fundação casa de rui barbosa ivana stolze lima janeiro de 2013 atlantico... · mundo atlântico1...

18
Fundação Casa de Rui Barbosa Ivana Stolze Lima Janeiro de 2013 Projeto de pesquisa: Africanos, descendentes e comunidades linguísticas no Brasil e no mundo atlântico 1 Resumo Uma vez consolidada a pesquisa sobre a relação de africanos e descendentes com a história da língua nacional no Brasil nos projetos anteriores, o projeto atual dedica-se a complementar a análise a partir da circulação e uso de línguas africanas, entendendo o Rio de Janeiro e outras regiões do Brasil como parte do mundo atlântico. A formação de vínculos comunitários e o estabelecimento de relações sociais entre escravos, africanos ou crioulos, e demais grupos sociais, dependeu de um repertório linguístico variado. Em síntese, trata-se de avançar hipótese anterior, ampliada pelo desenvolvimento da pesquisa, qual seja, o de que africanos e descendentes não só transitaram na língua portuguesa, mas criaram formas de comunicação em que as línguas africanas estiveram também presentes. Apresentação Africanos, descendentes e comunidades linguísticas no Brasil e no mundo atlântico O projeto de pesquisa Africanos, descendentes e comunidades linguísticas no Brasil e no mundo atlântico propõe um desdobramento e ampliação da pesquisa desenvolvida nos últimos anos, a partir do núcleo original formulado no projeto Língua nacional e voz escrava: conflitos sociais e simbólicos no Império do Brasil, apresentado em 2006 e que teve continuidade no estágio pós-doutoral realizado no Programa de Estudos Africanos da Northwestern University (2009-2010) e no projeto Vozes escravas. Usos e práticas em torno da língua nacional no Rio de 1 Essa é uma versão resumida de projeto aprovado pelo CNPq para obtenção da bolsa de produtividade no período 2013-2016. Nessa versão procuramos sobretudo adequar o projeto à seleção de bolsistas do Programa de Incentivo à Produção do Conhecimento da FCRB.

Upload: vanphuc

Post on 22-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Fundação Casa de Rui Barbosa

Ivana Stolze Lima

Janeiro de 2013

Projeto de pesquisa: Africanos, descendentes e comunidades linguísticas no Brasil e no

mundo atlântico1

Resumo

Uma vez consolidada a pesquisa sobre a relação de africanos e descendentes com a história da

língua nacional no Brasil nos projetos anteriores, o projeto atual dedica-se a complementar a

análise a partir da circulação e uso de línguas africanas, entendendo o Rio de Janeiro e outras

regiões do Brasil como parte do mundo atlântico. A formação de vínculos comunitários e o

estabelecimento de relações sociais entre escravos, africanos ou crioulos, e demais grupos

sociais, dependeu de um repertório linguístico variado. Em síntese, trata-se de avançar hipótese

anterior, ampliada pelo desenvolvimento da pesquisa, qual seja, o de que africanos e

descendentes não só transitaram na língua portuguesa, mas criaram formas de comunicação em

que as línguas africanas estiveram também presentes.

Apresentação – Africanos, descendentes e comunidades linguísticas no Brasil e no mundo

atlântico

O projeto de pesquisa Africanos, descendentes e comunidades linguísticas no Brasil e no

mundo atlântico propõe um desdobramento e ampliação da pesquisa desenvolvida nos últimos

anos, a partir do núcleo original formulado no projeto Língua nacional e voz escrava: conflitos

sociais e simbólicos no Império do Brasil, apresentado em 2006 e que teve continuidade no

estágio pós-doutoral realizado no Programa de Estudos Africanos da Northwestern University

(2009-2010) e no projeto Vozes escravas. Usos e práticas em torno da língua nacional no Rio de

1 Essa é uma versão resumida de projeto aprovado pelo CNPq para obtenção da bolsa de produtividade no

período 2013-2016. Nessa versão procuramos sobretudo adequar o projeto à seleção de bolsistas do

Programa de Incentivo à Produção do Conhecimento da FCRB.

2

Janeiro (2009-2012).

A questão:

O conjunto de questões com que temos trabalhado pode ser sintetizado a partir de uma

dupla constatação sobre a primeira metade do século XIX. Por um lado, este foi um momento

chave na expansão e naturalização da língua portuguesa no Brasil — pensemos na rápida difusão

da imprensa, na criação das escolas de instrução primária, na expansão da cultura escrita (cuja

importância ainda está por ser devidamente redimensionada) na dimensão administrativa

envolvida na construção do Estado nacional, e afinal em toda a mobilização simbólica dos novos

sentidos do ser brasileiro que se manifestou em diferentes campos da vida social e política2. Por

outro lado, esse foi um momento chave do tráfico, com a entrada de quase dois milhões de

africanos, falantes de quimbundo, quicongo, iorubá, fon, haussá, macua e centenas de línguas.

Minha intenção tem sido procurar formas de reflexão e entendimento da articulação dessas duas

forças. Até o momento, mantive como foco o Rio de Janeiro, capital do Império, maior cidade

escravista das Américas, e palco privilegiado dessas duas correntes. O foco em um determinado

espaço e contexto histórico tem sido fundamental para evitar generalizações e estereótipos.

No entanto, mantendo o cuidado com as especificidades, e inclusive contribuindo para

melhor entendê-las, faz-se agora necessário um exame mais cuidadoso de outras situações. A

própria identificação das línguas africanas trazidas ao Brasil constitui um campo ainda em

aberto, com problemas metodológicos ligados à nomenclatura e ao entendimento detalhado do

tráfico3. A questão da comunicação entre e com africanos no contexto do tráfico poderá elucidar

algumas dinâmicas linguísticas no Brasil, a partir da interrogação sobre experiências de agentes

ligados ao tráfico. No período colonial, duas línguas africanas são particularmente interessantes

2 LIMA, Ivana Stolze (2008). Língua nacional, histórias de um velho surrão. In: Laura do Carmo; Ivana

Stolze Lima (org). História social da língua nacional. Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa. pp.

215-45.

