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IV Encontro Nacional da Anppas 4,5 e 6 de junho de 2008 Brasília - DF – Brasil ______________________________________________________ Gestão de Recursos Naturais com o Uso de Sistemas Geográficos Marcelo Felipe Moreira Persegona (UnB) Cientista da Computação, Doutorando do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília [email protected] Resumo Serão discutidos os sistemas de informações, dando ênfase aos sistemas de informações geográficas. O intuito deste artigo é mostrar como o georreferenciamento de informações pode ajudar a aprimorar o processo decisório com a representação das informações contidas nas diversas bases de informações ambientais em mapas geográficos temáticos, constituindo dessa forma um novo instrumento para a gestão ambiental e o manejo de recursos naturais. O uso de programas georreferenciados permite que, a partir de um problema, se levante questões para provar hipóteses onde a metodologia de análise estará embutida nas regras de negócio do programa, permitindo ao usuário experimentar valores diversos nas variáveis e, assim, fazer a análise das informações para confirmar ou refutar suas hipóteses.

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IV Encontro Nacional da Anppas 4,5 e 6 de junho de 2008 Brasília - DF – Brasil ______________________________________________________

Gestão de Recursos Naturais com o Uso de Sistemas Geográficos

Marcelo Felipe Moreira Persegona (UnB)

Cientista da Computação, Doutorando do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília

[email protected]

Resumo Serão discutidos os sistemas de informações, dando ênfase aos sistemas de informações

geográficas. O intuito deste artigo é mostrar como o georreferenciamento de informações pode

ajudar a aprimorar o processo decisório com a representação das informações contidas nas

diversas bases de informações ambientais em mapas geográficos temáticos, constituindo dessa

forma um novo instrumento para a gestão ambiental e o manejo de recursos naturais. O uso de

programas georreferenciados permite que, a partir de um problema, se levante questões para

provar hipóteses onde a metodologia de análise estará embutida nas regras de negócio do

programa, permitindo ao usuário experimentar valores diversos nas variáveis e, assim, fazer a

análise das informações para confirmar ou refutar suas hipóteses.

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Introdução

Problemas de gestão ambiental geralmente extrapolam a área de atuação de muitos órgãos

governamentais, sejam eles ambientais ou não. Isso tem levado historicamente a uma série de

deficiências e contradições no conjunto das políticas públicas, que têm exercido forte influência

sobre esta problemática.

Para ajudar a resolver os problemas ambientais, em 1981, o Governo Federal publicou a Política

Nacional do Meio Ambiente, a qual foi estabelecida mediante a edição da Lei nº 6.938, de

31/08/1981, criando o Sistema Nacional do Meio Ambiente (ver figura 1 e box 1), novos órgãos e

instrumentos para serem aplicados para o cumprimento da Lei. Esta lei teve como objetivo o

estabelecimento de padrões que tornassem possível o desenvolvimento sustentável, por meio de

mecanismos e instrumentos capazes de conferir ao meio ambiente uma maior proteção. Todavia,

vale lembrar, que a Política Nacional do Meio Ambiente brasileira é anterior a atual constituição, e

quando da sua edição estava entre os instrumentos mais modernos de Gestão Ambiental no

mundo.

Figura 1 – Estrutura do SISNAMA. Fonte: Criado a partir da Lei nº 6.938, de 31/08/1981.

A Política Nacional do Meio Ambiente ganhou mais força quando a Constituição Federal de 1988

introduziu um capítulo especifico para tratar do meio ambiente, Capítulo VI, considerando-o:

”Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum

do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à

coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

Porém, Bonavides1 adverte que "A tarefa medular do Estado social contemporâneo nos sistemas

políticos instáveis não é unicamente fazer a Constituição, mas cumpri-la, (...)". Para a isso, em

1981, a Política Nacional do Meio Ambiente criou doze instrumentos ambientais, são eles:

estabelecimento de padrões da qualidade ambiental; zoneamento ambiental; avaliação de 1 Curso de Direito Constitucional, 15 ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2004. p. 186.

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impactos ambientais; licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidora;

incentivos à produção e instalação de equipamentos e à criação ou absorção de tecnologia,

voltados para a melhoria da qualidade ambiental; criação de espaços territoriais especialmente

protegidos pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal, tais como Áreas de Proteção

Ambiental, de Relevante Interesse Ecológico e Reservas Extrativistas; Sistema Nacional de

Informação sobre o Meio Ambiente; Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos da

Defesa Ambiental; penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas

necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental; instituição do Relatório de

Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo IBAMA; garantia da prestação de

informações relativas ao Meio Ambiente obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando

inexistentes; e Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras e/ou

Utilizadoras dos Recursos Ambientais.

