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Domingo, 1-10-1950 jt V, w<:/j JÊL^t^l t cio &jl JLfl%fú f ^ONHECI Clarice Lispec- I i tor unia notto, f ugazmen- V^A te, era Lisboa. Vinha do Hio de Janeiro e diri- gla-se a Nápoles. Foi isto uni ciiioo anos. Havia calor. Lia no verão. As janelas do quinto andar do prédio cni qne vivia Ribeiro Couto estavam abertas sobre aa colinas de Lis* boa. E Clarice Lispector on- Irou no salão onde a aguarda- vamos como uma dessas ima- :;<-.-,.s que trazem cm si princípio do seu próprio desva- ncciniento: são tão belas que não podem durar. Impossível dlzpr de que côr erara os ca- betas dessa imagem fluida. Não rcíive dela um único por- menor. Apenas sei que era be- Ia e que a sua presença ficou para sempre naquele salão on- de nunca mala entrei que a não risse. Pouco tempo depoia recebi, remetido da Itália, se bem me lembro, o seu primeiro livro -— "Porto do coração selvagem" - que pouco antes aparecera no Rio de Janeiro sob o mes- mo. signo de fluidez que presl- dirá ao próprio aparecimento da sua autora em Lisboa em certa noite de verão. Era um livro fosforescente, espécie de íogo-íátuo, qualquer ooisa como o rclampejar de uma oonsciên- cia no meio das trevas de uma noite tropical Li-o com a mes- ma sensação de presença flui- da que " experimentara quando entrevira a silhueta de Clarice Lispector desenhada no céu de estrelas que forrava as janelas do salão de Ribeiro Couto, abertas sobre as invisíveis co- unas de Lisboa. Num pequeno artigo que então, escrevi falei «o que se me afigurava a maior novidade dás suas páginas a introdução do "monólogo inte- nor" sistemático na história do romance brasileiro. Passaram anos. Clarice Lia- pector publicou, entretanto, ou- tro hvro "O Lustre" li- vro que me não chegou às íaaos, B agora, vai para um ano, eis que de novo perpassa P«jr diante de mim a precária i»iagem que o tempo conser- vura "possível" recortada no iioíumo céu estivai de Lisboa. A cidade sitiada» é o título «o ultimo romance de Clarice Uspector. Foi escrito em Ber- «a cm 1948. Tcr-se-ia dado uma trans- formação substancial na téoni- fa novelistiea da autora de rerto do coração selvagem"? m o creio. Todavia, qualquer «oisa me parece mudada no eu estilo. não é o "mono- o&o interior", tal como o rea- Jjaram um James Joyce ou »a Virgüiia Woolf, que cons- "nu a maquina novelistiea de •A cidade sitiada». O "mono- ogo interior- exprime o mun- «» e a vida em interioridade: ir>f,,.V e ° mu»«*o vistos de •«entro para fora, do centro â\lt1V Periferia> Não se pode ;!,V» seja esta a visão do jwmdo «ue se nos oferece no E \»Mora> neíe> ° "mono- cia ,"?u c.omo ««« "consciên- ^ conceptual» do mundo. se.msa? «n-agens desdobrando- o CZ, lmasens. que " realizam " do 5ora!na em <*Ue nos « *»- livre a Pcrso"agens do seu meni'« °I)era§ão que atual- otün, se> "^.Patenteia na má- 1 l.i-iÍf.,AnoveI,stiCa de Clarice |0]jm-dor assemelha-se mais à «a ; :'?. c.ímcoptual que- domi u,ln ¦ jlaorxça dos romances Nna íêU"Paul Sartre ou de *>«none dc-Beauvoir. Im- HENRY CLINTÊNK AMP Xilogravura CLARICE LISPECTOR "EXISTEN- CIALISTA"OUl<SUPRA-REALISTA"? nn i ¦ ¦¦«¦¦ ¦ wanwo JOÃO GASPAR SIMÕES previstameníe pelo menos para mim, que não conheço "O Lustre" Clarice Lispec- tor desvenda-sc-nos como uma existencialista": a primeira "existencialista" do romance brasileiro pelo menos, do romance brasileiro que eu co- nheço. A. etiqueta não tem impor- tânoia. Clarice Lispector, "exis- tencialista", não deixou de ser Clarice Lispector; Pelo contra- rio tenho a impressão- de- que se tornou muitíssimo mais e)a própria. Que é o "monólogo interior" senão o primeiro pas- so para a metamorfose do ro- mance realista em romance " existencialista " ? Não vem para o caso descer- mos a minudências quanto á essência do "existencialismo". Importa apenas quo tomemos como ponto de referência isto: enquanto a filosofia não-exis- tcncial estabelece uma hierar- quia em que o pensamento so- brepuja a vida, lançando sobre- ela o facho dos seus conceitos, nos quais a sua imagem se fl- xa, discursivamente; na filoso- lia "existencial", pelo contra- rio, a vida antepõe-se ao pen- samento, a existência precede a essência, e, portanto, pensar a vida corresponde, de certo modo, a uma identificação com e5a. Parece-me que não é difícil, perante isto, aproximar a téc- nica novelistiea entronizadora cio ••monólogo interior" de uma céncegieão existencial do ro-- nuiiree; é na fusão do pensa- mento e da vida, na fluido?! da própria consciência, conaci- (inc'a na medida em que é vi- da,, que o romance de um in- mes Joycb ou de una Vir unia Woeff encontram á sua justi- fi ração No seu primeiro lavro "Perto do coraçio selvagem" -- Clarice Li pe: or. atravéi da consciência da sua heroina, "pensava" o mundo por üua- Rcns. A vi;la realizava-so i:a sua consoiénoia consoante as imagens que ela ia projetando no "c^ra:." i!o loma* e. p r •- Ilzonda-se-li-e na consciência, realizava-se ao mesmo tem- po no pb.no da rèa"dadç: j- íetivava-se con.scienclftI3s.indo- so. Método muito dlícrenta do método clássico, no roraance .objetivado p-''.o "monólagò a- terior", ainda não há, toda*n'a, divórcio completo entre a Í-m-- ma novel ístisca tradicional de pintar o mundo compondo quadros em quo a vida, per- sonagens, as coisas, as ações representam como que. cC*ms en-soi, como diria Sartre c » forma adotada peJos "exis- tencialistas" íranceses, e;r.e- cialmente Sartre e Slmoné de Beauvcir Quer ein "Les Chu- ruins de Ia Liberto', quer em "L'InvUé". especialmente nes- te romance, pois Simone tio Beauvoir, discípula, vai mais longe do que Snrín;, mesire, qualquer coisa mudou substán- clalmentc Eis a grande revo- lução a que Clarice Lispcçioc me parece particularmente seu- sível. não é um quadro quer introvertido, quer extrovertido que o romance nos oferece. O romance, agora, ofeve-ce-ua:; os atos das personagens e o seu próprio significado. Ao invés da descrição da realidade, ro- manco "existencialista", pelo menos ta! como o realizam os mait; representativos "existcii- ciaiistas" franceses, e tal como o reaBza a autora de "A cida- de sitiada", proporciona-«os um conceito da realidade. Vi- vido, como vida, como existên- cia, a vida, no romance 'c.sfs- tencialista", é fixada concep- tualmente: ao invés de os a\os das suas personagens e os mo- vimento.i da sua consciência aguardarem a interpretação que a crítica on o leitor iate- ligente possam viv a fazer dele-*, é o próprio romancista quem se encarrega de nô-ios dar, siínul- tâneamente, como atos e mo- vimentos de consciência e ccuio conceitos ou interpretações íi- losóficas. Evidentemente que são muitos os perigos que rõ- deiam uma tal empresa: são tanto maiores quanto mate "fi- Iosófica" a mentalidade do ro- mancista. isto é, quanto mais enfeudada a um sistema. Eis por que não poucas páginas de Jean-Paul Sartre e grande número de Simone de Béaüvoir se nos apresentam a uma hrx de ta! modo abstrata m:e os seus romances so despojam da- £uela concretização indiepensi- vel ao processo recreativo na consciência do leitor do fluxo da vida, matéria fundamental da romance como gênero üíc- rário. Clarice Lispector vaão receou substituir o "monólogo iníe- rior" introversão âo muntio cm imagens pela expressão concepiua) da realidade o mundo introvertido em cornai- tos. E, assim, ci-la que nos in- trodinj numa atmosfera huma- na em que o humano ;;ão é senão uma mera criação con- cepiuaí. Enamorada das n •; modernas formas de arte. Cia- rice- Lispector, como seu «•:•- man-ee "A cidade sitiada", / /

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Domingo, 1-10-1950

jt V, w<:/ j

JÊL^t^l t cio &jl JLfl%fúf ^ONHECI Clarice Lispec-I i tor unia notto, f ugazmen-V^A te, era Lisboa. Vinha do

Hio de Janeiro e diri-gla-se a Nápoles. Foi isto háuni ciiioo anos. Havia calor.Lia no verão. As janelas doquinto andar do prédio cni qnevivia Ribeiro Couto estavamabertas sobre aa colinas de Lis*boa. E Clarice Lispector on-Irou no salão onde a aguarda-vamos como uma dessas ima-:;<-.-,.s que já trazem cm si •princípio do seu próprio desva-ncciniento: são tão belas quenão podem durar. Impossíveldlzpr de que côr erara os ca-betas dessa imagem fluida.Não rcíive dela um único por-menor. Apenas sei que era be-Ia e que a sua presença ficoupara sempre naquele salão on-de nunca mala entrei que a nãorisse.

Pouco tempo depoia recebi,remetido da Itália, se bem melembro, o seu primeiro livro -—"Porto do coração selvagem"- que pouco antes aparecerano Rio de Janeiro sob o mes-mo. signo de fluidez que presl-dirá ao próprio aparecimentoda sua autora em Lisboa emcerta noite de verão. Era umlivro fosforescente, espécie deíogo-íátuo, qualquer ooisa comoo rclampejar de uma oonsciên-cia no meio das trevas de umanoite tropical Li-o com a mes-ma sensação de presença flui-da que " experimentara quandoentrevira a silhueta de ClariceLispector desenhada no céu deestrelas que forrava as janelasdo salão de Ribeiro Couto,abertas sobre as invisíveis co-unas de Lisboa. Num pequenoartigo que então, escrevi falei«o que se me afigurava a maiornovidade dás suas páginas —a introdução do "monólogo inte-nor" sistemático na história doromance brasileiro.

Passaram anos. Clarice Lia-pector publicou, entretanto, ou-tro hvro — "O Lustre" — li-vro que me não chegou àsíaaos, B agora, vai para umano, eis que de novo perpassaP«jr diante de mim a precáriai»iagem que o tempo conser-vura "possível" recortada noiioíumo céu estivai de Lisboa.A cidade sitiada» é o título«o ultimo romance de ClariceUspector. Foi escrito em Ber-«a cm 1948.Tcr-se-ia dado uma trans-formação substancial na téoni-

fa novelistiea da autora dererto do coração selvagem"?m o creio. Todavia, qualquer«oisa me parece mudada noeu estilo. Já não é o "mono-o&o interior", tal como o rea-Jjaram um James Joyce ou»a Virgüiia Woolf, que cons-"nu a maquina novelistiea de•A cidade sitiada». O "mono-ogo interior- exprime o mun-«» e a vida em interioridade:ir>f,,.V e ° mu»«*o vistos de•«entro para fora, do centro

â\lt1V Periferia> Não se pode;!,V» seja esta a visão do

jwmdo «ue se nos oferece no

E \»Mora> neíe> ° "mono-

cia ,"?u c.omo ««« "consciên-^

conceptual» do mundo. Jáse.msa? «n-agens desdobrando-o CZ, lmasens. que " realizam "do 5ora!na em <*Ue nos « *»-livre a Pcrso"agens do seumeni'« °I)era§ão que atual-otün, se> "^.Patenteia na má-

1 l.i-iÍf.,AnoveI,stiCa de Clarice|0]jm-dor assemelha-se mais à

«a ; :'?. c.ímcoptual que- domiu,ln ¦ jlaorxça dos romances d»

Nna íêU"Paul Sartre ou de*>«none dc-Beauvoir. Im-

HENRY CLINTÊNK AMP — Xilogravura

CLARICE LISPECTOR "EXISTEN-CIALISTA"OUl<SUPRA-REALISTA"?

nn i ¦ ¦¦«¦¦ ¦ wanwo

JOÃO GASPAR SIMÕES

previstameníe — pelo menospara mim, que não conheço"O Lustre" — Clarice Lispec-tor desvenda-sc-nos como uma

existencialista": a primeira"existencialista" do romancebrasileiro — pelo menos, doromance brasileiro que eu co-nheço.

A. etiqueta não tem impor-tânoia. Clarice Lispector, "exis-tencialista", não deixou de serClarice Lispector; Pelo contra-rio — tenho a impressão- de- que

se tornou muitíssimo mais e)a

própria. Que é o "monólogointerior" senão o primeiro pas-so para a metamorfose do ro-mance realista em romance" existencialista " ?

Não vem para o caso descer-mos a minudências quanto áessência do "existencialismo".Importa apenas quo tomemoscomo ponto de referência isto:enquanto a filosofia não-exis-tcncial estabelece uma hierar-quia em que o pensamento so-brepuja a vida, lançando sobre-ela o facho dos seus conceitos,

nos quais a sua imagem se fl-xa, discursivamente; na filoso-lia "existencial", pelo contra-rio, a vida antepõe-se ao pen-samento, a existência precedea essência, e, portanto, pensara vida corresponde, de certomodo, a uma identificação come5a.

Parece-me que não é difícil,perante isto, aproximar a téc-nica novelistiea entronizadoracio ••monólogo interior" de umacéncegieão existencial do ro--nuiiree; é na fusão do pensa-

mento e da vida, na fluido?! daprópria consciência, só conaci-(inc'a na medida em que é vi-da,, que o romance de um in-mes Joycb ou de una Vir uniaWoeff encontram á sua justi-fi ração

No seu primeiro lavro"Perto do coraçio selvagem"-- Clarice Li pe: or. atravéi daconsciência da sua heroina,"pensava" o mundo por üua-Rcns. A vi;la realizava-so i:asua consoiénoia consoante asimagens que ela ia projetandono "c^ra:." i!o loma* e. p r •-Ilzonda-se-li-e na consciência,realizava-se ao mesmo tem-po no pb.no da rèa"dadç: • j-íetivava-se con.scienclftI3s.indo-so. Método muito dlícrenta dométodo clássico, no roraance

.objetivado p-''.o "monólagò a-terior", ainda não há, toda*n'a,divórcio completo entre a Í-m--ma novel ístisca tradicional depintar o mundo — compondoquadros em quo a vida, aã per-sonagens, as coisas, as açõesrepresentam como que. cC*msen-soi, como diria Sartre — c» forma adotada peJos "exis-tencialistas" íranceses, e;r.e-cialmente Sartre e Slmoné deBeauvcir Quer ein "Les Chu-ruins de Ia Liberto', quer em"L'InvUé". especialmente nes-te romance, pois Simone tioBeauvoir, discípula, vai maislonge do que Snrín;, mesire,qualquer coisa mudou substán-clalmentc Eis a grande revo-lução a que Clarice Lispcçiocme parece particularmente seu-sível. Já não é um quadro querintrovertido, quer extrovertidoque o romance nos oferece. Oromance, agora, ofeve-ce-ua:; osatos das personagens e o seupróprio significado. Ao invésda descrição da realidade, ro-manco "existencialista", pelomenos ta! como o realizam osmait; representativos "existcii-ciaiistas" franceses, e tal comoo reaBza a autora de "A cida-de sitiada", proporciona-«osum conceito da realidade. Vi-vido, como vida, como existên-cia, a vida, no romance 'c.sfs-tencialista", é fixada concep-tualmente: ao invés de os a\osdas suas personagens e os mo-vimento.i da sua consciênciaaguardarem a interpretaçãoque a crítica on o leitor iate-ligente possam viv a fazer dele-*,é o próprio romancista quem seencarrega de nô-ios dar, siínul-tâneamente, como atos e mo-vimentos de consciência e ccuioconceitos ou interpretações íi-losóficas. Evidentemente quesão muitos os perigos que rõ-deiam uma tal empresa: sãotanto maiores quanto mate "fi-Iosófica" a mentalidade do ro-mancista. isto é, quanto maisenfeudada a um sistema. Eispor que não poucas páginasde Jean-Paul Sartre e grandenúmero de Simone de Béaüvoir

se nos apresentam a uma hrxde ta! modo abstrata m:e osseus romances so despojam da-£uela concretização indiepensi-vel ao processo recreativo naconsciência do leitor do fluxoda vida, matéria fundamentalda romance como gênero üíc-rário.

Clarice Lispector vaão receousubstituir o "monólogo iníe-rior" — introversão âo muntiocm imagens — pela expressãoconcepiua) da realidade — omundo introvertido em cornai-tos. E, assim, ci-la que nos in-trodinj numa atmosfera huma-na em que o humano já ;;ãoé senão uma mera criação con-cepiuaí. Enamorada das n •;modernas formas de arte. Cia-rice- Lispector, como seu «•:•-man-ee "A cidade sitiada",

//

/ Página — 2 •LBTRZS E rATtTBS Psastag». M*HfO

QUANDO

se vive por longotempo em algum lugar,aos poucos, vamos trans-

pondo as Imagens que nos cer*cam para uma paisagem inte-rior, um mundo mais lírico quoreal, embebido de nossas triste-zas ou do nosso contentamento, |construído principalmente da-quilo que nos feriu: um humildemurmúrio noturno, a forma se-r*na de qualquer árvore, o men-

-o que passa todas as tardes.3sc mundo tão forte se torna

i .iC, ao relancearmos de novoo lugar, dele será quase tudoo que veremos, e é ele quemfixará o estilo do espetáculo,"^al mudança, operando-se

i homem que seja poeta,a^jsar de aua Intimidade, ad-qiiire um caráter universal: eBosira a paisagem interior tra-du? da nos poemas terá parao leitor um encanto, um po-der de comoção, semelhantesaos do quintal ou do quarto Já

. inexistentes e aonde se acon-checa a incurável recordaçãoda infância.

Por isso. a -Petrópolis dos?er.os de Manuel Bandeira óquase tanto nossa quanto dele;por isso, depois de lê-los, so-mos, por fezes, compelidos a

.veras coisas como êle sentiu,a descobrir nes^e ou naquelequarteirão a recôndita aparên-cia por ele revelada.

O livro de nosso poeta emmie me pareceu encontrar-sePetrópolis com maior frequên-cia foi "Ritmo Dissoluto" aoqual se cinge o presente estu-

PETRÓPOLIS NA POESIADE MANUEL BANDEIRA'

JOSÉ PAULO MOREIRA DA FONSECA

!|

do, Uno mfelismente esqueci-do da critica, n&o obstante en-cerrar algumas obras prima»como Madrifal Melancólico, ¦¦Noturno da Moseta ou NoiteMorto.

Estes dois últimos poemas,justamente, se referem àquelacidade. Em Noturno da Mesclasurge Petrópolis em um deseus mais castiços aspectos:uma noite de chuva —

O silêncio s a estrada ensopa-da cem dois reflexos lnterml-

[návcls...

e, além dos reflexos, uma

... queda d'igua que não para!não para!

Nao é de dentre de mim queela flui sem piedade?...

A minha vida foge, foge, — esinto qne foge inutilmente!.*.

