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Intervenção estatal e desenvolvimento: concentração e desconcentração produtiva regional no período 1970-2000 Disciplina: Geografia do Brasil 1º ano/Graduação em Geografia Presidente Prudente-SP 2017 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE

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Intervenção estatal e desenvolvimento: concentração e

desconcentração produtiva regional no período 1970-2000

Disciplina: Geografia do Brasil

1º ano/Graduação em Geografia

Presidente Prudente-SP

2017

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE

Figura 1. Brasil – Arquipélago econômico (“Ilhas econômicas”)

Situação pós 1930:

Integração nacional;

Nacionalização do capital;

Crescimento de 11% do produto industrial após 1930

Indústria: Passa a ser o pólo central da acumulação e a região de São

Paulo é a região hegemônica.

Captura do Estado por segmentos da burguesia industrial, que se

refletiu:

Mudanças no papel e intervenção estatal:

De fomentador de exportações agropecuárias para agente ativo no

processo de industrialização.

1930-1980: Esforços do Estado direcionados para o processo de

industrialização (desenvolvimento). Este é projeto de desenvolvimento

nacional.

A partir do final dos anos 1970 e 1980, observa-se relativa

desconcentração da produção industrial na RMSP e no estado de São

Paulo .

1967-1969

Desconcentração produtiva

1975 – 1985 - Reversão da polarização

(maior crescimento das regiões menos

dinâmicas e das áreas de fronteira) –

desconcentração da economia, inclusive da

atividade industrial.

Do Estado de São Paulo em direção a outros

estados

Da cidade de SP em direção a Região

metropolitana e desta em direção ao interior

do estado (vários distritos industriais em

cidades de médio porte).

Regiões

Produto Total

1970 1985 2000 2010

Norte 2,2 4,1 4,4 5,3

Nordeste 11,7 13,6 12,4 13,5

Sul 16,7 17,1 16,5 16,6

Centro-Oeste 3,9 6,0 8,4 8,9

Sudeste 65,5 59,1 58,3 56,5

São Paulo 39,4 35,4 36,0 33,9

Regiões

Produto Industrial

1970 1985 2000 2010

Norte 1,1 4,1 4,1 4,8

Nordeste 7,0 12,2 9,0 9,3

Sul 12,0 15,7 21,3 21,0

Centro-Oeste 0,9 2,4 3,3 4,7

Sudeste 79,1 65,8 62,3 60,3

São Paulo 56,5 44,0 45,1 42,0

Fonte: FIBGE

PARTICIPAÇÃO NO PRODUTO TOTAL E NO PRODUTO

INDUSTRIAL DO BRASIL – 1970, 1985, 2000 e 2010

A desconcentração não ocorre em razão da estagnação em São Paulo,

mas pelo crescimento mais expressivo em outros estados e regiões

brasileiras.

Fonte: http://arte.folha.uol.com.br/especiais/2014/03/23/o-golpe-e-a-ditadura-militar/a-

economia.html

FATORES QUE EXPLICAM O PROCESSO DE

DESCONCENTRAÇÃO:

Desaceleração da economia após o ciclo expansivo da

primeira metade dos anos 1970 (atingiu de maneira

mais profunda as áreas com maior dinamismo – SE -

SP);

Políticas setoriais (modernização da agricultura, por

exemplo);

Políticas regionais de desenvolvimento (incentivos –

SUDENE, SUDAM, SUDECO);

Criação de infraestrutura de transporte e comunicação.

exploração de recursos naturais até então não

incorporados ao sistema produtivo (grandes projetos –

polos – produção de grãos nos cerrados);

Características gerais do período:

Altas taxas de crescimento econômico e industrial;

Diversificação industrial, especialmente na indústria de bens de capital

e bens de consumo duráveis;

Expressivo investimento público: expansão do crédito, construção de

infraestruturas no território (hidrelétricas, estradas e grandes obras);

Preocupação com a integração do mercado nacional (polo dinâmico e a

periferia nacional).

Expansão do mercado de trabalho urbano;

Expressivo crescimento da PEA não rural combinada a intenso

deslocamento do campo para a cidade (urbanização);

Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR);

Ex: Industria automobilística

FIAT – Betim, RMBH/MG – 1975.

