gestão de conflitos (1)

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  • MARIA DO CARMO FIALHO VARGAS

    GESTO DE CONFLITOS E DESGASTE PROFISSIONAL

    NO BLOCO OPERATRIO

    O CASO DOS ENFERMEIROS

    DISSERTAO DE MESTRADO EM COMUNICAO EM SADE

    LISBOA

    2010

  • 2

    GESTO DE CONFLITOS E DESGASTE PROFISSIONAL

    NO BLOCO OPERATRIO

    O CASO DOS ENFERMEIROS

    Dissertao apresentada para obteno do Grau de Mestre em

    Comunicao em Sade, sob a orientao do Professor Doutor

    Jorge Correia Jesuno

    Maria Do Carmo Fialho Vargas n 64261

    LISBOA

    2010

  • 3

    SIGLAS

    AESOP- Associao de Enfermeiros de Salas de Operaes Portuguesas

    AORN- Association Operating Room Nurses

    EORNA European Operating Room Nurses Association

    BO - Bloco Operatrio

    DPS- Despersonalizao

    EE - Exausto Emocional

    H- Hiptese

    HGO, EPE - Hospital Garcia de Orta Entidade Pblica Empresarial

    RP - Realizao Pessoal

    SIGIC- Sistema Integrado de Gesto de Inscritos Para Cirurgia

    SPSS - Statistical Package for the Social Science

    UCPA - Unidade de Cuidados Ps Anestsicos

    VPO - Visita Ps- Operatria

  • 4

    Evitar ou libertar-se da exausto leva-nos a

    posicionar-nos enquanto indivduos na

    sociedade, a realizar escolhas profissionais,

    ticas, pessoais e, nalguns casos, a iniciar um

    processo de transformao decerto exterior mas

    tambm interior.

    Michel Delbrouck

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Um agradecimento muito especial para a minha famlia, que me apoiou

    incondicionalmente.

    Ao professor Correia Jesuno pela disponibilidade e interesse demonstrados na

    anlise da temtica.

    equipa de Enfermagem do Bloco Operatrio do Hospital Garcia de Orta,

    E.P.E., pelo entusiasmo demonstrado e excelente colaborao.

    Ao Gonalo e ao Z pelo apoio e pelo incentivo.

    Ao meu pai Venncio, falecido no decorrer deste trabalho, que me ensinou a

    ser quem sou, sem ele nada teria sido possvel, para ele um obrigado muito

    especial.

    Ao pequenino Alexandre por existir.

    A todos aqueles que de alguma forma contriburam para a realizao deste

    estudo.

    Obrigada,

    Maria do Carmo Fialho Vargas

  • 6

    RESUMO

    Este trabalho de Investigao surgiu no mbito da Dissertao de Mestrado em

    Comunicao em Sade, da Universidade Aberta.

    O ponto de partida para esta investigao consistiu em conhecer qual a

    estratgia de gesto de conflitos que a equipa de enfermeiros do Bloco

    Operatrio do Hospital Garcia de Orta, E.P.E. mais utiliza e, se estas esto

    associadas aos nveis de Desgaste Profissional Burnout.

    Baseando-nos em vrios autores que defendem que as profisses de ajuda,

    onde se inserem os profissionais de sade, so altamente susceptveis ao

    desgaste profissional, o denominado Burnout, surgiram os seguintes objectivos

    de investigao:

    Identificar as estratgias de gesto de conflitos utilizadas pela equipa

    Identificar as dimenses do Burnout

    Partindo da definio de Burnout como a resposta prolongada no tempo a

    stressores interpessoais crnicos no local de trabalho e, sendo o Bloco

    Operatrio um local extremamente despersonalizante, que submete os seus

    trabalhadores a um stress contnuo, quer pelos aspectos fsicos propriamente

    ditos, quer pelas situaes crticas que a sucedem, colocamos a seguinte

    questo de partida para este estudo:

    Ser que os estilos de gesto de conflitos utilizados pelos enfermeiros

    do Bloco Operatrio do HGO, EPE esto associados aos seus nveis de

    desgaste profissional?

    Metodologicamente trata-se de um estudo do tipo descritivo, de carcter

    exploratrio e transversal, uma vez que partimos da formulao de Hipteses

    explicativas de uma realidade concreta que pretendemos testar e, recorremos

    ao questionrio como instrumento de colheita de dados. O questionrio um

    mtodo de colheita de dados que recorre s respostas escritas a um conjunto

    de questes, por parte dos sujeitos.

  • 7

    Trata-se dum instrumento de medida que traduz os objectivos de um estudo

    com variveis mensurveis.

    A opo pelos inquritos como instrumento de colheita de dados, revela a

    nossa escolha pelo paradigma quantitativo.

    Este tipo de investigao mostra-se geralmente apropriado quando existe a

    possibilidade de recolha de medidas quantificveis de variveis e inferncias a

    partir de amostras de uma dada populao.

    A populao deste estudo so os enfermeiros que prestam cuidados num

    Bloco Operatrio de um Hospital da Grande Lisboa, sendo a nossa amostra

    constituda por 40 enfermeiros.

    Os indivduos da amostra sero seleccionados de forma aleatria, sero

    submetidos a um processo de amostragem no probabilstica, mais

    concretamente optmos por utilizar o mtodo da amostragem intencional ou de

    convenincia, a qual consiste em recorrer aos sujeitos que esto acessveis

    num dado momento e em determinado local.

    Cada um dos indivduos da amostra respondeu a trs questionrios: um de

    caracterizao scio-demogrfico, o MBI ( Maslach Inventory Burnout) e um de

    Estratgias para Gesto de Conflitos.

    O inventrio de Burnout de Maslach (MBI) resulta da traduo e adaptao do

    Maslach Burnout Inventory (Maslach & Jackson, 1986) para a lngua

    portuguesa por Cruz e Melo em 1996 e que permite avaliar o stress e Burnout

    nos profissinais de ajuda em Portugal.

    Este questionrio resultou de vrios estudos efectuados com indivduos cujas

    profisses implicassem o contacto directo com outras pessoas, com o intuito de

    perceber os efeitos do Burnout nos profissionais de ajuda.

    Para avaliar o estilo de gesto de conflitos foi utilizado o questionrio de

    Estratgias para Gesto de Conflitos referenciado por Jesuino (2003)

    adaptado de Thomas (1976).

    As estratgias distribuem-se pelos cinco estilos: Imposio, Compromisso,

    Integrao, Acomodao e Evitamento.

    Numa fase posterior, os dados foram sujeitos a anlise estatstica, atravs de

    modelos matemticos, no sentido de testar as hipteses levantadas, com

    recurso ao SPSS (Statistical Package for the Social Sciences).

  • 8

    Os princpios da beneficncia e anonimato foram integralmente respeitados na

    investigao, nomeadamente durante o processo de recolha de dados.

    Aps anlise e tratamento dos dados obtidos foram vrias as concluses

    emergentes neste estudo:

    - Os enfermeiros inquiridos apresentam nveis baixos de exausto emocional e

    de despersonalizao e, um nvel mdio de realizao pessoal. Desta forma,

    podemos afirmar que, de um modo geral, os Enfermeiros participantes no

    estudo manifestam um baixo nvel de Burnout.

    - Relativamente estratgia de gesto de conflitos primria a que os

    enfermeiros da amostra mais recorrem verificamos que o Compromisso

    sendo a secundria a Acomodao.

    - Da correlao efectuada entre as vrias variveis: Estilos de gesto de

    conflitos, Burnout e variveis scio-demogrficas, os resultados em termos

    estatsticos no demonstraram diferenas significativas, pelo que no nos foi

    permitido aceitar as hipteses por ns levantadas; com excepo para a

    relao existente entre o tipo de vnculo ao quadro e a escolha da estratgia de

    gesto de conflitos. Nesta hiptese confirmmos que os enfermeiros que

    pertencem ao quadro da instituio utilizam mais o estilo de imposio para

    resolver os seus conflitos.

    Se os enfermeiros no mobilizarem adequadamente os recursos que tm ao

    seu dispor na gesto de conflitos, poder ocorrer um maior ndice de Desgaste.

    O trabalho em equipa pluridisciplinar como o desenvolvido pelos enfermeiros

    no Bloco Operatrio em que o stress presena assdua e, a escolha de um

    estilo de gesto de conflitos desajustado situao pode deteriorar as relaes

    interpessoais e diminuir a realizao profissional conduzindo a situaes de

    exausto e despersonalizao.

    Neste sentido, essencial a criao de recursos de suporte que apoiem estes

    profissionais. A formao dos vrios tcnicos de sade nestas temticas traria

    um grande contributo para o bem-estar da equipa e dos seus utentes.

  • 9

    INDICE

    0- INTRODUO

    1- DEFINIO DO PROBLEMA

    2 ENQUADRAMENTO TERICO

    2.1 COMUNICAO

    2.2- CLIMA E CULTURA ORGANIZACIONAL

    2.3- GRUPOS E EQUIPAS DE TRABALHO

    2.4- O PODER

    2.4.1- O Poder dos Profissionais nos Cuidados de Sade

    2.5 O STRESS

    2.5.1- Causas de Stress

    2.5.2- A Importncia da Avaliao do Acontecimento

    2.5.3- Efeitos do Stress

    2.5.4- Stress nos Enfermeiros

    2.5.5- Recursos e Estratgias para Lidar com o Stress- Coping

    2.6- O DESGASTE PROFISSIONAL- BURNOUT

    2.6.1- O Sndrome de Burnout nos Enfermeiros

    2.7 O CONFLITO

    2.7.1- Condies que Predispem ao Conflito

    2.7.2- Condies que Desencadeiam o Conflito

    2.7.3- O Conflito nas Organizaes de Sade

    2.7.4- Tipos de Conflitos

    2.7.5- Modelo De Conflito

    2.7.6- Gerir Com Assertividade Os Conflitos Na Equipa

    2.8 A NEGOCIAO

    2.8.1- Estratgias e Tcticas Competitivas

    2.8.2- Estratgias e Tcticas Integrativas

    2.8.3- Distores e Enviesamentos Cognitivos na Negociao

    2.8.4- Interveno de Terceiras Partes

    2.8.4.1- A Mediao

    2.8.4.2- A Arbitragem

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    2.8.5- Alguns Condicionantes Negociao

