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INTERAÇÕES Revista Internacional de Desenvolvimento Local Universidade Católica Dom Bosco Instituição Salesiana de Educação Superior v. 9 n. 1 jan./jun. 2008

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Page 1: INTERAÇÕES - UCDB · de implementação de políticas públicas de âmbito local e regional na região. Felipe Eduardo Araújo de Carvalho e Angelo Brás Fernandes Callou, no artigo

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local

Universidade Católica Dom BoscoInstituição Salesiana de Educação Superior

v. 9 n. 1 jan./jun. 2008

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Chanceler: Pe. Afonso de Castro

Reitor: Pe. José Marinoni

Pró-Reitor Acadêmico: Pe. Gildásio Mendes dos Santos

Pró-Reitor Administrativo: Ir. Raffaele Lochi

Editora UCDBAv. Tamandaré, 6.000 - Jardim Seminário79117-900 Campo Grande-MSFone/Fax: (67) 3312-3373e-mail: [email protected] www.ucdb.br/editora

U n i v e r s i d a d e C a t ó l i c a D o m B o s c o

Conselho EditorialAdyr Balastreri Rodrigues (Universidade de São Paulo)

Alberto Palombo (Florida Atlantic University - USA)Alicia Rivero (CONSULT-AR - Bonn - Alemanha)

André Joyal (Université du Québec à Trois-Rivières – Canadá)Antonio Elizalde Hevia (Universidad Bolivariana de Chile-UBC)

Bartomeu Melià (Universidad do Sacramento - Asunción - Paraguay)Cezar Augusto Benevides (Universidade Federal de MS)

Christian Krajewski (Institut für Geographie – Un.Münster -Munique – Alemanha)

Denis Maillat (IRER- Université de Neuchâtel - Suisse)Doris Morales Alarcón (Pontificia Universidad Javeriana)

Emiko Kawakami Rezende (EMBRAPA-MS)João Ferrão (Instituto de Ciências Sociais – Lisboa - Portugal)

Jorge Bacelar Gouveia (Universidade Nova Lisboa - Portugal)José Arocena (Universidad Catolica del Uruguay - UCU)

José Carpio Martín (Universidad Complutense de Madrid)Leila Christina Dias (Universidade Federal de SC)

Leo Dayan (Université Panthon Sorbonne – Paris I - França)Marcel Bursztyn (Universidade de Brasília)

Maria Adélia Aparecida de Souza (UNICAMP)Maria Helena Vallon (Fund. João Pinheiro)

Marília Luiza Peluso (Universidade de Brasília)Marisa Bittar (Universidade Federal de São Carlos)

Maurides Batista de Macedo Filha Oliveira (Univ. Católica de Goiás)Michel Rochefort (IFU - Université de Paris VIII)

Miguel Ángel Troitiño Vinuesa (Univ. Complutense de Madrid)Paulo TarsoVilela de Resende (Fund. Dom Cabral)

Rafael Ojeda Suarez (Universidad Agraria de la Habana - Cuba - UAH)Ricardo Méndez Gutiérrez del Valle (Univ. Complutense de Madrid)

Rosa Esther Rossini (USP)Sérgio Boisier (Santiago de Chile - Chile)

Conselheiros fundadores Milton Santos (in memoriam)

Nilo Odália (in memoriam)

I N T E R A Ç Õ E SRevista Internacional de Desenvolvimento Local

Conselho de RedaçãoCleonice Alexandre Le BourlegatMaria Augusta de CastilhoOlivier Francois Vilpoux

Editora ResponsávelMaria Augusta Castilho

Coordenação de EditoraçãoEreni dos Santos Benvenuti

Editoração EletrônicaGlauciene da Silva Lima Souza

Revisão de Texto e Traduções:Os próprios autores

CapaProjeto: Marcelo MarinhoFoto: Marcelo Gil da Silva / Disponível em:http://www.bonito-ms.com.brCachoeira em meio a vegetação. Quedad’água do Rio Mimoso, Bonito, Mato

Grosso do Sul, Brasil.

Tiragem: 1.000 exemplares

Distribuição: Bibliotecas universitárias

Cecília LunaBibliotecária - CRB n. 1/1.201

Interações. Revista Internacional de Desenvolvimento Local,n. 1 (jan./jun. 2008). Campo Grande: UCDB, 2008.120 p. v. 9ISSN 1518-7012Semestral1. Desenvolvimento Local.

Publicação do Programa Desenvolvimento Local da Universidade Católica Dom Bosco.

Indexada em:

SciELO - Scientific Electronic Library Online (www.scielo.br)Latindex, Directorio de publicaciones cientificas seriadas de America Latina, El Caribe, España y Portugal

(www.latindex.org)

GeoDados, Indexador de Geografia e Ciências Sociais. Universidade Estadual de Maringá (www.dge.uem.br/geodados)

Dursi, Sistema d’informació per a la identificació i avaluació de revistes, Catalunha

(www10.gencat.net/dursi/ca/re/aval_rec_sist_siar_economia_multidisciplinar.htm)

Clase, Base de datos bibliográfica en ciencias sociales y humanidades (www.dgb.unam.mx/clase.html)

IAIPK, Instituto Ibero Americano do Patrimônio Prussiano (http://www.iai.spk-berlin.de)

IBSS, International Bibliography of the Social Sciences, London (www.ibss.ac.uk)

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A Interações – Revista Internacionalde Desenvolvimento Local, a partir destenúmero, sente-se honrada em comunicaraos leitores sua indexação na SciELO-Brasil.O esforço coletivo para que esse sonho setornasse realidade se deve aos autores, aoConselho Editorial, ao apoio institucional daPró-reitoria Acadêmica na pessoa do Pe.Gildásio Mendes e, principalmente, ao incan-sável trabalho das funcionárias da EditoraUCDB: Ereni dos Santos Benvenuti eGlauciene Silva Lima Souza. A todos, nos-sos agradecimentos sinceros.

Assim, nossa caminhada para a me-lhoria e atualização deste periódico revelamais uma vez nosso compromisso com o de-senvolvimento local, já que procuramos le-var à sociedade em geral informações teóri-cas e práticas para soluções sustentáveis dosproblemas, necessidades e aspirações coleti-vas que possam contribuir para a melhoriada qualidade de vida das comunidades.

Este número contempla artigos selecio-nados pelo Conselho de Redação e analisa-dos pelo Conselho Editorial que, com seu tra-balho voluntário, possibilitam que a revistaalcance seu objetivo: resgatar e divulgar in-formações sistematizadas e de experiênciasconstrutivas em torno da idéia de Desenvol-vimento Local.

A revista, nesta edição, mostra artigosnacionais e internacionais voltados para omeio ambiente, capital social, empreendedo-rismo, aqüicultura, patrimônio e desenvolvi-mento local endógeno em subsolo teológico.

O artigo de Antônio A. R. Ioris – Águasque não correm mais pro mar – enfatiza a circu-lação das águas abundantes na Região Ama-zônica, como as construções de barragens

têm comprometido os recursos hídricos dolocal e como a melhoria da gestão dos recur-sos hídricos está relacionada a novas basesde produção econômica, padrões tecnológi-cos e redistribuição de oportunidades sociais.Em outro aporte, Francisco Diniz e TeresaSequeira escrevem sobre Uma possível hierar-quização através de um índice de desenvolvimen-to econômico e social dos Concelhos de PortugalContinental, inserindo a contrução de clusters,cujo resultado aponta para uma dicotomialitoral/interior e significativa assimetria en-tre os conselhos que integram o país, o quesugere a necessidade de uma especial pre-caução na delimitação espacial da aplicabili-dade de políticas de desenvolvimento regio-nal, em nome da sua eficácia real. O artigode Christian Luiz da Silva e Willian MichonJúnior destaca o Desenvolvimento socioeconô-mico local e reestruturação produtiva para-naense na década de 1990, dimensionando queos investimentos foram concentrados na in-dústria automobilística e na região metropoli-tana, não propiciando a redução da desigual-dade regional. No artigo intitulado Desenvol-vimento local, empreendedorismo e capital so-cial: o caso de terra roxa no Estado do Paraná,dos autores Ednilse Maria Willers, JandirFerrera de Lima Jefferson e Andronio Ra-mundo Staduto, há uma dinamização de vá-rios fatores que levaram ao surgimento e am-pliação de uma atividade completamente di-ferenciada à “vocação” territorial, na qualestão imersas empresas de confecção. Hele-na Carvalho De Lorenzo e Sérgio de Azeve-do Fonseca escrevem sobre A promoção dodesenvolvimento local apoiada em redes de mu-nicípios: a experiência do consórcio intermuni-cipal central paulista e discutem a viabilidade

Editorial

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de implementação de políticas públicas deâmbito local e regional na região. FelipeEduardo Araújo de Carvalho e Angelo BrásFernandes Callou, no artigo A extensão pes-queira e desenvolvimento local, destacam a ex-periência da Secretaria Especial de Aqüicul-tura e Pesca da Presidência da República –SEAP/PR, no Estado de Pernambuco (2003-2006), onde a SEAP/PR, ao soerguer o ser-viço público de Extensão Pesqueira nacional,incorporou o desenvolvimento local comocondição fundamental à emancipação doscontextos sociais pesqueiros. Pierre-M. LeBel, Felipe de Alba e Luzma Fabiola Navaidentificaram na cidade de Havana, emCuba, uma metropolização por meio do patri-mônio, procurando demonstrar que é tam-bém possível ver este fenômeno em uma ci-

dade cubana, mesmo sendo num regime so-cialista. Vicente Fideles de Ávila, em seu arti-go “Paciência”, capitalismo, socialismo e desen-volvimento local endógeno, afirma que o DLpode evoluir para real contraponto e contrapéà avalanche exploratória do capitalismo tur-binado pela moderna globalização. O artigode autoria de Josemar de Campos Maciel,Exame de ressonância sobre paciência e desen-volvimento local endógeno em subsolo teológico,chama a atenção para o mundo metafóricooriundo da linguagem teológica, uma dasprimeiras articuladoras históricas do imagi-nário do desenvolvimento, para uma refle-xão sobre o desenvolvimento local endógeno.

Maria Augusta CastilhoEditora

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SumárioArtigos

Águas que não correm mais pro mar ................................................................................................................ 9Waters that no longer flow to the sea .................................................................................................................. 9Les Eaux qui ne Coulent plus Vers la Mer ........................................................................................................... 9Aguas que ya no Fluyen al Mar ............................................................................................................................... 9

IORIS, A.A.R.

Uma possível hierarquização através de um índice de desenvolvimento económico e social dosConcelhos de Portugal Continental ................................................................................................................. 19Un índice del desarrollo social y económico – una clasificación posible de NUTS IV en Portugal .......... 19A social and economic development index - NUTS ranking in Portugal ........................................................ 19Une hiérarchisation possible par un indice de Développement Economique et Social des Conseils de PortugalContinental ............................................................................................................................................................ 19

DINIZ, F.SEQUEIRA, T.

Desenvolvimento socioeconômico local e reestruturação produtiva paranaense na década de 1990 . 29Socioeconomic development and production restructuring in Paraná in the 1990s decada ..................... 29Développment socioéconomique et restructuration productive du Paraná pedant la décennie 1990 ......... 29Desarrollo socioeconómico y reestructuración productiva del Paraná en la década de 1990 .................................. 29

SILVA, C.L.daMICHON JÚNIOR, W.

Desenvolvimento local, empreendedorismo e capital social: o caso de Terra Roxa no estadodo Paraná ............................................................................................................................................................. 45Local development, entrepreneurship and social capital: the case of Terra Roxa city at Paranástate in Brazil ....................................................................................................................................................... 45Développement local, entrepreneurship et capital social: un étude sur la village de Terra Roxadans la province du Paraná au Brésil ................................................................................................................ 45Desarrollo local, espíritu emprendedor y capital social: un estudio sobre la ciudade de Terra Roxa enla provincia del Paraná en Brasil ........................................................................................................................... 45

WILLERS, E.M.LIMA, J.F.deSTADUTO, J.A.R.

A promoção do desenvolvimento local apoiada em redes de municípios: a experiênciado Consórcio Intermunicipal Central Paulista ............................................................................................... 55The promotion of local development supported by municipality networks: the experienceof Paulista Centre Intermunicipal Partnership ................................................................................................ 55La promoción de desarrollo local en redes de ciudades: la experiencia del Consorcio IntermunicipalCentro Paulista .................................................................................................................................................... 55Developpment local en une groupement des municipaliteés: l‘experience du Association Paulista CentreIntermunicipal ....................................................................................................................................................... 55

DE LORENZO, H.C.FONSECA, S.de A.

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Extensão pesqueira e desenvolvimento local: a experiência da Secretaria Especial de Aqüiculturae Pesca no Estado de Pernambuco, 2003-2006 ............................................................................................... 65Fishing extension and local development: the experience of the Republic Presidency’s SpecialDepartment of Aquiculture and Fishing in Pernambuco State, 2003-2006 .................................................. 65La extensión peesquera e lo desarrollo local: la experiência de la Sección Especial de la Aquiculturae el da de Pesca del Estado de Pernambuco, 2003-2006. ................................................................................. 65Extension de pêche et développement local: l’expérience de Secretaria Spéciale de d’Aqüicultura et Pescadans l’État de Pernambuco, 2003-2006 ................................................................................................................. 65

CARVALHO, F.E.A.deCALLOU, A.B.F.

La Havane et la Ville de Mexico: une métropolisation par le patrimoine ................................................ 77Havana e a Cidade do México: uma metropolização através do patrimônio .............................................. 77La Habana and Mexico City: metropolization through heritage .................................................................... 77La Habana y la Ciudad de Mexico: una metropolizacion por medio del patrimonio .............................................. 77

LE BEL, P.-M.DE ALBA, F.NAVA, L.F.

“Paciência”, capitalismo, socialismo e desenvolvimento local endógeno ............................................... 85“Patience”, capitalism, socialism and endogenous local development ....................................................... 85“Patience”, capitalisme, socialisme et développement local endogène ......................................................... 85”Paciencia”, capitalismo, socialismo y desarrollo local endogeno ......................................................................... 85

ÁVILA, V.F.de

Exame de ressonância sobre “paciência” e desenvolvimento local endógeno em subsolo teológico ..... 99Considerations about “patience” and endogenous local development and some theologicalunderground ........................................................................................................................................................ 99Quelques considerations regardant la “patience” et la resonance théologique sur le développementlocal endogène ...................................................................................................................................................... 99Resonancias sobre la “paciencia” y el desarrollo local endogeno en subsolo teologico ........................................... 99

MACIEL, J.de C.

Entrevista

Entrevista concedida a Maria Augusta de Castilho, por Francisco Ther Ríos, no II ColóquioInternacional em Desenvolvimento Local ................................................................................................... 111

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Artigos

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Águas que não correm mais pro marWaters that no longer flow to the sea

Les Eaux qui ne Coulent plus Vers la MerAguas que ya no Fluyen al Mar

Antônio A. R. Ioris*

Recebido em 20/11/2007; revisado e aprovado em 25/1/2008; aceito em 20/2/2008.

Resumo: As características da Amazônia dependem, em grande medida, da extraordinária abundância e circulaçãode água. Ainda assim, pressões exercidas pelo desenvolvimento econômico têm comprometido seriamente os recursoshídricos regionais, através da expansão agrícola, da construção de barragens e da mercantilização do meio ambiente.A melhoria da gestão de recursos hídricos está fundamentalmente relacionada a novas bases de produção econômica,padrões tecnológicos e redistribuição de oportunidades sociais.Palavras-chave: Amazônia. Recursos hídricos. Ecologia política.Abstract: The characteristics of the Amazon region depend, to large extent, on the extraordinary availability and flowof water. Even so, economic development pressures have seriously impacted compromised regional water resourcesdue to agriculture expansion, dam construction and environmental commodification. Improvements in watermanagement are directly related to new basis of economic production, technological standards and redistribution ofsocial opportunities.Key words: Amazon. Water resources. Political ecology.

Résumé: Les caractéristiques de l’Amazonie dépendent, en grande mesure, de l’extraordinaire volume et circulationd’eau. Cependant, les pressions exercées par le développement économique mettent en risque les ressources hydriquesde la région, en vertu de l’expansion agricole, de la construction de digues et de la mercantilisation de l’environnement.L’amélioration de la gestion des ressources hydriques est fondamentalement associée à de nouvelles bases de productionéconomique, de nouveaux standards technologiques et à la redistribution d’opportunités sociales.Mots-clé: Amazonie. Ressources hydriques. Écologie politique.Resumen: En gran medida, las características naturales de la región Amazónica dependen de la extraordinariadisponibilidad y del caudal de agua. Aun así, las presiones del desarrollo económico han afectado seriamente losrecursos hídricos de la región debido a la expansión agrícola, la construcción de presas y mercantilización del medioambiente. Mejoras en la gestión del agua están relacionadas con nuevos modos de producción económica, estándarestecnológicos y redistribución de oportunidades sociales.Palabras clave: Amazonía. Recursos hídricos. Ecología política.

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 9, n. 1, p. 9-17, jan./jun. 2008.

* Professor (lecturer) do Departamento de Geografia e Meio Ambiente, Universidade de Aberdeen, ElphinstoneRoad, Aberdeen, AB24 3UF, Reino Unido; tel.: 0044 1224 273703; E-mail: [email protected].

Rios escondidos sem filiação certavão de muda nadando nadandoEntram resmungando mata a dentro

Nacos de terra caídavão fixar residência mais adiantenuma geografia em construção

(Raul Bopp, em ‘Cobra Norato’)

A socionatureza das águas

A imensidão dos rios e as característi-cas hidrológicas da Bacia Amazônica sãouma fonte inigualável de vida e de história.Os indígenas chegam a ter uma reverênciatranscendental pelas águas, a exemplo dosTucanos, que entendem a água dos rios comoo sangue que circula pelo corpo humano(DOWDESWELL, 1998). Do mesmo modo,gerações de colonizadores e viajantes se

impressionaram com a abundância de águae imponência da natureza. Em 1542, Fran-cisco de Orellana, o primeiro explorador eu-ropeu que se aventurou das nascentes à foz,batizou o rio principal com a mitologia desuas mulheres guerreiras: Rio Grande dasAmazonas. Desde então, quanto mais sesabe sobre as águas, maior é o deslumbra-mento. Com mais de mil afluentesirrompendo dos dois hemisférios da Terra1,o grande rio lança ao mar 15,5% de toda avazão do planeta. A média anual chega a209.000 m3/s, sendo que 64% dessa vazãotem origem dentro das fronteiras brasileiras(BRAGA et al., 1999). Os afluentes descemdas serras e dos planaltos para invadir umaimensa planície com altitudes que não ultra-passam 200 metros acima do nível do mar.Já as baixas latitudes garantem um fluxoconstante de energia solar ao longo de todo

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o ano, o que alimenta um poderoso ciclohidrológico. Altas taxas de energia e umida-de oferecem condições incomparáveis parao desenvolvimento de ecossistemas exube-rantes. A principal formação vegetal, cha-mada de floresta ombrófila densa, cobre so-los geralmente intemperizados e pobres emminerais, valendo-se da reciclagem de nu-trientes e da circulação de água para suasobrevivência.

A interação entre regime hidrológicoe comunidades biológicas é tão estreita que,ao longo do tempo, o desenvolvimento dafloresta passou a influenciar o clima. Esti-ma-se que a média de precipitação seja de2.400 mm/ano, mas, desse total, 1.382 mm/ano voltem para a atmosfera na forma deevapotranspiração (SALATI, 1985)2. A flo-resta, portanto, não é somente conseqüên-cia do clima, mas as condições climáticas de-pendem, em grande medida, da coberturaflorestal. Isso significa que, apesar das gran-des quantidades, não existe sobra de águana Amazônia, uma vez que a própria conti-nuidade dos ecossistema depende da águadisponível. Da mesma forma, a evolução danatureza amazônica contou também com aação de grupos sociais que, criativa e grada-tivamente, alteraram a composição das flo-restas, campos e várzeas. O universo queresulta desse metabolismo permanente en-tre sociedade e natureza tem característicashíbridas socionaturais (SWYNDGEDOUW,2004). Assim é a Amazônia, uma imensarealidade socionatural, onde a água tem umafunção vital e integradora. A hibridizaçãoentre sociedade e natureza vai muito alémde formulações neodarwinistas, as quais sus-tentam que os atributos morfológicos e o com-portamento dos indivíduos são definidos etransmitidos aos descendentes de forma an-terior à sua relação com o ambiente(INGOLD, 2000). Pelo contrário, é justamen-te esse metabolismo socionatural que leva osseres humanos a desenvolvem qualidades ecapacidades que são ao mesmo tempo indi-viduais e sociais. Do mesmo modo, a paisa-gem socionatural não é externa à atividadesocial, mas foi intensamente vivenciada pe-los ancestrais e deixada às atuais geraçõescomo a encarnação de sua experiência tem-poral, com um verdadeiro monumento dacontinuidade da vida (INGOLD, 2000).

Apesar de ser a “Pátria das Águas”(conforme denominação precisa do poetaThiago de Melo), pressões econômicas vêmcomprometendo a base ecológica e social daAmazônia. Na verdade, os problemas de usoe conservação das águas são parte de umadestruição programada que atende a inte-resses políticos e econômicos de curto pra-zo. A característica básica do modelo de ‘de-senvolvimento’ imposto à Amazônia é a ex-pulsão da floresta para ceder lugar à agri-cultura, à exploração hidrelétrica e à mine-ração (discutidas a seguir). A remoção dafloresta invariavelmente leva à degradaçãodos cursos de água, ao mesmo tempo que aconstrução de barragens ao longo dos riostem impactos negativos sobre a natureza aspopulações locais (WAICHMAN et al.,2003). A ‘investida’ contra a Amazônia éapenas a etapa avançada de um sistema eco-nômico anti-humano e anti-ambiental, en-fim, anti-ecológico, o qual, no restante dopaís, consolidou e ampliou desigualdades so-ciais profundas, cruamente demonstradaspela crescente miséria das periferias urbanase pela crônica pobreza do campo. A diferen-ça entre a destruição da Amazônia e o queacontece nas outras regiões é a velocidadecom que os ecossistemas são convertidos emlucros transitórios e a enormidade das cha-gas socionaturais deixadas pelo ‘progresso’.

A Amazônia pulsa e sangra pelas suaságuas

Se as Américas foram o grande labo-ratório da humanidade nos últimos cincoséculos, a Amazônia tem sido o grande ex-perimento da tecnocracia brasileira nas últi-mas cinco décadas. Ainda nos primeiros anosda ditadura militar, uma região que compre-ende 54,4% do território brasileiro e encerra78% da reserva de água doce nacional foijulgada culpada pela sua geografia e conde-nada a passar por um processo de domesti-cação chamado ‘desenvolvimento’. Atuan-do através de planejamento centralizado ecorrupção sistêmica, os militares liberaramforças que, logo em seguida, fugiram ao seucontrole... e “a Amazônia começou seuapocalipse” (HECHT e COCKBURN, 1989,p. 122). A incorporação da região ao mode-lo econômico hegemônico foi um processo

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profundamente ideológico, formulado pelogoverno brasileiro e estimulado por organi-zações financeiras internacionais (BARBO-SA, 1996). Entre as várias atividades que pas-saram a receber incentivos, a agricultura pre-datória de curto prazo (chamada de ‘agri-cultura moderna’) é a que conta com o maiorpoder de devastação. A expansão agrícolana Amazônia produziu um dos maiores pro-cessos de privatização de terra da históriada humanidade, o que não é apenas umatragédia social pela perda de recursos de usocomum e proletarização das populações lo-cais, mas se configura também em uma tra-gédia ecológica de proporções planetárias(MARTINEZ-ALIER, 1991). Novas fazendascomeçaram a ser abertas a partir de 1966,especialmente ao longo das rodovias Belém-Brasília, da malfadada Transamazônica, daBR-364 (Cuiabá–Porto Velho, que atraiu160.000 agricultores por ano na década de1980) e da BR-163 (Cuiabá–Santarém, ago-ra em processo de pavimentação). A aber-tura de fazendas foi estimulada por benessesfiscais e por uma legislação que equivocada-mente considera a remoção da vegetação um‘melhoramento’ da propriedade. A partir dadécada de 1990, contando com novas tec-nologias agronômicas, os fazendeiros pas-sam a depender menos de incentivos diretosdo governo para expandir a produção degrãos e de carne3. Uma melhor infra-estru-tura de transporte, o que inclui a navegaçãofluvial, especialmente a partir do porto deSantarém, passou também a viabilizar a ex-ploração de áreas ainda mais remotas.

Enquanto que as populações ribeiri-nhas conviviam inteligentemente com a di-nâmica das águas, fazendo uso intensivo devárzeas no período da vazante e se deslo-cando para as terras altas durante a épocade cheias (BUNKER, 1985), a maioria dosproprietários que chegaram nas últimas dé-cadas não desenvolveram o mesmo nível deentendimento e compromisso com a região.Como o objetivo é obter lucro o mais rápidopossível, a expansão agrícola se dá atravésdo corte brutal da floresta e do uso do fogopara ‘limpeza’ das glebas. Árvores centená-rias, que serviam de habitat para uma inu-merável quantidade de plantas, insetos, avese outros animais, são desprezadas como sefossem palitos de fósforo. Em poucos anos,

a fertilidade natural se esgota, porque de-pendia da presença da floresta para a reci-clagem de nutrientes. O desmatamento tam-bém produz alterações marcantes no ciclohidrológico, já que a floresta servia comoproteção do solo durante a estação chuvosae reserva de água para a estação seca. Sem afloresta, as vazões aumentam durante o pe-ríodo chuvoso e se reduzem durante o perío-do seco. Ao longo dos anos, com menoresconcentrações de vapor na atmosfera, há atendência de uma diminuição progressivada precipitação anual4. É importante reco-nhecer que o cálculo do balanço hídrico daAmazônia não é um exercício trivial para osmodelos hidrológicos hoje disponíveis, sen-do particularmente difícil de se demonstrara correlação entre o desmatamento e varia-ções na precipitação e vazão dos rios. A Ba-cia Amazônica tem uma hidrologia particu-larmente complexa em razão de um relevoextenso, muito plano e com um mosaico decoberturas vegetais. A perturbação hidroló-gica está ligada à extensão e distribuição es-pacial das áreas desmatadas (D’ALMEIDAet al., 2006). Apesar das limitações dos mé-todos científicos, existem indícios claros dealterações hidrológicas em bacias hidrográ-ficas severamente afetadas pelo desmata-mento na parte sul da Amazônia.

Até o ano de 2003, o desmatamentochegou a 16,2% da área da Amazônia Legal(eliminação de aproximadamente 650.000km2, mais que o território da França). Amaior parte se concentra nos estados doPará, Mato Grosso e Rondônia, onde gran-des e médias fazendas respondem por apro-ximadamente 70% da floresta removida(FEARNSIDE, 2005). O restante do desma-tamento é causado pelos pequenos produ-tores que chegam à Amazônia, geralmenteexpulsos do sertão nordestino ou dos latifún-dios do centro-sul. Os pequenos fazendeirossão capturadas pelo sistema político-socialdominante e têm dificuldade para respon-der criativamente ao novo contexto e às no-vas experiências (NORGAARD, 1994, p.106). A perversidade do modelo macroeco-nômico brasileiro faz com que exista umarelação estreita entre aceleração da econo-mia e desmatamento na Amazônia. Entre osanos 1989 e 1994 houve um declínio no des-matamento em razão basicamente da crise

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pós-Plano Cruzado, mas a estabilidade mo-netária oferecida pelo Plano Real permitiuque em 1995 se atingisse a maior taxa dahistória (FEARNSIDE, 2005). Em agosto de2007, o Ministério do Meio Ambiente anun-ciou uma desaceleração do desmatamentode 25% entre 2005 e 2006, o que infelizmen-te indica que a agressão continua, apenas ataxas um pouco menores.

O segundo processo de apropriação edegradação das águas amazônicas a serviçodo ‘desenvolvimento’ é a construção de bar-ragens para geração de energia hidrelétrica.Tendo em conta as particularidades daAmazônia, em especial as extensas planícies,construir barragens já seria temerário. Masquando se soma a isso um processo políticoautoritário, conhecimento científico limita-do, interesses financeiros e corrupção genera-lizada, tem-se uma receita de desastre. As-sim tem sido a experiência de geração deenergia hidrelétrica na Amazônia. Os pri-meiros projetos foram Coaracy Nunes, noAmapá, e Curuá-Una, no Pará, mas o piorexemplo de má gestão foi Balbina, uma usi-na que abastece Manaus com baixíssima efi-ciência de geração em relação à área alagada(0,11 MW/km2). Já os maiores impactosocorreram em Tucuruí, onde 2.160 km2 defloresta foram alagados e mais de 15.000 pes-soas tiveram que ser reassentadas. Entre osgrupos indígenas, os Caiapós perderam suasterras ancestrais e passaram a sentir na pelea arrogância e o descaso das políticas de ‘de-senvolvimento’. O lago artificial de Tucuruílevou à extinção de diversas espécies biológi-cas e à proliferação de doenças de veiculaçãohídrica. Nos primeiros anos, o lago apresen-tou péssima qualidade da água em razão dadecomposição anaeróbica da vegetação e douso criminoso de herbicidas, somadas à es-tratificação térmica e química da água. Mui-tos desses problemas continuam.

Apesar dos erros do passado, a amea-ça de exploração hidrelétrica da Amazônianunca esteve tão em pauta como agora, jáque a região alegadamente detém cerca de50% do potencial elétrico nacional. O Plano2010 da Eletrobrás prevê 297 locais para ainstalação de novas usinas no país, sendo que79 da obras se localizam na Amazônia. Asduas principais áreas de expansão estão loca-lizadas no Rio Madeira e formadores do Ta-

pajós, e nos Rios Xingu e Tocantins. Na Ba-cia do Madeira, depois de uma longa dispu-ta política, as usinas de Jirau e Santo Antô-nio receberam licença prévia de instalaçãoem julho de 2007, aceitando o alagamentode 529 km2 (ver abaixo). Na Bacia do Xingu,apesar de ter sido aprovado pelo CongressoNacional em 2005, continua a polêmica emrelação à Barragem de Belo Monte. Desde1989, a população de Altamira e os indíge-nas mantém uma resistência organizada ebastante influenciada pela traumática expe-riência com Tucuruí. Em razão dos protestos,o desenho inicial foi alterado e a área a seralagada diminuiu de 6.000 km2 para 400km2. Contudo, persiste a grande desconfian-ça de que o projeto total envolveria outrasbarragens a montante de Belo Monte. Existea suspeita que esse projeto megalomaníaco,terceiro maior do planeta, teria o objetivo denão somente gerar energia elétrica, mas tam-bém facilitar a atração de mais agricultorespara a Amazônia Oriental. Outras ativida-des estariam sendo planejadas em função deBelo Monte, como um acordo com investi-dores chineses para instalar uma usina dealumínio na região de Barcarena (Pará).Assim, o aproveitamento das águas da Ama-zônia torna-se cada vez mais integrado àsdinâmicas da globalização econômica.

Além da agricultura e das hidrelétri-cas, a mineração e o garimpo são interven-ções que também têm causado impactos con-sideráveis sobre as águas da Amazônia. Omaior projeto de mineração, Carajás, con-sumiu US$ 62 bilhões para permitir a extra-ção de ferro, ouro, níquel, cobre, manganêse bauxita, mas as repercussões ambientaisincluem também a exploração florestal eagrícola, fazendo com que as repercussõesde Carajás se estendam por mais de 10% doterritório nacional. Da mesma forma, a mi-neração de bauxita no Rio Trombetas temsido também responsável pela deterioraçãoda qualidade da água em função da lava-gem de efluentes tóxicos. Há denúncias deque a exploração de petróleo em Urucu eJuruá vem lançando rejeitos oleosos nos riose causando poluição pelo rompimento detubulações. O garimpo, que existe na Ama-zônia desde o século 17, aumentou exponen-cialmente a partir da década de 1970. Tantoo garimpo de fundo de rio, quanto o garim-

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po nos barrancos dos igarapés causam in-tensa sedimentação e, conseqüentemente,aumento da turbidez da água. Além de se-dimentos, entre 100 e130 toneladas de mer-cúrio metálico são anualmente utilizadaspara extração artesanal de ouro e depois lan-çadas no ar e nos rios da Amazônia. A con-taminação causada pelo garimpo provavel-mente se soma ao mercúrio do solo liberadopelo desmatamento (WASSERMAN et al.,2003). No ambiente, mercúrio metálico tor-na-se metilmercúrio, uma substância extre-mamente tóxica e que se acumula na cadeiaalimentar. Como o consumo de peixes é aprincipal fonte de proteína para a popula-ção regional, existem indícios preocupantesde contaminação humana por mercúrio, es-pecialmente pelo consumo de espécies car-nívoras, como piranha e tucunaré.

Outro problema cada vez mais agudoé a crescente urbanização da região Ama-zônica sem as mínimas condições de sanea-mento ambiental. Em termos comparativos,a região tem uma densidade demográficabaixa (5 habitantes/km2), mas isso não di-minui o impacto das concentrações urbanassobre os ecossistemas locais. Segundo dadosoficiais, o abastecimento de água serve 63%da população amazônida, mas o esgotamen-to sanitário está disponível a apenas 9% doshabitantes. Isso significa que quase todo oesgoto é lançado sem tratamento e direta-mente no meio ambiente. O caso mais graveé Manaus, uma cidade que em poucos anoscresceu 15 vezes e hoje comporta 1,5 milhãode habitantes, muito em razão dos subsídiosque movimentam a Zona Franca. O ritmodesenfreado de crescimento, somado à au-sência de planejamento urbano, tem levadoa uma ocupação crescente de margens deigarapés. Os moradores não têm alternativasenão o lançamento de esgoto nas águas pró-ximas de suas residências, que ficam cadavez mais contaminadas por metais ecoliformes fecais. Por outro lado, são inúme-ros os bairros da cidade de Manaus que nãotêm água encanada ou onde a água chegaaos domicílios de forma irregular e com pés-sima qualidade. Não pode haver prova maiscontundente da patologia do crescimentoeconômico do que haver escassez de águano coração da Amazônia... À qualidade pre-cária do serviço público, somam-se interes-

ses políticos e financeiros que jogaram a ci-dade na aventura da privatização em 2000.Trata-se do mesmo processo de privatizaçãoda água que, como em outras partes do país,trouxe aumento de tarifas e atingiu primei-ro e mais fortemente as populações de me-nor renda.

Como se não bastassem os impactosnegativos da agricultura, navegação, barra-gens, mineração, garimpo e explosão urba-na, existe uma ameaça ainda maior e maisdevastadora sobre as águas da Amazônia:as mudanças climáticas globais. Hoje quasenão restam mais dúvidas que o planeta vemse aquecendo devido ao acúmulo de ‘gasesde efeito estufa’ na atmosfera. A principalfonte desses gases é a economia perduláriados países industrializados, ao que se somamcontribuições do desmatamento, das queima-das e dos reservatórios hidrelétricos. Os ci-entistas prevêem que as mudanças climáti-cas produzirão menor precipitação e dimi-nuição da vazão dos rios da Amazônia(GASH et al. 2004). O aquecimento planetá-rio deve também intensificar os efeitos do ElNiño, fenômeno que é periodicamente res-ponsável por secas na Amazônia. O ano de2005 serviu como prenúncio desse futuroincerto e arriscado, quando uma grave secaafetou 914 comunidades e produziu cenasgrotescas de gado morrendo de sede e bar-cos encalhados no leito dos rios. O mais som-brio é que, com o aquecimento crescente daTerra, a floresta passa a liberar mais e acu-mular menos carbono. Isso potencializa oefeito estufa e acelera ainda mais o aqueci-mento. Se o processo continuar no atual rit-mo, no meio do Século 21 a floresta estaráirremediavelmente perdida e será substituí-da por uma vegetação semelhante ao cerra-do. Outra conseqüência será a redução dechuvas em outras partes da América do Sul,em particular no sudeste brasileiro, o queobviamente levará à substancial diminuiçãode todo o potencial agrícola e hidrelétriconacional. Há, portanto, uma interligaçãocomplexa e assustadora entre a degradaçãoambiental da Amazônia e a produção desérios impactos sobre a vida e a economiade toda o continente.

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Os novos (mesmos) erros da açãogovernamental

O avanço da economia brasileira so-bre as águas e os outros recursos ecológicosda Amazônia dependeu da ação autoritáriado Estado, necessária para a subordinaçãode populações e ecossistemas à lógica daacumulação rápida e fácil de capital. Segun-do a doutrina oficial, as novas atividades‘produtivas’ precisam atuar sem barreirasambientais ou sociais que tragam dificulda-des para a viabilidade dos negócios. Contu-do, o projeto de ‘integração nacional’ dasúltimas décadas nada mais fez do que des-locar a região Amazônica de uma condiçãoperiférica para outra igualmente dependen-te, tendo em conta que, apesar de toda adegradação causada pelo ‘desenvolvimento’,a economia regional corresponde a apenas3,7% do PIB brasileiro (dados de 2003). Obaixo percentual se explica pela sub-valori-zação e super exploração da natureza. Oganho de curto prazo e a aniquilação danatureza são justificados pelos economistasem função de taxas de desconto e outros ar-tifícios analíticos. Contudo, a realidade nuae crua escapa aos modelos econômicos e aosescritórios de planejamento. Na verdade, ocrescimento econômico regional reproduzsistemas de controle político e discriminaçãosocial estabelecidos na país ainda no perío-do colonial (BRYANT, 1998). O processoavassalador de destruição da Amazônia so-mente se explica pelo binômio de insustenta-bilidade e injustiça ambiental, uma vez quea mesma degradação que permite o enrique-cimento de alguns poucos remove direitosda maioria da população. É fácil perceberque as questões de acesso e uso dos recursosecológicos da Amazônia têm relação comdisputas por terra e água nas outras regiõesdo país ao forçarem a imigração em massapara a região. Mas, ao invés de resolver apobreza dos que lá chegam, a economia per-versamente se alimenta dos baixos salários eda manipulação das populações locais. Oresultado final do ‘desenvolvimento’ é a ins-crição dessas profundas desigualdades so-ciais na paisagem socionatural da Amazônia.

Quando se constata a grandeza da des-truição e das ameaças futuras sobre as águasda Amazônia, cabe perguntar qual tem sido

a resposta oficial e quais as medidas adotadaspara resolver os problemas e reduzir os con-flitos criados pelo ‘desenvolvimento’. O se-tor de recursos hídricos no Brasil é aclamadopor muitos por contar, há mais de uma déca-da, com uma legislação dita avançada – aLei 9.433 de janeiro de 1997 – que estabele-ceu novos procedimentos de gerenciamentopor bacia hidrográfica. Em razão da novalei, existe hoje com uma extensa estruturaadministrativa voltada a políticas públicasde recursos hídricos, incluindo o ConselhoNacional de Recursos Hídricos (CNRH), aAgência Nacional de Águas (ANA) e órgãosequivalentes nos estados. Entre os novos ins-trumentos de gestão de recursos hídricos es-tão a emissão de outorga (licença) e a cobran-ça pelo uso da água, porém sua implementa-ção nos rios da Bacia Amazônica é pratica-mente nula. O próprio governo reconheceque os órgãos oficiais têm tido uma atuaçãoincipiente na Amazônia e que, provavelmen-te, a região precisaria de uma configuraçãoinstitucional específica para atender às suascaracterísticas hidrológicas (MMA, 2006, p.130). Além de ser um modelo que não ofere-ce respostas efetivas à degradação e aos con-flitos pelos recursos hídricos na região, o novosistema de regulação reproduz a tradicionalconcentração de poder decisório nas regiõessul e sudeste.

O mais grave é que, apesar de identifi-car os graves problemas da região, o novomodelo oficial de gestão permite que a águacontinue sendo motivo de divisão, lucro, eincertezas. A implantação da nova Lei dosRecursos Hídricos tem produzido poucomais do que uma mera mudança de estilo,uma vez que substituiu as medidas claramen-te autoritárias dos militares por um autori-tarismo ‘moderno’ e dissimulado. Isso se de-monstra pelo fato de que as instâncias derepresentação criadas por lei (conselhos ecomitês de bacia) formalmente significamum espaço de debate democrático e a reso-lução de conflitos. Na prática, apesar daaparência de descentralização e preocupa-ção ecológica, a estrutura continua sendocontrolada pelos mesmos setores oligárquicosque sempre comandaram o ‘desenvolvimen-to’ (burocracia estatal, grandes proprietários,industriais e políticos tradicionais). Um exem-plo da reprodução das antigas ideologias

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desenvolvimentistas é o fato de o sistemaoficial ter recentemente reafirmado que auniversalização do acesso à água no paíssomente poderá ser atingida com um cresci-mento econômico acelerado e que não pou-pe as reservas da Amazônia (GEO Brasil,2007, p. 209). Em termos concretos, isso sig-nifica a perpetuação da mesma lógica de ex-ploração dos recursos naturais e acumula-ção de capital que há décadas vem produ-zindo impactos sociais e ambientais severos.A mesma posição ideológica é facilmenteidentificada no Plano Amazônia Sustentá-vel (PAS), publicado em 2006 e que tem oaval do Ministério do Meio Ambiente. O pla-no corretamente reconhece os erros cometi-dos pelo governo no passado, mas se limitaa oferecer uma longa lista de investimentosem usinas hidrelétricas, estradas e explora-ção mineral. Atrás de um discurso desustentabilidade, o PAS demostra ser ape-nas uma versão requentada do velho mode-lo de crescimento econômico excludente.Outra prova da manutenção dos vícios dopassado é a implantação de 97 ‘projetos dedesenvolvimento sustentável’(PDS) a partirde 2006, os quais teoricamente promoveriamum uso racional da floresta por pequenosprodutores. Contudo, os assentados peloINCRA rapidamente venderam seus direi-tos de exploração madeireira às grandesempresas do setor. A pressão política paraque os recursos da região continuem sendoexplorados faz com que a Organização doTratado de Cooperação da Amazônia(OTCA), assinado em 1978 por todos os pa-íses da Bacia, até hoje praticamente não te-nha saído do papel.

A prova mais cabal da manutenção daracionalidade econômica e do desprezo pelofuturo do Amazônia brasileira foi recente-mente dada pela coação dos órgãos ambi-entais a aprovarem as duas hidrelétricas noRio Madeira mencionadas acima (Jirau eSanto Antônio). O Estudo de Impacto Am-biental (EIA) apresentado pelos empreende-dores (Furnas Centrais Elétricas eOdebrecht) fez uma avaliação tendenciosados prováveis impactos, buscando encobrira degradação ambiental causada pelo pro-jeto com os benefícios econômicos indiretos.Trata-se do velho argumento de que a natu-reza pode ser livremente substituída pela

criação de (alguns) empregos e geração de(algum) imposto. O análise do IBAMA, assi-nado por uma equipe de oito técnicos, com-petentemente identificou os impactos ambi-entais que foram minimizados ou ignoradosna preparação do EIA, especialmente pro-blemas de assoreamento dos rios, alteraçãoda dinâmica de sedimentos e extinção deespécies de peixes, fauna e flora (ParecerTécnico n. 014/2007 – COHID/ CGENE/DILIC/ IBAMA, de 21/3/2007). Apesar deo parecer claramente condenar o projeto, apressão dentro e fora do governo pela suaaprovação revelou a face mais atrasada daslideranças políticas e econômicas nacionais.O desprezo pelos órgãos de fiscalização dei-xou a nítida impressão que toda a estruturade proteção do meio ambiente, incluindo oIBAMA, o CNRH e a ANA, tem uma fun-ção meramente decorativa frente aos inte-resses econômicos e à política patrimonialistado governo.

Existe ainda uma nova e mais dissimu-lada ameaça sobre a natureza e as popula-ções da Amazônia: o pagamento por serviçosambientais, o que inclui ações como a manu-tenção da biodiversidade, o seqüestro de car-bono e a preservação do ciclo hidrológico. Aidéia é converter esses serviços em valoresmonetários, que seriam pagos pelos benefi-ciários ou por empresas que queiram com-pensar seus impactos ambientais com a com-pra de tais serviços na Amazônia. Dois proje-tos de lei foram recentemente apresentadosno Congresso Nacional (PL 792/2007 e PLS142/2007), buscando incorporar os serviçosambientais ao texto da Lei 9.433. O paga-mento por serviços ambientais é uma solu-ção engenhosa, que atrai ambientalistas eacadêmicos, mas na verdade significa umaalternativa conservadora e enganosa. Em pri-meiro lugar, a implantação de pagamentopor serviços ambientais requer uma comple-xa estrutura de certificação, o que evidente-mente estaria muito aquém de grande partedas populações locais. Além disso, há o pro-blema ético de colocar preço e realizar tran-sações comerciais envolvendo seres vivos eprocessos ecológicos. Delegar ao mercado asrespostas para problemas fundamentalmen-te produzidos pelo hipertrofia do própriomercado é acreditar que o veneno, em maiordose, pode salvar o moribundo. Em terceiro

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lugar, traz risco aos outros ‘serviços’ ambi-entais que ficarem fora do sistema de paga-mentos, fincando sujeitos a uma degrada-ção ainda maior. A proposta de pagamentopor serviços ambientais simplesmente igno-ra que a conservação dos recursos ecológi-cos envolve questões normativas e decisõespolíticas externas à quantificação monetá-ria e ao raciocínio puramente econômico.

O caminho inverso

Cada vez mais, a exploração inconse-qüente da Amazônia faz com que ‘menoságua corra para o mar’, tanto em sentido fi-gurado, quanto também literal. O pior é quea degradação por que passa a região Ama-zônica é grave, mas infelizmente não é ex-clusiva. Pelo contrário, o processo de ‘desen-volvimento’ das últimas décadas reproduziuo mesmo modelo econômico e político quedevastou os ecossistemas litorâneos, o cer-rado e a caatinga. Assim, a Amazônia ape-nas reflete os velhos fundamentos da crisebrasileira: desigualdade social e depredaçãoda base ecológica (COSTA, 2001). O siste-ma econômico imposto à Amazônia depen-de diretamente da miséria e opressão damaioria da população e da degradação am-biental generalizada. Sua continuidade sig-nifica sentenciar a região a ficar sem qual-quer perspectiva de encontrar o caminho deum verdadeiro desenvolvimento. Portanto,soluções efetivas aos problemas socionaturaisda Amazônia passam pela democratizaçãodo Estado e pela inversão das prioridadespolíticas e econômicas. A conservação daságuas da Bacia Amazônica precisa ser coor-denada em uma hierarquia de escalas quese estenda de respostas no âmbito local a me-didas de abrangência nacional e internacio-nal. O caso mais premente é a energia elétri-ca, onde a demanda no centro-sul represen-ta cada vez mais um pesado fardo sobre osrios da Amazônia. Ao mesmo tempo, os la-tifúndios do desmatamento deveriam serabolidos em favor, por exemplo, de sistemasde produção agroflorestal nas planíciesAmazônicas, as quais são um dos sistemasecológicos mais produtivos do mundo (KERRet al., 2002). A boa notícia é que existem mi-lhares de organizações da sociedade civil quejá perceberam a estreita interrelação entre

questões sociais e ambientais da Amazônia(SCHOLZ, 2005). O mais importante é com-preender que a reação política pela manu-tenção dos estoques superficiais e subterrâ-neos de água fazem parte da mesma luta pormelhores condições de vida no campo e nascidades. Essa luta equivale a trazer Orellanade volta ao Rio Amazonas para encontrar,agora, o caminho da foz às nascentes... So-mente o caminho inverso do ‘desenvolvimen-to’ poderá garantir a continuidade da vidae das boas histórias da Amazônia.

Notas:1 O território da Bacia Amazônica é compartilhada por

nove países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador,Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.

2 Pesquisas mais recentes indicam que a reciclagem daprecipitação parece ser menor (entre 20-30%). Mes-mo assim, é um percentual ainda significativo e ca-paz de influenciar o clima de grande parte da Améri-ca do Sul.

3 Até 1991 o governo brasileiro oferecia diversas for-mas de incentivo e subsídio direto para interessadosem ‘produzir’ na Amazônia. Desde então, os incenti-vos se transformaram em apoio indireto. Provavel-mente, a maior forma de incentivo hoje seja a tole-rância do Estado com práticas de desmatamento edestruição ambiental ilegais, expressa na incapaci-dade dos órgãos de fiscalização.

