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Tiragem: 16669 País: Portugal Period.: Diária Âmbito: Economia, Negócios e. Pág: 12 Cores: Cor Área: 23,00 x 26,56 cm² Corte: 1 de 1 ID: 57094266 16-12-2014 Marta Moitinho Oliveira [email protected] Um elevado nível de endivida- mento público e uma economia com tímidos crescimentos. É este o pano de fundo para o de- bate que hoje se realiza no Par- lamento e que põe 16 especialis- tas a discutir o problema da dí- vida. Alguns dos peritos defen- dem que a dívida pública deve ser reestruturada, outros consi- deram que Portugal tem condi- ções de a pagar. O que parece ser certo é que num cenário ou noutro haverá sempre custos a suportar e que dificilmente se pode encontrar uma solução de forma isolada. A audição pública que de- corre a partir das 9 horas na As- sembleia da República é da ini- ciativa do PS, que aproveitou a disponibilidade revelada pela ministra das Finanças em Se- tembro e apresentou um pro- jecto de resolução. No docu- mento, o PS de Costa, não quis ficar colado ao Manifesto dos 74 (lançado em Março deste ano), e optou por uma versão mais recuada: a dívida representa um constrangimento para a re- cuperação do crescimento e do emprego. No projecto, o PS de- fendia a importância de ouvir personalidades relevantes que ajudassem a pensar o problema da dívida, mas reconhecia que era essencial uma resposta “à escala europeia”. O mesmo argumento é usa- do por economistas que defen- dem a reestruturação da dívi- da. É o caso de João Cravinho, o ex-ministro do governo lidera- do por António Guterres, men- tor do Manifesto dos 74, afir- mou numa entrevista publica- da em Julho que a reestrutura- ção é uma questão de tempo (três ou quatro anos) e “a chave Portugal pode pagar a dívida? Peritos respondem no Parlamento O QUE PENSAM ALGUNS ECONOMISTAS QUE FALAM HOJE NO PARLAMENTO: Norberto Rosa Ex-secretário de Estado do Orçamento “Sim, devemos pagar a dívida e temos condições de a pagar, mas com esforço”, defende Norberto Rosa. O ex-vice-presidente da Caixa Geral de Depósitos afasta a possibilidade de reestruturação da dívida por considerar que isso depende “mais dos credores do que de nós”. João Costa Pinto Pres. do Cons. de Auditoria do BdP “Apesar de assumir uma importância central (...), nem a Comissão, nem o BCE se têm referido aos níveis de endividamento, que deixaram de ser meros problemas nacionais com que cada país se deve preocupar, para se transformarem numa questão que assume hoje uma dimensão transeuropeia”. João Cravinho Antigo ministro socialista “A reestruturação [da dívida] não é um problema de se saber se irá ser feita. O problema é saber quando e como será feita, porque há várias modalidades possíveis. O quando não está muito afastado. Temos todas as condições para dentro de três ou quatro anos estarmos numa situação aflitiva”. Francisco Louçã Economista, ex-líder do Bloco “A Alemanha fez a maior reestruturação da história moderna das economias do nosso tempo e foi apoiada pelos seus credores”. está em três países: França, Es- panha e Itália”. Mais à direita, Norberto Rosa, ex-secretário de Estado do Or- çamento do executivo de Durão Barroso, considera que Portugal tem condições para pagar a dívi- da, mas que isso implica um es- forço. Em Junho, o autor do livro “Vamos conseguir pagar a nossa dívida?” referia que a reestrutu- ração da dívida “depende mais dos credores do que de nós”. A dívida pública atingiu os 225,17 mil milhões de euros em Outubro, mostram os dados mais recentes do Banco de Por- tugal. O montante em dívida desceu face a Setembro, mas ainda se encontra acima da meta para este ano e subiu seis mil milhões de euros face ao fi- nal de 2013. Desde que tomou posse, o governo de Passos Coelho alongou as maturidades dos empréstimos, conseguiu uma descida dos juros e prepa- ra-se para antecipar ainda em 2015 o pagamento do emprésti- mo ao FMI, noticiou ontem o Observador. Experiências de reestru- -turação da dívida pública Integram este painel Jeffrey An- dersom, director-geral para os Assuntos Europeus no Instituto de Finanças Internacionais e Yannis Manuelides, advogado na Allen & Overy, entre outros. Dimensões económico- -jurídicas da reestruturação da dívida pública Participam neste painel Eduardo Paz Ferreira da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e Paola Pabón, deputada da Assembleia Nacional do Equador. A sustentabilidade da dívida pública portuguesa João Cravinho, João Duque (ISEG) e Paulo Trigo Pereira fa- lam neste painel. Que soluções para Portugal? Agostinho Lopes (ex-deputado do PCP), João Costa Pinto (audi- tor) e Francisco Louçã são al- guns dos oradores. PROGRAMA DA CONFERÊNCIA Dívida Parlamento junta hoje 16 especialistas para debater dívida pública. Governo prepara-se para avançar com pagmento antecipado do empréstimo ao FMI ainda este ano. META DA DÍVIDA PARA 2014 127,2% do PIB Este é o objectivo do Governo para este ano. A confirmar-se será o primeiro ano de descida desde que Passos tomou posse. PAULO TRIGO PEREIRA Economista no ISEG TRÊS PERGUNTAS A... “Dívida seria sustentável se fosse possível fazer um acordo político” Um acordo político e com os parcei- ros sociais para duas legislaturas se- ria uma condição necessária para que a dívida pública fosse sustentá- vel. Esta a tese defendida pelo eco- nomista Paulo Trigo Pereira. O pro- fessor do ISEG, que faz parte do gru- po de 11 economistas que está a tra- balhar para o PS, não vê porém pos- sibilidade de acordo. A dívida pública portuguesa é sustentável? Seria sustentável se fosse possível fazer um acordo político e com os principais parceiros sociais para duas legislaturas que teria que in- cluir, entre outros, um acordo sobre dimensão desejável do Estado, a re- forma (paramétrica ou estrutural) da segurança social e uma política de emprego e rendimentos dos tra- balhadores em funções públicas. Como não vejo tal acordo no hori- zonte considero-a insustentável. O que deve ser feito para contro- lar a dívida pública portuguesa? Têm de ser várias e simultâneas. As eventuais medidas de compra de dívida pública pelo BCE (quanti- tative easing) ajudam certamente, e são um primeiro passo, mas não são suficientes. Mesmo sem acor- do político, medidas de promoção do crescimento e emprego, renego- ciação das PPPs para não concen- trar os pagamentos nos próximos oito anos, medidas de contenção do consumo público (pensões, salá- rios, etc.), até que a Europa perce- ba que tem de haver soluções mais estruturais, mas que têm de ser multilaterais. É possível reestruturar a dívida? Não me parece existirem agora con- dições políticas na Europa para essa reestruturação, pelo que prefiro fa- lar de renegociação (extensão de prazos e redução de juros). Depois, e se, o “Plano Draghi” for adiante, en- tão será possível pensar no passo seguinte. É assim que a Europa tem avançado. A questão é saber se es- ses passos não serão lentos antes da próxima crise. M.M.O.

