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Conflito Social: a importância de uma visão holística Benedito Paulo Bezerra (UFPA) Doutor em Medicina e Médico Psiquiatra da UFPA Tereza Ximenes (UFPA) Doutora em Sociologia e Professora do Programa de Pós-Graduação Desenvolvimento Sustentável do Trópico. UFPA/ Núcleo de Altos Estudos Amazônico – NAEA Resumo O texto visa mostrar que no processo do conflito social há fatores decorrentes de causas complexas cuja compreensão requer o conhecimento integrado de diferentes disciplinas. Discute conflitos sociais decorrentes da atividade pesqueira. Tem como referência empírica comunidades de pescadores artesanais do município de Vigia, nordeste do estado do Pará. Palavras-chave: Conflitos sociais, pescadores artesanais, transtornos mentais e substancias psicoativas. 1

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Conflito Social: a importância de uma visão holística

Benedito Paulo Bezerra (UFPA)Doutor em Medicina e Médico Psiquiatra da UFPA

Tereza Ximenes (UFPA)Doutora em Sociologia e Professora do Programa de Pós-Graduação Desenvolvimento Sustentável do Trópico. UFPA/ Núcleo de Altos Estudos Amazônico – NAEA

ResumoO texto visa mostrar que no processo do conflito social há fatores decorrentes de causas complexas cuja compreensão requer o conhecimento integrado de diferentes disciplinas. Discute conflitos sociais decorrentes da atividade pesqueira. Tem como referência empírica comunidades de pescadores artesanais do município de Vigia, nordeste do estado do Pará.

Palavras-chave:

Conflitos sociais, pescadores artesanais, transtornos mentais e substancias psicoativas.

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Introdução

Há carência de estudos realizados no Brasil sobre a saúde mental dos pescadores, grupo social

importante na região amazônica que tem como espaço de trabalho o mar, os rios, os lagos, os

paranás, os igarapés, os furos, os manguezais.

A escolha do universo empírico do estudo - Vigia, município do nordeste do estado do Pará

justifica-se por ser a população composta por expressivos grupos de pescadores que praticam

principalmente a pesca artesanal.

Bezerra (2002) realizou uma pesquisa nesse município que visou atingir os seguintes objetivos:

a) determinar a prevalência de transtornos mentais em pescadores artesanais no município de Vigia;

b) comparar a prevalência dos transtornos mentais da população de pescadores com a população de

não pescadores do mesmo município; c) correlacionar as variáveis demográficas com os diferentes

transtornos mentais. Os transtornos mentais foram identificados através do Composite International

Diagnostic Interview (CIDI) aplicado a duas amostras (221 homens pescadores e 230 homens

moradores não pescadores). A estimativa geral de prevalência para as duas amostras foi de 21,7% e

a distribuição das prevalências por diagnóstico da CID 10 apresentou o seguinte quadro: tabagismo

(17,3%), uso abusivo do álcool (9,5%) e dependência do álcool (4,4%), uso abusivo e dependência

de cannabis (1,6%), uso abusivo e dependência de cocaína (0,4%), esquizofrenia (1,6%), transtorno

delirante (1,6%), mania (0,4%), transtorno bipolar (0,4%), distimia (1,6%), agorafobia (2,0%),

ansiedade generalizada (0,4%), somatização (0,2%), transtorno doloroso somático persistente

(4,4%), transtorno motor dissociativo (0,4%), anestesia e perda sensorial dissociativa (0,9%) e

transtorno de estresse pós-traumático (6,4%). Foram encontrados mais diagnósticos na amostra dos

pescadores do que na amostra dos moradores não pescadores tanto “na vida” como no “último ano”

p<0,001. O fator associado mais importante a apresentar um transtorno mental entre o conjunto das

variáveis consideradas foi “ser pescador”.

Constatou-se uma proporção maior de associações entre os diagnósticos identificados na amostra

dos pescadores artesanais e as variáveis demográficas do que entre as patologias encontradas na

amostra dos moradores não pescadores e as variáveis consideradas no estudo. Esses resultados

refletem uma realidade epidemiológica mais grave para os pescadores artesanais, enfatizando a

preocupação central do estudo: a saúde mental dos pescadores artesanais, grupo social de grande

relevância na região.

Continuando o estudo sobre os achados da pesquisa verificamos que muitos conflitos poderiam

ser melhor compreendidos por meio de conhecimento integrado de diferentes disciplinas. Nessa

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perspectiva apresentamos o presente texto que está divido em duas partes. A primeira tem como

foco central o estudo de prevalências das morbidades psiquiátricas na população estudada. A

segunda parte analisa a complexidade do cotidiano dos pescadores e seus processos conflituosos.

1 - Esrtudo de prevalência das morbidades psiquiátricas nos pescadores em Vigia.

Para o presente estudo, consideramos na revisão da literatura, inicialmente, os dados dos

estudos epidemiológicos que usaram o Composite International Diagnostic Interview (CIDI) como

instrumento de coleta de dados, determinando as taxas de prevalência de diagnósticos, de acordo

com a classificação DSM.III.R.

O CIDI é um questionário totalmente estruturado, desenvolvido para ser aplicado em estudos

epidemiológicos e pesquisa de transtornos mentais na comunidade, embora também tenha sido

utilizado em ensaios clínicos, em atividades clínicas e centros de pesquisa (Cottler et al, 1991;

Wittchen et al, 1991). Fornece diagnósticos psiquiátricos baseados nos critérios da Classificação

Internacional de Doença (CID-10) e do Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Americana

de Psiquiatria Versão 4 (DSM IV). Esse instrumento fornece, através de algoritmos

computadorizados, diagnósticos para na “vida” e nos “últimos 12 meses”.

A prevalência “na vida” corresponde àqueles que relataram terem experimentado um dado

transtorno em algum momento na vida e as prevalências para o último ano e o último mês referem-se

àqueles que tiveram o transtorno em algum momento no último ano ou no mês anterior à entrevista.

Alguns estudos epidemiológicos internacionais utilizaram o CIDI para a identificação dos

transtornos na população adulta: o Netherland Health Survey and Incidence Study (NEMESIS)

desenvolvido na Holanda e o Mental Health Supplement to the Ontario Health Survey (OHS) no

Canadá.

Consideramos para fins de comparação com o estudo de Vigia os resultados referentes aos

indivíduos do sexo masculino para os diagnósticos identificados tanto na amostra dos pescadores

como também na população de não pescadores.