A aplicação desses instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente tem como objetivo

garantir a preservação, a melhoria e a recuperação da qualidade ambiental propícia à vida,

visando assegurar, no Brasil, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da

segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. Esses instrumentos compõem a

Gestão Ambiental do Brasil, e estão classificados em2:

1. Instrumentos preventivos de gestão: procedimentos de planejamento ambiental,

tais como zoneamentos espaciais e avaliações prévias de impactos a serem

gerados pelos empreendimentos produtivos e grandes obras de engenharia.

2. Instrumentos autorizantes de gestão: procedimentos de licenciamento ambiental.

3. Instrumentos normativos de gestão: parâmetros de qualidade dos fatores do meio

ambiente.

4. Instrumentos corretivos de gestão: procedimentos fiscalizatórios, a cargo dos

órgãos ambientais competentes.

5. Instrumentos compensatórios de gestão: procedimentos e/ou obras que

representem compensações a danos ambientais inevitáveis, a serem causados

pelos empreendimentos produtivos e grandes obras de engenharia.

2 SEIAM. Sistema de Informações Ambientais do Estado do Acre. A Política Nacional do Meio Ambiente. Rio Branco: Governo do

Estado do Acre, 2007. Disponível em: http://www.seiam.ac.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=3&Itemid=4 Acessado em: 07/10/2007.

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Mas o grande problema desses instrumentos é a falta de integração entre eles, principalmente,

quando se leva em conta a aplicação deles nos três níveis de governo (federal, estadual e

municipal), no qual a desarticulação de ações e a falta de compartilhamento de informações é

uma constante. Agreguem-se a esses fatos as competências constitucionais, onde a União, os

Estados-membros e os municípios são reconhecidos como entidades autônomas, dotadas de

governos próprios e com competências exclusivas. Ainda, entre as deficiências da política

ambiental3, pode-se citar:

• a falta de disponibilização, em tempo hábil, de informações e a sua integração com

outros dados (situação fundiária, tipologias de vegetação etc.) como subsídios para

o processo decisório;

• baixo nível de eficiência e eficácia dos procedimentos de fiscalização;

• dificuldades na efetivação de parcerias entre o IBAMA, os órgãos estaduais de

meio ambiente (OEMAs) e outros órgão e entidades governamentais (nas esferas

federais, estaduais e municipais), visando à implementação de políticas de

monitoramento, licenciamento e fiscalização;

3 BRASIL, Casa Civil. Plano de Ação para a prevenção e controle do desmatamento na Amazônia Legal. Presidência da República,

Brasília. 2004. Disponível em: http://www.presidencia.gov.br/casacivil/desmat.pdf Acessado em: 07/11/2005.

Box 1 - Estrutura do SISNAMA

Conselho de Governo: Órgão superior de assessoria ao Presidente da República na formulação das

diretrizes e política nacional do meio ambiente.

Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA): Órgão consultivo e deliberativo. Assessora o

Governo e delibera sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente, estabelecendo normas e

padrões federais que deverão ser observados pelos Estados e Municípios, os quais possuem liberdade

para estabelecer critérios de acordo com suas realidades, desde que não sejam mais permissivos.

Ministério do Meio Ambiente (MMA): Planeja, coordena, controla e supervisiona a política nacional e

as diretrizes estabelecidas para o meio ambiente, executando a tarefa de congregar os vários órgãos e

entidades que compõem o SISNAMA.

Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA): É vinculado

ao MMA. Formula, coordena, fiscaliza, controla, fomenta, executa e faz executar a política nacional do

meio ambiente e da preservação e conservação dos recursos naturais.

Órgãos Seccionais: São os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas,

projetos, controle e fiscalização das atividades degradadoras do meio ambiente.

Órgãos Locais: Órgãos municipais responsáveis pelo controle e fiscalização de atividades

degradadoras.

Fonte: Ministério do Meio Ambiente (www.mma.gov.br/port/conama/estr1.cfm)

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• carências de infra-estrutura, de recursos financeiros e de pessoal qualificado entre

os órgãos ambientais nos diferentes níveis (federal, estadual, municipal);

• falta de cultura, experiência e mecanismos para coordenar e monitorar a

descentralização;

• dificuldade de planejar em larga escala;

• salvaguardar o bem público exige forte monitoria das concessões,

conseqüentemente de instituições fortes e organizadas4;

• os municípios não figuram no caput do art. 24 da Constituição Federal, então surge

a dúvida sobre a possibilidade de legislarem em matéria federal4; e

• a Constituição de 1988 previu competência concorrente para legislar sobre Meio

Ambiente, contrariando as Cartas de 1946 e 1967, que davam, por exemplo, a

competência exclusiva à União para legislar sobre florestas4.

