1 conflitos ambientais e negociação social na gestão ambiental

Upload: lucimar-vieira

Post on 16-Feb-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    1/43

    CONFLITOS AMBIENTAIS E NEGOCIAO SOCIAL NAGESTO AMBIENTAL

    1. Introduo

    Desde o sculo XVIa cincia vista como a interveno na naturezacom objetivos prticos e econmicos. A natureza vista como um meio para atingir

    um fim, consagrando a capacidade humana de dominar a natureza, para a melhoria

    da vida humana.

    ibeiro !"###$ afirma %ue o nosso futuro estaria determinado pela tcnica.

    &cnica de administrar a mo'de'obra, de se apropriar dos espaos de flu(os, de

    inscrever elementos no territ)rio e de controle do campo, aumento o acesso

    desigual das coisas, influenciando nas formas de dominao.

    At o final do sculo XIX, o capitalismo procurou universalizar omodo de produo, aproveitando o mercado para os seus produtos e um modelo de

    circulao organizado em escala mundial.

    A viso dialtica mar(ista, uma das formas de en(ergar as rela*es

    sociedade+natureza no pensamento ocidental, %ue valoriza o papel das rela*es

    econmicas, possibilita uma compreenso mais clara dos atuais problemas

    ambientais, embora o modelo de interesses e de rela*es de poder %ue ar(

    analisava tenha se modificado profundamente na fase capitalista contempor-nea.

    ar( sustentava %ue a relao do homem com a natureza, mediada pelo trabalho,

    era o aspecto fundamental da atividade humana, mas o capitalismo industrial

    organizou de tal forma o processo de trabalho, %ue este acabou convertendo a

    relao entre o trabalhador e a natureza em uma caricatura do %ue era antes,

    reduzindo os trabalhadores a coisas, a alienados de seus produtos, do mtodo de

    produzi'los e da pr)pria natureza.

    a medida em %ue se rebai(a a natureza, uma vez %ue o prop)sito da

    cincia praticamente a sua dominao e controle, em lugar de se buscar um

    conhecimento de cooperao cincia+natureza, caminham'se para o div)rcio, e o

    sujeito onipotente s) a enfrenta fazendo clculos, com a pretenso de submet'la.

    /m funo deste distanciamento, surge uma classe dominante %ue submete os

    trabalhadores e se coloca entre eles e a natureza.

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    2/43

    A partir do sculo XX, o capitalismo se construiu na fbrica atravsdo ta0lorismo, mas realizou'se, via espao, por meio do fordismo !vinculado a

    circulao$, para %ue pudessem operar de forma homognea.

    1antos !2334$ assinala %ue nunca houve, na hist)ria do mundo, um

    subsistema de tcnicas to invasor, com tal capacidade de se difundir e de se impor

    aos lugares e aos homens, sendo %ue tambm a primeira vez na hist)ria %ue o

    subsistema tcnico tende 5 unidade. 6s agentes %ue utilizam os subsistemas mais

    novos so hegemnicos, en%uanto %ue os agentes homogeneizados utilizam

    subsistemas tcnicos no'homogeneizados. /ntretanto, o envelhecimento do

    patrimnio tcnico rpido, logo substitu7do por outro de maior capacidade

    operacional, em funo da competitividade, fazendo com %ue e%uipamentos e

    lugares envelheam rapidamente. 8omo acentua 1antos, 9no a tcnica %ue

    e(ige aos pa7ses, s empresas, aos lugares serem competitivos e sim a pol7tica

    produzida pelos atores globais, isto , empresas globais, bancos globais,

    institui*es globais: !1antos, 2334, p. 2;;$.

    A crise do atual modelo de desenvolvimento capitalista, a ameaa de

    esgotamento dos recursos naturais do planeta, o crescimento da populao e do

    consumo, os elevados n7veis de poluio atmosfrica e das guas referem'se ao

    abuso capitalista da cincia e da tecnologia, cuja utilizao, se fosse correta,

    significao a emancipao do homem.

    At meados do sculo XX, conforme relata

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    3/43

    forma de sociedade sero capazes de mudar os rumos atuais do conhecimento

    cient7fico.

    2. Xxx

    A natureza sofre, antes de %ual%uer coisa, um processo de

    instrumentalizao, tornando'se um processo social e, com isso, 9desnaturalizada:.

    6 tema de gesto ambiental vem cercado de novas indaga*es e de um

    conte(to efetivamente diverso. As considera*es mais atuais se referem ao papel

    da tcnica e da cincia na produo de conceitos, no uso e gesto do ambiente e

    na incontrolvel pol7tica do problema.

    98riou'se uma configurao territorial %ue cada vez mais o resultado de

    uma produo hist)rica e tende a uma negao da natureza natural, substituindo'a

    por uma natureza inteiramente humanizada: !1antos, 2334, p. @2$.

    uanto mais poderosa a ma%uinaria, mais riscos ela provoca para a vida

    humana e tanto maior a presso econmica para tirar dela mais lucro e

    desempenho. /(plorando as ri%uezas da &erra, a forma capitalista de produzir afeta

    diretamente o meio ambiente, muitas vezes provocando impactos negativos

    irrevers7veis ou de dif7cil recuperao. Boje, os riscos produzidos se e(pandem em

    %uase todas as dimens*es da vida humana, obrigando'nos a rever a forma como

    agimos sobre o meio natural e as pr)prias rela*es sociais, obrigando'nos a

    %uestionar os hbitos de consumo e as formas de produo material. uitas vezes a

    conscincia dos riscos provocados pelas novas tecnologias no ambiente natural se

    torna alarmista, mas ningum pode negar a gravidade de tal situao.

    6 controle de risco est diretamente relacionado com a noo de futuro.

    Boje, diferentemente das pocas pr'modernas, o risco est mais relacionado com

    acidentes ou com os abusos humanos. A no ser os eventos naturais de grande porte

    !como atividades tectnicas do planeta e as calamidades climticas$, os demais

    riscos poder ser controlados ou evitados at certo grau.

    Ambientalismo: 9as formas de comportamento %ue, tanto em seusdiscursos como em sua prtica, visam corrigir formas destrutivas de relacionamento

    entre o homem e o seu ambiente natural, contrariando a l)gica estrutural e

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    4/43

    institucional atualmente predominante: !8astells, 2333, p. 2CD$. Eiz ainda %ue a

    principal forma de ambientalismo a mobilizao de comunidades em defesa do

    seu espao geogrfico e contrrias 5 devastao do meio natural em n7vel local.

    Assim, se organizam associa*es de moradores, naturalistas, cientistas, estudantes

    e outros grupos sociais, visando impedir a degradao de seus locais de moradia e

    trabalho.

    colo!ia: 9conjunto de crenas, teorias e projetos %ue contempla ognero humano como parte de um ecossistema mais amplo e visa manter o

    e%uil7brio desse sistema em uma perspectiva din-mica e evolucionria: !8astells,

    2333, p. 2CD$.

    "ercepo definida como 9F...G o processo de e(trair informao: pormeio de F...G recepo, a%uisio, assimilao e utilizao do conhecimento: e %ue

    ocorre a partir de est7mulos sensoriais mais conhecidos !viso, audio, olfato,

    paladar e tato$. !Horgus= 23;2,p. 2$. 1eu processo se d em dois estgios

    independentesI sensao e percepoI 9 a sensao estaria totalmente subordinada

    aos est7mulos e sobre essa base operariam os processos perceptuais %ue, a partir de

    e(perincias passadas, organizam e do significado 5s informa*es identificadas

    pelos processos sensoriais. A percepo ambiental definida como a identificao

    %ue o preceptor desenvolve com o meio o %ual ele convive e faz parte, podendo

    intervir para melhoria da %ualidade deste local. 8ada indiv7duo reage a sua

    percepo ad%uirida de modo diferenciado. 8ontudo, valores como cultura, hist)ria

    pessoal, religio e outros acabam por influenciar este processo. !odrigues, "#2#,

    p. ;3$.

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    5/43

    #. $uesto Ambiental % ori!em

    o sculo JJ, a primeira grande preocupao com o potencial tcnico

    destrutivo da humanidade e da natureza acontece no final da 1egunda >uerra

    undial !23C@$, %uando o mundo foi surpreendido com o lanamento da bomba

    atmica em Biroshima !44 mil mortos$ e agasaKi !D3 mil mortos$.

    A sociedade via o li(o e fumaa como sinais de progresso, prosperidade e

    gerao de emprego. As cenas de grandes acidentes ambientais comearam a virar

    rotina.

    &om ra'(es no final do sculo XIX, a tomada de consci)ncia ecol*!ica

    +uesto ambiental emer!iu ap*s a e!unda -uerra undial, promo/endo

    importantes mudanas na /iso do mundo. A 0umanidade passou a +uestionar o

    modelo de desen/ol/imento econmico adotado, +ue apresenta/a lacunas

    +uanto a sua sustentabilidade socioambiental tambm, percebeu +ue os

    recursos naturais so finitos e +ue seu uso incorreto pode representar o fim de

    sua pr*pria exist)ncia, alm de &om o

    sur!imento da consci)ncia ambiental, a ci)ncia e

    a tecnolo!ia passaram a ser +uestionadas.

    A +uesto ambiental, nas duas 3ltimas

    dcadas do sculo XX, alcanou o status de

    problema !lobal e tem mobili(ado a sociedade

    ci/il or!ani(ada, os meios de comunicao, as

    or!ani(a4es cient'ficas, as or!ani(a4es ci/is

    no !o/ernamentais 567-s8, alm dos

    !o/ernantes de todas as re!i4es do planeta.

    /m 23@#, a morte de pescadores

    !envenenamento por mercLrio$ no sul

    do Mapo, na Na7a de inamata= no

    final dos anos 4#, um enorme

    derramamento de )leo na costa oeste

    da Onglaterra chocou o mundo, sendoe(ibidos na televiso os animais

    morrendo atingidos pelo petr)leo e de

    praias contaminadas. /m 23P3, no

    Alasca, um navio derramou petr)leo,

    atingindo uma rea de "@#Km". /m

    23PC, a cidade de Nhopal, na Qndia, foi

    contaminada por C#Km" de gs t)(ico

    !com "## mil pessoas %ueimadas ou

    cegas$. As chuvas cidas se tornaram

    comuns perto das grandes

    concentra*es urbanas do mundo. /m

    23P4, ocorreu o acidente nuclear na

    regio de 8hernob0l, na antiga Rnio

    1ovitica, espalhando radiao por

    cerca de D.###Km.

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    6/43

    &omo conse+u)ncia deste processo, ocorreu a multiplicao de e/entos

    mundiais +ue discutem a relao entre desen/ol/imento e meio ambiente.

    Al!uns estudos atribuem 9 emer!)ncia de uma preocupao coleti/a com

    o meio ambiente a uma mudana estrutural no repert*rio de /alores da

    sociedade ocidental.