    3- METODOLOGIA

    3.1 ESCOLHA E CARACTERIZAO DO CONTEXTO DA

    ORGANIZAO

    3.2- TIPO DE ESTUDO

    3.3- PROCEDIMENTOS NA COLHEITA DE DADOS

    3.3.1- Instrumento de Colheita de Dados

    3.4- POPULAO E AMOSTRA

    3.4.1- Caracterizao da Amostra

    4- ANLISE ESTATISTICA E DISCUSSO DOS

    RESULTADOS

    4.1- ANLISE DOS DADOS DO QUESTIONRIO SOCIO-

    DEMOGRFICO

    4.2- RESULTADOS DO INVENTRIO DE BURNOUT DE

    MASLACH

    4.3- ANLISE DO QUESTIONRIO DE ESTRATGIAS DE

    GESTO DE CONFLITOS

    4.4- VERIFICAO DAS HIPTESES

    5- LIMITAES DO ESTUDO

    6- IMPLICAES DO ESTUDO

    7- CONCLUSO

    8- BIBLIOGRAFIA

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    NDICE DE ANEXOS

    Anexo I - Pedido Formal

    Anexo II - Questionrio Scio- Demogrfico

    Anexo III - Questionrio MBI

    Anexo IV - Questionrio Estratgias de Gesto Conflitos

    Anexo V - Grelha de Apuramento do Questionrio de

    Estratgias de Gesto Conflitos

    Anexo VI - Estatstica Descritiva do Questionrio Scio-

    Demogrfico

    Anexo VII - Estatstica Descritiva do Questionrio MBI

    Anexo VIII - Estatstica Descritiva do Questionrio de Estratgias

    de Gesto Conflitos

    Anexo IX - Consistncia Interna dos Questionrios MBI e

    Estratgias de Gesto de Conflitos

    Anexo X - Testes de Hipteses

    Anexo XI - Cronograma

    NDICE DE QUADROS

    Quadro 1 - Sintomas mais Frequentes na Sndrome de Burnout

    Quadro 2 - Modelo de Conflito de Thomas

    Quadro 3 - Os Estilos de Gesto de Conflitos de Rahim

    Quadro 4 - Caractersticas da Amostra

    Quadro 5 - Relao das Variveis em Estudo

    NDICE DE TABELAS

    Tabela 1 - Idades dos Inquiridos

    Tabela 2 - Vnculo Instituio

    Tabela 3 - Frequncias das Respostas ao MBI

    Tabela 4 - Consistncia Interna MBI

    Tabela 5 - Estatsticas Descritivas do MBI

    Tabela 6 - Frequncias das Respostas ao Questionrio de

    Estratgias de Gesto de Conflitos

    Tabela 7 - Consistncia Interna do Questionrio de Estratgias

    de Gesto de Conflitos

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    Tabela 8 - Estatsticas Descritivas do Questionrio de

    Estratgias de Gesto de Conflitos

    Tabela 9 - Testes Mann- WhitneY Integrao / Burnout

    Tabela 10 - Estatsticas Descritivas Integrao / Burnout

    Tabela 11 - Testes Mann- WhitneY Compromisso / Burnout

    Tabela 12 - Estatsticas Descritivas Compromisso / Burnout

    Tabela 13 - Testes Mann- WhitneY Imposio / Burnout

    Tabela 14 - Estatsticas Descritivas Imposio/ Burnout

    Tabela 15 - Testes Mann- WhitneY Evitamento / Burnout

    Tabela 16 - Estatsticas Descritivas Evitamento / Burnout

    Tabela 17 - Testes Kruskal- Wallis

    Tabela 18 - Tukey HSD

    Tabela 19 - Tukey HSD

    Tabela 20- Estatsticas Descritivas Tempo Exerccio Profissional

    no BO/ Estratgias de Gesto de Conflitos

    Tabela 21- Testes Mann- WhitneY Vnculo Instituio/

    Estratgias de Gesto de Conflitos

    Tabela 22- Estatsticas Descritivas Vnculo Instituio/

    Estratgias de Gesto de Conflitos

    Tabela 23- Testes Mann- WhitneY Tempo Exerccio Profissional

    no BO / Burnout

    Tabela 24- Estatsticas Descritivas Tempo Exerccio Profissional

    no BO / Burnout

    Tabela 25- Testes Mann- WhitneY Vnculo Instituio /Burnout

    Tabela 26- Estatsticas Descritivas Vnculo Instituio /Burnout

    NDICE DE GRFICOS

    Grfico 1 Gnero dos Inquiridos

    Grfico 2 Escales Etrios

    Grfico 3 Categoria Profissional

    Grfico 4 Tempo de Exerccio Profissional

    Grfico 5 - Tempo de Exerccio Profissional no BO

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    0- INTRODUO

    O conflito faz parte da nossa vivncia enquanto seres humanos vivendo em

    sociedade; podemos dizer que ele a resultante da interaco do homem com

    os outros homens e com o ambiente e, cujos resultados afectam a sua

    estabilidade podendo mesmo provocar o desequilbrio.

    As organizaes de sade so por excelncia locais favorveis formao de

    conflitos, em consequncia da diviso do trabalho, da especificidade de

    servios, da coexistncia de diferentes grupos profissionais, indivduos

    oriundos de diversos extractos sociais, o carcter dos servios prestados,

    relaes de poder existentes e existncia de diferentes ideias e valores dos

    vrios profissionais.

    O conflito entre dois ou mais indivduos pressupe uma aco social.

    Actualmente, podemos afirmar que existem aspectos positivos e negativos na

    existncia dos mesmos. Outrora visto como um entrave ao bom desempenho e

    algo a evitar, hoje em dia sabe-se que a sua existncia saudvel, desde que

    este se mantenha dentro de determinados limites. Se as organizaes o

    conseguirem, ento estaro a contribuir para o seu desenvolvimento e para o

    crescimento dos profissionais que as integram e, a conduzirem o seu

    desempenho em direco aos objectivos traados quer por si quer pelos vrios

    grupos constituintes.

    Por se tratar de um fenmeno complexo e dotado de um dinamismo muito

    prprio, h que ter em linha de conta todo um conjunto de factores que surgem

    quando nos propomos estud-lo, tais como a sua formao e causas, a

    comunicao, poder e liderana, assim como os indivduos envolvidos: como

    vivenciam e sentem o fenmeno em causa.

    O Bloco Operatrio devido ao alto nvel tecnolgico que apresenta e

    especificidade de funes que exige um local privilegiado ao aparecimento de

    momentos de confuso, stress, tenses emocionais e relacionais.

    Desde que a autora deste trabalho teve contacto com um Bloco Operatrio,

    que pensou o quo interessante seria efectuar um estudo sobre gesto de

    conflitos num servio desse tipo.

  • 14

    O ingresso neste Mestrado proporcionou-lhe essa oportunidade, atravs da

    possvel elaborao de uma tese nessa rea.

    O facto de a referida autora trabalhar h cerca de dezasseis anos num Bloco

    Operatrio ser concerteza um factor facilitador, pois proporcionou-lhe grande

    fonte de experincias e de vivncias de situaes de conflito interpessoal, alm

    de que lhe proporcionar uma maior facilidade no acesso ao meio e amostra

    perspectivada os enfermeiros do Bloco Operatrio do Hospital Garcia de

    Orta, EPE, em Almada.

    Este estudo emerge do interesse em analisar os conflitos que surgem entre os

    enfermeiros enquanto profissionais num Bloco Operatrio.

    Assim, propomo-nos analisar os conflitos interpessoais vivenciados pelos

    Enfermeiros no Bloco Operatrio citado, fazendo referncia ao tipo de conflitos

    existente, sua natureza, causa, ao modo como so vivenciados, s estratgias

    utilizadas para os resolver, aos resultados e consequncias das mesmas e

    sua relao com o Desgaste Profissional (Burnout).

    De forma a facilitar a sua leitura e compreenso, optmos por estruturar o

    presente trabalho, em duas partes:

    - Na primeira parte procedemos a uma reviso de temas e contedos

    pertinentes, que servissem de corpo terico, que actuassem como base de

    sustentao do mesmo.

    Nesta, comeamos por apresentar a relevncia do estudo, as questes da

    investigao, assim como os seus objectivos.

    Segue-se o enquadramento terico propriamente dito, o qual est dividido

    pelos vrios temas que nos pareceram pertinentes para apoiar a nossa

    discusso de resultados.

    - Na segunda parte encontra-se toda a investigao emprica por ns

    desenvolvida.

    Inicia-se com a abordagem da metodologia por ns utilizada, o que esteve na

    base da sua escolha.

  • 15

    Em seguida, contextualizamos o local de estudo, assim como apresentamos o

    campo em que a mesma decorreu, as caractersticas da populao e da

    amostra, o mtodo de colheita de dados e as limitaes do estudo.

    Passamos ento exposio da anlise dos dados e discusso dos

    resultados.

    Para finalizar este trabalho apresentamos as concluses a que chegamos e as

    referncias bibliogrficas por ns consultadas, para alm dos vrios anexos

    utilizados para a sua elaborao.

    Recorreremos ao uso de trs questionrios, com o objectivo de recolher

    informaes sobre caractersticas scio-demogrficas dos enfermeiros da

    amostra, gesto de conflitos e sndrome de Burnout.

    Pretendemos que este estudo possa tornar-se um instrumento til de gesto de

    conflitos e, de estratgias para evitar ou reduzir o Desgaste Profissional com as

    consequentes vantagens para os profissionais envolvidos, para a melhoria das

    relaes entre eles, a melhoria do ambiente de trabalho e, em ltima instncia

    dos cuidados prestados ao utente, para que trabalhar e cuidar possam ser

    cada vez mais um modo de estar, um prazer.

  • 16

    1- DEFINIO DO PROBLEMA

    Os hospitais integram um diversificado nmero de subgrupos de profissionais,

    em que cada um desempenha um papel relevante com vista a um objectivo

    comum, o de proporcionar os melhores cuidados de sade possveis aos

    utentes.

    Dado que nas organizaes de sade, existem pessoas e grupos diferentes,

    com relacionamentos contnuos e onde a competio uma fora intrnseca a

    todo o processo, geradora de interesses divergentes, existem fontes de

    conflito.

    O conflito algo inerente ao ser humano, uma vez que este ltimo parte

    integrante de um sistema de inter-relaes constante com os outros e com o

    meio envolvente e, de cujos resultados depende o seu equilbrio.

    Os membros de um grupo desenvolvem esforos para encontrar o seu lugar no

    mesmo, sendo as diferenas de personalidade e de valores fontes de tenso e

    de discrdia. Os conflitos no so acidentais e esto intimamente relacionados

    com as relaes de poder existentes neste tipo de sistemas.

    Deste modo, em termos organizacionais os aspectos que implicam interaco e

    coordenao de esforos podem constituir eventuais fontes de conflitos, pois

    sempre que existam objectivos, ideias ou interesses contrrios h condies

    propcias para a ocorrncia destes.