Godard5 reforça a lista das deficiências já citadas, acrescentando que a ineficiência dos

mecanismos mercado está relacionada ao desajuste do tempo do mercado e do tempo da

evolução ecológica, onde as ineficiências da administração pública para gerir os recursos naturais

a longo prazo em diversas escalas ficam evidentes, e não consegue conciliar os interesses dos

diversos atores. Estes problemas podem ser agrupados em dois conjuntos:

• a fragmentação e a setorialização da ação administrativa; e

• a inadequação da organização territorial, repartição das responsabilidades dos

atores nos três níveis de governo (federal, estadual e municipal).

Para o autor, o problema é que o recorte administrativo não corresponde ao recorte ecológico ou à

organização espacial dos domínios dos recursos. Um dispositivo de gestão dos recursos naturais

deve assumir inúmeras tarefas interligadas a integração:

• Integração dos recursos no processo de desenvolvimento sócio-econômico;

• Integração das ações de extração ou de produção dos recursos naturais no

âmbito de uma gestão coordenada no espaço, dos meios naturais e do habitat;

• Integração dos processos de gestão a vários tipos de recursos inter-relacionados;

e

• Gestão global de um mesmo conjunto de recursos, para além dos recortes

funcionais ou territoriais.

4 CAPELLI, Sílvia. Gestão Ambiental no Brasil: Sistema Nacional de Meio Ambiente - Do formal à realidade. Disponível em:

http://www.farn.org.ar/docs/p32/08_Cappelli.pdf Acessado em: 07/10/2007. 5 GODARD, Oliver. A gestão integrada dos recursos naturais e do meio ambiente: conceitos, instituições e desafios de legitimação. In:

VIEIRA, Paulo Freire e WEBER, Jacques (Org.). Gestão de recursos naturais renováveis e desenvolvimento: Novos desafios para a pesquisa ambiental. São Paulo: Editora Cortez, 1997.

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Soromenho Marques6 concorda com Godard quando diz que a forma de governo federalista

apresenta um desempenho fraco no papel central de uma legislação ambiental. Para ele, o

momento atual que está sendo vivenciado apresenta um novo desafio político-civilizacional,

protagonizado pela crise ambiental e social global, onde se faz necessário um novo estilo de

intervenção cívica pelo incremento de formas de democracia participativa que dê origem a um

novo sistema político mais aberto, transparente e flexível.

Bursztyn, Benakouche e Bursztyn7 acrescentam à falta de desempenho governamental na gestão

ambiental, indicado por Godard, às imperfeições do mercado, o qual é responsável por graves

desequilíbrios e degradação ambiental, tendo em vista a tendência inerente da teoria econômica

de desprezar custos não monetários e de considerar certos elementos da natureza como bens

livres, dessa maneira, cada produtor repassa parte dos seus custos à sociedade. Para esses

autores, o dano ambiental tem um custo e deve ser arcado pelo poluidor. Eles sugerem a criação

de alguns instrumentos para internalizar os custos ambientais em suas estruturas de custos e

gastos, tais como: tarifas sobre emissões, tarifas sobre serviços prestados, taxas sobre produtos

(eco taxas), taxas administrativas, subsídios, mercado de direitos de poluição, sistema de

consignação, incentivos financeiros, entre outros.

Na opinião de Guimarães8, é fundamental constatar as conseqüências ambientais da utilização

dos recursos do planeta pelos seres humanos, via atividades produtivas. Estas atividades revelam

nada mais do que a estrutura e o padrão de relações sociais entre os próprios seres humanos, o

que, por outro lado, requer superar visões segmentadas as quais antepõem meio ambiente e

desenvolvimento, pois o primeiro nada mais é do que o resultado do segundo.

Segundo Le Prestre9, cabe ao Estado definir o que de interesse comum e deve: 1) identificar e

definir o problema e os meios de ação, 2) dar prioridade aos problemas ambientais e 3) decidir

sobre a repartição dos custos e arbitragens aceitáveis a fim de obter melhor qualidade do meio

ambiente. Estas são as premissas da ação ambientalista. Muitas vezes, a resolução de um

problema ambiental se limita a resolver rivalidades de jurisdição, como já colocado por Capelli. Le

Prestre reforça as deficiências levantadas por Godard, dizendo que entre os problemas para a

elaboração de políticas ambientais estão: a escala de administração, as rivalidades entre as elites

para o controle deste novo domínio, personalidade e aptidões do primeiro dirigente da instituição e

o caráter esquizofrênico das novas unidades ambientalistas.

6 SOROMENHO-MARQUES, Viriato. Da política de ambiente ao Desenvolvimento Sustentável: Raízes e Perspectivas. In: BECKERT,

Cristina & VARANDAS, Maria José (Org.). Éticas e Políticas Ambientais. Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa: Lisboa, 2004.