    Al!uns estudos atribuem a emer!)ncia de uma preocupao coleti/a com

    o meio ambiente a uma mudana estrutural no repert*rio de /alores da

    sociedade ocidental. A consolidao das sociedades p*s%industriais relati/a a

    prosperidade e a se!urana do p*s%!uerra seria acompan0ada por uma mudana

    na 0ierar+uia das necessidades;, direo de /alores p*s%materiais;, como

    amor, considerao, status, satisfao esttica e intelectual e preocupao

    ambiental. ste fenmeno exprimiria uma mudana !eracional: uma no/a classe

    mdia de

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    7/43

    A ci/ili(ao capitalista no deu ateno para as +uest4es cient'ficas mais

    0ol'sticas, os riscos +ue no foram admitidos, e por isso, no foram e/itados,

    com isso no/os dilemas ecol*!icos sur!iram.

    8omo e(trair ordem do caosT Boje, essa pergunta, e(ige um novo dilogo da

    sociedade com a natureza. A civilizao da fbrica se espalhou, com suas m%uinas,

    com as obras de engenharia, com as indLstrias do ao, do petr)leo e do autom)vel.

    Urios cientistas tentam provar %ue a capacidade predat)ria do homem est se

    apro(imando do limite e %ue alguma ordem deve sur!ir do caos.

    8astells !2333$ afirma %ue grandes empresas passaram a incluir a %uesto do

    ambientalismo em sua agenda. /ntretanto, assinala %ue 9a maioria de nossos

    problemas ambientais mais elementares ainda persiste, uma vez %ue seu

    tratamento re%uer uma transformao nos meios de produo e de consumo, bem

    como de nossa organizao social e de nossas vidas pessoais: !8astells, 2333, p.

    2C2$.

    6 movimento ecol)gico vem provocando algumas mudanas de atitude %ue

    devem ser ressaltadas o estilo de vida da classe mdia ocidental est sendo

    transformado e o consumo de mercadorias ecol)gicas est aumentando, o tamanho

    das fam7lias diminuiu, a economia domstica de recursos energticos uma

    realidade, em todos os cantos do mundo aumentaram as implanta*es de reservas

    naturais e a preservao de reas hist)ricas, h um crescimento de agnciasgovernamentais !internacionais, nacionais e locais$ relacionadas 5 %uesto

    ambiental e aumento de leis ambientais. 6s movimentos ambientalistas e os

    projetos sociais de preservao ambiental crescem. ovas rela*es

    sociedade+natureza.

    6s processos de disseminao global de prticas e ado*es de institui*es

    !principalmente com a e(tensa agenda de discuss*es em f)runs internacionais$

    visando 5 proteo ambiental esto correlacionados com a difuso de concep*es e

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    8/43

    conhecimentos desenvolvidos por 6>s e organiza*es cient7ficas vinculadas 5

    perspectiva ambientalista.

    o h um consenso em torno de solu*es. Ao contrrio, 5 medida %ue se

    ampliou e se aprofundou o debate, os conflitos se tornaram mais agudos e as

    solu*es mais problemticas do %ue se poderia imaginar D# anos atrs.

    Vor outro lado, o relativo sucesso do movimento ambientalista resultou em

    uma parado(al perda da aura 9ut)pico'revolucionria: da %uesto ambiental,

    principal fator de mobilizao de seus militantes nas dcadas de 234# e 23;#. Osto

    se deu, justamente, em razo da insero da temEtica ambiental no Fmbito das

    pol'ticas p3blicas !o/ernamentais.

    /m contrapartida, a incorporao dos problemas ambientais contribuiu para

    abrir e ampliar o espao de participao da sociedade civil nos processos de

    deciso pol7tica em geral. 6 impacto mais importante, porm, se deu sobre as

    propostas e os discursos ambientalistas.

    Assistimos, principalmente ao longo da Lltima dcada, a um processo de

    institucionali(ao da +uesto ambiental. 6corre mesmo a traduo de dimens*es

    suas em problemas de pol7tica pLblica. Osto significa %ue os temas ambientais

    passam a estarem sujeitos, portanto, 5s restri*es impostas pela racionalidadeadministrativa, onde imperam as solu*es pragmticas !politicamente aceitveis e

    economicamente viveis para uma sociedade capitalista$ e onde toda demanda, por

    mais justificvel %ue seja do ponto de vista ambiental !ou econmico ou social$,

    precisa levar em considerao os outros interesses organizados e representados na

    esfera pLblica.

    6s efeitos dessa mudana estrutural sobre o mo/imento ambientalista

    foram considerveis, assim como sobre a abordagem da %uesto ambiental na reaacadmica. Ee sua parte, o movimento social fragmentou'se, profissionalizou'se,

    especializou'se, inserindo'se nas mais diversas esferas de deciso governamental

    concernentes 5 %uesto ambiental. Ee outro lado, constitu7ram'se 9cincias

    ambientais:, %ue ad%uiriram status intelectual, forte ateno da m7dia e

    promoveram um processo de progressiva diferenciao entre as esferas cient7fica e

    pol7tica, gerando novas metodologias de pes%uisa e instrumentos de mensurao e

    aferio de 9riscos ambientais:. esmo no -mbito das cincias sociais, em %ue oimpacto desse processo de institucionalizao no foi to forte, assistimos ao

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    9/43

    desenvolvimento de diversas abordagens sociol)gicas %ue procuram dar conta da

    comple(idade da problemtica ambiental, e(plicitando e criticando os limites do

    discurso 9ut)pico'revolucionrio: do movimento ambiental em sua fase pica.

    G. olu4es

    1egundo Uiola!23P;$ o %ue falta no Nrasil, alm de maior conscientizao por

    parte das elites e do poder pLblico, uma penetrao mais ampla da preocupao

    ecol)gica nas classes mais populares.

    Haz'se necessrio a desnaturalizao do conceito de ambiente, admitindo

    %ue o mesmo resultado da interao da l)gica da sociedade com a l)gica da

    natureza, devendo'se romper com a separao falsa entre desenvolvimento tcnico

    cient7fico e ecologiaI para se construir uma gesto territorial mais justa, os padr*es

    de desenvolvimento devem ser revistos.

    6 movimento da vida evolui em espiral, convergindo para o aumento da

    diferenciao, num conte(to de ora e%uil7brio, ora dese%uil7brio, ora um caos, ora

    ordem, um dando origem ao outro, dando luz ou outro, e vice'versa. /ssa

    reconceituao rompe com a dicotomia homem+natureza, mostrando %ue a grande

    dist-ncia da vida do homem em relao 5s demais formas de vida no a biol)gica,

    mas a sua hist)ria cultural, seu estado de conscincia !oreira, 233D$.

    8asini !23;@$ afirma %ue no e(iste uma soluo final, mas importante

    haver uma nova sociedade no processo de produo, na organizao do trabalho,

    %ue se estabelea em novas bases de cooperao.

    o Nrasil, entretanto, constatamos uma importante defasagem entre a ao

    e o discurso das organiza*es sociais ambientalistas e a produo cient7fica de

    institui*es de pes%uisa %ue atuam na rea de 9cincia ambiental: e a refle(o

    produzida pelas cincias sociais acerca do tema. Ee fato, a superao do discurso

    ambientalista nas cincias sociais parece avanar bem mais vagarosamente do %ue

    se poderia esperar. /ssa resistncia 5 mudana parece dever'se 5 estreita ligao, e

    mesmo superposio, entre ativismo ambientalista e a pes%uisa acadmica

    orientada para a constituio do %ue se convencionou denominar 9sociologia

    ambiental: superposio.

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    10/43

    6 principal obstculo ao desenvolvimento de uma sociologia do

    ambientalismo no Nrasil a fragilidade de seus fundamentos te)ricos e, como

    conse%uncia, a ausncia de uma agenda de pes%uisa de problemas ambientais

    autnomas em relao 5s preocupa*es do movimento ambientalista.

    >rande parte do %ue se convencionou chamar de abordagem socioambiental

    est profundamente marcada por um vis engajado, %ue confunde a trajet)ria do

    movimento ambientalista com a trajet)ria pol7tica e social da %uesto ambiental,

    transformando suas concep*es ideol)gicas em pressupostos anal7ticos para

    compreender a din-mica ambiental. Vara construir, em bases s)lidas, uma cincia

    social dos problemas ambientais no Nrasil, precisamos superar essa contaminao

    entre ju7zos pol7ticos e adotar uma postura de suspenso de valores, ao menos

    durante a anlise.

    ?. 6 problema ambiental nas ci)ncias sociais: !randes lin0as

    A teoria clssica teria separado a sociedade da natureza para demarcar com

    mais facilidade seu pr)prio campo de estudo em relao 5 biologia. Autonomizou os

    fenmenos culturais e s)cias em relao ao mundo natural, negligenciando as

    %uest*es ambientais.

    os anos ;#, aventou'se %ue o pr)prio tema estabeleceria um novo dilogo

    entre os saberes. 8ientistas propuseram %ue as cincias sociais deveriam abandonar

    o paradigma clssico em favor de um novo paradigmaI o /V !new ecological

    paradigm$, ou seja, pressupor %ue a espcie humana estaria condicionada as

    variveis ambientais e pela influncia rec7proca entre o ambiente biof7sico e as

    sociedades humanas !Eunlap e 8atton, 23;3$. A difuso deste paradigma ecol)gico

    no se concretizou.

    Nuttel !2334$ afirma %ue dois grandes debates estruturam a definio dos

    fenmenos ambientaisI 2. Anlises estruturais das rela*es entre sociedade e

    natureza !macroprocessos e prticas sociais com dimens*es e implica*es

    ambientais$= ". Anlise de atitudes, valores e intencionalidades dos agentes na

    constituio de problemas ambientais, bem como das formas de ativismo

    ambientalista.

    1omente a partir de 23P#, podemos falar realmente em um interesse

    sistemtico das cincias sociais pela %uesto ambiental no Nrasil. Ainda assim, essa

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    11/43

    literatura ganha forma, lentamente, mais pela adeso individual de especialistas

    das mais diversas reas das cincias naturais e humanas 'fil)sofos, ge)grafos,

    dem)grafos, bi)logos, dentre outros ' do %ue por uma e(panso planejada de

    programas e cursos espec7ficos. Osso e(plica, em parte, por %ue a progressiva

    institucionalizao de uma rea de estudos sociais a respeito da temtica

    ambiental no implicou o abandono do tom militante, caracter7stica da primeira

    fase da literatura ambientalista. a verdade, a adeso 5 causa ambientalista,

    geralmente acompanhada da participao em 6>s, foi, e talvez ainda seja, um

    dos fatores e(plicativos da e(panso do interesse pelas %uest*es ambientais entre

    os cientistas sociais brasileiros.

    . Heorias sociais sobre as rela4es entre sociedade e nature(a

    SSarxistas ecol*!icosI o capitalismo o responsvel por uma ampla gama

    de problemas sociais desde a superpopulao e o esgotamento de recursos naturais

    at a alienao dos indiv7duos em relao ao mundo natural. 6s problemas

    ambientais esto relacionados a desigualdades hist)ricas, pol7ticas e

    economicamente constru7das. 6 capitalismo refaz a natureza atravs da tecnologia

    e cria duas contradi*esI capital ( trabalho e capital e trabalho ( natureza.

    oderni(ao ecol*!ica: prop*e mudanas no modelo econmico via

    altera*es no padro de consumo.

