habermas - perlato-pedro lima

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Habermas e a teoria sociológica brasileira: Um estudo sobre as leituras críticas de Jessé Souza e Sergio Costa * Fernando Perlatto 2 Pedro Luiz Lima 3 Resumo Autor de uma vasta obra, caracterizada por aliar rara densidade filosófica a uma abordagem que transita nos mais diversos campos das ciências humanas, Jürgen Habermas tem influenciado nas últimas décadas muito do que se produz no cenário da teoria social brasileira contemporânea. No presente artigo procuraremos discutir algumas possibilidades de “leituras” de Habermas no Brasil, tomando como modelo as obras de dois importantes sociólogos brasileiros Jessé Souza e Sergio Costa , cujos trabalhos vêm procurando dialogar com algumas das categorias habermasianas, como esfera pública, mundo da vida, sistema e cosmopolitismo. Procuraremos compreender como estes autores enfrentaram o desafio de pensar com e contra Habermas, interpretando e ressignificando seus conceitos, para a formulação de novas teorias capazes de problematizar a modernidade a partir do Brasil e apontar caminhos para o aprofundamento da democracia brasileira. 1 Este artigo faz parte de uma pesquisa mais ampla intitulada Habermas e a teoria sociológica e política no Brasil: modos de usar, na qual se busca analisar diferentes recepções da obra de Habermas no Brasil. Nesta pesquisa, além dos sociólogos trabalhados no presente artigo, estão sendo analisadas as pesquisas de diferentes cientistas sociais, como Barbara Freitag, Gabriel Cohn, José Arthur Giannotti, Fábio Wanderley Reis, Leonardo Avritzer, Luiz Werneck Vianna, José Eisenberg, José Maurício Domingues, Gisele Cittadino, Marcelo Neves, Paula Montero e Rubem Barboza Filho. Além disso, uma pesquisa quantitativa e qualitativa sobre o uso de Habermas em revistas da área Revista Brasileira de Ciências Sociais, Dados, Lua Nova, Novos Estudos Cebrap, Revista de Sociologia e Política e Tempo Social também vem sendo realizada. 2 Mestre em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), doutorando em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP-UERJ), Professor substituto do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Pesquisador do Centro de Estudos Direito e Sociedade (CEDES/PUC-RJ). E-mail:[email protected] 3 Mestre em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisa (IUPERJ), doutorando em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP-UERJ) e Coordenador Adjunto do Observatório dos Países de Língua Oficial Portuguesa (OPLOP-UFF). E-mail: [email protected] Palavras-chave: Habermas; teoria sociológica; Jessé Souza; Sergio Costa; democracia; Habermas and Brazilian sociological theory: a study of the critical readings of Jessé Souza and Sergio Costa Abstract The monumental work of Jürgen Habermas, with its rare philosophical density and its notorious transition through most of human sciences' disciplines, has exerted a strong influence on the contemporary sociological theory made in Brazil since the last decades. In this essay, we will seek to discuss some reading possibilities of Habermas in Brazil, focusing primarily on the works of two important Brazilian sociologists: Jesse Souza and Sergio Costa. Their works present a constant dialogue with some habermasian categories, such as public sphere, lifeworld, system and cosmopolitanism. The present article is an attempt to understand how both authors have faced the challenge to think with and against Habermas, interpreting and providing new meanings to his concepts in search of new theories that can fulfill the double demand of problematizing modernity from Brazil (with a Brazilian perspective) and finding original paths for the deepening of Brazilian democracy. Key-Words: Habermas; Sociological theory; Jessé Souza; Sergio Costa; democracy; _____________________ O processo de institucionalização das Ciências Sociais no Brasil, consolidado ao longo das últimas três décadas, tem sido marcado por uma notável multiplicação das linhas de pesquisa e dos campos de investigação nas mais variadas áreas. No caso da Sociologia, mais especificamente, esta expansão vem ocorrendo de forma considerável, implicando uma diversificação dos autores internacionais mobilizados para a reflexão sobre os problemas sociológicos mais relevantes, enfrentados tanto teórica quanto empiricamente. Se a geração de cientistas sociais brasileiros da década de 1970 voltou sua atenção principalmente para os autores “clássicos” da teoria sociológica – Marx, Durkheim e Weber e para outros como Barrington Moore, Gramsci e Lênin que possibilitavam uma melhor compreensão do autoritarismo então vigente no país e da nossa “modernização conservadora”, nas duas últimas décadas a bibliografia sociológica brasileira vem sendo

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artigo original que tem por objetivo analisar a recepção do pensamento habermasiano no brasil.

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  • Habermas e a teoria sociolgica

    brasileira: Um estudo sobre as leituras

    crticas de Jess Souza e Sergio Costa*

    Fernando Perlatto

    2

    Pedro Luiz Lima3

    Resumo

    Autor de uma vasta obra, caracterizada por aliar rara

    densidade filosfica a uma abordagem que transita

    nos mais diversos campos das cincias humanas,

    Jrgen Habermas tem influenciado nas ltimas

    dcadas muito do que se produz no cenrio da teoria

    social brasileira contempornea. No presente artigo

    procuraremos discutir algumas possibilidades de

    leituras de Habermas no Brasil, tomando como modelo as obras de dois importantes socilogos

    brasileiros Jess Souza e Sergio Costa , cujos trabalhos vm procurando dialogar com algumas das

    categorias habermasianas, como esfera pblica,

    mundo da vida, sistema e cosmopolitismo.

    Procuraremos compreender como estes autores

    enfrentaram o desafio de

    pensar com e contra Habermas, interpretando e

    ressignificando seus conceitos, para a formulao de

    novas teorias capazes de problematizar a

    modernidade a partir do Brasil e apontar caminhos

    para o aprofundamento da democracia brasileira.

    1Este artigo faz parte de uma pesquisa mais ampla

    intitulada Habermas e a teoria sociolgica e poltica

    no Brasil: modos de usar, na qual se busca analisar

    diferentes recepes da obra de Habermas no Brasil.

    Nesta pesquisa, alm dos socilogos trabalhados no

    presente artigo, esto sendo analisadas as pesquisas

    de diferentes cientistas sociais, como Barbara Freitag,

    Gabriel Cohn, Jos Arthur Giannotti, Fbio

    Wanderley Reis, Leonardo Avritzer, Luiz Werneck

    Vianna, Jos Eisenberg, Jos Maurcio Domingues,

    Gisele Cittadino, Marcelo Neves, Paula Montero e

    Rubem Barboza Filho. Alm disso, uma pesquisa

    quantitativa e qualitativa sobre o uso de Habermas

    em revistas da rea Revista Brasileira de Cincias Sociais, Dados, Lua Nova, Novos Estudos Cebrap,

    Revista de Sociologia e Poltica e Tempo Social tambm vem sendo realizada. 2 Mestre em Sociologia pelo Instituto Universitrio

    de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), doutorando

    em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e

    Polticos (IESP-UERJ), Professor substituto do

    Departamento de Cincias Sociais da Universidade

    Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Pesquisador do

    Centro de Estudos Direito e Sociedade

    (CEDES/PUC-RJ). E-mail:[email protected] 3 Mestre em Cincia Poltica pelo Instituto

    Universitrio de Pesquisa (IUPERJ), doutorando em

    Cincia Poltica pelo Instituto de Estudos Sociais e

    Polticos (IESP-UERJ) e Coordenador Adjunto do

    Observatrio dos Pases de Lngua Oficial Portuguesa

    (OPLOP-UFF). E-mail: [email protected]

    Palavras-chave: Habermas; teoria sociolgica; Jess

    Souza; Sergio Costa; democracia;

    Habermas and Brazilian sociological

    theory: a study of the critical readings of

    Jess Souza and Sergio Costa

    Abstract The monumental work of Jrgen Habermas, with its

    rare philosophical density and its notorious transition

    through most of human sciences' disciplines, has

    exerted a strong influence on the contemporary

    sociological theory made in Brazil since the last

    decades. In this essay, we will seek to discuss some

    reading possibilities of Habermas in Brazil, focusing

    primarily on the works of two important Brazilian

    sociologists: Jesse Souza and Sergio Costa. Their

    works present a constant dialogue with some

    habermasian categories, such as public sphere,

    lifeworld, system and cosmopolitanism. The present

    article is an attempt to understand how both authors

    have faced the challenge to think with and against

    Habermas, interpreting and providing new meanings

    to his concepts in search of new theories that can

    fulfill the double demand of problematizing

    modernity from Brazil (with a Brazilian perspective)

    and finding original paths for the deepening of

    Brazilian democracy.