7 BURSZTYN, Maria Augusta A., BENAKOUCHE, Rabah e BURSZTYN, Marcel. Os instrumentos econômicos e a política ambiental. Brasília: 2004

8 GUIMARÃES, Roberto P. Desenvolvimento Sustentável: Da retórica à formulação de Políticas Públicas. In: BECKER, Bertha K., MIRANDA, Mariana (Org.). A geografia política do desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997.

9 LE PRESTRE, Philippe. O desenvolvimento das Políticas Públicas. In: Ecopolítica Internacional. São Paulo: SENAC, 2001.

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Le Prestre alerta que não se deve perder de foco, que a finalidade da elaboração das políticas

ambientais é regular o comportamento dos indivíduos, dos grupos, das organizações e dos

Estados. O que é feito neste estágio é o que confere o verdadeiro sentido a política ambiental.

Além de todos os problemas já levantados, agregue-se a existência de muitos órgãos para tratar

da área de meio ambiente e cada um deles com suas normas e leis que, em alguns casos, se

sobrepõem a jurisdição do outro, ainda a existência de ritos burocráticos e legais que devem ser

cumpridos e que diferem do estabelecido em um estado para outro ou de um município para

outro, mesmo dentro do mesmo estado. Se isso não fosse suficiente, existe o rigor na outorga das

licenças ambientais, porém, um relaxamento no monitoramento/fiscalização do cumprimento do

estabelecido nessas licenças pelos órgãos responsáveis.

Existe também o conflito das normas e das leis estabelecidas pelo Poder Judiciário versus Poder

Executivo, por exemplo: o que determina a Lei editada pelo judiciário e o que estabelece uma

resolução de um órgão ambiental do executivo (CONAMA) criam confusão na sua execução, o

que muitas vezes é contestado por outros entes da união quando a licença ambiental a ser

outorgada refere-se a uma grande obra que repercutirá na cobrança de uma taxa de

licenciamento ambiental significativa.

Em vista de tudo o que foi exposto, o presente artigo irá tratar da criação de um novo instrumento

para a Gestão Ambiental brasileira, o qual contribuirá para resolver os problemas e deficiências

dos atuais instrumentos utilizados.

O instrumento proposto tem como finalidade a identificação dos inadimplentes ambientais nas três

esferas de governo, que desta maneira permitirá a emissão de “Certificados de Adimplência

Ambiental - CADIMA” para aqueles que não constarem no seu banco de dados.

Moldura teórica e conceitual

A pesquisa tem por objetivo a criação de um instrumento de controle dos agentes que poluem,

agridem ou degradam o meio ambiente. Este instrumento tem por finalidade inibir contratações e

financiamentos de projetos de empresas, entidades, órgãos públicos e pessoas que possuam

algum passivo ambiental, assim como, desestimular e punir o poluidor ou o degradador do meio

ambiente seja ele pessoa física ou jurídica, do setor privado, público ou do "terceiro setor", as

quais celebram contratos e prestam serviços à Administração Pública Federal, Estadual e

Municipal.

Para que o CADIMA possa ser utilizado necessitará de uma lei que o ampare. Esta lei já possui

tramitação na Câmara dos Deputados. A lei proposta trata da Certidão Negativa de Débito

Ambiental – CNDA, Projeto de Lei n° 2.461 de 2003, a qual tem por finalidade instituir e

regulamentar este novo instrumento e, ainda, indicar o Ministério ou órgão a cargo do qual ficará a

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tarefa de realizar os lançamentos das infrações e a expedição das certidões. A certidão do

CADIMA terá sua validade estipulada na lei que a regulamentará. A figura 2 mostra a

institucionalidade do CADIMA:

Figura 2 – Institucionalidade do CADIMA. Fonte: Construída a partir de Philippi, Romero, Bruna (2004)

As pessoas físicas e jurídicas que possuem um passivo ambiental serão aquelas que por

decorrência de infrações à legislação ambiental federal, estadual ou municipal, tenham recaído as

sanções dos incisos II a XI do art. 72 da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, da Lei de

Crimes Ambientais, trata no Capítulo VI - Da Infração Administrativa, cujas penalidades são:

“Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o

disposto no art. 6º:

I - advertência;

II - multa simples;

III - multa diária;

IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos,

petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração;

V - destruição ou inutilização do produto;

VI - suspensão de venda e fabricação do produto;

VII - embargo de obra ou atividade;

VIII - demolição de obra;

IX - suspensão parcial ou total de atividades;

X - (VETADO)

XI - restritiva de direitos.

§ 1º Se o infrator cometer, simultaneamente, duas ou mais infrações, ser-lhe-ão

aplicadas, cumulativamente, as sanções a elas cominadas.

§ 2º A advertência será aplicada pela inobservância das disposições desta Lei e da

legislação em vigor, ou de preceitos regulamentares, sem prejuízo das demais sanções

previstas neste artigo.

