jornal brasil atual - catanduva 16

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Jornal Regional de Catanduva www.redebrasilatual.com.br CATANDUVA nº 16 Abril de 2013 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA jornal brasil atual jorbrasilatual Tucanos oficializam Atividade Delegada – ou os “bicos” dos PMs Pág. 6 SEGURANçA GRANA POR FORA Coordenadoria de Inclusão Social está abandonada Pág. 7 DEFICIENTES PRA NÓS, NADA! Pessoal se junta e cria a Associação dos Músicos de Catanduva Pág. 2 MúSICOS SINTONIA FINA EDUCAçãO Edmar faz Ciências Sociais, Vanessa, engenharia e Agenor formou-se em Som e Imagem Pág. 4-5 POBRES, NEGROS E íNDIOS ESTãO NA UNIVERSIDADE Prefeito Vinholi se dizia contra, mas agora está em cima do muro; hora é de retomar a luta PRESíDIO NãO TUDO DE NOVO

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Page 1: Jornal Brasil Atual - Catanduva 16

Jornal Regional de Catanduva

www.redebrasilatual.com.br catanduva

nº 16 Abril de 2013

DistribuiçãoGratuita

jornal brasil atual jorbrasilatual

Tucanos oficializam Atividade Delegada – ou os “bicos” dos PMs

Pág. 6

segurança

grana por fora

Coordenadoria de Inclusão Social está abandonada

Pág. 7

deficientes

pra nós, nada!

Pessoal se junta e cria a Associação dos Músicos de Catanduva

Pág. 2

músicos

sintonia fina

educação

Edmar faz Ciências Sociais, Vanessa, engenharia e Agenor formou-se em Som e Imagem

Pág. 4-5

Pobres, negros e índios estão na universidade

Prefeito Vinholi se dizia contra, mas agora está em cima do muro; hora é de retomar a luta

Presídio não

tudo de novo

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2 Catanduva

Expediente rede Brasil atual – CatanduvaEditora gráfica atitude Ltda. – diretor de redação Paulo Salvador Editor João de Barros redação Enio Lourenço, Florence Manoel e Lauany Rosa revisão Malu Simões diagramação Leandro Siman telefone (11) 3295-2800tiragem: 12 mil exemplares distribuição gratuita

editorial

A população de Catanduva achou que havia se livrado de um grande mal que o Geraldo, governador tucano do Estado, queria impingir à cidade, premiando-a com uma cadeia para 800 presos. Isso veio à baila antes da eleição municipal, oca-sião em que o candidato Vinholi, também Geraldo, também do PSDB, veio a público declinar que era contra o desejo do xará Geraldo. O tempo passou, o Geraldo daqui elegeu-se e, num passe de mágica, ambos os Geraldos unem-se para ameaçar a paz da nossa gente. O pior é que agora até endereço o presídio – um Centro de Progressão Penitenciária (CPP) – já tem, na Rodovia da Laranja. Ou a gente se junta novamente para dar um basta a essa história ou será tarde demais.

O mesmo pode ser dito em relação aos deficientes do muni-cípio, que perderam a Coordenadoria de Inclusão Social, aban-donada pela Prefeitura. Em suma, o PSDB só pensa em ganhos políticos reles, como aprovar a Atividade Delegada, que nada mais é do que a oficialização dos “bicos” que os PMs fazem nos dias de folga. Uma vergonha! Felizmente, há na educação uma bela notícia. É que a política de cotas do governo federal já mostra os primeiros resultados de inclusão social, botando pobres, negros e índios na universidade. É isso. Boa leitura!

outono

Leia on-line todas as edições do jornal Brasil Atual. Clique www.redebrasilatual.com.br/jornais e escolha a cidade. Críticas e sugestões [email protected] ou [email protected] facebook jornal brasil atual twitter @jorbrasilatual

jornal on-line

marcha nacional do trabalhadorAto teve entrega de reivindicações à presidenta Dilma

manifestação

O Sindicato dos Ban-cários de Catanduva e Re-gião participou da Marcha Nacional, que reuniu 50 mil pessoas em Brasília, em defesa da cidadania, do desenvolvimento e do tra-balho. Elas reivindicaram medidas democráticas e so-ciais como reforma agrária, valorização do salário mí-nimo e das aposentadorias, salários iguais para homens

e mulheres, redução da jorna-da para 40 horas semanais, fim do fator previdenciário, desti-nação de 10% do PIB para a saúde e 10% do orçamento da União para a educação e exigi-

ram o combate a demissões imotivadas – problema co-mum nos bancos.

