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O GRANDE CONFLITO: A MAIS IMPORTANTE VISÃO DE ELLEN G. WHITE SOBRE A CONTROVÉRSIA ENTRE O BEM E O MAL LUCAS SAMUEL ROJO

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Page 1: O Grande Conflito: a mais importante visão de Ellen G. White sobre a controvérsia entre o bem e o mal

O GRANDE CONFLITO:

A MAIS IMPORTANTE VISÃO DE ELLEN G. WHITE SOBRE A CONTROVÉRSIA ENTRE O BEM E O MAL

LUCAS SAMUEL ROJO

Page 2: O Grande Conflito: a mais importante visão de Ellen G. White sobre a controvérsia entre o bem e o mal

ÍNDICE Prefácio Introdução 1 “O Destino do Mundo” (caps. 1-8) 2 “Despertam as Nações” (caps. 9-16) 3 “A Única Salvaguarda” (caps. 17-27) 4 “E Então Virá o Fim” (caps. 28-42) Conclusão Bibliografia

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PREFÁCIO

“Certamente, o Senhor não fará coisa alguma, sem antes contar o seu

segredo a Seus servos, os profetas” (Amós 3:7).

A doutrina do grande conflito é entendida como a mais importante da teologia

bíblica adventista. É por causa da existência desta batalha entre o bem e o mal que

passou a ser necessária todo um conjunto de outras doutrinas que inclusive

fundamentariam o compêndio das vinte e oito crenças fundamentais dos adventistas

do sétimo dia, além da educação religiosa por parte de patriarcas, da exortação dos

profetas, e inclusive da revelação bíblica, começando por Moisés, terminando com

João, no passado. Não só a mente humana não memorizaria o necessário estando

sem o escrito, mas o processo da secularização contribuiria no sentido de provocar

uma alienação cultural.

Deus deu a Ellen G. White importantes visões sobre: educação, vida

espiritual, conduta moral, sexualidade, regime alimentar, entre outros temas.

Entretanto, foi necessária a inspiração sobre um tema que permeia toda a Bíblia, o

grande conflito, que começou no Céu e continua na Terra, envolvendo a cada ser

humano, uma batalha sem precedentes por cada coração. A visão que deu origem a

esta magnífica obra poderia ter custado sua vida, mas Deus a livrou.

Este trabalho tem o fim de proporcionar auxílio, e colaborar com os estudos

desta tão conhecida obra da mensageira do Senhor. Não se trata de uma matéria

aprofundada, abalizada, ou mesmo erudita, justamente para atender à atual

necessidade de os membros da igreja compreender a mensagem contida no livro

inspirado.

O autor.

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INTRODUÇÂO

A história do livro O Conflito dos Séculos, mais conhecido como O Grande

Conflito, abrange um período entre cinco a seis décadas do ministério profético de

Ellen G. White. Seu conteúdo é de grande interesse para a Igreja Adventista do

Sétimo Dia. O livro originou-se em uma visão de duas horas. Conhecida como “a

visão do Grande Conflito” (14 de março de 1858 em Lovett’s Grove, Ohio, Estados

Unidos). Conta a autora: “vi-me envolta numa visão da glória de Deus. Foi-me

revelado muitos assuntos importantes relativos à Igreja” (White, Notas biográficas,

178).

Algumas cenas foram-lhe mostradas em 1848, mas em 1858 ela recebeu a

ordem de escrever sobre o assunto. “Foi-me mostrado que devíamos lutar contra os

poderes das trevas, pois Satanás faria grandes esforços para impedir esta tarefa;

devia colocar minha confiança em Deus, e os anjos não me abandonariam no

conflito” (White, Notas biográficas, 178). Em setembro de 1858 se publicou um livro

de 219 páginas intitulado The Great Controversy [O grande conflito], conhecido

como Spiritual Gifts (Dons espirituais), vol. 1.

O volume inclui o relato da queda do homem, o plano da redenção, e a

história da Igreja desde o tempo de Cristo até a Nova Terra (este relato encontra-se

na parte final do livro Primeiros Escritos, pags.145 a 295). Em 1864 apareceram os

volumes 3 e 4 do Spiritual Gifts, ampliando o conteúdo volume 1. Estes volumes

narram a História Sagrada desde a Criação até os tempos do rei Salomão. Esta

ampliação se deve a novas revelações dadas a Ellen G. White a partir de sua

primeira visão sobre o Grande Conflito. Nas décadas de 1870 e 1880, Ellen G. White

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preparou os quatro volumes de uma nova série intitulada Espírito de Profecia: A

Grande Controvérsia [Espírito de Profecia: O Grande Conflito].

O volume 4 do Spirit of Prophecy, que então seria O Conflito dos Séculos, foi

publicado inicialmente em 1884. Teve uma boa aceitação entre os leitores

adventistas tanto da Pacific Press quanto da Review and Herald que ao todo

publicaram 5.000 exemplares. Em três anos foram distribuídos 50 mil exemplares e

se converteu no livro mais vendido de Ellen G. White entre os colportores. Em 1888

a obra foi corrigida e ampliada sendo intitulada O Conflito dos Séculos, Com páginas

maiores, Maior número de ilustrações, E cinco capítulos adicionais em relação a

edição de 1884. A autora adaptou a terminologia e os conteúdos para os leitores não

adventistas, a fim de eliminar possíveis mal entendidos.

Algumas páginas do Spirit of Prophecy, volume 4 de 1884, foram excluídas do

Conflito dos Séculos, de 1888 e 1911 (Essas páginas se encontram nos

Testemunhos para Ministros, páginas 472-475). Excluíram-se algumas referências a

outras igrejas, e expressões tais como “Eu vi” ou “Me foi mostrado”. A autora disse:

“As verdades essenciais devem ser apresentadas claramente; mas até aonde seja

possível, devem ser ditas com linguagem que enfatize mais o bem do que com uma

linguagem ofensiva”. (WHITE, Testemunhos Seletos, v. 3, páginas 505-507).

A edição de 1888, a autora fez menção de sua própria experiência ao

trabalhar na Europa entre os anos de 1885 a 1887, quando conheceu os locais onde

os valdenses viveram e os reformadores protestantes da Itália, Suíça, Alemanha,

França, Inglaterra e os países escandinavos. Visitou por exemplo, a igreja de

Zuinglio, em Zurique.

A edição de 1888 se ampliou também com as leituras acerca da história do

protestantismo realizadas pela autora. Usou livros como: História do Protestantismo

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de J.A. Wylie, sobretudo para obter detalhes históricos e cronológicos. Muitas vezes

as leituras refrescavam em sua mente aquilo que ela havia visto em visão. Outro

autor citado foi J. H. Merle D’Aubigné. Estes escritores foram citados textualmente

em alguns casos, parafraseados ou resumidos em suas próprias palavras em outros

casos. A edição de 1888 continha 417 citações ou alusões de 75 autores diferentes.

Ellen G. White preparou também uma introdução a esta edição, explicando o

propósito do livro e o uso que ela fez de outros autores (Mencionado por TIMM,

Carlos, como referência à Revista Adventist World).

Vinte anos depois, em 1911, verificou-se a necessidade de se revisar, ilustrar

e imprimir o livro, com um apêndice mais completo das referências usadas. Além

disso, as placas do eletro tipo do livro estavam gastas, tanto na Pacific Press como

na Review and Herald e na Sociedade de Tratados de Londres. A autora se pôs a

trabalhar com prontidão. Ellen G. White e seus colaboradores trabalharam

minuciosamente na preparação dessa última edição que foi concluída em 1911.

Mudanças efetuadas: Melhorar as referências históricas; Modificar algumas frases

que podiam ser ofensivas ou imprecisas; Harmonizar a ortografia e a pontuação com

os outros livros da série O Grande Conflito. A autora aprovou com satisfação a

edição revisada.

