saul bellow, roman- - coleção digital de jornais e...

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•.;,. vi 1<!.' '** Terça-feira, 11-5-1954 «UNDADOR: JORGE LACERDA QUANDO li, mais na qualidade de tradu- tor do que de leitor disponível, «A Vítima» e «As Aventuras de Augie March", de Saul Bellow, tive a impressão de que êle. junto com William Goyen e Truman Capote, estava orientando a nove- lística da América do Nor- te para um rumo bem di- verso do que de John Stein beck, dos Pasos, Faulkner e Mac Cullers. Agora, que leio em tra- duçâo de Michel Déon «FHomme de Buridan", folgo em averiguar meu pressentimento, muito em- bora não o veja com a for- ça individual daqueles li- vros, e sim influenciado pelo triângulo Kafka, Sar- tré-Camus. Saul Bellow, nascido em Quebec, se serve do gene- ro diário para confeccionar êste seu romance. Natural que essa maneira fran- cesa se preste melhor à in- trospecção, visto como se trata de romance do indi- víduo, do sclilóquio, da an- to-análise, do distancia- mento do ser para longe do meio, dos semelhantes, da época, da rotina e da condição estatística. Eis o romance do homem què se afasta do convívio não para ser superior, nar- cisista, erudito de experi- ências, diferenciado por exceções de discernimento e de sensibilidade. Pelo contrário, como célula mor- ta,. esfoliada de um orga- nismo, qual fanero que ur- ge cortar como o cabelo ou a unha, o personagem Joseph, de trinta anos de idade, se sente em lenta desagregação, vomitado, expelido, solto no maras- mo da unidade não delimi- tada, não mais elemento de colméias e sim resquício posto no lixo da disponibi- lidade inerte. Os críticos e mesmo os leitores mais versados em literatura comparada verão que tal tema foi tratado por Sar tre em «La Nau- sée», e por Camus em «l/Etranger». Sentirá que influxos de Kafka na primeira parte de «O Pro- cesso»* Ora, sem dúvida, Saul ANO b.° N.° 298 DIRETOR: ALMEIDA FI SCI IKK mmf _B)fl_flffBflWHMfc <Hà£^mi"'¦-*"' •*•>"«•'*l^__Xr^H _^E_K_S__j_^_p<83rX_w_v£'*•'•*¦ æi' "'¦"«Stíf bBBS_^_l_^_k^HP* ^^^^^ mm*BK-¦•*•*• *v.v3gHÍBr*"*>fflwO?íJ^^ml^^^H 5l8BfifflHHopgKfffll^_l^_^_^_i^_BI_^_^_^_^_KB_BfiBM^^^^^B^^^B S ^ j : * :;""';¦' ^ r •^••^ V^iLy^^^íí á^Sí^^_^_S_^_f5'*-"í ^K ggSvjHaiiflffi^^ "Os dois músicos" MAX WEBER SAUL BELLOW, ROMAN- CISTA DIFERENTE Bellow inaugura uma rota diferente no romance da América do Norte (Esta- dos Unidos e Canadá dc língua inglesa) não pelo fa- to de levar tendências de Kafka, Sartre e Camus pa- ra aquelas bandas do No- vo Continente. Mas pelo fato de desdenhar a fasci- nação do homem america- no pelo meio, sua fusão ao ambiente, sua captação ao século, à máquina, à velo- cidade, à consciência bea- vorista. Por certo o fato de Saul Bellow se ter diplomado em antropologia lhe o di- rei io e a experiência de tintar do homem. Prof es- JOSÉ9 GERALDO VIEIRA sor em Minnesota e em Princeton, terá vivido sem- pre em bibliotecas e labo- ratórios. Sei agora que êste livro não é o último e sim o pri- meiro. Portanto, minha primeira impressão de lei- tor estava certa e minha segunda restrição estava errada. Ele melhorou, por- tanto. No primeiro livro é que houve influência de Kafka, de Sartre e de Ca- mus. Nos demais, que ii primeiro, portanto, em or- dem inversa, eu notara uma força de construção e estrutura que o deviam pôr, junto com Truman, Capote e William Goyen, na vanguarda de um mo- vimento novo, introspecti- vo da moderna novelística do Novo Continente de lin- gua inglesa. Não faz o romance das massas, a saga do país, a a estruturação steinckec- quiana da marcha para o Oeste. Não faz o romance de cortes transversos de John dos Pasos em Ma- nhattan, nem expõe os pro- blemas do Sul como Faulk- ner tratando de raças. Longe de ser analista ou movimentador de multi- does, criador de bastido- res com arranha-céus, afe- ridor de civilizaão mecani- cista, densímetro de po- pulações aglutinadas em Chicago ou Los Angeles, Saul Bellow trata do indi- víduo. Menos do que isso: do ex-indivíduo. Do sujei- to reduzido a comple- mento. No fundo, seus persona- gens são vítimas, como no título do segundo livro. Ou aventureiros do nada, dos dedalos ontológicos, co- mo em «As Aventuras dc Augie March». Não é apenas pelo pro- cesso introspectivo que êle se diferencia das equipes do romance contemporà- neo norte-americano, pois historiogràficamente a no- velística ianque tem da- do diversos escritores in- trospectivos. E\ também, pelo estilo, principalmen- te. O seu instrumento ver- bal ou gráfico não segue o realismo «â outrance» de Sartre. Não falemos do de Camus, pois é coisa que não existe. Camus é escri- tor vigoroso, sem estilo. Vigoroso porque tem algu- ma coisa a apresentar, e o faz por contraste e não por sedimentação. O estilo culto, erudito, sutil, de Saul Bellow o poe dentro da experiência do romance intelectual. O; fato de não possuir estilo não invalida um es- critor, se a matéria tiver força e não precisar ser veiculada. E' o exemplo, entre os novos, de John Horn Burns. um Nor- man Mailer faz estilo, até atrapalhando a força mo- tora dos fatos, como as sustendo com uma «caixa de mudanças». O estilo de Bellow é europeu. Isso não é de estranhar, dada a sua origem canadense que, po- sitivamente, - mais próxi- ma da Europa, sobretudo da França. Processo sagaz, amaneirado em monólogo consciente, douto, de for- ça gradual a serviço de te- mas, de maneira que o es- tilo age mais do que os fatos. Ora, tais características são Virtudes, mormente num país onde a literatu- ra, força intuitiva, mecani- zada pela obrigação de acompanhar a vida, deixa o estilo atrás, como mero posto de abastecimento. •A l '. V.v; SI 1 ¦í ii

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Page 1: SAUL BELLOW, ROMAN- - Coleção Digital de Jornais e ...memoria.bn.br/pdf/114774/per114774_1954_00298.pdf · nca de um Rubem Braga, cuja crônica se aproxima, em dignidade e em pureza

•.;,. vi 1<!.' '**

Terça-feira, 11-5-1954«UNDADOR: JORGE LACERDA

QUANDO

li, mais naqualidade de tradu-tor do que de leitor

disponível, «A Vítima» e«As Aventuras de AugieMarch", de Saul Bellow,tive a impressão de queêle. junto com WilliamGoyen e Truman Capote,estava orientando a nove-lística da América do Nor-te para um rumo bem di-verso do que de John Steinbeck, dos Pasos, Faulknere Mac Cullers.

Agora, que leio em tra-duçâo de Michel Déon«FHomme de Buridan",folgo em averiguar meupressentimento, muito em-bora não o veja com a for-ça individual daqueles li-vros, e sim influenciadopelo triângulo Kafka, Sar-tré-Camus.

Saul Bellow, nascido emQuebec, se serve do gene-ro diário para confeccionarêste seu romance. Naturalque já essa maneira fran-cesa se preste melhor à in-trospecção, visto como setrata de romance do indi-víduo, do sclilóquio, da an-to-análise, do distancia-mento do ser para longedo meio, dos semelhantes,da época, da rotina e dacondição estatística.

Eis o romance do homemquè se afasta do convívionão para ser superior, nar-cisista, erudito de experi-ências, diferenciado porexceções de discernimentoe de sensibilidade. Pelocontrário, como célula mor-ta,. esfoliada de um orga-nismo, qual fanero que ur-ge cortar como o cabeloou a unha, o personagemJoseph, de trinta anos deidade, se sente em lentadesagregação, vomitado,expelido, solto no maras-mo da unidade não delimi-tada, não mais elemento decolméias e sim resquícioposto no lixo da disponibi-lidade inerte.

Os críticos e mesmo osleitores mais versados emliteratura comparada verãoque tal tema já foi tratadopor Sar tre em «La Nau-sée», e por Camus em«l/Etranger». Sentirá quehá influxos de Kafka naprimeira parte de «O Pro-cesso»*

Ora, sem dúvida, Saul

ANO b.° — N.° 298DIRETOR: ALMEIDA FI SCI IKK

mmf _B)fl_fl ffBflWH Mfc <Hà£^mi"'¦-*"' •*•>"«•'*l^__Xr^H

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"Os dois músicos" — MAX WEBER

SAUL BELLOW, ROMAN-CISTA DIFERENTE

Bellow inaugura uma rotadiferente no romance daAmérica do Norte (Esta-dos Unidos e Canadá dclíngua inglesa) não pelo fa-to de levar tendências deKafka, Sartre e Camus pa-ra aquelas bandas do No-vo Continente. Mas pelofato de desdenhar a fasci-nação do homem america-no pelo meio, sua fusão aoambiente, sua captação aoséculo, à máquina, à velo-cidade, à consciência bea-vorista.

Por certo o fato de SaulBellow se ter diplomado emantropologia lhe dá o di-rei io e a experiência detintar do homem. Prof es-

JOSÉ9 GERALDO VIEIRA

sor em Minnesota e emPrinceton, terá vivido sem-pre em bibliotecas e labo-ratórios.

Sei agora que êste livronão é o último e sim o pri-meiro. Portanto, minhaprimeira impressão de lei-tor estava certa e minhasegunda restrição estavaerrada. Ele melhorou, por-tanto. No primeiro livroé que houve influência deKafka, de Sartre e de Ca-mus. Nos demais, que iiprimeiro, portanto, em or-dem inversa, já eu notarauma força de construçãoe estrutura que o deviampôr, junto com Truman,Capote e William Goyen,

na vanguarda de um mo-vimento novo, introspecti-vo da moderna novelísticado Novo Continente de lin-gua inglesa.

Não faz o romance dasmassas, a saga do país, aa estruturação steinckec-quiana da marcha para oOeste. Não faz o romancede cortes transversos deJohn dos Pasos em Ma-nhattan, nem expõe os pro-blemas do Sul como Faulk-ner tratando de raças.

Longe de ser analista oumovimentador de multi-does, criador de bastido-res com arranha-céus, afe-ridor de civilizaão mecani-cista, densímetro de po-

pulações aglutinadas emChicago ou Los Angeles,Saul Bellow trata do indi-víduo. Menos do que isso:do ex-indivíduo. Do sujei-to reduzido a comple-mento.

No fundo, seus persona-gens são vítimas, como jáno título do segundo livro.Ou aventureiros do nada,dos dedalos ontológicos, co-mo em «As Aventuras dcAugie March».

Não é apenas pelo pro-cesso introspectivo que êlese diferencia das equipesdo romance contemporà-neo norte-americano, poishistoriogràficamente a no-velística ianque já tem da-do diversos escritores in-trospectivos. E\ também,pelo estilo, principalmen-te. O seu instrumento ver-bal ou gráfico não segueo realismo «â outrance» deSartre. Não falemos do deCamus, pois é coisa quenão existe. Camus é escri-tor vigoroso, sem estilo.Vigoroso porque tem algu-ma coisa a apresentar, e ofaz por contraste e nãopor sedimentação.

O estilo culto, erudito,sutil, de Saul Bellow o poedentro da experiência doromance intelectual.

O; fato de não possuirestilo não invalida um es-critor, se a matéria tiverforça e não precisar serveiculada. E' o exemplo,entre os novos, de JohnHorn Burns. Já um Nor-man Mailer faz estilo, atéatrapalhando a força mo-tora dos fatos, como assustendo com uma «caixade mudanças». O estilo deBellow é europeu. Isso nãoé de estranhar, dada a suaorigem canadense que, po-sitivamente, - mais próxi-ma da Europa, sobretudoda França. Processo sagaz,amaneirado em monólogoconsciente, douto, de for-ça gradual a serviço de te-mas, de maneira que o es-tilo age mais do que osfatos.

Ora, tais característicassão Virtudes, mormentenum país onde a literatu-ra, força intuitiva, mecani-zada pela obrigação deacompanhar a vida, deixao estilo atrás, como meroposto de abastecimento.

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P-ógins — 2 LETRASB ARTES Torçi-foira, 11-5-1954

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E)

a obra tle arle umacomposição em que<¦ n i a in necessária-mente a poesia como

essência e a técnica comoviicuio ou matéria. Para ohomem, o destinatário nu-intui da oura artística, apoesia existe pela técnica. Aproporção oestes dois ele-momos e variável e, assim,na literuiura, de que tr ta-mos particularmente, cadagênero ten o seu "quantum"especifico de poesia. A cias-sificaçao mais geral será aque grupa as obras em doisgêneros apenas: o poema ea prosa, (li No poema a poe-sia está em proporção pró-xima a 'ntegral, enquanto naprosa a poesia esta em me-nor pronorçõo, dissolvida naInvenção. A Invenção (não seconfunda com a técnica, daqual se aproxima por afini-dade) é um veiculo da poe-sia e está para a obra pro-saica assim como a poesiaesta para a obra poética. Daia diferença fundamental en-tre os dois gêneros: o poemaé poesia cristalizada e a pro-sa é poesia dissolvida, dife-rença que, baseada no valorda poesia como essência daobra, confere uma maiordignidade ao poema em re-lação a pr "«sa. É preciso res-saltar o fato de que a formagráfica sob a qual so apre-senta a obra é írequentemen-te dúbia, sendo possível as-sim o poema em prosa comoa prosa em verso. Entrei-in-to, não sendo esta distinçãoo objetivo principal do pre-sente estudo, não considera-mos aqui estas anomalias,restringindo-nos ao normal.

. Na prosa propriamente li-terária, como obra de arte,não há diferença de impor-tância estética entre os gê-neros — difere entre elesaponas o método ou a técni-

TRÊS CONTISTAS

ca. Apesar de estarem a crô-nica, o conto e o romance nomesmo piano como expressãode poesia, formou-se, pormotivos extra-estéticos, umahierarquia que faz com queo autor de um gênero dadotenha sempre a tendência dese transferir para o seguiu-te, senão de direito, pelo me-nos de fato. Ora, a titulo deconsolo aos aflitos consta-turnos a presença na litera-tura brasileira contemporâ-nca de um Rubem Braga,cuja crônica se aproxima, emdignidade e em pureza deLinguagem, da poesia, e aln-da de uma Raquel de Quel-roz, que é, em nosso juízo,mais Importante como cro-nista do que como romancis-ta.

Destinando-se êste traba-lho ao estudo de três contls-tas. não trataremos aqui daevolução histórica do gêneroconto nem dos seus limitesteóricos em relação aos gê-neros vizinhos, mas o toma-remos como agora se apre-senta, na sua feição defini-da pelas variedades indivi-dviais. Consideramos apenasuma amostra dos excessosdo modernismo a definiçãoanárquica de Mário de An-drade, segundo a qual "con-to é tudo o que o autor querque.seja conto", e pensamos,ao contrário, que há limitesmais ou menos móveis paracada gênero, limites estabe-kcidos pelo exercício dospróprios autores. Ê a" esta-tística das características decada gênero que vai deter-

LEDA BARRETO

minar as características re-presentativas do gênero nor-mal, dando-lhe uma feiçãoIdeal. Esta preflguração nãolnhibe de modo algum o au-tor, pois se êste se propõe es-crever um conto ó porquepreviamente considerou o gê-nero com as suas possiblli-dades e limitações. E se nacapa do livro, abaixo do ti-tulo, mandou Imprimir a pa-lavra "contos", está lmpli-citomente admitindo que háum gênero definido por êstenome.

Sendo a feição caracteris-tica do conto definida pelospróprios contistas, tem sofri-do uma natural evoluçãoatravés do desenvolvimentohistórico-cultural da socie-dade humana, evolução que,embora sujeita aos fatoresregionais e pessoais, apresen-ta contudo um índice ou va-lor representativo das ma-niíestações literárias toma-das totalmente. Assim, umautor poderá transgredir asregras do gênero, acrescen-tando-lhe algo individual,mas não deverá operar emoutro gênero igualmente de-íinido conservando a deno-minação imprópria, fenôme-no freqüente que se explicapor um mero preconceito an-tes social que estético.

Em conseqüência da falsahierarquia acima referida,tem sido o conto descuradona literatura contemporâneabrasileira, aparecendo mes-mo como o gênero de menorimportância na prosa. A pa-lavra "importância" tem aqui

um sentido complexo quall-tativo-quantltativo, o que nocaso significa: poucos são oslivros de contos realizadosem apreciável nivel estético.E entre esses poucos, note-acque alguns soo apresentadoscomo uma derivação provisó-ria do autor, que efetivamen-te se dedica a gênero diver-so, a exemplo dos "Contosde Aprendiz", de Carlos Dru-mond de Andrade e "AlgunsContos", de Clarice Uspec-tor.

Embora nenhum doa trêsautores em pauta seja es-treante, tomaremos de cadaum apenas o último livro pu-blicado, pois o estudo da evo-lução evidenciada pela com-paração entre a obra ante-rior e a segunda requereriaura proibitivo despêndio deespaço. São os autores, naordem cronológica do lança-mento dos livros relaciona-dos: Saldanha Coelho com "OPátio", (2) Almeida Fischercom "A Ilha e Outros Con-tos" (3) e Renard Perez com"Os Sinos" (4).

O julgamento de uma obrade arte qualquer necessita,para que tenha um caráterunívoco, de uma prévia de-finição dos termos adotadosbem como de um nítido es-calonamento destes mesmostermos, o que proporcionariaao leitor a exata posição emque o expositor a situou e opreciso valor por êste atri-buído. Ora, não podemos aquiestender-nos em considera-ções gerais pelo mesmo mo-tive acima apontado de ca»

«encla do espaço, e assimaCnaroraoi» um critério re-latlvo aos próprios livros emíuco, considerando "bom" ocji nôles houver de melhor.Desta maneira a nossa ex-posição será predominante-mente uma atividade carac-terizante, de. iva e inter-p. tlv ., uma vez que - suafunção Judicativa é — comonão poderia deixar de serem trabalho tão limitado —baseada em relações dema*slado restritas.

Seguindo esta breve indl-cart*o, procuraremos carac-terizar e descrever o livro emsua técnica e interpretar oautor, considerado êste ape-nos o homem presente naobra, pois o conhecimentopropriamente pessoal do au-tor não interessa ao criticomas ao historiador. Assim,por exemplo, só a êste cabe-ria pesquisar se determinadapeça de ficção representauma transposição mais oumenos direta da experiênciahumana do autor, enquanto

àquele cabe apenas verificarse esta transposição é bemou mal realizada, se há coe-rencia interna nesta realiza-ção (5) e finalmente qual ograu de perfeição da obraacabada.

