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Q uando inicio um novo artigo, desejo sincera- mente que ele colabore para o crescimento do profissional e sua prática clínica. Eu entendo que a qualidade do profissional está re- lacionada a sua habilidade clínica, porém, o diferencial está no emba- samento científico de seus proce- dimentos. Conhecimento esse que somente é conseguido pelo estudo constante das evidências científicas que acompanham a introdução dos novos materiais e técnicas. O meu objetivo específico neste artigo é descrever brevemen- te e destacar as pesquisas atuais que poderão mudar alguns conceitos e protocolos clínicos, e deste modo, prevenir algumas falhas que se ob- servam quando se realizam cimenta- ções adesivas, tais como, pinos esté- ticos, inlays, onlays, facetas etc. Já aconteceu na remoção de um provisório, você deslocar o pino es- tético com o cimento resinoso e toda a reconstrução de resina que você fez unida a ele? (Fig.1 e Fig. 2). Quando há o deslocamento de alguma peça que foi cimentada com cimento resinoso, geralmente culpa- mos o material, porém, é interessan- te fazer o seguinte questionamento: Será que o meu protocolo clínico está embasado em pesquisas atuais? A atenção a estas questões surgidas na prática clínica, podem diferenciar o profissional e fazer com que este, obtenha êxito em seus procedimen- tos. Considero extremamente frus- trante quando o profissional remove sua própria reconstrução com pino na moldagem ou unido a um provisório. A revista americana de pesquisa clí- nica “Clinical Research Associate” corrente”, ou seja, o cimento resi- noso químico ou dual em sua com- posição contém aminas terciárias básicas que tem atração molecular por elementos ácidos e que comu- mente reage internamente com seu próprio peróxido, deflagrando a polimerização (sistema peróxido – amina). Quando o cimento que foi aplicado na peça se encontra com o adesivo que foi aplicado na den- tina, as aminas terciárias contidas no cimento reagem com os ácidos contidos na superfície do adesivo simplificado e deste modo, o ci- mento não polimeriza naquela in- terface. A acidez do adesivo conso- me as aminas terciárias do cimento as quais são as responsáveis pela efetiva polimerização do cimento resinoso. Levando essa importante informação para a clínica entende- mos que os adesivos simplificados (Fig. 3) não são indicados para ci- mentação de peças indiretas, pois tem incompatibilidade com os ci- mentos resinosos 2,3 . Outra observação extrema- mente importante é com relação a silanização da peça. Ative o si- lano (misturar frascoA + frascoB) para silanização de sua peça no dia anterior ou com algumas horas de antecedência, pois, a reação quí- mica é demorada. Feche a mistura em um recipiente para não evapo- rar. Se estiver utilizando um sila- no pré-ativado (frasco único), não fique com o produto mais do que três meses no consultório e quando comprar, verifique o lote e a data de validade para saber quando ele foi ativado (na fábrica), pois, os si- lanos de frasco único reagem e se deterioram dentro do frasco com muita facilidade, formando oligô- Entendendo a química dos cimentos e adesivos: você está cimentando suas peças estéticas corretamente? Artigos Materiais e Técnicas com Wanderley de Almeida Cesar Jr. publicou uma nota na qual muitos dentistas escreveram contando que quando cimentavam pinos estéticos de fibra ou cerâmica com cimentos resinosos e adesivos simplificados - “frasco único” - (Fig. 3), estes pinos unidos ao cimento resinoso se solta- vam do conduto. E como remanes- cente dentro do conduto, observa- va-se somente a delgada camada de adesivo. No que se refere à cimentação de pinos estéticos intra-radiculares que requer uma união adequada en- tre o pino e o cimento, o adesivo e a dentina e adesivo com o cimento resinoso, pesquisas tem sido realiza- das 1 e neste sentido, tem-se obser- vado que o problema está na união entre o adesivo e o cimento (Fig. 4). Para entendermos como ci- mentar corretamente nossas peças devemos conhecer a classificação dos sistemas adesivos disponíveis (Fig. 5). Conhecendo essa classifi- cação e reconhecendo efetivamente qual deles utilizamos para cimentar nossas peças estéticas, podemos en- tender como este problema de in- compatibilidade entre o adesivo simplificado e o cimento resinoso ocorre. Ao se aplicar o adesivo sim- plificado sobre a dentina e realizar a fotopolimerização, a camada su- perficial do adesivo não se polime- riza, pois, está em contato com o oxigênio. Sabe-se que os adesivos simplificados ou de frasco único sejam eles convencionais ou auto- condicionantes tem ácidos em sua composição e desta maneira, a ca- mada que não se polimeriza e que entrará em contato com o cimento resinoso(químico ou dual) no mo- mento da cimentação terá carac- terísticas ácidas. “No outro elo da