3 BONVINI, Emilio. Línguas africanas e português falado no Brasil. In: FIORIN, Jose Luis e PETTER,

Margarida (org). África no Brasil: a formação da língua portuguesa. São Paulo: Contexto, 2008.

3

de serem retomadas pela historiografia a partir de registros importantes: o quimbundo, objeto da

Arte da língua de Angola, considerada a primeira gramática dessa língua, e que

significativamente foi elaborada na cidade de Salvador no final do século XVII; e o fon, do

grupo linguístico gbe, base da Obra Nova da língua geral de mina, vocabulário elaborado em

Ouro Preto em meados do século XVIII4. Um outro contexto que será explorado a partir das

novas direções que a pesquisa tomou, é a região do Vale do Paraíba no século XIX, região de

grande concentração de africanos. A inclusão dessa área será realizada a partir de minha

participação no projeto interinstitucional que reúne pesquisadores da UNIRIO, FCRB e UFF,

intitulado “O Vale do Paraíba no século XIX e nas primeiras décadas da República”, coordenado

por Ricardo Salles, e apoiado pelo Pronem-Faperj. Essas três novas frentes de pesquisa ajudarão

a redimensionar o uso das línguas africanas no Rio de Janeiro do século XIX, bem como sua

circulação no mundo atlântico.

Nos últimos anos de pesquisa, para procurar atender à questão enunciada acima, tivemos

como ponto de partida algumas interrogações, com as quais exploramos os anúncios de jornal

relativos a fuga de escravos, como: que relação os escravos mantinham com a língua

portuguesa? Seria possível quantificar ou elaborar séries que indicassem uma boa ou uma fraca

habilidade nessa língua? Como entender as categorias acionadas nas descrições que proprietários

faziam de seus escravos e que seriam compartilhadas pelos demais agentes sociais?5 Tais

questões apontaram para algumas outras, de ordem mais geral: qual o peso da linguagem nas

relações entre senhores e escravos, indagação ainda mais pertinente quando levamos em conta o

refinamento e detalhismo nas representações sobre a fala dos escravos? Que práticas ou

estratégias de comunicação foram utilizadas pelos escravos? Trabalhamos com a hipótese central

4 DIAS, Pedro. Arte da Lingua de Angola. Lisboa: Officina de Miguel Deslandes, 1697. Edição fac-

similar. Rio de Janeiro, Biblioteca Nacional, 2006; PEIXOTO, Antonio da Costa. Obra nova da língua

geral de mina. Lisboa: Agência Geral das Colônias, 1945.

5 Esses resultados estão em vias de serem publicados em artigos de minha autoria. O mais recente é

“Escravos bem falantes e nacionalização linguística no Brasil – uma perspectiva histórica”. Estudos

Históricos, nº 50, Países de Língua Portuguesa, 2012.2, p. 352-369.

4

de que o aprendizado da língua servia à ordem senhorial, por um lado, mas era movido por

lógicas de autonomia e comunidade entre os escravos. Assim, considerando que a linguagem é

um campo onde afloram e se manifestam sentimentos de comunidade e diferença, acionando um

certo jogo entre o que se entende como “nós” e o que se define como “outros”, essas questões

ajudam a refletir sobre a experiência dos africanos e descendentes no Brasil e seus movimentos

de construção e reconstrução de vínculos sociais e identitários.

A comunicação entre os africanos e a identificação das línguas africanas

No encaminhamento da pesquisa até aqui, nosso foco foi deliberadamente a língua

portuguesa no Brasil, ou a língua nacional, em uma formulação conceitual mais pertinente para o

nosso enfoque6. Entretanto já havia sido definida a exploração dos indícios de uso de línguas

maternas e línguas gerais africanas, em formas de comunidade que ocorriam em paralelo à

incorporação à língua corrente. Nos anúncios de jornal, dentre os africanos, coletei informações

sobre as seguintes “nações”: Moçambique (68), Mina (44) Congo (40), Angola (37), Benguela

(35), Cabinda (32), Caçanje (12), Monjolo (12), Rebolo, Libolo ou Rebola (11), Quilimane (10),

Inhambane (7), Ganguela (5), Cabunda (4) e algumas outras. Trata-se apenas de um pequeno

recorte sobre as nações africanas que faziam parte da vida na cidade7. Sabemos também que

essas nações não indicavam exatamente o local de nascimento ou pertencimentos étnicos

originais, e que o conceito de “grupo de procedência”, desenvolvido por Mariza Soares, é

6 Trabalhamos com esse conceito em dois seminários organizados na Fundação Casa de Rui Barbosa –

História Social da Língua Nacional (2008) e o 2º. Seminário História Social da Língua Nacional:

Diáspora Africana (2010) e nos livros correspondentes e no artigo “Por uma história social da língua

nacional: algumas questões teóricas e metodológicas”. Revista do Instituto Histórico e Geographico

Brazileiro. jan-mar 2012, nº 454.

7 O trabalho de Mary Karasch é pioneiro nessa identificação das nações africanas do Rio. Mais

recentemente, Flavio Gomes tornou-se também um referencial nessa dimensão. KARASCH, Mary. Vida

dos escravos no Rio de Janeiro. 1808-1850. Sao Paulo, Companhia das Letras, 2000. GOMES, Flavio et

alli. No labirinto das nações. Africanos e identidades no Rio de Janeiro, século XIX. Rio de Janeiro,

Arquivo Nacional, 2005.

5

bastante pertinente para entendermos essas categorias, o que demonstra o quanto a história da

longa trajetória de cativeiro – sua origem, as rotas do tráfico, a vivência na América – era

significativa para cada um desses africanos.8 Essa é uma perspectiva teórica importante, por

manter sempre em tela que as línguas africanas estavam ali em permanente contato e

concorrência com o português brasileiro nas diversas formas de comunicação entre os habitantes

da cidade e outros contextos.

