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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SÃO PAULO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO DE TURISMO SOCIOLOGIA DO LAZER E DO TURISMO (SOTX2) / PROF. RAFAEL CHEQUER BAUER AULA 1: IMPORTÂNCIA DA SOCIOLOGIA GERAL E SUA RELAÇÃO COM O LAZER E O TURISMO Quando ingressamos em um curso superior de Tecnologia em Gestão de Turismo logo aprendemos sobre a importância econômica da atividade turística. Também é discutido seu papel na transformação espacial/ambiental onde é desenvolvido. Contudo, sua relevância cultural e social é também fundamental à compreensão da dimensão e dinâmica do universo das viagens e do lazer. Neste sentido, a disciplina pretende: Apresentar os principais conceitos acerca da Sociologia; Aprimorar a visão humanística e holística dos alunos; Desenvolver o espírito crítico acerca dos impactos sociais e culturais do turismo e do lazer na atualidade. Começamos falando sobre o sentido da sociologia. O QUE É? PARA QUE SERVE? QUAL A SUA RELAÇÃO COM O FENÔMENO DAS VIAGENS E DO ENTRETENIMENTO? Esta primeira parte da disciplina, que representa as primeiras aulas teóricas, discute tais aspectos. A primeira ideia relevante sobre a Sociologia é que a mesma não pretende explicar tudo o que ocorre na sociedade, apesar de estar relacionada a todos os aspectos da existência humana em sociedade. Sua função primordial é servir como instrumento de compreensão das situações presentes na vida cotidiana e às múltiplas relações societárias inseridas no dia a dia. Em outras palavras, a Sociologia auxilia o entendimento em relação a uma série de formas de organização e desenvolvimento social presentes na humanidade: Relações Familiares e Sociais; Organização das Empresas e do Universo do Trabalho; Métodos Educacionais Formais e Informais; Modelos Políticos e Governamentais; Comportamento Religioso; Preferências e transformações de Lazer de uma Comunidade e Possibilidades e peculiaridades de interação social no universo das viagens.

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SÃO PAULO

CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO DE TURISMO

SOCIOLOGIA DO LAZER E DO TURISMO (SOTX2) / PROF. RAFAEL CHEQUER BAUER

AULA 1: IMPORTÂNCIA DA SOCIOLOGIA GERAL E SUA RELAÇÃO COM O LAZER E O TURISMO

Quando ingressamos em um curso superior de Tecnologia em Gestão de Turismo logo

aprendemos sobre a importância econômica da atividade turística. Também é discutido seu papel

na transformação espacial/ambiental onde é desenvolvido.

Contudo, sua relevância cultural e social é também fundamental à compreensão da dimensão e

dinâmica do universo das viagens e do lazer.

Neste sentido, a disciplina pretende:

Apresentar os principais conceitos acerca da Sociologia;

Aprimorar a visão humanística e holística dos alunos;

Desenvolver o espírito crítico acerca dos impactos sociais e culturais do turismo e do lazer

na atualidade.

Começamos falando sobre o sentido da sociologia. O QUE É? PARA QUE SERVE? QUAL A SUA

RELAÇÃO COM O FENÔMENO DAS VIAGENS E DO ENTRETENIMENTO? Esta primeira parte da

disciplina, que representa as primeiras aulas teóricas, discute tais aspectos.

A primeira ideia relevante sobre a Sociologia é que a mesma não pretende explicar tudo o que

ocorre na sociedade, apesar de estar relacionada a todos os aspectos da existência humana em

sociedade. Sua função primordial é servir como instrumento de compreensão das situações

presentes na vida cotidiana e às múltiplas relações societárias inseridas no dia a dia.

Em outras palavras, a Sociologia auxilia o entendimento em relação a uma série de formas de

organização e desenvolvimento social presentes na humanidade: Relações Familiares e Sociais;

Organização das Empresas e do Universo do Trabalho; Métodos Educacionais Formais e Informais;

Modelos Políticos e Governamentais; Comportamento Religioso; Preferências e transformações de

Lazer de uma Comunidade e Possibilidades e peculiaridades de interação social no universo das

viagens.

A relação entre o desenvolvimento do lazer e do turismo e das relações sociais é recente, do

ponto de vista histórico. No Ocidente, consolida-se a partir do século XVIII (Revolução

Industrial), período em que fica mais clara a dissociação entre tempo das obrigações (família,

religião e principalmente o trabalho), do tempo livre.

TEMPO TOTAL = TEMPO DAS OBRIGAÇÕES + TEMPO LIVRE

O Lazer Moderno surge essencialmente como fator de compensação individual e social, em

relação às obrigações cotidianas. Neste sentido, as possibilidades de descanso, diversão e

desenvolvimento pessoal e social adquirem uma conotação sistemática (ao menos do ponto de

vista da delimitação temporal). Surge com isso a possibilidade de refletir sobre a SOCIOLOGIA DO

LAZER E DO TURISMO.

Desde o século XIX autores como Lafargue discutem com mais profundidade a relação do homem

com o trabalho e o não-trabalho. O controle do tempo passa a ser um dos fatores primordiais para

a determinação do comportamento humano. Ele está intimamente atrelado à expansão do

sistema capitalista, que se baseia na produção, consumo e transferência de bens e mercadorias. O

tempo vira uma mercadoria. O que se faz nele (lazer e turismo), também.

Munné (1980) é um dos autores mais importantes sobre o assunto TEMPO SOCIAL. Ele define

quatro tipos fundamentais:

1. Tempo Psicobiológico: é ocupado e conduzido pelas necessidades psíquicas e biológicas

elementares, o que engloba o tempo de sono, nutrição, atividade sexual etc. Esse tempo se

condiciona endogenamente, é um tempo individual.

2. Tempo Socioeconômico: diz respeito ao tempo empregado para suprir as necessidades

econômicas fundamentais, constituídas pelas atividades laborais, atividades domésticas,

pelos estudos, enfim, pelas demandas pessoais e coletivas, sendo que esse tipo de tempo

está quase que inteiramente heterocondicionado, somente sendo autocondicionado nas

circunstâncias que visam à realização pessoal.

3. Tempo Sociocultural: dedicado às ações de demandas referentes à sociabilidade dos

indivíduos que se refere aos compromissos resultantes dos sistemas de valores e pautas

estabelecidos pela sociedade e objeto maior de sanção social. Esta categoria de tempo

tanto pode ser heterocondicionado como autocondicionado, podendo existir um equilíbrio

entre os dois pólos.

4. Tempo Livre: se refere às ações humanas, realizadas sem que ocorra uma necessidade

externa. Neste caso, o sujeito atua com percepção de fazer uso desse tempo com total

liberdade e de maneira criativa, dependendo de sua consciência de valor sobre seu tempo.

O tempo livre deveria ser um tempo máximo de autocondicionamento e mínimo de

heterocondicionamento, isto é, ser constituído por aquele aspecto do tempo social, em que o

homem conduz com menor ou maior grau de nitidez a sua vida pessoal e social.

No entanto, neste tempo que poderia ser um tempo voltado para o ócio mais verdadeiro, o

consumismo termina por deteriorá-lo, mercantilizá-lo, coisificando-o e empobrecendo-o de

significados.

Tal assunto será retomado com mais profundidade adiante.

PARA IR + LONGE: http://www.ufsj.edu.br/portal-

repositorio/File/dcefs/Prof._Adalberto_Santos/4-

ocio_lazer_e_tempo_livre_na_sociedade_do_consumo_e_do_trabalho_22.pdf

CARACTERIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA GERAL

A sociologia se caracteriza por 03 elementos principais:

1) Percepção Objetiva: orientada pela ciência (busca explicar a realidade com base na

observação sistemática dos fatos). Em outras palavras, não se baseia na percepção

individual, subjetiva e fortuita de algo.

2) Análise Indutiva: baseia-se em resultados obtidos a partir de uma amostra de determinada

população, procurando estimar padrões de comportamento (ex. A partir da entrevista e

observação sistemática do comportamento de 100 jovens residentes no Capão Redondo,

nota-se que os mesmos tendem a vincular seu tempo de lazer a prática de esportes como o

futebol e o basquete, vivenciado principalmente nas ruas e praças públicas do bairro).

3) Neutralidade Valorativa: isenção na atribuição de regras ou valores para as informações

coletadas. Ao Direito e à Ética, por exemplo, cumpre definir o que é certo e o que é errado

nas relações sociais. Já a Sociologia não atribui valores, não busca julgar o que é bom ou

mau na sociedade. Tampouco é normativa, isto é, não dita normas para as relações sociais.

IMPORTANTE: A ciência precisa do senso comum e vice-versa. Ambas se completam.

PARA IR + LONGE (CONCEITOS E REFERÊNCIAS GERAIS SOBRE SOCIOLOGIA E SEUS

PENSADORES) : http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAPT4AH/sociologia

SOCIOLOGIA COMO PARTE DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

“As Ciências Sociais são o estudo das características sociais dos seres humanos e das maneiras

pelas quais eles interagem e se transformam” (VILLA NOVA, 2004).

As Ciências Sociais incluem diversas áreas de conhecimento, entre as quais se destacam:

Sociologia, Antropologia, Economia, História, Psicologia, Ciências Políticas.

As disciplinas das Ciências Sociais têm um foco comum no comportamento social das pessoas,

mesmo que cada uma delas tenha uma abordagem particular.

Os antropólogos geralmente estudam culturas passadas e sociedades pré-industriais que ainda

existem, bem como as origens dos seres humanos. Os economistas exploram as maneiras pelas

quais as pessoas produzem e trocam mercadorias e serviços, bem como o dinheiro e outros

recursos. Os historiadores estão preocupados com as pessoas e os eventos do passado, e seu

significado para nós hoje. Os cientistas políticos estudam as relações internacionais, os atos do

governo e o exercício do poder e da autoridade. Os psicólogos investigam a personalidade e o

comportamento individual.

EXEMPLO: Abordagem de cada ciência social para o tema “Pena de Morte”

Os historiadores estariam interessados no desenvolvimento [nos EUA] da pena capital do período

colonial até ao presente. Os economistas poderiam fazer uma pesquisa para comparar os custos

das pessoas encarceradas durante toda a vida com as despesas dos recursos que ocorrem nos

casos de pena de morte. Os psicólogos observariam os casos individuais e avaliariam o impacto da

pena de morte na família da vítima e na do preso executado. Os cientistas políticos estudariam as

diferentes posições assumidas pelos políticos eleitos e as implicações dessas posições nas suas

campanhas para a reeleição. Por seu turno, os filósofos discutiriam se a pena de morte é certa ou

errada em termos morais.

E qual seria a abordagem dos sociólogos? Eles poderiam verificar (entre outros aspectos) como a

raça e a etnia afetam o resultado dos casos de pena de morte.

