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IMPLEMENTAÇÃO DE PROGRAMAS DE QUALIDADE: UM SURVEY NOS HOSPITAIS DE GRANDE PORTE DO BRASIL Silvia Helena Boarin Pinto (ESEG) [email protected] FERNANDA ENGBRUCH (ESEG) [email protected] Beatriz Leon de Oliveria (ESEG) [email protected] Evelyn Martins Costa (ESEG) [email protected] João Chang Junior (ESEG) [email protected] O objetivo deste trabalho é analisar os programas de qualidade na área da saúde, mais precisamente nos grandes hospitais do Brasil, fazendo uma análise crítica da implantação. O tema é relevante no cenário atual, em que os hospitais investeem quantias significativas em diversos programas de melhoria da qualidade e possuem enormes dificuldades para avaliar o impacto estratégico, bem como o respectivo valor agregado dos mesmos. A metodologia adotou elementos da análise quantitativa, isto é, uma pesquisa do tipo survey, cujas informações foram coletadas através de um questionário estruturado. O universo para a coleta de dados foi extraído da listagem do “Rancking Valor 1000”, que contém as 1.000 maiores empresa brasileiras, publicado pelo jornal “Valor Econômico” e também do anuário da “Revista Exame” denominado “500 Maiores e Melhores”, ambos dos anos de 2006, 2007 e 2008. Posteriormente, as respostas obtidas por meio de questionários foram analisadas com o auxílio de um programa estatístico. Os resultados sugerem que a adoção de programas de qualidade ainda é pouco significativa nos grandes hospitais brasileiros, porém os que implantaram programas de qualidade como o Seis Sigma ou a Acreditação Hospitalar obtiveram melhoria na qualidade e também retorno financeiro. Palavras-chaves: ISO 9000; ISO 14000; Seis Sigma, Acreditação; hospital. XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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IMPLEMENTAÇÃO DE PROGRAMAS

DE QUALIDADE: UM SURVEY NOS

HOSPITAIS DE GRANDE PORTE DO

BRASIL

Silvia Helena Boarin Pinto (ESEG)

[email protected]

FERNANDA ENGBRUCH (ESEG)

[email protected]

Beatriz Leon de Oliveria (ESEG)

[email protected]

Evelyn Martins Costa (ESEG)

[email protected]

João Chang Junior (ESEG)

[email protected]

O objetivo deste trabalho é analisar os programas de qualidade na

área da saúde, mais precisamente nos grandes hospitais do Brasil,

fazendo uma análise crítica da implantação. O tema é relevante no

cenário atual, em que os hospitais investeem quantias significativas em

diversos programas de melhoria da qualidade e possuem enormes

dificuldades para avaliar o impacto estratégico, bem como o respectivo

valor agregado dos mesmos. A metodologia adotou elementos da

análise quantitativa, isto é, uma pesquisa do tipo survey, cujas

informações foram coletadas através de um questionário estruturado.

O universo para a coleta de dados foi extraído da listagem do

“Rancking Valor 1000”, que contém as 1.000 maiores empresa

brasileiras, publicado pelo jornal “Valor Econômico” e também do

anuário da “Revista Exame” denominado “500 Maiores e Melhores”,

ambos dos anos de 2006, 2007 e 2008. Posteriormente, as respostas

obtidas por meio de questionários foram analisadas com o auxílio de

um programa estatístico. Os resultados sugerem que a adoção de

programas de qualidade ainda é pouco significativa nos grandes

hospitais brasileiros, porém os que implantaram programas de

qualidade como o Seis Sigma ou a Acreditação Hospitalar obtiveram

melhoria na qualidade e também retorno financeiro.

Palavras-chaves: ISO 9000; ISO 14000; Seis Sigma, Acreditação;

hospital.

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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1. Introdução

A ampliação dos sistemas de saúde, público e privado, o crescimento da complexidade do

atendimento, o aumento da exigência dos clientes e com o policiamento mais intenso da mídia

em relação aos casos de omissão têm fortalecido a importância de uma gestão mais efetiva

sobre os recursos do setor e a qualidade do atendimento. Nesse contexto, diferentes técnicas e

ferramentas, muitas vezes utilizadas no setor industrial, têm sido adaptadas para a área de

serviços. Dentre estes métodos ou ferramentas, destaca-se o foco na qualidade.

Ferramentas que estão com grande destaque e interesse na área de serviços médicos são: as

normas internacionais ISO 9000 e ISO 14000, a Acreditação Hospitalar e o Seis Sigma. Em

hospitais, por exemplo, o programa Seis Sigma tem auxiliado na redução de custos, erros

médicos e aponta um aumento de desempenho (HEUVEL, 2005 e 2006).

Estudo conduzido por Kwak e Anbari (2006) legitimou que diversos setores de serviços vêm

implantando o programa Seis Sigma, dentre eles o setor de saúde, de bancos e de pesquisa e

desenvolvimento. Os autores relatam que o setor financeiro tem verificado diversas melhorias

após a adoção do programa Seis Sigma, tais como: melhorias nos pagamentos automatizados,

redução de defeitos da documentação para concessão de crédito, melhorias na veracidade de

relatórios bancários, redução das listas de defeitos dos serviços e redução na variação da

performance dos serviços.