No estudo realizado na Holanda em 1996 foram entrevistados 7.076 indivíduos e a prevalência

para a esquizofrenia foi de 0,4% na vida (0,36% para os homens) menos do que a prevista pelos

pesquisadores, (Bijl, 1998).

No referido estudo, os homens apresentaram taxas 4 vezes mais altas para uso abusivo de

substância psicoativa na vida e nos últimos 12 meses do que os indivíduos do sexo feminino. O uso

abusivo do álcool foi o transtorno mais prevalente, com taxa para os homens 4 ou 5 vezes mais alta

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do que as observadas entre as mulheres (na vida 19,3% vs 3,9%), seguido de dependência do álcool

(na vida 9,0% vs 1,9%). O uso abusivo e dependência de droga estiveram presentes com taxas na

vida de, respectivamente, 1,6% e 1,8% para toda a amostra.

No estudo conduzido na Holanda os transtornos mentais mostraram-se menos prevalentes

entre os indivíduos empregados. O desemprego e a incapacidade para o trabalho mostraram-se

fortemente associados à morbidade geral e à comorbidade. Outro resultado importante refere-se às

altas taxas de morbidade associada à baixa escolaridade.

No estudo realizado em Ontário (OHS), Offord et al (1996) apresentaram a prevalência para 14

transtornos psiquiátricos numa amostra de 9.953 indivíduos, com idade entre 15 e 64 anos. Para a

coleta de dados foi utilizada a versão da Universidade de Michigan para o CIDI, o UM-CIDI. Os

critérios do DSM III R foram utilizados para definir os transtornos psiquiátricos.

Os resultados do estudo mencionado apresentaram a prevalência dos transtornos psiquiátricos

nos últimos 12 meses por idade e sexo. No tocante os transtornos de ansiedade na população de 15

a 64 anos, a prevalência mostrou-se significativamente mais alta em mulheres do que em homens,

com a taxa mais alta (19,5%) entre a mulheres de 15 a 24 anos. Para ambos os gêneros as taxas

decresceram com a idade.

No estudo de Ontário, Offord et al (1996) constataram uma prevalência de transtornos afetivos

de 4,5%, com freqüência significativamente maior entre as mulheres do que entre os homens (5,9%

vs 3,2%). Os transtornos afetivos também mostraram-se mais comuns em mulheres jovens (15 a 24

anos) para as quais a prevalência (7,1%) foi significativamente mais alta do que a encontrada entre

os homens (4,0%). A taxa geral de prevalência para a depressão revelou que a freqüência entre

mulheres (5,4%) foi quase o dobro da dos homens (2,8%).

O uso abusivo ou dependência de substâncias psicoativas foram mais comuns entre homens do

que em mulheres em todas as faixas etárias. O uso abusivo/dependência de uma ou mais

substâncias mostraram-se quatro vezes mais comuns em homens do que em mulheres (8,2% vs

2,1%). A taxa mais alta para os homens foi identificada no grupo mais jovem no qual a prevalência foi

de 11,8%, semelhante à freqüência no grupo de 25 a 44 anos, 10,0%.

O uso abusivo e dependência do álcool em Ontário referiu o mesmo padrão do uso abusivo e

dependência de substâncias psicoativas. Em todas as faixas etárias, a prevalência entre os homens

foi muito maior do que aquela encontrada entre as mulheres. Considerando-se a amostra total, a

prevalência entre os homens apresentou-se quase quatro vezes maior do que entre as mulheres

(7,1% vs 1,8%). O grupo de 15 a 24 anos teve a taxa mais alta para os homens, 10,4%.

No referido estudo um ou mais componentes antisociais foram seis vezes mais comuns em

homens do que em mulheres, considerando-se a amostra total, 15 a 64 anos (3,9% vs 0,6%).

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A personalidade antisocial seguiu o mesmo padrão tendo taxa de prevalência para homens e

mulheres de 2,9% e 0,5% respectivamente.

No que se refere às manifestações psicopatológicas da população brasileira, o estudo realizado

por Andreoli (1997) apresenta dados coletados em três cidades brasileiras (Brasília, São Paulo e

Porto Alegre) e se insere no Estudo Multicêntrico de Morbidade Psiquiátrica do Adulto, desenvolvido

por Almeida Filho et al (1997). Tal estudo, o primeiro levantamento populacional realizado no Brasil

analisou as necessidades da saúde mental e estimou a prevalência de morbidade psiquiátrica da

população adulta de três cidades brasileiras.

A prevalência de transtornos psiquiátricos menores, medidos pelo Questionário de Morbidade

Psiquiátrica do Adulto (QMPA), encontrada por Almeida Filho e colaboradores (1992), foi de 11,7%

em Brasília (6,5% nos homens e 16,2% nas mulheres), 18,4% em São Paulo (11,7% nos homens e

24.6% nas mulheres) e 13,3% em Porto Alegre (7,1% nos homens e 18,5% nas mulheres). Além

disso, de acordo com os achados, a prevalência de transtornos psiquiátricos menores aumentou com

a idade nos homens e apresentou um pico na faixa etária entre 35 e 54 anos nas mulheres.

Ao estimarem a prevalência global de transtornos psiquiátricos, Almeida Filho e colaboradores

(1992) chegaram a uma prevalência de 50% em Brasília (47% nos homens e 54% nas mulheres),

31% em São Paulo (33% nos homens e 29% nas mulheres) e 42% em Porto Alegre (35% nos

homens e 50% nas mulheres). Para as prevalências globais por faixa etária foram encontradas

diferenças entre os gêneros e entre as cidades. Registrou-se um pico nas prevalências em torno de

50% nos indivíduos mais jovens do sexo masculino (15 a 24 anos), decrescendo com a idade na

cidade de Brasília; as estimativas variaram entre 30% a 40% na cidade de São Paulo para todas as

faixas etárias e na cidade de Porto Alegre, as taxas mais elevadas foram encontradas na faixa etária

dos adultos jovens (25 a 34 anos) e nos indivíduos acima de 55 anos. Na cidade de Brasília, as

mulheres apresentaram um pico em torno de 80% na faixa etária de 35 a 44 anos; em São Paulo as

estimativas foram menores para os indivíduos mais jovens (22%) e cresceram com a idade e em

Porto Alegre, as taxas permaneceram em torno de 40% com uma tendência a decrescer com a

idade.

