influência do repouso e alongamento na atividade elétrica após digitação

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22 Influência do repouso e alongamento na atividade elétrica muscular após digitação Influence of rest and stretching on muscle electric activity after typing Paulo Henrique Cinelli Moreira 1 , Gisele Cirelli 2 , César Ferreira Amorim 3 , Eder Rezende Moraes 4 1 Fisioterapeuta; Prof. Ms. do Depto. de Fisioterapia da Unitau (Universidade de Taubaté) 2 Fisioterapeuta; Prof. Ms. do Depto. de Fisioterapia da Unitau 3 Engenheiro eletrônico; doutorando em Engenharia Biomédica na Univap (Universidade do Vale do Paraíba) 4 Físico; Prof. Dr. da UNIVAP; Prof. do Depto. de Física e Matemática da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Paulo Henrique C. Moreira R. Leite Ferraz 75 ap.113-C Vila Mariana 04117-120 São Paulo SP e-mail : [email protected] APRESENTAÇÃO jun. 2005 ACEITO PARA PUBLICAÇÃO out. 2006 RESUMO: Com o crescente aumento da velocidade e ritmo das atividades laborais, o trabalhador atual sofre maior sobrecarga nas estruturas musculotendíneas. Visando a recuperação dessas estruturas e a prevenção de lesões ocupacionais, algumas empresas empregam o alongamento durante o trabalho (ginástica laboral). O intuito deste estudo é analisar, por meio de eletromiografia de superfície, a influência de exercícios de alongamento e do repouso na resposta elétrica muscular do extensor radial longo do carpo e do trapézio superior bilateral, em 20 sujeitos, após 30 minutos de trabalho no computador. Os sujeitos foram divididos em dois grupos, alongamento e repouso. A análise de parâmetros de freqüência e amplitude do sinal previamente estabelecidos permitiu constatar que ambos os grupos apresentaram redução dos valores de freqüência e acréscimo da amplitude do sinal após a tarefa de digitação; e, após os exercícios de alongamento e/ou o período de repouso, houve um aumento dos valores de freqüência e diminuição da amplitude do sinal, indicando um estado de fadiga seguido por uma recuperação. Conclui-se que a atividade de digitação de 30 minutos gera um estado de fadiga muscular e que ambos os programas fisioterapêuticos, de repouso e alongamento, têm efeito regenerador nos músculos estudados. DESCRITORES : Doenças ocupacionais/prevenção & controle; Descanso; Eletromiografia/ métodos; Exercício A BSTRACT : Labour activities increasing speed and rhythm have led to overcharge on workers' muscle-tendon structures. Aiming at recovering such structures and preventing occupational lesions, some companies have adopted stretching exercises during working time. This study aimed at analysing the influence of stretching exercises and of rest, after a 30-minute period of computer typing, onto muscular electric activity in long radial extensor of the carpus and bilateral superior trapezius muscles, by means of surface electromyography. Twenty subjects were divided into two groups, stretching and rest. The analysis of previously defined signal frequency and amplitude allowed assessing, in both groups, frequency reduction and amplitude increase after the typing task; and, after stretching exercises and/or the rest period, there was a frequency increase and signal amplitude decrease, hence indicating a state of fatigue followed by recovery. The conclusion is there was muscle fatigue after 30 minutes typing in the studied groups, and that both rest and stretching physical therapy programs are effective for recovering the analysed muscles. KEY WORDS: Electromyography /methods; Exercise; Occupational diseases/ prevention & control; Rest FISIOTERAPIA E PESQUISA 2007; 14(1): 22-8

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  • 22 FISIOTERAPIA E PESQUISA 2007; 14(1)

    Influncia do repouso e alongamento na atividade eltricamuscular aps digitao

    Influence of rest and stretching on muscle electric activity after typing

    Paulo Henrique Cinelli Moreira1, Gisele Cirelli2, Csar Ferreira Amorim3, Eder Rezende Moraes4

    1 Fisioterapeuta; Prof. Ms. doDepto. de Fisioterapia daUnitau (Universidade deTaubat)

    2 Fisioterapeuta; Prof. Ms. doDepto. de Fisioterapia daUnitau

    3 Engenheiro eletrnico;doutorando em EngenhariaBiomdica na Univap(Universidade do Vale doParaba)

    4 Fsico; Prof. Dr. da UNIVAP;Prof. do Depto. de Fsica eMatemtica da Faculdade deFilosofia, Cincias e Letras deRibeiro Preto, Universidadede So Paulo

