federal de Marabá, no Pará, NairPimenta de Castro, que recebeu as denúnciasformuladas pelo Ministério Público Federal con-tra dois dos agentes da ditadura militar apon-tados por vítimas e familiares como os maio-res carrascos do período. São eles o Coronel dareserva do Exército Brasileiro Sebastião Rodri-gues de Moura, o “Major Curió”, e o Major dareserva Lício Augusto Maciel, o “Doutor Asdrú-bal”. São os primeiros militares brasileiros a res-ponder pelos crimes de lesa-humanidade come-tidos durante o regime.

14. MAIS VIOLÊNCIA CONTRAJORNALISTAS

A diretora do semanário O Jornal, de Guairá (SP),Menize Taniguti, de 30 anos, foi agredida no dia1º de outubro na Rodovia Assis Chateaubri-and, quando transportava 5 mil exemplares doseu jornal, que haviam sido impressos emBarretos (SP). Ela foi espancada em um mata-gal à margem da rodovia e todos os jornaisqueimados, em virtude dela ter divulgado osatos de corrupção da administração municipal.

15. CONTRA A HOMOFOBIA

A Comissão solidarizou-se com o jornalistaBruno Chateaubriand e com o seu compa-nheiro André Ramos, que foram vítimas deagressões homofóbicas em um restaurantefreqüentado por gays em Ipanema. Os doisforam também ameaçados de morte.Os integrantes da Comissão repudiaram aviolência e a homofobia que tem ocorrido comcerta freqüência em várias cidades brasileiras.

16. REPÚDIO À CONTRATAÇÃODE MILICIANO PARA CUIDARDE JOVENS VICIADOS EM CRACK

A Comissão, com base em matéria do jornal ODia, de 25 de outubro de 2012, sob o título Reida Internação Compulsória no Município do Riode Janeiro, manifestou sua indignação com ofato de a Prefeitura contratar o major reformadoda Polícia Militar Sergio Pereira de Magalhães

para cuidar de 178 jovens usuários de crack.Sergio Pereira de Magalhães Júnior, 42 anos,além de major reformado da PM, é milicianoenvolvido em chacinas e vem enriquecendo àscustas do encarceramento inconstitucional demenores supostamente dependentes químicos.Ele preside uma instituição que recebe recursospúblicos para gerir centros para dependentesquímicos e tem no currículo tiroteios que leva-ram 42 à morte em três anos. Mesmo semqualificação, Sergio Pereira conseguiu angariarR$ 1,8 milhão em verbas para cuidar de meno-res abandonados e famílias desamparadas.A Comissão sugeriu que fosse encaminhadanota de protesto à Prefeitura do Rio e pedido deinvestigação ao Ministério Público.

17. FRENTE ESTADUAL DE DROGAS

A Comissão congratulou-se pela iniciativa de lan-çamento da Frente Estadual de Drogas e DireitosHumanos do Rio de Janeiro, ocorrida no últimodia 18 de outubro, na Uerj, evento em que a Co-missão esteve representada por Daniel Mazola.No seminário então realizado foram debatidasquestões fundamentais como a criminalizaçãoda pobreza, por meio da política proibicionis-ta, o aumento das políticas de recolhimentocompulsório no Brasil e os desafios da FrenteEstadual de Drogas e Direitos Humanos paraa implementação de políticas de drogas volta-das para a saúde pública e direitos humanos.A Juíza aposentada Maria Lúcia Karam enten-de que o único caminho viável é regulamentare legalizar as drogas ilícitas, para aí, sim, se partirpara uma política viável, digna e humana. Jáo sociólogo e Vereador eleito na cidade do Rio deJaneiro Renato Cinco (Psol) reafirmou sua in-tenção de pedir uma CPI das internações com-pulsórias, para investigar a fundo a política dedrogas da Prefeitura Municipal. A Comissão daABI congratulou-se com a Frente pela impor-tância do debate para a sociedade civil.

18. EM FAVOR DO MUSEU DO ÍNDIO

A Comissão manifestou-se favoravelmente aopleito dos indígenas de várias etnias que vivem nolocal onde funcionou durante muitos ano o Museudo Índio, pela manutenção do prédio histórico e acriação de um Museu de Cultura Indígena.

19. EM FAVOR DE COMPLEXODESPORTIVO E ESCOLA MUNICIPAL

Além da defesa do Museu do Índio a Comissãomanifestou-se também contra a demolição doParque Aquático Julio de Lamare e do Estádiode Atletismo Célio de Barros, para, conforme

RELATÓRIO DA DIRETORIA • EXERCÍCIO SOCIAL 2012-2013

denúncias, dar lugar a estacionamentos du-rante as Olimpíadas de 2016. Entende a Comis-são que a manutenção de tais complexos es-portivos é fundamental para o aprimoramen-to do atletismo e da natação brasileira.Atualmente o Maracanãzinho tem capacidadepara um público de 11.800 pessoas, porém oComitê Organizador dos Jogos já definiu quea capacidade do estádio deve ser de pelo menos12 mil pessoas. Os estacionamentos fazemparte da adequação do complexo esportivo, oque não é uma exigência da Fifa.A Comissão posicionou-se ainda pela manuten-ção do complexo do Maracanã, assim como daEscola Municipal Friedenreich, considerada es-cola modelo na rede. Os integrantes da Comis-são anunciaram a realização de dois seminári-os abertos, para os meses de janeiro e fevereirode 2013, com o objetivo de debater o processo deprivatização do complexo do Maracanã.

20. DEFESA DA VOZ DO BRASIL

A Comissão elogiou a proposta do DeputadoFernando Ferro, do PT de Pernambuco, de trans-formar a Voz do Brasil em Projeto Cultural doPovo Brasileiro, para que ela seja tombada peloIphan, impedindo, dessa forma, as pressõesexercidas com o objetivo de acabar com progra-ma tão importante. Para a Comissão, flexibi-lizar o horário da Voz do Brasil seria o início dofim do histórico programa informativo acessí-vel a milhões de brasileiros em vários pontos doPaís, sobretudo no interior.A Comissão congratulou-se com a decisão doministro do Supremo Tribunal Federal JoséAntônio Dias Tuffoli em favor da manutençãoda Voz do Brasil no horário das 19h às 20h.Tuffoli decidiu sobre uma liminar argüindo ainconstitucionalidade do programa. Foi obser-vado que a decisão ainda não pode ser conside-rada definitiva, pois tramita no Congresso pro-jeto flexibilizando o horário do programa.

21. SEMINÁRIO VOTAR LEGAL

Os integrantes da Comissão de Defesa da Liber-dade de Imprensa e Direitos Humanos elogia-ram o sucesso do Seminário “Votar Legal” – re-alizado pela Comissão durante o período daseleições municipais – e o alto nível das plenári-as, assim como a presença de ilustres figuras davida pública nacional na sede da ABI. Afirmaramque a Casa precisava de uma sacudidela dessetipo e já confirmaram o 2º Seminário “VotarLegal”, em data a ser marcada, assim comoanunciaram a realização do I Seminário “Direi-tos Humanos, Liberdade e Justiça” (nome su-jeito a mudança) para o mês de abril de 2013.

COORDENAÇÃO DEPUBLICIDADE E MARKETINGTITULAR: FRANCISCO PAULA FREITAS

COORDENADOR

1. Informo a seguir a receita obtida pelo Jornalda ABI e pelo Site ABI Online no período mar-ço 2012 a fevereiro 2013. Os números, apresen-tados em seus valores líquidos, referem-se aoefetivamente recebido pela ABI, e chegaram aR$ 720.583,62. Os números podem ser vistosna tabela da página 9.

2. Este não foi um período tranqüilo. Nossaassistente Queli Delgado foi obrigada a perma-

necer afastada do trabalho. Licenciada peloINSS desde o dia 18 de março de 2012, aindapermanece ausente. Em conseqüência, ficamossem ter quem nos assistisse durante sete meses.Até que em setembro veio uma substituta queconosco permaneceu por apenas um mês e nãofoi efetivada por determinação dessa Presidência,atendendo, como nos foi dito, à necessidade decontenção de despesas. A seguir tivemos al-guns funcionários da Casa (Renata, Marceloe Guilherme), que, eventualmente e mesmosem o conhecimento específico da funçãopublicitária, tentaram cobrir a falta de nossaAssistente e mostraram boa vontade em nosajudar, mas isso não foi suficiente. O trabalho

sem uma contínua e eficiente retaguarda nãopôde ser realizado, como previmos no exercíciosocial anterior. Os que supriram a falta de nos-sa assistente, além de nós, continuaram a aten-der às necessidades em suas funções originais e porisso mesmo afastavam-se da Publicidade, nãolhes sendo possível atuação plena. Horários dife-rentes do “comercial” também não ajudam.

3. Se por um lado tivemos esse contratempo,por outro vimos ocorrer a consolidação do Jornalda ABI como um jornal de qualidade reconheci-da por seus leitores. Nosso principal anuncian-te, a Petrobras, a partir de meados do período,passou a viver problemas que resultaram em

cortes de publicidade que atingiram todos osveículos de comunicação, inclusive os nossos.Ficamos por conta disso sem sua presença nosmeses de janeiro e fevereiro deste ano de 2013, oque ocasionou uma perda de receita de R$82.962,04 (2 inserções de R$ 41.481,02) No en-tanto, acreditamos poder recuperar o dano nodecorrer do exercício março 2013 a fevereiro 2014.

4. O Governo do Estado do Rio de Janeiro, quevinha presente nas páginas do Jornal da ABIdesde fevereiro de 2012, parou de veicular emagosto. Deixou, portanto, de programar o valorde R$ 144.000,00 (6 inserções de R$ 24.000,00).Por se tratar de um anunciante governamental,

9JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013 • RELATÓRIO DA DIRETORIA

não temos uma posição clara dos motivos queo levaram à suspensão da programação.

5. Somadas as faltas da Petrobras e do Gover-no do Estado, ficamos com uma diferença deR$ 226.962,04. Não tivessem ocorrido estasausências, teríamos fechado o período com umvalor próximo a um milhão de reais.(R$720.583,62 + R$ 226.962,04).

6. A despeito das dificuldades, estamos tra-balhando no sentido de fazer aos anuncian-

tes “prospects”, propostas que visam a bus-car apoio publicitário através do Jornal da ABIpara este ano em que se comemoram os 105anos de fundação da Associação Brasileira deImprensa. Estão sendo encaminhadas aosprincipais anunciantes do País propostas es-peciais que visam obter apoio para o marco dosnossos 105 anos.

7. Como registramos em relatório anterior, nãodeixamos de considerar as inúmeras intrinca-ções para editar, produzir, imprimir e distribuir

o nosso jornal. No entanto, a exemplo dos de-mais veículos da média impressa, ele deveriachegar aos clientes e agências – seus possíveisanunciantes – nos últimos dias do mês queantecede à data de capa. Isso facilitaria o encon-tro do jornal com os diversos planejamentos,no sentido de conjuminar as campanhas aserem veiculadas com os seus períodos de divul-gação. Seguramente com uma circulação pe-renemente eficaz, poderemos obter melhoravaliação por parte do mercado anunciante.Não podemos nos permitir que a alegria de vê-

* 12 Rodapés de julho/2012 a junho/2013 + Site ABI Online em jul/dez 2012. Total de R$ 120.000,00 (pagamento em 2 parcelas de R$ 60.000,00. A primeira paga em 18/7 e a segunda em 22/8/2012.

SUBTOTAL41.481,0249.814,3541.481,02

73.814,35

73.814,35

73.814,35

125.481,02

125.481,02

41.481,02

41.481,02

57.701,07

57.701,07––

720.583,62

VALOR LÍQUIDO(R$)41.481,028.333,3341.481,0224.000,008.333,3341.481,0224.000,008.333,3341.481,0224.000,008.333,3341.481,0224.000,0060.000,00*41.481,0224.000,0060.000,00*41.481,02

–41.481,02

–41.481,0216.220,05

–41.481,0216.220,05

–––

MÊS/ANOMar/2012

Abr/2012

Mai/2012

Jun/2012

Jul/2012

Ago/2012

Set/2012

Out/2012

Nov/2012

Dez/2012

Jan/2013Fev/2013

TOTAL

EDIÇÃO Nº376

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380

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382

383

384

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386387

CLIENTEPetrobras

Odebrecht*Petrobras

Governo do Rio OdebrechtPetrobras

Governo do RioOdebrechtPetrobras

Governo do Rio OdebrechtPetrobras

Governo do RioOdebrechtPetrobras

Governo do Rio OdebrechtPetrobras OdebrechtPetrobrasOdebrechtPetrobras Coca-ColaOdebrechtPetrobras Coca-ColaOdebrechtOdebrechtOdebrecht

JORNAL DA ABI 1PD 4C1Rodapé1PD 4C1P 4C

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1P 4C1 Rodapé1PD 4C1P 4C

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1P 4C1Rodapé1PD 4C 1 Rodapé1PD 4C1Rodapé1PD 4C1P 4C

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1Rodapé1Rodapé1Rodapé

29.2 PÁGS.

SITE ABI ONLINEFull Banner

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OBSERVAÇÕES

Pago no Contrato de 2011

Pago no Contrato de 2011

Pago no Contrato de 2011

Pago no Contrato de 2011

Pagamento (antecipado) da 1ª parcela

Pagamento (antecipado) da 2ª parcela.

Pago no Contrato de 2012

Pago no Contrato de 2012

Pago no Contrato de 2012

Pago no Contrato de 2012Pago no Contrato de 2012Pago no Contrato de 2012-

lo a cada mês impresso empane a necessidadede que isto ocorra no tempo certo.

8. Outro aspecto a observar é a apresentação grá-fica. Pudéssemos ter nossas impressões feitas empapel de melhor qualidade (couché?) poderíamosexibir com mais perfeição os materiais publicitá-rios e editoriais. Reiteramos que vale a pena inves-tir. A resposta tem sido e será positiva.

Francisco Paula FreitasCoordenador

BIBLIOTECA BASTOS TIGRETITULAR: VILMA OLIVEIRA

CHEFE DA BIBLIOTECA

1. A Biblioteca da ABI (Biblioteca Bastos Tigre)obteve no exercício social duas doações significa-tivas: a de parte da biblioteca pessoal do jornalis-ta, escritor e sócio da Casa João Máximo Ferrei-ra Chaves, que doou à Casa mais de 200 volumes,e da Agência Nacional de Cinema-Ancine, quedoou 90 dvds com as obras da cinematografianacional produzida nos últimos anos.

2. Com esse largo gesto de desprendimento, JoãoMáximo tornou-se o maior doador individual daBiblioteca Bastos Tigre, que enriquece seu jáimportante acervo com títulos de um leitor cominteresse pelos mais variados assuntos: músi-ca popular, História, artes, crítica de costumes,cinema, teatro, biografias e autobiografias, im-prensa, literatura, humor, caricatura – um es-pectro amplo e diversificado de temas.

3. Pela extensão da quantidade de fichas cata-lográficas do acervo doado, a relação completadessas obras será publicada proximamente noABI Online (www.abi.org.br).

4. Igualmente importante foi a doação de 90dvds pela Ancine, os quais estão desde já à dis-

posição dos associados para empréstimo.Decidiu a Chefia da Biblioteca que o empréstimopoderá estender-se por sete dias, considerando-se que parte dos sócios freqüenta a ABI umavez por semana.

5. Além desses doadores a Biblioteca registrouos seguintes:Carlos JurandirCABRAL, Reinaldo. Literatura e Poder Pós 64.Rio de Janeiro: Edições Opção, 1977.Ministério dos EsportesXI Jogos dos Povos Indígenas 2011. Tocantins:Ministério dos Esportes, 2011.Vilma OliveiraMEDEIROS, Martha, Feliz por Nada. Porto Ale-gre: L&PM, 2011.Adalberto DinizPENA, Felipe. Teoria da Biografia Sem Fim. Riode Janeiro: Mauad, 2004.Domingos MeirellesROMA FILHO, Elias. Amigos do Dom: Depo-imentos Pesquisados e Texto Inédito. Recife: Au-tor, 2012.Associação de Imprensa de PernambucoSANTANA, Jorge José B. Jornais e Jornalistas: AImprensa Pernambucana. Recife: Fac-Form, 2012.Maurício AzêdoTINHORÃO, José Ramos. As Festas no BrasilColonial. São Paulo: Ed. 34, 2000.

Arthur PoernerVIANNA, Luiz Werneck. A ModernizaçãoSem Moderno: Análises de Conjuntura na EraLula. Rio de Janeiro: Contraponto, 2011.Fabiana DevotoANDRADE, Nelson. Hotel: Planejamento eProjeto: São Paulo Senac, 2007.Anos Depois: A Vida Econômica da Souza Cruzem 102 Anos. São Paulo: GV Consult, 2005.ARANHA, Ana Lucia de Arruda. Filosofando.São Paulo: Moderna, 1993.ARBEX JUNIOR, José. Showjornalismo: A No-tícia Como Espetáculo. São Paulo: Casa Ama-rela, 2001.BARBAN, Arnold M. Essência do Planejamentode Mídia. São Paulo: Nobel, 2001.BOCK, Ana Mercês Bahia. Psicologias: UmaIntrodução ao Estudo da Psicologia. São Paulo:Saraiva, 2002.CARVALHO, Bernardo. Mongólia: Romance.São Paulo: Companhia das Letras, 2003.FERNANDES, Amaury. Fundamentos de Pro-dução Gráfica. Rio de Janeiro: Rubio, 2003.KOTLER, Philip. Princípios de Marketing.SãoPaulo: Pearson Prentice Hall, 2007.MORAES, Fernando. Na Toca dos Leões: AHistória da W/Brasil. São Paulo: Planeta,2005.PLATÃO. O Banquete; ou Do Amor. Rio de Ja-neiro: Bertrand Brasil, 2001.

PESSOA, Eduardo. Introdução ao Direito Para a Áreade Comunicação. Rio de Janeiro: Parkgraf, 2004.A Publicidade na Construção de Grandes Mar-cas. São Paulo: Nobel, 2004.SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z. Riode Janeiro: Campus, 1997.SISSORS, Jack Zanville. Planejamento de Mí-dia. São Paulo: Nobel, 2001.TAVARES, Braulio. Como Enlouquecer um Ho-mem ... As Mulheres Contra Atacam. Rio de Ja-neiro: Ed. 34, 1994.VASCONCELOS, Adirson. Nomes que Fize-ram e Fazem a História de Brasília. Brasília: The-sauros, 2011.VALENTE, André. A Linguagem Nossa de CadaDia. Petrópolis: Vozes, 2001.VIEIRA, Stalimir. Marca: O que o CoraçãoNão Sente os Olhos Não Vêem. Rio de Janei-ro: PUC-Rio, 2002.WEFFORT, Francisco C. Os Clássicos da Po-lítica. São Paulo: Ática, 2003.Do autorCARRARA, Valda. Em Busca da Verdade emProl da Liberdade. São Paulo: 2011.COSTA, Cecília. Diário Carioca. Rio de Janei-ro: Fundação Biblioteca Nacional, 2011.COSTA, Cecília. Odylo Costa Filho. Rio de Ja-neiro: Relume Dumará, 2000.KONDER, Rodolfo. Os Sobreviventes. SãoPaulo: RG Editores, 2012.

10 JORNAL DA ABI • ABRIL DE 2013 • RELATÓRIO DA DIRETORIA

RELATÓRIO DA DIRETORIA • EXERCÍCIO SOCIAL 2012-2013

MORONI, Benedito de Godoy. História dePresidente Epitácio. Maringá: 2011.OLIVEIRA, Asséde de Paiva. Brumas da Histó-ria: Ciganos e Escravos no Brasil. Volta Redonda.Nova Graf. Editora, 2012.RIBEIRO, Marcelo da Silva. Lá do Lado de Cá:O País da Tropicália. Aracaju: Secore, 2012.SOUZA, Reis de. Expectativas e Contradições. Riode Janeiro: RS editora, 2012.Da editoraPáginas da Resistência: A Imprensa e a Luta pelaLiberdade de Expressão. Rio de Janeiro: Publit,2011.Redentor: De Braços Abertos. Rio de Janeiro: Rép-til, 2011.

6. O acervo da Biblioteca Bastos Tigre contacom 22.550 títulos de livros, 3.905 títulos dejornais e 721 títulos de revistas encadernadas.Sua freqüência no exercício social foi inferiorà do ano precedente: foram 857 leitores ouconsulentes, ou pouco mais de três visitas pordia, movimento que não reflete a excelênciado acervo disponível. A equipe da Biblioteca écomposta pela Chefe Vilma Oliveira, pela bi-bliotecária Alice Diniz, pela auxiliar de bibli-oteca Ivaldeci de Souza e pelo auxiliar de ser-viços gerais Annagê de Saulo. Instalada no 12ºandar do Edifício Herbert Moses, a Bibliote-ca funciona das 8 à 17 horas, de segunda a

sexta-feira, e atende a pedidos de informaçõese consultas pelo telefone 2282.1292.

7. Como nos anos anteriores, a Biblioteca pro-moveu permanente trabalho de encadernaçãode obras, que abrangeu 112 coleções de peri-ódicos e 188 livros, num total de 300 encader-nações, feitas por um profissional, o SenhorPaulo Roberto da Cruz, que há anos colabo-ra com a ABI.

7.1. Os periódicos encadernados neste exercí-cio social foram Aconteceu; Atualidades Cinóti-cas; Bayer Repórter; Brasília; Business Disco Show;Boletim da Federação Nacional dos Jornalistas Pro-fissionais; Brasileiros;Cadernos Cândido MendesEstudos Afro Asiáticos; Cadernos de Tecnologia e Ci-ência; Carioquice; Caros Amigos; CartaCapital;CEI: Suplemento; A Cigarra; Cinejornal; Comu-nità Italiana; Contos e Novelas; O Cruzeiro; Cult-Revista Brasileira de Literatura; Época; Eu SeiTudo; O Globo Digital; O Globo Revista; O Glo-bo Rio+20; Guanabara em Revista; IMS-Cader-nos de Pós Graduação; Imprensa; Interciência; In-tervalo; IstoÉ; Jornal da ABI, Edições 362-373,janeiro-dezembro de 2011; Jornal da ABI-Aimprensa e o Dia da Imprensa, Edição Especial,maio de 2011; Mamulengo; Meio & Mensagem;Metaxis-Revista do Teatro do Oprimido; Micro Sis-temas; Mundo Econômico, Político & Social; Ne-

gócios da Comunicação; OK; A Palavra P; Perce-vejo; Placar; Recine; Revista Civilização Brasilei-ra, 1-2, julho-novembro de 1967/68; Revista doInstituto Histórico e Geográfico Brasileiro; Revistado IV Centenário de São Paulo; Rumos-Os cami-nhos do Brasil ao debate; Saúde, Sexo &Educação;Sul Boletim de Novas Tecnologias de Comunicação;Teatro Brasileiro; Veja; Veja Rio.

