globalizaÇÃo e especializaÇÃo produtiva regional: uma abordagem sobre o agronegÓcio cafeeiro na...
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O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma abordagem sobre o desenvolvimento do agronegócio do café na região do Sul de Minas no atual cenário da globalização econômica e dos efeitos da especialização produtiva regional. A modernização da atividade agrícola fez com que este espaço se tornasse competitivo para a produção e exportação de café, tendo o agronegócio como expoente e destaque em sua economia.TRANSCRIPT
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Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional
Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013
GLOBALIZAO E ESPECIALIZAO PRODUTIVA REGIONAL: UMA
ABORDAGEM SOBRE O AGRONEGCIO CAFEEIRO NA REGIO COMPETITIVA DO SUL DE MINAS
Henrique Faria dos Santos1
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma abordagem sobre o desenvolvimento do agronegcio do caf na regio do Sul de Minas no atual cenrio da globalizao econmica e dos efeitos da especializao produtiva regional. A modernizao da atividade agrcola fez com que este espao se tornasse competitivo para a produo e exportao de caf, tendo o agronegcio como expoente e destaque em sua economia. Tal fato ocorre juntamente com as recentes mudanas da agricultura brasileira, a partir da integrao das atividades agrcolas com a indstria e com os capitais comerciais e financeiros, nos quais espaos rurais e urbanos tendem a ser estruturados ou reestruturados para se adaptarem a nova condio econmica. A constituio de municpios funcionais a produo moderna do caf um dos fatores mais evidentes, cujas mudanas histricas se processaram em virtude das novas relaes campo-cidade resultantes da intensa tecnificao das atividades agrcolas. A partir de anlises e discusses acerca das transformaes da dinmica territorial, o estudo contempla exemplos locais de alguns processos que vem ocorrendo com esta nova realidade produtiva. Palavras chaves: globalizao; modernizao da agricultura; especializao produtiva regional; regio competitiva; circuito espacial produtivo do caf.
Introduo
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma abordagem sobre o
desenvolvimento do agronegcio do caf na regio do Sul de Minas no atual cenrio da
globalizao econmica, a partir de alguns conceitos empregados na Geografia Econmica e
Geografia Agrria. Os estudos se pautam nos principais impactos da modernizao da agricultura
e nas transformaes verificadas a partir das novas dinmicas territoriais dentro do atual perodo
do meio tcnico-cientfico-informacional (SANTOS, 2008b), que tem o poder de impor novos
modelos de produo e promover a especializao produtiva de lugares ou regies.
1 Licenciado em Geografia e graduando Geografia Bacharelado, Membro pesquisador do Grupo de Estudos Regionais e Socioespaciais GERES. Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG) [email protected]
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A partir do potencial dos lugares para determinada forma de produo agropecuria,
grandes investimentos em capital e tecnologia so empregadas nas diversas atividades do
segmento, resultando na modernizao do arranjo produtivo local e tornando tal ponto do territrio
comumente competitivo, com grande capacidade de atender as demandas de consumo do
mercado internacional. Este fato ocorre explicitamente na regio do Sul de Minas, cuja vocao se
volta para a produo e exportao de caf. Desde 1970, esta rea do territrio vem sendo
constantemente transformada, com a concentrao de diversos sistemas tcnicos e normativos
que tem o intuito de tornar eficiente a produo e a logstica do segmento cafeeiro. Assim, todas
as etapas do circuito espacial produtivo do caf, como a pesquisa, a produo e fornecimento de
insumos e implementos agrcolas, produo da matria prima, comercializao, beneficiamento,
armazenagem, transporte, importao e exportao e consumo final, so profundamente
organizadas e articuladas, tornando fluido os elementos materiais e imateriais da produo
(SANTOS, 2012).
Este contexto ocorre concomitantemente com as recentes mudanas da agricultura
brasileira, a partir da integrao das atividades agrcolas com indstria e com os capitais
comerciais e financeiros, nos quais espaos rurais e urbanos tendem a ser estruturados ou
reestruturados para se adaptarem a nova condio econmica (SILVEIRA, 2007). Tal fato faz
surgir inmeros municpios que se mostram funcionais produo agrcola, com algumas
caractersticas prprias, consideradas no como fator de regra, mas possvel de serem analisadas
a partir do contexto regional abordado. Neste sentido, possvel reconhecer vrios municpios na
regio do Sul de Minas que servem de aporte produtivo e/ou logstico e comercial da produo
cafeeira, como o caso de Alfenas MG e Machado MG, exemplificados numa breve anlise
de suas caractersticas socioeconmicas vinculadas aos aspectos do agronegcio.
A metodologia empregada para a elaborao dos trabalhos de pesquisas consistiram na
realizao de levantamento bibliogrfico, leituras e fichamentos de textos (livros, artigos,
dissertaes e teses) relacionados a teorias da geografia agrria e regional, ao agronegcio do
caf, as desigualdades no espao agrrio, as cidades do agronegcio e as relaes cidade-
campo; tendo como fontes de pesquisa a biblioteca da UNIFAL - MG, bibliotecas virtuais de teses
e dissertaes de universidades brasileiras, especialmente as da USP, Unicamp e UNESP, e
artigos disponveis em stios e revistas eletrnicas na internet. Alm disso, se fez necessrio, para
melhor analisar as discusses, levantamento e interpretao de dados em diversos sites
governamentais, como IBGE, Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, Secretaria de
Agricultura, Pecuria e Abastecimento de Minas Gerais, Ministrio do Desenvolvimento, Indstria
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e Comrcio Exterior, Ministrio do Trabalho de Emprego, Banco Central do Brasil, entre outros;
respeito sobre produo e comrcio do caf, dados demogrficos e de mercado de trabalho,
cursos de nvel tcnico e superior, etc. O trabalho contempla tambm a apresentao de alguns
resultados de pesquisas de iniciao cientfica realizadas durante a graduao em Geografia, que
tratou sobre as anlises de Alfenas MG e Machado MG como importantes municpios
produtores de caf no Sul de Minas.
