illa cristina cyrino gerenciamento de crise: uma … · gerenciamento de crise: ... não existe...
TRANSCRIPT
i
ILLA CRISTINA CYRINO
GERENCIAMENTO DE CRISE:
UMA ANÁLISE DO ACIDENTE DO METRÔ DE SÃO PAULO
Monografia apresentada à Universidade
Candido Mendes para obtenção do título
de especialista em Comunicação
Empresarial, do curso de Pós-graduação
“Lato Sensu”.
Orientadora: Prof ª Adélia Araújo
Rio de Janeiro
2007
ii
Dedico este trabalho a minha mãe, Luiza de Marilac,
por todo incentivo dado a minha escolha profissional.
iii
RESUMO
A importância de se ter um departamento de comunicação interna na
empresa tem se tornado cada vez mais claro. As empresas têm enxergado que
este tipo de ação não é apenas um gasto inicial, mas também um investimento em
longo prazo.
Vale lembrar que, tão valioso quanto a presença deste departamento na
empresa é o fato de que se tenha uma equipe devidamente preparada para atuar
nele e enfrentar situações fortes e que requerem mais conhecimento com o caso
de crises empresariais.
O estudo de caso apresentado ao final deste trabalho exemplifica esta
opção de se trabalhar com uma equipe de assessoria nestes momentos.
.
iv
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 07
1 – COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL 10
1.1 – Histórico da Comunicação Empresarial no Brasil 11
1.2 – Endomarketing e Exomarketing 12
1.3 – Profissional de Comunicação Interna: quem é e o que faz 16
1.4 – Importância do Departamento de Comunicação Interna 21
2 – INFORMAÇÃO E TRANSPARÊNCIA: GERENCIANDO CRISES 24
2.1 – Como Atuar Diante de Uma Crise 26
2.2 – Não Existe Silêncio em Gerenciamento de Crises 29
2.3 – Baseado em Fatos Reais 32
3 – ESTUDO DE CASO: METRÔ DE SP 37
3.1 – Perfil da Empresa 37
3.2 – Avaliação do Serviço do Metrô SP 38
3.3 – Usuário do Metrô: Perfil e Percepção da Empresa 39
3.4 – Acidente na Futura Estação Pinheiros da Linha 4 – Amarela 40
3.4.1) Histórico de Acidentes na Linha 4 – Amarela 42
3.4.2) Era possível Prever o Desastre 43
CONCLUSÃO 45
BIBLIOGRAFIA 47
ANEXOS 50
v
INTRODUÇÃO
vi
A Comunicação Empresarial é um novo nicho que tem atraído inúmeros profissionais de
diversas áreas relacionadas à Comunicação e Gestão Empresarial.
O fascínio por este setor tem feito com que esses profissionais procurem cada vez mais,
especializações para ter mais know how e base para a solução de problemas que possam vir a
surgir e macular o nome da empresa. É o que acontece com aqueles que lidam de perto com
situações de crise e/ou momentos de conflitos na companhia.
Dada esta importância, apresentamos uma pesquisa que visa analisar o valor de se ter um
departamento de comunicação dentro da empresa e suas principais atividades.
Desta forma, neste primeiro capítulo, faremos como introdução um breve histórico da
Comunicação Empresarial no Brasil, além de outros conceitos relacionados a este assunto. Assim
como também abordaremos o papel da Comunicação Empresarial para as organizações na
contemporaneidade e o valor do investimento em endomarketing para as empresas.
Começamos o primeiro capítulo com base no Manual de Comunicação Empresarial, do
autor Fernando Braga, falando sobre os primórdios deste setor no país, na década de 40. Esta
‘assessoria’ dada à empresa era uma espécie de ‘ouvidoria’, uma forma de estreitar o
relacionamento com os usuários dos serviços da empresa. A Comunicação Empresarial começa a
ganhar mais expressão, no final dos anos 70, início dos 80, no período do Autoritarismo.
Depois de contextualizar esta área, damos início ao processo de definições e conceitos
das funções que englobam a Comunicação Organizacional. Para isso, fundamentamos essas
descrições, com base nas obras de grandes autores especializados nesta área, tais como Roger
Cahen, Paulo Clemen, Wilson Bueno e Juarez Bahia.
Neste momento, conseguimos esclarecer o que é, qual a importância e o quais são as
funções desempenhadas por este setor. Por isso, falamos sobre endomarketing e exomarketing
(relacionamento com o público interno e externo, respectivamente), além de enumerar e explicar as
tarefas desenvolvidas por estes profissionais. É importante ressaltar, que descrevemos também
quem são os profissionais que trabalham diretamente com este tipo de serviço.
Para fundamentar este tópico, inserimos uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de
Comunicação Empresarial – Aberje, sobre o perfil deste profissional e as funções desempenhadas
dentro da empresa. (Pesquisa completa em anexo).
Visto isso, fazemos uma análise da importância da existência deste setor nas
organizações: relacionamento com o cliente interno e externo, realização de projetos voltados para
estes dois públicos, além de outras informações pertinentes que comprovem a eficácia e as
vantagens de se ter esse departamento sempre atuante de forma expressiva na empresa.
vii
A partir daí, passamos para a segunda parte deste estudo, onde focamos no
gerenciamento de crise: como as empresas costumam proceder, quem as representa nestes
momentos, o que e como a equipe de comunicação reage nestes casos.
Aqui, usamos principalmente as palavras de Adriana Moreira, Nara Damante e Carlos
Magno, para exemplificar estes ensinamentos. E, para fechar o capítulo, citamos dois casos muito
conhecidos sobre administração de crise: um bem sucedido e outro com algumas falhas que
levaram a empresa ao insucesso na resolução daquela crise.
Para ilustrar este trabalho, apresentamos um estudo de caso referente ao ocorrido
com Metrô de São Paulo em janeiro deste ano. Começamos com a apresentação da empresa e a
forma de relacionamento que a mesma tem com o usuário de seus serviços. Este capítulo tem por
base o clipping cedido pela assessoria de imprensa da empresa, além de outras informações
publicadas em sites jornalísticos e na página virtual desta empresa.
Este conteúdo nos possibilitou avaliar e obter conclusões sobre o processo de
gerenciamento de crise: as melhores maneiras de se enfrentar períodos turbulentos, como agir e
como analisar o período após o acontecido.
Vale ressaltar que este não traz fórmulas certas e fechadas para se acertar e obter
sucesso na administração de crises empresariais, mas sim, apresentar a importância e a diferença
nos resultados, quando se tem uma equipe treinada e verdadeiramente atuante por trás de
momentos com estes apresentados.
viii
1) COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL
A tão falada Comunicação Empresarial é um novo ramo que tem atraído inúmeros
profissionais da área. Apesar desta expressiva procura, as escolas de comunicação ainda focam a
formação dos futuros comunicólogos na grande mídia, mesmo sendo as assessorias de imprensa,
comunicação e marketing aquelas que mais oferecem campo para atuação destes profissionais.
Apesar de este não ser o foco desta pesquisa, é importante ressaltar que são estes
jornalistas, relações públicas e ‘marketeiros’ os principais responsáveis pelo trabalho de formação,
correção e manutenção da imagem das empresas, atualmente. Ou pelo menos, deveria ser. Pois,
para que uma empresa possa sobreviver a crises e/ou outras ‘turbulências’, sem macular sua
imagem, a mesma precisa ter uma equipe de profissionais treinados e capacitados para
administrar estes possíveis problemas.
Hoje em dia ainda é possível encontrar empresas que praticam algum tipo de ação de
comunicação, mas que utiliza profissionais com outras formações (como apenas os de Recursos
Humanos, por exemplo), que não essas já citadas, para ficarem no comando das atividades.
Porém, este tipo de pensamento e atitude vêm se modificando. Isso não significa que a
comunicação interna deva ser feita sem o auxílio deste profissional, especificamente. O
endomarketing pode e deve ser feito com o RH. Mas, há a necessidade de se diferenciar o que é
ou não notícia para este seguimento e saber como aplicá-la.
Ainda que esse tipo de preocupação seja evidente, o emprego de tempo e verba em um
departamento de comunicação não é algo antigo, nem mesmo corriqueiro. Muitas organizações
ainda enxergam este tipo de trabalho como dispêndio e não como investimento.
ix
Neste primeiro capítulo, teremos como introdução um breve histórico da Comunicação
Empresarial no Brasil, além de outros conceitos pertinentes. Assim como também abordaremos o
papel da Comunicação Empresarial para as organizações na contemporaneidade e o valor do
investimento em endomarketing para as empresas.
1.1) HISTÓRICO DA COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL NO BRASIL
A Comunicação Empresarial no Brasil tem seus primeiros registros no início dos anos 40
(BRAGA, Fernando, 2004), quando apenas concessionárias de serviço público ou algumas
estrangeiras formulavam projetos para a área de comunicação (para que pudessem atender
melhor seus usuários).