O artista, aqui. teve o domde dar um sentido precisoàquela vaga melancolia daégua correndo pela noite, dosarroios, das goteiras, que cn-fermas tecem a nossa própriaperda*

genuínospetropolltana —

Jante ae poste deOs sapos engolem

Quem ainda n&o se acosta-mou a esses bichos, quem ato-da nfto gravou com traços Cor»tes a tosca figura desses pas»•cantes da sombra, sem oúvt-da ainda n&o entendeu a ver-dadelra Petrópolis. Eles fasemparte do nervo da cidade, saouma rude mensagem da terra

^a nos exilados no asfalto,

im de um profunde sono*efto feios, exageradamente fetos,entretanto, que beleea maiorn&o existe nessa feiúra, todafeita de sossego e escuridão, equando coaxam nos lembramosde uma antiga e imperedvel efecunda umlddade.

A outros noctívagosBandeira em Seb e oénlado —

Manuel Bandeira

Em Noite Morto se repeteessa nota de tristeza das águasnoturnas, porém igualmenteeomparecem alguns dos mais

Um vagalume abateshortênstas e ali fleea restado

• ne verso seguinte deste

F4Z uma semana que Isa-

bel partiu. E durante to-dos êsses oito dias de

calor eu fiquei à maneira deam bicho Inquieto, como se meueorpo fosse um barômetro queprenunciasse chuva.

E nos poucos instantes emque me acalmo, sem querer, co-meço a somar cifras, para ter-Urinar me Indignando, pois pas-sei a outrem a fazenda Cambãopor uma ninharia. Tempo deseca, os açudes estorricados, apastagem rala. Prejuízos, so-mente prejuízos. Negócios dedoidn. Uma atividade de co-merciante querendo salvar umafalência. Não quero continuar—somando algarismos. Mas semme aperceber, continuo a en-eher de cifras folhas de papelalmaço. como se esta minhaatit'1-ie pudesse remediar a si-tuação; mas tudo .está perdido,

! Irremediavelmente perdido.Apenas diviso encruzilhadas.

'Pensei Cm abandonar tudo, emdeixar tudo apodrecendo, ocupim comendo tudo sem pie-dade, assinar uma escritura emfavor da confraria de S. Vícen-

'te de Paulo e abrir nos paus.Mas não há coragem em meu

Sangue desde qne Isabel par-«lu.

As gavetas cheias de cartaspor terminar. E todas às vezesque me disponho a terminá-las(Isabel não pensasse mais emmim», os mens dedos simulamparalisia, a minha mão lembraa de uma imagem sem forças,e meu braço direito pesado co-sno um saco de areia.

— Ao mesmo tempo meusouvidos se enchem de sons se-inelhantes àqueles de besourosencadeados por uma forte luz.£ ainda como se um frasco deéter houvesse sido destampadoperto de meu nariz, meu corpoee dobra para que eu fique depescoço mole, derreado sobre amesa, qual um embriagado.

Várias vezes isto me aconte-eeu. Ontem, ao abrir as gave-tos, senti-me obrigado a relercartas que eu havia escrito;cartas que não passavam detrês linhas. E também senti-me obrigado a rasgá-las com

ISABEL, SEMPRE ISABEL

fúria per ter medo que entraves men eorpo se dobrasse, seamolecesse e mortos ficassem

BRENO ACCIOLYmeus olhos fechados per pâl-pebras entumeddas.

Por que tonto covardia? N&e

sei expBeá-le.rei toda a vidasem poder resolver

%&8í&i$%>}fiíS^* Wffi'ffifâiW/&ffi'$Bt&Hk ^BffiüSBSGaS isí ^Pxf«H

W^^^^^^m^^mmmm Wfèm mW^^m^Ê^BB^mmmm^^^M^yJSí^Mii'>iám^!í^:>Aâ^^Samawr\ MiiHBMW^mMm3^MBmimaMag^MWKM»?%&^i«^Ka^^^ Wlt&£SSÊ&£m*Wk WsmW^aSkl

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:ffimBgSW3iíttt^3ffiÍ&*^^ ' x*fe- x '> . ,;. :¦:¦: xx.aWS!^Zí^3^!^^^^>^^.íxi>3^KMR^*3»K ^j2KjaSSSEÈsfe<*È

:SMHÍK^»»fiSinmBUM PINTOR DO VALE DA PARAÍBA — Er

residindo, há muitos anos, em Guaratinguetá (Est.fase de boêmia, no Rio. Ali desenvolve êle uma verde desenho na Escola Normal local, procura concas e culturais, concorrendo com o seu idealismoVárias realizações desse caráter naquela cidade, jáentusiasta e devotado em tudo que diz respeito àtor galardoado pêlo Salão Nacional de Belas-Artes,pectos do vale do Ppnaíbá,, subindo tradiizlr muito

vincianos de vida monótona, Estampamos

nesto Quissak é um pintor brasileiro auto-didata,de São Paulo), onde nasceu, depois de uma curta

dadelra ação de animador. Catedrãtico da cadeiragregar os jovens estudantes em iniciativas artísti-

para a elevação do nível intelectual do ambiente,tiveram o poderoso concurso de Quissak, semprearte, a maüor preocupação de sua existência. Pin.dcdica.se de preferência à fixação de tipos e as-

^m a nnança melí>ncóT'ca de certos recrn*os pro-acima um dos quadros de Quissak, intitulado:

r Mm, •mmmã <tema. 1•es deparai

•i

posta mm mm mmueagem s« dalenlnee Oatteeli

paisagem eamemnse Car

raqoftleas qnea esmlnlie da

— Eh, •arvoelro!B ifte tecendo es animais

am reme

e conclui sem am emocionadolirismo:

A madragada Ingênua paremfeita para eles...

Pequenina, tagtaua mlsértatAdoráveis carveehinhos quetrabalhais somo se brincos-

Bdel

¦ assim, os silenciosos • n>termlnávels reflexos, a caduci-dade das águas, os escuros ssrpos, o inseto na flor azul, osdesamparados carvoelrtnho.%compõem um grave concertoqne, malgrado intimamentede Petrópolis, pela virtude llri«ca do poeta, amplia os seus li-mites e Ias daquelas paisagens,daqueles bichos, daqueles po-bres meninos, um exemplo doesquivo mistério que nos cer-ea, dos muitos que conosco ssencontram nessa noturnaaventura.

•atros resolveram rapidamente,babel Já me escreveu qua»

tro cartas em oito dias de au-| sêneta; tempo êsss que ainda

não conseguiu clarear a minhamemória. E es cartas de Isa-bel continuam fechadas e enn&e quero abri-las. Mas aesmeus olhos chega de inopino afigura de Isabel, enquanto esmeus ouvidos parecem estar sa-cotando Isabel perguntar:

- Quando voltas? Quando vol*tos? Quando voltas?"

Então eu minto quando res»pondo à minha consciência: —"Amanhã, Isabel; amanhã es-torel de volto". Talves Isabelnunca mais me veja, nuncamais venha a saber do meu ps-radelro, porém quando de suapartida, disse-lhe que me espe-rasse dentro de dez dias. E pa-rece estar vendo Isabel aflito*ansiosa que es dias passem, ouchegue logo, debruçando-se neparapeito da mais larga das Ja-nelas, quase e dia todo. E aidéia de voltar a ser o homemde Isabel... (oh! como estoIdéia é terrível e ao mesmo tem-po doce) é o bastante para msadoecer de um mal Jamais pro-vado, em toda & minha vida.

Voltando a ser o homem deIsabel, como poderei passar pe-Ia calçada de Fablola; calca-da que também é a minha,também é a de Isabel;somos obrigados, por ela, a ca-minhar...

E tanta é a confusão que sefaz à minha memória, pois souincapaz de poder afirmar se acôr de Isabel é branca, se oslábios de Isabel são grossos, seos olhos de Isabel são espelhos?Abro as mãos. Abertas, levo-asao rosto. E de face encoberta,fico escutando o relógio pen-dular. Se eu pudesse chorarestaria salvo. Repito. Se eupudesse chorar estaria salvo.

Mas meu coração se encon-tra completamente estorricado.E esta secura de meu coraçãose evidencia nos talhos quepartem toda a minha boca.

Talhos profundos, indeléveis,como se por giletes houvessemsido provocados.,,

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Domingo, 1-10-1950 ^nCMYKXS E rARTES¦Paul i . -i. n.i

Página — 3

HA

momentos na histerialiterária em que a ca-renda de mensagem lm-pele o poeta à pesquisa

da forma pela forma, numainversão, deliberada ou incon-eciente dt valores pela qualpassa a classificar como* arteaquilo até então rotulado deartesanato.

As reações formalísticas as-sumcm aspectos semelhante*qualquer que seja o pretextoinvocado pelos renovadores. To-das elas se caracterizam pelohermetismo, pelo requinte sin-túctico, pela afetação metafó-rica. Mesmo quando, como necaso do parnasianismo, a rea-cão reivindica qualidades declareza e objetividade, em opa-sicão aos desmandos romántl-cos, a linguagem usada, a pre-ocupação do raro, de original,do perfeito, logo tornam inco-municavel a poesia além de do-terminado grupo de eleitos

Sem dúvida tais reações sieúteis, mas tão somente en-quanto se apresentam como re-ação e não como escola oumoJa. Toda poesia que se II-berta por demais da formacorre o risco de cair num ex-cesso de subjetividade, sofre uradesgaste expressivo perigoso,Alas as reações são como as re-voluçôes, só sabemos como co-m-oçam, nunca como terminam.

Contra a linguagem grosseirada corte de Henrique IV, er-ruem-se os Salões literários deParis e tem-se, muito breve, ascharadas das "preciosas". Con-tra os desmandos sentimentaisdos românticos, levanta-se eParnaso e não demora multoocorre o pedantismo de Mal-larmé. Isso sem falar nas pa-lavras cruzadas do fim da Ida-de Média.

Em nosso tempo assistimos auma dessas reações, & primeiravista dirigida contra o trans-bordamento surrealista e futu-rista, a técnica da associaçãode idéias, a teoria do ritmopessoal, etc

Como não se tem o que dl-zer ou se teme dizer vulgari-dades, volta-se para a forma»tenta-se qualquer aventura em-bora da experiência possa re-sultar a perda do público, aincompreensão da critica, e amorte da poesia.

Não estamos ainda nessa cur-va da estrada, mas já podemosperceber, através de mais deum sintoma, a aproximação doabismo. A poesia está secando.E a continuarmos nessas pes-quisas, mesmo as mais inte-ligentes da nova geração, pou-ca ficará do modernismo paraa posteridade Nestas alturasvejo alguns espertos indaga-rem: mas que é poesia?

Poderia responder com Gide,é emoção. Ou com Rilke, é ex-p?riência. Não diria nunca po-rém é metáfora, ou é ritmo,ou é melodia, porque isso seriao mesmo que definir a pinturapela cor, abstraindo o desenhoe a composição Na verdade apoesia é metáfora, mais músi-ca, mais ritmo, mais melodia,tudo a serviço da expressão deemoções, experiências, idéias.Os meios de expressão impor-tam tanto quanto o que se de-seja exprimir. Não mais po-rém; não menos tampouco.

Ora, o que vemos na atuall-dade é a atenção dos mais bemdotados dentre os jovens fixar-se quasi exclusivamente nomeio de expressão Tão empol-gados andam com seus acha-dos, suas depurações, seus rít-mos, que se esquecem de falar.Nao dizem nada. São como pin-tores que se entusiasmassempela côr em si, por acordes decor quando muito, e deixas-sem de comunicar sua emoção.

Acompanho com interesse,c&m carinho, a evolução daPoesia moderna. Aprecio as pes-<misas realizadas e vejo nelas^a contribuição por vezes ad-mirávei para o futuro. Masjasta de pesquisas. Está naJora de começarmos a dizerVialquer coisa Talvez não seja»so possível sem uma contra«ação. isto é, sem uma novajvolução literária que liberte

Ppeta das prisões que cons-^«nestes últimos anos. B¦*• são apenas os chamados

MENSAGEM AOS POETAS NOVOSSÉRGIO MILLIET

modernistas quo se achara pro-'aos, os próprios poetas fiéis àsleis do parnasianismo ou sim-plesments da tradição, sofrem,oomo por contágio, as mesmasInfluências, seguem Idênticoscaminhos. Tenho em mãos umlivro que por certo não pre-tende a uma classificação ex-tremista: "Rosa dos rumos",de Gelr Campos, São em geralversos medidos e rimados, lim-pldos de sentido, mais de idéiase visões que de emoção. No en-tanto os truques todos do mo-dernlsmoal estão também: aba.so do "enjambement", a ima*gem rara, Inesperada pelo con-traste dos termos de compara-ção as soluções sintàcticas pro-dosas, » "transcendentalisa-cão" dos adjetivos, a supres-são das preposições, etc Nosseus melhores momentos, essapoesia é narrativa e feita maisde observação impressionistaque do emotividade extrava-ganto:

Adaga do sol trespassaum descuido da Janela»ressuscitando universossra astronomia do po.

De outras feiras ei* assume• tora que foi peculiar a Her-mos Fontes no passado:

• iChego ae cais de mira mesmo

[* me debruço•obro o mar Interior...

Do parnasianismo ficou noautor o gosta pele desenrot-

vtmento de um conceito filosõ-fico Exemplo este poema bemconstruído, sem falhas:

IQuem to ensinou, pião, a sim-

[pies artede girar e fazer do giro a vida,vertical sobre o bico — único

[pontode teu corpo, ne chão a su-

[portar-tefEssa a toa verdade essencial:come um homem cercado ds

mentiras,buscas talvez em torno uma

[saídaque não achas; e assim debalde

[girasaura equilíbrio falso, que afinalso rompe... e ao chão te en-

[tregas, todo, tonto.

Contra essa poesia eivada doInteligência se manifestaram osmodernos em 22, embora nãotivesse ela então a original!-dado que apresenta a de sr.Gelr de Campos. Mas os mo-demos que reivindicavam a 11-herdade para poderem dizer tu-do o que sentiam de novodentro deles, tudo o que iriarefletir ura mundo de violentedinamismo, viram esgotada amensagem no decurso de umageração. Os epígonos voltaramà forma, retornaram aos se-gredes do artesanato, à trans-cendencla dos ritmos sabidos edas metáforas sutis. E tão lon-go foram que já agora, apôsura primeiro aplauso, os quetemiam uma delinqüência for-mal, caso não houvesse essa

reação, temem a floração douma nova academia e lauçauaa necessária advertência.

É o que faz Augusto Frede-rico Schmidt, com "Mensagemaos Poetas novos", arte poéticaque será discutida, que me pa-rece discutível, mas tem semdúvida o valor de uma breca-da no jovem prccloslsmo.

Cm pintor conhecido afir-mava que "pintura é como oluar", espontânea, fenômenoda natureza» e não trabalho es-pecioso de decifrudor de Io-gogrlfos. Ê mais ou menos oque dis da poesia o sr. AugustoFrederico Schmidt:

A poesia é simples.Vejam como a lua humld»Surge d»s nuvensLivre e Indiferente.Vejam o silêncio, que nascedos túmulos, nas madrugadas!

IA poesia é simples.O canto é pobre e puro,Como o pão e o fogoComo os vôos dos pássarosNos céus azuis.

Essa consciência da presençada poesia na vida, na experl-encia, na dor, essa percepçãode sua naturalidade, essa cer-tesa de que ela exige 1 umil-dade e pureza, não 6 porémapanágio dos moços Com vinteanos criamos climas de deses-pero, de falso ceticismo, detolo orgulho. Dizemos então:somos sõs, lamentavelmentesós, Insolúvels Irremediável-

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monte Na Idade madura rara»dam os advérbios. Dizemos: sommos sós, gostosamente sós, somlúvels entretanto, naturalmen*te, na tarde de abril que des*mala e até nos olhos das mu*Iheres que não nos compre»endem Todo o segredo da poe*sla está para Augusto Frede*rico Schmidt nessa mudança dêangulo:Agora sei. Contemplo a tarde,O sol no ocase corta as ar*

[voreujPelas estradas passam cam!-[nhantes

Vêm do outrora e vão indife-[rentesAe encontro de mares e de luaa,

Precisa-se no espirito como um[fruto»

Maduro enfim, perfeito e sa-[borosoO conceito, a figura da poesia.Sobre a pele esverdead-i rn-n-

[chás lic;..is.•Que perfume de selos e de ai-[fombrast

Assim também, dirá a dife-rença entre o amor que vêemes moços, "soturno e curvo","canto da turbada adolescên-ela", e o verdadeiro amor dosque viveram a experiência:

simples e tão mais simples. . »E como a poesia e o amor,

também a dor, a qual não se-rá "de palavras", mas a dosaber"que às estrelasfuturas e distantesnenhum apelo chegará jamaisa de sentir portanto a fugasem remissão da vida.

Creio que dessa mensagemaos poetas novos resultará in-terminável e utilíssima polê-mica. Concorde-se on não coraa arte poética de Schmidt, elaserá assinalada em nossa lite-ratura como um marco, umaparada no caminho, uma ad-«ertencla.

C

Desenho de YLLEN KERR

COMO BILAC SE EXERCITAVAPARA A ORATÓRIA

UMA DESCOMPOSTURA TRE-MENDA EM HETU.NO

ONTA Alberto de OliveL'ra que Olavo Bilac e ou-tros amigos escritores,

costumavam visitá-lo na suachácara da Engenhoca, em Nuterói. E o exercício predileto de-les, quando lá iam, era percor-rer as estradas amplas, de-sertas, a fim de ver quem maisalto gritava e nenhum venciaBilac nessa espécie de esporte,Não porque a voz de Bilac fôs-se pesada. Era leve. rápida ovibrante como uma seta de ín-dio. Esse exercício muito serviua Bilac e êle o praticou aindadurante longas tardes na praiade Icaraí. Costumava-se, entãoinvetivar o mar chamando-ocovarde. Do alto de um penedoincrepava o velho Netuno, in-sultando-o e desafiando-o emaltos brados: "És um covarde,velho mar de barba esquálida IPrepara-te para ouvii os maisrudes impropérios dnste míseromortal que aqui está. Miserávele covarde ! Que é feito das ne-reidas ? Onde as cinqüentaoceanides de outrora ? Que efeito da deusa Afrodite, que ófeito do seu carro e do seu ces-to brilhante, que seduzia osdeuses e os heróis ? Em vez doslouros cabelos da "pulcradòa,auricrinita Venus", como diz odetestável tradutor OdoricoMendes, arrojas agora à pra^aum punhado de algas corruptasque infectam estas areias..."

Conta ainda Alberto de Oli-veira que outro exercício a quecostuma entregar-se Bilac eraver quem decorava, de uma qóleitura ou audição, um sonetodecassílabo. Escolheram, certavez, um pnneto de Sousa Mon-teiro e BMac renroduziu-o, semgrpncl» dificuldade.

Outro exercício ainda, emou.rj se corrmra7ia nesse tempo,era dizer de um só fôlego umsoneto ou um largo trecho *9prr*a. Biípé conseguiu deda-¦mar. sem ró^n^fl-r. iiro^. ^"'"lainteira de Alvares de Azevedo.