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§ 3º A multa simples será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo:

I - advertido por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-las, no prazo

assinalado por órgão competente do SISNAMA ou pela Capitania dos Portos, do

Ministério da Marinha;

II - opuser embaraço à fiscalização dos órgãos do SISNAMA ou da Capitania dos Portos,

do Ministério da Marinha.

§ 4º A multa simples pode ser convertida em serviços de preservação, melhoria e

recuperação da qualidade do meio ambiente.

§ 5º A multa diária será aplicada sempre que o cometimento da infração se prolongar no

tempo.

§ 6º A apreensão e destruição referidas nos incisos VI a V do caput obedecerão ao

disposto no art. 25 desta Lei.

§ 7º As sanções indicadas nos incisos VI a IX do caput serão aplicadas quando o produto,

a obra, a atividade ou o estabelecimento não estiverem obedecendo às prescrições legais

ou regulamentares.

§ 8º As sanções restritivas de direito são:

I - suspensão de registro, licença ou autorização;

II - cancelamento de registro, licença ou autorização;

III - perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais;

IV - perda ou suspensão da participação em linhas de financiamento em

estabelecimentos oficiais de crédito;

V - proibição de contratar com a Administração Pública, pelo período de até três anos.

Art. 73. Os valores arrecadados em pagamento de multas por infração ambiental serão

revertidos ao Fundo Nacional do Meio Ambiente, criado pela Lei nº 7.797, de 10 de julho

de 1989, Fundo Naval, criado pelo Decreto nº 20.923, de 8 de janeiro de 1932, fundos

estaduais ou municipais de meio ambiente, ou correlatos, conforme dispuser o órgão

arrecadador.”

Com exceção da pena de advertência, todas as demais previstas pela Lei de Crimes Ambientais

podem ser relacionadas ao cadastro do CADIMA. A partir do momento que o infrator estiver

inscrito no banco de dados do CADIMA, não poderá obter a certidão de adimplência ambiental. A

certidão do CADIMA também será exigida de ente público do chamado "terceiro setor".

Já com relação o que diz a Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, institui normas para licitações e

contratos da Administração Pública, no Capítulo II - Da Licitação, Seção II - Da Habilitação, que

trata sobre a documentação exigida, tem-se:

“Art. 27. Para a habilitação nas licitações exigir-se-á dos interessados, exclusivamente,

documentação relativa a:

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I - habilitação jurídica;

II - qualificação técnica;

III - qualificação econômica-financeira;

IV - regularidade fiscal.

V - cumprimento do disposto no inciso XXXIII do art. 7º da Constituição Federal.

* Inciso V acrescido pela Lei nº 9.854, de 27/10/1999.

Art. 28. A documentação relativa à habilitação jurídica, conforme o caso, consistirá em:

I - cédula de identidade;

II - registro comercial, no caso de empresa individual;

III - ato constitutivo, estatuto ou contrato social em vigor, devidamente registrado, em se

tratando de sociedades comerciais, e, no caso de sociedades por ações, acompanhado

de documentos de eleição de seus administradores;

IV - inscrição do ato constitutivo, no caso de sociedades civis, acompanhada de prova de

diretoria em exercício;

V - decreto de autorização, em se tratando de empresa ou sociedade estrangeira em

funcionamento no País, e ato de registro ou autorização para funcionamento expedido

pelo órgão competente, quando a atividade assim o exigir.“

A Lei nº 8.666 deverá receber um inciso, no qual solicite a certidão do CADIMA como documento

obrigatório ao licitante para habilitação no processo licitatório. Esta certidão deverá ser exigida nas

licitações para contratação de obras, serviços e aquisição de bens pela Administração Pública,

abrangendo, além dos órgãos da administração direta, as autarquias, as fundações e empresas

públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou

indiretamente pela União, Estados e Municípios.

A exigência da certidão do CADIMA estará explicita em todos os editais de licitação que se

promoverem e, também, entre os documentos necessários à concessão de empréstimos e

financiamentos por estabelecimentos oficiais de crédito relacionados à União, Estados e

Municípios.

O nome da pessoa física ou jurídica só constará no cadastro do CADIMA com débito ambiental

quando houver terminado a tramitação regular de todo o processo administrativo, até a decisão

final pelo órgão competente. Portanto, para que uma pessoa jurídica ou física venha a constar do

cadastro do CADIMA, seu processo deverá ter sido transitado e julgado pelo órgão competente.

O CADIMA, além de realizar o cadastro dos inadimplentes, também contemplará um mecanismo

de cancelamento dos lançamentos realizados, se a pessoa física ou jurídica que recebeu a

sanção regularizar a sua situação do ponto de vista da legislação ambiental, se comprovar,

perante o órgão ambiental que aplicou a respectiva sanção, que a situação de irregularidade

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perante a legislação ambiental já foi sanada. E estará estruturado em quatro pilares que lhe

possibilitam a operacionalização da emissão dos certificados, conforme figura 3.