Devido ao alto custo financeiro, os hospitais da rede pública no Brasil não conseguem

implementar ferramentas e técnicas da qualidade. Já os hospitais particulares estão investindo

quantias significativas em programas consagrados da área da qualidade (SOARES e

SANTOS, 2001). A adoção de normas internacionais como a ISO 9000, a ISO 14000 ou o

Seis Sigma é verificada em diversos hospitais (REVERE e BLACK, 2003). A principal

dificuldade indicada pela gerência é o “controle dos projetos”, conforme afirmações a seguir:

as metas de projetos não estão alinhadas com as metas estratégicas do hospital; falta de

padronização para avaliar a eficácia de um projeto sobre os custos; e escassez de informações

confiáveis quanto ao status dos projetos em andamento.

Dentre os novos programas de qualidade específicos para hospitais, destaca-se a Acreditação

Hospitalar, cujo objetivo é o de despertar a confiança nos procedimentos do hospital e de

garantir a fiscalização dos serviços hospitalares para seus clientes e para a comunidade como

um todo. Pode ser definida como uma avaliação e certificação da qualidade de serviços de

saúde, voluntária, periódica e reservada.

Nesse contexto, o objetivo desse artigo é identificar quais os principais programas de

qualidade estão sendo implementados na área de serviços médicos, especificamente nos

grandes hospitais brasileiros, e quais os benefícios e obstáculos encontrados.

O artigo está estruturado em cinco seções. As seções 2 e 3 apresentam a síntese da discussão

teórica dos programas de qualidade e a abordagem metodológica proposta para a pesquisa de

campo, respectivamente. A seção 4 demonstra os resultados do levantamento feito em 17

hospitais brasileiros de grande porte. Finalmente, a seção 5 traz as conclusões, limitações e

recomendações para futuros trabalhos.

2. Programas de Qualidade

Conforme Carvalho e Paladini (2005), a norma ISO 9000 representa uma reunião de

procedimentos, padrões e requisitos para o funcionamento de um sistema de gestão da

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qualidade, podendo ser aplicada a produtos e serviços, independentemente do porte ou setor

da organização. A norma representa um referencial mundial no comércio internacional e

também na implementação e manutenção de sistemas da qualidade nas organizações em todo

o mundo. A estrutura da norma é apresentada em dez capítulos (introdução, escopo,

referências normativas, termos e definições, sistema de gestão da qualidade, responsabilidade

da administração, gestão de recursos, realização do produto, medição, análise e melhoria). No

ano de 2008, a norma ISO 9000 foi revisada com o objetivo de, basicamente, corrigir alguns

termos e buscar esclarecer o sentido da descrição de alguns requisitos, sem acrescentar ou

excluir nenhuma cláusula.

A quantidade de certificados da ISO 9001:2008 emitidos em todo o mundo é de

aproximadamente 1.000.000 (um milhão) em 176 (cento e setenta e seis) nações. O

acrescimento do número de certificados entre o ano de 2007 e 2008 foi de 3%. Os países com

mais empresas certificadas são, em ordem decrescente: China, Itália, Espanha, Japão,

Alemanha, Reino Unido, Índia, Estados Unidos, França e Coréia (THE ISO SURVEY, 2008).

Apesar do rápido aumento do número de empresas certificadas em todo o mundo, o impacto

da certificação ISO 9000 no desempenho permanece controverso. Alguns estudos salientam

os benefícios da certificação na melhoria da qualidade e também no desempenho comercial,

entretanto existem dúvidas sobre outras melhorias. Controvérsias ilustram a complexidade e

os paradoxos relacionados à medição do desempenho organizacional (BOIRAL e AMARA,

2009 e CHOW-CHUA et al., 2003). Segundo os autores existem quatro tipos de configuração

de certificações ISO 9000, sendo: certificação efetiva, que abrange o bom desempenho nos

critérios tradicionais de eficácia ISO 9000; certificação cerimonial, cuja aplicação da norma

melhora a performance comercial e de qualidade, mas também gera resistência e

significativos problemas de execução que são expressos principalmente pela burocracia

processual e falta de comprometimento individual; certificação gerencial, que pode ser

caracterizada como de gestão, porque não identifica muitos problemas internos e é bem

integrada em práticas de gestão, porém não contribui para a melhoria do desempenho; e

certificação ineficaz, onde existe fraco desempenho e problemas significativos de

implementação da ISO 9000. Estudo conduzido com 2.880 organizações certificadas com a

ISO 9000 na província de Quebec (Canadá) mostrou que, de acordo com a tipologia proposta,

apenas a configuração efetiva correspondete ao alto desempenho e aos poucos problemas

internos parece ser realmente eficaz. Esta configuração abrangeu cerca de um quarto dos

casos estudados. Para essas empresas, a certificação ISO 9000 parece ser uma forma eficaz de

melhorar o desempenho geral. A configuração ineficaz incluiu 27% dos casos estudados

esteve associada com o baixo desempenho, altos níveis de problemas internos e sua

implementação levou a resultados insatisfatórios. Apenas 18% dos casos estudados foram

caracterizados pelo bom desempenho, mas ainda com altos níveis de problemas internos; 28%

dos casos indicaram desempenhos fracos, mas sem problemas internos significativos de

implementação.

