fundamentos da neurociência - portal idea...estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade...

55
Fundamentos da Neurociência

Upload: others

Post on 20-Jul-2021

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Fundamentos da Neurociência

Page 2: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Neurociência

Neurociência é o estudo científico do sistema nervoso. Tradicionalmente, a

neurociência tem sido vista como um ramo da biologia. Entretanto, atualmente

ela é uma ciência interdisciplinar que colabora com outros campos como

a educação, química, ciência da

computação, engenharia, antropologia, linguística, matemática, medicina e disc

iplinas afins, filosofia, física, comunicação e psicologia. O termo neurobiologia é

usado alternadamente com o termo neurociência, embora o primeiro se refira

especificamente à biologia do sistema nervoso, enquanto o último se refere à

inteira ciência do sistema nervoso.

O escopo da neurociência tem sido ampliado para incluir diferentes abordagens

usadas para estudar os aspectos moleculares, celulares, de

desenvolvimento, estruturais, funcionais, evolutivos e médicos do sistema

nervoso, ainda sendo ampliado para incluir a cibernética como estudo da

comunicação e controle no animal e na máquina com resultados fecundos para

ambas áreas do conhecimento. As técnicas usadas pelos neurocientistas têm

sido expandidas enormemente, com contribuições desde estudos moleculares

e celulares de neurônios individuais até do "imageamento" de tarefas

sensoriais e motoras no cérebro. Avanços teóricos recentes na neurociência

têm sido auxiliados pelo estudo das redes neurais ou com apenas a concepção

de circuitos (sistemas) e processamento de informações que tornam-se

modelos de investigação com tecnologia biomédica e/ou clínica.

Dado o número crescente de cientistas que estudam o sistema nervoso, várias

proeminentes organizações de neurociência têm sido formadas para prover um

fórum para todos os neurocientistas e educadores. Por exemplo, a International

Brain Research Organization foi fundada em 1960, a Society for

Neuroscience em 1969, a Sociedade Brasileira de Neurociências e

Comportamento em 1976 e a Sociedade Portuguesa de Neurociências em

1992.

Quais são esses campos?

– Neuropsicologia: esta parte estuda a interação que há entre as ações dos

nervos e as funções ligadas à área psíquica.

– Neurociência cognitiva: este campo foca na capacidade cognitiva

(conhecimento) do indivíduo, como o raciocínio, a memória e o aprendizado.

– Neurociência comportamental: quem segue esta linha procura estabelecer

uma ligação entre o contato do organismo e seus fatores internos (emoções e

pensamentos) ao comportamento visível, como a forma de falar, de se postar e

até mesmos os gestos usados pela pessoa.

Page 3: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

– Neuroanatomia: uma das partes mais complexas da neurociência, ela tem

por objetivo compreender toda a estrutura do sistema nervoso. Com isso, o

estudioso precisa separar o cérebro, a coluna vertebral e os nervos periféricos

externos para analisar cada item com muita cautela a fim de compreender a

respectiva função de cada parte e nomeá-la.

– Neurofisiologia: por último, mas não menos importante, temos a

neurofisiologia, que estuda as funções ligadas às várias áreas do sistema

nervoso.

Acerca de nomes e métodos

Observe-se que a maioria dos vocábulos com prefixo neuro podem ser

substituídos ou associados ao prefixo psico, a moderna neurociência tende a

reunir as produções isoladas face ao risco de perder a visão global do seu

objeto de estudo: o sistema nervoso, contudo a complexidade deste, e em

especial do sistema nervoso central da espécie humana, exige o estudo isolado

de cada campo e o exercício da inter-relação de pesquisas.

Existem pelo menos 5 maneiras ou áreas de estudo da relação entre sistema

nervoso e comportamento e/ou sua fisiologia:

O espectro animal – diversidade de modelos que a natureza oferece e os

padrões reconhecíveis de comportamento e de estrutura anatômica e

bioquímica. Atividade também denominada Neuroetologia

As diversas patologias e lesões anatômicas e suas consequências funcionais.

Para deficiência mental, por exemplo, já se conhece pelo menos 300 causas.

Os estágios do desenvolvimento humano/animal e envelhecimento. Existem

estágios previsíveis de modificação anatômico-funcional e comportamental nas

diversas fases do desenvolvimento do SN humano.

Efeito de drogas em diferentes sítios anatômicos, Existe certo consenso quanto

a 3 formas básicas de efeito farmacológico de drogas no sistema nervoso. As

substâncias psicoativas podem ser classificadas

como lépticas (estimulantes); analépticas(depressoras) e dislépticas

(modificadoras). É nesse último grupo que se enquadram as substâncias

conhecidas como alucinógenosou enteógenos.

Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade

cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de

alterações comportamentais estudadas pela psicopatologia e criminologia

ainda não existe consenso sobre suas causas biológicas e psicossociais. O

Page 4: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

mesmo pode ser dito para alterações psiconeuroendócrino fisiológicas da

experiência religiosa ou êxtase religioso e estados alterados

de consciência induzidos por técnicas como meditação e yoga, bem como

demais alterações funcionais do sistema nervoso em a sua interação na cultura

estudados na ótica da neuroantropologia

Múltiplas inter-relações entre esses diversos métodos e possibilidades de

estudos são possíveis, contudo ainda não existe grandes teorias que façam da

neurociência uma única teoria ou método científico com suas múltiplas

aplicações práticas na área médica

(Neurologia, Psiquiatria, Anestesia, Endocrinologia, Medicina Psicossomática)

ou em outras ciências da saúde (Psicologia, Fisioterapia, antropologia

biológica, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, Ortóptica, Neurortopedia

bucal, etc.).

Uma forma distinta de conceber a diversidade de metodologias com que

podemos estudar o cérebro é, como proposto por Lent, 2004, acompanhar, em

princípio os distintos níveis anatômicos – funcionais que a biologia utiliza para o

estudo dos seres vivos. Estabelecendo então: Neurociência

molecular; Neurociência celular como níveis de análise equivalentes as bem

estabelecidas disciplinas da bioquímica e citologia; A Neurociência

sistêmica orientada pelos princípios histológicos, estruturais e funcionais dos

aparelhos e sistemas orgânicos; A Neurociência comportamental em princípio

acompanha os níveis de organização básica do indivíduo ou seu

comportamento equivalendo aos estudos da Psicobiologia ou Psicofisiologia e

finalmente a Neurociência cognitiva ou estudo das capacidades mentais mais

complexas, típicas do animal humano como a linguagem, autoconsciência etc.

que também pode ser chamada de Neuropsicologia.

Neurociência abrange muitas áreas do conhecimento

Como deu para você perceber, a neurociência é um campo de pesquisa de

extrema complexidade e está sempre em pauta, em evolução, por se tratar do

sistema nervoso e suas implicações na vida de uma pessoa.

A neurociência abrange muitas áreas do conhecimento, a partir do momento

em que o cérebro se torna o foco em comum de todas as neurociências; e

como tudo em nossa vida se relaciona ao cérebro, essa multidisciplinaridade é

plenamente justificável.

Os estudos da neurociência são contínuos e podem revelar alguma descoberta

para pesquisadores que desenvolvem máquinas, equipamentos e até mesmo

Page 5: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

chips para auxiliar algum indivíduo que seja portador de uma limitação física,

para citar apenas um exemplo dentre vários.

Há estudiosos também que estudam as funções que o sistema nervoso

representa para as atitudes mais básicas do ser humano, como fazer um

simples movimento.

Neurociência celular e molecular

O estudo do sistema nervoso central se dá por meio de diversas perspectivas,

estando presentes desde técnicas de análises comportamentais e cognitivas,

até análise de mecanismo moleculares e celulares.

À nível molecular, existem questões primordiais a serem respondidas como,

por exemplo, mecanismos pelos quais neurônios expressam e respondem às

demais sinalizações moleculares. Outro exemplo da aplicação de análises

moleculares na neurociência é aprimorar o entendimento de como os axônios

podem gerar uma rede complexa e interconectada. Nesse contexto,

ferramentas de biologia molecular e genética podem ser utilizadas para

compreender como ocorre o desenvolvimento de um neurônio e quais são as

influências moleculares, diretas ou indiretas, que são capazes de afetar

funções neurobiológicas.

À nível celular, a neurociência visa compreender mecanismos pelos quais os

neurônios processam informações fisiológicas e eletroquímicas. Estas

questões incluem o entendimento e a correlação de estruturas neuronais com

suas funções. O corpo celular, por exemplo, é a região que contém o núcleo do

neurônio e, portanto, toda a informação genética da célula. Os dendritos, por

sua vez, são funcionalmente especializados com a função de recebimento da

informação sináptica. Finalmente, os axônios são especializados na condução

do impulso nervoso. Dessa maneira, o entendimento de como ocorre a

neurotransmissão e a sinalização elétrica são de extrema importância para a

compreensão das funções neuronais.

Outra área das neurociências que recebe destaque para aplicação estudos

moleculares e celulares é a investigação direta de mecanismos envolvidos com

o desenvolvimento do sistema nervoso central. Dessa forma, a elucidação de

padrões de organização neuronal, bem como do desenvolvimento de novas

células nervosas e da glia proporcionam um melhor entendimento de

mecanismos migratórios das células nervosas, bem como do desenvolvimento

dendrítico e axonal.

Page 6: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Por fim, a modelagem computacional baseada em neuro-genética é uma área

em ascensão para o estudo dos mecanismos celulares e moleculares

neuronais, se embasando nas interações dinâmicas entre os genes que, por

fim, irão modulam a atividade neuronal.

O cérebro, a mente e os seus problemas

Ressonância magnética parassagital da cabeça de paciente com macrocefalia

familial benigna.

Além da tarefa ainda não concluída em milhares de anos de pesquisas,

especulações, tentativas, erros e acertos sobre a anatomia e fisiologia do

cérebro e de suas funções, sejam o comportamento/pensamento (psique) ou

os mecanismos de regulação orgânica e interação psicossocial alguns

problemas se impõem aos pesquisadores, destacando-se entre estes os que

podem ser reunidos pela patologia.

Ressalte-se, porém, a inconveniência de reduzir a neurociência à clínica e

anatomia patológica como na história da medicina já se fez, e perdermos de

vista a possibilidade de construção de um conhecimento da saúde (não

redutível ao oposto qualificativo da doença) considerando também as

dificuldades de aplicação dos conceitos da patologia às variações genéticas e

bioquímicas das espécies e natureza da psique e/ou comportamento.

Assim esclarecido temos duas estratégias básicas para abordar os problemas

da mente-cérebro e/ou a principal aplicação prática da neurociência na clínica

médica:

O coma, alterações da consciência e do sono; Alterações dos órgãos dos

sentidos, delírios, alterações do intelecto e da fala; Distúrbios

do comportamento, ansiedade e depressão (lassidão,

astenia); Desmaios, tontura (vertigens) e estado convulsivo; Distúrbios da

marcha e postura(tremores, coréia, atetose, ataxia); Paralisias e distúrbios

da sensibilidade e dor (cefaleia e segmentos

periféricos); Espasmos, incontinências e outras alterações da regulação

orgânica.

O estudo etiológico das patologias do sistema nervoso

Malformações congênitas e erros inatos do metabolismo; Doenças

do desenvolvimento, degenerativas e desmielinizantes; Infecções por grupo de

agentes e sítio anatômico (meningites, encefalites,etc.); Traumatismo no

Page 7: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

sistema nervoso central e periférico; Doenças vasculares (hipoxias, isquemias,

infarto hemorragias); Neoplasias (tumores malignos, benignos por tecido de

origem e cistos); Doenças neuroendócrinas, nutricionais, tóxicas e

ambientais;Transtornos mentais e distúrbios do comportamento

Neurociência é a área que se ocupa em estudar o sistema nervoso, visando

desvendar seu funcionamento, estrutura, desenvolvimento e eventuais

alterações que sofra. Portanto, o objeto de estudo dessa ciência é complexo,

sendo constituído por três elementos: o cérebro, a medula espinhal e os nervos

periféricos. Ele é responsável por coordenar todas as atividades do nosso

corpo, e é de extrema importância para o seu funcionamento como um todo,

tanto nas atividades voluntárias, quanto nas involuntárias.

Os estudos da neurociência estão divididos em campos específicos que

exploram as áreas do sistema nervoso. São elas:

Neurofisiologia: investiga as tarefas que cabem às diversas áreas do sistema

nervoso.

Neuroanatomia: dedica-se a compreender a estrutura do sistema nervoso,

dividindo cérebro, a coluna vertebral e os nervos periféricos externos em partes

para nomeá-las e compreender as suas funções.

Neuropsicologia: foca na interação entre os trabalhos dos nervos e as funções

psíquicas.

Neurociência comportamental: ligada à psicologia comportamental, é a área

que estuda o contato do organismo e os seus fatores internos, como

pensamentos e emoções, ao meio e aos comportamentos visíveis, como fala,

gestos e outros.

Neurociência cognitiva: estudo voltado à capacidade cognitiva, em que estão

inclusos comportamentos ainda mais complexos, como memória e

aprendizado.

Uma ciência multidisciplinar

Page 8: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Nessa perspectiva, existem diversas neurociências, dependendo da condução

e objetivo que motivam o estudo do sistema nervoso. Mas em todas essas

áreas, o cérebro é considerado em uma perspectiva unitária, já que todos os

processos mentais têm influências físicas e as questões físicas alteram o

indivíduo a nível emocional.

Além disso, as pesquisas realizadas no ramo exploram mais de uma área do

conhecimento. Por esse motivo, essa ciência é considerada multidisciplinar,

reunindo diversas especialidades, como bioquímica, biomedicina, fisiologia,

farmacologia, estatística, física, engenharia, economia, linguística, entre outras

que objetivam investigar o comportamento, os mecanismos de aprendizado e a

aquisição de conhecimento humano.

São várias as finalidades das pesquisas na área da neurociência. Entre elas,

destaque para o entendimento de como nossas vivências são capazes de

alterar o cérebro e como interferem no seu desenvolvimento. Dessa forma,

essa disciplina abrange a inteligência, o raciocínio, a capacidade de sentir, de

sonhar, de comandar o corpo, tomar decisões, fazer movimentos, entre outros.

Alguns setores específicos também se utilizam da neurociência, como é o caso

dos profissionais em engenharia médica, no desenvolvimento de equipamentos

e soluções a portadores de necessidades especiais. Da mesma forma,

podemos citar profissionais da informática que desenvolvem softwares, para

viabilizar as atividades de pessoas com algum tipo de limitação intelectual ou

física.

Para compreender esse complexo mecanismo, os cientistas consideram a

forma como funcionam os processos a nível cognitivo, principalmente no que

se refere à decodificação e transmissão de informação realizadas pelos

neurônios, bem como suas respectivas funções e comportamentos.

Se não considerarmos que o conhecimento de métodos de tratamento invasivo

como trepanações das medicinas antigas e pré colombianas; utilização

de plantas psicoativas e outras técnicas de modificação da consciência e

anestesia (similares à yoga e acupuntura) fazem parte da neurociência,

podemos tomar como data de criação desta interdisciplina a publicação de De

morbis nervorum em 1735 , de autoria do médico holandês Herman

Boerhaave (1668 - 1738), considerado o primeiro tratado de neurologia.