No ato, Vagner Freitas, presidente da CUT, homena-geou Hugo Chávez, morto um dia antes. “Com Lula, ele lutou para construir uma inte-gração inclusiva, com base na soberania e na autodetermina-ção de nossos países e povos, e não na submissão a quem quer que seja” – declarou.

catanduva funda associaçãoReunião de discussão do estatuto será dia 13 de maio

músicos

Cerca de 50 pessoas fun-daram a Associação dos Mú-sicos de Catanduva, no Clube dos Bancários, com o objeti-vo de unir, mobilizar os pro-fissionais e garantir a repre-sentatividade da categoria na defesa de seus direitos. Foi eleita uma diretoria provisó-ria de cinco pessoas: Carlos Roberto Nobre, o Branquin, presidente; Benedito Eleutério Inácio Júnior, vice-presidente; Ariovaldo Capelli, secretário; César Laerte de Aquino, te-soureiro; e Adalgisa Paulati, a Bida, diretora. A diretoria deve elaborar o regulamento da Associação em conjunto com uma comissão de quatro membros, formada por Edson Torres de Souza, o Carioca, Maryelson Fernandes, Lau-

ro Roca e Edson Caldas. De acordo com Branquin, os dire-tores efetivos serão eleitos em 90 dias.

O Sindicato dos Bancários de Catanduva e Região e a ONG Instituto de Ecologia e Arte (Ecoarte) apoiaram a ini-ciativa, cedendo espaço para as reuniões, já que a associa-ção ainda não possui sede. Os vereadores Amarildo Davoli

(PT), que é presidente do Sin-dicato dos Bancários, Wilson Paraná (PT) e Cidimar Porto (PMDB) participaram das dis-cussões sobre as dificuldades dos músicos catanduvenses. A primeira reunião para discutir o estatuto será realizada no dia 13 de maio, às 19 h, no audi-tório do Sindicato dos Bancá-rios, situado na Rua Pernam-buco, 156, Centro.

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3Catanduva

Prefeito está em cima do muro sobre presídio na cidade

ao lado do perigo

Geraldo Vinholi diz que decisão é da sociedade, mas “pesquisa” um número reduzido de pessoas

Presídio não

Em coletiva de impren-sa, o prefeito Geraldo Vinholi (PSDB) mostrou que está em cima do muro sobre a deci-são do governo estadual de construir um presídio na cida-de – antes de eleger-se ele era declaradamente contra. Vinholi afirma que como é desejo do governador Alckmin erguer um Centro de Progressão Peniten-ciária (CPP) em Catanduva “de qualquer maneira”, a população devia dizer “sim” ao governa-dor e garantir os investimentos futuros. A decisão, no entanto – diz ele – é dos catanduvenses.

O prefeito revelou ainda que

faz “pesquisas” sobre a vonta-de popular dos cidadãos, mas – soube-se depois – elas se li-mitam a um reduzido grupo de pessoas, gente do Rotary, da maçonaria e do Grupo de Apoio

à Comunidade (GAC), da Fa-culdade de Medicina. “A de-cisão sobre o presídio será em breve. Eu não sei quanto tempo levaria para debater com a po-pulação os prós e os contras,

mas não é minha pretensão re-alizar plebiscitos” – diz. Sobre o discurso usado em campanha, de que teria impedido a vinda do presídio, o prefeito afirma que se tratava de outra situação: “antes havia a imposição de um presídio em regime semiaberto; agora, a opção é por uma prisão em regime fechado”.

Para o vereador Amarildo Davoli (PT) a história não é assim. “Os catanduvenses fo-ram enganados pelo PSDB. Na campanha municipal, o governador prometeu que o presídio não viria, sem cogitar modelos carcerários. Agora, a

decisão foi tomada do dia para a noite e mostra que havia sido adiada com fins eleitoreiros” – protesta. Amarildo lembra que Vinholi desprezou até o esfor-ço coletivo do Alerta Catan-duva, mas agora diz que vai “gerar 550 empregos com o presídio, mas não garante que haja sequer um catanduvense nessas vagas, que serão preen-chidas por servidores públicos estaduais concursados”.