    Key-Words: Habermas; Sociological theory; Jess

    Souza; Sergio Costa; democracy;

    _____________________

    O processo de institucionalizao das

    Cincias Sociais no Brasil, consolidado ao

    longo das ltimas trs dcadas, tem sido

    marcado por uma notvel multiplicao das

    linhas de pesquisa e dos campos de

    investigao nas mais variadas reas. No

    caso da Sociologia, mais especificamente,

    esta expanso vem ocorrendo de forma

    considervel, implicando uma diversificao

    dos autores internacionais mobilizados para

    a reflexo sobre os problemas sociolgicos

    mais relevantes, enfrentados tanto terica

    quanto empiricamente. Se a gerao de

    cientistas sociais brasileiros da dcada de

    1970 voltou sua ateno principalmente para

    os autores clssicos da teoria sociolgica Marx, Durkheim e Weber e para outros como Barrington Moore, Gramsci e Lnin que possibilitavam uma melhor

    compreenso do autoritarismo ento vigente

    no pas e da nossa modernizao conservadora, nas duas ltimas dcadas a bibliografia sociolgica brasileira vem sendo

  • 28

    influenciada principalmente por autores

    como Jrgen Habermas, Pierre Bourdieu e

    Anthony Giddens, que passaram a ocupar o

    panteo de referncias obrigatrias dos

    trabalhos cientficos no mbito das cincias

    sociais em geral, e da sociologia em

    particular.4

    Ser justamente neste contexto de

    renovao terica da produo sociolgica

    que ocorrer a consolidao da influncia

    das ideias habermasianas no Brasil.5 Autor

    de uma vastssima obra, caracterizada por

    aliar rara densidade filosfica a uma

    abordagem que transita entre os mais

    diversos campos das cincias humanas,

    Habermas protagonista involuntrio de

    muito do que se produz no cenrio da teoria

    social brasileira contempornea. A traduo

    para o portugus de seus principais livros

    (com a inescusvel ausncia da obra magna

    Teoria da Ao Comunicativa) em especial, A crise de legitimao do

    capitalismo tardio (1980), Mudana

    estrutural da esfera pblica (1984), O

    discurso filosfico da modernidade (1990),

    Direito e Democracia: entre facticidade e

    validade (1997), A incluso do outro (1992)

    , bem como de uma srie de artigos publicados em diferentes revistas nacionais,

    somada expanso da realizao de

    doutoramentos de cientistas sociais

    brasileiros na Alemanha no decorrer das

    4 Conforme destacado por Jeffrey Alexander (1987),

    em seu artigo O novo movimento terico, o final dos anos 1970 e o incio dcada de 1980, foram

    marcados pela apario quase simultnea de diversas

    obras que, em um esforo de sntese terica,

    buscaram reproblematizar a relao estrutura/ao como A distino, de Pierre Bourdieu (1979), A

    Teoria da Ao Comunicativa, de Jrgen Habermas

    (1981), A constituio da sociedade, de Anthony

    Giddens (1984) , acabando por influenciar grande parte da produo sociolgica nos anos subsequentes. 5 No cabe neste artigo uma anlise mais detalhada

    sobre a produo de Habermas, na medida em que

    nos interessa aqui compreender diferentes

    possibilidades de recepo de sua obra no Brasil.

    Para uma discusso mais aprofundada sobre a

    trajetria intelectual de Habermas e seus principais

    conceitos como esfera pblica, ao comunicativa, mundo da vida, deliberao e sociedade civil , ver: Vandenberghe (1998), Honneth (1999), Ingram

    (2010) e Specter (2010).

    dcadas de 1980 e 1990 que tiveram a possibilidade de ter os primeiros contatos

    com a produo do autor , fizeram com que Habermas se destacasse como um

    interlocutor frequente no ambiente da

    produo acadmica do pas.6 A comprovar

    este processo, basta observar a profuso de

    artigos acadmicos voltados para a

    discusso de sua obra ou de seus conceitos

    centrais publicados nas revistas de cincias

    sociais brasileiras 7, coletneas importantes

    8, alm do comparecimento constante de

    suas ideias nos principais suplementos

    literrios de revistas e jornais do pas.

    Vale tambm destacar que a obra de

    Habermas ter fundamental importncia na

    reflexo sobre os desafios colocados para a

    reconstruo da democracia brasileira, em

    um contexto marcado, por um lado, pelo

    fortalecimento da sociedade civil e de uma

    esfera pblica mais porosa reivindicao

    de direitos na dcada de 1980 e, por outro

    lado, pela crise do chamado socialismo real e pela hegemonia do neoliberalismo, na dcada de 1990. Tanto filsofos como

    6 Em artigo publicado no comeo da dcada de 1990,

    Barbara Freitag realizou um importante balano sobre

    a entrada de Habermas no Brasil, reconstruindo as diferentes etapas que marcaram a recepo de seu

    pensamento: A absoro e divulgao das ideias de Habermas no Brasil se devem a um esforo

    conjugado de leitores crticos, editores com viso e

    sensibilidade, tradutores competentes, professores

    inovadores, alunos, jornalistas e profissionais do

    direito abertos e intelectuais criativos (Freitag, 2005, p.153). O interesse pela obra habermasiana no Brasil

    tambm no pode ser desconectado da recepo da

    sociologia alem no pas (Villas Bas, 2006), de

    maneira geral, e da sociologia crtica, em particular

    (Coutinho, 1990). 7 Em artigo recente, Sergio Costa (2010) analisa os

    representantes da teoria sociolgica mais citados na

    Revista Brasileira de Cincias Sociais. Habermas

    aparece na terceira posio, atrs apenas de Pierre

    Bourdieu e Max Weber. 8 Entre as coletneas sobre Habermas, podemos

    destacar, entre outras, alm daquela organizada por

    Barbara Freitag e Sergio Paulo Rouanet (1980) para a

    coleo Grandes Cientistas Sociais, as que

    apareceram como resultado das comemoraes aos

    aniversrios de Habermas de 60, 70 e 80 anos,

    organizadas por Barbara Freitag (1989, 1999 e 2009),

    que contm diversos artigos de cientistas sociais

    nacionais e internacionais sobre o autor, alm de

    textos do prprio Habermas.

  • 29

    Jos Arthur Giannotti e ensastas como Jos

    Guilherme Merquior, quanto socilogos

    como Brbara Freitag Gabriel Cohn, Luiz

    Werneck Vianna e Jos Maurcio

    Domingues, antroplogos como Paula

    Montero, e cientistas polticos como Fbio

    Wanderley Reis, Leonardo Avritzer, Jos

    Eisenberg, Marcos Nobre e Rubem Barboza

    Filho, alm de acadmicos vinculados ao

    mundo do direito, como Marcelo Neves e

    Gisele Cittadino, ou da comunicao, como

    Rousiley Maia, enfatizaro a relevncia da

    perspectiva habermasiana para pensar a

    teoria social e a democracia brasileira. No

    obstante as diferenas existentes quanto

    adeso s principais ideias do autor alemo

    nestas diferentes recepes, inegvel sua

    consolidao como um autor fundamental

    para o enfrentamento dos desafios colocados

    na vida democrtica contempornea. 9

    No presente artigo, procuraremos

    discutir algumas possibilidades de leituras de Habermas no Brasil, tomando como

    modelo as obras de dois socilogos

    brasileiros Jess Souza e Sergio Costa , cujos trabalhos vm procurando dialogar

    com algumas das categorias habermasianas.

    No se trata aqui de estabelecer uma

    comparao detalhada entre suas

    abordagens. Nosso objetivo principal

    tentar compreender como estes autores

    enfrentaram o desafio de pensar com e

    contra Habermas, interpretando e

    ressignificando seus conceitos, para a

    formulao de novas teorias capazes de

    problematizar a modernidade a partir do

    9 Conforme destacado por Jos Eisenberg (2003,

    p.24-5), o artigo Habermas: mo e contramo, de Jos Arthur Gianotti (1991), publicado na revista

    Novos Estudos Cebrap, representou, no mbito da

    filosofia, uma primeira recepo crtica da teoria da

    ao comunicativa habermasiana, ao passo que no

    campo da teoria poltica, tiveram destaque os

    trabalhos de Fbio Wanderley Reis (2000), e de

    Leonardo Avritzer (1996), alm do trabalho do

    prprio Jos Eisenberg (2003). J no mbito do

    direito, vale destacar os trabalhos de Gisele Citadino

    (1998), Luiz Werneck Vianna et alli (1999) e

    Marcelo Neves (2001). Mais recentemente, no que

    concerne s incurses de Habermas no debate sobre

    as complexas relaes entre religio e esfera pblica,

    ver os trabalhos de Paula Montero (2006; 2009).