4 A relação entre desmatamento e diminuição da pre-cipitação, chamada de dissecação, foi descrita porTeofrasto ao redor do ano 300 AC (cf. GROVE, 1995).

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Uma possível hierarquização através de um índice de desenvolvimento económicoe social dos Concelhos de Portugal Continental

Un índice del desarrollo social y económico –una clasificación posible de NUTS IV en Portugal

A social and economic development index - NUTS ranking in PortugalUne hiérarchisation possible par un indice de Développement Economique

et Social des Conseils de Portugal Continental

Francisco Diniz*Teresa Sequeira*

Recebido em 31/8/2007; revisado e aprovado em 10/12/2007; aceito em 18/2/2008.

Resumo: O objectivo inicial deste trabalho é o cálculo um Índice de Desenvolvimento Económico e Social (IDES) aonível de cada concelho (NUT IV) de Portugal e de seguida procede-se à construção de clusters. Os resultados apontama dicotomia litoral/interior e significativas assimetrias entre os concelhos que integram o país, o que sugere anecessidade de uma especial precaução na delimitação espacial da aplicabilidade de políticas de desenvolvimentoregional, em nome da sua eficácia real.Palavras-chave: Índice de Desenvolvimento Económico e Social. Desenvolvimento Local. Análise de Clusters.

Resumen: El objetivo inicial de este trabajo es el cálculo un índice del desarrollo económico y social (IDES) al nivel decada concelho (NUTS IV) de Portugal, seguido de la construcción de clusters. Los resultados señalan la dicotomía áreacostera/ interior y asimetrías entre los concelhos que integran el país, qué sugiere la necesidad de una precauciónespecial en la delimitación del espacio de la aplicabilidad de la política del desarrollo regional, a nombre de su eficaciaverdadera.Palabras clave: Índice del desarrollo económico y social. Desarrollo local. Análisis de clusters.

Abstract: The aim of this study is to calculate a Social and Economic Development Index (SEDI), regarding eachconcelho (NUTS IV) of Portugal. From there it will move forward to seeking for clusters. Results point to coastalareas/hinterland dichotomies as well as the significant asymmetries between each concelho, which suggests the needfor a special care in setting up the spatial boundaries prior to its application to regional development policies on behalfof its true effectiveness.Key words: Social and Economic Development Index. Local development. Cluster Analysis.Resumo: L’objectif initial de ce travail est le calcul d’un Indice de Développement Economique et Social (IDES) auniveau de chaque conseil (NUT IV) du Portugal et ensuite à la construction de clusters. Les résultats indiquent ladichotomie côte/province intérieure et les asymétries significatives entre les conseils qui intègrent le pays, ce quidémontre le besoin d’une préoccupation spéciale dans la délimitation spatiale de l’applicabilité des politiques dedéveloppement régional, au nom de son efficacité réelle.Palavras-chave: Indice de Développement Economique et Social. Développement Local. Analyse de Clusters.

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 9, n. 1, p. 19-28, jan./jun. 2008.

* Francisco Diniz ([email protected]) e Teresa Sequeira ([email protected]) são investigadores doutorados do CETRADe docentes do Departamento de Economia, Sociologia e Gestão da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.Av. Almeida Lucena, 1. 5000-660 Vila Real – Portugal. Tel: 00 351 259 302 200. Este artigo foi apresentado ao XIIICongresso da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Regional, nos Açores, em julho de 2007.

1 Introdução

Se o desenvolvimento é o futuro este,seguramente, não pode existir sem um claroconhecimento do passado. Ao processo dedesenvolvimento está associada, em primeirolugar, a ideia de observação de uma determi-nada situação de partida. Ao ser sujeita auma reflexão aprofundada, torna-se objectoda implementação de um modelo de cresci-mento indissociável à sua transformação emudança para um estado não só quantitati-vamente, mas também, qualitativamentesuperior.

Apesar do PIB real per capita ser umdos indicadores a que se recorre de formamais frequente para medir e comparar pro-cessos de crescimento/desenvolvimento eco-nómico ocorridos em diferentes espaços, ofacto de este apenas abranger uma das face-tas do desenvolvimento regional, suscita inú-meras críticas por parte dos investigadoresque expõem o seu carácter redutor. Na suaexclusiva aplicação, este indicador acaba pornegligenciar, por um lado, a vertente social(acesso à educação, saúde, e outras condi-ções de vida) e, por outro, por menosprezaroutras variáveis igualmente importantes

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para medir a perfomance económica de umdeterminado território (BASTER,1972).

O objectivo deste trabalho consiste, emprimeiro lugar, em apresentar uma forma dehierarquizar unidades territoriais de Portu-gal Continental, ao nível do concelho, tecen-do-se considerações acerca do seu posicio-namento em termos de um indicador de de-senvolvimento económico e social que con-temple variáveis susceptíveis de cobrireminúmeros aspectos para além dos estrita-mente ligados à economia. Posteriormente,procura-se detectar a presença de relaçõesde homogeneidade entre os diversos conce-lhos, partindo de um método estatísticomultivariado – os clusters. De forma a eluci-dar os vários passos levados a cabo paracumprir as tarefas acima referidas, será des-crita, no ponto 2, a estrutura metodológicautilizada.

No Ponto 3, procede-se à apresenta-ção e consequente análise dos resultadosobtidos, que são aprofundados no ponto 4,numa tentativa de obtenção de obtenção declusters.

Este trabalho termina com algumasreflexões e considerações finais, apresentan-do as limitações do estudo e algumas pistaspara investigação futura.

2 Aspectos metodológicos

Desde de 1990, o PNUD analisa a his-tória recente (a partir de 1960) da evoluçãodo desenvolvimento humano, um fenómenoque se revela, antes de mais, como um pro-cesso que conduz ao alargamento das possi-bilidades oferecidas a cada indivíduo atra-vés da realização de três condições essen-ciais: uma longa vida, uma boa saúde e aaquisição de um saber que permita o acessoaos recursos necessários para auferir um ní-vel de vida conveniente.

No entanto, o conceito de desenvolvi-mento humano não se esgota com o atingirdestes pressupostos, englobando outras di-mensões, igualmente importantes (emborade difícil execução), que se prendem com aliberdade política, económica e social; a cria-tividade; a produtividade; e o respeito pelagarantia dos direitos humanos fundamen-tais. Revela, por isso, dois aspectos indisso-ciáveis, nomeadamente, a criação de capa-

cidades pessoais por um lado, e o uso que osindivíduos dão a essas mesmas capacidades,quer para fins produtivos ou lazer, quer paraoutros fins políticos, culturais e sociais, poroutro. A inexistência de um equilíbrio entreestes dois aspectos do desenvolvimento hu-mano conduz a uma enorme frustração(SEERS, 1972).

Neste sentido foi introduzido, em 1995,o tema do género, passando-se a analisar emque medida a consideração das diferençasde oportunidades entre os géneros poderiaalterar a hierarquização dos países face aoseu nível de desenvolvimento. De igual for-ma, foi dada relevância ao grau de partici-pação das mulheres na vida política eeconómica da sociedade. A partir de 1997,uma atenção especial à situação da pobrezahumana foi materializada através de umamedida da situação dos países, tendo emconta a diferenciação do estatuto da pobre-za quando o nível de desenvolvimento é ele-vado ou ainda está numa fase mais recua-da. Por fim, em 1999, foi calculado um índi-ce de realização tecnológica com o fim dedefinir países líderes, líderes potenciais e se-guidores dinâmicos das novas tecnologias(PNUD, 2007).

O presente estudo propõe uma meto-dologia que segue de perto a que foiadoptada pelo PNUD nos Relatórios anuaissobre o desenvolvimento humano, paraquantificar o desenvolvimento económico esocial, ao nível local, tomando em conside-ração a integração de diferentes dimensões(demográfica, económica, social e ambien-tal), com vista a dar resposta a uma visãoconceptual integrada de desenvolvimento.

Relativamente ao modelo de sistema-tização dos indicadores, optou-se pela utili-zação de indicadores de status quo. Com efei-to, e apesar de se considerar que a realidadedo desenvolvimento é representada de umaforma mais adequada quando se analisamas diferentes formas dos indicadores (pres-são, status quo e resposta)1, bem como asinteracções existentes entre estas - dado aanálise em apreço se reportar ao status quodas dinâmicas de desenvolvimento do terri-tório que integra a totalidade dos 278 con-celhos correspondentes a Portugal Continen-tal - opta-se por levar apenas em considera-ção a primeira forma enunciada.

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Tendo em conta os aspectos metodo-lógicos já referidos, bem como a disponibili-dade de dados estatísticos à escala concelhia,o IDES ora elaborado resulta de 15 indica-dores representativos de diferentes domíniosde abordagem do desenvolvimento (Quadro1). Assim, ao nível demográfico consideram-se quatro indicadores que procuram levar emconsideração não só a vitalidade, como adinâmica da evolução dos recursos huma-nos de cada território, ao nível do crescimen-to demográfico, incluindo o natural e o mi-gratório, e da taxa de fecundidade. No pla-no da educação, pretende-se medir o graude ensino atingido pela população, recorren-do para tal, à análise das taxas de analfabe-tismo, assim como à mensuração da dimen-são da população que tem como habilitaçõeso ensino superior. Em seguida, retratam-seas questões do emprego, economia, e sectorempresarial, a partir de sete indicadores quenos aportam um importante contributo parao conhecimento mais aprofundado das con-

dições de vida da população, em termos detrabalho e rendimento, traçando igualmen-te um perfil da estrutura empresarial dosterritórios em causa, e de todo um conjuntode questões fundamentais para o assegurarda própria sobrevivência, e para garantir osentido de pertença e a coesão social. Por fim,os níveis da saúde e da habitação reforçama componente social retratada neste índice,procurando avaliar não só a dotação emequipamentos como, também, os respectivosgraus de acessibilidade, o que traduz, emcerta medida, o impacto social das condicio-nantes demográficas e económicas locais. Deresto, no indicador condições de habita-bilidade, encontra-se também presente a ver-tente ambiental, ao serem incluídas três me-didas desta variável no indicador compos-to, no sentido de se medirem diferentes as-pectos da vida económico-social com influ-ência na qualidade ambiental dos recursos edo território, como seja o caso da água e dosresíduos.

Quadro 1. Componentes do IDES

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Outro aspecto metodológico definidodiz respeito ao tratamento da informação.Neste caso, a opção foi por uma análise tipobenchmarking, recorrendo para o efeito, avalores de referência: a situação mais favo-rável (Ls) e a mais desfavorável (Li). Destaforma, o valor de cada indicador para cadaconcelho é transformado tendo por referên-cia quer o valor mais favorável, quer o maisdesfavorável para o caso do conjunto dosconcelhos analisados, do qual resulta umintervalo de variação entre zero e um. A lei-tura dos valores obtidos permite averiguardo posicionamento relativo de cada conce-lho em relação aquele que detém um resul-tado mais favorável, sendo ainda igualmen-te possível averiguar os respectivos níveis decoesão inter e intra territoriais.

A etapa metodológica seguinte consis-tiu na agregação de todos os índices. Paratal, foi dada igual ponderação5 a cada umdos 15 indicadores, procurando, assim, em-bora de forma subjectiva, reflectir no índicefinal a percepção dos autores quanto ao pesorelativo que cada indicador tem ao nível dodesenvolvimento. Assim, num primeiro mo-mento cada valor de cada indicador é trans-formado do seguinte modo:

onde,

278,.....2,1iI = índice do indicador do concelho

X = indicador do concelhoLi = valor mais desfavorável para o indica-dorLs = valor mais favorável para o indicador

Num segundo momento, os diferentesindicadores transformados são agregados do

modo seguinte: ∑=

=15

1i iISEDI

Para a construção de clusters, procurá-mos, numa primeira fase, obter clusters hie-rárquicos, com base em técnicas aglomera-tivas e divisivas, métodos que recorrem apassos sucessivos, onde os indivíduos, nestecaso os concelhos, são considerados, à par-tida, individualmente, um cluster e, depois,agrupados de acordo com as suas proximi-dades ou, ao contrário, inseridos num único

cluster, e, posteriormente divididos em sub-grupos, em função da distância (MAROCO,2003).

Foram testados diversos métodos de li-gação entre os clusters, com o software SPSS,no sentido de verificar se estes produzem re-sultados similares, tal como sugerem Pestanae Gajeiro (2003) e Maroco (op. cit.). Deste mo-do, constatámos que obtivemos resultados deagregação bastante semelhantes para osmétodos Complete e Average Linkage (Withingroups). Ao utilizar um método não hierár-quico, o método K-means6, os resultados quemais se assemelham entre este último, nãohierárquico, e os métodos hierárquicos refe-ridos anteriormente foram os obtidos pelométodo Complete Linkage7, pelo que será estemétodo que iremos eleger para fazer a com-paração entre os dois tipos de métodos.

3 Análise dos resultados

Uma vez descritos os procedimentosmetodológicos utilizados para o tratamentodos dados inerentes às variáveis escolhidaspara retratar os vários níveis abordados, foipossível calcular, para cada um dos 278 con-celhos de Portugal Continental, um índicede desenvolvimento económico e social -IDES. Tendo por base a construção deste ín-dice e os valores atingidos ao nível concelhio,começar-se-á por analisar a posição hierár-quica ocupada por cada concelho, justifican-do o seu estado de desenvolvimento peloranking ocupado em cada um dos 15 indi-cadores que compõem o índice final.

O IDES apresenta um valor que oscilaentre um pouco menos de ¼ e um máximode aproximadamente 2/3. O valor do coefici-ente de variação é pouco significativo, umavez que o desvio padrão é cerca de 20% dovalor da média. O concelho de Vinhais as-sume o valor mais baixo do índice (0.2364),o que significa que só está cerca de 24 pon-tos percentuais acima de ter a pior realiza-ção de todos os indicadores. Por seu turno,Lisboa assume o primeiro lugar do ranking,ao atingir um patamar de desenvolvimentode 0.6609, valor que coloca, no entanto, esteconcelho a 34 pontos de atingir a situaçãoóptima. A concentração do IDES faz-se em40 pontos, afastando-se menos da pior posi-ção do que da melhor.

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Os dois concelhos (cerca de 1%) -Vinhais e Mértola - com um IDES inferior a0.25, são ambos do interior e da fronteiracom Espanha. Esta situação de interioridadecontinua a ser uma constante para o totaldos 16 concelhos que têm um IDES compre-

endido entre 0.25 e 0.3, e mesmo quando oíndice sobe até 0.35, dos 46 concelhos inseri-dos nesse intervalo (aproximadamente 17%do total analisado), apenas Odemira perten-ce ao litoral, mais concretamente ao litoralalentejano (Figura 1).

Figura 1. Distribuição percentual dos Concelhos, segundo os escalões do IDES

Abrangendo o maior número de con-celhos (56 dos 278 concelhos analisados), oescalão de desenvolvimento compreendidoentre 0.35 e 0.4, acaba por englobar unica-mente Alcácer do Sal, Grândola, Aljezur eCastro Marim, todos referentes ao sul dopaís, nomeadamente ao litoral do Alentejo eà costa do Algarve. Os restantes 52 conce-lhos estão, a exemplo do que se verificouanteriormente, situados no interior.

Concluída a análise desta primeirametade do intervalo entre os valores máxi-mos e mínimos do IDES, resulta pertinentevoltar a vincar a característica mais eviden-te até ao momento, nomeadamente, a con-dição de interioridade dos espaços.

À medida que se sobe no ranking doIDES em mais 0.05, o litoral começa a insi-nuar-se, embora de forma tímida. O sul par-ticipa apenas com Tavira e Vila do Bispo, noAlgarve, e Santiago do Cacém, no Alentejo,sendo que no centro do país se encontra amaioria dos concelhos do litoral deste inter-valo (Lourinhã, Peniche, Óbidos, Nazaré,Pombal, Cantanhede, Mira e, Murtosa). Onorte faz-se representar por Caminha. Osrestantes 43 concelhos são todos do interior,que continua a ser, por conseguinte, o espaçomaioritário deste nível de desenvolvimento.

Para um IDES entre 0.45 e 0.5, o litoralcontinua a estar mais representado por con-celhos a norte do Tejo, cabendo ao Algarveapenas os casos de Olhão, Silves e Vila Realde Santo António. Apesar de neste escalãode desenvolvimento se verificar uma distri-buição percentual relativamente idêntica aoanterior, no que respeita aos concelhos per-tencentes ao litoral (cerca de 20%), a grandediferença reside na localização dos concelhosdo interior, dado que para este patamar dedesenvolvimento, começa a haver uma maiorproximidade destes face ao litoral.

Tal facto acaba por se tornar aindamais evidente quando se avança mais 5 pon-tos percentuais no IDES, dado que, pela pri-meira vez, acabam por dominar os conce-lhos pertencentes ao litoral ou os situadosem áreas que lhe são contíguos. Não obstanteessa realidade, no mesmo degrau de desen-volvimento surgem Viseu, Guarda e Évora,concelhos com uma forte concentração ur-bana e que se apresentam consideravelmen-te afastados da zona costeira. Se a este eixojuntarmos outras cidades do interior comIDES um pouco inferior, pode-se inferir queestes territórios desempenham um papelimportante no desenvolvimento policêntricoque foi definido como política de desenvol-

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vimento regional pela União Europeia (CO-MISSÃO DAS COMUNIDADES, 1999).

Por fim, nos dois últimos níveis doIDES encontram-se os principais centros ur-banos do país. Com um índice compreendi-do entre 0.55 e 0.6 encontram-se os conce-lhos com as cidades de Aveiro, Braga,Coimbra, Faro e Porto, assim como várias

unidades territoriais que pertencem às áreasmetropolitanas de Lisboa e Porto tais comoOdivelas, Seixal e Vila Franca de Xira, noprimeiro caso, e Maia e Vila Nova de Gaiapara o segundo. No escalão máximo do IDES,dominam os concelhos da área metropolita-na de Lisboa, com uma única excepção: Al-bufeira, no Algarve (Mapa 1).

De forma a complementar uma primei-ra análise da situação dos concelhos face aoIDES, interessa abordar pormenoriza-damente cada um dos 15 indicadores queestão na base da construção do índice com-posto. Tendo sido já referidos anteriormen-te, estes têm a ver com variáveis que se agru-pam em vários níveis: Demografia; Educa-ção; Emprego; Economia; Sector Empresa-rial; Saúde; Habitação.

Começando pela demografia, um pou-co mais de metade dos concelhos de Portu-gal Continental apresentam um crescimen-to demográfico negativo, reportando-se os

piores casos às unidades territoriais do inte-rior próximas ou juntas da fronteira. Por suavez, as zonas que registam os maiores au-mentos populacionais dizem respeito ao li-toral, em especial às áreas metropolitanas deLisboa e do Porto, assim como a alguns con-celhos algarvios. Em contraponto com a ideiajá referida de despovoamento do interior, osconcelhos de Vila Real, Viseu e Guarda veri-ficam taxas de crescimento demográfico po-sitivas, o que vem reforçar a ideia de policen-trismo, atrás mencionada.

O crescimento natural é um fenómenoque se verifica mais a norte do que a sul,

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muito devido ao contributo positivo da me-tade da região norte mais próxima do lito-ral. As regiões de fronteira, a par do que severifica para o crescimento demográfico,continuam a ser aquelas onde as taxas sãomenores. Este facto encontra também umacausa nas taxas de fecundidade que apesarde serem, de uma maneira geral, baixas sãosignificativamente menores no interior.

O saldo migratório indica-nos ummaior poder de atracção por parte das duasgrandes áreas metropolitanas, com excepçãodos seus pontos centrais, as cidades de Lis-boa e do Porto. De igual forma, a região doAlgarve e alguns concelhos do centro litoralportuguês também evidenciam valores bas-tante positivos nesta matéria.

Sobre a educação, em relação aos doisdescritores escolhidos, analfabetismo e edu-cação superior, pode-se dizer que o primeirotem uma distribuição mais homogénea pelopaís, apesar de ainda se verificarem algumassituações preocupantes, como é o caso doBaixo Alentejo a sul. Por outro lado, os maio-res contributos para o IDES, no que respeitaao indicador - População com Ensino Supe-rior – pertencem, claramente, aos concelhosonde estão a funcionar estabelecimentos deensino superior politécnico e universitário.

A taxa de emprego total tem um con-tributo positivo para o IDES em quase todaa faixa litoral, com as excepções de algunsconcelhos localizados na zona mais a nortedo país, como Mira, Figueira da Foz, Canta-nhede, Murtosa e Pombal, na região centroe de alguns concelhos do litoral alentejano ealgarvio. A região do Alentejo Central aca-ba por verificar igualmente valores bastantepositivos. Pelo lado contrário, é no interiornorte que o contributo deste indicador é maisnegativo. A taxa de desemprego é particular-mente, preocupante no Alentejo. Esta situa-ção é confirmada pelo peso dos pensionistasem todo o interior, de norte a sul do país, eem todo o Alentejo. O emprego no sector nãoprimário é um fenómeno de todo litoral, comexcepção do Alentejo e dos concelhos me-nos urbanizados do interior.

Um olhar sobre o indicador PIB per ca-pita legitima uma concentração da economianas áreas metropolitanas do Porto e de Lis-boa. Há, no entanto, alguns casos dignos deregisto. Miranda do Douro e Castro Verde,

no interior, estão entre os concelhos com me-lhor performance neste indicador. Para talcontribuem a produção de energia eléctricadas barragens situadas no primeiro e a pre-sença da indústria de extracção mineira nosegundo. Cabe igualmente salientar o factode a indústria petroquímica estar sedeadano concelho de Sines no litoral alentejano, oque torna este indicador interessante contri-buindo, por conseguinte, de forma positivapara o respectivo IDES. Mais uma vez, qua-se todo o interior, nomeadamente o fronteiri-ço apresenta níveis baixos para este indica-dor. O poder de compra é, igualmente, mui-to mais forte nas áreas metropolitanas aci-ma referidas, assim como também no Algar-ve. Bragança, Portalegre, Évora e Beja no in-terior, têm um nível de vida interessante pelatercearização das respectivas economias, aque não é alheia a presença de estabeleci-mentos de ensino superior nestes concelhos

O índice concelhio empresarial acabapor traduzir novamente a maior concentra-ção da actividade económica nas áreas me-tropolitanas do Porto e de Lisboa. Para alémdestas, a região de Leiria, o litoral algarvioe, mais uma vez, alguns centros urbanos dointerior fazem do resto do país um desertoem matéria de empresarialismo.

A saúde revela algumas situações inte-ressantes. Os concelhos das áreas metropoli-tanas do Porto e de Lisboa que são adjacentesa estas cidades apresentam muitas debilida-des. Este facto também se verifica no Algarvee nas proximidades de Coimbra. A fronteiraapresenta carências consideráveis ao nívelde infra-estruturas, equipamentos e capitalhumano, com as excepções de Vimioso anorte, de Castelo Branco no centro e dos con-celhos de fronteira do Alto Alentejo a sul.

Por fim, da análise das condições dehabitabilidade constata-se que os concelhosdo interior norte não muito afastados do li-toral apresentam uma maior fraqueza faceaos que estão no interior mais profundo, coma devida exclusão dos concelhos de Mértolae Alcoutim pertencentes ao Baixo Alentejo eAlgarve respectivamente, que revelam igual-mente fortes debilidades nesta matéria. Ape-sar de se viver muito melhor em ambas asáreas metropolitanas, alguns concelhos dointerior conseguem já oferecer condiçõesmuito digas em termos de conforto.

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4 Análise por recurso a clusters

Para uma análise da relação entre asdiversas componentes do IDES procurámosagrupar os concelhos, através da construçãode clusters, que como López (2005, p. 441)descreve, trata-se do recurso a um métodoestatístico multivariado, cuja finalidade essen-cial é “… revelar concentraciones en los datospara su agrupamiento eficiente en clusters (oconglomerados) según su homogeneidad”.

Conforme referido no ponto 2, procu-rámos, inicialmente, obter clusters hierárqui-cos, constatando-se que se obtiveram resul-tados de agregação bastante semelhantespara os métodos Complete e Average Linkage(Within groups).

Como a utilização do método não hie-rárquico K-means exige o estabelecimento, àpartida, do número de clusters desejado, de-senvolvemos, previamente, a análise com ométodo hierárquico Complete Linkage com vis-

ta ao apuramento desse mesmo número, atra-vés da aplicação do critério da distância en-tre clusters e do critério do R- quadrado. Ocritério da distância mostrou que poderíamosreter 5 ou 10 clusters, pois é onde se verificaque o declive da recta que une a distância en-tre dois clusters é relativamente menor. Com-plementada esta análise com o critério R -qua-drado, observámos que a solução de 5 clustersretém 75,9 % da variabilidade total. Adap-tando estes resultados ao objectivo da obten-ção de um número mínimo de clusters, cre-mos que a solução de 5 devera ser a escolhi-da, uma vez que retém, desde logo, uma per-centagem significativa da variabilidade total.

A partir dos resultados obtidos pelométodo não hierárquico K-means, no qualnos iremos basear para prosseguir a análise,pois, em geral, a classificação dos sujeitos émais rigorosa nos métodos não hierárquicos,foram apurados os clusters que daremos con-ta no Mapa 2.

Mapa 2. Os concelhos agrupados em clusters (K-means)

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A análise da variância permite-nosidentificar quais as variáveis que levam àdivisão por clusters, assim como a sua im-portância relativa8. Deste modo, constata-mos que a variável que mais concorre paraa diferenciação dos clusters é I12 (Poder deCompra), seguido por I3 (Crescimento De-mográfico Migratório) e depois por I13 (Es-trutura Empresarial), I5 (Analfabetismo), I1(Crescimento Demográfico), I2 (Crescimen-to Demográfico Natural), I6 (Ensino Supe-rior) e I9 (Emprego no Sector não Primário);e, ainda por I7 (Emprego Total), I4 (Taxa deFecundidade), I14 (Saúde) e I11 (PIB percapita); por fim, I15 (Condições de Habita-bilidade), I8 (Desemprego Total) e I10 (Em-pregados e Pensionistas).

Cruzando esta informação com as es-tatísticas descritivas das variáveis porclusters, os testes estatísticos às médias9 e omapa anteriormente produzido, poderemosconstatar o seguinte:

O Cluster 4, composto pelas cidades deLisboa e Porto, assume uma posição de do-mínio em matéria de indicadores de poderde compra (I12), dinamismo da estruturaempresarial (I13) população com ensino su-perior (I6), indicadores de saúde (I14) e PIBper capita (I11). No tocante a estas mesmasvariáveis, este cluster é imediatamente secun-dado pelo cluster 5, que inclui, entre outros,os principais núcleos urbanos.

O cluster 4 salienta-se ainda relativa-mente aos restantes clusters pelo mais baixocrescimento demográfico migratório (I3),assim como o cluster 5 se diferencia pelo maiselevado crescimento demográfico (I1).

O cluster 3, representativo da maioriados concelhos do interior do país, destaca-se pela pelo baixo nível de emprego e eleva-da taxa de analfabetismo os quais sereflectem na contribuição de I7 e de I5; e pelomais pequeno nível de população com ensi-no superior (I6) e de poder de compra (I12).

O cluster 2, que abarca um conjunto deconcelhos situados perto do litoral, distingue-se, entre outros factores, pelo comportamen-to positivo em matéria de nível de desem-prego e de crescimento demográfico que serepercutem no I8 e I1, um relativo dinamis-mo empresarial (I13) apenas superado peloclusters 4 e 5, e por um muito favorável ráciopopulação empregada por pensionista (I10).

Finalmente o cluster 1, abarcando 89concelhos que se distribuem pelo territóriocom uma concentração relativa no centro,acaba por assumir uma posição intermédiana maioria dos indicadores.

5 Considerações finais

A análise dos diversos indicadoresconcelhios constituintes do IDES através datécnica de clusters permitiu reforçar a ideiadas características diferenciadoras dosconcelhos do litoral e do interior, com umazona intermédia central, assim como o gru-po dos concelhos capital de distrito e limí-trofes e o das grandes comunidades Lisboae Porto.

O simples exercício de sobreposição domapa das regiões NUT (Nomenclatura deUnidade Territorial) de nível III sobre o mapaconcelhio produzido permitiria relevar asgrandes assimetrias de desenvolvimento den-tro de cada NUT III, naturalmente aindamais profundas caso a sobreposição fosseefectuada com o mapa do território a nívelNUT II. E estas considerações são particu-larmente importantes em matéria de defini-ção de políticas e instrumentos de desenvol-vimento, tradicionalmente formatadas e di-rigidas a um nível de agregação territorialdemasiado lato para que possam atender àsdebilidades e especificidades de cada unida-de territorial, comprometendo-se assim a suaeficiência e eficácia.

É importante ressalvar que este traba-lho foi produzido com cálculo de indicado-res com referência ao total do continente.Recalcular estes valores, tendo por base nãoo país, mas uma unidade territorial inferior,nomeadamente a NUT II e a NUT III, cons-tituirá, certamente, um dos assuntos a de-senvolver a em trabalhos posteriores.

Notas:1 Partindo de um trabalho de Friend e Rapport (1979),

a OCDE desenvolveu um modelo designado por Pres-são – status quo – Resposta (PSR) baseado num con-ceito de causalidade.

2 O Índice Concelhio Empresarial é a agregação, comigual ponderação, de quatro indicadores, nomeada-mente: a) Empresas com sede na região; b) Socieda-des com sede na região; c) Pessoal ao serviço nassociedades com sede na região; d) Volume de vendasdas sociedades com sede na região.

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3 O Índice Concelhio de Saúde é a agregação, com igualponderação, de quatro indicadores, nomeadamente:a) n. de médicos/1.000 habitantes; b) n. de farmá-cias/10.000 habitantes; c) pessoal de Enfermagem/1.000 habitantes; d) n. de camas/1.000 habitantes.

4 O Índice Concelhio de Condições de Habitabilidadeé a agregação, com igual ponderação de onze indica-dores em oito domínios, nomeadamente: a) Acessi-bilidade; b) Déficit Habitacional; c) Condições Abri-go; d) Estado de Conservação; e) Instalações Existen-tes; f) Rede de Esgotos; g) Abastecimento de Água; h)Alojamentos Vagos.

5 A este propósito foi seguido o mesmo critério que ousado na construção do Índice de DesenvolvimentoHumano do PNUD.

6 O K-means é um método não hierárquico que começapor uma partição inicial dos indivíduos por um nú-mero de clusters previamente definido, consistindona transferência de um indivíduo para o cluster cujocentróide se encontra a menor distância (REIS, 1993).

7 O critério Complete Linkage é um processo onde a dis-tância entre dois grupos é definida como a distânciaentre os seus elementos mais afastados ou menossemelhantes. Então, cada grupo passa a ser definidocomo um conjunto de elementos onde cada um é maissemelhante a todos os elementos do grupo do que aqualquer dos elementos dos restantes grupos (REIS,1993).

8 Partindo do principio que se uma variável descri-minar bastante entre os clusters, então a variabilida-de desta (dada pelo Cluster Mean Square) entre osclusters há-de ser elevada, e dentro do próprio clusterhá-de ser diminuta (dada pelo Error Mean Square).Deste modo, as variáveis que mais contribuem paraa definição dos clusters são aquelas com maior ClusterMean Square e menor Error Mean Square, isto é, as queapresentam um maior valor de F (MAROCO, 2003).

9 Pretendeu-se efectuar comparações múltiplas demédias, testando-se, à posteriori, quais os pares demédias diferentes. Para tal, utilizaram-se os testesPost-Hoc de Tukey e Bonferroni.

Referências

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Desenvolvimento socioeconômico locale reestruturação produtiva paranaense na década de 1990Socioeconomic development and production restructuring

in Paraná in the 1990s decadaDéveloppment socioéconomique et restructuration productive

du Paraná pedant la décennie 1990Desarrollo socioeconómico y reestructuración productiva del Paraná en la década de 1990

Christian Luiz da Silva*

Wilian Michon Júnior**

Recebido em 9/1/2008; revisado e aprovado em 28/2/2008; aceito em 29/2/2008.

Resumo: A abertura de mercado, aliada a atração de investimento por políticas industrias e guerras fiscais dosEstados, como o Paraná, promoveram uma reestruturação produtiva na década da 1990. O objetivo deste artigo foiavaliar as mudanças socioeconômicas e territoriais a partir das transformações produtivas do Paraná e das suasMesorregiões na década de 1990. A pesquisa foi descritiva, aplicada e quantitativa, com análise dos dados de 1991a 2000. Concluiu-se que os investimentos foram concentrados na indústria automobilística e na região metropolitana,não propiciando a redução da desigualdade regional.Palavras-chave: Desenvolvimento local. Paraná. Reestruturação produtiva.Abstract: In the 1990s decade, market opening plus investments attracted by industrial policies and fiscal war in theBrazilian states, such as Paraná, fostered production restructuring. The present article aims at assessing Paranásocioeconomic and territorial changes based on the production and territorial changes experienced by this state and itsmeso-regions in the 1990s decade. The article research was descriptive, applied and quantitative and analyzed datafrom 1991 to 2000. The research inferred that investments were mainly concentrated in the Curitiba metropolitan areacar industries, what did not reduce the existing regional unbalance.Key words: Local development. Paraná. Production restructuring.Résumé: L’ouverture du marché, associée à l’attraction des investissements due aux politiques industrielles et auxguerres fiscales entre les unités de la Fédération brésilienne, telles que le Parana, ont promu une restructurationproductive pendant la décennie 1990. L’objectif de cet article a été celui d’évaluer les changements socioéconomiqueset territoriaux à partir des transformations productives du Parana et de ses mésorégions pendant la décennie 1990. Larecherche a été descriptive, appliquée et quantitative, avec l’analyse de données de 1991 à 2000. On a conclu que lesinvestissements ont été concentrés sur l’industrie automobile et sur la région métropolitaine, et que cela n’a pasfavorisé une réduction de l’inégalité régionale.Mots-clé: Développement local. Paraná. Restructuration productive.Resumen: La apertura de mercado, en conjunto con la atracción de nuevas inversiones por políticas industriales yguerra fiscal entre los Estados, como Paraná, promoverán una reestructuración productiva en la década de 1990. Elobjetivo de este artículo fuera evaluar los cambios socioeconómicos y territoriales a partir de las transformacionesproductivas del Paraná y de sus regiones en la década de 1990. La pesquisa fuera descriptiva, aplicada y cuantitativa,con análisis de los datos de 1991 hasta 2000. La conclusión es que las inversiones fueran concentradas en la industriaautomovilística y en la región metropolitana de Curitiba, no habiendo la reducción de la desigualdad regional.Palabras clave: Desarollo local. Paraná. Reestruturación productiva.

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* Pesquisador - CNPq - Desenvolve o projeto de pesquisa intitulado: Modelo dinâmico de desenvolvimentolocal para o apoio ao Planejamento Público (processo 40085/2006-3).** Co-autor do artigo. Economista e pesquisador - CNPq - auxiliar de pesquisa do projeto: Modelo dinâmico dedesenvolvimento local para o apoio ao Planejamento Público (processo 40085/2006-3).

1 Introdução

O Paraná passou pela transformaçãode sua estrutura produtiva seguindo a novarealidade internacional (LOURENÇO, 2003;LOURENÇO, 2000; IPARDES, 2002a;IPARDES, 2002; CASTOR e LEÃO, 2005;VASCONCELOS e CASTRO, 1999). Visan-do a ampliação quantitativa e qualitativa, asempresas iniciaram uma busca por maior efi-ciência e escala produtiva para poder com-

petir no ambiente globalizado, conforme ex-posto pelo Consenso de Washington(BAUMANN, 1996; REGO e MARQUES,2003; SILVA, 2005a)

A reforma da estrutura produtiva foiinfluenciada expressivamente pela indústriaautomobilística instalada na Região Metropo-litana de Curitiba, por razoes de infra-estru-tura, incentivos fiscais e mão de obra(FIRKOWSKI, 2002; SAMPAIO, 2005). Con-tudo, a atração destas indústrias só foi possí-

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vel a partir de pesados incentivos fiscais du-rante a guerra fiscal entre os estados que visa-vam ampliar suas estruturas produtivas comindústrias vindas de outras regiões do globo.

A expansão dos investimentos amplioua taxa de crescimento potencial da ofertaindustrial, a partir de incrementos na pro-dutividade do setor mais dinâmicos e con-corrências, além da redução das margens delucro da indústria visando se adequar aospreços internacionais competitivos impostospelos novos players entrantes no mercado(IPARDES, 2002a).

Esta reestruturação produtiva ocorridadurante os anos 1990 possibilitou o cresci-mento econômico moderado a partir do anodo segundo qüinqüênio desta década. Embo-ra as teorias clássicas de desenvolvimentopreconizassem que o crescimento econômicogera automaticamente o desenvolvimento dasociedade, através da geração da renda, no-vas teorias apresentam que o desenvolvimen-to possui um conceito mais amplo que o cres-cimento (BELLEN, 2004; CAMARGO, 2003;CLAYTON e RADCLIFFE, 1996; DRESNER,2002; FOLADORI, 2002; GRAFF et al., 1996;HAQUE, 2000; SACHS, 1986; SACHS,1993; SILVA, 2005b; SOUZA, 1999). Destemodo, é necessário questionar como as trans-formações produtivas impactaram no pro-cesso de desenvolvimento local da socieda-de paranaense. A importância do conceitolocal se desenvolve, principalmente, ao setratar a dinâmica territorial (VAZ, 1995),como pressuposto neste artigo.

Essa pesquisa busca compreender adinâmica das mesorregiões paranaenses apartir das mudanças no padrão industrialna década de 1990, que também serão frutode avaliação neste trabalho. O objetivo doartigo é avaliar as mudanças socioeconômi-cas e territoriais a partir das transformaçõesprodutivas do Paraná e das suas mesorre-giões na década de 1990. A principal limita-ção é tratar o processo de desenvolvimentolocal somente pela ótica socioeconômica, apartir da sua delimitação e dinâmica espa-cial ou territorial.

Esse artigo está organizado em seis se-ções, incluindo esta introdução. A segundaseção apresentará a fundamentação teóricabaseada em teorias de desenvolvimento eco-nômico, mostrando evolução de conceitos

até a discussão do desenvolvimento susten-tável e suas dimensões. A terceira seção apre-sentará a metodologia de pesquisa e a quar-ta seção contextualizará o período analisa-do com a evolução de alguns indicadores re-presentativos da macroeconomia paranaen-se na década de 1990. A quinta seção trata-rá da comparação das transformações entreas mesorregiões do Paraná separadas entreas dimensões do desenvolvimento sustentá-vel, visando discutir o problema em questãoneste artigo. A sexta seção trará as conclu-sões e proposta de novos trabalhos.

2 Desenvolvimento local: controvérsias apartir da estrutura produtiva

Soto Torres e Fernandez Lechón (2006)não discutem a influência do Estado no pro-cesso de desenvolvimento local, mas revisamos estudos sobre crescimento econômico e res-saltam que novos elementos têm sido avalia-dos, como a influência específica dos fatoresdo crescimento contínuo. Os autores citam,contudo, que “there are models constructedonly by using statistical methods andeconometric techniques and in other cases,the researches use particular insights in orderto capture aspects of a complex reality”(SOTO TORRES e FERNANDEZ LECHÓN,2006, p. 2). Como contraponto os autores ci-tam Sterman para explicar que alguns estu-dos desses modelos mostram que um núme-ro significativo de variáveis é interconectadopela influência causal que gera um processode feedback, o que explica o processo de acu-mulação inerente a qualquer crescimento.

Essa contribuição ressalta que o desen-volvimento local é um processo dependentedos recursos pertencentes, das decisões to-madas e dos acontecimentos passados. Asações presentes pertencem a história e impli-cam no futuro. Ao considerar o processo dedesenvolvimento local somente como resul-tado dos recursos disponíveis e na sua perfei-ta combinação, como ressaltado por SotoTorres e Fernandez Lechón nos modelos esta-tísticos e econométricos tradicionais, perde-se a componente histórica e de retroalimen-tação da ação presente sobre o futuro.

Os modelos de planejamento e desen-volvimento local surgem com o objetivo demostra que a história pode ser diferente da

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tendência, quando ações são executadaspara mudá-las. O processo de planejamen-to e implementação de modelos de desen-volvimento local é antagônico e controversopela estrutura da sociedade. Mercado eCórdova (2005) recontam a história contro-versa entre o desenvolvimento sustentável ea indústria e mostram diversos dilemas e di-ferenças entre o discurso e a prática do de-senvolvimento sustentável, como, por exem-plo, sobre a ecologia global:

... durante los noventa, ... se presenciaronprocesos político-ecónomicos suficiente-mente antagónicos como para frenar elproceso de conformación de la nueva cultu-ra ambiental industrial que comenzaba aavizorarse. De una parte, digamos positiva,podría destacarse la considerableampliación de la preocupación ambiental enla sociedad (y) … hacían posiblen o sólo ladisminución del impacto ambiental de laactividad industrial sino también proponernuevas formas de producción y hasta deconsumo… Por la otra, digamos negativo,estarían el decaimiento significativo delímpetu de dicha participación debido a quemuchas de las oportunidades fueron cerra-das a inicios del nuevo siglo, fundamenta-da por presiones del ‘mercado’ ydisminución de respaldo por parte del Esta-do (MERCADO e CÓRDOVA, 2005, p. 37).

Silva (2005b, p. 15) avança sobre estacontrovérsia e argumenta que “a diferençaentre o discurso e a prática ainda continuagerando conflito porque, em ambas óticas(capitalista e ambientalistas), ao refletir so-bre o longo prazo, a zona de negociação émenos árida do que no curto prazo. Porexemplo, negociar que a geração futura temde preservar para sobreviver é muito maissimples do que acordar que essa geraçãopreservará o meio ambiente e não utilizaráformas degradantes para os recursos”. Essadiferença entre o discurso e a prática do de-senvolvimento sustentável é minimizada noâmbito da discussão, segundo Vivien (2005),pela sua retórica dominante. O autor men-ciona que “Il est courant de présenter lêdéveloppment soutenable comme la solutionaux problèmes rencontrés par lês sociétéscontemporaines. (...). Il cachê (...) unevolonté grandissante de nier les conflicts, depasser outre les divergences et d’aligner lesarguments contradictoires” (VIVIEN, 2005,

p. 4). Os autores retomam tal controvérsiapara relativizar os dogmas criados em tornode um conceito, que ressalta mais a existên-cia de um problema do que uma solução.

A despeito desse dilema em discussão,o processo de desenvolvimento das regiõesdeve considerar ambas óticas (econômica eambiental), valendo-se da presente retóricado desenvolvimento sustentável, cuja com-plexidade é incontestável e inerente as suasimplicações geopolíticas (AJARA, 2003, p.9). Neste sentido, deve-se limitar o processode desenvolvimento ao local que está sendoanalisado. Para Froehlich (1998, p. 95)

o espaço passa hoje a desempenhar um pa-pel crucial para se pensar o desenvolvi-mento, pois a própria sociedade só é con-creta com o espaço, sobre o espaço, no espa-ço. Espaço agora multifacetado, porque seconsidera que, só pensado enquanto multi-dimensional, pode ser autêntico o desenvol-vimento. (...) É neste âmbito argumentativoque se pode considerar válido atribuir umsentido ‘localista’ ao desenvolvimento, po-dendo-se falar em algo como ‘desenvolvi-mento local’. (grifo nosso)

Blakely (1994) explica que o desenvol-vimento econômico desse local tem ênfaseno “desenvolvimento endógeno”, utilizan-do-se do potencial humano local, institucio-nal e recursos físicos. O autor ocupa-se ape-nas da dimensão econômica do desenvolvi-mento e diz que o desenvolvimento econômi-co local é um processo-orientado. “That is,it is a process involving the formation of newinstitutions, the development alternativeindustries, the improvement of the capacityof existing employers to produce betterproducts, the identification of new markets,the transfer of knowledge, and the nurturingof new firms and enterprises” (BLAKELY,1994, p. 50). Esse autor torna o processo dedesenvolvimento algo inerente ao próprio lo-cal e específica o papel da intervenção públi-ca para o provimento das necessidades parao estabelecimento da indústria privada, que,a partir da orientação e dinâmica dos agen-tes e instituições locais, seriam os responsá-veis pelo processo de desenvolvimento.

Souza (1997, p. 19) também entendeesta noção de desenvolvimento como “ummovimento (sem fim - ou seja, sem ‘estágiofinal’ ou mesmo direção concreta predeter-minados ou previsíveis e que não poderá ja-

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mais ser declarado como ‘acabado’ - e sujei-to a retrocessos) em cuja esteira uma socie-dade torna-se mais justa e aceitável para seusmembros” (grifo nosso).

A posição de ambos autores, Blakely eSouza, enfatizam o papel dos agentes locaisem detrimento a participação do Estado,colocando o tema no estágio de discussãoproposto por Mattos, citado em Froehlich(1998), sobre a descentralização do poder.Neste artigo considera-se que o processo dedesenvolvimento local é endógeno e orien-tado, como citado por Blakely, em movimen-to, como exemplificado por Souza, mas in-fluenciado pela intervenção do Estado. Aparticipação deste agente pode ser ativa,como agente e investidor, ou institucional,como regulador, mas é interveniente no pro-cesso de desenvolvimento local, como o foina década de 1990 com a política industrialadotada (SILVA e FARAH Jr, 2004).

Contudo, esse desenvolvimentoendógeno, apesar de estar relacionado aoprocesso de interveniência do Estado, podeser alterado e em virtude dos objetivos nacio-nais estabelecidos no planejamento públicopara a região. A década de 1990 teve refle-xos da política industrial do Estado que foideterminante para o processo de reestrutu-ração produtiva do Paraná. Esta reestrutu-ração, contudo, ocorre a partir de uma lógi-ca histórica e seu impacto não se desprendedo passado para formar um novo futuro,como salienta Lencioni.

Isso significa que a compreensão da reestru-turação produtiva e da extensão territorialdo processo de metropolização não pode tercomo referência uma totalidade fechada; atéporque há uma lógica histórica em sua cons-tituição que precisa ser apreendida. A com-preensão dessa lógica histórica é fundamen-tal para se entender o processo de reestrutu-ração produtiva e, não, a apreensão de to-dos os elementos dessa totalidade. (...) Emsuma, e parodiando, o termo reestruturaçãoprodutiva tem que se colocar em seus devi-dos termos; ou seja, entendido como umaestruturação nova que se impõe à antiga e,ao mesmo tempo contém germes de um futu-ro. Pensado, portanto como uma totalidadedialética e não sistêmica, em processo e nãoacabada. (LENCIONI, 2003, p. 1).

A intensa modernização da baseprodutiva do Estado e a sua concentração

em alguns pólos regionais definiu histori-camente os contornos dessas disparidades,segundo Ipardes (2004). Apesar do novo ci-clo de investimento, a questão é como ocor-reu este processo de reestruturação produti-va e, principalmente, se houveram mudan-ças socioeconômicos para os municípios pa-ranaenses a partir desta base produtiva. Apróxima seção apresenta a metodologia paraavaliação destas mudanças, para na seçãoposterior contextualizar o ambiente compe-titivo no Estado no período analisado e emseguida avaliar os impactos socioeconômi-cos por mesorregião.

3 Metodologia de pesquisa

A pesquisa foi principalmente descri-tiva, aplicada e quantitativa. A hipótese des-te artigo é que embora os dados agregadosdo Paraná tenham mostrado melhorias em2000 em relação a 1991 a mudança ficouconcentrada na região metropolitana deCuritiba e nas grandes cidades. A validaçãoda hipótese ocorrerá pela avaliação compa-rativa de indicadores socioeconômicas sele-cionados por mesorregião.

No tocante aos seus objetivos, foi des-critiva quando relatou as as principais trans-formações produtivas na década de 1990 eas mudanças ocorridas em indicadores so-cioeconômico selecionados para esta décadapor mesorregião (MARKONI e LAKATOS,1996)1.