7.2. Entre os livros encadernados figuraram osque careciam dessa providência para sua preser-vação e obras de significativo valor literário,cultural, histórico ou político, como a destesautores brasileiros: Affonso Celso, AfrânioCoutinho,Álvaro Lins, Antônio Callado, Augus-to Maurício, Azevedo Amaral, Barão de Teffé,Basílio de Magalhães, Caio de Melo Franco,Cândido Portinari, Carlos Chagas, Casimiro deAbreu, Cassiano Ricardo, Cecília Meireles, Cher-mont de Brito, Cláudio de Souza, Clóvis Melo,Cornélio Penna, Darcy Ribeiro, De Plácido e Sil-va, Ernani Fornari, Euryalo Canabrava, Frank-lin de Oliveira, Gastão Cruls, João Ribeiro, JoãoRodolfo do Prado,Jorge de Lima, José de Alencar,José Inácio de Abreu e Lima, José Maria Bello, JoséMarques de Melo, José Veríssimo, Jota Rui, JúliaLopes de Almeida, Luís Delfino, Luís GuimarãesFilho, Luiz Alberto Moniz Bandeira, Machadode Assis, Magalhães Júnior, Manuel Antônio deAlmeida, Marilena Chauí, Mário Pederneiras,

SALÃO DE ESTAR DO ONZEENCARREGADO:

ANTÔNIO FIGUEIRA DA SILVA

O Salão do 11º andar recebe diariamenteuma média de 30 pessoas entre sócios e vi-sitantes que se servem de café, têm acessoà leitura dos jornais diários da cidade do Riode Janeiro – e aos jogos de sinuca, bilhar-francês, dama e xadrez. A televisão continuacom a programação da Sky Directv e fun-ciona das 10 horas às 19 horas de segundaa sexta-feira.A bandeira do Brasil continua em bom esta-do; quando é necessário pelas chuvas e ven-tos, é logo trocada. A copa vem sendo utili-zada diariamente pelos funcionários para fa-zer o café da manhã, à tarde na hora do al-

moço para lavar os pratos na pia de inox apósas refeições.O primeiro refeitório da Casa (antiga sala daDiretoria Cultural), que começou a ser uti-lizado pelos funcionários a partir de 11 de de-zembro de 2009, possui um ar-condicionado,uma boa mesa de mármore com oito cadei-ras de madeira, um porta-copos, uma estu-fa, um microondas e uma geladeira.A sala da Redação continua sendo utiliza-da diariamente pelos associados que prefe-rem mais privacidade ou quando precisamusar a máquina de escrever. O serviço demanutenção dos tacos da sinuca continuasendo feito duas vezes por semana pelo se-nhor Roberto.As poltronas do Salão encontram-se em per-feito estado e visualmente a cor marrom do

courvim combina com o piso de tábua cor-rida, ficando de bom gosto e padronizandoo estilo e as cores das poltronas da Casa. Nosbanheiros masculinos e femininos, troca-ram-se duas válvulas para o bom funciona-mento das descargas; foram retirados os vi-dros quebrados e novos foram colocados naSala de Recepção. As trocas de lâmpadas es-tão sendo feitas pelos funcionários da ma-nutenção.A sala do Arquivo Geral da ABI continua degrande utilidade; nela são guardados docu-mentos da Contabilidade, Recursos Huma-nos e Tesouraria. A sala de reuniões para aten-der os diretores, conselheiros e sócios tem umamesa e cadeiras de madeira folheadas de sucu-pira muito bem acabadas e envernizadas e umar-condicionado.

Martins Fontes, Murilo Mendes, Olavo Bilac,Olegário Mariano, Oranice Franco, Osório Du-tra, Paulo Duarte, Paulo Setúbal, Reis Perdigão,Roberto Da Matta, Roberto Macedo, RochaPombo, Sílvio Romero, Stanislaw Ponte Preta,Tasso da Silveira, Tiago de Melo, Vicente deCarvalho, Visconde de Taunay.

7.3. Entre os autores estrangeiros incluídos narelação de obras agora encadernadas constam A.Conan Doyle, A. J. Cronin, Aldous Huxley,Alfred de Musset, Almeida Garret, André Mal-raux, Anna Seghers, Antonio Pasquali, ArnoldNietzsche, Bernardim Ribeiro, Camilo CasteloBranco, Carlos Devinelli, Charles Darwin, Char-les Dickens, Daphne Du Maurier, Eça de Quei-rós, Edgar Alan Poe, Edgar Wallace, Eric Bentley,Fidelino de Figueiredo, Guerra Junqueiro, H.G.Wells, John dos Passos, Jorge Werthein, JúlioDantas, Karl Marx, Luiz Góngora, Morris West,Pearl S. Buck, Prosper Merimée, Robert Louis Ste-venson, Thomas Mann, Thomaz Ribeiro Co-laço, W. Somerset Maugham, Walter Lippman,William M. Trackeray, William Faulkner, Willi-am Shakespeare.

7.4. As listagens desses autores e de suas res-pectivas obras poderão ser encontradas pro-ximamente no ABI Online ou diretamentena Biblioteca.

ADMINISTRAÇÃO DOS AUDITÓRIOSENCARREGADOS:

ROBSON DE ALMEIDA RAMOS,FUNCIONÁRIO DA TESOURARIA, ELAINNE DIAS TEIXEIRA DA SILVA,

ASSESSORA DA PRESIDÊNCIA

1. Como é antiga tradição da ABI, o Auditó-rio Oscar Guanabarino, situado no nono an-dar do Edifício Herbert Moses, continuou noexercício social de 2012 a ser um dos principaiscenários de eventos do Centro do Rio de Janei-ro, graças à sua localização privilegiada – per-to da Estação Cinelândia do metrô e dos pon-tos finais de ônibus de linhas para diferentesáreas da Cidade –, de sua capacidade (600 pes-soas sentadas) e do renome que granjeou, aolongo de décadas, como sede e palco de mani-festações de variada natureza – atos políticos,reuniões culturais, assembléias sindicais, lan-çamentos de livros, entre outras realizações.

1.1. Além de sediar eventos,o Auditório cons-tituiu uma fonte da receita para a ABI, que ar-

No Salão do 11º andar, o serviço de limpezae manutenção dos móveis, mesas, poltronas,tv, mesas de sinuca e de bilhar-francês, das ja-nelas, da varanda, dos pisos de azulejo, detábua corrida, de mármore, dos banheiros, darecepção e seu balcão, do salão da Barbearia,da sala do Conselho Fiscal, da sala de Reda-ção e do refeitório é feito diariamente pelo fun-cionário Edílson Oliveira de Menezes.Através de uma parceria entre a AcademiaNacional de Tango do Brasil e a ABI, vem sen-do realizado um curso de tango e dança desalão com estilos variados como: samba, rockand roll (fox), soltinho, forró, bolero, salsa/merengue e valsa (15 anos). As aulas acon-tecem duas vezes por semana e os associa-dos da ABI têm desconto de 50%. O mestreé o tangueiro Don Paulo.

recadou durante o exercício R$ 70.011,00 pelalocação desse espaço, ainda que em numero-sos casos cedesse gratuitamente o uso de suasinstalações. Ao todo foram realizados 46 atosno Auditório, entre os quais figuraram trêscultos religiosos, dois lançamentos político-eleitorais, três lançamentos de livros. No au-ditório menor, a Sala Belisário de Souza, reali-zaram-se em grande parte das segundas-feirasdo exercício social as sessões do Movimento emDefesa da Economia Nacional-Modecon, fun-dado por inspiração de Barbosa Lima Sobrinhoe Henrique Batista Aranha Miranda e presidi-do até recentemente pela Doutora Maria Au-gusta Tibiriçá, que completou 90 anos e pas-sou o bastão de direção da instituição ao Pro-fessor Lincoln de Abreu Penna.

1.1.1. Nesta Sala têm lugar também, acada 15 dias, as sessões de cinema da Casa daAmérica Latina, que exibe, com entrada franca,sobretudo produções cinematográficas de pa-íses do Continente que dificilmente chegarãoàs telas dos cinemas comerciais. Apesar doalto valor da cinematografia apresentada, as

sessões ainda não contam com o público quemerecem.

1.2. No Auditório Oscar Guanabarino aABI promoveu no exercício social destaca-dos eventos, como, por iniciativa do asso-ciado Francisco Ucha, um dos editores do Jor-nal da ABI, uma exposição comemorativados 90 anos do chargista e desenhista Gu-temberg Monteiro, a qual atraiu à Casa, em6 de junho de 2012, seus companheiros detrabalho no Brasil antes que ele se radicas-se nos Estados Unidos, onde viveu a maiorparte de sua vida profissional. Foi essa úl-tima homenagem que Gute, como era co-nhecido, recebeu em vida: em 10 de dezem-bro passado, uma isquemia cerebral o tiroude nós, aos 96 anos.

1.3. Foi também no Auditório Oscar Gua-nabarino que a ABI celebrou dois momentosimportantes da cultura brasileira: em 5 dejulho, o ato comemorativo do centenário dojurista, professor e jornalista Osny Duarte

Pereira; em 19 de outubro, a sessão em home-nagem aos 90 anos do escritor e teatrólogoDias Gomes. Em ambos os casos, tivemoscasa cheia.

1.4. Além dos atos de sua iniciativa, a ABIfranqueou seu Auditório para promoções deentidades de relevante atuação social ou cul-tural, como a Fundação Abring, a instituiçãoAlcoólicos Anônimos, a Voluntários da Vidae a Casa do Compositor Musical, que em 11de outubro, como faz há anos, sem quaisquerônus, assim como as demais instituições ci-tadas, festejou o Dia Nacional do Composi-tor. Também na ABI foram lançados, emnoites de autógrafos, no dia 7 de agosto, obrado escritor Aristeu Barreto; no dia 11 de setem-bro, livro do engenheiro Fernando Siqueira, ex-Presidente da Associação dos Engenheiros daPetrobrás-Aepet. No Auditório realizou-setambém, no dia 17 de abril, ato do Movimen-to dos Trabalhadores Rurais Sem Terra-MST,com a presença de seu principal líder, JoãoPedro Stedile.

11JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013 • RELATÓRIO DA DIRETORIA

REPRESENTAÇÃODE MINAS GERAIS

TITULAR: JOSÉ EUSTÁQUIO DE OLIVEIRA(TAQUINHO)

DIRETOR DE REPRESENTAÇÃO

1.Inaugurada oficialmente em lº de junho de2011, em ato que contou com a presença doGovernador Antônio Anastasia e de destaca-dos jornalistas de Belo Horizonte, a Represen-tação de Minas Gerais da ABI desenvolveu noexercício social atividades relacionadas com adefesa da liberdade de imprensa e o respeito àética na edição de publicações, sobretudo deveículos eletrônicos, cujo cotidiano tem igno-rado normas dessa natureza, como no caso doperiódico Novojornal, que agride pessoas e ins-tituições e desrespeita a própria Justiça.

2. Afora as intervenções de caráter pedagógi-co que vem fazendo, a Representação não pôdeadotar iniciativas que a valorizassem perantea comunidade jornalística de Minas Gerais,ainda que numerosas propostas com esse fimfossem discutidas.

3. A ABI acredita que essas dificuldades serãocontornadas no exercício social que se inicia,tendo em vista a qualificação profissional e orenome dos jornalistas que integram a Represen-tação, como o Professor José Mendonça, seu Pre-sidente de Honra, o próprio Taquinho, Carla Kre-eft, Dídimo Paiva, Durval Guimarães, EduardoKattah, Gustavo Abreu, José Bento Teixeira deSalles, Lauro Diniz, Leida Reis, Luiz Carlos Bernardes,Márcia Cruz e Rogério Faria Tavares.

REPRESENTAÇÃO DE SÃO PAULOTITULAR: RODOLFO KONDERDIRETOR DA REPRESENTAÇÃO

1. Embora afetada pelo afastamento do seuDiretor Rodolfo Konder, membro efetivo doConselho Deliberativo da ABI, que sofreu umacidente doméstico e se afastou da rotina desuas atividades para se submeter a exames ecirurgias em vários meses do exercício social2012-2013, a Representação de São Paulo man-teve atuação destacada no principal evento doEstado relacionado com os direitos humanos,qual seja a organização e realização do PrêmioVladimir Herzog de Direitos Humanos, criadopelo Instituto Vladimir Herzog, com a colabo-ração de organizações da sociedade civil, entreas quais a ABI.

1.1. A jornalista Rosani Abou Adal, que é só-cia da Casa, editora do periódico cultural Lin-guagem Viva e assistente da Representação deSão Paulo, representou a ABI nos eventos ereuniões promovidos pelo Instituto para defi-nir sua programação em 2012 e 2013. Entreesses eventos figurou, em 21 de outubro doexercício social, a entrega do Prêmio VladimirHerzog de 2012, em concorrido ato públicorealizado na Pontifícia Universidade Católica deSão Paulo-Puc-SP.

1.2.Entre os eventos de que a Representaçãode São Paulo participou, estavam o espetácu-lo Resistência Concerto Coral, realizado no domin-go 21 de outubro no Auditório do Colégio Sion,com o apoio das entidades que organizam oPrêmio Vladimir Herzog; o lançamento do li-vro Memórias de um Sobrevivente, do jornalis-ta e acadêmico Arnaldo Niskier, que conta ahistória da revista Manchete e da Bloch Edito-res; o seminário da Associação Brasileira dasAgências de Comunicação-Abracom, realiza-do em 4 de dezembro no Centro de CulturaBritânico; o seminário comemorativo dos dezanos de criação da Associação Brasileira de Jor-nalismo Investigativo-Abraji, realizado em 6 dedezembro na Escola de Comunicações e Artesda Universidade de São Paulo-Eca-Usp; a 66ªCaravana da Anistia, realizada durante o diainteiro, das 10 às 17h, em 8 de dezembro noAuditório Vitae, no quinto andar do Memori-al da Resistência; o lançamento da 10ª ediçãodo Prêmio Líbero Badaró de Jornalismo, promo-

TV!, sediada em São Paulo, continue a descum-prir obrigações trabalhistas para com seus tra-balhadores, inclusive atrasando salários por trêsmeses, enquanto seu proprietário, AmilcareDallevo, constrói na capital paulista umamansão suntuária com mais de mil metrosquadrados e que conta até com heliporto.Konder e Akel sublinharam que esse compor-tamento da RedeTV! é inadmissível, pois aexploração de canais de televisão depende deconcessão pública, que tem de ser fiscalizadacom rigor pelo Governo. Diante do silêncio daPresidente e do Ministro, que não se manifes-taram sobre a irregularidade denunciada, aadministração central da ABI reiterou agora em2013 a solicitação feita a ambos.

3. Para ampliar a oferta de serviços aos associ-ados de São Paulo, a Representação firmouconvênio com a rede de hotéis Travel Inn, paraconcessão aos sócios da Casa de descontosdiferenciados em suas tarifas.

4. Mesmo nos momentos mais difíceis queviveu ao longo do ano, o Diretor Rodolfo Kon-der manteve contato com os demais mem-

BALANÇO PATRIMONIAL SIMPLIFICADO 2012

vido pela revista Imprensa e que conta com oapoio cultural da ABI: a cerimônia de entregado atestado de óbito retificado do jornalistaVladimir Herzog, em 15 de março de 2013, emcomovente cerimônia realizada no Instituto deGeociências da Universidade de São Paulo, con-forme o Jornal da ABI noticiou em sua Edição388, de março passado.

1.3. Rosani Adal participou de todas as reuniõese da entrega do Prêmio Vladimir Herzog, comoa reunião extraordinária da comissão organiza-dora da 34ª edição do Prêmio. Entre as decisõesrelacionadas com o Prêmio Herzog de 2013 des-tacou-se a que determina que este ano o PrêmioEspecial será concedido a uma mulher: até hojenenhuma foi agraciada. Os vencedores do Prêmioconcorrerão, por sorteio, a uma viagem à Áfricado Sul, para visitar o Museu do Apartheid.

2. Em petição firmada por Rodolfo Konder eJames Akel, membro do Conselho Consultivo,a Representação de São Paulo dirigiu expedienteà Presidente da República Dilma Rousseff e aoMinistro das Comunicações Paulo Bernardopedindo providências para impedir que a Rede-

NOTAS EXPLICATIVAS ÀSDEMONSTRAÇÕES CONTÁBEISEM 31 DE DEZEMBRO DE 2012 (Em Reais)

1. CONTEXTO OPERACIONALA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA- ABI, sediada na Rua Araújo Porto Alegre,71 - Castelo - Rio de Janeiro - RJ, CEP:20030-012, legalmente constituída eregistrada com situação ativa no cadastroda Secretaria da Receita Federal do Brasil,CNPJ Nº 34.058.917/0001-69, é umaentidade sem fins lucrativos, reconhecidacomo de utilidade pública no Governo deWenceslau Braz P. Gomes em 14 de julhode 1917, através do Decreto nº 3.297. AABI vem atuando há um século naassistência social dos jornalistas e suasfamílias, na promoção cultural de seusassociados e na defesa dos interesses do

bros do Conselho Consultivo da Represen-tação (Fausto Camunha, George BenignoDuque Estrada, James Akel, Luthero May-nard e Reginaldo Dutra), não suspendeu apublicação regular de seus artigos e crônicasno Jornal da ABI e em fevereiro de 2013 retor-nou às atividades da Representação uma vezpor semana; a partir de março, duas vezes porsemana. A partir dessa época retornou tam-bém às reuniões do Conselho Municipal deEducação da Cidade de São Paulo, de que émembro efetivo.

Os jornalistas Alberto Dines e Lúcio Flávio Pinto foram homenageados durante o Prêmio VladimirHerzog de Direitos Humanos. A Ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, prestigiou a cerimônia.

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12 JORNAL DA ABI • ABRIL DE 2013 • RELATÓRIO DA DIRETORIA

País e do povo brasileiro, promovendo,inclusive a filantropia, conforme oestabelecido em seu estatuto.

2. APRESENTAÇÃO DASDEMONSTRAÇÕES CONTÁBEISAs demonstrações financeiras foramelaboradas em obediência às práticascontábeis adotadas no Brasil e aos Princípiosde Contabilidade emanados do ConselhoFederal de Contabilidade.

3. SUMÁRIO DAS PRINCIPAISPRÁTICAS CONTÁBEISAs principais práticas adotadas pela ABI naelaboração das demonstrações contábeissão as seguintes:

a) Determinação do ResultadoO resultado é apurado em obediência aoregime de competência de exercícios.

b) Ativo ImobilizadoEstá registrado ao custo de aquisição. Adepreciação é calculada pelo método linear,com base em taxas determinadas em funçãodo prazo de vida útil estimada dos bens.

c) Isenção de TributosA ABI tem isenção dos seguintes tributos,conforme legislação em vigor:Imposto de Renda de Pessoa Jurídica - IRPJContribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLLContribuição da Seguridade Social - COFINSImposto sobre Serviços - ISS

d) PIS sobre a Folha de PagamentoHá incidência de 1% sobre a folha depagamento salarial, sendo que a ABI efetuao pagamento mensal dentro do vencimento.

e) Contribuições Previdenciárias – CotaPatronalA isenção previdenciária da cota patronal éa permissão de não recolher ao InstitutoNacional do Seguro Social (INSS)contribuição de 20% sobre a folha desalários da entidade sem fins lucrativos. AABI possuía esta isenção, que foicancelada em 18/08/2003. Tramita naCâmara dos Deputados o Projeto de Lei nº2.713/2011, o qual concede isençãotributária à Associação Brasileira deImprensa, à Academia Brasileira de Letrase ao Instituto Histórico e GeográficoBrasileiro e cancela os débitos fiscaisdessas instituições. O Projeto encontra-sena Comissão de Constituição, Justiça eCidadania, na qual tem como relator oDeputado Alessandro Molon (PT-RJ).

f) Demais Ativos e PassivosOs demais ativos e passivos, classificadosem circulantes e não circulantes, estãoapresentados pelo valor de custo ourealização.

PAULO ROBERTO DAYUBE CRUZCONTADOR – CRC RJ 072164/O-0

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA

OSCAR MAURÍCIO DE LIMA AZÊDOPRESIDENTE

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO SIMPLIFICADO 2012

g) Apuração do ResultadoO resultado apurado foi um superávit de R$409.500,30 (quatrocentos e nove mil,quinhentos reais e trinta centavos). Nesteexercício houve uma redução de cerca de12,83% no total das receitas e uma reduçãode 5,36% nas despesas.

4. DISPONIBILIDADESRepresentam os valores das contas Caixa eBancos, as quais foram analisadas econciliadas no valor de R$ 282.219,86.

5. ATIVO NÃO CIRCULANTE –CRÉDITOS A RECEBERO valor de R$ 140.810,52 (cento e quarentamil,oitocentos e dez reais e cinquenta e doiscentavos), s.m.j., resulta de vários direitosque continuam merecendo providênciasjudiciais para o seu recebimento.

6. ATIVO NÃO CIRCULANTE –DEPÓSITOS JUDICIAISA ABI tem por decisão judicial, desde 2006,bloqueado o montante de R$ 166.582,22nos Bancos:Bradesco conta nº 1010266-9valor R$ 34.591,45Bradesco conta nº 1011882-4valor R$ 57.637,29Santander conta nº 13.000262-3valor R$ 73.085,63Itaú conta nº 11122-1valor R$ 1.267,85

7. IMOBILIZADOOs valores do balanço patrimonial nãoretratam o preço real dos bens móveis eimóveis no valor de R$ 1.003.060,71. Quantoaos valores dos imóveis, torna-se necessárioproceder a uma reavaliação por perito ouempresa especializada, de modo a ajustarseu valor contábil ao de mercado.

8. CONTRIBUIÇÕES SOCIAISa) INSS Empregador a RecolherOs valores apurados até abril de 2004 eatualizados até dezembro de 2007 são de R$3.460.100,64 (três milhões, quatrocentos esessenta mil, cem reais e sessenta e quatrocentavos) e não foram reconhecidos nopassivo em função das informaçõesconstantes da Nota 3e. Mesmo assim, oINSS está dando andamento ao processo decobrança com conseqüente execução dodébito. O Projeto de Lei nº 2.713/2011 visa aanular os débitos fiscais.

b) INSS Empregados e Autônomos aRecolherOs valores históricos das retenções dascontribuições à previdência social dosempregados e dos autônomos feitas pela ABIe não recolhidas ao INSS, prática de gestõesanteriores, estão em processo de execução.Cabe ressaltar que a administração atual, a

11. PASSIVO NÃO CIRCULANTE -JUROS E MULTAS A PAGARO valor representa a multa e os jurosrelativos ao passivo com o INSS, nãoatualizado por estar aguardandoorientação jurídica quanto à Ação deExecução Fiscal 2006.51.01.526985-1, emcurso na 5ª Vara Federal de ExecuçãoFiscal do Rio de Janeiro, e considerando ainformação da nota explicativa 3e. A ABIespera obter sucesso com a AçãoOrdinária Tributária movida contra a Uniãopara anular os débitos fiscais no valor deR$ 115.631,72.

12. PASSIVO NÃO CIRCULANTE -CEDAEA ABI renegociou a dívida junto à CEDAEem 80 (oitenta) parcelas de R$ 2.901,85(dois mil, novecentos e um reais e oitenta ecinco centavos). O montante da dívida erade 144.649,5751 UFIR, em outubro de 2005,totalizando R$ 232.148,00 (duzentos e trintae dois mil, cento e quarenta e oito reais). AABI pagou a última parcela prevista nocontrato em julho de 2012 no valor deR$ 4.113,83.

partir de maio de 2004, passou a adotar oprocedimento de efetuar a retenção e orecolhimento mensalmente no vencimento. Ovalor retido atualizado até dezembro de 2007totaliza R$ 375.785,61 (trezentos e setenta ecinco mil, setecentos e oitenta e cinco reais esessenta e um centavos). A atualadministração requereu à Secretaria daReceita Federal o parcelamento do débitoconforme o disposto na Lei nº 11.941/2009(NE 13). No mês de julho de 2011 a ReceitaFederal processou a consolidação dos débitosem 120 prestações para pagamento até junhode 2021. A ABI efetua mensalmente, dentrodo vencimento, o devido pagamento.

9. FORNECEDORESOs valores desta conta representam asobrigações de curto prazo com fornecedoresde materiais e prestadores de serviços novalor de R$ 4.027,62.

10. EMPRÉSTIMOSA ABI captou recursos de associado/diretorem época passada e até a presente data.Esta dívida, no valor de R$ 11.000,00,permanece em aberto.

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO SIMPLIFICADO

RELATÓRIO DA DIRETORIA • EXERCÍCIO SOCIAL 2012-2013

19JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013

RODOLFO KONDER, jornalista e escritor, é Diretor da Representação daABI em São Paulo e membro do Conselho Municipal de Educação daCidade de São Paulo.

REFLEXÕES

POR RODOLFO KONDER

O Poder e a liberdade

E m 1974, uma das inú-meras determinaçõesenviadas pela Censu-

ra aos veículos de comunicaçãodizia: “De ordem superior, ficaterminantemente proibida a di-vulgação de notícias, transcri-ções, comentários, informa-ções, referências a noticiáriosestrangeiros, vinculações dire-tas e indiretas a outras maté-rias, através dos meios de co-municação social, escritos, fa-lados e televisados, relativos aDom Helder Câmara. Assina-do: General Antonio Bandeira.”

Em 1663, na Inglaterra, JohnTwyn foi condenado por trai-ção por escrever um livro emque exortava o povo a aban-donar sua lealdade ao ReiCharles II. Dizia a sentença:“O Tribunal decide que sereistransportado por uma carro-ça para o local da execução. Ali,sereis enforcado pelo pescoço,e, permanecendo vivo, vossaspartes privadas serão cortadas,vossas entranhas serão arran-cadas do vosso corpo. Vossacabeça será cortada, vosso cor-po será dividido em quatropartes. Cabeça e membros se-rão expostos, para o prazer desua majestade real.”