Página — 4 LETR 'AS E HRTBS „,ii"'" '"*>

C>1

ILBERTO AMADO Ja-r embarcou para os Hs-I tadoa Unidos, ontte vai

reassumir asfiuas funções dedrogado brasileiro na ONU. Es.te ,-o o:.rca de um mes no Bra-sú e durante esse espaço dettmpo nâo lhe «obraram as ho.ras para conversar com os ve-ÍhosPamiBo.s, receber visitas orclribul-las, sempre ••* «J.J»1"vivacldade que lhe caracterizooc-iplrito. Deu entrevistas, íaloudo momento internacional, dastormentas do mundo n-o<}erno('o Brasil, dos nossos problemaslia hora presente, íêz uma con.íerenela sobre assunto correia.!•> na Faculdade de Direito, cnão esqueceu também a lltera.lira. Embora tivesse declaradorue a rigor nfto 6 um homemdo letras, o escritor constitui oamecto primordial de sua per-sonalidade. Bem entendido, napalavra escritor, envolvemosigualmente o pensador político,o analista esclarecido da nossa' realidade, o autor das medita-cões poéticas da "Chave de Sa-lcmão" e da critica social do"Grão de Areia".UMA AMIZADE BRASILEIRA

DE LALZACNuma destas últimas tardes,

Jcvme Adour da Câmara abor-r*-u-nos no tumulto da AvenidaElo Branco:

Estive ontem com GilbertoAmado e êle me disse coisasmuito curiosas, que descobriu,ha tempos, amizade de Balzacoom o conselheiro Pereira daFilva, em Paris. Teria sido porintermédio deste que Balzacvir-ra a se interessar pelo Bra-s'1 e os brasileiros, aos quaisfaz várias referências nos seusromances.

O assunto era, realmente,palpitante.Seria motivo para uma en-trevistá, não acha ? — sugeriuJnime Adour.

Sem dúvida, Gilberto Amado':.{>. falara aos jornalistas sobre:> ~untos que mais diretamentelhe tocam; podia agora vir di-zer-hos algo das suas descober-tis balzaquianas. Além disso,3^1zac é hoje, mais do que nun-r \ um tema do momento. Não(->víamos perder a oportunida-de.

.To dia seguinte, procurava-ros, pela segunda vez, o autoroi "Dança sobre o abismo", noyo-artarnentò da Esplanada doCastelo. Já sabia êle do motivoque ali nos trazia.

Sim; queremos que nosconte essa história surpreen-dente da amizade de Balzacc>- m Pereira da Silva...

Mandando-nos sentar numavrsta poltrona, Gilberto Amadosrita-se ao lado.

Não sei se terá real inte-n o que posso contar, masi você deseja, lá vai. E' O

uinte: Em conversa com vá-: -. amigos, quando se trata deBalzac, sempre me foi graton~ -nicionar a maneira simpáticap-ia nual o nome do Brasil eóri brasileiros aparecem na" Comédia Humana". Quandodigo brasileiros, incluo entre ês-ie~ os portugueses da dita "Co.média Humana", como porexemplo; o marquês de AjudaPinto, amante da viscondessad» Beauseant, uma das figurasmais vivas de Balzac. * No ro-mance. Ajuda Pinto é obriga-do. por interesses de fortuna, aseparár-se da adorável viscon-dessa, para casar-se com umadas filhas do marquês de Se-risr. Rastignac. chegando daprovíncia, vai visitar a prima epedir-lhe a proteção na socie-dade parisiense, na qual ia fa-zer; graças a essa mentora, umcr.ninho triunfal.

Interrogado pela prima, setinha coragem de acompanha-Ia ao teatro, nas condições emoue ela se encontrava, o meri-dional com o seu "panache"característico, responde:

"O francês, prima, ama operigo pela glória que nele ai-canca"..

,Que bela passagem!... Te-rV > á impressão de aue o mo-r'i > do Ajuda Pinto foi o nos-h;.' ?èreü*a da Silva, que depois*>¦¦>¦ ''vr.Di'! conselheiro e aulorú: inúmeros livros, iriciiiEive a

BALZAC E O CONSELHEIROPEREI RA DA SILVA

mmmmmmmm»m»»mm»»mtÊ»^m»»»»»»*»—»m»mmmm»^mm^»»»^

Gilberto Amado fala a "LETRAS E ARTES" fôbro uma amliado br «Molra *Jo autor <Jo"Comédia Humma"

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H^HavIv ¦! .-."Iti'. .¦ * ^ ¦«. ¦> •!(*?-?'• .-f-vi/ssiüv* 3v9»*^Bfl^Buuuuuu^^B»n^^H*aauH*<KAuH)^H^^I^BuWr ^-^'*/-•'¦' t)^H

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¦¦i-v.-. -.- +. ¦•¦yy-j-y-- - -..-.•£- *-.**r*J*iTÉFÍ'* <".•¦.-¦. ?-£' /-. ¦.-..- •/* .-.-.¦.- . nKra**""ffff"""**^n>3S'íffff^.;, y-.v...;. ¦'.¦'í'.\jí'.'. '.•''¦'¦'.•<•.-.-'. .¦ s¦'&.-.¦/•yv.-^UÊ.s.-. v.'&'-''-.'.m2.-f ¦¦' gpi|!WwwyKW*jrawp|B^ ¦>¦/.¦/>,¦.*.;.;¦ y^^^i^^n^pJfT^^PrTCTHp^gaj^ A?JTPlwTilITFffirj^jtt^T^MF"

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S:><fx' »•" ••^8'^K^^P^x^^^¦***^ê1p:- -: ¦ '*>: ¦¦ .^^JaC^KRMM^JMpjM ^-•^^^<v?^fe^xl:^áÍBfcp!M ¦¦wBl Hra8S £lif3RB

Nosso companheiro Brito Broca entrevistando Gilberto Amad»

"História do Império no Bra-sil".

E o que o leva a essa con-clusão ?

... O fato de em certoestádio de sua vida, em Paris,onde se formou, "Le Chevalier"— nome pelo qual Balzac cha-mava Pereira da Silva — terresidido na mesma casa do ro-mancista. As maneiras de Pe-reira da Silva, por sua elegân-cia e distinção eram notóriasna roda do grande homem. Di-rá você: em que me baseio pa-ra fazer tais afirmações ? Noseguinte: Houve uma fase emminha vida, em que eu lia tudosobre Balzac — memórias da

época, biografias, etc. — Orafoi num dos memorialistas dotempo, que li o episódio a quevárias vezes me referi em con.versa ocasional. Balzac costu-mava receber em sua casa, nftome lembro se da rua Rey-nouard, em Passy — casa àfrente da qual passo, de vez emquando, recordando o que ali sedesenrolou. Durante uma dasrecepções, agitaram-se os ftni-mos numa conversa e o roman-cista, como lhe ocorria, nfto ra-ro, excedeu-se, a ponto de serdesagradável com os amigos evêr-se ameaçado de apoplexia.O memorlalista, narrando oepisódio, dizia: Não s© pode

imaginar até onde as coisas te-riam chegado, se por felicidadenão entrasse na sala o "cheva-lier" Pereira da Silva, homemfino e elegante, de alta educa-ção, á quem o romancista con-siderava extraordinariamente ecom quem convivia multo deperto, pois residiam na mesmacasa. Exercendo sua autoridadenotória sobre Balzac, conse-guiu acalmá-lo e restabelecer aharmonia e a alegria no am-biente..."BRASILEIROS ENCANTA-REM FRANCESES E' COISA

COMUM"— Mas quem é esse memória-

lista, afinal? Qual o livro em

DÉCIMA MORTE

XAVIER VILLAURRUTIA

SE TENS MÃOS, QUE ELAS ME SEJAMDE TATO SUTIL E BRANDOAPENAS SENSÍVEL QUANDOANESTESIADO ME CREIAM;SEM OLHAR-ME, DE TAL SORTEQUE NADA ME DESCONFORTE,AO TE ROÇAR, AO TE VER,PARA NÃO SENTIR PRAZERE NEM DOR CONTIGO, MORTE.

EM CAMINHOS IGNORADOS,PELAS FENDAS TENEBROSAS,E VEIAS MISTERIOSASDE TRONCOS RECÉM CORTADOS,TE VÊEM MEUS OLHOS FECHADOSPENETRAR A ALCOVA ESCURAE CONVERTER-ME A FIGURA ,OPACA, FEBRIL, CAMBIANTEEM MATÉRIA DE DIAMANTELUMINOSA, ETERNA E PURA.

NAO DURMO PARA QUE AO VER-TEtlíNTÀ CHEGAR, APAGADA.7-, OUE AO OUVIR-TE PAUSADAA VOZ OUE SILÊNCIOS VERTE,PARA OUE AO EOCÀTí O NADAQUE ENVOLVE TEU CORPO INCERTO,

E QUE A TEU CHEIRO DESERTOPOSSA, SEM SOMBRA DE ENGANO,A TI SABER QUE ME IRMANO,SENTIR QUE MORRO DESPERTO.

DOS SEGUNDOS O PONTEIROPERCORRERA SEU QUADRANTE,TUDO CABERÁ NO INSTANTEDESSE ESPAÇO VERDADEIROQUE LARGO, FUNDO E CERTEIROA TEUS PÉS, DÓCIL, TERÁSDE MODO QUE O TEMPO FORTENOSSO ABRAÇO ALONGARAE ASSIM POSSÍVEL SERÁVIVER MAIS DEPOIS DA MORTE.

EM VÃO AMEAÇAS, MORTE,FECHAR-ME A BOCA A FERIDAE POR FIM A MINHA VIDACOM UMA PALAVRA INERTE.QUE POSSO PENSAR AO YÊR-TESE NA DOR QUE ME DEVORAVIOLEI TUA DEMORA:SE VENDO TUA TAEDANCAPARA ENCHER MINHA ESPERANÇAOUE EU NÃO MORRA NAO HÁ HORA!

Domingo, 1-10-1950

oue leu l»to í — Interrompe,nos, sem poder oontor a cuno.¦Idade.

— Ali I Meu amigo, ai é quo•ftt um problema difícil. Noubom: nunca tive verdadeiro in.lorosae por essa literatura his.torta «pisódlca, emboranela procurasse a figura deBaleac, que tanto me atraia.Brasileiros encantarem fran.céses é coisa comum: nós te,mos encanto natural e du,ranto a monarquia a educa.ç&o dos nossos rapazes era nmais fina possível. Sorri para oepisódio. Deixei o livro, jogadoentre outros tantos volumes daminha bagagem, nas constamtes viagens e mudanças. NftoSda bibliófilo, nfto tenho livrosbonitos, náo guardo livro senãoquando este me é necessário. Oque me f&s pensar mais fre.quentemente no assunto, foi ofato de ter eu narrado a cenada casa de Balzac, a que mereferi, ao meu amigo PedroCalmon, há cinco anos, quan.do aqui passei para os EstadosUnidos, vindo da Europa, em194B. Calmon, como é natural.Ficou alvoroçado com o fato emanifestou o desejo de conhe-cê-lo a fundo para sobre êleoompôr uma de suas páginas dehistória vivida, a que se dedi-ca com tanto amor. Fiquei deprocurar o livro, quando me en-contrasse outra vez em Paris,ou quando pudesse dar umabusca nas malas cheias de vo.lumes, que possuo, espalhadaspor vários países. Só no anopassado, vim a receber da Sud-cia os caixotes de livros quolá havia deixado. Nem pudeolhar para esses caixotes; en-contram-se em Paris, guarda.dos no galpão, onde meu am'?oLouis Jouvet atira os cenáriosvelhos do seu teatro. Talvez,ainda, se encontre o livro noscaixotes que tenho em Lausan.he, na Suiça.

Encarreguei um livreiro emParis, de procurar a obra, mas'as minhas passagens ali têm sLdo rápidas e sem o nome do au.tor o livreiro nfto poderá con-seguir grande coisa. O que de-vem fazer os interessados namatéria e que me têm pergun-tado pelo assunto, é gastar di-nheiro e mandar fazer pesqui-sas em Paris, entre todos osmemorialistas do tempo deBalzac. Da minha parte, con-tento-me em haver lido e güar-dado de memória o excelenteepisódio e relmaginado, a pro-pósito dele, sob as cores maisbrilhantes, a figura do nossopatrício — mais brilhante pa-rlsiense. de certo, do que pro-fundo historiador. Para mim,Balzac está acima das elegân-cias de todos os "chevaliers",selam «les quais forem, e suasmaneiras, a meu ver, eramsempre boas. O memorialistaourava julgá-las. como tantosoutros que achavam Balzac maleducado. Por isso, naturalmen-te. esaueci-lhe o nome...

Gilberto Amado encara-noscom o seu olhar sempre vivo einquieto:

— Pois é isso meu amigo oque sei. Se adia que pode in-teressar o público...

Evidentemente, era um novoproblema a surgir na biografiade Balzac, dizendo respeito,muito diretamente aos brasl-leiros.

E suscitava-o a curiosidadeuniversal de Gilberto Amado,cuio espírito tanto tem servidoa literatura.

O QUE NOS DISSE PAULORONAI

Paulo Ronai, o organizadorda edição brasileira da "Co-média Humana" e a nossamaior autoridade em assuntosbalzaquianos, a quem inteiro-gamos, logo depois dessa en-trevistá com Gilberto Amado,declarou-nos não conhecer omemorialista em auestão, nadasabendo igualmente das rela-ções entre Balzac e Pereira daSilva. O problema continua,pois, de pé a reclamar as pes-quisas de quantos se interessampelo autor de "Engenia Gran-det". — B. B.

Domingo, 1-10-1950 'LETTÍ'AS B rAR TE S Página

ALBERT

TUIBAUDETocupa ura lugar centralna crítica francesa e eu.

ropéla. Foi essencialmente pelasua natureza profunda umatento de ligação entre a cri.tica universitária e a literaturaviva, agente de ligação entre opensamento francês e o pensa*mento estrangeiro, entre as le.trás, a história e a filosofia.

E' multo freqüente ver a cri.tica dividlr.se para reinar. Thi.baudet não reinava senão pelaunião, a harmonia que cslttbe.lecia entro as maneiras de pen.sar e sentir, que sem éle per.manoceriam, talvez, estranhasumas às outras.

Sabe so que os maiores cntl-cos franceses de oulrora, deSalnte-Beuve a Faguct, passan.do por Lcmaltre, testemunha.ram uma desconfiança c umaignorância temíveis desde quese t**atava de um autor contem,pcrftnco, divorciado mais oumenou das tradições. E Isso setornava particularmente sensl.vel com relação aos poetas. DeBaudelaire ao simbolterao umacerta poesia, e muito importam,te, era quase ignorada pela cri.tica oficial. Basta lembrar quea primeira grande obra de Thl.

* baudet se Intitulava "La poeslede Stcpbane Mallarmé" e apa-recia antes da guerra, para eu.blinhir, sob esse aspecto, a ori-ginalidade do grande critico.

Porque Albert Tb'baudet,universitário de formação, rom.pera com as disciplinas de eru.diçáo desde a mocidade e en.

UM livro como esse "Di-

donárlo Analógico daLíngua Portuguesa" écoisa de uma utilidade

quo ressalta à primeira vista.Beu autor, o Sr. Francisco Fer-reira dos Santos Azevedo, ia-lecido, infelizmente, antes quoviesse à luz da publicidade,este livro, teve a paciência deum trabalho verdadeiramentebeneditino. Reunindo as pala-?ras que exprimem uma mes-ma idéia, ou seja, as Idéiasafins, e ao lado as acepçõesantagônicas, conseguiu o au-tor realizar um trabalho darara eficiência.

Dlga-se de começo que autilidade desse dicionário nãose restringe a estudantes ou asimples estudiosos; estende-se,Igualmente, a professores, aJornalistas, a escritores. Porquenao é, no fundo, um manualde arte de escrever, ou um tra*tado de estilo, mas é sobretu-do uma fonte útil para o en-riquecimento de vocabuláriopara quem escreve quotidiana-mente. Talvez seja esta, semdúvida, sua maior lmport&n-cia.

Evidentemente, um escritornao se faz nem se cria atra*ves de tratados de estilo ou,de arte de escrever; nem igual-mente com dicionários de si-nônimos ou de antônimos oude qualquer natureza. Naaadisso faz ou, mesmo, melhorao escritor se êste já não nasçoleito, com aua vocação traça-da. com sua Inclinação rnanl-festada. £ arte ou tendênciaque vem do berço, não deter-minada por outras razões.

Mas 6 fora de dúvida, tam-bem, que a convivência com

dicionários, bons dicionários óclaro, ajuda o escritor, dá-lheriqueza vocabular, permite-lhocerta flexibilidade lingüística.O que não se verifica entreaqueles que têm um vocabulà-rio reduzido, simplificado, res-trito a determinado número depalavras. Tanto maior, por tu-do isso, a utilidade e a valiade um "Dicionário Analógico';,utilidade e valia que justa-mente encontramos nesse tra-balho de Francisco Ferreirados Santos Azevedo.

Se bem não haja entre nóso costume do uso ou mesmode consulta mais constante aobras de referência, pois amuitos consultar dicionário ouenciclopédia não parece deboa expressão intelectual, creioque a um livro como esse nãoBe pode deixar de louvar peloQue vale em si e também pelacolaboração que presta à ara-Pliação do vocabulário coti-»-

ALBERT THIBAUDETUm agente do ligação entre a crítica universitária o a literatura viva

RAMON FERNANDEZvolvera.ee nos movimentos daliteratura mais avançada, noticenáculos do simbollsmo, naThalnnge" de Jean Royère elogo com es colaboradores daJovem "La Nouvelle RevueFrançaise", que agrupava o»escritores, empenhados, por >volta» de 1908, cm fazer eclo.dir sóbre o terreno sinibolislaura classismo renovado. Tinhaéle, pois, a prática viva da 11.teratura viva, da literatura emgestação, em experiência, Inra-pas de ser apreciada num épo.ca em que o afastamento era,mais do que nunca, sensível en.tre a literatura classificada, co.nhecida do grande público, ea do futuro.

Essa preocupação do vivo, dacoisa em movimento, tomava,se natural num bergsonlano.Albert Thibaudet, realmente,tinha recebido de Bergson ochoque decisivo, a revelaçãoque nos fornece as grandes II.nhas das explicações das col-sas. Sua filosofia do mundo erabergsoniana, como a de Sténd.bal se inspirara nos Ideólogosdo século 18. Th?baudet admi.rnva o filósofo da "EvolutionCreatrice", não por ter êste, co.

mo se dis superficialmente,combatido a razão, mas ao con.trário, por haver introduzido arazão nos domínios móveis »complexos que pareciam esca.par.lhes. Aplicava éle, em su.ma, o método bergsonlano ahistória e notada *n-.*i te à hts.tória das letras. i'ois esse cri.tico era, antes de tudo e pro.ílssiunalmcntc, um historiadore mais ainda um geógrafo."Agrcgé" de história e geogra.fia, Thibaudet possui um tor.nelo dc espfrito geográfico, náosomente no sentido próprio,mas figurado, gosttndo multode apresentar o dominio lite.rário como uma vasta paisagemde planos contrastados. Seumaior prazsr era ter sempre emvista o conjunto dessa paisageme ali sl'uar cada obra cm seudevido lugar.

Isso fêz dizerem dele que sepreocupava mais em classificardo que em julgar. Afirmaçãoexata, apenas em parte. Dccla.rava-me, êle próprio, um dia,em que lhe comuniquei essaopinião a seu respeito, terum escritor de antes da guerra,Remy de Gourmont. creio, alu.dido a certos contemporâneos,

como "espíritos sem decifre".Essa metáfora geográficareduzia.o extraordinariamente.Cunvinlia-lhc ser "sem deeli.ve", isto é^ não tomar partidomuito pronunciadamente. Masjulgava muito bem, emboracom discrição. Quero dizer quede uma simples classificação deThibaudet nascia«<naturalraen.te, um julgamento sóbre a obra,mas desenhado em transparèn.cia, como em filigrana. Por ou.tro lado. esse espírito tão sere-no nas coisas do espírito tinhaum julgamento moral bastanteInflexível, que não se exprimia,entretanto, senão oralmente ena intimidade.