    Brasil e apontar caminhos para o

    aprofundamento da democracia brasileira. A

    escolha destes autores no pretende esgotar

    a reflexo sobre o tema. Ela ocorre pelo fato

    de suas abordagens serem ilustrativas de

    caminhos diferenciados e produtivos para a

    anlise da recepo da obra habermasiana no

    Brasil, bem como das limitaes contidas

    nessas leituras quando mobilizadas para

    pensar um contexto perifrico.10

    O exerccio do entendimento da

    recepo de Habermas no Brasil parte

    inicial de uma reflexo mais ampla que

    busca inquirir as possibilidades de

    mobilizao das formulaes habermasianas

    para a compreenso da modernidade

    brasileira. Este esforo se faz necessrio at

    mesmo porque nas ltimas dcadas diversos

    autores do centro tm sido lidos e mobilizados na periferia, sem que estes usos se tornem objetos de uma investigao

    mais sistemtica. Compreender criticamente

    as interpretaes e usos de Habermas,

    portanto, fundamental para avanarmos em

    um diagnstico no apenas sobre sua

    recepo per se, mas para pensarmos na

    circulao da teoria sociolgica que se

    estabelece entre as sociologias produzidas

    no centro e aquelas formuladas na periferia.11

    10

    Em resenha publicada recentemente, Seyla

    Benhabib (2011) destaca que longe de ser um

    pensador alemo, como sugere a anlise contextualista de Specter (2010), Habermas seria

    antes um pensador universal, cuja influncia atingiria diferentes regies do globo. Para uma

    anlise da recepo da obra habermasiana em

    diferentes contextos em especial nos Estados Unidos com foco em sua discusso sobre a esfera pblica, ver: Calhoun (1992). 11

    O dilogo terico, nem sempre consensual, que se

    estabelece entre as sociologias centrais e perifricas tem sido objeto de relevantes discusses na teoria social contempornea, impulsionadas

    sobretudo pelos autores identificados com a crtica

    ps-colonial. Para uma anlise mais sistemtica deste

    debate, ver: Connel (2007). A International

    Sociological Association (ISA), mediante sua

    Newlester, Global Dialogue, vem dando destaque a

    esta discusso. Ver, por exemplo, Beck (2010) e

    Connel (2010). No Brasil, este debate vem ganhando

    cada vez mais repercusso, como se comprova pelos

    trabalhos de Costa (2006), Tavolaro (2011) e

    Domingues (2011).

  • 30

    Jess Souza: da leitura crtica de

    Habermas interpretao do Brasil

    A relevncia da sociologia de Jess

    Souza no panorama contemporneo de

    debates intra e extra-acadmicos a respeito

    da dinmica social brasileira notvel.

    Crtica ferrenha do que qualifica como

    pobreza do debate poltico e acadmico brasileiro contemporneo, a obra de Jess pode ser lida como uma tentativa eloquente

    de, via teoria social, amenizar esse quadro

    de uma suposta extraordinria carncia de perspectivas crticas (Souza, 2006, p.98).

    Para a empreitada, auto-imposta, de

    enriquecer o cenrio das discusses

    conceituais e polticas no pas, o autor

    apreende o grandioso projeto terico de

    Jrgen Habermas como uma de suas fontes

    fundamentais. Desde sua tese de

    doutoramento (Patologias da modernidade:

    um dilogo entre Habermas e Weber,

    defendida na Universidade de Heidelberg,

    em 1991, e publicada no Brasil, em 1997),

    passando por aquela que talvez sua

    principal obra (A modernizao seletiva, de

    2000), e culminando em alguns de seus

    trabalhos posteriores e mais recentes (A

    construo social da subcidadania, de 2003,

    e A invisibilidade da democracia brasileira,

    de 2006), foroso reconhecer em

    Habermas um dos aportes decisivos tanto da

    leitura e exegese crticas da metateoria por

    ele realizadas, quanto de sua busca por uma

    teoria crtica da modernidade brasileira.

    No contexto do presente artigo, em

    que importa destacar os diferentes modos

    atravs dos quais o pensador alemo se faz

    determinante para a teoria social de

    importantes autores de nosso contexto

    acadmico, a incluso de uma anlise da

    obra de Souza se impe no apenas pela

    centralidade que o dilogo com Habermas

    detm em seus escritos, mas tambm pela

    agudeza de sua leitura crtica da teoria da

    ao comunicativa ponto de partida para seu esforo de refundao da sociologia

    brasileira, para alm dos personalismos e

    culturalismos atvicos que, a seu ver,

    deformariam nossa conscincia sociolgica.

    No que segue, pois, abordaremos

    alguns elementos desta apropriao crtica

    do arsenal terico-conceitual de Habermas

    por Souza, com destaque para (I) os traos

    caractersticos de sua interpretao da obra

    habermasiana e (II) a vinculao, explcita e

    implcita, desta interpretao com sua

    dmarche rumo a uma teoria crtica da

    modernidade perifrica. Por fim, (III)

    ressaltaremos alguns limites internos a essa

    teorizao.

    (I) Pelo evidente protagonismo de

    Habermas dentre os autores que compem o

    repertrio de Jess Souza, parece redundante

    afirmar que este ltimo confere desvelada

    importncia obra do primeiro um dos maiores pensadores desse sculo (Souza, 2008: 181). preciso, no entanto, matizar

    essa afirmao com uma anlise mais detida

    do lugar que ocupa o filsofo alemo no

    arcabouo terico-conceitual de Souza;

    anlise, esta, que nos propiciar identificar a

    maneira como essa recepo manifesta, por

    um lado, a necessidade de aproximao,

    para qualquer perspectiva sociolgica atual

    digna do nome, com relao ao vocabulrio

    habermasiano, sem deixar, por outro lado,

    de submeter esse novo lxico a uma rigorosa

    crtica.

    Em primeiro lugar, preciso notar o

    recorrente elogio, na prosa de Souza, ao

    esforo habermasiano de superao das

    aporias que enredariam os diversos

    paradigmas da teoria crtica da sociedade (de

    Marx a Adorno, passando por Weber e

    alguns autores clebres do marxismo

    ocidental, como Georg Lukcs). Tal

    empenho consistiria em, absorvendo o vigor

    crtico legado por aquele rol de tericos na

    considerao das patologias do mundo

    social moderno, no fazer sucumbir, em uma

    interpretao unilateralmente negativista, as

    potencialidades enraizadas no contedo normativo da modernidade (Habermas, 2002). Se a leitura unilateral, acima referida,

    implicaria um solapamento das

    possibilidades de fundamentao racional de

    uma solidariedade ps-tradicional (isto ,

    alheia a contedos religiosos ou metafsicos)

    atravs ora da hipertrofia do paradigma da produo (em Marx), ora do individualismo

  • 31

    trgico-metodolgico (de Weber), ora,

    ainda, da hipstase weberiano-marxista da

    razo instrumental (em Adorno e

    Horkheimer) , em Habermas, por seu turno, todo o gigantesco empreendimento terico

    visaria um telos oposto, qual seja, a

    consolidao de uma teoria social capaz

    tanto de reconstruir o sentido, imanente ao

    mundo moderno, de uma solidariedade

    racional, quanto de criticar os

    desenvolvimentos histricos de formas de

    sociabilidade enfeixadas pelas patologias da

    modernidade.

    Em Habermas, portanto, enxerga

    Jess uma crucial restaurao da

    modernidade em suas ambiguidades

    constitutivas (Souza, 1998, p.32-3) e, ao menos por essa razo, o autor da Teoria da

    Ao Comunicativa deve ser louvado e,

    mais do que isso, utilizado. Restituindo

    teoria habermasiana um componente

    emancipatrio que por muitas vezes

    desaparece nas to frequentes leituras

    rasteiras que sofre a obra do alemo, a

    instrumentalizao positiva desta por Souza

    se d a partir deste primeiro

    reconhecimento:

    Eu vejo precisamente a

    contribuio de Habermas para a

    renovao do paradigma da teoria

    crtica da sociedade nessa ligao

    entre um ponto de partida terico

    sem vnculos com as premissas da

    filosofia da histria, segundo o

    exemplo weberiano, e um conceito

    enftico de emancipao ou seja, de um conceito que se guia pela

    idia regulativa de uma vida social

    isenta de relaes de dominao

    injusta (Souza, 1997, p.87).

    Nesse sentido, um dos principais

    mritos da teoria da ao comunicativa

    habermasiana residiria na realizao de uma

    crtica imanente das sociedades modernas.