(Continua no próximo nú-mero).

(1) Neste trahalho, para evitaramhiguidade, damo3 à pa*lavra "poema" o sentidogenérico de obra literáriapoética c a "poesia" o sen-tido de essência da obra dearte.

(2) Edição "Revista Branca**,Rio, 1953.

(3) Edição "Cadernos Cultura",Rio, 1953-

(41 Edição "Jornal de Letras",Rio, 1954.

(5) Sobre a coerência na obrade arte há um esclarecedorestudo de Raissa Maritain,"Sens et Non-Sens en Po*-(Conclui na 8.* pág.) j

O

antigo advogado An-dré Cayatte nos dá,cora bastante virtuo-sidade e grande ta-

lento, a mais desastrada obrade sua carreira. A linguagemó brilhante, rigoroso o esti*Io; o autor recusa os efeitostíe câmera —- como antiga-mente, creio, os da toga. Osdiversos elementos do pro-cesso (estabelecidos eom acolaboração de CharlesSpoak) sãc postos com cia-reza. Apesar de alguns bonsmomentos nos não comove-mos e, menos, nos convence-mos.

Trata-se, em princípio, deCinema que se quis históricae sociologicamente fiel aoque foi, há poucos anos, arealidade francesa. O univer-so em que se desenrola aação não é mais abstrato,como é habitual na SétimaArte, mas, ao contrário, si-tuado com precisão. Estouraa guerra. Quando? Em 1950.Onde? Na Coréia. Esta pa-lavra, uma vez pronunciada— e não sem audácia no es-tágio em que se encontra aliberdade, ou pseuda liber-dade de expressão cinemato-gráfica — , derruba todos ospossíveis futuros tabus. Oscomunistas serão chamadospor seu próprio nome. Ame-ricanos, russos, franceses, cc-reanos serão revelados nãoseb vagas aparências gemi-ricas, mas comprometidosnas lutas ideológicas querealmente travam. Pela pri-meira vez, com esta tranque-za. um filme de ficção usavocabulário de e se referea acontecimentos reservados,tíe ordinário, aos jornais dtinformarão e combate. Em-presa corajosa! Inovação,por outro lado, tanto maisinteressante quando o prin-cipio que estabelece uma cer-ta objetividade parece sai-vaeuardado.

Dê onde vem, portanto,n^ssa dificuldade em reco-nheeer êste universo faml-liar? Do fato que mestreCayatte, para melhor nosarrebanhar para a sua causa,inndiosamente corrifriu osíatos, se, para não sermos ou-

ANDRÉ CAYATTE IO CINEMA DE TESE

sados, não admitirmos queéle os torceu. Um autor é li-vre de dar à sua maneira omeio de onde retira sua his-tória; juizes e jurados cre-rão nele, sob palavra, desdeque mostre habilidade e dêverossimilhança à reconsti-tuição; esta, porém, encon-tra-se somente na ocorrên-cia segundo a qual cada umdos espectadores de "Avantle déluge" viveu os aconteci-mentos e que nosso advogadopretende que eles, em gran-de parte, sejam responsável'?por atos cometidos por seus

CLAUDE MAURIAC

clientes. Esta atmosfera deantes do dilúvio estaria naorigem da confusão dos ado-lescentes e, segundo ela, ten-tar-se-ia explicar o compor-tamento criminal. Mas, quedilúvio será êste?

A crer-se em Cayatte eSpaak, os franceses sentiramno momento dá guerra co-reana um terror coletivo. Pormedo da guerra iminente, apossibilidade de um êxodogeral apresentou-se. Os jo-vens de "Avant le déluge"não pensam, senão em ex-patriarem-se, no que são en-

corajados pelos pais. Ora, amaioria dos franceses, apesarde suas divergências não sen-tiram, em 1950, nenhum re-ílexo de fuga; eram contraou a favor do golpe coreano,com paixão, mos mesmo" osque se declararam neutrosnão encontraram em suaconvicção senão uma razãoa mais para defender o chãoque pisavam: a própriaFrança.

Cayatte e Spaak não pode-riam mesmo ser bem suce-didos na tarefa de nos pes-pegar má consciência. Qual-

POETAS DA GERAÇÃO DE $5 — O flagrante acima foi tirado durante uma recepção ofere-ctda na casa de Domingos Carvalho da Silva c José Paulo Moreira da Fonseca, por ocasião darecente vtstta do autor de "Dido c Enéas" a São Paulo. Vêem-se, da esquerda para a direita, osseguintes expoentes da Geração de 45 e geraçõ es "vizinhas": Pêricles Eugênio da Silva Ramos.Edgard Braga, Cyro Pimentcl, José Paulo lí. da Fonseca e Carvalho ãa Silva

quer que seja nosso partidonós nos sentimos comprometi-dos pela fraqueza desses he-róis, como, de resto pela doSeus pois, cuja verdadeiraculpa está, talvez, em teremconsentido na deserção doseus filhos. Estes nos pare-cem bastante inocentes, em-bora sejam ditos culpados,de um drama onde não ve-mos direito qual é a medidada participação.

Se ligarmos aos adolescen-tes de Cayatte e Spaak apiedade de que se é possuídodiante da desgraça, não po-demos julgar sua culpabili-dade atenuada. O primeirode seus crimes, devido aodesassossêgo e à falta de sor»te, merece indulgência; maso segundo, friamente come-tido e premeditado com todaa lucidez* nos parece parti-cularmente horrível: estesjovens que, para suprimirunia testemunha importuna,matam um camarada, nãose podem prevalecer de ne-nhuma circunstância ate-nuante. Se a guerra da Co-réia e o amor de seus paisserviram para alguma coisano ato é porque eram. verda-deiramente bem dotados.

A objetividade apenas apa-rente que se conseguiu agra-va a questão. Um ex-colabo-rador, de pequena enverga-tíura, explica-se longamentediante de nós, dirigindo-se auma parte da assistência queo aplaude semi que em nomeda mesma objetividade algu-mas verdades lhe sejam lem-bradas. Sob o pretexto deilustrar alguns perigos do an-ti-semitismo, o slogan: "mor-te aos judeus" aparece vá-rias vezes na tela. O poderae difusão da imagem — au-mentado pela do som — apa-ga o contexto. Resta a ter-rível palavra, o çrito queenche a sala, apenas supor-tável se não é para os antt-semitas (mas o é), que sabo-reiam as sílabas, pacificado-ras para eles. A imperícia deCayatte e Spaak atinge, aqui,uma tal amplitude que nãona creríamos involuntária senão conhecêssemos a bonés-tidade de ambos.

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Terça-feira, 11-5-1954

Em

ki \ •. num artigo sô-bre i>*-*»i.ti io Tavares,que a morte aproveita»va todas as Destas pa*

ra revelar 8ua presença eexigir o tributo ao poeta;cm cada poema, a cada ins-«tante, aí estava ela espre-i-tando, lnexo ave». Isso que, aprimeira vista, tem lampejo»de retórica, de mero borda-do literário, e uma evidenciafria na pcft<ia de Dcolindo.

Antônio Torres, num dcseus trabalhos críticos, quopor ser o mais sentimentalnão é o menos infeliz, deu aAugusto dos Anjos o titulode "poeta da morte". Êstependi» .icalho vive acompa-nhando Augusto por todaparte, embora se baseie noque de mais superficial apre-senta a poesia do "Eu". E'dos mais dispensáveis êsseepiteto, máxime porque atodo e qualquer crande poe-ta se poderia aplicar comalguma habilidade. AntônioNobre c Antero de Quental,por exemplo, lhe fariam jusa'jm muito esforço. Augustoseria, dentro der.sa classifi-cação, muito mais "poeta damorte" se houvesse ado* idoao monismo de maneira ab-soluta, não fazendo conces-soes atanísticas ("ilusõesatanísticas", diria Haeckel)como aquela de ver a "ai-ma" de seu pai "subindo aocéu", onde ocorre dupla con-tradição não só do monismocomo do fanatismo monista.A morte aparece em Augustomais pela parte material, co-mo "fenômeno fisiológico in-dividual", de forma direta,científica. Em Deolindo, po-rém, vamos encontrá-latransubstanciada. sutilizada,indireta, figurando mais co-mo constante mental do quecomo constante poética.

Ambos têm a mesma otri-gem:Minh'álma vem ãe longe, de

[muito longe,errou perdida pelas encruzi-

[Ihadas do mundo.

Vestido de hidrogênio inçan-[descente,

Vaguei um século, improfi-[cuamente,

Pelas monotonias siderais...

LETRAS, E ARTES / Página — »>

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O SENTIMENTO DA MOR-TE EM DEOLINDO TAVARES

Mas, enquanto Deolindoregressa desanimado e aba-tido, Augusto se volta para"o mais alto ainda", emuorana desilusão do primeiro ha-ja talvez mais sinceridadeque no arroubo deste — umsublimando a derrota, o ou-tro deixando escapar a con-fissão da mesma inutilidadee já na angústia da rc«eva-são:

Depois, vencida e cansada,voltou para êste corpo indife-

frenteque se abriga no refúgio das

[grandes solidócs

Subi talvez às máximas altu-[ras,

Mas, se hoje volto assim, com[a alma às escuras,

E' necessário que inda eu su-[ba mais!

Ambos trágicos em relaçãoà vida (é de Kipling o pen-samento: "a atitnde de quemconhece a vida é sempretrágica"), Augusto foi maisd amático, ao passo que maislírico o pernambucano, geo-gràiicamente próximos entresi, pela terra, pelo ambiente e,quiçá, pelo insulamento poé-tico. Ambos pessimistas, Dco-lindo busca a liberdade das"canseiras da vida", ao passoque Augusto, vindo do ato-mista de Abdera até ao ma-terialismo filosófico dos mo-nistas, retorna a Demócritoquando prega:

Que a mais alta expressão de[dor estética

Consiste essencialmente n o[alegria.

Essa alegria, D e o 1 i n d osempre a procu ou, enquan-to lhe davam "travestis depalhaço". Essa a'egria, Deo-lindo sempre tentou encon-trar através das lágrimas

FAUSTO CVWHA

que p<\rlavam seus poemas. Opessimismo deolindiano vema ser um pessimismo inato,diria mesmo inculto; cm Au-gusto, temos o pessimismoataviado com todas as con-cepções e nomenclaturas queèle colhem, com abundância,cm todo o Haeckel, no "in-signe Hcrbert Spencer", emFcchner, Leitgeb, Schulze,Wundt, Carus, Svoboda. Da-rwin, Iloff, no emaranhadodas teorias e dos ramos cl-entíficos, na "antropogenia","psicogenia filética", "teo-ria carbogenica", — redu-zindo tudo ao "fenômeno or-gãnico" consumado, criandoporém uma angústia muitomaior, a angústia cósmica —>doloroso disfarce da angus-tia "humildemente huma-na", de que nos falaria maistarde Cornélio Penna.

Não se trata, é claro, deparalelo ent e Deolindo Ta-vares e Augusto dos Anjos;apenas meio de facilitar acompreensão d o assunto,porque o paralelismo é ain—da o modo mais prático detentar essa compreensão.

Pode-se afirmar, sem re-ceio, que a morte é o temapor excelência de Deolindo.A palavra "liwna" está em-pregada num sentido muitoamplo, que transcende dosimples "assunto". Talvez apalavra exata seja "Leitmo-tiv". As vezes pa» ece-me(não o conhiwi pessoalmen-te) que o poeta viveu imer-so num contínuo exame deconsciência, esperando o mo-mento de partir e "d'aUerplus loin vivret". Sua concep-ção é um pouco semelhanteà de Nancy Byrd Turner noseu popular "Death is adoor":

Death ia only *n old doorÍSet in a garüen watl;ün gentlo hingva it glvea, flt

[duakWhen the thrushca cnll.

Along the lintel are green loa-[voa

Beyond the light Uea atill',Vcry votíling and weary [eetOo over that sill.

There ia nothing to trouble[any hearti

Nothing to hurt at ali.Dcath is only a quiet doorin an old u ali.

Decerto a concepção deDeolindo está bastante aci-ma da d»e Nancy Bvrd Tur-ncr, não só como sentimentopoético, senão, principal-mente, como criação espi.1-tual, se assim posso dizer.Ambos denotam o intuito dodestruir o temor da morte;para Turner, mais simples,a morte é apenas uma pas-saçcm — para Deolindo,mais sofredor, é a gloriiica-ção, o Tabor:

Um dia, diante de tiestará serena e implacável, o

[morteum dia, não sentirás o calor

[do solno teu corpo gelado, no teu

[sangue gelado;então, quando diante de ti

[avistares a morte,pensa em cada um de teus

[atos,e se tiveres sido forte, belo,

[altivo como um anjo,sentirás teus olhos se abri-

[rem maravilhadose verás renascer sob teus pésas ervas mais simples doa

[campos devastados.E caminharás ao lado da se-

[rena e implacável morte,como um conquistador, um an-[jo, como um simples e belo

[anjo.

Nesse po-eena há percepti-vel influência do Jorge deLima da "Túnica inconsú-

tll": desde o "gnnúê e W*Anjo" de "O homem — mprocesslonal" até o final me*lancellco de "A vida §¦**•iimi in do Poctta": 1

Nusoeu sô, vivou sô, vai mor*[rtr êát

Então caminha para a mortesem aurprfiaa no .huma, i8*tm saudado nenhuma *0 tambóm aem recompensa

[ncnhumOê

Na sua grande mensagem"Nasci para semear poesia",dá-nos Deolindo a medida dasua extraordinária missãomessiânica. Ai deparamoscom a morte sob dois aspoe-tos: a morte espiritual e amorte contlngencial, esta den-tro da idiéa dc ressurreição,que acompanha "pari passo*a idéia da morte em toda atemática deolindiana.

Nasci para semear Poesiasôbre a raça dos homens nas*

[cidos tristes*As sementes já lancei â terra,

[ao mar e ao céu,e quando flores cobrirem a

[terra, o mar e o céu,ctt poderei morrer mais nma

[vez.Neste momento snmos homensvivendo perfeitamente mortos,

[perfeitamente inúteis.

Atente-se para isto, quona poesia de Deolindo hásingular interrelação dasidéias da morte e do corpo;estabeleecr-se-ia, sem difi-culdade, esta escala: "co*-po" _ "inutilidadie" — "cor-rupção" — "sofrimento" —"morte" — "ressurreição".Chega mesmo a haver com-plcta abstração entre a vi-da do corpo e a vida do es-pírito, entre a morte física oa ressurreição psíquica, semque isto incoí a contradiçãoalguma. Naturalmente, só sepoderá bem compreender oalcance e o nexo de tudo issoem se lendo as potiias deDeolindo. Minha exegese po-deria tornar confusa umapoesia essencialmente límpi-da, o que lembraria Niétzscherefletindo que há pessoasque obscurecem um textoclaríssimo quando tentamelucidá-lo de maneira pro-funda...

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Ilustração de Santa Rosa

F O M E(Tradução de OUVIA KRAHENBUHL)

ANDEI CHEIA DE FOME LONGOS ANOS

QUANDO UM DIA CHEGOU MINHA VEZ DE JANTAR.

PUXEI, TREMENDO, A MESA PARA PERTO

E O ESTRANHO VINHO FUI PROVAR.

ASSIM ERA NAS MESAS A QUE EU VINHA,

QUANDO, COM FOME E SÓ, EU REGRESSAVA,

E JANELAS A DENTRO O OLHAR DEITAVA

SÔBRE A RIQUEZA QUE NÃO- ERA MINHA.

NUNCA ANTES VIRA O VASTO PAO NA MESA

QUE DA MIGALHA TANTO DIFERIA ,

6 QUE O PARDAL COMIGO REPARTIA

NO SALÃO - DE - JANTAR DA NATUREZA...

E A FARTURA DOEU-ME, POR ESTRANHA;

SENTI-ME ENFERMA E RARA

COMO O FRUTO QUE DO ALTO DA MONTANHA

PARA A BEIRA DA ESTRADA SE MUDARA...

E NAO MAIS TENDO FOME, A CONCLUSÃO

CHEGUEI, D£ QUE ELA É UM JEITO PECUL™»

AS CRIATURAS QUE DE FORA ESTÃO. .

(POIS PERDEM-NA AO ENTRAR..,).

EMILY DICKINSON

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fcqma IBT R A $ B ARTES Yotça-toirn, 11-5-1954

*&l&sHÉfÍt&ÊÊÊ&tâ&&JÈ^i£tdí£'&&

«ií % I -B T .% IV B,€ III f I CA8 exi:«hHos do modemls-

Ümo

— plentunente justi-ficávola pela iioslçoo dscombate asaumtda pelaturma de 22 — foram

Ioro juperadoa pelna geraçõcHque se seguiram. O «futurls-mo» teve uma vida curta.Aprendida a lição, tratou-sologo de consolidar a liberdadeconquistada, com experiênciasmais sérias, com uma pesquisamala metódica dos meloH de ex-pressão.

Parece-nos, assim, um tantoestranha a tendência de algunsgrupos de aurnres novos, paion m vecuo a certos modos (nuocncgum a sor formas) de ex-pressão, quo nos lembram omodernismo de 22 ou o futurls-mo de Marinetti.

Talvez seja possível explicaresses movimentos como o resul-tudo de uma Interpretação su-perficial, mas levada ao extre-mo, de algumas opiniões da es-tilistica e da poética modernas.A valorização do aspecto musi-cal o sonoro da palavra, levadaao extremo, provocou tentativasde uma poeBln realizada exclu-sivamente à base doB efeitossônicos. Já não se tratava maisdo sunreallsmo, que atribuindoaos vocábulos um novo valor,continuava a explorar o seupoder de despertar associações,mas sim da criação de pala-vras, ou melhor, da reunião desílabas sem nenhuma preten-são de sentido ou significado.Alguma coisa que se situavaentre a poesia e a música, masmuito mais pobre do que am-bas, porque se distanciava doarecursos fundamentais de umae de outra, sem conquistar no-vos.

Cremos que nem mesmo nomais aceso da luta modernistaescreveram-se poemas como ai-guns que o Sr. Ferreira Gullarinclui em seu livro de estréia(«A Luta Corporal», edição doautor, Rio, 1954). E não se es-creveram porque já naquelaépoca esses extremos estavamdefinitivamente afastados da li-teratura e da poesia. Fazem,hoje. parte do grupo tias curió-«idades artísticas, como a es-cultura ou a pintura musical,ou a música pietórica.