Amante da literatura viva,historiador & moda de Bergson,Thibaudet era também um hu-manista, um erudito da melhorestirpe. Seus conhecimentosd;is letras antigas e dos séculosclássicos, que retomaram o fa-chn da Grécia e de Roma, eramais ou menos inesgotávelTais as suas crônicas sóbreRonsard, suas pátrinas admira.veis sóbre Shakespeare e Geor.ge Eliot, livros, como "La Cnm.pagne avec Trnieydlde", "Heu.res de rAcropole", testemu.

PALAVRAS & IDÉIASMANUEL DIEGUES JÚNIOR

dlano. Na verdade, para quemescreve diariamente ou quasediariamente há mister variar aspalavras, sem que lhes preju-dique o sentido. O recurso aesse "Dicionário Analógico" é.pois, de necessidade imperiosa.

Vamoe admitir, por exem-pio, que se queira referir *habilidade de determinado poli-tico e vale a pena tocar nestapalavra "habilidade" nesta

época de choques partidários,em que cada corrente procuraser mais hábil do que a outra,embora nem sempre se saindodesta maneira. Se o jornalistaou o escritor não quiser repe-

tir em seu artigo a palavra ha-bilidade, encontra para ela umasérie infindável de termos afins;pelo menos 03 palavras ade-quadas, sem falar nas formasde verbo, de adjetivo ou de

advérbio, que podem ser usa-das no mesmo sentido.' E coma ajuda da acepção antagô-nica, ainda poderá dizer mui-ta coisa a respeito de quemnão teve habilidade.

De um político ou de umpartido dotado de habilidadepode-se dizer que .tem apti-dão, suficiência, engenho, Jel-to, arte, tato, maneira, in-dustria, competência, tino, ati-

Xilogravura de R OBERT GIBBINGS

nhando essa familiaridade comas obras do passado, de to.dos os passados, só peculiar ao»verdadeiros humanistas. Acre.ditava éle nas constantes dahistória, ao mesmo tempo queno movimento necessário destaúltimo. E um historiador e geo.grafo, nas suas condições, náopodia deixar de interessnr.sepelas questões políticas do paisSeus estudos sóbre os parti,dos professores, sóbre os partí.dos políticos na França, sobreLyantcy, Barres, Poincarc, de-nominados por êlcs "Príncipeda Loreha", permanecerão en. «tre os documentos valiosos donosso tempo.

Êssc homem universal, essehumanista, como hoj-i não oxis.te mais. quase não acreditavaem si mesmo. No ano anteriorao seu falecimento, como nrmligeiro retrato que dele fiz, aiu-disse aos seus conhecimentosgastronômicos (nois que f**eborgontiês da gema não Ignora.va coisa alguma da "hounovie"l, escrevia.me êle: ME nA.ocrela guarda, eu. epoístfcamevic,o segredo dos bons rcstanran-tes. A frnea erudição de i>mmodesto cliente dos negocvni.tes de vinho está toda à suadisnosioão*'. "Modesto", "^o.déstía": está nessas palavrastodo Thibaudet. N*o pr*rrr'aêle crer nq seu prónrio valor.na sua própria importância cmtodos os dnmínios. E esse pur,orno-lo torna mais caro e en.grandcce.o em nossa lembran.ca.

lamento, perspicácia; tem ain-da, se quisermos usar outrasexpressões, astúcía, manha, ai-dileza, tática, mala barismo,flexibilidade. Podem usar-setambém expressões delicadas oumais maneirosas. ou simples-mente hábeis; é então dire-mos que tem prenda, talento,gênio, saber, clcncla, técnica,pendor, queda, sabedoria, fi-núria, sagacidade, inteligência,agudeza de espírito, e por aí

em fora.Mas aí do que se saiu sem

habilidade I Lá no verbete 699encontrará o escritor ou jor-nalista toda uma série de pa*lavras para definição de ina-bilidade do elemento a quevisa. E lá sairão desaso, de-sastre, inércia, inaptidão, lm-perícia, incompetência, biso*nhlce, acanhamento, insuíici-ência, inépcia, esturdia. Tam-pém se poderão usar o agird e s a s tradamente, desatinar,çomprometer-se, dar com o na*riz, não saber a quantas an-

da, meter-se em maus lençóis,ser mal sucedido. E assim pordiante. O que, como simplesamostra, bem diz da valia dês-se "Dicionário Analógico daLíngua Portuguesa".

Seu autor era goiano e de-dlcou longos anos de sua vidaao preparo desse minucioso ca-bedal de conhecimentos. An-tes de sair ã luz seu livro, ia-lecia o professor Ferreira dosSantos em sua cidade natal —a velha capital de Goiás. Nãopôde o professor Ferreira dosSantos ver premiados, com oaplauso público, os esforços aque se dedicara por iongosanos, numa continuidade depesquisa e de estudo que só amorte interrompeu. Com esseDicionário de idéias afins, atin-gia o professor goiano ao pontoalto de sua carreira de mes-tre e de autor; é a herançaque êle deixou a discípulos aadmiradores — esse excelente"Dicionário Analógico da Lin-gu^ Portuguesa".

Herança, sem dúvida, dasmais ricas, porque será sem-pre insuficiente todo o aplausoque se possa dar a essa obra.Falar de sua utilidade seriasupérfluo, como supérfluo se-rá também dizer quanto aovalor de trabalho que rèpre-senta esse livro. Antes cabaaos que escrevem, utilizá-lo,consultá-lo, ler-lhe as lições, aver se não é realmente provei-toso; com isso enriquece-se ovocabulário de todos os dias,podendo-se melhor expressarum pensamento. E é o que pro-porciona esse dicionário, cujaspáginas, aliás, reflet°m a ri-queza da língua portuguesa.

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FMníi — 6

CsrtM inéditas de Bernanos à Tristãode Ataíde

Quatorze carta* Inedltai de George Ber-

uamos foram publicadas no numero dt

xgosto tia revista "Esprit". Datadas de 1040

2 1941 í.&o elas dirigidas a Alceu Amoroso

V.ma — "an philosopre breslllen Amoroso•,ima — c constituem uma verdadeira jus-tificaçao da obediência do cristão a lgre-

Ja, por esse "grand insurge", que foi o au-

tor de "Softs Iç sole» de Satan".H>v.**-:*-* ••*»;•:.. ;•.:¦•;•:•:¦:•:--M

_— immti—.m.m—mm I

Um irmão de Gsrürude StemAcabam de aparecer em tradução

trancem os fragmentos do diário intimo deÍTZn° irmão f **&. <"*%£ f<™de vanguarda Gertrude Stein. Num desse.

jragSos, conta êle por que »£**&£'irmã, quando esta começou a lazer o que

êle chama o «Picasso» em literatura."

Um livro sobre V. Garcia CalderónHerbert Van Leysen publica um livro sob

o titulo: "Ventura Garcia Calderón, unathe-Imm PacilWe", ensaio som.**««*£vel escritor peruano, tao conhecido na Fianca etambém no Brasil, onde já exerceu umcargo diplomático.Homenagem a Saint Exupéry

Os escritores franceses estão ^preen-dendo um'movimento junto ao governo paraXe sèa dado o nome de Satnt-Exupéry aIma das bases aéreas da França. Acampa-nha tem tido a melhor aceitação em todos osmeios intelectuais.

Q espírito de Jouver"Les Nouvelles Littéraires" alude a uma

curiosa frase de Louis Jouvet, que acaba deser promovido a comendador da Legião deHonra: . . . -

— Um egoísta é aquele que fala de si,quando lhe queríamos falar de nós.

As férias de Malraux e Robert MerleAndré Malraux, já inteiramente refeito

da doença que o acometeu, acaba de deixarParis, para passar as férias em Concarneaii.

Enquanto isso, Robert Merle, autor de"Wesk-end en Zupâecot", livro que tanto su-cesso fez ultimamente, desfruta suas feriasna ilha Majorca.

Movo livro de Thierry Maulnier"Langages" é o titulo do ultimo livro de

Thierry Maulnier, ensaísta de primeira or-dem já autor âe um magnífico trabalho bio-critico sobre Racine. Trata-se, desta vez, depenetrante análise critica do estilo de va-rios escritores, uma espécie de metafísica doestilo.

FaSeceu a jornaãssra Andrée ViollísFaleceu recentemente a escritora e jor-

nalista francesa Andrée Viollís. Iniciara-seela na imprensa durante a guerra de 1914quando Lord Northcliffe a ligou ao "Times

e ao "Daily Mail" com um contrato quaseúnico nos anais do jornalismo. Seu nometornou-se conhecido no mundo inteiro comos comentários de política internacional âesua autoria através da corrente dos referi-dos jornais.Sommerset Maugham ator?

O jornal "A Ordem", de Natal, Rio Gran-'o Norte, noticiando livros de Sommerset

jslgham, editaãos pela Globo, alude à «Co-

leeão Nobel", escrita romanescamente pelocirande autor e'ator do cinema americanoSommerset Maugham". Sem falar nessa con-fusão da «Coleção Nobel" ser escrita romã-nescamente, não podemos deixar de admiraro achado. Maugham erigido a qualidade deautor e ator cinematográfico!...

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Demtrvfe, 1-TO-Tf50

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"Lendas e superstições" de Ademar Vidal

vm ntiioto «Orusolro", o Morltor Ademar Vldal apronta.

revistam suas páginas, oomo também porqueMM»^LS?ídmlraíS ofljetanea da história másloft cia aoua nordestina,mormente du Paraíba. .Homenagc i à Memória de Anaxagorai Mrrwroí

Na reunião do domin-xo úRImo d»Academia Paraense de Letras, em Belôrailo Pará, um dos mais üeaUcadoe mem-bre* dessa instituição, o escritor Geor-.;enor Franco, pediu que fesse eenslB-iuda ná ata — sendo a sua J^ópos-ta unanimemente aprovada — um yo-

to do pesar pela morto do nosso quen-do companheiro Anax&soras Barreiros, re-< ator de "A MANHA" e filho daquele Es-tatlo. Foi uma homenagem l^M»»»*;pois Anaxágoras. cujo desaparecimentoprematuro consternou a quantos traba-ihum nesta casa, multo mereceujje todosquo o conheceram, nao sô pelos -SfVMg^mitos de profissional competcntlsslmo,como pelas suas altas qualidade* mima-nas.

Guerreiro Ramos comparecera a uma reumeointernacional sobre grupoterapia

O prol. Guerreiro Kamos foi convidado » I"**Jfl^LnV«mecuSg» patrocinado pela J^^J^SJgXi* S^gStria, a realizar-se em maio de 1051, em Çjncmattl

•»»«""í?JSSftA,Bffa&VBrS5^SEb&SSÜft VSFSSUfíSS ÍS.1—2ltS SSa o^BoSS or Contributlng Edltors" do «Journal ofSocfoiSJcíiopathSígy and Sociatry», de Nova Iorque.

"Cultura"Encontra-se em clrculaç&o mais um número, ¦o

^rcelrc,da esplôndlda revista "Cultura", editada pelo Ministério da

SducaVso e Saúde e sob a esclarecida dlregso, do f^^

té Slmefio Leal. Bem feita como sempre, publica jM£SSE*»número trabalhos de Eurlco Nogueira França Morto BarataM Boudln, E. Mira y Lopeí. Munhoz da *^J^'<*S£Xrqutoo de Souza, Sebaotito Balas» Bondy Newton rranra.Josué MónteUo, Lúcia Miguel Pereira, T. B. «^Jjj™Mendes, Antônio Bento, Carlos Castelo BnjncoJT. MattoaoCtoara Jr.i Bafmnndo Sou» V™^£F&Sm\- iSlôr;WlUy Lewin. Otto Mala Carpeaux, Manoel Lleques joeior • ^outros. .'"'«•"Cântico dos cânticos"

Numa excelente tradução de JamU ^"«JSJf^sícon, «"»-"-^ "nstraçíes de Oswald de Andrade «»»».#•

„a de ser lançado pela Edicío «M»Wa«ooema UibUco "Cântico dos Cântico^,tribuldo a Salomão. Nâo poderia ter si-lo escolhido melhor tradutor para essesversos, pois Jamil Almansur Haddad, alémle magnífico poeta e crítico, é pWundoonhecedor da poesia oriental em todas

mas sutilezas e mistérios, «emes agora,>nriqueelda com um substancioso prefacio,nais uma esmerada transposição brasllei--a desse poema de beleza imorredoura ¦iue segundo diz o tradutor, foi feito "me-•ios para a inteligência que para os sen-tidos ê poema sobretudo para o olfato •is versos, se de um lado devem ter a ma-lestade de Jorcsalém ou Tirzá devem tra»;er, por outro, nos seus vestuários, a Ira-gância do Líbano, o Líbano de cedro, pi-

nheiro, cipreste, carvalho, oliveiro, acafrão e cinamome'"Futebol", centauros e outros animais"

Será publicado, em breve, o segundo livro de VitalPassos. O autor de "ZEBÜEIDA", intitulou sua segundaobra, que é uma agudissima sátira ao futebol, à políticaetc de "Futebol, centamas e outros animais . O livrosairá ilustrado com mais de vinte caricaturas e char-ges" dos principais artis/as nacionais, entre os cjuais, afigura do nosso companheiro Appe.

O humorismo entre os livreirosO Altamiro. da Livraria José Olímpio com «w d^Jos)

temperamento rabelaisiano, é um homem de espírito, a lorçade presencear o espírito... ou a falte de espírito dos escn-tores que por ali diariamente passam. ,„„,,««»

Há pouco, chegou um freguês à livraria, perguntando aetinha o "Bobo", de Alexandre Herculano.

E o Altamiro que o atendeu:_ o "Bobo" níio temos no momento, Nao aerve •

Outro dia achava-se ali muito preocupado um ^^S^porque precisava escrever um artigo sobre Guerra Junqueir»e lhe faltava documentação. „ninwn *„ nnríiR —— Por que n&o escreve antes sobre a guerra da ooreia —interveio solicito o Altamiro. «

1.° Aniversário do "Jornal dos NovosEntra em seu segundo ano o "Jornal

dos Novos", o fecundo movimento em-preendido pela romancista Dinah Sil-veira de Queiroz para dar oportunidadea jovens escritores desconhecidos, e quefoi iniciado com a "Crônica dos No-vos", cujo primeiro aniversário se ceie-brou em 4 de maio passado. O "JornaJdos Novos", dirigido pela autora ue"Margarida La Roeque" e secretariado-por Fausto Cunha, crítico literário de"A MANHA", um dos elementos surgi-dos sob a iégide da grande romancistabrasileira, tem desenvolvido uma cam-panha de apresentação de valores novosdas mais felizes, porquanto, em seus 12primeiros números, trouxe a público —juntamente com a "Crônica dos No-vos" — quase uma centena de cronistas,contistas, poetas e articulistas, mere-cendo especial destaque os desenhistas

e ilustradoresV-còmo Luiz Canabrava, Sorensen, G. Ribeiro, Noe-mi, Paulo O. F., Tiziana, G. Rodrigues. Rocha Filho, Appe, etc,que muito valorizaram o suplemento literário dos novos oe"A MANHÃ". A renercussáo em todo o Brasil tem siao uasmais intensas, recebendo essa págma elogios e estímulos «afiguras consagradas de nossas letras, e até mesmo do ex-terior.

4

A SENTENÇA"ULISSES", D

Corso se sobt, • •arando rossancode James Joyce, "Ulissat" quandoeditado pela primeira vss aos Esta-dos Unidos, foi apreendido, am vir-tude de uma lei que ali proíbe a cir-colação de escritos llcenciosos. "UHs-

ses" incorreu, assim, na acusação delivro obsceno o os que 1* leram aobra bsm sobem quais os soas tro-chos, cuja interpretação errônea- po-deria determinar essa modida.

Nêo se conformando com a apre-««são, e editor apelou para ae tri-banais, onde teve ganho da ceasa.Longa e esclarecida é a sentença emqae o Juix Woolsey libera o celebreromance. Nessa pãgiria curieeíesima,como )a bem observou o nosso com-panheúo Alcântara Silveira, o ma-gictvado americano teve ainda e mé-rito de firmar uma Jurisprodoncio sò-bra a questão. Com referencia, porexemplo, a certos termos qae feriramo pudor de moita gente, enprime-seêle assim: "0 uso acidentei de olgo-mas palavras, geralmente considera-dos sujas, e nas qaais não faltouquem vive uma preocapacâo excos- i

3,. pd. .«..I, W «i.i*» »d« «- **Hfe *« jm

•essidade do autor realisar o sou ta- Si«alguém«•-. Mostra o |ui* •« exigências do «^,rt0.^m a

«oferno de Joyee, pois tais vocabo- Joree, irto c-,

Isa resoUavam, não de um propósito ao cada um.

Jamesino, mos

UftintM Mtooet

Oe*r Campos puWteou, imlotondo as ,»*5Jd*deBHe<|i*^

Sm edicfto de "Letras da Província», de Limeira, encont

m n^ulxariae o novo Uvro de Joio de «»>^ Cf

preensao Fenomenol-ógica das emoções", ensaio «Obretos psicológicos da filosofia existencial.

«A inútil espera- é o titulo da nòVa eolst*nea de te

d* Dirceu Quintenilra, lançada Há pouco, com capa de i

ta Rosa, em edição Pongettl.Abelardo Duarte publicou interessante «^J-* *•

dJslaTde 8otv,a MeUo Mettó, con^erado jgMgj"*»kwia brasileira e estudioso da Antropologia, «mofire- ,

SSoa ** "Ladisiau Netto» íol publicado pela Imprer

.Oficial de Alagoas.A íditora do Qlobo eeaba de lançar a "Antologia do£

po BraSSro". organteada pdo Sociólogo Bdson Carneiro.

Alcântara Nogueira pcbllcou -^eaitemen*6' emloa^H?^ Safado de flloeofla: "Universo".

^a * * *i é !m iR

Domfstf», 1-T0-T950• *-»^»mm»hmtmtmtm»mtÊÊÊámWmmmmt»

TBTK3S E 71RTES Pjglna — 7

... ..i ... • .• .¦ ••' Vi H.'. V. ' -. . '¦ .\'X,.<: t. .,. .,• '* Ui • •«

UE LIBERA OJAMES JOYCE

ler o "Ulisses-. Mos quando Jeyca,•som a seu poder de sugestão oartra-ordinário, nes dá um quadro real daclasse modla de ama cidade ouro-péia, por que se he do proibir legal,manta o publico ¦erta-omericeno dever lesa qeadror"'.

\\A \J\iW *eftarando as convicções da queA V > ¥ I Joyce não escreveu a Hvro com m-taitos pornográficos, entro no ema-me da significação do termo 'obs-eeno", definido pelo código comoaquilo que tende a provocar hupul-sos sexuais ou pensamentos impurasOra, assa reação, a seu ver, devo*9t experimentada em psseeas prosu-midomenta normais, sob o ponto devista sexual. Foi justamente o queela fax. Dou o romance para tor adois amigos, nes quais Julgava reu-nidos aesas condições da normaKda-de, a Renhom deles achou o livro ea-par de provocar pensamentos impu-ros ou impulsos sexuais. A experisn-cia acabou por convanse-lo sobro aliberação de livro. Ressalva, no en-

careces* ^"»/ tratar-se a^ uiim obra "um

tanto farta paro pessoas sensíveis,i a entrar sm J"**0 MmmH'M "«o «enstifulnda

JN-Iratada por T* wof,vo P»"dorávol contra a la-u fera intimo falidoda da circulação da "Mime*",me não deve mm estados Unidos.