PROPOSTA DE EXERCÍCIO: Como seria a abordagem de cada ciência social citada acima em relação

ao comportamento dos turistas do Carnaval de Salvador?

O QUE ABRANGE A SOCIOLOGIA?

PROPOSTA DE EXERCÍCIO: Aponte oralmente quais são os tópicos discutidos dentro da sociologia.

Em seguida, toda a turma deve discutir seus significados.

(Sugestão de itens: Cultura, Sociedade, Crenças, Valores, Normas, Padrões de Comportamento,

Expectativas de Comportamento, Preconceitos, Estereótipos, Status Social, Papel Social,

Estratificação Social).

SOCIOLOGIA, CULTURA E SOCIEDADE

Todos nós sabemos da existência de certo tipo de “organização social” entre animais não

humanos (ex. divisão de trabalho das formigas). Todas as espécies animais, incluindo o ser

humano, apresentam padrões de comportamento: formas regulares de ação relacionadas a

determinadas situações. Pode-se dizer que existem formas comportamentais semelhantes entre

humanos e animais em situações familiares, de trabalho e até de lazer.

Isto posto, vale refletir sobre O QUE É E COMO OCORRE A SOCIALIZAÇÃO?

Socializar-se é transmitir e/ou assimilar crenças, que geram, valores, que geram normas, que

geram padrões de comportamento.

A Socialização é um processo permanente, embora seja mais intenso durante a infância e

adolescência. Nas sociedades capitalistas urbanas, as transformações da sociedade são mais

rápidas e complexas. Com isso, demandam uma socialização forçada ( orientada principalmente

pela escola e trabalho) para a continuidade dos sistemas sociais.

A Socialização Primária dá aos indivíduos os padrões de comportamento básicos necessários a

uma vida “normal” na sua sociedade. Já a socialização secundária é a que se refere à

aprendizagem de padrões especiais de comportamento, vinculados a determinadas posições e

situações sociais.

As formas de organização das relações sociais humanas se baseiam, em boa medida, em padrões

artificiais. Ou seja, não se baseiam apenas em características orgânicas específicas de nossa

espécie. Trata-se de um Sistema Bio-sócio-cultural.

PARA IR + LONGE (AMBIENTE E COMPORTAMENTO HUMANO):

http://www.youtube.com/watch?v=Q1QJpBE4020

http://www.youtube.com/watch?v=pZOLwaFeUiY

http://www.youtube.com/watch?v=dUFxAMrXPd8

Além disso, a Socialização auxilia o desenvolvimento de atitudes e sentimentos coletivos através

da comunicação simbólica. Todos os animais se utilizam de padrões de linguagem. Porém, só o

homem comunica-se através de símbolos. Símbolo é alguma coisa cujo valor ou significado é

atribuído pelas pessoas que o usam. Está presente em todos os momentos da vida social. Não só

pela comunicação verbal (palavra), mas enriquecida por símbolos de outra ordem.

Max Weber afirma: “Todas as ações sociais são ações com significado.” Por esta razão, todas as

relações sociais possuem necessariamente uma dimensão simbólica. Gestos, cores, objetos,

vestuário são exemplos de símbolos presentes em nossa sociedade.

PARA REFLETIR: As viagens e entretenimentos possuem dimensão simbólica?

Sim, a concepção, realização e impactos posteriores de uma viagem ou diversão cotidiana são

repletas de símbolos. Alguns são mais óbvios que outros. No turismo, os mais comuns são:

REALIZAÇÃO DE SONHO DE CONSUMO OU DESEJO COMPORTAMENTAL (IR ONDE QUISER,

QUANDO QUISER, POR QUANTO TEMPO QUISER E FAZER O QUE QUISER), LIBERDADE, STATUS /

PODER, AUTOESTIMA / AUTO REALIZAÇÃO, RECOMPENSA, RENOVAÇÃO (FÍSICA, MENTAL E

ESPIRITUAL), VIVENCIAR UM PAPEL SOCIAL DISTINTO, CONHECER CULTURAS E PAISAGENS,

RELAXAMENTO, APRENDIZADO.

Vale lembrar que coisas iguais podem ter significados diferentes entre as pessoas (ex. Assistir a

final da Copa do Mundo de Futebol). Ou coisas diferentes podem ter o mesmo significado (ex.

Para Maria casar é o ápice da realização pessoal. Já para José seria viajar a Paris).

O maior símbolo da expressão humana é a PALAVRA. Porém, não é a única.

A IMPORTÂNCIA DA CULTURA

O sentido sociológico da palavra CULTURA não é o mesmo da linguagem do senso comum.

No cotidiano, ora significa erudição/grande soma de conhecimentos (Ex. “Fulano é culto”); ora se

refere a determinado tipo de realização humana (Ex. Arte, Filosofia); isto sem falar no sentido

agrícola original do termo, que se aproxima de cultivo (Ex. Cultura da soja se expande na

Amazônia).

No sentido sociológico, CULTURA é todo o resultado da criação humana. Edward Taylor: “Um todo

complexo que abarca conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes e outras capacidades

adquiridas pelo homem como integrante da sociedade.” É necessário, portanto, compreender

desde IDEIAS (IMATERIAL) até ARTEFATOS (MATERIAL).

CULTURA MATERIAL: artefatos e objetos em geral

CULTURA IMATERIAL (denota o domínio de ideias): ética, crenças, conhecimentos,

técnicas, tradições, valores, normas.

Dentro do Turismo, pode-se fazer a seguinte classificação:

BENS CULTURAIS MATERIAIS (Templos Religiosos, Castelos, Conjuntos Urbanos,

Artesanato, Pinturas Rupestres, Festas Folclóricas, Vestimentas Típicas, Esculturas, Pratos

Típicos).

BENS CULTURAIS IMATERIAIS (Conhecimento Gastronômico, Literatura, Música, Folclore,

Linguagem, Costumes, Tradições, Símbolos).

Ainda do ponto de vista sociológico possui 03 características fundamentais:

Decorre essencialmente das capacidades desenvolvidas através do convívio social e não

de sua herança biológica.

Só o ser humano possui cultura.

A cultura não é exclusiva das pessoas letradas.

EXISTEM CULTURAS SUPERIORES?

À Ciência não compete julgar. Cada cultura possui uma realidade autônoma. Só pode ser

adequadamente compreendida a partir de si mesma.

O QUE PARA UM É NECESSÁRIO PARA O OUTRO PODE NÃO SER (inclusive em relação ao uso do

tempo livre).

A partir disso nasce o conceito de ETNOCENTRISMO: adotar ponto de vista e valores de uma

cultura particular, para julgar outra(s). Trata-se de uma tendência humana universal.

PARA IR + LONGE: Obra clássica sobre o tema: “Orientalismo”, de Edward Said.

A cultura nem sempre é harmonizada com as condições orgânicas da espécie humana para a

satisfação de suas necessidades. Um exemplo de conflito entre Instinto e Razão é a Vida Sexual.

A Cultura nasce do trabalho do homem em sociedade transformando a natureza para satisfazer

suas necessidades. Contudo, existem necessidades individuais e coletivas. E graus diferentes de

necessidades (ex. Pirâmide de Maslow):

O processo de fusão de culturas em contato através de troca de seus padrões e da influência

mútua é chamado HIBRIDAÇÃO.

Quando esta troca simboliza a dominação ou sobreposição de comportamentos, crenças e valores

trata-se de ACULTURAÇÃO OU TRANSCULTURAÇÃO.

SUBCULTURAS

Sebastião Vila Nova aponta que: “… A cultura das sociedades mais simples, como notadamente as

das sociedades tribais, tende a possuir um grau mais elevado de homogeneidade e de integração.

Seu ritmo de transformação costuma ser mais lento…”.

isto não ocorreria nas sociedades ditas complexas, predominantemente organizadas com base na

industrialização e urbanização. Nelas, a participação cultural dos indivíduos é fragmentada e

diversificada, tornando-a mais heterogênea, enquanto grupo social. Por esta razão, para

compreender as culturas das sociedades complexas é necessário identificar as subculturas que as

compõem.

SUBCULTURA significa parte da cultura. As subculturas, sendo diferentes do todo, não são

independentes da cultural total. Além disso, as pessoas participam de subculturas, mas não são

subculturas.

Nas sociedades complexas, as pessoas tendem a participar simultaneamente de várias subculturas

(Ex. Universitário, Paulistano, Rockeiro, com menos de 20 anos). Portanto, as subculturas ter

várias dimensões: espaciais, etárias, profissionais, religiosas, etc.

PROPOSTA DE EXERCÍCIO: DÊ EXEMPLOS DE SUBCULTURAS ASSOCIADAS AO LAZER E AO

TURISMO.

O que torna possível sua integração em uma sociedade complexa são os chamados ELEMENTOS

CULTURAIS COMUNS (algo como um Código de Conduta Sociocultural Geral). Ralph Linton:

“Compartilhados por todos os adultos socializados, independente de sua participação nas

subculturas existentes.”.

Exemplos: idioma, princípios éticos, tradição histórica compartilhada, sentimento de

pertencimento a essa tradição, etc. Trata-se, em suma, de um núcleo de integração cultural ou

ELEMENTOS DA CULTURA DOMINANTE.

ORGANIZAÇÃO E CONTROLE SOCIAL

A categorização de comportamentos permite a organização e controle social, com consequências

positivas e negativas. A seguir discutiremos alguns aspectos relacionados.

EXERCÍCIO PROPOSTO: Discutir com a turma as seguintes questões: O que são estereótipos? Como

surgiram? Para que servem?

ESTEREÓTIPOS

Os participantes de subculturas mais evidentes tendem a serem vítimas de rotulações sociais, ou

seja, ESTEREÓTIPOS.

Exemplos de Destinações, Produtos e Serviços estereotipados em Lazer e Turismo:

CINEMARK, DISNEY WORLD, AEROMOÇA, CARNAVAL DE SALVADOR, CAMPOS DO JORDÃO,

ESTÁDIOS DE FUTEBOL NO BRASIL, CVC, GUIA DE TURISMO ECOLÓGICO, COMUNIDADES

INDÍGENAS EM UMA DESTINAÇÃO.

Em Sociologia representam imagens preestabelecidas para todos os indivíduos pertencentes a

alguma categoria social, mediante a atribuição generalizada de qualidades de caráter positivo ou

negativo (ex. Corintiano maloqueiro). O estereótipo, porém, sendo uma visão preconceituosa e,

por vezes, discriminatória, indica uma representação falsa das pessoas rotuladas através dele.

Assim, trata-se de uma simplificação exagerada do processo de identificação sociológica.

Seu aspecto positivo ou negativo é relativo (ex. “Malandragem Carioca” pode ser encarada tanto

como qualidade como defeito). A persistência, proliferação e agravamento de estereótipos são

disseminados pelos veículos de comunicação, especialmente os de massa (Ex. TV, Agência de

Viagens, Guia de Turismo).

