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VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN 1808-8716 Chaves, Silva. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 1(gt22):1-13 EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO ESCOLAR E NA COMUNIDADE CURITIBANA GT22 – Educação para a sustentabilidade nas dimensões ambientais, culturais e tecnológicas Alessandra Chaves Maclovia Corrêa da Silva

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VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN∕ 1808-8716 Chaves, Silva. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 1(gt22):1-13

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO ESCOLAR ENA COMUNIDADE CURITIBANA

GT22 – Educação para a sustentabilidade nas dimensões ambientais,culturais e tecnológicas

Alessandra ChavesMaclovia Corrêa da Silva

VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN 1808-8716 Chaves, Silva. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 1(gt22):1-∕ 13

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo trata dos resultados do projeto de Educação Ambiental desenvolvido em uma

escola municipal localizada na cidade de Curitiba, Estado do Paraná. Foram discutidos temas como

conforto térmico, acústico e ambiental, geração e destino dos resíduos a fim de sensibilizar os

estudantes, desde a mais tenra idade, sobre a importância de preservar e respeitar o meio ambiente,

interagindo com ele de forma saudável. O objetivo foi levar o estudante a compreender que, inserido

em uma realidade socioambiental, necessita entender que o consumo de recursos naturais precisa

causar o mínimo de danos ou prejuízos à natureza.

As questões ambientais, quando tratadas de forma interdisciplinar, proporcionam aos estudantes

uma grande diversidade de experiências e oportunidades de participação para se sensibilizar e

sensibilizar sua comunidade a fim de garantir que as futuras gerações usufruam de um ambiente

saudável com qualidade de vida. Assim, foram promovidas atividades que colaboraram com a

resolução de problemas ambientais locais, reflexão sobre os problemas globais, identificação das

formas de agressão ao meio ambiente e das maneiras de combatê-las.

A escola, que se alinha com a educação para sustentabilidade, e consequentemente com atividades

interdisciplinares, pode agir em todos os componentes curriculares para que sejam concretizados os

objetivos propostos em documentos como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), Constituição

Federal, a Política nacional de EA (Lei Federal nº 9.795/99) e Declarações como as de Joanesburgo, de

Caracas e de Estocolmo.

Dentre os objetivos da EA, se faz premente lutar por aqueles princípios éticos que estão em

sintonia com as realidades socioeconômicas, culturais, ambientais e políticas de grupos sociais, que

podem conduzir as pessoas a novos entendimentos e percepções sobre as relações meio ambiente e

ser humano. Nesta ideia está também o ambiente escolar e seu entorno.

Quando a escola é pensada como uma instituição isolada do conjunto das demais instituições e

práticas sociais, ela corre o risco de perder suas funções e sua capacidade de trabalhar com a

formação ampla do ser humano. Ela recebe estudantes com perfis diversos, o que demanda um

constante renovar de comportamentos e atitudes entre corpo discente, docente e conteúdo. Para o

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caso da EA, as diretrizes curriculares, o processo ensino-aprendizagem e as práticas pedagógicas

precisam ser dinâmicos e mais próximas das necessidades, interesses e problemas dos grupos sociais.

Um fato marcante que despontou na história da educação brasileira foi o meio ambiente ser

considerado um tema transversal na educação formal. Com o lançamento, em 1997, dos PCN’s, a

transversalidade dos conteúdos de EA colaborou para flexibilizar as abordagens das disciplinas e

permitiu o compartilhamento de experiências e de significados no processo ensino e aprendizagem.

Este olhar diferenciado, juntamente com a possibilidade de formar estudantes mais sensibilizados

para discutir e dialogar, transforma a instituição escolar em um espaço aberto para trabalhar a

complexidade da sociedade tecnológica.

A EA vem construindo novas formas de pensar e agir na sociedade contemporânea. Diante da

multiplicidade de culturas e de interesses, é preciso encontrar uma abordagem que considere a

sustentabilidade como pilar central da conservação dos recursos naturais. Cabe ao educador

ambiental, em especial aos professores do Ensino Fundamental, buscar uma postura interdisciplinar

que insira a temática ambiental nas atividades diárias, abordando-as mais como uma possibilidade de

trabalho didático do que como um assunto descontextualizado, ou ainda como datas ou eventos

especiais a serem trabalhados.