Quando se considerou a distribuição por gênero, o diagnóstico mais freqüente entre os homens

foi o alcoolismo, com prevalência de 15% nas três cidades, enquanto que os diagnósticos de

ansiedade, fobias, transtornos somato-dissociativos e depressão mostraram-se mais prevalentes

entre as mulheres.

O desenho em duas etapas do estudo multicêntrico desenvolvido por Andreoli (1997) utilizou os

dados obtidos no Estudo Multicêntrico de Morbidade Psiquiátrica do Adulto (QMPA), tendo sido

aplicado em 6.470 indivíduos acima de 15 anos (46,5% do sexo masculino e 53,5% do sexo

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feminino), para inicialmente identificar prováveis casos e não casos. Na segunda etapa os prováveis

casos foram submetidos ao inventário de sintomas do DSM.III com vistas à confirmação diagnóstica.

Nesse estudo, Andreoli (1997) analisou as manifestações psicopatológicas da população

brasileira, identificando os seguintes componentes: ansiedade, depressão, doença mental, psicose,

alcoolismo, tratamento, conversão/convulsão, antecedentes familiares e droga adição. Foi realizado,

também o estudo de validação entre o componente ansiedade e o diagnóstico de ansiedade

generalizada, o componente depressão e o diagnóstico de depressão maior e o componente

alcoolismo e os diagnósticos de abuso e dependência do álcool.

Esse estudo revelou os diagnósticos codificados como definitivos na vida que apresentaram as

maiores freqüências na amostra estudada na segunda etapa (n=775): dependência de tabaco

(n=217), fobia simples (n=137), ansiedade generalizada (n=103), transtorno de ajustamento (n=77),

fatores psicológicos que afetam o físico (n=74), abuso do álcool (n=70), depressão (n=69),

dependência do álcool (n=49), outros transtornos de ansiedade (n=45) e transtornos distímicos

(n=39).

Quanto aos transtornos identificados para o último ano, os seguintes diagnósticos

apresentaram as maiores freqüências: dependência de tabaco (n=175), fobia simples (n=114),

ansiedade generalizada (n=85), fatores psicológicos que afetam o físico (n=71), abuso do álcool

(n=51), outros transtornos de ansiedade (n=40), transtornos distímicos (n=36), dependência do álcool

(n=36), somatização (n=33) e agorafobia (n=29). Esses diagnósticos mostraram-se distribuídos entre

os dez mais freqüentes também em cada uma das cidades pesquisadas, exceto para o diagnóstico

de somatização cuja freqüência foi muito baixa em São Paulo (n=4).

O autor analisou também a baixa capacidade de predição dos diagnósticos clínicos

correspondentes aos componentes ansiedade, depressão e alcoolismo, notando um melhor

desempenho ao incluir as variáveis demográficas num modelo de predição. Quando se considerou o

componente alcoolismo, o resultado representou uma exceção, uma vez que ao ser associado às

variáveis sexo masculino, estado civil e idade abaixo de 55 anos, a capacidade de predição foi

excelente para o diagnóstico de abuso do álcool na vida.

A revisão da literatura sobre os estudos epidemiológicos realizados no Brasil e em outros

países norteou a análise dos dados obtidos no nosso estudo. Essa revisão enriqueceu a discussão

sobre a prevalência de morbidade psiquiátrica entre os pescadores artesanais e para a população do

município de Vigia, na perspectiva de contribuir para a definição de políticas públicas para a saúde,

em particular para a saúde mental tendo por base a epidemiologia e as conseqüências econômicas e

sociais da morbidade psiquiátrica.

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A natureza da morbidade psiquiátrica pode ser cada vez melhor analisada, a partir da

associação entre as variáveis definidas e a demografia, os problemas sociais e a cultura da

população estudada. Além disso, os instrumentos de coleta de dados são cada vez mais precisos na

definição dos diagnósticos. O aperfeiçoamento metodológico na epidemiologia psiquiátrica, portanto,

constitui-se num objetivo a ser permanentemente perseguido.

Os dados da prevalência de transtornos mentais obtidos no estudo realizado no município de

Vigia-PA configuram um quadro da saúde mental de 221 pescadores artesanais e 230 outros

moradores entrevistados através do CIDI.

A aplicação do referido questionário apontou mais diagnósticos na amostra de pescadores do

que entre os moradores não pescadores. Ressalte-se que 31,7% da amostra de pescadores

apresentou pelo menos um diagnóstico na vida comparado com 12,2% da amostra de moradores (x2

= 25,20; gl = 1; p< 0,001) e, nas estimativas feitas para diagnóstico no último ano, a amostra de

pescadores apresentou uma prevalência de 16,7% e a de moradores de 4,8% (x2 = 16,95; gl = 1; p<

0,001).

Em nossa avaliação, uma vida de sobressaltos, na qual o imprevisto é temido, pode favorecer

o desenvolvimento de transtornos mentais pela dificuldade em elaborar emoções por parte daqueles

que se ocupam com a atividade pesqueira e têm como lazer o uso abusivo do álcool.

Um ponto a destacar é a exclusão de mulheres de ambas amostras, pescadores e moradores.

Segundo a cultura da região elas raramente se ocupam da pesca. Acredita-se que possuam um

poder mágico desestabilizador que poderia prejudicar a pescaria. Esse aspecto cultural pode ter

contribuído para um quadro de diagnósticos que diverge dos dados obtidos em estudos

epidemiológicos realizados no Brasil e no exterior.

No Brasil, a prevalência de tabagismo encontrada no estudo realizado por Lollio et al (1993) em

São Paulo, foi alta (45,2% entre adultos do sexo masculino), constatando-se também que as

camadas de baixa renda familiar fumavam mais do que os extratos de renda mais alta.

Corroborando o estudo de Lollio et al, Andreoli (1997) também encontrou a dependência de

tabaco como um dos dez diagnósticos que apresentaram as maiores prevalências “na vida” dos

indivíduos pesquisados nas cidades de Brasília, São Paulo e Porto Alegre: 24%, 22,3% e 23,9%,

respectivamente.

Nosso estudo revelou uma taxa geral de prevalência de tabagismo de 17,3% para as duas

amostras, confirmando o estudo de Andreoli (1997), uma vez que identifica o tabagismo entre os

principais diagnósticos levantados pelo CIDI e um dos diagnósticos comuns às duas amostras. Esse

resultado, porém, difere daquele apresentado por Lollio (1993) que encontrou um índice de fumantes

3 vezes maior em Araraquara-SP.