    Os Enfermeiros so um grupo de profissionais que trabalha em equipa

    multidisciplinar, so tambm eles quem est no centro dessa equipa que

    envolve o utente.

    comummente tido que a profisso de enfermagem ainda se encontra na

    dependncia do saber e poder mdico e, de que, as aces do enfermeiro se

    encontram dependentes de ordem mdica. Este facto, tradicionalmente em

    vigor, conduziu a uma diminuio da percepo do saber e do estatuto dos

    enfermeiros, mesmo no seio das organizaes de sade.

  • 17

    A grande vulnerabilidade dos enfermeiros prende-se com a facilidade de

    desmembramento das equipas, a atitudes de gesto de conflitos e de

    ansiedade pouco eficazes ou mesmo inexistentes, a sua submisso a

    determinados objectivos e o desempenho a limites de tempo demasiado

    rgidos.

    Este tema dos conflitos que envolvem enfermeiros bastante vasto e

    complexo, podendo por isso ser abordado de diversas perspectivas, tais como,

    a do conflito:

    - Enfermeiro/ enfermeiro

    - Enfermeiro/ Chefe de Enfermagem

    - Enfermeiro/ Anestesista

    - Enfermeiro/ Cirurgio

    - Enfermeiro/ Auxiliar de Aco Mdica

    - Enfermeiro/ Utente

    - Enfermeiro/ Familiares dos utentes

    Nesta pesquisa, delimitaremos esta abordagem apenas aos conflitos dos

    Enfermeiros do Bloco Operatrio e sua relao com o Desgaste Profissional.

    O Desgaste Profissional surgiu inicialmente associado a profisses de relao

    de ajuda, embora actualmente o conceito se tenha estendido a outros

    domnios, no s em termos profissionais.

    A Sndrome de Burnout define-se como uma resposta por tempo prolongado a

    situaes stressantes interpessoais crnicas e compreende trs dimenses:

    a Exausto Emocional que se prende com o esgotamento dos recursos

    emocionais, morais e psicolgicos da pessoa; a Despersonalizao que se

    entende por distanciamento afectivo ou indiferena emocional em relao aos

    demais, inclusive aqueles que so o alvo da sua actividade laboral; por ltimo,

    a Realizao Pessoal em existe diminuio dos sentimentos de competncia e

    de prazer ligados profisso. O Desgaste Profissional manifesta-se atravs de

    um extenso leque de sinais e sintomas psico-fisiolgicos, que chegam mesmo

    a afectar o habitual desempenho da pessoa aos vrios nveis.

  • 18

    A populao de enfermeiros de Bloco Operatrio, est sujeita a contnuas

    situaes de stress, pelo que se apresenta como uma populao em que a

    ocorrncia de Burnout poder limitar bastante quer o bem-estar psico-social

    dos sujeitos quer o seu desempenho profissional.

    QUESTES/ OBJECTIVOS DA INVESTIGAO

    importante perceber-se qual a influncia e poder que um grupo profissional

    exerce sobre outro no estabelecimento e desenvolvimento das suas relaes a

    nvel profissional.

    A percepo de alguma dificuldade de afirmao dos enfermeiros enquanto

    grupo impede-os de se assumirem como um corpo de profissionais totalmente

    independentes e autnomos para o exerccio das suas actividades.

    Segundo Poley (1988), os conflitos bsicos numa instituio situam-se entre

    dois aspectos: os que se encontram relacionados com a tarefa e os

    relacionados com as pessoas.

    Devido ao facto de partilharem o espao de interveno, enfermeiros e

    mdicos, so singularmente susceptveis de desenvolver conflitos por posturas

    discordantes em relao aos seus tipos de saberes, o saber de enfermagem e

    o saber mdico.

    Os objectivos deste estudo prendem-se essencialmente com:

    - Perceber os modos de lidar com o conflito

    - Conhecer as estratgias de gesto de conflitos utilizadas pelos enfermeiros

    em causa

    - Perceber os nveis de exausto emocional, despersonalizao e realizao

    pessoal dos mesmos

    O objectivo geral ser o de utilizar os resultados do referido estudo para a

    promoo de um ambiente mais agradvel e harmonioso, o qual trar

    benefcios aos profissionais aumentando a sua motivao e bem-estar,

  • 19

    contribuindo, desse modo, para a melhoria da qualidade dos cuidados

    prestados aos utentes no servio.

    Desta forma, a questo de partida ser:

    Ser que os estilos de gesto de conflitos utilizados pelos enfermeiros

    do Bloco Operatrio do HGO, EPE esto associados aos seus nveis de

    desgaste profissional?

    Com base nesta questo, surgem outras associadas, que aprofundaremos ao

    longo deste trabalho, tais como:

    - O que desencadeia os conflitos no Bloco Operatrio?

    - Qual a sua natureza?

    - Como so vivenciados e percepcionados os conflitos pelos diferentes

    membros da equipa?

    - Quais as estratgias adoptadas pelos intervenientes para lidar com esses

    conflitos?

    - O que os leva a adoptar essas estratgias?

    - Quais as principais consequncias dos conflitos para as partes envolvidas?

    RELEVNCIA DO ESTUDO

    Como j foi referido, a ideia de fazer um estudo nesta rea, teve por base a

    experincia da autora, as suas vivncias como enfermeira num Bloco

    Operatrio.

    O processo comunicacional bastante influencivel, particularmente entre os

    grupos que actuam em condies de grande imprevisibilidade.

    Num bloco operatrio necessrio estar preparado para mudanas rpidas e

    inesperadas, as emergncias ocorrem com frequncia, o tempo de reaco

    fundamental para dar resposta a essas situaes de forma eficaz e eficiente. O

    rpido advento tecnolgico aliado interdependncia de tarefas so factores

    altamente facilitadores do aparecimento de conflitos.

    A referida autora, ao longo da sua experincia profissional em unidades deste

    tipo, constatou a enorme facilidade com que neste ambiente, altamente

    especializado, tecnolgico e de tamanha exigncia de preciso/ rapidez de

  • 20

    resposta, o conflito pode surgir de forma rpida e instalar-se, perturbando o

    ambiente e as performances dos indivduos.

    Uma vez instalado o conflito, se no for adequadamente resolvido pode atingir

    grandes propores, com as consequncias que tal acarreta para os

    envolvidos, para aqueles que os rodeiam e inclusivamente para os prprios

    utentes.

    Como do conhecimento geral, conflitos indevidamente resolvidos conduzem a

    situaes de desmotivao, baixa produtividade, insatisfao no trabalho,

    podendo mesmo traduzir-se por uma prestao de cuidados de menor

    qualidade.

    Atravs desta dissertao pretendemos contribuir para o desenvolvimento de

    intervenes adequadas e, ainda para o aprofundar de conhecimentos nos

    seguintes aspectos:

    - Em que consiste o conflito

    - A gnese dos conflitos

    - O tipo de conflitos mais frequentes

    - A compreenso do modo como cada indivduo percepciona a perspectiva do

    outro

    - Consequncias dos conflitos para os intervenientes, a equipa e os utentes

    - A gesto de conflitos

    - Estratgias para evitar o Desgaste Profissional

    Este estudo poder assim ser, uma mais-valia ao funcionar como instrumento

    de trabalho, fornecendo dados para posteriormente apresentar aos enfermeiros

    do respectivo servio de forma a capacit-los a resolver eventuais conflitos de

    forma mais harmoniosa e positiva.

    Desse modo, estaremos a contribuir para a melhoria das relaes inter-

    pessoais e interprofissionais, para o aumento da motivao e, eventualmente

    at mesmo nalgumas situaes, da auto-estima dos profissionais, o que ter

    como consequncia directa o seu bem-estar e, como indirecta a melhoria dos

    cuidados prestados ao utente.

  • 21

    2- ENQUADRAMENTO TERICO

    A reviso de literatura que se segue e que esteve na base deste Projecto de

    Tese de Dissertao de Mestrado, resulta de algumas leituras efectuadas

    sobre os seguintes temas:

    - Comunicao

    - Cultura Organizacional

    - Grupos e equipas de trabalho

    - Poder

    - Stress

    - Burnout

    - Conflitos

    - Negociao

    - Metodologia da Investigao,

    A escolha destes temas especficos prendeu-se com o facto de os

    considerarmos reas directamente relacionadas com os conflitos interpessoais.

    O trabalho que se segue pretende ser uma breve exposio de algumas

    perspectivas tericas que contriburam de algum modo para a compreenso

    das temticas referidas e, para a anlise das situaes estudadas em contexto

    organizacional seleccionado.

    2.1- COMUNICAO

    A comunicao um processo complexo de interaco simblica, implica a

    emisso e a recepo de mensagens codificadas s quais as pessoas

    conferem significado, ou seja, consiste num processo de transferncia de

    informao do emissor para o receptor.

    A comunicao tem origem num emissor que codifica um determinado sentido

    numa mensagem, enviando-a atravs de um canal, com o objectivo de alterar

    atitudes e comportamentos do receptor.

  • 22

    Existem vrios meios ou canais de transmisso da mensagem. A escolha do

    canal tem bastante peso no processo de comunicao, depende de quem o

    utiliza, com que fim, a quem se dirige a mensagem e qual o seu teor.

    O receptor, por sua vez, descodifica a mensagem na interpretao entendida e

    envia ou no uma resposta feedback. Atravs desta mensagem agora

    enviada, o emissor obtm dados acerca da sua mensagem anterior.

    Comunicar implica assim, um fluir de interaces entre os intervenientes no

    contexto de uma conversa, partindo do pressuposto de que os significados

    evocados so o resultado de um processo de construo em que essas

    pessoas participam. Cada uma delas insere-se num determinado padro

    cultural da sua sociedade, tendo conscincia da sua identidade.

    Ao interagir, o sujeito, f-lo no espao de uma relao, ocorrendo cada

    contacto como um acontecimento ou episdio.

    A comunicao interpessoal caracteriza-se por ser analisada de duas

    perspectivas distintas:

    - A da 1 pessoa a experincia atribuda aos actores, ou seja, o

    directamente vivido referenciado pelo prprio. A aco do interlocutor est

    condicionada pois concorda com uma lgica de significado e de aco que

    torna as suas escolhas obrigatrias ou proibidas. Trata-se de processos de

    aces coordenadas, que acontecem consoante cada situao. Desta

    perspectiva, formam-se definies operacionais que contm a ideia de

    identidade e intencionalidade de aces.

    - A da 3 pessoa a interaco observada a partir do exterior, a aco e o

    seu significado deixam de ser to objectivos, passando a ser tidas como uma

    das possveis interpretaes. O observador presencia os padres interactivos

    dos interlocutores e analisa-os como um padro de interaco social,

    semelhante a um jogo, que inclui uma sequncia lgica de actos, em que cada

    um apela aos actos de fala do outro.