    ENDEREO PARACORRESPONDNCIA

    Paulo Henrique C. MoreiraR. Leite Ferraz 75 ap.113-CVila Mariana04117-120 So Paulo SPe-mail: [email protected]

    APRESENTAOjun. 2005

    ACEITO PARA PUBLICAOout. 2006

    RESUMO: Com o crescente aumento da velocidade e ritmo das atividades laborais,o trabalhador atual sofre maior sobrecarga nas estruturas musculotendneas.Visando a recuperao dessas estruturas e a preveno de leses ocupacionais,algumas empresas empregam o alongamento durante o trabalho (ginsticalaboral). O intuito deste estudo analisar, por meio de eletromiografia desuperfcie, a influncia de exerccios de alongamento e do repouso na respostaeltrica muscular do extensor radial longo do carpo e do trapzio superiorbilateral, em 20 sujeitos, aps 30 minutos de trabalho no computador. Ossujeitos foram divididos em dois grupos, alongamento e repouso. A anlise deparmetros de freqncia e amplitude do sinal previamente estabelecidospermitiu constatar que ambos os grupos apresentaram reduo dos valores defreqncia e acrscimo da amplitude do sinal aps a tarefa de digitao; e,aps os exerccios de alongamento e/ou o perodo de repouso, houve umaumento dos valores de freqncia e diminuio da amplitude do sinal,indicando um estado de fadiga seguido por uma recuperao. Conclui-se quea atividade de digitao de 30 minutos gera um estado de fadiga muscular eque ambos os programas fisioteraputicos, de repouso e alongamento, tmefeito regenerador nos msculos estudados.DESCRITORES: Doenas ocupacionais/preveno & controle; Descanso;

    Eletromiografia/ mtodos; Exerccio

    ABSTRACT: Labour activities increasing speed and rhythm have led toovercharge on workers' muscle-tendon structures. Aiming at recovering suchstructures and preventing occupational lesions, some companies haveadopted stretching exercises during working time. This study aimed atanalysing the influence of stretching exercises and of rest, after a 30-minuteperiod of computer typing, onto muscular electric activity in long radialextensor of the carpus and bilateral superior trapezius muscles, by meansof surface electromyography. Twenty subjects were divided into two groups,stretching and rest. The analysis of previously defined signal frequency andamplitude allowed assessing, in both groups, frequency reduction andamplitude increase after the typing task; and, after stretching exercisesand/or the rest period, there was a frequency increase and signal amplitudedecrease, hence indicating a state of fatigue followed by recovery. Theconclusion is there was muscle fatigue after 30 minutes typing in the studiedgroups, and that both rest and stretching physical therapy programs areeffective for recovering the analysed muscles.KEY WORDS: Electromyography /methods; Exercise; Occupational diseases/

    prevention & control; Rest

    FISIOTERAPIA E PESQUISA 2007; 14(1): 22-8

  • 23FISIOTERAPIA E PESQUISA 2007; 14(1)

    INTRODUOA histria do homem moderno e sua

    correlao com o trabalho marcadano s por grandes mudanas na qua-lidade de vida da sociedade, comotambm pela forma de realizao dastarefas. Desde o surgimento das m-quinas de fiar, do tear mecnico e damquina a vapor, no final do sculoXVIII, passando pela Revoluo Indus-trial, tratava-se de adaptar o homem mquina, com pssimas condiesde trabalho. S em meados do sculoXX que se passou a buscar adaptar amquina ao homem, visando o bem-estar, a sade e o conforto do traba-lhador1. Surgiram os primeiros concei-tos de ergonomia e antropometria, es-tudando-se aspectos do trabalho (umi-dade, barulho, temperatura, luminosi-dade, medidas de bancadas, entreoutras) e sua relao com o bem-estardo trabalhador2,3.