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O maior número de fumantes (26,2%) no estudo de Vigia foi identificado entre os pescadores,

parcela da população que parece adoecer mais, do ponto de vista psíquico. A prevalência de

tabagismo entre os moradores não pescadores foi de 8,7%. Ressalta-se que nesse município os

pescadores têm renda mensal mais alta quando se compara as duas amostras.

As discrepâncias entre os resultados dos dois estudos, no que se refere ao tabagismo,

sugerem cautela nas comparações, uma vez que a renda mais alta em Vigia, provavelmente, não

significa o mesmo que aquela encontrada na região sudeste.

Raw e Laranjeira (2001) defendem a prevenção de dependência da nicotina como uma

prioridade de saúde pública. Comentam as tendências de mortalidade pela dependência de nicotina,

constatando que apesar da gravidade do problema, não existem no Brasil dados coletados

sistematicamente sobre a prevalência dessa dependência.

Lasser et al (2000) analisaram através do CIDI a prevalência do tabagismo e a abstinência do

tabaco em 4.411 indivíduos que participaram do National Comorbity Survey (NCS) realizado nos

Estados Unidos de 1991 a 1992 com uma amostra de 8.092 entrevistados. As prevalências de

tabagismo para os indivíduos sem doença mental no presente, sem nenhum transtorno mental na

vida e nos últimos 12 meses foram de 22,5%, 55,3% e 59% respectivamente. Fumantes com algum

histórico de doença mental referiram uma taxa de 37,1% de abstinência e fumantes com transtorno

mental no último ano mês referiram uma taxa de 30,5% de abstinência comparada com fumantes

sem nenhum transtorno mental cuja taxa foi de 42,5%. Os autores concluíram que indivíduos com

transtorno mental têm duas vezes mais possibilidades de fumar e apresentam taxas mais baixas de

abstinência, representando uma parcela significante dos usuários de tabaco.

Os resultados apresentados pelo NCS (Lasser et al, 2000) são consistentes com os estudos

realizados por Hughes et al (1986) que analisaram a prevalência do tabagismo entre pacientes

externos e Glassman et al (1993) que estudaram o tabagismo e as implicações para os transtornos

psiquiátricos.

Para Hughes et al (apud Lasser, 2000) os dados levantados no Epidemiologic Catchment Area

realizado no início da década de 80, mostraram que os indivíduos com depressão maior, distimia,

agorafobia e alcoolismo apresentavam uma probabilidade maior de ter fumado do que os indivíduos

sem nenhum transtorno mental.

Segundo Lasser et al (2000) um estudo realizado por Kelly e Mccreadie, em 1999 na Escócia,

identificou que o tabagismo precedeu o desencadear da esquizofrenia na maioria dos indivíduos

esquizofrênicos que fumavam.

No presente estudo, ressalta-se que a amostra dos pescadores apresentou um número de

diagnósticos maior do que a amostra dos moradores não pescadores na qual não foram encontrados

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os diagnósticos de uso abusivo e dependência de cocaína, somatização, esquizofrenia, transtorno

bipolar, distimia e agorafobia.

No tocante ao uso abusivo e à dependência do álcool, também presentes em ambas as

amostras, com uma prevalência geral de 9,5% para o uso abusivo e 4,4% para dependência, os

resultados corroboram os estudos que constatam a forma de lazer predominante entre os pescadores

da região pesquisada.

O cotidiano de quem vive da pesca inclui a ida aos bares para festejar a volta à terra firme.

Além disso, a ingestão de álcool também faz parte das festas dos santos e é referida por Maués

(1995) quando relata a participação dos pescadores no Círio de Nazaré e em diversos eventos

religiosos.

Na entrevista informal que fizemos com a diretoria da Colônia de Pescadores já havíamos

registrado a informação sobre alcoolismo nesse grupo social, posteriormente confirmado na revisão

da literatura sobre a atividade pesqueira e os pescadores na Amazônia (Penner 1984; Loureiro 1985;

Furtado 1987, 1993; Maués 1995).

O uso abusivo do álcool na vida aparece no estudo de Andreoli (1997) com uma associação

maior com os indivíduos do sexo masculino, que constituíam 46,5% da amostra pesquisada nas

cidades de Brasília, São Paulo e Porto Alegre (odds ratio=10,9; intervalo com 95% de confiança de

5,6-21,9%). E ainda no mesmo estudo, o diagnóstico de dependência do álcool na vida também

apresentou associação maior com os indivíduos do sexo masculino (odds ratio=12,7%; intervalo com

95% de confiança de 5,4-31,6%).

Andreoli (1997) concluiu, no referido estudo, que o componente alcoolismo associado às

variáveis sexo masculino, estado civil casado e idade abaixo de 55 anos apresenta uma capacidade

de predição significante para o diagnóstico de uso abusivo do álcool na vida e, excluindo do modelo a

variável idade, para o diagnóstico de dependência do álcool na vida.

No caso do estudo realizado em Vigia, existe um agravante que é a presença do álcool no

próprio local de trabalho, ou seja, os pescadores bebem durante as pescarias, (Penner, 1994). Nesse

município, a renda mensal está associada ao uso abusivo ou dependência do álcool somente quando

reagrupada em categorias de até dois e mais salários mínimos, ou seja, 18% dos indivíduos com

renda maior de dois salários mínimos apresentaram problemas relacionados ao alcoolismo (uso

abusivo ou dependência do álcool). Esses indivíduos encontram-se entre os pescadores cuja renda é

maior do que a da população de não pescadores, geralmente empregados no setor de serviço.

Com relação ao uso abusivo e dependência de cannabis encontrado na amostra de pescadores

(2,7%), nosso contato com o grupo da Colônia de Pescadores havia criado uma expectativa maior

em relação a esse diagnóstico, uma vez que fomos informados sobre o uso da referida substância

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como um hábito comum a um grande número de indivíduos. Tal expectativa não se confirmou após a

aplicação do CIDI, registrando-se também a inexistência do uso de crack mencionado na reunião da

qual participamos, ainda na fase de apresentação do projeto. O uso abusivo e dependência de

cocaína diagnosticado apenas na amostra de pescadores com 0,9% a exemplo do uso abusivo e

dependência de cannabis, também não confirmou nossa expectativa levantada na reunião

mencionada acima, onde havíamos registrado a informação da existência de um número significativo

de usuários e dependentes de “drogas ilícitas”.