HONDA – Indaiatuba, RM Campinas;

Mahindra: Zona Franca de Manaus (ZFM),

Renault, Curitiba.

Até a década de 1970, todas as montadores estavam sediadas na

RMSP.

Figura 2.

ff

Fonte: http://www.mapadaprova.com.br/questoes/de/geografia/globalizacao/economia

Figura 3.

F

Fonte: http://www.cnmcut.org.br/conteudo/mapa-mostra-distribuicao-das-novas-fabricas-

de-automoveis-no-brasil

São sobretudo os novos empreendimentos agrícolas e industriais que

se instalam fora de São Paulo. Não, é, portanto, a migração das

unidades instaladas na Região Metropolitana de São Paulo.

Desconcentração produtiva em dois eixos:

RMSP em direção ao interior do estado de São Paulo;

Participação do Interior paulista na Indústria de transformação nacional:

14,7% - 1970

26,2% - 2004

RMSP em direção a periferia nacional;

Ampliação da importância econômica do interior de SP:

Políticas de descentralização: promovidas tanto pelo Governo Federal,

como estadual.

PROÁLCOOL: incentivo a implantação de agroindústrias e incremento

econômico de muitas áreas do interior de SP;

Constituição de vias de transportes (rodovias) que permitiram a

implantação de empreendimentos industriais no interior, bem como a

duplicação de importantes rodovias nos anos 1980;

Centros de ciência e tecnologia no interior.

UNESP, UNICAMP, ITA (todos fora da RMSP).

Políticas de atração municipal;

Criação de distritos industriais;

Custos (efetivos e imputáveis) da concentração na RMSP: alto custo da

força de trabalho;

Organização sindical forte: Ex: Movimentos grevistas no final dos anos

1970 no ABC.

Investimentos federais no interior

Refinaria da Petrobrás em Paulínia.

Centros de pesquisas variados.

São elementos que contribuíram para a desconcentração industrial.

Fonte: Cano (2007).

Final da década de 1970

fim da fase da industrialização pesada;

Alta no preço do petróleo (1973 e 1979)

Choque na Taxa de Juros Internacionais

gestão da crise (perda da capacidade de

planejamento);

Elevação na dívida externa.

Países importadores de petróleo passam a

enfrentar inflação e desequilíbrio em suas

Balanças Comerciais.

Desconcentração produtiva e industrial na década de 1980

Características gerais do período:

Baixas taxas de crescimento econômico e industrial (recessão

econômica em alguns anos);

Crise financeira e fiscal do Estado e redução do investimento público;

Incentivo e crescimento das exportações (especialmente de base

primária, produtos semielaborados);

Abandono das políticas regionais;

Precarização das relações trabalhistas, crescimento do subemprego e

emprego informal (crescimento do setor terciário);

A regiões Centro Oeste e Norte receberam expressivo contingente

populacional; o segundo maior do período.

Características da “década perdida”

Redução do salário real.

nova aceleração inflacionária (inflação passa

do patamar de 100% para um patamar de

aproximadamente 200%aa);

Recessão econômica

Consenso de Washington: fortalecimento do

neoliberalismo

Descontrole inflacionário.

Desmonte de toda a estrutura de

planejamento.

Acontecimentos importantes em 1980

1984 - Movimentos Diretas Já;

1985 – Eleição indireta de Tancredo Neves e

Sarney

1987/88 – Constituinte

1988 – Promulgação da Nova Constituição

Federal – Cidadã (Reconhecimento pleno de

direitos) – Ulisses Guimarães – papel

importante.

Constituição (cidadã) de 1988

redução da jornada de trabalho de 48 horas

semanais para 44 horas, direito à greve,

liberdade sindical;

Criação do Sistema Único de Saúde;

direito de voto aos analfabetos e facultativo

aos jovens com idade entre 16 e 18 anos;

inserção dos direitos da criança e

adolescente;

Colocou fim a censura;

Os municípios são considerados um ente

federativo, junto com Estados e a União.

Figura 5. Ampliação do trabalho informal.

Políticas de incentivo às exportações e ao PRÓALCOOL: No interior de

SP houve expressivo crescimento da área canavieira no período.

Figura 6. Monocultura canavieira no interior de SP.