«

¦TifiBiSncoB Cesssibo da sjUrs, o grande poeto da taMm

Irigu^SrireVT lBtwdusfto à» »»£* eoSSetoiiS-Oouto* de Apredle» é o título do Mvro oom qua • poetata Drumond de Andrade mtreiará, dentro em StJrsVnodas pequenas historia*. ^7 "°

'liais um romance de José Lins do Rego, "Oang-soetroe"¦H anunciado para prôslmo lançamento.Almeida Fiaober vai publicar, ainda eete «no, seu botoi de oontoe, "O homem de duas cabeças", em que reu-seus melhores trabalhos no gênero. O livro trará capaiBtnta Rosa e ilustrações de Lírio Abamo, Osvaldo Goeldl'Wen Kerr."Elegias e outros poemas", volume de versos que assina-a éetréla de Mauro Mota, deverá ser lançado no co-de 1951.totó sendo anunciado, para breve aparecimento, o novode Xavier Piaoe, Intitulado "Imagens da Cidade", co-de crônicas sobre coisas a fatos da Cidade Matavllhosa.

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O romance do Joec Ferreira Landim

-,^,^Ul*ttl<to •om J VHmlo MA Cigarra" no grande con-eureo de romanos* da revista «o Crusclro», acaba de mlr-O Bananco-, de José Jrtrretra Landim, r um romance Sueprojeto um conflito social, desenvolvido por um romancista•S^fítuS^ÍSa^'10 bftbllmM1* • 8e» 5USP cSeto

Ia uma dai melhores estrelas do ano, que tnue para s?2E ffi£?«TJit'í?/U *"" rw,lRnc»«a de eioelentr quall-aaaos, teieeionado alias entre centenas de originais.

'Retalhos da vida de um médico"Fernando Namora, poeta e romancista, figura do pri-metra plana das gerações novas de Fortu-«ai, publicou, recentemente um Uvro emque revela suas experiências médicas, pro-íissao por ele exercida na vida civil. O

^^ volume lntltula-se -Retalhos da rida de•^L, TÊm um médico" e embora cada capitulo possarSS». WnM ner lido como um conto, reproduz semprea verdade vivida pelo escritor. Vários pro-blemas humanos e de ética profissional.Fernando Namora agita nesse livro, sobre-tudo os relativos ao médico de aldeio, poisna província portuguesa iniciou ele a suacarreira.

bernard Shaw, sempre em formaBernard Shav acaba de completar noventa e quatro ano*.Wo dia do seu aniversário, felicitado por um Jornalista, queme pediu noticias da saúde, respondeu ele, com a sua cos-torneira ehocarrlce:— Meu Jovem amigo, na minha idade, a gonto ou vai*sempre bem de saúde ou Já morreu há multo tempo.

"Panorama da nova poesia brasileira"No fim deste mês, deve estar nas livrarias o "Panorama

da Neva Poesia Brasileira", organizado por Fernando Ferreirade Loanda, e que vai constituir um dos mais importantes em-preendimentos editoriais da revista "Orfeu". Mais de vintepoetas da nova geração comparecem a essa antologia, quefixa em suas páginas um dos momentos mais fascinantes daevolução lírica da atual poesia brasileira. O rigor dessa anto-logla, selecionando vinte e poucos nomes entre dezenas e de-cenas de jovens poetas, ao mesmo tempo que fixa o critério doseu organizador, facilita o trabalho de apreciação critica, umaves que o público vai estabelecer contacto apenas cora o*poetas que Já adquiriram uma certa expressão pessoal, quan-do náo for o caso daqueles que, como João Cabral de MeleVeto Ledo Ivo, Bucno de Rivera, Domingos Carvalho da SU-

\ va. Marcos Koader Reis, Périclcs Eugênio da Silva Ramos,\ tose Panlo Moreira da Fonseca, Afonso Felix de Souza, Darcyj3':- Jtamasceno • alguns outros, já conquistaram sua posição II-•"•} sesáiia e foram amplamente analisados pela critica.

tr,.

"Ofcra Poética", de Jorge de LimaO acontecimento literário de maior im-

portancla da atualidade artística * sem.dúvida o lançamento da "Obra Poética" deJorge de Lima, na qual o grande o famosopoeta brasileiro reúne a totalidade de suaoagagem lírica até os dias de hoje. Apre-ciada de conjunto, desde os sonetos parna-slanos até a fase regionalista, a etapa densplraçáo religiosa e a pungente fase dos

últimos sonetos, essa obra de Jorge deülma fornece ao leitor a chave de umadas maiores vocações literárias que Já llu-minaram o panorama brasileiro, através darealizaç&o de uma obra rica pela diversi-clade dos gêneros, pela inquietação espli-l-• uai e estética de seu autor, pela coragemia aventura que nela resplandece.

A edição atual, realizada pela EditoraGetullo Costa, foi organizada pelo, ensaístaOtto Marta Carpeaux, que a anotou crlte-riosamente.

Clube do contoO Clube de Conto, dirigido por Constantino Peleólogo,

vai publicar a sua primeira coletânea, reunindo os contosjá aparecidos até o presente. O Clube do Conto como sesabe publica um conto por semana, distribuido-o aoos seusassinantes.

Os contos do primeiro voleme, que terá 360 páginas, sãoes seguintes: QUEM SABE? (Maupassant) — DE MORTUIS...(Colher) — O TESOURO DE VASCO GOMES (S V. Benét)LÓGICA INFLEXrVEL (R. Maloney) — A SERPENTE IN-VERIÓit (Hawthorne) — O CARTAZ DE MR. MARTIN (J.rhurber) — MARJORIE DAW (T. B. Aldrich) — O DOM,DE MR SèlDMORE (O. La Farge) — A MULHER ALTA (P.A. Alarcon) — AQUELE BRUTO DO SIMMONS (A. Morri-son) — OS 47 RONINS (Anônimo) — A MOSCA VERDE (K.Mikszath) — UM CASO JURÍDICO SEM PRECEDENTES(Pierre Louys) — UMA ESPÉCIE DE LEGADO (Donn Byrne)

A ARVORE DE NATAL E UM CASAMENTO (Dostoievski)•— A HISTÓRIA DO PADRE (D. Bikelas) — A VOLTA DO)FILHO PRÓDIGO (A. Gide) —, UM DIA DE SORTE (J. M.Nunes) — GUAPEZA VALENCIANA (Blasco Ibánez) — CON-FISSÃO DE ANO SANTO (H. Sudermann) — NO COMPO DBOLIVEIRAS (Maupassant) — A DESVENTURA DE PAULOCINELA (Conto popular napolitano) — O HOMEM E A SER-PENTE (A. Bierce) — O PUNHO DE. PRATA (Ferens Moinar).

Escritores de 12 nacionalidades e contos de todos os g£-neros fazem parte desta primeira coletânea. Os que desejarem tornor-se assinantes do Clube do Conto, devem escreverpara a Av. Nilo Pecanha, 236 sobreloja, Rio, ou telefonar pa-ra 22-3-160.

Atividades das Edições João CalazansAs "Edições João calazans", que eu

menos de dois anos de funcionamento, pu-blicou cerca de vinte volumes, doe melho-res autores mineiros, anuncia agora a am-pllaç&o de suas bases econômicas, transfor-mando-se em sociedade anônima. Ao mes-mo tempo, promete o próximo lançamen-to de mate alguns volumes: "Superfície"~- livro de estréia da jovem poetisa Maria

¦Angela ÀJvím; "Poesias", de Emílio Moura,com prefácio de Carlos Drummond de An-drade; "O Romance de Vila Rica", de Ciroda Lima Dias; "Poesias5, de HenriquetaLisboa; e mais a audaciosa edição do novolivro de Lucla Machado de Almeida —"Passeio a Sabará", que será publicadoem papel de luxo, tiragem ampliada e com.mais de quarenta ilustrações do proíeseorChrignard.

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A música popular brasileiraO livro "Música Popular Brasileira" (Ed. Globo ds

Onelda Alvarenga, que acaba de «er en-treguc ao leitor, foi contemplado pelo pra-mio Fábio Prado de 1945 e publicado pelaprimeira vos em língua espanhola, om edl-cio do "Fundo de Cultura Econômica".B* uma obra de extraordinário môrlto cs-•rlt« por uma discípula de Mário Andrnde,que soube seguir inteligentemente a uri-cntaç&o do mestre, «cm deixar de ser pca-«onl on\ seus pontos ú» <•¦><;«•' ¦* conclusões.

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O domínio público remunerado

André Billy comenta o fato de encontrar-se de há muito congelado na Assembléia Le-gislativa francesa um projeto sobre o domi-nio publico remunerado. Votado pela Câmarados Deputados, rejeitado pelo Senado, nãvtem êle mais probabilidade de ser votado ew2* discussão no Palais Bourhon. "A maioria dos deputados, diz Billy — mudou decampo, privando assim a alta cultura e aprofissão literária de um auxilio com o quaielas tinham o direito de contar."

O teatro nos Estados Unidos

O teatrologo vienense Ferdinando Bru-ekaner, atualmente residente nos EstadosUnidos, em recente entrevista, declarou queo teatro ali não tem a grande importânciaque lhe atribui na Europa. Basta ver queo apreciam em seções sob o titulo de "Diver-ttmentos", nos jornais. Não deve, portanto,ser mais do que um divertimento.

Livros e estantes

Mark Twain não sabia onde guardar osmuitos livros que possuía e obtidos em gran-de parte pelo conJiecido processo de pedir em-prestado. Certo dia, um amigo, aludindo aenorme quantidade de livros espalhados so-bre os moveis, perguntou-lhe por que não oscolocava em estantes.

E' que é muito difícil conseguir estantesemprestadas... respondeu o romancista.

Quanto custa uma imortalidade interina

*Conta-se que Amadeu Amaral, na noitede sua recepção na Academia Brasileira deLetras, ao vestir, pela primeira vez, o fardáoverde, ficou verdadeiramente embaraçado,pois era um homem desabituado a qualquerespécie de luxo e gala. O que mais o embara-cava era a espada, que não sabia onde trazerchegando a supor até um equivoco e nãopertencer aquele acessório à indumentáriaacadêmica. Voltando-se, então, para um ami-go, exclamou, a suar, ,pois a noite estavaquentissima:

Veja quantas provações para se pas-sar a uma imortalidade interina...

Uma técnica nova no romance

EM 1921, Monteiro Lobato numa nota au-tobiográfica, publicada na revista "NovelaSemanal", declarava que pretendia escreverum romance sensacional, começando por umtiro, nos seguintes termos:

"Pum! E o infame caiu redondamentemorto..."

Nesse romance introduziria uma noviãa-de de grande alcance, qual a de suprimir to-dos os pedaços que o leitor pula.

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V

Página ICBTRaS H rARTBt Domingo, 1-10-1950

vi passar o Santissl-mo. Isto foi no começodo sécu.o, no principioda minha vida. Não ti-

nha Idade para saber que osdias são para «Jatar os ac<m-teeimentos. A Infância é umfolguedo sem üoras, um pas-selo sem horário. Dela nos vi-mos esquoeendo à medida quodesremos para a cova. MasÇBC suc.sso, talvez porque nun-ca mais o testemunhei, rctlvo

EU VI PASSAR O SANTÍSSIMO *ííp-«*^«

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<3o Céu"(Conohtsão da 9." Pa6*)

dade nue não estivesse mais noqTnum èstttelp «Ç-*»^o desenvolvimento dess« cara-ter de atividade das ciênciasmodernas cria um novo tipo dohomens. O erudito desaparece,KtitüWo polo sábio B*£*J-bnlho é estimulado jela pefioui-sa e não pela erudJcRo. Quasenão tem 61 e necessidade do poh-suir uma biblioteca em caia.Está perpetualmerite

"em ca-minho", "em vlR«rem". Vai ten-tar nas assembléias, informar-se nos congressos. Liga-se aoseditores por còntmtps tate-craesilo de fato estes últimos a der!-dlrem dos livros que ôle deve es-crever.

O sábio apressa-se. espanta-neamente, par* entrar no mun-do dos técnicos. Para §'e é esteo único meio de pernvmeccreficaz e conservar em seu tra-ba'ho um caráter concreto. Aolado disso, o romantismo, sem-pre mais "fiou" e mais vaziodos eruditos e da Universidadenão poderá subsistir por muito tempo. A unidade e a reali-dade da universidade nàa re-pousa mais, aliás, numa "«n-dlsant" unidade prima de to-das as ciências; Já é uma disuu-sicâo tornando possível e nondnem evidência (por sua divisãoadministrativa) a senaracão da»ciências em especialidades « aunidade particular dessas espe-cialidades. Por isso. as cie-lasmodernas náo se tornam efica-zes, senão tomando um caráterdo "atividade", cue as pesqul-sas esneciais podem dispor econstruir na unidade que meué própria. O verdadeiro a*stoma da ciência reside na unida-de de progresso resultante aosplanos e no comportamentocom relação ao "Sendo", toma-do como objeto de pesquisa.

A vantagem apresentada poresse sistema não reside numaunidade fictícia e riglda das re-lações das esferas de objetos,ma» na mobilidade a um sòtempo livre e ordenada de co-municacão e intercalamento daspesquisas em suas tarefas su-cessivas. Mffts a ciência se llmi-ta exclusivamente à atividadese ao controle do seu raio de tra-balho. mais essa atividade é des-pida de ilusões nos institutos enos centros em que é praticada,mais trresistivelmente e essen-cialmente: também se tornapropriamente moderna. Namedida em que os sábios to-mem o modernismo mais asério, orientar-se-âo tambémde maneira menos inequi-voca e mais direta paraa utilidade geral e serão for-çados a aceitar um anônima-to nue semelhante trabalhoimnlica.

A ciência moderna funda-se edivide-se, ao mesmo tempo, emprojetos de esfera e objetos de-terminados. Os proietos desen-volvem-se nos processos garan-tidos pelo seu rigor O processodispõe-se em atividade. O pro-jeto e o rigor, o processo e ati-vidade se implicam uns nos ou-tros e constituem a essência daciência moderna, fazendo -omque ela se ia uma Pesquisa.

Se estudarmos aqui a essen-cia da ciência moderna e paradescobrir seu fundamento me-tafisico. Que interpretação do"Sendo", oue conceito da ver-dade sáo a causa da ciência tor-nar-se uma pesquisa? Ris aquestão que tentamos elucidar.

eloqüente a memória no enlclodas primeiras sensações

A noite vinha vindo paolcn-temente do pico dos morros,faixava sobre os telhados e Ia«aliar para a rua onde eu aln-da vadiava, quando o carro doSantíssimo anunciou a suapresença por meio dc unia si-nela quo badalava, badalava,

'ATTILIO MI LANO.

de um modo Ürltante, em sonslividos qre se liqüefariam co-mo se fossem lágrimas audí-veis. Nwse Instante apaga-ram-se os estréias e o gasisUalmla náo acendera os Iam-piões. Quedou a noite taocnoltoda que julguei estar du-nllccmenlo cego: Corri p:iraa, caiçada de minha casa. com

m mios adiante, de quem ta-teia, e, estatelado no muro,com a atenção adiante, dequem tem medo, esperei a pas-aarem do coche lúgubrc. Centeajorihava-se próximo de miro,«usurrando "E*o Santíssimo!Primeiro foi um português davizinhança, depois a dona doarmarinho, forçando o fUho a

ROMANCE E TUBERCULOSE

A tísica, colocada diante

«lo romance, é» assuntofértil que bem daria para

um alentado estudo. Limito-me aqui em apresentar algumasnetas para melhor elucidaçãodo tema, que para mim se re-veste de um Interesse paru-cular.

Há uma sedução na cníermi-dade que muito atrai as ima-ginações dos romancistas, cria-turas sempre ávidas por mate-rial humano a fim de desenvol-ver em seus livros. E a tuber-culose e de fato ura grande ma-terial para o romance, isso emvista do seu profundo sentidosocio-emocional, pela sua agita-cão plsquica bastante mórbida.Tema atraente quanto difícil,ambicioso e Ingrato. Vários fo-iam os romancistas que nauira-garam na sua abordagem, issodevido aos perigos movediçosque a sedução do tema oferece.Vestir o tema com roupagenspatéticas, truque Já bastanteexplorado, hoje náo surte maisefeito, levando o escritor, mui-tas vezes, a descambar para oridículo. O patético nunca íolassunto fácil de ser abordadono romance. « preciso saberdosá-lo na medida do suflclen-temente humano, do comedidológico. E o mesmo acontece com

PAULO DANTAS

a insistência romântica, já bemfim de século. A época da "Da-ma das Camelias" já passou. Atuberculose é mais uma doençasocial, doença da fome e aasnecessidades econômicas, dasprivações, dos desalentos, dosabalos afetivos. ¦ uma epide-mia alarmante, assustando eameaçando o mundo dos nossosdias. E assim ela deve ser en-carada pelos romancistas mo-dernos. — escritores que naocultivam o romântico, nem fa-zem praça forte, abusando dopatético. é

O romantismo campeou, livre-mente, no século passado, "o se-culo de ouro da tísica", comoJá disse alguém. Nas letras foium movimento poderoso, pro-duzindo os maiores nomes dapoesia universal. Isso merecerespeito diante de uma estatte-tica emocional ou literária. Mas,agora estamos em pleno séculodo social, das grandes preocu-pações e tragédias coletivas, dasavançadas revolucionárias. Sertísico no século XIX, «ra seaniquilar em câmara lenta, era«viver morrendo", adotandoatitudes. Hoje, ser tísico é au-mentar a cifra das tremendasestatísticas, é acrescentar umnúmero a mais na terrível cala-midade. O que ontem era au-

rude romântica, hoje 6 fatall-ciade social. E ó, diante dôssetruismo, que o romance modernodeve encarar a tuberculose.

A tuberculose tem sido, noreino das moléstias crônicas, amais contraditórias das doenças.Ela tem desafiado a paciênciaclínica dos médicos, assim tam-bém, como no terreno literário,vem zombando dos recursos téc-nicos dos romancistas.

Há diversos romances, contos,em todas as literaturas domundo, escritos sobre a tuber-culose, o que bem mostra ograu de sedução exercido pelotema. Há romances inteira-mente passados em Mnatórlos,como "A Montanha Mágica ,de Tomas Mann. "O Sanatóriodo Dr. Klebe", de ConstantmoFedin ou "Os Cativos", de Jo-seph Kessel, só para citar trêsJá vertidos para o português.Cada um desses romances apre-senta uma face do problema,pois na tuberculose a multipli-cidade dos aspectos aturde •comove, dai a dificuldade de seescrever um romance completo,satisfatório, sobre o tema. Aingratidão pertence ao assunto,nasce mais da v»stfdfio do tema,do caráter enciclopédico da do-ença.

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UM DIA, SERÁ*...GABRIEL DE LUCENA

Abro „ .mo,». —. o. -*£«£££:Tudo respira compassadamenteNo silêncio maldito deste noite comprida

E êste pingo teimoso que fico» da chuvalE esta lata fanhosa respondendoAo capricho enervante deste pingo";

Tudo respira compassadamenteNesta noite compridat

E o pensamento continuado, W^S^iNa vigília agitada desta noite me segreda:

oTnomcns dão-se as mãos nesta "^JjJ

E arrlmam-sc. contentes, lado a lado,E curam-se as feridas mutuamente,E amparam-se, felizes na descida para .a vida,E cantam hinos na subida para a morte .

Os homens não conhecem mais a hipocrisiaE não mancham mais as mãos em sangue,E curam-se as feridas mutuamente,E ampàram-se, felizes, na descida para a vida,E cantam hinos na subida para a morte*

Mas, .A noite estende-se comprida»E êsté pingo teimoso oi** ficou da chuva»E esta lata fanhosa respondendoAo capricho enervante deste pingo!

Meus olhos estão abertos e não vêem,Meus sentidos despertos, meus nervos agudos,Mastigados ptdo pensamento,Gritam blasfêmias que não sabem...