O uso abusivo de substâncias psicoativas seria aceitável como uma forma de suportar as

dificuldades enfrentadas pela pesca artesanal e um desejo de fuga de todas as adversidades.

Na reunião realizada na colônia e, posteriormente, em todos os contatos informais durante o

trabalho de campo, as informações acerca do uso de “drogas ilícitas” se confirmava. Em nossa

avaliação a descrição e a narrativa dos casos de uso de substâncias psicoativas ocorreu também

dessa forma a fim de garantir, num futuro próximo, atendimento médico àquela população.

Nosso estudo mostra associação entre o uso abusivo e dependência de substâncias psicoativas

com a variável idade categorizada em faixas na qual os indivíduos positivos para estes diagnósticos

estão mais representados entre os mais jovens, com idade entre 15 e 24 anos (x2=9,69; gl=1;

p<0,01).

O diagnóstico que requer uma análise mais aprofundada é o de esquizofrenia, encontrado entre

os pescadores (3,2%), mas não entre os outros moradores. Esse diagnóstico não figura entre os dez

diagnósticos mais freqüentes, no estudo de Almeida Filho (1997). Nas cidades de Brasília, São Paulo

e Porto Alegre avaliadas naquele estudo as amostras pesquisadas não apresentaram tal diagnóstico.

Para Conley e Kelly (2001), a prevalência do referido diagnóstico para a população geral é de

1,0%; portanto, a alta prevalência encontrada no nosso estudo merece e justifica a realização de

outros estudos que possam esclarecer melhor essa realidade.

Os transtornos delirantes foram identificados em 2,3% dos pescadores. Um fator predisponente

que poderia oferecer uma explicação para o desencadear de tais diagnósticos seria a forma de lidar

não só com o estresse como também com o medo do perigo quando enfrentam condições precárias

de trabalho, conforme é referido em alguns estudos sociológicos e antropológicos realizados (Penner,

1984; Loureiro, 1985; Furtado, 1987, 1993, 1994; Maués, 1995).

O transtorno do humor foi identificado, associado à variável número de filhos. Apesar de tal

diagnóstico não causar, com freqüência, desagregação familiar e isolamento social devemos

considerar que os estágios de manias e hipomanias se caracterizam geralmente pela exacerbação

da libido.

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A ansiedade generalizada apresenta no município de Vigia uma prevalência geral de 0,4% para

as duas amostras, muito menor que no estudo de Almeida Filho (1997) onde a prevalência

encontrada entre os indivíduos do sexo masculino foi de 12% “na vida” e 10% para o último ano.

Merece destaque também, a baixa prevalência de distimia entre os pescadores (3,2%) e a total

inexistência dos referidos diagnósticos entre os moradores não pescadores.

A baixa prevalência do diagnóstico de distimia na pesquisa realizada em Vigia imprime

identidade própria ao estudo. A primeira hipótese que se coloca para explicar tal resultado é a

exclusão das mulheres nas duas amostras, uma vez que os estudos epidemiológicos realizados no

Brasil e no exterior de um modo geral identificam uma alta prevalência de distimia entre as mulheres.

No estudo de Almeida Filho (1997) o diagnóstico de depressão na vida apresenta uma

prevalência maior na cidade de Porto Alegre, registrando-se em São Paulo o menor número de casos

e a associação maior de casos positivos com os indivíduos do sexo feminino. O diagnóstico de

depressão no último ano também apresenta uma proporção menor de casos na cidade de São Paulo.

Ao serem analisados os fatores associados ao diagnóstico de depressão no estudo do

Epidemilogic Catchment Area, realizado nos Estados Unidos nos anos 80, a prevalência entre os

homens foi de 1,6% para a população de maiores de 18 anos, considerando-se 18.571 entrevistados

(Burvill apud Menezes e Nascimento, 2000). Já o National Comorbity Survey, desenvolvido na

década de 90 mostrou uma depressão ao longo da vida de 12,7% entre os homens (Kessler apud

Menezes e Nascimento, 2000), tendo sido entrevistados 8.092 indivíduos com a idade entre 15 e 54

anos. No estudo conduzido em Edmonton Canadá a prevalência de depressão maior nos últimos 6

meses foi de 2,5% entre os homens enquanto que a prevalência ao longo da vida foi de 5,9% num

universo de 3.285 adultos não institucionalizados. Em todos os estudos mencionados as prevalências

da depressão maior tanto no último ano como ao longo da vida são maiores nas mulheres do que nos

homens.

Por outro lado, Del Porto (2000) discute o padrão sazonal como fator que acentua ou precipita

algumas formas de depressão especialmente no hemisfério norte onde as estações do ano são bem

marcadas, acrescentando ainda que as depressões desse tipo ocorrem no outono ou no inverno com

fases hipomaníacas na primavera. O DSM IV (APA, 1994) inclui o “padrão sazonal” como um

especificador do tipo de depressão identificada.

A localização geográfica do município de Vigia permite a toda população gozar de alta

temperatura durante o ano todo. Essa região de clima quente úmido alterna períodos de chuva com

meses de estiagem. Esse fator pode representar uma explicação inicial para a baixa prevalência de

depressão encontrada no nosso estudo.

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A observação que realizamos nos permite interpretar a baixa prevalência de distimia ou a

inexistência de episódios de depressão e depressão recorrente, como resultado do estilo de vida

predominante no município. Tal estilo compreende a valorização do momento presente, a disposição

de aceitar os fatos como desígnio de Deus, a atitude de fé e a confiança na ajuda dos santos, além

da participação em todo calendário de festas do município. Essa interpretação é passível de

confirmação através da realização de outros estudos.

No que se refere ao transtorno doloroso somatoforme persistente, identificado “na vida” de 8,1%

dos pescadores e de 5,9% “no último ano”, a comparação com o resultado encontrado entre os

moradores não pescadores (0,9% “na vida” e 0,4% “no último ano) nos remete mais uma vez às

condições difíceis de trabalho no cotidiano da atividade pesqueira que pode predispor o indivíduo ao

adoecer psíquico.

Com relação ao estresse pós-traumático, a prevalência entre os pescadores foi de 10% “na

vida” e 5,9% “no último ano” enquanto que 3% dos moradores apresentaram o referido diagnóstico

“na vida” e apenas 0,4% “no último ano”. A condição profissional do pescador que inclui o

enfrentamento de intempéries no mar provavelmente o predispõe a essa patologia.