    Para realizar a anlise ergonmica,assim como o conforto do trabalhador,utiliza-se a eletromiografia de super-fcie (EMG), uma tcnica que registraos potenciais de ao musculares queocorrem espontaneamente ou em res-posta ativao muscular volunt-ria1,4,5. Essa ferramenta pode ser utili-zada, por exemplo, para analisar aatividade eltrica muscular em deter-minada tarefa, ou a eficcia de umamodificao no posto de trabalho1.Tambm pode ser utilizada na de-teco de alteraes na resposta mus-cular durante a contrao voluntria,resposta esta que pode ser indicativade fadiga muscular5,6, a qual caracte-rizada por uma diminuio das taxasde disparo das unidades motoras eaumento da amplitude do sinal, levan-do a uma alterao nas propriedadesespectrais, conforme estudo deLuttmann et al.5, que criaram um m-todo para melhor visualizao das res-postas obtidas aps anlise EMG omtodo JASA.

    No aspecto fisiolgico, a fadigapode ocorrer aps trabalho dinmicodurante longos perodos, assim comoem uma contrao muscular estticaprolongada, que resulta na diminuio

    da oxigenao dos tecidos contrteis,ou isquemia, reduzindo a capacidadede produo da fora muscular, geran-do desconforto e potencializando le-ses7. Para minimiz-la, podem seraplicados os alongamentos, que somanobras teraputicas para aumentaro comprimento das estruturas elsti-cas dos tecidos moles encurtados, vi-sando a preveno de leses novas ourecorrentes, o aumento do desempe-nho durante a atividade, a reduo daresistncia passiva dos componentesviscoelsticos, melhora na postura,analgesia e relaxamento da mente8-11.Este estudo tem por objetivo avaliar aatividade eltrica muscular apresen-tada aps 30 minutos de trabalho comcomputador, analisando a influnciados alongamentos e do repouso nossinais EMG de superfcie nos msculosextensor radial longo do carpo e trapziosuperior, bilateralmente, na recuperaodessa resposta e na preveno de le-ses ocupacionais.

    METODOLOGIAEste um estudo experimental com

    20 indivduos, de ambos os sexos, sen-do 10 homens e 10 mulheres (26,32,4anos, 68,49,7Kg, 165,612,1cm),digitadores, sem histria prvia de le-ses ocupacionais e algias em mem-bros superiores. O estudo foi aprova-do pelo Comit de tica em Pesquisada UNIVAP sob o protocolo n L062/2003/CEP. Foi realizado em um labo-ratrio que possui os ajustes ergon-micos necessrios a cada indivduo.

    Os indivduos preencheram umquestionrio aberto que abordava asseguintes questes: percentual de usodo computador realizando a tarefa dedigitao durante sua atividadeocupacional diria; histria prvia dequeixas de dores ou leses ocupacionaisna regio dos membros superiores(MMSS) e coluna cervical; e tempo(em minutos) necessrio para come-ar a apresentar algum incmodo oudesconforto na regio dos MMSS, du-rante a tarefa ininterrupta de digitao.

    Foram excludos deste estudo osindivduos que no realizam diaria-

    mente a atividade de digitao porpelo menos 70% do seu perodo de tra-balho, assim como aqueles que apre-sentaram histria prvia de lesesocupacionais e/ou queixas lgicas nosgrupos musculares estudados.

    Todos os indivduos foram informa-dos sobre o estudo e a divulgao dosdados, mediante preenchimento volun-trio de um termo de consentimento.

    EMGOs sinais foram coletados utilizan-

    do um eletromigrafo (EMG System doBrasil Ltda,) de 8 canais, banda de fre-qncia de 20 a 500 Hz e ganho deamplificao de 1000 vezes, sendo 20vezes no eletrodo bipolar pr-amplifi-cado e 50 vezes no segundo estgiode amplificao, com rejeio demodo comum >120 dB e impednciade entrada >10 MOhms. Os dados fo-ram convertidos digitalmente porconversor A/D de 12 bits de resoluoe freqncia de amostragem de 2 kHzem cada canal.

    Para captao dos potenciais deao, utilizaram-se eletrodos ativosbipolares de superfcie (EMG Systemdo Brasil Ltda.) compostos por duasbarras retangulares paralelas de pratade 10 mm de comprimento, 2 mm deespessura, espaados 10 mm entre si,e um pr-amplificador diferencial comganho de amplificao 20 vezes,encapsulados em resina para reduzirefeitos de interferncias eletromagn-ticas e outros rudos. Alm dos eletro-dos ativos, utilizou-se um eletrodo dereferncia constitudo de uma placametlica, posicionado na articulaordio ulnar distal do membro superiordireito. Tambm fez-se uso de fita ade-siva e lpis dermogrfico para marca-o da posio e fixao dos eletrodos.