Na Inglaterra do século 17 e no Brasil do sé-culo 20, os fatos mencionados estão mais pró-ximos do que sugerem as datas e a geografia.Nos dois casos, estamos diante do conflito per-manente entre a liberdade de expressão e in-

Na democracia, é a sociedade que organiza e disciplina o Estado.

ELIANE SOARES

melhorá-las? Sabemos que oslimites à livre expressão e à li-vre informação nunca desapa-recem por completo. Entre a li-berdade ilimitada e os perigosde se limitar a liberdade as so-ciedades caminham sobre o fiode uma navalha. Mas cumpredefinir exatamente quais são oslimites estabelecidos, de quemaneira se faz o controle equem se beneficia dele. Se so-mente podemos publicar o quea autoridade aprova, a verda-de se confundirá com o poder.

Num sistema democrático,famílias, escolas, igrejas, parti-dos, clubes, associações, sindi-catos, meios de comunicação –muitos agentes contribuempara a educação política daspessoas. Já nos sistemas auto-ritários desaparece a pluralida-de de agentes, ou ficam todossubordinados a um só coman-do – o do governo.

Numa democracia, aceita-sea crítica, a controvérsia, a hete-rogeneidade. A segurança decor-rerá sempre da vontade sobera-na da nação, da participaçãopopular, da solidez das institui-ções legítimas, como o Congres-so e a Justiça, porque não é o Es-tado que disciplina e organiza a

sociedade. Ao contrário, na democracia é a so-ciedade que organiza e disciplina o Estado.

formação, de um lado, e a segurança nacional,do outro.

As relações entre algumas liberdades essen-ciais e a natureza mais íntima do poder não têmsido fáceis, aqui ou lá fora. O que fazer para

20 JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013

LIBERDADE DE IMPRENSA

Mais um repórter do jornal Vale do Açofoi assassinado, no fim da noite de um do-mingo, 14 de abril, no bairro de São Vicen-te, no Município de Coronel Fabriciano,Minas Gerais. O fotógrafo Walgney As-sis Carvalho, de 43 anos, foi morto comtrês tiros à queima-roupa, por um homemencapuzado, dentro de um pesque-pagueque ele costumava freqüentar. O caso é se-melhante ao do jornalista Rodrigo Neto,de 38 anos, morto também a tiros 37 diasantes em Ipatinga, na região do Vale doAço. Os dois trabalharam juntos na Re-dação do veículo impresso e na Rádio Van-guarda e eram responsáveis pelas cober-turas policiais.

Apurou a Polícia Militar que o assas-sino de Walgney estava rondando desdeo início da noite o local onde ele foi mor-to. Depois de fazer várias ligações pelocelular, o homem se aproximou e o ba-leou friamente por volta das 22 horas.Um dos tiros atingiu a cabeça do fo-tógrafo e outro pegou na axila. Apóso crime o assassino fugiu a pé e acerca de 50 metros do pesque-pa-gue subiu em uma moto NX pre-ta. Walgney morreu na hora,sem chance de ser socorrido.

Freelancer do Vale do Açohá cinco anos, o fotógrafotambém fazia trabalhospara a perícia da PolíciaCivil da região. Ele fezreportagens em parce-ria com Rodrigo Neto,jornalista policial as-sassinado no dia 8de março, o qual,além de traba-

Mais um repórter assassinadono interior de Minas Gerais

Desde 20 de janeiro de 2012, quan-do o repórter e radialista Laécio deSouza, de 40 anos, de Camaçari, Bahia,foi morto depois de sair do trabalho naRádio Sucesso FM, até 14 de abril, fo-ram assassinados no Brasil 14 jornalis-tas, a maioria vítimas de represáliaspela independência com que exerciamsuas atividades profissionais. O último

Mortos 14 jornalistas no Brasil desde 2012O exercício da profissão está cada vez mais arriscado, sobretudo em áreas de

Mato Grosso do Sul e de Minas Gerais. O homicídio é represália ao jornalismo independente.

POR IGOR WALTZ2012• 9 DE FEVEREIRO

PAULO ROBERTO CARDOSO RODRIGUES (Paulo Rocaro), de 51 anos, editor-chefe do Jornal daPraça e do site Mercosul News, de Ponta Porã, Mato Grosso do Sul.• 12 DE FEVEREIRO

MÁRIO RANDOLFO MARQUES LOPES, de 50 anos, editor-chefe do jornal eletrônico Vassouras naNet, de Vassouras, Estado do Rio de Janeiro.• 24 DE MARÇO

ONEI DE MOURA, de 41 anos, diretor e sócio proprietário do jornal Costa Oeste, de SantaHelena, Oeste do Paraná.• 26 DE MARÇO

DIVINO APARECIDO CARVALHO, de 45 anos, apresentador da Rádio Cultura AM, de Foz do Iguaçu, Paraná.• 23 DE ABRIL

ALDENISIO DÉCIO LEITE DE SÁ (Décio Sá), de 42 anos, repórter do jornal O Estado do Maranhão,morto em São Luís, após deixar o trabalho.• 5 DE JULHO

VALÉRIO LUIZ DE OLIVEIRA, de 49 anos, comentarista esportivo da Rádio Jornal, de Goiânia, Goiás.• 4 DE OUTUBRO

LUÍS HENRIQUE GEORGES, de 44 anos, dono do Jornal da Praça, de Ponta Porã, Mato Grosso,morto em sua cidade.• 15 DE OUTUBRO

ANDERSON LEANDRO DA SILVA, de 38 anos, jornalista de Quem TV, de Curitiba, Paraná.• 28 DE OUTUBRO

EDMILSON DE SOUZA, de 40 anos, jornalista e apresentador da Rádio Princesa da Serra FM,morto em Itabaiana, Sergipe.• 21 DE NOVEMBRO

EDUARDO CARVALHO, de 51 anos, diretor do jornal Última Hora, de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

2013• 8 DE JANEIRO

RENATO MACHADO GONÇALVES, de 41 anos, da Rádio Barra FM, morto em São João da Barra,Estado do Rio de Janeiro.• 8 DE MARÇO

RODRIGO NETO, 38 anos, jornalista do periódico Vale do Aço e locutor da Rádio Vanguarda AM,de Ipatinga, Minas Gerais.• 14 DE ABRIL

WALGNEY ASSIS CARVALHO, repórter-fotográfico freelancer do Vale do Aço, de Ipatinga, MinasGerais, morto no Município de Coronel Fabriciano, no mesmo Estado.

abatido foi o fotógrafo Walgney AssisCarvalho, 43 anos, freelancer do jornalVale do Aço, morto em Coronel Fabrici-ano, Minas Gerais, em 14 de abril (vertexto abaixo).

Levantamento feito nos registros daCampanha Emblema de Imprensa (PEC, nasigla em inglês) e nas coleções do jornal OEstado de S. Paulo revela que foram mortosem 16 meses no País os profissionais rela-cionados no quadro ao lado.

lhar no jornal, atuava na Rádio Vanguarda(1170 AM), como co-apresentador doprograma ‘Plantão Policial’.

A polícia não se pronunciou sobre apossibilidade de a morte de Walgney teralguma ligação com o assassinato de Ro-drigo Neto. A Comissão de Direitos Hu-manos da Assembléia Legislativa de Mi-nas Gerais, que está ajudando nas apura-ções sobre a morte de Rodrigo, manifes-tou seu apoio nas investigações sobre o as-sassinato do fotógrafo.

No fim de março, a Ministra Maria doRosário, da Secretaria Nacional de Direi-

tos Humanos da Presidênciada República, esteve em

Belo Horizonte paracobrar agilidade nasinvestigações sobre amorte do repórter.

Separado da mulher, Walgney deixouuma filha de 14 anos. Seu corpo foi vela-do no Cemitério Municipal de CoronelFabriciano e enterrado no fim da tarde dasegunda-feira, 15 de abril.

Editoria sem repórterCom os dois assassinatos, o jornal

Vale do Aço ficou sem profissionais parafazer a cobertura de assuntos policiais,segundo o diretor da publicação, BrenoBrandão Pinto. “O repórter que estavacomo interino na vaga do Rodrigo Neto

comunicou que não quer mais conti-nuar nessa editoria. Precisamos

procurar por um repórter e umfotógrafo para a área”.

Brandão Pinto ressaltou a im-portância da atuação do Estadoe de seu papel. “O Estado tem o

dever constitucional de dar a se-gurança aos profissionais. É osegundo funcionário do Vale do

Aço, que trabalhava na editoriade polícia e que foi assassinado em

menos de 40 dias. Não é morte, éexecução”.

RITA BR

AGA

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Presidida atualmente por uma mu-lher, Ana Maria Machado, a AcademiaBrasileira de Letras acaba de ampliar oseu contingente feminino: no dia 11 deabril, a Casa de Machado de Assis elegeua escritora e jornalista Rosiska Darcy deOliveira para a cadeira número 10, vagacom a morte do escritor e poeta LedoIvo, falecido em 23 de dezembro passa-do em Sevilha, Espanha. Rosiska rece-beu 23 dos 38 votos possíveis, seguidado poeta Antônio Cícero, com seis vo-tos, do poeta Marcus Accioly, com cincovotos, e da historiadora Mary Del Pri-ore, com quatro votos. Participaram daeleição 38 acadêmicos, 26 presentes e12 por cartas.

“A Academia está muito contentecom a eleição da escritora Rosiska Dar-cy de Oliveira e se sente enriquecidacom o aumento de seu naipe feminino.Trata-se de uma pessoa muito compe-tente e de convívio admirável”, decla-rou o Secretário-Geral da ABL, GeraldoHolanda Cavalcânti, que presidiu a ses-são em substituição à acadêmica AnaMaria Machado, ausente por motivosparticulares.

Rosiska Darcy de Oliveira, que se no-tabilizou por sua destacada atuação emdefesa dos direitos da mulher nos anos1980, é bacharel em Direito pela Puc-Rio.Começou a carreira jornalística na revis-ta Visão, Jornal do Brasil e TV Globo, in-terrompida pelo exílio imposto pelo re-gime militar. Na Suíça, onde se asilou, fezdoutorado na Universidade de Genebra,na qual lecionou por dez anos. De voltaao Brasil, implantou no Rio de Janeiro oInstituto de Ação Cultural que fundarana Suíça. Integrou a delegação brasileiraà Conferência Mundial sobre População

Rosiska, mais umamulher na AcademiaJornalista, escritora e formada em Direito, ela foi uma das

líderes dos movimentos em defesa dos direitos da mulher nosanos 1980, após voltar de um exílio de dez anos na Suíça.

POR CLÁUDIA SOUZA no Cairo e co-chefiou a delegação brasi-leira à Conferência Mundial sobre a Mu-lher em Beijing, China.

No Governo Federal, presidiu o Con-selho Nacional dos Direitos da Mulher.Em 1996, fundou o Centro de Liderançada Mulher. Foi Embaixadora do Brasiljunto à Comissão Interamericana de Mu-lheres da Organização dos Estados Ame-ricanos-OEA e integrou o Conselho sobreMulher e Desenvolvimento do Banco In-teramericano de Desenvolvimento-Bid.Consultora de organismos internacionais,Rosiska é membro do Painel Mundialsobre Democracia da Unesco.

Escritora, conferencista e ensaísta, Ro-siska publicou na Europa seus dois primei-ros livros, Le Féminin Ambigu e La Culturedes Femmes. A obra Elogio da Diferença foipublicada no Brasil e nos Estados Unidos.Em In Praise of Difference, deu continuida-de à sua obra sobre o Feminino. Seu maisrecente ensaio, Reengenharia do Tempo, pro-põe uma nova relação entre vida privadae mundo do trabalho. Nos livros A Damae o Unicórnio, Outono de Ouro e Sangue, ANatureza do Escorpião e Chão de Terra ex-prime o gosto pela crônica.

Colunista dos jornais O Globo e Esta-do de S. Paulo, a nova acadêmica é profes-sora do curso de doutorado do Departa-mento de Letras da Puc-Rio e membrotitular do Pen Clube do Brasil e Presiden-te do Movimento Rio Como Vamos.

Condecorada com a Medalhas RioBranco por serviços prestados ao Brasil ea Medalha Tiradentes da Assembléia Le-gislativa do Estado do Rio de Janeiro, foiagraciada com os Prêmios RioMania, daAssociação Comercial do Rio de Janeiro,da qual é Vice-Presidente de Cultura;Orgulho Carioca, da Prefeitura da Cida-de do Rio de Janeiro, e Personalidade Ci-dadania 2006, da Unesco.

ELEIÇÃO

O Sindicato dos Jornalistas Profissio-nais no Estado de São Paulo entrou comuma interpelação judicial no dia 1º deabril contra o Vereador Coronel Paulo Lu-cindo Telhada (PSDB). A ação foi movi-da com o intuito de pedir explicações so-bre ameaças que ele teria dirigido à repórterLúcia Rodrigues, durante uma entrevistano dia 4 de março. Na época, Lúcia erarepórter da Rádio Brasil Atual, mas foidemitida pelo Diretor da Rede Brasil Atu-al, Paulo Salvador, poucas horas depois dea entrevista ir ao ar.

Durante a entrevista, sobre a contrata-ção de dois doadores de campanha paratrabalhar como assessor em seu Gabinete,o Vereador não teria gostado de uma per-

Sindicato interpela coronelque ameaça com paulada

Dublê de vereador, ele anuncia represália se repórter publicar a verdade.

POR IGOR WALTZ gunta e disse textualmente em áudio gra-vado por ela: “se quiser publicar o que vocênão deve publicar... Eu aconselho você atomar cuidado com o que você vai publi-car. Porque a paulada vem depois do mes-mo jeito, no mesmo ritmo”.

Lúcia decidiu procurar o Sindicato coma gravação da entrevista e depois de umaavaliação feita pelo Departamento Jurídi-co da entidade, decidiu-se pela interpela-ção judicial.

Este não é o primeiro incidente queenvolve o Coronel Telhada com jornalis-tas: André Caramante, repórter da Folha deS.Paulo, também enfrentou dificuldades edepois de sofrer ameaças ausentou-se porum período do País, por ter revelado que overeador do PSDB pregava a violência atra-vés de sua página no Facebook.

O jornalista Gilberto de Souza, Editor-Chefe do jornal brasiliense Correio do Bra-sil, foi agredido no início da tarde de 5 deabril por um segurança do prédio do Minis-tério do Trabalho, no Rio de Janeiro. Oagressor tentou impedir que Souza fizes-se uma reportagem sobre a demora na con-cessão de carteiras de trabalho.

“O segurança disse que eu não podiaconversar com as pessoas que estavam nafila, eu afirmei que continuaria a fazer meutrabalho. Ele então me chamou de frouxo,me chamou para a briga, me deu um soco equebrou meus óculos”, contou o jornalista.

De acordo com relatos do jornalista, osegurança parecia alterado. “Não revidei deimediato porque percebi que, se devolvessea agressão a um agente federal, uniformi-

Agente do Ministério do Trabalhoimpede reportagem com soco

zado, poderia receber voz de prisão alimesmo e, assim, o agressor teria conseguidoo seu intento, que era o de impedir que eucontinuasse com a reportagem. Em vez deme envolver na briga, fiz melhor: ligueipara o telefone da Polícia Militar, o 190, erelatei ao atendente que acabara de seragredido por um segurança do TribunalRegional do Trabalho”, contou.

Souza fora ao Ministério para obteruma segunda via de sua carteira de traba-lho e se surpreendeu com a demora naconcessão do documento. Decidiu, então,entrevistar algumas das pessoas na fila efazer uma reportagem sobre o assunto. Foientão abordado pelo segurança que viria aagredi-lo. Ele registrou queixa na Superin-tendência da Polícia Federal.

A Empresa Brasil de Comunicação-EBCdivulgou nota no dia 4 de abril na qual re-pudia a agressão sofrida na véspera pela re-pórter Pollyane Marques, após reunião daComissão de Direitos Humanos e Mino-rias da Câmara, presidida pelo DeputadoMarco Feliciano (PSC-SP). Relatou a EBCque Pollyane estava do lado de fora do ple-nário da Comissão, ao lado de outros jor-nalistas, tentando fazer perguntas ao par-lamentar quando foi empurrada e atingi-da por uma cotovelada no rosto.

“A EBC repudia a agressão sofrida pelajornalista que estava em cumprimentode seu trabalho e manifesta preocupaçãocom o ocorrido, pois fatos como esse de-terioram a imagem democrática do Par-lamento brasileiro”, diz um trecho docomunicado.

“Perguntei ao Deputado se era demo-crático fugir da imprensa. Quando per-guntei pela segunda vez, senti um empur-

Segurança de Feliciano agride repórter da EBCrão mais forte. Eu estava muito próximaao Deputado Marco Feliciano. Pergunteise era democrático os seguranças bateremna imprensa e, em seguida, senti a coto-velada, mas não consegui identificar oautor da agressão”, contou Pollyane.

Acompanhada por representantes daEBC, a jornalista prestou queixa na Polí-cia Legislativa da Câmara e fez exame decorpo de delito na sede da Polícia Civil doDistrito Federal. Ela teve ferimentos naboca e nos joelhos.

A direção da EBC solicitou audiênciacom o Presidente da Câmara, DeputadoHenrique Eduardo Alves (PMDB-RN) eapuração rigorosa do caso. “A gente querrepudiar a agressão feita em um ambienteda Câmara por causa de uma pergunta. Issonão é correto e queremos também fazer umalerta à instituição. Queremos saber o queaconteceu”, disse o Diretor-Geral da EBC,Eduardo Castro. (Cláudia Souza)

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É comum nos noticiários a expressão“arma de uso exclusivo militar”. A curi-osidade é saber que, até os primeiros anosdo século 20, no Brasil, uma dessas “ar-mas” era o rádio. Consideradas como es-tratégicas para a segurança nacional, asemissões radiofônicas em território bra-sileiro eram controladas exclusivamen-te pelo Exército. Uma exclusividade quefoi derrubada em 1919, através de uma leide Francisco de Sá, nome hoje pratica-mente esquecido pela História (ou, aomenos, pelo Google).

Assim, ainda no mesmo ano, no dia 6de abril, registra-se a primeira transmis-são civil realizada no País. Num estúdioimprovisado na Ponte d’Uchoa, no Recife,o telegrafista Antônio Joaquim Pereiracomanda este momento histórico, queganharia registro no Jornal do Recife: “Re-alizou-se ontem na Escola Superior deElectricidade, a fundação do Rádio Clube,sob os auspícios de uma plêiade de moçosque se dedicam ao estudo da electricidadee da telegrafia sem fio. Ninguém desconhe-ce a utilidade e proveito dessa agremiação,a primeira do gênero fundada no País”. Otal “Rádio Clube” era a PRA-8, Rádio Clubede Pernambuco, iniciativa que passouquase despercebida na época em virtudede um detalhe, digamos, prosaico: pratica-mente ninguém na cidade possuía apare-lho receptor de ondas de rádio.

Por isso, não são poucas as fontes queconsideram a primeira transmissão civilde rádio no País a iniciativa isolada feitapara comemorar o centenário da Inde-pendência, em 7 de setembro de 1922. Adelegação norte-americana presente naFeira Internacional realizada no Rio deJaneiro, com suporte técnico da Westin-ghouse Electric e da Companhia Telefô-nica Brasileira, instalou uma antena noalto do Morro do Corcovado (o Cristo Re-dentor só seria construído ali oito anosmais tarde) e de lá transmitiu, via rádio,um discurso de Epitácio Pessoa. A voz doentão Presidente foi captada por 80 recep-tores instalados em Niterói, na serra flu-minense e até em São Paulo. À noite, aópera O Guarani, de Carlos Gomes, foitransmitida do Teatro Municipal paraalto-falantes instalados no evento.

Mesmo sendo esta uma ação pontuale sem continuidade, a “magia do rádio”encantou o médico legista e professor deAntropologia Edgard Roquette-Pinto, quevislumbrou as possibilidades educativasdo invento. Trazer aquela caríssima e com-plicada parafernália elétrica para o Brasilpassou a ser uma obsessão para o professor.

Grandense, a Rádio do Maranhão, a Rá-dio Sociedade Educadora Paulista, a RádioClube de Ribeirão Preto. Todas na forma-tação de clubes e sociedades, mesmo por-que a legislação da época proibia a vendade publicidade no novo veículo, restan-do a contribuição dos sócios como únicafonte de renda. O rádio, que nascera emi-nentemente militar, agora era um empre-endimento totalmente bancado pela so-ciedade civil.

Mesmo assim, ainda não eram trans-missões contínuas. Geralmente elas ocor-riam à noite, em dias esparsos, e longosperíodos de silêncio poderiam separaruma atração da outra.

Vibrante atividade comercialEra necessária ainda uma dose maciça

de profissionalização, o que em outras pa-lavras significa verbas e investimentos.Neste particular, a Rádio Clube do Brasil,fundada em 1º de junho de 1924 por ElbaDias, é a primeira do País a conseguir umaautorização especial do Governo paratransmitir anúncios pagos. Pouco depois,Getúlio Vargas estende o benefício a todas,através do Decreto nº 21.111, de 1º demarço de 1932, que autoriza a inserção depublicidade comercial em até 10% do tem-po de programação das emissoras (atual-mente, este tempo é de 25%). Tudo se al-tera muito rapidamente. De meras trans-missões de atividades culturais direciona-das a um público elitista com condições decomprar um aparelho receptor, o rádio noBrasil se transforma em vibrante atividadecomercial. Ressaltando: eu disse “se trans-forma” e não “evolui”.

Visando a atrair mais público, e conse-qüentemente mais anunciantes, as rádios co-meçam a abrir sua programação para artistasde destaque na indústria fonográfica, dan-do início ao interminável triângulo amoro-so entre rádios, gravadoras e anunciantes.Batiza-se de “programista” o profissional es-pecializado em arrendar os espaços da emis-sora para que os anunciantes possam pra-ticamente produzir sua própria programa-ção, seguindo agora não mais os antigos in-teresses culturais, mas as novas motivaçõesfinanceiras e publicitárias.

Com o crescimento demográfico e eco-nômico que o Brasil experimenta nosanos 1920 e 1930, o rádio explode, e ra-pidamente se transforma no grande ve-ículo de comunicação de massa do País.Uma proliferação de emissoras e um usoabusivo do espectro das freqüências radi-ofônicas torna necessária uma normati-zação federal para evitar o caos no setor.

Um dos motivos da popularização dorádio foi a tecnologia bastante simplifi-

ANIVERSÁRIO

O rádio no Brasil hoje,90 anos após a sua criação

Apesar do registro de isoladas iniciativas anteriores, a fundação em 1923 da Rádio Sociedade do Rio deJaneiro, por Roquette-Pinto, é tida como o marco inicial da atividade radiofônica organizada no País.

POR CELSO SABADIN

O Governo federal não se sensibilizoucom os seus pedidos, mas finalmenteRoquette-Pinto conseguiu convencer aAcademia Brasileira de Ciências a impor-tar o equipamento. Tudo em nome da di-fusão do ensino e da cultura.

Para bancar os custos da operação, Ro-quette-Pinto se une ao engenheiro e geó-grafo francês Henri Charles Morize, Pre-sidente da Academia Brasileira de Ciên-cias, e juntamente com outros membrosda instituição forma uma sociedade comfinalidades educativas e culturais, na qualcada um dos sócios entra com doaçõespara manter a emissora. Nasce assim, em20 de abril de 1923, a Rádio Sociedade doRio de Janeiro, considerada de fato a pri-meira emissora radiofônica do País, emdetrimento da iniciativa natimorta daPRA-8 pernambucana.

Na programação, palestras, poesia, li-teratura, ciência e música erudita, comose fossem saraus-literários transmitidospelo “éter”, como se dizia na época, mascom uma importante diferença: pela pri-meira vez, o Brasil tinha uma voz unifi-cada, um idioma padrão. O País começa-va a se escutar. Sob o formato de uma as-sociação, o que explica tantas emissorasse autodenominarem “Rádio Sociedade”,começava a tomar corpo uma verdadeirarevolução nos hábitos e costumes de umpaís ainda isolado.