A técnica quantitativa foi utilizadapara estruturar os dados coletados para operíodo analisado com intuito de compre-ender as transformações ocorridas pormesorregião (GIL, 1999). Os dados utiliza-dos são agregados socioeconômicos e indi-cadores de desenvolvimento humano paraas delimitações territoriais trabalhadas,como: Índice de Gini, Theil, IDH-M, taxasde mortalidade e natalidade, níveis de edu-cação, taxa de analfabetismo, densidadedemográfica, grau de urbanização, taxa decrescimento populacional, cobertura de va-cinação, despesas municipais, empregos porindústrias, número de estabelecimentos, con-sumo de energia, produção da silvicultura,abastecimento de água, atendimento de es-goto, dentre outros.

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A coleta de dados ocorreu por levan-tamento nos sítios da Internet do IBGE,IPARDES, IPEA, PNUD e Ministério dasCidades. O período dos dados coletados selimita a década de 1990 nos seus extremos(1991 e 2000), vinculando ao momento an-terior dos novos investimentos (1991) e apósa sua consolidação (2000). Utilizou-se a téc-nica univariada (gráficos e tabelas com fre-qüência simples). Testou-se também a técni-ca bivariada (correlações simples), mas nãoresultou em informações incrementais quejustificassem a sua apresentação e análise.

4 Evolução socioeconômica e espacial doParaná na década de 1990

Ao longo dos anos 1990, a economia ea indústria paranaense, impulsionadas pelaretomada e transformações da economiabrasileira, demonstrou uma ampliação quali-

tativa e quantitativa nas suas bases de ope-ração. Esta expansão da base industrial, ini-ciada nos anos 1970, foi liderada pela indús-tria automobilística, e associou-se a fortesincrementos de produtividade, decorrentesde inversões para reposição dos bens de ca-pitais mais intensamente depreciados, umavez que a produtividade e preços internacio-nais passaram a determinar a viabilidadeeconômica de um empreendimento no novoambiente concorrencial (LOURENÇO, 2003;IPARDES, 2002a; FIRKOWSKI, 2002).

Os ganhos de eficiência possibilitarama racionalização dos recursos humanos e adesverticalização das unidades produtivas,para que a empresa esteja focada no corebusiness, com ganhos de competitividade,advindo da redução expressiva da alíquotade importação e da estabilidade de preços,que resultaram no aumento da competiçãoe na redução das margens de lucro, confor-me ilustra o gráfico 1 (IPARDES, 2002a).

Silva e Farah Jr. (2004, p. 19) discutema política industrial do Paraná na década de1990 para atração de novos investimentos apartir do retardamento do recolhimento doICMS (imposto sobre circulação de merca-dorias e serviços) para quem realizasse in-vestimentos fixos no Estado. Tal política foicaracteriza pelos autores como

(...) ações de política industrial horizontal evertical. A principal ação horizontal é a bus-ca pela desconcentração industrial e regio-nal, além da modernização tecnológica. Já apolítica vertical está relacionada aos setoresprivilegiados (mecânico, material elétrico ede comunicações, material de transporte equímica). O programa, entretanto, não dei-xa claro as regras para beneficiamento, nem

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a definição de indicadores de acompanha-mento, nem a transparência da concessãodos benefícios.

Segundo a classificação utilizada porCastro (2002) pode-se verificar o crescimentona participação do grupo tecnológico, o quecaracterizou um dos benefícios e resultadostrazidos pela reconfiguração produtiva para-naense da década de 1990. Essa reconfigu-ração foi, impulsionada principalmente pelocrescimento da indústria automotiva, que

cresceu 9,4 pontos percentuais na participa-ção do valor adicionado paranaense. O gru-po fornecedor apresentou crescimento maismoderado de 3,9 pontos percentuais na par-ticipação do valor adicionado, com destaquepara a indústria petroquímica que saltou de10,3% para 24,3% e a redução da agroin-dústria de 17,7% para 4,5% entre 1985 e2000. O grupo tradicional perdeu participa-ção no valor adicionado estadual, caindo12,1 pontos percentuais puxados pela indús-tria de alimentos (tabela 1).

A maior participação do grupo tecno-lógico foi direcionado pela estratégia de par-ticipação da cadeia global, que trouxe inves-timentos para exportação. A pauta de expor-tações paranaenses evidencia estas transfor-mações competitivas do sistema produtivo

do Paraná, em especial o grupo tecnológicodirecionado pela indústria automobilística,que incrementou a sua participação de 4,1%para 18,7% em 2000, em detrimento, princi-palmente, do grupo fornecedor, representa-da pela indústria petroquímica (tabela 2).

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Essas transformações resultaram emum processo de reestruturação produtiva,nos moldes expostos por Lencioni (2003), ouseja, uma estruturação nova que se impõe àantiga, pensado com uma totalidade dialé-tica da dinâmica territorial e em processoinacabado. Esse crescimento ocorreu na re-gião metropolitana de Curitiba, principal-mente, onde já havia uma basemetalmecânica estabelecida desde 1970(FARAH, 2002). A próxima seção tratará dasmudanças locais, próprias da dinâmica ter-ritorial paranaense, a partir das alteraçõesprodutivas paranaenses na década de 1990.

4 Avaliação comparativa dasmesorregiões paranaenses nos anos 1990

As diferenças das mesorregiões geo-gráficas do Paraná são oriundas da estrutu-

ra heterogênea em relação a sua própria for-mação, ou seja, a composição municipal,populacional, grau de urbanização, cresci-mento populacional, participação na rendada economia do Estado e empregabilidade(tabela 3). A região centro-ocidental, porexemplo, é composta de apenas 25 municí-pios, com taxa de crescimento populacionalnegativa, moderado grau de urbanização(73%) e participação de apenas 2,2% do va-lor adicional. Em contrapartida a região nor-te central tem 79 municípios, a populaçãocresce a uma taxa de 1,2%, com alta taxa deurbanização (88%) e representa 14% do va-lor adicionado do Estado. Assim, como men-ciona Lencioni (2003) a divergências dasmesorregiões são frutos de um processo his-tórico e já estavam presentes no início dadécada de 1990, antes do novo ciclo de in-vestimentos produtivos no Estado.

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A distribuição das mesorregiões noParaná auxilia a compreensão da dinâmicapopulacional e suas principais atividadeseconômicas. O Paraná possui 199,88 milquilômetros quadrados, sendo que 11,6%desta área situam-se na região metropolita-na de Curitiba, responsável por quase um

terço da população do estado. O processode urbanização comentado anteriormenteestá presente em todas as mesorregiões doestado, principalmente na região sul do es-tado, onde a população apresenta menorgrau de urbanização do estado (tabela 4).

O crescimento da população entre1991 e 2000 foi muito acentuado namesorregião metropolitana de Curitiba, e emmenor escala nas mesorregiões onde hágrandes cidades, como Londrina e Maringáno Norte Central do Paraná. Isto se deve emparte pelo processo migratório entre

mesorregiões e interestadual, em que mui-tas pessoas que moravam no interiorparanaense migraram para as cidades, prin-cipalmente Curitiba e poucos para Londri-na e Maringá. A tabela 5 apresenta o fluxomigratório intermesorregional e interesta-dual no Paraná entre 1995 e 2000.

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Com relação à infra-estrutura urbana,houve melhorias significativas em todas asmesorregiões do estado, principalmente nasmesorregiões que apresentavam as condi-ções mais precárias em 1991, como na regiãosul do estado. Com exceção ao sul paranaen-se, todas as mesorregiões apresentam 90%ou mais dos domicílios com água encanada.A mesma dinâmica ocorre na energia elétri-ca, embora somente a mesorregião central-sul do Paraná, que ficou abaixo dos 90% dosdomicílios atendidos (tabela 6).

O consumo de energia cresceu em mé-dia 67% nas mesorregiões paranaenses, e no-vamente as regiões sul do estado apresenta-ram maior crescimento em função da baseser muito baixas nestas mesorregiões. En-quanto o sul cresceu a taxas 89,8%, as demaismesorregiões cresceram a 65%. O consumode energia do setor secundário (indústria)cresceu a valores superiores ao total consu-mido, com média de 70%, com crescimentomais expressivo na região sul do estado, cres-cendo o dobro das demais regiões do estado.

O tamanho da economia dasmesorregiões, medido através do ProdutoInterno Bruto, mostra que 40,7% do PIB doestado é gerado na região metropolitana deCuritiba, 16,9% no Norte Central (principal-mente Londrina e Maringá) e 14,5% no Oeste(Foz do Iguaçu e Cascavel são os expoen-tes). A produtividade, medida através darazão PIB por PEA, se mostrou maior nasregiões onde o PIB industrial é elevado. Nasregiões onde o PIB agropecuário é maior, a

produtividade se mostrou inferior em rela-ção ao demais. A região metropolitana pos-sui a maior produtividade pelo fator traba-lho do estado, seguido pela centro oriental.

O desemprego cresceu entre 1991 e2000 em todas as mesorregiões do estado,ultrapassando dois dígitos em todas as mesor-regiões, com exceção ao Sudeste e Sudoesteparanaense. As maiores taxas estão namesorregião metropolitana de Curitiba, Cen-tro Oriental e Centro Ocidental (tabela 7).

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As regiões com maior participação doPIB industrial (metropolitana de Curitiba,Centro Oriental, Norte Central e Oeste Pa-ranaense) possuem as maiores rendas. Asmesorregião Sudoeste e Sudeste do estadoapresentaram os maiores crescimentos narenda, 55,6% e 48,1% de crescimento respec-tivamente.

A composição do PIB no estado é45,1% de Serviços, 41,3% de Indústria e

13,7% de Agropecuária. O PIB de serviços ésuperior a um terço em todas as mesorre-giões, porém é no PIB Industrial e Agrope-cuária que há as maiores diferenças. A re-gião Sul, com exceção do Centro-sul apre-senta maior dinâmica agropecuária, junta-mente com a Centro Ocidental. A mesorre-gião metropolitana de Curitiba, a CentroOriental e o Oeste Paranaense apresentammaior grau industrial do estado (gráfico 2).

O número de estabelecimentos indus-triais da mesorregião noroeste cresceu 95,4%no período 1990 a 2000, sendo a mesorregiãoque mais aumentou o número de estabeleci-mentos em termos relativos. Em termos abso-lutos, o Norte Central instalou 1.738 estabele-cimentos industriais, seguido pela metropoli-tana de Curitiba 1.318 novos estabelecimentos.

O Noroeste, Norte Central e Oeste Pa-ranaense aumentaram suas participações noemprego do estado ao longo da década de1990, com a mesorregião metropolitana per-dendo 710 pontos básicos na participaçãodo emprego do estado. Contudo, a partici-pação da mesorregião metropolitana no va-lor adicionado cresceu 451 pontos básicos,

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INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 9, n. 1, p. 29-43, jan./jun. 2008.

seguido pelo centro oriental com 443 pontosbásicos, enquanto as regiões que aumenta-ram a participação no emprego, apresenta-

ram perda de 161 pontos básicos em médiana participação do valor adicionado do es-tado (tabela 8).

A mesorregião metropolitana de Cu-ritiba possui a maior média de anos de estu-dos do Paraná, distando 1,2 anos de estu-dos em relação à segunda mesorregião nes-te ranking, Norte Central que aumentou amédia de anos de estudo em 1,3 junto comOeste Paranaense. As mesorregiões commaior média de anos de estudo são as mes-mas que apresentam a maior dinâmica in-dustrial e grau de urbanização.

Os professores de ensino fundamentalcom ensino superior representavam, emmédia, 25,1% dos professores no Paraná em1991 e passou para 31,8% em 2000. Asmesorregiões Centro-Sul (que apresentou

decrescimento desta proporção), Oeste eSudeste paranaense apresentam os menoresíndices de professores com ensino superior,cuja média foi 25,7%. A região norte (NortePioneiro e Norte Central) possui os maioresíndices do estado, onde é média é de 38,8%dos professores do ensino fundamental.

As mesorregiões Norte Central e No-roeste paranaense possuem os maiores índi-ces de médicos por mil habitantes, com 25,4e 21,6 médicos a cada mil habitantes. O Su-deste, Centro Oriental e Centro Sul, queapresentou uma redução no índice de médi-cos por mil habitantes, são as mesorregiõescom menor índice do Estado (tabela 9).

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A esperança de vida paranaense cres-ceu quatro anos entre 1991 a 2000, passandode 65,9 anos para 69,9 anos. As mesorre-giões apresentaram esperança de vida pró-xima de 70 anos para as mesorregiões quepossuem um índice de médicos por mil ha-bitantes superiores a 10, embora o CentroOcidental e o Norte Pioneiro não possuírema mesma característica.

A desigualdade no Paraná permane-ceu nos mesmos patamares de 1991, embo-ra algumas mesorregiões tenham crescido,como a metropolitana de Curitiba e algumastenham decrescido, como Sudoeste. Porém,todas as mesorregiões apresentaram redu-ção das pessoas pobres2, com algumas

mesorregiões reduzindo significativamenteeste índice, como Noroeste, Norte Pioneiro,Sudeste e Sudoeste Paranaense (tabela 10).

Com relação à violência, mensuradaatravés da taxa de homicídio a cada cem milpessoas, apresentou comportamentos distin-tos em sua maioria, embora que em três gran-des mesorregiões em termos de tamanho daeconomia, apresentaram crescimento dastaxas de homicídios, além de serem as re-giões com maior índice de homicídio. Sãoelas: Metropolitana de Curitiba (24,3), Oes-te (30,1) e Norte Central (11,4). A mesor-região Centro Sul possui o segundo maioríndice de violência do Paraná, apesar da re-dução entre 1991 e 2000.

Os indicadores selecionados na tabela11 mostram a melhora em todas elas, quepoderiam ser alocadas em algumas outrasdimensões. A região sul do estado apresen-tou as maiores melhorias nos indicadores dequalidade de vida, como Água Encanada eBanheiro, Energia e Geladeira, Coleta de lixoe redução dos domicílios subnormais. Osindicadores de riqueza, Energia e Televisão,três bens duráveis ou mais e telefone,apresentaram as maiores melhorias namesorregião Oeste, seguida pelo Norte Cen-tral e Metropolitana de Curitiba. Somente

Energia e Televisão que a região sul do es-tado apresentou as maiores médias de cres-cimento.

As mesorregiões com maior dinâmicaindustrial possuem mais domicílios com in-dicadores positivos, excetuando domicíliossubnormais nas mesorregião metropolitanade Curitiba, Centro Oriental e Oeste Para-naense. Apenas o Norte Central, que possuielevada dinâmica industrial reduziu os do-micílios subnormais para aproximadamen-te zero, e a mesorregião oeste com reduçãopara 0,4% de domicílios subnormais.

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Desta forma, ao longo da década de1990 as transformações produtivas no Pa-raná impactaram em diversas áreas da socie-dade. A dinâmica industrial contribuiu paramelhorar alguns indicadores socioeconômi-cos, porém também houve alguns impactosnegativos, como desemprego e concentraçãopopulacional em grandes centros.

Conclusões

O propósito do artigo era discutir asdiferenças constituídas no processo de rees-truturação produtiva do Paraná na décadade 1990 para as diversas mesorregiões. Osresultados trouxeram contribuição para aacademia, para o Estado e para as organi-zações que refletem e interferem no proces-so de desenvolvimento paranaense, comoFederações da Indústria Paranaenses (FIEP-PR). Para academia, por explorar o contro-verso debate sobre desenvolvimento local ea importância de intervenção do Estado parabusca de melhoria nas condições socioeconô-micas para diferentes regiões, com histórias

e necessidades específicas. Para o Estado eorganizações envolvidas com o processo dedesenvolvimento paranaense por refletir osreais impactos dos investimentos nas dife-rentes regiões do Paraná, em que se mostroua necessidade de avaliar e atrair investimen-tos para incentivar o crescimento associadoa redução da desigualdade regional, o quenão aconteceu.

O objetivo era avaliar as mudanças so-cioeconômicas e territoriais a partir dastransformações produtivas do Paraná e dassuas mesorregiões na década de 1990 e mos-trou-se que o aporte de investimentos foi di-recionado para indústria automobilística.Esse novo capital transformou tanto a pau-ta de produção quanto a de exportação in-dustrial e se localizou na região metropolitanade Curitiba pela infra-estrutura favorável epela existência de uma base metal-mecânica.Esta base não foi aproveitada o suficiente(FARAH, 2002), para otimizar os ganhos dosprodutores locais, mas que incentivou a atra-ção de investimento para região.

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As reflexões sobre os indicadores socio-econômicos, contudo, mostraram que essesganhos foram concentrados na região metro-politana, mas foi uma década com forte me-lhora em vários indicadores, apesar de nãoter uma mudança significativa no índice deGini, que mede a desigualdade de renda. Aelevação da desigualdade, devido ao desem-prego e a maior concentração de renda pelosmais ricos, mantiveram o crescimento da vio-lência analisada a partir da taxa de homicí-dio. Contudo, o maior grau de urbanização ea demanda por mão de obra qualificada me-lhoraram a educação da população, além dacriação de novas universidades no estado eda alteração do sistema educacional do ensi-no fundamental, reduzindo a evasão escolare aumentando a quantidade média de anosde estudos da população adulta, ou seja, hou-ve uma melhora quantitativa na educação.

Apesar da tendência do estado mos-trar melhoria nos indicadores, os resultadosentre as mesorregiões diferem. É possívelnotar que houve concentração de renda nasgrandes cidades onde a participação indus-trial é maior, como a região metropolitana,Norte Central e Centro Oriental. Com isso,se valida a hipótese que o Paraná tenhammostrado melhorias econômicas em 2000 emrelação a 1991, mas a mudança ficou con-centrada na região metropolitana de Curiti-ba e nas grandes cidades. Isso decorreu deuma política de incentivo ao processo demodernização produtiva e novos investi-mentos, sem a preocupação de desconcen-tração regional, já historicamente existenteentre as mesorregiões do Estado.

A partir dos resultados alcançados, tor-na-se importante destacar duas limitaçõesdesse trabalho. A primeira foi tratar o desen-volvimento local sob a ótica das mesorregiões,desconsiderando que mesmo cada municípiotem a sua própria dinâmica e o impacto doprocesso de reestruturação produtiva pode tersido, obviamente, diferente nestes em cadamunicípio de uma mesmo mesorregião. Con-tudo, esta limitação se torna necessária poravaliar uma intervenção em nível estadual eos resultados apresentam um delineamentopara estudos mais específicos. A segunda li-mitação foi tratar o processo de desenvolvi-mento a partir da esfera territorial (espacial),econômica e social, sem abordar questões

como mudança institucional, cultural e am-biental. Importantes temas mas que ficaramcom proposta para novos estudos.

Assim sendo, como proposta de conti-nuidade deste trabalho, cabe ainda avaliar edesenvolver políticas destinadas a reduçãodas disparidades entre as cidades do Paranácom maior disseminação das ações públicaspara o estímulo do processo de desenvolvi-mento local. Outro estudo interessante seriada efetividade destas políticas públicas comintuito de estabelecer de forma objetiva quala intervenção pretendida e que se resultadosse alcançou. Outro projeto importante seriade integração dos planos estratégicos munici-pais e do Estado com os estabelecidos legal-mente (Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Or-çamentárias e Lei de Orçamento Anual) comintuito de avaliar a efetividade dos resultadosalcançados a partir do investimento público.Estes estudos teriam um enfoque local, embusca do amadurecimento do processo dedesenvolvimento local dos municípios a par-tir de uma intervenção pública efetiva pararedução das desigualdades e criação de opor-tunidades para descentralização econômicado Estado, com impactos sociais positivos. Porisso, sugerem-se também avaliações na esfe-ra municipal, com estudos de caso, para au-mentar a profundidade da análise e observaras diferentes dinâmicas em cada local.

Notas:1 As mesorregiões são as estabelecidas pelo IBGE e

tratadas por Ipardes (2004).2 Percentual de pessoas com renda domiciliar per capita

inferior a R$75,50, equivalentes a 1/2 do salário mí-nimo vigente em agosto de 2000.

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Desenvolvimento local, empreendedorismo e capital social:o caso de Terra Roxa no estado do Paraná*

Local development, entrepreneurship and social capital:the case of Terra Roxa city at Paraná state in Brazil

Développement local, entrepreneurship et capital social:un étude sur la village de Terra Roxa dans la province du Paraná au Brésil

Desarrollo local, espíritu emprendedor y capital social:un estudio sobre la ciudade de Terra Roxa en la provincia del Paraná en Brasil

Ednilse Maria Willers**Jandir Ferrera de Lima***

Jefferson Andronio Ramundo Staduto****

Recebido em 27/9/2007; revisado e aprovado em 20/12/2007; aceito em 20/2/2008.

Resumo: Este artigo analisa a experiência de desenvolvimento local no município de Terra Roxa, localizado no Oestedo Estado do Paraná – Brasil. O empreendimento que está sendo realizado é o de confecção moda bebê. Essaatividade coletiva está, fortemente, associado ao desenvolvimento local, motivado por fatores endógenos. Nessecaso, a dinamização de vários fatores levou ao surgimento e ampliação de uma atividade completamente diferenciadaà “vocação” territorial, no qual estão imersas essas empresas de confecção.Palavras–chave: Desenvolvimento local. Capital social. Economia urbana.Abstract: This article analyzes the experience of local development in the Terra Roxa city at Paraná State in Brazil. Theenterprise that is being carried through is of confection the fashion baby. This collective activity is, strong, associatedto the local development, motivated for endogenous factors. In this case, the growth of some factors led to thesprouting and magnifying of an activity completely differentiated to the “territorial vocation”, in which these companiesof confection are immersed.Key words: Local development. Social capital. Urban economy.

Résumé: L’objectif de cette article est d’analyser l’experience de développement local dans la village de Terra Roxa auParaná – Brésil. L’exploitation des entreprises de mode pour les enfants est associée au développement local et desfacteurs endogènes. Ces facteurs ont stimulé la démarrage des activités complementaires au profil territorial de lacommunauté.Mots-clés: Développement local. Capital social. Économie urbaine.

Resumen: Este artículo analiza la experiencia del desarrollo local en la ciudad de Terra Roxa en la Provincia de Paranáen el Brasil. Esta actividad colectiva es asociada al desarrollo de las empresas de confección para los niños, motivadapara los factores endógenos. Estos factores estimularon el comienzo de actividades complementares al perfil territorialde la comunidad.Palabras claves: Desarrollo local. Capital social. Economía urbana.

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* Uma versão preliminar dessa temática foi apresentada no II Seminário Internacional de DesenvolvimentoRegional, em outubro de 2006, em Santa Cruz do Sul-RS.** Bacharel em Secretariado Executivo Bilíngüe e Mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio. Professorapesquisadora na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste/Campus de Toledo). E-mail:[email protected]*** Ph.D. em desenvolvimento regional pela Université du Québec (UQAC). Professor adjunto do Colegiado deEconomia e do Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da UNIOESTE/Campus de Toledo.Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC). E-mail:[email protected] ou [email protected]**** Doutor em Economia Aplicada pela ESALQ/USP. Professor adjunto do Colegiado de Economia e do Mestradoem Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Unioeste/Campus de Toledo. Pesquisador do Grupo de Pesquisaem Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC). E-mail: [email protected].

1 Introdução

Apesar dos problemas macroeconô-micos que afetam a economia brasileira, al-guns fenômenos de desenvolvimento econô-mico local se espraiam pelo Brasil, sendo que

muitos com características marcantes, comoa aglomeração de médias, pequenas emicroempresas em uma mesma localidade,ligadas à produção de um ramo de ativida-de específico – industrial ou de serviço.

No Paraná, mais precisamente na re-

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46 Ednilse Maria Willers; Jandir Ferrera de Lima; Jefferson Andronio Ramundo Staduto

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gião Oeste do Estado, no município de Ter-ra Roxa é um exemplo desses fenômenossócio-econômicos. O município de TerraRoxa está situado na parte norte da regiãoOeste do Paraná. Em 1970, o município in-gressa numa fase produtiva de produçãoagrícola centrada quase exclusivamente naproducção cafeeira, altamente tecnificada,mecanizada e com largo uso de insumos.Apesar dos altos investimentos nos cafezais,problemas climáticos levaram a decadênciados cafezais de toda a região no final dosanos 1970 e inicio dos anos 1980. Isto resul-tou na perda de quase três quartos da popu-lação do município entre 1970 e 1990. Aagricultura, que fora o grande catalisador dosurgimento da cidade, já não parecia tãobenevolente e a baixa rentabilidade estimu-lou muitos a deixarem suas terras para bus-car o sustento da família em outros locais.

Contudo, apesar da crise econômica domunicípio, eis que a partir de 1994 surgiuum número expressivo de indústrias de con-fecções de roupas infantis. O hobby de umadas moradoras da cidade, que poderia serapenas uma renda extra, frutificou e lide-rou uma nova configuração econômica parao município de Terra Roxa, cujos resultadosatualmente impactam positivamente na es-trutura econômico-social local.

Portanto, o objetivo deste artigo é ana-lisar a experiência de desenvolvimento localno município de Terra Roxa, localizado noOeste do Estado do Paraná – Brasil. Paratanto, ele está dividido em três partes: o qua-dro teórico que se subdivide na conceitua-ção de capital social, empreendedorismo eterritorialidade. Na seqüência é analisado oprocesso de transformação econômica doMunicípio de Terra Roxa, destacando a novaconfiguração produtiva que surgiu a partirdo ano de 2000 e que foi responsável pelaalteração da estrutura urbano-rural para aurbano-industrial. Nessa seção também sãoanalisadas compilações de dados obtidos empesquisas realizadas nos anos de 2004 e2005. E para finalizar a conclusão.

2 Quadro teórico

Na nova concepção de desenvolvi-mento econômico, o espaço deixa de ser con-templado simplesmente como suporte físico

das atividades e dos processos econômicos.Ele passa a valorizar os territórios, as rela-ções entre seus atores sociais, suas organi-zações concretas, as técnicas produtivas, omeio ambiente e a mobilização social e cul-tural (MARTINELLI e JOYAL, 2004). Nestecontexto termos como capital social,empreendedorismo e territorialidade passama centralizar as discussões acadêmicas en-quanto promissoras vertentes de desenvol-vimento econômico local.

O capital social, no atual contexto dedesenvolvimento econômico, é visto comoum ativo que oferece a possibilidade de con-solidar metas de desenvolvimento econômicopor meio das próprias potencialidades e ca-pacidades da sociedade local. É o que Amân-cio et al. (2005) chama de recurso que podeser mobilizado com a finalidade de permitiraos grupos e/ou indivíduos formas mútuasde ajuda e de cooperação. O capital socialpode ser tanto um estoque quanto a base deum processo de acumulação, que permite àdeterminada sociedade ter maiores chancesde competitividade e de sobrevivência nomercado. Neste formato, o capital social com-preende a capacidade de organização deuma sociedade, a qual, associada à vida eco-nômica, à confiança e a cooperação transfor-mam-se em potencialidades reais de inter-venção econômico-social, facilitando açõescoordenadas que podem se tornar base dodesenvolvimento econômico local. Este pro-cesso se torna viável porque o capital socialtem a função de criar e de gerar oportuni-dades, capacidades e potencialidades nosdiversos atores de uma determinada socie-dade. Putnam (1996) mostrou isso em suaspesquisas quando descobriu que onde existecapital social, é ele o ponto fundamentalpara o desenvolvimento econômico.

Para Putnam (1996) capital social dizrespeito a determinadas características deuma organização social, como confiança,normas e sistemas, as quais contribuem parao aumento da eficiência desta sociedade, poisfacilita ações coordenadas em prol de umobjetivo comum. É uma resposta que con-trapõe o mito de que a sociedade é compos-ta apenas por grupos de indivíduos indepen-dentes, na qual cada um age para atingirobjetivos pessoais. Segundo Abramovay(2000), o capital social vem contrapor este

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mito, pois demonstra que os indivíduos nãoagem isoladamente e que seus objetivos tam-bém não são definidos de forma individuali-zada. É diante desta constatação que as es-truturas sociais contemporâneas devem servistas como recursos, como um ativo, pois ocapital social é produtivo e através dele setorna possível o alcance de objetivos que nãoseriam atingidos de forma individualizada.

O capital social é um ativo coletivo degrupos inseridos numa estrutura social. Tra-ta-se de valores e crenças que os cidadãoscompartilham, expressando socialização econsenso normativo. Esta postura favoreceo espírito cívico e a vida cooperativa, geran-do espaços e estruturas de trabalho em equi-pe, instigando a inovação e a aprendizagemcoletiva, fatores importantes para o dinamis-mo econômico recente. A partir da décadade 1990, se percebeu a existência de forte re-lação entre capital social e a formação deaglomerações produtivas localizadas. Estu-dos teóricos e empíricos demonstram que emaglomerações produtivas, especialmenteaquelas reconhecidas como arranjos produ-tivos locais, as empresas (de micro, pequenoe médio porte) têm mais condições de sobre-viver de modo competitivo e sustentado. Emconjunto com a sociedade local tem alcan-çado índices de crescimento econômico queviabilizam a retomada do desenvolvimentoeconômico-social local (ALBAGLI eMACIEL, 2003).

Esta retomada é viabilizada pela exis-tência de indivíduos conhecidos como em-preendedores, tidos como os principais agen-tes de condução do processo de criação deunidades produtivas. Os empreendedoresatravés de sua ação inovam e desenvolvemo universo empresarial permitindo, que o flu-xo e o desenvolvimento da economia sejamcatalisados. Para Gerber (1996) a personali-dade empreendedora transforma a condiçãomais insignificante numa excepcional opor-tunidade. Neste contexto o empreendedor éum inovador, um estrategista, um criador denovos métodos de acesso ao mercado já exis-tente ou de criação de novos.

É importante que os empreendedorestenham consciência que o sucesso de seusempreendimentos é conseqüência de umconjunto de habilidades, tais como identifi-car, agarrar e buscar os recursos para trans-

formar sua idéia inovadora em um negóciolucrativo, demonstrando o valor econômicodessa idéia e que tem condições de torná-lorealidade.

Se o capital social é tido como um ati-vo que possibilita a convergência de interes-ses coletivos na direção de determinado obje-tivo, neste caso para o desenvolvimento eco-nômico de uma localidade e o empreende-dorismo, a ação que efetiva este ativo, entãose faz necessário entendermos também o sig-nificado que se está delineando para o espa-ço de ação deste capital social, ou como setem denominado na literatura recente, doespaço territorial do desenvolvimento.

Com base nesta conceituação, perce-be-se que o desenvolvimento econômico estádiretamente ligado à emergência do poten-cial do capital social local, bem como com asiniciativas de seus atores em inovar e emdefinir planos de ação coletivos que os le-vem a agir em direção a projetos comuns quebusquem desencadear o desenvolvimentoeconômico local. Neste contexto, o territórioé visto como um meio inovador, até porque,as empresas por si só não se transformamem agentes inovadores. Elas são partes deum meio onde a história, a organização, oscomportamentos coletivos e o consenso queos estrutura é que são seus verdadeiros com-ponentes de inovação. Sendo assim, os com-portamentos inovadores de um territóriodependem, diretamente, das variáveis defi-nidas no plano local e na densidade de seutecido institucional e capital de relações(MAILLAT, 2002).

Assim, é preciso instigar o potencialcompetitivo do território, pois é através des-te que se dinamiza a organização e a parti-cipação dos agentes sociais nos processos dedesenvolvimento econômico local(MORAES, 2005). São as ações coletivas pre-conizadas por Schmitz (1997) tida como atônica que dinamiza as mudanças necessá-rias à construção de planos locais que pos-sam levar ao desenvolvimento econômico. Esão essas mesmas ações coletivas que altera-ram e estão movimentando a economia deTerra Roxa, tendo nas indústrias de confec-ções infantis o desencadeador de superaçãoda estagnação econômica que se apoderoudo município desde a década de 1970. Mas,para que se possa compreender o processo

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de desenvolvimento econômico do Municí-pio de Terra Roxa, se faz necessário resga-tar, mesmo que em breves palavras, seu con-texto histórico, ampliando essa análise apartir da realidade econômica do país e dopróprio Estado do Paraná.

3 O desenvolvimento econômico no oestedo Paraná

No Estado do Paraná, nas décadas de1950 e 1960 a produção preponderante erao café e a extração da madeira. Nesse perío-do, o Oeste do Paraná sofreu um processomigratório inverso ao que ocorreu no Brasil.No setor rural brasileiro ocorria um forteprocesso de esvaziamento, atraído pelo cres-cimento do setor urbano-industrial da regiãoSudeste, e principalmente no Estado de SãoPaulo. A produção agropecuária de modogeral não tinha praticamente nenhuma in-corporação tecnológica. A estrutura fundiá-ria concentrada era apontada como uma dascausas, pois com exceção do Sul do país ha-via grande predomínio dos latifúndios. Aforma preponderante de expandir a produ-ção era por meio da incorporação de terra.Com efeito, as fronteiras agrícolas tinhamque ser agregadas ao processo produtivonacional.

É a partir dos anos 1960, que a regiãoteve sua grande explosão populacional. En-tre 1960 e 1970, a região recebeu 374.082pessoas, e a taxa decenal de migração de0,82% a.a.. Neste período apenas o DistritoFederal, considerada área de fortíssima atra-ção populacional, recebeu mais migrantesque o Extremo Oeste Paranaense. Em 1970a população rural do Oeste do Paraná esta-va na ordem de 80%, já em 1980, a popula-ção rural e urbana igualavam-se em 50%,iniciando a década de 1990 com uma popu-lação urbana de aproximadamente 71%. Aalteração na composição da população dosmunicípios na região Oeste do Paraná bemcomo no Estado tornaram ambos maisurbanizadas. Esta situação está associada ànecessidade de geração de emprego nas ci-dades (RIPPEL, 2004).

A partir da década de 1970, teve iní-cio na região uma nova fase de produçãoagrícola. A modernização da agricultura

brasileira que se alastrou fundamentalmen-te pelas regiões Sul e Sudeste encontrou con-dições sócio-econômicas para ser implanta-da no Oeste do Paraná. O crédito rural ofi-cial e subsidiado era atrelado a um pacotetecnológico. As lavouras temporárias, comoas culturas de soja e trigo, foram as princi-pais responsáveis pelo crescimento da pro-dução agrícola e desenvolvimento da região.A produção não resultava mais dapolicultura de subsistência, mas da especia-lização na produção de soja e trigo destina-dos ao mercado interno e exportador(PIFFER, 1997).

A partir da década de 1990, a produ-ção agroindustrial nas regiões produtoras degrãos e outras matérias-primas agrope-cuárias cresceram verticalmente e começama ter grande visibilidade para a sociedade eos segmentos políticos, o que contribuiu paraque essas regiões caminhassem para a viabi-lização do desenvolvimento regional e, par-ticularmente, alguns municípios se tornas-sem pólos com grande área de influência,atraindo novos investimentos e, fundamen-talmente, a população dos municípios vizi-nhos. Também se tornaram receptores deantigos produtores rurais que hoje não temmais a sua propriedade agrícola.

Mais recentemente, a região Oeste doParaná teve um grande processo deagroindustrialização concentrada em algunsmunicípios em razão de vários vetores deri-vados de vantagens locacionais. Do pontode vista institucional também há vantagenspor meio do recebimento de royalties pelosmunicípios lindeiros que fazem margem como lago do Itaipu.

3.1 O município de Terra Roxa: perfileconômico

Em Terra Roxa o processo de emi-gração foi dramático. Entre 1970 a 1980,considerando-se a migração interestadual,intra-estadual e intra-regional a populaçãodecresce de 37.452 habitantes para 25.535,e entre 1980 a 1990 para 19.820 habitantese, ainda, entre 1990 a 2000 o decréscimodeixa um saldo populacional de apenas16.293 habitantes no município, como de-monstra o Gráfico 1.

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Gráfico 1 - Evolução da população de Terra Roxa de 1970-2000.

Conforme mencionado na introdução,o decréscimo populacional de Terra Roxa éexplicado pela transformação no modelo deprodução agrícola que afetou todo o Oestedo Paraná. Terra Roxa não escapou da ten-dência geral dos movimentos demográficosque ocorreu no Brasil, de redução de tama-nho das pequenas cidades. Excluído os as-pectos políticos, religiosos, raciais ou mesmode risco de integridade física, a evasão po-pulacional dos pequenos municípios é refle-xo do baixo dinamismo econômico.

Mesmo sendo a agricultura a grandegeradora de renda para o município, a mes-ma não dava conta de atender a abundanteoferta de mão-de-obra existente, até porquena situação de pequeno proprietário nãohavia muita demanda de serviços. Outroagravante foi o fato de Terra Roxa estar cer-

cada por várias cidades mais dinâmicas epolarizadoras regionalmente, como: Casca-vel, Toledo e Foz do Iguaçu, e em segundoplano as cidades de Palotina e Guairá.

No entanto, a situação começa a mu-dar com o surgimento das primeiras indús-trias de confecções infantis. As quais, a par-tir segunda metade da década de 1990, re-gistram um rápido crescimento de absorçãode mão-de-obra local. O Gráfico 2 demons-tra a mudança do perfil produtivo do muni-cípio, nos quais o expressivo aumento doemprego da mão-de-obra no setor industrial,sobrepõe o ramo tradicional local (agricul-tura) e inclusive o de serviços. Verifica-se quea partir de 1999 ocorreu um crescimentoabrupto da ocupação industrial e, por suavez, cresce também os setores de serviço ecomércio.

Gráfico 2 - Evolução da ocupação de trabalho, por setores da economia em Terra Roxa de1985-2003.

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

35.000

40.000

45.000

1970 1980 1991 1996 2000

ano

po

pu

laçã

o

Total

Urbana

Rural

Fonte: IBGE (2005).

0

200

400

600

800

1000

1200

INDÚSTRIA CONSTR CIVIL COMÉRCIO SERVIÇOS AGROPECUÁRIA

trab

alha

dor

2003

2002

2001

2000

1999

1998

1997

1996

1995

1994

1993

1992

1991

1990

1989

1988

1987

1986

1985

Fonte: MTE (2005).

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4 Evidências empíricas da emergência docapital social, do empreendedorismo e dodesenvolvimento local em Terra Roxa-PR

Em Terra Roxa, em 1994, inicia-se umfenômeno que refletia a necessidade de mu-dar. A primeira indústria de confecção in-fantil surgiu a partir do ideal de uma dasmoradoras em contribuir no orçamento fa-miliar. Inicialmente, Dona Celma bordou oenxoval de seus filhos, que por sua vez, ex-pandiu a atividade de forma restrita paraaumentar a renda do grupo familiar. Noentanto, esta atividade complementar tomourumos maiores, primeiro tornando-se ativi-dade principal da família, com a adesão doesposo, isto ainda na primeira metade dadécada de 1990. Vários fatores contribuírampara o êxito dessa atividade no âmbito fa-miliar, mas o impacto positivo ocorre quan-do a produção artesanal passa para a pro-dução de escala industrial e se alastra pelacidade ávida como um modelo de sucesso.Desta forma, estava-se levantando uma ban-deira de resistência ao declínio econômico.

Em menos de cinco anos, a idéia de in-vestir em confecções para bebês contagiouparcela expressiva dos empresários locais,estimulando novos empreendedores, osquais passaram a investir neste segmento,iniciando uma nova fase na história econô-mica de Terra Roxa. No ano de 2005 existi-am cerca de 47 indústrias regularmente aber-tas e ativas. Estas indústrias detinham 84%do emprego forma industrial do municípioe representam, junto ao setor de serviços,30% do PIB municipal (WILLERS, 2006).

Os elementos que conduziram para ocrescimento dessas empresas e ao desenvol-vimento local, as quais estão assentados so-bre um território que foi construído funda-mentalmente por um processo de resistên-cia dos seus moradores frente a um declínioeconômico persistente.

A história dos empresários das indús-trias de confecções infantis de Terra Roxaestá diretamente vinculada à história doOeste do Paraná, de uma maneira geral, e

da história do município de um modo maisespecífico. A maioria absoluta dos empresá-rios nasceu ou veio a residir ainda criançano município, acompanhando o itinerário deseus pais. Segundo o LIS (2004), 67% dosempresários de confecções são nascidos emTerra Roxa ou residente desde a infância e33% mudaram para Terra Roxa depois dainfância.

O vínculo entre estes empresários e ahistória regional municipal é a origem ruralda grande maioria dos empresários. Entre27 empresários pesquisados, 21 deles (77,8%)são filhos de agricultores e sete ainda têm aagricultura como seu meio de vida. Este dadoremete diretamente ao índice de esgotamentode postos de mão-de-obra no setor ruralcomo demonstrado anteriormente.

Com respeito às atividades realizadasanteriormente por esses empresários, em boaparte dos casos, os mesmos já operavam emalguma atividade relacionada com a área emque atualmente estão empreendendo. Entreos 27 entrevistados nove atuavam em áreasdiretamente relacionadas ao setor de confec-ções, outros 5 atuavam como empresários eos demais eram autônomos ou funcionáriosassalariados. A origem das empresas é pro-veniente de capital autóctone, ou seja, asempresas nasceram com capitais oriundosda economia pessoal de cada um dos em-presários. Indagados diretamente sobre estaquestão mais 50% dos empresários indica-ram esse expediente como a fonte de recur-sos do seu empreendimento (LIS, 2004).

As fontes de inspiração para a toma-da de decisão de ingresso no ramo foram di-versas, entre elas destacam-se principalmen-te o conhecimento de atividades do ramo,opinião de amigos ou familiares do ramo,bem como o aproveitamento de mão-de-obralocal (LIS, 2004). A maior parte das indús-trias de confecções infantis Terra Roxa fo-ram criadas a partir de 2000. Essas empre-sas na grande maioria são de micro e peque-no portes sendo que cerca de 96% tem me-nos de 100 empregados, e 71%, destas, tematé 20 empregados, como ilustra a Tabela 4.

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Tabela 4 - Empresas de confecção de roupas infantis segundo o número de empregados em2003.

Tamanho da empresa % Até 4 vínculos ativos 29 De 5 a 9 vínculos ativos 23 De 10 a 19 vínculos ativos 19 De 20 a 49 vínculos ativos 23 De 50 a 99 vínculos ativos 2 De 100 a 249 vínculos ativos 4 Total 100 Fonte: MTE, 2005.

As indústrias do ramo de confecçõesinfantis são na maior parte fabricantes devestuário. Há outras empresas atuandocomo prestadoras de serviços, principalmen-te fazendo as costuras das roupas e aplican-do os bordados. É provável que a expansãoda produção nos próximos anos e a partici-pação das empresas prestadoras de serviçosse ampliem como um processo de fortaleci-mento da estrutura produtiva. Segundo oCenso Empresarial (2005) 96% da empresas

são de industriais de confecção infantil e 4%são de prestadoras de serviços.

A mão-de-obra empregada nestes es-tabelecimentos é preponderantemente for-mal e os treinamentos ocorrem na maioria,no âmbito interno das empresas (Gráfico 3).O processo de aprendizagem é extremamen-te endógeno, desta forma, espera-se haja for-tes respostas dos agentes com a introduçãoorganizada de treinamento da mão-de-obra,e que ocorra um aprendizado coletivo.

Gráfico 3 - Qualificação nas próprias empresas confecção infantil de Terra Roxa por ocupação

62

35

64

47

7767

79

9286

46

77 77

33

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Fonte: STADUTO, 2005.

O ramo de confecção infantil de TerraRoxa desde seu surgimento cresceu signifi-cativamente e a abrangência de seu merca-do cresceu com ele. Hoje seus produtos não

se limitam mais ao mercado regional, pas-sando a ser exportado e a competir com osprodutos de outros estados brasileiros, a Ta-bela 5 ilustra esta expansão.

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Tabela 5 – Destino das vendas das empresas de confecção infantil de Terra Roxa em 2004.

ESTADO % Paraná 13,7

Santa Catarina 11,5 São Paulo 12,7

Rio de Janeiro 9,3 Rio Grande do Sul 8,0

Bahia 8,4 Minas Gerais 6,4

Goiás 4,1 Mato Grosso 3,9

Demais 22,0 Total 100

Fonte: STADUTO et al. (2005).

Segundo os dados da Tabela, consta-tou-se que 82% das empresas têm marca pró-pria. Esse resultado é extremamente positivo,pois configura a autonomia em termos dedesigner e de produção das peças produzi-das pelas indústrias, aumentando expressi-vamente as chances de fixação das marcasno mercado. Desta forma, estas indústriasdiferenciam-se das chamadas empresas defacção. As empresas respondem por boa par-te da criação de suas roupas, 75% das em-presas têm até 100% de criação própria, 17%e 8% têm até 90% e 80%, respectivamente,de criação própria. Esta constatação eviden-

cia e valoriza o potencial artístico local.Outro indicador que representa um tra-

ço de capital social é as relações sociais cons-tituídas entre os empresários, uma vez que,o círculo social de convivência dos empresá-rios é formado em sua grande maioria porpessoas do mesmo ramo. O Gráfico 4 mos-tra que parcela pequena dos empresários pes-quisados apresentava baixo nível de confi-ança nos seus colegas de atividade. Estesdados evidenciam uma forte propensão àcoesão social, pois existe uma confiabilida-de média tendendo para o crescimento en-tre os empresários.

Gráfico 4 - Nível de confiança entre os empresários das confecções moda bebê de Terra Roxa.

Com a implantação da associação dosempresários de confecções infantis, intitulada“APL de Moda Bebê de Terra Roxa”, em2004, foi possível constatar a existência de co-

laboração entre as indústrias. Tanto que cer-ca 93% dos empresários já receberam algumtipo de benéfico advindo desta associação. NoQuadro 1 são listados esses benefícios.

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Quadro 1 - Exemplos de benefícios citados pelos empresários das confecções infantis de TerraRoxa

BENEFÍCIOS % Cursos 20,6

Cooperação 12,7 Conhecimento 9,5

Viagens 9,5 Relacionamento 7,9

Reuniões 6,3 Troca de experiências 4,8 Compra de Máquinas 4,8 Compras em Conjunto 3,2

Consultorias 3,2 Cooperação do SEBRAE/PR 3,2

Parceria na troca de matéria-prima entre os empresários 3,2 Maior privilégio com instituições financeiras 3,2 Aproximação e conquistas no setor político 3,2

Redução da concorrência entre si 1,6 Melhor cooperação da ACIATRA 1,6

Respeito dos fornecedores 1,6 Total 100,00

Fonte: LIS (2004).

5 Conclusão

O município de Terra Roxa tinha umabase econômica apoiada na produção agro-pecuária, e, atualmente, esta maisdiversificada e tende a uma complexidadenas relações intersetoriais pelo efeitodesencadeador gerado pelas indústrias deconfecções infantis. Com a modernização daagropecuária uma enorme quantidade demão-de-obra foi liberada e, não tendo umsuporte industrial urbano próximo que pu-desse representar alguma alternativa, a so-lução foi à migração para outras fronteirasagrícolas, ou mesmo para centros urbanosmais próximos. Foi o que ocorreu em TerraRoxa entre 1970 a 1980, quando 15 mil pes-soas deixaram o município.

Embora o processo migratório tenhadiminuído, foi expressivo ainda nas duas dé-cadas seguintes (1980-1990). Isto tudo erade se esperar a partir da implantação de ummodelo agrário altamente tecnificado frenteà ausência de uma estrutura urbana queabsorvesse a mão-de-obra rural dispensada.A incapacidade de absorção urbana se re-fletiu nos índices estacionários do empregono setor da indústria e de serviços até, pelomenos, no final da década de 1990. É neste

período (final de década de 1990 e início de2000) que começam a proliferar as indústriasde confecções infantis.

As mudanças ocorridas na estruturaeconômica de Terra Roxa foram oriundas docapital social local e do “espírito” empreen-dedor, cujo reflexo foi o rápido posiciona-mento do município no mercado de modabebê brasileiro. No caso deste município, ocapital social parece ter maiores proporções,por ter uma parcela expressiva de empresá-rios nascidos no município. Este fato “criou”um vínculo maior com a idéia de crescer emorar no município natal. Um outro elemen-to importante para caracterizar a origemcomum dos empresários é a origem rural dosmesmos, pois 78% deles afirmaram que en-tre as profissões exercidas pelos pais estavaa de agricultor (STADUTO et al., 2005).