A canseira cega, enfim, os meus sentidos».Torturados pelo pensamento.

Minh'alma foge nos espaços,Enquanto o corpo ressona.

E quando a ms do «O. entrando da Janete^

ttirs^»*^^E grita:Os homens Ah! Os homens .„._«-,São a síntese de todo o egoisme universal,O único animal perfeita, «.ntlüo*Que, na dissimulação de todos o» sentido»,Tornou diferente o significadoDa palavra irmão...

Os homens! Ah! Os homens...Olha por dentro dos olhos que te riem,E compara a maioria dos sorrisos...

Os homens não se arrimam, contentes, Iad°d*

E não se curam das feridas mutuamente,E não se amparam, felizes, na descida P^a

E não cantam hinos na subida para a morte!

Besperta, pois! Desperta! Abre os teus olhos!Toma sobre os ombros o que te cabe na vida!0"ha para o alto! Olha o nascente!E um dia... Um dia... Que não seja ionge,Quando os homens compreenderem o grande sa-

. [orifícioDaquele que ensinou a vida da vida,Dormiiás... dormirás, então... dormirá*, en-

f.fim...

Os homens curar-se-ão das feridas mutuamente,E ampnrar-se-ão, felizes, na descida pava a

[vida,E cantarão hinos na subida para » mortej

|mlt4-la, atra» • preta Anta*nor, todos na pungente aUiu-de dc um temor que eu naolhes conhecia, "to 8antt*si-no!" E» conhecia apenas ves-tiçlos de alusão àquela derra-delra visite d» Igreja ao ho-mem. Mt o último sacramentoem artigo de morte'*, ouvi cer-te vem. Em artigo de morte!Jamais vira um morto, minhamfie me poupava a Imagina-ção de toda angústia. Em ar-tlgo de mortal Acordava alinaquele momento a frase nu0eu rctlvera por não tradurS-ia,Que artigo se an^plnarh ámorte? E nadava na intuitode que seria eterno, de nue ml-nha máe e meus Irmão* se-guiam comigo Isentos d**socastigo! Que culpa cometia-mos para que Deus nos ensur-devesse no sono misterioso?TJm defunto era a eonseour*n-cfa do pecado, para debalro daterra iam fmlearaente os nrnts,de olhos vítr^os, unhas de gn"-ra, nariz de águia c sem o rêoda boca! Aqueles Indivíduoscurvados perto de mim. cem aspalavras borrlfando as ne^-uido cardnho. as red*,Jnbn«: oon-tristadas por tanta humiKvie,não f*am m«fs meus eonh"~udos: nm vento fw*»rár'o rsno-feteava-os e calam s'b*nls-ns."/Moelha, menino**. RxHu ovelho vinvo da loja de Tovois,

com os fios da barba ásn?roáde rigor. Aquele carro Ia agorapassar psr mim, tão junto ?nsmens ©nrMos gemeu o badalodo sacristão, pereufindo la-mentoso MAÜ Que o Senhor secomlsere da alma de feia-no. . .** Entrei pela porta docas» a dentro e me fui escon-der no fundo do quintal. Meusdentes agarravam-se uns an*outros, secou-m» um frio desudârio » as folhas tombarp.ntdos ramos numa noção de fiai.Depois o pensamento me n!or°ton de que não devia temer osemblante de Deus! Ele ia decoche, saíra do templo em noi-to tão muda. só para delir como seu sangue a sede febrentado agonizante pecador. Perdão,perdão! Vim gritando e vol-tendo para » rua. Havia pés-soas paradas no Jeito de quemespera: "Póra no eamno do8. Cristovam, coitado, com seisfilhos pequenos e a mulherno meretrício! Pegara a galo-pante**."E o Santíssimo?*» Pcrnin-te!. "Daoul a poueo estará dovolta**. Então a cnríoslrlnrletomou o aspecto do susto ven-dd© e denressa pela ealraflame fui postar na esqnina. Eratante a noite que esbarrei nofrade da esquina. Era umfrade de esouina? Era um fnv»de de esquina. Vou-me aloe*lhar, devo-me ajoelhar, vonsim. Dos vidros de todas asjanelas Irromneu uma tristezacoada de vUrais de Igreja ;quando a slneta badaleis jáno fim da rua prevenindo dasen retomo, um perfume nar-mônico de órgão me incensouas vísceras O coche apruma-se. vou-me ajoelhar, Já vemaí! Mas não me conteve a }«-sia de espiar pra dentro th*".Com o crucifixo «tendo-lbj »cara rafpada côr de «nJ^

mirui o sacerdote, temhrav»uma múmia sentada. E .Mjr*Unha reflexos de aco e«w.n.d'ndo-se em fátegos:;¦ *™vlha. Judent- O sacrist™ eranm ranazlnho eseanif™.«JJJmareava o e-mnasso m ^de bronze. E eu então de ae,

mo denofc no ™n*%J,r^«n~povo perslgnado JJSffi^-se "B o Santíssimor ?<»r .,_se "E o »«»»»"•. h>^%tava na cara do naore. ^airra. íngreme w™*„ mimcia «me »f»««te «« W™ cp pmda refnte^o.^spetevam^^minhas A-bftas wu^evedo cnteffiTo expandindo selátegos; -Chora, criança, lm„> da. tua eaje.; ,„

Agora era e°™^0' „,(M,!T)9me para novamente oe^; «ge esbarrei ainda no »aa«esquina; Era nm <™ãe

gquina? Era um ««g^ es-quina. Andava a mmpreita tanta "oiíe o ^ a ^desvàirádamènte. A

^- a?]padre era negra? E»a •*Era negral ^

pjp^l,ji'*lfi iepi«F<' 1 '««áp»*-:, r. '^pmM«W,l,:i^^!nRiiwli ;iim *-f»f?« flSWWOHf *! ¦'» ™WU« " >*I'«t~?st^.t ¦ ¦'¦.¦ - »«^^»^*-««[f»#»«»PW,LllWI PpiVl^»-»3W^W .«««pK 'Jjy.ISjipJrm

Domingo, 1-10-1950 LETRA S E ARTES Página — 94MMXII

SEI que ninguém me tom-.

prvendt o que todos meJulgam doido Entretan-to. vejo, sinto, ouço co-

mo os outros, percebo a fria-gem destas grades brutais quaum tolhem os pauto* e a be-les» Inédita daquela flor fa*¦angu* pulsando ao sol comoum estranho coração, Não dl-gam que minto, que a reallda-de é outra e que nfto sei o queestou dizendo. Acaso não eiis-tirão milhões, bilhões, trilhõesda realidades, uma para cadaser, conformada ao seu cérebro,ao seu mundo? For que hei deaceitar como boa e Infalíveluma realidade geral que, In-tima e secretamente, ninguémaceita?

Dizem que cometi um crimehediondo, que isto é um ma-nicômlo e que serei Julgadobrevemente. Serei Julgado porquem? Por Deus? Nas aulas decatecismo D. Latira me aflan-cava que Deus é todo pode-roso, é onisciente, Justo e bom.Éramos duas dezenas de me-ninos e aprendíamos o que eraum bom cristão e o que erapreciso para ser um bom cru-tão, pensando nas brincadeirasda hora do recreio, nos balan-ços de correntes e nas bar-quinhas giratórias.

Não compreendo que crime éêsse a que se referem cons-tantemente. me apontando de-dos ameaçadores. Percebo queestão conluiados contra mim etramam em baixas vozes algode sinistro a meu respeito.Olham-me com receio e pre-venção, como se eu fosse ca-paz de um ato ignóbil, de umcrime monstruoso. Um cri-me... É isso mesmo, afirmamque houve um crime e queminhas mãos estavam tintas desangue

Minha filhinha estava comdois anos, agora me lembrobem. Andaram dizendo que nãoera minha filha, que não separecia nada comigo. Depois,veio aquela maldita carta, con-

PROCUREMOS compre-

ender em que consistea experiência. Começa

ela por tomar como base umalei. Fazer uma experiênciaquer dizer: traçar limites den-tro dos quais se poderá seguirpela pista uma certa relaçãode movimentos na necessidadedo seu curso. A posição da leipode estabelecer-se a partir doplano fundamental da esferade objetos (da ciência). E' es-se plano que dá a medida e li-ga a representação antecipadado traçado dos limites. Umatal representação, base detoda a experiência, não é pu-ramente ficticia. Motivo porque Newton disse: os funda-mentos não são gratuitamenteinventados. São desenvolvidosa partir do plano fundamentaldelineado segundo este. Aexperiência é um processo, noseu esboço e na sua realizaçãoderivado e orientado por umalei fundamental e. destüiado arevelar os fenômenos que verl-ficam essa lei ou a desmentem.A possibilidade da experiênciaé tanto mais precisa quanto oplano na natureza projetadocom maior exatidão. Motivopor que Roger Bacon, o esco-lástico tantas vezes invocado,não pode absolutamente serconsiderado como precursorda experimentação moderna;não passa êle, na realidade, doum tardio sucessor dè Arlsto-teles. Pois enquanto isso oCristianismo situara a Verda-de na Crença, na crença daVerdade da Escritura e da Te-ologia. O mais alto ç^nhec''*mento é a Teologia, como ín-terprétação do Verbo divino daRevelação, fixado pela Escrl-tura e ensinado pela Igreja.Conhecer aqui não é procurar,é bem compreender a Palavrae a Autoridade que a divulga.Razão pela qual a discussãodas palavras e das diversas au-toridades ocunam nos estudosda Idade Média lugar prepon-üerante,

O ROSTOConto de ALMEIDA FISCHER

tando eolsag terríveis Minhafilha tra minha, sim, o moamava • me preferia à própriamie.

Informaram-me que vou serJulgado logo que fique bom.Mas, nao estou bom? Ah, sim.eles pensam que perdi a razão.Ainda darei um urro nestacela que porei todos tremendode pavor Eles não eonhecemminha forca, estão enganadoscomigo. Tenho uma arma ter-rivel, capaz de desgraçar a to-dos E' por isso que eles metemem. Ah, Já descobriram meusegredo, mas pagarão muitocaro tudo o que estão me fa-aendo.

Sou um médico de renome ede prestigio e tenho amigos napolícia, üstes homens de bran-eo que rondam minha cela odia inteiro, hão de me pagar.São traidores e se uniram con-tra mim por inveja, para meroubar o hospital, os clientes eas descobertas que realizei.Eram todos empregados nomeu hospital. Até meu aseis-tente se uniu aos outros. Masnão faz mal, eles verão.

Ontem dois homens enor-mes me arrastaram a um sa-lão, onde me amarraram numaparelho elétrico Querem mematar, mas eu os estraçalha-rei. Aquilo é uma cadelra-clé-trica, pensam que não sei

O passado desfilando-lhe di-ante da memória como umfilme. Joccli tinha uns olhossuperlativamente verdes comouma esperança, os seios durose empinados, de um morenoclaro, os longos braços nussempre prontos a abrigar-lhe ocorpo, os cabelos molhados demar. escorridos sobre os om-

bros. E havia barcos de pescasobre o mar tranqüilo, movedt-ços pontos brancos que se apa-gavam na distância, que soafastavam para além do hori-zonte.

Joccli nadava bem e o faziaacompanhá-la per igosamentepara longo da praia. As vezesmergulhavam Juntos e ela oenvolvia, no fundo do mar. co-mo um diabólico polvo. Em péna praia, a companheira e afilhinha ao lado, brincando naareia, seus olhos acompanha-vam ansiosos os navios que seafastavam para outros portos,para outras terras, um saborde despedida amargando-lhe aboca, um Inconsciente desejode fuga inquictando-lhe a ai-ma.

— Vamos nadar, meu bem?Puxava-o pelo braço, com

insistência, implorava-lhe comaquele seu jeitinho encantadorde falar. Depois ria muito, apropósito de nada. Nadavampara longe, para além dos bar-cos de salvamento.

Todos os sábados trazia a fa-mília a Santos Muitas vezesdeixava-Joceli e a filha passa-rem o resto da semana napraia, enquanto voltava ao tra-balho. O mar exercia-lhe umagrande e irresistível atração.Vira já entrarem no porto esaírem centenas de naviosgrandes e pequenos, de passa-geiros, de carga, vasos de guer-ra enfeitados com enormes ca-nhões, saveiros de velas brancas, transportando peixes, lan-chás a motor divertindo tu-ristas nacionais e estrangeiros.Seu pensamento fizera tambémcentenas de viagens, acompa-

nhando o roteiro das embarca-ções que se alastavam pelo mara deutro, fundamentado ape-nas no "placard" de saida dosnavios. Alma de marinheiroexilado cm terra firme, os ape-los do desconhecido gritavamangustiantemente em seus ner-vos e ardia em seu sangue,constantemente, aquele pro-fundo desejo de fuga para ou-tros mundos.

Nesse verão, ficou sozinho napraia. Joceli tinha morridoafogada no fim da primavera.Em frente ao mar, solcncmen-te, como se estivesse diante deDeus, seus olhos buscavam só-fregamente a distância, onderosas de fogo bolavam Em queporto teria ancorado o barco deJoceli?

Minha filha era minha, sim.Por que insistiam em me fe-rir, em criar dúvidas terríveisem meu cérebro? Mos aquelerosto, aquela cabeça braquicé-fala, aquela maldita semelhan-ça, doendo em mim, martiri-zando-mc, Joceli não seria ca-paz disso, era meiga e boa, masa carta contava tudo, entravaem minúcias inesperadas e des-concertantes e insistia emacentuar a insuportável seme-lhança.

Ah, o rosto de minha filhame perseguindo, crescendo nossonhos, refletindo-se em tudo,bailando no ar doidamente,multiplicando-se em milharesde rostos que me fixavam olhares apunhalantes. O rosto deminha filha no céu. O rostode minha filha nos azulejosbrancos da sala de operações. Orosto de minha filha me olhan-do no brilho metálico dos ins-trumentos cirúrgicos.

"O TEMPO E A IMAGEM DO MUNDO'

Um trecho inédito do próximo livro de Heidegger: "O sábio apressa-se espontânea-mente para entrar no mundo dos técnicos".

CMO já tivemos ocasião de noticiar, o nosso correspondente na Europa,- Louis Wiznitzer está traduzindo para o francês o ultimo livro do grande

filosofo alemão contemporâneo Heidegger, cujo titulo será "Le Temps et VJmagedu Monde". Dessa importante obra, que aparecerá breve, trazendo vistas novase surpreendentes sobre os problemas áa filosofia moderna, damos aqui, em pri-meira mão, um pequeno trecho, certos de correspondermos à curiosidade dos nos-sos leitores inclinados a estudos dessa natureza.

O componerc scriptum etsermones argumenlum exver-bo foram a causa da filosofiaplatônica e aristotelica trans-formar-se em dialética esco-lástica. Quando Rorçer Baconexige a experime1-! "io não setrata de experiência da Cie;?-cia como Pesquisa; trata-se de.substituir o argumentum ex-verbo ou ex re a discussão dosensinos pela observação diretadas coisas (de que já fala Arís-toteles).

A experimentação da pesqul-sa moderna não é somenteuma observação mais exata emais extensa, é um processode verificação das leis no qua-dro e a serviço do projeto danatureza. A' experiência dapesquisa fisica corerspondanas ciências espirituais a criti-ca das fontes O que quer di-zer, ao mesmo tempo, descober-ta, fixação, exame, apreciação,conservação e interpretaçõesdas fontes. Sem duvida, a ex-plicação histórica, baseada nacritica das fontes, não leva osfatos a regras e a leis. Mas nãose contenta, muito menos ,emfazer deles simplesmente a cro-nica. Procede ela, também, demaneira a fazer aparecer asconstates e de fazer da hist-ó.-na um objeto de pesquisa. Á

história é objeto, na medida emque é passado. O que é cons-tante no passado, aquilo a quea explicação histórica leva aunidade a multiplicidade dahistória é "sempre já aconte-cido", o comparável. Pela com-paração incessante de tudo queaconteceu, distingue-se o queé compreensivel verifica-se es-se compreensivel consolidan-do- o, enfim, como plano fun-damental da natureza.

A pesquisa histórica coincida,em extensão, com a explicaçãohistórica. O único, o raro, osimples, ou, para dizer de ou-tra maneira o que é grande nahistória, escapa a evidencia epermanece inexplicável. A pes-quisa histórica não o nega, maso explica, como "fenômeno ex-cepcional" e mede-o, finalmen-te. pelo que é explicável e co-nhecido. Não pode haver outraexplicação histórica, érwrntoexplicar quiser dizer conduzirao compreensivel e a históriaconstituir uma pesquisa, isto é,uma explicação. A história, co-mo pesquisa projeta o passadocomo campo de ação explicávele visivel em seu conjunto: fa»disso um ojeto, e para faze-lotem necessidade de realizar acfi*4cà da° fontes;

Cada ciência, enquanto pes-

quisa, está fundada sobre o pro-jclo de uma esfera limitada ;.eobjetos; é por ai, também, quecada ciência constitue uma ei-encia particular. Cada ciênciaparticular, no desenvolvimentodo seu projeto, deve proceder,especializando-se num campopreciso de verificação. Essa es-pecialização não é simplesmen-^te um fenômeno que provenha,fatalmente, da imensidade dorjresultados da pesquisa, Não 6um mal necessário com o qualnos devemos resignar, masuma necessidade essencial daciência, como pesquisa. Se apesquisa não se lança em qual-quer verificação, acabando pornela comprometer-se. é que a,ciência moderna determina-sepor um terceiro processo fun-damental: a atividade cien-tifica. '

Uma lei natural, seja qual for,não se torna respeitada senãoquando se reveste do aspectode uma instituição. A pesquisanão é uma "atividade cientifi-ca', porque o trabalho sobre oqual repousa, se realiza nos ins-titutos. mas, ao contrário, osInstitutos é que são necessários,oorque a ciência, como pesquisa,tem o caráter de uma"ativida-de cientifica*'.'. O procedo <ieconquista das diversas esferas cio.

Minha filha ora minha, sim,mas eu precisava modificar seurosto, extirpar-lhe da lisiono-mia a maldita semelhança. Apopulação da cidade Já sabiado tudo, com certeza. Meusamigos, meus clientes, todos Jásabiam do caso, pois me olha-vam curiosos, me analisavam ásescondidas e cochichavam en-tre si. Quando eu saia à rua,conduzindo minha filhinhapela mão. muitos nartivnm sobo pretexto de brincar com amenina, mas eu sabia que as-sim procediam a Vm de po-derem examinar melhor seurosto, seus traços fisionômicos.Todos já sabiam, com certeza.Eu nrecisava arrancar do ros-to de m*nha f"ha a máscaramiserável Os tragos do outro,a semelhança com o outro.

Sou o maior cirurgião domundo e Já transformei rostoseansados e enrugados em ros-tos belos e adolescentes. Minhafilha havcHa de ser absoluta-mente parecida comigo. Nin-guéra mais duvidaria <io que euffi«!«e «»ii nal. N<r><r«óni maisbos examinaria curiosamente enem riria de mim Sou o maiorcirurgião do mundo e posso fa-zer milagres na sala de opera-ções. Êres, os tolos, não sabemqu^m sóu. Dizem que cometium crime hediondo e que serei.tolerado logo que fique bom.Mas eu não tenho nada e êíesestão encanados se esperamque me sento novamente nacadcira-cléUca. Pensam queserei julcado. os ImVr.ís. Malsabem que daqui a pouco mi-nha filha estará viva, forte ecom um novo rosto Olhemaquela grande e inédita flor desangüè pulsando ao sol comouni estranho coração. É minhafilha que volta á vida. Já pre-parei tudo e agora é precisoapenas que o sangue seque.Seu pulso está normal e daquia minutos, rediviva e bela, elacaminhará para mim. E nóspassearemos triunfalmente pe-Ias ruas-

objetos não consiste somente emacumular, mas também era seorientar, constantemente, emprogresso novo Toda a fisicaantiga está implicada nos apa-relhos modernos utilizados parabnn^nrdenr o ãtomo. Di rn^s-ma maneira, as fontes não sãovalidas para a explicação nahistória, senão quando funda-das sobre explicações históricas.Nesse progreso, o processo da cl-encia é delimitado por seus pró-prios resultados. O processo seacomoda, cada vez melhorcom as possibilidades de pro-gresso, que êle próprio abriu.Precisamente, essa necessidadede se acomodar em seus pró-prios resultados, constitue o ca-rater de "atividade" ia oesqul-sa. E esse mesmo caráter lm-plica seu caráter de "institui-ção".