    S codesen/ol/imento !Ognac0 1achs= 23P4$I o modelo insustentvel do

    capitalismo restringe o desenvolvimento social e o crescimento econmico e ainda,

    tem como horizonte, o consumo intensivo e desigual dos recursos produzidos. A

    tomada de conscincia dos problemas ambientais e(igiria uma mudana de padro

    socioeconmicoI um novo modelo de desenvolvimento voltado para a satisfao das

    necessidades conciliando crescimento econmico, justia social e preservao

    ambiental.

    S ociedade de Jisco!Rlrich NecK= 233"= 233@$I a principal caracter7stica

    das sociedades na 9modernidade p)s'industrial: o risco sistmico. o novo

    padro 9refle(ivo: de modernizao o 9paradigma da escassez: !l)gica de

    produo de ri%uezas da sociedade industrial$ estaria sendo substitu7do pelo

    9paradigma do risco:. 6s res7duos do processo produtivo estariam crescendo, numa

    9e(propriao ecol)gica: do esto%ue planetrio de alimento, ar e gua, gerando e

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    12/43

    difundindo novos riscos objetivos !%u7micos, nucleares, biogenticos$. esta

    9sociedade !industrial$ de risco:, os problemas ambientais teriam escala global e

    conse%uncias irrevers7veis, atingindo os pr)prios produtores de risco. Vara NecK, a

    cincia responsvel pela definio de riscos ambientais 9potenciais:. /ste

    processo estaria dividindo a sociedade em e(perts !identificadores de riscos$ e no'

    e(perts !perceptores de risco$, produzindo uma politizao da natureza.

    Bannigan !233@$ tambm concorda com a teoria, pois essa situa o

    ambientalismo em seu conte(to social, hist)rico e cultural, teria incorporado 5

    %uesto ambiental na pr)pria definio de processo social.

    6s te*ricos construti/istas:%uestionam a pr)pria e(istncia de %uest*es

    ambientais independentes da percepo dos grupos sociais. Vroblemas ambientais

    seriam constru*es sociais W cognitivas, culturais, pol7ticas ' de agentes sociais.

    A abordagem construtivista de maior impacto na literatura a de Bannigan

    !233@$. o nega a dimenso objetiva dos problemas ambientais, mas argumenta

    %ue no se pode aceit'la acriticamente. iscos no so socialmente processados

    se no forem cognitivamente constru7dos por agentes sociais. uitos problemas

    ambientais so invis7veis e s) chegam ao cidado comum e 5 opinio pLblica depois

    de 9produzidos: por 9comunidades de especialistas: !cientistas, ambientalistas,m7dia$. Vor isto, seria preciso e(plicar os processos sociais, pol7tico e cultural por

    meio dos %uais certas dimens*es da vida social so constru7das como 9%uest*es

    ambientais:.

    S Katour 51>>#8: no e(iste a pura natureza ou a pura sociedade. As

    barreiras seriam flu7das. iscos ambientais seriam h7bridos de fatores sociais,

    naturais e tcnicos e sua definio seria um produto cultural. 8onceitos ambientais

    seriam constru*es cient7ficas e(pressando tanto as crenas dos cientistas %uantoas estruturas de poder em %ue esto imersos. esta abordagem, a %uesto dos

    riscos objetivos desaparece para dar lugar 5 anlise dos processos discursivos,

    sociais e pol7ticos de 9construo: de riscos.

    7os anos >B, aumentaram os estudos emp'ricos e as pol)micas, entre a

    perspecti/a realista%materialista 5trata os problemas ambientais como ob

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    13/43

    pol'tica institucional, os conflitos concretos por poder e as moti/a4es para o

    en!a

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    14/43

    o in7cio do 1culo JOJ editada a primeira medida voltada para a

    recuperao de reas degradadas, estabelecendo instru*es para o reflorestamento

    da costa do Nrasil, em 2P2D. a constituio de 2P32 atribuiu'se competncia 5

    Rnio para legislar sobre minas e terras.

    as primeiras dcadas do 1culo JJ so aprovadas regras mais comple(as,

    como as %ue disciplinavam a partilha de recursos h7dricos, estabelecendo direitos e

    deveres para o uso e conservao da %ualidade das guas !8)digo de Zguas '

    Eecreto "D.;3D+DC$, as %ue protegiam florestas !8)digo Hlorestal ' Eecreto

    "C.4CD+DC$ e de e(plorao de pesca !8)digo de Vesca ' Eecreto'[ei ;3C+DP$.

    A constituio de um campo de estudos ambientais no Nrasil ocorre a partir

    de 23;#, com o predom7nio de estudos ecol)gicos tcnicos, redigidos, sobretudo

    por cientistas naturais.

    o per7odo mais recente, j na dcada de ;#, teve in7cio o %ue poderia se

    chamar de uma base legal espec7fica para o meio ambiente. 6 Eecreto [ei

    2.C2D+;@ disp*e sobre o controle da poluio do meio ambiente, provocada pela

    atividade industrial !as indLstrias ficaram obrigadas a promover os mtodos

    necessrios para prevenir ou corrigir os inconvenientes e preju7zos da poluio e da

    contaminao do meio ambiente$.Vara regulamentar essa norma foi editado o Eecreto n\ ;4.DP3+;@, %ue

    definiu em seu art. 2\ o conceito de poluio industrial, definida como %ual%uer

    alterao das propriedades f7sicas, %u7micas ou biol)gicas do meio ambiente,

    causadas por %ual%uer forma de energia ou de subst-ncias s)lidas, l7%uidas ou

    gasosas, ou combinao de elementos despejados pelas indLstrias, em n7veis

    capazes, direta ou indiretamente, de prejudicar a saLde, a segurana e o bem'

    estar da populao= de criar condi*es adversas 5s atividades sociais e econmicase de ocasionar danos relevantes 5 flora, 5 fauna e a outros recursos naturais. esse

    mesmo decreto, foram mencionadas %uais eram as reas cr7ticas de poluio.

    A primeira grande conferncia internacional %ue envolve pol7tica ambiental

    e a tomada de conscincia sobre a import-ncia do assunto em n7vel global foi a

    8onferncia das a*es Rnidas sobre o eio Ambiente, realizada em /stocolmo

    !23;"$. 6 Nrasil liderou nesta conferncia, a aliana dos pa7ses perifricoscontrrios 5 limitao de desenvolvimento importa pelas na*es mais ricas. as,

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    15/43

    contraditoriamente, foi um dos pa7ses %ue mais aceitou, nos anos seguintes, a

    transferncia de indLstrias poluentes do hemisfrio norte, justamente afastadas de

    suas regi*es de origem, em funo do aumento da conscincia ambiental !Herreira,

    233P$. A conferncia criou alguns programas e algumas comiss*es importantes,

    como o VRA e o 8AE !publicou osso Huturo em 8omum$.

    A insero do /studo de Ompacto Ambiental foi um refle(o da 8onferncia de

    /stocolmo e das sugest*es da 68E/, difundidas mundialmente na dcada de 23;#.

    Assim como o Nrasil, vrios outros pa7ses adotaram, em suas legisla*es, normas

    %ue tornaram obrigat)rio esse /studo para a implementao de atividades %ue

    envolvam a e(plorao de recursos naturais.

    N. xxxxx

    6s tr)s per'odos brasileiros na 0ist*ria do mo/imento

    ecol*!ico, soI Hase ambientalista !23;C'23P2$I caracterizada por movimentos dedenLncia de degradao ambiental nas cidades e a criao de comunidades

    alternativas rurais= Hase de &ransio !23P"'23P@$ marcada pela e(panso

    %uantitativa e %ualitativa dos movimentos da primeira fase. Hase a partir de 23P4,

    %uando a maioria do movimento ecol)gico decidiu participar ativamente da arena

    parlamentar !Uiola, 23P;$.

    Eeste ponto de vista, compreens7vel %ue a realizao, no io de Maneiro,

    da &onfer)ncia das 7a4es Onidas a respeito do eio Ambiente, em 1>>2 , tenha

    causado forte impacto no apenas no movimento ambientalista, mas, tambm, na

    produo intelectual nessa rea. Ee fato, ap)s a io'3", houve uma e(ploso do

    mercado editorial, e muitos especialistas de diversos campos das cincias naturais

    e sociais comearam a mudar o foco de seus estudos em direo 5 problemtica

    ambiental, atra7dos tanto pela maior facilidade de financiamento para pes%uisas

    como pela ampla visibilidade do tema na opinio pLblica e nos meios de

    comunicao.

    A /86'3" criou elementos importantes como a Agenda "2 e o Hundo >lobal

    para o eio Ambiente, do Nanco undial. &ambm ocorreu a 8onveno sobre a

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    16/43

    Alterao 8limtica, a 8onveno da Niodiversidade, discuss*es sobre as patentes

    relacionadas ao desenvolvimento da tecnologia, alm do fortalecimento das

    propostas alternativas por meio do H)rum >lobal, cujo evento principal foi o

    H)rum Onternacional de 6>s.

    A sustentabilidade transforma'se no carro'chefe do paradigma de

    desenvolvimento dos anos de 233#, em %ue duas correntes interpretativas se

    conformamI primeiraI econmica e tcnico'cient7fica, %ue prop*em a articulao

    do crescimento econmico e a conservao ambiental= segundaI cr7tica

    ambientalista ao modo de vida contempor-neo.

    A partir dos anos 90, ocorre uma progressiva especializao na rea, em

    dois sentidos: h uma clara segmentao em subreas de conhecimento e um

    aprofundamento te)rico e metodol)gico em cada uma delas. Assim, a competio

    por prest7gio e recursos torna'se mais restrita, elitizada, sem dei(ar de ser

    essencialmente um conflito pol7tico em torno de recursos simb)licos e materiais.

    &ais processos indicam a crescente comple(idade desse campo de

    conhecimento. A diversidade de reas e linhas de estudo e pes%uisa permite

    caracterizar o campo de estudos ambientais no Nrasil como basicamente h7brido,

    tanto do ponto de vista temtico como te)rico. Rma clivagem o divide em duasgrandes perspectivas. Ee um lado, temos uma literatura politicamente engajada,

    %ue critica fortemente o modelo de desenvolvimento capitalista e o estilo de vida a

    ele associado, propondo amplas reformas econmicas e mesmo de hbitos e

    prticas sociais profundamente arraigadas. Ee outro, assistimos 5 emergncia de

    uma 9proto'rea: de estudos ambientais dentro das cincias sociais. /ssa diviso

    percept7vel tambm %uando enfocamos os temas abordados pelas duas grandes

    linhas de estudoI a primeira trabalha principalmente com a perspectiva dodesenvolvimento sustentvel, da gesto ambiental assim como das pol7ticas

    pLblicas= a segunda parece mais interessada em e(plicar a formao e as

    estratgias de ao do movimento ambientalista, alm de se preocupar com o

    surgimento de diferentes percep*es do meio ambiente e, mais recentemente, com

    a emergncia dos conflitos ambientais.

    91e a proposta de desenvolvimento sustentvel parece plenamente

    justificvel e leg7tima, a sua aceitao generalizada tem'se caracterizado por umapostura acr7tica e alienada em relao a din-micas sociopol7ticas concretas. Var

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    17/43

    %ue tal proposta no represente apenas um enverdecimento do estilo atual, cujo

    conteLdo se esgotaria no n7vel da ret)rica, imp*e'se e(aminar as contradi*es

    ideol)gicas, sociais e institucionais do pr)prio discurso da sustentabilidade, bem

    como analisar distintas dimens*es de sustentabilidade ecol)gica, ambiental, social,

    cultural e outras para transform'las em critrios objetivos de pol7tica pLblica:

    !>uimares, 233@, p. C$.