A especializao produtiva regional no atual perodo tcnico-cientfico-
informacional
O processo de especializao dos lugares ou dos espaos tem se intensificado nos ltimos
anos devido s conseqncias do fenmeno da globalizao, cujos atores desta nova poca
ocupam, usam e transformam os diversos espaos geogrficos, principalmente em detrimento dos
interesses do capital aplicado. Segundo Milton Santos e Maria Silveira (2001, p. 105), graas aos
progressos da cincia e da tcnica e circulao de informaes, geram-se as condies
materiais e imateriais para aumentar a especializao do trabalho nos lugares. Cada ponto do
territrio modernizado chamado a oferecer aptides especficas produo.
Essa nova condio dos espaos est inserida dentro da poca na qual Milton Santos
(1997b, p. 45) chama de perodo tcnico-cientfico-informacional, a qual se caracteriza pela
presena constante dos sistemas tcnicos de produo, da cincia, que aprimoram as tcnicas, e
da informao, responsvel pelo avano das tcnicas e da cincia e da maior fluidez e controle
dos territrios por meio das aes. Tal fato precede na facilidade e necessidade de especializar
territrios para a produo a fim de atender mais eficientemente as demandas do mercado
mundial, ao mesmo tempo que determinadas regies se tornam espaos internacionalizados.
A natureza deste espao funcional se baseia em elementos materiais e imateriais, que
capacitam estes lugares a desenvolverem e a realizarem de forma eficiente os processos
produtivos. Santos (1996a, p. 63) nos explica que o espao formado por um conjunto
indissocivel, solidrio e tambm contraditrio, de sistemas de objetos e sistemas de aes, no
considerados isoladamente, mas como o quadro nico no qual a histria se d. Os objetos como
sendo parte dos elementos materiais, ou seja, objetos criados e fabricados pelo homem, fixados
em cada lugar; enquanto aes como parte dos elementos imateriais, ou seja, o conjunto de
normatizaes e leis que controlam e criam novos objetos, atravs de fluxos materiais e
informacionais diversos.
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Tal realidade bem vista nos espaos que desenvolvem a atividade do agronegcio, onde
os objetos ou fixos so todos os meios de produo envolvidos, como as fazendas, armazns,
beneficiadoras, maquinrios, implementos, insumos, sistemas de transportes e comunicao,
sistema de eletrificao, empresas de assistncia tcnica e financeira, instituies de pesquisa,
cidades adaptadas ao ramo agrcola, etc.; enquanto as aes dizem respeito a todo aporte
normativo e regulatrio desses meios de produo, constitudos por contedo informacional e
cientfico existente, envolvendo os modos de produo, as atividades de comercializao e
logstica, as operaes bancrias, as exigncias e apoios de governos, empresas e
consumidores, etc.
Assim, na medida em que se intensificam as ocorrncias destas dinmicas, mais estes
espaos vo se tornando fludos e tecnicamente artificializados, dotados de grande potencial
produtivo e comumente competitivo. E esta fluidez espacial um dos fatores mais importantes
para gerar competitividade a um lugar, pois como diz Milton Santos (1996a, p. 275), no basta,
pois, produzir. indispensvel pr a produo em movimento. Em realidade, no mais a produo
que preside circulao, mas esta que conforma a produo.
Neste sentido, Mller (1989) nos revela a importncia e os efeitos desta condio dos
lugares para a revoluo do espao agrcola ou rural:
A circulao em geral, o comrcio e as comunicaes, revolucionadas pela acumulao de capital, aumentam a dependncia da agricultura. A aplicao das conquistas da cincia moderna na agricultura provoca uma revoluo na organizao rural, suprimindo o divrcio entre agricultura e indstria. Em outras palavras, o capital se apodera da agricultura, inicialmente, pelas vias de circulao, e, posteriormente, revolucionando seu modo de produzir (MULLER, 1989, p. 27).
Estas mudanas so afirmadas tambm, de modo contundente, por Silveira (2007) dentro
do mbito da agricultura no pas, quando diz que a agricultura brasileira tem experimentado, nas
ltimas trs dcadas, um intenso processo de transformao, a partir da globalizao da
economia. Este fato tem sido um vetor importante de mudanas, na medida em que tem levado
reestruturao produtiva, especialmente daqueles cultivos direcionados exportao. Sobre estas
transformaes, o autor nos menciona que:
Essa reestruturao tem significado a fragmentao e a crescente especializao dos espaos agrcolas, a promoo de inmeras inovaes no processo produtivo e de alteraes nas relaes sociais de produo, bem como a adoo de um crescente e seletivo contedo tcnico-cientfico, informacional e normativa nas atividades do setor. Essas mudanas tm sido possibilitadas, principalmente, por meio da ampliao da industrializao da agricultura e da
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integrao de capitais (agrrio, comercial, industrial e financeiro), atravs da criao e consolidao, nesse perodo, dos chamados complexos agroindustriais (CAIs)
2 (SILVEIRA, 2007, p. 215).
Esses novos espaos, qualificados ou requalificados, se constituem, segundo Ricardo
Castilho (2008) como regies competitivas. Apoiado em Santos (1997b), o autor nos menciona
que o conceito de regio competitiva deriva diretamente da idia de coeso regional decorrente
de vetores externos e fundamentados em arranjos organizacionais. Trata-se de um
compartimento geogrfico caracterizado pela especializao produtiva obediente a parmetros
externos (em geral internacionais) de qualidade e custos. Assim, a competitividade se estabelece
na regio por ser esta funcional aos mercados internacionais, na forma como bem explica
Castilho:
A competitividade deixa de ser apenas um atributo das empresas e passa tambm a se expressar em fraes do espao (atravs de intervenes materiais e densidades normativas), organizadas para produzir de forma obediente aos parmetros de qualidade e custos estabelecidos pelos mercados internacionais. Essas regies, preferencialmente, so as que atraem os investimentos pblicos e privados, transformando grandes pores do territrio em reas de excluso (CASTILHO, 2008, p. 8).