CONTROLE SOCIAL é qualquer meio de levar as pessoas a se comportarem de forma socialmente

aprovada. A socialização, através da assimilação de crenças, valores e normas é o meio básico

para a busca do controle social. Outro instrumento universal são as recompensas e punições. Estas

podem ser formais/ritualizadas (ex. código penal), como informais (ex. ostracismo, “gelo”).

Como visto, todo sistema social compreende necessariamente um compêndio de símbolos,

valores e normas que dão sentido e orientam as ações dos indivíduos à satisfação de suas

necessidades. Algumas normas se aplicam a todos os indivíduos, indiscriminadamente.

Grande parte, porém, vale apenas para alguns, de acordo com sua posição no sistema social total.

As pessoas possuem obrigações (deveres) e usufruem de benesses (direitos) de acordo com sua

posição ou papel social.

NORMAS IMPLÍCITAS E EXPLÍCITAS

Alguns princípios de obrigatoriedade são formulados através de normas explícitas, ou seja,

expressadas verbalmente e/ou por escrito. Já as normas implícitas são consagradas pelo costume

(consuetudinárias). O poder de coerção (convencimento) de uma regra não depende do fato de

ser explícita ou não.

Algumas leis “não pegam”, apesar de claras e detalhadas. Já outras regras sociais, desenvolvidas

na ação cotidiana, trazem um sentimento de culpa para quem as transgride maior que muitas leis.

NORMAS: SAGRADAS E SECULARES

SAGRADAS: vinculadas às regras as quais são reservadas punições, formais ou informais, mais

severas, e que podem desestabilizar a ordem social de determinado grupo (ex. Judeu comer carne

de porco);

SECULARES: normas tidas como de menor importância pelos indivíduos (ex. adotar a dieta da sopa

para emagrecer, quebrando o padrão convencional de alimentação de determinada sociedade

e/ou grupo familiar).

Cabe destacar que nas sociedades contemporâneas, há uma tendência de tolerância em relação a

uma série de regras tradicionais, além do surgimento de outros padrões de comportamento.

EXPECTATIVAS DE COMPORTAMENTO

São fundamentais para a fluência do convívio social. Muitas vezes, nos percebemos agindo

“automaticamente”. A definição da forma de agir está muito atrelada a percepção da posição

social do outro. Ao identificarmos é possível fazer previsões a respeito de suas prováveis ações,

além de presumir o que ele espera de nós.

STATUS E PAPEL SOCIAL

STATUS é o mesmo que POSIÇÃO SOCIAL.

Em outras palavras, é a localização do indivíduo em uma hierarquia social, de acordo com sua

participação na distribuição desigual de riqueza, prestígio e poder.

A RIQUEZA representa o STATUS ECONÔMICO; o PRESTÍGIO e STATUS SOCIAL e o PODER o STATUS

POLÍTICO.

Vale lembrar que é próprio da condição social do ser humano ocupar posições com direitos e

deveres preestabelecidos, independente do indivíduo que o ocupa (ex. comportamento pré-

definido do Presidente da República).

Todo indivíduo ocupa várias posições sociais.

Algumas posições são ocupadas por escolha pessoal (status adquirido);

Outras por pressão social e/ou, involuntariamente (status atribuído)

Já o PAPEL SOCIAL é o comportamento esperado dos indivíduos para determinados status.

Também pode ser atribuído por terceiros ou adquirido pessoalmente. Um elemento subjetivo

imprescindível para o desempenho de papéis é a percepção de si próprio através dos olhos

alheios. Esta capacidade é aprendida através da socialização. Nenhum papel social existe

isoladamente (ex. só existe fiel porque tem sacerdote).

ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

A Sociedade Capitalista é baseada na Estratificação Social (DIVISÃO DE CLASSES). Algumas

sociedades apresentam MAIOR MOBILIZAÇÃO SOCIAL do que outras. A divisão de classes não

ocorre apenas na esfera econômica. A definição do PAPEL SOCIAL e da condição atribuída e

adquirida de POSIÇÃO SOCIAL (STATUS) está intimamente ligada ao modelo social de divisão de

classes.

Os grupos sociais que fogem dos padrões de comportamento são marginalizados. O rico

marginalizado se intitula excêntrico. O importante é lembrar que tanto o rico como o pobre são

marginais, no sentido de estarem fora do padrão convencional.

Há outras formas de marginalização além da questão econômica (religiosa, time de futebol, idade,

etc). Grupos Marginais (Ou Não-Convencionais) são mais fáceis de serem estereotipados

(categorizados socialmente por uma visão parcial e limitada presente no senso comum). O Senso

Comum pode ser bom (Referência Social – Expectativa) ou ruim (Discriminação).

O termo LAZER vem do latim licere (ser lícito, ser permitido), é normalmente definido como uma

série de atividades que o ser pode usufruir em seu tempo livre, ou seja, naquele momento em que

não está trabalhando, em tarefas familiares, religiosas ou sociais, e que lhe proporcionam prazer.

Neste contexto ele tem a oportunidade de relaxar, descansar, se distrair, exercer alguma forma de

recreação.

É preciso não esquecer, porém, que o Lazer não é apenas um grupo qualquer de ocupações sem

propósito, ou usado para preencher a esmo o tempo livre do sujeito. Ele pode, através da vivência

plena da ANIMAÇÃO CULTURAL, ter uma conotação crítica e até mesmo transformadora da ordem

instituída, mesmo que isso implique em desconstruir antigos mitos e convenções.

Neste sentido, pode ser considerado como uma poderosa ferramenta no sentido de despertar o

potencial criativo das pessoas e incluí-las culturalmente. Também pode colaborar na busca do

bem estar físico, psíquico e espiritual, essenciais para a tão almejada QUALIDADE DE VIDA.

Sem falar que o Lazer também está ligado ao âmbito pedagógico. Neste sentido, se ele é

exercitado corretamente, pode colocar em prática os ‘Quatro Pilares da Educação’ de Delors:

1) Aprender a conhecer e a pensar; 2) a fazer; 3) a viver juntos, ou com os outros; 4) a ser.

Portanto, o papel do Lazer não é somente divertir alguém, apesar da inegável importância da

recreação descompromissada.

O Lazer também é comumente classificado como Passivo ou Ativo.

O Passivo é aquele que aliena o ser, e o envolve na teia consumista gerada pela Indústria

Cultural, na qual o consumidor não passa de mais uma peça da engrenagem. Ele é inserido no

mercado, hipnotizado pelo universo da publicidade, que incentiva e até convence para a vivência

de certos hábitos recreativos. Neste sentido o Lazer também se transforma em um produto,

acessível não mais apenas pelo tempo de que a pessoa dispõe e a atitude que coloca em prática,

mas também pelo capital, aspecto cada vez mais relevante no âmbito do entretenimento

contemporâneo.

A partir deste contexto o ser humano fica a mercê da mídia, aliada fiel da cultura de massa

mercantilizada. Isto o torna impotente e incapaz de optar ou de filtrar as inúmeras atividades a ele

oferecidas. Como consequência deste processo, o indivíduo passa a agir como um autômato,

segue consumindo o produto Lazer sem ter o poder de processar seu conteúdo e de transformá-lo

em aprendizado ou bem-estar.

Já o Lazer ativo possibilita uma nova enunciação das múltiplas vivências, uma conversão das

atividades em conhecimento, em expressão criadora e em novos olhares e potencialidades.

Neste campo é permitida uma maior convivência social e uma melhor qualidade de vida.

Simultaneamente o ser encontra o desejado deleite e o imprescindível repouso.

O mais renomado autor sobre o assunto é Jost Krippendorf, que escreveu “Sociologia do Lazer e do

Turismo”. Recomenda-se a leitura, ao menos, do capítulo introdutório e do capítulo 2. Aos mais

apressados, segue um pequeno resumo de alguns dos principais assuntos discutidos na obra:

Um especialista em comportamento poderia considerar que se as condições de viagens

massificadas em alta temporada fossem impostas aos trabalhadores durante as horas de

obrigação profissional, os sindicatos interviriam, e com razão. A mobilidade, as férias, as viagens

são conquistas sociais. Contudo, a alegria que deveriam proporcionar não chega. Isto porque a

medalha tem um reverso. Por aquilo que conquistamos, somos obrigados a pagar, a dar algo em

troca. Assim, as consequências dessa nova liberdade de ir e vir, tão duramente conquistada,

ameaçam sufocar-nos. Afinal, este fenômeno contemporâneo traz ganhos ou prejuízos?

O ser humano não nasceu turista, mas com a curiosidade e um sentimento um tanto nostálgico

quanto aos destinos longínquos que gostaria de conhecer. A dinâmica de tais atributos determinou

refinadas viagens da aristocracia até o fim do século XIX. Porém, o que impulsiona milhões de

pessoas hoje em dia para longe de suas casas não é mais o desejo inato de viajar. Viajar deixou de

ser nos últimos 100 anos, em muitos casos, o desejo de fazer descobertas e realmente aprender

alguma coisa.

As pessoas viajam porque não se sentem mais à vontade onde se encontram no cotidiano, seja no

local de trabalho, seja onde moram. Sentem a necessidade urgente de se desfazer

temporariamente da rotina trabalho-moradia-lazer, a fim de estar em condições de retomá-la

quando regressarem. Vale lembrar que o trabalho é cada vez mais mecanizado,

compartimentalizado e determinado fora da esfera de sua vontade.

A fria racionalidade das obrigações sociais leva ao empobrecimento das relações humanas, a

repressão de sentimentos, a degradação do ambiente com a literal perda da “naturalidade”. Tais

condições geram o estresse, o esgotamento físico e psíquico, o vazio interior e o tédio. Para

encontrarmos uma compensação para tudo o que nos falta no cotidiano, viajamos. Desejamos

liberar-nos da dependência social, desligar-nos e refazer as energias, desfrutar da independência e

da livre disposição do próprio ser. Viajamos para viver, para sobreviver.

Além de tais motivações (fins), os meios para alcançar a condição de viajante são fornecidos pelo

próprio sistema: Dinheiro, Tempo, Mecanismos físicos de acesso (infraestrutura e equipamentos de

transporte), Mecanismos psíquicos de acesso (informação – através de agências, contatos sociais,

propagandas dos empreendimentos e destinações), Indústria do Lazer: sistema que se apoderou de

nosso tempo livre e oferece-nos não apenas satisfações, como também cria, se necessário, as

expectativas e desejos correspondentes.

Todo esse sistema em modelo industrial de contraponto ao trabalho e as obrigações se organiza

em uma espécie de CICLO DE RECONSTITUIÇÃO. Durante a escapada, consumimos o clima, a

natureza e a paisagem, a cultura e os seres humanos das regiões visitadas, que transmutamos em

“espaços terapêuticos”. A seguir, voltamos para casa, mais ou menos em forma, para suportar o

cotidiano durante certo tempo – até a próxima viagem.