Avanço da agricultura moderna em direção à fronteira agrícola,

especialmente a produção de grãos no Centro-Oeste;

Fonte: http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=visao-critica-lado-nefasto-biocombustiveis#.VjDiArerTIU

Industria mineral e extrativa

Desconcentração para novas áreas de exploração, localizadas na

periferia nacional (junto as fontes de matéria prima):

Exploração de Petróleo no Nordeste;

Indústria de papel e celulose no ES;

Exploração de minério de ferro em Carajás/PA.

Figura 2. Desenvolvimento da agricultura moderna no cerrado, Fazenda

Maringá, Catalão-GO.

Figura 4. Exploração mineral na Serra do Sul de Carajás, PA.

Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/26400

Desconcentração produtiva e industrial nos anos 1990

Características gerais do período:

Abertura comercial;

Valorização cambial (Plano Real)/desmonte da indústria nacional;

Neoliberalismo e rentismo (taxa selic subiu a 45%);

Redução do investimento público;

Deterioração das finanças públicas e gastos com a remuneração do

capital rentista, em detrimento de investimentos produtivos.

Guerra fiscal; na falta de uma política nacional de desenvolvimento,

alguns estados passaram a competir entre si para receberem novos

empreendimentos.

Enxurrada de importações (industriais, mas também agrícolas);

Ausência de Politica Nacional de Desenvolvimento e muito menos de

desenvolvimento regional (extinção da SUDAM e SUDENE em

2001);

concessão de serviços públicos para a exploração de empresas

privadas (telefonia, estradas - pedágios).

Inicio da regressão da estrutura produtiva nacional

(desindustrialização);

Crescimento do desemprego, precarização do trabalho e ampliação do

trabalho informal;

Empresas estatais paulistas privatizadas.

Gráfico 2 – Orçamento Geral da União (Executado em 2014).

Fonte: <http://www.auditoriacidada.org.br/e-por-direitos-auditoria-da-divida-ja-confira-o-

grafico-do-orcamento-de-2012/>

Dos R$ 2,168

trilhão gastos

pela União.

R$978 bilhões

foram gastos

com juros e

amortizações da

dívida pública.

Rentismo no Brasil.

Predomínio do capital especulativo sobre o capital produtivo;

Os investimentos são reduzidos para o pagamento de juros e serviçosda dívida.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia/210218-2Fonte: http://gazetavargas.org/rentismo-receita-para-um-crescimento-desigual-e-

ineficiente/

Guerra fiscal:

Guerra dos lugares para sediar investimentos privados: fenômeno quepassou a se manifestar com maior força na década de 1990 e quecontribuiu para desconcentração produtiva.

Caso emblemático das montadoras de veículos;

Leilão dos lugares por parte das empresas: as práticas envolvem,principalmente a renúncia fiscal, a doação de terrenos.

Quem oferece mais vantagens ao capital sedia os empreendimentos docapital;

Representa a subordinação da política do Estado a política dasempresas (SANTOS e SILVEIRA, 2001);

Extorsão dos lugares;

É a expressão da lacuna representada pela ausência de projetonacional de desenvolvimento que contenha orientações sobre oordenamento territorial.

Anos 2000

Desvalorização cambial em 1999 e retomada das exportações

(primárias);

Desindustrialização;

Continuação dos juros altos e o privilégio ao capital rentista, em

detrimento do capital produtivo.

Continuidade do processo de desconcentração da agricultura moderna

do Centro Sul rumo a fronteira agrícola;

Continuidade da desconcentração da indústria mineral, celulose e

outras ligadas ao setor primário da economia em razão do “efeito

China”

Tabela 1.

Fonte: Cano (2012).

Gráfico 1. Brasil – evolução da composição do PIB (em %).

Fonte: Cano (2012).

Fonte: Porchman (2014)

Gráfico 2 . Brasil – evolução da composição do PIB (em %).

Fonte: Cano (2012).

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/30194-participacao-da-industria-no-pib-

recua-aos-anos-jk.shtml

Dos segmentos industriais, os mais afetados pelo processo de

desindustrialização:

Bens de consumo duráveis;

Bens de capital e intermediários;

Os segmentos que requerem pesados investimentos, com maior valor

agregado e mais intensivo em tecnologia.

Os bens de consumo não duráveis foram menos afetados.

Tabela 2.