Nas regies de produo especializada, a competitividade possvel por meio de uma
eficincia imprescindvel da logstica, que passou a ser um dos pontos centrais do ordenamento
dos movimentos que perpassam os diversos circuitos espaciais produtivos (FREDERICO, 2009a,
p. 5). A logstica, neste vis, denominada por Castilho como:
o conjunto de competncias infra-estruturais (transportes, armazns, terminais intermodais, portos secos, centros de distribuio, etc.), institucionais (normas, tributao, etc.) e estratgicas/operacionais (conhecimento especializado detido por prestadoras de servios ou operadores logsticos), que reunidas numa dada regio, conferem competitividade aos agentes econmicos e aos circuitos espaciais produtivos (CASTILHO, 2008, p 9).
No Brasil, so vrias as regies especializadas na produo e exportao de caf e, por
tanto, competitivas no mercado. So reas onde prevalecem fatores como o domnio de uma
agricultura moderna e de um sistema logstico altamente eficiente, complementadas por um
2 De acordo com Mller (1989, p. 45), o conceito de CAI semelhante ao do agronegcio (ou agribusiness)
e, portanto, possui as mesmas atividades. Segundo ele, o complexo agroindustrial, CAI, pode ser definido como um conjunto formado pela sucesso de atividades vinculadas produo e transformao de produtos agropecurios e florestais. Atividades tais como: a gerao destes produtos, seu beneficiamento/transformao e a produo de bens de capital e de insumos industriais para as atividades agrcolas; ainda: a coleta, a armazenagem, o transporte, a distribuio dos produtos industriais e agrcolas; e ainda mais: o financiamento, pesquisa e a tecnologia, e a assistncia tcnica.
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conjunto de fatores produtivos que so responsveis pela constituio do agronegcio
globalizado. De acordo com Frederico (2009):
no territrio brasileiro existem diversos exemplos de constituio de regies competitivas. Os casos mais emblemticos so as grandes regies produtoras de commodities agrcolas e minerais. O destino exportao da maioria da produo, a presena de firmas transnacionais, a criao de sistemas tcnicos e normativos com o intuito de viabilizar a produo, a especializao funcional das cidades locais so caractersticas comuns presentes na maioria dessas regies (FREDERICO, 2009a, p. 5).
No caso do caf, vrias regies do Brasil so competitivas por serem altamente
especializadas neste ramo de produo, contando desde a qualidade das lavouras, as formas de
colheitas e beneficiamentos at as formas de escoamento, comercializao e melhoramento dos
aportes que constituem o circuito produtivo, como o caso da regio do Sul de Minas.
O seu potencial produtivo justificado pela concentrao de diversos sistemas tcnicos e
normativos com o intuito de tornar eficiente a produo e a logstica do segmento cafeeiro,
constitudo de vrias competncias infraestruturais (sistemas de transporte, de armazenamento e
de comunicao), institucionais (criao de Estaes Aduaneiras do Interior, Recintos
Exportadores, associaes de produtores, selos de denominao de origem, cooperativas,
incentivos fiscais, leis de desonerao das exportaes, incentivos governamentais para
produo, acordos e realizao de pesquisas em instituies e empresas) e estratgico-
operacionais (conhecimento tcnico sobre a produo, presena de operadores logsticos e
transportadores especializados no transporte do caf) que do competitividade ao circuito espacial
produtivo do caf e, conseqentemente, aos seus principais agentes econmicos (FREDERICO,
2009, p. 2). Alm dessa reunio de fatores importantes, as condies naturais para plantio da
lavoura, relacionados ao clima, aos solos e ao relevo propcio, se torna extremamente importante
para determinar a especializao do Sul de Minas como a maior regio produtora de caf do pas.
Estudando o conceito de agronegcio, percebe-se que deriva de uma atividade de grande
complexidade e que envolve diversos agentes, que atuam em vrios setores econmicos.
Segundo Pizzolatti (2004, p.1), agribusiness um sistema integrado; uma cadeia de negcios,
pesquisa, estudos, cincia, tecnologia, etc., desde a origem vegetal/animal at produtos finais com
valor agregado, no setor de alimentos, fibras, energia, txtil, bebidas, couro e outros. Sobre a
origem do termo agribusiness, Silveira (2007) explica que:
Uma primeira formulao conceitual a idia de agribusiness (ou agronegcio) elaborada pelos norte americanos Davis e Goldberg em 1957, no qual seria a
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totalidade das atividades referentes o processamento e distribuio de insumos agrcolas, produo agrcola realizada nas propriedades rurais e ao armazenamento, processamento e distribuio dos produtos agrcolas e seus derivados (SILVEIRA, 2007, p. 218).
Segundo o mesmo autor (2007) o sistema agroindustrial constitudo por quatro
segmentos: o segmento de produo de insumos e servios montante da atividade agropecuria
(crdito, assistncia tcnica, mquinas e equipamentos, insumos); de produo agropecuria das
matrias primas; de beneficiamento e de transformao industrial das matrias primas a jusante
da sua produo; e o de comercializao e distribuio dos produtos finais.
Assim, nos espaos aonde as atividades da cadeia produtiva se encontram sobremaneira
organizada, articulada e modernizada, a competitividade econmica possibilita uma maior
integrao com o sistema exterior e abre portas para constantes investimentos do capital em
setores como o de produo, industrializao e comercializao do caf. Tal contexto pode ser
bem observado na regio competitiva do Sul de Minas, cujo segmento cafeeiro estritamente
vinculado aos ditames do mercado internacional, atravs de vrias empresas do ramo.