Figura 3 – Pilares do CADIMA

Estes pilares são:

a. o Direito (legislação) fornecendo o arcabouço jurídico necessário para o

enquadramento das agressões registradas e dando legitimidade ao cadastro;

b. a Gestão fornecendo um conjunto de ações normativas, administrativas, operativas e

de controle que devem ser executadas para garantir o alcance dos objetivos

propostos;

c. a Tecnologia da Informação fornecendo as bases de dados para a o armazenamento

das informações, o geoprocessamento e georreferenciamento para realizar o

controle, acompanhamento, avaliação e localização das agressões ao meio

ambiente, sistemas de apoio à decisão onde serão avaliadas as informações e

processadas no sistema de informações geográficas - SIG, técnicas de gestão da

informação e do conhecimento e inteligência competitiva que permitirão obter uma

melhor compreensão das informações tratadas no âmbito do CADIMA;

d. a Institucionalidade do sistema proposto.

Dessa forma, o CADIMA se constituirá em um novo mecanismo de incentivo a exploração

sustentável dos recursos naturais.

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Fontes de dados para o CADIMA

O SINIMA, em 2006, conseguiu a integração de vários sistemas relacionados às temáticas

ambientais, como informações nacionais sobre o licenciamento ambiental, dados compartilhados

da região amazônica, informações sobre o zoneamento ecológico-econômico do Bioma da

Caatinga, cadastro de unidades de conservação, ações do Programa de Revitalização da Bacia

do Rio São Francisco, informações sobre os instrumentos de gerenciamento costeiro e marinho,

competências profissionais relacionadas à Educação Ambiental, entre outras temáticas. Esses

sistemas fazem parte da base de informações que comporão a base de dados do CADIMA,

conforme representado na figura 4.

Figura 4 – Ambiente tecnológico do CADIMA

Entre os sistemas que integram o SINIMA são:

1. Portal Nacional do Licenciamento Ambiental – PNLA

(http://www.mma.gov.br/pnla)

2. Portal Brasileiro sobre Biodiversidade – PORTALBio

(http://www.mma.gov.br/portalbio)

3. Portal da Gestão Florestal

(http://www.mma.gov.br/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=113)

4. Bases Compartilhadas de Dados sobre a Amazônia – BCDAM

(http://www.bcdam.gov.br/)

5. Rede Virtual da Caatinga – RVC

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6. Sistema de informações do Gerenciamento Costeiro e Marinho – Sigercom

(http://www.mma.gov.br/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=78)

7. Sistema de informações do Rio São Francisco – SisFran

(http://mapas.mma.gov.br/mapas/aplic/sisfran/)

8. Sistema Brasileiro de Informações sobre Educação Ambiental – SIBEA

(http://sibea.mma.gov.br/dcsibea/)

9. Sistema de Informações Ambientais no Mercosul – SIAM

(http://www.mma.gov.br/ap_mercosur/)

10. Sistema de Georreferenciamento de Projetos – Sigepro

(http://sistemas.mma.gov.br/sigepro/)

11. Mapas Interativos – I3Geo

(http://www.mma.gov.br/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=41)

12. Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras

de Recursos Ambientais

(htp://www.ibama.gov.br/ctf/)

13. Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa Ambiental

(htp://www.ibama.gov.br/ctf/)

Além dos sistemas acima citados, também farão parte da base de dados do CADIMA as

legislações ambientais.

Formas de coleta e análise de dados

A pesquisa é “Pesquisa Quantitativa” porque é considerado que tudo pode ser quantificável, o que

significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o

uso de recursos e de técnicas estatísticas, tais como percentagem, média, moda, mediana,

desvio-padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão etc.

Com relação aos procedimentos técnicos, é “Pesquisa Bibliográfica” por realizar análise de

material já publicado, constituído principalmente por livros, artigos de periódicos e materiais

disponibilizados na Internet.

O uso da geoinformação oferece um tipo especial de explicação dos eventos que ocorrem no

território, favorecendo a construção do conhecimento cognitivo. Os programas de computadores

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são teorias formais de explanação de fenômenos sociais e naturais. Eles possuem a vantagem de

serem (re)usáveis em experimentos e compreensíveis.