Pode-se ainda marcar seu início com a descoberta da função cerebral atribuída

ao grego Alcmaeon da escola Pitagórica de Croton em torno de 500 aC, que

discorreu sobre as funções sensitivas deste. Suas observações foram

confirmadas por Herófilo, um dos fundadores da escola de medicina

de Alexandria (século III aC.), que descreveu as meninges e a rete mirabile

Page 9: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

(rede maravilhosa) de nervos (distinguindo este dos vasos) e medula com suas

conexões com cérebro, cujo conhecimento foi sistematizado e demonstrado

empiricamente, através do corte seletivo de nervos, por Galeno (130-211 aC.).

Para Bear et al o estudo do encéfalo é tão antigo quanto a ciência e entre as

disciplinas que o estudam inclui a matemática, destacando ainda as reflexões

de Hipócrates sobre esse órgão no clássico da medicina, atribuído a ele,

"Acerca das doenças sagradas" (Hipócrates Séc V a.C.). o homem deve saber

que de nenhum outro lugar mas do encéfalo, vem a alegria, o prazer, o riso, e a

diversão, o pesar e o ressentimento, o desânimo e a lamentação...por esse

mesmo órgão tornamo-nos loucos e delirantes, e medos e terrores nos

assombram...Nesse sentido sou da opinião de que o encéfalo exerce o maior

poder sobre o homem... Ressalta, porém que a palavra neurociência é jovem e

que a primeira associação de neurociência foi fundada somente em 1970.

Estudar o sistema nervoso pode parecer relativamente fácil, mas não é. O

entendimento sobre o funcionamento dos mecanismos de regulação desse

órgão tem sido um dos maiores desafios da humanidade desde a Antiguidade.

O termo Neurociência surgiu recentemente, em 1970, mas os estudos do

cérebro humano são de muitos anos atrás, datam desde a filosofia grega, antes

de Cristo. Isso se deve ao fato de que esse é o órgão mais complexo do corpo

humano, constituído por milhares de células.

Os filósofos da Grécia desenvolveram teorias sobre o cérebro através de

simples observações, já os romanos iniciaram seus estudos dissecando

animais. No século XVIII, levado pelo Iluminismo, surgiram os estudos mais

aprofundados do sistema nervoso.

A teoria da evolução de Charles Darwin também contribuiu significativamente

para o entendimento da estrutura e funcionamento cerebrais. Mas foi o

surgimento de tecnologias como o Raio X e a tomografia computadorizada que

otimizaram as pesquisas na área e inauguraram efetivamente a Neurociência.

Atualmente, a cibernética também tem oferecido contribuições para essa

disciplina, principalmente por meio da neurociência computacional. O seu

principal objetivo é compreender e imitar o funcionamento do sistema nervoso

para o desenvolvimento de máquinas que auxiliem o ser humano em diversos

campos.

Dentro deste assunto, acredito ser interessante falarmos também sobre uma

das abordagens relacionadas ao funcionamento da mente e das formas que

podemos utilizar para tentar controlá-la. Estou falando da PNL, ou

Programação Neurolinguística, que trata-se basicamente de uma técnica que

Page 10: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

todo ser humano pode se valer para melhorar ainda mais a comunicação

consigo mesmo e com as pessoas ao seu redor.

Explicando melhor, a PNL é uma abordagem que acredita que existe uma

conexão entre os processos neurológicos que acontecem em nosso sistema

nervoso, a linguagem, ou linguística, e entre as experiências e padrões

comportamentais adquiridos ao longo da vida.

Assim, compreendendo melhor de que forma tudo isso funciona em conjunto, a

PNL acredita que esses mesmos padrões de comportamento, formas de

pensar, entre outros pontos, podem ser alterados para que seja possível

alcançar sonhos, metas e objetivos na vida, seja pessoal ou profissional.

Sistema nervoso

O sistema nervoso é a parte do organismo que transmite sinais entre as suas

diferentes partes e coordena as suas ações voluntárias e involuntárias.

O tecido nervoso surge com os vermes, cerca de 550 a 600 milhões de anos

atrás. Na maioria das espécies animais, constitui-se de duas partes principais:

o sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP).

O sistema central é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal. Todas as

partes do encéfalo e da medula estão envolvidas por três membranas de tecido

conjuntivo - as meninges. O encéfalo, principal centro de controle, é constituído

por cérebro, cerebelo, tálamo, hipotálamo e bulbo.

O SNP constitui-se principalmente de nervos, que são feixes de axônios que

ligam o sistema nervoso central a todas as outras partes do corpo. O SNP

inclui: neurônios motores, mediando o movimento voluntário; o sistema nervoso

autônomo, compreendendo o sistema nervoso simpático e o sistema nervoso

parassimpático, que regulam as funções involuntárias; e o sistema nervoso

entérico, que controla o aparelho digestivo.

O sistema nervoso deriva seu nome de nervos, que são pacotes cilíndricos de

fibras que emanam do cérebro e da medula central, e se ramificam

repetidamente para inervar todas as partes do corpo. Os nervos são grandes o

suficiente para serem reconhecidos pelos antigos egípcios, gregos e

romanos, mas sua estrutura interna não foi compreendida até que se tornasse

possível examiná-los usando um microscópio. Um exame microscópico mostra

que os nervos consistem principalmente de axônios de neurônios, juntamente

com uma variedade de membranas que os envolvem, segregando-os em

Page 11: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

fascículos de nervos . Os neurônios que dão origem aos nervos não ficam

inteiramente dentro dos próprios nervos - seus corpos celulares residem no

cérebro, medula central, ou gânglios periféricos.

Todos os animais mais avançados do que as esponjas possuem sistema

nervoso. No entanto, mesmo as esponjas, animais unicelulares, e não animais

como micetozoários têm mecanismos de sinalização célula a célula que são

precursores dos neurônios. Em animais radialmente simétricos, como as

águas-vivas e hidras, o sistema nervoso consiste de uma rede difusa de células

isoladas. Em animais bilaterianos, que compõem a grande maioria das

espécies existentes, o sistema nervoso tem uma estrutura comum que se

originou no início do período Cambriano, mais de 500 milhões de anos atrás.

Anatomia comparada

Membros do filo dos celenterados, tais como águas-vivas e hidras, têm um

sistema nervoso simples intitulado de rede neural. Ela é formada por neurônios,

ligados por sinapses ou conexões celulares. A rede neural é centralizada ao

redor da boca, mas não há um agrupamento anatômico de neurônios. Algumas

águas-vivas possuem neurônios sensoriais conhecidos como rhopalia, com os

quais podem perceber luz, movimento, ou gravidade.

Platelmintos e nematoides

Planárias, um tipo de platelminto, possuem uma corda nervosa dupla que

percorre todo o comprimento do corpo e se funde com a cauda. Estas cordas

nervosas são conectadas por nervos transversais, como os degraus de uma

escada. Estes nervos ajudam a coordenar os dois lados do animal. Dois

grandes gânglios na extremidade da cabeça funcionam de modo semelhante a

um cérebro simplificado. Fotorreceptores nos ocelos desses animais

proveem informação sensorial sobre luz e escuridão. Porém, os ocelos não são

capazes de formar imagens. Os platelmintos foram os primeiros animais na

escala evolutiva a apresentarem um processo de cefalização. A partir dos

platelmintos até os equinodermos, o sistema nervoso é ganglionar ventral, com

exceção dos nematelmintos que possuem cordão nervoso peri esofágico.

Obs. : A centralização do sistema nervoso dos platelmintos representa um

avanço em relação aos cnidários, que têm uma rede nervosa difusa, sem

nenhum órgão integrador das funções nervosas.

Artrópodes

Page 12: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Os artrópodes possuem um sistema nervoso constituído de uma série de

gânglios conectados por uma corda nervosa ventral feita de conectores

paralelos que correm ao longo da barriga. Tipicamente, cada segmento do

corpo possui um gânglio de cada lado, embora alguns deles se fundam para

formar o cérebro e outros grandes gânglios.

O segmento da cabeça contém o cérebro, também conhecido como gânglio

supraesofágico. No sistema nervoso dos insetos, o cérebro é anatomicamente

dividido em protocérebro, deutocérebro e tritocérebro. Imediatamente atrás do

cérebro está o gânglio supraesofágico que controla as mandíbulas.

Muitos artrópodes possuem órgãos sensoriais bem desenvolvidos, incluindo

olhos compostos para visão e antenas para olfato e percepção de feromônios.

A informação sensorial destes órgãos é processada pelo cérebro.

Moluscos

A maioria dos Moluscos, tais como Bivalves e lesmas, têm vários grupos de

neurônios intercomunicantes chamados gânglios. O sistema nervoso da lebre-

do-mar (Aplysia) tem sido utilizado extensamente em experimentos

de neurociência por causa de sua simplicidade e capacidade de aprender

associações simples.

Os cefalópodes, tais como lulas e polvos, possuem cérebros relativamente

complexos. Estes animais também apresentam olhos sofisticados. Como em

todos os invertebrados, os axônios dos cefalópodes carecem de mielina, o

isolante que permite reação rápida nos vertebrados. Para obter uma velocidade

de condução rápida o bastante para controlar músculos em tentáculos

distantes, os axônios dos cefalópodes precisam ter um diâmetro avantajado

nas grandes espécies de cefalópodes. Por este motivo, os axônios da lula são

usados por neurocientistas para trabalhar as propriedades básicas da ação

potencial.

Vertebrados

Organização do sistema nervoso dos vertebrados

Periférico

Somático

Autônomo

Simpático

Parassimpático

Page 13: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Entérico

Central / Principal

O sistema nervoso dos animais vertebrados é frequentemente dividido

em Sistema nervoso central (SNC) e Sistema nervoso periférico (SNP). O SNC

consiste no encéfalo e na medula espinhal. O SNP consiste em todos os outros

neurônios que não estão no SNC. A maioria do que comumente se denomina

nervos (que são realmente os apêndices dos axónio de células nervosas) são

considerados como constituintes do SNP. O sistema nervoso periférico é

dividido em sistema nervoso somático e sistema nervoso autônomo.

O sistema nervoso somático é o responsável pela coordenação dos

movimentos do corpo e também por receber estímulos externos. Este é o

sistema que regula as atividades que estão sob controle consciente.

O sistema nervoso autônomo é dividido em sistema nervoso simpático, sistema

nervoso parassimpático e sistema nervoso entérico. O sistema nervoso

simpático responde ao perigo iminente ou stress, e é responsável pelo

incremento do batimento cardíaco e da pressão arterial, entre outras

mudanças fisiológicas, juntamente com a sensação de excitação que se sente

devido ao incremento de adrenalina no sistema. O sistema nervoso

parassimpático, por outro lado, torna-se evidente quando a pessoa está

descansando e se sente relaxada, e é responsável por coisas tais como a

constrição pupilar, a redução dos batimentos cardíacos, a dilatação dos vasos

sanguíneos e a estimulação dos sistemas digestivo e genitourinário. O papel do

sistema nervoso entérico é gerenciar todos os aspectos da digestão, do

esôfago ao estômago, intestino delgado e cólon.

Centralização do Sistema Nervoso

Observando a filogenia do sistema nervoso dos metazoários, poderíamos

supor o sistema nervoso difuso dos cnidários como sendo uma base ancestral

para o desenvolvimento do sistema nervoso centralizado em espécies mais

evoluídas, tanto dos protóstomos quanto dos deuterostômios. Porém, assumir

que houve uma transição do sistema nervoso difuso para o central não é algo

tão trivial, uma vez que os hemicordados também possuem sistema nervoso

difuso e uma notocorda primitiva. Essa transição é uma interessante questão

Page 14: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

ainda em aberto na biologia, o sistema nervoso dos urbilaterais (o ancestral

comum entre hemicordados, cordados e protostomos)

Atualmente existem algumas teorias propondo elucidar essa questão evolutiva,

as quais abordam o sistema nervoso desse bilatério primitivo de maneiras

diferentes. Duas teorias especialmente interessantes são as que propõem um

sistema nervoso central para o urbilateral, sendo então necessária a existência

de uma inversão dorso-ventral na história evolutiva dos cordados. Isso sugeriria

uma vantagem evolutiva para essa inversão, uma vez que esta é uma

mudança relativamente drástica.

Técnicas da Neurociência

Busque atrelar emoções ao estudo

Muita gente supõe que tudo que diz respeito aos estudos é racional. Mas não

é: a memorização é uma equação complexa em que a chamada “valência

emocional” influi de forma decisiva. De forma simplificada, se você associa uma

certa informação a um sentimento positivo, como a alegria, o seu cérebro será

capaz de retomá-la mais facilmente no futuro.

Daí a técnica dos professores de cursinho pré-vestibular de contar piadas ou

fazer associações engraçadas sobre o conteúdo das aulas. “O humor é um

canal de acesso fácil às emoções

O medo, a raiva, a tristeza e outros sentimentos negativos, por outro lado,

atuam na direção contrária e condicionam uma aprendizagem de baixa

qualidade.

Na preparação para um concurso público, por exemplo, é interessante explorar

o significado dessa decisão para a sua vida. “Procure pensar no valor daquele

estudo para o seu engrandecimento profissional e pessoal, e não só como uma

ferramenta para ser aprovado numa carreira que pagará um salário alto”

Quanto mais você atribuir significado emocional a um certo conhecimento, mais

chances terá de guardá-lo para sempre. E não apenas isso: mais motivação

você terá para persistir nos estudos.

“Se você está interessado só no salário daquele cargo, quer só ‘atropelar’ a

prova, você não vai estar intimamente envolvido com o estudo”

Para agilizar o aprendizado, você precisa estar realmente motivado; e, para

estar motivado, você precisa genuinamente ter a intenção de aprender.

Page 15: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Quem vai pensar em academia quando tem uma pilha de apostilas para

estudar? Fazer atividade física pode parecer supérfluo nesse momento, mas

não é. Exercícios regulares, especialmente os de natureza aeróbica, são os

mais indicados.

Buscar atividade física faz o cérebro funcionar melhor, já que todo o corpo fica

mais saudável e bem regulado. Até os processos afetivos, ligados à motivação,

podem ser beneficiados com natação, corrida, caminhada ou outras práticas

esportivas.

Isso para não falar na importância desse tipo de atividade para liberar o

estresse da rotina, que prejudica a aprendizagem. Lazer, repouso e convívio

social também precisam ter algum espaço na sua agenda, pela mesma razão.

Dada a complexidade do cérebro humano, está comprovado que não existe

uma única forma de aprender. Por isso, não adianta insistir em métodos que

claramente não estão surtindo efeito.

Se você sente que suas sessões de estudo só estão produzindo cansaço, é

fundamental experimentar diversas técnicas e adotar aquela que funciona

melhor para você.