A importncia do agronegcio do caf para o Brasil e para a regio do Sul de Minas
O Brasil participa no mercado mundial como o maior produtor e exportador de caf. Sua
produo corresponde em mdia a 35% da produo mundial, produzindo anualmente pouco mais
de 45 milhes de sacas de 60 Kg. Desse montante, 60% dos gros so destinados exportao,
sendo o pas responsvel por 30% das exportaes mundiais. Os maiores importadores do caf
brasileiro so principalmente os pases desenvolvidos, como a os Alemanha, Estados Unidos,
Itlia e Japo, respectivamente (MINISTRIO DA AGRICULTURA, PECURIA E
ABASTECIMENTO, 2012a).
Em 2011, o Brasil colheu 50,8 milhes sacas de 60 Kg (35,2% da produo mundial) e
exportou mais de 28,7 milhes de sacas (27,2% das exportaes mundiais do produto), ficando
bem a frente da participao do segundo maior produtor e exportador do planeta, o Vietnan, que
participou com aproximadamente 15% da produo e 17% do total das exportaes mundiais de
caf. Alm disso, o agronegcio cafeeiro participa com 6,7% das exportaes totais de produtos
agropecurios do pas. H 11 regies e 1.850 municpios envolvidos na cafeicultura brasileira, que
ocupa 2 milhes de hectares plantados, com aproximadamente 8 bilhes de ps pouco mais da
metade s no Estado de Minas Gerais (ANURIO BRASILEIRO DO CAF, 2012).
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O desempenho da economia cafeeira pode ser medido atravs da expanso da produo
e da produtividade de caf no pas e do aumento da participao das exportaes brasileiras no
mercado mundial nos ltimos 12 anos. Em 2000, o Brasil s produzia 31,1 milhes de caf, com
uma produtividade de 15,7 sacas por hectare, contribuindo com 20,3% do total das exportaes
mundiais de caf. Parte deste crescimento se deve, principalmente, pelo aumento do repasse de
recursos oriundos do Funcaf (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira) para custear despesas
como o de financiamentos, pesquisas, publicidade e promoo dos cafs pelo pas. O oramento
aprovado para este fim passou de 746 milhes de reais em 2000 para 2,8 bilhes em 2012,
contribuindo, assim, para a expanso dos processos produtivos (plantao e manuteno de
lavouras, colheitas, beneficiamentos, armazenamento e transporte); do comrcio cafeeiro, das
pesquisas e desenvolvimento do setor, entre outras atividades (MINISTRIO DA AGRICULTURA,
PECURIA E ABASTECIMENTO, 2012b).
Na regio do Sul de Minas, o agronegcio cafeeiro a principal atividade agropecuria e
se destaca por produzir cafs de tima qualidade e voltados para exportao. Desde a dcada de
1970, quando houve a decadncia da produo de caf no estado de So Paulo e Paran, o
estado de Minas Gerais passou a produzir a maior quantidade de caf no Brasil, respondendo por
mais de 50% de toda a produo e do parque cafeeiro nacional, e o Sul de Minas, se tornou a
principal regio brasileira produtora de caf, representando a metade da produo mineira e um
quarto da produo nacional (ANURIO BRASILEIRO DO CAF, 2012).
Nas exportaes do agronegcio brasileiro, Minas Gerais teve uma participao de 10%,
gerando uma receita de U$ 9,7 bilhes, montante que representou 23,4% do total das exportaes
gerais do estado. Neste comrcio, o caf participou 60%, somando mais de US$ 5,8 bilhes de
dlares em 2011 (66,5% do total das exportaes brasileiras de caf). Entretanto, a regio do Sul
de Minas, em comparao com as outras regies mineiras, contribuiu com a maior parte das
exportaes agropecurias do estado (participao de 50,7% e gerao de US$ 4,7 bilhes),
tendo o caf e derivados como os principais produtos de comercializao, destinadas
principalmente para Alemanha (22,4%), EUA (22,2%), Japo (9,9%), Itlia (9,6%) e Blgica (8,2%)
(SECRETARIA DE ESTADO DE AGRICULTURA, PECURIA E ABASTECIMENTO DE MINAS
GERAIS, 2011).
Em 2011, a regio produziu mais de 13,7 milhes de sacas de caf de 60 Kg (27% do total
produzido no pas), ou seja, metade da produo do estado de Minas Gerais (26,6 milhes de
sacas) e mais que a produo do segundo maior estado produtor do pas (Esprito Santo, com
12,5 milhes de sacas). O Sul de Minas conta tambm com a maior rea de produo de caf,
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cujo parque cafeeiro totaliza 620.782 ha de lavouras (26,6% do total de rea cafeeira do pas)
como se pode observar na tabela 1. De acordo com dados do IBGE, a cultura de caf ocupa mais
da metade do total das lavouras agrcolas da regio (figura 1), evidenciando a sobremacia da
atividade para a economia do Sul de Minas.
Tabela 1 - Produo de caf e rea plantada por regies mineiras e principais estados produtores em 2011.
UF/REGIO
Produo
(mil sacas beneficiadas)
rea plantada
(em hectares)
Minas Gerais 26.944 1.028.425
Sul e Centro-Oeste 13.792 518.082
Cerrado 6.231 168.463
Zona da Mata 6.921 341.880
Esprito Santo 12.502 450.128
So Paulo 5.357 175.137
Paran 1.580 67.177
Bahia 2.150 138.213
Rondnia 1.367 125.667
Mato Grosso 124 21.028
Gois 247 6.320
Par 167 10.249
Rio de Janeiro 262 13.325
Outros 126 14.169
BRASIL 50.826 2.049.838
Fonte: Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, 2012a.
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Figura 1 - Participao das principais culturas na rea das lavouras agrcolas na regio do Sul de Minas em 2011. Fonte: SIDRA Sistema IBGE de Recuperao Automtica, 2013.
Constituio de municpios funcionais a produo cafeeira no Sul de Minas
No Brasil, a reestruturao produtiva da agropecuria tem promovido profundos impactos
socioespaciais, quer no campo, quer nas cidades. Isto explica em parte a reestruturao do
territrio e a organizao de um novo sistema urbano, muito mais complexo, resultado da difuso
da agricultura cientfica e do agronegcio globalizado, que tm poder de impor especializaes
produtivas ao territrio.