    Tal crtica, contudo, precisa se esgueirar

    entre, de um lado, o risco hegeliano de uma

    racionalizao apologtica do real e, de

    outro, o vis essencialmente antidemocrtico

    de uma dialtica que precisa se ancorar no

    paradigma do sujeito. Esse, por sua vez,

    situa o terico crtico em uma posio de

    transcendncia com relao modernidade

    cujos fundamentos ltimos permaneceriam

    escamoteados. Neste sentido, cabe lembrar

    que, tanto em Lukcs quanto em

    Adorno/Horkheimmer, o prprio ponto de

    observao de onde fala a teoria crtica um

    mais alm, pouco explicitado, com relao modernidade mais alm, este, que parece repor um patamar metafsico de todo

    incongruente com o imperativo imanentista

    de um mundo moderno secularizado.

    Em Habermas, o imperativo de

    teorizar nessa linha tnue induz ao

    formalismo de uma racionalidade que, em

    um contexto ps-metafsico, deve a um s

    tempo se inscrever nos contextos sociais

    particulares, e neles se manifestar, e lhes ser

    universalmente anterior, dado seu carter de

    forma generalizvel. O caminho encontrado

    pelo terico frankfurtiano localiza na

    intersubjetividade o portador desta razo e

    na comunicao o seu contedo formal.

    Contra uma longeva tradio filosfica de

    inscrio da razo no sujeito e, aqui, sem maiores compromissos com o

    estabelecimento de uma linhagem rigorosa,

    podemos apenas lembrar a episteme

    platnica, o cogito cartesiano, e a razo

    prtica kantiana como constituintes clebres

    de tal tradio , Habermas formula em sua razo comunicativa um novo conceito que

    lhe permite filosoficamente superar o

    primado da interioridade nas relaes

    humanas, sociologicamente apontar para as

    vicissitudes e patologias de um processo de

    modernizao automatizado por relaes

    mercantis e de dominao, e politicamente

    enraizar a razo na democracia.

    Essa breve reconstruo da grande

    narrativa habermasiana melhor nos situa

    frente crtica, entretecida por Jess Souza,

    a respeito de seus limites. Com a suposta

    subtematizao habermasiana da passagem

    da teoria da ao para a teoria dos sistemas

    (Souza, 1998, p.36), teramos na separao

    mundo-da-vida/subsistemas um correlato da

    distino entre racionalidade estratgica (a

    Zweckrationalitt weberiana) e razo

    comunicativa e, com isso, seria gerada a iluso dualista de que a cada mbito

  • 32

    corresponderia exclusivamente uma das

    formas de ao social. De fato, Souza revela

    com perspiccia um dos pontos mais

    nebulosos da teoria da ao comunicativa de

    Habermas, ainda que essa lacuna tenha sido

    admitida no prprio texto da opus magnum

    habermasiana, onde se afirma que o problema fundamental para a teoria social

    reside na maneira de vincular, de modo

    satisfatrio, as duas estratgias conceituas

    indicadas pelas noes de sistema e de mundo-da-vida (Habermas, 1987, p.152). Identificada essa primeira incidncia

    da incurso crtica de Souza pelos meandros

    da teoria habermasiana, observamos que

    aquela confere sentido a outros dois focos de

    objeo, referentes suposta negligncia,

    por Habermas, da questo da subjetividade,

    efeito de seu formalismo hiper-racionalista

    (Souza, 1995), e ao presumido dualismo de sua teoria social, efeito da distino

    mundo-da-vida/subsistemas.

    Ora, a demanda de Souza por um

    conceito conteudstico de personalidade individual (Souza, 199, p.48) em sua interpelao da teoria habermasiana ,

    aparentemente, de todo estranha ao cerne

    comunicativo e intersubjetivo de sua

    compreenso de racionalidade. Em outros

    termos, trata-se da inferncia falaciosa de

    uma falsa lacuna, posto que , de partida,

    para alm do sujeito e da conscincia que

    pretende Habermas construir um novo

    paradigma de crtica social. Nesse sentido,

    parece-nos que o frutfero realce das

    limitaes do ponto de partida unilateralmente racionalista da teoria

    habermasiana (1997, p.22) conduzido pelo autor a um mau termo, medida que

    desgua em uma valorizao da noo

    goetheana-weberiana de personalidade com uma relativa ode renncia secular e laica vocao do indivduo espirituoso que se encarnaria nas figuras do

    especialista com esprito e do homem de prazer com corao (Souza, 1997, p.118 e 122).

    J a crtica de Souza ao dualismo

    habermasiano, a despeito de aparecer como

    formulao preliminar em seus primeiros

    livros, adquire maior vigor a partir de A

    construo social da subcidadania (2003).

    Sintoma do progressivo deslocamento do

    protagonismo da obra habermasiana em prol

    de uma maior influncia de autores como

    Charles Taylor e Pierre Bourdieu, neste

    trabalho o filsofo alemo descrito como

    portador de uma concepo tendencialmente reificada de Estado e

    mercado como grandezas sistmicas (Souza, 2003, p.15) e como terico de uma

    sofisticada naturalizao da ideologia espontnea do capitalismo (Idem, p.23). Curiosamente, contudo, aqui tambm a

    frutfera crtica ademais reconhecida como um obstculo terico pelo prprio

    Habermas, como mostramos acima parece caminhar por termos imprecisos. Pois se, de

    fato, preciso questionar a aparente

    rasteira terica que a razo funcionalista aplica quando um de seus maiores crticos

    admite relativa autonomia e funcionalidade

    a subsistemas livres de mediaes

    normativas, tal questionamento, todavia, ao

    enfatizar o aspecto individualizado do

    enraizamento de imperativos sistmicos, recai numa reafirmao sociologizante, em

    termos pouco inovadores, com os quais o

    prprio Habermas no veria problema em

    concordar:

    Taylor certamente no admitiria a

    possibilidade da separao entre

    sistema e mundo da vida efetuada

    por Habermas. Essas duas

    dimenses refletem meramente

    horizontes de significao distintos

    e devem ser analisadas enquanto

    tais. Desse modo, os imperativos

    sistmicos no se confrontam com

    as identidades individuais como

    algo externo. Ao contrrio, eles

    so componentes desta mesma

    identidade e adquirem eficcia

    precisamente por conta disto. Os

    imperativos sistmicos so

    objetivos coletivos que se tornaram

    autnomos, e o desafio, ao invs

    de naturaliz-los, como faz a

    perspectiva sistmica,

    precisamente revific-los (Souza,

    2003, p.24).

  • 33

    Essa passagem sintetiza um sentido

    possvel para uma interpretao, apenas

    iniciada nesse artigo, da leitura que Souza

    faz da obra habermasiana: a aparente crtica

    corrosiva de elementos centrais do tour de

    force de Jrgen Habermas termina se

    revelando, em uso, uma reiterao de seus

    conceitos e de alguns dos fios estruturadores

    de sua teoria.

    (II) Habermas referncia central

    para a sociologia poltica da modernidade

    perifrica empreendida por Jess Souza. A

    despeito de uma crescente marginalizao

    das referncias diretas, no transcorrer da

    obra do socilogo brasileiro, e da correlata

    maior constncia, supracitada, nas remisses

    a Taylor e Bourdieu, parece-nos possvel

    afirmar essa centralidade de temticas e de

    perspectivas habermasianas em dois

    registros. Em primeiro plano, h uma

    explcita defesa, por Souza, da necessidade

    de tomar Habermas como ponto de partida

    para o entendimento crtico da modernidade

    em todas as suas manifestaes inclusive naquela que mais lhe importa, a perifrica.

    Em segundo plano, preciso salientar o

    lugar destacado que ocupa Habermas em sua

    obra-chave de crtica de certa sociologia

    brasileira e de tentativa de reconstruo de

    um elevado patamar terico-sociolgico de

    interpretao do Brasil (A modernizao

    seletiva).

    Em artigo intitulado Habermas e o Brasil: alguns mal-entendidos (2008), Souza desconstri alguns argumentos que se

    tornaram clichs anti-habermasianos no

    contexto acadmico brasileiro. Por um lado,

    diz-se, h uma incompatibilidade profunda

    entre teoria habermasiana e o estudo crtico

    de sociedades perifricas, uma vez que

    aquela seria apenas afeita e adequada

    percepo da modernidade nos pases

    centrais desenvolvidos. Por outro, apregoa-

    se que o racionalismo habermasiano se

    sustentaria em uma v iluso a respeito de

    pressuposta benevolncia nas interaes

    sociais que no encontraria respaldo na

    realidade injusta e brutal da jaula de ferro da

    modernidade.

