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Rua dos Ferreiros, 165 9004-520 – Funchal Telef (+351291)214970 Fax (+351291)223002 Email: [email protected] [email protected] http://www.madeira-edu.pt/ceha/ LAS ISLAS Y EL MUNDO ATLANTICO. 1580-1648 ALBERTO VIEIRA COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO: Vieira, Alberto, Las islas y el mundo Atlântico.1580-1640, online, Funchal, CEHA, disponível em: http://www.madeira-edu.pt/Portals/31/CEHA/aieira/islasatlantico.pdf, data da visita: / / RECOMENDAÇÕES O utilizador pode usar os livros digitais aqui apresentados como fonte das suas próprias obras, usando a norma de referência acima apresentada, assumindo as responsabilidades inerentes ao rigoroso respeito pelas normas do Direito de Autor. O utilizador obriga-se, ainda, a cumprir escrupulosamente a legislação aplicável, nomeadamente, em matéria de criminalidade informática, de direitos de propriedade intelectual e de direitos de propriedade industrial, sendo exclusivamente responsável pela infracção aos comandos aplicáveis.

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Rua dos Ferreiros, 1659004-520 – FunchalTelef (+351291)214970Fax (+351291)223002

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LAS ISLAS Y EL MUNDOATLANTICO. 1580-1648

ALBERTO VIEIRA

COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO:

Vieira, Alberto, Las islas y el mundo Atlântico.1580-1640, online, Funchal, CEHA, disponível em:http://www.madeira-edu.pt/Portals/31/CEHA/aieira/islasatlantico.pdf, data da visita: / /

RECOMENDAÇÕESO utilizador pode usar os livros digitais aqui apresentados como fonte das suas próprias

obras, usando a norma de referência acima apresentada, assumindo asresponsabilidades inerentes ao rigoroso respeito pelas normas do Direito de Autor. O

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LAS ISLAS Y EL MUNDO ATLANTICO. 1580-1648

ALBERTO VIEIRA

INTRODUÇÃO

O período que medeia entre os finais do século XVI e a primeira metade da centúriaseguinte é o momento decisivo da História das ilhas e do Atlântico. As questõespolíticas sobressaem às demais e anunciam uma globalização dos problemas. Oprincipal palco é o Atlântico que tem como pilares fundamentais as ilhas. Subjacenteaos conflitos está o afrontamento ao mar ibérico, construído à custa de pactos e bulaspapais desde o século XV. O oceano da segunda metade do século XVI era já um maraberto. Os conflitos europeus que irradiaram ao espaço oceânico contribuíram para oreconhecimento definitivo da sua total abertura aos diversos intervenientes europeus.

A instabilidade daqui resultante, expressa em batalhas navais, assaltos de corsáriosreflectiu-se de forma evidente no quotidiano das gentes insulares. E isto torna-se de talmodo evidente quando as respostas tardavam ou não satisfaziam os seus objtivosfundamentais de protecção das populações e bens. A insegurança permanente obrigou auma aposta na organização das milícias, de novos planos de fortificação, doartilhamento das embarcações comerciais e da criação das armadas de protecção. Esteavolumar de preocupações e de busca imediata de soluções pesou na opção por umpoder forte. Filipe II apostou na sua centralização nas ilhas, certamente a pensar naeficácia face às grandes questões, acabando com alguns dos poderes tradicionais. Nocaso das ilhas portuguesas foi o golpe mortal à despótica afirmação dos capitãesdonatários. A represália pela falta de lealdade de alguns capitães foi o início da quebrapaulatina de influência desta estrutura senhorial.

Estamos perante um momento de viragem na História das ilhas e do Atlântico. Assim, apar das mudanças políticas, ganharam forma outras de âmbito económico quesedimentaram o protagonismo do mundo insular. Assim é de assinalar no períodoconsequente à Restauração o reforço da aliança portuguesa com os ingleses e a posiçãoconcorrencial entre o vinho da Madeira e o de Canárias está na origem da mudança. Aafirmação do mundo colonial britânico a partir do século XVII foi também favorável aesta viragem fazendo com que as ilhas firmassem a forte vinculação ao Novo Mundo.

1. O DOMÍNIO DOS MARES E A POLÍTICA ATLÂNTICA

O século XV marca o início da afirmação do Atlântico, o novo espaço oceânicorevelado pelas gentes peninsulares. O mar, que até meados do século XIV se mantiveraalheio à vida do mundo europeu, atraiu as atenções e em pouco tempo veio substituir omercado e via mediterrânicos. A abertura foi no início geradora de conflitos com adisputa pela posse das Canárias, que se alargou, depois, ao próprio domínio do maroceânico. Portugueses e castelhanos entraram em aceso confronto, servindo o papado deárbitro na partilha. Os franceses, ingleses e holandeses que, num primeiro momento,foram apenas espectadores atentos, entraram também na disputa a reivindicar um mare

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liberum (isto é, o mar livre, aberto) e o usufruto das novas rotas e mercados. O Atlânticonão foi apenas o mercado e via comercial, por excelência, da Europa, mas também umdos palcos principais em que se desenrolaram os conflitos que definiram as opçõespolíticas das coroas europeias, expressas por meio da guerra de corso.

É esta contenda político-económica, que o oceano gerou, o tema que prenderá agora anossa atenção. Aqui faremos um breve sumário das questões, pondo em evidência asque se tornam imprescindíveis para a compreensão do protagonismo dos espaçosinsulares. Na realidade, as ilhas foram os principais pilares da estratégia de domínio dooceano e, por isso mesmo, todas as iniciativas neste âmbito repercutiram-se de modoevidente nelas.

Quando os portugueses se lançaram, no século XV, à exploração do oceanoencontraram, à partida, um primeiro obstáculo. As Canárias, que tão necessárias seapresentavam para o controlo exclusivo do oceano, estavam já a ser conquistadas porJean Betencourt, um navegador francês, financiado pelos mercadores de Sevilha. Estafoi a primeira dificuldade, que causou inúmeros problemas à plena afirmação do mareclausum lusitano. Em face disso a única possibilidade era tomar posse de uma das ilhaspor conquistar (La Gomera, por exemplo) e avançar com o povoamento da Madeira, quepoderia funcionar como área suplementar no apoio ao avanço das viagens para o Sul.Seguiram-se outras dificuldades de importância igual que entravaram o progresso dasviagens para Sul. A procura de uma rota de regresso da costa africana além do Bojador,preocupou os marinheiros e entravou a progresso das viagens para Sul. A volta pelolargo com a passagem pelos Açores foi a solução mais indicada mas tardou em serdescoberta.

Aos poucos o "mare clausum" transformou-se no "mare liberum" partilhado por todos.Se é certo que a disputa peninsular pelo domínio dos mares ficou solucionada o mesmojá não poderá ser dito quanto à cobiça e empenho de outras coroas europeias. De Françaquestionou-se mesmo a partilha peninsular, solicitando-se o texto do testamento deAdão onde isto estava estabelecido. Perante isto restava aos que havia ficado de fora dapartilha o recurso à guerra de corso. O corso foi a resposta dada pelos excluídos e aodomínio ibérico dos mares.

Aos demais povos europeus, habituados desde muito cedo às lides do mar, só lhesrestava uma reduzida franja do Atlântico, a norte, e o Mediterrâneo. Mas tudo isto seriaverdade se fosse atribuída força de lei internacional às bulas papais, o que na realidadenão sucedia. O cisma do Ocidente, por um lado, e a desvinculação de algumascomunidades da alçada papal, por outro, retiraram aos actos jurídicos a medievalplenitude "potestatis". Deste modo em oposição a tal doutrina definidora do mareclausum antepõe-se a do mare liberum, que teve em Grócio o principal teorizador. Aúltima visão da realidade oceânica norteou a intervenção de franceses, holandeses eingleses neste espaço. Os ingleses iniciaram em 1497 as incursões sucessivas no oceano,enquanto os huguenotes de La Rochelle se afirmaram como o terror dos mares, primeirocom o intento de assalto a Gran Canaria e Tenerife em 1556, depois com o concretizadoem 1566 à cidade do Funchal. Os franceses estiveram activos por toda a década decinquenta e depois de um período de curta acalmia (1559-69) os ataques voltaram arecrudescer desde 1579, atingindo o auge na década de oitenta. Na Madeira contaramcom a pronta resposta de Tristão Vaz da Veiga1.

1 . Cf. Saudades da Terra, caps. XXVII

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O corso foi a principal arma de combate ao exclusivismo do atlântico peninsular queganhou maior adesão dos estados europeus no século XVI. Daqui resultou que a partirde princípios da centúria o perigo principal para as caravelas não estava nas condiçõesgeo-climáticas, mas sim da presença de intrusos, sempre disponíveis para assalta-las.Corsários franceses e ingleses disputavam em posições estratégicas o assalto aos naviospeninsulares das carreiras oceânicas. Os mares dos Açores e da proximidade do Estreitode Gibraltar estavam povoados destes intrusos. A par disso os corsários circulavamtambém na vizinhança das principais cidades portuárias das ilhas aguardando a chegadadas embarcações do novo mundo ou a saída das riquezas locais.

A navegação tornou-se mais difícil e as rotas comerciais tiveram de ser adequadas auma nova realidade: surgiu a necessidade de artilha-las e uma armada para as comboiaraté porto seguro. Perante a situação de instabilidade nas ilhas a coroa procurouestabelecer um conjunto de medidas de protecção das populações e rotas comerciais. Noúltimo caso salienta-se a criação de armadas com a função de patrulhar e intervirquando fosse necessário contra os corsários que rondavam as áreas. Em 1565 assinalam-se 43 embarcações e 2825 homens envolvidos neste processo distribuídos pelas armadasda costa do Algarve, da costa do reino, das ilhas, do Brasil, da Mina, da ilha da Madeirado Norte de África e do Congo2. Nas Canárias tivemos as armadas de D. Álvaro deBazán (1555-56 e 1558). Esta foi a estratégia mais eficaz no combate ao corso e nadefesa das ilhas.

Os Açores eram considerados estratégicos para o domínio dos mares e segurança dasrotas oceânicas. Daqui resultou a cobiça das diversas potências europeias pela sua posseaquando da união peninsular. Na década de oitenta os embates travados nestearquipélago eram resultado não só da defesa da causa de D. António Prior do Crato,como legitimo sucessor à coroa, mas também, de disputa desta área. Na verdade oempenhamento de ingleses e franceses na defesa da causa deste pretendente ao tronoacontece porque interessava a posição estratégica das ilhas açorianas. E não será meroacaso que a resistência tenha sido organizada na ilha Terceira, o principal bastião dasrotas oceânicas. As ameaças constantes destes inimigos, mesmo após a vitóriacastelhana fez sentir a necessidade de uma imponente fortaleza em Angra, capaz deguardar as riquezas em circulação, pô-las fora do alcance da cobiça de qualquer corsárioe certamente de suster os ânimos exaltados dos angrenses.