Como mencionado anteriormente, as regies competitivas so dotadas de fatores e
condies especiais que conferem s atividades produtivas, engajadas na modernidade, uma
maior eficincia nas formas de produo e de circulao, por meio da insero de atores que
transformam os espaos com a aplicao de capital e seus respectivos produtos de
desenvolvimento: tcnica, cincia e informao. Com a existncia desses novos fatores, ocorre
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uma intensa estruturao de reas recentemente ocupadas e utilizadas ou uma reestruturao de
reas que h algum tempo j desenvolvem alguma forma de uso.
Este processo, ento, ocorre tanto no meio rural, com a entrada de sofisticadas tcnicas de
produo, como maquinrios, insumos e implementos agrcolas, tecnologia em produo de
sementes e nas diversas etapas de plantio, colheita e beneficiamento, etc.; quanto no meio
urbano, com a presena de uma rede de servios e sistemas de armazenagem, de
comercializao, de assistncia tcnica, de produo e vendas de insumos e implementos
agrcolas, de financiamentos, etc. Caractersticas que beneficiam o arranjo produtivo local e que
oferecem vantagens e maior eficincia regio a qual determinada atividade produtiva esta
instalada. Assim, as relaes que mais se alteram com a agricultura moderna so os vnculos, as
funes e o uso do espao urbano e do campo. Sobre isto, Santos (1997b) nos menciona que:
Cincia, tecnologia e informao fazem parte dos afazeres cotidianos do campo modernizado, atravs das sementes especializadas, da correo e fertilizao do solo, da proteo das plantas pelos inseticidas, da superimposio de um calendrio agrcola inteiramente novo, fundado na informao, o que leva para as cidades mdias do interior um coeficiente de modernidade. No raro, maior que o da metrpole (SANTOS, 1997b, p. 41).
Neste contexto, Denise Elias (2007) nos explica que o agronegcio globalizado promove o
processo de urbanizao e de crescimento das reas urbanas, principalmente das cidades mdias
e locais, cujos vnculos principais se devem s inter-relaes cada vez maiores entre o campo e a
cidade, fortalecendo-as seja em termos demogrficos ou econmicos. Assim, na cidade que se
realizam a regulao, a gesto e a normatizao das transformaes verificadas nos pontos
luminosos do espao agrcola (ELIAS, 2007, p. 115).
A partir disto, Frederico (2009b, p. 4) nos aponta que quanto maior a especializao
produtiva do campo e seu respectivo contedo em cincia e informao, maior sero a
urbanizao e a inter-relao entre o campo e a cidade. Os ncleos urbanos surgidos ou
adaptados demanda do campo moderno so denominados, por Elias (2007, p.120), de cidades
do agronegcio. Estas so aquelas cujas funes de atendimento s demandas do agronegcio
globalizado so hegemnicas sobre as demais funes. Sobre a constituio das cidades do
agronegcio, a autora nos explica que:
A produo agrcola e agroindustrial intensiva exige que as cidades prximas ao campo se adaptem para atender s suas principais demandas, convertendo-as no seu laboratrio, em virtude de fornecerem a
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grande maioria dos aportes tcnicos, financeiros, jurdicos, de mo-de-obra e de todos os demais produtos e servios necessrios sua realizao. Quanto mais modernas se tornam essas atividades, mais urbana se torna sua regulao (ELIAS, 2007, p. 118).
No caso da regio do Sul de Minas, presenciamos que grande parte dos municpios
produtores de caf com meios urbanos adaptados ao campo moderno possuem como principais
atividades econmicas uma complexa rede de servios que servem tanto para o atendimento das
demandas da cafeicultura quanto para outros setores da economia, nos quais incluem as vrias
funes associadas as necessidades da populao local. Entretanto, quando analisamos o
comrcio destes municpios, bem como a circulao de cargas, movimentao de trabalhadores
rurais e outros fatores, observamos a hegemonia do caf como grande propulsora de
desenvolvimento local, tornando-se em vrios municpios como atividade de destaque. Alguns
municpios se encarregam ou se especializam na produo. Outras tendem a realizar a parte da
produo e/ou da comercializao, em razo da presena de empresas voltadas para exportao,
como a Cooxup (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxup Ltda.), a Outspam Brasil
Importao e Exportao Ltda. e a Sara Lee Cafs do Brasil Ltda.
As tabelas 2 e 3 mostram os principais municpios produtores de caf no estado de Minas
Gerais e na regio do Sul de Minas.
Tabela 2 - Ranking dos 20 maiores municpios produtores de caf do estado de Minas Gerais em 2011.
Posio Municpio Produo de caf (em toneladas)
1 Patrocnio - MG 31.435
2 Trs Pontas - MG 27.750
3 Manhuau - MG 26.136
4 Monte Carmelo - MG 23.040
5 Nepomuceno - MG 22.074
6 Carmo da Cachoeira - MG 21.600
7 Rio Paranaba - MG 19.236
8 Campos Gerais - MG 18.110
9 Boa Esperana - MG 17.880
10 Araguari - MG 17.302
11 Espera Feliz - MG 16.704
12 Carmo do Paranaba - MG 16.425
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13 Piumhi - MG 15.964
14 Carmo do Rio Claro - MG 15.836
15 Machado - MG 15.570
16 Alfenas - MG 15.049
17 Coromandel - MG 13.840
18 Mutum - MG 13.822
19 Campos Altos - MG 13.608
Santa Margarida - MG 13.608
Fonte: SIDRA Sistema IBGE de Recuperao Automtica, 2013.
Tabela 3 - Ranking dos 20 maiores municpios produtores de caf da regio Sul/Sudoeste de Minas em 2011.