Repetimos: se 'bem 'entende-mos, o propósito do Sr. FerreiraGullar, e naturalmente o da es-cola a que se filia, é o de criarnovo modo de expressão, valen-do-se do elemento 'fonético e ai-gumas vezes até tipográfico dasletras, já que em alguns casosa simples pronúncia das «pala-vras» por êle inventidas é im-possível; são apenas conpoan-tes enfileiradas. Veja-se exem-pio nos versos seguintes:

LO MINÇA GARNE

Mm!Ra tetti mMà

Mu gargàntuFU burgeMU guêlu, MuTempu — iPtlLCIMULUISNADOvuGRESLE RR ARra Rra

(Pág. 119)

Respeitando o espirito út>pesquisa que possa haver nis-so, permitimo-nos duvidar queêle se baseie em conhecimen-to mais ou menos seguros deestilística, poética ou estética,Porque em nenhuma delas serápossível encontrar razão para«e chamar de poesia o que foitranscrito acima. A discussãodesse assunto, embora recente,ja foi exaustivamente feita porensaístas das mais .diversascorrentes.

Antes de mais nada, c pre-ciso reconhecer que a poesia,como toda arte, tem uma fun-ção social. «Só é reconhecidocomo forma de arte aquilo quetem uma função social consci-ente As fantasias de um so-nPador. não são arte. Só setransformam em tal quandopostas em música, formas oupalavras, isto é, quando revés-tidas de símbolos reconhecidossocialmente», < Ch r i s t opherCaudwell, «Studies in a ItyingCulture», pãg. 44). E' óbvio: sò-mente quando materializadanuma forma compreensível aum minimo d<. pessoas que seocupem de problemcs artísticos,pode a visão do artista ser con-siderada como arte, analisadae interpretada. E' imprescindí-vel a existência df? um pontode contanto entre o criador eos que vão receber a coisa cria-

O VALOR DA PALAVRA

da, porque a urte é, apesar detudo, uniu cumunicução.

Perguntamos: haverá comu-nicuçáo se o poeta escrevenuma língua que apenas file co-nhece, ou quando empobrece apoesia ao ponto do desfigura-Ia, reduzindo-a a um ou doiselementos apenas (no caso, o«om e ò rltmo>? Som e ritmosuo comuns também a música,não bastam para caracterizar apoesia. Entendemos que é apalavra, com o seu conteúdosugestivo, emocional, e associo-tivo, Indispensável à poesia.«Sem essas palavras, que evo-cam memórias, imagens, etc,poesia seria mero som» — éainda Caudwell quem o diz, co-montando a frase de Mallarmé,«poesia é feita com palavras,não com idéias». («Illuslon andReality», pág. 128). E mais adi-ante, no mesmo livro, o ensaia-ta inglês mostra o valor da pa-lavra no poema. A citação élonga, mas vale a pena:

«A poesia, como o sonho, temum contudo manifesto e umconteúdo latente. O conteúdomanifesto pode ser mais oumenos expresso na paráfrasedo poema. E' .a seqüência deimagens, ou as «idéias». Naparáfrase, o conteúdo latente,isto é, 4> conteúdo emocional,desaparece quase que completa-mente. Êle estava encerrado,portanto, não na realidade ex-terna simbolizada pelas pala-vras (pois essa foi preservada)mas nos próprias palavras. Oconteúdo manifesto é a poesiainterpretada racionalmente, arealidade externa do poema,que pode ser expressa de ou-tros modos e em outra língua-gem. Mas o conteúdo latenteestá naquela forma particulare em nenhuma outra.

.De que modo o conteúdo la-tente da palavra original .não éprovocado pelo -sentido da .pa-lavra, isto 4, pela parte .de rea-Iidade externa que a palavrasimboliza? As emoções não es-tão afetivamente associadascom a parte da realidade exte-rior simbolizada pelo conteúdo

WALTEISSIR DITR4

manifeHto, pois podemos repre-sentar cm outra linguagem ameuma realidade exterior, emesmo aaflim, não conneguirpoesia. De quo forma então ubpalavras originais encerram oconteúdo cmocionul «em simeamos», e não naquilo quesimbolizam? A análiae do «jo-nho noa dá a resposta: pela os-socioção emocional de idéias.Em qualquer associação deidéias, duas imagona catão sem-pre ligadas uma à outra poralguma coisa diferonte. Na poe-«ia, estão ligadas pola emoção».

Vemos por aí que o valor as-sociativo do palavra é indiíipen-Bável à poesia. Sem elas, o con-teúdo emocional não existi rio,e consequentemente, não have-ria poesia.

E' o que afirmam também,com outros argumentos, os es-tilistos espanhóis da escola deDomoso Alonso, como CorloeBousono. Depois de mostrar,em aeu livro «(Teoria de loExpresion Poética» (EditoriolCredos, Madrid), que a língua,como sistema inalterável, é In-capaz do «retrunsmissão verbalde um conteúdo psíquico quenosso espirito tenha conhecidoanteriormente» (sua definiçãopara o poesia!, Bousono provaque somente com a modificaçãoda «lingua» é possível obterpoesia. Tal modificação consis-te numa série de processos, quesão chamados substituições. Alinguagem direta, diz êle, é ocontrário da poesia. Em todadescarga emotivo deve intervirsempre um «substituinte» (ouelemento poético substituidor»,um «substituído», um «modifi-te» (ou reativo que provoque asubstituição) e um «modifica-do» (ou termo sobre o qualatuo o «modificonte»). Essateoria é, com outras palavrase mais detalhes, o desenvolvi-mento do conteúdo latente e doconteúdo manifesto, de Caud-weH. Substituinte e modificou-te-são-o conteúdo latente, sübs-titúido e modificado, o moni-festo. E' claro que, em -cadaum desses dois críticos, a apli-

cação do principio segue a res-pectivo tendência: no Inglês, éusado interpretutivomonte, e noespanhol, estilistlcaraente.

Bousono esclarece o sentidoquo dá aquelas quatro palavras,usando a imagem «mão do ne-vc». «Mão do» é um modlfican-te, poifl vai alterar o sentido de«neve», que passa a significar«bronca» — logicamente, «neve»é o «modificado», já que fora docontexto significa outra coisa.Essa mesmo palavra, conside-roda dentro do contexto e como seu novo sentido, é o substl-tuinte. E o substituído, final-mente, será a expressão comum,o sentido objetivo da imagem:mão muito bronca.

Poro atingir o fenômeno poe-tico, o Hnguagem necessito detodos esses recursos, essa sutilvalorização da palavra paraaproveitar todo o seu volor os-sociativo. Desconhecendo a pa-lavro e volendo-se exclusivo-mente do som, não estará o Sr.Ferroiro Gullar (e ob poetasde igual tendência) voltando auma espécie de linguagem dire-ta, porque sem nenhum valorassociativo?

A sugestão provocada por umefeito de som é Inteiramentediversa daquela de que é capazo palavra. O mecanismo psico-lógico que propicia o fenôme-no poético, não pode prescin-dir do associação, e esta só épossível (pelo menos em exten-são capaz de prrvocar «poe-sia») com o uso da palavra.Abandonar todo êsse sutil me-canismo, para ater-ne a doiselementos que (já o dissemos)não são característicos <da poe-sia, será fugir às regras funda-mentais do jogo, criar um outromodo de expressão, cuja po-breza -de recursos não permiteconscideror como arte. Faltam-lhe «símbolos reconhecidos so-cialmente».

Há em «A Luta Corporal»¦coisas que dificilmente se po-dem -considerar como tentati-vas de expressão. O autor ter-mina uma prosa poética, à pá-.gino 75, com o seguinte verso:

m MURAL HA"

SE

DINAH "Silveira deQueiroz criou eom "Fio-

radas aa serra" umverdadeiro poema fie

ternura c com "Margarida

La Rocque" uma ilha de de-mônios magistral, é com "A

Muralha", no entanto, queela se encontra a si mesma,superando todo ©que temescrito, num grande roman-ce ao qual não falta nem li-rismo nem pungénciã. Desdeo primeiro instante em que'Cristina, a jovem p> ometidaportuguesa, pisa o chão dosbrasas esses sentimentos vãocrescendo de tal forma quesó se poeta largar o livro aofim, com antecipada saúda-de e certeza de quem deixapara trás pessoas fatos ecoisas que merecem ser íesn-brados. A começar pelos ti-pus. luminosos e sombrios.

A narrativa, fluente o» asabe a boa cangica servidaem hospedagem de São Vi-cente de antanho ora a pos-ta de carne de anta assadaem braseiro de casa-grande;aqui vira cauim em festa deterreiro: torna-se adiante,,copa de vinho que brinda El-Rei e o paulistano desdenha:ali e aguardante minorando

STELLA UBQNjUUMM

dor crueiante; acolá bolachacompai tida na Bandeira,

Há tintas «naves, emas «violentas, de "saudade ma-chucada", amor, honra evingança. Verdes escuros de"funduras de sombra" t ver-dee-claro" eom a beleza no-va e alegre das ervas deDeus"; reflexos dágua "la-

rente de sol" c "águas tar-

jadas de borbotões sangren-tos". Cores <*.» um tempo emque o Brasil rezava "Santa

O ueara angaú recê" e asmulheres sofridas tinham desubstituir os homens e os ho-meus brandiam a espada

D E SEIOIDesejo de ser espaço,

ser mistério,

ser pensamento insondável,

ser sonho e

ser renúncia.

Desejo de nao ser nada

ser apenas

solidão.

NSDOVÁL REIS

com forca, como se suasmãos se houvessem tornado«to ferro".

Criaturas reais e imagi-nárias se confundem e se fi-xam pelas tapirapês rasga-das nas brenhas. ao longodas vilas e fazendas, nas la-vras e trilhas das minas ge-rais. O velho bander ante in-timorato de Lagoa Scaena eo famoso Borba Gato; o Leo-nel que incendeia o aidea-mento de Apingorá e o Ben-to Coutinho do Capão daTraição; a trágica Basílicacom sua dádiva sublime e omulheriu histórica que inci-tou os varões d-escorocoadosa revidarem os agravos dosreineis.

Por tudo isto: persona-gens, sentimentos, idéias ememórias, most ados comfôlego viril e sensibilidadefeminina, "A Muralha" émarco das comemorações doquarto centenário de SãoPaulo. Mais cjup um roman-ce é "o romance" de Pirati-ninga na época dos emboa-bas. Livro paulista, medular-mente brasileiro, que mere-ce aplauso no Brasil e res-tumáncia n*> mundu.

Oullnr gularrutfgltnnb frtr-Jwmxy,

Menino oonBidomdo no con-texio, nenhumu sigirtilcaçãotem isso — ó o jogo do absurdo,pina o simplesmente. Nada tema ver com poe.du.

Aceitamos os ütatorsócs sin-táticas, as alterações ortográfl-eoa c até a criação de palavras,desde que funcionalmente en-quudradus no contexto. Hà poe-sia, muitas vozes, num versoque foge a qualquer gramática,como nesto, dc doce acento ga-lego:q'ucl bixo s'esguoiruno assume

(ô tómpu (pág. 120;onde se pode ver uma tentativatíe reproduzir a fala coloquial,e ao qual ns nasais de 6* e 10*dão acentuada musicalidade.Não nos prendemos aqui aoconteúdo manifesto, mas ao la-tente; note-se a forço de «a'es-gueirano» (que sugere muitomelhor o sentido objetivo, seesgucirnndo, e ganha em recur-so fonético, com a perda do d),centro do verso. As alteraçõesdas palavras não v.s desfigura-ram, e realizadas com a finali-dade evidente de arredondar esuavizar o verso, ferma, portan-to, funcionais. Pena é que rara-mente isso tenha acontecido naexperiência do Br. Ferreira Gul-lar.

Tais experiências não se llmi-taram ao processo a -que nostemos referido até agora. Há nolivro tentativas de .prosa, varia-ções de métriso e ritmo, quebem mostram a verdadeira«luta corporal» em que se em-penha» o autor, .para encontrara sua forma: vão desde o liris-mo puro dos «Poemas Portu-guesea», até o palavrão, possan-do pela descrição quase parna-siana e um tanto rilkeana (Oanjo é grave agora. Começoa esperar a morte.) e pela pro-sa poética.

Uma dessas prtes de prosapoética — «Revelações Espú-rias» — parece-nos cheia de ai-tos e baixos. Há momentos emque a força lírica do autor con-segue -«carregar de sentido aspalavras», .realizando assim oque .Ezra Pound considera «a-eencial à .poesia. 'Outras vezes,porém, éle apenas repete umafórmula, põe era prática umatecnifca, aprendida talvez comliautreamont. Usa recursos quevisam deliberada mente a pw>-vocar reação do leitor: -«O teunenre está inscrito na partemais úmida de meus testículossuado»; inventor, pretenciosojogral dum tempo de riqueza *previdências ocultas, cuspo dia-riamente em tua -enorme •curioea mão aberta «o jht de«empre nntens hoje ficados pelahipocrisia das máculas vincula-•das nos artelhos de algunsplawtígrados sem denodo». \Vc-*e neste trecho a preocupaçãode usar.determinadas palavras,quase «m amor à palavra di-f ícil ou bonita. Iss* snão «con-tece com os "trechos idas pági-nas 74 e parte .da página WS,ate «que queima os ^ossosseamn-ca a pele». Já no paráguato-se-guinte, decai a força expressiva.Algumas vezes isso é provocadopelo uso excessivo dos adjetivosquase, todo o substantivovem precedido de qualificativosque não apresentam Hgaçãomanifesta com o que qualifl-cam. Processo mais ou menosidêntico ao usado per Neruda.

Quando se despreocupa dasatitudes e.dàs escolas literáriasé que o Sr. Ferreira Gullar rea-liza a mesnor poesia de «A lutacorporal». São os «Sete PoemasPortugueses», por exemplo, ou«A Pala», que dão a medida dopoeta.Apesar de- não fugirem às vê-zes a um linguajar que pareceser mais ou menos comum aos

poetas que vêm estreiando, des-de -há algum temso, aquelespoemas se destacam pela segu-rança, com que o autor dominao rumo, pela. contenção verbale pela procura da expressãojustar Acontecem, vez ou outra,coisas como «penumbra do im-possível» (pág. 12). ou «rio so-litano», (pág. li) maS seria in-justiça nao atribui-los à inex-penencia do poeta; iá que fo-ram escritos em 1950 os «Poê-mss Portugueses».

Em resumo: « Sr. FerreiraGullar é um poeta cujo talento* corre o perigo de perder-se emexperiências Já superadas ouem atitude literária. «A LutaCorporal», porém, como livro deestréia, nãe pode deixar de im-pressionar.

Remessa df livros: R. Barãoda Torre, GO*, apt. 4 (Jíio.J

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Tcrça-rolri, 11-5-1954 LETRAS E A RT li S iPaa.n.» — 5

EBTUKl.AS-DO-MAl.

Com«aa* cores: vciim-iiuu,roxo-verdts, usuütUOK.At amarelãa sc dão

«amo flores, Raiam, ae en-trançara ou eniprayam; ade-rem, ecpotalas, à parede-, aochão, à folhagem. Uma po*de ter portadas espigas, maoaba ta, fronde. A cinzentaprodus gestos. Remove-se:sinuosa, altera bébe-aa mentem pontas — roda viva dopernas.

O urslnho, "ouriço-marI-nho", pasta algas e espinhaaté as pedras.

Peixes de olhos de boi cestrias de ouro espairecempor entre as alfaees-do-mar.Ulvas. A corvina negra: o«•peixe-côrvo".

As conchas são os ossos dooceano. Dispo so esqueleto,desvago. Cones, volutas, ver-tfces, lamelas, escudelas. A"madrepérola" pava, colibril,faiança de aurora. A conchae o ouvido — mugem.

Onde está uma concha es-tá o fundo do mar.

A "enguia" traga água co-mo se vomitasse. Seu gritomodo» da engasga- bolha. A"moreia", tigrina, desenha-da, canibal de demônios den-tes. Sanguessugão despeda-eador: a cruel palidez piam-bea do "congro". A "arraia":nm pano cinzento que tenta«Konder longo ser ote fino.«Coral amarelo" — de âm-bar? de árvore? de ouro?

As "lulasV, a serviço deseus alhos. O "calamar",longos narizes, três vezescompenetrado. Mariscos ine-rentes, mitilos presos: Mme-xilhões" que sedentarizam.Um bicho bivalve. conquHh»entre tâma a e barata, esca-va para si um leito rochoso,estrito estôjo. Limeas, les-môes e caracóis, de cocléiasvárias.

O caracol: babou-se! (Saide sua escada residencial).

Tartarugão, **tartaru ga":semelhando-se ensopada, co-sida. Bicuda. Circula, comborbol d'água, mma. B. acc-Ja: anjo gordo. E quase uneas palmas das mãos atrás,às costas, de tanto queaplaude. Aporta contra o vi-

AQUÁRIO(NÂPOLfi S)

dro sua basculante rotundi-dade, volve-se e exibe oabaulado quelão, de gomossextavados. Sobe e desce —é um esvôo chato. Completa-mente desterrestres.

As "séplas", embriagadascoloristas. O "peixe-ax.dori-nha", ás ruflas. O "peixe-ca-tapulta". O Mcão-do-roar". O"pebee-capão", que tem da-dos e anda no chão. Todossão bocas que se continuam.Su gem.

Só não existe remédio cpara a sede do peixe.

O "ovo-do-mar" vibrasuas lâminas: e transfigura-se em arco-iris. Desata-se, translúcido, o ctenófo/o"cinto-de vênus" As "sal-

pas" são mínimos potes na-dantes. A "anêmona-mari-nha", em descabelamentochoroso: crisântemos dobra-dos, repicadinhos, saindo deum boião. As «holotúrias»,como pepinos Umas bolotascôr-de-rosa": as "algas" cal-cáreas.

O claial de ostras comes-tiveis. Um camarâozúthodiáfano se acerca, com ga-rupa. A ostra clapa as vai-vas. Ela é um mingauzinhomuseulado, zangado, capa»de impaciência e vigilância.

O dormir do peixe é aágua que se descuida.

Lauta lagosta maneja umcompasso. "Caranguejo" osci-labundo, suas cravas se exa-geram. Tem alma centrípe-ta, num corpo ainda centri-fugo; resultante: latéra, re-cua. A lagosta "palinuro",esgrimista, os pés movendo-se sucessivos, caria qual. O•«homardo-homar", "astaco","astaz" — se esqnece de de-sinchar e> fechar as pinçasdisformes. Cavático. corre aesconder num buraco sua eo-mida, como um cachorro.

|. GUIMARÃES ROSA

O caramujo no seu ujo, ecaranguejo, ejo.

De canudos e vasos, des-pontam os "tubicolas", finosfeixes de animais-plantas.Um, capim verde-claro, vivebelíssimo. Outros, guclras es-car Iates, penugentas riscas.O guarda do Aquário intro-dui na vasca uma vara, etoca-os, feito se apagasse asvelas de um altar: um porum, todos se somem, se- :e-colhem, num átimo, reen-traiu em seus tubos.