Durante o período do Estado-Novo (1937-1945), Getúlio Vargas criou, através do decreto
3.371/38, um departamento dentro do Governo para divulgar seus atos e feitos, preferencialmente,
positivos. Esta prototípica ‘assessoria’ funcionava junto ao Departamento de Imprensa e
Propaganda (DIP), órgão que emitia a censura oficial a todos os veículos de comunicação da
época. Assim, só eram produzidas notícias (previamente) aprovadas e, aquelas não oficiais ou as
que fizessem críticas ao Governo seriam vetadas.
A Comunicação Empresarial ganhou força no final da década de 70, início dos anos 80,
durante o Autoritarismo. Por causa da censura e cerceamento de expressão, os profissionais
procuraram outros meios de comunicação, e as empresas foram o alvo desta nova busca.
Mas, de acordo com o jornalista e professor da ECA, Manuel Carlos Chaparro
(CHAPARRO, 2002), em Assessoria de Imprensa e Relacionamento com a Mídia, o momento
específico em que a Comunicação Empresarial no Brasil começou a atrair os jornalistas foi durante
o regime militar, em 1964, tanto no serviço público como no privado. O autor fala também sobre a
Assessoria Especial de Relações Públicas da Presidência da República – AERP, um ministério que
serviu de modelo para os governos estaduais e municipais, além, das empresas estatais. Neste
período, para alimentar as redações com a versão oficial, havia de se produzir muitos releases
para cobrir os acontecimentos da época: elevados índices de crescimento econômico, obras e
orçamentos ‘faraônicos’, a vitória da Copa de 70, dentre outros.
x
A partir dos anos 90, a comunicação empresarial passou a ser vista como uma estratégia
para as instituições e ser liderada por profissionais com ampla visão de futuro. Hoje, mais do que
isso, a Comunicação Empresarial é um processo integrado que norteia o relacionamento de uma
empresa com todos os seus públicos de interesse.
1.2) ENDOMARKETING E EXOMARKETING
Nos dias atuais, a Comunicação Empresarial vai muito mais além do que simplesmente
assessorar o governo. Atualmente, essa vertente busca atingir o posicionamento ideal de uma
empresa, passando informações precisas em todos os níveis e áreas para todos os seus públicos.
Porque, o que está em jogo é a visibilidade da empresa, transparência, novas oportunidade de
negócios e como esta vai ser vista por seus potenciais clientes.
O autor Roger Cahen (CAHEN, 2005), em Comunicação Empresarial, a Imagem Como
Patrimônio da Empresa e Ferramenta de Marketing, conceitua esta área:
Comunicação Empresarial é uma atividade sistêmica, de caráter estratégico, ligada aos mais altos escalões da empresa e que tem por objetivos: criar – onde ainda não existir ou for neutra – manter - onde já existir - ou ainda, mudar para favorável - onde for negativa a imagem da empresa junto a seus públicos prioritários. (CAHEN, 1990)
Desta forma, podemos dizer que Comunicação Empresarial é um conjunto de práticas de
construção da imagem de uma empresa para com seus públicos interno e externo. É um ‘guarda-
chuva’ sob o qual encontram-se todas ferramentas necessárias para se praticar as ações
elaboradas por uma empresa (comunicação institucional) (BENEVIDES, 2007)
xi
Dentre os propósitos da comunicação corporativa, encontram-se: a criação de conceitos,
administração da imagem institucional, construção da credibilidade, geração de boa vontade (good
will) e abertura e manutenção de canais de comunicação (relacionamento).
O jornalista Juarez Bahia (BAHIA, 1995), em Introdução à Comunicação Empresarial,
complementa esta definição, dizendo que esta é “o conjunto de modelos ou instrumentos de ação
que a empresa se utiliza para falar e se fazer ouvir. Interna e externamente, a informação prestada
por ela corresponde a uma estratégia”. Esta estratégia, na maioria das vezes, tem por objetivo a
melhoria de um produto ou serviço, a valorização dos recursos humanos ou a construção de uma
melhor imagem. Para isto, as ações são dirigidas à basicamente dois grupos distintos – público
interno e externo. Ainda segundo as palavras de Bahia, temos a descrição do trabalho feito para
esses dois targets:
Comunicação interna é aquela que se verifica entre a organização e seu pessoal. Comunicação externa é aquela que abrange consumidores, clientes, fornecedores, acionistas e o público amplamente afetado por jornal, revista, rádio, televisão, agência de notícias, etc. (BAHIA, 1995).
Ambas formas de comunicação são importantes, pois é delas que sairão dúvidas, críticas e
sugestões que poderão influenciar positivamente no desenvolvimento da empresa; elas servirão
para “fortalecer decisões e é fundamental para reciclar, vitalizar objetivos de melhoria de produtos
ou de serviços” (BAHIA, 1995).
Para que tudo corra bem, as empresas devem estar prontas para informar seus clientes
sobre suas atividades, assim como expor as suas idéias e opiniões. Para tanto, as mesmas
dispõem de alguns meios de comunicação, além de publicidade paga, tais como assessoria de
imprensa (ou de comunicação), jornal, mural, revistas, vídeos, Internet e intranet, dentre outros. E
para analisar e acompanhar essas divulgações e retorno, o clipping (BAHIA, 1995). Este último, o
jornalista define como um “serviço de recortes (...) cabendo estabelecer um fluxo de notícias de
fora para dentro e de dentro para fora”.
A Comunicação Interna, também chamada de endomarketing, nasce da necessidade de
transmitir aos empregados da empresa, com transparência e franqueza, os pensamentos e ações
dela. Os valores da casa têm que ser absorvidos de forma que o cliente interno, verdadeiramente,
‘vista a camisa’ do lugar que o acolhe. Mas, para que isso aconteça, também é importante lembrar
xii
que estes funcionários devem ser motivados a assumir e transmitir os valores da empresa. Em
Nada Substitui o Diálogo, os autores Nara Damante e Marcelo Lopes (DAMANTE E LOPES,
2002) confirmam esta teoria dizendo:
Com todo o aprimoramento e qualidade das ferramentas utilizadas pelas empresas na busca do melhor relacionamento interno nas organizações, a abertura de canais de duas mãos entre líderes e subordinados, seja via escrita ou oral, é vital para conscientizar e engajar funcionários numa mesma diretriz empresarial. A participação dos funcionários como verdadeiros embaixadores das empresas em relação aos diversos públicos tem feito, cada vez mais, com que as empresas incentivem a contribuição deles em atividades de comunicação. Seja em sugestões de pauta para os veículos internos, em conselhos editoriais ou em pesquisas e enquetes, promover o "sentimento de pertencer" enriquece os processos da organização como um todo. (DAMANTE E LOPES, 2002)
Assim, podemos concluir que todos os funcionários têm que participar das atividades
empresariais e estarem integrados. Eles devem se sentir parte de uma família.
Mas, vale ressaltar que é praticamente impossível motivar funcionários sem que a empresa
forneça condições básicas e adequadas de trabalho ao seu público interno. As ‘cobranças’ devem
ser coerentes com a política de benefícios (não somente financeiros) praticada pela empresa.
Para realizar trabalhos como estes, as ações de comunicação feitas dentro da instituição
exigem profissionais, tempo e dinheiro. De acordo com Paulo Nassar professor e diretor executivo
da ABERJE, (NASSAR, 2002), sem esses três fatores “a comunicação interna se torna uma
falácia, uma ilusão, um território de, no máximo, boas intenções”.
Ainda de acordo com as palavras de Nassar, existem outros itens que também contribuem
para a excelência da comunicação interna.
xiii
Entre eles: gestores que antecipem rapidamente oportunidades e ameaças simbólicas, que consigam avaliar o impacto e a importância de informações em meio à enxurrada de mensagens que chegam e que saem diariamente da empresa (...) que estruturem ritos e rituais, que funcionem como transmissores de mensagens positivas da empresa para a rede de públicos e que tenham a capacidade de falar no cotidiano com simplicidade, ética e clareza. Como se pode avaliar, a implantação excelente passa necessariamente pela humanização da empresa. (NASSAR, 2002)
A comunicação com o público externo, também chamada de “exomarketing”, é igualmente
importante para o crescimento e boa formação de imagem para uma empresa. Esta comunicação é
dirigida basicamente a fornecedores, comunidade, imprensa, consumidores e clientes. “Nesse
processo se incluem toda a veiculação de informações e todos os comunicados emitidos pela
organização empresarial para um público ou uma opinião pública fora dos limites internos”,
(BAHIA, 1995).