Posio Municpio Produo de caf (em toneladas)
1 Trs Pontas - MG 27.750
2 Carmo da Cachoeira - MG 21.600
3 Campos Gerais - MG 18.110
4 Boa Esperana - MG 17.880
5 Carmo do Rio Claro - MG 15.836
6 Machado - MG 15.570
7 Alfenas - MG 15.049
8 Nova Resende - MG 13.336
9 Cabo Verde - MG 13.320
10 Eli Mendes - MG 11.160
11 Trs Coraes - MG 10.873
12 Campestre - MG 10.350
13 Poo Fundo - MG 9.687
14 So Sebastio do Paraso - MG 9.627
15 Santana da Vargem - MG 9.240
16 Andradas - MG 8.976
17 So Gonalo do Sapuca - MG 8.777
18 Varginha - MG 8.716
19 Conceio da Aparecida - MG 8.578
20 Ibiraci - MG 8.565
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Fonte: SIDRA Sistema IBGE de Recuperao Automtica, 2013.
De acordo com os dados do IBGE, 7 dos 20 maiores municpios produtores de caf em
Minas Gerais se localizam no Sul de Minas (Trs Pontas, Carmo da Cachoeira, Campos Gerais,
Boa Esperana, Carmo do Rio Claro, Machado e Alfenas), comprovando, portanto, mais um dado
que revela o potencial da regio para o agronegcio cafeeiro.
Mas quando analisamos as atividades de comercializao, percebemos que no so todos
os municpios que so os maiores exportadores de caf no estado de Minas Gerais, exceto
Machado. Isto por que estes municpios, junto com Varginha, Guaxup e Poos de Caldas, so
especializados dentro do contexto regional como importantes centros logsticos de escoamento e
comrcio da produo, em detrimento da presena de empresas e Estaes Aduaneiras no
interior, como o Porto Seco de Varginha, que possuem fortes vnculos internacionais. A tabela a
seguir resume bem as caractersticas dos 10 maiores municpios exportadores de produtos
agropecurios no estado de Minas Gerais, no qual metade tem como principal produto de
comercializao o caf e seus derivados.
Tabela 4 - Ranking dos 10 maiores municpios exportadores do setor do agronegcio no estado de Minas Gerais em 2011.
Municpios Regio US$ FOB
2010
(MILHES)
Part. % Principais Produtos
1 Varginha Sul de Minas 2.091,83 22,5% Caf e derivados; complexo
soja; gros e cereais; produtos
florestais; e frutas e derivados
2 Guaxup Sul de Minas 872,54 9,4% Caf e derivados.
3 Poos de Caldas
Sul de Minas 777,04 8,3% Caf e derivados; cacau e produtos de confeitaria e produtos florestais.
4 Belo Oriente Rio Doce 663,46 7,1% Produtos florestais.
5 Piumb Centro-Oeste
de Minas
530,59 5,7% Caf e derivados; complexo
sucroalcooleiro e complexo
soja.
6 Araguari Tringulo 322,79 3,5% Carnes; caf e derivados; complexo de soja; gros e cereais; raes para animais;
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bebidas; frutas e derivados e produtos txteis.
7 Uberlndia Tringulo 307,51 3,3% Complexo soja; couros e peleteria; gros e cereais; outros produtos de origem vegetal; ovos e seus derivados; acares (Exc. de cana); cacau e produtos de confeitaria; carnes e produtos florestais.
8 Ituiutaba Tringulo 249,71 2,7% Carnes; complexo soja; complexo sucroalcooleiro; gros e cereais; outros produtos de origem animal e gorduras e leos de origem animal.
9 Delta Tringulo 233,01 2,5% Complexo sucroalcooleiro e
outros produtos de origem
animal.
10 Machado Sul de Minas 220,85 2,4% Caf e derivados; complexo
soja e outros produtos de
origem vegetal.
Outros Estado MG 3.047,35 22,7% Agronegcio
Total das Exportaes do Agronegcio de MG
9.316,68 100%
Fonte: Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuria e Abastecimento de Minas Gerais, 2012.
Comparando com as 10 maiores empresas exportadoras do agronegcio mineiro,
percebemos que metade delas tiveram como principal produto de venda ao exterior, caf e seus
derivados, todas localizadas em municpios da regio do Sul de Minas, sendo tambm que 3
dessas se localizam entre os principais municpios exportadores do agronegcio listadas na tabela
anterior (Varginha, Guaxup e Poos de Caldas). Tal fato nos denota ento que a presena das
grandes empresas influencia de maneira significativa para o desenvolvimento de um agronegcio
voltado para o mercado internacional. So consideradas importantes agentes no circuito espacial
produtivo do caf, que determinam as regras de mercado e estabelecem forte domnio econmico
nos espaos competitivos de agricultura moderna.
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Tabela 5 - Ranking das 10 maiores empresas exportadoras do setor do agronegcio no estado de Minas
Gerais em 2011.
Empresas Municpio Produtos
Exportados
1 Cooxup - Cooperativa Regional de
Cafeicultores em Guaxup Ltda.
Guaxup e Monte
Carmelo
Caf e derivados
2 Genibra Celulose Nipo-Brasileira S/A Belo Monte Produtos florestais
3 Terra Forte Exportao e Importao de
Caf Ltda
Poos de Caldas Caf e derivados
4 Sadia S/A Uberlndia Carnes
5 Usina Coruripe Acar e lcool S/A Iturama e Campo
Florido
Complexo
sucroalcooleiro
6 Sara Lee Cafs do Brasil Ltda. Piumb, So
Sebastio do Paraso
e Varginha
Caf e derivados
7 JBS S/A Ituitaba e Uberlndia Complexo
sucroalcooleiro
8 Usina Caet S/A Conceio das
Alagoas e Delta
Complexo
sucroalcooleiro
9 Louis Dreyfus Commodities Brasil S/A Varginha Caf e derivados
10 Unicaf Companhia de Comrcio
Exterior
Varginha e
Manhumirim
Caf e derivados
Fonte: Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuria e Abastecimento de Minas Gerais, 2011.