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Tiragem: 16669

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 12

Cores: Cor

Área: 23,00 x 26,56 cm²

Corte: 1 de 1ID: 57094266 16-12-2014

Marta Moitinho [email protected]

Um elevado nível de endivida-mento público e uma economiacom tímidos crescimentos. Éeste o pano de fundo para o de-bate que hoje se realiza no Par-lamento e que põe 16 especialis-tas a discutir o problema da dí-vida. Alguns dos peritos defen-dem que a dívida pública deveser reestruturada, outros consi-deram que Portugal tem condi-ções de a pagar. O que pareceser certo é que num cenário ounoutro haverá sempre custos asuportar e que dificilmente sepode encontrar uma solução deforma isolada.

A audição pública que de-corre a partir das 9 horas na As-sembleia da República é da ini-ciativa do PS, que aproveitou adisponibilidade revelada pelaministra das Finanças em Se-tembro e apresentou um pro-jecto de resolução. No docu-mento, o PS de Costa, não quisficar colado ao Manifesto dos 74(lançado em Março deste ano),

e optou por uma versão maisrecuada: a dívida representaum constrangimento para a re-cuperação do crescimento e doemprego. No projecto, o PS de-fendia a importância de ouvirpersonalidades relevantes queajudassem a pensar o problemada dívida, mas reconhecia queera essencial uma resposta “àescala europeia”.