Em uma carta a F. M. Wilcox, Ellen White escreveu:

“Como resultado do exame que foi efetuado pelos nossos ajudantes mais experientes, foram propostos algumas mudanças de palavras. Foi examinado cuidadosamente estas mudanças e foram aprovadas. Estou agradecida porque a minha vida foi conservada, e tenho clareza mental para este e outros trabalhos literários” (3 TS, 140)

Duas observações feitas por William C. White: Ellen G. White adaptou as

edições do livro ao seu público alvo. Spiritual Gifts, volume 1 (1858) e Spirit of

Prophecy, volume 4 (1884) foram escritos para os adventistas dos Estados Unidos.

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As visões dadas a Ellen G. White apresentavam cenas panorâmicas. Poucas

vezes incluíam dados cronológicos e geográficos. Ela devia supri-los por meio do

estudo pessoal da Bíblia e da História.

A Sra. White sentia um grande apreço pelo Conflito dos Séculos. Uma leitura

simples de suas afirmações na obra O Colportor Evangelista, páginas 78 a 146, nos

convencerá da importância da obra e das bênçãos que seus leitores podem receber.

Ellen G. White apreciava O Conflito dos séculos pela luz que lança sobre a

origem do mal e sobre o plano da salvação.

“Foi-me mostrado que os livros importantes que contêm a luz que Deus deu a respeito da apostasia de Satanás nos céus, devem receber uma ampla circulação precisamente agora; pois, por seu meio a verdade deve chegar à todas as mentes. Patriarcas e Profetas, Daniel e Apocalipse e O Conflito dos Séculos são agora mais necessários do que nunca” (Review and Herald, 16 de fevereiro de 1905).

Contém precisamente a mensagem que o povo deve receber e a luz especial

que Deus tem dado ao Seu povo. “Os anjos de Deus prepararão o caminho para

estes livros no coração do povo” (Special Instruction Regardin Royalties, p. 7, 1899).

Em outra ocasião falou da “preciosa instrução” contida nos livros como O Conflito

dos Séculos (Carta 229, 1903).

Ellen G. White não é a originadora destes livros. Eles contêm a instrução que

durante o período de sua vida Deus lhe deu. Contêm a luz preciosa e consoladora

que Deus concedeu generosamente à Sua serva para ser dada ao mundo. De suas

páginas, esta luz há de brilhar iluminando os corações dos homens e das mulheres e

conduzindo-lhes ao Salvador. “O Senhor me tem mostrado que estes livros hão de

ser espalhados por todo o mundo...”

Ellen White estimava O Conflito dos Séculos devido a sua influência espiritual. “Há

neles verdade que para o que a recebe, é um sabor de vida para a vida. São

mensageiros silenciosos para Deus. No passado, foram os meios usados para

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convencer e converter muitas almas. Muitos dos que os leram com grande

expectativa e por meio de sua leitura foram guiados a ver a eficácia do sacrifício de

Cristo e a confiar em Seu poder. Foram induzidos a encomendar ao o cuidado de

suas almas ao seu Criador, esperando e anelando a vinda do Senhor para levar aos

seus amados ao lar eterno. No futuro, estes livros irão facilitar a compreensão do

Evangelho a muitos outros, revelando-lhes o caminho da salvação” (Review and

Herald, 20 de janeiro de 1903).

“O livros maiores, Patriarcas e Profetas, O Conflito dos Séculos, O Desejado de Todas as Nações devem ser vendidos em todas as partes. Estes livros contêm a verdade para este tempo: uma verdade que há de ser proclamada em todas as partes do mundo. Nada pode impedir sua venda” (Review and Herald, 20 de janeiro de 1903).

Colportores e membros de igreja deviam empenhar-se nesta tarefa. “Irmãos e

irmãs, trabalhai fervorosamente para fazer circular estes livros. Ponde vosso coração

nessa tarefa, e a bênção de Deus os acompanhará” (Review and Herald, 20 de

janeiro de 1903). A pergunta da autora é: Não vês que as pessoas necessitam da

luz que se apresenta nele?”(Carta 1, 1890).

Ellen G. White declarou que apreciava a obra O Conflito dos Séculos mais do

que a prata e o ouro:

“O Conflito dos Séculos deve ser amplamente difundido. Contém a história do passado, presente e futuro. Em seu resumo das cenas finais da história desta Terra, apresenta um poderoso testemunho em favor da verdade. Estou mais ansiosa de ver uma ampla circulação deste livro do que qualquer outro que tenha escrito, porque O Conflito dos Séculos é a última mensagem de admoestação ao mundo que será dada de forma mais distinta que qualquer outra de meus livros” (Carta 281, 1905).

“Enquanto escrevia o manuscrito do Conflito dos Séculos, tinha a plena consciência da presença dos anjos de Deus. E muitas vezes as cenas acerca das quais tenho estado escrevendo me eram apresentadas de novo em visões de noite, de maneira que estavam vivas em minha mente” (Carta 56, 1911).

Ellen G. White predisse o impacto profundo produzido pela leitura do livro O Conflito

dos Séculos dentro e fora da Igreja:

“Os resultados da circulação desse livro não serão julgados por aquilo que agora se vê. Ao lê-lo, algumas almas serão despertadas e terão valor para unirem-se de imediato com os que guardam os Mandamentos de

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Deus. Mas um número muito maior que o leia não tomará sua decisão até que os próprios acontecimentos que foram preditos venham acontecer” (Manuscrito 31, 1890).

“Patriarcas e Profetas e O Conflito dos Séculos são livros especialmente adaptados aos que acabam de abraçar a fé, para que possam ser estabelecidos na verdade. Assinalam os perigos que devem ser evitados pelas igrejas. Os que se familiarizarem de forma concreta com as lições apresentadas nestes livros verão os perigos que lhe ocorrem e poderão discernir a senda pequena e reta por eles traçada. Serão guardados de desviarem-se por sendas estranhas. Seus pés andarão de forma correta, não permitindo que o manco saia para fora do seu caminho” (Carta 229, 1903).

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“O Destino do Mundo”

Antes mesmo de abrir esta seção, a autora inspirada introduz sua obra

contextualizando o evento do grande conflito, seus fatos e consequências e o papel

em cada parte envolvida. Abrindo as cortinas que escondem acontecimentos que

não são visíveis ao olhar humano, descreve uma batalha sem precedentes, e o

plano da salvação em favor da humanidade caída.

Introduz com a cena de Jesus contemplado a cidade de Jerusalém a partir do

monte das Oliveiras. O cenário era calmo e belo. Por isso, ninguém acreditaria que

algo tão pacífico brevemente seria destruído, e uma verdadeira carnificina teria

lugar. Foi justamente o que aconteceu trinta e seis anos depois. O exército romano

chegou a cercar a cidade, sob o comando de Céstio; porém, ao morrer subitamente

o imperador, recuaram. Três anos depois, voltam, sob o comando de Tito, cercaram

e tomaram a cidade. Este manifestou boa vontade, temendo ante a horrorosa cena

de ver uma imensidão de corpos mortos, apelou insistentemente aos líderes judeus

que não o pressionassem a fazer algo que ele em realidade não gostaria de realizar.

Mesmo assim, o responderam de um jeito amargo, sendo ele o “último intercessor”

deles. Inúteis se tornaram os esforços de Tito em querer salvar o templo. Mas Jesus

dissera antes dele que não deveria ficar pedra sobre pedra. Mesmo assim, queria

ele salvar o templo, se possível. Mas os judeus, enquanto Tito permanecia recolhido

em sua tenda à noite, saíram e quiseram atacar os soldados. A partir desse instante,

os soldados passaram a ignorar as ordens de Tito. Lançavam flechas ardentes para

queimar as salas revestidas de cedro do Templo, e assassinavam freneticamente

aos judeus. Ellen White descreve a cena: “o sangue corria como água pelas escadas

do templo abaixo” (p. 27). Foi o fim de uma geração que, ao ser julgado Jesus por

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Pilatos, clamava: “Que o Seu sangue caia sobre nós e nossos filhos...” (Mateus

27:25).