1.3) PROFISSIONAL DE COMUNICAÇÃO INTERNA: QUEM É E O
QUE FAZ
A Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) realizou um estudo de
Comunicação Interna com 117 companhias classificadas entre as 500 maiores empresas do Brasil,
de acordo com um levantamento feito pela revista Exame (edição de 2005). O estudo, elaborado
no período de 15 a 30 de agosto daquele ano, foi coordenado por Paulo Nassar, diretor-presidente
da ABERJE e professor da ECA-USP, e Suzel Figueiredo, diretora da DATABERJE e professora
da FAAP. (ANEXO 1)
De acordo com a mostra, a comunicação feita pelas empresas continua sendo
‘multidisciplinar’, abrigando profissionais de diversas áreas, tendo como resultado, as seguintes
porcentagens: os profissionais de Marketing e Administração somam cada área 4,3% de presença
nas empresas como responsáveis pela comunicação interna; os publicitários fazem parte de 13,7%
xiv
do todo das empresas entrevistadas; os RP’s estão presentes em 15,4% dos casos e os jornalistas
mantém-se em peso na elaboração de planos de comunicação, somando 47,9% de participação.
Ainda segundo esta pesquisa, pode-se destacar a estrutura das equipes que executam
este trabalho nas empresas. As ações de comunicação institucional são divididas entre equipes
internas e externas. Apenas 1,7% das empresas consultadas utilizam-se de equipe externa para
elaborar a comunicação interna da empresa. O que é extremamente sensato, já que para implantar
e efetuar este tipo de trabalho é necessário conhecer e estar a par dos acontecimentos dentro da
empresa. 24,8% delas usam o modelo de equipe interna, e a grande maioria, 73,5%, aposta no
trabalho realizado por equipe mista.
Apesar de a comunicação interna ser feita por todos os integrantes de uma organização, o
jornalista Fernando Braga (BRAGA, 2004) enumera os profissionais que têm participação
majoritária dentro das empresas. São eles: os relações públicas, os publicitários e os jornalistas.
Em seu trabalho Manual de Comunicação Empresarial, Braga descreve a participação de cada um
deles dentro da empresa e define a atuação dos RP’s como a ponte direta com os públicos-alvo.
Além disso, complementa dizendo:
Para o público externo, ele [RP] organiza as apresentações públicas e recepções, a participação em feiras e congressos, momentos em que a empresa se torna alvo de exposição pública. Gerencia mídias como as malas-diretas, as cartas que são enviadas pela empresa para clientes, bem como a recepção e resposta das mensagens remetidas pelos clientes. Organiza programas de visitas às instalações da empresa, promove concursos, programas comunitários e campanhas de cunho social, entre outras atividades. Para o público interno, cria e implanta programas de integração, realiza festividades, promove homenagens e cumprimentos. (BRAGA, 2004)
Ou seja, de acordo com suas palavras, o RP está basicamente voltado para ações
dirigidas ao público externo, porém com algumas responsabilidades de cunho interno.
Já os profissionais de propaganda e publicidade têm suas funções delimitadas por Braga,
que diz que este deve se envolver com os estudos mercadológicos da instituição e cuidar da
xv
comunicação paga, ou seja, dos anúncios produzidos pela empresa. Assim, é este também, quem
“planeja, coordena, produz e administra as peças de publicidade e propaganda da instituição e os
contatos com o setor comercial dos veículos de comunicação” (BRAGA, 2004).
Já o jornalista seria responsável pela ‘comunicação jornalística’. Fazendo assessoria de
imprensa e utilizando a mídia externa, promoveria a inserção gratuita de notícias da empresa nos
veículos de comunicação. Seria este também quem cuidaria das mídias elaboradas na
organização onde atua.
Sua preocupação é a difusão das idéias, (...) pessoas e a marca
da instituição. Ele produz, como assessor de imprensa ou ainda
quando tem seu trabalho voltado para a mídia externa, as
matérias enviadas para os veículos ou releases (BRAGA, 2004).
Além destes afazeres, Braga lista outros, tais como promover e organizar entrevistas
dadas pelos dirigentes das empresas (media training) e ser responsável pelo clipping. Somado a
isso, caberia ao jornalista realizar:
... como assessor de imprensa, dos contatos com a mídia existente, o jornalista também produz as mídias próprias da empresa, para públicos internos e externos. Há, ainda, os veículos híbridos, como a aquisição de espaços em jornais de grande circulação, colunas fixas onde as instituições divulgam notícias produzidas por seus profissionais de imprensa. Há, também, programas de rádio e de televisão das empresas, em horários comprados. (BRAGA, 2004)
Ainda que na teoria a divisão de tarefas seja perfeita e complementar, todos os
profissionais responsáveis por esta área se unem e praticam todas as funções. Por isso, Fernando
Braga, termina dizendo que o “que se vê no mercado são esses profissionais desdobrando-se para
fazer a comunicação da empresa como um todo, independentemente das limitações”.
xvi
Visto essas funções, fica claro que comunicação empresarial significa muito mais do que
simplesmente fazer o ‘jornalzinho’ da empresa (house organ). Mas, qual a verdadeira importância
deste departamento para uma instituição na atualidade? Este tipo de investimento é realmente
relevante?
De acordo com o autor Wilson Bueno (BUENO, 1995), "hoje, não se pode imaginar uma
empresa que se pretenda líder de mercado e que volte as costas para o trabalho de comunicação".
Os gestores já estão se conscientizando de que se conhecer e adaptar a empresa aos processos
comunicacionais terão maior facilidade de enfrentarem possíveis problemas e não terão mais o
pensamento: “o público que se dane”.1
O autor Paulo Clemen (CLEMEN, 2005) complementa afirmando que os motivos para se
implantar esse setor em uma empresa “parecem ser óbvios”. Desta forma, esclarece:
“... para serem bem sucedidas (...) as empresas precisam perceber o quanto é estratégica a Área de Comunicação Interna. Para que você seja bem-sucedido no processo interno de convencimento na sua empresa, deve ter em mente ainda outros aspectos que garantem a conquista de espaço da Comunicação Interna na estrutura de sua organização.” (CLEMEN, 2005)
Alguns desses aspectos a que o autor se refere são a transparência com os público-alvo,
as mensagens e as linguagens adequadas, os momentos oportunos, o mix de ferramentas e os
resultados obtidos a partir da comunicação realizada.
Clemen frisa o detalhe de que são as pessoas que fazem com que esses resultados
aconteçam, mas ressalta: “é claro que as máquinas, o serviço, o produto, a logística e tudo mais
também têm sua importância. Até porque, são as pessoas que fazem estas escolhas” (CLEMEN,
2005).
1 “O público que se dane”: célebre frase dita por William Henry Vanderbilt, empresário norte-americano, proprietário de empresas de transporte, respondendo a jornalistas que tentavam entrevistá-lo, em 1882, sobre a suspensão de um serviço que beneficiava uma comunidade.
xvii
E, em se tratando de escolhas, o momento de implantação deste setor em uma organização
é de grande importância para o sucesso da instituição. Em sua obra Como Implementar uma Área
de Comunicação Interna, Clemen afirma que logo que uma companhia é criada, a mesma deve ter
atenção especial para este departamento, pois “nada é melhor do que crescer cuidando de sua
cultura organizacional desde a fundação da empresa” (CLEMEN, 2005).
Outro fator importante que o autor destaca é que criar este setor em um momento de crise
não é o ideal. “Mas, se for necessário, a empresa deve fazer este investimento. Isto porque a área
de Comunicação Interna tem papel importante na divulgação dos verdadeiros fatos relacionados à
crise”. Ainda assim, Clemen ressalta que a pré-existência da área é o ideal, já que a Comunicação
Interna, antes ou simultaneamente aos fatos, é fundamental. E complementa, se o setor foi criado
em função de um ocorrido em específico, o setor “deve cumprir com rigor e adequadamente o seu
papel. E sua atuação deverá ser contínua, mesmo após o encerramento da crise”.
Ainda que o valor deste departamento seja incontestável, este setor ainda sofre alguns
preconceitos. A mestra em Comunicação Empresarial Andréa Batista (BATISTA, 2007) cita a
imprecisão na medição dos resultados como uma das causas desta incredibilidade. “... por
trabalhar com aspectos intangíveis, difíceis de serem mensurados quantitativamente, sofre
discriminação, muitas críticas e um total desconhecimento por parte dos gestores de empresa”.