A origem familiar agrícola da maiorparte dos empresários do ramo de confecçõesinfantis indica o esgotamento ocupacionaldo setor e a necessidade de buscar outros ca-minhos. Isso contribuiu na perspicácia de al-guns empresários de perceber um mercadopromissor, como foi o caso das primeiras in-dústrias de confecções infantis, ainda na dé-cada de 1990. Num segundo momento, foi oaprendizado e a percepção do setor, ainda

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em crescimento, que levou alguns emprega-dos a tentarem o empreendimento próprio.O que aparece, sempre em comum, é que es-ses empresários são em sua grande maioriamoradores de longo tempo no município e,ainda, que são os geradores dos recursos fi-nanceiros utilizados para iniciar seu próprionegócio.

Os empresários de confecção infantisperceberam que não resolveriam as dificul-dades de gerar renda e bem estar para suasfamílias mudando para outras regiões. Aestratégia encontrada pelas pessoas que de-cidiram ficar em Terra Roxa foi em apostarna idéia das indústrias de confecções infan-tis. Esta ação evidencia os principais agen-tes de mudança de Terra Roxa, sua popula-ção. É o que se chama de capital social, e éesta particularidade que atribui as indústriasde confecções infantis uma territorialidadeespecífica e única, se comparado aos demaismunicípio de seu entorno.

A constituição da associação “APL deModa Bebê de Terra Roxa” parece ser umato consciente neste sentido, e os empresá-rios do setor parecem estar convencidos deque sua empresa depende desta “matériaprima”, que se configurou por uma “gente”que vive e trabalha em Terra Roxa. Destaforma, uma empresa que treina funcionáriosnão pode ser vista apenas como sua concor-rente, mas sim uma colaboradora.

Para tanto, é necessário ter claro que aexpansão econômica de hoje só aconteceuem função da existência das pessoas que vi-vem em Terra Roxa, apesar delas terem umacomposição heterogênea, pois foram forma-das por imigrantes de vários estados do Bra-sil e se trata de um município jovem, no en-tanto, foi se condensando um processo deresistência do lugar em que vivem, o qual foisendo rapidamente depauperado pelos re-versos da história desse município. As indús-trias de confecção infantil por mais que se-jam de capital privado, têm um grande com-ponente de construção coletiva, cuja orga-nização se configura na atual constituiçãodo APL de moda bebê de Terra.

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WILLERS, E.M. Estratégia de desenvolvimento econômicolocal: o caso do município de Terra Roxa-PR. 200 f. 2006.Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regionale Agronegócio) – Universidade Estadual do Oeste doParaná, 2006.

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A promoção do desenvolvimento local apoiada em redes de municípios:a experiência do Consórcio Intermunicipal Central Paulista

The promotion of local development supported by municipality networks:the experience of Paulista Centre Intermunicipal Partnership

La promoción de desarrollo local en redes de ciudades:la experiencia del Consorcio Intermunicipal Centro Paulista

Developpment local en une groupement des municipaliteés:l‘experience du Association Paulista Centre Intermunicipal

Helena Carvalho De Lorenzo*Sergio de Azevedo Fonseca**

Recebido em 25/9/2997; revisado e aprovado em 20/12/2007; aceito em 29/2/2008.

Resumo: O artigo discute a formação do Consórcio Intermunicipal Central Paulista Brasil – Itália, constituídopelos municípios de Araraquara, Ibaté, Gavião Peixoto, Ribeirão Bonito e São Carlos. Discute a viabilidade deimplementação de políticas públicas de âmbito local e regional na região, as dificuldades da utilização de modelospré-concebidos, bem como potencialidades e limites para a elaboração de políticas públicas voltadas ao desenvolvimentoregional.Palavras-chaves: Desenvolvimento Local. Consórcios intermunicipais. Políticas Públicas locais e regionais.Abstract: The paper presents the construction of the Paulista Centre Intermunicipal Partnership Brasil-Itália,formed by the municipality of Araraquara, Ibaté, Gavião Peixoto, Ribeirão Bonito and São Carlos. It discusses thepossibility of local public policies implementation in the region, the dificulties in using preconceived models, and thepotencial and limit of regional development public policy.Key words: Local development. Intermunicipal partnership. Local and regional public politics.Resumen: Este artículo aborda el proceso de implementación de un Consorcio Intermunicipal em la región central dela Provincia de São Paulo – Brasil, como parte de un acordo de cooperación Brasil-Italia. Integran el consorcio lasciudads de Araraquara, Ibaté, Gavião Peixoto, Ribeirão Bonito e São Carlos. En el artículo se discuten las limitaciones,asi como las posiblidads, para la gestión de políticas publicas en la región, teniendo el Consorcio como institucióngestora de las políticas y el desarrollo local sostenible como objetivo.Palabras clave: Desarrollo local. Consorcios intermunicipales. Políticas públicas de desarrollo.

Résumé: En ce travail nous discutons les limitation et les possibilites du développement qui rèsultent du processd‘implantation d‘une Association Intermunicipalee de la regiòn centrale du Estado São Paulo – Brasil. C èst uneiniciative locale, sous les règles de la coopération Brasil-Italia. Les participants des cette association sont les villes duAraraquara, Ibaté, Gavião Peixoto, Ribeirão Bonito e São Carlos. En l‘article ce sont aporteè les limitatiòn y lespossibilitees de la gestion publique en la region. L association est proposeè comme un instrument du gestiòn de lapolitique locale.Mots-clé : Developpement local. Association intermunicipalles. Polítique públic du developpement.

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 9, n. 1, p. 55-63, jan./jun. 2008.

* Docente do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. [email protected].** Docente do Departamento de Administração Pública. FCL/UNESP/Araraquara-SP.

Introdução

Este texto aborda a experiência quereuniu agentes públicos, privados e acadêmi-cos na região formada pelos municípios deAraraquara, Ibaté, Gavião Peixoto, RibeirãoBonito e São Carlos, localizados no estadode São Paulo, em torno da constituição doConsórcio Intermunicipal Central Paulista.O Consórcio foi concebido no âmbito do“Acordo de Cooperação entre as regiõesitalianas do Marche, da Toscana, da Úm-bria, da Emilia Romagna e o Governo da

República Federativa do Brasil”1 e do pro-jeto “Percurso de Colaboração para a Imple-mentação de Políticas Públicas de Desen-volvimento Local Integrado entre Re-giões”. O olhar sobre essa trajetória, ocorri-da entre 2004 e 2007, desperta a curiosidadeintelectual de retomar a reflexão em tornodiscussão daquilo que ficou conhecido como“a experiência de desenvolvimento da Ter-ceira Itália”. A abordagem que se propõe vaium pouco mais além da simples revisão daexperiência italiana. Para que se possa avan-çar é necessário recuperar os aspectos da-

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quela visão de desenvolvimento capazes deserem aproveitados em contextos brasileiros,notadamente no caso da região enfocada.

O Consórcio objeto desta investigaçãopossui um comitê gestor local, constituído porrepresentantes das prefeituras, das univer-sidades e de organizações sociais e empre-sariais, com destaque para FIESP, CIESP eSEBRAE-SP. Na sua concepção está o pro-pósito de formular políticas públicas capa-zes de serem implementadas coletivamente,com vistas à promoção de um padrão dedesenvolvimento mais harmonioso na re-gião. A participação e o apoio de técnicositalianos das regiões participantes do proje-to propiciam a oportunidade para o rico in-tercâmbio de experiências e conhecimentos.

O que se pretende neste texto é discu-tir as dificuldades enfrentadas pelo projetoe as oportunidades que se apresentam, apartir de uma compreensão mais ampla dodesenvolvimento territorial e do próprio de-senvolvimento da Terceira Itália. Na reali-dade, a perspectiva simplista da reproduçãodo modelo italiano – a partir das semelhan-ças e diferenças presentes no exemplo origi-nal e não desenvolvidas em outras regiões –não auxilia a compreensão das especificida-des locais e regionais. Em sentido contrário,o estudo sugere que as alternativas de de-senvolvimento para a região sejam buscadasnas próprias especificidades locais e pensa-das no âmbito das possibilidades e das con-dições de desenvolvimento de cada região.

Para o caso do Brasil, assim como paraa maior parte das economias periféricas, ain-da é um desafio pensar alternativas concre-tas de desenvolvimento local, que incorpo-rem, além da promoção da atividade econô-mica, as dimensões amtiental e social. Algomais próximo do conceito de desenvolvimen-to sustentável. São estratégias que trazemimplícita a idéia de estarem apoiadas na for-mulação de políticas públicas de promoçãodo desenvolvimento. No entanto, como seprocurará mostrar neste texto, a perspectivada efetivação de políticas públicas de desen-volvimento local – notadamente em escalamicroterritorial – encontra grandes desafios.

Este texto foi organizado em três par-tes. Nesta primeira são abordadas questõesmais gerais e a reflexão proposta. Na segun-da parte, a título de referência teórica e a par-tir da literatura sobre o assunto, apresentam-

se sucintamente alguns estudos relativos àaplicabilidade da experiência italiana de de-senvolvimento, buscando discutir limites e asdificuldades de sua aplicação para o caso bra-sileiro. Na terceira parte está relatada a expe-riência de constituição do Consórcio Inter-municipal Central Paulista Brasil – Itália,as características da região, as propostas depolíticas públicas sugeridas e as dificuldadesenfrentadas para a sua implementação.

1 Em busca de bases teóricas para a com-preensão do desenvolvimento territorial

A reflexão teórica para subsidiar a ava-liação das possibilidades e as dificuldadespara a construção de relações de coopera-ção e parceria na região analisada está apoia-da em estudos considerados clássicos para acompreensão das condições que assegura-ram o êxito da experiência da Terceira Itá-lia, por uma dupla razão. Em primeiro lu-gar, pela presença de técnicos italianos naregião, provenientes da Svellupo Ùmbria.Esse fato cria expectativas junto aos agentessociais regionais quanto à replicação de seusconhecimentos e experiências, especialmen-te para a concretização de projetos de forta-lecimento das micro e pequenas empresas.

O sucesso do que ficou conhecidocomo “modelo italiano de desenvolvimento”ocorrido a partir da década de 1960, embo-ra não tenha sido o único caso de desenvol-vimento territorial, chamaram a atençãopelos elevados resultados sociais alcançados.Contribuíram fortemente para esse êxito asredes de pequenas empresas e de aglomera-ções setoriais de empresas com fortes liga-ções com o meio sócio territorial.

O segundo motivo para a escolha des-se referencial está na própria literatura, par-ticularmente nas suas possibilidades de re-produção das experiências em regiões oupaíses menos desenvolvidos. Esses estudos,como se verá, mostram que a historicidadedos processos é um dado fundamental parao estudo de cada caso.

2.1 A experiência histórica de desenvolvi-mento da Terceira Itália

Os estudos mais conhecidos sobre aexperiência da Terceira Itália defendem avisão de uma nova forma de organização da

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produção, bastante diversa daquela que pre-valecera até então, conhecida como “mode-lo fordista”. O modelo comportou caracte-rísticas bastante singulares, tais como: a subs-tituição da produção em massa pela presen-ça de formas mais especificas, flexíveis e li-mitadas de produção; a desverticalizaçãodas atividades produtivas; o surgimento denovos padrões de divisão do trabalho, tantona indústria como nos outros setores da eco-nomia e da sociedade; a grande capacidadede adaptação a mercados cada vez imprevi-síveis e competitivos; a rapidez das respos-tas às exigências e alterações da demandaoriunda da configuração flexível das redesde empresas nos distritos industriais2.

Por outro lado, a presença e a consoli-dação das capacitações tecnológicas endóge-nas e próprias de cada região asseguravamuma efetiva participação de pequenos e mé-dios empreendimentos, promovendo umaligação intensa entre as empresas e o local,gerando expansão da capacidade competi-tiva (GURISSATTI,1999).

O desenvolvimento dos distritos indus-triais italianos, fundados em redes de peque-nas e médias empresas, foi tão intenso a par-tir de 1970 que ganharam o status de “mo-delo”. Desde aquela época já se questionavase a bem sucedida experiência italiana po-deria ser transplantada ou reproduzida paraoutras localidades, principalmente parapaises menos desenvolvidos. A oportunida-de da pergunta era reforçada, na época, so-bretudo pelo desenvolvimento também bemsucedido de outras formatações de aglome-rados de empresas maiores e redes de pe-quenas empresas, muitos deles de cunho al-tamente tecnológico, como foi o caso do Valedo Silício, nos EUA.

A pergunta básica que se colocava era apossibilidade de aspectos presentes nos exem-plos italianos de redes de empresas ou de dis-tritos industriais serem ponto de referênciaou apoio para políticas públicas de cunho lo-cal ou regional, buscando sua reprodução.Desde então, uma farta literatura3 buscou, evem buscando até o presente, tanto a compre-ensão da dinâmica do crescimento dos casositalianos e dos EUA e europeus, quanto dealguns outros exemplos que, ao longo dasdécadas de 1980 e 1990, vêm se configurandoem diversos países em desenvolvimento.

Na realidade, sem pretender abrangertodos os estudos a respeito do assunto, asrespostas sobre o potencial de utilização domodelo observadas em boa parte dos traba-lhos, voltados especificamente ao tema, jádeixaram claro que a questão não passa pelaadoção de um modelo singular, nem da suamera importação ou cópia (COCCO, G.;URANI, A.; GALVÃO, A.P., 1999).

Esses mesmos autores defendem, ain-da, que o que deve ser compreendido sobreos limites e as possibilidades de apropriaçãodo modelo são os aspectos mais paradigmá-ticos presentes, ou seja, as iniciativas para asuperação do fordismo e o entendimento dasprincipais mudanças sócio-econômicas ocor-ridas, que trouxeram profundas modifica-ções para a produção e o território. Essesaspectos tiveram reflexos na cidadania e naemergência de novos atores sociais com for-tes vínculos com a região e a produção. Ain-da na visão de Cocco et al. (1999), a condi-ção de pensar e propor políticas públicasindustriais e de desenvolvimento territorialreside, pois, na adequada forma de compre-ender as mudanças em curso no âmbito decada região, principalmente no mundo dotrabalho e da produção. Foi, pois, no cursodas transformações do mundo fordista quese pôde compreender o processo desenvol-vimento ocorrido na Terceira Itália a partirdos anos 70.

2.2 Algumas características do crescimentodinâmico da Terceira Itália

Uma primeira característica própriado modelo italiano ficou conhecida como“especialização flexível”. As mudanças in-ternas ao processo produtivo, ressurgimen-to de pequenas unidades de produção, a di-fusão da subcontratação, a reorganizaçãogeográfica, novas relações entre a fábrica eo território, entre as forças de trabalho e asociedade, entre os serviços e os usuários,entre a produção e o consumo, indicavamuma nova forma de organização da produ-ção bem distinta da anterior.

Outra característica é o forte papel dasinovações, do meio inovador e das suas re-lações com o território. Assim, com muitaênfase aparece a questão da afirmação doterritório, no qual as redes inovadoras se

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desenvolveram por aprendizagem multila-teral (realizadas por diversos agentes) geran-do externalidades específicas à inovação(SCOTT e STORPER, 1988).

A distribuição espacial das atividadesde ciência, tecnologia e inovação refletem,segundo Becattini (1994), que a distribuiçãoregional do conhecimento foram as bases decapacitações técnicas, científicas e tecnoló-gicas. Essas capacitações induziram à loca-lização de atividades produtivas e à forma-ção de aglomerações de empresas que, emmuitos casos, formaram clusters, redes deempresas ou sistemas geograficamente cir-cunscritos de produção e inovação. A con-centração espacial também foi fator chavepara a transmissão de conhecimento.

Outra característica peculiar do modelode desenvolvimento da Terceira Itália foi ocaráter espontâneo dos aglomerados produti-vos e as suas fortes relações com bases locais.

A grande importância do “lugar” naprodução, no caso italiano, foi o fato de queo espaço de produção deixou de estar refe-renciando exclusivamente na fábrica e pas-sou a referenciar-se na cidade (no território),ganhando uma conotação pública até entãoinexistente. Por esta razão, como mostraramCocco et al. (1999), a relação dos indivíduoscom a produção tendeu a se alterar, trazen-do importantes desdobramentos para o pla-no da cidadania. Mostram também que aforma histórica como foi se implantando essenovo “modelo” consolidou um tecido sóciocultural que favoreceu a construção de umarede material e cognitiva capaz de interna-lizar as inovações nos processos locais deaprendizagem produtiva. Segundo os auto-res mencionados, este mesmo tecido e a teiade relações tornaram possível o desenvolvi-mento de formas de cooperação e de liga-ções entre a economia e sociedade.

Esses novos vínculos entre os indiví-duos foram promovendo modificações nopróprio processo cooperativo e abrindo es-paços para o surgimento de uma importan-te figura que Cocco (1999a) chamou de “em-presários políticos”. A ação empreendedoradessa figura, considerada também comouma característica do caso italiano, é respon-sável pela criação de novas condições de pro-

dução, acrescido do fato de sempre possibi-litar a expansão do processo cooperativo. E,na medida em que a cooperação se ampliaem um dado território, esse território toma olugar da produção.

A figura do empresário político foi fun-damental no caso italiano. Quando os em-presários assumiram posições de agenciar oprocesso produtivo no âmbito do território,buscando cada vez mais valorizar as cadeiasprodutivas territoriais, foram incluindo ou-tros aspectos, até então pouco considerados,tais como design, marketing, compras cole-tivas e exportação. Assim, organizar a pro-dução e governar os territórios foi se tornan-do questão fundamental para o sucesso daeconomia italiana.

Nesse quadro, pensar a utilização domodelo de desenvolvimento italiano para ocaso brasileiro significa, antes de tudo, pen-sar a construção do território e da cidada-nia como meio de produzir, em seus desdo-bramentos mínimos, direitos essenciais docidadão, do ponto de vista produtivo, taiscomo a educação profissionalizante, o aces-so ao micro crédito, a promoção de redes deempresas e de aglomerados produtivos depequenas e micro empresas, entre outros.Conhecer o perfil dos segmentos econômi-cos regionais com potencial de configuraçãoem redes de empresas (mesmo que incipien-tes) constitui-se, ademais, em alternativa àsatividades desarticuladas entre si.

Neste contexto sobressai, por fim, a im-portância da presença dos agentes difusoresdo conhecimento, tais como universidades,institutos de pesquisa e escolas técnicas.

2 As políticas de desenvolvimento naregião de Araraquara – São Carlos

O território abrangido pelos municí-pios objeto de intervenção, doravante deno-minado micro-região, está situado na regiãocentral do Estado de São Paulo, compondoparte da Região Administrativa Central.Abrange uma superfície igual a 11.018 km²,com uma população total de 446.617 habi-tantes em 2004. O valor da produção damicrorregião corresponde a 2,11% do PIB doEstado de São Paulo.

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Os dois municípios mais importantes,São Carlos e Araraquara, estão integradosàs principais redes rodoviárias do interior doestado: Anhanguera (SP050), Bandeirantese Washington Luís (SP310). Além disso, pos-suem aeroportos dimensionados para peque-nas e médias aeronaves com conexões regu-lares para a capital do Estado e outras re-giões do país. A região tem uma antiga tradi-ção ferroviária em função da EFA – Estradade Ferro Araraquarense – inaugurada em1901, possuindo uma importante malha in-termodal de carga de cerca de 10.200 tonela-das de gasolina, diesel, álcool, soja e cereais.

Do ponto de vista econômico, a regiãoé considerada como bastante desenvolvida,quando comparada com outras áreas do es-tado. Destacam-se dois importantes segmen-tos agroindustriais, de processamento de cí-tricos e de açúcar e álcool. Na indústria, so-bressai a indústria metal-mecânica, muitasvezes atrelada ao segmento agroindustrial e,mais recentemente, a indústria aeronáutica.

Além dessas atividades, despontam ou-tros segmentos com fortes potencialidades pa-ra expansão e integração. Dedicados à pecuá-ria (tais como leite, ovinos e caprinos), à fru-ticultura (como a manga, o limão e a laran-ja), à indústria de transformação (fármacos,produtos médico-odontológicos e metal-me-cânica), ou ao comércio e serviços avançados,estão constituídos por micro e pequenas em-presas com significativa representatividade nomercado formal e informal de trabalho. Des-ses conjuntos, alguns segmentos apresentamtambém grande potencial para o desenvolvi-mento tecnológico, com fortes ligações com asuniversidades e instituições de pesquisa locais.

No tocante à infra-estrutura, a regiãoapresenta as seguintes vantagens locacio-nais: posição geográfica estratégica noMercosul; malha industrial desenvolvida; sis-tema de transportes e comunicação desenvol-vido (rodoviário, aéreo, ferroviário, de tele-comunicações); redes digitais abrangentes;sólida base de pesquisa, notadamente em trêsuniversidades públicas e em institutos depesquisa como a EMPRAPA InstrumentaçãoAgropecuária e a EMBRAPA Pecuária Su-deste; serviços de apoio às micro e pequenasempresas com destaque para o SEBRAE-SP;incubadoras de empresas.

Os pontos frágeis seriam: existência desegmentos econômicos não integrados emredes, seja com sistemas de fornecimento oucom cadeias produtivas; forte presença delatifúndios, que não deixam espaço para apequena propriedade familiar; dificuldadede comercialização dos produtos por partedos pequenos proprietários; acesso limitadoe utilização insuficiente das novas tecnolo-gias por parte dos pequenos empreendedo-res; escassa cultura empreendedora e de ges-tão; escasso percentual do turismo como ins-trumento de desenvolvimento sustentável doterritório; escassa colaboração entre univer-sidade e universo empreendedor, tambémpara a geração de “spin offs”; escassa cultu-ra cooperativa seja entre municípios ou en-tre empresários e empreendedores.

O diagnóstico da estrutura econômicaregional aponta também para uma grandedisparidade entre os municípios quanto àrenda, emprego e condições sócio-econô-micas e ambientais. Embora esteja presentena região uma base institucional capaz de

Tabela 1 - Evolução da população e taxa de urbanização (1980-2004).

Fonte: NPDl - Núcleo de Pesquisa em Desenvolvimento Local (UNIARA)

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apoiar a incorporação dos processos inova-dores pelas empresas, prevalece o distancia-mento entre os dois campos. O propósito doprojeto do Consórcio é exatamente contri-buir para a quebra dessas barreiras e a re-dução dessas distâncias.

3.1 A debilidade das políticas de desenvol-vimento de âmbito regional

Desde os anos 70, as políticas de de-senvolvimento local e regional empreendi-das na região, ao contrário das proposiçõesde políticas públicas mais ao estilo italiano,têm se caracterizado pela preocupação coma atração de grandes empresas e unidadesfabris por meio da renuncia fiscal e tributá-ria por parte dos estados e municípios. Essesprocedimentos se acentuaram principalmen-te após 1988, com a promulgação da novaConstituição, quando a maior parte dosmunicípios foi levada a encontrar, no planolocal, tanto os meios para financiar os inves-timentos públicos e assegurar o funciona-mento dos serviços coletivos, como as con-dições para estimular o desenvolvimento lo-cal, por meio da criação e/ou fixação dasatividades empresariais. Uma das conse-qüências desses novos desafios foi o acirra-mento da disputa entre municípios e mes-mo entre estados, na busca de empreendi-mentos e de atividades que pudessem sermotores do crescimento econômico. A guer-ra fiscal tem sido uma das manifestaçõesdesse quadro. Com isso vivenciou-se tanto oaumento da concorrência de territórios re-ceptadores dos investimentos, quanto o doindividualismo dos municípios.

Esse individualismo refletiu-se, namaior parte das vezes, na insensibilidadepolítica para a acomodação das unidadeseconômicas de menor porte já presentes nasregiões, principalmente quando não inseri-das em cadeias globais. Ficou também paraum segundo plano a criação de mecanismosde apoio ao desenvolvimento, diversificaçãoe revitalização das economias locais, assimcomo a busca de interfaces para o enfrenta-mento coletivo de problemas, especialmentecom municípios do entorno.

4 A identificação de projetos capazes deimpulsionar a integração regional

O Consórcio teve como objetivo iniciala identificação e implementação de políticaspúblicas de âmbito local e regional, afina-das com a experiência da Terceira Itália evoltadas para o desenvolvimento de micro epequenas empresas.

A partir de 2004, com a participaçãoda região no “Acordo de Cooperação entreas regiões italianas do Marche, da Toscana,da Úmbria, da Emilia Romagna e o Gover-no da República Federativa do Brasil”, e oinicio do desenvolvimento do projeto “Per-curso de Colaboração para a Implementa-ção de Políticas Públicas de Desenvolvi-mento Local Integrado entre Regiões”, peloqual deveriam ser propostos projetos de de-senvolvimento regional integrado para oscinco municípios, a região começa a desper-tar suas atenções para a necessidade da for-mulação de políticas conjuntas. Aflorou,então, a oportunidade do enfrentamento dequestões que envolvessem o conjunto dosmunicípios, capazes de romper com históri-cas posturas individualistas das políticasmunicipais.

Essas expectativas começaram geraresforços das administrações locais. Na reali-dade, a adequação entre a lógica privada(própria dos novos investimentos em implan-tação) e as prioridades das administraçõespúblicas têm sido uma das preocupações dasinstituições locais, que até então se caracte-rizavam por políticas municipais individua-listas e pouco integradoras.

Os esforços e as dificuldades enfrenta-das para a elaboração de um projeto de de-senvolvimento microrregional, com foco naidentificação de ações de políticas públicasde interesses coletivos, expressam bem osdesafios em pensar a questão do território edo desenvolvimento conjunto como estraté-gias possíveis de consolidação no longo pra-zo. Para tanto é imprescindível a coordena-ção entre diferentes agentes, construindoagendas comuns que contemplem interessescoletivos.

O primeiro passo percorrido no proje-to foi a realização de um diagnóstico. Foramcoletadas informações de caráter socioeco-nômico, demográfico, cultural e ambiental.

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Foram contempladas as especificidades e ascondições de cada um dos municípios, iden-tificando, sobretudo, processos recentes compotencialidades de atuação na dinâmica decada um deles e em sua inserção na região.Para além de caracterizar as atividades demaior relevância em cada município, bus-cou-se identificar os segmentos com predo-minância de empresas de pequeno porte ecom potencial de integração regional. Tam-bém foram investigadas as entidades, orga-nizações públicas e privadas e agentes dasociedade civil atuantes em cada um dosmunicípios. Para avaliar o potencial da ofer-ta de conhecimentos e de suporte tecnológi-co, buscou-se identificar, junto às universi-dades e institutos de pesquisa da região, oslaboratórios e grupos de pesquisa capazesde atender às demandas tecnológicas.

O segundo passo foi o estabelecimen-to de prioridades a partir dos resultados dodiagnóstico. Entre os referenciais utilizadospara as escolhas destacaram-se a constata-ção das grandes disparidades entre os mu-nicípios e a importância significativa dasmicro e pequenas empresas, principalmentenos segmentos metal mecânico e de produ-tos para usos médicos, hospitalares eodontológicos.

No plano econômico, foi confirmadaa importância da agricultura e dos agro-negócios de pequeno porte, tais como leite,outras frutas cítricas (além da laranja), man-ga, uva e outros.

No mercado de trabalho, a oferta depostos de trabalho pelos empreendimentosde pequeno porte ganha destaque especialem virtude da acentuada tendência à meca-nização da agricultura e à expansão dosagronegócios voltados ao mercado interna-cional. Em contraposição, as médias e gran-des empresas vêm enfrentando dificuldadespara o desenvolvimento de sistemas de subfornecimento de âmbito regional. Esse fato,aliado à expansão territorial das grandespropriedades agrícolas e dos latifúndios, re-presenta um fator de constrangimento aodesenvolvimento das pequenas empresas.

Outros fatores, identificados pelo diag-nóstico, que vêm limitando o potencial defortalecimento das micro e pequenas empre-sas foram: as dificuldades de acesso ao cré-dito; a debilidade dos canais de comerciali-

zação dos produtos; o acesso limitado àsnovas tecnologias e a escassa cultura empre-endedora. Compromete ainda mais esseacesso aos conhecimentos tecnológicos a es-cassa colaboração entre a universidade e omeio produtivo, tanto para o apoio ao em-preendedorismo, quanto para favorecer osprocessos de spin-off empresariais.

A insistência na importância desseuniverso empresarial apóia-se em constata-ções da literatura de que as micro e peque-nas empresas podem constituir trajetóriaseconômicas dinâmicas e bem sucedidas des-de que dispostas em redes e em um ambien-te propicio à consolidação de externalidadespositivas (CASAROTTO e PIRES, 2001).

O diagnóstico, cujos resultados foramacima sintetizados, ofereceu elementos paraa elaboração do projeto composto por umconjunto de metas de políticas publicas deintegração territorial.

O foco inicial foi o apoio à inovação,visando a geração e a difusão de tecnologias,notadamente para micro e pequenas empre-sas industriais e agro-indústrias em setorestradicionais da estrutura produtiva regional,com potencial para a articulação em redes.

Na prática, como o projeto exigia aidentificação de segmentos sobre os quais seatuaria, decidiu-se por apoiar dois segmen-tos produtivos presentes em todos os muni-cípios da região. O primeiro foi o segmentometal mecânico. O segundo foi o da produçãodo leite em pequenas propriedades.

A expectativa era investir no aumentoda diversificação produtiva e no apoio aoscapitais endógenos, como contraponto aosprocessos mais tradicionais na região, quehistoricamente favoreceram a concentraçãoe a atração de grandes investimentos. Tudoisso no contexto institucional do ConsórcioIntermunicipal Central Paulista Brasil –Itália.

Considerações finais

Apesar a intensa participação dosmunicípios participantes do Consórcio e daatuação dos técnicos italianos os objetivospropugnados não foram alcançados, porvários motivos. Tanto no caso dasagroindústrias de pequeno porte, como nocaso da indústria metal mecânico, incluído

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aí o segmento de produtos médicos e odon-tológicos, não foi possível, sequer, detalharos projetos.

Na realidade, os dois segmentos inicial-mente propostos para serem objeto de polí-ticas de apoio e de incentivos regionais nãoapresentavam margens para intervençãodos poderes públicos por serem atividadesdifusas, embora não marginais. Havia umnúmero significativo de empresas, porém nãohavia agrupamentos setoriais minimamen-te consolidados. Também não havia sinaisde configuração de redes que permitissem oincentivo à motivação e à geração de umaidentidade para os atores envolvidos. Con-cluiu-se, pois, que ambos os casos exigiriamum grande trabalho prévio de incubaçãosetorial, além da identificação de algunsempresários que pudessem participar doprojeto como os membros do comitê gestordo Consórcio.

Outra constatação de caráter geral foique, embora a região seja considerada comodesenvolvida, com elevados padrões de in-tegração mercado internacional, na realida-de apresenta fraca articulação entre os agen-tes produtivos. A proposta final voltou-se,assim, para outros eixos de intervenção decaráter mais geral e menos setorializados.Buscou-se estimular um inicio de articula-ção entre empresas, empresários, universi-dades, centros de pesquisa e instituições pú-blicas e privadas.

Como primeira proposição, o projetovoltou-se para a construção de uma rede vir-tual cognitiva, capaz de internalizar as ino-vações tecnológicas nos processos locais evalorizar a aprendizagem coletiva. Para tan-to, seria necessária uma articulação maisintensa com as universidades e centros depesquisa da região que, embora importan-tes e qualificados, estão longe de assumireminstitucionalmente a cooperação com o se-tor produtivo regional. Como forma de via-bilizar esse esforço foi proposta a constitui-ção de um portal web com todas as infor-mações e os contatos com os participanteslocais (Embrapa, Unversidades, Sebrae,...) dedifusão, orientação, financiamento e assis-tência às micro e pequenas empresas, sus-tentado pelos municípios envolvidos no pro-jeto. No horizonte estava a possibilidade deintegrar o portal com as regiões italianas.

A segunda proposta foi a criação deum observatório econômico sobre a região,com foco nas pequenas empresas e nos seto-res produtivos do território, tendo como ob-jetivo aumentar o conhecimento e as rela-ções entre a produção e o território. A ne-cessidade de um observatório surgiu da ne-cessidade detectada de acompanhar o com-portamento e a evolução do meio empresa-rial local. Tecnicamente, a idéia do observa-tório permanente sustenta-se sobre os seguin-tes pilares: a criação de um banco de dadosdo tecido empresarial regional; a realizaçãode estudos e pesquisas por demanda dosagentes públicos e privados regionais.

O portal e o observatório, juntos, con-figuram uma forte base institucional, cogni-tiva e operacional, capaz de ampliar a visi-bilidade das possibilidades regionais para oinvestimento, contribuir para um marketingregional, democratizar o acesso a informa-ções e criar efeitos sinérgicos intermunicipais.

A criação desses efeitos sinérgicos temesbarrado, contudo na histórica e arraigadacultura do individualismo municipal. A su-peração desse vício tem se mostrado comoum dos maiores desafios para a promoçãode políticas locais de desenvolvimento. OConsórcio pode vir a se tornar em fator ins-titucional aglutinador, capaz de quebrar asbarreiras do individualismo.

Enquanto mecanismo institucional,responsável operacional por políticas eações, o Consórcio constitui-se em agentecapaz de mobilizar as forças econômicas lo-cais, articulando-as em redes regionalmenteenraizadas e oferecendo as bases para o apri-moramento contínuo de suas atividades.

Possibilita, também, a identificação dearranjos institucionais capazes de promovero surgimento de novas atividades empresa-riais em segmentos produtivos com base ter-ritorial e fazer com que as redes de peque-nas empresas toprnem-se efetivas.

Desse modo, pensar o modelo italianonão significa extrair deler alternativas con-cretas que possam subsidiar as ações dos po-deres públicos locais. Significa, como se pro-curou mostrar, fortalecer o território e a cida-dania, promover potenciais redes de empre-sas e setores existentes em regiões e seu entor-no, enfim, de incentivar potenciais agenteslocais capacitados para participar dessesnovos processos.

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63A promoção do desenvolvimento local apoiada em redes de municípios:a experiência do Consórcio Intermunicipal Central Paulista

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 9, n. 1, p. 55-63, jan./jun. 2008.

Não se trata de incentivar apenas asatividades econômicas que já são relevantesem seus territórios específicos, mas de pro-mover outras atividades integradoras. Pro-mover a cultura empreendedora local medi-ante ações de assistência técnica e formati-va significa auxiliar a superação de formaspretéritas de produção. Assim, talvez, se es-teja contribuindo para a criação das condi-ções necessárias à emergência de atividadesancoradas no território, ou seja, a criação do“território produtivo” e o favorecimento dosurgimento de novas figuras empresariais.Com as políticas transversais e intermu-nicipais, ou seja, a universalização dos ser-viços, acesso às redes poderá contribuir paramelhoria nos processos produtivos e, tam-bém, para o surgimento de novos terrenospor conquistas sociais.

Conhecer as especificidades de cadalocalidade, pensá-las em seu contexto e co-nhecer as condições históricas de produçãode cada experiência é, talvez, uma das maio-res lições que se pode tirar dos diversos ou-tros “modelos” de desenvolvimento do ca-pitalismo, inclusive do que ficou conhecidocomo o “modelo italiano”.

Muito embora o Consórcio Intermu-nicipal Central Paulista Brasil-Itália seja umprimeiro passo nesta direção, é preciso reco-nhecer que ainda são muitas as dificuldadesrelativas, sobretudo, aos acordos entre enti-dades e processos locais com objetivos e fi-nalidades diferentes. De toda forma, se estádiante de uma forte iniciativa de rupturasde padrões muito arraigados e de políticaspúblicas individualistas e que buscam algunsespaços para atuação coletiva.

Notas:1 O Acordo de cooperação Brasil Itália foi assinado em

Roma, em julho de 2004, depois de várias visitas técni-cas. O acordo envolve cooperação técnica científica eempresarial entre as regiões italianas do Marche, daToscana, da Úmbria, da Emilia Romagna e o Governoda República Federativa do Brasil. O acordo desen-volve experiências de desenvolvimento local em cin-co estados brasileiros: Amazonas, Piauí (Serra dasConfusões), Minas Gerais (Juiz de Fora), Rio Grandedo Sul (Bagé-Santa Maria), São Paulo (São Carlos-Araraquara.

2 Por Distristritos Industriais entende-se uma aglome-ração setorializada de empresas. Este conceito é bas-tante distinto daquele usualmente utilizado no Bra-sil que se refere a um espaço para abrigar empresasde cará ter e segmentos diversos.

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Extensão pesqueira e desenvolvimento local: a experiência da Secretaria Especialde Aqüicultura e Pesca no Estado de Pernambuco, 2003-2006*Fishing extension and local development: the experience of the

Republic Presidency’s Special Department of Aquiculture and Fishingin Pernambuco State, 2003-2006

La extensión peesquera e lo desarrollo local: la experiência de la Sección Especialde la Aquicultura e el da de Pesca del Estado de Pernambuco, 2003-2006.Extension de pêche et développement local: l’expérience de Secretaria Spéciale de

d’Aqüicultura et Pesca dans l’État de Pernambuco, 2003-2006

Felipe Eduardo Araújo de Carvalho**Angelo Brás Fernandes Callou***

Recebido em 10/8/2007/; revisado e aprovado em 30/11/2007; aceito em 12/12/2007.

Resumo: O estudo analisa os projetos de Extensão Pesqueira da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca daPresidência da República – SEAP/PR, entre 2003-2006, no Estado de Pernambuco na perspectiva do desenvolvimentolocal. Verificamos que a SEAP/PR, ao soerguer o serviço público de Extensão Pesqueira nacional, incorporou odesenvolvimento local como condição fundamental à emancipação dos contextos sociais pesqueiros.Palavras-chave: Extensão pesqueira. Desenvolvimento local. SEAP/PR.Abstract: This study analyzes projects of Fishing Extension from the Republic Presidency’s Special Department ofAquiculture and Fishing (Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República - SEAP/PR),between 2003 and 2006, in Pernambuco State in the perspective of local development. We have checked that SEAP/PR, when it raised the public service of National Fishing Extension, added the local development as a fundamentalcondition to emancipate fishing social contexts.Key words: Fishing extension. Local development. SEAP/PR.Résumé: L’étude analyse les projets d’Extension De pêche de Secretaria Spéciale de d’Aqüicultura et Pesca de laPrésidence de la République - SEAP/PR, entre 2003-2006, dans l’État de Pernambuco dans la perspective dudéveloppement local. Nous vérifions que la SEAP/PR, à soerguer le service public d’Extension De pêche nationale, aincorporé le développement local mange de la condition fondamentale à l’émancipation des contextes sociaux chalutiers.Mots-clé: Extension de pêche. Développement local. SEAP/PR.Resumen: Este estudio analiza proyectos de Extensión Pesqueira de la Sección Especial de la Aquicultura e el daPesca el da Presidência República - SEAP/PR, entre 2003 y 2006, del Estado de Pernambuco en la perspectiva dedesarrollo local. Nosotros hemos verificado que la SEAP/PR, cuando levantó el servicio público de Extensión de laPesca Nacional, agregó la perspectiva de desarrollo local como una condición fundamental para la emancipación delos contextos sociales.Palabras clave: La extensión pesqueira. El desarrollo local. SEAP/PR.

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 9, n. 1, p. 65-76, jan./jun. 2008.

* Este artigo faz parte de uma pesquisa mais ampla desenvolvida no mestrado em Extensão Rural e DesenvolvimentoLocal (POSMEX) da UFRPE, vinculado ao Projeto Casadinho, CNPq.** Engenheiro de Pesca, professor substituto do Departamento de Educação da UFRPE e mestrando em ExtensãoRural e Desenvolvimento Local. Email: [email protected].*** Professor Titular da Universidade Federal Rural de Pernambuco, coordenador do mestrado em Extensão Rurale Desenvolvimento Local (POSMEX) da UFRPE. Email: [email protected].

Introdução

O principal objetivo deste artigo é ana-lisar os projetos de Extensão Pesqueira daSecretaria Especial de Aqüicultura e Pescada Presidência da República (SEAP/PR),entre 2003-2006, no Estado de Pernambu-co. Especificamente, pretendemos analisar ascontribuições desses projetos na construçãodo desenvolvimento local.

As discussões acadêmicas em torno daExtensão Pesqueira no Brasil, estagnada des-de a extinção da Superintendência do De-senvolvimento da Pesca (SUDEPE), em 1989,são retomadas com a realização do I Semi-nário Brasileiro de Extensão Pesqueira: desafioscontemporâneos, realizado em dezembro de2001. Esse evento, promovido pelo ProrendaRural-GTZ e da Universidade Federal Ruralde Pernambuco, teve por objetivo analisar

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os aspectos teórico-metodológicos, que dãosuporte às práticas da Extensão Pesqueirana perspectiva do desenvolvimento local(PRORENDA RURAL, 2003).

Durante as discussões no Seminário,percebemos que vários problemas identifica-dos em décadas passadas encontravam-seainda presentes no cotidiano da pesca e dopescador artesanal. Esses problemas foramvisualizados como empecilhos ao desenvol-vimento da pesca pela via do desenvolvimen-to local. Entre eles, podemos pontuar: o altoíndice de analfabetismo nas comunidadespesqueiras; os impactos ambientais relaciona-dos à expansão imobiliária, os quais têm seagravado nas regiões litorâneas de todo o país;o aceleramento dos aterros de mangues; apesca predatória; a sobrepesca; as desigual-dades sociais entre homens e mulheres pes-cadoras; a precariedade das linhas de créditoespecíficas para o setor pesqueiro e aqüícola;e a incipiente assistência técnica e ExtensãoPesqueira públicas, oferecida às comunida-des de pesca (PRORENDA RURAL, 2003).

Diante desse quadro, percebemos queas políticas públicas de desenvolvimento dapesca nacional, levadas a cabo, principal-mente, pela Extensão Pesqueira, a partir de1968 (ano de criação dessa atividade no Bra-sil), não lograram os objetivos pretendidos.Objetivos esses majoritariamente voltados àmodernização do setor pesqueiro, cuja pers-pectiva era a difusão de tecnologias nas co-munidades pesqueiras para aumentar a pro-dução de pescado e, conseqüentemente, oslucros dos envolvidos na atividade. A melho-ria das condições de vida dos pescadores de-pendia, portanto, dessa adoção tecnológica.

O que se observou no serviço de Exten-são Pesqueira, particularmente aquele vincu-lado à Superintendência do Desenvolvimen-to da Pesca (SUDEPE), foi a repetição da “fi-losofia educativa” da Extensão Rural norte-americana que se desenvolveu no Brasil a par-tir da década de 40 (CALLOU, 1983), isto é,uma Extensão Rural, diz Fonseca (1984), vol-tada a um “projeto educativo para o capital”.

Para consolidar esse projeto, as estraté-gias “educativas” levadas tanto pela Exten-são Rural quanto pela Extensão Pesqueiraestavam pautadas em modelos persuasivosde comunicação. A participação das comu-nidades rurais e pesqueiras nas atividades

de extensão se configurava como passiva, ca-bendo a elas, apenas, adotarem os pacotestecnológicos difundidos pelos extensionistas(CALLOU & TAUK-SANTOS, 2003).

A lógica do desenvolvimento do setorpesqueiro nacional mediante a implantaçãode novas tecnologias de pesca já estava con-templada desde o início do século XX, quan-do a Marinha de Guerra criou as colôniasde pescadores por meio da Missão do Cru-zador “José Bonifácio” (1919-1924). A estra-tégia principal dessa Missão foi a de viabili-zar a proteção militar da costa nacional e odesenvolvimento das indústrias da pesca noBrasil (CALLOU, 1994).

A literatura nos informa que a formavertical e autoritária como as colônias depesca foram institucionalizadas ao longo dolitoral brasileiro trouxe repercussões histó-rias negativas na vida das comunidades pes-queiras. Os pescadores enfrentaram, e ain-da enfrentam, no âmbito da participaçãosocial e política, problemas não apenas den-tro das colônias, com representações alheiasà categoria dos pescadores, mas, sobretudo,nos processos decisórios das políticas públi-cas para o desenvolvimento da pesca arte-sanal (CALLOU, 1994).

Com a fundação SUDEPE, em 1962, aperspectiva de melhoria das condições devida dos pescadores pela via do difusionismopermanece e se amplia por todo o país coma institucionalização da Extensão Pesquei-ra, em 1968. Essa forma de conceber oextensionismo na pesca sobreviveu até o de-saparecimento da SUDEPE. A partir daí, ospescadores e suas famílias ficaram pratica-mente sem serviços públicos de apoio ao de-senvolvimento do setor pesqueiro.

Assim, a partir da criação da Secreta-ria Especial de Aqüicultura e Pesca da Pre-sidência da República (SEAP/PR), em 2003,as políticas de desenvolvimento da pescavoltam à ordem do dia e, com elas, o serviçode Extensão Pesqueira. É importante salien-tar que o cenário de onde essas políticasemergem não é mais o mesmo das décadasde 1960 e 1970, auge do desenvolvimentoda economia nacional, particularmente no“milagre brasileiro”, muito menos do perío-do da Missão do Cruzador “José Bonifácio”,marcado pelas idéias de “ordem e progres-so”, do início do século XX.

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INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 9, n. 1, p. 65-76, jan./jun. 2008.

O cenário, agora, é caracterizado porgrandes transformações globais, princi-palmente pela expansão das novas tecno-logias eletrônicas e informacionais, pelosprocessos antagônicos de mundialização dosmercados e da cultura e pela descentraliza-ção dos processos decisórios na vida públi-ca. Essas transformações têm impulsionadoalguns países a se adaptarem às novasexigências dos mercados globalizados. Aomesmo tempo, têm forçado os governos aações públicas diferentes daquelas promo-vidas em décadas anteriores.

Nesse sentido, se, no passado, o Estadotomava para si toda a responsabilidade e ocontrole das políticas públicas para o desen-volvimento, na atualidade ele divide essa res-ponsabilidade com as organizações não-go-vernamentais, privadas, e mesmo com orga-nizações públicas, estaduais e municipais. Aparticipação dos atores sociais organizadosé condição fundamental nesse processo. Aessa nova postura do Estado, Kliksberg cha-ma de “Estado social inteligente”: Diz ele:

Um Estado social inteligente implica refor-mas profundas do Estado no mundo em de-senvolvimento nestas direções e em outrasque podem ser acrescentadas. Orientaçãoclara a serviços públicos básicos para todos,criação de uma institucionalidade social for-te e eficiente, montagem de um sistema deinformação para o plano e monitoramentodas políticas sociais, articulação interorga-nizacional, descentralização, participaçãocomunitária ampla, redes inter-sociais,transparência, um enfoque de gerência so-cial (KLIKSBERG, 2003, p. 98).

Dessa forma, a SEAP/PR dá sinais queo papel de “Estado social inteligente”, aopropor saldar a “dívida social” que o paístem com a pesca artesanal (BRASIL, 2003a,p. 5), pois induz o desenvolvimento do setorpesqueiro mediante estímulos à realizaçãode parcerias institucionais, ao associativismoe cooperativismo e à modernização daaqüicultura e da pesca. Assim se refere oProjeto Político-Estrutural da SEAP/PR em re-lação ao Estado nas questões de pesca:

O papel do Estado, por meio da SEAP, seráindutor. Ele deverá investir na moderniza-ção da cadeia produtiva da aqüicultura epesca, estimulando parcerias com os esta-dos e municípios, o associativismo e ocooperativismo (...) (BRASIL, 2003a, p. 6).

É a partir dessa concepção de Estadomínimo que surge a noção de desenvolvimen-to local como alternativa para apoiar os con-textos sociais desfavorecidos. As políticaspúblicas que daí decorrem perdem a dimen-são nacional para se vincular à dimensãoterritorial local, privilegiando as potenciali-dades econômicas e capacidades endógenasdas comunidades (JARA, 1998).

Nessa perspectiva, a SEAP/PR con-templa o desenvolvimento local ao afirmarque as políticas públicas para a pesca estãoarticuladas à noção do Estado indutor. Es-sas políticas se diferenciam, portanto, daque-las implantadas no passado no âmbito dosetor pesqueiro. Esse aspecto não passoudespercebido a Callou, Tauk-Santos e outros(2006), quando confrontam as Diretrizes doPlano Estratégico de Desenvolvimento Sus-tentado da Aqüicultura e Pesca com os vetoresprincipais do Desenvolvimento Local, aoanalisarem O Cooperativismo Pesqueiro noBrasil e as Linhas de Financiamento.