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Quando inicio um novo artigo, desejo sincera-mente que ele colabore

para o crescimento do profissional e sua prática clínica. Eu entendo que a qualidade do profissional está re-lacionada a sua habilidade clínica, porém, o diferencial está no emba-samento científico de seus proce-dimentos. Conhecimento esse que somente é conseguido pelo estudo constante das evidências científicas que acompanham a introdução dos novos materiais e técnicas.

O meu objetivo específico neste artigo é descrever brevemen-te e destacar as pesquisas atuais que poderão mudar alguns conceitos e protocolos clínicos, e deste modo, prevenir algumas falhas que se ob-servam quando se realizam cimenta-ções adesivas, tais como, pinos esté-ticos, inlays, onlays, facetas etc.

Já aconteceu na remoção de um provisório, você deslocar o pino es-tético com o cimento resinoso e toda a reconstrução de resina que você fez unida a ele? (Fig.1 e Fig. 2).

Quando há o deslocamento de alguma peça que foi cimentada com cimento resinoso, geralmente culpa-mos o material, porém, é interessan-te fazer o seguinte questionamento: Será que o meu protocolo clínico está embasado em pesquisas atuais? A atenção a estas questões surgidas na prática clínica, podem diferenciar o profissional e fazer com que este, obtenha êxito em seus procedimen-tos.

Considero extremamente frus-trante quando o profissional remove sua própria reconstrução com pino na moldagem ou unido a um provisório. A revista americana de pesquisa clí-nica “Clinical Research Associate”

corrente”, ou seja, o cimento resi-noso químico ou dual em sua com-posição contém aminas terciárias básicas que tem atração molecular por elementos ácidos e que comu-mente reage internamente com seu próprio peróxido, deflagrando a polimerização (sistema peróxido – amina). Quando o cimento que foi aplicado na peça se encontra com o adesivo que foi aplicado na den-tina, as aminas terciárias contidas no cimento reagem com os ácidos contidos na superfície do adesivo simplificado e deste modo, o ci-mento não polimeriza naquela in-terface. A acidez do adesivo conso-me as aminas terciárias do cimento as quais são as responsáveis pela efetiva polimerização do cimento resinoso. Levando essa importante informação para a clínica entende-mos que os adesivos simplificados (Fig. 3) não são indicados para ci-mentação de peças indiretas, pois tem incompatibilidade com os ci-mentos resinosos2,3.

Outra observação extrema-mente importante é com relação a silanização da peça. Ative o si-lano (misturar frascoA + frascoB) para silanização de sua peça no dia anterior ou com algumas horas de antecedência, pois, a reação quí-mica é demorada. Feche a mistura em um recipiente para não evapo-rar. Se estiver utilizando um sila-no pré-ativado (frasco único), não fique com o produto mais do que três meses no consultório e quando comprar, verifique o lote e a data de validade para saber quando ele foi ativado (na fábrica), pois, os si-lanos de frasco único reagem e se deterioram dentro do frasco com muita facilidade, formando oligô-

Entendendo a química dos cimentos e adesivos: você está cimentando suas peças estéticas corretamente?