    /ssa breve descrio do campo de estudos ambientais sugere %ue uma

    anlise baseada em linhas temticas associadas a determinadas abordagens

    te)ricas esclarece melhor sua natureza h7brida do %ue uma abordagem

    estritamente disciplinar, como a%uela pioneiramente tentada por Uieira !233"$.

    Eesde %ue o autor props a classificao do campo ambiental em cinco categorias

    disciplinares, os estudos sociais relativos ao meio ambiente se e(pandiram muito.

    Ao longo dos anos 3#, novas modalidades interpretativas apareceram no

    Nrasil. /(emplo disso so os estudos geneal)gicos, %ue analisam a %uesto

    ambiental na )tica da hist)ria das ideiasI tentativas de entender o ambientalismo

    na longa durao, reconstruindo uma hist)ria do 9pensamento ecol)gico: brasileiro

    !Vortanova, 233C= Vdua, 233;$. &ambm aparecem com desta%ue as abordagens do

    ambientalismo como doutrina ' uma filosofia da naturezaI 9mentalidade: ou9ideia'fora: recivilizadora dos valores modernos, %ue se disseminaria pela

    sociedade e pelo /stado, gerando no sentido de um congraamento espiritualista

    !por e(emplo, [eis ] Amato, 233@$.

    A grande maioria dos levantamentos emp7ricos, porm, tem se restringido a

    estudos de caso. B, sobretudo, estudos acerca de 9impactos socioambientais:.

    Osto , estudos relativos ao ambiente socialmente criado ou 5s a*es humanas sobre

    a natureza, sem distino clara entre grupos humanos e ecossistemas. Uriosestudos se detm na identificao dos efeitos deletrios de macroprocessos

    associados 5 modernizao, particularmente 5 industrializao.

    6 foco 9socioambiental: no distingue, antes sobrep*e, itens mais

    facilmente identificveis como 9ambientais: ' poluio do ar e das guas

    preservao de regi*es ecol)gicas 9virgens:' de %uest*es 5s %uais a 1ociologia

    nomeava, at anos ;#, 9problemas sociais:I especialmente saneamento e

    pauperizao, nas cidades, e impactos sobre o estilo de vida de comunidadesind7genas e+ou tradicionais, no interior do pa7s.

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    18/43

    As rela*es entre meio ambiente e democracia tambm tm merecido a

    ateno crescente dos cientistas sociais. /studos neste veio compartilham certo 9ar

    de fam7lia:, produto de uma matriz te)rica hegemnica. A perspectiva anal7tica

    adotada !embora nem sempre de modo e(pl7cito$ pela maioria dos intrpretes na

    e(plicao da constituio do ambientalismo brasileiro a sociologia da ao de

    &ouraine. /ssa tendncia aparece plenamente desenvolvida especialmente nos

    trabalhos de /duardo Uiola e de seus colaboradores !Uiola23P;= Uiola e [eis

    233@FaG, 233@FbG, 233;$. Vrop*e'se a tese da disseminao gradual do

    ambientalismo por setores da sociedade e do /stado W o 9ambientalismo

    multissetorial:. /ssa interpretao se ampara em uma perspectiva cognitivaI

    apresenta o ambientalismo como espcie de 9ideia'fora:, cuja difuso dependeria

    do empenho de um grupo especial de atores em favor da conscientizao dos

    demais. 6 ambientalismo ganha status de movimento social especial !Uiola, 23P;$,

    surgindo da sociedade civil organizada para esclarecer e corrigir tanto a pol7tica

    estatal como a economia. A interpretao divide a sociedade em elites %ue, to

    logo esclarecidas, passariam a adotar uma postura ambientalmente correta.

    &er7amos, assim, uma progressiva 9ambientalizao: da sociedade e do /stado, em

    trs estgios cruciais.6 marco (ero, nos anos B, seria o momento bissetorial;, de infiltrao

    da ideia ambientalista no Nrasil. Hruto da presso internacional teria se

    restringindo 5s agncias estatais e a umas poucas associa*es ambientalistas. A

    relao de 9conflito e cooperao: entre esses dois setores teria gradativamente

    dinamizado a incorporao da ideia, iniciando uma 9comple(ificao: do cenrio a

    partir de 23P4. Ee uma parte, a institucionalizao do ambientalismo ' em 6>s,

    na sociedade civil, e em empresas estatais conservacionistas, como o Obama'= deoutra, o incremento do nLmero de setores ou atores 9ambientalizados:

    'institui*es de pes%uisa ambiental, empresrios 9sustentabilistas: e a constituio

    do 9socioambientalismo:, isto , movimentos sociais e sindicatos %ue teriam

    incorporado as bandeiras ambientalistas 5 sua pauta social. /ssa e(panso gradual

    do ambientalismo para o conjunto da sociedade e do /stado configuraria a fase

    multissetorial:". 6 terceiro momento seria de consolidao do

    9multissetorialismo:, significando a convergncia dos atores em torno de ideais desustentabilidade !Uiola e [eis, 233@FaG$.

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    19/43

    essa interpretao, a %uesto ambiental reduzida 5 progressiva adeso

    dos atores a valores ambientalistas= analisada e(clusivamente em termos

    discursivos.

    Rma conscincia ambiental se espalharia cont7nua e homogeneamente no

    espao pLblico brasileiro. Eos valores comuns nasceria o consenso em prol de ideais

    de 9desenvolvimento sustentvel:. A tese a de %ue as ideias so motores das

    prticasI o acordo discursivo se traduziria em a*es ambientalmente corretas !Uiola

    e [eis, 233@FaGI ;P$. A perspectiva cognitiva do 9multissetorialismo: enfatiza a

    dimenso cultural do ambientalismo ' disseminao de valores e formas de pensar'

    o %ue , sem dLvida, uma dimenso importante da realidade social. ^ patente a

    generalizao do 9discurso verde:, e(presso em uma linguagem pLblica

    compartilhada por todos os agentes. /ntretanto, a adeso a valores ambientalistas

    no se e(prime automaticamente em prticas. A pr)pria difuso do discurso

    9sustentabilista: se deve menos ao proselitismo de atores 9ambientalizados: %ue 5

    e(istncia de constrangimentos pol7ticos e morais %ue impedem o reconhecimento

    de posi*es ambientalmente incorretas e sua validao !8osta, Alonso e &omioKa,

    "###$.

    A nfase na dimenso valorativa do ambientalismo p*e de lado a l)gica dosinteresses, ignorando a dimenso prtica do fenmeno. Osto, por sua vez, tem

    conse%uncias na formulao do conceito de pol7tica utilizado para anlise do

    campo ambientalistaI resulta em uma reduo da %uesto democrtica a um

    en%uadramento estreito, substancialista, como 9democracia verde:.

    A relao entre democracia e meio ambiente formulada como

    incorporao de temas ambientais pelo debate pLblico e estratgias de grupos

    organizados, sobretudo movimentos sociais. A %ualidade das institui*es pol7ticasdemocrticas variaria conforme o n7vel de disseminao da 9conscincia ecol)gica:

    entre os atores sociais e pol7ticos e o papel mais ou menos central dos atores

    9ambientais: no processamento dos conflitos ambientais em detrimento de anlise

    mais 9objetiva: dos processos pol7ticos. Ee seu ponto de vista, no e(istiriam

    conflitos ambientais seno em um sentidoI como conflitos de valor, transit)rios por

    definio, j %ue, uma vez esclarecidos, os atores tenderiam a aderir a prticas

    sustentabilistas.

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    20/43

    6utra linha de anlise das rela*es entre meio ambiente e democracia se

    detm na avaliao dos mecanismos e das institui*es criadas para garantir a

    democratizao das decis*es relacionadas a poss7veis impactos ambientais. /mbora

    haja um consenso %uanto ao princ7pio participacionista, membros da pr)pria

    comunidade ambientalista tm constatado importantes limita*es e distor*es no

    funcionamento efetivo dos mecanismos de avaliao e discusso de impactos

    ambientais e, particularmente, das audincias pLblicas de licenciamento

    ambiental. Vodemos mencionar dois tipos de cr7ticasI %uanto s suas limita*es

    tcnico'cient7ficas e %uanto aos seus fundamentos morais e ao seu desenho

    institucional.

    >. xxx

    6 %ue h de comum nessas cr7ticas a percepo, provavelmente

    generalizada entre os ambientalistas, de %ue os atuais mecanismos de negociao

    ambiental so ainda incapazes de garantir as duas condi*es m7nimas consideradas

    necessrias ao tratamento 9ade%uado: da %uesto ambientalI 2$ uma abordagem

    9sistmica: dos problemas ambientais, %ue supere a caracter7stica pontual e

    corretiva das pol7ticas pLblicas tradicionais= "$ um estilo de resoluo consensual

    dos conflitos ambientais, capaz de produzir resultados consistentes com o carter

    comple(o e integrado dos problemas ambientais.

    1egundo nosso ponto de vista, entretanto, a criao de c-maras de

    negociao e de modalidades participativas de tomada de deciso nas %uest*es

    ambientais, argumento vlido para %ual%uer outro procedimento de resoluo de

    conflitos, no pode pressupor o consenso %uanto ao objeto de deliberao. /ssas

    inst-ncias no podem produzir um resultado substantivo !o consenso$, mas apenas

    procurar garantir condi*es formais !institucionais$ de processamento de conflitos

    e !%uando poss7vel$ resoluo de impasses. A negociao dos conflitos, nessas

    inst-ncias, se realiza %uando os cidados afetados atribuem ou negam legitimidade

    a iniciativas pLblicas ou privadas, conforme sua percepo subjetiva das

    conse%uncias imediatas dos problemas ambientais para sua vida cotidiana. o

    entanto, o resultado da deliberao incerto. ada garante %ue da e(panso da

    participao popular venham a emergir decis*es consensuais relativas a dilemas

    ambientais.

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    21/43

    Assim, essa perspectiva se mostra pouco apta para responder 5s %uest*es

    cruciais %ue sua pr)pria nfase em 9governana: e 9participao: imp*e. Rma

    delas diz respeito 5 eficcia dos mecanismos de tomada de deciso em %uest*es

    ambientais. A contaminao entre intrpretes da %uesto ambiental e militantes

    ambientalistas gerou um consenso em torno da 9evidente vantagem: dos sistemas

    participativos vis'5'vis os representativos de deliberao. /ntretanto, conforme

    ressaltam [affert0 ] eado_croft !2334$, a associao da defesa do meio ambiente

    5 e(panso da democracia participativa !em alternativa 5 representativa$ precisa

    ser tomada com cautela. A tese de 9congruncia natural:, de um mLtuo reforo

    entre os dois processos, argumentam, produto da tendncia dos analistas a se

    solidarizarem com os projetos e interpreta*es dos pr)prios agentes. Alm do mais,

    no h evidncias emp7ricas suficientes %ue permitam tal generalizao. B mesmo

    ind7cios em sentido contrrio. Rm estudo comparativo norte'sul !Bolmes e 1coones,

    "###$, avaliando o funcionamento efetivo dos novos formatos institucionais de

    tomada de deciso em %uest*es ambientais, demonstra %ue, na maioria dos casos,

    esses mecanismos no tm a legitimidade %ue prometem.