É dentro desse cenário que os serviçospúblicos de Extensão Pesqueira ressurgem noBrasil, vinculados à noção de desenvolvimen-to local. Não é à toa que, para viabilizar aspolíticas de desenvolvimento da pesca, aSEAP/PR faz a seguinte orientação no cam-po da Extensão Pesqueira:

Criar políticas de assistência técnica e ex-tensão pesqueira, em parceria com estados,municípios e outras entidades, que promo-vam iniciativas de desenvolvimento localsustentável considerando a família do pes-cador e do aqüicultor e suas organizações,visando a inclusão social e à qualidade devida, adotando princípios de conservação,gestão ambiental e de pesca responsável(BRASIL, 2003b, p. 45).

Essa realidade nos fez refletir sobre acriação da SEAP/PR no cenário do Estadoindutor do desenvolvimento e da nova pro-posta de Extensão Pesqueira na perspectivado desenvolvimento local. A questão princi-pal que resultou dessas reflexões é: como via-bilizar projetos de Extensão Pesqueira parao desenvolvimento local em comunidades depesca marcadas historicamente por políticasverticais de desenvolvimento, que impedirama participação social e política dos pescado-res nos processos decisórios?

Na perspectiva de contribuir para oesclarecimento dessa questão é que optamos

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por analisar, do ponto de vista do desenvol-vimento local, os projetos de Extensão Pes-queira da Secretaria Especial de Aqüiculturae Pesca da Presidência da República, atual-mente em curso. O motivo principal de es-colher o estado de Pernambuco como focode análise parte do princípio de que esse Es-tado possui tradição nas atividades deaqüicultura e pesca e desenvolve projetos deExtensão Pesqueira da SEAP/PR desde acriação dessa instituição em 2003.

Como unidade de análise desse estudo,foram escolhidos nove projetos considerados,no âmbito da Extensão Pesqueira, à medidaque envolve contextos populares da pescacom o objetivo de promover o desenvolvimen-to da pesca com inclusão social. Para com-plementar as informações coletadas nos docu-mentos desses projetos, foram realizadas en-trevistas semi-estruturadas com doze pesca-dores (dos municípios de Jatobá, Goiana, Reci-fe, Olinda, Itapissuma), oito técnicos que atu-am em comunidades pesqueiras, um técnicoda SEAP/PR e dois técnicos da SEAP/PE.

A escolha dos entrevistados para esteestudo se deu em função da participação queesses profissionais tinham sobre os projetosescolhidos para o desenvolvimento da pes-quisa. As entrevistas foram realizadas entrejunho e agosto de 2006. Para salvaguardaros depoentes, omitimos os nomes dos entre-vistados, revelando apenas se são pescado-res ou técnicos e a instituição ou municípioonde trabalham.

Consideramos esta pesquisa de cará-ter qualitativo, dada a insipiência, ainda, deestudos que relacionem Extensão Pesqueiraao desenvolvimento local.

Secretaria Especial de Aqüicultura e Pescada Presidência da Republica: a nova faceda Extensão Pesqueira nacional

A Secretaria Especial de Aqüiculturae Pesca da Presidência da República (SEAP/PR) foi criada pela Medida Provisória n. 103,de 1º de janeiro de 2003, e referendada pelaLei n. 10.683, de maio de 2003 (BRASIL,2003a).

Para viabilizar as políticas da SEAP/PR, tornou-se estratégica a reestruturaçãodos serviços de Extensão Pesqueira no Bra-sil. Assim, em outubro de 2003, em Brasília,

foi realizado o Seminário para Elaboração dasDiretrizes Nacionais da Extensão Pesqueira,com a finalidade de atender às orientaçõesda Política Nacional de Assistência Técnicae Extensão Rural (Pnater), no que se refere àcriação de atividades específicas de Exten-são aos diferentes públicos do meio rural. Oobjetivo norteador à elaboração dessas dire-trizes no Seminário, do qual participaramtécnicos de organizações governamentais enão-governamentais, foi o de

Promover e apoiar iniciativas de desenvol-vimento local sustentável, que envolvam ati-vidades pesqueiras ou a elas relacionadas,considerando a família do pescador artesa-nal e suas organizações, visando a inclusãosocial e a qualidade de vida das comunida-des pesqueiras, adotando os princípios daconservação, gestão ambiental e da pescaresponsável (BRASIL, 2003c, p. 5).

Essas atividades são, atualmente, coor-denadas pelo Departamento de AssistênciaTécnica e Extensão Rural (Dater), da Secreta-ria da Agricultura Familiar (SAF) do Minis-tério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

A Política Nacional de Assistência Téc-nica e Extensão Rural e seus desdobramen-tos na Extensão Pesqueira pretende se dife-renciar das políticas de Extensão Rural dopassado, à medida que abandona a noçãode desenvolvimento pela via do difusionismomodernizador.

Assim, o desenvolvimento de projetosde Extensão Pesqueira propriamente ditossurge a partir da Portaria n. 182, de 23 dejunho de 2005, que aprova o termo de coope-ração técnica entre a SEAP/PR e o Ministé-rio de Desenvolvimento Agrário (MDA).Essa portaria tem por finalidade implemen-tar o Programa Nacional de Assistência Téc-nica e Extensão Pesqueira e Aqüícola, pauta-da na contratação de organizações governa-mentais e não-governamentais, que desen-volvam atividades de assistência técnica e ex-tensão pesqueira (BRASIL, 24/6/2005a, p.1). O que o governo pretende, segundo o mi-nistro da SEAP/PR, José Fritsch, é

acelerar o desenvolvimento do setor, esti-mulando o associativismo e o cooperativis-mo e facilitando o acesso às linhas de cré-dito oferecidas pelos bancos oficiais. Pes-cadores artesanais e pequenos aqüicultoresserão os principais beneficiados. (BRASIL,2005b, p. 1).

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69Extensão pesqueira e desenvolvimento local:a experiência da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca no Estado de Pernambuco, 2003-2006

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 9, n. 1, p. 65-76, jan./jun. 2008.

Nesse sentido, podemos inferir que oPrograma Nacional de Extensão Pesqueirada SEAP/PR segue os ditames do Estado in-dutor dos processos de desenvolvimento. As-pecto, aliás, já observado nas diretrizes deExtensão Pesqueira, nos primeiros momentosda reestruturação dessa atividade no Brasil.

Operacionalização da política de ExtensãoPesqueira da Secretaria Especial deAqüicultura e Pesca em Pernambuco: dateoria à prática

Com a publicação do edital de Chama-da para Projetos de Extensão Pesqueira eAqüícola, em junho 2005, com recursos daordem de R$ 2.000.000,00 (dois milhões dereais) para todo o Brasil (BRASIL, 2005a, p.1). Foram aprovados 44 projetos, dos quaistrês estão ligados ao estado de Pernambucono âmbito do “Fomento à Assistência Técnicae Extensão Pesqueira”. Esses projetos come-çaram a ser implementados em julho de 2006e terão duração de um ano. São eles:• Projeto de Assistência Técnica Através de

Agentes de Desenvolvimento Local (ADL)para Comunidades de Pescadores e Piscicul-tores de Ibimirim, do Serviço de TecnologiaAlternativa (Serta) que objetiva treinar 25jovens para agentes de desenvolvimentolocal, prestando assistência técnica a 125famílias, (...) (BRASIL, 2005a);

• Projeto para Fomento à Assistência Técnica eExtensão Pesqueira, da Empresa Pernambu-cana de Pesquisa Agropecuária (IPA), oqual visa a atender 60 pescadores no mu-nicípio de Águas Belas e 200 pescadoresde Serra Talhada, (...) (BRASIL, 2005a); e

• Projeto Peixe para Comer, do Centro Josuéde Castro, com desenvolvimento no mu-nicípio de Catende, o qual está direciona-do a prestar assistência técnica a 20 famí-lias de aqüicultores (...) (BRASIL, 2005a).

Considerando o Estado de Pernambu-co temos que, do ponto de vista da assistên-cia técnica, a política de Extensão Pesqueirada SEAP/PE se diferencia das políticas pas-sadas da SUDEPE, cuja participação estatalnas questões de desenvolvimento do setorpesqueiro eram mais abrangentes. Esse as-pecto denota o quanto a SEAP/PR está, defato, voltada às estratégias de um estado in-dutor do desenvolvimento.

Analisando o objetivo geral desses pro-jetos de Extensão Pesqueira, podemos obser-var que a perspectiva do desenvolvimentolocal permeia o foco das ações, no caso dosprojetos do IPA e do Serta. Portanto, estãoem sintonia com as diretrizes da ExtensãoPesqueira da SEAP/PR. No caso do projetoapresentado pelo Centro Josué de Castro, anoção de desenvolvimento local não aparecede maneira explícita nos objetivos, mas a me-todologia proposta para implantação dasações do Projeto contraria essa ressalva, namedida em que utiliza, segundo depoimentoa seguir, o Reflect-ação para “construção deprocessos coletivos auto-organizados deidentidade e de protagonismo social (empo-deramento), estruturados a partir da análi-se permanente das relações de poder, de gê-nero e interculturas existentes nos grupos.”(Técnico do Centro Josué de Castro, 2006).

Dentro dessa perspectiva, os referen-ciais metodológicos dos projetos apresenta-dos pelas instituições selecionadas pelaSEAP/PR para ações de Extensão Pesquei-ra em Pernambuco caminham na perspecti-va das diretrizes do Programa Nacional deExtensão Pesqueira e Aqüícola promovida pelaSEAP/PR. Esse aspecto possibilita um maiorengajamento e empoderamento das popu-lações nessas atividades de Extensão Pes-queira. Portanto, podemos dizer que essesprojetos sinalizam para o desenvolvimentolocal, preconizado, principalmente, por au-tores como Carlos Jara, Augusto de Francoe Sergio Buarque.

Projetos de Extensão Pesqueira da SEAP/PE Articulados a Outras Instâncias deGoverno

a) Programa Pescando Letras

A I Conferência Nacional deAqüicultura e Pesca, em 2003, referenda aalfabetização de Jovens e adultos, como prio-ritária para o setor pesqueiro pelos mais demil delegados vindos das diferentes regiõesdo país (BRASIL, 2003b). E o governo fede-ral, em 2003, cria o Programa Pescando Le-tras, direcionado à alfabetização de jovens eadultos pescadores e aqüicultores.

No mesmo ano, foi realizado, no Riode Janeiro, um Curso de Formação de Forma-

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dores, que reuniu técnicos de diferentes áreasdo conhecimento e com experiências na áreade pesca e educação. Esses técnicos, após otreinamento, teriam a responsabilidade dearticular a proposta pedagógica do ProgramaPescando Letras em seus Estados de origem.O sucesso desse treinamento repercutiu posi-tivamente, ao ponto de resultar em uma pu-blicação em formato de revista, denominadade “Redes dos Saberes”, tendo por objetivosistematizar as experiências de formação ede aprofundamento em torno da metodolo-gia de alfabetização de jovens e adultos pes-cadores (BENÍCIO & COSTA, 2006, p. 89).

Capacitados os técnicos, a propostaagora toma corpo e, em meados de 2004, érealizada uma parceria entre a Secretaria deEducação Continuada Alfabetização e Di-versidades (Secad) e a SEAP/PR, com o ob-jetivo de integrar as comunidades pesquei-ras como uma das áreas de atuação do Pro-grama Brasil Alfabetizado, do Ministério daEducação. O resultado dessa parceria resul-tou em um projeto de cooperação mútua,visando a implementar o Programa de Alfa-betização de Pescadores e Aqüicultores –Programa Pescando Letras no âmbito do Pro-grama Brasil Alfabetizado (BENÍCIO & COS-TA, 2006, p. 89-90).

Diante dessa realidade, a proposta doPescando Letras não poderia caminhar vol-tando-se ao ensino tradicional, mas teria quelevar em consideração o cenário sociocultu-ral dos pescadores e aqüicultores. Nessa pers-pectiva, a SEAP/PR considera a cultura lo-cal e o ambiente do pescador e aqüicultorcomo elementos essenciais para o processoensino-aprendizagem. Assim, “ao se proporum Programa de Alfabetização para os pes-cadores artesanais e aqüicultores familiaresé preciso considerar tanto as enormes difi-culdades que enfrentam, quanto a riquezade sua cultura, em seu estreito vínculo como ambiente” (PROGRAMA PESCANDOLESTRAS, 2005, p. 6).

As estratégias que envolvem essa novaproposta de alfabetização de pescadores eaqüicultores procuram corrigir os erros jáapontados, em épocas passadas, por diversosautores, quando falam das particularidadesda pesca e do pescador. Dentro dessa perspec-tiva, podemos inferir que o Programa PescandoLetras, como ação extensionista em comunida-

des pesqueiras, mantém estreita relação com odesenvolvimento local, à medida que a forma-ção de capital humano, adquirido, como vi-mos, por meio da educação, entre outros ve-tores, representa um dos aspectos importan-tes dessa nova vertente de desenvolvimento.

O Programa Pescando Letras no estadode Pernambuco se desenvolve, segundo aSEAP/PE, por meio de uma ação articuladaentre a SEAP/PE e a Secretaria de Educa-ção de Pernambuco, em parceria com noveprefeituras municipais.

Não se sabe, ao certo, a quantidade dealunos pescadores e aqüicultores matri-culados nesse Programa nos municípios. Is-so se prende ao fato, possivelmente, da faltade acompanhamento do Programa pelaSEAP/PE.

Essa fragilidade no acompanhamentodo Programa impossibilita obter informaçõesdetalhadas sobre o número de pescadores eaqüicultores matriculados. Muitas vezes, es-ses profissionais fazem parte de uma mes-ma turma de alfabetização junto com outrascategorias de trabalhadores.

O fato de o Pescando Letras estar ligadoao Programa Brasil Alfabetizado leva algunspescadores a não distinguir ou privilegiar aespecificidade da proposta de alfabetizaçãona pesca. O que determina a escolha entreum programa e outro, ao que parece, é oquerer-ser-alfabetizado, independentemen-te da categoria social a que pertence.

É de se perguntar, entretanto, se esseestímulo à alfabetização dos pescadores emprogramas não específicos à pesca, não inti-mida, muitos deles, a participar da escola.

Dentro desse contexto, a proposta pe-dagógica do Pescando Letras perde sentidometodológico quanto a sua especificidade napesca. Assim, a junção de pescadores comcategorias produtivas diversas mostra que aproposta educacional parece seguir o dilemadas tentativas de inserção do pescador emcampanhas de alfabetização de jovens e adul-tos, desenvolvidas em épocas passadas. Oresultado de tal junção só colabora com a nãoinclusão educacional proposta pelo PescandoLetras, já que o cumprimento das exigênciasformais não é levado em consideração.

Por outro lado, no que diz respeito aoalcance da meta de 50% de pescadores alfa-betizados, pretendido pelo Programa, é im-

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portante salientar que há indícios conside-ráveis de evasão escolar.

Assim, a SEAP/PE tem a sua frente odesafio de mergulhar no acompanhamentoda aplicação prática da proposta pedagógicapara alfabetização de pescadores e aqüicul-tores do Programa nos municípios convenia-dos, no sentido de não permitir a reediçãodos erros cometidos em épocas passadas.

Acreditamos que a proposta pedagógi-ca do Programa, ao se desenvolver em gru-pos específicos de pescadores e atingir as me-tas estabelecidas pela SEAP/PR, contribui-rá para o fortalecimento do capital humanodas comunidades pescadoras. Esse fortale-cimento poderá desaguar na renovação daslideranças das Colônias (muitas delas aindasão representadas por pessoas alheias à ca-tegoria dos pescadores), já que os elementosda cultura do pescador e sua relação com opapel do Estado tende a fortalecer a partici-pação desses profissionais como cidadãos ecomo agentes de mudança. Por isso, a estru-tura técnica de monitoramento da SEAP/PE torna-se imprescindível para o bom an-damento e alcance do Pescando Letras e suarepercussão no desenvolvimento local.

b) Projeto Maré – o Telecentro da Pesca

A SEAP/PR criou o projeto Maré – oTelecentro da Pesca, que tem por objetivo “ca-pacitar comunidades pesqueiras no uso dastecnologias de informação e comunicaçãocom vistas a potencializar a organização decolônias e associações e sua inserção no mun-do digital, democratizando o acesso à infor-mação com a utilização de software livre.”(MARÉ - O TELECENTRO DA PESCA,2003, p. 1).

O projeto faz parte do Programa deInclusão Digital do Governo Federal e é via-bilizado por meio de parcerias entre o Ban-co do Brasil, que cede os computadores, e aequipe técnica para a instalação dos equipa-mentos; o Ministério das Comunicações rea-liza a conexão à Internet e o Ministério doPlanejamento, Orçamento e Gestão oferecesuporte técnico e administrativo ao Conse-lho Executivo do Governo Eletrônico (BRA-SIL, 2004, p. 4-5).

A SEAP/PR tem papel fundamentalnessa parceria, a ela cabe coordenar, medi-ante a Gerência de Extensão, o controle do

funcionamento dos telecentros, em contatodireto com as gerências regionais, escritóriosestaduais e Conselho Gestor da SEAP/PR(BRASIL, 2004).

A proposta de inserção do pescador nouniverso da informática caminha na pers-pectiva do desenvolvimento local, por meiodo fortalecimento do capital humano, comodiz Franco, “é preciso aumentar os graus deacesso das pessoas não apenas à renda, mastambém à riqueza, ao conhecimento e aopoder ou à capacidade e à possibilidade deinfluir nas decisões públicas.” (FRANCO,2001, p.36-37).

Na perspectiva das exigências do mer-cado global, o Maré – o Telecentro da Pescabusca inserir o pescador no mundo digital.Para isso, a SEAP/PR tem por meta a im-plantação de vinte telecentros em comuni-dades pesqueiras artesanais do Brasil, e as-sim democratizar o acesso à comunicação eà informação (BRASIL, 2004).

Dentro dessa meta, encontra-se con-templado o estado de Pernambuco, maisprecisamente a Colônia de Pescadores Z-13,do município de Jatobá, próximo ao Lago deItaparica. A ação aqui conveniada partiu deum acordo com a SEAP/PE, mediante soli-citação da Colônia Z-13, e a Prefeitura deJatobá. Esta reformou a sede da Colônia paraa execução do Projeto. Mas, até o presentemomento, o Telecentro ainda não se encon-tra em funcionamento.

Apesar de o lançamento do Projeto tercontado com a presença do Ministro da Pes-ca, na época, o Telecentro parece que se es-vaiu na burocracia. A Colônia e a Prefeituranão compreendem o porquê de o Telecentronão estar funcionando. De acordo com asinformações prestadas por técnicos daSEAP-PE, apesar de as entidades terem cum-prido as exigências legais do convênio, háproblemas de natureza técnica e operacionalpor parte da SEAP-PE que impedem o an-damento do Projeto. Isso pode ser observa-do pelo depoimento abaixo:

Eles (os parceiros) preparam todas as banca-das para colocar os computadores (...) já vaicompletar dois anos e até agora eu não con-segui levar esses computadores para pôr emfuncionamento o projeto (Técnico, SEAP/PE).

Os motivos que dificultam a realiza-ção do projeto Maré – o Telecentro da Pesca

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estão envolvidos, possivelmente, nos mes-mos dilemas de estruturas precariamentedefinidas e engessadas pela burocracia pú-blica e o mau planejamento. Somado a essarealidade, a SEAP-PE, apesar do empenhodos seus técnicos, conta com a insuficiênciaoperacional e pessoal para promover umbom andamento das ações dessa Secretaria.

O resultado desse descompasso só con-tribui para a perpetuação de projetos tipo“virtuais”, aqueles que ninguém vê concre-tizados, mas encontram-se estampados naspáginas do site da instituição.

Assim, quando comparamos as açõesde inclusão digital promovidas pelo GovernoFederal com o Maré – o Telecentro da Pescaobservamos o quanto esse Projeto está atra-sado em suas ações nas comunidades pes-queiras no estado de Pernambuco. Essa si-tuação, somada à deficiência de infra-estru-tura e de pessoal tem mostrado que a SEAP/PE ainda precisa aperfeiçoar internamenteações operacionais de sua organização. Nosentido de viabilizar o andamento do Tele-centro da Pesca nas comunidades parceiras.

c) Programa Feira do Peixe

Facilitar o acesso aos produtos oriun-dos da atividade pesqueira e aqüícola é umaestratégia que a SEAP/PR vem desenvolven-do na perspectiva de melhorar a comerciali-zação direta dos produtos da pesca artesa-nal. O Programa também busca diminuir aatuação dos intermediários na cadeia produ-tiva, permitindo o barateamento do pesca-do ao consumidor final e, conseqüentemen-te, possibilitar uma maior rentabilidade paraos pescadores artesanais (BRASIL, 2005c).

O público-alvo do Programa Feira doPeixe são os pescadores artesanais e aqüicul-tores familiares, enquadrados nos grupos Aao D do Pronaf, como também as comuni-dades extrativistas, que residem em barra-gens, quilombolas, trabalhadores rurais sem-terra, entre outros.

O Programa foi lançado em maio de2005, e inclui, conforme interesse dos bene-ficiários, o Kit Peixe Vivo e Kit Peixe Fresco,assim denominados: Kit Peixe Vivo é forma-do por estrutura metálica desmontável,puçá, tanque desmontável de mil litros,soprador, balcão para manuseio, caixas

isotérmicas, bombonas com tampa para de-gelo e resíduos, balança eletrônica, avental,luvas e facas, e o Kit Peixe Fresco é formadopor estrutura metálica desmontável, balcãopara exposição e manuseio, caixas isotér-micas, bombonas com tampa para degelo eresíduos, balança eletrônica, avental, luvase facas. Serão distribuídos 1.200 kits, dividi-dos em três etapas, para organizações dospescadores e aqüicultores familiares(CONAPE, 2005, p. 2).

A proposta desenvolvida pelo Progra-ma Feira do Peixe, como vimos acima, é umaestratégia de Extensão Pesqueira, que visa aaproximar os produtos da pesca da mesa doconsumidor. A facilidade de locomoção doKit permite aos pescadores identificar osmelhores pontos de venda e melhorar a co-mercialização dos seus produtos, conseqüen-temente a renda familiar.

Assim como todos os outros projetos eprogramas da SEAP/PR, o acesso ao Feirado Peixe se dá mediante encaminhamentode proposta para os escritórios estaduais daSEAP/PR ou para a Companhia Nacionalde Abastecimento (CONAB). Essas organi-zações vão apreciar e julgar as referidas pro-postas (BRASIL, 2005d).

A partir dessa seleção, o estado de Per-nambuco foi beneficiado com três Kits Feira.Foram selecionadas, de acordo com infor-mação prestada pela SEAP/PR a Colônia dePescadores Z-16 do município de Ibimirim;Colônia de Pescadores Z-19 do município deSanta Maria da Boa Vista; e a Associação dosPescadores da Barragem de Tapacurá, domunicípio de Moreno (BRASIL, 2005c, p. 1).

É importante destacar que, durante olevantamento de dados desta pesquisa, iden-tificamos que apenas as duas primeiras Co-lônias, acima citadas, receberam os seus Kits.Portanto, não foi possível, neste estudo,analisar o desempenho do Programa tendoem vista o curto espaço de tempo de sua im-plantação.

Nesse sentido, o Programa Feira do Pei-xe incentiva o trabalho em grupo, agregavalor aos produtos da pesca, minimiza a açãode atravessadores, tende a fortalecer cadavez mais o associativismo para enfrentar osentraves da comercialização. Portanto, é pormeio de ações como essa que se empoderamos grupos organizados na perspectiva do

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combate à pobreza das comunidades pes-queiras no âmbito do desenvolvimento local.

Pensando assim, a SEAP/PR promo-veu a abertura de novas inscrições para oPrograma Feira do Peixe. No estado de Per-nambuco, inscreveram-se sete organizaçõesde pescadores, aguardando serem contem-pladas em 2007.

É nessa perspectiva que a articulaçãomediada pela SEAP-PE, por meio da Ex-tensão Pesqueira, busca identificar os pro-gramas nacionais a fim de se articular comas demandas dos pescadores e dos demaisparceiros. Assim, a SEAP/PR demonstraclaramente que abandona o caráter de umEstado provedor e passa a promover açõesde Extensão Pesqueira dentro de umaperspectiva de um Estado indutor do desen-volvimento.

d) Programa Peixe nos Mercados

Na mesma perspectiva do ProgramaFeira do Peixe, a SEAP/PR promoveu o Pro-grama Peixe nos Mercados. De acordo com aSEAP/PR, o Programa visa a oferecer umamelhor estrutura de trabalho para o comer-ciante, mediante a recuperação dos pontosde comercialização, no sentido de melhoraro aproveitamento do produto, diminuindoo custo e possibilitando uma boa oferta depreço ao consumidor final (BRASIL, 2005c).

O Programa Peixe nos Mercados foi in-troduzido no estado de Pernambuco em con-vênio com a Prefeitura do Recife e teve porobjetivo recuperar o ambiente de comercia-lização de pescado dos Mercados de São José,da Encruzilhada e de Afogados. Para cadauma das 30 bancas do Mercado São José, aSEAP/PE disponibilizou um freezer, umabalança eletrônica, serra elétrica e lâmpadasmata-moscas. A rede elétrica e o piso foramrecuperados, e realizou-se programa de ca-pacitação dos comerciantes e atendentespara a manipulação e conservação do pes-cado (BRASIL, 2005c).

Como os demais projetos da SecretariaEspecial de Aqüicultura e Pesca, o ProgramaPeixe nos Mercados é resultado de articula-ções com instituições governamentais e não-governamentais, via escritórios estaduais daSEAP/PR. É dessa forma que a SEAP/PRbusca o estabelecimento de parcerias para

viabilizar a comercialização do pescado, naperspectiva do fortalecimento do escoamen-to da produção pesqueira artesanal.

Entretanto, o andamento do ProgramaPeixe nos Mercados, em Pernambuco, possuialgumas ações que ainda estão caminhandonum ritmo lento, em virtude das incipientescondições de apoio da SEAP/PE.

As dificuldades dos beneficiários doPrograma Peixe nos Mercados quanto à arti-culação com as empresas responsáveis pe-los equipamentos é uma grande inquietação.Esse fato sugere a preocupação da SEAP/PE e dos parceiros envolvidos com o lança-mento do Programa, mas não com a suaoperacionalização e monitoramento.

Em visita realizada aos Mercados deSão José, da Encruzilhada e de Afogados,constatamos que as obras conveniadas nãoforam ainda concluídas. O piso, a rede elé-trica e a qualificação dos comerciantes eatendentes para a manipulação e conserva-ção do pescado ainda não foram realizadas.As condições de higiene desses mercados nãocompactuam com a proposta do Programaem “oferecer uma melhor estrutura de tra-balho e permitir que os comerciantes possamoferecer à população um produto de quali-dade.” (BRASIL, 2005c, p. 1).

Assim, como estratégia de ExtensãoPesqueira, o Programa Peixe nos Mercadosatinge um universo de comerciantes bastan-te limitado em Pernambuco, o que remete àSEAP/PE planejar estrategicamente seusinvestimentos, mediante ações distribuídasao longo de toda a região pernambucana.

Por isso, no momento em que há recur-sos para se realizar uma ação substancial emnível do Estado, dentro de uma perspectivado desenvolvimento local, a Extensão Pes-queira da SEAP/PE precisa compreender queo não-cumprimento desses convênios já fir-mados e não concluídos desmobiliza e en-fraquece os movimentos populares, que seorganizam em torno dos projetos e progra-mas dessa Secretaria. Assim, não se pode, nemse deve conveniar um projeto para uma or-ganização e deixar que a mesma fique, todaa gestão do governo, aguardando a conclu-são dos convênios que nunca chegam. É pre-ciso monitorar e potencializar as intervençõesde Extensão Pesqueira focando, as regiões doestado de Pernambuco, possibilitando o for-

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talecimento estratégico da pesca para o de-senvolvimento das potencialidades locais.

e) Projeto Valorização e Recadastramentodo Pescador Profissional

De acordo com a SEAP/PR, esse pro-jeto tem por objetivo recadastrar todos ospescadores já inscritos no Registro Geral daPesca (RGP), com vistas a inserir esses pro-fissionais nos benefícios sociais conquistadospela categoria (BRASIL, 2005d).

Para desenvolver o projeto derecadastramento, a SEAP/PR utilizou crité-rios de identificação já utilizados por insti-tuições públicas e representativas da cate-goria, ou seja: “todo pescador profissional(aquele que faz da pesca sua profissão oumeio principal de vida) que já foi inscritojunto ao Registro Geral da Pesca, seja juntoà SEAP/PR ou aos órgãos anteriormenteresponsáveis SUDEPE, IBAMA e MAPA”(BRASIL, 2005d, p. 1).

A importância do recadastramentocomo iniciativa para fortalecer, valorizar ospescadores e balizar as políticas da SEAP/PR é uma ação bem-vinda pelo setor pesquei-ro e uma atividade essencial para promoverações direcionadas à pesca. Sobre esse Pro-jeto, vejamos o seguinte comentário:

É com isso (o recadastramento) que o gover-no pode ajudar a quem de direito. O pesca-dor não pode mais deixar que gente que nãoé pescador possa ter direito do que não é(pescador) (Pescadora, Barra de Catuama,Goiana).

Conforme informações prestadas pelotécnico da SEAP-PE, a referida ação foi de-senvolvida mediante a contratação de umaEmpresa, tendo a mesma iniciado o contra-to em 6 de maio de 2005, com prazo de con-clusão até 31 de dezembro de 2005, mas, atéa presente data (início de novembro de 2006)o mesmo não foi concluído.

O caminho para a realização dorecadastramento, utilizado pela SEAP/PR,não foi a melhor alternativa dessa ação noEstado de Pernambuco. Entretanto, apesarda discordância sobre o modelo derecadastramento adotado, a SEAP-PE, se-guiu os procedimentos determinados.

As opiniões formuladas por alguns pes-cadores quanto ao recadastramento realça-

ram a importância dessa ação, mas revela-ram, por seu turno, um certo desapontamentoem relação aos resultados. Isso se deveu, prin-cipalmente, às dificuldades enfrentadas parareceber a documentação que permite o exer-cício das atividades pesqueiras. Dizem eles:

A gente depende da SEAP/PE daqui parafazer a documentação dos pescadores. Paratirar esse protocolo, para tirar carteira depesca artesanal que é dada pela SEAP/PE.O que a SEAP representa pra gente é só isso.Mas, mesmo assim, até aqui, só fez orecadastramento e as carteiras, até agora, nãochegaram. Inclusive, fui a SEAP/PE (...) (Pes-cador, Pina, Recife).

Assim, a centralização da SEAP/PEsobre a emissão do Registro Geral da Pescatem diminuído, consideravelmente, o papeldas representações da categoria de pescado-res no que diz respeito à identificação dospescadores nas comunidades pesqueiras.Dessa forma, se, por um lado, o recadas-tramento é um instrumento que fortalece aação da Extensão Pesqueira como estratégiapara o desenvolvimento local, por outro, teminquietado alguns representantes de Colô-nias, do ponto de vista político.

Passados praticamente quase doisanos, para a conclusão dos resultados, aSEAP/PR não conseguiu divulgar informa-ções substanciais que permitam caracterizara pesca no estado de Pernambuco de ma-neira que oriente ações para o setor pesquei-ro na perspectiva de desenvolvimento local.

f) Programa Nacional de Fortalecimento àAgricultura Familiar

O Programa Nacional de Fortalecimentoà Agricultura Familiar (Pronaf) foi criado a par-tir da reformulação na política agrícola nacio-nal, no primeiro governo Fernando HenriqueCardoso (MATTEI, 2001). De acordo com oManual de Operações do Pronaf, segundoMattei (2001, p. 3), o objetivo geral desse Pro-grama é “propiciar condições para aumentara capacidade produtiva, a geração de empre-go e de renda de tal forma a melhorar a qua-lidade de vida dos agricultores familiares.”

Com a criação da (SEAP/PR), em2003, as ações do Pronaf procuram atenderoutros públicos e cria o Pronaf-Pesca parapescadores, aqüicultores e suas organiza-

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ções. Esse programa financia projetos de in-fra-estrutura e produção, apetrechos de pes-ca, embarcações, motores, freezeres, câmarasfrigoríficas, balanças, caixas térmicas, entreoutros, bem como a capacitação de pesca-dores artesanais e obedece aos grupos A, B,C e D (BRASIL, s.d., p. 3).

O enquadramento a essas linhas de fi-nanciamento não difere em nada dos procedi-mentos utilizados para financiamento doPronaf, antes da criação da SEAP/PR. A in-tenção da SEAP/PR, quando direcionou a po-lítica de financiamento para a categoria deaqüicultores e pescadores, era a de facilitar oacesso ao crédito, mediante a desburocrati-zação desses financiamentos. Até o presentemomento, não houve alterações nas exigên-cias de acesso ao crédito. O que se realizoufoi apenas a caracterização do referido finan-ciamento ao possível beneficiário, pescadorou aqüicultor, dando-lhe nome: Pronaf Pesca!

Esses depoimentos dão sinais de queos pescadores estão insatisfeitos com a polí-tica do Pronaf Pesca. A burocracia e o valordo recurso não permitem que se vislumbreuma melhoria qualitativa desse público naatividade pesqueira. As dificuldades em aces-sar as linhas do Pronaf Pesca, de maior va-lor financiado, são o maior empecilho encon-trado pelo pescador ou aqüicultor.

Assim, por mais que a SEAP/PR se pre-ocupe em melhorar o acesso dos pescadores eaqüicultores aos financiamentos por meio doPronaf Pesca, na realidade, a julgar pelos de-poimentos acima registrados, ainda é pequenoo número de beneficiários nos grupos C e D.Nesse sentido, parece necessário aprofundara discussão sobre a dinâmica da atividade pes-queira e suas particularidades, para que o pes-cador vislumbre, realmente, o acesso adequa-do ao crédito de acordo com a sua realidadelocal. Acreditamos, por outro lado, que oacompanhamento dos beneficiários do crédi-to pela Extensão Pesqueira, promoverá entreeles discussões sobre o Pronaf e sua repercus-são, negativa ou positiva, na pesca artesanal.

Considerações finais

Observamos que a política pública deExtensão Pesqueira da Secretaria Especial deAqüicultura e Pesca da Presidência da Repú-blica (SEAP/PR) teve suas diretrizes básicas

construídas com vários atores sociais ligadosao setor pesqueiro. Isso ficou evidenciadocom a participação democrática dos segmen-tos que compõem a pesca e aqüicultura noseventos realizados pela Secretaria. Entre eles,os encontros estaduais e as conferências eseminários de aqüicultura e pesca.

Assim, pudemos inferir que a Exten-são Pesqueira proposta pela SEAP/PR sediferencia das políticas levadas no passadopela Superintendência do Desenvolvimentoda Pesca (SUDEPE). Assinalamos, ainda,mediante literatura consultada, como, sedesenvolveu historicamente a participaçãodos pescadores e pescadoras na construçãodas políticas de Extensão Pesqueira.

Por outro lado, verificamos que aSEAP/PR ao soerguer o serviço público deExtensão Pesqueira nacional, incorporou - aoseu discurso e às suas práticas - a perspecti-va do desenvolvimento local como condiçãofundamental à emancipação dos contextossociais pesqueiros. Inferimos que a SEAP/PR, ao optar pelo desenvolvimento local, co-mo estratégia socioeconômica e política, reve-lou o quanto está comprometida com a con-cepção do Estado indutor do desenvolvimen-to. Esse aspecto é observado, principalmente,quando se abrem editais para “terceirizar”os seus serviços extensionistas, como obser-vamos na maioria dos projetos analisadosneste trabalho, ou seja, o Estado passa a divi-dir as responsabilidades das ações públicas,no caso de Extensão Pesqueira, com organi-zações governamentais, estaduais e munici-pais, e organizações de caráter não-governa-mental. Esse cenário extensionista atual temno empoderamento dos pescadores e pesca-doras, bem como no desenvolvimento do seucapital humano, o foco das suas atençõespara instaurar processos de desenvolvimen-to local. Aspectos esses presentes nos pro-gramas e projetos analisados.

Portanto, a Extensão Pesqueira daSEAP/PR distingue-se do difusionismo tec-nológico do passado, e procura cumprir asdiretrizes da Política Nacional de AssistênciaTécnica e Extensão Rural (PNATER), do Mi-nistério de Desenvolvimento Agrário (MDA).

No que tange às abordagens metodo-lógicas dos projetos de Extensão Pesqueiraanalisados, verificamos que todos eles cami-nham na perspectiva das diretrizes do Pro-

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grama Nacional de Extensão Pesqueira eAqüícola promovida pela SEAP/PR. Portan-to, têm como foco das suas preocupações odesenvolvimento local. Entretanto, observa-mos que as ações desses projetos são pordemais pontuais para dar conta da comple-xidade atual do setor pesqueiro pernambu-cano. Além disso, eles não contemplam apesca artesanal litorânea do ponto de vistade assistência técnica especializada.

Assim, para operacionalizar a Exten-são Pesqueira em Pernambuco, a SEAP-PRprecisa visualizar o Estado como um todo, enão apenas privilegiar ações de Extensão Pes-queira para pescadores de águas interiores.Além disso, numa perspectiva de ExtensãoPesqueira pela via do desenvolvimento lo-cal, há que se considerar as variadas possi-bilidades de articulação com outros projetosestruturadores locais, não apenas no campoda pesca, mas, também, com outros setoresprodutivos ou potencialmente produtivos.

Referências

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La Havane et la Ville de Mexico: une métropolisation par le patrimoineHavana e a Cidade do México: uma metropolização através do patrimônio

La Habana and Mexico City: metropolization through heritageLa Habana y la Ciudad de Mexico: una metropolizacion por medio del patrimonio

Pierre-M. Le Bel*Felipe De Alba**

Luzma Fabiola Nava***

Recebido em 20/3/2007; revisado e aprovado em10/9/2007; aceito em 20/12/2007.

Résumé: Les études sur le phénomène de la métropolisation portent surtout sur les très grandes agglomérationsurbaines des pays les plus « développés ». Cet article démontre qu’il est aussi possible de voir ce phénomène à l’œuvredans une ville du « Sud », dans un « régime socialiste » de surcroît. En comparant les stratégies de développement etd’aménagement territorial basées sur des formes de holding des villes de Mexico et de La Havane, nous démontronscomment la réhabilitation patrimoniale joue un rôle dans la stratégie globale de la capitale mexicaine et comment elleest le moyen pour la ville cubaine de participer au réseau des villes mondiales.Mots-clés: La Havane. Patrimoine. Métropolisation.Resumo: Os estudos sobre o fenômeno de metropolização aplicam-se, sobretudo, às grandes aglomerações do norte.Este artigo demonstra que é também possível ver este fenômeno numa cidade do sul, mesmo sendo num “regimesocialista”. Comparando as estratégias de reabilitação patrimonial de Havana e da Cidade do México, demonstramosque o patrimônio é o principal meio pelo qual Havana participa na rede das cidades mundiais.Palavras-chave: Havana. Patrimônio. Metropolização.

Abstract: The studies on the phenomenon of metropolisation relate especially to the very great urban centres of themore “developed” countries. This article shows that it is also possible to see this phenomenon at work in a city of the“South”, which is in addition in a “socialist” context. By comparing the strategies of development and territorialmanagement based on business holdings of the City of Mexico and Havana, we show how the patrimonial rehabilitationplays a part in the wider strategy of the Mexican capital and how it is the main way for the cuban city to participateto the network of world cities.Key words: Havana. Patrimony. Metropolization.Resumen: Los estudios sobre el fenómeno de la metropolización se focalizan sobre todo en las grandes ciudades depaíses del Norte. Este artículo demuestra que es posible pensar este fenómeno en una ciudad del “Sur”, en un régimenautollamado socialista. Comparando las estrategias de desarrollo y planificación territorial basadas sobre la idea de“centros de negocios” de la ciudad de México y la Habana, demostramos cómo la rehabilitación patrimonial juega unrol en la estrategia global de la capital mexicana y como elle es el medio para la ciudad cubana de integrarse a la redde ciudades mundiales.Palabras clave: La Habana. Patrimonio. Metropolización.

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* Univ. d’Ottawa. [email protected].** Univ. de Montreal. [email protected].*** Univ. du Québec à Montréal. [email protected]

Introduction1

À la fois cause et effet de lamondialisation, le phénomène de lamétropolisation à l’échelle planétaire consti-tue un processus de grande importance pourles sociétés contemporaines (DE ALBA etJOUVE, 2005). La métropolisation est liée audéveloppement des nouvelles technologies del’information et des transports qui a permis dere-territorialiser les pratiques quotidiennes deshabitants des plus grandes agglomérationsurbaines, des entreprises et desgouvernements. Le quartier perd ainsi du

terrain en matière d’unité de base de laquotidienneté en faveur de la régionmétropolitaine (ASHER, 1998). On assiste àune dilatation de la zone métropolitaine, à unefragmentation des zones de bâti et audéveloppement d’agglomérations urbainespolycentriques. Dans ces centres multipliés ausein d’une même ville sont concentrées lespopulations les plus qualifiées. Cesphénomènes s’accompagnent d’unepolarisation commerciale de la zonemétropolisée. Les entreprises sont attirées parles centres parce qu’il est plus facile pour ellesd’y trouver des gens qualifiés et des

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fournisseurs de services - sous-traitants(ASHER, 1995; VELTZ, 2000; SASSEN, 1996;2002). Toute cette dynamique est d’abordpossible grâce à la mise en réseau des villes.C’est le réseautage qui permet la re-territorialisation. Selon nous, lamétropolisation est donc d’abord, au sens leplus fondamental, le phénomène par lequelune ville participe au réseau des villes. Cetteparticipation s’inscrit plus à l’intérieur d’uncontinuum que par sa présence ou sonabsence. Une des conditions premières àl’atteinte du statut de ville métropolisée est sonintégration aux flux globaux qui à la foisstructurent et favorisent le capitalisme avancé- finances, activités économiquesd’intermédiation, recherche etdéveloppement, etc.2 (PIERRE et PETERS,2000). Par la métropolisation, on assiste à unenouvelle polarisation du système mondial quiest de moins en moins régi par l’État, quiagissait auparavant comme le principal espa-ce de régulation économique (TAYLOR, 1995).

Cette modification de nos référencesgéopolitiques et l’éclosion des métropolesglobales avaient fait l’objet d’importantesdiscussions principalement au sujet des villesde pays dits développés (SASSEN, 1996; DEALBA et JOUVE, 2006). Jusqu’à il y aquelques années, l’insertion des villes des paysen développement dans les flux globaux dela nouvelle économie a été sous-estimée et sonétude négligée. Nous constatons unoubli similaire des villes de pays qui ont étépendant des décennies sous l’égide degouvernements d’orientations dites socialistes.La situation a aujourd’hui changé. Il s’estproduit une libéralisation des villes de « l’Est »et une intégration des villes du « Sud » auphénomène connu comme mondialisation,processus qui a suscité un débat sur lesrelations d’interdépendance qui liaient cesvilles, ou métropoles selon le cas, avec leurfondement qu’on croyait jusqu’à il n’y a passi longtemps naturel : le territoire national(BELLEY, 2002 ; DE ALBA et JOUVE, 2006).

Dans cet article, nous analysons le casde la ville de La Havane et montronscomment elle peut prétendre participer auréseau des villes métropolisées, pourvu quedans la mesure où l’on veut bien centrerl’analyse sur autres choses que des fluxglobaux d’investissements ou des recherches

en biotechnologie. Nous avons recours, pource faire, à une explication du processus deréhabilitation patrimoniale à La Havane etfaisons une comparaison rapide et inéditeentre la stratégie havanaise et celle de la villede Mexico en la matière.

La Havane Métropolisée?3

À première vue, il peut semblersurprenant de parler de métropolisation pourqualifier le processus auquel participe lacapitale cubaine. La Havane n’a pasl’envergure démographique de Mexico, ni sapuissance économique. Pourtant, la ville dedeux millions d’habitants participe bel et bienau réseau des villes mondiales. Il importecependant de bien faire ressortir les modalitésde cette participation puisqu’on ne parleraévidemment pas dans ce cas de fonctions decommandes financières mondiales.

Sur le plan national, il ne fait aucundoute que l’agglomération urbaine constituéepar les 15 municipalités rassemblées dans laprovince de La Havane constitue l’ensemblemétropolitain le plus important du pays. SiSantiago fut d’abord le centre administratifet culturel de l’île, la localisation stratégiquede La Havane en fit rapidement un sited’importance. Déjà en 1950, la primauté dela Havane à Cuba est indiscutable et celle-cise compare aux autres métropoles latino-américaines. À cette époque, La Havane estsix fois plus grosse que Santiago de Cuba.Plus d’importations et d’exportationstransitent par son port, plus de gens y viventet y migrent, elle participe davantage au PIBet concentre plus d’emplois (SCARPACCI etal. 2002). Le poids démographique de lamétropole cubaine dans son territoirenational, 21% en 1953, est comparable avecceux de Buenos Aires (29,1%) ou Santiagode Chile (25,4%) alors que Mexico ne con-centre à cette époque que 12,2% de lapopulation nationale et que Lima n’en a que10,4% (UNU, 2004). La Havane est à cetteépoque un centre culturel comparable àMexico ou Buenos Aires. On y produit desradio-romans qui sont diffusés partout enAmérique latine, on exporte sa musiquejusque dans les cabarets de New York. Déjà,la Vieille Havane est un lieu de rencontrepour les habitants et d’exploration pour les

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touristes. Comme bien des capitales latino-américaines, La Havane a bénéficié desgouvernements fortement centralisés audétriment de la campagne.

La révolution a rapidement changé leschoses. Le développement des capitalesprovinciales et des campagnes a pris le passur celui de la capitale nationale. Même si LaHavane est restée le cœur économique dupays et son agglomération de loin la pluspopuleuse, son développement urbanistiqueet social fut pour le moins mitigé, notammentdans la municipalité de La Vieille Havane.Cette dernière devint un des lieux les plussocialement défavorisés de l’île, la mortalitéinfantile y était plus haute que partout ailleursdans l’agglomération, ses infrastructuresétaient fortement déficientes, voiredangereuse dans le cas du bâti résidentiel. En1991, la fin du bloc soviétique, les pressionséconomiques vécues au niveau national sesont ajoutées à la détérioration de lamunicipalité. Le gouvernement cubain pritalors la décision d’axer ses efforts dedéveloppement autour du tourisme. La VieilleHavane avait non seulement besoind’intervention urgente, elle était également unlieu patrimonial à la valeur reconnuepuisqu’elle était entrée au patrimoine mondialde l’UNESCO en 1982. En restaurant lequartier, l’État attirerait des capitaux et lamunicipalité sortirait de son marasme.

En 1993, le Conseil d’État donne auBureau de l’Historien de la Ville de LaHavane4 le pouvoir de créer ses propresentreprises, de lever des impôts sur lesentreprises qui tirent leur profit de sonterritoire et de conclure des accords avec despartenaires étrangers. Cet acteur auxpouvoirs considérablement augmentés prendalors place dans un espace autrefois occupépar d’autres instances politiques. D’une part,non seulement le gouvernement provincial quiest habituellement maître dans le secteurtouristique perdait son pouvoir sur la capitaleen ce domaine, mais il fut aussi bien vitedevant un partenaire qui avait des moyensfinanciers plus importants que les siens(puisque, entre autres, le Bureau faisait affairesen dollars US et non en pesos cubains).D’autre part, la municipalité perdait lepouvoir effectif sur le construit à haute valeurpatrimoniale, soit plusieurs centaines de

bâtiments et des places publiques. Enfin leministère du tourisme, normalement seulhabilité à établir des joint ventures dans cesecteur, avait dorénavant un compétiteur.Aujourd’hui, toutes ces instances sont réuniesen un Grupo de control, une structure deconcertation qui dirige le développement ter-ritorial de la Vieille Havane. À cette structuresont étroitement associés les ConseilsPopulaires (CP), des instances locales crééesen 1976 qui sont composées de déléguésmunicipaux et provinciaux, de membresd’organisations de masse ou de simplescitoyens. Les CP servent « au contrôle desservices et à la mobilisation des ressources dansdes aires géographiques spécifiques » (DILLAet OXHORN, 2002). Les Conseils populairessemblent en être venus à tenir le rôled’intermédiaires entre le Bureau del’Historien, la municipalité et les citoyens.