    Para o posicionamento dos eletro-dos no msculo extensor radial longodo carpo, devido proximidade dosmsculos extensores de punho e de-dos na regio do antebrao e a sobrepo-sio do msculo braquiorradial emparte de seu ventre muscular, colocou-se o membro superior em pronaototal de antebrao e flexo de 90 de

    Moreira et al. Repouso e alongamento para digitadores

  • 24 FISIOTERAPIA E PESQUISA 2007; 14(1)

    cotovelo, encontrando um posiciona-mento do eletrodo em uma distnciade 3 cm, em um ngulo de 45, partin-do do epicndilo lateral, de formaparalela ao sentido das fibras muscula-res. Para o msculo trapzio superior,o eletrodo foi posicionado no centrodo ventre muscular, encontrando oposicionamento atravs da palpaodas estruturas, em torno de 6 cm a par-tir da articulao acrmio-clavicularem direo coluna cervical. Visan-do um posicionamento adequado doseletrodos, alm da palpao das es-truturas, tambm foi realizada a pro-va de funo muscular do msculopesquisado, seguindo parmetros daliteratura12,13. Vale ressaltar que foramtomados todos os cuidados durante acolocao dos eletrodos a fim de evi-tar a interferncia (crosstalk) de ms-culos adjacentes conforme recomen-daes da International Society ofElectrophysiology and Kinesiology.

    Previamente colocao dos ele-trodos, realizou-se a limpeza da pelecom lcool 73,4%, alm de uma pe-quena quantidade de gel, utilizadocomo meio condutor, reduzindo assima resistncia eltrica do tecido, dimi-nuindo os rudos gerados entre asinterfaces.

    ProtocoloOs indivduos foram divididos em

    dois grupos, contendo cinco homense cinco mulheres cada, sendo que emum grupo estudaram-se os efeitos dapausa ativa, ou seja, pausa da ativi-dade laboral com exerccios de alon-gamentos (grupo alongamento, GA) e,no outro grupo, estudaram-se os efei-tos da pausa passiva, ou seja, na for-ma de repouso (grupo repouso, GR).No GA os sujeitos foram analisadospreviamente com uso de EMG de su-perfcie no extensor radial longo docarpo e trapzio superior bilateral,avaliando os sinais em duas situaes:durante repouso dos membros supe-riores na coxa e com posicionamentodos membros superiores no apoio deteclado, mantendo extenso de punhocom flexo de dedos com uma foraconstante de 2 Kgf por contrao mus-

    cular isomtrica, mensurada por umdinammetro manual (Kratos Equipa-mentos Industriais Ltda.), com capaci-dade de 100 Kgf. Esse grupo realizou aatividade de digitao de um textopreviamente estabelecido durante 30minutos e, ao final desse perodo, foifeita nova (segunda) coleta de EMGesttica, com manuteno da fora em2 Kgf, como na inicial; aps uma pausaativa de 10 minutos, com exerccios dealongamentos passivos para extensoresde punhos e dedos (3 X 30 segundos),trapzio superior (3 X 30 segundos) eparavertebrais (2 X 30 segundos) foifeita a coleta final de sinais EMG damesma maneira que as anteriores, sen-do que os dados eletromiogrficos fo-ram registrados por 10 segundos.

    O perodo de digitao de 30 mi-nutos foi estabelecido aps anlise dosquestionrios preenchidos antes doincio do estudo, em que a maioria dosindivduos relatou apresentar certo in-cmodo ou desconforto nos MMSSaps 30 minutos de atividade cont-nua de digitao.

    O uso da contrao muscular subm-xima esttica durante a coleta EMGseguiu o estudo de Hansson et al.14,que concluiu que a contrao subm-xima de referncia apresenta menorvariao nos dados comparados en-tre sujeitos do que quando utilizadacontrao voluntria mxima comoreferncia. Alm disso, a indicao de

    um estado de fadiga em um sinal EMGno depende somente da fadiga, mastambm da produo de fora muscular;assim, um aumento na amplitude dosinal EMG no tempo pode ter comocausas um acrscimo da produo defora muscular ou o desenvolvimentode um estado de fadiga6. Dessa for-ma, adotou-se a manuteno de for-a, visando minimizar as variveis nacoleta EMG.