Já o programa Seis Sigma nasceu na Motorola na década de 80 e se difundiu em empresas de

grande porte como General Electric, Allied Signal e Citibank. Esse programa apresenta várias

características de programas tradicionais da área de qualidade, como o pensamento estatístico

e a análise e solução de problemas, apresentando uma preocupação com o uso sistemático das

ferramentas estatísticas. O Seis Sigma promove um alinhamento estratégico da qualidade,

desdobrada em projetos prioritários. Existe grande ênfase na relação custo-benefício dos

projetos de melhoria, cujos ganhos, em algumas empresas, somam cifras expressivas.

Ressalte-se que a metodologia proposta é bastante disciplinada e prescritiva, direciona o

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desenvolvimento de processos, produtos e serviços com um índice de 3,4 defeitos por milhão

(PANDE et al. 2001 e ROTONDARO, 2002).

Segundo Perez-Wilson (2000), o Seis Sigma representa: uma estatística, uma medida, uma

estratégia, um objetivo, uma visão, um benchmark e uma filosofia. Completa dizendo que o

programa Seis Sigma é um nível otimizado de performance que se aproxima do “zero defeito”

em um processo de confecção de um produto, serviço ou transação.

Apesar do Seis Sigma ser relativamente novo como programa de melhoria da qualidade, são

utilizadas ferramentas estatísticas que já são conhecidas há anos para alcançar o “zero

defeito”. No entanto, a abordagem e a forma de implementação aplicadas são únicas e

eficientes. Com o surgimento da abordagem Seis Sigma, o uso do pensamento e métodos

estatísticos passou a sinalizar oportunidades de ganhos financeiros advindos da melhoria de

desempenho organizacional.

Para Pyzdek (2003), pode-se definir Seis Sigma como “uma estratégia gerencial disciplinada e

altamente quantitativa, que tem como objetivo aumentar drasticamente a lucratividade das

empresas, por meio da melhoria da qualidade de produtos e processos e do aumento da

satisfação de clientes e consumidores”.

A filosofia do programa Seis Sigma enfatiza um controle estatístico da qualidade que tenta

definir os padrões da excelência operacional. O Seis Sigma é orientado para prevenção,

tornando-se um dos principais impulsos para a medição da melhoria contínua e para a fixação

de níveis referenciais competitivos.

As ações de um programa Seis Sigma estão nos processos, como projetos de produtos e

serviços, medidas de desempenho, melhora da eficiência e da satisfação do cliente. Um dos

elementos da infra-estrutura do Seis Sigma é a formação das equipes para executar projetos

que contribuam fortemente para o alcance das metas estratégicas da empresa. O método

DMAIC serve como base para o desenvolvimento desses projetos. O DMAIC refere-se a uma

estratégia de trabalho dos dados estatísticos para melhoria dos processos. DMAIC é uma sigla

de cinco fases interligadas: Definir (definir com precisão o escopo do projeto), Medir

(determinar a localização ou foco do problema), Analisar (determinar as causas de cada

problema prioritário), Melhorar (propor, avaliar e implementar soluções para cada problema

prioritário), e Controlar (garantir que o alcance da meta seja mantido a longo prazo)

(KUMAR e SOSNOSKI, 2009).

Perez-Wilson (2000) aponta o foco em processos, o entendimento de variação e o uso de

dados para subsidiar ações como componentes chaves que deveriam ser desenvolvidas e

usadas nas atividades diárias de gerenciamento. Variabilidade é um conceito fundamental

tratando-se de Seis Sigma. A definição da variabilidade do processo dentro do cenário do Seis

Sigma é “a distância de -3 sigma a +3 sigma na curva de distribuição de frequência de

determinada resposta do processo.”

Alguns dos benefícios da implementação do Seis Sigma relatados na literatura podem ser

resumidos nos seguintes itens: a diminuição dos custos empresariais; o aumento significativo

da qualidade e da produtividade em produtos e serviços; o potencial acréscimo no número de

clientes e sua retenção; a eliminação das atividades que não agregam valor ao processo; e a

benéfica mudança cultural promovida na empresa. Um dos principais fatores de insucesso do

Seis Sigma é a falta de interpretação correta da filosofia e, consequentemente, a disseminação

de seus conceitos para todas as áreas envolvidas é prejudicada (OLEXA, 2003 e WELCH,

2003).

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A literatura sobre os casos de sucessos do programa Seis Sigma indica sua adoção por grandes

empresas e muitas vezes em organizações manufatureiras (BOARIN PINTO et al., 2006).

Além disso, também foram verificados casos de implantação do referido programa no setor de

serviços, mais especificamente na área da saúde, isto é, em grandes hospitais, a saber

(ANTONY et al., 2007; e DREACHSLIN e LEE, 2007):

a) Heuvel (2006) et al. relatam a implementação do Seis Sigma no Hospital Red Cross em

Beverwijk, localizado nos Países Baixos, com 384 leitos, 900 funcionários e um orçamento de

70 milhões de dólares. O hospital implantou programas de melhoria da qualidade como a

certificação ISO 9001 em 2000, porém não conseguia quantificar os ganhos financeiros dos

programas de qualidade. Os principais problemas verificados antes do Seis Sigma foram: os

projetos não estavam alinhados com as metas estratégicas do hospital; não havia uma

sistemática para determinar a relevância de um projeto e sua contribuição a longo prazo; e não

havia um procedimento padronizado para avaliar os ganhos financeiros dos projetos.