O desejo de viajar novamente vai voltar logo, pois alguns dias não são suficientes. O corpo

transborda de anseios e desejos. É dessa repetição permanente de necessidades insaciadas e

insaciáveis que o ciclo tira sua dinâmica própria. Trabalhamos, sobretudo, para poder sair de férias

e temos necessidade de férias para poder retomar o trabalho.

Se não existisse o turismo, seria necessário construir clínicas e sanatórios, para que o corpo

humano se recuperasse do desgaste gerado pelo cotidiano enfadonho. O turismo funciona, assim,

como terapia da sociedade, como válvula que faz manter o funcionamento do mundo todos os

dias. É um remédio, uma droga, que vicia, gera efeitos colaterais, ajuda a manter o corpo e a

mente, alucina e até mata.

O turismo gera, portanto, um efeito estabilizador para: Indivíduo, Sociedade, Sistema (estrutura

política, econômica e sociocultural vigente).

É interessante notar que quando o ser humano consegue mudar de ambiente e desligar-se do

anterior, desenvolve, após experimentar a fugacidade do turismo, a necessidade de voltar á

estabilidade benéfica do seu dia-a-dia. Ele viaja para perceber que as coisas não são tão ruins

assim em casa, e que talvez sejam até melhores do que qualquer outro lugar. Ele viaja para voltar,

com saudades do lar e do cotidiano enfadonho. Só aventuras, novidades, sonhos e “felicidade”,

cansam.

Contudo, um número crescente de pessoas começa a se dar conta de que o sistema atual é

inadequado. Isto se reproduz na esfera do lazer e do turismo, mercantilizados e descaracterizados,

trazendo mais prejuízos que benefícios. A preocupação com o meio ambiente, por exemplo, é

crescente. Não se restringe somente a ambientalistas. Hoje muitos são contrários a intervenções

paisagísticas drásticas, como grandes hotéis em uma praia deserta ou ao incremento rodoviário,

que pode descaracterizar uma localidade, aumentando exponencialmente seu fluxo.

Os habitantes das regiões visitadas começam a sentir, também, certo rancor em relação aos

efeitos negativos do êxodo das massas turísticas. Elas se sentem muitas vezes invadidas e, ao

mesmo tempo, excluídas. Desejam não depender somente do turismo, ou, ao menos, participar da

gestão de seu desenvolvimento. Divulgam e tratam bem o turista por necessidade (dependência)

financeira. Mas, no fundo, gostaria de se livrar deles.

O sistema econômico, que se baseia na rotação entre produção/consumo desenvolveu, há algum

tempo, uma dinâmica muito perigosa. Não se trata de cobrir as necessidades humanas que

realmente se fazem sentir. Elas já estão satisfeitas em sua maior parte.

Também não se trata de criar novos valores. A economia distanciou-se do ser humano, colocou-se

acima deste e, de certa forma, apoderou-se de sua liberdade.

Economia simboliza administração de recursos escassos. Em uma sociedade pautada no consumo

crescente de novas necessidades, as distorções são inevitáveis. Tais assimetrias se expressam no

universo do lazer e das viagens. Como exemplo, pode-se considerar que na maioria das destinações

turísticas existe um mercado de construção civil que obedece leis próprias e que se dissocia, muitas

vezes, do próprio turismo.

O turismo de lazer constitui uma das formas de ocupação do tempo e do espaço mais marcantes e

de impactos menos controláveis. Para descobrir a natureza do turista, por exemplo, é necessário

tentar compreender como se conectam os elementos do fenômeno turístico (ambientais,

temporais, econômicos, legais, estruturais, socioculturais, mercadológicos, humanos). Precisamos

saber quais são suas causas e efeitos, os desejos e as realidades. É necessário compreender, antes

de mais nada, o mecanismo de seu funcionamento, antes de determinar os meios de controlá-lo,

modificá-lo e aperfeiçoá-lo.

O HOMEM À PROCURA DO EQUILÍBRIO

Encontrar o próprio equilíbrio entre as necessidades é dominar a vida, viver liberado das tensões e

das inquietações – um estado que poderíamos chamar de felicidade. Todavia, se um dos polos é

mais forte que o outro, surge um sentimento de insatisfação, de carência ou saturação, seguido do

imperioso desejo de reagir, ainda que, muitas vezes, sem se saber como. Neste caso, a saída mais

adequada é buscar um equilíbrio de atividades, em que o corpo e a alma buscam a harmonia entre

estímulo e repouso.

Naturalmente, este ponto varia de um indivíduo para o outro, sendo alguns mais calmos e passivos

e outros mais afeitos a ação e ao estímulo. De um lado, o homem está sujeito aos estímulos sob a

forma da “corrida contra o relógio”, do barulho e do estresse. Por outro, tantas coisas são

monótonas, sem atrativos e iguais: a moradia, os arredores, o trajeto para o local de trabalho, o

trabalho em si e até mesmo o lazer diário.

O PROFISSIONAL DE LAZER E TURISMO QUE SOUBER COLABORAR COM A DOSAGEM ESTÍMULO-

REPOUSO DE MODO CRIATIVO E MOTIVADORA TERÁ SUCESSO.

O recuo para dentro de si (egoísmo), o empobrecimento dos contatos humanos e o sedentarismo

(mental e físico) são outras questões-chave. Não é surpreendente que, na linguagem comum, a

noção de cotidiano só tenha conotações negativas. Contudo, algo gera mais incômodo: existem em

nossas vidas dias mais comuns do que domingos e feriados?

A possibilidade de sair, e principalmente, de viajar, reveste-se de importância. Afinal, o cotidiano

só será suportável se pudermos escapar do mesmo. Quando chega o final de semana ou as férias,

alegramo-nos de antemão, traçamos planos e fazemos preparativos. Desejamos aproveitar o

precioso tempo livre para satisfazer nossos desejos que foram reprimidos no cotidiano.

A grande questão é: essas necessidades, via de regra, só podem ser satisfeitas “fora” e não

“dentro”. A exceção seria dos privilegiados que exercem uma atividade genuinamente agradável,

criativa e variada. Além disso, aqueles que determinam eles próprios as tarefas do dia e o ritmo de

trabalho, que são livres, a quem nada falta e cuja moradia é tão agradável que poderiam passar as

férias no jardim. Para estes raros sortudos, todos os dias são, de certa forma, férias.

Este benefício, porém, são reservados ao pequeno número de aristocratas do trabalho: escritores,

pintores, músicos, professores e poucos outros que souberam se organizar. Em compensação,

todos aqueles que são escravos do trabalho e que fazem parte da sociedade industrial necessitam

de consolo “externo”. Para eles, o repouso e as férias são sinônimos de sair, viajar. Nossa

sociedade projeta para fora as necessidades de repouso. Por isso, torna evidente a polarização

“trabalhar e morar aqui X descansar além”.

As cidades não se preocupam de fato com o lazer, tampouco com as necessidades de relaxamento

de seus habitantes. Quando o fazem, manifestam-se de modo estéril, adequando-se a aspectos

consumistas, de ritmo controlado e frenético de vida e a perspectiva ilusória de “salvação da

lavoura”, alimentada pelas mídias e pelas empresas do setor.

Veja a cruel lógica urbano-espacial: há uma pressão crescente para implantação de lugares de

trabalho – mais valorizados, nos centros. Os preços dos terrenos aumentam. O espaço habitável se

reduz. As cidades transbordam e invadem o campo. As vias de comunicação entre cidade e campo

se desenvolvem.

Os esforços desesperados para salvar alguns espaços verdes e implantar algumas instalações de

lazer não alteram a situação: as condições de moradia e a qualidade de vida nos conglomerados

urbanos se degradam a olhos vistos, com o agravante que a prioridade, quase sempre, é das zonas

centrais.

O que impele um indivíduo a viajar, a procurar lá fora (da casa, no espaço periférico e carente

urbano; e do trabalho, no espaço central e caótico urbano) o que obviamente não encontra dentro

(equilíbrio, paz de espírito, felicidade, prazer, liberdade) não é tanto um resultado de um impulso

pessoal. Trata-se mais da influência do meio social, que fornece a cada um suas normais

existenciais, como o princípio dos deslocamentos e processos temporais da urbanidade (pós)

industrial.

Em outras palavras, a decisão pessoal é, de certa forma, condicionada pela sociedade. Para o

homem em constante estado de carência, a nossa sociedade oferece o turismo, como “antídoto à

infelicidade”. A necessidade de relaxamento é reconhecida e orientada para o turismo e

transformada em viagem. No entanto, esta necessidade poderia, se fossem criadas melhores

condições, ser muitas vezes saciadas em casa.

Como a prioridade política, econômica e social não é oferecer às massas condições de moradia e

trabalho prazerosas, explica-se como o turismo tornou-se uma norma social, consolidando-se

como um dos fenômenos comportamentais mais relevantes da sociedade contemporânea.

Não se diz: “O que você faz nas férias?”, mas “Aonde você vai nas férias?”. Ficar em casa durante

todo o tempo liberado das obrigações pode parecer algo de difícil justificativa, sem que haja perda

do prestígio social. O choque do lazer extra-doméstico anestesia e paralisa a intensa animação

das cidades. Não haveria, portanto, uma coerção social de fazer o que todos fazem? E o que será

daqueles que são obrigados a ficar, “de castigo”, em casa?

A situação não poderia ser mais favorável aos vendedores de férias e aos promotores de turismo:

os fatores sociais já evocados criaram, de antemão, um clima propício às viagens. A necessidade

de relaxamento é comercializada e transformada em viagens de todas as espécies, de acordo com

as regras de arte do marketing.

Em muitos aspectos, as técnicas de venda de viagens são as mesmas que para um aspirador de pó,

automóveis ou outros bens de consumo. No entanto, dado o fato de que as operadoras e agências

de viagens tiram partido do sentimento nostálgico e do sonhos das pessoas, tratam de

comercializar paisagens, os seres, as experiências e as culturas. Com isso, percebe-se o tamanho da

responsabilidade deste profissional.

Esta consciência, contudo, praticamente inexiste, até porque os profissionais visam atender os

interesses comerciais da empresa na qual estão vinculadas. Isto significa que não interessa o real

motivo da viagem, mas que a mesma seja simplesmente realizada e, para tal, é necessário

descobrir como “fisgar o peixe turista”. Segue no próximo parágrafo recomendações psicológicas

de promoção em cartazes turísticos:

• O importante é dar a impressão de um ambiente de férias, isto é, de um antípoda do

cotidiano que reflita, de um lado, descontração, bem-estar, alegria, liberdade, prazer e, de

outro, repouso, espaço.

• Deve-se dar a impressão de imobilidade do tempo, relaxamento, assim como um certo

romantismo, uma experiência especial.