A iniciativa de Roquette-Pinto se alas-tra rapidamente pelo País, incentivandoa fundação de várias emissoras nos mes-mos moldes. Entre as pioneiras, a RádioClube Paranaense, a Rádio Sociedade Rio

cada do receptor, cujo rudimentarismopermitia a qualquer pessoa com um míni-mo de habilidade técnica montar um apa-relho numa caixa de charutos a custosbastante acessíveis.

O começo da popularidadeNos anos 1920 e 1930, rádios de lon-

go alcance em freqüências AM e ondascurtas, como a Rádio Nacional do Rio deJaneiro, a Rádio Tupi e a RádioRecord,chegavam a atingir praticamente a tota-lidade do território brasileiro, populari-zando músicas, intérpretes, hábitos, cos-tumes e times de futebol de São Paulo eRio de Janeiro.

Com a liberação da exploração co-mercial das emissoras, o início dos anos1930 marca a introdução do rádio comoespetáculo popular. Desponta o trabalhode profissionais que passam a se especi-alizar no novo veículo, como, por exem-plo, César Ladeira, a quem se atribui oconceito de que a emissora deve manter

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UÇÃO

Edgard Roquette-Pinto, o criador daRádio Sociedade do Rio de Janeiro.

Anúncios de 1932 (acima) e 1942 apresentam anovidade da década: receptores de rádio quetrazem “os grandes acontecimentos mundiais”.

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o seu próprio elenco de artistas exclusi-vos. Isso permite o surgimento e a pro-liferação de programas de auditório e hu-morísticos e novelas.

A mercantilização do rádio diminuiuseu aspecto cultural, mas acirrou seus ní-veis de competitividade, gerando desen-volvimento técnico e provocando a pro-fissionalização de seus artistas e técnicos.Uma profissionalização que atrai inves-timentos estrangeiros de anunciantes eagências publicitárias multinacionais.Bayer, Colgate e Gessy-Lever, apenas paracitar três exemplos, passam a ser nomesfortemente associados a radionovelas eprogramas de auditório

A revolução de CaséPara quem acha que as atuais rádios

corporativas são uma novidade, valelembrar que em 12 de março de 1930 aholandesa Philips chega a investir numaemissora própria, a Sociedade RádioPhilips do Brasil. É nela que em 1932 es-tréia o Programa Casé, que provoca umapequena revolução no rádio brasileiro.Ademar Casé, juntamente com o cartu-nista e compositor Antônio Nássara,cria este que é considerado o primeiroprograma da rádio comercial do Brasil.Eles foram pioneiros também na criaçãode jingles e responsáveis pelo lançamen-to de artistas importantes, como SílvioCaldas, Custódio Mesquita e Noel Rosa.Uma lenda não confirmada (entre tan-tas que o rádio criou) diz que Noel teriasido contra-regra do Programa Casé.

Neste mesmo ano de 1932, ironica-mente, o próprio Getúlio Vargas se trans-formaria num dos principais prejudicadosde um veículo que ele mesmo havia bene-ficiado. Quando irrompe em São Paulo aRevolução Constitucionalista e tropas fe-derais cercam a capital, as rádios paulista-nas, principalmente a Record, se constitu-em no principal instrumento de resistên-cia, irradiando ininterruptamente infor-mações e mensagens para a elevação do

moral dos combatentes, além de difundiro conflito para todo o País. A marcha Pa-ris Belfort se transforma no Hino dos Cons-titucionalistas. Getúlio sufoca a Revolu-ção e sai vencedor, mas o rádio se vê for-talecido como nunca ao descobrir sua vo-cação para a mobilização política.

O episódio faz Getúlio perceber naprópria pele a força e a importância darápida expansão da comunicação radio-fônica. Tanto que foi em seu Governo,mais precisamente em 22 de julho de1935, que nasce o que conhecemos hojecomo A Voz do Brasil, uma programaçãodiária que obrigatoriamente todas asemissoras do País deveriam transmitircom conteúdo noticioso produzido pelopróprio poder central. O autor da idéia éArmando Campos, amigo de infância deGetúlio. Inicialmente, a faixa noticiosaera transmitida com o nome de ProgramaNacional, passando depois para A Hora doBrasil e posteriormente para A Voz doBrasil. É o programa mais antigo ainda noar no rádio brasileiro.

A Rádio Philips também teria sido ví-tima da Revolução de 32. Segundo RafaelCasé, um dos netos de Ademar, por nãoter apoiado o movimento paulista, aemissora passou a ser boicotada em SãoPaulo, onde a venda dos produtos com amarca Philips despenca. Assustada coma repercussão negativa, a diretora da mul-tinacional decide abandonar a iniciati-va, vendendo-a então para o grupo con-trolador dos veículos A Noite, Noite Ilus-trada e Revista Carioca. É deste negócioque nasce, com estúdios instalados naPraça Mauá, a emissora que se transfor-maria num dos maiores ícones de toda aHistória do rádio brasileiro: a Rádio Na-cional do Rio de Janeiro.

“Alô, alô Brasil!”Inaugurada às 21 horas de 12 de setem-

bro de 1936, a PRE-8 Rádio Nacional doRio de Janeiro teve seus trabalhos aber-tos pela voz de Celso Guimarães, que

anunciou: “Alô, alô Brasil! Aqui fala aRádio Nacional do Rio de Janeiro!”. Emseguida, acordes de Luar do Sertão intro-duziram a bênção do Cardeal da cidade.

Como iniciativa privada, a rádio durapouco: cada vez mais atento ao poder decomunicação do veículo, Getúlio Vargasestatiza a Rádio Nacional em 8 de marçode 1940, transformando-a na rádio ofici-al do Governo brasileiro. Engana-se, po-rém, quem acreditava que ela passaria aveicular aborrecidos pronunciamentosoficiais, transformando-a num prolonga-mento do enfadonho A Hora do Brasil.Nada disso. Conhecedor das grandes as-pirações populares, Getúlio torna a RádioNacional extremamente lucrativa e com-petitiva, aplica seus lucros em equipa-mentos e artistas e contrata para a emis-sora o melhor elenco de músicos, canto-res e atores da época.

A audiência era maciça. Em 1941, es-tréia a radionovela Em Busca da Felicida-de, considerada por algumas fontes comoa primeira do País, embora outros estudi-osos atribuam este pioneirismo ao Progra-

ma Casé, cinco anos antes. Seus progra-mas marcaram época, como Balança masNão Cai (com Paulo Gracindo, BrandãoFilho e Walter D´Avila, entre outros), Pro-grama César de Alencar (de variedades) eas concorridas competições de auditórioque escolhiam as popularíssimas Rainhasdo Rádio.

O panorama radiofônico brasileiro doperíodo indicava uma forte concentraçãode emissoras no Rio e em São Paulo, como poder governamental, tanto federalquanto estadual, atuando fortemente nocontrole das estações de maior audiência.Os principais órgãos da imprensa diáriae as redes privadas de comunicação man-têm também as suas próprias emissoras.

Os anos 1930 terminam com aproxima-damente 80 emissoras de rádio instaladas noPaís. Entre as mais importantes e mais sig-nificativas, além da já citada Nacional, fi-guravam a Mayrink Veiga, a Record, a Jor-nal do Brasil, a Tupi e a Bandeirantes.

A Segunda Guerra Mundial e a conse-qüente e incessante busca por informa-ções que ela provoca no público faz queo rádio brasileiro passe a voltar suas aten-ções para o jornalismo. Neste aspecto, aRádio Nacional novamente sai na fren-te ao criar, em 28 de agosto de 1941, o his-tórico noticioso Repórter Esso. Nesta suaprimeira fase, as notícias eram redigidaspelo Departamento de Imprensa e Propa-ganda-Dip do Estado Novo, sob a super-visão da multinacional norte-americanado petróleo que patrocinava e dava nomeao jornal. A primeira notícia, sobre ata-ques de aviões alemães à Normandia, foilida por Romeu Hernandez. No ano se-guinte, entra no ar, em São Paulo, O Gran-de Jornal Falado Tupi, criação de Corifeude Azevedo Marques e Armando Berto-ni, com duração de uma hora diária.

Em 1944, segundo o Instituto Brasilei-ro de Geografia e Estatística-IBGE, o Bra-sil já contava com 106 empresas de radi-odifusão e 120 emissoras instaladas em21 Estados. É de 1944 também, mais pre-cisamente no dia 3 de maio, a inaugura-ção da Rádio Panamericana S.A. Seu pri-meiro prefixo musical foi devidamente“emprestado” das rádios de Londres: asprimeiras quatro notas do primeiro mo-vimento da 5ª Sinfonia de Beethoven (ofamoso tchan,tchan,tchan,tchaaaaan),que no Código Morse representavam o“V” da Vitória. No caso inglês, da vitóriasobre o nazismo. No mesmo ano a emis-sora foi comprada por Paulo Machado deCarvalho, passando a integrar o grupo daRecord e assumindo uma segmentação(novidade para a época) esportiva. Mui-to tempo depois, em 1965, seu nome se-ria alterado para Jovem Pan.

Ares de modernidadeTerminada a Guerra, derrotados os re-

gimes totalitários e saindo Getúlio doGoverno, o mundo passou a respirar aresnovos e mais modernos que provocariamuma série de mudanças na sociedade bra-sileira. E conseqüentemente, no seu ve-ículo mais popular.

O mercado radiofônico cresce acele-radamente não apenas em número deemissoras como também na qualidadedas transmissões e na popularização dasondas curtas, que levam o rádio a todos os

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Ademar Casé criou o primeiro programada rádio comercial do Brasil.

Heron Domingues foi um dos mais destacados apresentadores do Repórter Esso.

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cantos do País. O terreno está pavimen-tado para a entrada, em massa, dos gran-des patrocinadores, principalmente mul-tinacionais, que desenvolvem estratégi-as específicas para associar suas marcas aprogramas de grande audiência. A inven-ção do transistor, em 1947, torna o recep-tor menor, mais ágil e mais popular (em-bora o famoso “radinho de pilha” só viessea se popularizar no Brasil nos anos 1960).

Com a chegada dos anos 1950, São Paulocomeça a experimentar um vertiginosocrescimento industrial e assume a lideran-ça do setor, concentrando 38% de todas asemissoras do Brasil. Em 1951, o IBGE con-tabilizava 345 emissoras de rádio no País.Quatro anos depois, este número subiapara 539. Somados todos os assentos detodos os auditórios dessas emissoras (sim,as rádios da época ainda mantinham atradição de fazer programas de auditórioao vivo), chegava-se a quase 80 mil poltro-nas disponíveis em todo o País.

Também em 1955 acontece a primei-ra transmissão experimental de rádio

FM, empreendida pela Rádio Imprensado Rio de Janeiro. A “transmissão” alcan-çava apenas os próprios aparelhos insta-lados dentro da emissora.

A chegada do rockNeste momento, a necessidade norte-

americana de ampliar novos mercadosfaz do Brasil um grande e importante con-sumidor de itens industrializados. O bra-sileiro começa a se encantar com barbe-adores elétricos, aspiradores de pó, máqui-nas de lavar roupa, comidas enlatadas, li-quidificadores e, claro, supermercados.Felizmente para o rádio, os enormes re-ceptores de televisão, à venda por aqui apartir de 1950, ainda eram muito carospara o público em geral, e não ameaça-vam a supremacia popular radiofônica.

No embalo das horas, junto com todoo consumismo e os ares de modernidadeimpulsionados pelo Governo JK, desem-barcam também por aqui os irresistíveisacordes do rock. E as emissoras de rádiocorrem para abraçar a novidade. A Record

RÁDIO MAYRINK VEIGAAbrindo seus estúdios para as então es-

treantes Carmen e Aurora Miranda, a Rá-dio Mayrink Veiga tinha um talento espe-cial em descobrir e difundir nomes impor-tantes da música brasileira que viriam a setransformar em ícones da chamada “Era deOuro” do rádio. Fundada no Rio de Janeiropelo empresário Alfredo Mayrink Veigaem 21 de janeiro de 1926, chegou a liderara audiência nos anos 1930.

Em 1930, sob o comando de ValdoAbreu, estréia o Esplêndido Programa, quemarcou época e foi um dos grandes suces-sos da emissora. Em 1933, vindo da Re-cord, o paulista César Ladeira assume adireção artística e inicia o período demaior esplendor da Mayrink Veiga. Doelenco da rádio fizeram parte nomescomo Francisco Alves, Carmem Miran-da, Aurora Miranda, Carlos Galhardo,Jorge Fernandes, Noel Rosa, João Petra deBarros, Moreira da Silva e muitos outros.Entre os programas de maior sucesso,havia Canção do Dia e Trem da Alegria,ambos com Lamartine Babo; Picolino, comBarbosa Junior, e Horas do Outro Mundo,com Renato Murce.

A Mayrink Veiga prioriza programasde auditório e musicais, e inova ao fazerum acordo com os cassinos cariocas paratrazer artistas e cantores estrangeiros, es-pecialmente mexicanos e cubanos. Os ar-tistas se apresentam nas casas de show eparticipam dos programas da emissora.

No final dos anos 1940, metade dasações da rádio são vendidas para as Organi-zações Vítor Costa, lote repassado posteri-ormente para Assis Chateaubriand. Man-teve-se no ar com destaque até o golpe de1964, quando foi fechada pelo Governomilitar, já que entre seus sócios figurava oex-Governador Leonel Brizola, cunhado doPresidente deposto João Goulart.

lança Carrossel dos Bairros e Disque Disco,comandados por Julio Rosemberg e Mi-guel Vaccaro, nos quais o ouvinte podiapedir sua música favorita por telefone. NaRádio Nacional, Antonio Aguillar apresen-tava Ritmos Para a Juventude, enquanto naTupi, Carlos Imperial lançava novos talen-tos no seu histórico Clube do Rock. A Pana-mericana contra-atacava com o programa5ª Avenida, enquanto a Mayrink Veigaapresentava Hoje é Dia de Rock.

Concorrência ferozChega, porém, a virada da década, e

com ela o inevitável barateamento doscustos dos aparelhos de televisão. A ma-gia das imagens, antes restrita apenas àsclasses mais abastadas e aos seus “televi-zinhos”, aos poucos se espalha por outrascamadas sociais. Além de cooptar o públi-co, a tv também seduz artistas, cômicos,apresentadores e até orquestras inteirasaté então fiéis ao rádio.

Sem as suas maiores estrelas, perdendoaudiência e buscando cortar custos, o rádio

brasileiro abandona os programas de audi-tório e busca uma reformulação radical,apostando agora em música mecânica, ser-viços de utilidade pública, maior ênfase nojornalismo e em transmissões esportivas.

Em 1960, as 735 emissoras de rádio doBrasil (incluindo dez já operando em FM)são obrigadas a travar uma feroz concor-rência contra as 15 emissoras de televisãoinstaladas no País. Dois anos depois, a Leinº 4.115 garante acesso gratuito de parti-dos políticos e candidatos ao rádio e à tv:durante os 60 dias que antecediam o plei-to, as emissoras eram obrigadas a reservarduas horas de sua programação diária à pro-paganda eleitoral gratuita.

Contudo, toda esta democracia irradi-ada pelo ar sofreria, dois anos depois, opesado golpe da ditadura militar. Por maisque resistam, os departamentos jornalís-ticos das rádios mais combativas passama trabalhar sob mordaça. Incentivadospelo novo Governo, que prioriza a comu-nicação alienante, surgem os grandes co-municadores populares e seus programas

RÁDIO SOCIEDADE RECORDA Rádio Sociedade Record foi fundada

em São Paulo, em 1927, por Álvaro Libe-rato de Macedo. Seis anos depois, em 1931,ela é comprada por Paulo Machado de Car-valho e rebatizada como simplesmenteRádio Record. Logo no ano seguinte, aemissora ganha força e penetração ao seengajar de forma ampla e contundente naRevolução Constitucionalista, exigindoveementemente a deposição de Getúlio. Aemissora chegou a abrir seus estúdios emicrofones para que os revolucionárioslessem seus manifestos. Em 9 de julho de1932, data em que efetivamente estoura oconflito, o sempre eloqüente locutor Cé-sar Ladeira irradiou mensagens ufanistas,e poesias patrióticas escritas por Guilher-me de Almeida. Ladeira ficou conhecidocomo A Voz da Revolução, e a Record, comoA Voz de São Paulo.

Caindo definitivamente no gosto dospaulistas, a Record prosperou mesmo de-pois da vitória de Vargas. Transmitindoshows de artistas populares como Car-mem Miranda e Francisco Alves, ela chegaa rivalizar com a liderança da Rádio Na-cional e se tornou a pedra fundamentaldo grande grupo de comunicação que du-rante as décadas seguintes seria erguidopela família Machado de Carvalho.

RÁDIO JORNAL DO BRASILFundada em 10 de agosto de 1935, a

PRF-4 Rádio Jornal do Brasil foi pionei-ra em priorizar o conteúdo jornalísticoem sua programação. Transmitia tambémprogramas musicais e esportivos, mas ojornalismo era a especialidade de casa. Deperfil democrático, abrigou as mais diver-sas tendências do pensamento social epolítico brasileiros e sempre adotou pos-turas fortemente contrárias aos mais va-riados tipos de cerceamento da liberdade.

Com música de qualidade, estilo só-brio, e jornalismo atuante, buscava sem-pre um perfil de ouvintes das classes al-tas. Ficaram conhecidas também suastransmissões de turfe entremeadas comnúmeros musicais eruditos.

A partir dos anos 1990, porém, a gra-ve crise do Grupo JB fez que todo o Sis-tema Jornal do Brasil se fragmentasse. ARádio JB FM permanece no ar até hoje.

RÁDIO TUPI DO RIO DE JANEIROA Rádio Tupi do Rio de Janeiro, apeli-

dada de “Cacique do Ar”, foi fundada ofi-cialmente em 25 de setembro de 1935, em-bora dez dias antes ela já tivesse entradono ar com a execução do Hino Nacional re-gido pelo Maestro Heitor Villa-Lobos. Depropriedade dos Diários Associados, a Rá-dio contava com grande e importante elen-co musical, formado por artistas como Síl-vio Caldas, Jamelão, Elizeth Cardoso, Dal-va de Oliveira, Dorival Caymmi, VicenteCelestino e vários outros. Na área drama-túrgica, apresentava, entre outros, PauloGracindo, Yoná Magalhães, MaurícioShermann e Orlando Drummond.

No jornalismo, ganhou destaque nacobertura da 2ª Guerra Mundial (ela te-ria sido a primeira do Brasil a anunciar ofim do conflito) e com o sucesso de audi-ência do seu Grande Jornal Falado Tupi. Foivitimada por um grande incêndio em1943, recuperou-se, e em 1950 inaugurao que foi chamado de “o Maracanã dosauditórios das rádios brasileiras”.

Lançou grandes sucessos e populari-zou Ary Barroso como um dos mais ouvi-dos locutores esportivos do Brasil. Em1960, cria o programa policial Patrulha daCidade, idealizado pelo jornalista AfonsoSoares e que até hoje permanece do ar.

Mesmo com a crise e o conseqüente fe-chamento da TV Tupi nos anos 1970, a

Rádio permaneceu no ar. No dia que com-pletou 70 anos, 25 de setembro de 2005,inaugurou o primeiro transmissor digitaldo rádio brasileiro.

RÁDIO BANDEIRANTES“Boa Noite, senhoras e senhores. Está no

ar a Rádio Bandeirantes, a nova e esperadaemissora de São Paulo”. Com estas palavrasdo locutor Joaquim Carlos Nobre, entravano ar a PRH-9 Rádio Bandeirantes, em 6 demaio de 1937. A princípio controlada porPaulo Machado de Carvalho, a Rádio Ban-deirantes foi vendida ao influente empre-sário e político paulista Ademar de Barros,que em 1948, já Governador do estado, atransferiu para seu genro, João Jorge Saad.

Apoiada na informação, esportes e pres-tação de serviços de utilidade pública, a Ban-deirantes se constituiu num verdadeiro ce-leiro de grandes locutores e comentaristas.Desde os pioneiros Joaquim Carlos Nobre,Tito Lívio Fleury Martins, Mário de Car-valho Araújo e Plínio Freire Campello, atéos históricos, e até hoje no ar, José Paulo deAndrade, Salomão Ésper, Walker Blaz eMilton Parron. Passando, é claro, pelo mar-cante Vicente Leporace, com seu programaO Trabuco, uma metralhadora giratória deácidos comentários políticos e sociais.

Em 1963 a emissora se destaca nas trans-missões futebolísticas com a criação do Es-crete do Rádio, comandado pela voz incon-fundível de Fiori Gigliotti. Faziam parte da“escalação” Sérgio de Andrade (o Arapuã),Ênio Rodrigues, Flávio Araújo, Mauro Pi-nheiro, Luís Augusto Maltonne, Luís Aguiar,Alexandre Santos, Estevan Sangirardi eFernando Solera, entre outros.

Assim como acontece com a Record,a Bandeirantes nas décadas seguintestambém se torna um grande grupo de co-municação a partir do sucesso de sua pi-oneira emissora de rádio.

As concorrentes da Nacional

ANIVERSÁRIO O RÁDIO NO BRASIL HOJE, 90 ANOS APÓS A SUA CRIAÇÃO

25JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013

O Rio Itapemirim, a cidade de Ca-choeiro e o cronista Rubem Braga sãoum caso de amor à primeira vista. Emmoto-contínuo. O rio ama Cachoei-ro, que ama Rubem Braga, que escrevesobre o rio, que canta a sua aldeia, queama o seu rapsodo... Melhor dizen-do, este é um caso de “ménage àtrois”. Aliás, ao “jeito desajeitado”proclamado pelo próprio Rubem.Sem considerar, claro, o tempo e aorigem insondáveis das paleozóicas(?!) águas do Itapemirim. Que rolame dividem a cidade solfejando suascorredeiras. Aliás, solfejando seu “ca-choeiro”, que era como índios e tro-peiros chamavam a “corrente contí-nua de cachoeirinhas que abre cami-nhos entre eróticas pedras de con-tornos feminis”. Dizer que o cente-nário de Rubem Braga, comemora-do por todo este ano, é o centenáriodo rio e é o centenário da cidade nãoé nenhuma vertigem de “nenúfaresfestivos, mas desfocados” e aqui evo-cados apenas para lembrar ClaudeMonet, o pintor da estética apaixo-nada de Rubem, também um críticode arte desde que se defrontou naParis da década de 1950 com os exu-berantes acervos do Louvre e dod’Orsay. Ele que se dizia um “dese-nhista bissexto”.

A morada (ou casamento) a trêsna Cachoeiro natal evidencia-se noTeatro Municipal Rubem Braga,construído à margem direita do Ita-pemirim, na Avenida Beira Rio, hojea mais importante da cidade. Funda-do há 13 anos, num inspirado 28 deabril, o teatro divide holofotes coma casa dos Braga na Rua 25 de Mar-ço. E se o palco do Rubem Braga exi-be peças nacionais e concertistas in-ternacionais, alguns de volta à cida-de – como a cachoeirense MiriamRamos – a exibição na casa-museu éde livros (a biblioteca tem 20 mil,muitos da família Braga), de pintu-ras, desenhos, fotos e até de leituraao vivo na praça ajardinada – a Pra-ça da Poesia – onde o cronista podeser relido. E recitado lado a lado como irmão-poeta Newton Braga.

Mas Vitória, a capital, tambémentra no tour centenário com a ex-posição “Rubem Braga – o fazen-deiro do ar” que segue até o final demaio no Palácio Anchieta, impo-nente sede do Governo capixaba.Depois a mostra viaja para o Rio,São Paulo, Recife e Belo Horizon-te – cidades também habitats docronista.

O casamento de Rubem Bragacom a sua cidade e o seu rioPara reviver as crônicas famosas, um tour nostálgico por Cachoeiro deItapemirim não dispensa o teatro, a casa e a ilha dos pios de pássaros.

POR PINHEIRO JUNIOR Em Cachoeiro esse tour centená-rio teria que passar pelo atual LiceuMuniz Freire, o antigo Colégio PedroPalácios de tantas evocações e estra-nhas histórias como a daquele profes-sor que xingou Rubem ao surpreen-dê-lo numa mancada matemática eacabou responsabilizado pelo volun-tário exílio do futuro cronista paraNiterói. Rubem tinha 15 anos. E sóretornaria à cidade como um anôni-mo para a Festa do CachoeirenseAusente, um minicarnaval em junhobolado pelo irmão para acontecer emtrês dias da semana final do mês.Depois Rubem voltaria feito doutorem Direito – ele que nunca advoga-ria, só mesmo em causa própria aocontar que foi também no Pedro Pa-lácios que o descobriram um preco-ce escritor com direito a primeira crô-nica em letras de forma no jornalzi-nho do colégio – “O Cachoeiro” – fun-dado pelo irmão Newton.