O presídio deve ser insta-lado na Rodovia Comendador Pedro Monteleone – a Rodovia da Laranja, no Km 203, sentido Catanduva a Palmares Paulista.

Os presos mais perigo-sos cumprem longas penas, em regime fechado. Então, suas famílias migram para a cidade onde eles estão apri-sionados, sobrecarregando os serviços básicos de saú-de, segurança, educação, etc. Além disso, gente que faz parte de facções crimi-nosas poderia vir para Ca-tanduva.

A prisão que será instala-da aqui no município é para 768 pessoas, mas não há garantia de que será esse o número de detentos – o CPP de São José do Rio Preto comporta 800 e há mais de 1.500 presos na unidade.

Os vereadores Amarildo Davoli (PT), Wilson Paraná (PT), Nilton Cândido (PTB) e Julinho Ramos (DEM) buscaram informações em

Taiúva com o prefeito da cidade Mauro Vicente Bersi (PMDB), que recebeu uma cadeia há um ano. A eles, o prefeito Mauro Bersi de-clarou que o presídio é uma desgraça. Eis o que, em sín-tese, ele disse: “A cidade so-freu bruscos impactos com a sua instalação. Nas uni-dades de saúde, os detentos têm prioridade; quando eles chegam, quem está sendo atendido tem de esperar. Também não houve aumen-to do contingente policial. A criminalidade cresceu e o número de policiais é o mesmo. Outro aspecto pre-ocupante é a superlotação da penitenciária. Construída para abrigar 800 detentos, ela chegou a ter 1.500 – as-sim como em São José do Rio Preto”.

a cidade diz não ao presídioCerca de 80 pessoas fo-

ram ao Sindicato dos Tra-balhadores Rurais, dia 21, e discutiram o Centro de Progressão Penitenciária, que pode vir para Catan-duva. Estavam presentes políticos, lideranças sindi-cais e religiosas – o prefei-to Geraldo Vinholi (PSDB) não compareceu. O evento teve início com um vídeo mostrando a realidade de ci-dades que têm os presídios, cenas da campanha eleitoral – com o prefeito dizendo- -se contra o presídio – e um depoimento, gravado numa coletiva de imprensa, quan-do Vinholi defendeu a im-plantação da penitenciária.

“Esse tipo de presídio, concebido pelo PSDB, tra-ta as pessoas de maneira desumana e não reabilita ninguém. Sou a favor de

unidades carcerárias regiona-lizadas e que cada socieda-de arque com os problemas que gerou” – disse o verea-dor Amarildo Davoli (PT). O prefeito de Palmares Paulis-ta, Juninho Bugança (DEM), também é contra a vinda do presídio. “Ele traria impactos para a região, com aumento de criminalidade. Eu sou contra, até porque Palmares seria um dos municípios mais afeta-dos” – diz. Já o ex-presidente

do Alerta Catanduva, Nilton Cândido (PTB), declarou guerra ao prefeito: “Eu me elegi com ele, mas agora somos inimigos políticos”. Nilton sugeriu que Vinholi provasse seu amor por Ca-tanduva levando o presídio para Itápolis, que possui maior extensão territorial. A deputada estadual Beth Sahão (PT) falou em este-lionato eleitoral. “Essas reu-niões que o Vinholi tem fei-to são parte de um jogo de cena, combinado há muito tempo. Não cola.” Para ela, a palavra de ordem é “resis-tência”.

Após o debate, o grupo – agora chamado Movimento Contra o Presídio – convo-cou uma passeata para o dia 6 de abril, às 10 h, a partir da Praça da Matriz de São Domingos.