Para Castro e Baeta (2008, p. 99), a EA “constitui uma área de conhecimento eminentemente

interdisciplinar, em razão dos diversos fatores interligados e necessários ao diagnóstico e à

intervenção que pressupõe”. Isso significa que trabalhar a EA pensando somente em temas ligados à

flora e à fauna não cria condições suficientes para formar um cidadão da era planetária da ciência e

da tecnologia. É preciso integrar o estudante a conceitos “mais abstratos e complexos como política,

democracia, Estado, meio ambiente ou ecossistema” (p. 101).

Se o tema do Meio Ambiente abarcar as óticas política, social, cultural, ética, econômica e

histórica, é possível compreender a urgência de mudar velhos paradigmas pelos quais a natureza vem

sendo tratada. A EA tem a intenção de interferir nas culturas para apresentar soluções para

problemas ambientais e ser uma via de acesso para que a sociedade se torne mais reflexiva e perceba

que os problemas ambientais afetam diretamente o ser humano.

A EA deve ser compreendida como mediadora da mudança social e econômica que visa à proteção

ambiental. Ela não é o único caminho, mas é um deles para introduzir possibilidades de mudança.

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Existem estilos de vida, padrões de produção e consumo que destoam do uso adequado dos recursos

naturais e da percepção de que humanidade é parte indissociável da natureza e que a Terra é sua

única casa e de onde se extrai todo seu sustento.

2. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE CURITIBA

A EA discute temas complexos que demandam diálogos com as práticas pedagógicas em que se

“plasmem as relações de produção de conhecimentos e os processos de circulação, transmissão e

disseminação do saber ambiental” (LEFF, 2008, p. 251). Para o autor (2008, p. 251) “as estratégias

educacionais para o desenvolvimento sustentável implicam a necessidade de reavaliar e atualizar os

programas de EA, ao tempo que se renovam seus conteúdos com base nos avanços do saber e da

democracia ambiental”. E é assim que a EA passa a desenvolver estratégias que visam uma sociedade

justa, harmoniosa e sustentável.

A cidade de Curitiba é reconhecida mundialmente pela política de criação e preservação de áreas

verdes, desde os anos 1970. Para atingir tal reconhecimento foi necessário investir na educação dos

cidadãos por meio de campanhas publicitárias, programas de reciclagem de resíduos sólidos, projetos

de EA, além de modificações nos serviços administrados pelo poder público, como coleta de lixo,

transporte público e saneamento básico. Destaca-se aqui a relevância da EA para garantir discussões

sobre como tornar um ambiente em estado de degradação em outro recuperado, com características

salutares, tornando-se um elo de interação entre as ações do poder público e dos cidadãos da

presente e das futuras gerações.

A Secretaria Municipal de Educação de Curitiba assegura às crianças, jovens e adultos da Rede

Municipal de Ensino a educação com qualidade para o exercício da cidadania. As atividades e os

projetos seguem a Lei que estabelece a Política Nacional de EA e os pressupostos do conceito de EA

apresentado no texto da norma.

Art. 1o Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e acoletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competênciasvoltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadiaqualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 2009).

Na educação formal para o Ensino Fundamental, de acordo com o Currículo da Rede Municipal de

Ensino de Curitiba, complementa-se este conceito com as ideias de Educação para o

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Desenvolvimento Sustentável, visando “desenvolver nos estudantes a capacidade de discernir e

refletir sobre questões referentes ao consumo sustentável” (CURITIBA, 2006 p. 31). O documento

insere os fundamentos de EA da Secretaria Municipal da Educação (SME) como um “processo

contínuo de aprendizagem, que tem como objetivo instrumentalizar os cidadãos para uma ação

responsável e consciente sobre o ambiente em que vivem, incorporando conceitos e valores”

(CURITIBA, 2006 p. 34).

Dentre as atividades das escolas responsáveis pelas ações formais de EA estão atividades de leitura,

teatro, trilhas e visitas em parques, bosques e unidades de conservação. Quando as atividades

inserem as comunidades, são organizados projetos, pesquisas, acompanhamento e elaboração de

materiais informativos e de apoio didático. Por exemplo, citam-se cursos de observação da flora

nativa, jardinagem, observação da avifauna, e distribuição de cartilhas e livretos que tratam da

diversidade da vida no ecossistema urbano (CURITIBA, 2007).