Constitui um lugar comum na memória social9 e na historiografia apontar a diversidade

de línguas faladas pelos africanos trazidos para o Brasil como um empecilho para sua

comunicação. José Honório Rodrigues, por exemplo, aponta uma política colonial que

estimularia a diversidade de línguas, embora não apresente referências mais específicas para o

que afirma, e nem questione a eficácia dessa política: “Foi política colonial portuguesa variar o

mais que pudesse a composição da gente africana que trazia para o Brasil. Assim evitavam sua

unidade, pela diversidade de língua e os mantinham submissos”.10

Antonio Houaiss, apesar de

atentar para as formas de comunicação travadas pelos africanos, para a convivência de códigos e

para as línguas gerais, também reproduz o tópos da separação, afirmando que a “mistura de

línguas africanas, que as enfraquecia relativamente, começava nos portos e postos negreiros da

África”. E continua: “O fato é que aqui chegados, eram separados, de modo que não ficassem

juntos nem por línguas, nem por etnias, nem mesmo por famílias, a fim de serem quebrados nos

8 SOARES, Mariza de Carvalho. Mina, Angola e Guiné: Nomes d'África no Rio de Janeiro setecentista.

Tempo 3 6 (1998). Idem (org). Rotas atlânticas da diáspora Africana: da Baía do Benim ao Rio de

Janeiro. Niterói, EDUFF, 2007. Idem. From Gbe to Yoruba: Ethnic Change and the Mina Nation in Rio

de Janeiro. In: FALOLA, Toyin e CHILDS, Matt D. (org). The Yoruba Diaspora in the Atlantic World.

Bloomington: Indiana University Press, 2004. 231-247.

9 Por exemplo, em visita guiada a uma fazenda particular na região do Vale do Paraíba, em novembro de

2011, uma apresentação de “descendentes de escravos” começava sua argumentação com essa afirmação.

Essa suposta falta de comunicação teria moldado uma forma de resistência escrava, dando lugar à criação

de uma forma independente de comunicação, o jongo.

10 RODRIGUES, José Honório. A vitória da língua portuguesa no Brasil colonial. Humanidades vol I, n.

4, julho/setembro de 1983, p.29.

6

seus eventuais ímpetos de rebeldia.”11

Houaiss também não apresenta uma referência específica

para essa afirmação.

Para reavaliar a diversidade de língua dos africanos como um empecilho para a

comunicação, alguns questionamentos se impõem. Primeiro, em termos dos projetos: os

diferentes agentes do tráfico, percorrendo toda a gradação de europeus e africanos envolvidos no

processo, de fato levaram em conta determinadas características linguísticas dos povos que eram

alvo das capturas, guerras ou outras formas de abastecimento do tráfico? Havia mesmo uma

política lingüística nos navios? Pode-se localizar uma política colonial em relação a esse tema?12

Não seria essencial evitar generalizações e levar em conta determinadas situações específicas, de

acordo com as origens étnicas dos escravos, as rotas e diferentes fases do tráfico? Segundo, em

termos da eficácia desses projetos: para além da suposta divisão estimulada por autoridades,

traficantes, senhores, teria essa condição levado a uma dificuldade na comunicação entre os

mesmos? Como os diferentes povos e agentes africanos se colocaram diante disso? Como se

dava a intercomunicação entre esses envolvidos e qual o papel dos intérpretes?

Essas questões estão sendo encaminhadas a partir dois eixos, um relacionado ao tráfico e

um segundo eixo relacionado à experiência dos africanos no Brasil, distintos apenas para melhor

operacionalizar a pesquisa. Para melhor articular as práticas de traficantes em relação à língua e

às formas de vivência e comunicação específica entre os diferentes grupos linguísticos, iremos

analisar algumas narrativas produzidas por europeus envolvidos com o tráfico, em distintas

regiões e épocas. Trabalharemos com os relatos de Cadornega13

, Theodor Canot14

, e William

11

HOUAISS, Antonio. O Português no Brasil. Pequena enciclopédia de cultura brasileira. Rio de

Janeiro: Unibrade, 1985, p. 71-72.

12 Sobre ações coloniais para separação de africanos por línguas, ver LARA, Silvia. Linguagem, domínio

senhorial e identidade étnica nas Minas Gerais de meados do século XVIII. In: ALMEIDA, Miguel Valle

de et al. (org). Trânsitos Coloniais. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2002. 205-225. Nesse texto,

Lara se refere a correspondências trocadas entre autoridades colonias e metropolitanas a respeito da

diversidade da escravaria.

13 CADORNEGA, Antonio de Oliveira de. História Geral das Guerras Angolanas 1680. Reprodução fac-

similada da edição de 1940 ed. 3 vols. Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1972.

7

Smith15

. Além desses, a obra de Cannecatim16

, também será pertinente.

Recuperar os usos das línguas africanas no período da escravidão é tarefa complexa,

devido à discrepância entre a dimensão provável que tiveram esses usos e os registros diponíveis

para o historiador. No entanto os dois documentos referidos acima, sobre o quimbundo e sobre o

fon e línguas próximas do grupo gbe, ainda merecem mais atenção pela historiografia. A

consideração dessas duas experiências coloniais pode inclusive gerar novas hipóteses para o

entendimento da intercomunicação no século XIX, tanto no Rio de Janeiro como na região do

Vale do Paraíba e mesmo outras partes do mundo atlântico.

Hipóteses de trabalho

Uma primeira hipótese considera que a relação que africanos e descendentes travaram

com a história da língua nacional foi marcada pelo contato ou concorrência com as línguas

africanas. Nesse sentido, procura-se não apenas o uso de línguas maternas, mas o uso de línguas

gerais africanas.

A questão da diversidade de origens dos africanos será investigada, avaliando-se

possíveis políticas linguísticas de traficantes e escravistas e os desdobramentos ou implicações

dessas políticas para a formação de vínculos de comunidade linguística entre os africanos e

descendentes.

A consideração de contextos específicos – ambiente urbano ou rural, condicionantes do

tráfico e procedência dos africanos, formas de relação com a comunidade escrava precedente —

constituirá também uma hipótese pertinente para evitar generalizações e imprecisões.`

Objetivos gerais

14

MAYER, Brantz, e CANOT, Theodore. Captain Canot, or Twenty Years of an African Slaver. 2007.