A r t i g o s

Materiais e Técnicas com Wanderley de Almeida Cesar Jr.

publicou uma nota na qual muitos dentistas escreveram contando que quando cimentavam pinos estéticos de fibra ou cerâmica com cimentos resinosos e adesivos simplificados - “frasco único” - (Fig. 3), estes pinos unidos ao cimento resinoso se solta-vam do conduto. E como remanes-cente dentro do conduto, observa-va-se somente a delgada camada de adesivo.

No que se refere à cimentação de pinos estéticos intra-radiculares que requer uma união adequada en-tre o pino e o cimento, o adesivo e a dentina e adesivo com o cimento resinoso, pesquisas tem sido realiza-das1 e neste sentido, tem-se obser-vado que o problema está na união entre o adesivo e o cimento (Fig. 4).

Para entendermos como ci-mentar corretamente nossas peças devemos conhecer a classificação dos sistemas adesivos disponíveis (Fig. 5). Conhecendo essa classifi-cação e reconhecendo efetivamente qual deles utilizamos para cimentar nossas peças estéticas, podemos en-tender como este problema de in-compatibilidade entre o adesivo simplificado e o cimento resinoso ocorre. Ao se aplicar o adesivo sim-plificado sobre a dentina e realizar a fotopolimerização, a camada su-perficial do adesivo não se polime-riza, pois, está em contato com o oxigênio. Sabe-se que os adesivos simplificados ou de frasco único sejam eles convencionais ou auto-condicionantes tem ácidos em sua composição e desta maneira, a ca-mada que não se polimeriza e que entrará em contato com o cimento resinoso(químico ou dual) no mo-mento da cimentação terá carac-terísticas ácidas. “No outro elo da

meros (polímeros de baixa massa molar) e que não tem efetividade de silanização.

Se você já tem no consultório o adesivo simpli-ficado de frasco único e quer aproveitá-lo nas cimen-tações, adquira um adesivo hidrofóbico para esmalte que não contem monômeros ácidos para passar sobre ele. Pode ser o frasco 3 do Scoth Bond Multi Pour-pose (3M), o D/E Resin do All Bond (Bisco) (Fig.6), Magic Bond da Vigodent, o adesivo (frasco 2) do PA-AMA (SDI,) o adesivo (Frasco 2) do Optibond (Kerr) etc. O objetivo é que antes da cimentação da sua peça, esse procedimento irá isolar a camada ácida do adesivo simplificado hirofílico sobreposto, impedindo a incom-patibilidade e a falha no processo adesivo. Toda forma adicional para aumentar a adesividade e retenção deve ser utilizada, em núcleos de preenchimento por exem-plo, os novos pinos de fibra de vidro White Post DC da FGM, possuem dupla conicidade aumentando a área ficcional e transmitem luz com o objetivo de otimizar a polimerização em áreas profundas do conduto radicular (Fig. 21).

Fig. 1:

Núcleo de preenchimento realizado com pino de fibra de vidro, cimentação com cimento resinoso dual e adesivo simplificado. O cimento unido ao pino se soltou do conduto. radicular. Este é um dos eventos que podem ocorrer quando há incompatibilidade química entre o ci-mento e o adesivo simplificado.

Fig. 2:

Conduto vazio, o cimento resinoso ficou unido ao pino.

Fig. 3:

Adesivos simplificados: Prime e Bond (Dentsply), Optibond Solo (Kerr), Single Bond (3M), One Step (Bisco).

DICA CLÍNICA:Para cimentar pinos estéticos, inlays, onlays,

facetas, utilize:

Na peça : Ácido fluorídrico a 10% (ex. Cond AC porcelana FGM) e silano, ativando um

dia antes, ou utilize um silano novo e depois aplique adesivo hidrofóbico contido no kit dos adesivos de 3 passos(Fig – 6) e fotopolimerize.

No dente: Após condicionamento, aplique adesivos de 3 passos (Fig-6) ex: All Bond 2, Optibond, Scohth Bond Multi Poupose etc. Primeiro aplique o primer sobre a dentina, evapore o solvente adequadamente com um leve jato de ar por 30s. Aplique o adesivo hi-

drofóbico do próprio sistema e fotopolimerize.

Aplique o cimento resinoso e cimente a peça.