Basicamente, o hospital não tinha uma abordagem padronizada de gerenciamento dos

projetos. A cada novo projeto, a abordagem, a documentação do projeto e o planejamento

tinham que ser desenvolvidos individualmente. A adoção do Seis Sigma foi facilitada pela

contratação de uma empresa de consultoria, que realizou os treinamentos internos e

acompanhou o desenvolvimento dos diversos projetos. Exemplos de projetos bem sucedidos:

redução no número de dias de internação para pacientes com doença pulmonar obstrutiva

crônica, melhorando a qualidade dos serviços prestados e possibilitando a internação de mais

pacientes, com ganho financeiro de 40.000 dólares; redução no número de erros nas faturas

internas do hospital trouxe ganho financeiro de 200.000 dólares. Cabe ressaltar que em todos

os projetos não houve perda de qualidade nos serviços prestados pelo hospital, ou seja, houve

apenas melhorias nos processos e os pacientes não sofreram nenhum prejuízo, sendo que na

grande maioria, houve ganho de qualidade para os envolvidos.

b) O Hospital Froedtert Memorial Luteran, em Milwaukee (USA), obteve uma redução de

15,8% para 2,9% das discrepâncias na aplicação de medicação intravenosa em seus pacientes

(PETASNICK, 2008).

c) O Hospital Kentucky´s Commonwealth Health Corporation, em Bowling Green (USA),

adotou projetos Seis Sigma que trouxeram economias de 1,2 milhões de dólares, aumento de

desempenho da radiologia em 33%, diminuindo em 21,5% o custo por procedimento

radiológico em 2001 (THOMERSON, 2001). No ano de 2002, o hospital investiu

aproximadamente 900.000 dólares no Seis Sigma e os projetos culminaram em ganhos que

excederam 2,5 milhões de dólares (LAZARUS e STAMPS, 2002).

Outro programa de qualidade que pode ser utilizado em instituições prestadoras de serviços

médicos é a norma internacional ISO 1400, que indica elementos para um Sistema de Gestão

Ambiental (SGA) eficaz. É aplicável a todos os tipos e tamanhos de organização e teve sua

origem na norma inglesa BS 7750, da mesma forma que a ISO 9000 foi criada a partir de

outra norma inglesa, a BS 5750. É objetivo da ISO 14000 equilibrar a proteção ambiental, a

preservação do meio ambiente e o controle da poluição com as necessidades socioeconômicas

da população. Não é intenção que ela seja utilizada como barreira comercial não-tarifária.

Existem questionamentos sobre a eficácia de um SGA, entretanto há diversos benefícios da

adoção da norma, como: o interesse em fortalecer a imagem da empresa para adquirir ou

ampliar mercado; o cumprimento a legislações, normas e regulamentos relativos ao meio

ambiente, que estão cada vez mais rigorosos; manter boas relações com os stakeholders;

diminuição nos custos e nos desperdícios; e aprimoramento de novas tecnologias (SEIFFERT,

2008 e PHENG e KWANG, 2005).

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A norma está dividida de maneira que as primeiras partes são introdutórias e visam apresentar

a norma e seus objetivos; após a introdução, há o item 3–Termos e Definições, item 4–

Requisitos do sistema de gestão ambiental, que são os itens auditáveis. Na sequência, o anexo

A traz as orientações adicionais sobre o uso da norma e o anexo B traz a matriz de correlação

entre as normas ISO 9000 e ISO 14000 (BRIGGS, 2006). A correta identificação dos aspectos

ambientais e da avaliação dos impactos ambientais relativos às atividades, processos e

produtos desenvolvidos pelas organizações é uma das etapas mais relevantes da

implementação de um SGA. A implementação consciente deste subsistema é particularmente

crítica, porque determinará a sua abrangência e robustez (PÕDER, 2006).

Os pilares do Sistema de Gestão Ambiental, baseado na ISO 14000 estão fundamentados em:

prevenção substituindo correção; planejamento de todas as atividades, produtos e processos;

definição de critérios; coordenação e integração entre todas as partes envolvidas; monitoração

contínua e também melhoria contínua (BRIGGS, 2006).

Um aspecto importante da ISO 14000 é que a norma não estabelece critérios determinados

para o desempenho ambiental que as empresas devem cumpruir, ou seja, eles serão definidos

pela própria empresa ou governo. A norma indica que a organização deve se comprometer em

atender os requisitos legais que se relacionam com os aspectos ambientais (CARVALHO e

PALADINI, 2005).

Os certificados da ISO 14000 emitidos no mundo ultrapassam o número de 190.000 (cento e

noventa mil), em aproximadamente 155 (cento e cinquenta e cinco) países. O crescimento do

número de certificados entre os anos 2007 e 2008 foi de 20%. O país com mais certificados

emitidos é, novamente, a China, é seguida por: Japão, Espanha, Itália, Reino Unido, Coréia do

Sul, Alemanha, Estados Unidos, Suíça e Romênia (THE ISO SURVEY, 2008).