A preocupação defensiva demonstra que o oceano deixou de ser o mare clausum luso-castelhano passando a mare liberum de todos os europeus, com especial evidência paraos holandeses, ingleses e franceses, que se afirmaram como os principais agentes donovo empório oceânico. No caso inglês a posição hegemónica foi conquistada, emparte, à custa dos tratados de amizade, celebrados com Portugal (1654, 1661).

PIRATAS E CORSÁRIOS NAS ILHAS

O mar deixou de ser um espaço seguro povoando-se de piratas e corsários. Elespunham-se de guarda aos grandes centros de tráfico comercial para conseguir uma presafácil. A presença de corsários nos mares insulares deve ser articulada, por um lado, deacordo com a importância que as ilhas assumiram na navegação atlântica e, por outro,pelas riquezas que as mesmas geraram, despertadoras da cobiça de estranhos. Mas se as

2. ANTT, Colecção de S. Vicente, caixa 2, liv. 3, fls. 491-492.

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condições definem a incidência dos assaltos, os conflitos políticos entre as coroaseuropeias justificam-nos à luz do direito da época. Deste modo, na segunda metade doséculo XVI, o afrontamento entre as coroas peninsulares definiu a presença doscastelhanos na Madeira ou em Cabo Verde, enquanto os conflitos entre as famíliasrégias europeias atribuíam a legitimidade necessária às iniciativas, fazendo-as passar demero roubo a acção de represália: primeiro foi, desde 1517, o conflito entre Carlos V deEspanha e Francisco I de França, depois os problemas decorrentes da união ibérica apartir de 1580. A última situação é um dado mais no afrontamento entre as coroascastelhana e inglesa despoletado a partir de 1557.

O período que decorre a partir de princípios do século XVI é marcado por inúmerosesforços da diplomacia europeia no sentido de conseguir a solução para as presas docorso. Para isso Portugal e França haviam acordado em 1548 a criação de dois tribunaisde arbitragem, cuja função era anular as autorizações de represália e cartas de corso.Mas a existência não teve reflexos evidentes na acção dos corsários. Note-se que éprecisamente em 1566 que temos notícia do mais importante assalto francês a umespaço português. Em Outubro Bertrand de Montluc ao comando de uma armadacomposta de três embarcações perpetrava um dos assaltos mais terríveis à vila Baleira eà cidade do Funchal. Só testemunhamos situação parecida em 1589 com os ingleses noFaial e em 1599 com os holandeses na cidade de Las Palmas e ilha de S. Tomé.

Nos Açores o final do século XVI ficou marcado pelas permanentes incursões decorsários ingleses. Isto é resultado do afrontamento resultante da união peninsular comtambém da concorrência pelo domínio dos mares e rotas comerciais. Aqui actuaramFrancis Drake, Richard Greenville, Martin Forbisher, Walter Raleigh, o Conde de Essexe o de Cumberland. Na década de oitenta foi assídua a presença de Francis Drake nosmares dos Açores, mas o acontecimento mais notado foi o desembarque do Conde deCumberland na Horta em Setembro de 15893. Incluso é referido em 1585 a notícia dapreparação de uma armada sob o comando de Francis Drake para fazer desembarcar nosAçores D. António, Prior do Crato. Richard Greenville morreu em 1591 no mar entre asilhas de Flores e Corvo quando comandava o famoso Revenge. Esta ficou conhecidacom a batalha da ilha das Flores e pode ser entendida como a mais dura vingança àInvencível Armada (1588)4 .

O período em causa foi também funesto para as ilhas Canárias. A riqueza das ilhas e afunção de apoio à navegação das Índias foi motivo suficiente para despertar o apetitedos corsários. A agudização dos conflitos europeus na década de oitenta fez com queeste fosse o momento em que as ilhas estiveram permanentemente sujeitas às acções doscorsários ingleses e franceses. Em 1581 os franceses actuaram em Lanzarote,Fuerteventura, La Gomera e El Hierro. Mais frequente foi a presença dos ingleses, quedesde a década de sessenta estiveram ausentes dos mares do arquipélago. Na década deoitenta tivemos apenas o ataque de Drake a Gran Canaria, mas já na década seguinte asua presença era frequente nas ilhas de Fuerteventura, Las Palmas, Tenerife e Lanzaroteque estiveram sob a ameaça constante5. Note-se que em 1591 Don Luis de la Cueva y

3. Ver carta do capitão da ilha,, Gaspar Gonçalves Dutra, Arquivo dos Açores, vol. II, pp.304-306.4. Walter Raleigh, A Report of the Truth of the fight about the Iles of Açores, this Last Sommer..., London,1591, publ. Em traduçãoem Insulana, vol. XLVI, 1990, pp.281-331; Américo da Costa Ramalho, “Sir Richard Greenville’s last fight. A new source”, inPortuguese Essays, Lisboa, 1968, pp.37-45; Maria Irene Braz Teixeira, “A Batalha da Ilha das Flores. Sir Richard Greenville e oRevenge”, in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira , vol. 35-36, 1977-78, pp.199-315.5 . A. Rumeu de Armas, Piraterías y Ataques Navales contra las Islas Canarias, Madrid, 1947-50.

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Benavides, capitán General e o bispo Suárez de Figueroa quase ficavam prisioneiros dosingleses no regresso da ilha de Fuerteventura.

Nem sempre a actividade dos corsários foi de afrontamento às populações, pois no casoda ilha das Flores é evidente a cumplicidade dos moradores com os corsários. Assim em1611 o corsário inglês Pedro Eston era presença assídua nestes mares e do agrado dapopulação, estando mesmo de casamento marcado com a filha do capitão mor da ilha6.Nas ilhas de La Gomera e El Hierro é evidente a conivência dos principais com oscorsários franceses, permitindo que se abasteçam a troco de os não molestar. Estaatitude mereceu a imediata resposta das autoridades através da Inquisição7.

A presença de corsários na vizinhança das ilhas de Flores e Corvo era permanente eresultava da posição que assumiam na rota de retorno da América e Índia. Aí sepostavam os corsários que amiudadas vezes tiveram de enfrentar a armada das ilhas quecomboiavam as embarcações peninsulares. A assídua permanência só seria possívelcom o apoio da população local que lhes fornecia aguada e viveres frescos.

Nas ilhas da Guiné (S. Tomé e Cabo Verde) as décadas de oitenta e noventa foramigualmente momentos de aflição para os moradores. A presença de corsários europeusera igualmente constante. Assim no período de 1583 a 1598 a ilha de Santiago foi alvode cinco ataques. A conjuntura e a impossibilidade de a coroa atacar em todas as frenteslevou a apostar na ilha de Santiago reforçando a posição na estratégia de afirmaçãopolítica e económica da Costa da Guiné.

A presença e disputa dos holandeses rege-se por condições específicas, porque detinhaminteresses importantes na cultura açucareira americana e procuravam assegurar odomínio de S. Tomé, Santiago e demais feitorias para acesso ao mercado de escravos. Aisso juntava-se o empenho na manutenção das rotas do tráfico e de destruição dosinteresses açucareiros da área. Primeiro foi o ataque em 1598 à ilha de Santiago e,depois no ano imediato a S. Tomé, no seguimento do assalto a Las Palmas. Se nestaúltima o saque foi o principal motivo da intervenção já em S. Tomé o objectivo era adestruição da cultura da cana, de fabrico do açúcar e controlo da rota dos escravos.

O novo século anunciou-se como um momento de ligeira acalmia nos mares. Osconflitos das potencias europeias foram paulatinamente sanados pelo que a permanenteinstabilidade de finais da centúria pertenciam já à História. Assinadas as pazes com aInglaterra a 18 de Agosto de 1604 as populações insulares respiraram de alívio, pois oscorsários ingleses deixaram de os incomodar. Com os holandeses as tréguas foramcurtas, pois duraram de 1609 a 1621, reacendendo-se as hostilidades que conduziram anova situação de instabilidade.

Sanadas as ameaças dos corsários europeus apareceram os mouros com um assalto degrandes proporções às ilhas de Porto Santo e Flores no ano de 16178. Também nas ilhasde Lanzarote e Fuerteventura recrudesceu a sua ameaça. Em Lanzarote foi a sangrentainvasão dos argelinos em 1618 como forma de represália às incursões que os naturaisfaziam à costa de Berberia.

6. Carlos G. Riley, Afinidades Atlânticas. As Relações entre os Açores e a Grâ-Bretanha, in Insulana,, P. Delgada, 1992, p.117, sep.7 . A. Rumeu de Armas, ob.cit ., t.I e II; Gloria Diaz Padilla, El Señorio en Las Canarias Occidentales. La Gomera y El Hierro hasta1700, El Hierro/La Gomera, 1990, pp.502-505.8 . Para a Madeira veja-se Jorge Valdemar Guerra, O Saque dos Argelinos à Ilha do Porto Santo em 1617, in Islenha, nº.8, 1991,pp.57-78.

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É também constante a presença dos holandeses no decurso do primeiro quartel doséculo XVII. Isto deverá resultar da aparente acalmia entre 1604 e 1616. A oposição deinteresses na Europa e no Atlântico ditava esta oposição que conduziu à represáliapeninsular com a interdição de entrada nos portos insulares e de comércio, como ficouestabelecido por alvará régio de 23 de Março de 1594. No entanto, a dificuldade deabastecimento de cereais ao Funchal levou as autoridades locais a levantarem esteembargo mediante a exigência de fornecimento de cereais. Entretanto com os ingleses efranceses, passado o momento de hostilidade de finais do século XVI. Isto veio apermitir a presença de ingleses entre 1603 e 1628 e de franceses até 16359.

A RESPOSTA: ARMADAS E FORTIFICAÇÃO

O espaço insular não poderá considerar-se uma fortaleza inexpugnável, pois adisseminação por ilhas, servidas de uma extensa orla costeira impossibilitou umainiciativa concertada de defesa. Qualquer das soluções que fosse encarada, para além deser muito onerosa, não satisfazia uma necessária e eficaz política de defesa. Perante istoela era sempre protelada até que surgissem ameaças capazes de impelir à concretização.O sistema de defesa costeiro surge aqui com a dupla finalidade: desmobilizar ou barraro caminho ao invasor e de refúgio para populações e haveres. A norma era a construçãode fortalezas após uma ameaça e nunca de uma acção preventiva, pelo que apósqualquer assalto de grandes proporções sucedia, quase sempre, uma campanha parafortificar os portos e localidades e organizar as milícias e ordenanças.