    Foi adotada a forma de coleta est-tica, pois a interpretao das variveisdo espectro de freqncia do sinalEMG na contrao dinmica pode serdificultada devido a mudanas na for-a, pelos movimentos, alteraes decomprimento da fibra muscular, mo-vimento da juno neuromuscular emrelao posio dos eletrodos, oualteraes no nmero de unidadesmotoras ativas durante esse tipo decontrao15.

    Utilizou-se o perodo de manuten-o do alongamento de 30 segun-dos16,17. Foi escolhida a forma passivamanual de alongamento realizadapelo prprio voluntrio (auto-alonga-mento), por ter a vantagem de ser demais fcil compreenso8,18,19.

    O segundo grupo (GR) seguiu pro-tocolo semelhante, realizando, ao in-vs dos exerccios de alongamento,uma pausa passiva de 10 minutos. Aseqncia da coleta pode ser obser-vada na Figura 1.

    Figura 1 Diagrama ilustrativo da seqncia de aes dos grupos alongamento erepouso

    Grupo alongamento Grupo repouso

    Coleta EMG inicial - mos na coxa / apoio na bancada

    Digitao durante 30 minutos

    Segunda coleta EMG

    Alongamentos durante 10 minutos Repouso durante 10 minutos

    Coleta EMG final

  • 25FISIOTERAPIA E PESQUISA 2007; 14(1)

    Anlise dos dadosA densidade espectral de freqncia

    foi obtida pela Transformada Rpidade Fourier (FFT) de segmentos do si-nal de 2048 pontos aps aplicao dejanela do tipo hanning com sobrepo-sio de 50%. Em seguida, foram obti-dos os parmetros freqncia mdia(FM) e freqncia mediana (FMD) evalor mdio quadrtico (VMQ), nodomnio do tempo; os valores obtidosforam normalizados pelos valores dacoleta inicial, ou seja, pelos dadosapresentados na coleta realizada comas mos apenas posicionadas sobre ascoxas, utilizando o software MATLAB

    6.0. Os registros foram avaliados quan-to integridade (no-ocorrncia de ar-tefatos tais como mau contato nos ele-trodos) e filtrados digitalmente por umfiltro de ordem II, passa-banda de 5 a250 Hz do tipo butterworth, em senti-do direto e reverso, evitando dessaforma alterao de fase nas compo-nentes do sinal.

    Anlise estatsticaOs parmetros normalizados FM,

    FMD e VMQ foram analisados peloteste pareado no-paramtrico deWilcoxon, devido no-normalidade

    o VMQ aumentou aps a tarefa dedigitao de 30 minutos e diminuiuaps a realizao dos exerccios deflexibilidade e/ou perodo de repousode 10 minutos, indicando que esseperodo de digitao gera uma altera-o na atividade eltrica muscularcondizente com o estado de fadigamuscular; e tanto os exerccios de fle-xibilidade quanto o perodo de repousotm efeito regenerador desse estado. Omesmo ocorreu com os parmetros FMDe FM, cujos valores diminuram aps adigitao e aumentaram posteriormen-te s atividades de repouso ou alon-gamento, indicando fadiga muscularseguida de recuperao (Tabelas 1 e2; Figuras 2 e 3).

    A anlise estatstica evidenciou queos dados avaliados so significante-mente diferentes quando comparadasas fases (mos no teclado x aps digi-tao x aps alongamento / repouso)em ambos os grupos, porm sem dife-rena estatstica quando comparadoso alongamento e o perodo de repousona eficcia da recuperao.

    DISCUSSONeste estudo, ambos os grupos apre-

    sentaram uma diminuio dos valoresFMD e FM e um aumento do VMQ

    Moreira et al. Repouso e alongamento para digitadores

    dos dados, comparando-se os valoresantes e aps a digitao e antes e apso repouso e/ou alongamento. As dife-renas foram consideradas significan-tes para p< 0,05.

