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VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN 1808-8716 Amaral, Gomes. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 4(gt25):1-22 IFPR DO ACESSO À PERMANÊNCIA: O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NA MANUTENÇÃO DAS CAMADAS POPULARES NO ENSINO SUPERIOR GT25 – Interdisciplinaridade em CTS Cândida Helena Alves Pereira do Amaral Mateus das Neves Gomes Resumo: Este resumo versa sobre a importância das políticas públicas de permanência para as camadas populares no ensino superior do curso de Licenciatura em Ciências Sociais do IFPR – Campus Paranaguá. Esse estudo é importante porque desde os primórdios do ensino superior brasileiro é evidente a desigualdade de acesso a este pelas camadas populares, em detrimento das camadas médias intelectualizadas. Com o intuito de combater essa desigualdade o IFPR oferece mais de 80% de suas vagas para alunos cotistas. Este panorama deixa exposta a questão da desigualdade educacional vivenciada no Brasil. Quando os alunos não conseguem conciliar estudo e trabalho engrossam as fileiras da evasão. Pensando a evasão como um elemento que fere a concepção de educação projetada pelo IFPR de um olhar social que interaja, com a cultura local de forma inclusiva e democrática, com a cultura produtiva para que haja desenvolvimento socioeconômico, muito ainda há que ser feito. Contudo, as políticas públicas de permanência têm sido fundamentais. Nesse ínterim a educação cumpre o seu papel em relação à cidadania resgatando o significado da inclusão social em todos os seus sentidos. Trabalhar e estudar, é uma realidade para os alunos que não pode ser esquecida, bem como, a defasagem no ensino básico. Há também a falta de acolhimento por parte da instituição que com pensamento fixo em suas problemáticas, esquece-se que só existe por causa dos alunos. Apesar de todos os dados referentes aos auxílios financeiros, o que mais atinge o aluno é a falta de acolhimento e a reconhecimento de seu esforço para estudar. As demandas mais emergentes dos alunos são: Sala de convivência; Um programa de monitoria voluntária; Maior atuação da sessão pedagógica; Mais projetos de ensino que tragam os alunos para a instituição no contra turno; Mais discussões esclarecedoras sobre gênero, racismo, machismo e política para dirimir os vários conflitos pautados em preconceito enfrentados. Consideramos que o aluno de licenciatura em Ciências Sociais do IFPR não necessita apenas de políticas públicas de fomento financeiro, mas de políticas públicas educacionais que atendam a sua realidade de sujeito de periferia, com base educacional deficitária, trabalhador, pais e mães de família que sonham em ter um curso superior para adentrarem ao mercado de trabalho pela porta da frente. Palavras-chave: Ensino Superior. Acesso. Permanência. Políticas Públicas. IFPR

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VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN∕ 1808-8716 Amaral, Gomes. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 4(gt25):1-22

IFPR DO ACESSO À PERMANÊNCIA: O PAPEL DASPOLÍTICAS PÚBLICAS NA MANUTENÇÃO DASCAMADAS POPULARES NO ENSINO SUPERIOR

GT25 – Interdisciplinaridade em CTS

Cândida Helena Alves Pereira do AmaralMateus das Neves Gomes

Resumo: Este resumo versa sobre a importância das políticas públicas de permanência para ascamadas populares no ensino superior do curso de Licenciatura em Ciências Sociais do IFPR – CampusParanaguá. Esse estudo é importante porque desde os primórdios do ensino superior brasileiro éevidente a desigualdade de acesso a este pelas camadas populares, em detrimento das camadasmédias intelectualizadas. Com o intuito de combater essa desigualdade o IFPR oferece mais de 80% desuas vagas para alunos cotistas. Este panorama deixa exposta a questão da desigualdade educacionalvivenciada no Brasil. Quando os alunos não conseguem conciliar estudo e trabalho engrossam asfileiras da evasão. Pensando a evasão como um elemento que fere a concepção de educação projetadapelo IFPR de um olhar social que interaja, com a cultura local de forma inclusiva e democrática, com acultura produtiva para que haja desenvolvimento socioeconômico, muito ainda há que ser feito.Contudo, as políticas públicas de permanência têm sido fundamentais. Nesse ínterim a educaçãocumpre o seu papel em relação à cidadania resgatando o significado da inclusão social em todos osseus sentidos. Trabalhar e estudar, é uma realidade para os alunos que não pode ser esquecida, bemcomo, a defasagem no ensino básico. Há também a falta de acolhimento por parte da instituição quecom pensamento fixo em suas problemáticas, esquece-se que só existe por causa dos alunos. Apesarde todos os dados referentes aos auxílios financeiros, o que mais atinge o aluno é a falta deacolhimento e a reconhecimento de seu esforço para estudar. As demandas mais emergentes dosalunos são: Sala de convivência; Um programa de monitoria voluntária; Maior atuação da sessãopedagógica; Mais projetos de ensino que tragam os alunos para a instituição no contra turno; Maisdiscussões esclarecedoras sobre gênero, racismo, machismo e política para dirimir os vários conflitospautados em preconceito enfrentados. Consideramos que o aluno de licenciatura em Ciências Sociaisdo IFPR não necessita apenas de políticas públicas de fomento financeiro, mas de políticas públicaseducacionais que atendam a sua realidade de sujeito de periferia, com base educacional deficitária,trabalhador, pais e mães de família que sonham em ter um curso superior para adentrarem aomercado de trabalho pela porta da frente.