Em 1989, a Educação Ambiental é inserida de forma interdisciplinar no currículo das escolasmunicipais. Desta forma, a Educação Ambiental não se constitui numa disciplina, mas em princípiosque orientam a abordagem de todos os conteúdos numa visão de totalidade. No início da década de90, a Secretaria Municipal de Educação (SME) implanta os Centros de Educação Integral quepossuíam espaços próprios para as atividades de Educação Ambiental. De acordo com este princípio,a implantação do Programa “Lixo que não é Lixo” em 1989, acontece a partir das escolas da RedePública Municipal (CURITIBA, 2007, p. 132).

A Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA) desde 1986, quando foi criada, apoia as

atividades de EA desenvolvidas em escolas municipais, através de cursos, palestras, visitas orientadas,

trilhas, acantonamento e peças teatrais. As atividades visam atender as determinações da Lei n.

7.833 de 1991 que institui a promoção da EA pela SME. Uma ação que merece destaque e menção foi

o Programa PIA Ambiental (Programa de Integração da Infância e da Adolescência) que tinha por

objetivo principal oferecer atividades na área ambiental, artística e recreativa para crianças.

3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UMA ESCOLAMUNICIPAL DE CURITIBA

O desenvolvimento de atividades de EA veio ao encontro de um dos desafios apontados pela

instituição escolar escolhida para este estudo, o qual está focado na discussão e disseminação de

conhecimentos sobre hábitos saudáveis enquanto forma de prevenção de doenças físicas e psíquicas,

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e consequente melhoria da qualidade de vida e do ambiente escolar. Ter hábitos saudáveis como

parte do cotidiano implica em cuidar melhor do ambiente em que se vive.

Uma equipe da escola elaborou um projeto interdisciplinar com as áreas da pedagogia, Geografia e

Educação Física para tratar dos temas ambientais. Envolvia estudantes nas ações de preservação da

natureza, unindo teoria e prática. Foram realizadas visitas a parques para contemplação da natureza,

observação dos problemas ambientais, confecção de materiais pedagógicos com recicláveis, além da

sensibilização para a compreensão de que o meio ambiente possibilita a preservação das espécies. As

atividades foram desenvolvidas em duas turmas de 9º ano, atendendo aproximadamente 55

estudantes que, em sua maioria, estudam na escola desde o 1º ano.

No total, a escola atende cerca de 1000 estudantes do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental, nos

períodos da manhã e da tarde, além da Classe Especial e da Sala de Recursos. A idade dos estudantes

varia de cinco até dezessete anos, predominando o intervalo de seis a quatorze anos. No período da

manhã, a escola conta com aproximadamente 50 professores e no período da tarde, cerca de 40,

além de secretárias, inspetoras, guarda municipal, equipe gestora e pessoal terceirizado que cuida do

lanche e da limpeza. No período da noite frequentam estudantes que se matricularam no CEEBJA –

Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos, administrado pela Secretaria Estadual da

Educação do Paraná.

A escola situa-se numa região em que é possível constatar vários problemas ambientais, como a

poluição de rios, a disposição de resíduos em terrenos baldios, a prática de queimar lixos, bueiros

entupidos, podas drásticas de árvores, impermeabilização do solo, construção de casas em beiras de

rios e as poluições sonora, visual e do ar. Embora haja ações por parte da prefeitura para remover os

resíduos, realocar os moradores de áreas inapropriadas e para limpeza dos rios, ainda é perceptível

que muitos cidadãos resistem às mudanças. Os problemas também aparecem no interior da escola,

onde ainda é comum a prática de lavar as calçadas com água abundante, não separar o lixo e ignorar

as lixeiras. Ao observar estes problemas, idealizou-se um projeto vislumbrando a possibilidade de que

os conhecimentos produzidos pudessem ultrapassar os muros da escola e produzir mudanças no seu

entorno.