L’Historien de la ville de la Havane,c’est aussi un individu en chair et en os. Ils’agit d’Eusebio Leal Spengler, entre autresconnu pour avoir assumé publiquement saconfession catholique alors qu’il est déléguéà l’Assemblée nationale. Il possède unerenommée mondiale, mise à profit dans larestauration d’autres centres historiquescomme celui de Mexico mais aussi de Quito,en Équateur. Ami personnel de Fidel Cas-tro, la forte personnalité de l’historien et sonprojet de réhabilitation attirent les appuis del’étranger autant qu’à Cuba.

Le travail accompli par le Bureau del’Historien depuis plus de 13 ans estexceptionnel. Les profits tirés du tourisme etdes impôts sont redistribués de la façonsuivante : 45% sont réinvestis dans lepatrimoine et les infrastructures touristiques,35 % sont destinés aux œuvres sociales et 20%sont versés au gouvernement central. Leschangements sont perceptibles ailleurs quedans le domaine architectural, en lui-mêmespectaculaire. Des écoles, cliniques, salessportives, programmes de sensibilisation ensanté et en patrimoine ont été mis en place.La population de la municipalité est passéede 71 000 en 1995 à 66 000 en 2001 (OFICI-NA NACIONAL de ESTADISTICAS, 2002),ce qui reflète le travail du Bureau en matièrede tertiarisation, essentielle à la stimulationéconomique et à la sécurité des infrastructures.Les conditions sanitaires des logements

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s’améliorent également. Le Bureau del’Historien, avec ses 10 000 employés, estl’employeur le plus important de lamunicipalité.

La réhabilitation patrimoniale,stimulée par cet acteur puissant, estégalement le cadre de nouveaux et nombreuxliens avec des acteurs étrangers. D’abordl’UNESCO, qui dans un premier temps aattribué le label de Patrimoine de l’Humanitéau centre historique, mais aussil’Organisation des villes du patrimoinemondial. Le PNUD est l’instance onusiennela plus impliquée. Il gère la coopérationdécentralisée qui n’implique aucungouvernements centraux mais plutôt desONG, des universités ou des municipalités,surtout européennes. Plusieurs dizainesd’ONG et d’organismes gouvernementauxde développement font aussi affaire à laVieille Havane indépendamment du PNUD.

La façon de faire le développement so-cial en passant par le secteur touristique apour conséquence qu’il faut d’abord restaurerles zones à haute valeur patrimoniale afind’attirer les touristes et leurs dollars. En outre,l’acteur le plus puissant économiquement estle Bureau de l’Historien dont les pouvoirs nes’appliquent qu’aux édifices patrimoniaux.Les ONG, entreprises étrangères, etgouvernements ont plus tendance à investirsur son territoire parce que ses pouvoirséconomique et politique donnent plus dechances de réussite à leurs projets. Ainsi lessecteurs les moins pourvus en patrimoinebénéficient le moins de la stratégie et ce, peuimporte les divisions administratives. Ne peut-on pas y voir l’ébauche d’un morcellementde l’espace urbain calqué sur le modèle desvilles métropolisées ?

La coopération décentralisée entre deslocalités européennes et le centre historiqueparticipe à l’affaiblissement du rôle de l’Étatdans le développement local. Cet affaiblis-sement existe à Cuba comme dans le mondecapitaliste et, comme ailleurs, il n’est paségalement réparti. Il existe d’autres Bureauxde l’Historien ailleurs à Cuba qui n’ont pasdes pouvoirs aussi importants. À Cuba, LaHavane est la seule agglomération urbainepesant suffisamment lourd pour prétendreà un rôle métropolitain. C’est non seulementlà que passe la majeure partie du tourisme,

mais c’est aussi dans la capitale que résidentla plupart des citoyens ayant de la famille àl’étranger, qui peuvent donc participer auréseau des remesas (envois d’argent par ladiaspora cubaine). Cette décentralisationdevient plus révélatrice si l’on prend enconsidération que le tourisme, le patrimoineet l’aide internationale sont parmi les raressecteurs pour lesquels l’île des Caraïbespossède des relations avec l’étranger, parti-culièrement avec les pays du « Nord ». Mêmedes échanges commerciaux ténus ne signi-fient pas une indépendance face à la mondia-lisation de l’économie. Le recul momentanédu tourisme après le 11 septembre 2001, lafluctuation des travaux suivant les mesureshumanitaires de la Communautéeuropéenne tout comme le développementéconomique et social de la Vieille Havanesont des conséquences de la connectivité decette dernière au reste du monde.

À la Havane comme à Mexico?

Dans le but d’élargir la réflexion sansprétendre l’épuiser, arrêtons-nousmaintenant au cas du centre historique dela ville de Mexico. La capitale du Mexiqueparticipe pleinement au processus demondialisation, processus qui conduit à uneaccélération et à une intensification de seséchanges avec certaines villes entre lesquellesil existe une hiérarchie claire (SASSEN,2002). Quatrième mégalopole du monde,avec 22 millions d’habitants, elle se présentecomme un cas de « macrocéphalie urbaine »typique des pays latino-américains(SEMMOUD, 2001). Cette métropoledispose de plus du 20% de la populationnationale et contribue à 30% du PIB nationalmexicain (DE ALBA, 2005). Tant par lesressources concentrées sur son territoire quepar les dynamiques sociales et politiques quiy ont lieu, la métropole de Mexico a été lepôle stratégique du régime politiquemexicain. Par ailleurs, la ville de Mexico aété le principal laboratoire de transformationde l’État mexicain durant les vingt dernièresannées. Cette période s’est caractérisée parl’application d’un agenda néo-libéral. Elle aaussi été le cadre de la manifestation denouveaux acteurs politiques et sociaux quiont substantiellement modifié la scène

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politique nationale et locale. Mexico est à lafois le creuset et le laboratoire de cestransformations (DE ALBA, 2005).

La ville de Mexico et sa zonemétropolitaine sont un exemple del’explosion démographique qu’ont connuebon nombre de métropoles de l’Amériquelatine depuis cinquante ans (RODRÍGUEZet al. 1997; STREN, 2000; DE ALBA, 2005).Diverses variables historiques et structurellesont été combinées pour conduire à cettedynamique comme l’arrivée massive d’unepopulation rurale et indigène attirée parl’image du progrès et de justice sociale quele gouvernement fédéral a donnée à la ville(DAVIS, 1998). En effet, une desparticularités du régime politique résidaitdans le lien organique entre l’État fédéral,contrôlé par un parti politique dominant (lePRI) et la création, en 1928, du Districtfédéral. Jusqu’aux années soixante-dix, c’estMexico qui a le plus profité desinvestissements massifs provenant de l’Étatfédéral (ICAZURIAGA 1992). Cesinvestissements ont permis à ses habitantsde tirer bénéfice d’un niveau de vie stable etprospère, ainsi que d’une relative mobilitésociale. Progressivement, les investissementsindustriels de l’État mexicain ont étéréorientés vers le nord-ouest de la métropole,dépassant les limites de la ville. Au mêmemoment, les délégations du District fédéralet des communes de l’est et du sud-est de lamétropole ont reçu l’essentiel de l’exode ru-ral provenant du reste du pays. À partir desannées soixante-dix, l’investissementpolitique industriel de l’État mexicain destinéà la capitale a diminué alors que sapopulation augmentait fortement. Ceci aconduit à une forte polarisation sociospatialequi aura des conséquences très importantesdans l’organisation politique de la métropole.Si les décennies 1960-1970 ont été marquéespar une explosion démographique à l’échellede la métropole, les années 1980 secaractérisent par une diminution relative dupoids démographique du District fédéral parrapport à la croissance des communespériphériques (FAUNDEZ et al. 1997). Lacrise économique de 1982 et le séismedévastateur qui toucha la ville de Mexico en1985 ont impulsé un renforcement desgroupes communautaires et un virage néo-libéral qui a affaibli le gouvernement central.

Le centre historique de la ville deMexico (CHVM) a connu, au rythme de lacroissance métropolitaine, de multiplesphases, évolutions et bouleversements. LeCHVM, qui pendant des siècles avaitreprésenté le pilier politique, économique etreligieux du pays, a souffert d’une constantedétérioration. La dévastation est arrivée à unpoint tel qu’un tiers de sa population l’aabandonné (OSAVA, 2005). Aujourd’hui, leCHVM comme la Vieille Havane partagentdes problèmes propres aux grandes villes :détérioration des bâtiments historiques,marginalité des habitants, délinquance,croissance des réseaux de commerce informelde même que le manque de ressourcesbudgétaires pour alléger de tels maux.

C’est dans le contexte d’une rencontreentre les gouvernements fédéral et municipalet d’acteurs privés que fut créé en 2001 leConseil consultatif du Centre historique.Quelques personnes ont pris part à saformation, dont l’entrepreneur Carlos Slim,considéré comme l’homme le plus riche del’Amérique latine et président du Conseil.Selon lui, le Conseil consultatif a commeobjectifs la réhabilitation du centre historique,la diminution de l’extraction excessive del’eau, l’amélioration du niveau de vie deshabitants de cette zone et la stimulation del’économie (DE ALBA, 2005). À l’époque, lacréation de l’organisme a été vue comme uneoccasion d’attirer l’investissement privé dansle centre historique de la ville. La présenced’une telle personnalité du monde de lafinance légitime en partie les actions duConseil. Les deux paliers de gouvernementmunicipaux et fédéraux ont tous deux injectédes sommes totalisant près de 100M US, enpartie sous forme d’incitatifs fiscaux(GRAJEDA et RUIZ, 2003).

Le gouvernement mexicain a égalementcréé en 2003, la Société anonyme Centrehistorique qui, avec un capital initial qui étaitde 90,6 millions de dollars sur une période de2 ans, possédait déjà 66 monumentshistoriques. Cette société a été formée par troisgrands actionnaires : Immobilière Carso,Groupe Financier Inbursa et la Controladorade Servicios de Telecomunicaciones. La Sociétéest entrée à la Bourse mexicaine des valeursen 2003, ce qui illustre son orientationnéolibérale. La fondation Telmex, propriété

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de Carlos Slim, injecte massivement des fondsvers le développement social parl’intermédiaire de la Société anonyme Centrehistorique en mettant l’accent surtout surl’assistance médicale, la promotion del’emploi et l’appui aux handicapés. 10 000emplois directs auraient été créés par laréhabilitation du centre historique. De plus,le projet dépasse ce qui pourrait être considérécomme une série de mesures à caractère localpuisque le Slim est également l’instigateur duPromoteur pour le développement économique del’Amérique latine (IDEAL), dont l’objectif estde financer des projets d’infrastructureailleurs au sud du Rio Grande. Au-delà decette vision conquérante de la réhabilitationpatrimoniale, le Mexique reste un payspionnier et clé dans le processus derécupération de monuments historiques enAmérique latine5. Une si grande activité derestaurations de monuments historiques aexigé l’assistance de spécialistes nationaux etinternationaux, comme l’Historien de la villede La Havane, Eusebio Leal Splenger. .

Mexico et La Havane ont leursdifférences, soit, mais aussi de nombreuxéléments comparables. Les deux sont desvilles primatiales chez elles et sont aux prisesavec les problèmes liés à cette primauté.Chacune a un centre historique importantfaisant partie du patrimoine mondial del’UNESCO. Toutes deux y ont fait leur entréequelques temps avant d’entreprendre leursgrands projets de restauration. Le label depatrimoine mondial a joué un rôle importantdans les stratégies de marketing urbain desdeux agglomérations et cela a fortementcontribué à leur arrimage au réseau des villesmondiales. Les régimes politiques sontévidemment aux antipodes et les dimensionsdes villes, des nations sont sans communemesure, mais ce que nous avons essayé dedémontrer, c’est que les points communs sontsuffisamment nombreux pour poursuivreune discussion sur leurs façons de participerà la métropolisation. Nous avons porté notreattention sur leurs manières d’intégrer laréhabilitation patrimoniale à leur stratégiemétropolitaine et leur façon de la légitimer.

Les deux projets de réhabilitation decentre historique s’articulent autour degroupes d’acteurs où un personnage et soninstitution, non-étatique mais avec le souti-

en presque inconditionnel de l’État, occupela place de leader. À Mexico, Carlos Slim etla Sociedad del Centro Historico de la Ciudadde Mexico S.A. de C.V. ont assis leur légitimitésur la sécurité financière et budgétairequ’impliquait leur participation aux yeux del’État et de la population. La variété et lavigueur des entreprises sous la bannière deSlim constituaient une assurance que leprojet aboutirait à une réussite à la foissociale, patrimoniale et financière. En amontdu projet, ici comme à Cuba, des demandessociales en matière de logement, d’emploiset de distribution d’eau, pour ne mentionnerque celles-là, étaient mises de l’avant par lescitoyens et furent reprises par les entitésleader afin de légitimer leurs projets et, ducoup, offrir une solution à des problèmesjusqu’alors aux mains de l’État.

À La Havane, Eusebio Leal Spengleret le Bureau de l’Historien de la Ville de LaHavane légitiment leurs actions auprès de lapopulation par la personnalité même del’Historien, ses compétences patrimoniales etculturelles. Dans la hiérarchie politique, sonleadership est facilité par ses rapports avecle Conseil d’État. Le Bureau dans sonensemble tire également une légitimité de lacoopération internationale en matière dedéveloppement socio-économique qu’ilréussit à attirer et de la participationd’organismes internationaux qui oeuvrentdans le patrimoine. Cette stratégie sort ducadre politique imposé à Cuba mais estfacilitée par le volet social et identitaire de laréhabilitation patrimoniale.

Comme dans bien des cas deréhabilitation de centre historique, celui deMexico a donné cours à un phénomène degentrification qui est loin d’être aussi évidentdans le cas de la Vieille Havane. Par contre,les habitants du centre historique de cettedernière y ont plus d’opportunitéséconomiques puisque c’est là surtout que lestouristes y laissent leurs dollars, le Bureaude l’Historien ses investissements eninfrastructures et les organismesinternationaux une bonne part de leur aide.

Le succès des deux entités leader de larestauration fait qu’elles ont pu profiter de leuravantage sur le gouvernement pours’approprier un territoire, un champ d’actiontoujours plus grand. Carlos Slim souhaite

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étendre les actions de son entreprise à desprojets dans toute l’Amérique latine parl’entremise de la Impulsora para el desarrolloeconomico en América Latina (IDEAL). Les deuxont recours à l’œil bienveillant de l’échelleinternationale afin de légitimer leurs projets.Mexico s’en est servi pour faire voir que leMexique était prêt à laisser une bonne margede manœuvre au secteur privé, et c’est aussiun peu le cas en ce qui concerne les entreprisestouristiques étrangères. La Sociedad del centrohistorico de la ciudad de Mexico S.A. de C.V. estcoté en bourse, ce qui montre bien sonarrimage au libre marché et la rentabilité d’unprojet patrimonial. De plus, il semble que Slimmette, à côté de ses valeurs mercantilistes, uneidéologie tournée vers l’Amérique latine dansle but de faire contrepoids à l’hégémonie nord-américaine. On peut voir dans la collaborationentre Eusebio Leal et Carlos Slim la preuve dela construction graduelle de liens entre deuxrégimes complètement différents maisentièrement justifiés par leur contexte respectif.Dans le cas de La Havane, ces liens etl’entreprise patrimoniale ont une importancestratégique plus grande pour l’agglomérationet la nation cubaine que dans le cas mexicainoù elle s’insère dans une stratégie à plusieursvolets dans laquelle le patrimoine ne joue pasle même rôle d’avant-plan. Mais il aura peut-être un effet international de plus en plusimportant, comme ce fut le cas à La Havane,parce qu’il est porteur d’un sentimentidentitaire fort et instrumentalisé par l’acteuréconomique principal.

En somme, il s’agit là de deux cas quidéfient la comparaison sans que celle-ci nesoit impossible, loin de là. Cela démontre quela réflexion sur la métropolisation mérited’être alimentée à partir des villes du « Sud »(DE ALBA et JOUVE, 2006). Parmi celles-ci,La Havane a choisi la voie patrimoniale ettouristique comme vecteur demétropolisation, et Mexico l’a intégrée à sastratégie globale. Nous avons vu que lepatrimoine peut jouer un rôle significatifdans la légitimation des processus, desimpacts économiques, politiques et sociauxde la métropolisation.

Il ne faut pas croire qu’il faille établirune relation de nécessité entre lamétropolisation et l’économie de marché. Lerégime politique et économique ne détermine

pas le fait qu’il y ait ou pas métropolisation.Il existe des stratégies alternatives pours’intégrer au réseau des villes sur l’échiquiermondial. Nous croyons avoir démontré parnos exemples que c’est dans les structuresunissant les différents acteurs et dansl’imbrication de leurs actions portées sur demultiples échelles qu’on peut trouver lesconditions de la participation au réseau desvilles globales (DE ALBA, 2005).

Notes:1 Nous voulons remercier Paulina Gomez Luévano

(University College London, UK) pour la lectured’une version initiale de ce texte.

2 Pour des discussions sur les multiples définitionspossibles du concept, voir LACOUR et PUISSANT,1999; également BASSAND, 1997.

3 Les données sur le processus de réhabilitation de laVieille Havane ont été rassemblées à La Havane aucours de 31 entretiens semi-dirigés auprès demultiples acteurs entre septembre 2003 et décembre2003, d’une recherche documentaire approfondie ainsique de 4 entretiens semi-dirigés menés à La Havaneen juillet 2006. Voir aussi LE BEL, 2005.

4 Cette instance existait depuis 1938 avec des pouvoirsessentiellement consultatifs.

5 Le pays compte actuellement 25 emplacementsinscrits dans la liste du Patrimoine Mondial del’UNESCO, dont 22 sont de caractère culturel, le resteétant de caractère naturel.

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“Paciência”, capitalismo, socialismo e desenvolvimento local endógeno“Patience”, capitalism, socialism and endogenous local development“Patience”, capitalisme, socialisme et développement local endogène

”Paciencia”, capitalismo, socialismo y desarrollo local endogeno

Vicente Fideles de Ávila*

Recebido em 18/12/2007; revisado e aprovado em12/2/2008; aceito em 21/2/2008.

Resumo: O presente ensaio reforça aspectos gerais sobre teoria do Desenvolvimento Local (DL) e tece observaçõesatinentes a dúvidas quanto a “paciência” em DL e à relação entre DL e capitalismo, também com ponderações arespeito de DL e socialismo. Destaca-se que “paciência” em DL significa não-precipitacionismo, não-receitualismo (ousentidos similares) e que o DL Endógeno, mesmo não se constituindo substitutivo do socialismo histórico, evolui-separa real contraponto e contrapé à avalanche exploratória do capitalismo turbinado pela moderna globalização.Palavras-chave: “Paciência” em desenvolvimento local endógeno. Desenvolvimento local e globalização capitalista.Desenvolvimento local não-substitutivo do socialismo histórico.Abstract: This essay reinforces general aspects of Local Development Theory and reflects upon some issues about“patience” in Local Development, and about the relationship between Local Development and capitalism, making alsosome considerations on Local Development and socialism. It is strongly stresses that “patience” in Local Developmentmeans the renounciation to precipitation and to easy receipts (or similar meanings) and that Endogenous Local Development,even not being a substitutive to historical socialism, evolves towards being a critical counterpart to the binomiumcapitalism - globalisation.Keywords: “Patience” in endogenous local development. Local development and capitalist globalisation. Localdevelopment non-substitutive of historical socialism.

Résumé: Cet étude renforce des aspects généraux sur la théorie du Développement Local (DL) et propose desobservations aux doutes sur “patience” en DL et à la relation entre DL et le capitalisme, avec aussi des pondérationssur le DL par rapport aux capitalisme et socialisme. Il est mis en évidence que “patience” en DL ne signifie pas agir nisur précipitation, ni par recette, et que le Développement Local Endogène, même n’étant pas constitué comme unsubstitutif du socialisme historique, c’est en évolution vers une réelle contre-partie à l’exploitation de l’actuel capitalismepoussé par la globalisation.Mots-Clés: “Patience” en développement local endogène. Développement local et globalisation capitaliste.Développement local non-substitutif du socialisme historique.Resumen: El presente ensayo refuerza aspectos generales sobre teoria del Desarrollo Local (DL) y tece observacionesacerca de deudas en quanto a la “paciencia” en DL y acerca de la relación entre DL y capitalismo. Hace aúnponderaciones acerca de DL y el socialismo. Se puene en relieve que “paciencia” en DL significa no se dar a la precipitacionni a solucciones faciles (o similes) y que el Desarrollo Local Endógeno, aún no siendo un sostituto del socialismohistórico, há evoluido hasta ser un contraponto a la tendencia capitalista turbinada por la moderna globalización.Palabras-clave: “Paciencia” en desarrollo local endógeno. Desarrollo local y globalización capitalista. Desarrollo localno-sostitutivo del socialismo histórico.

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 9, n. 1, p. 85-98, jan./jun. 2008.

* Licenciado em Pedagogia e Filosofia (no Brasil). Bacharel e Mestre em Teologia pela Pontificia Università Gregorianade Roma (Itália). Doutor em Política e Programação do Desenvolvimento/(enfoque em)Educação e Emprego pela Universitéde Paris-I/Panthéon-Sorbonne (França). Professor aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul-UFMS. Atual docente das disciplinas Teoria do Desenvolvimento Local e Desenvolvimento-Local, Comunidade eComunitarização no Programa de Mestrado Acadêmico em Desenvolvimento Local da Universidade Católica DomBosco-UCDB. E-mail: [email protected].

Nota preliminar

No final de 2007, a versão provisóriadeste ensaio foi passada a todos os docentesdo Programa de Mestrado em Desenvol-vimento Local/UCDB e ex-alunos da dis-ciplina Teoria do Desenvolvimento Local,enquanto seus principais destinatários (comodito logo à frente, em OUTROS COMENTÁRIOS INI-CIAIS), na expectativa de retornos contributi-vos. Assim, o Prof. Dr. Josemar de CamposMaciel (profundo conhecedor de amplos es-

pectros culturais como os filosófico, religiosoe teológico) delineou alguns comentárioscontributivos, nessas largas amplitudes deabrangência, que me pareceram muito rele-vantes e realmente interessantes. Aliás, jácomeçou pela seguinte contextualização his-tórica do estilo redacional do meu trabalho:

Professor, eu penso que o estilo do seu textomerece um comentário. Não é um relato deexperiência puro, mas passa perto, enquantodiscute aspectos de experiências que acon-teceram durante atividades da disciplina

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Teoria do Desenvolvimento Local. Não é umartigo científico do tipo validação de hipótese,porque a hipótese surge ao fim: isso funcio-na! Mas, na minha opinião, o seu texto é va-loroso se for lido lado a lado com um outroestilo consagrado na literatura “científica” -no sentido de ter sido literatura que ajudoua construir a auto-imagem do Ocidente so-bre si mesmo, no Renascimento e um poucoalém. São as famosas Orationes. Penso, porexemplo, na bela Oratio super dignitatem, dePico della Mirandola, escrita como uma car-ta aos seus leitores/ouvintes. É uma medita-ção, espontânea e sem medo de errar. Delanasceu, posteriormente, a versão modernado gênero que hoje denominamos ensaio...Daí que, na minha opinião, o senhor escre-veu uma carta, uma epístola (no sentido deum Sêneca, de um Cícero, ou seja, uma coisaséria e íntima ao mesmo tempo), e isso deveser enfatizado, mesmo porque penso que otexto deve ser publicado, e já. Ele ajuda a“cercar” muito bem alguns temas da disci-plina. Abaixo, vou escrevendo mais algumassugestões, na medida em que a releitura doseu texto me sugere.

Consultado se poderia desenvolver taiscomentários contributivos de modo mais sis-temático (dado que à época se pensou acoplá-los à seqüência deste mesmo ensaio, como suaressonância imediata), o Prof. Josemar não sóos esmiuçou e aprimorou, em várias laudas,como também lhes conferiu configuraçõespróprias de outro ensaio, ao qual atribuiueste expressivo título: EXAME DE RESSONÂNCIA

SOBRE “PACIÊNCIA” E DESENVOLVIMENTO LOCAL

ENDÓGENO EM SUBSOLO TEOLÓGICO.Portanto, há intrínseca relação entre

os dois ensaios acima referidos, razão pelaqual se enfatiza a conveniência do enca-minhamento-conjunto de ambos para pu-blicação, se possível em contíguos espaçoseditoriais.

Outros comentários iniciais

Vez por outra, ao final do percurso se-mestral da disciplina Teoria do Desenvolvi-mento Local, no Programa de Pós-Gradua-ção-Mestrado em Desenvolvimento Local daUniversidade Católica Dom Bosco, em Cam-po Grande-MS, entendo conveniente conti-nuar dirigindo ponderações escritas aos/àsex-alunos/as. E as realizo, sobretudo pelosseguintes três motivos: a) convencimento deque na relação educandos-educadores nun-

ca deva haver desregradas dependências enem abruptos desligamentos; b) permanên-cia de penumbras e outros aspectos passíveisde destaque, ajuste ou reforço nos rastros erescaldos das atividades formais da discipli-na; c) persistência de desafio a mútuas e múl-tiplas interconectividades de saberes e expe-riências que nos estimulam e orientam a que,nós e as comunidades-localidades que influa-mos em termos de Desenvolvimento Local,nos tornemos –passo a passo– capazes, com-petentes e hábeis de sempre nos evoluirmosconstruindo nossos próprios rumos e cami-nhos de desenvolvimento, assumindo a lógi-ca do poeta espanhol Antonio Machado deque “Caminhantes, não há caminho. O cami-nho se faz ao caminhar” (apud KUJAWSKI,1991, p. 203-204).

Antes de encerrar a disciplina, no 1o

semestre de 2007, solicitei e recebi notas pon-derativas, de cada aluno, sobre “Quê perdie quê ganhei com a disciplina Teoria do De-senvolvimento Local”. E a leitura dessas no-tas me trouxe a sensação de que todos (embo-ra de maneiras diferentes, mas sem exceção)entranharam a essência teórica do DL emsuas trajetórias de vida profissional e pes-soal, mesmo pipocando dúvidas aqui e acolá,o que é próprio de tudo que se encontre emcontínuo processo de teorização e exercita-ção, como no caso bem próprio do DL.

Agora, rememoremos a esdrúxula figu-ra do bonequinho Benjamim (o nome deleera esse no meu antigo primeiro computa-dor), referida em aula e já comentada emtextos anteriores, que, de repente, apareciana tela do monitor perguntando “quê vocêquer?”. Pois, sem muito respeito, o fantasmaque dele impregnamos pulará nos vídeos desuas mentes com aquelas duas insistentes per-guntinhas, já bem conhecidas de vocês, sem-pre que estiverem pensando ou realizandoseja lá o que for em nome do Desenvolvimen-to Local: “de fato, quê isso tem a ver comDesenvolvimento Local?”; e, ainda, “quêisso tem a ver com-o-quê de Desenvolvi-mento Local?”.

Sem ironia, sou levado a pensar que,para a maioria de vocês, essa figurinha doBenjamim já esteja se evoluindo de chata,até bem pouco, para aliada doravante. Seisto ainda não ocorreu, acabará acontecen-do a qualquer momento. Aliás, posso lhesassegurar, inclusive, que o teimoso Benja-

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minzinho terá a ousadia de se procriar emsuas mentes, gerando rebentos que, tambémsem a menor cerimônia, abordarão a todose cada um de vocês, já se sentido de algumaforma Agentes de DL, com questionamen-tos bem semelhantes a estes:– Como contaminar as lógicas do DL em

meus filhos, familiares, alunos, colegas detrabalho e outros de minha convivênciapessoal e profissional?

– Quê fazer para reverter em DL esta situa-ção ou cultura de intervencionismo, de assis-tencialismo, de filantropismo, de colonialismo,ou algo parecido?

– Por quais pontos estratégicos começarimplementações irradiadoras de iniciativasde DL, especificamente nesta ou aquelacomunidade-localidade?

– Por onde e quê fazer para INFILTRAR A FILO-SOFIA E OS PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DL nestapolítica, neste programa, neste projeto ouno andamento de tais ou quais investimen-tos não importando se de alçada federal,estadual, municipal, empresarial, deONGs, ou similares?

– Quê iniciativa tomar para que forças so-ciais como igrejas, ONGs, entidades filan-trópicas, e congêneres, se evoluam de pro-motoras de Desenvolvimento PARA OLocal (DpL) ou Desenvolvimento NO Local(DnL) para autênticas agenciadoras de efe-tivo DENVOLVIMENTO LOCAL (DL) en-dógeno (ÁVILA1, 2006, p. 69-100), inclu-sive no sentido de se tornarem fontes con-tinuamente geradoras e multiplicadoras deAgentes de DL, sobretudo no que concer-ne a processo de FORMAÇÃO DA CULTURA DO

DESENVOLVIMENTO LOCAL TANTO NO SEIO DE CO-MUNIDADES-LOCALIDADES QUANTO NO DAS AGÊN-CIAS PÚBLICAS E PRIVADAS que nelas pretendaminvestir apoio, orientação e recursos?

– Como intercomplementar tais ou quaismacroestratégias de desenvolvimento(aquelas vindas de cima ou do lado, porexemplo, de grandes políticas federais,estaduais, municipais, empresariais etc., deinvestimento) com microestratégias endo-geneizador-metabolizadoras de autocapa-cidades e autocompetências de desenvol-vimento em cada comunidade-localidadeconcreta?

– Como envolver as entidades gestoras dosetor educacional e as próprias redes esco-

lares (todas elas) em processo contínuo deformação para o DL?

– E assim por diante?Diante de tais questionamentos, al-

guém já deve estar exclamando: caramba, nosúltimos dias de aulas cheguei até a pensar que oProf. Fideles [assim mais comumente chama-do pelos alunos] entendia e me ensinaria algu-ma coisa de DL! – Em verdade, e na condiçãode perene-aprendiz, disso ainda sei pouco,mas o suficiente para a certeza de que, pri-meiro, eu não lhes ensinaria –como dito logoem nosso primeiro contato– porque apenaslhes ajudaria-a-aprender algo sobre DL (jáque os respectivos arcabouços teórico-con-ceitual e teórico-metodológico se encontramem constante processo de construção e sis-tematização) e, segundo, os lembradosBenjaminzinhos fazem parte da própriametodologia do DL, aquela do alpinista ca-minhante (ÁVILA, 2006, p. 84-85), semprealertado pelo mencionado poeta AntonioMachado de que “[...] O caminho se faz aocaminhar”.

Portanto, questões como as acima, emuitas outras, se formulam e formularão aolongo de toda a caminhada processual doDL, justamente pelo fato de elas ensejarememersões de perspectivas operacionais tí-picas do DL, já que reiteradamente enfati-zamos ser mesmo se exercitando –com pers-picaz e criativa ajuda de agentes externos–,que as respectivas comunidades-localidadese os agentes externos nelas atuantes criam,recriam e aperfeiçoam constantemente suascapacidades, competências e habilidades deconstruírem caminhos próprios de desen-volvimento.

E a lógica, do que acima se afirmou, éa de que não se constituindo algo que se ga-nhe, compre, empreste, grile ou roube, o DLfaz parte dos fenômenos do universo que sóexistem enquanto resultantes de permanen-tes processos de conquistas, ou seja, se o res-pectivo processo de conquista se desativa oucessa, desativa-se ou cessa-se também o DLcomo resultante. Assemelha-se a um prédio,uma torre, uma árvore ou até a cada um denós: só ficamos de pé (prédio, torre, árvore enós mesmos) enquanto temos sustentaçãocontinuamente implementada; e, quantomais tanto melhor. Do contrário, cedo outarde desabamento será nosso destino.

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Retornando às inicialmente menciona-das notas ponderativas, nelas um dos con-cluintes da disciplina Teoria do Desenvolvi-mento Local formulou questões, certamentena expectativa de posteriores esclarecimen-tos. Pedi-lhe e obtive permissão para citar ecomentar as duas que me pareceram aomesmo tempo mais importantes e abrangen-tes em relação a dimensões teóricas do DL.E começo, a seguir, pela mais diretamenteligada à observação –logo acima– do DLcomo resultância contínua de permanenteprocesso de conquista.

1ª Questão: sobre “Paciência” emDesenvolvimento Local

“PARA COMPREENDER AS NECESSIDADESCOLETIVAS É PRECISO GRANDE

PACIÊNCIA E PODE DEMORAR GERAÇÕESATÉ COMPREENDÊ-LAS. ESTA NOÇÃO DEIMPOTÊNCIA COMO AGENTE [de DL] ME É

MUITO DESCONFORTÁVEL”.

Vendo a questão pelo ângulo de tudoo que se analisou durante a disciplina Teo-ria do Desenvolvimento Local, nela observoinapropriado acoplamento entre DIMENSÕES

DE: GRANDEZA [“grande paciência”] + DURA-ÇÃO [“que pode demorar gerações”]. Então,vejamos.

Ao longo da disciplina, e fora dela, to-das as vezes que menciono a palavra “paci-ência”, relacionada a DL e principalmente aAgente de DL, sempre o fiz e faço com asseguintes opções de significação: não-precipi-tacionismo, não-imediatismo, não-achismo, não-receitualismo, não-modelismo, não-imposicionis-mo, não-intervencionismo, não-colonialismo,não-assistencialismo cultivador da “Cultura daPobreza”, e assim por diante.

Agir assim implica, de fato, grande“paciência” –ENORME, mesmo- mas tão-so-mente para se evitarem os ímpetos aplicati-vos de nossa cultura imediatista, sempre nosimpelindo à rotineiríssima prática de ISMOS.No entanto, esse tipo de grande “paciência”NÃO QUER DIZER QUE NADA SE POSSA FAZER DE CON-CRETO, EM TERMOS DE DL, ANTES QUE SE CONHEÇA

TUDO DE DETERMINADA COMUNIDADE-LOCALIDADE.Aliás, quanto a iniciativas de DL, é sabidoque não é o caso nem de implantá-las NA enem de apenas levá-las ÀS comuinidades-

localidades, vimos isto quando estudamos oscontra-conceitos codificados pelas expressõesDnL (Desenvolvimento No Local) e DpL(Desenvolvimento Para-O Local), às páginas70-78 do livro Cultura de sub/desenvolvimen-to e desenvolvimento local.

Por outra, o “núcleo conceitual” doque entendemos de fato significar Desenvol-vimento Local (cf. p. 80 do citado livro) serefere essencialmente a que cada comunida-de-localidade DESABROCHE –com a ajuda deagentes externos- capacidades, competên-cias e habilidades no sentido de que ela mes-ma se torne apta tanto a agenciar (buscandoe selecionando seus próprios rumos de desen-volvimento) quanto a gerenciar encaminha-mentos de concretização desses rumos, co-meçando por diagnoses de suas reais neces-sidades, aspirações, possibilidades, potencia-lidades, condições etc., e continuando portomadas de decisões, elaboração de progra-mações, deslanchamento dos corresponden-tes fluxos operacionais, e assim por diante.

No fundo, não há outra estratégia parase iniciar a dinâmica do DesenvolvimentoLocal, em determinada comunidade-locali-dade, que não a do investimento, em pers-pectiva de perene continuidade, para queaos poucos ela mesma vá se tornando capaze competente, como acima lembrado, deagenciar e gerenciar seu próprio desenvol-vimento, em termos tanto de proposição deiniciativas emergidas de dentro-para-fora-dela-mesma quanto de análise, triagem emetabolização comunitária de propostas vin-das de fora-para-dentro. Claro, sempre comdespertadoras e indutoras ajudas externas,pois esse é processo que não se faz sozinho,ou seja, se todas as comunidades-localida-des já soubessem só por elas mesmas dina-mizá-lo, hoje não mais existiria localidadealguma não-desenvolvida, subdesenvolvidaou unilateralmente-desenvolvida no plane-ta. Até se ponderou iteradas vezes –em aná-lises e debates no decorrer da disciplina– queinexistem comunidades-prontas para DL,valendo dizer que mesmo os agrupamentoshumanos que se configurem como “comu-nidades”, em razão de determinados crité-rios e situações de reciprocidades interativas,só decolarão na rota do DesenvolvimentoLocal se movidas por processo de constanteautocomunitarização para DL.

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Todavia, no que respeita ao envolvi-mento do Agente de DL nesse processo (sem-pre de constante autocomunitarização paraDL), o foco de importância NÃO RECAI no fatode o mesmo deter maior ou menor conheci-mento, e muito menos no de ter que sabertudo antes de agir, sobre as necessidades quer“coletivas” quer até individuais da comuni-dade a que se referir, embora quanto maisse saoba tanto melhor: afinal, jamais se deveconfundir Agente de DL com receitador oumaceteiro de DL. Esse foco diz respeito, sim,às MANEIRAS ESTRATÉGICAS DE O AGENTE DE DLSABER INFLUIR, APOIAR, MOTIVAR, DESAFIAR ETC., pa-ra que se implante e implemente, no seio dacomunidade-localidade a que visar ou emque atuar, processo com estas três finalida-des: autodesvelamento do conhecimentocomunitário-local (para que tal comunidadeaprenda a sempre e cada vez mais se conhe-cer); autocomunitarização para DL (forma-ção e impregnação capilarizante da culturaassociativo-cooperativa do DL em todas assuas dimensões, coletivas e individuadas); eemersão de propostas/iniciativas auto-assu-midas de DL (no sentido das mais simples,fáceis e possíveis para as mais complexas,difíceis e desafiadoras).

Esse, sim, é PROCESSO que não só“pode” como de fato DEVE “durar gerações”a fio, da mesma forma que também o Agentede DL (jamais se furtando à condição de eter-no aprendiz sobre comunidade-localidade eDL) tanto pode quanto deve nele se inserirpor (ÁVILA, 2006, p. 86-94) MAIÊUTICAS MANEI-RAS DESAFIADORAS, INDUTORAS, REATORAS, APOIA-DORAS, ALIMENTADORAS, REALIMENTADORAS ETC., co-mo requer a dinâmica metodológica do DL.

É DESSAS MAIÊUTICAS MANEIRAS QUE O AGEN-TE DE DL PRECISA SABER ALGO DE BASE (EVIDENTE-MENTE QUE NÃO TUDO) ANTES DE COMEÇAR A AGIR,JÁ DESDE O INÍCIO DE SEU PROCESSO DE FORMAÇÃO/CAPACITAÇÃO PARA SE TORNAR DE FATO AGENTE DE

DL, PRINCIPALMENTE NO QUE RESPEITA A BOA FUN-DAMENTAÇÃO TEÓRICA E PERSPECTIVAS DE

EXERCITAÇÃO. MAS, UMA VEZ NELE INSERIDO (ENVOL-VIDO), DESENCADEIA-SE INTERMINÁVEL PROCESSUALÍS-TICA DO SEMPRE-APRENDER-A-APRENDER-CAMINHAN-DO, PELO PROCESSO QUE DONALD SCHÖN CHAMA

“PRÁTICA REFLEXIVA” (SCHÖN, 1995, p. 77-91).Aliás, no que respeita especificamente a DL,esta questão é analisada às p. 86-97 do járeferido livro Cultura de sub/desenvolvimento

e desenvolvimento local.Então, nunca se conhece/diagnostica

tudo antes de nada em DL, porque aí, comoem todo o complexo e extremamente dinâ-mico panorama das interatividades huma-nas, sociais e ambientais, a DIAGNOSE-EM-PRO-CESSO-CONTÍNUO faz parte essencial da dinâ-mica de qualquer “caminhante” –portanto,inclusive de DL–, pela qual, no dizer do sem-pre lembrado poeta Antonio Machado, “[...]O caminho se faz ao caminhar”.

Nas décadas de 1960-70, em plenoauge de supervalorização da Economiacomo viés teórico-científico mantenedor daseconomias-desenvolvidas, assim comonorteador, promotor, “salvador” etc., dassubdesenvolvidas, tentou-se semiotizar cadaciclo do processo de planejamento interven-tivo em quatro partes modulares estanques,uma se iniciando após o término da outra, enesta ordem: DIAGNOSE => DECISÃO-PROGRAMA-ÇÃO => EXECUÇÃO => AVALIAÇÃO/REALIMENTAÇÃO

(daí a superveniente discussão sobre avalia-ção-terminal e avaliação-processual). Foibem no rastro desse laivo de semiotizaçãoestanque que a população brasileira se trans-formou em cobaia dos seguintes e sucessivossete “Planos Econômicos”, em virtude de osgovernos civis terem herdado -no início de1985- total falência econômica e social daditadura militar vigente de 1964 a 1984: Pla-no Cruzado 1 (lançado em fevereiro de1986), Plano Cruzado 2 (novembro de 1986),Plano Bresser (junho de 1987), Plano Ve-rão (janeiro de 1989), Plano Collor 1 (mar-ço de 1990), Plano Collor 2 (fevereiro de1991) e Plano Real (julho de 1994). Os qua-tro primeiros no mandato presidencial deJosé Sarney (15/3/1985 a 15/3/1990), osdois seguintes no de Fernando Collor deMello (15/3/1990 a 2/10/1992) e o últimono de Itamar Franco (2/10/1992 a1/1/1995), sob o comando do então Minis-tro da Fazenda, Fernando Henrique Cardo-so, que deu continuidade e consolidou o Pla-no Real também nos seus subseqüentes oitoanos de mandato presidencial.

Achava-se que estatísticas e perspecti-vas diagnósticas de curto, médio e longo pra-zos poderiam dar suporte às duas fases me-dianas (as de DECISÃO-PROGRAMAÇÃO => EXECU-ÇÃO) no período visado pelo ciclo de planeja-mento adotado como referência oficial, inclu-

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sive se dimensionado como plurianual: demédio (mais comumente trienal ou qüinqüe-nal) ou de longo prazo (sobretudo acima decinco anos, portanto decenal ou quinzenal).

Depois, com subsídios teórico-metodo-lógicos externos e muito mais por erros queacertos internos, ACABOU SE ADERINDO, TAMBÉM

NO BRASIL, A QUE QUALQUER PROCESSO DE PLANEJA-MENTO (compreendendo DIAGNOSE + DECISÃO-PROGRAMAÇÃO + EXECUÇÃO + SEMPRE COMACOMPA-NHAMENTO-CONTÍNUO E PROCESSUAL-CORREÇÃO-RE-ALIMENTAÇÃO) SE INICIA, SIM, POR CONHECIMENTO

DIAGNÓSTICO PRÉVIO, pois, obviamente, do nada,nunca se começa alguma coisa. Só que abusca de conhecimentos diagnósticos nãopára por aí, exclusivamente nesse momentoprévio. Pelo contrário, ela se perpetua ao lon-go de todos e cada ciclo de planejamento,transformando-se em DINÂMICA-DIAGNÓSTICA-PERMANENTE, QUE ACOMPANHA A DINÂMICA-OPERACIONAL, com ela se interagindo e forne-cendo subsídios para EXAMES DECISÓRIO-PROGRAMÁTICOS EM PERCURSO. É por aí que secriam condições e de fato operacionalizamas CORREÇÕES-REALIMENTAÇÕES-PROCESSUAIS, ne-cessárias ou convenientes ao ENCAMINHAMEN-TO EXECUTÓRIO de qualquer CICLO DO PROCESSO

DE PLANEJAMENTO E DO PRÓPRIO COMO UM TODO.Hoje, portanto, não mais –ou melhor,

de forma alguma- se cogita em planejamen-to por MÓDULOS ESTANQUES (isto é, PRIMEIRO,DIAGNOSE; DEPOIS, DECISÃO-PROGRAMAÇÃO; E, POR

FIM, AÇÃO-EXECUÇÃO) como se mencionou an-teriormente. O que se quer dizer é que, noinício, a DIAGNOSE-BÁSICA –apenas parase saber por onde e quê começar- precede oprocesso decisório-programático-operacionaldo planejamento, ou seja, funciona comoespécie de descarga elétrica da bateria de umautomóvel para a partida através do motor-de-arranque, sem que se jogue fora, em se-guida, toda bateria, aqui representando aDIMENSÃO DA DIAGNOSE PERMANTE no curso detodo um processo de planejamento. Portan-to, da mesma forma que a BATERIA, no auto-móvel, também a DIAGNOSE (tornada) PERMA-NENTE -em relação à totalidade das dinâmi-cas decisório-executórias do planejamento-continuam inteiramente CONECTADAS e CAMI-NHANTES, simultânea e ininterruptamente se-carregando e ajudando a manter tanto a re-gularidade rotativa do motor quanto o fun-cionamento da iluminação (em ambientes

escurecidos, até do percurso a ser seguido) eda parafernália de conforto e praticidademovida a sempre renovadas energias: elétri-ca, no caso do automóvel, e diagnóstica, emse tratando das supramencionadas dinâmi-cas decisório-executórias do processo deplanejamento.

As páginas 43-50 do livreto Municipa-lização para o desenvolvimento tratam do “Pla-nejamento participativo” (ÁVILA, 1993, p.43-50) nessa ótica e pode ser consultado sem-pre que houver dúvida. Mas, quanto à apli-cação do que se referiu acima à dinâmicametodológica do DL, a releitura do item 4.5do livro Cultura de sub/desenvolvimento e de-senvolvimento local a todos relembrará que:– Em termos lógicos, à medida que se for

concretizando a dimensão de conscienti-zação, mobilização e organização comu-nitária local [aqui se situa a fase diagnós-tica inicial], vai-se passando [portanto nãose espera diagnosticar tudo para depoispassar] também à programação e opera-cionalização dos “ciclos de trabalho comu-nitário-cooperativo”, como sugerido abai-xo (p. 96-97).

– Esses ciclos de trabalho cooperativo se or-ganizam e funcionam: das iniciativas maissimples, mais fáceis e menos abrangentespara as mais complexas, mais difíceis e demaior amplitude [a exemplo do que sedinamiza também por processo deautocapacitação-em-serviço], tal como seconstrói uma casa assentando tijolo portijolo e não empilhando todos de uma sóvez (p. 97).

– Todas as atividades do processo de Desen-volvimento Local não só devem orientar-se–mas sem receitualismos- pelo e para orumo teórico básico, norteador da totali-dade do processo, como também precisamser cuidadosamente programadas, ordena-das, acompanhadas e constantemente ava-liadas, de sorte que a reflexão analítico-avaliativo-realimentadora se faça presen-te ao longo de todas e quaisquer posturasde planejamento e operacionalização domesmo (p. 98). [Trata-se, pois, de perma-nente processo diagnóstico-alimentador/realimentador].

– É pelas respectivas celebrações/comemo-rações comunitárias que os feitos e conquis-tas deixam de ser exclusivamente de fula-

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no, beltrano e sicrano, estendendo seusraios e reflexos até as mentes e os coraçõesde todos aqueles que nelas acabam se sen-tindo comunitariamente incluídos [DL é,pois, processo paulatinamente irradiantee não mero implante ou transplante de-senvolvimentista]. Por elas, se amalgamao orgulho da pertença a esta ou àquelacomunidade, a este ou àquele município,a este ou àquele país (p. 99).

Por último, mas ainda em relação aesta 1a questão, também registro minha im-pressão de certo equívoco quanto ao objetode referência da afirmativa “[...] pode de-morar gerações [...]”, ou seja, refere-se, defato: a “[...] compreender as necessidadescoletivas [...]”?; ou ao processo de formaçãoe capilarização da cultura de Desenvolvi-mento Local no seio de cada comunidade-localidade por ele optante?

Sem a mínima sombra de dúvida, é oprocesso apontado na segunda interrogação,supra, que DEVE (não apenas “pode”) SE ESTEN-DER E EVOLUIR POR SUCESSIVAS GERAÇÕES. Passagemdo já mencionado livro Cultura de sub/desen-volvimento e desenvolvimento local dele seocupa, ao tratar da dupla relação Desenvol-vimento Local X educação escolar X educa-ção comunitária, nos seguintes termos:

[...] a dupla relação acima mencionada fun-cionará, se convenientemente dinamizada,como sistema de capilarização, alimentaçãoe oxigenação da evolução processual do De-senvolvimento Local, porque atingirá, cons-cientizará e orientará adultos e crianças quese sucederão, em termos de gerações, no sen-tido de que as respectivas comunidades setornem paulatina e emancipadamente ap-tas, capazes e competentes de se tornaremsujeito-agentes de suas próprias trajetórias dedesenvolvimento comunitário-local, da ma-neira como abordado neste trabalho (p. 111).