Project Gutemberg. 05/12/2011 <http://www.gutenberg.org/files/23034/23034-h/23034-h.htm>.

15 SMITH, William. New Voyage to Guinea. London, s/ed., 1745

16 CANNECATIM, Bernardo Maria de. Diccionario da lingua bunda ou angolense, explicada na

portuguesa e latina. Lisboa: Impressão Régia, 1804.

8

• Contribuir para a inclusão, no campo dos estudos históricos, e especialmente da história

social da cultura, da temática da língua, até aqui pouco focalizada pela historiografia brasileira

recente.

• Estimular a interdisciplinaridade entre a história e áreas relacionadas à linguística,

sociolinguística e história das ideias linguísticas.

• Aprofundar o exame das interconexões entre África e Américas na formação do mundo

atlântico.

Objetivos específicos

• Direcionar a pesquisa para os indícios sobre a circulação das línguas africanas no Brasil e no

mundo atlântico para investigar as formas de comunidade linguística construídas por africanos e

descendentes e outros grupos étnicos e sociais no Brasil

• Dar continuidade e complementar os objetivos específicos anteriores: explorar a relação

entre a formação de uma língua nacional no Império e a sociedade escravista; mapear os

mecanismos e procedimentos para incorporar os escravos e africanos à língua portuguesa;

investigar as estratégias de escravos, crioulos e africanos, diante da situação da língua senhorial;

analisar como dirigentes, escritores, publicistas do período aproximado entre 1820-1870

entenderam as formas de comunicação travadas entre escravos e africanos.

Plano de trabalho 1 - Mundo atlântico e comunidades africanas no Brasil 1. A Arte da Língua

de Angola e o quimbundo no Brasil.

Bolsista de Iniciação Científica (Renovação da Bolsa)

A arte da língua de Angola é a primeira gramática de quimbundo conhecida e foi

publicada pelo jesuíta Pedro Dias em 1697. A obra foi elaborada a partir da vicência do padre em

Salvador, e visava instruir os irmãos da Companhia de Jesus no Brasil para auxiliar a catequese

dos africanos. Serafim Leite dá informações biográficas sobre Pedro Dias que devem ser

9

relevantes para entender sua experiência na cidade de Salvador e o circuito no mundo atlântico17

.

O uso do quimbundo no Brasil merece ainda ser sistematizado a partir de outras referências

ainda dispersas, sendo algumas mais consistentes e outras mais vagas18

. O interessante do

quimbundo é que tratou-se de uma língua geral, isto é, falada não apenas por aqueles que o

tinham como língua materna, mas por falantes de outras línguas que o utilizaram para a

intercomunicação. O estudo do linguista Emilio Bonvini mostra como o quimbundo seria usado

pelos jesuítas inclusive para a catequese de africanos de outras origens e que essa língua seria

corrente não só em Salvador mas também no Rio de Janeiro e outras regiões.

Trata-se aqui de renovação da bolsa já em curso. O plano de trabalho a ser iniciado em

agosto de 2013 irá se dedicar à análise da obra propriamente dita, em termos de seu formato,

circulação e alcance. Para realizar esse objetivo o bolsista irá trabalhar também com obras

recentes destinadas à análise linguística da gramática.

Outro objetivo do plano de trabalho será operar a sistematização das informações sobre o

quimbundo no Brasil, deixando o foco específico no período colonial para acumular reflexões

que permitam dimensionar a importância da circulação dessa língua na história dos africanos no

Brasil como parte do mundo atlântico.

Plano de trabalho 2 –– Mundo atlântico e comunidades africanas no Brasil 2. O contexto

histórico do surgimento da língua geral de mina no século XVIII

Bolsista de Iniciação Científica. Bolsa nova. Seleção 2013. Graduando em História

17

LEITE, Serafim. Padre Pedro Dias, autor da Arte da Lingua de Angola, apóstolo dos negros no Brasil.

Portugal em África n. 4, v. 2, p. 9-11, 1947. LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil.

Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1938.

18 MENDONÇA, Renato. A influência africana no português do Brasil - prefácio de Rodolfo Garcia.

Vol. col. Brasiliana vol. 46. São Paulo: Cia. Ed. Nacional. 1935, 2ª ed. RODRIGUES, José Honório. A

vitória da língua portuguesa no Brasil colonial. Humanidades vol I, n. 4, julho/setembro de 1983, p.21-41

(1983). RODRIGUES, Nina. Os africanos no Brasil. 5ª ed ed. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1977.

CASTRO, Yeda Pessoa de. Falares africanos na Bahia (um vocabulario afro-brasileiro). Rio de Janeiro:

Academia Brasileira de Letras / Topbooks, 2001.

10

Se a importância do quimbundo merece ser retomada pela história social, o mesmo

desafio se coloca para a língua geral de mina. Ainda que nesse caso existam trabalhos

importantes no campo da historiografia, como o de Silvia Lara que se concentra especificamente

na questão da linguagem a partir da obra de Costa Peixoto elaborada em em Ouro Preto na

primeiras décadas do século XVIII, e referências mais pontuais em Mariza Soares, que se dedica

ao estudo das irmandades de africanos no Rio no mesmo período. Apesar de ambas citarem o

estudo de Yeda Pessoa de Castro, na área de linguística, tais trabalhos merecem agora uma

sistematização a partir de uma releitura do original. A obra é um manual de conversação e

vocabulário da “língua geral de mina”. Os diálogos e vocábulos, indicados primeiro na língua

geral e traduzidos em português, são listados continuamente, sem divisão clara, mas onde

podemos perceber certos temas (corpo, vestimentas, utensílios, comidas, animais de criação,

atividades ligadas ao trabalho, etc.) e seguidos de algumas expressões e diálogos referentes a

cenas cotidianas, mas também expressando a forte tensão e o conflito que marcaram a relação

entre escravos e senhores na região mineradora do século XVIII.

