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Revista SÍNTESE Direito Ambiental ANO VI – Nº 36 – MAR-ABR 2017 REPOSITÓRIO AUTORIZADO DE JURISPRUDÊNCIA Tribunal Regional Federal da 1ª Região – Portaria CONJUD nº 610-001/2013 Tribunal Regional Federal da 2ª Região – Despacho nº TRF2-DES-2013/08087 Tribunal Regional Federal da 3ª Região – Portaria nº 02, de 31.05.2012 – Registro nº 25 Tribunal Regional Federal da 4ª Região – Portaria nº 942, de 13.08.2013 – Ofício – 1528443 – GPRES/EMAGIS Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Informação nº 001/2013-GAB/DR DIRETOR EXECUTIVO Elton José Donato GERENTE EDITORIAL Milena Sanches Tayano dos Santos COORDENADOR EDITORIAL Cristiano Basaglia EDITORA Patrícia Rosa da Costa Ruiz CONSELHO EDITORIAL André Luis Saraiva, Antomar Viegas, Daniel Roberto Fink, Gina Copola, João Roberto Rodrigues, Luis Fernando Galli, Marcelo Beserra, Maria Luiza Machado Granziera, Patrícia Faga Iglecias Lemos, Paulo de Bessa Antunes, Ronald Victor Romero Magri, Toshio Mukai COMITÊ TÉCNICO Elisson Pereira da Costa, Francisco Salles Almeida Mafra Filho, Renata Jardim da Cunha Rieger, Sylvio Toshiro Mukai, Veridiana Pinheiro Lima COLABORADORES DESTA EDIÇÃO Ana Cecília Froehlich Soares, Diego Luiz Victório Pureza, Gina Copola, Luiz Fernando Pereira, Renata Jardim da Cunha Rieger, Ricardo Resende Bersan, Tauã Lima Verdan Rangel ISSN 2236-9406

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Revista SÍNTESEDireito AmbientalAno VI – nº 36 – MAr-Abr 2017

reposItórIo AutorIzAdo de JurIsprudêncIA

Tribunal Regional Federal da 1ª Região – Portaria CONJUD nº 610-001/2013Tribunal Regional Federal da 2ª Região – Despacho nº TRF2-DES-2013/08087

Tribunal Regional Federal da 3ª Região – Portaria nº 02, de 31.05.2012 – Registro nº 25Tribunal Regional Federal da 4ª Região – Portaria nº 942, de 13.08.2013 – Ofício – 1528443 – GPRES/EMAGIS

Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Informação nº 001/2013-GAB/DR

dIretor executIVo

Elton José Donato

Gerente edItorIAl

Milena Sanches Tayano dos Santos

coordenAdor edItorIAl

Cristiano Basaglia

edItorA

Patrícia Rosa da Costa Ruiz

conselho edItorIAl

André Luis Saraiva, Antomar Viegas, Daniel Roberto Fink, Gina Copola, João Roberto Rodrigues, Luis Fernando Galli, Marcelo Beserra, Maria Luiza Machado Granziera, Patrícia Faga Iglecias Lemos,

Paulo de Bessa Antunes, Ronald Victor Romero Magri, Toshio Mukai

coMItê técnIco

Elisson Pereira da Costa, Francisco Salles Almeida Mafra Filho, Renata Jardim da Cunha Rieger, Sylvio Toshiro Mukai, Veridiana Pinheiro Lima

colAborAdores destA edIção

Ana Cecília Froehlich Soares, Diego Luiz Victório Pureza, Gina Copola, Luiz Fernando Pereira,Renata Jardim da Cunha Rieger, Ricardo Resende Bersan, Tauã Lima Verdan Rangel

ISSN 2236-9406

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2011 © SÍNTESE

Uma publicação da SÍNTESE, uma linha de produtos jurídicos do Grupo SAGE.

Publicação bimestral de doutrina, jurisprudência, legislação e outros assuntos de Meio Ambiente.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução parcial ou total, sem consentimento expresso dos editores.

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de total responsabilidade de seus autores.

Os acórdãos selecionados para esta Revista correspondem, na íntegra, às cópias obtidas nas secretarias dos respec-tivos tribunais.

A solicitação de cópias de acórdãos na íntegra, cujas ementas estejam aqui transcritas, e de textos legais pode ser feita pelo e-mail: [email protected] (serviço gratuito até o limite de 50 páginas mensais).

Distribuída em todo o território nacional.

Tiragem: 2.000 exemplares

Revisão e Diagramação: Dois Pontos Editoração

Artigos para possível publicação poderão ser enviados para o endereço [email protected]

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Revista Síntese Direito Ambiental. – v. 6, n. 36 (Abr. 2017)- . – São Paulo: IOB, 2011- . v. ; 23 cm.

Bimestral. ISSN 2236-9406

1. Direito ambiental. 2. Meio ambiente.

CDU 351.777.6 CDD 341.347

Bibliotecária responsável: Nádia Tanaka – CRB 10/855

IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda.R. Antonio Nagib Ibrahim, 350 – Água Branca 05036‑060 – São Paulo – SPwww.sage.com

Telefones para ContatosCobrança: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7247900

SAC e Suporte Técnico: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7247900E-mail: [email protected]

Renovação: Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7283888

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Carta do Editor

Na trigésima sexta edição da Revista SÍNTESE Direito Ambiental, publi-camos na Seção Assunto Especial o tema “A Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica nos Crimes Ambientais”.

Sobre o tema, publicamos dois artigos. O primeiro, intitulado “A Res-ponsabilidade Penal da Pessoa Jurídica nos Crimes Ambientais”, de autoria do Dr. Diego Luiz Victório Pureza, Advogado, Pós-Graduado em Ciências Penais pela Universidade Anhanguera Uniderp – LFG, Pós-Graduando em Docência do Ensino Superior pela Universidade Anhanguera Uniderp – LFG, Pós-Gra-duando em Corrupção: Controle e Repressão a Desvios de Recursos Públicos pela Universidade Estácio de Sá, Membro da Comissão “OAB vai à escola” da 36ª Subseção da OAB/SP, Palestrante e Professor de Direito Penal, Legislação Penal Extravagante e Direito Processual Penal. O segundo, intitulado “Breves Considerações sobre a Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica e sobre a Su-peração do Critério da Dupla Imputação na Jurisprudência”, de autoria da Dra. Ana Cecília Froehlich Soares, Advogada, Bacharel em Direito pela Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre e da Dra. Renata Jardim da Cunha Rieger, Profes-sora da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, Mestre em Ciências Criminais (2010), Especialista em Direito Penal e Processual Penal (2008). Além disso, ainda na Seção Assunto Especial, selecionamos um Acórdão na Íntegra do STJ, bem como ementário sobre o assunto.

Na Parte Geral, publicamos três artigos, quais sejam: “A Negligência dos Municípios em Instituir o Plano Municipal de Resíduos Sólidos”, de autoria da Dra. Gina Copola; o segundo intitulado “Justiça Ambiental, Saúde Ambiental e Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado: o Reconhecimento da Con- fluência em Prol da Concretização de Direitos Humanos de Terceira Dimen-são”, de autoria do Dr. Tauã Lima Verdan Rangel; e o terceiro intitulado “Tribu-tação Ambiental e Incentivos Fiscais”, de autoria do Dr. Luiz Fernando Pereira.

Selecionamos, outrossim, sete relevantes acórdãos na íntegra: um do STF, um do STJ, um do TRF da 1ª R., um do TRF da 2ª R., um do TRF da 3ª R., um do TRF da 4ª R., um do TRF da 5ª R., além de vasto ementário com valor agregado.

Na Seção Especial, contamos com um Parecer intitulado “Intervenção em Área de Preservação Permanente”, de autoria do Procurador Jurídico Muni-cipal, Dr. Ricardo Resende Bersan.

Não deixe de ver nossa Seção Clipping Jurídico, na qual oferecemos textos concisos que destacam, de forma resumida, os principais acontecimentos do período, tais como notícias, projetos de lei, normas relevantes, entre outros.

Aproveite esse rico conteúdo e tenha uma ótima leitura!

Milena Sanches Tayano dos Santos

Gerente Editorial

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Sumário

Normas Editoriais para Envio de Artigos ....................................................................7

Assunto EspecialA ResponsAbilidAde penAl dA pessoA JuRídicA nos cRimes AmbientAis

doutRinAs

1. A Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica nos Crimes AmbientaisDiego Luiz Victório Pureza ........................................................................9

2. Breves Considerações sobre a Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica e sobre a Superação do Critério da Dupla Imputação na JurisprudênciaAna Cecília Froehlich Soares e Renata Jardim da Cunha Rieger ...............15

Jurisprudência1. Acórdão na Íntegra (STJ) ...........................................................................20

2. Ementário .................................................................................................30

Parte Geral

doutRinAs

1. A Negligência dos Municípios em Instituir o Plano Municipal de Resíduos SólidosGina Copola .............................................................................................38

2. Justiça Ambiental, Saúde Ambiental e Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado: o Reconhecimento da Confluência em Prol da Concretização de Direitos Humanos de Terceira DimensãoTauã Lima Verdan Rangel ........................................................................44

3. Tributação Ambiental e Incentivos FiscaisLuiz Fernando Pereira ..............................................................................65

JuRispRudênciA

Acórdãos nA ÍntegrA

1. Supremo Tribunal Federal ........................................................................71

2. Superior Tribunal de Justiça......................................................................79

3. Tribunal Regional Federal da 1ª Região ....................................................87

4. Tribunal Regional Federal da 2ª Região ....................................................98

5. Tribunal Regional Federal da 3ª Região ..................................................109

6. Tribunal Regional Federal da 4ª Região ..................................................123

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7. Tribunal Regional Federal da 5ª Região ..................................................131

ementário

1. Ementário de Jurisprudência de Direito Ambiental .................................136

Seção EspecialpAReceR

1. Intervenção em Área de Preservação PermanenteRicardo Resende Bersan .........................................................................197

Clipping Jurídico ..............................................................................................203

Resenha Legislativa ..........................................................................................219

Bibliografia Complementar .................................................................................220

Índice Alfabético e Remissivo .............................................................................221

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Normas Editoriais para Envio de Artigos1. Os artigos para publicação nas Revistas SÍNTESE deverão ser técnico-científicos e fo-

cados em sua área temática.2. Será dada preferência para artigos inéditos, os quais serão submetidos à apreciação

do Conselho Editorial responsável pela Revista, que recomendará ou não as suas publicações.

3. A priorização da publicação dos artigos enviados decorrerá de juízo de oportunidade da Revista, sendo reservado a ela o direito de aceitar ou vetar qualquer trabalho recebido e, também, o de propor eventuais alterações, desde que aprovadas pelo autor.

4. O autor, ao submeter o seu artigo, concorda, desde já, com a sua publicação na Revista para a qual foi enviado ou em outros produtos editoriais da SÍNTESE, desde que com o devido crédito de autoria, fazendo jus o autor a um exemplar da edição da Revista em que o artigo foi publicado, a título de direitos autorais patrimoniais, sem outra remune-ração ou contraprestação em dinheiro ou produtos.

5. As opiniões emitidas pelo autor em seu artigo são de sua exclusiva responsabilidade.6. À Editora reserva-se o direito de publicar os artigos enviados em outros produtos jurí-

dicos da SÍNTESE.7. À Editora reserva-se o direito de proceder às revisões gramaticais e à adequação dos

artigos às normas disciplinadas pela ABNT, caso seja necessário.8. O artigo deverá conter além de TÍTULO, NOME DO AUTOR e TITULAÇÃO DO AU-

TOR, um “RESUMO” informativo de até 250 palavras, que apresente concisamente os pontos relevantes do texto, as finalidades, os aspectos abordados e as conclusões.

9. Após o “RESUMO”, deverá constar uma relação de “PALAVRAS-CHAVE” (palavras ou expressões que retratem as ideias centrais do texto), que facilitem a posterior pesquisa ao conteúdo. As palavras-chave são separadas entre si por ponto e vírgula, e finaliza-das por ponto.

10. Terão preferência de publicação os artigos acrescidos de “ABSTRACT” e “KEYWORDS”.11. Todos os artigos deverão ser enviados com “SUMÁRIO” numerado no formato “arábi-

co”. A Editora reserva-se ao direito de inserir SUMÁRIO nos artigos enviados sem este item.

12. Os artigos encaminhados à Revista deverão ser produzidos na versão do aplicativo Word, utilizando-se a fonte Arial, corpo 12, com títulos e subtítulos em caixa alta e alinhados à esquerda, em negrito. Os artigos deverão ter entre 7 e 20 laudas. A pri-meira lauda deve conter o título do artigo, o nome completo do autor e os respectivos créditos.

13. As citações bibliográficas deverão ser indicadas com a numeração ao final de cada citação, em ordem de notas de rodapé. Essas citações bibliográficas deverão seguir as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

14. As referências bibliográficas deverão ser apresentadas no final do texto, organizadas em ordem alfabética e alinhadas à esquerda, obedecendo às normas da ABNT.

15. Observadas as regras anteriores, havendo interesse no envio de textos com comentá-rios à jurisprudência, o número de páginas será no máximo de 8 (oito).

16. Os trabalhos devem ser encaminhados preferencialmente para os endereços eletrôni-cos [email protected]. Juntamente com o artigo, o autor deverá preencher os formulários constantes dos seguintes endereços: www.sintese.com/cadastrodeauto-res e www.sintese.com/cadastrodeautores/autorizacao.

17. Quaisquer dúvidas a respeito das normas para publicação deverão ser dirimidas pelo e-mail [email protected].

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Assunto Especial – Doutrina

A Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica nos Crimes Ambientais

A Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica nos Crimes Ambientais

DIEGO LUIZ VICTÓRIO PUREZAAdvogado, Pós-Graduado em Ciências Penais pela Universidade Anhanguera Uniderp – LFG, Pós-Graduando em Docência do Ensino Superior pela Universidade Anhanguera Uniderp – LFG, Pós-Graduando em Corrupção: Controle e Repressão a Desvios de Recursos Públicos pela Uni-versidade Estácio de Sá, Membro da Comissão “OAB vai à escola” da 36ª Subseção da OAB/SP, Palestrante e Professor de Direito Penal, Legislação Penal Extravagante e Direito Processual Penal. Autor de artigos jurídicos.

SUMÁRIO: Introdução; Responsabilidade penal da pessoa jurídica e a teoria da dupla imputação; Questões controvertidas; Conclusão; Referências.

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo analisar a possibilidade de responsabilização penal de pessoa jurídica, notadamente nos crimes ambientais à luz da teoria da dupla imputação, examinando as posições doutrinárias e o atual entendimento do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, bem como verificar se a teoria da dupla imputação seria um resquício do direito penal do inimigo. Por fim, destacar questões de alta aplicação prática sobre o tema, especialmente no que se refere a situações de possível responsabilização penal de pessoa jurídica durante a liquidação da mesma, bem como da discussão sobre a possibilidade de responsabilização penal da pessoa jurídica de direito público.

INTRODUÇÃO

Primordialmente, é necessário relembrarmos a concepção tradicional do sujeito ativo de crime no ordenamento jurídico brasileiro, segundo o qual, em síntese, autora de crime é toda pessoa física capaz, ou seja, pessoa maior de dezoito anos com potencial consciência de ilicitude, sendo dela exigível conduta diversa.

Partindo da definição clássica citada, paira o seguinte questionamen-to: Pessoa jurídica poderia figurar como sujeito ativo de crime?

Para responder tal questionamento, cumpre asseverar que a Consti-tuição Federal de 1988 reconheceu a responsabilidade penal das pessoas jurídicas nos casos de lesões ao meio ambiente, por meio de seu art. 225, § 3º, verbis:

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Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo--se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

[...]

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeita-rão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrati-vas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

Em harmonia com o mandado constitucional, com natureza de man-dado constitucional de criminalização (imperativo de tutela), nasceu a Lei nº 9.605/1998 (Lei dos Crimes Ambientais), na qual prescreve em seu art. 3º, caput, que

as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmen-te conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão cole-giado, no interesse ou benefício da entidade.

RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA E A TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO

Daí a celeuma foi instaurada, primeiro porque pessoa jurídica, ob-viamente, estava impossibilitada de praticar condutas e, por isso, a refe-rida norma não encontrava subsunção com a teoria tradicional do delito, e, segundo, porque a imputação da pessoa jurídica e de seu representante pelo mesmo fato, para alguns, caracterizava-se resquício do direito penal do inimigo. Daí surgiu a seguinte indagação: Pessoa jurídica pode figurar como sujeito ativo de crime? Respondendo a esse questionamento, três correntes se formaram.

A primeira corrente, defendida por Juarez Cirino dos Santos1, diz que pessoa jurídica não pode praticar crimes, tampouco ser responsabilizada penalmente, uma vez que a empresa é uma ficção jurídica, um ente virtual, desprovido de consciência e vontade. Para os adeptos dessa corrente, a intenção da Constituição Federal não foi criar a responsabilidade penal da pessoa jurídica, pois o texto do art. 225, § 3º, da CF apenas reafirma que as pessoas físicas estão sujeitas a sanções de natureza penal, e que as pessoas jurídicas estão sujeitas a sanções de natureza administrativa.

1 DOS SANTOS, Juarez Cirino. Direito penal – Parte geral. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.

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Já, a segunda corrente, representada por Fernando Galvão2, conclui que apenas pessoa física pratica crime; entretanto, em crimes ambientais, havendo relação objetiva entre o autor do fato típico e ilícito e a empresa – infração cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da entidade –, admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica.

Por fim, a terceira corrente, defendida pela maioria da doutrina, as-severa que a pessoa jurídica, por se tratar de ente autônomo e distinto de seus membros, dotada de vontade própria, pode cometer crimes ambientais e sofrer pena, uma vez que a atual Carta Política autorizou a responsabi-lidade penal do ente coletivo, objetiva ou não. Para essa corrente, deve haver adaptação do juízo de culpabilidade para adequá-lo às características da pessoa jurídica criminosa. O fato de a teoria tradicional do delito não se amoldar à pessoa jurídica não significa negar sua responsabilização pe-nal, demandando novos critérios normativos, daí o surgimento da chamada “conduta funcional da empresa”; entretanto, obviamente sua responsabili-zação estará sempre associada à atuação de uma pessoa física, que age com elemento subjetivo próprio (dolo ou culpa). O Superior Tribunal de Justiça3 chegou a adotar tal posicionamento. Defendendo tal corrente quanto à ne-cessidade de dupla imputação para ajuizamento de eventual ação penal leciona Luiz Flávio Gomes4:

Forte doutrina entende que a lei ambiental contempla verdadeira situação de responsabilidade penal. Nesse caso, então, pelo menos se deve acolher a teoria da dupla imputação, isto é, o delito jamais pode ser imputado ex-clusivamente à pessoa jurídica. E quando não se descobre a pessoa física? Impõe-se investigar o fato com maior profundidade. Verdadeiro surrealismo consiste em imputar um delito exclusivamente à pessoa jurídica, deixando o criminoso (o único e verdadeiro criminoso) totalmente impune.

Daí o surgimento da chamada teoria da dupla imputação, segundo a qual a responsabilização penal no caso concreto só seria possível com a responsabilização, em conjunto, de pelo menos uma pessoa física (neces-sidade de imputação de dois entes: pessoa física e pessoa jurídica), sendo necessário atrelar a culpabilidade da pessoa física com a responsabilização da pessoa jurídica.

2 GALVÃO, Fernando. Direito penal – Parte geral. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.3 Precedente: STJ, REsp 800817/SC, (2005/0197009-0), 6ª T., Rel. Min. Celso Limongi, DJe 22.02.2010.4 Apud THOMÉ, Romeu. Manual de direito ambiental. 1. ed. Salvador: JusPodivm, 2011. p. 592.

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Entretanto, o Supremo Tribunal Federal já decidiu em sentido contrá-rio, concluindo que a responsabilização penal da pessoa jurídica independe de pessoa física. Argumentou que a obrigatoriedade da dupla imputação caracterizaria afronta ao art. 225, § 3º, da Constituição Federal, pois condi-cionaria a punição da pessoa jurídica à condenação simultânea da pessoa física, o que, na visão da Suprema Corte, seria um resquício do direito pe-nal do inimigo, tão rechaçado em nosso ordenamento jurídico. Além disso, conclui também a Suprema Corte que o sistema da dupla imputação é clara proteção deficiente do bem jurídico tutelado, ao passo que seria possível a responsabilização da pessoa jurídica apenada quando houvesse a imputa-ção de pessoa física. Vale citar trecho da mencionada decisão, in verbis:

Crime ambiental: absolvição de pessoa física e responsabilidade penal de pessoa jurídica

É admissível a condenação de pessoa jurídica pela prática de crime ambien-tal, ainda que absolvidas as pessoas físicas ocupantes de cargo de presidên-cia ou de direção do órgão responsável pela prática criminosa. Com base nesse entendimento, a 1ª Turma, por maioria, conheceu, em parte, de recur-so extraordinário e, nessa parte, deu-lhe provimento para cassar o acórdão recorrido. Neste, a imputação aos dirigentes responsáveis pelas condutas in-criminadas (Lei nº 9.605/1998, art. 54) teria sido excluída e, por isso, tranca-da a ação penal relativamente à pessoa jurídica. Em preliminar, a Turma, por maioria, decidiu não apreciar a prescrição da ação penal, porquanto ausen-tes elementos para sua aferição. Pontuou-se que o presente recurso originara--se de mandado de segurança impetrado para trancar ação penal em face de responsabilização, por crime ambiental, de pessoa jurídica. Enfatizou-se que a problemática da prescrição não estaria em debate, e apenas fora aventada em razão da demora no julgamento. Assinalou-se que caberia ao magistrado, nos autos da ação penal, pronunciar-se sobre essa questão.

No mérito, anotou-se que a tese no sentido de que a persecução penal dos entes morais somente poderia ocorrer se houvesse, concomitantemente, a descrição e imputação de uma ação humana individual, sem o que não seria admissível a responsabilização da pessoa jurídica, afrontaria o art. 225, § 3º, da CF.

Sublinhou-se que, ao se condicionar a imputabilidade da pessoa jurídica à da pessoa humana, estar-se-ia quase que a subordinar a responsabilização jurídico-criminal do ente moral à efetiva condenação da pessoa física. Res-saltou-se que, ainda que se concluísse o legislador ordinário não estabelecer por completo critérios ambientais, não haveria como pretender transpor o paradigma de imputação das pessoas físicas aos entes coletivos.

Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Luiz Fux, que reconheciam a pres-crição. O Ministro. Marco Aurélio considerava a data do recebimento da

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denúncia como fator interruptivo da prescrição. Destacava que não poderia interpretar a norma de modo a prejudicar aquele a quem visaria beneficiar. Consignava que a lei não exigiria a publicação da denúncia, apenas o seu recebimento e, quer considerada a data de seu recebimento ou de sua devo-lução ao cartório, a prescrição já teria incidido.

(RE 548181/PR, Relª Min. Rosa Weber, 06.08.2013)

Imperioso mencionar que, após a decisão emblemática citada, o Su-perior Tribunal de Justiça se curvou ao respectivo julgado, passando a seguir o mesmo entendimento.

Em síntese, a disposição constitucional na qual estabelece a respon-sabilidade penal sobre as condutas lesivas ao meio ambiente é cristalina; entretanto, ainda não há entendimento uniforme entre a doutrina e os Tri-bunais Superiores, havendo o entendimento do Supremo Tribunal Federal (decisão mais recente sobre o tema) de que tal responsabilização da pessoa jurídica na dependência da responsabilização da pessoa física configura-se resquício de um direito penal do inimigo, posição a qual nos filiamos.

QUESTÕES CONTROVERTIDAS

Após todo o explanado anteriormente, surge questão interessante: E se, constatada a prática de um crime, a pessoa jurídica for dissolvida duran-te a apuração ou o processo criminal?

Respondendo a tal indagação de grande relevância prática, a maioria da doutrina aponta não existir óbice de apuração ou do processo criminal, tampouco à aplicação de pena, desde que isso ocorra antes da liquidação. Tal entendimento apoia-se no teor do art. 51 do Código Civil, com a seguin-te redação: “Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a au-torização para seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se conclua”.

Nessas hipóteses, haveria, por exemplo, a possibilidade de aplicação de pena de multa, penas restritivas de direito, etc.

Vale acrescentar que a doutrina se divide quando o assunto é a pos-sibilidade de responsabilização penal da pessoa jurídica de direito público.

Uma primeira corrente leciona que pessoa jurídica de direito públi-co não pode figurar como sujeito ativo de crime, não podendo admitir-se o Estado na qualidade de delinquente, isso porque seus fins se pautariam sempre pela legalidade. Além disso, considerando que o direito de punir é

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monopólio do próprio Estado, tal situação configuraria hipótese do Estado punindo a si mesmo, o que soaria no mínimo de forma absurda. A sanção penal contra o Estado constituiria um ônus contra a própria sociedade.

Por outro lado, em sentido diametralmente oposto, há parcela da doutrina que admite a possibilidade de pessoa jurídica de direito público delinquente, responsabilizada, portanto, penalmente. Argumenta-se que o art. 225, § 3º, da CF não restringe a responsabilidade penal à pessoa jurídica de direito privado e, sendo assim, ambas devem receber tratamento iguali-tário. Ou seja, se o legislador não fez tal distinção, não caberia ao intérprete fazê-la. Além disso, se o Estado se lança em atividades por meio de pessoas jurídicas, nada impede que tais entidades venham a delinquir.

Ante a ausência de jurisprudência condenando criminalmente pessoa jurídica de direito público, pode-se concluir que vem prevalecendo o en-tendimento da primeira corrente supra. Ocorre que o Superior Tribunal de Justiça já reconheceu a responsabilidade penal de sociedade de economia mista, o que demonstra certa tendência em admitir-se pela responsabilidade penal da pessoa jurídica de direito público.

CONCLUSÃO

Por fim, o que se espera das mencionadas celeumas são, no mínimo, argumentos sólidos, para que o sistema jurídico penal possa alcançar um caminho de se assegurar ampla segurança jurídica e previsibilidade para os casos pertinentes com a responsabilidade penal da pessoa jurídica, notada-mente quando da prática de crimes ambientais.

REFERÊNCIAS

BRASIL. STJ, REsp 800817/SC, (2005/0197009-0), 6ª T., Rel. Min. Celso Li-mongi, DJe 22.02.2010.

______. STF, RE 548.181, 1ª T., Relª Min. Rosa Weber, DJe 19.06.2013.

DOS SANTOS, Juarez Cirino. Direito penal – Parte geral. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.

GALVÃO, Fernando. Direito penal – Parte geral. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

THOMÉ, Romeu. Manual de direito ambiental. 1. ed. Salvador: JusPodivm, 2011.

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Assunto Especial – Doutrina

A Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica nos Crimes Ambientais

Breves Considerações sobre a Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica e sobre a Superação do Critério da Dupla Imputação na Jurisprudência*

ANA CECÍLIA FROEHLICH SOARESAdvogada, Bacharel em Direito pela Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre.

RENATA JARDIM DA CUNHA RIEGERProfessora da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, Mestre em Ciências Criminais (2010), Especialista em Direito Penal e Processual Penal (2008).

Com o advento da Constituição Federal de 1988, o ordenamento ju-rídico brasileiro passou a prever, expressamente, a possibilidade de crimi-nalização de atos atribuídos a pessoas jurídicas, indo de encontro à tradi-cional orientação societas delinquere non potest. O tema recebeu destaque na doutrina e na jurisprudência, e foram muitos os apontamentos no sentido de que a responsabilização do ente seria incompatível com princípios nor-teadores do direito penal e com institutos fundamentais da teoria geral do delito2.

Em 1998, a Lei nº 9.605 (Lei dos Crimes Ambientais) regulamentou a previsão constitucional (art. 225, § 3º), trazendo a efetiva possibilidade de criminalização da pessoa jurídica, mas pouco esclareceu acerca das difi-culdades dogmáticas e práticas na seara penal e processual penal. Em um

* O artigo originou-se de pesquisa realizada no período compreendido de janeiro a novembro de 2015 para desenvolvimento do trabalho de conclusão de curso da acadêmica Ana Cecília Froehlich Soares, orientada pela Professora Mestre Renata Jardim da Cunha Rieger. O trabalho, intitulado “A responsabilidade penal da pessoa jurídica: a superação do critério da dupla imputação pelos Tribunais Superiores e Tribunais Regionais Federais”, foi apresentado à banca examinadora composta pelos Professores Fabiano Kingeski Clementel, Ricardo Strauch Aveline e Renata Jardim da Cunha Rieger em 2 de dezembro de 2016, obtendo nota máxima.

2 Para aprofundamento das dificuldades de compatibilização da responsabilidade penal da pessoa jurídica com a principiologia do direito penal e com a teoria geral do delito, ver: SOARES, Ana Cecília Froehlich. A responsabilidade penal da pessoa jurídica: a superação do critério da dupla imputação pelos Tribunais Superiores e Tribunais Regionais Federais. Trabalho de Conclusão de Curso de Direito – Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, 2015. p. 10 e ss.

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contexto de críticas, de dúvidas e de propostas, surgiu a teoria da dupla im-putação, que, em apertada síntese, significa que – para a responsabilização criminal da pessoa jurídica – é necessária a imputação simultânea de uma pessoa física. No presente artigo, serão apresentados julgados que adotaram o critério da dupla imputação e, também, as razões que fazem com que os Tribunais estejam, atualmente, dispensando-o.

No âmbito do Superior Tribunal de Justiça, tinha-se como necessária a adoção do critério da dupla imputação. A título meramente exemplificati-vo, traz-se o julgamento do Habeas Corpus nº 93.867/GO3, quando a Corte estabeleceu o não cabimento de habeas corpus em favor, exclusivamente, de pessoa jurídica e, ainda, referiu a necessidade da responsabilização si-multânea de uma pessoa física. No voto do Ministro Félix Fischer, colocou--se em relevo o sistema da dupla imputação e destacou-se que, no caso, ficara comprovada a omissão do responsável pela empresa quanto ao dano causado. A Ministra Maria Thereza de Assis Moura também se posicionou dessa forma, quando foi Relatora do Recurso em Mandado de Segurança nº 27.593/SP4. Em sua decisão, a Ministra salientou a necessidade da dupla imputação, citando alguns julgados de seus colegas Ministros quanto ao tema, e afirmou: “Não é possível que haja a responsabilização penal da pessoa jurídica dissociada da pessoa física, que age com elemento subjeti-vo próprio”. Asseverou-se, no julgado, que a responsabilização da pessoa física junto à pessoa jurídica é elemento crucial para o prosseguimento da denúncia e que essa pessoa física tem que ter ligação direta com o delito (e não apenas configurar o responsável em contrato social).

No Recurso em Mandado de Segurança nº 37.293/SP, a Relatora Mi-nistra Laurita Vaz salientou que o critério da dupla imputação já estava pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça. Não haveria, portanto, como responsabilizar penalmente a pessoa jurídica em dissociação da pessoa fí-sica. Nessa linha, a denúncia oferecida somente contra a pessoa jurídica representaria falta de pressuposto para desenvolver corretamente o processo criminal5.

3 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, Habeas Corpus nº 93.867/GO, 5ª Turma, Rel. Min. Félix Fischer, J. 08.04.2008, Impetrante: Luiz Inácio Medeiros Barbosa, Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado de Goiás.

4 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, Recurso em Mandado de Segurança nº 27.593/SP, 6ª Turma, Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura, J. 04.09.2012, Recorrente: Petróleo Brasileiro S/A – Petrobras, Recorrido: Ministério Público do Estado de São Paulo.

5 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, Recurso em Mandado de Segurança nº 37.293/SP, 5ª Turma, Relª Min. Laurita Vaz, J. 02.05.2013, Recorrente: Arauco Forest Brasil S/A, Recorrido: Ministério Público do Estado de São Paulo.

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Os julgados citados são exemplificativos do posicionamento que aca-bava por se expandir para os Tribunais inferiores. Nessa linha, até recente-mente, havia quase uma homogeneidade jurisprudencial, quando se tratava de exigência de observância de dupla imputação.

No que concerne à pessoa física (imputada simultaneamente), algu-mas decisões preocupavam-se em demonstrar a conduta do sujeito ativo. Aqui, mais um problema impõe-se em âmbito doutrinário e jurispruden-cial, tendo-se que reconhecer a existência de quase uma “segmentação” entre os conceitos de ação e de responsabilidade na chamada “criminali-dade de empresa”6. Ainda: para aferição de responsabilidade criminal de uma pessoa física, não é suficiente um vínculo meramente formal, advindo, por exemplo, de um contrato social que conceda determinada posição ou certos poderes, até porque o desenvolvimento das relações empresariais im-plica, cada vez mais, uma divisão entre propriedade e efetivo controle da empresa7.

Em 2013, o Supremo Tribunal Federal promoveu uma importante mu-dança de entendimento, referindo ser prescindível o critério da dupla impu-tação8. O voto paradigmático foi da Ministra Rosa Weber, que observou que – mantido o critério da dupla imputação – a impossibilidade de identificar o responsável (pessoa física) levava, também, à impossibilidade de imposição de penas por crimes ambientais. Posicionou-se, então, pela desnecessidade de demonstração de coautoria entre pessoa jurídica e física.

A Ministra observou que a possibilidade legal de responsabilizar cri-minalmente uma pessoa jurídica decorre da percepção da insuficiência e das dificuldades de responsabilizar apenas pessoas físicas. Isso porque, em organizações complexas, há enormes dificuldades práticas em identificar o sujeito concreto responsável (pessoa física).

Para a Ministra, a pessoa jurídica é destinatária da lei penal desde 1988; e a Lei dos Crimes Ambientais deu concreção à sua responsabilidade ao estipular os requisitos, os pressupostos e as penas. No seu entendimento, há uma “relativa insuficiência ou quase inadequação do Direito Penal Clás-

6 Para aprofundamento da responsabilidade da pessoa física por crimes ambientais praticados por omissão, ver: RIEGER, Renata Jardim da Cunha. A posição de garantia no direito penal ambiental: o dever de tutela do meio ambiente na criminalidade de empresa. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. passim.

7 Nesse sentido: GARCÍA CAVERO, Percy. La imputación jurídico-penal a los miembros de la empresa por delitos de domínio cometidos desde la empresa. Vina del Mar (Chile), 2006. Conferencia pronunciada en Universidad Andrés Bello.

8 BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Recurso Extraordinário nº 548.181/PR, 1ª Turma, Relª Min. Rosa Weber, J. 06.08.2013, Requerente: Ministério Público Federal, Requerido: Petróleo Brasileiro S/A – Petrobras.

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sico” para lidar com esses novos injustos, que ganham espaço na sociedade contemporânea.

O Ministro Roberto Barroso acompanhou o voto da Ministra Rosa Weber e, ainda, comparou o comando constitucional do art. 225, § 3º, ao constante no art. 37, § 6º. Aquele dispositivo não faz menção específica à responsabilidade exclusiva da pessoa jurídica ou à possibilidade de subjeti-var a culpabilidade; este, por sua vez, estabelece responsabilidade objetiva das pessoas jurídicas de direito público e das privadas que prestem serviço público sem realizar distinção entre responsabilidade objetiva e subjetiva. Concluiu o Ministro que essa comparação está “[...] um pouco a caracte-rizar que onde a Constituição não distingue é porque está admitindo qual-quer tipo de responsabilização”9. Ainda acompanhou o voto da Ministra Rosa Weber o Ministro Dias Toffoli, que já havia se posicionado em outro momento, quando do julgamento do RE 628.582-AgRg, contra a necessida-de da dupla imputação.

Mais recentemente, no julgamento do Habeas Corpus nº 248.073, a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça seguiu o entendimento do Supre-mo Tribunal Federal. Com isso, manifestou-se quanto à dispensabilidade do critério da dupla imputação e adequou-se ao entendimento da Corte Suprema10. Diante da mudança de entendimento das Cortes Superiores, os Tribunais Regionais Federais passaram a sofrer influência e a homogeneizar suas decisões11-12.

Destaca-se que a prescindibilidade da dupla imputação não significa, de forma alguma, que a pessoa física não será denunciada. Se for verificada sua relação com o crime, ela deve, sim, integrar o polo passivo da ação

9 Idem.10 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, Habeas Corpus nº 248.073/MT, 5ª Turma, Relª Min. Laurita Vaz,

J. 01.04.2014, Impetrantes: Romulo Gobbi do Amaral e outro, Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso.

11 Nesse sentido: BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Apelação Criminal nº 5000082-91.2011.404.7119/RS, 8ª Turma, Rel. Des. João Pedro Gebran Neto, J. 11.03.2015, Apelantes: Elton Regis Cordero Spode; Industria de Calcarios Caçapava Ltda.; Marcelo Cordero Spode, Recorrido: Ministério Público Federal. Verificam-se, contudo, algumas decisões recentes de Tribunais Regionais Federais que seguem adotando o critério. Em agosto de 2015, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região entendeu, em mandado de segurança impetrado pela pessoa jurídica, que, na denúncia, deveria constar a pessoa jurídica e física, e julgou inepta, alegando o cerceamento de defesa: BRASIL. Tribunal Regional Federal da 3ª Região, Mandado de Segurança nº 0023262-66.2014.4.03.0000/SP, 4ª Seção, Rel. Des. Mauricio Kato, J. 20.08.2015, Impetrante: Petrobras Transporte S/A Transpetro, Impetrado: Juízo Federal da 1ª Vara de Caraguatatuba.

12 Para aprofundamento do entendimento dos Tribunais Regionais Federais, ver: SOARES, Ana Cecília Froehlich. A responsabilidade penal da pessoa jurídica: a superação do critério da dupla imputação pelos Tribunais Superiores e Tribunais Regionais Federais. Trabalho de Conclusão de Curso de Direito – Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, 2015. p. 49 e ss.

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processual penal. O que parece estar sendo superado, em âmbito jurispru-dencial, é a exigência de imputação simultânea de uma pessoa física.

Esse novo entendimento demonstra a fragilidade de categorias do Di-reito Penal Clássico e impõe uma releitura de institutos já consolidados, a exemplo dos elementos subjetivos do tipo e das categorias da culpabili-dade. Parece, também, prudente e necessária uma atuação do legislador no âmbito do processo penal, regulamentando as particularidades de uma investigação e de um processo criminal em face de uma pessoa jurídica.

REFERÊNCIAS

GARCÍA CAVERO, Percy. La imputación jurídico-penal a los miembros de la empresa por delitos de domínio cometidos desde la empresa. Vina del Mar (Chile), 2006. Conferencia pronunciada en Universidad Andrés Bello.

RIEGER, Renata Jardim da Cunha. A posição de garantia no direito penal ambiental: o dever de tutela do meio ambiente na criminalidade de empresa. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011.

SOARES, Ana Cecília Froehlich. A responsabilidade penal da pessoa jurídi-ca: a superação do critério da dupla imputação pelos Tribunais Superiores e Tribunais Regionais Federais. Trabalho de Conclusão de Curso de Direito – Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, 2015.

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Assunto Especial – Acórdão na Íntegra

A Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica nos Crimes Ambientais

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Superior Tribunal de JustiçaRecurso Especial nº 1.329.837 – MT (2012/0126025‑5)Relator: Ministro Sebastião Reis JúniorRecorrente: Compensados Sorgato Ltda.Advogado: Reginaldo Siqueira Faria e outro(s)Recorrido: Ministério Público do Estado de Mato Grosso

EMENTA

RECURSO ESPECIAL – DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL – LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE – LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS – LEI Nº 9.605/1998 – RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOA JURÍDICA – RESTITUIÇÃO DE COISA APREENDIDA – CARGA DE MADEIRA – QUANTIDADE E ESPÉCIE DE MADEIRA TRANSPORTADA DISSONANTE DA GUIA FLORESTAL – INDÍCIOS DE PRÁTICA DE DELITO AMBIENTAL – INDEVIDA RESTITUIÇÃO – LAUDO TÉCNICO – REVISÃO – SÚMULA Nº 7/STJ – MATÉRIA CONSTITUCIONAL – STF

1. A denominada Lei dos Crimes Ambientais, Lei nº 9.605/1998, re-presenta, para muitos, um avanço para a sociedade brasileira, princi-palmente pela acolhida explícita da responsabilidade penal das pes-soas jurídicas e pela criminalização de diversas condutas lesivas ao meio ambiente, anteriormente não tipificadas por nosso ordenamento jurídico.

2. A restituição, quando apreciada pelo magistrado, deve atender aos mesmos pressupostos exigidos na ocasião de seu exame pela auto-ridade policial: a) ser comprovada a propriedade; b) o bem não ser confiscável (art. 91, II, do CP); e c) o bem não mais interessar ao in-quérito policial ou à ação penal.

3. Diante de indícios de que a coisa apreendida – carregamento de madeira – constitui objeto de crime ambiental, nos termos do art. 46, parágrafo único, da Lei nº 9.605/1998, não pode ser ela restituída em parte ou em sua totalidade à pessoa jurídica porque, inclusive, é pas-

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sível de doação a instituições científicas, hospitalares, penais e outra com fins beneficentes, nos termos do art. 25, § 3º, da aludida lei.

4. A transação penal é oferecida somente individualmente, em razão da necessidade da análise dos critérios subjetivos determinados no art. 76 da Lei nº 9.099/1995. Diante disso, a homologação da conci-liação pré-processual concedida a um único agente não alcança, de forma automática, todos os demais envolvidos na conduta delitiva, sobretudo não elide responsabilidade penal da pessoa jurídica.

5. O exame da irregularidade no laudo pericial se depara, na via es-pecial, com o óbice disposto na Súmula nº 7/STJ.

6. A violação de preceitos, dispositivos ou princípios constitucionais revela-se quaestio afeta à competência do Supremo Tribunal Federal, provocado pela via do extraordinário; motivo pelo qual não se pode conhecer do recurso especial nesse aspecto, em função do disposto no art. 105, III, da Constituição Federal.

7. Recurso especial improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro, Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ/SP) e Maria Thereza de Assis Moura votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 08 de setembro de 2015 (data do Julgamento).

Ministro Sebastião Reis Júnior Relator

RELATÓRIO

O Exmo. Sr. Ministro Sebastião Reis Júnior: Trata-se de recurso es-pecial interposto por Compensados Sorgato Ltda., com fulcro no art. 105, III, a, da Constituição da República, contra acórdão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (Apelação Criminal nº 10699/2010), o qual, em razão da suposta prática de crime ambiental, nos termos da Lei nº 9.605/1998, negou

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à ora recorrente a restituição da madeira apreendida, porque a quantidade e a espécie verificada no carregamento se mostrou diversa da autorizada na guia florestal (fls. 223/235 e 263/274).

Esta, a ementa do acórdão estadual (fl. 229):

APELAÇÃO CRIMINAL – RESTITUIÇÃO DE COISAS APREENDIDAS – CAR-GA DE MADEIRA – QUANTIDADE E ESPÉCIE DE MADEIRA TRANSPOR-TADA DISCREPANTES DA GUIA FLORESTAL – INDÍCIOS DA PRÁTICA DE CRIME AMBIENTAL – CARGA QUE, EM TESE, CONSTITUI-SE EM PRODU-TO DE INFRAÇÃO PENAL – INTELIGÊNCIA DO ART. 25, CAPUT E § 2º, DA LEI Nº 9.605/1998 – IMPOSSIBILIDADE DE RESTITUIÇÃO – DECISÃO MANTIDA – RECURSO IMPROVIDO

Havendo indícios contundentes da prática de crime ambiental, revelado pelo transporte de madeira em quantidade e espécie diversas daquelas autorizadas na Guia Florestal, a carga de madeira apreendida constitui, em tese, produto do crime ambiental, circunstância a inviabilizar a pretendida restituição.

Opostos embargos de declaração, estes foram rejeitados (fls. 263/274).

O Tribunal a quo relatou a lide nos seguintes termos (fls. 231/232):

[...]

A situação fática descrita nos autos revela que, na data de 11.3.2010, foram apreendidos um veículo caminhão (Placa NJE 9832), o respectivo semi-re-boque (Placa NJI 0582) e a carga nele contida, de 61,17 m3 de madeira em lâminas, pertencente à recorrente. Referida apreensão deveu-se à constata-ção de que a “volumetria da madeira descrita na nota fiscal nº 000.000.142 e na GF 124 não correspondia ao volume real que estava sendo transporta-do” (Termo Circunstanciado nº 0007/2010-4 – fl. 19), caracterizando, em tese, a conduta criminosa descrita no art. 46 da Lei de Crimes Ambientais (9.605/1998).

Postulada a restituição dos bens apreendidos, restou indeferida a liberação apenas da madeira apreendida, ao fundamento de que “havendo transporte a maior do mencionado na nota, não há como se alegar legalidade da carga, uma vez que a ilicitude de parte contamina integralmente o objeto”. Pois bem. A despeito da alegação do Recorrente de estar parte da carga de madei-ra (45,012m3) em consonância com a documentação ambiental apresentada, constata-se da documentação acostadas aos autos que, além da quantidade (volumetria) da madeira transportada estar além daquela constante na Nota Fiscal e na Guia Florestal, também as espécies de madeira discrepavam da documentação oficial.

Com efeito, enquanto a carga apreendida era composta de vegetal da espé-cie Trattinnickia sp. (Amescla), consoante se extrai do laudo pericial visto às

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fls. 114/120, colhe-se da Nota Fiscal e da Guia Florestal (fls. 21/25) que as espécies declaradas e cujo transporte foi autorizado eram 02 outras, a saber: Buchenavia sp. (Mirindiba) e Cariniana sp. (Jequitibá).

Assim, do que consta dos autos, conclui-se que a irregularidade recaiu não apenas sobre a quantidade, mas também sobre a espécie da madeira trans-portada, pois em frontal divergência com o que declarado pela empresa ad-quirente e autorizado pela autoridade ambiental.

Tal discrepância, por abranger a totalidade da madeira transportada e apre-endida, a torna por inteiro, em tese, produto de crime ambiental.

[...]

No recurso especial, a defesa alega que o acórdão a quo violou os arts. 5º, XLVI, b, e LIV e LVII, da Constituição da República, 120 do Có-digo de Processo Penal, 91 do Código Penal e 25 da Lei nº 9.605/1998, porque o acórdão estadual não interpretou adequadamente o art. 25 da Lei nº 9.605/1998, eis que não foi a intenção do legislador a apreensão gene-ralizada de todos os produtos e veículos nas infrações ambientais (fl. 285).

Aduz que a empresa foi privada de seus bens sem o devido processo legal, isto é, sem a existência de sentença penal condenatória não haverá pena de perdimento, na forma do art. 91 do Código Penal (fl. 285).

Alega que, diante da homologação de transação penal, não há falar em denúncia e muito menos em sentença penal condenatória, consoante previsão do art. 89 da Lei nº 9.099/1995, ou seja, verifica-se que durante o processamento do recurso de apelação criminal, o autor dos fatos (motorista do veículo transportador) aceitou a proposta de transação penal oferecida pelo representante do Parquet, consoante claramente se infere da fotocópia do Termo de Audiência de Conciliação ora coligido, no processo nº 245-85.2010.811.0096, Juizado Especial de Itaúba/MT, conforme se verifica dos autos, pelo que inexistiu sentença penal condenatória. Importante consig-nar ainda, que na proposta de transação penal, não se verifica entre as con-dições impostas, o perdimento definitivo dos bens apreendidos (fl. 293).

Sustenta, ainda, que deverá, sob pena de ofensa aos princípios da legalidade, razoabilidade e proporcionalidade, ser liberada a totalidade da madeira apreendida uma vez que a autoridade coatora não elaborou o lau-do técnico de constatação, ou caso esse não seja o entendimento de V. Exc., que seja liberada a quantidade de madeira devidamente madeira acoberta-da pela guia florestal (fl. 301).

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Requer a restituição dos produtos apreendidos, quais sejam, 45 m3 de madeira e, alternativamente, a devolução parcial da carga apreendida, quantidade regularmente inscrita na guia florestal (fl. 306).

Contrarrazões ofertadas, por meio das quais se sustenta a manutenção do acórdão recorrido (fls. 348/354).

O Ministério Público Federal opinou pelo não provimento do recurso (fls. 387/391).

É o relatório.

VOTO

O Exmo. Sr. Ministro Sebastião Reis Júnior (Relator): A denominada Lei dos Crimes Ambientais, Lei nº 9.605/1998, representa, para muitos, um avanço para a sociedade brasileira, principalmente pela acolhida explícita da responsabilidade penal das pessoas jurídicas – como no presente caso – e pela criminalização de diversas condutas lesivas ao meio ambiente, an-teriormente não tipificadas por nosso ordenamento jurídico.

Antes de examinar o mérito do recurso, oportuna a transcrição das normas de regência, quais sejam, os arts. 118, 119 e 120, todos do Código de Processo Penal:

Art. 118. Antes de transitar em julgado a sentença final, as coisas apreendidas não poderão ser restituídas enquanto interessarem ao processo.

Art. 119. As coisas a que se referem os arts. 74 (*atual art. 91, II) e 100 do CP não poderão ser restituídas, mesmo depois de transitar em julgado a sentença final, salvo se pertencerem ao lesado ou a terceiro de boa-fé. (*acrescentei)

Art. 120. A restituição, quando cabível, poderá ser ordenada pela autorida-de policial ou juiz, mediante termo nos autos, desde que não exista dúvida quando ao direito do reclamante.

Tendo em vista a exegese das normas citadas, a doutrina pátria, sobre a restituição de bens apreendidos, considera que:

[...]

Com a apreensão se procura, inclusive, permitir ao juiz que conheça todos os elementos materiais para a elucidação do crime, razão por que devem acompanhar os autos do inquérito (art. 11) e, enquanto interessarem ao pro-cesso, permanecer em juízo. Ao juiz cabe dizer se elas interessam ou não ao processo. Após o trânsito em julgado da sentença devem ser devolvidas ao

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interessado, se não forem objeto de confisco, por não serem mais úteis ao processo. Refere-se a lei à “sentença final”, que abrange não só a de mérito mas também decisões interlocutórias, com força de definitiva, como a impro-núncia, e a decisão que extingue a punibilidade. O Estado é responsável por elas (art. 37, § 6º, da CF).

(MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de Processo Penal Interpretado. Ed. Sarai-va, 2001, p. 354 – grifo nosso)

Nesse contexto, a restituição, quando apreciada pelo magistrado, deve atender aos mesmos pressupostos exigidos na ocasião de seu exame pela autoridade policial: a) ser comprovada a propriedade; b) o bem não ser confiscável (art. 91, II, do CP); e c) o bem não mais interessar ao inquérito policial ou à ação penal.

No caso concreto, os pressupostos acima não foram atendidos em sua totalidade. Melhor esclarecendo, a apreensão da madeira ocorreu em de-corrência de suposto delito ambiental, nos termos da Lei nº 9.605/1998. Ou seja, de acordo com o Termo Circunstanciado nº 0007/2010-4-DPF/SIC/MT, a volumetria da madeira descrita na Nota Fiscal nº 000.000.142 e na Guia Florestal nº 124 não correspondia ao volume real transportado pelo ora recorrente, isto é, constatou-se que, em invés de 45 m3, o caminhão trans-portava 60 m3 (fls. 3/8 e 17/140).

Diante disso, o Juízo da Vara Única da Comarca de Itaúba/MT deferiu o pedido de restituição dos veículos ao recorrente, negando, entretanto, a devolução da madeira apreendida. Naquela ocasião, consignou que nem mesmo a liberação parcial da madeira se fazia pertinente, porque, havendo transporte a maior do mencionado na nota, não há como se alegar legali-dade da carga, uma vez que a ilicitude de parte contamina integralmente o objeto (fls. 137/140).

De igual modo entendeu o acórdão recorrido, sob o argumento de que a irregularidade recaiu não apenas sobre a quantidade, mas também so-bre sua qualidade, isto é, sobre a espécie da madeira transportada, consoan-te disposto no voto condutor (fls. 231/232):

[...]

Postulada a restituição dos bens apreendidos, restou indeferida a liberação apenas da madeira apreendida, ao fundamento de que “havendo transporte a maior do mencionado na nota, não há como se alegar legalidade da carga, uma vez que a ilicitude de parte contamina integralmente o objeto”.

Pois bem. A despeito da alegação do Recorrente de estar parte da carga de madeira (45,012m3) em consonância com a documentação ambiental

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apresentada, constata-se da documentação acostadas aos autos que, além da quantidade (volumetria) da madeira transportada estar além daquela cons-tante na Nota Fiscal e na Guia Florestal, também as espécies de madeira discrepavam da documentação oficial.

Com efeito, enquanto a carga apreendida era composta de vegetal da espé-cie Trattinnickia sp. (Amescla), consoante se extrai do laudo pericial visto às fls. 114/120, colhe-se da Nota Fiscal e da Guia Florestal (fls. 21/25) que as espécies declaradas e cujo transporte foi autorizado eram 02 outras, a saber: Buchenavia sp. (Mirindiba) e Cariniana sp. (Jequitibá).

Assim, do que consta dos autos, conclui-se que a irregularidade recaiu não apenas sobre a quantidade, mas também sobre a espécie da madeira trans-portada, pois em frontal divergência com o que declarado pela empresa ad-quirente e autorizado pela autoridade ambiental.

Tal discrepância, por abranger a totalidade da madeira transportada e apre-endida, a torna por inteiro, em tese, produto de crime ambiental.

E, nesse contexto, havendo indícios de que a carga de madeira apreendida é produto de crime ambiental (Lei nº 9.605/1998 – art. 46, par. único), incide a norma específica que cuida de sanções penais e administrativas deriva-das de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente (Lei nº 9.605/1998 – art. 25, caput e § 2º), a prever:

Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumen-tos, lavrando-se os respectivos autos.

[...]

§ 2º Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão estes avaliados e doados a instituições científicas, hospitalares, penais e outras com fins be-neficentes.

Não se pode olvidar, ainda, do que preceitua o art. 91, II, b, do CP:

Art. 91. São efeitos da condenação: [...]

II – a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:

[...]

b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso.

[...]

Em necessária síntese, havendo indícios de que a coisa apreendida (carregamento de madeira) constitui objeto de crime ambiental, nos termos do art. 46, parágrafo único, da Lei nº 9.605/1998, não pode ser ela restituída

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em parte ou em sua totalidade à pessoa jurídica ora recorrente porque, in-clusive, é passível de doação a instituições científicas, hospitalares, penais e outra com fins beneficentes, nos termos do art. 25, § 3º, da mencionada lei.

Afora isso, caberá ao Juízo cível o exame da propriedade, quando questionável.

Por conseguinte, contravindo os argumentos recursais, o acórdão a quo aplicou adequadamente o disposto nos arts. 91 do Código Penal e 25 da Lei nº 9.605/1998, porquanto inexistente ilegalidade na apreensão de madeira irregularmente transportada, sendo dispensável qualquer sentença com trânsito em julgado para a expropriação dos bens.

E mais. O art. 120 do Código de Processo Penal, descrito acima, pres-creve que a restituição, quando possível, poderá ser ordenada pela auto-ridade policial ou juiz, mediante termo nos autos, desde que não exista dúvida quanto ao direito do reclamante.

Contudo, sobredito dispositivo não cabe no caso em análise. O re-corrente não faz jus à restituição da madeira, porque, como já ressaltado, o produto foi transportado de forma irregular, com quantidade e qualidade diferentes das descritas na nota fiscal (fls. 137/140, 223/235 e 263/274). Aqui não é possível a restituição, sendo indispensável a sua utilidade para dar prosseguimento à investigação criminal, bem como para o eventual e posterior ajuizamento da ação penal pelo Ministério Público.

No mais, a suposta homologação de transação penal não se presta como argumento suficiente para a restituição da madeira apreendida, pois, independentemente do infrator Roberto Carlos Rodrigues de Andrade – mo-torista condutor do veículo apreendido com a carga de madeira – ter aceito a proposta de transação penal, a persecução penal continua em face da em-presa ora recorrente, pois a conciliação pré-processual deve ser oferecida individualmente a cada agente, dada a necessidade de análise dos critérios subjetivos determinados no art. 76 da Lei nº 9.099/1995. Ressalte-se que, in casu, a transação penal oferecida ao motorista do caminhão não elide a responsabilidade penal da pessoa jurídica, como é o caso da ora recorrente.

Segundo o art. 76 da Lei nº 9.099/1995, a aceitação da propos-ta de transação penal não produz efeitos nas esferas criminal e cível, sendo anotada, apenas, para impedir o mesmo benefício no período de cinco anos. Logo, não haverá registro do processo para quaisquer fins (AgRg-HC 248.063/MG, Min. Marilza Maynard (Desembargadora convoca-da do TJ/SE), 6ª T., DJe 23.05.2014).

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Outro ponto nodal do recurso é a suposta irregularidade do laudo pericial. Sobre o tema, o voto condutor do acórdão a quo considerou que os peritos envolvidos detêm competência técnica, in verbis (fl. 233):

[...]

De outro turno, a análise do laudo pericial (fls. 114/120), ao contrário do sustentado pela apelante, revela que sua confecção foi feita por profissio-nais devidamente capacitados, haja vista os experts serem peritos criminais federais, devidamente habilitados para tal munus. Sobre mais, o parecer téc-nico encontra-se claro, objetivo e pormenorizado, dando conta da espécie de madeira transportada e sua volumetria. Por outro lado, vislumbra-se que a defesa não logrou demonstrar, quiçá comprovar tratar-se de profissionais incapacitados para a realização da perícia.

Quanto ao argumento de que houve erro material no preenchimento da Guia Florestal, tem-se que este não é o momento e feito adequados para ser de-batida a questão, pois é no procedimento criminal que será analisado o ele-mento volitivo (culpa ou dolo) condutor a ação dos agentes.

[...]

Diante disso, rever tal entendimento implicaria o revolvimento fático--probatório disposto nos autos, pretensão obstada, na via especial, pela in-cidência da Súmula nº 7/STJ.

Por fim, a violação do art. 5º, XLVI, b, e LIV e LVII, da Constituição da República se revela quaestio afeta à competência do Supremo Tribunal Fe-deral, provocado pela via do extraordinário; motivo pelo qual não se pode conhecer do recurso nesse aspecto, em função do disposto no art. 105, III, da Constituição Federal.

Confira-se julgado em consonância: AgRg-REsp 1.055.431/SC, Min. Og Fernandes, 6ª T., DJe 09.11.2009.

Ante o exposto, nego provimento ao recurso especial.

CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEXTA TURMA

Número Registro: 2012/0126025-5

Processo Eletrônico REsp 1.329.837/MT

Matéria criminal

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Números Origem: 1066992010 1920720108110096 32349992011 74362012 759042011

Pauta: 08.09.2015 Julgado: 08.09.2015

Relator: Exmo. Sr. Ministro Sebastião Reis Júnior

Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Sebastião Reis Júnior

Subprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Dr. Juliano Baiocci Villa-Verde de Carvalho

Secretário: Bel. Eliseu Augusto Nunes de Santana

AUTUAÇÃO

Recorrente: Compensados Sorgato Ltda.

Advogado: Reginaldo Siqueira Faria e outro(s)

Recorrido: Ministério Público do Estado de Mato Grosso

Assunto: Direito processual penal – Medidas assecuratórias – Busca e apreensão de bens

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia Sexta Turma, ao apreciar o processo em epí-grafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Sexta Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro, Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ/SP) e Maria Thereza de Assis Moura votaram com o Sr. Ministro Relator.

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Assunto Especial – Ementário

A Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica nos Crimes Ambientais

2263 – Responsabilidade penal ambiental – corte de árvores nativas – Bioma Mata Atlântica – configuração

“Agravo regimental em recurso especial. Direito penal. Crime ambiental. Materialidade. Laudo pericial. Prova suprida por outros meios. Autoria. Responsabilidade penal do só-cio administrador. 1. Resta suficientemente demonstrada a materialidade delitiva com base na notícia de infração penal ambiental, no auto de infração ambiental, no termo de embargo, no levantamento fotográfico, no auto de constatação, bem como nos de-poimentos dos policiais militares que evidenciam o corte de arvores nativas do Bioma Mata Atlântica em estágio médio de regeneração, sendo dispensável a elaboração de laudo por perito oficial mormente se os autores provocaram incêndio na floresta para a limpeza do local, comprometendo assim os vestígios deixados pelo delito e impossibili-tando ou dificultando a perícia. 2. A responsabilidade penal do sócio-administrador e da pessoa jurídica resta regularmente demonstrada na hipótese em que este concorre para a realização do crime ordenando a limpeza do terreno e mais, sabendo da prática da conduta típica descrita no art. 38 da Lei nº 9.605/1998 pelo seu preposto, deixou de agir quando podia e devia para evitá-la. 3. Agravo regimental improvido.” (STJ – AgRg-REsp 1.601.921 – (2016/0138673-0) – 6ª T. – Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura – DJe 16.09.2016)

Destaque Editorial SÍNTESEDo voto do Relator destacamos:

“[...]

‘A propósito do tema, colhe-se, por todos, o seguinte precedente deste Superior Tribunal de Justiça em hipótese análoga:

PROCESSUAL PENAL – RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS – ART. 38 DA LEI Nº 9.605/1998 – CRIME AMBIENTAL – OBRIGAÇÃO DE CONSERVAÇÃO TRANSFERIDA DO ALIENANTE/ARRENDANTE AO ADQUIRENTE/ARRENDATÁRIO DO IMÓVEL – ESTABELECIMENTO, SEGUNDO O TRIBUNAL DE ORIGEM, DE ELO MÍNIMO ENTRE A CONDUTA DO ORA RECORRENTE E A SUPOSTAMENTE PRATI-CADA – AUSÊNCIA DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM – NECESSIDADE DE REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO – INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA

1. A tese de que a imputação contida na exordial acusatória decorre exclusivamente do cargo de diretor operacional ocupado pelo recorrente nos quadros da Biosev S.A., não sendo este, por conseguinte, parte legítima para figurar no polo passivo da ação penal, não se sustenta.

2. Preambularmente, segundo entendimento jurisprudencial consagrado por esta Corte: “A conduta omissiva não deve ser tida como irrelevante para o crime ambien-tal, devendo da mesma forma ser penalizado aquele que, na condição de diretor, administrador, membro do conselho e de órgão técnico, auditor, gerente, preposto ou mandatário da pessoa jurídica, tenha conhecimento da conduta criminosa e,

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tendo poder para impedi-la, não o fez” (HC 92.822/SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Rel. p/ Ac. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 5ª T., J. 17.06.2008, DJe 13.10.2008).

3. Dessa forma, os danos ambientais constatados no caso concreto (vegetação de proteção suprimida, plantação de cana de açúcar nas proximidades de córrego, mata pertencente à margem de riacho totalmente danificada) podem, em tese, ser imputa-dos ao ora recorrente, porquanto inadmissível que o diretor operacional da empresa não tenha conhecimento de condutas criminosas de tal monta, praticadas em imóvel arrendado, objeto de exploração agrícola pela arrendatária.

4. Por outro lado, a Lei dos Crimes Ambientais (nº 9.605/1998) estabelece que: Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penal-mente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou participes do mesmo fato.

5. Assim, conforme o mencionado regramento, as pessoas jurídicas serão responsa-bilizadas nos âmbitos administrativo, civil e penal quando a infração cometida resul-te de decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade, ressalvando-se que a responsabilização da pessoa jurídica não exclui a responsabilidade das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato.

6. Na espécie, constata-se que o ora recorrente era, à época dos fatos, diretor ope-racional da Usina Biosev (Unidade de Maracaju), arrendatária do imóvel objeto de crime ambiental, sendo, portanto, representante contratual da aludida empresa.

7. Importante observar que antes de se adquirir/arrendar uma propriedade rural faz-se fundamental verificar se ela está cumprindo rigorosamente a legislação am-biental.

8. Veja-se o que estabelece o art. 38 da Lei nº 9.605/1998, verbis: Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em for-mação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção: Pena – detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade. Art. 38-A. Destruir ou danificar vegetação primária ou secundária, em estágio avançado ou médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção: (Incluído pela Lei nº 11.428, de 2006). Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. (Incluído pela Lei nº 11.428, de 2006). Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade. (Incluído pela Lei nº 11.428, de 2006).

9. Portanto, o art. 38 da supramencionada Lei visa a punir tanto aquele que causa o dano ambiental (destruir ou danificar floresta considerada de preservação perma-nente, mesmo que em formação, ou vegetação primária ou secundária em estágio avançado ou médio de regeneração), quanto quem utiliza tal bioma com infringência das normas de proteção.

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10. Isso porque a obrigação de conservação é transferida do alienante/arrendante ao adquirente/arrendatário do imóvel, independentemente de este último ter respon-sabilidade pelo dano ambiental inicial. Precedente desta Corte Superior de Justiça.

11. Tal entendimento está em perfeita harmonia com a tutela constitucional do meio ambiente (art. 225 da Carta Maga), que impõe ao Poder Público e à coletividade o dever de protegê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

12. Na hipótese vertente, conforme registrado pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul: “A materialidade do delito resta evidenciada pelos documen-tos e depoimentos constantes dos autos, pelo auto de constatação de fl. 05, pelo relatório de ocorrência de fls. 07/09, mormente pelo relatório de vistoria técnica de fls. 29/37. A autoria, por sua vez, é inconteste”.

13. Nesse sentido, a afirmação de que o acusado não poderia ser responsabilizado pelo dano ambiental é matéria de prova, cabendo a sua apreciação quando da análise do mérito da ação penal, pois constitui tema referente à convicção quanto à procedência ou não da própria ação penal.

14. De qualquer forma, a pretensão do ora recorrente não pode ser apreciada na via do habeas corpus, pois demandaria, necessariamente, o reexame do conjunto fático-probatório dos autos.

15. Recurso ordinário em habeas corpus não provido.

(RHC 64.219/MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª T., Julgado em 17.03.2016, DJe 30.03.2016)

Gize-se, de resto, que maiores considerações acerca da autoria e da materialidade do delito implicariam no reexame da prova, inviável em sede de recurso especial.

Com efeito, é assente que cabe ao aplicador da lei, na instância ordinária, analisar a existência de provas suficientes para embasar o decreto condenatório, ou a ensejar a absolvição.

De fato, não se mostra plausível nova análise do contexto fático-probatório por esta Corte Superior, que não constitui terceira instância recursal, sendo vedado o reexame de provas em sede de recurso especial, a teor do Enunciado nº 7 da súmula desta Corte, verbis:

‘A pretensão de simples reexame de prova não enseja Recurso Especial.’

Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL – TIPICIDADE DA CONDUTA – CARACTERÍSTICAS DA MATA DESTRUÍDA – REEXAME FÁTICO-PRO-BATÓRIO – IMPOSSIBILIDADE – INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 7/STJ

I – Afastar a conclusão do Tribunal de origem, quanto à existência de elementos para configuração do tipo previsto no art. 38-A da Lei nº 9.605/1998, implica o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, o que é inadmissível na via do Recurso Especial, a teor da Súmula nº 7 do Superior Tribunal de Justiça, assim enunciada: ‘A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial’.

II – Agravo Regimental improvido.

(AgRg-AREsp 464.553/ES, Relª Min. Regina Helena Costa, 5ª T., Julgado em 12.08.2014, DJe 15.08.2014)

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Tem-se, assim, que era mesmo de se negar provimento ao recurso especial porque manifestamente improcedente, já que o acórdão recorrido está em conformidade com a jurisprudência dominante deste Superior Tribunal de Justiça.

Diante do exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É como voto.”