Palavras-chave: Ensino Superior. Acesso. Permanência. Políticas Públicas. IFPR

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VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN 1808-8716 Amaral, Gomes. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 4(gt25):1-∕ 22

1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa apresenta a realidade de um grupo de estudantes do ensino superior

de Licenciatura em Ciências Sociais do IFPR campus Paranguá em sua maioria, oriundos

da periferia, de família de baixo poder aquisitivo, trabalhadores que encontram uma chance

de cursarem o ensino superior devido a políticas de cotas que a instituição oferece. Nesse

sentido, vale lembrar que 80% das vagas da insituição se destina à essa clientela. (IFPR,

2016).

Foi analisada a discrepância entre as oportunidades de acesso ao ensino superior e

o parco real auxílio à permanencia por parte das políticas públicas, que não consegue

atingir 80% dos alunos. Essa lacuna torna-se fator preponderante para o abandono dos

estudos, quando o aluno não consegue conciliar trabalho e estudo. Não deixando de lado as

outras causas de abandono, tais como, um ensino de base deficiente, problemas familiares e

de baixa auto-estima.

No entanto, observa-se que as políticas existentes são extremamente fundamentais

para que o estudante permaneça cursando o ensino superior. Porém, é perceptível a

necessidade de mais planos complementares que evitem a evasão do ensino superior.

Essa realidade nasce com a origem da criação do IFPR e as políticas públicas

destinadas aos alunos para esta instituição, aqui brevemente aboradas.

2 Revisão de literatura

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A realidade social é fluida e dinâmica e as políticas públicas são fruto das

informações sobre a realidade do país. Ela é influenciada pelas demandas nacionais e

internacionais e compiladas pela contabilidade nacional que desenvolvem estratégias para

suprir os défits nacionais em educação, capacidade inventiva ou qualidade de vida. Através

dessa mobilização de recursos humanos e materiais é elaborada a execução desse processo

de

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decisões que serve para contornar as mudanças que ocorrem no país. Para manter o equilíbrio

social ou modificar essa realidade através de táticas que visam a disponibilização de recursos

para alcaçar o objetivo. (SARAIVA & FERRAREZI, 2006, p.28-29)

Como uma estratégia governamental homogeneizadora a mais de cem anos foram

criados as Escolas de Aprendizes Artífices. O início do ensino tecnológico com o objetivo de

reforçar a proposta da então República Brasileira e instruir a população de baixa ou nenhuma

renda, para que tivesse uma utilidade para o mercado de trabalho e consequentemente para o

país. Assim versa Nádia Cuiabano Kunze:

[...] que o aumento constante da população das cidades exige que se faciliteàs classes proletárias os meios de vencer as dificuldades sempre crescentesda luta pela existência; que para isso se torna necessário não só habilitar osfilhos dos desfavorecidos da fortuna com o indispensável preparo técnico eintelectual, como fazê-los adquirir hábitos de trabalho profícuo, que osafastará da ociosidade ignorante, escola do vício e do crime; que é um dosprimeiros deveres do Governo da República formar cidadãos úteis à Nação[...] (BRASIL,1913, citado por KUNZE, 2009, p.14).