Assim, segundo Ellen White, acabaram mais de mil anos de história do

cuidado de Deus em favor do Seu povo escolhido. Rejeitando ao Salvador, selaram

seu destino e deixaram de ser uma nação escolhida por Deus como luz para as

nações. Se o Israel nacional houvesse preservado a fidelidade em relação à aliança

que Deus fizera com eles, teriam permanecido para sempre como povo eleito

(Jeremias 17:21-25). Ao invés disso, entraram para a história com um registro

repleto de apostasia e rebelião. O próprio Filho de Deus veio com o objetivo de

reverter o terrível quadro, porém, sem sucesso. O coração deles havia se

endurecido à influência divina. Quanto mais Deus era longânimo com Jerusalém,

mas os judeus se confirmavam na sua obstinação.

Olhando através dos séculos, no futuro, viu o povo da aliança espalhado por

muitos países. No momento em que estava no monte, viu em Jerusalém um símbolo

de um mundo inteiro, endurecido e completamente influenciado pelo espírito de

rebelião. Desde o conflito iniciado no Céu, e continuando na Terra, viu a desgraça e

a morte causadas pelo pecado. Dor e sofrimento faziam parte da vida diária da

humanidade, sendo que esse quadro piorava cada vez mais. O coração do Salvador

“moveu-Se de infinita compaixão pelos aflitos e sofredores da Terra”; e desejava

libertá-los da miséria. Mas, se fizesse isso, poucos procurariam por Ele. Era

necessário que padecesse e morresse por um mundo que O rejeitou, para que

assim pudesse salvar a muitos por Seu sacrifício.

Com a derrubada de Jerusalém, os discípulos associaram esse evento com o

fim do mundo (Mateus 24:3). Mas as cenas finais na história terrestre foram ocultas

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à vista deles por misericórdia. Houvessem visto tais situações por visão, teriam

desmaiado de horror.

A mensageira do Senhor declarou, às páginas 29 e 30:

“A profecia do Salvador relativa aos juízos que deveriam cair sobre Jerusalém há de ter outro cumprimento, do qual aquela terrível desolação não foi senão tênue sombra. Na sorte da cidade escolhida podemos contemplar a condenação de um mundo que rejeitou a misericórdia de Deus e calcou a pés a Sua lei”.

Assim como os judeus, o mundo têm rejeitado a Deus e Sua lei, e, da mesma

maneira, têm Deus estendido sua misericórdia. Com a rejeição final do mundo à

misericórdia de Deus, será este entregue à destruição final, assim como ocorreu

com Jerusalém no ano 70 d.C. Ainda assim, nenhum cristão pereceu naquela

destruição, pois Jesus os alertara previamente; portanto, os valorosos crentes desta

época também darão ouvidos a esta advertência, e junto ao seu Salvador e Senhor

encontrarão o abrigo dos juízos que dentro em breve cairão sobre o mundo.

Com o passar do tempo, surgem na história os mártires. Ainda nos tempos do

ministério de Paulo, durante o império de Nero, as perseguições começaram e

continuaram furiosamente durante séculos. Cristãos eram considerados culpados

pelas catástrofes que ocorriam, como terremotos, doenças e fomes, além de serem

acusados de prática de crimes hediondos. Eram considerados rebeldes do império

romano. Tornaram-se objeto de ódio e suspeita popular; e para piorar a situação,

pessoas “de confiança” se insurgiam como denunciantes, em vista do amor ao

ganho, para trair pessoas inocentes, assim como José, quando foi vendido como

escravo, e como Jesus, vendido e negado até mesmo por quem estava próximo.

Estes mártires, por muitas vezes presos, julgados de maneira injusta, mortos sem

razão, despojados da luz do sol, não pronunciavam queixas por seu estado.

Animavam uns aos outros, e mantinham a fé firme. Nenhuma perda de bênçãos

terrenas poderia fazê-los perderem a fé em Cristo. Isto foi fundamental numa época

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onde a Escritura Sagrada não era aceita como norma de fé. A doutrina da liberdade

religiosa era considerada heresia e defensores de tal prática eram tremendamente

odiados.

Pouco a pouco, e depois em franca e aberta ousadia, o “mistério da injustiça”

(2 Tessalonicenses 2:7) operava para solapar a verdade. Tudo como preparação

para o surgimento do papado. Trevas morais e espirituais começaram a se

estabelecer no seio da igreja cristã. Uma das primeiras doutrinas da igreja romana é

a de que o papa é a cabeça visível da igreja universal de Cristo, inclusive dotado de

autoridade sobre todos os bispos e pastores no mundo. Foi declarado infalível e

recebeu o título: “Senhor Deus, o Papa”. Quando o tentador aproximou-Se de Cristo,

também ofereceu toda a glória dos reinos mundiais com a condição de render a

adoração para ele. Satanás obtém sempre sucesso apresentando os mesmos

enganos. Da mesma maneira, a igreja foi levada a buscar o apoio e o favor dos

grandes da Terra. Assim, tendo rejeitado a Cristo, foi levada a prestar obediência ao

bispo de Roma, que configura como representante de Satanás.

Mesmo que durante a supremacia papal baixassem escuras e densas trevas,

a luz de Deus não poderia ser extinta. Em todas as épocas, sempre houveram

testemunhas que tinham fé em Cristo como único mediador e mantinham a Escritura

Sagrada como única regra de fé e prática, santificando o verdadeiro sábado. Dentre

os que mantinham fé incontaminada, estavam os bretões, sendo a Grã-Bretanha um

lugar onde o cristianismo foi enraizado desde o começo. Também os valdenses,

seguidores de Pedro Valdo, um dos primeiros povos europeus a conseguir a

tradução da Bíblia, isso centenas de anos antes do início da Reforma. No século XIV

surgiu na Inglaterra um homem que devia ser considerado “a estrela da manhã da

Reforma.” João Wycliffe tornou-se o conhecido arauto da Reforma, não somente

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para a região da Inglaterra, mas para todo o mundo cristão. O grande protesto que

proferiu contra Roma, jamais silenciaria. Deu início à luta de que deveria resultar a

libertação de indivíduos, igrejas e nações.

“Os romanistas não haviam conseguido executar sua vontade em relação a Wycliffe durante a vida deste, e seu ódio não se satisfez enquanto o corpo do reformador repousasse em sossego na sepultura. Por decreto do concílio de Constança, mais de quarenta anos depois de sua morte, seus ossos foram exumados e publicamente queimados, e as cinzas lançadas em um riacho vizinho. “Esse riacho”, diz antigo escritor, “levou suas cinzas para o Avon, o Avon para o Severn, o Severn para os pequenos mares, e estes para o grande oceano. E assim as cinzas de Wycliffe são o emblema de sua doutrina, que hoje está espalhada pelo mundo inteiro.” — História Eclesiástica da Bretanha, de T. Fuller. Pouco imaginaram os inimigos a significação de seu ato perverso.

Posteriormente, mas antes do tempo de João Huss, houve na Boêmia

homens que se levantaram para condenar abertamente a corrupção na Igreja

Católica e a dissolução do povo. Seu serviço despertou interesse que se estendeu

em muitas partes na Europa. Suscitaram-se os temores de padres, bispos e cardeais

e foi iniciada uma perseguição contra os discípulos do evangelho. Obrigados a fazer

seu culto em florestas e montanhas, acabaram se tornando vítimas dos soldados, e

muitos foram mortos. Depois de algum tempo foi baixado o decreto de que todos os

que se afastassem do culto romano deviam ser queimados. Mas, enquanto eram

assim condenados, os cristãos olhavam para a frente, no sentido de sua vitória.

João Huss era de humilde nascimento e cedo ficou órfão pela morte do pai. Sua

piedosa mãe, considerando a educação e o temor de Deus como a mais valiosa das

posses, procurou assegurar esta herança para o filho. Huss estudou na escola da

província, passando depois para a Universidade de Praga, onde teve admissão

gratuita como estudante pobre. Foi acompanhado na viagem por sua mãe; viúva e

pobre, não possuía dádivas nem riquezas mundanas para conferir ao filho; mas,

aproximando-se eles da grande cidade, ajoelhou-se ela ao lado do jovem sem pai, e

invocou-lhe a bênção do Pai celestial. Pouco imaginara aquela mãe como deveria

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sua oração ser atendida. Na Universidade, Huss logo se distinguiu pela sua

incansável aplicação e rápidos progressos, enquanto a vida irrepreensível e modos

afáveis e simpáticos lhe conquistaram estima geral.