2264 – Responsabilidade penal ambiental – delitos ambientais – precedentes“Penal e processual penal. Recurso ordinário em mandado de segurança. Responsabili-dade penal da pessoa jurídica por crime ambiental. Desnecessidade de dupla imputação concomitante à pessoa física e à pessoa jurídica. 1. Conforme orientação da 1ª Turma do STF, ‘O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a responsabiliza-ção penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação’ (RE 548181, Relª Min. Rosa weber, 1ª T., Julgado em 06.08.2013, Acórdão Eletrônico DJe-213 Divulg. 29.10.2014, Public. 30.10.2014). 2. Tem-se, assim, que é possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por deli-tos ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome. Precedentes desta Corte. 3. A personalidade fictícia atribuída à pessoa jurídica não pode servir de artifício para a prática de condutas espúrias por parte das pessoas naturais responsáveis pela sua condução. 4. Recurso ordinário a que se nega provimento.” (STJ – RMS 49.721 – (2015/0282184-2) – 5ª T. – Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca – DJe 27.05.2016)

Transcrição Editorial SÍNTESEConstituição Federal:

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

[...]

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, indepen-dentemente da obrigação de reparar os danos causados.”

2265 – Responsabilidade penal ambiental – explosivos armazenados irregularmente – autoria coletiva – reexame de fatos e provas – inviabilidade

“Habeas corpus. Direito penal e processual penal. Substitutivo de recurso constitucional. Inadequação da via eleita. Crime ambiental. Explosivos armazenados irregularmente. Autoria coletiva. Inépcia da denúncia. Responsabilidade do administrador da pessoa jurídica. Arts. 2º e 3º da Lei nº 9.605/1998. Reexame de fatos e provas. Inviabilidade. Trancamento da ação penal. Excepcionalidade. Inocorrência. 1. Contra acórdão exa-rado em recurso ordinário em habeas corpus remanesce a possibilidade de manejo do recurso extraordinário previsto no art. 102, III, da Constituição Federal. Diante da dicção constitucional, inadequada a utilização de novo habeas corpus, em caráter substitutivo. 2. Quando do recebimento da denúncia, não há exigência de cognição e avaliação

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exaustiva da prova ou apreciação exauriente dos argumentos das partes, bastando o exame da validade formal da peça e a verificação da presença de indícios suficientes de autoria e de materialidade. 3. A denúncia, na hipótese, revela ocorrência de fato típico com prova da materialidade e indícios suficientes de autoria, de modo a possibilitar o pleno exercício da defesa. 4. Na dicção dos arts. 2º e 3º da Lei nº 9.605/1996, possível a responsabilização penal dos administradores da pessoa jurídica pela prática de crimes ambientais. 5. A identificação o mais aproximada possível dos setores e agentes internos da empresa determinantes na produção do fato ilícito, porque envolvidos no processo de deliberação ou execução do ato que veio a se revelar lesivo de bens jurídicos tutela-dos pela legislação penal ambiental, tem relevância e deve ser averiguada no curso da instrução criminal. 6. Inviável a análise do liame entre a conduta dos pacientes e o fato criminoso, porquanto demandaria o reexame e a valoração de fatos e provas, para o que não se presta a via eleita. 7. O trancamento da ação penal na via do habeas corpus só se mostra cabível em casos excepcionalíssimos de manifestas (i) atipicidade da conduta, (ii) presença de causa extintiva de punibilidade ou (iii) ausência de suporte probatório mínimo de autoria e materialidade delitivas, o que não ocorre no presente caso. 8. Habeas corpus extinto sem resolução do mérito.” (STF – HC 128.435 – Tocantins – 1ª T. – Relª Min. Rosa Weber – J. 20.10.2015)

Comentário Editorial SÍNTESECuida-se de habeas corpus com pedido de liminar impetrado contra acórdão do Superior Tribunal de Justiça.

Consta dos autos que os pacientes foram flagrados mantendo em depósito três ex-plosivos encartuchados da marca “Dinapex” e trinta e quatro retardos MS20, subs-tâncias estas nocivas à saúde humana e ao meio ambiente, em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Os mesmos foram denunciados pela suposta prática do crime previsto no art. 56, caput, da Lei nº 9.605/1998.

Alega o impetrante que “[...] a possibilidade de trancamento da ação penal dada a inépcia da denúncia. Pontua que a conduta delitiva dos pacientes, lastreada no fato de ostentarem a condição de sócios e administradores da empresa investigada, não foi individualizada. Sustenta a inviabilidade de oferecimento de denúncia genérica e que o crime tipificado no art. 56 da Lei nº 9.605/1998, ‘que consiste em norma penal em branco’, ‘necessita da remissão à norma administrativa violada para vali-dar a acusação’”.

Aduziu pela suspensão do feito de origem até o julgamento definitivo da presente impetração. No mérito, pugnou pelo trancamento da ação penal de origem.

Assim, entendeu o nobre Ministro Relator:

“[...]

Quanto ao tema, colho do magistério de Passos de Freitas:

‘a responsabilidade da pessoa jurídica não exclui a das pessoas naturais. O art. 3º, parágrafo único, da Lei nº 9.605/1998 é explícito a respeito. Assim, a denúncia po-derá ser dirigida apenas contra a pessoa jurídica, caso não se descubra a autoria ou participação das pessoas naturais, e poderá, também, ser direcionada contra todos. Foi exatamente por isto que elas, as pessoas jurídicas, passaram a ser responsabi-lizadas. Na maioria absoluta dos casos, não se descobre a autoria do delito. Com

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isto, a punição findava por ser na pessoa de um empregado, de regra o último elo da hierarquia da corporação. E, quanto mais poderosa a pessoa jurídica, mais difícil se tornava identificar os causadores reais do dano’ (FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes contra a natureza. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 72. Na mesma linha a posição de NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais comentadas. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, v. II, 2013. p. 516).

Nesse prisma, reputo ser inviável, na hipótese, o reconhecimento da tese defensiva de falta de individualização das condutas imputadas aos pacientes ante a dificulda-de prática de se identificar a pessoa física diretamente responsável pelo ato crimino-so corporativo, até porque no mínimo inusual seja sua prática submetida à votação do conselho de diretores ou objeto de registro documental.

De outro lado, como bem destacado na decisão do STJ, a conclusão de que a de-núncia é inepta em absoluto pode ser extraída de seus termos, enquanto deixam entrever que pacientes, sócios e administradores da pessoa jurídica, tinham poderes de gerência e sabiam do armazenamento na empresa de substâncias tóxicas em de-sacordo com o regulamento. Já ao paciente Neildo, se atribuiu naquela peça a con-dição de empregado responsável pela manutenção e guarda das substâncias tóxicas.

Ademais, quando do recebimento da denúncia, não há exigência de cognição e avaliação exaustiva da prova ou apreciação exauriente dos argumentos das partes, bastando o exame da validade formal da peça e a verificação da presença de indícios suficientes de autoria e de materialidade, de modo que seu recebimento não implica conclusão quanto à responsabilidade criminal dos pacientes.

Todos os detalhamentos das condutas imputadas aos acusados e a comprovação dos fatos a eles imputados serão tempestivamente analisadas no decorrer da instrução criminal a que serão submetidos. Aliás, inviável a análise do liame entre a conduta dos pacientes e o fato criminoso, porquanto demandaria o reexame e a valoração de fatos e provas, para o que não se presta a via eleita. Esta Suprema Corte já assentou que ‘o caráter sumaríssimo da via jurídico-processual do habeas corpus não permite que se proceda, no âmbito estreito do writ constitucional, a qualquer indagação de ordem probatória nem mesmo a qualquer rediscussão em torno da autoria do fato delituoso’ (HC 89.823/MG, Rel. Min. Celso de Mello, 2ª T., DJe 31.10.2008).

Quanto à alegação defensiva de falta de especificação do dispositivo regulamentar de complementação da norma penal em branco do art. 56 da Lei nº 9.605/1996, nada colhe o writ.

O princípio da congruência ou correlação no processo penal estabelece a necessi-dade de correspondência entre a exposição dos fatos narrados pela acusação e a sentença. Por isso, o réu se defende dos fatos, e não da classificação jurídica da conduta a ele imputada.

Nesse diapasão, na esteira do parecer ministerial, ‘na denúncia cabe ao Ministério Público descrever o fato atribuído ao acusado, sendo a lei, em tese, de conhecimento geral, não precisando ser expressamente referida’. De todo modo, ‘o fato de a denún-cia não ter feito expressa referência à lei ou ao regulamento que proíbe o depósito daqueles explosivos não importa no reconhecimento da sua inépcia’.

Ao exame dos autos, não vislumbro manifesta ilegalidade nas decisões das instân-cias anteriores, ao reputarem apta a denúncia a inaugurar a ação penal, enquanto

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descreve razoavelmente o cenário dos fatos criminosos e revela a ocorrência de fato típico com prova da materialidade e indícios suficientes das autorias.

Nesse contexto, os fatos descritos na denúncia recomendam o processamento da ação penal, e não o seu trancamento, este admitido somente diante de situações excepcionalíssimas, em que presentes ‘a percepção, de plano, da atipicidade da conduta, da incidência da causa de extinção punibilidade ou a ausência de indícios de autoria e materialidade’ (RHC 115.044/BA, Rel. Min. Gilmar Mendes, 2ª T., DJe 10.04.2014), hipóteses não evidenciadas no caso.

Por derradeiro, em consulta ao andamento processual da ação penal de origem, disponibilizado no sítio eletrônico do Tribunal de Justiça do Estado de Tocantins, verifico que os autos estão conclusos para sentença desde 15.07.2014.

Ante o exposto, voto pela extinção do presente habeas corpus sem resolução do mérito.”

Dessa forma, o Supremo Tribunal Federal votou pela extinção do habeas corpus.

2266 – Responsabilidade penal ambiental – resíduos sólidos – descarte irregular – não configuração

“Resíduos sólidos. Descarte irregular. Pessoa jurídica. Representantes legais. Condena-ção. Habeas corpus. Não conhecimento. Ação penal. Trancamento. Concessão de ofí-cio. Habeas corpus. Crime ambiental. Pretensão de reconhecimento de inépcia da de-núncia. Inicial que não demonstrou o mínimo nexo causal entre os acusados e a conduta a eles imputada. Consideração, apenas, da condição dos pacientes dentro da empresa. Ausência de menção à competência funcional dos imputados. Configuração de respon-sabilidade penal objetiva. Constrangimento ilegal evidenciado. 1. Cumpre salientar, de início, que esta Corte pacificou o entendimento de que o trancamento de ação penal pela via eleita é medida excepcional, cabível apenas quando demonstrada, de plano, a atipicidade da conduta, a extinção da punibilidade ou a manifesta ausência de provas da existência do crime e de indícios de autoria. 2. No caso dos autos, observa-se que não se demonstrou de que forma os pacientes concorreram para o fato delituoso a eles im-putado na acusação, tendo-lhes sido atribuída a conduta criminosa exclusivamente pelo fato de serem diretores da empresa. 3. O Superior Tribunal de Justiça tem reiteradamente decidido ser inepta a denúncia que, mesmo em crimes societários e de autoria coletiva, atribui responsabilidade penal à pessoa física, levando em consideração apenas a qua-lidade dela dentro da empresa, deixando de demonstrar o vínculo desta com a conduta delituosa, por configurar, além de ofensa à ampla defesa, ao contraditório e ao devido processo legal, responsabilidade penal objetiva, repudiada pelo ordenamento jurídico pátrio. 4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício, para trancar a ação penal proposta contra os pacientes, sem prejuízo de que outra denúncia seja oferecida, desde que preenchidas as exigências legais.” (STJ – HC 349.073 – (2016/0036818-0) – 6ª T. – Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura – DJe 04.05.2016)

2267 – Responsabilidade penal ambiental – restituição de coisa apreendida – quanti-dade e espécie de madeira transportada dissonante da guia florestal – indícios de prática de delito – configuração

“Recurso especial. Direito penal e processo penal. Legislação extravagante. Lei dos cri-mes ambientais. Lei nº 9.605/1998. Responsabilidade penal de pessoa jurídica. Resti-

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tuição de coisa apreendida. Carga de madeira. Quantidade e espécie de madeira trans-portada dissonante da guia florestal. Indícios de prática de delito ambiental. Indevida restituição. Laudo técnico. Revisão. Súmula nº 7/STJ. Matéria constitucional. STF. 1. A denominada Lei dos Crimes Ambientais, Lei nº 9.605/1998, representa, para muitos, um avanço para a sociedade brasileira, principalmente pela acolhida explícita da responsa-bilidade penal das pessoas jurídicas e pela criminalização de diversas condutas lesivas ao meio ambiente, anteriormente não tipificadas por nosso ordenamento jurídico. 2. A restituição, quando apreciada pelo magistrado, deve atender aos mesmos pressupostos exigidos na ocasião de seu exame pela autoridade policial: a) ser comprovada a proprie-dade; b) o bem não ser confiscável (art. 91, II, do CP); e c) o bem não mais interessar ao inquérito policial ou à ação penal. 3. Diante de indícios de que a coisa apreendi-da – carregamento de madeira – constitui objeto de crime ambiental, nos termos do art. 46, parágrafo único, da Lei nº 9.605/1998, não pode ser ela restituída em parte ou em sua totalidade à pessoa jurídica porque, inclusive, é passível de doação a instituições científicas, hospitalares, penais e outra com fins beneficentes, nos termos do art. 25, § 3º, da aludida lei. 4. A transação penal é oferecida somente individualmente, em ra-zão da necessidade da análise dos critérios subjetivos determinados no art. 76 da Lei nº 9.099/1995. Diante disso, a homologação da conciliação pré-processual concedida a um único agente não alcança, de forma automática, todos os demais envolvidos na con-duta delitiva, sobretudo não elide responsabilidade penal da pessoa jurídica. 5. O exame da irregularidade no laudo pericial se depara, na via especial, com o óbice disposto na Súmula nº 7/STJ. 6. A violação de preceitos, dispositivos ou princípios constitucionais revela-se quaestio afeta à competência do Supremo Tribunal Federal, provocado pela via do extraordinário; Motivo pelo qual não se pode conhecer do recurso especial nesse aspecto, em função do disposto no art. 105, III, da Constituição Federal. 7. Recurso espe-cial improvido.” (STJ – REsp 1.329.837 – (2012/0126025-5) – 6ª T. – Rel. Min. Sebastião Reis Júnior – DJe 29.09.2015)

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Parte Geral – Doutrina

A Negligência dos Municípios em Instituir o Plano Municipal de Resíduos Sólidos

GINA COPOLAAdvogada militante em Direito Administrativo, Pós-Graduada em Direito Administrativo pela FMU, Ex-Professora de Direito Administrativo na FMU. Autora dos livros Elementos de Direito Ambiental (Rio de Janeiro, 2003), Desestatização e Terceirização (São Paulo, 2006), A Lei dos Crimes Ambientais, Comentada Artigo por Artigo (Minas Gerais, 2008, 2. ed. em 2012) e A Improbidade Administrativa no Direito Brasileiro (Minas Gerais, 2011). Coautora do livro Comentários ao Sistema Legal Brasileiro de Licitações e Contratos Administrativos (São Paulo, 2016). Autora de mais de uma centena de artigos sobre o tema de direito administrativo e ambiental, todos publicados em periódicos especializados.

I – Na sessão ordinária do Plenário do eg. Tribunal de Contas do Esta-do de São Paulo, realizada em 9 de novembro de 2016, chamou-nos a aten-ção um relevante comentário do Excelentíssimo Senhor Doutor Presidente daquela colenda Corte, Dimas Eduardo Ramalho, que aduziu a respeito dos Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, e afirmou, com base em dados de fiscalização, que apenas 51,54% (cinquenta e um vírgula cinquenta e quatro por cento) dos Municípios paulistas instituíram o rele-vante Plano.

E, ainda, informou o Sr. Presidente que o relatório está disponível no site do Tribunal, e que providências serão adotadas pelo eg. Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.

A negativa em instituir tal relevante Plano por metade dos Municípios paulistas revela lamentável negligência com assunto de tamanha imprescin-dibilidade.

II – Ocorre, porém, que tal negligência pode acarretar graves conse-quências aos Municípios, conforme se passa a discorrer.

Reza o art. 18 da Lei federal nº 12.305, de 2010:

Art. 18. A elaboração de plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, nos termos previstos por esta Lei, é condição para o Distrito Federal e os Municípios terem acesso a recursos da União, ou por ela controlados, destinados a empreendimentos e serviços relacionados à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, ou para serem beneficiados por incentivos ou

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financiamentos de entidades federais de crédito ou fomento para tal finali-dade.

Tem-se, portanto, que os Municípios que não instituírem o Plano Mu-nicipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, ou o instituírem de forma incompleta ou incorreta, não terão acesso a recursos da União, destinados a empreendimentos e serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, ou para serem beneficiados por incentivos ou financiamentos de entidades federais de crédito ou fomento para tal finalidade.

Ou seja, os Municípios brasileiros que não instituírem o Plano Muni-cipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos não receberão incentivos e benefícios da União, incluídas as verbas do PAC, nem tampouco poderão celebrar convênio com o Governo Federal objetivando a limpeza urbana e o manejo de resíduos sólidos.

Ocorre que tal restrição referida anteriormente é apenas uma das con-sequências negativas a serem impostas aos Senhores Prefeitos Municipais em decorrência da omissão na elaboração e instituição do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos.

III – Vejamos outras:

Os Municípios que não instituírem o Plano Municipal de Gestão Inte-grada de Resíduos Sólidos no prazo estipulado pela Lei, não poderão celebrar contratos administrativos com objetos de tal natureza – manejo de resíduos sólidos –, conforme se depreende da leitura da Lei federal nº 12.305/2010 apreciada de forma sistemática com a Lei federal nº 11.445/2007, que é a lei que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico, e dispõe, em seu art. 3º, inciso I, alínea c, que saneamento básico é

conjunto de serviços, infra-estruturas e instalações operacionais de: [...] lim-peza urbana e manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividades, infra--estruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tra-tamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas.

Ou seja, a limpeza urbana e o manejo de resíduos, conforme pre-vistos pela Lei federal nº 12.305/2010, integram o saneamento básico, e, portanto, estão também sujeitos aos ditames da Lei federal nº 11.445/2007.

E reza, a seu turno, o art. 11 da indigitada Lei federal nº 11.445/2007 que “são condições de validade dos contratos que tenham por objeto a pres-

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40 ����������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSA Nº 36 – Mar-Abr/2017 – PARTE GERAL – DOUTRINA

tação de serviços públicos de saneamento básico: I – a existência de plano de saneamento básico”.

Tem-se, portanto, que, para a validade de contratos de serviços pú-blicos de saneamento básico é imprescindível a existência do plano de sa-neamento básico, do qual constam a limpeza urbana e o manejo de resídu-os (art. 3º, I, c, da Lei nº 11.445/2007).

Antes da edição da Lei nº 12.305/2010, os planos de resíduos sóli-dos necessitavam conter apenas o previsto na Lei nº 11.445/2007, e ape-nas isto, porém com a edição da Lei nº 12.305/2010, o plano de resíduos sólidos deve seguir fielmente o estipulado pela nova lei, inclusive no que se refere ao extenso Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Só-lidos, com o conteúdo constante do rol exaustivo do art. 19 da citada Lei nº 12.305/2010.

E, dessa forma, a não edição do Plano Municipal resulta em deficiente plano de saneamento básico, com a consequente incidência do art. 11 da Lei nº 11.445/2007, que, por sua vez, determina a proibição de celebração de contrato para prestação de serviços de saneamento básico.

E, ainda, reza o art. 19, inciso XIII, da Lei nº 12.305/2010 que o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos deverá conter a for-ma de cobrança dos serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos, e, portanto, tem-se que a edição do plano municipal sem a observância dos moldes estipulados pela lei ensejará prejuízo à receita municipal, inclusive com a possível incidência da Lei federal nº 101, de 4 de maio de 2000, que é a Lei de Responsabilidade Fiscal.

IV – Além disso, a não edição do Plano Municipal de Gestão Inte-grada de Resíduos Sólidos, ou a sua edição deficiente, constitui ato de im-probidade administrativa, por violar o princípio da legalidade, e, portanto, com incursão no art. 11, caput, da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, e também com enquadramento no art. 10, inciso X, da mesma lei, porque o Prefeito Municipal com a não edição do Plano, ou com sua edição de forma deficiente, age negligentemente na arrecadação de tributo ou renda.

V – Além de tudo isso, o Prefeito Municipal que não instituir o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos pode sofrer sanções na seara penal, por constituir tal omissão crime de responsabilidade, previsto no art. 1º, inciso XIV, do Decreto-Lei nº 201/1967, que capitula como crime o ato de negar execução à lei federal, sem dar o motivo da recusa ou da

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impossibilidade por escrito, cuja pena é de 3 meses a 3 anos de prisão, além da perda do mandato.

É também crime ambiental a omissão na elaboração ou na aplicação do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, nos termos do art. 56 da Lei federal nº 9.605/1998, com a redação que lhe foi dada pela Lei nº 12.305/2010, o qual já tivéramos ensejo de tecer alguns comentários na 2ª edição do livro A Lei dos Crimes Ambientais comentada artigo por artigo1.

Vejamos:

O dispositivo prevê doze modalidades de conduta que podem configurar o crime em análise. São elas: a) produzir que significa fabricar, criar; b) pro-cessar que é operar algo; c) embalar é colocar em embalagem, acondicionar, d) importar é trazer para dentro do país; e) exportar é mandar para fora do país, Estado ou Município; f) comercializar é pôr a venda, vender, ceder algo de forma onerosa, g) fornecer é abastecer; h) transportar é levar de um lugar para outro; i) armazenar é conservar; j) guardar é armazenar por algum tem-po; l) ter em depósito é armazenar ou manter em lugar guardado com certa permanência; e m) usar é fazer uso, utilizar-se de algo.

É crime a prática das doze condutas supramencionadas quando pra-ticadas com relação a produto ou substância tóxica, que não pode ser in-gerida por seres humanos ou animais sob pena de causar envenenamento; produto ou substância perigosa que podem causar perigo ou risco ao meio ambiente; ou produto ou substância nociva à saúde humana que, inaladas, ingeridas ou mantidas em contato com os seres humanos, sejam capazes de causar males ou prejuízos à saúde com efeitos danosos, e, por fim, produto ou substância nociva ao meio ambiente, que são aquelas capazes de causar danos ou malefícios à fauna, à flora, ao solo, aos recursos hídricos, ao ar, à biodiversidade, etc.

O crime somente restará configurado se as doze condutas típicas fo-rem praticadas com relação aos produtos e às substâncias supramenciona-dos, e em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos, que é elemento normativo do tipo, e, portanto, se a condu-ta for praticada conforme as exigências legais e regulamentares aplicáveis, elide-se a tipificação do crime.

O elemento subjetivo do tipo é o dolo, sendo admitida a forma culpo-sa, conforme se lê do § 3º do dispositivo legal.

1 COPOLA, Gina. A Lei dos Crimes Ambientais comentada artigo por artigo. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2012. p. 143/146.

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Esse dispositivo cuida de crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa física ou jurídica. É, ainda, crime de perigo, porque é con-sumado tão só com a possibilidade do dano. Além disso, o tipo penal é de ação múltipla, ou de conteúdo variado, porque faz menção a várias modali-dades de ação que podem ser adotadas pelo agente. É crime comissivo, que é praticado por ação.

As disposições contidas nesse artigo são aplicadas também aos agro-tóxicos, cujo transporte e armazenamento também estão previstos na Lei federal nº 7.702, de 11 de julho de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e a rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o re-gistro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins.

Comete o crime previsto no caput do art. 56, ora analisado, também, a quadrilha organizada para adulteração de combustíveis, o que ocasiona danos ao mercado, aos consumidores e ao meio ambiente, conforme já deci-diu o eg. Supremo Tribunal Federal, 2ª Turma, Habeas Corpus nº 86.645-0, São Paulo, Relator Ministro Gilmar Mendes, julgado em 28.03.2006 e pu-blicado no DJ de 28.04.2006.

O § 1º do artigo ora em análise reza que nas mesmas penas incorre quem abandona os produtos ou as substâncias referidos no caput, ou os utiliza em desacordo com as normas de segurança. Tal disposição, portan-to, prevê duas ações que podem configurar o delito: a) quem abandona os produtos ou as substâncias tóxicas, perigosas ou nocivas à saúde, ou os uti-liza em desacordo com as normas ambientais ou de segurança; ou b) quem manipula, acondiciona, armazena, coleta, transporta, reutiliza, recicla ou dá destinação final a resíduos perigosos de forma diversa da estabelecida em lei ou regulamento. Tal disposição, agora prevista na Lei dos Crimes Ambientais, atende a nosso pedido formulado na 1ª edição desta obra, às fls. 156/157, no sentido de que o dispositivo contemplasse também “o des-carte, a coleta, a reutilização, a reciclagem, o tratamento, e a disposição final de substâncias ou resíduos tóxicos, ou potencialmente perigosos, ou, ainda, nocivos à saúde humana ou ao meio ambiente”. Como se vê, o legis-lador atendeu a nosso pedido.

O dispositivo é aplicável, também, ao lixo hospitalar, que precisa ser processado, transportado, armazenado e guardado corretamente, e con-forme as determinações específicas, que estão parcialmente previstas pela

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Resolução nº 5, de 5 de agosto de 1993, do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que dispõe sobre a destinação final dos resíduos provenientes dos serviços de saúde e elabora menção em seu texto às normas da Asso-ciação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, que cuidam da classificação de resíduos sólidos.

VI – E, por fim, a não elaboração do Plano pode ensejar a aplica-ção de pena pecuniária, conforme ensina o eminente Conselheiro Antônio Roque Citadini, no artigo intitulado “O Tribunal de Contas e a Política Na-cional de Resíduos Sólidos”, publicado no site do eg. TCESP, e com o se-guinte excerto:

É bom que se deixe claro, também, a possibilidade que tem o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, de aplicar penalidade pecuniária se no exa-me de determinado processo constatar a infração à norma legal. É o que au-toriza sua Lei Orgânica – a Lei Complementar nº 709/1993 – no art. 104. Isto se torna possível, dada à importância e a especificidade da matéria tratada na Lei nº 12.305, que instituiu o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, objetivan-do que alcancem os Municípios padrão de qualidade ambiental aceitável, o que resultará em acentuada melhoria na qualidade de vida da população.

Tem-se, portanto, que a omissão na instituição do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos pode ocasionar graves consequências ao Poder Público municipal.

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Parte Geral – Doutrina

Justiça Ambiental, Saúde Ambiental e Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado: o Reconhecimento da Confluência em Prol da Concretização de Direitos Humanos de Terceira Dimensão

TAUÃ LIMA VERDAN RANGEL1

Bolsista Capes, Doutorando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Di-reito da Universidade Federal Fluminense (UFF) – Linha de Pesquisa Conflitos Urbanos, Ru-rais e Socioambientais, Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especializando em Práticas Processuais – Processo Civil, Processo Penal e Processo do Trabalho pelo Centro Universitário São Camilo/ES, Bacharel em Direito pelo Centro Universitário São Camilo/ES. Produziu diversos artigos, voltados principalmente para o Direito Penal, Direito Constitucional, Direito Civil, Direito do Consumidor, Direito Administra-tivo e Direito Ambiental.

RESUMO: Imperioso se faz versar, de maneira maciça, acerca da evolução dos direitos humanos, os quais deram azo ao manancial de direitos e garantias fundamentais. Sobreleva salientar que os direi-tos humanos decorrem de uma construção paulatina, consistindo em uma afirmação e consolidação em determinado período histórico da humanidade. Quadra evidenciar que sobredita construção não se encontra finalizada; ao avesso, a marcha evolutiva rumo à conquista de direitos está em pleno desenvolvimento, fomentado, de maneira substancial, pela difusão das informações propiciada pelos atuais meios de tecnologia, os quais permitem o florescimento de novos direitos, alargando, com bastante substância, a rubrica dos temas associados aos direitos humanos. Os direitos de primeira geração ou direitos de liberdade têm por titular o indivíduo, são oponíveis ao Estado, traduzem-se como faculdades ou atributos da pessoa e ostentam subjetividade. Os direitos de segunda dimensão são os direitos sociais, culturais e econômicos, bem como os direitos coletivos ou de coletividades, introduzidos no constitucionalismo das distintas formas do Estado Social, depois que germinaram por ora de ideologia e da reflexão antiliberal. Dotados de altíssimo teor de humanismo e universalidade, os direitos de terceira geração tendem a cristalizar-se no fim do século XX enquanto direitos que não se destinam especificamente à proteção dos interesses de um indivíduo, de um grupo ou mesmo de um ente estatal especificamente.

PALAVRAS-CHAVE: Justiça Ambiental; saúde ambiental; meio ambiente ecologicamente equi - librado.

SUMÁRIO: 1 Comentários introdutórios: ponderações ao característico de mutabilidade da Ciência Jurídica; 2 Direitos humanos de terceira dimensão: a valoração dos aspectos transindividuais dos direitos de solidariedade; 3 O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como materia-lização dos direitos humanos de solidariedade: explicitação ao artigo 225 da Constituição Federal; 4 Justiça Ambiental e meio ambiente ecologicamente equilibrado; 5 Saúde ambiental: a interdisci-plinaridade da temática ambiental em prol da concretização dos direitos humanos de terceira dimen-são; Referências.

1 E-mail: [email protected].

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1 COMENTÁRIOS INTRODUTÓRIOS: PONDERAÇÕES AO CARACTERÍSTICO DE MUTABILIDADE DA CIÊNCIA JURÍDICA

Em sede de comentários inaugurais, ao se dispensar uma análise ro-busta sobre o tema colocado em debate, mister se faz evidenciar que a Ciência Jurídica, enquanto conjunto plural e multifacetado de arcabouço doutrinário e técnico, assim como as pujantes ramificações que a integra, reclama uma interpretação alicerçada nos múltiplos peculiares característi-cos modificadores que passaram a influir em sua estruturação. Neste diapa-são, trazendo a lume os aspectos de mutabilidade que passaram a orientar o Direito, tornou-se imperioso salientar, com ênfase, que não mais subsiste uma visão arrimada em preceitos estagnados e estanques, alheios às neces-sidades e às diversidades sociais que passaram a contornar os ordenamentos jurídicos. Ora, em razão do burilado, infere-se que não mais prospera a ótica de imutabilidade que outrora sedimentava a aplicação das leis, sen-do, em decorrência dos anseios da população, suplantados em uma nova sistemática. É verificável, desta sorte, que os valores adotados pela coletivi-dade, tal como os proeminentes cenários apresentados com a evolução da sociedade, passam a figurar como elementos que influenciam a confecção e aplicação das normas.

Com escora em tais premissas, cuida hastear como pavilhão de inter-pretação o “prisma de avaliação o brocardo jurídico ‘Ubi societas, ibi jus’, ou seja, ‘Onde está a sociedade, está o Direito’, tornando explícita e cristali-na a relação de interdependência que esse binômio mantém”2. Desse modo, com clareza solar, denota-se que há uma interação consolidada na mútua dependência, já que o primeiro tem suas balizas fincadas no constante pro-cesso de evolução da sociedade, com o fito de que seus diplomas legisla-tivos e institutos não fiquem inquinados de inaptidão e arcaísmo, em total descompasso com a realidade vigente. A segunda, por sua vez, apresenta estrutural dependência das regras consolidadas pelo ordenamento pátrio, cujo escopo fundamental está assentado em assegurar que inexista a difusão da prática da vingança privada, afastando, por extensão, qualquer ranço que rememore priscas eras, nas quais o homem valorizava os aspectos es-truturantes da Lei de Talião (“Olho por olho, dente por dente”), bem como para evitar que se robusteça um cenário caótico no seio da coletividade.

Afora isso, volvendo a análise do tema para o cenário pátrio, é pos-sível evidenciar que, com a promulgação da Constituição da República Fe-

2 VERDAN, Tauã Lima. Princípio da legalidade: corolário do direito penal. Jurid Publicações Eletrônicas, Bauru, 22 jun. 2009. Disponível em: <http://jornal.jurid.com.br>. Acesso em: 11 dez. 2016.

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derativa do Brasil de 1988, imprescindível se fez adotá-la como maciço axioma de sustentação do ordenamento brasileiro, primacialmente quando se objetiva a amoldagem do texto legal, genérico e abstrato, aos complexos anseios e às múltiplas necessidades que influenciam a realidade contempo-rânea. Ao lado disso, há que se citar o voto magistral proferido pelo Ministro Eros Grau, ao apreciar a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 46/DF: “O direito é um organismo vivo, peculiar porém porque não enve-lhece, nem permanece jovem, pois é contemporâneo à realidade. O direito é um dinamismo. Essa, a sua força, o seu fascínio, a sua beleza”3. Como bem pontuado, o fascínio da Ciência Jurídica jaz justamente na constante e imprescindível mutabilidade que apresenta, decorrente do dinamismo que reverbera na sociedade e orienta a aplicação dos diplomas legais.

Ainda nesta senda de exame, pode-se evidenciar que a concepção pós-positivista que passou a permear o Direito ofertou, por via de conse-quência, uma rotunda independência dos estudiosos e profissionais da Ci-ência Jurídica. Aliás, há que se citar o entendimento de Verdan: “Esta dou-trina é o ponto culminante de uma progressiva evolução acerca do valor atribuído aos princípios em face da legislação”4. Destarte, a partir de uma análise profunda de sustentáculos, infere-se que o ponto central da corrente pós-positivista cinge-se à valoração da robusta tábua principiológica que Direito e, por conseguinte, o arcabouço normativo passando a figurar, nesta tela, como normas de cunho vinculante, flâmulas hasteadas a serem adota-das na aplicação e interpretação do conteúdo das leis.

2 DIREITOS HUMANOS DE TERCEIRA DIMENSÃO: A VALORAÇÃO DOS ASPECTOS TRANSINDIVIDUAIS DOS DIREITOS DE SOLIDARIEDADE

Conforme fora visto no tópico anterior, os direitos humanos origina-ram-se ao longo da História e permanecem em constante evolução, haja vista o surgimento de novos interesses e carências da sociedade. Por essa razão, alguns doutrinadores, entre eles Bobbio5, os consideram direitos his-

3 BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 46/DF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Marcos Aurélio, J. 05.08.2009: “Empresa Pública de Correios e Telégrafos. Privilégio de entrega de correspondências. Serviço postal. Controvérsia referente à Lei Federal nº 6.538, de 22 de junho de 1978. Ato normativo que regula direitos e obrigações concernentes ao serviço postal. Previsão de sanções nas hipóteses de violação do privilégio postal. Compatibilidade com o sistema constitucional vigente. Alegação de afronta ao disposto nos arts. 1º, inciso IV; 5º, inciso XIII, 170, caput, inciso IV e parágrafo único, e 173 da Constituição do Brasil. Violação dos princípios da livre concorrência e livre iniciativa. Não caracterização. Arguição julgada improcedente. Interpretação conforme à Constituição conferida ao art. 42 da Lei nº 6.538, que estabelece sanção, se configurada a violação do privilégio postal da União. Aplicação às atividades postais descritas no art. 9º da Lei” (Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em: 11 dez. 2016).

4 Verdan, 2009, [s.p.].5 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1997. p. 3.

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tóricos, sendo divididos, tradicionalmente, em três gerações ou dimensões. A nomeada terceira dimensão encontra como fundamento o ideal da fra-ternidade (solidariedade) e tem como exemplos o direito ao meio ambiente equilibrado, à saudável qualidade de vida, ao progresso, à paz, à autodeter-minação dos povos, à proteção e defesa do consumidor, além de outros di-reitos considerados como difusos. “Dotados de altíssimo teor de humanismo e universalidade, os direitos de terceira geração tendem a cristalizar-se no fim do século XX enquanto direitos que não se destinam especificamente à proteção dos interesses de um indivíduo, de um grupo”6 ou, mesmo, de um ente estatal especificamente.

Ainda nessa esteira, é possível verificar que a construção dos direitos encampados sob a rubrica de terceira dimensão tende a identificar a exis-tência de valores concernentes a uma determinada categoria de pessoas, consideradas enquanto unidade, não mais prosperando a típica fragmenta-ção individual de seus componentes de maneira isolada, tal como ocorria em momento pretérito. Os direitos de terceira dimensão são considerados como difusos, porquanto não têm titular individual, sendo que o liame entre os seus vários titulares decorre de mera circunstância factual. Com o escopo de ilustrar, de maneira pertinente, as ponderações vertidas, insta trazer à colação o robusto entendimento explicitado pelo Ministro Celso de Mello, ao apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.856/RJ, em especial quando destaca:

Cabe assinalar, Senhor Presidente, que os direitos de terceira geração (ou de novíssima dimensão), que materializam poderes de titularidade coleti-va atribuídos, genericamente, e de modo difuso, a todos os integrantes dos agrupamentos sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem, por isso mesmo, ao lado dos denominados direitos de quarta geração (como o direito ao desenvolvimento e o direito à paz), um momento importante no processo de expansão e reconhecimento dos direitos humanos, qualificados estes, enquanto valores fundamentais indisponíveis, como prerrogativas im-pregnadas de uma natureza essencialmente inexaurível.7

6 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 21. ed. atual. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 569.7 BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.856/RJ, Tribunal Pleno, Rel.

Min. Celso de Mello, J. 26.05.2011: “Ação direta de inconstitucionalidade. Briga de galos (Lei Fluminense nº 2.895/1998). Legislação estadual que, pertinente a exposições e a competições entre aves das raças combatentes, favorece essa prática criminosa. Diploma legislativo que estimula o cometimento de atos de crueldade contra galos de briga. Crime ambiental (Lei nº 9.605/1998, art. 32). Meio ambiente. Direito à preservação de sua integridade (CF, art. 225). Prerrogativa qualificada por seu caráter de metaindividualidade. Direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão) que consagra o postulado da solidariedade. Proteção constitucional da fauna (CF, art. 225, § 1º, VII). Descaracterização da briga de galo como manifestação cultural. Reconhecimento da inconstitucionalidade da lei estadual impugnada. Ação direta procedente. Legislação estadual que autoriza a realização de exposições e competições entre aves das raças combatentes. Norma que institucionaliza a prática de crueldade contra a fauna. Inconstitucionalidade” (Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em: 11 dez. 2016).

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Nessa feita, importa acrescentar que os direitos de terceira dimensão possuem caráter transindividual, o que os faz abranger a toda a coletivida-de, sem quaisquer restrições a grupos específicos. Nesse sentido, pautaram--se Motta e Barchet, ao afirmarem, em suas ponderações, que “os direitos de terceira geração possuem natureza essencialmente transindividual, por-quanto não possuem destinatários especificados, como os de primeira e se-gunda geração, abrangendo a coletividade como um todo”8. Dessa feita, são direitos de titularidade difusa ou coletiva, alcançando destinatários indeter-minados ou, ainda, de difícil determinação. Os direitos em comento estão vinculados a valores de fraternidade ou solidariedade, sendo traduzidos de um ideal intergeracional, que liga as gerações presentes às futuras, a partir da percepção de que a qualidade de vida destas depende sobremaneira do modo de vida daquelas.

Dos ensinamentos dos célebres doutrinadores, percebe-se que o ca-ráter difuso de tais direitos permite à abrangência às gerações futuras, razão pela qual a valorização destes é de extrema relevância. “Têm primeiro por destinatários o gênero humano mesmo, num momento expressivo de sua afirmação como valor supremo em termos de existencialidade concreta”9. A respeito do assunto, Motta e Barchet10 ensinam que os direitos de terceira dimensão surgiram como “soluções” à degradação das liberdades, à dete-rioração dos direitos fundamentais em virtude do uso prejudicial das moder-nas tecnologias e desigualdade socioeconômica vigente entre as diferentes nações.

3 O DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO COMO MATERIALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DE SOLIDARIEDADE: EXPLICITAÇÃO AO ARTIGO 225 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Ao lançar mão do sedimentado jurídico-doutrinário apresentado pelo inciso I do art. 3º da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 198111, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de

8 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p. 152.9 Bonavides, 2007, p. 569.10 Motta; Barchet, 2007, p. 153: “[...] Duas são as origens básicas desses direitos: a degradação das liberdades

ou a deterioração dos demais direitos fundamentais em virtude do uso nocivo das modernas tecnologias e o nível de desigualdade social e econômica existente entre as diferentes nações. A fim de superar tais realidades, que afetam a humanidade como um todo, impõe-se o reconhecimento de direitos que também tenham tal abrangência – a humanidade como um todo –, partindo-se da ideia de que não há como se solucionar problemas globais a não ser através de soluções também globais. Tais ‘soluções’ são os direitos de terceira geração. [...]”.

11 BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 11 dez. 2016.

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formulação e aplicação, e dá outras providências, salienta que o meio am-biente consiste no conjunto e conjunto de condições, leis e influências de ordem química, física e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Pois bem, com o escopo de promover uma facilitação do aspecto conceitual apresentado, é possível verificar que o meio ambiente se assenta em um complexo diálogo de fatores abióticos, provenientes de ordem química e física, e bióticos, consistentes nas plurais e diversificadas formas de seres viventes. Para Silva, considera-se meio ambiente como “a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que pro-piciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”12.

Fiorillo13, ao tecer comentários acerca da acepção conceitual de meio ambiente, coloca em destaque que tal tema se assenta em um ideário jurídi-co indeterminado, incumbindo, ao intérprete das leis, promover o seu pre-enchimento. Dada à fluidez do tema, é possível colocar em evidência que o meio ambiente encontra íntima e umbilical relação com os componentes que cercam o ser humano, os quais são de imprescindível relevância para a sua existência. O Ministro Luiz Fux, ao apreciar a Ação Direta de Inconsti-tucionalidade nº 4.029/AM, salientou que

o meio ambiente é um conceito hoje geminado com o de saúde pública, saú-de de cada indivíduo, sadia qualidade de vida, diz a Constituição, é por isso que estou falando de saúde, e hoje todos nós sabemos que ele é imbricado, é conceitualmente geminado com o próprio desenvolvimento. Se antes nós dizíamos que o meio ambiente é compatível com o desenvolvimento, hoje nós dizemos, a partir da Constituição, tecnicamente, que não pode haver desenvolvimento senão com o meio ambiente ecologicamente equilibrado. A geminação do conceito me parece de rigor técnico, porque salta da própria Constituição Federal.14

É denotável, dessa sorte, que a constitucionalização do meio ambien-te no Brasil viabilizou um verdadeiro salto qualitativo, no que concerne, especificamente, às normas de proteção ambiental. Tal fato decorre da pre-missa de que os robustos corolários e princípios norteadores foram alçados

12 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 20.13 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 13. ed. rev., atual e ampl. São

Paulo: Editora, 2012. p. 77.14 BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.029/AM, Tribunal Pleno,

Rel. Min. Luiz Fux, J. 08.03.2012: “Ação direta de inconstitucionalidade. Lei Federal nº 11.516/2007. Criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Legitimidade da Associação Nacional dos Servidores do Ibama. Entidade de classe de âmbito nacional. Violação do art. 62, caput e § 9º, da Constituição. Não emissão de parecer pela Comissão Mista Parlamentar. Inconstitucionalidade dos arts. 5º, caput, e 6º, caput e §§ 1º e 2º, da Resolução nº 1, de 2002, do Congresso Nacional. Modulação dos efeitos temporais da nulidade (art. 27 da Lei nº 9.868/1999). Ação direta parcialmente procedente” (Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em: 11 dez. 2016).

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ao patamar constitucional, assumindo colocação eminente, ao lado das li-berdades públicas e dos direitos fundamentais. Superadas tais premissas, aprouve ao Constituinte, ao entalhar a Carta Política brasileira, ressoando os valores provenientes dos direitos de terceira dimensão, insculpidos na redação do art. 225, conceder amplo e robusto respaldo ao meio ambiente como pilar integrante dos direitos fundamentais. “Com o advento da Cons-tituição da República Federativa do Brasil de 1988, as normas de proteção ambiental são alçadas à categoria de normas constitucionais, com elabora-ção de capítulo especialmente dedicado à proteção do meio ambiente”15. Nessa toada, ainda, é observável que o caput do art. 225 da Constituição Federal16 está abalizado em quatro pilares distintos, robustos e singulares que, em conjunto, dão corpo a toda tábua ideológica e teórica que assegura o substrato de edificação da ramificação ambiental.

Primeiramente, em decorrência do tratamento dispensado pelo ar-tífice da Constituição Federal, o meio ambiente foi içado à condição de direito de todos, presentes e futuras gerações. É encarado como algo per-tencente a toda coletividade, e assim, por esse prisma, não se admite o emprego de qualquer distinção entre brasileiro nato, naturalizado ou es-trangeiro, destacando-se, sim, a necessidade de preservação, conservação e não poluição. O art. 225, devido ao cunho de direito difuso que possui, extrapola os limites territoriais do Estado brasileiro, não ficando centrado, apenas, na extensão nacional, compreendendo toda a humanidade. Nesse sentido, inclusive, o Ministro Celso de Mello, ao apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.856/RJ, destacou, com bastante pertinência, que

a preocupação com o meio ambiente – que hoje transcende o plano das presentes gerações, para também atuar em favor das gerações futuras [...] tem constituído, por isso mesmo, objeto de regulações normativas e de procla-mações jurídicas, que, ultrapassando a província meramente doméstica do direito nacional de cada Estado soberano, projetam-se no plano das declara-ções internacionais, que refletem, em sua expressão concreta, o compromis-so das Nações com o indeclinável respeito a esse direito fundamental que assiste a toda a Humanidade.17

15 THOMÉ, Romeu. Manual de direito ambiental: conforme o novo Código Florestal e a Lei Complementar nº 140/2011. 2. ed. Salvador: JusPodivm, 2012. p. 116.

16 BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 11 dez. 2016: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

17 Idem a nota 7.

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O termo “todos”, aludido na redação do caput do art. 225 da Cons-tituição Federal de 1988, faz menção aos já nascidos (presente geração) e ainda aqueles que estão por nascer (futura geração), cabendo àqueles zelar para que esses tenham à sua disposição, no mínimo, os recursos naturais que hoje existem. Tal fato encontra como arrimo a premissa de que foi reco-nhecido ao gênero humano o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao gozo de condições de vida adequada, em ambiente que permita de-senvolver todas as suas potencialidades em clima de dignidade e bem-estar. Pode-se considerar como um direito transgeracional, ou seja, ultrapassa as gerações; logo, é viável afirmar que o meio ambiente é um direito público subjetivo. Dessa feita, o ideário de que o meio ambiente substancializa pa-trimônio público a ser imperiosamente assegurado e protegido pelos orga-nismos sociais e pelas instituições estatais, qualificando verdadeiro encaro irrenunciável que se impõe, objetivando sempre o benefício das presentes e das futuras gerações, incumbindo tanto ao Poder Público quanto à coletivi-dade considerada em si mesma.

Assim, decorrente de tal fato, produz efeito erga omnes, sendo, por-tanto, oponível contra a todos, incluindo pessoa física/natural ou jurídica, de direito público interno ou externo, ou mesmo de direito privado, como também ente estatal, autarquia, fundação ou sociedade de economia mista. Impera, também, evidenciar que, como um direito difuso, não subiste a possibilidade de quantificar quantas são as pessoas atingidas, pois a polui-ção não afeta tão só a população local, mas sim toda a humanidade, pois a coletividade é indeterminada. Nessa senda, o direito à integridade do meio ambiente substancializa verdadeira prerrogativa jurídica de titularidade co-letiva, ressoando a expressão robusta de um poder deferido, não ao indi-víduo identificado em sua singularidade, mas em um sentido mais amplo, atribuído à própria coletividade social.

Com a nova sistemática entabulada pela redação do art. 225 da Carta Maior, o meio ambiente passou a ter autonomia, qual seja, não está vincula-da a lesões perpetradas contra o ser humano para se agasalhar das reprimen-das a serem utilizadas em relação ao ato perpetrado. Figura-se, ergo, como bem de uso comum do povo o segundo pilar que dá corpo aos sustentáculos do tema em tela. O axioma a ser esmiuçado está atrelado ao meio ambiente como vetor da sadia qualidade de vida, ou seja, manifesta-se na salubrida-de; precipuamente, ao vincular a espécie humana, está se tratando do bem--estar e das condições mínimas de existência. Igualmente, o sustentáculo em análise se corporifica também na higidez, ao cumprir os preceitos de ecologicamente equilibrado, salvaguardando a vida em todas as suas formas (diversidade de espécies).

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Por derradeiro, o quarto pilar é a corresponsabilidade, que impõe ao Poder Público o dever geral de se responsabilizar por todos os elementos que integram o meio ambiente, assim como a condição positiva de atuar em prol de resguardar. Igualmente, tem a obrigação de atuar no sentido de zelar, defender e preservar, asseverando que o meio ambiente permaneça intacto. Aliás, este último se diferencia de conservar, que permite a ação antrópica, viabilizando melhorias no meio ambiente, trabalhando com as premissas de desenvolvimento sustentável, aliando progresso e conserva-ção. Por seu turno, o cidadão tem o dever negativo, que se apresenta ao não poluir nem agredir o meio ambiente com sua ação. Além disso, em razão da referida corresponsabilidade, são titulares do meio ambiente os cidadãos da presente e da futura geração.

4 JUSTIÇA AMBIENTAL E MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO

O modelo de desenvolvimento liberal, estruturado no de individua-lismo econômico e mercado, consistindo na confluência de articulações entre a propriedade privada, iniciativa econômica priva e mercada, passa a apresentar, ainda na década de 1960, os primeiros sinais da problemática socioambiental. “Esse modelo de crescimento orientado por objetivos ma-teriais e econômico puramente individualista, regido por regras jurídicas de natureza privada, dissociou a natureza da economia, alheando desta, os efeitos devastadores dos princípios econômicos na natureza”18. Entre o final da década de 1960 até 1980, o discurso, envolvendo a questão ambiental, explicitava a preocupação com o esgotamento dos recursos naturais que eram dotados de maior interesse econômico, sobretudo no que se referia à exploração do petróleo. Verifica-se, neste primeiro contato, que a questão do meio ambiente estava cingida à preocupação com a sobrevivência da espécie humana, em uma aspecto puramente econômico.

Diante da possibilidade do exaurimento dos recursos naturais dotados de aspecto econômico relevante, é possível observar uma crise civilizatória advinda não apenas da escassez daqueles, à proporção que são degradados, mas também em decorrência do modelo econômico adotado, o qual, por seu aspecto, desencadeou um desequilíbrio ambiental maciço colocando em risco a sobrevivência da espécie humana, assim como, na trilha dos efeitos produzidos, o aumento do desemprego pela mecanização dos meios de produção, a miséria e a marginalidade social. O processo predatório am-biental potencializa um cenário caótico urbano, verificado, sobretudo, nos

18 FRAGA, Simone de Oliveira. Justiça ambiental como espaço para concretização da cidadania. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/direito/article/download/7055/5031>. Acesso em: 11 dez. 2016, p. 2.

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grandes centros, com formação de comunidades carentes e favelas, reduto da população marginalizada, constituindo verdadeiro bolsão de pobreza.

Conforme Lester R. Brown19, as ameaças à civilização são provocadas pela erosão do solo, pela deterioração dos sistemas biológicos e pelo esgo-tamento das reservar petrolíferas, além do comprometimento de elementos essenciais à existência humana, como, por exemplo, acesso à água potável. Aludidas ameaças desencadeiam tensões ambientais que se concretizam em crises econômicas, causadas pela dependência de alguns países dos produ-tos alimentícios oriundos de outros países, bem como das fontes de energia produzidas pelos combustíveis fósseis. É possível, neste cenário, verificar que a crise socioambiental, surgida nos Estados Unidos, a partir da década de 1960, devido à mecanização dos meios de produção e à dependência de recursos naturais, em especial matrizes energéticas (petróleo), de outros países, forneceu o insumo carecido para a construção da justiça ambien-tal, advinda da criatividade dos movimentos sociais forjados pela luta da população afrodescendente que protestava contra a discriminação causada pela maior exposição dessa população aos lixos químicos e radioativos e às indústrias geradoras de poluentes. Selene Herculano, ao abordar a definição do tema, coloca em destaque:

Por justiça ambiental entenda-se o conjunto de princípios que asseguram que nenhum grupo de pessoas, sejam grupos étnicos, raciais ou de classe, suporte uma parcela desproporcional das consequências ambientais negati-vas de operações econômicas, de políticas e programas federais, estaduais e locais, bem como resultantes da ausência ou omissão de tais políticas [...] Complementarmente, entende-se por injustiça ambiental o mecanismo pelo qual sociedades desiguais destinam a maior carga dos danos ambientais do desenvolvimento a grupos sociais de trabalhadores, populações de baixa renda, grupos raciais discriminados, populações marginalizadas e mais vul-neráveis.20

Pela moldura ofertada pela justiça ambiental, infere-se que nenhum grupo de pessoas, seja em decorrência de sua condição étnica, raciais ou de classe, suporte uma parcela desproporcional de degradação do espaço cole-tivo. “Complementarmente, entende-se por injustiça ambiental a condição de existência coletiva própria a sociedade desiguais onde operam meca-

19 BROWN, Lester R. Por uma sociedade viável. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1983. p. 5.

20 HERCULANO, Selene. Riscos e desigualdade social: a temática da justiça ambiental e sua construção no Brasil. I Encontro Nacional da Anppas. Anais..., 2002, Indaiatuba/SP, p. 1-15. Disponível em: <http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro1/gt/teoria_meio_ambiente/Selen e%20Herculano.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2016, p. 3.

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nismos sociopolíticos que destinam a maior carga dos danos ambientais”21. Diante do exposto, o termo justiça ambiental afigura-se como uma defini-ção aglutinadora e mobilizadora, eis que permite a integração de dimensões ambiental, social e ética da sustentabilidade e do desenvolvimento, corri-queiramente dissociados nos discursos e nas práticas. “Tal conceito con-tribui para reverter a fragmentação e o isolamento de vários movimentos sociais frente ao processo de globalização e reestruturação produtiva que provoca perda de soberania, desemprego, precarização do trabalho e fragi-lização do movimento sindical e social como todo”22.

Neste quadrante, mais que uma expressão do campo do direito, justi-ça ambiental assume verdadeira feição de reflexão, mobilização e bandeira de luta de diversos sujeito e entidades, tais como associações de moradores, sindicatos, grupos direta e indiretamente afetados por diversos riscos, am-bientalistas e cientistas. Joan Martínez Alier23 colocou em destaque que, “até muito recentemente, a justiça ambiental como um movimento organizado permaneceu limitado ao seu país de origem”, conquanto o ecologismo po-pular, também denominado de ecologismo dos pobres, constitua denomi-nações aplicadas a movimentos populares característicos do Terceiro Mun-do que se rebela contra os impactos ambientais que ameaçam a população mais carente, que constitui a ampla maioria do contingente populacional em muitos países. É aspecto tradicional dessas movimentações populares a base camponesa, cujos campos ou terras destinados para pastos têm sido destruídos pela mineração ou pedreiras; movimentos de pescadores artesa-nais contra os barcos de alta tecnologia ou outras formas de pesca industrial que impacta diretamente o ambiente marinho em que desenvolve a ativi-dade; e, ainda, por movimentos contrários às minas e fábricas por parte de comunidades diretamente atingidas pela contaminação do ar ou que vivem rio abaixo das instalações industriais poluidoras.

Ao lado disso, em realidades nas quais as desigualdades alcançam maior destaque, a exemplo do Brasil e seu cenário social multifacetado, dotado de contradições e antagonismos bem peculiares, a universalização da temática de movimentos sustentados pela busca da justiça ambiental alcança vulto ainda maior, assumindo outras finalidades além das relacio-nadas essencialmente ao meio ambiente, passando a configurar os anseios da população diretamente afetada, revelando-se, por vezes, ao pavilhão que

21 ACSELRAD, Henri; HERCULANO, Selene; PÁDUA, José Augusto (Org.). Justiça ambiental e cidadania. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2004. p. 9.

22 Idem, p. 18.23 ALIER, Joan Martínez. O ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens de valorização. Trad.

Maurício Waldman. São Paulo: Contexto, 2007. p 35.

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busca minorar ou contornar um histórico de desigualdade e antagonismo que se arrasta culturalmente. Trata-se, pois, de um discurso pautado na de-núncia de um quadro de robusta injustiça social, fomentado pela desigual distribuição do poder e da riqueza e pela apropriação, por parte das clas-ses sociais mais abastadas, do território e dos recursos naturais, renegando, à margem da sociedade, grupamentos sociais mais carentes, lançando-os em bolsões de pobreza. É imperioso explicitar que os aspectos econômicos apresentam-se, no cenário nacional, como a flâmula a ser observada, con-dicionando questões socioambientais, dotadas de maior densidade, a um patamar secundário. Selene Herculano coloca em destaque que

a temática da Justiça Ambiental nos interessa em razão das extremas desi-gualdades da sociedade brasileira. No Brasil, o país das grandes injustiças, o tema da justiça ambiental é ainda incipiente e de difícil compreensão, pois a primeira suposição é de que se trate de alguma vara especializada em disputas diversas sobre o meio ambiente. Os casso de exposição a riscos químicos são pouco conhecidos e divulgados, [...], tendendo a se tornarem problemas crônicos, sem solução. Acrescente-se também que, dado o nos-so amplo leque de agudas desigualdades sociais, a exposição desigual aos riscos químicos fica aparentemente obscurecida e dissimulada pela extrema pobreza e pelas péssimas condições gerais de vida a ela associadas. Assim, ironicamente, as gigantescas injustiças sociais brasileiras encobrem e natu-ralizam a exposição desigual à poluição e o ônus desigual dos custos do desenvolvimento.24

A partir das ponderações articuladas, verifica-se, no território nacio-nal, o aparente embate entre a busca pelo desenvolvimento econômico e o meio ambiente ecologicamente equilibrado torna-se palpável, em espe-cial quando a questão orbita em torno dos processos de industrialização, notadamente nos pequenos e médios centros urbanos, trazendo consigo a promessa de desenvolvimento. Neste aspecto, a acepção de “desenvolvi-mento” traz consigo um caráter mítico que povoa o imaginário comum, es-pecialmente quando o foco está assentado na alteração da mudança social, decorrente da instalação de empreendimentos de médio e grande porte, promovendo a dinamização da economia local, aumento na arrecadação de impostos pelo Município em que será instalada e abertura de postos de trabalho.

24 HERCULANO, Selene. O clamor por justiça ambiental e contra o racismo ambiental. Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente, v. 3, n. 1, artigo 2, p. 1-20, jan./abr. 2008. Disponível em: <http://www.interfacehs.sp.senac.br/BR/artigos.asp?ed=6&cod_artigo=113>. Acesso em: 11 dez. 2016, p. 5.

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“O grande atrativo aos centros urbanos faz com que o crescimento se dê de forma desordenada, gerando diversos problemas cuja solução passa pela implementação de políticas públicas, necessariamente antecedidas de um planejamento”25. Constata-se, com clareza, que o modelo econômico que orienta o escalonamento de interesses no cenário nacional sobrepu-ja, de maneira maciça, valores sociais, desencadeando um sucedâneo de formas de violência social, degradação ambiental e aviltamento ao indiví-duo, na condição de ser dotado de dignidade e inúmeras potencialidades a serem desenvolvidas. Todavia, não é mais possível examinar as propos-tas de desenvolvimento econômico desprovida de cautela, dispensando ao assunto um olhar crítico e alinhado com elementos sólidos de convicção, notadamente no que se refere às consequências geradas para as populações tradicionais corriqueiramente atingidas e sacrificadas em nome do desen-volvimento econômico.

Não é mais possível corroborar com a ideia de desenvolvimento sem subme-tê-la a uma crítica efetiva, tanto no que concerne aos seus modos objetivos de realização, isto é, a relação entre aqueles residentes nos locais onde são implantados os projetos e os implementadores das redes do campo do desen-volvimento; quanto no que concerne às representações sociais que confor-mam o desenvolvimento como um tipo de ideologia e utopia em constante expansão, neste sentido um ideal incontestável [...] O desenvolvimento – ou essa crença da qual não se consegue fugir – carrega também o seu oposto, as formas de organização sociais que, muitas vezes vulneráveis ao processo, são impactadas durante a sua expansão. É justamente pensando nos atores sociais.26

É imperioso conferir, a partir de uma ótica alicerçada nos conceitos e aportes proporcionados pela justiça ambiental, uma ressignificação do con-ceito de desenvolvimento, alinhando-o diretamente à questão ambiental, de maneira a superar o aspecto eminentemente econômico do tema, mas também dispensando uma abordagem socioambiental ao assunto. A rees-truturação da questão “resulta de uma apropriação singular da temática do meio ambiente por dinâmicas sociopolíticas tradicionalmente envolvidas com a construção da justiça social”27. Salta aos olhos que o processo de

25 ARAÚJO JÚNIOR, Miguel Etinger de. Meio ambiente urbano, planejamento e cidadania. In: MOTA, Maurício (Coord.). Fundamentos teóricos do direito ambiental. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. p. 239.

26 KNOX, Winifred; TRIGUEIRO, Aline. Quando o desenvolvimento outsider atropela o envolvimento dos insiders: um estudo do campo de desenvolvimento no litoral do ES. I Circuito de Debates Acadêmicos. Anais..., 2011, p. 1-20. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br>. Acesso em: 11 dez. 2016, p. 2.

27 ACSELRAD, Henri. Ambientalização das lutas sociais – O caso do movimento por justiça ambiental. Estudos Avançados, São Paulo, v. 24, n. 68, p. 103-119, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142010000100010&script=sci_arttext>. Acesso em: 11 dez. 2016, p. 108.

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reconstrução de significado está intimamente atrelado a uma reconstituição dos espaços em que os embates sociais florescem em prol da construção de futuros possíveis. Justamente nesse espaço a temática ambiental passa a ganhar maior visibilidade, encontrando arrimo em assuntos sociais do em-prego e da renda.

Tal fato deriva da premissa de que o acentuado grau de desigualda-des e de injustiças socioeconômicas, tal como a substancializada política de omissão e negligência no atendimento geral às necessidades das classes populares, a questão envolvendo discussões acerca da (in)justiça ambiental deve compreender múltiplos aspectos, entre os quais as carências de sanea-mento ambiental no meio urbano e a degradação das terras usadas para a promoção assentamentos provenientes da reforma agrária no meio rural. De igual modo, é imperioso incluir na pauta de discussão o tema, que tem se tornado recorrente, das populações de pequenos e médios centros urbanos diretamente afetados pelo recente fenômeno de industrialização, sendo, por vezes, objeto da política de remoção e reurbanização. Ora, é crucial reco-nhecer que os moradores dos subúrbios e das periferias urbanas, em que os passivos socioambientais tendem a ser agravados, em razão do prévio pla-nejamento para dialogar o desenvolvimento econômico e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

É mister que haja uma ponderação de interesses, a fim de promover o desenvolvimento sustentável, conservando os interesses econômicos e a ne-cessidades das populações afetadas de terem acesso ao meio ambiente pre-servado ou, ainda, minimamente degradado, de modo a desenvolverem-se, alcançando, em fim último, o utópico, porém sempre recorrido, conceito constitucional de dignidade humana. O sedimento que estrutura o ideário de desenvolvimento sustentável, como Paulo Bessa Antunes28 anota, busca estabelecer uma conciliação à conservação dos recursos ambientais e ao desenvolvimento econômico, assegurando-se atingir patamares mais dignos e humanos para a população diretamente afetada pelos passivos socioam-bientais. Paulo Affonso Leme Machado destaca, ao esquadrinhar o conceito de desenvolvimento sustentável, que

o antagonismo dos termos – desenvolvimento e sustentabilidade – aparece muitas vezes, e não pode ser escondido e nem objeto de silêncio por parte dos especialistas que atuem no exame de programas, planos e projetos de empreendimentos. De longa data, os aspectos ambientais foram desatendi-dos nos processos de decisões, dando-se um peso muito maior aos aspectos econômicos. A harmonização dos interesses em jogo não pode ser feita são

28 ANTUNES, Paulo Bessa. Manual de direito ambiental. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 17.

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preço da desvalorização do meio ambiente ou da desconsideração de fatores que possibilitam o equilíbrio ambiental.29

De outro modo, denota-se que o fenômeno de industrialização, em especial atividades mineradoras e petrolíferas, nos pequenos e médios cen-tros urbanos, tem apresentado um discurso pautado no desenvolvimento. Trata-se, com efeito, de uma panaceia, na qual a possibilidade de injeção de capital na realidade local, proveniente da ampliação do aumento de arreca-dação de tributos, tal como a disfarçada promessa de geração de postos de emprego e dinamização da economia, tem afigurado como importante pilar para o apoio de tais processos. “É assim que a força econômica das grandes corporações transformou-se em força política – posto que eles praticamente habilitaram-se a ditar a configuração das políticas urbanas, ambientais e sociais”30, obtendo o elastecimento das normas com o argumento de sua suposta capacidade de gerar emprego e receitas públicas.

Nesse aspecto, ao suprimir variáveis socioambientais, em especial a remoção de populações para comportar a instalação de empreendimentos industriais, tende a agravar, ainda mais, o quadro delicado de antagonismos sociais, nos quais a vulnerabilidade das populações diretamente afetadas agrava o cenário de injustiça ambiental. A população, sobretudo aquela colocada à margem da sociedade, constituinte das comunidades carentes e favelas que materializam os bolsões de pobreza dos centros urbanos, é des-considerada pela política econômica, alicerçada na atração do capital que, utilizando sua capacidade de escolher os locais preferenciais para a insta-lação de seus investimentos, forçando as populações diretamente afetadas a conformar-se com os riscos socioambientais produzidos pelo empreendi-mento instalado na proximidade de suas residências, alterando, de maneira maciça, o cenário existente. Tal fato decorre, corriqueiramente, da ausência das mencionadas populações de se retirarem do local ou “são levadas a um deslocamento forçado, quando se encontram instaladas em ambientes favoráveis aos investimentos”31.

A atuação das empresas é subsidiada pela ação do governo, no sen-tido de apresentar ações e conjugação esforços para o denominado desen-volvimento sustentável, agindo sob o argumento do mercado, objetivando

29 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 21. ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Malheiros, 2013. p. 74.

30 ACSELRAD, Henri. Território, localismo e política de escalas. In: ACSELRAD, Henri; MELLO, Cecília Campello do Amaral; BEZERRA, Gustavo das Neves Bezerra (Org.). Cidade, ambiente e política: problematizando a Agenda 21 local. Rio de Janeiro: Garamond, 2006. p. 31.

31 Fraga, 2007, p. 8.

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promover ganhos de eficiência e ativar mercados, ambicionando evitar o desperdício de matéria e energia. Concretamente, a lógica em destaque não prospera, mas sim padece diante de um cenário no qual, devido à indus-trialização e instalação de empreendimentos, sem o prévio planejamento, há o agravamento da injustiça ambiental, em especial em locais nos quais a vulnerabilidade da população afetada é patente, havendo o claro sacrifí-cio daquela em prol do desenvolvimento local. “A injustiça e a discrimina-ção, portanto, aparecem na apropriação elitista do território e dos recursos naturais, na concentração dos benefícios usufruídos do meio ambiente e exposição desigual da população à poluição e aos custos ambientais do desenvolvimento”32.