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4 Catanduva

Pobres, negros e índios chegam pela porta da frente

Por uma nova cultura. e bota cultura nisso

62% da população apoia política de cotas, que revoluciona o ensino superior no país Por Cida de Oliveira

educação

Voltar à escola e ter um trabalho longe da rotina exte-nuante do canavial. O sonho do índio terena Agenor Cus-tódio, que dos 12 aos 18 anos

cortava cana em Aquidauana, no Mato Grosso do Sul, foi conquistado aos 39 anos, ao se formar em Imagem e Som pela Universidade Federal de

São Carlos (UFSCar). Agora, ele pode passar na seleção do programa de mestrado da ins-tituição e disputar uma vaga na área de audiovisual ou na carreira acadêmica. A 230 km da capital, a UFSCar é uma das dez melhores universida-des do país, segundo o Minis-tério da Educação.

Agenor teve dificuldades para estudar. Adolescente, lar-gou a escola para trabalhar. Aos 21 anos matriculou-se no ensino médio, que só concluiu aos 28 – mesmo assim, en-trou na Faculdade de Turismo numa universidade pública de seu Estado. Estava no tercei-ro ano, mas parou por falta

de dinheiro para alimentação, moradia e transporte. Mas o sonho não morreu. Em 2008 ingressou na UFSCar graças à cota para indígenas; em mar-ço, ele colou grau. “De outra forma seria impossível entrar numa universidade pública, gratuita, prestigiada, estudar, pesquisar e ter a chance no mestrado” – diz.

Sua vizinha de república, Vanessa David de Campos, 23 anos, aluna de Engenharia de Produção, tem grandes expec-tativas. Ingressou na UFSCar em 2008, na cota dos negros. Primeira universitária da famí-lia, a futura engenheira cresceu na periferia pobre de Taubaté

(SP). Estudou em escola públi-ca e, até o ensino médio, acre-ditava que toda faculdade era paga. Aprendiz numa indústria de autopeças, Vanessa fez mo-delação industrial – um curso técnico no Senai, junto com o colegial –, para entrar mais cedo no mercado de trabalho. Nos fins de semana, tinha aulas num cursinho popular.

Aos 18 anos, viajou sozi-nha pela primeira vez e se ma-triculou em São Carlos. Sem computador portátil e com dinheiro que mal dava para o xerox, enfrentou dificuldades. “Tive muitas desilusões. Em-bora não seja declarado, o ra-cismo existe” – afirma.

Ex-metalúrgico, Edmar Neves da Silva, 21 anos, do terceiro semestre de Ciên-cias Sociais, entrou na fa-culdade por meio da cota para oriundos da escola pública. Cursou a primeira metade do ensino funda-mental na rede municipal de Mogi-Guaçu (SP), depois seguiu na rede estadual até o ensino médio. “A formação foi muito ruim” – lembra o estudante, que queria chegar ao ensino superior público, gratuito e de qualidade.

O que o ajudou a suprir as falhas foi uma bolsa de um curso pré-vestibular par-ticular, que ganhou em 2010, quando trabalhava de dia e estudava à noite e nos fins de semana. Dirigente do di-

retório acadêmico da UFSCar, Edmar é o segundo da família numa faculdade. A irmã mais velha cursou Administração com bolsa integral do Progra-ma Universidade para Todos (ProUni) e faz pós-graduação em Marketing. Os pais não con-cluíram o ensino fundamental.

Porém, ainda há gente que paga colégios caros para os filhos chegarem às universida-des públicas, que se incomo-dam de vê-los dividir salas de aula com negros, indígenas e estudantes pobres – antes da adoção de cotas, em 2004, eles não estariam ali. Esse incômo-do acabará quando a elite se conscientizar de que as boas escolas públicas são mantidas pelos impostos de todos.

Há também casos como o

da fisioterapeuta Sílvia Marti-nez, que pagou boa escola par-ticular para a filha que ficou na lista de espera da Universida-de de Brasília (UnB). “Se não houvesse vagas reservadas

para as cotas, ela teria entrado. É uma mudança de mentalida-de, que leva gerações para ser assimilada. Mas é uma ques-tão de justiça social, vale a pena” – opina.