O projeto de criação do que hoje chama-se Insituto Federal teve início muito antes da

república ser implantada. Teve seu pontapé incial poucos anos depois da Proclamação da

República no Brasil com o Decreto Nº 7.566, de 23 de setembro de 1909: “Créa nas capitaes

dos Estados da Escolas de Aprendizes Artífices, para o ensino profissional primario e

gratuito” assinado pelo Presidente Nilo Peçanha.

Já naquela época os Insitutos Federais tinham uma missão estratégica de ajudar a

consolidar a República brasileira e a missão social de enfrentamento às desigualdades com

proposta inclusiva.

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[...] a República precisava ser vista como a virtude homogeneizadora dasdiferenças e, por isso, o único regime de governo capaz de con- feririgualdade política entre os cidadãos e possibilidades para assumirem altoscargos públicos ou se tornarem donos de indústrias, até mesmo aos deorigem modesta. (KUNZE, 2009, p.10).

Sob a bandeira do assitencialismo o governo federal empreendeu inicialmente a

instrução intelectual e técnica para as populações de baixa renda, tanto que para ser aluno era

necessário:

Art. 6º Serão admitidos os indivíduos que [...] possuírem os seguintes requisitos, preferidos os desfavorecidos da fortuna: b. idade de 10 anos no mínimo e de 13 no

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máximo; c. não sofrer o candidato de moléstia infecto-contagiosa, nem terdefeitos que o impossibilitem para o aprendizado de ofício. § 1º A provadesses requisitos se fará por meio certidão ou atestado passado porautoridade competente. § 2º A prova de ser o candidato desti-tuído derecursos será feita por atesta-ção de pessoas idôneas, a juízo do di-retor, quepoderá dispensa-la quando conhecer pessoalmente as condições dorequerente à matrícula. (Brasil, p. 446, 1913, grifos meus). O público alvoreferido era o considerado desdito da riqueza que, por essa condição, estava“sem horizontes”, à margem da sociedade e desvinculado dos setoresprodutivos, engrossando um grupo urbano periférico obstaculizador dodesenvol vimento do país e causador do medo. (DECRETO Nº 7.566/1909).

No anos de 1930 a Escola de Aprenizes deu lugar aos Liceus Industriais e nos anos de

1940 às escolas técnicas de ensino secundário. Em 1959 passa a ser autarquia denominada

Escola Técnica Federal. Acompanhando a necessidade do mercado de trabalho e a evolução

da educação no país, em 1978 algumas são transformadas em CEFETs - Centros Federais de

Educação Tecnológica e em 2008 pela Lei 11.892/08 passaram a integrar a Rede Federal de

Educação Tecnológica. Como nos explica Celia Regina Otranto:

Em 29 de dezembro de 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silvasancionou a Lei nº 11.892/08, que criou 38 Institutos Federais de Educação,Ciência e Tecnologia (IFET), publicada no Diário Oficial da União de 30 dedezembro do mesmo ano. A mencionada lei instituiu a Rede Federal deEducação Profissional, Científica e Tecnológica no âmbito do sistemafederal de ensino, vinculada ao Ministério da Educação e constituída pelasseguintes instituições: Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia– Institutos Federais; Universidade Tecnológica Federal do Paraná –UTFPR; Centros Federais de Educação Tecnológica Celso Suckow daFonseca – CEFET-RJ e de Minas Gerais – CEFET-MG; Escolas Técnicasvinculadas às Universidades Federais (Lei 11.892/08, art. 1º).

Os Institutos Federais são, portanto, instituições que apresentam umaestrutura diferenciada, uma vez que foram criadas pelaagregação/transformação de antigas instituições profissionais. Já as demaisinstituições da nova rede, com exceção da Universidade Tecnológica, sãoaquelas que decidiram pela não integração a um Instituto Federal e semantiveram com a estrutura administrativa que as caracterizavam. Cadagrupo reagiu de forma diferente à proposta governamental de mudança,divulgada inicialmente pelo Decreto nº 6.095/2007, que traçou as primeirasdiretrizes e fundamentos dos IFETs, por esse motivo optou-se por uma

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análise diferenciada das Escolas Agrotécnicas, CEFETs e Escolas Vinculadasàs Universidades Federais. (OTRANTO, 2010, p.92).