Além dos programas de qualidade citados anteriormente, que são tradicionais da área de

manufatura, a Acreditação Hospitalar é uma metodologia de avaliação da qualidade particular

da assistência médico-hospitalar, ou seja, da avaliação dos recursos institucionais que ocorre

de maneira voluntária, periódica e reservada. A Acreditação foi desenvolvida pelo Ministério

da Saúde, através da Organização Nacional de Acreditação (ONA). O Manual Brasileiro de

Acreditação Hospitalar (MBAH) foi baseado, para sua concepção, no Manual de Acreditação

da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e adaptado à realidade brasileira. É o único

programa nacional de avaliação e certificação externa da qualidade de serviços de saúde com

uma visão sistêmica de hospital; um sistema cujas estruturas e processos são interligados,

sendo que o funcionamento de um componente interfere em todo o conjunto e,

consequentemente, no resultado final do produto oferecido, isto é, na assistência prestada

(ONA, 2010).

A criação da Acreditação, conforme Quinto (2000) e Soares e Santos (2001), ocorreu devido à

necessidade da construção de um instrumento de avaliação específico para a área médica. Os

principais problemas verificados são: a falta de uma tradição na auto-avaliação e rigorosa

revisão dos processos internos nos hospitais; o baixo impacto dos tradicionais programas de

garantia da qualidade; a dificuldade dos gestores hospitalares de decidirem sobre

procedimentos inadequados realizados pelos colaboradores; a carência de informações

factíveis sobre a eficiência, a adequação e a eficácia dos serviços da área de saúde; e a

crescente pressão externa sobre os serviços de saúde.

Portanto, a Acreditação no Brasil e nos demais países é uma ação coordenada por uma

organização ou agência não governamental encarregada do desenvolvimento e atualização da

sua metodologia. O principal objetivo é educativo, voltado para a melhoria contínua, sem

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finalidade de fiscalização ou controle oficial, não devendo ser confundido com os

procedimentos de licenciamento e ações típicas de Estado. As principais vantagens da

Acreditação são: a segurança para os pacientes e profissionais, a qualidade da assistência e a

construção de equipes de melhoria contínua dos processos. Além disso, é um instrumento útil

de gestão, pois fornece critérios e objetivos concretos adaptados à realidade brasileira,

representando uma alternativa para a melhoria contínua. Os maiores interessados pelo

processo de Acreditação são: os gestores dos hospitais, os profissionais da área de saúde, as

organizações de saúde, o governo e a sociedade (ONA, 2010).

A distribuição do MBAH em critérios explícitos de avaliação possibilita um diagnóstico

interno das atividades do hospital, estimula o processo de educação continuada e de melhorias

para a qualidade no ambiente hospitalar. O Sistema Nacional de Acreditação considera que os

padrões contidos no MBAH estejam adaptados a todas organizações hospitalares, de qualquer

tamanho ou grau de complexidade. Esses padrões foram elaborados em três níveis,

correlacionados e de complexidade crescente, de modo que um nível superior só é alcançado

quando o anterior for plenamente atendido. No nível 1, as exigências contemplam o

atendimento dos requisitos básicos da qualidade na assistência prestada ao cliente, nas

especialidades e nos serviços da organização de saúde a serem avaliados, com recursos

humanos adequados à complexidade, qualificação adequada dos profissionais e responsável

técnico com habilitação correspondente para as áreas de atuação institucional. O princípio

básico do nível 1 é a segurança. No nível 2, as exigências contemplam as evidências de

adoção do planejamento na organização da assistência referentes à documentação em geral,

aos colaboradores, ao treinamento, ao controle, às estatísticas básicas para a tomada de

decisão clínica e gerencial e às práticas de auditoria interna. Em conjunto com a segurança, o

princípio básico do nível 2 é a organização. No nível 3, as exigências contêm evidências de

políticas institucionais de melhoria contínua como estrutura, novas tecnologias, atualização do

corpo técnico-profissional, ações assistenciais e procedimentos médico-sanitários. Neste nível

devem existir evidências objetivas de utilização da tecnologia da informação, da disseminação

global e sistêmica das rotinas padronizadas e avaliadas com foco na busca da excelência.

Portanto, unindo os níveis anteriores, os princípios básicos do nível 3 são: segurança,

organização e práticas de gestão da qualidade (ONA, 2010).

O processo de avaliação é composto por uma comissão formada por um médico, uma

enfermeira e um profissional com perfil de administrador, com atribuições de avaliar os dados

obtidos por meio da observação direta, da documentação, da medição ou de outros meios para

verificar a veracidade das informações. Após a conclusão das avaliações é emitido um

relatório de avaliação pela instituição acreditadora e elaborado o parecer final. A organização

aprovada por esse sistema de avaliação receberá o Certificado de Organização Acreditada,

conforme determinação da ONA, e o mesmo possui validade de dois anos para os níveis 1

(Acreditada) e 2 (Acreditada Plena), e de três anos para o nível 3 (Acreditada com

Excelência). O total de organizações hospitalares acreditadas por meio da Metodologia da

Acreditação Hospitalar soma 130 nas diversas regiões brasileiras. Do total dos hospitais, 35

(27%) estão na categoria “Acreditada”, 52 (40%) na “Acreditada Pleno” e 43 (33%) com

“Acreditada com Excelência”, o que demonstra que a maioria dos grandes hospitais estão

adotando as categorias mais complexas de Acreditação (ONA, 2010).