O mesmo argumento é usa-do por economistas que defen-dem a reestruturação da dívi-da. É o caso de João Cravinho, oex-ministro do governo lidera-do por António Guterres, men-tor do Manifesto dos 74, afir-mou numa entrevista publica-da em Julho que a reestrutura-ção é uma questão de tempo(três ou quatro anos) e “a chave

Portugal pode pagar a dívida?Peritos respondem no Parlamento

O QUE PENSAM ALGUNS ECONOMISTAS QUE FALAM HOJE NO PARLAMENTO:

Norberto RosaEx-secretário de Estado do Orçamento

“Sim, devemos pagar a dívida etemos condições de a pagar, mascom esforço”, defende Norberto

Rosa. O ex-vice-presidente daCaixa Geral de Depósitos afasta apossibilidade de reestruturação

da dívida por considerar que issodepende “mais dos credores do

que de nós”.

João Costa PintoPres. do Cons. de Auditoria do BdP

“Apesar de assumir uma importânciacentral (...), nem a Comissão, nem oBCE se têm referido aos níveis de

endividamento, que deixaram de sermeros problemas nacionais com quecada país se deve preocupar, para setransformarem numa questão que

assume hoje uma dimensãotranseuropeia”.

João CravinhoAntigo ministro socialista

“A reestruturação [da dívida] não éum problema de se saber se irá serfeita. O problema é saber quando ecomo será feita, porque há váriasmodalidades possíveis. O quandonão está muito afastado. Temos

todas as condições para dentro detrês ou quatro anos estarmos

numa situação aflitiva”.

Francisco LouçãEconomista, ex-líder do Bloco

“A Alemanha fez a maiorreestruturação da históriamoderna das economias

do nosso tempo e foiapoiada pelos seus

credores”.

está em três países: França, Es-panha e Itália”.

Mais à direita, Norberto Rosa,ex-secretário de Estado do Or-çamento do executivo de DurãoBarroso, considera que Portugaltem condições para pagar a dívi-da, mas que isso implica um es-forço. Em Junho, o autor do livro“Vamos conseguir pagar a nossadívida?” referia que a reestrutu-ração da dívida “depende maisdos credores do que de nós”.

A dívida pública atingiu os225,17 mil milhões de euros emOutubro, mostram os dadosmais recentes do Banco de Por-tugal. O montante em dívidadesceu face a Setembro, masainda se encontra acima dameta para este ano e subiu seismil milhões de euros face ao fi-nal de 2013. Desde que tomouposse, o governo de PassosCoelho alongou as maturidadesdos empréstimos, conseguiuuma descida dos juros e prepa-ra-se para antecipar ainda em2015 o pagamento do emprésti-mo ao FMI, noticiou ontem oObservador. ■

Experiências de reestru--turação da dívida públicaIntegram este painel Jeffrey An-dersom, director-geral para osAssuntos Europeus no Institutode Finanças Internacionais eYannis Manuelides, advogadona Allen & Overy, entre outros.

Dimensões económico--jurídicas da reestruturaçãoda dívida públicaParticipam neste painelEduardo Paz Ferreira daFaculdade de Direito daUniversidade de Lisboa e PaolaPabón, deputada da AssembleiaNacional do Equador.

A sustentabilidade da dívidapública portuguesaJoão Cravinho, João Duque(ISEG) e Paulo Trigo Pereira fa-lam neste painel.

Que soluções para Portugal?Agostinho Lopes (ex-deputadodo PCP), João Costa Pinto (audi-tor) e Francisco Louçã são al-guns dos oradores.

PROGRAMADA CONFERÊNCIA

Dívida Parlamento junta hoje 16 especialistas para debater dívida pública. Governo prepara-separa avançar com pagmento antecipado do empréstimo ao FMI ainda este ano.

META DA DÍVIDA PARA 2014

127,2% do PIBEste é o objectivo do Governopara este ano. A confirmar-seserá o primeiro ano de descidadesde que Passos tomou posse.

PAULO TRIGO PEREIRA

Economista no ISEG

TRÊS PERGUNTAS A...