    Com relao primeira crtica,

    Souza a apreende como mais uma

    manifestao da hegemonia terica daquilo

    que ele chama de sociologia da inautenticidade brasileira, para cujos autores (Srgio Buarque de Hollanda,

    Raymundo Faoro, Roberto DaMatta, Simon

    Schwartzman) a especificidade de nossa

    sociabilidade residiria na pr-modernidade

    de relaes tradicionais, personalistas e

    patrimonialistas. Por isso, atestar a

    infertilidade de um uso do arcabouo

    terico-conceitual de Habermas para a

    reflexo sociolgica sobre o Brasil seria

    sintoma do erro daqueles que insistem em

    interpretar o Brasil na chave do atraso,

    perdendo de vista que o Brasil participa da herana ocidental comum (Souza, 2008, p.196).

    No que diz respeito imputao de

    um idealismo perspectiva da ao

    comunicativa, Souza responde, de maneira

    precisa, indicando a m-f de uma

    argumentao que confunde,

    propositadamente, a defesa habermasiana,

    via pragmtica universal, de uma

    racionalidade universal ancorada na

    concretude dos atos de fala com o que seria

    uma interpretao da modernidade enquanto

    bero plcido de uma razo comunicativa

    apaziguadora do ncleo conflitivo das

    sociedades contemporneas. Em suas

    prprias palavras:

    A crtica mais comum e a mais

    injusta a que usa a obviedade da

    situao ftica de violncia,

    manipulao, irracionalidade,

    egosmo e interesse pessoal como

    fatores dominantes no mundo real e cotidiano como refutao da

    hiptese habermasiana. No existe

    nenhum escrito de Habermas onde

    ele perceba o mundo real e

    cotidiano como um paraso utpico

    de entendimento mtuo e

    compreenso (Idem, 2008, p.194).

    Em A modernizao seletiva, a bte

    noire da discusso de Jess Souza a

    sociologia da inautenticidade. Contra essa interpretao hegemnica que, pelo prisma

    do atraso, conceitua a sociabilidade

    brasileira na chave de um excessivo resduo

  • 34

    tradicional com relao ao qual a

    modernidade seria, entre ns, uma mera

    influncia inautntica (Souza, 2000, p.128 e p.236), Jess Souza mobiliza a obra de

    Habermas em trs movimentos: para

    fundamentar a prpria noo de

    modernizao seletiva; para fornecer, com o

    conceito de esfera pblica, o marco

    normativo de avaliao da modernidade

    perifrica; e para consolidar uma

    conseqente crtica a anlises de vis

    personalista.

    Em primeiro lugar, a partir do

    conceito dual de sociedade (conceito que,

    alhures, objeto de severas crticas,

    conforme notamos acima) que o autor

    concebe a seletividade do desenvolvimento ocidental (Idem, p.83). Seletivo, aqui, significa que no se trata de um processo

    monoltico, unidimensional, em que a

    eficincia institucional do mercado e do

    Estado seriam os principais termmetros do

    nvel de modernizao do pas. Trata-se,

    efetivamente, de apreender a pluralidade

    histrica de processos modernizadores, em

    uma concepo inclusiva a partir da qual as

    aparentes disfunes patolgicas do

    mercado ou do Estado na periferia importam

    menos, por si s, como critrios de um

    suposto dficit modernizador. A relevncia

    daquelas duas instncias recai, assim, em

    seu aspecto relacional: se mercado e Estado

    apresentam tendncias patologizantes que

    lhes so intrnsecas, ento a ateno deve se

    voltar para a maneira como esses

    subsistemas se relacionam com o mundo-da-

    vida linguisticamente mediado. Dessa

    forma, o conceito de modernizao seletiva

    permite, primeiro, situar o Brasil no

    panorama da modernidade e, segundo,

    questionar algumas concepes sociolgicas

    que permaneceriam rfs de uma

    modernizao concebida linear e

    idilicamente como a sagrao de um

    mercado dinmico e de um Estado eficiente.

    , pois, a prpria seletividade da

    modernizao que, ancorando-se na noo

    habermasiana de modernidade como projeto

    inacabado, pressupe o conceito de esfera

    pblica como o locus de formao de uma

    vontade geral voltil e em perptuo devir.

    Esfera pblica que, por sua vez, exigiria

    uma base social de igualdade material e simblica por meio da superao das

    barreiras criadas pela estratificao social e

    pela explorao sistemtica (Idem, p.89). Ao lembrar desse decisivo pr-requisito

    concreto embutido na noo de esfera

    pblica, Jess Souza aproxima, de maneira

    definitiva, o topos, habermasiano por

    excelncia, da democracia deliberativa

    questo-chave da desigualdade da sociedade

    brasileira.

    No nos falta, portanto, modernidade

    como parece supor a assim chamada sociologia da inautenticidade. Muito pelo contrrio. Uma interpretao sociolgica

    densa da realidade perifrica do Brasil,

    assim como a prtica poltica consequente,

    requerem a compreenso de que, longe de

    estarmos aqum da modernidade,

    encontramo-nos, com efeito, embebidos na

    modernidade (e nas suas patologias). Eis a

    contribuio decisiva (mas no indita, no

    panorama de nossa sociologia) que Jess

    Souza, habermasianamente, nos lega.

    (III) No obstante, preciso atentar

    para certas concluses entretecidas por

    Souza a respeito da modernizao brasileira

    que, se no so de todo contraditrias com

    seu intento original de desmistificao da

    sociologia da inautenticidade, parecem ao

    menos induzir o autor reiterao de alguns

    movimentos analticos que se pretendia

    superar.

    Por um lado, a utilizao do modelo

    dual habermasiano e a nfase na importncia

    da esfera pblica levam Jess Souza a

    questionar, certeiramente, algumas verses

    despropositadamente ufanistas de tal esfera

    no Brasil. O argumento, nesse ponto,

    simples: a abissal desigualdade brasileira

    no se deveria apenas a uma precria

    institucionalizao do mercado e Estado

    entre ns, mas antes se relaciona

    diretamente a uma fragilidade estrutural da

    esfera pblica. Em suas prprias palavras,

    No entanto, Estado e mercado no

    so as nicas realidades

    fundamentais das sociedades

    modernas, sejam centrais ou

  • 35

    perifricas. A esfera pblica seria,

    como demonstrou Habermas, uma

    terceira instituio fundamental da

    modernidade, destinada

    precisamente a desenvolver a crtica

    reflexiva e as possibilidades de

    aprendizado coletivo. No entanto,

    como o prprio Habermas aponta,

    uma esfera pblica efetiva

    pressupe, dentre outras coisas, um

    mundo da vida racionalizado, ou seja, no contexto do vocabulrio

    que estou usando neste texto, uma

    efetiva generalizao do habitus

    primrio nas suas virtualidades de

    comportamento pblico e poltico.

    Isso implica que no nosso caso

    especfico, brasileiro, a esfera

    pblica seria to segmentada

    internamente quanto Estado e

    mercado. Esse aspecto vai de

    encontro a certas anlises

    excessivamente otimistas acerca

    das virtualidades desta instituio

    fundamental entre ns (Souza,

    2006, p.49).

    Por outro lado, contudo, esse

    deslocamento da especificidade do caso

    brasileiro para o plano da esfera pblica e de

    um mundo-da-vida, em tese,

    subracionalizado, parece por vezes induzir o

    socilogo a um movimento que poderamos

    denominar de retorno da sociologia da

    inautenticidade por outros meios.

    Detenhamo-nos neste ponto.

    Um dos componentes centrais da

    crtica de Jess Souza sociologia da

    inautenticidade brasileira se volta contra a

    alegao de um suposto personalismo

    culturalmente enraizado em nossos costumes

    que seria, nessa narrativa, fundamento de

    um suposto atraso e de uma ilusria pr-

    modernidade. O antdoto para a superao

    desses resduos de tradio seria a superao

    desta sociabilidade baseada em vnculos

    pessoais atravs do estabelecimento das

    instituies modernas por excelncia, o

    mercado e o Estado, tal como idealmente

    concebidos. Quando Souza, adotando o

    modelo dual habermasiano (modelo este

    contra o qual o prprio autor levantara

    pesadas crticas em sua obra inicial), desloca

    o eixo da anlise para um terceiro plano, do

    mundo da vida, ele termina por replicar

    simetricamente o sentimento de ausncia

    que tanto critica no modelo da

    inautenticidade. Desta vez, contudo, trata-se

    de apontar para a falta de um contexto

    valorativo igualitrio, que teria precedido a

    modernizao ocidental alhures, como causa

    da desigualdade brasileira e da correlata

    construo de uma subcidadania.