Foi em outro lugar que Huss começou a obra da reforma. Vários anos após

haver recebido a ordenação sacerdotal, foi nomeado pregador da capela de Belém.

Um cidadão de Praga, Jerônimo, que depois se tornou intimamente ligado a Huss,

trouxera consigo, ao voltar da Inglaterra, os escritos de Wycliffe. A rainha da

Inglaterra, que se convertera aos ensinos de Wycliffe, era uma princesa boêmia, e

por sua influência as obras do reformador foram também amplamente divulgadas em

seu país natal. Estas obras lera-as Huss com interesse; cria que seu autor era um

cristão sincero e tinha a tendência de considerar positivamente as reformas que

advogava.

Notícias da obra em Praga foram levadas a Roma, e Huss foi logo chamado a

comparecer perante o papa. Obedecer seria expor-se à morte certa. Mas Huss não

parou seu trabalho, mas viajou pelo território circunjacente, pregando a ávidas

multidões. “Nada podemos contra a verdade, senão pela verdade.” 2 Coríntios 13:8.

Contrariando um salvo-conduto, e a proteção especial por parte do papa ao chegar

na cidade de Constança, logo Huss passou por uma repentina mudança para perder

as garantias de liberdade e ser preso e lançado numa horrível masmorra. Depois

disso, foi transferido para uma prisão em um castelo localizado além do rio Reno.

Porém, o papa que havia condenado a Huss e acusado aos padres, foi parar na

mesma prisão de Huss, pois seus crimes eram piores do que os dos outros padres.

Posteriormente, após quase ter morrido devido às condições da prisão em que

esteve, Huss ficou perante o imperador que se destacou em defende-lo, como

também diante dos líderes religiosos e do governo. Proferiu um solene discurso, em

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forma de protesto contra as corrupções dessas lideranças. Finalmente, foi dado a ele

optar entre renunciar suas convicções doutrinárias ou sofrer a morte. Ele optou pelo

martírio. Houve uma segunda vez onde Huss foi levado perante o concílio, e mais

uma vez reafirmou a decisão anterior. O imperador Sigismundo teve um momento de

grande vergonha ao Huss dizer publicamente que havia se dirigido por espontânea

vontade ao concílio por conta da fé e da proteção pública que o imperador havia lhe

garantido. Todos os olhares se voltaram na direção de Sigismundo.

Afinal, Huss foi condenado à morte, e começou a ser investido com roupas

sacerdotais. Cada bispo envolvido nessa impiedosa cerimônia proferiu contra ele

uma maldição. Colocaram uma mitra em forma de pirâmide em sua cabeça, que

possuía figuras demoníacas e a inscrição: “arqui-herege”. “Com muito prazer”, disse

Huss, ‘levarei sobre a cabeça esta coroa de ignomínia por Teu amor, ó Jesus, que

por mim levaste uma coroa de espinhos” (WHITE).

Um zeloso adepto de Roma, descrevendo o martírio de Huss, e de Jerônimo

que morreu logo depois, disse: “Ambos se portaram com firmeza de ânimo quando

se lhes aproximou a última hora. Prepararam-se para o fogo como se fosse a uma

festa de casamento. Não soltaram nenhum grito de dor. Ao levantarem-se as

chamas, começaram a cantar hinos, e mal podia a veemência do fogo fazer silenciar

o seu canto” (Wylie, citado por White).

Tempos depois, surge na história o conhecido reformador Martinho Lutero,

entre os que foram chamados por Deus para que a igreja saísse das trevas do

papado para a luz de Cristo. Filho de um mineiro, de cujo trabalho tirava os meios

para que futuramente se tornasse um advogado, não imaginava que Deus o

chamaria para ser o grande construtor de um empreendimento que Ele estava

erigindo ao longo dos séculos. Através de sofrimentos e tristezas da vida, Deus

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esteve preparando o caráter de Lutero para a obra que haveria de desempenhar.

Assim como foi feito aos seus irmãos, cuidadosa educação foi dispensada a ele

pelos pais, e frequentemente as orações o pai ascendiam ao Céu em favor dele.

Na escola, era tratado com grossura e mesmo de forma violenta. Por vezes passava

fome, e cantando de porta em porta, em algumas coisas para comer. Tais situações

corroboraram para que fosse levado a pensar em Deus não como o bondoso Pai

celestial, mas como um Juiz cruel e tirano. Ainda assim, avançou rumo à excelência

da norma moral. Aos dezoito anos, entrou para a Universidade de Erfurt, na

Alemanha. Tinha amigos agora, e estes eram judiciosos; essa influência contribuiu

inclusive para atenuar os sofrimentos e os traumas vividos no tempo da infância.

Seus pais agora tinham mais possibilidades de ajuda-lo com os custos universitários,

após certo tempo de dedicação e economia. Sob influências favoráveis, desenvolveu

ele um comportamento distintivo, incluindo excelente memória, imaginação viva,

grande capacidade de raciocínio, e muita energia para ser aplicado.

“Enquanto um dia examinava os livros da Biblioteca da Universidade, Lutero

descobriu uma Bíblia latina. Nunca dantes vira tal Livro. Ignorava mesmo sua

existência. Tinha ouvido porções dos evangelhos e epístolas, que se liam ao povo

no culto público, e supunha que isso fosse a Escritura toda. Agora, pela primeira vez,

olhava para o todo da Palavra de Deus. Com um misto de reverência e admiração,

folheava as páginas sagradas. Pulso acelerado e coração palpitante, lia por si

mesmo as palavras de vida, detendo-se aqui e acolá para exclamar: “Oh! quem dera

Deus me desse tal livro!”—História da Reforma do Século XVI, D’Aubigné. Anjos

celestiais estavam a seu lado, e raios de luz procedentes do trono de Deus traziam-

lhe à compreensão os tesouros da verdade. Sempre temera ofender a Deus, mas

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agora a profunda convicção de seu estado pecaminoso apoderou-se dele como

nunca dantes” (WHITE).

Lutero enfrentou grandes dificuldades em relação à compreensão da

salvação. Sua mente ficava constantemente aflita com esse assunto. “Eu era na

verdade um monge piedoso”, disse, mais tarde, “e seguia as regras de minha ordem

mais estritamente do que possa exprimir. Se fora possível a um monge obter o Céu

por suas obras monásticas, eu teria certamente direito a ele. ... Se eu tivesse

continuado por mais tempo, teria levado minhas mortificações até à própria morte”

(D’Aubigné, citado por WHITE).

Num momento em que Lutero imaginava estar tudo complemente perdido,

Deus lhe enviou um auxiliador piedoso: Staupitz. Este abriu perante ele a Palavra de

Deus, e disse-lhe que não mais olhasse para dentro de si mesmo para acabar

contemplando a ira de Deus na forma de castigo pela violação da Sua lei, e olhasse

naquele momento para Jesus e o considerasse o seu Salvador. Posteriormente, foi

ordenado sacerdote, e foi chamado a ser professor da Universidade de Wittenberg.

Ali se aplicou a estudar a Bíblia, inclusive nos idiomas originais.

Após viajar e conhecer Roma, foi editado e decretado pelo papa que haveria

promessa de perdão (indulgência) para as pessoas que subissem de joelhos a dita

“escada de Pilatos”, por onde Jesus “descera ao sair do tribunal romano”, e diziam

que “havia sido transportada de Jerusalém para Roma por milagre”. Lutero estava

subindo por esta escada, ajoelhado, quando inesperadamente e parecendo um

trovão, ouviu uma voz que disse: “O justo viverá da fé” (Romanos 1:17). De súbito e

num salto se ergueu dali, se sentindo com horror e vergonha. Esse texto da Bíblia

jamais foi esquecido por ele e nunca perdeu força. Daquele momento em diante,

percebeu claramente que o ensino de se confiar nas obras humanas para a

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salvação era uma falácia, e que deveria sempre confiar nos méritos de Cristo. Nunca

mais seria manipulado pelos editos e ensinos enganosos do papado.