A principal função do trabalho com a EA foi contribuir para a formação de cidadãos conscientes,

capazes de decidir e atuar de maneira comprometida com a vida, com o bem-estar individual e da

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sociedade, local e global. Assim, uma das tarefas mais importantes para os professores que

desenvolveram o projeto foi facilitar aos estudantes o reconhecimento dos fatores que produzem

bem-estar, ajudando-os a desenvolver um espírito crítico em relação ao consumismo, senso de

responsabilidade e solidariedade no uso dos bens comuns e recursos naturais, de modo a respeitar o

ambiente, as pessoas e todas as manifestações de vida no Planeta.

Alguns documentos foram de extrema relevância para embasamento teórico e desenvolvimento das

atividades, sendo os PCN’s um dos mais utilizados, que estabelecem que os estudantes devem

compreender a complexidade e a amplitude das questões ambientais, sendo fundamental oferecer-

lhes a maior diversidade possível de experiências e contato com diferentes realidades (BRASIL, 1998).

Para tanto, cada profissional de ensino deve ser um agente interdisciplinar nas questões ambientais e

trabalhar transversalmente com valores e procedimentos. Portanto, há necessidade de despertar nos

estudantes a consciência ambiental e atitudes positivas, através de atividades que estimulem o

respeito e a preservação do ambiente, natural ou construído.

No projeto de EA, aspectos primordiais relacionados ao desenvolvimento e ao meio ambiente, tais

como população, saúde, paz, direitos humanos, democracia, fome, degradação da flora e fauna e

conforto ambiental foram abordados e contextualizados com as realidades vividas pelos estudantes.

Durante os debates promovidos foi possível perceber que eles estavam atentos para estes assuntos,

porém, de forma superficial. Foi necessário aprofundar conhecimentos e visualizar outras realidades

para que os estudantes percebessem que suas atitudes têm impacto na natureza. Para que isso

pudesse ser ilustrado, os estudantes fizeram uma pesquisa sobre as ilhas de lixo que se formaram ao

longo dos anos, no Oceano Pacífico. Diante da perplexidade deles, deu-se início à uma discussão mais

direcionada para os problemas socioambientais.

O comportamento de destruição da natureza faz parte do pensamento antropocêntrico da

humanidade que acredita que o ser humano é o centro do universo, e que tudo existe para servi-lo.

Há aqueles que aceitam a degradação como algo inevitável, justificando-a com o discurso do

desenvolvimento e da geração de empregos. Para estes, a destruição é inexorável e se justifica no

suprimento das necessidades humanas. No entanto, é possível crescer, desenvolver, gerar empregos

e paz social causando menos impacto ao meio ambiente, garantindo para as futuras gerações um

estilo de vida pleno de diversidade.

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Para que os estudantes pudessem perceber a importância de tratar o meio ambiente de forma

respeitosa, foi exibido o documentário Suzuk Speaks (2005) no qual o próprio Suzuki retrata os

problemas ambientais mundiais, levando seus telespectadores à reflexão sobre suas atitudes.

Percebeu-se que os estudantes ficaram perplexos diante da capacidade que a humanidade tem para

construir coisas incríveis, como também para destruir o planeta em que vive. Nesse momento,

aproveitou-se para falar sobre os eventos mundiais de maior importância sobre o meio ambiente, tais

como a Eco 92 e a Rio + 20, conferências promovidas pelas Nações Unidas.

Nas discussões houveram questionamentos sobre o atual modelo de produção capitalista de

desenvolvimento utilizado igualmente por nações em desenvolvimento e industrializadas, o qual se

baseia no intensivo uso de materiais, movido por combustíveis fósseis, calcado em consumo e

disposição incomensurável de resíduos e orientado, principalmente, para o crescimento econômico.

O consumismo é fator primordial na degradação da natureza e debatê-lo foi de extrema relevância

para os estudantes. Os adolescentes são alvo fácil para o consumo exacerbado. Ficou evidente nas

falas deles o desejo de consumir diversos produtos como, tênis, blusas de moletom, x-box, celular,

tablet e vídeogame. Embora se tenha tentado alertá-los de que a indústria está focada na produção

de novos equipamentos com obsolescência programada, e consequentemente na obtenção de

maiores lucros, os estudantes mantiveram-se firmes na ideia de consumir os produtos da moda.