• Algo que não pode se ter na vida todos os dias e que não lembre a vida cotidiana (ex.

aparência diferenciada – estética, vestuário – dos que usufruirão do local).

• As pessoas locais devem obedecer os padrões de beleza convencionais da comunidade

emissora, tomando o cuidado para serem um pouco diferentes, especiais e, ao mesmo

tempo, sem causar muita estranheza, a ponto de serem alvos de preconceitos ou

inseguranças no contato com os turistas.

Os clichês são os mesmos, como há várias décadas:

• Oceano de um azul profundo; Areia branca; Pôr-do-sol;Palmeiras e Coqueiros; Belos

turistas bronzeados e felizes; Aldeias pitorescas nas montanhas; Piscina reluzente;

Neves eternas; Paisagens intactas; Pistas de esqui; Buffets ricamente guarnecidos;

Famílias unidades e radiantes; Vida noturna com luzes, cores e diversão.

Ao se perguntar às pessoas a razão da realização de uma viagem, é traçado um perfil

psicológico do turista. Não há nada surpreendente na constatação de que as razões

predominantes são aquelas que a publicidade geral e turística enseja. Entretanto, diferentes

motivações permanecem no domínio do inconsciente e do subconsciente e não podem vir à tona

por perguntas assim tão simples.

Em uma pesquisa feita na Alemanha no ano de 1985 se questionou o motivo da pessoa ter

realizado uma viagem durante o período de férias. Os principais resultados são:

Desligar, relaxar; Para fugir da vida diária, mudar de ambiente; Recuperar as forças Estar em

contato com a natureza; Ter tempo para o outro; Comer bem; Em seguida, com menos citações

vieram: Descansar, não fazer nada, não fazer esforços; Ir de encontro ao sol e fugir do mau tempo;

Estar com outras pessoas, ter companhia; Fazer o que quiser, ser livre; Ar puro, água limpa, sair da

poluição; Distrair-me, brincar, me divertir; Conhecer novos lugares e obter novas impressões; Ver

outros países, ver o mundo.

Outros itens citados em menor proporção foram: Para ter a chance de me mexer através de

atividades físicas fáceis e divertidas; Para ser tratado com deferência, para me dar prazer; Para

cuidar da saúde, prevenir doenças; Para cuidar da beleza, bronzear-me; Para alargar os horizontes,

cultivar a própria educação e o saber; Rever parentes, conhecidos, amigos.

Por fim, foram lembradas ainda as seguintes experiências: Reavivar as lembranças; Dedicar-me

aos meus interesses; Pegar a estrada; Fazer uma introspecção, ter tempo para refletir; Para partir

em busca de aventuras, assumir riscos, fazer face ao insólito.

A interpretação de Krippendorf indica como principais motivações sociológicas às viagens:

– Viajar é descansar, refazer-se; Viajar é compensar privações a integrar-se

socialmente; Viajar é fugir; Viajar é comunicar-se; Viajar é alargar o próprio

horizonte; Viajar é ser livre e independente; Viajar é partir para a descoberta de si

mesmo; Viajar é ser feliz; Viajar é…(algo imensurável!).

Para se sentir em férias, basta, à maioria das pessoas, não precisar trabalhar nem estar em casa. O

ambiente estranho tem a função de uma decoração exótica. No entanto, parece por demais

“estrangeiro”, diferente do comum, e acaba se tornando desconfortável e talvez até ameaçador.

De certa forma, não desejamos abandonar nossos queridos hábitos, pois eles nos confortam.

Muitos turistas querem a mesma alimentação, bebidas, idioma, jogos e conforto de casa.

• As Agências de Viagens propagandeiam:

– Desfrute das satisfações do padrão internacional de nossos serviços

– Nós lhe damos o sentimento de estar em casa.

EM SUMA, FUGINDO-SE DO COTIDIANO PELO ANTICOTIDIANO, A PESSOA, FATALMENTE, SE

DESCOBRE NO COTIDIANO.

Além disso, a motivação egocêntrica do turista determina outro aspecto característico de seu

comportamento. Neste, a viagem tende a se tornar um fenômeno agressivo, abusivo e colonialista.

Longe de casa, o turista se despe de certas normas. Pouco importa o que os outros vão pensar. Ele

pagou, não é verdade?

Longe de casa, alguns viajantes se julgam como pessoas especiais e agem assim. É o reino do

“Vamos aproveitar pois amanhã iremos embora.” Pensando em uma escala de massa, a

consequência deste comportamento inconsequente e egoísta pode ser catastrófico à destinação,

seus habitantes e a própria dinâmica da viagem.

Outra característica típica de seu comportamento é a procura da confirmação da ideia que ele

formou sobre as férias. Trata-se, antes de mais nada, de imagens e sonhos pré-fabricados pela

publicidade, geral e turística. Eles estão presentes em nossas mentes durante a viagem e

desejamos que tais promessas sejam cumpridas, mesmo que, em geral, representam meramente

clichês e não reflitam nem parte, ou nada, da realidade.

A indústria do turismo cria e satisfaz, simultaneamente, a necessidade de viver experiências

familiares inofensivas e agradáveis em um ambiente estranho. A localidade diferenciada reduz-se

ao pitoresco (do inglês “picture”). Literalmente torna-se uma fatia “fotografável” da destinação,

não necessariamente a mais autêntica.

Neste sentido, o turismo em guetos formam reservas artificiais, construídas sob medida. Esta

categoria compreende os novos complexos hoteleiros, parques e loteamentos de férias. Estes, em

geral, estão alheios ao nível de desenvolvimento estrutural, econômico e sociocultural da

localidade, constituindo-se, como dizem alguns geógrafos, em um “não-lugar”.

Tais empreendimentos bastam a si mesmos, sendo, inclusive, mais famosos que as localidades em

que estão inseridos (ex. Em qual município fica a Complexo Sauípe de Hotéis e Entretenimento?).

Não há necessidade de sair, pois lá dentro existe tudo o que o turista é incentivado a

vivenciar/consumir.

Por outro lado, pode-se pensar que se constitui na fórmula mais honesta porque leva em

consideração a formatação de sonhos em um contexto espacial e temporal moldado para tal.

Além disso, talvez seja a forma de turismo que produza menos efeitos negativos na localidade

visita e sobre a população autóctone. Simplesmente porque a interação é mínima ou nula, em

alguns casos.

Em comum, tais empreendimentos possuem a exclusividade, a diversidade de serviços,

equipamentos e experiências ligadas às expectativas dos visitantes, a segurança e uma paisagem

“emprestada” e paradisíaca. Eis por que, em diversos locais, instalou-se uma atitude de rejeição

por parte da população em relação a este tipo de turismo.

O desperdício de recursos, nesses lugares, é assustador, até mesmo para os mais alienados dos

turistas. Uma dose de uísque pode custar mais que o salário de mais da metade da população da

comunidade ribeirinha ao redor do resort. Mais do que isso, a mão-de-obra é contratada das

capitais e do exterior, por já terem a “capacitação” e compreenderem o “padrão internacional”. Os

piores cargos vão para os autóctones, que invariavelmente são discriminados e menosprezados.

Hoje, muitos gestores públicos das destinações nos quais tais empreendimentos estão inseridos

falam de gestão participativa.

Porém, as lideranças comunitárias são usadas como massa de manobra política. O dinheiro até

vem para o município, estado ou país, através de impostos, mas a contrapartida, em geral, é ruim.

Inflação, drogas, prostituição são consequências comuns de uma invasão sem planejamento e com

interesses elitistas, privados e exploratórios, no pior sentido do termo.

EXERCÍCIO PROPOSTO: Leitura conjunta, com debates sobre os principais assuntos.

A segunda parte deste tópico baseia-se na análise dos principais conteúdos da obra: “Turismo e

Identidade Local – uma visão antropológica”.

A primeira discussão relevante diz respeito à importância do turismo aos estudos da antropologia.

O primeiro aspecto considerado pelos antropólogos é que só é um fenômeno social porque faz

parte das necessidades criadas pelo mundo moderno. Além disso, pode assumir papel relevante

na transformação do espaço. Também afere impactos, positivos e negativos, a turistas,

empresários de turismo e intermediários, papeis sociais cada vez mais comuns. Por fim, tem o

poder de ensejar nas populações o imaginário da prosperidade econômica e sociocultural, a

partir da inserção no mercado de consumo de viagens e no estabelecimento de comportamento

turísticos, respectivamente.

Na antropologia do turismo destacam-se os seguintes estudos:

o impacto da cultura local ocasionado pelos contingentes de pessoas portadoras de

outros padrões culturais;

as mudanças nas relações de gênero nas famílias tradicionais, a partir do contato

com turistas;

as mudanças de hábitos por aculturação ou endoculturação;

a geração de novas necessidades socioculturais.

Uma antropologia aplicada ao turismo pode redundar em benefícios para os turistas e para as

populações receptoras se os atores envolvidos refletirem sobre eles, buscando alternativas de

desenvolvimento harmônico que permitam atingir o paradigma da sustentabilidade plena, que

reúna aspectos econômicos, sociais e ambientais.

FORMAS DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO SEGUNDO A ANTROPOLOGIA:

construtor de tradições inventadas e não como um fenômeno isolado;

meio de sobrevivência e de valorização da cultura local, da identidade, resgate e

(re) significação;

desencadeia uma aproximação entre passado e presente;

Em suma, o turismo pode ser visto como: Cultura encenada, tradição inventada, porém, acaba

penetrando os interstícios do tecido social e se transforma em movimento cultural, com

valorização e conhecimento do próprio passado (Banducci Jr, 2004).

Ademais, quando o turismo envolve religião, este seculariza os rituais, reforça a identidade do

povo aos que assistem. Isso de certa forma contribui para a identidade turística dos lugares, vista

como uma construção social. Esta é feita de tradições inventadas e de manifestações culturais

capazes de atender interesses diversos (econômicos, ambientais, socioculturais).

Aula 9: Autenticidade X Artificialidade do Turismo

PARADIGMA TURÍSTICO NA ANTROPOLOGIA: controvérsia sobre a natureza do turismo como

“pseudo-acontecimento” ou como “evento autêntico”.

O autor recorre a vários teóricos que congratulam essa discussão tais como: MacCannel (1999),

Urry (1996), Mckean (1995). O primeiro defende que o turismo aparece como uma busca pela

autenticidade, a ser encontrada em outras culturas. Urry recorre a MacCannel afirmando que o

turista ‘é uma espécie de peregrino contemporâneo, procurando autenticidades em outras épocas

e em outros lugares distanciados de sua vida cotidiana’ (p.22). Já Mckean vê o turismo não como

uma busca de prazer banal ou escapismo, mas como uma possibilidade de se conhecer o outro e

nós mesmos de forma recíproca.