Uma das consequências principais do assalto francês de 1566 à cidade do Funchal foi omaior empenho da coroa e autoridades locais nos problemas da defesa da ilha e,principalmente, da cidade que, por estar cada vez mais rica e engalanada, despertava acobiça dos corsários. O desleixo na arte de fortificar e organizar as hostes custou caroaos madeirenses. A defesa da ilha era uma necessidade premente. Reactivaram-se osplanos e recomendações anteriores no sentido de definir uma defesa eficaz da cidade aqualquer ameaça. O regimento das ordenanças do reino (1549) teve aplicação na ilha apartir de 1559, enquanto a fortificação teve regimentos (1567 e 1572) e um novo mestrede obras, Mateus Fernandes. Perante a incessante investida de corsários no mar e emterra firme houve necessidade de definir uma estratégia de defesa adequada. No maroptou-se pelo necessário artilhamento das embarcações comerciais e pela criação deuma armada de defesa das naus em trânsito. Em terra foi o delinear de um incipientelinha de defesa dos principais portos, ancoradouros e baías, capaz de travar o possíveldesembarque de intrusos. O plano completou-se no período de união das coroaspeninsulares com a construção da Fortaleza de Santiago (1611-1621), do Castelo de S.Filipe do Pico (1603-1637) e o aumento do troço de muralha costeira.

Igual impacto teve o assalto holandês a Las Palmas em 159910. O vexame infringidopelo invasor entre 26 de Junho e 8 de Julho levou as autoridades a repensar o plano dedefesa da cidade, reconstruindo-se fortalezas e erguendo-se novas de forma a assegurara segurança da cidade. Note-se que já na década de oitenta a coroa havia dado

9 . Joel Serrão, Temas Históricos Madeirenses, Funchal, 1992, pp.129-141.10 .Néstor Alamo, Drake y Van der Doez en Gran Canaria, in Revista de Historia, 1932, 75-100; 1933, 153-157; A. Rumeu deArmas, Piraterias y Ataques Navales contra las Islas Canarias, Madrid, vol.II, pp.673-643, 784-920; J. Viera Y Calvijo, HistoriaGeneral de las Islas Canarias, vol. III, 224-232; L.Siemens, "Diario de Viaje...", in El Museo Canario, nº.89-103, 1966-69, 155-186.

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instruções a Leonardo Torriani e Próspero Casola para proceder à fortificação erespectivo plano de defesa das ilhas11.

O aumento da capacidade de resposta conduziu também a que os assaltantes fossemforçados a investir na sua organização. Deste modo aos iniciais actos isolados deembarcações de corso sucederam-se as armadas organizadas para tal fim. Desta forma aFilipe II não restava outra hipótese senão a de aumentar a capacidade defensiva dasilhas e das rotas comerciais. Nas Canárias a resposta da coroa está bem patente no planode fortificação das ilhas do arquipélago elaborado por Leonardo Torriani12. Esteengenheiro foi nomeado por Filipe II em 20 de Maio de 1587 para proceder à inspecçãodas fortificações do arquipélago e preparar um plano de defesa das ilhas. Reforçou-se oplano de fortificações com a construção de imponentes fortalezas e baluartes, a partir doplano de Torriani. Em Lanzarote projectou a reconstrução do Castelo de S. Gabriel demodo a ser mais operacional na defesa do porto de Arrecife. Organizou-se as forçaspermanentes e a milícia. Unificou-se as milícias, deixando de existir a divisão entre asilhas realengas e senhoriais. Filipe II em 1587 estabeleceu o cargo de "sargentosmayores" para as ilhas e em 1625 decidiu unificar todas as forças de poder na figura de"capitán general", com intervenção política militar e judicial. Para o cargo foi providoD. Luis de la Cueva y Benavides.

O plano de defesa das ilhas açorianas começou a ser esboçado em meados do séculodezasseis por Bartolomeu Ferraz, como forma de resposta ao recrudescimento do corso,mas só teve plena concretização no último quartel da centúria. Aqui registam-se duascampanhas de fortificação: em 1577 com Pedro de Maeda e em 1592 com João deVilhena. Bartolomeu Ferraz havia apresentado à coroa o seu rastreio: as ilhas de S.Miguel, Terceira, S. Jorge, Faial e Pico estavam expostas a qualquer eventualidade decorsários ou hereges; os portos e vilas clamavam por mais adequadas condições desegurança. Segundo ele os açorianos precisavam de estar preparados para isso, pois"ome percebido meo combatido"13

. Daí terá resultado a reorganização do sistema dedefesa levado a cabo por D. João III e D. Sebastião. Foram estes monarcas quereformularam o sistema de vigilância e defesa através de novos regimentos. Aconstrução do castelo de S. Brás em Ponta Delgada e, passados vinte anos, do castelo deS. Sebastião no Porto de Pipas (em Angra) e de um Baluarte na Horta, eis os resultadosmais evidentes desta política.

Mais tarde, com a ocupação castelhana do arquipélago açoriano, foi muito sentida anecessidade de uma imponente fortaleza em Angra, capaz de guardar as riquezas emcirculação e pô-las fora do alcance da cobiça de qualquer corsário e de suster os ânimosexaltados dos angrenses. Desde 1572 que se havia projectado uma fortaleza para oMonte Brasil, mas só em 1592 se deu início à construção, a partir de um plano traçadopor João de Vilhena, só concluído em 1643. As obras só ficaram concluídas após arestauração em 1643. O plano foi traçado por Tiburzio Spanochi a partir de um projectode defesa de D. António de la Puebla.

Pior foi o estado em que permaneceram as ilhas da costa e golfo da Guiné pois asinsistentes acções de piratas e corsários não foram suficientes para demover os insularese autoridades a avançar com um adequado sistema defensivo. São poucas as referências

11 . J. Viera y Clavijo, Historia General de las Islas Canarias, vol III, SCT, 1979, pp.214-215.12 . Cf. do mesmo Descripcion de las islas Canarias, S. C. Tenerife, 1978.

13. Arquivo dos Açores, vol. V, 364-367 (1543); confronte-se Ibidem, vol. IV, 121-124 (sem data).

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à sua defesa mas o suficiente para atestar a precariedade. Ele resumia-se a pequenosbaluartes, muitas vezes sem qualquer utilidade.

Em S. Tomé começou a erguer-se a primeira fortaleza na Povoação com o capitãoÁlvaro Caminha, que lhe chamava apenas torre, concluída pelo sucessor Fernão deMelo. No tempo de D. Sebastião, as constantes investidas de corsários franceses - ficoucélebre o de 1567— levaram à construção da fortaleza de São Sebastião, concluída em1576 e reformulada em 1596 que devido à sua ineficácia demonstrada no assaltoholandês de 1599 ergueu-se outra de apoio em Nossa Senhora da Graça. Na ilha doPríncipe tivemos a primeira fortaleza só nos princípios do século XVII.

Em Cabo Verde o empenho na defesa das povoações e portos costeiros tardou uma vezque o principal alvo dos corsários, nomeadamente franceses, estava no mar. Mais doque construir fortalezas havia necessidade de limpar os mares e as rotas da presençadestes intrusos. Para isso, e correspondendo aos pedidos incessantes dos moradores, acoroa criou uma armada para guarda e defesa do mar e costa. A petição dos moradoresda Ribeira Grande em 1542 apontava a necessidade de apetrechar o porto da cidade comum sistema de defesa adequado. As insistentes as queixas da população dando conta doestado de abandono que a coroa os havia votado levou a coroa em 1581 a incumbir ocapitão da armada que se dirigia ao Brasil, Diego Flores Valdez, de fazer um informesobre a situação das ilhas. O resultado está lavrado em dois memorandos onde se dáconta das medidas necessárias à protecção ao comércio marítimo na zona e a segurançadas principais povoações e portos costeiros14. A presença de um engenheiro a bordo,isto é, Pedro Sarmento, permitiu uma prospecção na Ribeira Grande e Praia de queresultaram os respectivos planos de fortificação.

Os assaltos de Francis Drake a Santiago (1578 e 1585) levaram à construção no períodofilipino de uma fortaleza na Ribeira Grande apoiada por um lanço de muralha. Estasfortalezas tiveram um papel fundamental aquando dos assaltos holandeses de 1596 e1598.Com a restauração estabeleceu-se um plano de reorganização militar e dasfortificações com especial incidência na Praia e Santiago. Mesmo assim parece quepouco mudou uma vez que em 1638 o governador Jerónimo Cavalcanti se queixava doestado deplorável em que encontrou a defesa das populações costeiras. A inoperância dosistema defensivo conduziu ao abandono da vila da Praia.

2. AS CONJUNTURAS POLÍTICO-INSITUCIONAIS DO MUNDO IBÉRICO

O período que decorre de 1580 a 1648 foi marcado por duas conjunturas importantesque marcaram de forma clara a vida política e institucional das ilhas. A união peninsularna década de oitenta augurava um reforço do mundo imperial mas acabou por setransformar num pesadelo para os insulares. As dificuldades sentidas com apermanência da guerra de corso implicou o repensar da estrutura institucional com aaposta na centralização com forte incidência militar. Passados sessenta anos a uniãosaldava-se num fracasso e a Restauração da monarquia portuguesa veio a pautar umnovo momento para a afirmação das ilhas, mercê da definitivamente aposta da opçãoatlântica.

14. António Brásio, Monumenta Missionária Africana, 2ª serie, vol. III, pp.92-107.

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A UNIÃO IBÉRICA NAS ILHAS

A 14 de Setembro de 1580 Filipe II é aclamado rei em Lisboa, sendo confirmado nascortes de Tomar no ano seguinte. O processo de pacificação das regiões do impérioportuguês que no mês de Junho haviam aclamado D. António, Prior do Crato, é rápido esó nos Açores, por ser um dos pilares dos interesses em jogo, será demorada. Aqui aimportância geo-estratégica do arquipélago fez com que os açorianos ficassem refénsdos interesses de franceses, ingleses e castelhanos. D. António Prior do Crato, com oapoio da França e Inglaterra, estabeleceu aí o último reduto. Deste modo os interessesexternos sobrepuseram-se ao patriotismo dos açorianos. A aclamação do novo monarcasolicitada em Agosto de 1580 por Diogo Dias só veio a acontecer em Janeiro do anoseguinte em Ponta Delgada. O corregedor Ciprião de Figueiredo e o bispo D. Pedro deCastilho assumiram posições distintas. O primeiro desde a Terceira chefiou a resistênciaao invasor, enquanto o segundo é fervoroso adepto de Filipe II, sendo forçado arefugiar-se em S. Miguel, onde a câmara de Ponta Delgada havia aclamado o novo reiem 31 de Janeiro de 1581. Entretanto, o novo monarca nomeou D. Ambrósio de AguiarCoutinho, Governador Geral dos Açores, que não ocupou o cargo por morte prematuraem 5 de Julho de 1582.