5 SAÚDE AMBIENTAL: A INTERDISCIPLINARIDADE DA TEMÁTICA AMBIENTAL EM PROL DA CONCRETIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DE TERCEIRA DIMENSÃO

Tendo por alicerce as ponderações apresentadas até o momento, mister faz-se assinalar que a temática envolvendo a acepção axiológica do meio ambiente reclama uma abordagem interdisciplinar, com o escopo de abarcar os mais diversos segmentos em prol da concreção daquele como indissociável à sadia qualidade de vida e indispensável ao desenvolvimento humano. Nessa linha, ao se examinar a saúde ambiental, é necessário reco-nhecê-la como campo de atuação da saúde pública, cuja ocupação se volta para as formas de vida, para as substâncias e para as condições em torno do ser humano, que podem exercer alguma espécie de influência sobre a sua saúde e o seu bem-estar. É importante assinalar que a concepção de saúde ambiental é esmiuçada de forma ampliada e examinada a partir da reforma sanitária, sendo compreendida como um processo de transformação da nor-ma legal e do aparelho institucional em um contexto de democratização33. Trata-se, portanto, de compreender o meio ambiente ecologicamente equi-librado como temática revestida de complexidade e que, tal como dito an-tes, influencia diretamente para a concreção do ideário de sadia qualidade de vida. Nesse sentido, inclusive, Helena Ribeiro vai explicitar que

o grande número de fatores ambientais que podem afetar a saúde humana é um indicativo da complexidade das interações existentes e da amplitude de ações necessárias para melhorar os fatores ambientais determinantes da saúde. Porém, os programas de melhorias no ambiente têm ações bastante

32 Acselrad; Herculano; Pádua, 2004, p. 10.33 BRASIL. Subsídios para a construção da Política Nacional de Saúde Ambiental. Brasília: Ministério da

Saúde, 2007.

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diferenciadas daquelas de atenção médica, ainda que não possam estar des-vinculadas delas.

Como já mencionado, as preocupações com aspectos ambientais, tanto em relação à saúde pública quanto em relação a outras características dos di-ferentes grupos sociais (organização social, cultural e econômica), existem desde os primórdios da história humana e constituíram importante base ana-lítica do pensamento social no passado. Hoje, essas questões voltam a cha-mar a atenção de diferentes ciências.34

Nesse sentido, o Ministério da Saúde vem implementando um Siste-ma de Vigilância em Saúde Ambiental em todo o País para aprimorar um modelo de atuação no âmbito do SUS, e vem constituindo competências que objetivam a implementação de ações em que é constatada a relação entre saúde humana, degradação e contaminação ambiental. Outras ins-tâncias de governo também fazem interface importante com questões de saúde ambiental. As pastas da área econômica se aproximam do tema saúde ambiental nos projetos de desenvolvimento, e a leitura cuidadosa de pro-gramas e projetos de outros Ministérios (como os da Educação; de Cidades; de Ciência e Tecnologia; do Trabalho e Emprego; da Agricultura; do Plane-jamento e Gestão; das Relações Exteriores; de Desenvolvimento, Indústria e Comércio; de Desenvolvimento Social e Combate à Fome; da Integração Nacional; dos Transportes; da Defesa; da Justiça e da Cultura) encontrará conexões com a área de saúde ambiental.

Há, cada vez mais, demandas e problemas de saúde relacionados com o meio ambiente que pedem resolução dos gestores estaduais e muni-cipais do SUS, o que está ocasionando cada vez mais o estabelecimento de parcerias do Governo Federal com órgãos e instituições em suas respectivas áreas de abrangência e dentro dos limites das respectivas competências. A Vigilância em Saúde Ambiental, braço operativo dessa política, consiste em um conjunto de ações que proporciona o conhecimento e a detecção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de identificar as medi-das de prevenção e controle dos fatores de risco ambientais relacionados às doenças ou a outros agravos à saúde.

Ampliando-se o conceito de saúde como uma prática social, é pos-sível perceber a interdependência entre indivíduos, organizações e grupos populacionais e os conflitos decorrentes de sua interação com o meio am-

34 RIBEIRO, Helena. Saúde pública e meio ambiente: evolução do conhecimento e da prática, alguns aspectos éticos. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 13, n. 1, jan./abr. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902004000100008>. Acesso em: 11 dez. 2016, [s.p.].

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biente. É forçoso reconhecer que a cooperação, a solidariedade e a trans-parência, como práticas sociais correntes entre sujeitos, precisam ser, ur-gentemente, resgatadas. Há que se compreender, ainda, que promoção da saúde não é apenas um conjunto de procedimentos que informam e capaci-tam indivíduos e organizações ou que buscam controlar determinantes das condições de saúde de grupos populacionais específicos. Tem-se, portanto, que disseminar a diversidade de possibilidades existentes para preservar e aumentar o nosso potencial de saúde por meio da promoção da saúde.

Assim, ao volver um exame para a premissa que a saúde ambiental contemporânea está alicerçada no reconhecimento da existência e da ne-cessidade de todos os seres humanos e no encontro de soluções dentro dos princípios de equidades e da universalidade. Ao lado disso, há que se ter em mente que o direito a um ambiente saudável configura direito humano e se explicita no primado de que cada pessoa tem o direito a um ambiente propício à vida, a fim de assegurar o desenvolvimento pleno de todas as suas capacidades. Ademais, em decorrência dos perigos ao meio ambiente salubre, não é encarado apenas como um elemento de qualidade de vida, mas como um direito dotado de fundamentalidade e de inalienabilidade. “Um meio ambiente salubre não é só visto como um elemento da qualidade de vida, mas como um direito humano ou um direito inalienável, portanto sujeito ao princípio universal de igualdade”, consoante Ribeiro35.

Denota-se, portanto, que a temática posta em debate apresenta a inter-disciplinaridade do meio ambiente e dos princípios irradiados, notadamente ao se considerar que o ideário de sadia qualidade de vida e ecologicamente equilibrado se entrecruzam com justiça ambiental e saúde ambiental, a fim de assegurar um ambiente hígido para o desenvolvimento das potencialida-des humanas. Com destaque, a qualidade de vida é um elemento finalista do Poder Público, nos quais confluem a felicidade e realização do indiví-duo e o bem comum, com o escopo de superar a estreita visão quantitati-va, conferindo materialização robusta à sadia qualidade de vida, reunindo preceitos e premissas que são fundantes para a promoção do indivíduo, precipuamente a partir da perspectiva humanista do meio ambiente. Logo, é possível afirmar que a saúde dos seres humanos não existe apenas como uma contrapartida a não ter doenças diagnosticadas no presente.

É necessário, neste cenário, considerar os elementos integrantes do meio ambiente para se aquilatar se os elementos estão em estado de sani-dade e de seu uso advenham saúde ou doenças e incômodos para os seres

35 Idem.

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humanos. Dessa forma, o meio ambiente passa a assumir papel de destaque, afigurando-se como elemento para o desenvolvimento do ser humano, eis que integra a extensa rubrica de componentes que influenciam na sadia qualidade de vida, devendo-se considerar não apenas a ausência de doen-ças, mas, sim, em um sentido alargado, as variáveis que permitem a realiza-ção do indivíduo, permitindo a concreção da dignidade da pessoa humana.

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Parte Geral – Doutrina

Tributação Ambiental e Incentivos Fiscais

LUIZ FERNANDO PEREIRA1

Pós-Graduado em Direito Tributário e em Direito Empresarial e Internacional pela PUCSP, Es-pecialista pela Universidade Leeds e Bristol (Inglaterra), Parecerista. Atuante em Direito Inter-nacional, Previdenciário, Tributário, Empresarial, Criminal, Administrativo, Civil e Trabalhista. Autor de livros e artigos em diversas áreas (http://migre.me/rBmpe).

A intervenção do Estado na atividade econômica é um processo co-mum orientado por diversas gamas necessariamente compreendidas aos fa-tores que comandam em nosso ordenamento jurídico hodierno.

No tocante às questões ambientais, o dever de defender e preservar o meio ambiente para presentes e futuras gerações reveste-se como fator primordial na intervenção do Estado, bem como agir ativamente, quanto ao aspecto econômico, conforme o primado constitucional da ordem econô-mica prevista no art. 170, V, da Constituição Federativa do Brasil.

A tributação ambiental não pode ter caráter punitivo, nem mesmo uma visão de coibição de condutas lesivas ao meio ambiente, pois não se caracterizaria com tributo e seguiria em contrariedade à legislação em vigor (art. 3º do Código Tributário Nacional).

Quanto à característica dos tributos em sua natureza finalista, de modo geral, podem ser fiscal ou extrafiscal. A fiscal reveste-se como meio de arrecadação com o escopo de efetivação das políticas públicas, ou seja, o Estado arrecadará e destinará os recursos dos tributos para uma destinação específica, como, por exemplo, destinação de recursos provindos de tribu-tos para a implantação de políticas públicas com o objetivo da preservação do meio ambiente.

A extrafiscal será por meio da intervenção do ente estatal, por meio da atividade tributária, com o fito de reduzir os bens de consumo, aumentan-do as alíquotas dos impostos incidentes. A concessão de incentivos fiscais pode ser uma prática extrafiscal, com o objetivo em reduzir a degradação ambiental como estímulo ao contribuinte.

1 Sites: <http://www.luizfernandopereira.jur.adv.br/> e <http://www.luizfernandopereiralaw.com/>. Facebook: <http://migre.me/fCEVV>.

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Por certo, a fiscalidade e a extrafiscalidade2 devem ser entendidas apenas com o objetivo voltado às bases institucionais e acadêmicas do que práticas, traçando contornos reservados aos aspectos doutrinários para a melhor compreensão da natureza finalista dos tributos; no entanto, não po-dem ser ignorados por se tratar de eixo de construção jurídica acerca do tema.

Adentrando ao tema referente aos tributos específicos, não podemos apresentar quais os tributos incidentes ou relacionados ao meio ambiente, haja vista que não há uma legislação específica, mas existe o seu trato indi-reto pela legislação em vigor. Portanto, ao invés de apresentarmos todos os tributos incidentes sob a atividade que está relacionada ao meio ambiente, será mais adequado tratar das isenções fiscais acerca do tema.

Antes mesmo de apresentarmos quais são os tributos sujeitos à isen-ção fiscal, devemos traçar o conceito deste instituto. A isenção está umbi-licalmente relacionada aos efeitos obrigacionais da relação jurídica, signi-ficando dizer que seria o mesmo que eximir da obrigação. Nesse ponto, podemos afirmar que as isenções fiscais (lê-se, também, tributárias) eximem o possível contribuinte de recolher aos cofres públicos determinada quantia prevista em lei, conforme a base de cálculo e a alíquota. Ainda, a isenção precisa de instrumento jurídico, ou seja, de norma vigente e vigorante, para que seja aplicada no ordenamento jurídico.

No tocante às espécies de isenções, a melhor doutrina faz as distin-ções, sendo de destaque as subjetivas, quando está relacionada a determi-nada pessoa (física ou jurídica), ou objetivas, referindo-se às funções que assim foram outorgadas. Além disso, as isenções podem ser técnicas e polí-ticas. As técnicas serão devidamente conhecidas mediante o mínimo vital3, ou seja, preservando a dignidade, independentemente se for pessoa física ou jurídica. Distintamente, as isenções políticas são aquelas de detêm uma forma mais finalista, preservando-se a capacidade contributiva, conforme os ditames constitucionais.

De fato, ao aplicarmos as categorias de isenções apresentadas antes, podemos afirmar como isenções tributárias provenientes ao meio ambiente aquelas políticas, funcionais e objetivas. Trata-se, portanto, de forte ferra-

2 Nas lições do Mestre Paulo de Barros Carvalho, “o mecanismo das isenções é um forte instrumento de extrafiscalidade. Dosando equilibradamente a carga tributária, a autoridade legislativa enfrenta as situações mais agudas”.

3 Seguindo as lições de Regina Helena Costa, em Curso de direito tributário (Saraiva, 2014, p. 298).

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menta estatal que visará a garantir o equilíbrio ecológico mediante condutas do contribuinte ao conceder isenções ou não, por meio de lei.

Em relação ao lapso temporal das isenções tributárias, podendo ser condicionadas e incondicionadas. As condicionadas não podem ser extin-tas pelo ente tributante antes do término previsto em lei, de modo que, se houver sua extinção, via de consequência, seguirá em contrariedade ao princípio da segurança jurídica (certeza do direito), bem como ao direito ad-quirido4. O art. 178 do Código Tributário Nacional prescreve como isenção condicionada por prazo determinado. Quanto às isenções incondicionadas, são aquelas concedidas sem qualquer ônus por parte do contribuinte, sendo concedidas em caráter geral. Não dependem de reconhecimento formal e expresso, sendo sua fruição imediata.

AS ISENÇÕES FISCAIS E AS ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS

Podemos apresentar uma gama de situações em que será possível pro-mover a proteção ao meio ambiente, estimulando a sua mantença. Assim, seguem, a seguir, alguns impostos isentos, conforme o fato previsto em lei.

IMPOSTO TERRITORIAL RURAL

Trata-se de imposto de competência federal, no qual haverá a inci-dência, ou seja, o recolhimento do referido imposto por parte do sujeito pas-sivo, cuja materialidade é a propriedade territorial rural e como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse do imóvel por natureza, nos termos do art. 29 do Código Tributário Nacional.

É interessante denotar que a legislação pátria sequer conceituou quanto ao significado propriedade rural, cabendo, portanto, a construção do significativo por exclusão, sendo que, conforme o art. 32, § 1º, do Có-digo Tributário Nacional, aquilo que não for propriedade urbana será pro-priedade rural. Dessa forma, a propriedade urbana é aquela definida na legislação do município e terá por requisito dois melhoramentos constru-ídos ou mantidos pelo Poder Público. Não seria adequado tecer grandes considerações acerca deste imposto, mas apenas tratar com mais vagar para maior compreensão de sua sistemática.

4 Jurisprudência relacionada: STJ, REsp 1.040.629/PE, 1ª T., Rel. Min. Francisco Falcão. Aplica-se também a Súmula nº 544 do Supremo Tribunal Federal: “Isenções tributárias concedidas, sob condição onerosa, não pode ser livremente suprimidas”.

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Se pontuarmos ao aspecto isentivo do ITR, podemos elencar diversas situações especificadas em lei. A primeira delas será o não recolhimento do referido imposto aos proprietários rurais em área de preservação permanen-te e áreas de reserva legal, conforme o art. 104 da Lei nº 6.171/1991.

Também haverá a exclusão da base de cálculo do ITR de áreas de flo-restamento nativa, áreas de preservação permanente, áreas de reserva legal e de interesse ecológico. Segundo a Lei nº 9.393/1996, podemos extrair as seguintes situações:

a) Áreas de preservação permanente e de reserva legal (arts. 4.771/65);

b) Possuidoras de interesse ecológico para proteção de ecossis-temas;

c) Área total do imóvel imprestável para qualquer exploração agrí-cola, pecuária, granjeira, aquícola ou florestal, declaradas de interesse ecológico mediante ato do órgão competente, seja fe-deral ou estadual;

d) Imóvel sob regime de servidão ambiental;

e) Áreas cobertas por florestas nativas, primárias e secundárias, seja em estágio médio ou avançado de regeneração.

IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS

Conforme o Código Tributário Nacional (arts. 46 a 56), o referido imposto é de competência da União e incidirá sobre produtos industrializa-dos, tendo por fato gerador: a) o desembaraço de produtos industrializados pertencentes de origem estrangeira; b) a realização de produtos industriali-zados; c) a arrematação de produtos apreendidos ou abandonados.

Por se tratar de imposto seletivo, as alíquotas serão fixadas confor-me a matéria-prima, podendo aumentar ou diminuí-la, como, por exemplo, aquisição de veículos automotores de baixo gasto de energia.

ICMS

O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços é de compe-tência estadual e do Distrito Federal, o qual assume uma feição nacional por promover certa uniformidade. Nos termos do art. 155, II e § 3º, da Consti-

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tuição Federativa de 1988, extraem-se os seguintes aspectos de incidência, em síntese:

a) Operações relativas à circulação de mercadorias;

b) Prestação de serviços de transporte interestadual e intermuni-cipal;

c) Prestação de serviços de comunicação;

d) Produção, circulação, distribuição ou consumo de lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos e de energia elétrica;

e) Extração, circulação, distribuição ou consumo de minerais.

Não adentraremos em todos os pontos relativos à tributação do ICMS, conforme citado, sendo que apenas serão destacados os pontos relativos desse imposto sob o enfoque principal, a tributação ambiental. Aliás, o art. 158, IV, da Constituição Federal estabelece que “vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação”.

TAXAS

Por ser também uma das espécies tributárias, as taxas serão pagas pelo sujeito passivo do tributo em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização efetiva ou potencial de serviços públicos efetivos ou divi-síveis. Sob um enfoque ambiental, poderá ocorrer a interveniência direta da cobrança das taxas, como, por exemplo, as taxas do Ibama, das Secretarias do Estado e Municípios que fiscalizarão empreendimentos que impactam o meio ambiente, como, também, a coleta de lixo residencial, se a prestação de serviço seja específico e divisível.

EMPRÉSTIMOS COMPULSÓRIOS

Os empréstimos compulsórios também sofrerão forte impacto ao meio ambiente, desde que pertencente a tal finalidade, como, por exemplo, a calamidade pública (art. 148, I, da Constituição Federal) ou o investimento público de caráter urgente e de interesse nacional (art. 148, II, da Constitui-ção Federal), desde que contenha agressão direta ao meio ambiente.

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BREVES CONCLUSÕES FINAIS

Por derradeiro, todas as espécies tributárias podem interferir direta-mente nas atividades no meio ambiente. Podemos citar como exemplo a alíquota do IPI e do ICMS, conforme a essencialidade do bem, ou seja, quanto mais poluente maior a alíquota.

Na prática, as isenções fiscais aplicáveis ao setor ambiental servem como um plus, cabendo ao Poder Público dosar, bem como às normas com-plementares produzidas cumprir o seu devido papel emergencial em seu aspecto protecionista; por outro lado, o poder de tributar estatal também deve ser sujeito ao controle jurisdicional (sistema de freios e contrapesos) se descumpridas as formalidades legalmente estabelecidas, cabendo também o sujeito passivo do tributo prover seus direitos, nos termos da legislação em vigor sobre o fato ocorrido.

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Parte Geral – Acórdão na Íntegra

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Supremo Tribunal Federal16.12.2016 Primeira Turma

AgRg no Recurso Extraordinário com Agravo nº 973.907 Rio Grande do Sul

Relatora: Min. Rosa Weber

Agte.(s): Petróleo Brasileiro S. A. – Petrobras

Adv.(a/s): Alessandra Deslandes Fogiato

Agdo.(a/s): Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler – Fepam

Adv.(a/s): Mara Suzana Frey Silva

Adv.(a/s): Paulo Roberto Pastore De La Rocha

EMENTA

DIREITO PÚBLICO – AÇÃO ANULATÓRIA – MULTA AMBIENTAL – VAZAMENTO DE PETRÓLEO NA ORLA MARÍTIMA – PRELIMINAR – PRESCRIÇÃO – RECURSO EXTRAORDINÁRIO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO CPC/1973 – AGRAVO REGIMENTAL – IMPOSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO DA DECISÃO DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO QUE APLICA A SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL – CONSONÂNCIA DA DECISÃO RECORRIDA COM A JURISPRUDÊNCIA CRISTALIZADA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – RECURSO EXTRAORDINÁRIO QUE NÃO MERECE TRÂNSITO – AGRAVO MANEJADO SOB A VIGÊNCIA DO CPC/2015

1. Pacífica a jurisprudência desta Suprema Corte de que incabível recurso – agravo e reclamação – contra a sistemática da repercussão geral (art. 543-B do CPC) aplicada pelo Tribunal de origem, observa-do como marco temporal a data de 19.11.2009.

2. Exaustivamente examinados os argumentos veiculados no agravo regimental, ratifica-se a adequação da sistemática aplicada à espécie (art. 328 do RISTF).

3. Majoração em 10% (dez por cento) dos honorários anteriormente fixados, obedecidos os limites previstos no art. 85, §§ 2º, 3º e 11, do CPC/2015, ressalvada eventual concessão do benefício da gratuidade da Justiça.

4. Agravo regimental conhecido e não provido.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal em conhecer do agravo regimental e negar-lhe provimento, nos termos do voto da Relatora e por unanimidade de votos, em sessão virtual da Primeira Turma realizada entre 09 a 15 de dezembro de 2016, na conformidade da ata do julgamento. Por maioria, foram majora-dos os honorários advocatícios anteriormente fixados, obedecidos os limites previstos no art. 85, §§ 2º, 3º e 11, do CPC/2015, vencido, nesse ponto, o Ministro Marco Aurélio.

Brasília, 16 de dezembro de 2016.

Ministra Rosa Weber Relatora

RELATÓRIO

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Contra a decisão pela qual afirma a impossibilidade de interposição de agravo da decisão de admissi-bilidade do recurso que aplica a sistemática da repercussão geral, maneja agravo regimental a Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras.

A matéria debatida, em síntese, diz com a suposta afronta à Constitui-ção em multa aplicada por violação de normas ambientais.

A agravante ataca a decisão impugnada, insistindo na tese de au-sência de identidade entre a matéria debatida na presente lide e o tema da repercussão geral ao qual ela foi vinculada.

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul julgou a con-trovérsia em decisão cuja ementa reproduzo:

“APELAÇÃO CÍVEL – DIREITO PÚBLICO – AÇÃO ANULATÓRIA – MULTA AMBIENTAL – VAZAMENTO DE PETRÓLEO NA ORLA MARÍTIMA – PRELI-MINAR – PRESCRIÇÃO – Enquanto pendente processo administrativo, não flui o prazo prescricional. Inteligência da Súmula nº 467 do Superior Tribu-nal de Justiça. COMPETÊNCIA PARA IMPOSIÇÃO DA MULTA – A compe-tência da Capitania dos Portos não exclui a dos órgãos estaduais de proteção ambiental. Precedente: REsp 673.765/RJ. BIS IN IDEM – A alegação de que houve bis in idem não se sustenta diante do fato de que é competente a Fepam para aplicação da multa. O art. 14, § 2º, da PNMA estabelece que a autoridade federal deverá agir na inércia das autoridades estadual ou munici-pal. In casu, o evento ocorreu em 11.03.2000, tendo a Fepam multado a ape-

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lante em 13.03.2000, o que demonstra de forma inarredável que não houve inércia da polícia ambiental estadual. Tampouco há bis in idem com relação à imputação de multa simultânea com a Capitania dos Portos, pois, como já referido, a competência desta não exclui a do ente estadual. MOTIVAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO – O auto de infração descreve o evento e a legislação aplicável. Ao estabelecer que houve vazamento de petróleo no mar durante uma operação empreendida pela recorrente, resta devidamente motivado o auto de infração e caracterizado o nexo de causalidade. EXCES-SO DE COMANDO POR PARTE DA POLÍCIA AMBIENTAL – O art. 225, § 3º, da Constituição Federal preceitua serem independentes as esferas penal, administrativa e civil na ordem de infração e reparação de danos. A Fepam é entidade de polícia administrativa ambiental, de sorte que a determinação de limpeza e monitoramento nada mais é do que o estrito cumprimento do de-ver legal de zelar pelo meio ambiente. Ademais, da análise do auto de infra-ção (fl. 49), não se constata a aludida determinação de reparação de danos. NECESSIDADE DE ADVERTÊNCIA PRÉVIA À APLICAÇÃO DA MULTA – O art. 72 da Lei nº 9.605/1998 não faz referência à aplicação exclusiva da ad-vertência, tampouco diz que deva preceder às demais penalidades adminis-trativas. Já o art. 6º expressamente determina que seja observada a gravidade do fato, dentre outros elementos, para imposição e gradação da penalidade, o que demonstra não ser necessária a advertência para que, somente ao depois – em nova infração – seja aplicada multa. AUSÊNCIA DE LAUDO TÉCNICO – As exigências do art. 41, § 2º, do Decreto nº 3.179/1999 restaram atendidas na espécie. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE DA MULTA – Níti-da a proporcionalidade da multa aplicada, mormente considerando que hou-ve já na via administrativa redução do montante inicial (R$ 500.000,00) para R$ 375.000,00 tendo em vista o pronto atendimento prestado pela apelante na atenuação dos danos ambientais causados. DANO AMBIENTAL – Multa sancionatória e não reparatória que torna despicienda a exata quantificação do dano. Circunstâncias do caso concreto que permitem aferir a existência de dano ambiental, embora não imediatamente quantificável. TIPIFICAÇÃO DO FATO – A responsabilidade por dano ambiental advém da teoria do risco integral, descabendo ao empreendedor invocar excludentes de responsabili-dade se devidamente caracterizado o nexo de causalidade no caso dos autos, uma vez que o vazamento de petróleo ocorreu por falha no procedimento de descarga da substância poluidora. CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES NA APLICAÇÃO DA MULTA – O montante fixado, devidamente ponderado na via administrativa, tendo-se adotado as circunstâncias atenuantes e observa-do a redução de 25% do valor originalmente fixado, atende a seu desiderato e se afigura proporcional à espécie, não havendo o que reparar. NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME.”

Recurso extraordinário interposto sob a égide do CPC/1973.

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Agravo manejado sob a vigência do Código de Processo Civil de 2015.

É o relatório.

VOTO

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Preenchidos os pressupos-tos genéricos, conheço do agravo regimental e passo ao exame do mérito.

Nada colhe o agravo.

Transcrevo o teor do comando pelo qual aplicada ao caso a sistemá-tica da repercussão geral:

“Vistos etc.

Trata-se de agravo interposto contra decisão que inadmitiu recurso extraor-dinário, considerado o RE 748.371-RG, submetido à sistemática da reper-cussão geral, na forma do art. 543-B do Código de Processo Civil de 1973.

Decisão agravada publicada em 08.07.2015.

É o breve relatório.

Decido.

Firmou-se o entendimento desta Suprema Corte no sentido de que incabível agravo de instrumento ou reclamação de decisão que, na origem, aplica o disposto no art. 543-B do CPC/1973. Contra decisão desse teor, reputa-se admissível apenas agravo regimental no âmbito do próprio Tribunal a quo.

Forte no princípio da fungibilidade recursal, determinada em um primeiro momento a conversão dos agravos e das reclamações em agravo regimen-tal, a ser julgado pelo Tribunal de origem (v.g. AI 760.358-QO, Pleno, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 19.12.2009, e Rcls 7.547 e 7.569, Pleno, Relª Min. Ellen Gracie, DJe 11.12.2009). Posteriormente, a jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal consolidou-se no sentido de que somente pos-sível a conversão em agravo regimental quanto aos recursos interpostos e reclamações ajuizadas até a data do julgamento dos referidos processos, qual seja, 19.11.2009. Nesse sentido, Rcl 11.633-AgR, Pleno, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 13.09.2011; e Rcl 9.471, 2ª T., Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 13.08.2010:

“Agravo regimental em reclamação. 2. Indeferimento da inicial. Ausên-cia de documento necessário à perfeita compreensão da controvérsia. 3. Reclamação em que se impugna decisão do tribunal de origem que, nos termos do art. 328-A, § 1º, do RISTF, aplica a orientação que o Su-

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premo Tribunal Federal adotou em processo paradigma da repercussão geral (RE 598.365-RG). Inadmissibilidade. Precedentes. AI 760.358, Rcl 7.569 e Rcl 7.547. 4. Utilização do princípio da fungibilidade para se determinar a conversão em agravo regimental apenas para agravos de ins-trumento e reclamações propostos anteriormente a 19.11.2009. 5 Agravo regimental a que se nega provimento.”

Ainda, exemplificativamente, as seguintes decisões monocráticas: ARE 713.609, Rel. Min. Celso de Mello, DJe 03.04.2013, ARE 737.931, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 03.04.2013, ARE 720.845, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe 15.03.2013, ARE 703.326, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe 02.10.2012, ARE 654.045, Rel. Min. Luiz Fux, DJ 01.03.2012, e ARE 646.211, Relª Min. Cármen Lúcia, DJe 02.08.2012.

Nessa linha, em se tratando o presente de agravo interposto após 19.11.2009, manifesto o seu descabimento, consoante a compreensão jurisprudencial consolidada nesta Casa, assim como incabível sua conversão em agravo re-gimental.

De outra parte, a suposta ofensa ao Texto Constitucional somente poderia ser constatada a partir da análise da legislação infraconstitucional aplicável, bem como do revolvimento do conjunto probatório dos autos, hipóteses invi-áveis nesta sede recursal. Dessarte, desatendida a exigência do art. 102, III, a, da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência deste egrégio Supremo Tribunal Federal. Nesse sentido:

“Agravo regimental no agravo de instrumento. Execução fiscal. Multa am-biental. Ofensa ao art. 5º, LV, LIV e XXXIV, meramente reflexa. Cercea-mento de defesa.

1. A decisão agravada está em consonância com a jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal, pacífica no sentido de que, no caso presente, eventual contrariedade ao art. 5º, LV e LIV, da CF, caso ocorresse, seria de forma meramente reflexa ou indireta.

2. Agravo regimental não provido.” (AI 684.189-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, 1ª T., DJe 09.03.2012)

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO – EXECUÇÃO FISCAL – MULTA AMBIENTAL – IMPOSSIBILI-DADE DE ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL E DE REEXAME DE PROVAS (SÚMULA Nº 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FE-DERAL) – O TRIBUNAL A QUO NÃO JULGOU VÁLIDA LEI OU ATO DE GOVERNO LOCAL CONTESTADO EM FACE DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA – INADMISSIBILIDADE DO RECURSO PELA ALÍNEA C DO ART. 102, INC. III, DA CONSTITUIÇÃO – PRECEDENTES – AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.”

(ARE 756.253-AgR, Relª Min. Cármen Lúcia, 2ª T., DJe 24.10.2013)

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Nesse sentir, não merece seguimento o recurso extraordinário, consoante também se denota dos fundamentos da decisão que desafiou o recurso, aos quais me reporto e cuja detida análise conduz à conclusão pela ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República.

Logo, nego seguimento ao agravo (art. 21, § 1º, do RISTF).”

Irrepreensível a decisão agravada.

Firmou-se o entendimento desta Suprema Corte no sentido de que incabível agravo de instrumento ou reclamação de decisão que, na origem, aplica o disposto no art. 543-B do CPC. Contra decisão desse teor, reputa-se admissível apenas agravo regimental no âmbito do próprio Tribunal a quo.

Forte no princípio da fungibilidade recursal, determinada em um pri-meiro momento a conversão dos agravos e das reclamações em agravo regi-mental, a ser julgado pelo Tribunal de origem (v.g. AI 760.358-QO, Pleno, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 19.12.2009, e Rcls 7.547 e 7.569, Pleno, Rel. Min. Ellen Gracie, DJe 11.12.2009).

Posteriormente, a jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal consolidou-se no sentido de que somente possível a conversão em agravo regimental quanto aos recursos interpostos e reclamações ajuizadas até a data do julgamento dos referidos processos, qual seja, 19.11.2009. Nesse sentido, ARE 815.940-AgR, 2ª T., Rel. Min. Teori Zavascki, DJe 01.06.2015, e Rcl 9.471, 2ª T., Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 13.08.2010:

“PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRA-ORDINÁRIO COM AGRAVO – DECISÃO DO JUÍZO OU TRIBUNAL DE ORIGEM QUE APLICA A SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL – IM-POSSIBILIDADE DE RECURSO AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – PRE-CEDENTES DO TRIBUNAL PLENO – 1. O Plenário desta Corte assentou o entendimento de que a negativa de seguimento do recurso extraordinário, pelo Juízo de origem, com base na sistemática da repercussão geral não é impugnável pelo agravo do art. 544 do CPC, nem por reclamação. 2. Na sistemática da repercussão geral pela instância a quo, admite-se a remessa do recurso ao STF unicamente quando, julgado o mérito do leading case, o Órgão de origem recusa a retratar-se para adequar o acórdão recorrido à orientação desta Corte. Em todas as demais situações, qualquer irresigna-ção manifestada pela parte contra a aplicação do art. 543-B do CPC – seja no caso do § 2º, seja no caso do § 3º – deverá ser apreciada no âmbito do próprio Tribunal/Juízo a quo, por meio de agravo interno. 3. Essa diretriz é aplicável aos casos em que a fundamentação da inadmissão do extraordiná-rio esteja amparada em precedente do STF formado sob a sistemática da re-percussão geral, seja indicando a inexistência da relevância da matéria, seja

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reconhecendo-a e pronunciando-se acerca do mérito em sentido contrário ao pretendido pela parte recorrente. Independentemente do modo como a instância de origem obsta a admissão do recurso extraordinário (negando-lhe seguimento, ou inadmitindo-o, ou não o conhecendo ou julgando-o prejudi-cado), não caberá nenhuma forma de impugnação a esta Corte se a decisão tiver por fundamento precedente do STF julgado sob o rito da repercussão geral. 4. Observadas essas condições, a orientação não representa desrespei-to à Súmula nº 727/STF. 5. Agravo regimental a que se nega provimento.”

“Agravo regimental em reclamação. 2. Indeferimento da inicial. Ausência de documento necessário à perfeita compreensão da controvérsia. 3. Reclama-ção em que se impugna decisão do tribunal de origem que, nos termos do art. 328-A, § 1º, do RISTF, aplica a orientação que o Supremo Tribunal Fe-deral adotou em processo paradigma da repercussão geral (RE 598.365-RG). Inadmissibilidade. Precedentes. AI 760.358, Rcl 7.569 e Rcl 7.547. 4. Utili-zação do princípio da fungibilidade para se determinar a conversão em agra-vo regimental apenas para agravos de instrumento e reclamações propostos anteriormente a 19.11.2009. 5 Agravo regimental a que se nega provimento.”

Ainda, exemplificativamente, as seguintes decisões monocráticas: ARE 713.609, Rel. Min. Celso de Mello, DJe 03.04.2013, ARE 737.931, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 03.04.2013, ARE 720.845, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe 15.03.2013, ARE 703.326, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe 02.10.2012, ARE 654.045, Rel. Min. Luiz Fux, DJ 01.03.2012, e ARE 646.211, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe 02.08.2012.

Nessa linha, em se tratando de agravo interposto após 19.11.2009, manifesto o seu descabimento, consoante a compreensão jurisprudencial consolidada nesta Casa, assim como incabível sua conversão em agravo regimental.

Agravo regimental conhecido e não provido, majorados em 10% (dez por cento) os honorários anteriormente fixados, obedecidos os limites pre-vistos no art. 85, §§ 2º, 3º e 11, do CPC/2015, ressalvada eventual conces-são do benefício da gratuidade da Justiça.

É como voto.

VOTO

O Senhor Ministro Marco Aurélio – Os honorários acrescidos, ante recurso interposto, pressupõem a atividade desenvolvida pela parte con-

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trária. Se esta não apresenta contraminuta ao agravo, descabe a fixação de honorários. No caso, divirjo do Relator para excluí-los.

PRIMEIRA TURMA EXTRATO DE ATA

AgRg no Recurso Extraordinário com Agravo nº 973.907

Proced.: Rio Grande do Sul

Relatora: Min. Rosa Weber

Agte.(s): Petróleo Brasileiro S. A. – Petrobras

Adv.(a/s): Alessandra Deslandes Fogiato (38938/PR)

Agdo.(a/s): Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler – Fepam

Adv.(a/s): Mara Suzana Frey Silva (17711/RS)

Adv.(a/s): Paulo Roberto Pastore De La Rocha (9793/RS)

Decisão: A Turma, por unanimidade, conheceu do agravo regimen-tal e negou-lhe provimento e, por maioria, majorou os honorários anterior-mente fixados, obedecidos os limites previstos no art. 85, §§ 2º, 3º e 11, do CPC/2015, nos termos do voto da Relatora, vencido, nesse ponto, o Ministro Marco Aurélio. 1ª Turma, Sessão Virtual de 9 a 15.12.2016.

Composição: Ministros Luís Roberto Barroso (Presidente), Marco Aurélio, Luiz Fux, Rosa Weber e Edson Fachin.

Carmen Lilian Oliveira de Souza Secretária da Primeira Turma

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Parte Geral – Acórdão na Íntegra

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Superior Tribunal de JustiçaRecurso Especial nº 1.626.599 – SC (2016/0244725‑0)

Relator: Ministro Rogerio Schietti Cruz

Recorrente: Lucinei Manoel de Souza

Advogado: Defensoria Pública da União

Recorrido: Ministério Público Federal

EMENTA

RECURSO ESPECIAL – PENAL E PROCESSUAL PENAL – CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE – PESCA/EXTRAÇÃO EM PERÍODO DE DEFESO – BERBIGÕES – ART. 34, CAPUT, DA LEI Nº 9.605/1998 – APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – IMPOSSIBILIDADE – LESÃO POTENCIAL – RECURSO NÃO PROVIDO

1. A questão da relevância ou da insignificância das condutas lesivas ao meio ambiente não deve considerar apenas questões jurídicas ou a dimensão econômica da conduta, mas levar em conta o equilíbrio ecológico que faz possíveis as condições de vida no planeta.

2. A lesão ambiental também pode, cum grano salis, ser analisada em face do princípio da insignificância, para evitar que fatos penalmente insignificantes sejam alcançados pela lei ambiental.

3. Haverá lesão ambiental irrelevante no sentido penal quando a ava-liação dos índices de desvalor da ação e do resultado indicar que é ínfimo o grau da lesividade da conduta praticada contra o bem am-biental tutelado.

4. Na espécie, é significativo o desvalor da conduta do recorrente, haja vista ter extraído ilegalmente berbigão no interior da Reserva Extrativista Marinha do Pirajuba, unidade de conservação federal de uso sustentável, em período cuja prática estava proibida. Ademais, “o réu vem reiteradamente pescando em épocas proibidas, prejudicando a Reserva Extrativista” (fl. 149).

5. Recurso não provido. Determinação de execução imediata da pena.

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ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Sexta Turma, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial, com determinação, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Nefi Cordeiro, Antonio Saldanha Palheiro, Maria Thereza de Assis Moura e Sebastião Reis Júnior votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 14 de março de 2017.

Ministro Rogerio Schietti Cruz

RELATÓRIO

O Senhor Ministro Rogerio Schietti Cruz:

Lucinei Manoel de Souza interpõe recurso especial, fundado no art. 105, III, a, da Constituição Federal, contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região na Apelação Criminal nº 5017762-35.2014.4.04.7200/SC.

Depreende-se da exordial acusatória, colacionada às fls. 3-5, que o recorrente foi denunciado pela suposta prática do crime previsto no art. 34, caput, da Lei nº 9.605/1998, por ter, em tese, realizado a extração de ber-bigões no interior da Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé, Banco “B”, período em que a atividade era expressamente proibida no local (Instrução Normativa nº 81/2005-Ibama).

O Juiz de primeiro grau condenou o recorrente à pena de 1 ano e 2 meses de detenção, em regime aberto, por violação do art. 34, caput, da Lei nº 9.605/1998. Na ocasião, foi determinada a substituição da reprimen-da privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade por 1 ano, bem como em pagamento de R$ 1.000,00, a ser destinado a entidades assistenciais ou públicas de Florianópolis.

Irresignada com a condenação, a defesa interpôs apelação ao Tribu-nal a quo, que, por unanimidade, deu parcial provimento ao apelo, uni-camente para afastar a valoração negativa das vetoriais relacionadas às consequências do crime e à personalidade do agente e, por consequência, fixar a pena-base em 1 ano de detenção, tornando-se definitiva no mesmo quantum, à míngua de atenuantes.

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Neste recurso especial, a defesa suscita contrariedade ao art. 34 da Lei nº 9.605/1998, por não haver sido aplicado à hipótese o princípio da insignificância. Afirma que a conduta do recorrente “encontra-se dotada dos pressupostos necessários à aplicação do princípio da insignificância, visto seu reduzidíssimo grau de ofensividade e mínima periculosidade” (fl. 242).

Requer o conhecimento e o provimento do recurso especial para que se reconheça a aplicação do princípio da insignificância, decretando-se a absolvição ante a atipicidade.

O Ministério Público Federal opinou, às fls. 285-291, pelo não provi-mento do recurso especial.

EMENTA

RECURSO ESPECIAL – PENAL E PROCESSUAL PENAL – CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE – PESCA/EXTRAÇÃO EM PERÍODO DE DEFESO – BERBIGÕES – ART. 34, CAPUT, DA LEI Nº 9.605/1998 – APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – IMPOSSIBI-LIDADE – LESÃO POTENCIAL – RECURSO NÃO PROVIDO

1. A questão da relevância ou da insignificância das condutas lesivas ao meio ambiente não deve considerar apenas questões jurídicas ou a dimensão econômica da conduta, mas levar em conta o equilíbrio ecológico que faz possíveis as condições de vida no planeta.

2. A lesão ambiental também pode, cum grano salis, ser analisada em face do princípio da insignificância, para evitar que fatos penalmente insignificantes sejam alcançados pela lei ambiental.

3. Haverá lesão ambiental irrelevante no sentido penal quando a ava-liação dos índices de desvalor da ação e do resultado indicar que é ínfimo o grau da lesividade da conduta praticada contra o bem am-biental tutelado.

4. Na espécie, é significativo o desvalor da conduta do recorrente, haja vista ter extraído ilegalmente berbigão no interior da Reserva Extrativista Marinha do Pirajuba, unidade de conservação federal de uso sustentável, em período cuja prática estava proibida. Ademais, “o réu vem reiteradamente pescando em épocas proibidas, prejudicando a Reserva Extrativista” (fl. 149).

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5. Recurso não provido. Determinação de execução imediata da pena.

VOTO

O Senhor Ministro Rogerio Schietti Cruz (Relator):

I – ADMISSIBILIDADE

O recurso é tempestivo e preenche os requisitos constitucionais, le-gais e regimentais para o seu processamento.

II – CONTEXTUALIZAÇÃO

Depreende-se da exordial acusatória, colacionada às fls. 3-5, que o recorrente foi denunciado pela suposta prática do crime previsto no art. 34, caput, da Lei nº 9.605/1998, por ter, em tese, realizado a extração de ber-bigões no interior da Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé, Banco “B”, período em que a atividade era expressamente proibida no local (Instrução Normativa nº 81/2005-Ibama).

O Juiz de primeiro grau condenou o recorrente à pena de 1 ano e 2 meses de detenção, em regime aberto, por violação do art. 34, caput, da Lei nº 9.605/1998. Na ocasião, foi determinada a substituição da reprimen-da privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade por 1 ano, bem como em pagamento de R$ 1.000,00, a ser destinado a entidades assistenciais ou públicas de Florianópolis.

Irresignada com a condenação, a defesa interpôs apelação ao Tribu-nal a quo, que, por unanimidade, deu parcial provimento ao apelo, uni-camente para afastar a valoração negativa das vetoriais relacionadas às consequências do crime e à personalidade do agente e, por consequência, reformar a reprimenda imposta ao réu. Quanto à aplicação do princípio da insignificância, a Corte de origem asseverou que (fl. 219):

[...] não há como se dizer que o comportamento do apelante teria reduzidís-simo grau de reprovabilidade.

Além de ele estar pescando em época proibida, caractere que é elementar do tipo, o réu tinha conhecimento das regras para atuação da Reserva Extra-tivista, da qual era um dos poucos beneficiados cadastrados. A sua ciência das normas vigentes, aliás, está documentalmente formalizada (evento 1,

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PORT_INST_IPL1, fl. 9, do Inquérito nº 50058645920134047200). O que se afere dos elementos dos autos é que o apelante agiu de forma dolosa, sem qualquer apreço ao ordenamento jurídico e ao meio ambiente.

Diante disso, rejeito a alegação, posto que a conduta perpetrada pelo réu não se mostra insignificante.

III – DO MÉRITO

A questão dos autos versa sobre a aplicabilidade, ao caso concreto, do princípio da insignificância, no âmbito de suposta conduta delitiva pre-vista no art. 34, caput e parágrafo único, I, da Lei nº 9.605/1998, de forma a absolver o recorrente, por atipicidade material da conduta.

O constituinte originário, ao inserir o art. 255 na Constituição Federal de 1988, concedeu tutela especial à proteção do meio ambiente, de modo a qualificar o direito ambiental como um ramo da ciência jurídica que não se volta apenas para o presente, “mas que também deve buscar o futuro” (LEAL JÚNIOR, Cândido Alfredo Silva. O princípio da insignificância nos crimes ambientais: a insignificância da insignificância atípica nos crimes contra o meio ambiente da Lei nº 9.605/1998. Revista de Doutrina da 4ª Região, n. 17).

Complementa o citado doutrinador que “as específicas características do direito ambiental não se esgotam nessa explícita previsão constitucional. A questão da relevância ou insignificância das condutas lesivas ao meio am-biente não deve considerar apenas questões jurídicas ou a dimensão eco-nômica da conduta, mas levar em conta esse equilíbrio ecológico que faz possíveis as condições da vida nesse Planeta”.

Sob outro prisma, é certo que a intervenção do direito penal somente se legitima “nos casos em que seja imprescindível para cumprir os fins de proteção social através da prevenção de fatos lesivos.” (SANCHEZ, Jesus Maria Silva. Aproximación al derecho penal contemporâneo, Barcelona, Bosch, 1992, p. 247, tradução livre).

Além disso, na escolha dos bens jurídicos a tutelar, é preciso se ter presente – como adverte Juarez Tavares – que a intervenção penal do Estado se dá, sob a ótica puramente formal, a partir da tipificação de condutas. Po-rém, sob o enfoque material, exige-se que tal intervenção considere serem as condutas proibidas produto de seres humanos, inseridos em condicio-namentos sociais, o que legitima a norma apenas se esta tiver como esco-po impedir a lesão concreta de um bem jurídico. (Critérios de seleção de

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crimes e cominação de penas, in Revista Brasileira de Ciências Criminais, número de lançamento, RT, p. 75/87).

Diante de tais alertas, “haverá lesão ambiental penalmente insignifi-cante quando a avaliação dos índices de desvalor da ação e desvalor do re-sultado indicar que é ínfimo o grau da lesividade da conduta praticada con-tra o bem ambiental tutelado” (SILVA, Ivan Luiz. Princípio da insignificância e os crimes ambientais. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2008. p. 106).

Nessa feita, só é possível reconhecer a existência de lesão ambiental penalmente insignificante quando essa dúplice avaliação indicar um grau de lesividade ínfimo da conduta examinada.

Ao avaliar o caso em apreço, tenho como nitidamente presente o desvalor significativo da conduta do recorrente, haja vista a época do ano em que foi realizado o flagrante se mostrar potencialmente capaz de colocar em risco a reprodução das espécies da fauna local (período em que estava proibida a extração de berbigões no interior da Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé).

Ademais, ficou registrado na sentença penal condenatória que “o réu vem reiteradamente pescando em épocas proibidas, prejudicando a Reserva Extrativista” (fl. 149).

Nesse sentido:

CONSTITUCIONAL – PENAL – RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS – PESCA EM PERÍODO PROIBIDO (LEI Nº 9.605/1998, ART. 34) – APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – IMPOSSIBILIDADE – MAIOR REPROVABILIDADE DA CONDUTA – RECURSO DESPROVIDO

1. Em 04.08.2014, ao julgar o Habeas Corpus nº 242.132/PR, decidiu a Sexta Turma desta Corte que: a) “a questão da relevância ou insignificância das condutas lesivas ao meio ambiente não deve considerar apenas questões jurídicas ou a dimensão econômica da conduta, mas levar em conta o equilí-brio ecológico que faz possíveis as condições de vida no planeta”; b) “haverá lesão ambiental irrelevante no sentido penal quando a avaliação dos índices de desvalor da ação e de desvalor do resultado indicar que é ínfimo o grau da lesividade da conduta praticada contra o bem ambiental tutelado” (Ministro Rogerio Schietti Cruz).

À luz desse precedente e das premissas fáticas estabelecidas no acórdão im-pugnado – o crime foi praticado em unidade de conservação da natureza e em período de defeso à pesca, e o réu já fora “autuado por ação semelhante, qual seja fazer extração em área proibida” –, não há como afastar a tipicida-de da conduta delituosa com fundamento no “princípio da insignificância”.

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2. Recurso desprovido. (RHC 56.296/SC, Rel. Min. Newton Trisotto – De-sembargador convocado do TJ/SC, 5ª T., DJe 19.08.2015)

IV – EXECUÇÃO IMEDIATA DA PENA

Ante o esgotamento das instâncias ordinárias – como no caso –, de acordo com entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, no jul-gamento do ARE 964.246, sob a sistemática da repercussão geral, é possí-vel a execução da pena depois da prolação de acórdão em segundo grau de jurisdição e antes do trânsito em julgado da condenação, para garantir a efetividade do direito penal e dos bens jurídicos constitucionais por ele tutelados.

V – DISPOSITIVO

À vista do exposto, nego provimento ao recurso especial.

Por fim, determino o envio de cópia dos autos ao Juízo da conde-nação para imediata execução da pena imposta. A determinação deve ser desconsiderada caso o réu cumpra, atualmente, a reprimenda.

CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEXTA TURMA

Número Registro: 2016/0244725-0

Processo Eletrônico REsp 1.626.599/SC

Matéria criminal

Números Origem: 50177623520144047200 SC-50177623520144047200

Pauta: 14.03.2017 Julgado: 14.03.2017

Relator: Exmo. Sr. Ministro Rogerio Schietti Cruz

Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Rogerio Schietti Cruz

Subprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Dr. Oswaldo José Barbosa Silva

Secretário: Bel. Eliseu Augusto Nunes de Santana

AUTUAÇÃO

Recorrente: Lucinei Manoel de Souza

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Advogado: Defensoria Pública da União

Recorrido: Ministério Público Federal

Assunto: Direito penal – Crimes previstos na legislação extravagante – Crimes contra o meio ambiente e o patrimônio genético

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia Sexta Turma, ao apreciar o processo em epí-grafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Sexta Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, com determinação, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Nefi Cordeiro, Antonio Saldanha Palheiro, Maria Thereza de Assis Moura e Sebastião Reis Júnior votaram com o Sr. Ministro Relator.

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Parte Geral – Acórdão na Íntegra

2270

Tribunal Regional Federal da 1ª RegiãoApelação Criminal nº 0004196‑46.2013.4.01.3701/MARelator: Desembargador Federal Ney BelloApelante: Orlando Alves da SilvaApelante: Vale do Sol Mat. de Const. e Serv. Ltda.Advogado: MA00008355 – Solon Rodrigues dos Anjos Neto e outros(as)Apelado: Justiça PúblicaProcurador: Guilherme Garcia Virgilio

EMENTA

PENAL E PROCESSUAL PENAL – ART. 2º, § 1º, DA LEI Nº 8.176/1991 – EXPLORAR MATÉRIA-PRIMA PERTENCENTE À UNIÃO, SEM AUTORIZAÇÃO LEGAL – ART. 55 DA LEI Nº 9.605/1998 – CRIMES AMBIENTAIS – MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS – SENTENÇA CONDENATÓRIA MANTIDA

1. A exploração de matéria-prima pertencente à União – cascalho – sem a necessária autorização legal implica prática do crime tipificado no art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.176/1991 e do crime descrito no art. 55 da Lei nº 9.605/1998, em concurso formal.

2. Comprovadas a materialidade e a autoria do delito de usurpação de patrimônio da União previsto no art. 2º da Lei nº 8.176/1991 e do delito ambiental previsto no art. 55 da Lei nº 9.605/1998. O acusado, na qualidade de responsável pela área, praticou extração irregular de areia, explorando matéria-prima pertencente à União sem a necessá-ria autorização legal.

3. Dosimetria mantida nos termos da sentença a quo, pois em confor-midade com os arts. 59 e 68 do CP.

4. Apelação não provida.

ACÓRDÃO

Decide a Turma, à unanimidade, negar provimento à apelação.

Terceira Turma do TRF da 1ª Região.

Brasília, 7 de março de 2017.

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Desembargador Federal Ney Bello Relator

RELATÓRIO

O Exmo. Sr. Desembargador Federal Ney Bello (Relator):

Cuida-se de recurso de apelação interposto por Orlando Alves da Silva e Vale do Sol Extração e Serviços Ltda. contra sentença proferida pelo Juízo Federal da Subseção Judiciária de Imperatriz/MA, que julgou parcial-mente procedente a denúncia para condenar o primeiro réu às penas de 1 (um) ano e 5 (cinco) meses e 15 (quinze) dias de detenção e 17 (dezessete) dias-multa, à razão de 1/4 (um quarto) do salário mínimo vigente ao tempo dos fatos, e o segundo réu à pena de prestação de serviço à comunidade, consistente em contribuição no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), pela prática do delito do art. 2º, caput, da Lei nº 8.176/1991 e do art. 55 da Lei nº 9.605/1998, em concurso formal.

Narra a inicial que:

Em 08 de julho de 2010, o Ibama realizou fiscalização na qual constatou que a referida empresa já realizava atividade de extração de areia. Notificada, apresentou documentação que não demonstrou a regularidade de suas ativi-dades, visto que não possuía autorização do DNPM (fls. 98/138).

Já no dia 24 de setembro de 2012, ou seja, 2 (dois) anos depois, técnicos do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) constataram que a empresa Vale do Sol Extração e Serviços Ltda. – ME, sob a responsabilidade do administrador Orlando Alves da Silva, ora denunciado, continuava ex-plorando, sem a necessária autorização do Poder Publico Federal (DNPM), matéria-prima pertencente à União, mediante lavra e extração de recursos minerais, mais precisamente areia, no leito do Rio Tocantins, no município de Imperatriz/MA [...]

Em razões de apelação, os réus argumentam que a Vale do Sol não extraiu areia sem autorização e de modo reiterado. Afirma que colacionou aos autos documentos que comprovam a autorização de extração de areia desde o ano de 2010. Aduz que a demora para a expedição da licença ocorreu unicamente por conta da burocracia do DNPM. Requerem o pro-vimento do recurso para serem absolvidos das imputações que lhe pesam (fls. 286/289).

Contrarrazões do Ministério Público Federal às fls. 300/307.

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Nesta instância, a Procuradoria Regional da República da 1ª Região opina pelo não provimento do recurso (fls. 312/317)

É o relatório.

VOTO

O Exmo. Sr. Desembargador Federal Ney Bello (Relator):

Como relatado, cuida-se de recurso de apelação interposto por Orlando Alves da Silva e Vale do Sol Materiais de Construção e Serviços Ltda. contra sentença que julgou parcialmente procedente a denúncia para condenar o primeiro réu às penas de 1 (um) ano e 5 (cinco) meses e 15 (quinze) dias de detenção e 17 (dezessete) dias-multa, à razão de 1/4 (um quarto) do salário mínimo vigente ao tempo dos fatos, e o segundo réu à pena de prestação de serviço à comunidade, consistente em contribuição no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), pela prática do delito do art. 2º, caput, da Lei nº 8.176/1991 em concurso formal de crimes com o art. 55 da Lei nº 9.605/1998.

Narra a denúncia que o réu executou a extração de recursos minerais, bem como explorou matéria prima pertencente à União, sem autorização do órgão competente, através da constante retirada de areia.

O art. 2º da Lei nº 8.176/1991 determina que: “Constitui crime con-tra o patrimônio, na modalidade de usurpação, produzir bens ou explorar matérias-prima pertencentes à União, sem autorização legal ou em desacor-do com as obrigações impostas pelo título autorizativo”, e impõe pena de detenção que varia de 01 (um) a 05 (cinco) anos, e multa.

Já o art. 55 da Lei nº 9.605/1998 tipifica como crime o ato de “Exe-cutar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a ob-tida”, e prevê pena de detenção, variando de 06 (seis) meses a 01 (um) ano, e multa.

Aquele que explora, sem a devida autorização, matéria-prima perten-cente à União incorre nas penas dos dois dispositivos legais mencionados, em concurso formal.

A matéria se encontra pacificada no âmbito dos Tribunais pátrios. Segundo o entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça, o crime do art. 2º da Lei nº 8.176/1991 tutela o Patrimônio da União e o delito

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previsto no art. 55 da Lei nº 9.605/1998 objetiva proteger o meio ambiente, sendo possível, no caso em tela, a ocorrência de concurso formal, visto que a extração irregular de recurso mineral atinge mais de um bem jurídico tutelado.

Nesse sentido:

PENAL – PROCESSUAL PENAL – AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL – FALTA DO NECESSÁRIO PREQUESTIONAMEN-TO – AUSÊNCIA DE ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DO ART. 619 DO CPP – SÚMULA Nº 211 DO STJ – ART. 55 DA LEI Nº 9.605/1998 E 2º DA LEI Nº 8.176/1991 – BENS JURÍDICOS DIVERSOS – CONDENAÇÃO EM AM-BOS OS DELITOS – AGRAVO NÃO PROVIDO

1. O requisito do prequestionamento pressupõe prévio debate da questão pelo Tribunal de origem, à luz da legislação federal indicada, com emissão de juízo de valor acerca do dispositivo legal apontado como violado, o que não ocorreu neste caso. Incidência da Súmula nº 211 do STJ.

2. Não obstante a oposição do embargos, remanesceu a omissão, no acórdão recorrido, relativamente à violação da legislação federal.

Registre-se que inexiste, em situações tais, cerceamento ao contraditório, porquanto incumbia ao recorrente alegar violação do art. 619 do Código de Processo Penal.

3. Os crimes tipificados nos arts. 55 da Lei nº 9.605/1998 e 2º da Lei nº 8.176/1991 visam à tutela de bens jurídicos diversos. Enquanto o primeiro delito tem por finalidade a proteção do meio ambiente, quanto aos recursos encontrados no solo e subsolo, o segundo tem por objeto a preservação de bens e matérias-primas que integrem o patrimônio da União, sendo possível a condenação por ambos os crimes.

4. Agravo Regimental não provido.

(AgRg-EDcl-REsp 1263951/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª T., Julgado em 05.08.2014, DJe 19.08.2014)

PENAL E PROCESSUAL PENAL – AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL – CRIMES AMBIENTAL E CONTRA A ORDEM ECONÔMICA – APARENTE CONFLITO DE NORMAS – INOCORRÊNCIA – BENS JURÍDICOS DISTINTOS – LEIS NºS 8.176/1991 E 9.605/1998 – EN-TENDIMENTO DESTE STJ – SÚMULA Nº 83/STJ – PREQUESTIONAMENTO – AUSÊNCIA – SÚMULAS NºS 282 E 356 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDE-RAL – APLICAÇÃO – AGRAVO NÃO PROVIDO

1. As Turmas componentes da 3ª Seção têm entendimento firme no sentido de que os arts. 55 da Lei nº 9.605/1998 e 2º, caput, da Lei nº 8.176/1991

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protegem bens jurídicos distintos: o meio ambiente e a ordem econômica, de forma que não há falar em derrogação da segunda pela primeira, restando ausente o conflito aparente de normas.

2. “O art. 2º da Lei nº 8.176/1991 tipifica o crime de usurpação, como mo-dalidade de delito contra o patrimônio público, consistente em produzir bens ou explorar matéria-prima pertencente à União, sem autorização legal ou em desacordo com as obrigações impostas pelo título autorizativo, enquanto que o art. 55 da Lei nº 9.605/1998 tipifica o delito contra o meio-ambiente, consubstanciado na extração de recursos minerais sem a competente autori-zação, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida, sen-do induvidosamente distintas as situações jurídico-penais” (HC 35.559/SP, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJ 05.02.2007)

3. Por outro vértice, a ausência de pronunciamento em torno da questão contida nos dispositivos da legislação federal invocada impede o conheci-mento do recurso especial, pela falta de prequestionamento. Incidência das Súmulas nºs 282 e 356 do STF.

Ademais, a aceitação, pela jurisprudência deste STJ, do chamado “preques-tionamento implícito” não socorre aos recorrentes.

4. Agravo regimental não provido.

(AgRg-AREsp 137.498/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª T., Julgado em 19.11.2013, DJe 27.11.2013)

Este Tribunal possui o mesmo entendimento, de que os disposi-tivos legais em questão tutelam bens jurídicos distintos, pois o art. 2º da Lei nº 8.176/1991 protege a ordem econômica, enquanto o art. 55 da Lei nº 9.605/1998 tutela o meio ambiente. Veja-se:

PROCESSUAL PENAL – RECURSO EM SENTIDO ESTRITO – CRIME CON-TRA O MEIO AMBIENTE – ART. 55 DA LEI Nº 9605/1998 – CRIME DE USURPAÇÃO DO PATRIMÔNIO PÚBLICO – ART. 2º DA LEI Nº 8176/1991 – CONFLITO APARENTE DE NORMAS – INEXISTÊNCIA – 1. O art. 2º, caput, da Lei nº 8.176/1991 tutela a ordem econômica, definindo crime contra o patrimônio na modalidade usurpação, enquanto o art. 55 da Lei nº 9.605/1998 tutela a preservação do meio ambiente. 2. Reconhecimento do concurso formal de crimes, ficando claro que a conduta do recorrido sub-sume tanto ao tipo descrito no art. 2º, caput, da Lei nº 8.176/1991, quanto ao do art. 55 da Lei nº 9.605/1998. 3. Recurso em sentido estrito provido.

(RSE 0003420-81.2011.4.01.3809/MG, Relª Desª Fed. Monica Sifuentes, 3ª T., e-DJF1 p. 94 de 17.01.2014)

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No caso, a materialidade delitiva está comprovada nos autos pelo Relatório de Fiscalização nº 42/2012 do Departamento Nacional de Pro-dução Mineral (fls. 13/37), o qual constatou que o acusado realizava lavra sem autorização legal, pelo Alvará de Licença (fl. 72), onde consta que a autorização ocorreu em 10.10.2012, Registro de Licença nº 005/2012, no qual autoriza a exploração de areia até 16.05.2012, pelo Relatório de Cons-tatação do Ibama (fls. 105/133).

A autoria também é indene de dúvidas. O réu não nega ser o respon-sável pela área objeto da fiscalização e, demais, afirmou que desenvolvia a atividade de extração de areia no local (fls. 44 e 236/237).

A tese de que a ausência de renovação da autorização de exploração foi em razão da greve do DNPM, tal como arguida nas razões de apelação, não se sustenta.

Segundo os autos, a empresa Vale do Sol Materiais de Construção e Serviços Ltda., cujo representante legal é o acusado Orlando Alves da Silva, foi flagrada, no mês de junho de 2010, praticando extração e comer-cialização de areia retirada do leito do rio Tocantins, sem a autorização do DNPM. De acordo com o Relatório de Constatação da referida autarquia (fls. 103/134), a empresa exibiu aos fiscais do Ibama que realizavam a fisca-lização na área, Licença de Operação nº 379/2009, expedida pela Secretaria de Estado e do Meio Ambiente e Recursos Naturais – Sema, em 28.05.2009, cuja validade seria até 28.05.2011. Entretanto, apesar da apresentação da licença de operação, não havia registro de licença emitido pela DNPM. Apenas em 26.01.2010 foi expedido Registro de Licença nº 005/2012/SUP/DNPM/MA, do Departamento nacional de Produção Mineral, cuja validade se estendia até 16.05.2012.

Quanto à Licença Municipal de Extração Mineral nº 13/2012, ex-pedida no dia 28.05.2012, verifico que as atividades de extração ficaram condicionadas à obtenção do Registro de Licenciamento junto ao DNPM, Licença de Operação expedida pelo órgão ambiental e Plano de Recupe-ração de Áreas Degradadas. Ocorre que, em fiscalização realizada no dia 24.09.2012, ou seja, antes até da protocolização do requerimento para ob-tenção da licença, fiscais do Ibama constataram que a empresa continuava a extrair areia do leito do rio Tocantins, sem autorização. Isso porque, ape-sar de a empresa obter a Licença Municipal nº 13/2012, não havia sequer protocolizado o pedido para a autorização de extração de areia perante o DNPM, e consequentemente não estava autorizada a realizar extração de areia naquele período.

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O requerimento para obtenção da licença foi protocolizado apenas no dia 17.10.2012. E em 21.12.2012 o Registro de Licença nº 28/2012 foi expedido pelo DNPM.

Destarte, não há como acolher a tese de que a ausência de registro de licença para extração mineral pela empresa se deu em decorrência da greve do DNPM, pois a Portaria nº 382/2012 suspendeu, em razão da greve, os prazos a partir de 16.07.2012, antes da protocolização do requerimento.

Vale ressaltar, ainda, que o art. 22 da Portaria DNPM nº 266/2008 estabelece que “o pedido de prorrogação do registro de licença deverá ser protocolizado no Distrito do DNPM competente até o último dia da vigên-cia do título ou da prorrogação anteriormente deferida, instruído com prova de recolhimento dos emolumentos fixados em Portaria do DNPM (demais atos de averbação)”. Assim, independentemente da greve ocorrida no âm-bito do DNPM, o acusado, mesmo tendo ciência de que o Registro de Li-cença nº 005/2012/SUP/DNPM/MA permitia a extração de areia até o dia 16.05.2012, sendo este o último prazo para a protocolização para pedido de prorrogação da licença, ficou inerte, só tomou providências nesse senti-do em 17.10.2012.

Nesse sentido, as ponderações tecidas pelo Ministério Público Fede-ral que, em parecer ofertado nesta instância, disse:

A defesa alega que houve requerimento de prorrogação do registro de li-cença expirada em 16.05.2012, entretanto tal requerimento foi prejudicado devido à greve.

Tal argumento não merece guarida, porquanto só houve paralisação dos pro-tocolos a partir de 16.07.2012, conforme Portaria nº 382 do DNPM, e o requerimento de prorrogação do registro deveria ter sido protocolado até o último dia da vigência anterior, ou seja, até 16.05.2012, conforme leitura da Portaria nº 266/2008 do DNPM, o que não ocorreu.

Sendo assim, com espeque no conjunto probatório dos autos, conclui-se que a ré somente esteve habilitada à atividade de extração de areia nos perío-dos de 26.01.2012 e, posteriormente, a partir de 21.12.2012 até 28.05.2014 (fl. 81).

Logo, de 08.07.2010 a 25.01.2012 e de 17.05.2012 a 24.09.2012 os apelan-tes não estavam habilitados à extração mineral, o que confirma o acerto do Magistrado a quo quanto à sentença condenatória dos réus.

Diante disso, não há que se falar em ausência de provas para con-denação penal. O réu, livre e conscientemente, incidiu nas penas do

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art. 2º, caput, da Lei nº 8.176/1991 em concurso material com o art. 55 da Lei nº 9.605/1998.

Passo à dosimetria da pena.

Quanto ao acusado Orlando Alves da Silva:

Tenho que a pena imposta na sentença guardou a proporcionalidade entre o ato delitivo praticado e a sanção imposta, tendo sido respeitado o binômio necessidade-suficiência.

É que o magistrado a quo deixou de aplicar a pena-base no mínimo legal, por considerar que, dentre as diretrizes do art. 59 do CP, as consequ-ências do crime pesam em desfavor do réu, em razão da grande quantidade de material extraído de propriedade pertencente à União, sem autorização. Diante disso, fixou a pena-base em 1 (um) ano e 6 (seis) meses de detenção para o crime previsto no art. 2º, da Lei nº 8.176/1991 e 07 (sete) meses de detenção para o crime do art. 55 da Lei nº 9.605/1998.

Correta a aferição feita pelo magistrado a quo.

Do mesmo modo, correta a incidência da atenuante de genérica (art. 66, do Código Penal), daí a redução da pena para 1 (um) ano e 3 (três) meses de detenção (art. 2º da Lei nº 8.176/1991) e 06 (seis) meses (art. 55, da Lei nº 9.605/1998).

Em razão do concurso formal de crimes (art. 70 do CP), aplicou so-mente a pena relativa ao crime do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.179/1991, au-mentada de 1/6 (um sexto), resultando em 01 (um) ano, 05 (cinco) meses e 15 (quinze dias) de detenção, tornada definitiva ante a ausência de circuns-tâncias agravantes, atenuantes, bem como causa especial de aumento ou diminuição de pena.