    ^ preciso investigar empiricamente se, de fato, as institui*es pol7tico'

    administrativas tradicionais !os trs poderes$ so incapazes de solucionar conflitosambientais e se os mecanismos de governana ambiental apresentam efetivamente

    os benef7cios %ue prometem, isto , se influem na definio das pol7ticas pLblicas

    na rea ambiental. Huncionam para todos os assuntos ou apenas para a%ueles em

    torno dos %uais j h consenso prvio entre os agentesT ossa hip)tese %ue os

    mecanismos de governana ambiental falham tanto em eficcia %uanto em

    legitimidade %uando tm de lidar com diferenas de valores e interesses. Ao invs

    de consensos, geram conflitos./stas refle(*es no visam a esgotar a bibliografia brasileira referente 5

    %uesto ambiental, mas problematiz'la de um ponto de vista sociol)gico.

    Vreservar um m7nimo distanciamento cr7tico em relao 5s teses

    ambientalistas,

    mantendo uma postura de neutralidade a(iol)gica, nos parece uma medida

    salutar

    para gerar uma melhor compreenso da %uesto ambiental. /ssa postura9cient7fica: no se reduz, no entanto, a uma petio de princ7pios, pois tem

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    22/43

    desdobramentos concretos. 6 ponto diz respeito ao tratamento anal7tico %ue

    deve

    ser destinado 5 %uesto ambiental. 8omo vimos, a literatura brasileira

    dedicada

    ao assunto majoritariamente composta de simpatizantes do movimento

    ambientalista. /ssa sobreposio entre analistas e agentes, inevitavelmente,

    tem

    distorcido as interpreta*es. A sociologia ambientalista e(plica a pr)pria

    entrada

    do tema na agenda pLblica como resultado da volio e da inteno dos

    atores

    !Uiola, 23P;= Uiola e [eis 233@FaG, 233@FbG, 233;= Vdua, 233;$. 8omo a

    problemtica no se reduz a atores 9ambientalizados:, no pode ser

    analisada

    apenas do ponto de vista de seus valores e trajet)rias. 8remos %ue, em vez

    de

    associar substantivamente difuso de valores ambientalistas 5

    democratizao,devemos refletir sobre os desafios %ue a %uesto ambiental imp*e 5

    democracia.

    Rltimamente, vrios autores tm problematizado essa associao imediata

    do

    ambientalismo 5 democracia, procurando entender as %uest*es ambientais

    com

    base em abordagens sociol)gicas %ue iluminam outras dimens*es doproblema.

    Rma abordagem tem argumentado %ue as %uest*es ambientais so, elas

    pr)prias, resultado de um processo de construo social da percepo.

    6utra,

    ainda incipiente, caracteriza a problemtica ambiental como um processo

    pol7tico

    e, como tal, essencialmente conflituoso. o primeiro caso, so cada vezmais

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    23/43

    comuns levantamentos de opinio pLblica para averiguar a concepo de

    meio

    ambiente e de problemas ambientais predominante no Nrasil !8respo et al.,

    233P$. B, tambm, uma boa radiografia do perfil e opini*es das lideranas

    ambientalistas !8respo e [eito, 233D$. Vredominam estudos dedicados 5

    percepo de riscos ambientais, %ue correm na esteira do construcionismo

    sobretudo antropol)gico !Eouglas e Xilda_sK0, 23PDI 3$, procurando

    descrever

    o modo pelo %ual a construo cient7fica dos riscos incorporada pelo

    cidado

    comum !>uivant, 233PFaG$.

    /(iste, ainda, uma linha incipiente de estudos !Vacheco et al., 233"$

    reconhecendo %ue, ao invs de consenso, a %uesto ambiental tem sido o

    pomo

    de disc)rdia pol7tica. Urios estudos emp7ricos tm levantado ind7cios de %ue

    os

    conflitos contempor-neos nem se restringem a valores nem parecem em via

    de see(tinguir. Antes, o contrrio. 6 surgimento de pes%uisas voltadas para o

    estudo

    dos conflitos ambientais 'definindo o perfil social de seus participantes

    !Macobi,

    233@$, seu processo de judicializao !HuKs, 2334= 233;$, buscando novas

    metodologias para sua identificao e caracterizao !Obase, 233@= 233;$ ou,

    ainda, realizando compara*es entre estudos de caso !Bogan et al., "###$D'denota, por si mesmo, a permanncia do fenmeno, ainda %ue depois da

    difuso

    do discurso ambientalista por todos os setores da sociedade.

    /m estudo anterior acerca de trs grandes obras modernizadoras %ue

    envolvem considerveis impactos f7sicos, econmicos e sobre os estilos de

    vida

    das regi*es em %ue se situam, constatamos a ecloso de conflitos ambientaisde

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    24/43

    dimens*es nacionais !8osta, Alonso, &omioKa, 2333FaG.= 2333FbG.= "###$.

    6bservamos %ue os conflitos ambientais no podem ser e(plicados apenas

    por

    recurso 5 dimenso valorativa e discursiva. 8omparando os caso, verificamos

    a

    configurao de conflitos em conte(tos nos %uais todos os atores envolvidos

    declaravam igual adeso a valores ambientalistas. /mbora em larga medida

    o

    discurso de todos os atores envolvidos fosse coincidente, o epis)dio no se

    resolveu pelo dilogo aberto entre os agentes. Osto por%ue as posi*es

    prticas

    eram radicalmente distintasI en%uanto o movimento ambientalista se

    mobilizava

    em oposio a uma obra, inclusive com a formao de uma coalizo

    ambientalista

    latino'americana, o governo se empenhou em sua realizao. em sempre as

    estratgias e linhas de ao podem ser descritas a partir apenas da

    enunciao dosagentes. As disputas no giravam em torno de defini*es meramente. 6s

    conflitos

    no eram simb)licos, se estruturavam basicamente como divergncias de

    interesse. Ee outra parte, os trs desfechos revelaram ser a introjeo de

    limites

    pol7ticos e morais imposta pelas institui*es e leis democrticas, e no o

    resultadoda negociao entre os agentes.

    Apontar as limita*es te)ricas da produo das cincias sociais brasileiras e

    suas conse%`ncias pol7ticas sobre problemas ambientais no Nrasil no

    significa

    %ue se possa fazer 9tabula rasa: da bibliografia. /ntretanto, at agora, os

    estudos

    tm se concentrado na investigao dos atores, valores e percep*es

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    25/43

    ambientalistas. esta ainda uma lacuna sria a suprirI o conte(to

    sociopol7tico no

    %ual todos estes elementos surgem, interagem, se redefinem. Acreditamos

    %ue a

    9%uesto ambiental: pode ser mais bem compreendida %uando consideramos

    a

    estrutura de oportunidades pol7ticas %ue condiciona o pr)prio surgimento

    dos

    atores, em especial do movimento ambientalista, e atentamos para a

    din-mica

    conflituosa %ue se estabelece entre eles. Osto , defendemos %ue a maior

    inteligibilidade da %uesto ambiental est associada 5 sua analise na )tica

    de uma

    sociologia dos conflitos.

    1B. Da percepo social do risco ambiental a uma sociolo!ia dos

    conflitos ambientais

    h principalmente aplica*es das

    teorias construtivistas, especialmente dos trabalhos de Bannigan e 8allon,

    para o

    caso brasileiro. HuKs !233;$ tem recorrido ao arsenal de conceitos dessa linha

    te)rica '9idiomas ret)ricos:, 9repert)rios discursivos: e 9pacotes

    interpretativos:'

    para argumentar %ue os atores constroem certas dimens*es sociais como

    9problemas ambientais: no interior do espao pLblico definido como 9arena

    a rgumentativa:. 6s conflitos se configuram, ento, em torno dessas

    defini*es, diz

    ele, apresentando um estudo de caso como demonstrao !HuKs, 233P$.

    1eguindo Bannigan !233@$, autores como HuKs !2334=233;$ e >uivant

    !233PFaG= 233PFbG$ descrevem a constituio de problemas ambientais

    atravs de

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    26/43

    um processo de construo pLblica %ue envolve disputas tcnicas e pol7ticas.

    B

    um processo conflituoso em meio ao %ual certas %uest*es, antes entendidas

    com

    base em categorias 9econmicas:, 9sociais: ou 9pol7ticas:, ganham novo

    significado nas arenas pLblicas. Assim se constr)i uma percepo social de

    algumas dimens*es da e(perincia coletiva como 9ambientais:. )s pr)prios

    chamamos a ateno para a construo pLblica de categorias como 9impacto

    ambiental: e 9risco ambiental: !8osta, Alonso e &omioKa, "###$.

    /ste um aspecto importante da %uesto, mas se confina, digamos, 5 sua

    dimenso fenomenol)gica. /ssa estratgia te)rico'metodol)gica restringe o

    objeto de estudo a discursos. /mbora tecnicamente impecvel, no permite

    2"C

    analisar as dimens*es prticas dos conflitos. &al dimenso no

    empiricamente

    irrelevante, como j argumentamos. Acreditamos %ue cabe, sim, analisar a

    disputa valorativa em meio 5 %ual os agentes constroem problemas como

    ambientais, conforme aconselha a perspectiva construcionista= entretanto,esta

    apenas uma faceta dos conflitos ambientais. 6utras dimens*es do fenmeno

    so

    cruciais para a sua compreenso.

    6 programa de pes%uisa proposto por Vacheco e seus colegas !233"$ nos

    parece um bom ponto de partida para discutir a relao entre os problemasambientais e a din-mica dos conflitos sociais nos espaos urbanos. 6 cerne

    do

    argumento %ue os problemas ambientais urbanos mobilizam uma grande

    variedade de atores, e %ue as clivagens W sociais, econmicas e pol7ticas W

    podem

    variar em funo da natureza dos problemas, envolvendo, assim, diferentes

    atores

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    27/43

    coletivos em diversas configura*es conflituosas. Vor isso, afirmam, no se

    pode

    tomar a %uesto ambiental como uma nova verso das rela*es

    capital+trabalho.

    1ua proposta anal7tica consiste em tomar em conjunto aspectos estruturais,

    grupais e individuais %ue condicionam a ao. Assim poss7vel, argumentam,

    dar

    conta tanto dos conflitos de interesse %uanto de dimens*es culturais, tais

    como o

    estilo de vida !Vacheco et al., 233"I CP$. 6 foco anal7tico se volta, portanto,

    para

    a esfera pLblica, simultaneamente arena de conflito e negociao entre

    atores. 6s

    conflitos ambientais so definidos, ento, a partir de trs componentes

    cruciaisI

    9Ao !dos agentes envolvidos$, determinao !dos processos estruturais$ e

    media*es !pol7ticas e culturais$: !Vacheco et al., 233"I C3$.