A partir dessa oportunidade as camadas populares começam uma nova luta, a da

permanência nos estudos. Essa, dependente das políticas públicas voltadas a atender a

demanda. Quanto a isso, também observa-se muitas mudanças a partir dos anos 2000.

Houve a partir do anos de 2003 uma generosa expansão do ensino superior, com as

cotas de inclusão e foi nessa época de 2003 a 2013 que várias políticas públicas voltadas à

educação superior. Os maiores programas são Universidade Aberta do Brasil (UAB), Fundo

de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES), Programa de Apoio e Planos de

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Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), Programa de Bolsa Institucional deIniciação à Docência (PIBID), Programa Universidade para Todos (ProUni). Estes foramimplementados, porém não foram capaz de suprir a demanda, como bem observa CONAE ‐Conferência Nacional de Educação (2010):

No que se refere à educação superior, conforme dados recentes, observa-seque esse nível de ensino continua elitista e excludente. A expansão ocorridana última década não foi capaz de democratizar efetivamente esse nível deensino, sobretudo se considerarmos a qualidade. (BRASIL, 2010, p.68)

Para romper com esse processo excludente o IFPR em seus 24 campi com total de 3,5

mil vagas para cursos técnicos de nível médio e aproximadamente 1,2 mil vagas para cursos

superior, destina 80% destas para vagas de inclusão. Nas seguintes caterogias:

C1: Vagas reservadas para candidatos autodeclarados pretos ou pardos, comrenda igual ou inferior a 1,5 salário mínimo per capita e que tenham cursadointegralmente o Ensino Fundamental ou Ensino Médio em escola pública;

C2: Vagas reservadas para candidatos autodeclarados indígenas, com rendaigual ou inferior a 1,5 salário mínimo per capita e que tenham cursadointegralmente o Ensino Fundamental ou Ensino Médio em escola pública;

C3: Vagas reservadas para demais candidatos, com renda igual ou inferior a1,5 salário mínimo per capita e que tenham cursado integralmente o EnsinoFundamental ou Ensino Médio em escola pública;

C4: Vagas reservadas para candidatos autodeclarados pretos ou pardos, comrenda superior a 1,5 salário mínimo per capita e que tenham cursadointegralmente o Ensino Fundamental ou Ensino Médio em escola pública;

C5: Vagas reservadas para candidatos autodeclarados indígenas, com rendasuperior a 1,5 salário mínimo per capita e que tenham cursado integralmenteo Ensino Fundamental ou Ensino Médio em escola pública;

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C6: Vagas reservados para demais candidatos, com renda superior a 1,5salário mínimo per capita e que tenham cursado integralmente o EnsinoFundamental ou Ensino Médio em escola pública;

C7: Vagas reservadas para candidatos autodeclarados pretos ou pardos;

C8: Vagas reservadas para candidatos autodeclarados indígenas;

C9: Vagas reservadas para candidatos com deficiência;

C10: Vagas reservadas para concorrência geral. (IFPR, 2016).

Não se trata de minorias e sim de uma maioria excluída. Observadas as dificuldades de

acesso momentaneamente superadas, parte-se para a análise da permanência desse aluno

desassistido muitas vezes em suas necessidades básicas.

No estudo de caso, a entrevista mostra a importância das políticas públicas de fomento

financeiro que funciona como um elo, unindo à instituição ao aluno e ajudando com que este

permaneça frequentando o curso.

O MEC elaborou em 2014 o Documento orientador para a superação da evasão e

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retenção na rede federal de educação profissional, científica e tecnológica que direciona

medicas para proposcionar o êxito do aluno - são necessárias ações que vão desde a

capacitação continuada de servidores, passando por um ensino diferenciado, já que trata-se de

um aluno com base educacional deficitária, até um acolhimento para que este sinta-se parte

integrante que completa a instituição e não apenas mais um. (BRASIL, 2014, p.16)

2.1 Metodologia

Para responder se as políticas públicas disponibilizadas pelas instituição atingem os

alunos no curso de Licenciatura em Ciências Sociais e influencia na permanência dessa

clientela no decorrer do curso. Foi aplicados questionário socioeconômico online para amostra

proporcional estratificada. Foi feito o levantamento e leitura de material bibliográfico

relacionado com o tema dentre eles, o Documento Orientador para a Superação da Evasão e

Retenção na Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (2014)

elaborado pelo MEC. E as importantes pesquisas sobre a epopéia dos alunos oriundos das

camadas populares, que ingressam no ensino superior, promovidos pela da Drª Nadir Zago

docente da UNOCHAPECÓ, entre outros autores com pesquisa em áreas correlatas.