A Neurociência é a parte da ciência que descreve o estudo do sistema

nervoso central tais como suas estruturas, funções, mecanismos moleculares,

aspectos fisiológicos e compreender doenças do sistema nervoso. Essa,

normalmente é confundida com a Neurologia que, por sua vez, é uma área

especializada da medicina que se refere ao estudos das desordens e a

doenças do sistema nervoso, esta envolve o diagnóstico e tratamento dessas

condições patológicas dos sistemas nervoso central, periférico e autonômico.

A neurociência, normalmente é estudada por diversos profissionais de diversas

áreas e não somente por médicos neurologistas. Dentre os profissionais que se

interessam pela neurociência

temos, farmacêuticos, fisioterapeutas, enfermeiros, médicos, nutricionistas,

biólogos, biomédicos e até mesmo engenheiros, pois a capacitação nesta área

pode elucidar as novas técnicas te arquitetura robótica baseadas na

neurociência.

Neurônio

O neurónio (português europeu) ou neurônio (português brasileiro) é a célula

do sistema nervoso responsável pela condução do impulso nervoso. Há cerca

de 86 bilhões (até 20 de fevereiro de 2009 se especulava que havia 100

Page 16: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

bilhões) de neurônios no sistema nervoso humano. O neurônio consiste em

várias partes: soma, dendritos e axônio. A membrana que separa seu meio

interno do externo é denominado de membrana neuronal, a qual é sustentada

por um intrincado esqueleto interno - chamado de citoesqueleto.

O neurônio pode ser considerado a unidade básica da estrutura do cérebro e

do sistema nervoso. A membrana exterior de um neurônio toma a forma de

vários ramos extensos chamados dendritos, que recebem informação de outros

neurônios, e de uma estrutura a que se chama um axônio que envia

informação a outros neurônios. O espaço entre o dendrito de um neurônio e o

terminal axonal de outro é o que se chama uma fenda sináptica: os sinais são

transportados através das sinapses por uma variedade de substâncias

químicas chamadas neurotransmissores. O córtex cerebral é um tecido fino

composto essencialmente por uma rede de neurônios densamente interligados

tal que nenhum neurônio está a mais do que algumas sinapses de distância de

qualquer outro neurônio.

Os neurônios recebem continuamente impulsos nas sinapses de seus

dendritos vindos de milhares de outras células. Os impulsos geram ondas de

corrente elétrica (excitatória ou inibitória, cada uma num sentido diferente)

através do corpo da célula até a uma zona chamada a zona de disparo, no

começo do axônio. É aí que as correntes atravessam a membrana celular para

o espaço extracelular e que a diferença de voltagem que se forma na

membrana determina se o neurônio dispara ou não.

Os neurônios caracterizam-se pelos processos que conduzem impulsos

nervosos para o corpo e do corpo para a célula nervosa. Os impulsos nervosos

são reações físico-químicas que se verificam nas superfícies dos neurônios e

seus processos. A cromatina nuclear é escassa, enquanto que o nucléolo é

muito proeminente. A substância cromidial no citoplasma é chamada de

substância de Nissl. À microscopia eletrônica mostra-se disposta em tubos

estreitos recobertos de finos grânulos. Estudos histoquímicos e outros

demostraram-na constituída de nucleoproteínas. Estas nucleoproteínas

diminuem durante a atividade celular intensa e durante a cromatólise que se

segue à secção de axônios.

A neurociência tradicionalmente tem como objetivo entender o funcionamento

do sistema nervoso. Tanto em nível funcional como estrutural, essa disciplina

tenta saber como o cérebro se organiza. Nos últimos anos ela foi mais além,

querendo não apenas saber como funciona o cérebro, mas também a

repercussão que esse funcionamento tem sobre nossos comportamentos,

nossos pensamentos e nossas emoções.

Page 17: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

O objetivo de relacionar o cérebro com a mente é tarefa da neurociência

cognitiva. É uma mistura entre a neurociência e a psicologia cognitiva. Essa

última preocupa-se com o conhecimento de funções superiores como a

memória, a linguagem ou a atenção. Assim, o objetivo principal da neurociência

cognitiva é relacionar o funcionamento do cérebro com as nossas capacidades

cognitivas e nossos comportamentos.

O funcionamento do neurônio

O neurônio é uma célula altamente especializada na transmissão de

informações, na forma de impulsos nervosos. Os impulsos nervosos são

fenômenos eletroquímicos que utilizam certas propriedades e substâncias

da membrana plasmática, que permitem que seja criado e transmitido um

impulso elétrico.

Um neurônio em repouso é uma célula que possui uma diferença de voltagem

entre o seu citoplasma e o líquido extracelular. Esta diferença de voltagem é

criada graças ao acúmulo seletivo de íons potássio (K+) e sódio (Na+), que

ocorre pela ação de bombas que criam uma diferença de concentração. Esta

diferença de concentração é controlada por canais de K+ e de Na+, gerando

uma tensão negativa (de -58mV no interior de neurônios humanos), que pode

variar entre espécies.

Este estado de equilíbrio (ou estado de polarização do neurônio) dura até o

momento em que um potencial de ação abre os canais de K+ e de Na+,

alterando a concentração destes íons. Esta modificação gera um potencial

positivo dentro do neurônio, chegando aos +40mV ou mais (dependendo do

organismo estudado). Este desequilíbrio gera um efeito cascata, que é o

potencial de ação. Usualmente o potencial de ação inicia no começo no axônio

(zona de disparo) e se propaga até as vesículas sinápticas, gerando a

descarga de neurotransmissores.

Após ter ocorrido o potencial de ação, imediatamente os canais de K+ e de

Na+ começam a restabelecer o equilíbrio anterior, com uma tensão negativa no

interior do neurônio e positiva fora dele. O neurônio precisa, então, de um

brevíssimo tempo para reconstituir seu estado pré-descarga, e durante este

tempo ele não consegue efetuar outro potencial de ação. Este período de

latência chama-se período refratário. Logo em seguida, o neurônio adquire sua

capacidade para efetuar outro potencial de ação, estabelecendo um ciclo.

Tipos de neurônios

Receptores ou sensitivos (aferentes)

Page 18: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

São os neurônios que reagem a estímulos exteriores e que despertam a reação

a esses estímulos, se necessário. A sua constituição é um pouco diferente dos

outros dois tipos de neurônios. De um lado do axônio tem os sensores que

captam os estímulos. Do outro lado possui os dendritos. O corpo celular

localiza-se perto do axônio, estando ligado a este por uma ramificação do

axônio, assumindo um pouco o aspecto de um balão.

Associativos ou Conectores ou Interneurônios

O grupo de neurónios mais numeroso. Como o nome indica, estes neurônios

transmitem o sinal desde os neurónios sensitivos ao sistema nervoso central.

Liga também neurônios motores entre si.

Neste tipo de neurónios o axônio é bastante reduzido, estando o corpo celular

e os dendritos ligados diretamente à arborização terminal, onde se localizam os

telodendritos.

Motores ou efetuadores (eferentes)

Este tipo de neurônio tem a função de transmitir o sinal desde o sistema

nervoso central ao órgão efetor (que se move), para que este realize a ação

que foi ordenada pelo encéfalo ou pela medula espinhal. Este é o neurônio que

tem o aspecto mais familiar, que nós estamos habituados a ver nas gravuras.

Sinapse

Sinapses nervosas são os pontos onde as extremidades de neurônios vizinhos

se encontram e o estímulo passa de um neurônio para o seguinte por meio de

mediadores químicos, os neurotransmissores. A sinapse é considerada uma

estrutura formada por: membrana pré-sináptica, fenda sináptica e membrana

pós ões nervosas chamadas axônios, usualmente com os dendritos de outro

neurônio, mas pode haver contato com o corpo celular e mesmo com outros

axônios (menos comum). O contato físico em sinapses químicas não existe

realmente, pois há um espaço entre elas, denominado de fenda sináptica, onde

ocorre a ação dos neurotransmissores. Dos axônios, são liberadas

substâncias(neurotransmissores), que atravessam a fenda e estimulam os

receptores pós-sinápticos.

A literatura aponta a existência de dois tipos de sinapses neuronais: as

sinapses químicas e as sinapses elétricas. Ambos os tipos de sinapses

transmitem o potencial de ação para outros neurônios, diferindo apenas no

mecanismo de comunicação (químico ou elétrico).

Page 19: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Tipos de sinapses

Químicas

As sinapses químicas consistem na maioria das sinapses presentes no sistema

nervoso. Ela consiste numa fenda presente entre o axônio do neurônio que

está transmitindo a informação (neurônio pré-sináptico) e o neurônio que

receberá uma descarga de neurotransmissores, o receptor (neurônio pós-

sináptico).

Quando o impulso nervoso atinge as extremidades do axónio, libertam-se para

a fenda sináptica os neurotransmissores, que se ligam a receptores

da membrana da célula seguinte, desencadeando o impulso nervoso, que,

assim, continua a sua propagação.

A chegada do impulso nervoso até o botão sináptico, que é a parte do neurônio

pré-sináptico que irá liberar os neurotransmissores, provocará uma reação de

liberação de vesículas sinápticas, carregadas com neurotransmissores. Estas

substâncias passarão pela fenda sináptica atingindo sítios receptores dos

dendritos dos neurônios pós-sinápticos, o que provavelmente irá gerar um

potencial de ação provocando um impulso nervoso, que passará pelo corpo

celular e prosseguirá até o axônio.

Elétricas

Alguns neurônios comunicam-se através de sinapses menos comuns, que são

as sinapses elétricas, que são junções muito estreitas entre dois neurônios.

Estas junções comunicantes são constituídas por proteínas chamadas de

conéxons, que permite uma continuidade entre as células e dispensa, em

grande medida, o uso de neurotransmissores. Este tipo de sinapse reduz muito

o tempo de transmissão do impulso elétrico entre os neurônios, sendo a ideal

para comportamentos que exigem rapidez de resposta. Organismos como

lagostins, que necessitam fugir com velocidade de predadores, possuem

sinapses elétricas em vários circuitos.

Outros sistemas que se beneficiam com a sincronização de neurônios também

utilizam este tipo de sinapse, como por exemplo neurônios do tronco

encefálico, que controlam o ritmo da respiração e em populações de neurônios

secretores de hormônios. Esta sincronização facilita a descarga hormonal na

corrente sanguínea. Estas junções também chamadas de abertas estão em

abundância no músculo cardíaco (discos intercalares) e músculo liso (corpos

densos).

Atos voluntários e involuntários

Todas as ações que nós executamos são ordenadas pelo sistema nervoso

central.

Page 20: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

A maioria desses atos são devidamente planejados e feitos conscientemente,

como, por exemplo, beber por um copo, escrever, ler, jogar, etc.

Contudo existem outros atos que simplesmente não são planejados antes de

serem feitos. Por exemplo, se alguém agitar a mão de encontro à nossa cara, a

reação instantânea é fechar os olhos. Se tocarmos em alguma coisa muito

quente, o instinto é tirar a mão de imediato.Temos também para ser mais

explicitos, o bater do nosso coração é um acto completamente automático.

Esses são os chamados atos involuntários.

Os atos voluntários, planeados e executados, são comandados pelo

cérebro (Sistema Nervoso Periférico Somático).

Os atos involuntários, que não são pensados antes de serem executados

(instintos), são comandados pela medula espinal(Sistema Nervoso Periférico

Autônomo).

O início da neurociência

Não se pode falar sobre o início da neurociência sem citar Santiago Ramón y

Cajal, que formulou a doutrina do neurônio. Suas contribuições aos problemas

de desenvolvimento, à degeneração e à regeneração do sistema nervoso

continuam sendo atuais e continuam sendo ensinadas em universidades. Se

tivéssemos que determinar uma data de início para a neurociência, ela seria

situada no século XIX.

Com o desenvolvimento do microscópio e de técnicas experimentais, como a

fixação e a coloração de tecidos ou a pesquisa sobre a estrutura do sistema

nervoso e sua funcionalidade, essa disciplina começou a se desenvolver. Mas

a neurociência recebeu contribuições de diversas áreas do conhecimento que

têm ajudado a compreender melhor o funcionamento do cérebro. É possível

dizer que os sucessivos descobrimentos em neurociência são

multidisciplinares.

Cérebro humano

O cérebro humano é particularmente complexo e extenso. Este é imóvel e

representa apenas 2% da massa do corpo, mas, apesar disso, recebe

aproximadamente 25% de todo o sangue que é bombeado pelo coração.

Divide-se em dois hemisférios: esquerdo e o direito. O seu aspecto se

assemelha ao miolo de uma noz. É um conjunto de milhares de milhões

Page 21: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

de células que se estende por uma área de mais de 1 metro quadrado dentro

do qual conseguimos diferenciar certas estruturas correspondendo às

chamadas áreas funcionais, que podem cada uma abranger até um décimo

dessa área.*

O hemisfério dominante em 98% dos humanos é o hemisfério esquerdo, é

responsável pelo pensamento lógico e competência comunicativa. Enquanto o

hemisfério direito, é responsável pelo pensamento simbólico e criatividade,

embora pesquisas recentes estejam contradizendo isso, comprovando que

existem partes do hemisfério direito destinados a criatividade e vice-versa.

Nos canhotos as funções estão invertidas. O hemisfério esquerdo diz-se

dominante, pois nele localiza-se 2 áreas especializadas: a Área de Broca (B), o

córtex responsável pela motricidade da fala, e a Área de Wernicke (W), o

córtex responsável pela compreensão verbal.

O corpo caloso, localiza-se no fundo da fissura inter-hemisférica, ou fissura

sagital, é a estrutura responsável pela conexão entre os dois hemisférios

cerebrais. Essa estrutura, composta por fibras nervosas de cor branca (freixes

de axónios envolvidos em mielina), é responsável pela troca de informações

entre as diversas áreas do córtex cerebral.

O córtex motor é responsável pelo controle e coordenação

da motricidade voluntária. Traumas nesta área causam fraqueza muscular ou

até mesmo paralisia. O córtex motor do hemisfério esquerdo controla o lado

direito do corpo, e o córtex motor do hemisfério direito controla o lado esquerdo

do corpo. Cada córtex motor contém um mapa da superfície do corpo: perto da

orelha, está a zona que controla os músculos da garganta e da língua, segue-

se depois a zona dos dedos, mão e braço; a zona do tronco fica ao alto e as

pernas e pés vêm depois, na linha média do hemisfério.

O córtex pré-motor é responsável pela aprendizagem motora e pelos

movimentos de precisão. É na parte em frente da área do córtex motor

correspondente à boca que reside a Área de Broca, que tem a ver com a

linguagem. A área pré-motora fica mais ativa do que o resto do cérebro quando

se imagina um movimento, sem o executar. Se se executa, a área motora fica

também ativa. A área pré-motora parece ser a área que em grande medida

controla o sequenciamento de ações em ambos os lados do corpo. Traumas

nesta área não causam nem paralisia nem problemas na intenção para agir ou

planear, mas a velocidade e suavidade dos movimentos automáticos (ex. fala e

gestos)fica perturbada. A prática de piano, ténis ou golfe envolve o «afinar» da

zona pré-motora - sobretudo a esquerda, especializada largamente em

atividades sequenciais tipo série.