Um estudo dos pesqui-sadores Jacques Velloso e Claudete Batista Cardoso, da UnB – a primeira a adotar cotas para negros e pardos, em 2004 –, verificou que as cotas mais que dobraram as chances desses candidatos. Para completar, em agosto de 2012, a presidenta Dilma sancionou a lei de ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio. O prazo é de quatro anos para que as instituições reservem metade das vagas para estudantes do ensino médio de escolas públicas. Desse percentual, metade é para estudantes de famílias com renda de até 1,5 salário mínimo per capita.

graças às cotas, vanessa, edmar e agenor chegaram lá

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a voz da elite branca como vencer o preconceito

Por meio da imprensa con-servadora, os porta-vozes da classe social que o ex-gover-nador paulista Cláudio Lembo batizou de “elite branca” es-palham uma visão enviesada, segundo a qual as cotas ferem a igualdade e o mérito acadê-mico, são ineficazes porque o problema está na péssima qualidade do ensino básico público, e não na má distribui-ção de renda, rebaixam o nível acadêmico, desfavorecem os brancos mais pobres em de-trimento dos negros e prejudi-cam essa população ao estig-matizá-la como incompetente.

Todos esses mitos vão sendo derrubados. Em 2006 e 2008, pesquisas do institu-to Datafolha indicavam que mais de 80% da população aprovava as cotas. Em feve-reiro, o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma pesquisa do Ibope que mostra que 62% dos entrevistados – dois em cada três brasileiros – apoiam cotas em universidades públi-cas para alunos negros, pobres e estudantes da escola pública.

A pesquisa foi realizada em todas as regiões brasileiras e

constatou que é maior (77%) o apoio às cotas para os de baixa renda, seguido por 64% de aprovação às baseadas em critério de raça. A oposição é maior entre os entrevistados brancos, das classes A e B, mo-radores das capitais, nas regiões Norte e Centro-Oeste. E menor entre os que estudaram da 5ª à 8ª série, emergentes da classe C, nordestinos e moradores do interior. Segundo o jornal, os que buscam ascensão social e econômica são mais simpáticos a políticas que aumentem suas chances de chegar à faculdade. A pesquisa mostra que, em to-das as camadas sociais, o apoio é maior que a contrariedade.

“De 2004 a 2011, a pro-porção de pessoas pertencen-tes à faixa de menor renda aumentou no ensino superior, passando de 0,6% para 4,2%. No mesmo período, a inserção dos negros saltou de 5% para 8,8% e dos pardos, de 5,6% para 11%” – diz o professor João Feres Júnior, do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa da Uni-versidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Na ava-liação de frei David Raimundo dos Santos, 60 anos, diretor da

ONG Educação e Cidadania de Afrodescendentes (Educa-fro), a aprovação das cotas é fruto dos argumentos sólidos dos defensores da medida. “Com humildade, sabedoria e vigor, as pessoas esclare-cem à opinião pública, o que não ocorre com os críticos que estão em 90% das repor-tagens contrárias publicadas nesses 10 anos” – diz.

O juiz f e d e r a l W i l l i a m D o u g l a s , 45 anos, do Rio de Janei-

ro, era contrário às cotas dos negros, mas passou a defendê-las. Branco, filho de pai lavrador e mãe ope-rária, ele não crê mais em “heroísmo”. “Minha filha estuda em colégio caro, de professores bem pagos e óti-ma estrutura, mas a maioria das crianças pobres estuda em escolas sem professores, carteiras ou banheiros. Não é justo exigir o mesmo de-sempenho na hora de entrar na universidade” – diz.

As cotas valem apenas para o ingresso na facul-dade. A permanência e a conclusão são por conta do aluno. Com o mesmo grau de exigência nos cursos, os cotistas superam as de-ficiências do ensino básico e rendem igual ou melhor

que os não cotistas. Em 2008, o desempenho acadêmico dos cotistas negros era de 6,41 e dos vindos de escolas públicas 6,56, acima do 6,37 dos não cotistas. Além disso, a taxa de conclusão dos cursos era maior.

Embora as universida-des estaduais paulistas não adotem o sistema de cotas, a Unicamp concede pontos adi-cionais na nota do vestibular dos egressos da rede pública. A comissão para o vestibular constatou que a nota média desses alunos beneficiados foi mais alta que a dos demais.