Quanto à pena de multa, observo que o magistrado fixou em 17 (de-zessete) dias-multa, à razão de 1/4 (um quarto) do salário mínimo vigente ao tempo dos fatos. A fixação foi procedida em consonância com a avaliação das circunstâncias judiciais do art. 59 e seguiu o mesmo critério adotado para fixar a pena privativa de liberdade.

A substituição da pena privativa de liberdade pela pena de prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária atendeu, amplamente, a todos os requisitos presentes no art. 44 do Código Penal.

Mantido o regime aberto para hipótese de execução (art. 33, § 2º, c, do Código Penal).

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Quanto à empresa acusada Vale do Sol e Serviços Ltda. ME:

Considerando as circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Códi-go Penal e art. 6º da Lei nº 9.605/1998, o magistrado entendeu que apenas as consequências do crime são desfavoráveis à empresa em razão da elevada quantidade de areia extraída do leito do Tocantins. Por essas razões, fixou a pena de prestação de serviço à comunidade, consistente em contribuição no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a entidade ambiental ou cultural pública a ser estabelecida e detalhada pelo Juízo da Execução Penal.

Correta a aferição feita pelo magistrado de piso, em razão de a empre-sa em questão integrar a relação jurídica no polo passivo, devendo ser con-denada pela conduta de extrair areia sem autorização legal, tipificada no art. 55 da Lei nº 9.605/1998 c/c art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.176/1991, conforme a denúncia, com fulcro no art. 21, III, c/c art. 23, IV, da Lei nº 9.605/1988.

Ante o exposto, nego provimento ao recurso de apelação.

É o voto.

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO SECRETARIA JUDICIÁRIA

8ª Sessão Ordinária do(a) Terceira Turma

Pauta de: 07.03.2017 Julgado em: 07.03.2017

Ap 0004196-46.2013.4.01.3701/MA

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Ney Bello

Revisor: Exmo(a). Sr(a).

Presidente da Sessão: Exmo(a). Sr(a). Desembargador Federal Ney Bello

Proc. Reg. da República: Exmo(a). Sr(a). Dr(a). Ronaldo Meira de Vasconcelos Albo

Secretário(a): Cláudia Mônica Ferreira

Apte.: Orlando Alves da Silva

Apte.: Vale do Sol Mat. de Const. e Serv. Ltda.

Adv.: Solon Rodrigues dos Anjos Neto e outros(as)

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Apdo: Justiça Pública

Procur.: Guilherme Garcia Virgilio

Nº de Origem: 41964620134013701 Vara: 1ª

Justiça de Origem: Justiça Federal Estado/Com.: MA

SUSTENTAÇÃO ORAL CERTIDÃO

Certifico que a(o) egrégia(o) Terceira Turma, ao apreciar o processo em epígrafe, em Sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Turma, à unanimidade, negou provimento à Apelação, nos termos do voto do Relator.

Participaram do Julgamento os Exmos. Srs. Juíza Federal Rogéria Maria Castro Debelli (convocada para substituir o Exmo. Sr. Desembargador Federal Mário César Ribeiro, nos termos do Ato Presi nº 78, de 24.01.2017) e Juiz Federal Klaus Kuschel (convocado para substituir a Exma. Sra. Desembargadora Federal Mônica Sifuentes, nos termos do Ato Presi nº 410, de 01.06.2016).

Brasília, 7 de março de 2017.

Cláudia Mônica Ferreira Secretário(a)

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO SECRETARIA JUDICIÁRIA

8ª Sessão Ordinária do(a) Terceira Turma

Pauta de: 07.03.2017 Julgado em: 07.03.2017

Ap 0004196-46.2013.4.01.3701/MA

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Ney Bello

Revisor: Exmo(a). Sr(a).

Presidente da Sessão: Exmo(a). Sr(a). Desembargador Federal Ney Bello

Proc. Reg. da República: Exmo(a). Sr(a).Dr(a). Ronaldo Meira de Vasconcelos Albo

Secretário(a): Cláudia Mônica Ferreira

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RSA Nº 36 – Mar-Abr/2017 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA ���������������������������������������������������������������������������������������������������97

Apte.: Orlando Alves da Silva

Apte.: Vale do Sol Mat. de Const. e Serv. Ltda.

Adv.: Solon Rodrigues dos Anjos Neto e outros(as)

Apdo.: Justiça Pública

Procur.: Guilherme Garcia Virgilio

Nº de Origem: 41964620134013701 Vara: 1ª

Justiça de Origem: Justiça Federal Estado/Com.: MA

SUSTENTAÇÃO ORAL CERTIDÃO

Certifico que a(o) egrégia(o) Terceira Turma, ao apreciar o processo em epígrafe, em Sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Turma, à unanimidade, negou provimento à Apelação, nos termos do voto do Relator.

Participaram do Julgamento os Exmos. Srs. Juíza Federal Rogéria Maria Castro Debelli (convocada para substituir o Exmo. Sr. Desembar - gador Federal Mário César Ribeiro, nos termos do Ato Presi nº 78, de 24.01.2017) e Juiz Federal Klaus Kuschel (convocado para substituir a Exma. Sra. Desembargadora Federal Mônica Sifuentes, nos termos do Ato Presi nº 410, de 01.06.2016).

Brasília, 7 de março de 2017.

Cláudia Mônica Ferreira Secretário(a)

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Parte Geral – Acórdão na Íntegra

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Tribunal Regional Federal da 2ª RegiãoApelação Cível/Reexame Necessário – Turma Espec. III – Administrativo e CívelNº CNJ: 0000146‑28.2012.4.02.5109 (2012.51.09.000146‑1)Relator: Desembargador Federal Ricardo PerlingeiroApelante: Ministério Público FederalProcurador: Procurador da RepúblicaApelado: Ana Luzia Caldonho da Silva e outroAdvogado: Francisco de Assis Teixeira Matos e outroOrigem: 01ª Vara Federal de Resende (00001462820124025109)

EMENTA

REMESSA NECESSÁRIA E APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – CONSTRUÇÃO E AMPLIAÇÃO DE IMÓVEL EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – UNIDADE DE CONSERVAÇÃO FEDERAL – DANO AO MEIO AMBIENTE – DEMOLIÇÃO, REMOÇÃO DE ENTULHOS E RECUPERAÇÃO DA ÁREA – REPARAÇÃO INTEGRAL – INDENIZAÇÃO PECUNIÁRIA NÃO CABÍVEL

1. Ação civil pública ajuizada pelo MPF. Relata que particular é pos-suidor de imóvel edificado a menos de 30 metros do curso d’água e inserido na Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira, unidade de conservação federal administrada pelo ICMBio. Pretende a demolição das construções, com a remoção dos entulhos, a apre-sentação de Plano de Recuperação da Área Degradada – Prad, a ser aprovado pelo ICMBio, o reflorestamento e o pagamento de presta-ção pecuniária ao Fundo Nacional de Defesa dos Direitos Difusos. Sentença que julga procedentes os pedidos em face do particular, à exceção do pagamento de indenização pecuniária, e improcedentes os veiculados contra o Município. Apelação do MPF.

2. É possível a imposição simultânea do pagamento de indenização pecuniária e de outras obrigações, sendo que tal cumulação não é automática e está relacionada com a impossibilidade de recuperação total da área degradada (Precedentes: STJ, 1ª T., AgRg-Ag 1.365.693, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe 10.10.2016; STJ, 2ª T., AgRg-REsp 1.486.195, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 11.03.2016). No caso, profissionais vinculados ao Ibama sugeriram a demolição do imóvel e a respectiva remoção dos entulhos, seguida do plantio de

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espécies florestais, como medidas mitigadoras necessárias à recom-posição ambiental. Por conseguinte, diante da viabilidade da repara-ção in natura do dano ambiental, não encontra respaldo a pretensão indenizatória.

3. Inexistência de provas a indicar que o Município teria sido respon-sável pela impermeabilização do solo na área de preservação per-manente onde foi erigida a edificação irregular, tampouco de nexo causal entre o dano decorrente da construção particular e a instalação de bueiro, pelo Município, na década de 1980. Ainda que a respon-sabilidade por dano ambiental seja, em regra, objetiva, não só a lesão deve ser demonstrada, mas também o liame subjetivo (nexo causal) entre a conduta comissiva ou omissiva do infrator e o dano. De acor-do com o STJ, “o nexo de causalidade deve ser aferido com base na teoria da causalidade adequada, adotada explicitamente pela legisla-ção civil brasileira (CC/1916, art. 1.060 e CC/2002, art. 403), segundo a qual somente se considera existente o nexo causal ‘quando a ação ou omissão do agente for determinante e diretamente ligada ao pre-juízo’ (STJ, 3ª T., REsp 1.615.971, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe 07.10.2016), de modo que ‘há de ser constatado o nexo causal entre a ação ou omissão e o dano’ (STJ, 2ª T., AgRg-AREsp 165.201, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 22.06.2012). O autor da ação ci-vil pública deve comprovar os fatos constitutivos do seu direito, nos termos do art. 333, I, do CPC/1973 – atual art. 373, I, do CPC/2015” (TRF 2ª R., 8ª T.Esp., Reex 00010311820024025101, Rel. Des. Fed. Guilherme Diefenthaeler, e-DJF2R 05.11.2014).

4. Remessa necessária e apelação não providas.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a 5ª Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, por unanimidade, negar provimento à remessa necessária e à apelação, na forma do relatório e do voto constantes dos autos, que passam a integrar o presente julgado.

Rio de Janeiro, 24 de janeiro de 2017 (data do Julgamento).

Ricardo Perlingeiro Desembargador Federal

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RELATÓRIO

Cuida-se de remessa necessária e de apelação, atribuídas à minha re-latoria por livre distribuição (fls. 301-302), interpostas em face da sentença proferida na Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público Federal em face do Município de Resende e de Ana Luisa Caldonho da Silva.

Na origem, a ação civil pública narra que a demandada Ana Luisa Caldonho da Silva é possuidora de imóvel situado no “lote 10” da Vila de Visconde de Mauá, que está inserido na Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira, unidade de conservação federal administrada pelo ICMBio. Aduz que a edificação está localizada a menos de 30 metros do curso d’água e, portanto, em área non aedificandi.

Pretende a demolição das construções edificadas a menos de 30 me-tros do curso d’água, com a remoção dos entulhos; a apresentação de Plano de Recuperação da Área Degradada – Prad, a ser aprovado pelo ICMBio; o reflorestamento e o pagamento de prestação pecuniária ao Fundo Nacional de Defesa dos Direitos Difusos.

Inicial acompanhada dos documentos de fls. 13-124.

A União não manifestou interesse em integrar a lide às fls. 136-139.

A sentença de fls. 253-259 julgou improcedentes os pedidos formula-dos em face do Município de Resende e parcialmente procedentes os veicu-lados em face de Ana Luisa Caldonho da Silva, condenando-a a: demolir as novas construções edificadas a menos de 30 metros do curso d’água, remo-vendo os entulhos para local adequado; apresentar plano de recuperação das áreas degradadas, subscrito por profissional habilitado e acompanhado do cronograma de execução, que deverá ser submetido à aprovação do corpo técnico do ICMBio; e proceder ao reflorestamento da área. Fixou o prazo de 60 (sessenta) dias, sob pena de multa diária. Rejeitou o pedido de prestação pecuniária.

Apelação do MPF às fls. 262-276. Sustenta que o dano ambiental está sujeito ao princípio da reparação integral e deve ser paga indenização pecuniária ao Fundo Nacional de Meio Ambiente. Expõe que o Município de Resende é solidariamente responsável pelo dano ambiental e deve res-ponder segundo a teoria do risco integral.

Contrarrazões do Município às fls. 294-298.

Parecer do Parquet às fls. 306-315 pelo provimento parcial da apela-ção, apenas para determinar a condenação do Município de Resende.

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É o relatório.

Ricardo Perlingeiro Desembargador Federal

VOTO

O Exmo. Sr. Desembargador Federal Ricardo Perlingeiro (Relator):

Consoante relatado, cuida-se de remessa necessária e de apelação, atribuídas à minha relatoria por livre distribuição (fls. 301-302), interpostas em face da sentença proferida na Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público Federal em face do Município de Resende e de Ana Luisa Caldonho da Silva.

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Na origem, a ação civil pública narra que a demandada Ana Luisa Caldonho da Silva é possuidora de imóvel situado no “lote 10” da Vila de Visconde de Mauá, que está inserido na Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira, unidade de conservação federal administrada pelo ICMBio. Aduz que a edificação está localizada a menos de 30 metros do curso d’água e, portanto, em área non aedificandi.

Pretende a demolição das construções edificadas a menos de 30 me-tros do curso d’água, com a remoção dos entulhos; a apresentação de Plano de Recuperação da Área Degradada – Prad, a ser aprovado pelo ICMBio; o reflorestamento da área e o pagamento de prestação pecuniária ao Fundo Nacional de Defesa dos Direitos Difusos.

A sentença de fls. 253-259 julgou improcedentes os pedidos formula-dos em face do Município de Resende e parcialmente procedentes os veicu-lados em face de Ana Luisa Caldonho da Silva, nos seguintes termos:

Por todo o exposto, julgo extinto o feito, com resolução do mérito, com ful-cro no inciso I do art. 269 do CPC, para:

1) Condenar Ana Luzia Caldonho da Silva a demolir as novas construções (bar), objeto da autuação, edificadas a menos de trinta metros do curso d’água, removendo os entulhos para local adequado; apresentar plano de recuperação das áreas degradadas, subscrito por profissional habilitado, e contendo cronograma de execução, que deverá ser submetido à aprovação do corpo técnico do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversi-dade – ICMBio; proceder ao reflorestamento da área, conforme projeto apre-sentado e aprovado pelo ICMBio.

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a. Fixo, para tanto, o prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da intimação pes-soal da ré, depois do trânsito em julgado da sentença. Em caso de des-cumprimento de qualquer das obrigações de fazer, arcará a ré com multa diária, que ora fixo no valor de R$ 100,00 (cem reais), até o limite máximo de R$ 10.000,00 (dez mil reais), em favor do Fundo Nacional do Meio Ambiente, observado o disposto nos §§ 5º e 6º do art.461 do CPC, sem prejuízo de outras constrições legais.

b. O poder público poderá, em caso de inadimplemento das obrigações, realizá-las às expensas da ré, apurando-se o quantum devido por meio de liquidação por artigos.

2) Rejeitar o pedido de pagamento de prestação pecuniária ao Fundo Nacio-nal de Defesa dos Direitos Difusos, formulado em face de Ana Luzia Caldo-nho da Silva.

3) Rejeitar todos os pedidos formulados em face do Município de Resende (RJ).

Irresignado, o Parquet interpôs apelação às fls. 262-276. Pugna pela reforma da sentença para que seja imposta prestação pecuniária em favor do Fundo Nacional do Meio Ambiente, haja vista a possibilidade de cumu-lação de pedidos a fim de reparar integralmente o dano ambiental. Alega que a indenização pecuniária deverá ser arbitrada pelo Poder Judiciário de acordo com o princípio da razoabilidade, considerando que a apelada Ana Luiza Caldonho ocupa irregularmente a área de preservação permanente desde o ano de 2006. Ademais, requer o reconhecimento da responsabili-dade solidária do Município de Resende pelo dano ambiental, ao argumen-to de que foi omisso ao não fiscalizar o cumprimento da legislação federal e estadual, devendo responder objetivamente, de acordo com a teoria do risco integral.

Em que pese as razões recursais, entendo que o decisum monocrático merece ser mantido por seus próprios fundamentos.

Por meio do procedimento administrativo nº 1.30.008.000035/2006-88 (fls. 13-124), o MPF apurou a ocorrência de infração ambiental ocorrida na região de Visconde de Mauá, no Município de Resende, consubstancia-da na ampliação de imóvel comercial no interior da APA da Mantiqueira (art. 3º, do Decreto nº 91.304, de 3 de junho de 1985) e no entorno do Parque Nacional Itatiaia – Parna Itatiaia (art. 27, do Decreto nº 99.274/1990 e da Resolução Conama nº 013/1990), ex vi da fl. 20.

Em 08.05.2006, a apelada Ana Luiza Caldonho da Silva foi autuada pelo Ibama (Auto de Infração nº 512732D à fl. 18) como incursa no art. 70

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c/c art. 40, da Lei nº 9.605/1998; art. 2º, da Lei nº 4.771/1965 e art. 2º, II e VIII c/c art. 27, do Decreto nº 3.179/1999, ocasião em que lhe foi imposta uma multa de R$ 300,00, além do embargo da ampliação do imóvel comer-cial na área de preservação permanente (fl. 19). Em 31.05.2016, técnicos ambientais do Parna Itatiaia comparecerem ao imóvel de propriedade da autuada e elaboraram laudo de vistoria, constatando a ocupação irregular e o impedimento da regeneração da vegetação nativa na área de preservação permanente (fls. 20-23):

A vegetação original da área é do tipo Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica). Em função do processo de colonização, a maior parte da região se encontra hoje ocupada por pastagens e reflorestamentos com espécies exóti-cas (Pinus e Eucalipto). A Vila de Visconde de Mauá, propriamente dita, tem sofrido acelerado processo de urbanização desordenada nas últimas déca-das, com ocupação das margens dos rios e loteamentos irregulares. O imóvel está localizado junto a pequeno riacho, afluente da margem direita do Rio Preto, que por sua vez faz parte da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul. [...]

A autuada promoveu a ampliação do imóvel onde funciona um pequeno bar, construindo um prolongamento da varanda em concreto e alvenaria com dimensões de 2,30 x 3,60m, ocupando uma área de aproximadamente 8 m². Tal ampliação dista apenas 2 metros do pequeno curso d’água citado anteriormente, portanto dentro de Área de Preservação Permanente (APP), conforme o art. 2º da Lei nº 4.771/1965. A construção está localizada [...] a aproximadamente 4,8 km em linha reta da divisa do Parque Nacional do Itatiaia. [...]

É inquestionável a importância ecológica da manutenção da vegetação ciliar remanescente e a regeneração daquela destruída no passado. Dentre outros, podemos citar o papel fundamental das matas ciliares e demais Áreas de Preservação Permanente no controle da erosão, manutenção da qualidade e quantidade da água no lençol freático, nascentes, córregos, rios, lagos e lagoas, além de servir como fonte de alimento e abrigo para a fauna local, funcionando como importante corredor ecológico. [...]

Com base nos fatos e considerações acima entendemos que houve dano ambiental, ficando configurada a ocupação irregular e o impedimento da regeneração da vegetação nativa na Área de Preservação Permanente. [...]

Apresentamos abaixo sugestão de medidas mitigadoras a serem adotadas pelo autuado.

Outras medidas poderão ser sugeridas por ocasião da elaboração do Termo de Ajuste de Conduta, caso a autoridade julgadora considere pertinente:

1) Demolição da ampliação da construção citada acima, bem como a imedia-ta remoção dos entulhos disso decorrente para local apropriado, conforme

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orientação da 4ª Câmara de Coordenação e Revisão – Meio Ambiente Patrimônio Cultural – da Procuradoria Geral da República em Brasília, DF (Ministério Público Federal), que não admite a consolidação de edifica-ções em APP’s, à luz do Ofício Circular/4ª CCR/ nº 002, de 20.02.2003.

2) Após a remoção da benfeitoria irregular, a APP deverá receber o plantio de três mudas de espécies florestais ou frutíferas nativas, que deverão receber os devidos tratos culturais por, no mínimo, dois anos.

Sabe-se que a tutela ambiental é pautada pela reparação integral do meio ambiente, admitindo-se a condenação simultânea às obrigações de fazer, não fazer e indenizar, desde que essa cumulação seja realmente ne-cessária à recuperação do meio ambiente. Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO – ADMINISTRA-TIVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DANO AMBIENTAL – POSSIBILIDADE DE REPARAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA – INDENIZAÇÃO INCABÍVEL – RE-VISÃO DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA – IMPOSSIBILIDADE – SÚMU-LA Nº 7/STJ – 1. A jurisprudência desta Corte entende que, em se tratando de dano ambiental, é possível a cumulação da indenização com obrigação de fazer, sendo que tal cumulação não é obrigatória, e relaciona-se com a impossibilidade de recuperação total da área degradada. 2. Na espécie, o acórdão recorrido consignou que seria possível a recuperação do ecossiste-ma agredido, pelo que inaplicável a indenização pleiteada. Assim, para rever tal conclusão, necessário o revolvimento do suporte fático-probatório dos autos, o que é vedado em Recurso Especial, ante o óbice da Súmula nº 7/STJ. 3. Agravo Regimental do Ministério Público Federal desprovido. (STJ, 1ª T., AgRg-Ag 1.365.693, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe 10.10.2016)

PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DANO AM-BIENTAL – INDENIZAÇÃO PECUNIÁRIA CUMULADA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER – EFETIVA REPARAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA – SÚMULA Nº 7/STJ – 1. Em ação civil pública ambiental, é admitida a possibilidade de condenação do réu à obrigação de fazer ou não fazer cumulada com a de indenizar. Tal orientação fundamenta-se na eventual possibilidade de que a restauração in natura não se mostre suficiente à recomposição integral do dano causado. 2. No entanto, na hipótese dos autos, impossível alterar o en-tendimento do Tribunal a quo, uma vez que lastreado em prova produzida.

Óbice da Súmula nº 7/STJ. Agravo não conhecido. (STJ, 2ª T., AgRg-REsp 1.486.195, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 11.03.2016)

No caso, profissionais vinculados ao Ibama sugeriram a demolição do imóvel e a respectiva remoção dos entulhos, seguida do plantio de espécies florestais, como medidas mitigadoras necessárias à recomposição ambien-

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tal. Por conseguinte, diante da possibilidade de reparação in natura do dano ambiental, não encontra respaldo jurídico a pretensão indenizatória perqui-rida pelo MPF.

Outrossim, também não prospera o pleito do apelante dirigido ao reconhecimento da responsabilidade objetiva do Município de Resende pelo dano ambiental decorrente da ampliação do imóvel da autuada. Ape-sar de o MPF alegar que o ente municipal deve responder por omissão em sua tarefa fiscalizatória do meio ambiente, inexiste prova nesse sentido, eis que, conforme consignado pelo Juízo monocrático, não editou qual-quer ato administrativo que autorizasse a obra. Ademais, ainda que seja de competência comum de todos os entes federativos zelar pela proteção do meio ambiente (art. 23, VI, da Constituição Federal), o imóvel da apelada está situado em unidade de conservação federal a demandar a fiscalização, prima facie, dos órgãos federais (e tanto é assim que a apelada foi autuada por fiscais do Ibama às fls. 17-19).

Com efeito, inexiste qualquer prova a indicar que o Município de Resende foi o responsável pela impermeabilização do solo na área de pre-servação permanente onde foi erigida a edificação irregular, tampouco do nexo causal entre o dano decorrente da construção da apelada na área am-bientalmente protegida e a instalação do bueiro na década de 1980 (fl. 87), pelo Município. E não só: na vistoria realizada por fiscais do Ibama nos idos de 2006 (fls. 20-22), sequer foi apontada a ocorrência de eventual dano ambiental, ainda que indireto, originário do bueiro.

Ainda que a responsabilidade por dano ambiental seja, em regra, ob-jetiva, não só a lesão deve ser demonstrada, mas também o liame subjetivo (nexo causal) entre a conduta comissiva ou omissiva do infrator e o dano, o que não ocorreu em relação ao Município de Resende. A esse respeito, confira-se:

RECURSO ESPECIAL DE BRAZUCA AUTO POSTO LTDA. – EPP E JAYRO FRANCISCO MACHADO LESSA – CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL – VA-ZAMENTO DE GASOLINA EM POSTO DE COMBUSTÍVEL – DANOS MA-TERIAIS E AMBIENTAIS DE GRANDES PROPORÇÕES – NEXO DE CAUSA-LIDADE – TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA – CONCORRÊNCIA DE CAUSAS – RECONHECIMENTO DE RESPONSABILIDADE RECÍPROCA DOS LITIGANTES PELA ECLOSÃO DO EVENTO DANOSO – INDENIZAÇÃO DI-VIDIDA PROPORCIONALMENTE ENTRE AS PARTES – NEGADO PROVI-MENTO AO RECURSO ESPECIAL – 2. RECURSO ESPECIAL DA PETROBRÁS DISTRIBUIDORA S.A – PROCESSUAL CIVIL – APELAÇÃO ÚNICA – INTER-POSIÇÃO CONTRA DUAS SENTENÇAS – PROCESSOS DISTINTOS – ALE-

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GADA OFENSA AO INSTITUTO DA PRECLUSÃO – JULGAMENTO DO RESP 1.496.906/DF – RECONHECIMENTO DA PERDA DE OBJETO – APELO ESPECIAL NÃO CONHECIDO – 1. Para a caracterização da responsabilida-de civil, antes de tudo, há de existir e estar comprovado o nexo causal entre o dano e a conduta comissiva ou omissiva do agente e afastada qualquer das causas excludentes do nexo de causalidade. 2. A doutrina endossada pela jurisprudência desta Corte é a de que o nexo de causalidade deve ser aferido com base na teoria da causalidade adequada, adotada explicitamente pela legislação civil brasileira (CC/1916, art. 1.060 e CC/2002, art. 403), segun-do a qual somente se considera existente o nexo causal quando a ação ou omissão do agente for determinante e diretamente ligada ao prejuízo. 3. A adoção da aludida teoria da causalidade adequada pode ensejar que, na afe-rição do nexo de causalidade, chegue-se à conclusão de que várias ações ou omissões perpetradas por um ou diversos agentes sejam causas necessárias e determinantes à ocorrência do dano. Verificada, assim, a concorrência de culpas entre autor e réu a consequência jurídica será atenuar a carga inde-nizatória, mediante a análise da extensão do dano e do grau de cooperação de cada uma das partes à sua eclosão. 4. No caso em exame, adotando-se a interpretação das cláusulas dos contratos celebrados entre os litigantes e as premissas fáticas e probatórias, tal como delineadas na instância de ori-gem, conclui-se que as condutas comissivas e omissas de todas as partes, cada qual em sua esfera de responsabilidade assumida contratualmente e, extracontratualmente, pela teoria do risco da atividade (CC/2002, art. 927, parágrafo único), foram determinantes para que o vazamento da gasolina ge-rasse os danos materiais e ambientais verificados e, inclusive, chegasse a ter grandes proporções. Está, assim, configurada a concorrência de culpas para eclosão do evento danoso, sendo certo que cada litigante deve responder na proporção de sua contribuição para a ocorrência do dano. 5. Considerando o decidido REsp 1.496.906/DF, no sentido da viabilidade do conhecimento da apelação tanto na ação cominatória (processo nº 2004.01.1.012049-2) como na reparatória (processo nº 2003.01.1.096301-5) e em suas respectivas reconvenções, perdeu objeto o recurso especial interposto por Petrobrás Dis-tribuidora S.A., o qual tinha por finalidade, em última análise, a declaração de nulidade do acórdão proferido na apelação em relação ao processo (pro-cesso nº 2003.01.1.096301-5). 6. Recurso especial de Brazuca Auto Posto Ltda. – EPP e Jayro Francisco Machado Lessa improvido. Recurso especial de Petrobras Distribuidora S.A. não conhecido. (STJ, 3ª T., REsp 1.615.971, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe 07.10.2016)

PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL – QUEIMADA – MULTA ADMINIS-TRATIVA – RESPONSABILIDADE OBJETIVA – ART. 14, § 1º, DA LEI Nº 6.398/1981 – DANO AO MEIO AMBIENTE – NEXO CAUSAL – VERIFI-CAÇÃO – REEXAME DE PROVA – SÚMULA Nº 7/STJ – 1. A responsabilidade é objetiva; dispensa-se portanto a comprovação de culpa, entretanto há de

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se constatar o nexo causal entre a ação ou omissão e o dano causado, para configurar a responsabilidade. 2. A Corte de origem, com espeque no con-texto fático dos autos, afastou a multa administrativa. Incidência da Súmula nº 7/STJ. Agravo regimental improvido. (STJ, 2ª T., AgRg-AREsp 165.201, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 22.06.2012)

DIREITO AMBIENTAL – ADMINISTRATIVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – PRÁ-TICA DE CRUELDADE À FAUNA SILVESTRE – PESQUISAS CIENTÍFICAS – RESPONSABILIDADE OBJETIVA – AUSÊNCIA DE PROVA – REMESSA NE-CESSÁRIA IMPROVIDA – 1. Cinge-se a discussão posta à baila, em breve síntese, quanto à condenação dos Réus por eventual dano ambiental cau-sado à fauna silvestre pela sua irregular utilização e manejo em pesquisa científica desenvolvida pela Ré Ana Maria Jansen na Fiocruz, bem como a violação aos termos das licenças concedidas pelo Ibama à pesquisadora. 2. Com efeito, a Constituição Federal expressamente veda a prática de cruel-dade à fauna silvestre em seu art. 225, § 1º, inciso VII, o que é, inclusive, tipi-ficado como crime, pelo art. 32 da Lei nº 9.605/1998, o ato de abuso e maus tratos a animais. É certo que, em matéria de dano ambiental, a responsabili-dade é objetiva, dispondo expressamente a Lei nº 6.938/1981, ser o infrator obrigado a indenizar ou a reparar os danos ao meio ambiente, assim como o terceiro, que, mesmo sem culpa, a obrigação persiste. Embora independa de culpa, é cediço que a responsabilidade por danos ambientais necessita da comprovação do evento danoso e do nexo causal. 3. No presente feito não restou comprovada de forma satisfatória a ocorrência dos alegados maus tratos à fauna silvestre, inexistindo comprovação da suposta deficiência das condições de manejo e acondicionamento ou de maus tratos aos animais utilizados nas pesquisas científicas desenvolvidas pela Ré. Segundo manifes-tações de Professor especialista da matéria e conclusões de Laudo Pericial, as condições de higiene e cativeiro estavam adequadas às características e há-bitos dos animais, os quais não apresentaram “estado de stress”, bem como não foram verificadas pesquisas com a prática de vivisseção ou métodos cruéis. 4. O Ministério Público, Autor da presente Ação Civil Pública, não se desincumbiu do ônus que lhe cabia de comprovar o fato constitutivo do seu direito, nos termos do inc. I, do art. 333 do CPC, sendo inviável o pleito con-denatório. (TRF 2ª R., 8ª T.Esp., Reex 00010311820024025101, Rel. Des. Fed. Guilherme Diefenthaeler, e-DJF2R 05.11.2014)

Por fim, como bem asseverado pelo Parquet em seu parecer, o re-corrente requereu o julgamento antecipado da lide quando instado a se manifestar sobre a produção de provas (fls. 174-176), bem como deixou de protestar por novas provas (fl. 185). Tais fatos demonstram ter declinado da realização de perícia ambiental, necessária para quantificar eventual dano

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ambiental que extrapolasse aquele verificado pelos técnicos da Autarquia ambiental quando da realização da vistoria (fls. 20-23).

Ante o exposto, nego provimento à remessa necessária e à apelação.

É como voto.

Ricardo Perlingeiro Desembargador Federal

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Parte Geral – Acórdão na Íntegra

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Tribunal Regional Federal da 3ª RegiãoApelação Cível nº 0002285‑57.2012.4.03.6100/SP2012.61.00.002285‑0/SPRelatora: Desembargadora Federal Consuelo YoshidaApelante: Enob Ambiental Ltda.Advogado: SP163665 Rodrigo Brandão Lex e outro(a)Apelado(a): Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IbamaProcurador: SP202700 Rie Kawasaki e outro(a)Nº Orig.: 00022855720124036100 17ª Vr. São Paulo/SP

EMENTA

AMBIENTAL – PROCESSUAL CIVIL – IBAMA – INOCORRÊNCIA DE CERCEAMENTO DE DEFESA – AUTORIZAÇÃO AMBIENTAL – CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO – ATERRO SANITÁRIO – MULTA INDEVIDA – BIS IN IDEM

1. Afastada a preliminar de cerceamento de defesa, pelo indeferimen-to do pedido de oitiva de testemunhas, uma vez que o CPC consagra o juiz como condutor do processo, cabendo a ele analisar a neces-sidade da dilação probatória, conforme os arts. 125, 130 e 131 do CPC/1973, vigentes à época da prolação da sentença, bem como dos arts. 139, 370 e 371 do CPC/2015.

2. O magistrado, considerando a matéria impugnada, pode indeferir a realização da prova, por entendê-la desnecessária ou impertinente, entendimento corroborado nesta análise, não tendo ocorrido o cer-ceamento de defesa.

3. Cabia à Municipalidade de Cotia a obtenção das licenças ambien-tais, junto à Cetesb, para a construção, instalação e funcionamento do Aterro Sanitário Municipal de Cotia, o que não foi feito oportuna-mente.

4. Após funcionamento irregular, sem autorizações ou licenças, há notícia de que o licenciamento ambiental estava sendo executado junto à Cetesb (Processo nº 18.902/2002), com tratativas para a ce-lebração de Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta, o qual também não foi efetivado, por não dispor a Municipalidade de recursos financeiros para cumprimento das condições nele previstas.

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5. Em 27 de novembro de 2003, a Prefeitura de Cotia foi autuada pela Polícia Militar Ambiental, conforme AI 156.080, série “A”, por exercer atividade potencialmente degradadora do meio ambiente, ao depositar resíduos sólidos (lixo sanitário, proveniente do município), sem licença ambiental, exigível em desobediência ao que estabelece o art. 10 da Lei Federal nº 6.938/1981, em área correspondente a 6,0 ha, com aplicação de multa.

6. A Municipalidade encaminhou ao Ibama a documentação do ater-ro, informando que o licenciamento ambiental estava sendo providen-ciado junto à Cetesb, órgão competente para tanto; que a Secretaria de Finanças da Prefeitura de Cotia havia concluído pela inexistência de recursos para o cumprimento de todas as condições previstas na minuta do TAC; sugeriu melhor equacionamento das exigências, para viabilidade do Município assumir os compromissos; mencionou a existência de contrato com a Enob Ambiental Ltda., em 13.09.20002, com a previsão de obras de recuperação ambiental.

7. A Enob foi vencedora da Concorrência Pública nº 003/2002, pro-cesso nº 5.181/2002, tendo firmado o Contrato DCCF nº 100/02 com a Prefeitura do Município de Cotia, em 13.09.2002, para a prestação de serviços integrados de limpeza urbana no Município, execução das obras de recuperação ambiental e encerramento do atual aterro sanitário.

8. Diante dos fatos acima relatados e pela Prefeitura não ter regu-larizada a licença ambiental do aterro sanitário, o Ibama concluiu pelo prosseguimento da fiscalização, autuando a Prefeitura, em 16.02.2004 (AI 262.747, série “D”), com fundamento nos arts. 60 e 70 da Lei Federal nº 9.605/1998 e arts. 2º, VII e 44 do antigo Decre-to Federal nº 3.179/1999; foi-lhe aplicada a multa de R$500.000,00 (quinhentos mil reais), código 614001.

9. Na mesma data, 16022004, a Enob foi também autuada, AI 262.794, série “D”, sob fundamento, espécie e cominação idênticos, pela infração dos arts. 60 e 70 da Lei Federal nº 9.605/1998 e arts. 2º, VII e 44 do Decreto Federal nº 3.179/1999, código da multa 61.4001, no valor de R$ 500.000,00 (fl. 85).

10. O art. 3º da Lei nº 6.938/1981 (Política Nacional de Meio Am-biente), que define em seu inciso IV o conceito de “poluidor”, como sendo: a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, res-

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ponsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degra-dação ambiental.

11. A responsabilidade civil do poluidor pelos danos causados é ob-jetiva, sendo elogiada e muito avançada a disposição a respeito con-templada na Lei nº 6.938/1981: Sem obstar a aplicação das penalida-des contidas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade (art. 14, § 1º).

12. Além de objetiva, a responsabilidade civil ambiental é solidária; a solidariedade passiva é um benefício instituído a favor do credor, que pode escolher um dos devedores solidários e dele exigir a reparação integral do dano, podendo, regressivamente, cobrar a cota parte dos demais codevedores.

13. No caso em análise, não está em discussão a responsabilidade na seara civil, em que são cabíveis, cumulativamente, a reparação específica e a indenização em dinheiro, por danos ao meio ambiente e às vítimas.

14. A discussão é em torno da multa administrativa imposta e cobrada tanto da Prefeitura quanto da concessionária envolvendo os mesmos fatos e a mesma infração.

15. Por expressa previsão art. 72, § 3º, da Lei nº 9.605/1998, a apli-cação da multa simples, que é a hipótese dos autos, depende da afe-rição do dolo ou culpa, não se podendo falar em responsabilidade objetiva nesta hipótese específica.

16. A Municipalidade foi autuada primeiramente pela Polícia Militar Ambiental e por determinação desta Relatora, a Enob depositou o va-lor da multa nos autos do AI 2012.03.00.008491-8, por ela também interposto.

17. Há vedação ao bis in idem, como se depreende das disposições tanto do art. 76 da Lei nº 9.605/1998 (lei de crimes e infrações ad-ministrativas ambientais) como no art. 17 e § 3º da LC 140/2011. De acordo com esta última, deve prevalecer a multa estabelecida pelo órgão competente para o licenciamento ambiental, no caso, a multa imposta pela Polícia Militar Ambiental.

18. A autuação imposta pelo Ibama à Enob é indevida e não deve subsistir, restando configurada a situação de bis in idem.

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19. Deve ser enfatizado que os critérios para aplicação da sanção de multa são estabelecidos no art. 6º, da Lei nº 9.605/1998. Não houve justificativa, com base neste dispositivo legal, para aplicação do valor da multa administrativa em montante tão elevado.

20. A apelação deve ser provida, para reformar a r. sentença quanto ao mérito, para acolher apenas o pedido de anulação e desconstitui-ção de todos os efeitos do auto de infração nº 262.794 e da certidão de dívida ativa, bem como determinar a exclusão da requerente do Cadin, pelo alegado motivo, restando prejudicada análise dos pedi-dos sucessivos.

21. Matéria preliminar rejeitada e Apelação parcialmente provida.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Sexta Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, rejeitar a matéria preliminar e, por maioria, dar parcial provimento à apelação, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

São Paulo, 14 de março de 2017.

Consuelo Yoshida Desembargadora Federal

DECLARAÇÃO DE VOTO

Foi lavrado pelo Ibama contra a Prefeitura Municipal de Cotia o Auto de Infração de nº 262.747, série “D”, tendo por fundamento os arts. 60 e 70 da Lei Federal nº 9.605/1998 e arts. 2º, VII e 44º do antigo Decreto Federal nº 3.179/1999, aplicando-lhe a multa de R$ 500.000,00 (quinhentos mil re-ais), por “instalar e funcionar estabelecimento, serviços potencialmente po-luidores (lixão) sem licença ou autorização dos órgãos ambientais compe-tentes, situada na antiga estrada do Caputera, 1981, no município de Cotia, nas coordenadas 23K 0303787 UTM 7381407”, bem como foi formalizado Termo de Embargo/Interdição 181464, série “C”, constando em ambos a mesma autuada.

Isso está correto à luz do § 6º do art. 37 da CF (responsabilidade extra-contratual do poder público, aqui no plano de lesão ambiental), do art. 14,

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§ 1º da Lei nº 6.938/1981 e do art. 3º dessa Lei nº 6.938/1981, que define em seu inciso IV o conceito de “poluidor”, como sendo “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamen-te, por atividade causadora de degradação ambiental”.

Mas também está correto punir – pelo mesmo fundamento – a empre-sa que executou a obra altamente degradadora do meio ambiente, que lhe foi cometida pelo Município.

Isso justamente porque, como dito pela e. relatora, a responsabilidade por dano ambiental é objetiva (art. 14, § 1º da Lei nº 6.938/1981), bastante apurar-se a autoria, a lesão e o nexo causal. Salta aos olhos que está correto punir o Município que encomendou o “lixão” poluidor e também a empre-sa que, a mando dele e recebendo como contrapartida recursos públicos, executou a obra poluidora. A propósito, há muito tempo o STJ já verbalizou que “Tratando-se de direito difuso, a reparação civil ambiental assume gran-de amplitude, com profundas implicações na espécie de responsabilidade do degradador que é objetiva, fundada no simples risco ou no simples fato da atividade danosa, independentemente da culpa do agente causador do dano” (REsp 1165281, J. 06.05.2010, Relª Min. Eliana Calmon)”. Ou seja, verificado o dano ambiental, as consequências da ação ou omissão serão impostas objetivamente a quem as praticou.

Salta aos olhos que não ocorreu bis in idem, pois essa figura acon-teceu quando se pune uma mesma pessoa física ou jurídica pelo mesmo fato; aqui, o Ibama puniu os dois poluidores, o Município e a empresa con-tratada para executar a obra poluidora, o que está corretíssimo no cená-rio – destacado pela e. relatora – de responsabilidade objetiva pelo dano ambiental, que, por sinal, é também solidária e nesse ponto, solidariedade na reparação, cai por terra o argumento do voto – que nem está em causa na demanda – no sentido de que o Município poderia entrar com ação de regresso contra a empresa para se ressarcir da multa (aliás, seria hilariante ver o Município que contrata uma empresa para realizar obra poluidora pro-curar receber dela a multa imposta justamente porque a obra foi realizada conforme ordenado no contrato administrativo...).

Com o máximo respeito, penso que o r. voto está conflitando com o § 3º do art. 225 da CF/1988, o qual dispõe que “...As condutas e ativida-des consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independente da obrigação de reparar os danos causados”; ou seja, a responsabilização – segundo a Constituição – é de todo aquele que causar o dano ambiental.

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Se a empresa Enob Ambiental Ltda. realizou materialmente a obra (“lixão”) é evidente que deve ser apenada por isso na seara administrativa, ao lado do poder público municipal que lhe cometeu a tarefa ultrajante. Assim, ao contrario da e. relatora, entendo que a autuação ora questionada é, de fato e de direito, plenamente válida, corretamente direcionada contra a empresa que materialmente provocou o dano ambiental, salientando que nem de longe o caso é de bis in idem porque o que aconteceu é que os dois responsáveis pelo “lixão”, o Município e a empresa que o fez, estão sentido multadas.

Quanto à discussão sobre o valor da multa, não há um sinal sequer, nos autos, a demonstrar que houve violação do princípio da proporciona-lidade.

Destarte, rejeito a matéria preliminar e nego provimento à apelação.

Johonsom di Salvo Desembargador Federal

RELATÓRIO

A Excelentíssima Senhora Desembargadora Federal Consuelo Yoshida (Relatora):

Trata-se de apelação em sede de ação anulatória cumulada com obri-gação de não fazer, pelo rito ordinário, com pedido de tutela antecipada, objetivando a anulação e desconstituição de todos os efeitos do auto de infração nº 262.794 e da certidão de dívida ativa, bem como determinar a exclusão da requerente do Cadin.

Afirma a autora, empresa que se dedica à atividade de prestação de serviços de saneamento urbano e rural, urbanismo, coleta, transporte e des-tinação final de resíduos sólidos, varrição, limpeza e conservação de logra-douros públicos e áreas verdes, construção, administração, operação e ma-nutenção de usinas de tratamento de lixo, fabricação de produtos derivados da reciclagem e compostagem de lixo e a comercialização dos mesmos, construção, operação e manutenção de incineradores, desinfetadores de todo e qualquer tipo de lixo orgânico, industrial, inerte ou não, que se en-contra inscrita no Cadastro Técnico Federal (CTF) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, sob nº 59561, exercendo regularmente suas atividades desde a sua constituição.

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Sustenta ter participado do processo de licitação da Prefeitura do Mu-nicípio de Cotia, obtendo a concessão do serviço público de limpeza urba-na municipal, bem como da execução das obras de recuperação ambiental e encerramento do aterro sanitário do Município. Encaminhou, então, pla-nilhas e documentos necessários para a realização das primeiras obras de recuperação, não tendo, no entanto, obtido qualquer resposta da Prefeitura, vindo a realizar, às suas próprias expensas, algumas obras que considerava indispensáveis, naquele momento, para evitar a ocorrência de dano am-biental, demonstrando, assim, a sua boa-fé e a preocupação ambiental.

Em 27 de novembro de 2003, a Prefeitura de Cotia foi autuada pela Polícia Militar Ambiental, conforme auto de infração nº 156.080, série “A”, por exercer atividade potencialmente degradadora do meio ambiente ao depositar resíduos sólidos (lixo sanitário, proveniente do município), sem licença ambiental, exigível em desobediência ao que estabelece o art. 10 da Lei Federal nº 6.938/1981, em área correspondente a 6,0 ha. Foi então aplicada multa no valor de R$ 3.672,23 (Três mil, seiscentos e setenta e dois reais e vinte e três centavos).

A Prefeitura do Município de Cotia também foi notificada (Notifica-ção nº 253887, série B) por agentes de fiscalização da Superintendência do Ibama em São Paulo, 26.11.2003, a fim de que apresentasse autorização e/ou licenciamento ambiental do aterro sanitário, tendo encaminhado a do-cumentação do Aterro Sanitário Municipal de Cotia informando que o Li-cenciamento Ambiental estava sendo providenciado junto à Cetesb, proces-so nº 18.902 existindo, ainda, tratativas para o estabelecimento do Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta, tendo, à época, a Secretaria de Finanças da Prefeitura, concluído pela possibilidade de inexistência de recursos para o cumprimento de todas as condições previstas na minuta do TAC, sugerindo a definição melhor equacionada das exigências contidas no Termo, para a análise da possibilidade econômica do Município assumir os compromissos previstos no TAC, mencionando a existência paralela de contrato com a empresa Enob Ambiental Ltda., com a previsão de obras de recuperação ambiental.

Alega que à época, foi proposto pela autora e aceito pela Prefeitura contratante, a continuidade da coleta e disposição do lixo em outro local, custeado pela requerente, para evitar a situação de calamidade no Muni-cípio.

Em 16.02.2014, foi lavrado o Auto de Infração e Termo de Embar-go da atividade referente ao aterro sanitário supostamente irregular no

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Município de Cotia, sob nº 262.794, série “D”, tendo por fundamento os arts. 60 e 70 da Lei Federal nº 9.605/1998 e 2º, VII e 44º do antigo Decreto Federal nº 3.179/1999, aplicando-se multa de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) à autora, por “fazer funcionar serviços potencialmente poluidores (lixão, aterro de resíduos inertes e não inertes) sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, nas coordenadas 23K 0303787 UTM 7381407”, lavrando-se outro Auto de Infração nº 262.747, série “D”, em face da Prefeitura Municipal de Cotia, restando suspensas as atividades no local, conforme Termo de Embargo/Interdição nº 181.464, série “C”, apli-cando a mesma cominação.

As defesas administrativas apresentadas pela requerente foram inde-feridas.

Aduz, assim, a ilegalidade da aplicação de três sanções administra-tivas pecuniárias decorrentes do mesmo fato, caracterizando a ocorrência do bis in idem; que a total responsabilidade pela obtenção de licenças e autorizações para o Aterro Sanitário compete à Prefeitura do Município de Cotia, não tendo existido qualquer situação decorrente de dolo ou culpa por parte da autora, sendo certo que a responsabilidade administrativa am-biental é subjetiva, salientando que no contrato firmado com a Prefeitura não foi estabelecida a responsabilidade pelo licenciamento ambiental do aterro sanitário. Sustenta, ainda, a fixação da multa em valor excessivo, que não guarda correspondência com as reais consequências ambientais da in-tervenção, considerando que a autora é primária e sua conduta não causou danos ambientais, tendo havido ofensa aos princípios constitucionais da ra-zoabilidade e da proporcionalidade. Alega a nulidade do auto de infração, pela falta de legalidade, por ausência de motivação, tratando-se de vício insanável.

Da decisão que indeferiu o pedido de antecipação de tutela foi inter-posto o Agravo de Instrumento nº 2012.03.00.008491-8, no qual foi defe-rido parcialmente o efeito suspensivo pleiteado para autorizar a agravante o depósito judicial do montante da multa aplicada pela Polícia Militar Am-biental, devidamente atualizada, para obstar a cobrança judicial do débito antes do final da demanda.

O r. Juízo a quo julgou improcedente o pedido, oportunidade em que condenou a autora ao pagamento da verba honorária, arbitrada em cinco mil reais.

Apelou a autora, requerendo, preliminarmente, a anulação da sen-tença, em face da ocorrência de cerceamento de defesa, em face do indefe-

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rimento da produção de prova testemunhal. Sustentam a ocorrência de bis in idem, diante da inexistência de diversidade de infrações decorrentes de infração permanente; a responsabilidade exclusiva da Prefeitura do Municí-pio de Cotia, não tendo havido dolo ou culpa da autora, conforme contrato entre as partes, bem como diante da responsabilidade administrativa am-biental do tipo subjetiva; o valor excessivo da multa aplicada, ofendendo os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade; a nulidade do auto de infração pela carência de motivação legal e de fato.

Da decisão que recebeu o recurso em ambos os efeitos, foi interposto o Agravo de Instrumento nº 0001416-56.2014.4.03.0000, pela autora, no qual foi deferido o pedido de efeito suspensivo ativo ao apelo, com a fina-lidade de manter a suspensão da exigibilidade da multa em questão, até o julgamento do recurso.

Sem contrarrazões, subiram os autos a este Tribunal.

É o relatório.

Consuelo Yoshida Desembargadora Federal

VOTO

A Excelentíssima Senhora Desembargadora Federal Consuelo Yoshida (Relatora):

Inicialmente, afasto a preliminar de cerceamento de defesa, pelo in-deferimento do pedido de oitiva de testemunhas, uma vez que o Código de Processo Civil consagra o juiz como condutor do processo, cabendo a ele analisar a necessidade da dilação probatória, conforme os arts. 125, 130 e 131 do CPC/1973, vigentes à época da prolação da sentença, bem como dos arts. 139, 370 e 371 do CPC/2015.

Desta forma, o magistrado, considerando a matéria impugnada, pode indeferir a realização da prova, por entendê-la desnecessária ou imperti-nente, entendimento corroborado nesta análise, não tendo ocorrido cer-ceamento de defesa.

Passo, assim, à análise do mérito.

Como se verifica da análise dos autos, cabia à Municipalidade de Cotia a obtenção das licenças ambientais, junto à Cetesb, para a construção,

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instalação e funcionamento do Aterro Sanitário Municipal de Cotia, o que não foi feito oportunamente.

Aliás, nos autos do Inquérito Policial nº 723/2004, já arquivado, a Prefeitura assumiu a responsabilidade pela obtenção das autorizações ou licenças ambientais necessárias (fl. 210).

Após funcionamento irregular, sem autorizações ou licenças, há notícia de que o licenciamento ambiental estava sendo executado junto à Cetesb (Processo nº 18.902/2002), com tratativas para a celebração de Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta, o qual também não foi efetivado, por não dispor a Municipalidade de recursos financeiros para cumprimento das condições nele previstas (fls. 64/83).

Em 27 de novembro de 2003, a Prefeitura de Cotia foi autuada pela Polícia Militar Ambiental, conforme AI 156.080, série “A”, por exercer ativi-dade potencialmente degradadora do meio ambiente, ao depositar resí duos sólidos (lixo sanitário, proveniente do município), sem licença ambien-tal, exigível em desobediência ao que estabelece o art. 10 da Lei Federal nº 6.938/1981, em área correspondente a 6,0 ha, aplicando-se, então, a multa, no valor de R$ 3.672,23 (Três mil, seiscentos e setenta e dois reais e vinte e três centavos) (fl. 62).

A Prefeitura também foi notificada (Notificação nº 253887, série B), por agentes de fiscalização da Superintendência do Ibama em São Paulo, em 26.11.2003, a fim de que apresentasse a autorização e/ou o licencia-mento ambiental do aterro sanitário (fl. 63).

A Municipalidade encaminhou ao Ibama a documentação do ater-ro, informando que o licenciamento ambiental estava sendo providenciado junto à Cetesb, órgão competente para tanto; que a Secretaria de Finanças da Prefeitura de Cotia havia concluído pela inexistência de recursos para o cumprimento de todas as condições previstas na minuta do TAC; suge-riu melhor equacionamento das exigências, para viabilidade do Município assumir os compromissos; mencionou a existência de contrato com a Enob Ambiental Ltda., em 13.09.2002, com a previsão de obras de recuperação ambiental do aterro sanitário (fls. 64/83).

A Enob foi vencedora da Concorrência Pública nº 003/2002, processo nº 5.181/2002, tendo firmado o Contrato DCCF nº 100/2002 com a Prefei-tura do Município de Cotia, na data acima indicada, para a prestação de serviços integrados de limpeza urbana no Município, execução das obras de recuperação ambiental e encerramento do atual aterro sanitário.

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Diante dos fatos acima relatados e em razão da Prefeitura não ter re-gularizado o licenciamento ambiental do aterro sanitário, o Ibama concluiu pelo prosseguimento da fiscalização, autuando a Prefeitura, em 16.02.2004 (AI 262.747, série “D”), com fundamento nos arts. 60 e 70 da Lei Federal nº 9.605/1998 e arts. 2º, VII e 44 do antigo Decreto Federal nº 3.179/1999; foi-lhe aplicada a multa de R$500.000,00 (quinhentos mil reais), código 614001, por instalar e funcionar estabelecimento, serviços potencialmente poluidores (lixão) sem licença ou autorização dos órgãos ambientais com-petentes, situada na antiga estrada do Caputera, 1981, no município de Cotia, nas coordenadas 23K 0303787 UTM 7381407; e lavrou também o Termo de Embargo/Interdição 181464, série “C” (fls. 86/87).

Na mesma data, 16.02.2004, a Enob foi também autuada (AI 262.794, série “D”), sob fundamento, espécie e cominação idênticos, nos seguintes termos: Fazer funcionar serviços potencialmente poluidores (lixão, aterro de resíduos inertes e não inertes) sem licença ou autorização dos órgãos am-bientais competentes, nas coordenadas 23k 0303787 UTM 7381407, pela infração dos arts. 60 e 70 da Lei Federal nº 9.605/1998 e arts. 2º, VII e 44 do Decreto Federal nº 3.179/1999, código da multa 61.4001, no valor de R$ 500.000,00 (fl. 85).

Para a análise da questão, importa destacar, de início, o art. 3º da Lei nº 6.938/1981 (Política Nacional de Meio Ambiente), que define, em seu inciso IV, o conceito de “poluidor”: pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade cau-sadora de degradação ambiental.

Por sua vez, a Constituição Federal/1988 deixa clara a tríplice res-ponsabilidade do poluidor, por danos ambientais, abrangendo as esferas civil, administrativa e penal, de forma cumulativa, a saber: Art. 225, § 3º: As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

A responsabilidade civil do poluidor pelos danos causados é objetiva, sendo elogiada e muito avançada a disposição a respeito contemplada na Lei nº 6.938/1981: Sem obstar a aplicação das penalidades contidas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade (art. 14, § 1º).

Além de objetiva, a responsabilidade civil ambiental é solidária; a solidariedade passiva é um benefício instituído a favor do credor, que pode

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escolher um dos devedores solidários e dele exigir a reparação integral do dano, podendo, regressivamente, cobrar a cota-parte dos demais codeve-dores.

No caso vertente, não está em discussão a responsabilidade objetiva na seara civil, em que são cabíveis, cumulativamente, a reparação específi-ca e a indenização em dinheiro, por danos ao meio ambiente e às vítimas.

A discussão é em torno da multa administrativa imposta e cobrada tanto da Prefeitura quanto da concessionária envolvendo os mesmos fatos e as mesmas infrações.

Por expressa previsão da Lei nº 9.605/1998, a aplicação da multa sim-ples, que é a hipótese dos autos, depende da aferição do dolo ou culpa, não se podendo falar em responsabilidade objetiva no caso desta sanção espe-cífica. Com efeito, dispõe o art. 72, § 3º, da Lei em apreço: A multa simples será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo: I – advertido por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-las, no prazo assinalado por órgão competente do Sisnama ou pela Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha; II – opuser embaraço à fiscalização dos órgãos do Sisnama ou da Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha.

Como já ressaltado, a Municipalidade foi autuada primeiramente pela Polícia Militar Ambiental e por determinação desta Relatora, a Enob, nos autos do AI 2012.03.00.008491-8, por ela também interposto, depositou judicialmente o valor dessa multa.

Há vedação ao bis in idem, como se depreende das disposições tanto do art. 76 da Lei nº 9.605/1998 (Lei de crimes e infrações administrativas ambientais), como no art. 17, caput e § 3º da LC 140/2011. De acordo com a Lei Complementar, deve prevalecer a multa estabelecida pelo órgão com-petente para o licenciamento ambiental, no caso, a multa imposta no nível estadual, e já depositada judicialmente pela apelante.

São do seguinte teor o caput e § 3º do art. 17 da LC 140/2011:

Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infra-ção ambiental e instaurar processo administrativo para a apuração de infra-ções à legislação ambiental cometidas pelo empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada.

[...]

§ 3º O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos da atribuição comum de fiscalização da conformidade de em-

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preendimentos e atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou utiliza-dores de recursos naturais com a legislação ambiental em vigor, prevalecen-do o auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha a atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o caput.

Por sua vez, o art. 76 da Lei nº 9.605/1998 prescreve: Art. 76. O pa-gamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a multa federal na mesma hipótese de incidência.

Destarte, a autuação imposta pelo Ibama à Enob é indevida e não deve subsistir, restando configurada a situação de bis in idem.

Neste sentido, cito o seguinte precedente do C. STJ:

ADMINISTRATIVO – APREENSÃO DE TRATOR – ALEGAÇÕES GENÉRICAS – IMPOSSIBILIDADE – COMPREENSÃO – OMISSÃO – SÚMULA Nº 284/STF – FALTA DE PREQUESTIONAMENTO – SÚMULA Nº 211/STJ – REEXAME DE PROVAS – SÚMULA Nº 7/STJ

[...]

3. O Tribunal de origem consignou: “Na hipótese em exame, entendo que não poderia ter havido à apreensão do trator, uma vez que a Requerente foi autuada duas vezes pelo mesmo fato, implicando em inadmissível bis in idem, e, assim, a segunda autuação feita pelo Ibama revela-se insubsistente. Por outro lado, não me parece que o trator seja utilizado permanente ou exclusivamente com propósitos ilícitos, de modo que é razoável a sua libe-ração”.

4. Reexaminar os fatos para chegar a conclusão diversa, quanto à inexistên-cia de indicação de uso específico e exclusivo do veículo apreendido na prática de infração ambiental, encontra óbice na Súmula nº 7/STJ. AgRg-REsp 1.481.121/RO, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 22.4.2015, AgRg--AREsp 452.815/PA, Rel. Min. Sérgio Kukina, 1ª T., DJe 01.12.2014 e AgRg--AREsp 245.620/AL, Relª Min. Assusete Magalhães, 2ª T., DJe 11.09.2014.

5. Ademais, o julgado vergastado concluiu, com acerto, que não poderia ter havido a apreensão do trator, uma vez que o recorrido foi autuado anterior-mente pelo mesmo fato, portanto não poderia ter recebido duas sanções pelo mesmo motivo, e que a segunda punição implica inadimissível bis in idem.

6. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.

(REsp 1456797, 2ª T., Rel. Min. Herman Benjamin, J. 16.06.2015, DJ 17.11.2015)

Deve ser enfatizado, ademais, que os critérios para aplicação da san-ção de multa são estabelecidos no art. 6º, da Lei nº 9.605/1998. Não houve

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justificativa, com base neste dispositivo legal, para aplicação do valor da multa administrativa em montante tão elevado pelo Ibama.

Dessa forma, a apelação deve ser provida, reformando-se a r. senten-ça quanto ao mérito, para acolher apenas o pedido de anulação e descons-tituição de todos os efeitos do AI 262.794 e da certidão de dívida ativa, bem como determinar a exclusão da apelante do Cadin, restando prejudicada a análise dos pedidos sucessivos.

Em face do exposto, rejeito a matéria preliminar e dou parcial provi-mento à apelação.

Consuelo Yoshida Desembargadora Federal

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Parte Geral – Acórdão na Íntegra

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Tribunal Regional Federal da 4ª RegiãoApelação Cível nº 5024084‑37.2015.4.04.7200/SCRelator: Luís Alberto D’Azevedo AurvalleApelante: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IbamaApelado: Roberto Carlos DuarteAdvogado: Paulo César Mousquer

EMENTA

ADMINISTRATIVO – AÇÃO DE DEPÓSITO – RESTITUIÇÃO DE BENS APREENDIDOS POR INFRAÇÃO AMBIENTAL – PRESCRIÇÃO – PRAZO QUINQUENAL

Verificando-se que se encontra escoado o prazo de cinco anos da lavratura do auto de infração que nomeava o requerido como depo-sitário dos bens apreendidos, reconhece-se, de ofício a prescrição da ação de depósito intentada pela administração para fins de restituição dos bens apreendidos. A situação não se transmuda ainda que se leve em conta o final do processo administrativo que culminou com a ma-nutenção da pena de advertência, bem ainda, da apreensão de bem.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, reconhecer de ofício a prescrição e julgar prejudicado o exa-me da apelação, nos termos da fundamentação, nos termos do relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Porto Alegre, 08 de março de 2017.

Desembargador Federal Luís Alberto D’Azevedo Aurvalle Relator

RELATÓRIO

Adoto o relatório constante na v. sentença:

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O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis no Estado de Santa Catarina – Ibama ajuizou a presente ação de depósito contra Roberto Carlos Duarte, com o objetivo de condenar o depositário a devolver os bens apreendidos ou a consignar em Juízo o valor equivalente, em dinheiro, devidamente atualizado até a data do efetivo pagamento.

Afirma que em 15.02.2007 foi lavrado pelo Ibama auto de infração nº 449600D contra o réu acima identificado pela prática de conduta ilícita. Refere que, resultante da operação, foi apreendido o seguinte bem: embar-cação especificada no Termo de Apreensão e Depósito nº 456543C (fl. 02 do PA) e nomeado depositário fiel o autuado, Roberto Carlos Duarte, bem como declarado seu perdimento quando do julgamento da defesa adminis-trativa (fl. 37 do PA). Salienta que, através da Notificação Administração nº 384/2013 (fl. 65 do PA), foi solicitada a restituição do bem apreendido pela fiscalização ao Ibama, sem, contudo, ter sido devolvido pelo depositá-rio. Juntou documentos.

Citado, o réu contestou. Suscitou a prescrição quinquenal. Arguiu a ilegiti-midade passiva ad causam. Argumentou que não houve qualquer dano ao meio ambiente, devendo haver adequação entre meios e fins. Alegou que seria exacerbado o valor atribuído ao bem.

O réu requereu fosse oficiado à Capitania dos Portos, o que foi deferido.

Oficiada, a Capitania prestou informações.

O Ibama se manifestou.

O magistrado a quo julgou improcedente o pedido, porquanto, diante do princípio da razoabilidade, se a autoridade administrativa relevou a mul-ta, que é a penalidade mais branda, não poderia ter insistido no perdimento da embarcação, que é a sanção mais severa. Condenou o Ibama a pagar honorários advocatícios fixados em 10% do valor da causa.

Inconformada apelou a parte autora, requerendo a reforma da senten-ça porque houve dano ambiental e as instâncias administrativa e penal são independentes. Requer a expedição de mandado para entrega do bem, ou o ressarcimento no valor equivalente.

Com contrarrazões, vieram os autos.

É o relatório.

Peço dia.

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VOTO

O requerido foi autuado em 15.02.2007 por encontrar-se pescando em local interditado por órgão competente (evento 1-PROCADM2). O re-sultado da operação foi a apreensão do seguinte bem: Embarcação baleeira especificada no Termo de Apreensão e Depósito nº 456543C (fl. 02 do PA) e nomeado depositário fiel o autuado, Roberto Carlos Duarte, bem como declarado seu perdimento quando do julgamento da defesa administrativa (fl. 37 do PA) e, foi aplicada a multa de R$ 700,00.

O Ibama ajuizou a competente execução fiscal (nº 5002121-12.2011.404.7200), tendo sido oposta exceção de pré-executividade pelo executado diante da ocorrência de erro, pois a multa supostamente fixada no auto de infração nº 449600/D teria sido a final convertida em sanção de advertência pelo julgador administrativo. Reconhecido o erro, foi requerida a extinção da execução fiscal.

Através da Notificação Administrativa nº 384/2013 (fl. 65 do PA), em 18.03.2013, foi solicitada a restituição do bem apreendido. Restando inerte o depositário.

Em 20.11.2015 o Ibama ajuizou ação de depósito postulando a res-tituição dos bens apreendidos naquela oportunidade ou a consignação do valor equivalente em dinheiro.

Tanto a multa, posteriormente convertida, como a apreensão, se de-ram em 15.02.2007; tendo sido o apelado notificado para devolução em 13.03.2013, está prescrita a ação de depósito.

Nessa linha, colaciono r. precedente desta Corte, que enfrentou ques-tão similar (AC 50013997520114047006/PR):

ADMINISTRATIVO – PRESCRIÇÃO

Reconhecida a extinção do direito de postular a devolução da madeira apre-endida pela prescrição. Apelação desprovida.

Naquela oportunidade, o Relator Des. Federal Jorge Antônio Mauri-que assim se manifestou, repisando os fundamentos da sentença recorrida:

Tanto a multa quanto a apreensão da madeira são sanções de cunho admi-nistrativo, aplicadas em decorrência da prática de infração ambiental. Quan-do vigente o Decreto nº 3.179/1999, encontravam-se ambas elencadas em seu art. 2º, possuindo, por consequência, a mesma natureza. Ademais, foram aplicadas na mesma decisão administrativa, proferida pelo mesmo órgão, não havendo motivo para que tenham tratamento jurídico diverso quanto à

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prescrição. Dessarte, a prescrição tem seu marco inicial com a aplicação da sanção de apreensão da madeira, até porque os autos demonstram que não houve qualquer notificação/intimação do réu para restituir o material apreen-dido, mas apenas fiscalização, na qual não consta a ciência ou a assinatura do requerido (fls. 47-52).

Por terem a mesma natureza de sanção administrativa, o prazo de prescri-ção é idêntico e o marco inicial para a contagem do prazo prescricional quanto à devolução da madeira apreendida deverá ser a data da decisão final proferida pelo Ibama (25.07.2000). Portanto, está correto o requerido ao argumentar que a questão não pode ser analisada puramente como uma ação de depósito regida pelo direito civil, porque a apreensão da madeira, no caso, decorre do poder de polícia que é próprio das relações travadas entre administração e administrado, ou seja, no âmbito do direito administrativo.

Dessa forma, sendo aforada a ação em 02.03.2009 (fl. 02), o reconhecimento da prescrição é medida de direito que se impõe.

Na presente ação de depósito, o Ibama pretende a restituição de 3,5 m³ de pinheiro e 15 m³ de imbuia, ou o equivalente em dinheiro (R$ 6.560,00), pois, em 27.04.2000, o réu foi autuado (auto de infração nº 089083-D) por desmatar floresta nativa sem autorização do Órgão Ambiental competente, sendo que permaneceu como depositário da referida madeira. Afirmou o autor que os servidores do Ibama se dirigiram à propriedade do réu a fim de exigir a madeira apreendida, porém, esta não mais se encontrava no local.

Examinando a questão posta na apelação, tenho que não merece provi-mento.

No caso em tela, o processo administrativo teve início com a lavratura do auto de infração nº 089083-D em 27.04.2000, sendo que na oportunidade o réu assinou um termo no qual se comprometeu em ser o depositário da madeira apreendida.