Perante a divergência de interesses as hostilidades aos novos soberanos foramsangrentas e demorou três anos a pacificação e reconhecimento do novo monarca15. Foinecessário mobilizar todas as forças navais e comandantes experientes: em 1581 de D.Pedro de Valdés e D. Lope de Figueroa que deram lugar em 1582 e 1583 às do marquêsde Santa Cruz, D. Álvaro de Bazán. A primeira saldou-se numa rotunda derrotacastelhana na célebre batalha da Salga, mas a segunda chefiada pelo Marquês de SantaCruz saiu vencedora na batalha naval de Vila Franca do Campo. Todavia, só em 1583 seconcretizou a conquista da Terceira com o desembarque a 26 de Julho das forçascastelhanas em Porto de Mós. Para a História ficaram três importantes batalhas.

Já na Madeira o processo foi distinto. D. António apenas não foi aclamado na ilha doPorto Santo16 e na vila da Ponta de Sol (Madeira). Assim, podemos afirmar que aaristocracia e as instituições municipais estavam com o novo monarca17. AntónioCarvalhal mobilizou homens para defender o Funchal de qualquer assalto da esquadrafrancesa. Aqui os representantes da coroa filipina só se tiveram que haver com umgrupo restrito de personalidades afectas a D. António, uma vez que alguns se haviamjuntado às hostes de D. António na ilha Terceira18. Foi a ameaça de ocupação da ilhapor parte de uma armada franco-inglesa19, que levou Filipe II a ordenar em 19 de Março

15. Avelino de Freitas MENEZES, Os Açores e o Domínio Filipino.I- A Resistência Terceirense e as Implicações na ConquistaEspanhola, Angra do Heroísmo, 1987.16. A atitude deste município foi imputada ao capitão Diogo Perestrelo, que foi em 1586 alvo de múltiplas acusações do município,sendo devassado em 1606, com a perda da capitania; veja-se Anais do Município do Porto Santo, Porto Santo, 1989, p. 16, nota 10;Alberto Artur SARMENTO, Ensaios Históricos da Minha Terra. Ilha da Madeira , vol. I, Funchal, 1946, p.17317. Contavam-se entre os adeptos de D. António os seguintes: os Câmaras, o conde de Vimioso que era capitão donatário deMachico e que a perdeu para Tristão da Veiga, e o capitão do donatário do Porto Santo.18. Confronte-se A.RUMEU DE ARMAS, "El Conde de Lanzarote, capitán general de la isla de la Madera(1582-1583)", in Anuariode Estudios Atlânticos, n1.30, 1984, pp.404-40619. Ideia defendida já por L. SIMENS HERNANDEZ, "La expedición a la Madera del Conde de Lanzarote desde la perspectiva delas fuentes madeirenses", in Anuario de Estudios Atlânticos, nº.25, 1979, pp.289-305. O texto de Gaspar Frutuoso (Livro Segundodas Saudades da Terra, Ponta Delgada, 1979, p. 406-407) é muito sugestivo sobre isso: "...depois quer foi julgado Portugal ser docatólico rei Filipe, senhor nosso, e teve posse àele, mandou a ilha da Madeira por capitão-mor e governador dela o desembargadorJoão Leitão, depois que chegou à ilha, de mandado do mesmo rei Filipe, por capitão-mor dela e da do Porto Santo, dom AugustinhoHerrera, Conde de Lançarote e Senhor de Forteventura; no qual tempo, na era de mil e quinhentos e oitenta e dois anos, foi, dabanda do Norte, António do Carvalhal à cidade do Funchal, com trezentos homens, que manteve à sua custa cinco meses, do deMaio até Setembro, em serviço do Católico rei Filipe, para ajudar a defender a desembarcação dos franceses da armada de DomAntónio, que em aquele tempo na ilha se esperava". A. RUMEU DE ARMAS, ibidem, pp.436, 455-459

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de 1582 a D. Agustin de Herrera que fosse defender a ilha com uma expedição de 300homens. O desembarque no Funchal teve lugar a 29 de Maio, com a maior quietaçãopara evitar qualquer alvoroço e no dia imediato, na presença de todas as autoridades epovo, fez-se juramento de fidelidade ao novo rei.

O Conde permaneceu na Madeira com as tropas enquanto duraram as hostilidades nailha Terceira. Com a batalha e decisiva de conquista da ilha a 26 de Julho de 1582, porD. Álvaro Bazan, festejada no Funchal a 1 de Setembro, ele recebeu a 2 de Setembroautorização para a abandonar, ficando em seu lugar, como chefe do presídio, D. Juan deAranda, ao comando de uma guarnição de 500 homens onde se incluíam os 200soldados andaluzes que haviam chegado em Junho. As grandes dificuldades porquepassou a força ocupante, mais conhecida por tropa do presídio, não derivaram tanto dopossível afrontamento da população local, mas sim dos problemas surgidos com oabastecimento20. A cidade debatia-se já com esta situação vendo-a agora agravada coma presença de mais 500 homens. A conjuntura económica foi responsável por algumambiente de tensão que rodeou a força ocupante, com especial referência para o períodoque decorre desde158921.

Nas ilhas portuguesas dos trópicos não foram tão evidentes os reflexos da mudança,tardando algum tempo a adaptação à nova realidade. O interesse da adesão estava deambos os lados. Os Castelhanos que tinham garantido o acesso ao mercado de escravose os mercadores portugueses envolvidos no trafico interessados nos mercados dedestino. A noticia e adesão de Cabo Verde à nova monarquia aconteceu em finais de1581 com o desvio da armada do Capitão Diego Flores de Valdez que se dirigia aoBrasil. Filipe II determinara que o mesmo procedesse ao juramento das autoridades dailha e da Costa da Guiné à sua soberania. No relatório enviado em 24 de Janeiro de158222 sabe-se da existência de muitos adeptos de D. António e dá-se conta danecessidade de protecção das rotas e comércio da área. A adesão à causa de D. Antónionão foi imediata, mas Filipe II soube perdoar a população por carta de 15 de Novembrode 158323, sendo apenas executados os cabecilhas.

Nas ilhas de S. Tomé e Príncipe o juramento de fidelidade ao novo monarca foiimediato por parte do Capitão António Monteiro Maciel, tal como o testemunha o actode 10 de Junho de 1581. Aqui as maiores dificuldades porque passou a ilha nas últimasdécadas do século XVI estiveram nas revoltas de negros (1590 e 1595). A mais célebrede todas é a dos angolares que em 1595 se sublevaram sob o comando de Amador.Note-se que esta instabilidade foi responsável pela crise da economia açucareira da ilha,no que foi favorável à afirmação de novos mercados como o Brasil.

AS CONSEQUÊNCIAS DA UNIÃO IBÉRICA

A união das coroas peninsulares não implicou a incorporação do estado português.Estamos na verdade perante a união de duas coroas e não de estados. A nova situaçãoveio a provocar mudanças em termos da geografia política do espaço atlântico fazendodele o palco principal dos conflitos entre as potencias europeias. A situação é o prelúdio

20. Não obstante assinala-se nos primeiros anos da presença desta força alguma animosidade com a população, que deu lugar aalgumas alterações, como sucedeu a 6 de março de 1583; veja-se A.RUMEU DE ARMAS, art.cit., pp.468-473.21. A.A.SARMENTO, ob.cit., vol.I, p. 188 e segs.22. Monumenta Missionária Africana, 21 série, vol. III, pp.92-96.23 . Ibidem, 119-122.

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da perda da posição hegemónica dos reinos peninsulares nas rotas que os ligavam aoNovo Mundo. Desde meados da centúria que o direito à circulação tornou-se universalganhando esta tese um forte suporte jurídico e filosófico. É disso exemplo o “MareLiberum”(1608) de Hugo Grócio. Os holandeses foram os que mais investiram em todasas frentes assumindo uma posição relevante na afirmação do mundo colonial24. A tudoisto acresce o facto de o papado deixar de assumir a força que deteve até ao momentodo cisma e das dissidências religiosas do Norte da Europa.. A falta repercute-se demodo evidente na afirmação da via diplomática como único meio de solução dosconflitos.

A união das coroas peninsulares contribuiu apenas para agudizar os antagonismos e osinimigos. A situação reflecte-se de forma evidente no quotidiano das ilhas através daintervenção dos piratas e corsários. Deste modo a principal consequência da adesão dasilhas a nova monarquia ibérica foi a vulnerabilidade face às investidas dos inimigoseuropeus.

Os corsários são os protagonistas principais. O corso a partir da década de oitenta tomououtro rumo, sendo as diversas acções uma forma de represália à união das duas coroaspeninsulares. Ele ficou expresso na intervenção de diversas armadas: Francis Drake(1581-85), Conde de Cumberland (1589), John Hawkins, Martin Forbisher, ThomasHoward, Richard Greenville e o Conde Essex (1597). Elas não se limitavam apenas aoassalto às embarcações que regressavam à Europa carregadas de ouro, prata, açúcar eespeciarias, pois a sua intervenção também se estendia à terra firme onde procuravamabastecer-se de víveres e água ou o volumoso saque. Como testemunho disso temos osassaltos de 1585 na ilha de Santiago, em 1587 na das Flores e inúmeras intervenções nasCanárias.

Consumada a legitimação e a soberania de Filipe II o arquipélago de Cabo Verde entroude imediato no centro das atenções das potências europeias beligerantes e em expansãono Atlântico. O papel fundamental do arquipélago na ligação entre as plantaçõesaçucareiras americanas com os centros africanos fornecedores de escravos motivou ointeresse dos outros europeus. Os ingleses foram os primeiros a marcar presença atravésde Francis Drake. Foi ele quem em 1585 pôs a saque a cidade de Santiago. Em 1598 foia vez dos holandeses que tomaram posse da vila da Praia. Tenha-se em consideraçãoque os Países Baixos ao verem-se privados do fornecimento do sal de Setúbal25,procuraram suprir a falta com o das ilhas de Boavista, Maio e Sal. Sabe-se que em 1597se juntaram na ilha de Maio três navios ingleses, quatro navios franceses e outros seisflamengos, todos em busca de sal. Filipe II, face às incessantes investidas à Costa daGuiné e Cabo Verde, foi forçado a apresentar em 159126 um "Regulamentação deNavegação Ultramarina", onde a crença religiosa se tornava impeditivo do comérciocolonial. A mesma opção sucedeu nas Canárias, tendo funcionado o tribunal dainquisição como instituição fiscalizadora. Esta medida reverteu em prejuízo, tendo emconta que o arquipélago ficou sujeito à presença incómoda de corsários.