    Littlejhon (1988), citando Barnlund (1968), refere que a comunicao

    interpessoal tem lugar em situaes sociais relativamente informais, em que,

  • 23

    atravs do intercmbio mtuo de pistas verbais e no verbais, as pessoas

    estabelecem interaces. Existem cinco critrios nestas interaces:

    Duas ou mais pessoas em proximidade fsica que percebam a presena

    umas das outras

    A comunicao interpessoal implica troca de mensagens

    O comportamento comunicativo de uma pessoa resulta do comportamento de

    outra, existe interdependncia comunicativa

    As mensagens so codificadas de vrios modos, podendo estas ser verbais

    ou no verbais

    A informalidade e a flexibilidade designam a comunicao interpessoal, a qual

    de certo modo pouco estruturada

    A comunicao interpessoal tem por base o estabelecimento de relaes.

    Segundo Littlejhon (1988), a interaco entre duas pessoas entende-se por

    relacionamento, sendo este conduzido pelas percepes de ambas.

    De acordo com este autor: A comunicao interpessoal frequentemente

    marcada por uma espiral comportamento-experincia, Littlejhon, (1988:210).

    Laing (1967), citado por Littlejhon (1988), estabeleceu as diferenas entre

    comportamento e vivncia. Os primeiros consistem em aces observveis,

    so pois do domnio pblico, enquanto, as segundas se prendem com os

    sentimentos que acompanham os comportamentos ou as percepes dos

    comportamentos de outras pessoas. Sendo que, o comportamento pode ser

    observado, enquanto, a experincia/ vivncia o no pode, pois faz parte do

    mundo interno de cada um.

    Segundo Rogers (1951), citado por Littlejhon (1988), o comportamento do

    indivduo o resultado da sua experincia interna, isto , a realidade como o

    sujeito a vive e sente.

    Riley (2000), refere que a comunicao consiste num processo recproco de

    enviar e receber mensagens, entre as pessoas. Na comunicao em presena

    fsica, existem dois constituintes: a verbalizao de pensamentos e

  • 24

    sentimentos do emissor e a expresso no verbal. As verbais so enviadas

    atravs de palavras, inflexes de voz e ritmo do discurso, enquanto, as no

    verbais so transmitidas pelas expresses do olhar e facial, assim como da

    linguagem corporal.

    Chambel e Curral (1999), citados por Ferreira et al. (2001), referem que o

    conjunto de signos no verbais se podem dividir em:

    Cinticos

    Proxmicos

    Paralinguagem

    Para que se considere que existe comunicao, necessrio que a mensagem

    seja recebida pela pessoa a quem se dirige. Por sua vez, diz-se que um

    processo de comunicao eficaz se existe concordncia entre o que o

    emissor pretendeu transmitir e o que o receptor interpretou.

    O receptor descodifica a mensagem verbal e confere um sentido aos

    pensamentos e sentimentos que o emissor emitiu, aps o que codifica a

    mensagem de retorno.

    Neste processo de troca de mensagens so vrios os factores que podem

    interferir na correcta compreenso da mensagem recebida. Estes factores

    prendem-se com:

    Problemas Semnticos as palavras transmitidas devem ser passveis de

    interpretao pelo receptor

    Estatuto o facto de as pessoas que comunicam se situarem em diferentes

    nveis.

    Feedback Ausente o interveniente no processo de comunicao no pode

    ter a certeza de que a mensagem recebida foi a enviada e, que esta foi

    devidamente entendida.

    Distraces eventos externos relao podem provocar desconcentrao

    dos actores.

    Percepo do Outro a forma como percepcionamos o mundo baseia-se nas

    nossas vivncias e personalidade, sendo por isso diferente de pessoa para

  • 25

    pessoa, condicionando a transmisso, recepo e interpretao de

    mensagens.

    Para Pearce (1994), o nosso conhecimento da realidade mediado pela

    linguagem e, o uso desta decisivo na formao das nossas percepes,

    relaes e organizaes.

    Watzlawick, Beavin e Jackson (1967), Watzlawick, Weakland e Fisch (1974) e

    Watzlawick (1980), citados por Ferreira et al. (2001), apresentaram uma nova

    forma de visualizar o processo de comunicao, a qual foi sistematizada pela

    Escola de Palo Alto atravs do estabelecimento de cinco axiomas da

    comunicao:

    1- No possvel no comunicar, uma vez que um indivduo no tem forma de

    no se comportar, at o prprio silncio transmite ao outro informaes.

    2- Existem dois nveis na comunicao: o de contedo e o de relao, a

    comunicao no s transmite contedo, como tambm oferece informao

    sobre o tipo de relao.

    3- A pontuao das sequncias comunicacionais entre aqueles que

    comunicam; no podemos considerar as sequncias da interaco como uma

    sucesso de ocorrncias isoladas. Estas devem ser organizadas em

    sequncias de causa/ efeito pelos vrios intervenientes, tendo em conta a sua

    interaco e os efeitos que ela produz nos seus comportamentos.

    4- Os seres humanos comunicam de forma digital e analgica, a primeira

    ocorre por recurso palavra, remete para a semntica da linguagem,

    enquanto, a segunda se refere a toda a comunicao no verbal. Estes dois

    tipos de comunicao so sempre usados em conjunto pois tem funes

    diferentes.

    5- As trocas comunicacionais so simtricas ou complementares, consoante os

    comunicadores apresentem poucas diferenas comportamentais ou, assumam

  • 26

    comportamentos diferentes, respectivamente. Numa relao devem existir e

    estar em equilbrio ambos os tipos de interaces.

    Nas organizaes de sade, a comunicao constitui um dos pontos-chave na

    dinmica e interaco entre os profissionais. Bavelas e Barrett (1951), citados

    por Ferreira et al (2001), referem que a comunicao o processo bsico das

    organizaes, sendo este que d origem a todas as outras funes.

    Em termos organizacionais, a comunicao um conjunto de diversos

    elementos e de relaes entre eles, ela o veculo que assegura a existncia

    da organizao sendo inconcebvel a noo de grupo, sem que no seio dele,

    haja troca de informao. Dentro de um grupo a comunicao pode ser

    entendida como um dos vrios tipos de processos interaccionais que se

    prendem com o aspecto dinmico da actividade do grupo. No interior dos

    grupos, a comunicao detm um papel essencial, funcionando estes como

    transformadores de informao.

    Uma vez que sem comunicao, no h organizao, gesto, planeamento ou

    processos de trabalho coordenados, pode-se entender uma organizao

    humana como uma rede comunicacional: se a comunicao falha, uma parte

    da estrutura organizacional falha tambm.

    Sendo a organizao um sistema aberto, a comunicao garante a coeso

    interna e a relao da organizao com o meio exterior. Deste modo,

    imprescindvel que a comunicao seja ordenada, esteja em continuidade e

    integrada na estrutura organizacional, favorecendo assim a resoluo de

    problemas, a troca de perspectivas e ideias e, estabelea a relao entre as

    pessoas que dela fazem parte.

    A comunicao nas organizaes, efectua-se de vrias formas, isto , o seu

    percurso circula em mltiplos canais dependendo do tipo de informao, assim

    como da cultura e polticas organizacionais.

    Os canais de circulao da informao dividem-se em dois tipos: os formais e

    os informais. Por sua vez, os fluxos classificam-se em: descendente,

    ascendente e lateral.

  • 27

    As redes formais caracterizam-se por um tipo de comunicao

    predominantemente vertical e sobretudo descendente, de nveis hierrquicos

    superiores para nveis inferiores. Destinam-se emisso de orientaes,

    implementao de normas e procedimentos, bem como comunicao de

    objectivos, realizao de tarefas e polticas da organizao.

    A comunicao vertical pode tambm circular no sentido ascendente, dos

    nveis hierrquicos inferiores para os superiores, promovendo a participao

    mais efectiva dos funcionrios, que podem fornecer sugestes para melhorar a

    produo e/ou o ambiente de trabalho.

    A comunicao lateral ocorre entre departamentos, num mesmo nvel

    hierrquico, onde todos tm responsabilidades iguais, tendo como principal

    objectivo o de orientar as actuaes entre estes.

    Este tipo de comunicao ocorre quando por alguma razo os outros fluxos

    formais no so passveis de ser utilizados. Grande parte desta comunicao

    prende-se com apoio scio-emocional mtuo entre os diversos membros da

    organizao.

    A comunicao informal responde s necessidades sociais dos membros da

    organizao. Liga pessoas de diferentes nveis hierrquicos e servios, forma-

    se sobretudo a partir de semelhanas e afinidades pessoais. As redes

    informais embora se estabeleam margem da cadeia de autoridade, podem

    ser usadas, uma vez que demonstram alguma eficcia na obteno de

    feedback da informao.

    Numa organizao, a comunicao pode adoptar vrias funes, tais como:

    Emocional a comunicao como expresso das emoes, pode contribuir

    positivamente para a construo do ambiente de trabalho, resolver conflitos,

    reduzir tenses e frustraes e, aumentar a satisfao no desempenho

    profissional.

    Motivacional atravs da motivao que um chefe orienta o seu grupo com

    vista a atingir objectivos organizacionais. O gestor ou chefe orienta a sua

    equipa, corrigindo e elogiando adequada e construtivamente os seus

    colaboradores, de forma a aumentar o seu envolvimento nas polticas da

  • 28

    organizao. Relacionadas com esta funo, esto a avaliao de

    desempenho e o levantamento das necessidades de formao.

    Informacional a comunicao enquanto informao, facilita a tomada de

    deciso. atravs dela, que os trabalhadores interagem atravs do relato de

    factos, emitem opinies, recebem informaes essenciais para desenvolverem

    a sua actividade e encontram alternativas que melhor satisfazem as suas

    funes.

    Controlo trata-se da funo mais formal da comunicao e definida pelo

    topo da hierarquia.

    A comunicao vital na vida da organizao e dos seus membros, a

    organizao que consegue garantir processos de comunicao eficazes,

    fomenta seguramente um melhor desempenho organizacional.

    2.2- CLIMA E CULTURA ORGANIZACIONAL

    Shein (1990), citado por Ferreira et al (2001), diz-nos que a cultura

    organizacional se revela como o fruto da aprendizagem do grupo, uma vez que

    lhe capta os valores, o mtodo de funcionamento os mitos e a linguagem

    existentes na organizao e que so o resultado da socializao e de ajustes

    recprocos.

    necessrio que um grupo exista e que seja detentor de uma histria que

    forme um ciclo de vida grupal, para que se possa dizer que existe cultura.

    Esta cultura pode ainda ser definida como uma herana social, representada

    por normas, valores e crenas que uma vez transmitidas aos membros de uma

    dada sociedade atravs da socializao, sero o garante da vida social.