O início do processo administrativo ocorreu com a lavratura do auto, não tendo razão o autor ao afirmar que o início do prazo é com a negativa de en-trega do bem depositado, sob pena de se desvirtuar o instituto da prescrição, cujo espírito é impor uma razoável duração à pretensão punitiva da Adminis-tração, a partir da ocorrência do fato que lhe deu ensejo.

Peço vênia para transcrever a fundamentação da sentença, que adoto como razões de decidir, a fim de evitar tautologia, in verbis:

“II – Fundamentação

A Constituição Federal de 1988 prevê em seu art. 5º, inciso LXXVIII, ver-bis:

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LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam celeridade de sua tramitação.

No caso em tela, o processo administrativo teve início com a lavratura do auto de infração nº 089083-D em 27.04.2000, sendo que na oportunidade o réu assinou um termo no qual se comprometeu em ser o depositário da madeira apreendida.

Somente em 13.11.2008, ou seja, mais de oito anos após a lavratura do referido termo, foi determinado ao réu que restituísse ao Ibama o material depositado.

Observo que o lapso temporal de mais de oito anos para a tramitação do pro-cesso administrativo extrapola a garantia da razoável duração do processo, cláusula trazida à Constituição Federal de 1988 pela Emenda Constitucional nº 45/2004.

Nesse sentido, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

TRIBUTÁRIO – PROCESSO CIVIL – PROCESSO ADMINISTRATIVO FIS-CAL FEDERAL – PEDIDO DE RESTITUIÇÃO – PRAZO PARA ENCERRA-MENTO – ANALOGIA – APLICAÇÃO DA LEI Nº 9.784/1999 – POSSIBI-LIDADE – NORMA GERAL – DEMORA INJUSTIFICADA

1. A conclusão de processo administrativo fiscal em prazo razoável é corolário do princípio da eficiência, da moralidade e da razoabilidade da Administração pública. [...]

(STJ, REsp 1091042/SC, Recurso Especial nº 2008/0210353-3, 2ª T., Data da decisão: 06.08.2009, DJe 21.08.2009, Relª Min. Eliana Calmon, una-nimidade – grifei)

O art. 1º, § 1º, da Lei nº 9.873/1999, que estabelece prazo de prescrição para o exercício de ação punitiva pela Administração Pública Federal, dire-ta e indireta, dispõe que incide a prescrição no procedimento administrati-vo paralisado por mais de três anos, pendente de julgamento ou despacho, cujos autos serão arquivados de ofício ou mediante requerimento da parte interessada.

Conforme fl. 08, o réu foi autuado em 27.04.2000. O feito foi despachado apenas em 22.05.2003 (fl. 13) e, depois disso, ficou paralisado por mais de 2 anos (sic) por ausência de informatização dos autos (fl. 14). Assim, consu-mou-se a prescrição administrativa intercorrente no caso em comento.

Não fosse isso, o art. 1º, da Lei nº 9.873/1999, dispõe:

Art. 1º Prescreve em cinco anos a ação punitiva da Administração Pública Federal, direta e indireta, no exercício do poder de polícia, objetivando apurar infração à legislação em vigor, contados da data da prática do ato

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ou, no caso de infração permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado.

Por sua vez, o § 2º desse dispositivo legal, acrescenta que, quando o fato objeto da ação punitiva da Administração também constituir crime, a pres-crição reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal.

A conduta que originou a apreensão da madeira está descrita como crime no art. 50 da Lei nº 9.605/1998:

Art. 50. Destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora de dunas, protetora de mangues, objeto de especial preservação:

Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.

A prescrição da pretensão punitiva está prevista no art. 109, inciso V, do CP, e corresponde a 4 (quatro) anos:

Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, sal-vo o disposto no § 1º do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:

[...]

V – em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois;

A madeira cuja restituição o Ibama pleiteia na presente ação foi apreendida em 27.04.2000 (fl. 08). Em 25.07.2000, foi proferida decisão final pelo ór-gão, fixando o valor de multa e mantendo a pena de apreensão da madeira.

Posteriormente, em 02.12.2005 foi feita a inscrição em dívida ativa da multa imposta ao réu (fl. 17). A cobrança foi feita por meio da Execução Fiscal nº 2007.70.06.002363-3, que restou extinta em decorrência da prescrição. A sentença foi confirmada por meio do acórdão proferido em 10.02.2009 pelo TRF/4ª Região (fls. 78/80).

Em 13.11.2008, foi realizada vistoria pelo Ibama, que constatou que o mate-rial apreendido não se encontrava mais no local.

O fundamento utilizado para reconhecimento da prescrição acerca da pena de multa foi o decurso do prazo para a realização da cobrança judicial, con-tados da data do ato ou fato do qual se originaram.

Tanto a multa quanto a apreensão da madeira são sanções de cunho admi-nistrativo, aplicadas em decorrência da prática de infração ambiental. Quan-do vigente o Decreto nº 3.179/1999, encontravam-se ambas elencadas em seu art. 2º, possuindo, por consequência, a mesma natureza. Ademais, foram aplicadas na mesma decisão administrativa, proferida pelo mesmo órgão, não havendo motivo para que tenham tratamento jurídico diverso quanto à prescrição. Dessarte, a prescrição tem seu marco inicial com a aplicação da sanção de apreensão da madeira, até porque os autos demonstram que não

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houve qualquer notificação/intimação do réu para restituir o material apreen-dido, mas apenas fiscalização, na qual não consta a ciência ou a assinatura do requerido (fls. 47-52).

Por terem a mesma natureza de sanção administrativa, o prazo de prescri-ção é idêntico e o marco inicial para a contagem do prazo prescricional quanto à devolução da madeira apreendida deverá ser a data da decisão final proferida pelo Ibama (25.07.2000). Portanto, está correto o requerido ao argumentar que a questão não pode ser analisada puramente como uma ação de depósito regida pelo direito civil, porque a apreensão da madeira, no caso, decorre do poder de polícia que é próprio das relações travadas entre administração e administrado, ou seja, no âmbito do direito administrativo.

Dessa forma, sendo aforada a ação em 02.03.2009 (fl. 02), o reconhecimento da prescrição é medida de direito que se impõe.

Tendo em vista o reconhecimento da prescrição da pretensão exposta na inicial, deixo de analisar os demais argumentos formulados pelo autor.”

Ainda que no caso tenha sido mantida a advertência mediante decisão no processo administrativo, tal não tem o condão de estancar o prazo pres-cricional, neste sentido o julgamento da AC 0000219-90.2008.404.7014, verbis:

ADMINISTRATIVO – AÇÃO DE DEPÓSITO – RESTITUIÇÃO DE MADEIRA E VEÍCULO APREENDIDO POR INFRAÇÃO AMBIENTAL – PRESCRIÇÃO – PRAZO QUINQUENAL

Verificando-se que se encontra escoado o prazo de cinco anos da lavratura do auto de infração que nomeava o requerido como depositário dos bens apreendidos, reconhece-se, de ofício a prescrição da ação de depósito in-tentada pela administração para fins de restituição dos bens apreendidos. A situação não se transmuda ainda que se leve em conta o final do processo administrativo que culminou com a manutenção da multa aplicada pela in-fração administrativa, bem ainda, da apreensão de madeira e do veículo.

No intento de evitar eventual oposição de embargos de declaração com a finalidade de interposição de recurso às Cortes Superiores, dou por prequestionados os dispositivos legais e constitucionais mencionados pelas partes e referidos nesta decisão.

Por fim, considerando a complexidade da causa, entendo que os ho-norários advocatícios fixados na sentença são adequados e suficientes para remunerar o trabalho realizado pelo procurador da parte vencedora, inclu-sive em sede recursal, razão pela qual mantenho o valor fixado e deixo de majorá-lo em grau de apelação.

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Ante o exposto, voto por reconhecer de ofício a prescrição e julgar prejudicado o exame da apelação, nos termos da fundamentação.

Desembargador Federal Luís Alberto D’Azevedo Aurvalle Relator

EXTRATO DE ATA DA SESSÃO DE 08.03.2017

Apelação Cível nº 5024084-37.2015.4.04.7200/SC

Origem: SC 50240843720154047200

Relator: Des. Federal Luís Alberto D’Azevedo Aurvalle

Presidente: Vivian Josete Pantaleão Caminha

Procurador: Dr. Eduardo Kurtz Lorenzoni

Apelante: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama

Apelado: Roberto Carlos Duarte

Advogado: Paulo César Mousquer

Certifico que este processo foi incluído na Pauta do dia 08.03.2017, na sequência 347, disponibilizada no DE de 13.02.2017, da qual foi intimado(a) o Ministério Público Federal, a Defensoria Pública e as demais Procuradorias Federais.

Certifico que o(a) 4ª Turma, ao apreciar os autos do processo em epí-grafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A turma, por unanimidade, decidiu reconhecer de ofício a prescrição e julgar prejudicado o exame da apelação, nos termos da fundamentação.

Relator Acórdão: Des. Federal Luís Alberto D’Azevedo Aurvalle

Votante(s): Des. Federal Luís Alberto D’Azevedo Aurvalle Des. Federal Cândido Alfredo Silva Leal Júnior Desª Federal Vivian Josete Pantaleão Caminha

Luiz Felipe Oliveira dos Santos Diretor de Secretaria

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Parte Geral – Acórdão na Íntegra

2274

Tribunal Regional Federal da 5ª RegiãoGabinete do Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho (Convocado)Embargos de Declaração em Apelação/Reexame Necessário nº 12972‑PE (0001421‑29.2010.4.05.8300/01)Apte.: Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenováveisRepte.: Procuradoria Regional Federal da 5ª RegiãoApdo.: Carlos Alberto BezerraRepte.: Defensoria Pública da UniãoRemte.: Juízo da 9ª Vara Federal de Pernambuco (Recife)Embte.: Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenováveisOrigem: 9ª Vara Federal de Pernambuco – PERelator: Des. Federal Ivan Lira de Carvalho (Convocado)

EMENTA

DIREITO ADMINISTRATIVO – AMBIENTAL – AVE SILVESTRE – ANIMAL DE ESTIMAÇÃO – IDADE AVANÇADA – IMPOSSIBILIDADE DE READAPTAÇÃO AO MEIO NATURAL – AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ DO POSSEIRO – DEVOLUÇÃO DO ANIMAL À POSSE DO CRIADOR – BEM JURÍDICO – DANO IRRISÓRIO – PRINCÍPIO DA NÃO OFENSIVIDADE – PROPRIEDADE DA UNIÃO PRESERVADA – ANIMAL QUE DEVE PERMANECER SOB A POSSE DO CRIADOR – IMPROVIMENTO EMBARGOS

I – Os presentes autos retornam do eg. STJ, para que sejam reapre-ciados os embargos de declaração opostos pelo Ibama, porquanto se reputou omisso no tocante ao que foi suscitado acerca da aplica-ção dos arts. 25 e 29, §1º, inciso III, da Lei nº 9.605/1998, 1º da Lei nº 5.137/1967 e 1.228 do Código Civil.

II – O acórdão manteve a sentença, que concedeu o direito à parte autora a retomar a posse de papagaio chamado “Leão”, ficando o dono sujeito às exigências para a preservação da vida do animal em ambiente doméstico.

III – O art. 25 reza que “verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos”, e o art. 29, § 1º, inciso III, da Lei nº 9.605/1998, estatui que “Matar, per-seguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autori-zação da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida. Pena – detenção de seis meses a um ano, e multa. § 1º Incorre nas

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mesmas penas: I...II...III – quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migra-tória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente”.

IV – O art. 25 é norma de natureza administrativa, que foi efetivamen-te cumprida, não havendo nada mais a mencionar, dada a materiali-dade e comprovação da autuação.

V – O art. 29, por outro lado, trata de matéria de natureza penal. Nes-te tocante, entende-se que a sua menção se faz desnecessária, haja vista que o que aqui se trata, em sede de mandado de segurança, é o destino de papagaio “Leão” e não a conduta do seu posseiro/criador.

VI – Entretanto, para que não se invoque novamente nulidade no futu-ro, ressalta-se que há no direito, inclusive no direito penal, a figura do bem jurídico, aquilo que o legislador teve a intenção de proteger após sofrer as naturais influências sociológicas, históricas, ideológicas, re-ligiosas, entre tantas que compõe a natureza complexa da sociedade.

VII – Ao se deparar com o fato erigido pelo legislador ao mais alto grau de valor e, por isto, colocado sob a proteção do sistema puniti-vo do estado, o julgador não pode deixar de aquilatar a extensão da ofensa ao bem jurídico.

VIII – A extensão do dano mostra-se irrisória ou inexistente, sobretudo considerando que se trata de uma ave adquirida em momento ante-rior à própria edição da lei aplicada, lembrando que a idade da ave foi estimada em 25 anos.

IX – Voltando-se ao bem jurídico ecológico, há 25 anos esta ave não participa do ecossistema, provavelmente nunca tenha dele partici-pado, e não poderá servir a ninguém a sua apreensão, sem falar nos traumas que advirão de sua abrupta e retardada apreensão, sobretudo ao animal, que não mais tem condições de ser readaptado ao meio natural.

X – Enfim, no que concerne ao art. 1.228 do Código Civil, não houve qualquer afirmação no sentido de não reconhecer que a propriedade do animal é da União, mas entendeu-se, pelos motivos acima expos-tos, que a ave deveria permanecer sob a posse do criador.

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XI – Embargos de declaração improvidos.

[11]

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos de Declaração em Apelação/Reexame Necessário, em que são partes as acima mencio-nadas.

Acordam os Desembargadores Federais da Segunda Turma do Tribu-nal Regional Federal da 5ª Região, à unanimidade, em negar provimento aos embargos de declaração, nos termos do voto do Relator e das notas taquigráficas que estão nos autos e que fazem parte deste julgado.

Recife, 06 de dezembro de 2016.

Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho Relator Convocado

RELATÓRIO

O Exmo. Desembargador federal Ivan Lira de Carvalho (Relator Con-vocado):

Os presentes autos retornam do eg. STJ, para que sejam reaprecia-dos os embargos de declaração opostos pelo Ibama, porquanto se reputou omisso no tocante ao que foi suscitado acerca da aplicação dos arts. 25 e 29, § 1º, inciso III, da Lei nº 9.605/1998, § 1º da Lei nº 5.137/1967 e 1.228 do Código Civil.

O acórdão manteve a sentença, que concedeu o direito à parte autora a retomar a posse de papagaio chamado “Leão”, ficando o dono sujeito às exigências para a preservação da vida do animal em ambiente doméstico.

É o relatório.

Apresento o feito em mesa independente de pauta.

VOTO

O Exmo. Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho (Relator Con-vocado):

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O art. 25 reza que “verificada a infração, serão apreendidos seus pro-dutos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos”, e o art. 29, § 1º, in-ciso III, da Lei nº 9.605/1998, estatui que “Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida. Pena – detenção de seis meses a um ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas: I...II...III – quem vende, expõe à venda, ex-porta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da au-toridade competente”.

O art. 25 é norma de natureza administrativa, que foi efetivamente cumprida, não havendo nada mais a mencionar, dada a materialidade e comprovação da autuação.

O art. 29, por outro lado, trata de matéria de natureza penal. Neste tocante, entende-se que a sua menção se faz desnecessária, haja vista que o que aqui se trata, em sede de mandado de segurança, é o destino de papa-gaio “Leão” e não a conduta do seu posseiro/criador.

Entretanto, para que não se invoque novamente nulidade no futuro, ressalta- se que há no direito, inclusive no direito penal, a figura do bem jurídico, aquilo que o legislador teve a intenção de proteger após sofrer as naturais influências políticas, sociológicas, históricas, ideológicas, religio-sas, entre tantas que compõe a natureza complexa da sociedade.

Ao se deparar com o fato erigido pelo legislador ao mais alto grau de valor e, por isto, colocado sob a proteção do sistema punitivo do estado, o julgador não pode deixar de aquilatar a extensão da ofensa ao bem jurídico.

A extensão do dano mostra-se irrisória ou inexistente, sobretudo con-siderando que se trata de uma ave adquirida em momento anterior à própria edição da lei aplicada, lembrando que a idade da ave foi estimada em 25 anos.

Voltando-se ao bem jurídico ecológico, há 25 anos esta ave não par-ticipa do ecossistema, talvez nunca tenha participado, e não poderá servir a ninguém a sua apreensão, sem falar nos traumas que advirão de sua abrupta e retardada apreensão, sobretudo ao animal, que não mais tem condições de ser readaptado ao meio natural.

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Enfim, no que concerne ao art. 1.228 do Código Civil, não houve qualquer afirmação no sentido de não reconhecer que a propriedade do animal é da União, mas entendeu-se, pelos motivos acima expostos, que a ave deveria permanecer sob a posse do criador.

Diante do exposto, nego provimento aos presentes embargos de de-claração.

É como voto.

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Parte Geral – Ementário de Jurisprudência2275 – Ação civil pública – construção e ampliação de imóvel – área de preservação

permanente – demolição, remoção de entulhos e recuperação da área – repa-ração integral – indenização pecuniária – não cabimento

“Remessa necessária e apelação cível. Ação civil pública. Construção e ampliação de imóvel em área de preservação permanente. Unidade de conservação federal. Dano ao meio ambiente. Demolição, remoção de entulhos e recuperação da área. Reparação integral. Indenização pecuniária não cabível. 1. Ação civil pública ajuizada pelo MPF. Relata que particular é possuidor de imóvel edificado a menos de 30 metros do curso d’água e inserido na Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira, unidade de conservação federal administrada pelo ICMBio. Pretende a demolição das construções, com a remoção dos entulhos, a apresentação de Plano de Recuperação da Área Degra-dada – Prad, a ser aprovado pelo ICMBio, o reflorestamento e o pagamento de presta-ção pecuniária ao Fundo Nacional de Defesa dos Direitos Difusos. Sentença que julga procedentes os pedidos em face do particular, à exceção do pagamento de indenização pecuniária, e improcedentes os veiculados contra o Município. Apelação do MPF. 2. É possível a imposição simultânea do pagamento de indenização pecuniária e de outras obrigações, sendo que tal cumulação não é automática e está relacionada com a im-possibilidade de recuperação total da área degradada (Precedentes: STJ, 1ª T., AgRg-Ag 1.365.693, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe 10.10.2016; STJ, 2ª T., AgRg--REsp 1.486.195, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 11.03.2016). No caso, profissionais vinculados ao Ibama sugeriram a demolição do imóvel e a respectiva remoção dos entu-lhos, seguida do plantio de espécies florestais, como medidas mitigadoras necessárias à recomposição ambiental. Por conseguinte, diante da viabilidade da reparação in natura do dano ambiental, não encontra respaldo a pretensão indenizatória. 3. Inexistência de provas a indicar que o Município teria sido responsável pela impermeabilização do solo na área de preservação permanente onde foi erigida a edificação irregular, tampouco de nexo causal entre o dano decorrente da construção particular e a instalação de bueiro, pelo Município, na década de 1980. Ainda que a responsabilidade por dano ambiental seja, em regra, objetiva, não só a lesão deve ser demonstrada, mas também o liame subjetivo (nexo causal) entre a conduta comissiva ou omissiva do infrator e o dano. De acordo com o STJ, ‘o nexo de causalidade deve ser aferido com base na teoria da causalidade adequada, adotada explicitamente pela legislação civil brasileira (CC/1916, art. 1.060 e CC/2002, art. 403), segundo a qual somente se considera existente o nexo causal ‘quando a ação ou omissão do agente for determinante e diretamente ligada ao prejuízo’ (STJ, 3ª T., REsp 1.615.971, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe 07.10.2016), de modo que ‘há de ser constatado o nexo causal entre a ação ou omissão e o dano’ (STJ, 2ª T., AgRg-AREsp 165.201, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 22.06.2012). O autor da Ação Civil Pública deve comprovar os fatos constitutivos do seu direito, nos termos do art. 333, I, do CPC/1973 – atual art. 373, I, do CPC/2015 (TRF 2ª R., 8ª T. Esp., Reex 00010311820024025101, Rel. Des. Fed. Guilherme Diefenthaeler, e-DJF2R 5.11.2014). 4. Remessa necessária e apelação não providas.” (TRF 2ª R. – AC-RN 0000146-28.2012.4.02.5109 – 5ª T.Esp. – Rel. Ricardo Perlingeiro – DJe 17.02.2017)

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2276 – Ação civil pública – construção em terreno de Marinha – área protegida – au-sência de autorização – configuração

“Remessa necessária e apelações. Ambiental. Ação civil pública. Construção em ter-reno de Marinha. Área protegida. APA Tamoios. Ausência de autorização dos órgãos ambientais. Demolição e recuperação da área. Reparação in natura do meio ambien-te. Indenização pecuniária não cabível. Manutenção da sentença. 1. Ação civil públi-ca ajuizada por Município. Relata que pessoa jurídica de direito privado empreendeu obras para a construção de aterro em área costeira sem qualquer autorização dos órgãos ambientais. Alega que o espaço é de preservação permanente e de domínio da União (terreno de Marinha). Pleiteia o pagamento de indenização pelos danos causados ao meio ambiente, a ser revertida em favor do Município, além da obrigação de recuperar a área. Sentença que julga parcialmente procedentes os pedidos, condenando a empre-sa à obrigação de fazer ‘consistente em demolir as construções erguidas sobre espelho d’água, costão rochoso e acrescido de marinha (píer), no imóvel que ocupa, bem como a apresentar projeto de recuperação de área degradada (Prad) à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, com o fim de restituir o local às condições prévias à sua danificação’. Apelações da pessoa jurídica de direito privado, do Ibama e do Município autor da Ação Civil Pública. 2. Documentação comprobatória da construção erigida pela empresa em terreno de marinha e em área non aedificandi (APA Tamoios) sem qualquer autorização dos órgãos ambientais. Necessidade de demolição do imóvel e de restauração da área, mediante apresentação e regular execução de projeto de recuperação ambiental. 3. A responsabilidade por danos ao meio ambiente tem previsão na Constituição Federal, art. 225, § 3º. Por sua vez, a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/1981, art. 14, § 1º) elucida a responsabilidade civil objetiva dos infratores das normas am-bientais, contexto que dispensa a investigação do elemento subjetivo da culpa ou dolo. O objetivo primordial da norma é assegurar às presentes e futuras gerações a quali-dade do meio ambiente sem desconsiderar a necessidade de desenvolvimento social [princípio do desenvolvimento sustentável], privilegiando-se a reparação in natura do dano. Diante da impossibilidade de restauração integral do meio ambiente, caberá a reparação pecuniária, que, do mesmo modo, será afastada se ausente a comprovação de dano reflexo ou remanescente decorrente da construção em área de protegida. Pre-cedentes do STJ: 1ª T., AgRg-Ag 1.365.693, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe 10.10.2016; 2ª T., AgRg-REsp 1.486.195, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 11.03.2016. 4. Em matéria ambiental não se aplica a teoria do fato consumado. Portanto, cabível a demolição das construções erigidas em desacordo com a legislação vigente à época de sua consumação, sendo irrelevante eventual regularização posterior. Segundo o STJ, ‘a adoção do princípio tempus regit actum impõe obediência à lei em vigor quando da ocorrência do fato’ (STJ, 1ª T., REsp 1.090.968, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 15.06.2010). 5. Inexistindo, de forma clara e irrefutável, prova do efetivo dano moral sofrido pela coletividade, não se cogita o pagamento de indenização por danos extrapatrimoniais. A conduta lesiva deve produzir verdadeiros sofrimentos, intranquilidade social e alterações relevantes na ordem extrapatrimonial coletiva para ensejar indenização por danos mo-rais coletivos (STJ, 1ª T., REsp 821.891, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 12.05.2008; TRF 2ª R.,

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5ª T.Esp., Ag 201500000102162, Rel. Des. Fed. Aluisio Gonçalves de Castro Mendes, e-DJF2R 31.03.2016). 6. Remessa necessária e apelações não providas.” (TRF 2ª R. – AC 0000545-22.2010.4.02.5111 – 5ª T.Esp. – Rel. Ricardo Perlingeiro – DJe 20.02.2017)

2277 – Ação civil pública – extração irregular de argila – reabertura de discussão acer-ca de matéria já analisada – impossibilidade

“Processual civil. Embargos declaratórios. Ação civil pública. Extração irregular de ar-gila. Ressarcimento ao Erário. Reabertura de discussão acerca de matéria já analisada. Impossibilidade. Inexistência de omissão, contradição ou obscuridade. I – A embargante sustenta que o acórdão da Segunda Turma restou obscuro, uma vez que agiu correta-mente e o dissenso fora causado pela falta de comunicação dos órgãos ambientais, pela morosidade e falta de recursos humanos do IMA/AL para expedir a licença ambiental. II – Não se vislumbra a obscuridade apontada. A questão ora trazida à discussão foi de-vidamente enfrentada no acórdão embargado, ao referir que ‘Uma vez constatado que os réus estavam lavrando argila de forma ilegal, já que não possuíam qualquer licença para o exercício da referida atividade, na mesma data da vistoria o DNPM notificou a referida empresa para que, no prazo improrrogável de 30 (trinta) dias, ingressasse com requerimento visando à habilitação legal para a extração de argila perante o 25º Distrito do DNPM/AL e/ou comprovasse que ingressou com documentação completa junto ao Instituto do Meio Ambiente de Alagoas – IMA, objetivando o licenciamento ambiental para o exercício de sua atividade, conforme auto de notificação nº 31/2009, de fl. 30’. III – Não é possível, em sede de embargos declaratórios, reabrir discussão acerca de questão já debatida e decidida. IV – O Código de Processo Civil, em seu art. 1.022, con-diciona o cabimento dos embargos de declaração à existência de omissão, contradição, obscuridade ou erro no acórdão embargado, não se prestando este recurso à repetição de argumentação contra o julgamento de mérito da causa. V – Embargos de declaração improvidos. [03].” (TRF 5ª R. – Ap-Reex 0003070-22.2011.4.05.8000/01 – (33257/AL) – 2ª T. – Rel. Des. Fed. Conv. Ivan Lira de Carvalho – DJe 09.03.2017)

Comentário Editorial SÍNTESETrata-se de embargos de declaração opostos contra acórdão que negou provimento à apelação dos particulares e deu parcial provimento à remessa oficial e à apelação da União.

A ação civil pública ajuizada pela União buscava o ressarcimento pela suposta prá-tica de lavra clandestina de argila pela ré.

Sustenta a embargante que “[...] o acórdão da Segunda Turma restou obscuro, uma vez que agiu corretamente e o dissenso fora causado pela falta de comunicação dos órgãos ambientais, pela morosidade e falta de recursos humanos do IMA/AL para expedir a licença ambiental”.

Dessa forma, o nobre Relator em seu voto, entendeu:

“[...]

Na verdade, o que se constata é a pretensão do embargante de reabrir discussão acerca da temática de mérito. Neste sentido, trago à colação o seguinte precedente do colendo Superior Tribunal de Justiça:

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‘ADMINISTRATIVO – PROCESSUAL CIVIL – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO – RESSARCIMENTO AO SUS – FORMAÇÃO DEFICIENTE – PEÇAS ILEGÍVEIS – JUNTADA POSTERIOR – NÃO CABIMENTO – INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO – INCONFORMISMO DA EMBAR-GANTE – REVISÃO DO JULGADO – VIA IMPRÓPRIA – EMBARGOS REJEITADOS

1. Os embargos de declaração, a teor dos arts. 535, II, do CPC e 263 do RISTJ, prestam-se a sanar omissões eventualmente existentes no acórdão.

2. O que a embargante chama de vício é na verdade tentativa de modificação do entendimento firmado pelo órgão julgador, uma vez que não há no corpo do decisum posicionamentos que exijam esclarecimentos mais acurados.

3. Não obstante doutrina e jurisprudência admitam a modificação do acórdão por meio dos embargos de declaração, essa possibilidade sobrevém como resultado da presença dos vícios que ensejam sua oposição, o que não ocorre no presente caso, em que a questão levada à apreciação do órgão julgador foi devidamente exposta e analisada, não havendo omissões a serem sanadas.

4. Incumbe ao agravante o dever de formar corretamente o recurso de agravo, ca-bendo fiscalizar a apresentação das peças obrigatórias previstas no art. 544, § 1º, do Código de Processo Civil, que devem constar do instrumento no ato de sua in-terposição, cuja juntada posterior é inadmissível, uma vez que operada a preclusão consumativa. Precedentes do STJ.

5. Embargos de declaração rejeitados.’ (STJ, 1ª T., EDcl-AgRg-Ag 1321768/RJ, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, J. 07,12,2010, Publ. DJe 16.12.2010)

Conforme se verifica, os embargos declaratórios não servem de instrumento para repetição de argumentação contra o julgamento de mérito da causa.

Diante do exposto, nego provimento aos presentes embargos de declaração.

É como voto.”

Assim, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região negou provimento aos embargos de declaração.

2278 – Ação civil pública – ocupação e edificação – área de preservação permanente – margens de rio – impossibilidade

“Processual civil. Ação civil pública ambiental. Ocupação e edificação em Área de Pre-servação Permanente (APP). Margens do rio Ivinhema/MS. Impossibilidade. Alegação. Fato consumado. Matéria ambiental. Não verificada exceção legal do art. 61-A do Có-digo Florestal. Alínea c. Não demonstração da divergência. 1. A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que o juiz tem a faculdade, e não a obrigação, de reconhecer a conexão entre duas ou mais demandas à luz da matéria controvertida, quando concluir pela necessidade de julgamento simultâneo para evitar a prolação de decisões conflitan-tes em litígios semelhantes. Nesse sentido: REsp 1.496.867/RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, 3ª T., DJe 14.05.2015, e AgRg-EDcl-REsp 1.381.341/MS, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 25.05.2016. 2. Trata-se, na origem, de Ação Civil Pública promovida pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul com o objetivo de condenar o recorrente: (a) a desocupar, demolir e remover as edificações erguidas em área de pre-servação permanente localizada a menos de cem metros do Rio Ivinhema; (b) a abster-se de promover qualquer intervenção ou atividade na área de preservação permanente; (c)

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a reflorestar toda a área degradada situada nos limites do lote descrito na petição inicial; e (d) a pagar indenização por danos ambientais em valor a ser arbitrado pelo juízo. 3. Em tema de direito ambiental, não se admite a incidência da teoria do fato consumado. Precedentes do STJ e STF. 4. Verificou-se nos autos que houve a realização de edifica-ções (casas de veraneio) dentro de uma Área de Preservação Permanente, assim como a supressão quase total da vegetação local. Constatado tal fato, deve-se proceder, nos ter-mos da sentença, às medidas necessárias para restabelecer à referida área. 5. Cumpre sa-lientar que as exceções legais a esse entendimento encontram-se previstas nos arts. 61-A a 65 do Código Florestal, nas quais decerto não se insere a pretensão de manutenção de casas de veraneio. A propósito: AgRg-EDcl-REsp 1.381.341/MS, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 25.05.2016; e REsp 1.362.456/MS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., DJe 28.06.2013. 6. A divergência jurisprudencial deve ser comprovada, cabendo a quem recorre demonstrar as circunstâncias que identificam ou assemelham os casos confrontados, com indicação da similitude fático-jurídica entre eles. Indispen-sável a transcrição de trechos do relatório e do voto dos acórdãos recorrido e paradig-ma, realizando-se o cotejo analítico entre ambos, com o intuito de bem caracterizar a interpretação legal divergente. O desrespeito a esses requisitos legais e regimentais (art. 541, parágrafo único, do CPC e art. 255 do RI/STJ) impede o conhecimento do Recur-so Especial com base na alínea c do inciso III do art. 105 da Constituição Federal. 7. Sob pena de invasão da competência do STF, descabe analisar questão constitucional em Recurso Especial, mesmo que para viabilizar a interposição de Recurso Extraordinário. 8. Agravo Interno não provido.” (STJ – AgInt-EDcl-REsp 1.468.747 – (2014/0173733-7) – 2ª T. – Rel. Min. Herman Benjamin – DJe 06.03.2017)

2279 – Acidente ambiental – colisão de navio – vazamento de nafta petroquímica – proibição de pesca – responsabilidade objetiva – teoria do risco integral – con-figuração

“Apelação cível. Responsabilidade civil. Acidente ambiental. Colisão do Navio N/T Norma defronte ao cais do Porto de Paranaguá. Vazamento de ‘nafta petroquímica’. Proibição da pesca. Fato público e notório. Portaria dos órgãos ambientais e decreto municipal. Responsabilidade objetiva teoria do risco integral. Dever de indenizar. Dano moral devido. Quantum indenizatório mantido. Termo inicial do juros de mora. Manu-tenção. Verba sucumbencial. Distribuição escorreita honorários advocatícios. Manuten-ção. Apelação desprovida. 1. A responsabilidade do causador de dano ambiental é obje-tiva, isto é, prescinde do elemento culpa (art. 225, § 3º da Constituição Federal e art. 14, § 1º, da Lei nº 6.983/1981).Diante da existência de notório sinistro ambiental, com in-terdição da atividade pesqueira pelo órgão ambiental e pelo Município atingido, com reflexos patrimonial e moral nas comunidades das áreas atingidas, é indiscutível o dever de indenizar. 2. A fixação do montante devido a título de dano moral fica ao prudente ar-bítrio do Julgador, devendo pesar nestas circunstâncias, a gravidade e duração da lesão, a possibilidade de quem deve reparar o dano, e as condições do ofendido, cumprindo levar em conta que a reparação não deve gerar o enriquecimento ilícito, constituindo, ainda, sanção apta a coibir atos da mesma espécie. 3. Considerando o entendimento do Superior Tribunal de Justiça em recurso repetitivo do acidente sob exame, os juros mora-

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tórios fluem a partir do evento danoso e não se redistribuem os ônus da sucumbência.” (TJPR – AC 1568595-5 – 10ª C.Cív. – Rel. Des. Luiz Lopes – DJe 13.02.2017)

2280 – Acidente ambiental – rompimento de poliduto – vazamento de óleo combustí-vel – proibição de pesca – configuração

“Responsabilidade civil. Acidente ambiental rompimento de poliduto ‘olapa’, na serra do mar. Vazamento de óleo combustível. Proibição da pesca. Fato público e notório. Responsabilidade objetiva. Dano moral verificado. Quantum indenizatório mantido. Possibilidade de aplicação do REsp 1.114.398/PR ao presente caso. Termo inicial do juros de mora. Manutenção. Verba sucumbencial. Distribuição escorreita. Honorários advocatícios. Fixação do mínimo previsto. Impossibilidade de minoração. Recurso de apelação desprovido. 1. A responsabilidade do causador de dano ambiental é objetiva, isto é, prescinde do elemento culpa (art. 225, § 3º da Constituição Federal). Diante da existência de notório sinistro ambiental, com reflexos patrimoniais nas comunidades das áreas atingidas, é indiscutível o dever de indenizar. 2. A fixação do montante devido a título de dano moral fica ao prudente arbítrio do Julgador, devendo pesar nestas circuns-tâncias, a gravidade e duração da lesão, a possibilidade de quem deve reparar o dano, e as condições do ofendido, cumprindo levar em conta que a reparação não deve gerar o enriquecimento ilícito, constituindo, ainda, sanção apta a coibir atos da mesma espécie. 3. Considerando o entendimento do Superior Tribunal de Justiça em recurso repetitivo representativo da controvérsia, os juros moratórios fluem a partir do evento danoso e não se redistribuem os ônus da sucumbência.” (TJPR – AC 1564402-9 – 10ª C.Cív. – Rel. Des. Luiz Lopes – DJe 13.02.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESEConstituição Federal:

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

[...]

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, indepen-dentemente da obrigação de reparar os danos causados.”

2281 – Animais silvestres – maus-tratos – materialidade e autoria – não comprovação“Penal. Apelação criminal do MPF. Art. 32 da Lei nº 9.605/1998 (maus-tratos de animais silvestres). Prescrição. Extinção da punibilidade. Tipificação do art. 29, § 1º, III, da Lei nº 9.605/1998 (crimes contra a fauna) e não do art. 180 do CP (receptação). Materialida-de demonstrada e autoria não comprovada. Inexistência de elementos probatórios aptos a embasar uma condenação. Apelação do MPF desprovida. I – Preliminarmente, destaco a ocorrência da prescrição da pretensão punitiva do crime disposto no art. 32 da Lei nº 9.605/1998. Considerando que o recebimento da denúncia se deu em 30.08.2010 e que a sentença proferida pelo magistrado sentenciante foi absolutória, certo é que o mencionado crime ambiental prescreveu em 30.08.2014, uma vez que a pena relativa

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ao crime previsto no art. 32 da Lei nº 9.605/1998 regula-se pelo prazo de 4 (quatro) anos. II – A reclassificação da conduta tipificada no art. 180 do CP pela conduta tipificada no art. 29, § 1º, III, da Lei nº 9.605/1998 mostra-se acertada, eis que, embora os apelados estivessem, supostamente, atuando na intermediação de negociações, compra, venda e transporte de animais silvestres, sem permissão ou autorização, na feira livre de Duque de Caxias, certamente os mesmos não integravam a cúpula da rede criminosa de tráfico de animais silvestres, razão pela qual lhes deve ser aplicado o dispositivo previsto na Lei especial. III – A materialidade do crime tipificado no art. 29, § 1º, III, da Lei nº 9.605/1998 encontra-se devidamente comprovada pelo Laudo de exame de animal, mas a autoria delitiva dos acusados não restou demonstrada. IV – Há nos presentes autos fortes indícios de que os acusados continuam na prática ilegal do comércio de aves silvestres, mas não existem elementos probatórios suficientes comprovando a participação dos apelados nas condutas delituosas descritas na denúncia. V – Apelação do Ministério Público Federal desprovida. Extinção da punibilidade do crime previsto no art. 32 da Lei nº 9.605/1998 pela ocorrência da prescrição.” (TRF 2ª R. – ACr 0004558-67.2010.4.02.5110 – 2ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Messod Azulay Neto – DJe 16.02.2017 – p. 28)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:

Pena – detenção de seis meses a um ano, e multa.

§ 1º Incorre nas mesmas penas:

[...]

III – quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente.

[...]

Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, do-mésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:

Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.”

2282 – Área de preservação permanente – construção – demolição de edificação – inviabilidade

“Ambiental. Construção em área de preservação permanente. Demolição de edificação. Inviabilidade. Área urbana de ocupação histórica. Zona urbana consolidada. Princípio da proporcionalidade. Nulidade do auto de infração lavrado pelo ICMBio. Hipótese na qual a edificação sub judice está localizada em área de preservação permanente (Unida-de de Conservação), mais precisamente em Área de Proteção Ambiental das Ilhas e Vár-zeas do Rio Paraná, área de proteção ambiental criada por Decreto do Vice-Presidente da República de 20.09.1997, tratando-se, entrementes, de área urbana de ocupação

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histórica que remonta, pelo menos, à década de 1960, não havendo vegetação no local desde longa data e estando presente toda uma infraestrutura no Distrito, com rede de esgoto, pavimentação de ruas, energia elétrica e água potável. A revisão do Zoneamen-to Ecológico Econômico (Decreto nº 070/2007) da Área de Preservação Ambiental do Município de Alto Paraíso (cujo nome anterior, logo depois da emancipação política de Umuarama, era Vila Alta), permitiu, expressamente, a construção de residências fixas/de veraneio em terrenos/loteamentos já parcelados e legalizados, obedecendo aos padrões e a taxa de ocupação do lote, estabelecido pelo Plano Diretor ou Zoneamento Urbano específico. À vista da situação consolidada, portanto, a determinação de remoção das estruturas físicas da residência da parte ré para o fim de recuperação da área não se reveste de qualquer possibilidade de sucesso prático e se mostra em descompasso com o princípio da isonomia, podendo, inclusive, ser mais prejudicial ao meio ambiente, com geração de entulho e maior degradação da paisagem cênica da região. Em suma, é reconhecida a nulidade do Auto de Infração expedido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, em razão da sua desproporcionalidade/irra zoabilidade no caso concreto.” (TRF 4ª R. – AC 5000742-66.2016.4.04.7004 – 3ª T. – Rel. Ricardo Teixeira do Valle Pereira – J. 21.02.2017)

Destaque Editorial SÍNTESEDo voto do Relator destacamos os presentes julgados:

“[...]

Colaciono precedentes desta Corte sobre a matéria em foco:

ADMINISTRATIVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – EDIFICAÇÃO – ÁREA DE PRESERVA-ÇÃO PERMANENTE – DEMOLIÇÃO – INVIABILIDADE – PRINCÍPIO DA PROPOR-CIONALIDADE – DANO E DESEQUILÍBRIO ECOLÓGICO NÃO CONSTATADOS

1. Não há como acolher a pretensão autoral quando o conjunto probatório não evidencia a relação de causalidade entre eventuais alterações ambientais em Área de Preservação Permanente (não comprovadas faticamente) e a edificação, pelos re-queridos, de uma única unidade imobiliária em região urbanizada há anos, na forma reconhecida por autoridades municipais (Prefeitura Municipal de Alto Paraíso/PR).

2. O princípio da proporcionalidade orienta o rechaço da pretensão de desocupação e destruição de moradia fixada há tempos no entorno do Parque Nacional de Ilha Grande, notadamente porque inexistente comprovação de efetivo dano ambiental decorrente da presença da casa e dos moradores na localidade.

3. Apelações improvidas. (AC 5000199-39.2011.404.7004/PR, 3ª T., Rel. Des. Fed. Fernando Quadros da Silva, Julgado em 28.04.2015)

ADMINISTRATIVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – EDIFICAÇÃO – ÁREA DE PRESER-VAÇÃO PERMANENTE – DEMOLIÇÃO – INVIABILIDADE – PRINCÍPIO DA PRO-PORCIONALIDADE – DANO AMBIENTAL NÃO DEMONSTRADO – PREQUESTIO-NAMENTO

1. Não há como acolher a pretensão autoral quando o conjunto probatório não evidencia a relação de causalidade entre eventuais alterações ambientais em Área de Preservação Permanente (não comprovadas faticamente) e a edificação, pelos re-

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queridos, de uma única unidade imobiliária em região urbanizada há anos, na forma reconhecida por autoridades municipais (Prefeitura Municipal de Alto Paraíso/PR).

2. O princípio da proporcionalidade orienta o rechaço da pretensão de desocupação e destruição de moradia fixada há tempos no entorno do Parque Nacional de Ilha Grande, notadamente porque inexistente comprovação de efetivo dano ambiental decorrente da presença da casa e dos moradores na localidade.

3. Dá-se por prequestionada a legislação invocada, razão pela qual dá-se parcial provimento às apelações. (AC 5005389-46.2012.404.7004/PR, 3ª T., Rel. Juiz Federal Nicolau Konkel Júnior, Julgado em 25.03.2015)

DIREITO ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – CONSTRUÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – ÁREA URBANA CONSOLIDADA

1. A responsabilidade civil por danos ambientais é objetiva (art. 225, § 3º, da Cons-tituição Federal e art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/1981), de sorte que a imposição do dever de reparar não depende da caracterização de dolo ou culpa.

2. Não obstante, há que se considerar que o Distrito de Porto Figueira, onde se encontra a construção da parte ré, diz respeito à área urbana de ocupação histórica que remonta, pelo menos, à década de 1960.

3. Depoimentos tomados em processos similares em torno da mesma área, confir-mam a existência histórica de Porto Figueira como área urbana consolidada e centro turístico, confirmando, também, que não havia vegetação no local desde longa data; que há toda uma infraestrutura no referido Distrito, com rede de esgoto, pavimenta-ção de ruas, energia elétrica, água potável, coleta de lixo etc.

4. A revisão do Zoneamento Ecológico Econômico (Decreto nº 070/2007) da Área de Preservação Ambiental do Município de Alto Paraíso (cujo nome anterior, logo depois da emancipação política de Umuarama, era Vila Alta), permitiu, expressa-mente, a construção de residências fixas/de veraneio em terrenos/loteamentos já parcelados e legalizados, obedecendo aos padrões e a taxa de ocupação do lote, estabelecido pelo Plano Diretor ou Zoneamento Urbano específico.

5. A ocupação da área do Porto Figueira ocorre, pelo menos, desde a década de 1960, tempo em que se estruturou como área urbana, perdendo toda a caracterís-tica de floresta natural. Aliás, essa situação se repetiu em centenas de municípios localizados à beira de cursos d’água, com a conivência e estímulo do Poder Público de todas as esferas.

6. Tendo em vista tratar-se de área de ocupação histórica, há muito urbanizada, é certo que a retirada de uma edificação isolada não surtirá efeitos significantes ao meio ambiente, haja vista que as adjacências do local encontram-se edificadas.

7. Dessa forma, sendo inviável a recuperação da área degradada em face de situação consolidada, a afirmação da isonomia não permite a exclusão da hipótese de regu-larização.

8. O comando normativo deste julgado não exime a parte ré, em ulterior processo de regularização fundiária daquela área urbana consolidada, de se submeter às eventuais condicionantes impostas pelos órgãos ambientais ao exercício de seu direito de mo-radia e lazer no imóvel, cabendo destacar, por fim, que inexiste direito adquirido à degradação ambiental. (AC 5005362-63.2012.404.7004/PR, 3ª T., Relª Desª Fed. Marga Inge Barth Tessler, Julgado em 25.03.2015)

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AÇÃO CIVIL PÚBLICA – MEIO AMBIENTE – CONSTRUÇÃO EM ÁREA DE PRESER-VAÇÃO PERMANENTE – DEMOLIÇÃO DA EDIFICAÇÃO – INVIABILIDADE – PRIN-CÍPIO DA PROPORCIONALIDADE – ZONA URBANA CONSOLIDADA

Devem ser mitigadas as restrições de construção em Áreas de Preservação Per-manente, mormente nas hipóteses de zonas urbanas consolidadas e antropizadas, tendo sido constatado que a total recuperação do meio ambiente ao seu estado natural dependeria de ação conjunta, com a remoção de todas as construções insta-ladas em área de ocupação histórica, sendo certo que a retirada de uma edificação isoladamente, em atenção ao princípio da proporcionalidade, não surtiria efeitos significantes ao meio ambiente, haja vista que as adjacências do local encontram-se edificadas.

(TRF 4ª R., Apelação Cível nº 5005374-77.2012.404.7004, 3ª T., Des. Fed. Ricardo Teixeira do Valle Pereira, por unanimidade, juntado aos autos em 17.08.2015)

2283 – Área de preservação permanente – dano – edificação erigida – entorno de lagoa – recuperação ambiental – princípios da proporcionalidade e razoabili-dade – possibilidade

“Administrativo. Área de preservação permanente. Dano. Edificação erigida no entorno de lagoa. Recuperação ambiental. Prad. Área urbana consolidada. Proporcionalidade e razoabilidade. 1. Em se tratando de área urbana consolidada, a determinação de demo-lição da edificação para o fim de recuperação da área não se reveste de sucesso prático. 2. Além da proteção ao meio ambiente há outros direitos em risco que podem permitir a utilização de áreas já antropizadas e a manutenção das edificações existentes. Descon-siderar a situação ocupacional da região representa postura que não se coaduna com os princípios constitucionais da proporcionalidade e da razoabilidade. 3. A recuperação ambiental, que muitas vezes importa em desfazimento ou adequação de obra, por si só, já se revela suficientemente gravosa, razão pela qual, em homenagem aos princí-pios da proporcionalidade e razoabilidade, a fixação cumulativa de pena pecuniária como forma de indenização complementar somente é cabível em casos excepcionais, ante a impossibilidade de recuperação da área ou as peculiaridades do caso concreto.” (TRF 4ª R. – AC 5000039-91.2010.4.04.7216 – 3ª T. – Rel. Juiz Fed. Friedmann Anderson Wendpap – J. 21.02.2017)

Comentário Editorial SÍNTESEPassamos a comentar o acórdão em tela, que trata de ação civil pública ajuizada pelo Ibama em face dos acusados, objetivando a condenação dos mesmos.

Consta dos autos que os acusados causaram dano ao meio ambiente, por edificação erigida entorno de lagoa, área de preservação permanente.

O Ibama apelou, “[...] requerendo a reforma da sentença, no que tange à condena-ção da ré ao pagamento de indenização em dinheiro em favor do fundo destinado à reconstituição de bens lesados, uma vez que a simples recuperação da área não será suficiente, no caso presente, para restabelecer o status quo ante do ecossistema já degradado, por exemplo, pelo esgoto jogado na Lagoa de Imaruí, enquanto não adequado o sistema de tratamento do imóvel da ora apelada”.

Assim, em seu voto, o nobre Relator entendeu:

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“[...]

Assim, diante das particularidades do caso concreto, tenho que não merece reparos a sentença, cujo trecho transcrevo, adotando os seus fundamentos como razões de decidir:

II.3. Área de Preservação Permanente – APP.

Segundo definição de Paulo Affonso Leme Machado:

Área de preservação é a área protegida nos termos dos arts. 2º e 3º do Código Flo-restal, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações hu-manas. (Direito ambiental brasileiro. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 821)

O Código Florestal de 1934 – Decreto nº 23.793 – fazia alusão às áreas de in-teresse comum, enquanto o subsequente Código Florestal – Lei nº 4.771/1965 – instituiu, em sua redação original, as florestas de preservação permanente. A Lei nº 6.938/1981, por sua vez, criou as reservas e estações ecológicas.

O conceito legal de Área de Preservação Permanente – APP, assim como as hipóteses de intervenção nestas áreas, foram introduzidos na Lei nº 4.771/1965 pela Medida Provisória nº 2.166-67/2001:

Art. 1º Os arts. 1º, 4º, 14, 16 e 44, da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, passam a vigorar com as seguintes redações:

[...]

Art. 1º [...]

§ 2º Para os efeitos deste Código, entende-se por:

[...]

II – área de preservação permanente: área protegida nos termos dos arts. 2º e 3º desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas;

[...]

Art. 4º A supressão de vegetação em área de preservação permanente somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública ou de interesse social, devida-mente caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto.

§ 1º A supressão de que trata o caput deste artigo dependerá de autorização do ór-gão ambiental estadual competente, com anuência prévia, quando couber, do órgão federal ou municipal de meio ambiente, ressalvado o disposto no § 2º deste artigo.

§ 2º A supressão de vegetação em área de preservação permanente situada em área urbana, dependerá de autorização do órgão ambiental competente, desde que o mu-nicípio possua conselho de meio ambiente com caráter deliberativo e plano diretor, mediante anuência prévia do órgão ambiental estadual competente fundamentada em parecer técnico.

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§ 3º O órgão ambiental competente poderá autorizar a supressão eventual e de baixo impacto ambiental, assim definido em regulamento, da vegetação em área de preservação permanente.

§ 4º O órgão ambiental competente indicará, previamente à emissão da autorização para a supressão de vegetação em área de preservação permanente, as medidas mitigadoras e compensatórias que deverão ser adotadas pelo empreendedor.

§ 5º A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, ou de dunas e man-gues, de que tratam, respectivamente, as alíneas c e f do art. 2º deste Código, somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública.

§ 6º Na implantação de reservatório artificial é obrigatória a desapropriação ou aquisição, pelo empreendedor, das áreas de preservação permanente criadas no seu entorno, cujos parâmetros e regime de uso serão definidos por resolução do Conama.

§ 7º É permitido o acesso de pessoas e animais às áreas de preservação permanen-te, para obtenção de água, desde que não exija a supressão e não comprometa a regeneração e a manutenção a longo prazo da vegetação nativa.

O Novo Código Florestal, instituído pela Lei nº 12.651/2012, assim tratou a ma-téria:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

[...]

II – Área de Preservação Permanente – APP: área protegida, coberta ou não por vege-tação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

[...]

Art. 8º A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto ambiental previstas nesta Lei.

§ 1º A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, dunas e restingas somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública.

§ 2º A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente de que tratam os incisos VI e VII do caput do art. 4º poderá ser auto-rizada, excepcionalmente, em locais onde a função ecológica do manguezal esteja comprometida, para execução de obras habitacionais e de urbanização, inseridas em projetos de regularização fundiária de interesse social, em áreas urbanas consolida-das ocupadas por população de baixa renda.

§ 3º É dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a execução, em caráter de urgência, de atividades de segurança nacional e obras de interesse da defesa civil destinadas à prevenção e mitigação de acidentes em áreas urbanas.

§ 4º Não haverá, em qualquer hipótese, direito à regularização de futuras interven-ções ou supressões de vegetação nativa, além das previstas nesta Lei.

Dentre as áreas definidas na legislação como de preservação permanente, importa para o presente feito o entorno de lagoa.

[...]

II.6. Reparação do dano ambiental.

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A obrigação de reparação do dano ambiental foi expressamente estabelecida pelo art. 14 da Lei nº 6.938/1981:

Art. 14. Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental su-jeitará os transgressores:

[...]

§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obri-gado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabili-dade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

Verificada a lesão ao meio ambiente, sua reconstrução às condições originais é ade-quada à vocação do Direito Ambiental, que prioriza medidas preventivas, repara-tórias e compensatórias, em lugar da mera indenização pelos danos ocasionados.

Por outro lado, ainda que possível a cumulação de obrigação de fazer, não fazer e pagar pelas agressões ao meio ambiente, a indenização em dinheiro pelo dano ambiental deve ter lugar apenas quando comprovada a inviabilidade técnica de re-composição da área e o retorno ao status quo ante, apresentando cunho subsidiário.

[...]

Colhe-se da jurisprudência:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – TUTELA DO MEIO AMBIENTE – EDIFICAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – NÃO COMPROVAÇÃO – ÁREA URBANA CONSOLIDADA – PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE – 1. Hipótese em que se reforma a sentença, porquanto determinar a demolição pretendida pelo Mi-nistério Público Federal se afigura desproporcional, infligindo ao réu o perecimen-to de seu direito à propriedade sem qualquer garantia da possibilidade de recu-peração efetiva da área, visto tratar-se de área urbana consolidada. 2. Aplicação dos princípios constitucionais da proporcionalidade e da razoabilidade. (Ap-Reex 5007066-71.2013.404.7200, 3ª T., Rel. Juiz Federal Conv. Nicolau Konkel Júnior, J. 26.08.2015)

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – MEIO AMBIENTE – CONSTRUÇÃO EM ÁREA DE PRE-SERVAÇÃO PERMANENTE – DEMOLIÇÃO DA EDIFICAÇÃO – INVIABILIDADE – PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE – ZONA URBANA CONSOLIDADA – Devem ser mitigadas as restrições de construção em Áreas de Preservação Permanente, mormente nas hipóteses de zonas urbanas consolidadas e antropizadas, tendo sido constatado que a total recuperação do meio ambiente ao seu estado natural depen-deria de ação conjunta, com a remoção de todas construções instaladas em área de ocupação histórica, sendo certo que a retirada de uma edificação isoladamente, em atenção ao princípio da proporcionalidade, não surtiria efeitos significantes ao meio ambiente, haja vista que as adjacências do local encontram-se edificadas. (TRF 4ª R., Apelação Cível nº 5005374-77.2012.404.7004, 3ª T., Des. Fed. Ricardo Teixeira do Valle Pereira, por unanimidade, juntado aos autos em 17.08.2015)

[...]

Assim, merece ser mantida a bem prolatada sentença.

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Ante o exposto, voto no sentido de negar provimento à apelação e à remessa oficial.”

Dessa forma, o Tribunal Regional Federa da 4ª negou provimento à apelação e à remessa oficial.

2284 – Área de preservação permanente – ocupação irregular – dano ambiental – princípios da prevenção, do meio ambiente como direito fundamental e da função socioambiental – possibilidade

“Agravo de instrumento. Ambiental. Ação civil pública. Área de preservação perma-nente. Ocupação irregular. Dano ambiental. Determinação de obrigação de não fazer. Princípios da prevenção, do meio ambiente como direito fundamental e da função so-cioambiental da propriedade. Recurso parcialmente provido. 1. Recurso interposto pelo Ministério Público Federal contra decisão proferida pelo magistrado a quo que indeferiu o pedido de tutela antecipada para que fossem determinadas obrigações de não fazer aos réus, buscando a tutela ambiental de Área de Preservação Permanente as margens do rio Paraná. 2. A ação civil pública da qual se origina esse agravo afirma que os agra-vados estão promovendo degradação ambiental ao edificarem, em área de preservação permanente localizada as margens do Rio Paraná, no bairro Beira Rio, em Rosana/SP, uma residência em madeira, em terreno cercado nos limites por muros de alvenaria e grade metálica, conforme fls. 90 e 124/126. 3. Para preservação do meio ambiente o agravante requer a reforma da decisão para que seja determinada: a) a imposição aos agravados de obrigação de não fazer, consistente em abster-se de realizar qualquer nova construção em área de preservação permanente, devendo paralisar todas as atividades antrópicas ali empreendidas, mormente no que concerne a: iniciar, dar continuidade ou concluir qualquer obra ou edificação, bem como o despejo, no solo ou nas águas do Rio Paraná, de qualquer espécie de lixo doméstico ou demais materiais ou substâncias poluidoras; b) a imposição aos agravados de obrigação de não fazer, consistente em abster-se de promover ou permitir a supressão de qualquer tipo de cobertura vegetal da referida área, sem autorização do órgão competente; c) a imposição aos agravados de obrigação de absterem-se de conceder o uso daquela área a qualquer interessado. 4. A petição inicial da ação originária veio acompanhada de documentação que demonstra a existência de construção em área de preservação permanente, consistente em pro-priedade nas margens do rio Paraná. Cabe destacar, entre os documentos constantes na inicial que demonstram indícios de danos ambientais, o Laudo Técnico de constatação e avaliação de dano ambiental (fls. 114/117), que afirma a existência de dano ambiental, Auto de Infração Ambiental nº 152879 (fl. 121) e o Laudo nº 1339/2007 de averiguação de crime ambiental (fls. 124/126). 5. O dever de proteção ao meio ambiente tem status constitucional, conforme previsão do art. 225 da Constituição Federal de 1988, que es-tabelece o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, fixando a responsabi-lização ambiental de agentes poluidores, pessoas físicas e jurídicas e o dever de reparar os danos causados. 6. Visando tutelar adequadamente o meio ambiente, o legislador estabeleceu normas fixando áreas que devido às suas características devem ser especial-mente protegidas, entre elas previu as áreas de preservação permanente. Cabe destacar que essas áreas já eram previstas na Lei nº 4.771/1965 (antigo Código Florestal), tendo a Constituição Federal recepcionado essa norma protetiva, e o atual Código Florestal (Lei

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nº 12.651/2012) continuado a estabelecer áreas de preservação permanente. 7. As áreas de preservação permanente são espaços de proteção integral, não havendo possibilidade de quaisquer intervenções, existindo taxativas exceções, as quais devem ser interpre-tadas de modo restritivo. Referida limitação do uso de tais áreas tem como finalidade evitar a ocorrência de desequilíbrio irreparável ao ecossistema, mediante proteção dos recursos hídricos, da biodiversidade, da fauna e da flora. 8. Desrespeitar uma área de-finida como de Preservação Permanente, construindo-se, por exemplo, um imóvel no local protegido, é suficiente para caracterizar o dano ambiental in re ipsa, e ensejando o dever de reparação, sendo essa obrigação propter rem. 9. As medidas requeridas pelo autor em sede de tutela antecipada são exclusivamente preventivas, pretendendo-se uni-camente a não edificação de novas construções, a não supressão da vegetação e a não concessão do uso da área, com a finalidade de que não ocorram novas intervenções na área, até que se decida em definitivo quanto à regularidade das construções dentro da área de preservação permanente. Portanto, a tutela antecipada pretendida é tão somente de obrigação de não fazer, objetivando o congelamento da situação até que seja julgada a demanda. 10. A tutela antecipada pretendida encontra amparo nos Princípios Funda-mentais do Direito Ambiental, entre eles o Princípio do Meio Ambiente como Direito Fundamental, o Princípio da Prevenção, Princípio da Precaução e o Princípio da função socioambiental da propriedade. 11. Quando na tutela antecipada se almeja a proibição de qualquer nova intervenção na área de preservação permanente, o que se pretende é prevenir novos danos ambientais, sendo uma medida acautelatória. Dessa forma não tem importância para o deferimento da antecipação da tutela o fato das construções exis-tentes serem antigas, cabendo ainda ressaltar que não existe direito adquirido a degrada-ção ambiental. 12. Em consonância com a decisão proferida liminarmente (fls. 289/290), é possível afirmar que a demora do poder público em agir e a antiguidade das constru-ções em área de preservação permanente não são argumentos suficientes para afastar a tutela antecipada, uma vez que a tutela imediata de proibição de novas construções e degradações é fundamental para a proteção do meio ambiente, o qual está sendo profun-damente lesado, não interferindo a tutela nas construções já existentes. Aceitar o argu-mento levantado pelo juiz a quo seria prejudicar o meio ambiente duplamente, negando a proteção devida constitucionalmente e permitindo que a situação de violação ao meio ambiente existente aumente e se perpetue. 13. O fumus boni iuris no caso em tela restou evidente, uma vez que se trata de ocorrência dano ambiental em área de preservação permanente decorrente de construção irregular, sendo o dano ecológico in re ipsa, bem como inegável que a continuação da exploração humana no local, principalmente no-vas construções, contribuem sobremaneira para a degradação ambiental. O perigo da demora também é claro, uma vez que a continuidade de intervenções antrópicas na área pode causar danos irreversíveis ao meio ambiente, implicando em agravamento da degradação da qualidade do meio ambiente. 14. Em questão ambiental deve-se sempre privilegiar a adoção de medidas preventivas, devendo ser tomada a decisão mais con-servadora, uma vez que os danos ambientais muitas vezes são irreversíveis. 15. Impõe--se o acolhimento do recurso para, nos termos já fixados em sede de tutela antecipada (fls. 289/290), impor aos agravados as obrigações de não fazer consistentes em abster-se de realizar qualquer nova construção na área de preservação permanente, inclusive de-

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vendo paralisar quaisquer obras ou construções em andamento, bem como abster-se de promover ou permitir a supressão de qualquer tipo de cobertura vegetal ou de conceder o uso da área a qualquer interessado, sob pena de multa diária, em caso de descumpri-mento, no valor de R$ 100,00 (cem reais), sendo este um valor razoável. 16. Agravo de instrumento parcialmente provido.” (TRF 3ª R. – AI 0013501-16.2011.4.03.0000/SP – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Marcelo Saraiva – DJe 09.03.2017)

2285 – Área de preservação permanente – retilinização de cursos d’água – infrações – caracterização

“Ambiental. Autos de infração lavrados pelo Ibama. Área de preservação permanente. Retilinização de cursos d’água. Penalidades de multa. Infrações caracterizadas. O auto de infração constitui ato administrativo dotado de imperatividade, presunção relativa de legitimidade e de legalidade. Apenas por prova inequívoca de inexistência dos fatos descritos no auto de infração, atipicidade da conduta ou vício em um de seus elementos componentes (sujeito, objeto, forma, motivo e finalidade) poderá ser desconstituída a au-tuação. Não há nos autos provas que permitam desconstituir a presunção de legitimida-de e de veracidade dos atos fiscalizatórios que concluíram pela existência das infrações ambientais, não havendo se falar, outrossim, em prescrição, intercorrente ou executória. A retilinização de cursos d’água é considerada atividade potencialmente poluidora, con-forme Resolução Conama nº 237/1997, exigindo licenciamento do órgão competente e autorização do ICMBio, que administra a Esec Carijós. Penalidade de multa arbitrada dentro dos parâmetros legais, não havendo qualquer violação aos princípios da finalida-de, razoabilidade e proporcionalidade.” (TRF 4ª R. – AC 5013257-35.2013.4.04.7200 – 3ª T. – Rel. Ricardo Teixeira do Valle Pereira – J. 07.02.2017)

2286 – Área de preservação permanente – sistema de esgotamento sanitário – céu aberto – intervenção judiciária – cabimento

“Ação civil pública. Ministério Público. Obrigação de fazer. Sistema de esgotamento sanitário municipal. Ineficiência. Promoção de medidas necessárias à prestação efetiva dos serviços públicos. Procedência do pedido. Remessa necessária. Esgotamento sanitá-rio a céu aberto. Escoamento em mangue. Área de preservação ambiental permanente. Demonstração do saneamento básico inadequado. Direito do cidadão a um meio am-biente ecologicamente equilibrado, à saúde e à higiene. Intervenção do Poder Judiciário. Possibilidade. Manutenção da sentença. Desprovimento. 1. É direito fundamental de todo cidadão habitar em um ambiente ecologicamente equilibrado, saudável e higiê-nico, devendo a Administração Pública disponibilizar, em tempo razoável, serviços de esgotamento sanitário para fins de garantir o bem-estar e a qualidade de vida da popula-ção, enquanto finalidades precípuas da atividade do Estado. 2. O art. 4º, VII, do Código Florestal, considera os manguezais, em toda a sua extensão, como Área de Preservação Permanente. 3. ‘A Corte Suprema já firmou a orientação de que é dever do Poder Pú-blico e da sociedade a defesa de um meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações. 2. Assim, pode o Poder Judiciário, em situações excep-cionais, determinar que a Administração pública adote medidas assecuratórias desse direito, reputado essencial pela Constituição Federal, sem que isso configure violação do princípio da separação de poderes. 3. A Administração não pode justificar a frustração

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de direitos previstos na Constituição da República sob o fundamento da insuficiência orçamentária.’ (STF, RE 658171-AgR, Relator(a): Min. Dias Toffoli, 1ª T., Julgado em 01.04.2014, Processo Eletrônico DJe-079, Divulg. 25.04.2014, Public. 28.04.2014).” (TJPB – RN 0002964-96.2013.815.0751 – 4ª C.Esp.Cív. – Rel. Des. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira – DJe 13.03.2017)

2287 – Área de preservação permanente – vegetação de Mata Atlântica – supressão – construção de empreendimento – autorizações e licenças ambientais – ne-cessidade

“Remessa necessária. Ação civil pública. Meio ambiente. Área de preservação perma-nente. Vegetação de Mata Atlântica. Supressão. Construção de empreendimento. Im-posição de obrigações compensatórias e indenizatórias. Necessidade de autorizações e licenças ambientais. Plano de educação ambiental. Manutenção da sentença. 1. Ação civil pública ajuizada pelo MPF em face de Estado, Município, pessoa jurídica de direito privado e particular. Relata que, em fiscalizações realizadas pelo Ibama nos anos de 2004, 2008 e 2009, constatou-se a instalação irregular de empreendimento, edificado sem autorização dos órgãos ambientais e em área de preservação permanente, com a supressão de vegetação nativa de Mata Atlântica. Sentença que determina: (i) que qual-quer atividade potencialmente poluidora a ser executada no Loteamento seja precedida de autorização ou licença pelo Iema e/ou Idaf; (ii) que a alienação de qualquer imóvel situado no Loteamento seja precedida de autorização ambiental do Iema e/ou Idaf; (iii) a ratificação do embargo direcionado à obra realizada pela por particular, condicionando a sua continuidade à obtenção de autorização ambiental; (iv) a condenação da pessoa jurídica de direito privado às obrigações compensatórias e indenizatórias; (v) a conde-nação do Estado a fornecer o suporte necessário para a atuação do Idaf e do Iema; e (vi) a condenação do Município a implementar, em conjunto com a empresa deman-dada, Plano de Educação Ambiental, além de respeitar e exigir a autorização ambiental para a regularidade das atividades do empreendimento, fiscalizando-o. Ausência de re-curso. Reexame necessário. 2. Loteamento aprovado em 1981 e construído em 3 fases, abonadas por Decretos municipais. Memoriais descritivos com expressa referência à presença de reserva florestal no local. Vegetação de Mata Atlântica entre os estágios inicial, avançado e médio de regeneração. Existência de relevo acidentado e de decli-ves superiores a 30%, com a presença de curso d’água. 3. A Lei Federal nº 6.766/1979, vigente à época, vedava o parcelamento do solo ‘em terrenos com declividade igual ao superior a 30%, salvo se atendidas exigências específicas das autoridades competentes’ (art. 3º, parágrafo único, III) e ‘em áreas de preservação ecológica’ (art. 3º, parágrafo único, V), cabendo aos Estados ‘o exame e a anuência prévia para a aprovação, pelos Municípios, de loteamento’ localizado em área de interesse especial (art. 13, caput e I). No âmbito estadual, vigorava a Lei nº 3.384/1980, que proibia o parcelamento do solo em terrenos com declividade igual ou superior a 30% (art. 9º, IV) e em áreas de preser-vação ecológica (art. 9º, VII), considerando de interesse especial as áreas de proteção aos mananciais (art. 2º, III) e prevendo que as florestas deveriam ser preservadas quando da implantação de projetos de loteamentos e de desmembramentos (art. 14, caput). Área de ‘preservação ecológica’ à luz da Lei nº 4.771/1965 (art. 1º, caput e parágrafo único;

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art. 2º, caput e I, c e d e art. 3º, § 1º), de modo que sua viabilidade deveria ter sido ana-lisada previamente pelo órgão ambiental federal competente. 4. Correto o entendimento do Juízo monocrático ao afirmar que o direito fundamental ao meio ambiente ecologica-mente equilibrado deve ser ponderado ‘com os princípios da boa-fé objetiva, da seguran-ça jurídica, da razoabilidade, da estabilidade das relações e da presunção de legalidade, confiabilidade e legitimidade dos atos públicos e notariais’. No mesmo sentido, a 5ª Turma Especialidade deste TRF2 consignou, em agravo de instrumento interposto em de-manda ambiental, que ‘há que se entender pela presunção de legalidade e legitimidade dos atos administrativos que concederam a licença para a construção do empreendimen-to, criando para a expectativa de conduta válida, eis que foi o próprio órgão licenciador que entendeu desnecessária a interveniência da agravada para permitir a construção e, ainda, autorizou expressamente a derrubada da vegetação, obrigando o cumprimento de um Termo de Compromisso Ambiental como forma de compensação. Some-se a isso que nada há nos autos que indique má-fé ou desídia [...]’ (TRF 2ª R., 5ª T.Esp., Ag 00036019420154020000, Rel. Des. Fed. Marcos Abraham, e-DJF2R 03.08.2015). 5. Remessa necessária não provida.” (TRF 2ª R. – REO 0004086-05.2010.4.02.5001 – 5ª T.Esp. – Rel. Ricardo Perlingeiro – DJe 16.02.2017)

2288 – Área de proteção ambiental – ampliação – desapropriação indireta – Súmula nº 182/STJ – cabimento

“Recurso fundado no CPC/2015. Administrativo. Processo civil. Desapropriação indire-ta. Ampliação da área de proteção ambiental. Súmula nº 280/STF. Ausência de impug-nação do fundamento adotado na decisão agravada. Súmula nº 182/STJ. Honorários su-cumbenciais. Revisão. Impossibilidade. Incidência da Súmula nº 7/STJ. 1. Verifica-se não ter ocorrido ofensa ao art. 535 do CPC, na medida em que o Tribunal de origem dirimiu, fundamentadamente, as questões que lhe foram submetidas, apreciando integralmente a controvérsia posta nos presentes autos. 2. No tocante à questão de fundo, não houve im-pugnação específica aos fundamentos adotados na decisão agravada para não conhecer da irresignação, obstando o conhecimento do agravo interno nesse ponto, conforme o disposto no art. 1.021, § 1º, do CPC/2015 e o texto da Súmula nº 182/STJ. 3. Nos termos da jurisprudência desta Corte, em regra, não se mostra possível em recurso especial a re-visão do valor fixado a título de honorários advocatícios, pois tal providência exige novo exame do contexto fático-probatório constante dos autos, o que é vedado pela Súmula nº 7/STJ. 4. Todavia, o óbice da referida Súmula pode ser afastado em situações excep-cionais, quando verificado excesso ou insignificância da importância arbitrada, ficando evidenciada ofensa aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, hipóteses não configuradas no caso dos presentes autos. 3. Agravo interno parcialmente conhecido e, nessa parte, improvido.” (STJ – AgInt-Ag-REsp 919.071 – (2016/0135515-9) – 1ª T. – Rel. Min. Sérgio Kukina – DJe 24.02.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESESúmula do Superior Tribunal de Justiça:

“182 – É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especificamente os fundamentos da decisão agravada.”