O plano de trabalho específico a ser desenvolvido entre agosto de 2013 e julho de 2014

diz respeito ao contexto de surgimento dessa língua geral de mina no século XVIII. O bolsista

trabalhará sistematizando dados do tráfico, informações sobre as rotas, e referências culturais dos

povos envolvidos, a partir da historiografia disponível. Para isso, o bolsista iniciaria com uma

série de leituras sobre a formação do mundo atlântico, e em seguida se dedicaria às referências

bibliográficas já disponíveis sobre a relação específica com a Costa da Mina.

Plano de trabalho 3 – Mundo atlântico e comunidades africanas no Brasil 3. CANNECATIM e o

Diccionario da lingua bunda ou angolense. (1804). Bolsa nova. Seleção 2013.

Bolsista graduado. Área de História ou Letras e Linguística. Preferencialmente com experiência

prévia em história da África.

A investigação sobre a diversidade de línguas africanas e a formação de comunidades no mundo

atlântico, inclui um eixo de pesquisa relacionado ao tráfico e ao exame de determinados contextos

11

africanos. Selecionamos algumas narrativas produzidas por europeus direta ou indiretamente

vinculados ao tráfico, em distintas regiões e épocas. Dentre essas obras, algumas já em vias de serem

analisadas no desenvolvimento do projeto, selecionamos a análise da obra de Cannecatim19

como foco

do plano de trabalho do bolsista graduado que integrará a equipe. A análise preliminar do discurso do

missionário capuchinho de origem italiana, que no início do século XIX produziu uma gramática e um

dicionário de quimbundo, então chamado língua “bunda” indica uma mudança de paradigma na

questão da comunicação desde as primeiras ações portuguesas na região de Angola. Nos primeiros

séculos podemos afirmar, de forma geral, que os intérpretes e intemediários africanos foram as figuras

chaves das relações travadas com os europeus. Como mostraram diferentes estudos, a lógica e o

interesse europeus não se construíram sem articular-se a lógicas e interesses africanos20

. Já no século

XIX, os próprios portugueses deveriam se preocupar em assumir o domínio da língua, para o que

Cannecattim pretendia contribuir. Tendo vivido vinte anos no “Reino de Angola”, ele justifica a

utilidade do dicionário pela dependência da religião por uma “Linguagem que seja entendida do

Pastor, e do rebanho”, e critica o clero que desconhece a língua bunda, bem como a ausência de

“mestre ou livro” para aprendê-la. O perigo disso seria “(...) sujeitarem-se precisamente ao uso dos

intérpretes, pelos quais se persuadem entenderem, e serem entendidos do Povo”. Afinal,

Os intérpretes são Negros do País, gente bruta, que ignora da sua própria Língua

uma grande parte, e que da Portuguesa apenas sabe os termos mais vulgares, e

usuais. Por estes homens, ou por estes brutos, se há de anunciar ao Povo a Doutrina

da salvação nos seus Dogmas, e na sua Moral; mas sucede, frequentemente, que

uns tais intérpretes, ou não percebem a força, e o verdadeiro espírito das palavras

Portuguesas, ou não sabem achar, e escolher na sua Língua termos, que

19

CANNECATIM, Bernardo Maria de. Diccionario da lingua bunda ou angolense, explicada na

portuguesa e latina. Lisboa: Impressão Régia, 1804. 20

Alencastro, Luiz Felipe. O trato dos viventes. São Paulo: Companhia das Letras, 2000; Rodrigues,

Jaime. De costa a costa. Escravos, marinheiros e intermediários do tráfico negreiro de Angola ao Rio de

Janeiro (1780-1860). São Paulo: Companhia das Letras, 2005; Thornton, John. A África e os africanos

na formação do mundo atlântico. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

12

propriamente lhes correspondam, de que pode resultar o ensinar erros substanciais,

assim a respeito do que devemos crer como do que devemos obrar21

.

Além da mudança de política que a obra de Cannecattim parece representar, relativa à eficácia da

presença portuguesa na região, o missionário traça um quadro da extensão em que a língua é falada,

utilizando o conceito de língua geral22

, justificado pela “extensão vastíssima de países” onde seria

corrente e pela possibilidade de intercompreensão com outras línguas que menciona. A análise mais

cuidadosa desse contexto sugere a percepção de inflexões históricas importantes – de um período em

que os intérpretes são personagens essenciais para o tráfico a um período em que os próprios

portugueses procuram constituir uma determinada ordem em Angola que os obrigaria a conhecer e

dominar a língua local.

Ao bolsista caberá analisar a obra em questão, incorporando a produção historiográfica

pertinente, de forma a contribuir para a compreensão da formação de comunidades linguísticas no

mundo atlântico. O bolsista irá compor a equipe composta pela coordenadora do projeto e por dois

bolsistas de inciação científica. Serão realizadas reuniões quinzenais para discussão da bibliografia e

do material recolhido. O mesmo deverá ser incorporado às atividades do Setor de História e do Centro

de Pesquisa, participando de suas reuniões e seminários. Além dos relatórios semestrais a serem

elaborados, espera-se que o bolsista participe de ao menos de um seminário externo (como por

exemplo o encontro regional da Anpuh) e que elabore um artigo científico ao final da pesquisa.

Referências documentais e bibliográficas

Dicionários, gramáticas, instrumentos de pesquisa e obras de referência

BALBI, Adrien. Atlas Ethnographique du Globe, ou Classification des peuples anciens et modernes

d'après leur langue. Paris, Renouard, 1826.

BEAUREPAIRE-ROHAN, Henrique. Dicionário de vocábulos brasileiros. Rio de Janeiro, Imprensa

21

CANNECATTIM, p. ii

22 CANNECATTIM p. ix

13

Nacional, 1889.

BONVINI, Emilio; BUSUTTIL, Joëlle. Dictionnaire des langues. Paris, PUF, 2011.

BLUTEAU, Raphael. Vocabulário Português e Latino. Lisboa, Oficina de Pascoal da Silva, 1716.

CANNECATIM, Bernardo Maria de. Diccionario da lingua bunda ou angolense, explicada na portuguesa e

latina. Lisboa: Impressão Régia, 1804.