    As propostas de HuKs e Vacheco nos parecem elucidativas, cada %ual, de umadimenso do fenmeno. 8oncordamos com os construtivistas, %uando

    afirmam

    ser preciso considerar a dimenso cognitiva da %uesto, e com Vacheco e

    colaboradores, %uando registram ser a dimenso prtica crucial. /ntretanto,

    a

    perspectiva estruturalista e a culturalista fornecem e(plica*es parciais dos

    conflitos. Rma anlise pol7tica incompleta se for unidimensional, seja estadimenso a economia ou a cultura. Ogualmente o se privilegiar apenas um

    dentre

    vrios atores em interao, seja a 9sociedade civil:, seja o /stado.

    Rma abordagem simult-nea da dimenso cultural e pol7tica e dos

    condicionamentos estruturais dos conflitos ambientais implica uma

    sociologia do

    conflito ambiental. Vara formular nossa abordagem, recorremos ao modelode

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    28/43

    anlise da pol7tica contenciosa !&arro_, 233C= &ill0, 23;P$ ou da chamada

    /scola

    do Vrocesso Vol7tico.

    A pr)pria definio do objeto como 9conflito: sup*e considerar a interao

    entre diversos grupos de agentes. /ssa interao pode ser cooperativa, com

    a

    formao de alianas entre agentes= geralmente, no entanto, ela

    conflituosa. As

    disputas ocorrem em torno do controle de bens e recursos ou do poder de

    gerar e

    impor certas defini*es da realidade. Osto , os conflitos se estruturam

    simultaneamente em torno de interesses e de valores. 6 pr)prio processo

    2"@

    Angela Alonso e Valeriano Costa

    colog!a "ol!tica. #aturaleza, sociedad $ utop!a

    conflituoso constitui os agentes, possibilitando a formao de novas

    identidades,

    ine(istentes %uando do in7cio do processo. 8hegamos ao fulcro desse modelo

    de

    anliseI o fator crucial o tempo. 6s conflitos tm hist)ria= no poss7vel

    compreend'los considerando apenas a configurao presente da ao

    coletiva. A

    produo de alianas, adeso a valores, criao+redefinio de identidades,

    no

    esttica= processual.

    11. A!enda de pes+uisa: +uesto democrEtica e conflitos ambientais

    A e s t rutura de oportunidades polticas que permite a constituio da pautaambientalista no Brasil se organiza a partir do prprio processo poltico de127Angela Alonso e Valeriano Costa

    Ecologa Poltica. Naturaleza, sociedad y utopa

    redemocratizao. Esse processo gerou importantes mudanas no cenrio polticobrasileiro que criaram um espao pblico perme!el a demandas ambientalistas. Ano!a ordem constitucional produziu o a rcabouo jurdico-institucional q u e

    regulamenta a questo ambiental no pas" ag#ncias de controle ambiental$ legislaoambiental de punio de delitos ambientais e institutos legais de mediao eregulao dos con%litos$ particularmente o &inist'rio (blico) %runs participati!osde tomadas de deciso. Alegislao ambiental brasileira regula obras com impacto

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    29/43

    ambiental potencial e pre!# uma rede institucional de controle e %iscalizao de seucumprimento. *ma dimenso %undamental a ser considerada ' a incluso do direitoa um meio ambiente saud!el como parte dos direitos +di%usos,$ coleti!os$ cu-osmecanismos de garantia e proteo so a Ao (opular e a Ao i!il (blica e umainstituio$ o &inist'rio (blico/. Esses elementos limitam e 0abilitam di%erentes

    atores a participar de uma arena de disputas ambiental.utra dimenso importante para a con%igurao de uma agenda ambiental

    brasileira ' constituda pelas mudanas no cenrio internacional$ com a crescentegeneralizao de um discurso em %a!or da preser!ao ambiental. A s'rie decon%er#ncias da * acerca de quest3es sociais e$ particularmente$ a 4io562ilustram como o conteto poltico internacional condiciona a problemtica

    brasileira.Essa estrutura de oportunidades polticas circunscre!e quais so os agentes docon%lito ambiental. Ao de%inir os recursos e arenas de deciso$ impede alguns e0abilita outros agentes a participar dos debates sobre a questo ambiental.8r#s agentes se constituem com a questo ambiental. *m mo!imento socialambientalista ' o primeiro protagonista do con%lito ambiental. 9urge como partede uma s'rie de mo!imentos sociais populares$ rei!indicando uma cesta de

    demandas 5 re%ormas sociais e epanso da participao poltica$ sobretudo. :eoutro lado$ o acesso ao con0ecimento t'cnico$ indispens!el ao debate sobretemas ambientais$ d rele!;ncia a dois outros agentes. A estrutura burocrticolegaldos anos 6< produz uma -udicializao da questo$ que trans%orma osmembros do minist'rio pblico em participantes automticos. (or sua parte$ acienti%icidade en!ol!ida na de%inio dos +riscos ambientais, abre espao para

    peritos$ cientistas tanto naturais$ como os bilogos$ quanto sociais$ como osantrpologos.

    ada agente$ por sua !ez$ recorre a di%erentes estruturas de mobilizao. momento 0istrico em que a questo ambiental emerge no Brasil %a!orece a%orma de mobilizao +mo!imento social". A ditadura promo!eu essa %orma demobilizao ao limitar os recursos institucionais tradicionais$ inclusi!e os

    partidos. om a redemocratizao$ ocorrem mudanas. A#n%ase da +Agenda 21,$documento resultante da 4io562$ em arenas locais e transnacionais e em espaos

    pblicos no5estatais$ como %runs para discusso da questo ambiental$ le!a =escol0a de +organiza#es no go!ernamentais, como estruturas de mobilizao12>ideais$ - que capazes de transitar nos dois n!eis. Esses %atores a-udam a eplicara %raqueza do partido !erde no Brasil$ !is-$-!is as ?s ambientalistas.A estrutura de oportunidades polticas e as estruturas de mobilizaoe!idenciam que no so apenas elementos discursi!os internos =s arenas pblicasque de%inem os con%litos ambientais. acesso a recursos materiais e polticos 'crucial. 8oda!ia$ a dimenso cultural est longe de ser irrele!ante na de%inio da

    problemtica ambiental. A respeito desse ponto$ a aplicao da perspecti!aconstruti!ista tem se mostrado bastante produti!a" sem a construo de uma

    de%inio da +natureza, como +meio ambiente, e de certos problemas sociaiscomo ambientais$ nen0um con%lito ambiental se estabelece.

    A partir do construti!ismo$ ' poss!el entender mel0or as estrat'gias demobilizao do minist'rio pblico e dos +cientistas ambientais," ambos %azemuso poltico de suas especialidades. A no!a con%igurao -urdico5legal %ranqueiaao &(a posio de principal int'rprete da lei ambiental. 9eus membros recorrema uma s'rie de a3es$ recursos$ processos$ embargos$ como recursos demobilizao poltica. s +peritos, das +ci#ncias ambientais,$ igualmente$recorrem a conceitos e %ormas de mensurao de !alor +cient%ico, que l0esasseguram locuo pri!ilegiada. os dois casos$ a imprensa ' o recurso principal$

    por meio da qual aparecem nas arenas polticas como +autoridades,. construti!ismo a-uda$ assim$ a entender a agency e as opera3es cogniti!as$simblicas$ que l0e so inerentes$ como a prpria autonomeao de certos gruposcomo +ambientalistas, e de certos con%litos como +ambientais,. 8amb'm permitereconstruir os processos pelos quais os agentes brasileiros reinterpretam a

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    30/43

    tradio rom;ntica de !alorizao da natureza @(dua$ 1667 e aprendem comseus cong#neres estrangeiros$ incorporando seleti!amente certas categorias einterpreta3es. construti!ismo parece$ por'm$ pouco 0abilitado para eplicar a partir doqu# os agentes constroem e reconstroem suas percep3es$ seus !alores e

    interpreta3es. (ara tanto$ a noo de repert%rio nos parece mais adequada"permite detectar a eist#ncia de um estoque social de smbolos e !alores quepodem ser mobilizados pelos agentes na construo de suas percep3es. repertrio ambientalista brasileiro ' composto em parte por in%lu#ncia eterna$como argumenta iola @16>7) 166/CaD) 166/CbD) 1667$ uma !ez que aconstituio de uma questo ambiental aqui ' tardia em comparao com aEuropa e os Estados *nidos. :e outra parte$ o repertrio tamb'm se comp3e decategorias e preocupa3es relacionadas = natureza$ desde 0 muito presentes no

    pensamento poltico brasileiro$ como demonstra ar!al0o @166>.Acreditamos que a estrutura de oportunidades polticas$ as estruturas demobilizao e o repertrio contencioso so os elementos %undamentais paracompreender o processo de constituio dos con%litos ambientais e eplicar sua din;mica e%eti!a. F crucialcompreender que os principais agentes do debate e

    dos con%litos ambientais no esto dados. 8anto agentes quanto alianas seconstituem e se re%azem ao longo do processo poltico. A estrutura deoportunidades esclarece a 0ierarquia das posi3es e descre!e distintas lin0as deao para agentes desiguais. :e%ine$ a%inal de contas$ quais grupos conseguemacesso = prpria posio de enunciao pblica e$ por decorr#ncia$ quais se !#em

    pri!ados deste pri!il'gio.A combinao de perspecti!as nos parece a maneira mais pro%cua de analisaro problema ambiental. construti!ismo nos permite entender como se nomeiauma questo +ambiental, ou um con%lito +ambiental,. A Escola do (rocesso(oltico nos d as %erramentas para in!estigar por que e em que condi3esdisputas prticas e embates !alorati!os entre os agentes ocorrem. orrige$ assim$o ni!elamento de poder e recursos entre os agentes que uma anlise apenasdiscursi!a induz a comprar.

    Essas grandes dimens3es permitem conciliar em uma mesma anlise oscomponentes 0istrico5estruturais$ polticos e culturais de uma questoambiental. Assim se entrelaam poltica$ cultura e 0istria. omp3e5se um quadromais compleo$ multi%acetado$ din;mico$ da problemtica ambiental.omo adiantamos$ temos aqui apenas o esboo de uma agenda$ um programade pesquisa ainda por aprimorar e desen!ol!er. *sando o a p p ro a c & q u edelineamos acima$ !isamos a in!estigar a din;mica dos con%litos ambientais

    brasileiros" qual o conteto sociopoltico no qual se %ormam) quais seus temas eagentes tpicos) quais so os interesses e !alores inter!enientes) a que %ormas deorganizao e estruturas de mobilizao os agentes recorremG Huais so as%ormas de mediao e arbitragem desses con%litosG 9e pudermos responder a tais

    perguntas$ poderemos classi%icar os con%litos ambientais em g#neros e a!anar

    rumo = pesquisa comparada. Este passo permitiria tipi%icar e comparar osmo!imentos ambientalistas$ os processos decisrios) as polticas ambientais e adin;mica dos con%litos entre di%erentes pases e regi3es.

    12. xxxx

    6 nascimento das 67-s um fator marcante desde o fim dos anos 4#. ^um tipo de organizao social muito atrelado ao surgimento do movimento

    ambientalista e das ideias de autogesto. Atualmente, esto espalhadas pela

    maioria dos pa7ses, com e(presso nas pol7ticas pLblicas e na pr)pria sociedade,

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    31/43

    alterando comportamentos e vis*es de mundo. 6 principal objetivo das 6>s

    pressionar os /stados e a iniciativa privada. o entanto, algumas organiza*es

    esto ligadas aos interesses econmicos e financeiros da indLstria e do mercado.