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2289 – Ave silvestre – animal de estimação – idade avançada – readaptação ao meio natural – impossibilidade

“Direito administrativo. Ambiental. Ave silvestre. Animal de estimação. Idade avança-da. Impossibilidade de readaptação ao meio natural. Ausência de má-fé do posseiro. Devolução do animal à posse do criador. Bem jurídico. Dano irrisório. Princípio da não ofensividade. Propriedade da união preservada. Animal que deve permanecer sob a posse do criador. Improvimento embargos. I – Os presentes autos retornam do eg. STJ, para que sejam reapreciados os embargos de declaração opostos pelo Ibama, porquanto se reputou omisso no tocante ao que foi suscitado acerca da aplicação dos art. 25 e 29, § 1º, inciso III, da Lei nº 9.605/1998, 1º da Lei nº 5.137/1967 e 1.228 do Código Civil. II – O acórdão manteve a sentença, que concedeu o direito à parte autora a retomar a posse de papagaio chamado ‘Leão’, ficando o dono sujeito às exigências para a preser-vação da vida do animal em ambiente doméstico. III – O art. 25 reza que ‘verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos’, e o art. 29, § 1º, inciso III, da Lei nº 9.605/1998, estatui que ‘Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida. Pena – Detenção de seis meses a um ano, e multa. § 1º Incorre nas mes-mas penas: I...II...III – Quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente.’ IV – O art. 25 é norma de natureza administrativa, que foi efe-tivamente cumprida, não havendo nada mais a mencionar, dada a materialidade e com-provação da autuação. V – O art. 29, por outro lado, trata de matéria de natureza penal. Neste tocante, entende-se que a sua menção se faz desnecessária, haja vista que o que aqui se trata, em sede de mandado de segurança, é o destino de papagaio ‘Leão’ e não a conduta do seu posseiro/criador. VI – Entretanto, para que não se invoque novamente nulidade no futuro, ressalta-se que há no direito, inclusive no direito penal, a figura do bem jurídico, aquilo que o legislador teve a intenção de proteger após sofrer as naturais influências sociológicas, históricas, ideológicas, religiosas, entre tantas que compõe a natureza complexa da sociedade. VII – Ao se deparar com o fato erigido pelo legislador ao mais alto grau de valor e, por isto, colocado sob a proteção do sistema punitivo do estado, o julgador não pode deixar de aquilatar a extensão da ofensa ao bem jurídico. VIII – A extensão do dano mostra-se irrisória ou inexistente, sobretudo considerando que se trata de uma ave adquirida em momento anterior à própria edição da lei aplicada, lembrando que a idade da ave foi estimada em 25 anos. IX – Voltando-se ao bem jurídico ecológico, há 25 anos esta ave não participa do ecossistema, provavelmente nunca te-nha dele participado, e não poderá servir a ninguém a sua apreensão, sem falar nos trau-mas que advirão de sua abrupta e retardada apreensão, sobretudo ao animal, que não mais tem condições de ser readaptado ao meio natural. X – Enfim, no que concerne ao art. 1.228 do Código Civil, não houve qualquer afirmação no sentido de não reconhecer

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que a propriedade do animal é da União, mas entendeu-se, pelos motivos acima expos-tos, que a ave deveria permanecer sob a posse do criador. XI – Embargos de declaração improvidos. [11].” (TRF 5ª R. – Ap-Reex 0001421-29.2010.4.05.8300/01 – (12972/PE) – 2ª T. – Rel. Des. Fed. Conv. Ivan Lira de Carvalho – DJe 10.02.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:

Pena – detenção de seis meses a um ano, e multa.

§ 1º Incorre nas mesmas penas:

[...]

III – quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente.”

2290 – Crime ambiental – causar poluição – deixar de cumprir obrigação relevante – configuração

“Recurso especial. Direito penal. Legislação extravagante. Lei nº 9.605/1998. Crime am-biental. Causar poluição. Deixar de cumprir obrigação relevante. Delitos omissivos. Ga-rante. Art. 13, § 2º, do CP. Requisitos objetivo e subjetivo. Preenchimento. Art. 225, § 1º, da Constituição da República. 1. O patrimônio público, entendido sob a ótica de patri-mônio natural, pertence a toda coletividade, sendo dever de todos, sobretudo do gestor público, o zelo por sua preservação e, portanto, a sua inobservância, de forma comissiva ou omissiva, implica conduta lesiva ao meio ambiente nos termos da Lei nº 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais). 2. A legislação que protege o ambiente, em todos os seus aspectos, tem que ser interpretada no sentido de poder propiciar uma tutela efetiva, cé-lere e adequada, sob pena de ser frustrado o combate das condutas ilícitas que afetam o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, § 1º, da Constituição da República). 3. O agente público, além de omitir-se em seu dever legal de zelar pela preservação ambiental, é capaz de condutas poluidoras, degradantes ou de qualquer forma danosas ao meio ambiente, consistente em ações ou omissões capazes de ofender os princípios constitucionais e administrativos que regem a gestão pública. 4. Para que um agente seja sujeito ativo de delito omissivo, além dos elementos objetivos do próprio tipo penal, necessário se faz o preenchimento dos elementos contidos no art. 13 do Código Penal: a situação típica ou de perigo para o bem jurídico, o poder de agir e a posição de garantidor. 5. A respeito do delito ambiental descrito no art. 68 da Lei nº 9.605/1998, faz-se necessário mencionar que se trata de crime omissivo impróprio, no qual o apontado agente, contrariando o dever legal ou contratual de fazê-lo, deixa de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental para evitar resultado danoso ao meio ambiente. 6. Não há como administrador público, in casu, eximir-se da posição

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de garante, razão pela qual deve ser mantida sua condenação pela prática do crime do art. 54 da Lei nº 9.605/1998. 7. Recurso especial improvido.” (STJ – REsp 1.618.975 – (2016/0208604-2) – 6ª T. – Rel. Min. Sebastião Reis Júnior – DJe 13.03.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESECódigo Penal:

“Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

[...]

§ 2º A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.”

2291 – Crime ambiental – destruir ou danificar vegetação primária ou secundária – prescrição retroativa – ocorrência

“Apelação criminal. Crime ambiental. Destruir ou danificar vegetação primária ou secun-dária. Preliminar de ofício. Prescrição retroativa. Extinção da punibilidade do recorrente. Mérito recursal prejudicado. Restando o réu condenado a 01 (um) ano de detenção e tendo sido o crime praticado antes da alteração determinada pela Lei nº 12.234/2010, a prescrição se dá em 04 (quatro) anos, impondo-se a decretação da extinção da puni-bilidade por este motivo quando se constata que tal prazo transcorreu entre a data dos fatos e a do recebimento da denúncia. Extinção da punibilidade decretada em prelimi-nar de ofício. Mérito do recurso prejudicado.” (TJMG – ACr 1.0713.12.004468-8/001 – 4ª C.Crim. – Rel. Corrêa Camargo – DJe 08.02.2017)

2292 – Crime ambiental – extração de areia – ausência de licença prévia – princípio da insignificância – inaplicabilidade

“Penal e processual penal. Apelação criminal. Extração de areia sem licença prévia. Cri-me ambiental. Crime contra o patrimônio da União. Crime de perigo abstrato. Inaplica-bilidade do princípio da insignificância. Conflito aparente de normas. Concurso formal de crimes. Jurisprudência. Materialidade e autoria comprovadas apenas quanto a um dos réus. Parcial provimento. 1. Os tipos penais do art. 2º da Lei nº 8.176/1991 e do art. 55 da Lei nº 9.605/1998 caracterizam crimes formais, de perigo abstrato, que se consumam independentemente da ocorrência de resultado naturalístico, já que os bens protegidos são, respectivamente, o patrimônio da União e o meio ambiente ecologicamente equi-librado. 2. A aplicação do princípio da bagatela a fim de descaracterizar a tipicidade material nos crimes ambientais é excepcional e depende da efetiva verificação da ocor-rência de ofensa ínfima aos bens protegidos no caso concreto. 3. A exploração mineral sem a devida autorização e fiscalização dos órgãos competentes, por mais de um ano, torna impossível precisar a extensão dos impactos causados ao ecossistema local, sendo incabível afirmar que não houve lesividade, sobretudo diante de crime formal de perigo

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abstrato, em que é ínsita a presunção de periculosidade social. Laudo pericial que indica incidência da atividade sobre Área de Preservação Permanente – APP, com depósitos de areia situados nas margens do Rio Acre, reforça a inaplicabilidade do princípio da insignificância. 4. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça se consolidou no sen-tido de que o art. 2º da Lei nº 8.176/1991 e o art. 55 da Lei nº 9.605/1998 tutelam bens jurídicos distintos, configurando concurso formal de crimes. 5. Materialidade e autoria comprovadas apenas com relação a um dos réus. 6. Apelação parcialmente provida.” (TRF 1ª R. – ACr 0008884-83.2014.4.01.3000 – Rel. Des. Ney Bello – J. 22.02.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a compe-tente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida:

Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.”

Lei nº 8.176/1991:

“Art. 2º Constitui crime contra o patrimônio, na modalidade de usurpação, produzir bens ou explorar matéria-prima pertencentes à União, sem autorização legal ou em desacordo com as obrigações impostas pelo título autorizativo.

Pena – detenção, de um a cinco anos e multa.

§ 1º Incorre na mesma pena aquele que, sem autorização legal, adquirir, transportar, industrializar, tiver consigo, consumir ou comercializar produtos ou matéria-prima, obtidos na forma prevista no caput deste artigo

§ 2º No crime definido neste artigo, a pena de multa será fixada entre dez e trezentos e sessenta dias-multa, conforme seja necessário e suficiente para a reprovação e a prevenção do crime.

§ 3º O dia-multa será fixado pelo juiz em valor não inferior a quatorze nem superior a duzentos Bônus do Tesouro Nacional – BTN.”

2293 – Crime ambiental – extração de minério – ausência de licença – materialidade e autoria – comprovação

“Penal e processual penal. Apelação criminal. Extração de minério sem licença prévia. Crime ambiental. Crime contra o patrimônio da união. Erro de tipo. Não incidência. Materialidade e autoria comprovadas. Dosimetria. Concurso formal de crimes. Redução da pena. Parcial provimento. 1. Os tipos penais do art. 2º da Lei nº 8.176/1991 e do art. 55 da Lei nº 9.605/1998 caracterizam crimes formais, de perigo abstrato, que se consumam independentemente da ocorrência de resultado naturalístico, já que os bens protegidos são, respectivamente, o patrimônio da União e o meio ambiente ecologica-mente equilibrado. 2. O conjunto probatório dos autos demonstra que o réu, livremente e com consciência da ilicitude, extraiu basalto de terreno de sua propriedade, em caráter comercial, sem a autorização prévia dos órgãos competentes. Não se vislumbra hipó-tese de erro de tipo ou de proibição. 3. Penas-base fixadas nos patamares mínimos, em consonância com os critérios do art. 59 do CP. A incidência da atenuante da confissão espontânea não acarreta a alteração das penas fixadas, uma vez que ‘a incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal’

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(Súmula nº 231 do STJ). Em face do concurso formal de crimes, a pena definitiva deve ser reduzida, aplicando-se a mais grave das penas cabíveis, majorada em 1/6 (art. 70, do CP). 4. Apelação parcialmente provida para reduzir a pena aplicada.” (TRF 1ª R. – Proc. 00014383620144014000 – Rel. Des. Ney Bello – J. 22.02.2017)

Comentário Editorial SÍNTESEO acórdão em comento trata de apelação interposta contra r. sentença, que conde-nou o Réu pela prática dos crimes previstos no art. 55 da Lei nº 9.605/1998 e no art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.176/1991.

Consta dos autos que a fiscalização realizada constatou que o réu estava extraindo o mineral basalto com finalidade comercial, em um sítio, sem a licença dos órgãos competentes.

Em suas razões de apelação, aduziu pela sua absolvição, por ausência de dolo ou subsidiariamente, pelo reconhecimento de erro de tipo.

Dessa forma, entendeu o nobre Relator:

“[...]

Preceituam os referidos dispositivos:

Lei nº 8.176/1991 – Art. 2° Constitui crime contra o patrimônio, na modalidade de usurpação, produzir bens ou explorar matéria-prima pertencentes à União, sem au-torização legal ou em desacordo com as obrigações impostas pelo título autorizativo.

Pena: detenção, de um a cinco anos e multa.

§ 1º Incorre na mesma pena aquele que, sem autorização legal, adquirir, transportar, industrializar, tiver consigo, consumir ou comercializar produtos ou matéria-prima, obtidos na forma prevista no caput deste artigo.

Lei nº 9.605/1998 – Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida:

Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Não assiste razão ao réu.

Nos termos dos arts. 20, IX, e 176, da Constituição, os recursos minerais, inclusive os do subsolo, são bens de titularidade da União, ficando assegurada aos concessio-nários a propriedade do produto da lavra.

A exploração mineral por particulares, portanto, requer a prévia autorização do ór-gão competente, no caso, o Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM, autarquia federal vinculada ao Ministério de Minas e Energia, responsável por aferir o preenchimento de requisitos legais e outorgar aos interessados o documento de au-torização. Além disso, a atividade mineradora se submete às exigências e limitações previstas na legislação ambiental.

Desse modo, a extração de basalto sem prévia autorização implica, a um só turno, violação de normas penais distintas, que tutelam bens jurídicos diversos, por confi-gurar apropriação indevida de patrimônio público pertencente à União, bem como atividade danosa ao meio ambiente.

Os tipos penais assinalados caracterizam crimes formais, de perigo abstrato, que se consumam independentemente da ocorrência de resultado naturalístico, já que

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os bens protegidos são, respectivamente, o patrimônio da União e o meio ambiente ecologicamente equilibrado.

A materialidade é incontroversa, comprovada nos autos por meio do Auto de Para-lisação nº 18/2011 (fl. 7), do Termo de Declarações (fl.14) e do Laudo de Perícia Criminal nº 112/2012 (fls. 34/45). A autoria, por sua vez, foi confirmada esponta-neamente pelo próprio réu quando ouvido em fase policial (fl. 14), bem como pelos depoimentos testemunhais prestados em juízo.

[...]

Nos termos do art. 70 do CP, quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, sendo as penas cabíveis diferentes, aplica-se-lhe a mais grave, aumentada de um sexto até a metade.

Para o crime do art. 55 da Lei nº 9.605/1998 foi fixada a pena-base de 6 (seis) me-ses de detenção e pagamento de 30 (trinta) dias-multa. Já para o crime do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.176/1991, a pena-base foi de 1 (um) ano de detenção e paga-mento de 30 (trinta) dias-multa. Assim, aplicando-se a majoração de 1/6, torno definitiva a pena privativa de liberdade em 1 (um) ano e 2 (dois) meses de detenção.

Por força do art. 72 do CP, as penas de multa devem ser aplicadas integralmente, totalizando o pagamento de 60 (sessenta) dias-multa, mantendo-se íntegra nesse ponto a sentença.

Presentes as condições objetivas e subjetivas (art. 44 do Código Penal), entendo que deve ser mantida a substituição da pena privativa de liberdade pelas restritivas de direito, observando-se, apenas, a redução do tempo de cumprimento nos termos acima.

Ante o exposto, dou parcial provimento à apelação, para reduzir a pena aplicada, aplicando-se o concurso formal.

É o voto.”

Assim, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região deu parcial provimento à apelação.

2294 – Crime ambiental – extração de ouro – ausência de autorização – configuração“Penal e processual penal. Preliminares de deficiência de defesa técnica, identidade físi-ca do juiz e violação ao art. 155, do CPP rejeitadas. Extração de ouro sem prévia autori-zação dos órgãos competentes. Crime ambiental (art. 55 da Lei nº 9.605/1998) e crime de usurpação de patrimônio público (art. 2º da Lei nº 8.176/1991). Concurso formal de crimes. Art. 70 do Código Penal. Possibilidade. Autoria e materialidade comprovadas quanto ao delito previsto no art. 2º da Lei nº 8.176/1991. Presença do elemento subjeti-vo do tipo (dolo). Fixação da pena no mínimo legal com relação a dois dos apelantes. Pena fixada acima do mínimo legal com relação ao réu ex-secretário do meio ambiente. Redução das penas privativas de liberdade e de multa. 1. Apelações dos Réus em face da sentença que os condenou, cada um, às penas de 03 (três) anos e 09 (nove) meses de detenção e 150 (cento e cinquenta) dias-multa, cada um deles no valor de 1/30 (um tri-gésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos (ex-Secretário do Meio Ambiente do Município de Serrita/PE) e 01 (um) ano e 03 (três) anos de detenção e 90 (noventa) dias--multa, cada um deles no valor de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à épo-ca dos fatos (outros dois Apelantes), substituindo a pena privativa de liberdade por duas penas restritivas de direitos, consistentes na prestação de serviços à comunidade e no

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pagamento mensal de R$ 100,00 (cem reais) durante todo o período de cumprimento da pena. 2. Apelantes que, no dia 10.10.2013, estariam realizando pesquisa/lavra/extração ilegal de minério, mais precisamente ouro, bem pertencente à União, nas imediações da Lagos do Sata, sem a devida autorização, permissão, concessão ou licença administrativa, mediante o auxílio do então Secretário do Meio Ambiente do Município de Serrita/PE, proprietário da olaria na qual provavelmente se procedia a moagem das pedras. 3. Preli-minares de deficiência de defesa técnica, violação ao princípio da identidade física do Juiz e uso de provas exclusivamente em sede extrajudicial rejeitadas. 4. Apelantes que sempre estiveram acompanhados de advogado, ora constituído, ora dativo, para os atos processuais, tendo eles apresentado a defesa após a citação, estando presentes e atuantes na audiência de instrução e julgamento, onde requereram diligências que foram indefe-ridas pelo Juiz, nos termos do previsto no art. 402, do CPP e, por fim, pugnaram pela concessão de prazo para a apresentação dos memoriais escritos em sede de alegações finais, o que foi deferido pelo Juiz. 5. Embora o Magistrado tenha indeferido o pedido dos advogados dos Réus para a apresentação de memoriais escritos como alegações finais, ele posteriormente admitiu o pedido, intimando os causídicos a fazê-lo, os quais deixa-ram fluir em branco o prazo legal. Passado o prazo para alegações finais sem o ofereci-mento da peça, foi nomeado um defensor dativo e reaberto o prazo para apresentação da peça, tendo o advogado apresentado alegações finais em nome dos Apelantes. 6. Por fim, a Apelação do Réu F. da S. M. ainda que tecnicamente intempestiva foi recebida, tendo o próprio Ministério Público Federal emitido parecer favorável ao recebimento, a fim de preservar o contraditório e a ampla defesa, a fim de garantir a defesa técnica do Recorrente, nos termos da Súmula nº 523, do Col. STF. 7. O princípio da identidade físi-ca do Juiz, segundo o qual o Magistrado que colhe a prova se vincula ao julgamento da causa, não é absoluto, tanto que, por analogia, deve ser aplicado para a mitigação do mesmo o disposto no art. 132, do CPC de 1973, vigente à época dos fatos, segundo o qual o juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor. 8. A instrução foi realizada pelo Juiz Federal Marco Fratezzi Gonçalves, que se encontrava licenciado à época da prolação da senten-ça, de forma que esta foi proferida pelo Juiz Federal Luiz Bispo de Silva Neto, não haven-do irregularidade no julgamento por um Juiz quando o outro que presidiu a instrução está licenciado, a fim de garantir a continuidade da prestação jurisdicional, não havendo violação ao princípio da identidade física do Juiz ou prejuízo à ampla defesa. 9. A deci-são condenatória foi proferida com base nas vastas provas produzidas nos autos, como o Laudo da Perícia Criminal Federal, relativo ao exame do local do dano, os documentos do DNMP que atestam a inexistência de licença para exploração da chamada Lagoa do Sata, os equipamentos de mineração apreendidos, e o depoimento e o interrogatório judicial dos Réus, todas devidamente submetidas ao contraditório durante todo o proces-so criminal. 10. As provas obtidas em âmbito administrativo, tanto os laudos periciais quanto os exames do local do dano, os documentos do DNMP que atestam a inexistên-cia de licença para exploração da chamada Lagoa do Sata e, em especial, os depoimen-tos, foram devidamente judicializadas, ou seja, tanto a acusação como a defesa tiveram livre acesso a elas no curso do processo, e puderam infirmá-las ou contestá-las, havendo

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o contraditório, devendo ser ressaltado que novas provas foram produzidas na fase judi-cial, e todas foram consideradas para a prolação da sentença, não havendo violação ao devido processo legal. 11. Autoria e materialidade delitivas comprovadas. A materialida-de delitiva imputada aos Apelantes restou sobejamente demonstrada por meio do Laudo de Perícia Criminal Federal, bem como dos documentos integrantes do DNPM, nos quais se constatou a extração de pedras e vegetação nativa sem a competente licença ambien-tal, além da exploração irregular da referida matéria-prima pertencente à União, tendo sido apreendidas com os Apelantes 02 (duas) picaretas; 01 (uma) pá; 01 (uma) foice; e 01 (uma) marreta, usadas para a garimpagem ilegal. 12. Ex-Secretário do Meio Ambiente do Município de Serrita/PE à época dos fatos, sendo razoável esperar dele comportamento diverso daquele constatado nos autos, pois ele era a autoridade pública responsável por promover a preservação do meio ambiente e a atuação dos garimpeiros de sua munici-palidade segundo ditames legais, contribuindo para a garimpagem ilegal e usurpação de bem da União, tendo extraído recursos minerais sem a competente autorização, permis-são, concessão ou licença, mesmo sem autorização legal para tanto. 13. Apelantes, ga-rimpeiros ligados a uma cooperativa, contratados para receber R$ 40,00 (quarenta reais) por dia de trabalho que, embora sabendo que o garimpo era ilegal, continuaram a ativi-dade, mesmo após serem esclarecidos pela cooperativa que, no prazo de 90 (noventa) dias após a data dos fatos seria expedida a competente autorização de exploração de algumas áreas para fim de busca de ouro. 14. Impossibilidade de aplicação do Princípio da Insignificância em crimes ambientais, especialmente quando a fiscalização do DNPM encontrou mais de 400 metros de picada, com destruição da mata nativa, e a escavação de algumas pedras na localidade da Lagoa do Sata. 15. A sentença considerou como desfavoráveis a culpabilidade em face do extenso dano ambiental e da condição de Se-cretário de Meio Ambiente de Serrita/PE de um dos Apelantes, os motivos (o lucro fácil) e as circunstâncias do delito, praticado no sertão nordestino, área de difícil fiscalização. 16. Com relação à culpabilidade dos garimpeiros, o dano ambiental, embora existente, não foi tão extenso como alegado na sentença, visto que, atingiu 17,26 m2 de um total de 2.176 m2 de área já desmatada, que resultaria no valor de R$ 448,76 (quatrocentos e quarenta e oito reais e setenta e seis centavos) para a recomposição do dano. Por outro lado, é elevada a culpabilidade do ex-Secretário do Meio Ambiente do Município de Serrita/PE, que agiu de forma contrária ao esperado do ocupante do referido cargo, pre-judicando o meio ambiente que ele deveria proteger. 17. Os motivos não podem ser sopesados em desfavor dos Apelantes, porque quem pratica este tipo de crime geralmen-te objetiva lucro fácil e não o dano ao meio ambiente em si, sendo este consequência do ato ganancioso. O fato de o crime ser praticado em área de difícil fiscalização também não deve ser sopesado em desfavor dos Apelantes, visto que eles não foram deliberada-mente ao local do garimpo para se ocultar, livrando-se da fiscalização, mas sim por ser o local em que eles residem e, por isso, sabiam onde garimpar. 18. Favoráveis todos os requisitos do art. 59 do CP com relação aos dois garimpeiros, as penas-base devem ser fixadas no mínimo legal, ou seja, em 01 (um) ano de detenção para o delito capitulado no art. 2º da Lei nº 8.176/1991 e 06 (seis) meses de detenção para o crime do art. 55 da Lei nº 9.605/1998. Sendo desfavorável a culpabilidade do ex-Secretário do Meio Am-biente, fixa-se a pena-base em 01 (um) ano e 03 (três) meses de detenção para o delito

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capitulado no art. 2º da Lei nº 8.176/1991 e 09 meses de detenção para o crime do art. 55 da Lei nº 9.605/1998. 19. Ausente qualquer circunstância agravante e, como as penas foram fixadas no mínimo legal dos garimpeiros, impossível a aplicação da atenu-ante de confissão espontânea, em face da Súmula nº 231, do STJ. O ex-Secretário, em-bora tenha confessado espontaneamente os delitos, tem contra si a agravante do art. 62, II, do CP, pois induziu os dois outros Apelantes à prática delitiva, havendo uma compen-sação entre elas, de forma que deve ser mantida sua pena em 01 (um) ano e 03 (três) meses de detenção para o delito capitulado no art. 2º da Lei nº 8.176/1991 e 09 meses de detenção para o crime do art. 55 da Lei nº 9.605/1998. 20. Inexistência de causas de diminuição de pena. Presente a causa de aumento referente ao concurso formal, aplica--se a pena do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.176/1991, acrescida de 1/4 (um quarto) conforme determinado na sentença, ficando a pena em definitivo em 01 (um) ano e 03 meses de detenção para cada um dos garimpeiros e 01 ano, 06 (seis) meses e 22 (vinte e dois) dias de detenção para Antônio da Cruz Sampaio pela prática dos crimes capitulados nos arts. 2º da Lei nº 8.176/1991 e 55 da Lei nº 9.605/1998. 21. A pena de multa deve também ser reduzida, ficando em 12 (doze) dias-multa para os delitos capitulados no art. 2º da Lei nº 8.176/1991 e 10 (dez) dias-multa para o crime do art. 55 da Lei nº 9.605/1998, cada um deles no valor unitário de 1/30 do salário mínimo vigente à época dos fatos, em simetria com a pena privativa de liberdade aplicada e também porque de acordo com a situação econômica dos Réus. 22. Manutenção do regime aberto como inicial para cum-primento da pena, nos termos do art. 33, § 2º, c, do CP, bem como da substituição da pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos consistentes na prestação de serviços à comunidade e no pagamento mensal – que fica reduzido para R$ 50,00 (cin-quenta reais) – durante todo o período de cumprimento da pena. Apelações dos Réus providas, em parte, apenas para reduzir as penas privativas de liberdade e de multa e a pena pecuniária substitutiva. (TRF 5ª R. – ACr 0001007-14.2013.4.05.8304 – (13548/PE) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Cid Marconi – DJe 08.03.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 8.176/1991:

“Art. 2º Constitui crime contra o patrimônio, na modalidade de usurpação, produzir bens ou explorar matéria-prima pertencentes à União, sem autorização legal ou em desacordo com as obrigações impostas pelo título autorizativo.

Pena – detenção, de um a cinco anos e multa.

§ 1º Incorre na mesma pena aquele que, sem autorização legal, adquirir, transportar, industrializar, tiver consigo, consumir ou comercializar produtos ou matéria-prima, obtidos na forma prevista no caput deste artigo

§ 2º No crime definido neste artigo, a pena de multa será fixada entre dez e trezentos e sessenta dias-multa, conforme seja necessário e suficiente para a reprovação e a prevenção do crime.

§ 3º O dia-multa será fixado pelo juiz em valor não inferior a quatorze nem superior a duzentos Bônus do Tesouro Nacional – BTN.”

Lei nº 9.605/1998:

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“Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a compe-tente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida:

Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.”

2295 – Crime ambiental – pesca durante período de defeso – utilização de petrechos proibidos – elevada quantidade de peixes – comprovação

“Penal. Processual penal. Crime ambiental. Art. 34 da Lei nº 9.605/1998. Elevada quan-tidade de peixes. Utilização de petrechos proibidos. Pesca durante o período de defeso. Materialidade, autoria e dolo comprovados. Estado de necessidade não caracterizado. Dosimetria da pena. Resignação da defesa. Recurso não provido. 1. A materialidade, a autoria e o dolo não foram objetos de recurso e restaram evidentes nos autos pelos Auto de Infração Ambiental, Laudo de Constatação de Pesca, Termo de Destinação de Animais, Materiais e/ou Produtos Apreendidos e Laudo Pericial, bem como pelas decla-rações testemunhais e oitiva do apelante, tanto na fase policial quanto na fase judicial. 2. O estado de necessidade não está caracterizado se não esteve presente, em nenhum momento, o perigo atual e iminente para o réu, condição essencial ao reconhecimento da excludente de ilicitude, nos termos do art. 24 do Código Penal. A mera alegação de dificuldade financeira não justifica a prática delitiva. 3. Dosimetria da pena. Resigna-ção da defesa. Pena mantida, nos termos em que lançada, posto que observada a juris-prudência atual e os preceitos legais atinentes à matéria, não havendo necessidade de reformá-la. 4. Recurso não provido.” (TRF 3ª R. – ACr 0000247-65.2014.4.03.6112/SP – 5ª T. – Rel. Des. Fed. Paulo Fontes – DJe 16.02.2017)

Destaque Editorial SÍNTESEDo voto do Relator destacamos:

“[...]

Como ensina Júlio Fabrini Mirabete em seu Manual de Direito Penal:

‘[...] Enfim, para o reconhecimento da excludente de estado de necessidade, que legitimaria a conduta do agente, é necessária a ocorrência de um perigo atual, e não um perigo eventual e abstrato.

É requisito, também, que o perigo seja inevitável, numa situação em que o agente não podia, de outro modo, evitá-lo. Isso significa que a ação lesiva deve ser impres-cindível, como único meio para afastar o perigo. Caso, nas circunstâncias do perigo, possa o agente utilizar-se de outro modo para evitá-lo (fuga, recurso às autoridades públicas, etc.), não haverá estado de necessidade na conduta típica que lesou o bem jurídico desnecessariamente. Não se pode confundir estado de necessidade com estado de precisão, sendo insuficiente, por exemplo, a alegação de dificuldades de ordem econômica para justificar o furto, o roubo, o estelionato, etc. Já se tem de-cidido que dificuldades financeiras, desemprego, situação de penúria e doença não caracterizam estado de necessidade. Para que a excludente seja acolhida, mister se torna que o agente não tenha outro meio a seu alcance, senão lesando o interesse de outrem.’

(in MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal. 19. ed. Editora Atlas, v. I, fl. 178)”

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2296 – Crime ambiental – pesca irregular – instrumentos proibidos – dosimetria de pena – morte de um dos mergulhadores – provas concretas que apontem a atividade criminosa – necessidade

“Penal e processual penal. Crime ambiental. Pesca irregular, mediante utilização de ins-trumentos proibidos pelo Ibama. Dosimetria de pena. Morte de um dos mergulhadores. Impossibilidade de valorar negativamente a circunstância judicial de consequências do delito por não ser o fato decorrência do crime em si, mas erro na execução. Não in-cidência da agravante do art. 62, I, do CP Pelo mero fato do acusado ser proprietário da embarcação. Necessidade de provas concretas que apontem que dirigia a atividade criminosa. 1. Apelação Criminal desafiada pelo Ministério Público Federal em face da sentença que condenou o Réu pela prática da conduta tipificada no art. 34, parágrafo único, inciso II, da Lei nº 9.605/1998 à pena de 01 (um) ano de detenção com regime inicial aberto e 05 (cinco) dias-multa, cada dia-multa no valor de 1/9 (um nono) do salário mínimo vigente à época dos fatos, em virtude da utilização de instrumentos não permitidos em pesca. 2. Não há como valorar negativamente a circunstância judicial de consequências do crime, ante a morte de um dos mergulhadores, uma vez que esta situação não é decorrência do delito em si, mas mero erro na execução do fato. 3. Ainda que seja o acusado o proprietário/mestre da embarcação utilizada para a pesca irregular, revela-se impertinente agravar a sua pena pela agravante do art. 62, I, do CP (dirigente da atividade criminosa), pois não existem provas de que tinha o controle da infração penal. Entender diferente acarretaria uma verdadeira responsabilidade penal objetiva, vedada pelo ordenamento jurídico pátrio. Apelação do MPF improvida.” (TRF 5ª R. – ACr 0000035-61.2015.4.05.8405 – (13991/RN) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Cid Marconi – DJe 08.03.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente:

Pena – detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativa-mente.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem:

[...]

II – pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de apare-lhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos.”

Código Penal:

“Art. 62. A pena será ainda agravada em relação ao agente que:

I – promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes.”

2297 – Crime ambiental – venda de madeira – transporte em condições irregulares – desconsideração da versão do corréu – não cabimento

“Crime ambiental. Madeira. Venda. Transporte em condições irregulares. Falsificação de documento público. Delação de corréu. Desconsideração. Inviabilidade. Conjunto pro-

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batório harmônico. Validade. Havendo harmonia entre a versão apresentada na delação e o conjunto probatório produzido nos autos, não há que se falar em desconsideração da versão do corréu.” (TJRO – Ap 0005648-32.2011.8.22.0601 – Rel. Des. José Jorge Ribeiro da Luz – DJe 20.02.2017)

2298 – Dano ambiental – desmatamento – vegetação nativa – parcelamento irregular do solo rural – configuração

“Agravo de instrumento. Ação civil pública. Suposta dano ambiental. Desmatamento de vegetação nativa. Área de preservação permanente. Parcelamento irregular do solo rural. Decisão agravada que determinou a indisponibilidade dos bens via Bacen-Jud, Renajud e Infojud. Excesso da medida verificada. Vistorias realizadas pelos órgãos competentes que informam que o suposto dano ambiental seria de baixo impacto. Efetivo prejuízo a ser comprovado após larga instrução probatória. Exclusão de determinadas medidas. Decisão ultra petita. Não configurada. Decisão em consonâncias com os pedidos inser-tos na inicial da ação de origem. Cominação de multa. Exigibilidade após o trânsito em julgado da decisão favorável ao autor. Recurso provido em parte. 1. Há fortes elemen-tos de que o agravante foi o responsável pelo corte e supressão de vegetação nativa, em uma área rural denominada ‘Fazenda Tracomal’, em Santa Teresa/ES, sem o devido licenciamento ambiental, segundo se infere do Boletim de Ocorrência (fls. 218/221-v), bem como do Laudo de Fiscalização emitido pelo Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo – Idaf, acostado às fls. 228-v/229-v. 2. Todavia, malgrado se verifica a ocorrência de cortes e supressão de vegetação nativa, bem como intervenções realizadas através da movimentação de solo na área de propriedade do ora Agravante, sem o devido licenciamento ambiental, vislumbra-se, a princípio, de acordo com as vistorias já realizadas na localidade pelos órgãos competentes, que os supostos danos ambientais ocorridos foram de baixo impacto. 3. Considerando que o efetivo prejuízo ao meio ambiente deverá ser objeto de ampla instrução probatória na demanda de origem e verificado o excesso na indisponibilidade dos bens determinada pela decisão agravada, é de rigor a redução das medidas. 4. No que tange à quebra de sigilo fiscal, a medida é extrema e excepcional, devendo ser comprovada a sua necessidade para o deferimento da diligência. Na espécie, não restou demonstrado a urgência para o deferimento da medida, ademais, os dados lançados pelo Fisco são perenes e estarão disponíveis para investigações futuras, caso necessário. 5. Não há que se falar em decisão ultra petita, porquanto as medidas determinadas pelo provimento judicial atacado estão em conso-nância com os pedidos insertos na inicial da ação de civil pública originária. 6. A multa fixada liminarmente somente se torna exigível a partir do trânsito em julgado da decisão favorável ao autor, contudo sua incidência se dá desde o momento em que a ordem judicial é descumprida, a teor do que estabelece o § 2º do art. 12 da Lei nº 7.347/1985. 7. Recurso parcialmente provido.” (TJES – AI 0000243-51.2016.8.08.0044 – Rel. Des. Manoel Alves Rabelo – DJe 20.02.2017)

2299 – Dano ambiental – estação de tratamento de esgoto – emissão de mau cheiro – configuração

“Apelação cível. Direito civil e processual civil. Ação de indenização por danos morais. Estação de tratamento de esgoto. Emissão de mau cheiro. Julgamento antecipado da lide.

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Sentença de improcedência. Agravo retido. Embargos não conhecidos. Reconsideração tácita pelo juízo a quo. Apelação recebida no duplo efeito. Insurgência recursal. Res-ponsabilidade objetiva por violação de normas sanitárias. Dano ambiental individual reconhecido. Cerceamento de defesa configurado. Necessidade de dilação probatória. Sentença anulada de ofício recurso conhecido e parcialmente provido, com a anulação, de ofício, de todos os atos processuais praticados após o deferimento da produção de prova pericial. Recurso prejudicado.” (TJPR – AC 1583510-8 – 8ª C.Cív. – Rel. Juiz Subst. Alexandre Barbosa Fabiani – DJe 22.02.2017)

2300 – Dano ambiental – exploração ilegal de área rural – ausência de autorização – suspensão das atividades – interdição da área – possibilidade

“Agravo de instrumento. Constitucional e administrativo. Dano ambiental. Exploração ilegal de área rural. Ausência de autorização. Suspensão das atividades. Interdição da área. Possibilidade. Agravo não provido. 1. Extrai-se da jurisprudência e da legislação aplicáveis à hipótese (Constituição Federal, Código Florestal – Lei nº 12.651/2012, Lei nº 9.605/1998, Decreto nº 6.514/2008) que, constatada a degradação ambiental, sem a prévia e necessária autorização dos órgãos ambientais competentes, estão sujeitos os infratores às diversas penalidades previstas no ordenamento (multas, embargos, interdi-ções, restrições das atividades etc.). 2. Na espécie, a documentação apresenta não se apresenta suficiente para retirar a responsabilidade do recorrente pelos danos constata-dos, motivo pelo qual a manutenção da abstenção de exercício de atividade econômica na área objeto dos autos – como forma de obstar a continuidade de processos produtivos em desacordo com a legislação – é medida que se impõe. 3. Agravo de instrumento a que se nega provimento.” (TRF 1ª R. – Proc. 00672156620164010000 – Rel. Des. Kassio Nunes Marques – J. 13.02.2017)

2301 – Dano ambiental – fornecimento de água – ausência de prova inequívoca e de fundado receio de dano irreparável – configuração

“Agravo de instrumento. Ação indenizatória. Dano ambiental. Tutela antecipada. For-necimento de água. Ausência de prova inequívoca e de fundado receio de dano irre-parável. Inteligência do art. 300 do CPC/2015. Reforma. Necessidade. O provimento que antecipa os efeitos da tutela é cabível somente em situações excepcionais, quando, demonstradas de plano a verossimilhança das alegações, aliada ao fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação.” (TJMG – AI-Cv 1.0105.16.033392-5/001 – 12ª C.Cív. – Rel. Domingos Coelho – DJe 13.02.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESECódigo de Processo Civil:

“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evi-denciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.”

2302 – Dano ambiental – loteamento irregular – imprescritibilidade“Ação civil pública. Loteamento irregular. Danos ambientais. Imprescritibilidade. 1. Con - forme consignado na análise monocrática, a jurisprudência desta Corte é firme no

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sentido de que as infrações ao meio ambiente são de caráter continuado, motivo pelo qual as ações de pretensão de cessação dos danos ambientais são imprescritíveis. 2. Agravo Interno não provido.” (STJ – AgInt-Ag-REsp 928.184 – (2016/0142210-0) – 2ª T. – Rel. Min. Herman Benjamin – DJe 01.02.2017)

2303 – Dano ambiental – queimada – recuperação da área – indenização pecuniária – desnecessidade

“Processual civil, ambiental e administrativo. Agravo interno no recurso especial. Ação civil pública. Dano ambiental. Queimada. Imposição de recuperação da área. Apelo do MP. Indenização pecuniária. Desnecessidade. Matérias não apreciadas pela origem. Incidência da Súmula nº 211/STJ. Documentos nos autos. Princípio do livre convenci-mento motivado do magistrado. Necessidade de revolvimento fático-probatório. Súmula nº 7/STJ. Ausência de argumentação apta a infirmar as conclusões da decisão agravada. Agravo interno a que se nega provimento. 1. O Tribunal de origem apreciou fundamen-tadamente a controvérsia, não padecendo o acórdão recorrido de qualquer omissão, contradição ou obscuridade. 2. A mera alegação não é suficiente, a fim de que se tenha a matéria como prequestionada, instituto que, para sua caracterização, mister se faz, além da alegação, a discussão e a apreciação judicial da matéria, Súmula nº 211/STJ. 3. O acolhimento das alegações deduzidas no Apelo Nobre demandaria a incursão no acervo fático-probatório da causa, o que encontra óbice na Súmula nº 7/STJ, segundo a qual a pretensão de simples reexame de prova não enseja Recurso Especial. 4. A jurisprudência desta Corte pacificou o entendimento de que o Tribunal de origem é soberano na aná-lise das provas. Trata-se do princípio do livre convencimento motivado do Magistrado. 5. Agravo Interno do MPMG a que se nega provimento.” (STJ – AgInt-REsp 1.254.928 – (2011/0090432-5) – 1ª T. – Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho – DJe 08.03.2017)

Destaque Editorial SÍNTESEDo voto do Relator destacamos:

“[...]

Ora, a alteração de tais conclusões tiradas à vista das provas presentes nos autos, implicaria o revolvimento do conteúdo fático-probatório da demanda, situação esta que esbarra na Súmula nº 7/STJ.

No mesmo sentido, seguem os precedentes a seguir colacionados:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL – TRIBUTO – NOTIFICAÇÃO DE LANÇAMENTO – PUBLICAÇÃO NO DI-ÁRIO OFICIAL – QUEBRA DE SIGILO FISCAL – FALTA DE PREQUESTIONAMENTO – SÚMULA Nº 211 DESTA CORTE – EXAME DE LEI LOCAL – IMPOSSIBILIDADE – SÚMULA Nº 280 DO STF – INCIDÊNCIA – DANOS MORAIS – NECESSIDADE DO REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA – IMPOSSIBILIDADE – SÚMULA Nº 7/STJ – DECI-SÃO AGRAVADA MANTIDA – IMPROVIMENTO

1. O Tribunal de origem não se pronunciou sobre a matéria versada nos arts. 198 do CTN, apesar da oposição de embargos de declaração. Nesse contexto, caberia à parte recorrente, nas razões do apelo especial, indicar ofensa ao art. 535 do CPC, alegando a existência de possível omissão, providência da qual não se desincumbiu. Incide, pois, o óbice da Súmula nº 211/STJ (Inadmissível recurso especial quanto à

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questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal a quo).

2. A análise da questão recorrida demanda necessária interpretação das disposições da Lei Distrital nº 4.567/2011, o que, todavia, afigura-se vedado em sede de recur-so especial por atrair a incidência da Súmula nº 280/STF.

3. A alteração das conclusões adotadas pela Corte de origem, quanto à ausência de comprovação do dano moral, exigiria novo exame do acervo fático-probatório cons-tante dos autos, providência vedada em recurso especial, a teor do óbice previsto no Enunciado nº 7 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça.

4. Agravo regimental a que se nega provimento (AgRg-AREsp 721.518/DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, DJe 19.08.2015).

***

ADMINISTRATIVO – RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO – ACIDENTE DE TRÂNSITO – AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DA CONCESSIONÁRIA – CULPA EXCLUSIVA DE TERCEIRO – REVISÃO DESSE ENTENDIMENTO – PRETENSÃO DE REEXAME DE PROVAS – SÚMULA Nº 7/STJ

1. O Tribunal de origem, com amparo nos elementos de responsabilidade por imis-são da Concessionária a ensejar o dever de reparar por dano moral decorrente de acidente ocorrido na rodovia.

2. Insuscetível de revisão, nesta via recursal, o referido entendimento, por demandar reapreciação de matéria fática. Incidência da Súmula nº 7 deste Tribunal.

Agravo regimental improvido (AgRg-EDcl-AREsp 665.559/SP, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 14.09.2015).

1. A jurisprudência desta Corte pacificou o entendimento de que o Tribunal de ori-gem é soberano na análise das provas, podendo, portanto, concluir pela necessidade ou desnecessidade da produção de provas periciais, documentais e emprestadas. Isso porque o art. 130 do Código de Processo Civil consagra o princípio do livre convencimento motivado, segundo o qual o Magistrado fica habilitado a valorar, livremente, as provas trazidas à demanda.

2. Dessa forma, não logrou o ora Agravante trazer alegações aptas a infirmar os fundamentos da decisão agravada.

3. Diante dessas considerações, nega-se provimento ao Agravo Interno do Ministério Público do Estado de Minas Gerais.

4. É o voto.”

2304 – Dano ambiental – rompimento de poliduto – prejuízo à atividade pesqueira – indenização por danos morais – cabimento

“Apelação cível (1). Ação de indenização. Rompimento do poliduto olapa. Danos am-bientais. Prejuízo à atividade pesqueira na região. Indenização por danos morais. Ca-bimento. Majoração do quantum para dezesseis mil reais. Na quantificação da inde-nização do dano moral, o juízo de ponderação entre os critérios de proporcionalidade e razoabilidade é relevante para que o montante da condenação possa tanto atender a compensação para a vítima, quanto punir e prevenir, por meio de um caráter pe-dagógico, condutas do infrator. Recurso (1) conhecido e provido. Apelação cível (2). Cerceamento de defesa. Não configuração. Conversão do julgamento em diligência.

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Audiência de instrução realizada legitimidade ativa. Qualidade de pescador e região de pesca questões satisfatoriamente demonstradas. Responsabilidade objetiva. Força maior. Excludente. Inocorrência. Risco proveito. Danos morais. Caracterização. Mero dissa-bor não configurado. Juros moratórios. Incidência a partir do evento danoso. Súmula nº 54, do STJ. Correção monetária. Data do arbitramento. Reforma parcial da sentença. 1. Quem alega e não faz prova, nada prova, portanto correta a sentença, pois não há nos autos qualquer demonstração da existência de ação idêntica em trâmite perante o juízo. Sentença mantida. 2. Ao pugnar pela chance de produzir prova a seu favor, atraiu para si a Petrobras o ônus de comprovar os fatos alegados nos autos, entretanto, nada fez no sentido de desincumbir-se daquilo que lhe competia; logo, tendo sido demonstrada a contento a legitimidade do pescador autor, e diante da inércia da empresa Apelante, nada há que se alegar no sentido de contestar a legitimação para figurar no polo ativo da demanda. 3. Produzir prova é direito da parte; Contudo, a instrução probatória serve ao processo e deve ser mensurada pelo juiz. Na hipótese, além do fato ser notório, circuns-tâncias provadas ou admitidas configuram os elementos de base da responsabilidade civil, e possibilitam o julgamento conforme o estado do processo, não importando cer-ceamento de defesa. 4. A modalidade de responsabilidade do agente poluidor é objetiva, nos termos do art. 14, § 1º da Lei nº 6.938/1981, não afastada no caso por ausência da alegada excludente da responsabilidade por força maior. 5. Nas hipóteses de responsa-bilidade extracontratual os juros moratórios incidirão da data do evento danoso (Súmula nº 54, do STJ). Recurso (2) conhecido e parcialmente provido.” (TJPR – AC 0824715-4 – 9ª C.Cív. – Relª Desª Rosana Amara Girardi Fachin – DJe 07.03.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 6.938/1981:

“Art. 14. Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental su-jeitará os transgressores:

[...]

§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obri-gado, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabili-dade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente.”

2305 – Extração de água subterrânea – poço artesiano – finalidade de consumo huma-no – água potável – possibilidade

“Processual civil e administrativo. Violação. Art. 535 do CPC/1973. Inocorrência. Ex-tração de água subterrânea. Poço artesiano. Outorga da administração pública. Tutela do interesse coletivo em detrimento do particular. Legalidade da limitação administra-tiva para utilização de poço artesiano com a finalidade de consumo humano de água potável. I – Trata-se, na origem, de ação ordinária julgada improcedente, na qual se objetivou a outorga e a autorização para a utilização de poço artesiano para o consumo humano de água subterrânea. Em apelação, acolheu-se em parte o pedido para o pros-

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seguimento do procedimento administrativo, a fim de que se verificasse o cumprimento dos demais requisitos por parte da autora, ora recorrida. II – Não há violação ao art. 535 do CPC/1973 quando o Tribunal de origem, ao apreciar a demanda, manifestou-se sobre todas as questões pertinentes à litis contestatio, fundamentando seu proceder de acordo com os fatos apresentados e com a interpretação dos regramentos legais que entendeu aplicáveis, demonstrando as razões de seu convencimento. III – Ao fixar as normas ge-rais, por se tratar de questão de política ambiental, a União tutelou o interesse coletivo em detrimento do particular, estabelecendo, inclusive, textualmente, que as edificações permanente urbanas devem estar conectadas às redes públicas de abastecimento de água e que a respectiva instalação hidráulica predial não pode ser alimentada por outras fontes. IV – Não pode ser considerada ilegal a limitação administrativa estabelecida pelo recorrente no sentido de que, nos locais dotados de rede de abastecimento de água po-tável, os poços serão tolerados exclusivamente para suprimento com fins industriais ou para uso em floricultura ou agricultura. V – Recurso especial provido para julgar impro-cedente o pedido formulado pela recorrida na petição inicial da demanda.” (STJ – REsp 1.345.403 – (2012/0197280-0) – 2ª T. – Rel. Min. Francisco Falcão – DJe 08.03.2017)

Destaque Editorial SÍNTESEDo voto do Relator destacamos:

“[...]

Pois bem. Ao estabelecer a política nacional de recursos hídricos, a Lei Federal nº 9.433/1997 fixou algumas diretrizes, dentre as quais se destacam as seguintes:

Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes funda-mentos:

I – a água é um bem de domínio público;

II – a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;

[...]

Art. 5º São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:

[...]

III – a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;

[...]

Art. 11. O regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos tem como ob-jetivos assegurar o controle quantitativo e qualitativos dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água.

Art. 12. Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de recursos hídricos:

I – derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;

II – extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo;

[...]

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Art. 18. A outorga não implica a alienação parcial das águas, que não são inaliená-veis, mas o simples direito de seu uso.

Mas não é só. Ao estabelecer as diretrizes nacionais para o saneamento básico e para a política federal de saneamento básico, a Lei Federal nº 11.445/2007 fixou a seguinte regra:

Art. 45. Ressalvadas as disposições em contrário das normas do titular, da enti-dade de regulação e de meio ambiente, toda edificação permanente urbana será conectada às redes públicas de abastecimento de água e de esgotamento sanitários disponíveis e sujeita ao pagamento das tarifas e de outros preços públicos decorrente da conexão e do uso desses serviços.

§ 1º Na ausência de rede públicas de saneamento básico, serão admitidas soluções individuais de abastecimento de água e de afastamento e destinação final dos es-gotos sanitários, observadas as normas editadas pela entidade reguladora e pelos órgãos responsáveis pelas políticas ambiental, sanitária e de recursos hídricos.

§ 2º A instalação hidráulica predial ligada à rede pública de abastecimento de água não poderá ser também alimentada por outras fontes.”

2306 – Extração vegetal – autorização ambiental – existência“Apelação cível. Reexame necessário. Processual civil. Direito ambiental. Mandado de segurança. Autuação. Extração vegetal. Autorização ambiental. Existência. Excesso. In-firmação. Concessão da ordem. Autuação anulada. É de se conceder a segurança para anular autuação ambiental de produtor de carvão que detém autorização ambiental para o desempenho da atividade em níveis aceitáveis diante dos limites do Documento Au-torizativo para Intervenção Ambiental – Daia, se a prova juntada aos autos infirma a presunção de legitimidade do ato administrativo.” (TJMG – AC-RN 1.0470.14.006490-3/001 – 1ª C.Cív. – Rel. Edgard Penna Amorim – DJe 15.02.2017)

2307 – Ibama – desmatamento – Mata Atlântica – configuração“Processual civil. Administrativo. Ambiental. Área privada. Mata Atlântica. Desmata-mento. Ibama. Poder fiscalizatório. Possibilidade. Ação civil pública. Legitimidade ati-va ad causam. Existência. 1. O Superior Tribunal de Justiça entende que não há falar em competência exclusiva de ente da federação para promover medidas protetivas, impondo-se amplo aparato de fiscalização a ser exercido pelos quatro entes federados, independentemente do local onde a ameaça ou o dano estejam ocorrendo, bem como da competência para o licenciamento. É certo ainda que a fiscalização das atividades nocivas ao meio ambiente concede ao Ibama interesse jurídico suficiente para exercer poder de polícia administrativa, ainda que o bem esteja situado dentro de área cuja competência para o licenciamento seja do município ou do estado. Precedente: REsp 1.479.316/SE, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 01.09.2015. 2. Agravo Interno não provido.” (STJ – AgInt-REsp 1.530.546 – (2015/0100857-1) – 2ª T. – Rel. Min. Herman Benjamin – DJe 06.03.2017)

Remissão Editorial SÍNTESEVide RSA nº 2, jul./ago. 2011, ementa nº 107 do TJES.

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2308 – Ibama – manutenção em cativeiro de pássaros – fauna silvestre – ausência de autorização – redução da multa – não configuração

“Apelação. Administrativo. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Na-turais Renováveis – Ibama. Auto de infração. Multa. Lei nº 9.605/1998, Decreto nº 3.1799/1999. Manutenção em cativeiro de pássaros da fauna silvestre sem autoriza-ção do órgão competente. Redução da multa. Princípio da razoabilidade e da proporcio-nalidade. Sentença mantida. Desprovimento. 1. Na hipótese, o inconformismo da parte apelante limita-se à redução da multa administrativa efetivada pelo juízo sentenciante, relativa à infração prevista no Decreto nº 3.179/1999, atualmente revogado pelo De-creto nº 6.514/2008. 2. ‘A aplicação da multa deve ter em conta a situação fática e os critérios estabelecidos por lei (art. 6º da Lei nº 9.605/1998) em respeito ao princípio da individualização da pena, bem como observar os princípios da razoabilidade e propor-cionalidade’ (AC 0016472-97.2008.4.01.3600/MT, Rel. Juiz Federal Evaldo de Oliveira Fernandes, Filho, 5ª T., e-DJF1 p.472 de 12.11.2015). 3. De modo a preservar o princípio da individualização da pena, bem como garantir a razoabilidade e proporcionalida-de na aplicação da penalidade administrativa de multa por infração ambiental, faz-se necessário que o art. 11, do Decreto nº 3.179/1999 receba interpretação conforme a Constituição, de modo que o valor cominado para unidade – para fins de base do cál-culo da sanção –, seja considerado como máximo, atento aos limites estabelecidos pelo art. 75, da Lei nº 9.605/1998. Precedentes desta Corte. 4. Apelação conhecida e despro-vida.” (TRF 1ª R. – Proc. 00048402220094013800 – Rel. Des. Kassio Nunes Marques – J. 20.02.2017)

Comentário Editorial SÍNTESEO acórdão em epígrafe trata de apelação contra sentença que julgou parcialmente o pedido do autor. Pedido este, para reduzir o valor da multa a ele aplicada, em decorrência do autos de infração nº 226899-D.

Consta dos autos que o autor possuía em cativeiro sete espécimes da fauna silvestre.

Nas suas razões de apelação o Ibama sustenta “[...] (i) em atenção aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, a aplicação da multa deve levar em consideração a proteção do meio ambiente; (ii) o valor da multa não é excessivo nem despropor-cional, eis que fora fixado pela autoridade administrativa, com base na previsão legal do art. 75 da Lei nº 9.605/1998, regulamentado pelo art. 11 do Decreto nº 3.179/1999; (iii) foi fixado um quantum determinado a penalidade pecuniária, inexistindo margem de discricionariedade para a autoridade administrativa julgadora quanto ao arbitramento da sanção; (iv) não deve o Poder Judiciário interferir na redu-ção da multa, eis que atuará como legislador positivo; (v) o auto de infração é válido, não tendo o administrado logrado êxito em apresentar provas desconstitutivas da legitimidade e veracidade do ato praticado”.

Assim, entendeu o nobre Relator:

“[...]

O inconformismo apresentado pelo apelante se limita a redução, realizada pelo juízo sentenciante, da multa administrativa estipulada no preceito secundário da infração prevista no art. 24, § 3º, III, do Decreto nº 6.514/2008, correspondente ao art. 11, § 1º, III, do então Decreto nº 3.179/1999, vigente na data do fato.

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De se notar que a aplicação da multa administrativa estabelecida deve considerar a situação fática e os critérios estabelecidos na lei, impondo-se, ainda, observância aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Foi essa a atividade do juízo no feito, e reputo que a realizou de maneira adequada.

Por certo, a multa cominada aquela infração possui regramento fixo e fechado para seu cálculo.

Acontece que na própria jurisprudência, com a finalidade de melhor atender aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, encontramos precedentes que fazem uma interpretação mais justa e adequada desses dispositivos, no que se refere ao cálculo do montante estabelecido para a multa administrativa.

É que a Lei nº 9.605/1998, no seu art. 74, estabelece que “a multa terá por base a unidade, hectare, metro cúbico, quilograma ou outra medida pertinente, de acordo com o objeto jurídico lesado”.

No art. 75, por sua vez, dispõe que ‘o valor da multa de que trata este Capítulo será fixado no regulamento desta Lei e corrigido periodicamente, com base nos índices estabelecidos na legislação pertinente, sendo o mínimo de R$ 50,00 (cinquenta reais) e o máximo de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais)’.

A norma em exame prevê multa com um valor certo fixado por unidade, ou seja, um tipo fechado de multa. Assim, com vistas a adequá-lo aqueles princípios regentes, como já ressaltado, e a preservar o princípio da individualização da pena, verifico que esse dispositivo deve ser interpretado, conforme a Constituição, atribuindo à quantia ali fixada como o patamar máximo de fixação de multa por unidade.

Dessa maneira, como parâmetro mínimo, deve ser considerado o valor previsto na Lei nº 9.605/1998, ou seja, R$ 50,00 por unidade, corrigidos periodicamente.

Destaco que, não se trata, evidentemente, de realizar uma inovação no estabeleci-mento de sanção administrativa por parte do Judiciário, hipótese sobre a qual ha-veria deturpação das funções e competências dos poderes. Não há criação de figura típica nem mesmo de penalidade. A atividade é hermenêutica, e se limita a conferir uma interpretação adequada dos atos normativos regulamentadores da própria lei regente da matéria, assim como a atender aos preceitos constitucionais de nosso ordenamento jurídico.

A propósito, em feito semelhante, segue recente precedente desta Corte:

AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL – IBAMA – AUTO DE INFRAÇÃO – MANUTEN-ÇÃO EM CATIVEIRO DE PÁSSAROS DA FAUNA SILVESTRE SEM AUTORIZAÇÃO DO ÓRGÃO COMPETENTE – LEI Nº 9.605/1998 E DECRETO Nº 3.179/1999 – PENALIDADE ADMINISTRATIVA – APREENSÃO E MULTA – LEGITIMIDADE DA AUTUAÇÃO – VALOR DA MULTA – REDUÇÃO AO MÍNIMO LEGAL – SENTENÇA MANTIDA

1. Não prospera a alegação de nulidade da sentença por julgamento extra petita, uma vez que, da leitura da petição inicial, observa-se que, embora o pedido principal seja a anulação do auto de infração lavrado pelo Ibama, a autora apontou irregulari-dades na aplicação da pena pecuniária, que foram posteriormente contestadas pelo Ibama. Preliminar rejeitada.

2. A Lei nº 9.605/1998, art. 74, estabelece que ‘a multa terá por base a unidade, hectare, metro cúbico, quilograma ou outra medida pertinente, de acordo com o objeto jurídico lesado’. No art. 75, dispõe que ‘o valor da multa de que trata este

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Capítulo será fixado no regulamento desta Lei e corrigido periodicamente, com base nos índices estabelecidos na legislação pertinente, sendo o mínimo de R$ 50,00 (cinquenta reais) e o máximo de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais)’.

3. É certo que o art. 11 do Decreto nº 3.179/1999 prevê multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) por unidade. Esse dispositivo deve ser interpretado, conforme a Constituição, como se fixasse o máximo de R$ 500,00 (quinhentos reais) por unida-de, para preservar o princípio da individualização da pena. Como mínimo deve ser tomado o valor previsto na Lei nº 9.605/1998, ou seja, R$ 50,00 (cinquenta reais) por unidade, corrigidos periodicamente.

4. Correta a sentença recorrida que reduziu o valor da multa aplicada de R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) para R$ 1.350,00 (mil trezentos e cinquenta reais), em razão da ausência de motivação específica para elevação da pena acima do mínimo, nos termos do art. 75 da Lei nº 9.605/1998.

5. Apelação do Ibama a que se nega provimento.

(AC 0002473-64.2014.4.01.3504/GO, Relª Juíza Federal Daniele Maranhão Costa (Conv.), 5ª T., e-DJF1 de 10.06.2016)

Aliás, o art. 6º da Lei nº 9.605/1998 impõe esse dever de ponderação na aplicação da multa, o que somente seria possível com a aplicação de uma hermenêutica que permitisse a flexibilização dos limites cominados a penalidade da multa:

Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente obser-vará:

I – a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas consequências para a saúde pública e para o meio ambiente;

II – os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental;

III – a situação econômica do infrator, no caso de multa.

Com esse mesmo entendimento:

ADMINISTRATIVO, AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL – AUTO INFRAÇÃO – PES-CA AMADORA SEM AUTORIZAÇÃO DO ÓRGÃO COMPETENTE – REDUÇÃO DA MULTA – PRINCIPIO DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE – APELA-ÇÃO DESPROVIDA – REMESSA OFICIAL NÃO CONHECIDA

1. Discute-se a legalidade da aplicação de multa administrativa pelo Ibama em vir-tude de se ter flagrado o autor pescando (vara e molinete) sem a devida autorização. Tendo se buscado a redução do valor da multa, a sentença acolheu o pedido.

2. Não se conhece da remessa oficial se o valor controvertido não ultrapassa 60 salários mínimos – CPC, art. 475, § 2º.

3. Pescar sem licença outorgada pela autoridade ambiental competente (Licença de pesca amadora) afronta conduta tipificada na Lei nº 9.605/1998 (art. 70) e no Decreto nº 6.514/2008 (art. 2º, § 3º, II, VII, art. 37).

4. A aplicação da multa deve ter em conta a situação fática e os critérios estabeleci-dos por lei (art. 6º da Lei nº 9.605/1998) em respeito ao princípio da individualiza-ção da pena, bem como observar os princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Premissas não observadas pelo agente fiscal na espécie.

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5. Se hipossuficiente o autuado, não reincidente na infração ambiental, a pesca não chegou a se concretizar, o fato foi de menor gravidade e não trouxe consequências para o meio ambiente, não se justifica a fixação da multa no limite máximo previsto.

6. Acerto da sentença combatida que fixou a multa no mínimo legal, ante a situação socioeconômica do autor e as circunstâncias da infração.