3. Metodologia

A pesquisa quantitativa possui como principal característica, a formulação de hipóteses com

variáveis associadas, a partir de uma determinada teoria, possibilitando a mensuração das

mesmas. A avaliação de cada hipótese utiliza ferramentas estatísticas, que contribuirão com o

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pesquisador na decisão de aceitá-las ou recusá-las (BRYMAN, 1995). O referido autor indica

que a validação das hipóteses deve estar focada em: mensurabilidade; causalidade;

generalização e reprodução do experimento estudado. Nesta pesquisa, foi utilizada uma

pesquisa quantitativa do tipo survey.

Segundo Babie (2007), a adoção desse tipo de pesquisa permite a elaboração clara e rigorosa

de um modelo lógico, possibilitando ao pesquisador documentar processos causais mais

exigentes. O autor também indica a possibilidade da generalização, através do entendimento

da população da qual a amostra foi retirada. O autor demonstra também que neste tipo de

pesquisa os estudiosos possuem, à sua disposição, um grande número de variáveis,

proporcionado aos pesquisadores uma situação bastante favorável para uma análise criteriosa

da relevância de cada uma delas, podendo quantificá-las e processá-las com auxílio de

programas estatísticos. Entretanto, o pesquisador não possui controle sobre os eventos

comportamentais e também não opina na realização das respostas, pois existe uma sistemática

delimitada na qual poderão ser utilizadas análises estatísticas para a avaliação dos dados.

A presente pesquisa do tipo survey foi elaborada visando responder aos questionamentos

presentes nas hipóteses listadas a seguir: H1) Os maiores hospitais do Brasil adotam

programas de qualidade como as normas internacionais ISO 9000 e ISO 14000 e o Seis

Sigma; H2) Os maiores hospitais do Brasil adotam ou estão em processo de implantação da

Acreditação Hospitalar; e H3) Os grandes hospitais brasileiros que mais investiram em

qualidade, pela adoção de programas consagrados da área de qualidade, obtiveram êxito nos

indicadores de desempenho da qualidade e, também, no retorno financeiro sobre o

investimento realizado (ROI).

O universo de pesquisa utilizou como base os grandes hospitais brasileiros que constam da

relação das maiores empresas nacionais, considerados potencialmente como aqueles de maior

experiência na adoção de programas de gestão da qualidade, como a norma ISO 9000, a ISO

14000, o Seis Sigma e a Acreditação Hospitalar.

As fontes utilizadas nesta pesquisa foram os anuários das maiores e melhores empresas do

periódico Valor Econômico e da Revista Exame, anos de 2006, 2007 e 2008. O objetivo de

utilizar as duas bases de vários anos foi a possibilidade de aumentar a quantidade de hospitais

na amostra.

O instrumento de pesquisa utilizado na coleta das informações foi elaborado conforme

seguindo as etapas a seguir:

O questionário foi construído com base no levantamento bibliográfico promovido na

primeira fase da pesquisa, o que possibilitou identificar as principais características dos

programas de qualidade estudados neste trabalho;

O instrumento de pesquisa inicial foi composto por 10 (dez) indagações, sendo alterado

após o pré-teste, conforme a proposta de Cooper e Schindler (2002), visando excluir as

perguntas com dupla interpretação e, também, melhorar a formulação das mesmas. O pré-teste

foi aplicado em um hospital, durante uma entrevista, que possibilitou uma vasta verificação

do todo o instrumento, sendo que 05 (cinco) perguntas foram modificadas;

Inicialmente, o instrumento apresenta uma carta explicativa, apresentando os objetivos da

pesquisa, tempo de preenchimento do questionário, o tipo de tratamento dos dados, a garantia

de sigilo dos nomes dos hospitais e os nomes e telefones para contato entre os hospitais e os

pesquisadores. O instrumento de pesquisa em sua configuração final contém dois blocos de

perguntas. O primeiro bloco destina-se a caracterizar o hospital e o respondente da pesquisa.

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O segundo bloco, composto de 10 (dez) questões fechadas, destina-se à análise comparativa

dos programas de gestão da qualidade sob diversos aspectos (tipos de programas adotados,

motivos de implantação, dificuldades e facilidades verificadas, valores investidos, resultados

obtidos, dentre outras);

O questionário foi enviado aos hospitais através de mensagem eletrônica, destinado ao

departamento de qualidade. O endereço eletrônico do responsável pela área de qualidade foi

obtido através de ligação telefônica ao setor de qualidade do hospital. O objetivo de enviar o

questionário diretamente ao gestor da qualidade foi o de possibilitar maior retorno à pesquisa,

pois mensagens enviadas aos setores de “apoio ao cliente” ou “SAC-Serviço de Atendimento

do Consumidor” poderiam não ser encaminhadas diretamente ao responsável pela área de

qualidade.

A pesquisa abrangeu 17 grandes hospitais do Brasil. O envio dos questionários foi iniciado

em julho de 2009 e o término da pesquisa ocorreu em abril de 2010, totalizando nove meses

de coleta de dados.