Fonte: Cano (2012).

A desconcentração da atividade econômica caminha junto com adispersão da população no território.

A região NE foi origem de grande parte dos emigrantes e SP foi odestino principal nos anos 1970 e 1990.

PA e RO foram o segundo principal destino dos imigrantes na décadade 1980.

1º Região/estado 2º

Região/estad

o

Região/estad

o

1970 SP CO-DF PA-RO

1980 SP PA-RO CO-DF

1990 SP CO-NO PA-RO

A intervenção estatal e a questão do desenvolvimento regional

Características básicas da intervenção do Estado no Brasil no

processo de desenvolvimento:

Complementar ações da iniciativa privada, intervir em áreas e

setores que a iniciativa privada não valoriza.

Papel ativo na configuração do setor produtivo (distinto dos países

capitalistas avançados).

Principais instrumentos de intervenção:

Incentivos fiscais;

Infraestrutura (estradas, energia elétrica, telecomunicações);

Nos setores que exigem grandes investimentos, mas que

proporcionam baixa rentabilidade (HESPANHOL, 1997, p.27).

Superintendências regionais de desenvolvimento

SUDENE – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

SUDAM – Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia

SUFRAMA – Superintendência do Zona Franca de Manaus

SUDECO – Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste

SUDESUL- Superintendência do Desenvolvimento do Sul

Objetivo: apoiar projetos de desenvolvimento econômico,

notadamente industriais.

A partir da década de 1970 as Superintendências regionais de

desenvolvimento diminuem sua participação na implementação de

políticas de desenvolvimento: da condição de planejadoras passam a

mera executoras .

Impasses:

Planejamento regional x centralização política;

Redução da desigualdade e disparidades regionais x crescimento

econômico;

Passou-se a implementar programas setoriais com fortes impactosespaciais

POLONORDESTE – Programa de Desenvolvimento de ÁreasIntegradas do Nordeste – 1974

PROTERRA – Programa de Redistribuição de Terras e de Estímuloà Agropecuária do Norte-Nordeste

POLAMAZÔNIA – Programa de Pólos Agropecuários e Agromineraisda Amazônia - 1974

POLOCENTRO – Programa Especial de Desenvolvimento dosCerrados – 1975.

PRODEGRAN – Programa de Desenvolvimento da GrandeDourados – 1975.

Além do planejamento regional e dos programas especiais, o Estado

interviu sobre o processo de desenvolvimento econômico por meio

de diversas políticas setoriais:

A preocupação da intervenção sempre foi de fomentar o

desenvolvimento capitalista. A preocupação com a redução das

desigualdades regionais ocorre muito mais ao nível do discurso

oficial, que na efetivação de políticas consistentes de diminuição das

disparidades regionais.

O Estado deve exercer seu papel regulamentador e resistir as

ofensivas do setor privado. É pela via estatal que é possível a oferta

de serviços básicos essenciais, sobretudo para a população mais

carente.

As contradições do capitalismo não se resolvem pela via do

mercado.

Referências:

CANO, Wilson. Desconcentração produtiva regional: 1970-2005. 1ª ed. São Paulo: UNESP, 2007.

CANO, Wilson. A desindustrialização brasileira. In: Economia e Sociedade, Campinas, v. 21,

Número Especial, p. 831-851, dez. 2012.

DELGADO, Guilherme da Costa. Do capital financeiro a economia do agronegócio: mudanças

cíclicas em meio século [1965-2012]. Porto Alegre: UFRGS, 2012.

SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria L. O Brasil: território e sociedade no século XXI. 1ª ed. Rio de

Janeiro: Record, 2001.

HESPANHOL, A. N. A atuação do Estado no processo de desenvolvimento brasileiro. In:

MENEGUETTE JUNIOR, Messias; ALVES, Neri (Orgs.). FCT 40 anos, perfil científico-

educacional, Presidente Prudente: UNESP/FCT, 1999, p. 21-41.

Indicação de documentários:

Silvio Tendler. Privatizações: a Distopia do Capital (2014).

https://www.youtube.com/watch?v=A8As8mFaRGU

Francisco de Oliveira. Ornitorrinco - Será isso um objeto de desejo?

https://www.youtube.com/watch?v=TexQqHycIV0&t=434s