Chata, coágulo de barro,bordada de algas, semioeul-ta, sò dentes e boca e fixosolhos autônomos, colocou-sea "rã-pescadora" — que é o"diabo-martnho" — o maishorrendo peixe. Imagem daespreita assassina. Simulan-to talos vegetais, erguem-sede sua cabeça hastes mem-branosas. que ela desfraldapara atrair os peixes passa-rinhos.

Mar: o limite de liberdade,cria em cada canto um car-rasco. "

Empina-se o "hipocampo",delgado cavalinho enxadrís-tico — cavalo do rei cinxen-fo. Perfila-se, sem patas,brinquedo de papelão, na-dando vertical. Sob certo sol,visluz em verdico ou azul.Quatro anéis na cauda dededo mindinho, Segura-senos ramos de coral e nas ai-mas, com seu rabico rijo, ex-tremidade em aspirai."MadVéporas" jazem., sés-seis margaridas ouro-alãran-jadas, outras alvas, jogadasno fundo. A "p^as-do-mar"iguala a uma escova, a umaestrilha. Se a irritam, no es-curo, fosforeja: sua raiva éuma htzinha verde.

O poço nunca -é de um pe*-xe: é de outro peixe maisforte.

O "salmonete" quase furaa lona; mas prefere pò>.' ape-nas as barbas de fora, parasaber o que há no ar.

A "solha", focai, sempreperplexa. O "peixe-aranha",semi-dragão, soterra-se tal,na areia, de onde só seusolhos sobram, fins de douburacos. O "peixe-pavão". O"peixe-anjo". O "peixe-na-valha". O "peixe-donsela". Kum pira leproso, ba.bado eesbugalhado, sujo de verme-lho, chamado "escorpião-porco"; e que é a mesmaperfeita rascassa das "bonil-labaisses.

O peixe vive pela boca.* Só sc o sol avança — dasdoze ás duas — é que se en-xerga algo no claro compar-timento onde as "medusas"filmam-se. Pseudas, vanvis-tas, elas se desenraizam. des-lastram-se, pairam água aci-ma. sedas; há-as entre-vio-letas, idem vermelhas, fanto-máticas, translunares Ar-mam-se* de transparência.

Caido mestre no fundo, o"•polvo" faz que dorme. Co-lou-se ao corpo de uma pe-dra, seus tentáculos eingin-do-a. Como uma nuvem eôi-fa um monte, Mas é uma bo-Ia ou bexiga, gris, eom doisolhinhos. Longe dele e ali-nhavando-se, perpassam pe-queninos peixes na águaociosa.

O guarda vem eom a pon-ta da vara, cotuca-o. Mexida,a mucosa massa se aquece,frege, num plexo —- simul-tâneas cobras revoltas Des-mede-se por membranas,fingindo estranho molhadomorcego. Com ar medonha-mente irritado, o monstroo!ha. Quase se pode ouvi-lo:chiando de ódio pobre.

O guarda InsMe, wp»-caça-se. O polvo põe mãos a

1—

A obra de arte é pro-duto cie um orgulhomaior. A humildade é asua mais subversiva ini-

miga, ao mesmo tempo queé a prova mais cabal da in-consciência do artista cria-

.2 O verdadeiro artistanão pode ser humilde. Êle e oúnico sêr humano que geradeuses no ventre privilegia-do de Deus.

— Para ser homem nãoé preciso ser poeta. Em com-pensação, para ser poeta, nãoé possivel ser simultânea-mente homem e Deus....

— A obra de arte nasceda necessidade que possui oartista de ultrapassar a suaprópria contingência humana.Êsse afastamento o iguala aDeus, colocando ambos nummesmo pé de vaidade in-tr ansponivel.

— A grande obra de arteé aquela que não é nem na-cional, nem universal, masa que traz em seu bolo tantjo intemporal, como o espa-ciai transcendentalizado.

— SO è obra de arteaquela aue ultrapassa todasas fronteiras impostas peloservilismo humano.

— Se no principio «rao -caos, agora é o momentoda Morte. A Morte é o temapropicio a poesia dos nossosdias. O poeta è aquele quemorre acima do som.

-8 — Não acredito que opoeta seja. apenas, ura ho-mem. O poeta é mais do quehomem, pois êle também«'cria" do nada e â sua pró-pria configuração ..

— fjqn poeta não se en-trega. Transmite, Toda a suamensagem esta naquilo queêle mesmo não ousou captar.

10 — A obra de arte, parao artista autêntico, é ummartírio muito maior do que

ANOTAÇÕES E SU-POSTOS AFORISMOS

REYNALDO BAIRÃO

suportar a própria vida, serc- poeta um cansaço tão in-me igual todos os dias. Tal- tenso, quanto o que, .sentiuvez, por isso, o ato de "criar" Deus, após os sete dias da

produza principalmente no creacao do mundo.

11 — Nunca se nega ou re-nega um livro Relega-se, pa-ra o segundo plano, o livrojâ publicado, quando uma

¦__^__^__^__^_^_^_i_^_im__^_^_i_W_f_JH_J_l1r_l_Bf_B_W

wmmx 4. ^JV_ vHE 5**/ Cp tSk_. ._*_P d***, _^F » mflUà)|y^rf-srr li Ê mm W

Vinheta de Santa Rosa

POEMAOUE SABEM ASí-LUZES ALEGRESDAS CACHOEIRAS CANTANTES?

QUE SABEM AS ARVORES ALTIVASDO PEQUENO POLEM TÍMIDO?

QUE SABE O CÊU - _¦DAS NUVENS QUE POR ÊLE CORREM?

QUE SABE O PÁSSARODO NINHO EM QUE NASCEU? l

OUE SABE O SOI, ,DA POEIRA DOURADA Q-rffi-pa-W?A «tf

l__.Ua BitA<J08T

QUE SABE O FILHODO PAI?

QUE SABE O HOMEMPE DEUS?

REGINA BRANDÃO

cabaça e muda ás eis. ümUta-se embora: em Jogo dojactos, muscular, avança vo-euando, simples série de sal-tos; e derramou seu tintriro_

Mesmo veio encostar-se àparede de vidro. Confia que-rer espiar oa visitantes. Bil-ram seus braços, cobertos dobotões -acatados ou cruasrodelas; endobram-se aspontas, earaeelam. Pregas horepuxam, desvendando teu-das. Sombras. Saindo de umsaco que pulsa igual, abre-se e rciclul-se, esficterina, aboca: tubo amputado, cotode traquéia de um degolado.

O guarda lhe traz comida:abaixa no compartimentoum earanguejinho, suspensonum cordel. O polvo perce-beu-o c se pr»i».ipita, eom es-lance de cobra, no se-rasgarde um guarda-chuva ao te-chaT-se. _ já envolveu o ea-ranguejlm, guio, em hcrriveldesaparecimento.

Porém outro vulto, subin-do-se de algum antro oo an-fraete entre as pedras, guer-reoudelá, bruto, rápido, fie-eho no disputara presa. Osdois se opõem. Esbarram-se.Cada nm adianta um tenta-culo, prendem-se que nem de-dos que se engancham. Podiaser uma conversa. Desde-mente, se entendem, «»epa-ram-se. Um, ou uma, so atas-ta — nadando: cometa sembrilho — deseai. laxo, lapso,escorreu em sen esconderijo.

O outro se exercita, arre-panha suas partes,' sacodeaquele desg«ém serpentifor-me, o papudo perfil de peli-cano. Dado â água. nada, fo-foca, vem lulanrto. Cerra-se.Vai unir-se aos blocos depedra da parede, cuja coradota.

Mal um pouco, porém, denovo se alerta, estreblotico,esclérico. Reenrenda-se. Seusapêndices lutam entre si,dançam verrugas e ventosas.Palhaço, vai tocar guizos.Despcgo. Oscila, como sevento o estirasse E, para quetudo recomece, retorna à fa-ce do vidro. Um olhar senme queimou.

A água, verdemente.O polvo tem vários cora-

çôes.

nova obra está em gestação.12 — yuundo o momen oo

é chegado, o poe Da se alas-ta. E é nesse isolamento queesta o principio da sua con-'dição.

13 — Assim como nós ve-mos através de ura espelho,o poeta !$j0. através dos ob-jetos. Para êie, nao lia mis-terio concebivel ou inconce-biveL Sò e mistério a suaprópria saturação.

14 — Para o poeta misticonão ha solução possível. Asua sorte já foi, antecipada-mente, traçada por alguémque cKí desconhece .

15 — Todos ignoram por-que o desespero do poeta .ocada vez maior no mundoque vivemos... No entantoninguém ignora o desesperoque o sol nos traz quanetoestamos passeando num ce-mitério antigo...

16 — O artista é um esco-lhido. Êle tem o direito tíedizer tudo que sente é morrea cada instante ao sentir quepossui êsse direito divino.

17 — _ o poeta aquele quebusca a vida perdida íusta-mente com o nascimento decada um. Sua obra e umacontinua oração e a sua con-dição é a do sofrimento con-tinuo.

18 — A poesia, antes demais nada, se limita a mu-sica e à confissão. O poetaé o andrógino oue tantas ve-zes se engana por prazer, sa-bendo que o resultado seráo conhecimento através aoAmor.

19 — Só existe poesia ondeexiste solidão. Entretanto asolidão é um dos "process ;s"do poeta, jamais a finattda-d<» da sua obra.

20 — Ser poeta é ser umcondenado para o resto GaTida. Talvez, por isso êle res-suscite cada vez mais m'-' •>ao terminar o poema maisbanal

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Página — 6 LETRAS B ARTBS Terça-fofra,J 1-5- I9S4_

NOTA SOBRE A LI-TERATURA NOR-TE-AMERICANA

LL UJiaSyWUBB"i»

CLARENCE DOüMi

história da literaturat\ noite-amerlcana é a

JLx historia do afasta-inento lento da as-

eendência inglesa e da cria-çuu ae unia iorma de expres-sao muito diterente daquelada Inglaterra ou da Europa.

Deve ser lembrado que,nos seus primeiros 180 anoscie existência, a America doNurte pouco mais era queuma estreita faixa de terralocalizada entre o oceanoAtlântico e as montanhasApâiaètiés com uma popula-ção de apenas cois milhõespura as suas treze colônias.

A grande tarefa que coubeao povo foi explorar, esta-belecer e desenvolver o vas-to território alem da costa.Antes que existisse uma ver-daüeira literatura norte -americana, o povo teve queformar nova mentalidade degoverno, enfrentar duasguerras e abrir novas fron-teiras, em direção ao oestee ao sul.

Eis porque, até 1820, hou-ve tão poucas obras litera-rias nos Estados Unidos. Everdade que existiram ospanfletos políticos de Tho-mas- Paine, os sermões deCotion Mather e JonathanEdwards, os poemas de PW-lip Freneau, os documentoshistóricos de John Smith edo Governador Bradford, eos trabalhos de BemaminFranklin. Mas tais obras fo-ram produção ocasional dehomens cuja atividade prin-cipal não era a literatura, eo tom de seus escritos era es-sencialmente inglês.

Entretanto, o fim da guer-ra de 1812 trouxe modifica-ções dinâmicas para a vidanorte-americana, as quaiscriaram um sentimento deromantismo. Poucas épocasda história do pais foram tãorevolucionárias quanto o pe-ríodo de 1815 a 1870, que viuo nascer da democracia deJackson, o início da indus-triaiização, a Guerra Civil,e o desenvolvimento da ur-banização.

Pode-se dizer que a lite-ratura norte-americana co-mecou naquele perioclo, como chamado grupo Knichbo-cker, em New York. Os au-tores famosos desse grupoeram Washington Irving ospoetas William GullenBryant e Walt Whitman, eos romancistas Herman Mel-ville e James Fenimore Coo-per,

Foram esses os primeirosa escrever sobre a vida nor-te-arnericana. Irving tornou-s? famoso com duas de suasosras, "Rip Van Winkle'*, e"Tue Legend of Sleepy Hoí-kw". que passaram a fig ti-rar entre os clássicos norte-americanos. Eryant deixouspus poemas sobre a viíacampsstre dos Estados Uni-d'ís. Jamès Fènmiorè Cooperuscu como tema a reciãobravia do pais e os índios,na sua serie "Leather Sto-c!an°s". Melville em "Types"e "Moby Dick" escreveu sô-bre suas aventuras no mar,em navios norte-americanos.Walt Whitman. consideradohme como o mais oriràvajdos ooetas norte-americanos,cantou as belezas do seu paisem "té. ves oi Grass"

Ao mesmo tempo, na MovaInglaterra, surgia outro eru-po de autores, cuias obr~stomavam rumo diferente dasdos seus contemporâneos deNew York. Os escritores daNova Inglaterra . foram in-

fluenciados pela herarça teo-lógica do tuniamsmo, e osmais destacados membros dogrupo ioram os ensaístashaiph Waido Emerson eHenry David Tuoreau, ospoetas John Grenieaí Whit-Uer e Henry WadsworthLongfellow, o romancista Na-üiamei Hawthorne, os his-toriadores Bancroft, Park-man e Prescott, e os huma-nistas James Bussell Lowelle Oliver Wendell Holmes. es-ses autores representaram osdiversos ideais e pensamen-tos do seu tempo, e em suamaioria íigürain a crua rea-lidade da vida á procura dabeleza, nos sonetos, na reli-cião na filosofia, e nas maisMm tradições.» No en-tantp, o grupo da Nova In-glaterra trouxe verdadeiragrandeza e riqueza para a u-teratura norte-americana, e.fez da Nova Inglaterra a ca-pitai literária dos EstadosUnidos, por muitos anos.

No entretanto, surgia nosul um escritor que, por suasobras, não se incluía em ne-nhum dos dois grupos. Eraêle Edgar Allan Poe, poeta,critico, e criador do gênerode "thriller", histórias demistério. Poe instituiu seumundo próprio, e foi um dosprimeiros escritores norte-americanos a ser lido na Eu-ropa. _. .,

No fim da Guerra Civil,em 1865, a região oeste dosÉst. Unidos, vastas planíciese montanhas além do rioMississippi, foram abertas pe-los desbravadores que atra-vessaram a região a cavaloe em carroças. Êsse aconte-cimento teve influencia re-volucionária na literaturanorte-americana. Bret Har-te que escreveu sobre a cor-rida do ouro na Califórnia,e Mark Twain, que falou desuas experiências no Missis-sinpii deram um golpe mor-tal nos autores aristocrati-cos dos Estados do leste. Im-ciaram o culto do regionale lançaram as bases de umaliteratura verdadeiramentenacional. Com Harte e MarkTwain começou a época co-nhecida como a Era Doura-da, que viu crescer as nove-Ias curtas e estabeleceu amoda de obras de côr estri-tam ente local.

Os autores realistas daEra Dourada vieram de mui-tos outros lugares dos Esta-

' dos Unidos, além do oeste.No sul, Thomas Nelson Pageescreveu sobre as plantaçõesda Virgínia, Joel ChandlerHarris produziu historias de-liciosas do "Tio Remus" daGeórgia, e George Washing-ton Cable retratou o roman-tismo da. vida crioula de NewOrleans. Outros autores co-lhiam mate^il de fontes di-ferentes. como o Tennesseee Arkansas. No meio-oeste,em Indiana, James Whit-còmb Rilev tornou-se o poe-ta laureado da região deHoosier. Na I* ova Inglaterra,William Dean Howells escre-vou pecmenos estudos sobreproblemas sociais, e no fimdo século, surgiram novosmovimentos com Ste^enCrane e seus brilhantes es-bocos dn vi,9 n^s corti"os.e c°m Frpn!ç N^rris, oue *ededicou ao romance sócio-lógico

De 1900 em diante a lite-rptura norte-americana re-fl^tf3 as mui^-s miid'rs"r>.<;rft/rtfrios ene tiveram lu^arnos F^rx^nç fTnidos ^iTar.te

(Conclui na JO,* pãg.)

Não teve ainda momentos felizes T Além ^de tudo, pintor; - N& é res

ficado por não ter desenhado com tinta da Clima - Q yerdatleiro cnaclrecompensado com injurias e esbulha — A ites d<

SCmCmI i.^..».^ «.->. +*!+n+-+~»-*t-*«—'**4r~+ifi>.*~ft»r¦»»><»,¦ t--t.+.*~

NAO

afirmarei que gos-taria de terminarmeus dias nesta

grande casa de Auteuil umadas primeiras obras do ilus-tre arquiteto; o que é ver-dade, entretanto, é qúe, ali

passei horas bastante agra-dáveis. Uma fachada todade vidro, jardim suspenso

que domina toda Paris; notérreo, o atelier do artista;nas paredes, vários qua-dros; círculos e olhos, tri-ângulos e outras figurasconfundem-se. Sentimo-nos,com emoção, voltar ao bomtempo do velho cubismo.

E' o pintor quem me re-cebe. Não esqueçamos queeste arquiteto, urbanista,mecânico — cujas constru-

ções audaciosas têm surpre-endido o mundo, enervandouns, escandalizando outros— não cessou de fazer pin-tura. Uma exposição, noMuseu d° Arte Moderna, desuas telas, executadas de-pois de 1920, mostrará aosparisienses que a atividadeartística de Le Corbusiernão foi, jamais, para êle, umviolino de Ingres.

— A luta em que me com-prometi de 30 anos a estaparte sobre o campo de ba-talha da arquitetura e dourbanismo não me impediude dedicar todas as minhasmanhãs à pintura. Destarte,espero que esta exposiçãoretrospectiva torne evidentea relação estreita, existenteentre minhas pesquisas pie-tóricas e minha atividade deconstrutor.

Que evidenciará ela?Simplesmente que sou,

em princípio, nestes diver-sos domínios, um inventor.Se, em meu caso, o arquite-to e o urbanista adquiriramvirtuosidade pouco comum— parece-me poder empre-gar a palavra, pois não? ten-do em vista que meus pró-prios adversários reconhe-cem, em mim, esta qualida-de — é porque o Artistaque sou é, por excelência,um pesquisador de formas,de combinações, de relaçõessempre modernas. Este há-bito de meus olhos e de meuespírito me dá um paren-tesco com os acróbatas.

Um acrobata: o termotornou-se quase um lugarcomum para definir o gêniodos pesquisadores de novastécnicas, qner se chamemJPicasso, Le Corbusier ou

ikí\tT

tJ

este profissional da inven-

ção poética que é Cocteau.É, antes de tudo, um poe-

ta que o biógrafo Maximi-üeu Gauthier percebe emCharles-Edouard Jeanneret,chamado Le Corbusier, nolivro generoso, sem deixarde ser penetrante, que lheconsagra.

Neste livro, encontramo-lo em La Chaux-de-Fonds,onde nasceu, nesta regiãode montanhas, onde todosos habitantes, como já no-tava Rousseau, sabem de-senhar, pintar e calcular.É onde êle constrói sua pri-meira casa, no mais puroestilo 1900; seguimo-lo aParis, onde descobre o es-pírito moderno, quando Au-

guste Perret, o apóstolo doconcreto armado, o anima-va, em 1908,dizendo: «Serásmeu braço direito». Depois,é a viagem pela Europa,saco às costas; vai até aÁsia Menor. De regresso àsua cidade natal, trabalhadurante seis anos e a deixadefinitivamente em 1917.Já em 1919, é presidentefundador e um dos direto-res de «L'esprit nouveau»,revista internacional de ati-vidade contemporânea, on-de, sob o nome de Le Cor-busier, começa a desenvol-ver a doutrina de uma éticae de uma estética contem-porâneas.