Há poucos pontos a destacar quando se considera a influência das variáveis sócio-

demográficas na associação entre o diagnóstico e a população de origem do indivíduo (pescador ou

morador não pescador). O fator associado mais importante entre o conjunto de variáveis foi “ser

pescador”, dado que justifica a realização deste estudo cujo enfoque é o homem que se dedica à

pesca artesanal.

Na análise multivariada o diagnóstico de uso abusivo de substâncias psicoativas aparece

quando associado à escolaridade de 0-4 anos (“odds ratio” igual a 0,11). Esse resultado difere

daquele encontrado no estudo de Bijl et al (1999) no qual os transtornos relacionados ao uso abusivo

de substâncias foram identificados em indivíduos de diferentes níveis educacionais.

Interpretamos como causa provável dessa aparente contradição, o fato de que a alta

prevalência do uso abusivo de substâncias psicoativas foi encontrada entre os pescadores.

No tocante à esquizofrenia e aos transtornos delirantes a condição de não estar empregado

apresentou “odds ratio” igual a 5,64, estatisticamente significante. O desemprego é um problema

comum aos esquizofrênicos por serem indivíduos acometidos com freqüência por sintomas que

dificultam serem contratados ou permanecerem numa determinada ocupação, além de geralmente

apresentarem, dificuldade de viver em sociedade e desenvolver relações interpessoais.

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2 - A Complexidade do cotidiano dos pescadores e seus processos conflituosos

A complexidade social em que estão inseridos os pescadores artesanais do município de

Vigia/PA e as transformações sócioambientais ocorridas em seu cotidiano tem influência no

adoecimento mental desses trabalhadores.

O adoecimento mental está sendo considerado como a expressão da subjetividade, das

manifestações oriundas de um cotidiano complexo, levando-se em conta todos os aspectos que essa

afirmativa pode conter: pobreza, riscos ambientais, mudança na relação com a natureza, impotência

frente à realidade social, etc.

Referindo-se à saúde mental dos pescadores artesanais em Vigia, Bezerra (2002) afirma: “em

nossa avaliação, uma vida de sobressalto, na qual o imprevisto é temido, pode favorecer o

desenvolvimento de transtornos mentais pela dificuldade em elaborar emoções por parte daqueles

que se ocupam com atividades pesqueira. Esses pescadores ao lidarem com a complexidade do

mundo social, têm sua subjetividade fragmentada e dificuldade em lidar com uma vida de

sobressaltos, na qual o imprevisto é temido. Sentindo-se à margem dos processos sociais e

econômicos e não conseguindo verbalizar suas carências individuais, iniciam um processo de

adoecimento mental: tristezas, isolamentos, uso abusivo de álcool, tabaco e outras drogas utilizadas

a fim de amenizar o sofrimento e as preocupações. Esse processo vem desencadeando problemas

complexos na vida dessa população, atingindo assim suas relações sociais, econômicas e,

sobretudo, familiares”.

Nos últimos anos, a modernização e a expansão do mercado consumidor da pesca

aumentaram a pressão sobre os recursos pesqueiros disputados por meio de diferentes

embarcações – grandes barcos de empresas voltadas para a pesca comercial e equipadas com

modernos instrumentos que facilitam a captura do pescado, como também dezenas de canoas e

pequenos barcos equipados com instrumentos tradicionais (anzol, remos, e pequenas redes de

pesca) que praticam a pesca artesanal.

Na pesca comercial o processo de trabalho envolve vários indivíduos: o empresário que objetiva

tornar seu empreendimento economicamente viável e comercialmente competitivo. Estabelece

formas contratuais de trabalho com indivíduos que cumprem atividades específicas: dirigir o barco,

praticar a pesca, classificar o tipo de pescado, fiscalizar e tornar viável o processo de trabalho.

Na pesca artesanal o grande compromisso é assegurar o pescado para o consumo familiar e

vender o excedente a fim de garantir a reprodução social do pescador e de sua família e tentar

também assegurar a compra de mercadorias indispensáveis para outras pescarias: alimentação

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(basicamente carne ou peixes secos e farinha) combustível (querosene para os lampiões), sal e gelo

para a manutenção do pescado. A divisão de trabalho é definida com base na cooperação motivada

por relações familiares, de vizinhança ou de compadrio. O pescador principal e um ajudante (filho,

vizinho ou compadre) executam todas as atividades demandadas pelas atividades pesqueiras.

Nesses diferentes processos há conflitos que decorrem da disputa ou desentendimento

relacionados com o uso ou exploração dos recursos naturais (conflitos ambientais) outros que são

inerentes a uma forma de viver com seus valores e costumes.

3 - Atividade pesqueira e os conflitos ambientais

Acserald (2004) apresenta uma definição de conflitos ambientais:

“(...) aqueles envolvendo grupos sociais com modo diferenciados de apropriação, uso

e significação do território, tendo origem quando pelo menos um dos um dos grupos tem a

continuidade das formas sociais de apropriação do meio que desenvolvem ameaças por

impactos indesejáveis – transmitidos pelo solo, água, ar ou sistemas vivos – decorrentes do

exercício das práticas de outros grupos. O conflito pode derivar da disputa por apropriação de

uma mesma base de recursos, ou de bases distintas, mas interconectadas por interações

ecossistêmicas mediadas pela atmosfera, pelo solo e pelas águas etc. Este conflito tem por

arenas unidades territoriais compartilhadas por um conjunto de atividades cujo “acordo

simbólico” é rompido em função da denúncia dos efeitos indesejáveis da atividade de um dos

agentes sobre as condições materiais do exercício das práticas de outros agentes”. (Acserald,

2004:24)

No setor pesqueiro o conflito ambiental resulta, em grande parte, do declínio na produtividade

pesqueira e da falta de credibilidade governamental na regulamentação da pesca. Os principais

atores são, de um lado, os ribeirinhos, pescadores das comunidades locais que reivindicam o direito

de exploração do recurso que tradicionalmente atende às suas necessidade e, de outro, os

pescadores “de fora” provenientes de outros locais ou grandes barcos de empresas voltadas para a

pesca comercial. Esses conflitos envolvem confrontações verbais, queima de equipamentos,

apreensão de embarcações e outras manifestações de violência.