Banducci Jr. discute quatro abordagens distintas para o turismo enquanto fenômeno

sociocultural: PLATAFORMA DE DEFESA, PLATAFORMA DE ADVERTÊNCIA, PLATAFORMA DE

ADAPTAÇÃO, PLATAFORMA DE CONHECIMENTO.

A PLATAFORMA DE DEFESA enquadra trabalhos de planejadores e especialistas envolvidos com o

turismo. A perspectiva essencialmente de mercado propicia uma visão otimista, tais como encarar

o turismo como: fonte de riqueza, trabalho e renda.

PLATAFORMA DE ADVERTÊNCIA: é definida por uma postura crítica, por apontar graves problemas

sociais surgidos a partir do empreendimento turístico, tais como: prostituição, dependência

econômica, desestruturação de valores e práticas culturais, além da degradação ambiental e

natural. Enquadra principalmente trabalhos das ciências sociais, movimentos religiosos,

organismos públicos e da mídia. Destaca-se nesta perspectivas os trabalhos de Jordan (1980),

Glenn (1989), Nash (1996) e Greenwood (1995).

PLATAFORMA DE ADAPTAÇÃO: surge num contexto de debate para questionar sobre se todo tipo

de turismo apresenta o mesmo efeito/causa sobre as comunidades. Destaca-se por apontar

formas alternativas de turismo, com o objetivo de se ter a menor quantidade de impactos. Nessa

linha de adaptação os trabalhos de Smith (1995), Ceballos-Laucuráin (1996), Hill (1990),

contribuem bastante para uma nova proposta e desdobramento do pensar turismo nas sociedades

atuais.

PLATAFORMA DE CONHECIMENTO: é a ‘formação de um corpo científico do conhecimento sobre o

turismo’ (p.30). Propõe-se nesta categoria superar a perspectiva maniqueísta. Destacam-se nesta

linha os trabalhos de MacCannell (1999), Jafari (1987), Nash (1981;1996), Crick (1989), Nuñez

(1995), Graburn (1995) e Urry (1996). Nesta mesma perspectiva contribuem outros autores que

estejam preocupados em desenvolver uma análise mais ampla do turismo, revelar sua natureza e

o significado do turismo na sociedade. Propõe ultrapassar a análise dos efeitos da atividade

turística como fenômeno social, para a compreensão do lugar, o papel dessa atividade no contexto

das relações sociais e culturais numa sociedade que é marcada pela globalização, deslocamento e

interação cultural entre povos distintos.

TURISTA X VIAJANTE

Araujo (2003) busca estabelecer um espaço analítico de reflexão antropológica sobre o turismo

baseando-se em na categorização de 02 tipos de visitantes: turista e viajante. Tece sua discussão

baseada nos estudos de Daniel Boorstin e Dean MacChannell.

A discussão percorre um espaço de compreensão entre o viajante e o turista. A princípio o turista

era visto como alguém que não viajava a sério, compreendido também como ocupação frívola. Era

dissociado geralmente a um tipo genuíno de viajante, que busca conhecimento e interação com a

comunidade receptora.

A forma de como se processou a ideia do turismo americano, voltado para saciar uma experiência

de pseudo-evento, pautado por excessivas e exageradas expectativas que contribuem para essa

‘artificialidade’. Isto se contrapõe ao paradigma da viagem plena, referenciada pelo modelo

europeu iniciado com o “Grand Tour”. Ao longo dos séculos XVII, XVIII e até no século XIX,

somente os ricos poderiam viajar, via de regra, uma viagem associada ao conhecimento e

formação particularizada. Sendo que o paradigma da viagem europeizada possuía uma natureza

de empreendedor individualizado, que requeria planejamento, disponibilidade e risco de vida.

Somente a partir do século XIX, que se começa a desenhar uma figura do turista. Definido como

sendo aquele que procura prazer (pleasure seeker), que vai produzir a figura do ‘espectador’.

Pode se dizer que a passagem da viagem para o turismo se amplia, buscando transformar-se em

realidade mítica, por meio de um novo processo de organização de viagens destinadas a um

número maior de pessoas (INDUSTRIALIZAÇÃO DO UNIVERSO DAS VIAGENS).

A concepção de viajar se amplia à medida que vai se modificando, quando vai se dando a transição

da viagem individualizada para a viagem ampliada e experimentada por grupos. A ideia de viagem

passa agregar diversos serviços, planejamento, o risco diminuído e os esforços agregados e as

pessoas para atender o viajante-turista. Esses aspectos são identificados por Boorstin como

responsáveis para a transformação da viagem em turismo.

Araujo (2003) destaca que a alteridade* é um elemento importante para o contraste entre os dois

paradigmas: o da viagem – trata-se de ‘ir ao encontro dos nativos’ – e o do viajante-turista –

poupado de entrar em contato com os ‘locais’ de forma autêntica e real.

* Alteridade – Todo homem social interage e depende do outro.

A autora diz que quanto à dimensão do deslocamento, destacam-se as diferenças de significados

associados aos dois paradigmas de que trata:

o da viagem, vivido pela égide da liberdade, pautado na possibilidade de vivenciar;

e o turismo, onde destaca que mesmo os movimentos possam ser virtuais e

rápidos, a busca pela novidade parece não levar pra qualquer lugar.

Por fim, conclui enfatizando que o turismo pode ser analiticamente redimensionado se apreciado

como parte de um sistema de relações sociais.

TERMINOLOGIAS, NO FUNDO, ESTÃO ATRELADAS A MODISMOS E/OU ESTEREÓTIPOS. “TURISTA”

OU “VIAJANTE”, TODOS SÃO VISITANTES QUE REALIZAM ALGUM PROCESSO DE INTERAÇÃO

SOCIOCULTURAL. AVALIAR TAL TROCA COM O MEIO NÃO HABITUAL VISITADO NÃO É FÁCIL, MAS

AJUDA A DEFINIR PADRÕES DE COMPORTAMENTO IMPORTANTES PARA REFLEXÕES DE CARÁTER

SOCIOLÓGICO.

PARA IR MAIS LONGE: TEXTO COMPLEMENTAR: “Estereótipos de Turistas e Viajantes”

Disponível em: http://www.overmundo.com.br/overblog/nao-sou-turista-sou-viajante

(Mastercard) http://www.youtube.com/watch?v=AwgXV9n7z7s&feature=related

Aula 10: Turismo de Base Comunitária

Este é um dos temas mais atuais em termos de turismo, uma vez que tem relação com um modo

mais criativo, calmo e profundo de se desenvolver a atividade turística, pelo menos em tese.

Assim, apresenta-se a seguir o texto de referência do Ministério do Turismo sobre o assunto, de

forma a introduzi-los sobre tal temática:

Alternativa ao turismo convencional, o Turismo de Base Comunitária é uma opção para o turista

que deseja entender como funciona a preservação do patrimônio natural, particularmente em

áreas protegidas e em propriedades rurais, podendo observar os costumes de comunidades

quilombolas, indígenas, caiçaras e ribeirinhas, existentes por todo o País.

O grande diferencial desse tipo de turismo está no fato de a comunidade possuir o controle

produtivo da atividade turística, desde o planejamento até o desenvolvimento e gestão. Nesse

cenário, tanto os turistas quanto a comunidade saem ganhando ao desfrutar de encontros

interculturais, privilegiando a troca, o conhecimento e o aprendizado dos diferentes modos de vida.

Embora, para alguns turistas o tema seja relativamente recente, não são poucas as comunidades

que já possuem organização e reconhecimento internacional, como é o caso da Prainha do Canto

Verde – localizada no distrito de Beberibe a 120 quilômetros de Fortaleza (CE) – que, além de

pioneira, já recebeu inúmeros prêmios e é referência no País.

Atualmente, existem 50 projetos apoiados pelo Ministério do Turismo

(http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_pu

blicacoes/Caderno_MTur_alta_res.pdf) espalhados por todo o País. Ainda assim, em determinadas

regiões, é possível encontrar comunidades distintas, com diferentes paisagens e modo de vida

peculiar, como é o caso da Costa Verde – formada pelas cidades de Paraty (RJ), Angra dos Reis (RJ)

e Ubatuba (SP) –, que agrupa 12 comunidades tradicionais: cinco quilombolas, duas indígenas e

sete caiçaras. Todas sob a mesma premissa: a comunidade é protagonista e não mera coadjuvante

do desenvolvimento turístico.

Para quem valoriza a diversidade e procura um turismo de pequena escala, que se distingue pela

simplicidade e sabedoria construída no lugar, suas crenças, valores e técnicas, o Turismo de Base

Comunitária é a melhor pedida!

Um artigo interessante relacionada a esse assunto vem da Universidade de Algarve, Portugal:

http://ceaa.ufp.pt/turismo4.htm. Seu resumo está disponível a seguir:

A forma como os residentes percepcionam os turistas é altamente influenciada pela sua formação

sociocultural, assim como, pelo nível de mudança provocado pelo turismo.

Este aspecto é crucial para o desenvolvimento e planejamento do turismo, uma vez que as

percepções dos residentes, relativamente ao turismo, podem ter um impacto positivo ou negativo

nos novos projetos.

Contudo, conforme demonstrado pela pesquisa, as consequências de viver diariamente com o

turismo leva os residentes a estar mais conscientes para os aspectos negativos.

A ESCOLHA DO DESTINO POR PARTE DO TURISTA:

Escolher o destino de viagem é uma decisão importante para o turista e o conhecimento do

processo envolvido é uma preocupação fundamental para o setor do turismo. De forma a

manterem-se competitivos, no setor do turismo, caracterizado por um rápido crescimento, as

organizações têm de compreender melhor os mecanismos por detrás do processo de escolha dos

destinos.

FATORES SOCIOCULTURAIS SÃO TÃO RELEVANTES QUANTO FATORES ECONÔMICOS, ESPACIAIS E

TEMPORAIS.

ENTRE ESTES SE DESTACA: CRENÇAS, VALORES E NORMAS COMUNITÁRIAS, INFLUÊNCIA DE

OUTRAS CULTURAS, ASPECTOS PSICOLÓGICOS (INTERMENTAIS), ASPECTOS SOCIOLÓGICOS

(PADRÕES DE COMPORTAMENTO, ATRIBUIÇÃO DE EXPECTATIVAS E NECESSIDADES COLETIVAS)

Os autores fazem uma interessante análise sobre o papel dos souvenires, os quais podem ser

usados como: a) lembranças de determinados lugares, b) símbolos de certas culturas e/ou

religiões, c) reflexo dos processos sociais, interesses e relações de poder.

Em certas sociedades, a recordação é importante não só como um artefato cultural, mas também

como uma ferramenta analítica para compreender os complexos processos sociais. O artesanato

pode, também, desempenhar um importante papel no desenvolvimento do turismo, através da

criação de novos mercados.