    Nas organizaes, a cultura organizacional guia os valores, atitudes e

    comportamentos dos seus membros.

    Podemos dizer que uma organizao tem cultura, se ela for um produto da

    aprendizagem dos seus elementos.

    Segundo Ferreira et al (2001:445), citando Shein (1990): A cultura seria uma

    considerao de pressupostos fundamentais, inventados, descobertos ou

  • 29

    desenvolvidos por um grupo, como os seus conhecimentos para enfrentar os

    problemas de adaptao externa e de integrao interna, que foram

    suficientemente bem testados para serem considerados vlidos e por isso

    ministrados mediante processos de socializao aos novos membros como a

    forma correcta de proceder, pensar e sentir em relao a tais problemas.

    De acordo com vrios autores, podemos entender a cultura organizacional

    como um conjunto de elementos normas, valores, padres comportamentais,

    etc. ligados pelo significado. Aqui avalia-se a expresso dos valores e das

    normas do grupo ou da organizao e, estas por sua vez revelam o que

    desejvel para o seu funcionamento.

    Detm um carcter integrador e adaptativo dos indivduos organizao.

    O seu papel passa por manter, comunicar e transmitir valores e crenas

    organizacionais.

    Nas organizaes existem determinados factores que influenciam o modo

    como os indivduos e/ ou os grupos desempenham as suas funes, esta

    multiplicidade de elementos denomina-se por Clima Organizacional.

    Deste modo, podemos defini-lo como a parte superficial, visvel e

    percepcionavel da Cultura Organizacional, estando esta inserida mais

    profundamente no seio das organizaes.

    Segundo Pettigrew, citado por Bilhim (1996), a Cultura insere-se num mbito

    mais abstracto do que o Clima, sendo este ltimo uma manifestao da

    mesma.

    Denison (1996), tambm citado por Ferreira et al (2001), diz que actualmente

    tanto a cultura como o clima se referem construo e influncia da envolvente

    social na organizao.

    Por seu lado, no clima tenta-se determinar em que medida que os indivduos

    compreendem as caractersticas organizacionais como colaborando para o seu

    bem-estar, o que visvel atravs da manifestao de valores individuais.

  • 30

    O clima organizacional refere-se a um conjunto de factores que exercem

    importante influncia na forma como as pessoas actuam relativamente ao

    trabalho.

    O clima tem influncia na motivao e comportamento dos sujeitos, assim

    como afecta a produtividade da organizao.

    Existem quatro perspectivas que nos permitem abordar o conceito de clima

    organizacional:

    Organizacional, aponta as caractersticas organizacionais como fundamentais

    no clima e relegam o papel do indivduo em termos scio-psico-culturais em

    relao construo das percepes dos aspectos organizacionais.

    Psicolgica, considera que do indivduo que o clima surge, quer da

    interpretao que faz da sua condio de trabalho, quer da dinmica entre a

    sua interpretao das situaes e as caractersticas destas. descurado o

    papel da relao do funcionamento sistmico do indivduo com os aspectos

    organizacionais.

    Psicossocial, o clima tido como algo abstracto, que surge da interaco dos

    indivduos na organizao, assentando no acordo perceptivo partilhado. Esta

    viso do clima no d nfase ao papel da cultura no contexto de

    funcionamento da intersubjectividade.

    Cultural, as diferentes manifestaes da cultura e os seus significados,

    condicionam as interaces entre os indivduos.

    Daqui se depreende que o clima tem uma base individual, enquanto a cultura

    assenta mais no colectivo, no grupo.

    2.3- GRUPOS E EQUIPAS DE TRABALHO

    De acordo com Tajfel (1982), os grupos surgem de interesses na conquista de

    objectivos percebidos por dois ou mais indivduos. Pelo que, o comportamento

    social do ser humano, se converte numa adaptao da sua estratgia geral de

  • 31

    ganhos e perdas s suas prprias necessidades uma vez que se encontra

    circundado pelos demais.

    Ferreira et al (2001), refere que um grupo pode ser definido como: um

    conjunto de pessoas interdependentes que procuram alcanar um objectivo

    comum, e se vem em si prprias como fazendo parte de um grupo.

    Deste modo, o grupo existir se os indivduos que o formam:

    - Partilharem normas e valores,

    - Tiverem a sensao mtua de pertena ao grupo,

    - Interagirem na prossecuo de objectivos.

    A coeso do grupo existe a fim de garantir com maior probabilidade o alcanar

    das finalidades a que este se prope, quer enquanto grupo, quer

    individualmente.

    Algumas das razes que levam as pessoas a reunir-se em grupos so,

    segundo Bilhim (1996):

    Afiliao surge da interaco regular resultante da pertena ao grupo.

    Segurana a fora de cada indivduo, assim como a capacidade de

    resistncia a uma ameaa so maiores em grupo. Os membros do grupo

    tendem a reagir com um estreitamento das suas relaes, em situao de

    instabilidade da organizao.

    Alcance de Objectivos a eficcia do grupo aumenta devido aos diferentes

    conhecimentos e talentos dos seus membros.

    Poder maior em grupo do que individualmente, assim como tambm

    visvel o poder exercido por uns indivduos sobre outras dadas as

    possibilidades informais resultantes do uso da influncia que os grupos

    habitualmente oferecem.

    Status ser membro de um grupo pode ser tido como forma de prestgio e

    reconhecimento entre os demais.

    Auto-estima tem a ver com o motivo anterior, concede ao indivduo um

    aumento da mesma face a si prprio.

    Guzzo e Dickson (1996), citados por Ferreira et al (2001: 336), referem que um

    grupo de trabalho: constitudo por indivduos que se vem e so

    percepcionados pelos outros como uma entidade social, que so

  • 32

    interdependentes devido s tarefas que realizam enquanto membros do grupo,

    que esto inseridos no meio de um sistema social maior e que realizam

    tarefas que afectam os outros

    Hackman (1987), citado por Ferreira et al (2001), refere que as limitaes

    provocadas por um mau ambiente de trabalho podem ser superadas sempre

    que os ganhos do grupo, relativamente sua interaco, ultrapassam as suas

    perdas.

    Caso esta dinmica dentro do grupo assuma aspectos negativos, ou seja, o

    grupo perder mais do que ganha, o mau ambiente de trabalho pode ser

    potenciado, ou no caso de o meio at ser favorvel pode impedi-lo de retirar

    proveitos da situao.

    Segundo Katzenbach e Smith (1993), citados por Ferreira et al (2001), um

    grupo transforma-se numa equipa quando se gera um determinado

    envolvimento e sinergia entre os seus membros.

    De acordo com Savoie e Beaudin (1995), citados pela mesma fonte, existem

    quatro caractersticas para a existncia de uma equipa de trabalho:

    Deve surgir de uma organizao e deve ser reconhecida como tal por todos

    os que fazem parte desta

    Deve ser s por si um sistema social com limites bem definidos, em que os

    seus membros so simultneamente indivduos autnomos e com funes

    interdependentes

    O produto do seu desempenho passvel de ser avaliado, existindo uma

    responsabilizao colectiva face s suas tarefas

    A sua actividade rege-se por determinadas regras do meio, que implicam

    determinados deveres e direitos por parte dos seus membros.

    Uma equipa de trabalho caracteriza-se pela interdependncia das funes de

    trabalho que desempenham os seus membros e pela partilha de

    responsabilidade em determinados resultados organizacionais. Trata-se de

    indivduos altamente especializados que demonstram uma alta produtividade

    quando vistos como membros de uma equipa organizacional.

    Neste tipo de equipas, cada pessoa contribui com um certo talento.

  • 33

    De forma a garantir a eficcia da equipa os objectivos individuais no se devem

    sobrepor aos desta. Por sua vez, os objectivos do grupo devem ser claros e

    estar associados a indicadores de desempenho.

    Compete s organizaes a criao das suas equipas de trabalho, as quais

    devem estar de acordo com a essncia formal dos seus objectivos.

    Podemos distinguir nas organizaes seis tipos de equipas, quanto sua

    natureza: as operacionais, as de resoluo de problemas, as de gesto, as de

    crculos de qualidade, de arbitragem e de projecto.

    Para a realizao deste trabalho atentaremos nas equipas operacionais, uma

    vez que estas so criadas para a realizao de um certo trabalho, usualmente

    de carcter permanente. Este tipo de equipa tem por base a diviso do trabalho

    de acordo com os conhecimentos e competncias de cada um dos seus

    membros, o que corresponde s equipas multidisciplinares de sade existentes

    num Bloco Operatrio.

    2.4- O PODER O poder surge nas sociedades humanas com naturalidade.

    O conceito de poder est associado s diferentes anlises sobre a dinmica

    social e seu funcionamento. Ele est patente em todas as sociedades, ajuda-

    nos a compreender as prticas sociais e as relaes quanto sua estrutura,

    consolida-as e direcciona-as.

    Com o tempo e com as interaces no grupo, surge a necessidade e o desejo

    de domnio do Homem pelo Homem.

    O poder, numa organizao de sade, pode resultar num conflito, uma vez que

    o que est aqui subjacente so as relaes de poder, estas so autnticas

    relaes de fora, de estratgias de poder.

    Podemos considerar que existe poder sempre que um indivduo capaz de

    obter de outro um comportamento que este no teria espontaneamente.

    Segundo Marcelo Rebelo de Sousa (1998), Poder a faculdade de

    interferncia do Homem sobre o homem, de molde a determinar ou influenciar

    a conduta alheia.

  • 34

    Para Ferreira et al (2001:121), o poder uma relao e no um atributo dos

    actores uma relao de fora, da qual um pode retirar vantagem sobre o

    outro, mas onde igualmente, um no jamais desprovido de poder face ao

    outro. Assim, o poder da pessoa A sobre a pessoa B consiste na capacidade

    de A conseguir que, na relao com B os termos de troca lhe sejam

    favorveis.

    O poder no pode ser considerado um atributo ou aptido pessoal bem como a

    qualidade de um grupo, ele pressupe a existncia de uma relao social.

    Tendo esta ideia por base, podemos, de acordo com o mesmo autor,

    considerar o seguinte:

    O poder surge sempre da interaco entre dois ou mais actores

    O poder situacional, isto , depende do contexto pelo que, pode ser

    modificado

    Prende-se com a necessidade que os indivduos tm de se relacionar e

    negociar com vista prossecuo de objectivos

    Com vista realizao dos seus objectivos, os indivduos necessitam de

    recorrer a determinados recursos, pelo que podemos dizer que se trata de uma

    relao instrumental

    Neste tipo de relao existe um desequilbrio de foras dependente da troca

    e da negociao, sendo esta situao favorvel a um deles, o que no

    significa, no entanto, que o outro esteja completamente desamparado

    Este tipo de relao intransitiva, visto s fazer sentido em determinado

    contexto, com aqueles indivduos e no seio daquela relao especfica

    O poder para existir no precisa forosamente de ser exercido, para tal

    basta que os outros o percebam como tal

    Pode alterar comportamentos, valores e atitudes, exerce-se atravs da

    influncia

    O poder implica algum tipo de dependncia, quanto mais um actor social

    depende de outro, maior o poder desse outro sobre si.