Fig. 4:

União entre dentina-adesivo simplificado, adesivo simplificado-cimento, cimento-peça de cerâmica silani-zada. São observados bolhas, delaminação do adesivo falha na polimerização do cimento na interface entre o adesivo simplificado e o cimento. Microscopia Eletrôni-ca de Varredura – Dr. Byong Suh.

Fig. 5:

Classificação atual dos adesivos dentinários com as considerações a respeito de cimentações indiretas.

Fig. 6:

Adesivo de 3 passos All Bond 2 (Bisco), Indicado para cimentações e resturações diretas em compósito.

Casos ClínicosFig. 7:

Fratura de um pré-molar: optou-se por reconstituir o elemento com uma Overlay em cerâmica cimentada pela técnica adesiva. Como retenção adicional foi utili-zado a embocadura do conduto radicular.

Fig. 8:

Overlay em cerâmica: TPD, Juliana A. Sas

Fig. 9:

Peça após silanização e aplicação do adesivo hi-drofóbico: D/E Resin (All Bond 2)

Fig. 10:

A peça foi cimentada com o cimento resinoso Duolink (Bisco)

Fig. 11:

Cimentação da peça, o fio dental já estava em po-sição previamente para facilitar a remoção dos excessos de cimento.

Fig. 12:

Após a remoção dos excessos com sonda, fio den-tal, limpeza e acabamento nas margens com Lixas de acabamento proximal e sistema Práxis da TDV.

Fig. 13:

Vista vestibular do caso finalizado.

Caso Clínico 2Fig. 14:

Resina desgastada, com deterioração e infiltração generalizada.

Fig. 15:

Aplicação do ácido fosfórico a 37%, feito isso é importante executar corretamente os passos de hibridi-zação dentinária: 1) Lavar o ácido pelo dobro do tempo do condicionamento, 2) secar a cavidade com papel ab-sorvente, 3) aplicar o primer e secar levemente por 30s, 4) aplicar o adesivo hidrofóbico sobre o primer lembran-do que esta técnica cobre e elimina a acidez do primer que é incompatível com os cimentos. 5)Fotopolimerize.

Fig. 16:

Aplicação de ácido fluorídrico na peça.

Fig. 17:

Aplicação do silano da Dentsply o qual foi ativado anteriormente através da mistura primer e ativador para posterior aplicação do adesivo hidrofóbico(Magic Bond-Vigodent).

Fig. 18:

A peça foi cimentada com o cimento resinoso Dual Cement da Vigodent

Fig. 19:

Cimentação

Prof.Dr. Wanderley de Almeida César Jr.

Especialista em Dentística - FOB – USPMestre em Dentística – FORP – USP

Doutorando em Química de Polímeros e Compó-sitos DQI - UEM

Membro da SBOE – Sociedade Brasileira de Odontologia Estética

Coordenador do curso de aperfeiçoamento em odontologia estética do Odons – Maringá PR.

e-mail – [email protected]

REFERÊNCIAS:

1 - CARVALHO R.M. Et.al. Adhesive permeability affects coupling of resin cements that utilize self-etching primers to dentine. Journal of Dentistry (2004) 32, 55-65.

2 - MAK,Y.F. Et al. Micro-tensile bond testing of resin cements to dentin and an indirect resin composite. Dent. Materials 18(2002) 609-621.

3 - FOXTON R.M. Et. al. Adhesion to root canal dentine using one and two-step adhesives whith dual-cure composite core material. Journal of Oral Rehabilitation (2005) 32, 97-104.

Fig. 20:

Onlay em cerâmica: TPD Juliana A. Sas

Fig. 21:

White Post DC (FGM), pinos desenvolvidos com características morfológicas e opticas auxiliares no pro-cesso de retenção ao conduto radicular.

Termino esse artigo com um pensamento do Rober-to Shinyashiki, “faça aquilo que sua alma pede. Viva sua verdade. Não tenha vergonha de ser quem você verdadei-ramente é”.

Que Deus abençoe todos vocês e até a próxima edi-ção.