2.2 Estudo de caso

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A maioria dos alunos do IFPR campus Paranaguá é de camadas populares e necessita

de assitência para dar segmentos aos estudos. O campus Paranaguá disponibiliza através do

site da instituição uma relação de dezenove programas de assistência e bolsas destinados aos

seus alunos, com valores aproximados entre R$350,00 à R$580,00 dependendo do programa.

Em pesquisa junto ao MEC foi conhecida a Bolsa Permanência para alunos da rede

federal que existe desde 2013, a qual não é de conhecimento da assistência pedagógica do

campus e, portanto, não ofertada aos alunos.

Os dados quantitativos dos alunos remanescentes desde que o curso foi criado em

2012, até o ano de 2015, foram comparados com a realidade dos estudantes comprovando

evidente evasão.

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Foi utilizada amostragem proporcional estratificada com a pretensão de atingir o

mínimo de 20% dos alunos de cada turma entre os anos de 2012 a 2015. Como mostra a

Tabela 1 abaixo:

Tabela 1: Amostra proporcional estratificada dos alunos

Curso/ano Alunos Proporcional 20% Amostra

Ciências sociais 2012 6 6 X 0,2 = 1,20 1 aluno

Ciências sociais 2013 16 16 X 0,2 = 3,20 3 alunos

Ciências sociais 2014 24 24 X 0,2 = 4,80 5 alunos

Ciências sociais 2015 25 25 X 0,2 = 5,00 5 alunos

TOTAL 71 71 X 0,2 = 14,2 14 alunos

Devido a dificuldade para entrevistar pessoalmente cada aluno, pois a maioria é

trabalhador e chega no horário que a aula começa. Decidiu-se por aplicar pesquisa

socioeconômica online gerada no site do google. Expressa pela Figura 1:

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Figura 1: Amostra estratificada de 20% atingida.

A pesquisa socioeconômica foi enviada por facebook e e-mail e ficou disponível aos

alunos durante o período de 24 à 30 de abril de 2016. Perfazendo um total de 28 participações.

Os dados alcançados mostram a influência significativa das políticas públicas de axílio

financeiro na permanência dos alunos no curso. Apenas três dos vinte e oito alunos

participantes da pesquisa nunca receberam alguma bolsa/auxílio por parte da instituição e

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nota-se pela Figura 2 que alguns alunos participam de mais de um programa.

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Figura 2: Bolsa/auxílios mais populares entre os alunos do curso.

A desigualdade de oportunidades por parte camadas populares em detrimento das

camadas intelectualizadas é combatida com política de inclusão. Com isso o IFPR

proporciona o ingresso de alunos vindos de escolas públicas, residentes na periferia, com

baixa renda e em sua maioria trabalhadores no ensino superior.

A grande maioria dos alunos é trabalhador e concilia trabalho e estudo. E se ajusta a

um estudo que não é elaborado para os moldes de um aluno sem boa base de leitura e sem

tempo para estudar fora da sala de aula. A Figura 3 comprova esta realidade e alerta que, as

trabalhadoras que são mães e estudantes são as mais afetadas pela deficiência do sistema

educacional. A necessidade de trabalhar, limita o tempo acadêmico em vários aspectos, como,

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encontros para discussão dos conteúdos em horário comercial, participação nos trabalhos que

por vezes é realizando sozinho e rapidamente, a exclusão em sala de aula do aluno que não se

dedica tanto quanto os outros. Esse panorama faz das cotas de inclusão são uma forma

“democrática segregativa” e deixa exposta a questão da desigualdade educacional vivenciada

no Brasil. (ZAGO, 2006, p.235).

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Figura 3: Distribuição dos alunos conforme a ocupação e responsabilidade financeira.