7. Remessa oficial não conhecida.

8. Apelação desprovida.

(AC 0016472-97.2008.4.01.3600/MT, Rel. Juiz Federal Evaldo de Oliveira Fernandes, Filho, 5ª T., e-DJF1 p. 472 de 12.11.2015)

Pontuo que, no presente caso, a condição sócio econômica do infrator (declarante pobre e de baixa instrução), assim como as circunstâncias da degradação ambiental em específico foram levadas em consideração, além de que não há relato de dano ambiental significativo. Destaco, também, que não há nos autos informação de que o apelado seja reincidente.

Assim, atendendo aquela orientação e à própria situação do autuado, sem que se deixe de observar o caráter educativo das referidas penalidades, entendo que esteja adequado o valor arbitrado para a multa na sentença.

Dispositivo

Ante o exposto, conheço da apelação e nego-lhe provimento.

É como voto.”

Diante do exposto, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região negou provimento à apelação.

2309 – Ibama – supressão de vegetação – estágio inicial de regeneração – configu-ração

“Administrativo. Auto de infração e embargo de área. Ibama. Supressão de vegetação em estágio inicial de regeneração. Presunção de legitimidade e de legalidade dos atos ad-ministrativos. Afigura-se possível a supressão de vegetação secundária em estágio inicial de regeneração do Bioma Mata Atlântica, sendo a autorização de competência do órgão estadual. Ao expedir a autorização de supressão, a Fatma exerceu competência pró-pria, tendo analisado projeto elaborado por profissional habilitado e conferido os dados apresentados. A presunção constituída pelo ato regulamente praticado pelos agentes da entidade estadual não pode ser infirmada por autuação levada a efeito por agente ligado à entidade federal, tampouco se pode afirmar tenha o autor, regularmente amparado por autorização de supressão expedida por agente competente, praticado infração ambien-tal. Pode até ser objeto de questionamento o efetivo direito à supressão da vegetação. O que, de resto, é possível em ação ajuizada eventualmente com este escopo, mesmo porque a decisão da Fatma não é dotada de definitividade. Não pode, contudo, o admi-nistrado ser punido por alegada prática infracional se está de boa-fé (a qual se presume), e age amparado em autorização expedida pela autoridade competente. Apelação des-provida.” (TRF 4ª R. – AC 5000555-47.2015.4.04.7213 – 3ª T. – Rel. Ricardo Teixeira do Valle Pereira – J. 21.02.2017)

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2310 – Ibama – transporte de lenha – irregularidades – multa administrativa – nuli-dade

“Administrativo. Ibama. Transporte de lenha. ATPF. Irregularidades. Autuação. Multa administrativa. Nulidade. Apelação desprovida. 1. A questão discutida nos autos diz res-peito à lavratura de auto de infração, por infringência à legislação ambiental, consubs-tanciada especificamente no transporte irregular de lenha, proveniente de outro Estado da Federação, assim como na inconsistência e uso irregular da ATPF – Autorização para Transporte de Produto Florestal, expedida pelo escritório regional do Ibama de Presiden-te Epitácio, contendo rasuras e ausência do preenchimento dos campos 17, 19 e 20, de responsabilidade do transportador, em inobservância ao art. 70 da Lei nº 9.605/1998 e art. 32 do Decreto nº 3.179/1999. 2. Não se descura que aos jurisdicionados cumpre o dever de respeito às leis ambientais, vigentes à época da prática de seus atos, e, em con-sequência, é dever do Ibama fiscalizar o cumprimento de referidas leis, entretanto houve falhas na autuação que não foram esclarecidas no curso do processo. 3. A parte autora ao pretender desconstituir o auto de infração que lastreia a penalidade que lhe foi im-posta, demonstrou a regularidade de sua conduta, diante dos seguintes fatos: a) adquiriu legalmente, consoante contrato particular de compra e venda do Instituto da Cidadania e Associação de Produtores Rurais e Defensores dos Direitos Difusos dos Cidadãos, mil metros de lenha, a ser entregue em seu estabelecimento; e b) após autuada, promoveu a lavratura de Boletim de Ocorrência para serem apuradas as irregularidades apontadas pelo Ibama, pois feitas à sua revelia. 4. A compra em questão foi precedida da demons-tração, pela Associação ao comprador, que a lenha era proveniente de doação feita pela Cesp, tendo o autor solicitado, por intermédio do Instituto da Cidadania, as ATPFs necessárias ao transporte da lenha, as quais foram entregues ao representante daquela instituição, Sr. Sidney. 5. Extrai-se da documentação juntada aos autos que o transpor-te seria por conta do vendedor (Associação), assim como a emissão da Nota Fiscal de venda da lenha. Entretanto, não há comprovação de que o transporte foi realizado pelo comprador, haja vista que pelo contrato era de responsabilidade do vendedor, tampouco há provas de que a nota fiscal foi emitida pela Associação, como deveria. 6. A prova de que a lenha era de outra unidade da Federação também não restou comprovada. A dili-gência feita pelo Ibama, no sentido de se certificar do volume lenhoso em posse da Cesp, por si só não induz à certeza de que o carregamento recebido pelo comprador fosse de outro Estado, in casu do Mato Grosso do Sul, fato que fugiria ao conhecimento da parte autora, diante do contrato de doação firmado entre a Cesp e o Instituto da Cidadania e Associação de Produtores Rurais e Defensores dos Direitos Difusos dos Cidadãos. 7. As provas trazidas pela parte autora no presente feito amparam suas alegações, no sentido de que eventual omissão ou irregularidade não lhe pode se oposta. 8. De acordo com o art. 20, § 4º do Código de Processo Civil, nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em que não houver condenação ou for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação equitativa do juiz, atendidas as normas das alíneas a, b e c do parágrafo anterior. 9. In casu, o percentual fixado pelo juízo a quo não se revela excessivo, considerando não só o valor atribuído à causa de R$ 5.000,00, como a natureza da mesma, não se justifican-

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do a redução dessa verba, sob pena de se desqualificar o trabalho do profissional que atua no feito desde o ano de 2003. 10. Apelação desprovida.” (TRF 3ª R. – AC 0009622-76.2003.4.03.6112/SP – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Nelton dos Santos – DJe 24.02.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.”

2311 – Ibama – transporte de madeira – ausência de autorização – apreensão do veí-culo – liberação – possibilidade

“Apelação cível. Administrativo. Ambiental. Ibama. Infração administrativa. Transporte de madeira sem autorização. Apreensão de veículo. Liberação. Possibilidade. Senten-ça mantida. 1. A apreensão de veículo utilizado na realização de infração ambiental se constitui em medida que encontra amparo na legislação de regência. Entretanto, há orientação jurisprudencial assentada nessa Corte no sentido de que, em se tratando de matéria ambiental, o veículo/máquina somente é passível de apreensão, na forma do art. 25, § 4º, da Lei nº 9.605/1998, quando caracterizado como instrumento de uso específico e exclusivo em atividade ilícita – o que não é a hipótese dos autos. Preceden-tes. 2. Apelação e reexame necessário conhecidos e não providos.” (TRF 1ª R. – Proc. 00053553520154013901 – Rel. Des. Kassio Nunes Marques – J. 20.02.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos.

[...]

§ 4º Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão destruídos ou doados a instituições científicas, culturais ou educacionais.”

2312 – Ibama – transporte de produtos perigosos – desacompanhada da autorização – infração – inexistência

“Administrativo e ambiental. Apelação. Ação ordinária. Ibama. Infração ambiental. Anu-lação. Transporte de produtos perigosos desacompanhada da autorização. Apresentação posterior. Inexistência da infração. Provimento. 1. O transporte interestadual de produtos perigosos deve ser acompanhado por autorização fornecida pelo órgão ambiental com-petente. O tipo descritivo da infração atrelada a esse fato pressupõe a inexistência da referida autorização. 2. A comprovação posterior da autorização. Não apresentada no ato da fiscalização e autuação, mas válida naquele momento, implica na ausência da infração administrativa. A falta do porte obrigatório da documentação exigida, por sua vez, constitui mera irregularidade de ordem formal, passível de ser sanada. Precedentes. 3. Apelação conhecida e provida.” (TRF 1ª R. – Proc. 00213214320164013500 – Rel. Des. Kassio Nunes Marques – J. 20.02.2017)

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2313 – Infração ambiental – apreensão de veículo – restituição do bem – possibilidade“Administrativo e processual civil. Mandado de segurança. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama. Infração ambiental. Apreensão de veículo. Restituição do bem. Possibilidade. Sentença mantida. 1. O entendimento estabelecido neste Tribunal é de que os bens utilizados na prática de infração ambien-tal não são passíveis de apreensão, na forma do art. 25, § 4º, da Lei nº 9.605/1998, se não for identificada situação de uso específico e exclusivo para aquela atividade ilícita. 2. Na hipótese, não ficou caracterizado que os bens apreendidos fossem utilizados ex-clusivamente para a prática do ilícito ambiental. 3. Sentença confirmada. 4. Apelação e remessa oficial desprovidas.” (TRF 1ª R. – Proc. 00066310420154013901 – 6ª T. – Rel. Des. Daniel Paes Ribeiro – J. 20.02.2017)

Destaque Editorial SÍNTESEDo voto do Relator destacamos os seguintes julgados:

“[...]

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL – MANDADO DE SEGURANÇA – INSTI-TUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENO-VÁVEIS (IBAMA) – INFRAÇÃO AMBIENTAL – APLICAÇÃO DE MULTA E APREEN-SÃO DE ESCAVADEIRA HIDRÁULICA – PROPRIETÁRIO – RESTITUIÇÃO DO BEM – POSSIBILIDADE – SENTENÇA MANTIDA

1. O entendimento estabelecido neste Tribunal é de que a escavadeira hidráulica utilizada na extração ilegal de lavra mineral não é passível de apreensão, na forma do art. 25, § 4º, da Lei nº 9.605/1998, se não for identificada situação de uso específico e exclusivo para aquela atividade ilícita.

2. Apelação do Ibama a que se nega provimento.

3. Remessa oficial tida por interposta a que se nega provimento.

(TRF 1ª R., AMS 0004979-75.2012.4.01.3603/MT, Relª Juíza Fed. Hind Ghassan Kayath (Convocada), e-DJF1 de 12.02.2016)

ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL – MANDADO DE SEGURANÇA – IBAMA – AUTO DE INFRAÇÃO – EXTRAÇÃO MINERAL SEM AUTORIZAÇÃO – APREENSÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR – DESPROPORCIONALIDADE DA CONSTRIÇÃO – NÃO COMPROVAÇÃO DO USO EXCLUSIVO NA ATIVIDADE DELITUOSA – LIBERAÇÃO – POSSIBILIDADE – SENTENÇA MANTIDA

1. A apreensão de veículo utilizado na realização de infração ambiental se cons-titui em medida que encontra amparo na legislação de regência. Entretanto, há orientação jurisprudencial assentada nessa Corte no sentido de que, em se tratando de matéria ambiental, o veículo transportador somente é passível de apreensão na forma do art. 25, § 4º, da Lei nº 9.605/1998, senão quando caracterizado como instrumento de uso específico e exclusivo em atividade ilícita – o que não é a hipó-tese dos autos. Precedentes.

2. Os arts. 105 e 106, II, do Decreto nº 6.514/2008, permitem que o próprio autuado ou seu dono ostente a posição de fiel depositário do bem apreendido, esta-belecendo tal possibilidade ‘desde que a posse dos bens ou animais não traga risco de utilização em novas infrações’.

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3. Apelação e Remessa oficial a que se nega provimento.

(TRF 1ª R., AMS 0005393-81.2014.4.01.3901/PA, Rel. Des. Fed.l Kassio Nunes Marques, e-DJF1 de 11.12.2015)

ADMINISTRATIVO – PROCESSUAL CIVIL – INFRAÇÃO AMBIENTAL – TRANSPOR-TE DE MADEIRA – DIVERGÊNCIA ENTRE A ESPÉCIE DA MADEIRA TRANSPOR-TADA E A CONSTANTE DA GUIA FLORESTAL – APREENSÃO DE VEÍCULO – NÃO DEMONSTRAÇÃO DE SUA UTILIZAÇÃO PARA FINS EXCLUSIVOS DE CRIME AM-BIENTAL – REEXAME DE PROVAS – SÚMULA Nº 7/STJ

1. No caso dos autos, houve transporte irregular de madeira em razão de a madeira especificada na Guia Florestal ser diversa da que estava sendo transportada no veículo apreendido.

2. As instâncias ordinárias, procedendo à análise do conjunto fático-probatório, con-cluíram inexistir indicação de uso específico e exclusivo do veículo apreendido para a prática de atividades ilícitas, voltadas à agressão do meio ambiente, bem como não ter sido comprovada a intenção do proprietário do veículo no sentido de efetuar transporte de madeira desacobertada de documentação hábil.

3. ‘A decisão da Corte de origem não destoa da jurisprudência do STJ no sentido de que a apreensão dos “produtos e instrumentos” utilizados para a prática da infração não pode dissociar-se do elemento volitivo’ (REsp 1.436.070/RO, Rel. Min. Hum-berto Martins, 2ª T., Julgado em 19.03.2015, acórdão pendente de publicação).

4. A alteração das conclusões adotadas pelo Tribunal de origem demandaria, ne-cessariamente, novo exame do acervo fático-probatório constante nos autos, pro-vidência vedada em recurso especial, a teor do óbice previsto na Súmula nº 7/STJ.

Recurso especial conhecido em parte e improvido.

(STJ, REsp 1.526.538/RO, Rel. Min. Humberto Martins, DJe de 19.05.2015)”

2314 – Infração ambiental – Ibama – transporte de carvão vegetal – apreensão da carga e veículo – liberação – possibilidade

“Administrativo e ambiental. Apelação. Ação ordinária. Ibama. Infração ambiental. Anulação. Transporte de carvão vegetal desacompanhado de autorização do órgão am-biental. Apreensão da carga e do veículo. Liberação. Possibilidade. Sentença mantida. Desprovimento. 1. Admitida a competência da Secretaria do Meio Ambiente do Mato Grosso (Sema) para definição de critérios de exigibilidade e detalhamento para trans-porte de cargas perigosas e, havendo sido declarada a desnecessidade de licenciamento ambiental para a atividade de transporte de carvão vegetal, não há que se falar em infra-ção ambiental, por esse motivo, no presente caso. Anulação do auto de infração lavrado pelo Ibama. 2. Evidencia desproporcionalidade a aplicação da sanção de apreensão da carga e do veículo, na situação em que houve mera irregularidade quanto ao acondicio-namento do carvão vegetal, considerada a inexistência de circunstâncias mais gravosas da prática infracional. 3. ‘Afigura-se possível a liberação da carga e do veículo apreendi-dos em razão do transporte de carvão vegetal quando a situação fática não indica o uso específico e exclusivo deste para a prática de atividades ilícitas, voltadas para a agressão do meio ambiente. Precedentes deste Tribunal’ (AC 0022628-69.2011.4.01.3900/PA, Rel. Des. Fed. Néviton Guedes, 5ª T., e-DJF1 de 28.04.2016). 4. Apelação conhecida

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e desprovida.” (TRF 1ª R. – Proc. 00060695520114013603 – Rel. Des. Kassio Nunes Marques – J. 20.02.2017)

Comentário Editorial SÍNTESECuida-se de apelação interposta pelo Ibama contra sentença, em ação ordinária, que julgou parcialmente procedente o pleito.

Foi abordado pela fiscalização um veículo para averiguação de carga, pois é consi-derada perigosa, o mesmo transportava carvão vegetal.

Foi exigida a documentação obrigatória, portanto não foi apresentada.

Assim, em seu voto entendeu o d. Relator:

“[...]

A questão central do recurso é verificar a regularidade da apreensão da carga e do veículo das empresas autoras, em razão de suposta infração ambiental consistente em transportar carvão vegetal desacompanhado de licença do órgão ambiental com-petente e sem observar as normas de embalagem do produto.

Os demais pontos atinentes ao exercício do poder de polícia ambiental não foram fustigados, razão porque não exigem uma análise específica.

O mérito me parece ter sido bem resolvido pelo juízo de base.

Para o Ibama, por se enquadrar o carvão vegetal na classe de produtos perigosos, o seu transporte estaria sujeito ao licenciamento ambiental.

Entretanto, há o fato de que o próprio Ibama admitiu ser da Secretaria do Meio Ambiente do Mato Grosso (Sema) a competência para definição de critérios de exigi-bilidade e detalhamento para transporte de cargas perigosas. Nesse contexto, ficou comprovado que a Sema declarou que a atividade de transporte de carvão vegetal está dispensada de licenciamento ambiental, de maneira que não existe motivo para a referida autuação, porque não houve irregularidade quanto a autorização para o transporte da carga.

Por outro lado, ficou constatado que houve irregularidade no acondicionamento do carvão vegetal, tendo sido desrespeitadas as normas que estabelecem critérios de embalagem do produto (Resolução nº 420/2004). Tal infração, no entanto, não legitima a apreensão da carga nem do veículo, por evidenciar desproporcionalidade na adoção de tal sanção, ainda que na forma acautelatória.

O Ibama não conseguiu infirmar as razões em que baseadas a sentença. Não se tem conhecimento também do risco concreto de perpetuação da atividade ilícita ou a possibilidade de cometimento de novas infrações. As circunstâncias em que realizada a fiscalização não permitem chegar a essa ilação, assim como não se alega histórico reincidente das envolvidas.

Ademais, a jurisprudência deste Tribunal é firme no entendimento de que a apre-ensão de veículo só é devida quando sua utilização é destinada para uso específico e exclusivo do delito ambiental, na forma do art. 25, § 4º, da Lei nº 9.605/1998.

Nesse sentido:

AMBIENTAL – INFRAÇÃO AMBIENTAL – TRANSPORTE DE CARVÃO VEGETAL DE-SACOMPANHADO DE AUTORIZAÇÃO DO ÓRGÃO AMBIENTAL – APREENSÃO DA CARGA E DO VEÍCULO – LIBERAÇÃO – POSSIBILIDADE – SENTENÇA MANTIDA

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1. A jurisprudência deste Tribunal firmou entendimento de que a apreensão de veícu-lo só é devida quando sua utilização é destinada para uso específico e exclusivo do delito ambiental, na forma do art. 25, § 4º, da Lei nº 9.605/1998.

2. No caso, não há provas nos autos de que o veículo tenha sido utilizado para a prática habitual de ilícitos ambientais tampouco há qualquer informação do Ibama de que os autores sejam contumazes na prática de transporte irregular de produtos florestais, além de não ter sido noticiado que o carvão apreendido tivesse origem ilícita ou de Plano de Manejo Florestal não autorizado pela autoridade ambiental competente.

3. Por outro lado, ficou comprovado nos autos que, na data da lavratura do Auto de Infração, em 26.03.2010, embora o autuado não estivesse de posse da licença am-biental válida, de fato já a possuía, como Guia Florestal para Transporte de Produtos Florestais Diversos – GF3, que autorizava o transporte de 60 MDC de carvão vegetal, no percurso compreendido entre Tailândia/PA e Marabá/PA, com data de validade de 18.03.2010 a 28.03.2010.

4. Afigura-se possível a liberação da carga e do veículo apreendidos em razão do transporte de carvão vegetal quando a situação fática não indica o uso específico e exclusivo deste para a prática de atividades ilícitas, voltadas para a agressão do meio ambiente. Precedentes deste Tribunal.

5. Apelação do Ibama e remessa oficial a que se nega provimento.

(AC 0022628-69.2011.4.01.3900/PA, Rel. Des. Fed. Néviton Guedes, 5ª T., e-DJF1 de 28.04.2016)

Ante o exposto, conheço da apelação e nego-lhe provimento.

É como voto.”

Por todo o exposto, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região conheceu a apelação e negou-lhe provimento.

2315 – Infração ambiental – queimada – ausência de autorização – autoria e nexo de causalidade – não comprovação

“Administrativo e ambiental. Apelação. Ação ordinária. Ibama. Infração ambiental. Anulação. Queimada sem autorização. Aplicação da multa. Ausência da comprovação da autoria e nexo de causalidade. Embargo. Recuperação da área degradada. Sentença mantida. Desprovimento. 1. Foi lavrado pelo Ibama auto de infração pela conduta de destruir 21,8 hectares de floresta amazônica, considerada objeto de especial preserva-ção, sem autorização do órgão ambiental competente. 2. As autuações lavradas pelo Ibama por cometimento de infrações ambientais, atos administrativos que são, gozam do atributo de presunção de veracidade e legitimidade. É ônus da Administração, por outro lado, a demonstração da materialidade e da autoria, elementos indispensáveis para a constituição e produção de atos dessa espécie. 3. Na hipótese, a destruição da vegetação ocorreu por meio de queimada, da qual não se conseguiu precisar seu início nem sua causa – inclusive se de origem natural ou humana – tendo sido constatada em diversas propriedades além da do autuado, de maneira que não houve certeza quanto a conduta do autuado no cometimento do dano. Ausente a demonstração suficiente de autoria e do nexo de causalidade, não deve subsistir a aplicação da penalidade. Auto de infração anulado. 4. O embargo de obra ou atividade pode importar em medida cautelar que tem

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como objetivo impedir a continuidade da ação danosa ao meio ambiente, propiciando a regeneração do meio ambiente e viabilizando a recuperação da área degradada. Ante a devida motivação para aplicação da medida, sem a comprovação dos requisitos le-gais para o enquadramento em atividade de subsistência, deve ser mantido o embargo. 5. Apelações conhecidas e desprovidas.” (TRF 1ª R. – AC 0002871-39.2012.4.01.3000 – Rel. Des. Kassio Nunes Marques – J. 20.02.2017)

2316 – Licença ambiental – instalação de aterro industrial – dispositivos e normas deliberativas desrespeitadas – Súmula nº 280/STF – cabimento

“Processual civil. Ação civil pública. Meio ambiente. Licença ambiental prévia e de ins-talação. Aterro industrial. Dispositivos e normas deliberativas desrespeitadas. Omissão. Inexistência. Reexame do contexto fático-probatório. Súmula nº 7/STJ. Acórdão funda-mentado em lei local. Súmula nº 280/STF. 1. Na hipótese dos autos, não há omissão sobre a questão relativa à ilegitimidade, razão pela qual se afasta a ofensa ao art. 535 do CPC/1973. Com efeito, o tribunal de origem foi enfático ao estabelecer que a asso-ciação recorrida possui legitimidade para atuar no feito. Examinar, in casu, se houve, ou não, apresentação da relação nominal dos representados implica reexame do contexto fático-probatório, o que não se admite ante o óbice da Súmula nº 7/STJ. 2. Outrossim, nota-se que o acórdão vergastado foi bastante claro ao estabelecer que houve desres-peito, pela parte recorrente, da distância mínima do núcleo populacional mais próximo, além de violação à Lei Estadual nº 14129/2001 e à Deliberação Normativa nº 52/2001. 3. Dessarte, o acolhimento da pretensão recursal demanda, além de reexame do contex-to fático-probatório, avaliação de lei local, impossível conforme o disposto na Súmula nº 280/STF; e deliberação normativa, que não se enquadra no conceito de lei federal. 4. Recurso Especial não provido.” (STJ – REsp 1.520.453 – (2013/0385290-4) – 2ª T. – Rel. Min. Herman Benjamin – DJe 06.03.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESESúmula do Supremo Tribunal Federal:

“280 – Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário.”

2317 – Licenciamento ambiental – alteração – aumento de cota de reservatório de usina hidrelétrica – realização de audiência pública – irregularidades – partici-pação da sociedade – possibilidade

“Ambiental. Administrativo. Agravo de instrumento. Ação civil pública. Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama. Licenciamento ambiental. Al-teração de licença para aumento da cota de reservatório da Usina Hidrelétrica Santo Antônio. Realização de audiência pública. Irregularidades. Participação da sociedade. Meios alternativos. Objetivos da norma. Satisfatividade. Provimento. 1. Na instância do juízo de origem, foi concedido provimento liminar, nos autos de ação civil pública, em que fora determinado ao Ibama impedimento de concessão de ato administrativo capaz de permitir que a Usina Hidrelétrica de Santo Antônio elevasse o nível do seu reserva-tório, persistindo seus efeitos até que a sociedade efetivamente atingida pela ampliação do empreendimento tivesse a oportunidade de participar de uma nova reunião pública

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em suas respectivas localidades, ao fundamento de que a audiência pública anterior-mente realizada estaria comprometida por irregularidades formais, bem como por violar o direito à informação da população interessada. 2. Mecanismo de participação direta da população na proteção da qualidade ambiental, a realização de audiências públicas no processo de licenciamento ambiental encontra-se regulamentada pela Resolução do Conama nº 09/1987, de 03.12.1987, publicada no DOU de 05.07.1990. 3. A audiên-cia pública é um ato oficial e deve ter os seus resultados levados em consideração na análise e parecer final do órgão licenciador quanto à aprovação ou não do projeto. E essa, aliás, a circunstância que a difere da reunião técnica informativa (regulamentada pela Resolução Conama nº 279/2001). 4. A necessidade de realização de audiência pú-blica na hipótese em exame mostra-se controversa, na medida em que sua exigência é estabelecida apenas na fase de licenciamento prévio, da qual a alteração da licença (tal qual pleiteada para aumento da cota do reservatório) já pressupõe sanada, nos termos da Instrução Normativa nº 184, de 17.07.2008. 5. No caso em apreciação, o Ibama junta-mente com a concessionária do direito de construção e exploração do potencial hidre-létrico da Usina de Santo Antônio, com a intenção de cumprir a determinação do juízo agravado, realizaram audiências públicas nas comunidades de Porto Velho, Jacy-Paraná e no Assentamento Joana D’Arc, além de oficinas preparatórias, com ampla divulgação em diversos meios, disponibilização de transporte aos interessados, tendo contado com a participação de mais de 1.200 pessoas, além de terem distribuído cópia dos estudos realizados para consulta pública em diversos segmentos da sociedade, e respondido, por escrito, as indagações formuladas pelos que compareceram ao ato. As sessões presen-ciais, no entanto, foram marcadas por insurgências de manifestantes e tumultos, o que inviabilizou a sua conclusão com êxito por questões de segurança. 6. Ainda que não superada, em sede de agravo, a questão de ser exigível ou não a realização de audiência pública nos casos de alteração de licença, apenas, ou a possibilidade de adoção de um procedimento informativo mais simplificado como a reunião pública, deve-se avaliar se foi conferida a maior amplitude de discussão pública e técnica do procedimento, ain-da que se arguam irregularidades formais nesse processo. Na circunstância de inexistir exigência taxativa na norma, à luz do caso concreto examinado, a forma como reali-zadas as audiências públicas, aliadas aos meios alternativos de controle social dos atos administrativos verificados, supriram o caráter de acesso a informação e participação da comunidade – finalidade geral da norma. 7. A audiência pública para o licenciamento ambiental é atividade de natureza consultiva, com eficácia vinculatória relativa. 8. Não é razoável que seja realizada audiências públicas em cada uma das localidades afetadas pelo empreendimento, nem que todas as dúvidas dos cidadãos envolvidos sejam exaus-tivamente esclarecidas. Precedente deste TRF: AMS 0030295-54.2011.4.01.3400/DF, Rel. Des. Fed. Jirair Aram Meguerian, 6ª T., e-DJF1 p. 2441 de 29.05.2015. 9. No uso da competência legalmente atribuída, cabe ao Ibama a apreciação e decisão sobre o pedido de alteração da licença. É o órgão licenciador o principal destinatário das conclusões ob-tidas pelos processos de debate público e quem efetivamente levará em consideração as indagações formuladas pelos integrantes das comunidades afetadas. 10. Os riscos sociais e ambientais atinentes exclusivamente ao aumento da cota do reservatório, não foram claramente demonstrados no feito. Possibilidade de reversibilidade da medida. Em lado

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oposto, a manutenção dos efeitos do decisório agravado implica em perigo de dano. 11. Agravo de instrumento conhecido, e provido para declarar superada a necessidade de realização de novas audiências públicas no processo de licenciamento instaurado com o fim de autorizar a alteração da licença ambiental para permitir a elevação da cota do reservatório da UHE Santo Antônio.” (TRF 1ª R. – AI 0028618-96.2014.4.01.0000 – Rel. Des. Kassio Nunes Marques – J. 20.02.2017)

2318 – Mandado de segurança – autorização ambiental – débito fiscal – condiciona-mento – inexistência

“Direito tributário. Reexame necessário. Mandado de segurança. Autorização Ambiental de Funcionamento (AAF). Débito fiscal. Existência condicionamento. Impossibilidade. Ilegalidade do ato. Livre exercício atividade profissional. O mandado de segurança, seja ele na forma repressiva ou preventiva, é cabível para a proteção de direito líquido e certo, não protegido por habeas corpus nem por habeas data, em sendo o responsável pelo abuso de poder ou ilegalidade autoridade pública, ou agente de pessoa jurídica, no exercício de atribuições do poder público, nos termos do art. 5º, inc. LXIX da CR/1988. A Administração Pública possui meios legais para cobrar eventuais tributos não adimplidos pelos contribuintes. O que não pode se admitir é que o contribuinte seja impedido de exercer suas atividades, em razão de débitos fiscais, ou de obrigações acessórias, não podendo condicionar a concessão de Autorização Ambiental de Funcionamento (AAF) ao adimplemento destas obrigações, sob pena de ofensa a princípios constitucionais que amparam a livre iniciativa.” (TJMG – RN-Cv 1.0000.16.079170-3/001 – 4ª C.Cív. – Rel. Dárcio Lopardi Mendes – DJe 14.02.2017)

Comentário Editorial SÍNTESECuida-se de reexame necessário da sentença proferida, que nos autos do Mandado de Segurança impetrado por um município, em face de ato atribuído ao Superinten-dente Regional de Meio Ambiente do Norte de Minas.

Foi concedido a segurança pleiteada, determinando que a autoridade coatora não condicione o processamento e o deferimento da Autorização Ambiental de Funciona-mento – AAF à existência de débitos tributários.

A Procuradoria-Geral de Justiça ofertou parecer opinando pela confirmação da sen-tença, na remessa necessária.

Assim, o d. Relator entendeu:

“[...]

O Mandado de Segurança, seja ele na forma repressiva ou preventiva, é cabível para a proteção de direito líquido e certo, não protegido por habeas corpus nem por habeas data, em sendo o responsável pelo abuso de poder ou ilegalidade autoridade pública, ou agente de pessoa jurídica, no exercício de atribuições do poder público, nos termos do art. 5º, inc. LXIX da CR/1988.

Sobre as modalidades da citada ação, leciona o ilustre doutrinador José dos Santos Carvalho Filho, in Manual de Direito Administrativo, 10. ed., rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003:

‘Através do Mandado de Segurança repressivo, o impetrante defende seu direito contra ato do Poder Público que já é vigente e eficaz. Como esses elementos tornam

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o ato operante, o mandado de segurança visa a reprimir a conduta administrativa já realizada. Consertar-se-á o erro já cometido.

O Mandado de Segurança preventivo visa a evitar a lesão ao direito líquido e certo. No caso, o ato ainda não foi praticado, mas já há elementos certos de que o será. O interessado, por outro lado, se sente seriamente ameaçado pelo advento do ato. Presentes tais pressupostos, cabe o Mandado de Segurança preventivo. Observe--se apenas que a prevenção deve atender a três aspectos: o primeiro deles é o da realidade, pelo qual o impetrante demonstra realmente que o ato vai ser produzido; o outro é o da objetividade, segundo o qual a ameaça de lesão deve ser séria, não se fundando em meras suposições; o último é o da atualidade, que indica que a ameaça é iminente e deve estar presente no momento da ação, não servindo, pois, ameaças pretéritas e já ultrapassadas.’

Da análise acurada dos autos, verifica-se que se mostra oportuna a insurgência da impetrante, pois, líquido e certo é seu direito de se obter a Autorização Ambiental de Funcionamento (AAF), apesar da existência de débitos fiscais.

Isso porque, o Fisco possui meios legais para cobrar eventuais tributos não adim-plidos pelos contribuintes. O que não pode se admitir é que o contribuinte seja impedido de exercer suas atividades, em razão de débitos fiscais, ou de obrigações acessórias, não podendo a Administração Pública condicionar a concessão de Auto-rização Ambiental de Funcionamento (AAF) ao adimplemento destas obrigações, sob pena de ofensa a princípios constitucionais que amparam a livre iniciativa.

A Constituição da República de 1988, em seu art. 170, assegura a todos a livre concorrência e o livre exercício da atividade econômica.

[...]

Sobre o tema, a jurisprudência deste TJMG:

‘MANDADO DE SEGURANÇA – CONCESSÃO DE AUTORIZAÇÃO AMBIENTAL DE FUNCIONAMENTO (AAF) – PRÉVIO PAGAMENTO DE DÉBITO INSCRITO EM DÍVI-DA ATIVA – MEDIDA COERCITIVA VISANDO AO PAGAMENTO DE TRIBUTO – ILE-GALIDADE – SEGURANÇA CONCEDIDA

Afigura-se ilegal e arbitrário condicionar a concessão de Autorização Ambiental de Funcionamento (AAF) ao pagamento de débitos já inscritos em dívida ativa, porque o Fisco Estadual possui meios jurídicos próprios para a satisfação de seus créditos.’ (Ap. Cível/Reex Necessário nº 1.0702.12.025034-6/001, Rel. Geraldo Augusto, DJ 16.04.2013)

Assim, conclui-se que motivo não há para que se modifique a sentença de primeiro grau que, acertadamente, concedeu a segurança, afastando a exigência de quitação de débitos tributários.

Mediante tais considerações, em reexame necessário, confirmo a sentença.”

Por todo exposto, o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais confirmou a sentença.

2319 – Meio ambiente do trabalho – corte de cana-de-açúcar – exposição a agentes nocivos – ruído – comprovação

“Processo civil. Previdenciário. Aposentadoria por tempo de contribuição. Remessa ofi-cial tida por interposta. Atividade especial. Corte de cana-de-açúcar. Exposição a agen-tes nocivos. Ruído. Comprovação. Observância da lei vigente à época da prestação da

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atividade. PPP extemporâneo. Irrelevância. Equipamento de proteção individual. Não descaracterização da especialidade. Implantação imediata. I – Aplica-se ao presente caso o Enunciado da Súmula nº 490 do E. STJ, que assim dispõe: A dispensa de reexame necessário, quando o valor da condenação ou do direito controvertido for inferior a ses-senta salários mínimos, não se aplica a sentenças ilíquidas. II – No que tange à atividade especial, a jurisprudência pacificou-se no sentido de que a legislação aplicável para sua caracterização é a vigente no período em que a atividade a ser avaliada foi efetivamente exercida. III – Em regra, o trabalho rural não é considerado especial, vez que a exposição a poeiras, sol e intempéries não justifica a contagem especial para fins previdenciários, contudo, tratando-se de atividade em agropecuária, cuja contagem especial está prevista no código 2.2.1 do Decreto nº 53.831/1964, presunção de prejudicialidade que vige até 10.12.1997, advento da Lei nº 9.528/1997, e aqueles trabalhadores ocupados na lavoura cana vieira, em que o corte da cana-de-açúcar é efetuado de forma manual, com alto grau de produtividade, utilização de defensivos agrícolas, e com exposição à fuligem, é devida a contagem especial. IV – O E. Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Re-curso especial de nº 1.398.260/PR (Rel. Min. Herman Benjamin, Julgado em 05.12.2014, DJe de 04.03.2015), esposou entendimento no sentido de que o limite de tolerância para o agente agressivo ruído, no período de 06.03.1997 a 18.11.2003, deve ser aquele previsto no Anexo IV do Decreto nº 2.172/1997 (90 dB), sendo indevida a aplicação retroativa do Decreto nº 4.8882/2003, que reduziu tal patamar para 85 dB. V – No julgamento do Recurso Extraordinário em Agravo (ARE) 664335, em 04.12.2014, com repercussão geral reconhecida, o E. STF que, na hipótese de exposição do trabalhador a ruído acima dos limites legais de tolerância, a declaração do empregador no âmbito do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), no sentido da eficácia do Equipamento de Proteção Individual (EPI), não descaracteriza o tempo de serviço especial para a aposen-tadoria especial, tendo em vista que no cenário atual não existe equipamento individual capaz de neutralizar os malefícios do ruído, pois que atinge não só a parte auditiva, mas também óssea e outros órgãos. VI – O fato de o PPP ter sido elaborado posteriormente à prestação do serviço não afasta a validade de suas conclusões, vez que tal requisito não está previsto em lei e, além disso, a evolução tecnológica propicia condições ambientais menos agressivas à saúde do obreiro do que aquelas vivenciadas à época da execução dos serviços. VII – O termo inicial do benefício deve ser fixado na data do requerimento administrativo (04.07.2013), conforme entendimento jurisprudencial sedimentado nes-se sentido. Tendo em vista que o ajuizamento da ação se deu em 08.04.2015, não há parcelas atingidas pela prescrição. VIII – Os juros de mora e a correção monetária de-verão observar o disposto na Lei nº 11.960/2009 (STF, Repercussão Geral no Recurso Extraordinário nº 870.947, 16.04.2015, Rel. Min. Luiz Fux). IX – Nos termos do caput do art. 497 do Novo CPC, determinada a imediata implantação do benefício de aposentado-ria por tempo de contribuição. X – Apelação do réu e remessa oficial, tida por interposta, parcialmente providas. Apelação da parte autora provida.” (TRF 3ª R. – AC 0017181-09.2016.4.03.9999/SP – 10ª T. – Rel. Des. Fed. Sergio Nascimento – DJe 03.03.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESESúmula do Superior Tribunal de Justiça:

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“490 – A dispensa de reexame necessário, quando o valor da condenação ou do direito controvertido for inferior a sessenta salários mínimos, não se aplica a sen-tenças ilíquidas.”

2320 – Pesca industrial – método de arrasto de portas – local não permitido – materia-lidade e autoria – comprovação

“Penal. Processual. Apelação criminal. Pesca industrial predatória por método de arrasto de portas em local não permitido (Zona 2 Marinha Especial – Z2ME), em desacordo com os arts. 2º, 34, 37 e 38, todos do Decreto Estadual nº 49.215/2004. Conduta típica. Art. 34, caput e parágrafo único, inciso II, da Lei nº 9.605/1998. Materialidade e autoria suficientemente demonstradas. Dolo configurado. Suposto erro sobre a ilicitude do fato ou mesmo sobre os elementos do tipo não vislumbrado na hipótese. Dosimetria e substitui-ção da pena privativa de liberdade por prestação de serviços à comunidade regularmente aplicadas. Apelo da defesa improvido. 1. O apelante foi condenado pela prática delitiva descrita no art. 34, caput, e parágrafo único, inciso II, da Lei nº 9.605/1998. 2. Em suas razões de apelação (fls. 416/419 e 470/477), a defesa de Armando Alves da Rocha Junior pugna pela reforma da r. sentença, para que o referido réu seja absolvido do delito do art. 34, caput, e parágrafo único, inciso II, da Lei nº 9.605/1998, em razão de suposta atipicidade de sua conduta, bem como de eventual insuficiência de provas quanto à materialidade e autoria delitivas, além de alegado erro sobre a ilicitude do fato. Sub-sidiariamente, requer a substituição da pena de prestação de serviços à comunidade pelo pagamento de cesta básica, na forma do art. 43, I, do Código Penal. 3. Ao con-trário do sustentado pela defesa, a materialidade e a autoria delitivas, assim como o dolo, restaram suficientemente demonstradas ao longo de toda a instrução processual, a destacar: Auto de Prisão em Flagrante (fls. 13/27); Auto de Apresentação e Apreensão (fls. 29/30); Título de inscrição da embarcação apreendida ‘Aquarius I’ (fl. 31); Boletim de Ocorrência Ambiental nº 123222 (fls. 51/58); Autos de Infração Ambiental nº 270763 (fl. 59), nº 270766 (fl. 60) e nº 270764 (fl. 61); Termo de destinação referente ao cama-rão apreendido em poder dos corréus (fl. 132); Laudo Pericial nº 006/2013 relativo à embarcação (fls. 171/178); Laudo Pericial Ambiental nº 012/2013 (fls. 179/187); Rela-tório policial (fls. 189/193); Depoimentos das testemunhas em sede policial (fls. 13/18, 156/157 e 159/160) e em juízo (fls. 379/382); Interrogatório dos coacusados em sede policial (fls. 21/22 e 27). 4. Incurso no art. 34, caput, e parágrafo único, inciso II, da Lei nº 9.605/1998, ficou comprovado que, em 18.09.2012, o pescador profissional e de larga experiência Armando Alves da Rocha Junior fora surpreendido por operação con-junta e preso em flagrante delito, enquanto praticava, de maneira livre e consciente, atos de pesca industrial predatória, na modalidade arrasto de portas em local não permitido, juntamente ao coacusado ‘Carlos Antônio Chaves da Costa’ (também preso em flagrante às fls. 13/14, mas desmembrado destes autos às fls. 376/378), ambos a bordo da em-barcação ‘Aquarius I’ (contendo, inclusive, cerca de quarenta quilogramas de camarão, além de quatro portas de arrasto e duas redes), então localizada nas coordenadas geográ-ficas 045º44’27,6”O e 23º47’24,6”S, no interior do polígono que delimita a denominada ‘Zona 2 Marinha Especial’ (Z2ME), vinculada ao Zoneamento Ecológico-Econômico do Setor Litoral Norte do Estado de São Paulo, em claro desacordo com arts. 2º, 34, 37 e 38, todos do Decreto Estadual nº 49.215, de 07 de dezembro de 2004. 5. Diante de sua

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admitida larga experiência enquanto pescador profissional registrado na categoria ‘in-dustrial’ junto às autoridades competentes (fls. 21 e 88), não há de se cogitar, na presente hipótese, eventual erro sobre a ilicitude do fato ou mesmo sobre os elementos do tipo. 6. Destarte, a materialidade e autoria delitivas, assim como o dolo do acusado, em relação à conduta devidamente tipificada no art. 34, caput, e parágrafo único, inciso II, da Lei nº 9.605/1998, restaram cabalmente comprovadas, sendo mantido, de rigor, o Decreto condenatório. 7. No mais, mantida a substituição da pena privativa de liberdade regu-larmente já aplicada pelo magistrado sentenciante, no mínimo patamar legal, por uma única restritiva de direitos consistente em prestação de serviços à comunidade, pelo mes-mo prazo da pena corporal substituída, em entidade a ser designada pelo juízo da exe-cução, consoante a r. sentença de fls. 398/408, nos moldes do art. 44, § 2º, 1ª parte, e do art. 59, caput e inciso IV, ambos do Código Penal, e também dos arts. 6º, 7º, 8º e 9º, to-dos da Lei nº 9.605/1998. 8. Recurso da defesa não provido.” (TRF 3ª R. – ACr 0000206-63.2013.4.03.6135/SP – 11ª T. – Rel. Des. Fed. José Lunardelli – DJe 21.02.2017)

Comentário Editorial SÍNTESEO presente acórdão trata de apelação criminal interposta em face da r. sentença.

A referida sentença condenou o réu pela prática delitiva descrita no art. 34, caput, e parágrafo único, inciso II, da Lei nº 9.605/1998, in verbis:

“Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente:

Pena – detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativa-mente.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem:

[...]

II – pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de apare-lhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos”.

Consta dos autos que após a regular instrução, sobreveio a sentença, que julgou pro-cedente a denúncia, condenando o acusado a 01 (um) ano de detenção, em regime inicial aberto, e 10 (dez) dias-multa, no valor unitário de um trigésimo do salário--mínimo vigente à época dos fatos, ficando substituída a pena privativa de liberdade por uma restritiva de direitos consistente em prestação de serviços à comunidade, pelo mesmo prazo da pena corporal substituída, em entidade a ser designada pelo juízo da execução.

O acusado apelou em sua defesa, pugnando pela reforma da r. sentença, para que o réu seja absolvido do delito do art. 34, caput, e parágrafo único, inciso II, da Lei nº 9.605/1998, em razão de suposta atipicidade de sua conduta, bem como de eventual insuficiência de provas quanto à materialidade e autoria delitivas, além de alegado erro sobre a ilicitude do fato. Aduziu pela substituição da pena de prestação de serviços à comunidade pelo pagamento de cesta básica, na forma do art. 43, I, do Código Penal.

Diante do exposto, entendeu o d. Relator:

“[...]

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Diante de sua admitida larga experiência enquanto pescador profissional registrado na categoria ‘industrial’ junto às autoridades competentes (fls. 21 e 88), não há de se cogitar, na presente hipótese, eventual erro sobre a ilicitude do fato ou mesmo sobre os elementos do tipo.

Ausente na audiência de instrução realizada em 25.06.2015, ficou prejudicada a realização de seu interrogatório judicial (fls. 376/378), nos moldes do art. 367 do Código de Processo Penal.

Ouvida em sede policial (fls. 17/18) e em juízo (fls. 381/382), a testemunha de acusação e policial militar ambiental Elias Ramos confirmou ter prestado apoio em terra à ação fiscalizatória conjunta realizada em 18.09.2012, tendo se dirigido na ocasião ao cais comercial do Porto de São Sebastião onde aguardara a chegada das embarcações flagradas, na mesma data, em frente à Praia de Juquehy, efetuando ‘arrasto de portas’ em local proibido, nas quais vieram a ser encontradas redes, portas de arrasto e também certa quantidade de camarão, inclusive na ‘Aquarius I’. No mais, salientou que na área de zoneamento ecológico marítimo em tela seria proibida a pesca de arrasto, não obstante tenha admitido que, entre as praias do Toque-Toque Pequeno e da Barra do Uma, houvesse uma área em que a pesca de arrasto seria mesmo vedada e uma outra área onde seria, supostamente, permitida.

Ouvida em juízo (fls. 156/157), a testemunha de acusação e analista ambiental do Ibama Ignácio Augusto de Mattos Santos asseverou, por sua vez, que ‘dentro da Z2ME somente é permitida a pesca artesanal, excetuando-se o arrasto’, e que todas as três embarcações apreendidas estavam em operação, no momento da aborda-gem, efetuando pesca de arrasto de camarão em local não permitido, inclusive já estocando consigo certa quantidade de pescado, ainda que pequena.

Ouvido em sede policial (fls. 13/14), o soldado PM/SP Antonio Félix Pimenta Neto confirmou ter flagrado três embarcações atuando em área de zoneamento ecológico--econômico, situado entre as praias de Toque-Toque Pequeno e Barra do Una, em São Sebastião/SP, sendo que, no momento da abordagem, todas as embarcações apreendidas ‘estavam efetuando “arrasto de portas” em local proibido pela legisla-ção (Decreto nº 49.215/2004)’, inclusive a ‘Aquarius I’, que fora abordada na Praia de Juquehy tendo como tripulantes, notadamente, [...], ambos presos em flagrante delito.

Destarte, a materialidade e autoria delitivas, assim como o dolo do acusado, em relação à conduta devidamente tipificada no art. 34, caput, e parágrafo único, inciso II, da Lei nº 9.605/1998, restaram cabalmente comprovadas, sendo mantido, de rigor, o decreto condenatório.

No mais, mantenho a substituição da pena privativa de liberdade regularmente já aplicada pelo magistrado sentenciante, no mínimo patamar legal, por uma única restritiva de direitos consistente em prestação de serviços à comunidade, pelo mes-mo prazo da pena corporal substituída, em entidade a ser designada pelo juízo da execução, consoante a r. sentença de fls. 398/408, nos moldes do art. 44, § 2º, 1ª parte, e do art. 59, caput e inciso IV, ambos do Código Penal, e também dos arts. 6º, 7º, 8º e 9º, todos da Lei nº 9.605/1998.

Da execução provisória da pena

Em sessão de julgamento de 05 de outubro de 2016, o Plenário do Supremo Tri-bunal Federal entendeu que o art. 283 do Código de Processo Penal não veda o

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início do cumprimento da pena após esgotadas as instâncias ordinárias, e indeferiu liminares pleiteadas nas Ações Declaratórias de Constitucionalidade nºs 43 e 44.

Desse modo, curvo-me ao entendimento do Supremo Tribunal Federal, que reinter-pretou o princípio da presunção de inocência no julgamento do HC 126.292/SP, reconhecendo que ‘A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não compromete o princípio constitucional da presunção de inocência afirmado pelo art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal’.

Diante desse cenário, independentemente da pena cominada, deve ser determinada a execução provisória da pena decorrente de acórdão penal condenatório, proferido em grau de apelação.

Destarte, exauridos os recursos nesta Corte e interpostos recursos dirigidos às Cortes Superiores (Recurso Extraordinário e Recurso Especial), expeça-se Carta de Sen-tença, bem como comunique-se ao Juízo de Origem para o início da execução da pena imposta ao réu, sendo dispensadas tais providências em caso de trânsito em julgado, hipótese em que terá início a execução definitiva da pena.

Ante o exposto, nego provimento ao apelo da defesa.

É como voto.”

Assim, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região negou provimento à apelação.

2321 – Poluição – instalações potencialmente poluidoras – ausência de licença – dano ambiental – comprovação

“Apelação criminal. Crime de causar poluição e de proceder a instalações potencial-mente poluidoras, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes. Arts. 54 e 60, da Lei nº 9.605/1998. Sentença condenatória. Pretensão absolutória. Afas-tamento. Autoria e materialidade bem delineadas pelas provas dos autos. Réu que insta-lou sem licença nem autorização ambiental suinocultura de larga escala, sem direciona-mento dos dejetos, causando desequilíbrios ambientais com o vazamento de afluentes potencialmente poluidores. Infringência clara das normas de proteção ambiental, in-clusive com a continuidade da degradação mesmo após o embargo da obra pelo IAP. Elementos constantes nos autos que demonstram a materialidade do dano ambiental. Art. 158 c/c art. 167 ambos do CPP, em cotejo com art. 79 da Lei nº 9.605/1998. Con-denação que se mantém. Dosimetria devidamente aferida. Pretensão de substituição da pena por apenas uma restritiva de direitos. Impossibilidade. Pena superior a um ano de reclusão. Sentença escorreita. Recurso desprovido. I – O apelante incorreu em crime ambiental quando promoveu a instalação de estabelecimento comercial para exercer a atividade de suinocultura, mesmo sem licença ambiental, sendo constatado por perícia técnica e provas testemunhais e documentais que a suinocultura de larga escala, realiza-da pelo apelante, ocasionou o direcionamento indevido de dejetos no meio ambiente, causando desequilíbrios ambientais com o vazamento de afluentes potencialmente po-luidores, redundando em infringência clara às normas de proteção ambiental, inclusive com a continuidade da degradação mesmo após o embargo da obra pelo IAP. II – Deve ser ressaltado que a proteção do equilíbrio ambiental, ainda mais no seu aspecto natural, se trata de um bem jurídico de natureza transindividual e difusa, que interessa não só a todos os cidadãos como também às suas futuras gerações, de titularidade indeterminada

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e cuja lesão não pode ser dividida, afetando a todos indistintamente e por vezes de modo irreversível, tratando-se efetivamente de um bem jurídico de específicas características (Cf. CAVEDON, Ricardo. Teoria geral dos direitos coletivos: releitura da racionalidade dos direitos fundamentais gerações. Ed. Juruá, 2015), sendo certo que no presente caso os vazamentos de efluentes e o descarte indevido de dejetos observados no local podem causar danos graves à saúde humana, mortandade de animais na localidade e também a destruição da flora e dos recursos hídricos existentes no local.” (TJPR – ACr 1558361-6 – 2ª C.Crim. – Rel. Des. Laertes Ferreira Gomes – DJe 07.03.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou pos-sam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de ani-mais ou a destruição significativa da flora:

Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.

[...]

Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluido-res, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes:

Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativa-mente.”

2322 – Poluição sonora – fábrica de empacotamento de arroz – parâmetro acústico de conforto humano – normas ABNT – configuração

“Apelação. Ação de obrigação de fazer. Direito de vizinhança. Direito ambiental. Fábri-ca de empacotamento de arroz. Poluição sonora. Parâmetro acústico de conforto huma-no. Normas ABNT. Vistoria administrativa. Presunção relativa de veracidade. Admissão de prova em sentido contrário. 1. As normas NBR 10151 e 10152 estipulam o método e os valores para aferição do limite acústico de conforto humano. 2. Os atos perpetrados por agentes públicos gozam de presunção de veracidade, podendo ser derruída em ra-zão de prova em sentido contrário.” (TJMG – AC 1.0324.15.006373-7/001 – 14ª C.Cív. – Relª Cláudia Maia – DJe 03.02.2017)

Remissão Editorial SÍNTESEVide RSA nº 26, jul./ago. 2015, ementa nº 1633 do TJGO.

2323 – Poluição sonora – ruídos acima do limite legal – laudo pericial conclusivo – dano ambiental – configuração

“Remessa necessária e apelação cível. Pedido de efeito suspensivo. Indeferido. Mérito. Poluição sonora. Ruídos acima do limite legal. Laudo pericial conclusivo. Dano ambien-tal. Sentença mantida. Recurso desprovido. Remessa necessária prejudicada. 1. No caso em análise, o recurso de apelação [art. 1.012, § 1º, inciso V do NCPC] deve ser recebido apenas no efeito devolutivo, razão pela qual a sentença poderá será executada proviso-

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riamente. 2. Nos termos do art. 225 da Constituição Federal ‘Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações’. 3. A responsabilidade de preserva-ção do meio ambiente é atribuída ao Poder Público e à Coletividade, tornando-se mais acentuada tendo em vista a obrigação assumida pelo Estado brasileiro em diversos com-promissos internacionais de garantir o uso sustentável dos recursos naturais em favor das presentes e futuras gerações. 4. Recurso conhecido e desprovido. 5. Remessa Necessária prejudicada. (TJES – Ap-RN 0010403-83.2011.8.08.0021 – Rel. Des. Arthur José Neiva de Almeida – DJe 13.03.2017)

2324 – Terra indígena – dano ambiental – degradação – imprescritibilidade

“Processual civil. Civil. Apelação cível. Ação de reparação de danos materiais e mo-rais. Ricochete do dano ambiental. Degradação de terra indígena. Índios. Capacidade civil plena. Pretensão indenizatória de natureza civil. Interesses individuais. Prescrição. Art. 206, § 3º, V, do Código Civil. 1. A Constituição Federal, em seu art. 232, reconheceu a capacidade civil e postulatória dos silvícolas e suas comunidades, o que lhes confere capacidade para o exercício pleno de todos os atos da vida civil. 2. Os índios possuem capacidade civil plena, não lhes sendo aplicável o disposto no art. 198, I, do Códi-go Civil. 3. ‘Em matéria de prescrição cumpre distinguir qual o bem jurídico tutelado: se eminentemente privado seguem-se os prazos normais das ações indenizatórias; se o bem jurídico é indisponível, fundamental, antecedendo a todos os demais direitos, pois sem ele não há vida, nem saúde, nem trabalho, nem lazer, considera-se imprescritível o direito à reparação [...] O dano ambiental inclui-se dentre os direitos indisponíveis e como tal está dentre os poucos acobertados pelo manto da imprescritibilidade a ação que visa reparar o dano ambiental’ (Recurso Especial nº 1.513.156/CE, Rel. Min. Hum-berto Martins, 25.06.2015). 4. No caso, a pretensão dos Recorrentes encontra amparo no art. 927, do Código Civil, c/c o art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, e visa à tutela de interesses individuais violados em decorrência de lesão ao meio ambiente. 5. A reparação dos danos morais e materiais individuais, surgidos como reflexo do dano ambiental registrado em terras indígenas, está sujeita ao prazo de prescrição trienal, previsto no art. 206, § 3º, V, do Código Civil. 6. Recurso desprovido.” (TJES – Ap 0004138-08.2014.8.08.0006 – Rel. Des. Samuel Meira Brasil Junior – DJe 10.03.2017)

2325 – Terras indígenas – demarcação – ilegitimidade da prefeitura – configuração“Processo civil. Direito constitucional. Demarcação de terras indígenas no Município de Douradina/MS. Ação declaratória. Ilegitimidade da prefeitura. Designação de gru-po de Estado. Sucumbência invertida. Preliminar rejeitada. Apelações e remessa oficial providas. Afasto a preliminar de nulidade da sentença. 2. O Município, em sua inicial, é expresso no sentido de impedir a demarcação das terras indígenas em seu território. 3. Portanto, o juízo a quo, ao dar parcial provimento ao pedido do autor, para o fim de declarar, que não há nenhuma irregularidade na celebração do Compromisso de Ajus-

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tamento de Conduta entre o Ministério Público Federal e a Funai, mas que apenas e tão só as terras tradicionalmente ocupadas por indígenas, na data de 5 de outubro de 1988, poderão ser objeto de estudos demarcatórios, não julgou mais ou fora do que foi pedido. 4. Quanto à ilegitimidade de parte, acolho o pedido do Ministério Público Federal, da União Federal e da Funai. 5. O Município de Douradina ajuizou ação declaratória c/c anulação de ato jurídico com o fim de impugnar o Compromisso de Ajustamento de Conduta firmado entre o MPF e a Funai, que tem o objetivo de impulsionar a demarca-ção de terras indígenas no Estado do Mato Grosso do Sul. 6. O Município de Douradina não tem legitimidade extraordinária para ajuizar ações visando a defesa de interesse de particulares. 7. Ocorre que o processo para identificação da área indígena foi instaurado através das Portarias nºs 788 a 793, limitando-se a constituir grupo técnico com o obje-tivo de realizar a primeira etapa dos estudos de natureza etno-histórica, antropológica e ambiental necessários à identificação e delimitação de terras tradicionalmente ocupa-das pela comunidade Guarani na região que compreende vários municípios localizados em Mato Grosso do Sul. 8. Seu objetivo não é a demarcação de área indígena e, sim, sua identificação, com posterior demarcação, tratando-se de trabalho que antecede o processo de demarcação das terras indígenas. Trata-se de medida destinada, apenas, à identificação da área, não tendo o condão de criar ou extinguir direitos, sem qualquer relação jurídica que vincule o Município à Funai. 9. Não há qualquer interesse jurídico a ser defendido pelo Município de Douradina/MS, tendo em vista que não há prova de que tenha recaído sobre imóveis públicos municipais, tratando-se de discussão no feito patrimonial, sem cunho institucional ou político. 10. Não bastasse isso, o fato do Mu-nicípio de Douradina/MS vir a sofrer prejuízos financeiros com a entrega das terras aos indígenas, não lhe dá direito de ajuizar o feito. 11. Assim, o autor não tem legitimidade/interesse em impugnar o compromisso de ajustamento de conduta firmado entre o MPF e a Funai. 12. Invertido os honorários de sucumbência.” (TRF 3ª R. – Ap-RN 0004166-14.2008.4.03.6002/MS – 5ª T. – Rel. Des. Fed. Paulo Fontes – DJe 01.03.2017)

2326 – Terras indígenas – desapropriação indireta – indenização – arrendamento – impossibilidade

“Agravo de instrumento. Reintegração de posse. Terras indígenas. Conversão. Desapro-priação indireta. Indenização. Arrendamento. Impossibilidade. Agravo de instrumento provido. 1. Ausente o pedido indenizatório na possessória, diante do princípio da con-gruência ou adstrição entre o pedido da parte e a tutela jurisdicional a ser concedida, não vislumbro a possibilidade de sua conversão em ação de desapropriação indireta na hipótese, sob pena de ser proferida decisão além dos limites do pedido ou de natureza diversa daquela que foi pedida, a ensejar sua nulidade. 2. A União e a Funai não podem ser compelidas a firmar contrato de arrendamento rural – de natureza particular, depen-dente de sua vontade –, se nem há elementos para definir, nos autos subjacentes, quais seriam as áreas ‘irregularmente’ ocupadas pelos indígenas e, consequentemente, a quem se pagaria o arrendamento, tornando a decisão de difícil, para não dizer impossível, cumprimento, o que, na prática, poderia dar azo a eventuais pagamentos indevidos, causando prejuízo ao Erário. 3. A determinação de bloqueio orçamentário da União e da Funai, para pagamento do aludido arrendamento rural, por sua vez, encontra óbice

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nas regras de execução contra a Fazenda Pública. 4. Agravo de instrumento provido.” (TRF 3ª R. – AI 0032376-29.2014.4.03.0000/MS – 1ª T. – Rel. Des. Fed. Hélio Nogueira – DJe 17.02.2017 – p. 162)

Comentário Editorial SÍNTESE

Trata-se de Agravo de Instrumento, com pedido de antecipação de tutela recursal, interposto pela União, contra decisão proferida nos autos da ação de reintegração de posse em face da agravante, da Funai – Fundação Nacional do Índio e Edilberto Antonio, a qual tramita perante a 5ª Vara Federal de Campo Grande/MS (autos nº 0000760-78.2014.403.6000).

Referida decisão agravada converteu a ação possessória em desapropriação indire-ta do usufruto, mantendo os indígenas na posse da gleba litigiosa, observando às partes que a indenização da terra nua e das benfeitorias depende de manifestação dos nus-proprietários; converteu a liminar de reintegração na posse em obrigação da União e da Funai de pagar à autora, na condição de usufrutuária, a título de indenização pelo apossamento definitivo, a renda mensal prevista no contrato de arrendamento, na ordem de R$ 831,30, sujeita ao reajustamento também previsto naquele instrumento, sendo o termo inicial da obrigação a data do apossamento pelos silvícolas – 09.10.2013 – enquanto que o termo final coincidirá com o paga-mento do preço total do imóvel aos nus-proprietários, a título de desapropriação, ou a data do ato da autoridade competente, declarando o imóvel como terra da União; determinou que o pagamento das parcelas vencidas e vincendas deve ser feito pelas rés, independentemente de precatório, no prazo de 10 dias, sob pena de bloqueio de verbas.

O Juiz a quo proferiu a decisão agravada, de conversão da ação em desapropriação indireta com ordem de pagamento de arrendamento pela União.

A União sustenta, em seu recurso, que, não poderia ter havido a conversão da ação de reintegração de posse em ação de desapropriação indireta, uma vez que, não houve qualquer pedido da autora nesse sentido.

Alega ainda que não cabe qualquer indenização aos proprietários de terras em vir-tude de reconhecimento da área como terra tradicionalmente indígena e que não é possível o bloqueio ou sequestro de verbas da União, devendo ser observadas as regras para pagamento de precatórios.

Assim votou o Nobre Relator, dando provimento aos pedidos formulados pela União:

“[...] Afirmou o MM. Juiz a quo a fungibilidade dos procedimentos, a fim de afastar a aplicação do princípio dispositivo e permitir também a indenização pela perda definitiva da posse, de forma imediata, afastando a necessidade de precatório, im-pondo à União a obrigação de pagamento de arrendamento de terras invadidas por indígenas, como compensação pelos danos causados até que a questão da posse seja definitivamente resolvida, sob pena de bloqueio de valores.

Todavia, conforme apontado pelo Ministério Público Federal em sua manifestação de fls. 426/427, apesar da existência de algumas decisões que admitem a con-versão da ação de reintegração de posse em desapropriação indireta, na hipótese,

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não houve pedido dos autores da ação de indenização pela perda da posse ou da propriedade.

Ausente o pedido indenizatório, diante do princípio da congruência ou adstrição entre o pedido da parte e a tutela jurisdicional a ser concedida, não vislumbro a possibilidade da referida conversão na hipótese, sob pena de ser proferida decisão além dos limites do pedido ou de natureza diversa daquela que foi pedida, a ensejar sua nulidade.

Ainda que se tenha primado pela economia processual, mediante aplicação do prin-cípio da fungibilidade, o princípio dispositivo há que ser observado, o que implica a reforma da decisão recorrida.

Outrossim, também não há qualquer supedâneo legal para o estabelecimento da obrigação de pagamento de valores a título de arrendamento aos proprietários de terras invadidas, ou que vierem a sê-lo, na região em questão, enquanto não efeti-vada a demarcação das terras indígenas. O contrato de arrendamento tem natureza bilateral, e dependeria da anuência dos proprietários das terras ocupadas pelos ín-dios, o que não se evidenciou na hipótese dos autos. Da mesma forma que a União ou a Funai também não podem ser compelidas a firmar contrato de arrendamento rural – de natureza particular, dependente de sua vontade, o que, na prática, poderia dar azo a eventuais pagamentos indevidos, causando prejuízo ao Erário.

A determinação de bloqueio orçamentário da União, para pagamento do aludido arrendamento rural, por sua vez, encontra óbice nas regras de execução contra a Fazenda Pública, que deve se nortear pelo art. 100 da Constituição Federal, que instituiu o sistema de liquidação de débitos pela expedição de precatórios (ou, de-pendendo do caso, pela Requisição de Pequeno Valor – RPV), restando vedada a penhora de seus bens sob qualquer hipótese, bem como afronta os princípios orça-mentários estampados no art. 167, incs. I e VIII da Lei Maior.

Neste diapasão, escólio de Leonardo José Carneiro da Cunha: ‘Assim, todas as exe-cuções de créditos pecuniários propostos em face da Fazenda Pública – indepen-dentemente da natureza do crédito ou de quem se figure como exequente – devem submeter-se ao procedimento próprio do precatório, atendendo-se às regras inscritas nos arts. 730 e 731 do CPC e, igualmente, ao comando hospedado no art. 100 da Constituição Federal’ (in A fazenda pública em juízo, Dialética, 5. ed., p. 245).

Diante de todo o exposto, dou provimento ao agravo, para reformar integralmente a decisão recorrida, afastando a possibilidade de conversão da possessória em de-sapropriação indireta e imposição de pagamento de arrendamento aos proprietários das terras ainda não demarcadas e ocupadas por indígenas de forma irregular, bem como a determinação de bloqueio orçamentário da agravante. [...]”

2327 – Unidade de conservação – desmatamento irregular – dano ambiental – com-provação

“Apelação criminal. Unidade de conservação. Desmatamento irregular. Dano ambien-tal. Materialidade. Boletim de ocorrência ambiental. Auto de apreensão. Coordenadas geográficas. Perícia. A materialidade do crime de dano causado ao meio ambiente, con-quanto deixe vestígios, pode ser constatada por meio de prova diverso da perícia técnica, se o auto de infração, boletim de ocorrência ambiental e laudo técnico de profissional

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habilitado indicam corresponder a área do imóvel desmatado às coordenadas geográfi-cas das Unidades de Conservação Ambiental.” (TJRO – Ap 0019718-58.2014.8.22.0501 – Rel. Des. Daniel Ribeiro Lagos – DJe 08.02.2017)

Remissão Editorial SÍNTESEVide RSA nº 20, jul./ago. 2014, Ementa nº 1171 do TJRO.

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Seção Especial – Parecer

Intervenção em Área de Preservação Permanente

Pareceres administrativos são manifestações de órgãos técnicos sobre assuntos submetidos à sua consideração. O parecer tem caráter meramente opinativo, não vinculando a Administração ou os particulares à sua motivação ou conclusões. (Hely Lopes Meirelles)

REQUERENTE: XXXXXXXXXXX

AUTOS NÚMERO: XXXXXXXXXX

ASSUNTO: “INTERVENÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE”

EXCELENTÍSSIMO SENHOR PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO,

A XXXXXXXXXXXX encaminhou pedido de parecer versando sobre “supressão de seis árvores em Área de Preservação Permanente, com a fina-lidade de construção de uma ponte na referida área”, endereçado à Procu-radoria Jurídica do Município.

O pedido veio desacompanhado de documentos instrutórios ou com-probatórios.

É o sucinto relatório.

À guisa de introdução, é mister registrar que, ex vi da orientação tra-çada no art. 7º da Lei nº 3.988, de 6 de outubro de 2010, a matéria tributária não será objeto de análise, nesta ocasião, uma vez que é afeta ao Departa-mento Fiscal e Tributário da Procuradoria-Geral do Município.