Aliás, praticamente todo o livro Edu-cação escolar e desenvolvimento local: realida-de e abstrações no currículo (ÁVILA, 2003),também estudado como texto-base da disci-plina, é dedicado a esse fundamental e indis-pensável processo de formação e entranha-mento da cultura de Desenvolvimento Lo-cal nas maneiras de pensar e agir das gera-ções que se sucederem em todas as comuni-dades-localidades visadas por essa filosofia/política de desenvolvimento.

2a Questão: abrangendo capitalismo,socialismo e desenvolvimento local

“A LÓGICA CAPITALISTA SE SOBREPÕEAO COLETIVO E, PORTANTO, NÃO

RESOLVE! NÃO PERCEBI UMA POSIÇÃOCLARA SOBRE TEORIA DO DL A RESPEITO

DESTE ASSUNTO”

Comecemos perguntando: será que “Alógica capitalista [APENAS] se sobrepõe ao co-letivo [...]”? –Ao se opor diretamente à jus-tiça, seu universo de sobreposição se esten-de a tudo, ao coletivo, ao individual, à dig-nidade, ao direito, à convivência, ao equi-líbrio ambiental, à cidadania, e assim pordiante.

Todavia, circunstanciemos um poucomais, esta conversa, voltando àquela compa-ração –feita em sala– do CAPITALISMO GLOBALI-ZADO(R) CAINDO EM AVALANCHE –GRANDE CASCA-TA– SOBRE OS CONTINGENTES POPULACIONAIS COMUNS

LÁ DE BAIXO COMO QUE A SEMPRE INUNDÁ-LOS POR

NÃO PODEREM GALGAR OS PICOS DAS MINORIAS QUE

SE PRIVILEGIAM DOS IMPUXOS CAPITALISTAS, PRINCI-PALMENTE SE TURBINADOS POR ESTRATÉGIAS, ENER-GIAS E DINÂMICAS MODERNAMENTE CADA VEZ MAIS

GLOBALIZANTES. Tais “CONTINGENTES POPULACIONAIS

COMUNS LÁ DE BAIXO” são, principalmente, osconstituídos tanto pelas bases-das-pirâmi-des-socioeconômicas de todos os países doplaneta quanto pelos próprios-países-subde-senvolvidos em dimensões de hemisfério,continente e regiões estigmatizadas, a exem-plo do Hemisfério Sul em geral, da África,da América Latina, do Oriente Médio, boaparte do Extremo Oriente e similares.

Que –conforme se aludiu acima– issose configure injustiça, com reflexos em to-das as direções da natureza cósmica (por-tanto: nas dimensões humana, social, eco-nômica, interambiental etc.), não há a me-nor dúvida. Ao contrário, a percepção des-sa injustiça é tão vasta e antiga quanto aprópria noção de “pecado”, inclusive do bí-blico “pecado original”.

Por um lado, as religiões positivas -vol-tadas a que o bem supere o mal- surgiram/surgem fundamentalmente em razão dos his-toricamente nefastos desequilíbrios decorren-tes dos devastadores efeitos dessa injustiça,que sempre constituiu, constitui e constitui-rá a essência nuclear de qualquer tipo de mal.

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Como também, por outro lado e demodo mais especificado, não deixa de seconstituir a essência do que Karl Marx cha-mou plus-valia, significando mais-valor queo devido por justiça, pela combinação dostermos latinos plus (“mais”) + valia (“Valorintrínseco ou inerente à substância do obje-to de que se trata”, sentido atribuído a esseverbete pelo MICHAELIS – moderno dicio-nário da língua portuguesa, 1998). Marx sereferiu à distorcida e injusta sobrepujançado capital (ou burguesia capitalista) sobre otrabalho (ou classe trabalhadora): o primei-ro subtraindo lucro indevido (plus-valia) àcusta do segundo, ou até mesmo massacran-do-o, como de rotina intensamente por elevivenciada no curso do século XIX2, auge daSegunda Revolução Industrial, ainda decunho eminentemente mecânico.

Até aí, tudo bem. Mas a questão secomplicou em termos de encaminhamentometodológico. Para a solução desse mal pelaraiz, Marx vislumbrou a luta de classes (con-vergente para a “Ditadura do Proletaria-do”)3, da classe oprimida –em muito maiorquantidade– contra a classe dominante,minoritária porém beneficiária das plus-va-lias capitalistas: esta detentora de enormepoder de jugo e opressão sobre aquela, mas–por outro lado– também sempre dependen-te daquela em razão de que sem o trabalhoou a mão-de-obra de uma o capital da outrase esteriliza e esvai.

Portanto, a luta de classes se asseme-lharia a pacote-de-dinamite que, uma vez ace-so, explodiria o caudal capitalista antes de sedespencar em cascata sobre as classes obrei-ras: à época, sobretudo a operária –decor-rente do acelerado processo de industriali-zação– e a proletária, constituída desde ostrabalhadores campesinos, em terras da no-breza romana antiga (cuja única posse, de-clarada nos censos imperiais, se limitava àprole de cada pai de família –pater familiae–,portanto sem posse alguma de terra ou deoutro meio de subsistência), até “[...] a clas-se dos trabalhadores assalariados modernosque, privados de meios de produção pró-prios, se vêem obrigados a vender sua forçade trabalho para poder existir”4.

Em 1917, os bolchevistas (partido“bolchevike” ou da “maioria” –”bolche” emrusso significa “de mais” ou “maioria”–, li-

derado por Vladimir Ilie Ulianov, este tendose contraído para LÊNIN) venceram a revolu-ção contra o regime imperial czarista e aburguesia capitalista, naturalmente tambémjá incipiente na Rússia. Na ausência de idéiassolucionadoras próprias, adotaram (sob ocomando de Lênin e a ingerência direta deLeon Trotsky) a luta de classe para moldar oregime socialista adotado, primeiro, naRússia e, em seguida, radicalizado por Staline estendido a todos os países que se anexa-ram ao então chamado bloco da União So-viética5. E o que aconteceu com o socialismosoviético ao final de seus 72 anos de histó-ria, se considerarmos 1917 (RevoluçãoBolchevista) e 1989 (queda do muro deBerlim) como marcos inicial e final?

A resposta, em termos da auto-implo-são do regime socialista soviético –aqui mereferindo ao seu prisma de concretude his-tórica– muitos de nós a vivenciamos no finalda década de 1980. Aliás, da mesma formaque também estamos vivenciando aberturasaté bem pouco impensáveis no regime socia-lista chinês (erigido por Mao Tsé-tung), as-sim como nos tutelados pela própria ex-União Soviética6, sobretudo o vietnamita e onorte-coreano já em acelerado processo deaproximação e interatividade com a reinanteglobalização capitalista: há poucos dias (em04/10/07), os dirigentes das Coréias do Sule do Norte assinaram e brindaram acordode cooperação, logo depois de a Coréia doNorte ter cedido às pressões internacionais–principalmente dos USA, Japão e Coréia doSul– para desativação de sua usina nuclear.

Quanto ao regime socialista cubano,até mais fortemente sustentado pela ex-União Soviética no auge da “Guerra Fria”entre Rússia e Estados Unidos da América(justamente pela estratégica vizinhança geo-gráfica de Cuba com os EUA), continua aresistir, mas, sem que ainda se saiba porquanto tempo.

Portanto, a capacidade e a eficacidadede a luta de classes realmente dinamitar eexplodir a injustiça capitalista (pela extirpaçãodos próprios capitalistas ou burguesia capi-talista, em linguagem marxista) não passouno teste histórico do mais importante regi-me socialista que a adotou como principalbandeira e estratégia para essa finalidade, oda ex-União Soviética.

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Aliás, nos casos clássicos dos regimessocialistas só aconteceram dois cuja implan-tação se deu diretamente por luta de classes(em sentido marxista propriamente dito): ojá visto da Revolução Bolchevista russa, em1917, e o da Revolução Cubana, liderada porFidel Castro7. Coréia do Norte8 e Vietnamdo Norte (depois, todo o Vietnam reunifi-cado em 19759, após a vitória dos Vietcongscontra o Vietnam do Sul com massiva parti-cipação norte-americana) se configuraramsocialistas em razão de lutas por indepen-dências de regimes coloniais, diretamenteconvergentes para espólio, no imediato con-texto do pós-II Guerra Mundial e já em ple-no início da “Guerra Fria”, entre as duas po-tências da época: USA e União Soviética.

E, na China, essa bandeira se consti-tuiu muito mais processo de anulação declasses dominantes (isto é, tomada de podervia golpe-de-estado e imediata imposição doregime pela elite dirigente), que por real lu-tas internas de classes. Ademais, vimos, emrelação a todos eles, que suas trajetórias his-tóricas já se encontram em franca rota deapaziguamento com o capitalismo moder-no, ainda se ressalvando certa exceção parao caso cubano.

Todavia, é nesse contexto –justo na dé-cada de 1980– que o Desenvolvimento Lo-cal emergiu e vem dando seus primeiros pas-sos, como teoria e práxis de desenvolvimen-to, vimos isto no curso da mencionada disci-plina (ÁVILA, 2006, p. 53-67: Cap. 3 – Nocontexto histórico-cultural surgido, a queveio do Desenvolvimento Local?).

Então, perguntará alguém: O Desen-volvimento Local veio para substituir o socialis-mo histórico implodido? –Já começando porenfático NÃO, é preciso ficar bem claro, aliás,que HÁ ASPECTOS TEÓRICOS COMUNS E RADICALMEN-TE DIFERENCIADOS ENTRE DESENVOLVIMENTO LOCAL

(SEMPRE ENTENDIDO COMO ENDÓGENO) E O SOCIALIS-MO HISTÓRICO DE BASE MARXISTA. Os pontos co-muns dizem respeito sobretudo às caracte-rísticas da finalidade última de todo o pro-cesso: conquista de equilibrado bem-estarcultural e socioeconômico das populaçõesenvolvidas. Mas, as diferenciações concer-nem fundamentalmente:

a) Às categorias sociais diretamente visa-das. No socialismo, são focadas as classessociais antagônicas (proletariado de um lado

e burguesia capitalista do outro) e, no De-senvolvimento Local, cada comunidade-lo-calidade envolvida, com tudo o que façaparte de suas vivências e relações territoriais(suas condições, peculiaridades, potenciali-dades, facilidades, dificuldades, estados deconvergência e divergência e conflitos detoda ordem, inclusive os de classes sociais).Por isso, é que sempre se repete que DL écoisa de comunidade-localidade inteira (comtodas as riquezas, pobrezas e possibilidadesnela existentes) e não só de localidades ouclasses pobres, carentes, periféricas, operá-rias, proletárias, e congêneres.

b) À metodologia processual. No socialis-mo, “O verdadeiro resultado [das lutas dosoperários] não é o êxito imediato, mas a uniãocada vez mais ampla dos trabalhadores”(MARX; ENGELS, s/d, p. 1), visando à guer-ra civil, à tomada do poder (“Ditadura doProletariado”) e, por fim, “[...] à sociedade[perfeita] sem classes” (cf. 4ª nota de roda-pé). Em DL, a união é buscada por constan-te processo de comunitarização associativo-cooperativa, objetivando a que cada comu-nidade-localidade conquiste e endogeneizecapacidade, competência e habilidades de sedesenvolver (em termos de se tornar SUJEITO

de sua própria história, naquilo que direta-mente lhe diga respeito e esteja ao seu al-cance), assim como de aperfeiçoar constan-temente seu estado de desenvolvimento.

Mas, como surgiu o DL? –Em realidade,o DL começou a ser cogitado e ativado, peloConselho Econômico e Social da então Co-munidade Européia (estamos falando docontexto europeu no final da década de 1970e durante a de 1980), como estratégia de iça-mento das periferias socioeconômicas (paraefeito de mediano nivelamento, principal-mente em termos de emprego e renda) dospaíses que viriam a compor o grande blocoda hoje União Européia. Portanto, de confi-guração inicial plasmada na concepção neo-liberal européia, sua função se limitava, eainda continua se limitando, na Europa edemais países ditos desenvolvidos, à correçãode desequilíbrios periféricos. Ou seja, mui-tos desses desequilíbrios continuavam e ain-da continuam decorrentes dos rescaldos daescravatura (por exemplo, nos Estados Uni-dos), da II Guerra Mundial (em todos os pa-

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íses atingidos), da ruptura do tradicional sis-tema colonial europeu (repatriamentos eduplas cidadanias principalmente oriundasde ex-colônias africanas e asiáticas) e da pró-pria derrocada do socialismo russo-soviéti-co, pelo grande atraso socioeconômico deseus ex-países-membros, à época, se coteja-dos com os da Europa Ocidental.

No entanto (e reforçando que inicial-mente de fato não veio para substituir o so-cialismo dinamitador do capitalismo pela lutade classes, como atrás referido), O DL DE CER-TO MODO JÁ COMEÇA A OCUPAR O GRANDE VÁCUO

DA PRINCIPAL E FRUSTRADA FUNÇÃO A ELE (SOCIALIS-MO) HISTORICAMENTE ATRIBUÍDA, A DE -PELO MENOS-REAL CONTRAPONTO À VORACIDADE DO CAPITALIS-MO. Isso quer dizer que o DL aqui no Progra-ma de Mestrado da UCDB, da mesma for-ma que no ambiente latino-americano emgeral (TIJOUX, 2007 e PINTOS, 2007), jásuperou completamente a concepção neoli-beral européia (e dos países ditos desenvolvi-dos), que praticamente o reduz a distributivalocalização de emprego e renda em comuni-dades periféricas.

É nessa perspectiva de CONTRAPONTO,como também de acordo com o que se refe-riu anteriormente às alíneas a e b, que o DLvem sendo tratado, na já várias vezes men-cionada disciplina Teoria do Desenvolvimen-to Local (ÁVILA, 2006, p. 53-67), sob estastrês óticas básicas:– a de como os países desenvolvidos o pen-

sam para suas próprias periferias gerado-ras de desequilíbrios internos;

– a de como os países desenvolvidos o pen-sam para todos os países subdesenvolvidos,visando principalmente as respectivas pe-riferias subdesenvolvidas;

– a de que os países subdesenvolvidos podeme devem pensar o Desenvolvimento Localcomo filosofia e política de desenvolvimen-to endogenamente emancipatório10, tantopara eles mesmos quanto para todos ospovos do mundo, inclusive os desenvolvi-dos, visto ainda preponderar a gravíssimadistorção de se confundir detenção de ri-queza, poder e hegemonia econômica, po-lítica, científica, tecnológica etc., com efe-tivo desenvolvimento humano-ambiental.

Pela luta de classes, de acordo com osocialismo marxista, se eliminariam (dinami-tariam) os ricos e opressores capitalistas –es-

tes mesmos hoje se autodenominado desen-volvidos (ÁVILA, 2006, p. 37-52)– e, em tese,por um lado, o poder seria tomado pela clas-se trabalhadora (“Ditadura do Proletaria-do”) e, por outro, se vislumbraria a utopiamáxima de que “[...] essa mesma Ditaduraforma [formaria] apenas a transição rumo àabolição de todas as classes e à sociedade semclasses” (cf., atrás, a 4ª nota de rodapé).

Estes dois últimos estágios foram con-siderados de tamanha importância, no dire-cionamento da empreitada socialista histo-ricamente emergente na Rússia, após a Re-volução de 1917, que o próprio Lênin (apudKÖLN, s/d, já mencionado) a eles se referiucom as seguintes ênfases:

Limitar o marxismo à doutrina da luta declasses significa truncar o marxismo,deformá-lo, reduzí-lo àquilo que é aceitávelpara a burguesia.Um marxista é apenas aquele que estende oreconhecimento da luta de classes ao reco-nhecimento da Ditadura do Proletariado.

Mas, infelizmente, não é bem isso quea história vem testemunhando. Em verda-de, o estrangulamento dessa lógica revolu-cionária até agora sempre aconteceu já nosegundo estágio, o da tomada do poder, por-tanto jamais em condições de se chegar àutopia máxima do terceiro, o da aspirada“sociedade sem classes”. E por quê? –Por doismotivos: 1º, uma coisa é tomar o poder eoutra, ainda muito mais complexa, é a de sesaber o que fazer dele ou com ele; 2º, o quesempre de fato tem acontecido é a tomadado poder pela elite dirigente do proletariadoe não pelo próprio proletariado (ou classetrabalhadora). Ou seja, essa elite tanto lide-ra quanto usa, sim, as enormes capacidadee força de mobilização da classe trabalha-dora para a tomada do poder. Entretanto,quando o poder é tomado, o que se estabele-ce não é a “Ditadura do Proletariado”, comopensavam Marx e Engels, mas, sim, a DITA-DURA DA ELITE DIRIGENTE DO PROLETARIADO, aí jáse configurando duas classes visceralmenteantagônicas (a da elite dirigente do proleta-riado e a da massa proletária dirigida), semque os conflitos entre ambas sequer venhamà tona pela própria repressão impiedosa-mente ditatorial da primeira sobre a segunda.

Aliás, por um lado, já vimos esses “fil-mes” pelo menos da Revolução Francesa (o

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próprio Manifesto de Marx e Engels se referea isto) ao socialismo histórico, atrás mencio-nado, e, por outro, isso materializa muitobem o sentido geral dos ditos populares, re-ferentes a tiro que sai pela culatra ou parti-cipação de alguém na fabricação de guilho-tina em que acabará sendo decapitado de-pois. Eis, pois, o fundamental dilema: SE A

CLASSE TRABALHADORA “FICA” NO CAPITALISMO, O“BICHO” DA BURGUESIA CAPITALISTA A “COME”; SE

“CORRE” PARA A DITADURA DO PROLETARIADO,O”BICHO” REALMENTE DITATORIAL DE SUA PRÓPRIA

ELITE DIRIGENTE A “PEGA”.Dessas experiências históricas, apren-

dem-se –sim- lições sociais, políticas e eco-nômicas, mas à custa dos maiores sacrifíciosjustamente da própria classe trabalhadora,compreendida pelos segmentos baixos emédios da pirâmide social de cada país. Isso,em virtude de que, na contramão da teoriaadotada para a tomada do poder, os diri-gentes revolucionários se têm metamorfo-seado em novos ricos e poderosos opresso-res de seus próprios dirigidos, inclusive con-seguindo a contraditória transformação dosocialismo em CAPITALISMO DE ESTADO, conclu-são esta que me persegue de longa data.

E as grandes lições aplicáveis ao Desen-volvimento Local, da maneira abordada namencionada disciplina Teoria do Desenvolvi-mento Local –aquele atrás qualificado comoendogenamente emancipatório– são funda-mentalmente, em minha opinião, estas:

Primeira – a luta contra as injustiçascapitalistas se configura como processoabrangente e permanente, incluindo-se atémesmo a luta de classes (visando não à “Di-tadura do Proletariado”, mas à equilibraçãodo exercício da justiça em todos os proces-sos e aspectos da co-existência societária)desde que se constitua o último e inevitávelrecurso: jamais o primeiro.

Segunda – portanto, ao invés de se que-rer intempestivamente explodir o capitalis-mo pela luta de classes, O QUE SE PRECONIZA, EM

TERMOS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL, É A GERAÇÃO

DE CAPACIDADE, COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DE

AUTOMACAQUEAMENTO (imagem apropriada dosmacacos de elevação em oficinas mecânicas)DAS COMUNIDADES-LOCALIDADES VISADAS. E duassão as grandes finalidades desse automaca-queamento: por um lado, as comunidades-localidades SE ELEVEM DA SITUAÇÃO DE AFOGA-

MENTO, provocada pelas cascatas da globali-zação capitalista (como comentado no pri-meiro parágrafo desta segunda questão) e,de outro, COMECEM A CONQUISTAR – INDIVIDUAL ECOLETIVAMENTE- VISÃO, CORAGEM, INICIATIVAS E CON-DIÇÕES TANTO DE SE LIBERTAREM DA ALUDIDA SITUA-ÇÃO DE AFOGAMENTO QUANTO DE LIDAR COM ESSAS

CASCATAS, ATÉ MESMO DELAS TIRANDO ENERGIAS PARA

O SEU PRÓPRIO E DIGNO DESENVOLVIMENTO. Afinal,não há como fugir do fato de que as cadavez maiores intensificação e sofisticação daglobalização se constituem fenômenos irre-versíveis (porque logicamente irreversível éa rápida evolução do seu mais importantefator causal, o conhecimento científico e tec-nológico) e de que a própria tendência à vo-racidade capitalista (ou plus-valia) representaum lado do fio da navalha (porque o outro étambém o de nossa tendência inata à justi-ça), em cujo corte nos equilibramos, pessoasindividuadas e coletivizadas, desde que co-meçamos a assumir e gerenciar nossos ru-mos e atitudes de vida.

Terceira – a dinâmica operacional des-se automacaqueamento integra o próprio“núcelo conceitual” do DL, sempre na óticaendogenamente emancipatória, conformeÁvila (2001, p. 68s; 2006, p. 69s), porquejustamente focado como permanente con-quista de capacidade, competências e habi-lidades locais de se desenvolver, no âmbitode cada comunidade visada, paulatina epersistentemente se desabrochando de seupróprio seio bem como aproveitando suastambém próprias características e potencia-lidades, mas naturalmente com a maiêuticaajuda de agências e agentes externos, vezque o DL não brota do interior de cada co-munidade-localidade como bolhas de auto-espontaneismo.

Tom de Conclusão

Nesse tom, considero que O MAIOR FE-NÔMENO ALIADO DO CAPITALISMO, DEPOIS DA PRÓ-PRIA POSSE DO CAPITAL, SEJA O REAL ESTADO DE IG-NORÂNCIA (caracterizado por falta de forma-ção, informação, mobilização, organizaçãoe autoconhecimento de potencialidades, co-letivas e individuais, para efeito tanto de ini-ciativas próprias quanto de permanenteequilibração em interatividades externas) detodos que –ao longo do íngreme vale da vida-

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caminham pela margem inversa à do capi-tal: trabalhadores de qualquer classe ou de-nominação e populações localizadas, emgeral, indistintamente se trabalhadora, con-sumidora, produtora, carente, ou não impor-ta de que tipo.

Pois bem, o Desenvolvimento Local sepropõe à reversão desse estado de ignorân-cia. Implica, pois, luta permanente, mas nãovisando a “Ditadura do Proletariado” e, sim,a instalação e implementação de processo nosentido de que cada comunidade-localida-de concreta se torne capaz, competente ehábil de se comunitarizar para de fato setornar sujeito de seu próprio desenvolvimen-to: evidentemente –reiterando- naquilo queefetivamente lhe disser respeito e sabendotanto metabolizar quanto tirar proveito dasinteratividades e ajudas externas.

Conseqüentemente, pois e re-enfati-zando, só me resta considerar e ver o De-senvolvimento Local nesse prisma deCONTRAPONTO e CONTRAPÉ À AVALANCHE EXPLORA-TÓRIA QUE EMANA SOBRETUDO DO CAPITALISMO

TURBINADO PELA CELERIDADE E SOFISTICAÇÃO DA GLO-BALIZAÇÃO MODERNA, JÁ EM PLENA VORACIDADE NES-TE INÍCIO DE SÉCULO XXI. E a forma processualpara qualquer comunidade-localidade come-çar a se elevar (automacaquear-se), desse tipode avalanche, pode ter muito a ver com oseguinte ditado, atribuído a Santo Tomás deAquino: “Se o boi soubesse a força que tem,poria o carreiro a puxar o carro!”.

Ora, se apenas um boi soubesse a forçaque tem de fato poria o carreiro a puxar ocarro, imagine-se, pois, o quanto mais se tor-nará possível pela sensibilização, mobiliza-ção e organização de boiadas inteiras, sem-pre a puxarem carreteiras cotidianidades decontingentes humano-ambientais localiza-dos, por aí, Brasil e mundo afora.

Notas:1 Na seqüência, as freqüentes referências a publicações

deste autor se explicam por sua preocupação em pro-duzir e publicar matérias diretamente relacionadascom a maior abrangência possível dos enfoquestemáticos abordados na disciplina Teoria do Desen-volvimento Local, sob sua responsabilidade docen-te, como informado na 1ª nota.

2 Ou (MARX, 1998, p. 231), “A mais-valia se origina deum excedente quantitativo de trabalho, da duraçãoprolongada do mesmo processo de trabalho, tantono processo de produção de fios quanto no processode produção de artigos de ourivesaria”, o primeiro

processo exemplificando o que Marx chamou de “tra-balho simples” e o segundo de “trabalho complexo”.Em termos diferentes, mas com o mesmo sentido, naedição resumida de O Capital (MARX; BORCHARDT,1973, p. 41), “[...] a plus-valia resulta de uma sobraquantitativa de trabalho na duração prolongada domesmo processo de trabalho [...]. Resumindo a expli-cação de Marx: se o valor social do trabalho do ope-rário (aquele necessário para sobrevier por um dia)corresponde ao valor de meio-dia de efetivo traba-lho, o capitalista o contrata pelo valor desse meio-dia (de sobrevivência), mas o faz trabalhar o dia in-teiro sem lhe compensar pela diferença. Aliás, osCapítulos V de ambas as edições são dedicados a essaquestão e se intitulam, na primeira, Processo de tra-balho e processo de produzir plus-valia (p. 220-231)e, na segunda, Como se forma a mais-valia (p. 34-41).

3 De acordo com o Manifesto do partido comunista(MARX; ENGELS, s/d), a luta de classes nunca foinovidade, sempre existiu: “Até hoje, a história detodas as sociedades que existiram até nossos dias temsido a história das lutas de classes” (p. 4). No entanto,“Esboçando em linhas gerais as fases do desenvolvi-mento proletário, descrevemos a história da guerracivil, mais ou menos oculta, que lavra na sociedadeatual, até a hora em que essa guerra explode numarevolução aberta e o proletariado estabelece sua do-minação pela derrubada violenta da burguesia”(p.10). Aliás, Marx didatiza sua idéia sobre luta declasses em famosa carta a Joseph Weydemeyer, data-da de 5 de março de 1852 (apud KÖLN, s/d, p. 3):

No que me diz respeito, não me cabe o méritode ter descoberto nem a existência das classesna sociedade moderna nem sua luta travadaentre si.Historiadores burgueses tinham, muito antesde mim, apresentado o desenvolvimento his-tórico dessa luta de classes e economistas bur-gueses, a anatomia econômica das classes. Oque eu fiz de novo foi:1. provar que a existência das classes está vin-culada apenas a fases históricas determinadas;2. que a luta de classes conduz necessariamenteà Ditadura do Proletariado (i.e. no original ale-mão: Diktatur des Proletariats);3. que essa mesma Ditadura forma apenas a tran-sição rumo à abolição de todas as classes e àsociedade sem classes.

4 Conceituação esta observada na 2ª nota de rodapé doManifesto do partido comunista (MARX; ENGELS,s/d) como “(Nota de F. Engels à edição Inglesa de1888)”, ao qual se declara também a autoria do signi-ficado de burguesia: “Por burguesia compreende-sea classe dos capitalistas modernos, proprietários dosmeios de produção social, que empregam o trabalhoassalariado.”.

5 Sobre essa revolução e o perfil do partido bolchevista,Trotski (s/d) assim se referiu:

Sob a bandeira bolchevique se realizou a pri-meira vitória do proletariado e se instaurou oprimeiro estado operário. […] o bolchevismo éapenas uma tendência política, estreitamentefundida com a classe operária, mas não idênti-ca à mesma. E na União Soviética, ademais daclasse operária, existem cem milhões de cam-poneses, várias nacionalidades e uma herança

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de opressão, miséria e ignorância. O estadoconstruído pelos bolcheviques reflete não so-mente o pensamento e a vontade dobolchevismo, mas também o nível cultural dopaís, a composição social da população […].

Tratava-se, pois, de partido: inspirado nas idéias deMarx e Engel; mas constituído por operários e prole-tários (estes em maioria); de cunho fortemente nacio-nalista; e de esquerda radical. Antes de 1917, se opu-nha tanto ao regime imperial czarista quanto ao par-tido menos radical denominado “Menchevike”(“menche” = “de menos”), portanto denominadopelos bolchevistas como “partido da minoria”.

6 Lembrando que, em 1924, a então União Soviéticainstalou também na Mongólia o regime socialista,mantendo-a anexada até 1946, quando se viu na con-tingência de reconhecer a independência desse país,daí em diante denominando-se República Popularda Mongólia.

7 “Em janeiro de 1959, quase dois anos depois de iniciadaa guerrilha, Fidel e seus companheiros, entre os quaisestava o médico argentino Ernesto ‘Che’ Guevara,conseguiram conquistar o poder, obrigando Batista[o então Ditador Batista] a fugir do país.” (BRASILESCOLA, s/d).

8 “Não cabe aqui resenhar os acontecimentos históri-cos que produziram a divisão da Coréia, mas os inte-resses políticos em jogo, que associaram as contradi-ções internas do país à diplomacia das grandes po-tências. A divisão da Coréia resultou da confluênciada clivagem sócio-política interna com a partilha geo-gráfica da península coreana entre os Estados Unidose a União Soviética, na altura do paralelo 38”(VIZENTINI, s/d).

9 De origem mongol (GEOCITIES, s/d), os viets migra-ram para a península da Indochina no séc. III a.C.,mas: viveram sob domínio chinês de 111 a.C. a 934d.C.; daí até 1859 intercalaram independência e do-mínio chinês; em 1859, a França dominou a regiãosul da Indochina (portanto incluído todo o Vietnam,Anam, Tonkin e Camboja) denominando-a Conchin-china; no início do séc. XX, levante anticolonial foiduramente debelado; em 1939, criou-se a “ [...] Ligapela Independência (Vietminh), liderada pelos co-munistas [...]”; na IIª Guerra Mundial, os japonesestomaram a Indochina, mas os vietnamitas desenca-dearam forte resistência por guerrilhas; no fim da IIªGuerra, a França retomou a Indochina; em 1946, o“[... dirigente comunista Ho Chi Minh, forma umEstado no norte do Vietnam [...]”, mas:

Em 1949, a França impõe Bao Daï como impera-dor do Vietnam e, no ano seguinte, reconhece aindependência do país, que se mantém na Co-munidade Francesa de Nações. O Vietminh con-tinua a luta pelo controle do território. Em 1954,os franceses retiram-se, derrotados na batalhade Diem Bien Phu. Um armistício consolida adivisão do Vietnam em dois Estados: Vietnamdo Norte, sob o regime comunista de Ho ChiMinh, e Vietnam do Sul, monarquia encabeçadapor Bao Daï. O monarca é deposto no ano se-guinte por Ngo Dinh Diem, que proclama aRepública no sul e assume a Presidência.

A guerra pela reunificação foi travada entre os norte-vietnamitas (sob o regime comunista, que, apoiados

pela União Soviética, formaram a Frente de Liberta-ção Nacional -conhecida como Vietcong- e mais umavez usaram a tática de guerrilhas) contra o Vietnamdo Sul, com participação e derrota direta tambémdos USA: essa guerra se iniciou em 1957 e terminouem 1975, com a vitória dos Vietcongs e a reunificaçãodo país naturalmente sob o regime comunista.

10 Até em razão do paradoxal antagonismo, destacadopor Tijoux (2007, p. 3), entre as lógicas do desenvol-vimento (da maneira como é concebido e tratado nomundo capitalista) e as do local, em seu realdimensionamento: “[...] o desenvolvimento supõe aracionalidade como condição necessária para repro-duzir-se por extensão e o local envolve bem maisorganizado ‘sentimento’ alusivo a refúgio, à identi-dade do território, às redes de defesa, à conservaçãodos objetos, relatos, perfumes sabores, cores.”. Ade-mais, Pintos (2007, p. 44) enfatiza que “O local consti-tui uma realidade fenomenológica complexa,entremeada de relações de imediatez, construçõessimbólicas e sentimentos de pertença, pelos quais seconstrói a identidade (e a diferença) de uma comuni-dade. Enfim, o local é uma construção para si antesque uma qualidade em si“.

Referências

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ÁVILA, Vicente Fideles de. Educação escolar e desen-volvimento local: realidade e abstração no currículo.Brasília: Plano Editora, 2003.

BRASIL ESCOLA. Revolução cubana. Edição digitalizada,s/d. Disponível em: http://www.brasilescola.com/historiag/revolucao-cubana.htm. Acesso em: 25 set.2007.

GEOCITIES. Vietnam. Edição digitalizada, s/d.Disponível em: http://www.geocities.com/centro_lotus/Vietnam.html. Acesso em: 8 out. 2000.

KÖLN, Portau Schmidt von. À guisa de conclusão. In:KÖLN, Portau Schmidt von. A enfermidade gramscianano movimento trotskysta contemporâneo e nas lutas deemancipação do proletariado. Edição digitalizada, s/d.Disponível em: http://www.scientific-socialism.de/SUCapa.htm (a obra toda) e http://www.scientific-socialism.de/SUCONCL.htm (a matéria citada).Acessos em: 21 set. 2007.

KUJAWSKI, Gilberto de Mello. A crise do século XX. 2.ed. São Paulo: Ática, 1991.

MARX, Karl. O capital – crítica da economia política.Trad. Reginaldo Sant’Anna. 16. ed. Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1998.

MARX, Karl; BORCHARDT, Julian. O capital – ediçãoresumida. Trad. Ronaldo Alves Schmidt. 3. ed. Rio deJaneiro: Zahar Editores, 1973.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partidocomunista. Edição digitalizada, s/d. (Redigido pelosautores em 1847). Disponível em: http://www.vermelho.org.br/img/obras/manifesto.doc.Acesso em: 14 set. 2007.

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PINTOS, Fernando. El estado del desarrollo local enAmérica Latina: obstáculos, facilitadores y liderazgos.In: CARRIZO, Luis (edit.). Gestión local del desarrollo ylucha contra la pobreza. Montevideo-Uruguay: CLAEH(Centro Latinoamericano de Economia Humana), 2007,p. 44-94.

SCHÖN, Donald A. Formar professores como profis-sionais reflexivos. In: NÓVOA, António (org.). Osprofessores e a sua formação. Lisboa: Publicações DomQuixote Ltda, 1995. p. 77-91.

TIJOUX, Maria Emilia. Enfrentar el sufrimiento social y latarea de la sociologia: las paradojas del desarrollo localsustentable. Campo Grande-MS: PMDL/UCDB-IIColóquio Internacional, 2007.

TROTSKY, Leon. Estalinismo e bolchevismo - sobre asraízes históricas e teóricas da IV Internacional. Ediçãodigitalizada, s/d. (Matéria redigida pelo autor em1937). Disponível em: http://www.marxists.org/portugues/trotsky/1937/misc/stalinismo.htm.Acesso em: 13 set. 2007.

VIZENTINI, Paulo G. Fagundes. A Coréia e as grandespotências: Estados Unidos, China, Rússia e Japão.Edição digitalizada, s/d. Disponível em: http://ftp.unb.br/pub/download/ipr/rel/ipri/2000/2626.PDF. Acesso em: 8 out. 2007.

Outros textos, do autor, relacionados com adisciplina Teoria do Desenvolvimento Local:

Realimentando discussão sobre teoria deDesenvolvimento Local (DL). INTERAÇÕES - RevistaInternacional de Desenvolvimento Local, CampoGrande-MS: UCDB, v. 8, n.13, p. 133-140, set. 2006.

Municipalização para o desenvolvimento. Campo Grande:UFMS/PREG, 1993.

No município sempre a educação básica do Brasil. 2.ed.Campo Grande-MS: UCDB, 1999.

Repensando a relação estado/municípios: umasugestão para o governo de Mato Grosso do Sul. SÉRIE-ESTUDOS - Periódico do Mestrado em Educação daUCDB. Campo Grande-MS: UCDB, (4), nov. de 1996.

Pressupostos para formação educacional emdesenvolvimento local. INTERAÇÕES - RevistaInternacional de Desenvolvimento Local. CampoGrande-MS: UCDB, (1), p. 63-75, set. 2000.

Considerações sobre gestão integral de educação eoutros serviços básicos no município. Revista Brasileirade Administração da Educação. Porto Alegre: AssociaçãoBrasileira de Administração da Educação-ANPAE, v.5, n. 2, jul/dez. 1987.

(et al.). Formação educacional em desenvolvimento local:relato de estudo em grupo e análise de conceitos. 2. ed.Campo Grande-MS: UCDB, 2001.

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Exame de ressonância sobre “paciência” edesenvolvimento local endógeno em subsolo teológico

Considerations about “patience” and endogenous local developmentand some theological underground

Quelques considerations regardant la “patience”et la resonance théologique sur le développement local endogène

Resonancias sobre la “paciencia” y el desarrollo local endogeno en subsolo teologico

Josemar de Campos Maciel*

Recebido em 1/12/2007; revisado e aprovado em 4/2/2008; aceito em 20/2/2008.

Resumo: Este texto relaciona o conceito de “paciência” com aspectos do Desenvolvimento Local Endógeno, ressaltandoatenção ao mundo metafórico oriundo da linguagem teológica, uma das primeiras articuladoras históricas doimaginário do desenvolvimento. A tese proposta é a do Agente de Desenvolvimento Local como mediador entre ostempos da comunidade (dimensão coletiva) e do indivíduo (dimensão particular). Essa idéia é precedida de umenunciado sobre tensão entre a teoria social e a dimensão teológica da cultura, seguido de dois exemplos da tarefa doAgente de Desenvolvimento Local: a noção de diagnóstico e a de pecado.Palavras-chave: Teoria do Desenvolvimento Local. Desenvolvimento Local Endógeno. Paciência Histórica.Abstract: This text joins the concept of “patience” with some aspects of Endogenous Local Development, with specialattention to the metaphoric world originated in theological language, one of the first and main historical matrixes ofthe imaginary of development. The proposition advanced is that the Local Development Agent is a mediator betweenthe times of the community (collective dimension) and that of the individual (private dimension). This idea isprepared by a previous reflection about the tension between social theory and the theological dimension of culture,and is followed by two illustrations of the task of the Local Development Agent: the notion of diagnostics and that of sin.Key words: Local Development Theory. Endogenous Local Development. Historic Patience.Résumé: Le but de ce texte est celui de rapporter le concept de “patience” avec des aspects du Dévéloppement LocalEndogène, ayant attention spéciale sur le monde métaphorique issu du langage théologique, qui a étée une despremières articulatrices de l´immaginaire du dévéloppement. On propose ici l´idée que l´Agent du DévéloppementLocal est un médiateur entre le temps de la communauté (la dimension collective) et celui de l´individu (dimensionparticulière). Cette idée vient précedée par quelques considerations sur la tension entre la théorie sociale et la dimensionthéologique de la culture. Deux exemples du travail de l´Agent de Dévéloppement Local sont présentés: la notion dediagnostique et celle de pêché. Mots-clés: Théorie du Développement Local. Développement Local Endogéne. Patience Historique.Resumen: Este texto relaciona el concepto de “paciencia” con aspectos del Desarrollo Local Endógeno, resaltando laatención al mundo metafórico oriundo del lenguaje teológico, uno de los primeros articuladores históricos delimaginário del desarrollo. La tesis propuesta es la del Agente de Desarrollo Local como mediador entre los tiemposde la comunidad (dimensión coletiva) y del individuo (dimensión particular). Esa idea es precedida por un enunciadosobre la tensión entre la teoria social y la dimensión teológica de la cultura, seguida de dos ejemplos de la tarea socialdel Agente de Desarrollo Local: la noción de diagnóstico y la de pecado.Palabras-clave: Teoría del Desarrollo Local. Desarrollo Local Endógeno. Paciencia Histórica.

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* Licenciado em Filosofia pelas Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso (FUCMT); Bacharel e Mestre emTeologia pela Pontifícia Università Gregoriana de Roma; Mestre em Psicologia pela Universidade Católica DomBosco-UCDB; Doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas-PUCAMP/SP. Atualmente,professor dos cursos de graduação (Psicologia e Filosofia) da Universidade Católica Dom Bosco-UCDB e docentedo Programa de Pós-Graduação - Mestrado em Desenvolvimento Local. E-mail: [email protected].

Todos os erros humanos são frutoda impaciência, interrupção prema-tura de um processo ordenado, obs-táculo artificial erguido ao redor deuma realidade artificial (KAFKA.Considerações acerca do pecado.)

Observações iniciais

Como veremos logo à frente, todo estetexto guarda relação direta com o que aquise convencionou denominar ensaio-base, so-bre “PACIÊNCIA”, CAPITALISMO, SO-CIALISMO E DESENVOLVIMENTOLOCAL ENDÓGENO, de autoria do Prof.Vicente Fideles de Ávila, disponibilizado pa-

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ra publicação em subsídio à disciplina Teo-ria do Desenvolvimento Local, do Programade Mestrado em Desenvolvimento Local daUniversidade Católica Dom Bosco-UCDB.

Essa relação direta se configurou, emprimeiro lugar, porque a motivação para asistematização das reflexões aqui apresen-tadas aflorou da própria leitura analítica domencionado ensaio, quando ainda receben-do contribuições aprimoradoras. Em segun-do lugar, por se ter entendido, já naquele mo-mento, que este EXAME DE ESSONÂNCIA SOBRE

“PACIÊNCIA” E DESENVOLVIMENTO LOCAL ENDÓGENO

EM SUBSOLO TEOLÓGICO se constituiria uma des-sas contribuições, até certo ponto inusitadapor estender a compreensão de Desenvolvi-mento e “Paciência” a horizontes culturaismais abrangentes, como a exploração dosfatos religioso e teológico subjacentes às pon-tuações temáticas que se seguem.

Em verdade, todo este ensaio-de-con-tribuição ao mencionado ensaio-base acabouse concretizando em dois momentos su-cessivos: o do primeiro esboço de colabora-ção, enviado por correio eletrônico ao Prof.Vicente Fideles de Ávila em 14 de outubrode 2007, e o que veio depois, justamente am-pliando e aprofundando análises (as po-sicionadas a partir do próximo subtítulo)concernentes às principais referências já des-tacadas no primeiro esboço. Por conse-guinte, esse primeiro esboço acabou se tor-nando espécie de resumo-expandido do de-talhamento de abordagens que vieram de-pois. Assim sendo, parece lógico que co-nhecer previamente o teor de seus termos ori-ginais seja de alguma valia à compreensãodas posteriormente ampliadas e apro-fundadas análises. Eis, pois, a transcrição ipsislitteris dos seguintes comentários do mencio-nado esboço (destacados apenas porentrelinhamento simples), de fato tecendoconsiderações sobre o ensaio-base:• Professor, eu penso que o estilo do seu tex-

to merece um comentário. Não é um re-lato de experiência puro, mas passa perto,enquanto discute aspectos de experiênciasque aconteceram durante atividades da dis-ciplina Teoria do DL. Não é um artigo cien-tífico do tipo validação de hipótese, porquea hipótese surge ao fim: isso funciona! Mas,na minha opinião, o seu texto é valorosose for lido lado a lado com um outro estilo

consagrado na literatura “científica” – nosentido de ter sido literatura que ajudou aconstruir a auto-imagem do Ocidente so-bre si mesmo, no Renascimento e um pou-co além. São as famosas Orationes. Penso,por exemplo, na bela De hominis dignitateoratio, de Pico Della Mirandola (1480/2008), escrita como uma carta aos seus lei-tores/ouvintes. É uma meditação, es-pontânea e sem medo de errar. Dela nas-ceu, posteriormente, a versão moderna dogênero que hoje denominamos ensaio... Daíque, na minha opinião, o senhor escreveuuma carta, uma epístola (no sentido de umSêneca, de um Cícero, ou seja, uma coisaséria e íntima ao mesmo tempo), e isso deveser enfatizado, mesmo porque penso queo texto deve ser publicado, e já. Ele ajudaa “cercar” muito bem alguns temas da dis-ciplina. Abaixo vou escrevendo mais algu-mas sugestões, na medida em que a leitu-ra do seu texto me sugere.

• Sobre Paciência. Pati, patio, significa em la-tim “capacidade para sofrer”, no sentidode capacidade ou aptidão para carregar,tomar sobre si, fazer-se responsável por...Daí que me parece que a palavra, apesarde ter uma conotação bastante interessan-te na pena de escritores socialistas e dopróprio Marx (que defende a revolução,contra os pensamentos reformistas em ge-ral), merece um pouco de atenção comouma condição de espera. Ou seja, comouma condição de aptidão, de capacidadede dilação, de adiamento da gratificação,ou do ataque, ou da resolução de algumproblema. Na Bíblia se diz que o Salvadornasceu “Na plenitude dos tempos”. Antesda plenitude dos tempos foi o tempo, exa-tamente, da paciência de Deus. Essa figu-ra, de fortes ressonâncias semíticas, alia aidéia de sabedoria do Rei/Legislador/daDivindade à idéia de senso de oportuni-dade. Aliás, no corpus dos escritossapienciais, da Bíblia, essa idéia é retoma-da à exaustão. O impaciente aborta pro-cessos históricos e perde a oportunidade,exatamente porque aqui trata-se de encon-trar a sintonia entre dois tempos: o tempodo homem individual, do que critica ouavalia a situação, e o tempo da história, otempo do acontecimento. Sintonia entre otempo do indivíduo e o tempo mais amplo

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do grupo, da natureza ou de Deus, éKairos, instante de chegada da ilumina-ção... Há um tempo para cada coisa de-baixo do sol... (Sir. c.2.).

• Nesse contexto, acima, pode-se entenderum pouco que a comunidade desabrochaenquanto ela encontra a própria sintonia,o próprio ritmo. E o pretenso agente de DLdeve ser um facilitador da sintonia dos tem-pos, não um impositor de idéias. Neste sen-tido, o que há a fazer é escutar, e escutar,sintetizar, ler e reler, fazer sentido..., impli-ca uma profunda paciência, que será sem-pre um profundo sentido de oportunidade.

• Algumas figuras super tradicionais de pa-ciência da nossa cultura: o pescador que temque saber esperar os sinais do peixe; o ca-çador de onças antigo, que caçava numarede chamada de espera. Se se apressasse,morria ele; o tocador de carros de bois. Setocar os bois rápido demais, cansa a juntae perde a mercadoria.

• Uma observação etimológica sobre diagnose[focada na 1ª QUESTÃO: SOBRE “PA-CIÊNCIA” EM DESENVOLVIMENTOLOCAL do ensaio-base]. Em Hipócrates,pai da medicina e rei do diagnóstico (nosAforismos, mas também nos Lugares),aparece um cuidado excessivo com o diag-nóstico das doenças. Segundo ele, o mé-dico (o cuidador, o Therapeutés) deveráescutar atentissimamente a todos os sinais,porque cada sinal (semeion) deve ama-durecer até se encaixar numa experiênciade conhecimento profundo do que é adoença em causa. Para ele, o estado na-tural dos organismos é o de equilíbrio(Krásis), e a doença corresponde a um es-tado de desequilíbrio (diskrasía) em um oumais pontos do arranjo de que se compõeo organismo humano. Daí que diagnósticoé uma tarefa seríssima que também en-volve paciência. O diagnosticador, o es-tudioso dos sinais, deve esperar até queeles se juntem numa figura que faça senti-do, pois diagnóstico significa conhecer(gnosis) através (diá). Diagóstico é um co-nhecimento que atravessa, que vai além, quepermite fazer inferências e deitar pro-jeções. Isso está bem longe da idéia desimulações estatísticas ou suposições re-cheadas de gráficos para esconder a faltade... paciência.