    Nesse sentido, a ineficcia do

    sistema de direitos no pas se deveria

    ausncia de uma internalizao da

    percepo da igualdade na dimenso da vida cotidiana (Souza, 2003, p.166). A ausncia de heranas religiosas e culturais compartilhadas (Idem, p.100) estaria na base de um processo perverso de

    modernizao que no encontraria os

    anteparos culturais colonizao do mundo

    da vida pelos subsistemas. E, enfim, seria a

    ausncia deste contexto cognitivo e moral explcito, articulado e autnomo (Ibidem) que legaria modernizao brasileira um

    diferencial, com relao aos pases

    desenvolvidos, cristalizado na perpetuao

    de uma estrutura social profundamente

    desigual. A inautenticidade retorna, assim,

    por meio de uma apropriao

    weberianamente enviesada da habermasiana

    distino entre sistemas e mundo-da-vida: o

    contexto religioso-valorativo especfico da

    Europa ocidental na aurora da modernidade

    explicaria, assim, por negao, os casos

    heterodoxos de modernizao. E com isso se

    explicaria porque o Brasil, importando

    prticas institucionais sem possuir o lastro ideal e valorativo que lhe permita

    articulao, reflexividade e conscincia de

    longo prazo dos dilemas e contradies (Ibidem), constituiria esse monumento vivo

    das patologias da modernidade.

    Sergio Costa: da discusso sobre esfera

    pblica brasileira crtica ao

    cosmopolitismo habermasiano

    As reflexes de Sergio Costa tm

    importncia central para o argumento

    exposto neste artigo, na medida em que sua

  • 36

    produo, centrada no debate terico e na

    investigao emprica sobre temticas

    relacionadas democracia, esfera pblica,

    aos movimentos sociais e poltica

    transnacional, estabelece dilogo direto com

    a obra de Jrgen Habermas. Em diversos

    artigos e, em especial, nos seus dois livros

    de maior impacto As cores de Erclia: esfera pblica, democracia, configuraes

    ps-nacionais (2002) e Dois Atlnticos:

    teoria social, anti-racismo, cosmopolitismo

    (2006) , Costa procura pensar com e contra Habermas no sentido de compreender

    processos sociais, culturais e polticos no

    Brasil, apontando os desafios para a

    construo da democracia em uma

    modernidade perifrica. Nas linhas que se

    seguem, destacaremos (I) alguns aspectos

    desta leitura particular da obra

    habermasiana, em especial no que concerne

    s categorias de esfera pblica, para pensar o caso brasileiro, bem como (II) sua

    interpretao do cosmopolitismo habermasiano e da noo de esfera pblica

    internacional, luz da crtica ps-colonial.

    Em seguida, (III), procuraremos destacar

    alguns problemas da interpretao de Costa

    da obra de Habermas para a proposio

    normativa de uma democratizao no

    contexto brasileiro.

    (I) Centrada na discusso sobre a

    categoria de esfera pblica e nos debates

    concernentes sociedade civil e

    democracia deliberativa, Costa procura

    estabelecer, em As cores de Erclia, um

    dilogo com a obra de Habermas para

    refletir sobre a realidade sociopoltica

    brasileira e as possibilidades existentes para

    a constituio de um espao pblico ps-

    nacional. Assumindo como metfora a

    cidade de Erclia imaginada por talo

    Calvino em As cidades invisveis na qual os habitantes, para se comunicarem e

    orientarem a vida da cidade, estendiam fios

    de diferentes cores entre as arestas das casas

    , o autor ancora sua anlise principalmente nas formulaes habermasianas contidas em

    Mudana estrutural da esfera pblica

    (1962), na teoria dos dois nveis de

    sociedade apresentada em Teoria da Ao

    Comunicativa (1981) e em sua teoria

    discursiva da democracia, exposta

    principalmente em Direito e Democracia,

    entre Facticidade e Validade (1992).

    A discusso em torno da ideia de

    esfera pblica realizada por Habermas

    configura-se como o ponto de partida para

    que Costa desenvolva suas reflexes.12

    Ainda que discutida pela primeira vez de

    forma mais sistemtica em sua tese de livre-

    docncia, Mudana estrutural da esfera

    pblica, de 1962, a categoria de esfera pblica passar por uma srie de modificaes e revises com o passar dos

    anos.13

    No obstante essas reformulaes,

    possvel dizer que a esfera pblica

    habermasiana refere-se ao mundo do debate

    e da discusso livre sobre questes de

    interesse comum entre os cidados

    considerados iguais, poltica e moralmente.

    a arena por meio da qual a vontade

    coletiva processada e por onde se

    justificam as decises polticas,

    transformando-se, por conseguinte, em uma

    instituio constitutiva do mundo moderno.

    Ela pode ser percebida como uma rede de circulao de contedos e de tomadas de

    posio, guiadas pela racionalidade comunicativa, as quais so filtradas e sintetizadas, de sorte a constiturem

    opinies pblicas topicamente definidas. A esfera pblica no se refere, portanto, a

    uma topografia social especfica, mas diz

    respeito a um contexto de relaes difuso no

    qual se condensam trocas comunicativas

    geradas nos diversos espaos da vida social

    (Habermas, 1984, 1985, 1990, 1997).

    Em artigo com Leonardo Avritzer,

    intitulado Teoria crtica, democracia e esfera pblica: concepes e usos na

    Amrica Latina, Costa demonstra como a obra habermasiana com destaque para seu

    12

    Importa destacar que a reflexo de Costa sobre a

    esfera pblica se d em dilogo com outras

    proposies acerca do espao pblico, como aquela formulada por Hannah Arendt. Para uma discusso

    sobre os modelos de espao pblico, explorada por Costa, ver: Benhabib (1992). 13

    Para uma anlise sobre as transformaes da ideia

    de esfera pblica, ver: Calhoun (1992) e Maia (2007),

    alm dos trabalhos do prprio Habermas, que

    implicam na reformulao do conceito. Ver, entre

    outros, Habermas (1992).

  • 37

    conceito de esfera pblica desempenhou papel central no sentido da problematizao

    das chamadas teorias da transio democrtica representadas por autores como G. ODonnel, P. Schmitter e L. Whitehead que hegemonizaram, na dcada de 1980, as explicaes sobre o fim do

    autoritarismo no Brasil e na Amrica Latina

    (Avritzer e Costa, 2006). Segundo os

    autores, a bibliografia que aparece no Brasil

    na dcada de 1990, em dilogo direto com

    Habermas, logrou sucesso em enfatizar as

    limitaes destas teorias em decorrncia da

    homologia que estabeleciam em suas

    anlises, ainda que muitas vezes de forma

    subentendida, entre os processos de

    construo institucional e os de

    democratizao societria.

    De acordo com Avritzer e Costa, as

    pesquisas que apareceram nesse contexto

    passaram a afirmar que, pari passu ao

    processo de construo de instituies

    democrticas como eleies livres, parlamento ativo e a constituio da

    liberdade de imprensa se fazia necessria a anlise da incorporao de valores

    democrticos na prtica cotidiana para a

    vigncia da democracia (Avritzer, 1996).

    Dessa forma, as investigaes acerca da

    democratizao das sociedades perifricas

    deveriam expandir seu escopo, deixando de

    centrar-se somente nas instituies e nas

    elites polticas e passando a analisar as

    relaes que a sociedade estabelecia com o

    Estado e as instituies polticas (Costa,

    1994; Dagnino, 2002). Estes trabalhos

    tiveram sucesso em apontar para a

    necessidade do estudo dos novos atores

    sociais emergentes no contexto da

    democratizao como movimentos sociais, associaes de vizinhos, ONGs, etc. , conduzindo incorporao ao vocabulrio

    analtico de conceitos como esfera pblica, sociedade civil, subaltern counterpublics e new publics, que provinham no apenas das obras de

    Habermas, mas de outros autores, como Jean

    Cohen e Andrew Arato (1992) e Nancy

    Fraser (1992).