Mas, adverte:
Investir em comunicação pode não parecer viável porque, não há como garantir que o resultado das ações corresponda ao esperado. No plano de comunicação ocorre a tentativa de evitar problemas, entender o que não está funcionando a contento, melhorar o que já está sendo feito, testar novas possibilidades e, principalmente, planejar ações comunicacionais. (BATISTA, 2000)
Um acompanhamento deve ser feito para orientar os investimentos, listar as metas
alcançadas, mesmo que essas não sejam, especificamente, financeiras. Mas, apesar disso, a
autora ressalta que esta área possui uma ligação muito forte com as tomadas de decisão de uma
organização e é responsável pela sobrevivência das empresas no mercado. “Ela é inerente à vida
empresarial e quando planejada auxilia e promove o desenvolvimento organizacional”.
xviii
1.4) IMPORTÂNCIA DO DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO
INTERNA
Como visto, o setor de comunicação organizacional existe para desempenhar funções
importantes dentro de uma empresa. Além do desenvolvimento das ações descritas, a
comunicação interna também é responsável pelo comportamento dos funcionários. Fazer com que
estes se sintam parte de um grupo e unidos pelos ideais da corporação.
Para que isso seja possível, é necessário que todo o conteúdo informativo pertinente à
empresa seja transmitido a todos eles. Nada é mais desanimador do que descobrir novas
informações sobre o local de trabalho por terceiros ou pela mídia externa. Casos como estes
intensificam o chamado ‘rádio corredor’ ou ‘rádio peão’. Estes tipos de rumores (mensagens não
oficiais) afetam a credibilidade da empresa junto a seus empregados e pode acarretar nas mais
diferentes reações negativas por parte deles.
Por isso que uma das principais e primordiais funções do departamento de comunicação
interna é trabalhar na integração do cliente interno. O setor deve ser o elo entre todas as divisões
da empresa.
De acordo com a autora Juliana Fascina (FASCINA, 2006), é graças a essas e outras
tarefas que o setor de comunicação interna vem ganhando espaço e adquirindo ‘status’ de área
fundamental. E completa enumerando outras necessidades que fazem com que este departamento
seja criado na empresa:
As empresas, em sua maioria, buscam na Comunicação Interna uma forma de suprir as necessidades dos cidadãos corporativos para poderem assim, atingirem seus objetivos, que são: aumento dos lucros ou produtividade, melhor relacionamento entre os cidadãos corporativos, melhoria da imagem interna e externa da
xix
empresa entre outros objetivos que são fundamentais para o crescimento e desenvolvimento da empresa. (FASCINA, 2006)
Os ‘cidadãos corporativos’ são os principais responsáveis pelo sucesso da organização e
isto deve estar claro nas atitudes da mesma para com eles. Como dito, o volume e qualidade
daquilo que é requisitado pela empresa tem que ser condizente com a política da organização para
com seus funcionários.
Outro ponto importante que deve ser destacado é que este setor não existe para fazer com
que os empregados aceitem todas as decisões tomadas pelos altos escalões da empresa, sem
contestação, e sim, para passar estas decisões, ouvir opiniões e evitar as possíveis mensagens
não oficias nos corredores da empresa. Afinal, burburinhos podem tomar grandes proporções e até
mesmo causar desânimo e pânico entre os empregados. Isso pode diminuir a produção, afetar a
lucratividade da empresa, bem como sua imagem interna e externa. Não se pode esquecer da
importância deste membro, já que funcionário satisfeito é a melhor propaganda da empresa.
xx
2) INFORMAÇÃO E TRANSPARÊNCIA – GERENCIANDO
CRISES
A imagem corporativa é um dos itens mais importantes e de valor para as companhias.
Acontecimentos de natureza diversas podem causar sérios danos a essa imagem, arranhando a
reputação da empresa. Porém, como o auxílio de um bom departamento de comunicação, as
empresas podem controlar e, em certos casos, até mesmo se prevenir contra momentos como
esses.
Para atenuar os efeitos negativos destes eventos, a empresa deve investir em uma equipe
que se comprometa com o preparo contra crises, antes mesmo do início de uma. As crises bem
controladas podem vir a ser tornar oportunidades para reposicionar uma marca e até mesmo,
torná-la mais forte.
De acordo com as palavras do professor e jornalista Carlos Magno (MAGNO, 2007), é
importante lembrar que, a Assessoria de Imprensa da empresa não carrega a responsabilidade de
solucionar o problema e sim, ajudar na resolução do mesmo. Desta forma, complementa:
xxi
“... na maior parte das vezes, é necessário o envolvimento das áreas Operacional e Jurídica para tomar decisões e realizar ações no sentido de resolver ou minimizar o problema. A Assessoria de Imprensa recomendará e executará ações relacionadas à comunicação com jornalistas e poderá também sugerir iniciativas em outras áreas que possam suavizar o impacto do problema, mas a decisão sobre tais sugestões deverá ser de um representante do cliente (empresa).” (MAGNO, 2007)
O professor frisa ainda que para se atuar diante de um evento como este não pode haver
envolvimento, “crise não tem emoções. Trabalha-se muito, mas sem emoções”.
Para a palavra crise, temos por definição: “fase difícil, grave, na evolução das coisas, (...)
dos fatos; deficiência, penúria; ponto de transição entre uma época de prosperidade e outra de
depressão e vice-versa” (OLANDA, 1977). Nem todas as crises têm origens semelhantes e, assim,
as maneiras de abordá-las também diferem umas das outras.
O autor de Comunicação Empresarial Integrada, Roberto de Castro Neves, conceitua crise
empresarial como “uma situação inesperada que foge ao controle dos administradores e cujo
desdobramento vai prejudicar a atuação normal da empresa” (NEVES, 2000).
Neves comenta em seu trabalho que em média, por ano, 20 mil processos contra
empresas foram abertos na década de 90 e explica o porquê disto. As empresas nunca investiram
tanto em qualidade de seus produtos e diz que esta grande revolução se dá porque o consumidor
está ficando mais ‘esperto’, mais exigente e mais demandante. “Bobos não existem mais”, afirma
Neves.
Ainda assim, o autor diz que as crises empresariais podem ser inesperadas, porém não
imprevistas, afinal: “várias crises empresariais deram sinais importantes antes de aparecerem”
(NEVES, 2000).
Para enfrentar uma crise, uma empresa deve contar com uma equipe, na qual se integrem
a direção e os responsáveis de diversas áreas, visando sempre resguardar a imagem corporativa e
a imagem de seus produtos ou serviços.
xxii
Ainda que seja difícil listar os mais variados tipos de crises existentes, o autor Octavio
Isaac, em seu trabalho “A Comunicação em Momentos de Crises (ORDUÑA, 2007)”, cita as mais
freqüentes, lidadas pelas empresas, atualmente. Dentre elas estão:
os fenômenos naturais (inundações, terremotos, etc.); as crises relacionadas com a saúde e a alimentação (epidemias, intoxicações, etc.); acontecimentos políticos e conflitos sociais (protestos violentos, conflitos políticos e comerciais, etc.); acidentes (relacionados com o transporte que afetem o meio-ambiente, incêndios, vazamentos químicos, etc.); eventos de origem criminal (seqüestros, assassinatos, sabotagens, etc.); assuntos jurídicos (de discriminação racial, de abuso sexual, plágios, etc.); fatos de tipo econômico (bancarrota, fraude, corrupção, etc.); retirada de produtos (defeitos de fabricação, por utilizar substâncias proibidas na elaboração, etc.) e ataques informáticos (vírus, entrada de hackers a sistemas, etc.). (ORDUÑA, 2007)
Vale lembrar, que crises são causadas por fatores alheios à vontade das empresas, mas,
se houver preparação, toda e qualquer crise pode ser controlada.
2.1) COMO ATUAR DIANTE DE UMA CRISE
Embora pareça óbvio, deve-se ressaltar que cada crise é um caso e não existe uma receita
exata para se seguir e sobreviver a ela.
O autor previamente citado, Octavio Orduña (ORDUÑA, 2007) afirma que, para controlar
uma anormalidade, em primeiro lugar, as companhias deveriam ter um manual de crise, o qual
conteria os mecanismos básicos para abordar as principais situações, imediatamente depois de
acorrido o fato.
xxiii
É importante estudar o cliente (empresa) e identificar os principais problemas em
potenciais que este pode vir a sofrer. Este passo ajuda a minimizar uma crise e administrá-la com
mais clareza.
Não que esse procedimento seja simples e que a crise será resolvida após seguir
estritamente as recomendações do manual. Mas, ele afirma, durante uma crise e, sobretudo, nos
primeiros momentos, é muito difícil manter a calma e dar as indicações adequadas. “Mesmo que
haja uma infinidade de variáveis de risco, é possível preparar-se para enfrentar as possíveis crises
e, desta maneira, conseguir superá-las com mais possibilidades de sucesso” (ORDUÑA, 2007).
Desta forma, o autor enumera, em linhas gerais, o que o manual de crise deve conter:
• O contato de todos os membros do comitê de crises (nome completo, cargo na companhia,
endereço eletrônico – da companhia e outro que possa acessar desde uma conexão remota –
números de telefones da empresa, da residência e dos celulares);
• Banco de dados de contatos com todos os interessados / afetados pela crise (bombeiros, polícia,
políticos, sindicatos, fornecedores, clientes, seguradoras, meios de comunicação, associações
civis, etc.);
• Variáveis de risco e fluxos de atuação;
• Relatórios de acontecimentos e
• Documentos modelo (cartas, comunicados de imprensa, etc.).