    1#. Discursos ecol*!icos

    6s discursos ecol)gicos esto cheios de contradi*es e so altamente

    diversificados. Vosi*es e(tremamente autoritrias mas com um discurso em

    comum, %uesto de sobrevivncia e relevante !Barve0, 2334$.

    Vepper !233@$ destaca as principais correntes ecol*!icas. Algumas so

    e(tremamente conservadoras, como a neomalt0usiana, %ue defende o ponto devista de %ue estamos caminhando em direo do desastre planetrio, cuja causa

    principal a superpopulao. 1ustentam %ue a sobrevivncia do planeta s) ser

    poss7vel com planos internacionais para frear o crescimento demogrfico. &ambm

    defendida pelo 8lube de oma, na dcada de ;#. Vara a corrente anar%uista

    !baseada nos ensinamentos do russo aia, sendo a &erra vista como um Lnico organismo vivo W um

    superorganismo W onde os seres humanos esto interconectados com o universo. A

    corrente ecossocialista articula os ensinamentos de ar( com os argumentosanar%uistas de

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    32/43

    industrias e a favor dos artesanais$. Aponta para o fim da propriedade privada e a

    apro(imao com a natureza. Eefende a organizao de nLcleos regionais

    autnomos, a diversidade cultural e a criao de comunas auto'sustentveis. A

    derrubada do sistema capitalista e a eliminao de todas as formas de injustia

    social.

    1G. -HP6 AMI7HAK: OA "JQHI&A "AJA DIAJ &67RKIH6

    6&I6AMI7HAI

    A gesto ambiental pode ser definida de diversas maneiras, dependendo doobjetivo %ue se busca %ualifica.

    A definio mais geral de -esto Ambientalsugere %ue a mesma seja um

    conjunto de a*es%ue envolvem pol7ticas pLblicas, o setor produtivo e a sociedade

    de forma a incentivar o uso racional e sustentvel dos recursos ambientais. /la

    engloba a*es de carter pol7tico, legal, administrativo, econmico, cient7fico,

    tecnol)gico, de gerao de informao e de articulao entre estes diferentes

    n7veis de atuao. /la , portanto, um processo %ue liga as %uest*es daconservao e do desenvolvimento em todos os n7veis.

    Ee um modo geral, a >esto Ambiental tem a funo de planejar, controlar,

    coordenar, formular, implementar e avaliar a*es para %ue se atinjam os objetivos

    previamente estabelecidos para um dado local, regio ou pa7s. a maioria das

    vezes, a gesto ambiental comporta'se como uma importante prtica para se

    alcanar o e%uil7brio dos mais diversos ecossistemas. /%uil7brio este, %ue envolve as

    %uest*es ecol)gicas, mas, tambm, as dimens*es econmicas, sociais, pol7ticas,culturais, entre outras.

    A prtica da gesto ambiental configura'se como uma importante forma de

    estabelecer um relacionamento mais harmnico entre a sociedade e o meio

    ambiente.

    A gesto de recursos ambientais deve estar imbu7da de uma viso estratgica

    de desenvolvimento no longo prazo, o %ue lhe confere um sentido para alm dos

    usos cotidianos, pois se constitui no cerne onde se confrontam e se reencontram os

    objetivos associados ao desenvolvimento socioeconmico e a%ueles voltados para a

    conservao da natureza e 5 preservao da %ualidade ambiental.

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    33/43

    /ntre as principais fun4es da gesto ambiental destacam'seI o

    Vlanejamento, definido como o processo de determinao prvia de a*es efetivas

    da gesto= a 6rganizao, %ue retrata o estabelecimento de rela*es formais entre

    os atores de forma a atingir os objetivos propostos= a Eireo %ue trata do processo

    de determinar !influenciar$ o comportamento dos atores envolvidos !motivao,

    liderana e comunicao$ e o 8ontrole %ue tem a funo de comparar os

    indicadores de desempenho com os padr*es previamente definidos.

    Ainda %ue todas estas fun*es estejam sendo e(ecutadas de forma

    e%uilibrada, necessrio %ue alguns pilares este

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    34/43

    extra

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    35/43

    menciona %ue o conflito uma das formas mais vivas de interao, constituindo um

    processo de associao. 6s fatores responsveis pela dissociao so o )dio, a

    inveja, a necessidade, o desejo. 6 conflito tem como misso resolver estes

    dualismos divergentes, ele uma maneira de reconstruir uma unidade perdida,

    ainda %ue por meio da destruio de uma das partes envolvidas. 6 confronto,

    desta forma, no patol)gico, mas normal, reunindo o embate entre atores e no

    entre estruturas ou normas. 7o constitui um sinal de falta de inte!rao, mas

    um elemento /ital para a reno/ao e unidade das sociedades. ^ parte

    integrante das rela*es humanas, da trama social. em sempre conduzem 5

    conciliao, podendo por vezes ser responsvel pela desagregao. as no podem

    ser negados ou es%uecidos. /, sobretudo, no possuem uma conotao negativa,

    mesmo no senso comum nas sociedades modernas.

    Apesar dessa viso, %ue mostra %ue as crises so inerentes 5 pr)pria

    conformao da sociedade, neste trabalho os conflitos abordados sero tratados

    como embates %ue demandam solu*es negociadas de forma a viabilizar uma

    gesto mais harmnica dos recursos em disputa. Assim, o entendimento de %ue

    algumas variveis esto atreladas 5s mudanas pol7ticas, econmicas, sociais e

    culturais, intr7nsecas 5 conjuntura na %ual os conflitos se desenvolvem, demandauma abordagem integrada dessas variveis.

    6s arranjos das pol7ticas pLblicas utilizadas como vetor para a construo de

    estratgias de futuro devem, portanto, estar em sintonia com os imperativos do

    desenvolvimento, em bases mais sustentveis e coerentes. o caso dos conflitos,

    %ue envolvem disputas de natureza socioeconmica e ambiental, importante %ue

    no se perca a noo de %ue tais conflitos no se resolvem por meio de

    procedimentos 9binrios: !bem ( mal= her)is ( vil*es= legal ( ilegal= formal (informal$ e, sim, de %ue necessrio propor uma situao onde no haja

    perdedores e ganhadores, mas a busca de um ponto intermediErio!&heodoro et.

    alii, "##"$.

    Vrovocar dilogos entre as partes %ue se vm como inimigos manifestos ou

    potenciais, e administrar situa*es conflituosas, uma tarefa dif7cil, mas

    necessria para %ue se construam os pressupostos bsicos de uma verdadeira

    gesto ambiental. Ee modo geral, a mediao !facilitao$ dos conflitos devepromover valores %ue ultrapassem a acomodao de interesses setoriais. A cultura

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    36/43

    do dilogo e da participao de todos os envolvidos !ou de seus representantes$ so

    ferramentas fundamentais para se alcanar os objetivos desejados. #esse caso, o

    processo de gesto ambiental de uma determinada rea ou regio pode se

    converter no momento ideal para %ortalecer a participao da sociedade. &

    aparato legal 'ue viabilizou a implantao de medidas compensat(rias para os

    potenciais danos provocados, aliado ) possibilidade de alterar os pro*etos

    originais, deu uma %ora in'uestionvel aos grupos 'ue se sentem atingidos pelos

    planos, programas, pro*etos ou a+es do governo ou das empresas.

    Rm dos elementos mais importantes, no conte(to de uma negociao, o

    reconhecimento das intercone(*es, ou inter'rela*es, entre as dimens*es

    econmicas, sociais, ambientais, culturais e pol7ticas. A emergncia de atores e de

    situa*es, antes desconsideradas, e de temas ligados 5 sustentabilidade, re%uerem,

    assim, novas din-micas %ue podero desencadear prticas ou solu*es %ue atendam

    5 demanda dos diferentes grupos sociais !atores$ envolvidos. Vara tanto, torna'se

    fundamental %ue e(ista uma postura de rela*es horizontais, as %uais devem

    promover, entre outras coisas, a participao na tomada de decis*es. 1e esta

    medida tornar'se um dos princ7pios norteadores, os benef7cios no mdio e no longo

    prazo, por certo, construiro novos consensos no uso dos recursos naturais.Vara

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    37/43

    ' Os objetos:sempre escassos ou vistos, como tais podem ser, material ou

    simb)lico, profano ou sagrado, pLblico ou privado, e assim por diante.

    'As dinmicas:cada conflito, segundo uma natureza !TT$, tem uma hist)ria

    pr)pria, uma forma de evoluir, conhecendo per7odos mais ou menos intensos, mais

    ou menos rpido.

    Assim %ue, em muitos conflitos gerados em torno da disputa pelo uso de

    determinados recursos naturais, ocorre uma trama entre os atores, com din-micas

    %ue precisam ser conte(tualizadas, uma vez %ue envolvem aspectos hist)ricos,

    culturais e ticos, muitas vezes submersos ou invis7veis. Vor e(emplo, a fluidez

    temporal das alianas entre os diferentes atores, gera situa*es de grande

    comple(idade e volatilidade. 6s recortes podem ser surpreendentes dependendo

    do momento em %ue se analisam determinadas situa*es.

    o campo da ao pol7tica, por e(emplo, como salienta [ittle !"##2$, o tema

    dos conflitos socioambientais centrado na problemtica da resoluo por meio da

    e(ecuo de pol7ticas pLblicas e de diversas estratgias e de tticas pol7ticas. A

    comple(ibilidade nesses casos seguramente maior em funo da profundidade das

    divergncias. /liminar ou resolver as divergncias %ue deram origem 5 crise, de

    forma pac7fica ou consensual, uma tarefa %ue e(ige a aplicao e a aceitao denovos conceitos e teorias. 1eria %uase a instalao de novos paradigmas, ou de

    realidades mais comple(as. Assim, em funo da lentido em %ue se processam os

    entendimentos, mais prtico falar emmediao, em lugar de resoluo.

    Vara ascimento ] Erummond !"##"$ uma das e(plica*es para a

    comple(idade %ue, em tese e em termos prticos, todos os membros da

    sociedade se conectam; com a nature(a, ou seja, todos dependem da natureza,

    mesmo %ue no tenham conscincia disso nem se mobilizem a respeito. /m outraspalavras, o conjunto das %uest*es ambientais envolve todos os indiv7duos e atores,

    multiplicando a dificuldade do seu en%uadramento institucional e da sua resoluo.

    6utra explicao +ue os problemas ambientais desafiam a distino clEssica

    feita no mundo ocidental entre o pri/ado e o p3blico . /mbora as iniciativas

    individuais geralmente desencadeiem tais problemas, eles raramente so pass7veis

    de resoluo individualizada, no -mbito da espontaneidade do mercado. Ao

    contrrio, a sua resoluo %uase sempre e(ige formas comple(as, inovadoras eduradouras de ao coletiva, como leis, regulamentos, agncias pLblicas

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    38/43

    especializadas, organiza*es dos cidados, mecanismos participativos, saber

    cient7fico s)lido e atualizado, es%uemas de monitoramento etc.