AMIGO DE NEHRUAssistimos desde então

ao desenvolvimento de suadoutrina pessoal, como sepode encontrar em diversasde suas obras: «Vers unearchitecture», «U r b a n i s -me», «La ville radieuse»,«Quand les cathédrales étai-ent blanes», etc. Vemos,'en*1fim, as construções moder-nas, de acordo com suas teo-rias, elevarem-se em Paris,onde constrói em 1927, oPavilhão do espírito moder-no, na Exposição de ArtesDecorativas, em Moscou,em Anvers, no Rio de Ja-neiro. O biógrafo o abando-na em 1944. Mas as «má-quinas de habitar» conti-nuam a crescer por todomundo. Em 14 de outubrode 1942, a inauguração dafamosa comuna vertical, deMarselha; o plano diretor,de Bogotá; em 1951, têdauma cidade em Pendjab.Chandigarh, segundo sua»*concepções, com o assenti-mento de Nehru? "tue se tor-

nou seu amigo; a segunda«unidade de habitação»,sendo construída em Nan-tes; o Museu do conheci-mento de crescimento ilimi-

rabalhoríar, éôrto, d<São é u

pria

J GABRIEL {?'|AUEtado, em Ahmedabad etc. ^o cria

— Acha-se no ponto cul- teguro,minante de sua carreira. Re-i ç^n.vendo-a, quer nos dizer Picas?

Le Corbusier. n«i« desenho

quais foram os seus grandes procimomentos?

Pensava nos momentosdecisivos; talvez, porque fe-

licidade seja uma das preo-cupações constantes do teó-

rico da cidade radiosa, conv

preendeu a pergunta em oú-

tro sentido.

CRIADOR - FARSANTEOU LOUCO .

— Os momentos felizes

de minha vida! Existemhistoricamente, materiajmente não os percebo. P^

so meu tempo num duro la-

bor, propondo algumas idéi-

as sãs e, em recompensa, so

recebi injurias e mais ain

da... Vida de burro de car

Jfm*--

resulêle ksidopergimomíuepi*ecisas;

tivara

í .p<f evoc

i tânda láj)VÍ

siàstimedatocora

wJÊfrga, de manhã à noite.vida honrada de um invenv ção

tor, a vite de alguém cojíjdep

mm "

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PB»**- ,^i*i#»»i~l|—aw~

Terça-feira, 11*5-1954** .*

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LETRAS E ARTES Pógins

- - , , «,- ¦ i » ¦ i | t-t—————*——in» niiiii nm ~~~"~~ I

ÍNDIOS romanescos

itoi; — NsfiS responsável pela sede da ONU — Emverdade^ criador é sempre taxado de mistificador

Diilhtí —A.tes de tudo, um pesquisador de íormas

! a segunda wbalho í no sentido de anos, seus planos, refeitos

habitação», ríar, é votada ao descon* sete vezes, foram, em 194-,

Ia em Nan- ôrto, do princípio ao fim. rejeitados pelo Conselho

do conheci, ^ão é um paradoxo, mas M u n i c ipal, impressionadoimento ilimi- J^pria condição do traba- pela campanha da ímpren*

?IEL D>[Ã U B A R £ P E«labad etc, Wo criador. Picasso, estou

io ponto cul- leguro, lhe dirá a mesmacarreira. íie-i tgjga.

Picasso passa seus dias anos cli/.er

*<i /^ _T N ^™i^j^_ií\

• _f ' / JÊà f\m f<%» ,0* 1 ^g_g~*gB^~^*l

sa. Mesmos combates, mes-mas decepções finais emAnvers-rive gaúche, em Es-tocolmo para o plano de ur-banização do quarteirão.

Norrmalm, em Buenos Ai-

res, esta cidade que, semurbanismo corajoso, é umacidade sem esperança, e, en-fim, a sede da ONU, emNova Iorque, em 1917.

NÃO É RESPONSÁVELPELA SEDE DA ONU .

Surpreendo-me, pois acre-ditava, como muitos, que opalácio da ONU havia sidoedificado segundo planos deLe Corbusier. Êle protesta:

Gênova, foi desclassi-ou louco — Trabalho

projeto de urbanização deParis. Que me diz? QueVersalhes não é, porventu-ra, o triunfo da linha reta?

— Se se quer.- Mas, vol-tando à sua própria teoria.

i

uma das preoistantes do teole radiosa, comlergunta em o

Os

orbusier> num desenho de Roger Wild

os seus grandes procurar, a inquietar-se;resultado: decretaram ser

nos momentos êle louco ou farsante. Teria

lvez, porque fe- sido melhor se me houvesseperguntado quais os pioresmomentos de minha vida,íue os tive, acontecimentospi*ecisos, surpresas doloro-sas; não teria, senão, o em-

-rtbaraço da escolha.— FARSANTE , Por isto mesm0 êle osLOUCO £ I e^oca Foi ertl 1927, o es-

omeníos feüzes | -uidalo do concurso para o

vida» Existeroiplácio da S.N.D., em Gê-

nte materiajfc>va, cujos planos elabora-

3S percebo. ?mm por Le Corbusier entu-

no num duro ia- siàsticamente, foram, no -I-

iò álgomas idéi- «»• «">ment°- afastatd.os&" da competição sob pretex-

to de que não desenharacom tinta da China. Há.

-nbém, o caso da constru-

ç?,o dos altos de Alges, onde

sot recompensaias e mais ain-

!e burro de car-íhã à noite...Ia de um invende alguém cujoldepois de «ma luta de 15

— Erro! Esperei, sim, fa-zer o trabalho ou, pelo me-nos, colaborar com meus co-legas americanos. Alegrei-me com a idéia desta cola-boração; fiz um bom plano:o esboço 23-A, mas no mo-mento de passar à ação, fui

posto de lado. Se, mesmoassim, houvesse feito algu-ma coisa de admirável!...

"Sou obrigado a repetir de-ciaração feita: «Sou estra-nho à natureza arquitetôni-ca que se realiza atualmen-te em East-River. Declaro-o, porque muitos pensamque o palácio da ONU éobra minha,

— Suas desditas são nor-mais em todos os artistasrevolucionários. Ainda mais

para quem pesquisa numdos campos onde as pessoassão naturalmente muitoconservadoras, pois que se

trata do lugar de moradia,dos hábitos que lhes sãomais caros. Não deve sur-

preender-se nesta matériase inquietam ou se escanda-lizam.

— Mas, ao contrário, es-tou na tradição mais autên-tica! Não falo desta tradi-

ção em nome da qual asacademias perpetuam meto-do, que eles salvaguardam,em pintura, contra Léger,Gris, Braque, Picasso; emmúsica, contra Satie, Ravel,Strawinski; em poesia, con-

tra Mallarmé, contra todosos criadores que estão do

lado da vida e pesquisam.Não falo nesta tradição quecontinua dizendo que «acurva é francesa e a reta,alemã», proferida por ai-

guns. a propósito de meu

O HOMEM É UM PRODU-TO DO SISTEMA SOLAR

— Falou-se em moradia.Nada mais fiz, ate hoje, se-não trabalhar para restituira esta palavra seu verdadei-ro sentido. Pondo, por exem-

pio, no projeto de Marselha,a cozinha no centro do edi-fício, nada mais fiz senãodesenhar o alinhamento darua e orientar-me cósmica-mente, em relação à luz so-lar. Louis de Broghe escre-veu: «O homem é um pro-duto da energia solar». E*um dos princípios funda-mentais da minha doutrinaarquitetura!. Na França,

porem, as idéias novas, mes-mo as mais simples do mun-do, levam cinqüenta anos

para se imporem.

Como todo contrutor ;cônscio de seu papel social,o arquiteto deve ãdaptar-seaos novos problemas pro-postos por sua época.

A comuna vertical deMarselha, Le Corbusier nãoo ignora, para muitos é ain-da «A casa da fada», maisisto pouco lhe importa.

— Não se pode conven-cer a todos e encontro-menuma idade em que se per-de o gosto de discutir. As

palavras interessado e de-sinteressado não têm ne-nhum sentido para mim,

porque tudo que faço, faço-ocom paixão. Espero ter fei-to, em Marselha, obra útil,é tudo.

Imagino a luta que seteve de manter para importais planos.

Sim. Passei cinco anosem grandes esforços. Eracabala sobre cabala. As

companhias de seguros nãonos garantiam; retardos e

mais retardos. Estávamosno sétimo andar, quando oComitê superior da higieneinterditou o trabalho. En-fim, contra ventos e mares,a casa foi construída; no fi-nal, fiquei estupefacto emvista da fama desta obra.Diga-o com toda a simpliá-dade: o imóvel de Marselhaê um acontecimento na his-tória da arquitetura.

BRITO BROCA

O

trabalho recente deaiguna pesqulaadurea,estudando a obraquase desconhecida

do escritor mlneiro-baiano,Lmdolío Rocha, vera mos-trar-nos que em 1907, quun-do já nenhum vestígio de In-dianismo restava era nossaliteratura, não hesitava êleem voltar ao assunto numromance de nao pequenomérito "Iacina".

Mas o que ainda esta porlazer é um levantamentocompleto do indianismo naficção brasileira. Os historia-dores literários destacamapenas José de Alencar eBernardo Guimarães, esque-cendo-se de assinalar que otema constituiu uma verda-deira moda em certa época,tornando-se objeto de va-rias obras que, embora desegunda categoria, possuemvalor documentário por tes-temunharem o predomíniode um estado de espirito.Basta dizer que até um escri-tor português, Pinheiro Cha-gas, sem nunca ter vindo aoBrasil, escreveu um roman-ce indianista: "A VirgemGuaraciaba".

Os romances indianistaseram geralmente históricos,reunindo uma tendência uni-versai do romantismo a umatendência especificamentebrasileira, ou melhor, amer-ricana. Foi o que fez Joséde Alencar no "Guarani", em•'Iracema" e "Ubirajara',Bernardo Guimarães no "Er-mitão de Muquem" e no "In-dio Afonso". Pois na mesma.época, um mineiro, JoaquimFelicio dos Santos, que con-quistaria um lugar na histo-riografia brasileira, pagariatambém um tributo à moda,seguindo idêntica orientação,npm romance hoje comple-tamente esquecido, emboraquanto ao mérito literárioficasse mais ou menos noplano dos de Bernardo Gui-marães. Quando lançou esseromance, intitulado "Acaia-ca", em 1886, Joaquim Feli-cio já havia começado a pu-blicar no jornal "Jequitinho-nha", por êle funiade emDiamantina, os capítulos das"Memórias do Distrito Dia-mantina e da Comarca deSerro Frio", obra de grandevalor histórico. Ora, "Acaia-ca", não é nada mais de aromantização do capítulo IIIdessas "Memórias", no qualo autor alude à descobertado diamante no Tijuco. Con-sidarará êle então a escassezde documentação existentesobre fatos e personagens efoi justamente essa falha quesupriu na novela, com a ima-ginação, valendo-se dos di-reitos de romancista.

Segundo um costume en-tão muito comum nos ro-mances históricos, JoaquimFelicio recorre a uma mis-tificação, dizendo ter encon-trado um manuscrito, data-do de 1729, no qual um ha-bitante do Tijuco recordavaas circunstâncias trágicas,em que se dera a descobertados diamantes naquela re-gião. O tema é desenvolvidoatravés das rivalidades entreas primeiras bandeiras esta-belecidas no Tijuco e os in-dios que povoavam os arre-dores. ,"Acaiaca" era o nome deuma árvore existente no lii-gar hoje chamado Hitira. àqual os indios atribuíam ex-traordinária influência pro-tetiva. Enquanto o vegetal seconservasse de pé, desafian-do os vendavais, a tribu nãodesapareceria. Tomás Bueno,mameluco ousado,» conse <guindo insinuar-se na con-fiança dos indios, descobriuo segredo, e uma noite na

>

.

hora os selvagens se embrla-gUVuni, ÍCòlwguiáUO cuouuiwil-to de Cajuky — índia maisbela de tribu — cortou a ar-vore sagrada. Ante o lgnomi-nioso sacrilégio, quo Impor-tava na desgraça da tribu,ouviu-se de todos os lados apocema de guerra. Morte aosmalditos "ocros"l Mas Curu-peba, o cacique, opôs-se aluta. Os selvagens náo qui--eram obedecê-lo. O caciquereage e dai nasce tremendoconflito, em que os índiosbarbaramente se trucidam.Horrorroso temporal marcao fim dessa noite trágica:desaparece a tribu, segundoa proiecia do pagé. Os por-tugueses erguem uma cruz,onde outrora irondejara a?'Acaiaca". E nisto se resu-me a parte em que a nove-Ia, se reveste de um sentidoessencialmente indianista.

Com as enxurradas con-duzidas pela tempestade,as terras foram escavadas,surgindo por baixo umacamada fina de areia, on-de reluziam pedras estra-nhas. Os portugueses apa-nharam algumas delas e fo-ram levar a um sábio espa-nhol, em excursão pelo Ti-jucb. O homem viu logo tra-tar-se de magníficos dia-mantes, mas prevendo a cor-rida furiosa de ambição queIa desencadear essa desço-berta, afirmou aos tijuquen-ses nada valerem tais pedras.O bandeirante Bernardo daFonseca Lobro, guardou, ape-sar disso boa quantidade de-Ias, vindo a saber mais tardea verdade. Nesta altura, sur-ge de novo a índia Cajuky,única sobrevivente da tribu,empenhada em vingar os sei-vagens, provocando a ruinados portugueses. Oferece elaum punhado daquelas pe-dras a Bernardo em trocade uma espingarda. Feita abarganha, o português desa-parece do Tijuco: partia pa-ra Portugal a fim de ofere-cer os diamantes a el-rei,em troca de uma polpudarecompensa. O soberano ficarealmente deslumbrado como tesouro, mas não retribuia lealdade do súdito senãocom dois cargos de poucorelevo. Ao mesmo tempo, in-formado da existência dediamantes no Brasil, expedepara a colônia ordens seve-ras de demarcação dos terre-nos diamantiferos e outrastantas determinações queiriam iniciar um período devexames, desavenças e des-graças para os habitantes doTijuco. A índia Cajuky podiaregosijar-se de ter vingado atribu. Pela influência nefas-ta dos diamantes, consuma-va-se a ruina dos malditos"peros". Quanto ao mamelu-co Tomás Bueno, êste jánão mais existia: Cajukymatara-o com um tiro daespingarda obtida em trocados diamantes.

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Aí temos, em resumo, a no-vela, uma intriga bem tecidae narrada sem grande relevoliterário, mas com esponta-neidade e desenvoltura. Noprefácio das "Memórias doDistrito Diamantino" Naza-ré Menezes diz que não sabeonde a história termina e co-meça a fantasia em "Acaia-ca", de tal modo estão des-critos os cenários e as oeri-pécias da ação romanesca.Ora, o problema não nosparece de difícil solução.

A base histórica deve 11-mitar-se exclusivamente aoaue figura no capítulo IIIdas "Memórias" — relativoà descoberta dos diamantes— e às alusões feitas à opres-são da metrópole, tratada de*

(Conclui Ea *<M pág.)

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— * LETRAS R ARTES

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m^rrfro-por«eiua^"PAISAGÍM

MURAI'*L

II JAN SchwarUtkopf éuma poetisa ricu em ,s -i ge-st ora poética»,voas seu lirismo qua.se \

sempre sereno, não consegue ,cristalizar se no eorpn do poe-r.ja. âate último deve, antesde qualquer outra coisa, po»-suir uma idéia única, ou me-Ihor, uma única revelação. Amedida dessa idéia pode va-riar de acordo com a índoledo poeta, e êste não poderánunca escapar da precisão..fundada pela própria exten-s&o» dc sua idéia, da imagemdo vocábulo, e mesmo dasintaxe.

Tornou.se comum hoje emdia. mais» talvez, pelo de-sejò de pecambular pelosentresttos da poesia do quepela indiferença à integarlrealização do poema, essetipo especial de poeta, uns.porque não têm mesmo tia-da para dizer, outros por-que-não sabem ainda comotransmitir aua experiência.Colocamos T.ni^n Schwartz-kopf entre os últimos. Quan-do lemas versos como ès-tes:

De um corpo assim funestalé a visão-

sofrido ê o retorno.O augúrio do tempo é a boa

fmorte que se querdentro- de um velho- instanteque oa caminhos não tra-

Êzenv, que o regresso não[vive,

vemos Li fiari Schwartzkopfperder-se nos entreatos dapoesia, essa poesia que sen-tintos, rcaí no- seu mundo;mas quando lemos estes .ou-troa versosSomos puros e boníssimosTemos, tudo- em comumNem mais aos. conhecemos:

Cê o _ruto- da amizade,descobrimos que a autora!começa a abandonar suasmeras sugestões poéticas, pa-ra Ir em busca do poemaE quando tenta, consegue-o,o que nao deixa dúvidasquanto* ao- valor da poetisa,valor que tateia entre rose-guraaça de forma e imatu-ridadt* dc experiência, con-firmando-se ora com belasimagens, oea com sugesti-va» arquiteturas vocabula-res-

xPafaasrcm 'Mucrl», porisso, é ai&da um livro a quefalta r»a kinú>. cuja leituranão raro nos dá uma senso-cã» de frustração, não da-au-tora. mos nossa> que nãoconaeg»woo& aprender a beiapoesia ó> qu* é portadoraLttfca Sijtivrxrtzkopf.

E. C. CAI,D AS !——~» i ¦ . » a i . > i i , , i , i, in -'

PRtfSENÇA DE MINAS GERAIS

AFFONSO

ÁVILA,o poeta mineiro que,com Fablo Lucas, dl-rige em Belo Horizon-

te a revista "Vocação", tevea coragem de uma experlèu-cia interessante e perigosa:a comparação dos seus pró-prios rumos poéticos atravésdeste volume de versos edita-do por "Santeimo - Poesia"— "O Açude e Sonetos daDescoberta". O normal dospoetas é, naturalmente, oprogresso. Uma compreensãomaior dos temas, uma in-guagem mais apurada, umalibertação de influências ede escolas, uma fuga aos mo-dismos em voga. Em suma:uma afirmação de persona-lidade. Mas isto ninguémcostuma fazer pondo-se emcontraste consigo próprio enum mesmo livro. É arris-cado. Quando muito, apósanos de trabalho e depura-ção, escoimando os pecadi-nho8 da mocidade, os poetasse apresentam nas suas obrascompletas e fazem o con-traste, que os próprios anosdecorridos se incumbiram deexecutar. E no mais das vê-zes já estão consagrados, demodo que nem mesmo sepercebe a diferença funda-mental entre o estreante eo acadêmico. Pois êste mi-neiro desabusado não quisesperar pelo tempo nem pelaconsagração. Publicou logoos seus livros lado a ladopara o confronto da crítica.Dir-se-à que, tendo certezade que progrediu, ciente deque os seus "Sonetos da Des-coberta" são muito melhoresdo que os versos do "Açude"e que, portanto, êle se fir-mou nos seus rumos poétl-cos e vem afirmando indis-cutivelmente, uma persona-lidade, o poeta da "^Vocação"não temia o confronto Sim,é bem possível que assim se-ja. O curioso é que tal ati-tude é bem pouco mineira, osmontanheses sendo, em ge-ral, gente desconfiada e pru-dente.