Contudo, Segundo Elias (2007, p.125), para analisarmos as cidades funcionais ao campo
moderno, denominadas Cidades do Agronegcio, devemos levar em considerao trs eixos de
temas e processos: 1) as novas relaes cidade-campo, pautadas, sobretudo, na funcionalidade
dos ncleos urbanos s demandas do campo moderno; 2) na identificao do mercado de
trabalho agropecurio e na dinmica populacional; 3) e o aprofundamento das desigualdades
socioespaciais inerentes modernizao do modo de produo capitalista. Os eventos
representativos dos trs eixos se inter-relacionam e so ao mesmo tempo causa e conseqncia.
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Para o agronegcio cafeeiro, imprescindvel a constituio de cidades funcionais ao
campo moderno para ofertar toda uma rede de servios e infraestruturas necessrias para a
produo, logstica, comercializao e consumo dos produtos agrcolas. Alm disso, se torna
importante analisar, alm das empresas e instituies relacionadas direta ou indiretamente ao
agronegcio do caf, tambm identificar os fluxos financeiros destinados as atividades agrcolas,
os fluxos de exportao de caf, a logstica de transporte, distribuio e armazenamento de caf,
os cursos superiores associados com o potencial de pesquisa agrcola e da execuo de funes
da cadeia produtiva e comercial do agronegcio, a dinmica do mercado de trabalho
agropecurio, o uso e distribuio das terras e propriedades agrcolas, os fatores demogrficos e
demais aspectos que revelem as desigualdades socioespaciais inerentes s conseqncias da
modernizao das atividades do campo.
Exemplo de Alfenas e Machado
Os municpios de Alfenas e Machado possuem vrios atributos e caractersticas
consideradas por Elias (2007) como municpios funcionais produo e logstica cafeeira. Embora
a autora enfatize mais os aspectos e funcionalidades urbanas como referncia a explicao das
Cidades do Agronegcio, termo mais adequado aos municpios de expanso recente da
agricultura moderna brasileira, como o complexo da soja no Centro-Oeste e no Nordeste, alguns
parmetros de anlise nos servem como forma de contextualizar tal dinmica para com os
municpios em regies de agricultura moderna consolidada, como o caso do caf no Sul de
Minas.
Alguns dados se fazem importante para indicar a importncia da cafeicultura para estes
municpios, apresentados na tabela a seguir.
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Tabela 6 Algumas informaes sobre a importncia do agronegcio do caf para os municpios de
Alfenas e Machado.
Informaes Alfenas Machado
Posio no ranking de produo de caf no estado de Minas Gerais em 2011*
16 15
Posio no ranking de produo de caf na regio do Sul de Minas em 2011*
7 6
% do total das lavouras agrcolas com plantao de caf em 2010* 47% 68,3%
% da participao do comrcio do caf nas exportaes totais do municpio em 2011**
98% 84%
% da participao da agropecuria no PIB municipal em 2010*** 10,2% 16,5%
*Fonte: SIDRA Sistema IBGE de Recuperao Automtica, 2013. ** Fonte: Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior, 2012. Disponvel em: http://www.mdic.gov.br//sitio/sistema/balanca/arquivo/2011-12/MG/201112_MG_3101607.zip. *** Fonte: IBGE Cidades, 2013.
A partir das consideraes da autora, percebemos ento que ambos os municpios
possuem intensas relaes campo-cidade em detrimento da modernizao da cafeicultura. Com
as novas demandas de consumo da agricultura cientificada, ou seja, processos produtivos
dotados de contedo tecnolgico, cientfico e informacional, representada pelas inovaes nos
cultivares, uso intensivo de insumos e implementos agrcolas de alta tecnologia (como
agrotxicos, fertilizantes, maquinrios e demais equipamentos), conhecimento do terreno, do
clima e das demais tcnicas de rendimento e produtividade; houve uma adaptao do meio
urbano para atender a essas novas necessidades. Nesta condio, a ampliao e a instalao de
novas empresas associadas ao ramo produtivo so marcantes na dinmica do agronegcio local,
alm daquelas que so responsveis pela comercializao e logstica da produo.
Considerando as funcionalidades dentro do circuito espacial produtivo do caf, possvel
classificar as empresas e instituies enquadradas direta ou indiretamente ao agronegcio em
pelo menos 5 categorias de sistema secundrio e tercirio: fornecimento de insumos e
implementos agrcolas, assessoria tcnica e administrativa, comercializao e logstica,
beneficiamento e processamento agroindustrial, e financeiro.
Muitas empresas possuem destaque regional e nacional pelas atividades que realizam,
como a Cooxup (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxup Ltda.), maior exportadora
de caf do mundo e que desde 1985 vem contribuindo tambm para a assistncia tcnica,
financeira, de beneficiamento, armazenagem e comercializao de caf de vrios, seno a
maioria, dos produtores; a Outspan Brasil Importao e Exportao Ltda., instalada desde 2006
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em Alfenas; a Casa Nobre Comrcio e Armazenagem de Gros Ltda., instalada desde 2010 em
Alfenas, que alm de compra e exportao, trabalha com armazenagem, preparao e
certificao de caf; a Exportadora e Importadora Marubeni Colorado Ltda., 10 maior exportadora
do agronegcio no estado em 2010 (SECRETARIA DE ESTADO DE AGRICULTURA, PECURIA
E ABASTECIMENTO DE MINAS GERAIS), localizada em Machado; e a Associao Brasileira de
Cafs Especiais (BSCA - Brazil Specialty Coffee Association) instalada desde 1991 em Machado
e tem como objetivo congregar produtores de cafs especiais, difundir sua produo e estimular o
constante aprimoramento tcnico e a maior eficincia nos servios referentes comercializao
(Fonte: site da empresa BSCA).