As bolsas que tem um valor simbólico não suprem as necessidades dos alunos. No

entanto, alunos bolsistas reiteram que a bolsa/auxílio recebido é de suma importância para sua

pernamência no ambiente escolar, pois, “apensar de ser pouco, faz falta”. A bolsa torna-se o

elo entre estudante e instituição. Como mostra os relatos:

A bolsa foi de suma importância para minha permanência. Evitou que eudesistisse do curso pela segunda vez e tem sido fundamental para garantirque eu continue estudando mesmo enfrentando dificuldades porque o valorda bolsa é bem baixo. Faço parte do PIBID, se o programa acabar a bolsavai fazer falta. (Aluno 1)

Sou bolsista PIBID desde 2014, e durante 2 anos fiquei desempregada, econsegui receber também por 1 ano o PACE, e graças a essas bolsasconsegui me manter na faculdade. Posso afirmar que sem essa ajuda seriainviável a minha permanência, pois meu esposo também ficou por um tempodesempregado. Através do PIBID, eu conheci a realidade da sala de aula,do professor, e essa experiencia foi a que me ajudou quando comeceitrabalhar como PSS. (Aluno 2)

As bolsas são parte importante mas não determinante na inclusão dos estudantes no

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que se refere aos aspectos de permanência. Distância, organizaçãocurricular desequilibrada, corpo docente não preparado, entre outros, sãofatores que contribuem para a não permanência e para o não sucessoescolar dos discentes. (Aluno 3)

Há uma atuação das políticas públicas de fomento financeiro para a permanência do

aluno na instituição. Porém, nem o valor supre as necessidades do aluno, nem as políticas

existentes atinge os 80% de cotistas. O Resultado está na expresso na Tabela 1, onde dos

quarenta matriculados em 2012 dois alunos que foram bolsistas do programa PIBID se

formaram e seis que ainda resistem foram ou são alunos bolsistas.

A atuação fragmentada das políticas de fomento financeiro, a falta de colaboração dos

recursos humanos da insituição e o pensamento engessado de que todos os alunos são iguais e

têm os mesmos conhecimentos põe a perder parte da política de inclusão não colaborando

com a retenção do aluno, empurando-o para a evasão.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensando a evasão como um elemento que fere a concepção de educação projetada

pelo IFPR. Que deve ser baseada no olhar social, que possibilite interagir com a cultura local

de forma inclusiva e democrática, de intervenções com a cultura produtiva para que haja um

desenvolvimento socioeconômico, muito ainda há que ser feito.

Contudo, as políticas públicas de permanência têm sido fundamentais, pois tem

mudado a realidade da evasão do curso superior para alguns, e contribuindo para aumentar

suas chances de galgar melhores salários no mercado de trabalho. Nesse ínterim a educação

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cumpre o seu papel em relação à cidadania resgatando o significado da inclusão social em

todos os seus sentidos. E, apesar das adiversidades, ao adentrarem as portas da instituição

todos sonham um dia formar-se em um curso superior.

Porém, trabalhar e estudar é uma realidade para os alunos de Licenciatura de

Ciências Sociais, que não pode ser esquecida pela instituição. A defasagem no ensino básico é

outra questão a ser levada em conta. Há também a falta de acolhimento por parte da insituição

que com pensamento fixo em suas problemáticas esquece-se que só existe por causa dos

alunos. Apesar de todos os dados referentes aos auxílios financeiros, o que mais atinge o

aluno é a falta de acolhimento e a reconhecimento de seu esforço para estudar.

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As demandas mais emergentes dos alunos são: Uma sala de convivência, uma

“Ágora”, local onde possam discutir e socializar, fazer seus trabalhos acadçemicos; Um

programa de monitoria voluntária, reconhecida com horas a fins para acompanhamento dos

alunos e promoção da união entre os mesmos; Maior atuação da sessão pedagógica, com

palestras sobre auxílios, não somente pra novos egressos, pois com o passar do tempo os

alunos sentem-se desmotivados a ponto de não conseguir pedir auxílio; Mais projetos de

ensino que tragam os alunos para a instituição no contra turno ou no sábado para ampliar

conhecimento e manter mais contato com os professores; Mais discussões esclarecedoras

sobre gênero, racismo, machismo e política, com professores especialistas para dirimir os

vários conflitos pautados em preconceito enfrentados pelos alunos da insituição.

O aluno de licenciatura em Ciências Sociais do IFPR campus Paranaguá não

necessita apenas de políticas públicas de fomento financeiro, mas de políticas públicas

educacionais que atendam a sua realidade de sujeito de periferia, com base educacional

deficitária, trabalhador, pais e mães de família que sonham em ter um curso superior para

adentrarem ao mercado de trabalho pela porta da frente.

REFERÊNCIAS

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