    RESULTADOSOs resultados encontrados aps a

    aplicao do teste de Wilcoxon paradados no-paramtricos atestaram que

    Valor MximoValor Mnimo75%25%Median

    fase

    ativ

    idad

    e el

    tric

    a

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    mos no teclado ps digitao ps repouso

    Valor mnimoValor mximo75%25 %MedianaMos no teclado Aps digitao Aps repouso

    Fase

    Ativ

    idad

    e el

    tric

    a

    Figura 3 Mdia da atividade eltrica do msculo extensor radial longo docarpo D, aferida nas posies mos no teclado, aps digitao e apsrepouso, pelo parmetro FMD, indicando fadiga muscular apsdigitao e subseqente recuperao

    Valor MximoValor Mnimo75%25%Median

    fase

    ativ

    idad

    e el

    tric

    a

    0,6

    0,8

    1,0

    1,2

    1,4

    1,6

    1,8

    2,0

    mos no teclado ps digitao ps alongamento

    Ativ

    idad

    e el

    tric

    a

    Valor mnimoValor mximo75%25 %MedianaMos no teclado Aps digitao Aps repouso

    Fase

    Figura 2 Mdia da atividade eltrica do msculo extensor radial longo docarpo D, aferida nas posies mos no teclado, aps digitao e apsalongamento, atravs do parmetro FMD, indicando fadiga muscularaps digitao e subseqente recuperao

  • 26 FISIOTERAPIA E PESQUISA 2007; 14(1)

    aps 30 minutos da atividade de digi-tao; e, aps os exerccios de alon-gamento e/ou o perodo de repouso,aumento dos valores FMD e FM e di-minuio do VMQ. Esses valores, cujaanlise mostrou serem estatisticamen-te significativos, indicam que, aps aatividade de digitao, ocorre um es-tado de fadiga e, em ambas as situa-es, (alongamento ou repouso), huma recuperao da fadiga nos ms-culos estudados.

    O uso da EMG de superfcie paraanlise da fadiga muscular, assimcomo os parmetros VMQ, FM e FMD,so amplamente abordados em litera-tura. Os resultados aqui encontradosso corroborados por vrios outros es-tudos. Chabran et al.20 encontraramum decrscimo da FM devido perdade fora, provavelmente por fadigamuscular; Svensson et al.21 observaramum decrscimo significante da FM eum consistente acrscimo do VMQ

    aps atividade prolongada de baixaintensidade, sugestiva de fadiga mus-cular; Luttmann et al.5 encontraramdecrscimo da FM e acrscimo da ati-vidade eltrica e amplitude de picoEMG, indicativos de fadiga associadaa uma maior fora muscular utilizadapara realizar a mesma tarefa; e Masudaet al.22 relataram que os valores daFMD decrescem quando comparadosaos valores iniciais em atividades decontrao esttica e dinmica duranteum longo perodo.

    Diferentes desses so os achados deGerdle et al.15 e Gerard et al.23, queno encontraram correlao ou mu-danas significativas nos parmetrosVMQ e FM na anlise da fadiga mus-cular, devido provavelmente ao uso demetodologias distintas.

    As alteraes das caractersticas dosinal EMG durante a fadiga ocorremdevido a uma diminuio da taxa dedisparo das unidades motoras e a umaumento na amplitude do sinal, ge-rando modificao nas propriedadesdo espectro, detectados principalmen-te durante uma contrao sustentadae prolongada24. No grupo submetido aexerccios de alongamento, a recupe-rao desse sinal, aps o estado defadiga, pode ser explicada provavel-mente pelas adaptaes agudas doalongamento. Devido ao estmulo ge-rado no tecido muscular, ocorre umaresposta viscoelstica ps tenso apli-cada, que leva a relaxamento, diminui-o da dor e da rigidez muscular, almde proporcionar bem-estar e diminui-o de ansiedade, devido liberaode opiides endgenos no plasma(-endorfina e -lipotrofina)9,18,25,26.

    Quanto aos indivduos submetidosao perodo de repouso, segundo Kisnere Colby8, a recuperao ocorre quaseque de forma total aps 3 a 4 minutosde inatividade, pela restaurao dasreservas de energia e oxignio e re-moo do cido ltico. Ainda segun-do esses autores, quando realizado umexerccio leve durante esse perodo, arecuperao ocorre mais rapidamente.