Cabe ao córtex do cerebelo, fazer a coordenação geral da motricidade,

manutenção do equilíbrio e postura corporal. O cerebelo representa cerca de

Page 22: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

10% do peso total do encéfaloe contém mais neurônios do que os dois

hemisférios juntos.

O eixo formado pela adeno-hipófise e o hipotálamo, são responsáveis pela auto

regulação do funcionamento interno do organismo. As

funções homeostáticas do organismo (função cárdio-respiratória, circulatória,

regulação do nível hídrico, nutrientes, da temperatura interna, etc) são

controladas automaticamente.

Córtex cerebral e lobos cerebrais

Lobos Cerebrais:

Lobo frontal

Lobo parietal

Lobo temporal

Lobo occipital

No cérebro há uma distinção visível entre a chamada massa cinzenta e a

massa branca, constituída pelas fibras (axónios) que entreligam os neurónios.

A substância cinzenta do cérebro, o córtex cerebral, é constituído corpos

celulares de dois tipos de células: as células de Glia - também chamadas de

neuróglias - e os neurônios. O córtex cerebral humano é um tecido fino (como

uma membrana) que tem uma espessura entre 1 e 4 mm e uma estrutura

laminar formada por 6 camadas distintas de diferentes tipos de corpos

celulares de neurônios.

Perpendicularmente às camadas, existem grandes neurônios chamados

neurônios piramidais que ligam as várias camadas entre si e representam

cerca de 85% dos neurônios no córtex. Os neurônios piramidais estão

entreligados uns aos outros através de ligações excitatórias e pensa-se que a

sua rede é o «esqueleto» da organização cortical. Podem receber entradas de

milhares de outros neurônios e podem transmitir sinais a distâncias da ordem

dos centímetros e atravessando várias camadas do córtex. Os estudos

realizados indicam que cada célula piramidal está ligada a quase tantas outras

células piramidais quantas as suas sinapses (cerca de 4 mil); o que implica que

nenhum neurônio está a mais de um número pequeno de sinapses de distância

de qualquer outro neurônio no córtex.

Embora até há poucos anos se pensasse que a função das células de Glia é

essencialmente a de nutrir, isolar e proteger os neurônios, estudos mais

Page 23: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

recentes sugerem que os astrócitos podem ser tão críticos para certas funções

corticais quanto os neurônios.

As diferentes partes do córtex cerebral são divididas em quatro áreas

chamadas de lobos cerebrais, tendo cada uma funções diferenciadas e

especializadas. Os lobos cerebrais são designados pelos nomes dos ossos

cranianos nas suas proximidades e que os recobrem. O lobo frontal fica

localizado na região da testa; o lobo occipital, na região da nuca; o lobo

parietal, na parte superior central da cabeça; e os lobos temporais, nas regiões

laterais da cabeça, por cima das orelhas.

Os lobos parietais, temporais e occipitais estão envolvidos na produção das

percepções resultantes daquilo que os nossos órgãos sensoriais detectam no

meio exterior e da informação que fornecem sobre a posição e relação com

objetos exteriores das diferentes partes do nosso corpo.

Lobo Frontal

O lobo frontal, que inclui o córtex motor e pré-motor e o córtex pré-frontal, está

envolvido no planejamento de ações e movimento, assim como no pensamento

abstrato. A atividade no lobo frontal aumenta nas pessoas normais somente

quando temos que executar uma tarefa difícil em que temos que descobrir uma

sequência de ações que minimize o número de manipulações necessárias. A

parte da frente do lobo frontal, o córtex pré-frontal, tem que ver com estratégia:

decidir que sequências de movimento ativar e em que ordem e avaliar o seu

resultado. As suas funções parecem incluir o pensamento abstrato e criativo, a

fluência do pensamento e da linguagem, respostas afetivas e capacidade para

ligações emocionais, julgamento social, vontade e determinação para ação e

atenção seletiva. Traumas no córtex pré-frontal fazem com que uma pessoa

fique presa obstinadamente a estratégias que não funcionam ou que não

consigam desenvolver uma sequência de ações correta segundo o nosso

cientista já falecido Tailisson Michael 1903-1980.

Lobo occipital

O lobo occipital está localizado na parte póstero-inferior do cérebro. Coberta

pelo córtex cerebral, esta área é também designada por córtex visual, porque

processa os estímulos visuais. É constituída por várias sub áreas que

processam os dados visuais recebidos do exterior depois de terem passado

Page 24: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

pelo tálamo: há zonas especializadas em processar a visão da cor, do

movimento, da profundidade, da distância, etc. Depois de percebidas por esta

área - área visual primária- estes dados passam para a área visual secundária.

É aqui que a informação recebida é comparada com os dados anteriores que

permite, por exemplo, identificar um cão, um automóvel, uma caneta. A área

visual comunica com outras áreas do cérebro que dão significado ao que

vemos tendo em conta a nossa experiencia passada, as nossas expectativas.

Por isso é que o mesmo objeto não é percepcionado da mesma forma por

diferentes sujeitos. Para além disso, muitas vezes o cérebro é orientado para

discriminar estímulos.

Uma lesão nesta área provoca agnosia, que consiste na impossibilidade de

reconhecer objetos, palavras e, em alguns casos, os rostos de pessoas

conhecidas ou de familiares

Lobos temporais

O lobo temporal está localizado na zona por cima das orelhas tendo como

principal função processar os estímulos auditivos.

Os sons produzem-se quando a área auditiva primária é estimulada. Tal como

nos lobos occipitais, é uma área de associação - área auditiva secundária- que

recebe os dados e que, em interação com outras zonas do cérebro, lhes atribui

um significado permitindo que a pessoa reconheça o que ouve.

Lobos parietais

O lobo parietal, localizado na parte superior do cérebro, é constituído por duas

subdivisões - a anterior e a posterior. A zona anterior designa-se por córtex

somatossensorial e tem por função possibilitar a recepção de sensações, como

o tato, a dor, a temperatura do corpo. Nesta área primária, que é responsável

por receber os estímulos que têm origem no ambiente, estão representadas

todas as áreas do corpo. São as zonas mais sensíveis que ocupam mais

espaço nesta área, porque têm mais dados para interpretar. Os lábios,

a língua e a garganta recebem um grande número de estímulos, precisando,

por isso, de uma maior área.

A área posterior dos lobos parietais é uma área secundária que analisa,

interpreta e integra as informações recebidas pela área anterior ou primária,

permitindo-nos a localização do nosso corpo no espaço, o reconhecimento dos

objetos através do tato, etc.

Área de Wernicke

Page 25: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

É na zona onde convergem os lobos occipital, temporal e parietal que se

localiza a área de Wernicke, que desempenha um papel muito importante na

produção de discurso. É esta área que nos permite compreender o que os

outros dizem e que nos faculta a possibilidade de organizarmos as palavras

sintaticamente corretas.

Estudo científico do cérebro

O cérebro e as funções cerebrais têm sido estudados cientificamente por

diversos ramos do saber. É um projeto pluri-disciplinar. Nasceu assim

a neurociência com o objetivo de estudar o funcionamento do Sistema

Nervoso, nomeadamente do Sistema Nervoso Central, a partir de uma

perspectiva biológica. A psicologia, depois de se ter emancipado da filosofia e

de vários conceitos religiosos, tem como um de seus objetivos estudar

cientificamente o comportamento do indivíduo e como este se relaciona com as

estruturas cerebrais. A ciência cognitiva procura estudar as funções cerebrais

com objetivo de desenvolver o conceito de "inteligência artificial". O cérebro é

responsável pelas emoções.

O córtex cerebral é dividido em áreas denominadas lobos cerebrais, cada uma

com funções diferenciadas e especializadas.

Lobo frontal

No lobo frontal, localizado na parte da frente do cérebro (testa), acontece o

planejamento de ações e movimento, bem como o pensamento abstrato. Nele

estão incluídos o córtex motor e o córtex pré-frontal.

O córtex motor controla e coordena a motricidade voluntária, sendo que o

córtex motor do hemisfério direito controla o lado esquerdo do corpo do

indivíduo, enquanto que o do hemisfério esquerdo controla o lado direito. Um

trauma nesta área pode causar fraqueza muscular ou paralisia.

A aprendizagem motora e os movimentos de precisão são executados pelo

córtex pré-motor, que fica mais ativa do que o restante do cérebro quando se

imagina um movimento sem executá-lo. Lesões nesta área não chegam a

comprometer a ponto do indivíduo sofrer uma paralisia ou problemas para

planejar ou agir, no entanto a velocidade de movimentos automáticos, como a

fala e os gestos, é perturbada.

Page 26: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

A atividade no lobo frontal de um indivíduo aumenta somente quando este se

depara com uma tarefa difícil em que ele terá que descobrir uma sequência de

ações que minimize o número de manipulações necessárias para resolvê-la. A

decisão de quais sequências de movimento ativar e em que ordem, além de

avaliar o resultado, é feito pelo córtex-frontal, localizado na parte da frente do

lobo frontal. Suas funções incluem o pensamento abstrato e criativo, a fluência

do pensamento e da linguagem, respostas afetivas e capacidade para ligações

emocionais, julgamento social, vontade e determinação para ação e atenção

seletiva. Lesões nesta região fazem com que o indivíduo fique preso

obstinadamente a estratégias que não funcionam ou que não consigam

desenvolver uma seqüência de ações correta.

O cérebro é a parte mais desenvolvida do encéfalo, pesa aproximadamente 1,3

kg, apenas 2% do peso do corpo, porém, apesar disto recebe cerca de 25% do

sangue, que é bombeado pelo coração. Com o aspecto semelhante ao miolo

de uma noz, sua massa de tecido cinza-rósea apresenta duas substâncias

diferentes, sendo uma branca, na região central, e uma cinzenta, da qual se

forma o córtex cerebral.

O córtex cerebral, um tecido fino com uma espessura entre 1 e 4 mm e uma

estrutura laminar formada por 6 camadas distintas de diferentes tipos de corpos

celulares, é constituído por células neurôglias e neurônios. Além de nutrir,

isolar e proteger os neurônios, as células neurôglias são tão críticas para certas

funções corticais quanto os neurônios, ao contrário do que se pensava alguns

anos atrás.

Para melhorar suas funções cerebrais

O homem é um ser que necessita de relações sociais saudáveis para

sobreviver e ser socialmente ativo é muito bom para p cérebro. As pessoas que

possuem muitos amigos são menos propensas a desenvolver demência ou

depressão do que aqueles que levam uma vida solitária. Os relacionamentos

online podem ser até bons, mas não são iguais relacionamentos reais, onde

vários sentidos são usados.

Escrever com as duas mãos pode ter algumas vantagens. Já penso em fazer

coisas que você sempre faz com as duas mãos, como por exemplo escovar os

dentes ou escrever? Claro que existem algumas dificuldades na hora de

realizar atividades com a mão que não temos o costume de usar, mas ao fazer

isso você pode estar quebrando sua rotina e ensinando seu cérebro a fazer

algumas coisas de forma diferente. O nosso cérebro adora conhecer coisas

Page 27: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

novas, isso estimula o cérebro para novas conexões, além de melhorar a

eficiência.

Vocês já ouviram falar do Efeito Mozart? Existem uma teoria que diz que ouvir

música clássica pode melhorar o poder do cérebro. Sendo verdade ou não esta

teoria, sabemos que música trás alguns benefícios. Alguns pesquisadores da

área dizem que certas canções podem ajudar a associar memórias e também

no funcionamento cognitivo e aumento da concentração. Alguns cientistas já

descobriram que aqueles que escutam música clássica regularmente tem

desempenho melhor em testes de QI.

Uma das melhores maneiras de manter a cabeça livre, leve e solta é a

meditação, e existem diferentes tipos de meditar. O mais fácil é fechar os olhos

e dar atenção apenas para a respiração. Se fizermos essa atividade 10 minutos

todos os dias faz com que mantemos a nossa mente clara e receptiva, além de

reduzir a produção de hormônios de ansiedade, cortisol e aumentar a

resistência ao avanço de doenças como Alzheimer.

O sono é muito importante, e pode influenciar no bom funcionamento do nosso

cérebro. Durante o sono, o nosso corpo regenera as células e remove toxinas,

além de reunir memórias do dia anterior. Quando dormirmos mal, isso pode

afetar na nossa memória e aprendizado. Um adulto necessita de seis a oito

horas de sono por noite, e a perda de sono pode levar a letargia, fadiga e

incapacidade de se concentrar.

Assim como as pessoas precisam exercitar o corpo, o cérebro também precisa

trabalhar. Nosso cérebro adora desafios, uma vez que os ajudam em seu

funcionamento. Jogos, palavra's cruzadas, cubo mágico, xadrez, todas essas

coisas podem influenciar para que sua cabeça funcione melhor e aumente o

nível de pensamento cognitivo.

A atividade física não é só bom para os músculos, mas para a nossa mente

também. Exercícios resultam em maior fluxo sanguíneo para o cérebro e faz

com que as células nervosas liberem várias substâncias químicas que

promovem a saúde cerebral, além de aumentar a neurogênese, que é a

formação de novas células cerebrais. O exercício também melhora as

conexões neurais e aumenta a nossa função cognitiva e a capacidade de sem

concentrar.

Uma boa dieta é fundamental para a saúde da nossa mente e nosso corpo.

Comer proteínas, fibras, e vários minerais pode ser bom para a saúde cerebral.

Alguns hábitos alimentares tem um papel muito grande na função cerebral uma

vez que um quinto da ingestão de nutrientes é consumido pelo cérebro. Além

da boa alimentação, beber uma quantidade boa de água é fundamental, tomar

um bom café da manhã também é importante.

Page 28: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Se escutar uma música pode ter benefícios a seu cérebro, imagina aprender a

tocar um instrumento. As pessoas que tem grandes habilidades em tocar

instrumentos costumam ser melhores em matemática, por exemplo. Então, se

você quiser exercitar o cérebro, basta pegar uma guitarra ou qualquer

instrumento e começar a jogar algumas notas.

Aprenda um novo idioma é a única dica que a maioria dos neurocientistas

concordam. Ela não só melhora as habilidades sociais, mas pode melhorar as

funções cerebrais do que várias outras formas combinadas. Quando

aprendemos um novo idioma faz com que abra novas vias neurais e assim

temos um enorme impacto sobre as habilidades cognitivas. Isso pode atrasar

os ataques do Alzheimer e da demência.

Os nervos cranianos

Desde que um estudante de medicina contou pela primeira vez os vários

nervos que saem das diversas aberturas da base do crânio há cerca de 200

anos atrás, podemos agora distinguir os 12 pares de nervos cranianos. A

investigação destes nervos é um pouco mais complicada que a dos outros

nervos periféricos, os nervos espinhais. Vários nervos cranianos tem as

mesmas funções que os nervos espinhais, mas outros não. Eles são

compostos por quatro tipos diferentes de fibras:

fibras eferentes ou motoras que conduzem estímulos do Sistema Nervoso

Central (SNC) para os músculos.

fibras aferentes ou sensoriais que podem conduzir o estimulo da pele,

músculos, tendões e articulações para o SNC.

fibras aferentes e eferentes do sistema nervoso autônomo que são

responsáveis pela inervação das glândulas lacrimais, sudoríparas e salivais, os

músculos lisos e músculo cardíaco.