A conturbada conjuntura política, que se seguiu nos finais da centúria quinhentista eprincípios da seguinte, teve o condão de conduzir à mudança do cenário. A crisedinástica e a consequente união das coroas peninsulares levaram a uma abertura da área

24. Ernst Van den Boogaart, La Expansión Holandesa en el Atlantico 1580-1800, Madrid, 1982.25 . Cf. V. Rau, Estudos sobre a História do Sal Português, Lisboa, 1984, pp.161-16526 . Monumenta Missionária Africana, vol. III, doc.77.

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ao comércio dos insulares, seus vizinhos e aos demais europeus, nomeadamente, osholandeses. Perante isto Santiago deixou de ser o principal entreposto dos Rios deGuiné, sendo evidentes os reflexos da situação na economia da ilha. Se é certo que nummomento determinado as ilhas se fecharam ao comércio com os inimigos políticos ereligiosos, também não é menos verdade que a união não conseguiu garantir o exclusivodos mercados detidos pelas monarquias ibéricas, agora unidas. Isto foi um passo para apartilha do oceano por todas as potências europeias, que não prescindiram da posiçãofundamental das ilhas.

No caso dos arquipélagos da Madeira e Açores não foi fácil ao novo monarca imporlimitações à presença dos inimigos estrangeiros. Assim, não obstante a ordem deexpulsão dos ingleses em 1589 e das posteriores medidas limitativas do traficocomercial com a Europa do Norte, não se poderá dizer que a ilha viveu um período detotal rotura nas tradicionais relações com esta região27. Situação idêntica sucedeu comos franceses onde se assinala o facto de João de Caus, francês, residente no Funchal hádezanove anos, ter sido naturalizado português em 159028. Na verdade, La Rochellecontinuará a ser um porto de permanente contacto com os de Angra, Faial e Funchal29.Perante isto poderá concluir-se que o mercado das ilhas não foi tão afectado pelasalterações políticas e consequentes represálias, como à primeira vista pode parecer.

Na Madeira e nos Açores continuou a afirmar-se a presença britânica que teveconsumação plena na segunda metade do século XVII30. O mundo das ilhas manteve-sealheio ao jogo de interesses europeus. Apenas nos espaços continentais atlântico (Africae Brasil) e no Oriente se tornava evidente o assalto dos beligerantes às possessõesportuguesas, acabando por fragilizar a hegemonia e império que os portugueses haviaconseguido em princípios do século XVI. As alterações mais significativas ocorreramnas ilhas de Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe pelo simples facto de ambos osarquipélagos funcionaram como antecâmara dos centros abastecedores de escravos dolitoral africano da Costa e Golfo da Guiné. Note-se em Cabo Verde o reforço dosmercadores portugueses no sistema de "assientos". Isto é apenas o exemplo dapenetração lusíada no mercado colonial americano31.

Já nas Canárias a situação assume distintas proporções devido à intervenção do Tribunalda Inquisição de Las Palmas32. Uma das formas usadas pelos mercadores nórdicos parase furtarem à prisão pelas autoridades das Canárias estava no recurso ao pavilhão de umpaís amigo e ao disfarce do nome, aportuguesando-o. Isto ficou conhecido comocomércio disfarçado33. Aliás, eles eram e continuaram a ser os campeões docontrabando que tinha por palco algumas ilhas como era o caso da Madeira34 . Um doscasos paradigmáticos e reveladores a desigual situação dos mercadores estrangeiros

27. Esta ideia foi já defendida por Joel Serrão, O 'contrabando' Atlântico (1580-1590), in Estudos Históricos Madeirenses, Funchal,1982, pp. 129-140.28. ARM. CMF, registo geral, t. III, fl. 48.29 . Julião Soares de Azevedo, Sobre o Comércio de La Rochelle com os Açores no século XVII, in Revista Portuguesa de História,t. III; Nota e Documentos sobre o Comércio de La Rochelle com a ilha Terceira no século XVII, in Boletim Inst. Hist. I. Terceira,vol. VI, 1948.30. Sobre os Açores veja-se: Nestor de Sousa, “Sinais da Presença Britânica na vida Açoriana (séculos XVII-XVIII)”, inArquipélago, nº especial Relações Açores - Grã Bretanha, P. Delgada, 1988, pp. 25-100; J. G. Reis Leite, Os Fisher. EsboçoHistórico de uma Família Açoriana, Angra do Heroísmo, s.d..31 . cf. Enriqueta Vila Vilar, Hispano-America y el Comercio de Esclavos. Los Asientos Portugueses, Sevilla, 1977.32 .Cf. Francisco Fajardo Spínola, Las Conversiones de Protestantes en Canarias siglos. XVII y XVIII, Las Palmas, 1996; LuisAlberto Anaya Hernández, Judeoconversos e Inquisición en las Islas Canarias(1402-1605), Las Palmas, 1996.33. Alberto Vieira, O Comércio Disfarçado mas ilhas do Atlântico Oriental. O Processo de Bartolome Cuello na Inquisição de LasPalmas(1591-98), in Anita Novinski (ed.), Inquisição Ensaios sobre Mentalidade, Bruxarias e Arte, S. Paulo, 1992, pp.161-169.34. Cf. Joel Serrão, Temas Históricos Madeirenses, Funchal, 1992, pp129-140.

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entre as ilhas dos Açores e Madeira e as Canárias, sucede com Bartolome Cuello, ummercador inglês preso em Tenerife a 17 de Janeiro de 1592 e julgado em 159735. Note-se que ele mesmo assim não conseguiu iludir a perseguição das autoridadesinquisitoriais de Canárias. A confissão deste mercador perante o tribunal de Las Palmasé um retrato evidente da actividade comercial dos nórdicos no período de 1586 a 1591.Aí temos a definição do que se entendia como comércio disfarçado: "...y demais de losnavios que... tiene declarado que an venido la dicha isla de San Miguel con nombre deescoceses con el mesmo engaño..los dichos escoceses traen pasaportes delReyd’Escosia.... los mercaderes que por las dichas vias tratan en España tienen dellos deFrancia y d’Escocia y de Flandres para las mercadorias y las sellan con ellos....y enquanto a los flamencos de Olanda y Gelanda.... los susodichos tratan ordinariament enYnglaterra como vassallos de la Reyna y que traen gran cantidad de ropa y demercadorias lo quel todo llevan a España y a estas yslas y a las de San Miguel fingiendoser alemanes de Amburch y de Dunquerque en Flandres...." Esta prática não foi sóapanágio de Bartolome Cuello, pois que se documentam outros como Thomas Alder, HtWeb, Tomas Simon, Juan Jurdan e Paulo Bux.

A união das coroas peninsulares é o princípio do fim da hegemonia ibérica no Atlânticomas não do protagonismo das ilhas que continuaram a ser espaços intervenientes nasnovas realidades políticas e económicas que o final de século propiciou. Por outro ladoeste momento contribuiu para o reforço das relações comerciais dos espaços coloniaisdos dois impérios agora juntos.

O GOVERNO E AS INSTITUIÇÕES DA UNIÃO

Na Madeira, como nos Açores a permanência de uma força ocupante só alimentou osconflitos com os naturais. A hostilização às forças do presídio está documentada em1583, altura em que ocorreram dois motins com mortos. A situação obrigou a guarniçãoa manter-se cativa na fortaleza. No caso da Madeira as dificuldades porque passaram asforças ocupantes, conhecidas como a tropa do presídio, não derivaram tanto do possívelafrontamento da população local, mas sim dos problemas surgidos com oabastecimento36. A cidade debatia-se já com dificuldades, vendo-a agora agravada coma presença de mais 500 homens. A conjuntura foi deveras difícil no período de 1583 e1637 e gerou alguma instabilidade, mercê da falta de meios para sustentar a guarnição,manifesta nos motins do século XVII (1600, 1602, 1623, 1626, 1627)37. O primeiromotim decorreu em 1583 com a morte de um marinheiro português mulato. Este factofez despoletar a animosidade entre a população e as forças ocupantes. Por isso asprimeiras décadas do século XVII foram pautadas por momentos de aflição einsegurança. A situação repercutiu-se no relacionamento institucional entre o capitão dopresídio e o município ou provedor da fazenda, principais responsáveis peloabastecimento da tropa38.

35. Cf. W. de Gray Birch, Catalogue of the Collection of Original Manuscripts formerly belonging to the Holy Office of theInquisition in the Canary Islands, vol. III, Londres, 1903, pp. 1026-1054; L. Alberti e A. B. Wallis Chapman, English Merchantsand the Spanish Inquisition in the Canaries, Londres, 1912, pp. 127-152.36. Não obstante assinala-se nos primeiros anos da presença desta força alguma animosidade com a população, que deu lugar aalgumas alterações, como sucedeu a 6 de Março de 1583; veja-se A.RUMEU DE ARMAS, art. cit., pp.468-473.37. A.A.SARMENTO, ob. cit., vol. I, p. 188 e segs.38. Alberto VIEIRA e outros, "O município do Funchal (1550-1650)...", in Actas do I Colóquio Internacional de História daMadeira 1986, vol. II, Funchal,1990, pp.1006-1009, 1013-1014

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O período de união das coroas peninsulares teve reflexos evidentes na figurainstitucional dos capitães, sendo exemplo disso as posições assumidas por RuiGonçalves da Câmara e Tristão Vaz da Veiga (a 19 de Outubro de 1585),respectivamente capitães da ilha de S. Miguel e Machico, que foram cometidos deamplos poderes ao serem nomeados governadores de S. Miguel e da Madeira,respectivamente.

Tristão Vaz da Veiga havia recebido a capitania de Machico das mãos do rei de Castela,em 25 de Fevereiro de 1582, ainda em vida do seu proprietário, D. Francisco dePortugal, conde de Vimioso, como pagamento do apoio dado à entrada das tropas emLisboa. Esta foi a última expressão plenipotenciária dos capitães: a alçada foi,paulatinamente, reduzida até se manter apenas no usufruto das rendas e nos títuloshonoríficos39. A figura do Capitão dá lugar a uma nova instituição. Em Janeiro de 1582surge o Desembargador João Leitão acometido do “governo Geral de guerra eAdministrador da Fazenda Real”, que será substituído em Março por D. Agustin deHerrera, como “Governador Geral da Madeira”. Com a sua saída retorna João Leitão àsfunções sendo coadjuvado pelo Comandante do Presídio, D. João de Aranda. Já em1585 Tristão Vaz da Veiga surge como “Superintendente das coisas da guerra,Governador das capitanias da ilha da Madeira e Alcaide Mor da fortaleza de SãoLourenço”40. A figura de Governador e Capitão General, que perdurou até 1834,aparece lavrada na nomeação de D. Luís de Miranda Henriques em 164041.