Apesar da possível degradação ambiental em longo prazo, o turismo é considerado um importante

meio de desenvolvimento regional. Para um desenvolvimento equilibrado, o turismo tem de ser

adequadamente planejado, tendo em conta os recursos existentes.

Alguns países já planejam o turismo de uma forma sustentada, enquanto que outros, como

resultado de antigos regimes políticos, ou falta de recursos, estão agora a tentar redirecionar os

seus esforços, no sentido da elaboração de projetos mais conscientes para as questões ambientais.

A capacidade turística de um determinado lugar ou estância, pode ser, acima de tudo, um conceito

de gestão e não um limite absoluto. (O DESTINO TURÍSTICO POSSUI UM CICLO DE VIDA, EM QUE

AS ETAPAS DEVEM SER RESPEITADAS).

CICLO DE VIDA DA DESTINAÇÃO TURÍSTICA

Neste caso, rejuvenescimento, baseado em transformações comportamentais, pode ser uma

iniciativa de planejamento. Isto mostra a importância da EDUCAÇÃO PELO E PARA O TURISMO.

Uma variável importante no planejamento do turismo são as percepções dos residentes sobre os

novos projetos e seu desenvolvimento. De modo a que o planejamento do turismo possa ser bem

sucedido, é necessário garantir o envolvimento e participação dos residentes dos destinos

turísticos. Desta forma, os responsáveis pelo planejamento terão maiores probabilidades de obter

o apoio das comunidades locais, sendo este um elemento chave de qualquer novo projeto.

Para compreender as relações sociais atuais e projetar o comportamento humano no futuro é

preciso relacionar a questão comportamental ao consumo. Afinal, vivemos na Era do

Hipercapitalismo, em que tudo pode se transformar em uma experiência paga ou em uma

mercadoria.

Para tal, analisaremos alguns fenômenos recentes como a ascensão da nova classe média no

Brasil, o comportamento excêntrico dos milionários, o culto à velocidade e suas consequências e a

valorização do ócio (ou seria economia?) criativa.

Um conceito inicial importante de ser observado é que nem todo fenômeno social é econômico,

mas todo fenômeno econômico é social. Isto posto, é preciso definir que Economia é a Ciência

especializada no estudo dos fenômenos de produção, distribuição, circulação e consumo de bens,

geralmente limitados.

O QUE É UM BEM? Aquilo que te agrega valor

(LEMBRE-SE QUE OS VALORES SÃO DISTINTOS ENTRE INDIVÍDUOS E GRUPOS SOCIAIS)

TODOS OS BENS SÃO TANGÍVEIS?

Não! Alguns são difíceis ou impossíveis de serem medidos.

Um dos maiores problemas/dificuldades da sociedade atual é a “coisificação” e “precificação” das

experiências.

SERVIÇOS E EXPERIÊNCIAS ESTÃO ATRELADOS A QUESTÕES SOCIAIS, pois são oferecidos a partir

de padrões e expectativas de comportamento. Ex: Mensageiro levar bagagens até o quarto do

hotel e aguardar gorjetas.

Cada indivíduo e grupo social possuem necessidades e expectativas distintas, o que exige que o

mercado se adeque. COMO? Customizando serviços e divulgando produtos e experiências de alto

valor agregado (não necessariamente econômico). O valor pode ser medido também pela

duração, sensação, motivação, etc.

Em termos mercadológicos, TODO PRODUTO PRECISA TER PREÇO (CUSTO-BENEFÍCIO), FOCO

(DEMANDA) E/OU DIFERENCIAÇÃO (OFERTA) como fatores de atratividade e por conseguinte

viabilidade econômica.

A história do comportamento humano está intimamente ligada ao desenvolvimento dos mercados

e ao valor econômico estabelecido aos bens, serviços e experiências oferecidas. Nas sociedades

complexas (urbanas pós-industriais), a divisão de classes tem uma grande influência no

comportamento e interação entre as pessoas e grupos sociais. Pertencer a uma classe social, não

significa apenas ter uma determinada renda familiar, exercer algum tipo de profissão e/ou ter

certo grau de escolaridade. Significa também participar de crenças, possuir determinados valores

morais e estéticos, ter determinadas aspirações, perceber a existência de uma maneira específica.

Em outras palavras, cada classe social tende a possuir modos próprios de vida, isto é,

identificando-se às subculturas correspondentes.

Ex. Torcedor rico se comporta, em muitos aspectos, como o frequentador do teatro rico

(SIMILARIDADE ECONÔMICA). OU Torcedor rico se comporta, em muitos aspectos, como o

torcedor pobre (SIMILARIDADE DE PADRÃO DE CONSUMO DE EXPERIÊNCIAS DE LAZER).

Isto significa que o PADRÃO DE ESCOLHA DE CONSUMO é semelhante pelo grau de similaridade

social (que pode ser estratificada de diferentes formas). Isto se repete, inclusive ,no universo das

viagens, com a escolha de destinos e passeios parecidos.

PARA IR + LONGE (A NOVA CLASSE MÉDIA BRASILEIRA):

http://www.youtube.com/watch?v=h29buq2ljsM

http://www.youtube.com/watch?v=9TSU2sYz9gs&feature=relmfu

http://www.youtube.com/watch?v=DvFkunr27jk&feature=relmfu

http://www.youtube.com/watch?v=h0FuL4rbUdI&feature=relmfu

http://www.youtube.com/watch?v=mjcoLWDkc3k&feature=relmfu

http://www.youtube.com/watch?v=1eFNYdN2Lp4&feature=relmfu

(MILIONÁRIOS EXCÊNTRICOS)

http://www.youtube.com/watch?v=8cffWMfdPMU

O CULTO À VELOCIDADE

A sociedade pós-moderna tem como uma das suas principais características a pressa generalizada,

esteja ela presente nas respostas eletrônicas, na expectativa das respostas sociais ou na

velocidade do crescimento humano. Atualmente, exige-se pressa em tudo o que se vivencia. O

resultado é a ativação de um estado interno de tensão, quando o stress emocional pode se

instalar.

Espera-se do homem a mesma rapidez que se espera de uma máquina. E, como todos sabem,

achamos sempre que o computador de ontem já não mais atende à nossa necessidade de rapidez

atual: quanto mais rápida a máquina, mais queremos que ela acelere a sua resposta.

O mesmo está acontecendo com o homem: queremos que ele responda, cresça, viva e se

relacione com uma rapidez cada vez mais pronunciada, custe o que custar.

Isto gera uma série de distorções sociológicas. Entre elas se destacam os conflitos etários:

ADULTIZAÇÃO PRECOCE, INFANTILIZAÇÃO ADULTA, CULTO À JUVENTUDE.

ADULTIZAÇÃO PRECOCE: Crianças querem consumir, decidir e se erotizar como adultos. Queimam

etapas do desenvolvimento. Tornam-se emocionalmente frágeis. Vivenciam uma vida noturna

antecipada (com comportamento inadequado e riscos). Apresentam Hiperconsumismo em

Shoppings e sentem monotonia em viagens com a família (querem independência).

INFANTILIZAÇÃO ADULTA: Por não ter vivido as etapas anteriores da vida com a densidade e

duração adequadas, ficam lacunas de comportamento: Baladas extravagantes entre adultos

maduros; “Brinquedos” caros: carros possantes, roupas de grife, etc; Resgate da sexualidade

juvenil baseado na libertação plena (inclusive em viagens); Memória afetiva da infância e

adolescência: video-game, seriados, etc.

CULTO À JUVENTUDE: A velhice e a morte são coisas a se evitar. Ocorre uma espécie de Ditadura

estética, com o uso indiscriminado de “Drogas do Rejuvenescimento”. Passa-se a observar uma

imitação forçosa ao modo de vida dos jovens (ex. prática de esportes de aventura). É inegável,

portanto, uma perspectiva crescente de idosos ativos.

Outra razão que tem sido observada para o desenvolvimento e a manutenção da pressa na

sociedade atual, é o reforço que ela recebe dos chefes e supervisores nas empresas, de

professores nas escolas e dos pais, na família. O sistema e suas instituições estruturantes

encorajam todos a serem apressados, a concluírem suas tarefas em menos tempo.

O funcionário que recebe a melhor avaliação é justamente aquele que se mostra rápido, enquanto

que o trabalhador mais reflexivo, que pensa em todos os detalhes antes de agir e,

conseqüentemente, demora mais para a tomada de decisões é, muitas vezes, criticado pelo seu

modo mais calmo de ser, mesmo que seus projetos demandem mais profundidade.

As pessoas se comprometem, então, a um viver frenético, onde as realizações práticas assumem

papel prioritário (MENTALIDADE UTILITARISTA), mesmo que o sucesso tenha custos. E os custos

podem ser altos, para a saúde, para a qualidade de vida, para a sensação interior de paz e, além de

tudo, para o enfraquecimento das relações interpessoais.

Pode-se dizer com tudo isso QUE A PRESSA É INIMIGA DA PERFEIÇÃO, ASSIM COMO É AMIGA DA

ALIENAÇÃO.

A pressa do mundo moderno não permite que o ser humano se detenha nas interações, exceto

aquelas que sejam diretamente necessárias para o trabalho em dado momento. Isto contribui

para que ele não se aprofunde nos sentimentos e relacionamentos. Em outras palavras, Não há

tempo para conhecer, ouvir e ser ouvido pelo outro (O QUE TRAZ IMPLICAÇÕES DIRETAS NO

UNIVERSO DAS VIAGENS).

O resultado é a sensação de solidão, de desapego, de menos valia dos outros e,

conseqüentemente, de si mesmo. Relacionamentos efêmeros, superficiais, facilmente substituídos

por outros igualmente transitórios e de igual insignificância, ocorrem com a rapidez típica da nossa

época.

Doenças graves que parecem surgir repentinamente, deram seus avisos por meses, pois

dificilmente a doença surge de imediato; antes de ser diagnosticada, em geral, ela dá sinais. Entre

elas estão a ansiedade, a depressão, a obesidade, a esquizofrenia, o pânico, todas oriundas do

estilo de vida atual. Sim, o corpo reclama através de sintomas e mal-estares, porém o homem pós-

moderno, em geral, escolhe ignorá-los, pois não tem "tempo para perder" se auto observando

(introspecção) e se auto respeitando (colocar o desejo acima da razão). Assim, muitas vezes,

viajamos para nos reencontrarmos com nossa essência.

Aparece a ansiedade de viver mais plenamente, o desejo de se conectar, de usufruir de momentos

de qualidade, pois é da essência humana se socializar, amar e estabelecer raízes. Justamente este

desejo é o que tem levado centenas de pessoas à aderir ao "SLOW MOVEMENT", ou seja, ao

movimento de desaceleração que se originou na Espanha no final da década de 1980.

O seu nascimento representa uma ação contestatória à americanização da Europa. No primeiro

momento, a ideia era se insurgir contra a instalação de restaurantes de "fast-food".