A análise e o tratamento dos dados resultantes deste levantamento utilizaram o seguinte

procedimento: foram verificados todos os questionários recebidos, analisando problemas de

preenchimento e corrigindo-os antes da inserção das respostas no programa estatístico de

computador; foram obtidos 17 questionários válidos, cujos dados foram inseridos no

programa SPAD–Système Pour Analyse de Données (versão 3.6). O objetivo foi estabelecer

estatísticas descritivas da amostra e testar as hipóteses formuladas na pesquisa.

4. Análise dos resultados

A quantidade de grandes hospitais que constam nas duas bases de dados pesquisadas é de 17,

sendo que 100% participou da pesquisa. Cabe ressaltar que, por motivo de confidencialidade

assumido com os hospitais, o nome dos mesmos não serão divulgados, sendo representados na

pesquisa por letras, de “A” a “Q”.

A primeira parte da análise consistiu em compilar os dados obtidos, com auxilio do software

estatístico SPAD 3.6 – Système Portable pour l´Analyse des Données, para a realização da

análise de agrupamentos (cluster). A análise de agrupamentos ou cluster é o nome dado a um

conjunto de técnicas multivariadas, cuja finalidade principal é agregar objetos com base nas

características similares que os mesmos possuem. A técnica classifica estes objetos de tal

modo que cada um é semelhante aos outros dentro daquele agrupamento, em relação a algum

critério determinado. Desta maneira, os agrupamentos de objetos resultantes devem exibir

elevada homogeneidade interna (dentro dos agrupamentos) e elevada heterogeneidade externa

(entre agrupamentos) (HAIR JR et al. , 2005 e SIEGEL e CASTELLAN, 2006). Na segunda

parte serão identificadas as características de cada grupo formado na primeira etapa (cluster),

de modo a caracterizar os grupos, ressaltando a semelhanças e as diferenças dentre os

mesmos.

4.1 Análise de Cluster

Por meio do programa SPAD 3.6 obteve-se a saída mostrada na Figura 1, onde é sugerida a

divisão da amostra em 4 classes diferentes. Essa classificação é realizada com base em

determinados valores das escalas intervalares que algumas das variáveis da pesquisa assumem

e que conferem certa semelhança entre indivíduos próximos, discriminando-os e juntando-os

num cluster ou classe.

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Figura 1 - Saída gráfica do módulo do SPAD 3.6

Fonte: Os autores

O primeiro é formado pelos hospitais A, J, K, L, M, N, O, P e Q; o segundo pelos hospitais E

e F; o terceiro pelos hospitais B, C e I; e, o quarto pelos hospitais D e H.

Na Figura 2 expõe a representatividade dos cluster em relação a amostra. Pode-se observar

que o maior cluster é o número 1, significando que as características desse grupo são as mais

encontradas.

Figura 2 – Representatividade dos clusters

Cluster 159%

Cluster 212%

Cluster 317%

Cluster 412%

Fonte: Os autores

4.1 Caracterização dos clusters

Cluster 1: é formado por 10 hospitais, na sua maioria privados, representando 59% da

amostra. A principal característica é não possuir nenhum programa de qualidade

implementado. Cabe ressaltar que dessas instituições, apenas a “O” tem departamento de

qualidade formalmente implantado. As organizações “H” e “K” declaram que os processos de

adoção da Acreditação Hospitalar estão em andamento, assim como “H” também está

implantando ISO 9001. Como os hospitais desse cluster não possuem programas

implementados, não foi possível coletar dados inerentes ao envolvimento da alta direção com

os programas, dificuldades na implementação, motivos da implementação, levantamento dos

principais resultados percebidos, perspectivas de investimentos e ganhos financeiros.

Cluster 2: a característica principal deste cluster é o fato de adotar os programas de qualidade

mais sofisticados, como o Seis Sigma, pertencem ao setor privado e além disso, possuem

outros programas de qualidade como ISO 9001 e Acreditação Hospitalar implementados há

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mais de 5 anos. A população é formada por 2 hospitais (12% da amostra). O envolvimento da

alta direção nesse cluster foi considerado alto em todos os programas, sendo que os motivos

pelos quais os programas foram implementados são: “iniciativa própria para melhorar a

qualidade e a produtividade” e “alinhamento às estratégias do negócio”. As principais

dificuldades encontradas na implementação foram: “confecção e atualização de documentos

para a implantação dos programas de qualidade”, “disponibilidade dos colaboradores para

auxiliar na implementação dos programas”, “execução de treinamentos e entendimento das

metodologias”, “apuração de ganhos e gastos com os programas”, “manuseio de ferramentas e

técnicas estatísticas da qualidade”, “seleção e priorização de projetos”, “gerenciamento de

projetos” e “complexidade das operações realizadas no hospital”. As principais ferramentas

da qualidade implantadas são DFSS (Design for Six Sima), DOE (Delineamento por

experimentos), FMEA (Análise do Modo e Efeito da Falha), CEP (Controle Estatístico do

Processo), QFD (Desdobramento da Função Qualidade) e Balanced Scorecard. Cabe ressaltar

que são ferramentas da qualidade classificadas como complexas. Os principais resultados

percebidos foram: ganhos financeiros, maior produtividade e qualidade, maior satisfação dos

clientes externos e aumento na participação no mercado.