    Costa procura demonstrar, a partir do

    dilogo com a obra de Habermas, que as

    transformaes que ocorreram no Brasil

    recentemente, sobretudo a partir do final da

    dcada de 1970 e no decorrer dos anos 1980,

    levaram constituio de uma esfera pblica

    que, embora marcada pela

    instrumentalizao e manipulao simblica,

    vem possibilitando o estabelecimento de

    intercmbios discursivos, caracterizados pela busca de convencimento por meio da

    fora vinculante, de fundo moral ou

    cognitivo, dos argumentos (Costa, 2002, p.181). Para o autor, a construo desta

    esfera pblica constituda pelo espao pblico parlamentar-estatal, os meios de

    comunicao de massa, a sociedade civil e

    os espaos comunicativos primrios vem permitindo, desde o contexto da

    redemocratizao, que fluxos comunicativos

    originados nas diferentes rbitas sociais

    possam convergir para o mbito daquilo que

    se poderia chamar de uma esfera pblica

    nacional. De acordo com ele:

    As recentes transformaes da

    sociedade brasileira indicam a

    ocorrncia, desde a dbcle do

    regime militar, de um processo de

    formao de uma esfera pblica

    que, sob qualquer das ticas

    tericas, pode ser denominada de

    democrtica. Se se parte da nfase sobre a dimenso emprica de

    espao pblico, deve-se reconhecer

    que a multiplicao dos atores

    polticos e a difuso e diferenciao

    dos meios de comunicao de

    massa, que tm lugar ao longo da

    democratizao, constituem

    evidncias de que a esfera pblica

    brasileira cada vez mais se

    consolida como um sistema

    intermedirio capaz de absorver e

    processar temas e opinies dos

    segmentos sociais e culturais

    diversos, transmitindo aos cidados

    e ao sistema poltico os contedos

    informacionais processados (Costa,

    2002, p.79-80).

    Em dilogo com esta agenda de

    pesquisa, Costa tambm mobiliza em seus

    trabalhos os argumentos de Habermas para

    analisar a dinmica das esferas pblicas

  • 38

    locais mediante trabalho emprico e para se

    colocar criticamente a uma srie de estudos

    produzidos principalmente no mbito da

    comunicao social que apontam a esfera

    pblica brasileira como exclusivamente

    marcada pela manipulao, visto que

    controlada exclusivamente pelos atores mais poderosos da sociedade (2002, p.30). De acordo com ele, a esfera pblica que se

    constituiu no contexto da redemocratizao

    do pas, ainda que sustentada por controles e

    relaes assimtricas de poder, permitiu que,

    a partir da mobilizao da sociedade civil,

    diversas temticas alternativas ao status quo,

    como por exemplo aquelas crticas ao

    racismo, pudessem ser problematizadas e

    contestadas discursivamente em mbito

    nacional, acabando por perder parte de sua

    legitimidade natural. Segundo Costa, no contexto deste espao pblico brasileiro que

    as alianas internacionais antirracistas,

    tecidas pelos diversos movimentos sociais,

    ganham legitimidade, a partir da

    mobilizao de um conjunto diverso de

    segmentos portadores de reivindicaes,

    argumentos e posies contestatrias da

    ordem vigente.

    (II) Em sua obra Dois Atlnticos,

    Sergio Costa prossegue no debate com a

    obra habermasiana, aprofundando um tema

    que j apresentara em As cores de Erclia,

    mas que ganha maior sistematicidade neste

    trabalho, que diz respeito ao conceito de

    constelao ps-nacional, a partir do qual Habermas procura compreender os desafios

    colocados para a democracia em um

    contexto no qual o Estado nacional

    enfraquece sua capacidade de ao como

    decorrncia do adensamento de problemas

    que transcendem as fronteiras nacionais.

    Tanto em textos produzidos para a

    interveno no debate poltico conjuntural em especial seus posicionamentos em relao interveno da Organizao do

    Tratado do Atlntico Norte (OTAN) na

    antiga Iugoslvia em maro de 2009 e ao

    processo de unificao europeu , quanto em textos mais tericos, como A constelao ps-nacional, Habermas aponta

    as possibilidades existentes na ideia daquilo

    que define como sociedade mundial de

    cidados para a superao do dficit de integrao social no apenas no mbito da

    Unio Europeia, mas tambm no mbito

    mundial (Habermas, 2001).

    De acordo com Habermas, as

    possibilidades de vigncia da democracia

    neste novo contexto no podem depender

    exclusivamente da integrao sistmica via

    mercado e Estados nacionais, devendo haver

    em contrapartida uma integrao social

    transnacional, mediante a emergncia de um

    espao pblico poroso e a consolidao de

    meios de comunicao transnacionais, bem

    como de um sistema educacional que

    habilite os cidados ao multilinguismo.

    Apenas com cidados capacitados para

    buscar discursivamente a fundamentao

    racional das normas sociais, mobilizados por

    uma cultura poltica comum e ancorados em

    um conjunto de estruturas, instituies e

    procedimentos capazes de assegurar a

    articulao adequada entre as esferas sociais

    e sistmicas, nos termos de uma formao

    democrtica da opinio e da vontade, seria

    possvel que a democracia no sentido

    enftico da teoria discursiva pudesse

    prosperar.

    A Europa, de acordo com Habermas,

    encontraria condies para a superao do

    dficit de integrao social e de legitimidade

    democrtica, reconstituindo, por toda a

    Unio Europeia, equivalentes funcionais das esferas pblicas nacionais, as quais

    possibilitariam as condies culturais e

    institucionais para a reestruturao da

    solidariedade entre estranhos por toda a

    Europa e para a garantia da possibilidade de

    existncia de processos democrticos de

    validao das normas. Habermas aposta,

    portanto, na consolidao em mbito

    europeu de equivalentes funcionais das estruturas existentes nos contextos

    democrticos nacionais para promover a

    integrao social e poltica nesta conjuntura

    ps-nacional. J em relao aos pases no pertencentes Europa, marcados pela

    ausncia de Estados democrticos

    consolidados, Habermas defende a

    ampliao da frmula europeia dos direitos

    humanos para o interior de suas fronteiras,

    na medida em que estes no possuiriam uma

  • 39

    dimenso tico-poltica necessria para

    constituio de uma comunidade global.

    Tomando como base o diagnstico

    de Habermas sobre a dissociao entre os

    processos globais de integrao sistmica e

    o carter nacional das arenas de formao da

    opinio e da vontade poltica, Sergio Costa

    busca dialogar criticamente com a obra

    habermasiana sobre a globalizao da

    democracia e dos direitos humanos, tanto no

    mbito europeu, quanto mundial, para tratar

    de questes relacionadas aos problemas de

    legitimao do antirracismo transnacional,

    objeto de sua investigao na obra Dois

    Atlnticos. Em relao s concepes de

    Habermas sobre a integrao europeia,

    Costa destaca que, ao contrrio de uma

    esfera pblica internacional ou equivalentes funcionais para aquelas peas-chave do modelo comunicativo da democracia, este

    processo tem produzido uma multiplicidade de redes e espaos comunicativos

    transnacionais, desconectados uns dos

    outros (Costa, 2006, p.31), configurando um quadro marcado pela crescente

    segmentao e descentralizao dos fluxos

    comunicativos. Este processo tambm se

    verificaria no mbito da sociedade civil, no

    havendo qualquer indicao de que

    equivalentes funcionais a elas encontrem-se em processo de formao no mbito

    europeu. Ancorado em estudos empricos, o

    autor busca demonstrar que a existncia de

    um processo crescente de formao de

    culturas transnacionais setorializadas formadas por empresrios, fs de techno ou

    hip-hop, turistas etc. no induz a uma convergncia para a formao de uma

    cultura poltica europeia comum.

    J em relao concepo

    habermasiana da existncia de um

    equivalente funcional sociedade civil dos contextos nacionais em mbito mundial

    representadas pela sociedade mundial de cidados, que contribuiria sobremaneira para a expanso dos direitos humanos e da

    democracia para os pases fora do mundo

    europeu, as crticas de Costa so ainda mais

    duras. De acordo com o autor, a definio de

    Habermas da sociedade mundial de cidados, ancorada em foras identificadas

    com uma conscincia cosmopolita, estaria distante de se constituir como um conceito

    sociolgico, estando mais prxima a um guarda-chuva moral arbitrrio de aplicao

    ad hoc, conforme as convenincias e

    preferncias polticas do momento (Idem, p.33). Abarcando desde cidados

    cosmopolitas e governos democrticos at a

    OTAN, esta ampla aliana estaria legitimada

    previamente para a realizao de todas as

    aes tomadas como necessrias para a

    construo de uma ordem cosmopolita.

    Segundo Costa, alm de abrir

    possibilidades para toda sorte de

    intervenes tidas como humanitrias, esta sociedade mundial de cidados estaria permanentemente sob o risco da hegemonia

    das organizaes e movimentos sociais

    situados nos pases hegemnicos, que teriam

    a prioridade na definio dos temas, do repertrio de estratgias e das prioridades (Idem, p.34) de sua agenda, acabando por

    reproduzir no mbito da sociedade civil as

    hierarquias consolidadas entre os diferentes

    pases. Outro ponto crtico em relao

    proposta normativa habermasiana destacado

    pelo autor refere-se ao fato de que, ao

    contrrio do que pressupunha sua teoria de

    democracia circunscrita esfera nacional na qual a legitimidade poltica estaria

    ancorada no conjunto de procedimentos

    capazes de permitir a problematizao dos

    temas levantados pela sociedade civil , a sociedade mundial de cidados j possuiria por si s uma legitimao

    imanente, com todos os riscos da advindos

    para a construo de uma ordem

    democrtica ps-nacional.