Na Madeira e Açores os problemas resolviam-se pontualmente com a presença docorregedor — um no primeiro e dois no segundo — e só a partir da união das coroaspeninsulares o novo monarca viu a necessidade de adequar a forma de governo das ilhasà vigente nas Canárias: na Terceira foi o cargo de Governador Geral dos Açores (1581),assumido por D. Ambrosio de Aguiar Coutinho, depois na Madeira em 1585, o de"Geral e Superintendente das cousas da guerra"42

. Conquistada a ilha Terceira ficaramD. Alvaro Bazan e D. João de Urbina com o governo do arquipélago açoriano. Pertence-lhes a reorganização do governo. Note-se que ambas as situações se perpetuaram e apósa restauração da independência em 1640. Assim nos Açores criou-se o lugar de CapitãoMor dos Açores que acumulava com o de Mestre de Campo e Governador do Castelo deS. Filipe43

. A situação, obviamente que não foi do agrado dos açorianos, nomeadamentedos terceirenses.

A nova estrutura administrativa propiciou uma maior atenção à instituição militar. Destemodo a Madeira passou a contar com uma guarnição permanente com sede na Fortalezade S. Lourenço, composta pelas forças do presídio castelhano. Acresce, ainda, a figurado “Superintendente das cousas da guerra” que tinha funções de coordenar os assuntosmilitares e o fortificador da ilha. Tudo isto revela a preocupação de reorganização daestrutura militar resultante da pressão exercida pela permanência de corsários navizinhança da costa.

39. Sobre esta figura veja-se o que diz Gaspar Frutuoso, Livro Segundo das Saudades da Terra, caps. XX-XXIX.40 . Gaspar Frutuoso (ob.cit., cap. XXVII) refere que o rei "o enviou à dita ilha por Geral e Superintendente das coisas da guerra deambas as capitanias dela, e que servisse de alcaide-mor da fortaleza da cidade do Funchal…" para cumprir a "seu serviço e defensãoda ilha da Madeira".41 . Não existe consenso na historiografia quanto à definição deste cargo. Cf. "Governadores Gerais", in Elucidário Madeirense, vol.II, p.99-100; Damião Peres, A Madeira sob os Donatários, Funchal, 1914, J. C. Nascimento, Documentos para a História dasCapitanias da Madeira, Lisboa, 1930.42. Damião PERES, O Problema dos Governadores Gerais da Ilha da Madeira , Porto, 1925.

43. Urbano de Mendonça DIAS, A Vida de Nossos Avós, vol. III.

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Em Cabo Verde e S. Tomé a afirmação da autoridade régia torna-se mais evidente coma intervenção do corregedor: em 1514 no segundo e 1517 no primeiro. Em S. Tomé elesurgiu desde o início como o funcionário supremo, retirando alçada aos donatários. Jáem Cabo Verde a mudança foi paulatina: no começo adquiriu a função de funcionáriosupremo, sendo conhecido em 1558 como o ouvidor letrado. Em 1569 no arquipélagode Cabo Verde a tendência era para a concentração de poderes num só funcionário,surgindo aí o Desembargador António Velho Tinoco acumulando as funções deProvedor da fazenda, dos defuntos e resíduos, Corregedor e Capitão da cidade daRibeira Grande44

. Finalmente em 1587 surge o cargo de Capitão General, Governador eProvedor da Fazenda Real, a quem competia a superintendência de toda a actividadegovernativa das ilhas e Rios de Guiné. Para o cargo foi nomeado Duarte Lobo da Gama.

Em Canárias tivemos a mesma tendência unificadora de poderes com a figura doCapitan General, Governador e Presidente da Audiencia surgida em 1589. D. Luís deLa Cueva, senhor de Bedmar (1589-1594), a quem foi atribuído o cargo, representava omáximo poder administrativo, militar e judicial, pois era o Capitán General queacumulava em simultâneo os poderes de Governador e Presidente da Real Audiencia,com sede em Las Palmas45. Esta situação foi de curta duração uma vez que em 1594 ogovernador foi chamado a corte e retornou a anterior forma de governo. Somente em1625 com o conde Duque de Olivares retomou-se a política de centralização de poderes.Assim, D. Francisco de Anadía, Marques de Valparaíso, foi enviado às ilhas como"Veedor y Reformador de la guerra" e acabou em 1629 como Capitán GeneralGobernador Presidente46, estrutura que se manteve até 1723.

De um modo geral podemos considerar que o município nos séculos XVI e XVIIdesfrutava de ampla autonomia e de elevada participação das gentes na governança.Todavia a prática municipal veio a revelar alguns atropelos que levaram a coroa alimitar a alçada por meio de funcionários régios, como o corregedor. Tendo em conta asituação criada pelos monarcas filipinos, quando da união das coroas peninsulares(1580-1640), procuraram cercear os poderes dos municípios portugueses procedendo aalgumas mudanças na estrutura na orgânica47.

Ao nível das diversas estruturas de mando nunca se alcançou uma harmonia perfeita,uma vez que surgiram inúmeros conflitos, dentro da própria instituição ou, o que eramais habitual, fora dela. Para isso terá contribuído, por um lado, a insistentesubdelegação de poderes e, por outro, as dificuldades na pronta fiscalização por parte dacoroa. Uma reclamação da Madeira demorava meses a obter a concordância do senhorioou da coroa, e piorava no caso de S. Tomé ou de Cabo Verde. O distanciamento dacoroa e a falta do "olho justiceiro" dos funcionários provocaram atropelos de que foivitima a vida municipal madeirense no século quinze e toda a administração de CaboVerde e S. Tomé para os séculos XVI e XVII.

44. A.T. MOTA, " A primeira visita de um governador de Cabo Verde à Guiné (António Velho Tinoco c. 1575)", in Ultramar, VII,nº 4, 1969.45 . Gaspar Frutuoso (Livro Primeiro das Saudades da Terra, cap. XII) define a situação do seguinte modo: "cabeça e metrópolis detodas as sete, onde reside o tribunal e audiência real e desembargo de três ouvidores seculares e regente, onde vão tãr todos os casose negócios de todas as outras ilhas, senão os crimes, os quais julgam e sentenceiam e executam os governadores de cada uma delas,porque nesta Gram Canária há, por si só, governador que tem jurdição de baraço e cutelo, e o mesmo tem cada uma das outrasilhas."46 . Cf. Leopoldo de La Rosa Olivera, Evolución del Régimen Local de las islas Canarias, Islas Canarias, 1994.47 . Para o Funchal confronte-se Alberto Vieira e outros, O Município do Funchal (1550-1650), in Actas do I Colóquio Internacionalde história da Madeira, 1986, Funchal, 1990, pp.1004-1089.

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Da nova estrutura institucional contava uma maior revitalização do poder municipal, oaparecimento de novos municípios e de outras estruturas de mando, para estabelecer-seuma barreira firme aos hábitos entranhados na vivência quotidiana dos capitães. Destemodo houve necessidade de estabelecer uma estrutura forte capaz de enfrentar a novarealidade. Os atropelos à autoridade legítima do rei aumentavam de acordo com adistância das capitanias aos centros decisão no reino. A necessidade e celeridade nanomeação dos funcionários régios para tais ilhas estavam bem patentes numrequerimento do município da Ribeira Grande (Santiago) em 1624: "É que a gente delaé revoltosa; e que há homicídios e outros crimes; o que se não houver governadorhaverá muitos mais; e que os naturais por serem muitos vexarão e consumirão aspessoas que lá estão deste reino, que são muito poucas, por ficarem livres e senhores dogoverno". Foi por aí que a coroa começou, estabelecendo uma autoridade suprema:primeiro em S. Tomé o cargo de Capitão (1541), depois em Cabo Verde o de CapitãoGeral das Ilhas (1578). Este último veio a dar origem em 1600 ao Capitão Governador,sendo substituído, a partir de 1640, pelo Capitão e Governador General. Além dissohouve necessidade de definir uma forma específica de governo para as ilhas. Osgovernadores e ouvidores passaram a ser nomeados apenas por um período de três anos,findos os quais o seu governo deveria ser sujeito a uma sindicância. Depois a coroapassou a enviar, com frequência, ouvidores ou desembargadores a sindicar a acção dosgovernadores, ouvidores e capitães-mores.

A RESTAURAÇÃO DA MONARQUIA PORTUGUESA E O MUNDO INSULAR

A restauração da monarquia em Portugal, a 1 de Dezembro de 1640, anuncia uma novaera para as ilhas. A noticia da restauração da monarquia portuguesa foi conhecida naMadeira a 26 de Dezembro por intermédio de um navio inglês, proveniente de Sevilhacom destino às Canárias48. As cartas escritas pelo novo monarca às autoridadesmadeirenses só chegaram ao Funchal a 10 de Janeiro, procedendo-se de imediato àaclamação do novo rei: a 11 de Janeiro no Funchal, a 13 do mesmo mês em Machico49

e, somente, a 5 de Fevereiro no Porto Santo.

Facto insólito foi a aclamação do novo rei no senado funchalense, a 11 de Janeiro50 . Aícompareceram todos os oficiais da câmara, homens-bons, demais autoridades, povo e ocapitão do presídio, D. Tomás Velásquez de Sarmiento. Entre a numerosa multidãoforam notadas as presenças de alguns fiéis seguidores do monarca castelhano: oprocurador do concelho, D. António Rojas e o juiz Luís Fernandes de Oliveira, que foracontador do referido presídio. Neste momento de euforia, portugueses e castelhanosaclamam em uníssono o novo rei. E, quando tudo parecia continuar na mesma, eis quese levantou a 25 de Janeiro51 um alvoroço popular, chefiado por Manoel Homem daCâmara, contra os castelhanos e fiéis seguidores na administração: destituíram o juizLuís Fernandes Oliveira, o escrivão Manuel Teixeira Pereira e o provedor da Fazenda,Manuel Vieira Cardoso.

48. A. Artur, O Alevantamento de D. João IV na Madeira, in Congresso do Mundo Português, vol. VII, t.2, Lisboa, 1940, pp.191-198; idem, Documentos & Notas sobre a época de D. João IV na Madeira .1640-1656, Funchal, 1940.49. Arquivo Regional da Madeira, Câmara Municipal de Machico, nº.85, fls.40-44; Idem, Ibidem , n1.103, fls 28-28vº. Num autolavrado a 16 de Janeiro (Ibidem, fl.29) decidiram agradecer a" merce que Deos nosso Senhor nos fes em nos dar por nosso rei DomJoão o quarto (...)"50. Arquivo Regional da Madeira, Câmara Municipal do Funchal, nº.1329, fls.7-9; A.A.SARMENTO, História Militar daMadeira, Funchal, 1912, p.651. Arquivo Regional da Madeira, Câmara Municipal do Funchal, nº.1329, fls. 10vº-13; Arquivo Nacional da Torre do Tombo,Provedoria e Junta da Real Fazenda do Funchal, registo geral, tomo IV, fl.202.