Dentre outros servios funcionais ao agronegcio do caf observados nos municpios de
Alfenas e Machado so os fluxos financeiros, que podem ser considerados os mais importantes
por anteceder e serem fundamentais produo, ofertados tanto pelo Estado quanto pelos
bancos, cooperativas de crdito e empresas privadas, cuja movimentao s fez crescer entre os
anos observados de 2005 a 2010 (de 9 para 145 milhes e de 40 para 110 milhes, nos
respectivos municpios) (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2012); a qualificao da mo-de-obra
por meio de cursos de formao tcnica e superior voltada agropecuria moderna, vinculados
direta e indiretamente ao agronegcio, por meio das instituies de ensino tcnico e superior
(UNIFAL MG e UNIFENAS em Alfenas e IFSULDEMINAS, FUMESC e CESEP em Machado); e
as unidades armazenadoras de gros, responsveis pelo setor de transporte, armazenagem e
comercializao de caf (15 unidades em Alfenas e 19 em Machado) (CONAB Companhia
Nacional de Abastecimento, 2012).
Em relao a dinmica do mercado de trabalho, percebe-se que nos dois municpios h
uma grande movimentao de trabalhadores do caf em pocas de safra, oriundos tanto do
municpio, da regio ou de outras localidades do pas. O fluxo de admisses neste perodo bem
maior (maro a julho) do que no restante do ano, caracterizado por demisses em massa de mo
de obra com o fim das colheitas, de acordo com os dados da RAIS/CAGED do Ministrio do
Trabalho e Emprego.
J sobre a dinmica populacional, os estudos revelam que tal fator est muito associado
s desigualdades socioespaciais presenciadas em regies de agricultura moderna. De acordo
com dados do IBGE, nos dois municpios em questo houve uma reduo drstica da populao
rural e um aumento da taxa de urbanizao, sobretudo devido modernizao das atividades do
circuito espacial produtivo do caf. Em Alfenas, o percentual de populao rural diminuiu de
25,6% em 1970 (7.264) para 6,2% em 2010 (4.595), considerando um aumento de quase 3 vezes
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da populao absoluta (de 28.331 para 73.722 habitantes) no perodo. Em Machado houve a
reduo de 46,6% em 1970 para 17,1% em 2010 da populao do campo, sendo que o que a
quantidade de habitantes quase dobrou nos ltimos 40 anos (de 11.491 para 32.877).
Tal fato se alia ao motivo de haver nos ltimos anos uma intensa modernizao da
agricultura na regio, no qual muitos camponeses acabam no conseguindo se modernizar como
deveriam (para se tornarem competitivos no mercado) e sobreviver no novo padro agrrio. O
campo aos poucos passa a ser dominado por mdios e grandes fazendeiros dotadas de alta
capacidade produtiva e a mecanizao substitui a mo de obra rural, que passa a viver nas
cidades em busca outras alternativas de trabalho e renda. Isso contribui para elevar o fluxo do
xodo rural e a concentrao de terras. De acordo com dados do Censo Agropecurio do IBGE de
2006, 78% das reas de produo de caf so representadas por mdios e grandes propriedades,
ou seja, com estabelecimentos com acima de 100 hectares, enquanto que em Machado o valor
de 74%.
Atualmente, os agricultores familiares possuem muitas dificuldades para continuarem a
produzir caf, por falta de recursos suficientes para modernizarem suas propriedades e
competirem com os seus produtos no mercado. Descapitalizados pela impossibilidade de obterem
maiores recursos junto s linhas de financiamento e a quitao das mesmas, em decorrncia da
baixa produtividade e lucratividade, esses produtores no conseguem investir em suas
propriedades e lavouras (compra de insumos e implementos em quantidades adequadas) e
vender o caf a preos lucrativos no mercado, em detrimento da baixa qualidade do caf e as
pocas de oscilaes de valores reduzidos de comercializao.
Consideraes finais
De acordo com a abordagem adotada e as anlises aferidas, evidente que a regio do
Sul de Minas se constitua como um espao aonde reina a especializao na produo e
comercializao do caf, dentro do contexto do modo de produo capitalista e da economia
globalizada. A modernizao agrcola se enquadra nas caractersticas atuais do meio tcnico-
cientfico-informacional, cujo modo produo e as relaes de trabalho so constantemente
transformados. Nesta dinmica territorial, possvel aferir a eminente competitividade e vocao
regional quanto ao agronegcio cafeeiro, que atende os mercados distantes por meio de uma
articulao moderna e eficiente da logstica em meio ao circuito espacial produtivo do caf.
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Muitos agentes atuantes neste espao, como as empresas, tem papel significativo na
organizao e ordenamento das atividades envolvidas no agronegcio, muitas vezes ditando
regras nos modos de produo e ao mercado (de qualidade e custos). Tal fato contribui ainda
mais para o aumento das exigncias, vindas de ordem internacional, e conseqentemente, da
modernizao dos processos produtivos, logsticos e de comercializao. Neste sentido,
presencia-se uma reestruturao dos espaos rurais e urbanos como forma de adaptao ao novo
padro agrrio de produo, intensificando ainda mais a especializao produtiva dos espaos
locais e regional. A consolidao ento de municpios funcionais produo e comercializao de
caf uma realidade, podendo tal fenmeno ser identificadas atravs de suas recentes
transformaes ocorridas nas atividades econmicas e nos aspectos sociais.
Nos exemplos abordados sobre Alfenas e Machado, indiscutvel a idia da cafeicultura
ser a atividade tradicional e de destaque na economia desses municpios, acompanhando o
mesmo contexto da dimenso regional. Estes so municpios que dependem em muito das
atividades do agronegcio, cujo circuito espacial produtivo encontra empresas e instituies
funcionais ao desenvolvimento do arranjo produtivo local. Portanto, o meio urbano dotado de
uma rede de servios e infraestruturas que complementam direta ou indiretamente o setor. A
concentrao de terras e o xodo rural observados revelam que a modernizao do espao nem
sempre traz prosperidade, mas condiciona tambm a vrias desigualdades socioeconmicas,
representadas tanto por atores quanto por espaos marginalizados.
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