    A comple(ibilidade dos conflitos gerados em torno do uso de um

    determinado recurso, principalmente %uando envolve rela*es de poderes desiguais

    !companhias petrol7feras ( comunidades tradicionais, latifundirios ( agricultores

    sem'terra, 7ndios ( garimpeiros, comunidades de remanescentes de %uilombos (

    empresas$ um desafio constante, pois cada caso apresenta especificidades

    pr)prias, tanto espaciais, %uanto temporais. /m alguns casos, o fortalecimento das

    fragilidades um caminho para consolidar o respeito mLtuo. 6 desfio maior para se

    alcanar uma gesto eficiente, em %ue todos os atores e o meio ambiente sejam

    contemplados, pelo menos em parte, significa programar um modelo de

    racionalidade, sustentado na observao dos direitos humanos e naturais difusos.

    6s instrumentos sejam eles econmicos ou legais, palpveis ou subjetivos e

    %ue hoje esto dispon7veis para se efetuar uma gesto ambiental e%uilibrada e

    justa, constituem'se como importantes ferramentas para a resoluo, mediao ou

    facilitao de conflitos, onde o!s$ objeto!s$ da disputa envolve!m$ a sociedade e o

    uso dos recursos naturais. &odos, no entanto, necessitam de complementao de

    prticas, nem sempre )bvias.A formalizao de parcerias %ue contemplem o uso dos instrumentos legais,

    e de outras tcnicas menos ortodo(as, viabiliza novos arranjos, %ue podero se

    reverter em con%uistas sociais, ambientais, pol7ticas, culturais, ticas e,

    obviamente, econmicas. /stas dimens*es, se integradas e e%uilibradas, sempre

    sero consideradas como fundamentais no e%uil7brio das sociedades. Ao alcanar

    este objetivo pode'se inferir %ue e%uacionou'se uma parte importante dos conflitos

    de diversas naturezas e din-micas, uma vez %ue segundo [eff !"##2$, a percepoda crise ecol)gica configurou um conceito de ambiente, onde poss7vel inserir uma

    nova a viso do desenvolvimento humano, %ue reintegra os valores e potenciais da

    natureza, as e(ternalidades sociais, os saberes subjugados e a comple(idade do

    mundo, os %uais vinham sendo negados pela racionalidade mecanicista,

    simplificadora, unidimensional e fragmentadora %ue conduziu o processo de

    modernizao do planeta. 6 ambiente, segundo este autor, emerge como um saber

    integrador da diversidade, de novos valores ticos e estticos e dos potenciais

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    39/43

    sinrgicos gerados pela articulao de processos ecol)gicos, tecnol)gicos e

    culturais.

    6 aparato legal dispon7vel na legislao ambiental brasileira vem garantindo,

    nos Lltimos anos, uma evoluo no trato das %uest*es referentes ao uso dos

    recursos naturais. 6s instrumentos dispon7veis, especialmente ap)s a

    implementao da [ei 3.4DP+P2, alterada pela [ei 2#.24@+##, esto disciplinando

    as formas de planejamento e implantao dos projetos. /stes mecanismos, de certa

    forma, favorecem a conduo dos processos de gesto ambiental de forma mais

    integrada. o entanto, como foi e(posto ao longo deste trabalho, muita coisa ainda

    precisa ser feita. 6 processo de avaliao de impacto ambiental !AOA$ e a aplicao

    de alguns instrumentos como o estudo de impacto ambiental !/OA$, o licenciamento

    ambiental ![A$ e o zoneamento ecol)gico'econmico !//$ so fundamentais para

    amenizar os conflitos provocados pelo uso mLltiplo dos recursos naturais.

    o entanto importante destacar %ue esses instrumentos representam

    apenas um dos estgios do procedimento %ue deve ser empregado para se realizar

    a gesto ambiental. /ssa, %uando e(ecutada de forma estratgica, dentro de um

    projeto nacional, precisa ser entendida como um conjunto de

    atividades+procedimentos %ue visem a integrao da rea+regio ou do recurso deforma %ue sustentabilidade, em todos os seus n7veis, seja o re%uisito principal.

    Vara tanto, necessrio %ue nos objetivos do processo, novas formas de conduo

    das crises, sejam perseguidas incessantemente. Vara %ue isso seja poss7vel,

    relevante considerar %ue em um processo de gesto estejam sempre presentes

    procedimentos de planejamento, de monitoramento e de fiscalizao,

    fundamentados em novos princ7pios e aspectos, muitas vezes, subjetivos. 8om

    estes procedimentos pode'se praticar a conciliao, a participao e a co'responsabilidade dos vrios atores envolvidos, inibindo, assim, a proliferao ou

    e(ploso de conflitos socioambientais no pa7s. 8om estas medidas fortalece'se a

    sociedade, o aparato legal e o desenvolvimento em todas as suas dimens*es.

    o Nrasil, os munic7pios s) ganharam reconhecimento para a adoo de

    a*es relevantes a proteo dos a partir da promulgao da &onstituio

    Rederal Mrasileira de 1>NN. A 8onstituio consolidou no pa7s, a %uesto da

    proteo ambiental como essencial 5 %ualidade de vida como competncia dosentes federativos em conjunto com a coletividade. Hortaleceu a [ei Hederal n\

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    40/43

    43DP+P2, %ue estabelece as bases para a Vol7tica acional do eio Ambiente,

    principalmente no %ue tange o comprimento das diretrizes do 1O1AA, concebido

    como um modelo de gesto ambiental, para harmonizar e articular as a*es

    pol7ticas governamentais na rea ambiental e implantar a descentralizao em

    todas as esferas de governo.

    A partir da esoluo do 86AA !"D;+3;$, os munic7pios passar a ter

    diretrizes para o e(erc7cio de licenciamentos ambientais, alm da obrigatoriedade

    de ter conselhos municipais de meio ambiente com carter deliberativo e

    participao social. 6s munic7pios contam com outros instrumentos de preveno,

    controle e mitigao dos impactos ambientais, tais como, os legais !lei org-nica,

    plano diretor, uso e ocupao do solo e c)digo ambiental$= os econmicos !fundo

    municipal de meio ambiente, incentivos tributrios, cons)rcios municipais$=

    administrativos !unidade espec7fica para esta rea temtica, capacitao tcnica

    de recursos humanos, parcerias com outras institui*es do poder privado,

    universidade e entidades afins$ e= institucionais !educao ambiental, Agenda "2,

    conselhos de meio ambiente e sistema de informa*es ambientais$.

    As pol7ticas pLblicas devem incorporar a dimenso ambiental, promover a

    educao ambiental em todos os n7veis de ensino e o engajamento da sociedade naconservao, recuperao e melhoria do meio ambiente, conforme a Vol7tica

    acional de /ducao Ambiental ![ei n\ 3. ;3@+33$.

    6 estatuto da 8idade ![ei n\ 2#."@;+"##2$ estabelece diretrizes e normas da

    pol7tica urbana de carter pLblico'social com relao ao uso da propriedade urbana

    visando o bem coletivo e e%uil7brio ambiental aos cidados, propondo a

    instrumentalizao do munic7pio para a e(ecuo de modo ade%uado das fun*es

    da cidade.!Vhilippi Mr e ulauf= 2333$I A estrutura executi/a da !esto ambiental

    de/e serI

    "lane

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    41/43

    comunidade e a import-ncia no e%uil7brio ambiental na regulao da

    temperatura e preveno de cheias=

    &ontrole da +ualidade ambiental: relacionado 5 interao entre

    setores pLblicos, privados e a sociedade civil no controle preventivo

    !licenciamentos ambientais$ e corretivo !fiscaliza*es ambientais$

    para promoo, proteo e recuperao e controle da %ualidade

    ambiental por meio de decis*es %ue estaro baseadas em indicadores

    ambientais e relat)rios advindos da fase de planejamento ambiental=

    ducao ambiental: e(ecutada transversalmente permeando todas

    as a*es acima citadas, sendo dependente da correta articulao

    entre todas as a*es envolvidas nos processos de gesto municipal e

    na unio da rea ambiental e educacional para preparao e

    desempenho de planos, programas e projetos ambientais.

    A relev-ncia da e(istncia de um sistema de informa*es nos munic7pios est

    no fornecimento de conhecimento para o planejamento, o monitoramento, a

    implementao e a avaliao da pol7tica urbana, tanto ao poder pLblico'privado,

    mas principalmente 5 sociedade local, subsidiando as tomadas de decis*es ao longo

    do processo e au(iliando a melhorias cont7nuas na gesto ambiental do munic7pio e

    administrao urbana, de tal forma %ue possibilite prestar contas 5 sociedade. ^ no

    princ7pio da informao ambiental %ue a educao ambiental pode manifestar'se

    plenamente 1e no h informao, no h o %ue educar. A falta de informao,

    pois, elemento de e(cluso= se todos tivessem acesso igualitrio 5 informao, no

    haveria e(clu7dos.

    A populao %ue efetivamente sente os impactos ambientais deve serinserida nas tomadas de decis*es do governo local e na formulao de pol7ticas

    pLblicas, participando com conhecimento e e(perincias %ue lhe so inerentes e

    %ue muitas vezes so impercept7veis ao poder pLblico local e seus agentes.

    6 sucesso da gesto ambiental municipal em algumas cidades brasileiras foi

    devidoI

    Uiso estratgica de atuao do governo em relao 5 pol7tica,

    administrao e economia local=

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    42/43

    edefinio das fun*es do e(ecutivo municipal com a priorizao do

    interesse publica e conse%uentemente substituio ao clientelismo=

    econhecimento da relev-ncia de uma imagem favorvel da cidade=

    Oncorporao de uma nova gesto baseada na descentralizao,

    participao popular e parcerias Voder VLblico' 1ociedade 8ivil.

    A preocupao com a insero da populao nas tomadas de decis*es locais

    observada a partir de trs dimens*es principaisI

    Vol7ticaI relacionada 5 bai(a confiana dos cidados no desempenho

    do trabalho institucional=

    AdministrativaI na constatao do aumento da comple(idade dos

    problemas e a ausncia de articula*es dentro e entre as

    administra*es locais=

    1ocialI com a percepo da import-ncia da autonomia individual e o

    poder de decidir por si mesmo e pela sociedade como um todo.

    6 debate %ue envolve a participao da sociedade precisa ser alimentado

    constantemente por informao para %ue resulte numa contribuio consistente ao

    processo de planejamento da gesto pLblica, ou seja, a %ualificao da populao

    para participar dos processos decis)rios ir depender diretamente do conhecimento

    e da informao produzidos.

    A revalorizao do local em contraposio a um global por%ue o local passa

    a ser no apenas um refLgio contra foras alien7genas, mas um espao aberto 5

    criatividade, 5 inovao e ao comando sobre o pr)prio futuro. Vi/er e a!ir

    localmente torna%se a base de um no/o modelo de representar um mundo

    social.

    6s munic7pios precisam fazer uma gesto mais eficiente com novos

    chamados 5 participao democrtica, com envolvimento da sociedade na

    formulao, e(ecuo e acompanhamento das pol7ticas e projetos ambientais

    objetivando garantir a e%uidade e articular as rela*es entre o global e o local,

    com pol7ticas pLblicas condizentes com a sua pr)pria realidade, com uma nova

    proposta de sociabilidade %ue garanta a e(presso e representao dos interesses

    coletivos dos cidados.

  • 7/23/2019 1 Conflitos Ambientais e Negociao Social Na Gesto Ambiental

    43/43