Cluster 3: é composto por 3 hospitais (17% da amostra) e a principal característica é a

implementação de programas de qualidade recentemente (menos de 2 anos). Estes hospitais

possuem principalmente Acreditação Hospitalar, e são, na maioria, do setor público. O

envolvimento da alta direção com os programas é alto, sendo que o motivo da implementação

foi uma “iniciativa própria para melhorar a qualidade a e produtividade”. As dificuldades

encontradas na implementação foram: “execução de treinamentos e entendimentos das

metodologias”, “disponibilidade de recursos financeiros para a implementação dos

programas”, “apuração de ganhos e gastos com os programas” e “a complexidade das

operações realizadas no hospital”. As ferramentas da qualidade utilizadas são: Diagrama de

Causa e Efeito, Histograma, Diagrama de Pareto, PDCA (Planejamento, Execução, Controle e

Análise), 5S e Programas de Sugestão. Os principais resultados percebidos foram: “maior

qualidade e produtividade” e “maior satisfação dos clientes externos”.

Cluster 4: é formado por apenas 2 hospitais (12% da amostra), sendo que eles possuem

programas de qualidade implementados há mais que 5 anos, sendo o principal programa a

Acreditação Hospitalar. O envolvimento da alta direção com os programas é considerado

médio, sendo os motivos da implementação são: “iniciativa própria para melhorar a qualidade

e a produtividade” e o “alinhamento às estratégias do negócio”. As dificuldades na

implementação foram: “disponibilidade de colaboradores no hospital para auxiliar a

implementação dos programas”, “disponibilidade de tempo dos colaboradores para atividade

dos programas”, “apuração do ganhos e gastos com os programas”, “seleção e priorização de

projetos”, “gerenciamento de projetos” e “complexidade das operações realizadas pelo

hospital”. As ferramentas da qualidade utilizadas são: Diagrama de Causa e Efeito,

Histograma, Diagrama de Pareto, Diagrama de Dispersão, PDCA (Planejamento, Execução,

Controle e Análise) e Balanced Scorecard. Os principais resultados percebidos foram

“ganhos financeiros”, “maior produtividade e qualidade”, “maior satisfação dos clientes

externos e internos”, e “aumento na participação no mercado”.

5. Conclusão

O estudo nas empresas respondentes demonstrou que existe uma tendência de que o programa

Seis Sigma e a Acreditação Hospitalar devem ser amplamente estudados e difundidos nos

próximos anos nos grandes hospitais brasileiros, devido aos ganhos financeiros

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proporcionados e às melhorias na qualidade das diversas atividades realizadas, conforme

verificado nas empresas analisadas.

A partir dos dados coletados, verifica-se que a maioria dos grandes hospitais brasileiros, ou

seja, 59% não adotam programas de qualidade e 12% estão em fase de implantação, portanto,

a hipótese H1 (“os maiores hospitais do Brasil adotam programas de qualidade como as

normas internacionais ISO 9000 e ISO 14000 e o Seis Sigma”) deste trabalho é considerada

como “não verdadeira”.

Com relação à hipótese H2 (“os maiores hospitais do Brasil adotam ou estão em processo de

implantação da Acreditação Hospitalar”) e analisando os dados coletados, temos

aproximadamente 41% dos hospitais pesquisados possuem ou estão implantando a

Acreditação Hospitalar. Portanto, a hipótese H2 deste trabalho também é considerada como

“não verdadeira”.

Com relação à hipótese H3 (“os grandes hospitais brasileiros que mais investiram em

qualidade, pela adoção de programas consagrados da área de qualidade, obtiveram êxito nos

indicadores de desempenho da qualidade e, também, no retorno financeiro sobre o

investimento realizado (ROI)”), pode-se afirmar que a mesma é considerada como

“verdadeira”, pois a grande maioria dos hospitais que adotou programas de qualidade indicou

“melhorias na qualidade” e também “ganhos financeiros” com os mesmos.

Analisando a perspectiva de futuro para os programas de qualidade nos hospitais estudados,

observa-se que a Acreditação Hospitalar e o Seis Sigma são os programas com maiores

possibilidades de ampliação para outras áreas ou unidades.

Avaliando as ferramentas da qualidade empregadas pelos hospitais que adotaram programas

da qualidade, temos o Ciclo PDCA, o Diagrama de Pareto e o Histograma como as

ferramentas mais utilizadas. As ferramentas da qualidade classificadas como mais complexas

(QDF, DFSS e CEP) foram verificadas em apenas dois hospitais.

Este estudo apresenta as limitações inerentes ao método de pesquisa adotado, isto é, os

resultados obtidos não devem ser generalizados, porém, acredita-se que os mesmos possam

contribuir significativamente para um maior e melhor entendimento dos fatores que exercem

influências nos programas de melhoria da qualidade adotados nos grandes hospitais

brasileiros.

A atual pesquisa abordou apenas os grandes hospitais brasileiros. Uma possível extensão é

repetir este levantamento nos pequenos e médios hospitais nacionais. Outro futuro projeto

seria a aplicação da atual metodologia em outros países, como Portugal e Espanha,

objetivando a comparação entre nações.

Agradecimentos

Os autores agradecem à ESEG-Escola Superior de Engenharia e Gestão pelo patrocínio

financeiro à pesquisa e também aos hospitais que participaram do estudo.

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