  • 35

    Segundo Jesuno (1996), do processo de diferenciao vertical dos grupos,

    que surge relativamente cedo durante os processos de interaco, surgem as

    estruturas de poder e influncia. O nascimento de um lder destes processos

    de interaco, indica que o poder pessoal , neste contexto, um efeito da

    liderana.

    French e Raven (1959), citados por Graa (1986, 1992), apresentaram uma

    destrina entre Poder Pessoal e Poder posicional:

    Poder Pessoal a partir dos processos de interaco torna-se emergente o

    aparecimento de um lder.

    Poder Posicional est intimamente ligado a uma posio hierrquica,

    corresponde capacidade de influenciar algum num sistema de punies e

    recompensas legalmente institudas. Existe em grupos formais e

    organizacionais.

    Por sua vez, existe um outro tipo de poder que faz a articulao entre os dois

    tipos de poder anteriores o Poder Legtimo (ou Autoridade).

    legitimado, sendo aceite pelos membros do grupo, na medida em que o lder

    reconhecido pelas suas competncias tcnicas ou pelo seu prestgio.

    Ao longo da vida, estabelecemos relaes com os outros, sendo que algumas

    delas podero ser designadas como sendo de poder dado o papel que nelas

    representamos.

    O poder pode assumir uma conotao negativa, quando sinnimo de

    dominao de um ser sobre outro.

    Por outro lado, poder ser visto como a relao entre dois indivduos que

    interagem de modo a atingir objectivos estabelecidos mutuamente, sendo neste

    caso o poder percepcionado como um processo mais bsico e que visa o bem-

    estar do outro.

    As relaes entre os grupos no so exclusivamente de trabalho, mas sim de

    fora, de competio pelo poder. Esta situao acentua-se em momentos de

    insegurana.

  • 36

    Crozier e Friedberg (1997) in Ferreira et al (2001:106), referem que O

    poderest sempre sujeito a situaes contingentes, na medida em que a

    aco individual e colectiva est inserida num processo de racionalidade

    limitada e, ainda, porque as relaes sociais e a interaco social, da qual o

    poder emerge, inscreve-se numa zona de incerteza que condiciona os

    resultados dos jogos em que os actores intervm.

    O poder encontra-se sempre envolto por uma zona de imprevisibilidade, de

    incerteza. Nestas, existem limites relativamente s possibilidades que um

    indivduo tem de controlar o comportamento do outro.

    Nas organizaes existem determinados constrangimentos de ordem jurdica,

    psicolgica, cultural e econmica que podem no condicionar as relaes de

    poder, mas afectar a forma como o indivduo se percepciona na organizao,

    dos seus recursos ou zonas de incerteza que lhe permitido controlar, assim

    como das suas estratgias.

    Desta forma e, uma vez que a imprevisibilidade do comportamento dos actores

    numa organizao corresponde zona de incerteza, o conflito de algum

    modo inseparvel do poder.

    Ferreira et al (2001:122), a zona de incerteza constitui o recurso fundamental

    de poder dos actores nas organizaes.

    A negociao entre os actores decorre com base nestas zonas de incerteza,

    as quais por sua vez, lhes permitem desenvolver estratgias tendo por base os

    seguintes tipos de fontes de poder:

    Capacidade de comunicao

    Competncias excepcionais

    Competncias e conhecimentos do meio externo organizao

    Aptido para utilizar as regras da instituio

    Estes recursos de poder so essenciais uma vez que so eles que permitem

    dissecar de forma mais eficiente os problemas, os conflitos e a prpria

    negociao que surge na dita zona de incerteza organizacional.

  • 37

    French e Raven (1959), citados por Graa (1986, 1992), identificam cinco tipos

    de poder, os quais se prendem com as zonas de incerteza existentes em todas

    as organizaes:

    Poder formal, determinado pelo nvel organizacional, trata-se de um

    poder posicional em que a posio que o indivduo detm na hierarquia formal

    lhe confere autoridade e legitimidade para formular e/ou aplicar regras

    passveis de afectar os demais

    Poder tcnico, o dos funcionrios especializados, altamente qualificados. O

    poder aqui ser tanto maior, quanto menos forem os indivduos que partilhem

    os seus conhecimentos

    Poder coercivo, aquele que assenta numa eventual punio do outro e,

    pode ir desde uma simples critica feita ao subordinado at mesmo ao seu

    despedimento

    Poder de recompensar, baseia-se na capacidade de gratificar algum. O

    valor que o outro atribui recompensa que determina o seu grau de eficcia

    Poder do lder, assenta no trabalho em equipa, na confiana que os seus

    membros depositam no lder, nas suas competncias, no seu reconhecimento

    por parte da equipa.

    2.4.1- O Poder Dos Profissionais Nos Cuidados De Sade

    Sempre que existe interdependncia de tarefas, torna-se indispensvel o uso

    do poder.

    Nas organizaes de sade devido existncia de funes interdependentes e

    complementares, assiste-se ao uso desse poder, por parte dos diversos grupos

    profissionais, de um modo desequilibrado.

    Goss (1963), Smith (1970) in Carapinheiro (1993), referem que os hospitais

    detm um sistema dual de autoridade:

    - Aquela que provm da autoridade tradicional, racional e legal, que se baseia

    em regras formais, que reporta ao topo da hierarquia hospitalar.

    - A que provm da classe mdica, do poder carismtico, daqueles que tem o

    conhecimento e a capacidade de curar doenas e de salvar vidas. So estas

    competncias que permitem aos mdicos defender os seus interesses e

    regalias profissionais, nos hospitais, perante as administraes dos mesmos.

  • 38

    A classe mdica, uma vez que dirige o trabalho dos restantes grupos

    profissionais, que no ela prpria avaliada por ningum e que no seio das

    profisses da sade a nica verdadeiramente autnoma, detm uma posio

    diferente dos demais, o que nos reporta para a existncia de uma hierarquia

    institucionalizada.

    Para os enfermeiros, esta dualidade funciona como um entrave colaborao,

    uma vez que se encontram subordinados a ambas.

    Os mdicos, criam regras implcitas e normas informais de funcionamento nas

    suas funes dirias, o que em simultneo com as regras e normas

    hospitalares, fomentam nos outros profissionais relaes inseguras e

    incorrectas, sempre que so obrigados a cumprir ambas em simultneo.

    Esta situao, por vezes, conduz ao aparecimento de conflitos.

    Em termos hospitalares, a relao mdico enfermeiro uma relao de

    delegao, a organizao do trabalho negociada, o enfermeiro surge como

    um executor das prescries mdicas, o brao direito deste.

    Por divergncias de interesses e objectivos entre enfermeiros e mdicos, os

    processos negociativos so frequentes e apelam a um modelo que requer

    solues negociadas entre ambos.

    Uma das grandes diferenas entre eles que os mdicos so treinados para

    curar os utentes e os enfermeiros para cuidar deles. Uma vez que para os

    pacientes, curar tem maior impacto, esta situao confere-lhes mais prestgio

    social e consequentemente maior poder, isto faz com que a relao entre eles

    seja de dominao da parte dos mdicos sobre os enfermeiros.

    Durante a sua formao so transmitidos aos mdicos, os princpios de

    pertena que constituem o corpo social e profissional do hospital. Carapinheiro

    (1993: 165), refere que cada servio aparece como um campo de conflito e de

    negociao entre diferentes poderes saberes, estrategicamente orientados

    por formas de poder mdico nucleares na lgica da produo e reproduo dos

    servios hospitalares.

  • 39

    O Bloco Operatrio segue esta mesma linha de poder, os mdicos detm da

    mesma forma, uma posio de domnio, quer na gnese do modelo de

    produo de cuidados quer na organizao de trabalho no Bloco Operatrio.

    Diariamente, num Bloco Operatrio, tem lugar grande nmero de interaces

    entre profissionais de diversos grupos, sendo o trabalho dos enfermeiros

    constitudo por relevantes interaces.

    De acordo com Denison e Sutton, citados por Barros (2006), estas interaces

    tm lugar em quatro momentos distintos a que eles chamam de Social Region:

    1) O primeiro destes momentos o que ocorre na sala de operaes, durante o

    acto cirrgico

    2) O segundo momento refere-se s interaces dos enfermeiros fora da sala

    de operaes, mas estando os cirurgies presentes

    3) O terceiro momento corresponde s interaces fora da sala, mas sem a

    presena de mdicos

    4) O quarto e ltimo tempo reporta-se s interaces dos enfermeiros com os

    utentes/ famlia, estando apenas presentes os enfermeiros

    A cada um destes momentos correspondem regras de conduta para ambos os

    grupos profissionais. Na sala de operaes, durante a interveno cirrgica,

    evidente o poder do cirurgio, ele detm autoridade absoluta sobre os

    enfermeiros.

    Os referidos autores, constataram que aos cirurgies lhes era permitido ouvir

    msica, contar anedotas durante uma interveno cirrgica, mas tal no

    acontecia com os enfermeiros, pois estes necessitavam da autorizao do

    cirurgio para o fazerem. Os mdicos limitavam a autonomia dos enfermeiros,

    afectando inclusive a sua auto-estima e o seu desempenho.

    Trata-se de uma relao de dominao/ submisso, de certo modo, difcil de

    resolver, pois os procedimentos cirrgicos implicavam que os enfermeiros

    fizessem o que os mdicos lhes pediam.

  • 40

    Existe declaradamente um desequilbrio nas relaes entre os grupos

    profissionais em causa, na sala de operaes. Estamos perante o domnio do

    modelo Medicocntrico, uma vez que o mdico quem detm o monoplio do

    poder.

    No segundo momento de interaces, os enfermeiros brincam com os

    cirurgies, existe uma maior permisso para expressar emoes, as regras so

    diferentes.

    De acordo com o estudo referido, os enfermeiros valorizavam mais o terceiro

    momento, isto , as interaces dentro do grupo de enfermeiros, uma vez que

    este constitua o momento em que os enfermeiros se poderiam dedicar s

    tarefas secundrias. Era um momento em que, entre outros aspectos, lhes era

    permitida fazer a catarse emocional sendo que podiam ainda, fazer formao.

    Em relao ao quarto momento, espera-se que os enfermeiros tenham a

    capacidade de gerir as emoes dos utentes.