Opção tecnológica

O governo federal brasileiro, desde o ano 2000, vem verificando que o investimento em “software

livre” é rentável, tanto em termos financeiros como estratégico-mercadológico, assim como o seu

uso nas políticas publica. Por essa razão, desde 2002, o Instituto de Tecnologia da Informação

(ITI), órgão ligado à Presidência da Republica, vem trabalhando junto aos órgãos de governo

federal de forma a estimular o uso do “software livre” nessa esfera. Sergio Amadeu, ex-presidente

do ITI, prevê que, a assim como a Internet, a difusão global do “software livre” é o novo paradigma

da era da informação e o país que estiver mais bem alinhado com essa perspectiva terá

diferencial competitivo no mercado globalizado. Bartholo e Bursztyn (2007), quando dirigentes da

CAPES, sugeriram a utilização do software livre como uma estratégia governamental para a

difusão do conhecimento científico no Brasil e expressaram a opinião que essa deveria ser uma

estratégia mundial. Esses autores, também enfatizam a economia de recursos financeiro que

advém desse tipo de estratégia.

Além da posição a favor do software livre, sugerida por Bartholo e Bursztyn, atualmente existe um

número significativo de casos de sucesso que provam a redução de custos na adoção de

“software livre”, seja pela eliminação do pagamento de licenças e renovações dos “Softwares

Proprietários”, ou pela possibilidade de montar a mesma estrutura de tecnologia da informação,

com um custo menor. Um exemplo do exposto é a DATAPREV que substituiu sua rede

NETWARE por LINUX e teve uma redução de 50% nos custos de atendimento técnico e de

usuários, além de não ter tido que pagar por renovação de licenças de uso dessa plataforma

(SIQUEIRA, 2005).

Já, na linha do uso de georreferenciamento, o governo brasileiro possui vários bons exemplos de

uso dessa tecnologia para a implementação de programas de apoio à decisão que utilizam o

georreferenciamento para a representação das informações governamentais. Entre os órgãos

federais, pode-se citar: a Presidência da República com o GeoPR o qual se constitui em uma

família de programas georreferenciados, criados a partir do Mapserver, e utilizados por diversos

órgãos do governo; o Ministério do Meio Ambiente (MMA) que também desenvolveu uma grande

variedades de softwares de georreferenciamento para dar apoio a suas atividades, com destaque

para o I3geo que se está constituindo um plataforma padrão de georreferenciamento

governamental; o Ministério da Saúde (MS), o Ministério das Comunicações (MC), o Ministério da

Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

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Modelando o mundo real para o mundo virtual

O processo de modelagem do mundo real começa pela identificação das informações necessárias

para a criação do sistema que irá trabalhar o problema. Os sistemas de georreferenciamento para

serem mais eficientes no processo de apoio à decisão também necessitam que sejam

identificados os equipamentos que o território possui. Para isso, se faz necessário um

levantamento das informações geográficas que compõe esse território, tais como: estradas, rios,

presença de cidades, unidades de conservação, terras indígenas, divisão política do país,

ferrovias, aeroportos etc.

Esse levantamento é importante porque o sistema permite que sejam feitos cruzamentos de

tabelas de informações geográficas com tabelas de informações textuais, o que permite

representar geograficamente uma tabela de dados textual que não possui atributo espacial. A

figura 4, tem-se a representação das informações de diversas camadas temáticas no programa

I3geo. Cada camada temática está representada por uma cor, tais como unidades de conservação

(UC) de reservas biológicas; UC parque; UC florestas; UC área de relevante interesse

ecológico; UC área de proteção ambiental; terra indígena; área de proteção permanente,

Brasil; países do mundo, usinas elétricas e Amazônia Legal. No box 2, descreve-se os

programas utilizados para tratamento dos dados utilizados no CADIMA e um protótipo está

disponível para testes no endereço http://200.199.198/24/i3geo

Figura 4 – Representação geográfica de dados no I3geo.

Como foi dito anteriormente, o levantamento das informações geográficas constitui-se em passo

muito importante para a criação dos sistemas de georreferenciamento. A maioria das informações

dos equipamentos do território será encontrada no formato shape file. A exportação desses

arquivos para o banco de dados PostgreSQL se dá pelo comando shp2pgsq, o qual transforma o

shape file em comandos SQL que serão interpretados pelo PostgreSQL. A figura 5 representa os

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passos necessários para a incorporação do shape file para o banco de dados. Este procedimento

é executado apenas uma vez para cada shape file porque a partir do momento que são

incorporados no banco de dados, lá ficam de forma permanente.

Figura 5 – Passos para incorporação de um shapefile ao banco de dados PostgreSQL. Fonte: Persegona, et

al. (2006)

A partir do momento que o banco de dados geográfico está criado com todas as informações dos

equipamentos do território, é necessário escolher um software para tratar as informações

geográficas. Nesta pesquisa, utilizou-se o I3Geo10 por se tratar de um software de fácil obtenção e

configuração. Também, foi requisito do estudo que as informações do sistema de

georreferenciamento fossem acessíveis a usuários que não estivessem localizados na mesma

região geográfica, para cumprir esse requisito o sistema tinha que funcionar em ambiente Web e

permitir a integração de diversas bases de dados via Web Service, requisitos que o I3Geo possui

(BRASIL, 2007).