    A anlise estatstica evidenciou quetanto o alongamento quanto o pero-

    Tabela 1 Mdia da atividade eltrica dos msculos estudados (em mV) no grupoalongamento, aferidos nas posies mos no teclado, aps digitao eaps alongamento, pelos parmetros VMQ, FM e FMD (dadosnormalizados)

    Grupo muscular

    Extensor radiallongo do carpo D

    Extensor radiallongo do carpo E

    Trapzio D

    Trapzio E

    VMQ FM FMD Fase

    2,96 1,27 1,17 Mos no teclado5,02 1,04 0,93 Aps digitao1,40 1,51 1,65 Aps alongamento

    4,14 1,58 1,55 Mos no teclado9,41 1,10 1,06 Aps digitao2,97 1,93 2,07 Aps alongamento

    4,94 1,18 1,36 Mos no teclado7,91 0,97 1,11 Aps digitao2,60 1,37 1,69 Aps alongamento

    2,88 1,23 1,34 Mos no teclado4,25 1,03 1,04 Aps digitao1,64 1,59 1,55 Aps alongamento

    D = direito; E = esquerdo

    Tabela 2 Mdia da atividade eltrica dos msculos estudados (em mV) nogrupo repouso, aferidos nas posies mos no teclado, aps digitaoe aps repouso, pelos parmetros VMQ, FM e FMD (dadosnormalizados)

    Grupo muscular

    Extensor radiallongo do carpo D

    Extensor radiallongo do carpo E

    Trapzio D

    Trapzio E

    VMQ FM FMD Fase1,88 1,40 1,96 Mos no teclado

    2,41 1,26 1,64 Aps digitao1,70 1,55 2,45 Aps repouso3,23 1,28 1,69 Mos no teclado

    4,80 0,97 1,15 Aps digitao2,72 1,44 1,77 Aps repouso2,33 1,37 1,84 Mos no teclado

    3,46 1,13 1,53 Aps digitao1,67 1,56 2,06 Aps repouso2,39 1,33 1,50 Mos no teclado

    4,23 1,15 1,17 Aps digitao1,63 1,37 1,65 Aps repouso

    D = direito; E = esquerdo

  • 27FISIOTERAPIA E PESQUISA 2007; 14(1)

    Moreira et al. Repouso e alongamento para digitadores

    do de repouso se mostraram significa-tivamente eficientes na recuperaodos valores medidos aps a tarefa dedigitao; e, quando comparados en-tre si, o grupo submetido aos exercci-os de alongamento apresentou maiorpercentual de recuperao do estadode fadiga, porm sem diferena esta-tstica significativa.

    Vale ressaltar que apenas foi avalia-da a influncia dos exerccios de alon-gamento e do repouso na atividademecnica de digitao, ou seja, ape-nas um dos fatores mecnicos respon-sveis pela fadiga muscular, no seavaliando outros fatores como os psi-colgicos (presso, estresse, entreoutros) e posturais. Vale ressaltar queeste estudo apenas avaliou o efeitoagudo do alongamento e do repousona recuperao da fadiga muscular,no tendo como intuito mensurar efei-tos crnicos (a longo prazo) das pausas

    em questo na melhora da qualidadede vida do trabalhador, o que constituiuma limitao. Estudos realizados emperodo maior, com aferies progra-madas, poder apresentar resultadosmais conclusivos quanto aos benef-cios do alongamento e do repousodurante a atividade laboral para o tra-balhador em digitao.

    O presente estudo utilizou-se datcnica de normalizao do sinalEMG, pois segundo alguns estudos,pequenas alteraes de posicionamen-to dos eletrodos durante as coletas de-saparecem com esta tcnica27. Almdeste aspecto, um grande problema naanlise do sinal EMG e sua interpreta-o est relacionado com os diferen-tes sinais adquiridos em diferentesmsculos, sujeitos ou provas. Assim,ao utilizar a normalizao do sinalEMG, diminuem-se as variveis decomparao dos sinais, ou seja, reduz

    a variabilidade intersujeitos, facilitan-do comparaes entre diferentes estu-dos28,29. Para finalizar, analisando asdiversas dificuldades encontradas emrealizar a coleta eletromiogrfica noprprio ambiente de trabalho, devidoprincipalmente aos rudos do ambien-te, o que prejudicaria a aquisio econseqente anlise dos dados, o tra-balho foi limitado ao laboratrio. Umestudo in loco poderia proporcionardados mais conclusivos, aproximando-se da realidade das atividades dirias.

    CONCLUSOConclui-se que ambas as situaes,

    repouso ou alongamento, mostraram-se eficazes para a recuperao do es-tado de fadiga muscular dos msculosestudados, aps atividade de digitaode 30 minutos.

    1 Couto AH. Ergonomia aplicada ao trabalho: manualtcnico da mquina humana. Belo Horizonte: ERGO;1995. 2v.

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