    Por fim, vale destacar aqui a censura

    que Costa faz concepo de direitos

    humanos contida na obra de Habermas. Seu

    argumento central, sustentado nas

    discusses trazidas pela crtica ps-colonial,

    ancora-se na problematizao da concepo

    antinmica habermasiana, que coloca de um

    lado, um centro da sociedade mundial,

    como precursor e difusor dos direitos humanos e, de outro, o resto do mundo, receptor dos ideais universalistas europeus (Idem: 37). Costa levanta trs nveis de

    objeo a esta concepo: (1) em relao

  • 40

    abstrao existente na obra de Habermas

    quanto existncia de mecanismos de poder

    que operam na produo dos discursos sobre

    direitos humanos, em decorrncia da

    influncia dos pases hegemnicos e do

    complexo industrial-militar para a definio

    das intervenes humanitrias; (2) em relao teleologia da histria presente

    nesta concepo, que acaba por assumir

    acriticamente os pases europeus como

    reservatrio de valores, instituies e formas

    de vida que acabaro por serem expandidas

    para outros pases retardatrios; (3) em relao teoria da democracia que sustenta

    esta argumentao, na medida em que a ideia dos direitos humanos como

    procedimento, quando transposta para a

    poltica mundial, parece perder sua

    consistncia (Idem, p.43). (III) No obstante as qualidades e

    potencialidades existentes na leitura que Sergio Costa faz de Habermas, possvel

    levantarmos algumas limitaes mesma.

    Em primeiro lugar, no que tange

    propriamente discusso sobre a esfera

    pblica e a sociedade civil no Brasil, Costa

    trabalha com a ideia segundo a qual estas

    apenas teriam se constitudo no pas no

    contexto da redemocratizao. Esta

    concepo est presente no apenas nas

    formulaes do autor ora em anlise, mas

    nos trabalhos de outros cientistas sociais

    dedicados ao tema (Avritzer, 1996;

    Dagnino, 2002). Ainda que avancem no

    sentido de diagnosticar a existncia de um

    espao pblico e de uma sociedade civil

    atuante nas dcadas de 1970 e 1980, estas

    produes padecem de uma abordagem

    histrica mais consistente, o que as conduz a

    reiterar a tese de um certo insolidarismo pretrito redemocratizao na nossa

    sociedade, sobretudo quando comparada

    com o mundo europeu e norte-americano

    (Alonso, 2011; Perlatto, 2011).

    Diversas pesquisas historiogrficas

    recentes vm procurando demonstrar que

    desde o Imprio, passando pela Primeira

    Repblica e atravessando o sculo XX, a

    sociedade civil tem se organizado para alm

    das estruturas formais de poder. Uma forma

    de organizao difusa que se manifestava

    desde a constituio de associaes

    abolicionistas no final do sculo XIX e

    associaes operrias no comeo da

    Primeira Repblica, passando pelas

    irmandades religiosas formadas pelos negros

    ao longo do XIX se articulou e buscou constituir um lugar diferente de fala.

    Naturalmente, essas formas de organizao

    no assumiram as caractersticas dos

    mecanismos associativos idnticos ao

    mundo europeu, mas isso no quer dizer que

    no existiam. Ao identificar a constituio

    da esfera pblica e da sociedade civil no pas

    apenas com o perodo do fim do regime

    militar, a interpretao de Costa peca

    justamente por tomar como modelo tpico de

    organizao aquele proveniente do mundo

    europeu.

    J em sua leitura crtica do

    cosmopolitismo de Habermas, Costa erra em sentido oposto. Ao denunciar os reais

    riscos do eurocentrismo presentes nas

    formulaes habermasianas sobre a

    sociedade mundial de cidados, o autor, assim como parte significativa da crtica

    ps-colonial sobre a qual ele se apoia na

    construo de seu argumento, passa do

    ponto e exagera na denncia da mesma,

    como se todas as formulaes vindas do

    centro, inclusive dos movimentos sociais l residentes, fossem necessariamente

    imperialistas e aquelas vindas da periferia fossem naturalmente virtuosas. Buscando criticar a reificao do centro, Costa acaba por reificar a periferia. Obviamente que as propostas cosmopolitas

    provenientes dos pases centrais devam ser

    problematizadas e criticadas, inclusive pelo

    carter excludente e opressivo que vm

    assumindo em determinados contextos.

    Contudo, parece um erro denunci-la in toto,

    e no perceber, como faz Habermas, os

    potenciais emancipatrios contidos nas

    mesmas.

    Consideraes finais

    Em artigo intitulado Weber e a interpretao do Brasil, Luiz Werneck Vianna afirma que a maturidade de uma

    universidade, sobretudo em uma situao

  • 41

    perifrica, pode ser indicada pela sua capacidade de apropriar-se do pensamento

    clssico, e, de modo ainda mais seguro,

    quando a interpelao aos fundadores de

    uma certa tradio disciplinar no se limita

    s tradues, mas pretende, por esforo

    prprio, estabelecer o sentido da sua obra (Werneck Vianna, 1999, p.173). Podemos

    estender esta afirmao para pensarmos

    acerca das leituras que vm sendo realizadas

    dos clssicos da teoria sociolgica contempornea. No apenas a mera

    apropriao de autores como Habermas,

    Bourdieu, Giddens e Luhmann, mas tambm

    a interpretao de suas obras para pensar a

    realidade brasileira, dialogando, criticando e

    reinterpretando conceitos e categorias para a

    compreenso da nossa realidade social,

    podem ser parmetros importantes para

    avaliarmos a qualidade da situao em que

    se encontra a teoria sociolgica e poltica

    nacional.

    Ao centrarmos a discusso no

    presente artigo sobre alguns importantes

    socilogos brasileiros Jess Souza e Sergio Costa buscando compreender suas apropriaes e leituras da obra de Habermas,

    percebemos que, apesar dos vrios

    problemas e lacunas, seus trabalhos

    oferecem possibilidades e abrem novos

    caminhos para pensarmos o Brasil

    dialogando com e contra as categorias

    habermasianas. Podemos perceber, portanto,

    que importantes cientistas sociais brasileiros

    tm levado em considerao a formulao

    de Jos Eisenberg (2003, p.26) segundo a

    qual a reflexo sobre os desafios do projeto

    da modernidade devem partir do dilogo

    com esta espcie de papa laico da modernidade, tomando-o como ponto de partida para uma reflexo que busca superar

    os limites da sua teoria, tanto da lgica

    interna de seus argumentos quanto da

    aplicabilidade de seu modelo para os

    mltiplos contextos da modernidade

    contempornea. Importa observar que a anlise

    realizada neste trabalho sobre os modos de

    usar Habermas no Brasil insere-se em uma

    preocupao maior acerca das relaes de

    dilogo e conexes que so estabelecidas

    entre as cincias sociais dos pases

    perifricos e aquelas dos pases centrais. No obstante a existncia de diversos

    problemas nas formulaes dos autores aqui

    analisados, possvel dizer que este dilogo

    no se d de forma passiva e inerte, isto ,

    orientado por uma absoro acrtica na

    periferia da reflexo proveniente do centro. Habermas , na maior parte dos casos, lido a partir de uma perspectiva

    crtica e problematizadora, em um exerccio

    de interpretao que busca dialogar com

    suas ideias para pensar com e contra elas e,

    fundamentalmente, para refletir sobre a

    modernidade e a democracia no Brasil.

    A vasta obra de Habermas coloca-se,

    dessa maneira, como um ponto de partida

    fundamental para se refletir criticamente da

    periferia acerca das variadas questes colocadas na conjuntura poltica e social

    contempornea. Se o repto posto na

    atualidade diz respeito necessidade da

    renovao da teoria crtica que tem se mostrado incapaz de dar conta de responder

    aos desafios para a democracia e s novas

    configuraes globais desiguais do

    capitalismo contemporneo , a obra de Habermas e seus diferentes modos de usar

    no Brasil merecem uma maior ateno para

    que, em um dilogo crtico com as mesmas,

    seja possvel avanar no sentido da

    formulao de alternativas que, sem abdicar

    do projeto da modernidade, impliquem o

    aprofundamento radical de suas promessas,

    inclusive, com inovaes tericas e prticas

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