Após voltar da cidade de Roma, ao chegar na universidade em que era professor,

Lutero recebeu o grau de doutor em teologia. Agora sim, poderia se dedicar

plenamente ao estudo da Bíblia, que era o que mais amava.

Nessa época, Tetzel se destacou como defensor da doutrina das

indulgências, inclusive de púlpito. Ellen White ilustra essas ações com as mesas dos

cambistas no templo (Mateus 21:12) e a tentativa do mágico Simão de comprar com

dinheiro o poder dos apóstolos para ter a capacidade de operar milagres como eles

operavam (Atos 8:19,20). Tetzel proclamava que, com as indulgências papais, nem

“mesmo o arrependimento não é necessário” (D’Aubigné, citado por WHITE). Muitos

da paróquia de Lutero compraram indulgências, e vieram após seu pastor, e

conquanto ainda fosse católico romano, recusou-se a absolvê-los, dizendo que se

não se arrependessem e reformassem sua vida, haveriam de perecer em seus

pecados. Tais pessoas desejavam perdão não porque desejavam corrigir-se, mas

para poderem acalmar a consciência em relação à culpa do pecado. Voltam-se

desgostosos à Tetzel, denunciando que seu confessor não estava disposto a aceitar

suas certidões de perdão, e alguns exigiam que o dinheiro fosse devolvido. Este

ficou possesso; pois esta era para ele uma grande fonte de renda. Começou a

pronunciar as mais terríveis maldições, ordenando que fogueiras se acendessem,

declarando haver recebido do papa a ordem para queimar a todos os hereges que

se opusessem a esta doutrina.

A isto, reage Lutero de maneira ousada, como defensor da verdade.

Proclamava do púlpito sobre o caráter ofensivo do pecado, que nada, a não ser o

arrependimento para com Deus e a fé em Cristo, poderia salvar o homem perdido. A

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graça de Cristo não pode ser comprada; é dada gratuitamente. Aconselhava o povo

a não comprar indulgências, mas olhar para o Redentor crucificado e ressurreto.

Afirmou, por sua própria experiência, penosa, que foi em vão encontrar salvação

através da humilhação própria e da penitência, e que foi olhando para fora de si

mesmo que pôde encontrar paz e alegria em Cristo.

Visto que Tetzel prosseguia com audácia em seu intento, Lutero decidiu agir

com mais eficácia. Em certa ocasião anual, igreja conclamava o povo para o dia da

festa de todos os santos. A Igreja do castelo de Wittenberg possuía muitas relíquias,

em certo dia todos os santos eram apresentados à público, ocasião na qual pleno

perdão era dado à todos aqueles que visitassem a igreja e se confessassem. Lutero

se juntou a esse povo e fixou na porta da catedral suas noventa e cinco teses sobre

justificação pela fé, e declarou que estava disposto a defende-las no dia seguinte,

visto que era doutor em teologia, contra todos os que quisessem ataca-las. Suas

propostas, em poucas semanas, eram conhecidas de todo o mundo cristão.

Multidões amantes do pecado, agora estavam aterrorizadas, pois havia sido perdido o efeito daquilo que lhes acalmava, ou melhor, cauteriza a consciência. Assim, Lutero começou a ser acusado de moralista, orgulhoso, de agir precipitadamente, presunçoso, impulsivo, entre outras coisas. Portanto, sendo evidente que Lutero estava agindo sob a direção do Espírito Santo nesta obra, deveria ele enfrentar ainda mais e maiores dificuldades. Às vezes tinha dúvidas se era dirigido por Deus à opor-se às mais poderosas forças da Terra e colocar-se contra a autoridade da igreja.

“Quem era eu para opor-me à majestade do papa, perante quem... os reis da Terra e o mundo inteiro tremiam? ... Ninguém poderá saber o que meu coração sofreu durante estes primeiros dois anos, e em que desânimo, poderia dizer em que desespero, me submergi.” — D’Aubigné. “Ele é um herege”, bradavam os zelosos romanos. “É alta traição à igreja permitir que tão horrível herege viva uma hora mais. Arme-se imediatamente para ele a forca!”—D’Aubigné.

Apesar de que muitos que receberam a luz do Céu foram condenados a

morrer por tortura, ele mesmo não foi uma vítima deles em fúria. Anjos do Céu foram

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comissionados para protegê-lo, pois Deus tinha uma missão para ele. Além disso,

seus ensinos atraíram a atenção de todo tipo de mentes pensantes da Alemanha.

Como todo ser humano, mas numa escala maior, Lutero sentiu mais que nunca a

necessidade da amizade. Nessa ocasião, em que Lutero tanto necessitava da

simpatia e conselho de um verdadeiro amigo, a providência de Deus enviou

Melâncton a Wittenberg. Jovem, modesto e tímido nas maneiras, o são

discernimento de Melâncton, seu extenso saber e convincente eloquência,

combinados com a pureza e retidão de caráter, conquistaram admiração e estima

gerais. O brilho de seus talentos não era mais assinalado do que a gentileza de suas

maneiras. Logo se tornou um fervoroso discípulo do evangelho, o amigo de mais

confiança e valioso apoio para Lutero, servindo sua brandura, prudência e exatidão

de complemento à coragem e energia daquele. Sua cooperação na obra

acrescentou força à Reforma, e foi uma fonte de grande animação para Lutero

(WHITE).

Tentativas foram feitas, pelos romanistas, de maneira ardilosa, de ganhar a

Lutero com a aparência da amabilidade. Isso precisa ser destacado, e patenteia o

verdadeiro espírito do papado. Ele respondeu falando sobre seus sentimentos em

relação à igreja, seu desejo de responder às objeções sobre o que havia ensinado, e

seu desejo de verdade, mas protestou contra o cardeal que não dizia mais que exigir

sua retratação, porém, sem apresentar provas de que ele estava em erro. Na

entrevista seguinte, Lutero apresentou um documento onde fazia a apresentação

dos assunto de maneira muito clara. Após apresentar em voz alto, o entregou o

documento nas mãos do cardeal, que o lançou com desdenho ao lado, declarando

ser este o fruto da ociosidade e que isso nada provava. Vendo isso, Lutero decidiu

defrontar o cardeal no seu próprio terreno – o das superstições e da tradição – e

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derrotou a cada uma de suas afirmações. Ao ver que o raciocínio de Lutero não

poderia ser contraditado, perdeu a compostura e o domínio de si exclamou:

“Retrate-se! ou mandá-lo-ei a Roma, para ali comparecer perante os juízes

comissionados para tomarem conhecimento de sua causa. Excomungá-lo-ei e a

todos os seus partidários, e a todos os que em qualquer ocasião o favorecerem, e os

lançarei fora da igreja.” E finalmente declarou, em tom altivo e irado: “Retrate-se, ou

não volte mais!” (D’Aubigné).

Martinho Lutero se retirou dali, o que esclareceu qual era sua decisão. O

cardeal havia se vangloriado a princípio de que através da violência poderia

subjuga-lo, mas afinal, foi deixado a estar apenas com os que o acompanhavam, a

se entreolharem. Mas essa audiência não ficou sem nenhum resultado positivo.

Todos os presentes tiveram a oportunidade de observar as ações dos dois e

julgarem por si através do espírito manifestado por cada um e perceber quem havia

manifestado o fruto do Espírito (Gálatas 5:22).

Entende-se que Lutero foi preservado do destino de morrer como um mártir.