Constatou-se então que o trabalho com esta temática deve permear todas as áreas do conhecimento

e estar inserido no cotidiano escolar a fim de reverter estas perspectivas de consumo de produtos.

Uma forma para conter estes impulsos foi propor aos estudantes fazer uma pesquisa em diversos

meios como internet, revistas, livros e jornais, sobre como a mídia induz ao consumismo. Entre os

trabalhos apresentados, destacam-se aqueles que mencionaram propagandas de produtos de beleza

e eletroportáteis.

Na sequência, os problemas ambientais locais foram debatidos, levantados e identificados. Entre eles,

foi relatado o desperdício de água e de papel, as poucas áreas verdes no espaço escolar, as áreas

externas impermeabilizadas, a pichação, a depredação e a não utilização da luz natural nos

ambientes. Na comunidade na qual a escola está inserida, foram relatados os problemas dos lixos

jogados nos terrenos baldios e nas ruas, impermeabilização do solo, pichação, depredação, esgoto

nos rios, queimadas e entulhos de construção que causam desconforto visual e poluição ambiental.

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Os estudantes não apontaram a pouca área verde no entorno da unidade que conta apenas com o

Parque Cambuí e a praça em frente à escola. As demais áreas foram tomadas pela urbanização.

Após o recreio, é possível verificar uma grande quantidade de lixo que fica pelo pátio. Diante disso, os

professores propuseram aos estudantes que confeccionassem cartazes com frases imperativas a fim

de chamar a atenção dos demais estudantes para as possíveis soluções para os problemas ambientais

locais. Nos cartazes estavam escritas as seguintes frases: economize água, apague a luz ao sair, separe

o lixo, e ainda, pense antes de arrancar a folha do caderno. Esses cartazes foram afixados em locais

estratégicos da escola. Os professores enfatizaram que poderiam minimizar que estes problemas

poderiam ser solucionados na escola e repassados para suas residências.

Para ilustrar, de forma descontraída, os problemas causados pelo consumismo, seguido do descarte

de embalagens e produtos, foi exibido para os estudantes o filme Wall-E que conta a história de um

robô que tinha a missão de acabar com o lixo deixado pelos seres humanos na Terra. O filme mostra

uma quantidade incomensurável de resíduos e muitos objetos que ainda poderiam ser utilizados,

mas já haviam sido descartados pelas pessoas. A apresentação do filme serviu para provocar uma

reflexão sobre as atitudes dos próprios estudantes, de suas famílias, se eles estavam ou não fazendo

a separação do lixo em suas casas e se pensavam no descarte das embalagens antes de comprar os

produtos. Para saber mais sobre os hábitos dos estudantes e de suas famílias, eles levaram para casa

um questionário para ser respondido junto com seus familiares, no qual havia perguntas sobre o

destino adequado do lixo.

Utilizando-se de diferentes textos, foi proposto aos estudantes fazer um estudo sobre os diferentes

gêneros textuais, bem como o reconhecimento de formas de tratar a informação. Sendo assim, o

estudante pode criar textos com finalidades e públicos específicos para tratar do tema ambiental,

coletar diferentes opiniões, advindas de diferentes escritores e suportes. Com base em pesquisas, os

estudantes foram instigados a produzir textos de cunho informativo que foram reproduzidos em

forma de panfletos e entregues à comunidade. Muitos deles demonstraram compreensão de que é

necessário pensar antes de consumir e, uma vez consumido o produto, suas embalagens devem ser

encaminhadas para locais corretos, como aterro sanitário ou para usinas de reciclagem, cooperativas

e associações de catadores de recicláveis. Os materiais jamais devem ser queimados, enterrados ou

jogados em terrenos baldios ou rios.

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Partindo do conhecimento teórico sobre a necessidade da preservação ambiental, os

estudantes foram convidados para um passeio no parque Cambuí, próximo à escola, para

contemplação da natureza e observação dos problemas ambientais, tais como: assoreamento do rio,

lixo jogado em local inadequado, vandalismo, poluição visual e mal uso de suas instalações.