Nestes casos, o setor de comunicação tem como função inicial restaurar a confiança dos
públicos da empresa. Uma organização deve informar aos seus clientes, da maneira mais rápida e
completa possível sobre uma ocorrência prejudicial, a fim de acalmar os nervos, acabar com os
boatos e devolver a confiança da empresa.
Para que este procedimento tenha sucesso é necessário que as empresas já estejam
preparadas para estes tipos de acontecimento, como já foi dito. Mas, o que acontece na prática, na
maioria das vezes, é o planejamento de crises começar após o surgimento de uma ocorrência
séria.
xxiv
Para entender melhor o porquê da necessidade de se preparar para gerenciar crises, deve-
se ter em mente a diferença entre crise e emergência. Esta última pode ser considerada como uma
situação fora da rotina da empresa que exige atenção imediata. A emergência torna-se crise
quando a situação foge ao controle e começa a afetar a companhia de forma ampla e adversa.
Deve-se ficar atento, pois o que parece ser a princípio um mero acidente técnico, pode evoluir para
uma crise.
Fases como essas nem sempre acabam depressa. Expressivos desastres, como
explosões, acidentes aéreos e outros acidentes que envolvem, principalmente vidas humanas,
podem levar muito tempo até que se resolvam.
Há alguns anos, a maioria das empresas que enfrentavam essas desordens na instituição
tentava manter-se discreta e quase sempre conseguia. Uma das primeiras atitudes do RP da
empresa era de tirar o nome da companhia da mente daqueles que a cercavam (população local).
Hoje, quando algo de grandes proporções acontece, imediatamente já pode ser visto nas redes de
TV em todo o mundo.
O gerenciamento de uma crise deve receber tratamento e dedicação prioritários. Este é um
dos diferenciais que garante o investimento feito na marca e em sua reputação.
A previsão e reação são questões de grande importância em qualquer situação de crise.
As empresas que não prevêem estes momentos tendem a fracassar em termos de habilidade para
reagir a elas.
Porém, a simples existência de um plano de ação não garante que o mesmo será
executado de maneira eficiente. Uma das melhores atitudes que uma empresa pode tomar frente a
uma crise é contar tudo, esclarecer todos os pontos, principalmente, à mídia. E fazer disto uma boa
opção para crescer: amenizar dados ruins sobre a empresa e exaltar qualidades da mesma.
Os gestores que vêem nas crises unicamente problemas se esquecem de que estas
também podem ser uma fonte de oportunidades, que só surgiram nesses momentos difíceis. A
exposição pública gratuita a que se vê submetida uma empresa quando está sofrendo uma crise
poderá não surgir nunca mais. O público estará mais atento que o normal sobre o que quer que
aconteça com a empresa enquanto durarem os acontecimentos. Neste sentido, caso se administre
bem uma crise, se tem a oportunidade de atenuar a força negativa da cobertura midiática é
possível lançar mensagens positivas sobre a empresa, seus produtos e serviços. Seria
xxv
recomendável buscar a oportunidade desde os primeiros instantes, ainda que isso nem sempre
seja possível.
2.2) NÃO EXISTE SILÊNCIO EM GERECIAMENTO DE CRISES
Para se garantir um bom começo na gestão de uma crise, deve-se vir a público
rapidamente. Em grandes acontecimentos é recomendável que se convoque uma entrevista
coletiva para passar informações adicionais sobre o caso.
Deve-se dizer através da imprensa tudo aquilo que se sabe. As informações prontamente
transmitidas acabam com rumores e tranqüilizam a população. Isso evita que boatos se formem e
atrapalhem o andamento da gerência deste momento.
Tomemos por base o exemplo de grandes desastres, um acidente de avião, por exemplo,
os parentes das vítimas precisam saber o que está acontecendo: há sobreviventes? Como foi o
acidente? O que o causou? Que providências serão tomadas? Certas informações devem ser
passadas com rapidez para amenizar futuros problemas. Quando não são dadas as informações
rapidamente, cria-se um vazio que alguma outra fonte pode vir a preencher e a empresa em
questão pode perder o controle do caso.
Conseguir espaços (positivos) em jornais ajuda a dar respostas à sociedade e à imprensa.
Mas, se editorialmente, uma nota não for publicada, deve-se pagar por um comunicado oficial
(estará se pagando pela oportunidade de expressar a opinião da empresa). Principalmente, se
houver a necessidade de trazer explicações técnicas, como as da causa do acidente, e, se caso a
mídia não estiver colaborando satisfatoriamente para a cobertura da empresa. Fazer isso, atende
às expectativas da comunidade em geral e aos jornalistas à procura de informações sobre o caso.
Apesar de esta ação ter um alto custo, pode atingir resultados bem satisfatórios. De acordo com o
professor Carlos Magno (MAGNO, 2007), outra ferramenta importante que pode ser usada em
época de gerenciamento de crise é a sessão de Cartas ao Leitor do jornal. Além de ter o segundo
maior índice de leitura de uma publicação, pode-se observar tendências e medir a ‘temperatura’ da
situação.
xxvi
Uma tomada de decisão importante é a escolha de um porta-voz da empresa que vá à
mídia e transmita essas informações. Em uma crise, é melhor que uma única pessoa descreva o
que está acontecendo do que um grupo de funcionários. Isso evita divergência nas informações,
mal entendidos e traz credibilidade à fonte. Vale ressaltar que um porta-voz deve saber se
expressar e convencer. Nestes casos, é altamente recomendável que o mesmo receba orientações
de ‘Media Training’ para poder se preparar melhor frente a todas situações que a passagem por
uma crise pode requisitar.
Este é uma espécie de treinamento que gestores e porta-vozes de instituições fazem para
saber como se comportar perante à mídia. Visto isso, a autora do artigo O Segredo não é Mais a
Alma do Negócio, Adriana Moreira (MOREIRA, 2007), comenta a importância desta ferramenta de
comunicação e sua aplicação:
Apontado como o primeiro passo em um plano de comunicação, o media training insere a primeira célula de conscientização da importância que a comunicação exerce na empresa. O primeiro público são os próprios empresários, seguidos de seus chefes de departamentos e gerentes. (...) Seja qual for o veículo, o repórter vai sempre em busca de respostas para perguntas-chave: o que, quem, quando, como, onde e por quê. Mesmo parecendo simples, elas são capazes de dificultar a performance de um entrevistado. Portanto, é necessário ter sensibilidade para perceber qual pergunta pode provocar maior repercussão frente à Opinião Pública. (MOREIRA, 2007)
Geralmente, o porta-voz escolhido é um executivo de alto escalão da empresa, mas o que
vai definir isso é o tipo e a grandeza da crise e a linguagem que esta pessoa escolhida terá de
usar. Outra questão que deve ser levada em consideração é o fato de que este porta-voz deve ter
boa oratória e, além disso, bom poder de persuasão.
As respostas dadas têm que ser coordenadas, ou seja, a mesma visão tem que ser
passada para comunicar vários grupos sejam eles: clientes, empregados, acionistas ou a mídia.
xxvii
Uma das mensagens mais importantes que devem ser transmitidas é a questão do
sentimento de solidariedade: a empresa deve assumir suas responsabilidades, expressar
compaixão, demonstrar que se importa realmente com o que aconteceu.
Além disso, demonstrar que providências estão sendo tomadas é muito importante. E
depressa. Mas, é válido destacar: o público precisa saber, além de que atitudes estão sendo
tomadas, o prazo que em que estas se desenvolverão. É importante destacar: o prazo dado à
mídia e à população deve ser cumprido para não parecer descaso com o acontecido.
A empresa não deve trabalhar com hipóteses: se não souber com certeza sobre algum
detalhe do caso é melhor que o porta-voz da empresa diga “ainda é cedo para se afirmar”, do que
comunicar informações não condizentes e que não possam ser sustentadas no futuro. Não se deve
especular com situações como essas.
2.3) BASEADO EM FATOS REAIS
Há alguns ‘cases’ clássicos que sempre ilustram o cenário de uma gestão de crise, seja
por terem sido um sucesso, seja por apresentarem falhas primárias.
Como lembra a autora, Nara Damante (DAMANTE, 2007), um dos casos mais famosos,
ocorrido no país, foi o da Schering do Brasil, com a pílula anticoncepcional Microvlar, em 1998. O
remédio ficou conhecido como “pílula de farinha”, depois que algumas usuárias deste
anticoncepcional terem confirmado que ficaram grávidas porque tinham tomado drágeas sem
princípio ativo.