Mas não foi simplesmente para livrá-lo da ira de seus inimigos, nem para

proporcionar a ele uma temporada de calma fora do alcance de situações

complexas, que Deus retirou seu servo da vida em público. Foi sobretudo para

preservá-lo do orgulho, Deus dera sabedoria a Frederico da Saxônia para idear um

plano destinado a preservar o reformador. Com a cooperação de verdadeiros

amigos, executou-se o propósito do eleitor, e Lutero foi, de maneira eficiente, oculto

de seus amigos e inimigos. Em sua viagem de volta para casa, foi preso, separado

de seus assistentes e precipitadamente transportado através da floresta para o

castelo de Wartburgo, isolada fortaleza nas montanhas (WHITE). Assim como em

relação aos elogios humanos, também estava isolado de qualquer tipo de apoio

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terrestre. Foi assim preservado da confiança em si mesmo e da exaltação própria,

sobre tantos momentos de vitória.

Geralmente, após obterem a luz da verdade, os seres humanos são levados

por Satanás a reverenciarem o instrumento no lugar do autor. Assim, o inimigo das

almas procura fixar os olhares nos fatores humanos. Assim, tais líderes religiosos

são levados, por sua vez, a confiarem em si mesmos, perdendo de vista a sua

dependência de Deus. Como resultado, procurar dirigir a consciência das pessoas

que esperam por suas diretrizes, ao invés de dirigi-las à Palavra de Deus. Por isso, a

obra da Reforma acaba sendo retardada em seu processo. Deus preservou Sua

causa, dessa maneira, de ter nela impressa as características humanas. As pessoas

haviam se dirigido a Lutero como sendo o expositor da verdade. Por isso, ele foi

retirado do meio público para que as pessoas pudessem se dirigir ao Autor da

verdade.

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2

“Despertam as Nações”

Um contemporâneo de Lutero, nascido poucas semanas após ele, mas na

Suíça, foi Ulrich Zwínglio. Desde a infância era ávido de interesse pelas histórias

bíblicas dos patriarcas e profetas. Assim como João Lutero, pai de Martinho, seu pai

se preocupava com sua educação. Aos treze anos, foi enviado para Berna onde

estava a escola mais conceituada. Foi nesse lugar onde se manifestou um grande

perigo. Frades e monges de um convento, ao perceberem as qualidades do menino,

procuravam atraí-lo. Providencialmente, o pai de Zwínglio recebeu notícias do que

estava acontecendo, e trabalhou para não permitir que seu filho seguisse a vida

ociosa e inútil dos monges.

Foi na Basiléia que Zwínglio ouviu pela primeira vez sobre o evangelho da

livre graça de Deus. Sob instrução de Wittenbach, que fora conduzido às Escrituras,

estudara Grego e Hebraico, e era professor de línguas antigas, que raios de luz

divina se derramaram sobre os estudantes dirigidos por ele. Declarava que existia

uma verdade antiga, de muito maior valor que as teorias ensinadas pelos

escolásticos e os filósofos: que a morte de Cristo é o único resgate pelo pecador.

Posteriormente, foi ordenado padre. Enfrentou dificuldades entre a teologia e a

filosofia da escolástica. Concluiu, entretanto, que deveria fazer da Bíblia a sua

própria intérprete.

Se identificava com Lutero, por estar pregando a Cristo. Seus ensinos

também se tornaram conhecidos da igreja, e, semelhantes aos ardilosos métodos

usados com Lutero, também tentaram usar a lisonja para atraí-lo. Tempos depois, o

entusiasmo dos monges deu lugar a um sentimento diferente. Passaram a estorvar

sua obra e condenar seus ensinos. Mas ele suportou isso com muita paciência.

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Assim como Tetzel na Alemanha, Sansão era o encarregado dos franciscanos para

a venda das indulgências. Ao saber disso, o reformador se opôs decididamente a

este, que não teve outra escolha a não ser ir para outro lugar.

Passo a passo a obra avançava em Zurique, superando ele inclusive a peste,

chamada de “grande morte”, que arrastou a Suíça em 1519. Ele também ficou

doente, mas manteve viva sua fé, e em algum tempo foi restabelecido da doença.

Mas agora seus inimigos se opuseram a ele decididamente. Após extensos debates

por delegados, Roma iniciou uma feroz perseguição, cujo campo de sangue Zwínglio

acabou sendo morto, em uma guerra civil.

Antes de Zwínglio e Lutero, a luz começara a raiar também na França.

Lefevrê, professor de extenso saber, entusiasta adorador dos santos, escreveu em

1512: “É Deus que dá, pela fé, a justiça que, somente pela graça, justifica para a

vida eterna.” —(Wylie.) Entre seus discípulos, encontrava-se Guilherme Farel. Este

deveria continuar a pronunciar a verdade muito tempo depois que a voz do mestre

silenciasse. Era filho de pais piedosos e ensinado a viver na tradição. Poderia, como

Paulo, dizer: “Conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu.” Atos

26:5. Como devoto romanista, ardia em zelo para destruir a todos os que ousassem

opor-se à igreja. “Eu rangia os dentes qual lobo furioso”, declarou ele mais tarde

referindo-se a esse período de sua vida, “quando ouvia alguém falar contra o papa.”

—(Wylie) Apesar disso, aceitou a verdade alegremente. Enquanto seu mestre

continuava a propagar a luz entre os discípulos, Farel saiu a anunciar a verdade

publicamente. Um dignitário da igreja, o bispo de Meaux, se uniu a ele. Também

outros ensinadores notáveis por sua capacidade e saber, unira-se na proclamação

do evangelho. Inclusive a irmã de Francisco I e parte da família aceitou o evangelho.

Logo começaram as perseguições, como era de se esperar. Mas ainda houve um

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tempo de paz, para que ganhassem forças para enfrentar a terrível tempestade. O

bispo de Meaux continuou ensinando a verdade ao povo. Assim como a Bíblia em

alemão saía do prelo de Wittenberg, Lefevrê empreendeu editar dessa forma o Novo

Testamento em francês. Em Meaux, o bispo se esforçou a fim de disseminar o

conteúdo, e em breve os camponeses estavam com posse de cópias das Escrituras.

Apesar de todo o sucesso obtido a perseguição foi lançada e vários tornaram-se

mártires, inclusive Berquin, que se destacara de várias maneiras. Apesar de alguns

terem, como Farel, de buscar o exílio voluntário, Berquin decidiu-se por enfrentar as

consequências finais da perseguição de frente.

Mesmo com este insucesso na França, entre os escolásticos da França, havia

um jovem muito promissor e refletido. Tinha-se por certo que João Calvino se

tornaria um dos mais habilidosos defensores da igreja. Mas um raio da luz divina

penetrou no meio das trevas onde ele estava aprisionado. Ele ficara impressionado

com as novas doutrinas, embora não duvidasse que os hereges merecessem a

fogueira. Mas de uma hora a outra, foi posto face a face com a heresia. Além disso,

um primo, Olivetan, que era protestante, constantemente conversava com ele sobre

problemas que afetavam a cristandade. ““Não há senão duas espécies de religiões

no mundo”, dizia ele. “Uma é a espécie de religiões que os homens inventaram, e

em todas as quais o homem se salva por cerimônias e boas obras; a outra é a

religião que está revelada na Escritura Sagrada e ensina o homem a esperar pela

salvação unicamente da livre graça de Deus.” “Não quero nenhuma das tuas novas

doutrinas”, exclamou Calvino; “achas que tenho vivido em erro todos os meus dias?”

— Wylie.

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Ainda assim, sendo ainda bem jovem, foi levado a ter contato com a Bíblia, onde

encontrou a salvação de Cristo. Passou a ensinar estas coisas de lugar em lugar, de

casa em casa.

A França rejeitara ao apelo através de Lefevrê e Farel. Mas a Providência

estava separando outra oportunidade. O rei da França, Francisco I, ainda não havia

tomado partido ao lado de Roma, pois tinha amor ao saber e desprezada a

ignorância do clero. A princesa Margarida tinha a esperança de que o protestantismo

afinal vencesse na França. Durante a ausência do rei, e já que não eram permitidas

pregações públicas, ela abriu as portas do palácio, onde um dos cômodos tornou-se

como uma capela. Foi anunciado que pessoas de todas as classes estavam

convidadas para certa hora, ouvirem um sermão. O rei não proibiu isso, e ordenou

que duas igrejas adicionalmente fossem abertas em Paris. A intemperança parecia

estar dando lugar ao espírito de vida. Mas, infelizmente, e em pouco tempo,

novamente as igrejas foram fechadas e a fogueira foi acesa novamente. Calvino se

encontrou com a perseguição, mas conseguiu fugir para um dos domínios de

Margarida, onde permaneceu disfarçado como seu hospedeiro.