“Dívida seriasustentável se fossepossível fazer umacordo político”Um acordo político e com os parcei-ros sociais para duas legislaturas se-ria uma condição necessária paraque a dívida pública fosse sustentá-vel. Esta a tese defendida pelo eco-nomista Paulo Trigo Pereira. O pro-fessor do ISEG, que faz parte do gru-po de 11 economistas que está a tra-balhar para o PS, não vê porém pos-sibilidade de acordo.

A dívida pública portuguesa ésustentável?Seria sustentável se fosse possívelfazer um acordo político e com osprincipais parceiros sociais paraduas legislaturas que teria que in-cluir, entre outros, um acordo sobredimensão desejável do Estado, a re-forma (paramétrica ou estrutural)da segurança social e uma políticade emprego e rendimentos dos tra-balhadores em funções públicas.Como não vejo tal acordo no hori-zonte considero-a insustentável.O que deve ser feito para contro-lar a dívida pública portuguesa?Têm de ser várias e simultâneas.As eventuais medidas de comprade dívida pública pelo BCE (quanti-tative easing) ajudam certamente,e são um primeiro passo, mas nãosão suficientes. Mesmo sem acor-do político, medidas de promoçãodo crescimento e emprego, renego-ciação das PPPs para não concen-trar os pagamentos nos próximosoito anos, medidas de contençãodo consumo público (pensões, salá-rios, etc.), até que a Europa perce-ba que tem de haver soluções maisestruturais, mas que têm de sermultilaterais.É possível reestruturar a dívida?Não me parece existirem agora con-dições políticas na Europa para essareestruturação, pelo que prefiro fa-lar de renegociação (extensão deprazos e redução de juros). Depois, ese, o “Plano Draghi” for adiante, en-tão será possível pensar no passoseguinte. É assim que a Europa temavançado. A questão é saber se es-ses passos não serão lentos antesda próxima crise. M.M.O.

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Notícias ao Minuto

Online

Audiência 12020

País: Portugal

Âmbito: Informação Geral

OCS: Notícias ao Minuto Online ID: 57108958

16-12-2014

Notícias ao Minuto - João Duque alerta para impactos de "atitudes de risco" emrelação à dívida pública

URL:http://www.noticiasaominuto.com/economia/322191/joao-duque-alerta-para-impactos-de-atitudes-de-risco-em-relacao-a-divida-publica

O professor universitário João Duque considerou hoje que os efeitos do nível elevado da dívida públicaportuguesa devem ser mitigados, alertando que existem riscos, tanto se nada for feito, como se foremadotadas "atitudes de risco". "Podemos tentar mitigar os efeitos, mas os efeitos acabam sempre porser significativos. Se nada for feito, isto vai dar asneira, porque mais cedo ou mais tarde as taxas dejuro vão começar a subir no mercado. Imagine-se que de repente há uma escalada dos juros da dívidacom efeitos imediatos na notação da dívida com impactos brutais ao nível do orçamento", questionouJoão Duque, considerando que, "a fazer-se alguma coisa, deve ser de forma segura a evitardescontrolos". PUB O professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), que falava hoje àtarde na conferência parlamentar 'A Dívida Pública', considerou que existe "uma janela deoportunidade de acalmia que deve ser bem aproveitada", defendendo ao mesmo tempo que "tambémse deve fazer alguma coisa". Ao mesmo tempo, o economista manifestou-se ainda preocupado comaquilo a que chamou "atitudes de risco", alertando que Portugal enfrenta riscos se for o primeiro paíseuropeu a avançar para uma forma de reestruturação da sua dívida. "Há uma coisa que me aflige: eunão gosto de ser o primeiro em atitudes de muito risco. Não gostei, no caso do BES, de sermos osprimeiros a usar o Fundo de Resolução [Bancária]. Tem o efeito de sair da manada e, como já sesabe, o animal que sai da manada pode ser facilmente atacado por predadores naturais", ilustrou. Oacadémico defendeu ainda que o programa de compra de dívida soberana pelo Banco Central Europeu(BCE) "é uma oportunidade de ouro para, de forma civilizada, sem perturbar muito o mercado,resolver este problema". João Duque alertou para a necessidade de Portugal estar atento à parte dadívida dos países da zona euro que o BCE comprar, já que pode prejudicar ou beneficiar o país. 17:45 - 16 de Dezembro de 2014 | Por

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