1 DA INTERVENÇÃO EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE

Inicialmente, é forçoso verificar a competência municipal para au-torizar a intervenção em Área de Preservação Permanente e, mais especi-ficamente, para emitir autorização para supressão de seis árvores no local, visando à construção de uma ponte no modal rodoviário.

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As áreas de proteção ambiental possuem fundamento constitucional no art. 225, inciso III, da Constituição Federal. Veja-se:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo--se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

[...]

III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a su-pressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

[...].

O conceito genérico comporta, entre outras espécies, a Área de Pre-servação Permanente, a qual é definida pelo novo Código Florestal da se-guinte forma:

Art. 3º [...]

[...]

II – Área de Preservação Permanente – APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hí-dricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas;

[...].

Na situação ora descrita, resta caracterizada a APP, uma vez tratar-se de mata ciliar, de acordo com o art. 4º do mesmo diploma legal, verbis:

Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei:

I – as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermiten-te, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de: (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012)

a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;

[...].

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É prisma de sustentação do Direito Ambiental que qualquer “altera-ção” a ser realizada em APP deve ser compreendida como exceção. As APP devem ser entendidas enquanto porções de terra específicas delimitadas na propriedade, seja ela urbana ou rural, nas quais não se admite a exploração do solo e/ou a supressão da cobertura vegetal, salvo com autorização do Poder Público.

O novel Código Florestal elenca as hipóteses em que pode o Poder Pú-blico determinar a inserção na APP. O art. 8º, caput, da Lei nº 12.651/2012 assim dispõe:

Art. 8º A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preser-vação Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto ambiental previstas nesta Lei.

§ 1º A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, dunas e restin-gas somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública.

§ 2º A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preserva-ção Permanente de que tratam os incisos VI e VII do caput do art. 4º poderá ser autorizada, excepcionalmente, em locais onde a função ecológica do manguezal esteja comprometida, para execução de obras habitacionais e de urbanização, inseridas em projetos de regularização fundiária de interesse social, em áreas urbanas consolidadas ocupadas por população de baixa renda.

§ 3º É dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a exe-cução, em caráter de urgência, de atividades de segurança nacional e obras de interesse da defesa civil destinadas à prevenção e mitigação de acidentes em áreas urbanas.

§ 4º Não haverá, em qualquer hipótese, direito à regularização de futuras intervenções ou supressões de vegetação nativa, além das previstas nesta Lei.

Conforme as hipóteses legais, quais sejam: utilidade pública, interes-se social ou baixo impacto ambiental, o caso descrito em tela, s.m.j., deve estar caracterizado como hipótese de utilidade pública, a ser confirmado em parecer técnico ambiental, haja vista tratar-se de uma construção de ponte (sistema viário). Essa é a disposição do art. 3º:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

[...]

VIII – utilidade pública:

[...]

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b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços públicos de transporte, sistema viário, inclusive aquele necessário aos parcelamentos de solo urbano aprovados pelos Municípios, saneamento, gestão de resíduos, energia, telecomunicações, radiodifusão, instalações necessárias à realiza-ção de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais, bem como mineração, exceto, neste último caso, a extração de areia, argila, sai-bro e cascalho;

[...].

2 DA COMPETÊNCIA MUNICIPAL PARA EMISSÃO DE AUTORIZAÇÕES DE INTERVENÇÃO EM APP

Ultrapassada a definição, cabe delinear as competências dos entes federativos para emissão da supressão suplicada e, para tanto, cumpre men-cionar que a legislação ambiental separa as hipóteses de intervenção e su-pressão nestas áreas protegidas.

O Código Florestal de 2012, por sua vez, não prevê dispositivo cor-respondente sobre as definições de competências, na medida em que o mencionado art. 8º omite tais informações.

Na vigência do Código Florestal anterior, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) expediu a Resolução nº 369/2006 sobre o assun-to, delimitando as competências aos entes federativos. Em que pese posi-cionamentos diversos, partilho o entendimento de que a Resolução Cona-ma nº 369/2006 encontra-se sem efeitos, sendo que o regime jurídico de autorização para fins de intervenção ou supressão de vegetação em área de preservação permanente, nos casos de interesse social, utilidade públi-ca e baixo impacto ambiental, encontra-se integralmente inserido na Lei nº 12.651/2012.

No âmbito regional, o Estado de Minas Gerais, a fim de dirimir tal questão, editou a Resolução Conjunta IEF/Semad nº 1.905/2013, publicada no DOE em 13 de agosto de 2013, a qual dispõe sobre os processos de au-torização para intervenção ambiental no respectivo âmbito federativo.

Para a situação descrita nos autos, a qual trata-se de corte de árvores em APP, a referida resolução delineou a competência ao Copam. Veja-se:

Art. 16. Compete à Comissão Paritária – Copa do Copam, autorizar as se-guintes intervenções ambientais, quando não integradas a processo de licen-ciamento ambiental:

I – Supressão de cobertura vegetal nativa com destoca ou sem destoca para uso alternativo do solo.

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II – Intervenção em APP com supressão de vegetação nativa.

III – Manejo florestal sustentável de vegetação nativa, inclusive em áreas pro-tegidas.

IV – Supressão de maciço florestal de origem plantada, com presença de sub--bosque nativo com rendimento lenhoso.

V – Corte ou aproveitamento de exemplares arbóreos nativos isolados vivos se localizados dentro de áreas de preservação permanente ou reserva legal.

Parágrafo único. As intervenções ambientais de que tratam este artigo quan-do relacionadas às obras essenciais de infraestrutura destinadas aos serviços públicos de transporte, saneamento, abastecimento público, energia, conten-ção de enchentes e encostas, desenvolvidas por órgãos e entidades do Poder Público, bem como seus contratados, serão decididas pelos Superintenden-tes Regionais de Regularização Ambiental.

Todavia, o mesmo diploma legal definiu a competência municipal para a concessão da intervenção, exclusivamente em área urbana, como, in casu, nos termos do art. 18, a seguir transcrito:

Art. 18. As intervenções ambientais de que tratam os arts. 16 e 17 desta Re-solução Conjunta são de competência do órgão ambiental municipal quando se referirem às intervenções realizadas em área urbana, nos termos da Lei Complementar nº 140, de 8 dezembro de 2011, ressalvada a competência supletiva do órgão ambiental estadual.

Portanto, como a área de intervenção requerida, conforme solicitação de fls. 02, é localizada no quilometro três da Rodovia BR-356, próxima ao estabelecimento empresarial denominado Via Park Club, na forma da Lei Municipal nº 802, de 30 de maio de 1979, está a mesma situada dentro do perímetro urbano, fixando, portanto, a competência do órgão ambiental municipal para concessão autorização para a referida intervenção suplica-da, conforme regulamentação municipal.

CONCLUSÃO

Conforme esposado anteriormente, inferem-se as seguintes con-clusões:

• AintervençãoemAPPparaconstruçãodaponterodoviáriasi-tua-se dentro das hipóteses legais autorizadoras, enquadrando--se como de utilidade pública, de acordo com o novo Código Florestal;

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• OMunicípiodeXXXXXécompetente,pormeiodeseuórgãoam-biental especializado, para a concessão da referida autorização, nos termos da Resolução Conjunta IEF/Semad nº 1.905/2013, nos termos das normas municipais;

• Deveoórgãoambiental, antesdaanálisedapossibilidadedeconcessão da intervenção, proceder à juntada de Parecer Téc-nico, devendo atentar, em especial, sem prejuízo das demais normas aplicáveis, na necessária compensação ambiental, fun-dada no grau de impacto negativo e não mitigável aos recursos ambientais.

Deixo de analisar em concreto eventual autorização ou desautoriza-ção de alteração, haja vista a insuficiência de informações e documentos, estando o presente parecer adstrito na fixação da competência municipal para o feito e o enquadramento da respectiva situação em hipótese excep-cionalmente permitida na legislação.

Salvo melhor juízo, este é meu parecer.

Muriaé, 8 de maio de 2014.

Ricardo Resende Bersan Procurador Jurídico Municipal

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Clipping Jurídico

Tribunal mantém cobrança de taxa ambiental em Bombinhas (SC)A Taxa de Preservação Ambiental (TPA) instituída pelo Município de Bombinhas (SC) seguirá sendo cobrada dos visitantes da praia. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) negou liminarmente, recurso impetrado pela Defensoria Pública da União (DPU) que pedia a suspensão da cobrança. A TPA, que tem por objetivo minimizar os impactos ao meio ambiente causados pela população excessiva durante o verão, foi criada em 2014 e é cobrada de 15 de novembro a 15 de abril dos veículos que entram na praia. A taxa varia de R$ 3,00 para motocicleta até R$ 130,50 para ônibus. A DPU ajuizou ação civil pública con-tra o Município, alegando que apenas os veículos estrangeiros estariam sendo parados pela fiscalização e obrigados a pagar de imediato e que os veículos bra-sileiros ou não eram parados ou, caso abordados, tinham a permissão de pagar posteriormente pela Internet. Para a Defensoria, a diferença de tratamento entre brasileiros e estrangeiros afrontaria o Protocolo de Cooperação e Assistência Jurisdicional em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa – Pro-tocolo de Las Leñas –, que expressamente equipara os nacionais do Mercosul. Segundo a prefeitura, muitos estrangeiros deixavam de pagar a taxa amparados na impossibilidade de o Município efetuar a cobrança posteriormente, sendo o pagamento na entrada a solução encontrada. Para o Executivo municipal, o tratamento diferenciado é que garante a isonomia no ato de arrecadação tribu-tária. Após ter a tutela antecipada negada em primeira instância, a DPU apelou ao Tribunal. O relator, juiz federal Alcides Vettorazzi, convocado para atuar na Corte, manteve a decisão da 3ª Vara Federal de Itajaí. Para o magistrado, ou o Município promove a exigência do tributo no momento e local do fato gerador, ou fica à mercê de algo próximo a um voluntarismo do turista estrangeiro em fazer o pagamento. “Convém destacar que as contingências para a cobrança ad-ministrativa ou judicial do tributo inadimplido não existem, na mesma medida, quando se trata de um contribuinte brasileiro, pois a administração tributária municipal tem à sua disposição inúmeros expedientes administrativos e judi-ciais para compelir o cidadão brasileiro à satisfação do crédito tributário”. Em seu voto, Vettorazzi reproduziu trecho da decisão de primeiro grau: “Apesar da diferença no método de arrecadação, o ônus fiscal é distribuído de maneira uniforme, pois todos, nacionais e estrangeiros, estão alcançados pela obrigação tributária. Aos contribuintes que transitam com veículos nacionais é concedida uma forma diferenciada de pagamento em razão das características inerentes ao estatuto jurídico do cidadão residente no País, como a facilidade de cobrança e o acesso a dados constantes nos registros do Poder Público. Aos estrangeiros é exigido apenas que parem seus veículos e procedam à quitação, o que, con-forme já fundamentado acima, e guardadas as limitações do juízo de cognição sumária, parece-nos um critério razoável de cobrança, em razão das circunstân-

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cias do caso concreto” (Processo nº 5001770-95.2017.4.04.0000/TRF). (Con-teúdo extraído do site do Tribunal Regional Federal da 4ª Região)

Material usado em campanha eleitoral poderá ser biodegradávelA Câmara dos Deputados analisa o Projeto de Lei nº 5.569/2016, que obriga os candidatos nas campanhas eleitorais a utilizar pelo menos 30% de material biodegradável, ou seja, que possa ser decomposto por microrganismos vivos presentes no meio ambiente. Para calcular a porcentagem, será levado em con-ta o total declarado à justiça eleitoral. A proposta foi apresentada pelo deputado Felipe Bornier (Pros-RJ), que acredita que os candidatos e os partidos políticos podem dar um exemplo de preocupação com o meio ambiente. “Procuramos viabilizar uma futura destinação adequada aos produtos após as campanhas”, resume. O projeto não altera nenhuma lei existente. A proposta será analisada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, antes de ser votada pelo Plenário. (Conteúdo extraído do site da Câmara dos Deputados Federais)

Anulado auto de infração de proprietário de veículo estacionado em areia de praiaA 6ª Turma do TRF da 1ª Região (TRF1), por unanimidade, negou provimento às apelações do Instituto Brasileiro e do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Ministério Público Federal (MPF) contra a sentença da 2ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Santarém/PA, que concedeu a segu-rança a um motorista, ora impetrante, para cancelar auto de infração e termo de apreensão de veículo que havia sido estacionado na areia da praia da Praia do Tapari de Santarem. Em suas razões, o Ibama alegou que a conduta praticada pelo requerente é considerada infração ambiental. Conforme fiscalização, um veículo caminhonete foi flagrado parado na areia da praia do Município. De-fendeu o instituto que houve constatação de danos ambientais decorrentes da poluição e afirmou que a responsabilidade pelo dano ambiental é objetiva, não sendo necessária a comprovação de dolo ou culpa. O Ministério Público, por sua vez, invocou dispositivo constitucional e legislação municipal sustentando que a conduta do impetrante causou dano ao meio ambiente. Em seu voto, o re-lator, desembargador federal Jirair Aram Meguerian, esclareceu que, “ainda que se entenda que a responsabilidade por danos ambientais é objetiva, na hipótese não há como manter a higidez do auto de infração. Não é possível mensurar, pela descrição genérica, tendo em vista os elementos de prova juntados aos autos, que o apelante tenha sido responsável ou que tenha contribuído para os danos ambientais constantes do Relatório de Fiscalização”. O magistrado con-cluiu dizendo que há de se considerar que a fiscalização presumiu que o impe-trante foi o responsável pela poluição noticiada e que alargou demasiadamente sua responsabilização pelos danos causados ao meio ambiente, se baseando em princípios constitucionais. “Portanto, tendo em vista a ausência de com-

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provação de que a conduta do impetrante tenha ensejado prejuízo ambiental ou tenha configurado ato ilícito, considera-se indevida a multa vergastada e nulo o auto de infração”. Nesses termos, o Colegiado, acompanhando o voto do relator, negou provimento aos recursos de apelação (Processo nº 0000610-48.2011.4.01.3902). (Conteúdo extraído do site do Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

Criação amadora de pássaros tem por fim preservação das espéciesA 6ª Turma do TRF da 1ª Região (TRF1), por unanimidade, deu provimento à apelação interposta contra a sentença da 5ª Vara Federal da Seção Judiciá-ria de Minas Gerais, que julgou extinto o processo, sem resolução do mérito, por entender que não havia provas que demonstrassem que o Instituto Bra-sileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tenha negado o pedido de recadastramento do impetrante como criador amadorista de pássaros. Ao analisar o caso, o relator, Desembargador Federal Jirair Aram Meguerian, verificou que foi juntado aos autos documento formulado pelo re-querente solicitando seu recadastramento no Ibama, constando, ainda, o re-gistro de recebimento pelo órgão. O instituto, em manifestação, demonstrou resistência em conceder a autorização ao impetrante. O magistrado destacou o parecer do Ministério Público Federal (MPF), no qual o ente público susten-ta que o apelante cria pássaros há anos e realiza atividade de preservação de diversas espécies sem exercer atividade comercial. Sendo assim, a criação de pássaros pelo impetrante é de relevante interesse social. Ponderou o desem-bargador que, conforme Instrução Normativa nº 1/2003, “criador amadorista é toda pessoa física que cria e mantém em cativeiro espécimes de aves da Ordem Passeriforme objetivando a preservação e a conservação do patrimônio genéti-co das espécies, sem finalidade comercial”. Segundo esclareceu o magistrado, a finalidade do cadastramento de criadores é a conservação e a preservação das espécies e que o entendimento do TRF1 é pela procedência do pedido. Nesses termos, o Colegiado, acompanhando o voto do relator, deu provimento à apelação para anular a sentença e conceder a segurança, determinando ao Ibama que promova o recadastramento do apelante como criador amadorista de pássaros (Processo nº 0016356-73.2008.4.01.3800). (Conteúdo extraído do site do Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

Tribunal suspende liminar que autorizava proprietários rurais a exercerem atividade econômica na Serra da CanastraO presidente do TRF da 1ª Região (TRF1), desembargador federal Hilton Queiroz, suspendeu a liminar concedida pelo Juízo da Vara Única da Subseção Judiciária de Passos/MG que proibia o Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), requerentes da suspensão da liminar, de

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exercerem fiscalização sobre as áreas particulares ainda não desapropriadas e que autorizava os proprietários de terras a exercerem atividades econômicas em suas propriedades rurais. As instituições alegam que a determinação do Juízo em afastar a incidência do Plano de Manejo do Parque Nacional das terras ain-da não desapropriadas e em estabelecer que fossem essas áreas regidas apenas pela legislação ambiental comum (Código Florestal) expõe aquelas terras a uma condição de fragilidade ambiental. O desembargador Hilton Queiroz afirmou que há grave transtorno à ordem e à segurança pública diante do prejuízo efeti-vo ao sistema nacional de unidade de conservação, considerando que a ordem pública ambiental deve ser compreendida “como a ausência de perturbações ou degradações ambientais bem como que o Parque Nacional da Serra da Ca-nastra é um ambiente de elevada importância para a conservação dos recursos hídricos”. Esclareceu o magistrado, ainda, que, “ao afastar o regime protetivo de unidade de conservação de proteção integral e seu plano de manejo e consentir a prática de atividades econômicas nas áreas particulares, sujeitando-as tão so-mente às regras do Código Florestal, a decisão questionada coloca as áreas ain-da não desapropriadas do Parque Nacional da Serra da Canastra em condição de vulnerabilidade ambiental” (Processo nº 0003585-02.2017.4010000/MG). (Conteúdo extraído do site do Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

Segunda Turma rejeita recurso contra criação de parque ambiental em Caldas (MG)

A 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou recurso especial de um grupo de empresas de mineração que apontava ilegalidades na criação do Santuário Ecológico de Pedra Branca, em Caldas (MG). A decisão foi unânime. Empresas que atuam na área de mineração argumentaram que o Município de Caldas, por meio da Lei Municipal nº 1.973/2006, que criou a Área de Prote-ção Ambiental do Município de Caldas, limitou o aproveitamento de recursos minerais na região, condicionando sua exploração a diferentes autorizações administrativas. Os empresários afirmam que a lei local violou o Código de Pro-cesso Civil e a Lei nº 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, ao não realizar a consulta pública e os estudos técnicos necessários para a criação da unidade de conservação. De acordo com as empresas, a legislação estaria invadindo competência privativa da União para legislar sobre jazidas, minas e outros re-cursos minerais e metalurgia, ao impedir o exercício da atividade de lavra mi-nerária na área de proteção ambiental. De acordo com a Justiça mineira, foram realizadas duas audiências públicas para tratar da criação da área de proteção ambiental. Além disso, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) entendeu que não houve proibição sumária das atividades minerárias nesse caso, pois

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os trabalhos já iniciados podem continuar em execução, desde que não exista potencialidade poluidora. Os fundamentos do acórdão mineiro foram mantidos pelo relator do recurso no STJ, ministro Herman Benjamin. O ministro lembrou que a pretensão da parte de analisar possíveis conflitos entre a lei municipal (Lei nº 1.973/2006) e a lei federal (Lei nº 9.985/2000) não é viável em recurso es-pecial, pois apreciar tal matéria é da competência do Supremo Tribunal Fede-ral (STF). No voto, que foi acompanhado de forma unânime pelo colegiado, o ministro Herman Benjamin considerou inviável, no âmbito do STJ, a análise de eventual inexistência das audiências públicas e dos estudos técnicos. “O aco-lhimento da pretensão recursal relativa à inexistência de audiências, consultas públicas e estudos técnicos demanda o reexame do contexto fático probatório, o que não se admite, ante o óbice da Súmula nº 7 do STJ”, concluiu o ministro (REsp 1549329). (Conteúdo extraído do site do Superior Tribunal de Justiça)

Proposta cria política de estímulo à produção de alimentos sem agrotóxicosO Poder Público terá que adotar um plano de capacitação de agricultores em produção de alimentos seguros, com ênfase na sustentabilidade, quando aná-lises laboratoriais indicarem o uso excessivo ou irregular de agrotóxicos. É o que determina o Projeto de Lei nº 5.131/2016, do deputado Carlos Henrique Gaguim (PTN-TO), em tramitação na Câmara dos Deputados. A adoção do pla-no integra a Política Nacional de Incentivo à Produção de Alimentos Livres de Agrotóxicos e Funcionais, que é criada pelo projeto. Segundo o deputado, o objetivo da política é incentivar o uso de boas práticas para a produção de alimentos livres agrotóxicos; fomentar a produção e o consumo de alimentos funcionais; e melhorar a saúde e a qualidade de vida da população por meio da promoção de práticas alimentares saudáveis. Para atingir esses objetivos, a proposta coloca à disposição da Política Nacional de Alimentos Livres de Agro-tóxicos os instrumentos de política agrícola (como crédito oficial, assistência técnica e extensão rural); os diagnósticos de situação alimentar e nutricional da população; a integração de ações de órgãos públicos da agricultura, saúde e educação; e as campanhas de reeducação alimentar nas famílias e nas escolas. O texto determina ainda que o Estado poderá realizar diagnósticos da situa-ção alimentar e nutricional da população, especialmente da população escolar, com a finalidade de identificar carências nutricionais e disfunções alimenta-res, e adotar medidas de incentivo à produção de alimentos funcionais relacio-nados à reeducação alimentar. Por fim, o projeto inclui os alimentos funcio-nais direcionados à alimentação escolar no Programa de Aquisição Alimentos (PAA). Administrado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o PAA compra a safra produzida por agricultores familiares. O projeto tramita em

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caráter conclusivo nas Comissões de Seguridade Social e Família; Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; e Constituição e Justiça e de Cidadania (Íntegra da proposta: PL 5.131/2016). (Conteúdo extraído do site da Câmara dos Deputados Federais)

Aprovado projeto que proíbe extermínio de cães e gatos por órgãos pú-blicosO Plenário da Câmara dos Deputados aprovou o substitutivo da Comissão de Seguridade Social e Família para o Projeto de Lei nº 3.490/2012, do deputado Ricardo Izar (PP-SP), que proíbe o extermínio de cães e gatos pelos órgãos de controle de zoonoses, canis públicos e estabelecimentos oficiais congêneres. A matéria será enviada ao Senado. A eliminação de cães e gatos fica autorizada apenas nos casos em que esses animais apresentem doenças graves ou infec-tocontagiosas incuráveis e ponham em risco a saúde humana. Para o autor do projeto, a matéria disciplina uma importante questão para a sociedade brasilei-ra. “Agradeço a todos pela votação do texto da Comissão de Seguridade em vez do texto da Comissão de Constituição e Justiça, permitindo a realização de con-vênios com organizações não governamentais”, afirmou Izar. Para o deputado Mauro Pereira (PMDB-RS), trata-se de uma evolução no tratamento de animais. “Hoje temos muitas organizações que cuidam dos animais”, disse. Já o deputa-do Daniel Coelho (PSDB-PE) afirmou que os Governos estaduais e municipais têm de investir na castração dos animais de rua, não na morte indiscriminada desses animais abandonados. “Não dá para admitir que Estados e Municípios continuem a matar cães e gatos. O modelo de controle populacional tem de ser a castração dos animais, nunca o extermínio”, disse. Relator da proposta, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) disse que o texto aprovado avança na “luta necessária” para valorizar a vida dos animais. Após a votação do projeto, foi encerrada a Ordem do Dia do Plenário. (Conteúdo extraído do site da Câ-mara dos Deputados Federais)

Tribunal proíbe exploração mineral em Parque Estadual da Serra da TiriricaA 8ª Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) decidiu, por unanimidade, confirmar a sentença que condenou a Empresa de Mineração Inoã a paralisar as atividades de exploração mineral na encosta no-roeste do Morro do Catumbi, situado no Parque Estadual da Serra da Tiririca (Peset), junto à Rodovia RJ/106, no Município de Niterói (RJ). A decisão, pro-ferida em ação civil pública, proíbe ainda a realização de quaisquer tipos de empreendimentos que impliquem em desmatamento, escavações, desestabili-zação e desfiguração das encostas e dos assoreamentos dos cursos d’água no local, cessando, de forma definitiva, as atividades de exploração ou quaisquer outras atividades que possam poluir ou degradar o meio ambiente. A condena-ção prevê, também, a obrigação de a empresa promover a regeneração da área

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a partir de um plano de recuperação ambiental adequado, a ser apresentado ao Instituto Estadual do Meio Ambiente (Inea), sob pena de multa de R$ 2.000,00 por dia de descumprimento da decisão, o que será caracterizado como crime de desobediência. O Peset foi criado pela Lei Estadual nº 1.901/1991 e abrange aproximadamente 3.493 hectares de uma área que representa, segundo o Inea, um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica da região e, por isso, um dos últimos redutos da biodiversidade local preservado na forma de unidade de conservação de proteção integral. De acordo com o Plano de Manejo do Peset, as nascentes de diversos rios estão localizadas na área do parque, que abriga espécies raras e endêmicas, além de espécies vulneráveis e em perigo de extin-ção, como o pau-brasil. O Peset destaca-se também como opção de ecoturismo para caminhadas ecológicas e montanhismo. Além disso, abriga o ponto culmi-nante do Município de Niterói, ícone do ecoturismo na cidade. Na denúncia, o Ministério Público acusou a empresa de realizar atividade de extração de gnais-se (espécie de rocha) para a produção de brita, causando impactos ambientais relevantes, “tais quais, desmatamento, alteração no padrão topográfico, bem como nas propriedades físicas, químicas e biológicas do local, afetando a biota, as condições estéticas e a qualidade dos recursos ambientais, acarretando um dano ao meio ambiente de difícil recuperação”. No TRF2, o relator do processo, desembargador federal Marcelo Pereira da Silva, considerou que o laudo téc-nico elaborado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente é rico em detalhes sobre as consequências ambientais da atividade: “Supressão total da vegetação, neste específico, nativa; remoção e rebaixamento do solo; alteração do perfil do terreno; entrada de equipamentos pesados no ambiente natural; emissão de material particulado para a atmosfera; emissão de barulho, tanto do núcleo de britagem quanto das detonações do fogo de bancadas; emissão de gases para atmosfera; tráfego de caminhões; e afastamento da fauna silvestre; [...]”. O magistrado citou ainda Parecer Técnico do Ibama e Laudo elaborado pela Superintendência Regional do Departamento da Polícia Federal no Estado do Rio de Janeiro dando conta dos impactos ambientais trazidos pela natureza da atividade desenvolvida pela Mineração Inoã: “A retirada da cobertura vegetal nativa, a destruição do perfil do solo, a descaracterização do relevo, o assore-amento da drenagem local e da baixada situada à jusante da área da lavra e o afastamento da fauna silvestre”. Sendo assim, para Pereira da Silva, não importa que a exploração da área tenha se iniciado em 1989, antes da criação do Pe-set, hoje a atividade é ilegal, uma vez que a Licença de Operação da empresa expirou em 14.07.1993, quando o parque já havia sido criado, o que, por si só, justificaria a não renovação da licença. Não há direito adquirido em matéria ambiental e, uma vez identificado o caráter nocivo da atividade de extração de gnaisse, incompatível com a proteção ambiental aplicada ao Parque Estadual da Serra da Tiririca, deve ser obstada a expedição de novas licenças ambientais,

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não socorrendo à parte interessada o argumento de que a lavra teria se iniciado antes da criação da referida Unidade de Conservação, concluiu o relator (Pro-cesso nº 0204892-30.1999.4.02.5102). (Conteúdo extraído do site do Tribunal Regional Federal da 2ª Região)

Área de desmatamento na Amazônia Legal deve ser recomposta via indeni-zação por danos materiaisA 5ª Turma do TRF da 1ª Região (TRF1) deu provimento aos recursos de apela-ção interpostos pelo Ministério Público Federal (MPF) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para reformar a sentença da 9ª Vara Federal da Seção Judiciária do Pará, que condenou uma empresa e três pessoas ao pagamento de indenização por danos materiais a ser revertido ao fundo destinado à reconstituição dos bens lesados e ao refloresta-mento da área desmatada. Consta dos autos que os envolvidos praticaram ilícito penal consistente na fraude do sistema de controle ambiental implantado pelo Ibama para emissão do Documento de Origem Florestal (DOF), que correspon-de a uma licença obrigatória para o controle de transporte e armazenamento de produtos e subprodutos florestais de origem nativa. A inserção de dados falsos no sistema DOF permitiu que grande número de empresas passasse a ter créditos fictícios, “legitimando, desse modo, operações de comercialização de madeiras extraídas de forma ilegal”. Além de a inserção dos créditos, o ilíci-to se materializava também na impressão dos DOFs para acobertar o produto durante o seu transporte. Ao analisar o processo, o relator, desembargador fe-deral Souza Prudente, sustenta que a Constituição impõe aos Poderes Públicos o “dever de assegurar a efetividade do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, afastando-se, assim, numa interpretação sistêmica, a novação privatista do princípio da dominialidade estatal que ainda literalmen-te restou escrito no texto constitucional”. Destaca o magistrado que a CF/1988 determina o dever impositivo ao Poder Público de assegurar a “efetividade do direito fundamental ao meio ambiente sadio como direito de todos e também a responsabilidade social de todos em garantir esse direito fundamental”. O de-sembargador observa, ainda, que a lei da “política nacional do meio ambiente, que é anterior ao texto constitucional e lhe que serviu de inspiração, já esta-belecia e ainda estabelece, ao instituir a política nacional do meio ambiente, neste País, iluminada pelas conclusões da Conferência Mundial de Estocolmo, em 1972, no sentido de que compete ao Ibama executar a política nacional do meio ambiente e atuar, ainda que supletivamente, no licenciamento de ativida-des efetivas ou potencialmente poluidoras”. Assevera o relator que a “incolumi-dade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica, ainda mais se estiver presente que a atividade econômica, considerada a disciplina

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constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que privilegia a defesa do meio ambiente, que traduz conceito amplo e abrangente das noções do meio ambiente natural, cultural, artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral”. O magistrado afirma que o princípio do desenvolvimento sustentável, “além de impregnado de caráter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilí-brio entre as exigências da economia e as da ecologia subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre va-lores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significati-vos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações”. Segundo o Colegiado, acompanhando o voto do relator, “ficou demonstrada na espécie, a ocorrência do dano ambiental, ca-racterizada pela comercialização ilegal de 9.991,385m³ de madeira, bem como do dano moral coletivo, resultante da agressão difusa derivada dessa condu-ta ilícita, impõe-se o dever de indenizar” (Processo nº 2008.39.00.011767-9). (Conteúdo extraído do site do Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

Rejeitado recurso contra acordo que possibilitou desocupação da orla do Lago ParanoáO Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou recurso de particulares que contes-tava a homologação de um termo de acordo firmado entre o Ministério Público e o Governo do Distrito Federal (GDF) para fiscalização e desobstrução das áreas de preservação permanente do Lago Paranoá. Seguindo o voto do relator, ministro Gurgel de Faria, a 1ª Turma reconheceu a possibilidade de impetra-ção de mandado de segurança por terceiro prejudicado, mas, no caso, enten-deu que não foi demonstrado o direito líquido e certo (que dispensa produção de provas) alegado pelos impetrantes. Dois proprietários de lotes na chamada “ponta de picolé” da QL 12 do Lago Sul, também conhecida como Península dos Ministros, impetraram mandado de segurança no Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) contestando a homologação judicial, feita em primeira instância, do Termo de Acordo e do Plano de Fiscalização e Remoção das Cons-truções e Instalações Erguidas na APP do Lago Paranoá. Conforme os autos, o acordo possibilitou a derrubada de cercas e de construções existentes na cha-mada “área verde” da orla do lago, não só naquela como em outras quadras da Região Administrativa do Lago Sul. Um dos recorrentes é o espólio de Francisco Manoel Xavier de Albuquerque, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal. Os proprietários queriam suspender os atos executivos da sentença que deter-minou a desocupação da orla. Pediam, ainda, a nulidade dos autos de infração

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lavrados pelo GDF em razão das ocupações do espaço público. Os particulares sustentaram, por fim, que as chamadas áreas de proteção permanente (APP) não se destinariam ao uso por parte da população. O TJDF entendeu que não haveria teratologia (absurdo) ou ilegalidade no ato judicial que homologou o acordo capaz de justificar a intervenção de terceiro prejudicado via mandado de segurança. A 1ª Turma não acolheu o recurso, mantendo a decisão, porém, por fundamentação diferente. O Ministro Gurgel de Faria destacou que os im-petrantes não tiveram oportunidade de impugnar a homologação. Por isso, não se aplica ao caso a limitação firmada na jurisprudência, de que é impossível, em mandado de segurança, atacar decisão judicial quando não demonstrado seu caráter abusivo ou teratológico. Contudo, o ministro entendeu que não há direito líquido e certo dos particulares, demonstrado por prova pré-constituída, capaz de justificar o uso do mandado de segurança. No caso, os particulares não instruíram o processo “com prova documental bastante a demonstrar a ile-galidade apontada”, concluiu o relator (RMS 50858). (Conteúdo extraído do site do Superior Tribunal de Justiça)

Tribunal elimina consumo de copos plásticos descartáveis por servidoresO Superior Tribunal de Justiça (STJ) vai substituir os copos descartáveis de plás-tico por copos de vidro para uso de seus colaboradores. Além de economizar recursos públicos, a iniciativa pretende diminuir a quantidade de resíduos sóli-dos produzidos pelo Tribunal. Segundo a Assessoria de Gestão Socioambiental (AGS), o STJ disponibilizará copos de vidro para água. Para o consumo de café, os servidores devem trazer suas próprias canecas ou xícaras. Os copos descar-táveis continuarão sendo oferecidos apenas em áreas de circulação de visitantes e usuários externos dos serviços do STJ. Dados da AGS indicam que o Tribunal consumiu, em 2015, cerca de 4,4 milhões de copos descartáveis, o equivalente a dez toneladas. Em 2016, essa quantidade chegou a aproximadamente 3,6 milhões de unidades – uma redução superior a 17%. De acordo com a AGS, o dinheiro gasto com copos descartáveis no período de quatro meses é suficiente para comprar 5 mil copos de vidro, que são itens duráveis e reutilizáveis. (Con-teúdo extraído do site do Superior Tribunal de Justiça)

Tribunal proíbe deportação de animais domésticos que retornam ao Brasil sem certificadoSegundo magistrado, procedimento causa sofrimento sem necessidade, bastan-do que os animais fiquem em quarentena. O Desembargador Federal Marcelo Saraiva, da 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3), proibiu a União de restituir animais domésticos brasileiros ao exterior em razão da falta de apresentação de Certificado Zoossanitário Internacional (CZI) no desembar-que de voo de retorno ao Brasil. Ele afirmou que a deportação causaria sofri-mento aos animais, bastando que permaneçam em quarentena até que sejam

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apuradas as condições de saúde. A ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal (MPF) pleiteava, além do fim da deportação de animais domés-ticos brasileiros ao exterior, a permissão de retorno dos animais que deixaram o território nacional por até quatro meses para acompanhar seus proprietários em viagens internacionais, sem a necessidade de emissão de novo certificado. Con-tudo, o desembargador explicou que a exigência de novo Certificado Zoossani-tário Internacional (CZI), conforme estabelecido pelo Decreto nº 24.548/1934, pela Postaria Mapa nº 430/1997 e pela Instrução Normativa Mapa nº 36/2006, tem por objetivo impedir que doenças desconhecidas ou já erradicadas no Brasil sejam trazidas por esses animais, contaminando seres humanos ou outros animais. “Trata-se de imposição legítima, tendo em conta que o certificado emi-tido pelo Ministério da Agricultura tem por finalidade assegurar o estado de saúde do animal apenas quando da saída do território nacional, e não no mo-mento do retorno ao Brasil”, explicou. Ele também afirmou que o curto período de viagem, de até quatro meses, não justifica o afastamento da exigência de apresentação do CZI emitido pelo país de embarque, tendo em vista a possi-bilidade de contaminação do animal nesse período. No entanto, ele concluiu que não há necessidade de deportação do animal que chega desacompanhado desse certificado, considerando que existe alternativa com a mesma eficácia e que implica menor restrição ao direito fundamental de proteção aos animais: a quarentena. “Evita-se, dessa forma, que se imponha ao animal todo o sofrimen-to que envolve o procedimento de deportação, o qual geralmente culmina no sacrifício do animal no país estrangeiro”, afirmou. O relator destacou afirmação do MPF de que a remessa do animal ao estrangeiro ocasiona, muitas vezes, a sua morte, “por não aguentar passar todo o período de trâmites administrativos dentro de uma caixa e por não aguentar outra viagem dentro de um avião. Já quando o animal chega vivo ao destino, geralmente é sacrificado pelo país es-trangeiro”. Ele então concluiu ser “injustificável a deportação do animal ao es-trangeiro, tendo em vista a crueldade extrema ao qual se submete o animal”. O magistrado ainda afirmou que “esse ato de deportação trata-se de nítido abuso de discricionariedade administrativa, pois o animal já obteve anteriormente o certificado emitido pelas autoridades brasileiras”. Segundo o magistrado, basta submeter os animais não certificados a exames clínicos e laboratoriais enquanto estão de quarentena, aqui no Brasil, sob tutela de seus donos, para a verifica-ção da inexistência de riscos e regularização sanitária. O desembargador de-terminou ainda que os custos decorrentes da quarentena, como sugerido pelo MPF, devem ser suportados pelo proprietário que não cumpriu as exigências sanitárias para o devido retorno de seu animal ao Brasil (Processo nº 0001071-08.2011.4.03.6119). (Conteúdo extraído do site do Tribunal Regional Federal da 3ª Região)

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Água de qualidade pode virar fundamento de política de recursos hídricosTramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 5.819/2016, do deputado Augusto Carvalho (SD-DF), que inclui a oferta de água de qualidade entre os fundamentos da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/1997). A lei atualmente possui seis fundamentos, como a definição da água como bem de domínio público, com uso prioritário para consumo humano e dessedenta-ção de animais. “Tornar expressa a necessidade de oferta de água de boa qua-lidade finda qualquer discussão sobre a imprescindibilidade de tal fundamento para a política nacional ser cumprida”, afirma Carvalho. De acordo Carvalho, o comprometimento da qualidade da água com a contaminação por esgotos domésticos, muitas vezes sem tratamento prévio, implica no aumento de doen-ças como cólera, diarreia e esquistossomose. “Segundo a ONU [Organização das Nações Unidas], aproximadamente 20% da população mundial não têm acesso a água potável e cerca de 40% não dispõem de água suficiente para uma estrutura adequada de saneamento básico e higiene”, afirma o parlamentar. A proposta tramita em caráter conclusivo e será analisada pelas Comissões de Minas e Energia; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. (Conteúdo extraído do site da Câmara dos Deputados Federais)

Projeto exige aviso que oriente sobre entrada de animais em estabeleci-mentosPela proposta nos locais em que a entrada dos animais domésticos for proibida, deve-se fundamentar em breve explicação. A Câmara analisa projeto que torna obrigatória a fixação de orientações sobre a entrada e permanência de animais domésticos em instituições públicas, estabelecimentos comerciais e alimenta-res (PL 6.766/2016). A proposta dos deputados Mariana Carvalho (PSDB-RO) e Felipe Bornier (Pros-RJ) determina, nos locais em que a entrada dos animais do-mésticos for proibida, que se deve fundamentar em breve explicação, na placa ou no adesivo fixado, os motivos pelos quais ficam restritos. “A livre circulação dos animais deve ser condizente com o ambiente e nele devem ser presumidos a higiene e as demais condições proporcionadas para a entrada dos animais. Porém deve ser permitida em locais nos quais não se fazem relevantes essa dú-vida”, explicam os parlamentares. O projeto, que tramita conclusivamente, será analisado pelas Comissões de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comér-cio e Serviços; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. (Conteúdo extraído do site da Câmara dos Deputados Federais)

Agricultor que criava javalis é condenado a prestar serviços ambientaisUm agricultor de Matelândia (PR), multado pelo Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por criar javalis irregu-larmente, conseguiu converter a penalidade pecuniária em prestação de serviço ambientais. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) manteve sentença

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que entendeu ter havido exagero por parte do órgão, uma vez que o homem não tem antecedentes, é de baixa renda e cuidava bem dos animais. O cria-dor foi autuado em 2002 e recorreu administrativamente, alegando que seriam porcos, e não javalis. Durante a tramitação do processo no Ibama, ele pôde ficar com a guarda dos animais. A Procuradoria do órgão chegou a recomendar a redução do valor da multa e posterior conversão em prestação de serviços ambientais, possibilidade prevista na legislação. Entretanto, o Ibama manteve a penalidade inicial, concluindo o processo administrativo em 2009. Como o réu não pagou o débito, o órgão incluiu seu nome em um cadastro de dívida ativa e ingressou com uma execução fiscal na 1ª Vara Federal de Foz do Iguaçu (PR), pedindo a penhora da propriedade do agricultor. Ele, então, moveu embargos à execução, exigindo o reconhecimento de impenhorabilidade do imóvel e de desproporcionalidade do valor da multa, sob o argumento de que a estipulação do valor não foi explicada pelo órgão. Em primeira instância, a Justiça atendeu aos pedidos. O valor da penalidade foi reduzido para o mínimo legal – que é de R$ 5.000,00 –, e esta convertida para a prestação de serviços ambientais, a ser determinada pelo próprio Ibama. O órgão recorreu ao Tribunal. O relator do processo na 3ª Turma, desembargador federal Ricardo Teixeira do Valle Pereira, confirmou a sentença. Segundo o magistrado, a impenhorabilidade da peque-na propriedade rural é assegurada pela Constituição. Em relação ao valor da sanção, Pereira disse que “o arbitramento do valor da sanção pecuniária deve ser devidamente fundamentado pela autoridade administrativa, notadamente, quando estabelecido acima do mínimo legal”. “Na falta dessa necessária fun-damentação, a redução do valor da multa para o mínimo legal é medida que se impõe”, acrescentou (Processo nº 5012303-35.2012.4.04.7002/TRF). (Conteú-do extraído do site do Tribunal Regional Federal da 4ª Região)

Comissão discute uso de agrotóxicos em culturas de pequeno porteA comissão especial que analisa a regulamentação de defensivos fitossanitários (PL 6.299/2002) debate em audiência pública, a disponibilidade e a utilização desses produtos no contexto de pequenas culturas, chamadas minor crops. Fo-ram convidados: o diretor-associado do Projeto IR-4, focado em soluções para o manejo de pragas em pequenas culturas (minor crops), vinculado à Univer-sidade Estadual de New Jersey/EUA, Daniel Kunkel; o diretor do Departamen-to de Agricultura e Agro Alimentos do Canadá (AAFC), Marcos Alvarez; e o diretor-executivo de Registro e Avaliações da Autoridade de Pesticidas e Me-dicamentos Veterinários da Austrália, Alan Norden. Um dos autores do reque-rimento para a realização do debate, deputado Luiz Nishimori (PR-PR), afirma que os entraves para o registro de novas tecnologias no trato fitossanitário de pequenas culturas são ainda maiores que os enfrentados pelas culturas tradi-cionais, como milho, soja, algodão e cana-de-açúcar. “Com a presença de dois

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especialistas internacionais em suporte fitossanitário e manejo de pragas para minor crops, a comissão especial poderá adquirir informações importantes sobre as atuais tendências mundiais para este segmento”, acredita Nishimori. “Além da experiência dos Estados Unidos e Canadá, consideramos de fundamental importância conhecer a experiência australiana, conforme pudemos constatar em visita técnica realizada em novembro de 2016”, destaca a deputada Tereza Cristina (PSB-MS), que também solicitou a audiência (Íntegra da proposta: PL 6.299/2002). (Conteúdo extraído do site da Câmara dos Deputados Federais)

Plenário pode votar urgência de projeto que prorroga prazo para fim de lixõesO Plenário da Câmara dos Deputados pode votar, requerimento para que tra-mite em regime de urgência projeto de lei que prorroga, entre 2018 e 2021, o prazo para que os Municípios encerrem os seus lixões e os substituam por aterros sanitários. O prazo para os planos de saneamento também será pror-rogado pela proposta (PL 2.289/2015). Na sessão não houve acordo entre as bancadas na sessão do Plenário. A proposta adia os prazos previstos na Lei dos Resíduos Sólidos, de acordo com o tamanho do Município. Para os maiores, o prazo será 2018. Os menores terão até 2021 para se adequar à lei. Esse prazo maior é reivindicação antiga dos prefeitos, já que o descumprimento das regras da Política Nacional de Resíduos Sólidos penaliza o Município e o gestor. A ampliação do prazo já foi incluída pelo Parlamento em medidas provisórias por várias ocasiões e foi objeto de veto. Conselheiros: Entre outras propostas na pauta do Plenário de hoje, está o Projeto de Lei Complementar nº 268/2016, do Senado, que cria novas regras para escolha e atuação de diretores-executivos e conselheiros de fundos fechados de previdência complementar vinculados a entes públicos e suas empresas, fundações ou autarquias. Segundo o projeto, aumentam as restrições para escolha dos diretores-executivos dos fundos de pensão, que tomam as decisões sobre os investimentos para ampliar os recursos da previdência complementar necessários ao pagamento dos benefícios para os participantes. Outro projeto que pode ser debatido é o PL 2.431/2011, do de-putado Felipe Bornier (Pros-RJ), que autoriza a produção, a comercialização e o consumo, sob prescrição médica, dos anorexígenos sibutramina, anfepramona, femproporex e mazindol. A Câmara precisa votar emenda do Senado que ape-nas especifica o tipo de receituário a ser usado pelo médico (B2) para remédios controlados. Adoção: Outro item da pauta é o Projeto de Lei nº 5.850/2016, do deputado Augusto Coutinho (SD-PE), que acelera procedimentos de adoção de crianças e adolescentes. A proposta diminui de 30 para 10 dias o prazo para o Ministério Público pedir ao juiz a destituição do poder familiar em casos como suspeita de agressão física ou moral contra criança ou adolescente ou de menor de 18 anos em situação de abandono há mais de 60 dias. Os deputados também

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podem analisar o Projeto de Lei nº 347/2003 da Comissão Parlamentar de In-quérito (CPI) do Tráfico de Animais, que considera a prática do comércio ilegal de animais silvestres de forma permanente, em grande escala ou em caráter na-cional ou internacional como crime qualificado, punível com pena de reclusão de dois a cinco anos e multa (Íntegra da proposta: PL 347/2003, PL 2.431/2011, PL 2.289/2015, PLP 268/2016 e PL 5.850/2016) (Conteúdo extraído do site da Câmara dos Deputados Federais)

Justiça determina que Município de Luziânia conclua asfalto de avenida da cidadeO Município de Luziânia terá de concluir, em cinco meses, pavimentação asfál-tica e construção de galerias para captação de águas pluviais na Avenida Brasil, Setor Leste na cidade. A decisão, unânime, é da 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), que manteve sentença da Comarca de Luziânia. Foi relator o desembargador Francisco Vildon J. Valente. Segundo consta dos autos, em 7 de maio de 2009, os moradores do bairro informaram ao Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) que, em outubro de 2005, começaram as obras de pavimentação na avenida; porém, quase quatro anos depois, ainda não havia sido concluída. O MPGO, então, ajuizou ação civil pública na Comarca de Luziânai requerendo que o ente municipal concluísse as obras. A juíza Soraya Fagury Brito, da 2ª Vara Cível e Fazenda Pública, deter-minou, em sentença, que o Município conclua as obras, no prazo máximo de cinco meses, sob pena de multa. Inconformado, o Município interpôs apelação cível alegando violação ao princípio da separação dos Poderes, e que o Poder Judiciário não pode determinar que o Executivo realize obras de pavimenta-ção asfáltica. Frisou também que a construção de galerias, para captação de águas pluviais, tem custo elevado. Francisco Vildon, entretanto, salientou que, em casos com esse, os principais valores jurídicos são pelo ordenamento da segurança, integridade física e saúde das pessoas que residem no local, pois o art. 182 da Constituição Federal dispõe que a política de desenvolvimento ur-bano, executada pelo Poder Público municipal, tem por objetivo ordenar o ple-no desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. (Conteúdo extraído do site do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás)

Projeto obriga petroleira a investir em pesquisa de energias renováveisTramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 5.811/2016, do deputado Moses Rodrigues (PMDB-CE), que obriga as concessionárias de exploração de petróleo e gás natural a investir 1% do valor bruto da produção de cada campo em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Metade desse total deve ser desti-nado para fontes renováveis de energia. A proposta, que altera a Lei da Política Energética Nacional (9.478/1997), vale para os contratos de grande volume de

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produção ou grande rentabilidade. O texto também inclui entre as finalidades da Agência Nacional do Petróleo (ANP) o estímulo à pesquisa na área de fontes renováveis. Pela redação atual da lei, o estímulo é focado na pesquisa e adoção de novas tecnologias em exploração, produção, transporte, refino e processa-mento. Para Rodrigues, a exploração do pré-sal é uma oportunidade ímpar para alocar parte das rendas em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação em fontes limpas para a produção de energia. “Nada mais justo que parcela das rendas petrolíferas seja destinada a atividades relacionadas ao desenvolvimento e uso das fontes renováveis de energia”, afirmou. Segundo o Plano Nacional de Energia 2030, os derivados de petróleo serão responsáveis por cerca de 50% do total das emissões de gás carbônico no ar. A proposta tramita em caráter con-clusivo e será analisada pelas Comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; de Minas e Energia; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. (Conteúdo extraído do site do Câmara dos Deputados Federais)

Empresa é condenada por extrair argila ilegalmente em Jacarezinho (PR)O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) confirmou, a condenação da empresa Buratti e Cia. do Paraná a ressarcir a União por extração irregular de argila em Jacarezinho (PR). A empresa terá que pagar R$ 24,409,99, acresci-dos de juros e correção monetária, valor referente às 2.434 toneladas de argila retiradas indevidamente. A Buratti entrou com recurso pedindo a redução da indenização, alegando que o cálculo do dano patrimonial não reflete a varia-ção de preço do mineral durante o período de extração, já que atualmente o metro cúbico da argila é negociado a R$ 5,00. De acordo com o Juiz Federal Friedmann Anderson Wendpap, relator do processo, a indenização mede-se pela extensão do prejuízo, por isso “o dano da União equivale ao valor de venda do minério, abatidos os valores que envolvem a extração, somados ao lucro da operação”. O julgamento da 3ª Turma foi por unanimidade (Processo nº 5003811-50.2014.4.04.7013). (Conteúdo extraído do site do Tribunal Regio-nal Federal da 4ª Região)

Fechamento da Edição: 29�03�2017

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Resenha Legislativa

DECRETO

DECRETO Nº 9.004, DE 13.03.2017 – PUBLICADO NO DOU DE 14.03.2017

Transfere a Secretaria de Aquicultura e Pesca do Ministério da Agricultu-ra, Pecuária e Abastecimento e a Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa da Secretaria de Governo da Presidência da República para o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, e dá outras provi-dências.

Fechamento da Edição: 29�03�2017

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Bibliografia Complementar

Recomendamos como sugestão de leitura complementar aos assuntos abordados nesta edição os seguintes conteúdos:

ARTIGO DOUTRINÁRIO

• QuestõesPolêmicasAtinentesàResponsabilidadePenaldaPes-soa Jurídica nos Crimes Ambientais

Luís Paulo Sirvinskas Juris SÍNTESE ONLINE e SÍNTESENET, disponíveis em: online.sintese.com

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Índice Alfabético e Remissivo

Índice por Assunto Especial

DOUTRINAS

Assunto

A ResponsAbilidAde penAl dA pessoA JuRídicA nos cRimes AmbientAis

•A Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica nos Crimes Ambientais (Diego Luiz Victório Pureza) ..............................................................................9

•Breves Considerações sobre a Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica e sobre a Superação do Critério da Dupla Imputação na Jurispru-dência (Ana Cecília Froehlich Soares e Renata Jardim da Cunha Rieger) ......................................15

Autor

AnA cecíliA FRoehlich soARes e RenAtA JARdim dA cunhA RiegeR

•Breves Considerações sobre a Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica e sobre a Superação do Critério da Dupla Imputação na Jurisprudência ............................................................................15

diego luiz VictóRio puRezA

•A Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica nosCrimes Ambientais .................................................9

RenAtA JARdim dA cunhA RiegeR e AnA cecíliA FRoehlich soARes

•Breves Considerações sobre a Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica e sobre a Superação do Critério da Dupla Imputação na Jurisprudência ............................................................................15

ACÓRDÃOS NA ÍNTEGRA

Assunto

A ResponsAbilidAde penAl dA pessoA Ju-RídicA nos cRimes AmbientAis

•Recurso especial – Direito penal e processo pe-nal – Legislação extravagante – Lei dos Crimes Ambientais – Lei nº 9.605/1998 – Responsabili-dade penal de pessoa jurídica – Restituição de coisa apreendida – Carga de madeira – Quan-tidade e espécie de madeira transportada disso-nante da guia florestal – Indícios de prática de delito ambiental – Indevida restituição – Laudo técnico – Revisão – Súmula nº 7/STJ – Matéria constitucional – STF (STJ) ...........................2262, 20

EMENTÁRIO

Assunto

A ResponsAbilidAde penAl dA pessoA JuRídicA nos cRimes AmbientAis

•Responsabilidade penal ambiental – corte de árvores nativas – Bioma Mata Atlântica – confi-guração .....................................................2263, 30

•Responsabilidade penal ambiental – delitos am-bientais – precedentes ...............................2264, 33

•Responsabilidade penal ambiental – explosivos armazenados irregularmente – autoria coleti-va – reexame de fatos e provas – inviabilidade ..................................................................2265, 33

•Responsabilidade penal ambiental – resíduos sólidos – descarte irregular – não configuração ..................................................................2266, 36

•Responsabilidade penal ambiental – restituição de coisa apreendida – quantidade e espécie de madeira transportada dissonante da guia flo-restal – indícios de prática de delito – configu-ração .........................................................2267, 36

Índice Geral

DOUTRINAS

Assunto

meio Ambiente

• Justiça Ambiental, Saúde Ambiental e Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado: o Re-conhecimento da Confluência em Prol da Con-cretização de Direitos Humanos de Terceira Di-mensão (Tauã Lima Verdan Rangel) .....................44

Resíduos sólidos

•A Negligência dos Municípios em Instituir o Pla-no Municipal de Resíduos Sólidos (Gina Copola) ............................................................................38

tRibutAção AmbientAl

•Tributação Ambiental e Incentivos Fiscais (Luiz Fernando Pereira) ................................................65

Autor

ginA copolA

•A Negligência dos Municípios em Instituir o Pla-no Municipal de Resíduos Sólidos .......................38

luiz FeRnAndo peReiRA

•Tributação Ambiental e Incentivos Fiscais ...........65

tAuã limA VeRdAn RAngel

• Justiça Ambiental, Saúde Ambiental e Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado: o Re-

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conhecimento da Confluência em Prol da Con-cretização de Direitos Humanos de Terceira Dimensão ............................................................44

ACÓRDÃOS NA ÍNTEGRA

Assunto

ÁReA de pReseRVAção peRmAnente

•Remessa necessária e apelação cível – Ação ci-vil pública – Construção e ampliação de imóvel em área de preservação permanente – Unidade de conservação federal – Dano ao meio ambien-te – Demolição, remoção de entulhos e recu-peração da área – Reparação integral – Indeni-zação pecuniária não cabível (TRF 2ª R.) ...2271, 98

AVe silVestRe

•Direito administrativo – Ambiental – Ave silves-tre – Animal de estimação – Idade avançada – Impossibilidade de readaptação ao meio natural – Ausência de má-fé do posseiro – Devolução do animal à posse do criador – Bem jurídico – Dano irrisório – Princípio da não ofensividade – Propriedade da união preservada – Animal que deve permanecer sob a posse do criador – Im-provimento embargos (TRF 5ª R.) .............2274, 131

cRime AmbientAl

•Penal e processual penal – Art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.176/1991 – Explorar matéria-prima perten-cente à União, sem autorização legal – Art. 55 da Lei nº 9.605/1998 – Crimes ambientais – Materialidade e autoria comprovadas – Sen-tença condenatória mantida (TRF 1ª R.) .....2270, 87

•Recurso especial – Penal e processual penal – Crime contra o meio ambiente – Pesca/extração em período de defeso – Berbigões – Art. 34, caput, da Lei nº 9.605/1998 – Aplicação do princípio da insignificância – Impossibilidade – Lesão potencial – Recurso não provido (STJ) ..................................................................2269, 79

ibAmA

•Ambiental – Processual civil – Ibama – Ino-corrência de cerceamento de defesa – Autori-zação ambiental – Concessionária de serviço público – Aterro sanitário – Multa indevida –Bis in idem (TRF 3ª R.) .............................2272, 109

inFRAção AmbientAl

•Administrativo – Ação de depósito – Restitui-ção de bens apreendidos por infração ambien-tal – Prescrição – Prazo quinquenal (TRF 4ª R.) ................................................................2273, 123

multA AmbientAl

•Direito público – Ação anulatória – Multa am-biental – Vazamento de petróleo na orla marí-tima – Preliminar – Prescrição – recurso extra-

ordinário interposto sob a égide do CPC/1973 – Agravo regimental – Impossibilidade de in-terposição de Agravo da decisão de admissibi-lidade do recurso que aplica a sistemática da repercussão geral – Consonância da decisão re-corrida com a jurisprudência cristalizada do Su-premo Tribunal Federal – Recurso extraordiná-rio que não merece trânsito – Agravo manejadosob a vigência do CPC/2015 (STF) .............2268, 71

EMENTÁRIO

Assunto

Ação ciVil públicA

•Ação civil pública – construção e ampliação de imóvel – área de preservação permanente – de-molição, remoção de entulhos e recuperação da área – reparação integral – indenização pecu-niária – não cabimento ............................2275, 136

•Ação civil pública – construção em terreno de Marinha – área protegida – ausência de auto-rização – configuração ............................2276, 137

•Ação civil pública – extração irregular de argila – reabertura de discussão acerca de matéria já analisada – impossibilidade .....................2277, 138

•Ação civil pública – ocupação e edificação – área de preservação permanente – margens derio – impossibilidade ...............................2278, 139

Acidente AmbientAl

•Acidente ambiental – colisão de navio – vaza-mento de nafta petroquímica – proibição de pesca – responsabilidade objetiva – teoria do risco integral – configuração ....................2279, 140

•Acidente ambiental – rompimento de poliduto – vazamento de óleo combustível – proibição de pesca – configuração ..........................2280, 141

AnimAis silVestRes

•Animais silvestres – maus-tratos – materialidadee autoria – não comprovação ..................2281, 141

ÁReA de pReseRVAção peRmAnente

•Área de preservação permanente – constru-ção – demolição de edificação – inviabilidade ................................................................2282, 142

•Área de preservação permanente – dano – edifi-cação erigida – entorno de lagoa – recuperação ambiental – princípios da proporcionalidadee razoabilidade – possibilidade ................2283, 145

•Área de preservação permanente – ocupação irregular – dano ambiental – princípios da pre-venção, do meio ambiente como direito funda-mental e da função socioambiental – possibi-lidade ......................................................2284, 149

•Área de preservação permanente – retilinização de cursos d’água – infrações – caracterização ................................................................2285, 151

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RSA Nº 36 – Mar-Abr/2017 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO ��������������������������������������������������������������������������������������������������������223 •Área de preservação permanente – sistema de

esgotamento sanitário – céu aberto – interven-ção judiciária – cabimento ......................2286, 151

•Área de preservação permanente – vegetação de Mata Atlântica – supressão – construção de empreendimento – autorizações e licenças am-bientais – necessidade .............................2287, 152

ÁReA de pRoteção AmbientAl

•Área de proteção ambiental – ampliação – de-sapropriação indireta – Súmula nº 182/STJ – cabimento ...............................................2288, 153

AVe silVestRe

•Ave silvestre – animal de estimação – idade avançada – readaptação ao meio natural – im-possibilidade ...........................................2289, 154

cRime AmbientAl

•Crime ambiental – causar poluição – deixar de cumprir obrigação relevante – configuração ................................................................2290, 155

•Crime ambiental – destruir ou danificar ve-getação primária ou secundária – prescrição retroativa – ocorrência .............................2291, 156

•Crime ambiental – extração de areia – ausência de licença prévia – princípio da insignificân-cia – inaplicabilidade ..............................2292, 156

•Crime ambiental – extração de minério – ausên-cia de licença – materialidade e autoria – com-provação .................................................2293, 157

•Crime ambiental – extração de ouro – ausência de autorização – configuração .................2294, 159

•Crime ambiental – pesca durante período de defeso – utilização de petrechos proibidos – elevada quantidade de peixes – comprovação ................................................................2295, 163

•Crime ambiental – pesca irregular – instrumen-tos proibidos – dosimetria de pena – morte de um dos mergulhadores – provas concretas que apontem a atividade criminosa – necessidade ................................................................2296, 164

•Crime ambiental – venda de madeira – trans-porte em condições irregulares – desconside-ração da versão do corréu – não cabimento ................................................................2297, 164

dAno AmbientAl

•Dano ambiental – desmatamento – vegetação nativa – parcelamento irregular do solo rural – configuração ............................................2298, 165

•Dano ambiental – estação de tratamento de es-goto – emissão de mau cheiro – configuração ................................................................2299, 165

•Dano ambiental – exploração ilegal de área ru-ral – ausência de autorização – suspensão das atividades – interdição da área – possibilidade ................................................................2300, 166

•Dano ambiental – fornecimento de água – au-sência de prova inequívoca e de fundado receiode dano irreparável – configuração ..........2301, 166

•Dano ambiental – loteamento irregular – im-prescritibilidade .......................................2302, 166

•Dano ambiental – queimada – recuperação da área – indenização pecuniária – desnecessi-dade ........................................................2303, 167

•Dano ambiental – rompimento de poliduto – prejuízo à atividade pesqueira – indenização por danos morais – cabimento .................2304, 168

extRAção de ÁguA subteRRâneA

•Extração de água subterrânea – poço artesiano – finalidade de consumo humano – água po-tável – possibilidade ................................2305, 169

extRAção VegetAl

•Extração vegetal – autorização ambiental – exis-tência ......................................................2306, 171

ibAmA

• Ibama – desmatamento – Mata Atlântica – con-figuração .................................................2307, 171

• Ibama – manutenção em cativeiro de pássaros – fauna silvestre – ausência de autorização – re-dução da multa – não configuração .........2308, 172

• Ibama – supressão de vegetação – estágio ini-cial de regeneração – configuração .........2309, 175

• Ibama – transporte de lenha – irregularidades – multa administrativa – nuli dade ...............2310, 176

• Ibama – transporte de madeira – ausência de autorização – apreensão do veículo – liberação– possibilidade .........................................2311, 177

• Ibama – transporte de produtos perigosos – de-sacompanhada da autorização – infração – ine-xistência ..................................................2312, 177

inFRAção AmbientAl

• Infração ambiental – apreensão de veículo – res-tituição do bem – possibilidade ...............2313, 178

• Infração ambiental – Ibama – transporte de car-vão vegetal – apreensão da carga e veículo – li-beração – possibilidade ...........................2314, 179

• Infração ambiental – queimada – ausência de autorização – autoria e nexo de causalidade –não comprovação ....................................2315, 181

licençA AmbientAl

•Licença ambiental – instalação de aterro indus-trial – dispositivos e normas deliberativas des-respeitadas – Súmula nº 280/STF – cabimento ................................................................2316, 182

licenciAmento AmbientAl

•Licenciamento ambiental – alteração – aumen-to de cota de reservatório de usina hidrelétrica – realização de audiência pública – irregulari-

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224 ���������������������������������������������������������������������������������������������������������RSA Nº 36 – Mar-Abr/2017 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO

dades – participação da sociedade – possibi-lidade ......................................................2317, 182

mAndAdo de seguRAnçA

•Mandado de segurança – autorização ambien-tal – débito fiscal – condicionamento – inexis-tência ......................................................2318, 184

meio Ambiente do tRAbAlho

•Meio ambiente do trabalho – corte de cana-de--açúcar – exposição a agentes nocivos – ruído – comprovação ........................................2319, 185

pescA industRiAl

•Pesca industrial – método de arrasto de portas – local não permitido – materialidade e autoria– comprovação ........................................2320, 187

poluição

•Poluição – instalações potencialmente polui-doras – ausência de licença – dano ambiental – comprovação ........................................2321, 190

poluição sonoRA

•Poluição sonora – fábrica de empacotamento de arroz – parâmetro acústico de conforto hu-mano – normas ABNT – configuração .....2322, 191

•Poluição sonora – ruídos acima do limite legal – laudo pericial conclusivo – dano ambiental – configuração .........................................2323, 191

teRRA indígenA

•Terra indígena – dano ambiental – degrada-ção – imprescritibilidade .........................2324, 192

•Terras indígenas – demarcação – ilegitimidade da prefeitura – configuração ....................2325, 192

•Terras indígenas – desapropriação indireta – in-denização – arrendamento – impossibilidade ................................................................2326, 193

unidAde de conseRVAção

•Unidade de conservação – desmatamento irre-gular – dano ambiental – comprovação ...2327, 195

Seção Especial

PARECER

Assunto

ÁReA de pReseRVAção peRmAnente

• Intervenção em Área de Preservação Perma-nente .................................................................197

Autor

RicARdo Resende beRsAn

• Intervenção em Área de Preservação Perma-nente .................................................................197

CLIPPING JURÍDICO

•Agricultor que criava javalis é condenado a pres-tar serviços ambientais .......................................214

•Água de qualidade pode virar fundamento de política de recursos hídricos ..............................214

•Anulado auto de infração de proprietário de veí-culo estacionado em areia de praia ...................204

•Aprovado projeto que proíbe extermínio de cães e gatos por órgãos públicos ...............................208

•Área de desmatamento na Amazônia Legal deve ser recomposta via indenização por danos ma-teriais .................................................................210

•Comissão discute uso de agrotóxicos em cul-turas de pequeno porte ......................................215

•Criação amadora de pássaros tem por fim pre-servação das espécies ........................................205

•Empresa é condenada por extrair argila ilegal-mente em Jacarezinho (PR) ................................218

• Justiça determina que Município de Luziâniaconclua asfalto de avenida da cidade ................217

•Material usado em campanha eleitoral poderáser biodegradável ..............................................204

•Plenário pode votar urgência de projeto que prorroga prazo para fim de lixões ......................216

•Projeto exige aviso que oriente sobre entrada de animais em estabelecimentos ............................214

•Projeto obriga petroleira a investir em pesquisa de energias renováveis .......................................217

•Proposta cria política de estímulo à produção de alimentos sem agrotóxicos .................................207

•Rejeitado recurso contra acordo que possibili-tou desocupação da orla do Lago Paranoá ........211

•Segunda Turma rejeita recurso contra criaçãode parque ambiental em Caldas (MG) ................206

•Tribunal elimina consumo de copos plásticos descartáveis por servidores ................................212

•Tribunal mantém cobrança de taxa ambientalem Bombinhas (SC) ...........................................203

•Tribunal proíbe deportação de animais domés-ticos que retornam ao Brasil sem certificado ......212

•Tribunal proíbe exploração mineral em ParqueEstadual da Serra da Tiririca ...............................208

•Tribunal suspende liminar que autorizava pro-prietários rurais a exercerem atividade econô-mica na Serra da Canastra .................................205

RESENHA LEGISLATIVA

decReto

•Decreto nº 9.004, de 13.03.2017 – Publicadono DOU de 14.03.2017 ....................................219