CASTRO, Yeda Pessoa de. Falares africanos na Bahia (um vocabulario afro-brasileiro). Rio de Janeiro,

Academia Brasileira de Letras / Topbooks, 2001.

CASTRO, Yeda Pessoa de. A língua mina-jeje no Brasil: um falar africano em Ouro Preto do século

XVIII. Belo Horizonte, Fundação João Pinheiro, 2002.

DIAS, Pedro. Arte da Lingua de Angola. Lisboa: Officina de Miguel Deslandes, 1697. Edição fac-similar.

Rio de Janeiro, Biblioteca Nacional, 2006

LEWIS, Paul. E. (ed.) Ethnologue. Languages of the World. Dallas, SIL, 2006, 16a. edição.

Ethnologue.org (versão online)

PEIXOTO, Antonio da Costa. Obra nova da língua geral de mina. Lisboa: Agência Geral das Colônias,

1945.

IHGB.Dicionário histórico geográfico e etnográfico do Brasil. Rio de Janeiro, 1922.

PINTO, Edith Pimentel. O português do Brasil: textos críticos e teóricos, 1 — 1820-1920, fontes para a

teoria e a história. São Paulo/Rio de Janeiro, EDUSP/Livros técnicos e científicos, 1978.

RIBEIRO, João. O elemento negro Rio de Janeiro, Record, s/d.

RUBIM, Brás da Costa. Vocabulário brasileiro para servir de complemento aos dicionários da língua

portuguesa. Rio de Janeiro, Tipografia Dois de Dezembro, 1853.

SILVA, ANTONIO MORAIS E. Dicionário da Língua Portuguesa Recopilado. Lisboa, Typographia

Lacerdina, 1813.

SILVA, Inocêncio Francisco da. Dicionário Bibliográfico Português. Lisboa, Imprensa Nacional, 1860.

SOARES, Antônio Joaquim de Macedo. Dicionário Brasileiro da língua portuguesa. Rio de Janeiro,

Biblioteca Nacional/Leuzinger, 1889.

VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil Colonial. Rio de Janeiro, Objetiva, 2000.

VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro, Objetiva, 2002.

Obras literárias, viajantes, memorialistas e publicistas

CADORNEGA, Antonio de Oliveira de. História Geral das Guerras Angolanas 1680. Reprodução fac-

similada da edição de 1940 ed. 3 vols. Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1972.

DEBRET, Jean Baptiste. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. São Paulo, Martins, 1940.

HAMPÂTÉ BÂ, Amadou. Amkoullel, o menino fula. São Paulo, Palas Athena e Casa das Áfricas, 2003.

MAYER, Brantz, e CANOT, Theodore. Captain Canot, or Twenty Years of an African Slaver. 2007. Project

Gutemberg. 05/12/2011 <http://www.gutenberg.org/files/23034/23034-h/23034-h.htm>.

RUGENDAS, J. Maurício. Viagem pitoresca através do Brasil. São Paulo, Livraria Martins Editora,

1967.

14

SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Belo

Horizonte, Itatiaia, 1975.

SCHLICHTORST, C. O Rio de Janeiro como é 1824-1826. Rio de Janeiro, 1943.

SMITH, William. New Voyage to Guinea. London, s/ed., 1745

TOUSSAINT-SAMSON, Adele. Uma parisiense do Brasil. Rio de Janeiro, Capivara, 2003.

Legislação e relatórios oficiais

LARA, Silvia Hunold. Legislaçao sobre escravos africanos na America Portuguesa. In: Taveira,

Fundacion Historica (org). José Andrés-Gallego (coord.), Nuevas Aportaciones a la Historia Jurídica

de Iberoamérica, Colección Proyectos Históricos Tavera, Madrid, 2000. Madrid, 2000.

Relatórios ministeriais – pastas do Império e da Justiça

Relatórios de presidentes da província do Rio de Janeiro

Coleção das Leis do Império do Brasil

AMARAL, A. F. e SILVA, E. S. Consolidação das leis e posturas municipais (Rio de Janeiro). Rio de

Janeiro, Paula Souza, 1905.

VIDAL, Luiz Maria. Indice Alfabético; ou Repertório geral da legislação servil em vigor e publicada

até o presente no próprio texto de suas disposições ... Rio de Janeiro, 1876.

Obras Gerais

ABREU, Marcos. Ladinos e boçais: o regime de línguas do contrabando de africanos (1831-c.1850). Unicamp,

Dissertação de Mestrado em História, 2012

ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo,

Companhia das Letras, 2000.

ALKMIM, Tania (org.) Para a história do português brasileiro. São Paulo, Humanitas, 2002, 3 vols.

BONVINI, Emilio. Línguas africanas e português falado no Brasil. In: FIORIN, Jose Luis e PETTER,

Margarida (org). África no Brasil: a formação da língua portuguesa. São Paulo: Contexto, 2008.

CALVET, Louis-Jean. As políticas linguísticas. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

CANUT, Cécile. À la frontière des langues. Figures de la démarcation. Cahiers d'Etudes Africaines 163-164

(2001): 443-464

CARDOSO, Suzana et al. Quinhentos anos de história linguística do Brasil. Salvador, Secretaria da Cultura e

Turismo, 2006.

CARVALHO, Marcus. Liberdade, rotinas e rupturas do escravismo. Recife, UFPE, 1998.

CASTRO, Yeda Pessoa de. Falares africanos na Bahia (um vocabulario afro-brasileiro). Rio de Janeiro:

Academia Brasileira de Letras / Topbooks, 2001.

CERTEAU, Michel de et alli. Une politique de la langue – La Révolution Française et les patois: L’enquête de

Gregoire. Paris, Gallimard, 1975.

CURTO, Diogo Ramada. Cultura imperial e projetos coloniais (século XV a XVIII). Campinas: Editora da Unicamp,

15

2009.

CURTO, José C. e LOVEJOY, Paul (org). Enslaving Connections: Changing Cultures of Africa and Brazil

during the Era of Slavery. Amherst NY: Prometheus/Humanity Books, 2003.