Teria acertado o poetaAffonso Ávila?

É o que vamos verificar.Há dois livros fundaraen-

tahnente diversos nestes 40poemas. Os primeiros 19, quecompõem "O Açude", sãoversos que denunciam logoa mocidade que. os inspirou^Falta-lhes o toque de huma-nidade que caracteriza os 21poemas seguintes dós "Sone-tos da Descoberta" fOstãoainda muito presos ao f amo-so hermetismo oue fez as de-líclas dos poetas modernis-tas d« tírim^ira fase brasl-teira. Estão ainda eivados da-

HOMERO SILVEIRA

quele gosto de vegetal, quetanto agrada aos moços quecomeçaram a versejar depoisda revolução de 22. No "Prl-melro Soneto da Condição",topamos logo com estes ver-sas denuncladores do famo-so gosto modernista:"Entre as paredes àlgidas do

[bronzeCorre a semente da vontade,

[vivaMas tmpotente, flor que se

labscondeNo canteiro formal que a

{.escraviza".

Mais adiante, no "Soneto"da página 21:"Não vos traga tristeza a

Ichuva friaA se esgueirar nas tardes

[sem~corola.Sobe o chumbo (o sem côr)

Idas coisas vivasSufocando o clamor das

Ivossas horas."

No "Soneto do Advento"reaparecem as imagens de"colora" e "flor". E no "So-neto" da página 37 há estesversos:

"Em Uànas, teus braços se[entrelaçam,

Crescem- hastes de medo na[irrisão

Onde refulge a contragosto[a flauta

De lirio ou prata que[roubaste a Pan".

Isto não lhe tira o encan-to da poesia Apenas denun-cia uma obediência ao gôs-to da época. E note-se emabono do poeta que nele ôpequena- essa obediência. Hácolegas seus que são verda-deiros botânicos... Temos ámão, por acaso, um dos maisrecentes livros de versos, quenos chegaram, onde existeaté um "Fitopoema". E ondeimperam as rosas, as dio-néias, os goivos, os espinhos,e onde ha polen, napéias, etc.Outro livro, bem interessan-te até, nos traz um mundode papoulas, de gerânios. ar-bustos, violetas, bogaris deBagdá e até um... berjo ve-getal das comofilas.

O mar também exerceudecisiva influência nessapoesia em que abundam ostermos "salsugem" e corre-latos. Aliás, o mar é aindaum dos encantamentos deAffonso Ávila. E deve havermais de uma razão para tan-to, inclusive a sua ausênciana realidade geográfica.

No "Açude", o poeta nãohavia feito a sua extraordi-narla "descoberta", que é,inegavelmente, o amor. Damodo que não sentimos nêiea grande presença que farádos seus poemas da segundafase uma coletânea equlli-brada de sonetos, onde osentimento suplanta o pen-samento e onde a nós pare-ce que o poeta está á vonta-de, tendo encontrado a rea-lidade da sua poética. Por-que Affonso Avlla é um in-trospectivo, homem de in-tensa e vibrante vida inte-rior, de onde a sua tristezae de onde também o evidentedeslocamento em que se en-contra entre os poetas re-presentativos da primeira fa-se modernista. Existe tom-bém patente nos poemas dos"Sonetos da Descoberta" umreal amadurecimento. E istose verifica não só na forma,que se apresenta muito maisdepurada, como no pensa-mento, que atingiu as ralasde uma participação integraldo humano. Parecem-nosbem representativos do queafirmamos os belos sonetosdas páginas 69 ("Soneto amaneira maior"), 75, o "So-neto da posse" (página 93)e os portentosos poemas "àamada gestante", que pri-mara pela originalidade dotema e a sua profunda com-preensão que paste de umarealidade biológica e culminana apologia magistral da ma-ternidade, entrevista de ma-neira muito nobre através dafigura divinízada da mulheramante. E do filho.

O amor revelou o poeta a,si mesmo. E, como o senti-mento é tão velho como opróprio mundo, é nas for-mas antigas de versejar. éna rima e no ritmo inevità-veis, menos livres, menos re-volucionários,- mais compôs-tos, mais compreensíveis; quetoda a verdadeira poesia seajeita. É verdade que ao poe-ta a forma de soneto sem-pre foi familiar. E tambémé verdade que os nossos tem-pos estão assistindo à res-surreição do soneto, que en-cerra em si a essência mes-mo da poesia. Não lhe qua-dravam, porém, a rima emuito menos os decassíla-bos bem medidos. Eles estão,não obstante, á vontade napena de Affonso Ávila, fi opoeta mais á vontade emsua comüanhia.iinegávelmen-te. Não que o poeta haja re-negado a arte moderna. Maso que houve ê que o poetaencontrou a perfeitaadea.ua-cão do formal à sua maneirade sentir a própria arte. Em

"O ESPELHO DA MORTA"'mm CORRÊA DE ÂRAUJO

NUNCA

escrevi a res-peito tive* livros, em-bo ra alguns real-mente me dêem voa-

lade de. ajustar umas pala-vras ao meu entusiasmo ouao meu desencanto. De*queserviria, no entanto? Min-guém confiaria can uma opi-nião impressionista, gosto ounão gosto, que pudesse levarao dono do livre. E não seioutros argumentos com quejustificar essa opinião. Sou.em poesia como no resto,apenas uma leitora. Em poe-sfa, talvez, uma leitora bemmais participante, uma es-pecte áe cúmplice, costumoscnür-vme diante de certospoetas como quem anda demãos dadas.

Foi essa aemsação de pro-ximidade que me deu o livrode Laeyr Schettino. "O Espè-lho da Morta" Vão me con-dicionei às limitações prova-

veis que tenha sofrido suapoesia, limitações de espaçoe província, sem o útil con-vivio de companheiros de li-teratui a, ou «trato constan-te da palavra que se procuraexata. Não me ative aos dis-pensávfeis galicismos que es-capam aqui e ali empobre-cendo alguns de seus versos,nem a certa prodigalidadeverbal e outros possíveis se-nôes que um crítico decertopoderia apontar para, numbateamento, ainda mais re-aScar as qualidades dessapoesia. Foi a autenticidade,esse sinal esquecido na ta-boa de valores com que- seafo e hoje, nosso hoje de ex-cessiva preocupação formal.as virtudes de om poeta, queme trouxe até êste papel

De fato, Lacyr não escre-ve sem ter sofrido em durae cotidiana vivência os seuspoemas. Sinto que neles apalavra quase perde, a sua

importância, ffarendo-se íra-ca para a transmissão da te-mática densa, resultado deuma solidão mórbida e defrustrações inconfessaoas:"altas torres dfe um munão

[sem face e sem roteiroesmagam-me com os dedos[triangulares de wgamassa'\

Usando com restrição aprimeira pessoa, Lacyr nãoprocura explícar-s* para di-vidir conosco suas penas.Essas, ao contrário do queacontece ao comum das poe-tisas, estão absorvidas pelapoesia em si mesma, não semostram claramente, dilu-em-se «on objetos, como senota nos títulos: a0 esoêlhoda morta", "Vaso assul", "ASeriema", "Baralho no pôr-to", "Colher de remédio", etc.

Melhor realizados me pa-recém "Baralho no porto","A Bailarina branca", "A Se-riema", e$mbora » livro toda

Terça-feira, 11 5-1954_______— in.—

uma palavra: o poeta ae eo-centrou.

Chegados a este ponto, élicito voltarmos à perguntaInicial, já agora com respoa-ta certa: teria acertado opoeta Affonso Ávila?

Sim: êle acertou em cheio.Acertou confrontando-se,

porém do confronto saiamaior. O estreante do "Açu-de" transpôs os termos daestréia, de maneira bilhan-te. O artista dignificou suaarte, nimbando-a de huma-nidade e sofrimento. Liber-tou-se das amarras pequenl-nas do formal inadequado asua maneira de sentir os pro-blemas estéticos. Viveu, emsuma. Porque só a vida in-tensamente e com inteligên-cia consegue realizar no ho-mem o seu destino. E essedestino Affonso Ávila estárealizando através da maissagrada das deliberações hu-manas: o amor integral

Minas Gerais continua pre-sente nos quadros da lltera-tura nacional e de maneirabastante satisfatória. Ao la-do de Affonso Ávila, conta-mos com Fábio Lucas, LaisCorrêa de Araújo, WladlrCaldeira de Morais, AírtonAlmeida, Rui Mourão, alémdesse estranho Dantas Mota,que embora residindo no in-terior, tem sua presença bemmarcada, sobretudo em SãoPaulo, onde costuma publi-car seus livros e conta comum circulo apreciável de lei-toses. Isso para não se falardo Mestre Drummond, o queJá é outra história...

TRÊS CONTISTASí Conclusão da 2.» pág.)«ie", incluído em livro feitoem colaboração com JacquesMaritain, "Situation de IaPoésie**. Êste ensaio, embo-ra endereçado à obra poê-tica, é porém igualmente in-teressante se aplicado, coramais amplitude, à prosa li-terária.

ERRATA —- Em nosso artigoaqui .publicado na edição an-terior, de 4-5-54, página 2, quar-ta coluna, 6.* linha de cima parabaixo, leia-se ".. .podemos con-siderar que o conhecimento dotipo positivo é o objeto da fun-ção normal da inteligência hu-mana, assim como a função nor-mal do aparelho digestivo' é adigestão dos alimentos normal-mente Ingeridos pelo homem.

Na mesma coluna,: 3.° para-grafo, leia-se: "O conhecimen-to humano é relativo e, nestarelação, é quantitativo".

Há ainda outros pequenos dn-ros que, por serem bastante evi-dentes, não prejudicam o > sen-tido do trabalho.

se masque de uma unidadegrande, vinda da origem ve-lada de um mesmo sofri-mento.

E' a Maria Antônia que de-remos o aparecimento d*Lacyr Schettino, a Maria An-tôriia poetisa, que, compre-endendo as dificuldades desuas companheiras, em boahora instituiu o ConcursoFeminino de Poesia. A elaestendo, assim os meusagradecimentos, esperandoque tenhamos sempre a ale-gria de descobertas como aque agora tento louvar, eoma minha humildade deamiga.

EMPRESA "A NOITE"Dirctor-Geral: André

CarrazzoniDiretor-Gerente: Paulo ێteo

MoutinhoLETRAS E ARTES

Diretor: Almeida PischevRedação: Praça Mauá, 7 —Edifício "A Noite", 3.» andar"Letras e Artes** circula tô-das as semanas juntamentecom a edição de WA Noite

Ilustrada"»'Hiiinimin>iin i»i.»m»ii8ii«i » '« i ¦' «¦ *' * ¦*"!>"

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Terça feiro, 11-5-W54 LETRAS E ARI ES *6%\ns„xmm* ' ¥J™# ¦»• em * '«m ** ** *% V to»«

A NÓDOA

JA

três vi-zi-ü que Corinapo»8uva sabão, enxagua-va e a nodoa, muito vi-va, uno saia,Larga nao, papai.

Era a mel nor roupa do ve-lho Buidumo, compraau aprovações, que ainda devia.E agora, no puieio, bem nomeio das costas, aquela man-clia...

Passe cachaça, minhafilho.

A moça de cócoras, sentiaas pernas dormentes. Algu-ma coisa lhe bulia no ventre.Pensava no tenente, e esíre-gava com força, com raiva.

Essa mancha nâo querlargar mesmo não

O tenente apareceu-lhe,pela primeira vez. montadoa cavalo, numa parada. Ti-nha um bigodinho tentador.Corina não sabia como êle adescobrira no meio de tantagente. Trocaram beijos najanela, depois foram a umpasseio...

O pai, mangas arregaça-das, mãos nos suspensórios.lia o jornal. Mos as noticiasse baralhavam. Na verdade,o que impressionava eraaquela mancha. Uma nódoamisteriosa, apanhada não sa-bia onde.

O velho Balduíno mais seadmirava, porque tinha omaior cuidado consigo mes-mo, tanto às chinelas, quecalçava, quanto à sua honra.Sujar-se por fora ou por den-tro para êle vinha a ser amesma coisa.

Teria sido na botica doQuintino? Gostava de recos-tar-se na cadeira de balançoe prosar sobre a política dobairro. E na botica do Quin-tino havia muitas drogas..

Corina desesperava-se porapagar aquela mancha. Nãoera por ser a roupa maisnova de seu pai. Parecia queestava se lavando a si pro-pria de uma nódoa maior emais viva. A cachaça não ser-via de nada.

Larga não, pai.O velho Balduíno pr'nci-

piava a aborrecer-se. Zan-

UM

dos pontos que maisdebates levanta, noplano do julgamento,e o da caracterização

de determinadas peças comopeças de tese. Se para algunso aspecto é negativo, e atémesmo pejorativo, para ou-tros já toma caráter de ne-cessidade, de condição fun-damental na simples exis-tência da obra. Qual das duwsatitudes a mais justa? Oproblema surge para nos nareleitura de duas peças dedois dramaturgos noruegue-ses, dos maiores que a Eu-ropa já nos ofereceu, Ibsene Bjorson, (do primeiro"Jean - Gabriel Borcfeman",é do segundo, "Uma Falên-cia", e do contacto com odrama <ie Roger Vailland, "LeColonel Foster Plaidera Cou-pable".

A simples catalogação es-quemática ieva-nós a res-tringir a amplitude da obra,e a aceitá-la ou não, numcampo já bém mais demar-cado. Isto, por si só, não re-presentaria uma diminuição,uma limitação imposta à pe-ça, antes. mesmo de vê-laencenada? Há quase doisanos esse mesmo aspecto senos apresentou diante da oe-ça de J. B. Priestley "EstaLá Fora Um Inspetor", mon-tada por João tfillaret. Fer-nanda Montenegro, Samari-tana Santos, e outros. Refu-távamos, ?ntão o ennuadra-mento do drama em escalaspré-fixadass, firmando-nos naexigência, sobretudo, dos va-

DOIS CONTOS DECARLOS PAURÍLIO

Damos nesta página dois contos de Vario* Paurilio. Nâo são, esclareça-se, dois dos me-lhores contos do Vários Paurilio: são apenas üots dos trôs umeo* quo conseyuunos ooia, s/neme ou quem foi Carlos Pauriliot — indayarà mu,to leitor. Dez anos atrás, a pergunta seria orno-sa, pois formava êlo na vanguarda dos nossos grandes contistas. Beu nomo era reputado, man-tinha amizade com figuras dominantes de nossas letras, todo o grupo de alagoanos e pemum-bucanos do movimento modormsia aeve conh-tcô-lo. Ia publicar um litnro (ou publicou, nuncapudemos averiguar a realidadej, o morreu, depois de uma vtda dv privações físicas « morais.8eus contos, vários dtilos estampados em suplementos, numa época em que a prosa modenus-ta ainda lutava num terreno qut a poesia já iu*iHa conquistado, atestavam uma vocação Mera-ria nâo inferior á de Gracütano Rumos, Alcântara Machado, Ribeiro Couto. Geralmente curtos,nâo encerram propriamente uma anedota: vofam-se, de preferencia, para o flagrante humano.O estilo, muito pessoal e seguro, náo está embaciado pelos victos do modernismo. Num mo-mento em que o conto, entre nós, assume excepcional importân<na, d preciso preservai o nomede Carlos Paurilio. E preservai sua obra, enquanto è tempo. Porque è, a obra de um dos mato-res contistas brasileiros. (F. C.)

gava-se facilmente. Aquelamancha o exasperava. Man-dou para o diabo o boticárioque deveria ser o culpado,xingou a filha que náo sabialavar.

—• Ora bolas! Passe benzi-na...

Apesar de nunca ter sidobatida, Corina tinha medodo pai. Era como se êle ajulgasse a causadora da mor-te de sua mãe no parto. Des-de menina, vivera sem umconselho, sem um carinho.Se êle soubesse de sua tristeaventura com o tenente...

O sabão espumava na ba-cia, suas mãos tremiam, anódoa parecia cada vez maisviva. Lembrava-se duma, desangue, no seu vestido, queela lavara secretamente, numinstante. Mas com essa eraInútil toda esfregadela, todoesforço. Estava gravada ali,no paletó de seu pai, -bem nomeio das costas, como umsinete.

A nódoa brincava com ela,entretinha sua angústia. Co-mo num delírio, sumia-se en-tre as espumas e surgia-lhede novo, viva. «rritante Ne-nhuma água do mundo apoderia apagar.

O velho Balduíno, inquieto,

deixou os suspensórios e ojomai. Essa tarde iria a bo-tica do Quintino, so para di-zer descomposturas, que naoespalhasse suas drogas portoda parte, manchando todomundo.

Aproximou-se da filha.Não larga, não?

Corina, de olhos baixos, es-tendeu-lhe a roupa. Não po-dia mais o segredo.

—Não vejo mancha, ml-nha filha. Com água e sabãolava-se até um pecado.

MARINHEIROSaltou do velho barco na

cidadjzinha natal. Era meni-no quando fugira de casa. Omar tomou conta dele, emba-lou-o, afogou suas reminis-cências de infância. Os anospassaram sem deixar vesti-gio. Faz tanto tempo! t bempossível que mamãe tenhamorrido. E minhas irmãs?

Parecia um porto desço-nhecido como qualquer ou-tro. Não reconheceu, ao me-nos, a lgrejinha branca tre -pada no morro. Tinha crês-cido, com ares de catedral,as torres apontando arro-gantemente para o céu.

Se me lembrasse do no-me da rua! Terei que serestrangeiro em toda parte,até na terra onde nasci?

O marinheiro Martinhosentia a impressão de que sua

cidadezinhu estava despo-voada, todos os seus habituo-tes mortos, como depois deum cataclisma.

Chegava bronzeado pelosol forte das amplas soiídõesmarinhas. E com os olhoscheios das distâncias. A emo-ção de rever a terra não te-ve a intensidade que ele es-perava.Melhor é eu ir a algumlugar divertido.

Vultos de mulheres, em-buçados na noite, cruzavamcom êle, mulheres que de-viam ser ainda meninas nodia de sua fuga.

Dança-se por aqui?Dança-se, venha comi-

go, meu galego.Era uma rapafiguinha ná-

lida, franzina, quase tímida.Acompanhou Martinho comentusiasmo, orgulhosa depassear pelo braço uma blu-sa branca e gola azul.