Esse tipo de conflito pode também ser decorrente de modificações do ecossistema,

conseqüência de intervenções humanas como, por exemplo, a) a construção de hidrelétricas que

alteram o regime de inundações periódicas das várzeas dos rios e impedem as migrações

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reprodutivas; b) o garimpo que causa o assoremaneto e lança mercúrio nas águas; c) o

desmatamento resultante da comercialização da madeira e dos grandes projetos agropecuários.

Os pescadores artesanais procuram reagir a essas situações por meio de organizações sociais:

associações, sindicatos, cooperativas, conselhos e os acordos comunitários denominados de

“acordos de pesca” que especificam as normas, as regras e as sanções a serem tomadas quando o

que ficou estabelecido não é cumprido.

Na esfera governamental, com a criação do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), as questões ambientais foram internalizadas no

gerenciamento do uso dos recursos naturais. Ao mesmo tempo, passou-se a buscar modelos de

gerenciamento voltados à gestão integrada das várias atividades atuantes sobre determinado

ecossistema. O IBAMA é o órgão executor de gestão dos recursos pesqueiros de águas continentais,

tem como atribuição zelar pela preservação das espécies e do meio ambiente, com competência de

normatizar as condições de uso e sustentabilidade dos recursos pesqueiros.(Rufino,2005).

Nessa perspectiva há entidades nacionais votadas para o setor pesqueiro como a

Confederação Nacional dos Pescadores (CNP), o Conselho Nacional de Pesca e Aqüicultura

(CONEPE), o Movimento Nacional dos Pescadores (MONAPE). A constituição de um Conselho

Regional da Pesca é feira a partir de uma organização civil, com estatuto social e registro de pessoa

jurídica. Entretanto, como afirma Rufino “as entidades têm dificuldade em representar o universo de

interesse de uma atividade tão cheia de conflitos como a atividade pesqueira”(...) e acrescenta: não

é possível adotar um comportamento linear ou generalista. Para cada tipo de pesca ou para cada

região, a interlocução tem que levar em consideração a história, a herança, a tradição (...) (Rufino,

2005:45 e 46)

Para Barbanti (2005) todo conflito ambiental é um conflito de interesses e seu entendimento

requer a análise dos múltiplos motivos nele envolvidos. Para tanto, devem-se procurar identificar

tanto as características do elemento que faz a intermediação das relações sociais, quanto as

principais dimensões que favorecem o aparecimento e a manutenção do processo conflituoso. Ainda,

segundo o autor, a busca por formas de uso sustentável dos recursos necessariamente enfrenta

barreiras que têm suas raízes em dimensões econômicas, sociais, biológicas, tecnológicas e

culturais.

Essas dimensões foram analisadas em nosso estudo a fim de compreender as situações

complexas das comunidades pesqueiras e como os indivíduos e grupos sociais vêem a si mesmos e

ao mundo.

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4 - Atividade pesqueira e os conflitos relacionados com valores, hábitos e costumes da população local.

Foi verificado que entre os pescadores artesanais em Vigia a utilização de drogas serve para

ajudá-los a enfrentar as adversidades como o frio no tempo das chuvas, o calor excessivo do verão,

a solidão do alto mar, o medo da morte, a falta da família e a rudeza do trabalho braçal.

Para muitos pescadores da Amazônia os fenômenos da natureza são captados e

reinterpretados sem o rigor do conhecimento explicativo. Eles não têm a teorização da latitude, da

bússola, das cartas náuticas, destituídos desses conhecimentos, estabelecem uma relação entre as

fases da lua, a posição das estrelas, dos ventos, das marés e o melhor caminho e horário para as

viagens.(Ximenes, 1992)

Outro aspecto relevante na forma de viver dos pescadores de Vigia é a sua religiosidade,

estudada por Maués (1995). Essa religiosidade mistura pajés, santos e “encantados” o que não os

impede de participar da grande festa católica do município, o Círio de Nazaré, conforme o autor, é o

momento em que os pescadores que sobreviveram a naufrágios, agradecem à Nossa Senhora de

Nazaré a proteção dispensada nas horas difíceis.

Foi observado que no universo cultural daqueles pescadores o culto aos santos os protegem

durante as viagens. O rio, as águas, as florestas tiveram e ainda têm para alguns indivíduos um

mundo de significados e acreditam em “seres encantados” da mata e dos rios. Temem as reações

das “forças mágicas” que povoam os locais onde vivem e trabalham. Carneiro (1957, apud Ximenes

1992) destaca algumas dessas forças mágicas, personagens míticas: O Curupira e o Anhangá

assombram a floresta afugentando o predador, enquanto o Matinta Perêra e o Pinto Piroca mantêm

os habitantes nos limites de suas povoações, para que não continuem de noite a devastação que

causaram á natureza durante o dia. As mães-do-bicho defendem as empecíeis animais de sua

destruição pelo homem. A cobra grande (boiúna) passeia nos rios à noite como um navio todo

iluminado, garantindo a paz dos peixes. Os botos encantados seduzem as mulheres sob forma

humana, nada têm a temer nas águas em que corcoveiam em liberdade, são considerados “bichos

visagentos”.

No mundo em que vivem há uma luta constante entre as forças do bem, representadas pelos

santos, pelas rezas, pelas benzeções e por Deus e as forças do mal representadas pelas doenças,

pela morte, pelos feitiços, mal-olhados, quebrantos e ação dos seres sobrenaturais como os

encantos, os monstros e as visagens.

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Os sucessos e insucessos do cotidiano podem também ser atribuídos às plantas e a certos

alimentos. Algumas plantas dentro de casa atraem a boa sorte e impedem os malefícios. Há também

restrições e tabus a alguns alimentos, pessoas com problemas de pele não devem comer

caranguejos, nem peixe de couro. Carne de porco é considerada remosa. Mulheres de resguardo não

devem comer carne de caça e são excluídas em algumas atividades pesqueiras, como no ato da

captura do pescado. Atribui-se à mulher um poder mágico e destruidor, temido pelo homem. Proíbe-

se a ela, menstruada ou grávida passar sobre os instrumentos de pesca o que pode prejudicar a

pescaria.

Outros grandes fatores de crendices e de superstições são os animais tanto domésticos quanto

selvagens, como por exemplo, corujas, em casa, atraem má sorte, macaco guariba faz o homem

perder o caminho, botos possuem poderes mágicos.