Alguns nervos cranianos tem funções específicas. Eles contem fibras

sensoriais aferentes que conduzem o estímulo dos olhos, orelhas, olfato e

papilas gustativas.

A anatomia de cada nervo craniano será discutida brevemente, seguida pela

técnica de exame e finalmente pela interpretação dos achados potenciais.

Reflexos

Page 29: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Um reflexo é uma reação previsível a um estímulo padronizado. Ao examinar

os reflexos, a cooperação do paciente é menos essencial do que ao examinar a

função sensorial e motora. Também é possível examinar os reflexos de

pacientes com alterações da consciência. Os reflexos podem ser divididos em

três grupos.

Reflexos proprioceptivos ou profundos (tendinoso profundo).

O estímulo padronizado provoca um rápido alongamento do tendão.

Receptores de estiramento (fusos musculares) são esticados e enviam um

estímulo através de um nervo periférico e para a raiz do nervo posterior (via

aferente do arco reflexo) para a célula do corno anterior. Este, em seguida,

envia um estímulo ao músculo através da raiz do nervo anterior e do nervo

periférico (via eferente do arco reflexo), o que resulta na contração muscular

(reflexo monossináptico).

Reflexos superficiais ou cutâneos.

Diferente dos reflexos acima descritos, estes reflexos são polissinápticos. Isto

significa que várias células estão ligadas entre a célula que transmite o

estímulo aferente e a célula do corno anterior. O estímulo padronizado é um

estímulo táctil em uma área pré-definida da pele.

Para fins de exame, uma distinção importante entre os reflexos profundos e os

reflexos superficiais é que os reflexos tendinosos profundos serão mais visíveis

quando o paciente estiver distraído, já o reflexo superficial continuará igual. No

caso de uma condição central ou periférica os reflexos superficiais estão

ausentes.

Reflexos primitivos.

Nestes reflexos, o estímulo padronizado só irá resultar em contrações

musculares quando houver uma lesão no sistema nervoso. Qualquer reflexo

que normalmente só é visto em recém-nascidos, mas que desaparece

posteriormente, é conhecido como um reflexo primitivo.

Se um reflexo não aconteceu, isto não indica necessariamente a presença da

patologia, pode ser principalmente devido a uma técnica de exame insuficiente

ou o paciente não estar satisfatoriamente relaxado. O inicio do exame é de

extrema importância, Cada vez que você testar um reflexo: o músculo em

Page 30: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

questão deve ser completamente relaxado. O examinador deve golpear com o

punho solto, certifique-se de que o martelo não está sendo segurado com muita

firmeza. O tendão/músculo deve responder com uma contração rápida e

contundente, o que é claramente visível ou palpável.

O martelo de reflexo não deve ser muito leve.

Há várias maneiras pelas quais o reflexo pode ser mais visível. Os reflexos

tendinosos profundos são mais pronunciados se o paciente estiver distraído.

Para conseguir isso, peça ao paciente para contar ou calcular uma soma. Outro

método utilizado especificamente para os reflexos do membro inferior é a

manobra de Jendrassik:

Peça ao paciente segurar firmemente os dedos de ambas as mãos.

Pouco antes de golpear com o martelo, peça ao paciente para puxar as mãos

enganchadas para longe. Você também pode pedir para o paciente tossir no

momento que você golpear com o martelo de reflexo.

Para fazer uma estimativa adequada da força do reflexo e as eventuais

diferenças entre esquerda/direita, é importante também sentir a contração

muscular reflexa. É possível fazer isso colocando a sua mão no músculo que

contrai, ou segurando o membro que se move em resposta ao reflexo.

A avaliação de um reflexo deve sempre ser baseada em várias medições, não

apenas uma.

Sempre que possível compare imediatamente esquerda e direita.

Reflexos tendinosos profundos ou reflexos proprioceptivos nem sempre são

fáceis de se obter. Mesmo que o examinador tenha domínio da técnica e o

paciente está bem relaxado, pode existir grandes diferenças individuais. A

gradação usual para reflexos tendinosos profundos varia de 0 a 4:

0 = reflexo ausente

1 = reflexo diminuído

2 = reflexo normal

3 = reflexo aumentado

4 = reflexo rápido com clônus (a clônus é uma série de contrações rítmicas,

curtas)

Uma série de livros também lista uma quinta possibilidade:

5 = reflexo rápido com clônus sustentado.

Page 31: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Achados anormais

Arreflexia. Isto pode ser causado por:

Uma lesão do nervo periférico (via aferente e/ou eferente do arco reflexo)

Uma lesão na parte central (raiz espinhal) do arco reflexo (por exemplo,

siringomielia)

Fase aguda da lesão medular

Coma profundo

Arreflexia congênita, geralmente envolvendo as pernas.

O clônus sustentado é patológico e indica uma lesão no neurônio motor central

(NMC) acima da raiz medular do reflexo. Em recém-nascidos e pessoas com

reflexos muito rápidos o clônus com uma duração de 3 a 4 batimentos após a

provocação é encontrado bilateralmente.

Diferenças claras e reprodutíveis entre esquerda/direita podem indicar danos

nos nervos periféricos no lado do alterado, um reflexo diminuído pode indicar

uma lesão que envolve o NMC (também conhecida como lesão do tracto

piramidal) no lado do reflexo normal. Em geral, é fácil visualizar a diferença

entre os dois ao se examinar o tônus muscular e a função sensorial, entre

outras coisas. Observe com atenção também diferenças entre membros

superiores e inferiores.

Reflexos superficiais não são graduados. Apenas um reflexo superficial

reduzido ou ausente pode ter algum significado clínico. A assimetria clara

quase sempre é patológica. Isso pode indicar uma lesão no NMC ou uma lesão

na parte aferente ou eferente do arco reflexo (= nervo periférico). A

interpretação do reflexo plantar e dos reflexos primitivos são explicados na

seção que descreve esses reflexos.

Neurociência cognitiva

A neurociência cognitiva é uma área acadêmica que se ocupa do estudo

científico dos mecanismos biológicos subjacentes à cognição, com foco

específico nos substratos neurais dos processos mentais e suas manifestações

comportamentais. Se questionam sobre como as funções psicológicas e

cognitivas são produzidas no sistema nervoso central. A neurociência cognitiva

Page 32: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

é um ramo tanto da psicologia quanto da neurociência, unificando e

interconectando-se com várias outras subdisciplinas, tais como a psicologia

cognitiva, psicobiologia, neuropsicologia e neurobiologia. Antes do

desenvolvimento de tecnologias como a ressonância magnética funcional, essa

área da ciência era chamada de psicobiologia cognitiva. Os cientistas que se

dedicam a essa área normalmente possuem estudos baseados na psicologia

experimental ou neurobiologia, porém podem vir de várias disciplinas, tais

como

a psiquiatria, neurologia, física, engenharia, matemática, linguística e filosofia.

Os métodos empregados na neurociência cognitiva incluem paradigmas

experimentais de psicofísica e da psicologia cognitiva, neuroimagem

funcional, genômica cognitiva, genética comportamental, assim também como

estudos eletrofisiológicos de sistemas neurais. Estudos clínicos

de psicopatologia em pacientes com déficit cognitivo, constitui um aspecto

importante da neurociência cognitiva.

Frenologia

As primeiras raízes da neurociência cognitiva estão na frenologia, a qual é uma

teoria pseudocientífica que sustenta que a condutapode estar determinada pela

forma do couro cabeludo. Em meados do século XIX, Franz Joseph Gall e J. G.

Spurzheim seguraram que o cérebro humano estava secionado em

aproximadamente 35 diferentes regiões. Em seu livro, “A Anatomia e la

Fisiologia do Sistema Nervoso em Geral, e do Cérebro em Particular”, Gall

postulou que um bulbo maior em uma dessas áreas significava que essa parte

do cérebro estava sendo usado mais frequentemente por essa pessoa. Essa

teoria ganhou atenção pública significativa, levando a publicação de diários de

frenologia e a criação de frenômeros, instrumentos que medem os solavancos

das cabeças das pessoas. Ele propôs a teoria de que o cérebro é um campo

agregado, o que significa que diferentes áreas do cérebro participam do

comportamento.

Campo agregado

Pierre Flourens, um psicólogo experimental francês foi um dos muitos cientistas

que desafiou a opinião do frenologistas. Através de seu estudo de coelhos e

de pombas, descobriu que lesões em áreas específicas do cérebro não

produziam mudanças visíveis no comportamento. Ele sugeriu que o cérebro é

um campo agregado, o que significa que diferentes áreas cerebrais participam

de tal comportamento.

Page 33: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Locacionalistas tardios

Estudos realizados por cientistas europeus, como John Hughlings Jackson,

afirmaram que a visão locacionalista ou seccionalista do cérebro ressurgia

como a principal maneira de entender o comportamento. Jackson estudou

pacientes com danos cerebrais, particularmente epilepsia e descobriu que

pacientes epiléticos faziam os mesmos movimentos clônicos e tônicos de

músculos durante seus ataques. Isso fez com que Jackson criasse um mapa

topográfico do cérebro, o qual foi essencial para o entendimento futuro do

lóbulo cerebral.

Memória

A memória é a capacidade de adquirir, armazenar e recuperar

(evocar) informações disponíveis, seja internamente, no cérebro (memória

biológica), seja externamente, em dispositivos artificiais (memória artificial).

Também é o armazenamento de informações e fatos obtidos através de

experiências ouvidas ou vividas. Focaliza coisas específicas, requer grande

quantidade de energia mental e deteriora-se com a idade. É um processo que

conecta pedaços de memória e conhecimentos a fim de gerar novas ideias,

ajudando a tomar decisões diárias.

Os neurocientistas (psiquiatras, psicólogos e neurologistas)

distinguem memória declarativa de memória não-declarativa. A memória

declarativa, grosso modo, armazena o saber que algo se deu, e a memória

não-declarativa o como isto se deu.

A memória declarativa, ou de curto prazo como o nome sugere, é aquela que

pode ser declarada (fatos, nomes, acontecimentos, etc.) e é mais facilmente

adquirida, mas também mais rapidamente esquecida. Para abranger os outros

animais (que não falam e logo não declaram, mas obviamente lembram), essa

memória também é chamada explícita. Memórias explicitas chegam ao nível

consciente. Esse sistema de memória está associado com estruturas no lobo

temporal medial (ex: hipocampo, amígdala).

Psicólogos distinguem dois tipos de memória declarativa, a memória

episódica e a memória semântica. São instâncias da memória episódica as

lembranças de acontecimentos específicos. São instâncias da memória

semântica as lembranças de aspectos gerais.

Já a memória não-declarativa, também chamada de implícita ou procedural,

inclui procedimentos motores (como andar de bicicleta, desenhar com precisão

ou quando nos distraímos e vamos no "piloto automático" quando dirigimos).

Page 34: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Essa memória depende dos gânglios basais (incluindo o corpo estriado) e não

atinge o nível de consciência. Ela em geral requer mais tempo para ser

adquirida, mas é bastante duradoura.

Memória, segundo diversos estudiosos, é a base do conhecimento. Como tal,

deve ser trabalhada e estimulada. É através dela que damos significado ao

cotidiano e acumulamos experiências para utilizar durante a vida.

Tipos de memória

Em dispositivos artificiais

Memória principal. Precisa de energia para funcionar; e de rápida operação.

Memória auxiliar. É a memória que trabalha sem o uso de energia.Operação de

baixa velocidade.

Em memórias Biológicas

Memória de curto prazo. É a memória com duração de

alguns segundos ou minutos. Neste caso existe a formação de traços de

memória. O período para a formação destes traços chama - se "Período de

consolidação. Um exemplo desta memória é a capacidade de lembrar eventos

recentes que aconteceram nos últimos minutos.

Memória de longo prazo. É a memória com duração de dias, meses e anos.

Um exemplo são as memórias do nome e idade de alguém quando se

reencontra essa pessoa alguns dias depois. Como engloba um tempo muito

grande pode ser diferenciada em alguns textos como memória de longuíssimo

prazo quando envolve memória de muitos anos atrás.

Memória de procedimentos. É a capacidade de reter e processar informações

que não podem ser verbalizadas, como tocar um instrumento ou andar de

bicicleta. Ela é mais estável, mais difícil de ser perdida.

Bases anatômicas da memória

Hoje é possível afirmar que a memória não possui um único locus. Diferentes

estruturas cerebrais estão envolvidas na aquisição, armazenamento e

evocação das diversas informações adquiridas por aprendizagem.

Memória de curto prazo

Page 35: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Depende do sistema límbico, envolvido nos processos de retenção e

consolidação de informações novas. Hoje em dia também se supõe que a

consolidação temporária da informação envolve estruturas como o hipocampo,

a amígdala, o córtex entorrinal e o giro para-hipocampal, sendo depois

transferida para as áreas de associação do neocórtex parietal e temporal. As

vias que chegam e que saem do hipocampo também são importantes para o

estudo da anatomia da memória. Inputs (que chegam) são constituídos pela via

fímbria-fórnix ou pela via perfurante. Importantes projecções de CA1 para os

córtices subiculares adjacentes fazem parte dos outputs (que saem) do

hipocampo. Existem também duas vias hipocampais responsáveis por

interconexões do próprio sistema límbico, como o Circuito de Papez

(hipocampo, fórnix, corpos mamilares, giro do cíngulo, giro para-hipocampal e

amígdala), e a segunda via projeta-se de áreas corticais de associação, por

meio do giro do cíngulo e do córtex entorrinal, para o hipocampo que, por sua

vez, projeta-se através do núcleo septal e do núcleo talâmico medial para o

córtex pré-frontal, havendo então o armazenamento de informações que

reverberam no circuito ainda por algum tempo.

Memória de trabalho

Compreende um sistema de controle de atenção (executiva central), auxiliado

por dois sistemas de suporte (Alça Fonológica e Bloco de Notas Visuoespacial)

que ajudam no armazenamento temporário e na manipulação das informações.

O executivo central tem capacidade limitada e função de selecionar estratégias

e planos, tendo sua atividade relacionada ao funcionamento do lobo frontal,

que supervisiona as informações. Também o cerebelo está envolvido no

processamento da memória operacional, atuando na catalogação e

manutenção das sequências de eventos, o que é necessário em situações que

requerem o ordenamento temporal de informações. O sistema de suporte

vísuo-espacial tem um componente visual, relacionado à região occipital e um

componente espacial, relacionado a regiões do lobo parietal. Já no sistema

fonológico, a articulação subvocal auxilia na manutenção da informação; lesões

nos giros supramarginal e angular do hemisfério esquerdo geram dificuldades

na memória verbal auditiva de curta duração. Esse sistema está relacionado à

aquisição de linguagem.