ELLIS, Alfred B. The Yoruba-Speaking Peoples of the Slave Coast of West Africa. Their religion, manners, customs,

laws, language, etc. With an appendix containing a comparison of the Thsi, Gã, Ewe, and Yoruba Languages.

Chicago: Benin Press, 1964.

FABIAN, Johannes. Language and Colonial Power: The Appropriation of Swahili in the Former Belgian

Congo 1880-1938. Berkeley, University of California Press, 1986.

FALOLA, Toyin, e CHILDS, Matt D. The Yoruba Diaspora in the Atlantic World. Bloomington: Indiana University

Press, 2004.

FERREIRA, Roquinaldo. Cross-Cultural Exchange in the Atlantic World. Cambridge: Cambridge University Press,

2012.

FLORENTINO, M. Em costas negras. Uma história do tráfico atlântico de escravos entre a África e o Rio de

Janeiro (séculos XVIII e XIX). Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, 1995.

FREIRE, José Bessa. Rio Babel: a história das línguas na Amazônia. Rio de Janeiro: Eduerj/Atlântica, 2004.

FRY, Peter e VOGT, Arno. Cafundó, a África no Brasil - língua e sociedade. Campinas/São Paulo,

Unicamp/Companhia das Letras, 1996.

GALVES, Charlotte et al (org) África-Brasil: caminhos da língua portuguesa. Campinas, Editora UNICAMP,

2009.

GOMES, Flavio dos Santos e REIS, João José. Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil. São

Paulo, Companhia das Letras, 1996.

GOMES, Flavio et alli. No labirinto das nações. Africanos e identidades no Rio de Janeiro, século XIX. Rio de

Janeiro, Arquivo Nacional, 2005.

GONÇALVES, Perpétua. e SITOE, B. Mudança linguística em situação de contato de línguas:o caso do

changana e do português. Travessias. n. 1. 1999.

GUISAN, Pierre. Língua: a ambiguidade do conceito. In: Barreto, Monica Maria G. Saavedra e Salgado, Ana Claudia

Peters (org). Sociolinguística no Brasil: uma contribuição dos estudos sobre línguas em/de contato. Homenagem ao

professor Jürgen Heye. Rio de Janeiro: 7 Letras/Faperj, 2009, p 17-27.

GUY, Gregory R. Muitas linguas. The linguistic impact of Africans in colonial Brazil. In: CURTO, Jose C. e

LOVEJOY, Paul (org). Enslaving Connections: Changing Cultures of Africa and Brazil during the Era of Slavery.

Amherst NY: Humanity Books, 2003.

HAMPATÊ BÂ, Amadou. Amkoullel, o menino fula. São Paulo, Palas Athena, 2003

HEIN, Jeanne. Portuguese communication with Africans on the Sea route to India. Terrae Incognitae. 25. 1993.

41-51.

HERSKOVITS, M. The myth of the negro past. Boston, Beacon Press, 1958 (1941).

HOUAISS, Antonio. O português no Brasil. Rio de Janeiro, Unibrade, 1985.

KARASCH, Mary. Vida dos escravos no Rio de Janeiro. 1808-1850. Sao Paulo, Companhia das Letras, 2000.

KLEIN, Herbert. S. Atlantic Slave Trade. Cambridge, Cambridge University Press, 1999.

KLUGE, Angela. The Gbe Language Continuum of West Africa: A Synchronic Typological Approach to

16

Prioritizing In-depth Sociolinguistic Research on Literature Extensibility. Language, Documentation &

Conservation 1 2 (2007): 182-215.

LARA, Sílvia. Linguagem, Domínio Senhorial e Identidade Étnica nas Minas Gerais de Meados do Século

XVIII. In: ALMEIDA, M. V.(org.). Trânsitos Coloniais. Lisboa, ICS, 2002.

LARA, Silvia (org.) Memórias do Jongo. Rio de Janeiro, Folha Seca, 2008.

LEE, Kittiya. Conversing in Colony. The Brasilica and the Vulgar in Portuguese America. Johns Hopkins University,

2005.

LEITE, Serafim. Padre Pedro Dias, autor da Arte da Lingua de Angola, apóstolo dos negros no Brasil. Portugal em

África n. 4, v. 2, p. 9-11, 1947.

LEVINE, Lawrence. African culture and slavery in the United States IN: HARRIS, Joseph Harris (org.) Global

dimensions of the African Diaspora. Washington, Howard Universty, Second Edtion, 1993

LIMA, Ivana Stolze e CARMO, Laura do (org). História social da língua nacional. Rio de Janeiro, Edições

Casa de Rui Barbosa, 2008.

LIMA, Ivana Stolze e CARMO, Laura do (org). História social da língua nacional 2: diáspora africana. Rio de

Janeiro, Edições Casa de Rui Barbosa. No prelo, previsão 2012.2.

LIMA, Ivana Stolze Entre a língua nacional e a fala caçanje. Representações sociais sobre a língua no Rio de

Janeiro Imperial. In: OLIVEIRA, Cecilia Salles (org.). De um império a outro. Estudos sobre a formação do

Brasil, séculos XVIII e XIX. São Paulo, HUCITEC, 2007, p.63-99

LIMA, Ivana Stolze Língua nacional, histórias de um velho surrão. In: LIMA, I. S. e CARMO, L.(org.).

História social da língua nacional. Rio de Janeiro, Edições Casa de Rui Barbosa, 2008b.

LIMA, Ivana Stolze. A Língua Brasileira e os Sentidos de Mestiçagem e Nacionalidade no Império do Brasil.

Topoi - Revista de História. 4. 2003b. 334-356.

LIMA, Ivana Stolze. Cores, marcas e falas - sentidos de mestiçagem no Império do Brasil. Rio de Janeiro,

Arquivo Nacional, 2003.

LIPSKI, John. Afro-Portuguese pidgin, separating innovation from imitation. Annual meeting of AATSP. August 1994

1994.