10 Para mais informações sobre o I3geo, consulte http://pt.wikibooks.org/wiki/I3geo

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Conclusões

O CADIMA necessita da montagem de um banco de dados que permita a aquisição do

conhecimento cognitivo utilizando softwares livres e técnicas de georreferenciamento para

representação das informações contidas no banco de dados na forma de mapas, e permitir a

obtenção de conhecimento.

O processo cognitivo está ligado ao tratamento e formatação do dado, e sua transformação em

informação. Para isso, o usuário das informações, utiliza-se das funções de representação (idéia

Box 2

• PostgreSQL é um servidor de base de dados relacional livre, liberado baixo licença BSD. É uma alternativa a

outros sistemas de bases de dados de código aberto, tais como MySQL, Firebird e MaxDB. Concorre no mercado

de Sistemas Gerenciadores de Banco de Dados (SGBD) com sistemas proprietários, tais como Oracle, MS SQL

Server e DB2.

• PostGIS é uma extensão ao sistema de banco de dados object-relational PostgreSQL, que permite o uso de

objetos GIS (Sistemas de Informação Geográfica) serem armazenados em banco de dados.

• Quantum GIS é um sistema de informação geográfico de fonte aberta que funciona em Linux, Unix, Mac OSX, e

em Windows. O QGIS suporta dados vetoriais, base de dados geográficas e muitos outros formatos de dados

espaciais comuns (ESRI ShapeFile, geotiff). O QGIS é licenciado sob a licença GNU.

• OpenJump foi um projeto desenvolvido pela empresa Vívido Soluções Inc. para o British Columbia Ministry of

Sustainable Resource Management, a qual criou um programa para combinar automaticamente estradas e rios

em mapas digitais diferentes. A equipe de desenvolvimento do software fez o programa bastante flexível para

poder ser usado não apenas para estradas e rios, mas para qualquer tipo de dados espacial, tais como limites

políticos, imagens de satélites etc.

• Philcarto é um programa de cartografia temática desenvolvido na França pelo geógrafo Philippe Waniez. Este é

disponibilizado gratuitamente pela Internet, e consiste em um software didático por ser de fácil manuseio. Para a

elaboração de cartogramas se faz necessário trabalhar com os outros dois softwares, no caso o Microsoft Excel e

o Adobe Ilustrator, sendo que no primeiro se constrói a base de dados, e no segundo a base cartográfica

necessária para o desenvolvimento do trabalho (ARCHELA, 2004).

• I3Geo é um aplicativo desenvolvido para acesso e análise de dados geográficos, baseado em softwares livres,

principalmente o Mapserver. Utiliza como plataforma de funcionamento navegadores de Internet, como o Internet

Explorer e o Firefox. Está licenciado sob GPL. Este software foi concebido com o objetivo de difundir o uso do

geoprocessamento como instrumento técnico-científico e implementar uma interface genérica para acesso aos

dados geográficos existentes em instituições públicas, privadas ou não governamentais. O I3Geo adota padrões

internacionais de interoperabilidade e incorpora funcionalidades que facilitam o acesso remoto a dados,

permitindo o estabelecimento de redes cooperativas (BRASIL, 2007).

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ou imagem que tem do mundo) ligadas ao seu saber em relação ao objeto estudado/observado. O

processo cognitivo simplifica a sua avaliação, classificação para permitir a comunicação da sua

interpretação dos dados por meio da formulação de problemas concretos.

Os sistemas de georreferenciamento propiciam a captação de uma quantidade maior de

informações que de outra forma não seria possível. A representação das informações em forma

de mapas facilita o processo de captura de novos conhecimentos por estar composto pelo

conhecimento tácito do usuário, os quais são utilizados para realizar os processos de análise, de

síntese e de compreensão das novas informações que lhe são apresentadas; e aplicação, onde o

indivíduo mobiliza seu conhecimento para uma circunstância específica.

Desta forma, o usuário obtém resultados que poderá utilizar no seu processo de tomada de

decisão que resultarão em ações e/ou decisões. Nesse processo, se utiliza figuras para realizar a

comparação de uma informação com outra que o indivíduo já possui, podendo assim produzir um

novo conhecimento. É neste processo de representação, comparação e produção de novos

conhecimentos e percepções do mundo/objeto estudado que o georreferenciamento possui

grande potencial de utilização, pois possibilita a representação da informação na forma de mapas

tornando a interpretação e assimilação das informações mais “amigáveis”.

Os softwares livres viabilizam o desenvolvimento e utilização deste tipo de aplicação, por não se

necessitar adquirir licenças para o desenvolvimento e uso dos sistemas de georreferenciamento.

Caso se fizesse via softwares proprietários, o alto custo deste tipo de softwares ficaria

inviabilizado.

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