Memória de longo prazo

Memória explícita:

Depende de estruturas do lobo temporal medial (incluindo o hipocampo, o

Page 36: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

córtex entorrinal e o córtex para-hipocampal) e do diencéfalo. Além disso, o

septo e os feixes de fibras que chegam do prosencéfalo basal ao hipocampo

também parecem ter importantes funções. Embora tanto a memória episódica

como a semântica dependam de estruturas do lobo temporal medial, é

importante destacar a relação dessas estruturas com outras. Por exemplo,

pacientes idosos com disfunção dos lobos frontais têm mais dificuldades para a

memória episódica do que para a memória semântica. Já lesões no lobo

parietal esquerdo apresentam prejuízos na memória semântica.

Memória implícita:

A aprendizagem de habilidades motoras depende de aferências corticais de

áreas sensoriais de associação para o corpo estriado ou para os núcleos da

base. Os núcleos caudado e putâmen recebem projecções corticais e enviam-

nas para o globo pálido e outras estruturas do sistema extra-piramidal,

constituindo uma conexão entre estímulo e resposta. O condicionamento das

respostas da musculatura esquelética depende do cerebelo, enquanto o

condicionamento das respostas emocionais depende da amígdala. Já foram

descritas alterações no fluxo sanguíneo, aumentando o do cerebelo e

reduzindo o do estriado no início do processo de aquisição de uma habilidade.

Já ao longo desse processo, o fluxo do estriado é que foi aumentado. O neo-

estriado e o cerebelo estão envolvidos na aquisição e no planeamento das

acções, constituindo, então, através de conexões entre o cerebelo e o tálamo e

entre o cerebelo e os lobos frontais, elos entre o sistema implícito e o explícito.

Bases moleculares do armazenamento da memória

O mecanismo utilizado para o armazenamento de memórias em seres vivos

ainda não é conhecido. Estudos indicam a LTP (long-term potential) ou

potencial de longa duração como a principal candidata para tal mecanismo. A

LTP foi descoberta por Tim Bliss e Terje Lomo num estudo sobre a capacidade

das sinapses entre os neurônios do hipocampo de armazenarem informações.

Descobriram que um pequeno período de atividade elétrica de alta freqüência

aplicado artificialmente a uma via hipocampal produzia um aumento na

efetividade sináptica. Esse tipo de facilitação é o que chamamos de LTP. Os

mecanismos para indução de LTP podem ser dos tipos associativos ou não-

associativos.

A LTP apresenta diversas características que a tornam uma candidata muito

apropriada para o mecanismo do armazenamento de longa duração. Primeira,

Page 37: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

ocorre em cada uma das três vias principais mediante as quais a informação

flui no hipocampo: a via perforante, a via das fibras musgosas e a via das

colaterais de Schaffer. Segunda, é induzida rapidamente e, por fim, depois de

induzida ser estável. Isso permite a conclusão de que a LTP apresenta

características do próprio processo de memória, ou seja, pode ser formada

rapidamente nas sinapses apropriadas e dura por um longo tempo. Vale

lembrar que apesar da LTP apresentar características em comum com um

processo ideal de memória, não se consegue provar que ela seja o mecanismo

utilizado para o armazenamento de memória.

Em relação à LTP na via das fibras musgosas e na via das colaterais de

Schaffer, pode-se melhor detalhar da seguinte maneira:

Fibras musgosas:

As informações recebidas pelo giro denteado do córtex entorrinal são

transmitidas para o hipocampo através das células granulares, cujos axônios

formam a via das fibras musgosas que termina nos neurônios piramidais da

região CA3 do hipocampo. As fibras musgosas liberam glutamato como

neurotransmissor. A LTP nas fibras musgosas é do tipo não associativa, ou

seja, não depende de atividade pós-sináptica ou de outros sinais chegando

simultaneamente, depende apenas de um pequeno surto de atividade neural

de alta freqüência nos neurônios pré-sinápticos e do conseqüente influxo de

cálcio. Esse influxo de cálcio ativa uma adenilato ciclase dependente de cálcio

e calmodulina(tipo1); essa enzima aumenta o nível de AMPc e o AMPc ativa a

proteocinase dependente de AMPc(PKA). Essa cinase adiciona grupamentos

fosfato a certas proteínas e, assim, ativa algumas e inibe outras. A LTP nas

fibras musgosas pode ser influenciada por sinais de entrada modulatórios pela

noradrenalina. Esse sinais de entrada ativam receptores aos quais os

transmissores se ligam, e esses receptores ativam a adenilato ciclase. O papel

da LTP nas fibras musgosas sobre a memória ainda é obscuro.

Colaterais de Schaffer:

As células piramidais na região CA3 do hipocampo enviam axônios para a

região CA1 formando a via das colaterais de Schaffer. A LTP nestas é do tipo

associativa, ou seja, requer atividade concomitante tanto pré quanto pós-

sináptica. Assim, a LTP só pode ser induzida na via das colaterais de Schaffer

se receptores do glutamato do tipo NMDA forem ativados nas células pós-

sinápticas. É importante lembrar que há dois receptores importantes para o

glutamato: o NMDA e o não-NMDA. O canal do receptor NMDA não funciona

rotineiramente pois está bloqueado por íons magnésio que são deslocados

apenas quando um sinal muito forte é gerado na célula pós-sináptica. Tal sinal

faz com que as células pré sinápticas disparem em alta freqüência resultando

Page 38: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

numa forte despolarização que expelem o magnésio e permitem o influxo de

cálcio. Essa entrada de cálcio desencadeia uma cascata de reações que é

responsável pelo aumento persistente da atividade sináptica. Esse achado foi

interessante pois forneceu a primeira evidência para a proposta de Hebb que

estabelecia que "quando um axônio da célula A (…) excita a célula B e

repetidamente ou persistentemente segue fazendo com que a célula dispare,

algum processo de crescimento ou alteração metabólica ocorre em uma ou

ambas as células, de forma que aumente a efetividade, (eficácia) de A como

uma das células capazes de fazer com que B dispare". Um dos mecanismos

responsáveis pelo fortalecimento dessa conexão é o aumento na sensibilidade

de receptores AMPA. Outra possibilidade é a redução na reciclagem de

receptores AMPA, permitindo que eles permaneçam ativos por mais tempo.

Além disso, após uma indução sináptica de LTP, há um aumento na liberação

de transmissores dos terminais pré-sinápticos.

À medida que se inicia a fase tardia da LTP, diversas horas após a indução, os

níveis de AMPc aumentam e esse aumento do AMPc no hipocampo é seguido

pela ativação da PKA e da CREB-1. A atividade de CREB-1 no hipocampo

parece levar à ativação de um conjunto de genes de resposta imediata e esses

genes atuam de forma a iniciar o crescimento de novos sítios sinápticos.

Estudos mostraram que a PKA, proteocinase, é de extrema importância para a

conversão da memória de curta em memória de longa duração, talvez porque a

cinase fosforila fatores de transição como a CREB-1, que por sua vez ativam

as proteínas necessárias para uma LTP duradoura.

Neuromodulação da memória

Existem acontecimentos nas nossas vidas que não esquecemos jamais.

Entretanto, nem tudo que nos acontece fica gravado na nossa memória para

sempre. Como o cérebro determina o que merece ser estocado e o que é lixo?

Antes de nos atermos a essas definições, é importante lembrar que a

consolidação da memória ocorre no momento seguinte ao acontecimento.

Assim, qualquer fator que haja nesse instante pode fortalecer ou enfraquecer a

lembrança, qualquer que ela seja. Pesquisas realizadas com ratos

comprovaram que durante o treino, ocorre ativação de sistema neuro-

hormonais que agem modulando o processo de memorização.

A ß-endorfina parece ser a substância ligada ao esquecimento. Este processo,

apesar de algumas vezes indesejável (como numa prova, por exemplo), é

fundamental do ponto de vista fisiológico. Afinal, seria inviável a vida sem

nenhuma espécie de "filtro" na memória. Outras substâncias, como morfinas,

encefalinas, ACTH e adrenalina (as duas últimas em altas doses) facilitam a

liberação de ß-endorfina, levando ao esquecimento. É por isso que situações

Page 39: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

carregadas de stress emocional podem levar à amnésia anterógrafa, que é o

que acontece quando, após um acidente de carro, o indivíduo não consegue

relatar o que lhe aconteceu minutos antes.

O que determina então se uma informação deve ser armazenada? Quando

uma informação é relativamente importante, ela sobrevive ao sistema ß-

endorfínico, pois ocorre a liberação de doses moderadas de ACTH,

noradrenalina, dopamina e acetilcolina que agem facilitando a consolidação da

memória. Contudo, doses altas dessa substância tem efeito contrário pelo

bloqueamento dos canais iônicos.

Outra substância fundamental no processamento da memória é o GABA (ácido

gama-aminobutírico). Drogas que influenciem a liberação de GABA modulam o

processo da memória. Antagonistas GABAérgicos (em doses subconvulsantes,

pois o bloqueio total da ação do GABA pode produzir ansiedade, alta atividade

locomotora e convulsões) facilitam a memorização e agonistas(substâncias que

mimetizam a ação do GABA) a prejudicam. As benzodiazepinas, os

tranquilizantes mais prescritos e vendidos no mundo, facilitam a ação do GABA

e, portanto, podem afetar a memória. Existem relatos de pacientes que

apresentam amnésia anterógrada após tratamento com diazepam (nome

clínico para as benzodiazepinas).

Sabe-se também que antagonistas dos receptores colinérgicos, glutaminérigos

do tipo NMDA e adrenérgicos levam a um déficit de memória pois dificultam a

ação das substância facilitadoras da memorização no interior da célula.

A serotonina (outro neurotransmissor) exerce importante papel na consolidação

da memória a longo prazo, que parece estar ligada a síntese protéica. A

serotonina age através de receptores metabotrópicos que aumentarão os

níveis de AMPcíclico permitindo a cascata de fosforilação de quinases. Isto

aumenta a transcrição do DNA e, consequentemente, síntese protéica.

Os neuropeptídeos também influenciam a memorização. Pesquisas recentes

envolvendo a substância P, indicam que ela pode ter efeitos tanto reforçando a

memória quando a prejudicando, dependendo do local na qual ela terá

actividade.

Por fim, é importante realçar o papel da amígdala na modulação da memória,

notadamente do núcleo basolateral. Esta estrutura recebe informações das

modalidades sensitivas e as repassa para diferentes áreas do cérebro ligadas a

funções cognitivas. Devido a seu papel central na percepção das emoções, a

amígdala participa da modulação dos primeiros momentos da formação de

memória de longo prazo mais alertantes ou ansiogênicos e em alguns aspectos

de sua evocação. Quando hiperativada, especialmente pelo stress, ela pode

produzir os temíveis brancos.

Page 40: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Fatores relacionados com a perda de memória

Amnésia

Amnésia é a perda parcial ou total da capacidade de reter e evocar

informações. Qualquer processo que prejudique a formação de uma memória a

curto prazo ou a sua fixação em memória a longo prazo pode resultar em

amnésia.

As amnésias podem ser classificadas em amnésia orgânica causada por

distúrbios no funcionamento das células nervosas, através de alterações

químicas, traumatismos ou transformações degenerativas que interferem nos

processos associativos acarretando uma diminuição na capacidade de registrar

e reter informações, ou amnésia psicogênicaresultante de fatores psicológicos

que inibem a recordação de certos fatos ou experiências vividas. Em linhas

gerais, a amnésia psicogênica atua para reprimir da consciênciaexperiências

que causam sofrimento, deixando a memória para informações neutras intacta.

Neste caso, pode-se afirmar que a pessoa decide

inconscientemente esquecer o que a fazer sofrer ou reviver um sofrimento. Em

casos severos, quando as lembranças são intoleráveis, o indivíduo pode

vivenciar a perda da memória tanto de fatos passados quanto da sua própria

identidade.

As amnésias podem ainda ser divididas em termos cronológicos, em amnésia

retrógrada e amnésia anterógrada. A amnésia retrógrada é a incapacidade de

recordar os acontecimentos ocorridos antes do surgimento do problema,

enquanto a amnésia anterógrada é à incapacidade de armazenar novas

informações a longo prazo .

A depressão é a causa mais comum, porém a menos grave. Denomina-se

depressão uma doença psiquiátrica, que inclui perda do ânimo e tristeza

profunda superior ao mal causado pelas circunstâncias da vida.

Doença de Alzheimer

Uma porção significativa da população acima dos 50 anos sofre de alguma

forma de demência. A mais comum é a doença de Alzheimer, na qual

predomina a perda gradativa da memória, pois ocorrem lesões inicialmente nas

áreas cerebrais responsáveis pela memória declarativa, seguidas de outras

partes do cérebro.

Outros fatores

A doença de Parkinson, nos estágios mais severos, o alcoolismo grave, uso

abusivo da cocaína ou de outras drogas, lesões vasculares do cérebro

(derrames), o traumatismo craniano repetido e outras doenças mais raras

também causam quadros de perda de memória.

Page 41: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

A memória e o olfato

As memórias que incluem lembrança de odores têm tendência para serem

mais intensas e emocionalmente mais fortes. Um odor que tenha sido

encontrado só uma vez na vida pode ficar associado a uma única experiência e

então a sua memória pode ser evocada automaticamente quando voltamos a

reencontrar esse odor. E a primeira associação feita com um odor parece

interferir com a formação de associações subsequentes. É o caso da aversão a

um tipo de comida. A aversão pode ter sido causada por um mal estar que

ocorreu num determinado momento apenas por coincidência, nada tendo a ver

com o odor em si; e, no entanto, será muito difícil que ela não volte sempre a

aparecer no futuro associada a esse odor.

No caso das associações visuais ou verbais, há uma interferência retroactiva.

Estas podem ser facilmente perdidas quando uma nova associação surge (por

exemplo, depois de memorizarmos o novo número do nosso celular, torna-se

mais difícil lembrarmo-nos do antigo).

Dentre as subdivisões da Neurociência, uma delas é a Neurociência Cognitiva,

ela tem como foco, o estudo a respeito das capacidades mentais do ser

humano, como por exemplo, seu pensamento, aprendizado, inteligência,

memória, linguagem e percepção.

Com base nisso, as sensações e a percepção do indivíduo são o que norteiam

os estudos da Neurociência Cognitiva, ou seja, como uma pessoa adquiri

conhecimento a partir das experiências sensoriais a que é submetida; uma

música, um aroma, o gosto de uma comida, uma imagem ou uma sensação

corporal, tudo isso engloba as experiências sensoriais e são elas as

responsáveis por captar os dados do ambiente e leva-las ao cérebro.

Verifica-se então, que a Neurociência Cognitiva não diz respeito apenas ao

sistema nervoso, como também, como as experiências sensoriais adquiridas

ao longo da vida são processadas pelo no cérebro e são transformadas em

conhecimento.