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A tropa do presídio não moveu qualquer acção de violência, pois havia sido desarmadae conduzida para as Canárias. A coroa castelhana e o Cabildo de Tenerife ficaramesperando o pior com a possibilidade de um assalto madeirense à ilha de Tenerife52, oque nunca esteve nas pretensões dos madeirenses, pois faltavam os meios técnicos ehumanos para isso. Os tempos áureos do socorro às praças africanas haviam e acavalaria madeirense desabituara-se das pelejas fora da ilha, ou, então preparava-se paranovas façanhas na reconquista de Pernambuco53 e nas guerras de fronteira no reino54.Entretanto a 16 de Fevereiro teve lugar nova reunião nos paços do concelho, bastanteconcorrida, para aprovar a saudação ao rei a enviar por um procurador. Nela foramnotadas as ausências de João Baptista Acciouli e António Carvalhal Esmeraldo. E umavez que estes, posteriormente, se recusaram, por vários motivos, a vir à câmara assinar areferida saudação, foram substituídos a 26 de Fevereiro por António de Aragão de Teivee Baltasar de Abreu Berenguer, que o governador não quis reconhecer como tal55.

A atitude do novo monarca perante estes factos foi de hesitação: a 2 de Agostomandava proceder contra os revoltosos de 25 de Janeiro, mas a 3 de Setembro56

recomendava que não se procedesse sobre isso enquanto não enviasse novo corregedor egovernador, o que ocorreu passados sete dias, com a nomeação de Nuno Pereira Freirepara novo Governador, que só veio assumir as funções em 20 de Março do ano seguinte.Na vinda para a ilha foi acompanhado do Dr. Gaspar Mousinho Barba, nomeado a 6 deMarço57 para devassar os tumultos. Mas ao último esperava um fim fatídico. O termo deóbito lavrado a 29 de Dezembro de 1642 testemunha numa nota, à margem, o sucedido:"No dito dia, veiu à câmara, a prender Luís Manuel Leme da Câmara. Levantou-se opovo que andava desenfreado e lhe deram uma estocada. Não se confessou."58 Estasituação foi resultado da devassa que o mesmo fez contra Manoel Homem da Câmara,que o levou a uma cilada na casa da câmara, onde morreu, sob o olhar complacente dogovernador59. Perante isto o rei retrocedeu, ordenando em 26 de Janeiro de 164460 aogovernador "que para quietação dos moradores nessa ilha se dê meio, qual convêm, epara que se evite os feitos de suas inimizades e ódios, ordenareis às justiças que nãoprocedam contra pessoa alguma por causa que sucedeu no tempo da minha aclamação".Todavia o rei mandou a 28 de Julho61 o Dr. Jorge de Castro Osório, Desembargador daRelação do Porto, que viesse à ilha devassar a referida morte, mas o mesmo tambémacabou morto a 17 de Janeiro de 1645, sem que algo de novo tivesse acontecido.

52. Confronte-se Santiago de LUXAN MELENDEZ, "Los Soldados del Presidio de la Madera que Fueron Desechados a Lanzaroteem 1641: Contribucion al Estudio de la Coyuntura Restauracionista Portuguesa en Canarias", in IV Jornadas de Estudios deLanzarote y Fuerteventura, Arrecife, 1989.53. José António Gonçalves de MELO, João Fernandes Vieira. Mestre-de-Campo do Terço da Infantaria de Pernambuco, 2 vols,Recife, 195654. João Cabral do NASCIMENTO, "Gente das Ilhas nas Guerras da Restauração", in Anais da Academia Portuguesa de História,1ª série, vol. VII, Lisboa, 1942, pp.427-458; Ernesto GONÇALVES, "Os Madeirenses na Restauração de Portugal", in Das Artes eda História da Madeira, vol. VII, nº.37,1967.55. Arquivo Regional da Madeira, Câmara Municipal do Funchal, nº1329, fls.24vº-2656. Arquivo Regional da Madeira, Câmara Municipal do Funchal, nº.1217, tomo VI, fl.53, registada a 15 de Fevereiro de 1642.57. Arquivo Regional da Madeira, Câmara Municipal do Funchal, registo geral, tomo VI, nº.1217, fl.55vº; idem, CâmaraMunicipal de Machico, nº.85, fls. 92-93vº.58. Arquivo Regional da Madeira, Óbitos - Sé, nº.73, fl.16359. Arquivo Regional da Madeira, Câmara Municipal do Funchal, nº.1217, fls.49-51, auto da querela entre Manuel Homem daCâmara e o governador Luís de Miranda Henriques, 15 de Abril de 1641; Arquivo Histórico Ultramarino, Madeira e Porto Santo,nº.4846, p.307; A. A. SARMENTO, História Militar da Madeira, Funchal, 1912, p.760. Arquivo Regional da Madeira, Câmara Municipal do Funchal , nº.1217, tomo VI, fl.61vº; publicado por Alberto ArturSARMENTO, Documentos & notas sobre a época de D. João IV na Madeira.1640-1656, Funchal, 1940, pp. XXXIV-XXXV.61. Arquivo Regional da Madeira, Câmara Municipal do Funchal , nº.1217, registo geral, t. VI, fl.65. Apresentou-se em câmara a 1de Dezembro de 1644.

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Tal como se viu mais uma vez a passagem do manifesto na Madeira foi pacifica. Omesmo não se podará dizer nos Açores, onde a presença, na ilha Terceira, de umaguarnição castelhana sob o comando de D. Álvaro de Viveiros, veio a gerardificuldades. O espaço açoriano, nomeadamente o porto de Angra era por demaisdisputado pelos intervenientes no atlântico. Assim, se em 1580 se haviam juntado assinergias dos beligerantes face à passagem das ilhas para o domínio castelhano, nestemomento são os castelhanos que não querem abdicar da posição estratégica.

O reconhecimento da nova situação pelos açorianos foi uma preocupação imediata dosconjurados . Deste modo a 21 de Dezembro partia para os Açores Francisco de Ornelasda Câmara, Capitão Mor da vila da Praia, a quem fora incumbida a missão de aclamar onovo rei e com um plano secreto para tomar posse da fortaleza do Monte Brasil. Atarefa era difícil, tanto mais que o governador do presídio, D. Alvaro de Viveiros, comsede o castelo de S. Filipe conhecedor da situação estava refugiado na inexpugnávelfortaleza. O novo rei foi aclamado a 24 de Março de 1641 na vila da Praia e daqui partiremissários com a notícia e a solicitar apoio para o embate contra os castelhanos. Apenasna ilha de S. Miguel, onde já se conhecia a notícia através da Madeira, os oficiais dascâmaras de Ponta Delgada, Vila Franca do Campo e Ribeira Grande se recusaram afazer juramento ao novo rei antes de receber cartas de Lisboa. Estas só chegaram emAbril, procedendo-se então ao acto formal no dia dezanove. Em Angra o povo eautoridades aguardavam com expectativa a aclamação do novo monarca face aosmanifestos movimentos de resistência do governador do castelo. O cerco ao reduto doMonte Brasil durou doze meses e os castelhanos só se renderam a 16 de Março de 1642face à falta de mantimentos, munições e a demora na chegada de uma armada deapoio62.

Cabo Verde era um ponto estratégico fundamental para a recuperação do impérioatlântico. As hostilidades sempre evidentes com os mercadores castelhanos, que semprese furtavam ao pagamento de direitos, tornou fácil a aclamação do novo monarcaportuguês. Foi assim que sucedeu em 5 de Fevereiro de 1641 em Santiago com achegada das primeiras notícias de Lisboa. O governador reclamou confirmação dosucedido enviando um emissário a Lisboa. Também em S. Tomé a notícia dada por unsfranceses foi saudada com alegria. A ilha mergulhava a vários anos numa grave criseeconómica e a mudança política era uma esperança para os moradores. Todavia o que seseguiu foi distinto. A 24 de Agosto os holandeses ocupam Luanda, tornando-se numaameaça para a ilha, que se tornou uma realidade alguns dias depois com o cerco de umaarmada holandesa. A população refugiou-se no mato e clamou por ajuda de Lisboa quesó se concretizaria após a reconquista de Luanda em 1648. O retorno da soberaniaportuguesa à ilha aconteceu só em Setembro deste ano.

Outro facto significativo da adesão insular aos objectivos da monarquia restaurada foi aparticipação nas campanhas de recuperação de alguns espaços do Novo Mundoocupados pelos holandeses, no Brasil e Luanda, e para a guerra peninsular. No Brasilreleva-se a iniciativa de João Fernandes Vieira, que segundo o mesmo declarava em

62. É vasta a bibliografia sobre este momento de glória e patriotismo dos terceirense: Frei Digo das Chagas, “Relação do queaconteceu na cidade de Angra da ilha Terceira”, in Archivo dos Açores, vol.X, Ponta Delgada, 1878, pp.193-232; Padre LeonardoSaa Soto MAYOR, Alegrias de Portugal ou lágrimas dos castelhanos na feliz aclamação de El-Rei D. João o quarto, Angra doHeroísmo, 1957; Miguel C. ARAÚJO, "A restauração na ilha Terceira (1641-1642).Cerco e tomada do castelo de São Filipe doMonte Brasil dos terceirenses", in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XVIII, Angra do Heroísmo, 1963.

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testamento “guiou a causa das felicidades de que está gozando Portugal” ao expulsar osholandeses de Pernambuco em 1654.63

AS CONSEQUÊNCIAS DA RESTAURAÇÃO DA MONARQUIA PORTUGUESA

Se o período filipino representou o avolumar dos inimigos dos interesses coloniais dosportugueses, já o Portugal Restaurado vai buscar o apoio entre os rivais de Castela.Deste modo franceses, holandeses e ingleses firmaram-se num primeiro momento comoos nossos principais aliados, usufruindo com isso alguns favores que favoreciam oexpansionismo. A 1 de Junho de 1641 foi assinado o tratado com a França e desde 21deJaneiro deste ano que os holandeses usufruíam de liberdade comercial nas praças doreino que ficou esclarecida no tratado de tréguas de 12 de Junho de 1641. Neste tratadoassinado em Haia ficaram estabelecidas as tréguas entre Portugal e os Estados Geraisdas Províncias Unidas por um período de 10 anos. Mais tarde com o tratado assinado a20 de Outubro de 1648 pôs-se termo às hostilidades sobre a posse do Brasil. Orestabelecimento das relações com a Inglaterra só aconteceu em 29 de Janeiro de 1642,certamente atraídos pelo bom relacionamento com a Espanha.