Outra resposta ao discurso de que a política de cotas seria demagógica e os beneficiados abandonariam o curso vem de um estudo da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A maioria dos cotistas já cum-prira a maior parte dos cré-ditos das disciplinas e o seu desempenho estava entre os mais altos em cursos como Matemática, Física, Engenha-ria Elétrica, Ciências Biológi-cas, Odontologia, Farmácia,

os negros na universidade são uma novidade nas aulas

Filosofia, Comunicação, Nutrição, Psicologia e Di-reito. Os cotistas também estavam menos sujeitos a reprovação por faltas.

Primeiro aluno a ingres-sar na UFBA por meio de cotas, Icaro Vidal formou-se em Medicina em 2011. Negro e oriundo da escola pública, viu graduarem-se inúmeros grupinhos de es-tudantes brancos, formados nas melhores escolas parti-culares de Salvador. Nunca fez parte de nenhum deles, tampouco sentiu na pele preconceito por ser cotista. Mas sabe que existia, de for-ma velada.

Médico do Programa de Saúde da Família da Prefei-tura de Salvador e servidor estadual num instituto de cri-minalística, Icaro torce pela educação brasileira. “As cotas facilitam a entrada na faculdade, mas não são tudo. É preciso melhorar a escola pública. Atendo adultos e crianças de 12 anos que não sabem ler nem escrever.”

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flagrante: o doutor icaro atende seus pacientes

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6 Catanduva

Psdb oficializa “bicos” para policiais militares

“instituição falida”

Governo admite má remuneração dos policiais e transfere aos municípios tarefas do Estado

segurança

O governador Geraldo Alck-min (PSDB) irá estender a 123 cidades paulistas o programa Atividade Delegada, que é um convênio entre as Prefeituras e a Secretaria de Segurança Pú-blica do Estado para a contra-tação de policiais militares nos municípios em dias de folga. Aprovado pela Assembleia Le-gislativa em novembro, o proje-to recebeu votos contrários das bancadas do PT e do PSOL, que entendem que a oficialização dos bicos dos PMs sobrecarre-ga os profissionais, sucateando a segurança.

Para o deputado estadual Vanderlei Siraque (PT), da Comissão de Segurança Pú-blica e Combate ao Crime Organizado, a existência dos bicos, oficializados ou não,

comprova a desvalorização progressiva dos policiais e a insegurança da população. “O ‘bico’ existe em decorrência da organização inadequada dos horários de trabalho dos policiais e da baixa remunera-ção. O resultado é a sensação de insegurança nas ruas – de donos de padarias, postos de

gasolina, etc.” – afirma. Se-gundo o parlamentar, “como o policial vende o seu direito ao descanso, ele deixa de ter mo-mentos de lazer, de reflexão e tempo livre para atividades lúdicas, como ir ao cinema. E também é privado da com-panhia da família, o que gera estresse, fadiga, irritação e até

O presidente da Câmara de Catanduva, Marcos Crip- pa (PTB), ex-policial civil, chama a polícia de “insti-tuição falida”. Segundo ele, apesar de munidas de arma-mentos e veículos dignos de elogio, as delegacias fun-cionam com um quadro re-duzido de pessoal, uma vez que os policiais que se apo-sentam não são substituídos.

“A delegacia deve ter oito policiais para duas viaturas. Tinha de haver uma mani-festação contra o governo, pedindo polícia para Catan-duva. Não temos efetivo para combater a criminalidade” – afirma Crippa, que acentua: “O crime tomou conta de di-versos bairros de Catanduva e a polícia precisa de refor-ços para atuar nesses locais”.

comediante investe em literatura e reclama da velhicePara João Ellyas, o Salim Muchiba, a terceira idade é inaceitável. “A velhice é uma droga”

cultura

Intérprete de persona-gens como o turco Salim Muchiba, da Escolinha do Professor Raimundo, e o caipira Zé Bento, da Esco-linha do Gugu, o humorista catanduvense Antônio João Elias de Oliveira, o João Ellyas, esbanja potencial criativo em trabalhos literá-rios. O último de seus 12 li-vros, Casos de Tonico Ben-to – Verdadeiros ou Quase, de 2012, traz uma mistura de invenção com histórias cotidianas, em uma narra-tiva típica dos contadores

problemas de saúde mental”. Siraque critica a transferência da responsabilidade do Estado para os municípios na área da segurança pública. “Entendo que isso é inconstitucional e as contas dos prefeitos poderão ser rejeitadas pelo Tribunal

de Contas” – diz. Ele ressal-ta que a medida onera os co-fres municipais e afirma que o município deve investir em educação infantil, inclusão so-cial, drenagem urbana, urba-nização de áreas degradadas e iluminação pública.