Neste período, muitos se levantaram inclusive crianças, para disseminar a

verdade. Muitos, igualmente, não puderam optar ou mesmo não quiseram o exílio

voluntário, para não atrair a condenação máxima. A Revolução Francesa (1793 –

1798) foi um momento em que a França rejeitou, como nação ao culto à divindade,

além de assassinatos cometidos e a instauração ao culto da razão. A Bíblia em

vários exemplares foi queimada em praça pública. Manifestou-se o ateísmo do Egito

e a licenciosidade de Sodoma. Mas assim como no período do romanismo pagão, o

sangue dos santos era como semente. No plano de Deus, a luz da verdade não

deveria ser extinta, deveria continuar brilhando. Ao fim de um período sangrento

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quando muitos perderam suas vidas, mas estavam salvos em Jesus, deveria

novamente a Palavra de Deus ser exaltada à vista das nações.

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3

“A Única Salvaguarda”

A volta de Cristo tem sido em todos os séculos a esperança de Seus

verdadeiros seguidores. A última promessa do Salvador no Monte das Oliveiras, de

que Ele viria outra vez, iluminou o futuro a Seus discípulos, encheu-lhes o coração

de alegria e esperança que as tristezas não poderiam apagar nem as provações

empanar. Do calabouço, da tortura, da forca, onde santos e mártires testificaram da

verdade, vem através dos séculos a voz de sua fé e esperança. Estavam dispostos a

descer ao túmulo, para que pudessem “ressuscitar livres.” — A Voz da Igreja, Taylor.

Neste tempo, um dos maiores destaques foram os sinais do sermão profético de

Cristo. O terremoto de Lisboa, ocorrido em 1755, chegou a ser sentido pela maior

parte da Europa, África como também na América do Norte, numa extensão de dez

milhões de quilômetros quadrados. Vinte e cinco anos depois, o escurecimento do

sol e da lua. Mais surpreendente que isso, foi o cumprimento do tempo, indicado

pelos momentos finais da tribulação antes que acontecesse a volta de Cristo. Por

fim, a chuva de estrelas ou meteoros cadentes, em 1833, fechou este ciclo de sinais

indicados por Cristo como indicativos de Sua breve vinda.

Em 1831, surge no cenário norte-americano Guilherme Miller, que ficaria

conhecido como sendo o grande pregador do advento. Seus seguidores, conhecidos

como adventistas ou mesmo Mileritas, variavelmente chegaram quase a meio milhão

de pessoas. Embora houvessem pessoas céticas que acreditassem que alguma

coisa aconteceria em relação ao tempo indicado por ele para a volta de Cristo. Era

uma multidão expectante de aproximadamente um milhão. Juntamente com ele,

duzentos pastores das diversas denominações. Havia ele recebido uma autorização

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para pregar, assinada por vinte desses. Não era, portanto, uma pessoa por sua

própria conta.

No início, em tempos de guerra civil, abraçara o deísmo, que não é nada

menos que a teoria de Deus como um relojoeiro: dar corda e depois deixar um

mecanismo funcionar por conta própria, dando a entender que Deus não interfere

nos negócios humanos de nenhuma maneira. Mas, durante essa guerra, os Estados

Unidos, um exército em menor número, venceu a Inglaterra, que era militarmente

melhor preparada. Além disso, uma bomba chegou a ser lançada perto dele e outros

que estavam próximos, mas nada aconteceu. Essas coisas contribuíram para que

ele abandonasse a filosofia do deísmo.

Anos mais tarde o grande desapontamento teve lugar; Cristo não voltou,

como era a expectativa. Muitos do movimento abandonaram o mesmo, ficando

apenas um pequeno remanescente. Mesmo tão poucos em números, estes se

encarregaram não apenas de reiniciar e inovar, sob a liderança divina, a reforma

iniciada em tempos de outrora por Lutero, Zwínglio e outros, como também

aprofundar cada um dos ensinos da Bíblia. Ficaram conhecidos mais tarde como

sendo os adventistas do sétimo dia. Destacaram-se pioneiros da fé adventista,

vindos após Miller: Tiago S. White, Joseph Bates, John N. Andrews, John

Loughborough, Urias Smith, Rachel O. Preston, entre outros. O nome que mais ficou

destacado foi o de Ellen G. White, por ter sido escolhida por Deus como Sua

mensageira para o povo.

Com esta obra levada avante, a duras penas no início, mas crescendo

progressivamente, Satanás não ficou ocioso em vista disso. Como a perseguição

não dera resultado na Europa, ali na América tentaria ele de outras maneiras.

Através de facções internas, perseguição ideológica, indução à apostasia, inclusive

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lançando uma moléstia sobre Ellen White quando esta estava a escrever a obra em

questão. Também uma tentativa de influenciar a liderança da igreja a excluir o seu

ministério profético da vida da igreja, por meio de um envio para a Austrália, onde

ficou por cerca de nove anos, e depois para a Europa, por mais cinco, e a

possibilidade inclusive de substituí-la por outra mulher que alegava ter sonhos e

visões da parte de Deus. Mas, mesmo estando fora, a mensageira do Senhor, que

preferia não ser chamada de “profetisa”, mandava cartas à liderança em Battle

Creek, o centro da obra, denunciando realidades intoleráveis e declarando a vontade

de Deus. Após isso, a mulher que pretensamente tomara o seu lugar, declarou que

as visões que alegara haver tido, procediam de sua própria imaginação...

Além das facções, do surgimento do espiritismo moderno em 1848, do

fanatismo religioso que a Sra. White enfrentava em seus dias, apostasias de

importantes pessoas e alguns considerados gênios, como no caso do Dr. John H

Kellogg, ocorreu uma grande crise interna que ficou em torno da teoria panteísta,

que dizia que a presença de Deus permeava a natureza toda. Kellogg chegou a

afirmar que mesmo suas ações eram atos criativos de Deus (TIMM, 2006). Grandes

incêndios consumiram instalações físicas da igreja, sendo o mais notável o do prédio

da Review and Herald, a casa editora na localidade. Foi a crise mais complexa que

teve lugar no meio adventista, por não ter sido atendida a orientação divina. Mas,

através de Sua mensageira, Deus orientou de forma a livrar a igreja de tal crise, que

ficou conhecida como apostasia Alfa. Ellen White advertiu que futuramente a igreja

se depararia com um perigo muito maior, ao qual denominou como apostasia

Ômega, que junto com a Alfa solaparia todas as verdades bíblicas, além de

contribuir para derrubar por terra a crença na personalidade do Espírito Santo.

Aconselhou que tal sofisma deve ser lidado como um navio que se depara com um

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iceberg, mas ao invés de permanecer passivo, deveria ir com toda a velocidade a fim

de destruir o iceberg de uma vez. Danos na estrutura dos membros da igreja

ocorreriam, evidentemente, mas seria salva de um terrível sofisma enganoso

(mencionado em Testemunhos Para Ministros).

Assim, como ela predisse, a igreja enfrenta hoje tal desafio, já há mais de

trinta anos, tendo a crise iniciado de maneira audaz em 1980, após a sessão da

Assembleia Geral, ocorrida no Texas. Levantaram-se grupos facciosos, com o

objetivo de abandonar a igreja, juntar pessoas e iniciar um dito “reavivamento

espiritual”, mas negando a eternidade de Cristo, a personalidade do Espírito Santo,

além de mergulharem numa série de outras dificuldades. Segundo RAMOS (2008),

tais movimentos possuem quatorze características distintas que patenteiam sua

falsidade: heresia letal; mistura do falso com o verdadeiro; alegação de ser uma

grande verdade; aparente apoio da Bíblia e do Espírito de Profecia; aparência de

piedade (vida cristã de aparência); conceito sobre Deus à luz da razão humana;

pressão sobre os adventistas do sétimo dia; agressão à personalidade de Deus;

representação falsa de Deus e desonra a Ele; “espiritização” de Deus; fator de

desagregação (saída e divisão); “amor espiritual não santificado”; total dissonância

com os ensinos de Cristo e inspiração pelo diabo.