A Restauração anunciou mudanças em termos institucionais para as ilhas, que ficaram adepender do novel Conselho Ultramarino, criado em 1642. A nova estruturaadministrativa é um indício seguro da opção ultramarina de D. João IV. A conjunturapolítica, marcada pela disputada dos espaços ultramarinos, implicava a atenção dacoroa64.

Ao nível institucional as mudanças ocorridas no decurso da governação filipinaacabaram por se institucionalizar. Os capitães dos donatários perdem importância esurge a figura da autoridade máxima com intervenção nos diversos domínios, que naMadeira ficou conhecida como governador e capitão general e na Terceira comoGovernador do Castelo de S. Filipe e das ilhas dos Açores. Note-se que esta figuraestava já estabelecida em S. Tomé desde 1541 com o capitão e em Cabo Verde em1578, com o capitão general das ilhas. A partir de 1640 ficou institucionalizada a deCapitão e Governador Geral.

No caso da Madeira a revolta lisboeta de 1 de Dezembro de 1640 preludia o fim dodemorado período de relacionamento comercial e humano com o arquipélago daMadeira. A conjuntura política e institucional rompeu com a tradição. As mudançasentão operadas condicionaram uma política de represálias, documentada para os anos de1641-42 e 1662, que se repercutiu negativamente nos contactos entre os arquipélagos65.A historiografia aponta o confisco dos bens do filho varão de Simão Aciaioli, que casaracom a filha do Conde de Lanzarote66, depois foi o paulatino desaparecimento dosmadeirenses nos portos de Canárias. E, factos insólitos, os poucos que conseguimosrastrear na documentação parece querer ignorar ou apagar a origem, surgindo apenascom o epíteto de vizinhos. Pelo menos é o que sucede com Domingos Pires, mercador

63. Cf. A.A. Sarmento, Ascendência, Naturalidade e Mudança de João Fernandes Vieira, Funchal, 1911; J. A. Gonçalves de Melo,João Fernandes Vieira, 2 vols, Recife, 1967.64. Marcello Caetano, O Conselho Ultramarino. Esboço da sua História, Lisboa, 1967.65. A.A.SARMENTO, Ensaios Históricos da Minha Terra, vol. II, pp. 5-6.66. Alberto Artur SARMENTO, Fasquias e ripas da Madeira, Funchal, 1951, pp.40-48. Esta situação deverá ser enquadrada nodiferendo que se arrastava desde a morte do Marquês e teria mais a ver com a legitimidade ou não desta sucessão. Sobre isto veja-seElisa TORRES SANTANA, ibidem, pp. 306-307

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madeirense que na carta de fretamento de 13 de Setembro de 164567 apenas se fazidentificar como vizinho, quando em 162968 não hesitava em declarar a origem ma-deirense.

Na consulta feita aos livros de protocolos notariais para o período de 1619 a 1670 éevidente, a partir de 1645, um hiato prolongado na presença dos madeirenses. Aísurgem apenas duas referências isoladas em 1653 e 166869 . Ainda, noutros duzentos esessenta actos em que participaram madeirenses, apenas dez são posteriores a 1640,sendo oito dos primeiros cinco anos dos primeiros da última década. além disso numarelação das embarcações visitadas pelo tribunal do Santo ofício de Las Palmas para oséculo XVII surgem 22 da Madeira e 18 dos Açores. Aqui é bastante uma ausência nasdécadas de quarenta a sessenta. A partir de 1645 a documentação madeirense emudecequanto a esta realidade. Na vereação funchalense as referencias à abertura do preço detrigo daí proveniente não têm mais lugar a partir de 1641. O cereal de Lanzarote é agorasubstituído pelo maior reforço da rota açoriano e pelo aparecimento de novos mercados,como a Berberia e América do Norte70.

Sem duvida que o efeito mais nefasto da situação foi para o arquipélago das Canárias,que perdeu este ancoradouro. Todavia ele não se radica na quebra do relacionamentocomercial com a Madeira, mas sim nas repercussões da represália portuguesa e do fielaliado britânico, evidentes no comércio do vinho com o mercado colonial.

Os diversos pactos de amizade entre as coroas de Portugal e Inglaterra sedimentaram asrelações comerciais entre ambos, favorecendo a oferta do vinho madeirense e açorianonas colónias britânicas da América Central e do Norte, com a lei de navegação deCarlos II, aprovada em 164171. A situação de privilégio ao comércio de vinho dosarquipélagos portugueses repercutiu-se negativamente na economia das Canárias,travando o processo de desenvolvimento da economia viti-vinícola, a partir de finais doséculo XVII72. E. Steckley, não obstante documentar uma época de prosperidade nocomércio com Inglaterra, reafirma a crise, que se aproximava: Así pues durante dichacenturia algunos de los antiguos mercados canarios de vino se estancaron y las islasportuguesas demonstraron ser unos competidores capaces y eficientes para los nuevosmercados americanos de vino"73. A ideia é reafirmada no estudo de António Macíaz eAgustin Millares Cantero, que define o período de 1640 a 1670 com "de crisis delprolongado esplendor económico", que será resultado de"la oferta madeirense y de oporto" que "comenzó a sustituir a la Canaria en el mercado ingles74"

O casamento de Carlos II de Inglaterra com D. Catarina de Bragança foi o prelúdiodisso, sendo definido por Viera y Clavijo como um "golpe tan feliz para la isla de la

67. Archivo Historico y Provincial de Las Palmas, Protocolos, nº.2748, fls.421-42268. Ibidem,nº.2725, fls.77-77vº69. Arquivo Historico y Provincial de Las Palmas, Protocolos, nº.2729, fls. 7v1-8; nº.2761, fls.93-94.70. Alberto VIEIRA, "O comércio de cereais das Canárias para a Madeira nos séculos XV- XVII", VI Coloquio de HistoriaCanario-Americana, Las Palmas, 1984; Idem, "O Comércio de cereais dos Açores para a Madeira no século XVII", in Os Açores eo Atlântico (séculos XIV- XVII), Angra do Heroísmo, 1978, pp. 663-66571. Rupert CROFT-COOKE, Madeira, Londres, 1961, pp.26-28; André L.SIMON, "Introduction" e "Notes on Portugal Madeiraand the Wines of Madeira", in The Bolton Letters.Letters of an English Merchant in Madeira 1695-1714, Londres, 192872. A. Bethencourt MASSIEU, "Canarias e Inglaterra. el comercio de vinos (1650-1800)", in Anuario de Estudios Atlanticos, nº.2,1956, pp.195-308: IDEM, "Canarias y el comercio de vinos (siglo XVII)", in Historia General de las islas Canarias, tomo, III,1977, 266-273;73."La economia vinicola de Tenerife en el siglo XVII: relación anglo-espanola en un comercio de lujo", in Aguayro, nº. 138, LasPalmas, 1981, p. 2974."Canarias en la edad Moderna(circa 1500-1850)", in Historia de Los Pueblos de Espana. Tierras fronterizas(I) AndaluciaCanarias, Madrid, 1984, pp.319, 321

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Maderas como infausto para las Canárias"75. Acresce ainda que a guerra de Cromwellcontra Espanha levou ao encerramento do mercado londrino ao vinho de Canárias, noperíodo de 1655 a 1660, bem como ao estabelecimento de medidas preferenciais aoenvio de vinho das ilhas portuguesas para as colónias britânicas. O texto da ordenançade 1663, repetido mais tarde na de 1665, era claro: "Wines of the growth of Maderas,the Western Islands or Azores, may be carried from thence to any of the lands, islands,plantatinos, & colonies, territories or places to this majesty belonging, in Asia, Africa orAmerica, in english built ships."76

O fim da guerra de fronteiras, com as pazes assinadas em Madrid a 5 de Janeiro de 1668e ratificadas a 13 de Fevereiro em Lisboa, retomaram-se os contactos entre os doisarquipélagos77.O reforço das relações poderá ser testemunhado pela presença de Bentode Figueiredo, como cônsul castelhano no Funchal78. Mas continuaram as dificuldadesde intervenção do arquipélago no mercado colonial. Apenas com as pazes de Ultrecht de1713 se abriram novas perspectivas ao arquipélago das Canárias. Mas isto sucedeunuma altura em que os vinhos madeirenses e açoriano haviam já conquistado umaposição sólida no mercado colonial britânico. Deste modo poder-se-á afirmar que oúnico perdedor da conjuntura foi o arquipélago das Canárias, que se viu a braços comuma grave crise económica, por falta de escoamento do vinho79.

CONCLUSÃO

No período em questão são evidentes mudanças de vulto que abarcaram todos osdomínios da vida das ilhas e que as projectaram para uma era nova. As mudanças sãosignificativas quer ao nível económico, quer político. A conjuntura veio a reflectir-se deforma evidente no porvir das ilhas. Para além disso o período anuncia-se, pelo menos naprimeira fase sob o signo da instabilidade provocada pela guerra no mar e em terra. Ocorso não só atormentava as populações costeiras como também prejudicava e actuavacomo entrave ao normal curso das actividades comerciais. Todavia, sanados os conflitose assinadas as pazes a situação retornou à normalidade e as ilhas retomaram o curso deafirmação progressiva na economia atlântica.

O conflito subjacente à união das coroas veio evidenciar mais uma vez a importânciadas ilhas no intricado jogo de interesses das potencias europeias. Mas aquilo que numcurto espaço tempo foi privilégio de apenas dois dos interessados passoupaulatinamente a ser partilhado por todos. Assim, se em 1580 ainda se pugnava peloexclusivo dos mares, já em 1640 a opção não fazia sentido quanto eles estavamtotalmente abertos e devassados. A união peninsular, que se havia anunciado com umaestratégia dominadora do espaço atlântico e colonial, foi apenas uma miragem, poiscontribuiu para o acelerar da universal partilha do oceano e das principais rotas decomércio que o mercantilismo depois procurou estabelecer um travão.

75.Citado por A. LORENZO-CÁCERES, Malvasia y Flastaff. los vinos de Canarias, La Laguna, 1941, p.19.76.André L.SIMON, "Notes on Portugal, Madeira and the Wines of Madeira", in The Bolton Letters. Letters of an English Merchantin Madeira 1695-1714, Londres, 1928.77.A coroa insistiu nesta nova situação, recomendando às autoridades madeirenses que publicitassem o que foi feito por meio de umbando a 8 de Maio. Veja-se Arquivo Regional da Madeira, Câmara Municipal do Funchal, nº.1215, fls.37vº-.3878.Ibidem, nº.1215, fls.58-58vº, 17 de Dezembro de 1672.79.G. STECKLEY, art. cit., pp.25-31.

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BIBLIOGRAFIA

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