Nara diz que na época,
a Schering do Brasil realmente produziu pílulas dessa forma alegando que estava realizando testes com as embalagens. O que não conseguia entender era como esse material saiu da
xxviii
fábrica e chegou ao mercado, já que elas tinham como destino a incineração. Abriu-se um inquérito policial, uma vez que as mulheres compraram o produto em farmácias, embora as embalagens não indicassem lote e validade das cartelas, um forte indicativo de que tinham restrição à venda. Diante da interrogação, a empresa tem se mantido low profile até para que as notícias não interfiram nas ações judiciais.” (DAMANTE, 2001)
O que ajudou a agravar a situação da empresa foi o fato de a mesma ter demorado a vir a
público e informar o que realmente estava acontecendo. De acordo com Guilherme Whitaker
Penteado (PENTEADO apud DAMANTE, 2007), gerente de comunicação corporativa da Schering
do Brasil, assim que ficou constatado que parte das cartelas de teste tinha sido liberada para
vendas ao público, a mídia já havia abordado o tema.
Os funcionários da Schering foram informados através de comunicados internos,
lentamente. Penteado admite que:
... até se entender algumas hipóteses, passaram-se dias e isso foi ruim. A mídia realmente atropelou o processo e tornou o caso maior, fazendo plantões diários na frente da empresa. Os médicos foram mais impactados pela imprensa que pelos nossos representantes”. (PENTEADO apud DAMANTE, 2007)
A desconfiança do público aumentou porque a empresa manteve-se calada enquanto que
informações incoerentes ganhavam espaço na mídia ao longo dos dias.
Conforme o artigo No Olho do Furacão, de Nara Damante, a Schering não soube informar
em que ponto houve o desvio do material que deveria ser levado para incineração e acabou sendo
distribuído nas farmácias. O laboratório assumiu que havia um problema que estava ainda sendo
averiguado e, assim que tivesse informações, comunicaria.
xxix
“Na verdade, as autoridades sanitárias decidiram recolher o medicamento e solicitaram que
se parasse a produção, gerando o problema do desabastecimento não só do Microvlar como de
todos os outros produtos da empresa,” lembra Nara.
Conforme o artigo, das cinco pílulas anticoncepcionais mais vendidas no Brasil, quatro são
da Schering do Brasil, o que representa um público de 3,5 milhões de consumidoras que confiam
na marca. E, após quatro meses fora do mercado, a Microvlar retornou com nova embalagem e
cartela com cor diferente. Além disso, a empresa comunicou através da imprensa as alterações
que forma feitas para criar uma atmosfera de confiança em torno da marca.
A Schering do Brasil levou aproximadamente dois anos para que voltasse à liderança de
mercado. Penteado confirma que este foi o maior prejuízo sofrido pela empresa:
Nosso prejuízo maior foi de imagem, que levou tempos para se normalizar e veio da confiança que os médicos transmitiram às suas pacientes. Estamos mostrando no dia-a-dia que a empresa é aberta e que se a qualidade e a seriedade de seus produtos um dia foram abaladas, elas não foram destruídas, e tudo não passou de um acidente. (PENTEADO apud NARA)
De modo diferente, agiu a empresa TAM Linhas Aéreas, no ano de 1996.
No dia 31 de outubro daquele ano, um acidente com o Fokker-100 da TAM, vôo
402, que ia de São Paulo para o Rio de Janeiro, caiu minutos depois da
decolagem no aeroporto de Congonhas, matando 99 pessoas, sendo 90
passageiros, seis tripulantes e três pessoas que estavam nas ruas. A causa do
acidente foi dada como uma combinação de falha material funcional e humana,
que só aconteceu por causa de um defeito no reverso.
Investigações da TAM e da Fokker, a empresa que fabrica os aviões,
concluíram que o funcionamento indevido de um equipamento da aeronave
provocou a abertura do reverso direito do jato (que auxilia a freagem e só deve
abrir na hora do pouso).
xxx
Após o acidente, todas as providencias para evitar outros problemas como
este, foram tomadas. Não somente os aviões da Tam, mas também, todos os
Fokkers 100 em operação no mundo passaram por alterações nos seus sistemas
de segurança de freio aerodinâmico (responsável pela queda do jato).
Nos dias que sucederam o acidente, as reservas de vôo domésticos e os
embarques na ponte aérea tiveram queda de mais ou menos 15% em relação ao
movimento normal. Uma semana depois, as vendas de passagens já haviam se
recuperado.
A Tam reagiu ao acidente de maneira rápida e transparente. Esta maneira
de agir foi imprescindível para que a empresa tivesse sucesso na resolução desta
crise. “Depois da falência, a pior coisa que pode acontecer a uma empresa de
avião é um acidente. O prêmio é a sobrevivência”. A empresa criou no ato do
acidente, uma central de atendimento, “a TAM não esqueceu nenhuma
providência básica como, por exemplo, trazer os familiares das vítimas para São
Paulo” (SANTOS, 2005). A TAM se preocupou com a apuração das causas, e tudo
isso, sem a presença ou voz de comando do presidente da empresa. A TAM
estava pronta para enfrentar esse tipo de situação, porque se preparou para
enfrentar casos como esse.
O Comandante Rolim estava no Caribe, a caminho dos Estados Unidos.
Sua primeira atitude foi telefonar para um vice-presidente da TAM, quando se
inteirou dos detalhes. Determinou que todo o apoio fosse dado aos parentes das
vítimas. No mesmo instante, o comandante já estava voando de volta para o
Brasil.
A sede da TAM, junto ao hangar da companhia no aeroporto de Congonhas foi transformada rapidamente numa espécie de quartel-general de emergência. Foram instalados 20 ramais telefônicos, e a comunicação com os familiares das vitimas
xxxi
confiada a uma equipe especializada do programa “Fale com o Presidente” (programa institucional já existente na empresa). Menos de três horas após o acidente, a companhia concedeu sua primeira entrevista à imprensa e, logo depois, a TAM publicou nota de 1ª página nos principais jornais do pais prestando contas aos clientes e à opinião publica. (SANTOS, 2005)
A determinação de atender os parentes das vítimas foi seguido à
risca.Todos vieram (de várias partes do país) em vôos da própria empresa e
hospedados em hotéis próximos ao aeroporto, com as despesas todas pagas. Na
época, foram calculados que os gastos da TAM estariam em torno de 13 milhões
de dólares.
A TAM suspendeu suas campanhas publicitárias. Quando as mensagens
voltaram, limitavam-se a anunciar horários e freqüência dos vôos.
Os resultados de todas essas ações foram rápidos, visíveis e positivos. As
atitudes da TAM logo após o acidente foram consideradas corretas. A empresa
não se escondeu e foi ágil dando apoio aos familiares das vitimas. A imagem da
empresa não foi afetada de forma relevante, nem mesmo entre os ‘não-usuários’ e
o acidente foi percebido como uma fatalidade que pode acontecer a qualquer
hora, com qualquer companhia.
Em dezembro de 1997, a Aeronáutica isentou a TAM de culpa e
responsabilizou a Fokker por falhas no projeto do avião.
xxxii
3) ESTUDO DE CASO: METRÔ DE SÃO PAULO
Este capítulo tem por objetivo expor o incidente ocorrido em janeiro deste ano com o Metrô
de SP e o período de crise vivido pela empresa. A partir daí, teremos base para analisar o
comportamento da companhia e as principais atitudes dela perante a mídia.
Para tanto, teremos como apoio, um clipping obtido entre os meses de janeiro e fevereiro
deste ano, extraído, principalmente, dos jornais paulistanos. Este material foi cedido à autora desta
pesquisa pelo Departamento de Marketing e Comunicação do Metrô SP.
Em um primeiro momento, faremos uma apresentação da companhia e seu relacionamento
com seus usuários. Após isso, será apresentada uma análise do comportamento da empresa
frente ao ocorrido e seus desdobramentos.
É válido lembrar que este estudo não tem o objetivo de tomar partido, nem mesmo julgar
quais seriam os culpados pelo acidente. Esta é uma pesquisa imparcial, sem visão política
expressa qualquer momento.
3.1) PERFIL DA EMPRESA
A Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô - foi constituída em abril de 1968. As
obras da Linha Norte-Sul foram iniciadas oito meses depois. Em 1972, foi realizada a primeira
viagem de trem entre as estações Jabaquara e Saúde. Em 1974, o trecho Jabaquara / Vila
Mariana começou a operar comercialmente.
Hoje, o Metrô de São Paulo é responsável pela operação e expansão do transporte
metroviário, sistema de grande capacidade e articulador do transporte público na Região
xxxiii
Metropolitana. Operando desde o dia 14 de setembro de 1974, o Metrô possui 61,3 km de
extensão, divididos em quatro linhas e 55 estações, separados em 5 linhas: 1-Azul (Jabaquara -
Tucuruvi), 2-Verde (Alto do Ipiranga - Vila Madalena), 3-Vermelha (Corinthians - Itaquera –
Palmeiras - Barra Funda), 4 Amarela e 5-Lilás (Capão Redondo - Largo Treze). Por dia, o Metrô de
SP transporta cerca de 3 milhões de passageiros.