    Constata-se assim, que existem diferenas para cada Social Region, no que

    diz respeito s exigncias cognitivas, comportamentais e emocionais.

    Em termos dos dois grupos profissionais observam-se diferenas em cada um

    dos momentos e a nvel da gesto e expresso de emoes.

    2.5- O STRESS

    O stress representa a relao que se estabelece entre a carga sentida pelo

    ser humano e a resposta psico-fisiolgica que perante a mesma o indivduo

    desencadeia, Lazarus citado por Vaz Serra (1999).

    Richard Lazarus e os seus colaboradores (1960), citados pela mesma fonte,

    estudaram as emoes e, concluram que os factores cognitivos, antecedentes,

    segundo os quais avaliada dada situao/ estmulo, so os determinantes

    das respostas emocionais subsequentes.

    Dos seus trabalhos foram extrados dois pressupostos:

    1- Nenhuma situao pode ser reconhecida como indutora de stress, em valor

    absoluto.

    2- O factor decisivo que leva o indivduo a sentir-se ou no em stress est

    dependente da avaliao que faz da situao.

  • 41

    As situaes indutoras de stress variam de indivduo para indivduo e, variam

    tambm na mesma pessoa em momentos distintos da vida.

    Podemos pois afirmar que embora muitas circunstncias sejam susceptveis de

    induzir stress, so raras as que podem ser consideradas em termos absolutos.

    2.5.1- Causas De Stress

    Uma situao indutora de stress toda aquela em que a relao estabelecida

    entre o indivduo e o meio ambiente avaliada como excedendo os seus

    prprios recursos, prejudicando por isso o seu bem-estar (Lazarus, 1984,

    citado por Serra, 1999).

    Segundo o mesmo autor, o grau e o tipo de resposta de stress que uma

    situao induz variam muito de pessoa para pessoa. A presena de um

    determinado estmulo, s por si, no chega para definir stress.

    medida que nos deslocamos das grandes catstrofes para as mais

    pequenas aumentam as diferenas individuais na forma e na intensidade com

    que a reaco de stress se exprime.

    2.5.2- A Importncia Da Avaliao Do Acontecimento

    O que determina a variabilidade das suas reaces a avaliao que cada

    indivduo faz da situao e do meio ambiente em que se encontra. Esta

    depende das experincias por si vividas, da forma como aprendeu a lidar com

    circunstncias desagradveis, dos valores e crenas psicolgicas

    desenvolvidas, ou seja, das capacidades e recursos sociais e pessoais de que

    o indivduo dispe.

    O indivduo ao entrar em stress, activa um processo, que envolve todo o

    organismo.

  • 42

    O stress altera o comportamento observvel e interfere com mecanismos

    biolgicos e cognitivos, alm de induzir emoes.

    2.5.3- Efeitos Do Stress

    Devido ao stress, o ser humano, paga um preo que s possvel ser avaliado

    por indicadores indirectos, tais como:

    Mal-estar

    Incapacidade

    Morte prematura

    A forma como afecta o corao e outros rgos importantes

    Os transtornos fsicos e psquicos que induz

    O recurso a determinado tipo de medicamentos

    Repercusses Biolgicas Do Stress

    No indivduo sob stress os mecanismos de compensao tornam-se

    inadequados ou excessivos e condicionam o fracasso dos mecanismos de

    homeostase, conduzindo ao desenvolvimento de consequncias nefastas:

    - Para os aparelhos cardiovascular, gastrointestinal, genito-urinrio e

    respiratrio.

    - Para o sistema imunitrio e a funo de crescimento, reprodutiva e o sistema

    nervoso central.

    - Produz tambm alteraes metablicas e afecta o sistema muscular e os

    mecanismos de termo-regulao.

    - Levam ao aparecimento de transtornos psiquitricos, tais como estados de

    ansiedade e depressivos.

    Alteraes Cognitivas Provocadas Pelo Stress

    A actividade intelectual desorganiza-se face a uma situao indutora de

    stress.

    A tolerncia frustrao diminui.

  • 43

    A percepo fica afectada.

    Surge ansiedade.

    Perturbaes da ateno.

    Dificuldades de memorizao.

    Devido aos transtornos cognitivos, o stress pode tornar-se um agente

    determinante de acidentes.

    Alteraes Emocionais Provocadas Pelo Stress

    Emoes evocadas numa situao de stress:

    - Medo

    - Ansiedade

    - Inveja

    - Clera

    - Cime

    - Culpabilidade

    - Vergonha

    - Tristeza

    - Esperana

    Alteraes Comportamentais Provocadas Pelo Stress

    Agressividade

    Passividade

    Recurso a bebidas alcolicas

    Tabaco

    Droga

    Caf

    Comida

  • 44

    A nvel social d origem a atritos, conflitos, isolamento, apatia, tornar-se

    irritado e colrico, mal-estar e determina absentismo no trabalho.

    Muitas destas alteraes sero incuas se existirem durante pouco tempo e/ ou

    apenas algumas em simultneo.

    2.5.4- Stress Nos Enfermeiros

    Meg Bond (1986), refere que Os enfermeiros esto sob stress, em todos os

    nveis da sua rea profissional.

    Os enfermeiros lidam diariamente com stress e, tem no entanto, pouca

    proteco relativamente ao mesmo, atravessam condies de stress intensas,

    as quais so provenientes, em grande parte de:

    Exposio contnua a doentes com um desenlace fatal

    Conflitos com familiares de doentes

    Conflitos com colegas de trabalho supervisores e pessoas de outras

    categorias profissionais

    Sobrecarga de trabalho

    Insegurana

    Falta de autonomia

    Conflitos de autoridade

    Insatisfao pela forma como se sentem tratados pelos superiores

    hierrquicos ou pela instituio

    Dificuldade em conciliar os deveres profissionais com os familiares e

    domsticos

    Sutherland e Cooper (1990), citados por Serra (1999), referem que as

    enfermeiras, em relao a mulheres da mesma idade, apresentam maior ndice

    de mortalidade e tm menor expectativa de vida.

  • 45

    2.5.5- Recursos E Estratgias Para Lidar Com O Stress Coping

    Lazarus e Folkman (1984), tambm citados por Serra (1999), referem que

    coping representa os esforos cognitivos e comportamentais realizados pelo

    indivduo para lidar com exigncias especficas, que so avaliadas como

    ultrapassando os seus recursos.

    A forma como um indivduo lida com as situaes de stress depende de dois

    tipos de recursos:

    Pessoais constitudos pela experincia adquirida na resoluo de crises

    anteriores, pela autoconfiana, pelas aptides em resolver problemas e pelas

    aspiraes pessoais.

    Social rede social em que o indivduo est inserido e facilidade de acesso a

    pessoas que possam prestar-lhe ajuda. Capacidade econmica, tipo de

    relaes com familiares e amigos.

    Estes recursos determinam:

    A avaliao que o indivduo faz das ocorrncias

    A repercusso que as circunstncias indutoras de stress podem ter sobre o

    indivduo

    Os processos de coping que so utilizados para lidar com elas

    A adaptao que se verifica a curto e a longo prazo.

    A libertao das emoes pode contribuir para dar significado aos

    acontecimentos, permitir que os factos os sentimentos e os pensamentos

    possam ser organizados de uma forma eficaz e contribuir para o ultrapassar

    das dificuldades.

    Os enfermeiros passam o tempo a falar de fazer o trabalho e adoptam uma

    atitude ocupada movendo-se rapidamente de uma tarefa para outra, num

    estado de permanente tenso fsica.

  • 46

    So constantemente interrompidos a meio das suas tarefas, o que conduz a

    sua mente a um estado de constante agitao. Sentem-se preocupados com

    as tarefas do passado e do futuro, aumentando a sua dificuldade de

    concentrao no presente. Este estado mental torna-se um hbito que

    permanece mesmo nos momentos de pausa e descanso.

    esperado que o enfermeiro se comporte como uma slida figura parental,

    uma rocha na qual os que o rodeiam adquirem a sua prpria estabilidade. O

    enfermeiro oferece suporte para os outros, mas nega-o muitas vezes a si

    prprio. Isto pode ser feito no pedindo ajuda, ou rejeitando-a de uma forma

    desencorajadora.

    Ao partilhar informao, experincias, problemas os enfermeiros podem reduzir

    o isolamento emocional.

    2.6- O DESGASTE PROFISSIONAL- BURNOUT

    A sndrome de Burnout resulta da interaco, entre o indivduo e as condies

    nocivas existentes no trabalho. vulgar considerar-se que o indivduo no

    adequado ao trabalho, em vez de se questionar o que possvel modificar nas

    condies ou caractersticas laborais, a fim de proporcionar bem-estar e

    realizao aos profissionais.

    Uma empresa que proporciona qualidade de vida aos seus funcionrios no

    desempenho das suas funes, uma empresa em que indicadores como o

    nmero de acidentes e o nvel de absentismo diminuem e a produtividade e a

    qualidade dos servios aumentam.

    O Burnout pode ser descrito como um estado de exausto fsica emocional e

    mental, devido ao envolvimento em situaes emocionalmente exigentes por

    um longo perodo. As caractersticas fsicas, psquicas e relacionais do

    individuo so colocadas em causa. O desgaste no existe apenas a nvel fsico

    e psicolgico mas tambm em termos sociais. Os indivduos sentem que todos

    os recursos existentes desaparecem.

  • 47

    Muitos foram os autores que ao longo dos anos se dedicaram ao estudo desta

    sndrome, encontrando-se entre eles algumas diferenas a nvel conceptual.

    Em 1974, Freudenberg, definiu o esgotamento como uma experincia

    esgotante, ou uma sensao de fracasso, derivada de uma sobrecarga de

    trabalho a qual requeria grandes quantidades de energia fsica e emocional.

    Mais tarde, em 1977, este mesmo autor, inclui, na sua definio de

    esgotamento, as manifestaes da sndrome com comportamentos de fadiga,

    depresso, aborrecimento, irritabilidade, excesso de trabalho, rigidez e

    inflexibilidade.

    Christina Maslach em (1976), acrescenta que o Burnout surge particularmente

    em indivduos pertencentes a profisses de ajuda. O nvel de exigncia

    emocional destas impossvel de satisfazer, caracterizava a vivncia de fracasso

    profissional, atribuindo uma alta carga emocional ao local de trabalho.

    Em 1986 Maslach e Jackson com base numa perspectiva multidimensional

    descrevem o Burnout como sendo um estado de esgotamento emocional, alta

    despersonalizao e baixa realizao profissional e, que acontece com

    frequncia em indivduos que trabalham com pessoas.

    Em 1988 Pines e Aronson estendem o conceito a todas as profisses, uma vez

    que as situaes de exigncia emocional podem ocorrer em qualquer profisso

    provocando um estado de esgotamento mental, fsico e emocional.