de causos. “Não queria contar isoladamente e me lembrei de Alexandre e Outros Heróis, de Graciliano Ramos, em que ele narra histórias populares do sertão nordestino e segui essa

linha, concentrando a narrati-va num único personagem. O resultado foi bom, o texto fi-cou agradável” – conta.

Tão agradável que João es-creveu um novo livro, intitula-do Tonico e Jesuíno – Contos de Um e Piadas do Outro. “Agora é o afilhado de Tonico que cres-ce e torna-se um contador de causos mais moderno, que con-ta piadas não convencionais” – diz o escritor, homenageado, em fevereiro, na Câmara Mu-nicipal, no Dia do Comediante. João também é ator, jornalista, radialista e artista plástico.

João Ellyas não teve in-fluência literária. “Quem nasce humorista, possui lin-guagem própria. Mesmo que escreva romances, novelas ou contos sem humor, o jei-to de contar é diferenciado” – afirma. João critica a ex-pectativa criada em torno do comediante. “Todos têm a ideia de que eu tenho a piada pronta e acham que sou obri-gado a ser feliz o tempo todo, como se o humorista não ti-vesse problemas familiares,

linguagem própriafinanceiros ou de saúde.” Para ele, a pessoa torna-se comediante por ser reflexiva e mal-humorada. “O humor é o avesso da verdade. Eu não sou um saco de risadas.”

Homem recluso, João, 68 anos, rebela-se contra a velhice. “É hipocrisia dizer que ela é a melhor idade, ainda mais quando se ad-quirem doenças. Eu odeio a velhice, a minha velhice, e expresso em algumas obras essa amargura” – finaliza.

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7Catanduva

Prefeitura abandona pessoas com deficiência

Promessa de campanha falta de educação

“Coordenadoria de Inclusão Social é esquecida, mas prefeito investe em festas” – diz moradora

deficientes

A Coordenadoria de Inclu-são Social de Catanduva está abandonada. Até agora, o pre-feito Geraldo Vinholi (PSDB) não nomeou ninguém para ocupar o cargo de coordena-dor, medida essencial para que os trabalhos desenvolvidos na administração passada tenham prosseguimento. Assim, ele vira as costas para 30.000 pes-soas com deficiência que vi-vem em Catanduva, segundo o Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE).

Criada em 2010, a Coor-denadoria tem como foco o desenvolvimento de políticas públicas que incentivem o de-senvolvimento de pessoas com

Quem era atendido pela Coordenadoria de Inclusão sente-se enganado pela Pre-feitura. A vendedora Míriam Gabriela, mãe do deficiente visual Fernando José Perpé-tuo Costa Júnior, o Juninho, de 11 anos, disse que duran-te a campanha eleitoral, o candidato Geraldo Vinholi (PSDB) se comprometera a desenvolver políticas de inclusão, por meio de pro-jetos da Coordenadoria. A

promessa não foi cumprida e Juninho, que fazia natação, suspendeu suas atividades. A secretaria de Esportes, La-zer e Turismo propôs arru-

mar transporte para o ga-roto treinar no Conjuntinho, mas sem a presença de um especialista que se respon-sabilizasse por ele. “Meu filho ia começar a treinar judô para competir nas Pa-raolimpíadas. Agora ele tem de ficar em casa, enquanto o prefeito se dedica a festas como Carnaval e Rodeio. As pessoas com deficiência perdem qualidade de vida” – desabafa.