A tradição recomenda evitar as mesmas trilhas, variando-se diariamente impede a ação funesta

dos seres protetores da floresta. O mesmo vale para os rios, lagos, e igarapés. Não se deve pescar

sempre no mesmo lugar para não atrair a tristeza das mães d´água. Banhos, infusões e defumações

podem manter o indivíduo a salvo da ação maléfica das entidades da floresta e dos rios. A reza

espanta os maus espíritos que perseguem os que se aventuram nas florestas e nos rios.

A força tradicional das crendices, das superstições e de formas de interpretação divinas,

mágicas e místicas da existência tem reflexos na vida de muitos pescadores que vivem em constante

estado de tensão. Todo o arcabouço cultural aliado aos procedimentos usuais a eles associados,

freqüentemente determina a aceitação ou a rejeição de certas transformações no tipo de captura das

diversas espécies de peixes, moluscos e crustáceos . Para cada espaço de atuação e de espécie, há

uma técnica de captura apropriada. As heranças ancestrais dos elementos formadores de muitas

comunidades influenciam nas formas de perceber e de interagir com o mundo natural dos

pescadores que vivem nas áreas rurais da Amazônia.

CONCLUSÃO

O pescador em seu trabalho lida com um ser vivo que demonstra possuir reações instintivas,

não se dobrando facilmente à vontade do pescador. Assim, sua briga com o peixe provoca momentos

de tensão e estresse, muitas vezes amenizados por crendices.

Observamos que o trabalho também desgasta mentalmente o pescador que precisa usar seu

poder cognitivo para agir com agilidade, controle da coordenação motora e conhecimento empírico,

para descobrir a melhor localização do cardume para o sucesso da pesca. É uma atividade que exige

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equilíbrio emocional constante, pois se realiza num ambiente favorável a situações de riscos e de

inseguranças.

Os indivíduos, quando diante de uma situação de angústia e insatisfação decorrente de seu

trabalho, elaboram estratégias de defesa que acaba por tornar o sofrimento um aspecto velado. O

sofrimento disfarçado encontrará como meio de eclodir uma sintomatologia, a qual às vezes

apresenta-se com certa estrutura própria a cada profissão ou ambiente de trabalho.

Dejours (1987, 1992,1994)) analisando a doença somática e a organização do trabalho

destaca que as doenças somáticas aparecem, sobretudo em indivíduos que apresentam uma

estrutura mental caracterizada pela pobreza ou ineficácia das defesas mentais (...).Para este autor a

psicopatologia tradicional está alicerçada no modelo clássico da fisiopatologia das doenças que

afetam o corpo. Dedica-se, exclusivamente, ao diagnóstico das doenças mentais, dos transtornos

mentais orgânicos, da esquizofrenia, dos transtornos do humor e dos inúmeros transtornos de

personalidade. Afirma também que executar uma tarefa sem envolvimento material ou afetivo exige

esforço de vontade que em outras circunstâncias é suportado pelo jogo da motivação e do desejo. A

vivência depressiva em relação ao trabalho e a si mesmo alimenta-se da sensação de

adormecimento intelectual, de esclerose mental, de paralisia da fantasia e da imaginação; na

verdade, marca de alguma forma o triunfo do condicionamento em relação ao comportamento

produtivo e criativo. Para esse autor na relação do homem com o conteúdo significativo do trabalho, é

possível considerar, esquematicamente, dois componentes: o conteúdo significativo em relação ao

sujeito e o conteúdo significativo em relação ao objeto. Quando o progresso e o avanço dessa

relação são bloqueados por algum motivo ou circunstância, observa-se a incidência do sofrimento.

Não é raro encontrar pessoas que, por uma condição de sua psicodinâmica interna, possuem a

propensão a trabalhar em excesso e a divertir-se muito pouco; outras, pelo contrário, passam os dias a

divertirem-se; outras ainda não conseguem fazer nem uma coisa nem outra. Sabe-se hoje que tanto o

trabalho, quanto à diversão em proporções satisfatórias são critérios para avaliar um funcionamento

psíquico saudável. Assim, o mundo do trabalho torna-se, de forma rápida e surpreendente, um

complexo monstruoso, que se por um lado poderia ajudar auxiliar o homem em sua qualidade de vida,

por outro lado, avassala o homem em todos os seus aspectos.

Esse princípio de realidade adentra e fere o psiquismo humano, fazendo com que as pessoas

sintam-se exigidas; o sentimento de impotência e de desvalorização, que leva as pessoas pouco

resistentes a degenerar-se rapidamente, avilta de si qualquer potencial humano que pudesse se

somar às conquistas da civilização.

O sofrimento, por seu turno, é desdobrado: o ponto de incidência proveniente das ações

mecânicas, conteúdo ergonômico da tarefa, é o corpo e não o aparelho mental; esse último será

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afetado pela insatisfação propiciada pelo conteúdo significativo da tarefa a ser executada,

transformando em sofrimento bem particular, cujo alvo, antes de tudo, é a subjetividade, ou seja, a

mente.

Esses desdobramentos na evitação do sofrimento por parte do ego podem também ocorrer em

relação ao trabalho, tanto do ponto de vista físico quanto mental. O trabalho, não só como uma

condição externa, pode propiciar sofrimento insuperável para o ego, empobrecendo-o e restringindo

sua ação a mecanismos defensivos repetitivos e ineficazes, não lhe possibilitando aferir, de acordo

com suas atividades, a satisfação de determinadas pulsões, que, não satisfeitas, tencionariam o

aparelho psíquico, gerando angústia, estados depressivos, ansiedade, medos inespecíficos, sintomas

somáticos, como sinais marcantes de sofrimento mental, com o agravante de que um ego debilitado

e frágil não consegue diferenciar, pela sua condição, a origem de seu sofrimento.

O sofrimento psíquico surge no contexto do trabalho de forma bastante sutil e vai gerando

processos conflituosos. Muitos trabalhadores desconhecem e/ou não associam certos tipos de

conflitos e sofrimento ao seu cotidiano e ao seu trabalho, apesar da clara evidência diagnosticada

por meio de suas próprias falas características, comportamentos e sintomas por eles apresentados

no cotidiano.

No caso dos pescadores, esse sofrimento é ocasionado, principalmente, pelas inconstâncias de

suas atividades. Os rios e mares, meio de onde provém o sustento desses trabalhadores e de suas

famílias, são desbravados todos os dias, a cada sopro de vento ou mudança no clima, surge o temor

do desconhecido, ora mares e rios são aliados desses pescadores, ora são terríveis e cruéis

inimigos.

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