    Cherniss citado por Queirs (2005: 27), define Burnout (exausto profissional)

    como a existncia de ...mudanas pessoais negativas que ocorrem em

    profissionais de ajuda que tem empregos exigentes ou frustrantes....

    As profisses de ajuda pelo facto de terem que contactar diariamente com

    situaes de sofrimento e frustrao so um excelente alvo para o

    aparecimento desta sindrome.

    Alguns autores j consideram esta sndrome de exausto como a doena dos

    profissionais da relao de ajuda.

  • 48

    Shaufeli (2001), define Burnout como um estado de exausto fsico, emocional

    e mental resultante de um longo contacto com situaes de trabalho altamente

    exigentes.

    Maslach decompe a sndrome de Burnout em trs dimenses de anlise:

    - exausto ou esgotamento emocional,

    - despersonalizao ou a desumanizao face ao outro,

    - realizao pessoal.

    O Esgotamento emocional manifesta-se tanto de forma fsica como psicolgica,

    quando os profissionais sentem que j no conseguem dar mais de si mesmos

    a nvel afectivo. O indivduo demonstra uma fadiga efectiva em relao ao

    trabalho, assim como uma crescente dificuldade na relao principalmente no

    que toca s emoes.

    Na Despersonalizao surge o desenvolvimento de um conjunto de

    sentimentos negativos, encontram-se comportamentos ou atitudes tais como a

    desvalorizao do trabalho dos outros e trat-los como objectos de trabalho.

    Os elementos adoptam uma postura de frieza em termos afectivos, no

    demonstrando os seus sentimentos.

    A Realizao profissional habitualmente baixa. Os sujeitos fazem de um

    modo geral uma avaliao negativa das suas competncias profissionais, o que

    se traduz em descontentamento e desmotivao.

    Tanto em Medicina como em Enfermagem considera-se sinal de fraqueza a

    expresso de emoes, conduzindo deste modo os profissionais a posturas de

    evitamento, distanciamento em relao ao outro desumanizantes. As atitudes

    com os seus pares e com os utentes no so autnticas. O indivduo

    experimenta assim um sentimento de frustrao relacionado com a

    incapacidade percepcionada de lidar com as situaes e/ou face ao seu

    desempenho.

  • 49

    Para Ribeiro (2007:290), o Burnout define-se como uma resposta prolongada

    a stressores emocionais e interpessoais crnicos existentes em contexto de

    trabalho. Manifesta-se como um cansao emocional conducente a perda de

    motivao e a sentimentos de inadequao e fracasso. uma experincia de

    stress individual num contexto de relaes sociais complexas

    O Modelo de Competncia Social de Harrison (1983):

    releva a eficcia e a competncia percebidas. Refere que se tivermos

    Indivduos fortemente motivados e com grandes expectativas de sucesso, na

    presena de factores de ajuda e, desenvolvendo a sua actividade num meio

    com os recursos essenciais presentes, que lhes permitam alcanar uma

    capacitao pessoal, estes aumentaro a eficcia percebida. Do mesmo modo,

    se os factores no forem facilitadores e se os recursos no forem os

    suficientes, as expectativas no so correspondidas e o processo de burnout

    instala-se.

    A Teoria Socio-Cognitiva do Eu de Gil-Monte et al (1997):

    Esta teoria pe a nfase na autoconfiana, autoeficincia, e autoconceito. O

    Burnout ocorre quando os indivduos tem um autoconceito deturpado quer pela

    sua percepo quer pelo feedback recebido.

    Estes modelos so equivalentes, centram o seu processo mais na pessoa ou

    na pessoa em interaco com o meio, onde o Burnout surge sempre da

    percepo negativa de situaes de stress ou de frustrao.

    O Modelo Explicativo de Leiter, 1993:

    Trata-se de um modelo semelhante ao modelo de Maslach de 1986. Segundo

    este, o Burnout instala-se quando se tem como ponto de partida uma situao

    de stress crnico e de ausncia de recursos que conduzem o indivduo

    exausto.

    O modo de reaco aos stressores difere de indivduo para indivduo, depende

    de caractersticas de personalidade de cada um, assim como dos recursos que

  • 50

    cada pessoa julga ter disponveis. Se os mecanismos de coping

    (enfrentamento) no forem eficazes, o Burnout ser sentido quer pelo prprio

    quer pela organizao.

    Em termos individuais podem surgir manifestaes a nvel psicossomtico,

    emocional, comportamentais e de diminuio da capacidade de trabalho.

    Em termos organizacionais, esta sndrome resulta na diminuio da

    produtividade e num aumento de gastos.

    Em 1996, Schaufeli apresenta o Modelo de Intercmbio Social um modelo

    centrado na superioridade das caractersticas da organizao em relao s

    individuais. Os aspectos mais relevantes neste processo so a percepo de

    falta de controlo e de equidade.

    Na sequncia da teoria anterior, Winnubst em 1993, desenvolveu a teoria

    organizacional. Para ele, o processo de burnout era explicado pela

    organizao: pela sua cultura, estrutura e clima organizacional.

    Queirs (2005:70), faz referncia a um estudo de Cruz em 2004, sobre o

    desgaste profissional dos enfermeiros num Bloco Operatrio nos Aores.

    Concluiu-se que o auto conceito e as estratgias de coping tm um papel

    decisivo no desenvolvimento de desgaste e que a satisfao profissional

    funciona como factor atenuante do desenvolvimento de burnout.

    Existem ainda autores que defendem a existncia de uma correlao elevada

    entre a ocorrncia de Burnout e alguns traos especficos de personalidade.

    2.6.1 - SINDROME DE BURNOUT NOS ENFERMEIROS Para a maioria dos autores, o Burnout uma caracterstica das profisses de

    ajuda, daqueles cujo ncleo central do seu trabalho prestar servios humanos

    trabalhar com pessoas.

    O contacto directo e prolongado com a doena, a dependncia, a morte e

    particularmente o sofrimento crnico so esgotantes.

    O trabalho dos profissionais de ajuda, mais especificamente o de enfermagem,

  • 51

    pressupe trs caractersticas fundamentais: grande esforo mental e fsico;

    contnuas interrupes e reorganizao das tarefas, com agravamento do nvel

    de carga e de esforo mental e, a relao com pessoas em situao de

    extrema ansiedade e sofrimento. Este tipo de trabalho pode acarretar graves

    problemas emocionais. O sofrimento do doente afecta tambm, de algum modo

    os profissionais.

    So tambm determinantes na tenso emocional as expectativas sobre o

    resultado positivo do seu trabalho. O sentimento de xito ou fracasso, a atitude

    do profissional na relao que estabelece com o doente, assim como uma

    atitude depreciativa do doente perante os cuidados que lhe foram prestados,

    podem interferir na postura profissional, podendo mesmo contribuir para a

    desumanizao do profissional.

    Para Garcia (1990), os factores que no exerccio de enfermagem podero estar

    relacionados com burnout, podem ser a incongruncia entre:

    - os ideais profissionais e a realidade;

    - a falta de controlo no posto de trabalho;

    - a ambiguidade sobre quem e define a conduta laboral apropriada;

    - a falta de feedback acerca do valor do prprio esforo;

    - a relao directa e continua com as pessoas.

    Basicamente, a relao dos enfermeiros com o doente uma relao de

    complementaridade, pressupe-se que os primeiros prestem cuidados, suporte,

    conselhos, entre outros e que os segundos os recebam.

    Em termos reais e concretos, se por qualquer razo estas expectativas no so

    satisfeitas, os profissionais podem sentir que esto a investir numa relao com

    os seus doentes em que pouco recebem. Uma relao deste tipo, assimtrica,

    desequilibrada, tende a esgotar os recursos emocionais do enfermeiro e

    poder eventualmente conduzir exausto emocional levando ao

    desinvestimento progressivo na relao com o doente. Deste modo, esta

    relao torna-se estereotipada e despersonalizada, ao invs de emptica e

    genuna.

    Breakwell, (1991), sugere que para alm de uma relao desequilibrada em

    termos interpessoais, a falta de reciprocidade pode tambm estar relacionada

    com factores organizacionais. Os profissionais esperam reconhecimento por

  • 52

    parte dos seus doentes e tambm por parte dos seus superiores hierrquicos e

    da organizao onde trabalham. As expectativas criadas relacionam-se com

    temas concretos, tais como a estima, a dignidade no trabalho e o apoio dos

    supervisores e colegas. Quando os resultados da organizao, so

    discordantes das expectativas dos profissionais isso pode levar ao afastamento

    cognitivo e comportamental em relao organizao.

    A organizao mundial de sade (OMS) tem alertado para a gravidade do

    problema que constitui o burnout, no pessoal dos servios de sade. Num

    relatrio de 1999 referido que, de um modo geral, dentro das diferentes

    categorias profissionais que exercem actividades na rea da prestao de

    cuidados, os sintomas de esgotamento emocional (Burnout) apresentam

    frequncia mxima no pessoal de enfermagem.

    Num estudo comparativo entre mdicos generalistas, enfermeiros e

    farmacuticos, os nveis mais elevados de burnout registaram-se no pessoal de

    enfermagem. O que est relacionado essencialmente com a carga de trabalho

    e o no reconhecimento dos problemas e conflitos profissionais (OMS, 1999).

    Segundo Pronost (1996), o profissional de enfermagem merece uma especial

    proteco, face quantidade de agentes dirios indutores de stress a que est,

    exposto e, identifica como agentes especficos de stress em meio hospitalar,

    que mais afectam os enfermeiros, os seguintes:

    - O nmero de doentes que devem atender, de forma que inversamente

    proporcional sua satisfao;

    - Carncia de pessoal que influncia directamente a qualidade dos cuidados

    prestados;

    - A possibilidade de cometer erros com consequncias potenciais e reais para

    os doentes;

    - Limitada participao na tomada de decises sobre temas profissionais e

    laborais;

    - Desconhecimento dos problemas dos trabalhos por parte da administrao.

    Martinez e Berbe (1996), referem que a vulnerabilidade dos profissionais de

  • 53

    Enfermagem justifica-se por contedos historicamente determinados

    (abnegao, sacrifcios, vocao), que a transformam numa

    organizao baseada num sistema estruturado, pouco gratificante,

    incentivador de comportamentos individuais altamente perigosos para a sade

    mental dos seus membros.

    Em 1997, Queirs investigou o Burnout em Enfermeiros, no tendo

    constatado qualquer relao entre as dimenses de burnout e as dimenses de

    locus de controlo. Encontrou correlaes negativas significativas entre

    satisfao no trabalho e exausto, e satisfao no trabalho e

    despersonalizao e, positiva