Após algum tempo, outras facetas do movimento surgiram, como:

• Slow-cities (cidades menores, onde a pressa não é valorizada e se dá valor maior

aos contatos interpessoais),

• Slow-education (que se refere a ajudar as crianças a desenvolverem valores que

possibilitem viver uma vida mais desacelerada, mais cheia de sentido e mais

tranqüila),

• Slow-books (livros mais reflexivos a serem lidos com calma pelas crianças e seus

pais).

• Slow-travel (viagens onde a pessoa não simplesmente visita rapidamente, mas que

passa vários dias em um lugar só, participando das atividades da comunidade com

profundidade, consciência sócio-ambiental).

A obra que sintetiza o espírito do “Slow Movement” se chama “DEVAGAR” e foi escrita por Carl

Honoré, traduzida para o português em 2010.

PARA IR + LONGE: Leitura do Resumo do livro “Devagar”

PARA IR + LONGE (Cidades do Bem Viver)

http://www.youtube.com/watch?v=izbYgE7FVe8

http://www.youtube.com/watch?v=JIaT8g2dmSQ

http://www.youtube.com/watch?v=I6_MA8LGPAw

A SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL E O CONCEITO DE ÓCIO CRIATIVO

Sociedade Pós-Industrial, no contexto da evolução sociocultural, é o nome proposto para uma

economia que passou por uma série de mudanças específicas, após o processo de industrialização.

O conceito foi introduzido pelo sociólogo e professor emérito da Universidade de Harvard Daniel

Bell na sua obra The Coming of Post Industrial Society: A Venture in Social Forecasting de 1973.[1]

Tais sociedades são frequentemente marcadas por:

Um rápido crescimento do setor de serviços, em oposição ao manufaturado

Um rápido aumento da tecnologia de informação, frequentemente levando ao termo Era

da Informação.

Conhecimento e criatividade tornam-se as matérias cruciais de tais economias.

Abaixo apresentam-se 02 tabelas com informações relevantes sobre este novo modelo de

sociedade e sua comparação com o formato antigo, baseado no modelo industrial:

Um dos autores contemporâneos mais ousados e marcantes da sociologia do lazer e do trabalho é

o sociólogo italiano Domenico de Masi. Autor de consagradas obras como “O Futuro do Trabalho”

e “O Ócio Criativo”, o autor expõe uma polêmica teoria sobre a flexibilização das relações de

trabalho e, consequentemente, dos grupos sociais, pautando-se na suposta tendência de

aproximação entre diversão, conhecimento e atuação profissional.

Neste ponto da disciplina percebe-se a aproximação de alguns conceitos: SLOW MOVEMENT,

SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL E ÓCIO CRIATIVO.

A seguir apresenta-se um resumo da obra “O Ócio Criativo”:

O Ócio Criativo é título de um livro do sociólogo do trabalho italiano Domenico De Masi e é

também um revolucionário conceito de trabalho que o autor define através da intersecção entre

três elementos: trabalho, estudo e jogo.

Trabalho (economia): é o trabalho em si, as funções necessárias ao cumprimento de uma tarefa.

Estudo: é a possibilidade se obter conhecimento através do estudo constante, utilizando os

recursos que a sociedade digital proporciona, como o uso da internet, por exemplo.

Jogo: é o espaço lúdico de lazer, brincadeira e convivência que deve estar presente em qualquer

atividade que se faça. É a forma de evitar a mecanização do trabalho, dando-lhe "alma".

Quando o indivíduo consegue unir estes três pontos, ele está praticando o ócio criativo, que é uma

experiência única e que proporciona uma melhor adaptação para as necessidades da sociedade

pós-industrial, respeitando a individualidade do sujeito e proporcionando mais alegria e

produtividade ao próprio trabalho.

No livro, o autor explora temas relativos ao que denominou Sociedade Pós-Industrial

considerando, dentre outros, os seguintes aspectos do mundo atual:

Globalização Financeira utilizando as facilidades das telecomunicações modernas e criando

desafios para a estabilidade sócio econômica das sociedades nas várias nações, sujeitas a fluxos

volumosos e rápidos de capitais financeiros.

Desenvolvimento com baixa geração de emprego e renda, tratado em outro livro do

autor Desenvolvimento sem trabalho, o que provoca desafios ao próprio Capitalismo por

dificuldades de criação de demanda para o aumento do volume de produção de bens e serviços,

sem uma correspondente distribuição de renda para criar os consumidores destes bens e serviços

e sem o tratamento dos gargalos ecológicos que podem inviabilizar a própria existência da espécie

humana.

Feminilização do mundo profissional gerando tensões nas relações entre os gêneros, educados

para exercer determinados papéis que sofrem alterações mais rápidas do que as necessárias

alterações de mentalidades para acomodar estas novas expectativas e frustrações de ambos os

sexos.

Perda de utilidade das ideologias e crenças tradicionais como reguladoras das relações sociais,

sem a substituição por novas construções mentais, emocionais e espirituais que apoiem as

decisões e atos entre os indivíduos, que perdem referenciais tradicionais de comportamento e não

encontram substitutos para estes referenciais não mais aplicáveis.

Dificuldades em integrar os sujeitos sociais emergentes nas relações estabelecidas entre os

atores sociais tradicionais.

As mudanças acima geram uma profunda insatisfação, segundo o autor, derivada do modelo

Ocidental muito focado na idolatria do trabalho, do mercado e da competitividade. Como

alternativa propõe um modelo centrado em outras premissas, tais como:

Estruturação das atividades humanas em uma combinação equilibrada de trabalho, estudo

e lazer.

Valorização e enriquecimento do tempo livre, decorrente de alta disponibilidade financeira

para alguns e redução do tempo demandado de trabalho para muitos.

Aperfeiçoar o processo de produção e distribuição da riqueza decorrente dos grandes

aumentos de produtividade derivados dos rápidos, e em aceleração, avanços do

conhecimento e criatividade humana.

Distribuição de forma consciente do tempo, do trabalho, da riqueza, do saber e do poder,

minimizando as fontes de conflitos entre pessoas e grupos.

Valorização das necessidades reais das pessoas educando os indivíduos e as sociedades

para a importância das necessidades básicas, tais como a introspecção, o convívio, a

amizade, o amor e as atividades lúdicas. Com isto ficariam em segundo plano as

necessidades criadas pela propaganda e pela busca de status.

Bibliografia: Masi, Domenico de - O Ócio Criativo - Rio de Janeiro - Sextante - 2000 - 328 páginas

PARA IR + LONGE (ÓCIO CRIATIVO)

http://www.youtube.com/watch?v=dQVVgqiV-lc

Tendências de Comportamento do Turista no Século XXI

Neste tópico, apresenta-se um artigo bastante relevante no âmbito das tendências de

comportamento dos viajantes na virada do século. : “O Turismo no final do século XX – um

contexto paradoxal”. (SPINOLA, Carolina de Andrade).

Disponível em: www.revistas.unifacs.br/index.php/rgb/article/download/148/151

Pode-se afirmar que o cenário atual do turismo no mundo, se assemelha ao que Harvey (1989)

denomina de “indeterminação do pós-modernismo”. Aparentemente não existem certezas

absolutas.

Por natureza o turismo é um fenômeno diverso e de estrutura complexa (Palomeque, 1999).

Quando o analisamos partindo de uma escala global, considerando as diferenças existentes entre

as regiões do planeta, então estas características se tornam mais evidentes, exigindo dos

pesquisadores múltiplas aproximações à questão, partindo de referenciais diferentes.

Até que ponto o cenário atual do turismo em destinos mais novos é semelhante ao de destinos

consolidados?

Como se apresentam estes novos produtos turísticos no século XXI?

O autor destaca 07 grandes tendências:

1. Crescimento e expansão da atividade no nível global

2. Predomínio do turismo de sol e praia

3. Movimento de “internacionalização” e “interiorização” do turismo

4. A aparente crise da massificação

5. Necessidade de regulação por parte do estado x diminuição do Estado

6. Organização Empresarial Pós-fordista

7. Perda da autenticidade do turismo*

PERDA DA AUTENTICIDADE NO TURISMO

Gerada pelo processo de globalização e massificação da atividade que termina por tornar iguais

lugares diferentes e eliminar as peculiaridades locais em prol de um todo comercializável. A

despeito do que se imagina, esta não é uma característica que passa desapercebida aos turistas

modernos, a quem Feifer (1985) denomina de pós-turistas.

De fato, o turista sabe que, em muitas ocasiões, não está vivendo uma experiência singular,

original, mas isso não tira em nada o encanto desta experiência, frente ao cotidiano e à rotina de

sua vida em casa. Face a essa certeza, se distingue dois tipos de turista: aquele que busca o

contexto espacial e o que busca o contexto a-espacial. (Donaire, 1995).

No primeiro caso, encontram-se aqueles que estão no centro da suposta crise do turismo de

massa.

Pessoas que não se conformam em consumir experiências padronizadas em lugares distintos e que

valorizam o diferente, o original, o exótico, incluindo neste grupo aqueles para os quais o turismo

também é uma forma de intercâmbio entre culturas, de aprendizado.

O segundo grupo é mais numeroso e, viajando individualmente ou através de pacotes, estas

pessoas procuram diversão e segurança. Conscientes de que não vivem uma experiência única,

fazem de conta que sim. Muitas destas pessoas podem nem querer viver situações muito

diferentes das cotidianas e por isso buscam referenciais conhecidos em produtos padronizados.

O fato é que o mercado turístico hoje conta com estes dois tipos de demanda, absolutamente

opostas em suas expectativas e que exigem muita flexibilidade por parte da oferta. A conjugação

do turismo de massa como ele existe, com modalidades de turismo alternativo a exemplo do

ecoturismo e do turismo rural, principalmente nas ações de marketing das empresas, é uma das

estratégias escolhidas para enfrentar o momento atual. Também no Brasil se procura estabelecer a

mesma estratégia dual, conjugando o singular com o padronizado.

Na mesma linha de pensamento apresenta-se a Professora Dóris Ruschann, da UNIVALI (SC). Ela

aponta tendências de comportamento da sociedade do século XXI:

Sociedade Multicultural

Empreendedorismo do tempo (ex. O que vou fazer neste final de semana?)

Equilíbrio entre trabalho e lazer

Tempo livre como valor em si mesmo (ex. Viajar e desligar o celular – recuperação psico-

física)

Consumo massificado do Lazer (trabalha-se mais para melhor poder descansar – CONCEITO

OPOSTO AO DE TEMPOS ATRÁS)

Mobilidade seletiva (ligada ao fator anterior)

Informática e comunicação (virtualização da experiência de lazer)

Qualidade ecológica em todos os locais

Natureza como espaço de conhecimento

Nova valorização da ética da vida (consumir menos, melhor e de forma mais demorada).