Martinho não podia esque-cer que ela o chamara degalego. Êle, nascido ali. eratido como um homem deoutra raça.

O antro, onde ela o levou,regorgitava de uma gente he-terogênea. Um preto tocavaharmônica. Dessa misériafestiva tresandava um ¦chei-ro de álcool e suor Êle aper-tnu-a ao peito, quase com fú-ria, num samba laseivo

AT R QPEÇAS DE TESE

lares dramáticos e humanos."Situar em um quadro é par-ticularizar, é colocar em umdeterminado setor, e portantonegar-lhe o direito úe umauniversalidade", (Letras eArtes, 14-12rl952). Dai «des-confiança que uma ciassifi-cação sempre nos trouxe, jque na prática, *ntrç nos, soprovou sua precariedade. As-sim, o único autor de peçasde tese no Brasil, RenatoViana, não conseguiu atingiro mínimo de nível dramáti-co em seus originais.

O que seria, em suma, apeça de tese? Uma apresen-tação, em forma dramática,de certa teoria, idéia, corren-te ideológica ou filosófica.Como a diferenciaríamos deum outro trabalho que nãofosse de tese? Pela menorimportância que assumem naprimeira os elementos pura-mente dramáticos, ou pelasuper-valorização do desen-volvimento teórico? Não se-ria isso a própria negaçãodo gênero em que se estáapresentando a idéia ou ateoria? iümaranhamo-nos emuma série de quesitos, quesó a recolocação do proble-

SAMI EL RAWET

ma em sua feição originalnos possibilitaria uma atitu-de.

O que têm sido os dramasdeixaaos pelos mestres dopassado senão maneiras deencarar o mundo e os ho-mens? Sem rotular, sem to-mar caracteres de compên-dios, realizaram - se plena-mente na forma que Comi-navam, mergulhando na almaou lançando as vistas sobreos acontecimentos. "A dra-mãtica de Shakespeare éuma criaçào de grande am-plitude. Trata da Idade Mé-dia e da Inglaterra de seutempo, da antigüidade e daépoca do Renascimento. Sha-kespeare é um escritor ex-traordinàriamente amplo eprolífico. Seus dramas sãocomo uma tremenda enci-clopèdia de sentimentos, ex-periências e paixões", escre-veu S. Dinamov em seu en-saio sobre o dramaturgo in-glês (Ed. Pueblos Unidos).Sobre qualquer outro pode-se formular um enunciadomais ou menos semelhante.Ê a maior ou menor capa-cidade de apreender o hu-mano que caracteriza os dra-

maturgos» quando de possede um equipamento formalapurado. Mas sempre com es-ta premissa. Mesmo quandoa« verdades presentes naebra se apresentam falsascom o correr do tempo, a au-tenticidade permanece, por-que ligada ao espaço e à épo-ca. .Pode-se refutar a Ibsena veracidade cientifica domotor aparei «mente cen-trai de "Os Espectros", masnunca se lhe poderá negar aforça numana de seu drama.O problema de Nora em "Ca-sa de Bonecas" è um pro-blema ja superado, mas issoinvalida acaso a importan-cia da peça? Jean - GabrielBarkman assim dialoga comElla Reniheim:

BORKMANMas recorda-te que eu sxm

homem. Como mulher, eraso que eu possuía de mais ca-ro no mundo. Mas uma mu-lher, no fim de contas, pode.se necessário, ser substituídapor outra mulher...

ELLAFoi teu casamento com

Gunhild que disso le co»-veiiceu?

Ou homens o npiuvtu»com uma curiosidude miaiu-rada de despeito. Um navalera sempre um truculento,acubavu provocando motim.E houve quem acariciasse ocabo da faca.

Martinho dançava desajet-tadumente. «meando o cor-po, como se estivesse a bordo.Veio-lhe. de súbito, o receiode que a companheira íôs-»e, talvez, uma das suas Ir-más E. medrosamente, co-chichou-Ihe ao ouvido:

Como se chama? 1lsmcnia.

Que alivio que não se *ha-raasse Adelaide, Adalgisa.,,

Viu-se só na mesa. na saladeserta. An lâmpadas se apa-garam. Uma claridade leito-sa invadia o antro, agora comum aspocto ainda mais mise-rávcl. A mão do homenzinhogordo pousou-lhe no ombro.

Basta de dormir, é horade fechar.

Saiu cambaleando para arua, fazendo um grande es-forço para se sustentar naspernas. Tinha que regressarao mar sem notícia algumade sua família. Não haviamais temo©, o navio zarpavapela manhã.

Bambeava pelas ruas friase silenciosas. A cabeça roda-va. Não atinava com o ca-minho do porto. Mas. de re-pente, um sol claro ilumi-nou tudo.

Sinos tooavam, velhinhasde mantilhas negras passa-vam para a missa. Com umadelas vinha um menino, ves-tido como êle, com uma blu-sa de marujo e gorro ufano.Pela idade podia ser seu fi-lho.

Martinho oscilava sob oefeito do álcool. A passagem,o marujinho oerfilou-se fa-z e n d o continência Êleagüentou-se com dificuldadenas pernas, aprumou-se ecorrespondeu à continência.E lá se foi aos tombos, aoenrontio do velho barco per-dirfo na névoa aue subia 4omar...

WRKMANNão; ma» a tarefa que li-

nha diante de mtm aguitou-me <a suportar esta provacom* tudo o mais. Tnxtaím-sede me tornar senhor de tudoo que da poder nesta terra,de submeter 4 minha lei aterra e o mar, os oampos *os bosques, e âe tudo fazeruma temüe de prosperidadepara milhares de seres hu-manos"

De seu retiro frustrado,traído, è bem <o Himboio deépoca e mentalidade ultra-passadas. As ooisas que oatormentam ja nada signtfi-cam para tios. Mas resta odrama. Como resta, também,o de Tjalde, burguês falidoda peça de Bjorson, Existeneles o elemento que, tra»§-põe períodos e séculos, e queè a perfeita integração daobra em seu gémero.

Do mesmo modo a históriade Roger Vailland se nos im-põe pela adequação da tec-nica ao problema exposto.Há, antes de tudo, uma coor-denação estrutural que con-solida o drama, e lhe retiraqualmier veleidade panfleta-ria. E. acima de qualquercoisa, um drama. O resto, eeste mundo informe em quese entrechocam os de onteme os de amanhã. E a confir-mação de que a "condlcnonecessária, mas não sufieien-te para que uma peça seiajulgada sob o ponto de vis-ta cênico, é a sua realizaçãocom esse fim'',

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Página — 10 LETRAS B ARTES

NAO

ae encontrará, porcorto, ootiií- m u a •< uII1 m b u u d quo ¦¦"•!¦.»Inaugurado no outono

próximo oro ChuricvlUo. como-morando o conteuuric do :¦— opródigo, os voatlgios babituuisdo uniu grando vida lltorãna:mesa do trabalho, poltrona, es-critório. Nnda resta do pouto,quo não bo mostrou aos con-tomporánooB, num ò otornlda-do, podondo-sc, mesmo, levar àconta do mllngro u descobertado alguns objotoa, lembrandobuo passagem polo mundo lito-r/irlo. A casa da família Roche,ornada de um grande crucifixo,quo impressionou Claudol em1011. foi destruída pela guerrade 18; Isabollé, a irmã ostra-nha o fiel, levara paro Parlalembranças, que subsistiram hsua morto, em 1801, Ela as lo-gou a seu marido Pnterne Bor-rlchou, cuja sogur.da esposadeixou os prooi0308 volumes aum primo de Rimbaud, o pro-fessor Gilhert. membro da Aca-demia de Medicina; quando ôs-te morreu, em 1927, seus testa-menteiros, doaram i herança aomuseu do ChurWille, por in-termêdio da Sociedade de Es-crltores, de onde era membrohonorário: o gorro do polícia

A FUNDAÇÃO DOMUSEU RIMBAUD

quo Rlmbaud usava na Ablssl-nia, aua capa, uma faca de mo-m, seu timbalo de prata, fabrl-cado om Harrar por aeu eervt-çal Djaml o quatro pequenosfrascos ovoldes com tampa 4oprata, cheios do perfumo. Pou-cas rcliquiuH, ó vordado, mimdiante dus quala. no outono do3027. desfila o cortejo do perso-nalldádea que vieram inauguraro segundo busto do poeta, subs-tituindo o que os alemães des-trulram em 1914-18< poetas(Gustavo Kahm, Ernest rtay-naud, Thomas Broiin), o antigocondlscípulo Ernest Dclahayc,senador e prefeito. O cresci-mento, em número, destas r-eli-quiaa foi lento e mesmo con-trariado pelos acontecimentos:o gorro, emprestado à Exposi-ção do Progresso Social, emLille, dcaparécèu na desordemprovoca.ia pela declaração daguerra de 39; um exemplar daedição original do «Rcliqueirc»,

JEAIS-PAVL VAILLANT

ofertado por Gaaton Picará,nfio foi, Buquor, registrado. Aopinião pública afio estava ama-durccldo, mus terminou porrender-so h evidencia: confe-rendas, a p oi os. cntrovlstaa,conversações, palavras, artigosnada foi om vão e a Munlclpa-lidado do Charlevlllo terminoupor aor conquistada. O mo-numento «A Ia musique», nova-mento decapitado polo inimigo,em 1942, será restaurado, gra-ças aos esforços de Paul Fort.

Graças a um mr-cenas, — Ma-tarazzo — serão reunidos oamais autênticos tesouros; osantu/irio, cdiifcado no pequo-no salão do sua livraria, bemconhecida dos antigos do Rim-baud vai emigrar das margensdo Sena para as do Meuse.Uma nomenclatura seria fastl-diosa. mas 6 preciso, pelo me-nos. citar: cinoo autógrafos dopoeta, principalmente sua fa-mosa carta de protesto ao pro-

foito do Nancy, om nome Ao,Legião da Guarda Nuclonol, da-tada do 20 do setembro de 1870;desenhos, originais, dentre osquain o da padtoia quo o devo-ria transportar de Marrou atéAden, para sua última traves-Bla; fotogruflofl tiradas por filono deserto africano; bou con-trato com a Organização Vlan-na e Bardey (10 de novembrodo 1880; o um certificado debons serviços expedido por estafirma; cartas de sua mãe e úfsua Irmã Í3abollo; o diário dtmia Irmã Vltalie, documentousobro seu comércio, sua doença,sua morte, sua sucessão; retra-tos seus por Valentlne Hugo,Isabelle, Cozas, Marcoussis,Lcon Zack; cartas de GabrielHanotaux, seu advers/irio der-rotndo no concurso acadêmicode versos latinos, de Delahaye,Izambard, Savouré. de sua cria-da de quarto, de seu cirurgião;um bilhete autógrafo de Var-

Terça-feira, 11-5-1954

lalne a «eu editor Vanlor, tsôbr»as poesias de teu antigo com*pnnhelro do Inferno.

Ecoa frãgels o poacroaos, qusrepercutem no coração mula lo«sonaivel, do uma vido voltadapara o sofrimento, depola de mbaver dirigido uo génlo.

Além do m.it.i, edições llut*tradas. como a de Brayor, ra*rissimas como a du «Salson enenfor», por Pichon. —• 1914 —(doação du Mmo, Andréo Pior-re-Vicenot> enriquecem umagaleria quo compreende malado duzentos biografias ou on-Baios, além de centenas do os»tudos; abundante documenta-ção fotográfica mostrara a vidae a obra da «esfinge do Ardén-ncs». Quatro livros de Rlmbaudforam ofercidos por AlfredBardey, seu patrão na África,único homem que exerceu auto-ridado sôbre filo.

Poder-se-é censurar o fato dose não respeitar o implacávelsilêncio do poeta, mas. apesardisto, não há que negar ter,Rlmbaud, pertencido ao mun-do, no seio do qual desejava po-netrar humildemente, após terfugido dele, com o orgulhosodesafio. Os homens lhe devemfiste reconhecimento que nãodesejou.

yi.

(Conclusão da G.» pág.)

as cinco décadas, até nossosdias. No último meio-séculoo país foi transformado, deuma civilização agrícola emuma civilização basicamenteindustrial, escapou do nacio-nalismo estrito para se tor-nar um líder internacional,enfrentou duas guerras, edeu curso a uma ordem so-

ÍNDIOS ROMANESCOSConclusão da 1.% Pág)

talhadamente nos capítulossubsequentes.

Sôbre o aparecimento daspedras, declara Joaquim Fe-Jicio o seguinte: "Não é me-nos difícil dizer quem forao primeiro descobridor, ouantes o primeiro conhecedordos diamantes entre nós. Uns

querem que fora Bernardoda Fonseca Lopes quem osdescobrira e manisfestara àcoroa. Outra tradição diz queum frade, cujo nome não sedeclara, tendo vindo do Ti-

juco, depois de haver estadoem Golconda, onde já se mi-neirava o diamante, vendoos tentos de que se serviamos tijuquenses para marcaro jogo, conheceu que eramdiamantes e que Bernardo,servindo-se dessa descobertapartira para Portugal, a ma-nifestá-la ao rei. Em remu-neração desse serviço, foi no-meado capitão-mor a tabeliãoda Vila do Príncipe".

Isto é pois o que existede histórico sôbre o grandeacontecimento. O mais nãopassará de lenda romancea-da pelo escritor. Em casocontrario, Joaquim Felicio,sempre cioso do detalhe ane-dótico, não deixaria de alu-dír à histria da "Acaiaca",

nas "Memórias do DistritoDiamantino". De qualquerforma a novela, com os de-feitos peculiares ao mau gôs-to da época, como as disser-tações morais de puro sensocomum, desperta interesse.É uma espécie de enxerto ro-manesco na fidelidade his-tórica das "Memórias" e unidocumento da amplitude queteve. o tndianismÒ em nossaficção. •;.-.'.

Nota sôbre a literatura norte-americanaciai, moral, intelectual e eco-nômica inteiramente nova.

No princípio do século, po-rém, alguns escritores aindaseguiam as tendências ro-mánticas do passado. JackLondon escreveu suas histó-rias de tipos primitivos e vi-das violentas; Booth Tarking-ton e Theodore Dreiser prb-duziram obras mais elegan-tes, mas ligadas aos primití-vos romances coloniais, e O.Henry romanceou New Yorkem seus contos.

A primeira transição devalores literários nos EstadosUnidos teve lugar por voltade 1910, e surgiu numa revo-lução na poesia. Os EstadosUnidos haviam produzido ai-guns excelentes poetas, no-tadamente Walt Whitman,Poe, e Emily Dickinson, masa produção total da poesianorte-americana permanece-ra pequena e sem qualquersignificação especial. Mas,depois de 1910, apareceramdiversos poetas no cenárionorte-americano. Amy Lo-

well, Edgar Lee Masters, Ro-bert Frost, Edvvin ArlingtonRobinson, Carl Sandburg,Vachel, Lindsay, Wiliiam RoseBenet, Edna St. Vincent Mil-lay, e outros. Esses poetasnão representavam gruponem escola. Os criadores danova poesia norte-americanaeram muito diferentes entresi, mas todos unidos no de-sejo profundo de tornar apoesia uma expressão vital,e na vontade de incluir qual-quer tema, por menos beloque fosse, contanto que pro-vocasse emoção. Em conse-quência, os norte-america-nos passaram a ler poesia,formaram-se sociedades depoesia, e esta se tornou umaforma de literatura, tão acei-ta nos Estados Unidos quan-to o é no Brasil.

Outros desenvolvimentosparalelos, uma mudança doromântico para um intelec-tualismo mais duro e maiscrítico, também se manifes-taram em outros tipos de li-teratura contemporânea, es-

pecialmente depois da pri-meira Guerra Mundial, queteve forte influência sôbre o

pensamento norte-america-no, ao estreitar o contacto do

pais com o pensamento eu-ropeu.

Sinclair Lewis é um exem-

pio típico dos autores desse

período. Em "Babbit" e"Main Street" êle atacou avida da pequena cidade nor-te-americana e do mundo dosnegócios dos Estados Unidoscom mais amargura do queo caso merecia. Outros au-tores também eram revolta-dos mas não contra as con-venções victorianas como osseus colegas da Europa. Ger-trude Atherton, SherwoodAnderson, Theodore Dreiser,e Scott Fitzgerald trataramdo assunto do sexo, pela pri-meira vez, com liberdade. Eu-

gene 0'Neill fez o mesmo emsuas peças "Anna Christie"e "Strange Interlude". Maistarde, John Steinbeck, Er-nest Hemingway e WiliiamFaulkner continuaram apre-

CIDADE DE DEUS"Acaba de ser publicada,

em separata, a conferênciade Ignacio da Silva Tel-les, sôbre O CRISTIANIS-MO E A "CIDADE DEDEUS" DE SANTO AGOS-TIN H O, promovida peloInstituto de Sociologia ePolítica de São Paulo. A ei-tada conferência, quie» obte-ve grande repercussão,acha-se dividida em trêspartes, A parte inicial con-tem o estudo das três cul-turas que, paralelas, arras-tavain consigo os destinosdo mundo ocidental, nosprimeiros tempos do Cris-tianismo. A primcfr.a, amais próxima, era a con-cepção de política "univer-sal", do Império "orgánt-co", que os romanos inau-goraram. A secunda era o"areíê" dos gregos, o an-seio do belo como determi-nante da vida. A terceira, amais distante no tempo,

mas a mais próxima naforça de seu simbolisnío,era a histó ia da nação ju-daica, que veio desembocarno Cristo, centro do mundode todas as histórias. Ro-ma foi invadida e saquea-da pelos bárbaros. São Je-ronimo, exprimindo o sen-timento universal, excla-ma: "Apagou-se o fachodo mundo!" E* dentro dês-se quadro que Santo Agos-tinho viveu e meditou. Asduas partes seguintes dotrabalho desenvolvem opensamento do Santo, diwi-de a idéia da perene in-quietude humana, nascidado amor pelo Bem Supre-mo e alvoroçada pelas con-t aditórias mrragens d omundo; desde sou concei-to de história, como umasôfreg-a procura do cami-nho de retorno à "Pátria"perdida; desde sua vigoro-sa argumentação sôbre aliberdade humana e sôbre

o amor ("Amai sempre!Rias cautela, vê-de lá o queides amar"); até seu con-ceito revolucionário de Es-tado, sua descrição da Ci-dade de Deus e da CidadeTerrena, as duas cidades !que dois amores construi-ram: "o amor a Deus cons-truiu Jerusalém; o amor doséculo edificou Babilônia". !O trabalho termina com ademonstração da atualida- \\de do pensamento de San-to Agostinho. O mundo mo-demo é semelhante, e,mmuitos aspectos ao do sé-eulo V. Que devemos fazer?O conferencista responde: !tenhamos o heroismo dedesencadear a maior revo-lução de todas, aquela quese processa no íntimo decada um de nós, "a fim de ',',

que em nosso inquieto co-ração estejamos semnre de !partida para a Cidade deDeus".