Confira algumas áreas em que a Neurociência pode auxiliar no aprendizado:

Emoção

A inteligência humana está intimamente ligada a emoção, ou seja, o aspecto

emocional interfere na nossa cognição: quanto mais um evento contenha

emoção, mais a pessoa se lembrará dele e isso afeta na obtenção

de conhecimento (de forma positiva ou negativa).

Page 42: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Nesse sentido, a emoção da pessoa precisa ser instigada (quando ela for

positiva) ou desestimulada (quando ela for negativa), para que o

desenvolvimento intelectual não seja prejudicado.

Motivação

A motivação é o que fomenta o aprendizado, quando a pessoa se depara com

uma interferência positiva, isso mobiliza a atenção da mesma, o que gera a

motivação. Da mesma forma, se o indivíduo encontra uma tarefa muito difícil,

sua mente se frustra e ele acaba desmotivado, e isso interfere na sua

aprendizagem.

A pessoa deve então, no decorrer do desenvolvimento intelectual, não apenas

entrar em contato com inúmeros conteúdos, como também, realizar atividades

que despertem a sua curiosidade, proponham desafios e a motivem.

Atenção

A atenção é fundamental para que o conhecimento seja adquirido, pois o

sistema nervoso só absorve a informação quando a pessoa está atenta a

mesma. O indivíduo presta atenção em alguma coisa, quando aquilo é

entendido, ou seja, tem significado.

Nesse sentido, a falta de atenção muitas vezes não ocorre por indisciplina, mas

sim, por falta de estímulo. Por conta disso, para que a pessoa dê atenção a

uma informação, a interação entre a mesma e o indivíduo precisa ocorrer.

Socialização

As experiências sociais do ser humano e o ambiente ao qual ele está inserido,

formam a sua cognição, ou seja, o cérebro se modifica e se desenvolve

durante a vida. Através da socialização, é possível que a pessoa consiga

aprimorar a sua linguagem verbal e não verbal, interagir com outras pessoas,

reconhecer e expressar emoções, exercer suas potencialidades e ter empatia.

Memória

A memória se dá através de repetições, quando a pessoa decora uma

informação e através de associações, quando existem vínculos e relações com

o conteúdo. Nesse sentido, o ato de aprender não ocorre apenas quando se

grava informações, mas também, quando o conteúdo afeta a pessoa. Com

isso, o indivíduo deve identificar pontos de ancoragem para que o conteúdo

aprendido tenha sentido e fique na sua memória.

A Neurociência Cognitiva tem como objeto de estudo, a compreensão, na

prática, sobre como a nossa mente processa as informações, como isso

possibilita aprender, desenvolver e acumular conhecimentos e aperfeiçoar as

múltiplas inteligências. Essa consciência dos pontos fortes e de limitação é

Page 43: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

fundamental no processo de ensino, uma vez que possibilita desenvolver

modelos de aprendizado que levem em conta o processo cognitivo de cada um

e com soluções adequadas a cada pessoa.

Medula espinhal

A medula espinal, espinal medula ou medula espinhal é a porção alongada

do sistema nervoso central, é a continuação do bulbo, que se aloja no interior

da coluna vertebral em seu canal vertebral, ao longo do seu eixo crânio-caudal.

Ela se inicia na junção do crânio com a primeira vértebra cervical e termina na

altura entre a primeira e segunda vértebra lombar no adulto, atingindo entre 44

e 46 cm de comprimento, possuindo duas intumescências, uma cervical e

outra lombar. Na anatomia dos seres humanos, em pessoas do grupo humano

de origem caucasoide a medula espinhal termina entre a primeira e segunda

vértebra lombar, enquanto que em pessoas de origem negroide ela termina um

pouco mais abaixo, entre a segunda e a terceira vértebra lombar.

Na medula espinhal residem todos os neurónios motores que enervam os

músculos e também os eferentes . Recebe também toda a sensibilidade do

corpo e alguma da cabeça e atua no processamento inicial da informação de

todos estes impulsos (neurónios sensitivos).

É anatomicamente segmentada, embora não o seja muito evidente,

apresentando as suas radículas posteriores a entrarem através de um sulco

longitudinal posterolateral bem definido enquanto as suas radículas

anteriores a abandonam desalinhadas descrevendo-se usualmente um sulco

longitudinal anterolateral, muito embora este esteja estruturalmente mal

definido.

As radículas dorsais e ventrais por sua vez coalescem em raízes ventrais e

dorsais respectivamente e as últimas unem-se para formar os nervos

raquidianos. Cada raiz dorsal, apresenta um gânglio dorsal raquidiano proximal

à junção da raiz dorsal com a raiz ventral e este gânglio contém os corpos

celulares dos primeiros neurónios aferentes (neurónios sensitivos primários)

cujos prolongamentos axonais entram através das radículas posteriores para

sinaptizar na medula.

Forma e divisão

A medula espinhal tem a forma de um cordão arredondado, que é percorrido

por sulcos longitudinais. É achatada e apresentando duas dilatações, ou

intumescências, a dilatação (intumescência) cervical (situada na região

cervical) e a dilatação (intumescência) lombar (inferior, ocupa a região lombar).

Page 44: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Pode ser dividida em 6 porções: porção cervical superior, dilatação cervical,

porção dorsal, dilatação lombar, cone terminal e filamento terminal. Faz

extremidade com o bulbo na porção superior, e com a vértebra lombar na

porção inferior.

A porção da medula espinhal que dá origem a um nervo espinhal constitui

um segmento e é neste sentido que se diz que a medula é segmentada.

Existem 31 segmentos – 8 cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5 sacrais e 1

coccígeo. No entanto esta segmentação não é visível, apresentando-se toda a

estrutura como um contínuo longitudinal com dois alargamentos (intumescência

cervical e intumescência lumbossagrada) e uma terminação caudal (cone

medular). Estes dois alargamentos existem devido ao maior número de

neurónios e fibras que enervam os membros superiores e inferiores

respectivamente nessas zonas:

Intumescência cervical – C5 a T1 da medula espinhal;

Intumescência lombossacral – L2 a S3 da medula espinhal.

A médula espinhal se inicia no buraco magno e termina na segunda vértebra

lombar.

Cortes transversais

Em corte transversal a medula espinhal consiste numa massa cinzenta interna

em forma de H, com aspecto de borboleta e que é rodeada por massa branca.

A massa cinzenta pode ser divisível em cornos e a massa branca

em funículos ou colunas.

A medula espinhal apresenta uma fissura mediana anterior, que se estende

quase até ao centro; um sulco mediano posterior, menos visível mas que se

continua com um septo glial estende-se até ao canal central rodeando-o. Desta

forma, devido à existência destas estruturas, quer anteriores quer posteriores a

medula é divisível em metades direita e esquerda que apenas comunicam por

um pequeno espaço junto ao canal central que são as comissuras cinzentas

anterior e posterior e logo junto a estas as comissuras brancas

anterior e posterior respectivamente.

Para além destas estruturas existem também os já referidos sulcos

anterolateral e posterolateral que permitem dividir cada metade direita e

esquerda em três fascículos ou colunas no que diz respeito à matéria branca:

Fascículo/coluna anterior – entre a fissura mediana anterior e o sulco

anterolateral;

Fascículo/coluna lateral – entre os sulcos anterolateral e posterolateral;

Page 45: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Fascículo/coluna posterior' – entre os sulcos posterolateral e mediano posterior.

Se não se considerar a existência do sulco anterolateral, passa-se a designar

os fascículos anterior e lateral como fascículo anterolateral.

Relativamente à coluna posterior em regiões cervicais e torácicas elevadas

existe um sulco intermédio posterior – este sulco estende-se através de um

septo glial que divide a coluna posterior em dois (divide os feixes

gracilis e cuneiforme).

Relativamente à substância cinzenta é importante referir a existência de

um corno posterior (cauda da vírgula) essencialmente sensitivo e de um corno

anterior (cabeça da vírgula) essencialmente motor. Ao nível torácico entre T1 e

L3 existe ainda um corno intermédio com funções essencialmente autónomas.

A medula espinhal está envolvida no processamento sensitivo, motor e

reflexos. As fibras aferentes entram na medula via gânglios dorsais

raquidianos e depois terminam na sua maioria no lado ipisilaterlal da mesma.

Elas podem alcançar o seu local de sinapse nos neurónios da matéria

cinzenta ipsilaterais ou ascender directamente sem cruzar até atingir o núcleo

respectivo no bolbo raquidiano. Ao fazerem-no, os neurónios secundários por

sua vez vão transportar o sinal através de uma via específica até às estruturas

mais ascendentes.

É importante perceber que cada neurónio primário aferente dá origem a

diversos estímulos que podem entrar em diferentes vias, pois podem sinaptizar

com diversos ramos de outros neurónios.

Relativamente aos neurónios motores que enervam o músculo esquelético,

estes estão localizados nos cornos anteriores e os neurónios autónomos pré

ganglionares estão localizados nos cornos intermédios. Os axónios de ambos

estes neurónios abandonam a medula através das raízes ventrais e a sua

actividade é regulada por circuitos reflexos e por vias descendentes cujas fibras

se localizam na substância branca.

Certos estímulos aferentes causam consequências motoras estereotipadas e

não voluntárias designadas de reflexos. Muitos destes circuitos que provocam

reflexos estão contidos apenas na medula espinhal.

A substância cinzenta da medula espinhal está especializada regionalmente de

tal forma que o corno posterior contém neurónios sensitivos, interneurónios e

neurónios de projecção; o corno anterior contém neurónios motores; e o corno

intermédio contém neurónios autónomos pré-ganglionares.

Corno posterior

Page 46: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Relativamente ao corno posterior este contém essencialmente interneurónios

cujos prolongamentos se confinam à medula e neurónios de projecção cujos

prolongamentos permitem a existência de via ascendentes sensitivas. Esta

área de matéria cinzenta apresenta uma cabeça, colo e corpo e a

sua cabeça apresenta a lâmina terminal, a substância gelatinosa e o núcleo

central. A substância gelatinosa apresenta-se junto à lâmina terminal, como

que a proteger todo o resto do corno e apresenta fibras pouco mielinizadas e

até mesmo não mielinizadas no caso das fibras sensitivas que transmitem as

informações extroceptivas de dor e temperatura.

Entre a substância gelatinosa e a superficial da medula existe uma área

na substância branca menos mielinizada do que o resto da massa branca

designada de tracto dorsolateralou de Lissauer que estabelece relações

íntimas com a substância gelatinosa.

Corno anterior

O corpo do corno anterior consiste principalmente em interneurónios e

neurónios de projecção que transmitem a informação somática e visceral

sensitiva, suplementando as funções do corno intermédio.

O corno anterior contém os corpos celulares dos neurónios motores que

enervam os músculos esqueléticos. Estes neurónios são designados

de neurónios motores alfa, adelta ou neurónios motores baixos e são a única

forma pela qual o sistema nervoso pode controlar os movimentos

musculares interfusários quer voluntariamente quer involuntariamente.

Os neurónios motores alfa estão normalmente orientados longitudinalmente e

cada grupo enerva um músculo individual. Em corte transversal apresentam-se

organizados em clusters, separados uns dos outros por áreas com

interneurónios. Estes clusters organizam-se em: medial para os músculos

axiais, intermédio para os músculos das cinturas e lateral (principalmente nas

intumescências) para os membros – esta referência é normalmente feita

à lâmina IX.

Outro tipo de neurónios são os neurónios motores gama, dispersos entre os

alfa. Estes enervam os músculos intrafusários sendo também referidos

como neurónios fusimotores.

Duas colunas identificáveis no corno anterior são o núcleo espinhal

acessório que vai de C5 até à terminação rostral da medula e os axónios que

emergem deste núcleo formarão o nervo acessório e o núcleo frénico que

contém os neurónios motores que irão enervar o diafragma e está localizado

na porção intermédia da lâmina IX no corno anterior nos segmentos de C3 a

C5.

Corno intermédio

Page 47: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

O corno intermédio contém os corpos celulares dos neurónios pré-ganglionares

autónomos. Em adição, em alguns níveis este apresenta um núcleo de grande

importância designado de núcleo torácico ou de Clarke. Este corno está situado

entre T1 e L3 e pode-se dividir desta forma em coluna intermediolateral,

intermediomedial e núcleo torácico. As células nervosas localizadas entre S2 e

S4 correspondem ao núcleo sagrado parassimpático mas não formam um

corno lateral distinto.

O núcleo torácico é rodeado por um conjunto de células grandes e está

localizado na superfície posterior do corno de T1 a L2. É muito importante para

a transmissão da informação ao cerebelo (proprioceptica inconsciente) e

desempenha também um papel na transmissão da informação para

o tálamo(fibras que vão para o núcleo Z).

Organização em Lâminas (por Rexed)

Forma de subdivisão da matéria cinzenta:

Lâmina I – Placa marginal

Lâmina II e Lâmina III – substância gelatinosa

Lamina III e Lamina IV – núcleo central

Lâmina V – Colo do corno posterior (Substância reticular)

Lâmina VI – Corpo do corno posterior

Lâmina VII – corno intermédio

Lâmina VIII – corno anterior

Lamina IX – corno anterior (divisível em parte medial, intermédia e lateral para

musculaturas axiais, cinturas e membros respectivamente)

Lâmina X – Junto ao canal central, composto pelas comissuras cinzentas

anterior e posterior e pelas células que envolvem o canal central.

Aferentes extroceptivos – I, II, III e IV

Aferentes proprioceptivos – V e VI

Lâminas I a IV correspondem à cabeça do corno posterior

A grande maioria dos neurónios primários aferentes sinaptiza nas lâminas I,IV

e V, sendo as fibras II e III essencialmente modeladoras.

Vias ascendentes e descendentes

Page 48: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Apresentam-se em localizações definidas na medula espinhal.

As fibras nervosas na substância branca pode ser de cinco tipos:

Fibras ascendentes longas, que se projectam para o tálamo, cerebelo e

núcleos do tronco cerebral.

Fibras descendentes do córtex cerebral ou de núcleos do tronco cerebral para

a matéria cinzenta da medula espinhal.

Fibras inter e intrassegmentares – que são proprioespinhais e que

interconectam vários níveis da medula espinhal, como as fibras responsáveis

pela coordenação e reflexos de flexão. Estas fibras normalmente localizam-se

perto na matéria cinzenta, rodeando-a – o tracto correspondente é

designado tracto proprioespinhal ou fascículo próprio.

Fibras aferentes.

Fibras eferentes.

Os tractos ou vias não são estruturas completamente definidas e capazes de

exercer apenas uma função. Na verdade existe uma certa plasticidade de

certos tractos desempenharem outras funções, tal como, nem todos os

neurónios responsáveis por estas se localizam unicamente nos tractos

descritos.

É também importante referir que a maioria das vias quer motoras quer

sensitivas são somatotópicas, ou seja, as porções do corpo estão

representadas numa região específica dos feixes medulares.

A medula espinhal é a porção alongada do sistema nervoso central, que se

inicia logo abaixo do bulbo, no forame magno, atravessando o canal

das vértebras, estendendo-se até a primeira ou segunda vértebra lombar,

atingindo entre 44 e 46 cm de comprimento. A medula espinhal ocupa toda a

extensão do canal vertebral no indivíduo adulto. Da ponta da medula espinhal

sai um filamento terminal, que vai até o cóccix.