O tour teria que atravessar aindaa pontezinha da Ilha da Luz, indispen-sável parada para admirar a fábrica depios de pássaros Maurílio Coelho.Cujos trinados já foram o terror deaves silvestres. Dos inhambus, choro-rós, capoeiras, zabelês, juritis, jacu-pembas... Mas hoje apenas cativampassarinheiros mundo afora com tan-ta (e traiçoeira) fidelidade canora.Além de musical, a Ilha da Luz, bemno meio da parte mais larga do Itape-mirim, é uma policromática ilha-musa com suas amendoeiras/casta-nheiras de frutos roxos e amarelos,rubras e amplas folhas outonais. Cas-tanheiras que “molham os pés no Ita-pemirim” e se comportam como “mo-lecas de rua”.

Assim falou o centenário RubemBraga nascido a 12 de janeiro de 1913em Amarelos, distrito de Cachoeiro deItapemirim, filho do Coronel Francis-co de Carvalho Braga – o CoronelBraga, empossado primeiro prefeitoda cidade em 1914. “Quando estou-rava a guerra na Europa”.

Rubem nasceu quase junto com a“oficialização” da cidade. Um ano an-tes apenas. Recentes atos oficiais an-teciparam as comemorações do cen-tenário e batizaram ruas de Cachoeiroe Vitória com o nome do cronista. Ex-embaixador no Marrocos, nomeadopelo vernacular admirador e renunci-ante Presidente Jânio Quadros, Ru-bem talvez torcesse o nariz a tantascelebrações. Não por empáfia. Mas aocontrário, por simplicidade.

José Alves Pinheiro Júnior, jornalista e escritor, émembro efetivo do Conselho Deliberativo da ABI.

CENTENÁRIO

de entretenimento raso, como RobertoFigueiredo, Mário Luiz, Paulo Giovanni,Francisco Barbosa, Haroldo de Andrade,Edmo Zarife, Paulo Barbosa, Waldir Viei-ra, Paulo Lopes. A Globo AM do Rio deJaneiro se torna líder de audiência, aMayrink Veiga fecha as portas e a RádioNacional declina, se não a olhos vistos, aouvidos escutados. Em 1965, a Rádio Na-cional de São Paulo é comprada por Ro-berto Marinho, que dois anos depois as-sume a liderança também na capital pau-lista (dez anos depois seu nome seria tro-cado para Rádio Globo de São Paulo).

Em 25 de fevereiro de 1967 o Governomilitar cria o Ministério das Comunica-ções, que aperta ainda mais o cerco ideo-lógico e censório sobre as emissoras derádio e televisão.

Em 1969, apenas 13% do total das ver-bas publicitárias brasileiras são investidosno rádio, contra 43% da televisão. Em1950, o percentual do rádio era de 40%.De 1960 a 1970, a população urbana superaa rural, e há uma nítida expansão dasemissoras FM, em detrimento das AM.

Em 1º de setembro de 1970, o Serviço deRadiodifusão Educativa do Ministério daEducação e Cultura inicia o Projeto Miner-va, com o objetivo de levar ensino e educa-ção, via ondas de rádio, para todo o País.Como sua transmissão era obrigatória emtodas as emissoras, e seu conteúdo sintoni-zado (com o perdão do trocadilho) com osideais da ditadura, a população rapidamenteo apelidou de “Projeto me enerva”.

A ingerência governamental sobre osmeios de comunicação era forte priorida-de dos militares: em 1975, é criada aEmpresa Brasileira de Comunicação –Radiobrás, com o objetivo de centralizartodas as emissoras de rádio e televisão doGoverno Federal espalhadas pelo País.

Concessões obscurasMesmo com censura e falta de liberda-

de, percebe-se que os setores radiofônicoe televisivo no Brasil experimentam umforte crescimento. Quantitativo, pelomenos, pois oferecer indiscriminada-mente concessões de emissoras de rádioe tv passou a ser uma forte moeda de tro-ca nas obscuras negociações políticas.

Quantitativamente falando, o númerode emissoras de tv mais do que dobra entre

1972 e 1988, passando de 63 para 152. E asemissoras de rádio, que eram 1.124 em 1972,somam 1.921 em 1988. A diferença é queo veículo rádio teve forçosamente de seacostumar a ser o “primo pobre” da famíliapublicitária, que destinava a maior parte desuas verbas ao “primo rico” televisão. His-toricamente, o rádio tem ficado, nas últimasdécadas, com 4 ou 5% do total dos investi-mentos, contra mais de 60% da tv.

Já em épocas mais liberais, em 1990, aRede Bandeirantes de Rádio se torna aprimeira emissora no Brasil a transmitirvia satélite, com 70 emissoras FM e 60 emAM. Um ano depois, o Sistema Globo deRádio inaugura a Central Brasileira deNotícias-CBN.

O impulso da tecnologiaA transmissão via satélite, num primei-

ro momento, e a internet, em seguida,provocam duas alterações fundamentaistanto no fazer como no ouvir rádio. Porum lado, a criação de programações quepossam ser acessadas em todo o territórionacional equaliza de maneira pouco cria-tiva o conteúdo difundido. Do Oiapoqueao Chuí (para usar a expressão dos antigosnarradores esportivos) tem-se a impressãode se estar ouvindo a mesma emissora.Perde a cultura. Por outro lado, as facilida-des tecnológicas e a possibilidade de sin-tonizar a emissora preferida em qualquercomputador em qualquer canto do plane-ta, sem sequer a necessidade de um apare-lho receptor, difundiu o veículo com tan-ta força que fez o número de emissoraspelo País se multiplicar ainda mais: segun-do a Associação Brasileira das Emissoras deRádio e Televisão-Abert, o Brasil fechou oano de 2010 com o impressionante núme-ro de 9.184 emissoras de rádio, sendo4.193 comunitárias e 465 educativas.

Atualmente o rádio brasileiro perma-nece vivo e forte graças à sua rápida capa-cidade de se transformar e se adaptar àsnovas necessidades. Podem não existirmais os auditórios e suas rainhas, mas cri-am-se emissoras cada vez mais segmenta-das e especializadas. Podem não existirmais radionovelas, mas ninguém cobre otrânsito, a enchente e a queda de barreirascom a agilidade do radiojornalismo.

Aos 90 anos, o rádio no Brasil está longede dar sinais de perda de potência.

Marlene e Emilinha Borba: as rainhas do rádio na Rádio Nacional.

REPROD

UÇÃO

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O “gancho”, para usar o jargão jorna-lístico, não poderia ser melhor: o festivalde documentários É Tudo Verdade, realiza-do em São Paulo, Rio de Janeiro, Campi-nas, Belo Horizonte e Brasília, foi o pal-co perfeito para o lançamento, em dvd,do filme Conterrâneos Velhos de Guerra, umdos mais importantes documentários jáfeitos no Brasil.

Dirigido pelo paraibano radicado emBrasília Vladimir Carvalho, ConterrâneosVelhos de Guerra foi lançado em 1990, masseu resultado final é fruto de décadas depesquisas. Não a pesquisa acadêmica, debibliotecas e arquivos, mas a investigaçãodiária, nas ruas, junto ao povo, em contatodireto com a alma do candango. Profun-do conhecedor das questões sociais queenvolveram a construção da Capital Fe-deral, Vladimir filmou durante 18 anos oprocesso que “empurrou” o homem sim-ples (que, literalmente, construiu Brasí-lia) para a marginalidade das cidades-sa-télite. E ao mesmo tempo garimpou im-pressionantes imagens de arquivo sinto-nizadas com o ufanismo da época.

A motivação principal do cineasta,porém, nasce primordialmente de umepisódio trágico: “Fiquei 20 anos fazen-do Conterrâneos Velhos de Guerra porqueninguém queria falar do massacre de tra-balhadores que aconteceu em 1959. Só sefalava disso à boca miúda. O povo, humil-de, tinha medo de falar do massacre. Sóentre 1988 e 1989 algumas pessoas come-çaram a concordar em ser entrevistadas”.

Vladimir se refere à chacina que matouum número nunca exatamente definido

Brasília por trás das câmeras

Finalmente disponível em dvd, Conterrâneos Velhos de Guerra é um precioso documentárioque investiga o lado trágico e nada glamoroso da construção da nova capital.

POR CELSO SABADIN

CINEMA

de operários da construtora Pacheco Fer-nando Dantas. Revoltados com as péssi-mas condições de trabalho, jornada exte-nuante e refeições estragadas, um grupode trabalhadores promoveu um quebra-quebra nas instalações da empresa. A en-tão Guarda Especial de Brasília, não con-seguindo conter imediatamente o ímpetoda revolta, esperou a poeira baixar, osoperários dormirem, e retornou ao lugarda rebelião, metralhando os operárioscovardemente, durante o sono. Os corposforam enterrados em local desconhecido,e o inquérito aberto para a apuração dosfatos foi rapidamente arquivado, semidentificar culpados.

Vladimir não usa meias-palavras emseu filme, que já começa com Lúcio Cos-ta dizendo não ter conhecimento algumda chacina e afirmando que, mesmo sesoubesse do fato, não teria se importadocom o assunto, pois “do ponto de vista daconstrução da cidade são episódios quenão têm a menor importância. A imprensaé que gosta de dramatizar as coisas, porfalta de assunto”. Quando Vladimir con-tra-argumenta, dizendo que em qualqueresquina de Brasília se sabe da chacina, quequalquer motorista de táxi comenta,Lúcio Costa o interrompe: “Os motoris-tas de táxi são uns mentirosos, todos.Todos inventam, todos foram candangos.É uma gente que não merece confiança”.Triste e chocante.

“O filme é um clássico porque sua cons-trução narrativa foi se processando eamadurecendo ao longo de décadas”,conta Maria do Rosário Caetano, crítica,pesquisadora de cinema e ex-aluna docineasta na Universidade de Brasília-

UnB. “O paraibano Vladimir Carvalhochegou a Brasília no final dos anos 1960,apaixonou-se pela cidade, e começou adocumentá-la, sempre do ponto de vistados candangos”, diz Rosário.

O lançamento é comemorado pelo crí-tico e pesquisador Carlos Alberto Matos:“Como todo clássico nos dias de hoje, Con-terrâneos Velhos de Guerra há muito mereciaestar ao alcance das nossas mãos. Ele alte-rou a perspectiva como se via a epopéiaoficial brasiliense, trocando-a pela antiepo-péia popular dos operários que ajudaram a

erguê-la. A riqueza do material documen-tal requer uma (re)visão pormenorizada, oque o dvd torna bastante possível. Vale apena reparar como o diretor constrói sen-tidos novos a partir de cenas que julgávamosjá inteiramente decodificadas”.

Maria do Rosário lembra que o filmeé uma “epópera”, mistura de epopéia eópera, “neologismo adotado pelo próprioVladimir Carvalho e pelo montador Eduar-do Leone”. E conclui: “É arrebatador, ex-cessivo na duração, mas portador de mo-mentos inolvidáveis”.

Brasília por trás das câmeras

Vladimir Carvalho e sua equipe se preparam para filmar o depoimento de Oscar Niemeyer.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

27JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013

O paraibano Vladimir Carvalhoestava no interior de Pernambuco,trabalhando como assistente dedireção de Eduardo Coutinho emCabra Marcado para Morrer, quandofoi surpreendido pela notícia do golpemilitar de 1964. Formado em Filosofiapela Universidade da Bahia, militantepolítico na filial baiana do CentroPopular de Cultura-CPC, e ajudando afazer um filme sobre as LigasCamponesas, só lhe restava fugirpara a clandestinidade. E foi o que fez.Trocou seu nome para José Pereira dosSantos e se refugiou num sítiopróximo a Campina Grande ondepassou a pintar, fazer xilogravurase a esculpir imagens de santos.

Porém, não se adapta ao isolamento.Muda-se para o Rio de Janeiro, ondetrabalha como assistente de direção deArnaldo Jabor e repórter do Diário de

O conterrâneo Vladimir esua história de resistência

Notícias. Em 1969, ganha dois prêmiosno Festival de Brasília logo com seuprimeiro curta metragem, A Bolandeira,e acaba fixando-se permanentementena cidade.

Extrovertido, sempre entusiasmado,e eterno pensador dos problemasbrasileiros, Vladimir torna-se professorde Cinema na Universidade de Brasília-UnB e circula desinibidamente porvários setores culturais da capital. Em1971, vê seu primeiro longa, O País deSão Saruê, ser retirado da competição doFestival de Brasília e apreendido porordem da Censura federal. O filme sóseria liberado oito anos depois.

Conciliando as carreiras de cineastae professor, entre 1975 e 1984 Vladimirdirige José Lins do Rego, A Pedra daRiqueza, O Homem de Areia e O EvangelhoSegundo Teotônio, sempre destilando suaampla visão crítico-social do Brasil. Em1990, causa polêmica ainda maior aolançar Conterrâneos Velhos de Guerra,um antigo projeto seu, acalentado hádécadas, e finalmente finalizado eexibido em seu palco favorito: oFestival de Brasília. O filme éovacionado.

Após realizar Barra 68 (2000), eO Engenho de Zé Lins (2006), VladimirCarvalho finalizou, há dois anos, odocumentário Rock Brasília: a Era deOuro, no qual analisa a cidade queadotou através dos jovens roqueirosque mudaram o panorama musical doPlanalto Central e do País.

Aos 73 anos, Vladimir Carvalho é atéhoje uma das presenças mais festejadasnos mais diversos festivais de cinemapelo País, onde não se cansa de ministraroficinas, participar de palestras edebates, desenvolver novos projetospara novos filmes e, principalmente,de atender com a mesma simpatia, omesmo sorriso e o mesmo entusiasmoa todos que o procuram. Seja umjovem estudante iniciante, seja umconterrâneo velho de guerra.

A crise na imprensa como decorrên-cia do embate entre dois movimentosopostos, o de concentrar e o de descon-centrar o poder de informar: esse é o pon-to de convergência no conjunto de en-saios reunidos no novo volume Mídia,Poder e Contrapoder: Da Concentração Mo-nopólica à Democratização da Informação,assinados por especialistas no tema, comolhar particularmente direcionado paraa América Latina.

Dênis de Moraes, além de autor, tam-bém organizador da obra, abre o volumetratando do sistema midiático tal comose estrutura hoje, num cenário de poderconcentrado em torno de megagrupos edinastias familiares, o que resulta emperda de credibilidade e implicaçõespara a democracia. A mídia tradicionaltambém é objeto da análise dos doisoutros ensaios que completam essa pri-meira parte: Ignacio Ramonet questio-na o quanto os meios de comunicaçãoestariam hoje a serviço de interessesprivados – o que se vê é, argumenta, a su-bordinação das informações de interes-se coletivo a ambições lucrativas –, ePascual Serrano analisa se há mesmo umquadro de liberdade de imprensa queleva à democracia – não necessariamen-te, como argumenta. Por vezes, há umaretórica calculista em favor da liberda-de de expressão que dissimula artima-nhas para fazer prevalecer a liberdade daempresa sobre aspirações coletivas.

A internet como alternativa ao atu-al sistema de informar é o tema do se-gundo e último bloco do livro, com maistrês ensaios. Ignacio Ramonet faz umpanorama da explosão do jornalismo naera digital, Dênis de Moraes vê as agên-cias em rede como modo de democrati-zar a informação na América Latina.“Um jornalismo que faça reviver a in-quietação, a energia e a imaginaçãonecessárias para, um dia, ultrapassarmosa ordem social comandada pelo capita-lismo”, afirma Dênis de Moraes. “Inqui-etação que fez muitos de nós escolher ojornalismo não só como profissão mascomo destino histórico.” O argumentoé endossado por Pascual Serrano no úl-timo capítulo, em que define o jornalis-mo contra-hegemônico em rede – maisindependente e democrático, pela jus-tiça social, direitos humanos e diversi-dade cultural.

Entre os três jornalistas, um tem ex-periência também na universidade,outro, em movimentos sociais, o tercei-ro em jornalismo independente na in-ternet. Dênis de Moraes é professor daUniversidade Federal Fluminense, pes-quisador do CNPq e da Faperj. Entre asobras publicadas, aqui e no exterior,

Jornalismo na internet,alternativa ao monopólio?

Em Mídia, Poder e Contrapoder, três especialistas debatem crise na imprensa e vêemagências e portais independentes como caminho para democratizar a informação.

POR JOSELIA AGUIAR tendo a mídia como objeto de reflexão,destaca-se Vozes Abertas da América La-tina (Mauad/Faperj). É também biógra-fo de Graciliano Ramos (O Velho Graça,Boitempo Editorial). Ignacio Ramonet,que dirige hoje a edição espanhola do LeMonde Diplomatique, é um dos idealiza-dores do Fórum Social Mundial. Entresuas obras já lançadas no Brasil há AExplosão do Jornalismo: Das Mídias deMassa à Massa de Mídia (PublisherBrasil) e A Tirania da Comunicação (Vo-zes). Pascual Serrano, diretor de Reda-ção do portal Rebelión, de Madri, escre-veu, entre outros, Periodismo Canalla: LosMédios Contra la Informacion, ainda semtradução por aqui. A idéia de um livro aseis mãos surgiu durante um debate noRio de Janeiro, em 2011.

Os organismos independentes e por-tais apontam para um novo futuro parao jornalismo a favor da democracia e dadiversidade – ainda há várias perguntasno horizonte; no entanto, uma delas écomo fortalecer esses novos meios, atra-indo mais leitores e tendo recursos ne-cessários para produzir noticiário dequalidade. “Sem dúvida está avançandoo jornalismo independente de grandespoderes econômicos”, respondeu Pascu-al Serrano ao Jornal da ABI. O jornalis-mo livre continuará, no entanto, a serminoritário, se continuarem sendomantidos privilégios na concessão de tve rádio, tendo impérios financeiroscomo suporte, acrescenta o especialista.“É necessário que os Estados invistam nodesenvolvimento de meios públicos,incorporando mecanismos participati-vos, apoiando coletivos de jornalismo deorganizações e movimentos sociais semfins lucrativos e exercendo maior con-trole público dos meios privados paraassegurar a pluralidade e a veracidade”,defende Serrano.

Para fortalecer os projetos indepen-dentes, diz Serrano que os Estados de-vem apoiá-los – afinal, o direito à infor-mação é parte dos direitos fundamentaisdos cidadãos, assim como a saúde e a edu-cação. “O Estado deve garanti-lo, pois omercado, apenas, não o vai garantir”. Aomesmo tempo, é preciso que os cidadãosestejam mais conscientes da necessida-de de apoiar essas novas propostas quenão dependem de grandes anunciantes.“O que os torna mais independentes étambém o que os deixa mais vulneráveisem sua viabilidade econômica”. Comoobserva, a grande maioria da populaçãocontinua a se informar sobre o País e omundo pelos meios tradicionais. A boanotícia, porém, é que “um grupo intelec-tual e social minoritário, mais organiza-do e politicamente participativo, já estáconseguindo se expressar por vias alter-nativas, encontrando seus leitores”.

INFORMAÇÃO

JUN

IOR ARAG

ÃO

Conterrâneos Velhos de Guerra é uma“epópera”, neologismo criado pelo diretor.

Vladimir Carvalho discursa após ser premiado no Festival deBrasília do Cinema Brasileiro por seu documentário Rock Brasília.

28 JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013

Muita gente escreve. Livros, crônicas,blogs, diários, matérias para jornal. E épossível até afirmar que escrever é umaatividade meio solitária, onde o escritorse depara sozinho diante daquilo queantigamente a gente chamava de folha depapel em branco. Hoje é uma tela de com-putador, mas o conceito é o mesmo.

E quanto aos dicionários? Tendemosa pensar em um dicionário como uma em-preitada gigantesca e interminável, ondedezenas de senhores e senhoras de óculosforçam as suas vistas e se debruçam sobremilhares de verbetes. Pode até ser. Masnão para Antônio Leão da Silva Neto,economista paulistano, autor de novelivros, sendo sete dicionários. Nenhumde Economia; todos de Cinema.

Formado em Economia pela FundaçãoArmando Álvares Penteado-Faap, compós-graduação em Administração Finan-ceira e Recursos Humanos, Antônio Leãosempre atuou na iniciativa privada emcargos executivos.

Eterno apaixonado por cinema, prin-cipalmente o brasileiro, e fascinado pelamagia das imagens em movimento, ain-da criança construiu seus próprios proje-tores com caixas de papelão e lentes deóculos velhos, até ganhar do pai um pro-jetor de verdade, 16 mm, alemão e mudo.Ele tinha apenas 12 anos de idade, mas opresente o incentiva a iniciar uma cole-ção, no mínimo inusitada, de pedaços defilmes. A mania vira hobby, a coleçãopassa a contar com filmes inteiros, Leãose forma em Economia, mas nunca aban-dona o cinema: freqüenta o CineclubeIpiranga (no bairro paulistano homôni-mo), e arrisca publicar matérias sobre otema nos jornais de bairro O Grito e Job.

Em 1992, em parceria com o fundadordo Cineclube Ipiranga, Archimedes Lom-bardi, cria a Associação Brasileira deColecionadores de Filmes em 16 mm-ABCF. Por puro prazer. Na época, o forma-to VHS para vídeo doméstico já estavamais que consolidado, e o dvd já batia àsportas do mercado. Mas nada que supe-rasse o romantismo do filme em 16 mm,com seu característico barulhinho doprojetor que encanta várias gerações. Oobjetivo da ABCF era reunir colecionado-res de todo o País para catalogar, preser-var e exibir filmes raros em sessões gratui-tas no auditório da Biblioteca Municipaldo Ipiranga (atual Biblioteca RobertoSantos). Em 10 anos, exibiram-se naqueleespaço mais de 500 filmes raros e fora decirculação. E exibem-se até hoje.

Ainda nos anos 1990, Leão passa a sededicar a uma nova extensão de seu pró-prio hobby: publicar, sob a forma de livros,

suas incessantes pesquisas sobre biografias,dados e informações referentes ao cinemabrasileiro. A “brincadeira” ficou séria: de1998 até o ano passado, Antônio Leãopublicou nada menos que nove livros,como ele detalha na conversa a seguir.

Jornal da ABI – Quais os livros e dicio-nários que você publicou até o momento?

Antônio Leão – O primeiro foi Astros eEstrelas do Cinema Brasileiro, de 1998, com1.400 biografias. Depois vieram o Dicio-nário de Filmes Brasileiros – Longa Metra-gem, de 2002 (que lista toda a produçãonacional de longas nacionais desde 1908)e o Dicionário de Filmes Brasileiros – Cur-ta e Média Metragens, de 2006, que listatoda a produção nacional nessas catego-rias desde 1897, conseguindo cadastrarmais de 18 mil filmes com até 60 minu-tos de duração. Depois fiz duas biografi-as: Ary Fernandes – Sua Fascinante Histó-ria, de 2006, e Miguel Borges – Um Lobiso-mem Sai das Sombras, de 2007. O AryFernandes, entre outros filmes, foi o cri-ador e produtor da famosa série Vigilan-te Rodoviário. Em 2009 saiu a segundaedição, atualizada, do Dicionário de FilmesBrasileiros – Longa Metragem, e no anoseguinte a segunda edição, também atu-alizada, do Astros e Estrelas do CinemaBrasileiro. Depois vieram Fotógrafos doCinema Brasileiro (2011) e a segunda edi-ção do Dicionário de Filmes Brasileiros –Curta e Média Metragens, no ano passado.

Jornal da ABI – De onde veio esta suapaixão pela organização de dados?