3.2) AVALIAÇÃO DO SERVIÇO DO METRÔ SP
De acordo com informações divulgadas no site da empresa (http://www.metro.sp.gov.br), o
Metrô de SP realiza estudos freqüentes para melhorar o atendimento e aprimoramento dos
serviços oferecidos aos seus clientes. Para tanto, "O Metrô segundo seu usuário - Uma avaliação
do serviço" vem sendo realizada pela área de Pesquisa da Gerência de Operações - GOP, desde o
início da operação comercial, e tem por objetivo acompanhar a evolução da percepção dos
usuários sobre o serviço prestado pelo Metrô-SP.
A pesquisa engloba os aspectos do serviço oferecidos durante toda a passagem do
usuário pelo sistema e outros relacionados, mais propriamente, aos seus deslocamentos na
cidade. Ainda segundo informações publicadas neste site, o objetivo deste trabalho é:
... desenvolver uma forma de monitorar e compreender os resultados alcançados de forma contextualizada e articulada, e que tenha como finalidade estimular o aperfeiçoamento das ações e metas estabelecidas. Além de entender as opiniões do usuário do serviço, essa pesquisa, juntamente com outros indicadores, possibilita o aperfeiçoamento do gerenciamento do serviço, tendo como base as necessidades e expectativas de seus clientes”. (http://www.metro.sp.gov.br, 2007)
xxxiv
Vale ressaltar que este tipo de ação auxilia no estreitamento da relação com seu cliente,
pois se passa a conhecer melhor as necessidades dele e o que de melhor ainda pode ser
oferecido.
3.3) USUÁRIO DO METRÔ: PERFIL E PERCEPÇÃO DA EMPRESA
A Gerência de Operações do Metrô SP realiza também uma pesquisa específica para
melhor conhecimento de seus usuários, a partir dos componentes de seu perfil sócio-econômico e
de seus hábitos de viagem.
O objetivo deste trabalho é auxiliar na gestão dos serviços no que se refere à implantação
de estratégias operacionais, políticas de relacionamento e comunicação com os usuários, estudos
de valor de passagens e abrangência da gratuidade oferecida.
A última pesquisa realizada foi em setembro de 2006 e ficou constatado que do total,
metade dos usuários são homens e metade são mulheres. A maioria, 54% deles têm entre 18 e 54
anos, tendo como grau de instrução mínimo o Ensino Médio completo até o superior incompleto. A
renda familiar destes usuários está entre 8,5 salários mínimos2, cerca de R$2. 975,00, com renda
média individual de 4,8 salários mínimo, totalizando R$1.680,00. Destes, 86% utilizam o serviço do
Metrô, pelo menos 3 vezes por semana e 72% o utilizam em conjunto com outro tipo de transporte
público.
Foram apresentadas aos usuários do Metrô, sete afirmativas em forma de atributos,
relacionadas aos serviços prestados, a fim de se saber o quanto eles concordavam com cada uma
delas.
As frases que mais se encaixaram no perfil foram: “A Cia do Metrô presta um bom serviço
de atendimento ao usuário”, com 92% de concordância; “A Cia. do Metrô está ampliando suas
linhas”, com 82% de concordância; “A Cia. do Metrô oferece segurança pessoal dentro das
estações”, com 69% de concordância; “A Cia. Do Metrô se responsabiliza em caso de acidentes
2 Valor do Salário mínimo em maio/2006 é de R$350.
xxxv
com usuários”, com 57% de concordância; “O serviço prestado pelo metrô tem um preço justo”,
com 52% de concordância.
E, a frase que obteve a menor concordância foi: “A Cia. Do Metrô oferece segurança
pessoal dentro dos vagões do metrô”, com 47% de concordância.
3.4) ACIDENTE NA FUTURA ESTAÇÃO PINHEIROS DA LINHA 4 –
AMARELA
Um deslizamento de terra no canteiro de obras da futura Estação Pinheiros, da Linha 4 do
Metrô de SP, abriu uma cratera de 80 metros de diâmetro, com mais de 48 metros de
profundidade, no dia 12 de janeiro deste ano. O acidente ocorreu por volta das 14h55min, ‘engoliu’
veículos que estavam próximos ao local, deixou 7 vítimas, além de ter causado evacuação dos
principais prédios e acomodações vizinhas. A cratera aberta tinha mais de 5.000m2.
O incidente afetou pelo menos 70 residências da região (até 200m do local), deixou mais
de 80 famílias desabrigadas e foram cortados água, luz, gás e telefone da redondeza.
De acordo com matéria da jornalista Cleide Silva, publicada no jornal O Estado de São
Paulo, de 13/01/2007, o representante do Consórcio Linha Amarela, Mauro Bastos, responsável
pelas obras, afirmou que a causa do desmoronamento foi uma falha geológica na parede em
escavação, rompendo um poço, que afundou de vagar. O poço tinha cerca de 38 metros de
profundidade e dois túneis. Só um deles teria sido atingido pelo desmoronamento de terra, o outro,
não. “O solo da região é ruim, muito frágil, por conta de estar à beira do rio”, disse o Secretário dos
Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella. Além disso, o secretário diz que “a chuva dos
últimos dias também prejudicou as obras”. Os reflexos desta tragédia podiam ser vistos e sentidos
ao longo de toda a Marginal Pinheiros: 1 km de congestionamento.
xxxvi
Segundo informações divulgadas pelo jornalista Bruno Paes Manso, do jornal O Estado de
São Paulo, na época do ocorrido, apenas quatro funcionários do Departamento Técnico do Metrô
eram os responsáveis por acompanhar 27 frentes de trabalho da obra. O papel desses
engenheiros se restringia a observar e fazer relatórios sobre os problemas encontrados nas obras
e que poderiam ou não ser acatados pelos funcionários do consórcio que venceu a licitação
estadual. O Diretor de Comunicação e Imprensa do Sindicato dos Metroviários, Manuel Xavier
Lemos Filho, afirmou “os técnicos viraram meros observadores”. Procurada pelo jornalista, a
assessoria do Metrô não quis se manifestar sobre este tema.
O grupo Odebrecht, por meio de sua subsidiária CBPO Engenharia LTDA, é o líder
responsável pela construção da linha 4 do Metrô de SP. O prejuízo para a seguradora passa de
R$1,3 bilhão. Todos os moradores afetados pelo acidente com a cratera foram levados para hotéis
próximos ao local. Ao menos 20 residências foram afetadas.
3.4.1) HISTÓRICO DE ACIDENTES NA LINHA 4 – AMARELA
Este não é o primeiro acidente que as obras da Linha Amarela do Metrô de SP sofrem.
Iniciada em 2004, a construção enfrentou o primeiro incidente em março do ano seguinte, quando
três operários se feriram após uma explosão no canteiro de obras, no Butantã. Nos nove meses
seguintes, cinco outros acidentes foram sofridos. Até que em dezembro daquele ano, uma casa
afundou em um poço de 27 metros na Estação Vila Sônia. Outra residência foi afetada da mesma
forma no dia seguinte, entre as estações Faria Lima e Pinheiros.
Em janeiro de 2005, a parede de uma loja, localizada na Avenida Cásper Libero, caiu
durante a demolição de um prédio vizinho, que daria lugar à futura estação Luz. A última
ocorrência registrada até então, aconteceu em 15 de janeiro de 2006: cabos telefônicos foram
atingidos numa medição do nível de água, deixando 4 mil casas sem telefone por 3 dias.
xxxvii
3.4.2) ERA POSSIVEL PREVER O DESASTRE
De acordo com matéria publicada no jornal Agora, de 13/01/2007, assim que chegou ao
local do acidente, o atual governador de SP, José Serra, questionou ao presidente do Metrô, Luiz
Carlos David, se não era possível ter previsto aquele acontecimento. De acordo com a reportagem,
David teria dito “sim, tinha”. Mas, posteriormente, em uma entrevista coletiva, a reportagem do
jornal teria perguntado sobre esta resposta e o governador teria desmentido a afirmativa recebida
anteriormente.
O presidente da Companhia do Metropolitano de São Paulo, Luiz Carlos David, era o
responsável / representante do Metrô por responder aos questionamentos da mídia.
Pelas matérias publicadas nos jornais pôde-se notar que esta representação não era firme
perante seu compromisso de presteza de informações. Em uma delas, publicada no Diário
Comércio Indústria & Serviços, no dia 31 de janeiro deste ano, é possível encontrar a seguinte
chamada: “Presidente de companhia falta à audiência na Assembléia”.