Preocupado com as pesso-as com deficiência, o verea-dor Cidimar Porto (PMDB) ocupou a tribuna para cobrar providências da Prefeitura – a cobrança também foi feita por meio de requerimento. Tam-bém o vereador Wilson Para-ná (PT) pediu a construção de mais rampas de acesso para cadeirantes e a ampliação do número de estacionamentos para esse grupo de pessoas e a devida fiscalização. Segun-do ele, boa parte dos catandu-

venses não respeita as vagas reservadas às pessoas com necessidades especiais que têm a acessibilidade compro-metida pela falta de educação dos condutores.

grêmio faz bonito e está na segunda faseApós derrubar Santacruzense, Bruxo enfrenta Portuguesa em Catanduva

futebol

ficiência por empresas da ci-dade.

Outra vitória do depar-tamento é o repasse de R$ 1 milhão de reais, pela Secre-taria do Estado dos Direitos das Pessoas com Deficiência, para a criação do Centro de Convivência da Pessoa com Deficiência e Idoso – porém, segundo algumas fontes, esse investimento poderia ser sus-penso caso a Prefeitura não demonstre interesse no tema.

Questionada sobre os ru-mos da Coordenadoria de In-clusão Social, a assessoria de Comunicação da Prefeitura não se pronunciou a respeito até o fechamento desta edição.

deficiência e pessoas idosas. Entre as ações promovidas, destacam-se parcerias esta-belecidas com secretarias municipais, tendo em vista a inclusão em todas as esferas sociais. Um desses convênios

é o Programa de Empregabili-dade da Pessoa com Deficiên-cia, firmado com a Secretaria Municipal de Emprego e Re-lações de Trabalho (Semdert), que possibilitou a contratação de quase 40 pessoas com de-

PaciênciaUm grupo de pessoas

com deficiência solicitou o retorno das atividades da Coordenadoria de In-clusão Social. O chefe de Gabinete, Adriano Rodri-gues, pediu paciência e para não denunciar o caso à imprensa. Míriam pro-testou no Facebook e ob-teve resposta do filho do prefeito, Marco Vinholi, que não tem cargo públi-co. “Ele disse que não era bem assim e colocou-se à disposição, mas até agora não fez nada” – finaliza.

O Grêmio Catanduvense venceu a Santacruzense por 1 a 0 no estádio Silvio Salles e passou à segunda fase da Série

A2. O gol da vitória do Grê-mio foi de Marcos Denner, aos 31 minutos do 2º tempo, após cruzamento de Sidcley.

Com 30 pontos, o Bruxo ficou em 7º lugar, enquanto o adversário foi rebaixado para a Série A3, com 15 pontos.

Dessa forma, as equipes do Grupo 2 da fase semifinal são Audax, Guaratinguetá, Rio Cla-ro e Red Bull. Já o Grupo 3 é

composto pe-los times Comer-cial, Capivariano, Por-tuguesa e Catanduvense.

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Page 8: Jornal Brasil Atual - Catanduva 16

8 Catanduva

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vale o que vier

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Horizontal – 1. Quem faz pesquisa 2. Sigla do Rio Grande do Sul; Nome das plantas que causam irritação na pele 3. Que contém ópio; Liga Oficial Pokémon 4. Quadro-negro; Radical NO2, que torna mais ácida a molécula da qual faz parte 5. A letra R; Visto que 6. Tribunal Administrativo Tributário; Classe de compostos orgânicos com um radical hidroxila ligado a um núcleo de benzeno 7. Tornar mais fino 8. Sorri; Indica a pessoa que fala e funciona como sujeito da oração; Bashar Hafez al-, dirigente sírio 9. Cidade do Ceará; As três primeiras letras do alfabeto; Music Theatre International 10. Lugar com água e vegetação no meio de um deserto; Designa orelha.vertical – 1. Trabalhador que vive apenas de seu salário 2. Casual, fortuita 3. Tenda, ou abrigo subterrâneo dos povos nômades do centro da Ásia; Símbolo do ósmio 4. Por pouco; Fonema correspondente à letra L 5. Nome de um bairro carioca; Plural de água 6. Que não tem bom sabor, insípido 7. Comuna da Suíça, localizada no Cantão Valais; Antônimo de forte 8. Símbolo de prata; Pau-d’arco, árvore de madeira muito resistente 9. Distúrbio da visão que impede a percepção de cores 10. Sobrenome do general que é patrono da Arma de Cavalaria do Exército Brasileiro; Antigo Testamento 11. Trecho musical que se executa depois de uma cerimônia.

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