A medula espinhal tem a forma de um cordão arredondado e dela se originam

31 pares de nervos espinhais. A medula pode ser dividida em 6 partes: cervical

superior, dilatação cervical, dorsal, lombar, cone terminal e filamento terminal.

Os nervos espinhais que saem pelas vértebras recebem o nome das vértebras,

por exemplo, os nervos torácicos saem entre as vértebras torácicas.

O conjunto de raízes nervosas no final da medula espinhal recebe o nome de

cauda eqüina, por causa de sua aparência.

Page 49: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

As duas regiões dilatadas recebem o nome de intumescência cervical e lombar.

Os nervos destinados aos membros superiores localizam-se na intumescência

cervical, e os destinados aos membros inferiores, na intumescência lombar.

Ao redor da medula encontra-se o líquido cefalorraquidiano que banha todo

o Sistema NervosoCentral. A partir deste líquido, diversas doenças podem ser

diagnosticadas, como meningite e alguns tumores.

A medula espinhal está envolvida pelas mesmas três meninges que envolvem

o cérebro: dura-máter, aracnóide e pia-máter.

Assim como o encéfalo, possui substância branca, que é constituída

principalmente por fibras mielínicas. Na substância cinzenta não há mielina, e

apresenta a forma de letra H. A neuroglia aparece em ambas as substâncias.

Medula espinhal:

A medula espinhal leva e traz informações do encéfalo e de todas as partes do

corpo com exceção da cabeça que é suprida pelos nervos cranianos. Os sinais

que percorrem a medula espinhal são conhecidos como impulsos nervosos. A

medula inclui um feixe de fibras nervosas, que são longos prolongamentos de

células nervosas. Elas se estendem da base do encéfalo até a região inferior

da medula espinhal. A medula é praticamente da largura de um lápis

afunilando-se na base de um agrupamento estreito de fibras. Os dados

provenientes dos orgãos do sentidos nas diferentes partes do corpo são

coletados via nervos espinhais e transmitidos via medula espinhal ao cérebro.

A medula espinal, também envia informação motora como os comandos de

movimentos do cérebro para o corpo, que de novo é transmitida via rede

nervosa espinhal. A medula espinhal se localiza dentro da coluna vertebral.

Seus limites estruturais são dois: Superior, pelo bulbo após o forame magno e

após a segunda vertera lombar (L2).

Os nervos espinhais:

São 31 pares de nervos espinhais. Eles se ramificam a partir da medula

espinhal, dividindo-se e subdividindo-se para formar uma rede que conecta a

medula espinhal a todas as partes do corpo. Todos os 31 pares de nervos

pertencem as quatro regiões da medula espinhal, que são:

Page 50: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Região cervical: Oito pares de nervos cervicais enervam o tórax, a cabeça, o

pescoço, os ombros, os braços e as mãos.

Região torácica: Doze pares de nervos torácicos conectam-se aos musculos

abdominais das costas e intercostais.

Região lombar: Cinco pares de nervos lombares formam uma rede para servir

o abdome inferior, coxas e pernas.

Região sacral: Seis pares de nervos sacrais conectam-se as pernas, aos pés e

às áreas anal e genital.

Lesão da medula espinhal:

Em um acidente onde a medula espinha é lesada devido a fratura de uma

vértebra ou em casos menos graves, quando uma vertebra comprime a medula

impedindo a transmissão normal dos sinais nervosos para o corpo, pode-se

manifestar um dos seguintes sinas do quadro abaixo de acordo com a região

atingida.

Meninges:

Além dos osso do crânio e as vertebras que protegem o cérebro e a medula

como uma armadura contra impactos externos, entre os ossos e essas

estruturas temos as meninges. As meninges funcionam como uma pelicula

protetora que se adere a essas estruturas. Elas se dividem em três tipos:

Dura-máter: A mais externa e mais grossa.

Aracnóide: Lembra uma teia de aranha, intermediária e vascularizada.

Pia-máter: A mais interna e fina, adere ao sistema nervoso central.

Espaço entre as meninges.

Entre as meninges há espaços que são de grande importância no diagnóstico

de hemorragias, lesões e traumas.

Extradural ou epidural:

Espaço que se localiza entre o osso do crânio e a dura-máter.

Page 51: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Sub-dural:

Espaço entre a dura-máter e a aracnoide.

Subaracnóide:

Espaço entre aracnóide e a pia-máter com maior concentração de líquor.

Intraparênquimatoso:

Espaço entre a pia-máter e o cérebro.

Líquido cefalorraquidiano:

Também conhecido como líquor ou LCR, é um liquido de aparência clara que

se localiza no espaço subaracnóide. Tem a função de agir como um

amortecedor ao impactos que a cabeça ou a coluna vertebral estão sujeitos.

Devido ser um liquido claro, auxilia no diagnóstico de doenças causadas por

vírus e bactérias que afetam o sistema nervoso ou uma possível hemorragia,

graças ao exame de punção lombar para recolher uma amostra a ser

analisada. A obstrução dos ventrículos do cérebro por onde o LCR circula é

responsável por uma manifestação conhecida como hidrocefalia.

Sistema Nervoso Periférico

O sistema nervoso periférico é constituído pelos nervos e pelos gânglios

nervosos, e sua função é conectar o sistema nervoso central às diversas partes

do corpo do animal.

Nervos e gânglios nervosos

Nervos são feixes de fibras nervosas envoltos por uma capa de tecido

conjuntivo. Nos nervos, há vasos sanguíneos responsáveis pela nutrição das

fibras nervosas.

As fibras presentes nos nervos podem ser tanto dendritos como axônios, que

conduzem, respectivamente, impulsos nervosos das diversas regiões do corpo

ao sistema nervoso central. Os gânglios aparecem como pequenas dilatações

em certos nervos.

Nervos sensitivos, motores e mistos

Page 52: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

De acordo com o tipo de fibras nervosas que apresentam, os nervos podem ser

classificados em sensitivos (ou aferentes), motores (ou eferentes) e mistos.

Nervos sensitivos são os que contêm somente fibras sensitivas, ou seja, que

conduzem impulsos dos órgãos dos sentidos para o sistema nervoso central.

Nervos motores são os que contêm somente fibras motores, que conduzem

impulsos do sistema nervoso central até os órgãos efetuadores (músculos ou

glândulas).

Já os nervos mistos contêm tanto fibras sensitivas quanto motoras e conduzem

impulsos nos dois sentidos, das diversas regiões do corpo para o sistema

nervoso central e vice-versa.

Neurociência Integrando a Psiquiatria e a Psicanálise

oncepções difíceis de serem amalgamadas, as defendidas pela psicanálise e

as defendidas pelas neurociências, no que diz respeito aos sonhos. Em

sendo caso, resta-nos confrontar as duas concepções.

Para a Psicanálise os sonhos são construtos psíquicos e é uma das pedras

angulares de sua teoria, pois estão baseados na história do indivíduo,

idéia esta que a Psicanálise tanto presa. Segundo a psicanálise a função

principal do sonho é guardar o sono do sonhador, ao permitir a realização

alucinatória dos desejos inconscientes, e desta forma, criar condições

psíquicas para que o indivíduo continue dormindo. Os sonhos se expressam

através de cenários pictóricos, numa linguagem arcaica, primitiva e carregada

de simbolismo. Quando interpretados corretamente adquirem sentido para o

sonhador. Este ponto é interessante porque no curso da história da

humanidade, dependendo da cultura, os sonhos tem sido interpretado de modo

diferente pelas diversas culturas, muitas vezes confundindo uso com função.

Ao longo de sua história, a humanidade vem tentando entender o significado

dos sonhos. Dele cuidaram filósofos, místicos e cientistas, chegando eles às

mais diferentes interpretações. Diversas culturas antigas e mesmo muitas

atuais interpretam os sonhos como inspirações, sinais divinos, visões

proféticas, fantasias sexuais, realidade alternativa, e diversas outras crenças,

dada a sua natureza intrigante e enigmática, muitas vezes perturbadora. Esta é

uma questão relacionada ao uso, ou seja, dizer que os sonhos servem para

predizer o futuro, ou diagnosticar doenças, como se pensava na Antigüidade,

ou mesmo como defendem os psicanalistas hoje, ou como afirmava Freud, que

os sonhos são uma via régia para o inconsciente e um instrumento para se

compreender a personalidade dos pacientes, é também uma questão

de uso, mas não de função. Agora quando se diz que os sonhos protegem o

sono como defendia Freud, ou quando se fala de algumas teorias que se

C

Page 53: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

seguem nesse texto, levantadas por alguns neurocientistas, podemos estar

falando de função.

Em 1900, em seu livro “A interpretação dos Sonhos”, Sigmund Freud defendia

a idéia de que os sonhos refletiam a experiência inconsciente e era um

guardião do sono. Ele teorizou que o pensamento durante o sono tende a ser

primitivo ou regressivo e que os efeitos da repressão são reduzidos. Para ele,

os desejos reprimidos são, particularmente, aqueles associados ao sexo e à

hostilidade, os quais eram liberados nos sonhos quando a consciência era

diminuída.

Entretanto, naquela época, a fisiologia do sono e sonhos era desconhecida,

restando a Freud apenas a sua interpretação psicanalítica dos sonhos.

Somente na década dos 50, com a descoberta de que os movimentos rápidos

dos olhos (o chamado sono REM, ou Rapid Eyes Movement), eram

freqüentemente um indicativo de que o indivíduo estava sonhando, uma nova

era de pesquisa sobre os sonhos emerge, e alguns elementos da psicanálise

passaram a ser questionados, como de validade duvidosa, pelos

neurocientistas. A partir dos estudos da neurobiologia do sono a neurociência

vem se ocupando dos sonhos. Para ela o sonho é o resultado da ativação de

certas estruturas cerebrais, como o tronco cerebral e não guarda relação com a

história individual. Não expressa uma realização inconsciente de desejo, e é

entendido como parte do ciclo do sono, determinado biologicamente.

As teorias mais atuais apresentadas pelos neurocientistas sobre sonhos são:

Teoria restaurativa

O sono ajuda nosso corpo a salvar e restaurar energia por diminuir nosso

metabolismo, o que leva a uma conservação de energia. Ele também ajuda a

recompor nossos depósitos de neurotransmissores, uma vez que a maioria

dos neurônios diminui sua atividade durante o sono.

As ondas lentas do sono têm efeitos restaurativos. Elas fornecem um período

de repouso para o cérebro. Sem o repouso, nosso cérebro

não funciona apropriadamente.

Teoria da aprendizagem

Durante o sono, nós podemos armazenar e reorganizar informações. Os

neurônios que estão envolvidos na aprendizagem e memória repousam

durante o sono, principalmente durante o sono REM (Rapid Eye Moviment ou

Page 54: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

Movimento Rápido dos Olhos, estágio em que estamos sonhando). Talvez esta

seja a razão pela qual nos sentimos mentalmente ativos e descansados

quando temos uma boa noite de sono, comparado ao que sentimos após ficar

longas horas da noite acordados.

Muitos estudos sustentam que o sono REM exibe um papel importante na

retenção e consolidação da memória. Um deles mostra que

um grupo de pessoas que foi privado do sono REM durante a noite apresentou

maior dificuldade de retenção de material de estudo, comparado a outro grupo

que teve um sono sem interrupções.

Além disso, outras teorias da aprendizagem dizem que o sono, particularmente

o sono REM é designado para remover informações inúteis da memória. Esta

teoria sugere que é de igual importância remover informações não desejadas e

manter armazenados dados importantes. Nossa memória tem que trabalhar de

duas formas, uma para armazenar informações importantes e outra para

remover informações desnecessárias. Um importante neurocientista de sono e

sonhos, já afirmou que: “nós sonhamos para esquecer”. É sugerido

que os sonhos podem refletir um mecanismo de processamento da memória

herdado de espécies inferiores, no qual a informação importante para a

sobrevivência é necessariamente sensorial, e seria reprocessada durante o

sono REM. De acordo com nossos ancestrais mamíferos, os sonhos em

humanos são sensoriais, principalmente visuais.

Teoria do desenvolvimento

Esta teoria diz que o sono exibe um papel no desenvolvimento do cérebro. O

sono REM é um importante componente do sono para fetos ainda no útero e

para as crianças. Acredita-se que o sono REM ativa áreas visuais, motoras e

sensoriais no cérebro e isto aumenta a habilidade dos neurônios de funcionar

apropriadamente e fazer as conexões corretas.

“Com base em tais achados e teorias, podemos pensar que sonhos são

mecanismos de defesa e adaptação, e a “loucura” manifesta durante este

estado silencioso e inconsciente, parece ser necessária para que nos

mantenhamos “são” durante o nosso agitado estado de consciência”

Sabe-se que os sonhos possuem uma espécie de moldura que é o conteúdo

manifesto, resultado da elaboração onírica que transforma os pensamentos

oníricos no sonho manifesto, ou seja, nessa moldura. A elaboração onírica ao

realizar essa transformação faz uso de figuras de linguagem, de simbolismo e

de mecanismos como o de condensação e de deslocamento, num cenário

Page 55: Fundamentos da Neurociência - Portal IDEA...Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e/ou comportamento (neuropsicologia). Para um grande conjunto de alterações

pictográfico (imagens predominantemente visuais), não somente porque seja

um tipo de linguagem arcaica, primitiva, apropriada aos sonhos e oriunda do

processo primário, sede latente da vida psíquica primitiva, pulsional e emotiva,

mas também porque os conteúdos latentes dos sonhos, ou seja, os seus

pensamentos oníricos carregados de motivações inconscientes e de desejos

somente podem se expressar na consciência se disfarçando, isto é, driblando a

censura que o ego, mesmo em estado de sono a mantém ativa, evidentemente,

em menor proporção do que a que existe na vigília.

Ao longo da história da psiquiatria, observa-se uma oscilação entre uma

perspectiva biológica e outra mentalista. A perspectiva biológica enfatiza

explicações calcadas no sistema nervoso central e intervenções

psicofarmacológicas. Por outro lado, a perspectiva mentalista prioriza a

experiência subjetiva e intervenções através da psicoterapia. Embora o embate

entre estas duas perspectivas esteja longe de ser resolvido, o presente

trabalho defende uma posição intermediária, privilegiando um equilíbrio entre

estas duas perspectivas. Ao longo do artigo, apresenta-se o pensamento de

autores dualistas, que propõem uma interação entre mente e cérebro, assim

como de autores monistas, que consideram o cérebro como gerador dos

processos mentais. Discute-se, também, a crítica que o conhecimento de

natureza subjetiva, produzido pela psicanálise, vem sofrendo por parte de

alguns neurocientistas. Finalmente, considera-se o conceito de

"complementaridade", elaborado pelos físicos quânticos Heisenberg e Bohr,

como uma possível forma de solucionar o impasse epistemológico entre

psicanálise e neurociência.