• Sobre a noção de pecado [terceiro pará-grafo da 2ª QUESTÃO - ABRANGENDOCAPITALISMO, SOCIALISMO E DESEN-VOLVIMENTO LOCAL do ensaio-base]: éinteressante notar como o Ocidente nemsempre é ignorante da importância dessanoção. Pecado é uma palavra até hojemuito usada pelos gregos com o sentidomais primitivo. Em grego a palavra éamartía e significa, simplesmente, algo pró-ximo ao que os italianos denominamdisagio. Não estar à vontade, não ir às viasde fato, não acertar na mosca ou, simples-mente, errar o alvo. Há uma cantora gre-ga contemporânea, Eleutheria (Eleftheria)Arvanitaki, que canta um grande sucessodesde o final dos anos 1980, que pode ilus-trar bem a idéia. O nome da música e orefrão contêm a expressão Historía mou,amartía mou... A moça canta para um ho-mem amado ou ex-amado, e a canção falade um grande amor que não se resolveu,que deixou traços de dor. Para coroar essesofrimento, esse mal-estar ou má-consci-ência, a moça afirma que o seu homem é asua história (positivo), mas também o seuerro (negativo).

• [Quinto parágrafo e seguintes da supra-referida 2ª Questão] Seus comentários so-bre o comunismo estão brilhantes. É a partemais documentada do texto.

• Sobre Metodologia processual [alínea b con-cernente a diferenciações entre Desenvolvi-mento Local e socialismo marxista, aindano contexto da mencionada 2ª Questão].Acredito que os processos revolucionários,como enfatizou bem Merleau-Ponty, se nãome engano, têm o grande pecado(hamartía!) de serem exógenos, impostos aum grande número de pessoas em nomede idéias reguladoras por uma minoria quese legitima sempre a partir de metanar-rativas utópicas, coletivas, mas com bene-fícios não tão coletivos. Daí que os proces-sos começam animados e terminam reco-lhendo cadáveres e traindo os própriosprincípios. Não se pode obrigar a massa asonhar um sonho que já está pronto. Poroutro lado, um processo de DL é um pro-cesso de potenciação de possibilidades efe-tivas, que podem ser encontradas e resga-tadas – ou tematizadas – a partir da expe-riência real do que as pessoas ou comuni-

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dades efetivamente pensam e fazem. Nocaso das revoluções, as massas nem sequersão ouvidas. Elas são mobilizadas para fa-zer justiça a uma causa, que lhes é maisou menos violentamente imposta comouma narrativa soteriológica. No caso dasiniciativas de DL, as comunidades não têmuma causa imposta a si; elas são a causa.O processo é maiêutico, e facilita o nasci-mento da comunidade enquanto essênciade participação e de troca dinâmica.

• A parte final [logo após a supra-aludidaalínea b] que contém a história do movi-mento ou da causa do DL e algumas apli-cações... tentei, mas não tenho nada a re-tocar. [...]. Eu só comentaria, no primeiroe segundo corolários que, na verdade, en-tender a importância do que está aconte-cendo com as pequenas e pobres comuni-dades que estão se dando ao processo deDL, é entender um momento histórico fun-damental: quem sabe não estamos diantede uma das maiores chances que a demo-cracia está tendo para se tornar um siste-ma realmente representativo, enquanto es-tamos assistindo ao nascimento de ummodelo de sociedade civil mais participa-tivo e mais produtivo, em grande escala, apartir de modelos pluralistas e sempre co-munitários, superando assim o individua-lismo (neo-)liberal ...

Agora, encerrando estas OBSERVA-ÇÕES INICIAIS, enfatiza-se que todas aspontuações e respectivas análises, tanto doensaio-base como deste ensaio-de-ressonância,são frutos de colaboração acerca de preocu-pação comum ao corpo docente do Progra-ma de Mestrado em Desenvolvimento Localda Universidade Católica Dom Bosco. E aessência dessa preocupação não poderia seroutra que a de constituir, na medida do pos-sível, um corpo teórico próprio, em diálogocom tendências teóricas atuais e clássicas, naárea das discussões sobre Desenvolvimento(em geral) e Desenvolvimento Local (comdelimitação conceitual específica).

Isso esclarecido, passemos às anterior-mente referidas análises ampliadas eaprofundadas, esmiuçando o preliminar es-boço de contribuições acima reproduzido.

A dialética do teológico na análise dacultura

Na bibliografia sobre desenvolvimen-to enfatizou-se, nos anos 1980, o papel dacultura, até o ponto em que ele se tornou umaconquista aparentemente indisputada(CROLL, E.; PARKIN, 1992). Mas nem sem-pre o que é discutido em teoria pode ser pos-to em prática com facilidade. Cada vez maisé reafirmado em tese como lugar comum aimportância da cultura, por um lado en-quanto, por outro, vai ficando cada vez maisdistante uma definição de cultura (ABRAM;WALDREN, 1998). Com isso, ou a partirdisso, este texto começa com a ambição es-pecífica de identificar uma das matrizes quese liga ao imaginário para contribuir com agênese da idéia de cultura no ocidente. Cul-tura de desenvolvimento, bem entendido.

A tese central que regulará estas consi-derações é a de que existe um elemento teoló-gico imaginário subjacente à formação daidéia de cultura, imaginário este que precisaser desencavado, para que a idéia de culturapossa fluir em seu amplo significado(MILBANK, 1989) e para que, também, eprincipalmente, o agente de desenvolvimen-to local tenha acesso à experiência real de seuspares, interlocutores, ou solicitantes, caso setrate ele de um prestador de serviços, de ummembro em uma comunidade, como solidá-rio, ou um teórico, estudioso de um fe-nômeno. Ou seja, as reflexões que aqui se pro-põem estão num nível formal, mas pretendematingir um recorte da experiência humana debase que constitui a noção de cultura.

No entanto, afirmar que existe um ele-mento teológico imaginário subjacente àconstrução da noção de cultura não signifi-ca advogar a primazia dele. Significa ape-nas afirmar a sua existência, e apontar paraa sua recuperação como tarefa necessária nocampo das discussões sobre desenvolvimen-to em geral, e desenvolvimento local em par-ticular – pelo potencial mobilizador quesabidamente subjaz às experiências ou retó-ricas que envolvam o teológico. Noutros ter-mos, o teológico parte do que Ricoeur deno-mina dimensão simbólica da experiênciasubjetiva. E o simbólico não administrado,ou mal administrado, pode se tornar selva-gem. Juntamente com o desejo de vida e de

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morte, com a criatividade, com a experiên-cia estésica, isto é, da sensibilidade comocategoria formadora de uma visão de mun-do desejante (FISETTE, 2007).

Existe, de princípio, um dilema, queencontra o seu campo de prova no efeitorebote que vem sendo apresentado em fenô-menos como o fundamentalismo, a preocu-pação excessiva com poder em movimentosreligiosos revolucionários, e ainda outros,que têm matriz original religiosa, mas quese descontextualizam dela e acabam apre-sentando grandes problemas de manejo,para a sociedade como um todo – podemmesmo tornar-se potencialmente destrutivos.

O dilema consiste na dificuldade de asciências sociais manejarem adequadamentea complexidade de categorias teológicas queestão à base de experiências humanas, comas quais elas precisam trabalhar de formapragmática. Se trabalham rápida e apressa-damente, elas terminam fornecendo combus-tível legitimador para práticas extremamen-te perigosas; se penetram na experiência,como que empaticamente, em primeira pes-soa, descobrem-se desaparelhadas para ma-nipular categorias que vêm de um passadoportador de uma visão de mundo, prática,ideais humanos etc., muito diferente doatual, ou do que se chama de atual. Em ou-tras palavras, as ciências sociais estão sendoempurradas de volta a um diálogo com a te-ologia, para não cair no que estou denomi-nando de postura criptoteológica, modifican-do um pouco a idéia de Milbank (1989) deparódia ou simulacro de posições teológicas(Conforme também LONG, 2000).

Uma breve explicação tentando dar contado fenômeno

As ciências da sociedade são obriga-das a dialogar com a cultura. Para se poderfalar em desenvolvimento, é necessário es-cutar a cultura, entendida aqui em sentidomuito largo como os sistemas de gestão maisou menos simbólica dos significados das re-lações entre o ser humano e o seu ambiente,para saber dela quais os seus padrões e ex-pectativas de desenvolvimento. A cultura éa articulação do desejo humano convencio-nado e socialmente aceito, como que a arti-culação do sonho, seja ele utópico, oudistópico. Sem o sonho do local, o própriolocal não existe como experiência. Sem o lo-cal, ou seja, sem a sua articulação simbólicana forma de desejo discursado efetivamen-te, não é possível o desenvolvimento local,apenas a retórica do desenvolvimento – odesenvolvimento alheio, trazido de fora parao local – imposto; ou o desenvolvimentovicário: trazido de fora, e plantado no local.E aqui entra, justamente, a noção de cultu-ra: na matriz geradora do sonho enquantoele se articula como ideal, ou proposta dehorizonte ou tarefa civilizatória. Como severá, afirmo em seguida que, ainda mais nocoração deste sonho, existe o fator, ou di-mensão, teológica.

Uma chance de estabelecer um diálo-go fecundo com a cultura é a importânciado conhecimento imponderável na geraçãode matrizes culturais que, por sua vez, vãoestar à base de grandes narrativas de pro-gresso.

Tabela 1: Matrizes culturais e narrativas de progresso.

A consideração séria das relações en-tre ideários de desenvolvimento ainda em an-damento e suas respectivas situações genéti-cas pode ser fecunda para desconstruir a ló-gica desses projetos, gerando, talvez, ferra-

mentas para poder colocar em diálogo seto-res da sociedade que partem de matrizes di-ferentes. Neste sentido é que se propõe, nes-tas reflexões, como um dilema – desafio lógi-co do qual não se pode escapar se não se

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apanhar o dilema “pelos cornos” - de diálo-go entre as ciências sociais e o aspecto teoló-gico presente na matriz geradora da cultura.Se é implantado um diálogo, então decom-põe-se a matriz, e ela pode ser estudada, masde forma a que se respeite a sua especifici-dade; se não é implantado, se não se levaem consideração, ou não se implementa umametodologia de escuta dessas experiências,a ciência social corre o risco de cair num dis-curso que estou, aqui, denominando comocriptoteológico, modificando algumas posi-ções teóricas às quais já aludi logo acima.

Esse discurso é uma forma de paródiade um discurso teológico, mas sem a chan-cela do sagrado. Não se trata apenas de umdiscurso ideológico em sentido neutro, comoque uma discussão de idéias diferentes, sus-tentadas por contendores, portadores oudefensores de visões de mundo opostas econflitantes. Na base de opiniões conflitantes,compondo o peso que é a definição princi-pal do pender que caracteriza a opinião, estáo explicandum, sem resolução: a experiênciado inenarrável, do desejo, que foi articuladaem primeiro lugar na experiência mítica eque, sucessivamente, recebeu uma articula-ção sistemática nas teologias. Nem se trata,necessariamente, de uma volta ao ideológi-co como entendido na tradição marxista,como uso de legitimação econômica de usode recursos alheios. Trata-se de um cinismomais arrebatador. É o roubo do sonho. Umalesão e um desvio das matrizes formadorasdo material axiológico da cultura. Se ele seimpõe, pode acabar forçando para baixo onível de expectativa da população em rela-ção a padrões morais de existência e deenraizamento. O que significa, no mínimo,fragilizar as instituições em relação a expec-tativas de contato.

Elementos subjacentes

Existem elementos religiosos na cultu-ra. Se são levados em conta, implanta-se umdiálogo com a teologia; se não, corre-se o ris-co de cair em um discurso criptoteológico,que fragiliza a própria matriz geradora dacultura, que é a experiência humana comotal. Naturalmente estas idéias são incoativas,merecem revisão e críticas, mas queremexemplificar uma relação genética que deve

dar a pensar, a respeito das raízes de umaquestão aparentemente tão pragmática quenem mereceria uma atenção genética. Queisso é um engano crasso deverá ficar pelomenos inicialmente claro: como proposta,não como qualquer pretensão de conclusivi-dade. A seguir, comentarei alguns casos mui-to importantes em que idéias do mundo eco-nômico ou social podem ter um fundo reli-gioso ou, neste caso, teológico, ou seja, po-dem ser ricamente exploradas para um diálo-go mais explícito com matrizes da cultura.

A própria idéia de progresso é umaidéia criptoteológica . Isso significa, basica-mente, uma idéia ou concepção teológica,aqui de base eminentemente cristã (na Índiaou no Japão far-se-ia naturalmente outrodiscurso) naturalizada e usada sem levar emconsideração alguns dados relevantes desuas matrizes teológicas. O progresso é umaconcepção soteriológica, ou seja, uma con-cepção de salvação da espécie humana(RIST, 1996), salvação da miséria, do isola-mento, da ignorância, que implica a crençaem diversas matrizes da relação entre Deuse um povo eleito, seja ele o de Israel, no casodo Ocidente cristão, ou outro povo.

Nos discursos sobre progresso, a co-nexão com doutrinas da salvação, no Cen-tro-Oeste brasileiro, fica muito claro, se seassinala a conexão histórica importante en-tre D. Francisco de Aquino Corrêa e GetúlioVargas, até a década de 1950. Dom Aquino,então Arcebispo de Cuiabá, em seus dis-cursos, prolongava a tradição da parênese,ou seja, da exortação moral à conversão, quedentro do ideário salesiano da primeirametade do século XX significava, basica-mente, extirpar os vícios que impediam umtrabalho adequado, e meter as mãos à obra,em uma ocupação produtiva e relevantepara o reino de Deus (CORRÊA, 1927). Ora,esse tipo de discurso, de mobilização para aação, tem profundas raízes no pensamentoocidental, mas raras vezes se enfatiza aconexão dessas raízes com a experiênciateológica. Não se trata de discursos cientí-ficos modernos (newtonianos, pode-se dizer)do tipo validação de hipótese, porque a hi-pótese surge ao fim do trabalho, quando estemostra que a postura ou atitude proposta emobilizada a partir do discurso funciona naprática.

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Na verdade, parte importante da lite-ratura que ajudou a construir a auto-ima-gem do Ocidente sobre si mesmo, no Renas-cimento e um pouco além, atravessa as as-sim chamadas Orationes. Pense-se, por exem-plo, no belo Discurso sobre a dignidade dohomem, de Pico Della Mirandola (2006), es-crita como uma carta aos seus leitores/ou-vintes. É uma meditação, espontânea e semmedo de errar. Dela nasceu, posteriormen-te, a versão moderna do gênero que hojedenominamos ensaio.... e que teve um papelimportante na mobilização de agentes quepropuseram ou que levaram adiante propos-tas de desenvolvimento na região. As arti-culações deste tipo de trabalho com a tecno-logia e a propaganda posteriores, ficam ain-da por explorar. Mas a ligação entre a mobi-lização de forças morais e o trabalho dodesenvolvimento, que era o que se queriaressaltar, deve ter ficado clara a este ponto.Mas, um outro tema profundamente teoló-gico, que articula outros campos de investi-gação, ainda merece ser destacado. Refiro-me à articulação entre o grande tema da PA-CIÊNCIA, com o do diagnóstico da realidade eo pecado.

Articulações entre “paciência”, diagnósticoe pecado

Três temas que possuem uma raiz pro-funda na história da experiência religiosa ena reflexão teológica do ocidente são o dapaciência, do diagnóstico e do pecado. Searticulados, eles podem ajudar a mostrar umpouco mais a fecundidade das relações en-tre o agente de Desenvolvimento Local e assuas raízes, ou o enraizamento do seu tra-balho. Obviamente que no espaço de umartigo esses temas podem ser apenas esbo-çados, de forma programática, que é ape-nas o que aqui pretendo fazer.

Sobre “paciência”, ou seja, sincronia

Sobre Paciência. Pati, patio, significa emlatim “capacidade para sofrer”, no sentidode capacidade ou aptidão para carregar,tomar sobre si, fazer-se responsável por... Daíme parecer que a palavra, apesar de ter umaconotação bastante interessante na pena deescritores socialistas e do próprio Marx (que

defende a revolução, contra as reformas),merece um pouco de atenção como uma con-dição de espera.

Ou seja, a paciência aparece como umacondição de aptidão, de capacidade de di-lação, de adiamento da gratificação, ou doataque, ou da resolução de algum problema.Nas Escrituras se diz que o Salvador nasceu“Na plenitude dos tempos”. Antes da pleni-tude dos tempos foi o tempo, exatamente,da paciência de Deus – tempo no qual os pro-fetas, como Jonas, erram por impaciência,ou pregam a capacidade de ler os sinais paranão apressar o curso de acontecimentos queestão além da capacidade humana comum,de analisar o universo, como é o caso de Jó.

A figura do servo que sofre, obediente,mas que termina recompensado, alia a idéiade sabedoria do Rei/Legislador/da Divinda-de à idéia de senso de oportunidade das pes-soas empobrecidas. Aliás, no corpus dos escri-tos sapienciais, da Bíblia, essa idéia é retoma-da à exaustão. O impaciente aborta proces-sos históricos e perde a oportunidade, exata-mente porque aqui trata-se de encontrar asintonia entre dois tempos: o tempo do ho-mem individual, do que critica ou avalia asituação, e o tempo da história, o tempo doacontecimento. Sintonia entre o tempo do in-divíduo e o tempo mais amplo do grupo, danatureza ou de Deus, é Kairos, instante dechegada da iluminação... Há um tempo paracada coisa debaixo do sol... (Ecle. 3, 1-15).

Nesse contexto, acima, pode-se en-tender um pouco que a comunidade desa-brocha enquanto ela encontra a própriasintonia, o próprio ritmo. E o pretenso agen-te de DL deve ser um facilitador da sintoniados tempos, não um impositor de idéias.Neste sentido, o que há a fazer é escutar, eescutar, sintetizar, ler e reler, fazer sentido...,implica uma profunda paciência, que serásempre um profundo sentido de oportu-nidade.

Na cultura regional do pantanal – es-tendendo-se para além dele, algumas expres-sões mostram quanto esse imaginário aindaé recorrente e pode ser interessante, tantono estudo, quanto no diálogo com a repre-sentação que o sujeito se faz e constrói dasua cultura e do seu ambiente. Assim, algu-mas figuras tradicionais de paciência da cul-tura local, são:

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• O pescador que aprende a ler e a esperaros sinais do peixe. Um peixe é considera-do diferente do outro. Nas narrativas lo-cais, alguns “gostam” de enfrentar o pes-cador, disputam, precisam ser “cansados”,e assim por diante.

• Antigamente, no contexto da caça de ex-trativismo, o caçador de onças precisavafabricar uma espécie de armadilha para osfelinos, e se postava numa rede chamadade espera. Se ele se apressasse e tentassecaçar as onças antes de elas terem comidoalguma das iscas, antes de estarem em po-sição indefesa, ele corria o risco de morrer.

• Ainda, o antigo transporte da região, detodo o Centro-Oeste foi o carro de bois, pormuito tempo. O tocador de carros de bois,se tocasse os bois de maneira excessivamen-te rápida, cansava os animais e perdia opasso, ou seja, eles podiam desistir. E eleperderia a mercadoria.

• Recentemente tem-se voltado a enfatizar,por via do Tecnoforró, a necessidade de“paciência” para preparar um carro de boisque seja adequado às necessidades da re-gião, através da técnica de bater o mancá,ou seja, preparar bem as articulações en-tre as rodas e os eixos. Se a roda não forbem batida, não se fixa o suficiente e nãosustenta o peso; se for batida com forçaexcessiva, aperta demais e produz racha-duras (PESSOA, 2002).

Sobre a idéia de diagnóstico como supera-ção dos sinais

Outra formulação que pode ilustrarincoativamente a relação entre conceitos ereflexões teológicas e o desenvolvimento é aidéia de diagnóstico. Esta idéia, usada noimaginário de quem pensa o Desenvolvimen-to Local, tem mesmo a prerrogativa de su-perar, em certa medida, aquela anterior, queevoca a sincronia entre dois tempos. Ali, narepresentação quase teológica do papel ouda vocação do agente de DesenvolvimentoLocal, para a sua ação bastaria que ele ouela interpretasse adequadamente, tornando-se uma espécie de facilitador da vontade di-vina, ou do curso adequado da história, oudas melhores potencialidades de uma re-gião/território, ou tempo.

Aqui, evocando a idéia de diagnósti-

co, pode-se chamar em causa a idéia de queHipócrates, quando lê através dos sinais,quando faz um diagnóstico, na verdade estátentando criar uma configuração nova doselementos de conhecimento que lhe apare-cem diante dos olhos. Ou seja, o trabalha-dor na área do Desenvolvimento Local temum pouco de intérprete (acima), mas tam-bém um pouco de criador, como aqui.

Uma observação etimológica sobrediagnose deve forçosamente conduzir o olhardo leitor a um dos textos que deram origemmesmo a essa palavra, em toda a história damedicina ocidental, a partir da qual a idéiaé tomada de empréstimo para as ciências hu-manas, os seus Lugares no Homem (CRAIK,1998; NUTTON, 2004). Em uma das suasdefinições da medicina ele assevera,

44 1. Medicina é questão de equilíbrio. Se apessoa entende isto, então tem a posse deum princípio seguro, e poderá entender apresença ou ausência de qualidades ineren-tes, cujo conhecimento está equilibrado namedicina: isto é, que agentes de relaxamen-to podem se tornar adstringentes e que ou-tras coisas são contrárias, de forma seme-lhantes; e que as coisas que mais parecemcontrárias não são tão contrárias (ou seja,que coisas aparentemente semelhantes po-dem ser dessemelhantes, assim como coisasopostas podem ser semelhantes) (CRAIK,1998, p. 81).

Em Hipócrates, pai da medicina e reido diagnóstico, aparece um cuidado muitogrande com o diagnóstico das doenças. Mas,pare ele, diagnosticar é também uma formade equilibração e de criação de um outro es-tado. Segundo ele, o médico (o cuidador, oTerapeutés) deverá escutar atentissimamentea todos os sinais, porque cada sinal (semeion)deve amadurecer até se encaixar numa ex-periência de conhecimento profundo do queé a doença em causa. Para ele, o estado na-tural dos organismos é o de equilíbrio(Krásis), e a doença corresponde a um esta-do de desequilíbrio (diskrasía) em um ou maispontos do arranjo de que se compõe o orga-nismo humano. Daí que diagnóstico é umatarefa seríssima que também envolve paci-ência, e que tem como tarefa a restituição deequilíbrio, de uma condição natural que foiperdida por algum motivo.

Aplicando brevemente o raciocínio aotrabalho do Agente de Desenvolvimento

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Local, pode-se observar a ressonância daidéia na observação ideal de que odiagnosticador, o estudioso dos sinais, deveesperar até que eles se juntem numa figuraque faça sentido, pois diagnóstico significaconhecer (gnosis) através (diá). Diagóstico éum conhecimento que atravessa, que vaialém, que permite fazer inferências e deitarprojeções. Esta tarefa vai além e complemen-ta aquela que vê o diagnóstico como umaleitura de sinais contidos em simulações es-tatísticas ou modelos matemáticos. Na ver-dade, a desarticulação entre estas duas for-mas de diagnóstico, a saber, a humanista(hipocrática) e a estatística esconderia umaverdadeira falta de paciência, que redundaem desfavor da própria tarefa.

A relação entre esta noção de diagnós-tico como algo entre totalização e criação,típica de Hipócrates, e o contexto da teolo-gia, sobretudo medieval, vai ficar clara emTomás de Aquino, por exemplo. Mas no re-duzido espaço de um artigo não podemosdesenvolvê-la. Resta ainda uma noção, maisclaramente teológica.

Sobre a noção de pecado e sua fecundidade

O Ocidente é consciente da importân-cia da noção de pecado. Pecado é uma pala-vra até hoje muito usada pelos gregos com osentido mais primitivo. Em grego a palavraé amartía e significa, simplesmente, algo pró-ximo ao que os italianos denominam disagio.Não estar à vontade, não ir às vias de fato,não acertar na mosca ou, simplesmente, er-rar o alvo. Há uma cantora grega contem-porânea, Eleftheria Arvanitaki (2007), quecanta um grande sucesso desde o final dosanos 1980, que pode ilustrar bem a idéia. Onome da música e o refrão contém a expres-são Historía mou, amartía mou... (Tradução:minha história, meu erro [desacerto]).

A moça canta para um homem ama-do, e a canção fala de um grande amor quenão se resolveu, que deixou traços de dor.Para coroar esse sofrimento, esse mal-estarou má-consciência, a moça afirma que o seuhomem é a sua história (positivo), mas tam-bém o seu erro (negativo). Uma cópula determos que simboliza a possibilidade de ins-tauração de uma situação de desequilíbrio.Por um lado, um produto construído; por

outro, a avaliação moral da consciência deum erro que se cometeu. Isso, voltando àcategoria mais biologizante dos trabalhoshipocráticos, conduziria à noção de doença(exatamente, desequilíbrio, paraHipócrates). Aqui, ao invés, a situação ga-nha uma qualificação moral. O desequilóbrioinstalado é assumido em primeira pessoa, ouseja, o agente assume responsabilidade porele, e assim abre o flanco a toda a literaturasobre culpa e expiação que tanto fez famana história do Ocidente, de Freud a Girard.Mas esta primeira relação com a qualidademoral do agente pode ser estendida ao pro-blema da paciência.

Os processos revolucionários, comoenfatizou bem Merleau-Ponty (1999), têm ogrande pecado (hamartía!) de seremexógenos, impostos a um grande número depessoas em nome de idéias reguladoras poruma minoria que se legitima sempre a partirde metanarrativas utópicas, coletivas, mascom benefícios que não são coletivos, ou quepelo menos não são vistos assim. Daí que osprocessos começam aparentemente comgrande apoio da massa popular, mas termi-nam perdendo esse apoio, acusados de trai-ção dos próprios princípios. Esta narrativa éprópria de países nos quais o populismo pro-mete e efetua revoluções e milagres econô-micos que duram apenas duas ou três déca-das, como aconteceu no Brasil e na AméricaLatina (CONNIFF, 1999).

Para recolher brevemente a idéia depecado de um ponto de vista de uma Teoriado Desenvolvimento Local de base endóge-na, pode-se dizer que, de um ponto de vistaendógeno, não é possível obrigar a sociedade,como um todo, a assimilar um padrão cultu-ral, o que equivale a sonhar um sonho quejá está pronto. Não se impõe uma cultura,nem em nome de uma ideologia abertamentesoteriológica, do ponto de vista coletivo, naforma de uma narrativa de salvação dasmassas, nem em nome de uma ideologiaveladamente soteriológica, veiculada emnome de uma busca de salvação individual.

Por outro lado, um processo de Desen-volvimento Local é um processo de potencia-ção de possibilidades efetivas, que podem serencontradas e resgatadas – ou tematizadas- a partir da experiência real do que as pes-soas ou comunidades efetivamente pensam

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e fazem. No caso das revoluções, as massasnem sequer são ouvidas. Elas são mobiliza-das para fazer justiça a uma causa, que lhesé mais ou menos violentamente impostacomo uma narrativa soteriológica. No casodas iniciativas de Desenvolvimento Local quenascem e se desenvolvem como um projetoendógeno, as comunidades não têm umacausa imposta a si; elas são a causa, enquan-to o processo de desenvolvimento é também,simultaneamente, um processo identitário.O processo é maiêutico, e facilita o nascimen-to da comunidade enquanto essência de par-ticipação e de troca dinâmica (GAMMER,2004; SHUTTE, 1995).

Na verdade, entender a importânciado que está acontecendo com as comunida-des que estão se dando ao processo de Desen-volvimento Local, como busca de alternativadiante de um processo histórico de exclusão,pode ser uma chance para dilucidar um mo-mento histórico fundamental. Talvez equiva-lha à chance, para as ciências humanas, deinstaurar um novo diálogo com uma outraforma de sociedade nascente. Um modelo desociedade civil mais participativo e mais pro-dutivo, em grande escala, a partir de mode-los pluralistas e sempre comunitários, supe-rando assim o individualismo (neo)liberal(VELTMEYER, H.; PETRAS, J., 2002).

Referências

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Entrevista

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M.A.de Castilho: ¿Cuáles son susactividades en su Centro de Estudios enChile?

F.T.Ríos: Mi trabajo como investiga-dor y docente lo realizo en el Centro deEstudios del Desarrollo Local y Regional(CEDER) de la Universidad de Los Lagos(ULA), ubicado en la Ciudad de Osorno,Chile. Básicamente, el CEDER se trata deuna unidad académica destinada a ofrecerdocencia de postgrado y realizar investi-gación de carácter interdisciplinar en cuatroáreas de interés: cultura y desarrollo; gestiónpara el desarrollo; medioambiente ydesarrollo; y economía regional.

Desde Agosto 2006, soy el Coordi-nador Académico del Programa de Magísteren Ciencias Sociales, Mención Estudio deProcesos y Desarrollo de las SociedadesRegionales, cuya malla curricular replica engran parte las cuatro líneas de investigacióndel Centro. Este Postgrado es disciplinar oacadémico, cuestión que hace que sea en ri-gor un programa destinado a formar masacrítica dedicada a investigar y realizardocencia sobre los procesos territoriales. Ensu mayoría, pero no exclusivamente, losestudiantes provienen de las CienciasSociales (sociólogos, antropólogos, adminis-tradores públicos, geógrafos, trabajadoressociales, profesores de lenguaje, historiado-res, agrónomos, periodistas). Hasta ahorahemos tenido estudiantes de Ecuador, Ar-gentina y Chile. En marzo 2008 estamos ini-ciando la sexta generación de estudiantes.

Actualmente, también soy el Editor deLIDER, Revista Labor Interdisciplinar de De-sarrollo Local y Regional. Esta Revista tiene15 años de existencia; manteniendo las áreasde interés del Centro, se publica dos veces al

año, con un número regular y otro temático.En general, nuestro Centro tiene como

preocupación central los procesos territo-riales, y ello se refleja tanto en la docenciade postgrado como en las áreas investi-gativas y proyecto editorial.

M.A.de Castilho: Comente sobre sutrabajo en LIDER, Revista Labor Interdisci-plinar de Desarrollo Local y Regional.

F.T.Ríos: El año 2005 LIDER, RevistaLabor Interdisciplinaria de Labor Regional,inicio una nueva etapa que denominamos“Segunda Época”. Me tocó impulsar estanueva etapa: ampliamos el Comité Editori-al, reforzamos el Comité Asesor Internacio-nal, se estableció una política editorial y seoptó por incluir el Sistema APA de citas yreferencias bibliográficas. El objetivo eraasegurar transparencia y calidad.

A partir de la “Segunda Época” lapremisa de nuestra publicación consideraque en tiempos de globalización, lo local-re-gional no debe ser sólo un importante objetode estudio, sino que, y a su vez, es a partirjustamente de lo local-regional que se debegenerar conocimiento sobre temas globales,de manera constante y sistemática. En estesentido, los esfuerzos de LIDER se han ori-entado hacia tres objetivos interconectados:1. mantener un espacio de reflexióninterdisciplinaria en torno al desarrollo y elterritorio; 2. fortalecer la divulgación deltrabajo científico individual y colectivo; 3. serun observatorio y puesta al día de lasactuales y emergentes tendencias en CienciasSociales abocadas a tratar temas pertinen-tes al desarrollo local y regional.

Nuestra publicación está enfocada asía analizar y discutir en torno a las perspec-

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Entrevista concedida a Maria Augusta de Castilho, por Francisco Ther Ríos*, no IIColóquio Internacional em Desenvolvimento Local

* Antropólogo chileno. Profesor Jornada Completa, Universidad de Los Lagos. Coordinador Académico delPrograma Magíster en Ciencias Sociales (programa acreditado por CNAP/CONICYT). Editor Revista LaborInterdisciplinaria de Desarrollo Local. Trabaja sobre interdisciplina y complejidad, territorio y sustentabilidad, ydesarrollo local. Actualmente ejecuta un proyecto de investigación sobre sociedades litorales en la Región de LosLagos. Dirección Postal: Calle Lord Cochrane 1225, Osorno, Chile. Fono: 56 – 64 – 33 35 86. Fax: 56 – 64 – 33 35 83.E-mail: [email protected], [email protected]

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112 Francisco Ther Ríos

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tivas teóricas y metodológicas más relevan-tes en las Ciencias Sociales y el DesarrolloRegional y Local; así también nuestra Revis-ta está interesada en comunicar experienciasexitosas de innovación para el fortale-cimiento y desarrollo de las sociedadesregionales.

LIDER se publica en español y apare-ce dos veces al año, con un número regulary otro temático; incluyéndose manuscritosque demuestran originalidad, calidad ycoherencia interna, siendo además aportesnovedosos y relevantes al conocimiento deldesarrollo y el territorio. Dada estas carac-terísticas, LIDER se destina principalmentea investigadores, docentes y estudiantes depostgrado interesados en la temática regio-nal y local.

Por supuesto que el trabajo no ha sidofácil. Sobretodo yo diría que hemos idoaprendiendo en el trayecto. Principalmente,la estrategia para ello ha sido tomar comomodelo el trabajo y desarrollo de otraspublicaciones consagradas como EURE yChungará, entre otras. Mantener unproyecto editorial tampoco es fácil en térmi-nos de los recursos financieros. No siempreesto convence. Poco a poco hemos ido con-formando un equipo más o menos estable.Aún cuando hemos tenido logros en esta“Segunda Época”, como es la inclusión ensiete bases de datos e índices, por supuestoque queda aún mucho por hacer. Nuestraintención es lograr la plenainternacionalización de la Revista.

M.A.de Castilho: ¿Qué proyectos deinvestigación realiza en este momento?

F.T.Ríos: Sin duda la cotidianeidad esuno de los temas que más interés medespierta. Actualmente, participo en dosproyectos donde estudiamos prácticas coti-dianas, básicamente apoyándonos tanto enlos trabajos del filósofo chileno HumbertoGiannini como en los trabajos del antropó-logo francés Michel De Certeau. Uno deestos proyectos, el cual dirijo, esta dedicadoa etnografíar el ambiente costero en dosasentamientos de pescadores artesanales.Considerando que en Chile la mayoría delos trabajos sobre pesca artesanal lo hanvenido realizando biólogos marinos oecólogos, la sóla etnografía ya es valiosa pues

permite contar con información profundarespecto a los modos de vivir y habitar ensociedades litorales. Verdaderamente, estaespecie de arqueología de la cotidianeidadentrega excelentes pistas sobre lastransformaciones vividas en las caletas depescadores.

En el segundo de los proyectos queparticipo, el cual es dirigido por mi amigoNelson Vergara, filósofo, trabajamoscartografíando prácticas cotidianas en uncontexto urbano. Especificamente, esteproyecto, que se realiza en la propia Ciudadde Osorno (ciudad intermedia) investiga lasapropiaciones culturales en espacios públi-cos. Es un proyecto que se apoya mucho enfotografías y esquemas espaciales de laciudad, en estos últimos se sitúan las distin-tas prácticas desplegadas sobre la ciudad: lacalle, los espacios de recreación, la plaza,espacios de intercambio comercial.

Junto a la cotidianeidad, o más biencomo una forma de acceder a ella, meinteresa mucho el estudio de lo que he deno-minado como “imaginarios territoriales”. Setrata de matrices ideoafectivas que permitenconocer los territorios a partir de las prácticas(el hacer), los discursos (el decir), laspercepciones de los habitantes y lasintersubjetividades que se entretejen entreellos. Por supuesto que esta noción esdepositaría de una tradición geográfica im-portante, representada en este caso por Mil-ton Santos y Paul Claval; pero también seapoya en la Ecología Política de Enrique Leffy Arturo Escobar, y en la concepción deDesarrollo Regional de Roberto Santana ySergio Boisier. La interdisciplinariedad estáen el gen de los “imaginarios territoriales”,a partir de ellos, esa es la apuesta, creo quese puede hablar de un “otro desarrollo”, algoasí como la posibilidad de reconocer o evi-denciar las posibilidades de sustentabilidadde los territorios a partir de sus propiascondiciones y procesos, los cuales pordefinición, siempre son cambiantes.

Pero hay algo que está en el corazónde mis intereses y es elucidar (evidenciar) losterritorios como aconteceres, como entida-des móviles cuyas temporalidades sin dudason lo más importante para promover ese“otro desarrollo”. La complejidad territori-al, no sólo significa para mí un área de

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113Entrevista

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investigación, sino todo un programa deinvestigación que convierte la actividadinvestigativa en un contínuo “estar atento”.

Mucho de lo anterior lo continuarétrabajando y profundizando a través de unnuevo Proyecto financiado por el FondoNacional de Desarrollo Científico y Tecnoló-gico (FONDECYT), 2008-2010. Se trata deuna investigación de carácter etnográfica yetnológica que aborda las complejidades ydinámicas de los ambientes costeros en el surde Chile transformados cotidianamente porlos conflictos existentes entre prácticas y ra-cionalidades diferentes (culturales, económi-cas y tecnológicas). Se trata de un estudioque, abordando las dinámicas socioespacialesy socioambientales, trata de dilucidar cómosaberes de distinto origen, tradicional y cien-tífico, por un lado, y elementos abstractos yconcretos del proceso cognoscitivo, por otro,se conjugan y articulan en la determinaciónde itinerarios y destinos de sociedades litora-les específicas. Dicho de otro modo, interesaevidenciar y prospectar las complejidadesque emergen de las interrelaciones entreprácticas materiales (económicas, tecnológi-cas) y esquemas cognitivos distintos (raciona-lidades). Una de la mayores potencias deesta investigación, y al mismo tiempo sudesafío, apunta hacia el ejercicio de diálogoentre disciplinas articuladas en función aintereses comunes, lo que constituye unavance epistemológico respecto a

investigaciones monoespecificas que tratansobre el desarrollo en sociedades litorales.

M.A.de Castilho: Realice un comen-tario (como participante) sobre el II ColoquioInternacional de Desenvolvimento Local –Campo Grande / MS – Brasil (Agosto 2007)

F.T.Ríos: La temática del evento mesedujo mucho. La organización fue esplén-dida y de calidad los trabajos presentados.Me llamó la atención el fuerte compromisoy entusiasmo de profesores y estudiantes dela Maestría en Desarrollo Local de la UCDB.Eso sin duda es muy gratificante. En gene-ral, me sentí muy a gusto en el evento.

No siempre es fácil encontrarse con ungrupo de colegas con los cuales se compartenenfoques e intereses, creo que esa“comunidad” lograda durante el evento esde significativa importancia.

También me sentí muy cercano con laorientación del Programa de Maestría.Recuerdo que antes de asistir al Coloquiorevisé la web del Programa; fue increibleconstatar la cercanía de intereses y enfoquescon varios de los colegas profesores. Unaventaja que tiene el Programa, y que veo conbuenos ojos, es el hecho de haber integradoen el cuerpo de profesores a colegas de dis-tintas profesiones, no solo de las CienciasSociales, eso provoca una sinergia positivaque se evidenció claramente en la realizacióndel Coloquio.

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Critérios para publicação

Art. 6º - A entrega dos originais para a Revista deveráobedecer aos seguintes critérios:

I - Os artigos deverão conter obrigatoriamente:a) título em português, inglês, espanhol e francês;b) nome do(s) autor(es), identificando-se em rodapé

dados relativos à produção do artigo, ao(s) seu(s)autor(es) e respectivas instituições, bem como aauxílios institucionais e endereços eletrônicos;

c) resumo em português, inglês, espanhol e francês com,no máximo seis linhas ou 400 caracteres, rigorosa-mente corrigidos e revisados, acompanhados, res-pectivamente, de palavras-chave, todas em númerode três, para efeito de indexação do periódico;

d) texto com as devidas remissões bibliográficas nocorpo do próprio texto;

e) notas finais, eliminando-se os recursos das notas derodapé;

f) referências bibliográficas.II - Os trabalhos devem ser encaminhados dentro da

seguinte formatação:a) uma cópia em disquete no padrão Microsoft Word

6.0;b) três cópias impressas, sendo uma delas sem

identificação de autoria e outra acompanhada deautorização para publicação, impressa e on-line,devidamente assinada pelo(s) autor(es);

c) O texto deverá ter entre 10 e 18 páginas redigidasem espaço 1,5;

d) caso o artigo traga gráficos, tabelas ou fotografias,o número de toques deverá ser reduzido em funçãodo espaço ocupado por aqueles;

e) a fonte utilizada deve ser a Times New Roman,tamanho 12;

f) os caracteres itálicos serão reservados exclusiva-mente a títulos de publicações e a palavras emidioma distinto daquele usado no texto,eliminando-se, igualmente, o recurso a caracteressublinhados, em negrito, ou em caixa alta; todavia,os subtítulos do artigo virão em negrito;

III - Todos os trabalhos devem ser elaborados emqualquer língua e encaminhados em três vias, comtexto rigorosamente corrigido e revisado.

IV - Os autores deverão encaminhar declaração/autorização (disponível no site do periódico) deelaboração e domínio do conteúdo do artigo.

V - Eventuais ilustrações e tabelas com respectivaslegendas devem ser contrastadas e apresentadasseparadamente, com indicação, no texto, do lugaronde serão inseridas. Todo material fotográfico será,preferencialmente, em preto e branco.

VI - As referências bibliográficas e remissões deverãoser elaboradas de acordo com as normas dereferência da Associação Brasileira de NormasTécnicas (ABNT - 6023).

VII- As opiniões e conceitos emitidos pelos autoresdos artigos são de sua exclusiva responsabilidade.

VIII - Os limites estabelecidos para os diversos traba-lhos somente poderão ser excedidos em casos real-mente excepcionais, por sugestão do Conselho Edi-torial Internacional e a critério do Conselho deRedação.

Art. 1º - Interações, Revista Internacional do Programade Desenvolvimento Local da Universidade CatólicaDom Bosco, destina-se à publicação de matérias que,pelo seu conteúdo, possam contribuir para aformação de pesquisadores e para o desenvolvi-mento científico, além de permitir a constanteatualização de conhecimentos na área específica doDesenvolvimento Local.

Art. 2º - A periodicidade da Revista será, inicialmente,semestral, podendo alterar-se de acordo com asnecessidades e exigências do Programa; o calendáriode publicação da Revista, bem como a data defechamento de cada edição, serão, igualmente,definidos por essas necessidades.

Art. 3º - A publicação dos trabalhos deverá passar pelasupervisão de um Conselho de Redação compostopor cinco professores do Programa de Desenvolvi-mento Local da UCDB, escolhidos pelos seus pares.

Art. 4º - Ao Conselho Editorial Internacional caberá aavaliação de trabalhos para publicação.

§ 1º - Os membros do Conselho Editorial Internacionalserão indicados pelo corpo de professores doPrograma de Mestrado em Desenvolvimento Local,com exercício válido para o prazo de dois anos, entreautoridades com reconhecida produção científica emâmbito nacional e internacional.

§ 2º - A publicação de artigos é condicionada a parecerpositivo, devidamente circunstanciado, exarado pormembro do Conselho Editorial Internacional.

§ 3º - O Conselho Editorial Internacional, se necessário,submeterá os artigos a consultores externos, paraapreciação e parecer, em decorrência deespecificidades das áreas de conhecimento.

§ 4º - O Conselho Editorial Internacional poderá proporao Conselho de Redação a adequação dosprocedimentos de apresentação dos trabalhos,segundo as especificidades de cada área.

Art. 5º - A Revista publicará trabalhos da seguintenatureza:

I - Artigos originais, de revisão ou de atualização, queenvolvam, sob forma de estudos conclusivos,abordagens teóricas ou práticas referentes à pesquisaem Desenvolvimento Local, e que apresentemcontribuição relevante à temática em questão.

II - Traduções de textos fundamentais, isto é, daquelestextos clássicos não disponíveis em língua portu-guesa ou espanhola, que constituam fundamentosda área específica da Revista e que, por essa razão,contribuam para dar sustentação e densidade àreflexão acadêmica, com a devida autorização doautor do texto original.

III - Entrevistas com autoridades reconhecidas na áreado Desenvolvimento Local, que vêm apresentandotrabalhos inéditos, de relevância nacional einternacional, com o propósito de manter o caráterde atualidade do Periódico.

IV - Resenhas de obras inéditas e relevantes que possammanter a comunidade acadêmica informada sobreo avanço das reflexões na área do DesenvolvimentoLocal.

I N T E R A Ç Õ E SRevista Internacional de Desenvolvimento Local

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Art. 7º - O autor deverá enviar autorização parapublicação e declaração de elaboração e domíniodo conteúdo do artigo (modelo no endereço

Art. 8º - Não serão aceitos textos que não obedecerem,rigorosamente, os critérios estabelecidos. Os textosrecusados serão devolvidos para os autores acom-panhados de justificativa.

Art. 9º - Ao autor de trabalho aprovado e publicadoserão fornecidos, gratuitamente, dois exemplares donúmero correspondente da Revista.

Art. 10 - Uma vez publicados os trabalhos, a Revistareserva-se todos os direitos autorais, inclusive os detradução, permitindo, entretanto, a sua posteriorreprodução como transcrição, com a devida citaçãoda fonte.

Para fins de apresentação do artigo, considerem-se osseguintes exemplos (as aspas delimitando os exemplosforam intencionalmente suprimidas):

a) Remissão bibliográfica após citações:

In extenso: O pesquisador afirma: “a sub-espécie Callithrixargentata, após várias tentativas de aproximação,revelou-se avessa ao contato com o ser humano”(SOARES, 1998, p.35).Paráfrase: como afirma Soares (1998), a sub-espécieCallithrix argentata tem se mostrado avessa ao contatocom o ser humano...

b) Referências bibliográficas:

JACOBY, Russell. Os últimos intelectuais: a culturaamericana na era da academia. Trad. Magda Lopes.São Paulo: Trajetória/Edusp, 1990.SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo,razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.______. A redefinição do lugar. In: ENCONTRONACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA, 1995, Aracaju. Anais...Recife: Associação Nacional de Pós-Graduação emGeografia, 1996, p. 45-67.______. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987.SOJA, Edward. Geografias pós-modernas: a reafirmaçãodo espaço na teoria social crítica. Rio de Janeiro: JorgeZahar, 1993.SOUZA, Marcelo L. Algumas notas sobre a importânciado espaço para o desenvolvimento social. In: RevistaTerritório (3), p.14-35, 1997.WIENER, Norbert. Cibernética e sociedade: o uso humanode seres humanos. 9. ed. São Paulo: Cultrix, 1993.

c) Emprego de caracteres em tipo itálico: os programasde pós-graduação stricto sensu da universidade emquestão...; a sub-espécie Callithrix argentata tem semostrado...

Endereço para correspondência e envio de artigos:Universidade Católica Dom Bosco

Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Local – Mestrado AcadêmicoINTERAÇÕES – Revista Internacional de Desenvolvimento Local

Av. Tamandaré, 6.000 – Jardim SeminárioCEP 79117-900 Campo Grande-MS

Fone: (67) 3312-3594e-mails: [email protected] / [email protected]

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCOCENTRO DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO LOCALMESTRADO ACADÊMICO

____________________________________Assinatura

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local

ASSINATURA ANUAL

NOME COMPLETO _________________________________________________________

CPF ______________________________________________________________________

ENDEREÇO ____________________________________________________ N._______

BAIRRO ______________________________________ CEP _______________________

CIDADE___________________________________________________________________

TELEFONE __________________________ CELULAR ____________________________

E-MAIL ____________________________________________________________________

DATA DA ASSINATURA _____/_____/__________

VALOR ANUAL VÁLIDO PARA 2008: R$ 50,00 (CINQÜENTA REAIS).

OBS.: PERIODICIDADE SEMESTRAL (MARÇO E SETEMBRO).

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Procedimentos:

Fazer depósito bancário em favor da Fundação Tuiuiú, no valor de R$ 60,00 (sessenta reais),

em uma das seguintes contas: Banco do Brasil, agência 2609-3, conta corrente 5902-1; ou

HSBC, agência 0842, conta corrente 11822-40. Enviar comprovante do depósito com a ficha

de assinatura via fax ou para Editora UCDB: Av. Tamandaré, 6.000, Jardim Seminário, CEP

79117 900 - Campo Grande-MS.

Para qualquer dúvida, entrar em contato pelo fone/fax: (67) 3312-3373; ou e-mail: [email protected].

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCOCENTRO DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO LOCALMESTRADO ACADÊMICO

____________________________________Assinatura

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local

DECLARAÇÃO

Eu, _________________________________________________________________,

declaro, para fins de publicação nesta revista, que elaborei e domino o conteúdo do artigo

intitulado ______________________________________________________________

___________________________________________________________________________,

bem como atendi a todos os critérios para publicação.

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