Na "atividade cientifico** co-meça-se por estabelecei o pio-jeto de uma esfera de objetosno seio do "Sendo" Todas asdisposições que facilitam umaconvergência planificavel dosdiferentes processos, que exigemuma verificação e uma relaçãoreciproca dos resultados não sãouma conseqüência superficial dofato da pesquisa se extender oIr até a ramificar-se. Não são,multo menos, o sinal (ainda in-compreendido) de que a ciênciamoderna começa a entrar nu-ma fase decisiva de sua história— começa a entrar na plenaposse de sua essência.

Que resulta da extensão e daconsolidação desse caráter ires-titucional das ciências?

Simnlesmente, a garantia doprimado do processo com rela-ções ao "Sendo" (natureza ouhistória), que a pesquisa se dácomo objeto. Em razão do seucaráter institucional é que asciências fabricam um caráterde convergência e de unidade.Motivo por que uma pesquisahistórica ou arqueológica de ca-rater institucional está maisperto da pesquisa fisica. apre-sentando o mesmo caráter de"Um €f:H'"1r> ria ç;^ t>VOP^'? faCUl-

• (Conclui na 8.* rá£.)

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Página — 10 LETRAS B rARTES_

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| j% NCONTRAMOS no su-Ri . piemento literário do

«¦—» UQlíREIO DA MANHAa noticia da viagem de Mau-rola a São Paulo, onde se nos-pcUaria com os Matarozzo paramais perto colocar-se da do-oumentoçao necessária n um»biografia do Conde.

A notícia não afirmava, ape-nas Insinuava ou sugeria quoo motivo principal da auspcl-tissma hospedagem residiamermo na necessidade do con-tato com o ambiente e o tamlltado he.iôi. que assim pasmará acompanheiro de uma sério maisou menos romântica em quefiguram Shelley, Byrron. Dis-ràeli. Chatcaubriand, Proust,Machado do Assis, se é que foiescrita a blografla-cnsaio pro-m?*'da sobro o criador de Ca-pltú. O convívio no cenárioonde atuou o grande persona-gem que invad'u a Imagina-ção não raro tâo romanesca deEmííc Herzog, escritor judeuque se estabilizaria como An-dré Maurois. — facultaria, pro-vávelmente, impressões maladiretos, nâo de todo inúteis emtais circunstancias. O mesmocuidado que o dominou quandoda busca de elementrs para abiografia de Byron, volta agoraem relação ao não menos rc-mànVco personagem da hlstd-ria fmarreelra e Industrial deSã^ Paulo.

O cronista Pongettl velo rea-firmar a informação do supTe-rn°n^o do CORREIO DA MA-NHA numa crônica em quodefendia o gesto do biografo.A drfnsa de Pongetti não 6propriamente um argumentode esteta, mas argumentode homem prático, bem dota-do d1? esoirito comercial argu-to e lérddo. D^ste ronto dov'sfa. ou** não é o nosso, nemdos inocentes, — tem êle com-pWa razão.

Anesar do pouco interesseque a presença de Maurois ha

(Conclusão da 1." pag.)

MATARAZZO, O NOVOHERÓI DE MAUROIS

provocado desta vos, — o casomerece comentário. Supõe-se,¦— logo que nenhuma curiosi-dade mais aparente exlsTe omtorno da nova visita desse ven-turoso Intelectual, — que a suanotorledads decresce. Ou oseu prestigio, que até Junto apente bem aquinhoada das le-trás, já não é o mesmo pres-tlgio em qut so viu envolvidonoutros tempos. Sua decisão,retornando a nosso pais paracuidar de tarefa nada gratul-ta e nada desinteressada, re-percutirá talves até no esplrl-to dos que o consideram umagrande figura literária. E» ver-dade que na resposta por eloconcedida à reportagem de oGLOBO, tentou fugir ao as-sunto. Esclareceu que não vi-nha escrever a biografia doMatarazao, mas pescar elemen-tos para historiar o desenvol-vimento econômico do Brasil,desde a infiltração da ativida-de industrial.

Ora, esta última tarefa é umtanta pesada para Maurois,menrs historiador, no sentidosisudo desta palavra, do quealmeja aparentar. Perceber japercebemos nitidamente o queéle quis dizer: nada mais quesituar Matarazzo e suas rea-lizações na vida da indústriabrasileira como centro mesmode seu lmpulslonamento. Co-mo força motriz t central dos*ni avanço, — a explicaçãodele. a razão dele, sua únicarazão. Claro quo Isso se tornamais lnquletante por ser Ine-gável que esse homem tem ml-

HILDON ROCHA

lhares de leitores em váriospoises, (do tipo leitor comum)o sabemos que até o conceitodos maiorias menos esclareci-dos, quando errôneos o infun-dados, são nocivos. B no nossocoso sô temos o desejo do quea subversão do verdadeiro sen-tido da nossa história nao se-Ja feita, e de maneira inslnu-ante como um escritor agra-dável c slmoátlco qual AndréMaurois poderá fazer. B* na-tural que se encare como maisprejudicial para nossos briosnativos que seja de tal íeltioo livro anunciado de Maurois.Pior, multo pior, do que sefosse uma simples biografia doMatarazzo, com suas iniciaistristezas, com seus momentosheróicos, sua luta contra aincompreensão, sua fibra dearquiteto de uma civilização.

Vir ao Brasil ao encontro dodocumentação para uma histó-ria do nosso desenvolvimento enosso progresso industriai, su-pondo encontrá-la nos arquivosdos suntuosos palacetes da fa-mílla Matarazzo, — é profunda-mente inexplicável. Sem deixaide ao mesmo tempo ser chanta-gem contra a verdade histórica,que não poderá ter em Maurois,desta vez, um dedicado servi-dor. Não terá nele esse amigodo peito, porque há-de seruma obra multo bem paga.Não concebemos como é pos-sivel a um Intelectual honesto,ainda em posse de sua 4nde-pendência de espirito, subme-ter-se, de maneira tão osten-alva como está acontecendo

com o biografo '««J** *°suborno, - espécie de com-pensaçao marcantemente ae-sonrosa. Superficial o Imagi-noso, o membro da AcademiaFrancesa redigirá um livroigual a tanfcea de sua extensabagagem, - um livro ameno,amável, anedotico, fácil do lér.Isso êle há-de conseguir, infe-lizmente pura nós que Ia esta-remos tão deturpados, t&o ui-trajados, de certo.

Não acreditamos que venhaa ser um livro aceitável, rea-llzado com tala propósitos *dentro de um plano tão des-lealmente preconcebido, ascondições em que começa aser gerado são precárias o ne-nativas. Há-de êle encarar osfatos por um angulo odioso,que é o do Interesse da pode-rosa família de industriais. Sôvai lêr os documentos apre-sentados pelos seus *regueses»— e o futuro autor de livro dotamanha importância políticae social não viveu a vida bra-silelra em meio aos seus cno-quês de classes e castps aosseus problemas e conflitos, assuas marchas e contra-mar chás f lnanceíro-econômi-cas. Não dispõe de maisacurado conhecimento da nossahistória, o que lhe forneceriauma base menos maleável pa-ra melhor auscultar o fenome-no de nessa evolução nos últl-mos decênios. Que espécie delivro será, finalmente, a enco-mendada história para o qualMaurois se prepara tão règla-mente instalado?

..<<!**

obriga-nos a defrontar-nos como problema que hoje traz per-turbados quantos se queremmanter acima das contingên-c?ai da modernidade pela mo-dernidade. Com efeito, a ar-te moderna, quer na literaturaquer na pintura, quer na mú-s*ra. co!oca-nos perante estefato co-rsumado: oue o artista,hrve, n"»o procura sugerir orra1, mas criar uma nova reali-dade.. Mais evidente no roman-ce ou na pintura do que napoe~Ja ou na músr^n, esta ten-dônc?a pressupõe, da parte dole!;c- ou do amador de artesp^tlcas, um denrendimentocompMo dos seus hábitos men-tais* A reaüdrí^e cue o reman-cp lhe proporciona só tem decomum com a realidade emque êle vive um único ponto:a sua nrópria capacidade de seidentificar consto mesmo on-de eu cr que esteia Eis a gran-de d:f'puiflnde a vencer paradu» os novos cam;ríhos da artevenb^m a «er a^e^os nor acue-les cie não n^em deixar dein^rrír na o^etivafão dos es-ou^rriis metais oue são. nofim fie con*as, todas as obvasllfo-Arirm ou r»ií.et?cas. No do-mínlo do s*»nn. a consciênciadr» «'nníT>^f'- nno t°m outro re-ivôrVQ senão a^ornnanhar efl>i-ro hete^^neo das imagenspor it^i' absróflãs ç lrr'-i''5 oueelas se lhe af^nr^m. A iden-t!.f5pação da cvri^l^nofo do ho-mem coreto rr^sma nerde-sepor cm^eto Mas. nos domí-ni«>s da arte. as coi^s n^ssam-se de oM»ro modo. O leHor ésemnr»» leuor. cor»" v*ic'a dis-t>n*a da do criador.. Para «meeste possa aderir à realidadeque aoueTe lhe prouorcfíma, ai-go tem de haver capaz de ser-vir de chave com que o primei-ro desvende o enigma que o se-gundo lhe pronõs. Bem certoque ante uma decoração árabe— um arabesco propriamentedito — a'go sentimos indepen-dentemente de qualquer signi-ficação lógica ou conceptual.Mas a impressão recebida ómeramente óptica. Uma artemeramente ópífca não mr"e as-pirar ãs ^hs*?*^?»»^*» de sig-nifiçado de uma arte reatis-ta

Clarice Lispector "Existencialista"...

ou filosófica. E, assim, encon-tramo-nos perante este difícilpasso — evitar que a arte mo-derna se encerre num herme-tismo apenas acessível a ini-ciados. Lendo "A cidade sitia-da" fui pensando que ClariceLispector não deve ter encon-trado muitos leitores no Bra-sil. E a razão está à vista: oseu romance, criação de umanova realidade, realidade her-mética, de fundo conceptual emístico, apenas pode ser des-vendado, enquanto representa-ção de uma experiência huma-na e de um conceito mental,pelo leitor, com a persistência ca sutileza suficientes paraacompanhar a sua leitura coma chave aue a sua intuição oua sua acuidade filosófica sejamcapazes de lhe proporcionar.Não é um romance "A cidadesitiada"? fi. E como? Como éromance toda a obra literáriaem que se representa um des-tino situado num mundo emque o tempo é simultâneamcn-te lugar de ação e conteúdodela. Qual o destino que "Acidade sitiada" representa? Odestino de Lucrêcla Neves. Masouem é Lucrêcla Neves? Al-guém que não pode conceber-se a si mesma independente-mente de S. Geraldo, a cida-de sitiada, o arrabalde, essa at-mosfera cuja história futura"seria apenas a história do quese tivesse visto". O en-soi e opouir-soi dos ** existencialistas"jogam-se, permanentemente,neste destino, destino que em-sl-mesmo e para si-mesmo écomo todos os destinos —qualquer eolsa de variável,de frágil, de inconsistente,continuamente sujeito a nãocoincidir consigo próprio, c que,no entanto, a todo o momen-to pode ser visto como umen-soi, isto é, precisamente, oinverso: uma existência bruta,invariável, maciça, cheia, coin-cldíndo semnre e por completoconsigo mesma.

Lucrêcla está só no seu quar-to, e pelo seu quarto comera aconstruir S. Geraldo, a cidade,

o arrabalde. E refletia: "quan-do uma coisa não pensava, aforma que possuía era o seupensamento, o peixe era o uni-co pensamento do peixe". Oracomo a cadeira, a mesa, a florno jarro apenas existiam se elaas criasse, se ela lhes desse amobilidade que elas não po-diam ter enquanto existênciasem-si — eis que Lucrêcla Ne-ves principia a criar o mundoem que vive. "Que diria entãoso pudesse passar de ver os ob-jetos a dizê-los... Era o queela, com paciência de muda,parecia desejar. Sua imperfei-cáo vinha de querer dizer; su»dificuldade de ver era a de pin-tar". E o seu destino é essemesmo, o destino de Lucréciaaqui identificado com o da ro-mancista: ao invés de ver osobjetos — dizê-los.

Existência em-si-mesma, a ei-dade, construida a todo o mo-mento através do que a ro-mancista dela diz, eis que não" tarda que a própria LucréciaNeves passe a ser para a cida-de, a cidade que aos seus olhosfoi adquirindo a mobilidade doque existe para-si-mesmo — dopara-si-mesmo — um objetobruto, uma realidade inaltera-vel, uma coisa em-si-mesma.Sitiada, a cidade, pois que Lu-crécia Neves a sitia criando-aem-si-mesma, sitiada se ternaa própria Lucrécia Neves, umavez que o seu existir para-si-mesmo a pouco e pouco setransforma num existir em si-mesmo, forma imóvel que é, emaciça, para a cidade-coisAentão já com existência decriatura.

E* o destino de Lucrécia Ne-ves, a cuja progressão assisti-mos como se êle não fosse, defato, um destino humano, masqualquer coisa como a angústiaque nos toma quando descobri-mos que os objetos que nos ro-deiam têm uma existência In-dependente da nossa própria,não o vemos, esse destino —di?em-no-lo. O mundo que en-volve Lucrécia Neves é um

mundo de alucinação, onde avida é mais "viscosidade" que"liberdade", para adotar a ter-mlnologia de Jean-Paul Sartre.

"Uma vez fora ao museu es-tadual e tivera medo de estarde guarda-chuva molhado nummuseu. Assim sucedera. Tinhamedo de ver, num mesmo olhar,um trem e um passarinho. Ede um homem com anel de bri-lhantes no dedo: Mateus. Seriaimobilizada se esse dedo aapontasse. Também a um mo-vimento seu na cama formava-se às vezes nas rosas da pare-de um ser aleijado e contente— então ela se arripiava comoo cachorro late para um guar-da-chuva".

E* nesta atmosfera de estra-nheza — uma estranheza quenão provém de circunstânciasanormais do destino de Lucre-cia Neves, pois Lucrécia Nevestem um destino trivialissimo:é moça, casa com Mateus, o doanel de brilhantes, e enviuva— mas do simples fato de elaestar constantemente sujeita ãmetamorfose que as coisas im-põem à consciência humana,quando a consciência humanase dá conta de que as coisasnão só têm wma realidade emsi-mesmas, mas que ela própria,consciência humana, pode serpara elas, para as coisas bru-tas, como que uma coisa brutatambém — uma "liberdade"congelada, uma ilha que o ocea-no do "nada" circunda — énesta atmosfera estranha queo romance se desenrola e o lei-tor assiste à criação de umarealidade inteiramente dife-rente da realidade que conhe-ce.

E' difícil aprender o queocorrç em "A cidade sitiada"?E\ tfor vezes torna-se, mes-mo, angustiante. De onde emonde perdemos até o contaetocom a intenção da romancista.O mundo que ela cria — ummundo criado por conceitos, emque a forma das coisas e dosseres é a sua própria substân-cia — não pode ter duas inter-

Domingo, 1-10-1950

Não incorreríamos na oito-dóxia estética de exigir ue An*dré Maurois compromissos tsacrifícios em relação á algm-dado intelectual mais ao quoêle pode dar. E' preciso quese diga que Maurois foi sem-

Sre inclinado á improvisação •

invenção. Sempre nos pare-ceu melo fácil. Até na partede sua obra mais rozoavelmen-te artística, — jamais deixoude revelar-se ma!s brilhanteque profundo, mais elásticoque analítico, mais criador doque verídico. Desde a sua pri-molra biografia, "Shelley", qusêle se consagrou como hábilallnhavador de acontecimentose episódios ligados a grandestipos literários e políticos. Nãoestaremos cometendo exagerosao afirmarmos que êle repre-senta em nosso século, lunta-mente com Ludwlg e Zwelg,um dos inovadores do proces-ao biográfico. Talvez melhorque os dois acima citados êlosoube misturar verdade comfantasia, fatos com mentiras,

porém mentiras umbellcai-mente irmanadas com os fatos,

espécie de úesdobram^toda verdade. Libertou por \^omesmo um gênero contra 9qual havia tantas prevenções,considerado de segunda cate-goria, de suas característicascansativas, imprimindo-lheuniaréstea de luz, um sopro daamenldade, prejudiciais a vw-dade absoluta, mas Inevitável-mente simpáticos do ponto ds?istã artístico.

De "Shelley" andou bastar^te até o presente, o nem sem-pre foi melhor sucedido mioneste primeiro livro, num pê-nero em que se tornaria mes-tre *nrtlscuMdo. apesar me<^odas falsificações históricas.Agora, parece que, Já sem fô«lego, esbarra em Matarazzo.Longa t melancólica jorna»da...

pretações. A sugestão, uma dasforças do romance clássico, éalheia a esta técnica, uma téc-nica que não pinta, diz. Es-tá tudo dito neste livro, e oqne nele não fôr interpretadotal qual como está dito — naoconceitos das coisa;., não as coi-sas que estão perante nós —nada dirá. O esforço do leitortem de ser hercúleo: ei-lo oueergue, penosa e incessantenien«te, os altares das frases sibilUnas de Clarice Lispector h ai-tura da razão. Mas os braçosfatigam-se, a razão enfada-se,e os conceitos lá ficam, por ve.zes, in-interpretados, verdadesras coisas em-si-mesmas, macUcas, imóveis, rígidas, que sao,desde que nos mostremos In-capazes de as mobilizar. Ecerto que nem tudo se perdsquando se não consegue levaro alter até ao plano da razão.Mas, nesse caso, sujeito à ano-maüa dos conceitos que naoentende, o leitor passa a verapenas o que lhe fora dado paraentender. E tudo se petrificaentão adentro do romance. Es-tamos num mundo novo, num»existência lunar. A ação de acidade sitiada" apenas va»como símbolo. O estilo do ro-mance é feito de conceitos quese tornam fatos e de fatos qu©se tornam conceitos. Ha nueum revolver de alto a baixo ciasleis em que estávamos hab- ^dos a ver condensar uma 1tória. Clarice Lispector poü»não ter leitores que a acompanhem da primeira à uUrm*página do seu livro - símboloSu alegoria? - mas^o PjJhá dúvida é que nao-«Wjoutro livro nas letras de U* ua

portuguesa em que a *«{*"Sde criar uma suuja-realjãadenão será Clarice ^sPec^ra',J£fim de contas, supra-reaUJ*(surréaliste)?) se reviste «

«ma tal frescura e ganncmanha V^n^J^Ãl^tLse a autora de -A çlftíf**1 seda" de hermetismo - ° quegellnão pode é considerar o seuhermetismo estudado> ou cai)tino. E' um !g™JJ«gJlctVtem a consistência do hei^ ^mo dos sonhos. Haja qntwencontre a chave.