Antônio Leão – Veio de uma necessida-de minha de informação que eu sentiadesde os anos 1970, uma época em que nãohavia internet e que os únicos livros so-bre cinema brasileiro disponíveis eram o

Introdução ao Cinema Brasileiro (1959) doAlex Vianny, e os dois volumes de ensai-os do Araken Vaz Galvão, de 1978. Nadamais. Então eu criei mecanismos de in-formação como fichas, rascunhos, anota-ções etc. Eu recortava as colunas do Ru-bens Ewald Filho no Jornal da Tarde e ascolava em fichas. Acabei montando essearquivo com mais de 3 mil fichas que foidoado para a Universidade Metodista e émantido pelos alunos até hoje. Meu pri-meiro livro nasceu da compilação dessesdados. Ele foi lançado despretensiosa-mente, e eu nunca sequer pensava quefaria o segundo, imagina...

Jornal da ABI – Mas sua formação é emEconomia...

Antônio Leão – Sim, sou formado emEconomia e milito na área até hoje, poisainda não consegui fazer do meu hobbyminha profissão.

Jornal da ABI – É verdade que vocêtrabalha praticamente sozinho? Comoé seu método de trabalho?

Antônio Leão – Praticamente não, eutrabalho totalmente sozinho. Não consi-go dividir tarefas nem responsabilidades,esse é um defeito meu que estou procu-rando corrigir. Meu método de trabalhoé simples, penso na idéia do livro e partopara as pesquisas, primeiro na internet,depois em minha biblioteca particular,depois em cinematecas, bibliotecas e, porúltimo, o contato pessoal. Quando che-ga nesse último estágio, o livro já estápronto, e aí faço a checagem dos dados.

Jornal da ABI – Por que cinema?

Antônio Leão – Porque é minha paixãodesde criança, como colecionador de fil-mes 16mm. No final dos anos 1960, ia àBoca do Lixo [região de São Paulo onde

se concentravam as produtoras cinema-tográficas] pegar pedaços de filmes queeram jogados nos latões de lixo. Até queum dia me indicaram um senhor na RuaAurora que tinha uma loja de filmes. Fuilá e nunca mais saí. O primeiro filmecompleto que comprei custou um salá-rio inteiro meu. Chamava-se Falcão Dou-rado, um capa-e-espada com SterlingHayden. Meu primeiro projetor decentefoi comprado em 36 meses no nome deminha mãe, porque eu era menor de ida-de. Quando cheguei em casa com a má-quina novinha em folha foi um dos diasmais felizes da minha vida. Passei a noiteprojetando filmes.

Jornal da ABI – Com certeza não é doslivros que você sobrevive...

Antônio Leão – Não é não, tenho minhaprofissão. No Brasil é difícil sobreviverfazendo o que se gosta.

Jornal da ABI – Você tem noção daimportância do seu trabalho para omercado cinematográfico e para acultura do Brasil?

Antônio Leão – Às vezes sim, às vezesnão. Quando lanço um livro e mando umexemplar para a Redação da Folha deS.Paulo, por exemplo, na mão do editor, enão sai uma linha sequer, fico achando quemeu trabalho não vale nada. Mas depoisesqueço e vou à luta, recebo dezenas de e-mails diariamente de pessoas elogiandomeu trabalho, pessoas comuns, que cur-tem meus livros, isso me deixa feliz e meimpulsiona pra frente.

Jornal da ABI – Qual será seu próxi-mo livro?

Antônio Leão – Ainda não sei. Tenho váriaspesquisas iniciadas, mas nada definido.Quando eu tomar coragem, entro de sola.

Antônio Leão, o solitárioescritor de dicionários

Por platônica paixão, economista paulistano já fez setedicionários sobre o assunto que o apaixona desde menino: cinema.

POR CELSO SABADIN

PERFIL

Antônio Leão e uma de suas obras: o Dicionário de Filmes Brasileiros - Curta e Média-Metragem.

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29JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013

A crônica cotidiana, publicada no diaa dia em jornais ou a cada semana nasrevistas de circulação nacional, viveu seugrande momento nas décadas de 1950 e1960. Quem abrisse principalmente osdiários cariocas deparava-se com nomescomo Nelson Rodrigues, Carlos Drum-mond de Andrade, Antônio Maria, OttoLara Rezende, Fernando Sabino, RubemBraga, Carlos Heitor Cony, Sérgio Portoe Paulo Mendes Campos, entre outros.Cada um tinha sua peculiaridade nesseque é para alguns um subgênero literárioou simplesmente uma forma de fazer jor-nalismo com elementos da prosa e da po-esia. Nelson, por exemplo, focava-se nofutebol e nas relações adúlteras.

Se a maioria primava pela excelência dotexto e pelo modo como explorava assun-tos do seu universo – a praia, o samba, onamoro, um escândalo –, poucos souberamexercitar tanto as potencialidades do esti-lo quanto Paulo Mendes Campos, mineironascido em 1915 e falecido em 1991, radi-cado por toda a vida no Rio de Janeiro. Aomesmo tempo em que traduzia em palavraso que sua aguçada percepção via a seu redorcomo um artesão de grande talento – cadatexto seu era um experimento literário,uma elaboração esmerada, que trafegavaentre a prosa e a poesia –, ele fazia textos bri-lhantes que se destacavam pela perspicáciae pela inteligência. Como dizem seus estu-diosos, era um observador onívoro, leitorrefinado, criador original, embora convi-vesse entre os maiores nomes da crônica eera amigo de quase todos eles.

Paulo Mendes Campos viveu no períodomais glamoroso da vida carioca no século20, no momento que a cidade perdia seustatus de capital do Brasil mas não deixa-va cair o rebolado das morenas, mulatas elouras de suas praias que inspiravam cro-nistas e poetas. De sua janela, ele viu sur-gir a garota de Ipanema e a ginga jazzísti-ca da Bossa Nova. Como diria João do Rio,cronista pioneiro da virada para 1900, eleera um apaixonado pela alma encantado-ra das ruas do Rio de Janeiro. Principal-mente do seu habitat reduzido, mas queparecia o mundo inteiro: o bairro de Ipa-nema. Ali, virou ponto de referência, umdos seus personagens mais marcantes.

Se era conhecido de todos, Paulo tinhaem si o rigor do escritor perfeccionista, doleitor sério e dedicado que fez dele umtradutor da melhor poesia estrangeira esempre atualizado com o que de melhorse fazia em literatura no Brasil e nomomento. Acompanhava pela imprensao trabalho dos colegas e esforçava-se paratirar de si o melhor. Por tudo isso, desta-cou-se entre a leveza deste gênero tão

brasileiro e o estilo daalta literatura. Uma pro-dução extensa, reunidaem obras indispensáveise hoje clássicas, comoHora do Recreio, O Cego deIpanema, Homenzinho naVentania, O Colunista doMorro e O Anjo Bêbado,entre outros. Nesses vo-lumes, notava-se quetransitou pelas mais di-versas modalidades decrônica e criou algumasdelas. Livros como O Do-mingo Azul do Mar fize-ram dele um dos melhorespoetas de sua geração –reconhecido como aqueleque, da observação bem-humorada do Rio de Ja-neiro, elaborou pequenasficções e causos que reve-lam o fino estilista doidioma, sempre atento àstransformações da lín-gua popular.

Marcada pelo humor epelo lirismo, parte de suaobra permaneceu esgotada durante anosantes de ser reorganizada pelo jornalistaFlávio Pinheiro e ganhar novos títulos –entre eles O Amor Acaba, Cisne de Feltro, O Golé Necessário e Artigo Indefinido. Agora, um dosmais encantadores e populares autoresbrasileiros volta às livrarias em grande es-tilo. Até 2015, dez livros seus serão lança-dos ou relançados pela Companhia dasLetras. Dois já estão nas livrarias: O MaisEstranho dos Países e O Amor Acaba.

O primeiro é dividido em duas partes:crônicas e perfis. A primeira traz textosproduzidos nos anos 1960 para a revistaManchete, principalmente, quando elevivenciou o nascimento da Bossa Nova,do Cinema Novo, a arquitetura e o fute-bol encantavam o mundo com seu atre-vimento ensolarado – nessa época, oBrasil ganhou nada menos que duas Co-pas do Mundo, as de 1958 e 1962. A im-pressão inicial – que passa o texto deabertura – é a do cronista exaltador eufanista, logo desmontada nos dois últi-mos parágrafos por uma desconcertanteironia, que faz o leitor acreditar que aca-bou de levar uma rasteira do autor. Comsua prosa concisa, elegante, de ritmo hip-nótico e dinâmico, Paulo Mendes Cam-pos construiu textos de importância his-tórica imprescindível nessa indispensá-vel antologia, útil para quem quer enten-der o Brasil e os brasileiros – como a crô-nica em que retrata o processo de criaçãode Murilo Rubião, que levou 26 anos parafinalizar um conto.

Na segunda parte do livro foram reu-nidos perfis imprescindíveis de persona-gens de sua época. O maior deles é o deVinícius de Moraes, em pequenos textosque totalizam nada menos que 48 pági-nas, inclusive uma inesquecível entrevis-ta que fez com o poetinha para o DiárioCarioca. Sobre o amigo, Paulo escreveu:“Fez de tudo, fez tudo; nasceu empelicado(acontece), estudou oratória, roubou umsoneto do próprio pai, psicografou men-sagens de além-túmulo, foi aluno de umGracie, pescou baiacus, foi crítico de ci-nema, censor de cinema, jogou de meia-direita, jogou sinuca, jogou bilboquê (eraplim e plão), deu bodocadas (era plic eploc), foi um menino valente e caprino,achava bonita a palavra escrita, cantoufoxes e modinhas, estudou na Inglaterra,foi amigão de Carmen Miranda”.

Assim o cronista definiu o autor deAquarela do Brasil e um dos mais importan-tes compositores brasileiros de todos ostempos, para Manchete, em 1974: “Ary Bar-roso não foi tão assíduo quanto AntônioMaria no Ministério da Noite, mas nãochegou a ser um funcionário relapso”. Nasua busca da frase definitiva, disse de Sér-gio Porto, o Stanislaw Ponte Preta: “Eu oconheci muito mais bancário que jornalis-ta, quando ele escrevia crônicas sobre jazzna revista Sombra, um mensário grã-finono qual Lúcio Rangel fazia milagres parainjetar inteligência”. Antônio Maria, de-safeto de Ary, também ganhou um perfil:“Que ele mesmo se apresente: ‘Com vocês,

por mais incrível que pare-ça, Antônio Maria, brasi-leiro, cansado, 43 anos,cardisplicente (isto é, ohomem que desdenha opróprio coração). Profis-são: esperança’”.

Outro Paulo MendesCampos, adoravelmentesedutor, surpreendente,sensível, delicado e poé-tico é o que se tem no ar-rebatador O Amor Acaba.São crônicas que tocamfundo e emocionam oleitor, como na que dátítulo ao livro. Ou fazemrir. Há também aquelasque fazem refletir, maisousadas. “Ser brotinho énão usar pintura alguma,às vezes, e ficar de caralambida, os cabelos desar-rumados como se ventas-se forte, o corpo todoapagado dentro de umvestido tão de propósitosem graça, mas lançandofogo pelos olhos. Ser bro-

tinho é lançar fogo pelos olhos”.Em Anatomia do Tédio, ele anotou com

sua filosofia de cronista carioca que con-seguia enxergar o mundo e a alma: “Estetalvez seja em nossos dias a poluição doespírito, a poluição global. Nessa culturaestercada é que a torpeza espiritual dohomem produz a flor plástica do tédio,embora seja imperativo de verdade reco-nhecer que suas florações mais visíveis etípicas não ocorram nas favelas e vilasoperárias; nos balcões mais altos da soci-edade é que vamos encontrar o que umrico poeta americano chamou o enfadocelestial dos apartamentos”. Em Da Artede Ser Infeliz, estabelece o primado do ho-mem medíocre: “Sua psicologia: todohomem tem seu preço. Sua economia:poupar os tostões. Sociologia: o povo nãosabe o que quer. Filosofia: o seguro mor-reu de velho. O homem perfeitamenteinfeliz ama os seus de um amor incômo-do ou francamente insuportável”, ensina.

Como observa o professor da UspIvan Marques no posfácio, Paulo MendesCampos ajudou a alargar os limites dogênero conhecido como crônica. “Paraele, de fato, crônica podia ser tudo: tan-to as digressões líricas e cômicas como aspáginas de reflexão dedicadas à condiçãohumana, às novidades do mundo moder-no, às descobertas científicas e antropo-lógicas etc. Leitor cultíssimo e atualiza-do, o cronista-ensaísta tem alma de pes-quisador, vocação para inventar teorias edisposição para pensar sobre tudo”.

O potencial da crônica,segundo Paulo Mendes CamposObra do mineiro radicado no Rio de Janeiro volta em relançamentos e livros inéditos, numa coleção de

dez volumes a serem publicados até 2015, com o mais representativo de sua produção ao longo de quatro décadas.

POR GONÇALO JÚNIOR

LIVROS

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A frase não teria causado tanta surpre-sa, e até graça, se viesse de outro autor:“Marx não é moda. É eterno!” Quem dissenão foi um intelectual de esquerda, e simo liberal Antônio Delfim Neto, ministroresponsável pela economia do País emsucessivos mandatos durante o regimemilitar. Respondia a uma pergunta daFolha de S.Paulo em março, quando da novareedição do primeiro dos três volumes deO Capital pela paulistana Boitempo.

Semanas depois, em seu espaço fixo nojornal, o emérito professor voltaria aotema para esclarecer o que quis dizer, de-pois da cobrança de elegantes leitores di-ante de sua enigmática sentença. A contri-buição de Marx é eterna, segundo expli-cou, devido à “problemática que coloca –o que é o homem e como pode realizarplenamente a sua humanidade diante dosconstrangimentos que lhe impõe a organi-zação da sociedade”. Modas são, comoafirma, “os ‘marxismos’ de ocasião de pen-sadores menores”.

O Capital foi lançado em alemão umséculo e meio atrás. Por meio de uma crí-tica da economia política, Marx quiscompreender como o capitalismo funci-onava. Desenvolveu, assim, um aparatoconceitual e metodológico para demons-trar sua complexidade: categorias queconstituem a articulação interna da soci-edade burguesa e a relação direta entreacumulação de capital e a exploração daforça de trabalho.

Como ressalta um dos maiores especi-alistas na obra de Marx, o filósofo JoséArthur Giannotti, num dos textos deintrodução – há outros, do historiadormarxista Jacob Gorender e do filósofofrancês já falecido Louis Althusser, alémde uma orelha assinada pelo sociólogoFrancisco de Oliveira –, a obra de Marxnunca perdeu sua relevância, a despeitodos novos paradigmas em que a ciênciaeconômica se alicerça: “A grande crisepela qual estamos passando coloca empauta a alienação do capital, em particu-lar do capital financeiro, e a necessidadede alguma regulamentação internacionaldos mercados. No fim das contas, quefuturo queremos ter?”

Apesar de ter sido produzida no sécu-lo 19, a obra aplica-se ao que ocorreudepois – na atualidade, a financeirização,como destaca Delfim Neto, já estava pre-vista pelo pensador alemão. Como lem-brou em seu artigo, “hoje não passam de15 organizações que financiam, com-pram, armazenam, transportam, vendeme especulam com o resultado do trabalhode bilhões de agricultores que não têm omenor controle sobre sua produção.”

Desafios para o tradutorA tradução de O Capital apresenta vá-

rios desafios, como explica Rubens Ender-le, que, sozinho ou em parcerias, verteuobras anteriores para a Boitempo. O pri-meiro é primar pela precisão conceitual.Outro, o de transitar entre os diversosestilos da obra. Existem ainda as dificulda-des tradicionais da tradução do alemão.

Enderle diz que, teoricamente, suaposição é a de um marxólogo, isto é, umestudioso de Marx, e não um marxista,pois não o compreende sob cânone ide-ológico ou político-partidário. Em 2007,mudou-se para a Alemanha. Por dois anos,esteve como pesquisador na Marx-Engels-Institut da Academia de Ciências de Ber-lim-Brandemburgo, que edita a Mega.Acompanhou ali a editoração, tomandoconhecimento dos critérios filológicosque orientam o projeto e as várias etapasda edição dos manuscritos, desde a deci-fração dos escritos – a caligrafia terrívelde Marx, como diz – até a composição doaparato crítico. O tradutor vive hoje emMunique, onde faz o doutorado na Uni-versidade Ludwig-Maximiliamm sobreum autor radicalmente crítico de Marx econtrário ao marxismo em geral, EricVoegelin. “A minha preocupação comotradutor é permanecer o mais fiel possí-vel aos textos, o que, no caso de Marx,implica se desvencilhar de chavões evulgaridades ideológicas que se acumula-ram sobre sua obra ao longo de séculos.”

Surpresa da BoitempoCom a edição da obra completa de

Marx em curso, vai perder validade aantiga piada, antes corriqueira em qual-quer espectro ideológico, que consistiaem dizer que alguém era “marxista semnunca ter lido Marx”. “De fato, algunsdos que se auto-intitulam marxistas even-tualmente jamais leram um livro inteirode Marx ou Engels. Não vejo isso, entre-tanto, de forma negativa”, afirma IvanaJinkings. “Dizer-se marxista hoje signifi-ca, de modo simbólico, assumir os ideaisde humanismo, solidariedade e emanci-pação. A partir desse sentimento de rebel-dia libertária é que se deve incentivar es-pecialmente os jovens a lerem Marx, afazerem da teoria instrumento da políti-ca, da materialização dos seus ideais emprojetos concretos.”

Não só colocar os livros na praça, há daparte da editora uma preocupação emdivulgá-los por diversos meios. Até maio,um ciclo de palestras e debates sobreMarx se realiza no Sesc-SP. Inclui em suaprogramação mais de 20 intelectuais dediversas áreas do conhecimento, como ofilósofo esloveno Slavoj Zizek, o geógra-fo britânico David Harvey e o cientistapolítico alemão Michael Heinrich – paraacompanhar os próximos eventos, vá atémarxcriacaodestruidora.com.br. O inte-resse é grande, diz Ivana Jinkings, as pla-téias têm sido lotadas por jovens. “Ocerto é que o legado não pode ser ignora-do. Percebemos um interesse renovado naobra marxiana. Isso de certa forma aindanos surpreende.”

A atualidade de Marx,até para não marxistas

Sai o primeiro dos três volumes de O Capital, parte do projeto da Boitempo de editara obra completa do pensador alemão e de seu parceiro intelectual, Engels.

POR JOSELIA AGUIAR

LIVROS

Com o colapso das economias do Les-te europeu na década de 1990, a leitura deMarx arrefeceu, seu pensamento pareciaconfundir-se com o dos antigos regimesem derrocada. Logo passaria a ser relati-vizado o vínculo entre o que escreveu eo que se passou na União Soviética e naschamadas democracias populares. Agoravolta a crescer a procura por seus livros,dada a constatação de que merecem umnovo olhar, capaz de compreendê-loscom mais amplitude e exatidão.

A reedição de Marx pela Boitempo tor-na possível o acesso ao pensador de um modoque não existia nas livrarias brasileiras. Comesse primeiro volume de O Capital, somam-se 16 obras escritas por ele e seu parceirointelectual, Friedrich Engels, no catálogo daeditora. O mais vendido é O Manifesto Co-munista, com 15 mil exemplares. Outrosprocurados são Manuscritos Econômico-Fi-losóficos, A Ideologia Alemã, O 18 de Brumá-rio de Luís Bonaparte e Os Grundrisse. “ComoO Capital acaba de sair, tem tido boa procu-ra, mas ainda é cedo pra entrar na nossa ‘lis-ta dos mais vendidos’”, informa IvanaJinkings, a editora responsável.

Histórico das traduçõesNão é a primeira vez que sai a edição

integral de O Capital, mas é a primeirapreparada no âmbito do Mega, codinomedo projeto alemão Marx-Engels-Gesa-mtausgabe, que restabelece os textos emedições críticas bem cuidadas – iniciati-va semelhante se deu nos anos 1920, a deagora é sua segunda versão. Ano que vemsai o segundo volume no Brasil. Até 2015,o terceiro. Os três, com tradução a cargode Rubens Enderle. É da década de 1960a primeira tradução no País, de Reginal-do Sant’Anna. Uma edição parcial sairiaduas décadas depois, coordenada por PaulSinger. A leitura das três partes, comodizem os especialistas, é imprescindívelpara sua compreensão – muitas introdu-ções ou simplificações acabam por causarconfusão sobre conceitos e análises.

Sempre houve dificuldade para en-contrar os títulos e, entre os publicadosaqui, encontrar traduções boas, sem im-precisões e até erros. Como lembra a edi-tora, até recentemente não havia a preo-cupação de traduzir os clássicos, de modogeral, e não apenas Marx e Engels, a par-tir dos originais. “Era então muito comumencontrar versões da obra marxiana apartir do espanhol, do francês e, em me-nor quantidade, a partir do inglês. Hojeem dia isso não mais se admite e nossasedições, que se dão no marco de um am-bicioso projeto – o de traduzir toda a obrade Marx e Engels, contando com o auxí-lio de especialistas renomados – sempresão feitas com base nos originais.”

31JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013

Jornal da ABI – Como você chegou ao jor-nalismo?

Nelson Breve – Me tornei jornalista por in-sistência, pois eu entrei com 18 anos no cursoda Eca, na Usp, mas abandonei por questõesfamiliares e acabei seguindo outro rumo. Pri-meiro fui bancário, para pagar os estudos,depois tive de largar os estudos de novo e mudarde cidade. Fui para Campo Grande, em MatoGrosso do Sul, dar um auxílio para a família porcausa de um irmão que faleceu. Acabei constru-indo uma carreira no Bradesco, trabalhei seisanos e meio em dois departamentos e duasagências, e quando voltei para São Paulo fuitrabalhar na Gerência Geral do Departamen-to de Análises de Gestão, ao mesmo tempovoltei para o curso.

Jornal da ABI – Isso aconteceu nos anos 1980?Nelson Breve – De 1981 a 1989. Eu retornei

para a universidade em 1990. E chegou umaépoca em que eu tive de tomar uma decisão,porque não dava para fazer as duas coisas, oueu escolhia ser jornalista ou seguia a carreira debancário, que é um trabalho que toma muitotempo da vida da gente. Decidi terminar o cur-so. Abandonei o banco e fui seguir a vida nafaculdade, trabalhei como monitor de professor,fiz o boletim da Associação Paulista de Home-opatia, depois fiz um trabalho para o Sindica-to dos Professores de São Paulo, o Sinpro, a Agen-da do Professor, e eles acabaram me contratan-do para editar e produzir o Jornal do Professor.

Jornal da ABI – E o seu começo na imprensadiária?

Nelson Breve – Eu tive uma passagem mui-to ligeira pela Folha da Tarde como freelancer,mas quando terminei a faculdade meu primeiroemprego foi no Diário do Grande ABC, em SantoAndré. Foi lá que conheci o Reinaldo Azevedo.Ele é formado em Letras, e estava precisandode alguém que tivesse um bom conhecimen-to da língua para editar a área de Nacional.Quando ele viu no meu currículo que eu tinhasido monitor de Língua Portuguesa, acho queele se entusiasmou e me chamou. Eu queria serrepórter, mas acabei indo lá e fiz parte de umaequipe que editava o noticiário nacional.

Jornal da ABI – A faculdade foi boa?Nelson Breve – Acho que foi. Eu tenho uma

visão de que não é o curso que faz o aluno, é oaluno que faz o curso. E às vezes há alunos quedão sorte de terem professores que despertaminteresses que ele vai buscar. E eu tive alguns,mas o fundamental foi o Sérgio Gomes, quedirige a Oboré. Naquela época ele era professorassistente na Universidade, dava JornalismoComunitário e Jornalismo Sindical. Eu fiz Jor-

DEPOIMENTO

“A comunicação pública temo cidadão como cliente”

POR FRANCISCO UCHA E MÁRIO AUGUSTO JAKOBSKIND

uando jovem ele trabalhoucomo bancário para pagarsua faculdade, mas teve queabandonar o curso deJornalismo, só retornando

em 1990. Estudante dedicado,participou de um importante projetoencabeçado por seu professor, oexperiente jornalista Sérgio Gomes,da Oboré Artes e Projetos Especiais.Depois que se formou, NelsonBreve teve uma carreira meteórica:trabalhou no Diário do Grande ABC,nas Rádios Eldorado e CBN,Agência Estado, Jornal do Brasil,Carta Maior. Foi assessor deimprensa da Confederação Nacionalda Indústria-CNI, assessor do ex-Ministro e Deputado federal JoséDirceu, Secretário de imprensa doex-Ministro Franklin Martins,até chegar à Empresa Brasileira deComunicação-EBC como assessorda então Presidente Tereza Cruvinele, mais tarde, Superintendente deComunicação Multimídia.