O presidente do Metrô, Luiz Carlos Frayse David, encaminhou um oficio aos membros da comissão da Assembléia Legislativa que acompanha as investigações sobre o desabamento da linha 4 do Metrô, informando que não iria comparecer à audiência pública (...) A decisão provocou a reação imediata da oposição e acendeu a disposição de instaurar uma CPI para apurar o acidente ocorrido no dia 12 de janeiro, que teve um saldo de sete vítimas.
A assessoria do Metrô informa que no dia 16 de janeiro, ou seja, quatro dias após o
acidente, o Metrô contratou o IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade de São
Paulo para produzir um laudo completo sobre o que aconteceu nas obras da futura Estação
xxxviii
Pinheiros. A entidade terá autonomia total para contratar inclusive consultores estrangeiros, sendo
que os trabalhos devem ser iniciados nos próximos dias. Dependendo da magnitude e
especificidade da análise, o IPT poderá recorrer a consultorias internacionais. O objetivo é apontar
as causas do ocorrido e indicar medidas corretivas para evitar que outros acidentes desse tipo se
repitam.
Outro dado importante a acrescentar é que o Ministério Público, orgão independente do
Governo do Estado, já está investigando as causas do acidente.
A assessoria da empresa confirma ainda que o prazo de construção da linha 4 Amarela
será comprido. A previsão de termino é para o final de 2008. Com esta obra, o Metrô quer atender
900 mil usuários/dia.
CONCLUSÃO
xxxix
Toda e qualquer empresa está sujeita a crises, de qualquer natureza. O que vai definir o
sucesso ou o fracasso ao final dela é a maneira como os problemas foram enfrentados.
Como pudemos observar, não existe uma receita perfeita para se preparar e administrar
bem uma crise. O que existem são ações estratégicas que, se seguidas corretamente, ajudarão, e
muito, na solução dos problemas tragos por uma crise.
A começar pela existência de uma boa equipe de comunicação, que conheça bem a
empresa e esteja disposto a trabalhar duro pela imagem da mesma. Mais do que disposição, estes
profissionais devem ter uma preparação prévia para os principais problemas que possam vir a
enfrentar.
Logo no inicio de uma crise, estes profissionais têm que tomar atitudes firmes e ágeis,
além de orientar nos principais pontos, tais como escolha de um porta-voz de empresa para se
reportar à mídia e sanar suas dúvidas; responder às questões que envolvem diretamente àqueles
atingidos pela crise (seja público interno ou externo) e providenciar toda e qualquer ação que
possa vir a ajudar na correção e manutenção da imagem da empresa – maior bem que uma marca
pode ter.
Como visto no estudo de caso apresentado, a assessoria do Metrô de São Paulo informava
através de notas seu posicionamento perante o ocorrido. O porta-voz da empresa, neste caso, o
presidente dela, era quem fazia as aparições na mídia, quando fazia, para dar as declarações
pertinentes ao caso.
Quanto à questão de providências a serem tomadas com os parentes das vítimas, o
responsável neste caso era a seguradora. Até a data final desta pesquisa, (de acordo com nota
publicada pela Agência Estado, em 24/08/2007) o Metrô, juntamente com o Consórcio Via
Amarela, Unibanco AIG, já haviam concluído, pelo menos, 61 indenizações, nas quais foram
beneficiadas 145 pessoas.
Outro fator que merece destaque neste caso é a contratação do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas da Universidade de São Paulo para analisar os fatores que desencadearam no
desmoronamento de terras nas obras da Estação Pinheiros. O IPT teve autonomia para contratar
até mesmo consultores internacionais para esta avaliação. O objetivo desta ação foi apontar as
xl
causas do ocorrido e indicar medidas corretivas para evitar que outros acidentes como esse se
repetissem.
Ainda com base nas matérias publicadas, as pessoas, principalmente as que moram no em
torno das obras, cobraram por mais agilidade e precisão nas informações. Isso denota que a
assessoria da empresa cometeu algumas falhas na comunicação externa, tornando falho o canal
com este público.
Este departamento foi procurado novamente para que pudesse passar as últimas
informações sobre o caso, referentes à visão dos usuários do Metrô após o ocorrido em janeiro,
mas a mesma não se pronunciou até o momento de fechamento deste trabalho.
Desta forma, a visão que se tem é que os usuários estão insatisfeitos com a demora na
solução do caso e temerosos que outros inconvenientes como este aconteça novamente na
continuação das obras desta empresa.
BIBLIOGRAFIA
BAHIA, Juarez. Introdução à Comunicação Empresarial. MAUAD Consultoria e
Planejamento Editorial Ltda. Rio de Janeiro, 1995.
BATISTA, Andréa. O Papel da Comunicação Empresarial no Desenvolvimento
Organizacional. Informações obtidas em
www.comtexto.com.br/convicomartigoandreaclara.htm. Acesso em 08/04/2007.
xli
BENEVIDES, Ricardo. Comunicação Organizacional. Comunicação Corporativa. Curso
Comunicação Empresarial. Universidade Cândido Mendes. Rio de Janeiro. 2007.
BRAGA, Fernando Antonio Pereira. Manual de Comunicação Empresarial. Rio de
Janeiro: Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro: Secretaria Especial de
Comunicação Social, 2004.
BRASIL. Associação Brasileira de Comunicação Empresarial. 2ª Edição Pesquisa
Comunicação Interna. Disponível em
www.aberje.com.br/novo/acao_pesquisa.asp.
BUENO, Wilson. Comunicação e Interatividade: A Comunicação Empresarial se
Prepara Para Enfrentar os Desafios do Século XXI. Amparo, São Paulo: Comtexto
Comunicação e Pesquisa, Unimed Amparo, 1995.
CAHEN, Roger. Tudo que os Gurus não lhe contaram sobre Comunicação
Empresarial. A imagem como patrimônio da empresa e ferramenta de marketing.
Editora Best Seller. Rio de Janeiro, 2005.
CLEMEN, Paulo. Como implantar uma área de Comunicação Interna: nós, as
pessoas, fazemos a diferença: guia prático e reflexões. Rio de Janeiro: Mauad,
2005.
Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô.
http://www.metro.sp.gov.br/index.asp.
DAMANTE, Nara e LOPES, Marcelo. Nada Substitui o Diálogo. In: Comunicação
Empresarial, São Paulo, ano 12, nº 45, quarto trimestre / 2002.
DAMANTE, Nara. No olho do Furacão. Informações obtidas em
http://www.aberje.com.br/rev_40_capa.htm. Disponível em 04/06/2007.
xlii
FASCINA, Juliana. A Importância do Departamento de Comunicação Interna na Empresa. 65
páginas. Centro Universitário Nove de Julho. São Paulo, 2006.
MAGNO, Carlos. Gestão de Crise. Assessoria de Comunicação. Curso Comunicação Empresarial.
Universidade Cândido Mendes. Rio de Janeiro. 2007.
MANSO, Bruno. Só 4 engenheiros fiscalizavam obra. O Estado de São Paulo, São
Paulo, 13 jan. 2007.
Metrô acerta 4 indenizações para atingidos por cratera - Agencia Estado, 24 de
ago. 2007, disponível em http://noticias.br.msn.com/brasil/artigo.aspx?cp-
documentid=5336510.
Metrô diz quer era possível prever o acidente. Jornal Agora. 13 jan. 2007.
MOREIRA, Adriana. O Segredo Não é Mais a Alma do Negócio. Comunicação
Empresarial e as Novas Tecnologias da Informação. Pernambuco. 53 páginas.
Universidade Católica de Pernambuco.
NASSAR, Paulo. O Desafio da Comunicação Interna. In: Melhor. Nº 180. São
Paulo, 2002.
NEVES, Roberto de Castro. Comunicação Empresarial Integrada. Como gerenciar
imagem, questões públicas,comunicação simbólica e crises empresariais. Rio de
Janeiro: Mauad, 2000.
OLANDA, Aurélio Buarque de. Minidicionário da Língua Portuguesa. Rio de
Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1977.
ORDUÑA, Octavio Isaac Rojas. A Comunicação em Momentos de Crises.
Disponível em www.bocc.ubi.pt/pag/orduna-octavio-comunicacao-em-momentos-
de-crise.pdf. Último acesso em 20/05/2007.
xliii
SANTOS, Washington. Gerenciamento de Crise. Disciplina: Assessoria de Imprensa. Curso:
Comunicação Social. Universidade Estácio de Sá. Rio de Janeiro, 2005.
SILVA, Cleide. Consórcio atribui acidente a falha geológica. O Estado de São
Paulo, São Paulo, 13 jan. 2007.
ANEXOS
ANEXO 1 – PESQUISA – ABERJE
xliv
xlv
xlvi
xlvii
xlviii