Outra visita foi necessária para dar continuidade às atividades propostas, no Museu de

História Natural Capão da Imbuia. No museu, os estudantes tiveram a oportunidade de contemplar a

natureza, fazer trilha ecológica e obter informações sobre os problemas que a humanidade vem

causando aos animais. Enquanto observavam os dioramas, os estudantes recebiam informações

sobre os diferentes habitats dos animais e os principais problemas enfrentados por eles, tais como: o

desmatamento, as queimadas, construção de estradas, instalação de usinas, e poluição das águas. Os

estudantes demonstraram-se muito sensibilizados com as informações e perceberam que são as

escolhas de cada um que interferem na harmonia do Meio Ambiente.

No contexto escolar foram confeccionados brinquedos com materiais descartáveis, como

garrafa Pet, caixas de leite, latas de leite ou de extrato de tomate, além de outros tipos de

embalagens. Tendo em vista que os estudantes tinham em sua maioria, mais de treze anos e que o

interesse por algumas brincadeiras é baixo, eles foram convidados a participar do recreio dos

estudantes das séries iniciais do Ensino Fundamental, para demonstrar os brinquedos confeccionados

e proporcionar momentos de descontração.

O projeto contou ainda com a participação da disciplina Tópicos especiais em tecnologia e

sociedade: práticas educativas, culturais e ambientais para a constituição de saberes e

conhecimentos do Programa de pós-graduação em Tecnologia e Sociedade da Universidade

Tecnológica Federal do Paraná. Os mestrandos realizaram oficinas com as turmas de 8ª série sobre

conforto ambiental. Os ministrantes seguiram a metodologia qualitativa com coleta e análise de

dados. O grupo percorreu a escola com os estudantes para levantar pontos críticos sobre clima,

conforto térmico, poluição sonora, visual e do ar. Foi possível perceber que há muitas áreas cobertas

na escola e que existem salas sem ventilação adequada. Após as atividades, foram analisados os

dados e concluído o trabalho com a confecção, pelos estudantes, de um painel em tecido que

sintetizava os principais conceitos apropriados.

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O projeto encerrou na escola após um semestre com uma atividade cultural que trouxe na forma de

uma peça teatral as dificuldades sobre o lixo, a água e o consumo. A faculdade, para a qual foi dada a

responsabilidade de orientação dos trabalhos dos docentes da SME, realizou um encerramento

formal da parceria, no seu estabelecimento. Nesta data foi possível conhecer todos os projetos de

sua responsabilidade e interagir com diferentes escolas municipais e suas ideias. Todos os trabalhos

foram apresentados de forma oral, nos formatos de banner e expositivo.

4. ÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES

A inserção da temática ambiental necessita ser uma constante no cotidiano escolar, não podendo ser

eventual uma vez que a EA se dá pelos exemplos, pelas práticas e pela continuidade dos trabalhos. Os

discursos sobre EA, desenvolvimento sustentável, reciclagem e temas correlacionados à educação

para sustentabilidade não são auto suficientes. Para que estes possam atender às suas finalidades

dependem de constância, confiabilidade, seriedade, recursos, persistência e compreensão da

complexidade da sobrevivência humana. Há também a problemática das formas de comunicação,

divulgação e convencimento para diferentes grupos sociais. Não se percebe diretamente o modo

como as informações chegam à população, como são interpretadas, analisadas e concretizadas. Logo,

é fundamental que a escola trabalhe com o olhar interdisciplinar, fazendo conversar as áreas do

conhecimento visando à formação integral do ser.

Compreende-se que, no desenvolvimento do projeto apresentado, os docentes foram os mediadores

no processo de ensino-aprendizagem na medida em que interagiam e orientavam os estudantes. Eles

motivaram a autonomia do educando por meio da pesquisa e do desenvolvimento das atividades. Os

estudantes puderam participar, questionar e argumentar sobre os problemas ambientais por eles

vividos ou percebidos e, assim, propor posturas pró ativas para melhorar o ambiente em que vivem.

Os professores observaram a participação e o interesse dos estudantes pela temática proposta. Um

dos aspectos estava relacionado a mudança de atitudes na convivência e rotina escolares. O tema dos

resíduos ficou destacado na memória dos estudantes. Eles se auto nomearam geradores e

manifestaram a responsabilidade sobre os comportamentos de dar o destino correto aos resíduos.