Em 9 de dezembro de 2011,Breve assumiu o cargo de Diretor-Presidente da EBC com o desafio dedar continuidade ao que ele chamoude “tempos heróicos”: “estavaterminando a Ilíada e ia começara Odisséia, resumiu. Ao considerara comunicação pública umaresponsabilidade social que tem aobrigação de informar todos ospontos de vista, Nelson Breve afirmanesta entrevista ao Jornal da ABI que“quem tem que ter independência éo jornalista, não o veículo”. Somenteassim a mídia pública pode“satisfazer os direitos sagrados dasociedade à liberdade de expressão”.

NELSON BREVE

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32 JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013

nalismo Sindical primeiro, com ele, e depois fizo Comunitário. Eram disciplinas optativas.Acabamos nos envolvendo num projeto que,pela primeira vez, ele conseguiu colocar em prá-tica: Sérgio o chamava de “Projeto Ponto Final”.Eram escolhidos cinco temas sociais importan-tes. Na época foram saúde, segurança, educa-ção, habitação e transporte. Se fizer a escolhahoje, esses seriam os mesmos temas escolhi-dos há 20 anos! Os alunos tinham que fazerpautas relacionadas a esses temas, mas comum detalhe: eles tinham que pegar um ônibuse ir até o ponto final dele, na periferia. Lá os alu-nos faziam a reportagem pegando esses cincopontos. Depois íamos na Administração Regi-onal. Na época era o Governo da Erundina, e eufui na Administração Regional do Campo Lim-po. Eles estavam acabando de montar o hospi-tal e ainda não havia médicos, que tinham aca-bado de entrar no hospital mas logo pediamtransferência para o Hospital das Clínicas.

Jornal da ABI – Coisa que só um repórterem campo consegue encontrar.

Nelson Breve – Exatamente. E foi esse pro-jeto que me fez decidir de fato que eu queria serjornalista. Fui no Campo Limpo e encontreimuitos problemas; conversando com uma lí-der comunitária, descobri que uma determinadaobra estava parada há meses: tinham que cons-truir uma ponte num lugar onde alagava muitoe as pessoas que moravam lá ficavam ilhadasquando chovia. Elas não conseguiam nem pe-gar o ônibus. Estavam construindo uma adu-tora para facilitar a passagem da água e umapontezinha por cima, para não ter esse proble-ma. Uma coisa simples, mas que estava para-da. Quando publicamos a matéria, liguei umtempo depois para a líder comunitária e ela medisse que tinham retomado a obra. Foi aí queeu percebi que esse negócio de jornalismo erabom, porque você pode mudar o futuro. Ofuturo daquela obra era não continuar e issomudou somente pelo fato de um jornalistaestudante ter ido lá e se preocupado com a re-alidade daquele lugar! Percebi que era isso queeu queria fazer. Isso me deu a motivação.

Jornal da ABI – E essa é uma matéria quecontinuaria atual.

Nelson Breve – Exatamente. Outro profes-sor nosso, o Manuel Chaparro, era colunistade televisão do Diário Popular, e nos levou ao Jor-ge Miranda Jordão, que era o editor. Na épo-ca, o Diário Popular estava muito bem, e agente foi lá levar o projeto do Sérgio, que sechamava provisoriamente de “Cidade VersusCidadão”. Miranda gostou do projeto e faloupara fazermos uma série de reportagens.Então foi aí que a gente trabalhou cada umdaqueles cinco temas contados sob a ótica dosproblemas da periferia. E o Professor Chaparrodizia: “A manchete tem que ser sensacionalis-ta. Não o sensacionalismo barato, mas ela temque trazer o leitor”. Então a gente fez umascoisas meio óbvias, tipo “Saúde na UTI”, coi-sas próprias de estudante achando que tinhainventado a roda. Nós íamos visitar hospitaisque estavam caindo aos pedaços, passamosa trabalhar o conceito de distância medida emhoras-ônibus. Essa série de matérias depoisvirou referência para o Plano Diretor que foidebatido posteriormente na Câmara Muni-cipal de São Paulo e acabou sendo referênciaque o Sérgio tem até hoje no projeto “Repór-ter do Futuro” que a Oboré faz. No ano se-guinte, o Sérgio me convida para cuidar doprojeto de outra turma. Eu já não estava mais

fazendo a disciplina dele. Aí nós fomos à Fo-lha da Tarde, mas não conseguimos. Depoisfomos ao Estadão, no Jornal da Tarde, que tam-bém não topou. Para nossa surpresa, algumtempo depois o Estadão lançou o projeto “SeuBairro”, que era idêntico ao nosso... Coincidên-cias podem acontecer. Bom, depois fui para oDiário do Grande ABC com essa visão.

Jornal da ABI – Mas você disse que aca-bou indo para o noticiário nacional.

Nelson Breve – Sim, mas quando o Reinal-do Azevedo saiu de lá depois que se desenten-deu com a direção do jornal, eu finalmenteconsegui ir para a reportagem. Mas logo medesentendi também e acabei sendo “saído”. Naépoca do Diário do Grande ABC eu e o Reinal-do fechávamos o jornal e morávamos em SãoPaulo. Então a gente viajava todos os dias jun-tos para São Paulo, e nos tornamos amigos emvirtude disso. Depois, ele me indicou para tra-balhar no jornal que era do Quércia, O Diáriodo Povo, de Campinas. O Chefe de Redação erao João Paulo Soares, que hoje é assessor do PTnacional. Trabalhei lá durante as eleições de1994; saí depois das eleições e fui para a RádioEldorado, onde trabalhei com o Marcelo Para-da, hoje Diretor de Jornalismo do SBT. Ele eraGerente de Jornalismo lá; João Lara Mesquitaera Diretor da rádio. Tive a oportunidade, queParada me deu, de ir para Brasília ser correspon-dente da Rádio Eldorado. Desde o início meencantei muito com aquela missão e fiquei láaté hoje. Da Eldorado fui para a CBN, e depoisvoltei para o Grupo Estado, para a AgênciaEstado, onde trabalhei cinco anos praticamentefazendo a cobertura da área econômica, e de-pois para o Congresso Nacional, a Câmara dosDeputados. Da Agência Estado fui para o Jor-nal do Brasil, e do JB fui montar o escritório daCarta Maior em Brasília, já no Governo Lula.Mas a imprensa alternativa vive em dificulda-de, fiquei numa situação financeira difícil, e aca-bei indo trabalhar como Gerente de Assessoriade Imprensa da CNI-Confederação Nacionalda Indústria. Armando Monteiro era o Presiden-te. E lá vivenciei pela primeira vez a função deser assessor de imprensa. Acabei entendendoque o bom assessor de imprensa é aquele quese assemelha a um bom corretor: ele tem queagradar os dois lados, quem compra e quemvende a informação. De lá, acabou que o Oto-ni Fernandes, com quem eu tinha trabalhadonum curto período na Carta Maior, me liga paradizer que tinha uma missão para mim. Qualera a missão? Assessorar o José Dirceu quan-do ele havia voltado para o Congresso. Ele es-tava correndo risco de ser cassado, o que depoisacabou se tornando um processo de cassaçãode mandato. Trabalhei com ele aqueles quatromeses do processo, como assessor de impren-sa do gabinete dele. Foi um momento de apren-dizado muito grande, pois eu exercitei aquilo queeu falava de agradar aos dois lados. Tinha comometa que ele, ainda que fosse cassado, saísse decabeça erguida. Planejei uma entrevista para odia seguinte à sua posse no Congresso, num dosplenários da comissão, com toda a imprensapara responder tudo o que tivesse que falar. Elefoi lá, respondeu, foi tratado com respeito portoda a imprensa; ao final, me agradeceu. Ao meagradecer, os colegas aplaudiram o agradecimen-to. Foi o momento em que percebi que agradeios dois lados, portanto fui um bom corretor deinformação. Depois voltei para a Carta Maior,mas quando eu estava em negociações comEduardo Castro para montar a Band News emBrasília o Ministro Franklin Martins me chamou

para ser Secretário Adjunto de Imprensa dele. De-pois me tornei Secretário de Imprensa, trabalheipraticamente todo o segundo mandato do Pre-sidente Lula, e depois fui para a EBC como as-sessor da Tereza Cruvinel e Superintendente deComunicação Multimídia, e hoje estou na Pre-sidência da EBC.

Jornal da ABI – Como é para um jornalistadirigir uma empresa do porte da EBC?

Nelson Breve – Todas as vezes que eu pegueiuma coisa difícil de administrar, meus cabelosbrancos aumentaram. (risos) É um desafio imen-so construir essa comunicação diferenciadadentro desse espectro de comunicação do País.Para ser sincero, não passava pela minha cabe-ça, não era a minha ambição, e eu encarei comouma missão que me foi dada pela Tereza e peloMinistro Franklin, que fizeram a indicação domeu nome para a Presidente Dilma, que foi aco-lhida pela Ministra Helena Chagas. Eu já estavana empresa há alguns meses como assessor, de-pois como Superintendente de ComunicaçãoMultimídia e entendia que os tempos heróicosestavam terminando. Portanto, estava para ter-minar a Ilíada e ia começar a Odisséia.

Jornal da ABI – O que você chama de tem-pos heróicos?

Nelson Breve – Montar uma rede de televisão,uma nova televisão, com um novo telejornal, gra-de, etc, em uma nova praça como São Paulo, emapenas dois meses, foi uma façanha que prova-velmente não existe no mundo algo que tenhaacontecido num espaço de tempo tão curto.Tem que fazer uma placa para quem estava lános primeiros dias da TV Brasil dizendo assim:“Estes são heróis da Pátria!” Até porque existiauma disputa política. Setores da sociedade nãoqueriam a existência de uma comunicaçãopública que não é estatal e não é comercial. Elatem princípios e regras que são públicos, tem umcontrole da sociedade dentro dela, para vigiar seela está fazendo aquilo que está nas suas com-petências e princípios, se o seu conteúdo está

adequado àquilo. Com dois terços da sociedadecom poder deliberativo, isso é uma revolução.

Jornal da ABI – E sob o fogo cruzado damídia comercial.

Nelson Breve – Sim, e por razões distintas,porque se por um lado se vê como mais um ins-trumento de propaganda do Governo – assimentendido em alguns setores –, por outro, o medoda concorrência da verba pública e privada. Foiuma disputa muito grande. Então, tinha quebotar em pé rapidamente. Tinha que estar pre-sente em São Paulo rapidamente, e aí as coisasprecisaram ser feitas com muita pressa. As coi-sas foram acontecendo, os investimentos foramfeitos. Ainda há muito a melhorar, mas temosequipamentos modernos, a gente consegue terum padrão de qualidade muito melhor do quetínhamos anos atrás, um prédio com instala-ções onde a gente está conseguindo reunir tudo,em Brasília. Além disso, reunimos várias culturasque cuidavam de televisões e emissoras de rádio,uma cultura que vem da Radiobrás e que tam-bém fazia A Voz do Brasil, a NBR. Ou seja, é umacultura de divulgação das atividades do Gover-no, aí entendido como os três Poderes. Não es-tamos falando de propaganda, mas de divulga-ção, de dar transparência aos atos e fatos doGoverno. Uma espécie de Diário Oficial eletrô-nico. Isso faz parte do campo de comunicaçãopública. Há também as pessoas da iniciativaprivada que chegaram à EBC em busca de umterreno fértil, porque estavam sentindo que ha-via uma falta de diversidade de pontos de vistanos veículos comerciais. Profissionais que bus-cavam uma cobertura menos parcial dos fatos.Então, juntamos a cultura da iniciativa priva-da, dos antigos veículos do Governo, dos órfãosda TV Cultura – porque muita gente que traba-lhou na TV Cultura de São Paulo veio trabalharconosco. A TV Cultura está aí ainda, mas mui-ta gente não estava satisfeita e acabou vindo parao projeto da TV Brasil. Então estamos falando demuitas culturas diferentes que se juntaram numcasamento forçado e agora têm três, quatro anos,para que isso vire uma coisa só.

Jornal da ABI – Ocupar a TVE e transfor-má-la na TV Brasil não foi um desservi-ço? Não seria mais interessante manter aTVE e criar mais uma tv aqui no Rio?

Nelson Breve – Eu sempre digo que é maisfácil ser legista do que cirurgião. Depois de qua-tro anos, você olha para trás e diz: “Será que seriamelhor fazer assim ou assado?”, e ainda assima gente não sabe. Porque poderia fazer diferen-te e não ter dado o mesmo resultado.

Jornal da ABI – Mas a TVE também esta-va bem, mudando o visual, investindo emprogramação.

Nelson Breve – Sim, mas eu estou falando daquestão da nomenclatura. Nós estamos fazen-do uma coisa velha ou uma coisa nova? Ha-via aquela visão de que tv educativa é uma coisachata. Era isso o que passava na cabeça daspessoas. Estou falando de um sentimento quehavia naquele momento. Não pode ser umacoisa chata, tem que ser uma coisa para ser vis-ta, fazer diferente para fazer a diferença. Esseera o sentimento de se fazer. E o nome TV Brasilveio com naturalidade, porque é isso, é a tevê doBrasil. E a lei fala numa rede. Então, era neces-sário construir uma rede pública de televisão.

Jornal da ABI – Nestes cinco anos, já ca-minhando para o sexto, qual é o balançoque você faz desse período?

DEPOIMENTO NELSON BREVE

Nelson Breve discursa durante a cerimonia deposse como Diretor-Presidente da EBC.

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ELLO C

ASAL JR/ABR

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Nelson Breve – Com muitos investimentos,criamos uma estrutura fantástica! Ela preci-sa melhorar, não alcançou ainda a sua plenitu-de, mas nós temos na TV Brasil uma grade deprogramação de qualidade, já percebida e elo-giada pelos telespectadores; as nossas rádios es-tão com uma programação diferenciada, e aAgência Brasil cada vez mais pautando e sen-do replicada pelos diversos órgãos de comuni-cação, e com uma audiência cada vez maior devisitação na internet. Nós conseguimos nosquatro primeiros anos ganhar um terreno enor-me em termos de montagem de uma estrutu-ra para operar uma rede efetivamente, uma redede rádio, televisão e agência de notícias.

Jornal da ABI – Você acha que as críticasà TV Brasil estão diminuindo?

Nelson Breve – Acho que essa questão estáum pouco superada. Mas não está superadaa questão “Para quê?”. O que isto aqui traz devolta para a sociedade? Essa é uma discussãoque eu não tenho problema de enfrentar, por-que acho que temos que mostrar mesmo, te-mos que dar retorno para a sociedade. Mas nósestamos na fase de plantar, não estamos ain-da na fase de colher. Estamos plantando. Al-gumas coisas já estamos colhendo. Nós temosum conteúdo infantil que será lançado embreve: o Igarapé Mágico, feito pelo pessoal do Cas-telo Rá-Tim-Bum, que trabalhou na TV Cultura.É um conteúdo de que as pessoas estão gostandomuito lá fora, foi mostrado em Nova York nomês passado pelo Rogério Brandão, nosso Diretorde Programação. São 26 filmes de treze minutos.

Jornal da ABI – Houve também uma ani-mação que foi vendida para fora...

Nelson Breve – Meu AmigãoZão. Nós somossócios deles. A Nickelodeon comprou. Meu Ami-gãoZão surgiu de uma parceria com o Minis-tério da Cultura, para viabilizar a produção in-dependente nacional. Isso é interessante, mastem limite, pois nosso papel principal não é fo-mentar. Fomentar é com a Ancine e outros ins-trumentos da área cultural. Nós temos a obri-gação de difundir coisas que tenham a ver coma cultura, com a cidadania etc.

Jornal da ABI – Mas tem que apoiar tam-bém, não?

Nelson Breve – É o que eu disse: nosso papelé janela de exibição e a gente tem que adequara janela de exibição a uma determinada gradeque precisa ter uma lógica, precisa contemplarvários setores da sociedade e várias temáticas.A TV Brasil é “a janela” para a produção de au-diovisual independente do Brasil. Ainda bemque agora há centenas de janelas para a produ-ção independente audiovisual brasileira.

Jornal da ABI – Uma questão que vem sen-do debatida por vários segmentos da soci-edade brasileira é a mídia pública. Nos paí-ses de Terceiro Mundo ela acontece com oEstado, mas precisa ter uma certa indepen-dência para não se tornar uma mídia chapa-branca. Como se equaciona esse teorema?

Nelson Breve – Isso é melhor resolvido nosEstados que não têm medo da palavra regula-ção, porque consideram que comunicação, ouradiodifusão, se a gente segmentar aqui só nacomunicação eletrônica, é um serviço público.A obrigação de difundir a informação correta éum serviço público. Fazer um jornalismo cor-reto para satisfazer os direitos sagrados da so-ciedade, das pessoas, a liberdade de expressão.Dar canais a quem quer dizer algo à sociedade

e informar corretamente para que as pessoaspossam, se quiserem, tomar decisões de mobi-lização ou não, fazer alguma coisa em relaçãoaos seus direitos, se elas quiserem se manifes-tar na sociedade, exercer melhor a sua cidada-nia. Tudo isso deveria ser serviço público. OReino Unido não está esquecendo não, Portu-gal não esqueceu, e outros não esqueceram, maseu vou esquecer a outra parte, porque no Bra-sil é tabu, para ficar só com a radiodifusãoporque há um espectro que é limitado, eu nãotenho como dar voz a todo mundo, então te-nho que ter alguma regulação para que prin-cípios que são sagrados, de se ter a pluralidade,a diversidade, dar voz a quem quer exercer o seudireito de cidadania por um determinado meio,ter programas educativos, culturais, que aju-dem a formar a cultura da sociedade, fortale-cer valores. E não estou falando nenhumaheresia, porque a Lei nº 4.117, de 1962, já pre-via algumas dessas coisas em relação a qual éo papel da radiodifusão. Na Inglaterra, desde1946 a radiodifusão comercial é um serviçopúblico que tem que prestar serviços de cidada-nia. Temos que ter um ambiente que dê voz àsvozes da sociedade para manter o princípio dapluralidade, do contraditório. O enriquecimentodo saber se dá com a diversidade das informa-ções e o contraditório.

Jornal da ABI – Por que há tanta resistên-cia de setores que dizem que a regulaçãoé censura?

Nelson Breve – Na questão da censura, aConstituição é muito clara e cristalina: é im-possível o Estado brasileiro exercer a censura!Não há censura. É inconstitucional. Não existeisso. O que existe é que precisa haver oferta dediversidade de pontos de vista.

Jornal da ABI – Mas o Governo não apóiapublicações independentes. Todos estãobatalhando para sobreviver e não se dá apoioà diversidade. O Governo só apóia as gran-des mídias.

Nelson Breve – É porque isso não pode serum projeto de Governo, tem que ser um pro-jeto de Estado e da sociedade. A sociedade temque reivindicar a quem está no Governo. Amídia está muito concentrada nas mãos depessoas que pensam igual. Historicamente,não aconteceu no País que donos de mídias

com pensamentos antagônicos comandas-sem parte da mídia. Dois jornais, ou duas re-vistas de grande circulação, duas emissoras detelevisão, duas emissoras de rádio de grandeamplitude, com linhas opostas. Temos queouvir todos os pontos de vista para tomaruma decisão.

Jornal da ABI – Mas o Estado também nãocontempla proporcionalmente a mídia co-mercial e a mídia alternativa.

Nelson Breve – Eu entendo esse papel quevocês colocam e sou muito dividido em relaçãoa ele. Acho que para você promover o equilíbrionão há outra alternativa. Por outro lado, comoisso acaba sendo política de governo, na horavocê equilibra, em outra hora você desequilibracompletamente. O modelo não se sustentaporque estamos em um regime que pressupõealternância de poder. É preciso que os meioschamados alternativos encontrem uma formade sustentação. Não sei qual é, se soubesse játinha sugerido. É preciso que eles encontremuma forma para além do Estado. Não signifi-ca que o Estado não deva colocar lá. Quandotrabalhei na Carta Maior, eu dizia para o Joa-quim Palhares: “A melhor forma de conseguirpatrocínio estatal é ter um privado também.A esquerda também compra geladeira, nãotem importância pegar um anúncio da CasasBahia”. E há outras coisas que eu não consigoentender. Há partidos de esquerda que têmmais de um milhão de filiados. Com um mi-lhão de assinaturas você faz a Veja da esquer-da. Por que não se consegue juntar essas pes-soas para sustentar a mídia? Qual é o proble-ma? Será que não é o conteúdo? Tem que pa-rar e estudar como é que se traz essas pessoaspara dentro. É a nossa questão da comunica-ção pública. Posso fazer o melhor conteúdo,mas a missão não estará completa se ele con-tinuar chegando a menos de um por cento dasfamílias brasileiras. Tenho que encontrar a for-ma que agrada, que chama, que entretém, e nahora que fisga, passa a mensagem, enriqueceo saber e o conhecimento das pessoas. Nós es-tamos buscando essa forma.

Jornal da ABI – Segundo o Boni, “a televi-são pública tem que ter qualidade com-patível com a Rede Globo, As emissorasprecisam ter algo agradável para os teles-

pectadores assistirem, trazendo um con-teúdo diferenciado”. Você concorda?

Nelson Breve – O Boni fez parte do primeiroConselho Curador. E eu concordo com o Boniporque, já disse isso em outra entrevista, queren-do ou não, quem deu o padrão de qualidade à te-levisão brasileira foi a Globo. E não estou julgan-do a qualidade, não estou dizendo se é boa ou má,mas que é um padrão. Quem lê o Jornal da ABItodos os meses, com este formato, com essa ti-pologia, com essa diagramação, está acostuma-do com isso. Ele bate o olho e identifica, apreen-de mais com aquilo. Às vezes a gente se acostumae, mesmo tendo dez jornais em cima da mesa,vai sempre primeiro naquele que a matriz estáintrojetada em você. A matriz que está introje-tada nos telespectadores brasileiros é o padrãoque a Globo deu, que tem alta qualidade técni-ca. Então, o conteúdo é que é o problema. É porisso que precisa haver a comunicação pública,para atrair o telespectador, mas com um con-teúdo diferente. É isso que está na frase dele. Háque ter uma programação com outro nível dequalidade, que é esse da educação, da cultura, daformação da cidadania, do enriquecimento dosaber e do conhecimento das pessoas, para queelas formem a sua consciência crítica e possamexercer melhor a sua cidadania. Entendo que oBoni está dizendo que o modelo consagradocomo padrão é insuficiente para isso.

Jornal da ABI – Que tipo de influência oConselho Curador tem exercido nos ru-mos da EBC?

Nelson Breve – O Conselho Curador da EBCfoi criado para fazer o controle social da EBC.Essas palavras que as pessoas têm medo defalar, controle social, sim, é o controle da soci-edade. A EBC é do povo, da sociedade. O queestá acontecendo lá? Será que está fazendocerto? Aqueles princípios que estão na lei daEBC estão sendo cumpridos? Para avaliar issohá o Conselho Curador. Para cuidar da EBCpelo povo. A EBC tem mandato da sociedadepara cuidar que não se desvie dos caminhos queestão na sua lei, nos princípios da sua lei. E oConselho da EBC é um Conselho absolutamen-te inovador do ponto de vista da instituciona-lidade nacional. Dos seus 22 integrantes, quinzesão da sociedade civil, dois terços, e ele tem poderdeliberativo. Ele delibera sobre o conteúdo daEBC. Ele aprova o plano de trabalho. Por voto

Comprado pela Nickelodeon, Meu AmigãoZão surgiu de uma parceria com o Ministério da Cultura, para viabilizar a produção independente nacional.