LIPSKI, John. Angola e Brasil. Vínculos linguísticos Afro-lusitanos. Veredas (Porto Alegre) 9 (2008): 83-98;

LOPES, David. Expansão da língua portuguesa no oriente. Lisboa, Portucalense, 1936.

LOVEJOY, Paul. Transformation in Slavery. Nova York, 1983.

LUCCHESI, Dante. Africanos, crioulos e a língua portuguesa no Brasil. In: LIMA, I. S. e CARMO, L.(org.).

História social da língua nacional. Rio de Janeiro, Edições Casa de Rui Barbosa, 2008.

MAMIGONIAN, Beatriz, e REIS, João Jose. Nagô and Mina: The Yoruba Diaspora in Brazil. In: FALOLA, Toyin e

CHILDS, Matt D. (org). The Yoruba Diaspora in the Atlantic World. Bloomington: Indiana University Press, 2004.

77-110.

MANN, Kristin Mann e BAY, Edna(org), Rethinking the African Diaspora: The Making of a Black Atlantic

World in the Bight of Benin and Brazil (London: Frank Cass, 2001)

MARIANI, Bethania. Colonização Linguística. Campinas, Pontes, 2004.

MCWHORTER, John (org.). Language change and language contact in Pidgins and Creoles. Philadelphia,

John Benjamins Publishing Company, 2000.

17

MELLO, Heliana RIbeiro de. "The Genesis and Develpment of Brazilian Vernacular Portuguese." The City University

of New York, 1996.

MENDONÇA, Renato. A influência africana no português do Brasil - prefácio de Rodolfo Garcia. Vol. col.

Brasiliana vol. 46. São Paulo: Cia. Ed. Nacional. 1935, 2ª ed.

MILLER, Joseph. Slavery and slaving in world history: a bibliography, N.Y, Armonk, 1999.

MINTZ, S. PRICE, R. O nascimento da cultura afro-americana. Rio de Janeiro, Pallas, 2003.

MUFWENE, S. Ideology and facts on African-American English. Pragmatics 2. 1992. 141-66

NARO, Nancy et al. (org). Cultures of the lusophone black atlantic. New York, Palgrave, 2007.

PETTER, Margarida eJosé Luís FIORIN. África no Brasil: a formação da língua portuguesa. Sao Paulo,

Contexto, 2008.

REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil. A história do levante dos malês em 1835. São Paulo, Companhia

das Letras, 2003. Edição revista e ampliada.

RODRIGUES, Aryon. "Obra Nova da Lingua Geral de Mina": a língua ewe nas Minas Gerais. Papia 13 (2003): 92-96.

RODRIGUES, Jaime. De costa a costa. São Paulo, Companhia das Letras, 2005.

RODRIGUES, José Honório. A vitória da língua portuguesa no Brasil colonial. Humanidades vol I, n. 4,

julho/setembro de 1983, p.21-41 (1983).

RODRIGUES, Nina. Os africanos no Brasil. 5ª ed ed. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1977.

RUSSELL-WOOD, A. J., A world on the move: the Portuguese in Africa, Asia and America, 1415-1808.

Manchester, Carcanet, 1992.

SALLES, Ricardo. E o Vale era o escravo. Vassouras, século XIX. Senhores e escravos no Coração

do Império. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

SILVA NETO, S. História da língua portuguesa. Rio de Janeiro, Livros de Portugal, 1952.

SILVA, R. Virgínia M. Ensaios para uma sócio-história do português brasileiro. São Paulo, Parábola Editorial,

2004.

SILVA, Rosa Virgínia Mattos e, ed. Para a história do português brasileiro. Vol. 2 vols. São Paulo:

Humanitas/FFLCH/USP/Fapesp, 2001.

SLENES, Robert. “Eu venho de muito longe, eu venho cavando”: jongueiros cumba na senzala centro-africana.

In: LARA, Silvia, e PACHECO, Gustavo, org. Memória do jongo: as gravações históricas de Stanley J. Stein.

Vassouras, 1949. Rio de Janeiro/Campinas: Folha Seca/Cecult, 2007.

Idem. A Arvore de Nsanda transplantada: cultos kongo de afliçao e identidade escrava no sudeste brasileiro

(seculo XIX). In: LIBBY, Douglas Cole e FURTADO, Junia Ferreira (org). Trabalho livre, trabalho escravo:

Brasil e Europa, séculos XVIII e XIX. São Paulo: Annablume, 2006

Idem. Malungu, ngoma vem! África coberta e descoberta no Brasil. Revista USP 12 (1992);

SOARES, Mariza de Carvalho (org). Rotas atlânticas da diáspora Africana: da Baía do Benim ao Rio de

Janeiro. Niterói, EDUFF, 2007.

Idem.. From Gbe to Yoruba: Ethnic Change and the Mina Nation in Rio de Janeiro. In: FALOLA, Toyin e CHILDS,

Matt D. (org). The Yoruba Diaspora in the Atlantic World. Bloomington: Indiana University Press, 2004. 231-247.

Idem. Mina, Angola e Guiné: Nomes d'África no Rio de Janeiro setecentista. Tempo 3 6 (1998).

SOGBOSSI, Hippolyte Brice. La tradición Ewé-Fon en Cuba. Havana: Fundación Fernando Ortiz, 1998.

18

Idem. Mina-Jeje em São Luís do Maranhão, Brasil. Contribuição ao estudo de uma tradição daomeana. Rio de Janeiro:

Dissertação de Mestrado PPGAS UFRJ, 1999.

TEYSSIER, Paul. História da língua portuguesa. São Paulo, Martins Fontes, 1997.

THOMAZ, Omar Ribeiro. Ecos do Atlântico Sul. Rio de Janeiro, Ed. UFRJ, 2002.

THORNTON, J. A África e os africanos na formação do mundo atlântico. Rio de Janeiro, Campus. 2004.

VIEIRA-MARTINEZ, Carolyn. Building Kimbundu: language community reconsidered in west central Africa, c. 1500-

1750. University of California, 2006.

WISSENBACH, C. Sonhos africanos, vivências ladinas. Escravos e forros em São Paulo. São Paulo,

HUCITEC/USP, 1998.