Dentre os desafios do projeto estava o de aumentar a gama de conhecimentos sobre hábitos

saudáveis enquanto forma de prevenção de doenças físicas e psíquicas, e melhoria da qualidade de

vida. Isto foi possível na medida que os estudantes tiveram oportunidade de visitar os espaços de EA

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como o Museu de História Natural Capão da Imbuia. Neste espaço existe uma equipe dedicada e

especializada em sensibiliza os visitantes quanto à necessidade da preservação de áreas verdes e

proteção de todas as formas de vida do Planeta. São momentos de lazer, de aprendizagem e pesquisa

sobre drenagem das águas, renovação do ar e práticas esportivas. As informações são tratadas de

maneira que o estudante compreenda os conflitos ambientais, históricos, políticos, econômicos, suas

influências e consequências para a sociedade contemporânea.

Apesar da ideia, por parte dos professores, de que os princípios de EA fossem uma prática comum

para os estudantes, percebeu-se que as questões ambientais perdem para a gama de recursos

tecnológicos ofertados pelas máquinas como celular e computador. Esses meios de comunicação

precisam ser direcionados para ofertar saberes e conhecimentos sobre as questões ambientais. É

preciso compreender que somente a tecnologia pela tecnologia não resolve problemas. Estudar e

refletir sobre as potencialidades dos meios de comunicação viabilizaria a inserção de temas

ambientais em todas as disciplinas escolares.

Quem vai trabalhar para recuperar áreas degradadas ou acabar com a extinção de espécies? Somos

nós. A humanidade faz sua parte quando preserva a natureza e garante para as próximas gerações a

continuidade da vida. Desde a mais tenra idade, a criança precisa compreender que cada ato seu traz

consequências para a natureza e a sociedade. Cidadania significa respeitar o meio ambiente e

trabalhar para as mudanças sociais, ambientais e éticas. É de fundamental importância destacar que

são as atitudes individuais, muitas vezes aparentemente inofensivas que, no montante, degradam o

meio ambiente.

Desenvolver novas metodologias que aliem conteúdos curriculares, tecnologias e boas

práticas ambientais deve ser uma meta para o professor. Diariamente, as pessoas renovam seus

valores, formas de pensar e agir, entendimentos sobre o papel social da família, da natureza, da

religião. É neste contexto que o estudante pode trabalhar as fontes de informações, o repasse dos

seus saberes, opiniões, costumes e como resolver problemas. Por isso a escola precisa redefinir e

refletir sobre suas metodologias.

O projeto não perdeu de vista a fundamentação teórica e prática sobre os problemas ambientais.

Atitudes e comportamentos elementares ainda precisam ser trabalhados nas escolas como o

desperdício de água, as folhas arrancadas dos cadernos, o lixo dispensado em lixeiras inapropriadas e

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o consumismo. É um eterno recomeçar na medida em que as turmas se renovam, os professores se

aposentam ou mudam de escola, as políticas de governo vão e vem e os problemas ambientais se

multiplicam necessitando sempre de pessoas que que coloquem em evidência sua importância.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Lei 9795/99, dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/anotada/2743065/lei-9795-99>. Acesso em: 10 out. 2009.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais – Temas transversais. MEC/ Secretária de Educação Fundamental, 1998.

CASTRO, Ronaldo Souza. BAETA, Anna Maria Bianchini. Autonomia Intelectual: condição necessária para o exercício da cidadania. p. 99 – 108. In: Educação ambiental: repensando oespaço da cidadania. LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo. LAYRARGES, Philippe Pomier. CASTRO, Ronaldo Souza de (orgs). São Paulo, Cortez, 2008.

CURITIBA, Diretrizes Curriculares para a Educação Municipal de Curitiba: Ensino Fundamental, volume 1. 2006.

CURITIBA, Plano municipal de controle ambiental e desenvolvimento sustentável: diagnóstico, III versão, junho de 2007. Disponível em <www.curitiba.pr.gov.br/multimidia/00085327.pdf> Acesso em: 15 out. 2007.

LEFF, Enrique. Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder.

Editora Vozes, Petrópolis: 2008.

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