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de desconfiança, ele pode destituir a Diretoria.O Presidente da República não destitui o Pre-sidente da EBC, mas o Conselho destitui, se eledesconfia. Portanto, é um poder muito grande,que é positivo para a empresa, por várias razões,mas vou dizer a fundamental, que é ouvir a so-ciedade, evidentemente representada. É ouviro que as pessoas pensam a respeito do que agente está fazendo, ouvir as sugestões. Emdeterminados momentos pode não acolher assugestões por problemas orçamentários, ouporque se discorda daqueles pontos de vista. Adireção pode chegar a um confronto e ser des-tituída. Mas ela também pode convencer de queaquilo está errado, sugerir uma possível imple-mentação mais adiante, etc. Então, é um de-bate absolutamente saudável que pessoas dediversos segmentos sociais passem a falar so-bre comunicação pública. E comunicaçãopública é a comunicação que tem o cidadãocomo seu cliente. Não é o consumidor, não é oeleitor. A mídia comercial vê no seu telespecta-dor, rádio-ouvinte, leitor, um consumidor. Omodelo foi criado para vender produto. Busca-se a audiência para vender consumo. Pode haverum programa ou outro com um pouco maisde cidadania educativa, mas a lógica do modelode negócio é essa. Por outro lado, a imprensaestatal presta serviço público de dar transpa-rência aos atos e fatos dos três Poderes, mas elasó tem um ponto de vista, e isso não é bompara a democracia. Mas quando você tem umamídia pública no meio delas, com a obrigaçãode passar para a sociedade todos os pontos devista envolvidos diretamente em determinadosassuntos ou campos, essa mídia complementaas outras duas, a comercial, que muitas vezesacaba defendendo o interesse do poder econô-mico que lhe dá sustentação, e a estatal que sótem o ponto de vista do governante de plantão.

Jornal da ABI – Não seria mais democráti-ca a divisão equânime desse espectro: mídiapública, mídia privada e mídia estatal?

Nelson Breve – Hoje em dia fica muito fácila gente dizer que o culpado é Assis Chateau-briand (risos). Mas acho mais justo que se te-nha essa divisão, embora concorde em que hácríticas que são pertinentes, que devem sercompreendidas e entendidas em seu contexto,mas o que tem que prevalecer é o equilíbrio. Nãopode nem pesar demais o poder do Estado, nempesar demais o poder econômico. Todo o siste-ma equilibrado serve mais à democracia.

Jornal da ABI – O papel da mídia públicano jornalismo seria o de fazer o contra-ponto, mostrar o que não aparece. Ela temfeito isso?

Nelson Breve – É preciso fazer diferente parafazer a diferença. Nós temos feito, mas aindaestamos muito longe daquilo que considero ne-cessário. Conseguimos repercussão de coisasque temos feito. As pessoas ainda estão se acos-tumando com a independência que estamosdando ao jornalista. Quem tem que ter inde-pendência é o jornalista, e não o veículo. Essaé a independência que interessa. E nós coloca-mos isso no nosso Manual do Jornalismo. É acontribuição que a gente está dando, mas aindatemos que dar muitos outros passos. Temosque fazer o contraponto, sim. Dar voz. E na co-bertura jornalística mesmo, muitas pautas quea gente faz são reproduzidas depois em outrosveículos, o que consideramos muito bom. Nãoprecisa nem dizer que copiou, a questão bási-ca é que esses assuntos para os quais a gentechama atenção estão sendo vistos. Pode ter cer-

teza: os pauteiros de todos os meios de comu-nicação nos acompanham.

Jornal da ABI – O telejornalismo não de-veria ter mais opinião, além de uma infor-mação mais profunda? Por que, ainda hoje,o que vemos é o padrão do Repórter Esso,dos anos 1940 e 1950, com notícias rápi-das e superficiais.

Nelson Breve – Eu sou dividido em relação aisso também. Acho desejável, mas não sei se es-tamos com maturidade suficiente para fazerisso. Porque aí tem que dar a opinião contradi-tória. Eu acredito que a médio prazo isso podeacontecer. A EBC e a comunicação pública têmum desafio muito grande, que é conseguir sal-tar o obstáculo da alternância de poder. Nós sóvamos saber se esse projeto está consolidadoquando houver alternância de poder. Enquan-to não chega, essa questão vai ser uma inter-rogação. Hoje o Governo acredita no projeto dacomunicação pública. Portanto, acho que nãoé fácil não, porque ninguém gosta de ouvir opi-nião contrária a sua. E qualquer política de Es-tado só sobrevive na alternância de poder.

Jornal da ABI – A teledramaturgia e os pro-gramas de humor são produtos fortes namídia comercial. Por que não fazer pro-gramas desse tipo na tv pública?

Nelson Breve – É desejável. A questão é quenão é barato, e a gente precisa encontrar o for-mato de financiamento para isso, porque nãoé só nosso interesse, é interesse do Ministérioda Educação também. Agora, o Ministério daEducação e o Ministério da Ciência e Tecnolo-gia estão querendo contar a História do Brasil,com filmes, séries etc. Acho ótimo. Dramati-zar a literatura brasileira é ótimo. Eu não estoufalando de Dom Casmurro, falo de Leite Derra-mado, do Chico Buarque.

Jornal da ABI – Mas pode ser Dom Cas-murro...

Nelson Breve – Mas é que de Dom Casmurrojá foram feitas várias adaptações. Nada con-tra fazer mais uma, mas estamos falando devalorizar a literatura através da dramaturgia.Teatro é outra possibilidade. A questão é a se-guinte: tenho que ter os tempos das coisas.Como eu fisgo, como mantenho e como mudoo padrão de gosto das pessoas. A gente tem queentender que as pessoas que vêem televisãoaberta, gratuita, não a assistem para adquirircultura, saber, conhecimento. Elas querem é seentreter. Trabalharam como um cão o dia in-teiro, estão querendo esquecer o trabalho.Chegam em casa e a primeira coisa que fazemé ligar a televisão para distrair. Saem do mun-do, da realidade de fora, e entram num outromundo, em que a televisão acaba sendo maisuma pessoa da família. É uma socialização. Agente tem que entender que a televisão é isso.Gostaria que tivesse sido diferente. Se o mode-lo dela, 50, 60 anos atrás, tivesse vindo diferen-te, seria outra coisa. Mas o papel da televisãona cultura da nossa geração é esse. O segredoestá em tornar interessante aquilo que é deinteresse público, aquilo que é de interessecultural, aquilo que é de interesse educativo. Enós queremos fazer. A televisão hoje está acos-tumada com o formato de telenovela, mas jáestá migrando para o formato de séries, demenos episódios. Os roteiristas brasileiros evo-luíram muito, fazem bons roteiros de audiovi-suais, mas precisa haver mais quantidade. Nósestamos conversando com a Ancine para tentarviabilizar uma forma de a gente conseguir fi-

nanciar esse tipo de conteúdo, no caso da dra-maturgia, séries, documentários e outras coi-sas mais. Não é fácil, porque o que a Ancine queré que nós sejamos uma espécie de agente paradistribuir regionalmente os recursos para pro-dução independente, principalmente no Nor-te e Nordeste, que têm mais necessidade de fo-mento. Não temos estrutura para fazer,acompanhar, prestar contas. Essas coisas to-das que precisam ser feitas. É muito difícil agente conseguir. Mas estamos tentando bus-car um caminho para encontrar um modelo definanciamento permanente que possa fazer queestejamos renovando essas séries. E o humorestá aí também. Achamos que é importantetrabalhar com isso, tanto com o humor quantocom a dramaturgia; tanto com os nossos clás-sicos, quanto com os novos autores.

Jornal da ABI – A programação regional épossível?

Nelson Breve – Não é só possível, como é obri-gatória. Há um percentual na lei. A gente já estáfazendo. Estamos trazendo para a nossa gra-de alguns programas das nossas parceiras.

Jornal da ABI – É importante valorizar asproduções regionais, para não ficar cen-tralizado no Sudeste...

Nelson Breve – Isso com certeza. Não é sóporque a gente quer ajudar os nossos parceiros,e é importante para eles dar visibilidade em redenacional aos conteúdos que estão produzindoregionalmente. Mas não é só por isso. É im-portante justamente para fomentar essa in-dústria do audiovisual regional e promover essadesconcentração. Acho que isso vai acontecer,querendo ou não. Já está se formando um póloentre João Pessoa e Recife. Recife está com umPorto Digital, o Porto Mídia, uma organizaçãosocial, e é preciso ficar atento ao que estãofazendo. Eles estão financiando equipamentosmoderníssimos, estúdios, para ter infra-estru-tura para que venha a produção independen-te, para projetos sociais, para multiplicar o qua-litativo de produtores independentes dentro dasorganizações sociais. É um projeto bem ambi-cioso e com pessoas altamente capacitadas eque acho que já está tendo resultados. E podeter certeza, não é à toa que Recife tem ganha-do prêmios em cinema, curta, audiovisual. Éuma região muito criativa.

Jornal da ABI – Hoje, para ingressar na EBC,é necessário um concurso. Funciona esseesquema de contratar jornalistas por con-curso público?

Nelson Breve – Posso responder quando ter-minar o meu mandato? (risos)

Jornal da ABI – Fale da formação do jor-nalista para atuar na mídia pública, que éuma coisa muito recente.

Nelson Breve – Estou me surpreendendocom os nossos calouros concursados. O obje-tivo das pessoas que estão vindo para a comu-nicação pública é o mesmo daquelas que ti-nham como meta chegar ao JB, à revista Re-alidade, tudo mais. Estou surpreso e feliz comisso, mas precisamos arrumar um jeito de es-sas pessoas não perderem esse entusiasmo. Eunão gosto da adjetivação “jornalismo público”,porque jornalismo deveria ser um serviço pú-blico, para satisfazer aqueles direitos de que agente falou no início, o direito de saber, o direi-to de dizer. É para isso que existe. Aliás, a cha-mada liberdade de imprensa é derivada disso. Épara atender esse direito que você dá liberdade à

imprensa, dá trânsito livre à imprensa, dá con-dições à imprensa para que ela possa estar noslugares onde a sociedade não está, ouvir e repro-duzir com fidelidade aquilo que foi dito, informa-do etc. Feito esse parêntesis, queria dizer que nãoé assim que tem sido. Há uma glamourizaçãodo jornalismo, o salário do jornalista é atrativo...

Jornal da ABI – Você quer dizer o jornalis-ta de televisão, não?

Nelson Breve – Em geral é atrativo, não noinício da carreira. Mas é atrativo. O cara é classemédia alta. É uma profissão atraente, que atraio interesse das pessoas também pela remune-ração, não só pelo glamour. Você tem o gla-mour, a remuneração e a proximidade com opoder. São coisas que atraem, mas não é issoque deveria atrair o jornalista. O sujeito deve-ria vir para cumprir uma missão. A missão deinformar bem, a missão de ter compromissocom a verdade, a missão de ter o compromis-so de fazer que as pessoas saibam o que estáacontecendo para tomar as decisões que pre-cisam para exercer a sua cidadania. O que agente percebe é que a necessidade de adjetivaro jornalismo como público é justamente paradizer que este é um jornalismo que tem umcompromisso com o cidadão e não pode se des-viar dele. Tem que dar voz a todos os camposque estão interessados num determinado as-sunto ou de se pronunciar sobre um determi-nado assunto, tem que ter pluralidade. A exa-tidão é o que se busca no jornalismo. E isso, decerta maneira, não está sendo apreendido pe-los jornalistas que se formam, de modo geral.O que acontece é que a gente precisa de umaescola para formar. Nós começamos uma ini-ciativa no ano passado: criar uma escola naci-onal de comunicação pública, que vai ser for-matada pela Unesco, pegando a experiência dasescolas de comunicação pública existentes nomundo hoje e transportando para a nossa re-alidade. Vamos fazer a formação do produtor deconteúdo, jornalista, roteirista, cenografia, tri-lha sonora, ter tudo isso, mas também formartécnicos para suprir, qualificar e melhorar o co-nhecimento dessas pessoas, para que elas pos-sam trabalhar melhor para nós, para os nossosquarenta e tantos parceiros, que são geradoraspara o resto do País, para rádios comunitárias etevês comunitárias, e também América Latinae África. Tudo isso é uma proposta que ficoupronta depois de um ano de idas e vindas.

Jornal da ABI – Está em fase de implantação?Nelson Breve – Agora que ficou pronto, a gen-

te não tem o dinheiro do orçamento para fa-zer no prazo que se quer, que era um ano e meio.Na verdade, era para esse trabalho estar con-cluído na metade do ano, agora. Como ele vaicomeçar só agora, e com pouco dinheiro, pro-vavelmente esse que era um cronograma de tra-balho para um ano e meio vai virar dois. A nãoser que a gente compense no ano que vem,porque este ano ficamos sem o recurso sufici-ente. Dá para a gente começar, mas não dá paraavançar o tanto que a gente gostaria nessaproposta. Por outro lado, o Professor Lalo (Lau-rindo Leuf) formatou um curso que a gente estácomeçando por São Paulo, para pegar esses nos-sos concursados que estão chegando agora e dara eles um banho de informação sobre o que é co-municação pública e qual é o papel do jornalistana sociedade, o que é que esse jornalista tem quefazer. A Serp está apoiando, porque a Serp nonosso contrato de gestão tem um percentualque é a capacitação. Primeiro vai ser em SãoPaulo, depois vamos fazer no Rio.

DEPOIMENTO NELSON BREVE

35JORNAL DA ABI 389 • ABRIL DE 2013

Jornal da ABI – A TV Brasil colocou en-tre as prioridades em sua grade de progra-mação a questão dos direitos humanos.O que está sendo programado a respeito?

Nelson Breve – Nós temos dado apoio à Co-missão Nacional da Verdade. Apoiamos o Re-sistir É Preciso, sobre a imprensa alternativa deresistência à ditadura, o Descalço Sobre a TerraVermelha, com a história do Dom Pedro Casal-dáliga e o embate dele com o Cardeal Ratzin-ger. Essa é uma produção em parceria comoutras duas tevês públicas da Europa. Tambémtemos um piloto de um programa sobre direi-tos humanos para a juventude, que está sen-do feito com a supervisão do Instituto Vladi-mir Herzog. Tenho entusiasmo com algumasséries de tevê americanas, tipo Criminal Min-ds, por exemplo. E imagino o seguinte: nóstemos pelo menos 125 desaparecidos docu-mentados. Isso dá uma série com, pelo menos,cinco temporadas de 26 episódios. Nela se podemisturar aquilo que já foi documentado e co-locar uma ficção no meio. Construir uma sé-rie inspirada nas histórias da Comissão da Ver-dade, para que as pessoas entendam, e até aspróprias famílias vejam que a verdade apare-ceu, quase como uma catarse, ainda que sejainventada, mas baseada naquilo que mais pro-ximamente possa se chegar ao que aconteceude verdade com as pessoas desaparecidas. Achoque seria um serviço inestimável da comunica-ção da televisão pública para a História do País.Estou tentando fomentar essa idéia. Hoje,tenho mais vontade de ser roteirista do que Pre-sidente da EBC, para poder fazer o roteiro deuma série dessas. Porque é um trabalho fantás-tico. Você pega o trabalho que a Comissão Na-cional da Verdade já fez e trabalha em cima dotema. Acho que seria um negócio muito legal!

Jornal da ABI – Sem publicidade comerci-al se consegue independência financeira?

Nelson Breve – Depende do que a gente cha-ma de publicidade comercial. Porque nós nãopodemos fazer publicidade comercial. Estou tra-balhando para buscar recursos na iniciativa pri-vada naquela linha de que falei. Mostrar que seo privado vem me apoiar, por que o estatal nãovem? Se não, eu caio na mesma regra que tiraa imprensa alternativa da mídia, porque a au-diência é baixa e eu recebo na proporção daminha audiência. O privado que está vindopara a TV Brasil, por exemplo, não vem pelaaudiência, mas pelo projeto, por responsabili-dade cultural com um projeto que tem a ver coma cultura nacional, com a educação e com a ci-dadania. Por que a estatal não pode por maisdo que aquilo que ela põe na mídia comercialpara viabilizar um projeto como este?

Jornal da ABI – Mas não ter publicidadecomercial não deixa a tv pública sem umaimportante fonte de rendimento para in-vestir em projetos sociais?

Nelson Breve – Vou falar do ponto de vistapessoal e sei que há discordâncias dentro da em-presa mesmo, da direção. Por princípio, soucontra até algumas divulgações institucionaisque nós permitimos que sejam divulgadas, masnão posso deixar o meu princípio impedir aempresa de ter receita já que a pessoa encarre-gada disso, que foi nosso Diretor Jurídico e Pro-curador-Geral da República, que é o Luiz Hen-rique dos Anjos, dá o aval àquilo que pode e nãopode dentro do que está previsto na nossa lei.E se ele deu o aval, não sou eu quem vai dizernão. Mas muitas vezes há coisas que me inco-modam. Não é vender cerveja, mas fazer uma

divulgação institucional de uma marca ou deuma cervejaria, por exemplo. Eu posso, mas éum incômodo. Há coisas que a gente tem quepensar se vale a pena ou não vale do ponto devista de associar a nossa imagem com outra.Portanto, por princípio, eu limitaria ainda maisaquilo que a gente pode fazer, mas não recusoreceita porque nós estamos precisando para fi-nanciar conteúdo com qualidade. Agora, achoque temos que encontrar uma outra engenha-ria de financiamento que passa pela nossa con-tribuição, mas que é insuficiente – R$ 350milhões por ano da nossa Contribuição de Fo-mento à Comunicação Pública, que o setor detelecomunicações deposita em juízo, vencemosrecentemente na primeira instância, portan-to não tenho a mínima dúvida de que vamosganhar na última, só que vai demorar. A açãoestá lá há quatro anos; demorou quatro parajulgar na primeira, vão protelar até... Já disse-ram que vão porque querem contrapartidas queo Governo não está muito disposto a dar, en-tão vamos ficar com essa pedra no nosso sa-pato. Não é só por isso não, acho que eles nãoquerem o nosso projeto, não têm interesse.Nosso projeto é contrário aos interesses das mul-tinacionais das telecomunicações. A multina-cional quer trazer a cultura deles para cá, que-rem nos impregnar com as culturas das suassedes. Eu acordei com eles que não iria brigarpela imprensa, mas estou aqui brigando. Masacho que passa, porque são 75% de R$ 350milhões, que dá aproximadamente nossa fo-lha de pagamento, despesa com pessoal maisbenefícios, hoje. Dá um pouco mais de todo onosso custeio. Aí sim, dá umas quatro vezes anossa previsão de investimentos para este ano.Acho que tem que ter um modelo que tenha ga-rantido a sua folha, porque a hora em que se ga-rantir a folha eu me torno independente doponto de vista das regras das empresas públi-cas. Você precisa garantir a sua folha de paga-mento para se tornar independente. Tenho queencontrar um modelo para que meu custo fixo,de pessoal e benefícios, tenha uma fonte segura,e que na parte de custeio eu tenha uma outrafonte, que não precisa ser tão segura assim,mas que não esteja muito sujeita à oscilaçãoda economia, e uma terceira fonte, que é a fonte

dos investimentos. Esta sim pode estar sujei-ta às oscilações da economia porque sempre sepode fazer mais investimentos quando a eco-nomia está indo melhor, e menos investimentoquando está pior, como qualquer empresa pri-vada faz. Eu diria que a proibição da publicidadecomercial em si não é uma coisa que atrapalha,não, mas nós temos que ter muita criatividadepara buscar recursos dentro da idéia de que a co-municação pública é uma responsabilidade social.

Jornal da ABI – Na sua opinião, a TV Brasiljá tem atrações para atrair o grande público?

Nelson Breve – A gente precisa pensar o queé o grande público. Eu começaria dizendo quesim. Programas como Samba na Gamboa, SemCensura, da Leda Nagle, a nossa programaçãoinfantil. Vamos aumentar o nosso orçamen-to de publicidade, de utilidade pública numprimeiro momento, e vamos contratar umaagência de publicidade para fazer isso. Isso émuito importante para que essa programaçãoseja mais conhecida das pessoas. A sintoniza-ção do nosso canal precisa melhorar. E nãoestou falando de ter a audiência das emissoraspúblicas da Europa. Estou falando da audiên-cia de uma emissora pública dos Estados Uni-dos, a PBS, que cumpre um papel muito im-portante na sociedade americana, e tem lá osseus três, cinco pontos de audiência. Esse é umpatamar factível de se alcançar. E alcançar issosignifica que se está alcançando milhões dedomicílios. Não é pouco.

Jornal da ABI – Qual é o nível atual de au-diência?

Nelson Breve – Vou te dar um dado que é aoscilação de alcance domiciliar nas três praçasem que a gente mede o Ibope. A nossa progra-mação, ao longo de um dia, chega entre 800 mile um milhão de domicílios brasileiros que a as-sistem pelo menos um minuto. Se eu for falarpor média, em Brasília estamos ali no limiarentre 0,30 e 0,42, que é tecnicamente fora dotraço, mas a gente considera 0,50 na nossa me-dição. No Rio de Janeiro estamos na faixa do0,20 a 0,30, e em São Paulo, na faixa do 0,10 ao0,20. É muito pouco. A TV Brasil tem mais au-diência na programação infantil matutina, às

vezes na vespertina também. E na madruga-da estou com programas lá com 0,99, 1,02, nãodá para explicar. O Ibope é meio doido. Maspara ir atrás de publicidade, tenho que levarmeu índice de Ibope para a agência de publici-dade porque ele não tem concorrência. É o únicoindicador. Mas não é suficiente. Então, nós es-tamos trabalhando para criar outros indicado-res também qualitativos, que possam dar umamaior abrangência. Acho que com a televisãodigital vai melhorar muito, vai possibilitar ba-ratear o acompanhamento online dos domicí-lios. Precisa acompanhar mais domicílios doque existem hoje nas medições. Tudo isso podefazer com que, lá na frente, a gente descubra quea nossa audiência não é tão ruim quanto a gentepensava. Estamos mapeando tendências, va-mos passar a fazer estudos, e a área de pesqui-sas está se estruturando para a gente entendermelhor. Na audiência, não é só o índice que éimportante. Isso é uma inteligência que a gen-te precisa construir na empresa, na área de pes-quisa. E temos esse compromisso: tirar esseíndice do traço.

Jornal da ABI – Que programa você assis-te na tevê aberta?

Nelson Breve – Até pouco tempo atrás eu nãotinha tevê paga na minha casa, porque depoisque me separei fui morar sozinho e só tinha atevê aberta. Eu fui criado com a televisão, al-moçando na frente da televisão, dormindo nafrente da televisão, estudando na frente datelevisão. Portanto, gosto muito do veículo te-levisão e assisto praticamente a tudo. Eu soucurioso para ver mesmo os piores programas.Quero ver por que esse programa é tão ruim,entender um pouco aquilo. Zapeio o tempotodo. E vou lá olhar o nosso, para mandar ostorpedos para o pessoal para dizer: “Ah, está isso,está aquilo...” O pessoal fica louco quando euassisto demais ao nosso canal, porque aí eu nãoagüento, entendeu? (risos) Mas agora, com atevê paga, estou vendo menos tevê aberta, por-que ampliou o leque. É menos, mas não é tãomenos assim. Agora, é o tempo. Nós não con-seguimos fazer tudo agora. A EBC tem que irdando os passos, um de cada vez. Se não agente vai atirar para muitos lados e, ao atirarpara muitos lados não se consegue consolidarnenhum. O planejamento estratégico nos deuum certo rumo, mas isso ainda não chegou noconteúdo. E como tenho em mente que nãoadianta ter a excelência do conteúdo se as pes-soas não vêem a imagem que você quer colo-car no ar, se não está com bom sinal, ou se aempresa do carregamento a cabo não está cum-prindo a lei que diz que nós temos que estar nagrade de canais junto com a Globo e com osoutros canais abertos... Eles têm que cumprira lei, mas não estão cumprindo... A TV Brasilé colocada no canal 180, 250, por aí. A lei da tevêpaga diz que as empresas operadoras têm queseguir uma seqüência obrigatória, e eu já faleiisso para o pessoal da Anatel. É que é tanta coisa,que a gente não consegue dar conta de tudo aomesmo tempo. Precisa carregar os canais dasgeradoras locais e depois tem uma seqüência:TV Câmara, TV Senado, TV Justiça, nós,NBR, TV Escola. Por exemplo, em São Paulo,eles têm que seguir a seguinte ordem: TVCultura, SBT, Globo, Record, Rede TV, Gaze-ta, Bandeirantes, TV Câmara, TV Senado, TVJustiça, TV Brasil, NBR, TV Escola. Tem queestar tudo junto. Mas essa batalha nós vamosganhar este ano: obrigar essas empresas a fa-zerem o carregamento do nosso canal juntocom os canais abertos.

AN

A M

IGLIA

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O diretor de teatro Aderbal Freire-Filho conversa com o cineasta Rui Guerra no programa Arte do Artista.