Sendo que a igreja hoje se depara com tal perigo, há a necessidade de, mais

do que nunca, reafirmar nossa posição ao lado da verdade de Cristo, e clamar pelo

auxílio do Espírito Santo. Ellen White declara que “o príncipe da potestade do mal só

pode ser mantido em sujeição pelo poder de Deus na terceira pessoa da Trindade, o

Espírito Santo” (Special Testimonies, Série A, nº 10, pág. 37, citado em

Evangelismo).

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4

“E Então Virá O Fim”

O juízo investigativo, após a descoberta a doutrina do santuário no século

dezenove, tornou-se uma das crenças que atestaram a distinção dos adventistas do

sétimo dia, embora não seja a maior diferença quando comparado a outros

movimentos. Esta crença esta baseada no fato de ainda sermos pecadores por

natureza, sendo que na cruz fomos libertos da condenação e da culpa do pecado,

somos realmente criações novas de Deus (1 Coríntios 5:17), mas a tendência ou

propensão para o pecado ainda existe. Mesmo que não por hábito, podemos pecar

contra a nossa própria vontade (Romanos 7). Por isso, necessitamos de um

Advogado (1 João 2:1), para quem possamos recorrer nesses casos. Por vezes, não

sabemos nem mesmo como convém orar; assim, o Espírito Santo “nos assiste em

nossas fraquezas” (Romanos 8:26). Por isso, é necessário um juízo que dê

continuidade ao que Cristo fez na cruz, não por significar que Sua expiação tenha

sido incompleta; mas porque somos, sem ajuda, fracos por natureza.

A origem do pecado e do sofrimento é motivo de perplexidade para muitas

pessoas. Por que um Deus de amor, misericordioso, “permite” que até inocentes

sofram? Vários responsabilizam a Deus como sendo o responsável por tudo isso,

enquanto outros preferem depositar sua crença no destino. Mas, infelizmente,

desconhecem a justiça e a misericórdia de Deus operando juntas, o contexto do

grande conflito, e o objetivo de santificação pós-justificação que Deus tem para

enobrecer o caráter ao tolerar que o sofrimento faça parte da vida de Seu povo.

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Nesta época, mais do que nunca, e de maneira cada vez mais intensa à

medida que o fim se aproxima, os ardis de Satanás vão se intensificando. Quando

não são as estratégias de divisões internas na igreja, ocorrem através de sofismas

no ambiente externo: teorias e filosofias enganosas, contra as quais mesmo os

apóstolos já em seus dias haviam alertado aos cristãos. Como nunca antes na

história deste mundo, precisamos ser um povo muito apegado à Palavra de Deus

como critério que põe à prova a todo ensino e instrução.

Além do domingo como dia de guarda, existe uma crença geral da

imortalidade da alma. Ellen White declarou:

“Mediante os dois grandes erros — a imortalidade da alma e a santidade do domingo — Satanás há de enredar o povo em suas malhas. Enquanto o primeiro lança o fundamento do espiritismo, o último cria um laço de simpatia com Roma. Os protestantes dos Estados Unidos serão os primeiros a estender as mãos através do abismo para apanhar a mão do espiritismo; estender-se-ão por sobre o abismo para dar mãos ao poder romano; e, sob a influência desta tríplice união, este país seguirá as pegadas de Roma, desprezando os direitos da consciência” (p. 513).

Assim, enquanto o povo de Deus, sob Sua direção, proclama as últimas

mensagens de advertência ao mundo, está a acontecer uma contrafação. A profecia

da tríplice união, acima referida, está encontrando seu cumprimento em nossos dias.

Tal como ocorreu nos dias dos reformadores da Idade Média, quando estes

receberem a capacitação sobrenatural em dons espirituais, representada na Bíblia

pela “chuva serôdia” e disseminarem a luz da verdade pelo mundo, começará uma

nova perseguição para destruir a obra, em escala mundial. Terá início o “tempo de

angústia”, ao qual se referiu Daniel. Muitos abandonarão a fé para se juntarem às

fileiras do adversário, enquanto muitos outros que viviam em trevas aceitam a luz de

Deus, veem que temos a verdade e se unem a nós para suportar a perseguição.

A volta de Cristo ocorrerá muito em breve, e será um glorioso acontecimento.

Evidentemente que Satanás pretende fazer uma imitação até disto (p. 624). Mas,

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todos aqueles que estiverem firmes na Palavra de Deus, não serão enganados por

essa teatralidade.

Após o milênio, quando a cidade santa estiver descendo para ser instaurada

no “novo céu e nova terra” (Apocalipse 21:1), os ímpios serão todos ressuscitados.

Será este um momento de atestar a justiça de Deus. Satanás, assim como todos os

ímpios, haverão de se curvar perante Deus e reconhecer: “Grandes e maravilhosas

são as Tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus

caminhos, ó Rei dos santos” (Apocalipse 15:3); e, prostrando-se, adoram o Príncipe

da vida.

Dá-se a entender que todos, tanto justos como ímpios, fazem uma oração

universal: “Nós não queremos mais o mal”. E os ímpios: ”Nos destrua, pois caso

contrário acabaremos por fazer uma grande destruição”. E Satanás, mesmo tenho

reconhecido a justiça de Deus e a supremacia de Cristo, não teve nenhuma

mudança de caráter. A rebelião em seu coração explode, “como torrentes de águas”.

Está decidido a não ter a sua causa derrotada no grande conflito. Estimula aos anjos

caídos e aos ímpios ressuscitados, mesmo havendo grandes divergências entre

eles, e avançam todos na direção da cidade santa. Mas fogo e enxofre de Deus

caem sobre eles e os consome. Uns levam mais tempo para morrer do que outros,

dependendo de suas obras. Satanás será o último a morrer, sinalizando toda a sua

responsabilidade desde a rebelião iniciada no Céu.

“O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. O Universo inteiro está purificado. Uma única palpitação de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta criação. Daquele que tudo criou emanam vida, luz e alegria por todos os domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor” (p. 678).

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Conclusão

A partir de um panorama passado-presente-futuro, o livro O Grande Conflito

pode ser considerado um best-seller, o livro de Ellen G. White mais divulgado e

vendido no mundo. Muitos são os depoimentos e testemunhos de conversão que

tiveram, por uma de suas bases, a leitura e o estudo desse livro.

Muitas, na mesma frequência, são as acusações e protestos contra o mesmo, sobre

a editoração e comparações de adições atuais com as antigas, para demonstrar que

a diminuição do material poderia ser como uma evidência de apostasia doutrinária

por parte da Igreja Adventista do Sétimo Dia, mais diretamente ao Patrimônio

Literário White (White Estate), sendo que, na maior parte dos casos, o objetivo é

incitar o ódio e a revolta contra a liderança da Igreja. Esta atitude não tem

contribuído para outra coisa senão para solapar as tão fragilizadas bases da unidade

no corpo de Cristo, estimulando a divisão e a hipocrisia.

A mensagem contida no livro é realmente inspiradora; pessoas eram levantadas por

Deus e estavam diante do mundo pregando e ensinando com ousadia a mensagem

de Deus, livrando o povo das trevas morais e espirituais. Muitos rejeitaram, vários

outros aceitaram; enquanto muitos endureciam o coração cada vez mais, houve

pessoas que acolheram a luz do Céu no coração, e por mais desvantajoso que

fosse, conservaram com firmeza a fé em Jesus Cristo.

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Bibliografia

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completa cem anos!, Artigo da Revista Adventist World, julho de 2011, p. 22-23.

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Magalhães Costa).

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TIMM, Alberto Ronald. Série em vídeo “História da Igreja”, nº 7: Os Naufrágios na

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2002.

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Paulo, 1985.