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sentando estudos francos sô-bre os menos privilegiados,o que caracteriza grande par-te da moderna literaturanorte-americana.

Outro aspecto da literatu-ra norte-americana de hojeé o interesse nacional tanto

pela história do pais comodo estrangeiro. Muitas crô-nicas e biografias históricasforam escritas desde 1910;as crônicas tecidas com basenum ponto de vista social, eas biografias não raro mui-to próximas da ficção psico-lógica. E dois dos mais fa-mosos romances norte-ame-ricanos foram os romanceshistóricos, "Gone with theWind", de Margaret MitchelLe "Anthony Adverse", de Her-vey Allen. E como exemplodo interesse norte-americanopelo mundo além de suasfronteiras, há o "The GoodEarth" e outros romancesmuito populares, sôbre a Chi-na, da autoria de Pearl Buck.

Há muitas outras notáveisromancistas norte-america-nas que fizeram contribui-ções valiosas à atual litera-tura nos Estados Unidos, au-toras tais como Edith Whar-ton, Willa Cather, Ellen Glas-gow, e Marjorie Kinnan Raw-lings, mas estas se limitamaos Estados Unidos, e nassuas obras encontramos es-tudos de costumes e regiões,executados com grande ha-bilidade e visão.

Concluindo êste mais doque breve esboço da litera-tura norte-americana, noqual há muitas omissões, óclaro que os brasileiros de-vem ler os livros norte-ame-ricanos tendo em mente *própria história dos EstadosUnidos, e até mesmo a mo-derna ficção norte-america-na terá maior significação sefôr levado em conta que amesma é uma expressão dasmudanças sociais e intelec-tuais que tiveram lugar nosEstados Unidos no espaço deapenas algumas décadas.(Tradução de Saldanha Coe-lho).

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Terç»-fa»'*. 11-5-W4 . LETRAS E ARTES Por, !„* — 11

WKÊÊÊm

A correspondência de Jones RochaO escritor Renato Rocha está or-

gunlzando a correspondência de Jo-nes Rocha, para publicação. Emno-ra tenha deixado bons contos, en-salos e poesias, a melhor parte dopensamento de Jones se encontranas suas cartas, cuja apresentaçãomulto contribuirá para o conheci-mento de seu espirito. Pede Rena-to Rocha aos amigos de Jones Ro-cha que lhes emprestem as cartasde que disponham, para copiá-las.Seu endereço: Rua Iaci, 90 ap. lül(Irajá), Rio.

Dois novos livros de Tiago de MeioO jovem poeta Tiago de Melo, cuja trajetória em

nossas letras tem sido das mais acidentadas (cmqualquer sentido), fez recentemente duas coisas: con-verteu-se ao catolicismo e escreveu um longo poemasobro o Amazonas.

"Gazeta Literária**Recebemos o n.° 18, de fevereiro, da "Gazeta LI-

terária", que se publica em Lisboa. Direção e ediçãode Mário do Amaral. Sumario do número recebido:"Considerações sobre o romantismo", de FernandaCidrais, "O problema dos direitos de autor", de Má-rio de Vasconcelos, entrevistas, noticiário e matériada redação. O número foi devidamente visado pelaComissão de Censura, que garante a liberdade depensamento no país irmão.

No Rio, Edison Nery da FonsecaEncontra-se há algum tempo no Rio o escritor

pernambucano Edison Nery da Fonseca, que aqui velopara assumir a direção da Biblioteca Castro Alves.Edison Nery esteve, durante vários meses, nos Esta-dos Unidos aperfeiçoando-se em biblioteconomia. Es-tá igualmente, ultimando um livro sobre a lite-ratura norte-americana e sua repercussão no Brasil.

Conferências de João Gaspar Simões,sobre Almeida Garrett

O critico João Gaspar Simões vai pronunciar, noAteneu Comercial do Porto, uma série de conferen-cias sobre o Visconde de Almeida Garrett, cujo cen-tenário se comemora êste ano. Analisará o poeta de"Dona Branca" como dramaturgo, romancista, poe-|a e jurista.

Gérard Philippe representa Shakespeareem Portugal

Está em Portugal o conhecido astro do cinemafrancês Gérard Philippe, que ali foi com uma "trou-

pe" para representações do teatro shákespeareano.Além de Philippe, está presente Jean Vilar. A primei-ra peca em foco será "Ricardo II", cujos vícios e de-feitos, segundo Pierre Messiaen, (no prefácio a tra-duçâo francesa), não foram postos em suficiente re-levo pelo gênio Inglês.

Contos de Guy MaupassantGuy de Maupassant continua sendo um dos es-

critores mais lidos no Brasü. Além da edição com-pleta de suas obras que está sendo lançada por umaeditora paulista, outras casas têm distribuído livrosdesse grande mestre do conto. Da Vecchi é a coleta-nea "O Prazer", de recente publicação.

"0 Tempo do Cansaço"O poeta paulista Reynaldo Bai-

rão, que há mais de dois anos pu-blicou o seu último livro, o "Poe-

ma Soturno de Minas Gerais", lan-cará dentro em breve mais uma co-letânea de poemas, intitulada "O

Tempo do Cansaço". Esta obra, quevem sendo anunciada já há algunsanos, reúne poemas de 1949 a 1953,e o seu autor trabalhou neste livronada mais nada menos do que cin-co anos, antes de achar que já es-tava pronto para ser publicado

ü Semana MonteiroLobato

Foi celebrada em S. Paulo, de18 a 24 do mes passado, a IISemana Monteiro Lobato, co-memorativa do 72.* aniversá-rio do nascimento do grandeescritor paulista. Diversas ho-menagens foram prestadas àmemória do autor de "Urupês",e dentre as conferências profe-ridas tem pai-ticular relevo ade Nelson Palma Travassos,sobre "O brasileiro MonteiroLobato". Continua sendo, as-sim, fundamente reverenciadaa figura daquele que, escre-vendo para crianças e adultos,soube ser também um lutadora serviço da pátria, um idea-lista que se completou na açãodireta.

Dois livros de versosDe Lilinha Fernandes, poeti-

sa carioca, recebemos dois vo-lumes de versos: "Flores Agres-tes" e "Contas Perdidas". Oprimeiro deles, publicado em1952, reúne algumas dezenas desonetos de fatura conservado-ra. O segundo, editado no anopassado, é constituido de tro-vas de agradável leitura.

Poesias completas de Deolindo TavaresEsta semana se completou o 12.° aniversário da

morte de Deolindo Tavares. A obra desse magníficopoeta pernambucano, desaparecido com pouco maisde vinte anos, ainda não está publicada na integra.Agora, o mãe de Deolindo, Sra. Elisa Tavares, en-trocou a Fausto Cunha a edição das poesias comple-tas de seu filho. Os orielnals Já foram entregues auma editora do Rio, e sairá com prefácio e notas deFausto Cunha.

Obras completas de Abel SalazarA Fundação Abel Salazar vai publicar as obras

completas de Abel Salazar, grande homem de ciên-cia e de letras de Portugal. Cada volume incluirá re-produções de trabalhos artísticos do autor. Abel S;i-lazar é uma das figuras mais importantes do Por-tugal deste século, tendo obtido renome internacionalcomo cientista e escritor, particularmente em mate-mática e estética, Foi também eminente professor enotável artista plástico.

Novo número do "Jornal de Letras'*Está nas bancas novo número do "Jornal de Le-

trás", com a excelente apresentação de costume e va-riada matéria. Nesse número, é lançado o concurso"Augusto dos Anjos", patrocinado pelo Sr. DraultErnnany, e incluem-se colaborações de qualidade,, co-mo a reportagem de Flávio de Aquino sobre o MuseuNacional de Belas Artes, artigos de Adonias Filho,Luiz Forjaz Trigueiros, Jorge de Sena, etc.

"M ê d o"No primeiro plano dos romancis-

tas nacionais, tadiscutivelmente po-demos colocar a escritora paulistaOndina Ferreira. Modesta e sim-pies, tem ela se mantido comple-tamente afastada de qualquer po-litica literária, não fazendo partede "igrejas" ou "catedrais", razãopela qual seu nome não esteja, tal-vez, tão em foco nos meios literá-rios do pais. Mas seus livros, publi-cados sem alarde, vêm afirmandocada vez mais a personalidade deuma fiecionista autêntica, dona deuma técnica novelística tão severacuanto brilhante. Seu primeiro ro-mance, "Casa de Pedra", que o cri-

tico João Gaspar Simões considerou uma obra-pri-ma digna de ser difundida na Europa, foi verdadeirarevelação para a crítica nacional. Agora, publica elao romance "Medo", livro que é uma verdareira gaie-ria de tipos excelentemente delineados, destacando-se dentre todos a figura de Paula, a angustiada pin-tora que se debate bravamente para se libertar domedo que tem como fonte máxima a sua simples con-dição de mulher Sob os melhores prognósticos de es-critores como José Lins do Rego, Monteiro Lobatoe Ciro dos Anjos, Ondina Ferreira vem de realizaruma obra estupenda como técnica e penetração ,psi-cológica. O romance é um lançamento da EditoraSaraiva.

De pai a íilho", romance de Gastão CrulsPela José Olympio acaba de ser lançado mais um

livro de Gastão Cruls, um volumoso romance intitu-lado "De pai a filho". Como a editora em questãc émuito ciosa na remessa de seus livros a críticos e no-ticiaristas, também não recebemos êsse volume. Aliás,se os próprios autores não se encarregarem dessemister junto à imprensa, a José Olympio não o faz,preferindo os anúncios de rua aoB rodapés nos su-iplementos. Parece-nos. no entanto, que o reclame co-mercial ainda não dispensa o comentário e a noticialiterária.A estréia de Ruth Sílvia de Miranda Salles

A poetisa Ruth Silvia de Miranda Salles, cola-boradora de alguns suplementos cariocas e paulifl-tas, e associada do Clube de Poesia, acaba de serlançada pelo referido Clube, que editou o seu vo-lume de estréia "Pastoral".

Êsse novo livro de poemas, que é o décimo dacoleção de estreantes do Clube de Poesia, será dis-tribuido, dentro de poucos dias, às livrarias de SãoPaulo e do Rio.

A Sra. Ruth Silvia de Miranda Salles, que é na-tural de Araraquara, foi criada no Rio, onde residiuaté há poucos anos.

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NOVO LIVRO DE EDUAR-DO MALLEA

Eduardo Mallea publicamais um livro: «Chaves» (Lo-sada). — Chaves, um solitá-rio, um silencioso, não estásó no conjunto de seres pro-fundamente humanos criadospelo autor de «Os inimigos daalma», no âmbito novelescoa que se chama, justa, incon-fundivelmente, «o mundo deMallea». Ágata, a de «Todoverdor perecerá»; Avesquin eSerena Barcos, e Jacob Uber,de «A cidade junto ao rioImóvel», são, entre outros,seus irmãos. Mas Chav«semerge, singular em seu dra-ma e em sua reação, com suaindividualidade de homem.Intenções sutis movem osfios desse relato emoc;onan-te. «Chaves» é uma nota, umacorde, uma frase na compo-sição sinfônica com que Edu-ardo MalVa desenvolve snaaguda versão da «Argentinainvisível».

REMODELA-SE O TEATROSAN MARTIN

Estão sendo eexcutadas asobras de modernização doTeatro General San Martin,ao fim das quais êste terá si-do remodelado por completo.Serão construídas duas sa-Ias superpostas, independen-tes, que contarão com cen .-rios circulares, dentro des'stema que permite a me-lhor apresentação dos espe-táculos. Os camarins para osartistas serão distribuídospor oito pavimentor e terãoconsiderável amplitude. Nãparte fronteira do edifíciohaverá capacidade para alo-jar escritórios municipaisvinculados a atividades cul-turais e que. no momento,ocupam instalações parti-culares.NO CINEMA UMA NOVELA

DE CALDOSA Cooperativa Atlante Filio

Na Justiça o espólio dc üiúcAndré Glde é uma Iigur» oesti-

nada aos grandeu uai>oa. Nem uc-pois de sua morte, pode descansar.Agora está no judiciário a ülhn Ue-Spltlma de Guie. Cathc-ine Lambert,de quem o finco exige vinte mi-Ihõcs cie francos como direitos desucessão. A defesa entá confiada uMnurice Garçon, nome que estasempre envolvido nossos casos rui-dosos, donde costuma 3olr-se comêxito. "A obra de um eseiltor naoé um capital sujeito a direito desucessão", é a tese, acertada, doMaurice Gorçon.

Clube de Poesia do BrasilOs novos Estatutos do Clube de Poesia autori-

ram a Diretoria a dar-lho âmbito nacional, no mo-mento em que Julgar oportuno. Essa tendência deestender a atividade do Clube a todo pais já seexpressa, aliás, na nova Diretoria, que tem entreseus membros um vice-presidente residente no Rio;José Paulo Moreira da Fonscia. E, do Conselho Con-Bultlvo, faz parte João Cabral de Melo Neto, quereside atualmente em Pernambuco.

Concurso Feminino de ContosCriado pela escritora e jornalista Leila Marise,

redatora do jornal "Ultima Hora", seção de tíâo Pau-lo, o Concurso Feminino de Contos, que já no -anopassado teve grande repercussão, neste ano se desen-volveu e atingiu ainda msis longínquos rincões doPaís. despertando invulgar ir. "cresse. Diariamente acitada jornalista, figura de destaque entre as cronls-tas paulistanas, vem recebendo dezenas de trabalhosde prováveis revelações que, dessa maneiia. têm opor-tunidade de vir á tona em meio desse verdadeiro marde novas e ainda Inéditas vocações femininas. Nesteano. Julgarão os trabalhei das concorrentes as escn-toras Cecília Meireles, Dinah Silveira de Queiroz eRaquel de Queiroz. Os três primeiros prci.iios forampatrocinados pelas senhoras Irene Gioxgi, Carolinadá Silva Telles e Mina Varchavisky.

Prêmio "Goncourt" para Maurice GenevoixEm nossa nota da semana passada, aôbre Maurl-

ce Genevoix. houve a omissão de várias linhas, alte-rando todo o sentido. Leia-se que "Raboliot" permi-tiu a Genevoix o prêmio Goncourt de 192?: e ago-ra a Grasset acaba de incluí-lo na sua "Coleção Púr-pura", o que perfaz n décima-segunda edição.

"Prêmio Letras Fluminenses de Poesia" \O jornal literário "Letras Fluminenses" está dl-

vulgando em seu número 10 es bases do concurso queconferirá o "Prêjnio Letras Fluminenses de Poesia",no valor de cinco mil cruzeiros, patrocinado pela fir-ma Moreira Carneiro & Cia. O concurso estará aber-to até o dia 30 de junho. O concurso tem a singular!-dade de destinar-se a livros de poemas curtos. Ahcomposições não podem ultrapassar de quinze versos,sendo o total máximo, vinto composições. Remessa deoriginais: Rna Prof. Miguel Couto, 348-Niterói, emtrês vias datilografadas.

Congresso Internacional de EscritoresContinua em atividade a Comissão Organizado-

ra do Congresso Internacional de Escritores, que de-verá reunir-se em S. Paulo, em agosto próximo. Comêsse Congresso será realizado também um certameInternacional de Poesia."Paisagem mural", de Lylian Schwartzkopf

Com "Paisagem mural" (Ponget-ti), acaba de estrear a poetisa Ly-lian Schwartüliopf. Trata-se de um?estréia assinalável, pois apresentaqualidades fora do comum. Muitospoemas do livro estão excelente-mente realizados, embora noutros aooetisa se tenha deixado arrastarpara um hermetismo puramente sin-tático, que às vezes artificializa asua poesia. "Paisagem mural" èum volume que não deve perder-seno oceano de papel impresso que, sooo nome de poemas, tem sido derra-mado ultimamente.

"Voz em penumbra"Em edição do autor, acaba oe

aparecer o volume de versos"Voz em Penumbra", de Anu-kair Arbacéa, poota fluminense.Os poemaa reunidos neste livro;apesar de acadêmicos na for-ma e conteúdo, não deixam fiorefletir, vez por outra, mo-mentos de inspiração da maisgenuína."Caminhos do Paicú", de

Luiz Cristóvão dos•'P Santos

Pela editora Nordeste, dnPernambuco, com Ilustraçõesde Ladjane e prefácio de JoséLins do Rogo, saiu "Cà^tóbõsdo Pajeú", do Luiz Cristóvãodos Santos, uma espécie í!e ro-teiro sentimental Jo Interiorpernambucano, descrito eomsaboroso estilo.

está rodando a Versão chie-matotíiáfica da novela deGaMós, «Marianela>. Diretor,Júlio Poiter. Os pa<K;i3 cen-trais foram eMreçuos a JoséMaria Cutiérvez e Olga Zu-ba: ry.«THE BROWNING VER-

SION» NO TEATRONo teatro La Farsa estão

sendo levadas «A versãoBrowning» e «Arlequinadat»,do Terence Rattigan. A pri-meira é a conhecida peçaque, sob o título de «Nuncate amei», que nada tem quever com o original e monosainda com a história, foi exl-bida entre nós através de umesplêndido filme ingies, comMichael RedgravL e JeanKent. Ao mesmo tempo queos amantes do teatro podemver «A versão Browning» nopalco,, os amantes do cinemapodem ir aos subúrbios nssis-tir ii nada menos que «O en-couraçado Poternkin»...

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Page 12: SAUL BELLOW, ROMAN- - Coleção Digital de Jornais e ...memoria.bn.br/pdf/114774/per114774_1954_00298.pdf · nca de um Rubem Braga, cuja crônica se aproxima, em dignidade e em pureza

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Z<?/r„-,f py-f/evRIO OE JANEIRO. 11 DE MAIO DE 1954

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Vinheta de Santa Rosa

SONETOS DO CREPÚSCULO -- I

OEXPRESSADE OLHA

A EXPRESSÃO MERENCÓREA E DERRADEIRADE SEU OLHAR NÃO FICARÁ PERDIDA.GUARDOU-A O CÉU. LÁ, PELA SEMENTEIRADE ASTROS, NOS CAMPOS DO ÉTER DESPARZIDA,

TALVEZ NOS RAIOS PÁLIDOS A QUEIRAESTRELA NOVA, QUE À SIDÉREA VIDAACORDOU, E LUCILA A VEZ PRIMEIRA,PARA CISMAR, PARA SOFRER NASCIDA.

TALVEZ, MAIS PRÓXIMA, A DESEJE A LUAEM SEU MORRER POR TRÁS DOS ALTOS MONTES;TALVEZ, ENQUANTO, Ó SOL DE OCASO. AINDA ARDES.

ELA SE ESTENDA PELOS HORIZONTES,PARA, ENTRE FUMO OU CIRRUS QUE FLUTUA,DOR E MISTÉRIO - ENTRISTECER AS TARDES .

ALBERTO DE OLIVEIRAaww-W

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