* CASCAIS, Portugal»

MO-1950 I £ 7 R A S E A R T E S Página — 11

do eeeattor MD», segnlnto oartat

•Um caro Mogenea LaérdoiIjZ e com certo enlevo —

. «neaotadora «ronlqueta —íh namorados ia Academia''

hoje pnMlceda no •ople-iní» d* A MANHA. ¦ matoSrIeVJ.d. ainda «««il-tido •„** nome entre ae faliuracoeapretendente! às poltronai azul.57 cas» de Machado de Assis.Cassando • primeiro Instanteia êxtase, o feita a aegmidaleitura, observei uma séria la-tuna qae importa mesmo emInjustiça, porque a omissão,íoando é tào violenta, fere oomitido no que êle tem de maiserrado. Rcfíro-me à exclusftodo nome do candidato OI: dos&n)o$ e do nome do seu dedl-gado padrinho Peregrino Jtt-

Ora, tmem mais fiel à pro-«ria candidatura do que o slra-nático criador de "O Amanu-<er.ee Belmlro"? Não perde umasessão da Academia, toma olíea cházlnho uma vez por ou-tra lá, silencioso e tranqüilonamora com o pé de chumbo,<«ucr dizer, não arreda de baixodas venezianas onde se escondea donzela dos seus sonhos, pelomenos tão côr de rosa como osdaqueles outros nominalmentecilados na sua croniqneta. En-fim, Ciro des Anjos foi olvida-do e também esquecido o seupadrinho Peregrino Júnior. Is-to foi injustiça, por um lado,e foi crueldade por outro. In-justiça pela omissão de doisnomes ilustres, e crueldade por-que não lhes citando os nomesdeixou aqueles outros namora-dos desprevenldos contra doispoderosos rivais qne estão emcondições de surpreender osRomeuB ingênuos e confiantesexagerados nos seus citadospadrinhos.

Para atenuar a Injustiça epara pôr um algedãozinho naerueldado, manda-lhe este Íem-forete com o coração enamora-do por sua inteligência o NiloBruzzi".

Essa interessante carta, a umtempo tão amável e tão ma-liciosa, comporta uma pe uenaexplicação. Em primeiro lugar,$cja-nos lícito confessar que,em assuntos dessa natureza, asomissões não são somente na-turals: são inevitáveis. O sr.Nilo Bruzzl, pois, devia compre-ender e perdoar a omissão ei-tada, que não foi aliás a úni-ga. Mesmo porque a Academia,

in

m - * úâ - - *a *MSj'kj' ¦ MMm^^^^Mmm\TI 1OS NAMORADOS DA ACADEMIA

tendo hoje apenas dois minei-ro* no seu quadro (Afonso Penae Hélio Lobo), havia de ter oprazer em chamar outros à.araa sua Ilustre companhia, e nãoé por outro motivo que ali sevêem com particular simpatia,não só o nome do jovem dlre-tor do IPASE, como os dos srs.Anibal Machado, CristianoMartins, Carlos Drumond deAndrade e Afonso Arlnos deMelo Franco. Qualquer dessesescritores mineiros honraria osquadros da Academia — o to-dos cies dispensariam "padrt-rhos**, porque encontram naCasa de Machado de Assis umclima de simpatia unanime, oque se explica e justifica pelaimportância das suas obras apela significação das suas per-sonalidades. Afonso Arlnos é umpoeta e ensaísta de alto valor,além de ser o sociólogo e pro-fessor que todos conhecem. DeCarlos Drumond, embora poé-ta de Índole anti-academica,sabe-se que é hoje um dosmaiores prosadores da nossalíngua: um clássico. CristianoMartins é um dos nossos maio-res ensaístas. Lúcido e profun-do, seus livros sobre Camões oGoethe seriam suficientes paraabrir-lhe as portas de qual-quer Academia. De Anibal Ma-chado. o admirável, o raro cria-dor de João Ternura, alér deser autor de um delicioso livrode novelas — "Vila Feliz", éuma das personalidades maismarcantes da nossa atualidadeliterária. E Ciro dos Anjos, au-tor de dois belos romances, é

DIOGENES LAERCIOum discípulo fiel do velho Ma-chado, que decerto se sentiriabem na atmosfera da Acade-mia. Qualquer desses mineirosIlustres honraria a Casa deMachado do Assis, e não seriajusto falar em possíveis candi-datos à Academia sem citá-los,que todos êlcs podem bem serconvocados com Justiça para oPetit Trlanon.

Olegário Mariano e ocentenário de Pai

— Sr. Presidente: —

Venho há duas semanas pro-curando recuperar a voz paratestemunhar o meu agradeci-mento pela colaboração pres-tada por meus companheirosàs festas do centenário do meuPai, festas que alcançaram,sem dúvida, o ponto culmlnan-te na luminosa conferência domeu prezado Celso Vieira.

Dificilmente poderei explicar,sr. Presidente, o que realmen-te foi a minha jornada pelaterra dos meus antepassados eminha terra Tive a impressãode que meu Pai, cem anos de-pois, estava vivo na ;alma dasgerações que se sucederam. Assementes de liberdades que êleespalhou no solo pernamlmra-'no ainda hoje continuam a darflores e frutos em todos os se-tores da vida contemporânea

E o seu exemplo de bravura eIndependência permanece In-tacto nos homens de hoje, acomeçar pela nobre figura doGovernador Barbosa Lima Ho-brlnho, a quem devo, em gran-

de parte, o esplendor das co-memorações, desde a comove-dora visita ao município ondenasceu meu Pai, alé a sessãomagna do Teatro Santa Isabel,em cujo palco histórico o non;80 querido companheiro pro-nuneiou uma das suas peçasmemoráveis, em resposta áspalavras que lhe enderecei noInício da rainha eo-.fcrônHa.Sim. Era necessário que eu medi»*ifirHse Inicialmente n ele, aisobrinho de Barbosa Lima, que,pela sua alta oownecsúo enobreza de alma, orientou eacompanhou pessoalmente to-das as cerimônias comemora ti-vas, para qne rüo lhes fali *-csetambém o apoio oficial tiu íjo-vêmo do Estado. O mc-mo sen-tlmento me eondu/.iu á presen-ça de Júlio de Melo, o d!**Miia-do que apresentou na CâmaraEstadual um projeto pedir.dodeterminado crédito para ça-rantir as despesas das festaspromovidas. O deputado Júliode Melo é filho do então Che-fe de Polícia qne prendeu o re-voltoso José Mariano e orisso me pareceu justo render-lhe também de público umpretto de reconhecimento, en-laçando, no mesmo abraçoagradecido, os dois descenden-tes daqueles que em outros tem-pos divergiam da política deJosé Mariano e que hoje nãovacilaram em prestar o apoionecessário ás comemorações docentenário daquele que, se vivofosse, não teria o menor cons-trangtmento em estreitar a maodos adversários de ontem. Mas,

Uma carta curiosa de Mm\'w BWhães a Xavier MarçosV ALENTIM Magalhães, ti-

po do escritor dispersivocolaborava em inúmeros

jornais âo Rio e ãe outros Es-taâos âo Brasil, além ãe outrosempreendimentos em que se en-volvia. Eis aqui um trecho ãeuma ãe suas cartas a Xavier

LITERATURA INGLESAWINTER SONG. (Phoenix House) — V este o quarto mas,eyi-

dentemente, não o últímo livro da série da ¦*^J&L3gui£por James Hanley. E' a ressurreição e a volto do velho J"1^»

««"pois de torpedeado o naufragado em companhia da esposa, Fanny.Km cada episódio ela tem sido a figura central, mas neste o seucriador penetra mais profundamente em seu coração ^^tarioso.Os livros do autor constituem verdadeira aventxrra que se vivemais do qne se lê, e donde se regressa,semJer chegado ao «mE' ôste, entre os demais da série (THE FURYS, THE SBCRETJOt/RNEY, OUR TIME IS GONE) o mais extenso, o mais *»blcia-so, e o melhor de todos os seus livros,tributo esse que 'f »«em*se manifesta a um autor. Talvez, nem a critica nem o P«bHco te-nliam ainda lhe atribuído o mérito devido, e é propício o momentopara dizermos que James Hanley ocupa lugar firme entre os no-velistas contemporâneos de valor, embora seja um lugar isoiaao,à parte, e sem retoques de iluminação artificial. „«,.,.-

ARABIAN J0UR>K2Y. (Harrap) - O coronel Geral* dejGaurjsente, conforme lá demonstrou em seu livro ARA3IA PHOENIX, •estímulo que o deserto imprime ao observador estrangeiro ooser-vador, no caso, é bem o termo que se deve aplicar ao autor, pois,por mais que elogie a vida em rincões longínquos como Ncyu, Asnre Kufra, êle nunca cede suas convicções às circunstâncias amM-entes, por mais atraentes que sejam. Viu e ouviu muita edaqnemereceu cordial aprovação - por exemplo, a dignidade, a nospita-lidade e a filosofia do beduino - mas, de vez em quando, refletesobre as lacunas que, como bom europeu, vefificoit na «»™nmüo Árabe inculto. Salvo ligeiras imprecisões, é um livro |^a«gg

ADVENTURE IN VISION. (Lehnmnn) - ffratena?"s* *]* af""to da relevância da televisão, é difícil atingir o melo termo jentreescrever de mais or de menos e p-ender o Interesse POt^cjw aoPúblico Foi justamente isso que o autor. John Swift eoraegutufazer. Talvez seja êste o primeiro livro que colocou ^Jg^-J8Pectiva a importância do desenvolvimento e das pers?n^?^ifda televisão, desde o estudo de John Logie Bf>v"»,% Svisão", até o interessante sumário do futuro. O A. »».<*ÍE

, roes sempre crescentes da televisão fora do campo do «"vertimento doméstico, e assinala com felicidade a relação entre o cinernae a televisão. Pode ser lido com proveito tenteipeio *&t"3° **matéria como pelo leigo, e contém muitas ilustrações e diagramasle g-ande utilidade

Tendo estas notas esparsas encontrado apoio da par te de ml-¦nins leitores condescendentes, resolvemos extendê-las a «JJJJ™"-toda em preparo, proporcionando, assim, aos intere^ffos, » °porunidade pára encomendarem aos editores os «™wf^*i?'DU-

;•>'tna a chiarem ao Brasil ao mesmo tempo, ou logo apés, a puJHcaçao na Inglaterra. , „_ .„_._ „„«« nr*-, Outrossim. comentaremos livros sobre «ualquer ramo cuja pre-«lecao os leitores nos indicarem por carta para esta seção «e^TRAS E ARTES.

Marques, secretario âo "Diário"de São Salvaâor, que lhe con-tratara a colaboração. Valen-Um porém, saináo ão terrenoliterário, enviara aois tópicossobre assuntos políticos o que,como se verá na -missiva emquestão, ãesçostou a âirecâo âojornal.

"Rio, 5 de junho âe 1899 —Hmo Snr. Xavier Marques —Esta responde a sua âe 31 âop. p. Embora expõe em suacarta, fica autorizado — masunicamente o meu amigo — oretirar os âois tópicos âa alu-dida "Carta Carioca". Peço-lhe, porém cautela na ampu-tação âesses âois membrosãa^infeliz; faça sofrer pouco a âo-ente e que a operação não aâeixe de toão aleijaâa. po%3certamente náo ignora que háoperações que levam à morte.

Ao meu amigo nada teniio queâesculpar relativamente ao ca-so em questão, âesde que, se-gundo diz, parte âo Diretor dafolha a idéia da supressão âosreferidos tópicos da cronioa.Procurarei fazer-lhe a vontadenão tratando mais de política,que não é, valha a verdade, dosassuntos que mais me cativa;entretanto cumpre notar queàs vezes eia avuda de tal modoque a ela não fazer referên-cia não isnorasse os escrúpulosâessa redação em matéria poli-tica, âela tratei numa âas mi-nhas crônicas, na suposição âeque, por assinaâa, nenhumaresponsabilidade pudesse levara folha; além ãe que foi tàopela rama que ãesse assuntotratei que estava longe âe su-por que ãesse na vista e muitomenos qw pudrsse comrtrom.e-ter o "Diário. Fico ciente poisãe que me è inteiramente ve-dada a minima referencia arespeito. Fi-lo porque presen-temente, balãa âe acontecimen-tos notáveis como anâa a nossaCapital é a política o assuntomais saliente e m.ais em voga;a nãn prr qne tratasse á? fnteisocorências de rua que nada po-

diam interessar aos leitores daBahia. Em vista ão que me ocronista pode até parecer ine-pcia. Enfim, cada um sabe on-âe lhe aperta o sapato; e si o"Diário baniu de suas pani-nas a polUica, âeve ter suasrazões e não serei eu que váãe encontro a elas".

Sr. ficüidenie, nuo terminouuom a M.*s*ao magna do TeatroSanta Isabel a serie de cuio-eues por que pastel, Tamuòrano Interior ba<ano e na Capl-tal a hostilidade nortista selii. itUtU», ('««-»i í.í.i.u».¦...,: riu

Salvador, onde o Instituto Ilis-tórico e a Academia de Leir.nconjugaram-se para prestar-me,par iniciativa do eminente l'ro-ic.--.sor Magalhães Neto, uniahomenagem comovente fazon-iJo-se ouvir o.s mais eatCgOflsa-dos oradores e poetas da üahia.

Dessa noite de arte de quome ficou iiulc!cvcl a impressãode encantamento, ainda guardonos ouvidos a ressonância Uri-ca das admiráveis peçus orau*-rias e da beleza dos poemasque ou.i, repassados da maisfu:::la finocào.

Volto agora, sr. Presidente,ao fieio da minha família aca-(lémiea, satisfeito com o de-crcumprido, lamentando apenaster dado tão pouco de mim aewsa ri obro gente do no:!e, tãopobre i!e recursos maierlalSimas, em compensação, tão rlüade iníeiJgôn^ia e de goncrosí-dade.

Brasil-EquatlorNo salão mlire do Petit T*?*i-

non, o Instituto Drasil-Equadorvai realizar uma sessão solene,em homenagem ao embaixauorPenah&rrera, no próximo dia2P, sexta-feira*, ns 17 horup. Fa-Iara em nome do Instituto lira-sil-Gquador o sr. Peregrino Jú-nior.

As características doespírito latino

O Professor Pasleur Vallc-ry -Radot, que se acha no Rio,falará na ^fademla, no p**ór*i-mo dia 21, quinta-feira, às 1.7horas, sobre o seguinte tema;"Les earacterístiques de PKs-prit Latin".Gustavo Barroso no Recife

Acompanhando um grupo dealunos rio Püuseu Histórico, re~g\j*:f para Recife o sr. GustavoRp.itoío. Assumiu a Prosidên-cia da AciM?emia, na sua au-sência, o Sccreíário Cí ral, sr»Peregrino Júnior.

Contenário de SílvioRomero

A Academia está elaborandoo programa de cosjitmot.^csdo Centenário de Sílvio Ro-mero

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eiras e/viesDIRtiÇAO

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JORGE LACERDACOLABORADORES

Adonias Filho, Afranio Coutinho, Alcântara Silveira, Alceu AmorosoLima, Altóeirla Fischor, Almeíila Sales.AlphcnsuKlírttimaràes Filho, Asva.roGonçalves, Anibal Machado, Ai-ior (iatlai M.i.c»el, Antcüiu Rangel L5an-delra, Ascendino Leite, Atilio fVülaao, Au&iiíío rrcde-ríco SchuiidtjAagosto Meyer, üatista úa Cobta, i^.eu.j Acigh, Brito bvoea, üarlòaDrumiuond- de Andrade, Cassiano Ricardo, ceciiia Meireles, Cüns-tiano Rlartins, Ciro dos Anjos, Claasse Lispector, Cláudio T fiarão-sa, Dalton Tíevisan. üamaso Rocha. Dantas Mo a. Diuali ei deQueiroz, Eugênio Gome», Kuryaí«a Cauaí>ruva. Fernando terrcira ueLoanda, Franklin de Oliveira, Uenltfo Ferraz, Gabriel ftluirUoz tiaSctcha, Guerreiro Ramos, Gustavo iinrrouo. Gilberto F.eyre, üerberiParentes Fortes, tlerman Lima, Jaytne Ailoui tia Caisiara, João Con-d6, Joaquim ilibeiio, J. I* Moreira <«a Fonseca, José Lins do Reco.Jorge de Lima, José F Coelho, José Geraldo Vieira. José Suné&oLeal, José Xavares de Wiíanúa, Jasue ue Castro, Josué Mentéíio,Leonv de Oliveira Machado. Ledo Ivo. Lij;ia Fajuivics Teles, LouisWíznJteer, Lopeu de &.aútaút, Lúcio Carjt^u um/ Jardim, ftl;.i»ueu-to de O meias, Manuel Bandeira, tV!.a;c-üs li. o« ciei lieis, Mario na BiivaBrito, Mario Quin ana, Marques Uebcio, Murilo ftlt;ni*cs, Ncveili Ju-nior, Neli Dutra, Newton de Freitas, Octavio rie Fa.ia, Olímpio MoU-rão Filho, Oliveira e Silva, Otto Maria Car£>eaux. Paulo Mendes Çam-pos, Paulo Itonai, Peregrino Júnior, Pericles da Silva Ramos. Hena-to Almeida, Rcftzo Massarani, Ribeiro Couto, noürljo M F tíe An-drade, Roger Dastide, Rogério Corção, Rolan.l Corbisier, Rosário Fus-co, Rubem Biafora, Banta Roca, Sirgio Mi.lict, Servido de Melo, Sil-vio Elia, Sylvio da Cunha, S»nia Regina, Tasso da Silveira, 'Jücnxisto-cies Linhares, Thiers Martins Moreira, Umber/o Peregrino. Vsn J;wa,Vicente Ferreiva da Silva, Wilson Figueiredo. Willy Lewin, XavierPlacer, Haidée Nicolussi, Mietta Santiago, Guido WUmar Sassl cJorge Barroso Fliho.

ILÜSTRADORES-

Alfredo Ceschlattl, Armando Pacheco. Athos Bnlcão. MarceloGrassmann Marcier, Favga Ontrower, Iberê Carrnrgo, Luiz Jardim,Noemla, Oswaldo Goeldl, Paulo O Flores. Paulo Vlncent, ReninaKatz, Percy Deane, Santa Rosa. Van Rogger e Vllcn Kerr

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ráftina — 12 IRTRÀS B "ARTES Domingo, 1-10-1950

CANÇÃO DA BREVE SERENIDADE

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Ilustração de SANTA ROSA

OUÇO A CHUVA CAIR. OLHO AS RUAS MOLHADASPENSO NAS VIOLETAS E NOS JARDINS EM FLORDESCE AO MEU CORAÇÃO UMA PAZ SEM MEMÓRIADESCE AO MEU CORAÇÃO UMA DOÇURA IMENSA.

LEMBRO O AMOR A DORMIR TRANQÜILO E SOSSEGADOA RUA ESQUIVA E SEM PREGÕES, À RUA POBREA RUA HUMILDE E A CASA PEQUENINA, EM QUE SE ABRIGALEMBRO A INFÂNCIA QUE FOI E OUTRAS MANHÃS JÁ LONGE.SINTO A VIDA COMO A CHUVA DESCENDOSOBRE OS QUIETOS BEIRAIS, SOBRE AS RUAS DFSCENDOSINTO QUE O TEMPO É BOM PORQUE NÃO PÁRA NUNCA.UM RITMO DE ABRIGO ENVOLVE AS COISAS TUDOVONTADE DE DORMIR O GRANDE SONO CALMOOUVINDO A CHUVA TRISTE E MANSA A DESCER SOBRE MIM.

AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT